Propriedade da JA! Justiça Ambiental Rua Marconi, no 110, 1o andar -Maputo-Tel: 21496668 E-mail:ja@ja.org.mz, news@ja.org.mz
Uma reflexão A JA lançou este mês na cidade de Pemba, em parceria com a Kepa, o primeiro relatório dos resultados de uma pesquisa de campo feita sobre os impactos ambientais e sociais da exploração de petróleo ao longo da costa norte após os testes sismicos realizados de Abril a Maio de 2009. Decidimos escrever também um artigo sobre a situação das nossas florestas, tendo em conta o que aconteceu e ainda está a acontecer ao longo deste ano. Em parceria com a Kepa a JA organizou o primeiro workshop sobre o tema “Responsabilidade corporativa” em que se debateu durante dois dias a questão do desenvolvimento, responsabilidades sociais e ambientais, assim como beneficios sejam eles economicos ou sociais da exploração dos nossos recursos naturais... não foi nada positivo, muito pelo contrário, com o exemplo que nos foi apresentado do caso da Nigeria, não temos dúvidas que estamos a caminhar a passos bem largos, para a tão falada “ maldição dos recursos”. Olhando o lado positivo da questão, a sociedade civil está disposta a trabalhar em parceria com os governantes, afim de juntos lutarem para um desenvolvimento mais justo e sustentável, mas enquanto existirem governantes que continuam iludidos e a pensar que estão preparados para monotorizar e forçar o cumprimento das nossas leis e suas condições contractuais, mesmo existindo já actualmente imensos abusos e atropelos ao uso e exploração dos nossos recursos naturais esse diálogo entre o Governo e Sociedade Civil será cada vez mais difícil de se concretizar. Mas vejamos …. o ano passado se não estamos em erro a Anadarko fez a prospecção sísmica durante o período da migração das baleias, como não foram penalizados, mesmo aparecendo uma baleia (pelo menos o que se conseguiu saber) morta na praia, as suas causas não foram analisadas, então neste ano a Statoil também está a pensar em fazer prospecção durante a imigração das baleias...meus senhores somos todos idiotas? A JA envia estes artigos para vossa reflexão como se diz em Inglês “food for thoughts”, e também com a esperança que os nossos decisores fiquem conscientes da situação real do País e que actuem afim de parar com todos estes abusos que os nossos recursos naturais estão a sofrer constantemente, antes que tudo acabe por desaparecer e então sim, seremos um País mais pobre ainda, sim... porque hoje podemos nos considerar ricos, pelo menos ricos em recursos naturais, mas estamos a dar a nossa riqueza de braços abertos para serem saqueados e exportados discriminadamente e sem regras.
Foto:A.Lemos
Edição #6: 5 de Novembro 2011
Florestas comunitárias A JA! em parceria com a ORAM e a Oxfam, sob um projecto financiado pela União Europeia, vem desenvolvendo desde 2010 um projecto de conservação de florestas na Província da Zambézia. O projecto visa a exploração das florestas indígenas de forma sustentável sob gestão das próprias comunidades locais de modo a poder conservar os recursos naturais e garantir a sustentabilidade das comunidades locais. O projecto localiza-se na província da Zambézia nas localidades de Muzo e Nipiodi. Neste momento, o plano de maneio para Nipiodi já foi elaborado e submetido, estando à espera de aprovação por parte das autoridades competentes e o de Muzo está em processo de elaboração. Em Nipiodi já se encontra uma serração em funcionamento e a de Muzo está em processo de montagem e à espera de equipamento, estando também em processo a capacitação de técnicos para o corte e processamento da madeira. O projecto visa também a potenciação de actividades existentes e identificação de novas que visem a diversificação de actividades de aumento de receita do sector familiar local para que se garanta a sustentabilidade dos recursos naturais locais. É ainda prematuro referir que o projecto é um sucesso. O projecto tem ainda pouco tempo de vida para que se possa avaliar o efeito das actividades realizadas e a gestão sustentável dos recursos naturais é um tema multisectorial, complexo que envolve várias áreas de acção, em que os resultados não se vêem a curto prazo. A sensibilização constitui ainda um processo de extrema importância uma vez que a conservação dos recursos naturais é a base para a conservação e gestão sustentável dos recursos naturais. Nesse sentido a Justiça Ambiental está a elaborar um manual de sensibilização, onde pretende abordar questões como a importância da conservação e uso sustentável dos recursos florestais. Este é um projecto ambicioso mas também um desafio que questiona e coloca à prova capacidades e vontades. O país encontra-se numa fase em que que tudo significa corrida, onde o factor velocidade é o mais importante para que se chegue primeiro e se consiga explorar, arrancar, usurpar, exportar. Tudo o que envolve recurso implica exploração da terra, do homem, usurpando a sua dignidade, a sua terra, a sua tradição e costumes, o acesso à água, a sua sustentabilidade. Soberania, é um termo de sonho, virtual, utilizado para conseguir fundos, ainda que muito do "staff" continue a trabalhar tentando incansavelmente atingir os seus objectivos. Conselho Editor: Anabela Lemos, Janice Lemos, Jeremias Vunjanhe, Sílvia Dolores e Vanessa Cabanelas/ Layout & design: Ticha
