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EXPEDIENTE >> OI FUTURO DIRETORIA EXECUTIVA: Otávio Marques de Azevedo e Pedro Jereissati PRESIDENTE: José Augusto da Gama Figueira VICE-PRESIDENTE: George E. Moraes DIRETORIA: Paola Scampini (Educação) e Rafael Oliva (Projetos e Programas) EQUIPE EDUCAÇÃO: Alessandra Moura, Carla Branco, Fernanda Sarmento, Henrique Rodrigues e Maria Fernanda Todeschini ESTAGIÁRIA: Lorraine Cunha ASSESSORIA DE IMPRENSA: Carla Meneghini, Leilah Aciolly Leticia Duque ASSOCIAÇÃO IMAGEM COMUNITÁRIA PRESIDÊNCIA DO CONSELHO GESTOR: Elias Pereira dos Santos VICE-PRESIDÊNCIA DO CONSELHO GESTOR: Valéria Cristina de Paula Martins SECRETÁRIA-TESOUREIRA: Juliana Rodrigues de Almeida DIRETORIA INSTITUCIONAL: Rafaela Lima DIRETORIA DE PROJETOS: Aléxia Costa Melo DIRETORIA DE PROJETOS EDUCACIONAIS: Ana Tereza Melo Brandão DIRETORIA DE METODOLOGIA E PESQUISA: Paulo Emílio de Castro Andrade
ENCONTROS DE DIÁLOGO CONCEPÇÃO E COORDENAÇÃO: Ana Tereza Melo Brandão, Leandro Matosinhos, Paulo Emílio de Castro Andrade e Ricardo Fabrino PROPOSITORES DOS ENCONTROS: Eu Penaforte, Guilherme Ferreira, Luiz Marfuz, Ricardo Fabrino, Warley Bombi e Zenny Luz PARTICIPANTES: Aléxia Melo, André Protasio, Anna Karina Castanheira Bartolomeu, Carlos de Brito e Mello, Carlos Henrique Falci, Clebin Quirino, Danilo Scaldaferri, Élida Santana, Fernanda Santos, Fernando Figueiredo de Paula, Fred Negro F, Gabriela Batista, Giovânia Monique, Jalver Bethônico, Manuel Guerra, Marcelle Arjones, Marcelo Terça-Nada!, Marconi Bispo, Mariana Fernandes Gontijo, Marlon David, MC Jefinho, Moacir Lago, Musso Greco, Nilo Ventura, Noni Ostrower, Pedro Durães, Piero Bagnariol, Renato Negrão, Ricardo Portilho, Rogério Gomes, Rubner de Abreu, Russo APR, Sara Silva Ribeiro, Silvio Figueiredo, Sylvia Amélia, Tainara Ferreira, Tiago Antônio Costa de Almeida (Monge) e Victor Guimarães PRODUÇÃO: Eu Penaforte, Flávia Péret, Leo Souza e Warley Bombi REVISTA SISTEMATIZAÇÃO/TEXTO: Leandro Matosinhos e Ricardo Fabrino EDIÇÃO: Rafaela Lima REVISÃO: Pablo Gobira COLABORADORES DE TEXTO: Flávia Péret, Tiago Pissolati, Victor Guimarães e Victor Vieira DESIGN GRÁFICO: Warley Bombi FOTOS: Acervo Oi Kabum! Belo Horizonte DVDs/CD-ROM PRODUÇÃO DE IMAGENS E EDIÇÃO: Alexandre Campos, Eu Penaforte, Leo Souza, Oswaldo Teixeira e Pedro Aspahan
M433a Matosinhos, Leandro Mascarenhas Encontros de diálogo / Leandro Mascarenhas Matosinhos ; Ricardo Fabrino Mendonça. – Rio de Janeiro : Oi Futuro ; Belo Horizonte : Associação Imagem Comunitária, 2011. 112 p. ; 23 cm. ISBN 978-85-99247-23-5 1. Arte/educação 2. Educação 3. Tecnologia da informação e comunicação 4. Juventude. I. Mendonça, Ricardo Fabrino. II. Título. CDD – 700.7 Ficha catalográfica elaborada por Júlio César Schroeder Queiroz CRB6- 2190
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Leandro Mascarenhas Matosinhos Ricardo Fabrino Mendonça
encontros de
diálogo
Belo Horizonte Oi Futuro Associação Imagem Comunitária 2011
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ENCONTROS DE DIÁLOGO >> É difícil encontrar alguém que não goste de uma boa conversa. Uma discussão acalorada em uma mesa de bar ou um papo tranquilo na sala de casa, a conversa é uma situação privilegiada para que nos atualizemos sobre o que anda acontecendo. Rápidas ou demoradas, entre amigos ou com desconhecidos, em espaços públicos ou privados, as conversas se configuram como um meio corriqueiro por meio do qual nos informamos, expressamos nossas opiniões e nos deparamos com pontos de vista variados. Elas afetam profundamente nossas vidas e nos conectam ao mundo e às outras pessoas. Para além da dimensão pessoal, deve-se ressaltar a importância social da conversa. Uma de suas contribuições mais significativas reside na possibilidade de produção coletiva de conhecimento. Por mais que o ato de “bater papo” seja despretensioso, talvez justamente por isso ele gere sempre um encontro entre pessoas. Pessoas essas que têm opiniões distintas, ideias específicas, experiências de vida singulares. O encontro permite que essas pessoas se vejam juntas e se desloquem mutuamente. Tal deslocamento é sempre uma oportunidade de criação de algo novo, que surge da partilha, e que não seria produzido isoladamente. Há um antigo provérbio baseado nessa premissa — “duas cabeças pensam melhor do que uma” — e sua prática é ainda mais antiga. Basta lembrar a metodologia socrática de produção de conhecimento, que se baseava no diálogo como forma de gerar um parto intelectual. Muitos séculos mais tarde, autores liberais, como J. S. Mill, também enfatizaram a importância da conversa livre entre pessoas como forma de gerar o esclarecimento recíproco. Recentes estudos de teoria política depositam suas esperanças na conversa entre os cidadãos para aprimorar a democracia, apostando justamente na produção de conhecimentos mais complexos. Experimentos democráticos realizados em diversos países batem na mesma tecla: é preciso colocar as pessoas para conversar, pois só assim elas poderão construir soluções coletivas para os complexos problemas da contemporaneidade. Dos júris de cidadãos norte-americanos às conferências de consenso dinamarquesas, passando pelas células de planejamento alemãs e pelo parlamento dos cidadãos australiano, nota-se uma ideia: é conversando que os cidadãos podem construir algo efetivamente coletivo. Esses experimentos já foram usados na discussão de questões tão complexas como a reforma do sistema político, as mudanças climáticas, o sistema público de saúde, a biotecnologia e a energia nuclear. Os organizadores de tais encontros de conversa argumentam que é necessária uma pluralidade de visões para que a complexidade dos problemas sociais seja efetivamente considerada. Foi apostando nesse potencial da conversa para a produção coletiva de conhecimentos que o Programa Oi Kabum! Escola de Arte e Tecnologia realizou uma série de Encontros de Diálogo ao longo de 2009. Tais encontros tinham um propósito inicial bastante específico: contribuir para o planejamento e implantação da escola belo-horizontina. Naquela ocasião, a equipe da Associação Imagem Comunitária (AIC), ONG parceira do Programa em Belo Horizonte, sentiu a necessidade de compreender melhor como alguns dos eixos
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norteadores da Oi Kabum! se manifestavam na prática. Fazia-se fundamental dialogar com jovens, artistas, acadêmicos, educadores e, sobretudo, profissionais, educandos e egressos das outras escolas Oi Kabum!, localizadas em Salvador, Rio de Janeiro e Recife. A ideia era engendrar uma rede colaborativa de reflexões que permitisse a consolidação do rico conhecimento praticado pelos integrantes do Programa, de modo a contribuir para a implantação da escola de Belo Horizonte e também para o fortalecimento das Oi Kabum! como um todo. No entanto, à medida que os Encontros de Diálogo foram sendo realizados, percebeu-se a riqueza que as reflexões poderiam trazer, também, para arte/educadores que atuam em escolas e ONGs. A proposta foi prontamente abraçada pelo Instituto Oi Futuro, que participou da construção dos encontros. Coube à AIC desenvolver uma metodologia capaz de fomentar os processos coletivos de reflexão. Nessa empreitada, e em sintonia com seu histórico participativo, a instituição buscou inspiração inicial em, basicamente, duas fontes. A primeira delas são as metodologias de construção partilhada do saber. A equipe da AIC recorreu a diversos estudos sobre grupos focais e grupos de conversação no campo da educação e da política. Foi de particular importância, nesse sentido, o relatório da pesquisa Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, produzido, em 2006, sob a coordenação do Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas) e do Pólis (Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais). Uma das etapas da mencionada investigação consistiu na realização de uma série de grupos de diálogo envolvendo 913 jovens de sete capitais brasileiras. Ainda nessa linha, também foram fundamentais para a construção da metodologia dos Encontros de Diálogo da Oi Kabum!, os escritos do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, cujas ecologias dos saberes chamam a atenção para a necessidade de ações coletivas no campo do conhecimento. Em sua proposta de uma Universidade Popular dos Movimentos Sociais, o autor defende a realização de encontros sistemáticos entre teóricos e ativistas, para que o conhecimento se democratize, a ciência não se isole, e a prática política não se esvazie. O sociólogo enfatiza a dimensão coletiva do saber, questionando a dicotomia entre o ensinar e o aprender. Essas duas referências foram fundamentais para que se concebesse um método de produção partilhada de conhecimento calcada no diálogo. Os Encontros de Diálogo não se configuram, entretanto, simplesmente como espaços em que as pessoas podem falar. O passo fundamental da metodologia consiste em fomentar a reflexão coletiva. É aqui que a segunda fonte de inspiração da metodologia se faz clara: a noção de proposição. Essa noção vem sendo trabalhada pela AIC há alguns anos em sua constante investigação acerca da ideia de jogos midiáticos. A proposição, entendida nos termos da artista plástica Lygia Clark, funciona como uma espécie de gatilho que coloca um jogo em andamento. Ela instaura um processo reflexivo, não puramente cognitivo, na medida em que desloca formas naturalizadas de perceber o mundo. A proposição envolve alguma espécie de fazer que objetiva mover os sujeitos de um lugar seguro e estabelecido para que possam se perceber diante do inusitado.
Em síntese, trata-se de uma proposta que reconfigura certo espaço relacional, convidando os participantes a interagir de formas novas e a desenvolver as próprias regras dessa interação. Tal como no jogo ideal, descrito pelo filósofo francês Gilles Deleuze, no livro A lógica do sentido, uma proposição não deve impor regras a serem interiorizadas e aplicadas pelos participantes. Ela coloca uma situação que permite que os participantes desdobrem o jogo para direções que não foram estabelecidas de início e que não são inteiramente previsíveis. Reunindo a ideia de proposição aos estudos sobre produção coletiva de conhecimento, estavam dadas as bases da metodologia dos Encontros de Diálogo empregada pela Oi Kabum!. Foram, então, realizados cinco Encontros entre março e outubro de 2009. O primeiro deles, sobre “Arte, Juventude e Trabalho”, discutiu a configuração de arranjos produtivos com jovens artistas de Belo Horizonte. O segundo Encontro, sobre “Arte e Educação”, envolveu arte/educadores das escolas Oi Kabum! e de outras instituições a fim de discutirem métodos, objetivos e propostas nesse campo. O terceiro voltou-se a abordar as interfaces entre “Arte, Juventude e Trabalho”, convidando jovens egressos das Oi Kabum! localizadas no Recife, Rio de Janeiro e Salvador, bem como ex-participantes de projetos sociais, para discutirem a questão da inserção no mundo do trabalho. No quarto Encontro, educadores e artistas debateram a interface entre “Arte e Tecnologia”, explorando seus desdobramentos contemporâneos. Na ocasião, estiveram presentes educadores de todas as escolas Oi Kabum!. Por fim, o quinto Encontro abordou a temática de “Arte e Política”, promovendo um debate entre acadêmicos e artistas sobre o potencial político da arte e os riscos dessa relação. Profissionais que atuam como pesquisadores, artistas e educadores foram convidados para elaborar uma proposição e conduzir o debate que se daria ao longo de cada Encontro. Os textos que compõem esta revista buscam sistematizar os eventos, apresentando as proposições realizadas e a produção coletiva de conhecimento desencadeada. Espera-se que esse produto se configure como mais uma instância de diálogo e troca, realimentando um ciclo de proposições, conversas e produção de conhecimento em torno das complexas interfaces entre arte, tecnologia, educação, política, juventude e trabalho. A AIC contou com parceiros inestimáveis para empreender esse amplo processo de construção coletiva de conhecimento: o Instituto Oi Futuro, que desde o primeiro momento apostou na ideia; os educadores e jovens das escolas Oi Kabum!, do Recife, do Rio de Janeiro e de Salvador; os artistas, acadêmicos e produtores culturais que participaram dos Encontros. Agradecemos a todos esses interlocutores, que teceram conosco os diálogos que são a base desta revista. Belo Horizonte, 2º semestre de 2011. Equipe da Associação Imagem Comunitária
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> 25 Arte, Juventude e Trabalho [1ยบ Encontro]
> 41
> 11 Arte e Tecnologia
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Arte, Juventude e Trabalho [2ยบ Encontro]
> 83 Arte e Educação
> 59 Arte e Política
> Seguindo o exemplo de diversos pesquisadores brasileiros, nesta publicação, optamos por utilizar uma barra na grafia da palavra arte/educação. Para esses estudiosos do ensino da arte, o uso da barra, em vez do hífen, denota a existência de uma íntima integração entre os dois campos aos quais o termo faz referência. 9
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encontros de
diรกlogo
Arte e Tecnologia
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> A arte sempre dialogou com as tecnologias. Os artefatos produzidos pelo homem têm sido apropriados das mais diversas formas pelos artistas e essa apropriação não se dá de forma meramente utilitária. Os modos de se criar arte têm sido profundamente impactados pelo desenvolvimento tecnológico. Frente a esse fato, tão contundente no atual cenário das novas tecnologias, faz-se necessária uma postura crítica – especialmente no campo do ensino da arte. O desafio é trabalhar a sensibilidade, a criatividade, a inventividade e a expressão dos educandos de forma articulada – mas não subordinada – a diversificados equipamentos e softwares que têm presença decisiva no universo da criação artística. Esse desafio foi o tema central do Encontro de Diálogo sobre Arte e Tecnologia, evento realizado, ao longo de dois dias, no espaço da ONG Humbiumbi – Arte, Cultura e Educação (Belo Horizonte). O Encontro foi conduzido pelo músico e professor Guilherme Ferreira, que atua na Fundação de Educação Artística (FEA – BH).
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SAIBA COMO FOI
O ENCONTRO
O evento contou com a participação de nove profissionais que trabalham como educadores e que apresentam trajetórias marcadas por experiências no campo da criação artística. Cinco educadores da Oi Kabum! integraram o grupo: Fernanda Santos (web design) e Manuel Guerra (computação gráfica), de Belo Horizonte; André Protasio (design sonoro), do Rio de Janeiro; Danilo Scaldaferri (vídeo), de Salvador; e Moacir Lago (história da arte e da tecnologia), do Recife. Participaram, também, dois professores da Escola de Belas Artes da UFMG: Carlos Henrique Falci, que produz e investiga obras que conjugam arte e tecnologia; e Jalver Bethônico, que realiza uma pesquisa sobre as relações imagem-som em sistemas musicais interativos. O grupo contou ainda com a participação de Pedro Durães e Rubner de Abreu, dois professores da FEA, entidade belo-horizontina que há 47 anos promove o ensino da arte, com foco especial na música. No início do Encontro, foi apresentada aos participantes a proposta de criarem coletivamente algumas cenas sonoras utilizando o Audacity (software para a edição de som) e uma série de arquivos de áudio previamente selecionados. Para o desenvolvimento da atividade, todos estavam assentados em torno de uma mesa na qual havia diversos computadores. O objetivo da proposição era instigar o grupo a refletir sobre o papel desempenhado pelas novas tecnologias nos processos de produção de arte. Para garantir a participação efetiva de todos os envolvidos na atividade, antes de dar início ao processo de criação, Guilherme apresentou algumas ferramentas do software que seria utilizado. Após a apresentação, os envolvidos passaram a trabalhar na construção de suas cenas sonoras. Uma vez finalizadas as cenas sonoras originais, os participantes, em rodízio, passaram a recriar as cenas dos demais colegas. De acordo com as indicações apresentadas por Guilherme, para garantir um registro de todas as etapas do processo de criação, cada um deveria salvar o arquivo de áudio resultante de suas interferências com outra denominação, preservando, assim, o arquivo original. Ao final da atividade, as pessoas retornaram aos computadores em que trabalhavam no princípio do processo e promoveram outras modificações nos arquivos que haviam sido alterados na fase imediatamente anterior. Em seguida, salvaram, com outras denominações, as cenas sonoras modificadas. Por fim, os integrantes do grupo ouviram a sequência de arquivos sonoros referente a cada uma das cenas construídas. Ao escutarem os arquivos na ordem em que foram criados, todos puderam perceber as progressivas mudanças pelas quais cada uma das composições passou ao longo do processo.
Mais informações sobre as trajetórias dessas pessoas estão disponíveis ao final da revista.
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REFLEXÕES GERADAS
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PELO ENCONTRO
A proposição de Guilherme gerou uma experiência de criação colaborativa que foi o mote para os participantes refletirem sobre as relações entre a criação artística e os aparatos tecnológicos a ela relacionados. O Encontro foi permeado por inúmeras conversas sobre tal reflexão. Além disso, a parte final do evento foi destinada especialmente para que o grupo trabalhasse algumas questões de modo mais sistemático. O resultado desse processo encontra-se nos textos que se seguem.
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ARTE, NOVAS TECNOLOGIAS E NOVAS PERCEPÇÕES >>
A produção artística acompanha a existência humana desde os tempos mais remotos. É o que destacou Guilherme Ferreira, mediador do Encontro, ao apresentar imagens de pinturas de aproximadamente 17 mil anos que estão registradas nas paredes da gruta de Lascaux, no sudoeste da França.
Ele contou ainda que, recentemente, arqueólogos desenterraram, no sudoeste da Alemanha, flautas construídas pelo homem há milhares de décadas. Uma dessas flautas tem idade estimada de 35 mil anos e é considerada o instrumento musical mais antigo da humanidade.
O mediador Guilherme Ferreira conversa com os participantes do Encontro
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Deslocamentos Dos artefatos rudimentares do homem das cavernas à parafernália digital dos dias de hoje, o surgimento e a difusão de novas tecnologias sempre promovem deslocamentos no modo como o homem enxerga o mundo. Essa ideia defendida por Guilherme aproxima-se das formulações do teórico canadense Marshall McLuhan. No livro Os meios de comunicação como extensões do homem, McLuhan aponta que o aparecimento e, sobretudo, o uso de determinadas tecnologias é um fator que propicia a emersão de ambientes humanos completamente novos. Para o autor, novas tecnologias afetam de forma decisiva a maneira como os homens constroem suas interações sociais e como percebem o contexto em que estão inseridos. Guilherme apontou que, ao provocarem mudanças no campo da percepção, as inovações tecnológicas também afetam o modo como o homem elabora suas produções artísticas. Ele citou que o surgimento da técnica de representar graficamente uma composição musical por meio de um conjunto padronizado de símbolos contribuiu de modo significativo para que a música do Ocidente sofresse uma transformação bastante expressiva. Segundo Guilherme, nos idos da Idade Média, a prática da notação musical deixou de ser apenas um meio de registrar uma música preexistente, passando a desempenhar um papel importante no
Guilherme Ferreira, propositor e mediador do Encontro
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processo de composição. Assim, a prática da notação veio a amparar a imaginação e a pesquisa artística dos compositores. Conforme evidenciou Guilherme, caso não tivesse utilizado a técnica da notação musical, o compositor Guillaume de Machaut não teria criado, no século XIV, a música sacra Meu fim é meu começo, sobrepondo três melodias de modo bastante complexo e inventivo. Foi somente por ter representado graficamente essas melodias sobre uma superfície que o compositor pôde, por meio da visualização, ajustá-las de modo inovador. Já no campo das artes visuais, a invenção dos tubos de tinta, na primeira metade do século XIX, impulsionou importantes mudanças no modo como os pintores desenvolviam seu ofício, pois facilitou o trabalho fora dos ateliês. Com o surgimento dos tubos de tinta, as paisagens tornaram-se temas comuns nos quadros produzidos e os artistas passaram a explorar melhor as potencialidades de luzes, cores e movimentos. Para muitos estudiosos da história arte, essa invenção foi significativa para que o movimento impressionista pudesse florescer. Como dispunham de mobilidade para pintar quadros ao ar livre, artistas impressionistas, tais como Claude Monet, tiveram maior facilidade para capturar as nuances de cor que as paisagens retratadas assumiam em diferentes momentos do dia.
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DESAFIOS PARA O ENSINO DAS “ARTES MIDIÁTICAS” >>
Uma escola que busca incentivar seus alunos a produzirem trabalhos artísticos a partir de certo conjunto de aparatos tecnológicos geralmente se vê diante da seguinte questão: como fazer com que a aprendizagem necessária para a operação de softwares e equipamentos e o desenvolvimento da sensibilidade artística não sejam duas dimensões desconexas de um mesmo processo pedagógico? Para Rubner de Abreu, participante do Encontro, a prioridade deve ser incentivar os educandos a expressarem-se artisticamente. Para ele, o foco das atividades deve se voltar ao desenvolvimento da percepção e da expressividade e não à aprendizagem em relação ao uso de ferramentas. Partindo das observações apresentadas por Rubner, chegou-se à conclusão de que a aprendizagem necessária para a utilização de determinados softwares ou instrumentos deve acontecer atrelada a demandas de criação de produtos expressivos. É a busca pela criação de produções artísticas que deve impulsionar os educandos a desenvolverem as habilidades necessárias para a utilização das ferramentas de que dispõem. Aprender a operar determinados softwares, portanto, não deve ser o objetivo central de um processo educativo em arte.
O uso de ferramentas Em certas ocasiões, o educador fatalmente terá de lidar com o desafio de ensinar os jovens a utilizarem determinado software para que possam criar certos produtos expressivos. Em tais situações, Rubner aconselha que o educador não apresente todas as possibilidades que o software oferece para, somente depois, instigar os educandos a produzirem trabalhos de natureza artística. Para ele, na fase inicial de um processo educativo, o educador deve apresentar apenas alguns dos muitos recursos que o software oferece. “O professor tem que exercitar a escolha. Ele não tem que mostrar o Photoshop [software de edição de imagens] todo. Ele não deve colocar o jovem diante de um labirinto de milhões de possibilidades”, afirmou Rubner. Para Rubner, ao apresentar apenas algumas das funções que determinado software ou ferramenta pode
desempenhar, o educador abre espaço para que o educando exercite sua criatividade no momento em que for desenvolver seus trabalhos expressivos. Ao limitar as possibilidades de atuação do educando, o educador o estimula a focar sua atenção na dimensão expressiva do trabalho. Além disso, nessas situações, o educando é desafiado a buscar alternativas mais inventivas para efetivar sua produção, uma vez que possui, a princípio, uma gama reduzida de técnicas para se expressar. Para ilustrar seu ponto de vista, Rubner relatou de que maneira costuma estruturar as práticas pedagógicas que desenvolve como professor de música: “Não há liberdade onde não há limite. Quando, numa atividade didática, você coloca o limite de usar dez notas, você torna possível que uma pessoa que não sabe nada de contraponto comece a trabalhar. Você torna viável. E ele começa a exercitar a liberdade dele”. Guilherme seguiu exatamente a metodologia apresentada por Rubner quando sugeriu que os participantes do Encontro criassem produções sonoras lançando mão de apenas alguns dos diversos recursos de que dispõe o software Audacity. Em tal atividade, o objetivo de Guilherme era instigar os integrantes do grupo a desenvolverem, de modo colaborativo, alguns trabalhos expressivos e não ensiná-los a operar um software específico.
Subversão O músico e educador Pedro Durães trouxe algumas contribuições para o diálogo ao afirmar que os jovens devem ser incentivados a subverter o uso tradicional de certas ferramentas no desenvolvimento de seus trabalhos. Para ilustrar seu ponto de vista, ele citou que, em suas práticas pedagógicas, costuma estimular os educandos a utilizarem o microfone e as técnicas de captação de som de modo inusitado, criando, assim, produções artísticas mais abstratas. Pedro mencionou que costuma inclusive sugerir que os jovens gravem ruídos produzidos: “A gente já gravou tênis arrastando no chão, com o microfone muito perto, e isso foi usado para fazer música. Já gravamos, também muito de perto, refrigerante sendo
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despejado e fizemos com que a gravação fosse reproduzida num volume alto, criando um novo sentido para o som”. De acordo com Pedro, usando determinadas ferramentas de forma pouco convencional, os envolvidos alcançam outra compreensão sobre o modo como esses instrumentos podem ser operados. O objetivo principal de suas práticas pedagógicas, no entanto, é promover mudanças na percepção dos educandos. O professor universitário Carlos Henrique Falci demonstrou estar alinhado às ideias defendidas por Pedro ao apontar que não devemos utilizar os aparelhos apenas do modo como eles foram programados para funcionar. Em sua argumentação citou o filósofo tcheco Vilém Flusser, que afirma que devemos estar atentos para não nos tornarmos meros “funcionários da máquina”. Em seu livro Filosofia da caixa-preta: ensaios para uma futura filosofia da fotografia, Flusser avalia que os fotógrafos profissionais dominam o modo como uma câmera funciona, mas não compreendem o que se passa no interior do aparelho. Utilizam seus equipamentos apenas para o desempenho de funções que essas máquinas estão originalmente programadas para realizar. Por essa razão, em vez de dominarem seus aparelhos, são dominados por eles. O próprio Flusser aponta, porém, que existem alguns artistas que conseguem escapar dessa situação de submissão aos aparelhos. Trata-se dos fotógrafos experimentais, artistas que buscam criar imagens que as câmeras fotográficas não estão programadas para produzir.
