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AILTON AMÉLIO E SEXO NA CABEÇA
from Revista Romano 1
by knks
SEXO NA
O PSICÓLOGO AILTON AMÉLIO DA SILVA ABRE O JOGO E CONTA TUDO O QUE VOCÊ QUER E PRECISA SABER PARA AUMENTAR A SATISFAÇÃO NA CAMA
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POR MÔNICA MARTINEZ FOTOS ELIANE COSTER
Há mais de 20 anos, Ailton Amélio da Silva, 56, ensina e pesquisa sobre relacionamentos amorosos e comunicação não verbal no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo e, ainda, atende clientes em seu consultório localizado na capital paulista. Neste bate-papo, o autor de “Mapa do Amor” (Editora Gente) revela tudo o que mudou sobre sexo nas últimas duas décadas. Aproveite para se atualizar e melhorar seu desempenho sexual!
ROMANO_Hoje em dia o sexo deixou a alcova e está sendo discutido abertamente em revistas, jornais, programas televisivos e currículos escolares. Qual o motivo? AILTON AMÉLIO_Sexo era um dos maiores tabus da humanidade. Desde o início do século passado, há registros de liberação sexual. O número de pessoas que se casam virgens e a idade da primeira relação diminuiu, o de parceiros aumentou, mais recentemente apareceu o ‘ficar’. Falar mais sobre sexo está simplesmente dentro deste contexto da mudança dos costumes.
CABEÇA!
R_Nas últimas décadas, a mulher conquistou a independência financeira e a liberdade sexual, esta última por conta da evolução de métodos contraconceptivos. Como o homem está reagindo a este fato? AA_Antigamente quem desvirginava uma parceira tinha que casar, ou seja, assumir tremendas conseqüências pela desonra social. Com a entrada da mulher no mercado de trabalho e o desenvolvimento dos anticoncepcionais, entre outros fatores, houve a separação do sexo da reprodução, que era um custo altíssimo para a mulher. É um paradoxo, mas esta mudança é uma faca de dois gumes para os homens. Por um lado é uma maravilha, pois permite que ele transe com mulheres diferentes. Por outro, gerou um clima enorme de insegurança, pois a posse da mulher, um marco das sociedades paternalistas, ficou ameaçada. O dilema do homem contemporâneo é que ele gostaria de ter outras mulheres, mas quer que a sua seja exclusiva.
R_Acostumadas a se impor no competitivo mercado de trabalho, as mulheres estão sendo mais assertivas na cama (“quero isto assim e desse jeito não”). Isto é bom ou a relação fica prejudicada quando o homem se sente dominado debaixo dos lençóis? AA_A não ser para homens muito conservadores, ter uma mulher liberada na cama é ótimo, pois aumenta a satisfação sexual do casal. Contudo, a ousadia feminina tira um pouco a segurança masculina, pois as pesquisas apontam que gostar muito de sexo aumenta as chances de trair. Portanto, uma parceira ativa, que gosta de variações, tem mais chance de querer experimentar outros parceiros. Os homens sabem disso intuitivamente e ficam inseguros. Comunicação é fundamental, e é muito importante ambos falarem do que gostam na cama. Contudo, uma mulher muito diretiva tem o poder de fazer o homem perder a concentração e ter seu desempenho sexual prejudicado. A verdade é que homem intimidado não funciona direito. Vale, portanto, o equilíbrio. Essa idéia vendida de que os homens estão sempre prontos e topam qualquer coisa é um mito que pode gerar problemas duradouros para o casal.
Basta uma falha para o comportamento sexual masculino ficar abalado. A verdade é que o homem não é tudo o que ele próprio e as mulheres imaginam! Ele virou prisioneiro desta imagem antiga que criou para si e vendeu para os outros.
R_Um homem que ficou numa relação estável por uma década ou mais se assusta ao retornar ao mercado amoroso, hoje, com mulheres exigentes, universitárias garotas de programa e sexo virtual? Como deve proceder para entender a nova fase? AA_O jogo amoroso mudou e o homem recentemente separado precisa atualizar-se sobre as novas regras, caso contrário pode sentir-se deslocado. É um processo mais profundo do que só entender as coisas. Ele precisa conversar com pessoas, compreender que a mudança não é ameaçadora, expor-se várias vezes a situações reais para reaprender a ter emoções e expectativas e, principalmente, gostar desta nova maneira que as coisas acontecem no campo afetivo. No começo ele estranha tudo: o novo ritmo, a iniciativa feminina, como elas reagem agora. Contudo, é como viajar para outro país e permitir-se descobrir uma nova cultura. É preciso ir de peito aberto, sem preconceitos e buscar os pontos interessantes. O principal está garantido: como o impulso sexual é uma força muito grande, ele acaba sendo compelido a se adaptar.
