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IMPÉRIO DO SOL_Jericoacoara: paraíso

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ELES INDICAM

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IMPÉRIO DO SOL

Jericoacoara é roteiro ditado pelo ir e vir do astro rei, com areias claras, ventos constantes e paisagens que misturam coqueiros, barcos de pescadores e praias de águas límpidas

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POR ANA HOLANDA

FOTOS ARQUIVO PESSOAL ANA HOLANDA

5h15 da tarde. Nas ruas de areia da vila de Jericoacoara, o caminho, nesse horário, é um só: em direção à praia. É lá que, todas as tardes, turistas e moradores locais se reúnem para ver o sol ir embora, manso e rasteiro, bem próximo do mar. Quem quer visão privilegiada, encara uma subida de quase 30 metros por uma duna de areia fofa e branca, e fica ali, no alto, esperando o encontro do sol com o mar. O único barulho é o do vento, que insiste em espalhar grãos de areia sobre quem assiste ao espetáculo. O céu azul vai se pintando de vermelho para o sol, finalmente, se esconder por detrás das águas.

Tem gente que aplaude, tem gente que continua quieta a observar o horizonte. E, então todos caminham, sem pressa, em direção à praia, onde a areia é mais dura e firme. A luz já é pouca, mas dá para ver corpos esguios e talhados, vestidos com calças brancas, se movimentando ao som dos berimbaus: é a capoeira. A roda se forma e aumenta. A dança é ritmada, os golpes são gingados e tudo dura não mais do que 30 minutos. É assim cada final de tarde em Jericoacoara, uma vila de pescadores, localizada no litoral norte do Ceará, a 305 quilômetros da capital do estado, Fortaleza.

O lugar tem nome gostoso de se ouvir, mas difícil de falar, assim virou Jeri. Bastam poucas horas na vila para qualquer turista se sentir parte daquele povo de fala afável e lenta. Jeri é a vila mais conhecida do Parque Nacional de Jericoacoara, que ganhou status de área de proteção ambiental em 1984, e tem cerca de 209 km 2 de dunas, praias e lagoas. São pouco mais de seis mil habitantes, que ocupam casas simples, de paredes claras e janelas pequenas. A calma e a beleza da região ganharam fama e tem gente que vem de longe para caminhar pelas suas ruas de areia. A maior parte dos turistas são europeus, mas também dá para identificar sotaques de brasileiros de diferentes recantos do país.

No balanço das águas Os passeios são muitos e sempre ditados pelo ir e vir do sol. Mas nada de pressa para conhecer as belezas de Jeri. “Pressa para quê? Aqui, dá uma preguiça danada”, dizem os moradores da vila. Programar uma caminhada para o primeiro dia, é um jeito gostoso de deixar o estresse de lado. Não precisa ir longe. Próximo à vila, fica a Pedra Furada, rochas esculpidas pelo mar, com ajuda do movimento das ondas. É desta escultura natural que vem o nome de Jericoacoara, que significa, na língua dos índios, “jacaré tomando sol”. O furo feito na pedra, para muitos, lembra o olho de um jacaré. Quando a maré está baixa, é possível caminhar próximo ao mar. Os passos devem ser dados com cuidado e, de preferência, com algum tipo de sandália, porque existem muitas pedras entre na areia, cravejadas de cascas de ostras. E se a maré subir, o caminho a seguir é por uma trilha, também bem próxima da praia.

ARQUIVO PESSOAL ANA HOLANDA

PÔR DO SOL É ESPETÁCULO DIÁRIO

ARQUIVO PESSOAL ANA HOLANDA

BARCOS CHEGAM COM O PESCADO

Nos dias seguintes, prepare-se para sentir o vento soprar no rosto, nos passeios de buggy. São dois os destinos: a Lagoa Azul, passando pela praia do Preá e Lagoa do Paraíso; e Tatajuba. Os caminhos são sempre cortados por dunas, praias e lagoas. Tanto a do Paraíso quanto a Azul fazem jus ao nome. Têm água transparente e de temperatura agradável. Procure cuidar do lugar. As pessoas que nascem na vila sabem o significado da palavra preservação. Atenção: negocie o preço com os bugueiros da região.