Os problemas de abate ilegal aumentaram exponencialmente e a situação está fora de controle. As comunidades encontram-se mais vulneráveis do que nunca uma vez que em todos os processos de exploração e corte ilegal estão envolvidas entidades nacionais ligadas ao poder. A impunidade, o aparente descontrole e a falta de meios a nível local, constituem factores que beneficiam grupos de elite inantigiveis. Os fiscais a nível local não conseguem fazer face aos problemas locais, cada vez em maior número e mais complexos.
Petróleo ou Desenvolvimento? Por Daniel Ribeiro e Joshua Dimon
Sumário Executivo Este relatório apresenta os resultados de uma pesquisa de campo sobre os impactos ambientais e sociais de um programa sísmico em águas marinhas rasas que teve lugar em Abril e Maio de 2009 ao longo da costa norte de Moçambique. A equipa realizou entrevistas com pescadores, líderes comunitários e operadores turísticos que trabalham e vivem dentro da área coberta pela operação sísmica em águas rasas para avaliar os impactos do programa sísmico nos meios de subsistência costeiros e no ecossistema marinho costeiro. Sempre que possível a informação conseguida foi adquirida através de três fontes principais: entrevistas com operadores turísticos, biólogos marinhos familiarizados com a região, e literatura científica disponível para a região. Durante a finalização deste relatório, o Governo de Moçambique anunciou a descoberta da existência de gás ao longo da costa norte de Moçambique, em pelo menos quatro dos poços de águas profundas finalizados em 2010-11, tendo sido encontrado petróleo em um outro poço. Enquanto ainda não se determinou a viabilidade comercial desta descoberta, a probabilidade da produção de gás num futuro próximo torna as descobertas deste relatório ainda mais urgentes. O desenvolvimento de combustíveis fósseis é, em geral, um negócio arriscado para os meios de subsistência e ambiente locais nas zonas de produção e para a economia nacional. Moçambique tem condições para fornecer energia ao seu povo de forma a garantir tanto a segurança dos meios de subsistência como do ambiente. Moçambique tem fontes viáveis de energias renováveis que têm o potencial de fornecer electricidade suficiente para todos Moçambicanos (Hankins, M.2009.A Renewable Energy Plan for Mozambique).
A gestão sustentável de florestas comunitárias é a solução ideal para a resolução dos problemas actuais. É necessário que se juntem esforços e sinergias para fazer face aos problemas levantados para que que se atinja o sucesso. Só assim se pode garantir a salvaguarda dos direitos e soberania a nível nacional. Infelizmente, estas decisões difíceis sobre o futuro da soberania energética em Moçambique estão a ser ensombradas por incentivos perversos, falta de informação ou informação incorrecta, e falhas na comunicação. Esperamos que este relatório desperte a atenção necessária para as potenciais implicações destes desenvolvimentos para melhor imformar as políticas neste sector. Dada a enorme explosão de petróleo no Golfo do México, envolvendo trabalhos similares aos que estão a ser conduzidos ao longo da costa moçambicana e alguns dos mesmos investidores que estão agora a explorar essa mesma área moçambicana, é imperativo que este relatório também sirva para desencadear investigações contínuas e mais abrangentes sobre os possíveis impactos ambientais e sociais que qualquer desenvolvimento petrolífero possa ter ao longo da costa moçambicana. Alguns resultados reportados do relatório: - Peixes de fundo de águas rasas que se alimentam de ervas marinhas morreram em massa - Maré vermelha possivelmente desencadeada - Morte de moluscos - Morte de tartarugas - Impactos na audição - Impactos na dieta - Processo de compensação para os pescadores locais irrealisticos e altamente impraticável
Algumas recomendações do relatório: - Uma mudança para uma abordagem de precaução para estes programas - Pesquisas independentes para desenvolver uma linha de base completa e cientificamente rigorosa dos ecossistemas marinhos desta região para cada temporada. - Monitoramento em tempo real dos reais impactos ambientais e sociais de programas de exploração e produção por uma entidade independente. - Uma avaliação pós-execução dos impactos como parte integral do plano de gestão ambiental - Uma moratória do desenvolvimento de petróleo e gás até que estas pré-condições para a protecção ambiental e social adequada sejam alcançadas.
