MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA DO SER HUMANO

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Manual de sobrevivĂŞncia do ser humano



Carlos Vieira

Manual de sobrevivĂŞncia do ser humano

Belo Horizonte • 2010


Ficha Catalográfica Bibliotecária: Denise Cristina de Castro - CRB 1941-6 V657

Vieira, Carlos Manual de sobrevivência do ser humano / Carlos Vieira -Belo Horizonte : Fundac-BH, 2009. 202 p. : il. ; 21 cm. ISBN 978-85-85477-29-5 1. Psicologia aplicada. 2. Teoria da autoconsciência. 3. Processos mentais. 4. Existencialismo. I. Título.

CDU 159.95

Revisão: João Batista Xavier

www.fundac.org.br Diagramação: Josemar Lucas Arte da capa: Eduardo Caçador Pontes Impressão: Gráfica Fundac-BH


Para WALDEMAR DE GREGORI, criador da Cibernética Social, avatar de tantas consciências por esse Brasil afora, América Latina, Estados Unidos, África, ... Planeta Terra, com minha admiração e reconhecimento.



Agradeço a cada um e a todos que ao longo desses últimos trinta anos, numa relação conjunta e participada, percorreram comigo esse texto em busca de autoconsciência, autocondução, mais vida e bem-estar global.



Apresentação Conheci Waldemar de Gregori em março de 1979 aos meus trinta e três anos de idade participando de um seminário de Cibernética Social dirigido por ele em São Paulo, capital. Fiquei extasiado com aquela “teoria”, porque com a simples compreensão de seu referencial, de imediato, vislumbrei seu potencial extraordinário para a formação e cultivo de uma maior consciência minha e das outras pessoas e para o entendimento e transformação das relações pessoais, familiares, grupais, societárias, nacionais, planetárias. Médico já há dez anos e com uma formação e pós-graduação médica tradicional, jamais havia entrado em contato com um instrumental (de pensar, de sentir, de agir) como aquele de tamanha lucidez, sensibilidade e praticidade. A meu pedido, acompanhei Waldemar de Gregori, desde após o seminário por quase trinta dias usufruindo de seu convívio e de suas intervenções educacionais em escolas das cidades satélites de Brasília e na supervisão de doutorandos de faculdades da capital brasileira, onde morava. E naturalmente no dia-a-dia fui me descobrindo e reciclando com sua ajuda pela perspectiva da Cibernética Social. Outros encontros em Belo Horizonte, São Paulo e na comunidade do Vale do Aço onde exercia e exerço a Medicina sedimentaram mais a nossa amizade e o contexto da Cibernética Social. Em 1990, a Editora Ícone, de São Paulo, SP, editou nosso livro Saúde Autoconduzida – orientação básica em Medicina Oficial, Medicina Alternativa, Medicina Popular, em busca da saúde holística e do bem-estar global. Aquele e este livro foram orientados pelo Prof. Waldemar de Gregori, assim como contribuiu, acompanhou, estimulou muitos outros textos de seus discípulos e colaboradores. A Cibernética Social é um instrumental de pensar, sentir e agir que incorpora ferramentas como o cérebro triádico (racional, emocional, prático), os quatro níveis de cada cérebro, o quociente mental global do ser humano, o fluxograma evolutivo do ser humano, o sistema energético humano e seus quatorze sistemas, o ciclo cibernético do cérebro humano, as várias dinâmicas de circulação da energia desde seu nível energético, passando pelo noônico ou cerebral, pessoal, grupal, societário, plane-


tário, teleológico. Propicia uma nova visão da vida e das relações humanas e políticas entre as pessoas e os grupos sociais possibilitando um processo próprio para cada ser humano de desfrute da vida com maior consciência e proporcionalidade. Com ela podemos usar nosso cérebro de maneira global e buscar mais vida, mais saúde, autocondução e um bem-estar mais global. Por isso tudo incorporei a Cibernética Social na minha vida pessoal e profissional e me utilizei dela para tentar despertar e orientar muitos dos meus clientes nessas últimas três décadas. Tive muitos mestres na minha vida – entendendo-se mestre como aquele que com sua luz própria nos orienta de um ponto até outro de nossa trajetória humana e depois nos possibilita seguir nosso caminho com direção, sentido e responsabilidade próprias. E dentro desta visão Waldemar de Gregori foi e é para mim um verdadeiro mestre e pai intelectual. Carlos Vieira Fazenda do Vovô Vale do Aço das Minas Gerais 20 de janeiro de 2010


Sumário

1. Você é o reflexo de seu cérebro ...... 15 2. Os três processos mentais ...... 21 2.1. Apuração do quociente triádico mental ...... 27 3. Os quatro níveis dos três processos mentais ...... 33 4. Avaliação de seu processo mental global e específico ...... 43 4.1. Apuração de seu processo mental global e específico ...... 46 5. Evolução histórica da neurofisiologia dos três cérebros ...... 47 6. Ciclo cibernético do cérebro humano ...... 51 6.1. Ciclo cibernético do cérebro humano 6.2. Metas de cultivo do cérebro humano mais complexas 6.3. Cultivo do lado racional 6.4. Cultivo do lado emocional 6.5. Cultivo do lado prático

...... 52 ...... 61 ...... 61 ...... 62 ...... 64

7. De como e por que fizeram sua “cabeça” ...... 65 8. Homem: criação de Deus ou produto da evolução das espécies? ...... 73 8.1. O cérebro humano na evolução das espécies ...... 83 9. A sociedade como um jogo triádico ...... 87 10. O ser humano como um sistema energético ...... 95 10.1. Sistema energético humano e seus 14 subsistemas ...... 97 10.2. Metas do sistema energético humano .... 102


11. Fluxograma evolutivo do ser humano .... 107 11.1 Ciclos do sistema energético humano .... 109 11.2. “Pacote” religioso e civil da peregrinação humana .... 110 11.3. Detalhes de cada ciclo .... 112 11.4. Níveis dinâmicos no fluxograma da existência humana .... 116

12. Vida e morte: quem é o dono? .... 119 12.1. Dependência e dominação .... 123 12.2. Autocondução para onde? .... 126 12.3. Em busca do desatrelamento .... 131 12.4. Autocondução .... 134 13. Saúde global do ser humano .... 139 13.1. Componentes operacionais do sistema sanitário 13.2. Sistema sanitário versus demais subsistemas 13.3 Metas da saúde global 13.4. Reprogramação de seu cérebro nos 14 subsistemas 13.5. Reprogramação de seu cérebro racional 13.6. Reprogramação de seu cérebro emocional 13.7. Reprogramação de seu cérebro prático

.... 140 .... 142 .... 152 .... 155 .... 159 .... 161 .... 163

14. Saúde global do ser humano nas diferentes dinâmicas .... 165 14.1. Dinâmica de potencialidades 14.2. Dinâmica individual 14.3. Dinâmica de grupo 14.4. Dinâmica de sobrevivência 14.5. Dinâmica universal

.... 165 .... 165 .... 166 .... 167 .... 167

15. O poder de seus três cérebros .... 169 16. O bem-viver; Viver intensamente; Exercícios do direito de viver e morrer; O medo da autocondução; A libertação do cérebro; e Filosofia do pós-morte (escatologias) .... 173


16.1. O bem-viver 16.2. Viver intensamente 16.3. Exercício do direito de viver e morrer 16.4. O medo da autocondução 16.5. A libertação do cérebro 16.6. Filosofias do pós-morte (escatologias)

.... 173 .... 176 .... 177 .... 178 .... 179 .... 180

17. Conclusão .... 185 18. Resumo .... 187 19. Glossário .... 189 Referências .... 197



1. Você é o reflexo do seu cérebro

Olhe à sua volta, prezado leitor. Algumas pessoas têm saúde, dinheiro, boas condições de vida. Outras são doentes, economicamente carentes, se alimentam incorreta e deficientemente. Muitas pessoas são sensíveis, expressivas, mostram e criam alegria, afetividade, interesse estético e místico em suas vidas. Outras não. Poucas pessoas têm conhecimento das coisas gerais antes que os demais, organizam, administram, lideram suas atividades nos seus vários níveis. Têm noção do que vai acontecer na política, na saúde, na educação, no comércio, e tantas somente ficam sabendo depois que tudo aconteceu. Por que isso acontece? Certamente porque aquelas pessoas que aparentam mais privilégios cultivaram seu cérebro (sua mente, sua “cabeça”) e vivem o dia-a-dia com um nível mais elaborado de desempenho mental. Há quem diga que somos aquilo que pensamos (sentimos, agimos). Naturalmente isso é uma forma de chamar a atenção para a importância de nosso cérebro. Tantos outros fatores, no entanto, se juntam a essa necessidade fundamental de se saber usar de maneira adequada e eficiente o nosso cérebro para a consecução de nossa sobrevivência humana e para a satisfação de nossas necessidades básicas — físicas, mentais, sociais, espirituais. Para citar, inicialmente, somente algumas destacamos – a influência da genética, do meio humano e social, do nosso grau de desenvolvimento educacional formal ou não, de nossa conta bancária, das oportunidades que o destino ou a nossa procura consciente disponibilizou. Você é o reflexo de seu cérebro. Sim. Antes de tudo, precisamos conhecer, cultivar, proporcionalizar os nossos três processos mentais – o racional, o emocional e o prático. As pessoas que têm saúde, dinheiro, boas condições de vida são as que de uma forma ou outra usam privilegiadamente seu lado prático do cérebro. Quem manda em casa, no trabalho, na sociedade não são os 1. Você é o reflexo do seu cérebro - 15


intelectuais, os artistas, os filósofos, o povo. São aqueles que sabem resolver problemas. Outras são doentes, economicamente carentes, se alimentam incorreta e deficientemente. Não são práticas, ou por deficiência de recursos, de oportunidades, de desenvolvimento racional e emocional. Muitas pessoas são sensíveis, expressivas, mostram e criam alegria, afetividade, interesse estético e místico em suas vidas, porque evidentemente têm um desenvolvimento de inteligência emocional acima da média ou excepcional. Outras não. Poucas pessoas têm conhecimento das coisas gerais antes que os demais, organizam, administram, lideram suas atividades nos seus vários níveis. Têm noção do que vai acontecer na política, na saúde, na educação, no comércio... Essas são aquelas pessoas que cultivaram seu cérebro racional por uma preparação acadêmica oficial ou por esforço autodidata. E tantas somente ficam sabendo depois que tudo aconteceu. Lamentavelmente a maioria da população de nosso país e de tantas outras nações. São aquelas que por motivos tantos foram privadas de oportunidade, ou de vontade, ou de espírito de persistência, ou de desenvolvimento de sua educação escolar formal. Mas é preciso antes de tudo despertar. Despertar de quê? Fomos e somos todos traídos desde o nascimento pelos nossos pais, educadores, contexto cultural e social, pela desproporção gritante dos meios de sobrevivência e de oportunidade disponíveis para a maioria, pelas religiões institucionais, pelos políticos, pelo capital nacional e internacional, dentre tantas outras personagens. Nascemos sem o nosso consentimento e num meio social e cultural organizado pelas tradições, valores, costumes, crenças e, fundamentalmente, por aqueles que detêm a hegemonia do saber e do poder. Dentro de um processo de socialização, preparado para todos, somente alguns conseguem acordar e conhecer o jogo e as regras do jogo da vida e das instituições e se desatrelar deles e assumir sua autocondução para mais vida, mais autonomia e para uma vida mais consciente e responsável. E você, leitor, se quiser, pode também. De início, é, então, preciso despertar. E despertar é, inicialmente, tomar consciência de que a maioria das pessoas vive, inconscientemente, Manual de sobrevivência do ser humano - 16


dentro de raciocínios, valores, situações há muito sustentados — organizados mesmo — pelos detentores do saber e do poder. Tudo isso é feito para que você não possa conhecer o jogo e as regras do jogo da vida e assim continuar dominado, sem autoconsciência e sem autocondução. Os donos dos poderes (econômico, político, religioso...) do mundo, de seu país, de sua comunidade controlam seus três tipos de processos mentais (racional, emocional e prático) para você pensar, sentir e agir de acordo com os interesses deles e contra você mesmo. Se, no entanto, você quiser, pode desatrelar-se desses donos e assumir a condução de si mesmo, investindo no desenvolvimento pleno de seu cérebro — conhecendo-o, cultivando-o, desenvolvendo cada um de seus três processos mentais — , otimizando assim seu mais precioso instrumento de decodificação e atuação sobre si mesmo, seu próximo e o meio ambiente. Convido você a reciclar e reorientar seu cérebro. Sua mãe, sua família, sua escola, sua religião, sua cultura e seu meio ambiente fizeram sua "cabeça", programando seu cérebro a partir de suas potencialidades herdadas geneticamente e dentro de um processo de padronização. Esse processo de socialização determinou valores, princípios, normas, regras, ou seja, um padrão de raciocínio (paradigma). E, se você não parar para pensar nesse processo, está sujeito a viver toda a sua vida exercitando-o, defendendo-o, propagando-o, como a maioria da sociedade, de uma forma inconsciente para a maioria ou consciente para alguns. Você, no entanto, pode se reprogramar e mudar o curso de sua vida, porque, afinal, o jogo da vida é isso aí, e você não pode fechar seus olhos a essa realidade e continuar inconsciente, insensível, submisso. A intenção desse Manual de sobrevivência do ser humano é fornecerlhe um instrumental básico de capacitação para conhecer o jogo da vida e das relações humanas, ao qual todos, querendo ou não, estamos submetidos. Conheça você sua situação atual, os demais jogadores, as regras do jogo, sua classificação em cada lance e durante toda a partida. Com essa visão mais ampla de si mesmo, do próximo e do mundo, você pode orientar melhor seu desempenho para uma posição de maior consciência, menor dependência, maior autonomia e vantagens mais proporcionais. Vamos, portanto, nos despertar e nos esforçar em aprender os caminhos que dão acesso a mais bens materiais, a mais bens espirituais e a uma visão mais crítica, mais atualizada e mais equilibrada do mundo. Apesar de todas as teorias (científicas, religiosas, populares) acerca de 1. Você é o reflexo do seu cérebro - 17


“por que as coisas são e estão” apontarem para inúmeras direções e para inesgotáveis desdobramentos e soluções, acredito que seu autoconhecimento, sua autocondução e seu bem-estar global começam e se sustentam no uso adequado, no cultivo e na otimização de seu cérebro. Portanto, de início, abaixo o cérebro subdesenvolvido, subaproveitado, sem autoconhecimento, sem autocondução e sem vida própria. O instrumental que esse manual pretende elucidar passa pelo conhecimento de seu próprio cérebro e pelo aumento do potencial global e específico dele, almejando dar-lhe subsídios para a conquista de sua autoconsciência e de sua autocondução, através de um cultivo de seu cérebro exercido no dia-a-dia e por um longo período. Vamos, portanto, conhecer a formação, a estrutura, o funcionamento de nosso cérebro. Dimensionar as capacidades de cada um de seus três lados — o racional, o emocional e o prático. Levantar nosso quociente mental global e específico e a proporção entre eles. Saber como cultivar cada um de seus três lados e como estabelecer uma interação dinâmica, eficiente e equilibrada entre eles. Cultivando seu “cérebro direito”, você amplia sua afetividade, sensibilidade, criatividade, percepção extrassensorial e também sua estética, mística, espiritualidade – sua inteligência emocional. Por outro lado, aprimorando seu “cérebro esquerdo”, você passa a ter acesso a mais conhecimento crítico de sua vida pessoal, profissional, social e da relação consigo mesmo, com o próximo e com o meio ambiente – desenvolve sua inteligência racional. E, finalmente, com o desenvolvimento do “cérebro prático”, você conquista os caminhos que dão acesso a mais bens materiais, através do melhor planejamento e execução de suas tarefas, após a escolha da orientação de assessorias mais capacitadas e eficientes e de um melhor direcionamento de seu potencial pessoal – cultiva sua inteligência prática. Convido você, portanto, a me acompanhar por esse manual afora, não deixando de refletir sobre cada conteúdo emitido, confrontando, com sua própria experiência, compreensão e valores, os conceitos e as ideias aqui expostos. Se este Manual de sobrevivência do ser humano conseguir ajudá-lo na construção de novas sínteses sobre si mesmo, sobre o outro e o mundo e se puder propiciar mudanças de perspectivas que possam responder à sua demanda na busca de maior consciência, saúde e felicidade, seremos todos vitoriosos. Manual de sobrevivência do ser humano - 18


Vamos, assim, na medida do possível, juntos, construir uma síntese que, apesar de sempre provisória – como tudo na vida -, possa ser nossa melhor e mais atual contribuição para fundamentar nossas existências e propiciar uma melhor trajetória para um ser humano. A máxima do grego Sócrates “Conhece-te a ti mesmo” pode ser alcançada conhecendo seu cérebro e administrando a potencialidade global e específica dele.

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2. Os três processos mentais ou a compreensão, uso adequado e otimização dos três processos mentais de seu cérebro — racional, emocional e prático.

Um dos caminhos para o autoconhecimento, a autocondução e um bem-estar global passa pela compreensão, uso adequado e otimização dos três processos mentais de seu cérebro — racional, emocional e prático. Essa otimização ocorrerá através de um esforço diário e contínuo de cultivo desses processos. Será necessária a procura constante de um equilíbrio proporcional deles, através de sua própria regulagem consciente. São três processos mentais distintos, interdependentes e dinamicamente interligados – o racional, o emocional e o prático –, e a cada momento um deles está no comando, em predomínio sobre os demais, orientando a sua ação e recebendo a colaboração simultânea em proporções diferentes dos outros dois, de uma forma complementar ou opositiva. Você é um sensitivo desde que nasceu, pois você nasceu em nível alfa com capacidade incrível de sensibilidade, visão, profecia, intuição e outros fenômenos considerados sensitivos. Se hoje você não é um sensitivo, provavelmente deve ter tido algum desvio no início de sua aprendizagem escolar, uma vez que todos nascemos sensitivos. É na escola que nos tornamos mais intelectivos ou mais ativos e menos sensitivos. Você tem alguma ideia ou concepção sobre seu cérebro? Estudou anatomia, histologia (a estrutura) de seu cérebro? E fisiologia (a função) de seu cérebro? Acompanha os mais recentes avanços das Neurociências, que procuram desvendar seu sistema nervoso? Como não sei qual é o seu nível de conhecimento sobre o cérebro, permita-me simplificar dizendo que podemos, apesar de ser um único cérebro humano, reconhecer nele três pedaços, três porções, três "lados". O cérebro mais antigo — cérebro reptílico ou cérebro central — corresponde ao cérebro que os répteis tinham ou que todas as espécies tinham quando estavam na fase de répteis: cobra, lagarto, jacaré. Ele é hereditário e funciona no ser humano de forma instintiva, inconsciente, arquetípica, reflexa. Podemos reconhecer ainda um cérebro intermediário, cérebro límbico ou cérebro direito, que é o lado intuitivo, o lado sensível, ou o lado 2. Os três processos mentais - 21


privilegiado do sensitivo, do vidente, do esotérico. Ele é não verbal, inconsciente e, muitas vezes, é confundido com religião, com o sobrenatural, com a magia. Por último, temos o mais recente na evolução filogenética e ontogenética, o cérebro racional ou cérebro esquerdo, que é considerado o lado da análise, do raciocínio, da ciência. Este pode ser consciente, crítico, lógico. Só ele é verbal. Essa é uma concepção moderna do cérebro, baseada na filogênese (evolução das espécies) e na ontogênese (evolução do ser humano), que será desenvolvida mais extensamente no capítulo 5 deste manual. Mesmo que provisória, como tudo também na ciência, essa concepção tem grande aplicação prática no que se refere à educação de seu cérebro, ou de sua mente ou de sua "cabeça". E como vamos medir cada um desses três processos mentais? Essa mensuração ocorre através de um teste que realmente avalia os três processos mentais — racional, emocional e prático -, tanto sob um ponto de vista da mensuração percentual de cada um deles separadamente, quanto da relação de cada um deles com os outros dois. Lembra-se do teste de QI? O QI (quociente de inteligência), na década de 1960, foi considerado um importante e quase decisivo fator de sucesso na vida, de um bom aproveitamento no processo escolar, de uma admissão quase certa numa determinada empresa. Hoje ele não tem mais esse exuberante prestígio. O QI "mede" sua cabeça como se fosse um bloco único de funções mentais. Entretanto sua “cabeça” é constituída de três blocos, três partes, que funcionam integradamente, embora a contribuição de cada uma delas seja diferente, dependendo do seu condicionamento biológico, da sua criação, de seu meio ambiente educacional e social e de tantos outros fatores ou condições. Assim, se o QI "mede" o cérebro como um bloco e o transforma em um único número com seu percentil (ou variação de seu resultado comparado com seus iguais), ao medirmos cada um dos três processos mentais individualmente e globalmente, estaremos mais próximos do verdadeiro quociente mental do ser humano. O Prof. Waldemar de Gregori, criador da Cibernética Social, desenvolveu um teste que atende, prontamente, essa necessidade de se fazer uma medida específica e global dos três processos mentais do cérebro humano, através de um instrumento que ele denominou REVELADOR DO QUOCIENTE MENTAL TRIÁDICO. Manual de sobrevivência do ser humano - 22


Este teste, apesar de sua simplicidade e, principalmente, globalidade e utilidade prática, não recebeu, ainda, a atenção e reconhecimento que seguramente merece daqueles que fazem neurociência oficial e de todos os agentes e usuários da educação, administração, neuropsicologia e demais interessados. Vamos ao teste? Desenhe numa folha de papel duas colunas ou use o gráfico do próprio manual, dado como exemplo, a seguir. Caso opte por não usar o gráfico do próprio manual, faça o seguinte: na primeira coluna, a partir da primeira linha até a última, escreva os números de 1 a 27 e deixe o espaço seguinte correspondente à segunda coluna em branco para receber o número que vai corresponder à resposta de cada uma das 27 perguntas. Veja o gráfico do manual: 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27

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Se você entender durante a autoavaliação de seu processo mental triádico que a capacidade de seu cérebro, referente àquela determinada pergunta, deve merecer um conceito FRACO, escreva na frente do número do item a nota 1; se o conceito for MÉDIO, escreva a nota 3; e se for FORTE, então escreva a nota 5. Não considere muito seriamente essa sua primeira avaliação, porque todos temos a tendência a nos menosprezar ou nos supervalorizar nas primeiras avaliações, e o exercício vai servir apenas para você dominar o processo no seu todo. Antes de começar a fazer sua autoavaliação, leia todos os itens inicialmente e somente depois, com atenção, responda a cada um deles. Não pense em termos de “sim” ou “não”. Entenda cada pergunta como: “Qual é meu grau de desenvolvimento ou capacitação em resposta a esse item?” Abaixo, apresento as questões do teste: Perguntas: 01) No fim do dia, da semana ou de uma atividade, você faz revisão, avaliação? 02) Na sua casa, no seu quarto, no seu local de trabalho há ordem? 03) Como é sua crença em alguma coisa maior que você, força superior, espiritual? 04) Você anda alegre? Gosta de brincadeira, piada? É otimista, apesar de tudo? 05) Num diálogo ou discussão, você tem boas explicações para apresentar, tem argumentos, sabe rebater? 06) Você tem pressentimentos, previsões ou sonhos que se cumprem? 07) No relacionamento afetivo, você entra a fundo com romantismo, paixão? 08) Você fala bem em grupo? Tem bom vocabulário, fluência, correção? 09) Ao falar, você gesticula, olha todas as pessoas, movimenta bem o corpo? 10) Você é capaz de se imaginar no lugar, na situação de outra pessoa e sentir como ela se sente? 11) Diante de uma situação qualquer, você combina prós e contras, faz avaliações corretas, julgamentos bons? 12) Ao narrar algum fato, você dá muitos detalhes? Você gosta de descer às minúcias, aos pormenores? Manual de sobrevivência do ser humano - 24


13) Quando compra ou vende, você se sai bem? Sabe ganhar dinheiro? 14) Você gosta de modificar a rotina da vida, do ambiente? Você acha soluções novas, criativas, originais? 15) Você controla seus ímpetos, para e pensa antes de agir? 16) Antes de tomar uma informação como correta, você se dedica a coletar mais dados e averiguar fontes? 17) Como vão as suas mãos em atividades como consertos, uso de agulhas, martelo, jardinagem, enfim, habilidades manuais? 18) Frente a um trabalho ou a uma dificuldade, você tem capacidade de concentração, dedicação continuada? Tem resistência, aguenta muito? 19) Na posição de chefe, você sabe dividir tarefas, calcular o tempo para cada coisa, dar comandos curtos e exatos, cobrar a execução? 20) Você presta atenção a um pôr-do-sol, a um pássaro, a uma paisagem? 21) Você tem atração por aventuras, tarefas desconhecidas, pioneiras, iniciar coisas que ninguém fez antes? 22) Você se autoriza a pôr em dúvida ou questionar pessoas ou informações de TV, jornal, política, religião e ciência? 23) Você consegue transformar os seus sonhos e ideias em fatos, em coisas concretas, em realizações que progridem e duram? 24) Você pensa no amanhã, no que poderá acontecer no ano que vem, nos próximos dez anos? 25) Você tem facilidade para lidar com máquinas. E com aparelhos como gravador, calculadora, carro, máquina de escrever, computador? 26) Você é rápido no que faz? Termina bem o que faz e no prazo certo? Seu tempo rende mais que o de seus colegas? 27) Quando se comunica ou trabalha, usa números, estatísticas, percentagens ou medidas numéricas? Se você já respondeu a todas as questões, parabéns! Você já está próximo de revelar uma fotografia tridimensional ou triádica de seu cérebro. O mundo de seu cérebro pode ser maravilhoso e infinito. Pode também ser sua prisão, mas pode significar suas asas, ou motor propulsor de sua nave interespacial para sondar todos os possíveis e imagináveis mundos... (Jones, 1984). 2. Os três processos mentais - 25


Vamos agora mensurar seus três processos mentais através do teste: Leia com atenção as instruções, expostas a seguir, para a apuração do REVELADOR DO QUOCIENTE MENTAL TRIÁDICO. Some as notas dadas às perguntas 1, 5, 8, 11, 12, 15, 16, 22 e 27. Esse resultado significa o escore de seu lado racional, neocortical, esquerdo, lógico, científico. Some as notas dadas às perguntas 3, 4, 6, 7, 9, 10, 14, 20 e 24. Esse resultado significa o escore de seu lado emocional, límbico, direito, intuitivo, afetivo, criativo, estético, místico. Some as notas dadas às perguntas 2, 13, 17, 18, 19, 21, 23, 25 e 26. Esse resultado significa o escore de seu lado prático, reptílico, central, dos negócios. A seguir, estão desenhadas as figuras de um quadrado, um círculo e um triângulo para você registrar dentro delas os números que representam os resultados da avaliação de seus três cérebros — racional, emocional e prático, respectivamente, ou reproduzi-los em outro local, se assim preferir. RESULTADO DO QUOCIENTE MENTAL TRIÁDICO RACIONAL

EMOCIONAL

PRÁTICO

Como são 27 perguntas no total e 9 perguntas para representar cada lado do cérebro e a cada uma pode-se dar a avaliação 1 como escore mínimo, 3 como médio e 5 como escore máximo, logo: 9 x 1 = 9 (número mínimo de pontos para cada lado); 9 x 3 = 27 (número médio de pontos para cada lado); e 9 x 5 = 45 (número máximo de pontos para cada lado).

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2.1. Apuração do quociente triádico mental Observe os seguintes critérios: A média está entre 27 e 35 pontos. É o normal, o bom. Abaixo de 27 é fraco, é subdesenvolvido, sendo 9 o mínimo. Acima de 35 é forte, é excelente, superdotado, sendo o máximo 45 pontos. Os três processos não podem ter pontos iguais, nem mais de 8 pontos de diferença entre si. Os lados iguais se anulam entre si, causando indecisão e paralisia da ação. Aqueles com mais de 8 pontos de diferença entre os escores de cada lado ficam desproporcionais, tirânicos entre si. Vamos fazer alguns exercícios de interpretação? O resultado mais alto indica o processo mental onde você tem mais êxito, maior capacitação. Devemos começar sempre a nossa avaliação por ele. Assim: 1) Se seu resultado mais alto for o do lado prático do cérebro, você é pessoa prática, organizada, com êxito no trabalho, nos negócios — é líder de ação. Se seu segundo resultado mais alto for o lado lógico, é líder calculista; mas, se o seu segundo resultado mais alto for o intuitivo, você é líder populista, emocional. Já se o seu segundo resultado for o mais baixo dos três lados do cérebro, então a luta pela sobrevivência — a vida prática — não é seu campo preferido. 2) Se seu resultado mais alto for o do lado intuitivo do cérebro, você é pessoa afetiva, sensível, criativa, sonhadora. Se o seu segundo resultado mais alto for o lado prático, tem os pés no chão; mas, se o seu segundo resultado mais alto for o lado lógico, voa longe da realidade: deve ser poeta ou místico. 3) Se seu resultado mais alto for o do lado lógico do cérebro, você é pensador, crítico, intelectual, cientista. Se o seu segundo resultado mais alto for o lado prático, age conscientemente e raciocina em função da sobrevivência; mas, se o seu segundo resultado mais for alto for o lado intuitivo, é um teórico, um distraído. 2. Os três processos mentais - 27


Se o resultado de um processo mental está muito abaixo de 27 pontos, ou seja, baixando em direção aos 9, trata-se de deficiência, atrofia, excepcionalidade negativa; se estiver acima de 35, aproximando-se de 45, trata-se de superdotação, de genialidade, de excepcionalidade positiva. Observe que os lados iguais se anulam entre si, causando indecisão e paralisia da ação. É impossível alguém ser superdotado nos três processos mentais simultaneamente. Se uma pessoa privilegia muito um determinado lado, ou um ou os outros dois, fica sem tempo para cultivar apropriadamente os demais lados. Ratifico que você não deve dar muito valor aos resultados, por enquanto. Na primeira vez, as pessoas fazem infra ou supervaloração de seu potencial, de suas possibilidades. Existem casos extremos, onde o resultado de um dos processos mentais pode se afastar muito dos outros dois. Nesse caso, existe a genialidade típica de cada processo aliada à esquisitice. São conhecidas as esquisitices: dos sábios (processo lógico), dos videntes, artistas, santos (processo intuitivo); e dos capitães da indústria, estadistas, generais (processo prático). Nesses casos, existe uma desproporcionalidade gritante entre os três processos com uma exacerbação de um deles. Agora que você já conhece o revelador do quociente mental triádico, é aconselhável passar a avaliar seus três processos mentais durante um determinado período de tempo para que as próximas respostas sejam mais realistas. Outra ajuda importante e necessária pode ser recebida através do parecer de pessoas de seu convívio sobre qual avaliação elas fazem sobre seu potencial mental triádico. E aí, você é ou gostaria de ser "normal", equilibrado, proporcional? Gostaria de ser um excepcional (com um alto nível de um dos lados somente), como esses dos três exemplos anteriormente citados? Pois bem, feita a sua interpretação do revelador do quociente mental triádico, identifica-se seu processo mental predominante (o racional, o emocional e o prático) e a proporção dos outros dois complementares. Com esses resultados, identificamos o nosso "tipo de cabeça": o racional-intuitivoprático; o racional-prático-intuitivo; o intuitivo-racional-prático; o intuitivoprático-racional; o prático-racional-intuitivo; e o prático-intuitivo-racional. Tente descrever, sozinho, cada uma dessas "cabeças" ou modelos, padrões, paradigmas de composição dos três processos mentais. Procure identificar pessoas que possam servir de exemplos típicos, no seu convívio familiar, profissional, no seu país e em outras nações, tanto do passado quanto contemporaneamente. Aventure-se, também, por exemplo, a compreender a dominância cerebral triádica de um São Francisco de Assis, Buda, Chico Xavier, MaManual de sobrevivência do ser humano - 28


dre Tereza, Mãe Menininha, Tia Neiva. Certamente, todos eles desenvolveram superlativamente seu lado direito do cérebro. Alguns exemplos daqueles que assim o fizeram com o lado esquerdo? Facilmente, podemos citar Aristóteles, Einstein, Rui Barbosa, César Lattes, Afonso Romano de Santanna, Marilena Chauí. Aqueles que possam representar os exemplos do lado comum? Moisés, Sun Tzu, Adam Smith, Taylor, Fayol, Ford, Antônio Ermírio de Morais, Lee Iacocca, Akio Morita. Devo ressaltar que essa lista de “ilustres” apresentada acima é exclusivamente didática e não tenho qualquer pretensão de ter dado os exemplos mais representativos para todos indiferentemente. Creio, no entanto, que é difícil contestar que todos eles são lídimos e verdadeiros campeões da dominância de um determinado cérebro sobre os outros dois. Sem dúvida, agora você já possui maior experiência sobre o revelador do quociente mental triádico. Apesar da ação sedimentadora do tempo ser sempre importante para o domínio e manejo de um novo conhecimento, que tal repetir seu questionário, agora mesmo, procurando fazer uma análise mais consistente e responsável e tentando se aproximar, com maior precisão, de seu verdadeiro perfil mental triádico! Considere, entretanto, que alcançar uma correta identificação de seu perfil mental triádico é importante para que você possa programar as necessárias modificações de seus três processos mentais, tornandose uma pessoa mais equilibrada, mais saudável, mais feliz. É preciso o quanto antes: investir ou na reeducação de determinado processo mental provisoriamente deficiente, para equilibrá-lo com os outros dois; ou investir no cultivo de um dos dois lados que tenham resultados semelhantes ou iguais para distanciá-los um pouco; ou investir em um que tenha recebido um resultado muito precário em relação aos outros dois. Para orientar essas possibilidades de transformação de seu perfil mental triádico, vou enumerar, a seguir, de forma simplificada e esquemática, as principais agendas que podem ser executadas para o desenvolvimento ou cultivo específico de cada um de seus três processos mentais. Você pode escolher sozinho, ou sob supervisão de alguém confiável, as escolhas de metas e montar seu "plano de voo" no sentido de equilibrar "sua cabeça". Para o processo racional: Conhecer seu cérebro. Usar o idioma de acordo com as demandas impostas pela sociedade. Usar números na comunicação. Elaborar defi2. Os três processos mentais - 29


nições operacionais. Aprender classificações. Organizar agenda, arquivo. Tirar conclusões só depois de ter informações dos três lados. Desdobrar a comunicação dos três subgrupos. Observar, sem querer torcer os fatos. Argumentar com dados, não com emoções. Ter um plano de leitura. Para o processo emocional: Ser alerta, esperto, malicioso. Soltar a gesticulação, a ginga. Mostrar-se alegre, criar alegria. Praticar respiração, relaxamento. Retreinar cada um dos cinco sentidos. Praticar em tudo a autoautorização mental. Ter hábito de fazer brainstorming sempre. Fazer futurição por dia, mês, ano, decênio. Praticar nível alfa e seus recursos. Liberar a afetividade e a expressividade. Cultivar a autoimagem de ganhador. Melhorar a orientação espacial. Desenvolver senso ecológico. Dedicar-se a algum tipo de espiritualidade. Desenvolver senso estético, artístico. Inovar e mudar todo dia os atos rotineiros. Conhecer um mínimo de etiqueta. E muito importante: compreender realmente nossas emoções e as emoções alheias e percerber como elas influenciam diariamente e significativamente nossas vidas. Para o processo prático: Ser competitivo, lutador, ter garra e ambição. Cultivar o corpo, fazer ginástica. Disciplinar a alimentação, sexo. Manter horários, compromissos. Ter amor e dedicação ao trabalho. Conhecer o mercado do dinheiro. Tomar iniciativas e correr riscos. Dominar a “engenharia” de consertos domésticos. Aprender a economizar, a negociar. Ter plano de carreira. Caprichar na higiene, saúde e sono. Soltar ou conter a agressividade. Liderar, organizar, administrar. Tomar medidas de segurança viária, pessoal, doméstica. Equilibre assim sua "cabeça", cultivando aquele lado ou lados mais deficientes de seu cérebro para atingir uma proporção mais equilibrada de seus três cérebros ou de seu processo mental global. Como um “plano de voo” genérico, sugiro: • Defina seus objetivos principais de vida. • Não sonhe com ideais maiores que aqueles que suas possibilidades possam alcançar. Manual de sobrevivência do ser humano - 30


• Seja afetivo, mas não lide apenas com a sensibilidade, busque informações mais atualizadas e críticas e tenha um bom desenvolvimento prático das diferentes agendas de sua vida. • Harmonize sua trajetória com a necessidade de seu próximo e de seu meio ambiente (não somente o ambiente ecológico, mas também o humano), porém não seja escravo do desejo do outro sem considerar o seu. • Não vire um "busto na praça", um mártir, um ídolo inocente. Em síntese, busque sempre sua própria felicidade e, na medida do possível e dos vários merecimentos seus, das circunstâncias e do destino, faça o outro ou os outros felizes, porque sua comunidade, seu país, seu mundo provavelmente continuarão após e apesar de você.

2. Os três processos mentais - 31



3. Os quatro níveis dos três processos mentais - O cérebro humano tem três lados (racional, emocional e prático) e cada lado pode ser dividido em quatro níveis.

Em cada família, comunidade, país, bloco de países, existe uma intenção de modelar os processos mentais dos seres humanos. Uns investem mais no lado prático, depois no esquerdo e, em último lugar, no lado direito. Outros investem mais no lado prático, depois no direito e, por último, no esquerdo. Outros investem mais no direito e no esquerdo e pouco no prático. Outros investem tudo no lado prático, sem maior aprimoramento do lado direito e do lado esquerdo. É necessário ressaltar que cada um de nós conviveu com oportunidades, cenários, personagens, tempo de investimento, esforços e recursos diferentes (para citar apenas algumas variáveis) para impulsionar nosso desenvolvimento, desde o nascimento até o momento presente. As pessoas podem ter seus três cérebros ou seus três processos mentais (racional, emocional, prático) na luta de seu cotidiano, com uma relativa maior dominância de um deles, mas ainda guardando um equilíbrio percentual entre os três lados – "cabeça sadia", proporcional, equilibrada. Podem ter também uma relativa maior dominância de um deles, mas com resultados tão distanciados dos outros dois lados ou de um deles que chegam a produzir deficiências de todos os graus e consequências: "cabeça doente, desproporcional, desequilibrada". Para simplificar e ser didática, a Cibernética Social escolheu uma palavra, uma ideia, um conceito para definir cada um dos quatro níveis dos três processos mentais. NÍVEIS DO QUOCIENTE MENTAL TRIÁDICO Níveis

Racional

Prático

Emocional

crítica do conhecimento

administração

estética e mística

conscientização

planejamento

percepção extrassensorial

classificação da informação

comunicação popular

profissionalização execução

criatividade afetividade

3. Os quatro níveis dos três processos mentais - 33


O primeiro nível do processo mental racional é representado pelo conceito — comunicação popular; o segundo nível – classificação da informação; o terceiro nível — cruzamento ou relativização da informação; e o quarto nível — epistemologia ou crítica do conhecimento. O primeiro nível do processo mental emocional é representado pelo conceito — afetividade; o segundo nível – criatividade; o terceiro nível — percepção extrassensorial; e o quarto nível — estética e mística. O primeiro nível do processo mental prático é representado pelo conceito — execução; o segundo nível – profissionalização; o terceiro nível — planejamento; e o quarto nível — administração. Entendida essa classificação inicial das pessoas pelos três processos mentais principais – racional, emocional e prático, em graus diferentes de combinações, podemos agora, utilizando o esquema acima, pormenorizar mais o "tipo de cabeça" que alguém tem, dividindo cada um dos três processos mentais em quatro níveis de desenvolvimento sociocultural e podendo analisá-los mais minuciosamente. O primeiro nível de capacitação ou de desenvolvimento mental do ser humano é instintivo, hereditário, biológico, não trabalhado. Vem pronto, fabricado pela natureza. É básico, primário, inicial. Com este primeiro grau de desenvolvimento mental do cérebro, todos praticamos o sexo e lutamos pela sobrevivência, instintivamente. Somos dotados de mecanismos biológicos que respondem à necessidade fundamental de comer, beber, respirar, ter o coração batendo e ter os outros órgãos, vísceras, funções presididos pelo nosso sistema nervoso reflexo (simpático e parassimpático) funcionando sem a influência de nossa vontade ou consciência. Não necessitamos de influência ou controle de pessoas, meio ambiente ou cultura para contarmos com seu funcionamento ou execução eficiente. As pessoas que somente têm grau de desenvolvimento mental primário apresentam afetividade básica, comunicação popular e lutam e vivem exercendo seu instinto reptílico (reflexo) de sobrevivência, de reprodução e de defesa de seu território. São indivíduos mentalmente incapazes de raciocínios mais complexos, de percepção mais geral das coisas e de fazer necessários desdobramentos, a cada momento, num transcurso de uma ação. Podem ser bons executores de tarefas específicas, desde que sob acompanhamento contínuo, para que o supervisor possa ir reorientando o desenrolar da ação através de diagnóstico frequente (feedback) em direção ao objetivo pretendido. Na prática, costumam cumprir ordens sem muito questionamento ou elaboração, desde que primariamente elas não sejam contra seus interesses primários de subsistência, manutenção, territorialidade. Manual de sobrevivência do ser humano - 34


O segundo nível de capacitação mental do ser humano exige a influência da educação, do meio social e da cultura e já pressupõe certo grau de elaboração. Com esse segundo grau de desenvolvimento mental do cérebro, através de um processo educacional básico, atingimos um grau de profissionalização qualquer para participarmos do jogo social. Exige-se o exercício de certo grau de desempenho social específico para podermos manter nossa individualidade e de nossos dependentes. A classificação da informação no geral e dentro de atividades específicas (profissional, lúdica, artística...) se torna necessária e fundamental. O terceiro nível de capacitação mental do ser humano é ainda mais elaborado e necessita de maior cultivo educacional, cultural, social e maior grau de independência da pessoa dentro de sua sociedade. Consegue-se ter seu próprio negócio, trabalhar por orientação e responsabilidade própria e dar assessoria para outras pessoas de desenvolvimento mental menos elaborado, como, por exemplo, aqueles de nível primário e secundário anteriormente descritos. O quarto nível de desenvolvimento mental do ser humano é o grau mais elaborado, mais cultivado e é alcançado por pessoas que naturalmente são líderes dentro da especificidade de seu processo mental mais desenvolvido – os cientistas (aqueles campeões do processo racional), os administradores, os grandes empresários, os chefes militares (campeões do processo prático) e aqueles com vivência em grau mais avançado de estética e mística (campeões da espiritualidade), que são principalmente os santos e os artistas geniais. Quase sempre para se alcançar um grau máximo em algum dos processos mentais, o ser humano sacrifica os demais processos ou algum dos outros dois em grande nível e teoricamente. Como já foi dito anteriormente, é impossível ser genial nos três processos mentais simultaneamente. Para alguém ser um grande cientista, quase sempre precisa anular, em alto grau, sua espiritualidade, ou o lado prático de sua vida ou ambos os processos. Para alguém ser um grande administrador, atleta, executivo, quase sempre terá pouco tempo para cultivar significativamente o seu lado científico, ou o seu lado emocional ou ambos. Para alguém ser um santo ou um artista excepcional, quase sempre pressupõe-se um cuidado deficiente do lado racional ou prático de sua vida ou dos dois outros lados. Nenhuma educação consciente quer formar gênios ou campeões de somente um dos lados do cérebro sem um adequado equilíbrio do cultivo dos outros dois lados ou entre os três processos mentais. Há muito 3. Os quatro níveis dos três processos mentais - 35