Participantes do Encontro de Diálogo sobre Arte e Tecnologia: Carlos Henrique Falci e Danilo Scaldaferri; (na outra página) Moacir Lago e Rubner de Abreu
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A fotografia experimental de Michael Wesely Em sua obra, Flusser não cita exemplos de artistas que desenvolvem trabalhos que subvertem a programação dos aparelhos fotográficos. O alemão Michael Wesely, porém, parece se adequar perfeitamente à categoria dos “fotógrafos experimentais” mencionada pelo filósofo tcheco. Na realização de uma série de fotografias sobre a Postdamer Platz, famosa praça de Berlim, Wesely desenvolveu uma técnica bastante peculiar para produzir imagens a partir de exposições à luz que apresentaram duração superior a dois anos. Subvertendo o modo usual de funcionamento dos equipamentos fotográficos, aparelhos programados para captar imagens instantaneamente, Wesely conseguiu registrar vestígios das transformações ocorridas na praça ao longo dos extensos períodos em que as películas guardadas no interior das câmeras estiveram expostas aos raios de luz que entravam pelas objetivas. O resultado é bastante instigante. Nas imagens criadas pelo fotógrafo podemos ver, por exemplo, a estrutura de concreto de prédios que foram construídos durante o período de realização das fotos.
Diversidade de técnicas Além de defender que as pessoas (e principalmente os artistas) não se restrinjam simplesmente a usar os aparelhos do modo como eles foram programados para funcionar, Carlos Henrique apontou que devemos tomar cuidado para não sermos vítimas de certo “fetiche do artefato”, valorizando de modo excessivo alguns softwares que nos auxiliam na criação de determinados produtos artísticos. Para o participante do Encontro, é importante estarmos cientes de que muitas obras incríveis foram produzidas a partir de técnicas muito simples. Os computadores e seus softwares não devem ser vistos como as únicas ferramentas capazes de nos auxiliar na criação de nossas produções. É importante estarmos abertos a experimentar as mais variadas técnicas. Carlos Henrique sugeriu ainda que as práticas pedagógicas proporcionem experiências de criação que aliem técnicas manuais às tecnologias digitais. O uso de ferramentas e materiais bastante simples, tais como papel, lápis, tesoura, tinta e pincel, podem garantir resultados estéticos muito interessantes. Outros participantes do Encontro concordaram com Carlos Henrique sobre a importância de que os processos educativos voltados ao ensino das chamadas “artes midiáticas” não sejam pautados unicamente pelo uso de computadores e outros equipamentos digitais. Para eles, é importante que os trabalhos expressivos não sejam realizados unicamente na frente dos computadores.
A experiência prévia dos educandos Outra sugestão interessante para ser incorporada às atividades pedagógicas foi apresentada por Moacir Lago, educador da Oi Kabum! do Recife. Para ele, é importante valorizarmos a visão que os educandos apresentam previamente, incorporando aos processos educativos as referências éticas e estéticas que eles consideram importantes. Por fim, cabe mencionar ainda uma ponderação apresentada por Danilo Scaldaferri, que trabalha na Oi Kabum! de Salvador. Segundo ele, é importante que os educadores reconheçam e respeitem os desejos de seus educandos, não menosprezando a escolha de algum jovem que eventualmente opte por desempenhar atividades profissionais que demandem dele apenas conhecimentos técnicos. Para Danilo, os educadores precisam estar cientes de que, ao ingressarem no mundo do trabalho, nem todos os educandos optam pelo desenvolvimento de atividades artísticas. Isso não significa, obviamente, que as experiências vivenciadas por eles a partir de processos educativos em arte tenham sido “em vão”. Mesmo que aparentemente não tenha uma aplicação direta e imediata nos trabalhos profissionais que venham a desenvolver, a formação em arte é bastante significativa para que os educandos desenvolvam habilidades importantes para as relações sociais que tecem cotidianamente (essa questão também foi explorada no Encontro de Diálogo sobre Arte e Educação).
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A INTERNET E A ARTE COLABORATIVA>>
Desde o final dos anos 1990, temos assistido a uma considerável popularização da rede mundial de computadores. Hoje, o hábito de acessar a Internet vem se incorporando à vida de uma parcela cada vez mais significativa da população. Para muitos, a realização de pesquisas na web e a troca de e-mails são procedimentos que já fazem parte do cotidiano. Durante o Encontro, a educadora Fernanda Santos apontou que a expansão da Internet vem mudando nosso modo de aprender. Para ela, a Internet contribui significativamente para o nosso aprendizado ao possibilitar o diálogo com pessoas de diferentes áreas, o que vem sendo cada vez mais impulsionado pela proliferação das redes de relacionamento. Atualmente, um bom caminho para aprofundarmos nossos conhecimentos é participarmos de comunidades relacionadas às nossas áreas de interesse. O professor Carlos Henrique Falci também apontou que a expansão da Internet e o boom das redes sociais têm aumentado significativamente nossas chances de encontrar pessoas com as quais possamos dialogar sobre temas que nos interessam. Mesmo reconhecendo que, nos dias de
Fernanda Santos cria produção sonora a partir de proposição apresentada por Guilherme 20
hoje, é cada vez mais difícil encontrarmos tempo para o diálogo, o professor avalia de modo otimista a possibilidade que a Internet oferece de conversarmos com pessoas de diferentes locais do mundo e das mais diversas áreas de atuação. Carlos Henrique lembrou que a Internet pode ser utilizada por artistas e estudantes de arte no desenvolvimento de trabalhos em parceria com pessoas de outras partes do mundo. Ele afirmou ainda que as cenas sonoras criadas pelos participantes do Encontro de Diálogo sobre Arte e Tecnologia são exemplos de produções colaborativas que poderiam ter sido elaboradas, a partir da Internet, por pessoas que estivessem distantes umas das outras. Para ele, uma experiência de criação coletiva construída a partir da web pode se revelar uma prática pedagógica horizontal na qual cada um dos envolvidos contribui com suas vivências particulares. Ao tecer comentário sobre a horizontalidade dos processos colaborativos de criação efetivados por meio da Internet. Carlos Henrique afirmou: “a ideia não é ‘eu sei mais’. Mas sim, ‘eu sei de algo que você não sabia’. A tecnologia pode ser usada para potencializar essa troca”.
Corpo Coletivo: criação artística colaborativa via Internet A professora de fotografia da Escola de Belas de Artes da UFMG, Patrícia Azevedo, aposta no potencial da Internet para proporcionar a criação de trabalhos colaborativos em arte. Desde 2008, ela e a artista inglesa Clare Charnley, pesquisadora da University of Lincoln (Inglaterra), estão à frente do projeto Collective Body (Corpo Coletivo). Por meio da Internet, a iniciativa fomenta a realização de trabalhos colaborativos em fotografia envolvendo estudantes da UFMG e alunos da University of Lincoln (Inglaterra), do The National Institute of Design (Índia) e da University for the Creative Arts (Inglaterra). Em suas primeiras edições, o projeto foi desenvolvido da seguinte maneira: cada um dos alunos envolvidos fez uma breve descrição de si próprio, bem como redigiu uma proposta de trabalho artístico alinhada ao tema pertencimento. Em seguida, publicou esses textos e algumas fotos de seu portfólio no ambiente virtual construído para o projeto. Assim que essas informações foram disponibilizadas na rede, os participantes foram se reunindo em torno de algumas propostas, formando equipes de trabalho. Em seguida, as duplas ou grupos formados iniciaram o processo de diálogo e produção. A construção colaborativa dos trabalhos se deu basicamente a partir da troca de mensagens e de fotos pela Internet. Por meio desse diálogo à distância, cada equipe foi desenvolvendo e reformulando a proposta original. Além disso, paralelamente às trocas de mensagens e imagens pela Internet, em cada uma das universidades os jovens envolvidos na iniciativa participavam de reuniões presenciais para avaliar e debater os trabalhos que estavam desenvolvendo em parceria com seus colaboradores estrangeiros. Para obter mais informações sobre o projeto, visite os sites: http://www.luish.com.br/ufmg/lincoln.php e http://www.collectivebody.co.uk/
Layout de uma das páginas do site Collective Body
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DIÁLOGO COM A
PRÁTICA
SUGESTÕES EXTRAÍDAS DO ENCONTRO DE DIÁLOGO QUE PODEM CONTRIBUIR PARA AS REFLEXÕES E PRÁTICAS DA OI KABUM! • Desenvolver processos educativos que tenham o objetivo de ampliar a expressividade e a sensibilidade dos educandos. Nas atividades pedagógicas que integram tais processos, a aquisição de habilidades para operar softwares ou equipamentos deve acontecer preferencialmente em situações em que tais ferramentas revelem-se necessárias para que os educandos elaborem seus trabalhos artísticos. • Promover atividades que levem os educandos a subverter o uso convencional de determinados equipamentos. Ao usarem certos aparelhos de modo pouco habitual, os envolvidos podem, eventualmente, descobrir alternativas interessantes para a criação de trabalhos artísticos. • Incentivar os educandos a lançar mão das mais variadas técnicas na construção de seus trabalhos expressivos. É importante que o uso de equipamentos sofisticados não seja considerado como o único caminho para se construir produtos artísticos de qualidade. Algumas técnicas “artesanais” também podem contribuir para a criação de trabalhos interessantes. • Valorizar as referências éticas e estéticas que os educandos trazem para os processos pedagógicos. • Não ter a expectativa de que todos os educandos que passam por processos educativos em arte buscarão desenvolver trabalhos artísticos ao longo de suas trajetórias profissionais. É importante reconhecer como legítimas as opções que cada um faz em relação a suas participações no mundo do trabalho. • Estimular os educandos a utilizar a Internet como uma ferramenta de aprendizagem. A participação em comunidades virtuais, bem como a realização de buscas pela rede mundial de computadores, são procedimentos que podem contribuir para que os jovens ampliem seus conhecimentos sobre os mais variados temas. • Promover, a partir da Internet, projetos artísticos e colaborativos que envolvam integrantes de escolas diversas. Tendo em vista que trabalhos dessa natureza podem dar origem a aprendizados significativos, é importante que os educadores acompanhem o desenrolar das atividades, fomentando a continuidade do processo.
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encontros de
diรกlogo
Arte, Juventude e Trabalho [1ยบ Encontro]
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> No Brasil, inúmeras pessoas produzem arte de modo independente. São cantores que não estão vinculados a gravadoras, atores que não trabalham em emissoras de TV ou em grandes companhias de teatro, artistas plásticos que não são representados por galerias do mercado da arte. Com o intuito de conhecer de perto o modo como essas pessoas viabilizam suas produções e mesmo sua própria subsistência, promovemos, em Belo Horizonte, um Encontro de Diálogo que contou com a participação de quatro desses artistas. A proposta era que eles nos ajudassem a refletir sobre temas que perpassam o cotidiano dos envolvidos em processos de criação artística, mesmo não dispondo de recursos financeiros para tal. O objetivo, com isso, era abrir uma discussão sobre as possibilidades de geração de trabalho e renda no campo da arte que ultrapassam os limites do mercado já instituído. Acreditamos que essa discussão é de grande importância no contexto de atuação da Oi Kabum!. Além de buscar oportunidades de inserção profissional nos espaços já estabelecidos, é fundamental que o jovem participante da escola perceba que o seu universo de atuação não está dado a priori: por meio de uma postura empreendedora é possível ampliar os espaços de trabalho.
Os artistas que participaram do Encontro poderiam ser chamados de “interdependentes” em vez de “independentes”. Afinal, eles quase nunca criam suas produções de maneira isolada. Em seu dia a dia, geralmente se apoiam mutuamente, participando de redes sociais marcadas pela circulação de colaborações.
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SAIBA COMO FOI
O ENCONTRO
O Encontro reuniu os seguintes jovens artistas de Belo Horizonte: MC Jefinho, cantor de funk que assume as mais diversas tarefas na criação, divulgação e distribuição de suas músicas veiculadas por rádios de todo o país; Russo APR, rapper que é identificado pelo nome Artilharia Pesada da Rima (daí o APR) e que também atua como produtor musical e educador em projetos sociais, além de fazer parte dos coletivos Hip Hop Chama e D.vEr.CidaDe CuLturaL (rede de agentes culturais juvenis); Rogério Gomes, ator de teatro e integrante da Cóccix Companhia Teatral, coletivo da região de Venda Nova (Belo Horizonte) que tem como objetivo descentralizar e diversificar o cenário cultural da cidade; Sylvia Amélia, artista plástica que trabalha com intervenções e fotografias a partir do espaço público, além de atuar como educadora na Oi Kabum! de Belo Horizonte. As conversações entre os quatro nasceram de uma proposição voltada a cruzar os olhares dos participantes sobre seus fazeres e contextos de atuação. Cada um deles foi convidado a visitar um dos outros participantes para compreender como se dá a experiência produtiva do outro artista. Cada visita foi registrada em vídeo pelo artista visitante, que tinha a incumbência de criar uma produção audiovisual, de cerca de dois minutos, sobre o modo como o outro produz sua arte. Na sequência, cada artista visitante editou seu vídeo e, posteriormente, todos reuniram-se para assistir às produções criadas. Nessa ocasião, os artistas conversaram sobre questões surgidas a partir da execução da proposição.
Mais informações sobre as trajetórias dessas pessoas estão disponíveis ao final da revista.
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A proposição realizada durante o Encontro levou os quatro artistas envolvidos a se deslocarem pela cidade de Belo Horizonte. Veja como foi o circuito.
Venda Nova
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Rogério saiu de Venda Nova e foi até o centro de BH, onde pegou um ônibus que o levou até a cidade de Ibirité. Chegando ao local, encontrou-se com Russo e ficou conhecendo como esse rapper desenvolve seu trabalho.
Norte
Minas Caixa
Conjunto Felicidade
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> Leste
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>
>
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Santa Tereza
Ibirité
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Russo, que vive na cidade de Ibirité, deslocou-se de ônibus até a região central de BH. De lá, foi a pé até a sede da Associação Imagem Comunitária (AIC), que fica no bairro Floresta, região Leste da cidade. Chegando ao local, encontrou-se com Sylvia e, juntos, os dois caminharam até a casa da artista localizada em Santa Tereza. No trajeto, eles dialogaram sobre o processo de criação de Sylvia.
Acompanhado por Marcos, seu parceiro de palco, Jefinho pegou dois ônibus para chegar ao bairro Minas Caixa, região de Venda Nova. Chegando lá, encontrou-se com Rogério, que vive no local. Na manhã do encontro, Rogério estava ministrando uma oficina de teatro para jovens das redondezas. Em meio às atividades da oficina, ele explicou a Jefinho de que modo busca criar as condições para a realização dos seus projetos culturais.
O lugar onde determinado artista atua pode revelar aspectos bastante relevantes sobre o contexto e a forma como ele trabalha. Por essa razão, as visitas realizadas por Jefinho, Russo, Rogério e Sylvia, durante o Encontro de Diálogo, revelaram-se bastante importantes. Ao realizarem deslocamentos pela Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), cada um dos artistas envolvidos na atividade também conversou com integrantes da equipe da AIC sobre seu próprio processo de produção artística. Essas conversas foram registradas por uma câmera de vídeo.
Na região hospitalar de Belo Horizonte, Sylvia pegou um ônibus para ir até a casa de Jefinho, que está localizada no bairro Conjunto Felicidade, região Norte da cidade. Chegando ao local, ela buscou compreender de que modo ele viabiliza a produção de sua arte.
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REFLEXÕES GERADAS
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PELO ENCONTRO
No dia de encerramento do Encontro de Diálogo, os quatro participantes reuniram-se para assistir aos vídeos que haviam produzido e para conversar com integrantes da equipe da AIC sobre temas diversos. Essa conversa e os demais diálogos que permearam todo o Encontro trouxeram à tona uma gama de experiências que se mostraram bastante ricas. Algumas dessas experiências foram reunidas nos textos a seguir.
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ARTISTAS-ETC. >>
Ser um artista independente significa estar disposto a desenvolver algumas atividades profissionais paralelas ao trabalho de criação artística. No caso dos quatro participantes do Encontro, essa situação não é diferente. Em seu cotidiano, nenhum deles dedica-se exclusivamente às suas criações. Além de desenvolverem suas obras, eles se desdobram em outras atividades, tais como a atuação como arte/ educadores e como produtores culturais. Conforme apontado por Sylvia Amélia, o artista plástico e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Ricardo Basbaum, utiliza o termo “artistas-etc.” para identificar os artistas que desempenham uma série de atividades profissionais complementares. Basbaum constrói essa classificação a partir do contraste com a categoria dos “artistas-artistas”, que é constituída pelos profissionais da arte que dispõem de recursos financeiros suficientes para que possam se dedicar exclusivamente ao trabalho de criação. Sylvia acredita que, caso fosse uma “artista-artista”, encontraria dificuldade para estabelecer uma disciplina capaz de organizar adequadamente o seu cotidiano profissional. Ela ainda acredita que, caso ficasse imersa exclusivamente em seus processos de criação artística, perderia o contato com o cotidiano urbano em que vive e que é sua grande fonte de inspiração. “Se você só fica naquela piração, qual o seu contato com o real? Onde você está tangenciando com o mundo? Tenho certeza de que eu teria dificuldade,” afirma a artista. Sylvia também salienta que teria receio de ser uma artista que retira todo o seu sustento financeiro da venda de suas criações. Ela aponta que essa situação poderia restringir sua liberdade de criar. “Não quero que a arte seja o meu patrão. Eu quero que a arte possa ser o lugar da minha liberdade,” diz ela.
Atividades paralelas É interessante observar que as “atividades paralelas” desempenhadas pelos quatro “artistas-etc.” que participaram do Encontro de Diálogo estão relacionadas ao trabalho de criação artística que cada um deles desenvolve em seu cotidiano. Elas são atividades que, em alguma medida, também estão inseridas no campo da arte. Paralelamente ao trabalho que desenvolve como cantor e compositor de funk, MC Jefinho também gerencia sua própria carreira. É ele quem desenvolve estratégias
para divulgar sua própria imagem, além de ser o responsável por organizar sua agenda de apresentações, acertando todos os detalhes dos contratos que assina antes de realizar seus shows. Russo APR, por sua vez, é rapper e ainda possui outras duas atuações profissionais. Ele é educador social – atividade que vem se destacando como sua grande paixão – e trabalha como produtor musical, realizando eventos voltados a promover a cultura Hip Hop e produzindo CDs com coletâneas de músicas de diversos rappers da RMBH. “Hoje, eu vivo de ser educador e de ser produtor cultural”, diz ele. Assim como Russo, Rogério Gomes também encontrou no trabalho como educador um caminho com o qual se identifica e que lhe traz rendimentos financeiros. Ele ainda executa funções de produtor nos projetos culturais desenvolvidos pela Cóccix Companhia Teatral. Sylvia, por fim, desenvolve o seu trabalho como artista plástica e tem uma atuação expressiva como arte/educadora. Há cerca de 10 anos, ela ministra oficinas de arte em diferentes pontos da cidade de Belo Horizonte. Sylvia também emprega suas habilidades artísticas no trabalho que desenvolve como ilustradora de livros.
Arte/educação A atuação de Russo, Rogério e Sylvia como educadores está intimamente ligada aos trabalhos artísticos que cada um deles desenvolve paralelamente. As experiências que possuem no campo da arte servem de inspiração para que promovam suas atividades educativas. No caso de Russo, foi a familiaridade com a criação musical que lhe deu as habilidades necessárias para desenvolver oficinas voltadas para o público juvenil. Lançando mão de sua experiência como rapper, ele encontrou um caminho para criar uma relação mais próxima com seus educandos. “Eu utilizo essa ferramenta do rap como uma forma de chegar na rapaziada”, diz ele. Russo aponta ainda que essa relação de proximidade é fundamental para que consiga atingir seu principal objetivo como educador: levar os educandos a enxergar o mundo de modo mais reflexivo. O contato com um modo específico de expressão artística também garantiu a Rogério a oportunidade de trabalhar como educador. Ele aponta que, somente quando começou a frequentar as aulas de um curso técnico de
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No último dia do Encontro, participantes, equipe da AIC e convidados assistem aos vídeos produzidos a partir da proposição apresentada
atuação teatral, teve condições de largar o emprego como atendente de telemarketing para dedicar-se a seu primeiro trabalho como educador de teatro. No caso de Sylvia, o trabalho como arte/educadora foi o caminho encontrado para desenvolver uma carreira profissional relacionada ao campo da criação artística. “Para bancar uma postura de trabalhar com arte, eu fui fazer educação artística, fui ser professora”, diz ela.
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Comercialização de CDs Há alguns anos, Russo APR busca promover a cultura Hip Hop na cidade de Belo Horizonte e em suas imediações. Além de realizar eventos que contam com apresentações de vários rappers locais, ele produz e comercializa CDs que reúnem raps de autoria de vários artistas da Grande BH. Russo aponta que os CDs que produz e distribui possuem raps de quase 60 grupos diferentes. Todos esses grupos o autorizam a desenvolver esse trabalho, uma
vez que o consideram uma boa estratégia para divulgar suas próprias músicas. Conforme Russo ressalta, trata-se de uma tentativa de popularizar o rap na RMBH. “Para ter um público, é preciso ter um produto para que as pessoas tenham acesso ao nosso trabalho”, diz ele. Como produz CDs de modo autônomo, Russo salienta que não precisa submeter as letras que ele e outros rappers escrevem à aprovação de uma gravadora. Segundo avalia, esse é um aspecto bastante positivo do mercado musical alternativo em que está inserido. “Posso escrever o que eu quiser”, afirma. Os CDs que Russo produz em sua própria casa são vendidos, por ele próprio, em eventos de Hip Hop dos quais participa. Esses produtos também são colocados à venda em uma loja especializada em rap, localizada no centro de Belo Horizonte, e em bancas de camelô de um shopping popular. Outros rappers da cidade e redondezas também atuam como revendedores dos CDs produzidos por Russo. Para os camelôs do centro de BH, ele entrega apenas matrizes dos CDs. Os próprios vendedores fazem as cópias a serem comercializadas. Para os rappers, Russo entrega cópias finalizadas, prontas para serem vendidas, cobrando pelos produtos um preço que lhe garante uma margem de lucro. Ele orienta os rappers a revenderem o material adquirido por um preço mais elevado, garantindo, desse modo, algum lucro para si próprios. Russo aponta, porém, que o lucro financeiro não é o objetivo central das vendas. “A intenção é divulgar o trabalho”, diz ele. Ele ressalta, ainda, que não considera uma boa estratégia distribuir os CDs gratuitamente, tendo em vista que as pessoas dão mais valor a um produto quando pagam por ele.
Promoção de eventos Para levar adiante sua outra frente de atuação – a realização de eventos voltados a promover a cultura Hip Hop –, Russo APR conta com o auxílio de muitos parceiros que contribuem com a própria força de trabalho. Sobre isso, ele afirma: “a nossa produção é meio que na tora, porque, como a gente não tem muito apoio, tem que se virar do jeito que pode. Então, uma das formas são as parcerias para que a coisa aconteça. Se eu for realizar um evento aqui na comunidade, por exemplo, e não tiver condições de fazer tudo sozinho, já chamo os caras de fora”. Atualmente, Russo está tão empenhado em seu trabalho como produtor de eventos que comprou, com parte do dinheiro que ganhou ministrando oficinas, um aparelho de som de grande porte. Ele também adquiriu uma Kombi para transportar o equipamento. Agora, Russo diz que está interessado em conseguir um aparelho de datashow para que possa realizar apresentações de filmes durante os eventos que pretende promover no local em que vive. “Aqui na minha comunidade não tem isso”, afirma. O ator Rogério Gomes também tem se mostrado especialmente interessado em promover eventos culturais
na região em que mora. Atualmente, ele está envolvido no projeto Ponta a Pé, uma das iniciativas desenvolvidas pela Cóccix Companhia Teatral, na região de Venda Nova. O projeto, realizado desde 2008, consiste na promoção de eventos periódicos e gratuitos que reúnem apresentações artísticas diversas. O objetivo é tanto levar grupos e artistas de fora para se apresentarem na região, quanto dar visibilidade a moradores de Venda Nova engajados na produção de arte e cultura.
Parcerias Para realizar cada edição do Ponta a Pé, os integrantes da Cóccix estabelecem contatos com empresários da região de Venda Nova e buscam convencê-los a contribuir com a iniciativa, em troca da divulgação de suas marcas. Rogério salienta que a infraestrutura dos eventos é garantida graças a essas contribuições. Há, também, uma escola da região de Venda Nova que é parceira do projeto e cede o espaço para a realização da atividade. Cabe citar, ainda, que Rogério considera os artistas que se apresentam durante as edições do Ponta a Pé como parceiros da iniciativa, uma vez que não cobram pelas apresentações. Ele salienta, no entanto, que tem o objetivo de levantar algum financiamento para que, no futuro, possa pagar pelo trabalho que esses profissionais vierem a desenvolver durante os eventos. As parcerias também são de grande importância para que os integrantes da Cóccix desenvolvam outras ações. Rogério cita, por exemplo, que só conseguiu finalizar a redação de determinado projeto graças ao apoio que recebeu de integrantes do Grupo Trama de Teatro, ONG de Belo Horizonte que reúne diversos artistas. Uma vez elaborada e redigida, a proposta foi selecionada para receber recursos do Fundo Municipal de Cultura de Belo Horizonte, dinheiro que se destinou à montagem da peça Meu Canto de Graça. O espetáculo, de autoria dos integrantes da Cóccix, estreou em maio de 2010.
