COMO A PESQUISA DE OPINIÃO PÚBLICA DO IBOPE SOBRE AS ELEIÇÕES 2018 PODE AUXILIAR A COMPREENDER A DISPUTA PRESIDENCIAL NO FACEBOOK. NOVEMBRO - 2017
Estudo realizado pelo Laboratório do Caos (LabCaos) Pesquisador responsável: Yuri Almeida Pesquisadora assistente: Thamara Thais
Como citar este estudo: LabCaos. Como a pesquisa de opinião pública do IBOPE sobre as eleições 2018 pode auxiliar a compreender a disputa presidencial no Facebook. Salvador, Bahia. 2017, online
Objetivo Pesquisa de opinião pública sobre as eleições 2018 realizada pelo IBOPE, divulgada no mês de outubro de 2017, teve como objetivo avaliar os possíveis cenários eleitorais para a disputa presidencial de 2018. Entre as especificações técnicas da pesquisa, duas variáveis chamaram atenção do LabCaos: acesso a internet e voto espontâneo. A partir da mineração de dados, nos perfis oficiais dos candidatos citados na pesquisa espontânea, buscou-se analisar o desempenho/mensuração destes no Facebook, oferecer alguns pontos de reflexão para a análise da disputa eleitoral nos sites de mídias sociais.
Metodologia A pesquisa de campo do IBOPE foi realizada de 18 a 22 de outubro de 2017. 2002 entrevistas foram realizadas em 143 municípios brasileiros. A margem de erro estimada é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%. A pesquisa do LabCaos compreendeu a análise de performance quantitativa das páginas oficiais dos candidatos citados na pesquisa espontânea, entre 1 a 31 de outubro de 2017. Foram utilizadas a ferramenta FanPageKarma e Page Match (coleta), OpenRefine (tratamento dos dados), Infogram (geração de gráficos) e índice de sentimento desenvolvido pelo Laboratório do Caos.
Hipóteses 1- Os candidatos que possuem a maior quantidade de seguidores tiveram um desempenho melhor na pesquisa espontânea; 2- Os candidatos que possuem uma taxa de engajamento maior tiveram um desempenho melhor na pesquisa espontânea; 3- Os candidatos que apresentam índice de sentimento positivo figuram melhor na pesquisa espontânea;
A PESQUISA
VariĂĄvel: acesso a internet
De acordo com a pesquisa IBOPE, dos 2002 entrevistados, 1.368 acessam a internet (68%) e 634 nĂŁo tem acesso (32%)
Variável: voto espontâneo Os dados refletem apenas os entrevistados que acessam a internet e declararam sua opinão, de forma espontânea, qual seria o seu candidato. Cabe destacar que entre os que não tem acesso, o percentual de não sabe/não respondeu e branco/nulo estiveram muito próximo, com 24% e 33%, respectivamente.
Candidatos com maior base de curtidores No que tange a quantidade de curtidores nas respectivas páginas oficiais, nota-se dois grupos: aqueles que ultrapassam a casa dos milhões de curtidores (Bolsonaro, Dilma, Lula, Doria e Marina Silva) e aqueles abaixo da casa dos milhões de curtidores (Alckmin, Temer e Ciro Gomes).
Candidatos com maior taxa de engajamento O maior engajamento identificado em Lula, Bolsonaro e Ciro podem ser explicados pela intensa atividade de pré-campanha. Cabe destacar que os atores políticos (Temer, Doria e Alckmin) estão na mesma faixa de taxa de engajamento e, ambos possuem mandato executivo, ou seja estão em uma agenda mais institucional do que eleitoral.
Total de reações, comentários e compartilhamentos
Os candidatos que obtiveram maior taxa de engajamento foram aqueles que apostaram mais no conteúdo em formato vídeo e foto.
Número de curtidores x taxa de engajamento Cabe o destaque de dois resultados do gráfico ao lado: 1- Ciro Gomes, mesmo com o menor número de curtidores da página, registrou um alto engajamento; 2- Dilma e Marina, apesar do alto número de curtidores registram as menores taxas de engajamento, provavelmente por estarem fora da agenda midiática e baixa atuação no Facebook.
ÍNDICE DE SENTIMENTO
Índice de Sentimento 0.56
-1
+1
Apesar da forte presença de reações neutras, as positivas registraram maior índice no mês de outubro.
Índice de Sentimento 0.48
-1
+1
Apesar das ações coordenada de apoiadores x detratores, o candidato registrou um índice positivo.
Índice de Sentimento 0.39
-1
+1
Mesmo com a ação de detratores em sua página, avaliação do candidato foi mais positiva do que negativa.
Índice de Sentimento 0.22
-1
+1 O sentimento predominante foi positivo com um equilíbrio entre reações neutras e negativas.