"cientista louco" por aí que é uma criança no lado prático de sua vida e emocionalmente deficiente. Há muito "campeões de atletismo" com baixo desenvolvimento intelectual e com uma visão de mundo muito estreita e caótica. Há muito "santo" por aí que é um ingênuo, com uma visão manipulada de sua realidade e vivendo como um bom e grande “bobo” útil. Exorto-o, portanto, a ser “normal”, proporcional, equilibrado no desenvolvimento de seus três processos mentais e nos seus vários níveis. Estimulo-o a avaliar, medir, comparar os três processos mentais nos seus quatro níveis, de uma forma mais consistente e abrangente. Após a avaliação dos resultados, podemos propor ações efetivas que possam suprir deficiências, num processo de cultivo de seu cérebro, de equilíbrio de seus três lados nos seus vários níveis, com real otimização de "sua cabeça". Assim um ser humano, que tenha uma "cabeça" com nível de capacitação somente de primeiro nível do processo mental racional, usualmente produz um discurso simples, sem muita preocupação com a consistência da mensagem produzida, muitas vezes apoiado, unicamente, nos fatos que consegue vislumbrar e decodificar no seu dia-a-dia. Pratica a comunicação popular. Não mostra preocupação ou pretensão de guardar qualquer informação, por exemplo, através de uma agenda simples de endereços, fichários, biblioteca, computador. Frequentemente acredita que aquilo que reputa verdadeiro o seja realmente para sempre e para todas as outras pessoas, culturas, mundos. E, como quase sempre está ainda pressionado basicamente pela sua sobrevivência e de sua família, está longe de uma visão mais exigente, mais reflexiva, mais processual de sua vida, do outro e do mundo. Um ser humano com o segundo nível do processo mental racional pressupõe, sob comando ou por conta própria, saber separar conceitos, fazer classificação da informação, seja com uma pequena agenda de endereços, guardando catálogos, notas, revistas especializadas de sua atividade profissional, de seu “ganha pão”. Pode permanecer nesse patamar pelo resto da vida, exercendo uma mesma profissão, principalmente se conseguir, neste contexto, o sustento e os demais bens (útiles) necessários para sua sobrevivência e de seus dependentes. Um ser humano com capacitação do terceiro nível de processo mental racional já vislumbra ou pretende criar alguma coisa própria (pesquisa, autoria). Pretende deixar de simplesmente ficar reproduzindo, pela vida afora, caminhos, certezas, princípios, impostos pelos outros, pela família, pela cultura, pela própria vida, e criar sua própria sabedoria Manual de sobrevivência do ser humano - 36


e existência, a partir de uma perspectiva mais autônoma, consciente e com certo grau de independência. Um ser humano com quarto nível do processo mental racional, seja um professor, cientista, escritor, ativista social, tendo uma formação científica formal ou informal, usa sempre, em tudo ou quase tudo, a crítica da informação e do conhecimento. Tem opções e expectativas mais conscientes, consistentes e aparentes. Tem metas próprias, a não ser que tenha de trabalhar para alguém ou para alguma causa por circunstâncias prementes de ordem financeira ou econômica. Detém informação, em quantidade e qualidade, quase sempre muito suficiente, apesar de estar sempre tentando ampliar seu campo de visão e de se sentir sempre desatualizado. Conhece metodologias (e metodologia é um “caminho para”... E se existe um “caminho para” é porque há distância). E, mais ainda, porque sabe que em tudo há distância, está sempre procurando caminhos para determinado tema, situação, lugar. Por mais atualizado e certo a respeito de algum assunto, permanece sempre em dúvida e sabe, no fundo, que a verdade e a certeza são provisórias e feitas pelo Homem. O ser humano com o primeiro nível do processo mental prático ocupa-se da execução de tarefas básicas, por não ter ainda atingido um nível mínimo de profissionalização. Se a tarefa não for tão simples, por exigir modificações ao longo do tempo de seu curso, ele necessita de supervisão contínua para reorientações constantes, através de uma ou várias outras pessoas de nível mental mais elaborado. O ser humano com o segundo nível do processo mental prático traz em si a capacidade de profissionalização. Ser um profissional pressupõe: saber executar uma determinada tarefa; realizá-la de maneira continuada, isoladamente ou em grupo; cumpri-la com assiduidade, pontualidade, subordinação a uma determinada chefia ou a si próprio; e cumprir rotineiramente agendas inerentes àquela atividade. O ser humano com o terceiro nível do processo mental prático valoriza e incorpora na sua prática diária o planejamento na sua sobrevivência pessoal, familiar, profissional, nos seus negócios. E, na prática diária dos fazeres humanos e das instituições, é comum as pessoas não atingirem esse nível do processo mental prático, por serem incapazes ou relutantes em desenvolver a planificação ou o conjunto de procedimentos, de ações, visando à realização de determinado projeto. Daí a necessidade da figura do supervisor ou do chefe, que quase sempre desempenha essa tarefa. O ser humano com o quarto nível do processo mental prático tem a capacidade de administração político-econômica: são os chefes, os ge3. Os quatro níveis dos três processos mentais - 37


rentes, os executivos. Esses sabem executar todas ou a maioria das tarefas de sua área de interesse, desenvolver atitudes e comportamentos eminentemente profissionais, planejar suas ações a curto, médio e longo prazo, buscar assessorias eficientes, fazer avaliações de curso, de análise e de prognóstico (feedback) continuadamente e dirigir seus parceiros e subordinados sempre em busca de seu ou de seus objetivos almejados. O ser humano com o primeiro nível do processo mental emocional exerce naturalmente a afetividade. Forma laços de amizade, constitui família, cuida dos seus parentes, de seus animais, de seu meio ambiente. Afetividade, entendida como tendência ou capacidade individual de reagir facilmente aos sentimentos e emoções: emocionalidade. Amizade, entendida como sentimento de grande afeição, de simpatia (por alguém não necessariamente unido por parentesco ou relacionamento sexual) e assim possui grande apreço, solidariedade ou perfeito entendimento entre entidades, grupos, instituições ou reciprocidade de afeto. O ser humano com o segundo nível do processo mental emocional tem criatividade: capacidade para criar, inventar, inovar em todos ou em determinado campo da atividade humana. Criatividade, em suma, compreendida como a capacidade de criar o novo, de embelezar e transformar a realidade. O ser humano com o terceiro nível do processo mental emocional tem a capacidade de intuição e de percepção extrassensorial e com isso amplia em muito os aportes de informação do exterior para seu meio interno ou consciência produzida e exercida pelo relaxamento muscular com rebaixamento da ciclagem cerebral ou atuação em nível alfa. Intuição, aqui encerrada pela faculdade de perceber, discernir ou pressentir coisas, independentemente de raciocínio ou de análise. Percepção extrassensorial, aqui contida pela capacidade de captar o que está fora do alcance dos órgãos dos sentidos ou além dos limites da percepção ordinária. O ser humano com o quarto nível do processo mental emocional é um santo, um artista genial, uma pessoa em êxtase (espontâneo ou sob ação de drogas), vivendo num mundo de estética e mística. Estética, palavra que segundo seu criador o filósofo alemão Alexander Baumgarten (1714-1762), nomeia a ciência das faculdades sensitivas humanas, investigadas em sua função cognitiva particular, cuja perfeição consiste na captação da beleza e das formas artísticas, ou, como no kantismo é entendida, no estudo dos juízos por meio dos quais os seres humanos afirmam que determinado objeto artístico ou natural desperta universalmente um sentido de beleza ou sublimidade. Manual de sobrevivência do ser humano - 38


Há, assim, seis tipos básicos de “cabeça” no ser humano, segundo a predominância de um dos lados do cérebro e a hierarquia e proporcionalidade frente aos outros dois. OS SEIS TIPOS DE “CABEÇA” DO SER HUMANO Tipo 1

Tipo 3

Tipo 5

lado esquerdo

1o

lado direito

1o

lado comum

1o

lado direito

2

lado esquerdo

2

lado esquerdo

2o

lado comum

3o

lado comum

3o

lado direito

3o

o

Tipo 2

o

Tipo 4

Tipo 6

lado esquerdo

1o

lado direito

1o

lado comum

1o

lado comum

2

lado comum

2

lado direito

2o

lado direito

3o

lado esquerdo

3o

lado esquerdo

3o

o

o

É possível afirmar que, na prática, há aquele ser humano que tem muita informação (lado esquerdo), mas pouca sensibilidade para o relacionamento humano (lado direito) e quase nada do lado prático (lado comum); aquele que é muito artista, poeta, criativo, mas com pouca informação e pouco lado prático; e aquele que é muito prático, mas tem pouca criatividade e pouca informação etc. Cada ser humano, na medida de sua potencialidade inata ou desenvolvida de seus três processos mentais (de sua "cabeça"), vai entender a si mesmo, ao outro, a seu meio e buscar perspectivas de soluções segundo também esse mesmo padrão e de acordo com sua ideologia, sua situação financeiro-econômica e seu "jogo de cintura", modificados sempre por fatores de facilitação e de dificultação. Por exemplo, uma pessoa com o lado prático de seu cérebro dominante, de alto nível econômico-financeiro, muito intelectualizada, ou não, ao adoecer procura uma medicina oficial, de preferência de alta tecnologia (veja exemplos de viagens de empresários, de ministros, de presidentes para Cleveland, USA, nas emergências cardiovasculares). Uma pessoa com o lado esquerdo de seu cérebro dominante e de ideologia contestadora da estrutura oficial vigente, muitas vezes não se preocupa com essa "propalada segurança" e se submete a tratamentos menos científicos. 3. Os quatro níveis dos três processos mentais - 39


Uma pessoa com o lado direito de seu cérebro dominante e de posição social privilegiada costuma ser mais elaborada mentalmente e quer um médium ou um guru ou um líder religioso mais famoso. No entanto, para a pessoa de lado direito dominante, porém com nível de informação pouco diferenciado, o primeiro pai ou mãe-de-santo a satisfaz. Feita essa primeira classificação dos seis tipos de "cabeça" de acordo com a predominância dos três processos mentais (racional, emocional e prático), pode-se ampliar essa classificação identificando e acrescentando em cada um o nível alcançado por aquele ser humano em cada um dos três processos mentais. Vejamos novamente os esquemas — os seis "tipos de cabeça" do ser humano e os quatro "níveis dos três processos mentais": OS SEIS TIPOS DE “CABEÇA” DO SER HUMANO Tipo 1

Tipo 3

R — lado esquerdo

1

E — lado direito P — lado comum

Tipo 5

E — lado direito

1

2o

R — lado esquerdo

2o

R — lado esquerdo

2o

3

P — lado comum

3

E — lado direito

3o

o

o

Tipo 2

P — lado comum

o

o

Tipo 4

Tipo 6

R — lado esquerdo

1o

E — lado direito

1o

P — lado comum

2o

P — lado comum

2o

E — lado direito

3

R — lado esquerdo

o

1o

3

o

P — lado comum

1o

E — lado direito

2o

R — lado esquerdo

3o

OS QUATRO NÍVEIS DO QUOCIENTE MENTAL TRIÁDICO DO SER HUMANO Níveis

Racional

Prático

Emocional

crítica do conhecimento

administração

estética e mística

conscientização

planejamento

percepção extrassensorial

classificação da informação

comunicação popular

profissionalização execução

criatividade afetividade

Convido você a identificar seu padrão de "cabeça", inicialmente, levando em conta somente o uso predominante dos três processos mentais dentro dos seis tipos possíveis de "cabeça" do ser humano: raManual de sobrevivência do ser humano - 40


cional-emocional-prático (REP); racional-prático-emocional (RPE); emocional-racional-prático (ERP); emocional-prático-racional (EPR); prático-racional-emocional (PRE); e prático-emocional-racional (PER). Em seguida, aprofundando mais seu perfil mental, identifique em cada tipo seu nível alcançado no processo racional, emocional e prático. Comece observando seus pais, irmãos, cônjuges, filhos, amigos, sócios, competidores, clientes e personagens da mídia nacional e internacional e avalie o quociente mental triádico deles e suas características e graus de desenvolvimento. Se você se tornar um "perito" nessa arte de observação e identificação das "cabeças" dos seres humanos, passará a ter um instrumento diagnóstico de uma simplicidade esquemática e o poder de facilitar suas relações humanas, em todos os níveis do relacionamento, seja pessoal, conjugal, familiar, profissional, sociocultural. Exemplos: Se você está argumentando com uma pessoa que tem o lado esquerdo predominante, ele não vai aceitar qualquer raciocínio simplista para se convencer – mostre o tema ou o assunto que está sendo tratado; determine o objetivo de estarem conversando sobre aquele tema; mostre o seu lado da questão, o dele, o de um terceiro envolvido; mostre um número significativo de informações através de uma coleta de dados abrangente sobre aquele assunto e somente depois formule uma conclusão ou um pedido ou um convite. Se você está argumentando, conversando, estimulando uma pessoa que tem o lado direito predominante, use inicialmente a afetividade, a simpatia, ouvindo mais do que falando, conquiste a confiança dela primeiro porque seguramente a mesma não está afim de muita conversa, muita informação, muitos detalhes. Se você está tratando com uma pessoa que tem o lado prático do cérebro dominante, entenda que a mesma quer resultados, o que veio procurar, descontos etc. Creio que você imagina todo o potencial que estará à sua disposição, a partir do momento em que puder desenvolver e aplicar essa habilidade na compreensão de si mesmo e do próximo, usando essa avaliação simples do quociente mental do ser humano e de seus quatro níveis desenvolvida pela Cibernética Social. E, mais ainda, após sua auto e/ou heteroavaliação (avaliação do outro sobre você), poderá programar planos de cultivo de sua própria "cabeça" e de seu próximo. 3. Os quatro níveis dos três processos mentais - 41



4. Avaliação de seu processo mental global e específico - Questionário para avaliar os três processos mentais (racional, emocional e prático) segundo as características principais de cada um deles.

A Cibernética social norteada por um propósito educacional do cérebro humano desenvolveu um questionário, apresentado a seguir, onde seus três processos mentais (racional, emocional e prático) são avaliados segundo as características principais de cada um deles. Responda com “S” para SIM e com “N” para NÃO a cada uma das seguintes 35 perguntas: 01) OBJETIVOS: Você tem dois ou três temas permanentes de estudo, dois ou três projetos de ação? 02) RESULTADOS: Você estabeleceu resultados quantificados para estes temas e projetos? 03) COLETA: Para obter informações, você vasculha fontes, cava entrevistas, faz experiências? 04) FONTE: Você tem biblioteca à sua disposição? 05) ARQUIVO: Você tem arquivo classificador de seus documentos e informações? 06) CLASSIFICAÇÃO: Usa algum esquema ou referencial técnico de classificação de informações? 07) GRÁFICOS: Usa gráficos estatísticos para visualizar o andamento das coisas? 08) INDICADORES: Tem quadros com indicadores de proporcionalidade ou desproporcionalidade? 4. Avaliação de seu processo mental global e específico - 43


09) CRUZAMENTO: Tem esquema para cruzar, recombinar e relativizar os dados? 10) DIAGNÓSTICO: É rápido para distinguir pontos positivos e negativos de uma situação e seus problemas? 11) CAUSAÇÃO: Quando aponta problemas, é capaz de explicar as raízes ou causas antigas existentes? 12) FUTURIÇÃO: Você procura prever como e quando será o desfecho de cada problema do presente? 13) INTUIÇÃO: Suas previsões se baseiam na intuição? 14) ACERTAR: Suas previsões costumam dar certo? 15) CRIATIVIDADE: Faz listagem de alternativas de prós e contras para cada problema seu? 16) ESTRATÉGIAS OFENSIVAS: Faz listagem de estratégias para ganhar de seus competidores? 17) ESTRATÉGIAS DEFENSIVAS: Faz listagem de estratégias dos outros para ganharem de você? 18) DECIDIDO: Você toma decisões com rapidez? 19) PREPARATIVOS: Você avalia bem os meios táticos com os quais conta para ter êxito na decisão que tomou? 20) OPERACIONAL: Faz fluxograma de operacionalização por escrito de suas principais iniciativas? 21) AGENDA: Para acompanhar a execução, você usa agenda? Manual de sobrevivência do ser humano - 44


22) CRONOGRAMA: Você usa cronograma de parede? 23) VISÃO GLOBAL: Você usa um painel com visão global dos planos? 24) ADMINISTRAR: Consegue combinar bem os fatores espaço, cronologia, personagem e procedimentos? 25) PRESENÇA: Você está presente circulando no cenário de execução de seus projetos? 26) NEGOCIANTE: Faz bons negócios de contratação, compras, produção, venda, investimentos? 27) CUMPRIDOR: Você paga em dia e cobra em dia? 28) COMUNICAÇÃO: Seu estilo de comando e cobrança de serviço é mais de pessoa a pessoa? 29) REUNIÕES: Seus comandos e cobranças são mais em reunião do que de pessoa a pessoa? 30) SUPERVISÃO: Você faz registros do andamento operacionalizado de cada projeto? 31) CONFLITOS: Na hora de resolver conflitos, você prefere encará-los imediatamente? 32) AVALIAÇÃO: Faz parada para avaliação global de finanças, aprendizagem, autorrealização? 33) CRITÉRIOS: Você tem critérios pré-estabelecidos para medir os três resultados? 34) PROPORCIONAL: Tem uma filosofia para estabelecer o piso mínimo e o teto máximo nos ganhos? 35) MAXIMOCRÁTICO: Você pode concorrer sem querer ser o campeão, sem ser sempre o número 1? 4. Avaliação de seu processo mental global e específico - 45


4.1. Apuração de seu processo mental global e específico Agora, some os “S” (Sim) e os “N” (Não). São 35 itens. Você precisa ter pelo menos 22 “S” (sim) para que seu processamento cerebral global seja confiável e aproveitável. Confira também a proporcionalidade dos três processos cerebrais. 1) Processo racional: Vai da pergunta “01” a “11”: você precisa de pelo menos 7 (sete) “S” (sim). 2) Processo emocional: Vai da pergunta “12” a “19”: você precisa de pelo menos 5 (cinco) “S” (sim). 3) Processo prático: Vai da pergunta “20” a “35”: você precisa de pelo menos 10 (dez) “S” (sim). Estes números derivam da lei da proporcionalidade, ou lei do ponto de ouro, que decompõe um todo em módulos de 38% por 62%: nem perfeição total nem nulidade total. Entre estes dois extremos está a busca da proporcionalidade. O conhecimento educacional de seu cérebro, através da avaliação de sua atual capacidade mental triádica (racional, emocional e prática) e do cultivo e equilibração proporcional dessa capacidade, realizada diária e continuadamente, num processo de autoautorização, treino e aprimoramento de deficiências referentes aos seus três processos mentais, é, sem dúvida, uma fonte eficaz de sua saúde mental e um dos segredos do sucesso na vida.

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5. Evolução histórica da neurofisiologia dos três cérebros - História breve de como as neurociências chegaram à compreensão dos três lados, ou processos, ou sistemas, do cérebro humano.

As neurociências (principalmente a neuropsicologia), nos últimos quarenta anos, formularam uma teoria dividindo o cérebro humano, estrutural e funcionalmente, em três cérebros — o reptílico, o límbico e o cortical (cérebro triúnico), ou em três processos mentais fundamentais, conforme já vimos anteriormente, que podemos traduzir como o racional, o emocional e o prático. Mostraram, também, que, apesar desses três cérebros ou três processos mentais terem características próprias, constituem sistema funcional complexo, simultâneo, interdependente e possível de cultivo, ou seja, de se melhorarem a quantidade e a qualidade de seu desempenho. O cérebro reptílico, o mais antigo, é semelhante ao cérebro dos répteis e responsável pelo processo mental prático; o cérebro límbico, o intermediário, advém dos mamíferos inferiores e é responsável pelo processo mental emocional; e, finalmente, o cérebro cortical, o mais recente, que, encontrando seu maior desenvolvimento nos primatas, particularmente no homem, é responsável pelo processo mental racional. Sabe-se que o cérebro reptílico, antigo, reflexo, prático, constituído pela porção central, corresponde ao que os répteis tinham ou que todas as espécies tinham quando estavam na fase de répteis, como lagarto, jacaré, cobra. Formado pela estrutura mais antiga (arquiencéfalo), é constituído principalmente pela porção alta do tronco encefálico (substância reticular, mesencéfalo) e pelos gânglios da base. Evoluiu, há centenas de milhões de anos, em nossos ancestrais reptilianos. Recebe outras denominações, como cérebro reflexo, prático, automático, comum, neurovegetativo, operacional. Na educação, é denominado cérebro psicomotor. Esse cérebro é responsável pela motricidade automática, involuntária, pelo equilíbrio ou, em termos práticos, pela ação, pelo movimento, pelos negócios, pelo trabalho, pelas profissões, pelo dia-a-dia da sobrevivência e da reprodução das espécies. Além disso, apresenta participação importante na procriação, na predação, no instinto de territorialidade e no modo de vida gregário. E é responsável também 5. Evolução histórica da neurofisiologia dos três cérebros - 47


pelas regulagens internas do organismo (viscerais e glandulares) e contém o aparelho destinado a manter o animal em vigília ou estado de sono. Podemos afirmar que o comportamento deste cérebro é muito limitado — já vem programado pela natureza e não é sensível a modificações de sua funcionalidade por mecanismos pedagógicos, instrumentais, químicos, hormonais, funcionando sob o comando de uma programação inata ou dentro de um sistema mais ou menos rígido. O cérebro límbico, intermediário, automático, emocional, corresponde ao que evoluiu há dezenas de milhões de anos em ancestrais que eram mamíferos ainda não primatas, constituindo um passo intermediário na evolução para o cérebro mais moderno. Representa o lado intuitivo, sensível, privilegiado do sensitivo, vidente, esotérico, artista. É não-verbal, inconsciente e confundido com religião, com sobrenatural, com magia. Este cérebro direito é preponderante no comportamento emocional do indivíduo, sendo responsável pela afetividade, imaginação, intuição, criatividade, estética, mística, emoções, religiosidade, poesia, música, artes. Apresenta certo grau de plasticidade do comportamento, no sentido de aprendizagem e soluções de problemas com base na experiência imediata. Os cérebros prático e emocional (reptiliano e límbico, respectivamente) não têm capacidade de verbalizar suas ações e sentimentos. O cérebro cortical, mais recente, voluntário, racional, que evoluiu há milhões de anos em nossos primatas ancestrais, é formado nos mamíferos superiores e particularmente no homem, quando, aos dois cérebros precedentes, se sobrepôs um terceiro, com capacidade de operações lógicas. Representa o lado lógico, crítico, consciente, racional, acadêmico, teórico, científico, matemático, comunicador, responsável pela reflexão, pelo pensamento, pela análise, pelo raciocínio. No homem, esta capacidade do cérebro racional culmina com aquisição da linguagem e constitui o cérebro cortical. Só ele é verbal. É a distinção de nossa espécie, a sede de nossa humanidade. Como se pode compreender as três unidades funcionais básicas do cérebro humano e o papel desempenhado por cada uma delas em formas complexas de atividade mental do ser humano, como o pensamento, o sentimento e a sobrevivência no mundo externo? Essas questões sempre fascinaram e inquietaram o ser humano em todas as civilizações, desde o alvorecer da Humanidade. Manual de sobrevivência do ser humano - 48


MacLean, norte-americano, definiu três áreas corticais (arqui, meso e neocórtex), que se definiam como áreas de projeção de seus três sistemas funcionais – o arquicérebro, o paleocérebro e o neocérebro. Identificou os três sistemas funcionais e os relacionou aos estágios da evolução do cérebro humano dentro da evolução das espécies (classificação filogenética da organização anatômica e funcional do cérebro humano). Propôs assim uma concepção triúnica de cérebro humano, estrutural e funcionalmente hierarquizada pela evolução em três sistemas, que se mantêm em constante interação dinâmica e interdependente de suas três unidades e onde uma delas sempre domina as outras duas que se opõem somando suas forças ou se antagonizando. Distinguiu, assim, anatomicamente, no cérebro humano, três tipos de unidades diferentes que denominou cérebro reptiliano (complexo R), cérebro límbico e cérebro cortical. Portanto McLean implantou a noção de que o córtex cerebral é basicamente subdividido em três áreas, que denominou arquicórtex, mesocórtex e neocórtex, intimamente relacionadas respectivamente com os cérebros: arquicérebro (reptiliano), o mais antigo; paleocérebro, o intermediário na evolução das espécies (paleomamífero); e o neocérebro (neomamífero), o mais recente. A R Luria, russo, da Universidade de Moscou, que se autodenominava neuropsicólogo, na mesma época estudava o cérebro humano de uma perspectiva anatômica e funcional, procurando entender os processos mentais, e, como McLean, discordou da Escola de Montreal, que defendia que as funções cerebrais estavam restritas às áreas corticais circunscritas. Postulou que as mesmas eram sistemas funcionais complexos e que elas não estavam “localizadas” em estreitas áreas corticais, mas se processavam por meio da participação de grupos de estruturas cerebrais operando em concerto, cada uma das quais concorrendo com a sua própria contribuição particular para a organização desse sistema funcional. Os três blocos do cérebro luriano estavam também intimamente integrados, e cada um desempenhava papel especial na atividade psíquica. O primeiro bloco funcional estava relacionado à manutenção do tônus do córtex, estado indispensável para o correto processamento do recebimento e elaboração da informação, assim como dos processos de formação de programas e controle de execução. O segundo bloco era responsável pelo recebimento, elaboração e conservação da informação e estava vinculado à chegada de estímulos do 5. Evolução histórica da neurofisiologia dos três cérebros - 49


mundo exterior ao corpo e levava à produção de formas completamente diversas de ativação, manifestadas como um reflexo de orientação. E, finalmente, o terceiro bloco elaborava os programas de comportamento, respondia pela sua realização e participava do controle de sua execução. Há, portanto, atualmente, bases sólidas para se discernirem as três principais unidades cerebrais funcionais, cuja participação se torna necessária para qualquer tipo de atividade mental. A primeira unidade (reptílica) regula o tono ou a vigília; a segunda (límbica) obtém, processa e armazena as informações que chegam do mundo exterior; e a terceira (cortical) programa, regula e verifica a atividade mental. Pode-se, portanto, concluir que os processos mentais do homem em geral e a sua atividade consciente em particular sempre ocorrem com a participação das três unidades, cada uma das quais tem o seu papel a desempenhar nos processos mentais e fornece a sua contribuição para o desempenho dos referidos processos. Outra característica importante é que cada uma dessas unidades básicas exibe uma estrutura hierarquizada e consiste em pelo menos três zonas corticais, construídas uma acima da outra: as áreas primárias (de projeção), que recebem impulsos da periferia ou os enviam para ela; as secundárias (de projeção – associação), onde informações que chegam são processadas ou programas são preparados; e, finalmente, as terciárias (zonas de superposição), os últimos sistemas dos hemisférios cerebrais a se desenvolverem e responsáveis, no homem, pelas formas mais complexas de atividade mental que requerem a participação em concerto de muitas áreas corticais.

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6. Ciclo cibernético do cérebro humano - Os 10 (dez) passos para serem usados no dia a dia, para analisar problemas, estudar um assunto, fazer pesquisas, teses etc.

O cérebro é o instrumento usado pelo ser humano para perceber a "realidade" interna (o mundo interior) e externa (o mundo externo). O mundo interno é o mundo de suas percepções sensoriais (de seus cinco sentidos — visão, audição, olfação, gustação e tato), de suas impressões não conscientes de seus órgãos internos e vísceras (batimento cardíaco, respiração, peristaltismo, tensão de esfíncteres...), de seus pensamentos, sensações, emoções, compreensões, percepções extrassensoriais, estéticas e místicas. O mundo externo, desde o nascimento ou mesmo antes, foi sendo percebido, interpretado e decodificado pelo cérebro e registrado em sua memória em imagens internalizadas, cheias de nomes, identificações, estruturas e significados. Desde o nascimento e mesmo antes, o cérebro transforma o mundo externo em interno, representando-o dentro de si, emprestando-lhe sentido e significado. Ao mesmo tempo, expressa seu mundo interno através de pensamentos, emoções, atitudes e age e modifica o meio externo. O cérebro humano é, portanto, um elemento que percebe, interpreta, empresta significado e age tanto sob o mundo interno quanto sob o mundo externo. Para tal, a cada instante, simultaneamente, usa seu instrumental racional, emocional e prático, sua visão de si, do outro e do meio ambiente, sua visão de mundo, para sobreviver, participar do jogo da vida e atingir suas metas pessoais, grupais, societárias, universais, teleológicas. Essa sequência de operações, realizadas pelo cérebro triádico (racional, emocional e prático) desde o momento em que se lhe apresenta um assunto ou um tema, ou uma questão até a derradeira concretização mental da mesma, denomina-se ciclo cibernético do cérebro humano. O esquema aqui exposto do mesmo em 10 (dez) passos é certamente suficiente para ser usado no dia-a-dia, para analisar problemas, estudar um assunto, fazer pesquisas, teses etc. 6. Ciclo cibernético do cérebro humano - 51


As operações do ciclo cibernético são executadas pelo cérebro permanente e automaticamente. O cérebro parece girar sobre um parafuso de rosca sem fim: não é preciso "pedir-lhe" que se mova, prestar atenção para que não desligue, "ordenar-lhe" que sonhe, que regule o organismo, que não esqueça tais e tais hábitos. Entretanto, para fins de feedback, de autocondução de acordo com metas, para uma educação acadêmica e profissional, para administrar sua vida e sua empresa, será necessário conhecer e dominar os dez passos do ciclo cibernético, vigiar para que toda a sequência seja cumprida em cada empreendimento (e não largada em algum dos passos intermediários) e utilizar os melhores procedimentos lógicos e tecnológicos existentes para cada uma das operações. A elevação do nível e qualidade de vida, a coexistência intergrupos e classes e a sobrevivência ecológica dependerão da educabilidade do cérebro humano da maioria e do uso que se fizer dele. O ciclo cibernético do ser humano constitui-se de: operações lógico-analíticas (processo mental racional); operações intuitivo-sintéticas (processo mental emocional); e operações motriz-operacionais (processo mental prático). Toda entrada energética é processada em nível mental através de uma sequência de funções que, no seu conjunto, formam o ciclo de processamento mental. Esse ciclo é construído por uma série de funções que, para efeito de entendimento, podem ser resumidas a apenas 12, cabendo a cada uma dar um trato elaborativo peculiar que permite à função seguinte continuar o processo até o final, quando então a mente responde ao estímulo vindo do real. 6.1. Ciclo cibernético do cérebro humano: 1. Tema 1.1 Titulação 1.2 Definição 1.3 Objetivo 1.4 Situação triádica do tema 1.5 Pré-conclusão 2. Coleta de dados verbal e não-verbal 2.1 Exame holográfico 3. Processamento da informação Manual de sobrevivência do ser humano - 52


4. Diagnóstico 4.1 Desdobramento 5. Futurição 5.1 Priorização 5.2 Brainstorming 6. Decisões 7. Planejamento 7.1 Fluxograma 7.2 Operacionalização 8. Execução 9. Supervisão 10. Feedback O ciclo cibernético do cérebro humano, como visto no esquema acima, é constituído por uma sequência de operações passível de ser cultivada e que pressupõe etapas determinadas em cada um dos três processos mentais (racional, emocional e prático) do cérebro. Essa operação mental é iniciada pela entrada de informações no cérebro (inputs) através dos cinco sentidos e pelas funções cognitivas (atenção, memória, inteligência, pensamento, juízo crítico etc.). Elas passam ciclicamente e continuamente pelo processamento triádico interno dos três cérebros. Daí resultam uma ou várias ações (outputs) que formam ciclos sucessivos que podem ser visualizados numa espiral. Se uma pessoa domina bem o ciclo cibernético de seu cérebro, pode inverter a sequência, reordená-la, condensá-la, ampliá-la ou utilizar, em cada situação, só as operações necessárias, sabendo quais teclas está tocando, porque conhece toda a escala, acidentes, acordes, dissonâncias e variações. O número de operações do ciclo cibernético do cérebro é de tal ordem que seria impossível dar ao cérebro instruções como se dá aos programas de computadores. A maior parte das instruções já vem gravada na programação genética e na reprogramação cultural do ser humano, principalmente para o nível de execução nas três dimensões – racional, emocional e prática. Todos temos um mínimo de desempenho fisiológico-motor, 6. Ciclo cibernético do cérebro humano - 53


imaginativo e verbal para garantir as mínimas condições para sobreviver e nos reproduzir. Para os três outros níveis (animação, assessoria e condução), entretanto, requer-se educação ou treino planejado e sistemático. Urge assim o uso científico-criativo-operacional do cérebro humano, que deve ser uma tarefa básica da educação para a formação de seres humanos mais conscientes, mais sensíveis, mais globais. O método científico de produzir conhecimento, analisar problemas, estudar um assunto, fazer pesquisas, teses etc. faz uso preferencial das operações de número 1 a 4.1., dedutiva e indutivamente. O método qualitativo, mais espontâneo, criativo, artístico, que confia na capacidade intuitiva e empática do autor, menos dado a estatísticas, por isso também conhecido como antimétodo, usa preferencialmente as operações de número 4.2 a 6. O método administrativo, político e gerencial usa preferencialmente as operações de número 7 a 10. Cada conjunto é usado em combinação implícita com os outros dois, em proporções que dependem do grau de treinamento de quem usa o ciclo cibernético. Na prática, cada ser humano, dependendo de sua capacitação triádica mental e do grau de desenvolvimento de cada um de seus níveis, ajeita o método a seu favor. Os criativos usam mais o lado emocional em detrimento do racional e prático ou prático e racional. Os práticos costumam fazer diagnósticos rápidos, sem muita elaboração ou desdobramentos, dependendo do seu nível, também em detrimento de um ou outro dos demais lados. Os racionais sempre dirigem a sua ação com submissão do lado emocional ou prático, ou do lado prático ou emocional. Os métodos, pois, devem ser usados em forma inclusiva, não em forma exclusiva, e proporcionalmente segundo o tema ou assunto em questão. mano:

Segue-se uma análise sucinta do ciclo cibernético do cérebro hu-

1. Tema O tema, o assunto, o problema etc. é a primeira tarefa para utilizar o ciclo cibernético do cérebro humano e todo o seu potencial de eficiência. Portanto é preciso definir, sempre, com bastante clareza e de início, esse tema, que será o foco principal de nossa atenção. Seja resolvendo um problema, ou analisando um assunto ou desenvolvendo um projeto, é imprescindível determinar e nomear com exatidão o ou os títulos que serão objetos de nosso ulterior esforço processual. Manual de sobrevivência do ser humano - 54


Assim, ao se iniciar uma conversa, uma palestra, uma reunião, o tema proposto deve estar explícito para todos. Muitas vezes, individualmente ou em grupo, é benéfico um pequeno esforço para se definir com a devida correção o tema em questão. 1.1 Titulação Muitas vezes, no esforço de se achar o melhor título que expresse a ideia geral do tema já se consegue um significativo resultado de elaboração do mesmo. 1.2 Definição Determinado o problema ou o assunto ou o projeto a ser enfocado e alcançado um título (ou títulos) que melhor os exprima, deve-se trabalhar na sua definição, o que quero saber, medir, explicar, solucionar. 1.3 Objetivo É preciso delimitar o assunto, expressando nitidamente o resultado a alcançar e /ou quais são os objetivos e aspectos a perseguir e quais não o são. É claro que a correta definição do tema e do estabelecimento preciso do objetivo (ou objetivos) a ser alcançado vai direcionar e limitar o curso de todo o restante do processo. Ao estabelecer o objetivo a ser alcançado, delimito eficazmente todos os esforços ulteriores e o campo de abrangência de minhas ações. 1.4 Situação triádica do tema É sempre salutar avaliar no mínimo os três maiores interessados no tema. Se você quiser alcançar uma solução que seja benéfica ou interessante para você, sem dimensionar as necessidades e direitos dos outros dois polos da relação, certamente alcançará uma resposta inclusivista, desproporcional, egoísta. Quanto maior o número de três participantes da relação identificados (desdobrando sempre para cada participante mais dois interessados), mais exclusivista, proporcional e abrangente será sua performance. Por exemplo, a relação triádica entre cliente, o médico e o convênio de saúde. A decisão entre esses três deve abranger também outros personagens ou agendas ou instâncias. Essa decisão deve levar em conta os parentes do cliente, a situação econômica, os compromissos do 6. Ciclo cibernético do cérebro humano - 55


cliente, as regras contratuais com o convênio etc. Você tem que relacionar todos esses polos da relação, se possível identificando em cada polo os outros dois interdependentes e assim por diante: no universo cada parte está ligada a uma outra parte e ao todo. 1.5 Pré-conclusão Nesse momento já se pode aferir uma primeira conclusão parcial que será aproveitada pelos passos seguintes. 2. Coleta de dados verbal e não-verbal É certo que, para qualquer assunto, problema ou situação proposta, há um determinado acervo de informações em quantidade e qualidade já pesquisadas e publicadas. É preciso recorrer aos especialistas, à memória dos computadores, aos periódicos para se coletarem dados necessários ao ulterior desdobramento do processo. É preciso percorrer sempre os três principais grupos de teorias ou escolas ou tendências e neutralizar preconceitos, estereótipos e ignorâncias. A partir do momento em que estejam unificados o atual grau de conhecimento do tema e os aspectos em torno dos quais existe consenso, divergência ou possibilidade de se criar o novo, passa-se para o passo seguinte que é o questionamento da realidade, para abrir caminho rumo às hipóteses. 2.1 Exame holográfico O exame holográfico de um tema é procurar levantar o maior número possível de informações em todas as áreas do saber sobre aquele tema em questão. É muito comum e precária a atitude de se tirarem conclusões com um pequeno ou insuficiente número de dados. 3. Processamento da informação Esse é o momento de computar os dados, distribuí-los em tabelas segundo as variáveis, dar-lhes tratamento estatístico para o teste de hipótese e, escolhidos o valor crítico e o nível de significância, prosseguir com a estatística de teste para determinar a aceitação ou a rejeição da hipótese. Manual de sobrevivência do ser humano - 56


4. Diagnóstico ou conclusão Estabelece-se, sinteticamente, de acordo com a pergunta da pesquisa, a conclusão, a afirmação teórica ou a tese ou o diagnóstico sobre o tema proposto. 4.1 Desdobramento É preciso sempre desdobrar o diagnóstico e, no mínimo, avaliando o discurso dos que estão no poder, o daqueles que contestam o seu poder porque querem o seu lugar e o do terceiro envolvido, muitas vezes ingênuo que faz parte do jogo sem a menor consciência do processo em que está inserido. A “crítica” é a arma dos que, alijados do poder, pretendem desbancar aqueles que o detêm; a “verdade” é o discurso dos que estão no comando; e a “consciência ingênua” é a parcela repartida com aqueles que fazem parte do jogo ora apoiando os primeiros, ora os segundos, ora em cima do muro. Essas operações até aqui delineadas representam o processo mental racional (científico) e são denominadas operações lógico-analíticas, sendo utilizadas na pesquisa e no mundo acadêmico. 5. Futurição Futurição — prospectiva, cálculo de probabilidades — consiste em imaginar como a situação diagnosticada ou como o modelo estudado evoluirão nos próximos anos, meses, dias etc., de acordo com a perspectiva de tempo requerida. Pode ser crucial no estudo e planejamento de determinada questão antever as pequenas ou drásticas mudanças sucessivas que serão possíveis, como transformação no fim de um dado período. Dentro do processo de futurição é sempre significativo discernir os aspectos mais importantes ou relevantes a serem desdobrados (priorização) e depois proceder à denominada explosão criativa de ideias — brainstorming -, como passo necessário para qualquer futurição. A priorização não é ainda decisão. É um afunilamento de perspectivas, é uma listagem de preferências, é exclusão de caminhos descartáveis, é um antepenúltimo preparativo para chegar às decisões, àquela implosão em torno de um foco, de uma ideia-motriz. Uma a uma, as prioridades são tratadas por um duplo exercício de explosão de ideias: dificuldades esperadas e soluções a encaminhar. É preciso aqui apelar 6. Ciclo cibernético do cérebro humano - 57


para a intuição, imaginação, fantasia, inspiração, para se poder vencer o dono do poder e a sua corriqueira estagnação e mesmice. O proposto na explosão de ideias deverá ser registrado, processado, priorizado como subsídio às decisões e apresentado como propostas (que se tornarão decisões depois de discutidas, emendadas e aprovadas). 6. Decisões Há uma boa distinção entre as conclusões da etapa 4 e as decisões da etapa 6. As conclusões dizem o que aprendemos; as decisões dizem o que vamos fazer com a informação alcançada e que ação pode gerar, pois temos a consciência de que a informação é um meio de luta para a maximização dos meios de sobrevivência. O êxito vem, em grande parte, da rapidez das ações e da intensidade com que se persegue o fim. 7. Planejamento Como qualquer outro conjunto de operações do cérebro, este também deve estar subordinado ao controle recíproco, para que não se transforme em tirano da eficiência, da produtividade, da antivida. Planejar é reunir, é compatibilizar, é orquestrar todos os elementos informacionais e recursos operacionais para fazer com que as decisões se cumpram, sejam realizadas, aconteçam no tempo, no espaço e com as personagens disponíveis. 7.1 Fluxograma Significa dividir a ação, prevista na decisão que se vai planejar, em passos menores, intermediários, de forma que a execução de um passo é input para a execução do seguinte, até a realização de tudo o que estava previsto na decisão ou meta. Fluxogramar é dizer o que é antes e depois na execução de uma tarefa. Há diversas maneiras de fazê-lo. A mais conhecida é a rede PERT. O caminho mais curto (crítico) para aprender a estabelecer sequências e fluxos de ação é descobrir que cada sistema, cada ação, o planeta e o universo, tudo, nada mais é que um imenso fluxograma ou fluxogramas superpostos, cadeias em que o output de um sistema é input para outro. Manual de sobrevivência do ser humano - 58


A rotina e o hábito são fluxogramas inconscientes ou automatizados e só se mudam depois de se tornarem explícitos. Na estrutura dos fluxogramas, é preciso distinguir agendas ou ações dentre os demais operacionais. Para distinguir melhor, anotam-se as agendas em linha (na horizontal) e os demais operacionais em coluna (na vertical) ou vice-versa. É preciso antever os acontecimentos em forma sucessiva e concatenada. Um fluxograma está submetido ao probabilismo em cada passo que o compõe. É preciso acompanhar a ação e fazer feedback frequentemente para se continuar na direção certa da meta final proposta. 7.2 Operacionalização Significa tomar cada um dos fluxogramas anteriores e, para cada etapa, prever, especificar, estabelecer os quatro operacionais para concretizar a agenda prevista, minimizando os imprevistos, as falhas, os tropeços durante o curso de sua execução. 8. Execução Significa fazer cumprir, fazer acontecer, dia após dia, o que foi engendrado e estabelecido no plano, nos subplanos, nos programas e fluxogramas operacionalizados. Sem eficiência nesta fase, tudo que foi anteriormente programado não sai do papel. Para esta etapa, requer-se que seu titular tenha predominância da dimensão motriz-operacional do cérebro, em combinação privilegiada com a lógico-analítica e a sintéticointuitiva. A receita e a didática para isso são, ainda, um enigma desafiando educadores e escolas de administração. 9. Supervisão Significa manter o fluxo de informação, comando, divisão de funções, execução de tarefas, nível de disciplina, controle e documentação, além de previsões na operacionalização. É necessário perceber o que requer mudanças e resolver situações inesperadas referentes à cronologia, à qualidade, ao pessoal, aos desdobramentos do jogo triádico. Em inglês diz-se “follow-up”, referindo-se às coisas às quais se deve dar continuidade, que estão pendentes, mas que é preciso seguir para levar adiante e solucionar. A supervisão se dá em todos os níveis de uma organização. A supervisão significa aquele suprimento extra de informação, de sincroniza6. Ciclo cibernético do cérebro humano - 59


ção de ritmos, de microdecisões, de diálogo que injeta significado, sentido e ânimo mediante uma presença discreta, um alerta muito sensível às oscilações ambientais de grupo e senso de oportunidade para não ser omisso, negligente nem precipitado. A supervisão equivale ao microfeedback, ao feedback permanente. Ao fim do dia, deve-se planejar o dia seguinte. É bom para nossa vida, para nosso trabalho, para nossa casa uma supervisão permanente. 10. Feedback Significa comparar, decorrido um período de implantação e acompanhamento pré-estabelecido, os resultados alcançados com os resultados pré-estabelecidos nos painéis de controle ou no plano geral, medindo a defasagem entre ambos. Após a implantação de um plano, um processo de mudança, fazer feedback significa percorrer todo o ciclo cibernético, revisando-o, num processo reiterativo periódico. As operações do ciclo cibernético do cérebro humano são as mesmas dez: seja para controle fisiológico do organismo; seja para sonhos, hipnose, percepção extrassensorial, arte, mística, recreação; seja para filosofar, fazer ciência, usar matemática, executar projetos. São diferentes relativizações ou polarizações do mesmo processo. No controle fisiológico do organismo e nos sonhos, o ciclo cibernético acontece automaticamente e em alta velocidade, ao contrário do raciocínio. No processo verbal-matemático, o ciclo tem como eixo as operações lógico-analíticas dedutivas; nas experiências místicas e dos artistas, o processo é centrado nas operações sintético-intuitivas; e na execução de projetos, predominam as motriz-operacionais. Conscientes ou inconscientes, automáticas, controladas voluntariamente, em estado de vigília, ou sono natural, ou induzido sob estímulo de drogas ou ao natural, o ciclo cibernético do cérebro humano funciona, gira, se perfaz ininterruptamente, como parafuso de rosca sem fim, com recorrência das dez operações em micro e macrociclos, exceção feita para cérebros deficitários por lesão neurológica, psicológica ou educacional. O ciclo cibernético do cérebro humano deverá ser usado em tudo: roteiros de reunião, de estudo, de discussão; roteiros de aula; em situações-problema do dia-a-dia; em administração, aconselhamento; em orManual de sobrevivência do ser humano - 60


ganização de seminários, treinamentos etc. Isso é garantia de inclusão das três dimensões do cérebro humano, garantia de integração da teoria com a prática e, sobretudo, garantia de desenvolvimento mental integral de indivíduos, grupos e sociedades. 6.2. Metas de cultivo do cérebro humano mais complexas Chegando nesse estágio, você pode tomar as rédeas de seu desenvolvimento mental daqui em diante. Isso se chama cultivo dos três processos mentais e é feito através de metas para cada lado. Segue uma listagem de algumas das possíveis metas de estimulação ou exercício de maneira inicial, para sua escolha. Você escolhe um processo mental de cada vez. Não é possível você querer agir sobre os três processos mentais de uma só vez. Faça um acordo com um de seus lados. Negocie com os outros e vá estabelecendo uma prioridade, uma hierarquia no processo de estimulação, desenvolvimento e atenção ao desenvolvimento mental. Depois, sucessivamente, você vai investir noutro lado, criando um hábito de higiene mental, cultivo mental, revisão mental, excitação mental etc. Assim como você adquire o hábito de cuidar da sua dieta, de fazer o seu exercício, a sua ginástica, o seu esporte. A mente precisa muito mais disso do que o seu arcabouço ósseo-muscular. 6.3. Cultivo do lado racional (operações analítico-lógicas): - Aprender a observar a interação ou intercâmbio harmônico-conflitivo entre sistemas, progressiva e regressivamente (do menor ao maior da cadeia e vice-versa) e a oscilação cíclica, sazonal. - Adquirir e ampliar vocabulário e capacidade de expressão verbal e numérica. - Equipar-se com algum sistema de documentação (fichários, classificadores ou computadores). - Manter-se atualizado lendo revistas de divulgação científica. - Treinar-se para seguir ordenadamente os passos do Ciclo Cibernético do Cérebro. 6. Ciclo cibernético do cérebro humano - 61


- Conscientizar-se, analisar os condicionamentos de infância, posteriores e atuais. - Ter plano anual de metas pessoais e praticar a autoprogramação mental. - Saber distinguir (e optar) entre cosmovisões (fundamentos físicofilosóficos) de enfoque monádico-linear-sucessivo-descritivo-cartesiano e de enfoque diádico-triádico-cruzado-concomitante-interpretativo-propositivo-sistêmico. - Aprender a manusear com desenvoltura quadros de referência, paradigmas, modelos, esquemas, roteiros multiplicadores de informação. - Dominar uma teoria de comunicação que possa aferir a conspurcação da linguagem e da informação pela comunicação tática, ideologizada, despistadora dos porta-vozes de cada subgrupo. - Aprender a pesquisar e a ser autor, comunicador da informação que se produz. - Acautelar-se contra os defeitos, impasses e armadilhas da lógica das palavras, dando sempre primazia à lógica da sobrevivência, evitando que a lógica se descole dos fatos, pessoas e subgrupos. - Proceder periodicamente a um feedback da bagagem cultural adquirida e do desempenho intelectual, por auto e heterocrítica. Se o trabalho intelectual é em equipe, é indispensável que todos os participantes tenham as mentes disciplinadas para seguir ordenadamente os passos do ciclo cibernético do cérebro e tenham uma técnica de comunicação grupal (ou de reunião) que faça fluir o pensamento grupal pelo Ciclo Cibernético até a etapa de planejamento. É necessário também que todos tenham uma linguagem (um universo de comunicação) inter ou transdisciplinar para servir de quadro de referência comum entre os profissionais com linguagens acadêmicas diferentes. 6.4. Cultivo do lado emocional (operações intuitivo-sintéticas) em nível de vigília: - Utilizar técnicas diversas de estímulo à criatividade: brainstorming (chuva de ideias) verbal ou escrito; simbolização e metaforização Manual de sobrevivência do ser humano - 62


(como nos sonhos e poesia, em que o real é expresso por imagens com algum tipo de afinidade ou associação); futurição (exercícios de previsão ou desdobramento de situações atuais); humorismo (ostentar o lado festivo ou humorístico de fatos comuns); utopia (criar mundos, países, cidades, instituições, pessoas, situações desejá­veis, ainda que irrealizáveis no momento, como ficção científica); fisiono­mismo (exercícios de captação-relâmpago de figura e traços marcantes); autoestética (exercícios de autopercepção apreciativa, amorizadora, congra­tulatória de cada aspecto do corpo); salmo-poema individual ou comunitário (expressar-se em forma de poesia e oração em torno de um fato percebido estética e misticamente). - Ser usuário, expor-se às diversas manifestações artísticas; tentar expressar-se através de alguma arte — declamação, pintura, desenho, manipulação de massinhas, decoração, psicodança, criação de objetos de uso pessoal, par­ticipação em sociodramas ou psicodramas, condecoração, prática do relax, ênfase em realizar-se no minuto presente (minuto fatal para ser feliz) etc.; levar vida afetiva intensa e compensadora. - Desprogramar hábitos mentais, corporais, ritualísticos e recriar outros; praticar a suspensão temporária do julgamento de certo-errado (censura ou logicidade do pensamento com que foi recheado o encéfalo de cada um); fazer exercícios de arremedar alguém, redenominar objetos e acontecimentos, refazer ou ampliar provérbios, fazer duplicodificação (dar nova versão, na perspectiva e linguagem subgrupal oposta à original), reescrever os diálogos de revistas em quadrinhos ou novelas, “dialogar” com a TV, revigorar um texto buscando expressões mais fortes, fazer “amplificação” planetária (tomar um símbolo e atribuí-lo ao planeta, como átomo, biblioteca, fábrica, templo, supermercado etc., formando a frase: o planeta é um átomo, o planeta é uma biblioteca etc.); praticar o papel de animista de um jogo triádico dado (falar em nome de cada um dos subgrupos, pessoas, animais ou coisas). Há quem apele para a “química cerebral ou psicológica” (estimulação ambiental ou psicotró­ pica). Essas sugestões podem ser realizadas através de funções ou papéis distribuídos entre os membros de um grupo, quando em treinamento. Em nível alfa e outros níveis de ciclagem do cérebro, obtêm-se resultados mais avançados, embora mais raros e de condução e controle mais difíceis. Cada um pode pesquisar e descobrir sua “química psicológica ou cerebral” apropriada, que não seja dependente dos atuais psicotrópicos, degeneradores a médio prazo. Trata-se de identificar situações, lugares, 6. Ciclo cibernético do cérebro humano - 63


horários, condições, pessoas, ritos, métodos, recursos, programação de sonhos, silêncio, meditação, relax, que estimulam a criatividade ou a atividade encefálica geral e harmônica. Pode-se, com isso, adquirir algum controle do processo heurístico ou criativo, apoiá-lo, provocá-lo, em vez de apenas esperar “inspiração”, aleatoriamente etc. 6.5. Cultivo do lado prático (operações fisiológico-motriz-operacionais): - Educação para autocontrole do organismo (educação física, ioga etc.). - Apuração dos cinco sentidos. - Prática de interação (intercomunicação) com o mundo fisico-químico, com o mundo vegetal, animal, com instrumentos mecânicos e eletrônicos, com os seres humanos de posição oficial, antioficial, oscilante. - Exercitar-se ao máximo no mundo do trabalho manual, intelectual, artístico, familiarizar-se com o mundo dos negócios, das viagens, da burocracia etc. - Aprender técnicas de decisão, de planejamento, de administração, de organiza­ção, de mudança, de guerra. - Empenhar-se, sem relutância, na luta sem cerimônias pela sobrevivência, dentro das regras do jogo ou padrão ético vigente, ajustando-se evolutivamente, visando a padrões menos desproporcionais de interação e intercâmbio de bens. - Reciclar-se profissionalmente para escalar todos os níveis da carreira. - Engajar-se na comunidade através de órgãos de classe, movimentos sociais ou partidos políticos etc.