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Russo APR dialoga com Sylvia AmĂŠlia enquanto caminham atĂŠ a casa da artista 34
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EXPERIÊNCIAS SINGULARES DE APRENDIZAGEM >>
Durante a realização do Encontro de Diálogo, cada um dos quatro participantes foi instigado a relatar alguma experiência de aprendizagem particularmente importante para o próprio desenvolvimento pessoal e profissional. A seguir, apresentamos uma breve síntese dessas experiências.
MC Jefinho e seu contato com um empresário musical do Rio de Janeiro Ao falar sobre sua trajetória artística, MC Jefinho ressalta que os três meses em que viveu na cidade do Rio de Janeiro foram muito importantes para que aprendesse a organizar seu cotidiano profissional de maneira mais eficiente. Apesar de sua estada na capital fluminense não ter gerado qualquer rendimento financeiro, ela lhe garantiu uma rica aprendizagem. Durante esse período, Jefinho pôde observar de que modo seu então empresário carioca promovia a carreira de outros cantores. “Lá, eu vi como funcionava”, diz ele. Assim que voltou a viver em Belo Horizonte, sua cidade de origem, Jefinho decidiu pôr em prática tudo o que havia aprendido no Rio de Janeiro. Seu objetivo era investir num processo mais profissional de produção de suas músicas, discos e shows. Naquela época, ele passou a investir o dinheiro que ganhava com as apresentações que fazia no incremento de seu próprio trabalho. Ele passou, por exemplo, a contratar músicos mais competentes para criar arranjos de melhor qualidade para as letras de suas canções. Também contratou profissionais que o fotografaram e produziram seu website. Outra providência tomada por Jefinho foi comprar equipamentos adequados para a produção em larga escala de cópias de seus CDs. Esses equipamentos também garantiram um acabamento bem mais refinado aos produtos. Sobre essa mudança, ele comenta: “quando voltei para BH, eu falei: ‘tudo que tinha no Rio, eu quero ter em casa’. A impressora de silkar CDs, eu vi o cara comprando. A duplicadora de CDs, eu vi o cara comprando. ‘Se o cara faz a divulgação e se os artistas dele vendem shows com isso aí, vou fazer isso também’. Aí, eu comprei a impressora de silkar e comprei a duplicadora”.
Segundo Jefinho, essas ações tiveram um forte impacto em sua carreira. Produzir um material de divulgação mais bem-acabado foi importante para que pudesse promover sua imagem de modo mais eficiente, bem como para que conseguisse, consequentemente, agendar uma maior quantidade de shows.
Russo e seu contato com a diversidade cultural Para Russo APR, conhecer o trabalho desenvolvido por outra pessoa e estar atento ao que ela tem a dizer são ações fundamentais para que um sujeito possa construir sua própria identidade. Ao falar da importância de se estabelecer diálogos com pessoas que apresentam vivências culturais diversas, Russo destaca que foi bastante relevante a sua participação no Programa de Formação de Agentes Culturais Juvenis, iniciativa promovida pelo Observatório da Juventude da Universidade Federal de Minas Gerais, entre os anos de 2002 e 2003. Esse programa reuniu jovens que possuíam vivências muito particulares. Além de morarem em diferentes localidades – todas elas situadas nas periferias da Região Metropolitana de Belo Horizonte –, os jovens que participaram da iniciativa já possuíam o hábito de se expressar por meio de manifestações artísticas variadas, tais como o rap, o funk, o rock, o graffiti, o teatro, a percussão e a dança. Russo acredita que foi graças ao convívio com os outros participantes da iniciativa que passou a enxergar a diversidade de visões de mundo como uma característica positiva. Para ele, os sujeitos que normalmente transitam por ambientes marcados por uma grande diversidade cultural desenvolvem uma maior predisposição a escutar e valorizar o que os outros têm a dizer. Conforme Russo aponta, isso foi justamente o que aconteceu com ele quando se integrou ao Programa de Formação de Agentes Culturais Juvenis. “A partir do Programa, comecei a ter outras visões. As trocas com outros jovens foram de grande importância para eu entender que existe a diversidade. Eu comecei a escutar todo mundo. Hoje, independentemente de quem seja, eu escuto. E o que eu acho bacana, eu pego. O que eu acho ruim, eu debato. Aprendi que o debate é bom, não é ruim”.
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O rapper aponta ainda que o convívio com jovens que apresentavam experiências culturais diferentes fez com que ele questionasse alguns de seus próprios valores. Para exemplificar, ele cita que, a princípio, não nutria qualquer simpatia pelos seguidores de umbanda que também participavam do Programa. “Eu tinha o maior preconceito, porque eu era da igreja evangélica. Então, pra mim, aquilo era macumba. Quando eu trombava com o pessoal que tocava instrumentos da umbanda, eu falava assim: ‘Misericórdia! Está amarrado em nome de Jesus’.” Esse autodeclarado preconceito, porém, foi sendo deixado de lado a partir da convivência que Russo estabeleceu com os umbandistas que também integravam a iniciativa. Ao refletir sobre o papel que essa experiência desempenhou em sua vida, Russo vai ainda mais longe e pondera que o convívio com a diversidade o fez remodelar uma série de outras posturas que estavam enraizadas em sua personalidade e que eram fruto de experiências anteriores. “Eu era bem mais radical do que eu sou hoje. O processo pelo qual passei me deixou menos radical, menos machista, menos sexista”. Russo percebe que essa revisão de suas próprias posturas também teve reflexos significativos na qualidade de seus raps.
Rogério e sua busca por uma arte politizada Uma experiência de aprendizagem bastante rica na trajetória de Rogério Gomes aconteceu quando ele e os demais integrantes da Cóccix participaram do projeto
Sylvia Amélia registra conversa estabelecida com MC Jefinho
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Grupos em Trama. A iniciativa foi promovida pelo Grupo Trama de Teatro, de Belo Horizonte, e buscou instigar os integrantes de algumas companhias teatrais que tinham pouca visibilidade no cenário cultural de Minas Gerais a refletirem sobre a relevância social do trabalho que desenvolviam. Além de promover o intercâmbio de experiências entre os integrantes das companhias, os organizadores do projeto estavam particularmente preocupados em instigar os envolvidos a fazerem do teatro uma ferramenta política. Conforme aponta Rogério, esse foi o primeiro processo formativo do qual participou em que a dimensão política das montagens teatrais figurou como o tema central. Nos demais processos em que já tinha tomado parte, as técnicas teatrais sempre haviam sido o foco principal das atividades. No projeto Grupos em Trama, os membros das diferentes companhias de teatro foram convidados a montar esquetes teatrais e, posteriormente, alguns provocadores fizeram questionamentos incisivos sobre a importância social dos trabalhos que haviam sido criados. Foi justamente a partir desses questionamentos que Rogério percebeu a importância de cada ator refletir sobre os motivos que o levam a fazer teatro e sobre o público que deseja atingir com seu trabalho. Conforme ele mesmo sintetiza, estar atento a essas questões “traz à tona a dimensão política do fazer teatral. Quando começo a pensar no para quê e no para quem, ultrapasso a técnica”.
MC Jefinho produz um vídeo sobre o trabalho de Rogério Gomes
Segundo Rogério, a experiência de aprendizagem no projeto Grupos em Trama o fez perceber claramente que é essencial que os atores enxerguem o teatro como “uma ferramenta de construção do homem, ou seja, uma ferramenta que leva ao surgimento de pensadores”. Hoje, ele defende que o teatro deve levar os espectadores a refletir sobre o mundo que os circunda.
Sylvia e seus deslocamentos pela cidade Outro modo de desenvolver-se como artista é aguçar a própria sensibilidade, objetivo que pode ser alcançado a partir de simples deslocamentos por lugares desconhecidos. É isso, por sinal, o que nos ensina Sylvia Amélia. Ao relembrar as experiências mais significativas no seu desenvolvimento como artista, ela comenta que os constantes trajetos pelo espaço urbano de Belo Horizonte, os quais se viu obrigada a fazer por cerca de dez anos, foram de grande importância para moldar sua percepção em relação à cidade. “Eu atravessava a cidade inteira e ficava mais de uma hora pra chegar num lugar que eu jamais acessaria, se não tivesse que dar aquela oficina ali. E, durante aqueles trajetos, muita coisa acontecia na minha cabeça”. Para ela, esse constante transitar por locais até então desconhecidos desempenhou um papel significativo na
construção de seu olhar. Ela também afirma que, ainda hoje, certas cenas do cotidiano a que assiste pelas ruas têm um impacto bem mais expressivo em sua percepção do que as exposições de arte que costumam acontecer em galerias da capital mineira: “descubro mais coisas andando a pé, de um ponto a outro da cidade. Vejo mais coisas que me tocam nas ruas, do que na maioria das exposições de arte que acontecem por aqui.” Ao relembrar os principais fatos que marcaram sua formação como artista, Sylvia também destaca outra experiência de aprendizagem que resultou na sensibilização de seu olhar em relação à cidade. Trata-se de um estágio que realizou na Gerência de Patrimônio Histórico Urbano da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. No estágio, ela ajudava a fotógrafa Solange Souza a registrar imagens de imóveis tombados e fazia o arquivamento das fotos produzidas. Essa prática a levou a observar detalhes das construções que, anteriormente, não eram notados pelo seu olhar. “Meu olhar para a cidade se ativou de uma forma que não havia acontecido antes”. Essa experiência foi tão marcante que Sylvia passou naturalmente a empregar os conhecimentos adquiridos a partir do estágio para decifrar os estilos arquitetônicos dos imóveis com os quais se deparava pelas ruas.
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DIÁLOGO COM A
PRÁTICA
SUGESTÕES EXTRAÍDAS DO ENCONTRO DE DIÁLOGO QUE PODEM CONTRIBUIR PARA AS REFLEXÕES E PRÁTICAS DA OI KABUM! • Fomentar a busca por oportunidades diversificadas de atuação profissional. Há várias atividades ligadas ao campo artístico-cultural que podem ser desenvolvidas por artistas independentes paralelamente ao trabalho de criação propriamente dito. Essas atividades são importantes tanto para garantir o sustento financeiro desses profissionais, quanto para lhes dar condições adequadas de desenvolver seus trabalhos artísticos. É importante que as equipes das escolas Oi Kabum! estejam atentas a essas possibilidades “paralelas” de atuação para incentivarem seus integrantes a desenvolver as habilidades necessárias para desempenhá-las. • Estimular os jovens que participam da Oi Kabum! a refletir sobre os processos educativos dos quais fazem parte, bem como incentivá-los a assumir o papel de educadores em atividades nas escolas e nas comunidades. Por exemplo: realizar, numa escola pública do bairro, uma oficina prática envolvendo uma das linguagens trabalhadas pela Oi Kabum!. A ideia é que, com esse tipo de iniciativa, os jovens tomem contato com o campo da arte/educação, que pode ser uma via interessante de geração de trabalho e renda. • Incentivar os educandos a desenvolver, de modo coletivo, eventos culturais em suas comunidades de origem. • Criar oportunidades para que os educandos desenvolvam habilidades e competências que são demandadas na área de produção cultural. Consideramos que é importante contribuir para que eles aprendam a redigir textos argumentativos que sejam coerentes e gramaticalmente corretos. Essa habilidade será de grande valia em inúmeros contextos. Um deles é o de desempenhar a tarefa de redigir projetos, propostas e correspondências destinadas à captação de recursos e parcerias para a realização de seus trabalhos artísticos. • Buscar meios para garantir que os educandos estabeleçam relações com produtores culturais que trabalham de modo independente. Esse contato com pessoas que já atuam num mercado alternativo de arte pode ser importante para que os jovens elaborem caminhos próprios para viabilizar suas produções artísticas. • Estimular os educandos a travar, cotidianamente, diálogos com pessoas que apresentam experiências culturais diversas. Essa variedade de pessoas pode abarcar diferenças no que tange aos gêneros, às orientações sexuais, religiosas e políticas e às preferências estéticas. Esse é um caminho que não só fomenta o debate no âmbito das escolas, como também representa uma maneira de, eventualmente, levar os educandos a questionarem determinadas concepções de mundo. • Instigar os jovens a se questionar, continuamente, acerca da importância social dos trabalhos artísticos que produzem. Consideramos que é importante levá-los a refletir sobre os objetivos que desejam alcançar com suas criações. • Motivar os educandos a realizar deslocamentos pela cidade, transitando por locais que não frequentariam normalmente. Esse procedimento representa uma tentativa de ampliar a percepção que eles possuem do território em que vivem, bem como uma tentativa de levá-los a desenvolver a sensibilidade artística. • Mapear, estabelecer parcerias e promover a aproximação dos jovens da Oi Kabum! com redes de produção artísticocultural colaborativa locais, regionais e nacionais.
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encontros de
diรกlogo
Arte, Juventude e Trabalho [2ยบ Encontro]
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> Iniciar uma trajetória profissional não é um processo simples. A escolha das experiências de trabalho e a decisão sobre as atividades formativas em que vamos investir geralmente são realizadas em meio a muitas incertezas. As indecisões em relação às nossas primeiras escolhas profissionais ocorrem porque sabemos que, na fase adulta, o trabalho ocupará uma dimensão central em nossas vidas. Essa importância não se restringirá simplesmente à geração de renda e ao suprimento de nossas necessidades materiais. O trabalho é fonte de satisfação pessoal, sendo fonte de reconhecimento social e base para a elaboração de identidades. Para quem decide trabalhar com o desenvolvimento de projetos e produções artísticas e culturais, os desafios enfrentados são particularmente significativos. Por tratar-se de um campo profissional relativamente novo e que vem passando por aceleradas transformações, os jovens que investem nessa área, muitas vezes, precisam assumir uma postura propositiva e elaborar suas próprias oportunidades de trabalho. Além disso, esses jovens frequentemente se deparam com a necessidade de exercitar o diálogo em casa. Com grande regularidade, os pais deixam claro que desejariam ver seus filhos buscando carreiras consideradas mais estáveis e consolidadas. O segundo Encontro de Diálogo sobre Arte, Juventude e Trabalho foi realizado para que pudéssemos refletir sobre essas questões a partir das experiências de alguns jovens de diferentes cidades brasileiras que se propõem a trabalhar com arte, cultura e comunicação. O evento reuniu, na capital mineira, um grupo constituído por integrantes das escolas Oi Kabum! do Recife, do Rio de Janeiro e de Salvador e por duas jovens que já haviam participado de projetos promovidos pela AIC. O objetivo do Encontro era mapear o modo como enxergam o mundo do trabalho, os caminhos que trilham na construção de suas trajetórias profissionais e os desafios que enfrentam ao longo de seus percursos.
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SAIBA COMO FOI
O ENCONTRO
O Encontro durou três dias e foi realizado no espaço da ONG Humbiumbi – Arte, Cultura e Educação e na sede da Associação Imagem Comunitária (AIC), em Belo Horizonte. Na ocasião, oito jovens participaram das atividades e discussões propostas: Élida Santana e Marlon David, do Recife; Giovânia Monique e Sara Silva, de Belo Horizonte; Marcelle Arjones e Sílvio Figueiredo, de Salvador; e Nilo Ventura e Tainara Ferreira, do Rio de Janeiro. Todos os participantes do Encontro apresentavam, em comum, alguma formação em arte e comunicação. Enquanto os jovens vindos do Recife, do Rio de Janeiro e de Salvador eram egressos das escolas Oi Kabum! localizadas nesses municípios, as duas jovens de Belo Horizonte haviam sido educandas em projetos de comunicação comunitária promovidos pela AIC. A condução do evento ficou por conta de Eu Penaforte e Warley Bombi, profissionais que integram a equipe da Associação Imagem Comunitária. Esses dois artistas e arte/educadores foram os responsáveis por apresentar aos participantes do Encontro a proposição que deu início às atividades.
Proposição Assim que se reuniram na capital mineira, os jovens envolvidos no evento foram convidados a produzir coletivamente um vídeo que retratasse situações relacionadas ao tema mundo do trabalho. A proposta era que eles construíssem uma breve narrativa ficcional a partir de suas próprias experiências e percepções. A fase inicial do Encontro foi destinada à produção do vídeo. Contando com o acompanhamento de Bombi e Penaforte, ao longo de dois dias, os jovens criaram alguns personagens e situações, redigiram um roteiro, produziram cenários, gravaram sons e imagens e, finalmente, realizaram a edição do produto. O terceiro dia do Encontro, por sua vez, foi reservado para que todos assistissem ao vídeo e conversassem sobre ele. Na conversa, cada um dos envolvidos falou um pouco sobre sua própria trajetória e expôs sua visão acerca dos desafios enfrentados pelos jovens das grandes cidades brasileiras que buscam trabalhar com arte, comunicação e cultura.
Mais informações sobre as trajetórias dessas pessoas estão disponíveis ao final da revista.
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REFLEXÕES GERADAS
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PELO ENCONTRO
Os textos que integram esta seção da revista foram construídos a partir dos relatos dos participantes do Encontro. Ao reunir informações sobre o percurso desses jovens, nosso intuito é refletir sobre a percepção deles em relação ao mundo do trabalho, bem como enumerar os desafios que enfrentam na construção de suas trajetórias e as estratégias que elaboram para superar os obstáculos com os quais se deparam.
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A VISÃO DOS JOVENS SOBRE O MUNDO DO TRABALHO >>
Durante o Encontro de Diálogo, os oito participantes avaliaram algumas de suas experiências. A recifense Élida Santana relatou que sua trajetória é marcada por três vivências de trabalho particularmente significativas. No passado, ela havia atuado como educadora numa ONG que desenvolve projetos de dança popular e tinha trabalhado como atendente de telemarketing em um call center. Além disso, na época em que o Encontro foi realizado, Élida integrava o Núcleo de Produção da Oi Kabum! do Recife. A jovem destacou que o emprego como atendente de telemarketing não foi uma experiência que lhe trouxe satisfação. Ela não se sentia motivada pelas atividades que desenvolvia e ainda passava por uma exaustiva rotina de trabalho. Segundo Élida, a decisão por trabalhar como operadora de telemarketing foi impulsionada pela cobrança paterna para que encontrasse um emprego formal. A experiência, porém, não durou muito tempo. Após seis meses, ela constatou que ficaria mais satisfeita trabalhando numa área com a qual se identificasse, mesmo que, para isso, precisasse abdicar da “carteira assinada”. Ao refletir sobre sua trajetória, Marcelle Arjones, de Salvador, também apontou experiências de trabalho que não haviam sido satisfatórias. Quando adolescente, ela trabalhou como auxiliar administrativa numa concessionária de automóveis e, na sequência, atuou como agente de viagens numa empresa de turismo. Para Marcelle, essas duas experiências pontuais foram desestimulantes porque não estavam relacionadas ao campo profissional no qual gostaria de atuar. Além disso, ela ressaltou que não desfrutava de qualquer autonomia para desempenhar suas tarefas. Apesar de avaliar negativamente as duas atividades profissionais desempenhadas, Marcelle destacou que elas foram significativas para que percebesse a importância de desenvolver trabalhos que lhe permitissem agir de modo autônomo e criativo. “Quando eu tive essas experiências, soube o que eu não queria. Eu não queria ficar só sendo mandada por alguém, sabe?” Tal como Marcelle, Élida também apontou que o trabalho como operadora de telemarketing havia sido importante para que percebesse em que tipo de atividades profissionais não estava disposta a investir. A partir da
experiência, a jovem pôde refletir sobre a importância de desenvolver trabalhos com os quais apresentasse uma boa afinidade.
Trabalhos estimulantes Em contraposição ao emprego como atendente de telemarketing, Élida citou sua atuação como educadora e sua experiência no Núcleo de Produção como exemplos de trabalhos estimulantes. Ela apontou a autonomia para desenvolver suas funções como uma característica marcante das duas experiências. Tanto como educadora, quanto como integrante do Núcleo, ela foi desafiada a refletir e a tomar decisões em relação às atividades cotidianas e isso contribuiu para que amadurecesse profissionalmente. Para ilustrar a autonomia de que desfrutava, Élida citou que, quando o Núcleo de Produção da Oi Kabum! do Recife foi implantado, ela e os demais jovens envolvidos na iniciativa atuaram de maneira bastante participativa. Foram eles que definiram, coletivamente, o modo como o empreendimento deveria funcionar.
Aprendizagens Diversos participantes do Encontro apontaram que suas experiências de trabalho mais relevantes foram aquelas que lhes renderam aprendizagens significativas. Marcelle citou, por exemplo, que o trabalho como educadora num projeto governamental para adolescentes foi uma experiência rica e gratificante. O contato direto com os educandos a fez perceber nuances da realidade que até então haviam escapado à sua percepção. “Foi uma experiência muito boa. Eu conheci muito da vida, porque eu lidava muito de perto com as pessoas. Foi cada história emocionante!” O trabalho como educadora também foi fundamental para que Marcelle apurasse sua percepção acerca de uma série de questões – o que se mostrou importante no desenvolvimento de trabalhos futuros. A experiência contribuiu, por exemplo, para que ela refletisse sobre alguns temas que abordava em suas práticas educativas, tais como: “identidade racial”; “desenvolvimento comunitário”; e “cultura da paz”. Além disso, no exercício de
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suas funções de educadora, Marcelle pôde aprimorar sua capacidade de relacionar-se com as pessoas. Marlon David, do Recife, também atribui importância às aprendizagens que são construídas a partir do cotidiano profissional. Segundo ele, a experiência de trabalho mais enriquecedora que vivenciou foi um estágio realizado numa produtora de vídeo de pequeno porte. Como a empresa apresentava um número reduzido de empregados, Marlon era demandado a executar tarefas bastante diversificadas, situação que o fez desenvolver inúmeras habilidades. Em diversas ocasiões, ele contou com o auxílio de colegas e aprendeu, na prática, uma maneira de desenvolver as tarefas que lhe foram apresentadas. “Eu
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fazia animação, vídeo, cartaz, capa de DVD. Eu saí da Oi Kabum! como aluno e aquela experiência foi um pontapé, porque eu comecei a trabalhar com muita coisa. Eu aprendi muito.” Assim como Marlon, a participante Tainara Ferreira, do Rio de Janeiro, também destacou como particularmente importante uma experiência de trabalho que lhe proporcionou aprendizagens significativas. Um estágio realizado num canal de TV possibilitou que ela vivenciasse a rotina profissional da área em que gostaria de atuar. A experiência foi marcante porque aconteceu num período em que a jovem estava bastante interessada em conhecer de perto o cotidiano de uma empresa de comunicação. No
início desse estágio – seu primeiro contato mais duradouro com o mundo do trabalho – Tainara acabara de se formar pela Oi Kabum! do Rio de Janeiro e estava ingressando num curso universitário de Design Industrial.
Trabalho como fonte de satisfação Em diversos relatos feitos durante o evento, os jovens apontaram que o sentido do trabalho não está simplesmente atrelado à geração de recursos materiais. Para eles, o trabalho deve ser fonte de satisfação. Por essa razão, as pessoas devem buscar se envolver em atividades profissionais com as quais tenham uma boa identificação. Na conversa que encerrou o Encontro, Élida e Marcelle
foram enfáticas ao ressaltar: quando o trabalho é fonte de satisfação, as atividades profissionais não se revelam cansativas. Sobre as ocasiões em que precisou trabalhar além de seu turno regular, Élida fez o seguinte comentário: “para mim, não foi cansativo, porque eu estava lá fazendo o que gosto”. Os jovens realçaram ainda que um bom trabalho é aquele que lhes garante autonomia para reinventar as tarefas que desempenham no dia a dia. Para eles, um trabalho marcado pela autonomia os desafia a tomar decisões e a buscar soluções para os problemas que surgem no cotidiano, contribuindo para que eles desenvolvam as próprias habilidades e competências.
Participantes gravam cena para o vídeo ficcional produzido durante o Encontro
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PERCURSOS PROFISSIONAIS NO CAMPO DA ARTE E DA CULTURA >>
Ao longo de suas trajetórias, os participantes do Encontro experimentaram diversas possibilidades de atuação no campo da arte e da cultura. Entre essas possibilidades, estão o trabalho em empresas que atuam na produção audiovisual, o desenvolvimento de projetos autorais e a realização de produções diversas a partir dos Núcleos de Produção que integram as escolas Oi Kabum!. Em algumas passagens do diálogo, os jovens demonstraram que não acreditam na existência de um “mercado de trabalho” determinista, uniforme e estável. Para eles, o mundo do trabalho é bastante diverso e apresenta variadas possibilidades de atuação profissional. Eles ressaltaram ainda que apresentar uma postura ativa e criativa é essencial para quem quer construir possibilidades interessantes de trabalho.
Produções autorais Alguns participantes do Encontro apontaram que investir no desenvolvimento de produções independentes pode ser um bom caminho para quem se propõe a trabalhar com arte, cultura e comunicação. Os trabalhos autorais, além de serem oportunidades interessantes para que os jovens ampliem suas competências, podem funcionar como “cartões de visita” que facilitam o contato de seus criadores com outros profissionais que também atuam na área. Tainara Ferreira relatou que costuma realizar projetos autorais em parceria com amigos que também estudaram na escola Oi Kabum! do Rio de Janeiro. No desenvolvimento de produções artísticas independentes, além de exercitarem a prática do trabalho coletivo, Tainara e seus parceiros desfrutam de grande liberdade para criar e experimentar, uma vez que não estão atendendo à demanda de clientes. “Vira e mexe a gente produz um
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vídeo. E a gente quer muito fazer o que é diferente. A gente quer inovar”, ressaltou Tainara. A jovem destacou ainda que, quando uma produção independente é apreciada pelo público e por profissionais que estão envolvidos na área artística e cultural, seus realizadores experimentam uma sensação de grande satisfação, além de serem valorizados pelo trabalho desenvolvido. Para ilustrar, ela apontou que ficou muito feliz quando um vídeo produzido por seu grupo foi premiado em um festival. “É muito bom quando alguém assiste ao nosso trabalho e ele tem certo reconhecimento”.
