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Miguel Aun

Nasceu no ano do fim da Segunda Guerra Mundial e é a paz em pessoa. Sua presença doce acalma. Seu olhar tímido encanta. Seu sorriso raro, mas verdadeiro, alegra. Sua simplicidade cativa e surpreende. Graduado em Engenharia e com Mestrado em Física Nuclear, Miguel Aun foi-se deixando envolver pela magia das lentes e dos olhares e, há 30 anos, entregou-se à fotografia, seguindo os passos do pai — o Elias, do Foto Elias. Já nos anos 1970, começou a registrar a vida simples do interior de Minas Gerais — paisagem, arquitetura e gente. Profundo conhecedor da fotografia e grande incentivador dela em Belo Horizonte, Miguel Aun é referência, também, na fotografia publicitária no Estado. Com a palavra... Miguel Aun.

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Por que você começou a fotografar o interior de Minas? Sentia muita vontade de fotografar e as coisas não aparecem do nada, tem que ir atrás. Quanto mais se anda, mais se tem chance de fotografar, mais se procuram lugares. Queria preservar as imagens do interior, das paisagens, das pessoas. Ouro Preto, Pirapora, Diamantina, Tiradentes... O Foto Elias, estúdio de seu pai, foi, durante anos, local de encontro dos fotógrafos em Belo Horizonte. Como foi essa época? Tínhamos um fotoclube, que eram encontros organizados, uma vez por semana. Projetávamos slides, conversávamos, falávamos de concursos e equipamentos. Isso incentivava o pessoal a fotografar para mostrar as fotos lá. E havia, também, os encontros mais espontâneos, também no Foto Elias, na minha sala. Às vezes, sábado de manhã, chegavam 10 pessoas lá. Era o pessoal que gostava mesmo da fotografia em si. Mas o começo da fotografia em Belo Horizonte foi o audiovisual — slides com som, quase curtas-metragens —, do qual não cheguei a participar. [O estúdio, que funcionava na Avenida Bias Fortes, foi fechado em 1998, quando Elias tinha 97 anos. Hoje, ele está com 101 anos e “com uma cabeça ótima”, como diz o próprio Miguel.] Como você começou com o trabalho publicitário? Na publicidade, entrei por acaso, nos anos 1980. Gostava de bater foto mais pra mim, de curtição, para mostrar no clube. Um cara viu minhas fotos, gostou e quis comprar umas para usar publicitariamente. Aí, entrei de cabeça. Qual é a sua relação com o Festival de Inverno? Nunca fiz curso na vida. Meu maior interesse nos Festivais de Inverno era a fotografia mesmo. Nunca mexi com outras áreas — como Artes Plásticas. Deveria até ter entrado mais em outras áreas, porque ajudam na fotografia, combinar uma coisa com a outra. Freqüentava os Festivais para ter mais abertura, ver alguma coisa fora do comercial, ver as exposições de fotografia. É um lugar ótimo para contatos, há muita gente interessante, muitas idéias novas. Já mais recentemente, o Fabrício [Coordenador do Festival] me chamou para fazer trabalhos de fotografia em cima do evento. Para a identidade visual do 35º Festival, trabalhei mais a paisagem de Diamantina e arredores, as montanhas. continua na página 17...