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7. De como e por que fizeram sua “cabeça” - O grande desafio do homem do século XXI com seu cérebro aberto, juvenil e inacabado é ter condições de controlar seu pensar, sentir e agir (seu cérebro) para manter sua sobrevivência sem destruir a si mesmo, o outro e o mundo. E para tal é fundamental sentir primeiro aquilo que somos (ou de como e por que fizeram a nossa “cabeça”), para depois termos consciência, liberdade, em autocondução, para pensarmos naquilo que queremos ser.

Quem é você? Quem somos? Por que vivemos? E principalmente: como devemos viver? Como surgiu o universo, a Terra e a vida? O que é a vida? Quando e como apareceu o cérebro humano? Qual a coisa mais importante da vida? De onde vem o mundo? Como podemos construir nossa própria imagem de ser humano, do mundo e da vida? Existe uma vontade, um plano, um significado ou mesmo um sentido por detrás de tudo que ocorre? O mundo é probabilístico ou causal? Ou outra coisa qualquer? Há vida depois da morte? Você pode responder a essas perguntas acima com o referencial da ciência, da religião ou mesmo do senso comum. Em nenhuma dessas vertentes encontrará a verdade definitiva, porque hoje, como nunca, a verdade, a realidade, o conhecimento e a própria felicidade são tarefas do homem. Elas devem ser construídas por você, mesmo porque dependem de sua psicologia individual, social, de sua história, de sua geografia, de sua classe social, de sua cultura, de sua conta bancária, de sua idade, de sua cabeça enfim. A verdade, a realidade, o conhecimento e a própria felicidade são conceitos e não são dados prontos ou podem ser encontrados na leitura de um livro (religioso, ou de filosofia, ou científico). Não acre7. De como e por que fizeram sua “cabeça” - 65


ditem totalmente no que a ciência fala, a religião, a filosofia, o povo, seus pais, seus educadores, os políticos etc, porque somente o ditador solitário acha que detém a verdade. Portanto você deve redimensionar esses conceitos a cada momento, a cada dia, na sua relação consigo próprio, com o outro, com o meio ambiente. Apesar disso, aqueles que dominam o saber e o poder no planeta Terra (sejam eles representantes da ciência, da religião, do povo) vão afirmar, de uma maneira categórica, que detêm a essência do saber que responde a essas perguntas. Não acredite: é uma cilada. Eles, como você, têm uma verdade incipiente, relativa, provisória, que já fez a humanidade avançar bastante até o momento, mas que precisa, porém, ser buscada por todos e cada um, numa tarefa de construção dentro de um processo contínuo, diário, com a participação de todos. E isso não é fácil, porque, entre tantos outros fatores, é histórico, não se consegue ou se ganha de graça, porque está imerso na História do Homem e da Humanidade. E, ao longo dela, é certo que, consciente ou não, o ser humano deparou-se com essas perguntas nos diversos estágios de sua evolução e as respondeu das mais variadas formas. E aí começou o perigo. Por quê? Porque, acreditando que realmente sabiam responder a essas perguntas, demos às lideranças científicas, religiosas, populares o poder de fazer “a nossa cabeça”, de dar significado à nossa existência, de cuidar de nossas vidas e de nossas trajetórias no mundo. E fizeram o que fizeram e fazem ainda com a nossa devida permissão. Deve-se, de início, entender que cada um de nós ou todos, isoladamente ou inseridos num determinado grupo familiar, profissional, social, usamos nosso cérebro (instrumento que decodifica e empresta significado à realidade interna e externa) sempre sustentados por um conjunto de princípios básicos (cosmovisão-instrumento) que apoia "o porquê e o como" funcionam o universo, o planeta, a organização social, a vida dos indivíduos (cosmovisão-produto). Cosmovisão, segundo a Cibernética Social, é o produto do relacionamento explicativo do cérebro individual ou coletivo com o meio ambiente. Essa relação se dá ao longo de um processo que tem, no começo, algumas imagens e conceitos descobridores e classificadores. Esses conceitos, por sua vez, se ordenam gerando explicações e teorias. No fim, se tornam crenças e critérios de certo e errado e chave para previsões. A cosmovisão-instrumento é conhecida como revelação, primeiros princípios, princípios indemonstráveis. A cosmovisão-produto é conheManual de sobrevivência do ser humano - 66


cida, também, como ciência, teoria, paradigmas, doutrinas, ideologias, modelo social, filosofia de vida ou filosofia ético-moral. Uma cosmovisão "completa" de qualquer origem inclui: Origem e natureza do ser, do universo, da energia, do todo (ontologia); circulação, complexificação, degradação das diversas formas de ser ou de energia e seus ciclos; formas de captação pelos humanos (ordem natural, lei da natureza, dinâmica de potencialidades); filogênese e ontogênese, o ser humano, seu lugar e sentido no universo (dinâmica individual); a organização grupal, origem do poder, vida comunitária (dinâmica de grupo); o acesso aos meios de vida, o trabalho, a tecnologia, a guerra (dinâmica ergonômica e nominal); autoimagem da espécie humana, sua unificação, seus ideais e possibilidades de transcendência (dinâmica universal); finalização do processo evolutivo planetário e universal. Em resumo, uma cosmovisão deve conter o script indicativo (às vezes comentado) do show planetário ou universal: gênese, enredo e desfecho. Qualquer conhecimento (científico, religioso, popular) parte de uma cosmovisão, e uma cosmovisão sempre implica princípios indemonstráveis, pressupostos, crenças, vastas hipóteses não comprovadas pelos métodos normais da lógica científica dedutiva ou indutiva. Assim se diz que "o mundo é um castelo de cartas": uma coisa se apoia na outra com força implosiva, tudo se apoia em tudo, não existe um ponto de apoio absoluto, como um pedestal para o restante das coisas. No fim das contas, todo o conhecimento humano é uma convenção, é um castelo de cartas, assim como a sociedade. Mas é uma convenção, uma norma que está, presumivelmente, dando certo, rendendo para os humanos (para uma parte deles, pelo menos). Conscientemente ou não, todos incorporamos uma proposta ou processo de convivência familiar, comunitária, nacional, planetária, com suas metas e com "o que e como fazer" para atingir uma vida considerada boa e feliz. Estamos sujeitos a normas éticas, critérios morais, leis para regular o comportamento individual, grupal, nacional, planetário e ecológico de todos, bases e cúpulas, na competição por meios da vida, e a uma lógica social para garantir ou policiar a coerência e a consonância entre "o que se crê e diz" e "o que se faz”. É preciso lembrar que, seja um conjunto doutrinário ou religioso revelado, ou um corpo de conhecimentos ajustado com a ciência atual, ou uma cartilha de preceitos de ação para um dia-a-dia, toda síntese está 7. De como e por que fizeram sua “cabeça” - 67


exposta à ação sedimentadora e reformuladora do tempo, da história e do exercício cotidiano da sobrevivência humana. Isto é, toda teoria tem que ser prática, precisa responder às demandas. Sabemos que a mente humana é, por natureza, inquiridora, insatisfeita, angustiada: quer conhecer as razões das coisas. Para responder a essas demandas inquiridoras, a mente humana “evoluiu” dos mitos, passando pela religião e filosofia, e chegou à ciência, e o ser humano em nenhuma encontrou alguma coisa acabada, inteira, absoluta. A humanidade primitiva respondia com explicações míticas a qualquer problema: Por que troveja? Júpiter está encolerizado. Por que o vento sopra? Porque Éolo está brincando com as nuvens do mar. Contemporaneamente, essas respostas podem parecer simplistas, ingênuas, errôneas. Soam sem significado, sem uma aparente conexão, descabidas. Entretanto, dentro do contexto histórico, da cultura, dos mitos daquela época, elas têm uma importância muito grande, porque representam o primeiro esforço da humanidade para explicar as coisas e suas causas. Há nessas respostas uma autêntica procura das “causas primeiras” do mundo, de por que as coisas são como são e das leis de suas interações. Turchi, grande estudioso da história das religiões, reconhece o mito como uma representação fantasiosa, espontaneamente delineada pelo mecanismo mental do homem, a fim de dar uma interpretação e uma explicação aos fenômenos da natureza e da vida. Todos os povos antigos – assírios, babilônios, persas, egípcios, hindus, chineses, romanos, gauleses, gregos – tiveram seus mitos. Todos produziram suas histórias explicativas dos acontecimentos da natureza e da existência humana. Guerra, paz, bonança, calamidades, abundância, carestia, saúde, doença, nascimento, morte, universo, Deus – tudo recebeu seu significado numa história que assinalava uma coerência entre o particular e o geral, entre o indivíduo e o todo, onde início, meio e fim se articulavam. O mito representava para essas civilizações iniciais uma força plena de significado para as mentes de seus cidadãos, e esses não questionavam se o saber se chamava filosofia, religião ou quadro de referência paradigmática, mas esses mesmos mitos orientavam o seu entender a si mesmo, ao mundo e ao meio ambiente físico e social.

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Assim o conhecimento humano se desenvolveu em três fases diferentes, das quais a primeira seria a mítico-religiosa, a segunda, a filosófica, e a terceira, a científica. É importante salientar que essa divisão é puramente esquemática, talvez didática, porque mesmo hoje, na civilização da ciência, da tecnologia, do primado da razão, é possível perceber em uma significativa parcela da população uma tendência a dar uma estruturação mítica ao pensamento. E essa tendência acompanha todos os agrupamentos humanos e suas diversas formas de expressão e não é exclusiva das crenças religiosas. Os homens continuam tendo necessidade de forjar seus mitos, como nas sociedades primitivas. Cria-se um mito do dia para a noite, dorme-se com ele, e no dia seguinte já assistimos ao seu rito de exclusão – a mídia, principalmente televisiva, cria aquilo que mais lhe aprouver para o momento e para seu patrocinador e o descarta quando e assim que não mais lhe convier. É certo que todos precisamos de uma certeza, de um rumo e de um significado consistente para darmos sentido à nossa trajetória humana — hoje, ontem e sempre. Essa necessidade, porém, tem sido usada pelos detentores do saber e do poder (os cientistas, os religiosos, os filósofos, os executivos ou aqueles que usam seu saber e poder para nos dominar e nos fazer responder às suas demandas em detrimento de nossas necessidades mínimas) para nos dominar com as “estórias” que contam. E não o fazem ingenuamente. Tudo isso é feito de caso pensado. Comportam-se como se tivessem realmente a resposta para todas as perguntas. Explicam como tudo começou, como tudo é, qual o significado de cada coisa e de tudo. E, ainda não satisfeitos, se esmeram em esclarecer os mais diversos detalhes – com datas, locais, personagens, procedimentos — de todo o desenrolar da mesma, do início ao fim. A maioria dos seres humanos em todas as civilizações não resiste a tamanha certeza e a tanta riqueza de pormenores. Suas "cabeças" são fisgadas e temem questionar, procurar novos dados, nova compreensão, porque qualquer desconfiança da "estória" e de seu enredo pode vir a ser punida com a perda da graça, beatitude, bem-aventurança. Esse é o mecanismo há muito processado para “fazer sua cabeça”, e isso vem sendo utilizado, desde que o mundo é mundo, pelos ditadores, pelas religiões e hoje pela ciência amoral, sem ética, sem controle. Entretanto a compreensão do ser humano e da humanidade varia desde uma perspectiva simples, monádica, monolética até uma complexa, intersistêmica, trialética. 7. De como e por que fizeram sua “cabeça” - 69


No desenrolar da história do homem e das civilizações partiu-se de uma compreensão mítica da vida, do homem, do meio ambiente e do universo. Aristóteles diz que a diferença específica entre a experiência e a ciência está no fato de que a experiência (que é o fazer popular, o realizar do homem comum sem escola, do consuetudinário) atesta que aconteceu alguma coisa e explica o seu “como”, ao passo que a ciência (que usa o método científico, que pretende ser certa, exata, rigorosa) procura esclarecer o seu “por quê”. Da mesma forma que o pensar mítico procura explicar "como" se estrutura o universo, o mundo dos deuses, dos homens e das coisas, a filosofia quer apresentar o "porquê" do mundo, do homem, de Deus. Além disso, o mito procede de analogias, de comparações, sugeridas pela experiência sensível do homem frente à sua vida e à sua realidade e permanece aquém do logos, ou seja, aquém da explicação racional. A filosofia, ao contrário, trabalha só com a razão, com rigor lógico, com espírito crítico, com motivações racionais, com argumentações rigorosas, baseadas em princípios cujo valor foi prévia e firmemente estabelecido de forma explícita. Todos reconhecem a Grécia, a civilização grega, como berço da filosofia. Mas, mesmo nessa civilização, pode-se destacar também períodos bem definidos, onde o cérebro humano, partindo de uma perspectiva de visão da realidade humana e do universo através de uma estruturação mítica do pensamento, passou por um estágio onde o perceber era ao mesmo tempo essencialmente mítico e genuinamente religioso, até alcançar o estágio que propiciou o nascimento e o florescimento da especulação filosófica. A religião grega, essencialmente diferente daquelas que se diziam reveladas (como a dos hebreus, dos povos do Oriente, dos egípcios), não portava livros sagrados ou tidos como de revelação divina. Ela não tinha uma dogmática fixa e imutável e por isso não sustentava uma casta sacerdotal encarregada da guarda do dogma. Essa religião via em qualquer evento cósmico uma manifestação do divino: tudo o que acontece é obra dos deuses. Esses deuses eram forças naturais calcadas em formas humanas idealizadas, aspectos sublimados do homem, forças de homem cristalizadas em belíssimas formas. Postulava-se que no homem reside um princípio divino, um demônio (daimônion), unido a um corpo por causa de uma culpa original. Esse demônio é imortal e, por isso, não morre com o corpo, mas deve passar por uma série de reencarnações até expiar completamente sua culpa. Manual de sobrevivência do ser humano - 70


A vida religiosa grega com suas práticas de purificação apresentava-se como a única que podia pôr fim ao ciclo de reencarnações. Dessa maneira, quem vivesse religiosamente entraria, e depois desta existência, no estado de felicidade perfeita, ao passo que quem vivesse outro tipo de vida seria condenado a ulteriores reencarnações. Assim, na religião grega, podemos destacar, de início, uma fase mais mitológica com uma concepção religiosa eminentemente naturalista, que não propunha nenhuma ascese e que encorajava o pleno desenvolvimento e a plena satisfação de qualquer capacidade, força e paixão humana. E, ulteriormente, uma fase realmente religiosa ou dos mistérios, onde se passou a insinuar um ideal de uma ascese já muito rigorosa desde o seu início. Nessa época, a filosofia começava a florescer na Grécia, e os gregos — já detentores de uma maior liberdade e amplitude reflexiva — começavam a se envolver com temas como a imortalidade da alma, a condenação do prazer, o culto da virtude. É possível pensar que se inicia nesse período, na história da evolução do cérebro humano, o despertar da capacidade do mesmo de lidar com o logos e a razão e de utilizá-los como instrumento de decodificação e explicação da realidade humana e do universo. O cérebro — racional, cartesiano, lógico — só surgirá após um longo tempo, no início do século XVII, por ocasião do renascimento. E esse novo cérebro é que assume novamente as rédeas da evolução da humanidade, retirando-a de seu escuro e tenebroso sono mítico e religioso, que a havia paralisado por quinze séculos. Agora esse novo cérebro passa a determinar os surpreendentes avanços e recursos, que hoje todos desfrutamos e que caracterizam a civilização contemporânea. Mas esse avanço da ciência e da tecnologia precisa também ser questionado, limitado pela ética e pelo bom senso e pelo dano que seu crescimento desordenado e acrítico possa causar no Homem, na Humanidade e no Planeta. Estamos há já trinta ou quarenta anos vivendo o advento do terceiro milênio, do término da era de Peixes, e o advento e o início da era de Aquarius. E Aquarius é “o menino que mostra que o rei vaidoso não está vestido – está nu” – isso mostra que nenhum rei, nenhuma ciência, nenhuma religião, nenhuma filosofia, nenhum povo pode mais querer ter toda a verdade, toda a realidade, todo o conhecimento, ter toda a felicidade. Aquarius também é o mito do Rei Arthur – aquele da távola redonda -, o que quer dizer que devemos sentar todos numa mesa redonda e ouvir a opinião de cada um para podermos construir esses conceitos básicos. 7. De como e por que fizeram sua “cabeça” - 71


Aquarius é também a reflexão da impossibilidade de alguém, ou de um povo, ou de uma força querer ser hegemônica e de que devemos dividir o que até aqui conquistamos para a maioria ou para todos indiferentemente.

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8. Homem: criação de Deus ou produto da evolução das espécies? - Todas as formas de pensamento do senso comum, da ciência, da filosofia, da religião fazem essa pergunta e se esforçam em dar-lhe uma resposta. Cuidado para a cilada de defender uma compreensão fechada, acabada, estática de uma delas!

Que é a vida? Qual a sua origem? Como surgiram os seres vivos que nos rodeiam? Como surgiu o homem? Desde os tempos imemoriais, o problema da origem da vida atrai a compreensão humana. Todas as formas de pensamento do senso comum, da ciência, da filosofia, da religião fazem essa pergunta e se esforçam em dar-lhe uma resposta. As respostas a essa pergunta fundamental ao espírito humano foram diversas, conforme as épocas e o grau de desenvolvimento das diversas civilizações. Podemos, no entanto, dizer que duas vertentes de opiniões principais, sempre antagônicas e em permanente discussão, se digladiaram: uma que se pode denominar idealista e outra, materialista. Realmente, costuma-se distinguir na natureza dois mundos – o da matéria bruta, inorgânica e o dos seres vivos. O primeiro, o reino mineral, inanimado; e o segundo, o reino vegetal, animal, humano, onde impera a vida. O mundo vivo é constituído por uma infinidade de espécies vegetais e animais e, apesar de suas inúmeras diferenças, aparenta uma coisa em comum, que o distingue, desde a mais simples forma elementar de vida até o homem, dos objetos inanimados. Essa alguma coisa é o que se denomina vida. E, então, o que é a vida? Sua essência é material, como o resto do mundo, ou estará constituída por um princípio imaterial, espiritual, inacessível à experiência? Se a vida for material, ao compreendermos melhor as leis que regem a matéria, teremos a possibilidade de criá-la ou transformá-la? Teremos a oportunidade de criar e transformar os seres vivos? Tudo isso realizado de forma consciente e dirigida? 8. Homem: criação de Deus ou produto da evolução das espécies? - 73


Se a vida foi criada por um princípio espiritual e se sua natureza é insondável, só nos resta contemplá-la e permanecer impotentes diante do mistério de sua criação e das manifestações de seus fenômenos? Os idealistas sempre consideraram e continuam a considerar a vida como a manifestação de um princípio espiritual e imaterial. Para eles a matéria é em si mesma algo inerte e privado de vida, servindo apenas de material para a construção dos seres vivos. Esses seres vivos só podem nascer e existir quando esse material tiver recebido uma alma que lhe confira forma e estrutura convenientes. Essa concepção idealista da vida é a base de todas as religiões do mundo. E todas elas, apesar de suas inúmeras divergências, concordam em afirmar que o ser supremo, Deus, insuflou uma alma viva à carne inanimada e inerte e que esta parcela eterna da divindade é o vivo, aquilo que move o ser e o mantém com vida. Quando ela se esvai, só permanece o invólucro material vazio, um cadáver que se decompõe e se putrefaz. A vida seria uma manifestação da divindade, e eis porque o homem não pode penetrar em sua essência e muito menos aprender a dirigi-la. Esta é a conclusão principal de todas as religiões sobre a natureza da vida. A premissa básica que as sustenta é a esperança do ser humano na possibilidade de sua reintegração com Deus. Os materialistas, por seu turno, ensinam que a vida, como todo o mundo, é de natureza material e que não há necessidade de apelar para nenhum princípio espiritual ou sobrenatural para explicá-la. A vida não seria mais que uma forma particular de existência, cuja origem e destruição obedeceriam a leis determinadas. A prática, a experiência objetiva e a observação da natureza viva constituiriam o caminho certo que nos levaria ao conhecimento da vida. A Biologia, um ramo da ciência, apoiando-se em observações objetivas, na experiência, na prática histórica e social, vem apresentando uma cadeia ininterrupta de vitórias científicas que mostram que a natureza viva é passível de ser modificada e transformada em benefício do homem. No entanto o problema da origem da vida continua um enigma. Observa-se diariamente que os seres vivos nascem de outros semelhantes. Todavia nem sempre ocorreu assim. A Terra, nosso planeta, teve um começo, surgiu em determinada época. De onde, pois, provieram os antepassados mais remotos das plantas e dos animais? Segundo a Religião, todos os seres vivos foram originariamente criados por Deus. Graças a esse ato de criação divina, os antepassados Manual de sobrevivência do ser humano - 74


das plantas e dos animais que atualmente povoam a terra teriam surgido de súbito e com aspecto definitivo. O primeiro homem, do qual descenderiam todos os outros, teria sido criado por um ato divino especial. Na Grécia Antiga, muitos filósofos materialistas recusaram a explicação religiosa da origem dos seres vivos. Platão (427-347 a.C.), uma das maiores figuras da filosofia de todos os tempos, discípulo de Sócrates (469-400 a.C.), nascido em Atenas, pontificou que os vegetais e os animais não vivem por si mesmos, mas só são animados quando uma alma imortal, a “psique”, neles se aloja. Aristóteles (384-322 a.C.), discípulo de Platão, nascido em Estagira, na Trácia, cuja doutrina fundamentou a cultura medieval e que dominou o pensamento humano durante cerca de 2.000 anos, asseverou que os seres vivos, como aliás todos os objetos concretos, são formados pela reunião de certo princípio passivo, a matéria, com um princípio eficiente, a forma. A forma é uma “enteléquia”, uma alma, para os corpos vivos. Ela é que modela o corpo e lhe dá movimento. A matéria é, pois, inerte, mas a vida dela se apodera, imprime-lhe a forma conveniente e a organiza graças a uma força espiritual. Para ele, os seres vivos tinham surgimento espontâneo. As concepções aristotélicas tiveram grande influência em toda a história ulterior do problema da origem da vida. Todas as escolas filosóficas posteriores, gregas ou latinas, compartilhavam inteiramente da opinião de Aristóteles sobre a geração espontânea dos seres vivos. Plotino (205-270 d.C.), nascido em Licópolis, no Egito, e falecido em Roma em 270, foi o fundador e o principal expoente do neoplatonismo, sistema desenvolvido em Alexandria depois do platonismo judaico (com Fílon) e do cristão (com Clemente e Orígenes). Fez uma síntese do pensamento filosófico com o pensamento religioso, ou uma síntese da filosofia de Platão com as religiões pagãs orientais. Ensinava que, outrora como hoje, os seres vivos provinham da animação da matéria por um espírito. O cristianismo primitivo, para explicar a origem da vida, se baseou na Bíblia, que, por sua vez, copiara as lendas místicas do Egito e da Babilônia e, combinando essas lendas com a doutrina neoplatônica, elaborou sua concepção mística sobre a origem da vida, integralmente conservada até nossos dias por todas as igrejas cristãs. Basílio de Cesaréia, bispo que viveu em meados do século IV de nossa era, ensinava, em suas prédicas sobre a criação do mundo em seis dias, que a própria terra gerara, pela vontade de Deus, as diversas ervas, raízes e árvores, bem como as lagostas, insetos, rãs, serpentes, ratos, aves 8. Homem: criação de Deus ou produto da evolução das espécies? - 75


e enguias. “Esta vontade divina”, dizia, “continua a agir atualmente com toda a força”. Agostinho de Hipona (354-430 d.C.), o “santo” Agostinho, contemporâneo de Basílio, autor de uma síntese filosófico-religiosa de extraordinária força e beleza, exerceu uma influência incalculável em todo o pensamento filosófico e teológico posterior. Representou uma das autoridades mais influentes da Igreja Católica e esforçou-se por demonstrar em suas obras a geração espontânea dos seres vivos, segundo a concepção cristã. Para ele, a geração espontânea dos seres vivos (animação da matéria inerte por um espírito criador) constituía uma manifestação da onipotência divina. Desse modo, estabeleceu a plena correspondência da teoria da geração espontânea com os dogmas da Igreja Cristã. A Idade Média pouco acrescentou a esta concepção. Nessa época, uma ideia filosófica não podia existir senão em um invólucro teológico, sob o manto de uma doutrina da Igreja. Os problemas das ciências naturais estavam relegados a segundo plano. Os fenômenos da natureza eram julgados não com base nas observações e na experiência, mas segundo o que deles diziam a Bíblia e as obras teológicas. Apenas algumas noções de matemática, astronomia e medicina, provindas do Oriente, penetraram na Europa. Apesar das obras de Aristóteles terem chegado aos povos europeus através de traduções muito desfiguradas, a Igreja, através dos teólogos cristãos, interpretou a origem da vida como animação da matéria inerte pelo espírito divino, eterno. O século XIII é reconhecido por todos os estudiosos como o século de ouro da Idade Média. Nele, a civilização medieval atingiu pontos culminantes em todos os campos – nas artes, na literatura, na política, na teologia e também na filosofia, expressos pelo perfeito equilíbrio entre fé e razão, entre a autonomia do homem e a sua mais completa submissão a Deus. Tomás de Aquino (1225-1274 d.C.) foi uma das figuras dominantes deste período e um dos maiores filósofos e teólogos de todos os tempos. Sua doutrina é até hoje reconhecida pela Igreja Católica como a única filosofia verdadeira. Ele também ensinava em suas obras que os seres vivos são devidos à animação da matéria inerte, e assim é que se formam as rãs, as serpentes e os peixes pelo apodrecimento do lodo marinho e da terra estrumada. Mesmo os vermes, que – sentenciava – torturam os pecadores no inferno, resultam da putrefação dos pecados. Foi sempre um defensor e propagandista da demonologia militante. Achava que o Diabo Manual de sobrevivência do ser humano - 76


realmente existia e que era chefe de toda uma coorte de demônios. Os parasitas nocivos ao homem provêm, a seu ver, não só da vontade divina como das artimanhas do Diabo e dos espíritos do mal que lhe são subordinados. Essa prática foi expressa nos processos, tão frequentes na Idade Média, contra “feiticeiras” acusadas de enviar aos campos ratazanas e outros animais nocivos com a finalidade de destruir as colheitas. A Igreja Cristã ocidental transformou em dogma a doutrina de Tomás de Aquino sobre a geração espontânea dos organismos, teoria segundo a qual os seres vivos provêm da matéria inerte animada por um princípio espiritual. As autoridades teológicas da Igreja oriental sustentavam os mesmos princípios. Assim, por exemplo, Demétrio, bispo de Rostov, que viveu nos tempos do tzar Pedro I, defendia em suas obras o princípio da geração espontânea, de modo demasiado curioso para nossas ideias atuais. Segundo ele, durante o dilúvio universal, Noé não embarcara, em sua arca, ratos, sapos, escorpiões, baratas ou mosquitos, isto é, nenhum destes animais que “nascem da putrefação, da água estagnada ou do orvalho do céu”. Durante o dilúvio, todos esses bichos pereceram e, depois do dilúvio, “tornaram a gerar-se daquelas mesmas substâncias”. Nos nossos tempos, a religião cristã e todas as outras continuam a sustentar que os seres vivos surgiram, e surgem, por geração espontânea e, no seu aspecto definitivo, mercê de um ato de criação divina sem qualquer ligação com o desenvolvimento da matéria. A evolução do conhecimento humano, no entanto, evidenciou a inexistência da geração espontânea, e desde meados do século XVII provou-se que os vermes, insetos, répteis e anfíbios não são produzidos por ela. Investigações posteriores confirmaram o mesmo quanto a organismos mais primitivos que, embora invisíveis a olho nu, nos cercam por todos os lados, povoando a terra, a água e o ar. A partir daí ruiu uma crença imposta pelos representantes das diversas religiões, que postularam, durante séculos e séculos, a criação da vida a partir da animação da matéria inerte por um espírito criador — teoria da geração espontânea. Durante o século XIX foi assestado outro golpe demolidor nas ideias religiosas relativas à origem da vida. Charles Darwin e os sábios que o sucederam, entre os quais os investigadores russos K. Timiriázev, os irmãos A. e V. Kovalevski, I. Metchníkov e outros, demonstraram que nosso planeta nem sempre foi povoado pelos animais e vegetais que nos 8. Homem: criação de Deus ou produto da evolução das espécies? - 77


cercam atualmente, tal como nos ensinam as sagradas escrituras. Os animais e os vegetais superiores, inclusive o homem, não surgiram prontos na Terra, ou simultaneamente, mas apareceram em épocas posteriores, graças ao desenvolvimento de seres vivos de constituição mais simples, os quais, por sua vez, originaram-se de outros organismos ainda mais simples que viveram em épocas anteriores, e assim sucessivamente até os seres mais primitivos. O estudo dos fósseis dos animais e das plantas que povoaram a Terra há milhões de anos demonstraram-nos, incontestavelmente, que os seres que então a habitavam não eram semelhantes aos de hoje e que, quanto mais recuamos na profundeza dos séculos, mais vemos que essa população é cada vez mais simples e menos diferençada. Descendo gradualmente, de escalão a escalão, e estudando a vida das formas cada vez mais antigas, chegamos, finalmente, aos micro-organismos de nossos dias, que, em outros tempos, eram os únicos seres que povoavam a Terra. E aí surge uma questão inevitável: de que fontes provêm as manifestações mais simples, mais primitivas, da vida, ou os primeiros ancestrais dos habitantes da Terra? Engels apontou aos biologistas o caminho que deviam seguir em suas pesquisas, um caminho que foi proveitosamente trilhado pela biologia soviética. Defendeu a ideia de uma origem da vida independente das condições de desenvolvimento da natureza e patenteou a unidade da natureza viva e da natureza inerte. Afirmou a vida como o produto do desenvolvimento da matéria, de sua transformação qualitativa, historicamente preparada pelas modificações graduais surgidas na natureza durante o período que antecedeu ao aparecimento da vida. Darwin, por seu turno, usou o método científico e cunhou uma concepção materialista, onde explicou o surgimento das plantas e dos animais superiores, mediante o desenvolvimento progressivo do mundo vivo, aplicando o método histórico à solução dos problemas biológicos. Posteriormente, com a descoberta da genética e dos genes, erigiuse a tese segundo a qual as partículas de uma substância especial concentrada nos cromossomas do núcleo celular detêm a hereditariedade e todas as outras propriedades da vida. Essas partículas teriam surgido na Terra em um passado longínquo e conservado quase intacta sua estrutura geradora durante todo o desenvolvimento da vida. A questão da origem da vida ficou assim reduzida pela ciência na explicação simplista segundo a qual a molécula do gene apareceu por Manual de sobrevivência do ser humano - 78


acaso, graças a uma feliz combinação de átomos de carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e fósforo que, por si próprios, se agruparam para formar esta molécula estruturada de maneira extremamente complexa, possuidora desde o primeiro momento de todos os atributos da vida. Todavia um feliz acaso desse gênero é de tal modo excepcional e inusitado que só poderia ter ocorrido uma vez em toda a existência da Terra. A partir desse momento só se realiza uma constante multiplicação do gene, desta substância especial que surgiu uma única vez e que é eterna e imutável. É claro que tal explicação não explica coisa alguma. A particularidade característica de todos os seres vivos, sem exceção, é sua organização interna extremamente bem adaptada ao exercício de certas funções vitais: nutrição, respiração, crescimento e reprodução em determinadas condições de existência. Como, pois, essa adaptação interna de todas as formas vivas, mesmo as mais primitivas, poderia ser fruto do acaso? O impasse continua. Se rejeitarmos o determinismo da origem da vida, considerando fruto do acaso esse acontecimento tão importante para os destinos de nosso planeta, cairemos inevitavelmente na concepção idealista (mística) da existência de uma vontade criadora primitiva de origem divina e de um plano predeterminado de criação da vida. O idealismo e seus representantes (Schrödinger, Alexander) continuam a afirmar sem rebuços que o aparecimento da vida é devido à vontade criadora de Deus. O materialismo assegura que a natureza da vida é material, embora a vida não seja uma propriedade inerente a qualquer matéria. Ela é atributo apenas dos seres vivos, não existindo nos objetos e substâncias do mundo inorgânico. A vida é uma forma particular do movimento da matéria. Mas esta forma não existiu sempre, nem está separada da matéria inorgânica por um abismo intransponível. Pelo contrário, decorre desta mesma matéria da qual é uma qualidade nova, surgida no decorrer de seu desenvolvimento. Ensina que a matéria nunca permanece em repouso, mas, pelo contrário, está em constante movimento, desenvolve-se e, evoluindo, eleva-se a níveis cada vez mais altos e adquire formas de movimento cada vez mais complexas. Ao elevar-se de um degrau a outro, a matéria adquire novos atributos. Um deles é a vida, cujo surgimento marca uma etapa da matéria. O materialismo defende, assim, que o caminho mais seguro para a solução do problema da origem da vida é o estudo do desenvolvimento 8. Homem: criação de Deus ou produto da evolução das espécies? - 79


da matéria. Durante o decorrer desse desenvolvimento é que surgiu a vida, como uma nova qualidade. Assegura que a vida não surgiu de súbito, porque mesmo os seres vivos mais simples têm uma estrutura a tal ponto complexa que não poderiam ter surgido de golpe, por exigirem que as matérias que entram em sua composição sofressem longas e sucessivas transformações. Tais transformações ocorreram em épocas extremamente longínquas, quando a Terra ainda se estava formando, nas eras iniciais de sua existência. Daí decorre que, para encontrar a justa solução para o problema da origem da vida, cumpre estudar essas transformações, bem como a história da formação e do desenvolvimento de nosso planeta. A Ciência postula que a vida teve origem no fundo dos mares. Na aurora da vida, no começo da era eozóica, tanto as plantas como os animais eram minúsculos seres vivos unicelulares, semelhantes às bactérias, às algas azuis e às amebas. Através de um mecanismo simples, esses seres vivos mantinham a sua homeostase e buscavam a sua adaptação ao meio. Via pressões seletivas do meio foram diferenciando-se e adquirindo padrões de comportamento mais complexos. Essa complexificação exigiu uma especialização do organismo no sentido de uma captação máxima do meio exterior, pela categorização dos estímulos que dele provêm, além do desenvolvimento de um meio interno em moldes adequados à nova situação. O aparecimento dos organismos pluricelulares foi um grande acontecimento na história do desenvolvimento da matéria viva. Os organismos vivos se diversificaram e se complexificaram cada vez mais. Durante a era eozóica, que perdurou milhões de anos, a população do oceano primitivo modificou-se consideravelmente tornando-se irreconhecível. Imensas algas povoavam as águas dos mares e dos oceanos, e apareceram medusas, moluscos, equinodermos e gusanos marinhos. A vida entrou em uma nova era, a paleozóica. Podemos julgar esse desenvolvimento durante essa era através dos restos fósseis dos seres vivos que povoam nosso planeta há milhões de anos. Há mais de 500 milhões de anos, no período cambriano, toda a vida se concentrava nos mares e oceanos. Não havia nesta época nenhum vestígio dos vertebrados atuais (peixes, batráquios, répteis, pássaros, mamíferos). Não havia flores, ervas, nem árvores. Então, o mundo vegetal só compreendia algas, e o mundo animal, celentérios, espongiários, anelídeos, trilobitas lembrando os crustáceos e equinodermos de diversas espécies.

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Durante o siluriano, que se seguiu ao cambriano, surgiram na Terra as primeiras vegetações e, no mar, os primeiros vertebrados, que lembravam as atuais lampreias. Diferiam dos peixes por serem desprovidos de mandíbulas. Muitos deles tinham o corpo recoberto por uma couraça óssea. Há 350 milhões de anos, durante o devoniano, nas lagoas primitivas e nos cursos de água, surgiram os primeiros peixes verdadeiros. Pareciam-se com os atuais tubarões e são os seus antepassados remotos. Não havia ainda verdadeiros peixes telósteos, como a perca, a tenca e o lúcio. Cem milhões de anos mais tarde, na era carbonífera, a Terra já estava recoberta de florestas e fetos gigantes, o “rabo-de-cavalo” e o licopódio. Pelas margens dos lagos e rios arrastam-se numerosos anfíbios, de diversas categorias. Como os peixes desovavam na água, sua pele úmida e viscosa secava facilmente ao ar e não lhes permitia afastar-se muito tempo da água. Mas, no fim do carbonífero, já surgiam os primeiros répteis. Sua pele endurecida protegia-os do ressecamento. Não mais dependiam da vizinhança da água e podiam povoar amplamente a Terra. Já não desovavam na água, mas punham ovos. O permiano principiou há 225 milhões de anos. As felicíneas foram sendo deslocadas paulatinamente pelos predecessores das atuais coníferas, os sagueiros. Os anfíbios aquáticos cedem lugar aos répteis, mais adaptados ao clima seco. Surgem os antepassados dos primeiros sáurios, terríveis, ou dinossauros, répteis gigantescos que, nas eras seguintes, predominavam na Terra. Nessa época não existiam ainda, porém, nem as aves nem as feras. O reino dos répteis sobre a Terra conheceu a maior expansão nos períodos jurássico e cretáceo. Surgiram então as árvores, as flores e as plantas, semelhantes às espécies atuais. Nesta época, os répteis ocupavam a terra, o ar e a água. Dinossauros gigantes andam pela terra; “dragões alados” ou pteranodontes cruzam os ares; e nas águas dos mares nadavam animais carniceiros, como as serpentes do mar, os ictiossauros e os plesiossauros. Há 35 milhões de anos principiou o reinado das aves e das feras. Em meados do período terciário já se havia extinguido a maioria dos grandes répteis, surgindo numerosas espécies de aves e mamíferos, que ocupavam uma posição dominante entre todos os animais. Todavia os mamíferos de então eram muito diversos dos atuais. Não existiam ainda os macacos, os cavalos, os touros, as renas e os elefantes que vivem hoje em dia. 8. Homem: criação de Deus ou produto da evolução das espécies? - 81


No decorrer da segunda metade do período terciário, os mamíferos vão, cada vez mais, se parecendo com os atuais. No fim desse período já existem verdadeiras renas, touros, cavalos, rinocerontes, elefantes e diversas feras. No princípio da segunda metade desse período, surgem os macacos: primeiro, os cinocéfalos ou macacos inferiores, e, posteriormente, os antropóides, ou macacos superiores. Há um milhão de anos, nos limites dos períodos terciário e quaternário (último período que dura até hoje), surgiram na Terra os pitecantropos, transição entre o macaco e o homem. Já sabiam servir-se dos instrumentos mais simples. Os pitecantropos desapareceram. Seus sucessores foram nossos antepassados. No quaternário, durante a última glaciação, na idade do mamute e da rena, a Terra já estava povoada por diversos seres que em nada se distinguiam, quanto à estrutura corpórea, dos homens contemporâneos. Uma singela recapitulação do longo caminho de desenvolvimento da matéria e do aparecimento da vida na Terra e do homem, vista pelo ângulo da ciência, pode ser resumida assim: De início, o carbono dispersado sob a forma de átomos isolados na atmosfera incandescente. A seguir, o descobrimos na composição dos hidrocarbonetos que se formaram na superfície da Terra. Os hidrocarbonetos, por sua vez, transformaram-se em derivados nitrogenados e oxigenados, que são as primeiras substâncias orgânicas. Nas águas do oceano primitivo, essas substâncias formaram compostos mais complexos. Surgiram as albuminas e matérias albuminóides. Dessa maneira, formou-se a matéria da qual se constituem os corpos animais e vegetais. Primeiramente, essa matéria estava simplesmente dissolvida, depois separou-se sob a forma de gotas de coacervato. As primeiras gotas coacerváticas eram de estrutura relativamente simples, mas, com o tempo, operaram-se modificações importantes em sua estrutura. Complexificaram-se e aperfeiçoaram-se cada vez mais e tornaram-se, finalmente, os primeiros seres vivos, antepassados de tudo o que vive na Terra. E o desenvolvimento da vida continuou. A princípio, os seres vivos não possuíam estrutura celular. Mas, em determinada etapa do desenvolvimento da vida, surgiu a célula, formaram-se organismos unicelulares e, a seguir, seres pluricelulares, que povoaram nosso planeta. A ciência refuta, assim, a concepção religiosa sobre o princípio espiritual da vida e a origem divina dos seres vivos. Os progressos da ciência moderna evidenciaram as leis que supostamente presidiram à origem e ao desenvolvimento da vida e seus achados, mas, apesar de grandiosos, não são suficientes ainda para desbancar a concepção idealista e metafísica. Manual de sobrevivência do ser humano - 82


8.1. O cérebro humano na evolução das espécies Assim, durante a filogênese (processo de evolução das espécies), os seres vivos desenvolveram desde o protoplasma dos organismos unicelulares menos elaborados (simples protoplasma, carente de estrutura diferenciada, porém irritável) até o homem, com um cérebro dotado de pensamento abstrato. A forma mais elementar de sistema nervoso está presente nos celenterados (anêmona-do-mar, estrela-do-mar, medusa) sob a forma de sistema nervoso difuso, onde a excitação difunde-se por todo o corpo do animal com intensidade decrescente. Praticamente não há um órgão dominante neste tipo de organização nervosa, embora na estrela-do-mar possa um dos raios assumir uma dominância: amputando-se esse raio, o seu vizinho passará a ser o dominante. A ausência de um órgão central dominante com capacidade de receber, processar, codificar e elaborar programas de comportamento torna esses animais bastante limitados do ponto de vista comportamental. Na próxima etapa da evolução, surge o sistema nervoso em cadeia ou ganglionar nos invertebrados mais simples (vermes). A extremidade frontal do verme está aparelhada com receptores químicos e tácteis, que são capazes de captar mudanças químicas, térmicas, de luminosidade e de umidade do meio. Estes sinais captados do meio exterior são encaminhados através de filamentos a um gânglio frontal ("centro nervoso"). Nesse gânglio frontal – espécie de centro nervoso rudimentar que prefigura os centros encefálicos especializados dos organismos superiores -, os sinais são codificados e programas de comportamento são elaborados, sendo difundidos sob a forma de impulsos pela cadeia de gânglios nervosos. Neste tipo de sistema nervoso, ficam evidentes a cefalização e certo grau de dominância ou comando de um gânglio em relação a outras massas ganglionares. Nos invertebrados superiores, particularmente nos insetos, o sistema nervoso ganglionar atinge sua complexidade máxima. Ao lado disso, os insetos estão aparelhados com receptores altamente diferenciados (nas antenas, cavidade bucal, pernas), culminando com o aparecimento do olho. É importante assinalar que, nos seres menos evoluídos, os fotorreceptores apenas proporcionam a noção da fonte de luz, enquanto o olho, além de reagir à fonte de luz, permite também a identificação de objetos e formas. 8. Homem: criação de Deus ou produto da evolução das espécies? - 83


Os vertebrados inferiores do meio aquoso, de modo semelhante aos insetos, apresentam índice de procriação muito elevado. Esta reprodução exagerada assegura aos peixes, cujos programas de comportamento são pouco mutáveis, a preservação da espécie. Já os vertebrados terrestres, que vivem num meio mais mutável (menos homogêneo), com condições de alimentação mais complexas e com taxa de reprodução bem mais baixa, necessitam de um sistema nervoso que lhes proporcione uma certa variabilidade (plasticidade) de comportamento para uma adaptação adequada ao seu meio. Orientado, então, por um duplo mecanismo de solicitação — complexidade orgânica crescente e adaptação a novas condições do meio circundante (na terra e/ou no mar) –, o sistema nervoso vai-se diferenciando para cumprir novas tarefas. Embora o cérebro dos vertebrados inferiores represente um avanço considerável em relação ao sistema nervoso dos invertebrados, o comportamento destes vertebrados é estereotipado, ordenado por programas rigidamente estruturados do ponto de vista genético. Assim, uma rã, que apresenta um cérebro constituído principalmente por formações do tronco superior e corpo quadrigêmeo, apresenta diante de situações diversas sempre as mesmas reações, limitadas e instantâneas. Nos animais mais evoluídos, vertebrados superiores e especialmente os mamíferos, há necessidade de uma maior plasticidade de ação ao lado dos programas de comportamento "instintivo" de cunho inato. Só a formação do cérebro, no longo processo de evolução, é que vai assegurar novas formas individualmente variáveis de comportamento. Os vertebrados são dotados de uma carapaça na extremidade cefálica, com a finalidade de proteger o cérebro. Esta formação é um esboço do crânio, que nas espécies superiores protege o cérebro. O cérebro vai-se diferenciando nas várias espécies, assumindo a forma de estruturas sobrepostas: inicialmente sobre o tronco sobrepõem-se o sistema tálamo-estriado (estruturas subcorticais) e o córtex primitivo (olfativo), e, finalmente, sobre estas estruturas edificam-se os volumosos hemisférios cerebrais, que, ao assumir um grande desenvolvimento, passam a ter uma dominância sobre as funções de nível inferior. Nos vertebrados inferiores, destituídos de membros e mandíbulas, observa-se já um desenvolvimento do cérebro com o aparecimento dos três espessamentos correspondentes ao proscérebro (cérebro anterior), mesocérebro (cérebro médio) e rombencéfalo (cérebro posterior). Nos vertebrados superiores, estas estruturas vão dar origem aos lobos olfativos, lobos ópticos, cerebelo, gânglios da base, tálamo, córtex cerebral. Manual de sobrevivência do ser humano - 84


Evidentemente, cada espécie animal tem suas especialidades ditadas pelas condições do meio e modo de vida, e os programas de comportamento refletem, de certo modo, as peculiaridades de sua ecologia. Assim, uma espécie desenvolve suas neurotecnologias para apurar suas estratégias de vida e, em consequência, sua capacidade de sobrevivência.

