Suplemento
Sexta-feira: 10 de Outubro de 2008
O PaÍs VERDE
Propriedade da JA! Justiça Ambiental, Rua Marconi, nº 110, 1º andar - Maputo -Tel: 21496668 E-mail: ja-news@tdm.co.mz; ja-ngo@tdm.co.mz Directora: Anabela Lemos Periodicidade: Mensal Conselho Editorial: Anabela Lemos, Daniel Ribeiro, Janice Lemos, Jeremias Vunjanhe, Marcelo Mosse, Sílvia Dolores, Vanessa Cabanelas Edição nº 15 * 10 de Outubro de 2008
Aquecimento Global
As Plantações industriais são um investimento irresponsável! Por: GeaSphere
A GeaSphere – um Grupo Ambiental da África Austral, alerta as agências financiadoras das corporações multinacionais e governos para não investirem nas plantações madeireiras de grande escala
inteiro (recorrendo aos recursos hídricos subterrâneos) – levando a condições anormais de desidratação de uma região. Muitas nascentes e riachos secaram completamente nesta região de Mpumalanga, resultando na
trazem impactos negativos para os solos, criando condições para a sua rápida erosão. As plantações industriais de grande escala têm impactos na biodiversidade – uma vez que nenhuma espécie de fauna ou
diminuição de métodos de subsistência das comunidades e pessoas que vivem ao redor da actividade. As comunidades rurais são muitas vezes dependentes dos rios para as suas necessidades básicas de água, sendo portanto as que mais impactos sofrem com a seca dos rios. As mudanças climáticas estão já a manifestar-se na nossa região, com o aparecimento de ciclos secos e húmidos mais intensos. Por exemplo, as condições de desidratação extrema resultam em fogos mais frequentes e na perda de milhares de hectares de plantações. Estes fogos
flora indígena consegue sobreviver nas condições que as monoculturas oferecem. Estas plantações industriais de grande escala direccionadas à exportação de material têm-se tornado cada vez mais mecanizadas, providenciado assim cada vez menos oportunidades de emprego, sendo estes normalmente de baixa qualidade. O período de rotação das culturas é de 7 a 15 anos, período este em que não há necessidade de mão-de-obra no campo. As oportunidades de emprego não especializado disponíveis na indústria – tais como operadores das serrações - são perigosas e têm impactos negativos a longo prazo na saúde dos trabalhadores. Frequentemente, os principais beneficiários das plantações de grande escala são os próprios accionistas das corporações multinacionais que impulsionam a expansão deste modelo – enquanto que as comunidades locais ao redor das áreas de produção não retiram
A
pesar do investimento nestas “florestas falsas” parecem trazer lucros financeiros a curto prazo, os custos que trazem ao ambiente são muito mais altos que quaisquer potenciais benefícios. A região em escarpa de Mpumalanga, na África do Sul, tem sido uma região onde as plantações foram estabelecidas desde de fins de 1800, com uma expansão especialmente agressiva entre 1960 e 1990. Inicialmente, as plantações eram utilizadas para consumo local de madeira, particularmente para alimentar o fornecimento de madeira à indústria mineira Sul-africana. Contudo, a expansão agressiva dos anos 60 teve como principal força motriz o mercado lucrativo do papel e da polpa de celulose. A capacidade de produção local foi substancialmente melhorada com a construção da Fábrica de Papel e Celulose da Sappi, em Ngodwana – que é a maior fábrica de papel em África, com uma produção actual superior a 500 mil toneladas de celulose por ano e com planos de expandir as suas operações até 70%. Um visitante “desinformado” que percorra as plantações desta região, pode muito bem pensar que os milhares e milhares de hectares de plantações em sistema de monocultura de plantas invasoras e exóticas são “florestas”, representando um símbolo de prosperidade. Contudo, um olhar mais atento revela que estas “florestas” são desenha-
Fotografia-WRMN
das e geridas como monoculturas massivas, com impactos na vegetação indígena da área – reduzindo a paisagem a uma zona industrial. As plantações industriais madeireiras em grande escala consomem grandes quantidades de água. As raízes dos eucaliptos chegam a ter uma profundidade superior a 50 m, podendo assim extrair recursos valiosos como a água e minerais. As espécies preferidas pela indústria são espécies de rápido crescimento como o eucalipto e o pinho, que são espécies denominadas de “sempre verdes”. Estas espécies consomem água durante o ano
A publicação do País Verde foi possível graças ao apoio da Cooperação Francesa
AMBASSADE FRANCE AU MOZAMBIQUE ET AU SWAZILAND
O conteúdo nele expresso não reflecte necessariamente os pontos de vista da Embaixada da França é da responsabilidade exclusiva da Justiça Ambiental
quaisquer benefícios. Apesar dos vários impactos negativos das plantações industriais, 80% das monoculturas existentes na África do Sul têm o “Rótulo Verde” da FSC – certificadas como sendo “florestas geridas de modo responsável”. O FSC (Conselho de Gestão Florestal) é uma organização que foi criada para proteger as “florestas” mundiais. As operações de corte e exploração de madeira são julgadas de acordo com os “Princípios e Critérios” do FSC, com o objectivo de manter a “integridade ecológica” e proteger as florestas, os solos, a biodiversidade e os recursos hídricos. É difícil de perceber como é que estes princípios e critérios podem ser aplicados de igual modo às plantações industriais, uma vez que estas consistem basicamente em monoculturas em solos empobrecidos,recursos hídricos degradados e sem diversidade biológica. O FSC deveria criar um conjunto de princípios e critérios novos, aplicáveis às plantações de monoculturas – reconhecendo e mitigando os impactos e criando incentivos para mudanças para sistemas florestais nativos e diversificados (se necessitar de mais informações visite www. fsc-watch.org) Os governos e as agências financiadoras devem investigar e promover “modelos florestais” mais sustentáveis. Existem modelos florestais alternativos baseados no uso principalmente de espécies de árvores indígenas e diversificadas (de modo a alcançar um investimento de valor elevado e a longo prazo), e utilização do solo da floresta para o cultivo de alimentos e outras culturas de rendimento. Este modelo diversificado e orgânico é mais produtivo, necessita de mão-deobra intensiva, é mais lucrativo e mais sustentável. Este modelo assegura a segurança alimentar a longo prazo, localmente e regionalmente – um pré-requisito para a estabilidade, prosperidade e paz de uma região.n nPara mais informações visite www.geasphere.co.za