Diamantina, assim como outras cidades históricas, é muito fotografada. Como você procura inovar o olhar para fugir um pouco do convencional? Corre-se o risco de a fotografia ficar muito óbvia, banal. Mas o meu tipo de foto é muito por aí, não uso muitos recursos. Tento, no enquadramento, fazer a composição de um jeito que fique diferente e tento pegar um momento legal das pessoas, uma expressão legal, para transmitir o sentimento que eu quero. O que primeiro me leva a fotografar alguma coisa é se ela está bem iluminada. Em geral, gosto de luz baixa, ou de manhãzinha ou de tardezinha, que é a luz mais quente, mais dourada, que dá mais relevo, mais textura. Então, a primeira coisa que eu vejo é a luz. Composição, deslocamento de fundo — com isso, consegue-se sair um pouco do convencional. Quais são esses poucos recursos que você costuma usar? Evito, ao máximo, trabalhar a foto. Uso polarizador, que é um filtro que já modifica a saturação da cor. No mais, gelatina, um filtro de correção de cor, bem suave... Equipamento é Hasselblad e Nikon. E digital? Com digital, comecei a trabalhar em 2004 e, mesmo assim, até hoje, só fiz o que me pediram para fazer em digital, coisa mais comercial mesmo. Acho legal, acho que vai funcionar bem, já estou com vontade de experimentar mais, para ver se dá o mesmo efeito de luz de que gosto. Você fotografa muito sem máquina também? Seu olhar é fotográfico todo o tempo? Com certeza. Já vejo a foto enquadrada, recortada. A gente acostuma o olhar. Hoje, tudo para mim é fotográfico. Vejo uma cena e já sei que lente vou usar, se vou pegar uma lente pra fechar ou uma grande angular para dar uma distorção. O que é a simplicidade para você? É não complicar. É essa história do pessoal receber você de peito aberto, sem preconceitos, sem medo, sem achar que vai incomodar ou ser incomodado. É o modo acolhedor de ser recebido à beira do fogão de lenha ou de um balcão de venda. Admiro a simplicidade, que, no interior de Minas, está em toda parte.

Miguel Aun

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Artes Cênicas

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O 35º Festival de Inverno da UFMG, por intermédio do Fórum Internacional de Arte Contemporânea Limites:rupturas e desdobramentos, instigou a reflexão e a discussão sobre as atuais fronteiras artísticas e seus possíveis desdobramentos. Tarefa complexa. Teixeira Coelho afirma que “é sempre um atrevimento refletir no presente sobre fenômenos que estão ocorrendo no presente”. Isso porque é inevitável o risco “de desconsiderar aspectos importantes e de recolher outros eventualmente menores (e, de todo modo, nunca será possível aprender mais do que uma parcela deles)”. Entretanto o mesmo autor afirma, ainda, que não se pode fugir de tal reflexão, pois “é maior e mais assustador o risco de ficar à margem da sensibilidade de uma época e enrijecer o próprio modo de pensar”. Assim, na área de Artes Cênicas, atreveu-se a discutir a contemporaneidade. E, na impossibilidade de abraçar o tema em sua totalidade, optou-se por um recorte que, inegavelmente, é protagonista da cena contemporânea: a performance. Dessa forma, as três artistas convidadas para ministrar as palestras e as oficinas — Patrícia Hoffbauer (Nova Iorque), Bia Medeiros (UnB) e Rita Gusmão (UFMG) — propuseram uma reflexão crítica sobre a performance como linguagem própria do teatro contemporâneo e sobre a impossibilidade, cada vez maior, de se estabelecerem fronteiras entre os conceitos de atuação cênica e atuação performática. Se, por um lado, Patrícia focalizou a dança, a partir de sua experiência em Nova Iorque, Rita dedicou-se às relações entre perfomance e teatro, direcionando o trabalho prático para a intervenção perfomática na cidade de Diamantina. Já Bia, com base em sua pesquisa, que aproxima o teatro das novas tecnologias de ponta, apresentou, como encerramento da sua oficina, uma performance em telepresença, que propunha a experiência do teatro através da videoconferência em rede mundial de computadores. Quem teve a oportunidade de assistir a este trabalho deve, ainda, guardar a imagem de uma tela de computador projetada na parede setecentista de uma casa de Diamantina — a arte superpondo dois tempos, levando o futuro ao passado – ou seria o inverso? A avaliação final das experiências vividas foi bastante positiva. E, sem medo de afirmar o que foi uma opinião unânime entre os participantes da área de Artes Cênicas, o 35º Festival de Inverno da UFMG cumpriu sua principal função — a de instigar e estimular a experimentação, a ousadia e a busca de novos caminhos para o rompimento de limites e fronteiras. Ernani Maletta – Coordenador da área de Artes Cênicas


COORDENADOR Ernani Maletta (BH) Diretor, maestro, cantor, ator e professor do curso de Artes Cênicas da Escola de Belas Artes/ UFMG. SUBCOORDENADOR Fernando Mencarelli (BH) Professor de Interpretação do curso de Artes Cênicas da Escola de Belas Artes/UFMG.