Grupos artísticos e culturais Assim como Tainara, as belo-horizontinas Giovânia Monique e Sara Silva acreditam no valor das experiências de trabalho desenvolvidas a partir de grupos independentes que promovem ações artísticas e culturais. Para elas, participar de grupos dessa natureza pode ser uma boa alternativa para que os jovens atuem com autonomia, bem como para que incrementem suas habilidades. Além disso, o trabalho de grupos culturais pode gerar renda para os jovens, uma vez que muitos dos coletivos vêm conquistando recursos para o desenvolvimento de seus projetos. Sara faz parte do grupo Treco de Fazer Cinema, iniciativa que surgiu espontaneamente a partir de um projeto social do qual participou, na condição de educanda. Ela apontou que o grupo é um importante espaço para que seus integrantes dialoguem, assistam produções cinematográficas e elaborem projetos. Assim como Sara, Giovânia classificou sua participação no Grupo Cultural Entreface como um capítulo importante de sua trajetória. Fundado por alguns jovens que se conheceram em um projeto de comunicação comunitária,
o grupo tem o objetivo de promover projetos culturais de cunho educativo. A perenidade das ações desenvolvidas pelo Entreface está sendo viabilizada, principalmente, a partir de articulações que o grupo estabelece com o setor público. Essas parcerias têm garantido o desenvolvimento de oficinas de audiovisual para jovens, atividades que geram trabalho e renda para Giovânia, bem como para outros integrantes do grupo.
Por que se agrupar? Ao longo dos últimos anos, o professor universitário Juarez Dayrell vem estudando a atuação dos grupos artísticos e culturais juvenis. À frente do Observatório da Juventude da UFMG, Dayrell coordenou o Programa de Formação de Agentes Culturais Juvenis, iniciativa desenvolvida entre os anos de 2002 e 2003. A partir do Programa, jovens ligados a grupos culturais da Região Metropolitana de Belo Horizonte participaram de um amplo processo formativo. O objetivo era impulsionar a atuação política desses jovens e promover o fortalecimento de seus grupos. Para Dayrell, por meio da participação em grupos culturais e artísticos, os jovens ampliam suas redes de relações e passam a circular por novos espaços da cidade. “Quando o jovem passa a fazer parte de um grupo de rap ou de um grupo de graffiti, há uma tendência a que ele amplie sua rede na própria cidade. Ele passa a sair mais, a encontrar
pessoas que antes não encontraria e isso gera uma forma de apropriação da cidade qualitativamente diferente”. O professor também destaca que os grupos podem contribuir para que os jovens planejem suas trajetórias pessoais. “No momento próprio da juventude, em que o jovem tende a um processo de experimentação grande, o grupo cultural funciona como um rumo, um leme que dá certa direção para a vida”. Dayrell ressalta ainda que os grupos artísticos e culturais juvenis podem contribuir para que os jovens assumam uma postura ativa frente à vida. De acordo com o professor, ao se agruparem, os jovens deixam de ser “espectadores passivos” e passam a se relacionar com o mundo da cultura na perspectiva da produção. Por meio de seus grupos, eles se percebem capazes de produzir algo e passam a exercitar a criatividade e as potencialidades que possuem.
Estratégias
Tainara apontou que, como a construção de uma trajetória no campo da arte, cultura e comunicação pode ser um processo demorado, é importante que os jovens que enveredam por esse caminho sejam movidos por um desejo genuíno. Segundo ela, quem não apresenta uma boa afinidade com a área, dificilmente será bem-sucedido nessa empreitada. É preciso identificação com o campo de atuação para seguir investindo mesmo diante das adversidades que surgem no caminho. Além desse autêntico desejo de produzir, Nilo ressaltou que os jovens devem desenvolver a habilidade de criar trabalhos de boa qualidade. Segundo ele, ter uma sensibilidade aguçada é uma característica essencial para quem deseja atuar na área. Nilo disse ainda que os arte/educadores da Oi Kabum! devem ser exigentes e criteriosos no momento em que estiverem avaliando as produções de seus educandos, contribuindo, assim, para que os jovens desenvolvam um olhar crítico em
Alguns participantes do Encontro destacaram que é importante que os jovens não desanimem frente às dificuldades que encontram para construir suas trajetórias profissionais no campo da arte e da cultura. No início, o processo pode se revelar difícil. Nilo Ventura e Tainara Ferreira ressaltam, porém, que é importante não desistir. De acordo com esses dois moradores do Rio de Janeiro, para ingressar na área é preciso agir com determinação. Nilo e Tainara apontam que é importante que os jovens reconheçam a importância dos primeiros trabalhos que desenvolvem. Por meio desses trabalhos, eles estabelecem relações com outros profissionais da área, assim como ampliam seus portfólios. São atividades que, mesmo quando pontuais, também são importantes para que os jovens adquiram experiência. Como ressaltam Nilo e Tainara, os primeiros momentos de uma trajetória profissional configuram-se como uma fase de “investir na carreira”.
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relação às criações que elaboram. “Você tem que preparar a pessoa para o trabalho. Falar que tudo é lindo acostuma mal o aluno. O mercado não vai absorver gente que não atua direito”.
O mito do “mercado de trabalho” Durante o Encontro, foi desenvolvida também uma reflexão sobre o “mito do mercado de trabalho”. Ao questionarem a existência de um mercado “pronto” e estável, com postos de trabalho já definidos, os propo-
Jovens da Oi Kabum! de Belo Horizonte desenvolvem trabalho gráfico
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sitores do evento defenderam que os jovens deveriam assumir uma postura ativa na construção de suas frentes de atuação. Corroborando a visão apresentada pelos propositores, Élida apontou que o Núcleo de Produção da Oi Kabum!, ao abrir novas possibilidades para a atuação profissional dos jovens, pode contribuir para quebrar esse mito. Segundo ela, “no Núcleo a gente tenta construir o mercado da gente. Estamos tentando ampliar as possibilidades e fugir dessa história de um mercado que é imposto”.
Um mundo em mutação A inserção no mundo do trabalho é um desafio cada vez mais complexo. No século passado, essa inserção significava, para a maioria das pessoas, a busca de um emprego em uma empresa considerada sólida. As profissões eram bem delimitadas e o grande sonho era construir uma carreira estável. Hoje, “profissão” e “mercado de trabalho” são palavras que englobam uma grande diversidade de possibilidades. No artigo Mutações no mundo do trabalho: o (triste) espetáculo da informalização¹, a pesquisadora Jane Souto de Oliveira destaca que o campo do trabalho está passando por profundas mudanças. Essas mudanças são associadas a fatores como as “transformações operadas na economia mundial, por força da globalização dos mercados, da incorporação aos processos produtivos dos avanços tecnológicos nas áreas de microeletrônica, biotecnologia e novos materiais”. Jane aponta diversas mutações, entre as quais destacamos: diminuição dos postos de trabalho formais e assalariados; oportunidades cada vez menos ligadas a ocupações na área industrial e mais presentes no setor de serviços; exigência por um grau cada vez maior de escolarização, bem como de atributos como polivalência, autonomia e iniciativa. Para a pesquisadora, é possível ainda perceber mudanças no mercado de trabalho no Brasil que se dão num “duplo movimento: de um lado, a ampliação do espaço ou do campo do setor informal, que se traduz pela incorporação crescente de agentes econômicos em formas de produção e relações de trabalho não-capitalistas, exemplificadas pelo trabalho por conta própria, pela pequena produção mercantil e por micro e pequenos empreendimentos; de outro, a aceleração de um processo de informalização que se dá dentro das próprias empresas capitalistas. Esse processo responderia a uma estratégia de ajuste empresarial, materializando-se em práticas de terceirização, flexibilização, subcontratação, recurso ao trabalho em domicílio, entre outras”.
¹Artigo publicado na revista Democracia Viva, nº 21 (abril/maio de 2004), do Ibase. Publicação disponível no portal do Ibase (http://www.ibase.br).
Formação universitária No período em que o Encontro foi realizado, dois participantes já eram universitários e os demais demonstravam interesse em entrar para a universidade. Por essa razão, foi inevitável que um dos temas abordados no evento fosse a importância da formação universitária. Durante o diálogo que marcou o terceiro dia do Encontro, os participantes ressaltaram que essa formação pode contribuir significativamente tanto para que os jovens ampliem seus conhecimentos, quanto para que busquem certos postos de trabalho. De acordo com alguns dos participantes, ter um diploma universitário é essencial para aqueles que desejam trabalhar em determinadas empresas ou instituições. Sobre a área em que atua, Tainara comentou: “eu não sei como é no caso das produtoras, mas, em TV, você perde oportunidades se não tem o título, mesmo que tenha experiência e outras formações”. Apesar dessa afirmação, Tainara apontou que o papel da formação universitária não é só garantir um diploma ao jovem. Ela comentou que sua experiência no curso de
Design Industrial foi importante para que ampliasse seus conhecimentos. “Eu reconheço o valor da faculdade enquanto meio de aprofundar os estudos. Eu me formo este ano e acho que acrescentou bastante”. Ela ressaltou ainda que o curso universitário e a formação na Oi Kabum! foram experiências de aprendizagem distintas e complementares. Cada uma delas contribuiu, à sua maneira, para que a jovem se desenvolvesse. “Eu fiz a Oi Kabum! durante um ano e meio e foi importante pra mim e hoje, me formando na faculdade, vejo que ampliei muito a minha formação a partir de uma soma de ambas.” Assim como Tainara, Marcelle também acredita que um curso universitário pode contribuir para que ela desenvolva novas competências e amplie seus conhecimentos. Para Marcelle, é fundamental que os jovens não considerem o curso superior apenas um meio de conseguir um diploma. Segundo ela, essa visão reducionista pode ser um empecilho para que os estudantes desfrutem de todas as possibilidades de crescimento que a universidade pode oferecer. Ele defende que é fundamental que os jovens atribuam um sentido mais amplo à formação universitária.
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Os Jovens e a formação universitária Entrevista com a professora Nilma Lino Gomes, da Faculdade de Educação da UFMG
Para aprofundarmos a discussão sobre a importância da formação superior, realizamos uma breve entrevista com a professora Nilma Lino Gomes, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. Além de sua atuação como docente e pesquisadora, Nilma é coordenadora do Programa Ações Afirmativas na UFMG. A iniciativa busca garantir a negros, principalmente de baixa renda, o ingresso e a permanência bem-sucedida nos cursos oferecidos pela instituição. Equipe da Revista: Qual é a importância da entrada na universidade para os jovens de baixa renda? Nilma: A entrada na universidade é um direito. Esse é o primeiro aspecto a ser destacado. Como um direito, ela deve ser garantida para todos os jovens brasileiros. Todavia, os estudos e pesquisas revelam que a universidade, sobretudo a pública, ainda possui uma baixa representatividade de jovens de baixa renda e dentre estes estão ainda menos representados os indígenas, os quilombolas, os negros, os jovens do campo e as mulheres. Ao entrar na universidade, esses jovens levam as suas vivências, seus conhecimentos, seus perfis, sua leitura da vida e da política e ajudam a enriquecer e democratizar a universidade,
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tornando-a mais diversa e mais pública. Também podem tencionar várias representações negativas que, muitas vezes, a própria universidade ajuda a perpetuar sobre os coletivos dos quais fazem parte. A presença de um perfil diversificado de estudantes nessa instituição também possibilita a esses jovens o acesso ao conhecimento científico, a ampliação de contatos e a sua circulação não só no campo teórico, mas também em outros espaços culturais e políticos. A médio e longo prazos, formaremos novos quadros acadêmicos, políticos e intelectuais diversos em condição econômica, gênero, diversidade sexual, raça, localização campo/cidade, vivências sociais e culturais e visão política. Espera-se que a democratização do acesso e da permanência desses jovens na universidade possa fazer avançar o processo de democratização não só dessa instituição, mas da sociedade de maneira geral, na sua relação com a diversidade. A luta pela construção da democratização da universidade em relação à diversidade e à juventude dos setores populares tem sido muito tensa e intensa. Por fim, é importante destacar que temos avanços e que há, no interior dessa instituição, docentes, grupos e núcleos de pesquisa comprometidos com essas mudanças e que se articulam com os movimentos sociais.
Equipe da Revista: A universidade é vista por muitas pessoas apenas como o reconhecimento formal do saber técnico para o mercado de trabalho. Para a trajetória social e profissional, quais são as outras possibilidades oferecidas pela vivência universitária além do diploma? Nilma: Insisto que a universidade deve ser vista como um direito. Ela não é só uma instituição que fornece um diploma válido para o mercado de trabalho. A formação para o mercado de trabalho é uma das possibilidades ofertadas pela universidade brasileira. A universidade deve ser entendida como espaço de formação humana e não somente de formação técnica. A formação intelectual, social, cultural e política é também tarefa da universidade e se configura como parte das suas possibilidades. Não se pode esquecer, nesse contexto, a produção de pesquisa e a formação de pesquisadores e pesquisadoras da graduação até a pós-graduação. A universidade é também o espaço de mobilização estudantil, discussão e formação política e cultural. Nesse sentido, ela se configura como um dos espaços de formação de quadros intelectuais, artísticos e políticos do país. Todavia, se os coletivos diversos não estiverem presentes na universidade (e não pressionarem pela sua entrada e permanência) continuaremos a perpetuar a hegemonia de um determinado recorte de classe, de raça, de gênero
e orientação sexual, de localização geográfica/espacial e geracional nos quadros formados pela universidade. Por isso, ela precisa ser democratizada e indagada pela diversidade. A entrada de jovens com perfis diversificados e origens sociais diversas ajudará a quebrar o predomínio de determinadas hegemonias, concepções e representações que historicamente vêm ocupando um lugar de poder na formação universitária em nosso país. As políticas de acesso e permanência voltadas para jovens pertencentes aos coletivos sociais que se encontram historicamente excluídos da universidade poderão ser um dos caminhos para a mudança desse quadro. Todavia, elas têm que ser acompanhadas de recursos públicos e controle público. Os movimentos sociais, os grupos culturais, os movimentos juvenis deverão estar cada vez mais atentos ao papel da universidade e à sua relação com a sociedade. E deverão cobrar dessa instituição a construção de políticas acadêmicas efetivas de garantia de uma formação mais ampla e rica que vão além da técnica e incorpore, reconheça e respeite os conhecimentos produzidos pelos sujeitos que participam dos diferentes movimentos, grupos e ações coletivas. Os jovens precisam ser compreendidos e vistos pela universidade como sujeitos de direitos e não só como “aprendizes de um saber técnico”.
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CONFLITO DE GERAÇÕES >>
Quando estão iniciando suas trajetórias profissionais, muitos jovens vivem situações conflituosas com seus familiares. Modos diversos de enxergar o mundo do trabalho por vezes dificultam o diálogo em casa. Enquanto muitos pais acreditam que os filhos deveriam buscar empregos formais, alguns jovens preferem investir em trabalhos autônomos ou esporádicos que lhes garantam mais satisfação e maiores chances de desenvolvimento profissional. Essas primeiras experiências de trabalho geralmente estão relacionadas à área em que os jovens gostariam de atuar profissionalmente e, por essa razão, podem representar uma inserção inicial no campo profissional escolhido. Tal justificativa, porém, nem sempre é suficiente para convencer os pais. A ausência de garantias trabalhistas e a falta de um horário de trabalho bem definido costuma motivar conflitos familiares. Quando iniciou seu envolvimento com o trabalho, a belo-horizontina Giovânia Monique vivenciou um desentendimento com a mãe, que se estendeu ao longo de vários meses. O excesso de atividades e o fato de não ter uma “carteira assinada” levavam a mãe a questionar, reiteradamente, o modo como a filha vinha construindo sua trajetória. Foi necessário algum tempo e muita conversa para que a mãe entendesse a importância daquela opção. Nesses diálogos, Giovânia costumava argumentar que, para sentir-se feliz, era fundamental trabalhar numa área com a qual se identificasse. “Eu dizia: ‘se eu parar de fazer isso, eu entro em depressão. Eu não quero parar.’” Além do diálogo, outro caminho encontrado por Giovânia foi envolver a mãe nas atividades profissionais que desenvolvia. Durante o Encontro, a jovem comentou que, certa vez, pediu a ajuda da mãe na organização de uma atividade formativa que estava desenvolvendo numa escola pública de seu bairro. Para Giovânia, essa colaboração foi muito importante para que a mãe conhecesse de perto o trabalho da filha. Ao falar sobre a temática, Marlon David, do Recife, queixou-se que os pais não valorizam o trabalho que desenvolve porque não conhecem a área da comunicação. “Eu sinto que as atividades que faço, para eles, não são tão
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importantes porque eles não conhecem a área.” De acordo Marlon, a falta de um horário padronizado e de uma renda fixa também contribuem para que os pais vejam com descrédito as atividades que ele desenvolve cotidianamente.
Estigma O desconhecimento dos pais em relação à área da comunicação também fez com que Marcelle Arjones, de Salvador, vivesse conflitos em casa. O problema surgiu quando ela passou a dedicar-se, muitas horas por dia, ao trabalho como produtora. A principal preocupação dos pais era em relação aos ambientes que a filha estaria frequentando. “Eles estavam menos preocupados com a questão do dinheiro e da carteira assinada e mais com o meio em que eu estava trabalhando. A primeira vez que eu virei uma noite no trabalho, foi briga para uma semana”. Assim como no caso de Giovânia, o conflito familiar vivenciado por Marcelle foi perdendo intensidade com o passar do tempo. Pouco a pouco, ela desfez a visão dos pais em relação à área em que estava atuando. “Para você desconstruir uma ideia, é com o tempo. Hoje, meus pais me respeitam. Você desconstrói uma ideia e forma outra”, disse Marcelle.
Diรกlogo realizado no terceiro dia do Encontro
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DIÁLOGO COM A
PRÁTICA
SUGESTÕES EXTRAÍDAS DO ENCONTRO DE DIÁLOGO QUE PODEM CONTRIBUIR PARA AS REFLEXÕES E PRÁTICAS DA OI KABUM! • Pesquisar e apresentar aos educandos as possibilidades do campo de trabalho em que estão inseridos e incentivá-los a descobrir novos nichos de atuação. É fundamental fomentar o empreendedorismo dos jovens, já que o mercado de trabalho sofre profundas mutações e não há caminhos prontos a serem trilhados. • Estimular os jovens a uma postura crítica em relação ao seu fazer profissional. Afinal, é preciso ir além da dimensão do domínio técnico de uma atividade e colocar-se como um sujeito que atua de forma reflexiva e autônoma, sendo capaz de responder aos inúmeros desafios da prática. • Incentivar e apoiar as iniciativas de produção artística autoral dos jovens. Esse tipo de produção geralmente se mostra um importante espaço de inovação e pode gerar visibilidade e reconhecimento para os educandos – contribuindo inclusive para que eles valorizem mais o próprio trabalho. • Estimular os jovens a envolverem-se em grupos e coletivos culturais. Tais associações podem funcionar como espaços de ampliação das redes, sobretudo para a troca de experiências e fortalecimento das perspectivas de trabalho colaborativo. • Incentivar os jovens a identificar, na vivência universitária, as possibilidades de construção de conhecimento e de ampliação de rede de contatos, experiências de grande importância para a trajetória profissional. • Incentivar os educandos a dialogar com suas famílias sobre suas escolhas e experiências de trabalho. Dessa forma, os familiares têm a oportunidade de conhecer melhor e compreender as escolhas dos jovens. Estes, por sua vez, amadurecem sua própria reflexão em relação aos caminhos profissionais buscados.
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encontros de
diĂĄlogo
Arte e PolĂtica
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> Seria a arte uma prática inerentemente política? Ou poderia a política desvirtuar a criação artística? De que maneira arte e política se encontram? Quais as dimensões dessa interface? Que elementos distinguem a chamada arte politizada de formas artísticas tachadas como não políticas ou mesmo “despolitizantes”? As relações entre arte e política são alvo de ampla reflexão e controvérsia. O debate em torno da questão remonta à filosofia clássica e atravessa séculos, sendo abordado por teóricos tão diversos como Platão, Aristóteles, Rousseau, Adorno, Benjamin, Deleuze e Rancière. Essa discussão não se restringe, todavia, ao mundo dos filósofos. Dela participam também os artistas, seja através de suas próprias criações, seja por meio da manifestação de suas reflexões sobre tal interface. Muitos artistas propõem uma arte engajada que interfira no contexto em que se insere, fomentando a reflexão e atiçando os processos em que a sociedade põe-se a pensar sobre si mesma, sobre suas práticas e sobre suas formas de relação. Outros temem que a arte seja subserviente a ideais políticos e perca o cerne da inovação estética no anseio por propagandear determinadas ideologias. Em ambos os casos, nota-se uma preocupação em discutir essa espinhosa interface, discussão que passa pela própria definição de arte e de política. Tendo em vista a centralidade dessa discussão para a Oi Kabum!, organizou-se um Encontro de Diálogo do qual participaram nove pessoas, entre artistas e estudiosos de arte. O Encontro propôs levantar questões e a suscitar um debate sobre as complexas relações entre arte e política. Ele instaurou uma reflexão coletiva e aplicada sobre essa interface, chamando a atenção para as múltiplas potencialidades políticas do fazer artístico no permanente movimento de reconstrução social da realidade. Apontaram-se, ainda, algumas notas de cautela acerca da produção artística que se deseja política.
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SAIBA COMO FOI
O ENCONTRO
O Encontro de Diálogo sobre Arte e Política foi realizado ao longo de um dia, na Oi Kabum! de Belo Horizonte. Ao todo, foram sete horas de conversa sobre as relações entre arte e política e sobre o modo como a escola deve trabalhar tais relações. O evento reuniu: Anna Karina Bartolomeu, fotógrafa e professora da Escola de Belas Artes da UFMG; Carlos de Brito e Mello, escritor, jornalista e professor da área de Comunicação; Thiago Monge, grafiteiro, MC e ativista do movimento Hip Hop; Marcelo Terça-Nada!, artista que trabalha com linguagens variadas e integra o Poro – Intervenções Urbanas e Ações Efêmeras; Mariana Fernandes Gontijo, advogada e aluna do Mestrado em Direito da UFMG, curso no qual desenvolve pesquisa sobre a inter-relação entre direito e cultura; Musso Greco, psiquiatra, psicanalista e sócio-fundador da AIC; Piero Bagnariol, quadrinista, grafiteiro e arte/educador que integra a equipe da Oi Kabum! de Belo Horizonte; Ricardo Portilho, artista da área de design que trabalha com diversas mídias, além de atuar como professor de Comunicação e como educador da Oi Kabum! de Belo Horizonte; Victor Guimarães, jornalista, aluno do Mestrado em Comunicação Social da UFMG e integrante da equipe de pesquisa da AIC. O coordenador e mediador do Encontro foi Ricardo Fabrino, jornalista, doutor em Comunicação Social e professor do Departamento de Ciência Política da UFMG. Ricardo é sócio da AIC, além de colaborador da Diretoria de Metodologia e Pesquisa da entidade.
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Mais informações sobre as trajetórias dessas pessoas estão disponíveis ao final da revista.
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>> Antes mesmo que os participantes se reunissem para dialogar, teve início a proposição do Encontro. O objetivo da atividade era fomentar a reflexão individual dos participantes e impulsionar as discussões que aconteceriam durante o evento.
Propossição No momento em que confirmou sua participação no Encontro de Diálogo, cada convidado recebeu uma tarefa a ser realizada antes do encontro. As tarefas consistiam em frases no imperativo que propunham articulações (ou desarticulações) entre imagens e o âmbito da política. A cada participante foi entregue uma das seguintes frases: 1) Produza uma fotografia sobre política; 2) Encontre uma fotografia “despolitizante”; 3) Fotografe a política; 4) Encontre uma imagem recente que seja politizada; 5) Lembre-se de uma imagem com forte apelo político; 6) Trabalhe uma imagem de modo a politizá-la; 7) Encontre uma imagem não política. Evitou-se explicar aos participantes o sentido de cada uma das frases, visto que a interpretação das mesmas estava na essência da proposta. Foi solicitado aos participantes que levassem ao Encontro uma cópia da imagem produzida ou escolhida. Os processos de produção de duas das propostas foram acompanhados por integrantes da equipe da Oi Kabum!, que buscaram registrar o percurso interpretativo dos participantes e a efetiva escolha de uma imagem. As propostas acompanhadas foram “Produza uma fotografia sobre a política” (sob responsabilidade do artista Marcelo Terça-Nada!) e “Fotografe a política” (a cargo do artista Thiago Monge). No dia do Encontro, os nove convidados sentaram-se em torno de uma ampla mesa, na qual estavam um moderador e dois membros da equipe da escola. As imagens foram espalhadas sobre a mesa de modo a fazerem-se visíveis, sem que as pessoas fossem apresentadas umas às outras e sem que soubessem que haviam recebido tarefas distintas. Em seguida, solicitou-se a cada participante que escolhesse uma imagem que não a produzida por ele mesmo e que discorresse sobre ela, tendo em vista o foco do Encontro. Terminado esse primeiro momento, pediu-se
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a cada participante que apresentasse a imagem que ele ou ela havia trazido, mencionando a frase recebida e explicando a ideia na base de sua execução. Essas apresentações foram muito ricas e permitiram levantar várias questões sobre a complexidade da interface entre arte e política. Já durante as apresentações, os participantes começaram a conversar sobre algumas imagens, sendo que o diálogo se intensificou após as exposições. Ao longo de todo o processo, o mediador buscou aguçar o debate para que os participantes explorassem os elementos que acreditavam politizar as imagens ou, ao contrário, que as despolitizavam. Procurou-se, ainda, explorar a riqueza e os perigos dessa interface. O segundo momento do Encontro de Diálogo ocorreu na parte da tarde, quando os participantes foram convidados a refletir sobre o modo como as relações entre arte e política atravessavam o fazer da Oi Kabum!. A sessão foi aberta com a leitura de vários fragmentos de texto que exploravam a temática focada pelo Encontro. Tais excertos foram retirados de artigos científicos, obras filosóficas e textos opinativos disponíveis na Internet. Controversos, alguns deles afirmavam que a arte é inerentemente política, enquanto outros afirmavam que essa relação não é obrigatória e ainda outros destacavam como a política pode descaracterizar manifestações artísticas. Encerrada a leitura dos fragmentos, a discussão foi reaberta, sendo que os textos foram retomados ao longo do debate. As imagens, ainda dispostas sobre a mesa, também continuaram a ser mencionadas e abordadas na segunda parte do Encontro.