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9. A sociedade como um jogo triádico - Se este início de século traz consigo uma nova era, um novo ciclo histórico, é de fundamental importância reexaminar os atuais processos de convivência no planeta e trazer à tona as cosmovisões implícitas que lhe dão fundamentação, legitimidade ética e argumentos de sustentação lógica.

Nosso manual de sobrevivência do ser humano está baseado na CIBERNÉTICA SOCIAL, cujo autor, WALDEMAR DE GREGORI, tem formação universitária em Filosofia, Letras e Sociologia Política. É professor universitário e técnico de agências de desenvolvimento comunitário e de recursos humanos, há mais de 20 anos. Vem aplicando e aper­feiçoando a Cibernética Social em grupos que chama de "laborató­rios", em todo o Brasil, em alguns países da América Latina, na América do Norte (Miami) e em alguns países de língua portuguesa na África. A Cibernética Social (doravante CS) é uma síntese interdisciplinar de Ciências e Filosofias, que abrange desde as leis da energia e do movimento até a pessoa, o grupo, a sociedade e o planeta como conjunto. A CS considera tudo uma rede de sistemas movidos por lei básica da energia – a trialética (que é uma ampliação da dialética). O dinamismo interno de um sistema e da cadeia universal de sistemas é a energia, movendo-se em ondas ou formações triádicas, trifocais ou ternárias. É o princípio unitriádico que gera nova atitude frente à realidade: uma nova cosmovisão. Cosmovisão é o conjunto da explicação que o cérebro individual e/ou coletivo dá para o meio ambiente. Esse conjunto de explicações ocorre ao longo de um processo que tem, no começo, a origem e natureza do universo, do ser humano, da energia e seus ciclos. A cosmovisão abrange também: - as formas de captação pelos humanos (ordem natural, lei da natureza, dinâmica de potencialidades); - a filogênese e a ontogênese, o ser humano, seu lugar e sentido no universo (dinâmica individual); - a organização grupal, origem do poder, vida comunitária (dinâmica de grupo); - o acesso aos meios de vida, o trabalho, a tecnologia, a guerra (dinâmica ergonômica e nominal); 9. A sociedade como um jogo triádico - 87


- a autoimagem da espécie humana, sua unificação, seus ideais e possibilidades de transcendência (dinâmica universal); - a finalização do processo evolutivo planetário e universal. Em resumo, uma cosmovisão deve conter o script indicativo (às vezes comentado) do show planetário e universal: gênese, enredo e desfecho. Pode-se, também, ter uma “terravisão”, uma “antropovisão”, uma “familiavisão”, uma “eurocosmovisão”. Todos fomos seduzidos por uma determinada cosmovisão-instrumento1 e, a partir desta, nosso cérebro aceitou, de início, explicações e teorias (cosmovisão-produto) que se tornaram, depois, crenças e critérios de certo e errado e chave para previsões. A partir deste paradigma (ou científico, ou religioso, ou popular ou combinação deles com proporções diferentes em cada cultura), nascem o conhecimento de nós mesmos, do outro, do meio ambiente, das relações e do mundo e principalmente o significado e o sentido de nossas vidas. Em Aristóteles, a cosmovisão-instrumento inclui as quatro causas, o conceito de substância e acidentes, potência e ato, essência e existência, o conceito de intelecto e seu funcionamento pelo silogismo (ontologia e lógica). Tudo o mais é cosmovisão-produto ou resultado terminal do processo deflagrado pela cosmovisão-instrumento. Tomás de Aquino adotou a cosmovisão-instrumento de Aristóteles e colocou a Bíblia como cosmovisão-produto. Teilhard de Chardin colocou os pressupostos da teoria evolucionista de Darwin como cosmovisão-instrumento e reinterpretou a Bíblia, oferecendo-a como cosmovisão-produto. Marx colocou como cosmovisão-instrumento o conceito básico e único de matéria em permanente evolução, através de ciclos que encerram aspectos contraditórios (tese e antítese ou confrontação dialética) que se resolvem num novo ciclo de forma simétrica. Esse novo ciclo gera outros ciclos sucessivos, até chegar fatalmente a um grande final, onde a contradição desapareceria e a progressão se estancaria (pelo menos na realidade social). Com esses conceitos básicos e pressupostos, desenvolveu sua análise da História e propôs um novo tipo de convivência socialistacomunista, que é sua cosmovisão-produto. 1 Cosmovisão-instrumento são alguns conceitos e princípios fundamentais em que se apoia o raciocínio explicativo e operativo do universo, do planeta, da organização social, da vida dos indivíduos. Manual de sobrevivência do ser humano - 88


Toda ação, negócio, política, religião ou arte têm cosmovisão, ideologia ou crenças básicas de forma latente, implícita, disfarçada ou em forma mais declarada, manifesta, explícita e ostensiva. Todos produzimos explicações, filosofias, seguimos uma religião, apostamos numa ciência, numa fantasia ou mitologia. Todos sofremos de metafisiocracia – essa avidez, esse desejo, essa ambição sôfrega de produzir ou exigir explicações, significado e sentido. As religiões colocam um limite: “Isso é um mistério, não ultrapasse!” A ciência também: “Não vá além de seus sentidos, do positivo!” Apesar desses avisos, ninguém pode evitar uma “cosmovisãozinha”. Nem os indivíduos, nem os grupos, nem os impérios. Todos tiveram e têm, na base de seu pensar, sentir e agir, uma cosmovisão do tipo religioso, nas teocracias, de tipo civil ou científico, nas civicracias, ou de tipo misto (religioso + científico), em sociedades modernas e pluralistas. Os últimos séculos, presumivelmente mais científicos e realistas que os anteriores, mostram que as cosmovisões e ideologias continuam a produzir seu efeito, apesar dos votos de castidade ideológica feitos pelos fundadores do método científico moderno. As massas nunca abandonaram seus queridos mitos para alcançar um estágio mental mais crítico. Os administradores de empresas, comunidades, nações, religiões se comportam como executivos de uma dada cosmovisão ou ideologia protetora da elite dominante. Em todos os países, apesar do ecumenismo religioso e do pluralismo ideológico-político, há algum tipo de perseguição, coação ou restrição para conseguir emprego, emigrar, viajar, escrever e até pensar. Daí a importância prática, para a convivência menos belicosa, de se tornarem as cosmovisões mais explícitas, ao alcance da maioria. Dessa forma tal maioria poderá reconhecer, em cada situação, a presença de uma dada cosmovisão, as categorias e o processo mental pelo qual se expressa, qual o grupo social que a promove e a preserva e o uso que faz dela para prejudicar outros grupos. Se este início de século traz consigo uma nova era, um novo ciclo histórico, é de fundamental importância reexaminar os atuais processos de convivência no planeta e trazer à tona as cosmovisões implícitas que lhe dão fundamentação, legitimidade ética e argumentos de sustentação lógica. Urge um tipo de reflexão e uso do cérebro muito diferente e em muitos pontos acima do estabelecido pela mídia e pelas atuais lideranças 9. A sociedade como um jogo triádico - 89


de cada família, de cada grupo social, de cada país. Impõe-se admitir a excessiva desigualdade opressiva entre países, entre as elites de cada país e suas populações no que se refere ao uso de meios de sobrevivência, liberdade, qualidade e perspectiva de vida, privilégios legais, educacionais, oportunidade de trabalho, dinheiro, comércio, consumo, expectativa de vida e, sobretudo, ao pleno exercício de direitos e responsabilidades para todos proporcionalmente. Há uma violência verticalizada nas relações grupais para manter a qualquer custo e a qualquer meio a desigualdade nas relações econômicas. A perversão da mente humana, na hora de aplicar critérios universais, proporcionais, éticos a pessoa, ou a grupo, ou a comunidade, ou a país, pratica a autoexclusão. A mente individual ou coletiva é incoerente, ilógica ou “safada”, por não poder ou não querer incluir-se nas análises e julgamentos que faz. Essa perversão parece congênita e incurável. Não é só a mente das elites, porém, que sofre dessa perversão. A mente popular pratica a mesma coisa, e a dita mente crítica não é crítica mais que quando dirigida a seus adversários. Seria preciso reavaliar e reeducar a mente e todo o seu processo para superar o estágio de unilateralização e caminhar para a globalização e proporcionalidade. Vejamos como os três cérebros expressam três subgrupos de comportamento. Você já deve ter notado que, num grupo qualquer, sempre há alguém que manda, dirige, coordena e congrega. É o chamado subgrupo regente, o subgrupo oficial. Congrega 10% a 15% do total de pessoas. Além disso, você notou que sempre há alguém contra, criticando, negando, questionando. Este é o chamado subgrupo divergente, antioficial, subgrupo de oposição ao primeiro. Não representa mais de 3% a 5 % dos membros de um grupo. E você notou que há uma grande maioria que nem é a favor nem é contra, não se define nem pelo oficial nem pelo antioficial: é o que nós chamamos oscilante. Às vezes ele pende para um lado, outras, pende para o outro, em zigue-zague, por isso se chama oscilante. Nesta categoria de comportamento estão mais ou menos 70% a 90% dos membros de um grupo, de um clube, de uma cidade, de um país. Estes três grupos disputam entre si os meios de sobrevivência e, nessa disputa, podem ter um comportamento positivo ou negativo. Manual de sobrevivência do ser humano - 90


São positivos, quando se interessam pelos demais subgrupos para alcançar uma divisão proporcional de direitos e deveres, de bens, de resultados do trabalho. São negativos – qualquer um deles pode ser negativo, tanto o oficial, quanto o antioficial, quanto o oscilante –, se não se preocupam com a divisão proporcional entre os três subgrupos, mas sempre querendo o máximo para si e o mínimo para os outros: individualismo, exclusivismo, ganância, “Lei de Gerson”. Esses três subgrupos, que formam um grupo unitriádico, correspondem à estrutura do cérebro das pessoas que o compõem. Volte ao seu resultado do Revelador do Quociente Mental Triádico e veja se você está no grupo oficial, antioficial ou oscilante. Os indivíduos que mandam pertencem ao grupo oficial e têm um predomínio de seu cérebro central, prático, do lado da ação, e, em segundo lugar, de um dos outros dois lados. Aqueles pertencentes ao grupo oscilante têm, de modo geral, o predomínio do lado direito, do lado emocional, afetivo, do apego às pessoas, à arte, à alegria, à diversão e, também, aos processos religiosos, às mitologias. Aquelas pertencentes ao subgrupo antioficial (como as esquerdas políticas) têm um processo mental mais desenvolvido no lado esquerdo, lógico, do raciocínio e da comunicação, da crítica, em combinação com o lado prático ou com o lado direito. Por que as pessoas se esforçam tanto, correm atrás das coisas, se organizam, trabalham, às vezes se odeiam? Porque cada um traz dentro de si o dinamismo do movimento, uma energia maior que a gente (são os princípios do átomo: próton, elétron e nêutron) que nos empurra para a disputa dos meios de sobrevivência e reprodução, às vezes competindo, às vezes cooperando. Chamamos esse impulso de jogo triádico, porque sempre tem três partes, três lados, representados por um triân­gulo. Por que se diz que é um jogo esse movimento da história e da sociedade? Porque sempre tem novas partidas, cada lado pode ganhar ou perder e nunca se sabe o resultado. Às vezes, os três lados ou partes se movem cada um por si, às vezes os três jun­tos e às vezes em aliança de dois contra um. Qualquer país, qualquer grupo tem esse jogo de três lados que chamamos três subgrupos, cada um deles com posição, finalidade e partici­pação diferentes. As classes sociais são um exemplo: de um lado os em­presários, de outro os sindicatos que lutam por melhores con­dições e de outro ficam os trabalhadores que, por inconsciência ou medo, não se manifestam, não se definem, não entram na luta. 9. A sociedade como um jogo triádico - 91


As posições políticas são outro exemplo: situação, opo­sição e em cima do muro; ou centro, esquerda, direita. O jogo triádico é “guerra menor”, que está em toda parte e acontece todos os dias em todos os níveis de manifestação de energia. O importante é aprender as regras desse jogo e saber a quem favorecem e prejudicam. A energia, a natureza sempre forma “trios”, organiza o jogo da vida em dois polos adversários e uma massa indefinida no meio. Um lado tem maiores vantagens, o segundo, menos, e o terceiro é apenas o sustentáculo dos dois primeiros. Cada um deles tem nome diferente. O primeiro é o oficial, dono tradi­cional do poder e comando; o segundo é o “natural”, que vem com algo novo que se opõe aos interesses do oficial; e o tercei­ro é o “neutro”, em cima do muro, que pende ora para um la­do, ora para outro e se chama, por isso, oscilante. O oscilante representa a porção maior de um grupo triádico. Que relação essa discussão tem com o conceito de classes? Quando se fala em classe se pensa sempre na divisão vertical da socie­dade, de cima para baixo — classe alta, média e baixa, ou classe burguesa, classe popular, patrões capitalistas e proletariado. Num clube, empresa, família, sindicato, não dá para falar em classe alta e baixa. Mas, sabendo que a disputa triádica existe, o povo fala em cartolas e bagrinhos, chefões e galera. Então, é melhor falar em três subgrupos, porque o conceito se pode aplicar a todas as situações. Dentro de uma mesma classe existem divisões, alas, linhas, que não são di­visões entre mais alto e mais baixo, mas divisões e disputas ho­rizontais no mesmo nível. Na classe burguesa, há divisão entre DEM, PSDB e PMDB; e na classe dos trabalhadores há divisão e disputa entre CUT e Força Sindical ou entre os diversos parti­dos de esquerda. Nesses casos não se aplica o conceito de classes, e sim o de três subgrupos (horizontais, verticais ou mis­turados), cada um podendo subdividir-se novamente em três, quantas vezes puder. Nos países socialistas, a divisão em clas­ses tende a desaparecer, mas continua o jogo triádico de subgrupos, os conflitos, as contradições verticais, horizontais, transversas. Como funcionam os três subgrupos e suas subdivisões no Brasil? Nosso país tem dois grandes grupos que dirigem as massas. São o Estado e a Igreja (conjunto de religiões). Às ve­zes, o Estado é o subgrupo Manual de sobrevivência do ser humano - 92


oficial, e a Igreja, subgrupo natural (oposição). O oscilante é sempre o povo. Outras vezes, o Esta­do é oficial, tendo a Igreja como oscilante e aliada. Mas o Es­tado e a Igreja, para serem entendidos, têm de ser examinados em seus subgrupos internos. No Estado, existem os partidos da direita, da classe do­minante, da elite militar e econômica, que são o subgrupo ofi­cial. Existem partidos de esquerda mais socializantes, mais po­pulares, que formam o subgrupo natural (mas são minoria), e existem partidos de centro, em cima do muro, que formam o subgrupo oscilante (a maioria da população, que forma o subgrupo oscilante, está fora dos partidos, não está politizada). A Igreja também tem seus três subgrupos. O subgrupo oficial é composto por bispos, clero e fiéis mais conservadores, tradicionais, favoráveis à classe dominante; o subgrupo natural é composto por alguns bispos, sacerdotes, pastores, religiosos e fiéis da Teologia da Libertação, que se dedicam às lutas po­pulares, às comunidades de base e à conscientização política; já os oscilantes são os que acham que religião não tem de se me­ter nos problemas sociais e se dedicam aos assuntos religiosos. As romarias e as devoções consolam os oprimidos, mas não lhes dão a consciência e a força para lutar contra a opressão. Quem leva vantagem nisso tudo são os subgrupos ofi­ciais, que são minoria. Hoje os subgrupos oficiais no Brasil e na América Latina não passam de 10% da população. A História pode ser comparada a um torneio (numa família, numa tribo, numa aldeia, numa cidade, num país, num continente, no planeta) disputando vantagens de todo tipo: afeto, proteção, brinquedos, comida, pessoas, instrumentos, terras, recursos, riquezas, ideologias, vida eterna etc. Esse torneio separa a população em três blocos. Há partidas a toda hora, mas as grandes partidas decisórias são cíclicas, periódicas (guerras, crises). O torneio é disputado entre dois subgrupos ou blocos que se enfrentam, com o terceiro subgrupo ou bloco formado de espectadores que são cobrados antes do show e, às vezes, muito tempo depois. É o torneio da vida, no qual todos participam desde que nascem, sem se dar muita conta da posição no campeonato das vantagens da vida e sem perceber muito bem em que subgrupo estão escalados. A maioria não distingue ou suspeita da modalidade artística em que participa nem das regras do jogo. Desconfia, vagamente, de que há muito jogo sujo e muita esperteza, porque a distribuição das vantagens quase nunca corresponde ao regulamento anunciado desde a infância. Todos aspiram às posições mais altas e aos prêmios maiores, embora seja árduo e um tanto misterioso o pro5. Voz narrativa (foco narrativo + ponto de vista) - 93


cesso de melhorar a classificação e galgar todos os degraus, da base até o topo da pirâmide da comunidade, do país, do planeta. O torneio é triádico, trilateral, repousa num tripé de forças, posições, classificações, sendo assim trilateral. É jogado por um trio de subgrupos que, às vezes, cooperam e, às vezes, competem na busca de maiores vantagens. Geralmente formam dois contra um – cooperação ou aliança de dois contra o terceiro. Diz-se, também, jogo triádico para a conquista máxima de meios de sobrevivência e reprodução. Esse jogo ou torneio triádico pode ser visto na política, entre o partido campeão (do governo), a oposição e o “povão”. O mesmo dinamismo triádico pode-se encontrar em instituições, aparentemente não competitivas, como Igreja, cooperativa, família, sindicato, partido. A vida é um torneio triádico buscando o máximo de vantagens, que são tanto maiores quanto mais alta for a classificação individual ou de classe. Isso é válido no capitalismo, no socialismo, na Igreja, na botânica, na zoologia.

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10. O ser humano como um sistema energético - O ser humano como um sistema energético, baseado na teoria dos sistemas, na cibernética e na cibernética social.

O ser humano é um "quantum" de energia, assumindo realidades diversas em diferentes ciclos. Essa configuração atual (sua existência atual) pode não ser a primeira, e você pode ter passado por outras configurações anteriores. Sua energia é eterna, sempre existiu, porém em ciclos diferentes. Sempre que um ciclo acaba, outro aparece, ou sempre que um ciclo morre, renasce outro modificado, diferente do anterior. Seu ciclo atual, o enésimo, o que existe agora, esse em que você consegue pensar, sentir, agir, essa sua realidade humana atual, tem duração que comporta, aproximadamente, em média, sessenta a oitenta anos. Depois, vai-se para um outro ciclo. Essa passagem é chamada morte e funciona na prática como mecanismo de submissão e terrorismo para os cérebros submetidos a essa compreensão. Claro que essa morte, ou passagem, pode ser entendida (se assim o fosse explicada pela cultura) como, simplesmente, fim de um e início de outro ciclo de transformação de energia. Viemos de ciclos de milênios de bilhões de anos-luz e vamos para outros de milênios de bilhões de ano-luz. O ciclo atual é um dom, sorteado por uma característica da energia em si, e não por doação do Estado, ou da Igreja ou de outro qualquer poder. O ciclo presente pode ser subdividido em ciclos menores, chamado Fluxograma da Dinâmica Individual. São oito ou dez ciclos. Conforme já dissemos, não se tem nesse manual a pretensão de se apresentar soluções prontas, acabadas para as questões, dúvidas, impasses, que abarcam todas as facetas da vida do homem (psicológicas, econômicas, sociais, políticas, religiosas etc.), e sim provocar uma reflexão — a mais global e atual possível — sobre o homem, sua caminhada e as perspectivas de seu futuro. Para tanto, escolheu-se o ser humano como um sistema energético, baseado na teoria dos sistemas, na cibernética e na cibernética social. Pode-se assim entender o ser humano como um sistema energético (ou um efetuador que efetua conversões energéticas) capaz de assimilar 10. O ser humano como um sistema energético - 95


os elementos do meio ambiente e transformá-los em partes de si mesmo, de acordo com os pressupostos da energia (triádica), circulando pelo organismo em diversas formas, desde a quântica (luz ou vibração) até a "sólida". Chama-se, também, "sistema holístico" em cadeia com outros sistemas, porque as saídas de um são entradas para outro, com feedback recíproco, em busca de homeostasia ou equilíbrio entre os dois extremos, que são anatropia e entropia. Entropia é desintegração, é conversão rumo ao nível ínfimo da energia (o térmico), que é o destino final de todo sistema. Uma parada que permitirá brotar a energia, novamente, para um novo ciclo de anatropia, que, por sua vez, voltará de novo à entropia. Pode-se concluir daí que a entropia é a porção dominante da energia (subgrupo oficial), sendo a anatropia (a vida) exceção. Por isso se diz que a vida é um dom (uma graça). O normal é a energia estar organizada no nível calórico ou nível "raso", e não ao nosso nível. Por sistema entende-se "um conjunto de elementos mais ou menos ordenados entre si em função de algum objetivo". O ser humano é, assim, um sistema (triádico) que efetua sua própria transformação, que concretiza vida, em graus diferentes de complexificação. Para efetivar sua própria transformação, o ser humano possui uma faixa interna, que se intercomunica com uma faixa ex­terna, através de inputs (entradas) e outputs (saídas). Evidentemente, ao se comportar, a pessoa realiza ações (outputs), agindo sobre alguns e recebendo estímulos de outros sistemas, formando uma cadeia de efetuadores ou estocástica. Tudo está ligado com tudo. Um sistema pode ser considerado uma extensão de outro e vice-versa. Somos todos, assim, vizinhos, mutuamente comprometi­dos. Se quisermos fazer regulagem (feedback) de uma pessoa, devemos agir sobre as suas entradas e saídas, de maneira que se possibilitem determinados comportamentos. Assim, podemos falar em condução (orientação) de uma pessoa, que na prática é simplesmente sua regulagem e redirecionamento ou ação sobre suas entradas para possibilitar que produzam de­terminadas saídas. A homeostase ou equilíbrio é conseguido graças a um cir­cuito de informação retrocircular (feedback), que produz a regulagem de que se necessita. Quando não há a regulagem, o efetuador pessoal tende para a entropia ou a desintegração. Manual de sobrevivência do ser humano - 96


O feedback (retroalimentação), com suas funções de detectar, informar e re­direcionar, é o recurso que o efetuador humano usa para se ajustar ao meio ambiente e manter seu estado de equilíbrio. Visto por essa perspectiva, as característi­cas do efetuador humano são: sistema energético unoglobal, evolutivo, ondulatório, recorrente, probabilístico, triádico, complexificante, auto-orientado, rumo a mais vida, em comu­nhão ou intercâmbio proporcional com os demais sistemas. O ser humano é um sistema de captação, processamento e emissão de formas de energia. Essas formas de energia existem num meio triádico, e não num meio neutro e em com­pleta disponibilidade para o indivíduo. O indivíduo está sem­pre socializado, é coletivo, é grupal. Tanto pode receber inputs positivos ou negativos, como pode emitir outputs positivos ou negativos para ou­tros indivíduos e/ou para o meio ambiente. A grande maioria das pessoas pensa que o meio ambiente e as outras pessoas é o que a desequilibra, a contamina, cria desproporções nela. Dificilmente, uma pessoa aceita que criou desequilíbrio nos outros, pelo uso de sua energia, por pressionar demais, pelo seu gênio, pelo estilo do seu comportamento etc. É fundamental que os seres humanos, na hora da captação das fontes de energia, estejam atentos, para que possam escolher as melhores entradas possíveis, para se alcançar bem-estar, vida, equilíbrio e aprender a se defender daquilo que produz mal-estar, morte, desequilíbrio. Pode-se, para fins didáticos e esquematicamente, classificar as fontes de energia para o sistema energético humano em quatorze áreas. 10.1. Sistema energético humano e seus 14 subsistemas O bem-estar, a globalidade, uma realidade, um sistema pode ser definido em quatorze subsistemas ou quatorze áreas específicas. Antonio Rubbo Muller, na sua Teoria da Organização Humana, assegura-nos que qualquer realidade pode ser avaliada, mais globalmente, se a abordarmos por quatorze ângulos diferentes denominados subsistemas. É muito comum pedirmos a uma pessoa para avaliar al­guma coisa ou realidade e essa emitir sua opinião parcial, limi­tada, por falta, natural10. O ser humano como um sistema energético - 97


mente, de instrumento, de paradigma, de quadro de referência, ou roteiro para uma avaliação mais ampla, holística, global. O referencial do professor Müller dá-nos essa possibilidade de olhar para uma cidade, uma si­tuação, uma vida, uma pessoa, segundo catorze perspectivas e, então, levantar uma maior e mais completa coleta de dados sobre aquela realidade e, assim, poder emitir conclusão mais ampla, mais prática, mais consistente. Os catorze subsistemas são: S0l — PARENTESCO. S02 — SANITÁRIO. S03 — MANUTENÇÃO. S04 — LEALDADE. S05 — LAZER. S06 — VIÁRIO (comunicação e transporte); S07 — PEDAGÓGICO. S08 — PATRIMONIAL. S09 — PRODUÇAO. S10 — RELIGIOSO. S11 — SEGURANÇA. S12 — POLÍTICO-ADMINISTRATIVO. S13 — JURIDICO. S14 — PRECEDÊNCIA. O subsistema PARENTESCO refere-se ao processo reprodutivo, ocupação do espaço habitável, demografia, papéis masculinos e femininos, sexo, família etc. O subsistema SANITÁRIO refere-se ao conjunto de estruturas relacionadas com a prevenção, conservação e restabeleci­mento da saúde. Em sentido mais amplo, envolve medicina, odontologia, higiene etc. É Manual de sobrevivência do ser humano - 98


fundamental produzir e manter a biose, e, para tanto, recomenda-se utilizar o melhor medicamento, método de cura, profissional, condição de hi­giene, de saneamento etc. O subsistema MANUTENÇÃO diz respeito ao estoque de meios (preparo e consumo), e não ao dinheiro. É o que trata da energia fundamental para sobreviver: água, luz, alimentos, ves­tuário etc. O tipo, a quantidade, a quali­dade desses meios dependem da dominância e da estrutura triádica de cada tipo de “cabeça”. O subsistema LEALDADE corresponde à atração entre si de elemen­tos que se dizem afins, através da amizade, simpatia etc. Po­de ser entendido em nível individual, grupal, social, planetário. Com sua energia formam-se associações, processos de comunhão entre pessoas, grupos ou países. As pessoas costumam escolher as que convêm a elas, de acordo com suas estruturas de personalidade, de interesses, e costumam evitar as que não as estimulam a produzir afetividade, emoção, amor. Não se deve, porém, ter a ilusão de felicidade completa e somente conviver com as pessoas que nos agradam. É necessário também ter algumas para competir, porque, se o organismo precisa de afeto, endorfina, necessita também de rejeição, de adrenalina para treinar seu mecanismo de sobrevivência. O subsistema LAZER refere-se a tempo livre, ócio, diversão, jogos, prazer, descanso e suas respectivas estruturas grupais e sociais, como clubes, teatros, cinemas etc. É preciso procurar aquilo que realmente lhe dá prazer segundo sua preferência, suas condições e sua estrutura triádica mental. O subsistema VIÁRIO refere-se aos aspectos da comunicação e transporte, como vias de circulação de energia em todos os sentidos, tanto da informação (símbolos), como de objetos e pessoas (transporte). Sua energia básica é a curiosidade por informação e contato com o meio ambiente para atender suas necessidades segundo normas que vêm do grupo oficial, natural ou oscilante. O subsistema PEDAGÓGICO refere-se ao desenvol­vimento da aprendizagem em sentido amplo, principalmente das habilidades para lidar com os outros sistemas sociais. É a pan-edu­cação, que transcende, em muito, a educação acadêmica. Relaciona-se com a energia noônica, ou dos três cérebros. O subsistema PATRIMONIAL refe­re-se à apropriação de bens ou valores dos diversos níveis de energia dos 14 subsistemas sociais. Repre10. O ser humano como um sistema energético - 99


senta o capi­tal que constitui a reserva energética valorada dos bens dos 14 sistemas sociais. Aos bens dos 14 sistemas sociais é preferível denominar “útiles”, ou seja, tudo o que for entrada ou saída para a sobrevivência em qualquer sistema. Cada “útile” tem sua valorização pelo sistema patrimonial de acordo com cada tipo de sociedade. É no processo de valoração que surge a moeda e seus derivados, possibilitando a formação de uma escala de valores para os “útiles” de uma sociedade. O subsistema PRODUÇÃO é o sistema através do qual, pelo trabalho, a energia se transforma e se criam os bens e os “útiles”. Envolve aspectos extrativos, agropecuários, industriais, artísticos e outros. O subsistema RELIGIOSO relaciona-se com a busca de transcendência e de reunificação do homem, expressas nos conceitos de estética (o admirável) e de mística (identidade e união original entre todos os seres). Cuida da reintegração de nossa energia no todo. É o sentido que se busca para a caminhada humana. O subsistema SEGURANÇA diz respeito à posição do sistema holístico em face das ameaças a seu equilíbrio, de sua homeostasia, de seus propósitos de sobrevivência. Relaciona-se com a agressividade como força básica, quando em nível individual, e com a manutenção da ordem, quando em nível social. O subsistema POLÍTICO-ADMINISTRATIVO refere-se a organização, metas, planejamento para os outros sistemas sociais, seja de indivíduos, grupos ou sociedades. Nele é fundamental a liderança, pois é essencialmente um sistema oficial, à medida que conduz e orienta a dinâmica de grupo de uma realidade, seja pessoal, grupal ou social. Embora seja um sistema de poder, tem dentro de si também a dinâmica de grupo com jogo triádico, cujo lado oficial passa a ser o condutor da realidade em questão, inclusive ditando normas jurídicas internas e externas para serem vigentes no grupo ou na sociedade. O subsistema JURÍDICO refere-se às normas que regulam um sistema holístico, bem como ao processo de instituí-las e o de fazer com que sejam cumpridas (legislativo e judiciário). É imperativo a busca da homeostasia, da proporcionalidade, do equilíbrio, da medida justa entre as partes do sistema e o meio, através de códigos de ética, moral e lei. O subsistema PRECEDÊNCIA relaciona-se com os resultados dos jogos triádicos sociais, marcando posições de homenagem, valorização, celebração, heteroimagem e respeito pelos demais. Distingue o impulso humano para destacar-se, brilhar, ser reconhecido. Manual de sobrevivência do ser humano - 100


Fica, assim, claro que os 14 subsistemas sociais específicos são um referencial que possibilita visão “horizontal” glo­bal de qualquer realidade humana ou social. Analisadas as 14 perspectivas do sistema energético hu­mano, fica evidente que sua vida pressupõe um mínimo de inputs (entradas) de energia em cada uma delas, bem como sua constante equilibração dinâmica em cada ciclo. As entradas são feitas, em nível biológico, principalmente pela caixa negra automática, hereditária, com sua estrutura genética, sis­tema nervoso central e periférico, sistema endócrino, sis­tema metabólico, e, em nível emocional-mental, pelo “recheio mental” dos três cérebros, construído pelo seu meio ambiente. As saídas são emitidas para outros seres huma­nos e para o meio ambiente em 14 sistemas. Existe o mecanismo de feedback, que aproveita as saídas necessárias e escolhidas ou não para serem reinvestidas no sistema energético humano como novas entradas. A maioria absoluta dos seres humanos vive sua vida guiada por um processo heteroconduzido, ou seja, conduzido por um outro, com ou sem sua consciência e autorização. Esse processo, na maioria das vezes automático e inconsciente, é estabelecido e mantido pelo poder do Estado e da Igreja e sempre promete dar sentido à circulação de sua energia triádica cerebral, de sua realidade, de sua vida. Para isso, são criadas agendas, atividades, ações, trabalhos, ocupações das personagens participantes, num determinado cenário, determinando-lhes o espaço e o tempo, para manter o sistema em funcionamento continuado respondendo às suas necessidades. Alguns poucos seres humanos (oscilantes conscientes) conseguem criar e manter um processo de autocon­dução de sua existência, ao se conscientizar desse jogo todo pré-estabelecido e circular sua energia na relação consigo mesmo, com os outros e com o meio ambiente, de maneira proporcional e harmônica, mantendo, no entanto, suas individuali­dades, apesar de continuarem transitando nesse mesmo universo político-re­ligioso. Você está convidado a ter esse tipo de perspectiva de visão, porque a vida pressupõe circulação de energia de várias qualidades e em vários níveis. “Navegar é preciso, viver (também) é preciso”. Não queira negar o jogo, ou mesmo desistir ou não participar, mas reconheça sempre a sua posição e o seu objetivo no jogo da vida. 10. O ser humano como um sistema energético - 101


10.2. Metas do sistema energético humano Todo sistema holístico, assim como o sistema energético humano, é evolutivo e pressupõe movimento e transformação, por um di­namismo intrínseco. Esse dinamismo é um só, mas, para melhor compreensão didática de todo o seu processo de elaboração, podemos representá-lo através da con­cepção das cinco dinâmicas. Dinâmica é, pois, a tentativa que se faz para englobar e descrever a evolução de um sistema holístico, seu movimento, sua transformação, seu fluxo energético, seu fluxograma evolu­tivo, sua complexificação. Assim, podemos identificar, no ser humano, diversos tipos de energia em diferentes níveis ou pro­jeções, que denominamos dinâmicas: de potencialidades, indi­vidual, grupal, societária ou de sobrevivência, universal ou te­leológica. A dinâmica de potencialidades refere-se à energia que constitui nosso organismo (energia eletromagnética, o átomo com suas partículas), energia constituinte, organismo estável, a base. Estável até certo ponto, porque as células se renovam, as partículas se trocam. Esse organismo constituído por essa energia constituinte precisa refazer-se. Desgasta-se como uma bateria e precisa ser recarregado. O alimento que se toma, o medicamento, o elogio, o ar que se respira, a informação, o amor etc. recompõem a energia constituinte que se desgasta por ciclos. Este tipo de energia é denominado energia de fluxo, e, nos 14 subsistemas, podemos identificá-la com nomes diferentes, como: libido, biose, apetite, atração, ludicidade, mobilidade, reprogramação, apropriação, produção de bens “útiles”, reintegração, combatividade, adminis­tração, regulação, autoafirmação. Na dinâmica de potenciali­dades, então, a energia é a constituinte (organismo estável, a base) e de fluxo (que entra e sai, entradas e saídas, transfor­mação, metabolismo, assimilação). A dinâmica de potenciali­dades refere-se, no seu aspecto geral, ao fluxograma universal da energia, à quantidade de energia de cada sistema, à força, aos recursos, ao nível e grau de elaboração e de diferenciação da energia. É a capacidade de esforço, o uso de si mesmo e do planeta, o encadeamento com todo o sistema físico, químico, biológico, social, cósmico, em evolução conjunta. Refere-se ao desgaste de energia e à sua regeneração, ao bloqueio e à vazão do potencial de um sistema. A dinâmica individual cultiva a capacidade (energia noônica, cerebral) de direcionar o processo de escolha e entrega de to­das essas formas Manual de sobrevivência do ser humano - 102


de energia, que é feito dentro de um contexto triádico, onde há pessoas que não querem soltar os inputs (entradas) ou outputs (saídas) que têm ou não querem receber os que você tem, ou simplesmente lhe assaltam os seus bens, os seus ‘’útiles”. Não existe a refeição de graça, dizem os anglo-saxões. Tem-se de dar e receber. Esse intercâmbio, na maioria das vezes, está fundado em normas que nem sempre entendemos: o jogo sempre tem alguma parte não explícita. Às vezes brigamos por isso, outras vezes cedemos, exploramos, enganamos, somos enganados. Quanto mais evoluído o sistema, tanto mais desenvolvida é a sua capacidade de assim proceder. Isso tudo depende da potencialidade de cada um e dos três cérebros, do grau de proporcionalidade atingido, do entendimento deles, de como fazê-los ter maior amplitude, das metas estabelecidas a curto, médio e longo prazo. Importa muito, então, o aspecto educacional de seu cérebro, a perfeição dele, o conhecimento que se alcança dele, seu desenvolvimento, seu cultivo, a quantidade e qualidade do intercâmbio que se podem operar. A dinâmica individual refere-se ao fluxograma evolutivo pessoal, à autoimagem, ao autoconhecimento, à autocondução, às metas pessoais, ao nível mental de complexificação alcançado, ao tipo de fonte energética que cada um é e à forma como cada um se cultiva e se relaciona com as outras dinâmicas. É o apoderar-se do território pessoal, corporal, unificado e reintegrado, porque a educação o loteia em partes piores e melhores, feias e bonitas, decentes e indecentes. É a maneira individual de cada um assumir a natureza humana, que é comum a todos. É a maneira como as sociedades, através de suas estruturas de poder, moldam, montam, criam, modelam seus indivíduos, sempre de acordo com os interesses dos grupos que estão no poder. A dinâmica de grupo trabalha com a energia sinérgica (a energia dos subgrupos, que é maior que as partes). Num grupo há sempre três subgrupos — oficial, natural, oscilante -, e na sua dinâmica existe sempre uma força que orienta, outra que oferece resistência e outra que é disponível, para alimentar essa ou aquela tendência, para contrabalançar aqueles dois lados. Cada um, a cada momento e em cada subsistema, deve buscar essa energia sinérgica e escolher se necessita de trocas significativas no grupo oficial, ou no natural ou no oscilante. Também deve estar consciente de como dá energia para os outros: se como oficial, se como natural, se como oscilante. A dinâmica de grupo refere-se ao estar, ao conviver, aos mecanismos de regulagem da convivência humana e do seu relacionamento. Dizse, também, política, poder. 10. O ser humano como um sistema energético - 103


A dinâmica grupal, muitas vezes, é o que há de mais implícito num relacionamento. É o que regula, mas nem sempre aparece explicitamente. Pode ser detectada em toda rede de grupos que se formam a partir das pessoas que se atraem como fonte recíproca de energia, as quais têm no homem e na mulher sua expressão maior. Refere-se também à regulação da convivência e do estar em sentido amplo, desde duas pessoas (dupla, casal), algumas pessoas (grupo), instituições, estados, países, até blocos de nações (capitalista, não-capitalista e as respectivas colônias). As agendas essenciais à sobrevivência em qualquer esfera, do indivíduo ao planeta, estão na dependência de quem as regula, formando hierarquias de poder. É claro que a dinâmica grupal de uma esfera é sempre regulada só pelo seu subgrupo oficial, que usurpa o poder dos outros dois subgrupos, mesmo sob protesto. Quem regula a dinâmica grupal de um sistema holístico também controla os seus 14 subsistemas, estabelece suas metas, dita o fazer do sistema e orienta o feedback que deve ser dado, sempre de acordo com a cosmovisão que interessa ao grupo dominante. Podemos distinguir duas manifestações do poder, ambas igualmente regulando a dinâmica grupal de uma mesma esfera, mas atuando através de sistemas diferentes, a saber: o poder extrínseco, institucional, que, através das leis, regula a faixa externa dos sistemas holísticos; e o poder intrínseco, mental, que regula, através da mente das pessoas, a faixa interna dos mesmos sistemas. O poder extrínseco é de natureza predominantemente civil, a ponto de ser vulgarmente chamado poder civil; e o poder intrínseco é de natureza predominantemente religiosa, a ponto de ser chamado poder religioso. Na sociedade brasileira, vista como um sistema holístico, o poder civil ou extrínseco tem a hegemonia do sistema patrimonial, que tem sob sua tutela os sistemas de manutenção, lazer, viário, produção, segurança, político, jurídico e precedência. O poder religioso ou intrínseco tem a hegemonia do sistema religioso, que tem como tributários os sistemas de parentesco, sanitário, lealdade e pedagógico. A dinâmica societária ou de sobrevivência tem em seu âmbito a energia que se chama ergonominal, ou seja, a do trabalho e seus resultados com valor nominal-monetário. Você produz bens, serve a comunidade, recebe (ou deveria receber) remuneração e, com isso, adquire recursos para fazer seu padrão de vida, sua sobrevivência. A divisão do trabalho e a troca monetarizada constituem norma quase universal e devem ser Manual de sobrevivência do ser humano - 104


entendidas como normais e sábias, quando vistas acima das manipulações governamentais para indivíduos, classes, países. Infelizmente, a moeda ficou sendo o denominador comum para traduzir quase todo tipo de trabalho. Nem todas as atividades humanas, porém, são monetarizadas: amizade, presença, entreajuda, família etc. Há muita troca e intercâmbio sem dinheiro. A questão social moderna é avaliar se o intercâmbio — ou distributivismo dos bens ou "útiles", monetarizados ou não — é "justo" (proporcional) nos 14 subsistemas para os três subgrupos no planeta ou num país e suas regiões. A dinâmica de sobrevivência refere-se às agendas, ao fazer, ao reproduzir-se e ao subsistir com dignidade. Relaciona-se intimamente com a dinâmica individual, pois, na pessoa, o fazer participa de um jogo triádico com o sentir. Relaciona-se também com a dinâmica grupal, pois o fazer é sempre determinado por regras que são a expressão da vontade do grupo que está no poder. Planos de economia e desenvolvimento (poder civil) e pastorais (poder religioso) explicitam o fazer de uma comunidade: são os planos de dinâmica de sobrevivência daquele sistema holístico, sempre regulados pela dinâmica grupal do sistema, que é ditada pelo subgrupo oficial civil e religioso. A dinâmica universal lida com a energia teleológica, relacionada com a percepção da transvida, de um espaço, de um horizonte futuro viável. Se alguém tem a crença, a visão de que, como indivíduo, como espécie, como planeta, como universo, tudo evolui, prossegue, não volta ao nada (niilismo), tem muito mais chance de ser otimista, de ser uma pessoa de fé, de entusiasmo, de energia, de vontade de apostar no amanhã. A energia teleológica é captada pelo lado direito do cérebro e, se você não a tiver em boa proporção, se baseando somente no seu lado esquerdo do cérebro (racional ou lógico), a tendência é ser materialista, niilista, pessimista, imediatista, positivista. "Depois daqui, acabou", "morreu, acabou", "a espécie não tem sentido algum" são provavelmente seus lemas de vida. Enfim, você caiu na entropia e acaba percebendo em tudo mais entropia do que anatropia. A energia teleológica é emitida por pessoas que cultivam seu lado direito do cérebro. Se você negar ou negligenciar muito sua manifestação, fatalmente cairá na percepção do lado esquerdo, que é a minudência, e caminhará para a negatividade, para o pessimismo, para a entropia. É sensato não chegar ao excesso de nenhuma: excesso de anatropia (lado direito aberto exageradamente) gera exultação gratuita, misticismo 10. O ser humano como um sistema energético - 105


exagerado, afetividade excessiva, desligamento da realidade, do dia a dia, do trabalho, do ganhar dinheiro, ficando tudo em função de um futuro distante. Foi por aí que algumas religiões desorientaram o processo de evolução da humanidade, tornando-a dependente de energia e orientação "sobrenaturais" (graça e providência), e transformaram por muito tempo o ser humano num elemento amedrontado, dominado, submisso. A evolução do ser humano deve ser um processo simultâneo: um pé no chão, na matéria, que significa lutar pela sobrevivência, pelo bemestar, pela saúde, pelo padrão de vida, pela reprodução, pela melhoria (vida material); e um pé no futuro, na transvida, no escatológico, no ciclo a seguir após sua transformação (vida espiritual). Isso tudo orientado por um sistema regulador (lado esquerdo do cérebro), que deve orientar, equilibrar, "maneirar", harmonizar a direção, o sentido e o ritmo dos seus passos no caminho da mais vida.