PERFORMANCE EM TELEPRESENÇA: UMA NOVA LINGUAGEM Objetivo: Novas tecnologias comunicacionais estão redimensionando o conceito de ator, de performance e de teatro, bem como o conceito mesmo de comunicação. Poder compreender essas tecnologias é poder participar da contemporaneidade. A linguagem a ser estudada será a performance, a tecnologia empregada será a de videoconferência na rede mundial de computadores. Uma reflexão histórica sobre a linguagem artística da performance servirá de base teórica para a prática. PROFESSORES Bia Medeiros (DF) — Professora da Universidade de Brasília e Coordenadora do Grupo de Pesquisa Corpos Informáticos (GPCI). Cyntia Carla Cunha dos Santos (DF) — Bacharelanda em Artes Cênicas, bolsista de Iniciação Científica do Grupo de Pesquisa Corpos Informáticos (GPCI).

PERFORMATIVIDADES Objetivo: Promover interface e prática teórica entre a linguagem teatral e a performance. Desenvolver reflexão crítica sobre a performance como linguagem e sua interferência no teatro contemporâneo. Elaborar intervenção performática com grupo de participantes da oficina. PROFESSORA Rita Gusmão (BH) — Atriz, videasta, performer, encenadora, clown, pesquisadora em Artes Cênicas e professora do curso de Artes Cênicas da Escola de Belas Artes/UFMG.

CORPO, MOVIMENTO, PALAVRAS Objetivo: Oferecer aos participantes um espaço de investigação física, dramática e performática, pela exploração de diferentes combinações e relações entre texto, movimento, situações teatrais concretas e abstratas, espaço e tempo, movimento individual do performer e material coreográfico desenvolvido para o grupo. Parte da oficina será dedicada à composição coreográfica e, nela, serão estudadas diferentes formas contemporâneas de composição — como, por exemplo, a manipulação do material coreográfico apresentado. Simultaneamente, será desenvolvido um conjunto de elementos que servirão como material para “solo performances” — gênero ligado a palavra, memória e movimento. PROFESSORA Patrícia Hoffbauer (RJ/NY) — Coreógrafa e performer.

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Mídia Arte

“Mas o que é Mídia Arte?” Essa era a primeira pergunta que me faziam desde que assumi a coordenação da área de Mídia Arte — antiga Artes Visuais.

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A mudança de nome não era apenas um “jogo de palavras”, mas uma tentativa de tornar compreensíveis práticas audiovisuais experimentadas, durante anos, na área, utilizando instrumentos/linguagens como a fotografia, o cinema e o vídeo — que já constituíram áreas autônomas no Festival —, não a partir de suas especificidades técnicas, mas expressivas. Nesse contexto, já não importava mais se as imagens produzidas eram geradas neste ou naquele regime técnico/semiótico, mas como podiam elas ser utilizadas para expressar pensamentos, sentimentos e opiniões. Assim, pôde-se pensar em “filmes” feitos em vídeo ou por meio de processos fotográficos ou computacionais, fotografias geradas com câmeras de vídeo, vídeos produzidos com fotografias e outros. Preocupava a todos, ainda, discutir o conceito de “mídia expandida” — que se refere tanto à contaminação de uma mídia por outra quanto à extensão das time based media (mídias baseadas em tempo, como o cinema e o vídeo) para o que se poderia chamar space based media (mídias baseadas no espaço, em que se torna possível colocar a instalação e, em certo sentido, um pensamento sobre a fotografia — desenvolvendo uma oficina sobre o uso do vídeo na arte e sobre as possibilidades da Arte Eletrônica — Arte Eletrônica: conceitos e prática, com Lucas Bambozzi; uma discussão sobre o espaço e o papel do corpo nas obras de arte interativas — Mídia imediata, arquitetura instantânea, com o professor José Cabral, da Escola de Arquitetura da UFMG; uma oficina de fotografia em que esta fosse pensada não como fim em si, mas como meio de produção de um “objeto de arte” e de inserção deste no espaço —, Fotografia: arte no espaço, com o artista plástico Marcos Chaves; e, finalmente, uma experimentação com live images (manipulação de imagens ao vivo, prática, então emergente, do que se convencionou chamar “vjeeing” ou “vj art”), que envolve performance, música, vídeo e outros meios para realizar um espetáculo público apresentado pelos participantes — Oficina de videoimprovisação: live images, com Luís Duva. Essa também foi a função da mesa Tempo, espaço: pensando as mídias em expansão, no simpósio, que serviu para a troca de experiências e para o compartilhamento delas e das reflexões de fundo teórico dos artistas e professores com os alunos e os demais participantes do Festival. Enfim, o que se buscou foi desenvolver uma reflexão sobre novas possibilidades expressivas e uma prática delas, além de incentivar a pesquisa e a experimentação de linguagens, formatos e gêneros com os meios de comunicação na arte. Rodrigo Minelli — Coordenador da área de Mídia Arte