Carlos de Brito e Melo e Mariana Fernandes Gontijo: participantes do Encontro de DiĂĄlogo sobre Arte e PolĂtica
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Descrição das imagens selecionadas ou produzidas pelos participantes do Encontro a partir da proposição recebida
Em resposta à proposição “encontre uma imagem recente que seja politizada”, Mariana Gontijo selecionou duas fotos de uma publicação jornalística na Internet. Na primeira foto, há um foco de incêndio em segundo plano e, no centro da imagem, um grupo de policiais com capacetes e escudos, amontoados no meio da rua, em um típico bairro de periferia. Já na segunda imagem, é possível constatar que o foco de incêndio da foto anterior corresponde a um ônibus em chamas. Além dessas duas imagens, Mariana selecionou uma fotografia que mostra mãos de mulheres em um protesto contra a violência.
Partindo da proposição “encontre uma fotografia despolitizante”, Carlos de Brito e Mello selecionou uma imagem do Monumento aos Descobrimentos, situado no distrito de Lisboa, em Portugal. Encomendado pelo regime do ditador Salazar, o monumento foi originalmente criado em 1940 e desmontado em 1958. No ano de 1960, porém, uma réplica da obra original passou a ocupar um lugar de destaque na margem direita do rio Tejo.
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Ricardo Portilho, educador de design gráfico da Oi Kabum! Belo Horizonte.
Após receber a proposição “trabalhe uma imagem de modo a politizá-la”, Ricardo Portilho selecionou duas imagens do site Worldmapper (www.worldmapper.org), publicação que reúne mapas-múndi cujos territórios dos países foram distorcidos proporcionalmente para refletir determinados dados estatísticos. O primeiro mapa escolhido por Ricardo reflete os maiores e menores importadores de brinquedos do mundo (primeira foto, da esquerda para a direita). Já o segundo mapa representa os exportadores de brinquedos.
Musso Greco apresentou alguns dos trabalhos de Barbara Kruger para responder à proposição “escolha uma imagem recente que seja politizada”. Kruger é uma artista estadunidense que lança mão de técnicas da publicidade para criar obras que questionam valores contemporâneos. Num dos trabalhos selecionados por Musso, uma mão segura um cartão de visitas onde se lê a seguinte frase: “I shop, therefore I am” (compro, logo existo – tradução livre). Além das imagens de Barbara Kruger, como resposta à proposição, Musso apresentou o retrato de um cortador de lenha, foto retirada da capa do livro Snap judgments: new positions in contemporary african photography, obra lançada em 2006 que reúne imagens produzidas por diversos fotógrafos do continente africano.
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Para responder à proposição “lembre-se de uma imagem com forte apelo político”, Anna Karina Bartolomeu voltou sua atenção para as fotografias criadas pelos participantes do projeto No Olho da Rua, iniciativa desenvolvida pelos artistas Patrícia Azevedo, Julian Germain e Murilo Godoy junto a um grupo de aproximadamente 50 jovens que viviam nas ruas de Belo Horizonte. Do conjunto de imagens produzidas a partir do projeto, Anna Karina selecionou especificamente o autorretrato realizado por uma das participantes da iniciativa.
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A partir da proposição “produza uma fotografia sobre a política”, Marcelo Terça-Nada! optou por fotografar uma intervenção artística que havia desenvolvido em parceria com Brígida Campbell em uma das ruas do bairro Concórdia, situado na cidade de Belo Horizonte. Marcelo e Brígida são os dois integrantes do coletivo artístico denominado Póro – Intervenções urbanas e ações efêmeras.
Ao receber a proposição “fotografe a política”, Tiago Monge dirigiu-se à região central de Belo Horizonte e fotografou a frase “marcha mundial das mulheres”, pichada em um muro localizado na Praça Sete, área de grande circulação de pessoas. Na imagem produzida por Monge, aparecem também alguns tabuleiros de xadrez.
Partindo da proposição “encontre uma imagem não política”, Piero Bagnariol selecionou a foto de uma pintura rupestre localizada em uma gruta de Minas Gerais. Para Piero, apesar de serem fruto da expressividade humana, as pinturas rupestres são imagens “não políticas” uma vez que foram produzidas antes do surgimento da polis, palavra que está na raiz do termo “política”.
> Nesta seção da revista, só foram apresentadas as imagens das quais dispúnhamos do direito de reprodução.
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REFLEXÕES GERADAS
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PELO ENCONTRO
A partir das apresentações das imagens trazidas, os participantes debateram acerca das relações entre arte e política. Nos textos subsequentes, exploramos algumas dessas discussões e buscamos elaborar sugestões que ajudem a pensar as práticas da Oi Kabum!.
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UMA RELAÇÃO DIFUSA >>
O primeiro aspecto evidenciado pelo Encontro de Diálogo diz respeito à complexidade das articulações entre arte e política. A apresentação das imagens feitas pelos participantes evidenciou que não há uma sobreposição entre arte e política, nem uma simples interseção entre dois campos distintos. Arte e política se cruzam em diversos pontos, como duas superfícies irregulares, cujas reentrâncias e saliências criam encaixes e desencaixes sucessivos. No momento em que teceram comentários sobre as imagens dispostas na mesa, os participantes chamaram a atenção para diversos aspectos que possibilitavam lê-las como políticas. Anna Karina destacou o jogo de poder entre o fotógrafo, aquele que se dá a ver na fotografia e aquele que se defronta com a imagem. Marcelo Terça-Nada!, Thiago Monge e Musso Greco, ao analisar mapas distorcidos trazidos por Ricardo Portilho, ressaltaram a dimensão estética
da interface. Eles apontaram como uma brincadeira com formas naturalmente aceitas pode demonstrar a construção simbólica da realidade e chamar a atenção para a arbitrariedade de convenções. Discorrendo sobre a fotografia feita por Marcelo, Carlos de Brito e Mello salientou como a imagem não informativa pode ser política. Ele destacou a ausência de fluxo na fotografia e a sobreposição de camadas temporais para explicar a capacidade da imagem de afetar sujeitos. Piero Bagnariol explorou o estranhamento gerado por uma fotografia de jornal que apresentava um grupo de policiais acuados diante de uma comunidade. Nesse caso, o próprio contexto fotografado acabaria por politizar a imagem. Mariana Gontijo falou da força do instante na produção da arte política, ao abordar a imagem em que mãos de mulheres em um protesto contra a violência são vistas. Ao longo das discussões, os participantes
Anna Karina Bartolomeu tece comentários sobre uma das fotos selecionadas por Musso Greco a partir da proposição
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Tiago Monge: participante do Encontro de Diálogo sobre Arte e Política
destacaram, ainda, como a arte pode gerar e registrar intervenções urbanas, tais como pichações ou stickers, transformando espaços públicos e gerando reflexões. Esse conjunto difuso de explicações sugere que não há um ponto preciso de conexão entre arte e política. Essa conexão pode se dar pela estética, pelo objeto que inspira a produção artística, pelas motivações dos criadores, pelo espaço de visibilidade gerado, pelo estranhamento fomentado, pelas intervenções e transgressões que modificam o espaço público, pela mise-en-scène do representado e pelo instante captado. Múltiplos são os fatores que podem gerar encaixes entre as reentrâncias da superfície da arte com as da política. Não há uma forma específica de produzir arte política, nem um parâmetro único para estabelecer o grau de politização de uma determinada obra. A complexidade da relação se fez igualmente clara quando os participantes responsáveis pela elaboração de imagens não políticas explicaram suas ideias. Para cumprir a tarefa de encontrar uma imagem não política, Piero trouxe a foto de uma pintura rupestre encontrada em uma gruta de Minas Gerais. Indagado sobre o porquê de sua escolha, ele afirmou que aquele tipo de representação era anterior à formação da polis, não podendo ser encarada como política. Tais obras não estavam a serviço de interesses políticos, como viria a ocorrer posteriormente. A imagem trazida por Piero poderia ser lida de modo político, até pela revolução que as primeiras inscrições em suportes fixos fomentaram. Essa análise deixa ver, contudo, que o contexto em que se insere uma obra diz de suas funções e de seu engajamento. No argumento de Piero, seria difícil falar de pinturas rupestres como políticas, porque elas precedem a própria configuração da vida política em coletividade. Sua interpretação mostra a centralidade dos contextos (de produção, de circulação, de interpretação) para que uma dada imagem possa ser pensada em sua dimensão política. Carlos de Brito e Mello, por sua vez, trouxe uma fotografia da réplica do Monumento aos Descobrimentos,
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erguido em 1960, para falar de uma imagem despolitizante. O monumento original, desmontado em 1958, havia sido encomendado durante a ditadura de Salazar, celebrando o expansionismo português dos séculos XV e XVI. Com 52 metros de altura, localizada em Lisboa, a réplica do monumento representa uma caravela com as velas içadas e porta estátuas de 33 personalidades portuguesas que foram consagradas pelos descobrimentos. Carlos afirmou que o monumento, além de ser uma “aberração estética”, fixa a história, despindo-a de suas controvérsias. Além disso, ele foi construído em uma ditadura, regime em que o uso da força sobrepõe a política, eliminando o espaço do intercâmbio com o outro. A argumentação de Carlos toca no núcleo de problemas trabalhados pela filosofia política contemporânea. Ele percebe que a fotografia despolitizante não é apolítica, mas desencadeia uma ação que tem bases e fins políticos. Mais uma vez, é o contexto que permite a definição do que é político, ajudando a interpretar uma imagem estática de um monumento. A partir das discussões promovidas, assinalamos que a relação entre arte e política é não apenas complexa, mas contextual. Os diversos fatores que atravessam uma imagem devem ser considerados quando se discute seu grau de politização. Composição, tema, inscrição social, efeitos, caráter de inovação, capacidade de compreensão, intenções do artista, interpretações geradas e relações de poder entre os atores envolvidos na produção da obra são alguns dos fatores que devem ser considerados nesse tipo de discussão. Isso não implica, contudo, que qualquer imagem possa, em qualquer contexto, ser tomada como política, em uma espécie de relativismo sem parâmetros. Se a interface entre arte e política é difusa, ela não é vazia, como se pudesse ser ocupada por qualquer discurso. De acordo com os participantes do Encontro de Diálogo, existe algo que permite o entrelaçamento dos diversos fatores que colocam arte e política em relação. Esse algo é o foco do próximo texto.
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ARTE E POLÍTICA COMO SUSPENSÃO DOS SENTIDOS: A MICROPOLÍTICA DOS DESLOCAMENTOS >>
Em diversos momentos, participantes do Encontro sugeriram que um importante ponto de conexão entre arte e política reside na capacidade de algumas obras fomentarem estranhamento. A arte poderia deslocar olhares, na medida em que coloca sentidos naturalizados em suspenso e promove outras perspectivas possí-
veis. Nessas situações, a arte seria inegavelmente política, porque possibilita que sujeitos se repensem e, nesse processo, transformem o mundo em que vivem e as relações em que se inserem. Logo na exposição de sua fotografia, a professora Anna Karina Bartolomeu destacou a força política de um imagem
Jornal produzido pelo projeto No Olho da Rua, iniciativa desenvolvida por Patrícia Azevedo, Julian Germain e Murilo Godoy com população em situação de rua de Belo Horizonte
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produzida dentro do projeto No olho da rua, realizado a partir de uma colaboração entre os fotógrafos Patrícia Azevedo, Murilo Godoy, Julian Germain e cerca de 50 jovens moradores de rua de Belo Horizonte. A imagem mostrava um autorretrato de uma mulher que olhava fixamente para a câmera e defrontava-se com o espectador em toda a sua alteridade. Anna Karina argumenta que a fotografia exibe a “dimensão política da arte em sua forma mais potente, que é essa do estranhamento, de você parar para olhar de novo, de você vislumbrar outros mundos possíveis”. Citando o filósofo francês Jacques Rancière, a professora defende que “a política é muito mais uma questão de relação de mundos do que de relação de forças, mundos que se constituem através da linguagem”. Algumas imagens teriam a capacidade de apontar para outros mundos. Nesse caso específico, Anna Karina sugere que a foto pode nos levar a perceber “o mundo que essa mulher vê, o mundo em que ela vive”. Comentando fotografias do mesmo projeto, o educador Ricardo Portilho destaca o poder que elas têm de apropriar-se de clichês, para transformar sentidos. Para elaborar seu
argumento, Portilho chamou a atenção para algumas imagens. Em uma delas, uma moradora de rua posa para a câmera como uma modelo, com as mãos na cintura e uma bela paisagem ao fundo. Em outras, nota-se um adolescente que pedia a várias pessoas que se deixassem fotografar junto a ele, reproduzindo as clássicas imagens de mesa de bar com abraços laterais e sorrisos (ora espontâneos, ora forçados). Em ambos os casos, de acordo com Portilho, observa-se uma reapropriação de fórmulas recorrentes do fazer fotográfico, que promoveriam deslocamentos de sentido. As imagens jogariam com o conhecido para colocar sentidos naturalizados em suspensão. Segundo Portilho, algumas das fotos do projeto, como a do adolescente nas mesas de bar, lembrariam um safári às avessas, em que o morador de rua não é mais a presa exótica. O menino mostraria o exotismo que há naqueles que são distintos dele. “Ele toma posse de uma situação que às vezes é hostil ou impenetrável para ele, do convívio social afetivo [...] E ele conseguiu tomar posse disso através dessas imagens.” O escritor Carlos de Brito e Mello também destaca como a experiência estética pode deslocar padrões
Jornal com imagens produzidas por integrante do projeto No Olho da Rua
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naturalizados de compreensão do mundo. De acordo com ele, um objeto artístico “é potente do ponto de vista político na hora em que essa suspensão for produzida”, sendo que a arte inicia esse jogo de sentidos que vai se configurando em uma teia de relações. A arte, em suas várias modalidades, tem um papel fundamental a desempenhar no cotidiano, perpassando o permanente processo de constituição dos sujeitos e suas práticas ordinárias. Todas essas falas sugerem que uma dimensão central da interface entre arte e política é a capacidade de algumas obras de fomentar deslocamentos de sentidos. A arte pode tensionar nossas percepções, empurrando-nos a compreender o mundo de maneiras distintas. Se a realidade é permanentemente construída em nossas relações, há uma tendência a cristalizar a fluidez do social como se as coisas só pudessem ser como são. A arte pode, em algumas situações, liquefazer esse real cristalizado, mostrando que o mundo poderia ser diferente. Como lampejos de inovação, obras de arte podem gerar estalos cognitivos, que colocam sentidos em suspenso e incitam as pessoas a seguir trilhas interpretativas pouco usuais. E isso é essencialmente político. Nesse ponto, a discussão do sociólogo inglês Anthony Giddens sobre a noção de reflexividade mostra-se bastante rica. Em sua análise sobre as características da modernidade, Giddens discute o modo como pensamento, narrativa e ação se cruzam, de forma a possibilitar uma permanente revisão das práticas sociais. A reflexividade é uma sobreposição de atravessamentos em que uma parte afeta a outra. Trata-se de uma recursão, em que os elementos se cruzam, imbricam-se e deslocam-se para se constituir de maneiras diferentes. A arte é um fazer importante em tais processos de reflexividade social. Simultaneamente instituída pelo contexto em que se insere e instituinte desse contexto, ela abre espaço para a inovação, para o deslocamento, para a transformação de perspectivas. O fazer artístico configura-se como forma expressiva que pode atravessar relações sociais, alterar processos de constituição de sentido e promover processos de revelação, ou suspensão de sentidos. Essa revelação, a disclosure de que nos falam os filósofos Hannah Arendt e James Bohman, na trilha do filósofo alemão Martin Heidegger, não significa a descoberta de uma verdade última que estaria escondida sob as dobras da realidade. A revelação é justamente esse deslocamento de nossas capacidades de perceber e compreender o mundo. A arte pode ter um poder de revelação, emergindo como descontinuidade no tecido da vida cotidiana. Ela pode nos surpreender, criar novas conexões, novos campos e rotas de sentido. Essas surpresas são políticas, porque afetam os rumos da sociedade na medida em que perpassam os fazeres cotidianos. Essa ligação da política com a construção cotidiana da realidade remonta aos escritos de Aristóteles, que entendia a política como aquilo que diz respeito à coletividade. O que
diz respeito ao bem comum não pode ser restrito às ações de instituições governamentais nem às decisões tomadas por representantes políticos formalmente eleitos. A política é uma dimensão fundamental da vida em sociedade. No século XX, diversos autores e movimentos chamaram a atenção para essa questão. Cabe lembrar, aqui, a preocupação de Hannah Arendt em mostrar que as ações dos sujeitos são políticas na medida em que alicerçam a construção de um mundo comum. Michel Foucault também tem uma interessante discussão sobre as microrredes de poder, que se espraiam pelo tecido social criando estruturas de dominação que visam a domesticar os sujeitos para o trabalho. Em diálogo com Foucault, e opondo-se a ele, o também francês Michel de Certeau explora o cotidiano como um espaço de reapropriações e invenções, que são políticas na medida em que permitem aos sujeitos reinventar o mundo e as estruturas de poder que o balizam. Alguns dos participantes do Encontro de Diálogo ressaltaram a forma como a arte pode intervir nos processos de subjetivação, visto que interpelam os sujeitos a questionar as suas próprias vidas, certezas e identificações. O psicanalista Musso Greco lembrou a obra da artista plástica Orlan, que se submeteu a uma série de cirurgias plásticas para reconfigurar-se como um misto de diversas figuras tidas como belas (de Vênus a Monalisa). Musso afirma que ela trata “a pele e a identidade como uma vestimenta que pode ser trocada”, evidenciando o caráter construído do corpo. “É uma intervenção em que ela vai questionar todos esses ícones, esses padrões de beleza do Ocidente”. A arte parece promover grandes transformações através de suas microintervenções. No campo das lutas sociais, vale a pena mencionar as do movimento feminista, sobretudo a partir dos anos 1960, para evidenciar que a vida pessoal é política. Também merece destaque o esforço de ambientalistas para explicitar como nossas escolhas ordinárias (aquilo que comemos, o que vestimos e o modo como nos locomovemos, por exemplo) são essencialmente políticas. No livro Modernidade e Identidade, Anthony Giddens analisa as ações desses movimentos como uma expressão do que ele denomina como política-vida. Para o sociólogo, essas microdecisões cotidianas, incluindo o jeito como construímos nossas identidades e nos relacionamos com os outros, são políticas, porque requerem escolhas e têm implicações sobre as vidas de outras pessoas. A partir dessa compreensão de política, fica fácil entender a dimensão política da arte ressaltada pelos participantes do Encontro de Diálogo. A arte, ao suspender sentidos e colocá-los em questão com seu poder de revelação, pode fomentar microtransformações cotidianas que são políticas na medida em que dizem respeito à vida da coletividade. Esse deslocamento pode ocorrer na transformação de sujeitos e de suas interpretações.
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ARTE, POLÍTICA E ESPAÇO >>
Suponhamos que uma obra de arte seja instalada num grande museu e também veiculada no centro da cidade. Do ponto de vista das relações entre arte e política, qual é a diferença? Em que medida a circulação da arte pode também ser algo político? No início do século passado, em sua análise sobre as consequências da reprodutibilidade técnica para a obra de arte, o filósofo alemão Walter Benjamin sinalizava a dimensão política das formas de veiculação da arte. Segundo ele, se para a pintura ou a escultura o caráter único de uma obra sempre foi uma questão importante, com o advento da fotografia e do cinema a questão da autenticidade dos exemplares perde sentido. Uma cópia não é mais autêntica que outra. Desse modo, a difusão massiva de imagens fotográficas ou de filmes faz com que a arte não esteja mais fundada no ritual – como nos mosteiros da Idade Média ou nas cortes dos séculos XVI, XVII e XVIII – e sim em outra práxis: a política. Enquanto a pintura, pelas especificidades do próprio dispositivo, só permitia a experiência de poucas pessoas ao mesmo tempo, o cinema tem, como ponto de partida, a recepção coletiva. Quantas e quais pessoas têm acesso a uma obra de arte é uma questão eminentemente política. O artista Marcelo Terça-Nada! ressaltou que a imagem na rua tem uma potência distinta da imagem num livro de arte, por exemplo. Enquanto o acesso a livros seria mais restrito em nossa sociedade, a rua é lugar por onde passam muitas pessoas, que podem ser instigadas a responder a uma imagem. Em um espaço de visibilidade ampliada, a multiplicação dos olhares sobre uma obra possibilita distintas interpretações e fomenta o diálogo. Novos sentidos são acionados a partir do contato entre a intervenção artística e os espectadores, e é nesse sentido que formas mais ou menos ampliadas de exposição conferem à arte distintas possibilidades de intervenção na sociedade e, por conseguinte, nos debates em curso. Comentando as fotos do projeto No olho da rua, a advogada Mariana Gontijo também chamou a atenção para o potencial emancipatório inscrito na exibição dessas imagens em vias públicas, uma vez que os próprios produtores e personagens podem se reconhecer nas fotografias e confrontá-las. Esse circuito de exibição das imagens con-
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tribui para que esses sujeitos questionem e repensem suas autorrepresentações. Para Carlos de Brito e Mello, tanto o campo da arte como o da política são muito marcados por códigos. A política é frequentemente restringida às ações de instituições como parlamentos e órgãos governamentais, com seus procedimentos, regras, jargões, princípios e atores. O fazer artístico também é repleto de gramáticas, valores, linguagens e práticas, que são reguladas e controladas por instituições como museus, escolas e galerias. Na opinião de Carlos, quanto mais a política e a arte se distanciam desse lugar institucionalizado, mais existe um ganho no potencial de deslocamento. Quando ultrapassam o campo restrito da codificação é que arte e política se cruzam de maneira mais interessante. Em suas próprias palavras, “esse é o lugar em que a relação entre arte e política parece mais potente e mais aberta”. A arte na rua, afastada das instituições formais de ambos os campos, teria uma força política elevada, por ultrapassar as codificações mais tradicionais. Musso Greco também destaca as implicações políticas da forma de circulação de uma obra. Para ele, uma imagem exibida na rua interpela as pessoas e as convoca de uma maneira muito forte a se deslocarem de um lugar habitual ou conhecido. “A imagem na rua inverte o jogo: ela olha para a gente, nós somos olhados pela imagem, e isso não é confortável”. E se a experiência estética é tida como uma possibilidade de deslocamento do cotidiano imediato, a ocupação da rua pela arte é vista com entusiasmo, uma vez que pode multiplicar e tornar mais frequentes essas experiências. A ocupação da cidade pela arte tem, ainda, outra faceta, que emerge das próprias intervenções que ressignificam o espaço. Para Marcelo Terça-Nada!, tais intervenções fazem com que a gente vislumbre os espaços públicos de maneiras distintas, não definidas apenas por sua funcionalidade. A arte pode levar as pessoas a perceberem esses espaços como lugares de inscrição de sentido, de trocas entre sujeitos e de estabelecimento de laços de convivência. Nessa perspectiva, Marcelo entende a relação entre arte e política como “a possibilidade da poesia no espaço público”.
De acordo com o artista Thiago Monge, marcar o espaço público é uma das formas de ocupá-lo. Se política e espaço público sempre estiveram conectados, a arte aparece como um elemento importante nesse jogo. O espaço urbano, ressignificado pela arte e partilhado por transeuntes e moradores, pode gerar novas formas de relação e reflexão coletivas através dessa ocupação política. Existe, hoje, uma ampla gama de coletivos e movimentos que apostam em diversas modalidades de intervenções urbanas. Tais intervenções podem incluir performances, cartazes, mobilizações instantâneas e inscrições de diferentes tipos. Frequentemente apelando para o lúdico, essas intervenções procuram fomentar estranhamentos, levando as pessoas a olharem o espaço urbano com novos olhos. Seja nas performances de homens-estátua que ocupam as praças de grandes centros urbanos, na prática de colagem dos stickers em muros e tapumes, nos graffitis em casas abandonadas, e nas irreverentes ações coletivas em que desconhecidos agem sincronizadamente (flash mobs), grupos de várias partes do mundo procuram desnaturalizar espaços urbanos e a automaticidade de suas rotinas. Cada uma dessas formas de intervir no espaço urbano faz avançar novas questões para a relação entre arte e política.
Na opinião do grafiteiro e MC Thiago Monge, pichações e graffitis são uma forma bastante rica de intervenção urbana. Nessas inscrições, indivíduos e coletivos poderiam se colocar diante da cidade. Trata-se de uma criação, segundo Monge, muito trabalhosa: “o pichador desenvolve uma técnica. O tag, que é a assinatura do pichador, é treinada exaustivamente, é recriada exaustivamente. É um trabalho criativo que envolve um trabalho cabuloso. É muito complicado... é uma assinatura que é muito particular”. Para Monge, a ação artística desses pichadores é altamente política, embora eles nem sempre reconheçam isso: “ele não vê protesto naquilo que faz; ele vê posicionamento de grupo – da minha gangue ocupar espaços da cidade mais difíceis e mais inacessíveis que os espaços ocupados por outro grupo. Mas isso é altamente político [...] Graffiti é você ir pro muro e bombardear a cidade”. A fala de Thiago Monge levantou um interessante debate sobre o teor político da pichação. Alguns dos participantes questionaram tal forma de inscrição por se tratar de manifestações grupais que não fomentam interlocuções sociais mais amplas. Esses questionamentos levaram os participantes a refletir sobre a própria definição de política e a necessidade de um diálogo com o outro.