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11. Fluxograma evolutivo do ser humano - O fluxograma evolutivo é a tenta­tiva esquemática de delinear os momentos mais críticos ou as passagens mais notórias e influentes da trajetória humana.

O ser humano é concebido e lançado num universo, num país, num lugar concreto, constituído por elementos interliga­dos e interdependentes que formam uma “ordem social" de classes. Participa de grupos, de família, da sociedade, tudo hie­rarquizado sob liderança somada do estado civil e religioso. Nessa realidade, convive com personagens que se hierarquizam segundo determinadas normas. Nasce numa estrutura já em si social. Ninguém tem a experiência de ser um indivíduo isolado, e sim a da relação com duas ou mais outras pessoas, e as figuras do pai e da mãe, mesmo quando ausentes, permane­cem sempre psiquicamente presentes. Desde cedo, exercita-se na disputa da sobrevivência, faz tentativas de reunificação, busca adaptação com cada um e com todas as personagens e normas de determinado país e de determinada época. O ser humano herda todo o passado da vida biológica. Assimila a cultura de seu meio ambiente, tornando-se ele pró­prio uma ressíntese global dela, munido de força auto-organi­zante e complexificante, expressa por mecanismos de feedback cada vez mais eficientes e rápidos. A vida, pensada no seu nível inconsciente, é um robô com limites mais ou menos deterministas ou matemáticos, com uma programação definida, pela qual cada um automaticamente respira, opera seu batimento cardíaco, defende-se, expressa seus tensionamentos instintuais. A consciência, ao se manifestar na evolução, veio libertar a vida dessa perspectiva limitante e, em certo nível e em de­terminadas proporções, tornar o ser humano cocriador e corresponsável pela sua vida e a de seus semelhantes e por seu ecossistema. A atenção, a vontade, a consciência e a intenção, que são as capacidades denominadas mentais superiores, associa­das às anteriores de sobrevivência e reprodução, vieram trazer ao homem responsabilidade maior: a de feedback do planeta. Já não é possível somente constatar a existência da realidade do sistema solar. É fundamental procurar mantêlo, aprimorá-lo e mesmo redirecioná-lo. 11. Fluxograma evolutivo do ser humano - 107


Somos concebidos sem nosso consentimento. Nascemos num meio onde tudo está ligado a tudo. Somos todos interde­pendentes. Constituímos grupos, comunidades, sociedades. Nossos antepassados fizeram cultura — o somatório de todos os fazeres humanos. No processo denominado de socialização, nin­guém escapa da internalização de agendas, praxes, símbolos, crenças, valores, sanções de seu meio. Somos domesticados e submetidos a comportamentos básicos impostos. Permanece­mos heteroconduzidos até determinada fase da história pessoal de cada um de nós. Não há como ser diferente. Trata-se de mecanismo de regulação mantido conscientemente pelos deten­tores do poder e saber nos vários níveis de organização (família, comunidade, nação etc.). Com ele e através dele contro­lam-se todas as manifestações da energia do ser humano, que reclama, esperneia, faz revoluções, quase sempre em vão. Esse confronto, que vem desde a infância, aguça um dispositivo de feedback que cada um tem, tendendo à auto-orientação, à consciência de si. De início, com pequena maturidade e precária estrutu­ração de estratégias e metas, pouco se consegue a não ser de­senvolver maior conscientização. Aos poucos e para alguns poucos, pode culminar na autocondução: opção por assumir a vida, a si e às regras do jogo, não capitular à perda da indivi­dualidade dentro do processo social. Esse cada dia ser/estar mais necessita de constante ex­pansão do campo da consciência, por autoavaliação periódica em busca de comunhão progressiva. Para tal, precisa-se criar ou modificar comportamentos, ou aprender a conviver com al­guns deles dentro de uma autorregulagem, praticamente diária, de nossa integração, sem uma perspectiva possível de ponto de chegada. No Universo, tudo o que se conhece é energia, e todas as unidades de ser podem ser consideradas sistemas transformado­res de energia. Todos os sistemas estão em permanente movi­mento e transformação. A evolução é o resultado da ação da entropia natural, do mistério da anatropia — fonte da esperança do ser humano e da intervenção do processo contínuo de realimentação e feedback. Todos os sistemas que compõem o macrossistema “universo” tro­cam energia entre si, interagem, comunicam-se, trocam infor­mação permanentemente. A evolução de um sistema é por ci­clos sucessivos, cronologicamente verificáveis. Cada ciclo é produto do ciclo que o antecede e gestor do seguinte. Os ciclos posteriores são epigênese dos anteriores e sua recorrência. Quando a entropia atinge ponto crítico, ocorre a epigênese. Manual de sobrevivência do ser humano - 108


Denomina-se feedback o processo que leva o sistema para novas formas de integração interna e externa (em relação a si próprio ou em relação a outros sistemas). 11.1. Ciclos do sistema energético humano Munidos dessa compreensão, podemos facilmente perceber, na trajetória da vida do ser humano, que as etapas de seu desenvolvimento formam um conjunto de ciclos evolutivos, epi­genéticos e recorrentes por feedback, que culminam em etapas consecutivas de integração interna e externa com outros siste­mas energéticos. O conjunto desses ciclos evolutivos da vida individual denomina-se fluxograma evolutivo do homem. O fluxograma do ciclo vital de um indivíduo retrata, basicamente, a evolução de seu processo de hétero e autocondução. Essa divisão cronológica apresenta indicações gerais, pois os ciclos têm durações diferentes para cada homem e para cada mulher, e os acontecimentos decisivos não escolhem hora e não costumam avisar. Há quem divida os ciclos de 7 em 7 anos ou de 9 em 9. Cada um deverá descobrir isso em sua vida. O esquema mostrado na abertura do capítulo 12 tenta delinear os momentos mais críticos ou as passagens mais notórias e influentes da trajetória humana, eventos estes sempre tutelados pela Religião e o Estado: concepção, nascimento, educação, profissionalização, casamento, carreira, tropeços, aposentadoria, transformação ou morte, memória póstuma. Vivendo bem ou mal essas etapas, a caminhada se pro­cessa. Cada volta da espiral chama-se “etapa evolutiva" ou “i­dade trampolim”, baseada na epigênese do ciclo anterior. As­sim cada “idade trampolim” nasce da anterior, contendo, em seu âmago, prolongamentos da etapa anterior. Uma “idade trampolim” qualquer supõe que a anterior tenha sido suficiente e satisfatoriamente vivida e assumida. Caso contrário, fica pendente e provocará entropia em momentos posteriores da vida. Como a saúde de uma pessoa pode ser conceituada como um processo contínuo e dinâmico de feedback de seu cérebro na relação triádica consigo mesma, com outras pessoas, grupos e classes sociais, a análise esquemática dessa trajetória e de suas fases serve como guia, como sinalização da pista existen­cial. A ideia essencial aqui é a de acoplar o fluxograma bioló­gico (desenvolvimento neuropsicomotor, plenitude e decadên­ 11. Fluxograma evolutivo do ser humano - 109


cia) aos níveis psíquicos e aos papéis sociais que cada um de­senvolve ao longo de sua vida. Como é que uma pessoa conduz sua vida obedecendo às imposições biológicas, ajustando-as a seus ciclos psíquicos e às suas posturas políticas e econômicas? Em cada ciclo, a pessoa tem determinado desenvolvimento biológico, e vão sendo construídas, em cima, uma estrutura psicológica e uma práxis social. Quando a pessoa chega na ida­de de autocondução psíquica (16-18 anos), deveria ter o mínimo de conhecimentos para sua autocondução. Devendo conhecer a saúde no parentesco, na manutenção, no lazer, no trabalho, nos 14 sistemas e saber integrá-los de forma proporcional e harmônica. Há autores que atingem apenas um dos ciclos do fluxograma humano: por exemplo, “Como viver bem a velhice” ou “Como ultrapassar o período da menopausa ou da idade do lo­bo”. Não adianta encarar um ciclo sem encarar os outros: é um todo, em cadeia. Se uma pessoa sabe que vai morrer (tem uma determinada expectativa de vida) e conhece as várias fases do fluxograma total, mesmo antes de ultrapassá-las, pode melhor planejar seu ciclo atual. Cada um segue um “script”, um programa biológi­co, genealógico-familiar, classista-nacional e internacional, que se pode descobrir pelo fluxograma evolutivo da dinâmica indi­vidual. A ideia, portanto, é justapor e reorganizar esses fluxogramas (biologia, psicologia, sociologia) de maneira pessoal, e não como a sociedade manda. Senão fica assim: “Aos cinquenta anos começa a velhice”, e a pessoa é obrigada a ficar velha, a assumir exclusivamente o papel de avô ou de avó. Não se é obrigado a proceder assim sempre, a não ser que se queira assumir a programação feita desde a infância. É bom conhecer o fluxograma psicológico e sociológico pré-esta­belecido pelo Estado e pela Igreja para a trajetória existencial humana e, ao demitizá-la, poder aspi­rar à construção de sua própria existência. É bom que as pessoas possam saber previamente o que as espera em cada sistema e em cada ciclo. Não se trata de fatalidade, mas sim de se permitir algumas possibilidades de previsão. 11.2. “Pacote” religioso e civil da peregrinação humana Cada pessoa é um sistema unitriádico, que evolui e vive em ciclos, cuja soma forma uma espiral que se chama “fluxo­grama da dinâmica individual”. Para a entrada e saída em cada ciclo, a cultura religiosa e civil Manual de sobrevivência do ser humano - 110


criou “ritos de passagem” para os bonzinhos (oscilantes) e “ritos de barragem” para os rebel­des (subgrupos naturais). Você nasce já no meio do MAYA — uma estrutura, com grupos, subgrupos, papéis masculinos e femininos definidos, com Estado e Igreja no comando e todos os estágios da vida já planejados -, no qual você é levado a acreditar como “a” realidade, “a” verdade, “a” felicidade e mais tarde você descobre que é mero ilusionismo criado pelos subgrupos oficiais. A sociedade já traça um roteiro e um limite possível de variação. Existe o maya masculino e o feminino com toda uma divisão de trabalho. O Estado (pai, lado esquerdo do cérebro) e seu respectivo maya masculino cuidam da ciência, dos negócios, do dinheiro; e a Igreja (mãe, lado direito do cérebro) e seu res­pectivo maya feminino cuidam do amor, da família, do sexo, da moral, da mística e do homem. Até os 15 anos o ser humano geralmente é influenciado e incorpora a estrutura e os papéis do modelo Maya inicial. Se, a partir daí, a pessoa quiser seguir mode­lo novo, precisará romper de um lado e de outro com os papéis instituídos de mãe, pai, professor, professora, adolescente mas­ culino e feminino, homem e mulher, profissional masculino e feminino etc. Precisa desatrelar-se desses papéis mostrados no centro do esquema, inclusive no que se refere à saúde e aos demais 13 subsistemas. O Estado e a Igreja determinam o que se tem de fazer com a biologia, o que se é e o que se tem de ser, os cuidados para cada ciclo, os cuidados com o sexo, com o estômago, se podemos beber, fumar etc. Depois de casados, prescrevem co­mo vai ser a atividade sexual, os seguros de saúde de cada cônjuge. Em certa faixa, sugerem sauna, fisioterapia, caminha­da, plástica, emagrecimento etc. Noutra, decidem que você tem de ser velho, tem de ir para o asilo, morar sozinho, tem de ser avô, avó, consultar um geriatra, virar sucata etc. Por fim, quei­xam-se porque você ainda não morreu, não preparou o testa­mento, não preparou o túmulo, “está criando um rombo na Previdência...” Do nascimento até os quinze anos, domina o estado reli­gioso; dos quinze aos cinquenta anos, o estado civil; depois este de­volve o ser humano, como “sucata”, para o estado religioso, que ajudará o indivíduo a “achar” o sentido da vida, ligar-se no amor universal, na divindade, no absoluto... Pelo modelo maya civil e religioso, a perspectiva de desfrute de seu capital corporal é nenhuma. A regra geral é reprimir seu corpo e todas as suas partes, não usá-lo, não mostrá-lo, gastá-lo trabalhando para os outros, entregá-lo ao cemitério do Estado e da Igreja.

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Quais seriam as perspectivas de vida, bem-estar geral (saúde) num modelo novo (upaya)? Biologicamente, não se escapa de resfriado, artrose, velhice, estresse. Podemos escapar (e devemos tentar) dos condicionamentos de saúde e sofrimento que o es­tado civil e religioso impuseram, apelando para métodos alter­nativos, associados, preventivos, para autoprogramação men­ tal, para uma organização social libertadora. O principal é des­cumprir o que está programado inicialmente. Isso já melhora bastante. 11.3. Detalhes de cada ciclo O ser humano começa a se estruturar desde o momento da concepção como fruto de pai e mãe e sua genealogia. O período da gestação e os primeiros anos (0 a 5 anos) se caracterizam como o de simbiose — criança/mãe, período organizatório fisiológico e de maior assimilação das mínimas pressões. É um período de máxima importância para a explicação dos comportamentos aberrantes ou indesejáveis. Nesse perío­do, a criança sofre um recheio mental triádico (normas, emoções, ações) nos 14 subsistemas. Esse recheio vem de acordo com os interesses e crenças de quem o faz: instituições criadoras, educadoras e formadoras (família, esco­la, vizinhança, religião, televisão etc.). Nessa fase, a criança simplesmente imita ou rejeita o comportamento dos pais e ou­tras pessoas significativas. Esse recheio, que ocupa todo o es­paço mental da criança, é valorado, marcado com sinais de “bem” ou “mal”, “certo” ou “errado”. As partes que recebem o sinal “bem” são reforçadas com carinho, afeto, manifestações de aprovação (que, sabemos hoje, fazem despertar e aumentar a taxa de neurotransmissores denominados endorfinas). Essa endorfi­na, secretada por estruturas do sistema nervoso central, produz estado de bem-estar, semelhante ao de pessoas que estão amando: humor positivo, relaxamento muscular, ausência de estresse, respiração fácil e reanimadora, sedação, euforia, êxtase, estado de plenitude estética e mística. As que recebem o sinal “mal” levam à supressão da en­dorfina, antagonizada pela predominância da taxa de outros neurotransmissores sucedâneos da adrenalina, causando um es­tado de mal-estar na criança (semelhante aos estados de depressão do adulto pela perda de um amanManual de sobrevivência do ser humano - 112


te ou de um ser queri­do, por exemplo) e criando a necessidade de livrarse dele por meio de qualquer tipo de reparação. Esse dispositivo de alarme que age no sentido de impedir que a criança faça qualquer coi­sa proibida pelos recheadores chama-se censura, remorso, complexo de culpa-reparação. A esse recheio mental chamase “consciência de empréstimo”, porque foi enxertada ou molda­da por agentes externos, sem a participação da pessoa interes­sada, por incapacidade dela de construir, sozinha, a sua pró­pria consciência. Haverá consciência real, verdadeira, quando houver uma desmontagem (decomposição e recomposição) com lugar também para as metas pessoais, além das metas grupais e so­cietárias que antes submetiam totalmente a pessoa. Na fase de 0 a 5 anos, os recursos usados pela criança para se integrar no universo são de ligação (cooperação) e de rejeição (compe­tição). A luta triádica, aqui, é pela busca da fonte de energia concentrada em pai e mãe. Por isto, começa cedo a competição com os irmãos (dinâmica de grupo). O “espírito” de competição e cooperação entre irmãos é inerente ao ser humano, biológico, energético, genético, e ser­ve para ter e ser sempre mais. Pode ser atenuado ou exacerba­do pelo processo de educação. Chama-se a essa tendência huma­na de maximocracia: cada um quer o melhor, o maior, o mais va­lorizado, o mais frequente para si. A família sempre tem os três subgrupos. A criança começa como oscilante frente a esse jo­go, mas aos poucos vai se posicionar com o subgrupo que lhe for mais gratificante ou o subgrupo que lhe permitir sobreviver melhor. É preciso quebrar o mito de que existe ressonância en­tre pais e filhos por causa do sangue, da hereditariedade. A criança apega-se a quem for sua fonte de energia. Não existe amor materno e paterno, “laços de sangue”, e sim apego a fon­tes de energia e endorfinas. O resto é mitologia familiar. Alimentação adequada, higiene, ambiente sadio, atitude positiva de quem está criando vida, controles periódicos são necessários para uma gestação sadia. De 0 a 5 anos, a criança deve ser orientada pela mãe, principalmente até os 3 anos, sendo fonte de carinho, de acon­chego ou de rejeição, de manutenção. Depois, até os 5 anos passam a ser importantes a figura do pai e irmãos (exercício do jogo triádico).

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A amamentação é fundamental: contato com o seio, mes­mo se não houver leite materno, horário, tempo e ambiente cor­retos, posição, toques, certo entendimento da fisiologia da amamentação, acoplamento global e harmônico entre mãe e fi­Iho, que vai se constituir na medida mais importante para a profila­xia da neurose. Nessa fase é preciso conhecer as doenças pró­prias da idade e reconhecer a importância da assessoria de um pediatra de confiança. Aqui, as condutas vão depender muito da negociação en­tre a mãe e o profissional e de seus graus de discernimento, experiência, conhecimento, consciência e envolvimento real na saúde da criança. Na etapa de 5 a 10 anos, persiste acirrada competição en­tre irmãos pela principal fonte de energia, que continua sendo a dos pais. Ocorrem também a busca de energia e a tentativa de inte­gração em esferas mais amplas que a da família: escola, igreja, clubes de lazer, vizinhança, dentro de posições já estabelecidas pelo sociograma familiar, com suas recorrências ou repetições. É uma fa­se de crescimento e de formação ideológica e religiosa. São comuns as relações de competição, os ciúmes, as in­flamações de garganta, a falta de orientação sobre sexualidade, as inadaptações escolares, os problemas visuais, os acidentes na escola, os piolhos, as pragas, a fimose, os problemas de postura, o fascínio pela televisão. Na dinâmica de grupo (familiar), a posição dos participan­tes já se define principalmente pela dominância do lado do cé­rebro de cada um e pelas posições subgrupais alcançadas na primeira fase familiar: oficial, natural, oscilante; irmão mais velho, irmão do meio, caçula; filho único, filho adotivo etc. Na etapa dos 10 aos 15 anos completa-se o desenvolvimento do sistema pessoal, e ocorre a tentativa de autocondução, através de metas pessoais. Inicia-se a tentativa de comunhão e inte­gração com outros efetuadores. As entradas mais tensionantes nessa época são as referentes à luta pela emancipação e admi­nistração pessoal da vida. A luta por uma consciência pessoal (um self) é marcante na adolescência. O adolescente nega e combate destrutivamen­te a família, as instituições e tudo o que representa impedimen­to real ou suposto para a emergência de um eu autônomo. Tra­va luta de emancipação externa sem saber que, mesmo matando ou destruindo quem o pressiona, não se sentirá livre, porque a forma de dominação a que está submetido é muito mais sutil. Instalada no âmago de seu mecanismo vital, inconsManual de sobrevivência do ser humano - 114


ciente, des­percebida, difícil de ser reconhecida, superdefensiva, autoper­ petuante: uma espécie de piloto automático insensível e invisível dentro dele — que se chama sistema político (desde a auto­ridade familiar até governamental e “sobrenatural”). Gagueira, doenças venéreas, doenças de crescimento, orfandade, crises convulsivas, dentre outras, são comuns nessa fase. Dos 15 aos 25 anos, a disputa de energia, além da ini­ciação profissional, consiste na busca de alguém, geralmente buscando semelhanças físicas ou psíquicas com a primeira fonte de energia da infância. É a tentativa de comunhão a dois, com a utilização de re­cursos inconscientes, desenvolvidos na competição familiar. É a fase de saída, “renúncia” da família, e de opção por fazer sua própria vida. Os subsistemas tensionadores nesse período são o Parentesco, a Lealdade, o Pedagógico, o Patrimonial e o Polí­tico. Nessa fase, é comum ocorrerem problemas com gravidez, aborto, anticoncepcionais, doenças profissionais, doenças de esporte, depressões, psicoses, doenças mentais. Dos 25 aos 35 anos, dá-se um período de comunhão a dois, fechado, exclusivista, através de amizade, namoro, casa­mento. Quase sempre o processo de comunhão ocorre, se de­senvolve e se mantém, ou não, por recorrência de mecanismos aprendidos na infância e sem atitude muito consciente no que se refere à convivência (dinâmica de grupo estabelecida) e à posição subgrupal de cada um e de ambos nos seus intercâm­bios. Após essa fase, surge a necessidade de ampliação de fontes de energia (filhos, amigos). Vai-se para uma esfera mais ampla, que é a integração na dinâmica grupal, processo esse chamado de comunhão ampliada. Observa-se, frequentemente, a incidência de neuroses, ciumeiras, cardiopatias, hiperdinamismo, obesidade, problemas de coluna, doenças mentais, descompensação por lutas familia­res, divórcio etc. Dos 35 aos 45 anos, pressupõe-se alcançar autossuficiên­cia profissional, econômica e uma participação social (para a pessoa realizada profissionalmente) ou por luta social para ob­ter mudanças. Ocorrem aqui conflitos com os papéis sociais vividos, assim como com o modelo social vigente. Os subsis­temas tensionadores que predominam e exigem definição são o de Produção e o Patrimonial. São comuns problemas referentes à menopausa, retorno ao lado direito do cérebro, alcoolismo, acidentes etc. Dos 45 aos 55 anos, há marcada busca de reformulação em todas as dinâmicas e subsistemas, assim como da nova imagem. As recorrências com as etapas anteriores são grandes. En­tram em cena, exigentes, o sistema de Precedência, o Religioso e todos os demais, se não tiverem 11. Fluxograma evolutivo do ser humano - 115


sido assumidos e resolvidos na época própria. Calvície, plásticas, solidão, gastrites, estresse, rejeição física, irritabilidade, aposentadoria são os monstros principais desse período. Dos 55 aos 65 anos, ocorrem novos objetivos, nova ima­gem e novas funções. Entram em cena o subsistema Sanitário e o de Manutenção, exigindo novos ajustamentos e atitudes. Demência (perda da memória), artroses, diminuição do desejo e da potência sexual, surdez, presbiopia (diminuição visual para perto), solidão, viuvez são estados comuns. Dos 65 aos 80 anos, ocorre a retomada de algum ciclo anterior, assim como a convergência para a dinâmica universal. São comuns a morte (transformação), suicídio direto ou indireto, viuvez, luto, incapacidade física e mental crescentes. É importante a avaliação periódica em cada ciclo do flu­xograma evolutivo, em cada subsistema, e, de uma maneira prática, perceber as doenças que são de maior incidência na­quela faixa e estar preparado para reagir e reorientar-se. 11.4. Níveis dinâmicos no fluxograma da existência humana O conceito “dinâmica", usado no fluxograma da existência, é uma tentativa de esferizar o grau de abrangência do que se está analisando, em círculos concêntricos. Um ajuda a entender o outro. “Para se compreender um fato num nível, é preciso com­preender o nível mais abrangente. Para se compreender uma parte, é preciso compreender o todo, o conjunto”. Na gestação, interessa mais a DP (dinâmica de potencialidades), a natureza em si. De 0 a 5 anos, DG (dinâmica de grupo) na família. De 5 aos 10 anos, a DI (dinâmica individual). De 10 aos 15 anos, DG de emancipação, de autocondução (“matar” a figura do pai e da mãe) para tomar-se senhor de si. De 15 aos 25 anos, continua sendo a DG, mas é de cooperação, de inte­gração: uma fonte de energia unindo-se a outra fonte para in­tercâmbio igualitário. De 25 aos 35 anos, formam-se filhos e parentes, e aí se é obrigado a assumir posição de subgrupo ofi­cial. Quem falhar vai para natural ou oscilante. Mas, como to­dos querem ser oficiais, querem o máximo, aqui a DG é a mais importante. Dos 35 aos 45 anos, no sistema capitalista surge a DS (dinâmica societária) co­mo tensionamento mais importante, porque se tem de fazer Manual de sobrevivência do ser humano - 116


o “pé de meia”. Se não se ganhar dinheiro até essa época, sobra só a luta. A ordem é economizar, fazer seguros, investir no fu­turo. Dos 45 anos em diante, a pessoa está preocupada com DI (dinâmica individual) de novo, porque não tem segurança de ser ou continuar a ser elegí­vel para o outro, para os empregos, pa­ra a sociedade. É crise de autoimagem. As pessoas começam a ter medo da morte, e, realmente, a maioria morre física ou socialmente, ao perder suas funções e status. No fim da existência humana, a DU (dinâmica universal) começa a ser mais importante para a maioria das pessoas. Somente 6% da humanidade ultrapassam sessenta anos. Nos EUA e Japão, 7% a 7,5%; no Brasil, 4% a 4,5%; na França e Alemanha Ocidental, 6%. Isso varia de acordo com as con­dições de saúde, segurança, trabalho etc. de cada subgrupo ou classe social. As pessoas se voltam para as religiões, yoga, zen-budismo, para a dominância do lado direito do cérebro, porque são essas práticas que oferecem uma resposta para essa interrogação: vou morrer, e daí?

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12. Vida e morte: quem é o dono - De como a Igreja e o Estado se apropriam da energia do ser humano e controlam basicamente toda a sua trajetória existencial do berço ao túmulo.

A Igreja e o Estado controlam, basicamente, o nascimento, o significado da existência humana, a sobrevivência, a transformação (denominada vulgarmente morte), a compre­ensão da transvida dos indivíduos e das instituições ligadas a eles. Governam também a saúde. Observe a ilustração abaixo:

memória póstuma transformação aposentadoria tropeços carreira casamento profissionalização educação nascimento concepção Um sistema social qualquer é constituído de 14 subsistemas, que organizam as atividades de seus personagens no âmbi­to individual e social. Esses 14 sistemas estão subordinados ao poder político do Estado e ao poder político-moral-educa­cional da Igreja. 12. Vida e morte: quem é o dono - 119


O Estado tem três subgrupos: o oficial (aquele que detém o poder político, ideológico e militar); o natural (pessoas ou instituições que tentam modificá-lo pela introdução de outras ideias ou tendências); e o oscilante (pessoas e instituições que estão sob o comando dos outros dois). A Igreja tem, também, um subgrupo oficial, ortodoxo, com uma teologia baseada no controle da morte e do corpo; um subgrupo natural, que se autodenomina teologia da libertação e pretende ser mais ideológico e político; e um subgrupo oscilante, atrela­do a uma teologia mais popular de curas, de bênçãos, de água benta, de amuletos, de promessas etc. Esses dois poderes disputam entre si o controle da ener­gia do ser humano. Dividem os indivíduos em pedaços e cada um tem territórios sob sua jurisdição. Inicialmente, dividem o homem em corpo e alma. A alma passa a ser monopólio das religiões. O corpo por sua vez é loteado e dividido em pedaços; algumas de suas par­tes são disputadas pela Igreja, e outras, pelo Estado. Cabeça, consciência “pertencem” às religiões. Trabalho, comunicação, aquilo que produz dinheiro pertencem ao Estado. Os próprios cinco sentidos e os instintos básicos são controla­dos pelas duas instituições supremas. Podemos fazer uma análise sumária, por exemplo, do subsistema sanitário: nele as doenças, por exemplo, são consideradas por muitos de proveniên­cia religiosa (castigo divino, possessões) e por outros de pro­ veniência mais leiga ou civil (origem microbiana, vírus etc.)... A confusão sobre a origem das doenças permanece e não se des­faz de todo, porque a estrutura social e cultural é dividida em religiosa e civil. Com isso se vê que o subsistema sanitário é atrelado aos dois estados em luta que se prolonga nos subgru­pos da saúde: médicos, dentistas, psicólogos, veterinários, far­macêuticos, fisioterapeutas, enfermeiros, patologistas, laborato­ristas etc. (curadores oficiais); acupuntores não-médicos, homeopatas não-médicos, paranormais (curadores na­turais); e curandeiros, terapeutas espirituais, benzedores etc. (curadores oscilantes). Todos em competição entre si. O mesmo se repete com as associações dos prestadios. Por exemplo: Associação Médica Brasileira e Associação Brasileira dos Hospitais (oficiais); Associação Brasileira de Acupuntura, Asso­ciação dos Terapeutas da Medicina Natural, (naturais); e as diversas asso­ciações religiosas que se dedicam à cura espiritual (oscilantes).

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O mesmo raciocínio é válido para as demais instituições: hospitais, manicômios, rede particular e previdenciária ambulatorial, clínicas e consultórios clandestinos, os terreiros etc. Os métodos de cura são, basicamente, a alopatia, como oficial; a homeopatia e acupuntura, apesar de oficializadas pelo Conselho Federal de Medicina, ainda como naturais; e as práticas religiosas e populares, como oscilantes. O Estado e a Igreja tentam controlar toda essa cadeia de interesses, de concepções de cura, de diagnóstico, de profilaxia das doenças e de tratamentos. Algumas são legitimadas como científicas, oficiais; outras são combatidas como não-científi­cas, como superstição ou charlatanismo; há outras às quais não se oferece nenhuma resistência mais marcante ou impedimento formal. Somente é “legal” a do subgrupo oficial, a corpo­ração denominada pejorativamente de “máfia branca”, que monopoliza área de necessidade social explorando-a econômica e ideologicamente. A corporação da saúde presta serviço como a de outro se­tor qualquer, como, por exemplo, a corporação da educação, da justiça, da segurança etc. A relação, porém, entre o serviço prestado e o dinheiro cobrado em todos os setores dos 14 subsistemas sociais, indiscriminadamente, começa a ser problemática — cada vez se cobra mais e se oferece menos (relação custo-benefício desproporcional). O Estado intervém, tentando mediar o suposto impasse através de medidas de socialização ou de privatização da saúde e da medicina. Mas o efeito tem sido, sempre, a desproporcionalidade, privi­legiando algumas personagens ou subgrupos em detrimento da maioria e da essência do serviço. Essa intervenção e esse efeito perverso não são característicos apenas do subsistema sanitário, mas se reproduzem e se perpetuam em todos os demais subsistemas. O que interessa mostrar é que a saúde, ou a necessidade de preservar, manter e prolongar a vida, de torná-la mais des­frutável e saudável — o chamado bem-estar, a saúde global — tudo isso está subordinado aos interesses do Estado e da Igreja. Os exemplos seriam intermináveis. O Estado, por exem­plo, oficializa técnicas e procedimentos médicos estrangeiros sem real interesse ao bem-estar geral de seus cidadãos. Proíbe, por legislação, certas práticas de medi­cina alternativa, hipnose, letargia, fenômenos parapsíquicos etc. Sabe, porém, e permite que sejam usados semiclandesti­namente pelos meios religiosos, espiritualistas, umbandistas etc. 12. Vida e morte: quem é o dono - 121


A Igreja, até a Idade Média, proibia a pesquisa no orga­nismo humano, e as pessoas que as praticavam, quando desco­bertas, eram consideradas hereges e condenadas à fogueira. Até recentemente condenava as operações plásticas, alegando que o corpo humano era sagrado, subordinado a Deus e ninguém podia mexer nele, exceto com sua autorização (“recebida” e repassada por representantes dele, truque co­nhecido como religionização). Atualmente, tenta interferir nas trompas e útero das mulheres, na sexualidade masculina, femi­nina, na concepção, na anticoncepção, no aborto, na ampu­tação de membros, nos transplantes, no uso do corpo. A moral e as virtudes mais inculcadas eram as de repressão e censura para diversas partes do corpo do ser humano, como medida de controle da manifestação da energia e canalização para os seus interes­ses institucionais. Controla também a hora da morte, sendo o funeral religioso somente para pessoas vinculadas àquela tendência religiosa e para o finado que conseguiu “boa morte”. Ma­nipula o destino do morto para subjugá-lo e atormentá-lo em vida: terrorismo espiritual. Enfim, o Estado e a Igreja disputam o controle do nasci­mento, da vida, da morte e da transvida das pessoas e das insti­tuições ligadas a eles. A Igreja cria uma espécie de urbanização celeste, distri­buindo lugares para as pessoas conforme elas atendam, ou não, às suas exigências. O Estado faz seu controle mediante o con­dicionamento do corpo para o trabalho, mediante suas práticas educacionais, mediante a situação da falta ou carência de ali­mentação popular. Controla também regulando o suicídio, o aborto, a eutanásia. Pratica um tipo de educação física que nem sempre é voltado para as necessidades energéticas, biológicas do ser humano (seria necessário desenvolver a expressão corporal como uma forma de liberdade global de expressão). Tem o direito de usar a vida e o corpo das pessoas para fins militares, podendo mandá-las para a guerra, para defender o subgrupo oficial que dirige o Estado. O Estado e a Igreja são discriminatórios e não admitem que o indivíduo tenha certos direitos e autonomia sobre seu corpo, sobre sua personalidade, sobre seu direito de viver ou de morrer. Praticam violência física, psicológica, econômica, todos os dias. Por isso, ultimamente, criaram-se organizações chamadas comissões de direitos humanos, de justiça, de paz, organizações nacionais e internacionais contra a violência, para a preservação do meio ecológico etc. Todas elas, sem dúvida, de grande alcance e valor, porém ainda são raros os movimentos ou ações, em todos os níveis da circulação da energia, para se debelar sequer a violência física do ser humano em todos os seus níveis do poder e saber. Pior ainda, a violência psicológica através Manual de sobrevivência do ser humano - 122


de educação e moral repressivas perpetradas pelos detentores do poder e do saber. O conceito de saúde como um bem-estar físico, psicológico e social das pessoas ou como ausência de qualquer carência, e não somente uma ausência de doença, é uma definição da Organização Mundial de Saúde que ainda deixa muito a desejar e pressupõe um longo caminho a se percorrer. O fato de as pessoas do Primeiro Mundo terem a perspectiva de atingir uma vida prolongada de setenta e oitenta anos (homens e mulheres respectivamente) é um avanço. A análise, porém, não se deve ater só à quantidade de anos vividos, e sim à sua qualidade. Entre viver favelado e miseravelmente setenta anos e viver setenta anos num bom bairro residencial, com conforto material e psicológico, com descanso, com transporte e outras necessidades realizadas, acredita-se que haja alguma diferença... De tudo isso, o que interessa mostrar é que a saúde, ou a necessidade de preservar, manter e prolongar a vida, de torná-la mais des­frutável e saudável — o chamado bem-estar, a saúde global —, tudo isso está subordinado aos interesses do Estado e da Igreja. 12.1. Dependência e dominação As religiões manipularam por séculos a energia humana e polarizaram a humanidade demasiadamente no chamado sobrenatural, transcendental, pós-morte e esqueceram o processo normal, progressivo, gradual do ser humano vindo por evolução da energia e da matéria. O Estado assumiu o comando de nossa energia através da Ciência por volta do século XVI e se voltou para o mundo natural, material. Em quatrocentos ou quinhentos anos, a humanidade fez toda essa evolução, esse progresso, que não se tinha processado em cinco mil anos sob a liderança das religiões, por causa dos excessos delas. Estamos caindo, agora, nos excessos de poder do lado do Estado, da Ciência, onde só vale o lado prático, o racional, o científico. Estamos perdendo a energia da mística, a estética, a afetividade, o humanismo, a energia teleológica, a esperança. De novo, o exclusivismo. O ser humano, na parte cerebral reptílica, no biológico, no hereditário, na estrutura constituinte do átomo, da matéria, é predeterminado. É predeterminado porque está condenado a comer, a respirar, não pode 12. Vida e morte: quem é o dono - 123


fugir ao desejo sexual, tem agres­sividade, tem de competir, tem de vincular-se, tem de ter altos e baixos, enfim, tem de seguir as leis da matériaenergia. Nesse nível, não se possibilitam mudanças, apenas regulagem. O ca­minho da mutação pela biotecnologia é risco desconhecido, de dimensões perigosas e talvez incontroláveis. A partir da estrutura do cérebro direito, o sistema energético humano, durante a evolução, já começa a ficar probabilístico. No seu lado direito, o cérebro humano não apresenta pré-determinismo: você pode sentir, perceber, amar, ter emoções pró, contra, de indiferença. A pessoa, quanto mais desenvolve suas emoções, suas percepções, seu relacionamento, suas trocas energéticas com o meio am­biente, tanto mais chance tem de indeterminismo, de espaço li­vre, ou seja: de probabilismo, para melhor ou para pior. Essas al­ternativas aumentam, com o aumento do lado esquerdo (racio­nal, lógico), que é quem faz as escolhas. E as faz de maneira proba­ bilística, dependendo de inúmeras variáveis: idade, educação, saúde, perspectiva de vida, tipo de cabeça, família, cultura em que está inserido, religião, política, nível econômico etc. Essa possibilidade de escolher chama-se “livre arbítrio”. Quanto mais você baixar ou recuar no nível energético, tanto maior o determinismo, mais “leis estáveis”. Quanto mais distanciado ou elevado se estiver da estrutura energética inicial, mais comple­xificado, evoluído o ser, tanto menos determinístico, mais autoconduzido, mais variável, mais imprevisível. A capacidade de escolhas do ser humano, por exemplo, é maior do que a dos peixinhos no aquário. É bem maior, porque somos mais com­plexificados. Nosso sistema nervoso é bem maior e mais com­plexo, temos capacidade de feedback, de escolhas, de ações al­ternativas: o peixe do aquário, assim como o ser humano, não pode deixar de comer, de respirar, de se ajustar ao meio. É importante, pois, que o meio seja ativo. O primeiro professor de toda criança é o seu meio. O "meio" é o que denominamos "14 sistemas", que se organiza sob a forma em que está estruturado em cada país, em cada cultura, em cada religião. O referencial "14 sistemas" está subordinado a um poder central ou supremo, chamado governo civil e religioso. Isso é o meio. Os sistemas estão instalados em determinado espaço, em determinada época ou cronologia. Têm suas personagens orga­nizadas em três subgrupos (oficial, natural e oscilante) e obe­decem a determinados procedimentos, comportamentos e mo­dos de expressão, de controle social, de valores, de crenças e de sanções. Manual de sobrevivência do ser humano - 124


As pessoas entendem vagamente o "meio" como o mine­ral (sol, luz, oxigênio), o vegetal, o animal. É preciso que se coloque o conceito de “meio social” de maneira mais abran­gente e articulada, e não como entidade estanque e isolada. O meio social é a evolução do mineral, do vegetal, do animal, que se organiza em 14 subsistemas, sob o poder civil e religioso, tudo entrelaçado triadicamente. Essa organização produz uma superorganização, chamada Es­tado religioso e civil, que acaba administrando esse meio todo, em função de si mesmo. Organiza o espaço, o tempo, o horário das pessoas, o calendário anual, fiscal, religioso etc. Instrui as personagens para determinados papéis sociais, forçando o cumprimento através de prêmios e castigos. Estabele­ce procedimentos, métodos, crenças, formas de controle. Enfim, mantém a “ordem” social, que, por ser monádica, atende primordialmente aos interesses do subgrupo oficial mais alto, aquele que detém o poder e o saber. Na realidade, porém, o meio é triádico, e os três subgrupos devem funcionar numa interação proporcional, harmônica, compensa­dora. Já não se pode entender o meio como coisa vaga, ecoló­gica, mas como um meio ecológico-animal-social-político-nacio­nal-internacional-solar. Quando os antropólogos citam o meio ambiente, costu­mam incluir o país, a religião, o lazer, a escola, o trabalho etc. Esquecem, porém, que tudo isso tem hierarquia e está subordi­nado a um estado civil e religioso que, por sua vez, é domina­do por outros estados civis e religiosos, formando hierarquia internacional, planetária. É claro que cada um influencia esse meio e pode tentar modificá-lo através de suas atitudes, crenças, espírito crítico e ações. Cada ser humano deve, continuamente, fazer escolhas nos 14 subsistemas para equilibrar, direcionar e redimensionar a trajetória de sua vida. Isso é necessário porque não somos um bólido, que tem rota prétraçada ou predeterminada. Cada um tem possibilidade e direito de escolha para fins de bem-estar, de integração, de diversão, de convivência, que são os valores do nível energéti­co, biológico, ou valores fundamentais da vida. Os outros valores, tais como defender a nação, ganhar dinheiro, ganhar prestígio, são convenções sociais usadas para fazer a humanidade funcionar enquanto grandes grupos sociais, e não para se matar entre si. A maioria das pessoas não tem autocondução no nível energético, muito menos no mental, no grupal, no ideológico, no econômico, na saúde. Por 12. Vida e morte: quem é o dono - 125


isso, querem ser conduzidas, tangidas pelo Estado e pela Igreja (mas não preci­sam exagerar...). A meta ou a finalidade da vida seria cada um entender o “minuto fatal”, o “aqui-agora” e gozar nele o que der e puder, apro­veitando a energia de modo gratificante para si e para quem “estiver por perto”. Não se pode escapar do inferno criado pe­los políticos, pelo poder econômico, pelas religiões, pela ruína ecológica, pelos noticiários negativistas da TV etc. Deve-se, porém, na medida do possível, ir fazendo ajustamentos e redire­cionando, driblando, ir “curtindo” o que der, enquanto não se puder fazer uma revolução. “Tudo vai mal; o mundo deveria acabar” (Cioran). “Tudo vai mal; sejamos felizes” (Rosset). 12.2. Autocondução para onde? O ciclo de duração da vida de uma pessoa seria de ses­senta a oitenta anos, e o ciclo de duração do país e do planeta é de uns dois milhões de anos. Você, portanto, tem um período de mais ou menos 80 anos para atingir bom nível de realização, de felicidade, de bem-estar e integração, e a coletividade tem um tempo que se perde de vista. Você, sem dúvida, tem somente oitenta anos para dar cer­to. Além disso, o país é uma ficção, uma montagem para regu­lar a vida dos subgrupos humanos. País nenhum dá certo. O que teria de dar certo são os indivíduos e os subgrupos. Tudo o que resta são relações convencionais. O grupo oficial (aquele que detém o comando do rumo, da direção da energia) tem de se interessar pelo subgrupo natural (aquele que se lhe opõe dinamicamente) e pelo oscilante (aquele que permanece ou de braços cruzados ou em cima do muro, ora colaborando com o primeiro, ora com o segundo). O oficial, sem os outros dois, não vive. Na prática, o oficial exagera e tem maxivivência às custas dos outros dois, que são reduzidos à minivivência. Essa com­preensão seria um convite para que se caminhasse para uma proporcionalidade, e não para um aumento do conflito entre os subgrupos, cada um denunciando o outro como errado. Isso é exclusivismo. O exclusivismo e a desproporcionalidade têm si­do a tradição durante toda a história do Homem e da Humanidade. Em nível biológico, pode ocorrer o mesmo fenômeno: se você tentar favorecer ao máximo seu estômago, com prejuízo de seu fígado ou de seus rins ou de outro órgão qualquer, sua saúde se desestabiizará. Manual de sobrevivência do ser humano - 126