Índice de Sentimento 0.20
-1
+1 Página é alvo de apoiadores e detratores do candidato, o que explica o equilíbrio no índice.
Índice de Sentimento 0.18
-1
+1 No período analisado, a página registrou um equilíbrio entre sentimentos positivos e negativos.
Ă?ndice de Sentimento 0.15
-1
+1
Na pĂĄgina de Marina, o Ăndice de sentimento teve um leve desempenho para a escala positiva.
Ă?ndice de Sentimento 0.12
-1
+1
A ex-presidente registrou a menor taxa de sentimento positivo entre os atores polĂticos analisados.
ÍNDICE DE SENTIMENTO Em uma conjuntura política onde os sites de redes sociais tornaram-se espaços de debate e embate sobre os respectivos candidatos, na página do presidente Michel Temer, no período analisado, não foi identificado esse acirramento. Já nas páginas de Lula, Ciro e Bolsonaro, o índice de sentimento é influenciado, sobretudo, pela corrida presidencial, opiniões e plataformas dos referidos candidatos.
RESULTADOS
Hipótese 1- Os candidatos que possuem a maior quantidade de seguidores tiveram um desempenho melhor na pesquisa espontânea;
Número de curtidores x voto espontâneo A primeira hipótese do estudo foi invalidada. A popularidade no Facebook (tendo como a métrica “base de curtidores”) não se traduziu em intenção de voto espontâneo na pesquisa IBOPE. Lula que lidera a pesquisa de intenção de voto tem a terceira maior página em número de curtidores. Em segundo lugar, Bolsonaro tem a maior quantidade de curtidores.
Número de curtidores x voto espontâneo A ex-presidente Dilma, que tem a segunda maior página em termos de curtidores aparece com 0% no voto espontâneo. Ciro Gomes, que tem menos curtidores em sua página registrou 1% das intenções de voto. Os demais candidatos ficaram na faixa de 1% a 2%. Mesmo Marina e Doria, que ultrapassam a casa dos milhões de “curtidores” mantiveram a mesma taxa percentual da pesquisa, Temer e Alckmin ainda estão na casa do milhar, no que tange ao número de curtidores. Desse modo, a métrica de “número de curtidores”, de forma isolada, aparentemente não tem relação direta com a popularidade do candidato e, consequentemente, não influencia a intenção de voto.
Hipótese 2- Os candidatos que possuem uma taxa de engajamento maior tiveram um desempenho melhor na pesquisa espontânea;
Taxa de engajamento x voto espontâneo Com exceção de Ciro Gomes, Lula e Bolsonaro computaram maiores taxa de engajamento no Facebook e maiores intenções de voto espontâneo, o que invalida a hipótese parcialmente. Evidente que não se pretende aqui dizer que a taxa de engajamento resultou no maior percentual de voto. Sinaliza-se apenas para que estudos futuros possam verificar possíveis intersecções entre os indicadores.
Taxa de engajamento x voto espontâneo Contudo, a taxa de engajamento, quando comparada ao número de curtidores, possibilita compreender melhor a capacidade do candidato gerar conversas, despertar sentimentos e emoções em seus respectivos seguidores. Porém, não deve ser a única métrica para análise. Observar a taxa de engajamento permite também identificar a força de cada rede, o poder de mobilização dos apoiadores e detratores, sejam na própria página do candidato ou ações coordenadas no canal do adversário. Por fim, cabe destacar que a alta taxa de engajamento de Ciro Gomes - apesar de figurar com apenas 1% no voto espontâneo - requer uma análise mais aprofundada para identificar, por exemplo se existe um “efeito bolha” ou se a ação de detratores (durante a coleta dos dados identificou-se inúmeros usuários na defesa de Bolsonaro nas transmissões ao vivo) impactam na taxa de engajamento, por exemplo.
Hipótese 3- Os candidatos que apresentam índice de sentimento positivo figuram melhor na pesquisa espontânea;
Índice de Sentimento A terceira hipótese também foi invalidada. Michel Temer, que possui a maior taxa de índice de sentimento positivo figura apenas com 1% na pesquisa IBOPE. Tal resultado pode ser explicado por uma agenda mais institucional do que eleitoral. Lula e Bolsonaro, que lideram a pesquisa de intenção de voto, possuem a 2ª e 5ª colocação no ranking de sentimento. É preciso analisar com mais profundidade o impacto de apoiadores e detratores no índice de sentimento.
Índice de Sentimento Ciro Gomes, o terceiro colocado no índice de sentimento, registra apenas 1% no voto espontâneo. Ainda que não tenha sido a metodologia deste estudo, que se resume apenas a análise quantitativa, a partir das observações das interações foi possível identificar uma forte ação dos apoiadores de Bolsonaro na página de Ciro. Para os candidatos que possuem mandato, ainda é preciso diferenciar se os sentimentos expressos dizem respeito ao gestor ou ao postulante à Presidência da República, uma resposta que precisa ser respondida por estudos futuros. No caso de Michel Temer, a sua avaliação positiva está mais direcionada aos seus atos administrativos do que pela sua condição político-eleitoral. Além disso, o presidente recebeu apoios durante o processo cirúrgico, que contribui para a elevação do sentimento positivo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Das limitações A pesquisa de opinião pública sobre as eleições 2018, realizada pelo IBOPE, deve ser vista apenas como um input para compreender a presença e performance dos candidatos no Facebook. Nem a pesquisa do IBOPE, nem a pesquisa nas redes sociais devem ser utilizadas, isoladamente, na tomada de decisão. Cada uma fornece indicadores e visões específicas, que somadas podem auxiliar os gestores das campanhas políticas a elaborar estratégias seja no campo da comunicação ou no tabuleiro político. As correlações e cruzamentos feitos neste estudo não podem ser lidos como intersecções absolutas, tendo em vista que, enquanto o IBOPE realiza uma pesquisa de campo, com variáveis, cotas amostrais - idade, gênero, instrução, atividade - a pesquisa no site de rede social considerou o comportamento dos usuários ao longo do mês, sem nenhum tipo de estratificação e variáveis.
Das limitações Por se analisar os “rastros”, apenas de forma quantitativa, existe uma limitação metodológica e conjunto de respostas que são possíveis de se responder. A partir das reações dos usuários, nas páginas oficiais dos respectivos candidatos, buscou-se compreender como as métricas, taxa de engajamento e índice de sentimento podem (ou não) auxiliar a compreensão da jornada do eleitor e oferecer reflexões de como associar diversas camadas de dados (off e on) para compreender a opinião pública. O presente estudo concentrou-se apenas nas reações realizadas nas páginas dos candidatos. Analisar as reações é apenas uma parte possível da investigação dos dados em sites de redes sociais. Monitoramento, netnografia, análise de redes, influenciadores e a própria análise conteúdo podem oferecer outras respostas para melhor se compreender os dados (e as pessoas) nas mídias sociais.
Dos achados O número de curtidores de um candidato, analisado de forma isolada, revela-se a métrica menos importante. Evidente, que quanto maior o crescimento da base de curtidores, maior o alcance das informações, contudo mais relevante do que quantas pessoas curtiram a página, é entender como elas reagem com a página/candidato. Desse modo, a taxa de engajamento e análise das conversas conseguem potencializar o entendimento sobre os anseios e opiniões dos eleitores. Despertar emoções, envolver os usuários e torná-los defensores da candidatura requer estratégia de relacionamento e, principalmente, um conteúdo cada vez mais concatenado com o público-alvo. Para tanto é preciso se aferir o êxito de determinado discurso, proposta e atuação do candidato em um evento. Por isso acompanhar, constantemente, o índice de sentimento é uma métrica importante para identificar pontos fortes e fracos na campanha.
Dos achados Monitorar a própria casa é o primeiro passo antes de olhar, pelo o muro, a casa do vizinho. Ao se analisar a própria página é possível identificar as redes de apoiadores e detratores, clusterizar a audiência, avaliar o impacto e a recepção de determinado argumento e, o mais importante, é um canal privilegiado de diálogo, não apenas para os “convertidos” mas também para os usuários que estão indecisos, que segundo a pesquisa do IBOPE é de 28%, entre os que acessam a internet. Monitorar a página possibilita ainda compreender as melhores estratégias de conteúdo, seja o formato que a informação será apresentada, como horário nobre para postagem, dados demográficos dos seguidores e, principalmente, o índice de sentimento que é uma das métricas mais importantes para avaliar a imagem percebida do candidato durante a eleição.
Próximos passos Este estudo faz parte do projeto “Painel Eleitoral” coordenado pelo LabCaos, que irá acompanhar, continuamente, os candidatos à Presidência da República. O acompanhamento permitirá, progressivamente, a análise de séries temporais e a evolução do comportamento tanto dos usuários de sites de mídias sociais como dos atores políticos, bem como estudos temáticos sobre determinado assunto. É necessário ainda evoluir no método e procedimentos para a análise de performance, conversas e sentimento nas mídias sociais. O aprendizado obtido a cada estudo resultará no aprimoramento das pesquisas publicadas pelo LabCaos, portanto se você chegou até aqui deixe a sua impressão. Se tiver alguma ideia entre em contato. Podemos fazer o próximo estudo junt@s!
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