Curitiba, agosto de 2008
Nanotecnologia:
a ameaça invisível
O triunfo científico de uma tecnologia libertadora, uma ameaça ambiental sem precedentes na história da humanidade
M
uitos ainda não se deram conta, mas vivemos hoje uma verda-
deira revolução científica. Trata-se da nanotecnologia, a ciência capaz de se aventurar pelo inexplorado mundo dos átomos. Entendida por alguns como a nova revolução industrial, ela é a técnica que nos permite manipular estruturas
inimaginavelmente
pequenas,
possibilitando, entre outras coisas, a criação de novas substâncias, materiais ou produtos - que tempos atrás seriam concebíveis somente na imaginação dos mais audaciosos cientistas. Tecidos que nunca mancham, colas super-poderosas, vidros inquebráveis e materiais ultra-resistentes. São apenas alguns dos exemplos que, em um futuro próximo, poderão estar nas prateleiras de qualquer supermercado. Méritos à nanociência. Mas trabalhar com estruturas tão pequenas – o prefixo nano refere-se à bilionésima parte do metro – pode envolver muitos riscos. Embora anuncie
Nanopartículas viajando pelo interior de um nanotubo de carbono (Ilustração: Robert Fletcher). 2008, debates sobre nanociência em
“A preocupação é legítima”, ga-
diversas capitais brasileiras. Em Curi-
rante o sociólogo Paulo Martins, pesqui-
tiba, o primeiro debate aconteceu em
sador da Renanosoma e um dos autores
agosto, no Sindicato dos Engenheiros
do livro Revolução invisível – desenvol-
um novo horizonte para o desenvol-
do Paraná, reunindo pesquisadores das
vimento científico, a nanotecnologia
mais diversas áreas vindos de todo o
pode representar uma ameaça ambien-
país. O objetivo do projeto, intitulado
tal sem precedentes, cujas dimensões
Engajamento Público em Nanotecno-
ainda desconhecemos.
logia, é promover uma discussão tão
Visando conscientizar a população e esclarecê-la quanto a essas potenciais ameaças, pesquisadores da
ampla quanto possível sobre as diversas implicações sócio-ambientais decorrentes desse novo saber - mostrando para
vimento recente da nanotecnologia no Brasil (São Paulo, Xamã, 2007). Segundo Martins, que também faz parte do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), o primeiro problema com que nos deparamos são os elevados investimentos em pesquisas cujos riscos ainda mal conhecemos. “Estamos em uma verdadeira corrida rumo
Rede de Pesquisa em Nanotecnologia,
a sociedade que as pesquisas em nano-
ao desenvolvimento de novos nanopro-
Sociedade e Meio Ambiente (Renano-
tecnologia podem, e devem, ser motivo
dutos, uma disputa acompanhada de
soma) estão promovendo, ao longo de
de sérias preocupações.
pouco ou nenhum interesse a respeito