As interpretações da realidade (a chamada “verdade”) em qualquer setor e em qualquer tempo são feitas sempre pelo subgrupo oficial, para camuflagem e protecionismo dele próprio. A saúde, como outro bem qualquer do ser humano, não constitui exceção. Nos monumentos de praça pública, aparecem, quase sempre, os representantes do subgru­ po oficial ou da ideologia dominante. Os três subgrupos e seus jogos se repetem entre as partes do corpo, nas profissões, nas especialidades etc. Na área da saúde, o dentista não é médico. O proctologis­ta é considerado profissional de área suja. O ortopedista é o carpinteiro. O psicólogo, o psicanalista, o neurocirurgião são considerados profissionais da mais alta importância. Assim, elegem-se alguns órgãos principais. É a ideologia de classes, segregacionista, projetada no corpo. Essa concepção do jogo triádico, onde somente o subgrupo oficial se considera nobre em detrimento dos outros — os subversivos e a "peonada" —, é projeção feita para sua própria proteção e para manter sempre sua posição em supremacia, mitizada. O ser humano deve entender que seu cérebro é ainda evo­lutivo, juvenil, inacabado, relativo, defeituoso, aleijado, unilateral e com referenciais de análise ainda precários. Qualquer explicação alcançada pelo estágio atual do conhecimento da humanidade (seja pela ciência, ou pela religião ou pela compreensão popu­lar) devia ser apenas caminho provisório para as pessoas vive­rem melhor ou desfrutarem mais intensamente a vida. Há aqueles que passam sua vida na busca da verdade metafísica ou na au­tossuposição de responder a mistérios (assuntos inatingíveis para a mente humana). O cérebro não é, como muitos pensam, uma máquina de explicação. O ser humano não tem qualquer compromisso com a verdade acabada, porque ela é, sem­pre, relativa, provisória, construída pelo homem. E será sua tarefa redimensioná-la sempre, na sua própria relação contínua com a realidade em evolução de si mesmo, do outro e de seu meio ambiente. O compromisso que devemos ter com o uso de nosso cérebro é o de aprender a garantir a sobre­vivência humana (ação), a interação proporcional e harmônica com os outros (amor) e a interpretação de cada conjuntura para redirecionar-se (pensamento). Cada indivíduo deve recuperar a noção de que não deve irrestritamente sua vida a ninguém, por ser sua energia um bem do condomínio de energia do Universo, e sentir-se dono absoluto de seu ser, de seu pacote energético. Deve poder, também em al­guns casos, determinar sua transformação ou as condições e o momento de sua morte. Esse momento 12. Vida e morte: quem é o dono - 127


tem sido dominado pelo Estado (constituição, médicos, condições econômicas, sociopolíticas, culturais) e pela Igreja (Bíblia, padres, pastores, gu­rus etc.). A maioria dos indivíduos não percebe que a vida é deles e a morte também. Outros já não conseguem lidar com o fenô­meno da circulação de sua energia e começam a procurar in­conscientemente situações e atitudes de morte: andar em altas velocidades pelas estradas, beber exageradamente, não dormir, envolver-se em situações perigosas, padecer uma enfermidade e não procurar aconselhamento ou acompanhamento (feedback) médico e laboratorial. Se soubessem que a transformação é um direito também deles, não precisariam usar esses truques to­dos para provocar situações terminais. Claro que somente as pessoas que têm autocondução e exclusivamente essas, e em casos especiais, poderão (com ou sem a tutela oficial) permitir-se uma maneira pessoal para decidir ou aliviar essa neurose da morte. Para essas, a vida costuma ser circulação de energia, onde elas são condôminos da energia universal e, portanto, são donas de sua vida e de sua morte. Não devem absolutamente nada a ninguém e convivem com o Estado e a Igreja mantendo seu limite de individualida­de sempre preservado e fazendo individualmente ou em peque­nos grupos sua opção. Espera-se que cada um transite dentro de certos parâmetros de proporcionalidade. A vida é para você gozar, viver, realizar-se, transformar-se, fazer experiência consigo mesmo e com a vida. Gozar gera endorfina, inovação, alternativas, o interesse normal no sentido da vida. Não há o que o ser humano possa fazer pelo Universo. É apenas um elo da circulação da energia. Não há tarefa maior para executar, a não ser ajudar essa circulação, querendo ou não. E todo o mundo faz isso. Cada um não é mais do que um robozinho dos genes, um misturador de energias. Mas cada um pode encontrar sua individualidade (identi­dade) nesse processo e, a partir daí, encontrar outros seres e outros níveis superiores de realidade. Quanto mais afinado es­tiver com as regras do jogo triádico (jogo básico da energia), quanto mais se amorizar, quanto menos resistir, tanto mais endorfínico se tornará, mais harmonizado será e mais a vida terá a desfrutar. Por outro lado, quanto mais subgrupo natural alguém se tornar, quanto mais resistir a esse jogo da energia e dos homens e suas instituições, tanto mais se arrebentará. O subgrupo natural é sempre usado para alimentar, para fertilizar, para adubar o jogo. Esse alguém é como palha para manter o fogo: fica brilhante, mas se destrói. Manual de sobrevivência do ser humano - 128


Poucas pessoas conseguem fazer seu cérebro evoluir a ponto de chegar a desmontar toda a mitização e mistificação criada em cima do domínio do conhecimento, da realidade, da verdade, da fe­licidade. Realmente, não há verdade absoluta, e essa verdade relativa é sempre função da psicologia individual daquele que a expressa ou a pratica, da psicologia social, da História, da Geografia, das relações de produção, da idade, da interação dos ciclos das personagens que nela estão inseridos. Não existe grupo secreto que detenha o conhecimento absoluto ou que te­nha nas mãos seu controle seja na ciência, na religião, no povo. O conhecimento é sempre conseguido na mudança de perspectiva. Mesmo a realidade é relativa ao sujeito que a obser­va, que a examina, que a apreende. A realidade não é uma coisa apesar da gente: quando alguém observa uma coisa qualquer, a sua observação depende do sujeito que a observa, porque é uma percepção de seu cérebro e, como tal, observada com a postura, atenção, consciência, intenção, enfim com a capacidade e qualidade daquele cérebro agente da observação. Portanto a antiga noção de sujeito e objeto (aceita dos gregos até o século XIX) como coisas separadas já não é mais possível. Tudo isso é válido para a noção de felicidade, que não deixa de ser uma sensação de foro íntimo. De início supõe-se, por exemplo, que o papa ou o presidente dos EUA ou outra personagem qualquer tem certo controle sobre essas entidades (verdade, conhecimento, realidade, felicidade) em nível individual ou coletivo. No fim, constata-se que eles também são elementos inseridos nessa circulação da energia. É óbvio que têm mais poder do que indivíduos ou subgrupos isolados, pois estão num nível em que controlam mais dinheiro, mais armas, mais informações, mais tecnologias. Mas, em termos de energia final, também são joguetes e têm de funcionar de acordo com certas leis do condicionamento energético, biológico, grupal, social, te­leológico. Para cada um existe toda uma caminhada, onde o cérebro humano tem de apurar o funcionamento de suas três potencia­lidades principais — a racional, a intuitiva e a operacional — e suas interrelações. Nosso cérebro é ainda instrumento em evo­lução, com capacidade limitada de captar os diferentes níveis e matizes da realidade, e cada um é menor que o todo. As leis da energia e a realidade podem ser intuídas mais ou menos, operacionalizadas um pouco, racionalizadas em muito, mas não as compreendemos em sua totalidade ou definitivamente. É preciso humildade nisso, senão a pessoa se de­sespera, exigindo uma explicação final: 12. Vida e morte: quem é o dono - 129


— Quem fez esse pro­grama? Quem inventou tudo isso? Quem é a consciência maior? Quem é a inteligência maior? Quem sou eu? Por que existo? Para onde vou? Para atender a essas interrogações — os mistérios —, os de­tentores do poder e do saber fabricam suas lendas, suas fábu­las, suas cosmovisões para acalmar, submeter e enquadrar as multidões. E aí começam os abusos: as Igrejas faturam em cima da crença exagerada do princípio do mal, que pode tirar sua en­dorfina, seu equilíbrio, seu bem-estar, seu prazer, sua paz con­sigo mesmo, com os outros e com o universo. Faturam, também, à medida que controlam os indivíduos pelas “estórias” que cons­troem sobre o significado de suas transvidas. O Estado, por sua vez, amplia e perpetua seu recheio mental pelos meios de comunicação, pelos pais, pela família, pelas suas instituições do poder político, econômico e de segurança. Muitas vezes, a Igreja e o Estado são aliados. Algumas vezes, se opõem, transitoriamente. Na história, o homem sempre se submete ora a um poder, ora a outro, quase sempre aos dois. O Estado religioso chantageia o ser humano com uma transvida penosa. O médico, com a perspectiva de morte, se o paciente não investir. O Estado civil, com a privação da liber­dade, com a cadeia, com a cadeira elétrica, com a tortura, com o fuzilamento. Assim, há muita gente faturando em cima dos conceitos vida e morte. Entretanto sabe-se que o mineral se incorpora no ve­getal, este, no animal, todos eles no humano, e este no sistema metabólico universal — a energia vai sempre se modificando, passando de um nível para outro. Uma forma de energia sempre se incorpora em outra de outro nível, porque não há destruição propriamente de nada no Universo. Tudo é transformação. É, portanto, legítimo a gente esperar continuidade após qualquer transformação, mesmo após a da chamada morte. Essa, talvez, não encerre nada. É, sim­plesmente, um rito de passagem a outro nível de ser — apenas nova forma de ser noutra forma de ser. "Não há começo nem fim: só transformação". No processo de autocondução, que pressupõe período an­terior de autoconhecimento, é fundamental a escolha de metas de proporcionalidade (e não de maximocracia) na manifestação do princípio triádico. Maximocracia é querermos tudo ou de uma maneira muito desproporcional para nós. Se sua energia diminui ou aumenta mui­to, é necessário fazer feedback (ajustes) para manter determinado equilíbrio (saúde) em todos os níveis da circulação da energia ou da realidade.

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O ser humano, no que se refere à energia constituinte e reconstituinte, tem que cuidar do processo de sua geração e manutenção, sele­ cionando nos 14 subsistemas as principais entradas com boa qualidade, proporcionalidade e nos seus devidos tempos e ritmos. No que se refere à sua energia noônica ou cerebral, tem que estimular os três lados de seu cérebro dentro de parâmetros de harmonia e proporcionali­dade. Na sua energia relacional, precisa buscar um alguém que seja fonte de energia endorfínica para nós e para ele também de preferência, e necessita inse­rir-se nalgum grupo, subgrupo, entidade, instituição, para propiciar troca energética e ser e fazer parte no jogo do poder e saber. Na energia ergonominal (trabalho e dinheiro) há que se im­por um piso e um teto. Na energia teleológica ou universal, é fundamental man­ter sempre viva a esperança de um futuro promissor para cada um e para todos, em harmonia com o ecossistema. Para ter saúde autoconduzida, é preciso manter a propor­ cionalidade nestes diversos níveis da energia. É, portanto, fun­damental conquistar a possibilidade, isoladamente ou numa re­lação de entreajuda, de reconstruir e balancear esses níveis de energia pelos três principais processos mentais ou pelos 14 subsistemas. Em se conseguindo isso, atingem-se sensações ou experiências que se aproximam das metas absolutas, univer­sais: Paz, Amor, Êxtase, Orgasmo, Justiça, Ordem, Reinte­gração, Reunificação, Beatitude, Homeostase, Equilibração = Saúde.

12.3. Em busca do desatrelamento Estado e Igreja não têm qualquer interesse em que os oscilantes tenham autonomia mental, conquistem a posse de seu cére­bro, tenham bem-estar, saúde. Consideram-se tutores da huma­nidade e mantêm todo o mundo em estado mental infantil e de dependência. O autoconduzido tem de ter “cabeça própria”. Para isso, tem de desatrelar-se deles, primeiramente. Os heteroconduzidos sofreram recheio mental tão eficien­te que não apresentam capacidade crítica e cons­ ciência próprias. 12. Vida e morte: quem é o dono - 131


Em termos de saúde pública, existem várias distorções. Primeiro, o próprio Estado permite deteriorar o meio ecológico e não apresenta medidas marcantes e eficientes para, realmente, sanear a situação. Malária, esquistossomose, cha­gas, dengue, meningite novamente, Aids, desnutrição, ig­norância popular, desproporções de salários, rendas distorcidas pela manipulação do capital e do trabalho, monopólios, injusti­ças sociais etc. são resultados de um Estado que não assume atitude de interesse essencial e real com a proporcionalidade. Acontece que o sistema sanitário, dentro dos 14 subsistemas, pertence aos sistemas oscilantes (os sistemas político, econômico-financeiro e segurança são o subgrupo oficial). Os oscilantes, do ponto de vista econômico, não têm prioridade frente aos oficiais: “Se sobrar dinheiro, vai para lá.” Acontece que somente 35% dos municípios brasileiros (os maiores) têm, em escala relativa, água, esgoto, coleta de lixo, recursos bási­cos de saneamento, com real contribuição para a saúde preven­tiva e para a saúde global da população. O resto não tem. Isso mostra grande diferença de classes. As grandes cidades têm infraestrutura de saúde pública, mas as pequenas e as do campo não têm; os bairros ricos são privilegiados, ao contrário dos pobres; e os subgrupos oficiais têm tudo, os naturais e oscilantes, não. O serviço de defesa civil, muitas vezes, é apenas paliati­vo ou ornamento, porque o que realmente deveria acontecer era infraestrutura proporcional e harmônica, em todos os níveis, e o que se observa, regularmente, é expansão urbana sem plano-piloto, sem conhecimento geológico, sem reforma do so­lo urbano, com cinturões de favelas nos lugares preferidos pe­las enchentes, catástrofes, violência e sinistros de toda a espé­cie. Claro que não se precisa de defesa civil puramente ideoló­gica, sem poder de decisão independente, atrelada ao subgrupo oficial, como sempre tem sido até aqui. Faz-se necessária uma defesa da saúde pública globalizada, e não puramente setorial e das emergências, preocupada com saneamento e prevenção e com elementos dos três subgrupos, ajudando e supervisionando o poder vigente, ou de plantão. A Igreja se insinua também nessas lacunas e faz seus ser­viços de mutirões, de reconstruções, de entreajudas, de comu­nidades de base, ora prestando serviços de filantropia, ora de politização, ora de evangelização. De qualquer maneira, o problema para o indivíduo está em que tenha apego à vida, seja proprietário realmente de seu corpo, de sua psique, de seu equipamento biológico básico e possa pensar, viver, trabaManual de sobrevivência do ser humano - 132


lhar, amar, gozar sua vida e, sabendo-se finito, querer tornar sua existência maior e melhor. Diante dessa situação, o mais seguro seria você não ficar doen­te, ou com sua energia desproporcional, não precisar de serviços de saúde em geral. Isso é impossí­vel. Somos incompletos, inacabados, instáveis e estamos sem­pre interagindo com o meio e, portanto, precisamos de feedback, ajustes e reparos no nosso estado de saúde e condução. Cresce, ultimamente, um culto ao corpo (nas classe média alta e classe alta) através de mil métodos de ginásti­ca, de tipos de danças e de expressão corporal, de terapias, de aparelhos de massagem, de musculação, de fisioterapia que mais responde a uma necessidade estética do que de proporcionalidade e de saúde e de bem-estar integrado e global, embora contribuam generica­mente para isso. Este modismo, até certo ponto, orienta o ci­dadão para o fisiologismo, para uma espécie de sonegação do trabalho de aprimoramento psíquico e espiritual, também imprescindíveis, e somente alcançado através do cultivo pessoal, da consciência crítica, do conhecimento de si mesmo, do meio e da sociedade. É preciso fugir a essa alienação e procurar um desenvolvimento e aprimoramento que sejam globais e sem privilégio de somente uma dessas perspectivas. Por outro lado, as igrejas e religiões arrastam as pessoas para práticas ascéticas, esforços disciplinares de aperfeiçoa­mento e relações com o mundo espiritual que as isolam de si mesmas, alienando-as de seu próprio corpo, reprimindo suas necessidades básicas, desligando-as do processo político-econômico em que vivem, por reforçarem uma atitude exclusivista, pacífica, passiva. Assim, são ambos condenáveis — tanto o cultivo exagerado e materialista do corpo isoladamente, a burrice psicológica, a não participação política e social, quanto a fuga do mundo concreto, o repúdio e condenação do corpo e o incentivo a uma supos­ta e ingênua espiritualidade, promovidos e estimulados pelo Estado e a Igreja, respectivamente. O indivíduo, assim entregue sem consciência nas mãos da Igreja e do Estado, provavelmente será traído no seu corpo, no seu cérebro, na sua psique, na sua vida. Cada ser humano precisa ser crítico em relação a tudo isso. E, já que não se pode viver sem esses males (Estado civil e religioso), o remé­ dio é buscar autocondução, desatrelamento, refinamento do senso crítico e ações conjuntas e paralelas, com o maior grau de independência possível. Em outras palavras, continuar participando do jogo da circulação 12. Vida e morte: quem é o dono - 133


e uso da energia universal e dos poderes instituídos, mas sempre com a consciência desperta para os desvios, abusos e omissões nossos e deles. No que se refere à saúde, uma perspectiva de solução será: - Adquirir mais conhecimentos sobre farmácia, psicologia, as várias "medicinas" e sobre todos os tipos de serviços e profissionais da saúde, porque está cada vez menos fácil conseguir uma relação confiável. - Utilizar assessorias eficientes. - Aprender a discernir o profissional e os mé­todos de promoção, conservação da saúde e de tratamento das doenças e desequilíbrios energéticos em todos os níveis, que estejam dentro da proporcionalidade, que detenham bom-senso de justiça e não estejam exclusivamente mercantilizados. Com isso, cidadão algum precisa aceitar o autoritarismo absoluto do médico, do psicólogo, do padre, do pastor, do farmacêutico, do veterinário, do dentista, do guru, do pai-de-santo etc. Cada um, participando um pouco mais desses conhecimentos, poderá negociar, mais ou menos lucidamente, a condução e os recursos dessas propostas e profissionais. Em termos práticos pode-se resumir assim: Ter conhecimentos sistêmicos de seu corpo, de seu cérebro e dos diversos serviços de saúde e demais subsistemas, com seus profissionais e recursos (lado esquerdo do cérebro). Usar dieta alimentar correta, proporcional, global (nem só carnívora, nem só vegetariana); fazer jejuns, desintoxicações periódicas; e ter exercícios físicos regulares, com repouso disciplinado e lazer an­ tiestressante (lado central do cérebro). Praticar, diariamente, técnicas de relaxamento, nível alfa, situações de troca de afetividade efetiva, oportunidades de criatividade, momentos de estética e mística (religiosos ou não), para manter os níveis de energia e reprogramação de sua saúde, bem-estar, autodefesa, sucesso, amor, felicidade etc. (lado direito do cérebro). 12.4. Autocondução O ser humano está sendo decifrado todos os dias. A cada momento aparecem coisas novas. Autocondução de um ser humano quer dizer, inicialmente, negar todo o jogo já institucionalizado de dependência forManual de sobrevivência do ser humano - 134


mal frente aos poderosos do Estado e da Igreja e seus prolongamentos institucionais e pessoais, resgatando o poder de aprender e exercitar a circulação de sua própria energia, de suas relações com as outras pessoas e com o meio, segundo sua própria consciência e o direito de participar de um novo jogo, onde possa haver mais proporcionalidade e participação para todas as partes integrantes. Para aquele indivíduo heteroconduzido (isto é, cujo cérebro está dominado definitivamente por uma dessas ideologias: oficial, natural e oscilante), não há qualquer possibilidade de diálogo que aspire e promova transformação de um ou de ambos lados da relação. O jogo já está armado, incorporado, definido. Cada um já se tornou uma peça fixa, articulada do jogo da vida e da sobrevivência, onde todos estamos inseridos e onde se costuma identificar o aproveitador, a vítima, o crente, o defensor, o conciliador, o extremista, por uma de suas modalidades. "O espetáculo não pode parar". Nessa perspectiva salve-se (ou ao menos tente achar a porta de saída) ainda quem puder. Sabe-se que o interesse básico dos detentores do poder e do saber na sociedade humana está em investir, sempre e cada vez mais, nos cérebros humanos a eles submetidos, para se perpetuar a ideologia que lhes interessa, qual seja, a de manter o estado de gigantesca desproporção energética a seu favor e em detrimento do restante da humanidade. Uma das respostas, porém, que pode ser dada a essa situação custa pouco ou quase nada. Inicialmente, deixar de ser um eterno oscilante inconsciente, heteroconduzido, submetido, sem vontade própria. Ao invés de continuar somente reproduzindo, automaticamente e sem refletir, a ideologia de seu meio ambiente, cultura, país, urge começar a tentar criar sua própria sabedoria, suas próprias metas, seu próprio caminho, a partir da conscientização desse antigo e imenso jogo de manipulação da energia em todos os seus setores e níveis de manifestação. A proposta é deixar a posição de hétero e correr o risco de ser/estar autoconduzido; deixar de reproduzir ideologias inconscientemente e criar sua própria sabedoria; deixar de somente lutar com os desequilíbrios de seu mundo exterior e harmonizar-se com sua própria natureza interior; conquistar e manter a sua sobrevivência e interesses do seu próximo e de suas relações imediatas, inicialmente e depois em outros contextos e níveis, sem se vender somente aos interesses vigentes. Saber buscar os recursos necessários e, dependendo de cada indivíduo, negociar — com um ou com todos os representantes de cada 12. Vida e morte: quem é o dono - 135


grupo, conforme sua consciência, vontade e intenção — a forma de gerar sua própria energia em relação a si, na relação com os outros e com o meio ambiente. Cada indivíduo deve entender que, na expressão da dominância e proporcionalidade de suas três funções mentais (racional, intuitiva e prática), reside sua maneira de interpretar a realidade (cosmovisão) e a incorporação do tipo de desproporção energética de que mais provavelmente será vítima (programação mental). Do equilíbrio harmônico e proporcional dessas três funções mentais, nasce a possibilidade de manter ou conseguir recuperar sua saúde e sua trajetória humana e ser dono de sua própria vida. O cérebro humano percebe e interpreta a realidade segundo a predominância de um de seus três lados, com uma oposição dos outros dois lados, num processo dialético ou trialético interminável de entendimento dessa mesma realidade. Com a posição dominante de um deles e submissão dos outros dois, define-se determinado tipo de visão, personalidade, padrão de comportamento, que orienta, consciente ou inconscientemente, o indivíduo no jogo da vida. Os detentores do poder e do saber controlam e possuem mecanismos impostos e mantidos ao longo dos tempos para manter os cérebros humanos encaixados num processo social maya, ou a vida se processa inconsciente, articulada, sem autoconsciência e defendida através de valores, princípios, normas, inculcados e cobrados desde o nascimento pela família, escola, religião, mídia, meio social de nossa nação e de todo o planeta. Através do entendimento do jogo triádico de seu cérebro, do jogo triádico do cérebro de seu próximo e do jogo triádico do cérebro de cada um dos representantes dos três subgrupos do poder e saber, que estão sempre em dinâmico e interdependente conflito, é que nasce a possibilidade de você deixar de ser somente um participante cego de seu destino e de sua programação genética e poder ser um jogador consciente. Um jogador consciente é aquele que conhece as regras do jogo, as penalidades, os truques, os desvios e procura jogar dentro de parâmetros de proporcionalidade e harmonia consigo mesmo, com o outro, com o ambiente, em qualquer cenário, tempo, espaço, e com quaisquer personagens. Uma das saídas, portanto, é cada pessoa trabalhar para a construção de relações proporcionais e harmônicas entre os seus três processos mentais, e não privilegiar um em detrimento dos outros dois e muito menos permitir a exclusão sumária de qualquer um deles e usar a mesma orientação com o próximo e com o meio ambiente. Manual de sobrevivência do ser humano - 136


Nenhum de nós, porém, como indivíduo ou instituição, isoladamente, pode ou consegue sair do jogo sem pagar um preço, muitas vezes doloroso, e precisamos formar grupos de discussão e de luta desde o âmbito da família até o planetário. Para isso é fundamental: Divulgar um mínimo necessário de conhecimentos e informações que possam conter propostas que possam atender a todos, de modo que, de uma maneira conjunta, adulta, participativa, todos juntos possam construir a verdade, o conhecimento, a realidade e mesmo a felicidade do ser humano contemporâneo. Esse processo pode e deve começar pela escola primária, secundária, universitária, passando pelos diversos subgrupos dentro da sociedade, como igrejas, sindicatos, clubes e outras instituições interessadas. Estabelecer programas de cultivo do ser humano para indivíduos ou para pequenos subgrupos com ênfase no autoconhecimento, na autocondução e na busca de um ser/estar global. Facilitar local, material, agendas, personagens que possam esclarecer o autocultivo do ser humano, possibilitando que aqueles ainda menos favorecidos tenham um mínimo de oportunidades de crescimento pessoal, profissional, social, teleológico. Convencer pessoas, subgrupos, instituições a assumir a liderança desse processo em seus ambientes (os professores primários, os de biologia, os de sociologia, os de comunicação). Atrair para essa meta elementos do Ministério da Educação, dos demais ministérios, dos órgãos de Preservação do Meio Ambiente na esfera internacional, federal, estadual, municipal. Lutar por legislação nos diversos níveis do poder civil e religioso. Organizar, debater, convencer.

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13. Saúde global do ser humano - Se tivermos visão mais abrangente de nosso ser/estar geral, podemos facili­tar em muito nossa autocondução, que é o objetivo principal da nossa tarefa educadora do ser humano.

Bem ser/estar geral (saúde) significa equilíbrio ou harmonia do sistema energético do homem ou da mulher. Esse ser/estar ge­ral pode ser avaliado, medido, programado de acordo com algum instrumento ou qua­dro de referência. Conforme já foi dito, o Manual de sobrevivência do ser humano utiliza como quadro de referência a “Teoria da Organização Humana — os 14 subsistemas”, do Professor Antônio Rubbo Muller. Cada um de nós pode aprender a pensar a si mesmo, suas condições, sua própria vida nos 14 sistemas. Isso reflete perspectiva mais global, mais ampla, holística. Se tivermos visão mais abrangente de nosso ser/estar geral, podemos facili­ tar em muito nossa autocondução, que é o objetivo principal da nossa tarefa educadora do ser humano. O sistema sanitário fornece saídas (outputs) para os demais sistemas e recebe deles entradas (inputs). Eles são para-autônomos, são interdependentes, e, portanto, qualquer pessoa tem intercâmbio de inputs e outputs entre todos eles. Vamos examinar a questão da saúde global, usando o subsistema sanitário como eixo, intercambiando, ou seja, dando outputs e recebendo inputs dos outros 13 subsistemas. O esquema serve para ajudar o indivíduo a ter instrumento, recurso, técnica, roteiro para planejar sua saúde e conduzi-la com cada vez maior autonomia. Serve também para poder levantar dados e dialogar com seu assessor de saúde, quando necessário. Tomemos como eixo ou como centro o subsistema sanitário e vamos ver quais são os itens, em cada um dos 13 sistemas, que mereceriam algum tipo de planejamento. Teremos a preocupação de somente listar alguns conceitos e algumas palavras-chave. Cada pessoa, depois, pode ir acrescentando, aumentando, formatando a seu próprio critério e segundo suas necessidades. Os especialistas em cada área específica podem selecionar o que lhes interessa, adaptá-lo às suas necessidades e aprofundá-lo devidamente. Queremos somente traçar um roteiro e levantar algumas considerações para cada um pensar em metas que preservem seu bem13. Saúde global do ser humano - 139


estar global e a busca de sua felicidade. Isso implica conhecer e pensar seu subsistema sanitário e suas interrelações com os demais 13 subsistemas. 13.1. Componentes operacionais do sistema sanitário Vamos, inicialmente, conhecer o sistema sanitário. Cada sistema tem: espaço onde funciona; cronologia, horários, períodos, ciclos; personagens — prestadios, que são os profissionais de saúde, e os usuários, que são os que bus­cam esses serviços; e procedimentos, que são as entrevistas, os diagnósticos, os tratamentos, os medicamentos, os exames, as crenças a respeito desse tema etc. Espaço — No que se refere ao espaço, cada pessoa deve conhecer as características de sua região, de sua comunidade quanto ao clima, água, sol, ecossistema, para saber em que condições se encontra em termos de poluição, de saneamento básico, de endemias, de epidemias etc. É bom conhecer um pouco de medicina e higiene vegetal e animal, porque se con­vive em ambientes onde transitam plantas, animais domésticos, de estimação, selvagens etc. Cronologia - Em termos de ciclos, o mínimo que se deve pensar são as estações do ano e a idade das pessoas, porque elas variam e propiciam determinados efeitos sobre a saúde global e individual. Há que prestar atenção a outros ciclos: períodos de visita ao médico, dentista, fisioterapeuta; ciclos e horários de cada sistema (alimentação, banho, descanso, traba­lho etc.); e ciclos e horários de hospitais e seus profissionais. Em termos de cronologia, é preciso você conhecer o seu ancestral sanitário: como são ou foram seu pai, mãe, avós, na saúde físi­ca e mental, e quais são as possibilidades ou tendências de en­fermidades hereditárias e predisposições genéticas. É bom co­nhecer sua árvore genealógica para poder fazer uma futurição e tentar se proteger a tempo. Personagens — Em termos de personagens prestadias, é preciso conhecer, nos três tipos de proposta de cura, quais são os melhores profissionais. Em todas as áreas do conhecimento humano e nas profissões existem sempre os melhores, os bons, os medíocres. Em se tratando de saúde, somente servem os me­lhores. É bom, portanto, levantar o nome dos melhores médi­cos alopatas, dos melhores psicólogos, psiquiatras, dentistas, fisioterapeutas etc. Ter seus nomes nas cardenetas de endere­ ços e discutir nas rodas de amizade, cruzando informações e ti­rando conclusões. O mesmo se faz com os homeopatas, acu­puntores, naturistas, Manual de sobrevivência do ser humano - 140


porque você pode ter de recorrer a eles, eventualmente. Na medicina popular você deve saber distinguir o que pode fazer um guru, um paide-santo, uma benzedeira, um raizeiro. É interessante conhecê-los, saber o trabalho que fazem, saber quem são. Também conhecer os padres, os médiuns, os pastores, os líderes religiosos que realizam as chamadas curas espirituais, os que fazem orações, preces, movimentos carismáticos, exorcismos etc. Procedimentos — No que se refere aos procedimentos, você precisa conhecer um mínimo de medidas de prevenção — cuidados corporais básicos, medidas de higiene de seu corpo e de sua casa, o cuidado com os contatos, enfim, a prevenção básica de sua saúde. Em seguida, precisa conhecer a tecnologia de cura disponível em sua comunidade, em sua região e em outros centros do planeta. Em termos de linguagem, é bom conhecer um pouco de grego ou de latim para decifrar nomes de exames ou de doenças e tratamentos. Na verdade, as gramáticas portuguesas de hoje trazem uns cinquenta prefixos e sufixos gregos e latinos que nos fazem entender a etimologia de termos médicos. Nefrite: inflamação dos rins, do grego nefron – rins. Rinite: inflamação do nariz, de rhinus – nariz. Hidroterapia: tratamento pela água, de duas palavras gregas etc. Em termos de princípios de saúde ou de cura, é preciso que cada um seja autônomo e consiga aderir pouco a pouco às bases científicas da explicação das enfermidades, seja por vírus, seja por micróbios, seja por desequilíbrios energéticos etc. É preciso reinterpretar as explicações antigas do tempo em que todo conhecimento humano era dado só pelo lado direito do cérebro humano (por alfa, por intuição, por mitologia espiritualista, por "revelação" em alfa etc.). É importante para a autocondução da saúde que o indivíduo se sinta íntimo da estrutura energética do universo e de seu corpo, baseando-se na ciência moderna, e não em mitos religiosos, que tornam o indivíduo dependente de feiticeiros, bruxos e charlatães. Em termos de resultados e sanções, é preciso ser um pouco mais realista e saber o que se pode esperar de cada tipo de tratamento, segundo o estado de gravidade de cada tipo de afecção. É preciso entender e preparar-se para as complicações. O risco em matéria de saúde (como no trânsito) parece ser uma coisa que os brasileiros, especialmente, não descobriram ainda. Algumas pessoas fazem com extrema facilidade uma cirurgia plástica de seios, de abdômen, uma lipoaspiração, sem entender que se submetem a um ato muito perigoso, que se perturba toda uma es13. Saúde global do ser humano - 141


trutura da natureza construída através dos bilhões de anos de evolução, e é preciso, em muitos casos, respeitar toda essa construção com maior critério. É preciso prestar atenção à questão dos riscos e complicações desses atos, antes de praticá-los. De nada serve, depois, imputá-los, isoladamente, ao método ou ao profissional. No que se refere à cosmovisão, é preciso acabar com os tabus e as superstições ou com as atitudes de vexame, pudor ou vergonha com algumas partes do corpo. A saúde depende de todas as partes do corpo, e todas elas são igualmente nobres. É preciso melhorar nossa imagem do corpo, do físico, porque não existem doenças nobres e doenças sujas. O que existe é desequilíbrio energético que se manifesta de um lado ou de outro, e é preciso assumir isso com carinho. O conhecimento do problema do estresse e da debilitação geral do sistema energético humano é algo importante para as pessoas vigiarem e não ficarem muito vulneráveis. Sabe-se que uma predisposição psicológica para a enfermidade atrai desequilíbrio, doença. Uma predisposição psicológica positiva para ser firme, sadio, forte atrai saúde. É possível fazer essa programação mental anatrópica no processo de autocondução. 13.2. Sistema sanitário versus demais subsistemas Delineados os aspectos gerais do subsistema sanitário, vamos ver como é que a sua saúde deve ser repensada, cons­cientizada, conduzida em alguns aspectos específicos de cada um dos demais 13 subsistemas. S1 — SAÚDE NO SUBSISTEMA PARENTESCO Primeiro, a questão da endogamia ou dos casamentos entre parentes. Conhecem-se as consequências funestas, os filhos defeituosos, a perpetuação de doenças familiares, hereditárias. A eugenia (melhoria genética, racial) é uma questão de consciência de cada um. Pode-se uti­lizar o aconselhamento genético e tomar medidas preventivas para não aumentar esses casos. A anticoncepção ou controle da natalidade, que nor­malmente o Estado e a Igreja assumem, determinando suas re­gras, devem também ser assumidos com consciência e responsa­bilidade pelas próprias pessoas, dentro de alguns critérios de amor e respeito à vida, de possibilidade de Manual de sobrevivência do ser humano - 142


reproduzir vida de­centemente, em situações viáveis e com probabilidades de compensação e êxito. A homossexualidade tem implicações psicológicas e sociais e pressupõe a busca de ajustamento frente à censura social. A educação sexual para todas as idades é essencial para o bom interrelacionamento e para evitar doenças. Os aspectos recessivos de cor podem também causar muitos problemas. Numa sociedade miscigenada como a nossa, os casais podem ter filhos que não “puxam” os pais. Pela cultura popular, todo mundo acha que os filhos devem parecer-se com os pais quanto à cor da pele, tipo de cabelo, cor de olhos etc. Os filhos, no entanto, podem ter as ca­racterísticas de duas ou três gerações anteriores. S2 — SAÚDE NO SUBSISTEMA SANITÁRIO Saúde no subsistema Sanitário refere-se ao conjunto de componentes relacionados com a conservação, a prevenção e o restabelecimento da saúde. Em sentido mais amplo, envolve medicina, odontologia, higiene etc. Para produzir e manter a biose, devemos utilizar o melhor medicamento, o melhor método de cura, os melhores profissionais, as melhores condições de higiene, de saneamento etc. Programar-se para não ficar doente. Prevenir-se contra enfermidades, contra acidentes. Aprender um pouco de Medicina Alternativa, Popular. Sair um pouco da Medicina Oficial. Tomar menos remédio e fazer mais exercícios, ginástica. Aprender a respirar melhor. Aprender a dormir as horas necessárias. Manter horários e rotinas normais de vida. Valorizar o seu corpo e todas as partes dele. Aceitar a morte. Autorizar-se a morrer, onde, quando e como acontecer, para perder o medo. Aprender técnicas de relaxamento de nível alfa. Usar a vida para fins de libertação, luta, transformação pessoal e social. Conheço as doenças infantis mais comuns? As doenças hereditárias da família? Quais são os tipos principais de tratamento caseiro? A quem recorrer quando adoecer? Qual o estado de minha saúde atual? E a minha visão? E a minha audição? Dentição? Estou fazendo algum tratamento ou tomando algum remédio? Defeitos físicos? Sofro de alguma doença específica — hipertensão, diabetes mellitus, depressão? Medo da morte? Tenho água encanada? Esgoto? Energia elétrica? Iluminação pública? Coleta de lixo pela Prefeitura? Cursos para gestante? Educação 13. Saúde global do ser humano - 143


para a saúde preventiva? Quanto gasto por mês com médico, remédio, dentista, artigos para higiene e limpeza? Quais as fontes de poluição que me afetam? Tenho ambulatório público próximo? Posto de saúde? Farmácia? Ambulância? Hospitais? Qual a duração média de vida das pessoas na minha comunidade? Tenho algum plano de saúde? Sou refém do sistema público de saúde? Posso pagar a medicina oficial, se adoecer? S3 — SAÚDE NO SUBSISTEMA MANUTENÇÃO Quais são os aspectos que precisam ser planejados, direcionados, autoconduzidos para garantir a saúde no tocante a ali­mento, bebida, vestuário, sono etc? Material de enfermagem caseira — tenha seus materiais, medicamentos, ins­trumentos que devem ser mantidos em lugar seguro e longe do alcance das crianças. Conhecimento de técnicas de primeiros-socorros. Conhecimento sobre nutrição (carnívora, naturalista, macrobiótica) e os efeitos dos excessos de refrigerantes, açúca­res, sais industrializados, álcool etc. É recomendável ter noção de dietas, calorias, valor de nutrientes e sua necessária proporcionalidade, para não se embarcar em dietas fáceis e da moda e vir a ter proble­mas depois. A saúde é também muito afetada no subsistema manu­tenção pelo fumo e pelas drogas, nos quais, evidentemente, ninguém entra intencionalmente. Começa-se distraidamente e depois fica-se fisgado. É importante, também, planejar sua higiene pessoal, a de sua ca­sa, a de seu meio ambiente e observar itens essenciais como água, luz, ventilação, vestuário. A moda não segue considerações de saúde, e sim de mercado. Cada pes­soa deve saber o que quer usar e criar sua moda de acordo com sua idade, clima, estação, época, suas condições de estatu­ra, postura, peso, rosto, cores que mais o estimulam. É sensato se vestir de acordo com um critério prioritário de saúde e de elegância pessoal, e não de moda. Que tal nos “desamericanizarmos” e nos “deseuropeizarmos” na comida, nos hamburgues, no vestuário, nos graphittes (camisas com dizeres em língua estrangeira), na música! Essas tendências influenciam diretamente o cérebro reptílico e perpetuam formas de colonização e de submissão. Temos nossas frutas, sucos, bebidas, guaranás e estamos consumindo coca-cola, seven-ups e outros produtos importados, alienando nosso Manual de sobrevivência do ser humano - 144


próprio estômago. Alguns se orgulham de consumir tudo do estrangeiro, valorizando e endeusando suas marcas e hábitos, mas estamos deixando o que é nacional, tradicional, de nosso clima, de nossa cultura. E as medidas higiênicas com o sono ? Pesquise. S4 — SAÚDE NO SUBSISTEMA LEALDADE Para se desfrutar saúde, bem-estar global, mais vida, é fundamental conhecer e regular nossa maneira de viver a afetividade, o amor, a amizade, o relacionamento interpessoal. Na prática, temos companhias que são saudáveis, ou­tras que não são. Os lugares públicos são uns mais seguros, outros menos seguros e com maior probabilidade de contágio de doenças coletivas etc. Dizem que ninguém morre de "amor", mas se mata muito "por amor". Assim, existem muitos crimes passionais ou mui­tas pessoas perdendo a vida por se relacionar com pessoas que se descontrolam e atentam contra a própria vida ou a de outrem. A pessoa amada desencadeia a produção de endorfina em nosso organismo. O excesso de amor gera dependência, vício. A falta, a perda ou a morte de alguém amado podem gerar de­pressão, desespero, busca de compensações como dro­gas, velocidade, agressividade e outras. Cuidado com aquelas pessoas que não sabem ou suportam serem abandonadas quando do término de um relacionamento amoroso. Em caso de doenças graves, seria importante praticar a quarentena e o isolamento. Não interessa se é com seu pai, mãe, esposo, esposa, ou se amamos ou não. Deve-se entregar a condução daquele ser humano em grave desproporção energética a quem tenha conhecimento, consciência e recursos para fazê-lo, sem pôr em risco a saúde de todos. O amor, fora de seu contorno, gera loucura, demência. Os sinais de amizade, como o cumprimento com abraço, beijos etc., devem estar subordinados a critérios sanitários, já que a amizade pode ter outras formas para sua demonstração. S5 — SAÚDE NO SUBSISTEMA LAZER É preciso saber o tipo de entretenimento que a pessoa procura. Ginástica, dança, natação, montanhismo, exercícios físicos, jogos, barzinho, boate e inúmeras outras modalidades trazem, cada uma, riscos inerentes à sua prá­tica. 13. Saúde global do ser humano - 145


A prática do sexo como esporte, pela sua alta rotativida­de, leva hoje a riscos sérios, sendo o mais comum o das doenças venéreas e, mais recentemente, o da Aids. A hipnose, a letargia, os shows também são pra­ticados como esporte ou espetáculo, demonstrando fenômenos parapsicológicos. As pessoas sensatas não vão se submeter a isso, porque constitui risco desnecessário. Cada um deve praticar o lazer para melhorar sua saúde, seu bemestar, seu prazer de viver, e não para pôr em risco sua integridade. A erotização das relações sociais através da mídia, incitando indiscriminadamente a prática sexual sem qualquer envolvimento ou compromisso, tem, evidentemente, objetivado a manipulação da população e a privação da capacidade do ser humano de participar de experiências mais sensíveis, onde a sexualidade anda unida à afetividade, ao desejo de co­municação mais significativa e à busca de união mística mais ampla com os arcanos do ser. Portanto sua saúde psicológica é afetada quando se obedece a esses incitamentos feitos pela TV e publicidade em geral, sem crítica, sem discernimento. Na educação física, os movimentos e os graus de esforço exigidos devem estar adequados à idade, ao sexo, às condições físicas etc. Todo mundo parece que está treinando para cam­peão olímpico, quando essas práticas deviam ser para o gozo de seu corpo, e não para exauri-lo na tentativa de ser um vencedor. Se você for, casualmente, campeão, pa­rabéns! Não se deixe, porém, sacrificar precocemente: evite envelhecimento prematuro. O excesso de lazer (o ócio) gera vícios e degradação, e a falta dele (excesso de ocupação), o estresse. S6 — SAÚDE NO SUBSISTEMA VIÁRIO S6.1 – SAÚDE NO SUBSISTEMA VIÁRIO-TRANSPORTE Saber andar nas nossas ruas, que cada dia são mais violentas, menos seguras. Se for motorista, não bas­ta dirigir bem, aprenda a dirigir defensivamente, porque no trânsito também existem o jogo triádico e a maximocracia: a com­petição desleal e o desrespeito às diferenças são comuns. Se você for viajar para climas mais altos ou mais baixos, mais frios ou mais quentes, tome as providências necessárias pela leitura das instruções adequadas dos guias de turismo ou das autoridades competentes no que se refere a vestuário, ali­mentação, acomodações, transporte etc. Manual de sobrevivência do ser humano - 146


Se você tiver de transportar doentes ou acidentados, saiba de antemão os meios e os cuidados necessários para aquela eventualidade. Não se esqueça de que, às vezes, a mobilização prematura e indevida de um politraumatizado pode custar-lhe a vida ou sequelas irreparáveis. É bom ter um mínimo de conhe­cimentos de emergência, de reanimação cardiorrespiratória, de cuidados e tratamento de pessoas submetidas a choque elétrico, raios, envenenamentos, queimaduras etc. S6.2 — SAÚDE NO SUBSISTEMA VIÁRIO-COMUNICAÇÃO (verbal e não-verbal) O planejamento para desenvolver a comunicação é impor­tante, porque a repressão (introversão) retém, represa os efei­tos do estresse e dos problemas do dia a dia e impede a catarse. Planeje um jeito de fazer essa extroversão por várias maneiras: dançando, cantando, esmurrando um saco de areia, gritando etc. É preciso defender-se da agressividade da imprensa, da televisão, dos filmes enlatados, que invadem nossos lares todos os dias. Isso “faz” nossa cabeça, porque afeta o lado direito de nosso cérebro e penetra sem resistência. Não se tem defesa, resistência ou bom-senso crítico contra aquilo que vem por cor, som e movimento. Não se deixe impressionar muito pelos relatórios das doenças de seus amigos ou vizinhos, porque existem pessoas que valorizam sua doença como um meio para se impor, para impressionar ou para chamar a atenção. Acabam, porém, aba­lando nossa segurança e alterando nosso prazer de viver. Quanto menos pensar ou ouvir falar em doença, tanto melhor. Faça higiene verbal. Preste atenção ao que se chama, mo­dernamente, de neurolinguística. Transforme seu vocabulário diário do não para o sim, passe das avaliações negativas para as positivas. Faça sempre comunicação positiva, repita pala­vras, frases, fórmulas de saúde. Observe se sua linguagem re­presenta mais a forma (visual), os sons (auditiva), a ação (o ta­to, o olfato, o gosto). Exercite-se em passar de um para o outro e equilibre seu cérebro triádico nas formas de comunicação. A linguagem brasileira e portuguesa é de soldadesca ro­mana, de populacho, de gente submetida. Seria preciso, para a autocondução e para não se sentir submisso, colonizado, es­cravo, uma reformulação da linguagem, a começar pelo “sim, se­nhor”, pelos tratamentos superlativos (V. Excia., V. Revma.), pelo "muito obrigado” de sujeição e outras palavras que denotam o pequeno, o colonizado, o submetido, o subordinado, o humilhado. 13. Saúde global do ser humano - 147


