Álbum - Natal

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momentos NOSSOS recordações de um natal


momentos NOSSOS recordações de um natal A hanseníase, antigamente conhecida como Lepra, é uma das doenças mais antigas na história da medicina. De evolução crônica, é causada pelo Mycobacterium leprae, microrganismo que ataca principalmente a pele e os nervos das extremidades do corpo. Embora tenha cura, para que não deixe sequelas, a hanseníase precisa ser descoberta ainda nos estágios iniciais e tratada de maneira adequada. Não há, entretanto, motivos para temer tocar em um hanseniano, pois é necessário um contato íntimo e prolongado para que ocorra contaminação, como a convivência de familiares na mesma residência. E, mesmo nessas condições, o contágio é bastante raro, já que, para um indivíduo se infectar, não basta ser exposto à bactéria, transmitida pela respiração, é preciso também ser suscetível à doença, o que ocorre com menos de 10% da população mundial. Mas, apesar de tanta dificuldade de contágio, a exclusão do restante da sociedade é um mal que sempre acompanhou os portadores da hanseníase, que, mais do que física pode ser considerada uma enfermidade social, levando os hansenianos a sofrerem tanto com a discriminação quanto com a doença propriamente dita. Apesar de haver referências à doença desde o século VI a.C., a cura só foi descoberta no início dos anos 60. Por isso, as únicas formas de controle existentes até então eram medicamentos paliativos aliados ao isolamento compulsório nos leprosários. O Brasil chegou a ter 101 dessas instituições. Um deles é o antigo Leprosário de Canafístula, situado no município de Redenção, Ceará. Fundado em 1928, ele hoje recebe o nome de Centro de Convivência Antônio Diogo e serve de abrigo para os que já estão curados mas perderam o vínculo com a família e a comunidade onde viviam e não têm para onde ir.


Apesar de abrigar tantas vidas sofridas e marcadas pela exclusão, hoje, o Centro de Convivência Antonio Diogo é um lugar que está sempre de portas abertas, recebendo pessoas que trazem alegria e doações para aqueles que tiveram a saudade como maior companheira durante muitos anos. Uma dessas visitantes é Maria Barros Fernandes, mais conhecida como Nazinha, que há 36 anos trabalha ajudando leprosários. “Eu nasci já com esse verme, essa bactéria de querer conhecer e trabalhar com leprosário. Não sei por quê. Acho que é coisa de outras vidas...”, conta ela. A referência a vidas passadas se explica pelo fato de Nazinha se guiar pelo Espiritismo, doutrina que tem a crença na reencarnação com um de seus pontos fundamentais. E foi por meio de um centro espírita que a vida dos hansenianos e a de Maria de Barros se cruzaram pela primeira vez: “Quando eu entrei a primeira vez em um centro espírita, eu era católica. Fui para assistir a uma palestra e, quando cheguei lá, o o rapaz tava convidando para uma visita em um leprosário. Comecei indo ao de Maracanaú (Leprosário Antonio Justa). Lá ia muita gente para visitar, mas aqui (Antonio Diogo) não vinha ninguém. Aí, eu comecei a vir pra cá”. Desde então, Nazinha não parou mais de ajudar aos hansenianos de Antonio Diogo. Ela organiza visitas bimestrais ao Centro de Convivência por meio do Grupo Espírita Paulo e Estevão. Nesses momentos, os voluntários levam roupas, mantimentos e brinquedos para as centenas de pessoas que ainda moram lá. “Desde os vinte e poucos anos de idade que eu trabalho em leprosários. Pra mim, significa tudo na minha vida”, afirma ela. Entretanto, não é somente no coração de Nazinha que esse sentimento ecoa. É o que afirma Antonio Francisco de Souza, mais conhecido como “Seu” Pacatuba. Morador do Centro desde 1988, ele diz, emocionado, o quanto esses momentos de alegria são importantes para a vida dele e de seus companheiros: “Se você souber que para nós, essas visitas são a coisa mais importante que existe na vida, você pode ficar certa. E isso eu posso falar por mim e por todos eles. É tão importante que a gente já fica esperando”.


papai noel entrega presente para a garotada!





ala masculina



Hoje, com 70 anos, “Seu” Pacatuba mostra nas mãos e nos pés a marca das dores que antigamente vinham junto com a medicação precária da doença. “Tomava um remédio, mas que não atuava direito”, afirma ele. Apesar do sofrimento, o ex-hanseniano decidiu focar nas coisas positivas do seu dia a dia. Sempre falante e sorridente, demonstra uma sapiência sem afetação, lapidada pela vida, e nem percebe o baque no coração da repórter diante da lição que sai de sua boca de forma natural: “Hoje eu tenho mais a agradecer que a pedir, pois graças a Deus eu vivo bem. Eu sei que a minha situação não é fácil, mas tem gente que vive pior”.


senhor Pacatuba




Outro que mora no Centro é Francisco Alves Tibúrcio. Ele conta que mudou-se para o local após a morte da esposa, de quem sente saudades. O colorido que falta na vida de Francisco, entretanto, é algo que salta aos olhos em seus desenhos, espalhados pelas paredes do quarto em que mora. Ele sorri com orgulho ao mostrar seu trabalho, mas admite que sente falta de um lar de verdade.


senhor TibĂşrcio


ala feminina



Dona Tereza Moreira Cardoso, que já se curou há bastante tempo: “Há muitos anos que eu deixei de tomar remédio”, mas, continua morando no Centro. “Eu, como não conheço o mundo, me acostumei”, diz ela. Quando Dona Terezinha chegou ao local, em 1940, não havia nenhum medicamento. Segundo ela, só foi chegar sete anos depois: “Naquela época, minha filha, era para se isolar”. Nascida na cidade de Paracuru, ela conta que contraiu a doença do pai e que a família sofreu bastante com a exclusão social: “Quando eu saí de lá, saí sem ninguém saber (que estava doente). Como meu pai já tinha a doença, todo mundo se afastava da gente. E quando alguém perguntava onde eu estava, minha mãe dizia: está em Fortaleza, estudando”. Quando chegou ao antigo leprosário, Dona Terezinha tinha somente 10 anos de idade. E como qualquer criança, sofreu pela falta da família. “Quando minha mãe vinha me visitar, não deixavam ela me abraçar, me beijar...”, conta ela, emocionada.


dona tereza




A triste história de Dona Terezinha é bem comum no Centro. Ela se repete na vida de muitas pessoas. Entre elas, Maria Auxiliadora de Souza, que chegou ao local há 60 anos, aos oito de idade. “Eu não conheci mais mãe, nem pai. Quem veio me deixar foi um tio meu. Foi o último parente que eu vi quando criança”, conta. O amor e a felicidade, Dona Maria Auxiliadora encontrou dentro do Centro, onde viveu, durante 50 anos com o marido, Geraldo Anastácio, de quem é viúva e com quem teve oito filhos, que a visitam com frequência.


dona maria


Projeto grรกfico: Kelly Cristina Texto: Isabele Pequeno


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