O Massacre das Florestas: Quem irá cortar a última árvore? Moçambique continua a enfrentar grandes desafios na gestão, conservação e utilização das suas florestas, diariamente massacradas e condenadas à extinção, numa altura em que a Organização das Nações Unidas-ONU declarou 2011 como "Ano Internacional das Florestas” sob lema “Florestas para o Povo” para fomentar a consciência pública mundial para os problemas que afectam grande parte das florestas do mundo e das pessoas que delas dependem. Cada vez mais pobre, perdido na vastidão de sua territorialidade e consumido pelo desgaste constante do insucesso das reformas (des) estruturais do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional de que tem sido vítima nos últimos 20 anos, Moçambique é hoje um dos Países mais insustentáveis do mundo em matérias de gestão, conservação e utilização de suas florestas, até muito recentemente, um recurso muito abundante e estratégico para a viabilidade sócio-económica e ambiental de muitos milhões de moçambicanos e moçambicanas. A Direcção Nacional de Terras e Florestas-DNTF afirma que a situação é preocupante e ultrapassa a sua capacidade de intervenção. “O sector de florestas por si não consegue dar conta dos problemas que actualmente o País enfrenta. Anualmente o Governo aloca cerca de 3 milhões de meticais para fins de reflorestamento. É um valor bastante exíguo se considerarmos que para a satisfação das necessidades mínimas seriam necessários pelo menos 13 milhões de meticais por ano” de acordo com o nosso Plano de Acção para o Reflorestamento. De facto, a capacidade do País para repor a floresta é muito limitada quando comparada à taxa média anual de 0.58%, o que corresponde a uma perda florestal anual de 219 mil hectares. De acordo com a DNTF, anualmente o País consegue fazer apenas o reflorestamento de uma área de 1000 hectares. A devastação e delapidação das florestas moçambicanas é assustadora e particularmente criminosa como agora parece confirmar-se com a recente polémica e mediática apreensão de 561 contentores de madeira em toros no Porto de Nacala. Anualmente, milhões e milhões de hectares de florestas são consumidas pela acção humana. Acredita-se que maior parte da superfície coberta com florestas, há 10 anos estimava-se em 40 milhões de hectares dos quais 22,5 milhões (56,2%) são florestas densas e 16.4 (40.9%) florestas abertas, 357 mil ha (0.9% das florestas) de mangais e 802 mil ha (2.0% do total das florestas) florestas abertas em áreas húmidas já tinha sido dizimada. De acordo com a Direcção Nacional de Terras e Florestas a degradação florestal no País está a acontecer a um nível muito acelerado. A pressão da exploração das florestas é de tal forma que algumas províncias como “Maputo particularmente já não tem nada. O carvão vegetal que abastece Maputo vem das províncias de Gaza e Inhambane. Maputo ressente-se ainda da falta de espaço para o reflorestamento devido a crescente expansão dos assentamentos humanos ” De acordo com o inventário Florestal Nacional de 2007, a taxa média anual é de 0.58%, o que corresponde a uma perda florestal anual de 219 mil hectares. As principais causas são o corte ilegal, em excesso e descontrolado, fraca fiscalização, planos de maneio ineficientes ou inexistentes, corrupção no sector e queimadas descontroladas. O corte ilegal, descontrolado e predatório da madeira é alarmante e é a face mais visível desta destruição massiva. A madeira, transportada em camiões e amontoada em estaleiros, está pronta a partir em operações ilegais e muito
mais, nada comparável ao que sobra nas florestas deste País. Desde o interior das comunidades até aos principais centros urbanos chama a atenção grandes quantidades de madeira, uns abandonados e outros amontoados em estaleiros prontos a embarcarem para o estrangeiro. Na verdade, a China e a Ásia são seus principais destinos. A actividade de produção de carvão vegetal é invisível. Ela não chama a atenção como a imagem da recente polémica e mediática apreensão de 561 contentores de madeira em toros no dia 8 de Julho último no Porto de Nacala ou a imagem das queimadas que anualmente transformam este País em uma autêntica chama. Numa operação pouco esclarecida e através de uma denúncia considerada anónima, as alfândegas de Moçambique aprenderam 561 contentores contendo mais de 7 966,40 metros cúbicos de madeira em toros que estavam para ser exportada para a China ilegalmente e de uma forma fraudulenta, criando elevados prejuízos ao Estado Moçambicano. Estão envolvidas neste processo ilegal de exploração e exportação de madeira nacional oito empresas ligadas a empresários chineses nomeadamente: Casa Bonita, a Zhen Long, a