Muitas partes do corpo são usadas como palavrões. Isso debilita a autoimagem, a autoestima. Seria bom reformular esses termos, trocandoos por outras palavras menos ofensivas. A ridicularização de certas partes do corpo, evidentemente, deve ser modificada ou suprimida e fazerse a valorização com amorização. Enfim, precisa-se de urna terapia da língua, da comunicação, para que se adquira nova atitude, nova imagem em frente ao nosso corpo, à nossa saúde e a todos os atos da vida. S7 — SAÚDE NO SUBSISTEMA PEDAGÓGICO Que deveria salientar a educação? Diz respeito principalmente à capacidade mental de aprendizagem e adaptação para a sobrevivência. É preciso dar a cada um a capacidade de planejar, regular a busca do saber sem cair em estresse ou estafa, sem criar complexo de burro ou de gênio maluco. É preciso que o desenvolvimento mental e seu consequente amadurecimento venham como coisa normal, com esforço não excessivo. Na escola, por esta pertencer aos subgrupos oficiais, se aprendem muitas ideias erradas a respeito da vida, de si mes­mo, das pessoas, do amor, da saúde, “garantidas” pela ciência ou pela religião. Se não houver espírito crítico, a ideologia se implanta e o submete, fazendo-o crer que tudo aquilo que aprendeu é o correto, é a verdade. A precocidade da aprendizagem deve ser evitada, porque não há nenhuma vantagem no aprender fora do ritmo e do tem­po correto. A precocidade intelectual é mais vantajosa para os pais ou responsáveis do que para as crianças, porque leva a ostentar o filho como um troféu. Muitas vezes o filho é forçado a assumir funções que não estão de acordo com o desenvolvimento ou maturidade de seu sistema nervoso. De modo geral, é a higiene mental que tem de se manter, num grau de esforço proporcional à sua idade e às suas possi­bilidades, somada a senso crítico ou atitude de desconfiança em frente à Bíblia e manuais de ciência, que são as máscaras preferidas pelos dominadores. Aprender a usar os três lados do cérebro, em nível beta e em nível alfa, traz garantia de saúde mental. S8 — SAÚDE NO SUBSISTEMA PATRIMONIAL É questão de pobreza ou de ter meios para manter a saú­de. De qualquer maneira e com os meios disponíveis, a saúde deve ser mantida Manual de sobrevivência do ser humano - 148


e deve ter prioridade na aplicação do dinheiro (o que não se gasta em comida, lazer etc. gasta-se em farmá­cia, muitas vezes). Existem muitos programas de assistência à saúde (pre­vidência, convênios, seguros, associações etc.). Convém examinar bem a sua validade real e as circunstâncias em que são válidos ou melhor utilizados, porque são sempre empresas que visam ao máximo de lucro, com o mínimo de serviços. A medicina brasileira domina tecnologias muito avança­das (transplantes, microcirurgia, inseminação artificial etc.) e, ao mesmo tempo, não resolveu as verminoses, a dengue, a malária, a esquistossomose, a doença de chagas. O capitalismo, forçando todos a se arrebentar por causa do dinheiro, é manei­ra de eliminar mais cedo os concorrentes mais fracos. Assim, não sacrifique seu direito à vida, ao bem-estar, à paz e ao gozo modesto atrás de uma “iscação”, de uma ilusão de riqueza e de acumulação sem limites. É este um dos grandes fatores de de­sequilíbrio ou de frustração, com as degenerações decorrentes. Saúde é um direito, com dinheiro ou sem ele. O dinheiro serve à saúde, e não esta ao dinheiro, à Previdência, ao PNB. S9 — SAÚDE NO SUBSISTEMA PRODUÇÃO No planejamento de sua saúde global, você deve ter esco­Ihido a profissão adequada à sua idade, compensadora. O tra­balho é uma maneira de se realizar, de ganhar a subsistência e de contribuir para a sociedade. Não é lugar para se martirizar, se contrariar, se estressar todos os dias. Há aqueles que têm a síndrome da segunda-feira, ou que vão para o trabalho como quem vai para o matadouro, com de­corrente baixa de energia. Deve-se, também, planejar a sua segurança no trabalho, não sendo displicente. Evite acidentes, poluição, ruído, conta­minação. Preste atenção às acelerações de ritmo impostas, que, às vezes, ultrapassam suas possibilidades e sacrificam demais sua energia, sem real retorno de vantagens. Cada profissão traz, inerente à sua escolha, riscos e doenças que lhe são típicas. É preciso conhecê-las e tentar eli­miná-las ou procurar evitá-las ao máximo. Trabalho não mata ninguém, a não ser que a pessoa faça dele um sucedâneo ou faça dele o estímulo principal de sua vi­da por falta de amor ou de sentido para viver. Nesse caso, pode estar entregando o sentido 13. Saúde global do ser humano - 149


de sua vida e sua saúde ao trabalho e aos administradores, patrões e governantes. Evite atrelar-se à ideologia do trabalho, da imolação sem fim, porque essa é retórica das classes dominantes. S10 — SAÚDE NO SUBSISTEMA RELIGIOSO O sistema religioso tem muita presença na saúde em função dos mitos a respeito da concepção, da vida, da alma ou de sua origem e por causa dos ritos de passagem (sacramentos) e do ciclo final — morte, ressurreição, transformação, pecado, punição etc. Escolha, de preferência, religião que não seja ameaçadora à sua vida presente e futura, que não exija sacrifícios à sua saúde, que não crie neuroses e não diminua seu amor a si mesmo ou à vida, ao exigir sacrifícios desnecessários. A maioria das religiões tenta submeter você e sua psique aos líderes ou às pessoas que as dirigem. Você pode participar de qualquer seita religiosa, desde que se mantenha crítico, com os pés no chão, e não entregue totalmente sua cabeça. Mantenha bom grau de independência. Utilize os serviços de comunhão interpessoal e busque sempre, também, sua própria espiritualidade. Ela consiste na busca da mística e da união com o universo, com todos os ní­veis da energia e com todos os possíveis seres, através da ci­clagem reduzida do cérebro. A manutenção desse tipo de espi­ritualidade é fator fundamental de saúde, porque diminui ou elimina o pânico do niilismo, do medo de acabar no nada, do terrorismo espiritual (pecado, inferno, deus castigador), da mi­tologia religiosa europeia. S11 — SAÚDE NO SUBSISTEMA SEGURANÇA Basicamente, é bom você ser pessoa pacífica (nem agres­siva, nem medrosa ou covarde). Não precisa ser segura, porque isso é impossível e constitui mais uma ideologia. Seria bom que pudesse planejar e executar medidas de autodefesa e não abusasse dos horários noturnos. Escolher os lugares que frequenta e ter sua casa mais ou menos equipada com trancas, chaves, alarmes ou outros instrumentos de proteção. No caso de ser vítima de um assaltante, é bom saber como se comportar: procurar dominar a surpresa para não reagir violen­tamente e pôr em risco sua vida. Frente a um assaltante, aprenda a negociar, pro­cure ter “cabeçafria”, desprenda-se das coisas materiais e salve sua existência. Apesar Manual de sobrevivência do ser humano - 150


de toda a violência da sociedade atual, procure não ser mais um jogador violento. Seja pacífico. Ame, respeite e seja tolerante com a vida. Uma disposição interior de aceitar a morte, onde, quando e como for, pode dar muita tranquilidade. S12 — SAÚDE NO SUBSISTEMA POLÍTICO-ADMINISTRATIVO Trata-se, principalmente, de ter limpeza no meio ambien­te, saúde pública, garantir que se possa morar num lugar que tenha condições mínimas de saneamento básico — água, luz, esgoto, coleta de lixo, calçamento etc. Deixar de ser oscilante politicamente e estar engajado em alguma iniciativa de coope­ração ou transformação social pode compensar as contrarieda­des diárias com que os governantes atormentam os cidadãos. No nível individual, trata-se de ter “jogo de cintura” ou não ser cabeça-dura, ou oito ou oitenta. Entender que em toda situação da vida existem três subgrupos ou três perspectivas de visão da realidade ou da verdade. Entender seu posiciona­mento e o dos demais e saber negociar defendendo sua parte, procurando entender a dos outros. Ser cidadão passivo é doen­tio. Alienação mata de fome mental e física. É melhor ser atuante, mas com objetivo, metas e equilíbrio. S13 — SAÚDE NO SUBSISTEMA JURÍDICO Conheça seus direitos sobre saúde. Mantenha regulares seus documentos a respeito de seguros, planos etc. Saiba dos riscos que corre quan­do participar de muitas práticas de saúde, atualmente ilegais, como aborto, eutanásia etc. Somente a medicina alopática é legalizada. Em caso de morte ou de enfermidade terminal, saiba re­correr, a tempo, aos órgãos e instituições apropriados e provi­dencie testamento, atestado de óbito, exames periciais. Cuidado com o charlatanismo, com os erros médicos, com as injustiças. Saiba seus direitos para defender-se, não ser tortura­do, ser tratado no INSS com papéis ou não. Negocie sempre.

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S14 — SAÚDE NO SUBSISTEMA PRECEDÊNCIA Decorre do cruzamento das necessidades naturais e reais da pessoa com as necessidades de status social. Existem mil propostas de tratamento de saúde, plásticas, dietas, ginásticas, cosméticos etc, e é preciso tratar delas com certa desconfiança, com certo senso crítico, porque podem tra­zer algumas consequências sérias à sua saúde e bem-estar. É bom saber, sempre, em que momento e dosagem e se é possível fazer isso ou aquilo para satisfazer vaidades ou status, sem maiores efeitos negativos sobre a saúde. As festas que se fazem para comemorar a vida (nascimen­to, quinze anos, cinquenta, oitenta etc.) devem ser trabalhadas com todo o seu significado, e não tanto como ostentação de lu­xo, de consumo, o que geralmente ocorre nessas ocasiões. Evidentemente, também é bom homenagear os falecidos. Mas é completamente insalubre curtir a morte, os funerais, ins­talar-se na viuvez, na orfandade. É preciso aprender a aceitar a morte, considerá-la com normalidade e prosseguir na vida. Ame a vida, e esta o amará. 13.3 Metas da saúde global Com o esquema anterior, uma perspectiva de análise da saú­de de qualquer pessoa, grupo, comunidade está à sua frente, e pode recorrer a ela, diariamente, semanalmente, mensalmente, para fazer seu replanejamento (autocheck-up) e definir rumos, metas, tendências de direcionamento de sua energia. É recomendável que as escolas e autoridades educacionais e órgãos do sistema sanitário fossem, inclusive, veículos de educação e assessoria desse tipo de saúde. O levantamento do estado geral da saúde global de um ser humano pode ser feito por esse esquema, inclusive nas anamneses dos profissionais de saúde das três medicinas. O doente está nos 14 subsistemas. A doença está nos manuais de medicina. Este instrumento serve para replanejar e redirecionar os diversos serviços de saúde. A Organização Mundial de Saúde (OMS) diz que saúde é o estado de completo bem-estar físico, psíquico e social dos indivíduos e das Manual de sobrevivência do ser humano - 152


instituições, e não apenas a ausência de afecção ou doença. Para que isso fique mais claro, é preciso relacionar o estado do indivíduo, dentro de seu grupo e de sua estrutura social, nos 14 subsistemas. Além disso, para que o planejamento de saúde seja global e se torne realidade na vida pessoal de cada dia, a pessoa tem de estabelecer suas necessidades e metas, primeiro no subsistema de saúde e, depois, em cada um dos 13 subsistemas. Todos fomos marcados pela programação energética, familiar-matriarcal, cultural e escatológica de nosso país e planeta. Urge fazer uma reprogramação mental. Descobrir ou redescobrir nosso cérebro. Demitizar uma porção de atitudes mentais. Identificar quem programou nosso cérebro, qual a programação, quais os reflexos operativos. Façamos uma autorreprogramação de nossas metas de vida, de nossos comportamentos, buscando êxito nos diversos campos da vida e corrigindo distorções e fracassos em algumas áreas dela. Primeiramente é preciso identificar nossas necessidades (nos 14 subsistemas) e nossas aspirações ou metas. Isso naturalmente pode ser feito através de diversos esquemas ou quadros de referência. O manual classifica tudo em 14 áreas ou 14 subsistemas.

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Vejamos: Subsistemas

Necessidades

Metas pessoais

SI Parentesco

Sexualidade, família, moradia, comunidade

S2 Sanitário

Saúde, recursos, higiene

S3 Manutenção

Alimento, vestuário, bebida, sono

S4 Lealdade

Amor, solidariedade, associações

S5 Lazer

Descanso, prazer, alegria, férias

S6 Viário

Informação, mobilidade, comunicação

S7 Pedagógico

Capacitação, reciclagem

S8 Patrimonial

Meios de sobrevivência, propriedade

S9 Produção

Trabalho, criatividade, arte

S10 Religioso

Integração no todo, fé, esperança

S11 Segurança

Paz, segurança

S12 Político

Organização, participação, administração

S13 Jurídico

Direitos, justiça, normas

S14 Precedência

Promoção, respeito, êxito

planejamento,

Essas metas pessoais devem ser pensadas, cada uma respondendo aos “onde, quando, quem, como” — resultado esperado. Agora que você conhece o campo completo de todas as suas possíveis necessidades, desejos, aspirações ou metas de realização pessoal, grupal, societária e planetária, vai notar que, conforme a idade e a história que você tiver (se for homem, mulher, solteiro, casado, criança, idoso etc.), os sistemas mudam de importância. Os 14 subsistemas são hierarquizados segundo você mesmo, que determinará a importância de cada um. Não é a sociedade que dirá quais são os mais importantes para você. É claro que há os chamados subsistemas de necessidades básicas (lugar para morar, saúde para continuar vivo, alimento para se refazer, segurança etc.), que são comuns a todos, em todas as idades. Mas, uma vez alcançadas essas metas mínimas, você hierarquiza as outras metas Manual de sobrevivência do ser humano - 154


decidindo se vai investir mais em educação, em lazer, em comunicação, em justiça, em precedência, em espiritualidade ou mais em economia, patrimônio ou produção. Quem faz essa hierarquização é você. A hierarquização se manifesta no momento de traçar seus objetivos em cada uma das 14 áreas. Você pode fazer uma escolha consciente, usando seus três cérebros e guiado pelo seu lado esquerdo ou de um amigo ou de profissional da educação, da medicina etc., para reprogramar as metas para o cultivo de seu cérebro. Você pode também depois fazer uma reprogramação de seu cérebro em nível alfa, usando seu próprio comando ou de outro ser humano. Isto implica aprender técnicas de relaxamento, de entrada em alfa, de abaixamento de sua frequência cerebral, de respiração yoga, de mentalização em alfa e reforçar com a força do inconsciente suas metas propostas. Faça assim uma escolha de objetivos para curto, médio e longo prazos nos 14 sistemas e marque em cada um o que entende por curto, médio e longo prazos, dependendo da meta e da dificuldade para alcançá-los. Na média, usa-se um ano, dois anos e cinco anos como prazo curto, médio e longo. Veja de novo, a seguir, os 14 subsistemas, com algumas sugestões e alternativas de possíveis objetivos para que você escolha. Ou não escolha nenhum destes e escolha outros. A ideia é que você decida como gastar a sua vida, como empregar as suas energias, para onde dirigir seus esforços. Esta é uma escolha sua. Isto é o máximo de autocondução, é o máximo da liberdade pessoal: você dispor do seu corpo, da sua energia, da sua vida, no presente e no futuro. Isto se chama reprogramação de metas. Depois, faremos a gravação das metas em nível alfa. Com o tempo, elas acontecerão. 13.4. Reprogramação de seu cérebro nos 14 subsistemas Subsistema parentesco As metas podem ser: mudar de casa, comprar casa, mudar de cidade, de país. Em relação à idade, assumir a sua idade, ou reaproveitar sua idade, redefinir os valores da sua idade (principalmente se você for idoso ou muito jovem), viver a sua idade.

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Emancipar-se da sua família, se você é jovem; aprender a ter a sua indivi­dualidade (mesmo estando em família, com seu pai, sua mãe, não pode renun­ciar à sua privacidade, à sua personalidade); ser plenamente homem, plenamente mulher, ou assumir-se como for. Reavaliar a mulher, reavaliar o homem, desfazer-se de preconceitos contra o homem, contra a mulher, superar precon­ceitos raciais, ou de idade ou de sexo. Liberar o seu potencial, a sua atitude sexual; reavaliar o seu papel de pai, de mãe, de filho, de parente; revisar as suas crenças sobre família, sobre mascu­linidade e feminilidade, sobre sexualidade, sobre moral; adquirir plena autoautorização e livrar-se dos que querem controlar você, sua sexualidade, sua vida familiar, sua masculinidade ou feminilidade, seus valores do sistema de parentesco. Casar-se, descasar-se, resolver melhor seu casamento. Subsistema sanitário Programar-se para não ficar doente, para curar-se, prevenir-se contra enfermidades e acidentes; aprender um pouco de medicina alternativa, sair um pouco da medicina oficial; tomar menos remédios e fazer mais exercícios, ginástica; aprender a respirar melhor, aprender a dormir as horas necessárias e manter um certo horário, uma certa rotina normal de vida; valorizar todas as partes do seu corpo; aceitar a morte, autorizarse a morrer, onde, quando e como acontecer, para perder o medo. Aprender técnicas de relaxamento, nível alfa; manter a vida saudável; dar um destino à saúde, usar a saúde para fins de libertação, luta, transformação pessoal e social. Subsistema manutenção Rever a alimentação, balancear a alimentação, prevenir-se contra o excesso de comida, bebida; evitar o vício de comida, se possível o de fumo, álcool, drogas; libertar-se do consumismo no comer, no beber, no vestir, principalmente do consumismo imposto pela propaganda. Subsistema lealdade Ter uma fonte de energia, ser fonte de energia; desenvolver capacidade afetiva, de manifestação verbal e não-verbal de carinho, de afeto, e Manual de sobrevivência do ser humano - 156


saber re­ceber carinho, afeto; saber relacionar-se bem, dar tempo a isso; distinguir quem são seus amigos, seus inimigos; pertencer a alguma associação de classe, do seu bairro, do seu nível, ou a algum partido, algum sindicato ou cooperativa. Fazer render e expandir o amor de si para o mundo. Subsistema lazer Cuidar de um mínimo de lazer diário (descanso), do lazer do fim de semana, das férias, para que você tenha o mínimo de curtição, de felicidade pessoal; aprender a contar piadas, ser alegre, cantar ou tocar algum instrumento; curtir um hobby, enfim, cuidar um pouco de si e do prazer de viver. Estar contente e criar contentamento nos demais. Subsistema viário (comunicação/transporte) Melhorar a comunicação falada e escrita; falar uma segunda língua; desen­volver comunicação não-verbal; ser bom ouvinte; saber interpretar a comuni­cação tática do sistema e das outras pessoas; atualizar-se em informática e computadores; dirigir carro com cuidado; programar viagens, porque enriquecem muito, seja pelo Brasil, pela América Latina, pelo mundo. Subsistema educação Ter um plano de cursos, congressos, formação permanente, plano de leitura diária; conhecer um pouco mais das teorias de sociedade, as teorias críticas, as bases filosóficas da vida. Ter um plano de carreira, se possível concluir o ensino fundamental, o ensino médio, o ensino superior, o mestrado, o doutorado; dar preferência à cultura nacional, capacitar-se para realizar mais tarefas em alfa. Ensinar o que já aprendeu. Subsistema patrimonial Saber ganhar mais dinheiro, saber investir dinheiro; desprender-se do dinheiro; ter um piso mínimo, um teto máximo (Wu-vei), mas que não seja muito alto para não escravizar-se. Conhecer economia capitalista e socialista; saber um mínimo de administração, de finanças, câmbio, preços, truques de mercado; estabelecer um a um os bens materiais que deseja ter (carro, imóvel, telefone etc.), dentro dos limites do Wu-vei (“um teto médio”). 13. Saúde global do ser humano - 157


Subsistema produção Ter êxito numa carreira, numa profissão. Promover-se na carreira, ser efi­ciente, ser competente; questionar sua carreira, todas as profissões, a estrutura do trabalho em nosso país. Manter agenda e compromissos em dia. Ser bom empresário (e empresário bom). Subsistema religioso Conhecer outras religiões, não desprezá-las, ser tolerante; cultivar uma via espiritual para o seu lado direito, através do nível alfa. Desenvolver atitude estética e mística em relação à ecologia, em relação à humanidade como um todo. Desatrelar-se das instituições religiosas que forem dominadoras. Subsistema segurança Aprender a evitar lugares perigosos, situações perigosas; aprender um pouco de defesa pessoal; usar os recursos de segurança em casa, no carro, no trabalho, nas ruas; ter cabeça fria; ser pacifista em relação a seus amigos, aos que buscam o bem e a justiça; e ser lutador, revolucionário em relação aos que oprimem, aos que praticam a injustiça, aos que causam sofrimento à humanidade. Subsistema político-administrativo Ter organização pessoal, disciplina, ordem na sua vida pessoal; lutar pelo que quer, passar das ideias ao plano e à ação; aprender a ser líder de subgrupo oficial ou antioficial e ter poder; deixar de ser oscilante (manipulado pelos outros). Ingressar em alguma organização política, fazer carreira dentro dela, subir; interessar-se pela comunidade e pela reorganização da humanidade; valorização cívica de seu país (não de suas elites predadoras), reinterpretar triadicamente nossa história. Subsistema jurídico Ter documentos, carteira profissional etc., previsão de carreira, de aposenta­doria; organizar e manter documentação pelo menos dos últimos cinco anos (imposto de renda, certidões, folhas de pagamento, contracheques etc.). Ingressar em alguma instituição de defesa de direitos Manual de sobrevivência do ser humano - 158


humanos. Conhecer legislação, conhecer seus direitos e deveres, saber defender-se. Saber fazer e cobrar nor­mas proporcionais para os 3 subgrupos, em casa, no trabalho, na sociedade. Subsistema precedência Cultivar a elegância no pentear, no vestir, no andar; recusar-se a seguir a moda e ter seu estilo pessoal; valorização pessoal; valorizar a vida, as pessoas, os grupos, os que crescem, se desenvolvem; valorizar os que ajudam a humani­dade a crescer e a se desenvolver; impor limites à maximocracia individual e dos subgrupos. 13.5. Reprogramação de seu cérebro racional Agora que você fez a sua listagem de objetivos — um ou dois em cada um dos subsistemas, ou apenas em alguns dos subsistemas -, releia para estabelecer qual é o objetivo que tem mais urgência, mais importância, que você quer resolver logo e que é mais decisivo para o resto. Esse objetivo se chama prioridade 1. Verifique depois o que vem em segundo lugar. É a prioridade 2. Você vai marcando: prioridade 1, prioridade 2, prioridade 3, até que você os tenha escalonados. Sabe por quê? Porque você não pode realizá-los todos simultaneamente. O tempo obriga-o a trabalhar pelos objetivos em sequência. Veja como é que ficou sua hierarquia. Você sabe que um programa de computador só é executado se tiver as instruções minuciosamente estabelecidas. Agora, apanhe a prioridade 1, que é um objetivo, um desejo, um sonho vago, e vamos planejá-lo ou operacionalizá-­lo, transformando-o em meta. Como se faz isso? Respondendo às seguintes perguntas: ONDE vai ser feito isso; QUANDO vai começar e quando vai terminar, qual o tempo de duração; QUANTAS VEZES é preciso mexer com isso, em quantos períodos se faz isto, até o término, até a realização completa; QUEM vai executar isso (você, alguém mais, contra quem?); 13. Saúde global do ser humano - 159


O QUE você vai fazer para ter isso realizado, concluído; COMO você vai fazer para alcançar, para realizar essa meta; quais as dificuldades previstas e os REMÉDIOS para superá-las; CUSTOS para a realização desse objetivo; qual o RESULTADO final? Quem será o EXIGIDOR, quem vai cobrar o cumprimento do plano? Com isso, você tem ONDE, QUANDO, QUEM, O QUÊ, COMO, O CUSTO E O RESULTADO FINAL, tudo bem detalhado, até a festa de comemoração. Isso se chama operacionalizar o objetivo, o projeto. Essas são as instruções para que o seu computador mental se encarregue de trabalhar para você e de realizar as metas. Veja isso esquematizado a seguir e aprenda a fazer a operacionalização do seu objetivo, respondendo só às perguntas operacionalizadoras. Fluxograma Operacional Fluxograma

1

2

3

Operacionalização

-->

-->

-->

Onde? Quando? Quem? O quê? Como? Custo? Resultado? Exigidor?

Mas, se a meta requer um desdobramento em etapas, então faça um fluxogra­ma, que é a sequência de atividades para a realização de um projeto. No gráfico anterior (seria bom que os gráficos fossem numerados), o fluxograma tem 4 etapas. Depois da primeira, trate de operacionalizar a segunda prioridade. É o mes­mo processo. Siga o mesmo esquema e responda às mesmas perguntas. Vá operacionalizando as prioridades para doze meses, pelo menos.

Manual de sobrevivência do ser humano - 160


13.6. Reprogramação de seu cérebro emocional Feita a operacionalização das metas, vamos agora “gravar o programa" no computador mental. Muitas pessoas chamam isso de mentalização das metas, ou mentalização do programa. Pode ser impressão, registro ou “gravação” do programa, por causa da comparação com o computador. Como se faz? Retome o fluxograma geral do cérebro em alfa e planeje cada um dos dez passos. 1º passo — Negociação para auto ou heteroautorização. É a permissão do cérebro para aceitar a redução da ciclagem cerebral a alfa e assim ter acesso a essa faixa da realidade. O objetivo desse fluxograma é a autoindução a alfa, ou aprender a reduzir e aumentar a ciclagem sozinho. Quem ainda não treinou para isso, começa com heteroindução e heteroautorização. 2º passo — Postura corporal favorável ao relax. Todos os que trabalham com ciclagem reduzida do cérebro são cuidadosos nisso: postura para concentrar-se, meditar, orar, dormir, "penetrar" noutras dimensões. A postura "natural" para todos é a horizontal. Com um pouco de treino, pode ser outra qualquer. 3º passo — Respiração profunda. Respirar cinco vezes, profundamente, pelo diafragma ou pelo abdômen, em ritmo cada vez o mais lento possível. A primeira vez pode ser um grande suspiro. Aos poucos, volta-se ao normal. 4º passo — Comando de relax (pode acompanhar com música lenta, incenso, cores etc.). Para quem ainda não controla isso, dão-se sugestões assim: solte os pés, relaxe; seus pés vão ficando pesados no chão; afrouxe os músculos da perna, e assim por diante, de baixo para cima e de cima para baixo, intercalando frases como “sinta-se bem”, “respire normalmente”, “sinta paz em relaxar". Se necessário, usam-se alguns toques, avisando antes. 13. Saúde global do ser humano - 161


5º passo — Criação de reflexo operativo de entrada em alfa. É um estímulo convencionado que marca a passagem de alfa a beta. As religiões ou praticantes da ciclagem cerebral reduzida já têm seus reflexos operativos pré-estabelecidos: mantras, orações, cantos, ritmos de tambores, cartas, búzios, pêndulo etc. Podem estabelecer outros para cada lado do cérebro: avisar "vou contar de um a cinco" ou "você é um computador e vai desligar tais e tais operações” (lado esquerdo); ou avisar "vou pôr uma música, vou acender um incenso, você vai imaginar cores"; ou avisar "vou tocar seu ombro", vou "massagear sua hipófise" (lado comum). Serve o que agrada mais ao induzido. 6º passo — Acionar o reflexo operativo. Executar o que se combinou que seria usado como estímulo para se entrar em alfa, após ter repetido três vezes o reflexo que se escolheu. Intercalam-se frases como "relaxe, sinta-se bem". 7º passo — Tarefa a executar em alfa ou transe. Aqui se situam os fenômenos, manifestações ou potencialidades das diversas religiões, dos sensitivos, dos milagreiros ou das terapias alternativas. Lado esquerdo: aprendizagem acelerada; dom de línguas; telepatia; psicografia; regressão etária etc. Lado direito: clarividência, clariaudiência, visões, êxtase, premonição ou dom de profecia. Lado comum: bilocação (saída do corpo), curas, insensibilização (tirar a dor), levitação, telecinese, transe agitado, transmutação energética. 8º passo — Criação do reflexo operativo de retorno a beta. É o mais apropriado avisar que se vai inverter o reflexo usado para entrar em alfa. Repeti-lo umas três vezes. 9º passo — Acionar esse reflexo. Executar o que se combinou para retorno a beta. Fazê-lo lentamente, observando o ritmo do induzido, com frases como "sinta-se bem" etc.

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10º passo — Feedback para a autoindução. Congratular-se. Verificar o grau de bem-estar. Mas, sobretudo, se o induzido atribui o que conseguiu a seus próprios poderes ou ao indutor bruxo, guru, padre, médium ou outros poderes mágicos. Discutir isso e treinar até cada um poder autoinduzir-se a qualquer nível de ciclagem cerebral e realizar as tarefas ou metas desejadas. Na etapa nº 7, a tarefa a executar em alfa vai ser: gravar o programa de execução da meta escolhida como prioridade 1, mas focalizando a meta como estando já realizada. Preste atenção! Você vai pedir ao seu cérebro que veja, ou sinta ou perceba a meta já realizada, ou seja, já festejando a consecução, o êxito, a conclusão, a chegada. Vai perceber, visualizar, notar, sentir a meta já terminada, já alcançada, já realizada. Essa é a tarefa em alfa, no passo nº 7. Você marca os prazos para cada etapa e começa a autoindução a alfa para “gravação” da meta operacionalizada. Para cada meta operacionalizada, você faz essa “gravação”. Uma vez feito isso, pode ficar descansado que seu cérebro trabalha para você. 13.7. Reprogramação de seu cérebro prático Cada dia ou cada semana você teria de rever e reforçar a programação. Isso ajudaria a acelerar a execução da meta, a facilitar a captação de energias favoráveis e a evitar os obstáculos, pois existem muitas programações e muitos estímulos externos interferindo. Existe muita solicitação, muita gente querendo roubar sua energia, seu cérebro, atraí-lo para outras coisas: programa de televisão, política, religião, problemas familiares etc. Você, evidentemente, de vez em quando precisa de uma higiene, de reprogramação, de reafirmação em nível alfa. Outra recomendação importante: escreva suas metas num papel bonito, bem decorado, com bom gosto, e esconda, guarde-o só para você. Assim como os desejos que você formula ao amarrar uma fitinha do Senhor do Bonfim em seu pulso, suas metas não devem ser contadas a ninguém, nem ao esposo ou à esposa, porque cada um tem sua vida independente. Simplesmente viva com os seus segredos, conviva com eles, até depois de realizadas as metas. Isso porque qualquer coisa que você queira fazer desperta o jogo triádico, a oposição das pessoas do meio ambiente, pois a estrutura do 13. Saúde global do ser humano - 163


Universo é assim: é triádica, qualquer ação provoca reação. Se você quiser diminuir a reação, então não fique exigindo, provocando e chamando a oposição, despertando a curiosi­dade e a inveja, o “olho grande” das outras pessoas. Guarde suas metas, releia de vez em quando, reprograme em alfa de quando em vez e você verá o êxito acontecer na sua vida. Basta continuar percorrendo os demais subsistemas, para chegar a um planejamento global de vida para a saúde, o bem-estar completo, segundo a definição da OMS. Periodicamente, esse planejamento terá de ser revisto. Se a pessoa não conseguir disciplinar-se nisso sozinha, terá de solicitar o apoio, o feedback de algum amigo ou profissional. Estaria faltando ainda competência na autocondução.

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14. Saúde global do ser humano nas diferentes dinâmicas - As dinâmicas fornecem os aspectos gerais, e os 14 subsistemas abordam aspectos específicos.

Outra dimensão do mesmo instrumental da Cibernética Social pode ser dada através do que se chama dinâmicas — dinâmica de potencialidades, individual, grupal, de sobrevivência e universal. Para fins de planejamento global de saúde, seja individual, institucional, grupal, social, as dinâmicas fornecem os aspectos gerais, e os 14 subsistemas abordam aspectos específicos. Vejamos os aspectos gerais de cada uma das dinâmicas. 14.1. Na dinâmica de potencialidades, o que poderia ser con­ siderado ou contemplado é o nosso potencial genético (evidentemente, não tem nada que ver com o racial). Esse potencial genético-biológico, pela desnutrição, torna raquítica uma camada importante de nossa população. Caminhamos para a sub-raça nas camadas sociais desprovidas de condições mínimas de vida digna, enquanto a droga e a degra­dação moral minam as camadas mais altas. Dizer que o Brasil é racialmente inferior é alienação, é não compreender a dialética de classes: há brancos, pretos, amarelos, coloridos e incolores em todas as classes. É ser inocente útil, instalar lutas entre brancos e negros, homens e mulheres, índios e não-índios etc. A situação de todos aqueles que, em se reproduzindo, vão deteriorar o nosso teor genético (doenças heredo-familiares) deveria ser melhor discutida. A eugenesia preventiva (no caso, por métodos culturais e educacionais) é ainda questão em aber­to no país. Não se tomou nenhuma providência marcante. Pa­rece que em nível de dinâmica de potencialidades, não damos, ainda, atenção ao nosso teor genético-biológico como recurso ou como insumo para nosso desenvolvimento. 14.2. Na dinâmica individual, o que se deve enfatizar é a criação do hábito de autocondução também em saúde: cada pessoa deve assumir isso valorizando e amando a vida, tendo maior conhecimento, maior 14. Saúde global do ser humano nas diferentes dinâmicas - 165


informação e maior interesse pela saúde globalizada. O hábito (mau) é somente dar atenção ao corpo e à saúde quando se fica doente. O negócio é prestar atenção quando se está sadio, para preservar-se. Seria importante, para todos, informação razoável de ana­tomia, de fisiologia, de psicologia, desde os níveis básicos do processo educacional institucional. Noções práticas, porém, e não divagações biológicas teóricas, como é comum ocorrer nos currículos escolares, que aprofundam determinados conhecimentos sem nunca chegar à aplicação deles na vida das pessoas. A psicologia nacional ou a personalidade do homem e da mulher brasileiros está ainda por ser definida e é chamada de­preciativamente por alguns de "tupiniquim". Deveríamos estar em busca de psicologia e de terapias brasileiras, menos colonizadoras ou alienantes, procurando cons­truir imagem de brasileiro que comece a ter a sua autocon­dução, sua personalidade própria... 14.3. Na dinâmica de grupo, temos as situações em que a competição impera. A sociedade brasileira tem cenas de “inge­nuidades” e outras “maldades” grupais muito graves. O pe­queno capital de confiança mútua, que facilita o fluxo de ener­gia, de amor, de endorfina, vem constantemente sendo desgas­tado pelos permanentes conflitos de classe, pela exploração dos mais fracos pelos mais fortes, com o poder econômico e político exercendo violência contínua sob todas as suas formas. Isso tudo afeta muito a saúde coletiva, bem como a individual. As instituições de saúde transformam-se, pelas regras do jogo selvagem, em empresas comerciais de lucro. Não parece viável nem justo um sistema governa­mental de saúde socialista, enquanto os demais 13 subsistemas são cada vez mais capitalistas. Assim, as relações de grupo são cada vez mais tensas e promovem o terrorismo, a perseguição, a prisão, a tortura, a morte. O terrorismo é a reação dos subgrupos naturais frente à violência dos oficiais. A prisão, a tortura, a morte são as reações dos subgrupos oficiais ameaçados pelos subgrupos naturais. O subgrupo oscilante vive eternamente em pânico, com medo de sofrer represálias, de ser preso, de sofrer mais pacotes gover­namentais, mais arrochos etc. A própria vida grupal brasileira e sua interrelação com a mundial são fatores patogênicos muito graves, com a constante ameaça da dívida externa e as manifestações internas e exter­nas das prováveis sanções internacionais. Manual de sobrevivência do ser humano - 166


14.4. Na dinâmica de sobrevivência, a saúde está relacionada à nossa capacidade de trabalho, de produção, de desenvolvimen­to, de distribuição de renda. Se tivéssemos um sistema de produção mais desenvolvido, teríamos problemas com mão-de-obra, porque, embora a popu­ lação seja bastante extensa, são poucos os indivíduos aptos ao trabalho, tanto na faixa da juventude, quanto na da maturida­de. Temos muita invalidez, despreparo e aposentadorias pre­coces, razão por que a força de trabalho brasileira é pequena. A força de trabalho desempregada é mais propensa a en­fermar-se e a recorrer à previdência social, porque não tem meios de alimentação, de educação, de moradia, de saneamento básico. O baixo nível de saúde, a debilidade biológica, a falta de resistência ao esforço, à dor, ao sacrifício, a gritante despro­porção dos salários, tudo isso estimula muito o índice de ausência ao trabalho, daí a pequena produtividade do trabalhador brasileiro em comparação com os melhores pa­drões internacionais. 14.5. Na dinâmica universal, cogitamos o futuro de nossa vi­da, de nosso país, de nossa sociedade, da humanidade, da vida, do sistema solar. É fácil perceber que um país com esse imenso território, com essa população já grande, em processo de desenvolvimen­to bastante ativo, tem possibilidades ou horizontes muito pro­missores. Carece, porém, de mecanismo direto e definido de rumos e de políticas nacionais estáveis e a serviço dos três subgrupos, apesar da existência da classe dominante que per­siste em submeter tudo, exclusivamente, a seus interesses egoístas. O horizonte dos brasileiros em termos pessoais, no pós-morte, também está muito confuso, porque estamos submetidos a religiões muito ameaçadoras (juízos, castigos, infernos). Isso leva muitas pessoas a perderem o otimismo na vida, a disposição de luta. Ou, então, a grande maioria sacrifica seu esforço de pro­dução, de investimento econômico, em função de preservar sua alma, seu lugar no céu. Essa proposta de dinâmica universal confusa, tanto em ní­vel político quanto religioso, cria grandes vazamentos de ener­gia humana, que podem efetivamente produzir repercussões sérias quanto ao nosso futuro.

14. Saúde global do ser humano nas diferentes dinâmicas - 167



15. O poder de seus três cérebros

O cérebro humano foi sempre usado, interpretado, dominado, manipulado e utilizado pelos detentores do poder e do saber na história do Homem e da Humanidade. O lado direito do cérebro humano sempre foi propriedade do Poder Religioso. Seus fenômenos principais (afetividade, percepção extrassensorial, estética e mística) sempre existiram, só que suas interpretações recebiam somente o aval e o significado do modo de conhecer e explicar das religiões. Recentemente, começamos a ter uma interpretação científica do lado esquerdo do cérebro humano: Mesmer, Rhine, Koestler, Berger, Bohm e outros pesquisadores iniciaram uma grande lista que culminou nos dias atuais com a compreensão e o domínio das Neurociências. Enquanto os fenômenos não tinham explicação científica, havia, pelo menos, a explicação sacral. O cérebro em alfa apresentava manifestações incomuns, e esses fenômenos tinham uma determinada interpretação. Foi assim que os cérebros dos líderes sacros, em alfa, construíram toda uma explicação para esses fenômenos e para o Universo como sistema global, que hoje explicamos de maneira diferente, dentro dos limites do nosso planeta e do nosso sistema solar. O desenvolvimento científico, entretanto, não veio melhorar a situação do ser humano, também porque ainda não permitiu o uso do cérebro como um todo. Condicionou mesmo o Homem e sua realidade, seu conhecimento, sua verdade e mesmo sua felicidade ao uso do lado esquerdo-beta do cérebro humano (com sua ciência, que, de uma forma autoritária e inclusivista, pesquisa, investiga, interpreta, atua), afastandonos todos do lado direito-alfa do cérebro humano (com sua percepção extrassensorial, criatividade, estética, mística, espiritualidade), que por muitos séculos constituía uma exclusividade do poder sacral ou da Religião, e afastando-nos também do lado prático-gama (este deveria ser treinado e utilizado para criação e execução de políticas dignas para todos indiferentemente e que não respondam somente aos privilégios isolados de um indivíduo, de um grupo, de uma sociedade, de uma nação). Políticas que possam nos proteger na manutenção e na preservação de nossas vidas, dentro de parâmetros de proporcionalidade e de equilíbrio, no âmbito de nosso planeta Terra e de nosso Universo. 15. O poder de seus três cérebros - 169


Estamos hoje enfrentando uma crise mundial, por inúmeras razões e variáveis, mas também e talvez principalmente porque o cérebro humano se mostra desproporcional, desequilibrado, deformado. Os três lados do cérebro estão sendo utilizados de maneira independente um do outro, e não integrada e proporcionalmente. Não se pode excluir o lado emocional, ou a ciclagem cerebral alfa, que trata de fenômenos do amor, da fraternidade, da justiça, da espiritualidade e da percepção holística, global, ecológica, mística. Por outro lado, não podemos excluir o lado racional, que trata da explicação dos fenômenos da ciência, de suas medições, de seus desvelamentos, de suas aplicações no mundo contemporâneo, porque isso é o que pode modificar o nosso rumo. E ambas, a ciência e a fé, não podem excluir o lado prático, administrativo, organizacional, dinheiro, negócios, trabalho, enfim, a organização da convivência, porque o planeta é o lugar do qual ainda não conseguimos escapar e temos de fazer dele o nosso ninho, o nosso único lugar de convivência, com o cérebro triádico que temos. O cérebro humano racional, ou em ciclagem beta, ou lado esquerdo do cérebro, permite ao ser humano usar o método científico, método lógico-analítico, sendo representado na prática pelo cérebro do pesquisador: este conhece metodologia da ciência e da pesquisa, sendo epistemológico, por saber criticar o conhecimento e analisá-lo de forma consciente. É um cérebro crítico, científico, disciplinado, interdisciplinar, pesquisador, aristotélico, aritmético, comunicador, relativizador, epistemológico, que percebe e analisa as partes e em detrimento do todo. O cérebro humano emocional, ou em ciclagem alfa, ou lado direito do cérebro, permite ao ser humano sentir a realidade simultânea e globalmente, pela psicossíntese, método intuitivo-sintético, sendo representado na prática pelo cérebro do vidente, do religioso, do místico, do artista, que percebe o todo em detrimento das partes e permite-nos participar dos e com os outros seres e entidades do Universo, na sublimidade do amor, através dos canais da afetividade, da percepção extrassensorial, da estética, da mística, de uma forma global, holística, gestáltica, de forma subconsciente. O cérebro humano prático, ou em ciclagem gama, ou lado comum do cérebro, permite ao ser humano concretizar suas metas, no dia-a-dia, pela ação e pelo método motriz-operacional, sendo representado pelo cérebro do atleta, do administrador, do assessor, do executivo. Este cérebro Manual de sobrevivência do ser humano - 170


percebe o todo e suas partes e permite-nos participar dos e com os outros seres e entidades do Universo, nos esportes, nos negócios, nos vários empreendimentos, nas coisas concretas, através de passos determinados pelo planejamento, por ações continuadas de agendas, supervisões e feedback, de uma forma inconsciente e automática. O cérebro abaixo de beta, ou seja, em ciclagens reduzidas, entra numa dimensão, num universo ou numa forma de percepção em que são quase suprimidas as dimensões tempo-espaço. Não há problema de distância, não há problema de passado-presente-futuro. É tudo simultâneo, é tudo aqui e agora. Você viaja à velocidade da luz ou até mais. Aí você regride ou progride no tempo. A forma, entretanto, como se passa a perceber esse novo universo sem espaço-tempo pode variar muito de uma pessoa a outra. Pode ser por visualização (“viagens” psicodélicas, êxtases, clarivisões, clariaudições); pode ser por captação (insight ou compreensão instantânea interior); pode ser por uma sensação sem palavras; pode ser por uma outra forma qualquer. De um modo geral, as pessoas que têm essas percepções em alfa, sejam elas visuais, auditivas, sensitivas, olfatórias ou de qualquer outro sentido, têm dificuldades em traduzir essa experiência para o nível beta através dos meios de comunicação que temos em beta. Os místicos, os videntes alegam que é indescritível, inefável. Costuma-se dividir o nosso cérebro em fenômenos normais e paranormais. Em Cibernética Social, os níveis alfa, beta, gama, teta, delta são todos níveis normais. Não existe nada paranormal, nem supranormal. Não existe nada de ordinário e extraordinário, de natural e sobrenatural. A percepção beta é considerada "normal" (a da ciência), a percepção alfa é "normal" (a da religião), assim como a gama (a da luta em vigília do dia-a-dia), a teta e a delta (a do sono). Tudo faz parte de um mesmo universo unificado, que tem, evidentemente, funcionamento em diversos níveis energéticos. Ir e vir, transitar pelos diversos níveis, vivenciar os respectivos universos, as percepções diferentes e os respectivos "eus", tudo é normal. Ame a ciência e o pensar científico; conheça o método científico e sua maneira eficiente e sistemática de análise de um fenômeno, de um assunto, de uma situação; aprenda a exercitar os passos necessários para que se promova, realmente e completamente, uma verdadeira abordagem científica de qualquer tema; aprenda a exercitar todos os passos do ciclo cibernético do cérebro humano na identificação, análise, diagnósti15. O poder de seus três cérebros - 171


co e execução da maioria de seus afazeres humanos; crie sua biblioteca pessoal e aprenda a bem utilizar as públicas e/ou institucionais; procure conhecer e se relacionar também com pessoas mais racionais e/ou que usam, na sua prática diária, o método científico, como referencial paradigmático; estude sempre e organize sua vida, profissão, interesses, mundo por e com essa perspectiva. Ame a espiritualidade e comunique-se com Deus a seu modo, integrando-se assim no Universo; crie afetividade, relações equilibradas; busque a percepção extrassensorial, a criatividade, a estética e a mística, exercitando o relaxamento, a meditação, o nível alfa. Faça futurições e esteja aberto à sua intuição e ao seu “coração”. Ame o trabalho, a ação, a execução de seus próprios objetivos, sempre na relação com os de sua família, de sua profissão, de seu grupo social, de sua nação, de seu planeta, desde que devidamente repassados pelo crivo da sua própria razão e de sua própria fé e espiritualidade, e aprenda cada dia mais a se orientar pela melhoria de sua perfomance pessoal em cada ato prático seu, pelo planejamento sistemático, pela escolha das melhores assessorias e pela direção continuada e eficiente rumo às suas metas pessoais, grupais, societárias, planetárias e teleológicas.