COORDENADOR Rodrigo Minelli (BH) Professor do Departamento de Comunicação Social da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas/UFMG.

ARTE ELETRÔNICA: CONCEITOS E PRÁTICA Objetivo: Desenvolver uma apresentação extensiva de conceitos ligados ao vídeo como forma de expressão artística. O programa inclui apresentação comentada de trabalhos nacionais e internacionais realizados com linguagens e procedimentos distintos. Eventualmente, podem ser realizados exercícios práticos, em que se transponham alguns dos conceitos abordados. PROFESSOR Lucas Bambozzi (SP) — Videoartista.

FOTOGRAFIA: ARTE NO ESPAÇO Objetivo: Investigar a inserção da fotografia no espaço. Tratar a fotografia como flagrante, como um instrumento que permite a apropriação, com rapidez, de situações, cenas ou objetos. Não pensar tanto a fotografia, mas utilizá-la como forma de anotação, como reunião de dados, como meio e não, em princípio, como fim. Pensar a fotografia como objeto de arte e inserção deste no espaço, como objeto mesmo, tangível, em interação com diversas situações espaciais. PROFESSOR Marcos Chaves (RJ) — Arquieto e artista.

MÍDIA IMEDIATA, ARQUITETURA INSTANTÂNEA Objetivo: Discutir a tecnologia digital, visto que, como linguagem ou como ferramenta, acaba por diminuir a cumplicidade do homem com o mundo, justamente por fragmentar o corpo deste em sua ação sobre o mundo. A mão, o olhar e a imaginação dissociam-se de forma radical, em sua possibilidade de tocar e construir o próprio meio. Assim, uma questão se torna, hoje, crucial: as técnicas de representação imersiva, a espacialização da informação e os desenvolvimentos conceituais da arquitetura contemporânea conseguem reverter essa fragmentação e abrir possibilidades mais vastas de inclusão do corpo humano na totalidade do mundo? A oficina pretende trabalhar essas questões por meio da exploração do corpo como habitante do espaço arquitetônico expandido pelas novas mídias, em busca da criação de um dicionário corporal para a arquitetura contemporânea. PROFESSORES José dos Santos Cabral (BH) — Arquiteto e professor da Escola de Arquitetura/UFMG. Maurício Leonard (BH) — Arquiteto e performer.

VIDEOIMPROVISAÇÃO: LIVE IMAGES Objetivo: Cinco dias de imersão em técnicas de improvisação usando o vídeo como meio principal. Tópicos incluem, mas não se restringem a, desconstrução da narrativa, narrativa experimental, processamento de efeitos em tempo real via mixers e softwares, integração com som e texto, ambientação das imagens, produção e finalização do material para uma performance ao vivo, apresentada pelos participantes em um espetáculo público. PROFESSOR Luiz Duva (SP) — Videasta e performer.

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