R_Apesar da superexposição, ainda há muitos tabus na hora da transa. Estas restrições prejudicam o relacionamento sexual? AA_Tabus são uma herança psicobiológico-cultural muito cerrada, pois sexo não foi idealizado para ser feito de forma fácil, visto que redundava em filhos. Daí a natureza ter imposto cuidados para que essa procriação não fosse tão inconseqüente. A cultura, sobretudo religiosa, também impôs tremenda carga. Estes fatores ainda estão presentes, mesmo que por vias indiretas. O principal tabu hoje é que os casais ainda têm vergonha de discutir o relacionamento sexual entre si, é algo subterrâneo, difuso e, conseqüentemente, difícil de lidar. Desta forma, não se tem feedback sobre o que o outro gosta, como foi a transa, não se apre
sentam idéias novas nesta área, discutemse fantasias. Tudo isso impede a relação e notadamente a satisfação de evoluir.
R_O que de fato acontece na maioria das camas além do papai-e -mamãe? AA_Todas essas coisas vistas em filmes pornôs são raríssimas. Estudos confiáveis apontam que a grande maioria de homens e mulheres faz sexo vaginal. Até o oral não é tão freqüente e o anal, então, ainda mais raro. O fato é que, bem-feitas, com preliminares elaboradas e entrosamento entre parceiros, as práticas sexuais usuais podem gerar muito prazer. As variações mais ousadas são bem-vindas, mas podem ser menos importantes do que se imagina.
R_Pessoas envolvidas em relações estáveis queixam-se da monotonia. É preciso acrobacias, Kama Sutra, performances em lugares inusitados, lingeries provocantes e “brinquedinhos” para reativar a vida sexual do casal? AA_O casal tem de ter liberdade para tentar novidades, mas saber de antemão que elas dão um brilho temporário. Quando se parte para as variações, há o risco de se tirar o foco do relacionamento afetivo e colocá-lo na prática, no ato em si. E tratar o outro como um objeto é perigoso. Só dá certo se a relação entre o casal estiver muito boa em outros níveis. Troca de parceiros em casas de suingue, por exemplo, pode destruir até bons relacionamentos, pois deixa um inseguro com o outro ao disponibilizar alternativas de parceiros melhores.
R_Afinal de contas, por que sexo é tão importante na vida a dois? Dá para manter a união feliz sem sexo ou o ato é parte inerente do relacionamento conjugal? AA_União amorosa pressupõe atração sexual, faz parte da expectativa. Afinal, não é preciso casar com ninguém para fazer supermercado, ir ao cinema, fechar negócios. E trata-se de uma via de mão dupla, pois a satisfação obtida com bom sexo expande-se para outras áreas do relacionamento. R_O maior interesse pela religiosidade influencia o sexo entre casais? AA_É mais notícia do que fato comprovado por pesquisas. O que se sabe é que grupos com influência religiosa fantasiam menos, pois a noção de pecado e do proibido tem influência moderada.
R_Uma fase financeira ruim pode prejudicar o sexo do casal. Como resolver isso caso aconteça? AA_Certamente prejudica. Mais do que a das mulheres, a auto-estima masculina é muito ligada ao sucesso profissional. Um revés nesta área ataca o ânimo, estressa, faz com que o homem não se sinta uma pessoa legal e atraente para a companheira. Em suma, ele fica miserável, sensível a qualquer insinuação e pode entrar em depressão, o que tem chances de destruir o relacionamento. A solução é o casal ter bases sólidas em outras áreas e estar preparado para passar por reveses não-somente no nível econômico, mas em vários outros, como doença. É a vida. Para atenuar a crise, ele pode assumir tarefas para aliviar a sobrecarga da mulher. Comunicação fluente também é essencial: a parceira que incentiva, não ataca nem critica nesta fase, faz muito bem. Numa relação estável é preciso ter visão de médio e longo prazos, investir no hoje para colher amanhã. Não se trata de um toma-lá-dácá mercenário, de algo plantado apenas no aqui e agora. Mas sim de uma relação em que um dá força ao outro, ajudando a superar os momentos difíceis.
R_A frase: “Eles fazem sexo, elas fazem amor” continua válida? Homens e mulheres têm mais diferenças ou semelhanças nas suas expectativas sexuais? Esta mentalidade está mudando com homens mais sensíveis e mulheres mais liberadas? AA_Houve uma grande aproximação: hoje ambos fazem sexo e amor. Explico. É óbvio que as mulheres estão fazendo mais sexo. Já os homens não têm mais tanta necessidade de manter a atitude machista, de transar com qualquer uma. Ele está mais atento aos próprios sentimentos e ao que quer. Isso é amor.