Suplemento
Sexta-feira: 12 Setembro de 2008
O PAÍS VERDE
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O País Verde
Propriedade da JA! Justiça Ambiental, Rua Marconi, nº 110, 1º andar - Maputo -Tel: 21496668 E-mail: ja-news@tdm.co.mz; ja-ngo@tdm.co.mz Directora: Anabela Lemos Editor: Marcelo Mosse Periodicidade: Mensal Edição nº 14 * 12 de Setembro de 2008
Jogos olímpicos 2008 e o Ambiente: o reverso da medalha Por: Sarah Lucas
Os Jogos Olímpicos de 2008 acabaram assim como começaram, com um grande espectáculo montado pelos chineses para surpreender o Mundo inteiro. O tema do ambiente nunca foi tão abordado numas olimpíadas, ou mesmo em qualquer outra competição desportiva. De facto, não é para menos: a China é um dos países mais poluídos do mundo. Os problemas ambientais na China multiplicam-se e afectam áreas tão diversas como a água, ar, energia, ecologia, clima e a saúde … Durante a fase de lançamento em 2000, Pequim estabeleceu objectivos ambiciosos no domínio do ambiente, a fim de mostrar ao mundo que aquilo foi o seu compromisso de desenvolvimento sustentável. Para a organização dos jogos olímpicos 2008, o município de Pequim e o Governo chinês apresentaram no quadro do plano de desenvolvimento sustentável da cidade, 20 projectos-chave para melhorar o meio ambiente. O plano tinha como objectivos melhorar a qualidade do ar, da água e também a gestão dos resíduos tendo em conta as consideraçoes ambientais na criação de novas infra-estruturas. Grandes operações foram feitas na capital e no total o Governo Chinês gastou 17 milhões de dólares americanos para tornar mais verde as Olimpiadas de Pequim, incluindo uma série de melhorias ambientais a longo prazo para a cidade, afirmou o Programa Ambiental das Nações Unidas. O Parque Olímpico, que concentrava as principais infra-es-
truturas olimpícas tinha muitas características: a energia solar, ocupava um lugar importante na Aldeia Olímpica, o está-
dio, apelidado de “ninho de pássaro” por causa de uma estrutura metálica, tinha um sofisticado sistema de reciclagem de águas pluviais (70% da água reciclada foi utilizada para lavar as faixas e regar as zonas verdes) estava cercada por uma floresta de sete quilómetros quadrados formando um cordão verde para a populaçao de Pequim. No âmbito da utilização de energias renováveis, 20% do abastecimento de electricidade para os locais de competição dos Jogos Olímpi-
cos deviam ser produzidos a partir da energia eólica, através de uma estação localizada nos subúrbios da capital. Muitas estradas e linhas ferroviárias urbanas foram construidas para melhorar a circulação nesta megalópole habitada por mais de 11 milhões de pessoas. As autoridades queriam diminuir em 45% o tráfico
automóvel na capital (mais de três milhões de veículos) para reduzir as suas emissões em mais de 60 %. De facto a qualidade do ar é um dos principais problemas ambientais que os organizadores dos Jogos Olímpicos na China foram confrontados, Pequim é mais conhecida pela sua neblina permanente do que pelo o seu céu azul. Deste modo, Pequim intensificou os esforços para reduzir a poluição atmosférica e as emissões de poluentes duran-
A publicação do País Verde foi possível graças ao apoio da Cooperação Francesa
AMBASSADE FRANCE AU MOZAMBIQUE ET AU SWAZILAND
O conteúdo nele expresso não reflecte necessariamente os pontos de vista da Embaixada da França é da responsabilidade exclusiva da Justiça Ambiental
te a competição, ordenando a paragem de projectos de construção de 13 centrais eléctricas a carvão, e introduzindo as normas para combustíveis mais limpos. Além disso, muitas fábricas tiveram de fechar as suas portas e cessar as suas actividades durante os Jogos Olímpicos. Os automóveis tiveram de passar de forma alternada nas estradas (os números
grande problema ambiental em que os organizadores dos Jogos Olímpicos foram atacados. Por causa da seca persistente nos últimos anos, a China viu as suas reservas de água doce declínar gradualmente para chegar a níveis recorde. De acordo com os especialistas, a China terá explorado todos os seus recursos hídricos disponíveis ate 2030 e a actual seca está a causar uma situação de escassez de água potável, que afecta milhões de pessoas. Além desta falta de água, o país enfrenta um grave problema de poluição da água ligadas às actividades agrícolas e à libertação de plantas químicas.
Mas é questionável se estas medidas consideradas por alguns como sendo muito efémeras e se não foram “apenas” um símbolo utilizado para tranquilizar os atletas e a comissão das Olimpiadas. Se as autoridades afirmaram que alguns índices de poluição atmosférica tem diminuído ao longo do ano, decididamente o céu cinzento da cidade e a espessa neblina pareciam pôr em causa estas mesmas declarações.
A principal preocupação dos organizadores dos Jogos Olímpicos era saber se eles poderiam enviar água suficiente, para a cidade de Pequim, para alimentar o grande número de visitantes durante os Jogos de Pequim. O Governo teve por isso, de pôr em prática várias medidas, incluindo o desvio de água de outras províncias menos afectadas pela seca para a província de Pequim, mas também a aceleração de uma parte do projecto de construção do Grande Desvio de Águas Norte-Sul, um projeto muito controverso devido ao seu impacto ambiental. Além disso, o governo criou polémica ao usar água para multiplicar os espaços verdes nos locais aonde realizavamse os Jogos Olímpicos. Muitos dizem que os Jogos Olímpicos tem uma grande responsabilidade na gravidade da crise da água na China. Com efeito, Pequim tem bombeado as águas subterrâneas já subexploradas para assegurar o abastecimento para turistas, mas também as reservas de outras províncias rurais já sofrem de imensa falta de água. Assim, em Junho de 2008, o problema da poluição de água foi salientado devido à causa da proliferação de certas espécies de algas invasoras em quase um terço da superfície dedicada ao desporto aquático na estância balnear de Qingdao.
A poluição e escassez da água potável constituem o segundo
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pares um dia e os números ímpares no outro dia) sob pena de uma multa de 100 yuans (14 dólares), uma soma dissuasiva para muitos chineses; os autocarros, táxis e veículos antigos foram substituidos por outros que funcionavam a gás natural comprimido... e até mesmo o tabagismo foi proibido na cidade.