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Capítulo XXII –A Corrida e a Queda
CAPÍTULO XXII
A CORRIDA E A QUEDA
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Oexercício físico é bom, é saudável, desde que seja praticado com regularidade e com prazer, e nunca por obrigação, e que, principalmente, obedeça a uma escala gradual de dificuldades, tendo o bom senso de não extrapolar o razoável e não forçar a Natureza! A saúde em primeiro lugar; a vaidade em segundo.
Como disse numa publicação anterior, basta um estímulo visual, uma foto ou um artigo publicado, para associarmos com eventos passados pelos quais passamos.
Li recentemente um artigo numa revista semanal, no qual Nuno Cobra Júnior (Preparador físico) faz algumas observações interessantes e preocupantes sobre a “cultura do corpo em forma”, e adverte sobre o excesso de exercícios físicos nas academias e suas consequências danosas para o corpo e com pouco benefício.
O conceito “fitness” que surgiu como uma forma de melhorar a saúde corporal do indivíduo, aos poucos foi transformando-se em uma indústria lucrativa, com a ideia de manter um corpo “ideal”, sem medir os riscos e as consequências de lesões nas articulações, cartilagens e na musculatura daqueles que, mesmo sob orientação de um profissional, querem atingir e até superar seus limites físicos.
Isso me levou de volta no tempo em queprestava o serviço militar, quando nós, soldados, praticávamos exercícios físicos diariamente, de modo a gradualmente estarmos preparados para situações de maiores exigências físicas, o que acontecia nas corridas programadas. Lembro-me de uma corrida saindo do quartel da Praça Rui Barbosa, seguindo pela Rua 24 de Maio e descendo a Av. Iguaçu até a Av. Artur Bernardes (Santa Quitéria) e voltar (subida). Haja fôlego! Ali testávamos nosso limite, e era dolorido! Éramos jovens entre 18 e 19 anos, mas alguns soldados não chegaram a terminar a corrida e foram direto para a Enfermaria do Quartel.
Como se vê, era apenas corrida e não exercícios de academias, onde o corpo é solicitado ao extremo.
Quando li aquele artigo na revista, lembrei-me de um dia não muito agradável, por volta de 1985 na Refrigeração Paraná. Naquela época não existia, pelo menos na Refrigeração Paraná, a ginástica laboral nem para o pessoal da fábrica e nem para o pessoal dos escritórios. Por iniciativa de alguém, possivelmente ligado a esportes, foi contratado um preparador físico para aplicar periodicamente, alguns exercícios no pessoal da fábrica e dos escritórios.
Certo dia foi a vez da turma da Engenharia participar. Convocados com antecipação, naquele dia após o expediente o pessoal se reuniu na cancha de futebol, com tênis e agasalho para uma seção de exercícios. Após uma breve preleção, o
Preparador colocou a turma para correr em volta da cancha. Não lembro quantas voltas, mas foram muitas e lembro muito bem do cansaço. Não parou por aí. Após um breve descanso, organizou o pessoal em duas equipes para uma partida de Voleibol, apenas para o pessoal se movimentar. Parece que a corrida não fora suficiente. Claro, para um Preparador físico, acostumado a isso, era uma brincadeira, mas não para aqueles que estavam “enferrujados”. Foi um jogo brincadeira, sem nenhuma técnica, com o pessoal correndo atabalhoado, se chocando uns com outros.
Depois de uns 30 minutos, finalmente terminou aquele “jogo”, e fomos todos suados e exaustos para casa. O reflexo daquilo estava para acontecer no dia seguinte. Cheguei em casa com o corpo ainda quente, mas levemente dolorido, principalmente as coxas; um banho e cama.
No dia seguinte já saí de casa com certa dificuldade, minha pernas teimavam em não me obedecer, as coxas e joelhos doíam, mas fui trabalhar. Sentado no trabalho, o desconforto não era tanto, até que chegou o intervalo para almoço. Levantei-me e com dificuldade no andar, me dirigi à saída. Mas eis que no meio do caminho senti que minhas pernas perdiam o controle, e simplesmente desabei, caindo de joelhos na calçada. O espanto foi grande dos amigos que estavam ao meu lado, e rapidamente me ajudaram a levantar, perguntando se eu queria ir ao ambulatório; disse que não, e eles me ampararam até meu carroque estava bem próximo na rua.
Fui para casa e não voltei mais naquele dia, procurando me curar com produtos específicos para lesões musculares. Dois ou três dias depois a dor já estava sensivelmente reduzida. Hoje só pratico exercícios leves, sem intenção de ter um corpo “sarado”. Não posso afirmar que o Preparador tenha sido negligente, mas colocar as pessoas numa corrida sem um aquecimento adequado e, principalmente, sem preparo físico, sendo que a maioria não praticava exercícios regularmente, foi uma atitude muito estranha e perigosa. Felizmente não houve maiores consequências, além daquele meu vexame na calçada. Acontece até com os atletas profissionais.