Mozambique Trading, Lda, a Yizhou, a Tong Fa, a Chanate, Lda, a Senyu ou a Verdura. Não é a primeira vez que as autoridades moçambicanas apreendem enormes quantidades de madeira obtida ilegalmente e com fortes indícios de fraudes fiscais. Em Dezembro de 2010 foram apreendidas quantidades consideráveis de madeira e de outros recursos nacionais no Porto de Pemba quando já estavam prontos para serem exportados ilegalmente. Em meados de 2011 no Porto de Maputo foram novamente encontrados e apreendidos grandes quantidades de madeira em toros prestes a saírem do País ilegalmente. Todavia, a DNTF minimiza estes e outros tantos casos bem documentados e amplamente conhecidos no País. Os técnicos afectos a DNTF contrapõem, socorrem-se em números e estatísticas desajustadas e desactualizadas ignorando os alarmes da delapidação da floresta para fins madeireiros e argumenta que o País está dentro da sua fronteira de possibilidades de corte anual e utilização das florestas. A DNTF afirma que anualmente Moçambique corta apenas entre 150 e 200 metros cúbicos, contra os 500 a 600 metros cúbicos potencialmente disponíveis.
Zambeze, foto tirado no periodo fora da época do corte.
A verdade porém contrasta com a ignorância do discurso oficial e mostra que em menos de uma década, o cinturão verde que se estendia do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico, possuidor de rica biodiversidade e de espécies de madeira de elevada qualidade, considerada de primeira classe como umbila, jambire, mondzo, pau-ferro, e de qualidade preciosa como pau-preto, sândalo, pau-rosa foi saqueado e vandalizado através de esquemas corruptos e coordenadas entre elites políticas nacionais e económicas estrangeiras. (In) governadas pelos generais na reserva e estrategas da luta de libertação nacional, num jogo de controlo político que sustenta a estabilidade do Partido no Poder, e entregues à sorte dos chineses, as riquíssimas e variadas espécies de madeira estão à beira da extinção e Moçambique arrisca-se a tornar-se num caso” bem sucedido” de desertificação do seu território em tempo recorde, numa altura em que o mundo se mobiliza para conter os elevados níveis de destruição das florestas e dos riscos sociais em que a maior parte da população mundial tem sido sujeita, ficando assim os seus meios de subsistência em risco. Estima-se que em todo o mundo, as florestas de formação natural constituem o habitat da maior parte das espécies de animais e plantas e a sua biomassa por unidade de área é muito superior se comparado com outros habitats. Além disso, a floresta é uma fonte de riqueza para o Homem, fornece madeira, resina, celulose, cortiça, frutos, é abrigo de caça, protege o solo da erosão, acumula substâncias orgânicas, favorece a piscicultura, cria postos de trabalho, fornece materiais para exportação e melhora a qualidade de vida! Segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente- PNUMA –, as florestas representam 31% da cobertura terrestre do planeta, servindo de abrigo para 300 milhões de pessoas de todo o mundo garantindo ainda, de forma directa, a sobrevivência de 1,6 bilhões de seres humanos e 80% da biodiversidade terrestre. Mas infelizmente as actividades que se baseiam na devastação das florestas ainda são bastante comuns em todo o mundo. Moçambique é um desses lugares onde de facto o abate e corte das árvores para diferentes fins é uma constante e tem vindo a ser praticado com maior intensidade nos últimos anos, com tendência a aumentar de uma forma descontrolada. Os relatos de cortes e exportação ilegais de toros nas florestas moçambicanas são cada vez mais
mais frequentes no País, com uma tendência constante em aumentar. Durante os últimos 10 meses a Imprensa Nacional reportou semanalmente casos comprovados de delapidação de florestas, de esquemas de corrupção e de exportação ilegal de madeira. Ainda assim, apesar da gravidade da situação e dos factos reportados, poucos têm sido os esforços das autoridades governamentais com vista a parar com a desordem no sector. Aliás na maior parte dos casos tornados públicos pela imprensa não se sabe o seu desfecho e não há na memória e no imaginário colectivo dos moçambicanos algum caso que tenha sido julgado em sede do tribunal e punido exemplarmente de modo a desencorajar estas práticas ilegais à volta do sub-mundo do crime nas florestas. Hoje no País as principais espécies classificadas de primeira classe e preciosas são pouquíssimas e prestes a extinguirse.Portanto, nas florestas moçambicanas joga-se a derradeira cartada pelo acesso à última árvore abatida. E a grande questão neste momento é saber quem irá cortar a última sobrevivente deste massacre?
Será a Casa Bonita, a Zhen Long, a Mozambique Trading, Lda, a Yizhou, a Tong Fa, a Chanate, Lda, a Senyu ou a Verdura? Ou talvez nenhum destes fará parte desta batalha final da qual alguns dos temíveis Generais na reserva parecem estar decididos a comandar e a obter a maior recompensa pela sua participação na heróica epopeia de libertação contra a dominação estrangeira?
Decorreu na cidade de Maputo nos dias 25 e 26 de Outubro o workshop sobre responsabilidade corporativa. O encontro foi organizado pela Kepa em parceria com a Justiça Ambiental, teve como objectivo abordar a temática de responsabilidade corporativa versus irresponsabilidade corporativa no contexto Moçambicano como forma de alertar a sociedade para um maior controle no comportamento das grandes empresas que operam no País.
A reunião contou também com o testemunho das vozes das comunidades nacionais afectadas pelo impacto de projectos de mineração no centro e norte do País. Ao longo dos dois dias de apresentações e discussões foi possível reter alguns dos problemas a nível de Moçambique, por exemplo :
Participaram nesta reunião várias organizações da sociedade civil, jornalistas, e representantes de instituições do Governo. Foram oradores do evento pesquisadores a nível nacional e internacional, com diferentes enfoques sendo estes: Carlos Serra – CTV, Cláudia Manjate-WWF, Jeremias Vunjanhe – JA!, João Nhampossa e Vanessa Cabanelas – Coligação Mozal, Micheal Karikpo que trouxe a experiência de resistência da comunidade de Ogoni na Nigeria no caso da irresponsabilidade corporativa pela multinacional Shell, Micheal Machel-CIP, Teles Huo - Grupo Moçambicano da Dívida, Vivaldino Banze – AMA .
- A responsabilidade corporativa é baseada em actos esporádicos sem sustentabilidade sócio - ambiental. As acções das empresas que operam no País são maioritariamente voltadas para o exterior baseadas em publicidade com objectivo de projectar uma imagem e reputação positiva junto ao público e como forma de evitar conflitos com a população que vivem à volta dos empreendimentos. A maioria das empresas/multinacionais que operam em Moçambique tem listadas como acções de responsabilidade as ajudas ao Governo no fornecimento de serviços básicos (construçãos de escolas, hospitais.....