Foto realizada por Marcelo Terça-Nada! a partir da proposição “produza uma fotografia sobre a política”
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ARTE, POLÍTICA E O OUTRO >>
A discussão sobre o teor político da pichação foi iniciada pelo psicanalista Musso Greco, que questionou o modo como esta se volta narcisicamente para uma comunidade específica (os outros pichadores). Para muitas pessoas, a grande maioria das inscrições presentes em muros e fachadas das cidades parece não significar nada. Musso sinaliza a necessidade de ter cautela com discursos que se fecham sobre eles mesmos, desprivilegiando as possibilidades de interpretação e de diálogo. Para ele, a política envolve “algo que inclui o outro, uma ação que provoca, que cutuca, com base discursiva, o campo da convivência humana”. Nesse sentido a pichação correria o risco de ser o contrário do político: “Se ele faz aquilo para si (para seu espelho grupal), onde está a polis? Onde é que ele está protestando, questionando, intervindo, brigando com o outro e/ou se afirmando no mundo?”. É preciso lembrar que um dos grandes debates da teoria democrática gira em torno dos perigos do sectarismo. Muitos pesquisadores alertam para os riscos do esfacelamento da sociedade em grupos que não dialogam. Um “comunitarismo tribalista” poderia fragmentar a comunidade política, gerando pequenos grupos que recusam a convivência mútua. Uma demonstração do perigo dessa fragmentação seria o surgimento de grupos homofóbicos, fundamentalistas ou xenófobos, que não conseguiriam justificar seus anseios de modo publicamente aceitável. Musso teme o caráter autorreferencial das ações de pichadores, que não estabelecem uma comunicação efetiva com outros atores sociais. De acordo com Thiago Monge, entretanto, o ato de bombardear a cidade com pichações é uma reação à dominação e, por isso, um ato político. Para ele, mesmo que não percebam que fazem algo político, pichadores o fariam porque reagem a uma série de opressões. Na sequência do debate, Musso Greco advertiu que a reação à opressão nem sempre é política. Ele ilustrou seu argumento com o exemplo de um trabalhador que reage a uma situação de abuso e prepotência com uma somatização, por meio da qual consegue uma licença médica, “descontando” no patrão a injustiça. De acordo com Musso, ainda que possa ser lida como manifestação inconsciente
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de uma revolta, essa seria uma reação apenas pré-política contra a dominação. A reação só seria política quando formulada como discurso e apresentada expressamente ao outro, que poderia, assim, atribuir-lhe uma significação. Thiago Monge aponta, contudo, que os pichadores não estão tão fechados em sua comunidade como se pressupõe. Isso fica claro quando se nota que eles não costumam deixar suas inscrições nos bairros em que vivem, mas em outras zonas da cidade: “eles acabam dialogando porque interferem diretamente, porque geram um estranhamento o tempo inteiro, e esse estranhamento gera ações, gera um conflito”. Na mesma linha, Piero Bagnariol lembra que muitos pichadores buscam o reconhecimento de suas intervenções. Eles assinam exatamente porque estabelecem alguma forma de diálogo com a sociedade. Tanto que aquilo que surgiu como uma contracultura vai sendo, pouco a pouco, incorporado pelo próprio sistema: “é uma coisa meio complexa essa coisa da pichação, na arte e na contracultura em geral, porque ela começa para contestar alguma coisa [...] mas depois se torna uma tendência”. Também para Anna Karina, o contato com o outro é algo que atravessa o fazer do pichador. Remetendo, uma vez mais, ao filósofo francês Jacques Rancière, ela lembra que mundos são criados através da linguagem. Por mais que os pichadores usem uma linguagem que é hermética para muita gente, “de qualquer forma eles criam o mundo deles; o mundo onde eles existem”. De acordo com Piero, esse mundo criado pela linguagem permite aos sujeitos construírem identidades. É possível apreender, nas falas desses participantes, uma defesa do caráter político da pichação, exatamente porque ela cria uma nova linguagem que permite que atores frequentemente invisíveis se façam vistos na cena pública. Como prática transgressiva, a pichação não apenas contesta sentidos estabelecidos, mas parece expandir o campo linguageiro para além da compreensão conteudística das formas expressivas. Mais que uma informação, a pichação altera o próprio campo da linguagem e cria novas formas de mediação entre sujeitos. Se a transgressão pode instaurar novas formas de comunicação, é preciso ressaltar, contudo, que ela também pode
se tornar violenta, na medida em que desconsidera a existência do outro. Como já discutido, Musso Greco chamou a atenção para a importância da interação com o outro naquilo que é político. Ao longo do Encontro de Diálogo, alguns participantes destacaram os perigos de práticas que anulam o outro, objetificando-o. Ricardo Portilho trouxe o exemplo de uma punição que é destinada aos pichadores pela polícia. Segundo ele, é comum que alguns policiais “pichem” o rosto daqueles que são flagrados pichando paredes, numa atitude que transforma o outro em objeto. Não há, ali, uma expansão de linguagens e sentidos, mas um uso da violência que anula a condição de sujeito do outro. Carlos de Brito e Mello também questionou o uso da violência, que pode se tornar uma forma de anular o outro. A política findaria com essa anulação, diante da impossibilidade de negociação e diálogo. Um exemplo extremo disso seriam os campos de extermínio da Segunda Guerra Mundial, que configurariam uma completa objetificação da alteridade. Ditaduras e guerras transformariam o outro em mero objeto descartável. A partir da posição de Carlos, é possível remeter, novamente, à filosofia política de Hannah Arendt, que faz questão de distinguir o campo da política e o da coerção. Para Arendt, a política surge na interação humana, na capacidade criativa das interlocuções entre sujeitos que recriam permanentemente um mundo comum. A violência consiste na imposição de uma visão específica e na desconsideração do outro. Ela elimina a pluralidade constitutiva da condição humana, ultrapassando as margens do campo político. Tendo em vista essa distinção, o moderador Ricardo Fabrino levantou a seguinte indagação: pode a arte ser violenta a ponto de anular o outro?
Para Marcelo Terça-Nada!, a arte anula o outro quando se torna um discurso único, que deslegitima e impossibilita outras formas discursivas. Quando há uma única agenda para a produção artística, formas dissonantes podem se tornar marginalizadas e perder o espaço. No entanto, ele acredita que, no mundo contemporâneo, isso não é mais possível, pois, em meio à proliferação de discursos artísticos, não há mais um paradigma capaz de determinar o que é legítimo ou não. “Atualmente, a gente tem milhares e milhares de formas. Eu não vejo um discurso único na arte mais. Mas quando cai nisso, a arte anula o outro sim”, aponta Marcelo. Na opinião de Carlos, o hermetismo de algumas obras pode ser uma forma de anulação do outro na esfera da arte. Quando o artista produz algo cuja fruição é destinada apenas a ele mesmo ou aos seus pares, isso representa uma espécie de refúgio em um lugar protegido, longe dos olhares críticos dos espectadores. “Há essa possibilidade de anulação quando a arte fica como que ensimesmada, protegida numa ideia de autorreferência e não vai pro mundo”, opina Carlos. É o caso, por exemplo, de muitas expressões da arte contemporânea que negam qualquer tipo de relação com um contexto partilhado pelos espectadores. Quando isso acontece, qualquer possibilidade de diálogo ou de deslocamento parece, de saída, destinada ao fracasso. A partir das discussões entre os participantes, destacamos, assim, que a presença da alteridade é algo essencial para a arte política. Uma arte que projeta uma relação forte com a política tem como pressuposto fundamental a inclusão do outro. Inclusão essa que pode ser concretizada de várias maneiras, mas que não pode ser negligenciada. A arte política parece afetar o outro na mesma dimensão em que é afetada por ele.
Foto produzida por Tiago Monge a partir da proposição “fotografe a política”
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A ARTE A SERVIÇO DA POLÍTICA E A ARTE COMO FORMA DE ATUAÇÃO POLÍTICA >>
Na União Soviética, houve uma época em que o escritor que não fizesse realismo socialista corria sérios riscos de ser enviado à Sibéria. Na Alemanha dos anos 1930 e 1940, o cinema nazista foi uma das grandes estratégias para a mobilização de massa. Durante a guerra civil espanhola, surgia a necessidade de uma pintura de resistência ao franquismo. Os três exemplos citados apontam que a arte esteve frequentemente a serviço da política. O educador Piero Bagnariol levantou exatamente essa questão, quando retomou diversos movimentos e épocas da história da arte. Ele ressaltou que a arte foi geralmente financiada por governantes e autoridades, sendo usada para a promoção de ideias hegemônicas vinculadas a grupos dominantes. Desde o Império Romano, passando pelo construtivismo e pelo muralismo mexicano, “temos a arte sempre promovendo uma ideologia”, lembrou Piero. A discussão sobre a “arte engajada” atravessa a história das ideias há bastante tempo. Ricardo Fabrino lembrou o debate entre os pintores Henri Matisse e Pablo Picasso, no início do século XX. O fauvista Matisse apostava no trabalho com as cores e as formas, e era criticado pelo colega, que via a necessidade de se fazer uma arte comprometida com os ideais da revolução espanhola. Anos depois, por um golpe da história, foi a vez de Picasso ser alvo de críticas por não retratar os horrores do stalinismo soviético. Segundo Carlos de Brito e Mello, é necessário diferenciar dois tipos de arte: “de um lado, há uma forma que apenas ilustra uma ideia que está pronta e deve ser colocada em circulação”. Não seria o caso, no entanto, de uma obra como Guernica (1937), de Picasso. Obras como o mural pintado pelo artista espanhol são exemplos de uma arte que “não apenas ilustra a ideia, mas entra na rede tensionada dos sentidos que estão circulando, nos consensos e
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dissensos. Ela produz um efeito em que as pessoas deveriam parar para pensar sobre alguma coisa que até então não tinham pensado, como que convocadas a dizer algo, a se posicionar”, aponta Carlos. Ricardo Portilho também discutiu essa questão ao abordar o modo como a política frequentemente gera uma agenda para a produção estética. Ao comentar as imagens de Barbara Kruger, ele ressaltou a apropriação realizada pela artista, que se serviu de um estilo presente nas propagandas do início do regime soviético para colocar novas questões. Para ele, a relação de dominação no campo das imagens está presente nos dias de hoje e é preciso pensar formas de emancipação dentro desse mesmo campo. “Se a gente pensar que existe uma disseminação em massa de imagens e que quem está no comando dessa disseminação tem um poder, a gente pode começar a pensar numa relação de subversão.” Na medida em que novos sujeitos produzem e disseminam imagens de modo consciente, eles podem buscar intervir nas relações estabelecidas de poder. Contudo, a possibilidade de produzir imagens próprias não está livre de riscos. Anna Karina questionou alguns dos projetos de inclusão visual que buscam oferecer a sujeitos estigmatizados a possibilidade de se mostrarem. Segundo ela, esses projetos correm o risco de produzir representações que são igualmente codificadas, repetindo clichês com “sinal trocado”. Para ela, algumas representações se restringem a inverter o conteúdo da representação usual, sem gerar uma desestabilização efetiva. Fala-se da favela, por exemplo, como um lugar bom, mas o formato da representação é pouco descentrante. “Eu fico me perguntando se essas imagens muito codificadas não perdem a potência de nos desestabilizar, de nos fazer realmente parar pra pensar. O esforço que tenho feito é de pensar nos processos de representação
também. Às vezes é mais bacana pensar o jogo e não a representação que eu quero criar”, aponta a pesquisadora. O clichê de sinal trocado, mencionado por Anna Karina, evidencia que não basta que a arte seja engajada para que ela seja política. Como já discutido, a interface entre arte e política não se faz presente simplesmente pela intencionalidade dos autores ou pelas ideologias que conformam as obras. A arte política deve ser desestabilizadora, suspendendo sentidos e permitindo a formação de novos significados. Obviamente, a arte engajada pode ter ricas consequências políticas, como mostrou Carlos de Brito e Mello em sua análise sobre Guernica de Picasso. Há, contudo, o perigo de reproduzir clichês (estéticas e temas naturalizados), que acabam por não deslocar sentidos. Nesses casos, a obra reproduz padrões interpretativos em vigor e não contribui para o incremento da reflexividade social. A obra simplesmente difunde algumas ideias sem interpelar os receptores a ressignificarem a realidade. Marcelo Terça-Nada! sugere que a arte não deve estar a serviço do poder, mas deve ser pensada como outra forma de se fazer política. “Quando ela sai de um âmbito fechado, ela não está a serviço, ela é uma forma, ela instaura”, afirma Marcelo. O fazer artístico não deve expressar a política, ele deve configurar-se como ação política, gerando processos coletivos em que uma sociedade repensa seus alicerces. Como sintetiza Anna Karina, “a arte não precisa estar a serviço da política, mas a boa arte é política”. Piero e Monge ressaltaram que as escolas que integram o Programa Oi Kabum! podem contribuir para fomentar essa “boa arte política” na medida em que incentivem a leitura crítica, o desejo de saber e o prazer da arte nela mesma. Piero lembrou a filosofia oriental que distinguia a arte feita como atividade profissional, da arte feita por deleite, sendo que essa última seria “uma arte descompromissada, que não teria um envolvimento necessariamente político. Seria uma arte feita pela coisa lúdica, pelo prazer”. De acordo com o educador, um dos papéis da arte na escola seria criar esse prazer de descobrir coisas novas e articular tal prazer à perspectiva política. Anna Karina destacou que “não se pode perder de vista a questão do jogo, dos processos, das relações”. O próprio cotidiano da escola e a forma como as pessoas se relacionam têm uma forte dimensão política. Nesse sentido, Piero lembrou a importância do grupo de gestão que foi instituído na Oi Kabum! de Belo Horizonte, que politiza as próprias relações da instituição. Monge, por sua vez, destacou a centralidade da interação entre jovens e educadores, frisando que estes não podem pensar aqueles como alunos, que remete à ideia de sem-luz. Monge salientou a necessidade de pensarmos o processo educativo como troca em que todos os sujeitos têm contribuições e conhecimentos importantes. Essa postura diante do educando, que não o vê como sem-luz, ajuda a politizar as criações elaboradas no âmbito da escola.
Na mesma trilha, Ricardo Fabrino frisou que essa relação entre educadores e jovens deve ser pensada como uma via de mão dupla. Ele advertiu que, frequentemente, educadores tendem a assumir posturas que acabam por extinguir essa possibilidade de relação. Quando não são autoritários, tentando forjar o educando à sua semelhança, educadores tendem a se eliminar da relação, pelo temor de intervir na criação do outro: “para não formar outro ‘eu’, ele se apaga e deixa o outro como ele é, e aquela experiência não gerou nada de novo”. Ao se apagar, educadores acabam por inviabilizar a própria relação e, dessa maneira, não deslocam o outro nem são deslocados por ele. Na mesma direção, Monge sugeriu que o fundamental é que os educadores mantenham-se abertos ao conhecimento que vem do outro e assumam o compromisso de transformarem os educandos ao mesmo tempo em que são transformados por eles. Ricardo Portilho lembrou a dimensão política de outras relações que atravessam uma escola como a Oi Kabum!, para além das interações entre educadores e jovens. Ele mencionou, por exemplo, as discussões entre vários jovens sobre o que fazer com tapumes em branco que circundavam a escola, enquanto uma parte de suas instalações estava em obras. “Esse tapume é uma espécie de reprodução em pequena escala do espaço público. O fato de termos diversas pessoas pensando e propondo formas de criar intervenções nesse espaço em branco talvez vá gerar alguns conflitos e a necessidade de diálogo”. A partir dessa discussão, Ricardo Fabrino sugeriu que as relações políticas da escola podem alimentar o processo criativo dos jovens. A consciência do coletivo e das relações que o constituem pode contribuir para a produção da boa arte política. Se, por muito tempo, a arte se viu a serviço da política, faz-se necessário inverter essa ideia, pensando formas por meio das quais a política pode ser mobilizada a serviço da arte.
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DIÁLOGO COM A
PRÁTICA
SUGESTÕES EXTRAÍDAS DO ENCONTRO DE DIÁLOGO QUE PODEM CONTRIBUIR PARA AS REFLEXÕES E PRÁTICAS DA OI KABUM! • Fomentar a reflexão sobre as várias dimensões por meio das quais arte e política se atravessam. A complexidade desse atravessamento implica ter em mente que a arte política não se restringe apenas às criações que se pautam por determinadas ideologias ou objetivos políticos. Só para citar alguns exemplos, a conexão entre arte e política pode: passar pela estética; pelo objeto que inspira a produção artística; pelo contexto; pelas motivações dos criadores; pelo espaço de visibilidade gerado; pelo estranhamento fomentado; pelas intervenções e transgressões que modificam o espaço público; pela mise-en-scène do representado; ou pelo instante captado. • Trabalhar a dimensão cotidiana da política e a importância da suspensão de sentidos, que podem ser estimuladas de diferentes maneiras em diferentes contextos. A noção de suspensão de sentidos remete ao potencial da arte de entrar em atrito com nossas visões de mundo, levando-nos a conceber outros horizontes de possibilidades. Criações artísticas podem nos instigar a seguir caminhos interpretativos pouco usuais. • Tomar cuidado com uma crença exagerada no conteúdo da representação e com reprodução de clichês de sinal trocado, que não permitem efetivos deslocamentos de sentido. Tais clichês se revelam na tendência de alguns artistas de tratar positivamente aquilo que é usualmente percebido pela via do estereótipo negativo. Ainda que bem intencionada, essa estratégia pode não promover um deslocamento suficientemente profundo, capaz de estimular novas interpretações e práticas sociais. Não se pode reduzir a arte política à arte engajada, que busca simplesmente dar visibilidade a certas ideologias. • Construir e ocupar espaços variados de visibilidade, permitindo que as obras artísticas elaboradas nas escolas Oi Kabum! tenham ampla circulação e estabeleçam interlocuções diversificadas. • Atentar para o complexo jogo de relações que atravessa uma obra. Arte e política são sempre atravessadas pelo outro, dado o caráter social de ambas. Isso implica deixar de encarar a arte apenas como forma de expressão e percebê-la como materialidade que possibilita o laço entre diferentes sujeitos. • Incentivar os jovens a realizar leituras críticas das imagens que lhes são oferecidas diariamente. Se não se pode aprender a escrever sem ler, é importante notar que a elaboração artística também está ligada ao aprimoramento das capacidades de decodificação e interpretação. • Estimular o desenvolvimento, pelos jovens, da habilidade de construir seus próprios parâmetros e métodos de criação artística. • Pensar, permanentemente, sobre a dimensão política das relações que constituem as escolas. Tal reflexão contribui para que os jovens desenvolvam a autonomia, a capacidade crítica e o protagonismo. • Estimular o estabelecimento de relações menos hierarquizadas entre educadores e educandos, em interações efetivas nas quais todos os sujeitos se deslocam. Se há muito se apregoa que o educador não é um transmissor de conteúdos, é preciso perceber que ele tem a árdua tarefa de estimular e, de algum modo, afetar o educando com quem interage. O educador não pode se abster de seu papel e considerar que o educando se constrói por si só. Paralelamente, ele tem a tarefa de se deixar afetar pelo educando. A ideia aqui é a de uma interação efetiva entre sujeitos, que é aberta e imprevisível.
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encontros de
diálogo
Arte e Educação
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> Os desafios do ensino da arte e seu papel na construção de processos formativos que abram perspectivas de desenvolvimento pessoal, social e profissional para os jovens são duas dimensões da interface entre arte e educação que se fazem muito presentes na Oi Kabum!. Tendo como objetivo oferecer uma formação artística em linguagens variadas que propicie condições para uma inserção qualificada dos jovens no mundo do trabalho, a escola se vê frente à necessidade de construir um processo formativo múltiplo, em sintonia com a contemporaneidade. Alguns elementos se mostram essenciais a essa construção: o foco na autonomia e no fomento a uma postura ativa do educando em sua relação com o conhecimento; um olhar sobre o fazer artístico que trabalhe a articulação entre técnica, criatividade, experimentação e expressão; a busca de uma relação dialógica com os jovens, trazendo para as práticas educativas o universo de referências deles sem perder de vista a necessidade de ampliar continuamente esse universo. Ainda que haja consenso sobre a centralidade desses aspectos no projeto e na prática pedagógica da escola, a grande questão que se coloca são os caminhos para que eles se apresentem, de forma concreta, no fazer cotidiano. Diversos outros aspectos, também diretamente ligados ao cotidiano, têm sido objeto de intensas reflexões e debates. Um deles é o papel do educador. Se, por um lado, não se acredita no paradigma da transmissão de um saber pronto, por outro, há que se tomar cuidado para não cair no relativismo. É importante que o educador contribua todo o tempo com suas referências, desempenhando um papel decisivo no percurso formativo dos jovens. Essas foram algumas das complexas questões tratadas no Encontro de Diálogo sobre Arte e Educação. O evento reuniu onze arte/educadores, de diversas partes do Brasil, que têm expressiva trajetória nesse campo.
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SAIBA COMO FOI
O ENCONTRO
O Encontro de Diálogo sobre Arte e Educação aconteceu durante dois dias, no Museu de Artes e Ofícios de Belo Horizonte. A conversa contou com a participação de nove profissionais que se dedicam ao estudo e à prática da arte/educação: Fernando Figueiredo de Paula, educador de design gráfico da Oi Kabum! de Salvador (BA); Marconi Bispo, coordenador do Núcleo de Produção da Oi Kabum! do Recife (PE); Noni Ostrower, educadora de desenvolvimento pessoal e social da Oi Kabum! do Rio de Janeiro (RJ); Alexia Melo, sócio-fundadora e diretora de projetos sociais da Associação Imagem Comunitária (AIC – Belo Horizonte); Clebin Quirino, articulador de produção audiovisual comunitária da AIC; Gabriela Batista, assistente da coordenação de educação do Museu de Artes e Ofícios de Belo Horizonte; Luciane Kattaoui, dançarina e arte/educadora que, na época do Encontro, coordenava o Programa Arte e Cultura promovido pela Prefeitura de Belo Horizonte; Fred Negro F, grafiteiro, designer, fundador e integrante do corpo dirigente do Grupo Cultural NUC (Negros da Unidade Consciente, de Belo Horizonte); e Renato Negrão, artista plástico, poeta e compositor belo-horizontino. O Encontro teve como propositor e mediador Luiz Marfuz, diretor de teatro, arte/educador e professor da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Ele foi auxiliado por Zenny Luz, jovem que atua na coordenação do Ponto de Cultura Cine Teatro Solar Boa Vista (Salvador) e desenvolve trabalhos como atriz e arte/educadora na Bahia.
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Mais informações sobre as trajetórias dessas pessoas estão disponíveis ao final da revista.
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>> A proposição, a partir da qual se desencadearam as trocas e conversas, foi a do deslocamento. Deslocamento literal pelo espaço da sala, no início do primeiro dia – para que cada um conhecesse o espaço, alongasse o corpo, reconhecesse as pessoas e se movimentasse. Em seguida, um deslocamento no campo das ideias. Vídeo, filme, peça teatral, textos variados foram lançados como provocações para os participantes entrarem em contato com seus conhecimentos, memórias e afetos e colocarem em discussão os conceitos, métodos e práticas de ensino de arte que constroem cotidianamente. A exibição de um vídeo sobre a montagem da peça Cuida bem de mim, realizada por jovens atores ligados a um projeto educativo do Liceu de Artes e Ofícios da Bahia, foi o mote para que os participantes apresentassem suas visões pessoais sobre o universo escolar. Como o enredo da produção abordava um conflito instalado entre dois grupos de alunos de uma escola pública, a apresentação do vídeo motivou os participantes do Encontro a falarem sobre questões vivenciadas por essas instituições de ensino. Na sequência, Zenny Luz, de Salvador, apresentou um monólogo que mesclava sua própria experiência com uma passagem da peça Pano de Boca, do dramaturgo Fauzi Arap (a peça coloca em foco um grupo de atores para evidenciar e discutir o contexto social, conflitos e contradições da juventude dos anos 1970). Na encenação, Zenny apontou como a participação num projeto social, como educanda, foi decisiva em sua trajetória de vida e de trabalho. O relato abriu um amplo debate sobre os projetos que aliam arte, educação e promoção da cidadania. Outro meio utilizado por Marfuz para gerar discussões foi uma atividade envolvendo os seguintes textos: fragmentos do Manifesto Antropofágico, escrito por Oswald de Andrade, em 1928; passagens do poema Ode ao Burguês, de Mário de Andrade, publicado na coletânea Paulicéia Desvairada, no ano de 1922; trecho do manifesto Olho por Olho a Olho Nu, produzido por Haroldo de Campos, na década de 1950; excertos do Ato Institucional Número 5 (AI 5), outorgado pelo governo militar brasileiro, em 1968; e passagens do manifesto divulgado pelas organizações de esquerda ALN (Ação Libertadora Nacional) e MR-8 (Movimento Revolucionário Oito de Outubro), em 1969, logo após o sequestro do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Burke Elbrick. Em seguida, Marfuz
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solicitou que os participantes se dividissem em duas equipes e indicou que cada uma delas elaborasse uma atividade educativa, lançando mão de pelo menos um dos textos distribuídos. Ao sugerir a criação de atividades a partir de textos relacionados a períodos específicos da história recente do Brasil, Marfuz defendeu o papel que deve ser assumido pelos educadores no momento em que selecionam os conteúdos que serão trabalhados em suas práticas educativas. De acordo com Marfuz, é importante que os educadores incorporem, aos processos formativos que desenvolvem com os jovens, referências que não fazem parte do universo simbólico em que os educandos estão inseridos. Para ele, um educador deve contribuir de modo ativo para a ampliação do repertório de referências dos educandos. No segundo dia do Encontro, as discussões tiveram como ponto de partida a exibição de um trecho de um filme ambientado na Idade Média que mostrava um jovem aprendiz frente ao desafio de assumir um trabalho originalmente destinado a seu falecido pai. O jovem, apesar da incerteza e do medo, acaba vivenciando um processo no qual cria o seu próprio método de realizar a tarefa. A partir da situação do filme, o grupo dialogou sobre o modo como se dá o ensino da arte, que não pode ser encarado como uma prática transmissiva e que tem a experimentação como um elemento central. Para encerrar o Encontro, cada participante foi incentivado a construir, a partir de suas próprias vivências, definições para os termos arte/ educador e arte/educação.
Participantes do wdesenvolvem atividades corporais para dar inĂcio ao dia de trabalho
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REFLEXÕES GERADAS
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PELO ENCONTRO
O evento foi marcado pelos relatos de vivências dos arte/educadores e pelas reflexões suscitadas a partir de suas experiências concretas no ensino da arte. Dessa forma, nosso intuito foi construir, nos textos a seguir, uma sistematização que articulasse esses dois elementos.
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ATUAÇÃO DAS ESCOLAS OI KABUM! >>
Qual é o foco do trabalho promovido pelas escolas que integram o Programa Oi Kabum!? Elas têm o objetivo de promover a formação de artistas? Ou buscam principalmente garantir aos jovens uma formação abrangente, que lhes proporcione a construção de valores para a vida e o desenvolvimento de competências importantes para a construção de suas inserções no mundo social? O questionamento apresentado pelo mediador do Encontro, Luiz Marfuz, parece simples de ser respondido: o Programa Oi Kabum! busca garantir aos jovens o desenvolvimento de habilidades e competências para que possam alcançar uma atuação profissional, principalmente nas áreas de atuação da escola. O objetivo central das escolas que integram o Programa é proporcionar aos educandos condições de ingresso no mundo do trabalho para exercerem atividades que demandem deles uma conjugação de criatividade e conhecimentos técnicos específicos. Mas a formação artística e profissional não acontece desvinculada do contexto social e seus desafios. Então, a resposta à pergunta lançada é que as duas perspectivas de formação não são excludentes. O foco na formação profissional não significa o abandono de atividades educativas voltadas para a construção de valores e para o desenvolvimento de competências que são importantes para o convívio social. O cotidiano das escolas também é marcado por processos educativos que buscam contribuir para que os educandos elaborem, de maneira reflexiva, o modo como se inscrevem no mundo. São desenvolvidas atividades que estimulam os jovens a atuarem nas comunidades em que residem, realizando ações que, de certa forma, geram difusão de conhecimentos adquiridos no âmbito das escolas. Vale apontar ainda que o incremento de habilidades técnicas e artísticas, a construção de valores e o desenvolvimento de competências para a vida em sociedade são processos inter-relacionados. Ao serem convidados a se expressar artisticamente, os jovens são levados a pensar sobre o modo particular como enxergam o mundo, bem como sobre a maneira como percebem a si próprios e se relacionam com os outros sujeitos. Esses aspectos foram ressaltados pelos participantes do Encontro ligados às escolas Oi Kabum! que também
destacaram que processos de escuta e diálogo permanente com os jovens são um elemento decisivo à sua prática educativa. Afinal, a formação oferecida tem que fazer sentido para cada participante, tendo em vista sua realidade pessoal, familiar, comunitária. Uma inserção qualificada no mundo do trabalho é construída num percurso que integra todos esses âmbitos. Nessa direção, Luiz Marfuz defendeu que uma experiência educativa no campo da arte, como a oferecida pelo Programa Oi Kabum! (que tem a duração de um ano e meio), mesmo que contemple um período mais curto que o de um curso universitário, pode proporcionar a profissionalização. Isso ocorre caso se trabalhe com os educandos numa perspectiva que vá além dos conhecimentos técnicos e se caminhe rumo à construção da autonomia. O essencial é criar um percurso em que os jovens se percebam como sujeitos capazes de acessar e construir conhecimentos no campo de atuação que escolheram, bem como de integrar redes de criação e de colaboração. Zenny Luz demonstrou concordar com a posição defendida por Marfuz ao deixar claro que ter participado de um projeto socioeducativo foi decisivo para que construísse sua vida profissional. Seu envolvimento no projeto fez com que ela percebesse que era possível investir numa trajetória artística. Os contatos que estabeleceu foram essenciais para que passasse a atuar profissionalmente. De acordo com Zenny, a participação na iniciativa também foi decisiva para que ingressasse em um curso universitário de licenciatura em teatro.
Primeiro passo Tomando o percurso de Zenny Luz como referência de uma carreira no campo das artes iniciada no âmbito de um projeto social, é possível afirmar que as formações proporcionadas aos jovens pelas escolas Oi Kabum! podem ser encaradas como o primeiro passo na construção das trajetórias profissionais desses educandos. Falar em primeiro passo é considerar que essas formações não se encerram depois de um ano e meio, mas continuam a acontecer nas outras esferas de formação nas quais os egressos dessas escolas venham a se envolver.
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Para uma parcela dos jovens que passam pelas escolas Oi Kabum!, uma dessas esferas de aprendizagem que complementam a formação recebida é o Núcleo de Produção. Ele está presente em todas as unidades que integram o Programa e envolve os alunos recém-formados. No Núcleo, os jovens recebem a orientação de educadores das escolas no desenvolvimento de produtos e serviços destinados a atender a demandas apresentadas por clientes, realizam projetos artísticos autorais e participam de encontros de formação.
A “bagagem” dos jovens e o papel dos educadores Noni Ostrower, da Oi Kabum! do Rio de Janeiro, chamou a atenção para a importância de as equipes do Programa estarem atentas à experiência de vida dos educandos, incorporando referências que eles trazem de seu cotidiano, mas buscando sempre ampliá-las. Noni apontou ainda que talvez os jovens não consigam perceber, em alguns momentos, o papel que as formações oferecidas pelas escolas podem assumir em suas vidas. Ela exemplifica: “há dez anos, a gente não enxergava determinadas coisas, nas nossas vidas, que hoje a gente consegue enxergar”. Partindo da colocação trazida por Noni, Luiz Marfuz ponderou que aqueles que trabalham com arte/educação devem estar sempre atentos para não limitar o modo como atuam, simplesmente por estarem lidando com pessoas que ainda não atingiram a fase adulta. Marfuz defendeu que um dos papéis dos arte/educadores é “futucar” os jovens para que eles se transformem. Ao expor seu ponto de vista sobre o tema, ele trouxe as seguintes questões: “Por que eu tenho que reconhecer sempre esses limites? Por que não posso provocar? Por que não posso fazer ele dar saltos? Por que tenho que esperar o tempo desse menino?”
Fachada da escola Oi Kabum! de Belo Horizonte em dia de exposição
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Em resposta aos questionamentos apresentados por Marfuz, Noni reforçou que considera fundamental que o educador instigue os jovens. Deve-se levá-los a promover deslocamentos no modo como enxergam algumas questões e apresentar a eles referências artísticas que ainda desconhecem. Ela argumentou, porém, que eventuais mudanças na maneira como esses jovens enxergam o mundo não acontecem de imediato. Elas levam tempo para se processar, para amadurecer. Para que aconteçam de modo significativo, é preciso que os jovens vivenciem múltiplas experiências. É preciso que eles acumulem uma “bagagem de vida” bem mais vasta do que aquela que apresentam. E os educadores devem estar cientes de que as mudanças que almejam processar só podem acontecer se os jovens as desejarem. “Você vai instigar, vai dar material, você vai dar uma chacoalhada, mas como o jovem vai pegar a bagagem que está disponível, isso é ele quem vai decidir”, afirmou Noni. Aléxia Melo, da Associação Imagem Comunitária (AIC), considera essencial que os educadores encontrem caminhos para motivar os jovens que eventualmente apresentam apatia frente aos processos formativos que lhes são propostos. Segundo ela, os educadores precisam se empenhar para despertar nos jovens a vontade de aprender, bem como a vontade de assumir um papel ativo na construção de seus projetos de vida. Aléxia completou ainda que, para despertar nos jovens a motivação para que se envolvam efetivamente nos processos educativos, é necessário que os próprios educadores sintam prazer e reconheçam sentido nas atividades que propõem. Segundo ela, não só os jovens devem ser movidos pelo desejo de aprender. Os educadores também devem ser impulsionados pelo desejo de educar.
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PROCESSOS FORMATIVOS EM ARTE >>
Para fomentar um diálogo sobre as nuances envolvidas no processo de formação de um artista, Luiz Marfuz apresentou, durante o Encontro, um trecho do filme Andrei Rublev, do cineasta russo Andrei Tarkovski. A história retratada na película desenrola-se nos idos do século XV, numa região da Rússia devastada pela peste. Na passagem apresentada, o jovem Boriska é o único sobrevivente de seu núcleo familiar. O pai, a mãe e a irmã haviam morrido em razão da praga que assolava a região. Certa manhã, Boriska está absorto em seus próprios pensamentos, quando é interpelado por quatro cavaleiros enviados por um príncipe da região. Os homens procuram por Nikolka, pai de Boriska e renomado construtor de sinos. Ao serem informados sobre a morte de Nikolka, os cavalheiros ainda perguntam sobre outros construtores de sinos que viveriam nas proximidades. Diante disso, Boriska pede para assumir a empreitada. “Não encontrarão ninguém melhor do que eu”, diz ele. “Estão todos mortos”. A princípio, os homens não se deixam convencer pelas palavras do rapaz. Boriska, porém, insiste com veemência, dizendo que seu pai havia lhe transmitido o segredo da construção dos sinos. Mesmo demonstrando uma relutância inicial, os cavaleiros decidem levar Boriska consigo. O jovem, então, sem hesitar, corre para a garupa de um dos cavalos e parte na companhia dos quatro enviados do príncipe.
A construção do sino Nos dias que se seguem, Boriska passa a liderar uma equipe que trabalha na construção do grande sino. Nesse processo, é ele quem toma as decisões sobre o modo como o objeto deve ser construído, impondo-as a seus subordinados de modo autoritário. Quando o sino finalmente está pronto, uma multidão se reúne para ver o artefato em funcionamento. O príncipe e os representantes da Igreja também estão no local. Todos esperam para escutar as primeiras badaladas. O momento é de grande tensão, principalmente para Boriska. Mesmo sem confessar, ele tem dúvidas se o sino funcionará a contento. E se o sino não tocar, ele sabe que
pode ser até mesmo decapitado, a mando do príncipe. Eis, então, que as primeiras badaladas propagam-se pelo ambiente, causando alvoroço na multidão. Nesse momento, Boriska revela a um velho senhor que o pai não lhe havia transmitido segredo algum.
Rigor e criatividade Utilizando a narrativa do filme para ilustrar seu ponto de vista, Luiz Marfuz argumentou que a aprendizagem em arte só se efetiva por meio de experiências concretas de criação. É apenas ao forjar um sino que Boriska aprende verdadeiramente a desenvolver tal atividade. Tendo em mente essa premissa, Marfuz defendeu que, nos processos educativos que visam à formação de artistas, os educandos devem ser instigados a vivenciar experiências concretas no campo da criação. Para ele, a inventividade que faz parte do repertório de habilidades de qualquer artista só pode ser adquirida a partir da construção de produtos. Não basta conhecer as técnicas. Para se formar como artista é preciso aplicá-las em processos de criação verdadeiros e, mais que isso, estar aberto para promover inovações ao experimentar a aplicação dessas técnicas. De acordo com Marfuz, é apenas por meio do trabalho de criação que um artista adquire o rigor e a criatividade que são imprescindíveis a qualquer profissional da área. Concordando com o posicionamento de Marfuz, Zenny Luz reforçou que os educadores não transmitem a seus educandos o “segredo” que garante o sucesso de uma produção artística. Esse “segredo” – que nada mais é do que o emprego da sensibilidade do artista para solucionar desafios concretos – só pode ser descoberto no desenrolar da experiência de criação. A interpretação de Marconi Bispo sobre a passagem apresentada também segue na mesma direção. Para ele, não existe propriamente um “segredo” que possa ser transmitido a um jovem aspirante a artista. O aprendizado em arte só pode ocorrer se os aprendizes estiverem continuamente envolvidos na criação de produções. Segundo Marconi, a arte é resultado de muito trabalho.
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Processos e produtos Experiências reais de criação podem gerar aprendizagens significativas. O educador da Oi Kabum! de Salvador, Fernando de Paula, apontou que, ao lidar com situações concretas, os jovens podem construir caminhos para superar desafios e incertezas inerentes ao cotidiano daqueles que se iniciam no campo da criação artística. “Na Oi Kabum!, a gente vê muito isso. O jovem assume uma responsabilidade, mas é clara a insegurança dele durante todo o processo. E ele só tem noção mesmo do que construiu quando está lá no final e o sino está tocando.”, apontou Fernando. Frente à proposta de que os processos educativos sejam pautados pela criação de produtos, Marconi Bispo, da Oi Kabum! do Recife, ponderou que é importante que os educadores estejam dispostos a questionar padrões que ditam de que modo as produções artísticas devem ser finalizadas e apresentadas ao público. Aléxia Melo também ressaltou a importância de os educadores insti-
Corredor da escola Oi Kabum! de Belo Horizonte em dia de exposição
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garem seus educandos a não reproduzir irrefletidamente certos padrões de qualidade cristalizados. Para ela, é fundamental que o formato das produções seja reinventado em meio aos processos de criação. “Na AIC, a gente não separa o processo do produto. O produto traz em si o processo e, como trabalhamos com diversos grupos, esses produtos têm várias caras, pois refletem processos diversos.” Aléxia ponderou que é importante que os processos formativos em arte propiciem a criação de produtos com propostas de elaboração e níveis de sofisticação os mais diversos. Trazendo outra contribuição para o diálogo, Luiz Marfuz argumentou que, quando os educandos participam de formações pautadas pela criação de produtos artísticos, eles devem ter a oportunidade de estabelecer contato com o público. Para Marfuz, “se o processo é fechado, se não tem recepção, ele é incompleto. A recepção é uma visão crítica que afeta o produto novamente. Numa formação um pouco mais radical do jovem artista, ele tem que se preparar para isso. Ele tem que aprender a lidar com a crítica. Não
acredito em processo artístico sem recepção. É claro que quem passa um ano num processo artístico aprende muito. Mas a recepção também faz parte do ciclo de criação.” Marfuz tocou ainda em outro ponto que merece destaque. Segundo ele, é fundamental que os educadores que atuam na formação de artistas já tenham vivenciado experiências pessoais no campo da criação. “Para fazer arte/educação, o artista tem que estar presente. O educador não precisa ter formação acadêmica, mas precisa ter a experiência em arte.” Essa experiência no campo da criação artística faz com que os educadores desenvolvam uma compreensão mais ampla em relação às formas de expressão que buscam ensinar, bem como lhes garante uma percepção mais apurada das nuances que caracterizam os processos de criação.
Sensibilidade e flexibilidade Para Fred Negro F, do Grupo Cultural NUC, e para a bailarina Luciane Kattaoui, os educadores devem apresentar também uma sensibilidade aguçada para discernir,
em meio a situações concretas, de que modo devem intervir nos processos vivenciados por seus educandos. De acordo com esses dois participantes do Encontro, algumas sugestões dos educadores trazem efeitos positivos ao serem apresentadas a determinados jovens, mas podem se mostrar inadequadas quando dirigidas a outros educandos. Conforme sintetizou Negro F, os educadores devem desenvolver a capacidade de compreender cada um de seus educandos, bem como a habilidade de perceber as diferentes fases que estão sendo vivenciadas por eles. Ainda argumentando sobre a importância de que a flexibilidade esteja presente na atuação dos educadores, Negro F acrescentou que os caminhos trilhados pelos jovens em seus processos formativos em arte podem ser diversos entre si, inclusive no que se refere às suas durações temporais. “Todo mundo tem potencial, mas não é do dia para a noite que esse potencial se desenvolve. É processual. E cada um tem seu tempo. Certo grupo pode levar seis meses, outro pode levar 12 e outro pode levar 30. É bacana respeitar o processo das pessoas”.
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RELAÇÃO COM A ESCOLA PÚBLICA >>
Outra importante discussão levantada pelos participantes do Encontro foi sobre a relação das unidades Oi Kabum! com as escolas regulares (de ensino fundamental e médio), especialmente as escolas públicas, nas quais estuda boa parte dos jovens que integram o Programa. Um elemento central do debate foi a constatação de que é necessário um diálogo entre as duas instituições e que tal diálogo deve ter uma dimensão produtiva. É importante trabalhar para que o jovem que está na Oi Kabum! e na escola pública aproveite ao máximo as oportunidades que ambas oferecem. Mas como fomentar interações, contribuindo para o desenvolvimento das duas instituições e promovendo um efetivo intercâmbio das contribuições proporcionadas por cada uma delas? Frente a esse cenário já estabelecido, o que fazer? Como trabalhar para que o jovem que está na Oi Kabum! e na escola pública aproveite ao máximo as oportunidades formativas oferecidas em ambas? Como estabelecer interações com as escolas regulares, contribuindo para o desenvolvimento destas e incorporando contribuições que elas tragam?
Rompendo o isolamento De acordo com o ponto de vista expresso por Marconi Bispo, da Oi Kabum! do Recife e pelo artista Renato Negrão, nas escolas públicas os professores geralmente trabalham de modo isolado, fato que não costuma se repetir no cotidiano dos projetos sociais. Para Renato, esse isolamento dos professores faz com que, nas escolas públicas, muitas das práticas pedagógicas sejam pouco criativas. “Nesses ambientes, o professor não encontra um campo de trocas”. Uma forma de aproximação entre a Oi Kabum! e a escola pública poderia se dar pela via da criação de espaços de troca. Esses seriam espaços nos quais educadores das duas instituições pudessem falar de seus desafios, compartilhar conhecimentos e aprendizados, disseminar práticas exitosas e realizar ações conjuntas.
Valorização Para Aléxia Melo, os educadores de projetos sociais devem criar estratégias para que os jovens não passem a nutrir certa antipatia em relação às escolas em que cursam os ensinos fundamental e médio. Segundo ela, esse sentimento pode surgir quando eles estabelecem comparações entre o cotidiano de suas escolas e o dia a dia dos projetos sociais em que estão inseridos. Aléxia apontou ainda que, para que os jovens passem a valorizar as escolas em que estão matriculados, é importante motivá-los a desenvolver uma postura respeitosa e pró-ativa em relação aos diversos ambientes que frequentam cotidianamente. Para ela, é necessário despertar nos jovens o desejo de contribuir para a construção de uma escola de mais qualidade. O mediador da discussão, Luiz Marfuz, defendeu que os educadores de projetos sociais devem incentivar os jovens a valorizar os conhecimentos que constroem no âmbito das escolas públicas, assim como devem instigá-los a ingressar em cursos universitários de boa qualidade. Para Marfuz, professor na UFBA, é importante que os jovens das camadas populares enxerguem a passagem pela escola pública como uma etapa importante de suas trajetórias e vislumbrem o ingresso na universidade como uma possibilidade real. “Acho que o acesso à universidade é um direito e faço uma defesa intransigente disso. Reconheço que não é a única saída, e nem pode ser, até porque lá não há lugar para todos. Mas, quando a gente trabalha nesse campo da arte/educação, temos que destruir alguns mitos. E um deles é: você tem uma educação pobre e não merece uma educação rica. Alguém está dizendo: ‘aqui você não vai entrar’. E você entra.”
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A BUSCA POR UMA EDUCAÇÃO DIALÓGICA >>
Desde os anos 1970, o pensamento de Paulo Freire vem sendo tomado como uma grande referência para a educação no Brasil. Entre as diversas contribuições trazidas por ele, está o postulado de que os processos educativos devem ser dialógicos para que levem a uma verdadeira emancipação intelectual dos educandos. Ao defender uma pedagogia pautada no diálogo, Freire se contrapunha a uma concepção de educação na qual os educadores eram vistos como os detentores de certo conhecimento que deveria ser transmitido, quase sempre de modo oral, ao conjunto de seus educandos. Nesse modelo criticado por Freire, ao qual ele atribuiu a alcunha de “concepção bancária”, os educandos seriam meros “recipientes vazios” que receberiam, por meio de processos estruturados de maneira vertical, uma série de “depósitos” realizados por seus educadores.
princípios freireanos ao afirmar que é importante valorizar as concepções de mundo compartilhadas pelos educandos. Segundo ele, é preciso respeitar “o que essa pessoa está trazendo de carga, para a gente não virar alguém que impõe coisas prontas. Pensar a valorização do ser a partir do local de onde ele vem. Construir algo com ele, a partir daí. Não devemos praticar uma arte/educação que queira só reproduzir um conjunto de valores.” Renato Negrão também reconheceu a importância de que os educandos compareçam, com suas visões singulares, na construção dos processos educativos. Ele apontou, porém, que é importante que os educadores tomem cuidado para que não neutralizem suas atuações, ao abrir espaço para as contribuições trazidas pelos jovens. Segundo Renato, é importante que o ambiente de aprendizagem seja caracterizado por uma verdadeira relação de troca.
Concepção dialógica
Ampliação do repertório
Já na educação dialógica, a rígida hierarquia existente entre educadores e educandos seria diluída e, no lugar da verticalidade, haveria uma tendência à horizontalidade. Os processos educativos não seriam mais construídos a partir dos discursos professados pelos educadores, mas sim a partir de reflexões construídas em torno das visões particulares de todos os envolvidos. Num ambiente marcado pelo diálogo, todos assumiriam o papel de criadores de discursos e estes seriam, por sua vez, reiteradamente problematizados pelo grupo. Um dos aspectos mais significativos da concepção defendida por Freire é o fato de que nela os temas que norteiam os processos educativos não seriam simplesmente escolhidos pelos educadores, mas sim construídos em conjunto com os educandos durante a etapa inicial dos percursos formativos. Nesse paradigma de pedagogia, os conteúdos programáticos não estariam dados a priori. Eles seriam elaborados principalmente a partir do universo cultural dos educandos.
Assim como Renato Negrão, Luiz Marfuz defendeu que os educadores tomem cuidado para não construírem processos educativos unicamente a partir do universo de referências dos jovens. Para ele, é fundamental que os educadores enriqueçam os processos educativos com textos e produções artísticas que não fazem parte do cotidiano dos educandos. “Os jovens também dialogam com a televisão e com outros discursos que estão no mundo. Então, por que não é possível dialogarem com referências trazidas pelos educadores? Por que não é possível dialogarem com outras referências e com outras estéticas?” Nessa direção, uma forma de garantir que os educandos estabeleçam contato com um repertório diverso de produções artísticas é incentivá-los a dialogar com uma variedade significativa de artistas e estudiosos da arte. Além disso, é importante que o corpo docente da escola seja constituído por educadores que apresentem perfis e trajetórias diversificadas.
A valorização do outro
Para Luiz Marfuz, os educadores devem se mostrar sempre dispostos a levantar questionamentos sobre as criações artísticas e discursos construídos, pelos jovens, no
Durante o Encontro de Diálogo, o articulador de produção audiovisual da AIC, Clebin Quirino, fez coro com os
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Intercâmbios culturais
Atividade pedagógica desenvolvida por educadores com jovens da Oi Kabum! de Belo Horizonte
contexto da sala de aula. Segundo ele, é importante que os educadores não caiam na armadilha de valorizar irrefletidamente qualquer produção elaborada pelos educandos, enxergando nessas criações o testemunho de uma “cultura autêntica” a ser preservada. Os educandos devem ser instigados constantemente a refletir sobre seus próprios discursos e criações. Sobre esse ponto abordado por Marfuz, cabe fazer um adendo. É importante não enxergarmos a “cultura dos jovens das classes populares urbanas”, ou qualquer outra “cultura”, como sendo uma unidade cristalizada, que se encontraria isolada no tempo e no espaço. Pensar dessa maneira significaria atribuir a essa “entidade” certo status de autenticidade, postura que tem se revelado bastante ingênua. Tal como defende F. Graham Chalmers, em artigo que integra o livro Arte/educação contemporânea: consonâncias internacionais, organizado por Ana Mae Barbosa, é forçoso que os arte/educadores compreendam que as ditas “culturas” sempre estiveram em constante mudança. Os intercâmbios entre os diferentes agrupamentos humanos sempre marcaram presença na história da humanidade, mesmo quando o termo globalização ainda não fazia parte do nosso vocabulário e o mundo era constituído por grupos sociais aparentemente isolados. A partir dessa reflexão, podemos perceber a importância de que as práticas de arte/educação se pautem pela perspectiva do multiculturalismo, ou do pluralismo cultural. Trata-se de perceber que estamos imersos num “mosaico”, no qual coexistem muitas “culturas” em constante transformação, sem que nenhuma delas tenha mais valor que as demais. Diante disso, há que se construir, nos processos formativos, uma ambiência para a criação artística que incorpore referências as mais diversas e que fomente,
também, uma postura investigativa e crítica do educando em relação a tais referências, bem como em relação à sua própria produção.
Conflitos na sala de aula Trazer referências culturais diversas para o contexto da sala de aula é abrir espaço para que determinados conflitos venham à tona. Em algumas situações, certas produções culturais apresentadas durante um dado processo pedagógico ou determinadas propostas didáticas trazidas pelos educadores podem se chocar com as convicções mais íntimas de certos educandos, gerando impasses. Para Negro F, as situações de conflito podem ser ricas para que os educandos sejam levados a refletir sobre o fato de que seus próprios padrões de conduta são construções culturais. “Em algumas situações em que existem impasses, e alguém diz, ‘eu não posso fazer isso, porque sou de tal religião ou porque sou atleticano’, aproveito para que o grupo pense sobre os padrões de sociedade que existem e que são criações culturais. O bacana disso é que essas situações levam as pessoas a refletir sobre as regras que lhes são impostas. A sociedade quer colocar a gente nuns quadrados, mas como educadores, devemos mostrar aos jovens que eles podem assumir diferentes formas que ultrapassam esses quadrados”. Corroborando as ponderações feitas por Negro F, Renato Negrão acrescentou ainda que, por vezes, situações em que conflitos de valores vêm à tona podem ser importantes para que os educandos reflitam sobre o tema e, eventualmente, reelaborem suas próprias posturas, mesmo que isso ocorra apenas no futuro. Para Renato, é importante que os educadores lancem “coceirinhas” que acompanhem os educandos ao longo da vida.