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16. O bem-viver; viver intensamente; exercícios do direito de viver e morrer; o medo da autocondução; a libertação do cérebro; e filosofia do pós-morte (escatologias)

16.1. O bem-viver Nosso conceito de longa data está ligado ao fluxograma evolutivo do homem. Pode ser considerado na quantidade de anos bem como na intensidade (qualidade) de cada ciclo que se vive. Já que não se sabe quantos anos se vai viver, é bom procurar melhorar sempre o sabor do ciclo que se está vivendo. Não se pode deixar para viver após estar aposentado: há pessoas que querem fazer primeiro um pé-de-meia, criar os filhos, e, quando se dão conta, seu ciclo está findando e já não há condições de saúde, de disposição, de vontade para continuar desfrutando. O bem-viver (a vida boa) é a regulação da circulação da energia no sistema energético humano em relação a si, às pessoas, ao grupo familiar, ao grupo de trabalho, ao grupo de comunidade, tentando manter-se dentro da proporcionalidade e da globalidade. Ninguém vive sozinho, e é preciso viver a família, seu país, seu planeta, seu universo, para ter noção da globalidade. A proporcionalidade supõe e traz implicitamente a ausência de carência, mas também a ausência de maximocracia. Se a pes­soa sabe que existirá eternamente, por que ficar angustiada agora por viver somente oitenta anos? Deve-se autorizar a morte quando, onde e como tiver de morrer. A maneira de desfrutar a vida, no aqui e no agora, pode ser retratada por aquela fábula de Malba Tahan sobre um prisioneiro condenado à prisão perpé­tua. Por ato meritório perante o rei, este chamou o prisioneiro e lhe disse: “Vou perdoar metade de sua pena”. Sendo condenado à prisão perpétua, como aplicar a decisão do rei? A solução mais pró­xima do real, já que o prisioneiro não sabe o tempo que vai vi­ver, seria passar um ano na prisão e um ano fora dela, ou um mês preso e um mês solto, ou um dia detido e outro em liber­dade, ou até meio dia na prisão e meio dia fora dela, à escolha. A arte de viver, já que não sabemos o tempo de nossa atual existência, requer que se viva bem todos os dias. “Basta a malícia de cada dia”. 16. O bem-viver - 173


Há deslocamentos do bem-viver tanto para o futuro como para o passado. Há quem adie o dia de hoje em favor do dia de amanhã, o ano presente em favor do ano que vem. E há quem viva com saudade do passado, preso a álbuns e videotapes e de­plorando o presente. É bom prestar atenção à proporcionalida­de entre passado, presente e futuro. Só é nosso o presente. Há deslocamentos, também, em relação ao ciclo em que se está vivendo. Os poetas idealizam a infância e a juventude prejudicando, com isso, a compreensão do ciclo de adultez e velhice. Devemos tirar proveito de cada um dos ciclos, e não tentar negar determinado período em favor de outro. Viver bem todos os ciclos faz parte do bem-viver. O bem-estar aos setenta anos é diferente do dos vinte. Os meios para atingir essa meta vêm de três caminhos: os práticos (saúde, dinheiro, consumo, segurança); os emocionais (afeto, família, arte, espiritualidade, prestígio); e os racionais (compre­ensão, espírito crítico, esclarecimento, comunicação, feedback proporcional). Há os casos de deslocamentos ou desproporção no uso desses meios. Pode haver abundância, maxivivência, carência. Para 70% dos brasileiros que estão abaixo da minivivência, a vida é apenas suplício. Entre os que têm o mínimo, o bem-vi­ver requer arte. Por exemplo, a pessoa que acha que vai estar bem somente quando conseguir uma casa num bairro privilegiado deixa de viver agora, de curtir o que tem, para chegar lá. Chegando lá, já não basta isso para a sua felicidade, porque nota que tudo é muito transitório, imperfeito (é a maximocracia). Há pessoas que acham que não podem viver bem no Bra­sil e até se amaldiçoam por terem nascido aqui. Sonham com Paris, Nova York etc. Entretanto viver bem é arte de viver com o que se tem, no lugar e no ciclo em que se está. Caso contrário, fica-se vítima da maximocracia. Não é que se tenha de renunciar a todo desejo (como cer­tas pregações orientais pedem). Basta renunciar à maximocra­cia, impor-se limites para evitar a frustração. Há quem se queixe de não viver bem porque foi punido pelos pais, porque o casamento desabou, porque foi despedido do emprego etc. Os percalços existem e podem ser transfor­mados em sabedoria, trampolim, força, fermento para realizar o presente e o futuro. A concentração exagerada num dos três processos men­tais, à custa dos outros dois, produz desequilíbrios, insatis­fação, enfermidade. A tirania do lado esquerdo (racional), com muito conhe­cimento, muito saber, Manual de sobrevivência do ser humano - 174


muita minudência, prejudica o lado afe­tivo e suas fontes de energia, bem como descuida do lado prá­tico, econômico. A tirania do lado direito (intuitivo), com muitos apegos, muito espontaneismo, arte, espiritualidade, torna o lado es­querdo irracional e desliga-se do lado prático. A tirania do lado operacional (prático), com muita ganân­cia, muita comida, bebida, poder, acumulação de dinheiro, despreza o lado afetivo e degenera em frieza, crueldade, su­bordinando o lado esquerdo à função de maquinar a espoliação dos outros. Como seria a arte de viver de um excepcional ou de um paralítico realizando seus três lados proporcionalmente com aquilo que ele tem, naquilo em que ele está? A plenitude do viver, para cada um, pode existir na si­tuação biológica e no subgrupo em que ele se encontra, em da­do momento. É falso divulgar e assumir o modo de viver do subgrupo oficial, ou dos “normais”, ou dos “santos”, ou dos cristãos, ou dos budistas, ou dos anglo-saxões, ou latinos, ou africanos, ou outro referencial qualquer, como o melhor, ou o único a ser perseguido por todos. Ser feliz, ser realizado, ser bom não é segundo fulano ou sicrano. É segundo si próprio, atendendo à lei natural do jogo triádico. Aqueles que não têm os meios mínimos deverão aprender a tomá-los daqueles que, por truques políticos ou econômicos, os deixam à míngua. Os sistemas políticos e teocráticos mentem aos cidadãos, ludibriam os oscilantes através de propostas de pre­miação e castigo (iscas). O capitalismo diz ao homem que ele pode desejar e ter tudo. Ele acentua nossa maximocracia, que é inerente à natureza humana, e as consequentes violência e competição. Leva-nos a desejar, a comprar, a consumir cada vez mais bens, tumultuando qualquer plano de vida e forçando exageradamente nosso equipamento biopsíquico. O bem-viver, para as religiões, é o ser humano cumprir as virtudes, ser oscilante, renunciar a tudo, apostando num bem-viver ulterior. É o próprio conto do vigário. O bem-viver no Estado socialista é substituir o autopro­vimento pelo do Estado, acreditar em toda a doutrina socialis­ta, lembrar sempre do partido, acreditar na revolução mundial, na prioridade e austeridade do socialismo e de seus governan­tes, e nunca querer fugir para ser rico num país capitalista. Existe uma discussão interminável a respeito do que seja o bom uso da vida (a vida boa) no mundo capitalista, no socia­lista, no religioso. 16. O bem-viver - 175


As respostas variam de acordo com as cosmovisões, com os conceitos básicos e suas respectivas lógi­cas (monádica, diádica, triádica etc.). No capitalismo, boa vida é a acumulação ilimitada de bens, que, supostamente, traria tudo o que há de bom na vida. No socialismo, é tranquilizar-se em relação à estabilidade do emprego, à garantia de saúde, moradia e trabalhar para a sociedade coletivista porque o Estado garantirá os meios para o cidadão cuidar de sua felicidade. No Estado religioso (teocracias) a boa vida não é a pre­sente. Esta seria lugar de peregrinação, de sacrifício, de purifi­cação para se garantirem a paz e a plenitude no pós-morte. Esses três conceitos de vida boa estão presentes em nossa sociedade e deveriam ser debatidos para superarmos impostu­ras como “salário mínimo”, “entesourar para o céu”, que são filosofias políticas, religiosas e populares de miséria. Na verdade, a arte do bem-viver e do bem-estar existe quando o indivíduo ultrapassa todas essas convenções sociais, sabendo tirar partido delas, dentro de uma vida de autocon­dução e proporcionalidade. Cada um tem de conviver com as propostas da Igreja, do capitalismo, do socialismo. A autocondução supõe livrar-se desses programas de vida e reprogramar-se na perspectiva de saúde globalizada. 16.2. Viver intensamente Quanto ao viver intensamente, podemos observar que a maioria (oscilantes) tenta economizar vida, nunca se arriscar, amarrar-se à rotina, não ver coisas novas. Viver intensamente é fazer muitas coisas úteis com empenho e a fundo. É diversifi­car o máximo possível e a todo o tempo. É não parar. É fazer as coisas com garra, com gana, com apetite, isto é, quando se está brincando, brincar; quando se estiver trabalhando, trabalhar; quando se estiver amando, amar; quando se estiver dialogando, dialogar; quando se estiver brigando, brigar.

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16.3. Exercício do direito de viver e morrer As pessoas que não têm autocondução não têm também noção correta de viver, conviver, morrer. Uma vez que as tribos humanas aumentaram e o planeta se tornou um espaço tribal único, dada a disputa maximocrática de cada um, tem-se de impedir que uns matem os outros e se matem a si mesmos. Por qualquer motivo há pessoas querendo matar ou matar-se. Para a solução de conflitos interpessoais, pode-se apren­der a ter cabeça fria, fazer afinação, negociação. Para os con­flitos sociais, existem direito trabalhista, direito de greve, consti­tuição. Para os abusos do poder de classe, existem as técnicas de revolução. A agressividade individual e o poder de opressão de classes não foram ainda “civilizados” em nosso país. As sociedades estabeleceram normas de proteção à vida, principalmente para a vida dos subgrupos oficiais opressivos, em detrimento da vida dos oscilantes e naturais. Isso, em parte, protege; de outra parte, tira o direito de decidir sobre o morrer, sobre o viver, o comer, o trabalhar etc. Não se pode fazer mais nada, enfim, sem a licença do subgrupo oficial, que, invariavelmente, pratica abuso de autoridade. Os indivíduos perdem o direito nato de viver. Fica parecendo que, quando você nasce, é intruso no planeta. O Estado deixa você viver, se pagar a certidão de nascimento. A Igreja deixa você viver, se pagar a certidão de batismo. Se você não tiver esses documen­tos, não pode trabalhar, estudar, comprar casa, carro: você fi­ca como um clandestino, um estranho. Poucos realmente acreditam que o direito de viver aqui é direito nato e cada um, ao nascer, é sociocondômino do país e do planeta. A maioria das pessoas se porta como inquilino, aluga uma vaga na “pensão planeta”. Somente quando se descobrem os nossos herdeiros e sócios, desatre­lamo-nos dos usurpadores gaiatos e, a partir de então, o direito de viver é nosso. Não se tem de pedir licença ao Estado e à Igreja para ter sexo, para frequentar essa ou aquela religião, para procurar esse ou aquele médico, esse ou aquele grupo, es­sa ou aquela ideologia. Todos temos esses direitos. Antes, você só podia viver e morrer pela mão de médico, pela mão do padre, das autoridades. Agora você é dono abso­luto de seu ato de viver e de seu ato de morrer. Isso não constitui anar­quismo, e sim uma atitude antiabsolutismo — democratização do direito de ser e estar. 16. O bem-viver - 177


Eutanásia é direito do indivíduo ao não-sofrimento inútil e por ele decidido enquanto puder fazê-lo. Com tudo o que se sabe sobre sexualidade, anticoncepção e irresponsabilidade dos oscilantes, justifica-se o planejamento da natalidade. A pena de morte é desnecessária e fica substituída pela medicina comportamental e a neurocirurgia, que pode reduzir a agressividade do criminoso comum. A punição física não se justifica, pois a ciência já tem ou­tros recursos menos bárbaros para os violentos sem autocontro­le. 16.4. O medo da autocondução A libertação de cada um começa com a conscientização do jogo de ludíbrio, trapaça, engodo, praticado pelos subgrupos oficiais mais altos e suas instituições. Enquanto não perceber isso, o indivíduo não está querendo sair da armadilha: a ví­tima será aliada do algoz, inconscientemente. Por não estar consciente disso, o algoz é tido como ben­feitor. Isso é mórbido tanto para a vítima como para o algoz. O jogo triádico da vida tem diferentes graus de pressuri­zação, de dificultação, de exigência de esforço para subir de nível, vencer, libertarse. É como se houvesse uma série de comportas ou de níveis iniciáticos: quem está no nível de cima não abre e não conta para quem está no nível abaixo. O nível de baixo tem de des­cobrir e vencer por si só. É impossível a todos alcançarem o topo mais alto, fazer nivelação por cima, pois a circulação da energia é diferenciada, hierarquizada, desde o nível atômico até a dinâmica universal, mas pessoas que estiverem abaixo somente vão ter vontade de subir de nível quando alguma coisa as levar a querer. A esquerda política que tenta fazer a conscientização das pessoas esbarra nesse enigma: como fazer para que o indivíduo queira mais saúde, mais esforço, mais informação, mais traba­lho, mais dinheiro, mais liberdade etc.? A cura também apresenta a mesma dificuldade: como é que se leva uma pessoa a querer se curar, se ela é desistente? Há muito conhecimento disponível sobre motivação, níveis de aspiração, coação, persuasão, mas não existe conhecimento pa­ra fazer alguém querer. Manual de sobrevivência do ser humano - 178


Um recurso, talvez um dos mais importantes, é a autoau­torização. Outro recurso é o direito de burlar leis e normas sociais des­favoráveis, fazer o jogo paralelo. Daí a importância de trei­nar-se para a autoautorização para os três processos mentais, desatrelando-os das imposições passadas e das autoridades. Seria bom que as pessoas começassem a entender o esote­rismo e a educação como iniciação ao conjunto de comportas, válvulas, níveis a escalar, a varar, a romper, às vezes na "mar­ra". Isso não encerra nada de místico, desonesto, indecente, oculto. Faz, simplesmente, parte das leis da energia, de sua movimentação, transmutação etc. Como só os subgrupos oficiais conhecem isso e se autori­zam a isso "na moita", criam monopólio do truque, cercam-no de tabus sagrados, medos, perigos, para conter outros pretendentes ­que deverão ficar em posição inferior, na fila existencial, esperando que a "vida" (os subgrupos oficiais) lhes dê alguma coisa. ­ 16.5. A libertação do cérebro A arte da vida é criar caminhos para a autocondução pró­pria e de outros. Por isso foi introduzida a ideia de processo upaya, que transforma o atrelado em autoconduzido, deixando de ser cliente e dependente perpétuo de falsos mestres (médicos, ministros, religiosos, políticos, pais, professores etc.). Em determinado ponto da vida ou do processo específico de saúde ou de equilibração de seu bem-estar global e mais vida, tem o prestadio de terminar o upaya, para que o discípulo che­gue à autocondução e fique mestre de si mesmo. Infelizmente, as religiões e os governos, os povos e os indivíduos que se propuseram de início a isso acabaram por se eternizar como mestres e passaram somente a criar e manter o clientelismo (dependência). Parece que estão faltando meca­nismos de aceleração do desenvolvimento mental em seus três processos integrados, em substituição à noofagia praticada pe­las agências educacionais vigentes. Noofagia é a destruição ou o retardamento do uso pleno do cérebro em seus três lados. A Educação que queira acelerar o uso pleno dos três lados do cérebro vai esbarrar nos donos do poder geral (governamental e religioso) e no poder específi­co da corporação que domina cada um dos 14 subsistemas. Apesar disso, deve-se insistir no uso da essencial arma, que é o cérebro: 16. O bem-viver - 179


desenvolver a autoautorização, instrumentar cada la­do de seu cérebro, organizar grupos e redes de entreajuda dentro da nova filosofia da proporcionalidade. Isso não se faz só com educação. Sem comida, sem saúde, sem trabalho, sem amor, sem liberdade, sem esforço, não se faz. Os treinadores esportivos já sabem como fazer um cam­peão da parte comum do cérebro um atleta. Os gurus já sabem como fazer ou produzir um “iluminado”, um sensitivo, pelo lado direito do cérebro. A universidade já sabe como produzir um “doutor”, um pesquisador, pelo lado esquerdo do cérebro. Com raras exceções, esses craques e gênios de um lado do cérebro servem só como show, enquanto prejudicam a si mesmos e aos outros, são muitas vezes meros espécimes para feiras de curiosi­dades ou exposições. Mas como seria “soltar” o gênio de uma pessoa nos três lados do cérebro? Não estamos em busca de gênios, mas de pessoas autoconduzidas nos três processos mentais, na personalidade, na saúde, nos 14 subsistemas. O quando, como, on­de e com quem fazer isso é a proposta deste manual, de outros livros que podem ser identificados, por exemplo, na bibliografia, nas livrarias, nas bibliotecas públicas e privadas, mas também em muitos grupos e movimentos espalhados por todo o território nacional e no planeta. 16.6. Filosofia do pós-morte: escatologias A religião católica fala de céu e inferno. O budismo fala de nirvana, depois de uma série de reencarnações. O materia­lismo nega qualquer continuidade após a morte. Há, portanto, diversas escatologias ou explicações daquilo que se espera de­pois da morte do indivíduo ou do planeta todo (apocalipse). As religiões orientais são quase todas reencarnacionistas, e nesse mister foram copiadas pelo espiritismo do ocidente. A pessoa que, depois da morte, tiver “dívida” (karma) para pagar (males feitos) reas­sume novo corpo para purgação até atingir nível de fusão no todo — divinização; poderá reencarnar-se como avatar, como enviado, como salvador. Para aceitar uma dessas escatologias, tem-se de aceitar seus fundamentos. Tem-se de aceitar o ser humano não como um sistema energético triádico, mas composto de corpo e alma, ou de três ou de sete corpos, como no Budismo. A ciência já sabe o suficiente sobre o ser humano para Manual de sobrevivência do ser humano - 180


entender que há “camadas vibratórias” de energias diferentes, múltiplas, que não se resumem em dois, três, sete níveis, simplesmente — por exemplo, um corpo e uma alma ou um corpo, alma e espírito etc. Há "n" níveis, camadas de energia vibratórias acima e abai­xo desses níveis. Essa é uma concepção que modificaria a crença da reencarnação. A concepção do bem e do mal (do certo e do errado­) depende do subgrupo, que é quem define tudo isso. Fulano de tal, por exemplo, fez bem ou fez mal? Quando morrer vai pagar isso? Vai pagar o quê? Quem ou o que define isso? O que vai ele pagar? Que fez de bem? Que fez de mal? A Física quântica diz que quando o indivíduo nasce, quando se dá novo ser, quando essas energias se materializam, constitui-se um "holograma" novo, embora com partículas energéticas utilizadas anteriormente por outros sistemas minerais, vegetais, animais, nesse ou noutros níveis de energia. Ninguém é completamente original. Estamos reassumindo coisas, formas, níveis — sempre recapitulando.­ Cada recapitulação tem probabilidade de evolução ana­trópica ou entrópica. Seria essa uma outra interpretação de reencarnação. Pode não se tratar de reassumir corpo, alma e espírito. Pode ser reassumir partículas, energias, níveis de energia que já foram uma vez utilizados por outros, mas em nova combinação ou holograma. E, como se sabe que partículas que já foram postas em interação uma vez continuarão sempre em vibração e a qualquer distância (efeito EPR), então eu estou vibrando com partículas que já foram de outros níveis. O físico David Bohm propõe a existência de um universo multidimensional e de “camadas da realidade” mais profundas, situadas à “sombra da realidade” (nível quântico). De acordo com a controvertida teoria do renomado físico inglês, o passado, o presente e o futuro coexistem fora do tem­po terráqueo, em outra dimensão. Sua teoria procura dar explicação racional para o comportamento estranho das partículas subatômicas. Segundo a física quântica ortodo­xa, não podia ser racionalmente explicado o fato de “assim como se fossem antigos amantes que não conseguem nunca se es­quecerem um do outro, duas partículas subatômicas que intera­giram um dia podem responder instantaneamente aos movimen­tos uma da outra, milhares de anos mais tarde, mesmo estando há anos-luz de distância”. Isto ocorreria contra a teoria da relatividade, que não ad­mite (admitia) a existência de interações físicas em velocidades superiores à da luz. Este estranho comportamento é chamado efeito EPR — sigla formada pelas iniciais de Einstein e de seus colaboradores Podolski e Rosen, que chamaram a atenção para o fenômeno em 1935. 16. O bem-viver - 181


Segundo Bohm, as partículas, na verdade, não estão se­paradas, e os instrumentos de medição de partículas e os cientis­tas estão todos unidos ao resto do universo, formando um todo único e integral na “ordem implícita” (alfa ou quântica). Por trezentos anos, argumenta Bohm, a física tem tratado o espaço e o tempo ordinários como as categorias fundamentais da reali­dade objetiva, considerando sua meta a previsão de ocorrências físicas no tempo e no espaço. Sustenta, porém, que há um mo­do mais fundamental para descrever os eventos físicos. Essa nova abordagem trata o tempo e o espaço como derivados de nível mais profundo da realidade objetiva, que é chamada de “ordem implícita”. Tudo interpenetra tudo no vasto cosmo super-ho­lográfico imaginado por ele; cada ação é causada, em última análise, por tudo o que acontece, aconteceu e acontecerá no universo. Existe misteriosa conexão entre o aqui e o ali, entre o passado, o presente e o futuro. Parece, assim, que essa teoria do efeito EPR constitui precioso subsídio levantado pela ciência contemporânea para reencaminhar a discussão e a fé na transvida, superando as grotescas e primitivas concepções religiosas e materialistas existentes. Como poderíamos captar essa continuidade da manifes­tação da energia humana no pós-morte, através do cérebro di­reito, intuitivo-sintético, místico, gestáltico? Os grandes ilumi­nados da humanidade (Jesus Cristo, Buda, LaoTsé, Maomé) captaram e transmitiram para os seres humanos a noção de que a gente se transforma e entra em outro nível de integração, de fusão no todo, que se chama paz total — nirvana, paraíso. Essa captação foi, naturalmente, alcançada através do cé­rebro direito, intuitivo-sintético e somente por esse lado podemos captar esse fato. De outro lado, informações podem ser levantadas por se­res humanos que foram considerados mortos, clinicamente, pe­la ciência médica oficial e, circunstancialmente, voltaram a ser contemplados com sua dimensão biológica de plena consciên­cia. A análise operacional de suas impressões, quando estive­ram em outro ou próximo de outro nível de transformação, pode trazer importante afirmação da provável continuidade da manifestação humana no pós-morte. No entanto o que se deve reter disso tudo (seja por um caminho ra­cional, intuitivo ou operacional) é a evidência dessa continui­dade, e não o fato da provável explicação dada pelas diversas cosmovisões da ciência, da religião ou do povo. Tudo isso explica, de novo, a cadeia uniManual de sobrevivência do ser humano - 182


versal dos siste­mas, sua interrelação, sua interdependência, sua evolução ou seu movimento e transformação contínua etc. Isso é o máximo que se pode aceitar. Ao “morrer”, supõe-se que a pessoa tenha um núcleo que se chamaria de “eu energético-psíquico” ou “eu-hologramáti­co”, ou seja, o grau de alcance da vibratoriedade dela no reino da energia em todos os níveis. Esse grau, essa conformação, esse conjunto, essa configuração (holograma) persiste, ou seja, a pessoa, ao “morrer”, continua a existir e a evoluir. Passando a outro nível, continua às voltas com a desproporção que ainda persiste sem ter de postular a necessidade de outro corpo. Esse processo continua até chegar à “fusão” que supere os contrários a tal nível de compactação que ele fique exata­mente nas proporções em que o atrito seria mínimo, nulo, e a sensação de unificação seria máxima. Retornar ao nível corporal é explicação muito primitiva das religiões orientais ou de outras ideologias religiosas que participam da mesma concepção. Naturalmente para se entender do jei­to que a questão foi aqui colocada, precisa-se de um lado es­querdo algo desenvolvido. Os que só têm predominância exagerada do lado direito torna­ram a reencarnação questão de crença, de fé, e não são ou estão acessí­veis a explicações desse tipo. A escatologia católica e protestante com céu, inferno, purgatório é a pior possível, tremendamente ameaçadora e definitiva, autêntico terrorismo espiritual. Teilhard de Chardin é o único que aceita a evolução no cristianismo, tanto na origem dos seres como no seu rumo ulte­rior. Teilhard faz parte do grupo natural da Igreja Católica, e seus escritos foram proibidos ao unir evolucionismo com cris­tianismo e zen-budismo. Procurou propor algo menos terrorista, mas não conseguiu se impor ou modificar os catecismos, fazedores de cabeças in­defesas. É preciso driblar a corporação científica, as corporações religiosas e também a consciência ingênua (o doente, o crente, o povo, o discípulo), para, aos poucos, se construir nova mentali­dade, novo horizonte rumo à dinâmica da vida universal e eterna, libertando indivíduos, grupos, países, a humanidade como um todo, dos estrei­tos limites dados pelos antiquados conceitos de nascimento e morte. O Homem, a Humanidade, os indivíduos caminham e vão caminhar sempre por upayas pe­riódicos e ascendentes, rumo ao além das 16. O bem-viver - 183


fronteiras postiças de nas­cimento e morte. A visão da vida humana apresentada aqui supõe que educadores, pais, cientistas, religiosos, militares reformulem seu papel, ajustando-o ao processo upaya. São upayadores e responsáveis pela construção da verdade, da realidade, do conhecimento e mesmo da felicidade do ser humano. Isso supõe reformulação dos currículos primários, secundários, uni­versitários, esvaziando-os do absolutismo, do autoritarismo e reconstruindo-os pela óptica trialética sistêmica, inclusivista, upaya, libertadora, democrática ou por outra gramática da vida mais libertadora, proporcional e atualizada. A revolução generalizada da educação, na área específica de cada um e de todos os 14 subsistemas, pode ser, no mínimo, concomitante à revolução econômica e política, e nunca anterior e isolada. Mas as sementes, os preparativos, os expe­rimentos, os primeiros embates triádicos podem ser postos em marcha, como prenúncio de mais alto teor vital para os conti­nuadores.

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17. Conclusão - A vida de cada um pertence a cada um, e a cada um compete conduzi-la.

Apesar do grande acervo de conhecimento que a Humanidade conseguiu conquistar até o momento, constata-se que o ser humano está dolorosamente desorientado, amedrontado, sozinho. Conhecimento sobre a realidade individual, do próximo, do meio ambiente, das relações interpessoais, grupais e societárias já se tem, o bastante e suficiente, para a solução da maioria dos grandes problemas que afligem a humanidade. No entanto, as dinâmicas fornecem os aspectos gerais, e os 14 subsistemas abordam aspectos específicos. A evolução levou 15 bilhões de anos para produzir um ser pensante, reflexivo, aberto à globalidade. Quanto tempo ainda levará para se produzirem seres humanos senhores de sua própria existência, que vivam em comunhão proporcional com tudo de que se necessita para sobreviver, ter esperança, se aventurar e gozar mais vida? Muitas barreiras já podem ser identificadas e contornadas para se poder sobreviver mais e melhor, ou seja, por mais tempo e o mais globalmente possível, dentro dos limites de nossas estruturas biológica, pessoal, social e cósmica. Claro que é necessário respeitar o processo contínuo e inexorável da história, que faz tudo se ligar a tudo e a todos. É preciso também acreditar no Homem, na sua índole, nas suas potencialidades, no seu bom senso, para que se possa desencadear uma reflexão mais ampla e menos exclusivista e sectária sobre nossa caminhada, de tal forma que se possa procurar uma conciliação entre a aventura de cada um de nós e a nossa dimensão social e teleológica. Sabe-se, hoje, que a verdade, a realidade, o conhecimento e a própria felicidade do homem não têm donos: tudo isto pertence ao Homem, a cada homem, se puder ser pensante e reflexivo, e, assim, enfim, a vida de cada um pertence a cada um, e a cada um compete conduzi-la. Enfim, a “aventura humana é a aventura de todos nós, do mistério da nossa origem, do desafio da nossa existência, da interrogação do nosso destino. Esta aventura é o processo em que todos estamos inseridos, conscientes ou inconscientes, recatados ou destemidos, francos ou enga17. Conclusão - 185


nosos, sempre oscilantes, mas todos indefectivelmente presentes, historicamente presentes, vivendo-a e ajudando a construí-la”. O Manual de sobrevivência do ser humano quer contribuir com quem possa, em qualquer geografia, tempo e situação, procurar propiciar uma mudança de sua perspectiva, tanto da visão de si mesmo, quanto da visão do outro e do mundo. Neste manual não se tem a pretensão de ser ou fazer ciência; de querer se investir do manto de uma revelação de ordem espiritual ou superior; ou de querer defender qualquer religião, filosofia ou ideologia atualmente vigente, hegemônica ou não, em qualquer parte da Terra. Certamente, também não pretende ser ou representar uma proposta única de análise, planejamento, execução e acompanhamento da trajetória humana de cada um de nós, dos grupos e das sociedades de nosso planeta. Quer, sim, servir de texto de leitura, inicial ou introdutória, para leitores isolados ou para grupos de discussão, como um ensaio em busca de autoconsciência, autocondução, mais vida e bem-estar global.

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18. Resumo

O Manual de sobrevivência do ser humano apresenta um instrumental, que não é de cunho próprio, mas que representa uma pequena ressíntese, uma epigênese, engenhada pela Cibernética Social, cujo autor principal é o professor Waldemar de Gregori. Pretende servir de teoria e instrumento geral de pensamento e ação, generalista ou interdisciplinar, como instrumento de autocondução e comunhão ou de intercâmbio triádico compensador, com suposta abrangência global e que implica, como qualquer outra síntese: 1) Conceitos e princípios fundamentais em que se apoia o raciocínio explicativo e operativo do universo, do planeta, da organização social, da vida dos indivíduos (cosmovisão — instrumento). 2) Um quadro de referência teórico, uma armação de conceitos e teorias para representar a realidade, manejá-la simbolicamente e replanejála (linguagem científica). 3) Uma teoria do cérebro humano, suas funções e normas operativas (noologia). 4) Uma proposta ou processo de convivência planetária, nacional ou comunitária, com sua teleologia (metas) e sua praxiologia, ou o que e como fazer para atingir as metas de uma vida considerada boa e feliz através da organização e prática socioeconômica (cosmovisão — produto). 5) Uma ética, critérios orais e leis para regular o comportamento individual, grupal, nacional, planetário e ecológico de todos, bases e cúpulas, na competição maximocrática por meios de vida (controle social). 6) Uma lógica social para garantir ou policiar a coerência e a consonância entre o que se crê e se diz (cosmovisão, noologia, simbolosfera) e o que se faz (processo de convivência histórica), principalmente entre elites e povo, governo e governados, chefias e chefiados, dominados e dominadores em geral.

18. Resumo - 187


O Manual de sobrevivência do ser humano não pretende ser considerado oficial pela ciência, pela religião ou pelo saber popular e parte do princípio de que o conhecimento, o aprimoramento e o uso efetivo do cérebro humano, pelo próprio ser humano, constituem a ferramenta básica para a sobrevivência, a manutenção e o bem-estar global e mais vida do mesmo. Esse instrumental afirma que o homem contemporâneo já conhece muito, mas que ainda não detém a verdade, a realidade, o conhecimento ou a felicidade última, acabada, pronta. Procura ainda separar dentro da imensa quantidade e qualidade de informação e conhecimento atual alguns fundamentos básicos que, se utilizados, acredita, possam melhorar a qualidade de vida dos indivíduos, das instituições e do planeta.

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19. Glossário

JOGO TRIÁDICO ou dos três subgrupos — É a suposição de que a energia se move por dois polos ou tendências em tor­no de uma massa central, como no átomo (nêutron, próton e elétron) e suas partículas. As relações são de afinidade ou coo­peração entre a massa central e qualquer dos dois polos, mas sob a forma de tensionamento, repulsão e contradição entre os dois polos, sem conotação de bem e mal, certo e errado. Isso vai se repe­tindo nos organismos, nos indivíduos, na família, nos grupos, nas corporações, nas comunidades, no planeta. Ao nível de organizações, o jogo triádico ou os três subgrupos recebe nomes como: 1. Subgrupo oficial (o que predomina, coordena, lidera). 2. Subgrupo natural (o que diverge, inova, compete). 3. Subgrupo oscilante (o que se mantém no meio, disponível). Dentro de cada subgrupo existe também o jogo triádico, que vai sempre se desdobrando ou associando em esferas me­nores ou maiores. E uma abordagem dialética de base três: se fosse dialética de base dois, seria diádica. Há outras variedades de dialética. SISTEMA — É o modo de perceber a realidade em conjun­tos ou partes articuladas de alguma maneira, não só entre si, mas entre todos os conjuntos numa cadeia de trocas (entradas e saídas) de energia. A dialética percebe partes articuladas aos pares, em contradição. A trialética percebe partes articuladas em trios, formando o jogo triádico, explicado acima. Neste manual, usamos a teoria sistêmica, redefinida por uma dialética de base três (ou trialética sistêmica). Supõe a superação da abordagem “monolética” — de um elemento, uma parte de cada vez, isoladamente, como se cada rea­lidade fosse um bloco só, unitário e único, ao invés de unitriá­dico.

19. Glossário - 189


CÉREBRO TRIÁDICO — Numa combinação de McLean e Sperry, apresentamos o cérebro como unitriádico: hemisfério esquerdo, hemisfério direito e porção central; ou cérebro reptí­lico (comum, antigo), cérebro límbico, cérebro neocortical (re­cente); ou processo motor, intuitivo e lógico. Usamos também o conceito de ciclagem cerebral: acima de 14 ciclos por segundo corresponde ao nível beta; de 8 a 13 ciclos por segundo, ao nível alfa; de 4 a 7, ao nível theta; e de 0,5 a 3 ciclos por segundo, ao nível deIta. A vida co­tidiana funciona em nível beta, e abaixo disso, em faixas vibratórias mais lentas, flui outro universo, outra vida. ENTROPIA, ANATROPIA, FEEDBACK — Cada sistema é energia instável e, para manter-se, precisa reabastecer-se com novas fontes de energia. Um sistema qualquer é processador de energias (capta, processa, emite). Como é instável, tem altos e baixos e pode pender para a desagregação, a deterioração e a dissolução de seu atual estado. Isso é o que se chama entropia: degradação de nível energético. Por exemplo, a doença, a morte. O oposto se chama anatropia ou antientropia. Cada sis­tema está munido ou precisa de mecanismos de regulagem “an­tientropia” ou de homeostase (equilíbrio), chamados feedback. Quando um sistema energético humano é capaz de regular-se sozinho ou de fazer seu autofeedback, diz-se que tem autocondução, autonomia. Quando não, diz-se que precisa de heterocondução, como quando um doente procura um profissional de saúde para curá-lo. QUATORZE SISTEMAS — É a classificação das necessidades básicas de um sistema energético humano (antes classificadas como socioeconômicas), a saber: S0l. PARENTESCO (sexo, família, moradia, prole, fertilida­de e geração). S02. SAÚDE (sobrevivência, higidez e bem-estar biopsicosso­cial). S03. MANUTENÇÃO (realimentação, bebida, vestuário e re­pouso). S04. LEALDADE (afinidade, atração, amor, associativismo e união). S05. LAZER (ludicidade, alegria, humor, felicidade e prazer). S06. VIÁRIO (mobilidade, informação e comunicação). S07. PEDAGÓGICO (curiosidade, aprendizagem, saber e ca­pacitar-se). S08. PATRIMONIAL (dotação de meios, posse, acumulação e suprimento). Manual de sobrevivência do ser humano - 190


S09. PRODUÇÃO (fazer, trabalhar e engenho na busca de meios). S10. RELIGIOSO (transcender-se, ir além de si mesmo, reuni­ficação maior). S11. SEGURANÇA (agressividade, combatividade, força e paz). S12. POLÍTICO-ADMINISTRATIVO (organização, ordem, planejamento e liderança). S13. JURÍDICO (leis, normatização e regulagem do jogo da vida). S14. PRECEDÊNCIA (sobressair-se, ascender e ser reconheci­do). Os 14 sistemas podem ser agrupados em: necessidades físicas ou básicas; necessidades secundárias ou culturais; e ne­cessidades superiores, artísticas e espirituais (classificação de Maslow). Podem também ser reagrupados pelos três processos mentais. PRESTADIO — Quem presta serviços. USUÁRIO — Quem recebe serviços. UPAYA — Aquele que, por ter mais recursos, conhecimentos, consciência, conduz alguém provisoriamente com o intuito de diminuir ou acabar com a distância entre ele e seu dependente, ou, dito de outra forma, visa à emancipação e autossuficiência de seu discípulo. MAYA — Relação que visa à dominação, à exploração, ao engodo de um dos polos da relação de entreajuda. FLUXOGRAMA EVOLUTIVO DO SER HUMANO­— É a descrição da existência do ser humano dentro de uma visão sistêmica e triádica, enfocada a partir da formação de individualidade, suas metas, seu jogo para ser alguém e rea­lizar-se.

19. Glossário - 191


PROCESSO SOCIAL — É o conjunto de fenômenos, estru­turas e ações de dada comunidade organizada e evoluindo nos 14 subsistemas por força da dialética inerente à energia e sob direcionamento do poder civil e religioso. ALOMORFIZAÇÃO — Processo de transformação, meta­bolismo, conversão e transubstanciação de inputs na faixa inter­na de um sistema. Passagem de um estado de ser a outro. ANTROPOFREQUÊNCIA — Faixa, amplitude, liminarida­de, piso e teto da capacidade de percepção e interação do ser humano em relação à realidade total com que está em cadeia universal. Mesmo com os melhores micros ou macroscópios como extensores de seus sentidos e cérebro, a cadeia universal ultrapassará o homem sempre. Mas a antropofrequência pode ser melhorada nas três dimensões do cérebro humano. DIALÉTICA — Modo de pensar segundo o qual o raciocí­nio se desenvolve por contradições até chegar a termo comum chamado síntese (Hegel); modo de julgar e agir segundo o qual a história se desenvolve através da contradição de classes e subgrupos (dominadores-tese x dominados-antítese), chegando a momentos de síntese e recomeçando depois (Marx). A dialé­tica marxista ressalta mais a díade conflitiva como objeto de análise e sujeito da história. DINÂMICA ENERGÉTICA — Refere-se ao movimento da energia e suas leis, partindo da física subatômica, da química, da astronomia, da biologia, como base, como núcleo de todo ser, diferenciando-se por graus de complexidade ou dinâmicas. DINÂMICA DE POTENCIALIDADES — Refere-se ao processo de elaboração (hereditariedade) de um sistema, seus recursos e meios de desenvolvimento e regeneração, seu estado de tensão, efervescência e direcionamento da energia interna. DINÂMICA NOOLÓGICA — Funcionamento do cérebro, suas operações de pensamento, criatividade e ação no meio ambiente. Manual de sobrevivência do ser humano - 192


DINÂMICA INDIVIDUAL — Evolução do fluxograma evolutivo de uma pessoa, em 8 ou 10 ciclos triádicos principais, desde a integração na família, sua emancipação, sua inserção no mundo do trabalho, até a competição por destaque social, apo­sentadoria e transformação. DINÂMICA DE GRUPO EXPLÍCITA — Ligação de pes­soas entre si, formando hierarquia com três subgrupos, normas, metas e beneficiando-se, assim, da sinergia (efeito do trabalho em série ou em linha). Dizse DG explícita, quando seus mem­bros estão conscientes das posições subgrupais, lideranças, normas, técnicas de comunicação e reunião etc.; do contrário, diz-se DG implícita. Diz-se mgd (microdinâmica de grupo) quando se refere à familia ou a grupos isolados; e diz-se MGD (macrodinâmica de grupo), quando se refere a redes de grupos ou instituições, que se dividem em MGD específica (para or­ganizações de cada sistema) e MGD generalista (para organi­zações máximas, cúpulas de poder, como Governo, Igreja, Esta­do). DINÂMICA DE SOBREVIVÊNCIA ERGONOMI­NAL — Agendas (trabalho) de prestadios e usuários em seus 14 subsistemas para abastecer com bens e seu valor nominal as necessidades individuais e coletivas. E redenominação do pro­cesso de produção e partilha de bens e dinheiro (economia). DINÂMICA UNIVERSAL — Refere-se ao processo e à mar­cha da vida, do planeta e do universo como um todo, rumo ao futuro, à tentativa de dar sentido e valor ao evoluir histórico, evitando o absurdo e o ceticismo. ENDOCULTURAÇÃO — Processo em torno de inovações “invadindo” o corpo cultural, o qual gera esforços de implan­tação pelos inovadores, de resistência pelos conservadores e de vaivém por parte dos oscilantes. ENERGIZAÇÃO — Conexão com fontes, incorporação de meios de vida ou inputs ativadores.

19. Glossário - 193


EPIGÊNESE — Começo de novo ciclo. Cada novo ciclo começa quando o anterior ainda não terminou, sobrepondo-se como escamas, penas ou como gerações de pais, filhos, netos. Epigênese supõe ciclos ondulatórios, recapitulação do passado e probabilismo de evolução em qualquer direção. ESCATON — De escatologia (o que vem depois da morte). Usa-se para designar a “recompensa” depois da morte pelas privações aceitas em vida. É forma de iscação (aparência de recompensa, ilusão) dos fiéis pelas autoridades religiosas, assim como os subgrupos oficiais de governo ludibriam os ci­dadãos com o cifrão, criando a fantasia de riqueza material pa­ra todos. ÉTICA SOCIAL TRIÁDICA — Conjunto de princípios e leis para regular o jogo triádico dos subgrupos, em todos os seus níveis e aspectos. A base seria a proporcionalidade triádi­ca, compensatória, por ciclo, rotativa, com feedback trilateral etc. Supõe pactos sociais periódicos. EU-FONTE — Pessoa cultivada em todas as dinâmicas, que se torna princípio, começo de novas ideias, de nova vida, de no­vos grupos, de movimentos etc. FAIXA EXTERNA (FE) e FAIXA INTERNA (FI) — Os dois lados (dentro e fora, aquém e além) de uma linha demar­catória — fronteira, pele, casca, atmosfera -, funcionando como alfândega, válvula, controle de entradas e saídas energéticas ou intercâmbio entre a parte interna e externa de um sistema. FEEDBACK — Mecanismo de regulagem, ajustamento, di­ recionamento de um sistema em relação a si e às mudanças do meio ambiente. A tradução literal — retroalimentação — só é apropriada para computadores. O feedback pode ser: de reforço, de correção; voluntário ou imposto; eficaz ou ineficaz; periódi­co ou casual; etc. FUTURIÇÃO — Previsão, prospectiva, profecia, cálculo de probabilidades por ciclos, que depende dos dados e conju­gação de cada lado do cérebro humano com suas extensões. Manual de sobrevivência do ser humano - 194


HOLÓGRAFO — Aparelho inventado por Dennis Gabor para, com auxílio de raios laser, fazer “fotografias” ou pro­jeções tridimensionais, globais, holísticas, ditas “hologramas”. Hológrafo social é o instrumento, gráfico, quadro para descre­ver e analisar, globalmente, holisticamente, uma realidade social. HOLISMO — Modo de abordar algo partindo do todo, do conjunto, e não da parte (globograma antes do pro­grama). Enfoque gestáltico, holístico, aperceptivo, baseado na suposição de uma antropofrequência inata, pré-existente, de ti­po instintivo-reptílica e intuitiva, que se pode correlacionar com o conhecimento a priori de Kant, o inconsciente coletivo de Jung, a intuição de Bergson e a predisposição sintática de Chomsky. HOMEOSTASE — Respostas de equilibração num meio móvel e ondulado, lembrando os malabarismos do surfista so­bre a prancha, respondendo à mobilidade das ondas. A ho­meostase em momentos sucessivos ou ao longo de ciclos evo­lutivos chama-se homeorrese. Como geralmente trabalhamos com tríades de componentes desiguais, falta uma palavra (trios­tase?) para os movimentos correlatos de mútua adequação ou de proporcionalidade triádica móvel. IDEOLOGIA — Conjunto de ideias e explicações de cada subgrupo, expressando sua percepção da realidade e seus inte­resses, justificando-os, disfarçando-os etc., como capitalismo, socialismo, cristianismo, ciência. Essas são ideologias gerais de cada subgrupo oficial máximo do planeta, as elites planetá­rias. Induzir os distraídos a optar por uma delas e combater as demais é refinamento do uso das ideologias e espécie de con­chavo entre elites, que chamamos superideologia, disfarçando dessa forma o foco profundo da patogênese social, que é o ofi­cialismo maximocrático de todas elas. INCLUSIVISMO — Atitude de quem, em suas atitudes mentais e existenciais, vê, admite e assume os três subgrupos. O oposto é exclusivismo, com a imposição de um só lado e ex­clusão dos outros. ISCAÇÃO — Promessas sempre renovadas e de realização sempre adiada, como estratagema dos subgrupos oficiais e na­turais, para fazer "trotar" os oscilantes e levá-los a fazer força. 19. Glossário - 195


MAYA — Miragem, ilusão, realidade que não é, aparências que enganam, iscação. MAXIMOCRACIA — Princípio inerente à energia e aos sistemas que impele ou arrasta a desejar, disputar, acumular sempre mais e mais, sem alcançar plena satisfação. Na prática se resume ao princípio “minimaxi”: o mínimo de perdas com o máximo de ganhos.

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Referências

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20. Referências - 201


Este e outros livros da Editora Fundac-BH s達o encontrados em nosso site: www.fundac.org.br


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