.... abertura de poços de água estradas etc). Originando a ampliação da influência e do poder das empresas no País. - Não existem instrumentos legais que abordam exclusivamente o tema de responsabilidade corporativa. Está em curso a elaboração da política sobre o tema em questão. No entanto, existe a necessidade de garantir a implementação e monitoria eficaz dos instrumentos legais existentes no País . - O acesso à informação, a participação pública e a corrupção continuam a constituir o “calcanhar de Aquiles” quando se refere ao tema de boa governação, democracia e processos de tomada de decisão. Na maioria das vezes a participação pública nos processos de tomada de decisão ( com especial enfoque para os Estudos de Impacto Ambiental) servem apenas para legitimar o processo. No entanto existe também, a necessidade da sociedade civil criar mais espaços de debate a nível interno e externo. - Os megaprojectos e empresas com especial enfoque para a exploração de recursos minerais tem induzido a expulsão e reassentamento massivo das comunidades, algumas vezes recorrendo a métodos violentos de coerção, e destruição de diversas fontes de renda e de sobrevivência sem qualquer tipo de compensação. “A absoluta(pobreza) não vai acabar para Moatize, vai acabar mínima parte do o governo , mas para as comunidades vai piorar e esta chorar esta com fome” Comunidade de Cateme e 25 de Setembro ¨...Lá em Moatize estamos a viver muito mal, eles vem com boa maneira para nos convencer aceitar sair, depois nós aceitamos sair, mas saimos como animais, nós tinhamos machamba e agora não temos, nós tinhamos animais e agora não temos, nós tinhamos caminho de ir cortar vassoura, agora já vedaram tudo, nós tinhamos fábrica de fazer tijolos agora não fazemos, tinha escola e agora não temos... nossas crianças não estão a estudar bem, é uma distância grande de onde estamos a viver agora...criamos um grupo e fomos reclamar lá na empresa mas eles disseram vão lá reclamar com o vosso Governo...¨ Comunidade de Cateme e 25 de Setembro ¨...Por isso esse desenvolvimento que dizem desenvolvidos mas perfeitamente não estamos desenvolvidos estamos desgraçados...¨ Comunidade de Namanhumbiri ¨… quando nós estamos a colocar a questão de termos pelo menos uma parte estão a dizer que a pessoa que esta lá é intocável, de costas quentes por isso estamos a passar mal, por isso os que não tem poupança/preocupação como os da oposição estão a dizer que o que ficou é a colonização interna, por isso Namanhumbiri de facto haveria de desenvolver se tivesse uma área de trabalho para nós...¨ Comunidade de Namanhumbiri Notou-se também que a nível internacional a situação não foge a regra. Na sua intervenção o representante da comunidade de Ogoni, falou da experiência de luta e resistência contra a maldição do petróleo. A exploração do petróleo pela Shell no delta do Níger começou em 1956. Vazamentos de hidrocarbonetos e queimas em flares/flames dos gases de petróleo ocorreram com frequência desde o começo, e aumentaram ao longo dos anos. Essa situação acabou suscitando a revolta e fúria do povo
Ogoni, que resolveu fazer acções de protesto e lutar pela sua sobrevivência. Para além dos impactos dos derrames e queima de gases este povo sofreu ataques violentos para conseguir a sua libertação. Graças às reinvidicações e lutas, em Setembro de 2011 a SPDC (Shell Petroleum Development Company) aceitou a responsabilidade em relação à lei dos Oleodutos relacionados a dois derramamentos de óleo, que foram devidos à falha de equipamento. A SPDC reconheceu que é responsável pelo pagamento de compensação àqueles que têm direito a receber essa compensação. Durante a reunião constatou-se também que o impacto dos megaprojectos na economia do País varia de mínimo – insignificante. A apresentação do estudo do Grupo Moçambicano da Dívida, mostrou que a projecção de receitas fiscais sobre o imposto de produção na área de industria extrativa para o ano de 2016 não chega a 60 000 USD. O que mostra a urgência da renegociação dos contratos de megaprojectos assim como o fortalecimento, união e resistência da sociedade civil na reinvendicação dos direitos do Povo Moçambicano. O final do encontro foi marcado pela aprovação unânime de todos os participantes da realização de reuniões anuais da sociedade civil sobre responsabilidade corporativa como um mecanismo de partilha de informação e monitoria das actividades dos megaprojectos/empresas no campo. Criouse um network de informação ( baseado email e mensagens telefónicas) que servirá para manter informados tanto as comunidades locais e como as ONGs a nível central e denunciar as más práticas das megaprojectos. Terminamos com uma citação do Mestre Malangatana:
“Quando é que nós saberemos dizer NÃO? ”
Esta edição tem mais uma página do que o habitual, devido à importância dos artigos e informação nele contido, mas continuaremos a tentar manter o formato das 4 paginas mensais como tem sido feito ultimamente. Para mais informação ou uma cópia do relatório, por favor, contactem a JA, via email "ja@ja.org.mz".
"Só quando a última árvore for derrubada, o último peixe for morto e o último rio for poluído é que o homem perceberá que não pode comer dinheiro."Indios Cree