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DIÁLOGO COM A
PRÁTICA
SUGESTÕES EXTRAÍDAS DO ENCONTRO DE DIÁLOGO QUE PODEM CONTRIBUIR PARA AS REFLEXÕES E PRÁTICAS DA OI KABUM! • Incentivar os educandos a vivenciar inúmeras experiências concretas no campo da criação artística. É a partir da experimentação que eles poderão desenvolver o rigor e a inventividade que são essenciais à realização de qualquer produção em arte. • Na mesma direção, estimular os educadores a vivenciar experiências pessoais no campo da criação artística. • Incentivar os educadores das escolas a trazer questionamentos e sugestões para os processos de criação vivenciados pelos jovens. Os educadores devem impulsionar os educandos a ultrapassar os próprios “limites” e a criar produções artísticas cada vez mais elaboradas. • Promover o contato dos educandos com um conjunto amplo e diverso de produções artísticas, contribuindo para que esses jovens construam um repertório cada vez mais amplo de referências. Nesse processo, é importante que os educadores apresentem contribuições que, eventualmente, levem os educandos a refletir sobre suas próprias convicções. • Desenvolver um olhar crítico sobre o universo da criação artística, refletindo sobre padrões enrijecidos que ditam de que modo as produções devem ser construídas e apresentadas ao público. Além disso, incentivar os jovens a, eventualmente, elaborar produtos que apresentem formatos pouco usuais. • Garantir certa visibilidade para as produções elaboradas no âmbito das escolas e fomentar o contato dos jovens com leituras realizadas por diferentes apreciadores de suas criações artísticas. • Instigar os educadores a exercitar a flexibilidade quando estiverem lidando com os jovens. É importante que os educadores percebam que os educandos apresentam modos muito variados de se inscrever no mundo, bem como histórias de vida bastante diversificadas. • Provocar os educandos a buscar experiências de aprendizagem que complementem a formação vivenciada nas escolas. É importante que os jovens sejam instigados a assumir uma postura ativa no planejamento de seus percursos. A formação oferecida pelas escolas Oi Kabum! deve ser encarada como uma das etapas dessas trajetórias individuais. • Incentivar os jovens a valorizar as experiências de aprendizagem vivenciadas nas escolas de ensino fundamental e médio e, caso seja do interesse deles, a buscar caminhos para ingressar em cursos universitários de qualidade. • Estabelecer diálogos com as escolas públicas nas quais os jovens participantes da Oi Kabum! estão matriculados, de modo a contribuir para o incremento de tais escolas e também receber contribuições delas. • Aproveitar as situações em que conflitos de valores vêm à tona para promover reflexões sobre o caráter circunstancial dos padrões de cultura que conformam os modos particulares como concebemos o mundo.
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PARTICIPANTES E PROPOSITORES DOS ENCONTROS DE DIÁLOGO >> Aléxia Melo É bacharel em Comunicação Social e licenciada em Artes Plásticas. Faz parte do grupo que fundou a Associação Imagem Comunitária. Desde 1993, trabalha com produção audiovisual na cidade de Belo Horizonte. Em São Paulo, participou de grupo de estudos sobre brinquedos e brincadeiras da cultura popular e trabalhou como animadora de stop-motion e arte/educadora. Tem interesse por intervenções urbanas e, entre 2005 e 2008, realizou diversos trabalhos artísticos na rua, utilizando sticker e graffiti. Hoje atua como Diretora de Projetos Sociais da AIC. Contato: alexia@aic.org.br André Protasio Diretor musical, professor de arranjo, regente e mestre em Musicologia pela UNIRIO. Atualmente é professor de design sonoro da Oi Kabum! do Rio de Janeiro. No teatro, foi preparador vocal em diversas montagens e produziu com o grupo Equale a coletânea Expresso Gil (com composições de Gilberto Gil). Em 2008, coordenou a produção e direção musical do grupo Mulheres de Hollanda, sexteto vocal feminino que se dedica a pesquisar, estudar e cantar o feminino na obra de Chico Buarque de Hollanda. Contato: andre@andreprotasio.com Anna Karina Castanheira Bartolomeu Fotógrafa e professora do Departamento de Fotografia, Teatro e Cinema da Escola de Belas Artes da UFMG. Em 2008, doutorou-se em Comunicação Social com tese intitulada De dentro da favela - o fotógrafo, a máquina e o outro na cena. Na pesquisa, procurou analisar a representação da favela e de seus moradores em três projetos fotográficos: 1) o livro Rocinha, de André Cypriano; 2) o portal de Internet Viva Favela; e 3) o projeto coordenado pelos artistas Julian Germain, Patrícia Azevedo e Murilo Godoy que culminou na publicação do livro No mundo maravilhoso do futebol. Sua tese discute como as relações de poder e alteridade atravessam a cena fotográfica e a narrativa que a ampara. Contato: annakarina.cb@uol.com.br Carlos de Brito e Mello Escritor, jornalista e professor da Faculdade de Comunicação e Artes do Centro Universitário UNA. Faz formação psicanalítica e desenvolve projetos ligados às artes plásticas. É integrante do Coletivo Xepa e autor dos livros O cadáver ri dos seus despojos (Editora Scriptum, 2007) e A passagem tensa dos corpos (Companhia das Letras, 2009). Fez mestrado em Comunicação Social na UFMG.
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Em sua dissertação, concluída em 2004, abordou o caso do sequestro do ônibus 174 no Rio de Janeiro, explorando diferentes imagens construídas em torno do evento à luz dos conceitos de acontecimento e subjetivação. Contato: carlosbtml@yahoo.com.br Carlos Henrique Falci Doutor em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina e mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais. Atualmente é professor do curso de Cinema de Animação e Artes Digitais da UFMG, na área de arte-mídia. Na universidade, também participa do grupo de pesquisa 1maginári0, que produz e investiga obras que conjugam arte e tecnologia. Desenvolve pesquisas sobre processos colaborativos e imersão em obras de arte computacional presentes em redes sociotécnicas. Contato: chfalci@gmail.com Clebin Quirino Atua como arte/educador, produtor, articulador e editor de vídeos na AIC. Também participa de três coletivos juvenis de Belo Horizonte: Produto Tosco, Coletivo Dinamite e Rep em Fatos. É produtor musical, poeta e artista plástico. Teve forte atuação em rádios comunitárias de Belo Horizonte. Atualmente, cursa Educação Artística na Escola Guignard (UEMG) e publica suas ideias no blog Técnica Mística. Para conhecer o blog de Clebin, acesse: www.tecnicamistica.blogspot.com Contato: clebin@aic.org.br Danilo Scaldaferri É jornalista formado pela Universidade Federal da Bahia e faz mestrado em Comunicação Social na mesma universidade. Atua como educador da oficina de vídeo da Oi Kabum! de Salvador e como professor dos cursos de Comunicação Social das Faculdades Jorge Amado e da UFBA. Foi educador de fotografia, vídeo e imagem no Liceu de Artes e Ofícios da Bahia. Contato: dscaldaferri@uol.com.br Élida Santana Formou-se pela Oi Kabum! do Recife, fez parte do Núcleo de Produção da escola e, atualmente, realiza a gestão de equipamentos e de informações nessa mesma instituição. Além disso, já atuou como educadora de dança popular na ONG Cepoma e, desde 2010, estuda Design Gráfico na Faculdade UNIBRATEC, no Recife. Contato: lda_lais@hotmail.com
Eu Penaforte Transita por diversos campos de expressão artística. É arte/educador, videomaker, artista plástico e compositor musical. Iniciou sua trajetória artística em 1997, participando do grupo de poesia e intervenção urbana Haikaídos. Em 1998, juntamente com outros jovens, criou o grupo musical Liricaos. Em 2004, passou a desenvolver trabalhos em vídeo e iniciou o curso de Artes Visuais na Escola de Design da UEMG. Desde 2007, tem participado como educador de projetos sociais da AIC. Atualmente, é educador do núcleo transversal Ser e Conviver, na Oi Kabum! de Belo Horizonte. Contato: eupenaforte@gmail.com Fernanda Santos Graduada em Comunicação Social pela UFMG e especialista em roteiro audiovisual pela Universidade de Santiago de Compostela, na Espanha. Atualmente, faz mestrado em Artes na UFMG. Já atuou em várias agências de criação para a web e lecionou em instituições de ensino superior como UniBH e UNIPAC (Barbacena). Foi também educadora de webdesign na Oi Kabum! de Belo Horizonte. Além disso, participou do coletivo Cortexvisual como VJ e webdesigner. Em seus estudos, Fernanda pesquisa a interface entre o corpo e as novas tecnologias. Para conhecer o trabalho de Fernanda, acesse: www.cortexvisual.com.br/fernanda Contato: webfernanda@gmail.com Fernando Figueiredo de Paula É educador de design gráfico da Oi Kabum! de Salvador e trabalha autonomamente como designer. Graduado e especialista em Design de Comunicação Visual pela Universidade de Salvador (UNIFACS), Fernando é ainda professor dos cursos de Design e Publicidade nessa mesma instituição. Contato: fernandopejota@gmail.com Fred Negro F Grafiteiro e designer gráfico, Negro F é também vocalista e compositor do grupo de rap NUC, juntamente com os MCs Renegado, Dani Crizz e DJ Francis. O grupo já se apresentou em diversas cidades do Brasil, assim como em Cuba e na Venezuela. Atualmente, Negro F coordena o coletivo In Graffiti e é curador artístico da exposição Hip Hop na Cidade, parte integrante do projeto Cidade Hip Hop ano I. Contato: negrof@grupoculturalnuc.org.br Gabriela Batista Formada em Turismo pela PUC Minas, Gabriela faz pósgraduação em Arte/Educação na mesma instituição. Atualmente, trabalha no setor educativo do Museu de Artes e Ofícios e do Instituto Cultural Flávio Gutierrez, em Belo Horizonte. Contato: gabriela@mao.org.br
Giovânia Monique Integrante do Grupo Cultural Entreface, é educadora social, articuladora e produtora de processos formativos em mídia. Além de participar de vários projetos sócioeducativos, atua nos campos da música e produção audiovisual na produtora Produto Tosco. Desde sua primeira participação no projeto Rede Jovem de Cidadania, em 2004, vem desenvolvendo atividades diversas na AIC. Atualmente, é mobilizadora da área de projetos sociais. Contato: giovanianica@gmail.com Guilherme Ferreira É professor de música na Fundação de Educação Artística, graduado em composição pela Escola de Música da UFMG e doutorando em Composição pela Unicamp. Além disso, já atuou como professor na Escola de Música da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG) e na Escola de Música do Estado de São Paulo (EMESP). Contato: guilhermeacf@yahoo.com Jalver Bethônico Professor de design sonoro do Curso de Cinema de Animação e Artes Digitais da UFMG. Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo, Jalver pesquisa as relações imagem-som com foco nos sistemas musicais interativos. Além de ter atuado como percussionista, já desenvolveu trilhas sonoras para instalações interativas e curtas-metragens. Contato: designsom@uol.com.br Luiz Marfuz É professor da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia. Tem doutorado em Artes Cênicas e desenvolve pesquisas sobre temas, autores e poéticas teatrais contemporâneas, bem como sobre as relações entre teatro e educação. Também é dramaturgo, diretor teatral, jornalista e arte/educador. Entre os trabalhos de sua autoria, estão A última sessão de teatro e Cuida bem de mim, este último em co-autoria com Filinto Coelho. Contato: lumaz@uol.com.br Manuel Guerra É bacharel em Matemática pela UFMG e atualmente estuda Engenharia de Computação na PUC Minas. Atua como educador de computação gráfica na Oi Kabum! de Belo Horizonte e desenvolve pesquisas e trabalhos sobre as interfaces entre arte e computação, homem e máquina. Contato: guerra.manuel@gmail.com Marcelle Arjones Produtora da ONG Cipó, estuda Cinema e Vídeo na Universidade Federal da Bahia. Formou-se em Design Gráfico na Oi Kabum! de Salvador. Além da experiência como educadora do projeto Cultura de Paz, Identidade Racial e Sexualidade, realizado em escolas públicas de
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Salvador, Marcelle também já atuou como produtora e repórter do Canal Futura. Contato: celly_jones@hotmail.com Marcelo Terça-Nada! Transita por diversas áreas, tais como arte contemporânea, fotografia, design, poesia e ativismo. Junto com Brígida Campbell integra o Poro - Intervenções urbanas e ações efêmeras. Criou e mantém o RedeZero, comunidade de projetos micro-político-culturais. Faz parte da DoDesign-s e é editor do blog Vírgula-Imagem. Para saber mais sobre Marcelo, acesse: www.marcelonada.redezero.org/curriculo www.poro.redezero.org www.virgulaimagem.redezero.org. Contato: marcelonada@gmail.com Marconi Bispo Arte/educador, gestor cultural, ator e diretor teatral. É formado em Educação Artística, com habilitação em Artes Cênicas, pela Universidade Federal de Pernambuco. Atualmente é Coordenador Executivo do Núcleo de Produção da Oi Kabum! do Recife e atua como professor na rede estadual de ensino de Pernambuco. Já participou de inúmeros projetos de arte/educação e teatro, tais como Os Viajantes do Tempo, Outra vez... era uma vez, Babau e As Reticências dos Sonhos. Contato: marconibispo@hotmail.com Mariana Fernandes Gontijo Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais. Foi advogada do Minas Tênis Clube por 2 anos, residiu na França por um período e regressou ao Brasil em 2004, quando começou a trabalhar como Assessora Judiciária no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, na área de direito privado. Atualmente, faz mestrado em Direito na UFMG. Seus estudos estão voltados para a Sociologia do Direito e o direito à cultura. No campo das artes, já estudou teoria musical e canto. Contato: marianafgontijo@hotmail.com Marlon David Formado em Computação Gráfica pela Oi Kabum! do Recife, já trabalhou em diversas produtoras de sua cidade. Desenvolveu projetos para o Canal Futura, Secretaria de Educação de Olinda e ONGs diversas. Atualmente, integra o Núcleo de Produção da escola e é editor e animador na produtora Videoteipe. Contato: marlinho_david@hotmail.com MC Jefinho É cantor de funk. Lançou sua primeira coletânea de músicas aos 24 anos. Desde 2004, com o início da veiculação de suas composições nas rádios, vem
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ganhando mais reconhecimento e articulando parcerias – como a participação no DVD Big Mix, produzido pelo DJ Marlboro. Atualmente, seu funk está nas playlists das rádios de todo país. Já atuou como educador na ONG Contato, de Belo Horizonte, e foi um dos correspondentes que integraram a Rede Jovem de Cidadania, projeto desenvolvido pela AIC. Para saber mais sobre Jefinho, acesse: www.mcjefinhobh.com Contato: contato@mcjefinhobh.com Moacir Lago Arte/educador, designer gráfico e VJ. Atualmente, é educador de história da arte e tecnologia na Oi Kabum! do Recife. Formado em Design Gráfico pela Universidade Federal de Pernambuco, também desenvolve atividades nas áreas da produção cultural e artes plásticas. Contato: moalago@gmail.com Musso Greco Psiquiatra e psicanalista. É sócio-fundador da Associação Imagem Comunitária. Especialista em Gerenciamento de Serviços de Saúde Mental pela Escola de Saúde Pública de Minas, cursou Artes Plásticas na Escola Guignard (UEMG), fez mestrado em Psicologia (UFMG) e doutorado em Ciências da Saúde (UFMG). Participa da Escola Brasileira de Psicanálise e é militante da luta antimanicomial. Foi coordenador do Programa de Saúde Mental da Prefeitura de Belo Horizonte entre 1999 e 2002 e professor em cursos de especialização em saúde mental da PUC Minas, FUMEC e ESMIG. É autor de vários artigos e capítulos de livros sobre arte, psicanálise, clínica e política. Contato: mussogreco@ig.com.br Nilo Ventura Formado pela Oi Kabum! do Rio de Janeiro, Nilo atua no campo da produção audiovisual como assistente de produção e programador visual. Já desenvolveu projetos para cinema e diversos canais de televisão, tais como Futura, Multishow, Globo e TVE. Nos anos de 2009 e 2010, foi responsável pela curadoria e coordenação do Festival de Vídeo Estética Central. Contato: niloventura@gmail.com Noni Ostrower Fundadora do Instituto Fayga Ostrower e membro da diretoria do CECIP - Centro de Criação de Imagem Popular. Integrou os projetos TV Maxambomba e Botando a Mão na Mídia e prestou assessoria na criação da TV Pinel. Formada em Medicina pela UFRJ, atualmente é educadora de desenvolvimento pessoal e social da Oi Kabum! do Rio de Janeiro. Contato: ostrower@uninet.com.br
Pedro Durães Produtor musical, designer de som e técnico em gravação de áudio. Pedro atua nas áreas de composição de trilhas sonoras, sonoplastia para vídeo e teatro, captação e finalização de áudio. Graduado em Música pela Escola de Música da UFMG, é professor na Fundação de Educação Artística. Atualmente, dedica-se a explorar a performance de instrumentos eletrônicos com processamento de som ao vivo. Contato: duraesduraes@gmail.com Piero Bagnariol É italiano e vive no Brasil desde 1992. Quadrinista e grafiteiro, é editor da revista Graffiti 76% quadrinhos e autor do livro Guia ilustrado de graffiti e quadrinhos. Como arte/educador, participou do Projeto Guernica da Prefeitura de Belo Horizonte e coordenou projetos como Programa Jovem (da Fundação Municipal de Cultura), Teatro Oficina (da Escola Giramundo de bonecos) e Livre Arbítrio (da Secretaria de Defesa Social de Minas Gerais). Atualmente, é educador de design gráfico da Oi Kabum! de Belo Horizonte. Contato: piero.grf76@gmail.com Renato Negrão Arte/educador, artista plástico e compositor. Cursou Licenciatura em Educação Artística na Escola Guignard (UEMG). Em 2008, com o projeto Oficina Palavra Imagem, foi contemplado com o prêmio Itaú Rumos educação, cultura e arte. Como artista, participou dos Festivais Internacionais de Arte Negra, Teatro de Palco e Rua e MIP2 - Manifestação Internacional da Performance. Publicou três livros de poemas e tem gravações e parcerias musicais com Alice Ruiz, Makely Ka, Kristoff Silva, Estrela Leminski e Bossacucanova, entre outros. Contato: oficinapalavraimagem@gmail.com Ricardo Fabrino É jornalista e doutor em Comunicação Social pela UFMG. Desde 2003, colabora com a Associação Imagem Comunitária, atuando como oficineiro, consultor, redator e editor. Ao longo de 2009, foi diretor de metodologia e pesquisa da AIC e, atualmente, é professor do Departamento de Ciência Política da UFMG. Na área acadêmica, foi pesquisador do EME (Grupo de Pesquisa em Mídia e Esfera Pública), dedicando-se ao campo da comunicação e política. Suas pesquisas investigam as lutas por reconhecimento de atores da sociedade civil em diversos contextos comunicativos. Contato: ricardofabrino@gmail.com Ricardo Portilho Trabalha com os métodos e a linguagem do design para realizar suas criações em diversas mídias. Em seus trabalhos, atua de maneira crítica, fazendo referência a
processos sociais e políticos por meio de um viés poético. Seus trabalhos mais recentes incluem parcerias com o projeto República (promovido pela UFMG), Instituto Itaú Cultural, Museu dos Brinquedos e Jardim Canadá Centro de Arte e Tecnologia. Ricardo também atua como professor no curso de Comunicação Social da UFMG e como educador de design gráfico na Oi Kabum! de Belo Horizonte. Seus projetos artísticos já foram exibidos no Resfest Brasil, no VideoBrasil, no Nederlands Film Festival e na Bienal de Design Gráfico da Associação dos Designers Gráficos do Brasil, entre outros festivais, galerias e mostras. Contato: portilho.ricardo@gmail.com Rogério Gomes É ator, diretor e arte/educador. Estudou Artes Cênicas no Centro de Formação Artística da Fundação Clóvis Salgado (CEFAR). É fundador da Companhia Teatral Cóccix, e já atuou em diversas montagens, como Com uma Flor e um cachorro, O rinoceronte e O pastelão. Atualmente, é oficineiro de teatro do programa Fica Vivo!, promovido pelo governo de Minas Gerais. Contato: rogergsbh@yahoo.com.br Rubner de Abreu Estudou composição e análise musical com H. J. Koellreutter e Dante Grela. Com base em seu aprendizado, tornouse coordenador pedagógico da Fundação de Educação Artística de Belo Horizonte, assim como diretor musical do Oficina Música Viva, grupo que se dedica à interpretação e divulgação da música dos séculos XX e XXI. Contato: rubneraj@gmail.com Russo APR Rapper identificado pela sigla APR (Artilharia Pesada da Rima). Participa dos grupos juvenis Hip Hop Chama e D.vEr. CidaDe CuLturaL. Além de ser produtor musical, atua como educador, realizando oficinas e palestras sobre os mais diversos temas, tais como cultura Hip Hop, juventude, sexualidade e gênero. Contato: a.p.r@hotmail.com Sara Silva Ribeiro Formou-se em vídeo pela Oi Kabum! de Belo Horizonte e integrou o Grupo Cultural Entreface entre os anos de 2007 e 2009. No grupo, foi produtora, articuladora externa e editora de vídeo, além de ter trabalhado na criação da identidade visual do coletivo. Em 2008, ministrou oficinas de Comunicação e Fotografia pelo programa Fica Vivo!, promovido pelo governo estadual. Nesse mesmo ano, integrou a equipe do projeto Expresso Cidadania da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, trabalhando como educadora de comunicação audiovisual, fotografia e web. Contato: sara.j.l@hotmail.com
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Silvio Figueiredo É designer gráfico da Digital Sinage Brasil. Formou-se em computação gráfica pela Oi Kabum! de Salvador, assim como em Produção Multimídia pela Faculdade Unijorge. Além de ter integrado o Núcleo de Produção da Oi Kabum! por um ano, já atuou como assistente de produção na ONG Cipó, desenvolvendo projetos para Ashoka, Unicef e Gife, entre outros parceiros. Contato: silvinho_cesar@live.com Sylvia Amélia É educadora de história da arte e tecnologia na Oi Kabum! de Belo Horizonte, artista visual e ilustradora de livros. Trabalha com produção de histórias em quadrinhos, animações, colagens e fotografias. Formou-se em Educação Artística pela Escola Guignard (UEMG) e desenvolve, atualmente, pesquisa de mestrado na Escola de Belas Artes da UFMG. Em 2007, foi selecionada pelo programa Bolsa Pampulha para desenvolver o projeto Plano de Retomada. Contato: sylviamelia@gmail.com Tainara Ferreira Formada em Computação Gráfica pela Oi Kabum! do Rio de Janeiro e graduada em desenho industrial pelo Centro Universitário da Cidade (UniverCidade-RJ). Entre 2006 e 2009, integrou a equipe do Canal Futura, atuando como assistente de produção e pesquisadora do arquivo de imagens. Atualmente, é designer gráfico da Trama Design Estratégico e Comunicação. Contato: ta1nara@yahoo.com.br Tiago Antônio Costa de Almeida (Monge) Iniciou sua trajetória no Hip Hop em 2000 como grafiteiro e integrante da NOT Crew, grupo formado por jovens da região noroeste de BH. Em 2003, quando passou a integrar o grupo de rap Saga Contínua..., adentrou o universo dos “Mestres de Cerimônias” (MCs), arte que exerce na Família de Rua (grupo realizador do Duelo de MCs), na Xeque Mate Produções e no Contra o Tempo Crew. Amante da cultura Hip Hop, Monge preza pelo conhecimento dela e pelo respeito às suas raízes, entendendo que o Hip Hop marca a vida de milhões de jovens ao redor do globo. Contato: thiagoaca@gmail.com Victor Guimarães Formado em jornalismo pela UFMG, Victor atua na diretoria de Metodologia e Pesquisa da AIC. Foi bolsista de iniciação científica no EME (Grupo de Pesquisa em Mídia e Esfera Pública) e atualmente faz mestrado em Comunicação Social na UFMG. Interessa-se por estudos sobre cinema e teoria crítica. Na graduação, desenvolveu pesquisa sobre as lutas por reconhecimento expressas na produção audiovisual comunitária. Contato: zictorzictor@gmail.com
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Warley Bombi É artista plástico, designer e arte/educador. Faz pósgraduação em Mediação em Arte, Cultura e Educação na Escola Guignard (UEMG) e fez graduação em Educação Artística na mesma instituição. Atua como agente cultural do coletivo In Graffiti, como designer do Observatório da Diversidade Cultural e como educador do Núcleo de Produção, da Oi Kabum! de Belo Horizonte. Em 2003, passou a participar das atividades da AIC como correspondente do projeto Rede Jovem de Cidadania. Após essa experiência, trabalhou como designer na ONG e também como educador de artes visuais no Corpo Cidadão. Contato: warleybombi@gmail.com Zenny Luz Atriz e assistente de direção. É licenciada em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia. Atua na coordenação do Ponto de Cultura Cine Teatro Solar Boa Vista, em Salvador. Já trabalhou como professora e educadora em diversas escolas e projetos sociais. No teatro, participou de várias montagens, tais como, Alegria de viver, Álbum de família e Cuida bem de mim. Também integrou o projeto Cirque Du Monde, iniciativa do Cirque de Soleil. Contato: zenny.luz@hotmail.com