Newsletter Novembro 2013

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Foto:D.Ribeiro

Edição # 28: 5 de Novembro 2013

Papo na Praça

Aos Actores da Democracia Moçambicana: Eles e Nós Há meses, numa viagem de pesquisa testemunhamos uma situação certamente tão caricata quão lamentavelmente comum. Num trabalho de campo que efectuávamos na Zambézia sobre apropriação de terra, entrevistávamos um régulo que nos explicava que a sua comunidade havia recusado ceder as suas terras para uma plantação florestal mas, conforme nos explicou o régulo, o chefe do posto administrativo disse­lhe que tinha de aceitar e assim foi. – Mas como assim?! – perguntámos incrédulos. – Quem decide afinal?! Você representa a sua comunidade ou representa o chefe do posto? Este episódio marcou­nos, e de certa maneira, ilustra a maturidade da nossa democracia.

Pela segunda vez este ano, meses depois mas pelo mesmo deplorável motivo, vemo­nos compelidos a escrever algo sobre a situação política do país. As linhas que se seguem são certamente um posicionamento político, não o negamos. Mas não são, não poderiam ser e jamais serão um alinhamento. Podemos começar por aí mesmo (que por sinal foi onde parámos em Julho quando escrevemos sobre este tema pela primeira vez). NUNCA este país esteve politicamente tão desalinhado. Não fosse a guerra a razão desse desalinhamento político, tal até poderia ser considerado um sinal de uma democracia saudável, mas não é o caso. As duas maiores forças políticas do país, uma mascarada de Estado e a outra de Bandido Armado, degladeam­se sem dó nem piedade e sem sentido algum de responsabilidade social. Os Moçambicanos já perceberam que eles nada têm a ver com este conflito. Embora os seus filhos e filhas sejam os peões no tabuleiro, não é em seu nome que se trava esta partida. Somos um país riquíssimo em recursos mas paupérrimo em políticos com bom senso e boas ideias. Essas são as duas razões fundamentais desta guerra.

Do nosso governo já sabemos o que esperar, e quando o circo pega fogo são sempre as mesmas lengalengas: “a sociedade civil tem agendas ocultas”, “a comunicação social está a agitar o povo com inverdades”, enfim... Já ninguém acredita nisso. A bem da vossa credibilidade sugerimos que numa futura intervenção cuja mensagem seja desse teor, iniciem a prosa da seguinte forma: “Nós, autoridade máxima em agendas ocultas e inverdades em território nacional, vimos por este meio...” Talvez então alguém acredite. Falando de intervenções... Será que somos os únicos a pensar que o Chefe de Estado já se deveria ter dirigido à Nação? Porque não o faz? Não acham estranho? Será que o governo pensa que não nos deve explicações? Será que acha que todos achamos normal e perfeitamente justificável o ataque a Sathungira? Politicamente não teria sido muito mais hábil (uma vez que já tinha todo o exército às portas da base da RENAMO e ia em presidência aberta até Manica) o Presidente ir até à Gorongosa falar com Dhlakama? Teria demonstrado inequivocamente ao povo ser um homem de paz e um líder intrépido, teria evitado todo este problema e teria hoje muito mais tempo para se dedicar aos muitos e muito graves problemas que o país já tem.

Guerra?– perguntarão certamente alguns de vós.

Guerra sim. Há guerra em Manica, em Nampula, na Beira. O país está em guerra. Só ainda não chegou a todo o território... e então “tá­se bem”! Afinal de contas, à boa moda moçambicana (como li online num comentário bastante espirituoso à badalada entrevista dada o mês passado por Jorge Rebelo ao Savana) piri­piri no matako dos outros é refresco!

Conselho Editor: Anabela Lemos, Daniel Ribeiro,Janice Lemos, Ruben Mana e Vanessa Cabanelas/ Layout & design: Ticha / Editor : Ruben Mana


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