Em Tatajuba, outra pequena vila de pescadores, também dá para esticar o corpo numa rede, colocada estrategicamente dentro d’água presas a varas. No caminho, é possível atravessar o mangue de barco e observar a vegetação e enormes caranguejos que circulam pela terra úmida do lugar.

No sopro do vento Jeri também é ponto de encontro dos adeptos de esportes aquáticos, como o windsurfe e o kitesurfe (mistura de windsurfe com esqui aquático, em que a prancha é puxada por um tipo de pipa gigante). Os ventos da região, que sopram incessantemente e aliviam o calor, também são ótimos para a prática de esportes com vela, tanto nas lagoas quanto na praia do Preá, que fica a 12 km de Jeri. A vila tem escolas e associações que não só ensinam as manobras como também alugam equipamentos.

Mas se a idéia é mesmo ficar parado e esperar o tempo passar até o sol ir embora, Jeri tem cantos ótimos para espreguiçar o corpo, ler um livro ou mesmo sentar próximo ao mar e bater papo com as quituteiras que vendem bolo de banana ou cocada. Elas se aproximam, oferecem a iguaria e, como quem não quer nada, vão se acomodando. Assim mesmo, com a intimidade que Jeri proporciona. Falam da vida, dos filhos, dos amores esquecidos.

Mas deixe os doces das quituteiras para mais tarde, porque por lá existem ótimos lugares pra saborear peixe fresco. Sem falar das lagostas, grandes e suculentas, assadas na grelha e temperadas na manteiga.

Quando o sol vai se escondendo, a alegria não acaba porque à noite Jeri também é acolhedora. A creperia serve delícias em mesas decoradas

com velas, de frente para o mar. Para quem gosta de música calma, um bar serve petiscos, ao som de MPB. Mas se o que você procura é o som do povo, então se prepare para o forró. Agarradinho, dando um passo pra lá e outro pra cá, a noite vai longe. De madrugada, a pequena vila continua a pulsar, às 3h da manhã, as portas da padaria mais famosa do lugar, a Santo Antônio. se abrem. Para beber junto com café com leite, o pão quente vem recheado com queijo, coco ou goiabada.

Pouco depois das cinco horas da manhã, lá vem o sol de novo, preguiçoso. Mas sempre a ditar o ritmo de Jeri.

PEDRA FURADA: ROCHA ESCULPIDA PELO MAR

EMBRATUR

PARQUE NACIONAL DE JERICOACOARA: 209 KM 2 DE DUNAS, PRAIAS E LAGOAS

Manual de sobrevivência

quando ir_O ano inteiro. As temperaturas são amenas e próximas dos 30 graus, quase o ano todo. E o sol é sempre constante. Chove um pouco no verão, mas nada que estrague o passeio. De qualquer forma, as chances de chover no segundo semestre são menores. Para quem gosta de esportes como windsurfe ou kitsurfe, a chamada temporada dos ventos, quando sopram com maior intensidade, vai de junho a setembro.

como chegar_Seguir de Fortaleza até Jijoca, pela CE-085. Há também ônibus até o lugar. Se preferir o carro, deve deixá-lo num estacionamento em Jijoca. Depois, o trajeto é duro, porque são 23 km em estrada de terra, em condições precárias. Mas o esforço vale a pena. De Jijoca até Jeri, há transportes alternativos para quem quer experimentar outras emoções. São o tradicional buggy; a caminhonete, que pode acomodar na caçamba até dez pessoas, de maneira improvisada; ou a jardineira, um ônibus adaptado a partir de um caminhão, que transporta os passageiros sentados.

o que levar_Esqueça o luxo. Jericoacoara é uma vila simples, onde as pessoas caminham descalças ou de chinelo. Até porque as ruas não são pavimentadas e não há iluminação pública. Muita bermuda, sunga e camiseta devem fazer parte da bagagem, assim como o protetor solar. Além de uma lanterna para não errar o caminho da pousada, ainda que seja quase impossível se perder na vila, pois tem pouquíssimas ruas e todas terminam no mar.

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