3 minute read

O EMBONDEIRO.

Poderia tentar escrever uma tese sobre o Embondeiro, partindo como casa da Justiça. Como Tribunal silencioso. Mulher e homem, crianças. Dignidade. Justeza comunitária.

Não o farei.

Nunca a acabaria.

É simples.

Prefiro saber que o foi, ainda é, no sentido mais puro do equilíbrio da Justiça Além -Terra, crendo no sussurro das profundezas do mato, era assente, imaginem, na pesagem, entre mãos “Digitata/Balança”(só eles conheciam o segredo dessa oralidade) do órgão/coração. Do novo viajante.

Ali, na imensidão ainda vivo. Fui jovem.

Louvei-crescimento, velho sou e seguro a mão da nubilidade.

Ali, em mim, só em mim, mestre sem cor serei teu, tribunal aconchegado.

Num cajado anoso, cinzelado em várias camadas, “O Martelo” era o alerta, o respeito e a ordem para o silêncio.

Tu, nu, nua, serás depois do Soba, do Mestre clamar a verdade, uma outra verdade que não era tua.

Sem ti, árvore minha, nossa, da humanidade, seremos Babilónia, Babel, seríamos cegos. A audição para o velho negro, trajado de negro até aos pés, “A Toga”, rodeado de outros idosos, cercado de homens e mulheres de vestes coloridas, acocorado, era, de olhos fechados, “A Venda”.

Para além da cegueira, não teríamos a imparcialidade. Com um gaveto na mão, que não a do cajado, riscava o chão usando-o como “Uma, A espada”.

Separava o bem e o mal, protegendo um, punindo o outro, sem nunca revelar a inclinação.

As pálpebras só abririam para os detalhes. Pessoais. Sem serem em função da cor, credo, ou outro elemento visível a olho nu. Terrestre.

O rolieiro-de-peito-lilás é uma ave corajosa. Desde as Savanas até aos limites do Deserto, espalha a profusão das suas cores.

Dizem “os mais velhos” que nidificam, também, (é verdade) nos BaobásEmbondeiros.

São aves corajosas, de visão extraordinária, Unificadora da família, com sentido de Justiça Comunitária.

Será a ave substituta da Coruja?

Não sei.

Sei sim que o Baobá, o meu Baobá l, em Angola, tinha riscos leves, outros mais profundos nas suas cascas, como se fosse um livro de memórias, decisões, de validades.

Um mundo fantástico. Real.

Contigo, fomos e somos, a feliz identidade nos cinco dedos do juiz, voz fecunda, oralidade, hoje, papel.

Os embondeiros não nascem, são velhos mesmo! Não se curvam perante ninguém. Tenta só..

Vento de Leste, mais forte que seja, que o tente inclinar!

Dão flores uma vez.

Não dá mais. Uma Só. Num ano...Tem sim...tem flor. Se não tiver... não tem mal...

Fruto inebriante para beber, Múcua meu mano... Pendurado nos gordos ramos... Múcua fruta filamento, agridoce, como o amor.

Porque lhes apetece, porque têm tempo. Porque dormem, os soberanos!

Quando o Cristo nasceu, “os embondeiros da minha terra já dominavam a cena”.

Não veio com o redentor, nem este saberia o que lhes dizer.

Foi a essência da terra que o fez acordar. Abrir o dia com a criação dos elementos. São cultos.

Como o povo, simples.

Ouve-se o sopro de um estulto que o tentou domar. Nos dias de calor, é a sombra que te protege. Morres, se fugires.

Sem água.

Porque líquido sem cor, inodoro é casa de jus. Naquele tronco oco, pela enorme protecção serve de amparo.

Alguns dos maiores exemplares podem abrigar no seu tronco oco dezenas de pessoas, oferecendo protecção contra animais selvagens, vento forte, chuva torrencial e seca.

Possui uma sagrada associação com o parto no continente Africano, sendo considerado por muitas tribos como o local de descanso dos seus antepassados.

São espaços reverenciados, princípios da íntima convicção, oralidade e imediação.

A longevidade é eterna.

Como a do sorriso que se perde na arena da saudade.

Ao longe, por vezes, permitem-nos ver um gesto. Um vento suão, que lhe agita as folhas da raiz!

Sim, isso mesmo, da origem.

Pode ser miragem...se te rires... Sendo sábio, foi castigado. Injustamente, pois serviu e servirá sempre de abrigo aos fantasmas do deserto, da savana.

Sabedoria do Céu e da Terra, é pilar, sustentáculo das mãos justas, digitata.

Foi e é refúgio das almas penadas como ele.

Com os pés para cima e a cabeça enterrada na areia. Nessa areia, onde os olhos procuram o céu sente na raiz a seiva que lhe corre nos braços, um pecado original, a múcua.

Eu gosto.

Existe um provérbio da cubata, “a Sabedoria é como o tronco do embondeiro. Uma só pessoa não o consegue abarcar”.

O professor diz que é do profeta. Não é. É do bom aluno.

Serve o oposto. Aiuê...

Sei que não será assim, mas numa dessas lendas, conta-se, que quem por bem for sepultado num embondeiro, a sua alma viverá enquanto a planta existir.

Um guerreiro disse-me... Só...vem só...dorme...

O embondeiro nunca morre…

This article is from: