18, 19 e 20 de abril de 2016 1
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Fundação Armando Alvares Penteado - FAAP 18 a 20 de abril 2016
COORD. Prof. Paulo Bruna (FAUUSP FAAP) Prof. Leandro Medrano (FAUUSP) Prof. Josep Maria Montaner (MLVSSXXI / Ayuntamiento de Barcelona) Profa. Zaida Muxí Martínes (MLVSSXXI / ETSAB-UPC) Profa. Renata Coradin (MLVSSXXI/ FIAM-FAAM)
1A ED. | 2016 Master Laboratório de la Vivienda Sostenible del Siglo XXI Universidade Politécnica da Catalunya (UPC) Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP).
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APRESENTAÇÃO | PRESENTACIÓN Josep Maria Montaner | Zaida Muxí Paulo Bruna | Leandro Medrano Renata Coradin
CONFERÊNCIAS | CONFERENCIAS 20
Eric Mumford THE HISTORICAL DISCOURSES OF LATE CIAM AND HUMAN SETTLEMENTS IN HISTORICAL PERSPECTIVE
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Franziska Ulmann CHOREOGRAPHY OF LIFE
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Raúl Valles URUGUAY El cooperativismo de vivienda, el trabajo de los técnicos y el sistema como instrumento para la rehabilitación urbana.
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Carlos Eduardo Dias Comas OSCAR NIEMEYER E A HABITAÇÃO COLETIVA DE INTERESSE SOCIAL
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Raquel Rolnik O QUE ESPERAR DA POLÍTICA URBANA EM 2016? OU O LADO BOM DA CRISE
66
Núria Parlon Gil RESILIENCIA LOCAL, DEMOCRACIA Y EMPODERAMIENTO; MÁS ALLÁ DE LOS LÍMITES FORMALES DE LA PLANIFICACIÓN URBANÍSTICA: La experiencia de rehabilitación en Santa Coloma de Gramenet.
70
Elisabete França URBANIZAÇÃO DE FAVELAS, O DIREITO À ARQUITETURA
72
Matias R. Alonso Ron SUBSECRETARIA DE HÁBITAT E INCLUSIÓN Gobierno de la Ciudad de Buenos Aires.
76
Andrade Morettin Arquitetos Associados REURBANIZAÇÃO DE FAVELA JARDIM LIDIANE
5
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ArquiTraço HIS INTEGRADA À URBANIZAÇÃO DE FAVELAS
86
Valeria del Puerto DOS EDIFICIOS DE VIVIENDA COLECTIVA EN BUENOS AIRES
90
LaCol LA EXPERIENCIA DE LA BORDA De la promoción al proyecto
99
1. TEORIA E HISTÓRIA DA HABITAÇÃO COLETIVA | TEORÍA E HISTORIA DE LA VIVIENDA COLECTIVA Introdução por | Intodución por Josep Maria Montaner | David H. Falagán
102
Manuela Uribe Buitrago | Enviago, Colombia COREOGRAFÍAS DE PAISAJE EN LA ARQUITECTURA DE LA VIVIENDA COLECTIVA
108
Telma de Barros Correia | São Paulo, Brasil INDÚSTRIA E HABITAÇÃO COLETIVA: BRASIL, 1900-1950
114
Esteban Jaramillo | Christine Van Sluys | Quito, Equador LA GRANJA Y SOLANDA Dos proyectos urbano residenciales en Quito
120
126
130
136
Lívia Paula Zanelli de Morais | David Moreno Sperling | São Paulo, Brasil TEORIA E PROJETO: Habitação através das pesquisas do MVRDV Larissa Casemiro Fiorin | Luiz Recamán | São Paulo, Brasil HABITAÇÃO SOCIAL E URBANIZAÇÃO NA INDUSTRIALIZAÇÃO DE SÃO PAULO: O primeiro momento brasileiro de interferência estatal no âmbito habitacional Lilian Pieres Staningher | Ana Maria Reis de Goes Monteiro | Campinas, Brasil BATATUBA: Vila operária das indústrias Bata no Brasil Giselle Cerise Gerson | Maria de Jesus Britto Leite | Recife, Brasil AS PREFERENCIAIS AMBIENTAIS DE MORADORES NA CONCEPÇÃO DOS ESPAÇOS LIVRES COLETIVOS EM ÁREAS DE BAIXA RENDA
144
Camilla Mayra Heck Maia de Abreu | Porto Alegre, Brasil LUGAR DO BRINCAR NA INFÂNCIA URBANA Análise do ambiente e do comportamento infantil em áreas de lazer de edifícios residenciais multifamiliares em Porto Alegre-RS.
150
Cristiana Eusepi | Veneza, Itália LA MAISON TURQUE Forme e modi dell’abitare a Istanbul
156
Ugo Rossi | Treviso, Itália THE ROAD AND THE HOUSE The possible salvation of urban living
162
Atxu Amann | Gonzalo Pardo | Madri, Espanha CUERPO, SALUD Y PLACER EN EL ESPACIO DOMÉSTICO CONTEMPORÁNEO
168
Matilde Plastina | Roma, Itália ABITARE IL TEMPO Lo spazio liquido della residenza
174
Luz Paz Agras | Coruña, Espanha VIVIR EN LA RUINA La construcción de vivenda como testimonio de una época
180
Graziano Brau Pani | Barcelona, Espanha HOW TO ANALYSE AND EVALUATE MAT-HOUSING
188
Rafaela Nunes Mendonça | Simone Barbosa Villa | Uberlândia, Brasil OS MODOS DE MORAR EM APARTAMENTOS MÍNIMOS CONTEMPORÂNEOS: Análises e reflexões para obtenção de sua qualidade
196
Denise Antonucci | São Paulo, Brasil ARQUITETURA E HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL A Produção Estatal da Moradia em São Paulo
204
Graziela de Oliveira Becker| Porto Alegre, Brasil VILA FLORES Da produção rentista a centro cutural colaborativo
6
210
Kátia Fernanda Marcheto | Porto Alegre, Brasil INTERVENÇÕES EM EDIFÍCIOS HABITACIONAIS DO PATRIMÔNIO MODERNO: O caso do Parque Guinle
216
Juan Carlos Bamba Vicente | Guayaquil, Equador NI ESPACIO PÚBLICO, NI ESPACIO PRIVADO: ESPACIO COLECTIVO Del soportal de la manzana cerrada colonial al espacio libre del bloque lineal moderno en la ciudad de Guayaquil
226
Fernanda Fontana De Gasperin | Leicester, United Kingdome FLEXIBILITY AND MASS HOUSING The modernist legacy to the present day
228
Luiz Augusto Maia Costa | Caio Barbato Maroso | Campinas, Brasil REFLEXÕES ACERCA DOS EMPREENDIMENTOS DO PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA A PARTIR DAS RELAÇÕES SOCIOESPACIAIS GERADAS IN LOCO. Estudo de Caso de Jaguariúna/SP.
234
Marcela Marques Abla | Rio de Janeiro, Brasil PERSPECTIVA DE UMA POLITICA HABITACIONAL POR QUATRO URBANISTAS DO SÉCULO XX Elizabeth Denby, Carmem Portinho, Margarete Schütte-Lihotzky e Catherine Bauer.
240
Ibrahim Massaru de Borba | Luiz Antonio Recamán de Barros | São Paulo, Brasil CASAS DE ARTIGAS Produção residencial e sua inserção no meio urbano
248
Jaume Asensi Carles | Barcelona, Espanha REVISIÓN HISTÓRICA DE LOS ESPACIOS COMUNES EN EDIFICIOS DE VIVIENDA COLECTIVA Bases para su comprensión y desarrollo
7
254
Alejandro J. Peimbert | Juan Carlos García | Mexicali, México IMAGINARIOS DE LA VIVIENDA COLECTIVA EN MÉXICO: Un caso en la frontera noroeste
260
Ángela Cardiel Casado | Mexicali, México SOBRE NOMBRES DE ESPACIOS O de la utilidad del “llamar” en la vivienda
266
Mateus dos Santos Batista | Matheus Moura Martins| Marielle Rodrigues Pereira | Palmas, Brasil TAQUARUÇU: Desafios para a arquitetura vernacular em sua paisagem
272
Ruslan Muñoz Hernández | Habana, Cuba EL QUEHACER CONSTRUCTIVO DESARROLLADO POR EL INSTITUTO NACIONAL DE AHORRO Y VIVIENDA (INAV) EN LA HABANA (1959-1962)
279
2. A HABITAÇÃO COMO FORMADORA DA CIDADE | VIVIENDA COMO GENERADORA DE CIUDAD Introdução por | Intodución por Paulo Bruna | Renata Coradin | Alessandra Bedolini
324
Patricia Reus | Jaume Blancafort | Murcia, Espanha VISTABELLA, DE BARRIO SIMBÓLICO PARA LA FALANGE A ESCENARIO DE LAS EMERGENCIAS POLÍTICAS POST 15M EN MURCIA, ESPAÑA La forma urbana para comunidades fuertes
332
Jorge L. Vieira | Rúbia C. Peterson | Silvio B. de Abreu Filho | Porto Alegre, Brasil HABITAÇÃO COLETIVA NA FRONTEIRA DA TRAMA URBANA: CONSTRUIR CIDADES OU ENCLAVES?
284
Giovanna H.B. Albuquerque | Luiz Recaman | São Paulo, Brasil HABITAÇÃO SOCIAL E URBANIZAÇÃO NA INDUSTRIALIZAÇÃO DE SÃO PAULO: O Edifício Japurá de Eduardo Kneese de Mello
292
Tiago Augusto da Cunha | Maristela Siolari | Viçosa, Brasil INDÍCIOS DE IMPRECISÃO ENTRE PÚBLICO ALVO E ATINGIDO PELO PROGRAMA “MINHA CASA MINHA VIDA” EM SÃO PAULO
338
Luana Rocha de Souza | Danielle Costa Guimarães | Macapá, Brasil PROPOSTA DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL PARA MACAPÁ - AP Modo de vida, inserção urbana e apropriação do espaço público
300
Maria Paula Albernaz | Rio de Janeiro, Brasil FORMAS DE OCUPAÇÃO DO SOLO NA TIJUCA Bairro residencial da cidade do Rio de Janeiro
344
Amanda Arcuri | Marcos Favero| Rio de Janeiro, Brasil PÓS-DESASTRE: HABITAÇÃO E DESENHO URBANO
350
Ricardo Socas Wiese | Joana Pinotti Zin | Erechim, Brasil A POTENCIALIDADE DA HABITAÇÃO COLETIVA UNIVERSITÁRIA NA CONFIGURAÇÃO DOS ESPAÇOS UNIVERSITÁRIOS E SUA RELAÇÃO COM A CIDADE CONTEMPORÂNEA
356
Amparo Casares Gallego| Corunha, Espanha HACIA UNA PANIFICACIÓN URBANA INCLUSIVA Concurso Internacional de Arquitectura, Desarollo Urbano y Vivienda Sostenible, Guanajuato, México, 2002
362
Jaume Asensi Carles | Barcelona, Espanha ESPACIOS COMUNES Y CIUDAD Lugares de Relación entre los edificios de vivienda y el entorno urbano
368
Fernando C. N. Minto | Kelson V. Senra | Thomas A. J. Burtscher| Rio de Janeiro, Brasil MINHA CASA MINHA VIDA SUSTENTÁVEL - DUQUE DE CAXIAS, RJ Um debate sobre a qualidade na produção do espaço urbano
306
Maria Cristina da Silva Schicchi | Campinas, Brasil REABILITAÇÃO NOS CENTROS E BAIRROS HISTÓRICOS RESIDENCIAIS: A EXPERIÊNCIA RECENTE DE COOPERAÇÃO INTERNACIONAL PARA O DESENVOLVIMENTO ENTRE AMÉRICA LATINA E ESPANHA
312
Nicola Barbugian | Padova, Itália ANTONIO SANT’ELIA. L’IMMAGINE DELLA CITTÀ NUOVA Il rapporto tra architettura e infrastrutturazione metropolitana nem “nuovissimo mondo meccanico” all’inizio del XX secolo
316
Laboratorio de Investigación en Teoria y Práctica Arquitectónica | Buenos Aires, Argentina SUSTITUCION PROGRESSIVA DE ASENTAMIENTOS INFORMALES Método y aplicación
8
374
María Elisa Rocca| Buenos Aires, Argentina LA CONSTRUCIÓN DE LA CATEGORÍA DE COLUGAR Estudio comparado entre los edificios de vivienda Walden 7 y el Barrio Parque Los Andes
382
Delia Pasella | Maurizio Serra| Alghero, Itália INTERVENTI RESIDENZIALI PUBBLICI NELLA CITTÀ STORICA IN ITALIA Tentativi contemporanei di riconquista sociale dell’edilizia minore della città storica in spopolamento
388
394
398
404
412
416
Andrés Cánovas | Nicolás Maruri | Atxu Amann | Madri, Espanha LA CONSTRUCCIÓN ESTRATÉGICA DEL LUGAR: El contexto desde una perspectiva de forma
422
Marlon Paiva | Maria Cristina Schicchi | São Paulo, Brasil PREÂMBULO DE UMA DEMOLIÇÃO: Do são vito em São Paulo ao Aleixo no Porto
Pablo Benetti | Maria Lucia Pecly | Solange Carvalho | Rio de Janeiro, Brasil PROTÓTIPOS MINHA CASA+SUSTENTÁVEL Proposição, avaliação, sistematização e disseminação de soluções de projeto que contribuam para elevar o desempenho de empreendimentos de Habitação de Interesse Social (HIS) do Programa Minha Casa, Minha Vida.
428
Bruna Rodrigues de Oliveira e Fabrício de Francisco Linardi | Sorocaba, Brasil HABITAÇÃO SOCIAL E VAZIOS URBANOS EM ÁREAS CENTRAIS Contribuição para a resolução de problemas urbanos integrados na cidade de Sorocaba.
Simone B. Villa | Gabriela O. Bertuluci | Juliano C. C. Oliveira Batista. | Urberlândia, Brasil ESTRATÉGIAS DE ADENSAMENTO HORIZONTAL E VERTICAL E SUSTENTABILIDADE PARA HABITAÇÃO SOCIAL: A experiência do projeto Mora
434
Geovani Rafael Batista | Rosângela Favero |Santa Catarina, Brasil. ANÁLISE SOBRE A REALIDADE E PROPOSTAS DE MELHORIAS PARA AS CONDIÇÕES HABITACIONAIS DE XANXERÊ, SANTA CATARINA, BRASIL
442
Alexandre Fabiano Benvenutti | São Paulo, Brasil REVITALIZAÇÃO DO CENTRO: Preservação do patrimônio histórico, infraestrutura e espaço público
448
Tainá Silva Melo | Maceió, Brasil OS EMPREENDIMENTOS RESIDENCIAIS FECHADOS DO PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA: Fronteiras à (e/ou espaços de) sociabilidade da cidade contemporânea?
454
Daniela Andrade Monteiro Veiga | Bahia, Brasil TODOS JUNTOS E MISTURADOS, INDISSOCIÁVEIS, NA PRODUÇÃO DAS CIDADES: A capacidade da provisão habitacional pública e privada no Brasil
Jones Vieira Pinto | Nirce Saffer Medvedovski | Yuri da Silva Bastos | Pelotas, Brasil CONTRIBUIÇÕES PARA ANÁLISE DO PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA PARA UMA CIDADE DE PORTE MÉDIO: Pelotas-RS – estudos sobre os agentes promotores e inserção urbana Camila Caetano Feliciano | Celina Fernandes Almeida Manso | Goiânia, Brasil UMA NOVA PROPOSTA HABITACIONAL A PARTIR DO RESGATE DO SENTIDO DO LUGAR: O caso das habitações de interesse social na comunidade quilombola urbana Jardim das Cascatas em Aparecida de Goiânia, Goiás, Brasil. Danielle Costa Guimarães | Angela Gordilho-Souza | Bahia, Brasil HABITAÇÃO, URBANIZAÇÃO E DESURBANIZAÇÃO: Como serão as cidades brasileiras pós MCMV?
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460
466
Gilda C. Bruna | Ivan A. Pereira | Nathalia da Mata M. Pinto | São Paulo, Brasil HABITAÇÃO COLETIVA SUSTENTÁVEL MOLDANDO A CIDADE Sustentabilidade na Habitação em São Caetano do Sul Daiane Regina Valentini | Janete Facco | Queila Rissi Conde | Chapecó, Brasil HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL E MOBILIDADE URBANA EM CHAPECÓ-SC Infraestrutura urbana e acessibilidade a equipamentos públicos de lazer, saúde e educação
472
Ana Cristina S. Morais | Luiza P. F. Guerino | São Paulo, Brasil CONJUNTOS RESIDENCIAIS NOVE DE JULHO E SANTA CRUZ: O IAPB na urbanização e industrialização de São Paulo
480
Fabrício Arriaga | Niteroi, Brasil PRODUÇÃO HABITACIONAL EM NITERÓI/RJ Habitação sobre um molde de cidade possível
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Filomena Nascimento | Lisboa, Portugall PARA A COMPREENSÃO DO AMBIENTE CONSTRUÍDO Mumbai, uma casa chamada cidade
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HABITAÇÃO COLETIVA SUSTENTAVEL PARA IDOSOS Célia Regina M. Meirelles | Gilda C. Bruna | Renata Lima de Mello |São Paulo, Brasil
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QUALIDADE AMBIENTAL EM HIS: Uma avaliação do programa Minha Casa Minha Vida Simone B. Villa|Rita De Cássia P. Saramago|Lucianne C. Garcia|Uberlândia, Brasil
522
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA NO CONJUNTO HABITACIONAL CIDADE VERDE Débora Cristina Araujo | Simone Barbosa Villa | Uberlândia, Brasil
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UMA ARTICULAÇÃO ÉTICO-POLÍTICA PARA A SUSTENTABILIDADE: O grito de uma minoria na obra de Lina Bo Bardi e Glauber Rocha Iazana Guizzo, Leonardo Francisco Amaral e Hilton Berredo | Rio de Janeiro, Brasil
532
AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO DA QUALIDADE ESPACIAL E AMBIENTAL DE HABITAÇÕES COLETIVAS VERTICALIZADAS DESTINADAS A CLASSES MÉDIAS Simone B. Villa|Rita De Cássia P. Saramago|Caio A. A. Silva|Uberlândia, Brasil
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RECICLAGEM DE EDIFÍCIOS PARA HABITAÇÃO SOCIAL: Aproximação entre experiências europeias e brasileiras Renata Ocanha Góes | Maria Cristina da Silva Schicchi | Campinas, Brasil
Pablo Medinaceli | Victoria Fernández Bruniar | CABA, Argentina MUTACIONES URBANAS
Plan estratégico para el desarrollo de viviendas en ciudades emergentes. Proyecto de localización y diseño de viviendas masivas.Transformación urbana de la ciudad de Añelo, Provincia de Neuquén, Argentina y sus zonas de influencia en la Patagonia.
498
3. AVALIAÇÃO DOS CRITÉRIOS DE SUSTENTABILIDADE | EVALUACIÓN DE CALIDAD Y SOSTENIBILIDAD Introdução por | Intodución por Leandro Medrano | Cássia Bartsch Nagle
Olivia de Oliveira | Ana Fernandes | Salvador, Brasil REGENERAÇÃO DE VAZIOS CONSTRUIDOS EM AREAS URBANAS CENTRAIS DE SALVADOR Alternativas e oportunidades para a produção de habitação-cidade.
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Rúbia Carminatti Peterson | Jorge Luiz Vieira | Fernando Barth | Lisiane Ilha Librelotto | Criciúma, Brasil AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS PROJETUAIS E CONSTRUTIVOS EM HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL EM CRICIÚMA/SC
590
Mariana Porto Viana | Ana Raquel Avelino Diniz Gonzaga | Vaneli Santos Neves | Cinthia Mayara Silva | Campina Grande, Brasil A UTILIZAÇÃO E REUSO DE ÁGUA NAS ÁREAS COMUNS DE CONDOMÍNIOS RESIDÊNCIAS HORIZONTAIS NA CIDADE DE CAMPINA GRANDE, PARAÍBA
550
Lorenna Aleixo Lobo | Darja Kos Braga | Manaus, Brasil ESTUDO DE VIABILIDADE DE APLICAÇÃO DO SELO CASA AZUL EM HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL DO PROGRAMA PROSAMIM EM MANAUS
598
558
Ricardo Socas Wiese | Eduarda Beatriz Valandro da Silva | Erechim, Brasil HABITAÇÃO COLETIVA UNIVERSITÁRIA E SUSTENTABILIDADE: Reflexões acerca dos espaços da moradia estudantil, baseadas em critérios qualitativos de sustentabilidade.
Liena Nieves Pelegrín Breffe | Dayra Gelabert Abreu | Havana, Cuba ESPACIOS DE USO COMÚN EN EDIFICIOS DE APARTAMENTOS EN ZONAS COMPACTAS DE LA HABANA. UNA PROPUESTA SUSTENTABLE PARA LA CIUDAD
564
Poliana Figueira Cardoso | Javier Mazariegos Pablos | São Carlos, Brasil CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL DE HABITAÇÕES NO BRASIL E AS FASES DE CICLO DE VIDA
570
Rosa Maria Locatelli Kalil | Adriana Gelpi | Passo Fundo, Brasil HABITAÇÃO SOCIAL E NOVAS TECNOLOGIAS: Desafios de inovação e sustentabilidade
578
Carla Campos | Lucas Nunes Oliveira | Marielle Rodrigues Pereira | Palmas, Brasil MAPEAMENTO DA ARQUITETURA DE TERRA NA ROTA DAS CACHOEIRAS: Taquaruçu e um olhar atento à sua arquitetura popular
584
Jadiane Beilfuss | Rosa Karina Carvalho Cavalcante | São Cristóvão, Brasil CASA HIDELMAR SANTOS ARAÚJO: Iniciativa de sustentabilidade e problemas de conservação
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4. HABITAÇÃO E INCLUSÃO SOCIAL | VIVIENDA E INCLUSIÓN SOCIAL 607
612
Introdução por | Intodución por Zaida Muxí |Daniela Arias | Roser Casanovas
Maria Carolina Maziviero | Alane Santos Silva | São Paulo, Brasil O CASO DO COMPLEXO PARAISÓPOLIS EM TRÊS GESTÕES: Diferenças conceituais dos diversos programas de urbanização
618
Ligya Hrycylo Bianchini | Maria Cristina Da Silva Schicchi | São Paulo, Brasil AS POLÍTICAS DE INCLUSÃO SOCIAL NO CENTRO DE SÃO PAULO: Um desafio a ser enfrentado
624
Débora de Camargo Cavalheiro | Alex Abiko | São Paulo, Brasil ANÁLISE DO TRABALHO SOCIAL EM SEUS EIXOS DE TRABALHO E RENDA NO PROJETO DE REASSENTAMENTO URBANO DA SERRA DO MAR/ESTADO DE SÃO PAULO
630
Maria Augusta Justi Pisani | Ricardo Carvalho Lima Ramos | São Paulo, Brasil HABITAÇÃO SOCIAL EM EDIFÍCIOS PÚBLICOS DESOCUPADOS: Uma possibilidade sustentável para o centro velho de São Paulo
636
Mónica Mejía-Escalante | São Paulo, Brasil | Medellín, Colômbia LOS DESPLAZADOS NO PUEDEN DISFRUTAR DE UNA VIVIENDA ADECUADA Situaciones desde sentencias de tutela
642
Daniella Burle de Loiola | São Paulo, Brasil CONJUNTO HABITACIONAL OU CASA EVOLUTIVA? A vivienda elemental no Chile e sua capacidade de promover a integração social
648
Alessandra Brito, Luciana Martins e Geisa Bugs | Novo Hamburgo, Brasil (DES) BORDES URBANOS: Estudo dos vazios x habitação social em Novo Hamburgo/RS
654
Nelson Mota | Delft, Holanda HOUSING WITH THE PEOPLE The Emancipatory Potential of Social Architecture
660
Carlos Lima | Marcela Abla | Marcelo Andreoli | Rio de Janeiro, Brasil DESAFIOS E DISSONÂNCIAS DA HABITAÇÃO SOCIAL NO RIO DE JANEIRO: O caso do Complexo do Alemão.
666
Maria Paula Albernaz | Juliana Canedo | Fernando Minto | Rio de Janeiro, Brasil TRANSFERÊNCIA DIALÓGICA DE SABERES PARA MELHORIA HABITACIONAL Urbanização da Comunidade Indiana na cidade do Rio de Janeiro
672
Rodrigo C. Palma | Pablo C. Benetti | Renata Gracie | Janaina M. Santos | Rio de Janeiro, Brasil HABITAÇÃO SOCIAL E MOBILIDADE URBANA: O Programa Minha Casa Minha Vida na cidade do Rio De Janeiro
678
Mariana R. Castro | Doris Catharine C. Knatz Kowaltowski | Daniel de Carvalho Moreira | Vanessa Gomes da Silva | Campinas, Brasil AS PESQUISAS SOBRE O PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA
688
Solange Carvalho | Tatiana Terry | Daniela Javosky | Rio de Janeiro Brasil MORAR CARIOCA VERDE – URBANIZAÇÃO DAS FAVELAS DA BABILÔNIA E CHAPÉU MANGUEIRA Reflexões sobre o discurso e resultados do projeto-piloto em sustentabilidade para as favelas cariocas
694
Francesca Sarno | Alex Kenya Abiko | Maria Argenti | Roma, Itália | São Paulo, Brasil PROCESSI NEBULOSI PER PROBLEMATICHE REALI. L’INCLUSIONE SOCIO-SPAZIALE NEL PROGETTO PARAISÓPOLIS. Avaliação Pós-Ocupação e Logica Fuzzy come metodologia di analisi nei Programmi di urbanizzazione di favelas.
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702
Felipe de Freitas Moreira | São Paulo, Brasil HELIÓPOLIS E AS ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO DA CIDADE REAL
710
Emilia Rosmini | Maura Percoco | Maria Argenti | Roma, Itália IMPARANDO DALLE OCCUPAZIONI INFORMALI Progetti pilota di autocostruzione e autorecupero a fini residenziali a Roma
718
Emma López-Bahut | Coruña, Espanha ALTERNATIVAS EN LA VIVIENDA COLECTIVA DESDE LA AUTOGESTIÓN DE LA CIUDADANÍA. DIFERENTES CASOS DE ESTUDIO EN ESPAÑA.
724
Natasha Cabrera, Damiana Pacheco, Anabel Sarmiento | Cuenca, Equador POSIBILIDADES DEL CONVENTILLO COMO VIVIENDA COLECTIVA EN CENTROS HISTÓRICOS DE AMÉRICA LATINA Cuenca – Ecuador como caso de estudio
730
Karla Christina Batista de França | Brasília, Brasil HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL E GOVERNANÇA URBANA: Desafios e potencialidades na Área Metropolitana de Brasília
736
Debora Sanches e Angélica Alvim | São Paulo, Brasil HABITAÇÃO SOCIAL NA ÁREA CENTRAL DE SÃO PAULO REALIZADA DE FORMA PARTICIPATIVA
740
Stephan Treuke | Bahia, Brasil A REPRODUÇÃO DA SEGREGAÇÃO RESIDENCIAL NA INTERSEÇÃO DAS POLÍTICAS URBANAS SÓCIOHABITACIONAIS: O (des)caso de Novos Alagados (Salvador, Bahia)
746
Maria Augusta Justi Pisani e Gilda Collet Bruna| São Paulo, Brasil ANÁLISE PÓS-OCUPAÇÃO DO EDIFÍCIO RIACHUELO DECORRIDOS 7 ANOS DE SUA REABILITAÇÃO.
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752
Jorge Humberto Flores Romero | Juan Carlos Lobato Valdespino. | Morelia, México VIVIENDA LAB - LA VIVIENDA COMO MANIFESTACIÓN DE IDENTIDAD CULTURAL.
760
Priscila González Pereira | Heredia, Costa Rica MUJER Y ÁMBITOS DE LIBERTAD: Espacios alternativos de reintegración social a partir del diseño participativo con mujeres encarceladas en Costa Rica.
768
Fabricia Zulin | São Paulo, Brasil CONJUNTOS VERTICALIZADOS “MINHA CASA MINHA VIDA” CONDUZIDOS POR ENTIDADES: Casos na Região Metropolitana de São Paulo
774
Lara Isa Costa Ferreira | Karina Oliveira Leitão | São Paulo, Brasil O DIAGNÓSTICO NA URBANIZAÇÃO DE ASSENTAMENTOS PRECÁRIOS: Notas a partir de experiências recentes no Brasil
778
Mariana Cicuto Barros | Catharina Cristina Teixeira, Cristina Boggi Da Silva Raffaelli, Miguel Antonio Buzzar, Nathalia Nicodemos Peixoto De Oliveira e Rafael Urnhani | São Paulo, São Carlos, Brasil PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA ENTIDADES Possibilidades De Participação No Acesso A Terra Urbanizada – Modalidade Compra Antecipada
782
Ana Gabriela Godinho Lima | Mario Biselli | São Paulo, Brasil INOVAÇÃO E TRADIÇÃO NO PROJETO DA GLEBA G - CONJUNTO RESIDENCIAL HELIÓPOLIS
788
Ana Paula Antunes Medina | Gabriela Morais Pereira | Laguna, Brasil “A VOZ DO PESCADOR:” Estudo para proposta de habitação social coletiva em uma comunidade tradicional pesqueira na cidade de Laguna/SC
794
Fabrício O. Zanoli | Barbara Lopes Barbosa | Salvador, Brasil GAMBOA DE BAIXO, A COMUNIDADE FORTIFICADA: Resistência e ocupação popular diante da prática da gestão pública em Salvador-BA
800
Regina Miliorança | Daiane Regina Valentini | Chapecó, Brasil A ARQUITETURA E O URBANISMO COMO PROMOTORES DA DIGNIDADE SOCIAL Cenários para a Habitação de Interesse Social no Município de Xaxim-SC
806
Juan Carlos Lobato Valdespino | Morelia, México ENTORNOS URBANOS UNIVERSITARIOS La vivienda para estudiantes en barrios universitarios. Caso de estudio, Campus Universitario de la UMSNH, en Morelia, Michoacán, México.
814
André Luiz Barros da Silva | Salvador, Brasil HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL PARA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA EM SALVADOR-BA Processos e resultados da atuação da Residência Profissional em Arquitetura, Urbanismo e Engenharia da UFBA.
822
Isaque Fontes Silva | Rair Santos Ribeiro | Marielle Rodrigues Pereira | Palmas, Brasil (RE) APREENDENDO O BARRO: CASAS DE TERRA EM TAQUARUÇU
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APRESENTAÇÃO | PRESENTACIÓN
O I Congresso Internacional de Habitação Coletiva Sustentável ocorreu na Escuela Técnica Superior de Arquitectura de Barcelona (ETSAB-UPC), entre os dias 25 e 27 de fevereiro de 2014, em Barcelona, no marco da décima edição do curso “Master Laboratório de la Vivienda Sostenible del Siglo XXI (MLVSSXXI)”. Em seu texto de apresentação, os diretores e organizadores do I Congresso deixaram anunciada a intensão de que houvessem edições sucessivas. Indo ao encontro desse forte desejo, o II Congresso Internacional de Habitação Coletiva Sustentável se realiza em São Paulo, entre os dias 18 e 20 de abril de 2016, organizado pelas Faculdades de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP) e da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP). A iniciativa dos Congressos Internacionais de Habitação Coletiva Sustentável tem como objetivo oferecer aos estudantes, profissionais e membros da academia, dedicados a temas relacionados à arquitetura e ao urbanismo, um espaço de reflexão de caráter internacional, sobre a habitação coletiva e suas relações com a cidade contemporânea e histórica. O evento deverá ocorrer a cada dois anos, em cidades nas quais o MLVSSXXI mantem relações acadêmicas, como Quito, Cidade do México, Buenos Aires, Veneza ou Alghero, que podem ser excelentes candidatas para receber o III Congresso.
El I Congreso Internacional de Vivienda Colectiva Sostenible tuvo lugar en la Escuela Técnica Superior de Arquitectura de Barcelona (ETSAB-UPC) del 25 al 27 de febrero de 2014 en el marco de la 10a edición del Máster Laboratorio de la Vivienda Sostenible del Siglo XXI (MLVSSXXI). En su texto de presentación, los directores y organizadores del I Congreso ya anunciaban la intención de que hubiera ediciones sucesivas. Yendo al encuentro de este fuerte deseo, el II Congreso Internacional de Vivienda Colectiva Sostenible se realiza en São Paulo, entre los días 18 y 20 de abril de 2016, organizado por las Facultades de Arquitectura y Urbanismo de la Universidad de São Paulo (FAUUSP) y de la Fundación Armando Alvares Penteado (FAAP). La iniciativa de los Congresos Internacionales de Vivienda Coletiva Sostenibles tiene como objetivo ofrecer a los estudiantes, profesionales y miembros de la academia dedicados a temas relacionados a la arquitectura y al urbanismo, un espacio de reflexión de carácter internacional sobre la vivienda colectiva y sus relaciones con la ciudad contemporánea e histórica. Se propone que el evento se lleve a cabo a cada dos años, en ciudades con las cuales el MLVSSXXI mantiene relaciones académicas, como Quito, Ciudad de México, Buenos Aires, Venecia o Alghero, que pueden ser magníficas candidatas a recibir el III Congreso.
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Assim como na primeira edição almejamos, através deste II Congresso, manter vivos os dez anos do Master Laboratório; proporcionar o reencontro dos estudantes que realizaram o curso durante as dez edições e que hoje estão trabalhando, projetando, pesquisando e ensinando em seus diferentes países. Ademais, a cada edição buscamos constituir uma autêntica rede internacional de pesquisadores com interesses afins, além de fomentar e ampliar a troca de informações e cooperação acadêmica entre as diversas universidades envolvidas. O tema da habitação coletiva deverá ser um guia para debates mais abrangentes, dedicados tanto às questões práticas quanto às teóricas, com vistas à melhoria da qualidade dos espaços urbanos e arquitetônicos de nossas cidades.
JOSEP MARIA MONTANER ZAIDA MUXÍ PAULO BRUNA LEANDRO MEDRANO RENATA CORADIN
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Así como en la primera edición, deseamos a través de este II Congreso, mantener vivos los diez años del Master Laboratorio; propiciando el reencuentro de los estudiantes que realizaron el curso durante las diez ediciones y que a día de hoy están trabajando, proyectando, investigando y enseñando en sus diferentes países. Asimismo, con cada edición buscamos construir una auténtica red internacional de investigadores con intereses afines, además de fomentar y ampliar el intercambio de conocimiento y cooperación académica entre las diversas universidades involucradas. El tema de la vivienda colectiva es un guion para debates más amplios, dedicados tanto a las cuestiones prácticas como a las teóricas, buscando la mejoría de la calidad de los espacios urbanos y arquitectónicos de nuestras ciudades.
18
CONFERÊNCIAS | CONFERENCIAS
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Professor of architecture at Washington University. He is the author of The CIAM Discourse on Urbanism, 1928-1960 (MIT Press, 2000) the only book-length history of the International Congress of Modern Architecture. Mumford has published and lectured nationally and internationally on CIAM. He is also a historical consultant of Behnisch Architekten. He currently serves as chair of the Harvard Graduate School of Design Visiting Committee.
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Eric Mumford THE HISTORICAL DISCOURSES OF LATE CIAM AND HUMAN SETTLEMENTS IN HISTORICAL PERSPECTIVE
1 Eric Mumford, The CIAM Discourse on Urbanism, 1928-1960 (Cambridge, MA: MIT Press, 2000). 2 CIAM. Die Wohnung für das Existenzminimum (Frankfurt: Englert and Schlosser, 1930). 3 Le Corbusier, “Commentaires relatifs à Moscou et à la Ville Verte,” Pier Giorgio Gerosa, Le Corbusier-urbanisme et mobilité (Basel & Stuttgart : Birkhäuser, 1978), 158-165. 4 Le Corbusier, The Radiant City (New York: Orion Press, 1967).
CIAM (International Congresses of Modern Architecture) was founded in La Sarraz, Switzerland in June 1928. As a coalition of avant-garde groups from across Europe, the Americas, and Asia, CIAM met regularly in various European countries until September 1939, and then again from 1947-56. Its meetings were where the basic elements of a new approach to architecture and urbanism were debated and formulated. Its approach was as an extension of the philanthropic housing and Garden City town planning directions that had begun in England and France around 1850, which were focused on providing better housing conditions for the working class in growing industrial cities. CIAM was based on the idea that the redesign and future development of industrial metropolises should be aim for the improvement of the biological, psychological, and social needs of the working masses. To facilitate this required urban reorganization, which CIAM members expected would be carried out by reformist or radical authorities of varying political kinds, and it offered strategies to do this. These included typological innovation, prefabrication, and the integration of landscape elements with built ones.1 Various factions of CIAM held different views on the question of whether cities should be decentralized, as in the Garden City movement, or rebuilt at high densities with more greenery and open space at the center of the city. Ernst May, the city architect of Frankfurt-am-Main in 1925-31, who hosted CIAM 2, held October 1929 under the title Die Wohnung für das Existenzminimum (Housing for the Minimum Wage-Earner), advocated the first approach, in decentralized settlements at the urban periphery.2 Le
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Corbusier, who after CIAM 2 began to criticize the CIAM focus on the minimum dwelling without a corresponding examination of the overall provision of communal services, as was being done in the Soviet Union, advocated the second, centralizing direction. Instead of the dispersed settlements of Ernst May’s Frankfurt, Le Corbusier instead insisted that “modern urbanism can bring a reduction in the overall area of cities so that the distances are shorter….But one must have a categorical separation between traffic and habitation.”3 Further developed and presented at CIAM 3 in Brussels in 1930, became Le Corbusier’s Radiant City ideal urban design.4 This would provide a CIAM alternative to modern cities that were “too extended” (étendue) and scattered, and at the same time treeless, with dense urban streets and courtyards full of filthy air, noise, and constant and dangerous traffic congestion. Both Le Corbusier and May and other CIAM members agreed that dwelling was a “biological phenomenon,” and he also called for “the standardization, industrialization, and Taylorization” of housing production, established according to a biological order at the “human scale.” Le Corbusier’s views were paralleled by those of Walter Gropius, the first Director (1919-28) of the Bauhaus in Germany, who by 1930 one of the most influential German modern housing settlement architects. Gropius was also a key figure in the Reichsforschunggesellschaft (RfG), the new national German building research institute established by the Weimar government. In his lecture at CIAM 2 on “The Sociological Foundations of the Minimum Dwelling,” Gropius argued that the entry of women into the workforce required “centralized master
households” where each individual would be given a basic “Existenzminimum” dwelling within a larger structure of communal dining, daycare, and recreational facilities. Gropius thought that these communal dwellings should probably be multistory apartment buildings sited in extensive areas of greenery, such as the 11-story highrise slab housing he and his associates proposed for 4,000 units of housing on 100 acres near the Wannsee lake in the Spandau district of Berlin in 1928.5 The individual slabs there were similar to what Marcel Breuer had proposed as a student in a Bauhaus housing studio in 1924. Although Gropius’s scheme was not built, it established a clear model for highrise mass housing development that would begin to be widely applied worldwide after 1945. In 1929, Gropius also published a series of sectional diagrams showing parallel buildings from one story rowhouses up to ten story slab blocks, illustrating that the taller buildings allowed for more open green space between the buildings. He also published a set of plan diagrams “from the block to the housing bar” that showed the “evolution” of the urban block from densely built tenements to Zeilenbau housing, with the perimeter block type indicated as an unsatisfactory intermediate stage.6 Although neither Gropius nor Le Corbusier’s urban proposals was built, they established a pattern for a generation of CIAM architects, and along with the work of other CIAM architects like Ernst May, had a major impact on Soviet housing and eventually the mass housing of other postwar Communist regimes in China and Vietnam. They also had an indirect impact on mass housing in the United States in the 1930s, notably in the racially segregated housing projects built by the New York City and other urban housing authorities and by the Metropolitan Life Insurance Company at Stuyvesant Town (1943-48).7 By the postwar era (1945-75), CIAM’s solutions had become widely accepted in many places, shifting the focus of urbanism from the design of cities for elites and the wealthy toward the idea that mass housing and the urban transportation infrastructure should be the main concerns of architects and designers. In England, the County of London Plan (1943) called for urban reconstruction, and in 1946 the London County Council began to build CIAM-type highrise slab complexes, beginning with Powell and Moya’s Churchill Gardens, Pimlico in 1946, a competition winning design by two young graduates of the Architectural Association.8 In other places, such mass housing solutions were accepted slightly later, but by the early 1960s many major cities around the
world such as Paris, Hong Kong, and Singapore had taken up a CIAM approach to mass housing, entirely rejecting earlier Garden City and Beaux-Arts models. In 1951, at the same time that such CIAM-type mass housing was just beginning to be widely applied, CIAM itself, under the postwar leadership of Josep Lluís Sert, an émigré Barcelona architect, decided to focus on the issue of the pedestrian “heart of the city” at CIAM 8, held near London.9 Like Le Corbusier, Sert was an early critic of the suburban and decentralizing direction of midcentury planning and development, and he hoped that CIAM could address the issue of the cultural and political value of urban centers. His urban design projects with Paul Lester Wiener in the firm Town Planning Associates for Brazil, Peru, Colombia, Venezuela, and Cuba between 1944 and 1959 were presented at CIAM 7 and 8 and published extensively as models for this direction. Sert’s approach used the Latin American urban plaza as a place of both pedestrian gathering and as a space of political expression. Sert’s ideas on the importance of the pedestrian civic center in CIAM were paralleled by those of the Italian CIAM Council member Ernesto Rogers, a founder of the Milan firm BBPR, who (in an architecturally different way) also wanted modern architecture to support and celebrate the pre-existing environments and cultures of historic cities. In a 1952 editorial, “Continuity,” in the magazine that he edited, Casabella, Rogers stated, “No work is truly modern which is not genuinely rooted in tradition,”10 indicating reflecting the strongly the “contextual” direction of much postwar Italian modernism well before Aldo Rossi, who was one Rogers’s students. At the same time that Sert and Rogers were advancing the idea of the heart of the city in CIAM, other CIAM members, including Maxwell Fry and Jaqueline Tyrwhitt, an English planning educator, began to try to shift the attention of CIAM to issues of mass housing in what by the 1950s would begin to termed the “developing world.” This was triggered in part by the efforts of the British Empire, beginning in the 1930s, to extend some of the provisions of English planning legislation to other parts of the Empire, notably in Trinidad in 1938. These efforts, intended to address issues of bad sanitation, overcrowding, lack of infrastructure, and lack of schools and health facilities, then began to be transferred to the colonies of British West Africa (which included Nigeria) during the 1940s.11 CIAM members Maxwell Fry and Jane Drew began to draw up plans and conducted research on conditions there, which resulted in their London exhibition, Village Housing
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5 Sigfried Giedion, Walter Gropius: work and teamwork (New York: Reinhold, 1954), 201205. 6CIAM, Rationelle Bebauungsweisen (Stuttgart: Julius Hoffmann, 1931). Gropius’s talk was published in English as “Houses, Walk-ups or High-rise Apartment Blocks?,“ Scope of Total Architecture (New York: Collier Books, 1955), 103-115.. 7 On the early NYCHA projects, see Gail Radford, Modern Housing for America (Chicago and London: University of Chicago Press, 1996), and Nicholas Dagen Bloom, Public Housing that worked: New York in the twentieth century (Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 2008). 8 Kenneth Powell, Powell and Moya (London: RIBA Publishing, 2009) 9 J.L. Tyrwhittl J.L. Sert; E.N. Rogers, The heart of the city (New York: Pellegrini and Cudahy, 1952). 10 Ernesto Rogers, “Continuiá/Continuity,” Casabella 199 (152), 2.
11 Robert Home, Of Planting and Planning: the making of British colonial cities (London: Spon, 1997). 12 Monique Eleb, “The Concept of Habitat: Écochard in Morocco,” in Tom Avermaete, Serhat Karakayali, Marion von Osten, Colonial Modern (London: Black Dog, 2010). 13 Ellen Shoskes, Jaqueline Tyrwhitt (Burlington, VT: Ashgate, 2013), 153163. 14 Alexandros-Andreas Kyrtsis, Constantinos A. Doxiadis (Athens: Ikaros, 2006)
the Tropics in 1947, this then led to an ongoing postwar focus on the design issues of socially and climatically similar places. It may have been this general direction that led Le Corbusier to call for CIAM to try to develop a “Charter of Habitat” at CIAM 7 in Bergamo in 1949, which then led to this effort being set as the theme of CIAM 9.
and many similar urban plans at the time was a sectoral grid of neighborhood units, bounded by fast-traffic streets with short dead-end residential streets and continuous pedestrian greenways inside the superblocks. Each residential sector was planned to include a school within walking distance, as well as other community facilities. Tyrwhitt met the Greek planner Constantinos Doxiadis at this 1954 UN New Delhi seminar, and a year later began to work with him to found the Athens Center for Ekistics and to publish a journal. Ekistics was the term Doxiadis’s coined for the “science of human settlements.” In his extensive planning work between 1955-75, beginning with his plans for Baghdad, then the capital of the British-dominated Kingdom of Iraq, Doxiadis had a worldwide impact on planning. His built work includes Islamabad, the new capital of Pakistan, the result of a 1959 competition, and many other new districts, town plans, and individual buildings, as well as his influential idea of Ecumenopolis (1974) where he predicted that the world’s major urban regions would have all grown into each other along new highway routes by 2100.14
In Morocco, a French military protectorate from 1912-55, the architectural team of ATBAT-Afrique, composed of former Le Corbusier associates and led by Vladimir Bodiansky and Georges Candilis, worked there from 1949-52 under the French town planning director Michel Écochard. They continued prewar French planning and anthropological studies of the settlement patterns of immigrants arriving from the countryside to work in Casablanca, a strategic and then fast-growing industrial city. They proposed new forms of housing they thought would better address their needs and expectations. These housing design approached assumed that most the city would develop from the informal settlements of recently arrived migrants (which had been termed “bidonvilles,” or “oil can towns”, since about 1930) into planned, gridded quarters plotted out by the authorities at the edges of the city with some basic services. As standards of livings rose, the planners expected that some of these would be rebuilt with highrise concrete-frame slab buildings similar to Le Corbusier’s Unité in Marseilles. Bodiansky, Candilis, and Shadrach Woods in ATBAT-Afrique proposed both 8x8 meter two-room courtyard houses on grids of roads and highrises that attempted to adjust modern housing to Islamic requirements for privacy on the exterior terraces.12
By 1960, different but related directions stemming from these late CIAM outcomes had acquired mainstream importance. These included the urban design program at Harvard University, founded by Sert as Dean of the Graduate School of Design, 1953-69;15 the School of Tropical Studies at University College London, founded by Maxwell Fry in 1953 and then continued by Otto Koenigsberger, who had worked extensively in India in the 1940s; the Athens Institute for Ekistics, founded in 1955 by Doxiadis; and many related directions in design and planning education.
Much of this work, along with related Corbusian proposals for French Algeria by the CIAM Algiers group, was displayed at CIAM 9, an event which Le Corbusier, Sert, and Jaqueline Tyrwhitt saw as the start of a new CIAM focus on the urban issues of what Bodiansky had termed in 1950 “the greater number.” Tyrwhitt was then working as a consultant to for the United Nations on a housing seminar in New Delhi, where she designed a village center intended to be a model “community core” for the many New Towns and villages then being built by the Nehru government of India.13 By this point, Fry and Drew, commissioned by the same government to design Chandigarh, a new state capital for the Punjab, had added Le Corbusier and his cousin Pierre Jeanneret to their design team, where they were implementing related ideas, as well as Le Corbusier’s better-known Brutalist monumental core. The basic design element of Chandigarh (1950-60)
Yet the intentions of the founders and faculty of these institutions quickly ran into difficulties by the early 1960s, as a variety of critical voices began to be raised against these seemingly simple and effective modern solutions to the problems raised by urbanization and rapid population growth. The first objections came from within CIAM itself, by the Team 10 group in 1954. At CIAM 9 in 1935, Candilis and Woods had made common cause with the Dutch architects Jacob Bakema and Aldo van Eyck and the young British MARS members Alison and Peter Smithson (along with others now less well-known) to object to the use of the CIAM “four functions” of dwelling, work, recreation, and transportation as the basic way or organizing new urban areas. Their objections suggested that these categories were too abstract and took too little account of “human association” in cities, which they felt could be better advanced by using the more traditional terms “house,
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street, district, and city.” They also suggested that Patrick Geddes’s Valley Section, a drawing which had first indicated the close connections between human cultures, ways of earning a living, and local natural resources and conditions, to suggest the idea that city-regions could be analyzed along a transect stretching from rural areas to places of urban centrality. Team 10 first put these ideas forward in the “Doorn Manifesto” of 1954, and debate over their validity and challenge to the CIAM leadership of Sert, Rogers, and Tyrhwitt led to the breakup of CIAM in at CIAM 10 in Dubrovnik in 1956.
Eyck in the CoBrA (Copenhagen-Brussels-Amsterdam) artists’ group from 1948-51. Beginning in 1956 and continuing until 1974, Constant created visionary models and drawings for “New Babylon,” an ever-changing, continuous megastructure that drew from the Smithsons’ earlier Golden Lane and Berlin Hauptstadt projects, but like those, remained unbuilt. Constant, like most of the other early members, was ejected from SI by Debord, as his concrete urban visions were seen as insufficiently radical for the SI, which went on to extensive involvement in the huge public protests and demonstrations of the late 1960s.
By then, other voices in avant-garde art circles in Europe had also begun to question the Corbusian approach to the design of new living environments, which was only just then beginning to have a major impact. These included a 1954 article by the French artist Guy Debord called “Skyscraper by the Roots,” which introduced what would become a standard criticism of Le Corbusier. Published in Potlatch 5, a by- invitation-only publication of the Lettrist International, a Paris artistic avant-garde group, Debord argued that modern urban planning has “always found inspiration by the directives of the police.” It was fundamentally an architecture and urbanism of “closed, isolated units” in “societies under perpetual surveillance,” with “no more opportunities for uprisings or meaningful encounters.” This observation was related to the tense atmosphere in France at this time, where the French Ministry of Reconstruction under the Fourth Republic government had launched “Operation Million,” an effort to halve the cost of a standard apartment from 2 million to 1 million francs through prefabricated construction. These ambitious efforts soon led to the construction of the many “grands ensembles” and new towns of CIAM-type housing around major French cities.16 Many of them were designed by Candilis-Josic-Woods, who opened their Paris office in 1954 and remained active in Team 10 down to the 1970s. But these efforts also paralleled an urban situation at a time of considerable national political instability, with police troops were widely present in the streets, as France was then losing its colonies in French Indo-china (which included Vietnam and Cambodia) and the Algerian revolt (1955-63) was beginning.
These artist-generated critical efforts toward modern urbanism overlapped with the sociological critique of modern urbanism that grew of the French efforts to better understand the needs and expectations of the residents of the new modern housing projects. French Sociologist Paul-Henry Chombart de Lauwe’s work was intended to guide better design for such projects, and the Marxist sociologist Henri Lefebvre
In 1957, Debord and the Lettrist International merged with the Danish artist Asger Jorn’s Imaginist Bauhaus group and became the Situationist International (SI), which lasted until 1972, and has had an immense influence on thinking about urbanism since the 1960s. Until 1961 the SI also included the artist Constant Nieuwenhuys , a sometime associate of van
extended this direction by putting a new emphasis in the 1940s on the “everyday life” of the working class. Lefebvre eventually became very critical of the monotony and dull public spaces of the new French housing projects, and by the 1960s Lefebvre had begun to call for the “right to the city” for urban workers relegated to peripheral housing estates. This was the original context of his “politics of space,” which then led to many influential analyses and much political activism from the late 1960s onward. 17 As Team 10, the SI, and Lefebvre were beginning to advance influential critical positions about CIAM urbanism, another critical strand emerged from the efforts of the English architect John F.C. Turner to valorize the self-help settlements of Peru. Turner had studied with Tyrwhitt in London in the 1940s, and met the Peruvian architect Eduardo Neira after attending the 1952 CIAM Summer School in Venice. Neira was interested in Turner’s effort, encouraged by Tyrwhitt, to link Geddes’s diagrams with systems theory, and invited him to practice in Peru, where Turner arrived in 1957. Turner began working with a Peruvian government office charged with improving living conditions in the barriadas, the term used prior to the 1970s for Peruvian informal settlements. By the 1960s Turner had begun to suggest in Architectural Design magazine that the self-builders knew as much or more about their housing needs as modern architects, leading to his advocacy by the late 1960s and 1970s for the bottom-up approach to urban development articulated in his book Freedom to Build.18
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15 Eric Mumford, Defining urban design: CIAM Architects and the formation of a discipline, 1937-69 (New Haven and London: Yale University Press, 2009). 16 Kenny Cupers, The Social Project: housing postwar France (Minneapolis: University of Minnesota Press, 2014). 17 Mary McLeod, “Henri Lefebvre’s Critique of Everyday Life: an introduction,” in Steven Harris and Deborah Berke, Architecture of the Everyday (New York: Princeton Architectural Press, 1997), 9-29.
18 John F. C. Turner and Robert Fichter, Freedom to Build: dweller control of the housing process (New York: Macmillan, 1972; Helen Gyger, “John F.C. Turner in Peru,” in Human Settlements: formulations and (re) Calibrations (Amsterdam: SUN architecture, 2010), 28-37. For the larger context of Turner’s work in Peru, see Sharif Kahatt, Utopias construídas: las unidades vecinales de Lima (Lima: Fondo Editorial de la Pontificia Unversidad Catolica del Peru, 2015). 19 Viviana D’Auria, et al., “The Nebulous Nature of Human Settlements,” in Human Settlements: formulations and (re) Calibrations (Amsterdam: SUN architecture, 2010), 8-27. For Sert’s ideas about housing and urbanism at this time, see Eric Mumford, ed., The Writings of Josep Lluís Sert (New Haven and London: Yale University Press and the Harvard Graduate School of Design, 2015), 144-153.
These directions paralleled related directions in the United States, where by 1961 the architectural journalist and New York urban activist Jane Jacobs had begun the questioning of the whole paternalistic and suburbanizing basis of modern planning. By the mid-1960s, architects like Robert Venturi and Charles Moore had begun to advocate a hedonistic return to historical forms and urban patterns, rejecting the official modernist austerity of Ludwig Mies van der Rohe. These directions soon blossomed in postmodernism into a wholesale rejection of modernism altogether, eventually resulting in a kind of mass professional amnesia about the midcentury premises of the field by the 1980s. Yet in other parts of the world, various elements of the ideas of CIAM, Doxiadis, and Turner ideas have remained influential. Despite the vocal criticisms of modern urbanism, this late CIAM and Doxiadis focus on human settlements, which included the Fry & Drew/Koenigsberger interest in settlement design in the tropics, much of it then extended by Koenigsberger in the 1960s as “action planning, “ became the basis of the UN Habitat conference in Vancouver in 1976, in which Sert was also involved.19 Koenigberger’s and Turner’s ideas about self-help and participatory planning led to the establishment of a new ways of thinking at the UN and the World Bank about how to address massive and ongoing world urbanization processes. Although rejecting the idea of the architect as the sole designer of the built environment, all of these ideas grew very directly from late CIAM directions, and all were similarly premised on the idea that cities should be designed for the health and well-being of their residents, using appropriate technologies to design in relation to available natural resources and natural systems. Since advanced building technologies and the extensive provision of utilities expected in the developed world are without any question out of economic reach for most of the world’s population, the validity of these directions in addressing the challenges of the present should soon be a topic of extensive discussion, as global capitalist processes by themselves are not going to reverse the worldwide demand for the housing lifestyles available in the developed world.
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Acknowledgements Many thanks to Professors José Maria Montaner and Zaida Muxi Martinez for their invitation to lecture in São Paulo and contribute this essay. Many thanks also to the many scholars of modern and Latin American architecture who have provided valuable information about these topics to me in my research on CIAM and related topics over the years. These include Sharif Kahatt at the Pontifica Universidad Católica del Perú (PUCP) in Lima, and the many other scholars and friends too numerous to list here. And many thanks once again to my wife and daughters for their patience for this work.
Diploma at the University of Technology, Vienna, Austria. Since 1983: Own architecture studio in Vienna; 1985 – 1994: Assistant Professor at the University of Applied Arts Vienna, 1969-2008: Studio in Collaboration with Peter Ebner; since 1995: Professor for Spatial Design and Conception, University Stuttgart, Germany; 2000, 2005: Option Studio at Harvard GSD, Cambridge, Mass.
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Franziska Ulmann CHOREOGRAPHY OF LIFE
In Europe social housing’s main function in the decades after the Second World War was to fullfill the physical need of providing innumerable people with affordable homes. Due to the economic pressures this lead to very dense developments that were partially constructed of industrially prefabricated elements and which were often mono-functional. These residential and bedroom communities are often placed on low cost land at the edge of the city and lack the infrastructure for daily life. Looking back we can say that these minimal dwellings can hardly be fitted to the changing needs of our culture today, nor to our changing family structures. It is not possible to satisfactorily bring the living and work spaces into a relationship as had been possible in the Gründerzeitbauten that were erected in the years of rapid expansion around 1900 in big cities like in Vienna. For long term and therefore sustainable functioning of urban quarters well suited for living in we must, by my experience, be able to fill the following criteria that is to be included in any new planning. mix of functions,
Frauen-Werk-Stadt and In der Wiesen Generation Housing are two projects which both embody my personal approach to housing and address the issues of gender, family and new ways of living and working. These two projects were the subjects of competitions for both master plans and social housing. Frauen-Werk-Stadt (1994) was organised by the Women’s Office of the City of Vienna under the leadership of Eva Kail. The In der Wiesen Multigenerational Living Project (1998) was organized by Vienna’s Housing Financing Body as a developer competition. I would like to point out a few qualities of these two projects that are of general importance. IDENTIFICATION - HOUSING IS MORE THAN PHYSICAL SHELTER In his essay about „other spaces“ the French philosopher and culture historian Michel Faucoult is talking about „ORTUNGSRAUM“, which ment in the history of space in the Middle ages an hierarchic ensemble of spots of different value. Since the 17th century the EXTENSION replaced centered spots.
mix of social structures, mix of different ages and generations, mix of different types and velocities of traffic, mix of different sorts of investors. mix of determined and undetermined space
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Nowaday STACKING replaces the extension, which has replaced the spots. Stacking does not only mean storage of goods, but also storage of people and their housing.- even if it is presented in a very elegant costume and glas fassades.
To give people a chance to identify with their new environment, housing is for me not only a physical protection, but also a vehicle for each person to create their own little cosmos: “a way of orienting oneself in the world and of dealing with the world outside – the world beyond the private”. This covers the ground discussed by Heidegger in his essay about building, living and thinking. And it raises an important question: Is the creation of a perfect, individual, peaceful environment and the ability to look out onto this private cosmos enough, or should this private cosmos reach out into the surroundings of the private apartment and into the local area and the city? It is precisely this “reaching out of the private cosmos” beyond the immediate private realm and the consequent creation of overlapping realms in the sense of private, semi-private and public space which was central to my design of the master plan for the Frauen-Werk-Stadt project.
as well as their children, adolescents and elderly people. This group is usually less mobile and expects the semi-private and public areas in its residential environment to fulfill numerous functions, whereby daily needs should be met in the immediate vicinity of the apartment. Noting the fact that women make up 52% of the population of Vienna the Frauen-Werk-Stadtcompetition in 1993 focused on “everyday life from the point of view of women architects.”
MOVEMENT PATTERNS This interest in the qualities of semi-private and public space was underlined by research on movement patterns by the Frauenbüro (the office of women affaires) in Vienna. Experience has shown that, in general, there are two distinct approaches to the evaluation of urban choreography and environments: The first is the perspective of employed persons who inhabit the environment as consumers with a “carefree” everyday life. This applies to the majority of men and single-persons of working age. As a rule, this group is highly mobile, expects residential areas to fulfil just few functions and values the areas for their recreational and leisure qualities and for private comfort.
The second is the perspective of people who perform unpaid housework and family work and are carers or, givers of care, either of people who are or will have to be cared for, like parents, single parents,
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ENJOY THE CONTEXT My master plan for the project Frauen-Werk-Stadt –a 2,3 hectar site north of Vienna- addressed the three issues mentioned above: Identification and orientation, the relationship between public and private realms, and the different mobilities, needs and expectations of different groups in society. The preliminary sketch shows a main walkway as a connection between existing housing north of the site with small Schrebergärten (private gardens), and themain street Donaufelderstrasse to the south. This is an area with an urban character and good public transport facilites that is working to integrate the existing inhabitants to the north with the newcomers to the area. They would both meet at and enliven the main walkway, which makes the core of the new quarter.
SEQUENCE OF SPACE, HIERARCHY OF SPACE Movement for pedestrians in the new quarter is structured by a series of open public spaces. A sequence is formed by a semi-public square to the south, the linear walkway and a village green in the northern part. These are complemented by a series of semi-private courtyards and private gardens. This main walkway is a connector of the access ways to the new houses in which public and semi public zones overlap. This concentration of everyday movement along this walkway makes it a vital area and offers the chance for informal meetings and spontaneous communication. Furthermore, the notion of the square and the walkway as a concentrated place of movement and exchange —of looking and meeting— was reinforced by the open corridors and loggias at the 1st and 4th floors in some of the buildings. In the afternoon this walkway is a playground for children on their rollerskates and bicycles. It is around these spaces, that the building volumes are arranged. Each building here has a front facing the walkway and a rear facing the gardens, which in turn reinforces the hierarchy of access ways. Especially in the evening and night, the direct contact with the apartments along this walkway guarantees safety and neighborhood watch control. This is very important for me because there are no cars passing by, but the residents could hear and see unusual activities.
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Similar principles of security are applied to the entrance building along mainstreet, which I chose as my building project.
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“A STREET IS A ROOM, A COMMUNITY ROOM BY AGREEMENT” LOUIS I. KAHN Louis Kahn’s point is that what is allowed to happen on the street is the basis of common behaviour which means treating the common space as if we are also responsible for it - not only for our private space. To this end, my building along the Donaufelderstrasse, which faces south onto a rather busy street, was given a very strong relationship with the street. This is accomplished both through full-height French windows, which offer views of the street, and glazed loggias, which act as semi-outdoor srooms as well as acoustic buffer zones for the bedrooms. In her book “The Death and Life of Great American Cities” (1961), Jane Jacobs speaks of so-called “social eyes”: the many invisible eyes that control the external space creating a sense of transparency and security both by day and by night. Here, kitchens and living rooms are alternately situated on both sides of the building, which encourages contact between inside and outside while avoiding façades occupied only by day or by night, thereby offering optimal security in the public areas
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“IN DER WIESEN – MULTIGENERATIONAL LIVING” The experience of the choreography of life was also incorporated into a larger master plan for 64 hectars in the south of Vienna. This project includes accommodation for 10,000 people and 2,000 workplaces together with the entire infrastructure of schools, kindergartens, commercial space, etc. The criteria listed above in the introduction, after being integrated in various ways, encourages a most important long term involvement of investors.
The notion of flexibility and enabling the possibility of altering the mixed-use ground floor led us to develop the idea called Ground Floor Management in certain areas of the project. Instead of filling the ground floors of buildings with pre-determined secondary functions such as technical or refuse disposal areas that can equally well be accommodated in the basement, the ground floors of the buildings along main streets were initially left open. This left them free to be occupied by retail or other service facilities, as the need for these was later identified. On the basis of my master plan, I was then invited to select one site for building and opted for the centre of the new district – the site that gave me the greatest opportunity to test the above ideas of mixed-use. Along with two office buildings framing a pedestrian bridge, which forms a sort of entrance arch to the project, the facilities in the central public carrÊe include retail space, offices and assisted housing for the elderly.
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The upper west wing also contains assisted housing with the idea that, in this newly built area with a lot of new residents, families could have the opportunity to bring their parents with them, but house them in such a way that they could live separately while being able to provide mutual support. As the residents become older they can, where required, pay for extra assistance.
Access systems were also very carefully designed to permit cars and people to co-exist beneficially. The public school can be reached on foot from all parts of the new district without crossing a street, which tremendously reduces the number cars used by parents bringing their children. The concept of mixing is, however, best demonstrated in the “In der Wiesen” Generation Housing, which provides a mixture of different functions and apartments for a variety of ages and a variety of inhabitants. The building is the centre of the “In der Wiesen” neighbourhood and offers a public route through the open courtyard of the perimeter block to the central green. On the ground floor are shops, while on the first floor there are offices and a children’s day care centre. On the 2nd to 4th floors there are rental apartments and maisonettes of different sizes. The west wing contains space for common activities and a meeting point for the elderly and on the first floor are mini-lofts for starters (first time homeowners). In order to ensure universal accessibility for the disabled, the room height of the offices at first floor level (3.00m) was also adopted for the so-called mini-lofts These mini-lofts use this height by creating a kitchen platform below which the bed can disappear from living room during the daytime.
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The concept behind the mixed-use is an idealistic one. The reality has been that the project is highly successful. In part it has worked as intended, and in part it has worked in very unexpected ways. For example, the mini-lofts intended for students have also – due to their very low running costs - proven popular amongst the elderly.
CONCLUSION The result of Frauen-Werk-Stadt is a project that has contributed in two ways to a long-term transformation in the way that the City of Vienna procures social housing. Firstly, there has been a clear increase in the involvement of women architects and planners in the planning and implementation process and, most importantly, women are being taken into account in the amendment of the relevant provisions of the Viennese Building Code. In der Wiesen, like the Frauen-Werk-Stadt, is based above all on the concept of social sustainability. Women and children – as well as the elderly – are supported in the simple need to be able to go about their daily life in their local district as safely and as smoothly as possible. The aim of my Choreography of Life is to combine integration into the existing with a further extension of urban quality. We know that each new part of a city needs time to grow. But having a vision of what it should look like in 20 years, it is easier to fulfill every day needs right from the beginning. These projects pay special attention to the notion that architecture should be adaptable to daily needs and daily life (a notion which should actually be completely obvious) and recognise that such qualities have much more to do with soft skills and soft facts and are better achieved by the sophisticated integration of the many inputs, than by the application of any particular norms or standards. Only via the complexity of a comprehensively conceived and executed project can one create the optimal framework for a people-friendly environment. This requires both the attention and the hard work of many individuals. In both these projects I had the luck to find people who shared and supported our visions. Franziska Ulmann Vienna-Stuttgart 2015
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Arquitecto y profesor en la Facultad de Arquitectura de la Universidad de la República en Montevideo, Uruguay. Director de la Unidad Permanente de Vivienda y Coordinador de la Comisión de Vivienda Social así como de la Revista Vivienda Popular. Ha sido asesor para la elaboración del Plan Quinquenal de Vivienda del Ministerio de Vivienda (2005/06 y 2010/14) y Coordinador del Programa Observatorio Habitacional Nacional (2006/08) iniciativa conjunta de la Universidad, el Ministerio de Vivienda Ordenamiento Territorial y Medio Ambiente y la Dirección Nacional de Vivienda. Es miembro fundador del Instituto Hacer-Desur (constituido en 1991) especializado en el asesoramiento técnico de cooperativas y producción social de vivienda. Consultor del PNUD 2007/08 como coordinador del equipo interdisciplinario para la creación de la Cartera de Inmuebles para Vivienda de Interés Social del Ministerio de Vivienda. Asesor de FECOVI (Federación de Cooperativas de Ahorro Previo).
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Raúl Valles URUGUAY El cooperativismo de vivienda, el trabajo de los técnicos y el sistema como instrumento para la rehabilitación urbana.
(Artículo publicado en « Les coopératives d habitants, des outils pour l abondance »Repenser le logement abordable dans la cité du XXIº siècle. Chairecoop 2014 (http://chairecoop.hypotheses.org/4186) Frente a los modos tradicionales de producción de vivienda para los sectores populares, el cooperativismo se desarrolla en Uruguay desde la década del 60, constituyendo una alternativa para la población trabajadora y de bajos ingresos y que en el caso uruguayo ofrece los mejores resultados de habitabilidad tanto desde el punto de vista físico como social. Mediante este sistema se han producido miles de viviendas impulsadas por un marco normativo precursor, el financiamiento estatal, las población organizada en grupos autogestionarios y el asesoramiento técnico integral al sistema. El cooperativismo de vivienda de usuarios ha demostrado una enorme potencialidad para consolidar una verdadera política de interés social en vivienda y hábitat. Sus costos y los tiempos no son los de la producción industrial sino los de la producción social, por eso son exitosos. La propiedad colectiva considera a la vivienda como un bien de uso que cubre una necesidad y satisface un derecho y no como un bien cambio en el mercado inmobiliario. El régimen de usuarios ha resultado además ser un factor de sostenibilidad en los conjuntos cooperativos donde agrupamientos de vivienda con mas de cuarenta años, se conservan y mantienen en forma adecuada y eficiente gracias a la gestión colectiva.
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En este largo período se ha consolidado este modo de producción, contribuyendo a la construcción de una ciudad y un espacio habitable mas justo, democrático y participativo. Alguna de sus modalidades como la “ayuda mutua” constituyen experiencias emblemáticas a nivel nacional e internacional y han demostrado una enorme capacidad de producción y gestión de los grupos cooperativos, constituyéndose en verdaderas escuelas de ciudadanía a través del trabajo solidario y colectivo. En el marco de esa experiencia y de la ley que le dio forma, surgen los Institutos de Asistencia Técnica ( IAT´s), instrumento de asesoramiento profesional cuya integración debe ser interdisciplinaria y cuyo trabajo se orienta al apoyo técnico integral a las cooperativas de vivienda. REFLEXIONES Y APRENDIZAJES DE UNA EXPERIENCIA DE TRABAJO. El rol de los Institutos de Asistencia Técnica de la Ley de Vivienda uruguaya. El sistema cooperativo uruguayo se apoya en cuatro componentes a saber: 1- Financiamiento público, 2- Participación y autogestión de la cooperativa, 3- Propiedad colectiva de usuarios, 4- Asesoramiento técnico interdisciplinario. Los llamados “Institutos de Asistencia Técnica” IAT, son una figura consagrada en la Ley de Vivienda de 1968. En dicha ley se reconoce la complejidad de la producción y gestión en vivienda social y en particular la importancia de apoyar técnicamente al nuevo sistema cooperativo que en ella se crean.
Para ello se crean los IAT´s, entidades de asesoramiento a los grupos cooperativos que deben brindar asistencia técnica interdisciplinaria e integral en todo el proceso que realizan los colectivos. El Artículo 163 dice: “ Son Institutos de Asistencia Técnica aquellos destinados a proporcionar al costo, servicios jurídicos, de educación cooperativa, financieros, económicos y sociales a las cooperativas y otras entidades sin fines de lucro, pudiendo incluir también los servicios técnicos de proyecto y dirección de obras”. En esta definición se expresa con claridad el carácter del asesoramiento que deben ofrecer: Debe ser “Integral” es decir abarcar múltiples áreas, desde los aspectos físicos del proyecto , pasando por el acompañamiento social e incluyendo los temas jurídicos y económicos. Debe ser “Interdisciplinario” o sea estar integrado por al menos cuatro profesionales de las áreas de trabajo descritas anteriormente ( Arquitecto, Asistente Social, Escribano y Contador o asesor contable). Debe ser un trabajo sin fines de lucro, es decir su remuneración será estrictamente la del costo del trabajo profesional y no un beneficio comercial o utilidades empresariales.
Implica la formación y capacitación del grupo cooperativo, la gestión del suelo o inmueble donde desarrollar el proyecto cooperativo, el desarrollo del proyecto físico y social y la gestión del financiamiento. Decisiones todas que debe tomar la cooperativa en forma autogestionaria. El trabajo del IAT debe tender al fortalecimiento de capacidades, el desarrollo del diálogo entre el saber técnico y el saber social y la búsqueda de consensos para la generación del proyecto físico y social. Se trabaja en base a técnicas especialmente desarrolladas para el intercambio y los acuerdos, basadas en la clarificación de roles entre técnicos y cooperativistas y donde la acción participativa es la base del proceso. El trabajo interdisciplinario implica el desarrollo de estrategias y dinámicas de asesoramiento específicas e implica atender todos los aspectos. Se desarrollan tecnologías”duras” que atienden los aspectos del proyecto físico y materialización y con tecnologías “blandas” que deben considerar la formación y el crecimiento social del grupo, la gestión de los conflictos y el fortalecimiento del colectivo. El IAT es un animador, alguien que acompaña un proceso durante el cual también asume responsabilidades técnicas concretas.
En el caso uruguayo los IAT´s son entidades de derecho privado y su actividad está reglamentada y controlada por el Ministerio de Vivienda Ordenamiento Territorial y Medio Ambiente (MVOTMA).
El proyecto participativo debe ser una clave para la apropiación del proceso por parte del colectivo. Es una instancia en la cual el colectivo debe recibir la mayor cantidad de información decodificada y clara respecto a las alternativas a manejar para el proyecto.
Al mismo tiempo las cooperativas deben contratar a sus técnicos previamente para ingresar al sistema de solicitud de apoyo económico al MVOTMA de manera que su trabajo se inicia desde el comienzo del proceso de los grupos y le acompaña en todas sus etapas.
En esta etapa el IAT despliega técnicas y dinámicas particulares para abordar aspectos sobre el imaginario de “la casa”, el habitar en colectivo, el barrio y los servicios así como variantes tipológicas y tecnológicas posibles de ser aplicadas.
La elección del equipo técnico la realiza la cooperativa en forma autónoma y democráticamente por asamblea (sistema por el cual toma por autogestión todas las decisiones importantes o que requieran estatutariamente intervención de la misma), a partir de un listado de grupos asesores y en base a antecedentes, currículum o entrevistas. Una vez que la cooperativa se constituye como persona jurídica y aprueba sus estatutos de funcionamiento y sus autoridades comienza una etapa de Planificación.
La experiencia indica que es posible abordar todos estos aspectos en un lenguaje sencillo y claro, desde una actitud abierta, evitando la soberbia del saber técnico y buscando la capacitación y fortalecimiento del grupo para la toma de decisiones. La participación es una herramienta clave para ese logro ya que será el grupo el que llevará adelante el emprendimiento en forma autogestionaria. La etapa de obra de ayuda mutua debe encontrar al grupo fortalecido para emprender la gestión y producción de la construcción del conjunto cooperativo.
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La organización para la producción se vuelve clave, por lo cual es necesario desplegar una organización capaz de gestionar tanto los aspectos de la construcción, tanto los administrativos como el aporte en horas de ayuda mutua de los socios que debe sumar el 15% del valor total del emprendimiento, según el sistema de financiamiento consagrado en la ley de vivienda. El grupo de organiza en distintas comisiones: 1) Directiva, 2) Obra, 3) Trabajo, 4) Compras. La participación del IAT en estos espacios es fundamental y se deberá realizar en forma interdisciplinaria. La Asamblea General es el órgano de máxima jerarquía y puede ser convocada por los socios en cualquier momento. La Ayuda Mutua es una modalidad de producción que requiere de actitud y aptitud colectiva para el desarrollo de una empresa compleja. Implica mucho aprendizaje y disciplina para que distintas personas en forma coordinada trabajen con un objetivo común. El trabajo de los técnicos deberá ajustarse a las características y los ritmos del grupo sin perder de vista su competencias y responsabilidades. Tradicionalmente los proyectos se han ubicado en zonas intermedias o de periferia, tanto en Montevideo como en ciudades mas pequeñas. En los últimos años se destaca la experiencia desplegada en las áreas centrales y el centro histórico de la capital. De esa experiencia haremos aquí una breve síntesis. DERECHO AL CENTRO. EL ROL DE LAS COOPERATIVAS DE VIVIENDA EN LA REHABILITACIÓN DEL ÁREA CENTRAL DE MONTEVIDEO. Montevideo no escapa a los procesos de degradación y vaciamiento que la mayoría de los centros históricos han sufrido durante largos períodos. A partir de 1990 la Intendencia Municipal despliega una estrategia para tratar de revertir ese proceso, apelando a la experiencia del cooperativismo de vivienda. La población de menores ingresos, habitante del área central de la ciudad, asume junto a un grupo de IAT´s, el desafío de la rehabilitación mediante la recuperación y reciclaje de edificios y la edificación nueva en valdíos, en distintas zonas de la ciudad central. Los programas desarrollados procuran articular la combinación de dos factores determinantes: a) la estructura física existente, y su potencialidad para ser reutilizada y redensificada, y b) una trama social que demanda un espacio de participación y autogestión en el mejoramiento y producción del hábitat.
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Desde el gobierno de la ciudad se aporta financiamiento e inmuebles vacantes, producto de la generación de una “cartera de Inmuebles” que aporta y facilita el acceso al suelo central. La población, mas precisamente los sectores de bajos ingresos se organiza en cooperativas de usuarios que demandan y acceden a un inmueble y desarrollan un proyecto. Los Institutos de Asisitencia Técnica aportan propuestas de actuación, capacitación y asesoramiento a un proceso incipiente pero de enorme potencialidad para la rehabilitación física y social del área central. Actualmente, sólo en Ciudad Vieja existen mas de 20 cooperativas de vivienda habitadas o en proceso de construcción conjugando el reciclaje con la obra de nueva planta y en proyectos de pequeña y mediana escala. En promedio y según la reglamentación vigente se construyen viviendas de entre 50 y 80 m2, dependiendo de las características del núcleo familiar. ALGUNOS CASOS A VÍA DE EJEMPLO. La primera oportunidad de intervención se planteó en el barrio Goes a impulsos del CCZ 3 y en el marco del “Programa Goes”, una propuesta más amplia en términos de rehabilitación urbana Comprende el reciclaje de un edificio y la construcción de vivienda nueva, planteándose en el marco de la acción municipal descentralizada. El reciclaje fue realizado por la cooperativa “COVIGOES I”, formada por vecinos del barrio que se organizaron a esos efectos. La finca reciclada era ya de propiedad municipal y el proyecto se plantea la obtención de dieciocho unidades y un local común al programa en el subsuelo del edificio. Para el reciclaje se utilizó un sistema mixto, consolidando y acondicionando la envolvente o “cáscara” del edificio y subdividiendo el espacio con entrepisos livianos dentro de cada unidad, en base a perfiles metálicos y madera. Casi inmediatamente, la obra de las Cooperativas Covicivi 1 y Covicivi 2, integra las primeras experiencias de rehabilitación urbana en el centro histórico, mediante el sistema cooperativo. Sus beneficiarios son vecinos de la Ciudad Vieja que han autogestionado este proyecto en forma organizada lo que les ha permitido obtener buena calidad y bajo costo. Se ha desarrollado con la financiación de la Intendencia Municipal de Montevideo, el asesoramiento del Instituto Hacer-Desur, del que formamos parte desde su fundación y el trabajo en régimen de Ayuda Mutua de los vecinos como cooperativa de usuarios.
La operación abarca uno de los conjuntos testimoniales más antiguos de la ciudad e involucra construcciones que datan de 1795 en adelante. El proyecto trata de preservar la volumetría de la manzana y el tramo urbano donde se inserta mediante la incorporación de un gran volumen hacia la calle en medio de las edificaciones existentes que se reciclan para nuevas unidades de vivienda. Reúne obra nueva, reciclaje y restauración, realizadas mediante el sistema cooperativo. En función del carácter introvertido del tejido urbano histórico y de la limitación espacial de los lotes, el partido arquitectónico busca un “esponjamiento” espacial adoptado una nueva morfología que se estructura en torno a dos patios principales y la dotación de un generoso sistema de espacio comunes en la planta superior, dando prioridad al soleamiento y las vistas al puerto y a la bahía de Montevideo. El desarrollo tipológico se resuelve en su mayoría con unidades tipo “dúplex”, y una serie de unidades resultan de la refuncionalización o “reciclaje” de locales existentes, lo que asegura una continuidad con el tejido inicial afirmando la forma tradicional de densificación del casco histórico. El programa de Covicivi 1, consta de 34 viviendas de 65 m2 de promedio, un salón comunal y 3 locales comerciales con un total de 2800 m2 de obra.
modo de producción. Hay una primera cuestión que se relaciona con la seguridad en la obra que debe extremarse desde el primer día. Otro aspecto tiene que ver con la valoración y el cuidado de bienes patrimoniales así como aspectos de sustentabilidad vinculados al concepto de “reciclaje” de espacios y materiales existentes. Así, la vivienda social se plantea aquí no solo como un producto terminado, sino como un proceso de apropiación de los habitantes que han valorado, desde su cultura, la importancia del hecho arquitectónico patrimonial y su producción, demostrando que se puede producir vivienda de interés social de calidad con bajo costo y permitiendo el crecimiento grupal como una de las claves de la producción social del hábitat. Las experiencias indican que es posible avanzar en el proceso de rehabilitación urbana con participación activa de la población de bajos ingresos, evitando los conocidos procesos de “gentrificación” mediante la figura de “propiedad colectiva en régimen de usuarios”. El cooperativismo de vivienda por ayuda mutua ha demostrado una gran capacidad para la gestión de estos procesos de construcción complejos permitiendo de esta manera, a partir de los ejemplos señalados, consolidar un programa de promoción y financiamiento público a través del Ministerio de Vivienda Ordenamiento Territorial y Medio Ambiente ( MVOTMA).
Un punto a destacar ha sido la reutilización de materiales de las demoliciones efectuadas, equivalentes a un 35% del total. Piedra, ladrillos y madera se han vuelto utilizar en la nueva construcción.
A MODO DE CONCLUSIÓN. El derecho a la Ciudad .El acceso a una localización adecuada en la ciudad consolidada, implica una política de suelo activa, donde el Estado juegue un rol central y facilitador para los sectores desfavorecidos lo que supone la atención integral del problema en clave de hábitat residencial y asegurar el derecho y acceso democrático a la ciudad. El Estado debe centrar sus esfuerzos en el subsidio a la localización para sectores de bajos ingresos como forma garantizar el acceso a la ciudad además de una operación rentable social y urbanísticamente.
El trabajo del IAT en esta modalidad requiere de un tratamiento particular, tanto en el proyecto como en la dirección de la obra, por el contacto directo con los usuarios. El sistema de “ayuda mutua” en rehabilitación implica un trabajo especial por parte de los técnicos actuantes con énfasis en la formación, capacitación y transferencia tecnológica.
El “derecho al centro” requiere de voluntad política e instrumentos potentes como la CIVIS ( Cartera de Inmuebles para Vivienda de Interés Social) con capacidad de gestionar suelo público y operar en el mercado para procurarlo, volcándolo luego a los programas de vivienda social en especial a los gestionados directamente por los beneficiarios.
El reciclaje de edificaciones existentes por el sistema de ayuda mutua agrega mayor complejidad al
Gestión y participación social. Por otro lado es muy importante el fortalecimiento de las capacidades
En el caso de Covicivi 2 se ha reciclado por ayuda mutua un edificio catalogado como “Monumento Histórico”: la Casa de Lecóq, típico ejemplo de la arquitectura colonial de Montevideo. En ella se han obtenido mediante reciclaje y nueva planta en un mismo lote, 19 viviendas, salón comunal y una local de uso barrial.
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y el reconocimiento de los recursos de la población en el costo de la solución. Los pobladores tienen mucho para aportar a una mejor solución en un contexto de pocos recursos. La participación efectiva a través de la gestión de su propio proceso, supone delegar y reconocer la capacidad de decisión de los futuros habitantes y es un elemento clave para asegurar la sustentabilidad del proceso de habitar en colectivo. El rol de los técnicos. Resulta fundamental contar con equipos de profesionales capacitados y comprometidos con el sistema cooperativo, en especial en ayuda mutua. El desarrollo del sistema en Uruguay se sustenta en parte en estos IAT´s que han acumulado experiencia y conocimiento, asumiendo los desafíos de la complejidad desde un hacer interdisciplinario y desarrollando tecnologías apropiadas y apropiables por los colectivos. Estos desafíos implican un mayor compromiso de la academia para lograr una formación técnica adecuada en el asesoramiento al proceso de gestión y producción de la vivienda y el hábitat social.
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Proyecto Participativo
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Proceso de producción cooperativo
Esfuerzo colectivo y solidadario. “todos trabajan en la casa de todos”
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Derecho al centro
Otros ejemplos de cooperativas y rehabilitaci贸n urbana
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COVICIVI 2, Obra de restauraci贸n. Fachada COVICIVI 1 COVICIVI 1. Entorno de las B贸vedas
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El rol de la mujer en obra de reahabilitaci贸n Patio COVICIVI 2 Tecnolog铆as apropiables
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Organizaci贸n, autogesti贸n y apropiaci贸n tecnol贸gica
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Estudou arquitetura em Porto Alegre (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Filadélfia (University of Pennsylvania) e Paris (Université de Paris-Saint Denis). Tem publicado extensamente sobre a arquitetura e o urbanismo modernos brasileiros e sobre a Arquitetura Latino-americana. É professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Integra o conselho editorial da revista Arquitextos- Vitruvius.
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Carlos Eduardo Dias Comas OSCAR NIEMEYER E A HABITAÇÃO COLETIVA DE INTERESSE SOCIAL
1 Na mesma linha se inscrevem o conjunto de Catacumbas, Gávea e Marechal Deodoro, os dois primeiros de Reidy, o último de Flavio Marinho Rego. Gávea- teto-terraço como lavanderia coletiva. De Francisco Bolonha são notáveis as casas em fita de dois pisos em Paquetá e o immeuble à redents de Vila Isabel. IAPI de Porto Alegre contemporâneo, estilisticamente não moderno. Há também realizações que contém idéias relevantes embora não sejam habitação social. Em um terreno acidentado, o Parque Guinle que Lucio Costa concebe em 1943 é um crescent virtual, formado com blocos racionalistas dispostos em linha quebrada a um lado de uma rua curvilínea em aclive. Vegetação e desníveis recriam a seqüência tradicional entre o espaço público da calçada e o espaço privado do apartamento.
CHOUPANAS E PALÁCIOS Niemeyer disse uma vez que não fazia habitação de interesse social porque Engels tinha razão: o problema da habitação era endêmico ao capitalismo. Alguém mal intencionado poderia replicar que o argumento do arquiteto era similar ao de Maria Antonieta. Esta observava que, não tendo pão, cabia comer bolos. Para Niemeyer, não se construindo casas populares, cabia fazer paláciosencargos de que o amigo chegado do rei não carecia. De outro lado, na literatura sobre a escola carioca de arquitetura moderna, a louvação da consciência social de Reidy no conjunto do Pedregulho chega a ser nauseante. Reidy é a exceção que confirma a regra do descaso da escola pelo problema da habitação- ao contrário de seu guru Le Corbusier. Tal suposição esquece a vila operária de Monlevade, que Lucio Costa projeta em 1934, os apartamentos da Gamboa que Lucio e Gregori Warchavchik realizam no mesmo ano, tanto quanto os conjuntos habitacionais construídos, nos 1940 e nos 1950, pelos Institutos de Aposentadoria e Pensões de Comerciários, Industriários e Bancários, que Nabil Bonduki examina em detalhe (1998). Carlos Frederico Ferreira assina muitos deles. Os dois grandes blocos racionalistas de galeria aberta garantem ao conjunto de Realengo um lugar em “Brazil Builds” (1942), a despeito das casinhas de telhado convencional em lotes mínimos que a ortodoxia moderna abomina. “Modern Architecture in Brazil” (1956) registra os dois tipos de blocos paralelos sobre pilotis do conjunto de Vila Guiomar, evidenciando sua disposição cambiante como resposta à topografia,
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o sistema viário independente dessa disposição e o espaço aberto coletivizado entre os blocos. Mas as casinhas do conjunto ficam literalmente fora da foto e não há equipamento coletivo à vista, embora uma escola primária se implante na sua periferia. O entusiasmo pelo Pedregulho se compreende melhor à luz destes exemplos. Pedregulho não tem casinha, tem 328 apartamentos em 4 hectares. O bloco curvilíneo de sete pisos, 260 metros de comprimento e 12 de largura abriga 136 duplex de dois quartos com 92 m2 acima do pilotis de acesso e 138 normais duma só peça com 45 m2 abaixo: maximiza o aproveitamento do terreno em declive sem elevadores e atualiza o “crescent” inglês da época georgiana sem a complicação que praticamente inviabiliza a construção do viaduto habitável de Le Corbusier. Os dois blocos ortogonais de quatro andares sobre pilotis tem 56 duplex de dois, três e quatro quartos, respectivamente com 62, 72 e 82 m2. E Pedregulho tem creche e maternal, jardim de infância, escola primária e secundária, centro de saúde, lavanderia, mercado. Estética e programaticamente excepcional, promovido pelo Departamento de Habitação Popular da Prefeitura do então Distrito Federal para seus funcionários, Pedregulho é uma unidade de vizinhança moderna de alma e corpo, como quer Siegfried Giedion1 em “A Decade of New Architecture 1937-47” (1951), onde a Unidade de Habitação de Le Corbusier em Marselha se ilustra na categoria de edifício de apartamentos. Niemeyer não está ausente da narrativa de Bonduki, onde é mencionado como autor de empreendimentos residenciais para a classe média que adotam os
mesmo princípios de economia, racionalidade, valorização do espaço público, incorporação de equipamentos coletivos e estandardização, gerando edifícios que são “verdadeiras unidades de habitação” e “pouco se diferenciam, como soluções arquitetônicas, dos projetos de habitação social”. De fato, Niemeyer elabora vários projetos de habitação coletiva no período 1945-60: o condomínio Mauá junto ao Hotel Quitandinha de Petrópolis, os edifícios COPAN, Montreal e Eiffel no centro de São Paulo, o conjunto JK e o edifício Oscar Niemeyer no centro de Belo Horizonte, mais o edifício no Hansaviertel em Berlim para a Interbau 1957, exposição que inclui outra Unidade de Habitação de Le Corbusier. Maria Ruth Amaral de Sampaio (2002) inclui o JK, o Copan e o Montreal entre os exemplares de habitação econômica promovidas pelo setor privado no Brasil- insistindo na influência do tipo corbusiano. Antes de verificar em que medida essa aproximação se aplica, cabe algum comentário sobre as noções de habitação de interesse social, habitação econômica, habitação mínima e seu apelo para o arquiteto moderno. VIRTUDES E VIRTUOSES No Brasil como em toda nação industrializada ou tratando de se industrializar, habitação de interesse social é habitação para população de baixa renda, que necessita subsidio público para ter um teto, justificado como obrigação moral ou conveniência pragmática. Pode por isso considerar-se sinônimo de habitação econômica, usualmente tomada por habitação de baixo custo inicial, e logo sinônimo de habitação mínima, tomada por habitação de área reduzida. Ora, lato senso, toda habitação tem interesse social, até a mansão do milionário. Aliás, a pobreza é sempre relativa e baixa renda pode ser um espectro amplo. Entendida como relação entre custo e benefício, a economia é desejável em qualquer habitação, a do rico e a do pobre. E uma habitação de baixo custo inicial mas de manutenção onerosa não é, a longo prazo, uma habitação econômica. Nem o custo da habitação depende só da área construída e sua materialidade. O valor do terreno às vezes pesa mais. Uma habitação econômica não é necessariamente mínima, nem uma habitação mínima é necessariamente econômica. Muitas vezes, habitação de interesse social é um eufemismo, uma maneira suave e decorosa de designar habitação de segunda classe para os pobres, barata e diminuta. Contudo, vale ponderar que é de interesse social que toda habitação seja ao menos econômica, não importa quem a financie. Bonduki e Amaral Sampaio
fazem um lembrete oportuno em mais de um sentido ao aproximar habitação social de promoção estatal e habitação econômica de promoção privada. Em qualquer caso, as conotações positivas das palavras social, econômica e mínima avalizam o seu uso pelos promotores e projetistas da habitação coletiva e moderna nos 1920 europeus. A primeira evoca generosidade e altruísmo, ao invés de um paternalismo autoritário visando apenas à conservação e reprodução da força de trabalho. As outras duas implicam oposição ao supérfluo e reivindicação do essencial, do fundamental, submissão à necessidade verdadeiramente fatal e rechaço de tudo que é capricho. A preocupação com a habitação social, econômica e mínima pode exibir-se então como um emblema de virtude- além de atentar para um nicho de mercado que desponta, na esteira de muita realização da década anterior. Essa preocupação não é necessariamente hipócrita. O compromisso com a melhoria do hábitat humano é um fator constitutivo da construção, se não da arquitetura. Tem mais, porém. O projeto da habitação mínima inclui um forte componente lúdico. A habitação mínima se assemelha à edícula e à miniatura de abrigo, evoca a casa da árvore e a casa de bonecas, se associa à seriedade e a cerimônia do jogo infantil assim como ao prazer que esse jogo proporciona. Com efeito, casas de prazer de qualquer tipo freqüentemente se designam com diminutivos. Cassino é literalmente uma casinha. Bordel deriva de “borde”, pequena casa de granja feita de pranchas de madeira. Bagatela é a folia que se pretende pouca coisa, embora luxuosa como a do Bois de Boulogne. A mobilidade e a tecnologia de ponta se somam à carta de alusões fascinantes quando a vanguarda compara a habitação mínima a uma cabina de barco ou de trem. A habitação mínima é a máquina de viver por excelência. Além disso, o bom projeto da habitação mínima se assemelha a um quebra-cabeças e se desfruta como tal, ao definir e configurar seus elementos ou as articulações entre os mesmos. Como nota Alexander Klein, um dos teóricos do existenz minimum, não se trata simplesmente de encolher os grandes apartamentos da burguesia acomodada. A interdependência de espaço habitável e mobiliário é um ponto de interesse. Grete Schütte-Lihotzky submete a cozinha de tipo americano a uma análise taylorista: armários ou balcões com equipamentos integrados permitem economizar superfície com ganho de eficiência e de comodidade. Por outro lado, inspirada no mosteiro, no falanstério, no hotel,
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Programado para uma construção em etapas e estruturalmente repetitivo, o Parque Guinle corrige o viaduto habitável corbusiano enquanto questiona, sob estes aspectos, o progressismo tão elogiado do Pedregulho posterior. 2 que representam 67% da sua população- hoje renovada profissões intelectuais e liberais que ladeiam locatários e proprietários iniciais ou seus descendentes. Sbriglio p 117
no transatlântico, nas Habitations à Bon Marché da fundação filantrópica parisiense de 1919 como no hof vienense e na dom-komuna russa de 1929, a coletivização de serviços diminui a independência da célula familiar, mas garante as economias de escala. Na célula e no bairro residencial que é o seu meio e prolongamento preferido, a racionalização das circulações importa tanto quanto a insolação higiênica e o contacto com o verde que reconforta e distrai, as alegrias essenciais que a máquina de viver deveria recuperar e por à disposição de todos. Nas mãos de Le Corbusier, a habitação de interesse social tem por aliada a cidade no parque zoneada mono-funcionalmente. UNIDADES DE VIZINHANÇA E UNIDADES DE HABITAÇÃO Virtude e prazer, metrópole e arcádia, que combinação fantástica! Tanto melhor se a imagem for marcante e memorável. A construção em altura ajuda a conformá-la, liberando o solo. Na unidade de habitação, a noção de bairro-jardim ou unidade de vizinhança vertical se junta às associações com o mosteiro, o falanstério, o hotel e o transatlântico. Le Corbusier se preocupa com seu porte e a chama de unidade de grandeza conforme, uma aldeia de casas superpostas prevista para 1000 a 2000 pessoas- com o referendo dum consultor em organização hoteleira- e constituindo uma comunidade, uma unidade social. Três ou quatro unidades de habitação equivalem, portanto, em menos espaço e igual ou maior auto-suficiência em termos de serviço e equipamentos, ao distrito para 5000 pessoas de Ebenezer Howard ou à unidade de vizinhança de Perry e Stein, sua versão americana. Com área de 800 x 800 metros e foco na escola primária, esta admite um máximo de 80 pessoas em 20 casas unifamiliares por hectare, em contraste com o mínimo de 300 pessoas em 100 apartamentos que Le Corbusier preconiza. A memorabilidade aumenta com a contenção dos apartamentos em um volume regular, uma barra ou placa elevada do chão numa bandeja sobre pilotis, à maneira do Pavilhão Suíço. O bloco isolado de Nemours impacta mais que a edificação perimetral no quarteirão celular da Cidade Contemporânea ou as fitas endentadas da Cidade Radiosa. Mas é em Marselha que o circo pega fogo. Inaugurada em 1952, ao fim dum processo iniciado em 1945, com custo oito vezes maior que o orçado, a unidade de habitação do bulevar Michelet é uma operação de prestígio promovida pelo governo francês e destinada à pequena classe média, na maioria funcionários.2 Num terreno de 3,6 hectares medindo uns
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190 x 190 m, Le Corbusier dispõe obliquamente ao bulevar um bloco com 137 m de comprimento, 24 m de profundidade e 56 m de altura, com 18 andares incluindo o pilotis térreo, mais superestrutura sobre o teto-terraço, totalizando 20 níveis. A seção transversal tipo tem três andares de 2,26 m de altura, uma rua interior e dois apartamentos dúplex imbricados com largura de 4,19 m entre eixos, duas orientações e 98 m2 de área privativa cada um. O acesso se faz pela rua interior intermediária. O apartamento superior tem três quartos no andar de cima. O quarto de casal em mezanino olha para o pé-direito duplo do estar e do balcão contíguos. Os outros dois quartos, na fachada oposta, se prolongam por balcão de um andar de altura e constituem cabines que se isolam ou combinam, mediante portas de correr no sentido do seu comprimento. O apartamento inferior tem cozinha e jantar em mezanino sobre o estar associado ao quarto de casal e prolongado pelo balcão. Os outros dois quartos são análogos aos do apartamento superior. Dos 337 apartamentos, 213 integram a secção transversal tipo. O resto se divide entre 19 duplex maiores, 79 menores e 26 estúdios. Os prolongamentos da habitação invadem o corpo alveolar do edifício, com esplêndidas vistas para a baía e as montanhas ao longe. Salas de reunião, quartos de hóspedes e restaurante se instalam no 7º e 8º andares, ao lado de espaços para serviços e lojas de conveniência: mercado, correio, lavanderia, cabeleireiro, quiosque de jornais e revistas, drogaria, farmácia, biblioteca, etc. A escola maternal fica no 18º andar. No teto-terraço dedicado ao esporte, ao lazer e à cultura estão a creche e o jardim de infância, um teatro, o ginásio e vestiários. No pilotis aberto, a única interrupção é o grande vestíbulo com os elevadores e a escada de serviço. Três escadas de incêndio desembocam no rés do chão. A da galeria comercial tem aprumo escultural. As duas de ponta são elementares, veladas pelo pilotis. Sobre este se estende a galeria técnica, na bandeja que Le Corbusier equipara a um solo artificial. O estacionamento é ao ar livre ou em garagem próxima à entrada, construída por 1960. A garagem prevista sob o pilotis não se executa em função do custo. A unidade de habitação de Marselha é um edifício de apartamentos equipado, um condomínio esperto e resolutamente autárquico, cuja semelhança com um navio singrando o verde é acentuada pela concentração dos serviços e equipamentos no meio do volume construído. A ausência de contato imediato
com o exterior mesmo do comércio se inscreve num intento extremo de renovação da estrutura tradicional do quarteirão em termos espaciais e funcionais. As outras unidades que Le Corbusier realiza em território francês tem programa mais convencionalsem comércio de nenhuma espécie- e orçamento muito menos generoso, conforme às normas usuais do programa de “Habitations à Loyer Modéré”. A unidade de Nantes-Rezé (1953-55) é encargo de uma cooperativa integrada majoritariamente por operários e contramestres do porto. Briey en forêt (1956-63) é feita para operários e técnicos do setor siderúrgico. Firminy (1959-1967) é um encargo do prefeito Claudius Petit, o ministro que encomendara a unidade de Marselha. Os 2,5 hectares originais de Nantes são um parque arborizado, atravessado por uma canteira transformada em espelho d’água. Briey é uma clareira na floresta. Firminy se ergue no topo de uma colina coberta de relva. O comprimento do bloco é respectivamente 105, 110 e 131 m, a profundidade em torno de 20, a altura de 18 a 20 andares. O número de apartamentos varia de 321 a 414, com largura por volta de 4 m. Os apartamentos tipo variam de 85 a 106 m2 de área com largura de 3,66 metros. Os pilotis, alternadamente em V e A, são dispostos em quincunce no mesmo intervalo, que é a metade do intercolúnio do pilotis em Marselha. As constantes são o pilotis aparente no térreo vazado, interrompido só pelo vestíbulo com os elevadores, a seção tipo de apartamentos imbricados, os balcões, as salas de reunião e o teto- terraço, incluindo escola maternal em Nantes e Firminy, mas não em Briey. Com belas vistas da cúpula do Reichstag, a unidade de Berlim (1956-58) se constrói em Charlottenburg, subúrbio residencial, perto do estádio olímpico, para solteiros, casais ou pequenas famílias. O comprimento do bloco é de 141 m, a profundidade de 23 m e a altura 53 m. Os andares são de 2,60 m de altura, ao contrário das unidades francesas. O número de apartamentos aumenta para 557, sempre de orientação única, com largura de 4,26 metros e área bastante reduzida na absoluta maioria. São 212 estúdios e 253 duplex sem mezanino de um dormitório, mais 88 de dois dormitórios, 4 de três e 1 de quatro, todos igualmente duplex. O vestíbulo corta o pilotis aparente similar aos anteriores, no térreo vazado e usado para estacionamento. Tem galeria técnica acima do pilotis, salas de reunião no meio e um teto-terraço sem maior tratamento. Na verdade, é um simples edifício de apartamentos em meio ao verde,
com um mínimo de componentes programáticos coletivos, como Briey, embora certamente menos necessitado de maternal ou creche. É uma unidade social apenas na medida em que é um condomínio- e os proprietários tem pelo menos um interesse em comum. Le Corbusier protesta, mas não deixa de referir-se a Berlim e a Briey como unidades de habitação. Ambos estão para Marselha como Realengo e Vila Guiomar estão para Pedregulho, Nantes e Firminy constituindo realizações intermediárias. Nessas circunstâncias, o conceito de unidade de habitação se presta à ambigüidade. Como um certo brutalismo, a auto-suficiência funcional é menos importante do que Marselha deixa crer. Pode considerar-se atributo desejável, mas não imperativo. A auto-contenção da eventual diversidade de serviços e equipamentos é fundamental- mas não de qualquer jeito e em qualquer lugar. De fato, a novidade da unidade de habitação corbusiana não é programática, é distributiva e ambiental. Em última instância, é uma idéia de forma que conta, um esquema geométrico, dimensional e figurativo que é constante, uma certa altura, um certo comprimento, uma certa profundidade a serviço da economia de testada de apartamento, uma certa capacidade de acomodação e flexibilidade na definição de tamanho de apartamento, um certo isolamento do chão, um certo tamanho de terreno e ao menos a possibilidade de converte-lo em parque. Daí porque mesmo a presença de muitos componentes programáticos coletivos num edifício de apartamentos- como nos precedentes russos e austríacos- não basta para qualificá-lo como unidade de habitação corbusiana. Ou, inversamente, daí porque só a presença de um pilotis térreo vazado- como em Vila Guiomar- não confere a nenhum prédio o mesmo estatuto. De outro lado, a auto-suficiência do bairro-jardim ou da unidade de vizinhança nunca se pode pretender absoluta. A autarquia elevada do solo se justifica em termos simbólicos, metafóricos e não pragmáticos. A loja térrea não é menos conveniente que a loja no meio do edifício, nem a disposição de elevadores em mais de um núcleo menos recomendável que sua concentração: uma rua interior comprida de 100 m não é propriamente um paraíso. E cabe não esquecer que, por incrível que pareça, há quem goste muito mais do asfalto que da grama. CONEXÃO HOTELEIRA, À MODA DE MINAS Os primeiros projetos de habitação coletiva de Niemeyer são dois hotéis em Minas. O hotel de Ouro Preto (1939-44) uma barra com base contida
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3 Time Magazine, Jan 21 1946, “The Cross and the Wheel”. tropeiro, construtor de estradas, comerciante, proprietário do Cassino da Urca e de Icaraí, concessionário do Cassino da Pampulha e das estâncias hidrominerais mineiras Araxá. Poços de Caldas e Lambari, proprietário do Hotel Cassino Quitandinha, associado de Assis Chateaubriand, dono de agências de publicidade. http:// pt.wikipedia.org/wiki/ Joaquim_Rolla
e seção imbricada, uma linha de apartamentos duplex cuja zona noite se superpõe ao corredor e aos apartamentos simples ao longo da fachada traseira. O hotel da Pampulha (1942) é uma barra arqueada com base composta, incluindo um andar de transição com o pilotis periférico aparente, um gargalo parcial ou total entre a base expandida abaixo e o corpo do edifício em balanço. No meio da elevação para o lago, a laje de piso da sobre-loja avança em teto-terraço sobre os salões e, nas pontas, recua por trás das colunas periféricas de ordem colossal- reiterando então um motivo característico dos edifícios corporativos brasileiros dos 1940, como o Ministério da Educação ou a ABI. O edifício Mauá ou condomínio hoteleiro Quitandinha (1950) é incorporação do mineiro Joaquim Rolla, tropeiro milionário, magnata do jogo, ex-concessionário do Cassino da Pampulha e proprietário do Hotel Quitandinha- que Time Magazine compara a um castelo, avalia ter custado $10 milhões de dólares e diz ser a última palavra em hotel-resort-cassinos “onde os brasileiros enriquecidos com a inflação lançam fichas coloridas no pano verde e se esbaldam na pista de dança”.3 Anunciado como “uma cidade dentro de um edifício”, o bloco arqueado de 33 andares comporta 20000 pessoas, com 414 metros de comprimento (2,5 mais que em Marselha), 16.5 metros de profundidade (2/3 de Marselha) e 118, 20 metros de altura (o dobro de Marselha). São 5700 apartamentos servidos por quatro núcleos de circulação vertical exterior, equivalendo a quatro blocos de 1375 apartamentos. O tipo favorito é o semi-duplex A de 74 m2, com ventilação cruzada, um dormitório e duas varandas. A secção padrão o associa a dois estúdios em um nível só: o B tem uma varanda e o C nenhuma. O primeiro, com 40 m2, se dispõe no lado côncavo do edifício; o outro, com 20 m2, no lado convexo. Há paradas de elevador a cada andar alternado. A curva mascara internamente o comprimento dos corredores comuns, desde os quais se sobre ou desce meio lance para chegar a cada apartamento. O álbum promocional e a publicação feita por Papadaki mostram ainda apartamentos semi-duplex de dois dormitórios com 148 m2 e apartamentos de dois dormitórios em um nível só de 120 m2. A publicidade do empreendimento é sedutora, acenando com a possibilidade de “ter um refúgio próprio, longe dos grandes centros”- que “surge para todos, mesmo quem não disponha de fortuna e tenha um ordenado apenas razoável.” O condomínio poderia ser considerado um “sistema de coletivização do conforto, mesmo do luxo”. É uma
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“cidade vertical” a 5 minutos de Petrópolis e 45 minutos do Rio. Ao alcance de um gesto está “tudo o que de agradável pode oferecer uma grande cidade, restaurantes, bares, lojas elegantes, vida esportiva, escolas”, sem esquecer que “a 500 metros, está Quitandinha, com cinemas, teatros, vida noturna.” Um lago artificial articula o condomínio com o hotel existente. O álbum promocional descreve o projeto como uma “cidade- satélite” que é o cenário ideal para uma vida campestre “sem preocupações de criadagem e outros inúmeros problemas”. Os apartamentos são entregues mobiliados. O condomínio conta com centro telefônico (o telefone é um bem escasso no Brasil de então), gabinete dentário, consultório médico, escola maternal. E é um investimento seguro. Os apartamentos “podem pagar-se por si mesmos”, a administração se encarregando de alugá-los quando o proprietário não os utilizar. Os apartamentos integram o corpo do monobloco, tudo o mais se instala nos andares mais baixos e na cobertura. O conjunto JK (1950-70) é a contrapartida urbana do Mauá, incorporada pelo mesmo Rolla e anunciada como outra “cidade vertical” para 5000 pessoas, que se tornaria, segundo o então governador Kubitschek, uma “marca registrada” de Belo Horizonte, feito a torre Eiffel em Paris ou o Rockefeller Center em Nova York. O empreendimento é uma parceria público-privada, financiado pelo Banco Mineiro da Produção, o banco oficial do estado. Conjuga apart-hotel, apartamentos e escritórios, museu de arte, cine-teatro, galeria comercia, estação rodoviária, clube, boate, piscina, boate, mercado, salão de beleza, banco, agência de turismo, correio, padaria, lavanderia, serviço de empregadas, restaurantes de variados tipos, salões de estar, de jogos e de leitura- e escritórios. Tem apartamentos iguais aos do Mauá e cinco tipos de apartamentos normais, num total de oito alternativas. O conjunto ocupa duas quadras contíguas em declive, entre a rua superior e a intermediária planas e retas; a inferior é um segmento da rótula da praça Raul Soares. O bloco A, na quadra de cima, paralelo àquelas ruas, tem XXX metros de comprimento e 647 apartamentos em 26 andares. O bloco B, perpendicular, na quadra de baixo, tem xxx metros de comprimento e 439 apartamentos em 36 andares. Ambos são barras retas de 16,5 metros de largura que recuam dos quatro lados. Os tipos normais de apartamento ocupam três quartos da extensão do bloco A. Apartamentos iguais aos do Mauá perfazem todo o bloco B e o quarto restante do bloco A.
No Mauá e no JK, o detalhamento da base composta varia em correspondência com a situação diversa. Os pilares em V ou W são alternativa e réplica original aos apoios de Marselha- ou àqueles bem mais antigos do edifício Turun Sanomat de Aalto (1928-30). A raiz orgânica da solução é mais clara no Pavilhão da Agricultura do Ibirapuera, onde o pano de vidro transparente evidencia sua afinidade com galhos que se bifurcam. Niemeyer apresenta esses pilares como dispositivo que desobstrui o andar térreo, mas seu primitivismo naturalista também é digno de nota, e extensivo às curvas serpentinas ou de forma livre. No Mauá, o andar de transição é uma segunda sobre-loja. Sua laje de piso é congruente nas pontas com a projeção do corpo do edifício, expandindo-se ao centro sobre colunas normais. Trunca os pilares num par superior de apoios inclinados e um V cheio correspondendo à circulação da galeria comercial com loja e sobre-loja. De um lado, a expansão tem contorno arqueado; do outro, delineia pseudópodos amebóides como os da casa Tremaine (1948). Tem afinidades aí com os relevos de Arp, como quer Henry-Russel Hitchcock, diversamente do Hotel da Pampulha (1942-43), onde a laje expandida se limita por curvas cônicas e compostas de conotações barrocas- e a elevação para a avenida mostra uma base contida de ordem colossal. Do lado côncavo, o corpo do edifício tem por fachada uma grelha de concreto e alvenaria incluindo um peitoril vazado, definindo alvéolos rasos envidraçados. As varandas dos apartamentos A e B se equacionam de forma inusitada e sutil. As esquadrias compõem-se de portas que abrem contra as paredes divisórias do apartamento e uma bandeira superior que abate para ventilação. O limite inferior da varanda se define com o piso diferenciado, uma bandeira fixa constituída por veneziana e cortina presa à face inferior dessa bandeira. No lado convexo dos apartamentos tipo C, os alvéolos se fecham de maneira mais convencional com bandeira fixa constituída por veneziana, peitoril opaco e janelas de correr intermediárias. O coroamento do edifício comporta terraço e áreas coletivas sob uma cobertura de bordos mistilíneos em recuo. No JK, no quarteirão mais elevado, a base expandida é quase uma plataforma no nível da calçada da rua superior; o térreo fica semi-enterrado. A plataforma corta todos os pilares em W do bloco A, salvo o da ponta esquerda, aberta, de pé direito duplo. Os tridentes definem o gargalo de transição. No lado oposto, a plataforma se recorta
com bordos mistilíneos ou elípticos e trunca seletivamente os pilares num ritmo quíntuplo: as pontas abertas flanqueiam expansões que avançam entre um espaço raso, amplificando a extroversão da independência entre laje e suporte primeiro articulada no Hotel de Ouro Preto (1940-44). Da rua intermediária, a base aparece desdobrada, escalonada. O piso do térreo semi-enterrado se expande como plataforma intermediária sobre o piso no nível da rua intermediária. Interrompida ao longo da mesma, reaparece no quarteirão mais baixo, os dois tramos unidos por rampa helicoidal, como a dos pingüins projetadq por Berthold Lubetkin no Zoo londrino (1934). O bloco B emerge da plataforma em balanço sobre uma série de placas paralelas. Na maquete publicada em Papadaki, as empenas cegas e as placas extremas estão no mesmo prumo desde o chão; na execução, infelizmente, as placas se trocam por pilares discretos e a transmissão de carga ao chão no andar térreo se faz por braços inclinados. Um prisma triangular anexo abriga a circulação vertical do bloco A. O bloco B tem núcleo de circulação vertical interno. Faixas com janelas buraco dividem o corpo do bloco A em três setores, correspondendo a quartos de hotel, apartamentos normais e apartamentos semi-duplex . Faixa similar divide o bloco B em um setor de apartamentos acima e de escritórios abaixo- hoje igualmente ocupado por apartamentos. Em ambos os casos, o tratamento do corpo do edifício simplifica a proposição do Mauá. O uso coletivo previsto para o andar superior se registra através de reentrância correndo ao longo de toda a fachada. CONEXÃO HOTELEIRA, À MODA PAULISTA A conexão hoteleira importa igualmente no edifício Montreal (1950) e no COPAN (1951-66). O primeiro é encomenda do Banco Nacional Imobiliário de Orozimbo Roxo Loureiro e Octavio Frias, junto com a galeria Califórnia. O terreno é uma cabeça de quadra em forma de obus, limitada por duas avenidas e sua intersecção, em pleno centro de São Paulo. Comportando 260 (278) estúdios de aproximadamente 45 m2 em 24 (21) andares, o Montreal não foi aprovado inicialmente como edifício de apartamentos, mas como hotel. Neste caso, a legislação permitia maior ocupação, as áreas mínimas por cômodo sendo menores e a ventilação indireta de banheiros tolerada. Os apartamentos padrão ficam ao longo das avenidas em duas alas de quatro e três apartamentos cada, unidas por segmento circular com três apartamentos especiais. Niemeyer configura uma barra arqueada
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de raio curto, com 50 metros de comprimento se retificada. O triângulo entre apartamentos acolhe galerias, um vazio central, a torre de elevadores e escada. Dois outros apartamentos especiais ocupam as pontas até o décimo andar. A profundidade da ala incluindo a galeria é de 10,5 m. A base composta reaparece com colunas normais, livres e visíveis por trás do pano de vidro que fecha o andar térreo. Uma rampa conduz ao hall dos elevadores dos apartamentos no sub-solo, garantindo mais área para uso comercial. A expansão à frente se dá como marquise. A sobre-loja é envidraçada velando as colunas periféricas sob o balanço do corpo do edifício. O corpo escalonado comporta três seções. As duas pontas de dez andares tem paredes esburacadas. O volume intermediário mais alto comporta duas zonas de tratamento diferenciado. A fita maior e o segmento circular tem peitoris e esquadrias intercaladas com placas horizontais perfuradas que avançam para proteção solar, amplificando um motivo de Mendelsohn na loja Schöcken em Stuttgart (1926-28). A fita menor tem brises verticais entre as bordas de lajes. A interrupção da grelha horizontal no undécimo andar reitera o gabarito dos prédios vizinhos e articula a intervenção com as pré-existências. Modesto, o Montreal completa quarteirão. Bem mais ambicioso, o COPAN faz parte do grande complexo turístico imaginado por Roxo Loureiro e encomendado a Niemeyer pela Companhia Panamericana de Hotéis e Turismo, empresa que associa ao Banco Nacional Imobiliário a Intercontinental Hotels Corporation de Nelson Rockefeller. O complexo deveria ser inaugurado com as comemorações do IV centenário de São Paulo. Comportaria um hotel de luxo, apartamentos, cine-teatro, restaurantes, galeria comercial, jardins suspensos e piscina.Há discrepâncias entre o projeto publicado por Papadaki e o projeto executado. Em qualquer caso, o partido maximiza o aproveitamento do terreno de forma irregular na avenida Ipiranga, definindo uma rua interna articulada com passagem de pedestres existente, uma quadra para o hotel e uma cabeça de quadra curvilínea para o edifício COPAN. O hotel é um bloco reto, de andares, não executado: em seu lugar se ergue um banco. Nas duas versões, o edifício se configura como uma barra curvilínea de 32 andares no alinhamento da rua interna. O número de apartamentos é da ordem de 1100, o comprimento seria de uns 140 metros se retificado e a profundidade é 16.5 metros.
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A base composta reaparece com colunas de secção convencional. No projeto publicado, o andar de transição em ambos os prédios constitui um terraço com as colunas periféricas aparentes. Os dois terraços se unem por uma ponte. O projeto executado se limita ao COPAN. O andar de transição constitui uma terceira sobre-loja cuja expansão para a frente é um terraço com a largura da calçada. A planta e a maquete publicadas mostram uma escada rolante e outra helicoidal possibilitando acesso independente. A escada reta executada no lugar da helicoidal não parece ter sido desenhada por Niemeyer. As colunas periféricas do terraço eram aparentes- o andar foi fechado por fora pelo atual locatário. A base expandida comporta de uma a duas sobre-lojas, cujas lajes ora avançam até a projeção do andar de transição, ora se recolhem evidenciando os acessos. É outro exemplo da extroversão enfática do mecanismo da planta livre característica da arquitetura moderna brasileira desde o Pavilhão Brasileiro da Feira Mundial de Nova York de 1939, pondo a descoberto as entranhas do edifício e fazendo confundir interior e exterior. O impacto aumenta porque os acessos e corredores do andar térreo são inclinados prolongando o declive da calçada. O corpo é constituído por uma barra serpentina. No projeto publicado, metade do seu volume corresponde a apartamentos estúdio ou quarto e sala de 28 a 69 m2, acessíveis por uma torre de elevadores e escada que se conecta ao corredor central por rampas vencendo a diferença meio nível entre a torre e o corredor. Apartamentos maiores de 94 a 152 m2 são servidos por elevadores separados, mas vinculados por corredor traseiro àquela torre, que serve de escape de incêndio. Na versão construída, o corredor se elimina em prol de escadas externas. Niemeyer acaba por se desinteressar do projeto e é pouco provável que tenha responsabilidade por essa modificação. Como o Montreal, as fachadas para a rua são constituídas por lâminas paralelas, interrompidas duas vezes, na altura do undécimo andar e outra mais acima. Entretanto, no COPAN a justificativa parece ser puramente plástica, a pausa que realça o motivo repetitivo. A cobertura com superestrutura elaborada no projeto publicado se substitui no construído por um volume mais simples, mas igualmente recuado das bordas. A conexão hoteleira se torna vestigial no último projeto paulista de Niemeyer, outra incorporação do Banco Nacional Imobiliário, em cabeça de quadra de porte similar ao terreno do Montreal, mas mesclando apartamentos de padrão mais alto com galeria comercial e restaurante. O edifício Eiffel
(1955) ocupa terreno triangular na ponta de quarteirão com apenas uma testada livre, de frente para a praça da República. A base expandida é frontal e conta três pavimentos sobre ampla garagem no subsolo. Envidraçado por trás da colunata externa, o andar térreo abriga dezesseis lojas e três vestíbulos associados à circulação vertical. O piso inclinado da galeria acompanha o suave declive da calçada, A sobre-loja opaca e perfurada em balanço cobre o terreno inteiro. O restaurante acima se envidraça por trás da colunata externa do corpo em balanço, entre o volume inferior esparramado e o superior contido. O corpo do edifício é uma barra dobrada e escalonada de 55 m de comprimento (se retificada) e 8 m de largura, contendo 54 apartamentos dúplex de dois e quatro dormitórios. Niemeyer transpõe para uso residencial, num parcelamento pré-moderno, o arranha-céu cartesiano com planta em “pé-de-galinha”, que Le Corbusier destinara para escritórios ou apartamentos na cidade verde, no Rio e em Hellocourt. Ou quem sabe, vai direto à fonte e atualiza o Perret da rua Franklin. Os apartamentos menores, com 89.5 m2, constituem a placa central de 23 andares, paralela ao alinhamento da praça. Os maiores, com 196 e 208 m2, ficam nas duas alas de 11 andares, à esquerda e à direita. A cobertura é um tríplex. Como nos demais casos, as empenas são cegas, o coroamento indicado pelo espessamento da laje de cobertura. A fachada para a praça se apresenta como uma malha que alterna, no sentido horizontal, elementos opacos e translúcidos, e no vertical, faixas envidraçadas e faixas opacas, demarcadas pelas lajes dos pavimentos. É tratamento em baixo relevo similar ao adotado por Reidy para os blocos baixos do Pedregulho. ORTODOXIA, EM MINAS E BERLIM O programa é bem mais ortodoxo nos dois projetos residenciais contemporâneos do Eiffel. O edifício Oscar Niemeyer (1955), na praça da Liberdade de Belo Horizonte é um clássico edifício de apartamentos burguês, sem nada de comum a não ser a garagem. O empreendimento é iniciativa de Lúcia Machado Almeida, irmã do político mineiro Cristiano Machado, visando aproveitar ao máximo permitido o terreno de que dispunha, uma micro-quadra triangular de aproximadamente 30 metros de lado e forte declividade. O financiamento vem do mesmo Banco Mineiro da Produção que apóia o conjunto JK- cuja sede é igualmente projeto de Niemeyer. O edifício tem nove andares-tipo com dois apartamentos por andar num volume que é esquemati-
camente um Y curvilíneo extrudado, topologicamente similar ao volume do Eiffel e podendo passar por uma versão mole do “pé-de-galinha” corbusiano. Em outras palavras, é uma barra composta, topologicamente aparentada à barra dobrada. Retificado, o comprimento do edifício é cerca de 40 m com profundidade de uns 10 m. Um apartamento tem três dormitórios e 136 m2 de área privativa, o outro tem quatro e 225 m2, ambos com dependência completa de empregada e iluminação e ventilação diretas, atendidos por um núcleo de circulação central. Os apartamentos do último andar têm acesso à cobertura, que conta apenas com um banheiro. O coroamento é feito por uma platibanda que serve de peitoril ao terraço. A base composta é peculiar. O gargalo entre o corpo de forma aparentemente livre e a base triangular ocupando todo o terreno é o andar de acesso pedestre, térreo numa ponta e elevado na oposta. O vazio dessa base contida só se interrompe pela portaria e pelas placas que apóiam a geometria complexa do corpo do edifício, ora avançando sobre a calçada nas pontas de cada elevação, ora recuando ao centro para trás dos limites do terreno. As placas propostas no bloco B do JK reaparecem com arestas vivas, que minimizam o seu peso visual. Transparente quando em vista frontal desde a praça, a base se fecha vista desde as esquinas. O corpo é outra instância do tipo de solução adotada no Montreal e no COPAN como no edifício Triângulo paulistano (1955) e no Banco Mineiro da Produção belo-horizontino (1955). Um andar corresponde a cada três vãos entre placas horizontais. Os parapeitos em alvenaria rebocada ganham incrustações de pedra que acrescentam um toque de rusticidade. Aqui no entanto não há empenas, há continuidade de linhas, interrompida apenas pelo núcleo de circulação vertical opaco, um caule esbelto. Segundo Niemeyer, a inspiração para o partido lhe ocorreu ao observar uma pilha de discos em um canto. O volume extrudado a partir de uma planta que evoca também um trevo ou pássaro de asas abertas reitera a tendência pós-guerra de Niemeyer de substituir alusões clássicas por alusões biomórficas, como os pilares em V ou W- mas passa igualmente por versão de um dos arranha-céus de vidro de Mies van der Rohe (1922). O edifício para a Interbau 1957 foi projetado após uma única visita do arquiteto a Berlim (1955), integrado ao plano de reurbanização do bairro Hansaviertel, demonstração exemplar de zona
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residencial moderna, com edifícios de uso exclusivo isolados no meio do parque. A vizinhança inclui uma barra de Egon Eiermann e uma torre de van der Broek & Bakema no entorno imediato, Alvar Aalto e Walter Gropius alhures. Le Corbusier faz sua proposta já mencionada para outro sítio, Charlottenburg. O programa proposto por Niemeyer é o de um edifício de apartamentos sem comércio, mas equipado com serviços comuns na cobertura e num andar intermediário, pagando tributo nesse sentido à unidade de habitação de Marselha. Como ocorre com Le Corbusier, há um projeto inicial e outro projeto executado. No caso do arquiteto brasileiro, ambos são barras retas soltas no terreno. O corpo se ergue sobre pilares em V, limitando um térreo com portarias e diversas caixas de escada. Trata-se de uma base contida, articulada, através de uma passarela, com a torre de elevadores. que dão acesso ao térreo, ao andar intermediário diferenciado e à cobertura. O estacionamento é ao ar livre. O partido permanece substantivamente o mesmo: uma barra residencial com o máximo de altura e o mínimo de paradas de elevador e ruas internas, garantindo ventilação cruzada e duas orientações por apartamento normal junto com o máximo de privacidade no seu acesso, cada patamar de escada compartilhado só por dois apartamentos. O projeto inicial empilha três edifícios de quatro andares acessíveis só por escada. O térreo dá acesso às cinco caixas de escada levando aos apartamentos do 2º, 3º e 4º andares- e inclui passagem de carros levando ao estacionamento descoberto atrás e passagem pública de pedestres entre os dois volumes em que se aglutinam essas caixas. O andar intermediário diferenciado é o oitavo. Servindo de galeria de acesso às caixas de escada, leva, através das mesmas, a três andares abaixo- o 5º, 6º e 7º- e a três acima- o 9º, 10º e 11. Os nove andares-tipo tem dez apartamentos com cozinha e banheiros internos, distribuídos em dezenove módulos, correspondendo no térreo a dez pilares em V que limitam nove vãos. São nove apartamentos de dois dormitórios e um apartamento de um dormitório de largura por andar, este acessível pela caixa de escada que se segue a uma caixa extrema. A distância entre essas caixas fica menor que a padrão, mas disfarçada no térreo por sua associação num dos dois volumes em que se aglutinam as caixas de escada. O andar intermediário diferenciado é imaginado feito um clube, com espaço para festas, auditório e salão de jogos, além de duas varandas ao longo do comprimento do prédio. Na cobertura, circundados
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por terraço e parapeito baixo, se localizam ginásio, piscina e outras instalações esportivas. O módulo é 3,50 m, comprimento é 71,25, a profundidade 15, 5 metros. A torre de circulação é um envelope curvo com elevadores e rampas. Os dois volumes envidraçados que abrigam as portarias e as caixas de escada são elevados de um metro em relação ao nível do terreno num soclo de pedra rústica. A base do edifício se mostra porosa e penetrada por rota pública, como o Ministério da Educação exemplar, mas com recesso dos volumes das caixas de escadas em relação à projeção das pontas da barra. Paredes de pedra, paredes rebocadas e incrustadas com pedras, paredes azulejadas e painéis de vidro aparecem nas perspectivas publicadas temperando a transparência e enriquecendo consideravelmente a gama de texturas do projeto. Como no Ministério, o chão limitado e tratado para além da projeção da barra expande a base. A esplanada assim delineada acolheria dois volumes diferentes emoldurando a entrada, um similar ao restaurante proposto antes para o Parque do Ibirapuera e outro, abobadado, de função não identificada. O abrigo para a parada de ônibus está correlacionado à rampa da portaria diretamente articulada com a torre de elevadores. O desenho publicado em Papadaki mostra a barra com dezessete módulos ao invés dos dezenove que constam nas plantas, mas mantém o princípio do número par de pilares limitando um número impar de vãos livres. O corpo do edifício se propõe envidraçado, com empenas cegas. O andar intermediário aparece como uma fenda nas duas fachadas longitudinais, envidraçado por trás das colunatas periféricas. Como a esplanada, a cobertura é colonizada por volumes de forma especial, uma construção abobadada para o ginásio à qual se acopla uma laje de bordos mistilíneos feito língua, acomodando o estar junto à piscina. Em prol do conforto, o projeto construído reduz para três o número de andares acessíveis só por escada. O andar intermediário diferenciado é agora o sexto. São seis os andares-tipo, com doze apartamentos e seis caixas de escada. O número de apartamentos diminui, de 90 para 72. Os apartamentos tem agora varanda de um lado e recebem ventilação e iluminação direta em todas as peças. O par de apartamentos de dois dormitórios alterna com o grupamento de um apartamento de um dormitório e outro de três. O subsolo se prolonga ao longo de
toda extensão do edifício, com 47 depósitos para os apartamentos, dois depósitos de uso do condomínio, lavanderia e local para guarda de bicicletas. Em prol da economia, a esplanada desaparece, substituída por gramado, a rampa de acesso ao nível térreo se implanta paralela à barra. A torre de circulação se torna triangular e se acerca ao corpo do edifício, as rampas se eliminam. O andar intermediário se reduz a uma fita de seis apartamentos e uma galeria. A área total construída de 5.084 m2 inclui 78 apartamentos de área média por volta dos 75 m2. A cobertura é um simples terraço murado, salvo por uma pequena parte, comportando cozinha e trinta depósitos que complementam os do subsolo. O comprimento e a profundidade aumentam para 72 e 15 m, a altura diminui para 28 m. A proporção muda também. O módulo estrutural é de 6,20 m, correspondendo às paredes divisórias de concreto entre apartamentos. Os pilares em V se tornam mais abatidos, esteticamente menos satisfatórios se comparados com as proporções originais, visíveis no Palácio da Agricultura do Ibirapuera (1954) ou no Hospital Sul América (1952). Como o número de módulos é par, há uma duplicação de pilares: um conjunto de quatro pilares com três vãos se justapõe a outro de três pilares com dois vãos. As paredes ao longo da elevação para a torre viram corrimões, aumentando a permeabilidade da base e banalizando-a ao mesmo tempo. A fachada de entrada inverte a proposição original. Os andares tipos se apresentam em recesso e o andar intermediário diferenciado se envidraça no prumo. Não há mais o contraste forte entre o recuo dos pilares e o volume do corpo avançado, a alternância entre colunatas aparentes e panos de vidro. No lado oposto, intercalam-se bandas transparentes, parapeitos pintados de ocre e bordos de laje em contraste com a torre de elevadores o volume de circulação vertical azulejado. O resultado não ofende, mas tampouco entusiasma. As empenas ganham tiras de vidro correspondendo à iluminação dos banheiros. O muro elevado do terraço se enfeita com pequenos rasgos tímidos. Considerando ainda a base empobrecida, não estranha que Niemeyer renegue o projeto. A força do COPAN resistiu a tudo. A fineza do projeto berlinense era muito caminhão para a areia dos burocratas e engenheiros europeus. AS FARPAS DA LIRA O edifício da praça da Liberdade é o único exclusivamente residencial na série de edifícios de
habitação coletiva de Niemeyer em solo brasileiro. Mauá, conjunto JK, COPAN, Montreal e Eiffel são promíscuos, põem loja em baixo da casa, sem controle nenhum sobre o que lá se vende. Seus serviços, comércio e equipamentos se expandem no rés do chão, acessíveis a todo o mundo- ou quase, seguindo, aliás, o bom exemplo do edifício Nova Cintra no Parque Guinle de alto padrão. E como todos os edifícios desse conjunto projetado por Lucio Costa (1943-48, 51 53), arquiteto bem mais eclético do que se pensa e ao contrário das unidades corbusianas, nenhum dos edifícios em questão é prisma puro, todos tem torre acoplada de circulação externa. Exclusive o da Liberdade, nos pisos térreos, as colunas externas se destacam na frente de panos de vidro: o pilotis aberto é apenas episódico e sempre de uso pedestre, galeria. Mas até nesse edifício, que não se apóia em colunas mas em placas, o térreo vazado não é acessível diretamente de todos os lados porque o terreno cai e a garagem aflora. Ao contrário das unidades corbusianas, os edifícios de habitação coletiva de Niemeyer são navios atracados- até o do Hansa, também com torre de circulação externa apesar do térreo de pontas vazadas. E, salvo este, talvez, todos são indiferentes à utopia. Pensando bem, não tem falanstério na linhagem, descendem é do hotel, e não dos Ritz refinados mas dos Waldorfs prosaicos e efervescentes, vulgares, capitalistas, transitórios. Aceitam a vida- ou a cidade- quase como ela é. Não tem grandeza conforme a nada, talvez respondam apenas ao que os códigos permitem. Decididamente, carecem de virtude, quando não de consciência do social. Sim, como o edifício do Hansa, o Mauá está no verde mas o Mauá é luxo, focado no fim de semana folgazão e passageiro. Apesar das muitas oportunidades a seus pés de fazer esporte, o cassino e a vida mundana estão demasiado perto. Nem JK e COPAN se instalam em arcádia. Miram praças importantes, a Raul Soares em Belo Horizonte e a praça da República em São Paulo, mas antecipam a futura selva de pedra, fincados no coração da metrópole. São arautos do que Rem Koolhaas chama de cultura da congestão, condensadores sociais da mesma estirpe que o Rockefeller Center. Montreal e Eiffel tem escala menor, mas igual propósito, a substituição tipológica que verticaliza e densifica, e se impõe e agride, não obstante aquele defrontar a praça Alfredo Issa, o outro mirar a mesma praça da República. Mas a transgressão é relativa, acata uma disciplina urbanística pré-moderna.
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O JK se estabelece sem protesto numa matriz haussmaniana. COPAN, Montreal e Eiffel são operações de completamento de quarteirão com grau de complexidade diverso, incluindo, no primeiro caso, o parcelamento que introduz o hotel-quarteirão- e a articulação com a passagem de pedestre existente. Em todos os casos, a cidade funcional e pura ideada na Carta de Atenas não importa. Melhor dizer, por oposição, que esses projetos apontam não para uma cidade tradicional mas para uma cidade figurativa, e contemporânea. Niemeyer pactua com uma cidade de ruas quase- corredores e de quarteirões quase- fechados, onde a continuidade e o alinhamento ao longo do quarteirões e das ruas prevalecem sem platibanda necessariamente uniforme, onde o amor ao parque não mata nem a praça nem o pátio, e a interdependência entre espaço aberto e volume construído continua vigente. E essa cidade é mineral, feroz. Mesmo quando há arvore, ela está contida, enjaulada por canteiros, muros, calçada. Lírico Niemeyer? Perverso polimorfo seria mais apropriado. E pragmático também, dada a carência de infra-estrutura nas cidades brasileiras fora do centros ou das periferias de luxo- igualzinho à cidade européia de anos atrás. Isolado junto ao centro cívico e representativo, à praça da Liberdade prestigiosa, o edifício Niemeyer tampouco se salva porque é demasiado idiossincrático, obviamente reduto de classe privilegiada, proibitivo, fortaleza intransponível não obstante o térreo poroso. Resta o Niemeyer do Hansa plasticamente degradado, estruturalmente mutilado, sozinho em terra estranha e um bem comportado comparsa na operação bem intencionada de concretização da Cidade Verde. Ninguém lhe deu muita atenção, porém. Os palácios de Brasília roubaram-lhe a cena- assim como a exclusão dos operários do Plano Piloto, que afinal é tão pouco responsabilidade do arquiteto como a encomenda do Pedregulho. OS DADOS DO OFÍCIO Mas o Niemeyer-Haus do Hansa tem planta e secção bem competentes, intento de diminuir os custos do elevador ainda válido, uma parada a cada seis andares. O semi-duplex é alternativa espacialmente atraente- que van den Broek e Bakema adotam em torre vizinha do Niemeyer-Haus. E Bonduki tem razão. Niemeyer trabalha ou com apartamentos que não diferem em área da habitação dita social, o Pedregulho ou as unidades corbusianas. ou com volumes que abrigariam apartamentos menores, o Eiffel e o edifício na Liberdade. A despeito de
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sua tirada, para olhos que sabem ver, Niemeyer não se ocupa só com palácios, também faz suas choupanas. Essas choupanas são mais diversas em aspecto que as unidades de habitação corbusianas, embora a volumetria tripartida seja comum. As bases do francês são simples e vazadas, recessivas, com mínima expansão. Os apoios vem em dois sabores, a plástica musculosa de Marselha substituída logo por placas estritas que atenuam a distinção entre base e corpo do edifício sem perder de todo as conotações antropomórficas. As bases de Niemeyer são quase fechadas e compostas, ainda que vestigialmente; no mínimo duplamente articuladas no plano vertical,. A direção, a altura e a configuração da expansão aumentam a variedade, como o seu grau de continuidade e porosidade, a fragmentação ou a integridade das elevações. E são cinco os tipos de apoio empregados: as colunas de seção elíptica ou circular, as placas retas de bordos normais ou afilados e os pilares em V ou W de feição vegetal, igualmente enfáticos em apartar a base do corpo, altos de um andar ou equacionados como alternativa à ordem colossal e combinados, qual no Parque Guinle, com a extroversão do mecanismo da planta livre. O corpo da unidade corbusiana é uma barra reta alveolar salvo uma empena cega, com mínimas variações de comprimento, profundidade e altura. Os balcões caracterizam o uso residencial. Na obra do brasileiro, a torre de circulação se destaca do corpobarra ou variante de barra com empenas cegas, arqueada com raio longo ou curto, serpentina, dobrada ou composta. Altura e comprimento ficam em aberto- mas este não passa dos 140 m, e a profundidade é menor que a corbusiana. Numa versão, o corpo vem alveolar e raso- mas pode virar varanda. Noutra, se trata em baixo-relevo. Multi-laminar e nervurado, estriado, estratificado, cheio de ranhuras, tem conotações tanto naturais quanto mecânicas, evocando rocha sedimentar ou mil-folhas, grelha ou persiana. Internamente, a transparência das fachadas surpreende. A multiplicação de placas horizontais unifica o corpo e dificulta a percepção da altura real, usualmente calculada por número de andares. A idéia não é particularmente doméstica, podendo acomodar escritório de andar livre ou compartimentado, como no Banco Mineiro da Produção. Como na Vila Savoye, só a modulação das esquadrias condiciona a compartimentação dos interiores.
O coroamento é um ponto de concordância, jogo de volumes que cada arquiteto desenvolve a seu jeito. Niemeyer se alinha com a sensibilidade existencialista do pós-guerra, sem descartar os ideais de leveza e de finura, ou prescindir do revestimento nas suas placas delgadas. Sua obra contrasta com a guinada brutalista de Le Corbusier, que se inclina para o grave e o pesado, os materiais de acabamento áspero, o claro-escuro intenso, a elevação dramática e mesmo rude. Le Corbusier se faz arcaico, se mostra estóico. Niemeyer opta por um primitivismo suave- e defende um epicurismo realista, em que a busca da fluidez prazenteira não desconhece a conveniência da retidão, e o delírio nunca perde a medida. Sem dúvida, as choupanas de Niemeyer se podem dizer unidades de habitação. Ilustram um tipo de habitação coletiva com equipamentos e serviços fisicamente integrados, componente reproduzívelenquanto esquema- de um sistema de ocupação e ordenação territorial específico. Mas são unidades de habitação à brasileira, navios atracados e não navios singrando o verde, alternativa e réplica a suas congêneres corbusianas, fundadas sobre raízes diversas e desenvolvidas como progressão. O Mauá é a versão campestre; o JK e o COPAN, a metropolitana; os projetos do Hansaviertel, a suburbana mais perto de Le Corbusier pela interiorização dos equipamentos. O Montreal e o Eiffel são fragmentos, o prédio na Liberdade é a exceção que confirma a versatilidade do arquiteto. E, se um certo grau de indiferença funcional é constitutivo do tipo, a diversidade de suas manifestações não é ilimitada. O tratamento do corpo define séries. O Mauá, o COPAN e o Montreal perfazem uma, o Mauá e o JK integram outra. A GUISA DE CONCLUSÃO A predisposição a tratar a habitação “social” como categoria estanque de outros tipos de habitação é em última instância preconceito, do mesmo modo que a predisposição a enfatizar a influência de Le Corbusier sobre a arquitetura moderna brasileira em geral e Niemeyer em particular. Influência é palavra complicada na crítica de arquitetura contemporânea. Entendida simultaneamente como a autoridade, o prestígio, o crédito desfrutado por um arquiteto e o impacto que sua obra exerce sobre a de outro em termos formais, implica quase sempre desvalorização da obra do último por subordinada, derivativa, carente de originalidade. Entretanto, a inovação formal não é necessariamente uma virtude, nem pode jamais se pretender absoluta. Afinal, Le Corbusier não inventou nem o esqueleto
independente, a laje plana e o teto-terraço, nem a janela horizontal e o brise-soleil, sequer a planta e a fachada livres. Na verdade, o alinhamento de Niemeyer com Le Corbusier nunca excluiu o antagonismo, o interesse em fazer diferente. Quando se valoriza a inovação, embora aceitando-a relativa, a influência surge também como interdição, consciência da forma que não convém repetir porque de algum modo consagrada. Nesse sentido, a influência estimula a alternativa ou réplica. Assim, o projeto da Cidade Universitária do Brasil em que Niemeyer trabalha sob a direção de Lucio Costa usa os mesmos elementos mas tem partido oposto ao projeto anterior em que trabalha sob a direção de Le Corbusier. O mesmo cabe dizer do projeto definitivo brasileiro do Ministério da Educação no Castelo em relação à proposta corbusiana para a Beira-Mar. Nas Nações Unidas, Le Corbusier subdivide o terreno em dois largos, Niemeyer prefere a grande praça. Não estranha pois que o brasileiro rejeite a fórmula do navio singrando o verde ou pelo menos sua exclusividade. Se o caso é vincular o navio atracado à obra corbusiana, ele está mais próximo do edifício Clarté no quarteirão oitocentista de Genebra que da unidade no parque de Marselha, mais afim- a despeito das diferenças de função- às escolas sobre oficinas da Cidade Universitária carioca que aos apartamentos sobre pilotis da Cidade Radiosa. Diferenças de função à parte, o navio atracado segue a trilha do edifício-quarteirão de base expandida recorrente na arquitetura moderna de base carioca entre 1936 e 45, como o próprio Ministério, o Palácio da Prefeitura de Reidy, o Instituto Nacional de Puericultura do próprio Niemeyer, a sede da VFRGS de Reidy e Moreira, a Escola Mecânica Industrial para o SENAI dos Roberto. Isenta de obsessão arcádica, a unidade de habitação à brasileira remete a uma imagem dura de metrópole que não é, porém, alheia à vanguarda moderna. A base composta refina a superposição de comércio e residência que Ludwig Hilberseimer batiza de “Cidade Vertical” (1924), crítica explícita da “Cidade Contemporânea” corbusiana reapresentada em “A Arquitetura da Grande Cidade” (1927)- onde os apart-hotéis e os hotéis norte-americanos se examinam em detalhe e, quer na versão citadina, quer na versão resort de massa, se registra devidamente a simples distinção entre os usos variados- muito dos quais públicos- nas plantas baixas e o uso residencial privado no corpo do edifício. Aliás, a “Cidade Vertical” é um dos precedentes
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4 Os alvéolos são similares em dois edifícios de apartamentos contemporâneos premiados, o Kips Bay Plaza de 1957-63, Nova York, e os Society Hill Apartments de 1957-64, Filadélfia, ambos de Pei, Cobb, Freed & Partners.
para o “city-block” de Wladimiro Acosta (1928-35), alternativa ao crescimento caótico de Buenos Aires. Conterrâneo, colega e amigo de Warchavchik, Acosta trabalha no Brasil de 1930 a 31, comparecendo ao Congresso Pan-americano de Arquitetos organizado por José Marianno. É provável que nenhum desses exemplos fosse desconhecido de Niemeyer, dada a difusão da arquitetura germânica moderna no Brasil atestada pelos conjuntos habitacionais dos IAPs e pelas críticas de Lucio Costa em “Razões da Nova Arquitetura”. Mas é certo que de hotel norte-americano Niemeyer entendia, ele que havia morado quase um ano em Nova York quando do projeto do Pavilhão Brasileiro para a Feira Mundial de Nova York de 1939. Além do mais, Niemeyer não precisava viajar para entender de hotel moderno na sua operação, mesmo que o Rio não tivesse a mesma aura metropolitana que Nova York ou Buenos Aires. A distinção entre base multifuncional pública e corpo residencial privado caracteriza tanto o Hotel-Cassino Quitandinha de 1944, a versão nativa do resort de massa com que o Mauá vai se articular, quanto os hotéis de luxo cariocas no período entre-guerras, o Palace na Avenida Rio Branco de 1919, demolido em 1957, o Copacabana Palace de 1924 e o Glória de 1922, que mostra ainda hoje a sua base expandida à frente do aterro do Flamengo. A expansão da base se reduz a uma rampa na Niemeyer-Haus construída e desaparece por completo das super-quadras residenciais de Brasília, que Lucio Costa equaciona contemporaneamente mais para cidade de interior que para metrópole, mais para gramado que asfalto. Niemeyer não se opõe quando do projeto da SQS 308, supostamente de sua autoria. Como no esboço de Lucio, as barras de seis andares em balanço sobre pilotis térreo se dispõem ortogonalmente em duas orientações, em contraste com a rua interna sinuosa sem saída, ao longo da qual estacionam os visitantes, e os equipamentos baixos, o comércio a um lado. As barras tem empenas cegas e duas fachadas longas: uma se esconde por pano de combogós e tem jeito de fundos; a outra ganha aspecto alveolar pela grelha de proteção solar aposta, à maneira do Ministério de Educação4. O pilotis tem os apoios em V cheio, livre de fechamento outro que portarias e os núcleos de circulação vertical excepcionalmente internos, ao invés de interceptarem as barras à maneira dos apartamentos do Parque Guinle que Lucio dá como referência ou dos outros edifícios de habitação coletiva de Niemeyer. As garagens em subsolo afloram definindo uma plataforma congruente com a
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projeção da barra e ligeiramente mais elevada que o terreno em volta: uma variante de base composta, sem expansão além do corpo do edifício. O impacto plástico é menor que o das realizações anteriores do arquiteto. A maior neutralidade é, em parte, função do programa simplificado: os apartamentos são convencionais e não há equipamento associado às barras; em parte, da repetição, menor altura e baixa densidade, da ausência de contraste com o entorno. O tom é de unidade de vizinhança e não de unidade de habitação. Ausência de equipamento à parte, a diferença com Le Corbusier subsiste em termos de edifício. Apesar da circulação vertical internalizada, do pilotis vazado e dos jardins, o navio continua atracado. O térreo ainda é um convés de pedestres, não se converte em esplanada confundível com terreno. O edifício não pousa no solo aparentemente intocado, se encrava fazendo toca, viola a natureza, interrompe sem disfarce o fluir natural das coisas. Em última instância, para Lucio que planeja e Niemeyer que o endossa, arcádia e metrópole são farinha do mesmo saco, tão artifício uma como a outra, quiçá um tão necessário quanto o outro.
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Professora livre docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, arquiteta e urbanista. Foi Relatora Especial para o Direito à Moradia Adequada do Conselho de Direitos Humanos da ONU, entre 2008 e maio de 2014 e é autora de vários livros e artigos sobre questões urbanas e habitacionais. Colabora quinzenalmente com a Folha de S. Paulo e o portal Yahoo, e mantém o Blog da Raquel Rolnik (raquelrolnik. wordpress.com), onde escreve regularmente sobre questões urbanas.
Publicado em 08/01/16 por raquelrolnik Em meio ao terremoto político-econômico que marcou 2015, vale a pena pensar que perspectivas essa crise traz para as cidades brasileiras em 2016. Um dos motivos principais da crise é a emergência – no sentido de tornar públicos, visíveis e conhecidos– dos mecanismos e relações que aliam o interesse de grandes empresas com os de grandes partidos políticos, e que, historicamente, têm enorme impacto na política urbana. É possível até mesmo afirmar que a política urbana tem sido, na sua quase totalidade, definida por essa relação, que tem o poder de determinar, a partir de acordos entre empresas, partidos e governos, que investimentos serão feitos, assim como onde e de que forma a cidade se desenvolverá. Os anos de abundância de dinheiro, inclusive, alimentaram de forma avassaladora esta máquina perversa de associação entre interesses privados e as políticas públicas, com megaprojetos milionários e obras faraônicas de questionável necessidade. Hoje esse “modus operandi” que exerce enorme influência no destino de nossas cidades está finalmente em xeque. Assim, apesar das dificuldades que momentos de crise apresentam, esse é um primeiro elemento que pode ser muito positivo para o futuro de nossas cidades, desde que estejamos dispostos a ir até as últimas consequências para superar esse modelo, que envolve hoje, repito, a totalidade dos grandes partidos no Brasil.
Transformar radicalmente esse modo de fazer política abre a perspectiva de que a política urbana possa de fato atender às necessidades dos cidadãos em cada cidade, e não às expectativas de lucro nos negócios de empresas financiadoras de campanhas, apoiadas em suas relações com partidos políticos e seus representantes nos legislativos e executivos país afora. Para além disso, em função da crise econômica já estamos vivendo uma forte redução de investimentos públicos, e as pessoas já têm menos dinheiro no bolso e menos capacidade tanto de gastar como de poupar ou investir. É claro que os efeitos da recessão são muito negativos, especialmente para a população mais pobre, que mais depende de políticas públicas. Mas existe um outro lado nessa história… Outros momentos de crise econômica e redução drástica na capacidade de gastos dos governos – penso especialmente nos anos 1990– mostraram-se muito férteis em termos de políticas municipais inovadoras, particularmente no campo da moradia e da política urbana. Foi nesse período que conseguimos realizar experiências de construção de moradias populares com mutirões e autogestão dos moradores, avançamos nos processos de reconhecimento e urbanização de favelas, com programas implementados com a participação direta da população, desenvolvemos experiências de orçamentos participativos… enfim, foram tempos de escassez em que governos conseguiram se virar e mobilizar a população para enfrentar nossos grandes desafios.
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Raquel Rolnik O QUE ESPERAR DA POLÍTICA URBANA EM 2016? OU O LADO BOM DA CRISE
A diferença é que, naquela época, novos partidos de expressão popular ainda estavam nascendo ou se consolidando, repercutindo anseios e necessidades da população em nível local. Foi quando administrações democrático-populares foram eleitas e políticas inovadoras, com profundo sentido redistributivo e desejo de radicalização democrática, foram experimentadas. Tudo isso foi esvaziado, quando não totalmente desmontado, na era da abundância, quando até mesmo os novos partidos, já com grande presença no cenário político nacional, escolheram o caminho da velha forma de fazer política. É importante que se diga, porém, que embora o mundo da política em geral esteja muito contaminado por essas velhas práticas, isso não significa que a totalidade dos parlamentares e detentores de cargos políticos tenha adotado esta posição. Muitos foram marginalizados, ou sequer tiveram espaço para crescer dentro dos partidos, por não compactuar com tais práticas. O enorme desafio para todos que fazem política com seriedade é constituir novas lideranças capazes de ecoar os desejos de mudança que existem na sociedade. As duas grandes incógnitas que 2016 nos coloca, portanto, são: se conseguiremos de fato desmontar e enterrar esse velho modo de fazer política, e se teremos capacidade de inovar na elaboração de políticas públicas para enfrentar o cenário econômico adverso. Enfim, muitos atravessaram 2015 com perplexidade diante da atual situação. Prefiro ser mais otimista e vislumbrar, no horizonte de 2016, a esperança de
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construção de mudanças profundas… se estes são tempos difíceis, que possam ser também tempos de transformação, inovação e criatividade para formular e implementar políticas alternativas, melhores e mais eficazes do que parte do que fizemos na farra dos anos de fartura. *Publicado originalmente no site da Folha.
Licenciada en Ciencias Políticas por la Universidad Autónoma de Barcelona (UAB). Master en Políticas Públicas y Sociales en la Universidad Pompeu Fabra (UPF). Estudios de Doctorado UPF. Funcionaria y actualmente alcaldesa de Santa Coloma de Gramenet.
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Núria Parlon Gil RESILIENCIA LOCAL, DEMOCRACIA Y EMPODERAMIENTO; MÁS ALLÁ DE LOS LÍMITES FORMALES DE LA PLANIFICACIÓN URBANÍSTICA: La experiencia de rehabilitación en Santa Coloma de Gramenet.
La Ciudad de Santa Coloma de Gramenet (municipio de Barcelonés, en el margen izquierdo del Río Besós) adquirió su identidad urbana de forma acelerada, con escasa o nula planificación y sin los servicios residenciales básicos para hacer posible bienestar y absorción de un amplio número de habitantes. El crecimiento fue exponencial entre las décadas de los 50 y 70 y se llegaron a superar los 145.00 habitantes en 4.5km2 de trama urbana (el término municipal tiene una extensión total de 7km2). El espacio público configuró una peculiar anarquía con una orografía difícil que hoy da a la ciudad cierto encanto y señas de identidad propias así como muchas potenciales de futuro en parte resultado de la inversión pública intensiva fruto de la consolidación de la democracia local: la recuperación de Río Besos, de alcantarilla en abierto a infraestructura verde, la amplia red de equipamientos, las buenas comunicaciones con la capital de Barcelona y también su carácter pluricultural (coexisten 116 nacionalidades distintas). La crisis sistémica de este siglo XXI provoca incertidumbres importantes pero también certezas que nos llevan a la acción. La lucha contra el deterioro de los barrios para evitar la cronificación de las desigualdades y las políticas públicas sociales como instrumento para corregir los efectos negativos de las situaciones de pobreza creando condiciones de equidad opuestas a la beneficencia, marcan la agenda política. En este contexto se gesta un proyecto claramente innovador para hacer frente a las cuestiones urbanas en tiempos de crisis: la áreas de conservación y rehabilitación (ACR). Una prueba piloto, en el barrio del Fondo, calle
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Pirineos, nos permite cargarnos de razones para dar respuesta a problemas reales, existentes más allá del contexto (edificios viejos con patologías y con fisonomía decadente) en barrios con baja autoestima colectiva como resultado de en un contexto determinado. Liderazgo local, empoderamiento comunitario, nuevas alianzas, ahorro energético y confort térmico, 32 edificios, 360 viviendas y 649 propietario/as. Nuestras herramientas: el urbanismo de los espacios cotidianos y la vivienda como derecho. Nuestra utopía: más democracia y menor desigualdad.
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Arquiteta. Diretora do Studio 2E Ideias Urbanas, é doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Mackenzie, professora da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) e da USP Cidades. Atualmente é Diretora de Planejamento da Companhia de desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU). Entre 2005 e 2012, foi superintendente e secretária-adjunta da Secretaria Municipal de Habitação da cidade de São Paulo.
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Elisabete França URBANIZAÇÃO DE FAVELAS, O DIREITO À ARQUITETURA
O urbanismo no século XXI propõe novos desafios para arquitetos e urbanistas: agora, seus planos e projetos devem partir do conhecimento da cidade real, existente. Nesse aspecto, se distancia do urbanismo modernista, cuja ideário foi construído a partir de territórios vazios, não edificados. O projeto da cidade contemporânea tem como ponto de partida o reconhecimento das pré-existências, ou seja, dos espaços construídos a partir de esforços individuais e coletivos, aí incluídos, de modo especial, aqueles definidos como ‘informais’ - as favelas - onde vivem mais de 11 milhões de brasileiros. Desde os anos 1980, esses territórios, que se estabelecem à margem da legislação vigente, tem sido objeto de intensos debates profissionais. Arquitetos e urbanistas, que se dedicam a projetos de urbanização de favelas, devem superar as barreiras culturais da sua formação tradicional e abandonar seus pré-conceitos, quase sempre relacionados à ideia de carências, ilegalidade, informalidade e violência, de território que se contrapõe ao modelo idealizado pelo urbanismo modernista. Tais pré-conceitos que se transformam em mitos repetidos à exaustão, são facilmente contestáveis. Em 2015, o Instituto Data Popular divulgou uma pesquisa sobre as favelas brasileiras. Só para citar os resultados mais expressivos obtidos junto aos entrevistados, ficou constatado que 94% dos moradores se dizem felizes, 66% afirmaram que não sairiam da favela mesmo que seu salário dobrasse, 65% se consideram de classe média e 36%
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recebem amigos para um ‘churrasco na laje’ todas as semanas. Os moradores das favelas brasileiras representam um mercado de consumo anual de R$ 63 bilhões ao ano. Frente a essa realidade, os arquitetos tem diante de si um enorme desafio para mostrar aos governantes que é possível desenvolver projetos habitacionais e de espaços públicos de qualidade, e que eles são essenciais para a afirmação das favelas como parte integrante na cidade. O esforço atual dos projetos de urbanização de favelas, busca conectar partes da cidade, e para tal, tem início com a implantação de infraestrutura, equipamentos públicos, áreas de lazer, com especial atenção para a qualidade dos seus espaços públicos, local onde se realiza a vida social da população local. Porém, o mais importante é que os arquitetos e urbanistas que desenvolvem projetos de urbanização, respeitem o sentido de identidade existentes nas favelas, porque mesmo morando com certa precariedade e, até com muita precariedade, as pessoas têm raízes, ligações com o lugar e, principalmente com seus vizinhos, parentes, amigos. As redes sociais construídas ao longo dos anos em um bairro pobre é o maior patrimônio que uma família tem. E esse não pode ser indenizado; ele deve ser preservado.
Master of Business Administration (MBA), Universidad Argentina de la Empresa (2012-2013). Posgrado Organizaciones Sin fines de lucro, Universidad de San Andrés (2008). Licenciado en Administración de Empresas. Universidad Católica Argentina (1999-2005). Subsecretario de Hábitat e Inclusión dependiente del Ministerio de Hábitat y Desarrollo Humano del Gobierno de la Ciudad de Buenos Aires. (Dic 2015 – actualidad). Presidente de la Comisión para la Plena Participación e Inclusión de las Personas con Discapacidad (COPIDIS). (Abril del 2014 hasta diciembre 2015). Jefe de Gabinete, Dirección General de Reciclado del Ministerio de Ambiente y Espacio Público (MAyEP), Gobierno de la Ciudad de Buenos Aires. (Marzo de 2013 – marzo de 2014). Asesoramiento en Relaciones Institucionales y Desarrollo Comercial- FREE LANCE. (Septiembre 2012 a Febrero 2013). Director Ejecutivo en Asociación Civil CASCOS VERDES. (Septiembre 2007 a Agosto 2012). Asistente Planeamiento Comercial, Departamento de Marketing CERVECERIA y MALTERIA QUILMES S.A. (Junio 2005 a Marzo 2007)
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Matias R. Alonso Ron SUBSECRETARIA DE HÁBITAT E INCLUSIÓN Gobierno de la Ciudad de Buenos Aires.
La brecha social de las ciudades tiene su máxima evidencia en la fragmentación territorial, en la Ciudad de Buenos Aires, en la zona sur, es donde se concentra la mayor parte de asentamientos, villas, complejos habitacionales y núcleos habitacionales transitorios. Es allí, donde la Subsecretaria de Hábitat e Inclusión, un organismo del Ministerio de Desarrollo Humano y Hábitat trabaja desde fines del 2011, por la construcción de una ciudad inclusiva, donde todos sus habitantes puedan ejercer plenamente su derecho a la ciudad. Con el objetivo de promover la urbanización y la inclusión social de estos barrios informales, la Subsecretaria diseña y coordina estrategias de integración urbana y social, con una participación central de la ciudadanía. A través de un abordaje integral, busca favorecer el desarrollo urbano sostenible y, mediante el diseño de una arquitectura física y social, trabaja para construir una ciudad inclusiva. En la búsqueda de nuevas estrategias de gestión pública que permitan enfrentar duras realidades y producir verdaderos resultados de integración, el Gobierno de la Ciudad de Buenos Aires creó las UTIU, Unidades Territoriales de Inclusión Urbana. Estas abarcan villas, complejos habitacionales y barrios informales de varias comunas, que se asumen como zonas en las cuales se hace prioritario concentrar y potenciar la presencia del Estado, con inversiones articuladas. Las UTIU son una forma innovadora de entender el territorio, en tanto buscan romper la caracterización de la ciudad fragmentada concibiendo la política pública dentro de una unidad territorial que excede los límites de las villas, para así fortalecer los vínculos de
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integración con la ciudad formal. Esta concepción reemplaza los modelos tradicionales que han implementado políticas focalizadas, desarticuladas y fragmentadas, reemplazando la mirada por una dirigida hacia la inclusión social de los territorios a la ciudad formal. La creación de las UTIU responde a la necesidad de entender la problemática del hábitat desde una perspectiva multidisciplinar, que tome en cuenta la dimensión física, social, institucional y comunitaria de cada barrio. La Subsecretaria de Hábitat e Inclusión, actualmente trabaja en seis UTIU, en donde se estima que viven más de 280 mil personas. La Subsecretaría de Hábitat e Inclusión trabaja bajo un nuevo paradigma: la Gestión Social del Hábitat, que considera a la comunidad como la protagonista. Así, se apunta a generar una relación entre la comunidad y el Estado, creando un vínculo directo que permita el fortalecimiento de las instituciones, la construcción de espacios de participación, convivencia y concertación colectiva. La gestión social del Hábitat se concreta en tres ejes: 1) presencia territorial, 2) urbanismo social e 3) Inclusión desde la perspectiva del hábitat. La presencia territorial permite el fortalecimiento de los vínculos con el gobierno, el afianzamiento de las redes interbarriales, y un mejor diseño y ejecución de las políticas públicas. A través de los Portales Inclusivos, oficinas del gobierno emplazadas en cada territorio, equipos multidisciplinarios trabajan de manera permanente en los barrios, generando cercanía y confianza con vecinos y organizaciones.
El Urbanismo Social comprende el mejoramiento físico de los barrios para su progresiva incorporación al tejido urbano de la ciudad. Para lograr dicha transformación, se trabaja en la recuperación y fortalecimiento de los espacios públicos a partir de un planeamiento urbano participativo que incluye la perspectiva de género. Desde el 2011, se han ejecutado más de 220 obras físicas, con un promedio de una obra cada cinco días. Todas han tenido un contenido y un resultado social. La comunidad participó en sus diseños y construcción, lo que derivó en una mayor apropiación, buen uso y cuidado de cada obra. La inclusión desde la perspectiva del Hábitat busca aumentar el protagonismo y la participación de los ciudadanos, fomentando el desarrollo de las capacidades humanas que permitan fortalecer la vida comunitaria y avanzar hacia la equidad. A través de los programas de intervenciones culturales, deportivas, de convivencia, de mujer y hábitat, y de fortalecimiento de organizaciones comunitarias, se pueden concretar los cambios sociales. Herramientas como los murales comunitarios, las mesas participativas, la construcción de pactos ciudadanos y las activadas deportivas, han sido claves para la generación de confianza, y han logrado romper las barreras físicas y simbólicas entre comunidades provenientes de países diferentes, y han contribuido a la generación de entendimiento y convivencia entre grupos diferentes (y con frecuencia, enfrentados) de los barrios. La Gestión Social del Hábitat, como paradigma de intervención, ha demostrado tener una enorme capacidad de transformación logrando más participación, más confianza, más oportunidades, más y mejores espacios para la convivencia.
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Os sócios diretores do escritório são Vinicius Hernandes de Andrade (Formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAUUSP, em 1992) e Marcelo H. Morettin (Formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAUUSP, em 1991). Desenvolvem projeto habitacionais, institucionais, comerciais, concursos, projetos urbanos e laboratórios. O escritório ganhou diversos Prêmios em 1º lugar, como o 2º Concurso Internacional Living Steel para Habitação Sustentável; o Concurso Internacional de Idéias Zero Latitude – Galápagos; o Concurso Nacional para o Plano Diretor de Restauração de Faculdade de Medicina da USP e o Concurso Instituto Moreira Salles, em São Paulo.
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Andrade Morettin Arquitetos Associados REURBANIZAÇÃO DE FAVELA - JARDIM LIDIANE
Localizado junto à Marginal Tietê e contida pela alça de acesso da Ponte Júlio de Mesquita Neto, zona norte de São Paulo, o conjunto habitacional do Jd. Lidiane encontra-se em meio a uma zona industrial, de difícil acesso e frequentes alagamentos. O bairro, hoje em transformação, acomoda além das comunidades da favela, uma crescente vizinhança predominantemente de classe média e carece dos serviços mínimos para o convívio, particularmente de espaços públicos, áreas de lazer e equipamentos públicos. A favela atualmente é estruturada a partir de uma única via de acesso, a Rua Sampaio Correia, caracterizada por seu vital comércio de rua, frequentado por todos os moradores da comunidade e inclusive pelos moradores do bairro. A presença deste comercio tem papel fundamental na estruturação da comunidade, tanto por ser um importante gerador de renda para as famílias quanto por sua valiosa capacidade de integração da comunidade com seu entorno. Levando-se tais aspectos urbanísticos em conta e ainda considerando a rica dinâmica social da favela na qual o conjunto se insere, o projeto assume como ponto capital a criação de espaços de convívio de qualidade, cuja influencia deverá extrapolar os limites do conjunto promovendo uma melhoria para toda a comunidade e seu entorno imediato. Desta forma buscamos introduzir um elemento estruturador para o conjunto de espaços públicos do bairro: uma grande praça central no miolo da gleba, com acesso público garantido, equipada com quadra
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de esportes, bancos e equipamentos de ginástica. A disposição deste espaço deverá orientar a organização dos edifícios em seu entorno e amplia as opções de lazer da região. No seu contorno, conformando uma espécie de loggia para a praça, foram posicionadas áreas comerciais, equipamentos públicos e de uso comunitário: um telecentro, um ponto de leitura e um espaço destinado à associação de moradores. Complementando a praça, no alinhamento da rua Sampaio Correia, foram previstas áreas comerciais no térreo e uma marquise desenhada para abrigar os pedestres que passarem por esta calçada. A fixação da atividade comercial na Rua Sampaio Correia, preservando os comerciantes que já estavam ali, é a pedra-chave da estruturação econômica e social desta comunidade e portanto de sua resiliência. Do ponto de vista das dinâmicas urbanas e da ativação do espaço publico esta atividade também é vista como fundamental. Para a circulação viária e para o acessibilidade aos transportes públicos propôs-se a abertura de uma nova via que se conecta à uma rua já existente, completando assim o circuito viário, oferecendo mais uma alternativa de acesso à toda favela, conectando-a ao bairro e permitindo a circulação tanto de ônibus quanto do caminhão para a coleta do lixo em seu interior. Uma porção considerável das construções pré-existentes deverá permanecer. As intervenções nestas áreas orientam-se pelo principio de integração e de
acessibilidade, buscando melhorar as condições de habitabilidade e reforçando a estratégia de inclusão desta comunidade à chamada cidade formal que a circunda. A busca pelo convívio em comunidade guiou a proposta até mesmo no desenhos dos edifícios em si. Toda a circulação se faz por escadas abertas e passarelas elevadas que, afastadas das paredes do edifício, garantem a privacidade de cada unidade ao mesmo tempo em que permite o contato visual entre todos os andares. Por fim, nos cruzamentos entre escadas e passarelas se conformam praças de acolhimento cobertas, que com grandes pé-direitos conectam visualmente o conjunto com os edifícios vizinhos.
Ficha Técnica Local: São Paulo - SP Área construída: m² Área do terreno: 21.257 m² Ano do projeto: 2011 Autores: Vinicius Andrade, Marcelo Morettin Coordenador: Beatriz Moretti Associados: Marcelo Maia Rosa, Renata Andrulis Colaboradores: Carlos Eduardo Miller, Fabio Ucella, Flora Fujii, Lauro Rocha, Gabriel Sepe, Guido Otero, Valeria Mónigo, Ricardo Gusmão
Solos: Ivan Joppert, Angela Cristina Zanotto_ Infraestrutura engenharia Instalações: Sérgio Kater, Enéas Ferreira _ KML Engenharia e Projetos Orçamento: Rosângela Castanheira _ Tríade Bombeiros: Capitão Marcel Casassa Consultores Sehab Coordenador: Luiz Fernando Fachini Arquitetura: João Paulo Cuzziol Fiscal: Ede
Consultores:
Gerente de projetos Consórcio Bureau Sistema Pri
Paisagismo: Ricardo Vianna
Ferrucio Duro
Conforto ambiental / Eficiência energética: Roberta Kronca
Construtora Gomes Lourenço
Estrutura: Keity Gomes, Leandro Zabeu _ Gama Z engenharia
José Mauro de Souza
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Fig. 1-11: Reurbanização de Favela - Jardim Lidiane, Andrade Morettin Arquitetos Associados
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Escritório carioca de arquitetura e urbanismo fundado em 1994, a ArquiTraço vem participando, desde sua fundação, de Projetos Urbanísticos, Paisagísticos, de Saneamento e de Habitação de Interesse Social, empreendidos por diversos municípios do Brasil para favelas de pequeno, médio e grande portes, e bairros degradados. Atualmente, suas sócias Solange Carvalho e Daniela Javoski são professoras da FAU/UFRJ, e Tatiana Terry na PUC-RIO.
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ArquiTraço HIS INTEGRADA À URBANIZAÇÃO DE FAVELAS
A atuação da ArquiTraço tem se destacado nos projetos de urbanização de favelas no Rio de Janeiro, dentro dos programas Morar Carioca, Favela Bairro e Programa de Aceleração do Crescimento - PAC nas Favelas (1 e 2), desenvolvendo projetos de urbanismo e de habitação de interesse social integrada à intervenção urbana. Alguns dos projetos recentes são o PAC 1 e 2 -Rocinha, PAC-Cantagalo / Pavão-Pavãozinho e o Morar Carioca Verde para as Favelas Babilônia e Chapéu Mangueira, onde foi construído o primeiro edifício público de habitação social a receber certificação de sustentabilidade Selo Casa Azul pela Caixa Econômica Federal – o HAB-02, que será mais detalhadamente apresentado pelas autoras no II CHIS. Toda esta prática em diferentes programas públicos, e muitas vezes em projetos-piloto destes programas, fez com que os projetos da ArquiTraço, sobretudo em HIS, estivessem focados: na implantação do edifício integrada à intervenção urbana; na adoção de técnicas construtivas que potencializassem a rápida construção das novas habitações para agilizar as obras de urbanização no interior da favela; no projeto arquitetônico como forma de (re)discutir a legislação em favelas e em HIS; na otimização de escassos terrenos vazios em favelas cariocas adotando maior densidade sempre que possível; na adoção de soluções arquitetônicas que privilegiassem a qualidade interna dos apartamentos e o baixo custo de manutenção no pós-ocupação. A experiência em projeto e obra dos edifícios de HIS do PAC-Cantagalo/Pavão Pavãozinho, anterior
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ao Morar Carioca Verde, foi enriquecedora. Favelas localizadas em área extremamente valorizada na zona sul do Rio de Janeiro, e com poucas áreas livres edificáveis, ali mostrava-se a necessidade de adotar alta densidade com edifícios maiores e que pudessem ser construídos com rapidez (estrutura metálica), pois não era possível executar as intervenções urbanas sem o reassentamento de várias moradias. Embora estas favelas estivessem em Áreas de Especial Interesse Social, à época da urbanização ainda não havia legislação e parâmetros específicos definidos para licenciamento. Por este motivo, o partido arquitetônico inicial de edifício na encosta com entrada central e distribuição de 3 pavimentos para baixo e 4 para cima, inspirado no Conjunto Residencial Pedregulho projetado por Affonso Eduardo Reidy em 1947, foi rechaçado pela Prefeitura, que só aprovaria edifícios de até 4 pavimentos. Este sem dúvida foi um dos principais fatores que afetou o custo das obras, pois a solução “aprovável” duplicava o número de fundações e ainda gerou um desperdício da mezzo-estrutura, que não poderia receber pavimentos habitáveis devido ao limite de pavimentos imposto pelo licenciamento municipal. O Projeto de Reurbanização das favelas Babilônia e Chapéu Mangueira, batizado Morar Carioca Verde, foi selecionado como projeto-piloto em sustentabilidade do Programa Morar Carioca da cidade do Rio de Janeiro para urbanização e integração das favelas à cidade. Assim, no Morar Carioca Verde foram estabelecidas novas soluções e parcerias para estruturar propostas a curto, médio e longo prazo,
com inovações tecnológicas e práticas sustentáveis, assim como melhoria da renda e das condições de habitabilidade das comunidades. O Conjunto Residencial HAB 02 integra o projeto de urbanização da Babilônia. É um edifício multifamiliar com 16 apartamentos de dois quartos cada, onde foram reassentadas famílias cujas casas foram afetadas pelas obras do Morar Carioca Verde. Foi o primeiro edifício público a receber a certificação brasileira de sustentabilidade Selo Casa Azul - CEF, por atender critérios de eficiência energética, racionalidade construtiva, conforto ambiental, conservação de recursos materiais, gestão da água, e redução de resíduos sólidos durante a obra.
no contexto da produção em massa do PMCMV, é o exemplo que a habitação deve e pode ser produzida em favelas e ter escala condizente com o local. A urbanização de favelas com produção de HIS integradas, com inserção de parâmetros de sustentabilidade, não deve ficar em segundo plano e precisa continuar constando da política habitacional carioca e em todo o país. Este é sem dúvida um meio para a melhoria da qualidade urbana e habitacional, não só em HIS, servindo de modelo para o mercado em contraponto à produção habitacional nacional atual.
O projeto do edifício preza pela integração ao tecido urbano. Situado em um terreno de encosta e rochoso, limitado na parte baixa pela Ladeira Ary Barroso, e na parte alta pela nova Via de Serviço aberta no projeto de urbanização, o conjunto residencial foi projetado de modo aberto e para ser uma conexão entre essas duas vias. A circulação vertical central que corta o terreno e dá acesso aos dois blocos do HAB-02 é também uma via pública da favela, servindo a toda comunidade. A implantação em 2 blocos escalonados visou menor custo e adaptação ao terreno rochoso evitando cortes de rocha. Os volumes do conjunto edificado, afastados entre si para privilegiar ventilação cruzada na parte interna, foram também pensados para ser uma transição suave da casa de favela para a habitação dita “formal”. Assim o projeto mantém a escala local (as casas da Babilônia tem cerca de 3/4 pavimentos) e os símbolos da moradia individual, como por exemplo, parte da circulação horizontal que se torna varanda, permitindo um uso parecido ao da casa, sendo um espaço para guardar a bicicleta, pendurar varal, ou funcionar como um complemento da sala de estar. Algumas inovações tecnológicas adotadas no HAB-02 foram o sistema de aquecimento solar, janelas e venezianas com abertura total dos vãos e melhor controle da ventilação e insolação interna, hidrômetros individuais, paredes externas em placas cimentícias e internas em bloco de concreto celular para dar mais leveza à estrutura e assim baratear o custo da obra. O grande ganho contudo foi a satisfação e o baixo custo de manutenção individual e coletiva que os moradores do HAB-02 atualmente têm. O projeto do HAB-02 (com poucas unidades e boa integração)
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Fig. 1: HAB2 2, Babilônia. Foto: Joana França, 2014. Fig. 2: HAB2 3, Babilônia. Foto: Joana França, 2014. Fig. 3: HAB2 1, Babilônia. Foto: Joana França, 2014.
Fig. 4: PAC Cantagalo A. Foto: OAS, 2010
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Arquitecta egresada de la Facultad de Arquitectura y Urbanismo de la Universidad de Buenos Aires, 1989. Miembro del Colegio de Asesores y Jurados de la Sociedad Central de Arquitectos. Miembro de Comisión Directiva de la Sociedad Central de Arquitectos desde el año 2010. Miembro de la Comisión de Ética del Consejo Profesional de Arquitectura y Urbanismo desde el año 2008. 1988-2001 Taller Vertical de Arquitectura 1 a 5 M. A. Roca. Docente y Jefe de Trabajos Prácticos. Arquitectura I. Facultad de Arquitectura, Diseño y Urbanismo, Universidad de Buenos Aires.
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Valeria del Puerto DOS EDIFICIOS DE VIVIENDA COLECTIVA EN BUENOS AIRES
1 CONDOMINIO PLAZA 2730:16 unidades de vivienda, 2008. Plaza 2730, Coghlan, Buenos Aires, Argentina. Superficie 1500 m2
CONDOMINIO PLAZA 27301 Convertir a las obras en seres vivos, que puedan crecer y enriquecerse con el devenir del tiempo y así experimentar mutaciones imprevistas, sorprendentes por su componente orgánico, cambiantes continuamente con los ciclos naturales. Se trata de un condominio de dieciséis unidades de vivienda en el barrio porteño de Coghlan. El conjunto se estructura a partir de dos bloques en torno a un patio donde se alojan las circulaciones verticales y las pasarelas abiertas de acceso a las unidades. La planta baja está equipada con espacios de uso común, un salón de usos múltiples, piscina, parrilla y cocheras. Los frentes orientados al oeste y al este, están protegidos por parrones metálicos verticales, cultivados con enredaderas trepadoras que dan sombra. Estos artefactos bioclimáticos, recomponen la línea municipal y estructuran las expansiones de las unidades. Estas se materializan como puentes de madera entre las unidades y el parasol. La segunda piel genera una transición entre el interior y el exterior urbano, propiciando climas de mayor calidad ambiental, plenos de vida y color. Gracias al crecimiento ininterrumpido de la vegetación, tomada como un material más, el edificio se enriquece con el paso del tiempo, al mismo tiempo, deviene ecosistema urbano con la convivencia de las personas, la vegetación, los pájaros y las mariposas atraídas hacia las parras verticales.
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Concebimos edificios como seres entreabiertos, con una fuerte presencia del medio natural en la arquitectura. Sus pieles son sensibles a las condiciones ambientales, se dilatan, tienen espesor y es allí donde se experimentan los episodios más enriquecidos del habitar. Una arquitectura de transiciones nos protege tanto de las hostilidades del clima como de la ciudad y nos brinda el disfrute intenso del contacto con el medio físico. Devienen reguladores de la relación yo-mundo y nos estimulan a la experimentación con todos los sentidos. Estos jardines verticales nos acompañan con sus mutaciones. Sus primaveras se perfuman con jazmines aromáticos, con sus pequeñas y blancas flores forman mata compacta como espuma expansiva; los inviernos se encienden con las floraciones naranjas en racimo de las bignonias; los otoños se salpican con los cromatismos de las santarritas; los veranos, son pletóricos de verde. Recuperar el espíritu artesanal de nuestra tarea. Cada obra es un nuevo goce de concebirla y construirla. El objetivo es a partir de una materialidad austera pero con carga creativa llegar a soluciones constructivas donde la imaginación logre vencer los recursos escasos. La búsqueda de lo esencial, lo austero. Las fachadas son recubiertas con cerámicos partidos conformando una piel de animal mitológico que aporta color al paisaje urbano. La estructura de
hormigón es dejada vista y los solados de las aéreas comunes son de hormigón lavado. CONDOMINIO MAURE I - MAURE II 2 Nos interesa una arquitectura que amplíe su cualidad de sustentable, para hacerla de mayor alcance y trascendencia, hacedora de paisaje física, intelectual y emocionalmente. Reencontrar el equilibrio entre ciudad y naturaleza y así generar un reencantamiento de los desiertos urbanos para convertirlos en lugares más amables para la vida. Este conjunto de veinticuatro viviendas y aéreas comunes en la planta baja, fue construido en dos etapas. Al terminar el primer edificio surge la posibilidad de compra del lote lindero para la construcción de Maure II que completa el conjunto.
bertad de elección de modos de vida. La apropiación lúdica es brindada a cada habitante para liberarlo de las determinaciones funcionalistas y de un espacio de confinamiento en el cual parece reducida mucha de la arquitectura doméstica en nuestras ciudades. La estructura de hormigón armado es dejada vista, con sus marcas, sin pintura, ni revestimientos y los solados rústicos de hormigón lavado reciben el verdín como un don y aportan junto a la madera y a la vegetación, un componente orgánico que contrarresta la mineralidad de la obra arquitectónica.
2 CONDOMINIO MAURE I - MAURE II: 24 unidades de vivienda, 2006/ 2008. Maure 3310-3320, Colegiales, Buenos Aires, Argentina. Superficie 2.400 m2
CONDOMINIO MAURE II
Se trata de un edificio que quiere convertirse en un jardín vertical. Un gran arco metálico enmarca y envuelve al edificio. Este artefacto bioclimático cultivado con bignonias genera protección solar y aporta una atmósfera de enriquecimiento tanto del paisaje urbano, como de las expansiones de las unidades, generando un espacio de transición entre lo público y lo privado, entre el exterior y el interior. Una segunda piel compuesta por una pantalla de listones de madera, genera una cámara de aire ventilada que aísla térmicamente los muros del frente y contrafrente del edificio. Las pasarelas abiertas al patio central están contenidas por una piel de barras metálicas, a manera de parra vertical cultivada con jazmines perfumados. De esta manera están enriquecidos los actos de ingresar y partir del hogar por parte de sus habitantes. La necesidad de la invención tipológica para poner al hombre en el centro de la escena de nuestra arquitectura, alejándonos tanto de las lógicas del mercado como de las posturas académicas.
CONDOMINIO MAURE I
Las unidades son contenedores rectangulares de 60 m2 con planta libre, sin vigas intermedias y con un baño cilíndrico central que organiza el espacio. Cada ocupante personalizó su unidad con tabiques, paneles pivotantes o corredizos. Todas las unidades son diferentes, acondicionadas como loft, oficina, departamento de uno o dos dormitorios, con múltiples variantes de armado. La concepción de un espacio indeterminado permite una forma de habitar desregulada. Es un planteo versátil que posibilita los futuros cambios y la mayor li-
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CONDOMINIO PLAZA
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LaCol es una cooperativa de jóvenes arquitectos que trabajamos en el barrio de Sants, en Barcelona. Trabajamos desde la arquitectura para la transformación social, utilizándola como una herramienta para intervenir de manera crítica en el entorno más próximo. En paralelo con la sociedad, actuando de forma justa y solidaria y empezando por un sistema de trabajo horizontal. Creemos que la manera de transformar la ciudad es mediante la participación activa de la gente que la habita y de la acción propositiva. Lacol está formada por Arnau Andrés, Eliseu Arrufat, Ari Artigas, Carles Baiges, Anna Clemente, Lali Daví, Cristina Gamboa, Ernest Garriga, Mirko Gegundez, Laura Lluch, Lluc Hernàndez, Pol Massoni, Jordi Miró i Núria Vila.
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LaCol LA EXPERIENCIA DE LA BORDA De la promoción al proyecto
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“lo más importante en la vivienda no es lo que ésta es, sino lo que
Vivienda todo el poder
hace para los usuarios”1
para los usuarios, John F.C Turner 2 Ver LaBorda: http://www. laborda.coop 3 Ver Can Batlló: https:// canbatllo.wordpress.com/ 4 Ver “Notas sobre el proceso de constitución de una cooperativa de vivienda de cesión de uso,” http://www. laborda.coop/?page_ id=38
INTRODUCCIÓN Con este artículo queremos describir la relación entre las características del proceso de promoción de la cooperativa de viviendas La Borda2 y el desarrollo del proyecto arquitectónico. El proceso se inicia en el año 2012 en el marco de la recuperación comunitaria de Can Batlló3, cuando un grupo de vecinos y vecinas deciden auto-organizarse para resolver de manera colectiva la necesidad de acceso a la vivienda mediante la implementación de una cooperativa en cesión de uso4. Para LaCol esta es la primera aproximación a la vivienda colectiva, dónde nos involucramos desde el inicio en la promoción con la motivación de construir una alternativa en un contexto de grave crisis habitacional. Esta implicación se convierte en una oportunidad para repensar la producción de la vivienda popular, des de abajo y con la participación de las futuras usuarias. CONDICIONANTES DE LA PROMOCIÓN La apuesta de La Borda por un modelo comunitario antagónico a las promociones público-estatales o privadas ha permitido superar algunas de las grandes limitaciones que se imponen en los proyectos de arquitectura. En el primer caso el miedo al habitante, que es totalmente desconocido, imposibilita introducir cambios que puedan afectar al modo de vivir establecido. En el segundo caso, se imponen las lógicas del mercado que mediocratizan la vivienda para facilitar su asimilación a un objeto de consumo.
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La innovación del proceso de promoción ha sido un elemento clave para trabajar la arquitectura más allá de su formalización. Del modelo identificamos cinco características que nos han condicionado las estrategias del proyecto: auto-promoción, cesión de uso, vida comunitaria, sostenibilidad y accesibilidad. 1. Auto-promoción Las personas socias de la cooperativa, y futuras usuarias, son las que dirigen, controlan y desarrollan todo el proceso de promoción mediante una estructura interna que fomenta su participación directa en comisiones de trabajo y en una asamblea general mensual. La cooperativa solo tiene el apoyo de equipos técnicos especializados en las tareas que no puede asumir por parte de sus socias, como es el caso del proyecto arquitectónico. La implicación de las futuras usuarias es una de las mayores singularidades y potencialidades desde nuestro punto de vista, ya que es la gran incógnita en todos los proyectos de vivienda colectiva, por lo que se convierte en el punto de partida del proyecto. El conocimiento exhaustivo del grupo y de sus necesidades reales pone en cuestión los patrones familiares y perfiles pre-establecidos y la normativa relativa a la vivienda, para adecuar las decisiones a los requerimientos de la cooperativa. Además, se ha integrado la participación activa de las usuarias en todas las fases del proceso: diseño, construcción, gestión y uso de la vivienda. Con el diseño colaborativo del edificio mediante talleres temáticos se aprovecha la inteligencia colectiva
del grupo promotor y se le corresponsabiliza de las decisiones del proyecto. Son procesos que aumentan la concienciación y empoderan, a la vez que estimulan el sentimiento de comunidad y pertenencia.
una reserva de espacio sin uso adaptable a las necesidades vitales del grupo en cada momento, el patio central que concentra todas las circulaciones y las terrazas exteriores.
2. Cesión de uso y propiedad colectiva La cooperativa será la propietaria del edificio, a construir sobre un solar de titularidad pública, y cederá el derecho de uso sobre la vivienda a sus socias, agrupadas en unidades de convivencia. Con este modelo de tenencia alternativo a la propiedad privada se pone el valor únicamente en el uso de la vivienda, y no en su valor de cambio en el mercado, para evitar usos especulativos.
4. Sostenible La cooperativa prioriza realizar un edificio con el mínimo impacto ambiental, tanto en su construcción como en su vida útil, siendo también en este ámbito un referente para nuevas promociones de obra nueva. Otro objetivo básico, es eliminar la posibilidad de pobreza energética entre las futuras usuarias, situación que sufren algunas de ellas en la actualidad debido al elevado coste de la energía y la escasez de renta disponible.
El hecho de situar el valor de uso y lo colectivo en el centro, nos lleva a pensar el edificio como una infraestructura abierta5 donde el propio uso es el que acaba configurando la arquitectura en el tiempo, adaptándose a la evolución de la comunidad y a las necesidades cambiantes de las usuarias. Que la gestión del edificio sea responsabilidad de la misma comunidad debe facilitar su desarrollo.
La estrategia inicial del proyecto consiste en reducir la demanda energética a partir de la optimización del programa del edificio: renunciando a la construcción del aparcamiento (fomentando a la vez un modelo de movilidad más sostenible), colectivizando servicios y reduciendo la superficie de las viviendas.
La infraestructura común, el soporte, se define a partir de una matriz homogénea indeterminada de unidades habitacionales de 16m2 que generan múltiples tipologías des jerarquizadas y altamente apropiables para cada usuaria por medio de decisiones libremente adoptadas.
A nivel arquitectónico, se han introducido el máximo de parámetros bioclimáticos para conseguir un edificio pasivo, con soluciones que implican una acción activa de las usuarias en la gestión climática de la vivienda. El resultado es un consumo energético casi nulo, y el confort en las viviendas con el mínimo coste asociado.
3. Vida comunitaria La Borda quiere fomentar formas de convivencia más comunitarias que potencien la interrelación entre las persones que la habitan mediante los espacios compartidos. Establecer vínculos de cooperación en el ámbito del trabajo doméstico y los cuidados para visibilizar las esferas privadas de la vida cotidiana.
5. Asequible Una condición imprescindible es garantizar el acceso a una vivienda digna y asequible, para convertirse en una alternativa accesible para las rentas bajas. Las dificultades de financiación hacen que el coste de la construcción sea un factor determinante para establecer el valor de la cuota mensual.
Esta premisa abre la posibilidad de repensar el programa de la vivienda colectiva, para adaptarlo al modelo de vida que imaginan las futuras usuarias. Se rompe con el esquema de edificio resultado de la suma de unidades individuales para entenderlo como una sola casa compartida donde se desdibuja el límite entre el espacio privado y el comunitario.
Se siguen diferentes estrategias para minimizar la inversión inicial: presupuestos como herramienta de trabajo, prefabricación y sencillez constructiva, fases de obra y autoconstrucción.
Las viviendas reducen un 10% su superficie para poner en común servicios como la lavandería, las habitaciones de invitados o trasteros, en muchas ocasiones sobredimensionado o infrautilizado en las viviendas convencionales. Además el edificio cuenta con espacios extras de sociabilización como una gran cocina comedor, una zona de salud y cuidados,
El proyecto plantea dos fases de obra, la primera busca alcanzar los mínimos habitables que permitan entrar a vivir en el edificio, y la segunda fase, posterior a la ocupación, para completar en el tiempo el conjunto (espacios comunitarios y personalización de las viviendas). Además, en el diseño del edifico se han incorporado soluciones low-tech para favorecer procesos de autoconstrucción en tareas concretas de la obra que permitan reducir el coste global y su mantenimiento en el tiempo.
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5 Se utilizan los términos infraestructura abierta y soporte, traducción de los conceptos “Open Building” y “Supports” de N. John Habraken. Ver Supports an alternative to mass housing.
Figuras 1.2.3. [Fotografías de La Borda - Asamblea general de la cooperativa y sesiones de participación con los futuros usuarios]
6. Reflexión final La Borda es una experiencia que se entiende a sí misma como una prueba piloto para extender el modelo y fomentar su replicabilidad en el territorio, actualmente se encuentra tanto la promoción como el proyecto arquitectónico en desarrollo. Por este motivo, nos parece imprescindible poner atención al proceso para analizar sus características, a la espera del contraste con la realidad (la previsión es entrar a vivir en La Borda en 2018), ya son muchos los pasos realizados, las decisiones tomadas y los aprendizajes a compartir.
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Figuras 4.5. [Resultados encuesta realizada por Lacol + PAuS. Resumen y caracterizaci贸n unidades de convivencia]
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Figuras 6.7. [LaCol + comisi贸n arquitectura. Esquema programa y material del taller de arquitectura para definir el modelo de convivencia.]
Figuras 8.9. [LaCol. Definici贸n de la infraestructura, participaci贸n del usuario y tipolog铆as.]
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Figuras 10.11 [LaCol. Definici贸n de la infraestructura, participaci贸n del usuario y tipolog铆as.]
Figuras 12. 13. [LaCol. Estrategias generales de proyecto y funcionamiento clim谩tico del edificio.]
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1. TEORIA E HISTÓRIA DA HABITAÇÃO COLETIVA | TEORÍA E HISTORIA DE LA VIVIENDA COLECTIVA
Mais uma vez, a abordagem do estudo da arquitetura residencial a partir de uma perspectiva histórica - e a reflexão teórica implícita - tem concentrado grande parte das contribuições incluídas no programa do II Congresso Internacional de Habitação Coletiva Sustentável. Esta resposta por parte da comunidade acadêmica e dos especialistas que participam do evento, mostra que uma compreensão holística das questões-chave da habitação coletiva contemporânea exige uma revisão profunda da evolução de suas abordagens a partir da origem do conceito de habitat coletivo.
Una vez más, el acercamiento al estudio de la arquitectura residencial desde la perspectiva histórica -y la reflexión teórica implícita- ha concentrado buena parte de las aportaciones incluidas en el programa del II Congreso Internacional de Vivienda Colectiva Sostenible. Esta respuesta por parte de la comunidad académica, y de las y los expertos participantes en el evento, demuestra que una comprensión holística de las cuestiones clave de la vivienda colectiva contemporánea requiere de una revisión exhaustiva de la evolución de sus planteamientos, desde el origen del propio concepto de hábitat colectivo.
À medida que as contribuições provêm de contextos e situações diversas, a perspectiva oferecida pelo conjunto de trabalhos publicados neste Livro de Atas não elude a diversidade de enfoques ou a complexidade das abordagens, mas, pelo contrário, reflete a heterodoxia das interpretações e a preeminência de uma leitura polissêmica da habitação. Na verdade, essa amplitude na aproximação metodológica muito enriquece o debate submetido à reflexão no Congresso, tornando este documento um recurso de enorme valor, a ser considerado para futuras pesquisas.
En la medida en que las aportaciones provienen de contextos y situaciones diversas, la perspectiva que ofrece el conjunto de comunicaciones publicadas en estas actas no elude la diversidad de enfoques o la complejidad de planteamientos, sino que, al contrario, refleja la heterodoxia en las aproximaciones y la preeminencia de una lectura polisémica de la vivienda. De hecho, esta amplitud en el acercamiento metodológico enriquece enormemente el debate sometido a reflexión en el Congreso, convirtiendo este documento en un recurso de enorme valor, a tener en cuenta por futuras investigaciones.
As abordagens a partir do ponto de vista teórico/histórico mostram uma variedade de enfoques que devem ser ressaltados.
Los acercamientos desde la perspectiva teórica/histórica muestran una variedad de enfoques que conviene resaltar.
HERANÇA E VALOR PATRIMONIAL Por um lado, a reivindicação e a valorização de certos bens patrimoniais de origem residencial é objeto de estudo em vários dos trabalhos selecionados. Alguns casos concentram sua análise no trabalho de determinados autores(as), nem sempre devidamente reconhecidos; outros abordam estudos de casos
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HERENCIA Y VALOR PATRIMONIAL Por una parte, la reivindicación y la puesta en valor de determinados bienes patrimoniales de origen residencial es objeto de estudio en varias de las comunicaciones seleccionadas. Algunos casos concentran su análisis en el trabajo de autores-as concretos, no siempre adecuadamente reconocidos; otros abordan casos de estudio específicos, asumiendo siempre la importancia cultural del tejido residencial.
específicos, sempre assumindo a importância cultural do tecido residencial. O trabalho de Cristiana Eusepi – sobre a Casa Turca - e o artigo de Mateus dos Santos Batista, Marielle Rodrigues Pereira e Matheus Moura Martins - sobre aspectos específicos da arquitetura vernacular brasileira – mostram, de modo geral, o valor dos estudos culturais em relação à construção do habitat a nível local. A recuperação específica de certos espaços residenciais é um aspecto central nos estudos de Kátia Fernanda Marchetto – sobre o caso do Parque Guinle, no Rio de Janeiro - e de Graziela de Oliveira Becker – sobre a evolução do conjunto Vila Flores em Porto Alegre. Não menos importante é a seleção de estudos de caso incluída nos artigos de Christine Van Sluys e Esteban Jaramillo ou de Ibrahim Massaru de Borba. Em ambos os casos, a visão crítica sobre espaços residenciais desenvolvidos em uma cidade específica ou por um arquiteto específico (os distritos de La Granja y Solanda em Quito e Vilanova Artigas, respectivamente) tornam-se metodologias de reflexão sobre os valores urbanos dos espaços habitacionais. HABITAÇÃO, POLÍTICA E MERCADO IMOBILIÁRIO Vários trabalhos mostram uma abordagem crítica sobre a habitação a partir de perspectivas que relacionam suas lacunas qualitativas com a dinâmica do mercado da habitação ou políticas habitacionais locais. Trabalhos como o de Denise Antonucci em São Paulo ou Alejandro J. Peimbert e Juan Carlos Garcia no México mostram a estreita relação entre as políticas públicas de habitação e a evolução do parque residencial de uma cidade. Com uma análise gráfica impecável, a pesquisa de Rafaela Nunes e Simone Barbosa mostra os possíveis efeitos nocivos, para as condições do habitat, a partir da tendência da redução da superfície dos apartamentos nos edifícios residenciais verticais no Brasil. De uma maneira diferente, Marcela Marques Abla aborda as políticas habitacionais a partir de uma perspectiva de gênero através do olhar de quatro proeminentes arquitetas do século XX. Uma aproximação singular nesta área seria a de Luz Paz Agras, que relata de forma crítica e irônica o fim da bolha imobiliária espanhola através de seu projeto fotográfico “Spanish Dream”. No contexto brasileiro, Larissa Casemiro Fiorin e Telma de Barros Correia abordam suas leituras históricas enfatizando a mudança trazida pela industrialização nas políticas urbanas.
El trabajo de Cristiana Eusepi -sobre la Casa Turca- y la comunicación de Mateus dos Santos Batista, Marielle Rodrigues Pereira e Matheus Moura Martins - sobre aspectos específicos de la arquitectura vernacular brasileña- muestran de una manera panorámica el valor de los estudios culturales en relación con la construcción del hábitat en un ámbito local. La recuperación específica de determinados espacios residenciales es un aspecto central en las ponencias de Kátia Fernanda Marchetto -sobre el caso del Parque Guinle en Rio de Janeiro- y de Graziela de Oliveira Becker -en torno a la evolución del Conjunto Vila Flores en Porto Alegre. No menos importante es la selección de casos de estudio incluida en los artículos de Christine Van Sluys y Esteban Jaramillo o de Ibrahim Massaru de Borba. En ambos casos, la mirada crítica sobre espacios residenciales desarrollados en una ciudad específica o por un arquitecto concreto (los barrios de La Granja y Solanda en Quito y Vilanova Artigas respectivamente) se convierten en metodologías de reflexión sobre los valores urbanos de los entornos habitacionales. VIVIENDA, POLÍTICAS Y MERCADO INMOBILIARIO Varios trabajos muestran un enfoque crítico sobre la vivienda desde perspectivas que ponen en relación sus carencias cualitativas con las dinámicas del mercado inmobiliario o de las políticas de vivienda locales. Trabajos como el de Denise Antonucci en Sao Paulo o Alejandro J. Peimbert y Juan Carlos García en México ponen de manifiesto la relación íntima entre las políticas públicas de vivienda y la evolución del parque residencial de una ciudad. Con un impecable análisis gráfico, la investigación de Rafaela Nunes y Simone Barbosa muestra los efectos nocivos para las condiciones del hábitat que puede suponer la tendencia a la reducción de la superficie en los edificios residenciales verticales en Brasil. De una manera diferente, Marcela Marques Abla aborda las políticas habitacionales desde una perspectiva de género a través de la mirada de cuatro destacadas arquitectas del siglo XX. Un acercamiento singular en este ámbito sería el abordado por Luz Paz Agras, quien relata crítica e irónicamente el final de la burbuja inmobiliaria española a través su proyecto fotográfico “Spanish Dream”. En el contexto brasileño, Larissa Casemiro Fiorin o Telma de Barros Correia abordan sendas lecturas históricas que ponen el acento en el cambio aportado por la industrialización en las políticas urbanas.
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ESTUDOS SOCIAIS Outras contribuições valiosas têm sua origem em trabalhos de campo que analisam as condições habitacionais de locais específicos. Neste sentido, a seleção dos estudos de caso é altamente sugestiva e as reflexões desenvolvidas fazem delas uma leitura altamente recomendável. Giselle Cerise Gerson e Maria de Jesus Britto Leite concentram seu olhar em três áreas de baixa renda no Recife, elaborando um exaustivo estudo das necessidades dos habitantes para oferecer sugestões de intervenções para os gestores públicos. Numa abordagem diferente, mas igualmente atraente, Camilla Mayra Heck de Abreu analisa espaços comuns dos edifícios localizados na cidade de Porto Alegre. Do ponto de vista da ocupação infantil através dos espaços de lazer, a autora analisa o impacto dessa ocupação no modo coletivo de habitar os espaços. A partir de uma abordagem mais teórica, Manuela Uribe reivindica a experiência fenomenológica da habitação coletiva a partir da paisagem, e Ángela Cardiel explora a esfera semântica do habitar, enfatizando a importância da identificação dos espaços. ESTUDOS TIPOLÓGICOS E ESPAÇOS COMUNS Não faltam trabalhos que percorram e analisem diferentes espaços da habitação para obter conclusões de ordem tipológica. Enquanto Atxu Amann e Gonzalo Pardo centram seu olhar sobre a história do ambiente banheiro, diversos trabalhos refletem sobre a importância dos espaços comuns, como a rua - é o caso de Ugo Rossi, Juan Carlos Bamba ou Jaume Asensi, que abordam a questão a partir de diferentes perspectivas. O valor tipológico da flexibilidade está presente nos artigos de Fernanda Fontana e Matilde Plastina, enquanto outros abordam os fatores qualitativos apresentados por arquiteturas específicas - Lívia Paula Zanelli de Morais e David Moreno Sperling sobre a arquitetura do MVRDV - ou modelos tipológicos específicos Graziano Brau sobre a riqueza dos Mat-Buildings. No geral, se destaca um olhar multifacetado em trabalhos de qualidade respeitável. Sob o denominador comum da análise crítica, se propõe aprender com a experiência de maneira construtiva, com o objetivo de superar conclusões aplicáveis ao habitat contemporâneo.
JOSEP MARIA MONTANER DAVID H. FALAGÁN
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ESTUDIOS SOCIALES Otras aportaciones valiosas tienen su origen en trabajos de campo que analizan las condiciones habitacionales de entornos locales específicos. En este sentido, la selección de casos de estudio es sumamente sugerente y las reflexiones vertidas hacen muy recomendable su lectura. Giselle Cerise Gerson e Maria de Jesus Britto Leite concentran su mirada en tres áreas de renta baja en Recife, elaborando un estudio exhaustivo de las necesidades de los habitantes para ofrecer sugerencias de intervenciones a los gestores públicos. En una propuesta diferente, pero con un planteamiento igualmente atractivo, Camilla Mayra Heck de Abreu analiza espacios comunes de edificios ubicados en la ciudad de Porto Alegre. Desde la perspectiva de la ocupación infantil a través del juego, la autora analiza la repercusión de esta ocupación en el modo colectivo de habitar los espacios. A partir de un planteamiento más teórico, Manuela Uribe reivindica la experiencia fenomenológica de la vivienda colectiva desde el paisaje, y Ángela Cardiel explora la esfera semántica del habitar, poniendo el acento en la importancia de la identificación de los espacios. ESTUDIOS TIPOLÓGICOS Y ESPACIOS COMUNES No faltan trabajos que recorren y analizan diferentes espacios de la vivienda para obtener conclusiones de orden tipológico. Mientras que Atxu Amann y Gonzalo Pardo concentran su mirada en la historia del ámbito de baño, varias ponencias reflexionan sobre la importancia de espacios comunes como la calle -es el caso de Ugo Rossi, Juan Carlos Bamba o Jaume Asensi, quienes enfocan el tema desde diferentes puntos de vista. El valor tipológico de la flexibilidad está presente en los artículos de Fernanda Fontana o Matilde Plastina, mientras que otras comunicaciones abundan en los factores cualitativos aportados por arquitecturas específicas -Lívia Paula Zanelli de Morais y David Moreno Sperling sobre la arquitectura de MVRDV- o modelos tipológicos concretos -Graziano Brau sobre la fortuna de los Mat-Buildings. En conjunto, destaca una mirada muy poliédrica, en trabajos de una calidad respetable. Bajo el denominador común del análisis crítico, se plantea aprender de la experiencia de manera constructiva, con el objetivo de extrapolar conclusiones aplicables al hábitat contemporáneo.
1. TEORIA E HISTÓRIA DA HABITAÇÃO COLETIVA | TEORÍA E HISTORIA DE LA VIVIENDA COLECTIVA
Manuela Uribe Buitrago | Enviago, Colombia COREOGRAFÍAS DE PAISAJE EN LA ARQUITECTURA DE LA VIVIENDA COLECTIVA
El modelo de vivienda colectiva que estructura la ciudad compacta implica un reto fundamental: incluir la relación fenomenológica entre el ser humano y el paisaje, puesto que, este modelo puede correr el riesgo de invisibilizar las coreografías naturales por la lógica del híper-aprovechamiento del suelo. Esta investigación propone la revaloración de la relación primaria ser humano-paisaje, haciendo hincapié en la vivienda como espacio donde se desarrolla su cotidianidad y se adquieren los primeros valores sociales y ambientales. Actualmente la preocupación por el medio ambiente se distorsiona con la introducción de tecnologías llamadas limpias que sustituyen la responsabilidad de las personas frente a los recursos, éstas son soluciones propias del consumismo y no modifican la esencia de la relación entre el ser humano y sus recursos. Esta investigación cuestiona la imagen dominante de sostenibilidad como un asunto de tecnología; por el contrario, se enfoca en la dimensión cultural y social de la sostenibilidad, y particularmente de la relación ser humano-paisaje que la arquitectura de los proyectos de vivienda pueden potenciar. El artículo se desarrolla en 5 capítulos en torno a la relación ser humano-paisaje en el ámbito de la vivienda. En primer lugar se hace un acercamiento al concepto del paisaje que se aborda en este estudio y se hace un análisis de la importancia de esta relación en el desarrollo social y psicológico del ser humano. En el segundo capítulo se cuestiona la pérdida de esta relación en la experiencia de Medellín, Colombia, modelo de ciudad latinoamericana emergente en el siglo XXI, con tendencia al crecimiento demográfico y
que le apuesta a la densidad en su plan de desarrollo; el estudio expone la desnaturalización de la vivienda colectiva predominante en esta ciudad a partir del análisis de proyectos de vivienda con criterios de selección específicos. El tercer capítulo contrasta estos proyectos con otros ejemplos con iguales criterios de selección en el marco global que sí favorecen la relación cotidiana entre el paisaje y el ser humano con el fin de entender sus códigos y principios, los cuales se convierten en insumos para componer finalmente el Manifiesto del paisaje que sirve tanto para evaluar proyectos ya definidos como para orientar los criterios de arquitectos o desarrolladores de vivienda. La finalidad del estudio es demostrar que la arquitectura de la vivienda colectiva sí puede promover una relación de sinergia permanente con el paisaje y que su materialización puede ser capaz de generar en el ser humano una conciencia hacia su territorio y de persuadir en sus hábitos hacia unos más sostenibles. 1. LA ARQUITECTURA DE LO DOMÉSTICO COMO RELACIÓN TANGIBLE ENTRE EL SER HUMANO Y EL PAISAJE Generación de los primeros valores sociales y ambientales La materia del ser humano de origen orgánico supone un ámbito que corresponda a esta condición, que le permita desarrollarse connaturalmente dentro de una lógica sostenible. Por lo tanto la manera más conveniente de proyectar el hábitat para el ser humano es a partir de una arquitectura que promueva las relaciones recíprocas entre hombre y paisaje en el cual habita. Como lo indica la teoría de la cabaña primitiva: en esa primera expresión de arquitectura la naturaleza
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dictaba sus normas y se daba una lógica de sentido común que relacionaba equilibradamente lo natural y lo artificial (Calatrava, 1991).
el suelo se impermeabiliza y el barrio se desnaturaliza perdiendo la relación sensorial y funcional entre las dinámicas naturales y humanas.
El objetivo de la arquitectura debe ser mejorar el lugar, no ocultarlo y dejarlo detrás de la obra artificial. El edificio debe interpretar el contexto y estar acorde a la disponibilidad de materiales y recursos. De acuerdo a este planteamiento, el diseño de vivienda debe relacionar naturalmente los procesos humanos y del paisaje, el cual no se refiere únicamente a la presencia de lo vegetal, sino que éste se puede construir a partir de fenómenos físicos naturales como la luz y la sombra, la noche, la lluvia y el viento.
Este capítulo propone el análisis de la relación ser humano-paisaje en el modelo de vivienda colectiva en Medellín, Colombia. Esta ciudad se analiza particularmente por ser modelo de ciudad emergente latinoamericana, referente mundial en urbanismo social y movilidad incluyente, pero que en el ámbito de la vivienda aún tiene bastantes aspectos por mejorar. Sus circunstancias socio-geográficas complejas, su acelerado crecimiento demográfico y su alto potencial paisajístico producto de sus condiciones climáticas, geomorfológicas y biodiversidad sugieren una solución de habitación responsable, inserta en la lógica de una ciudad compacta sostenible. (fig. 1)
La arquitectura en general y fundamentalmente de la vivienda tiene el potencial de fundar en las personas valores que se forman desde la experiencia cotidiana del espacio y se exteriorizan constituyendo los valores generales de la sociedad; este carácter moral de la disciplina le otorga una especial responsabilidad al trabajo del arquitecto como diseñador de espacios que promuevan una sociedad más sostenibles y equitativa. Y en este sentido el diseño de vivienda que le da a las personas la oportunidad de experimentar fenológicamente el paisaje desde los ámbitos cotidianos y que incorpora en sus principios elementos, espacios y recorridos que favorecen e inducen a un comportamiento acorde a prácticas sostenibles conlleva a la creación de una sensibilidad y actitud más responsable del ser humano frente a sus recursos. La arquitectura como principio de pedagogía debe ser capaz de exponerle y enseñarle al individuo la importancia, necesidad y función de la naturaleza y sus procesos. 2. DESNATURALIZACIÓN EN EL ÁMBITO DE LA VIVIENDA COLECTIVA Desvinculación del ser humano-paisaje en la vivienda de la ciudad compacta, el caso Medellín. Mi profundo interés por la relación ser humano-paisaje me llevó a cuestionarme a cerca del desarrollo del modelo de vivienda de Medellín, mi ciudad natal, en el siglo XXI. Luego de vivenciar el crecimiento acelerado del tejido de vivienda en este siglo y ver cómo éste termina configurando el paisaje de la ciudad me ha surgido un interrogante: ¿Están en controversia la re-densificación de la ciudad compacta y la experiencia del paisaje natural?. Es preocupante que los proyectos de vivienda colectiva en los centros urbanos compactos, comúnmente en el modelo latinoamericano y particularmente en la ciudad de Medellín, desvinculen cada vez más al ser humano del paisaje;
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Para esta investigación se hace un recorrido vivencial en diferentes proyectos locales que cumplen con criterios de selección comunes como haber sido construidos en el siglo XXI, estar emplazados en el tejido urbano, ser edificios de 5 pisos en adelante y estar emplazados en barrios de circunstancias socio-económicas diversas. En esta visita se analiza el grado de relación entre el proyecto, el paisaje y el habitar a partir de un itinerario que comienza desde una perspectiva urbana y examina la relación del edificio con el barrio y la topografía, luego recorre las circulaciones interiores del edificio hasta llegar a la azotea. Por último se analizan las unidades de habitación. De este análisis se concluye que en Medellín, la mayoría de los proyectos desconocen el territorio en el cual se insertan. El modelo de urbanización de la ciudad ha fomentado un desarrollo de vivienda en las laderas del Valle de Aburrá. A este territorio inicialmente natural y reserva ecológica del valle se le ha alterado su hidrografía y topografía sin ninguna lógica ambiental. Tal como lo expresa Josep María Montaner en su texto Casas de la existencia: “Lo que hacen la mayoría de las edificaciones es destruir el medio y después rehacerlo, eliminan todo lo que hay, arrasan con la memoria, la capa del suelo y el paisaje y después sobreponen la obra nueva” (Montaner y Santos, 2011, p.11) (fig. 2). Los proyectos analizados, desde una escala barrial, no favorecen la conexión de sus especies y coberturas vegetales con el tejido ambiental de la ciudad como en el caso del Conjunto Cantares o Torres de San Sebastián. Es evidente la no apropiación de parques y zonas verdes; en un alto porcentaje del tejido residencial estos espacios son cerrados y excluyentes, como ocurre en Santafé Apartamentos o Montecanelo.
En el caso de Conjunto Cantares el espacio público inmediato se limita a operaciones constructivas para garantizar la movilidad pero no propone espacios agradables de estancia y aprovechamiento del paisaje y las visuales. En todos los casos estudiados las circulaciones colectivas de los edificios son estrechas, no proporcionan lugares de encuentro con vecinos, se evidencia poca presencia de vegetación y las visuales hacia el paisaje son muy escasas. La falta de gradación espacial en el recorrido entre el espacio público y privado conduce de la manera más pragmática e insustancial al usuario desde la calle o parqueadero hasta su dormitorio. Las azoteas en estos proyectos son un tejado o una placa de concreto para ubicar tanques de agua desaprovechando su potencial para actividades comunitarias y ecológicas. Las viviendas en la mayoría de los casos cuentan con balcón que les permite un contacto visual y experimental con el exterior, sin embargo, se evidencia un estilo de vida indiferente al paisaje y cuidado del medio ambiente. En general el modelo de vivienda en Medellín refleja expresiones muy limitadas de relación ser humano-paisaje, lo cual es incongruente a un modelo de ciudad sostenible. Esta situación es critica porque genera en las personas un sentido de inexistencia del paisaje moldeando valores de una sociedad desconectada e insensible por su territorio. (fig. 3) 3. VISIBILIZACIÓN DEL PAISAJE EN LA ARQUITECTURA DE LA VIVIENDA Análisis de proyectos de vivienda colectiva que favorecen el vínculo ser humano – Paisaje A partir de la crisis de la desconexión del la vivienda con el paisaje, este estudio pretende visibilizar referentes de vivienda colectiva que favorecen la relación ser-humano paisaje para entender cómo se puede hacer arquitectura que promueva hábitos sostenibles desde una dimensión socio-espacial. Una pregunta que me hice fue: ¿Cómo llevar la experiencia de paisaje a la vivienda de la ciudad compacta? Realicé un viaje en búsqueda de referentes de vivienda colectiva con los mismo criterios de selección de los proyectos locales y encontré algunos ejemplos que integran las dinámicas humanas y naturales, aunque en una escala e influencia muy acotada. Durante la investigación se visitan y analizan algunos referentes como el proyecto Next 21 en Osaka, Japón. El Edificio 111 en Terrassa, Barcelona. La cooperativa de viviendas y servicios Sargfabrik y en Viena, el Edificio de viviendas OKO House en Berlín, entre otros.
En la experiencia cotidiana de estos proyectos sus habitantes tienen la oportunidad de experimentar el paisaje como un hecho tangible, explícito, con el cual pueden interactuar, sentir, oler, recrearse… Estos principios de relación están materializados en definiciones espaciales que permiten una relación y encuentro constante entre vecinos, mejoran las condiciones de la ventilación e higiene, proponen la colectivización de algunas tareas domésticas, promueven la movilidad en medios de transporte públicos y alternativos al vehículo particular, abren algunas áreas de la unidad de habitación para proponer una experiencia más franca con el exterior. Esta experiencia fenomenológica entre el ser humano, entorno construido y paisaje natural, ha influenciado el desarrollo cotidiano de sus habitantes, se han creado valores de comunidad y apoyo colectivo, respeto por los componentes vegetales, prácticas asociadas a la agricultura urbana aprovechando las cubiertas como huertas colectivas y se mejora la seguridad del barrio por la condición más abierta de las viviendas o la promoción de actividades en espacios exteriores. (fig. 4) Vale la pena destacar que no todos los proyectos presentan los mismos principios de relación entre el ser humano y el paisaje, algunos como OKO House y Next 21 tienen una presencia más tangible del componente vegetal y configura una escenografía natural (fig. 5). Por su parte, Sargfabrik y Edificio 111, aunque no predomina el componente vegetal en su composición arquitectónica, son propuestas más permeables, donde su programa apunta por la gradación entre espacios abiertos, semi-cubiertos y cubiertos que el usuario recorre como un itinerario habitual en el cual puede experimentar diferentes perspectivas y puntos de fuga, juego de luces y sombras, la lluvia, el sol y el viento. (fig. 6) Sargfabrik y Next 21 aprovechan sus terrazas como huertas colectivas, su intención es prolongar el espacio público hacia el interior del edificio por medio de un promenade que le permite al usuario pasar por diferentes estancias, tener contacto con otros vecinos, apreciar múltiples visuales y finalmente llegar a un espacio natural que restituye el terreno vegetal del primer piso que fue edificado como una muestra de devolverle a la ciudad espacios verdes que han sido impermeabilizados por la creciente densificación. Este principio de terrazas verdes promueve un sistema de drenaje urbano sostenible que mejora la capacidad de absorción de agua lluvia de las superficies de los centros urbanos, contribuyendo con el equilibrio del ciclo hidrológico natural del agua (Perales, Doménech, 2008) (fig. 7).
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Los casos estudiados en esta investigación manifiestan explícitamente el paisaje como un hecho tangible en las dinámicas de habitar. En estos proyectos se identifican estrategias urbanas, técnicas, espaciales y estéticas que se sintetizan en criterios de actuación para proyectar edificios de vivienda colectiva que promueven la relación entre la arquitectura, el ser humano y el paisaje 4. MANIFIESTO DEL PAISAJE EN LA VIVIENDA COLECTIVA A partir del análisis de los proyectos estudiados se extraen unos principios que promueven una relación de sinergia permanente entre el paisaje y las personas que habitan la vivienda colectiva Congruencia con la topografía existente: El emplazamiento del proyecto es congruente con la topografía del lugar. Configuración de tejido urbano ambiental: El edificio responde por sus materiales, configuración paisajística y conjunto de especies vegetales, a una conexión ecológica con el tejido urbano que lo circunda. Movilidad sostenible: Favorecimiento del uso del transporte público sobre el privado. El primer piso potencia los espacios verdes sobre las zonas de parqueo. Espacios adecuados para guardar bicicletas. Tridimensionalización del recorrido urbano: Continuidad de los recorridos urbanos dentro del edificio como calles públicas en diferentes niveles. Imagen vegetal: Introducción de la vegetación como parte esencial de la imagen del edificio. Permeabilidad y descomposición: El volumen del edificio se perfora o descompone para permitir el paso de la iluminación y ventilación naturales a escala de barrio. Externalización de áreas de la vivienda: Espacios privadas o colectivas que permiten un contacto con las condiciones atmosféricas exteriores. Potenciación de la relación visual interior/exterior: Postura de fachadas, materiales y terrazas que propician el intercambio visual interior/exterior. Estancia intermedia: Espacios que favorecen las condiciones climáticas del espacio interior Paisaje productivo/terraza ecológica: Inclusión de huertas urbanas sostenibles en el conjunto habita-
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cional que promueva las relaciones comunitarias. La terraza se compone de material vegetal restituyendo el terreno natural del primer piso que fue edificado. (fig. 8) 5. REFLEXIONES Y CONCLUSIONES El análisis de proyectos de vivienda colectiva y la definición de los criterios que componen el Manifiesto de Paisaje aportan elementos para generar una retroalimentación de las políticas de vivienda así como de los fundamentos proyectuales que mejoren las condiciones de habitabilidad en donde la experiencia del paisaje sea intrínseca al desarrollo del día a día de la persona. La matriz de análisis en la cual se relacionan los principios del manifiesto con los proyectos evidencia la poca relación con el paisaje en los proyectos de Medellín a diferencia de los proyectos analizados en el ámbito internacional. Este contraste es un llamado a los actores locales que diseñan, gestionan y construyen proyectos de vivienda colectiva la cual necesita un cambio urgente en conceptualización y desarrollo que involucren posturas de paisaje, sostenibilidad y comunidad. En los proyectos de vivienda pública de Medellín se evidencia un arraigo al jardín que las personas intentan reivindicar en sus nuevas viviendas otorgadas por el Estado; sin embargo la arquitectura de estos proyectos no contempla estas dinámicas de relación con la vegetación lo cual hace que estas prácticas sean difíciles de materializarse y con el tiempo sean más escasas. La conceptualización y aplicación de los criterios planteados promueven en las personas una sinergia fenomenológica entre ser humano-paisaje favoreciendo una actitud consciente hacia los recursos naturales; así mismo, se materializan en propuestas espaciales y programáticas que estimulan las relaciones sociales entre los vecinos, mejoran la calidad de habitación, la higiene, gestión de residuos y potencian un carácter más natural del barrio. Si consideramos que el tejido de vivienda compone aproximadamente el 80% del tejido urbano y éste se proyecta de acuerdo a los criterios planteados en esta investigación, la ciudad estaría en una mejor asociación con el paisaje. El Manifiesto se convierte en un catálogo de posibilidades aplicables en diferentes contextos y geografías convirtiéndose en una manera de proyectar vivienda que promueva una simbiosis entre arquitectura, ser humano y paisaje.
BIBLIOGRAFÍA Calatrava, J. A.(1991) Arquitectura y naturaleza. El mito de la cabaña primitiva en la teoría arquitectónica de la Ilustración. [versión electrónica] Gazeta de antropología. 8 (9) 1-17.
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Fig. 3: Comparativo de proyectos de vivienda colectiva en Medellín en contextos socio-
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Fig. 4: Interiores de la Cooperativa de vivienda y servicios Sargfabrik, Viena. Fig. 7: Huertas colectivas en la cooperativa de vivienda y servicios Sargfabrik, Viena.
Fig. 5: Conjunto de viviendas OKO House, Berlin. Itinerario entre la vegetación Fig. 6: Edificio 111 Viviendas en Terrassa, Barcelona. Imagen que ilustra la descomposición del volumen que favorece múltiples opciones de contemplar y experimentar el paisaje.
Fig. 8, Relación de los proyectos estudiados con los principios del
MANUELA URIBE BUITRAGO manuelauribeb@gmail.com
Manifiesto del Paisaje
Arquitecta de la Universidad Pontificia Bolivariana de Medellín, Colombia, con experiencia proyectual en la arquitectura eco-eficiente y sostenible. Trabajó durante 1 año y medio en el estudio Alejandro Echeverri + Valencia arquitectos de Medellín, conceptualizando y desarrollando proyectos de equipamientos culturales, deportivos, de espacio público y paisaje. Se ha desempeñado como docente en el Taller de Espacio Público de la UPB de Medellín. En el 2015 viajó a Barcelona a comenzar una investigación bajo la tutoría de la Arq. Zaida Muxí, la cual reflexiona y propone estrechar el vínculo entre las dinámicas naturales y el espacio cotidiano del ser humano.
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1. TEORIA E HISTÓRIA DA HABITAÇÃO COLETIVA | TEORÍA E HISTORIA DE LA VIVIENDA COLECTIVA
Telma de Barros Correia | São Paulo, Brasil INDÚSTRIA E HABITAÇÃO COLETIVA: BRASIL, 1900-1950
1.A ORGANIZAÇÃO COLETIVA DA PRODUÇÃO E DO ALOJAMENTO O mundo industrial – baseado em cooperação e divisão do trabalho e em noções de produtividade – exigiu que a questão da moradia fosse reconsiderada: pensada em termos de produção em série e do ponto de vista de economia de tempo e de recursos na produção, na manutenção, nos trabalhos domésticos e nos deslocamentos entre casa e trabalho. Neste contexto, modelos de moradia coletiva planejados foram enaltecidos em formulações teóricas – como em Owen e Fourier -, testados em realizações – desde o familiastério de Godin – e discutidos em seus princípios, formas e repercussões - como nos primeiros CIAMs. Principal propulsor da difusão de modelos de moradia coletiva, a indústria também se envolveu diretamente na sua produção. No Brasil diversas formas de moradia coletiva foram erguidas por fábricas e por empresas de mineração para abrigar seus empregados, desde as senzalas até modelos diversos de alojamentos, hotéis, casas de hóspedes e prédios de apartamentos. Durante o século XIX, para alojar empregados solteiros - dependendo da posição que ocupavam na hierarquia da empresa - senzalas, alojamentos e hotéis foram moradias coletivas a eles destinadas. Recuperando o modelo de habitação adotado em fazendas para abrigar escravos, senzalas foram criadas, até a terceira década do século XIX, por algumas fábricas de ferro – como as de São João de Ipanema, do Prata e de São Miguel de Piracicaba - e pela mina de ouro de Morro Velho. Assim
como em engenhos de açúcar, o trabalho pesado e predominantemente masculino nestes empreendimentos está associado ao emprego de trabalho de escravo e ao alojamento destes em senzalas. Com a abolição da escravidão e a maior diversificação da mão-de-obra empregada pelas fábricas – incluindo crianças, mulheres solteiras ou casadas, etc. – as senzalas deram lugar a alojamentos coletivos, que podiam ser chamados conventos (se destinados a moças solteiras), dormitórios, pensões ou hospedarias. Foram mais frequentes em núcleos fabris isolados no campo, mas ocorreram também em vilas operárias situadas em cidades. Costumavam incluir quartos, sanitários e refeitórios, além de cozinhas e demais instalações de serviços. A partir de meados do século XIX é possível localizar como muita frequência alojamentos em empreendimentos industriais e de mineração situados fora de cidades. Em alguns casos, há indicações de características espaciais destas moradias. Na fábrica de tecidos da Brasil Industrial, fundada em 1871, havia um dormitório para 100 crianças operárias, instalado e uma casa grande1. A Fábrica de Tijolos Santa Cruz, fundada em 1876, ergueu “... uma casa quadrilonga com 80 metros de comprimento por 7 de largura, contendo 30 dormitórios para duas pessoas cada um, refeitório para 120 pessoas, cozinha, despensa...”2. Em Pau Grande, núcleo pertencente a uma fábrica têxtil, os alojamentos eram construções térreas, com uma série de quartos acessados por um corredor e contando com um único banheiro3. Na década de 1840, na mina de Morro Velho, havia alojamentos para acomodar quarenta trabalhadores livres e estavam sendo erguidos outros dotados de
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1 Keller, Paulo Fernandes (1997). Fábrica & Vila Operária: a vida cotidiana dos operários têxteis em Paracambi/ RJ. Rio de Janeiro: Sólon. p. 44-45. 2 Fabrica de Tijolos – Santa Cruz. O Auxiliador da Indústria Nacional, n 5, maio de 1879. pp. 115-116. 3 Varon, Conceição de M. Ferraz (1987). E a história se repete... as vilas operárias e os conjuntos residenciais dos IAPAs no Rio de Janeiro. São Paulo: FAU-USP. Dissertação de Mestrado. p. 205. 4 Hering, Maria Luiza Renaux (1987). Colonização e Indústria no Vale do Itajaí: o Modelo Catarinense de Desenvolvimento. Blumenau: FURB. p. 101.
5 Burton, Richard Francis (1983). Viagens aos Planaltos do Brasil. Tomo I. 2 ed. Coleção Brasiliana, V 197. São Paulo: Ed Nacional; Brasília: INL, Fundação Pró-Memória. p. 312. 6 Hering, Maria Luiza Renaux (1987). Colonização e Indústria no Vale do Itajaí: o Modelo Catarinense de Desenvolvimento. Blumenau: FURB. p. 163. 7 D’Albuquerque, A. Tenório (1940). Escândalo no Morro Velho. Rio de Janeiro: Gráfica Labor. p. 59. 8 Teixeira, Palmira P (1990). A Fábrica do sonho: trajetória do industrial Jorge Street. Rio de Janeiro: Paz e Terra. p. 76. 9 O Frigorifico Swift no Rio Grande. A Federação. Anno XXXV. N 237. Porto Alegre, 8-10-1918. p. 5. 10 Vichnewski, Henrique Telles (2004). As Indústrias Matarazzo no Interior Paulista: arquitetura fabril e patrimônio Industrial (1920-1960). Campinas, UNICAMP. Dissertação de Mestrado em História.
doze quartos, destinados a dois trabalhadores cada. Em Bom Retiro, onde se instalou em 1880, a fábrica têxtil Hering criou dois dormitórios: o feminino no segundo andar do prédio da malharia e o masculino atrás da fábrica4. Quando adotavam um padrão construtivo e um serviço mais elevado, eram erguidos em núcleos fabris pertencentes a empresas de grande porte e se destinavam a hospedar temporariamente visitantes e/ou funcionários e a moradia de empregados qualificados, os alojamentos podiam ser chamados de hotéis ou casas de hóspedes. Em 1867, Richard Burton observou em Morro Velho a existência de um sobrado com esta função5, que foi substituído no final do século XIX por um amplo hotel. Nota-se que, durante o século XIX, a moradia coletiva oferecida por empresas e seus empregados era, voltados, basicamente, a solteiros. Aos casados, se reservavam casas unifamiliares. Um exemplo raro no Brasil de moradia coletiva para casados erguida no século XIX consistiu em dois prédios - batizados familienhaus - para abrigar de três a sete famílias, criados pela Fábrica Renaux, fundada em 1892, em Brusque. No interior destes prédios cada família dispunha de cozinha, dois quartos e sala6. Partindo, destes exemplos iniciais do século XIX, este trabalho discute a incidência e a relevância das diferentes modalidades de moradias coletivas criadas por fábricas e empresas de mineração no Brasil durante a primeira metade do século XX, assim como analisa seus programas e suas características espaciais. 2. ALOJAMENTOS, HOTÉIS E PRÉDIOS DE APARTAMENTOS Na primeira metade do século XX, as formas de alojamento coletivo se diversificam, pela continuidade de modalidades difundidas no século XIX e introdução de novas tipologias residenciais. Para alojar empregados solteiros, as senzalas são abolidas, enquanto tem continuidade a criação de alojamentos e hotéis, cuja forma, programa e administração se alteram, dependendo da posição do usuário na hierarquia da empresa. Para empregados pouco qualificados, a forma destes alojamentos podia revelar poucas alterações se comparada às antigas senzalas, sobretudo quando instalados em núcleos fabris no campo, longe dos controles sanitários urbanos. Documento de 1938 referia-se às pensões da mina de Morro
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Velho, descritas em termos muito desfavoráveis, com quartos sem janelas que “servem de dormitório a cinco ou seis homens”7. A tendência, entretanto, era no sentido de receberam melhores condições de higiene e conforto, em termos de ventilação, iluminação, instalações sanitárias, mobiliário e, especialmente, de lotação. Em Camaragibe, Pernambuco, havia no início do século XX dois alojamentos para operários com 12 quartos e um sanitário no térreo. Eram prédios de dois pavimentos, de projeto econômico: sem ornatos e com as paredes do térreo coincidindo com as do pavimento superior. A Armour, instalada a partir de 1917 em Santana do Livramento, criou um alojamento para técnicos em prédio de três pavimentos, reunindo 52 quartos e áreas de uso comum e de serviços. Em Volta Redonda, na década de 1940, os alojamentos para operários e para o pessoal administrativo eram prédios de dois pavimentos, concentrados em uma rua. Na década de 1940, a Klabin do Paraná criou no núcleo de Lagoa – sede do setor florestal e serviço de tráfego - alguns barracões para dormitório coletivo com capacidade para até 200 trabalhadores e em Harmonia – onde localizou sua fábrica de papel – o Hotel Central - uma ampla construção com 28 quartos e 16 apartamentos. Parte considerável dos empregados da Ford no Pará, entre 1928 e 1934, foi instalada em 16 alojamentos em Fordlândia e em 17 em Belterra. Em vilas operárias erguidas em cidades, os alojamentos eram menos frequentes e tendiam a apresentar menores dimensões. Na cidade de Rio Grande, a Rheingantz criou, em 1911, uma habitação coletiva, chamada de Cassino dos Mestres, com três dormitórios no pavimento superior e, além dos espaços de serviço, salas para jogos, bilhar, leitura e jantar no térreo. Em São Paulo o alojamento da Vila Maria Zélia, erguido na década de 1910, incluía quartos, salas de estar, de jantar e de costura, cozinha, sanitários e banheiro8. Ao instalar, em 1918, uma filial no Rio Grande do Sul o frigorífico Swift criou junto às suas instalações em Rosário e ao porto em Rio Grande, duas hospedarias para funcionários solteiros, ao lado de dois conjuntos de casas para os casados9. São construções confortáveis, voltadas a abrigar funcionários graduados, deslocados para a localidade. Em Rancharia, a Matarazzo criou quatro alojamentos para engenheiros - dotados de três suítes e uma sala – e um alojamento para operários com 30 quartos para duas pessoas, vestiários, salas de jantar e estar e áreas de serviço10.
No início do século XX, em Pedra – núcleo fabril criado por fábrica de linhas de costura, no sertão de Alagoas - o hotel da fábrica era uma construção simples, uma vez que os hóspedes ilustres eram alojados na casa do industrial. A tendência nas grandes indústrias é que tais hotéis sejam prédios amplos de alta qualidade construtiva e localizados em pontos privilegiados, como o Bela Vista em Volta Redonda e o Hotel Igapê em Harmonia. Em Alumínio, fundado na década de 1940, havia um hotel para engenheiros e outro para técnicos. “Casa de Hóspedes” foram criados em Timóteo, Casa de Pedra e pela Mecânica Pesada. Em Monlevade, os engenheiros e técnicos solteiros residiam – mediante o pagamento de taxa mensal - no “Cassino”, prédio descrito como “amplo, magnífico, instalações confortáveis”11. Em vilas operárias, a prática foi menos frequente, mas ocorreu em casos como os da Siderúrgica Belgo-Mineira em Sabará e da Cia. Vale do Rio Doce S.A em Itabira. Para abrigar famílias de operários casados as moradias coletivas criados por fábricas foram menos numerosos que as soluções ofertadas aos solteiros e restringiram-se, basicamente, a alguns prédios de apartamentos, construídos em número limitado e, sobretudo, entre as décadas de 1940 e 1960. Alguns exemplos revelam uma transição entre casa unifamiliar e prédio de apartamentos. Este é o caso dos prédios erguidos em Fortaleza, na década de 1940, pela fábrica têxtil São José. Com fachada de viés Art-Déco, tinham 32 apartamentos - 16 no térreo e 16 no pavimento superior – dotados de sala de estar, sala de jantar, dois quartos, cozinha, despensa, banheiro, área de serviço e dependências para empregada. Todos têm uma entrada independente e uma pequena área descoberta, que nos situados no pavimento térreo é um pequeno jardim frontal, enquanto nos situados no primeiro andar corresponde a um quintal. É também o caso de dois pequenos prédios de apartamentos construídos no início da década de 1940 pela Companhia Nitro Química na cidade de São Paulo: um bloco de quatro apartamentos de gosto Déco, dotados de sala, dois quartos, cozinha, dois sanitários e área de serviço; e um bloco de seis apartamentos com sala, um ou dois quartos, cozinha, sanitário e área de serviço (nos térreos). No primeiro caso, os apartamentos térreos são beneficiados por um pequeno quintal, compensado no pavimento superior pelo acréscimo de uma estreita sacada junto ao quarto. No segundo exemplo, a disposição do térreo segue a de moradias unifamiliares em blocos, inclusive pela disposição da parte de serviços em um bloco
autônomo justaposto ao corpo principal pela sala abrindo para o quintal e pelo quintal unifamiliar, com área e sanitário de serviço em sua extremidade. Todos os apartamentos têm entrada independente a partir do jardim e os apartamentos térreos têm área de serviço separada do corpo da construção, disposta no fundo do lote. Ambos têm a aparência externa de casas unifamilares: um sugere tratar-se de dois sobrados geminados e o outro de uma ampla moradia. Em Volta Redonda, a partir da década de 1940 a Companhia Siderúrgica Nacional construiu vários prédios de apartamentos, com três ou quatro pavimentos, dispostos na maioria das vezes de forma paralela e separados por vias internas e áreas verdes desprovidas de muros. Em 1949, a Fiação, Tecelagem e Estamparia Ypiranga “Jafet” ampliou sua vila operária em São Paulo, com a construção de nove prédios de apartamentos. A “exiguidade e o elevado valor dos terrenos existentes” junto à fábrica foi a justificativa oferecida à época por sua direção para esta opção. Os prédios são blocos de quatro pavimentos, cujos apartamentos dispõem de terraço, dois cômodos, cozinha, banheiro e área de serviço12. Na década de 1950, a Fábrica Nacional de Motores construiu 200 apartamentos, em blocos de quatro pavimentos, dotados de pilotis. Nesta década, no Recife, a fábrica têxtil da Torre ampliou sua vila operária, edificando prédios de três pavimentos. Um exemplo mais recente são os pequenos prédios de apartamentos erguidos pela Cicade, em Bagé. 3. MORADIA COLETIVA COMO ALOJAMENTO DE SOLTEIROS Embora a moradia coletiva tenha se disseminado amplamente na era industrial, sua adoção por fábricas e empresas de mineração no Brasil foi limitada e restrita, basicamente, ao alojamento de empregados solteiros. Entre fábricas e mineradoras brasileiras, dormitórios, alojamentos, hotéis e casa de hóspedes se impuseram como uma solução econômica e usual de abrigo de empregados solteiros e visitantes. Ocorreram em números muito significativos, especialmente em grandes empresas implantadas fora de cidades, as quais, usualmente, criaram vários alojamentos, destinados a diferentes categorias de trabalhadores. Diversos modelos e padrões de moradia coletiva destinada a solteiros foram criados, conforme a posição do ocupante na hierarquia da empresa, incluindo desde pensões e dormitórios precários, até casas de hóspedes e hotéis amplos e confortáveis.
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11 A Siderurgia em Minas Gerais. O Observador Econômico e Financeiro, Ano V, N 57, São Paulo, outubro de 1940. p. 51-52. 12 Obras Sociais da Fiação, Tecelagem e Estamparia Ypiranga “Jafet” S A. Observador Econômico e Financeiro, Ano XVI, N 164, setembro de 1949. pp: 111-113.
No caso das famílias, a exceção de um único caso no século XIX de familienhaus, a solução da moradia coletiva – aplicada de forma muito restrita – foi o prédio de apartamentos. Aos casados a opção, claramente preferencial, das empresas foi a casa unifamiliar. Foi possível registrar apenas alguns casos raros de prédios de apartamentos criados por indústrias e nenhum por empresa de mineração. Tais prédios estiveram associados, sobretudo, a indústrias instaladas em áreas urbanas valorizadas – caso da Jafet em São Paulo e da Torre no Recife – ou a empreendimentos estatais cujo caráter modernizador buscou correspondência em formas urbanas inovadoras – caso da Companhia Siderúrgica Nacional e da Fábrica Nacional de Motores. Nestes últimos dois casos, a busca de referências internacionais é evidente. A forma e a disposição dos blocos de apartamentos erguidos pela CSN e pela FNM remetem aos alguns siedlungen projetados na Alemanha nas décadas de 1920 e 1930. Como lá, a linguagem arquitetônica dos conjuntos brasileiros é francamente modernista: blocos sóbrios intercalados por vegetação, incluindo eventualmente janelas corridas, pilotis e painéis de cobogó. Em outros exemplos, entretanto, as soluções são menos arrojadas. Em prédios do início da década de 1940, uma transição entre a forma de casas e apartamentos se evidencia na eventual existência de quintais e entradas independentes para cada apartamento e/ou na aparência externa sugerindo uma casa ampla ou sobrados geminados. Este desdém pela solução de moradia coletiva para as famílias pode ser buscado em um conjunto de explicações. Há aquelas de ordem econômica: a implantação no campo ou em áreas periféricas, onde a terra é relativamente barata, podia favorecer as soluções construtivas mais baratas, que implicam menor concentração espacial. Outra ordem de explicação pode ser buscada na intenção de dispersão, almejada por um trabalhador submetido a trabalho coletivo em ambiente fechado e por um empregador temeroso de consequências sociais e políticas da concentração de mão-de-obra além dos limites da empresa e do tempo do trabalho. Finalmente, é possível pensar uma explicação de ordem simbólica: as instalações industriais – com sua escala e forma – foram em si um símbolo poderoso de força, inovação e energia, que prescindem – ou, mesmo, não almejam a concorrência - de outros prédios de grande visibilidade, como os destinados a habitações coletivas.
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Fig. 1: Hospedaria da Swift em Rosário, Rio Grande do Sul. Fotos: Philip Gunn, 1997.
Fig. 2: Alojamento para rapazes solteiros da Siderúrgica Barra Mansa, Barra Mansa. Foto: Philip Gunn, 2001. Fig. 3: Hotel Bela Vista em Volta Redonda. Foto: Philip Gunn, 2001.
Fig. 4: Prédios de Apartamentos da Fábrica de Tecidos São José, em Fortaleza. Fonte: Acervo da Autora, 2014 (com base em: Andrade, Margarida J. F. de Salles (1990). Onde moram os operários... vilas operárias em Fortaleza: 1920-1945. Salvador: FAU-MAU.
Fig. 5: Bloco de quatro apartamentos construído pela Companhia Nitro Química. Fonte: Divisão de arquivo municipal e processos. MDGDP-2. Secretaria de desenvolvimento municipal de planejamento, orçamento e gestão.
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Fig. 6: Prédios de Apartamentos da Fábrica Ypiranga “Jafet”, em São Paulo. Foto: Telma de Barros Correia, 2005.
Fig. 7: Prédios de Apartamentos em Volta Redonda, Rio de Janeiro. Foto: Philip Gunn, 2001. Fig. 8: Prédios de apartamentos no Conjunto Residencial para a Siderúrgica Mannesmann. Fonte: Brasil Arquitetura Contemporânea, 1956, p. 26.
TELMA DE BARROS CORREIA tcorreia@sc.usp.br Arquiteta pela UFP, mestre pelo MDU-UFPE e doutora pela FAU-USP. Professora e pesquisadora do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP. Pesquisa história da habitação, do urbanismo, da arquitetura e das vilas operárias no Brasil.
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1. TEORIA E HISTÓRIA DA HABITAÇÃO COLETIVA | TEORÍA E HISTORIA DE LA VIVIENDA COLECTIVA
Esteban Jaramillo | Christine Van Sluys | Quito, Equador LA GRANJA Y SOLANDA Dos proyectos urbano residenciales en Quito
INTRODUCCIÓN En el Ecuador, específicamente en la ciudad de Quito, los temas relacionados con la arquitectura y el urbanismo moderno, tienen como momento clave la llegada a la ciudad en 1941 del arquitecto uruguayo Guillermo Jones Odriozola, “a quien se le encargaría la creación de una Escuela de Arquitectura y el primer Plan Regulador de la capital ecuatoriana.”1 Podríamos decir que la llegada tardía al Ecuador de estas reflexiones, pospusieron hasta la década de los setenta, en el marco de un boom económico debido al comienzo de la explotación petrolera en el país, la aparción de proyectos urbanos residenciales significativos en la ciudad. En este contexto, podemos resaltar la importancia de dos proyectos urbanos residenciales paradigmáticos: el conjunto residencial La Granja y el Plan Solanda. Ambos proyectos comparten en su origen, la visión de la Sra. María Augusta Urrutia, propietaria de los dos terrenos, en reconvertir su uso en proyectos de vivienda obrera. Razón por la cual realiza la donación de los mismos a la Fundación Mariana de Jesús, organización no gubernamental con estrecho vínculo con la Compañía de Jesús, que tiene entre sus objetivos principales la construcción de vivienda social digna. Sin embargo, la normativa de la zona en la cual se ubica el terreno para el proyecto de La Granja tenía clasificación de “vivienda residencial” impidiendo la ejecución de un proyecto de vivienda social2. Así, nace la decisión de que el proyecto de La Granja se destine a vivienda colectiva para la clase media y parte de los ingresos obtenidos en dicho proyecto se conduzcan a la financiación del Plan Solanda.
LA GRANJA En el proyecto La Granja, el criterio de diseño tiene un especial interés al vincular conceptos del urbanismo y arquitectura moderna a la prominente topografía local y entorno geográfico de Quito para la creación de vivienda colectiva asociada a una red de espacios libres y áreas verdes abiertas a la ciudad. La autoría del proyecto es del arquitecto chileno, de madre ecuatoriana, Sergio Larraín García-Moreno y de sus socios Jorge Swinburn e Ignacio Covarrubias. Larraín se traslada a Quito en 1971 donde empieza el desarrollo del proyecto de La Granja, contratado por la Fundación Mariana de Jesús.3 El proyecto de paisajismo fue concebido por la ecuatoriana María Gloria Fernández. El proyecto original de 979 viviendas, aprobado en 1975, se desarrolla en el norte de la ciudad en un área de aproximadamente 21 hectáreas y con un densidad proyectada de 49 viv/ha, de las cuales se llegaron a ejecutar alrededor de 15 hectáreas. El lote, de proporción rectangular de aproximadamente 950 m por 230 m, está delimitado: al este por la Avenida América, uno de los ejes longitudinales más importantes de la ciudad, al norte por la Avenida Mariana de Jesús, que cruza transversalmente la ciudad y que fue producto del relleno de una importante quebrada del Pichincha, al sur por la calle San Gabriel que se caracteriza por la construcción de viviendas unifamiliares aisladas y al oeste por la calle que actualmente se denomina como Arteta y Calisto propuesta por el proyecto, pero que en la época constituía en el borde de la zona urbana.
1 Durán Calisto, Ana María (2015). Arquitectura contemporánea de Ecuador (1999-2015): el florecimiento de una crisis en RITA 03. Madrid: redfundamentos. 2 Peralta, Evelia y Moya, Rolando (2007). Guía Arquitectónica de Quito. Quito: Trama. 3 En: Andrea Masuero y Romy Hecht (2011). 4 Estas cuatro manzanas constituyeron las etapas de construcción del proyecto y actualmente se las conoce como etapas 1, 2, 3 y 4. De la etapa 1 solamente se edificó la parte correspondiente a los bloques de vivienda junto con un pequeño bloque comercial, las etapas 2 y 3 se construyeron casi integralmente, con algunas modificaciones con respecto a la implantación
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original y usos previstos, sin que se ejecuten la totalidad de comercios y la escuela planificada. Por último, de la etapa 4 únicamente se edificó una hilera de bloques de vivienda que no se corresponden con el proyecto original, pero que sí respetan las características arquitectónicas más importante del conjunto. Dicha manzana se subdividió en tres y en la pieza de mayor tamaño se implantó un hospital entre 1982 y 1985. 5 El Templo de la Dolorosa se integra al conjunto edificado por los jesuitas del Colegio San Gabriel. Se proyecta entre 1966 y 1969 por el arquitecto Milton Barragán. El proyecto sufre varias modificaciones y se construye entre 1976 y 1978. 6 Tipologías denominadas en el proyecto original como departamentos tipo D y E, de aproximadamente 115 a 120 m2. 7 Tipologías denominadas: casas tipo A, B, C y D. 8 Tipologías denominadas: departamentos tipo A1 y A2, de aproximadamente 110 m2. 9 Las tipologías de las torres corresponden a los
La estructura vial principal del conjunto se constituye por tres vías transversales: calles Carvajal, Utreras y Valderrama, que dividen el terreno en cuatro grandes piezas de proporción similar y conectan el conjunto residencial a la ciudad. En el proyecto original, estas cuatro piezas se denominan: “manzana Plaza”, “manzana Carvajal Utreras”, “manzana Escuela” y “manzana Torres”4. La estructura vial secundaria, de uso exclusivo para los habitantes del conjunto, da acceso a las zonas de estacionamiento ubicadas en planta baja y vinculadas peatonalmente a los diferentes bloques residenciales, solamente las unidades unifamiliares cuentan con plazas de estacionamiento directamente relacionadas con la vivienda. Más interesante que la estructura vehicular estrictamente funcional, es la estructuración de un eje peatonal y paisajístico longitudinal al proyecto, que vincula las cuatro manzanas y que se desarrolla en pendiente ascendente hacia el volcán Pichincha y descendente hacia las visuales de la ciudad y las vistas lejanas de los volcanes: Cotopaxi, Antisana y Cayambe. El eje no se desarrolla de forma lineal, y se va escalonando para ubicarse al centro de cada manzana, conectando las diferentes áreas de equipamientos y comercio distribuidas a lo largo del conjunto. En cada inflexión del eje se genera una plaza con juegos de niños, además sobre los cruces de calles transversales la continuidad del eje se propone a través de pasos peatonales a desnivel (no construidos). Vinculados al eje peatonal, se proyectaron tres hitos urbanos, no edificados. El primero, ubicado en la “manzana Plaza”, es justamente una plaza comercial, conformada por cuatro edificios singulares: un bloque comercial de baja altura (el único edificado parcialmente), un supermercado, un “Edificio Plaza” que delimita el borde del proyecto hacia lotes ya edificados y por último una torre de planta octogonal alargada, denominada “Edificio Portada” que se emplaza simétricamente con respecto al eje de la Avenida Mariana de Jesús y en relación al recientemente construido Templo de la Dolorosa5. El segundo, ubicado en la denominada “manzana Escuela” es un complejo educativo compuesto por varios edificios y espacios deportivos. Y el último, ubicado en la “manzana Torres”, estaba caracterizado por un conjunto de cuatro edificios residenciales de catorce pisos de altura, que conformaban el remate físico y visual del proyecto urbano residencial y que constituían un límite entre la ciudad y las faldas del volcán Pichincha.
departamentos B y C, de aproximadamente 130 m2.
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Con respecto a la vivienda, cada manzana aparece subdividida compositivamente de acuerdo a las agrupaciones de diferentes tipologías residenciales (nueve en total). Merece la pena citar que independiente del tipo, todas las unidades residenciales propuestas adoptan criterios modernos: asoleamiento, iluminación natural, ventilación cruzada, separación de zona de día y de noche, optimización de las áreas de guardado, instalaciones y circulación vertical, incorporación del área exterior a la vivienda, zonas de servicio y una fuerte relación interior – exterior con áreas verdes comunales. En la “manzana Plaza”, a partir de dos tipologías de departamentos6, se articulan variantes de un bloque de viviendas alargado de cuatro plantas y emplazado paralelo a la topografía, las variantes de este bloque se dan a través de la adición de un núcleo de escaleras para cada dos tipologías de vivienda. En las manzanas “Carvajal Utreras” y “Escuela”, es donde existe la mayor variedad tipológica del conjunto, con cuatro tipologías de vivienda unifamiliar y un nuevo bloque de vivienda colectiva. Las viviendas unifamiliares se agrupan tipológicamente en: casas pareadas de dos plantas con cubierta a dos aguas y se ubican a lo largo del eje de la calle Utreras, casas patio adosadas de una planta que configuran pequeñas manzanas cerradas, casas adosadas en hilera de una planta y vinculadas a un comercio (no edificadas) y casas adosadas en hilera de dos plantas con cubierta plana7. Los bloques de vivienda colectiva compuestos por dos volúmenes cúbicos de cuatro plantas están conectados a medio nivel por un núcleo de escalera que da acceso a dos viviendas por rellano, esta articulación del bloque es la que permite que él mismo se adapte a la topografía, ya que su implantación es girada en relación a la pendiente8. Por último, la “manzana Torres” repite en su parte baja la tipología de bloque alargado de cuatro plantas propuesta en la “manzana Plaza” y remata en el conjunto de cuatro torres de catorce plantas con cuatro departamentos por piso.9 Finalmente, podemos destacar la importancia de la red de espacios colectivos y áreas verdes de diferentes escalas existentes en el proyecto, y que constituyen uno de sus principales valores que lo destacan entre otros proyectos de vivienda en la ciudad. En esta red se hace evidente una clara voluntad de composición del vacío en todas sus escalas a partir de la definición de diversas plataformas que junto con las edificaciones, reestructuran los niveles de la pendiente mediante: escalinatas, taludes y muros de contención. Pese a que el proyecto urbano residencial de La Granja se haya realizado parcialmente, su alta
calidad urbana y arquitectónica le ha permitido permanecer en el tiempo como un proyecto de vivienda referencial en la ciudad. SOLANDA A diferencia del proyecto de La Granja, con un único promotor que contrata una oficina de de arquitectura para la concepción y diseño integral de todo el conjunto, en el proyecto de Solanda la existencia de diversos actores10, que operaran como promotores, derivó en la contratación y concepción por separado de los diferentes componentes del proyecto urbano arquitectónico. Entre ellos, nos interesa destacar la participación de la Fundación Mariana de Jesús quien fue la entidad que donó: 76 hectáreas para la construcción de 4.500 viviendas con una densidad proyectada de 59 viv/ha, 35 hectáreas para equipamientos, espacio público e infraestructura vial, el Plan Social y el proyecto urbano del Plan Solanda11. El mayor valor del proyecto reside justamente, en la calidad de su plan urbano, que pese a las grandes transformaciones de las viviendas por parte de sus habitantes, se mantiene legible hasta la fecha y constituye la característica fundamental de identidad del barrio. La autoría del Plan Solanda es del equipo de arquitectos Pérez, Miño y Bajaña en el año 197912. La planificación de las tipologías de vivienda, estuvo a cargo del equipo técnico de la Junta Nacional de la Vivienda13 cuyos planos de aprobación tienen fecha de 1984. De los terrenos donados en el sur de la ciudad y una vez ejecutadas las obras de infraestructura y equipamientos a gran escala externos al complejo residencial, el Plan Solanda se plasma en un área de aproximadamente 96 hectáreas, con unas dimensiones de 1,1 km de largo por un promedio de 900 m de ancho, lo que ya le da la escala de un barrio en la ciudad. Solanda está delimitada al noroeste por la Avenida Cardenal de la Torre, al noroeste por la avenida Ajaví, al sureste por la Avenida Teniente Hugo Ortiz, la cual es un eje longitudinal importante conectado al transporte colectivo, y al suroeste por la Avenida Marquesa de Solanda. Además de la estructura vial perimetral, el conjunto se organiza a partir de dos vías internas perpendiculares entre sí y que cruzan en toda su longitud al barrio: la calle José María Alemán, como eje longitudinal y la calle Salvador Bravo, como eje transversal. A lo largo de estas dos vías se desarrollan dos grandes
franjas (en forma de T) de espacios públicos, áreas verdes y equipamientos. Estas vías delimitan los cuatro cuadrantes o sectores del proyecto, organizados internamente en esvástica y de manera fractal en tres escalas: la del sector, la de la súper manzana y la de la manzana. Así mismo, cada una de esas escalas funciona a partir de la lógica del vacío central, de vocación colectiva, construido perimetralmente. A partir de estos ejes principales, se teje una red vial jerarquizada de calles secundarias que delimitan respectivamente las súper manzanas y manzanas, además de permitir el acceso a sus núcleos. (Imagen 06) Lo más interesante del Plan Solanda está justamente en la cuidada relación funcional y compositiva de las cuatro escalas del espacio libre. La primera está dada por las dos franjas que conforman la T central entre los cuatro sectores, con un ancho de aproximado de 100 m y equivalente al de una manzana. En dichas franjas se implantan los equipamientos de mayor escala del barrio: el parque Solanda, la parroquia San Ignacio, el colegio Gonzalo Zaldumbide, mercado artesanal, supermercados, equipamiento deportivo y recreativo. La segunda escala de espacios libres se constituye en el núcleo cruciforme de cada sector, en su centro está un área verde y en sus cuatro lados se implantan diversos equipamientos de menor escala como: escuelas, guarderías, mercados, centros de salud, etc. La tercera escala corresponde a los corazones de súper manzana, los cuales son áreas verdes colectivas y espacios deportivos. Por último, la cuarta escala está relacionada al patio central de cada manzana, que fue pensado originalmente como un área verde colectiva pero que actualmente, en muchos casos, se han convertido en zonas de parqueadero, ya que las que habían sido contempladas en el proyecto resultaron insuficientes. Además de las cuatro escalas de vacíos colectivos, mencionadas anteriormente, en el proyecto original existía una última escala de vacío con una dimensión privada: el patio posterior de cada vivienda, que permitía adecuadas condiciones de iluminación y ventilación, pero que actualmente ha desaparecido casi en su totalidad debido a la sobre densificación del barrio que en 1989 ya alcanzaba una densidad de 74 viv/ha, con 5616 unidades construidas14. Sobre las tipologías residenciales15, el proyecto original diseñado por la Junta Nacional de Vivienda contemplaba cinco tipos de vivienda, con áreas que variaban desde los 24,09 m2 hasta los 76,83 m2 construidos con la posibilidad de crecimiento progresivo, horizontal y vertical, de las mismas. Los tipos propuestos eran: el lote urbanizado con servicio, lotes
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10 Los actores que participaron en la concepción e implementación del Plan Solanda fueron: La fundación Mariana de Jesús, La Junta Nacional de la Vivienda y el Banco Ecuatoriano de la Vivienda, El Municipio de Quito y la Agencia para el Desarrollo Internacional (AID). 11 En: Salazar Margarita, Romero Isabel, Rodríguez Judith (1989). 12 En: Peralta Evelia (2004). 13 En: Salazar Margarita, Romero Isabel, Rodríguez Judith (1989). 14 Ibid. 15 Ibid.
variables de 54 a 100 m2 para autoconstrucción, con una unidad básica sanitaria de 10,46 m2; la vivienda piso – techo, que contemplaba la loza de cimentación y la estructura de cubierta con una unidad básica sanitaria, totalizando 24,11 m2 de construcción; la vivienda trifamiliar, compuesta por tres departamentos en dos pisos en lotes esquineros que varían de 92 a 123 m2; la vivienda puente, proyectada como portal a los pasajes peatonales que conducen al patio central de la manzana, esta tipología construida en segunda planta era de 24,9 m2 y no tenia posibilidad de crecimiento, se consideraba que podría darse en ellas otros usos como consultorios u oficinas; el último tipo propuesto era una vivienda completa de dos pisos, que serviría de modelo de crecimiento. Sin embargo, la consolidación del barrio transformó por completo los tipos de vivienda inicialmente propuestos, que en la mayoría de los casos fueron completamente derrocados para la ejecución de una nueva vivienda autoconstruida que se ajustaba a las formas y proyecciones de vida personales de cada familia, en detrimento de las cualidades adecuadas de iluminación y ventilación, ya que los crecimientos se dieron en vertical (hasta 5 pisos) y en horizontal ocupando muchas veces la mayor parte del patio trasero. Actualmente, la única tipología fácilmente reconocible es la vivienda puente y algunas pocas casas piso - techo. A MANERA DE CONCLUSIÓN Luego de revisar estos dos proyectos, tan diferentes en su contexto y a la vez hermanados en su origen coyuntural, es indudable los valores que aportan desde el proyecto urbano residencial moderno, hacia la construcción de cuidad. En el caso de la Granja, el carácter integral del proyecto urbano arquitectónico y paisajístico, sigue vigente 40 años después de ser concebido, lo que se refleja en la alta valorización que tiene el conjunto por parte de sus habitantes. Sin embargo, en el caso del Plan Solanda, el fracaso con respecto al proyecto de la unidad residencial progresiva propuesta, la actual sobre densificación y el deterioro presente en la imagen urbana, dejan la inquietud sobre la complejidad de la realidad latinoamericana en cuanto a la producción de proyectos urbano residenciales destinados a la vivienda social, cuyo desafío va más allá de los valores reconocibles en la arquitectura y el urbanismo, y que apuntan hacia la necesidad de nuevos paradigmas y estrategias sostenibles que sean capaces de soportar el paso del tiempo.
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BIBLIOGRAFÍA Peralta, Evelia (2004). Persistencias modernas y nuevos caminos. En: Del Pino, Inés (coord.). Quito 30 años de arquitectura moderna 1950-1980. Quito: Trama. Masurero, Andrea y Hetch, Romy (2011). Ciudadela La Granja. Una obra chilena en Ecuador. Santiago: Pontificia Universidad Católica de Chile. Salazar, Pino; Romero, Isabel y Rodriguez, Judith (1989). Cambios en las estrategias de los habitantes del Programa Solanda a partir de la adjudicación de la vivienda. Trabajo presentado al “Curso de especialización para la investigación: pobreza, subempleo y estrategias de subsistencia en áreas urbanas” de la Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales (FLACSO).
Fig. 1: Implantación original del proyecto urbano residencial La Granja. Fuente: Archivos del Municipio del Distrito Metropolitano de Quito
Fig. 2: Visual lejana de la ciudad de Quito enmarcada por los edificios de vivienda del conjunto residencial La Granja. Fotógrafo: Martín Jaramillo
Fig.3: Detalle del núcleo de escaleras y terrazas del bloque de viviendas alargado del conjunto residencial La Granja. Fotógrafo: Martín Jaramillo Fig. 4: Vista de la red de espacios colectivos y áreas verdes del conjunto residencial La Granja. Fotógrafo: Martín Jaramillo
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Fig. 5: Implantación original del proyecto urbano residencial Plan Solanda. Fuente: Archivos del Municipio del Distrito Metropolitano de Quito.
Fig. 6: Plan Solanda: vista de las calles interiores. Fotógrafo: Martín Jaramillo Fig. 7: La sobre densificación del barrio de Solanda. Fotógrafo: Martín Jaramillo Fig. 8: Plan Solanda: detalle de una unidad original de vivienda tipo piso – techo. Fotógrafo: Martín Jaramillo
CHRISTINE VAN SLUYS chvansluys@hotmail.com ESTEBAN JARAMILLO esteban_jaramillo@hotmail.com Christine Van Sluys y Esteban Jaramillo cursan el Master Laboratorio de la Vivienda del Siglo XXI en los años 2004 y 2005 y viven en Barcelona hasta 2010, habiendo colaborado en importantes oficinas de arquitectura, como: Blancafort Reus, Flores Prats, Montaner Muxí y Toyo Ito Arquitectos Asociados en España.
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En enero de 2011 fundan el Taller de Arquitectura y Urbanismo: JARAMILLO VAN SLUYS, en la ciudad de Quito, Ecuador. En el mismo año ganan dos concursos nacionales de Vivienda Pública y pasan a ejecutar diferentes consultorías de arquitectura y urbanismo para los gobiernos nacional y municipal.
1. TEORIA E HISTÓRIA DA HABITAÇÃO COLETIVA | TEORÍA E HISTORIA DE LA VIVIENDA COLECTIVA
Lívia Paula Zanelli de Morais | David Moreno Sperling | São Paulo, Brasil TEORIA E PROJETO: Habitação através das pesquisas do MVRDV
Este artigo tem origens em uma pesquisa que analisou as relações entre teoria de arquitetura, processo de projeto e habitação multifamiliar na obra do escritório holandês MVRDV. O texto aqui apresentado traz comparações entre três projetos do escritório através de análises sobre os possíveis aspectos inovadores trabalhados no processo de projeto e nas espacialidades em habitação através do seu método baseado em pesquisas, dados e tecnologias digitais. A relevância do assunto se justifica pela busca da solução do programa habitacional, que segue como tema base da arquitetura desde suas origens, com a habitação multifamiliar exercendo um importante papel não só na prática de arquitetura, mas também no desenho urbano. Os estudos, experimentos e projetos utópicos desenvolvidos pelo MVRDV chamam atenção para conceitos utilizados pelos arquitetos que se repetem nos seus textos, entrevistas e depoimentos. Assim, a metodologia de análise dos projetos será guiada por alguns dos conceitos-chave utilizados por eles: datascapes (termo criado pelo escritório); uso misto/espaços múltiplos; interiorização espacial; densidade. 1. CONCEITOS DE PROJETOS Humbertus Adam1 aponta a ideia de adensamento e verticalização como o eixo principal do pensamento do MVRDV. Tais ideias se mesclam dentro dos projetos e na teoria, a ponto da definição de um conceito se desdobrar em outro. E é isso o que diferencia o uso desses termos, que não são inéditos, no trabalho do MVRDV de outros momentos da história
da arquitetura. Quando aplicados em conjunto eles acabam se redefinindo. Como exemplo: densidade + interiorização espacial = densidade porosa. A especificidade do escritório na reinvenção dos conceitos possibilita a criação de hipóteses de cidades e construções mais eficientes, centradas na otimização2 em tempos de incertezas sobre a oferta de recursos. 1.1 Datascapes O termo significa uma forma de análise estatística pelo qual dados do contexto, passíveis de serem quantificados, são coletados, analisados e representados visualmente.3 Tais dados utilizados no processo de projeto vão influenciar ou mesmo definir o trabalho e englobam leis e regulamentações, premissas dos investidores, restrições técnicas, condições climáticas e instâncias políticas As informações delas resultantes somam questões mais complexas às características físicas da área de intervenção. Os arquitetos afirmam que um modo de compreender o mundo dos números é através de cenários extremos como técnica de pesquisa em arquitetura.4 Trabalhando com a radicalidade, as limitações aparecem para a atenção pública, o que torna possível a discussão sobre diferentes temas. Selecionando ou conectando dados de acordo com hipóteses, os números do contexto são transformados em diagramas, representações visuais das restrições que se tornam visíveis e compreensíveis para todos os envolvidos no projeto. Além disso, a forma passa a ser o resultado de uma extrapolação de dados do contexto, de demandas e hipóteses que
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1 Adam, H. (2002). Stacking and layering. Madrid: El Croquis Editorial. 2 O termo é extraído do livro KM3 – Excursions on Capacities (2005) do MVRDV. Os arquitetos trabalham a expressão como uma pósmaximização. 3 Maas, W. (1999). Metacity/Datatown. Rotterdam: NAI Publishers. 4 Moreno, C. D., Grinda, E. G. (2002, abril). Redefining the tools of radicalism. El Croquis, 111.
5 Maas, W. (2005). KM3 Excursions on Capacities. Barcelona: Actar. 6 Moreno, C. D., Grinda, E. G. (2002, abril). Redefining the tools of radicalism. El Croquis, 111.
analisam e criticam o comportamento da sociedade. A partir dessas definições, os datascapes podem ser vistos sob duas perspectivas: como meios de análise que prezam pela multidisciplinaridade, abrindo discussão para outras áreas, e como meios de interpretação da realidade que contribuem para os arquitetos compreenderem as complexidades e possibilidades espaciais. 1.2 Uso-misto / espaços múltiplos O edifício habitacional se conecta à cidade através da inserção de espaços de trabalho, comércio e áreas coletivas. Tais espaços atendem à diversidade de habitantes e modos de vida e refletem a heterogeneidade da cidade. Nota-se que o MVRDV trabalha a mescla de funções como uma forma de promover sinergia e diversidade em uma área menor, gerando economia. Outra vantagem é a liberação de espaço que pode ser direcionado para lazer ou natureza. Além disso, a necessidade de estacionamento é reduzida juntamente com a monocultura característica dos bairros suburbanos. Segundo os arquitetos,5 o uso misto e o uso de espaços múltiplos requerem uma mudança de padrões para resolver a escassez de espaço e a excessiva uniformidade na Holanda, já que as soluções urbanísticas monofuncionais não respondem à instabilidade da sociedade atual. 1.3 Interiorização espacial A interiorização espacial pode ser definida como a conexão entre cidade e edifício através da inserção de espaços coletivos dentro da edificação. A rua se desdobra em acessos, corredores, galeria e pátios de uso comum. “Nos blocos com vazios nós trabalhamos com a interiorização espacial porque ao tratar um entorno habitável é muito mais relevante trabalhar com esse espaço interior do que com uma fachada”.6 O MVRDV demonstra interesse pela interiorização espacial em prol de uma gradação, interdependência e continuidade entre interior e exterior, de modo que as diferenças entre tais espaços se diluam. 1.4 Densidade A eficiência acontece através da otimização do uso do solo, liberando áreas livres para outras atividades, evitando o espalhamento urbano e potencializando a infraestrutura urbana. Um dos estudos mais polêmicos do MVRDV sobre o tema foi Pig City (2000). A Holanda é o país da Europa que mais consome e exporta carne suína,
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para tanto o MVRDV simulou cenários de ocupação do solo, fazendas verticais de 620 metros de altura, suficientes para acomodar toda a produção de carne suína do país. O que chama a atenção no trabalho foi que a solução não sugeriu nenhuma alteração nos hábitos dos consumidores, mas sim a otimização da produção. Os questionamentos do MVRDV passam pelo funcionamento do urbanismo para ser pensado em três dimensões, ou seja, a densidade é a terceira dimensão das cidades. Desse modo, a mescla de usos é essencial para fazer uma cidade compacta e atrativa: densidade urbana também engloba o adensamento funcional, social e econômico nas cidades. 2. PROJETOS Os projetos habitacionais analisados na pesquisa são: Silodam (Amsterdam, 1995-2003), Mirador (Madrid, 2001- 2005) e Parkrand (Amsterdam, 1999-2006). A adoção, como critério de escolha, da análise de obras concluídas, com boa disponibilidade de material para pesquisa; as quais possuem semelhança tipológica, mas igualmente diferenças geográfica, de contexto e de processo de projeto, permitiu a compreensão das nuances existentes na relação entre teoria e projeto de habitação na obra do MVRDV. 2.1 Silodam Situado na zona portuária de Amsterdam, o Silodam é constituído por apartamentos, escritórios, área comercial e espaços coletivos. O projeto é dividido em quatro torres conectadas pela circulação vertical e por uma rede de circulação horizontal diferente em cada pavimento, gerando um tipo específico de estrutura de habitação e fachada, que comunica a “diversidade” – fazendo alusão a uma embarcação que transporta containers. O edifício abriga diversas tipologias de apartamentos organizados em mini-bairros e os espaços coletivos do edifício incluem escadaria com livre acesso, marina para pequenos barcos, deck, galerias e corredores coloridos que identificam cada mini-bairro. O MVRDV empregou gráficos e diagramas para visualizar informações e testar diferentes soluções de projeto. Um deles é um corte esquemático do edifício que registra a evolução das negociações, mostra a localização, qualidades e quantidades das tipologias. A apresentação desse material nas reuniões junto aos clientes e à comunidade facilitou a tomada de decisões. Tais diagramas-negociações são utilizados como ferramenta de avaliação das informações do contexto e agem como instrumento
facilitador, pois sintetizam uma realidade complexa, possibilitando que os arquitetos participem das negociações sobre o programa. Mediando e paralisando o processo de geração de propostas, o arquiteto deixa de atuar apenas como projetista e opera também como político ativo nas decisões relativas ao desenvolvimento urbano. Os debates ficaram registrados na evolução dos diagramas e se refletem na solução final do edifício. A proposta central do Silodam foi mesclar escritórios, áreas comerciais e espaços públicos em convivência com as habitações. As áreas coletivas geram soluções arquitetônicas que buscam relacionar a habitação com a cidade. As diversas circulações também assumem papel de espaço de convivência dando continuidade à ideia de rua que permeia o edifício. Observa-se que o processo de projeto e os espaços coletivos no Silodam posicionam a arquitetura como ferramenta de desenho e gestão da cidade, elevando o papel da habitação de célula unifuncional para um possível articulador do complexo urbano. A presença de espaços intermediários abertos potencializa a relação habitação/cidade e os tornam espaços de socialização de tal modo que o projeto apresente três tipos de espaços: espaços de domínio público, espaços de domínio privado e espaços intermediários que dissolvem os limites entre cidade e habitação. O Silodam se assemelha, em termos de escala, aos prédios vizinhos do entorno. O que o diferencia é sua densidade elevada e ao mesmo tempo porosa: o projeto une ideias aparentemente contraditórias (compactação + vazios + variedade) graças à inserção reinterpretada de elementos tipológicos, como pátios, galerias e passarelas, diferentes em cada pavimento. O MVRDV mostra a viabilidade da associação de baixa taxa de ocupação do solo com alta densidade, diferente das visões radicais de seus estudos visionários, mas que se inicia neles. 2.2 Mirador O Mirador está localizado em Sanchinarro, bairro periférico de Madrid, uma região caracterizada pela uniformidade de edifícios residenciais com pátios internos. O projeto de habitação social reconfigura a tipologia do bloco padrão com o intuito de liberar solo: é como se o edifício fosse rotacionado e seu pátio interno alocado em altura. O Mirador resgata aspectos do Silodam como a circulação diversificada e os mini-bairros, aqui chamados de sub-blocos e combinados em torno do pátio elevado. Os apartamentos em cada sub-bloco variam com tipologias de
um pavimento, duplex e tríplex, quebrando a lógica serial da habitação social e inserindo uma complexidade incomum a esse tipo de moradia. Em Madrid, o processo de projeto baseado na investigação das influências sociais e econômicas esbarrou em dificuldades locais; neste caso, não houve interação entre os arquitetos, clientes e comunidade. Os moradores desse edifício não escolheram morar nele, mas foram alocados pelo programa municipal de habitação. As informações sobre o processo são poucas e tratam-se apenas de alguns diagramas sobre forma, circulação e a combinação de sub-blocos. Observa-se que neste projeto os arquitetos se depararam com dificuldades das diferenças culturais e a quantidade de datascapes é reduzida, englobando dados sobre quatro pontos principais: as visuais, a homogeneidade do bairro, a liberação de área livre e a necessidade de tipologias diversas. O projeto inicial do Mirador previa o uso misto pela associação entre habitações, serviços no térreo e a praça pública elevada. Porém, devido às intervenções políticas, os arquitetos precisaram transformar os espaços comerciais em apartamentos, mantendo-se a diversidade de unidades habitacionais, a circulação variada que se abre em pequenos espaços coletivos e a praça elevada. A circulação, como articuladora dos espaços, mais uma vez aparece como elemento estruturador do projeto. As circulações horizontais e verticais conectam os nove sub-blocos e as escadas de emergência se destacam como aberturas e formam pequenas praças ao ar livre. Os percursos funcionam ainda como elementos de interiorização espacial da cidade no edifício, conceito potencializado pela inserção da praça elevada. Apesar dos vários problemas com ruídos e altos custos com iluminação e elevadores, o vazio é relevante por congregar uma variedade de sub-blocos com diferentes moradias, em contraste com a produção em massa de habitações que se repetem em Sanchinarro. A consideração do vazio como material arquitetônico se revela um instrumento valioso graças ao seu espaço negativo que quebra a homogênea densidade dos cheios do entorno. O MVRDV trabalha o médio adensamento, evitando aumentar demasiadamente o número de deslocamentos, associado à baixa taxa de ocupação. O conceito de resguardar a paisagem liberando solo e preservando suas qualidades faz com que a escala do Mirador seja diferente do entorno. O único elemento que parece conectá-lo ao local é o
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mirante voltado para as montanhas de Guadamarra. O MVRDV buscou inserir, dentro das limitações, sua bagagem de pesquisas sobre densidade e periferia para uma realidade diferente da holandesa. 2.3 Parkrand Afastado do centro de Amsterdam, o Parkrand faz parte de um programa de revitalização dos bairrosjardins para atrair moradores da classe média. Implantado ao lado de um parque, a solução do projeto parte da não interrupção da vista do bairro para a área verde. O edifício busca compactar as habitações em um único bloco de modo a conservar mais espaço para o parque através do agrupamento de sub-blocos, como no Silodam e Mirador, compondo mais um volume único com vazios caracterizados como espaços coletivos. Há menos informação disponível sobre seu processo de projeto, o qual não teve a participação da comunidade no desenvolvimento das soluções. As premissas que guiaram tal processo foram: aumentar a diversidade e a relação do bairro com o parque e dobrar o número de habitações. As maquetes de estudo registraram o desenvolvimento e, a partir da análise desse material, entende-se que há maior preocupação com a forma do que com as relações que se estabelecem no espaço. A maioria das soluções apontadas nas maquetes de estudo criam um embasamento que bloqueia as relações da rua e pedestres com o parque. O Parkrand incorpora vazios utilizados como espaços coletivos e áreas comerciais que enfatizam a importância da diversidade como condição de sucesso para a remodelação do bairro. Os pátios, semelhantes à praça elevada do Mirador, poderiam ser pujantes espaços para usos múltiplos. No entanto, tais áreas têm uso restrito devido ao seu projeto de interiores bastante estetizado. Se tratados como espaços públicos, os vazios poderiam estabelecer relações significativas dos moradores do bairro com o meio ambiente. Quanto à interiorização espacial, observa-se que os pátios ficaram ainda aquém do projeto de Madrid por não atingirem todo seu potencial como espaço coletivo, cumprindo apenas função de garantir ventilação e iluminação aos apartamentos. O projeto contribui para alterar o adensamento do bairro-jardim com aumento da verticalidade quebrando o panorama homogêneo dos antigos blocos de apartamentos. Conforme acontece no Silodam e no Mirador, a lógica do empilhamento de diferentes moradias em torno de espaços coletivos
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reaparece, reunindo aumento de densidade e de escala no bairro. Em contraste com as habitações sociais mínimas do entorno, o projeto apresenta uma nova atitude sobre a paisagem, a escala urbana e o tamanho/qualidade das habitações. 3. CONSIDERAÇÕES O Silodam marca uma transição na habitação holandesa coletiva no que tange a uma maior liberdade para o usuário com sua variedade social e arquitetônica. O grande diferencial é a articulação do seu sistema de acesso, sendo às vezes definido como um caminho ramificado, corredor, ponte ou passagem e que se desdobra em espaços coletivos. O edifício integra ainda em sua estrutura parte da complexidade funcional da cidade, pois abriga não só habitações, mas também equipamentos de uso comum e áreas comerciais que são capazes de diluir os limites entre os espaços públicos e privados. Quanto ao processo de projeto, percebe-se um afastamento da investigação teórica durante o desenvolvimento das unidades habitacionais. Tal lacuna surge como contradição no projeto: seu exterior passa a impressão de uma rica variedade para diferentes usuários, no entanto, sem grandes alterações entre os programas das unidades, a oferta de 22 tipologias pode ser entendida como uma cenografia superficial das diferenças, em vez de um alojamento real destas. O Mirador, por sua vez, apresenta novas ideias aos moradores de Sanchinarro. Interiorização espacial e diversidade/Identidade são conceitos bastante evidentes no projeto e instigaram debates sobre tais questões entre moradores da região. No entanto, é perceptível o empobrecimento do processo de projeto em relação ao Silodam, os arquitetos trabalharam afastados de clientes e da comunidade, sem reuniões e debates para evolução das propostas. O distanciamento da pesquisa é claro e o processo de projeto divulgado se resume a esquemas que mostram apenas o desenvolvimento formal e a distribuição do programa. O vazio passa a ser visto mais como um gesto urbano do que como um espaço coletivo real, convertendo o edifício em monumento que critica a arquitetura e urbanismo do seu entorno. No caso do Parkrand, a premissa principal era, através de espaços coletivos, estreitar a relação do bairro com o parque, objetivo que não foi alcançado devido à configuração final adotada para o edifício. No entanto, não é a interiorização espacial o conceito que melhor define o projeto. Uso misto/espaços múltiplos e densidade são os conceitos mais desenvolvidos e a interiorização
espacial se converte em solução simbólica ao invés de espaços coletivos convenientes ao bairro.
Fig. 1: Estudo Pig City, MVRDV, 2000. Fonte: www.mvrdv.nl
O MVRDV reformula aspectos de edifícios emblemáticos da história da habitação, de modo que é possível perceber a existência de um híbrido entre esses modelos preexistentes e características próprias do escritório. Através das análises, conclui-se que o posicionamento do edifício em relação à cidade possui preponderância sobre as configurações das habitações. Assim como há a ênfase na presença física e simbólica das circulações e dos espaços coletivos – alguns com acesso público, como o deck do Silodam e a praça elevada do Mirador. A abertura dos edifícios para a cidade insere-os na tradição do pensamento sobre a habitação como elemento não autônomo no território urbano. O tecido residencial deve atender tanto às necessidades de seus ocupantes como ao entorno que ocupa, favorecendo a formação de redes comunitárias e relações sociais.
Figura 2. Silodam: fachada e espaços coletivos. Fonte: El Croquis 111 (2003).
Figura 3. Corte esquemático em datas diferentes mostrando a evolução dos ajustes econômicos através da combinação e localização de tipologias. Fonte: MVRDV (1998). FARMAX: Excursions on Density. Rotterdam: 010 Publishers.
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Figura 4. Mirador: entorno e espaços coletivos. Fonte: www.mvrdv.nl Figura 6. Parkrand: Fachada e espaços coletivos. Fonte: www. mvrdv.nl
Figura 5. 1- relação parte/todo. 2- aberturas e porosidade. 3- acesso e
DAVID M. SPERLING sperling@sc.usp.br
circulação. Fonte: www. mvrdv.nl
Professor-doutor 2 do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP e pesquisador do Núcleo de Estudos das Espacialidades Contemporâneas (NEC.USP). Graduado e mestre em Arquitetura e Urbanismo (Área de Tecnologia do Ambiente Construído) pela Escola de Engenharia de São Carlos - Universidade de São Paulo e doutor em Arquitetura e Urbanismo (Área de Projeto, Espaço e Cultura) pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Universidade de São Paulo. Membro do CEI da Sociedade Iberoamericana de Gráfica Digital (SIGraDi). Atua principalmente com os seguintes temas: espaço, tecnologia e cultura; design, DIWO and maker movement; interfaces entre arquitetura e arte contemporâneas.
Figura 7. Maquetes de estudo. Fonte: El Croquis 111 (2003).
Figura 8. Relevância
LÍVIA PAULA ZANELLI DE MORAIS liviamorais5@yahoo.com.br
dos conceitos chave em cada projeto. Fonte: autores.
Mestre pelo Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo [IAU-USP]; Integrante do Grupo de Pesquisa NEC-USP [Núcleo de Estudos das Espacialidades Contemporâneas]. Arquiteta e Urbanista graduada em 2005 pela Universidade de São Paulo [EESC-USP]. Realizou pesquisas na área de Arquitetura e Urbanismo, atuando nos seguintes temas: habitação multifamiliar, processos de projeto, arquitetura contemporânea, teoria de arquitetura.
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1. TEORIA E HISTÓRIA DA HABITAÇÃO COLETIVA | TEORÍA E HISTORIA DE LA VIVIENDA COLECTIVA
Larissa Casemiro Fiorin1 | Luiz Recaman2 | São Paulo, Brasil HABITAÇÃO SOCIAL E URBANIZAÇÃO NA INDUSTRIALIZAÇÃO DE SÃO PAULO: O primeiro momento brasileiro de interferência estatal no âmbito habitacional
RESUMO Este artigo objetiva ressaltar o primeiro momento brasileiro de interferência estatal direta no âmbito habitacional (de 1930 a meados de 1950), quando, interesses de um sistema político autoritário alinharam-se ao desenvolvimento de uma arquitetura que visava colocar a serviço dos trabalhadores os benefícios que a produção racional e seriada poderia oferecer. A criação dos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs), em meados de 1930, insere o Estado como mediador das relações entre empregados e empregadores, servindo ao mesmo tempo de instrumento de controle social e seguridade social “plena” (previdência, assistência médica e habitacional). A produção de habitação para os associados ganhou destaque nas incumbências dos institutos, os quais, no auge de suas atividades, tornaram-se praticamente empreendedores imobiliários autônomos e os arquitetos contratados por eles identificavam-se com os preceitos da arquitetura moderna.
As transformações sócio políticas da virada da década de 1930 que propiciaram a criação dos IAPs e sua posterior atuação no âmbito habitacional. Para afirmar as bases de uma economia capitalista, o Estado Novo de Getúlio Vargas abandonou os preceitos do liberalismo3 e passou a intervir em todas as áreas da economia brasileira, inclusive na habitacional. O país, fragmentado por seu regionalismo e ordenado por relações patrimoniais, apresentava naquele momento uma conjuntura social
que se delineava pela elite industrial em ascensão – exigindo poder político que antes estava nas mãos da aristocracia agrária e dos grupos ligados aos setores externos – e pelo surgimento das massas urbanas e do operariado.
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A nova configuração política sugeria o entrelaçamento dos interesses dos novos protagonistas que se encontravam dispersos na colcha de retalhos que era o país de então. Nesse sentido, o governo populista4 de Vargas interveio a fim de desenvolver a industrialização e a sociedade urbana capitalista. Centralizou a política na forma do chamado Estado de Compromisso, caracterizado pela busca de legitimidade nas massas urbanas, visto que as elites em ascensão eram desprovidas de poder hegemônico. Tal “compromisso” pode ser entendido muito mais como um “pacto de reciprocidade”5, posto que a obediência política da classe trabalhadora era uma resposta aos benefícios concedidos pela legislação social.
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A instauração do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (MTIC) em 1930 inaugura um processo de integração dos trabalhadores que culmina com a elaboração das Leis Trabalhistas em 1943. Por meio destas, os direitos dos trabalhadores passaram, oficialmente, a ser determinados pela regulamentação das profissões, pela instituição da carteira de trabalho e estatização dos sindicatos, os quais antes eram influenciados por movimentos destacados, como o nacionalista e o sindicalismo cooperativista6. A estatização da previdência social pela criação dos IAPs funda o modelo previdenciário por categoria profissional (evitando reivindicações
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Autora deste artigo, que está vinculado ao projeto FAPESP no. 2014/06399-5
Orientador do artigo e coordenador do projeto FAPESP no. 2014/06399-5 3 O período compreendido entre a abolição da escravatura e a revolução de 1930 foi marcado pela concepção do Estado Liberal, que impedia uma ação Estatal direta, pois a produção, locação e venda de moradias eram consideradas questões de mercado. Desse modo os feitos do Estado limitaram-se a casos de isenções fiscais ou à imposição de uma política sanitária mais rígida, visando moradias com melhores condições básicas. (DRAIBE, 2004)
4 “essa forma política, “produto da impotência das classes dominantes de garantirem sua hegemonia, servindo ao mesmo tempo para consolidar seu poder, deixa brechas para que as classes dominadas encontrarem oportunidades e meios para se voltarem sobre sua própria condição. ” (COHN, 1980: 17 citado por BOTAS, 2011: 28-29). 5 GOMES, 1988. 6 Sobre os movimentos sindicais consultar GOMES, A. C. A invenção do trabalhismo. São Paulo: Vértice, 1988. 7 BONDUKI, N. Os pioneiros da habitação social – volume 1, 2014, p.144
de forma “individual”), onde o Estado se torna o gerenciador das relações trabalhistas – devendo os institutos prestarem contas ao MTIC. (Botas, 2011; Bonduki, 2014). O arrecadamento dos IAPs era tripartite (assalariados, empregadores e Estado), compulsório e passou a representar uma fonte de recursos financiadores da dívida pública ou de projetos estratégicos desenvolvimentistas, como a Companhia Siderúrgica Nacional, a Vale do Rio Doce, a Fábrica Nacional de Motores e até as primeiras superquadras de Brasília. O discurso oficial que os envolviam baseava-se em uma seguridade social “plena” que abrangia o atendimento dos associados em três setores, nessa ordem de prioridade: aposentadorias e pensões, investimentos em assistência médica e por último pensava-se no provimento habitacional para os trabalhadores, que embora tivesse destaque na propaganda do governo, não era apoiado pela burocracia atuarial, a qual dava preferência a investimentos imobiliários mais rentáveis. (Farah, 1983; Bonduki, 2014) Para incentivar a produção de moradias, principalmente para as classes menos favorecidas e, ao mesmo tempo, valorizar o lucro dos institutos, estes foram autorizados a criar carteiras prediais, utilizá-las para a construção de moradias e reservar até metade de seus fundos para investimento imobiliário. Em pouco tempo tornaram-se praticamente organizações autônomas de empreendimento imobiliário, cujos investimentos eram motivados pela ideia da valorização dos bens apesar da desvalorização da moeda e refletiam as ambições divergentes dentro dos próprios institutos. Assim, os grandes conjuntos habitacionais apoiados pelos trabalhadores, sindicatos, por alguns gestores públicos e por arquitetos contratados pelos institutos dividiram espaço com aplicações em setores imobiliários mais rentáveis – edifícios com padrão mais elevado e aquisição de reservas fundiárias que garantiam rendimentos altíssimos, defendidas pela burocracia atuarial dos IAPs. (Bonduki, 2014). Planos de aplicação (planos A, B, C, D) foram definidos para classificação de categorias de investimentos. O plano de interesse a este estudo consiste no plano A, o qual se destinou, prioritariamente, a locação de unidades habitacionais dos grandes conjuntos residenciais construídos ou adquiridos pelos IAPs, com o intuito de proporcionar aos associados “moradia confortável e higiênica, sem prejuízo da remuneração mínima do capital investido”7. A opção pelo aluguel tentava viabilizar os empreendimentos
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aos trabalhadores de menor poder aquisitivo além de garantir uma renda mensal aos institutos, que também lucravam com a valorização progressiva dos imóveis (mantidos em seus domínios). Os outros planos concediam financiamentos, empréstimos para fins imobiliários ou asseguravam a estabilidade financeira dos IAPs por meio da aquisição, venda e gerenciamento do seu “patrimônio” imobiliário. Eles foram tão expressivos quantitativamente quanto os empreendimentos do plano A, porém obtiveram menor destaque por encontrarem-se espacialmente espalhados na massa urbana e/ou por não representarem uma reserva de valor (no caso de bens vendidos). (Farah, 1983; Bonduki, 2014) A PRODUÇÃO ARQUITETÔNICA DOS IAPS E AS POSSÍVEIS RELAÇÕES COM A ARQUITETURA MODERNA. Os institutos de aposentadorias e pensões criados na década de 1930 englobaram muitas categorias profissionais, como industriários, bancários, comerciários, marítimos, empregados em transportes e cargas. Pode-se verificar, de um modo geral, que a unidade habitacional funcional, bem dimensionada, com bons acabamentos, aliada a um baixo custo de produção foram preocupações recorrentes que acompanharam o processo de formação e amadurecimento das equipes técnicas dos institutos. O intuito primeiro, principalmente no que se refere ao Plano A, era conciliar o provimento de projetos que atendessem aos requisitos básicos de conforto e higiene com os valores mensais que os associados de menor renda poderiam arcar. Nesse sentido, o instituto dos industriários (IAPI), órgão previdenciário com o maior número de associados (aproximados 1,5 milhões em 1950) e menores salários, foi o que mais se destacou, do ponto de vista da qualidade dos projetos, da quantidade de unidades construídas, da elaboração de estratégias para garantir a produção em massa, da contribuição para o setor da construção civil – desenvolvimento de processos construtivos inovadores, em um país que não possuía nem mesmo uma política habitacional. Tomando este instituto como estudo de caso, percebe-se que as diretrizes que norteavam a concepção de seu embasamento teórico e projetual margeavam um campo dual caracterizado pelo: i. entendimento de que a questão habitacional se articula com a urbana e ii. anseio de desenvolvimento tecnológico, da padronização e racionalização de materiais e técnicas construtivas para a viabilização econômica dos empreendimentos. O primeiro princípio previa o projeto e construção
de equipamentos sociais integrados às habitações “econômicas” e a articulação dessas com eixos estruturadores da cidade (inserção em locais de valorização fundiária – áreas consolidadas ou de expansão urbana). O segundo sugere: a sobreposição dos anseios da viabilidade econômica e da produtividade em massa às preocupações de ordem formal; o incentivo em pesquisas na área da construção civil visando a racionalização, padronização, reprodutividade e baixo custo da produção; a preocupação com a seleção dos materiais e processos construtivos em prol da durabilidade do bem, evitando gastos com manutenção (uma vez que os imóveis eram alugados). (Botas, 2011; Bonduki, 2014) Um exemplo dos avanços no setor da construção civil foi a compra pelo IAPI de uma máquina de produção de blocos de concreto prensado que possibilitou a redução do tempo da obra e economia em etapas construtivas em um momento da construção civil brasileira em inexistia a padronização de materiais e o despreparo do sistema construtivo era visível até nos processos mais tradicionais. A máquina era instalada no canteiro de obras, anulando-se gastos com transporte e os blocos poderiam receber a pintura diretamente, reduzindo os custos com materiais e mão de obra e diminuindo o tempo destinado às etapas de acabamento. Ademais, essa aquisição induziu estudos de tipologias habitacionais que previam paredes com dimensões proporcionais às dos blocos, de modo a não haver sobras. (Botas, 2011). Somando às dificuldades de ordem construtiva, os IAPs ainda precisavam lidar com a legislação vigente, a qual atravancava a aprovação dos projetos por ser baseada em concepções higienistas formuladas para melhorar as condições de salubridade das moradias em uma época de produção rentista (1889-1930)8. Em síntese, o instituto desenvolveu mecanismos próprios para enfrentar tais impasses que envolviam desde a concepção do projeto, da fabricação dos blocos de concreto até a administração dos empreendimentos, passando por estratégias projetuais que “driblavam” certos aspectos legislativos para aprovação dos projetos. Arquitetos como Attílio Corrêa Lima, Irmãos Roberto, Paulo Ribeiro e Eduardo Kneese de Mello foram contratados pelo instituto para elaboração de projetos, criando uma gama de soluções projetuais e urbanísticas que podem ser associadas às premissas discutidas nos CIAMs.
CONCLUSÃO As atividades dos IAPs voltadas para o setor imobiliário, nesse primeiro momento de interferência estatal, detiveram-se, primeiramente, ao início de planejamento e gestão do sistema de compra de terrenos e construção de moradias visando o lucro (1930 – 45), período em que a concepção teórica predominou sobre a execução e a criação da base estruturadora desse sistema contou com o empenho de gestores públicos e funcionários dos IAPs em proporcionar moradias dignas e acessíveis aos trabalhadores. As inúmeras tipologias, pensadas e repensadas pelos arquitetos contratados pelos institutos, para cada situação urbana, passaram por um processo de sistematização/ simplificação após 1946 (em decorrência da consolidação do corpo técnico dos institutos), demandando maior dedicação e insistência por parte dos arquitetos para a aprovação e construção dos seus projetos. A importância desses profissionais pode ser medida pela não conclusão de muitos conjuntos devido o afastamento de seus mentores. Como exemplo tem-se o inacabado conjunto residencial Várzea do Carmo, cuja construção foi paralisada após a morte de Attilo Correa Lima.
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Este projeto em específico e muitos outros são considerados por alguns autores9 marcos de uma arquitetura moderna brasileira, que inseriu problemáticas que foram aperfeiçoadas, esquecidas e até mesmo retomadas no decorrer do tempo: a inserção urbana, concepção de planos urbanísticos, proximidade à equipamentos sociais, existência de espaços públicos, estudo de tipologias de acordo com diferentes situações urbanas, usos de elementos construtivos padronizados e industrializados – foram aspirações presentes nesse esboço de enfrentamento habitacional, que longe de suprir a demanda do período10, constituiu um importante exemplo da convergência de interesses entre o governo e alguns profissionais, que não obstante os empecilhos de diversas ordens, inauguraram um novo modo de pensar e enfrentar o déficit habitacional.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bonduki, Nabil. Georges (2014). Os pioneiros da habitação social: volume 1. São Paulo: Editora Unesp, Edições Sesc. Bonduki, Nabil Georges; Koury, Ana Paula (2014). Os pioneiros da habitação social: volumes 2 e 3. São Paulo: Editora Unesp, Edições Sesc. Botas, Nilce Cristina Aravecchia (2012). Entre o progresso técnico e a ordem política: Arqui-
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Segundo BONDUKI: “período em que ocorreu o primeiro surto de crescimento urbano, surgiram várias alternativas de moradia destinadas a abrigar a crescente classe trabalhadora, como as várias modalidades de alojamentos coletivos e as vilas operárias, empreendidas por investidores para locação ou por empresas para abrigar seus empregados. [...] Essas alternativas representavam agenciamentos arquitetônicos específicos da procura por rentabilidade pela locação”.
Paulo Bruna, Nabil Bonduki, Nilce Botas... 10 Além da inexistência de uma política habitacional consistente, o atendimento habitacional era muitas vezes pautado em favores políticos e relações clientelistas. (SAMPAIO, 1994; BONDUKI, 2014)
tetura e Urbanismo na ação habitacional do IAPI. São Paulo: Dissertação (Doutorado – Planejamento Urbano e Regional) FAUUSP.
Draibe, Sônia (2004.) Rumos e metamorfoses – Estado e industrialização no Brasil 19301960. São Paulo: Paz e Terra.
BRASIL. Decreto n° 24.615, de 8 de julho de 1934. Cria o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários. Rio de Janeiro, RJ, 9 jul. 1934. Disponível em: <http://www010.dataprev.gov.br/sislex/paginas/24 /1938/..%5C..%5C23%5C1934%5C24615. htm>
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Feldman, Sarah (2005). Planejamento e zoneamento. São Paulo: EDUSP. Gomes, Ângela de Castro (1988). A invenção do trabalhismo. São Paulo: Vértice. Rolnik, Raquel (1997). A cidade e a lei: legislação, política urbana e territórios na cidade de São Paulo. São Paulo: Studio Nobel. Revista Acrópole. Disponível em: http://www. acropole.fau.usp.br Revista Municipal de Engenharia, PDF Somekh, Nadia (1997). A cidade vertical e o urbanismo modernizador. São Paulo: Edusp.
Fig.1: Maquete e esquemas de gabarito
LUIZ ANTONIO RECAMÁN BARROS luizrecaman@gmail.com
e iluminação do Edifício Japurá de Eduardo Kneese de Mello. Fonte: Revista
Luiz Recaman possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (1983), graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (1987), mestrado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1995) e doutorado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (2002). Atualmente é prof. dr. da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e do seu programa de Pósgraduação em Arquitetura e Urbanismo. Suas principais pesquisas tratam da Estética da Arquitetura, Crítica de Arquietura, Arquitetura Moderna Brasileira e da relação entre Habitação Social e desenvolvimento urbano. É co-autor do livro "Brazil's Modern Architecture" (Phaidon, 2004) e "Vilanova Artigas: Habitação e cidade na modernização Brasileira" (Unicamp, 2013)
Acrópole, n.119, ano. X, São Paulo, mar. 1948. Revista digitalizada pela Biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Disponível em: http:// www.acropole.fau.usp.br/ edicao/119
Fig. 2: Perspectiva do Conjunto Residencial Várzea do Carmo, de Attílio Correa Lima. Fonte: Revista
LARISSA CASEMIRO FIORIN larissa.fiorin@usp.br
Municipal de Engenharia, PDF, n.6. 1942, p.327.
Graduanda em arquitetura e urbanismo a partir de 2011 na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP)
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1. TEORIA E HISTÓRIA DA HABITAÇÃO COLETIVA | TEORÍA E HISTORIA DE LA VIVIENDA COLECTIVA
Lilian Pieres Staningher | Ana Maria Reis de Goes Monteiro | Campinas, Brasil BATATUBA: Vila operária das indústrias Bata no Brasil
INTRODUÇÃO Fundada em 25 de janeiro de 1942 (BATA, 1943)1, a Vila de Batatuba, município de Piracaia, no Estado de São Paulo, é parte de um projeto amplo de industrialização e ocupação do Centro-Oeste do território brasileiro. O projeto foi elaborado pela Companhia de Calçados Bata, originária da cidade de Zlín na República Tcheca. Segundo Costa (2012), em 1940, Jan Antonin Bata apresentou ao governo o “Plano de Industrialização do Brasil”2, alinhado ao Plano Desenvolvimentista, criado pelo Governo Getúlio Vargas. Fridman (2012) 3 avalia que para o governo varguista a principal meta era deslocar o eixo dinâmico da economia do país por meio de políticas planejadas e orientadas para a industrialização. O “Plano de Industrialização do Brasil” previa a construção de dez cidades, na região acima mencionada, interligadas por um sistema de produção de calçados, da criação de gado até chegar ao consumidor. Todas as etapas da produção e escoamento das mesmas seriam realizadas pela indústria ao longo de um eixo ferroviário. As ferrovias projetadas para atender ao escoamento da produção de café ratificariam o modo de produção Bata, descrita por Sanz (2011)4, ampliando a rede de utopia da indústria, caracterizada pelas conexões entre as cidades produtoras, através de eixos de comunicação e mobilidade, garantindo também o fluxo para o mercado consumidor. A indústria Bata mantinha um centro de pesquisa em Zlín, formado por profissionais multidisciplinares, responsáveis pela implantação das cidades industriais e por todas as questões que envolvessem a cons-
trução e o pós-uso das cidades-Bata, reafirmando a aplicação do conceito moderno, adotado através do planejamento e da tecnocracia. A equipe de projeto foi chefiada por arquitetos com estreitas relações com profissionais destacados da época, como Le Corbusier e Frank Lloyd Wright. O ideário fordista e a racionalização moderna, pautada pela Carta de Atenas5, foram a diretriz para formação das cidades e vilas híbridas e utópicas, tendo o zoneamento urbano como elemento chave dentro do processo da produção industrial. Em Batatuba, nota-se, claramente, a setorização das atividades cotidianas a favor do bem-estar social, como moradia, trabalho e lazer, interligados por um sistema viário, adequado às necessidades de cada tipo de ocupação, em conformidade com orientações abordadas na Assembleia do CIAM em 1933. Nesse contexto, este artigo tem como objetivo apresentar o projeto da moradia operária em Batatuba, Distrito de Piracaia, no Estado de São Paulo, por meio da análise dos documentos de época. A IMPLANTAÇÃO DA VILA DE BATATUBA O local escolhido para construção da vila de Batatuba foi uma região ainda não industrializada do Estado de São Paulo que, além da aparente semelhança com Zlín (ARCHANJO, 1952)6, possuía uma excelente infraestrutura. Esta era constituída pela ferrovia, extensão do ramal da Bragantina e uma rodovia, e também pelo rio Cachoeira, compondo, assim, os elementos básicos para implantação de um conjunto voltado para a indústria, permitindo a produção de energia e escoamento de matéria
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1 Bata, J. A. (1943, janeiro 25). Retrospectiva de Batatuba. Novidades de Batatuba, pp. 2. 2 Costa, G. C. (2012). As cidades Bata (19181940) e de Jan Antonin Bata (1940-1965). São Carlos, São Paulo, Brasil: Mestrado. 3 Fridman, Fania; Rezende, Vera F..(2012). Urbanismo na era Vargas: a transformação das cidades Brasileiras. Niterói, Rio de Janeiro, Brasil: Editora UFF 4 Sanz, V. M. (maio de 2011). Networked Utopia. A Global Survey of the Bat’a Shoe Company’s Satellite Cities. Universidade de Harvard, Estados Unidos.
5 Carta de Atenas, (1933) CIAM – Congresso Internacional de Arquitetura Moderna. 6 Arcanjo, F. M. (1952). O mundo compreenderá. A história da Jan Antonin Bata, o rei do sapato. Rio de Janeiro: Aurora Ltda. 7 Ibdem 2 8 Ibdem 6 9 Ibdem 5
prima e da produção. Com base nos documentos encontrados, durante a pesquisa, o plano de implantação de Batatuba se deu, a partir de adequações, realizadas em projeto existente, elaborado pelo centro de pesquisa de Zlín, em 1937, denominado “Cidade Ideal”.
como escolas profissionalizante e primária, quadra poliesportiva, campo de futebol, boliche, quadra de tênis, cinema, clube recreativo, praças e área comercial. Esse percentual edificado manteve o princípio básico do habitar com garantia do bem estar social.
O projeto original de Batatuba previa uma população aproximada de 10.000 habitantes e era caracterizado por linhas sinuosas que acompanhavam o perfil do terreno, permeado pelo verde, formado pelos extensos maciços que compunham os espaços de lazer e esporte e pelo arruamento e os quintais das unidades de moradias, características das cidades-jardins de Howard. O zoneamento proposto deixou clara as diretrizes urbanísticas modernas, onde a prioridade eram as questões habitacionais e sua relação com outras funções que envolviam o habitar, como o trabalhar e o recrear-se. A circulação tinha o importante papel de conectar todos esses elementos, permitindo que os percursos fossem realizados a pé (fig.1).
As obras foram iniciadas pela área industrial em 1940, seguidas pela construção de quase uma centena de moradias operárias, do alojamento para solteiros, dos equipamentos públicos, como escola profissionalizante, escola primária, quadra poliesportiva, campo de futebol, boliche, quadra de tênis, cinema, clube recreativo e as praças. Os estabelecimentos comerciais foram as edificações que encerraram essa fase do empreendimento. Toda a terra ao redor da vila foi destinada à agricultura, para suprir a demanda local com a cultura de produtos diversificados.
A implantação geral de Batatuba previa um eixo central e organizador, formado por um grande parque, ladeado por equipamentos de uso comum e serviços, e outro eixo perpendicular, formado pela via expressa, linha divisória entre a área industrial e residencial. Os galpões industriais situavam-se entre a rodovia, a linha do trem e o rio Cachoeira. Esse afastamento das áreas residenciais e de convívio social garantia a segurança dos moradores, quanto ao sistema viário de trânsito rápido e a qualidade ambiental da vila. Um amplo complexo esportivo foi previsto entre os galpões industriais e os conjuntos de moradias, facilitando o acesso e estimulando os moradores à prática esportiva (fig.1). As moradias operárias foram organizadas em dois blocos, separados pelo eixo verde central, caracterizadas por unidades habitacionais isoladas no lote e intercaladas entre si, o que favorecia, tanto as questões higienistas, com ampla insolação e ventilação, quanto a preservação da individualidade dos moradores. A teoria de Jan Antonin Bata, de trabalhar coletivamente e viver individualmente, descrito por Costa (2012)7 e Archanjo (1952)8, era um mote muito similar ao conceito urbanístico moderno de que “a cidade deve assegurar... a liberdade individual e o benefício da ação coletiva”9. Do plano estabelecido, inicialmente, uma pequena parcela foi edificada, correspondente aos elementos em negrito demonstrados na imagem (fig.1). Além da indústria, residências e alojamento dos solteiros, foram executados alguns equipamentos públicos,
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A vila foi dotada de rede de abastecimento de água, de coleta de esgoto, calçadas, guias em pedra natural. O excesso da água de chuva não absorvido no lote, com baixa ocupação construtiva e grande permeabilidade, e a contribuição pluvial direta eram afastados pelo sistema de drenagem que acompanhava o arruamento acomodado à topografia local. Tal sistema era composto por sarjetas que direcionavam o fluxo de água com baixa velocidade até as áreas verdes, onde absorvidas, não sobrecarregavam a calha do rio. AS MORADIAS OPERÁRIAS Unidades Autônomas O núcleo residencial era constituído por casas isoladas que seguiam o modelo racional de produção (fig.2) e foram edificadas numa colina com acesso por vias paralelas, apenas de uso local, uma delas formando um cut sac, e uma viela, cruzando perpendicularmente essas ruas, privilegiando o pedestre e o ciclista. Uma linha única de casas foi projetada e edificada ao longo de uma marginal à via principal de acesso ao comércio, formada por casas mais simples, destinadas aos funcionários da residência do empresário e da pecuária. Dentro das limitações dos recursos materiais e da baixa qualificação da mão de obra, típica no contexto dessa época no Brasil, esse processo de reprodução foi possível devido à coordenação da empresa que detinha o conhecimento e prática de urbanização nos moldes modernos. As edificações foram executadas com material de boa qualidade, muitos deles produzidos no local, como os tijolos maciços, (fig.3) e alguns materiais provenientes da madeira cortada in loco, como o madeiramento da cobertura e esquadrias.
As casas conservavam um recuo do alinhamento da rua e estavam dispostas de forma intercaladas e isoladas umas das outras, garantindo o máximo de insolação por um longo período do dia. As residências foram implantadas em lotes com área acima de 300 m², possibilitando a existência de um vasto quintal. A baixa taxa de ocupação construtiva, no lote, possibilitava a existência de um belo jardim frontal. As famílias também mantinham uma pequena horta e pomar, além de criação de animais de pequeno porte como aves (fig.4). Esse tipo de ocupação auxiliava na subsistência dos moradores, e também na retenção das águas de chuva por infiltração no solo. Durante a pesquisa, foram encontradas diferentes tipologias das moradias, considerando os critérios de hierarquia e perfil da família com casas de 1, 2 ou 3 dormitórios (fig.5). Os modelos analisados mantinham características tanto europeias, identificadas na disposição interna dos ambientes e equipamentos como banheira, lareira (fig.6) e despensa, anexa à pequena cozinha, quanto os aspectos construtivos nacionais, como a varanda na entrada, área de serviço externa e beiral. A qualidade das moradias foi determinada também pelos acabamentos empregados. Na maioria das casas operárias, foram utilizados materiais, como tacos de madeira nos dormitórios e sala, ladrilho hidráulico nas áreas molhadas e externas. Em algumas casas, esses revestimentos foram substituídos por cimento queimado, conhecido como “vermelhão”. Não há como afirmar, mas analisando diversos documentos, inclusive uma solicitação de financiamento bancário para construção de alguns edifícios de uso comum, é possível que essa substituição tenha ocorrido por escassez de recursos financeiros. A obra das moradias operárias, idealizada e construída com o capital privado, foi reconhecida pelo órgão público como uma boa prática na ocasião, aqui demonstrado pelo artigo de jornal,10 comunicando a visita à vila operária do então diretor da Caixa Econômica Federal Dr. João Batista Pereira (fig.7). Na reportagem, o autor reconhece a importância do empreendimento como modelo a ser seguido pelo país. Alojamento para Solteiros O alojamento para os jovens solteiros, a maioria vindos de áreas rurais da região, estava localizado junto às moradias. Tratava-se de uma construção de bloco único assobradado, sem recuo frontal, feita também por tijolos, coberta por telhas de
barro, possuía uma entrada centralizada que dava acesso a uma escada no mesmo alinhamento. Projetada com vinte alojamentos, distribuídos nos dois pavimentos de ambos os lados desse bloco, organizavam-se a partir de um corredor central, com banheiros coletivos em cada andar e lavatório dentro do dormitório. No pavimento térreo, próximo à entrada, situava-se o apartamento do zelador, composto por sala e pequena cozinha. Documentos referentes ao alojamento dos solteiros demonstram um cuidadoso planejamento da realização da obra. O projeto arquitetônico básico foi aprovado pelo município de Nazareth Paulista, assinado por profissionais do escritório, denominado “Chain e Ikavec Engenharia e Arquitetura Ltd.” com sede na Praça da Sé em São Paulo, é datado de 1941(fig.8). Um exemplo desse cuidado com o planejamento e custeio, durante a obra, é a existência de um manuscrito, ressaltando que a obra já se encontrava 5% mais onerosa que o previsto e, portanto, seria necessária a transformação de cada dois quartos em um, com redução também na quantidade de lavatório em cada ambiente. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesse conjunto arquitetônico, idealizado por um empresário que buscava o bemestar social em benefício da ampliação da produção industrial e acumulação do capital, é notável a preocupação com a qualidade de vida da população. A racionalização da arquitetura e do urbanismo manifestou-se em diferentes aspectos conceituais e construtivos, através da circulação proposta, evidencia a preocupação com o tempo gasto em deslocamentos; na qualidade e quantidade de espaços destinados à recreação e a localização destes equipamentos em relação às moradias; nas dimensões das unidades de habitação e na sua qualidade construtiva. É importante ressaltar que, além dos aspectos descritos acima, existia um esforço em transformar o indivíduo, exigindo-se a capacitação profissional e cultural de todos os moradores. Arcanjo (1952)11 afirma que Jan Antonin Bata, quando questionado sobre a construção de cidades operárias, dizia: “não construo cidades, construo homens”. Os fatos apresentados demonstram a tentativa de controle, pelo Dr Jan Antonin Bata, não só do meio físico, mas do indivíduo também. Isso pode ser observado não só no cuidadoso acompanhamento da implantação da vila como também na preocupação com aspectos relativos à vida em sociedade. O que se pode verificar nesta pesquisa é que, ainda que o plano não tenha sido integralmente construído, os
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10 Anônimo (1941, abril 11). Casas para operários erguendo-se por todo país!. O Dia. 11 Ibdem 6 12 Ibdem ² 13 Ibdem 8
conceitos que o nortearam continuam presentes e podem ser verificados ainda hoje, no que resta da vila operária: presença de extensas áreas verdes, que incorporavam questões estéticas àquelas relativas a salubridade; a implantação de infraestrutura básica e a mobilidade, além da construção de equipamentos que estimulavam a convivência dos
Fig.1: Croqui de Implantação Geral de Batatuba 12
Fig.2: Vista da Vila operária e alojamento para solteiros – Fonte: Àlbum Indústria Sapaco –Foto: o autor
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moradores por meio das atividades físicas, culturais e de educação.
Fig. 3: Construção das moradias operárias – Fonte: Álbum Indústria Sapaco – Foto: o autor Fig.4: Moradia operária habitada – Fonte: Álbum Indústria Sapaco – Foto: o autor
Fig. 5: Croqui Moradia Operária - Tipo 04 – Desenho: o autor
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Fig. 6: Detalhe da lareira, piso e forro em madeira – Tipo 04 - Foto: o autor
Fig. 7: Ibdem 10 - Visita do diretor da Caixa Econômica Federal – Fonte: Arquivo Indústria Sapaco - Foto: o autor.
Fig. 8: Projeto arquitetônico do alojamento para solteiros - Chain & Ikavec – Fonte: Acervo da Indústria Sapaco – Foto: o autor13
LILIAN PIERES STANINGHER lilistanin@gmail.com
ANA MARIA REIS DE GOES MONTEIRO
Graduação em Arquiteto e Urbanista pela Universidade de Taubaté - UNITAU- 1996; 2010-2011-Presidente dos Conselhos Municipais de HIS e COMDEC do município de Joanópolis; 2010-2015 atua na empresa Curi Engenharia e Arquitetura com foco em Planejamento Urbano e Restauro Arquitetônico; 2015 - mestranda no programa Arquitetura, Tcnologia e Cidade, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UNICAMP.
Graduação e Mestrado em Arquitetura e Urbanismo pela PUC Campinas, Doutorado pela Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp; Professora Doutora do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNICAMP; 2010-2012 Coordenadora do Curso de Graduação de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP; 2012 Diretora da ABEA - Assossiação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo.
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1. TEORIA E HISTÓRIA DA HABITAÇÃO COLETIVA | TEORÍA E HISTORIA DE LA VIVIENDA COLECTIVA
Giselle Cerise Gerson | Maria de Jesus Britto Leite | Recife, Brasil AS PREFERENCIAIS AMBIENTAIS DE MORADORES NA CONCEPÇÃO DOS ESPAÇOS LIVRES COLETIVOS EM ÁREAS DE BAIXA RENDA
RESUMO A recreação e a sociabilização das áreas residenciais de baixa renda acontecem nos espaços livres coletivos, sendo compreendidos como lugares dinamizadores e intermediadores das relações socioculturais. Contudo, a estigmatização desses espaços, não permite a valorização e o seu reconhecimento por gestores e planejadores urbanos. Estas reflexões objetivam contribuir com dois aspectos: 1) da compreensão que habitar supera as paredes da habitação; 2) da pouca importância dada aos espaços públicos e semi-públicos dos entornos das habitações como prerrogativa da sustentabilidade dos lugares. Nesse sentido, constrói uma identificação de preferencias ambientais dos usuários, a fim de compreender os componentes ambientais, físicos e sociais, que contribuem para maior utilização de alguns lugares, em detrimento de outros, a partir de 05 (cinco) recortes espaciais distribuídos em três estudos de caso de áreas de baixa renda do Recife – Pernambuco: ZEIS Aritana, ZEIS Mustardinha e o bairro Bomba do Hemetério. A partir de uma visão multidisciplinar de espaço livre coletivo e lazer cotidiano, que aborda o lugar como ambiente peculiar da vivência humana e tendo como princípios a compreensão de mundo da vida cotidiana e a abordagem experiencial, aplicaram-se numa primeira etapa, métodos analíticos para levantamento das atividades mais realizadas, os locais onde acontecem e os principais motivos de escolha desses. Numa segunda etapa aplicou-se, análise morfológica-espacial (sob aspectos funcionais, ambientais/paisagísticos e urbanísticos), somada a análise comportamental dos usuários. Entre os resultados, as preferências ambientais (quanto às
formas de apropriação por subgrupos de diferentes faixas etárias e sexo) mostraram a ligação das mulheres com os espaços de interface entre o público e o privado, optando pelas calçadas em frente suas casas; a preocupação dos homens em controlar o fluxo das pessoas, preferindo as esquinas; a utilização das ruas próximas de suas casas, pelas crianças que realizam atividades ao ar livre; o uso das calçadas pelos idosos e o uso de das esquinas pelos jovens (de 16 a 25 anos). Já os fatores de escolha foram: segurança; economia; manutenção das relações socioculturais; acesso; conforto ambiental; aspectos construtivos e configuração física. Nesta busca pela compreensão do lazer cotidiano e por critérios de seleção dos ambientes urbanos, acredita-se dar suporte ao desenvolvimento de projetos urbanos mais coerentes com a realidade dos usuários. Palavras-chave: espaço livre coletivo; áreas de baixa renda; preferência ambiental. INTRODUÇÃO A valorização da vida urbana cotidiana, nas calçadas e ruas, onde o lazer ocorre informalmente, porém repleto de aprendizado, é onde o encontro entre as pessoas é proporcionado espontaneamente no cotidiano1. Em contrapartida, a valorização excessiva de projetos de áreas livres e espaços verdes, seja pelo poder público quando interveem nos centros urbanos, seja pela iniciativa privada, para valorizar os empreendimentos imobiliários para renda média e alta, confrontam com a imagem a estigmatização da rua como espaço de lazer e vivência2, o que prejudica as classes de menor poder aquisitivo, sem espaço em sua área privada nem tempo livre para o lazer.
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1 SANTOS, 1985. 2 JACOBS, 2011
3 MIRANDA, 2005, p.03. 4 GERSON, 2013. 5 BERTHOZ, 2005. 6 NORBERG-SCHULZ, 1980. 7 RAPOPORT, 1972. 8 RAPOPORT (1978, p.43-50) 9 ALCANTARA et al, 2006. 10 GERSON (2013). 11 Bently et al (1985, p.10) define permeabilidade como a qualidade de um ambiente se integrar física e visualmente com resto da cidade, através de múltiplas possibilidades de acessos e caminhos.
A RMR (Região Metropolitana do Recife) possui áreas de baixa renda, marcadas por uma trajetória pioneira de luta por acesso à moradia, que encontrou na informalidade e na irregularidade o acesso à habitação, sofrendo com as desigualdades socioeconômicas que são “reafirmadas e reproduzidas pelas políticas públicas e legislações em grande parte elitistas e excludentes” 3. Foram escolhidas então, três áreas de estudo: ZEIS Aritana, bairro Bomba do Hemetério e ZEIS Mustardinha. A partir desta compreensão, definiram-se como questões norteadoras: Como os usuários percebem, vivenciam e concebem os espaços livres coletivos nestas áreas? Quais os motivos que os usuários possuem para frequentar alguns espaços em detrimento de outros, ou seja, quais suas preferências ambientais? Como esses espaços são configurados morfologicamente? Partiu-se com o objetivo de conhecer e analisar as preferências ambientais dos usuários dos espaços livres coletivos de lazer das áreas de baixa renda, buscando para isto identificar e analisar a relação dos componentes ambientais físicos e sociais que caracterizam os espaços. O SIGNIFICADO DE HABITAR OS ESPAÇOS DE CONVÍVIO EM ÁREAS DE BAIXA RENDA E AS PREFERÊNCIAS AMBIENTAIS DOS USUÁRIOS O fenômeno do “habitar”, não se restringe à unidade de habitação, mas, ao contrário, estende-se por todo o ambiente envoltório, como as ruas, as praças, as esquinas e os largos. Entende-se, portanto, como espaços livres coletivos, os lugares onde os residentes podem ter a oportunidade de realizar atividades sociais, recreacionais e funcionais, propiciando vínculos entre a comunidade, podendo ser visto como o local das relações de vizinhança, onde se dá o fenômeno da identidade comunitária e o acesso ao lazer se torna um exercício de cidadania4. Para a concepção de espaços mais sensíveis, o conceito de habitabilidade deve estar necessariamente, interligado à sustentabilidade e a qualidade de vida que um projeto deve almejar. Assim, destacamos a compreensão do espaço como um produto da experimentação do homem, precisando ser percebido, vivenciado e concebido5, além de compreendido por sua constituição do “espírito do lugar”6. Para Rapoport7, o espaço habitado também deve ser analisado sob aspectos culturais, relacionando
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as estruturas sociais e as infraestruturas físicas, como reflexo das preferências ambientais dos usuários no meio ambiente, assim cada grupo social constrói um espaço perceptivo próprio decorrente de seu estilo de vida. Os diferentes tipos de critérios usados pelos usuários afetam a apropriação ou a concepção do espaço livre coletivo, sejam para avaliá-lo positivamente ou negativamente. Esta avaliação ou preferência ambiental está vinculada aos fatores sociais, culturais e econômicos, reconhecendo que meios diferentes, originam componentes específicos diferentes (físicos e sociais) 8. PERCURSO METODOLÓGICO Esta pesquisa utilizou abordagem experiencial 9, a fim de reunir a visão do pesquisador e usuários, usando observação incorporada; “walkthrough” e entrevistas semiestruturadas com os usuários. Logo após essa 1ª. fase 10, partiu-se para 2ª. fase da pesquisa, analisando 05 recortes espaciais, os quais destacamos 03: no bairro da Bomba do Hemetério, a Rua do Rio; na ZEIS de Aritana, o entorno do conjunto habitacional; e na ZEIS Mustardinha, a Rua Carlópolis, Rua Mustardinha e Rua Manuel Azevedo de Andrade. A fim de aprofundar a relação entre os componentes ambientais, realizaram-se: mapas dos componentes físicos e comportamentais e quadros de relação entre componentes físicos e sociais. COMPONENTES E PREFERÊNCIAS AMBIENTAIS DAS ÁREAS INVESTIGADAS A Rua do Rio, no bairro Bomba do Hemetério, através da sinuosidade do seu traçado, provocada pela topografia, promove a falta de permeabilidade11, produzindo locais inseguros para o visitante, porém seguros para os moradores. Sendo assim, o vínculo comunitário e a potencialidade social entre as relações de vizinhança são significativos, contando com as extensões das atividades domésticas para as calçadas e para a rua, que pelo fato de ser estreita e, portanto, sombreada, possibilita a convivência entre diversas faixas etárias e realização simultânea de atividades, como as brincadeiras populares (fig.01). Na ZEIS Mustardinha observam-se, nas Ruas Carlópolis, Manoel Azevedo de Andrade e Mustardinha, a permanência das pessoas nas calçadas para conversar e observar o movimento da rua e das crianças ao longo da via, como numa “praça linear”, devido suas configurações físicas,
sem muita conexão com vias perpendiculares, as tornam de pouca passagem de veículos e fluxo de pedestres frequente. Na ZEIS de Aritana, se observa a permanência de vários moradores ao redor do conjunto habitacional existente, com as entradas das casas voltadas para este e de onde irradiam becos e travessas em direção as vias principais. Apesar disto, há falta de integração com o entorno, onde a impermeabilidade física e visual da área é percebida pelo pouco fluxo existente. Algumas variáveis pré-definidas entre os grupos, como faixa etária e o sexo, sofreram mudança no decorrer da pesquisa, apresentando os seguintes pontos (fig.02 e fig.03): - As mulheres (diversas faixas etárias) ficam no portão ou calçadas em frente suas casas, para ver os filhos, a casa e conversar com as vizinhas; - Os homens priorizam esquinas, bares ou calçadas das ruas que moram, para vigiar o fluxo das pessoas e a entrada de suas casas; - As crianças e jovens até 15 anos interagem nas próprias vias, próximas de suas casas; - Os idosos não interagem com a dinâmica do local; - Os jovens (16 a 25 anos) variam do recolhimento em lugares pouco frequentados à exposição em locais visíveis, observando o fluxo de pedestres e veículos. A síntese dos principais motivos de uso de áreas de lazer foi distribuída nas seguintes categorias: a) Segurança: prioridade da proximidade do local com suas casas; b) Economia: gratuidade de festas; ausência de pavimentação, para jogarem descalços; uso da iluminação natural ou pública;
f) Conforto ambiental: sombreamento, arborização e ventilação natural; g) Aspectos construtivos: conservação da pavimentação; existência de campo ou quadra murado e coberto; mobiliário para prática de dominó; h) Configuração física: calçadas mais largas; pouco fluxo de veículos nas ruas; i) Outros aspectos: local para sentar; música ao vivo; programação cultural em praça principal e haver poucos fios elétricos nas ruas (empinar pipa). CONSIDERAÇÕES FINAIS A utilização do entorno das moradias mostrou-se como local preferencial de recreação cotidiana, quando sombreado, arborizado e mobiliado, mostrando a importância de se dotar as áreas pobres de espaços livres coletivos planejados a fim de manter as relações de vizinhança e preservar as manifestações culturais e o lazer como resgate da convivência urbana e a valorização da singeleza cotidiana de se viver. Observou-se nos recortes espaciais analisados, que a baixa permeabilidade de uma via, numa área de baixa renda, a torna um espaço livre coletivo com grande potencial para o lazer dos moradores. Contudo, torna-se também necessária, a busca por soluções dos aspectos negativos, relacionados ao tráfico de drogas e a violência urbana. As preferências ambientais de grupos diversos, agrupados pelas semelhanças nos hábitos e apropriações do espaço, revelaram critérios que vão além de aspectos construtivos, como a maioria dos projetos para estas áreas se limitam a trabalhar. Nesta busca por aproximação das necessidades dos usuários, a pesquisa pode apoiar intervenções dos gestores públicos e urbanistas na ênfase da importância da qualidade ambiental desses espaços, onde esses possam se identificar e contribuir para a preservação dos mesmos.
c) Manutenção das relações sociais: lugares com fluxo permanente de vizinhos; eventos organizados pela comunidade e torneios de dominó; d) Manutenção das relações culturais: vínculos com agremiações culturais; apresentações de grupos de maracatu ou festas populares; e) Acesso ao local: locais próximos às suas casas, para maioria das atividades.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALCANTARA, Denise et al (2006). Percursos à deriva na investigação do lugar: o caso do Corredor Cultural, Rio de Janeiro. Anais do NUTAU 2006 – São Paulo: USP. BENTLEY, Ian et al (1985). Responsive Environments: A Manual for Designers. London: The Architectural Press. BERTHOZ, Alain (2005). Espace perçu, espace vecu, espace conçu. In : Berthoz et Retch. Les espaces de l´Homme. Paris: Odile Jacob. GERSON, Giselle Cerise (2013). Atividades de lazer cotidiano como fatores dinamizadores e vitalizadores urbanos dos espaços livres coletivos das áreas de baixa renda. In: XV Enanpur: Desenvolvimento, Planejamento e Governança, 2013, Recife. Anais XV Enanpur: Desenvolvimento, Planejamento e Governança. JACOBS, Janes (2011). Morte e vida de Grandes Cidades. 3ª.Ed. São Paulo: WMF Martins Fontes. MIRANDA, Lívia (2005). Desenvolvimento Humano e Habitação no Recife. In: RECIFE. Prefeitura et al. Atlas de Desenvolvimento Humano no Recife: atlas municipal. Recife: Observatório PE. NORBERG-SCHULZ, Christian (1980). Genius loci: towards a phenomenology of architecture. New York: Rizzoli. RAPOPORT, Amos (1972). Vivienda y cultura. Barcelona: Gustavo Gili. Id, (1978). Aspectos humanos de la forma urbana – hacia una confrontácion de las Ciências Sociales con el diseño de la forma urbana. Barcelona: Gustavo Gili, 1978. SANTOS, Carlos Nelson Ferreira dos (1985). Quando a rua vira casa: a apropriação de espaços de uso coletivo em um centro de bairro. São Paulo: Projeto.
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Fig. 1: AnĂĄlise das atividades de lazer na Rua do Rio - bairro Bomba do HemetĂŠrio, Recife. Fonte: as autoras, 2016.
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Fig. 3: Esquema das preferências ambientais em Aritana. Fonte: as autoras, 2016.
Fig. 2: Esquema preferências ambientais Mustardinha e Bomba do Hemetério. Fonte: as autoras, 2016.
GISELLE CERISE GERSON gisellecerise@gmail.com
MARIA DE JESUS BRITTO LEITE jubleite@uol.com.br
Arquiteta e Urbanista UFC (Universidade Federal do Ceará). Especialista em Tecnologia do Ambiente Construído pelo Instituto CENTEC-CE e Mestre em Desenvolvimento Urbano UFPE.
Arquiteta e Urbanista Universidade Federal de Pernambuco. Mestre e Doutora em Arquitetura e Urbanismo FAUUSP. Professora da Universidade Federal de Pernambuco, vinculada ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo, leciona no Curso de Graduação de Arquitetura e Urbanismo e no Curso de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano - MDU.
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Camilla Mayra Heck Maia de Abreu | Porto Alegre, Brasil LUGAR DO BRINCAR NA INFÂNCIA URBANA Análise do ambiente e do comportamento infantil em áreas de lazer de edifícios residenciais multifamiliares em Porto Alegre-RS.
Este estudo aborda a relação entre o ambiente e o comportamento infantil em áreas de lazer de edifícios residenciais multifamiliares, que funcionam como a nova “rua” para o lazer das crianças. Jacobs (2009), em 1961, defendeu o uso das ruas (calçadas) como local adequado às brincadeiras infantis. Segundo a autora, os parques e áreas comuns de conjuntos habitacionais não são locais tão seguros porque ali “a proporção de adultos é baixa ou inexistente”, logo, não há vigilância, e estes ambientes se tornam locais para a prática de “coisas proibidas”, e de brigas de “gangues juvenis”. Hoje, com o crescimento das cidades, as pessoas diminuíram a sua apropriação do espaço público no cotidiano. A violência aumentou, o que gerou insegurança, as vias suportam cada vez mais carros. Consequentemente, os pais não permitem que seus filhos brinquem na rua, ou seja, fora dos limites residenciais. E em decorrência deste contexto urbano e do aumento da área construída na cidade, aumentando o custo do solo urbano, que as casas vêm sendo substituídas por edificações verticais que, supostamente, oferecem maior segurança, muitas delas com área muito pequena nos apartamentos. À criança, como possibilidade de brincadeira livre e socialização, restam os espaços de lazer dos edifícios, que em geral, funcionam como argumento de venda, parte de um processo de placemarketing. Os projetos atuais para o lazer infantil nos edifícios por vezes são compostos por elementos chamativos, lúdicos, muitas cores, e até um certo rebuscamento no sentido de enfeitar excessivamente, características que encantam e vendem, porque transmitem a sensação visual de um lugar aprazível para as crianças. Contudo, muitos estudiosos do desen-
volvimento infantil abordam outras características físicas positivas em espaços para este público. Surge então o questionamento quanto as motivações por trás da elaboração de projetos de áreas de lazer infantil em edifícios. Seria o estímulo ao desenvolvimento infantil, entreter as crianças ou simplesmente a venda, fazendo de conta que o projeto é para elas? Esse estudo investigou esta questão no intuito de compreender como projetos de áreas de lazer de edifícios devem ser elaborados para atender as necessidades inerentes ao desenvolvimento da criança, por meio da análise em um edifício e em um condomínio vertical em Porto Alegre-RS, cada um de uma construtora e com características físicas diferentes. Foram observados os locais mais utilizados pelas crianças e os tipos de interação entre elas. Palavras-chave: áreas de lazer de edifícios, desenvolvimento infantil, lazer infantil, lugar do brincar, arquitetura para criança. O entendimento da relação entre ambiente físico e comportamento por parte de arquitetos é relevante para elaboração de projetos para crianças por elas estarem em pleno desenvolvimento cognitivo, motor e emocional. A rua era o local da brincadeira, era o principal lugar do brincar no meio urbano nos tempos de outrora, proporcionava uma sensação de liberdade e favorecia a socialização. Hoje, entretanto, não pode ser vivenciada pelas crianças, em geral. Mas a necessidade delas ainda é ter “um local perto de casa, ao ar livre, sem um fim específico, onde possam brincar, movimentar-se e adquirir noções do mundo” (JACOBS, 2009, p. 88).
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As transformações urbanas ocorridas na cidade restringiram as brincadeiras infantis às próprias casas, pátios escolares e praças quando existe um adulto disponível para acompanhar. Quando brincam em casa, muitas dessas crianças possuem um ambiente limitado dentro de um apartamento pequeno ou a área comum dos edifícios, que por vezes não possui um espaço destinado a elas, e quando possui nem sempre é de qualidade. Televisão, computador e jogos eletrônicos tornam-se a solução para ocupar as horas vagas, sendo muitas vezes utilizados de forma excessiva, diminuindo a interação social, tornando as crianças sedentárias, em alguns casos chegando à obesidade. Os ambientes do brincar, que dentro do contexto urbano tem que ocorrer em locais destinados a este fim, estão deixando a desejar quanto a projeto, por isso esta pesquisa se propõe a estudar a relação entre ambiente e desenvolvimento infantil e analisar as áreas de lazer de um edifício residencial multifamiliar e um condomínio vertical em Porto Alegre-RS. LUGARES DO BRINCAR Lugares do brincar são entendidos como os locais onde a criança brinca que fazem parte de sua rotina e envolvem um componente psicológico, afetivo. Aqueles que mesmo após passar a infância são lembrados com carinho. A possibilidade da criança participar da construção de parte do ambiente em que brinca, deixar um pouco de sua identidade pessoal, personalizando-o, demarcar seu território, podem conduzir à apropriação do espaço através da qual é estabelecida uma relação de pertencimento e cuidado. A criação destas referências espaciais e simbólicas pode ser um fator contribuinte com a transição psicológica de um espaço a um lugar. Além destes componentes de ação do indivíduo sobre o espaço que torna-o lugar, também há o chamado placemaking, que significa exatamente a construção de lugar (CASTELLO, 2007), e o placemarketing, que está relacionado ao “marketing na construção de um lugar como produto ou serviço no mercado consumidor” (CASTELLO, 2007, p. 32), trata-se de “um instrumento moderno com poder de exercer uma atuação decisiva nas circunstâncias gerenciais e econômicas que regulam a construção de novos lugares” (CASTELLO, 2007, p. 33). As áreas de lazer dos edifícios residenciais multifamiliares, em geral, funcionam como argumento de venda, parte de um processo de placemarketing,
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seguindo uma direção de “customização dos usuários”, no “sentido de adaptar os produtos e processos ao gosto do cliente” (CASTELLO, 2007, p.201). MÉTODO
A estratégia de pesquisa escolhida para o desenvolvimento deste trabalho foi o estudo de caso. Foram analisadas as áreas comuns e de lazer de um edifício no bairro Auxiliadora, e de um condomínio vertical no bairro Higienópolis, ambos em Porto Alegre-RS. A seleção dos objetos de estudo foi realizada através dos sites de construtoras em Porto Alegre que possuíam imagens das áreas de lazer dos imóveis prontos em seu portfólio. Os dados foram coletados por meio de uma ficha de observação para análise comportamental, que consiste em uma tabela contendo os estados interacionais propostos por Parten (desocupado, solitário, paralelo, associativo e cooperativo) e a interação com o ambiente. Os estados interacionais propostos por Parten (1932) são: -Desocupado – quando a criança parece não fazer nada, pode olhar as outras crianças brincando. -Solitário – quando a criança brinca sozinha e independentemente. -Paralelo – quando a criança brinca independentemente, mas com atividades relacionadas às das outras crianças. -Associativo – quando a criança brinca com outras crianças, troca brinquedos. Cada criança participa da brincadeira de acordo com seus interesses e desejos. -Cooperativo – a criança brinca em um grupo que está organizado com um propósito comum, ou jogando. O esforço de uma criança complementa o da outra. A interação com o ambiente trata-se de um comportamento exploratório com o espaço favorecendo a obtenção de informação e a construção do conhecimento, estimulada pela curiosidade, despertada pela atenção visual, auditiva, verbal, e executada por meio do toque, do manuseio ou da aproximação (SOSSELA et al., 2012).
Os dados foram coletados de 10 em 10 minutos, em sessões 2 horas pela manhã (das 9:30h às 11:30h) e 2 horas à tarde (das 14:00h às 16:00h), durante 15 dias em cada edifício, entre os meses de junho e julho de 2015. Cada ficha consistiu na marcação de todas as crianças presentes no momento da coleta, porque por se tratar de edifícios o fluxo de crianças não é tão alto quanto em um pátio escolar, por exemplo. As crianças foram associadas a letras e números. A letra era referente à criança e o número à ordem cronológica dos comportamentos que ela desenvolveu. Além da ficha, essas mesmas marcações foram feitas sobre a planta baixa da área de lazer dos edifícios. Os dados obtidos através dos estudos de caso foram analisados quanto à frequência dos estados interacionais pesquisados, aos estágios piagetianos e às características ambientais. Piaget determinou quatro estágios do desenvolvimento cognitivo. De 0 a 2 anos sensório-motor, quando a criança entende o mundo de acordo com seus sentidos e ações motoras, dos 2 aos 6 anos a criança está no estágio pré-operacional, começa a usar símbolos para representar os objetos, no período dos 7 aos 12 anos, que é classificado como operações concretas, ela consegue fazer operações mentais internas, e acima dos 12 anos, a criança está no período operações formais, que é quando ela consegue manipular ideias, pensar dedutivamente e imaginar situações que jamais viu (BEE, 1997). APRESENTAÇÃO DOS EDIFÍCIOS
O “edifício 01” (fig.01) consiste em uma torre com 20 pavimentos, sendo 17 pavimentos tipo e 68 apartamentos com 136m² privativos, está implantado em um terreno com 3.411m² e foi entregue em fevereiro de 2012. Para o lazer dos moradores conta com uma infraestrutura de academia, piscina, espaço gourmet, salão de festas, quadra, playground, e kids place com uma área externa. Está situado em uma rua residencial com pouca circulação de veículos. Há uma praça em frente ao prédio, ela está situada em um terreno que possui uma cerca em seu limite com a rua e um portão que durante o dia permanece aberto, oferecendo livre acesso. Está equipada com playground,
bancos e fitness ao ar livre. Nos dias de sol as babás levavam as crianças para essa praça, onde estas corriam e se movimentavam mais. Localizado em um terreno de 15.765m², o “edifício 02” (fig. 02) trata-se de um condomínio com 05 torres residenciais de 16 pavimentos cada, totalizando 390 unidades entre 68m² e 105m² de área privativa, e uma torre de estacionamento. Foi entregue em agosto de 2014 e oferece aos seus moradores academia, salão de festas infantil e adulto, sala de jogos, sala para os adolescentes, sala para os pré-adolescentes, pet care, espaço gourmet, espaço café, espaço zen, espaço baby, fogo de chão, fitness ao ar livre, quadra, praça, kids place, playground 01, e playground 02/bosque. O terreno do condomínio é de esquina, sendo delimitado por duas ruas coletoras. Em frente a ele também há uma praça com alguns equipamentos de playground em madeira, mas nesse caso mais ampla e não cercada. RESULTADOS E DISCUSSÃO O gráfico 01 aponta as interações ocorridas nos edifícios 01 e 02. Nos dois edifícios a interação solitária foi a mais observada, no edifício 01 em 40,48% das interações, e no edifício 02 em 35,37%. No edifício 01 a segunda interação mais vista foi a desocupada (25,46%), seguida da associativa (16,48%), paralela (8,24%), da interação com o ambiente (7,88%) e da cooperativa (1,47%). Enquanto no edifício 02 a segunda interação que mais ocorreu foi a cooperativa (27,07%), seguida da paralela (12,66%), associativa e desocupada (ambas com 11,35% das observações), e da interação com o ambiente (2,18%). No edifício 01 o kids place foi o lugar mais utilizado pelas crianças, com 88,70% das interações, destas, a maioria foi solitária e desocupada, seguido do playground (7,83%), com interações solitárias, associativas e desocupadas, da área externa ao kids place (2,91%) com interações solitárias, paralelas e associativas, e da quadra (0,36%) com interações cooperativas (gráfico 02). Neste edifício o predomínio das crianças observadas foi de até 6 anos de idade, apesar de haverem crianças acima desta faixa etária morando no edifício. O espaço para as crianças mais velhas brincarem fica restrito a quadra, que pouco frequentam, talvez por estar confinada, ser menos visível e ter acesso dificultado, algumas brincam na garagem, que fica semienterrada no mesmo pavimento da quadra, ali andam
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de bicicleta, patinete, e patins em meio aos carros estacionados. Durante o estudo foram vistos meninos por volta dos 11 anos no kids place, bagunçando e mudando os objetos de posição, em uma brincadeira inadequada para o local, e evidenciando a falta de ambientes para estas crianças no edifício. “”Os pequerruchos são decorativos e relativamente dóceis, mas as crianças mais velhas são barulhentas e vigorosas e interferem no ambiente em vez de deixar que ele mexa com elas. Quando o ambiente já é “perfeito”, isso não dá certo”” (JACOBS, 1961, p.87). A interação com o ambiente e a interação desocupada foram marcantes no edifício 01 em relação ao edifício 02 (tabela 02). Mesmo em um ambiente como o kids place, que foi o mais frequentado, composto por diversos brinquedos, as crianças por vezes vagavam na busca do que fazer. O ato de explorar o ambiente foi mais observado nas crianças mais novas, de até 3 anos de idade, como percebido em cerca de 81% destas interações. Das crianças observadas, a maioria desta faixa etária estava no edifício 01. O local onde predominou este tipo de interação foi o kids place (gráfico 03, tabela 01) cujos objetos escolhidos para serem manipulados eram prateleiras de estantes semipresas, pufes, almofadas, a porta em vidro, mesas, etc. Os estímulos fornecidos pelos objetos externos têm maior impacto nas crianças pequenas, elas estão mais suscetíveis à organização do espaço e mais sensíveis a percebê-lo, suas cores, texturas e formas, relacionam sua percepção ao significado dos objetos. O playground 01 foi o lugar mais utilizado do edifício 02 (42,13%), teve predomínio de interações solitárias, paralelas e associativas, seguido da quadra (27,23%) com interações cooperativas em sua maioria, do playground 02/bosque (14,04%) que, assim como no playground 01, teve interações solitárias, paralelas e associativas, da área comum no pilotis (4,25%) com interações desocupadas e cooperativas, do kids place (2,98%, interações solitárias), do fogo de chão (2,98%, interações desocupadas), da praça (2,98%, interações associativas e cooperativas), do fitness ao ar livre (2,55%, interações desocupadas) e da sala de jogos (0,85%, interações cooperativas) (gráfico 04). Destacaram-se no edifício 02 em relação ao edifício 01, a interação cooperativa e a paralela (tabela 02). Isto se deve ao fato da quadra ter sido mais utilizada, assim como o playground (play 01). Este possui balanços nos quais as crianças brincam lado
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a lado, interagindo paralelamente. No playground 02, o destaque são as interações associativas, percebidas no uso da casinha e de um balanço duplo (gráfico 05, tabela 03). As tabelas 04 e 05 relacionam os estágios do desenvolvimento determinados por Piaget, as interações, o número de crianças observadas em cada estágio piagetiano, e o local em que as interações mais ocorreram. No edifício 01 a maioria das crianças estava entre o período piagetiano sensório-motor e o pré-operacional. O ambiente privilegia as crianças menores cuja predominância das interações, juntamente com as crianças de 7 a 12 anos, foi solitária, desocupada e associativa. O lugar preferido por todas as faixas etárias neste edifício foi o kids place, seguido do playground e da quadra. No edifício 02 a maioria das crianças estava dentro do período piagetiano operações concretas, onde a maioria das interações foi cooperativa. O edifício proporciona opções de lazer para todas as faixas etárias, chegando até a compartimentar demais. Existe sala para os bebês, para as crianças pequenas, para os pré-adolescentes, para os adolescentes, que durante a pesquisa foram pouco utilizadas, ou nem chegaram a ser, mesmo em dias de chuva. Nas crianças de 0 a 2 anos as interações predominantes foram solitária, associativa e paralela, destoando do edifício 01. Uma possível razão para que isto ocorra é o ambiente disponibilizado para as brincadeiras com maior qualidade na área externa, favorecendo uma maior interação entre as crianças. Na faixa etária de 7 a 12 anos o uso da quadra foi muito recorrente, predominando a interação cooperativa, seguida da solitária e da associativa. Os lugares preferidos neste edifício foram o playground 01, a quadra e o playground 02, respectivamente. Através dos resultados obtidos nesta pesquisa pode-se concluir que o ambiente no qual as crianças brincam está relacionado ao modo como elas interagem. Nos ambientes internos, voltados às crianças menores, ocorrem mais interações solitárias e desocupadas. É importante que os edifícios tenham uma área interna como opção para brincar nos dias de chuva, frio, e que proporcionem um ambiente assim voltado às crianças maiores também. Mas não se mostraram necessárias tantas divisões do espaço em salas, em uma compartimentação por faixas etárias exacerbada. Um ambiente mais amplo bem setorizado para favorecer múltiplas atividades agrada crianças com diversos interesses e níveis de desenvolvimento e pode ser melhor
utilizado e aconchegante (FEDRIZZI, 2002), além de representar maior economia na construção e manutenção destes locais. O ambiente fechado coberto voltado às crianças dentro das áreas de lazer dos edifícios precisa ter conectividade com o espaço exterior, oferecer visibilidade, um projeto que integre estas duas áreas. É interessante perceber que as janelas das brinquedotecas (kids place) dos edifícios estudados têm alturas adequadas para os adultos, o que é um contrassenso, já que são projetadas para as crianças. O kids place do edifício 01 conecta-se com o exterior através de uma porta de vidro que o liga a uma área externa, que não possui nenhum atrativo, exceto um escorregador de plástico. No kids place do edifício 02 quase não há uso, mesmo em dias de chuva, como foi percebido com a pesquisa. É um ambiente bonito, mas, para as crianças, sem conectividade com o exterior, pequeno, com pouco local para adultos acompanhantes sentarem e não favorece a interação social (fig. 07 e fig. 08). Nos ambientes externos os tipos de interações ocorrem de modo mais homogêneo quando se tratam de áreas mais amplas com subdivisões de usos (quadra, playground, etc). Quadras esportivas estimulam as interações cooperativas, devem estar visíveis, ter fácil acesso, incidência de sol, e uma área para descanso nas suas imediações, como no edifício 02, que é o oposto do edifício 01, onde a quadra está confinada e foi pouco utilizada (fig. 05 e fig. 06). Os playgrounds estimulam as interações paralelas (em balanços lado a lado), solitárias e associativas (casinha, balanço duplo, gangorra, gira-gira), são locais que despertam muito interesse das crianças. No edifício 01, ele fica confinado e acaba não sendo tão utilizado. No edifício 02 o playground 01 (mais visível e de acesso mais fácil) é mais utilizado que o playground 02, este não está tão visível pela presença das árvores (fig. 03 e fig. 04). Ambientes abertos, ao ar livre são importantes, por serem cada vez mais incomuns no cotidiano da criança e contribuírem para a educação e consciência ambiental. Deve haver um equilíbrio entre incidência solar e sombra, para que o ambiente não fique muito úmido e para que as crianças possam receber a luz solar quando forem brincar nos horários em que o sol não está muito forte. A vegetação deve ser variada, pois atrai a atenção das crianças, que interagem com ela. Ambientes externos com locais para sentar são necessários para o descanso entre uma brincadeira
e outra (no edifício 02 funcionavam desta forma o fitness ao ar livre, o fogo de chão e a praça) e para que os adultos acompanhantes possam observar suas crianças confortavelmente. São lugares em que as elas ficam mais desocupadas ou conversando. Áreas livres, sem uso definido são significativas para a criança ter liberdade de movimento, para auxiliar no seu desenvolvimento motor, já que podem brincar de correr, podem passear de velocípede, além de poder preencher o espaço da forma que achar melhor, seja com seus próprios brinquedos ou objetos aleatórios. Os projetos das áreas de lazer dos edifícios, não só as infantis, mostraram-se muito mais como uma estratégia de placemarketing do que como resultado de preocupações quanto a funcionalidade. São projetados muitos espaços para atender diversas demandas, assim, a área total é muito subdividida, e há um interesse de que os ambientes sejam atraentes e belos para as fotos publicitárias. Logo, no projeto dos ambientes infantis, além de oferecer um local para o entretenimento, há também o interesse na venda, o que é natural, porém os projetos podem ser melhorados, oferecendo mais adequação para as crianças, o que não significa gastar mais. REFERÊNCIAS BEE, HELEN (1997). O ciclo vital. Porto Alegre: Artes Médicas. CAMPOS-DE-CARVALHO, Mara (2008). A metodologia do experimento ecológico. In: PINHEIRO, José de Queiroz; GÜNTHER, Hartmut. (Orgs.) Métodos de Pesquisa nos Estudos Pessoa-Ambiente. São Paulo: Casa do Psicólogo. CASTELLO, Lineu (2007). A percepção de lugar: repensando o conceito de lugar em arquitetura-urbanismo. Porto Alegre: PROPAR-UFRGS. FEDRIZZI, Beatriz (2002). A organização espacial em pátios escolares grandes e pequenos. In: Projeto do Lugar: colaboração entre psicologia, arquitetura e urbanismo. DEL RIO, Vicente; DUARTE, Cristiane Rose; RHEINGANTZ, Paulo Afonso. (Orgs.). Rio de Janeiro: ContraCapa / PROARQ-Universidade Federal do Rio de Janeiro. FEDRIZZI, Beatriz; TOMASINI, Sérgio Luiz Valente (2008). Projetando ambientes mais sustentáveis com a colaboração da Psicologia Ambiental. PINHEIRO, José de Queiroz; GÜNTHER, Hartmut. (Orgs.) Métodos de Pesquisa nos Estudos Pessoa-Ambiente. São Paulo: Casa do Psicólogo.
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JACOBS, Jane (2009). Morte e vida de grandes cidades. (Título original: The death and life of great american cities, 1961). Tradução: Carlos S. Mendes Rosa. 2ª. ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes. MEIRA, Ana Marta (2003). Benjamin, os brinquedos e a infância contemporânea. Psicologia & Sociedade; 15 (2): 74-87; jul./dez. PARTEN, M. B. (1932). Social participation among preschool children. Journal of Abnormal and Social Pychology, 27, 243-269. PINHEIRO, José de Queiroz; GÜNTHER, Hartmut. (Orgs.) (2008). Métodos de Pesquisa nos Estudos Pessoa-Ambiente. São Paulo: Casa do Psicólogo.
Gráfico 01: Interações do edifício 01 e edifício 02. Gráfico 02: Utilização dos setores do edifício 01.
Gráfico 03: Análise de correspondência entre interações e setores do edifício 01. Tabela 01: Análise de correspondência entre interações e setores do edifício 01.
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PINHEIRO, José Q.; ELALI, Gleice A.; FERNANDES, Odara S (2008). Observando a interação pessoa-ambiente: vestígios ambientais e mapeamento comportamental. PINHEIRO, José de Queiroz; GÜNTHER, Hartmut. (Orgs.) Métodos de Pesquisa nos Estudos Pessoa-Ambiente. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2008. SAGER, Fábio; SPERB, Tânia Mara; ROAZZI, Antônio; MARTINS, Fernanda Marques (2003). Avaliação da interação de crianças em pátios de escolas infantis: uma abordagem da psicologia ambiental. Psicologia: Reflexão e Crítica, 16(1), pp. 203-215. SOSSELA, Cláudia Roberta; SAGER, Fábio; PAHIM, Janaina Dantas de Paiva; MARCOLIN, Letícia. A importância do brinquedo sucata no desenvolvimento infantil. Psicologia.pt, 2012.
Tabela 02: Análise de correspondência entre interações e edifícios. Gráfico 04: Utilização dos setores do edifício 02.
Gráfico 05: Análise de correspondência entre interações e setores do edifício 02.
Figura 01: Planta baixa da área de lazer do edifício 01. Fonte: internet.
Tabela 03: Análise de correspondência entre interações e setores do edifício 02.
Tabela 04: Estágios piagetianos, tipos e quantidade de interações e lugar onde mais ocorreram no edifício 01. Tabela 05: Estágios piagetianos, tipos e quantidade de interações e lugar onde mais ocorreram no edifício 02.
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Figura 02: Planta baixa da área de lazer do edifício 02. Fonte: internet. Figura 3: playground do edifício 01.
Figura 4: playground do edifício 02. Figura 5: quadra do edifício 01.
Figura 6: quadra do edifício 02. Figura 7: kids place do edifício 01.
CAMILLA MAYRA HECK MAIA DE ABREU millaheck@gmail.com
Figura 8: kids place do edifício 02.
Arquiteta e urbanista formada pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), mestranda em arquitetura na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Estagiou em diversos escritórios de arquitetura, trabalhando em projetos arquitetônicos residenciais, comerciais, institucionais, e de ambientação.
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1. TEORIA E HISTÓRIA DA HABITAÇÃO COLETIVA | TEORÍA E HISTORIA DE LA VIVIENDA COLECTIVA
Cristiana Eusepi | Veneza, Itália LA MAISON TURQUE Forme e modi dell’abitare a Istanbul
Per comprendere il significato e la bellezza dei materiali e per cogliere quanto di moderno era presente negli antichi edifici, trascorrevo tutte le mie domeniche e gran parte dei fine settimana percorrendo le strade di Istanbul ... ero affascinato dalla progressiva scoperta della bellezza. Sedad H. Eldem, Milli Mimarî Meselesi, in «Arkitekt», 1939
1948-1984. CASE SUL BOSFORO Per Sedad H. Eldem, figura di riferimento conclamata dell’architettura turca del XX secolo, la necessità di conoscere, studiare e proteggere il patrimonio architettonico esistente supporta un’autentica espressione del moderno. Per chi scrive, nello stesso senso, l’architettura della casa turca possiede e continua a esprimere qualità e caratteri da esaltare in funzione di alcune tra le principali esigenze del contemporaneo. Nelle parole di Eldem: «La maison turque en avant tout confortable. Pas d’espace perdus, pas de chambres inter communicantes, pas de fausses attiques. Pas de fausses échelles, tout est à la mesure humaine, même dans les palais. (...) Avec le souci du confort et du bien-être physique le besoin de ne pas perdre contact avec la nature allait de pair» (Eldem 1948, s.n.). Queste convinzioni sull’abitare e la casa sono supportate dai rilievi che Eldem realizza, nell’arco di un decennio, delle tante dimore cresciute lungo le sponde del Bosforo (Eldem 1984): nel complesso, una ricerca «in ideale sintonia «con i Précis di Durand e l’Architettura senza architetti di Rudofsky» (Foppiano 2007, p.102); un percorso documentario e archivistico condotto come supporto a una rigorosa attività professionale e a un’autentica vocazione didattica.
A partire da questa consapevolezza di studio, la ricerca presentata riprende e interpreta le riflessioni avanzate da Sedad H. Eldem e in altri recenti approfondimenti sulla casa turca trasponendo i principi compositivi osservati in alcune attuali sperimentazioni di progetto. Il campo di indagine specifico è parte significativa della metropoli Istanbul che affaccia verso il Bosforo e che, oggi, esige attente e specifiche azioni operative per il futuro della città. LA CASA TURCA: ASSEMBLAGGIO, INVOLUCRO, SPAZIALITÀ, SEZIONE, STRUTTURA E CITTÀ. L’architettura turca e ottomana è «una previsione, un’interpretazione, un’anticipazione di una serie di possibili accadimenti» (Semerani 2008, p.15). Nello sviluppo del programma domestico permane, in particolare, «un’interpretazione molto originale dell’esigenza di avvolgere la casa intorno al corpo secondo un programma di opzioni descritto dalla disposizione nello spazio» (Semerani 2008, p.15). La casa turca è costituita attraverso un procedimento compositivo per assemblaggio di elementi ripetuti e combinati plasticamente nel perimetro che modella lo spazio interno. L’unità abitativa fondamentale differisce nella ricchezza delle finiture e nel numero delle stanze, non nel tipo di spazialità riservata all’abitante. Nella casa turca non esistono stanze individuali o con precise funzioni e l’articolazione complessiva è incentrata sulla definizione del sofa: un ambiente caratterizzato dalla presenza del divano, una grande e unitaria seduta, disposta simmetricamente su tre lati
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della stanza e fronteggiata da uno spazio delimitato dal camino o da un’iconostasi. In generale, nella casa turca non sono presenti arredi nel senso occidentale del termine e lo spazio del divano è racchiuso in un involucro di nicchie e piccole ‘cellule base’ entro cui si scopre il valore delle variazioni altimetriche: la quota delle sedute, dei piani di lavoro, dei davanzali e delle cornici. Nelle tipologie più complesse la casa è articolata in più cellule che investono uno spazio esterno e spesso anche un giardino in un rapporto di costante relazione tra dentro e fuori. Il volume esterno, protetto da trame di gelosie, si stacca dal basamento in muratura protendendosi verso la strada. Attraverso l’elemento aggettante avviene il contatto con la scena urbana mentre lo sguardo, dall’interno verso l’esterno, supera le pareti di protezione traforate e vibranti sotto la luce del sole. Il limite tra lo spazio domestico, il contesto urbano o il paesaggio è inoltre pensato in sezione come una sovrapposizione/stratificazione di diaframmi, nicchie, scaffali, sedute, mensole, cornici, modanature ovvero come un dispositivo architettonico che delimita lo spazio dell’abitare sempre animato dalla luce che penetra e filtra in modo differenziato attraverso lo spessore dei muri e degli schermi. Il rapporto del tipo con la morfologia urbana colloca i corpi edificati a ridosso del perimetro del lotto salvaguardando la continuità con una corte interna e mantenendo il contatto diretto tra la casa e la via urbana. Un muro in mattoni o pietra rinsalda l’abitazione al terreno. E’, contemporaneamente, elemento di delimitazione e raccordo tra gli spazi aperti e l’insieme dei locali di servizio – la cucina e la lavanderia - e delle principali funzioni domestiche. L’unitario basamento è interrotto da modeste finestre e dall’apertura più ampia dell’ingresso principale all’abitazione, nella maggior parte delle situazioni, direttamente rivolto al giardino. Un’ulteriore fattore che caratterizza la configurazione della casa turca è rappresentato dal telaio in legno. La struttura tradizionale è composta da elementi di sezione modesta, con interasse dai sessanta ai centoventi centimetri, da travi orizzontali, da controventature e da capriate di copertura. Il telaio di base è completato attraverso il riempimento
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delle pareti con mattoni o pietre. Verso l’interno della stanza, è rivestito con doghe orizzontali di legno inchiodate agli elementi verticali che collaborano alla resistenza statica dell’edificio. Come dimostrato storicamente, a seguito di devastanti incendi e terremoti, questa tecnologia comporta ridotti tempi di costruzione consentendo rapide ricostituzioni del tessuto urbano abitativo. Nello sviluppo moderno, il processo aggregativo di costituzione della casa turca urbana ottiene composizioni più articolate in cui la sovrapposizione delle unità abitative è denunciata dalla ripetizione di numerosi aggetti che dilatano lo spazio interno verso la città. I prospetti esterni continuano dunque a essere caratterizzati dal disegno degli slittamenti delle sporgenze anche se contaminati dallo sviluppo di modelli stilistici occidentali, dall’utilizzo di tecnologie costruttive completamente in muratura e dall’introduzione di tipologie collettive. I diversi ricorsi conferiscono alle facciate un aspetto allungato e regolare che preclude solo in parte l’organizzare della casa intorno al nucleo generatore e centrale del sofa. 2015. TORNANDO AL BOSFORO Dalle osservazioni dei principi costitutivi della casa turca sono definite alcune sperimentazioni di progetto che trovano ragione in un repertorio di soluzioni abitative collocate in ambiti storici della città di Istanbul affacciata verso il Bosforo. Le aree e i quartieri oggetto di studio sono coinvolti da controverse previsioni di riqualificazione e da indiscriminate demolizioni che preludono al sovvertimento del tessuto urbano e, con ciò, alla perdita di consolidati modi di vivere e abitare gli spazi della città. L’ipotesi di lavoro affronta il tema abitativo collegando, da una parte, la lettura degli aspetti salienti che caratterizzano la morfologia urbana - la stratificazione di forme, segni, trame, tessiture, figure e topografie - dall’altra, le scelte legate al processo di costituzione e di definizione in dettaglio della qualità e del comfort interno della struttura domestica. A Karaköy è affrontato complessivamente il disegno dello spazio disordinato e compresso che fa da contrappunto agli ambiti aperti e recentemente riprogettati del sistema monumentale della Moschea Nuova sulla riva opposta dell’imbocco del Corno D’Oro. La nuova piazza Karaköy è un ampio intervallo delimitato da una successione di muri che accompagnano la discesa al collegamento metropolitano esistente configurato come una vivace spazialità
commerciale. La massa di un nuovo edificio fondaco anticipa il ritmo serrato e verticale dei manufatti sul fronte Bosforo: una disposizione e un ordine ricorrente delle facciate urbane assunto a tema compositivo e di ‘misura’ del progetto verso l’acqua. La nuova trama degli edifici coadiuva la rigenerazione, per fasi successive, del tessuto degradato retrostante. Reinterpreta una vocazione dell’area prevedendo l’introduzione della funzione abitativa sviluppata secondo due diverse ipotesi di intervento. Nel primo caso, si tratta di una residenzialità temporanea e vitale che possa intrecciare forti relazioni con l’attività lavorativa e culturale: nell’idea di soddisfare le esigenze di differenti abitanti, adottando consolidati schemi spaziali mutuati della lettura compositiva della casa turca tradizionale, sono introdotte una sequenza di unità abitative con disposizioni e spazi flessibili e implementabili nel tempo. Una seconda sperimentazione riguarda invece lo sviluppo di una serie di abitazioni unifamiliari undici case-atelier - con alcuni servizi e attività aperte alla città. Qui sono sviluppati impianti spaziali e volumetrici che possano conciliare idealmente i temi e le esigenze attuali di progetto con le interpretazioni avanzate, agli inizi del secolo scorso, dall’architetto Raimondo D’aronco in alcuni palazzi a Pera. Gli isolati degradati del quartiere di Tarlabası sono infine campo di una sperimentazione che contrappone alla messa in atto di una completa sostituzione edilizia dell’esistente una puntuale interpretazione dei principi, delle modalità costruttive e della qualità dello spazio della casa turca. In particolare, l’ipotesi definisce un abaco di unità-base che, a partire da un nucleo centrale fisso, organizza a livelli sfalsati la spazialità delle stanze secondarie e di servizio. La soluzione codifica, inoltre, le regole per il completamento di singoli interstizi abbandonati e per la costituzione, in fasi successive, di articolate insulae urbane. Propone di accostare più unità abitative dello stesso tipo in un sistema compatto in grado di configurare lo spazio aperto privato della casa come ambito variabile delimitato da muri, l’isolato urbano come quinta ritmata dalla misura serrata delle facciate e degli aggetti, gli ambiti pubblici come spazialità più libere organizzate intorno a nuove strutture di servizio o legate al lavoro, ad antichi edifici di culto, a piccole mosche con scuola, mercato e bagno turco.
In conclusione, passando attraverso lo studio dell’architettura domestica turca e la lettura urbana, i progetti presentati riflettono su un abitare che possa migliorare la qualità della casa e contemporaneamente della città.
BIBLIOGRAFIA ESSENZIALE Eldem, Sedad Hakkı (1984-1987-1987). Türk Evi, Istanbul: Osmanli Dönemi, Turkish Houses Ottoman, Period I,II,III. Cerasi, Maurice (1988), La città del Levante: civiltà urbana e architettura sotto gli Ottomani nei secoli XVII-XIX, Milano: Jaca Book. Borie, Alain (1997), La modernizzazione dell’architettura. In «Rassegna» n. 72. Foppiano, Anna (2007). Ricognizioni sul Bosforo di Sadad Hakkı Eldem. In «Abitare» n. 447. Semerani, Luciano (2008), “Architettura di nicchie”, in Semerani, Luciano (a cura di), La casa. Forme e ragioni dell’abitare, Milano: Skira. Mantese, Eleonora (2014), Istanbul Theatrum mundi, Roma: Aracne.
DIDASCALIE FOTO E DISEGNI Laboratorio Istanbul è momento di incontro e di riflessione che coinvolge un insieme di interessi pluridisciplinari e impegna docenti, studenti, laureandi, dottorandi e assegnisti di ricerca attivi tra Venezia-Udine e Istanbul. Laboratorio Istanbul Universita Iuav di Venezia, dCP: coord. E. Mantese con C. Eusepi, laureandi (progetti in queste pagine): Karaköy/T. Bizzotto, F. Pregel e F. Speronello, Tarlabası/G. Bernardi. Laboratorio Istanbul - Università degli studi di Udine, DICA: coord. Cristiana Eusepi.
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Fig. 1: Istanbul Karakรถy Waterfront: acqua, ritmo misura e vuoto. Fig: 2: Vista della riva dal Bosforo, modello di studio, planimetria generale, prospetti e ritmi sul Bosforo con scultura Il Canal Grande di Fausto Melotti (1963).
Fig. 3: Istanbul Karakรถy Waterfront 2: case/ atelier. Piante, sezioni modelli e prospetto complessivo sul Bosforo.
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Fig. 4 a fig. 8 Istanbul TarlabasÄą. Dicotomie spaziali. Vista di unâ&#x20AC;&#x2122;infilade abitativa, studi, schizzi e prospetti delle unitĂ abitative studiate in dettaglio.
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CRISTIANA EUSEPI eusepi.cristiana@iuav.it Architect, Ph.D. in Architectural Composition - Iuav University of Venice She is adjunct professor of architectural urban composition and of interior architecture at the University of Udine (2007-2015), University of Parma (20082009) and Iuav University of Venice (2006-2013). Over the years she combined her work as a university researcher with her job of architect developing through the projects those themes she considered in her theoretic research. She obtained awards and distinguished herself in both contests and architectural projects. Her main field of research focuses upon the ways and forms of inhabiting as well as upon the study of cities and the project. She works and lives in Venice.
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1. TEORIA E HISTÓRIA DA HABITAÇÃO COLETIVA | TEORÍA E HISTORIA DE LA VIVIENDA COLECTIVA
Ugo Rossi | Treviso, Itália THE ROAD AND THE HOUSE The possible salvation of urban living
1. STATUS QUO In the his piece “The housing question”, Friedrich Engels (1872) describes the grave nature of the phenomenon that, from the Industrial Revolution right to the present day, accompanies, without interruptions the history of the development of the modern city. Since the early days, the lack of housing as a direct effect of mass urbanization – of which industrialization and mechanization represent the catalyst processes – has addressed the problem as the main priority (Hall, 1966). The ineffectiveness of the instruments adopted to contain the expansion and consequential state of emergency has always invoked answers. In essence, the matters at the core of the debate are the ones to do with collective living, planning and organizing of the city development. Amongst the many solutions put forward in the history of such phenomenon, the ones still lingering on nowadays derive, on the one hand from the nineteenth century legacy of the rules and regulations regarding sanitation and public order, and on the other from the resolutions of the CIAMs held between the two wars1. Frankfurt’s CIAM II (1929) focused on Existenzminimum, Brussels’ CIAM III (1930) on “tall, regular or low houses ?” (Gropius, 1931). The rules defined in Athens by the forth CIAM (1933), the Zoning and the matrix Housing– Spare Time-Work-Roads in the Charte d’Athènes (Le Corbusier, 1943), govern the directions taken by housing and the city construction in general. It is not over doing it by saying that the solutions thought for such topics, established at the CIAM’s in the 1930’s, became so consolidated and widespread that current practices everywhere, until today, reflect those indications and derive their standards.
The spreading and sharing of this kind of approach is not immune, since its origins, from objections and, especially after the second world conflict, the need to change ways forcefully emerges. In 1959, the subversive Team X declares at CIAM XI in Otterlo the end of the modern as mechanical industrial development and focuses on the concept of the ordinary-standard man, opposing the architecture codified by the CIAM’s between the wars. Going against western civilization, which was unable to draw from mechanization and progress that kind of happiness of which it should have been the bestowing agent to renovate and redeem the West and to give answers to the instances of comfort and community. Team X produces researches on primeval civilizations and on examples of informal architecture, like the ones by Aldo van Eyck on the Casbah organise, the Dogon (Eyck, 1959; 1960), on the collective housing of the cluster (Smithson, 1957) and the mat building (Smithson, 1974). Also the Nid D’Abeille by the ATBAT’s group by Georges Candilis, Shadrach Woods and Vladimir Bodianski (Candilis, 1954) and the 1956 Terraced Crescent Housing by Peter and Alison Smithson. We are dealing with experimental proposals, often enough inadequate or unable to establish themselves like new devises to fight the inertia of the current instruments, and most of all uniquely addressing the building, even if contemplating a ‘dilated’ idea of urban environment. In 1958 Jane Jacobs, sociologist and journalists, ‘criticizes’ the actual practice of the Charte D’Atene’s’ parameters. She disputes the results of
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1 It is also undeniable the influence on the process of urban transformation of such utopian theories like Phalanstery or the GardenCity. Even though they are born from the escape from the city; as a matter of fact, the outcomes of these alternatives are not very different from the CIAM’s ones; both give a contribution to a city made of collective buildings and single family houses surrounded by nature and vegetation (See Jacobs, 1958). 2
From 1952 to 1962 Jacobs works for Architectural Forum; in those years, she developed her own critique regarding the projects of Urban Renewal, which will lead her to write The Death and Life of Great American Cities (1961). 3 Writings by: D. Agrest, S. Anderson, V. Caliandro, T. Czarnowski, P. Eisenmann, W. Ellis, K. Frampton, R. Guttman, G. Levitas, J. Mangel, V. Moore, J. Rykwert, T. Schumacher, A. Vidler, G. Winkel, P. Wolf. 4 Bernard Rudofsky, was born in 1905 in Zauchtl, currently the Czech Republic, in 1906 he moves to Vienna where he studies. He acquires his diploma in 1928 at the Technische Hochschule. In 1931 he acquires his Ph.D. on the barrel vaulted houses in the Cycladic islands. In his formative years he travels a lot through Europe and the Middle East. In 1932 he settles down in Italy where he works with Luigi Cosenza, and with Gio Ponti. In 1938 due to the Austrian Anscluss into the Third Reich, he flees Europe and takes refuge in Argentina and Brazil. In 1941, following the price that he is awarded at a contest promoted by MoMA he goes to New York, where he settles down again.
urban planning through the Zoning that produces isolated buildings situated in empty spaces: “They will have all the attributes of a well-kept, dignified urban cemetery […] in majestic isolation” (Jacobs, 1958, p. 157), contrasting them with local highstreets and neighbourhood customs as social instruments able to influence the human habitat2. In the early 1960’s, in the United States, the road becomes a central issue in terms of interests and studies. Through the research activity and collaboration between the Massachusetts Institute of Technology (MIT) and Harvard University, focused on the study of urban problems, was founded the Institute for Architecture and Urban Studies (IAUSP). An institution that, with the series Joint Center for Urban Studies, will publish a few important books devoted to the road and the city: The Image of the city and The View from the Road di Kevin Lynch (1961; 1964), Community and privacy. Toward a new architecture of humanism di Serge Chermayeff and Christopher Alexander (1964) and On Streets edited by Stanford Anderson (1978). In The View from the Road Lynch examines the road as a visual experience to investigate the consequences between form, function and image. The anthology On Streets collects the results of the studies started in 1970 by a heterogeneous group of researchers3, examining the topic of the street/road in its semantic, structural, historical and social aspects and interpreting it in terms of public space in the contemporary city rather than in terms of flux and traffic (Anderson, 1978, p. 5). On Street “once more places before us questions about [...] the appropriate architectural responses that would be equivalent to the successes of the past” (Simmons, 1981). In turn, Serge Chermayeff and Christopher Alexander investigate the relationship between the actual structure of the city and its influence on its inhabitants, with the goal to build a sort of ecology of humanity through the recognition of elements that constitute the contemporary city with regard to the individual’s needs. In his review of the book by Chermajeff and Alexander, published on Domus (Rudofsky, 1964), the Austrian architect, curator and essayist Bernard Rudofsky4 throws light on the proposal by the authors, regarding a different possible form of analysis of living in general, able to develop a form of made to man architecture, in which the core issues are the privacy of the dwelling and the definite separation between the public space and the private one, where the street, uniquely referring to the automobile and not intended as a regional
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place, represents the main enemy. The authors assert that by restoring the actual conditions to practice privacy will be possible to heal the world of mass culture, therefore/hence indicating as ideal urban dwelling, aimed to the salvation of the American masses, the home and the patio. Since the thirties, Rudofsky devotes to this kind of home projects and passionate studies. Opposing the idea of the ‘machine to live in’ and to the one of mechanic reductionism form-function, puts forward the house as a fenced garden- identifying in the open space an element of architecture – declaring that “We don’t need a new construction, but a new way of living” (Rudofsky, 1938). As seen before, the importance of adequate planning solutions for the single house and for collective housing, did not actually determine an effective change of the planning processes and, even less, they did not alter the social question of living, if not only marginally. And yet, even in recent history, the house continues to be the main object of mutation and experimentation, while even fewer are the considerations on the outdoor space as instrumental to the organisation of social and collective life. Amongst the numerous researches only a few, like the one that Rudofsky will develop during the ‘American years’, approfondiscono the potential influence that open space can have on the whole lay out plan, as well as on the relationships that can be generated. Rudofsky affirms, particularly during the exhibitions suggested and then displayed at the Museum of Modern Art di New York (MoMA), that what is situated outside the buildings is the truly unique collective space. Going beyond the usual home living solutions therefore, the ‘street’ can represent the opportunity to experiment with a different practice for the definition of home living and that one of the city. Establishing a relationship between collective living and the city one can start right over from the street as a propelling force toward collective living, concentrating on the real effects of the project and not on inadequate abstract indexes. 2. THE STREET AS A COLLECTIVE LIVING PROJECT The light motive that associates the series of exhibitions presented and curated by Rudofsky at MoMA in New York is the proposition of the street as a collective place (Drexler & Rudofsky, 1961). The original programme includes Roads (1961), Stairs (1963), Architecture Without Architects (AWA 1964) and Streets, Arcades and Galleries (1967), later cancelled.
The exhibitions are part of a much larger and articulated project with the objective to put forward, as an alternative to the usual interpretation of the street as a place of transit, an idea of street as a collective place, where “the car is not considered a spiritual mother” (Drexler & Rudofsky, 1961). The concept of an outdoor for home living purposes is already present in Rudofsky’s early project, the ones developed in the thirties, where the patio and the garden are not just environments suitable for living and tools of daily usage like the indoor spaces of the house, but rather they are the house itself. The ideal reference points are the houses with a yard, in Rudofsky’s mind only in a hortus conclusus it is possible to enjoy the direct contact with natural elements – sun, air and water, vegetation – and at the same time remaining in a private place. His life work is entirely devoted to home living, his houses are thought to be lived in by their inhabitants in a rigorously neutral way (Rudofsky, 1977, p. 13). His lack of interest for the isolated edifice and the house as a work of art comes from the lesson by Adolf Logos. Architecture is not like art, “responsible towards nobody” – a private business regarding the client and the architect – “rather it is responsible towards everybody” (Loos, 1931, p. 101). Similarly, when Rudofsky confront himself with the metropolitan dimension, he strategically selects the architectural elements that contribute to achieve the utopia of a street to live. If in Roads he shows highways, motorways, junctions, street-buildings, building-roads, to reveal the impact of such structure on the city, in the exhibition Stairs he indicates - like possible factors of social appropriation and construction of the city spaces and of the spaces of the street – stairwells and ramps intended as planning elements in their most complex of meanings: Stairs have, of course, other uses than just a climb. To this day the amphitheaters of antiquity and the vast stairscapes of the Old World are ideal gathering places […] Such stairs are not merely accessories to buildings but a sort of germinating ingredient – the leaven in the architectural dough (Rudofsky, 1964c, p. 79).
With AWA Rudofsky intends to extend the borders of knowledge and the interest of the world of architecture, pointing out how it is much vaster than the one traditionally known, studied and considered by historians and architects themselves. He also states that some amongst the best examples of architecture were produced by ‘ignorant builders’ without education or theoretical foundation. Rudofsky does not hesitate in considering such examples to show the
public, and architects, how vast and open can be the lesson of uneducated builders: For instance, it simply never occurs to us to make streets into oases rather than deserts. In countries where their function has not yet deteriorated into highways and parking lots, a number of arrangements make streets fit for Humans (Rudofsky, 1964b).
The expedient of which Rudofsky talks about are the topics of Streets, Arcades and Galleries. Even though it was cancelled, the issues and research materials for the preparation of the exhibition flow into the book Streets for People, “dedicated to the unknown pedestrian” (Rudofsky, 1969a, p. V), which is a compendium, detailed analysis and epilogue of the exhibitions Roads, Stairs, AWA. In Streets for People Rudofsky faces the differences between the streets of the European city and those ones of the American city, the latter one planned to maximize private profits, with scarce attention to public space, to which often enough are allocated residual spaces amongst plots than have not been built upon. His interest is directed to: the great outdoors, the pedestrian street, and the people one meets there. The subject is alien, to say the least, and so far has had little application in this country where the streets are roads (Rudofsky, 1969a, p.1).
The inconvenience determined by modern roads emerges from the confrontation with the comfort of the streets and porticos in Bologna, from Via degli Asini in Brisighella, from Galleria Vittorio Emanuele in Milano, from the north African Suq. If on one side in Streets for People the juxtaposition is between western, European and American culture and Eastern culture, on the other are systematically analysed methodological problems, like in the first chapter, Development through destruction, focusing on the practice of demolishing in order to build, which transform entire parts of the city, building dwellings that nobody will inhabit, so to make necessary a new ‘rebuilding to demolish’, in agreement with what Jacobs states (1958, 1961). Rudofsky, in describing the elements that constitute the street – porches, stairs, arcades, curtains, fountains – builds a reference atlas and sets up the book in terms of juxtapositions, in a sort of compared analysis between what is to be shared and what is to be stigmatised. The critical tension is underlined by John Maas (1969):
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The reader is then introduced to a new world of urban delights in a dozen countries. Some of the examples are famous cities [...] others are real discoveries […] There are the pleasures of walking under porticoes, of promenading on the ramparts, of ascending and descending flights of stairs, of gathering at the fountain.
To the Italians, the street is […] still the scene of the religious procession, the flirtatious ‘corso’, the sidewalk cafe, the itinerant storyteller, the morning market, the ambulant vendor. Some of these experiences were never common in the U.S., and most have vanished from our city streets; the commercialized Thanksgiving parade is one of the few survivals. Rudofsky’s work, research and exhibitions anticipate the awkwardness of the contemporary landscape. Introducing a vast repertoire of streets, walking arcades, lodges, stairwells, Rudofsky organizes a catalogue of possibilities and demonstrates in what measure and how such elements of construction of the city could have a fundamental role in the living space. Nowadays, that starting point is most probably been compromised. Although it could still represent a useful instrument to address in operative terms those places that usually are not considered as issues aimed to plan spaces and collective housing. An operative lesson that unable to proceed and to build the places of the city and housing in general, which are not grandiose, collective unoccupied edifices situated in a melancholic desert. .
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UGO ROSSI urossi@iuav.it Ugo Rossi, Architect, PhD in Architectural Composition at University Iuav of Venezia, with a thesis on Bernard Rudofsky, is a member of the research group Housing of the Iuav, with whom he collaborated. He is also a teaching assistant. As a speaker he has taken part to national and international conferences. His essays, articles and reviews are published in books and national and international journals, documenting his interest pertaining the various meanings of â&#x20AC;&#x2DC;modernâ&#x20AC;&#x2122;, observed in all their aspects, from Avant-garde to Rural Architecture. Currently his studies on Bernard Rudofsky are being recast and developed as a Book.
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1. TEORIA E HISTÓRIA DA HABITAÇÃO COLETIVA | TEORÍA E HISTORIA DE LA VIVIENDA COLECTIVA
Atxu Amann | Gonzalo Pardo | Madri, Espanha CUERPO, SALUD Y PLACER EN EL ESPACIO DOMÉSTICO CONTEMPORÁNEO
RESUMEN: Hasta convertirse en el espacio de protegida intimidad tal y como lo conocimos en el pasado siglo, el cuarto de baño es una extraña forma de denominar esta habitación que en su largo recorrido permite descubrir las transformaciones más radicales relativas a la casa y a sus habitantes a través de factores sociales, culturales, morales o económicos entre los que tanto la ideología respecto al cuerpo de cada época como la tecnología disponible en cada momento han sido decisivos. Su democratización, ya en el siglo XX gracias a la revolución industrial y a las teorías higienistas difundidas por la publicidad y su diversificación en los últimos treinta años, como consecuencia de las nuevas prácticas de consumo, de las revoluciones de género y la transformación de la domesticidad en la sociedad global de la información, requieren una nueva mirada sobre su papel protagonista dentro del proyecto de vivienda y la alteración de los significados tradicionalmente asociados a este espacio. En la actualidad, el cuarto de baño - si es que todavía se puede denominar así - es el taller de cuerpo sin género, donde las actividades higiénicas dialogan con lo lúdico propiciando un placer saludable, sostenible y responsable, difícil de parametrizar. Desde un análisis complejo y transversal esta comunicación estudia este incierto espacio-tiempo dedicado al cuidado del cuerpo diversificado en una era global de domesticidad mutante.
ARTÍCULO COMPLETO: El cuarto de baño nombra un espacio tan cotidiano y asumido por la civilización occidental como confuso, ambiguo. Ámbito de eufemismos en torno al mantenimiento del cuerpo por dentro y por fuera, el cuarto de baño, tal y como lo conocimos en España en la segunda mitad del siglo XX es todavía un lugar polisémico fijado en el imaginario colectivo como ´una habitación generalmente utilizada para el aseo personal, el baño y la evacuación de los desechos humanos donde los elementos más habituales son una bañera y/o ducha, un inodoro, un lavabo, un bidé y un espejo`1. Esta definición, podría coincidir con la descripción del primer cuarto de baño doméstico que aparece en Europa en torno a 1880, que como cualquier otra habitación de la vivienda burguesa, se identifica más con `el lujo y la representación`2 que con una necesidad, en un momento en el que el hábito de la limpieza diaria todavía es algo inimaginable. Y también se adapta con la célula-baño que se desarrolla simultáneamente en América, con una tipología que aunque inspirada en las grandes escenas de la antigüedad, su origen en los establecimientos hoteleros le convierten en un espacio pragmático, eficiente y reducido. Sin embargo, hasta convertirse en el espacio de protegida intimidad tal y como lo conocimos en el pasado siglo, el cuarto de baño- si es que puede llamarse así- recorre un largo camino que en cierta medida es `un tránsito de lo público a lo privado, de lo colectivo a lo individual y de lo visible a lo oculto`3, en cuya formación influyen factores
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1 Wikipedia. Consultado el 3 de Septiembre de 2015. 2 Gideion. 657 3 Fernández-Galiano. 34
4 Aries. 196 5 Wright. 24 6 Lampérez.115 7 Ariès. 290/4 8 Rybczynski. 48/ Toilet/K.31/Wright 107 9 Ariès. 190/5 10 Vigarello.65 11 Vigarello. 32/Ariès. 190/5 12 Elías. 108 13 Le Goff. 31 14 Elias. 168 15 Elias. 169.
sociales, culturales, morales o económicos entre los que tanto la ideología respecto al cuerpo de cada época como la tecnología disponible en cada momento son decisivos.
frecuencia se vacía por la ventana al grito de “agua va!”; una práctica que se mantiene, hasta bien entrado el siglo XVII, y en algunas ciudades hasta el siglo XVIII8.
Ya en el Paleolítico, los ríos y los arroyos constituyen el lugar donde se unen, por primera vez las actividades del lavado del cuerpo, la eliminación de materias orgánicas y el suministro de agua para beber. El instinto de supervivencia, de todos los animales nos impulsa a alimentar y cuidar el cuerpo con el fin de mantenerlo en las mejores condiciones durante el mayor tiempo posible.
El cuerpo medieval es un organismo poroso, en continua comunicación con el medio ambiente, es decir con miasmas, fluidos y otras materias al que desde la aparición de la Peste Negra en 1346 y más tarde por la sífilis, le prohíben el baño.
Miles de años después, ya sedentarios, cuando el poblado abandona el cauce en busca de espacio, comida y/o combustible, el agua ha de ser transportada, convirtiéndose en un bien preciado para beber y cocinar, antes que para lavarse. Lejos de los ríos, el ser humano se enfrenta al problema de hacer desaparecer los desechos orgánicos, no tanto por su presencia como por su olor. En las civilizaciones greco-romanas, estos asuntos adquieren un carácter público y social, al ubicarse las letrinas comunitarias y los baños públicos en grandes edificios públicos dentro de la ciudad, donde toda la población y separada por sexos, si paga, tiene acceso4 Respecto al baño de inmersión, mientras que para los griegos se trata de una acción vinculada a una dependencia del gimnasio y es frío, rápido y con un efecto vigorizante, el desarrollo tecnológico que alcanza en Roma, gracias a la esclavitud, permite una mayor sofisticación en sus instalaciones. El baño no solo es un deber social5 sino una forma de relajación que invita al placer y al hedonismo englobada bajo el concepto de regeneración del cuerpo. Esta cultura de la regeneración va reduciéndose hasta casi desaparecer en el siglo IV y hay que esperar para su retorno en Europa al siglo XII, cuando los primeros cruzados importen el baño turco de Oriente. Simultáneamente la recién aparecida burguesía6 de el impulso definitivo al desarrollo económico de los núcleos urbanos, impulsando la construcción de una gran cantidad de baños públicos, tanto de agua como de vapor -estufas-7 que generalizan estas prácticas entre la población. Mientras tanto la escasez de letrinas públicas lleva a realizar la eliminación en el exterior o si se dispone de siervo, en un bacín en el interior que con
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En 1346 la peste negra procedente de Asia acaba con la tercera parte del continente europeo en pocos años que unido a la sífilis importada más tarde de América, y al entendimiento que se tenía del cuerpo medieval como algo en comunicación con el universo, provocan que poco a poco el baño de inmersión desaparezca. Desde la esfera individual se busca limitar los intercambios y suprimir toda práctica que amenace con abrir los cuerpos al aire infeccioso. De esta manera, desde finales de la Edad Media y hasta la mitad del siglo XVIII, la limpieza corporal, tal y como nosotros la conocemos, prescinde del agua e ignora el cuerpo9 a excepción de las únicas partes visibles de él: el rostro y las manos10 a través de una técnica denominada aseo seco11, en la que son la forma y la calidad de los vestidos los que sirven para ´proteger´ y ´limpiar´ el cuerpo. Además, estas transformaciones en la limpieza corporal repercuten en el espacio doméstico mediante la proliferación de elementos portátiles como el aguamanil, un conjunto de una jarra y una jofaina que con ayuda de sirvientes, se utiliza para realizar el lavado de las manos al despertarse y durante la comida12. Por otra parte, la emergencia moderna del individuo al final de la Edad Media se traduce en una especialización del espacio doméstico y la aparición de los primeros manuales de cortesía. Entre ellos, los nuevos modales de la mesa repercuten en la técnica de los hábitos de comida13 .La invención del tenedor14 provoca el desplazamiento del aguamanil del comedor al dormitorio sobre un elemento fijo con forma de trípode marcando de ahora en adelante la evolución del lavabo. En el ámbito social y público, las mutaciones se encuentran en la actitud frente a las necesidades naturales15 como se pone de manifiesto en el Edicto de Francisco I en el año 1539 en París que regula, por primera vez, las materias fecales en la ciudad que obliga a todos los propietarios a disponer de una fosa de retrete.
Pese a estas normas, lo habitual era la disposición en el espacio doméstico y entre las clases altas del sillico de asiento; una caja de madera forrada con un asiento agujereado que oculta un bacín extraíble en su interior que favorece, la individualización -que no privatización-, del acto de defecación. Si la eliminación del desperdicio participa, como dice Laporte, en la ciudad, en los siglos XVI y XVII de la gran experiencia de la vista16, a partir de mediados del siglo XVIII será el turno de la revolución de la percepción olfativa. El dispositivo de retrete conectado a una fosa séptica o pozo negro deja mucho que desear debido las emanaciones fétidas que de ellos salen. Tiene que aparecer en Inglaterra un invento como el ideado por el relojero Alexander Cummings en 1775, el primer retrete moderno de válvula con sifón hidráulico17, para que la tecnología se introduzca en el espacio doméstico e iniciar un camino que permitiera poder realizar las funciones de eliminación en el interior del hogar con comodidad y sobre todo, sin olor. Ya en el siglo XVII son los avances de conocimiento respecto a la circulación de la sangre y la respiración en el cuerpo lo que conducen a nuevas ideas, acerca de la relación entre el aire y la piel provocando una reaparición del baño en Europa que se entiende como un fortalecimiento del cuerpo. La medicina pone de manifiesto la importancia del agua: estar limpio es proteger y fortalecer el cuerpo y esa limpieza es precisamente la que garantiza la buena marcha de las funciones. En el siglo XVIII, la imagen del cuerpo sano en una sociedad sana18, hará que los mismos mecanismos de circulación y respiración que se aplican al cuerpo, comiencen a ponerse en práctica en las ciudades europeas. Sin embargo hacia 1800 las grandes urbes carecen todavía del suministro regular de agua. La creciente importancia que la apariencia del cuerpo y su cuidado adquieren, provocan que se busquen mecanismos alternativos de limpieza corporal previos a que la mecanización entre en el espacio doméstico. Las abluciones se realizan mediante objetos portátiles, muebles o utensilios (bañera/palangana) en muchas ocasiones en la cocina junto al fuego19. La revolución demográfica tiene una importante incidencia en los centros urbanos que ve cómo una
masa humana colmata sus barrios, sobre todo los más pobres, poniendo de manifiesto la carencia de infraestructura sanitaria necesaria en las ciudades. Como consecuencia de la polución colectiva aparece en 1832 el cólera, la primera enfermedad industrial20, que es determinante para la implantación definitiva del sistema de alcantarillado en muchas capitales mundiales como Berlín (1860), Hamburgo (1842), Chicago (1855), Nueva York (1842) o Madrid (1851)21 Desde entonces el baño pasa de una condición nómada a otra estable quedando definitivamente los aparatos sanitarios anclados a una compleja red de tuberías y elementos de ventilación principalmente en el dormitorio22. A pesar de que la higiene es el motor que impulsa la creación de estos espacios, el desarrollo del cuarto de baño adquiere, en el mismo tiempo de expansión, distintas formalizaciones y significados dependiendo de si se trata de su versión europea o americana23. Mientras que el modelo europeo es un lugar de ´representación social´, en América, al tratarse de un país desprovisto de memoria histórica, permite que el desarrollo de la higiene y sus formas avance más rápido dando lugar a una habitación cerrada y pequeña absolutamente eficiente que toma su modelo de referencia en una tipología en auge: el hotel. Junto al hotel, la reorganización de la casa por parte de las ingenieras domésticas americanas de finales del siglo XIX y desarrollo de la técnica de los edificios en altura, son aspectos decisivos para la aparición del cuarto de baño compacto en la vivienda americana: una célula mínima donde se aglutinan la bañera el retrete y el lavabo según un rígido trazado24. Poco antes de la Gran Guerra los problemas de la vivienda social en Europa pasan a la primera línea del debate político. El discurso higienista toma como objeto de reflexión la vivienda y descompone el papel de cada uno de sus elementos en la salud y bienestar humanos, suministrando así un nuevo ámbito tanto a la reflexión arquitectónica posterior, como a la regulación normativa. No será hasta después de la Primera Guerra Mundial cuando se produzca la verdadera democra-
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16 Laporte. 44 17 Wright. 142/Koolhas. 34 18 Sennett. 280. 19 Wright. 206 20 McNeill. Citado en DeLanda 218 21 García Navarro/1. 82 22 Giedion. 676 23 Giedion. 676 24 Guiedion. 691
25 Pareja. 148 26 Pareja.127 27 Lippovetsky. 60 28 Vigarello. 245 29 Vigarello. 239 30 Vigarello. 242
tización del cuarto de baño. Junto a la preocupación por la vivienda, tanto la expansión de las redes de saneamiento como la producción y distribución masiva de los aparatos sanitarios son los responsables de la introducción del baño en el espacio doméstico en su versión mínima. Desde el punto de vista formal y organizativo, durante estos años el cuarto de baño mínimo es objeto de distintos manuales de medidas de arquitectura que, como el que edita en 1936 el arquitecto Ernst Neufert ofrecen todo un catálogo de todas las soluciones posibles de un cuarto de baño estandarizado. Al inicio de la segunda mitad del siglo XX, más que los arquitectos, son las revistas de estilo las que desempeñan un papel capital tanto en la renovación por completo de las estancias para el aseo y la higiene personal25 como en la difusión de una nueva imagen más amable, menos fría de tiempos anteriores a través de nuevos materiales como el plástico. Sin embargo, habrá que esperar hasta la década de los años 60, tras la imposición del el segundo feminismo que privilegia la problemática del sujeto, para que se produzca un cambio de ideología respecto al cuerpo y por tanto comience la verdadera transformación de esta habitación. Frente al imperativo higiénico de principios del siglo XX que consideraba al individuo como un enfermo y su limpieza corporal en términos de austeridad y disciplina, aparece una higiene mucho más permisiva que, definida según parámetros de suavidad, encanto y auto-seducción, por encima de todo considera al sujeto un consumidor26. El cuerpo se hace receptor de una sobrecarga de atención, blanco de todas las inversiones: el confort y el bienestar llegan a través de él, con lo que se convierte en el mimado del espacio doméstico y de la vida privada27. Frente a los ásperos jabones, aparecen aromas, emulsiones y sales perfumadas que invitan a permanecer más tiempo en el cuarto de baño. La higiene médica se maquilla con la higiene cosmética: desde el sector terciario se fomenta que el individuo emplee cada vez más tiempo y dinero en el ocio y el amor al propio cuerpo. La báscula y el espejo se convierten en dos de los dispositivos de vigilancia, control y mantenimiento más importantes del cuerpo. Mientras el primero controla el peso, el segundo da la imagen, potencia el narcisismo y difunde la estética de la delgadez,
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Durante la década de los 70, un progresivo proceso de personalización se alía con la cultura del placer produciendo una incitación hedonista que coincide con la invasión del pequeño electrodoméstico en el cuarto de baño: el secador de pelo, las tenacillas, el cepillo eléctrico, la maquinilla de afeitar eléctrica, el quita pelos de la nariz, la depiladora eléctrica o los nuevos aparatos de masaje requieren un aumento de las superficies de almacenaje, a la vez que la bañera se convierte en hidro-masaje, la ducha puede llegar a funcionar como sauna e hidro-ducha. La consolidación de los principios de igualdad e identidad culminan en la última década del siglo XX con la generalizándose la dispersión de opciones que buscan mostrar una identidad28. En este contexto, al no definirse ya un género, la belleza y el cuidado del cuerpo puede ser cultivada por cualquiera29. Simultáneamente en los últimos años del siglo XX, la introducción de las tecnologías electrónicas y audiovisuales en los hogares contemporáneos, son uno de los agentes esenciales que participan de la transformación en la vida cotidiana y también de los cambios en las estructuras sociales. La red se erige en una segunda residencia mundial y al desaparecer las fronteras, el sujeto espectador o conectado, trasciende los límites de su familia, su barrio, su ciudad y su patria, para formar parte de colectivos en las redes sociales. Lo que queda de materialidad en las acciones cotidianas, busca ubicación por la ciudad, expandiendo lo doméstico a través de nuevos espacios_tiempos que no se corresponden con los equipamientos del urbanismo del siglo XX, y convierten a la ciudad en el verdadero laboratorio de experimentos. Junto a estos cambios sociales y tecnológicos también ocurren otros asociados al consumo con un indefinido crecimiento de objetos y bienes30 ya vinculados a cualquier cuerpo. Ante el aumento de actividades y tiempo en la estancia del baño, la limpieza corporal se separa de la exoneración, bien por el espacio doméstico o bien por la ciudad. Finalmente, coincidiendo con este progresivo cuidado del cuerpo, es en las últimas décadas del siglo XX a través del cuarto de baño donde comienza una tímida conciencia respecto al cuidado del planeta haciendo visible la necesidad de un cambio en los hábitos de consumo responsable respecto al agua y al uso de la electricidad.
La mayor preocupación de las empresas es sacar nuevos modelos al mercado de aparatos que consuman la menor cantidad de agua y energía posible para adaptarse a las exigencias de la nueva normativa europea. Por su parte, los usuarios modifican sus costumbres de limpieza que, manteniendo unas pautas mínimas de higiene, optan por la ducha no diaria frente al baño a una menor temperatura y evitando un excesivo enjabonado. Todo depende de todo y al final el ´cuarto de baño´ es un concepto tan complejo como la vida misma, pero las desigualdades económicas marcan las distintas opciones, la educación, el modo de vida y la propia cultura de un país. Los arquitectos podemos poco más que estar atentos y saber leer una realidad que cambia más deprisa que la capacidad para controlarla. Tampoco es ese nuestro objetivo, pero sí favorecer unas condiciones espaciales y ambientales que permitan desarrollar al usuario una vida sostenible de la mejor forma posible entre esas cuatro paredes físicas o virtuales que todavía llamamos hogar, donde el cuarto de baño deja de ser un espacio con una tipología determinada para convertirse en una actividad como puede ser comer, trabajar o descansar. Ya no tiene sentido hablar de una normativa que fije unos estándares de cuarto de baño porque no existen personas estándares, sino usuarios con distintas necesidades que además varían en cada momento de su vida. Mientras que la bañera se sustituye por la ducha que ahora se hace en el gimnasio, el inodoro continúa siendo la única pieza inamovible dentro del espacio doméstico tal y como apareció allá por el siglo XVIII. En una época de vulnerabilidad e incertidumbre, la vivienda de nuestro tiempo es un paisaje de acontecimientos; el espacio doméstico se prolonga y aumenta a través de internet y sus distintas aplicaciones y redes sociales: desde Facebook a Twitter pasando por Instagram o Second life, el hogar hoy es, en los países desarrollados, el lugar donde está mi Smartphone.
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ATXU AMANN atxu.amann@upm.es
GONZALO PARDO gonzalo.pardo@gmail.com
Doctora arquitecta por la ETSAM. Profesora asociada en el Departamento de ideación gráfica arquitectónica. Ha recibido el premio de innovación educativa 2009 por la UPM. Es miembro de origen del grupo de Innovación educativa consolidado de la UPM ´Hypermedia, taller de configuración espacial´ del departamento DIGA. Desde 1987 es socia fundadora del estudio Temperaturas Extremas con el que ha recibido múltiples premios nacionales e internacionales y su obra ha sido difundida en todo tipo de medios.
Arquitecto por la ETSAM desde 2007. Investigador realizando una tesis sobre los Indicios de transformación del Espacio Doméstico en el DPA y DIGA desde 2013. Becario PIF desde 2011 en la ETSAM. Miembro del grupo de investigación Hypermedia, taller de Configuración y Comunicación Arquitectónica en la ETSAM desde 2011. Docente desde 2007 con distintos rangos en distintas Universidades e instituciones de distintas clases y talleres de arquitectura.
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1. TEORIA E HISTÓRIA DA HABITAÇÃO COLETIVA | TEORÍA E HISTORIA DE LA VIVIENDA COLECTIVA
Matilde Plastina | Roma, Itália ABITARE IL TEMPO Lo spazio liquido della residenza
Abitare il tempo, nel senso di avere la possibilità di risiedere nella stessa casa a fronte di mutate esigenze e desideri, diventa una delle esigenze del vivere contemporaneo. Le sperimentazioni più avanguardistiche nell’ambito della residenza, oggi, offrono l’opportunità di potere variare lo spazio della propria abitazione secondo delle opportune predisposizioni predeterminate in fase progettuale tese a soddisfare i bisogni dell’individuo, adattandosi al loro mutare nel corso degli anni. La staticità dell’architettura assume dei toni sfumati per far posto a concetti come la flessibilità, l’adattabilità e la trasformabilità. La realtà di un mondo in cui tutto è dinamico e mutevole, i rapidi e convulsi cambiamenti che caratterizzano la società contemporanea si riflettono in maniera evidente sul modo di fare architettura. Tutto induce la ricerca architettonica a riflettere sul concetto di flessibilità, soprattutto nel campo dell’abitazione. L’attributo “flessibile”, ormai, accompagna la maggior parte delle attività e degli aspetti della vita quotidiana: dal lavoro flessibile all’orario flessibile, dalla produzione flessibile ai prezzi flessibili, fino al capitalismo flessibile. Flessibilità, mobilità e precarietà diventano, nostro malgrado, i fattori centrali del cambiamento nello scenario lavorativo contemporaneo; mentre l’economia si fa più dinamica, la vita personale ne risente. L’uomo stesso diventa “flessibile”, come scrive Richard Sennet1, e ciò si riflette sul suo modo di vivere; sempre più spesso si verifica la possibilità di muoversi attraverso le città, di cambiare lavoro o residenza in una sorta di nomadismo obbligato o desiderato dove la casa si identifica sempre di più con un luogo produttivo alternando, sovrapponendo e intersecando le dimensioni dell’abitare e del lavorare. Oggi all’interno di uno stesso alloggio si delineano
un insieme di relazioni interpersonali e di bisogni molto complessi da soddisfare anche in tempi diversi; da qui la necessità di abitazioni con funzioni intercambiabili, adattabili e trasformabili nel tempo. La volontà di opporsi agli schematismi e alla rigidità nella progettazione delle abitazioni è evidente già dagli anni ‘20 con il Plan libre di Le Corbusier; successivamente, nel dopoguerra, il concetto di flessibilità dello spazio occupa un ruolo ancora più centrale nel dibattito architettonico. Il Movimento Moderno, esclusi alcuni casi, propone una precisa specializzazione dello spazio in base alle funzioni, riduce lo spazio dell’alloggio, perseguendo i principi dell’‘exsistenzminimum’ e lo predispone per soddisfare i soli bisogni primari ignorando le necessità legate ai diversi modi di vivere degli abitanti. In questo ambito si distingue e risulta paradigmatico il progetto di Mies van der Rohe per la Row House (1951), nel quale una medesima superficie viene predisposta per necessità diverse, contemplando anche eventuali crescite del nucleo familiare. La flessibilità d’uso di un modulo abitativo di base si risolve attraverso una sapiente organizzazione degli spazi in pianta. I servizi (cucina, bagno e un piccolo disimpegno) sono raggruppati in un unico blocco rettangolare fisso, mentre gli altri ambienti possono essere organizzati in modi diversi attraverso mutevoli disposizioni dei tramezzi. La stessa abitazione è pensata per offrire la possibilità di aumentare o diminuire il numero di camere da letto in base alle variazioni del nucleo familiare (fig. 1). Dagli anni ’60 il progetto della casa subisce un’evoluzione: lo spazio abitativo risente dei cambiamenti
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Sennet, Richard (1999, 1998). L’uomo flessibile. Le conseguenze del nuovo capitalismo sulla vita personale. Ed. it. (2001). Milano: Feltrinelli.
che avvengono all’interno delle famiglie e diventa sensibile alle esigenze e ai bisogni mutevoli dell’individuo, offrendogli la possibilità di personalizzare gradualmente il proprio alloggio. Nel 1958 l’architetto franco-ungherese Yona Friedman pubblica il manifesto per un’Architettura Mobile destinata ad una società in movimento, in cui cerca di rispondere alle esigenze non di un’utenza standard, ma diversificata. La ‘città mobile’ di Friedman è predisposta per assecondare le continue trasformazioni che caratterizzano la mobilità sociale ed è capace di essere creata e ricreata secondo le esigenze degli abitanti. Queste teorizzazioni danno vita alla visione di Ville Spatiale, una trama informale di linee e volumi, ‘tessuta’ a mezz’aria secondo una griglia ortogonale spaziali. I disegni di Friedman, con la loro forte espressività e carica poetica, prefigurano non solo un modello predefinito di città, ma una possibile alternativa all’abitare tradizionale. Come tutte le utopie anche la visione di Friedman muove una critica alla razionalità, che codifica e uniforma, annullando i caratteri tanto umani della differenza, della variabilità e dei bisogni. La Città Spaziale supera l’idea di vita domestica e comunitaria ispirata ad un habitat standard per proporre un sistema insediativo vitale perché adattabile a differenti situazioni e luoghi. La nuova città appare come un’aggregazione di piccoli villaggi spontanei unificati da una grande maglia strutturale sospesa nel vuoto; si solleva sul tessuto urbano di circa 15-20 metri attraverso un’ossatura composta da pilastri cavi, posti ogni 40-60 metri (contenenti gli impianti, gli elementi di comunicazione verticale e gli accessi) e da una griglia tridimensionale strutturale di 6x6m sviluppata su più livelli, all’interno della quale ognuno può incasellare con libertà la propria casa di circa 25-35 mq. Le abitazioni, di cui ne vengono proposti diversi modelli e aggregazioni (dal patio al blocco fino al terrazzo, case con giardino o con bottega, etc.), possono essere smontate, spostate e modificate a seconda delle esigenze; sono pensate per occupare una superficie minima di suolo, al di sotto della metà di quella disponibile su ogni livello, al fine di garantire il giusto apporto di aria e di luce non solo alle nuove unità abitative, ma anche alla città sottostante. Queste visioni di città, di cui ci restano affascinanti disegni, progettate sovrapposte al tessuto urbano del centro di Parigi, di Venezia, o ancora in luoghi poco definiti, in bilico tra fantasia e realtà, tra estetica e tecnica, propongono un modello difficilmente perseguibile nella realtà. Pur riscuotendo tuttora molti consensi non riescono a imporsi nel panorama delle utopie costruite, ma aprono nuovi orizzonti
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progettuali e stimolano la sperimentazione di nuove strutture e materiali restituendo una proiezione evolutiva dell’abitare contemporaneo. Non estraneo a queste proposte è Daniel Chenut, che in quegli stessi anni, partendo da un complesso studio sociologico, antropologico ed economico, propone un’abitazione il cui impianto, totalmente libero, può essere trasformato e personalizzato dall’utente nel corso del tempo. Lo Habitat Evolutif elaborato tra il ’59 e il ‘60 si fonda sulla variabilità dell’alloggio grazie all’impiego di componenti prefabbricati distinti in grandi elementi permanenti (come lo scheletro portante, le terrazze comuni, gli impianti) ed elementi più piccoli, sostituibili (che possono subire variazioni come le facciate, le partizioni interne, i pavimenti e gli infissi). All’interno dello spazio abitativo gli unici elementi standard sono il bagno e la cucina, concepiti come volumi attrezzati curvilinei con diversi gradi di chiusura, da posizionare liberamente grazie alla predisposizione di un ‘solaio attrezzato’ in cui alte travi reticolari permettono il passaggio dei condotti impiantistici. Partizioni interne e pareti di tamponatura facilmente montabili consentono agli utenti di suddividere gli spazi e personalizzare l’alloggio come meglio si desidera. Un’ulteriore ipotesi prevede la possibilità di acquistare pannelli leggeri nei grandi magazzini per poter apportare modifiche in tempi brevi e a costi contenuti. Una scrupolosa analisi delle combinazioni familiari ha permesso di definire tre modelli di alloggi, rispettivamente di 45, 84, e 124 mq, aggregabili in orizzontale o verticale, creando duplex serviti da corridoi interni o ballatoi esterni integrati a servizi collettivi ed eventuali laboratori artigianali. In questi ultimi si ha la possibilità di effettuare delle lavorazioni per facilitare la modifica degli spazi della casa o crearne nuovi secondo i propri bisogni. Questa proposta, flessibile ed innovativa per il tempo in cui è concepita, si affida alle tecnologie del tempo risultando un sistema eccessivamente macchinoso per essere sviluppato e vissuto dall’abitante nella pratica quotidiana (fig. 2). Nel progetto di case a schiera per Corciano (Perugia), elaborato da Renzo Piano in collaborazione con Peter Rice nel 1978 la soluzione di flessibilità è ancora più innovativa ed estrema. Tenendo conto delle possibilità di cambiamento delle esigenze degli abitanti o delle trasformazioni del nucleo familiare, il progettista ha previsto sia un incremento di superficie che un aumento di volume. Si tratta di un complesso residenziale a media densità del tipo a terrazzo, posto su un dislivello,
che applica come modello una tipologia ampliabile elaborata per il concorso indetto dalla regione Friuli in seguito del terremoto del 1976. L’intero intervento si basa sull’aggregazione di volumi di tipo scatolare, composti dall’accostamento di elementi prefabbricati in calcestruzzo armato a forma di ‘C’, da pannelli di controventamento trasversale e di irrigidimento antisismico e da getti di collegamento in calcestruzzo. Sviluppata in collaborazione con la società Vibrocemento Perugia, questa tecnologia ha permesso la realizzazione di un box libero da vincoli strutturali interni e quindi una maggiore libertà delle soluzioni distributive. L’innovazione di questo progetto consiste nell’aver offerto all’abitante una casa il cui involucro esterno, coincidente con la struttura, è immutabile, ma il cui spazio interno può essere variato sotto tre aspetti: quello quantitativo, passando da una superficie di 50 a 120 mq, quello della destinazione d’uso degli spazi e quello del grado di finitura. Definita da Piano un’abitazione ‘progressivamente modificabile’, questo modello residenziale affida le possibilità di mutazione alle pareti vetrate di chiusura anteriore e posteriore, che possono scorrere lungo dei binari posti sui lati del modulo scatolare. A distanza di 38 anni il quartiere di Corciano seppur interessante nello sviluppo planimetrico che ricorda quello di un piccolo centro urbano, fatto di slarghi stradine, scale, ponti e passerelle che collegano le varie quote e piccoli giardini di pertinenza, non ha la flessibilità che lo doveva contraddistinguere. Le parti mobili sembra siano diventate immobili; infatti dalla memoria degli attuali abitanti risulta che non siano state costruite seguendo quei criteri estremi di flessibilità, risultando forse troppo macchinosi nella praticità della vita di tutti i giorni. Nonostante ciò bisogna riconoscere l’originalità della proposta che svincola l’abitazione da quel ruolo di contenitore immobile proiettandolo verso una nuova dimensione che riflette la cultura, i bisogni e i gusti di chi la abita, diventando un elemento in continua potenziale trasformazione. La ricerca sulla variabilità dello spazio abitativo prosegue anche negli anni ‘80 con un progetto più ‘statico’, ma forse più realistico, che lascia allo spazio abitativo una discreta flessibilità d’uso: la ‘Banda Attiva’, elaborata dagli architetti francesi Lion e Leclercq durante la ricerca Domus Demain, finanziata dal Centre Scientifique et Technique du Batiment. In questa proposta lo spazio della casa si svincola dai nuclei di servizio, concentrati in vere e proprie pareti attrezzate.
Queste si dispongono secondo tre modelli: verso la parete esterna dell’alloggio; perpendicolarmente al fronte esterno; o in corrispondenza delle pareti di divisione degli appartamenti. La strategia kahniana dell’‘impacchettamento’ dei servizi in ambiti stretti e lunghi, avrebbe dovuto favorire un utilizzo migliore dello spazio dell’alloggio, libero di ospitare usi differenti ed allo stesso tempo di adattarsi ad esigenze diversificate. Oggi, la presenza di soluzioni che fanno della casa uno spazio in movimento, vivente, in continua trasformazione è sempre più frequente. Adattabili, funzionalisti, macchinosi o impraticabili, economici o costosi, i progetti più innovativi del secolo da poco iniziato, si nutrono dei modelli del passato. Gli esempi contemporanei che riprendono e sviluppano le sperimentazioni di Le Corbusier o di Rietveld negli appartamenti di ad Erasmuslaan (Utrecht) del 1931, alludono a quello che Steven Holl teorizza come ‘spazio a cerniera’; uno spazio interattivo in cui i ‘muri partecipanti’ riordinano gli ambienti domestici liberati dalle ingombranti pareti attrezzate degli anni ’602. L’alloggio, concepito come un’entità in movimento e in continua trasformazione (fig. 3), diventa specchio di chi lo abita interpretandone le varie esigenze che cambiano non solo per necessità durante l’arco della vita (flessibilità nel tempo), ma anche durante le ore del giorno (flessibilità d’uso). Uno spazio dinamico e unico modificato dall’abitante secondo i cicli diurni, perpetui o episodici, è quello proposto da Holl in un edificio di ventotto residenze a Fukuoka (1990), in Giappone. L’architetto americano conferisce all’abitazione intensiva il ‘carattere della differenza’ reinterpretando lo spazio della casa tradizionale giapponese caratterizzata dai fusuma, gli elementi verticali rettangolari scorrevoli che delimitano le stanze o fungono da porte. Egli progetta vari tipi di pareti rotanti o basculanti che adattano lo spazio della casa alle esigenze della famiglia negli anni, variandone dinamicamente la conformazione per creare ora ambiti completamente chiusi per la notte, ora semi-permeabili per una zona studio, ora aperti e fluidi per la zona giorno. In tale ambito anche gli appartamenti della Estrade-House in Choriner Strasse a Berlino, realizzati dallo studio tedesco Popp Planungen nel 2001, rappresentano un interessante esempio di flessibilità d’uso. In alcune abitazioni del complesso residenziale, la zona di servizio viene concentrata lungo il nucleo trasversale dei collegamenti verticali e percorre l’intera
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Holl, Steven (2004). Spazio a cerniera (dall’autonomo all’interattivo), in Parallax, Architettura e percezione. Milano: Postmedia.
profondità dell’edificio. Essa è schermata attraverso 12 pannelli in legno lamellare alti da pavimento a soffitto, rotanti e scorrevoli su binari che consentono di diaframmare liberamente lo spazio di questo ambiente unico e di scegliere tra varie soluzioni. La ‘banda attiva’ è una strategia adottata anche dal gruppo di progettazione IR Arquitectura nel complesso di abitazioni Quintana 4598 a Buenos Aires (2013). In questo caso, bagno, cucina, ripostiglio e camera da letto sono raggruppati a formare un enorme ‘armadio abitato’ con porte che possono essere aperte o chiuse a seconda delle esigenze offrendo una comoda zona living o un ampio locale per lo studio e il lavoro. Una strategia simile è stata applicata nell’intervento residenziale per un edificio di edilizia sociale a Madrid da Aranguren & Gallegos (2000-03). Questo progetto, collocato nella periferia urbana, accanto ad altri blocchi residenziali che l’amministrazione madrilena sta ancora terminando di commissionare, riprende alcuni temi di un progetto di Le Corbusier per un edificio d’affitto in Francia del 1928-29, sviluppo successivo delle soluzioni proposte nella casa bifamiliare al quartiere Weissenhof a Stoccarda. I due architetti madrileni concepiscono lo spazio della casa trasformabile a seconda delle esigenze e delle varie ore del giorno. Gli alloggi, raggruppati in quattro corpi lineari di differenti dimensioni disposti a formare un unico blocco a corte, si sviluppano longitudinalmente e hanno un solo affaccio (tranne nel caso delle soluzioni d’angolo), sul giardino interno o sul fronte esterno, serviti per tutta la lunghezza dell’abitazione da una spina centrale contenente i bagni e distribuiti da un corridoio interno. La casa, quindi, appare suddivisa in due parti: un ambiente unico polifunzionale e un blocco servente. Quest’ultimo, sollevato da terra per mezzo di alcuni gradini, crea un doppio solaio, all’interno del quale alloggiano i letti nelle ore diurne e ospitare la zona soggiorno/ pranzo e il blocco cucina in testata. Durante la notte, invece, suddividendo lo spazio tramite pareti mobili, impacchettate verso il fronte esterno, si ottengono camere da letto singole, con accesso indipendente dal corridoio centrale (fig. 4). Tali esempi testimoniano la possibilità attraverso pochi elementi di ottenere un’apprezzabile variabilità interna all’alloggio di piccole dimensioni che tenga conto delle diverse esigenze dell’abitante garantendo le future o prossime trasformazioni senza costi aggiuntivi e una personalizzazione dell’alloggio che lo rende un’esperienza unica tra altre tante.
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(CASO 1: alloggio con affacci sul lato più lungo e posizione fissa dei
Fig. 1. Schemi di
blocchi servizio).
alloggio variabile in base all’accrescimento del
Alloggio di 72 mq (più 20 mq di loggia) per una famiglia di cinque
numero dei componenti di
persone, a partire da due genitori con un figlio neonato fino a cinque
una famiglia.
adulti. Negli schemi sono previste tre trasformazioni corrispondenti a quattro fasi di convivenza degli abitanti. La parte variabile è di 60 mq, mentre rimangono fissi la cucina e il blocco bagno. La zona living viene ridotta per ricavare delle ulteriori stanze da letto e rispondere alle esigenze di privacy in seguito alla crescita dei figli. La camera doppia destinata ad accogliere i due figli adulti può essere predisposta per essere suddivisa attraverso pareti a scomparsa. La variazione interna può essere ottenuta tramite l’impiego e il montaggio a secco di pareti attrezzate e mobili componibili.
(CASO 2: alloggio con affacci sul lato più corto e posizione variabile
Fig. 2. Schemi di
dei blocchi servizio).
alloggio variabile in base all’accrescimento del
Alloggio di 72 mq (più 10 mq di loggia) per una famiglia di cinque
numero dei componenti di
persone, a partire da due genitori con un figlio neonato fino a cinque
una famiglia.
adulti. Negli schemi sono previste quattro trasformazioni corrispondenti a cinque fasi di convivenza degli abitanti. In tre variazioni su quattro vengono spostati anche i blocchi di servizio del bagno e della cucina. Ciò può essere effettuato predisponendo un solaio “cavo” sostenuto da travi reticolari che permettono il passaggio degli impianti. Questa strategia, complessa sul piano pratico, ci offre il massimo livello di flessibilità, anche se deve prevedere l’intercambiabilità della pavimentazione al fine di essere montabile e smontabile a secco. I blocchi di servizio preferibilmente devono essere progettati come assemblaggio di più pannelli tipizzati e industrializzati anche per facilitarne lo spostamento.
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Fig. 3. Schemi di alloggi
Il posizionamento degli elementi di servizio e dei relativi impianti
in cui il blocco servizi
di adduzione e scarico rappresenta un aspetto fondamentale nella
incide sulla variabilità
definizione degli spazi dell’alloggio.
interna. 1. Il “blocco centrale” rappresenta l’unico elemento fisso intorno al quale possono gravitare tutti gli altri spazi. 2. La fascia di servizio posta sul fronte esterno o perpendicolarmente ad esso permette di avere una superficie abitativa più libera di subire variazioni attraverso l’impiego di pareti scorrevoli rotanti o impacchettabili.
Fig. 4. Schemi di alloggio
La casa può essere modificata in base alle esigenze notturne e diurne.
variabile a seconda
In questo caso lo spazio dell’alloggio è organizzato in due fasce: una di
degli usi e delle necessità
servizio che si attesta sul lato interno e l’altra verso l’esterno composto da
durante le ore del giorno.
uno spazio suddiviso in tante camere da letto attraverso porte richiudibili durante la notte e da un unico ambiente adattabile alle più svariate attività durante il giorno ottenuto ‘impacchettando’ le pareti mobili e riponendo i letti all’interno di nicchie ricavate al di sotto del blocco di servizi.
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MATILDE PLASTINA mat_plast@libero.it Matilde Plastina is an engineer. In 2007 she graduated in Building and Architecture Engineering at Sapienza - University of Rome. In 2012 she has received her Building and Architecture Engineering PhD at the same University. She takes part in different international architectural conferences and debates, organized by various Italian Universities. She is fully involved in the researches activities of Civil, Building and Environmental Engineering Department of Sapienza. She works, as tutor, with Sapienza, during teaching activities of Architecture and Composition Architectural 2 and of Architectural and Urban Design courses. She is assistant supervisor of degree thesis since 2009 (Building and Architecture Engineering Course - Faculty of Civil and Industrial Engineering, Sapienza).
1. TEORIA E HISTÓRIA DA HABITAÇÃO COLETIVA | TEORÍA E HISTORIA DE LA VIVIENDA COLECTIVA
Luz Paz Agras | Coruña, Espanha VIVIR EN LA RUINA La construcción de vivenda como testimonio de una época
La construcción de vivienda en los últimos años en España no ha atendido a una demanda real. La sobreoferta de gran cantidad de promociones inmobiliarias ha traído consigo el estallido de la burbuja dejando tras de sí su huella: por una parte, la presencia en el paisaje urbano y rural de edificios sin acabar, siendo estos aislados, agrupaciones de edificios, etc: y a su vez, de un modo menos tangible pero especialmente preocupante, historias personales y colectivas que han mostrado la cara más amarga de este proceso. Hablar de vivienda implica los conceptos de “lugar construido”, “habitar” y “personas”. Así figura en su primera acepción en el diccionario de la RAE: “Lugar cerrado y cubierto construido para ser habitado por personas”1. Hemos asistido, sin embargo, a un proceso creciente de autonomía de estas ideas que ponen en cuestión su propio significado. El “habitar” y las “personas” como destinatarias son premisas que han pasado a un segundo plano frente al furor de lo “construido” en su acepción más lucrativa a través de la especulación inmobiliaria. A continuación se plantean una serie de ejemplos en torno a la reflexión sobre el papel de la vivienda con el estallido de la burbuja. Estas propuestas van desde ejemplos directos de lucha social a interpretaciones artísticas, especialmente a través del proyecto Spanish Dream, que abarca varios aspectos. Todas ellas hablan de la vivienda como objeto de lucro, lejos de su verdadero valor y sentido arquitectónico. Estos trabajos críticos actúan como testimonio de una época y reclaman una mirada racional de los agentes implicados de forma directa, pero también
de toda la sociedad que ha generado y permitido esta situación. LA VIVIENDA DEL S. XXI La crisis internacional en la que el mundo occidental está inmerso se ha visto agravada en algunos países como España por el estallido de la burbuja inmobiliaria. En el origen de este proceso se encuentra, en gran medida, el planteamiento de la construcción de vivienda como la base principal de crecimiento económico. Política y banca han contribuido a la creación de un entorno de inversión aparentemente seguro al que cualquier ciudadano podría acceder. A esto se suma el tradicional anhelo por ser propietarios, tan arraigado en nuestra cultura, que se superpone a cualquier otra opción de acceso a la vivienda, algo mucho más variado y socialmente aceptado en otras culturas europeas. En este proceso, se han dejado de lado aspectos como la sostenibilidad, la realidad social de los nuevos propietarios o una planificación a largo plazo de sus consecuencias. Con el estallido de la burbuja inmobiliaria, el optimismo devino en una progresiva decadencia a la que fuimos asistiendo en el día a día a través de la prensa. Los efectos de la crisis económica empezaron a salpicar a la sociedad en su conjunto. Términos absolutamente específicos del ámbito de la macroeconomía pasaron a formar parte de nuestro lenguaje diario. El cortometraje Hablando en Plata2 (2012), refleja de forma irónica esta situación. Tres vecinas conversan en un patio de corrala en una ciudad del sur de España. Su previsible diálogo sobre temas cotidianos se transforma en una agitada
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1 Diccionario de la Real Academia de la Lengua Española 2 Gil, Miguel Ángel; Gil, Antonio; Ceballos, Sergio (2012). Hablando en plata (cortometraje). Producciones Varadas
3 Schulz-Dornburg, Julia (2012). Ruinas Modernas. Una topografía de lucro. Barcelona: Ambit Serveis Editorials S.A. 4 Haacke, Hans (2012). Castillos en el aire (exposición). Madrid: MNCARS
discusión sobre la evolución de la deuda y la especulación sobre la rentabilidad de las inversiones. Un lenguaje totalmente ajeno a este contexto pone de manifiesto cómo la sociedad ha pasado a ser la directamente afectada por una escala de negocio de la que no era consciente de formar parte. Un ejemplo representativo de la desproporción en la producción de vivienda es la urbanización de mayor dimensión promovida en Galicia, Costa Miño Golf. Esta operación, todavía sin rematar en la actualidad, comenzó a construirse en el año 2002 en una zona del Concello coruñés de Miño, convertido en lugar de oportunidad por el alto valor paisajístico de sus playas y por su posición estratégica a medio camino entre dos urbes, A Coruña y Ferrol, con conexión por autopista. Los terrenos fueron expropiados a sus propietarios por precios muy por debajo de su nueva potencialidad. De hecho, la administración pública adeuda a los antiguos propietarios, tras un largo juicio, unas seis veces el presupuesto anual de la administración local. La operación consistía en la construcción de 1.217 viviendas, entre tipologías colectivas, pareadas y unifamiliares y un gran campo de golf como reclamo. Su potencial de desarrollo pasaba por construir vivienda para unas 3.700 personas, en un ayuntamiento que no llegaba en esos años a los 5.000 habitantes. Con el estallido de la crisis en el año 2008, el quiebro de la constructora, y los diversos procesos judiciales en los que se vio envuelta la operación, se llegó a la interrupción de las obras. El resultado es el de una ciudad fantasma, parcialmente habitada, sin urbanizar y con los equipamientos a medio construir. No ha existido, sin embargo, ninguna reflexión previa sobre lo que un aumento de población tan considerable, en relación a la existente, significaría a nivel social, de dotaciones públicas, de impacto medioambiental, etc. Es este uno de tantos ejemplos que atestiguan hoy cómo la avidez en la construcción de vivienda, considerando a las personas únicamente como compradores, fue alimentando el inevitable estallido de la burbuja que ha afectado muy negativamente al estado de bienestar conseguido por la sociedad española durante los años de la Transición. Sus consecuencias salpican también al propio concepto de vivienda del S. XXI. La gravedad de la repercusión social que el estallido de la burbuja ha traído consigo ha empañado la verdadera investigación arquitectónica sobre el habitar, de la que tendrían que surgir propuestas de vivienda inno-
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vadoras y coherentes con nuestros nuevos modelos sociales de convivencia, con el aprovechamiento de las nuevas tecnologías y, sobre todo, con la necesaria mirada hacia una forma de vida sostenible y sensible hacia el medio ambiente. LUGARES CONSTRUIDOS: LAS “RUINAS PREMATURAS” La presencia física más directa de este proceso de construcción ilimitado de vivienda se puede apreciar en todo el territorio, desde zonas urbanas a lugares rurales, a través de edificios ruinosos inacabados. En un recorrido actual por la geografía española se podrían mapear una gran cantidad de intervenciones de este tipo. Las tipologías también son variadas, desde grandes urbanizaciones a bloques de habitación colectiva y viviendas unifamiliares aisladas. Todas estas intervenciones se han convertido hoy en día en verdaderas ruinas y, muchas de ellas, “elefantes blancos” que han arrastrado consigo tanto a promotores como futuros usuarios. La arquitecta Julia Schulz-Dornburg ha realizado un trabajo fotográfico sobre urbanizaciones inacabadas en el territorio español que ha reunido, junto a textos críticos, en el catálogo Ruinas Modernas. Una topografía de lucro3. Las imágenes hablan por sí solas. El estado ruinoso de los edificios muestra sus materiales de construcción sin acabados que el abandono ha sometido a procesos de vandalismo y deterioro por su exposición directa a las inclemencias metereológicas. Todas ellas, urbanizaciones fantasma en las que resulta difícil imaginarse una vida futura. El artista alemán Hans Haacke puso el foco en las grandes promociones de vivienda inacabadas en los arrabales de Madrid en su exposición realizada exprofeso para el Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía. Además de fotografías de gran formato de los edificios desnudos y carteles con los nombres de las calles inhabitadas, Haacke crea una instalación en una sala del Edificio Sabatini. En uno de sus lados, se sitúa un video que abarca toda la altura y longitud del espacio en el que se proyecta un recorrido en movimiento por una de estas urbanizaciones desoladas, introduciendo al espectador en ese paseo. Al otro lado de la sala, cuelgan con pinzas, a modo de ropa tendida, diversas imágenes de esos edificios. El título de la exposición, Castillos en el aire4, explicita la aproximación de la reflexión de Haacke sobre la construcción especulativa de la vivienda en nuestro país y sus consecuencias en el espacio público.
Cabe hacer una reflexión sobre el atractivo estético que esta imágenes suelen provocar. Detrás de estos materiales que muestran en su desnudez y deterioro, subyace la toma de conciencia de la nula consideración hacia los habitantes para los que se han construido sus casas. La atracción que este tipo de imágenes supone, ha quedado también de manifiesto en el Leon de Oro de la Bienal de Arquitectura de Venecia por las fotografías de la Torre David de Caracas5. Estética que engancha y tras la que, sin embargo, existe una realidad social desgraciada. El proyecto Spanish Dream6 se sitúa precisamente en una reflexión desde lo emocional, la pérdida del sueño perseguido, del hogar destinado a acoger las vivencias de sus ocupantes. La primera aproximación se hace mediante un recorrido arbitrario por el territorio gallego en el que se van fotografiando distintas tipologías de edificios inacabados por la crisis. Sus localizaciones y casuísticas son muy diversas pero todos comparten su estado ruinoso. En esta primera fase del proyecto, se lleva a cabo un catálogo bajo el nombre de “ruinas prematuras”, introduciendo el concepto de “prematuro” en contraposición al paso del tiempo, que parece implícito en la idea de ruina. Se busca, con este matiz, reflejar la sensación de intranquilidad que la contemplación de estos edificios transmite. HABITAR: LA LUCHA SOCIAL En la construcción de vivienda en España, sus habitantes han jugado un papel secundario en la ocupación de sus hogares. Esto les ha situado, sin embargo, en el espacio de la lucha social. Contrariamente a lo que cabría esperar, la superabundancia de vivienda no supuso la disponibilidad de esta. De hecho, uno de los mayores problemas planteados por el estallido de la burbuja inmobiliaria fue el del desalojo de personas de sus hogares ante la imposibilidad de hacer frente al pago hipotecario. Grupos sociales como la Plataforma de Afectados por la Hipoteca7, fundada en Barcelona en el año 2008, ha logrado parar el proceso de desalojo de 1663 viviendas y ha llevado a cabo unos 2500 realojos sociales por todo el territorio nacional, números que se incrementan día a día. A través de la campaña Stop Desahucios8 sus logros no se han limitado a la lucha a pie de calle, sino que su trabajo ha llegado al ámbito jurídico, en el que han alcanzado fructíferos resultados en la puesta en cuestión de cláusulas abusivas en las hipotecas de los bancos españoles. Sus reclamaciones han llevado el problema individual al ámbito colectivo y lo han situado en la palestra frente a los poderes políticos, con resultados altamente positivos para la sociedad.
Este espíritu de lucha social ha germinado también en otros grupos más locales y de menor entidad, como los que abanderaron diversas luchas en las corralas sevillanas. Comunidades apoyadas por movimientos sociales formados a partir del 15M, han hecho suya la reclamación por el derecho constitucional a una vivienda digna, tal como reza el Artículo 47 de la carta magna: “Todos los españoles tienen derecho a disfrutar de una vivienda digna y adecuada. Los poderes públicos promoverán las condiciones necesarias y establecerán las normas pertinentes para hacer efectivo este derecho, regulando la utilización del suelo de acuerdo con el interés general para impedir la especulación. La comunidad participará en las plusvalías que genere la acción urbanística de los entes públicos”9. Una de las comunidades más reivindicativas fue La corrala de vecinas La Utopía10, que se convirtió en un grupo de lucha social que ha trascendido, de lejos, el origen de su fundación. Mediante la ocupación de las viviendas de una corrala, propiedad de una entidad bancaria, estas vecinas han llevado su lucha por el derecho a la vivienda en su esencia más pura, a través de sus reclamaciones basadas en las acciones cotidianas de su día a día. Imágenes de las condiciones de infravivienda en esta corrala extendieron su denuncia a nivel internacional a través de la edición del 24 de agosto de 2012 del The New York Times. Sus reclamaciones tuvieron un final agridulce, ya que la propiedad logró echar a todas las familias mediante resolución judicial, aunque los servicios sociales se vieron obligados a considerar su realojo. A MODO DE REFLEXIÓN FINAL: LAS PERSONAS DEL SPANISH DREAM El proyecto Spanish Dream surge en el año 2010 a partir de una discusión entre tres arquitectas. El tema de debate versaba sobre las consecuencias que la crisis tendría sobre la población, sobre el día a día de las personas. De este planteamiento, surge la idea de hacer explícita esta reflexión a través de la ocupación de las “ruinas prematuras” con escenas de la vida diaria o, dicho de otra forma, habitar las ruinas. El nombre del proyecto alude al American Dream, el ideal que un individuo se forja sobre la posición social a conseguir a través del logro de una ensoñación: alcanzar la propiedad de una vivienda. Este anhelo, animado por las facilidades bancarias y la promoción política, se convirtió en el sueño oficial de todo un país. Ante el pinchazo de la burbuja inmobiliaria, el sueño colectivo también se volvió añicos de una forma dramática.
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Brillembourg,
Alfredo (2012) 6 Amado, Ana; Marcos, Marta: Paz Agras, Luz (2012) 7 http:// afectadosporlahipoteca. com/ [consulta: 15/10/2015] 8 http://www. stopdesahucios.es/ [consulta: 15/10/2015] 9 Constitución Española (1978) 10 http://corralautopia. blogspot.com.es/ [consulta: 15/10/2015]
11 AA.VV, YisangDuchamp (2013). Seúl: Museo de Literatura Moderna de Corea
El proyecto Spanish Dream recrea esos sueños: una familia comiendo alrededor de una gran mesa, una adolescente dormida sobre su cama, un bebé avanzando con su andador, una mujer saliendo de la ducha, etc., son algunas de las escenas creadas en los espacios inacabados. En este proceso de ocupación, las construcciones adquieren condiciones de verdaderas viviendas al ser habitadas por las acciones cotidianas. Estas escenas se fotografían y es, a través de estas imágenes, cómo se busca el contagio de la reflexión. Las acciones fueron mostradas en diversas exposiciones nacionales e internacionales, pero la primera vez que tuvieron contacto con el público fue a través del espacio creado específicamente para ello en la sede central del Colegio de Arquitectos de Galicia en el año 2012. La sala, situada en un edificio del S. XVII en el casco histórico de Santiago de Compostela, se llenó de puntales de acero, usados en obra, para generar una piel sinuosa, independiente de los muros pétreos de la arquitectura oficial, de la que colgaban las acciones mostrando el carácter efímero de esos sueños. La reflexión expuesta tuvo una amplia acogida en la prensa, ayudando a generar un debate en el que la figura del habitante pasó a primer término. La facilidad en la identificación personal con los personajes que vivían las ruinas provocó una interesante interacción con el espectador. El lugar “para ser habitado por personas”, tal como figura en la definición de “vivienda”, fue ocupado por lo inmaterial de la actividad del día a día. Este aspecto, tan imprevisible e indefinible en el proyecto arquitectónico, se identifica magistralmente en la descripción del escritor coreano Yisang sobre el lugar que él habita: “El día en las 18 residencias del Nº 33 es muy tranquilo. La tranquilidad es solamente durante el día. Cuando oscurece, se pliegan las camas. Después de encender las luces, las vidas de los 18 residentes son mucho más glamurosas. Hay sonidos frecuentes de deslizar puertas hasta que llega la oscuridad. Se vuelve todo actividad. Diversos olores emergen. El olor de hornear arenques. El olor de la levadura. El olor del agua con detergente. El olor del jabón”11. La arquitectura, como profesión, no debería de olvidar la vida como variable fundamental en la construcción de vivienda.
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Fig.1: Spanish Dream.
Fig. 2-3: Costa Mi単o Golf
Fig. 4: Spanish Dream: ruinas prematuras.
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Fig. 5: Spanish Dream: ruinas prematuras.
Fig. 6: La Corrala de Vecinas la Utopía.
Fig.7: Spanish Dream: el sueño.
Fig.8: Spanish Dream
LUZ PAZ AGRAS luz.paz.agras@udc.es Luz Paz Agras es Doctora Arquitecta por la Universidade da Coruña y Máster en Arte Contemporánea por la Universidade de Santiago. Recientemente ha finalizado una estancia posdoctoral en la Bartlett School of Architecture, en Londres, con una beca de la Fundación Barrié. Forma parte del colectivo Cadelasverdes y del equipo redactor de Dardo Magazin: Art+Architecture+Design. Sus líneas de trabajo están próximas a su ejercicio profesional, por el que ha recibido diversos reconocimientos: espacio expositivo, rehabilitación, proyecto arquitectónico contemporáneo, etc. En la actualidad, es profesora de Teoría de la Arquitectura en el Departamento de Composición de la Universidade da Coruña.
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1. TEORIA E HISTÓRIA DA HABITAÇÃO COLETIVA | TEORÍA E HISTORIA DE LA VIVIENDA COLECTIVA
Graziano Brau Pani | Barcelona, Espanha HOW TO ANALYSE AND EVALUATE MAT-HOUSING
ABSTRACT Este trabajo analiza el modelo arquitectónico y urbanístico del mat-building y, vistas sus características de densidad, compactibilidad, posibilidad de crecimiento, decrecimiento e intercambiabilidad, lo propone como posible solución al problema residencial. Basándose en el artículo de Alison Smithson “How to recognise and read mat-building” y sobre su actualización crítica “How to construct a mat building genealogy”, se propone un viaje en el tiempo a través de una serie de proyectos que podrían denominarse “mat-housing”.
A mediados del siglo XX, con la crisis de la arquitectura moderna, se constata el nacimiento de nuevos sistemas arquitectónicos vinculados principalmente al mundo orgánico y al realismo social. Nacen arquitecturas caracterizadas por una gran carga social y política, generadas por la voluntad no dogmática de responder a las necesidades del ser humano y de los contextos reales: se enfatiza la importancia de las personas proponiendo procesos de participación en el proyecto arquitectónico y se introduce el tiempo como variable positiva y creativa. Los principales representantes de esta corriente se encuentran en las filas del grupo Team 10. Los primeros arquitectos en realizar mat-building son George Candilis, Alexis Josic y Shadrach Woods. Sus proyectos, basados en un método de trabajo funcionalista, avanzan una nueva forma de pensar la arquitectura: el estudio de la casbah africana, de su trama densa, porosa y horizontal, les sugiere la
creación de sistemas basados en la máxima interconexión a partir de la asociación de diferentes partes y con la posibilidad de crecer, disminuir y cambiar. Todas sus propuestas arquitectónicas y urbanísticas se basan en la ética social y moral de la corriente estructuralista que asume como escala de valores la contribución positiva o negativa de la arquitectura al desarrollo de la sociedad. I. En septiembre de 1974 Alison Smithson publica en la revista inglesa Architectural Design el artículo “How to recognise and read mat-building”, en el que avanza la primera conceptualización del sistema mat. Busca las raíces del “anónimo colectivo” a través de una serie de propuestas que concretan las líneas teóricas y conceptuales, como la Universidad Libre de Berlín de Candilis-Josic-Woods y el Hospital de Venecia de Le Corbusier (1964 -1965). El análisis de ejemplos heterogéneos pone de manifiesto sistemas en permanente evolución y cambio, en contraste con los arquetipos y el determinismo formal que habían fundamentado la arquitectura moderna. Interconexión, reglas de asociación y posibilidad de crecimiento, disminución y cambio son las tres reglas para la construcción de un soporte que, por características y dimensiones, puede proponerse tanto a escala arquitectónica como a escala urbana. Casi treinta años tras la publicación del artículo de Smithson, Timothy Hyde propone una actuali-
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1 HYDE, T. “How to construct an architectural genealogy”, en SARKIS, H., ALLARD, P. y HYDE, T., 2001. Le Corbusier’s Venice Hospital and the Mat Building Revival. Munich: Prestel.
zación crítica: “How To Construct An Architectural Genealogy”1 revisa la continuidad del sistema mat hasta el 2001 y rescata proyectos cronológicamente entrelazados a los propuestos por la arquitecta inglesa. Al volver a ello, Hyde advierte que la genealogía propuesta por Smithson, basada en el proceso de categorización dado por las tres reglas, es exclusiva: todos los ejemplos pertenecen a una sola familia de mat y excluyen otras posibilidades. Por el contrario, Hyde propone una visión inclusiva que abra las puertas a sistemas estructurales más laberínticos, matrices abiertas, con menos disposiciones reguladas, en cuyo interior se puedan entrelazar densas superficies de programa, estructura y circulación. II. A partir de estas consideraciones podríamos construir un catalogo de ejemplos muy variados, tanto por dimensiones, procedencias y grado de desarrollo: desde los más contemporáneos volvemos atrás en el tiempo hasta las experimentaciones africanas del ATBAT. Este viaje nos permite seleccionar cuatro sistemas que se diferencian por época de construcción, dimensiones, características geométrico-compositivas y creación de diferentes relaciones con el contexto. Cada ejemplo puede considerarse representativo de una categoría diferente de mat en función de su rasgo característico principal: MAT-COUNTRYSIDE: sistemas mat construidos o proyectados en entornos con límites “débiles.” Esta peculiaridad puede determinar los tipos de crecimiento del sistema. Ejemplo: Casa patio en Toulouse-Le Mirail, Candilis-Josic-Woods, 1961. MAT-ROOF: sistemas mat que proponen la creación de un techo urbano elevado respecto al suelo. Ejemplo: Kasbah, Piet Blom, 1973. MAT-OBJECT: sistemas mat cuya relación con el contexto urbano define un perímetro duro. Estas intervenciones pasan de ser sistemas a devenir objetos. Ejemplo: Nexus World, Oma, 1991. MAT-HYBRID: sistemas mat cuya estructura es un híbrido entre una trama mat y otra tipología edificatoria. Ejemplo: Carabanchel 11, Morphosis B+DU, 2006. La complejidad contemporánea hace necesarios diferentes criterios a la hora de analizar y evaluar un sistema mat. Estos se han unido en tres niveles de análisis:
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el primer nivel analiza el encuadre urbano y la movilidad enfocando la atención en el respeto por el contexto, en la interpretación de las dinámicas existentes y en la puesta en valor de la cercanía de comercios y servicios. el segundo nivel analiza la geometría del conjunto enfocándose en los módulos que forman todo sistema y en sus reglas de agregación-organización que son la base para su crecimiento, decrecimiento o cambio. el tercer nivel analiza los espacios intermedios y la convivencia de usos. Si los primeros relacionan el sistema a la ciudad, es decir el espacio público a lo privado, la ultima marca la complejidad a nivel funcional y social del edificio, y del tejido en el que se inserta. ANÁLISIS DE LOS PROYECTOS SELECCIONADOS Casas patio en Toulouse-Le Mirail, CandilisJosic-Woods, 1961 (fig.1) De las diferentes morfologías propuestas en Toulouse-Le Mirail esta intervención tiene la densidad más baja. Este nivel de concentración, unido a la elección tipológica, crea manzanas de baja altura que se relacionan con las calles a través de amplias áreas verdes puestas a lo largo de todo el perímetro de la intervención. Este proyecto, vinculado a un módulo con reglas precisas de agregación y crecimiento, se caracteriza por conexiones orgánicas y recorridos jerárquicos. Su módulo base, una casa patio en forma de L, propone dos variantes: una tercera habitación o una terraza cubierta. El sistema base se constituye por un núcleo central y sus ramificaciones. El núcleo surge por rotación alrededor del patio central de la agregación de cuatro módulos del primer tipo. Las ramificaciones, construidas a partir del segundo tipo de módulo, permiten la aparición de los espacios intermedios que, de la gran a la pequeña escala, configuran los espacios de acceso a la vivienda. El primer espacio intermedio es el parque que encierra la intervención: ya dentro de la red interior de recorridos podemos encontrar filtros de diferentes jerarquías, por lo que el proyecto consigue una amplia gradación entre el espacio público y el de la vida privada. Para reforzar la idea general del proyecto Candilis, Josic y Woods posicionan los servicios en el eje central del barrio: esta decisión,
aunque favorezca la coherencia general, genera un conjunto monofuncional, carente de vida urbana y dependiente del resto de la ciudad. Kasbah, Piet Blom, 1973 (fig.2) La Kasbah, situada en la periferia de Hengelo (Holanda), es un fragmento urbano morfológicamente autónomo respeto a su alrededor. Es un sistema muy bien conectado a la red vial gracias a diferentes ejes vehiculares y un buen número de recorridos peatonales. La calle urbana que lo circunda enlaza con los ejes del complejo y permite la llegada de vehículos hasta los aparcamientos interiores. La planta baja, casi totalmente libre, genera infinitos recorridos peatonales, que culminan en la plaza central del proyecto. La Kasbah se basa en dos razonamientos geométricos. El primero se refiere a los módulos y a sus reglas de agregación: tres módulos generan dos barras horizontales que se alternan con ritmo ab ab. El segundo es la elevación del sistema sobre pilares para dejar libre la planta baja y organizarla según seis ejes longitudinales paralelos. Los pisos superiores están organizados según una geometría perpendicular a la planta baja. La intervención está muy bien conectada con la red viaria urbana que penetra en el proyecto en dos direcciones perpendiculares. La planta baja, libre, es un espacio intermedio cubierto bajo el cual realizar diferentes actividades y cuidar las relaciones vecinales. Bajo esta gran alfombra los diferentes ejes peatonales nos llevan a los accesos a las viviendas y de paso nos enseñan espacios comunes, huertos, comercios y aparcamientos para los residentes. La función comercial, pensada como catalizador de intereses externos, crea un vínculo más fuerte con la ciudad incrementando la vitalidad y la seguridad de los espacios intermedios. Nexus World, OMA, 1991 (fig.3) La intervención de OMA constituida por dos edificios, es el encabezamiento del sistema urbano propuesto por Arata Isozaki. El módulo base del edificio es la agregación de dos viviendas: una para cinco personas (a) y otra para tres (b). La geometría de la planta baja dibuja cinco ejes perpendiculares entre ellos, interrumpidos en la parte frontal por la parte comercial. El resultado entre un perímetro de origen urbano y una parrilla modular nacida de un razonamiento tipológico genera excepciones: las tipologías a lo largo de la parte del perímetro irregular están sujetas a alte-
raciones de la superficie en comparación con la tipología base. La estructura configura los espacios intermedios: los dos bloques están rodeados por una amplia acera arbolada. Desde ella, por una escalinata, se accede a una planta más baja; este espacio intermedio distribuye los accesos y permite las relaciones entre los vecinos. La misma estructura de la tipología está pensada como un continuum de este espacio. Esta intervención conjuga dos funciones: residencial y comercial. La vivienda se encuentra en los tres niveles de los edificios. El comercio se coloca en la parte anterior, reforzando el límite neto del bloque y el carácter urbano de la calle, lo que crea un contraste positivo con la parte posterior, con un límite más poroso y vinculado a la dimensión más contenida de la comunidad. Carabanchel 11, Morphosis, 2006 (fig.4) A nivel morfológico, este proyecto es el que más se acerca a la imagen de mat-building. Ocupa una manzana irregular entera, cuenta con diferentes accesos peatonales y uno para vehículos que conecta la calle con el aparcamiento subterráneo. Este proyecto es el resultante entre una tipología mat y una de bloque vertical tradicional. De las dos pastillas que constituyen el límite superior e inferior de la manzana solo la superior respeta la morfología del tejido urbano. El tejido contenido entre estos dos límites está compuesto por siete tipologías diferentes, cuya variedad nace de la interpretación del desnivel del lote. La trama horizontal, interrumpida en el centro por el eje principal, se desarrolla según una red de recorridos que se abren dando lugar a plazas. Por la dimensión del sistema, los accesos son múltiples y se distribuyen a lo largo del perímetro. Los dos accesos al eje central, cerrados con verjas, son de públicos mientras que los laterales, con puertas privadas, permiten el acceso a las calles interiores y a las viviendas. No se contempla ningún uso adicional al residencial, lo que influye negativamente en el éxito del proyecto. Este, menoscabado ya por no estar abierto a los flujos externos aunque fueran sólo de paso, ve en la falta de usos adicionales otra lacra. III. Encuadre urbano y Movilidad (fig.5) De los ejemplos descritos podemos deducir que
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cuantos más límites tiene el entorno, más deben ser tenidos en cuenta en el desarrollo conceptual y geométrico del mat. Es decir, el primer ejemplo analizado (Toulouse-Le Mirail) propone un tipo de alfombra basada en la agregación de un módulo: los arquitectos crean una superficie a partir de un tipo. En este caso, tal elección no crea “problemas”: límite y tipos nacen de la misma mano. En cambio, la alfombra de Morphosis, aunque nazca de un razonamiento tipológico y funcione desde un punto de vista geométrico y de espacios interiores, colocándose dentro de un perímetro determinado, genera una serie de espacios perimetrales “de nadie”. Un ejemplo híbrido en este sentido es el Nexus World: OMA, uniendo las cualidades mat a un perímetro urbano, asume las excepciones tipológicas para encontrar el equilibro con su entorno. Definitivamente el sistema, dentro de un contexto urbano definido, tiene que ser cerrado para encontrar su perfección. Si la relación entre las partes es la llave para el éxito formal de un mat, hay que tener en cuenta que este concepto también es válido en lo tocante a la ciudad. Los sistemas mat analizados se conectan a la ciudad de diferentes formas. Toulouse-Le Mirail crea un perímetro verde con puertas de acceso por las que el tráfico automovilístico se transforma en flujo peatonal. La Kasbah no necesita transformar los flujos sino que los controla definiendo dos ejes de tráfico automovilístico y cuatro peatonales: su geometría compleja fortalece finalmente las conexiones con la red urbana. Las ocasiones perdidas se ponen de manifiesto cuando el proyecto, por motivos muchas veces no arquitectónicos, no logra hacer confluir dentro del mat flujos externos. Es el caso de Carabanchel 11 donde la gran avenida central se cierra con dos verjas, dando lugar así a un mat que pierde fuerza a nivel urbano. Módulo, geometría, crecimientodecrecimiento-cambio (fig.6) Hemos clasificado los mat-housing como sistemas de crecimiento iterativo cuya característica es poder crecer, decrecer o mutar en el tiempo. Estas acciones pluridireccionales permiten que el sistema se modifique en cualquier dirección: exterior o interior o sobre sí mismo. La geometría modular del edificio y las partes que lo forman son la base de sus posibilidades de cambio: cuanto más geometrizado sea el sistema, mayores serán las diferentes oportunidades de cambio. Los ejemplos han evidenciado que, al insertarse en un tejido urbano compacto, presentan limitaciones:
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la estructura será infinita solo en potencia, ya que existen unos límites que encierran al sistema. Visto que la operación de crecimiento externo es difícil, el mat tiene que mirar dentro de sí mismo: las tres operaciones −crecimiento, decrecimiento y cambio− tienen que poder ser realizadas hacia el interior del sistema. Son quizás estas características las que hoy continúan siendo actuales. En este sentido, sería interesante pensar en sistemas que solucionen el perímetro, tomándolo como límite físico no sobrepasable, y que a partir de ahí se desplieguen hacia el interior. En definitiva la estructura mat se prestaría bien −al menos teóricamente− para interpretar los cambios de la sociedad contemporánea. Espacios intermedios y accesos (fig.7) Proyectar espacios intermedios de calidad tiene un gran peso específico en la bondad final de un mat-housing. Los ejemplos analizados proponen diferentes espacios intermedios, condicionados y diseñados, en parte, por la geometría del sistema. El más simple es quizás el de Toulouse-Le Mirail, donde la transición del espacio público al privado tiene lugar atravesando dos niveles: el tejido peatonal interior y las plataformas de los accesos a las viviendas. El de la Kasbah es un espacio de relación jerarquizado en sus áreas y recorridos. Morphosis propone un sistema basado en la alternancia de calles interiores y plazas. En el caso de Toulouse-Le Mirail, de Kasbah y de Nexus World, los espacios intermedios son “externos” a la construcción o, en todo caso, su organización se da en diferentes niveles. En el caso de Morphosis los espacios intermedios son “interiores” al tejido. No se puede establecer cuál de estas soluciones es la mejor: lo importante es que existan estos espacios y que sean de calidad. Convivencia de usos (fig.7) En Toulouse-Le Mirail no hay ninguna convivencia de uso: los arquitectos aislaron el conjunto para convertirlo en una “isla residencial tranquila”, así que en las calles interiores al sistema no hay circulación de personas externas al barrio, lo que lo convierte en un gueto, aunque sea de lujo. El proyecto Kasbah, en cambio, propone en la planta baja usos comerciales y servicios comunitarios que, mezclándose con la red de espacios intermedios, crean un espacio complejo y seguro. El Nexus World exterioriza sus funciones públicas ubicándolas en el perímetro evitando así probables problemas de gestión debidos a la mezcla entre público y habitantes.
Morphosis no propone ningún tipo de función que no sea residencial. La planta baja, siendo un perímetro duro, reduce la calidad del proyecto y lo convierte en una isla monofuncional. VI. La sensibilidad contemporánea, volcada hacia la sostenibilidad medioambiental, la eficiencia energética y el empleo del suelo, ha renovado el interés por el mat que aun se percibe como un sistema-instrumento capaz de dar espacio a los cambios de costumbres y escala que se producen en la cultura del consumo. Si en su tiempo el mat fue la respuesta estructuralista a la separación urbana de usos y a la segregación arquitectura-urbanismo, ahora que sus objetivos se han multiplicado se percibe como un probable sistema capaz de interpretar y gestionar los cambios generados por la sociedad contemporánea.
MONTANER, J.M.; MUXÍ, Z.; FALAGÁN, D.H. y MÁSTER LABORATORIO DE LA VIVIENDA DEL SIGLO XXI, 2011. Herramientas para habitar el presente: la vivienda del siglo XXI = Tools for inhabiting the present: housing in the 21st century. Barcelona: Máster Laboratorio de la vivienda del siglo XXI. SMITHSON, A., 1974. “How to recognise and read mat-building: mainstream architecture as it has developed towards the mat-building”, en Architectural Design, n° 9. UNIVERSITAT POLITÈCNICA DE CATALUNYA, 1997. DPA: documents de projectes d’arquitectura.
Su flexibilidad de uso y de mixtura de programa, unida a la indeterminación formal, funcional y dimensional pueden ser una respuesta a las necesidades urbanas que piden sistemas fluidos y dinámicos.
Fig.1a: Vista aérea http://www.bing.com/ mapspreview
La contemporaneidad no necesita una solución “ideal”, generadora de inflexibilidad, sino una propuesta dinámica, irisada, de acuerdo con la realidad urbana y social. Para conseguir esta característica el arquitecto no solo tiene que poner reglas sino también explotar el rasgo característico del mat y los discursos que giran a su alrededor: la indeterminación.
Fig.1bc: CANDILIS, G.; JOSIC, A. y WOODS, S., 1976. Toulouse-Le Mirail: el nacimiento de una nueva ciudad. Barcelona: Gustavo Gili, pp.41-42.
BIBLIOGRAFIA Housing sociale a Madrid, Spagna = Public housing at Carbanchel 11, Madrid, Spain. 2009. Industria delle costruzioni, 43(407), pp. 34-41. “Viviendas en Carabanchel, Madrid (España) = Housing in Carabanchel, Madrid (Spain): Morphosis & Díaz-Urgorri”. 2007. AV monografías = AV monographs, (126), pp. 66-[73]. BLOM, P. y HENGEVELD, J., 2008. Piet Blom. Amsterdam: Hengeveld Publicaties. CANDILIS, G.; JOSIC, A. y WOODS, S., 1976. Toulouse-Le Mirail: el nacimiento de una nueva ciudad. Barcelona: Gustavo Gili. HYDE, T. “How to construct an architectural genealogy”, en SARKIS, H., ALLARD, P. y HYDE, T., 2001. Le Corbusier’s Venice Hospital and the Mat Building Revival. Munich: Prestel.
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Fig.2a: Cortesía de Siebe Swart. Fig.2b: Cortesía de Lourens Huizinga. Fig.2c: BLOM, P. y HENGEVELD, J., 2008. Piet Blom. Amsterdam: Hengeveld Publicaties.
Fig.3abc: Cortesía de OMA (fotografías de Hiroyuki Kawano).
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Fig.4abc: Housing sociale a Madrid, Spagna = Public housing at Carbanchel 11, Madrid, Spain. 2009. Industria delle costruzioni, 43(407), pp. 34-41.
Fig.5ac: Vistas http:// www.bing.com/ mapspreview Fig.5b: https:// tresyuna.wordpress. com/2010/06/15/ japon-fukuoka-2/
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Fig.6a: CANDILIS, G.; JOSIC, A. y WOODS, S., 1976. Toulouse-Le Mirail: el nacimiento de una nueva ciudad. Barcelona: Gustavo Gili, pagina 40. Fig.6b: https:// atfpa3y4.wordpress. com/2014/03/05/thekasbah-helgelo-holandapiet-blom-1974/ Fig.6c: Cortesía de Giacomo Beccari.
Fig.7a: Vista aérea http://www.bing.com/ mapspreview Fig.7b: Cortesía de Lourens Huizinga. Fig.7c: Housing sociale a Madrid, Spagna = Public housing at Carbanchel 11, Madrid, Spain. 2009. Industria delle costruzioni, 43(407), pp. 34-41.
GRAZIANO BRAU PANI grazianobpani@gmail.com Arquitecto (UNISS 2010), Master MLVSsXXI (2013). Ha obtenido diferentes premios y menciones en diferentes concursos de arquitectura: Primer premio Concurso Benimaclet (Valencia 2015), Primer premio Concurso Mesh (Medellin 2014), Primer premio concurso RIUSO (Bologna 2014 y 2015), Primer premio y menciones en Rethinking the future. En el 2011 crea el Laboratorio Habitat XXI con el cual desarrolla su actividad didáctica en diferentes escuelas secundarias italianas. Ha participado a la
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exposición PISO PILOTO organizada por el CCCB en Barcelona y Medellín. Ha trabajado en diferentes despachos: MIAS Arquitectes (Barcelona), Studio Solmona&Vitali (Sassari), Montaner-Muxi Arquitectes (Barcellona). Colabora con el arquitecto David H.Falagan.
1. TEORIA E HISTÓRIA DA HABITAÇÃO COLETIVA | TEORÍA E HISTORIA DE LA VIVIENDA COLECTIVA
Rafaela Nunes Mendonça | Simone Barbosa Villa | Uberlândia, Brasil OS MODOS DE MORAR EM APARTAMENTOS MÍNIMOS CONTEMPORÂNEOS: Análises e reflexões para obtenção de sua qualidade
RESUMO: Atualmente, o fenômeno da minimização das habitações coletivas verticais, não se restringe apenas à moradia de baixa renda, podendo ser visto em imóveis cujos valores são altos. O problema que há em comum, é a maneira insatisfatória e inadequada com que tentam responder aos modos de morar contemporâneos. Este artigo apresenta os principias resultados da pesquisa de mestrado “Os modos de morar em apartamentos mínimos contemporâneos: o papel requalificador do design nos espaços residenciais” desenvolvida no Programa de Pós -Graduação em Arquitetura e Urbanismo-Faculdade de Arquitetura Urbanismo e Design-UFU, financiada pela FAPEMIG. Tem como objetivo principal analisar as inadequações geradas pela minimização de habitações coletivas verticalizadas (apartamentos), seus efeitos sobre os modos de morar, indicando parâmetros que norteiem a melhoria da qualidade funcional destes espaços, através de uma relação mais intensa entre o design e a arquitetura. Os procedimentos metodológicos utilizados na pesquisa foram: pesquisa bibliográfica para fundamentação, pesquisa analítica e pesquisa empírica, com objetos de estudo, na cidade de Uberlândia e nos empreendimentos lançados nela, entre os anos de 2010 e 2015, destinados à classe média. Os principais resultados apontam as demandas da sociedade contemporânea, num paralelo entre o Brasil e Uberlândia, no que diz respeito aos hábitos, costumes e, sobretudo, dados demográficos dos
variados perfis familiares e como ocorre a lotação dos domicílios, na cidade. Estes dados fomentam análises dos apartamentos frente à critérios de uso, flexibilidade, adequação, apropriação, privacidade e ergonomia, considerados conceitos fundamentais de qualificação da habitação aos moradores e seus diferentes hábitos domésticos, sendo seu foco a relação entre o espaço, arranjo e ações dos usuários. O intuito é nortear ações mais conscientes de arquitetura e design, frente aos aspectos sociais, culturais e demográficos, onde estão imersos os usuários, para que sejam realizadas proposições de arranjo da moradia. Acredita-se que ações de design, como a parametrização de móveis e equipamentos que atendam aos conceitos de uso e flexibilidade, são colaboradoras para que a habitação torne-se coerente ao seu destino, de relação saudável entre lar e morador. A MINIMIZAÇÃO DOS APARTAMENTOS E DEMANDAS DA SOCIEDADE A questão que assegura o princípio dessa discussão é se os edifícios residenciais permanecem essencialmente imóveis diante as modificações da sociedade, que refletem nos modos como os indivíduos moram e organizam-se na habitação. É necessário que, aquilo que envolve a habitação, seja planejado a fim de corresponder à experiência do homem pelos artefatos construídos, ou seja, possibilitar diante o passar do tempo à interface saudável entre homem-objeto-espaço1.
1 BARROS, R.R.M.; PINA, S.A.M.G. (2012). Sinfonia inacabada da habitação Coletiva: lições a partir do PREVI para uma arquitetura de possibilidades. Porto Alegre: Ambiente Construído, v. 12, n. 3, p. 7-26, jul./set. FOLZ, R. R (2008). Projeto tecnológico para produção de habitação mínima e seu mobiliário. 373 f. Tese. São Carlos: Universidade de São Paulo. BRANDÃO, D.Q.(2003). Tipificação e aspectos morfológicos de arranjos espaciais de apartamentos no âmbito da análise do produto imobiliário brasileiro. Porto Alegre: Ambiente Construído, v. 3, n. 1, p. 35-53. 2 VILLA, S.B.(2008) Morar em apartamentos. A produção dos espaços privados e semi-privados nos edifícios ofertados
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pelo mercado mobiliário no século XXI em São Paulo e seus impactos na cidade de Ribeirão Preto. Critérios para avaliação pós-ocupação. Tese. São Paulo: Universidade de São Paulo. 3 PALERMO, C.(2009). Sustentabilidade social do habitar. Florianópolis: Edição da autora. 4 IBGE- INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (2014). Síntese de Indicadores Sociais: Uma análise das condições de vida da população brasileira 2014. Estudos e Pesquisas, Informação Demográfica e Socioeconômica número 34. Rio de Janeiro. 5 Pesquisa financiada pelo CNPq (Demanda Universal), desenvolvida de 2012 a 2014, no [MORA] Pesquisa em Habitação do Núcleo de Pesquisa em Projeto de Arquitetura da FAUeD-UFU. O objetivo foi realizar um diagnóstico da qualidade espacial e ambiental em edifícios de apartamentos destinados à classe média e lançados pelo mercado imobiliário em cidades de médio-porte brasileiras (Ribeirão Preto – SP e Uberlândia – MG). 6 Double Income and No Children- Dupla Renda e Nenhum Filho.
Tão importante ainda são mudanças ocorridas devido à forte influência do mercado imobiliário. Pode-se afirmar que o mercado apresenta-se como agente modificador, trazendo como aspectos negativos, ações tomadas com base em interesses particulares, muitas vezes dos detentores do maior poder financeiro. Um exemplo notório de como os interesses externos sobressaem à particularidade de exigências dos usuários, é a forte massificação de padrões habitacionais e a mimese desses modelos em todo território nacional, além da repetição de modelos tripartidos remotos, que conservam excessiva compartimentação, estanqueidade e inflexibilidade dos espaços internos2. A minimização das habitações é vista como solução, aparentemente econômica, mas, desponta em projetos rígidos, desconsiderando características culturais, de hábitos e costumes dos usuários, acarretando problemas na qualidade da moradia, especialmente em relação à usabilidade e difícil apropriação do espaço3. A superestimação dos imóveis e a escassez de terrenos são colaboradores para esse fenômeno. Entretanto, existem consumidores com preferências por apartamentos menores, cujos motivadores são mudanças no perfil demográfico do país e mudanças de hábitos e cultura dos indivíduos. Mas, para os empreendimentos lançados, principalmente para a classe média, tais modificações estão realmente sendo consideradas? Villa2 afirma que, os agentes imobiliários respondem a essas necessidades de uma maneira maquiada e pouco convincente, percebendo que a publicidade opera muito mais incisivamente, no sentido de transformar desejos em necessidades. Segundo pesquisas demográficas e socioeconômicas realizados pelo IBGE4, as transformações nas características das famílias, são fundamentais, dado o papel essencial que ela assume na dinâmica de reprodução das condições materiais e subjetivas de vida da população. Novas formas de organização estão surgindo no bojo destas mudanças estruturais, passando a coexistir de forma significativa com formações similares à tradicional família nuclear, constituída por casal com filhos. São exemplos mais notados os perfis: unipessoais, casal sem filhos e monoparentais, além da família nuclear, que já não se encontra mais aos moldes tradicionais, apresentando mudanças de papeis dos indivíduos que a compõe, assim como em número de integrantes. Vários fatores cooperam para esta dinâmica, desde a diminuição das taxas de fecundidade, até questões ligadas à longevidade, relações de nupicialidade e relações de gênero, relacionadas ao papel social e cultural dos homens e das mulheres segundo as diferenças de sexo.
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Todo exposto nos provoca uma inquietação frente à exiguidade das áreas dessa habitação, que se apresentam excluídas de revisões projetuais, em relação às soluções espaciais dos apartamentos, além do emprego do tradicional modelo habitacional tripartido. INADEQUAÇÕES GERADAS PELA MINIMIZAÇÃO Para verificação das inadequações geradas pela minimização, foram analisados dois exemplares, situados em Uberlândia- MG. Contudo, serão apresentados os resultados das análises feitas sobre um desses exemplares, considerando a maior exiguidade de área e maiores problemas em relação aos conceitos qualificadores da habitação. Para tanto, apoiou-se em pesquisas bibliográficas e documentais, consultas e análises de dados dos documentos da pesquisa “HABITAR VERTICAL Avaliação da qualidade espacial e ambiental de edifícios de apartamentos”5. Também contou com a metodologia de Avaliação Pós-ocupação e o método observacional como complementação, a partir do momento em que, dentre as atividades realizadas, foi possível o contato com moradores do edifício, e a observação dos fatos de maneira natural, verificando os usos da habitação de acordo com seus modos de vida, hábitos e costumes, bem como os perfis familiares e aspectos sobre a relação de identificação dos moradores com a moradia e seu conjunto de equipamentos e mobiliário. Foram seguidos os seguintes critérios: tipologia de dois dormitórios; (ii) classe social a que se destina (classe média); menor área útil dentre a média de 66,95m²; valor médio do metro quadrado até R$2 mil/m² (referência 2014); variação tipológica: dois quartos, sem suíte; abrangência da construtoraalcance nacional. A primeira característica, geral e por sua vez condicionante, trata da identificação do perfil familiar. A cidade de Uberlândia apresenta uma predominância da família nuclear. Contudo, esse perfil tem “perdido as forças” e dividindo sua posição com outros arranjos familiares, especialmente os arranjos de casais DINC6, famílias monoparentais e pessoas sozinhas. Observa-se que, as famílias nucleares presentes no edifício, são caracterizadas em sua maioria, por serem compostas por jovens casais. Mesmo havendo intenção em formar uma família, nota-se a predominância de cerca de dois moradores por apartamento, o que reafirma os dados estatísticos sobre a distribuição de moradores por
domicílio, bem como o perfil familiar DINC. Outra característica observada foi a faixa etária dominante entre moradores, que está entre 20 e 40 anos. Em geral, são pessoas que adquiriram seu primeiro imóvel e o consideram como próprio, ainda que uma boa parcela o tenha adquirido por meio de financiamento e ainda não o tenha quitado. O que chama a atenção é que, quando interrogados sobre a satisfação com o imóvel ou sobre as pretensões de futuro na moradia, principalmente os mais jovens e os recém-casados, afirmavam o desejo de adquirirem um imóvel maior ou de o perceberem como solução provisória até que se consiga adquirir um espaço maior, especialmente uma casa. Segundo Villa e Saramago7, são apartamentos caracterizados e amplamente divulgados pela imprensa como “primeiro imóvel”. No entanto, apesar da demonstração de tal desejo e das muitas inadequações e dificuldades de uso e adaptação, muitos se diziam satisfeitos e felizes por possuir sua casa própria. Isso demonstra que esses moradores sustentam suas satisfações mais no fator cultural brasileiro que enfatiza como prioritária a aquisição da casa própria, como sinônimo de estabilidade financeira e familiar, qualidade de vida e segurança, que de fato em um reconhecimento racional dos aspectos de qualidade e condições de sustentabilidade que o imóvel detém aos seus modos de morar. ANÁLISES Os principais resultados encaminharam para as análises gráficas, permitindo quantificar e transformar em dados relacionados ao desempenho de conceitos qualificadores da habitação. Considerou-se os primeiros dados transparecidos pelo material de divulgação do empreendimento. Sendo assim, o apartamento propõe atender um grupo máximo de quatro moradores, supondo um perfil familiar composto por casal e duas pessoas, teoricamente dois filhos. Sabendo que, a composição dos arranjos familiares é vasta e variável, a proposta de layout poderá sofrer alterações de acordo com cada agrupamento doméstico. Por isso, o estudo se concentra em analisar o desempenho de cada conceito qualificador ao atender o arranjo, ou simplesmente a lotação proposta pelo layout. Assim, o primeiro conceito a ser analisado é o de uso8. Acreditando que dele se desencadeiam os demais conceitos e que todos, de certa forma, se relacionam ou até mesmo mantêm interdependência. As análises partem da associação de usos prováveis
e mínimos esperados, para constatar se o conjunto de equipamentos e mobiliário é compatível aos usos mínimos. Indicar zonas críticas de sobreposição das dimensões físicas e de uso desses componentes no espaço, considerando para a construção do layout, o levantamento dimensional de móveis e equipamentos existentes no mercado, inclusos na pesquisa gênese deste artigo. O conceito de flexibilidade9 relaciona-se ao processo construtivo, à tecnologia, à usabilidade, funcionalidade e adaptabilidade. Para que a flexibilidade seja construída, existem elementos facilitadores10, que quando tomados em ações conjuntas, são efetivos para a construção de espaços e arranjos dotados de flexibilidade. Sendo assim, as análises foram construídas considerando os elementos facilitadores de flexibilidade. Quando existentes, estão representados inseridos na planta, em cada cômodo, indicando qual dos elementos podem existir nos espaços. Os não existentes se encontram sinalizados e não contidos no desenho da planta. São ainda sinalizados, os pontos críticos do espaço com relação à flexibilidade. Ou seja, os pontos de inflexibilidade, que correspondem a aspectos e elementos que não condizem, não são facilitadores e, por sua vez, não se relacionam aos partidos de flexibilização. Relacionado ao aperfeiçoamento, o conceito de adequação11 é tratado sob a perspectiva de quanto o espaço é dotado de agradabilidade, espaciosidade, usabilidade, segurança e mobilidade. Dentro do fator agradabilidade, estão aspectos de conforto acústico, térmico e visual. Entretanto, o interesse aqui é analisar questões ligadas aos aspectos de usabilidade, que envolvem adaptabilidade aos modos de vida, conforto do corpo e segurança, no que diz respeito a acidentes motores e fatores que envolvem o psicológico do usuário, como proteção contra invasores, que relaciona-se à noção de privacidade. Assim como, questões de acessibilidade também relacionadas aos fatores de ergonomia. As análises foram construídas tomando os aspectos considerados como contribuintes para a adequação, indicando para cada cômodo, quais os principais aspectos deveriam estar presentes e qual o nível de dificuldade que o ambiente tem em atendê-los. Também se faz uma leitura de pontos críticos, representados pelas cores e suas intensidades onde existe maior inadequação partindo da percepção de que esses problemas estão ligados aos fatores de dimensões de uso.
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7 VILLA, S.B. ; SARAMAGO, R.C.P.(2014) A Qualidade Espacial e Ambiental de edifícios de apartamentos em cidades médias. In: III Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pósgraduação em Arquitetura e Urbanismo, 2014, São Paulo. Anais do III ENANPARQ: arquitetura, cidade e projeto, uma construção coletiva. São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie. v.1. p.1-18. 8 BOUERI, J.J.(2014). Roteiro: dimensionamento da habitação. Notas de aulas. São Paulo: FAU-USP. KENCHIAN, A.(2011). Qualidade funcional no programa e projeto da habitação. Tese. São Paulo: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo PEDRO, J.B(2014). Programa habitacional. Espaços e compartimentos. Lisboa: Lenec. 9 SCHNEIDER, T.; TILL,J(2005). Flexible housing: opportunities and limits. Architectural Research Quarterly, vol. 9, n. 2. p. 157-166 SCHNEIDER,T.; TILL, J(2005). Flexible housing: the means to the end. Architectural Research Quarterly, vol. 9, n. 3/4. p. 287-296.
10 ABREU, R.(2005). Estratégias de flexibilidade na habitação coletiva: o caso holandês. Lisboa: Universidade Técnica de Lisboa. 11 PEDRO, J.B(2014). Programa habitacional. Espaços e compartimentos. Lisboa: Lenec. BOUERI, J.J(2008). Espaço mínimo e avaliação dimensional da habitação. Apostila. São Paulo: FAUUSP. HERTZBERGER, H(1996). Lições de arquitetura. São Paulo: Martins Fontes. 12 BOUERI, J.J(2008). Antropometria Aplicada à Arquitetura, Urbanismo e Desenho Industrial. São Paulo: Estação das letras e Cores. PANERO, J.; ZELNIK, M(2002). Dimensionamento humano para espaços interiores: Um livro de consulta e referência para projetos. São Paulo: G.Gilli. 13 PEDRO, João Branco (2002). Programa habitacional. Habitação. Lisboa: Lenec. 14 SANTOS, S.H(2009). Sociedade de controle: a perda da privacidade a partir dos avanços tecnológicos. Curitiba: Intercom- Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. PEDRO, João Branco (2002). Programa habitacional.
A análise sobre ergonomia, ciência da interface homem-objeto-atividade12, parte de cinco aspectos que se dirigem mais ao espaço, por ser esse o problema maior das análises. São eles: agrupamento de usuários - perfil familiar que o espaço se compromete a atender; circulação - entre pessoas, móveis/equipamentos, espaços; dimensões físicas e de uso do mobiliário e equipamento; quantidade do mobiliário, se há mobiliário suficiente ou dispensável para atender as ações; e por fim, tempo necessário para o uso, que considera qual a frequência de utilização do espaço e seu conjunto de equipamentos e mobiliário, e tempo de permanência para a efetivação das atividades de uso. Assim, estão indicados, para cada cômodo, os níveis de dificuldade em atender cada um desses aspectos, com exceção do aspecto de tempo, onde se indicam os níveis de permanência e frequência de uso, numa escala que vai de muito à pouco -tempo, embora essa indicação possa variar de acordo com os hábitos de cada grupo de usuários, foi considerado de forma empírica e com bases nos resultados das APO realizadas. Também estão indicados pontos de dificuldade de atendimento às questões de desempenho ergonômico. O conceito de apropriação14 integra o grupo relacionado à subjetividades do usuário, sendo visto como aquele capaz de atender o usuário na realização de intervenções de personalização e/ou conformação aos modos de vida e particularidades. Está também, relacionado aos conceitos e noções de uso, adequação e flexibilidade. No intuito de traduzi-lo objetivamente, para leitura analítica dos aspectos críticos, foram consideradas as recomendações dadas por Pedro13. Pode-se perceber que, ao elencar os aspectos contribuintes para a apropriação, muitos se comunicavam com aspectos desses outros conceitos, e por isso, até alguns ícones de representação são repetidos. Esses aspectos vão desde simples inserções de objetos pessoais, simbólicos e decorativos, até modificações no mobiliário, arranjo, na organização formal e distribuição dos cômodos e alterações de fachadas (sacadas) por meio de intervenções de cunho construtivo. Juntamente ao conceito de apropriação, a privacidade14 forma o grupo dos conceitos de caráter subjetivos. Contudo, para poder realizar as análises sobre seu desempenho na moradia, foram interpretadas as características objetivas que estivessem mais ligadas ao espaço do que aos processos psicológicos dos usuários. Ainda que seu entendimento, em caráter subjetivo, seja indiscutivelmente
Habitação. Lisboa: Lenec.
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importante, para esse estudo, a inviabilidade em abordar o assunto deve-se ao reconhecimento de que exigem-se avaliações mais profundas e complexas, com tratamento exclusivo ao tema e às metodologias e instrumentos para avaliação. Sendo assim, as análises consideram classificações de privacidade, aspectos territoriais e também de compatibilidade das atividades. Ou seja, as classificações dizem respeito ao tipo de privacidade, se visual, auditiva ou de individualidade do usuário. Aspectos territoriais são aqueles ligados às noções de espaço da habitação. Já os aspectos de compatibilidade, estão relacionados aos usos, as atividades e ações desenvolvidas em cada grupo, a fim de indicar se existem possibilidades de desenvolver diferentes ações, compartilhando do mesmo espaço. CONSIDERAÇÕES FINAIS Compreende-se que, projetar e produzir a habitação requer interdisciplinaridade e igualdade de papéis. Do arquiteto ao designer, da indústria da construção à indústria moveleira, do marketing e publicidade ao usuário, todos devem ser conscientes de seus direitos e deveres de intervenção sobre a moradia. Pensar os espaços, com vistas apenas à economia e lucro, confere evidências de que o ciclo e sistema de produção imobiliária é insustentável. É preciso reconhecer a volatilidade dos modos de morar, e isso já é frequentemente discutido e abordado em vários estudos, especialmente de arquitetura. Entretanto, esse trabalho reafirma a importância da consideração sobre as noções de uso, flexibilidade, adequação e ergonomia, assim como as de apropriação e privacidade, como parâmetros de projeto. Afinal, o ato de morar é elementar à vida humana, e são essas noções tratadas como conceitos qualificadores que constituem a habitação, dotando-a de eficiências práticas e representações simbólicas. Acredita-se que, não só a habitação, mas também seu conjunto de equipamentos e mobiliário, devem ser pensados e construídos sob a orientação desses parâmetros, igualmente.
Fig.1: Modelo tripartido aplicado em apartamentos contemporâneos.
Fig.2: Unidade analisada.
Fig.3: AnĂĄlise de usos.
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Fig.4: Análise de flexibilidade.
Fig.5: Análise de adequação.
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Fig.6: Análise de ergonomia.
Fig.7: Análise de apropriação.
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Fig.8: Análise de privacidade.
RAFAELA NUNES MENDONÇA rafaelanunes.r@gmail.com
SIMONE BARBOSA VILLA simonevilla@yahoo.com
Mestranda, bolsista- FAPEMIG, pelo Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Uberlândia. Graduada em Design pela Universidade Federal de Uberlândia (2011). Atualmente dedica-se à pesquisas a cerca do design como ferramenta estratégica para requalificação de ambientes. Desenvolve pesquisas nos projetos de pesquisa: [COMO VOCÊ MORA?] SISTEMA INTERATIVO DE AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO DA QUALIDADE DO HABITAR EM MEIOS DIGITAIS e [HABITAR VERTICAL] Avaliação da qualidade espacial e ambiental de edifícios de apartamentos em cidades médias.
Doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (2008). Professor Adjunto IV da Universidade Federal de Uberlândia da Faculdade de Arquitetura, Urbanismo e Design. Professora do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAUeD/UFU. Coordenadora do [MORA] Pesquisa em Habitação - CNPq. Tem experiência na área de Habitação, Processo de Projeto, Avaliação Pós-Ocupação. Autora do livro “Qualidade Ambiental na Habitação: avaliação pós-ocupação”. Têm publicado diversos artigos científicos sobre as temáticas: habitação de interesse social, avaliação pós-ocupação, processo projetual, edifícios de apartamentos nos principais eventos da área nacional e internacional.
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1. TEORIA E HISTÓRIA DA HABITAÇÃO COLETIVA | TEORÍA E HISTORIA DE LA VIVIENDA COLECTIVA
Denise Antonucci | São Paulo, Brasil ARQUITETURA E HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL A Produção Estatal da Moradia em São Paulo
A questão da habitação social é um problema constante no quadro urbano, desde o início da formação da metrópole paulistana.
e da Superintendência de Habitação Popular de São Paulo (HABI-SP). Atualmente em concomitância com o Programa Minha Casa Minha Vida.
O déficit habitacional brasileiro é um dos maiores problemas a ser enfrentado pela administração pública. Segundo a Fundação João Pinheiro, o déficit habitacional do país, estimado em 2012, era de 5,450 milhões de domicílios, sendo a maioria localizada em áreas urbanas.
Independentemente do órgão responsável pela implementação da política habitacional, na maioria dos casos, o padrão das habitações mantém-se aquém do desejável, excludente e segregador. Os conjuntos habitacionais localizam-se predominantemente na periferia, em locais desprovidos de infraestrutura, onde o preço da terra é mais baixo (SPOSATI, 2001) ou não desperta interesse do setor imobiliário. Esta afirmação esclarece o equívoco das autoridades e dos demais empreendedores. Na realidade, o custo do empreendimento acaba sendo muito maior devido ao alto custo de implantação de infraestrutura, visto que as áreas utilizadas estão sempre distantes das redes coletoras e distribuidoras existentes.
As regiões metropolitanas concentram 28,5% das carências. Destaque-se que famílias com renda até cinco salários mínimos representam a quase totalidade do déficit brasileiro. Ainda segundo a Fundação João Pinheiro, mais de 90% deste déficit é composto pela demanda por moradia de famílias com renda familiar mensal de até três salários mínimos. A população, geralmente desprovida de recursos financeiros para obtenção de moradia digna, é impelida a morar em áreas desprezadas pelo mercado, por questões geotécnicas ou por questões de localização. As políticas públicas habitacionais, os investimentos e os planos de gestão foram e vêm sendo desenvolvidos e aplicados no âmbito federal pela Caixa Econômica Federal (CEF); no âmbito estadual pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU); e na esfera municipal pela Secretaria da Habitação e Desenvolvimento Urbano do Município de São Paulo, através da Companhia Metropolitana de Habitação da São Paulo (COHAB-SP)
Apesar de inúmeros problemas, verifica-se que a participação da universidade tem sido tímida, face à importância do assunto, na busca de soluções concretas para a questão habitacional. Nesse sentido procuramos desenvolver esta pesquisa sobre a temática da habitação social, visando estabelecer uma reflexão crítica sobre sua produção em São Paulo, no decorrer do século XX. Um dos períodos abordados refere-se ao debate sobre habitação social na Era Vargas, a criação e a produção dos Institutos de Aposentadoria e Pensão IAPs. Os arquitetos que então atuavam, tinham pleno conhecimento da produção arquitetônica europeia,
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por meio de congressos e debates. A realização dessas obras foi canalizada para as carteiras prediais dos IAPs. Para Bruna (2010), esses são os primeiros e verdadeiros arquitetos modernos brasileiros, preteridos pela arquitetura moderna estética. O período subseqüente é o referente à era do Banco Nacional de Habitação - BNH, desde a sua criação em 1966, até a sua extinção em 1985. Neste período os conjuntos habitacionais, em geral, não apresentam grande relevância arquitetônica, repetindo monótonos modelos, sempre implantados nas áreas periféricas das metrópoles. O final do século XX foi marcado por um fraco desempenho das políticas habitacionais aplicadas, até a criação do Ministério das Cidades, em 2003, que veio dar um novo impulso à questão da habitação social. PRODUÇÃO ESTATAL DA MORADIA Era Vargas e Atuação dos IAPs A moradia assume papel fundamental no discurso do Estado Novo. A construção de habitações populares se inseriu no âmbito das tendências populistas que marcaram a ação do governo após 1930, esboçando políticas de bem estar social. No período Getúlio Vargas (1930 – 1945), a habitação social foi considerada condição básica para a reprodução da força de trabalho visando à industrialização do país. Deveria ser destinada ao homem novo para uma nova nação (Bonduki 1998, p. 73): Vargas reorganiza o setor previdenciário, criando os Institutos de Aposentadorias e Pensões, que foram estruturados com base em contribuição tripartite, divididos por categorias profissionais. Entre 1933 e 1938, foram criados cinco institutos: bancários, comerciários, industriários, condutores de veículos e empregados de empresas de petróleo e estivadores. O período compreendido entre 1930 e 1955 foi marcado pela intervenção do Estado na economia, com uma política de substituição de importações. Segundo Werna et al (2001, p. 110) o processo de urbanização se intensificou aumentando o número de sub-habitações. A partir de 1937, surgem as condições para a atuação dos IAPs no campo habitacional. Foram definidos planos de financiamento de habitação, desde a locação e venda das unidades até empréstimos hipotecários. Foram instituídas condições para que os Institutos destinassem 50% de suas reservas na promoção de habitação, que os tornaram essenciais para a viabilização das incorporações imobiliárias.
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Os conjuntos residenciais dos IAPs apresentavam novas tipologias arquitetônicas, inovação urbanística, aliando qualidade a baixo custo. Segundo Farah (1984), entre 1937 e 1964, construíram 123.995 moradias, destinadas principalmente ao aluguel. As operações imobiliárias baseavam-se nos planos: locação ou venda de unidades em conjuntos residenciais; financiamento aos associados para aquisição de moradia ou construção em terreno próprio; empréstimos hipotecários feitos a qualquer pessoa física ou jurídica (Bonduki, 1998, p. 104). A atuação dos institutos no setor permaneceu restrita e insuficiente. Os IAPs não eram órgãos de habitação, mas, reuniam tal volume de recursos, que sofreram pressão inevitável para que fossem destinados à habitação social (Bonduki, 1998, p. 111). O fim do governo Vargas, interrompeu um processo institucional ideal para a criação de política habitacional: recursos vultosos e reestruturação dos IAPs, unificados no Instituto de Serviços Sociais do Brasil (ISSB); financiamento de política universal de habitação; capacitação técnica, comprovada pela qualidade dos projetos; reconhecimento da importância da questão, pressão social, acelerando produção habitacional; vontade política de priorizar a questão. Como os IAPs ficaram sobrecarregados, o presidente, Eurico Gaspar Dutra, cria, em 1946, a Fundação da Casa Popular “com a intenção de reunir as atividades de diferentes agências envolvidas na produção de residências de baixo custo” (WERNA et al, 2001, p. 111). Seu alcance foi deprimente: apenas 143 conjuntos em 18 anos de existência enquanto os IAPs, no mesmo período, produziram 123.995 unidades habitacionais (BONDUKI, 1998, p. 115). A Fundação da Casa Popular não possuía fontes de recursos, dependendo exclusivamente de dotações orçamentárias e da boa vontade do governo (RIBEIRO e AZEVEDO, 1996, p. 76). Malgrado a descontinuidade política, a produção de habitação social não foi irrisória, em especial os conjuntos residenciais do IAPI, que apresentavam importantes resultados arquitetônico, urbanístico e social. Do ponto de vista qualitativo, essas experiências induziram uma renovação significativa da linguagem e das tipologias arquitetônicas. Os projetos “racionais”, sistemas construtivos eficientes, econômicos e nova linguagem formal evocavam novos modos de vida urbana (Figuras 1, 2 e 3).
Os arquitetos modernos conseguiram traduzir as novas formas de moradia vertical em realizações de impacto, obtendo, ao mesmo tempo, ganhos importantes em termos de qualidade e adequação às novas necessidades. A crise habitacional atingiu seu ápice no período da Segunda Guerra. O mercado rentista não atendia à demanda habitacional aliado à promulgação da Lei do Inquilinato em 1942, que reduzia os lucros dos proprietários. Assim, a população passa a morar em favelas, assentamentos e loteamentos irregulares, na periferia. A questão da habitação se politiza de tal forma que passa a ser foco das campanhas políticas. Quando Dutra vence as eleições em 1946, age rápido com relação a essa questão. O período de 1946 a 1950 foi o de maior produção dos IAPs e da FCP. Devido à falta de recursos, FCP iniciou gestões junto aos governos estaduais para tentar arrecadar impostos. No caso de São Paulo, destacou-se a Caixa Estadual de Casas para o Povo (CECAP) em 1949. Atuando efetivamente na década de 1960 (Figura 4). Segundo Werna et al (2002) em 1964 o déficit de moradias foi estimado em oito milhões de unidades no país. Neste ano, João Goulart foi deposto por golpe de estado liderado pelas forças armadas. Uma das primeiras ações da ditadura militar foi o estabelecimento do Banco Nacional de Habitação (BNH). Criação do BNH – Banco Nacional da Habitação A periodização da “Era BNH” varia segundo diferentes autores. SACHS (1999, p. 144), classifica quatro fases distintas de acordo com os programas implantados e resultados. A primeira, de 1964 a 1967, corresponde à implantação e estruturação do BNH como órgão central do SFH – Sistema Financeiro da Habitação. O segundo período, de 1967 a 1971, foi marcado por transformações no modo de funcionamento do BNH, por alargamento de suas funções e participação cada vez maior nos financiamentos dirigidos às faixas de renda alta. O terceiro período, de 1971 a 1979, corresponde à transformação do BNH em empresa pública como banco de segunda linha, além de da intensificação
de programas de desenvolvimento urbano, tais como obras de infraestrutura e equipamentos urbanos, por exemplo o projeto CURA (Comunidades Urbanas de Recuperação Acelerada). No campo da habitação popular o período se destaca pelo lançamento, em 1973, do Plano Nacional de Habitação Popular (Planhab). A intenção era eliminar o déficit em habitações para as camadas desfavorecidas construindo um milhão de unidades em 10 anos. Apenas 200 mil habitações foram construídas. O período que segue, a partir de 1979, foi marcado pela busca da legitimidade junto à população mais carente por meio da multiplicação de novos programas habitacionais. Atuação do BNH A Ditadura Militar teve por meta instituir forte presença estatal no processo de provisão habitacional. O BNH teve a incumbência de centralizar as ações do Estado relativas à produção e distribuição de unidades habitacionais. Os recursos do SFH provinham de duas fontes principais: FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - poupança equivalente a 8% da folha de pagamento; e SBPE – Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo - poupança voluntária, sob responsabilidade das Caixas Econômicas e das Associações de Poupança e Empréstimo – APE. Segundo Sachs (1999, p. 132), o SFH financiou aproximadamente 4,4 milhões de habitações entre 1964 e 1985. Os recursos oriundos do FGTS deveriam financiar as habitações sociais enquanto os recursos vindos do SBPE seriam utilizados para produção e comercialização de habitações para as classes médias. Não foi isso que aconteceu. A comparação de dados relativos à repartição dos créditos do SFH de 1964 a 1985 permite concluir que apenas 13% dos recursos foram empregados para responder às necessidades da população de baixa renda (SACHS, 1999, p. 135). Segundo Azevedo e Ribeiro (1982, p. 68), em 1965, foram criadas as COHABs – Companhias de Habitação - agentes promotores do BNH para o mercado popular - empresas de economia mista controladas pelo setor público. Entre 1970 e 1974 as COHABs passavam por uma situação financeira difícil devido à inadimplência e à crescente inflação que corroia os salários.
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1 NERY Jr, José Marinho. (2002). “Um Século de Política para Poucos: O Zoneamento Paulistano, 1886-1986”. Tese de doutorado. FAU USP, São Paulo. RIBEIRO, Luiz Cesar de Queiroz & AZEVEDO, Sérgio de. (1996). A crise da moradia nas grandes cidades: da questão da habitação à reforma urbana. Rio de Janeiro: Editora UFRJ. SACHS, Celine. (1999). São Paulo, Políticas Públicas e Habitação Popular. São Paulo: EDUSP. SPOSATI, Aldaíza. (2001). Cidade em pedaços. São Paulo: Brasiliense. WERNA, E. et al. (2001). Pluralismo na Habitação. São Paulo: Annablume. MINISTÉRIO DAS CIDADES. Caderno M Cidades HABITAÇÃO. Política Nacional de Habitação. V.4. Brasília: Ministério das Cidades, 2004.
Para tentar minimizar o problema financeiro, o BNH passou a financiar edifícios para a população de maior poder aquisitivo buscando diminuir riscos e manter o equilíbrio financeiro.
adotadas pelo Ministério.
A fim de solucionar impasses e problemas de infraestrutura, os poderes públicos criaram os programas: PROFILURB, em 1975, PROMORAR em 1979 e João de Barro em 1984.
A Conferência Nacional das Cidades foi realizada em Outubro de 2003 e resultou em Nova Política Nacional de Habitação, documento em que são apontados os principais problemas existentes, as distorções no modelo institucional e financeiro em vigor e em seguida é detalhado o Sistema Nacional de Habitação (SNH).
BNH em São Paulo Após a criação do BNH e do SFH em 1964 e, posteriormente, à aprovação da Lei Geral de Zoneamento de São Paulo, em 1972, o mercado imobiliário altera sua forma de atuação, utilizando recursos originalmente destinados à produção de habitação de interesse social.
Segundo Ermínia Maricato1, a Nova Política Habitacional levou em consideração a necessidade de ampliar o mercado privado para a classe média e ampliar o subsídio, por meio de políticas públicas, à população cuja renda se encontrava abaixo de cinco salários mínimos, onde se concentra 92% do déficit habitacional brasileiro.
Com a crise no Sistema Financeiro de Habitação, a partir de 1974, o governo federal procurou minimizar os seus efeitos, reorientando os investimentos públicos do BNH, para programas de financiamentos voltados ao mercado popular de habitações. Com efeito, algumas empresas de construção residencial, em São Paulo, passaram a redirecionar seus investimentos, para a produção habitacional voltada a uma clientela com menor poder aquisitivo. Todavia, o zoneamento e, também, o Código de Edificações, estabeleciam padrões construtivos, para os conjuntos residenciais (R3), bastante elevados, os quais dificultavam a oferta do produto, com um preço acessível, para o segmento de mercado almejado.
Entre 2003 e 2006 o Governo Federal investiu, por meio da Caixa Econômica Federal, 32 bilhões de reais em habitação, revertendo o quadro negativo anterior. Mais de 70% desses recursos foram destinados à população de baixa renda.
Quando ocorreu um rebaixamento dos padrões urbanísticos do zoneamento, por exemplo, por meio da Lei nº 8.881/79, foi somente para atender o setor da construção civil, interessado em produzir habitações populares, em conjuntos residenciais financiados pelo BNH (Nery Jr., 2005). Ao final do BNH, as secretarias de habitação do município e do estado definem suas próprias políticas (Figuras 5 e 6). A Criação do Ministério das Cidades A criação do Ministério das Cidades se deu a partir de modelo participativo e democrático, que reconhece a atuação nas políticas públicas como direito dos cidadãos. Foi responsável pela articulação de Conferências municipais, regionais e estaduais, nas quais foram debatidos os problemas das cidades e apresentadas sugestões visando à elaboração de políticas a serem
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A transformação do marco legal para a área de habitação se deu com a aprovação da lei 11.124 ou FNHIS – Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social, que institui o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social. A obrigatoriedade de planos diretores como instrumentos para a consolidação dos princípios definidos no Estatuto da Cidade de 2001, fez com que os municípios tivessem programas e propostas para a ordenação do espaço urbano e aplicação da função social da propriedade. Com a criação do PAC – Plano de Aceleração do Crescimento – em 2007, estão previstos investimentos em habitação e saneamento até 2010. No entanto, há muito por fazer. No entanto para eliminar a carência habitacional no Brasil, seria necessário investir cerca de R$ 40 bilhões em habitação social entre 2007 e 2010 – R$ 22,8 bilhões para zerar o déficit e R$ 17,9 bilhões em novas unidades para atender o crescimento vegetativo. O que não ocorreu. CONSIDERAÇÕES FINAIS As considerações finais referem-se, em primeiro lugar, à atuação do poder público. Tanto no nível municipal quanto no estadual de São Paulo, verifica-se a adoção de sistemas de financiamento que pouco divergem dos tradicionais. Apesar da instituição de novos modos de parceria, modificando o processo de produção e gestão dos recursos, os programas governamentais local e regional pouco
exploram novas fontes de recursos. Os programas federais, apesar de abrangerem diversas facetas do problema habitacional ainda não conseguiram causar impacto suficiente para propiciar aprofundamento da análise. Já as iniciativas de ONGs, OCBs e/ou instituições privadas reconhecem que, paralelamente à falta de vontade política, a falta de capacidade financeira é um dos maiores limites para a resolução do problema. Mesmo tentando buscar meios para adquirir outros recursos, não conseguem desvencilhar-se do Estado. Fica claro, portanto, que, se as condições de mercado e do sistema financeiro atual persistirem, há uma inviabilidade econômica para o atendimento das demandas por habitações da camada da população com renda inferior a oito salários mínimos, dentro do âmbito formal da construção. Somente o grupo de construtores e loteadores informais é que parece atuar nessa área. Desse modo, conclui-se que o mercado formal necessita subsídios públicos como doação de terrenos, isenção de impostos, redução de juros etc, para suprir parte do setor habitacional.
da habitação à reforma urbana. Rio de Janeiro: UFRJ. BONDUKI, Nabil (1998). Origens da habitação social no Brasil: arquitetura moderna, lei do inquilinato e difusão da casa própria. São Paulo: Estação Liberdade. BRASIL. Ministério das Cidades. (2004) Caderno M Cidades: Habitação. Política Nacional de Habitação. V.4. Brasília: Ministério das Cidades. BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional da Habitação. (2008). Déficit Habitacional no Brasil 2006. Projeto PNUD-BRA-00/019 – Habitar Brasil – BID. Brasília, Fundação João Pinheiro, Centro de Estatística e Informação. ISBN: 978-8560133-83-3. Disponível em http://www.fjp.mg.gov. br//index.php?option=com_content&task=view&id=84&Itemid=97 BRUNA, Paulo. (2010). Os primeiros arquitetos modernos: habitação social no Brasil 1930-1950. São Paulo. EDUSP
Além disso, nas condições atuais do Brasil, para que uma política habitacional seja consistente, é necessário enfrentar um desafio quádruplo:
FARAH, Marta Ferreira Santos. (1983). “Estado, Previdência Social e Habitação”. Dissertação de Mestrado. São Paulo: FFLCH / USP.
Priorizar a produção e o financiamento de casa para os setores de menor renda;
MARICATO, Ermínia. (1997). Habitação e Cidade. São Paulo, Atual Ed.
Garantir fontes de recursos permanentes; Atuar de maneira coordenada e articulada com as políticas urbanas de maior interface com a política habitacional; Desenvolver em conjunto com a política habitacional, uma política fundiária que diminua a especulação e facilite o acesso a terra. Como segundo ponto de análise, pode-se perceber que a maioria dos conjuntos habitacionais de interesse social destinada à população de baixa renda é construída com base em um modelo padronizado, sem estudo das necessidades do futuro morador ou das características do local a ser implantado. A partir de alguns exemplos esta pesquisa busca mostrar que é possível construir habitações com qualidade arquitetônica e baixo custo. BIBLIOGRAFIA AZEVEDO, Sérgio & RIBEIRO, Luiz C. (1996). A crise da moradia nas grandes cidades: da questão
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Figura 1: Conjunto Residencial Várzea do Carmo. 1938. IAPI. Arqº Atílio Correia Lima (Fonte: autora).
Figura 2: Conjunto Residencial Anchieta (Av. Paulista). 1941. IAPB. Escritório Irmãos Roberto (Fonte: autora).
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Figura 3: Conjunto Residencial Santa Cruz (Vila Mariana). 1950. IAPI. Arq. Marcial Fleury de Oliveira (Fonte: autora).
Figura 4: Conjunto Habitacional Zezinho Magalh達es Prado. 1967 CECAP. Arquitetos Vilanova Artigas / Fabio Penteado/ Paulo Mendes da Rocha (Fonte: autora). Figura 5: Conjunto Habitacional Rinc達o (Vila Matilde). 1992. COHAB/SEHAB. Arquitetos: Padovano & Vigliecca (Fonte: autora).
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Figura 6: Conjunto Habitacional Jaraguá. 1995. CDHU. Intercontinental Engenharia Ltda.(Fonte: autora).
DENISE ANTONUCCI antonucci.denise@gmail.com Graduada (1975), mestre (1997) e doutora (2006) em Estruturas Ambientais e Urbanas pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo. Atualmente é professor adjunto I do Instituto Presbiteriano Mackenzie, professor/pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Exerceu por dois anos o cargo de Coordenador de Pesquisa da FAU - Universidade Presbiteriana Mackenzie. Possui livros (UN-Habitat) e capítulos de livros publicados, assim como artigos em Anais de Congressos (Brasil e exterior). Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Planejamento e Projeto do Espaço Urbano, atuando principalmente nos seguintes temas: habitação social, inclusão, espaço público, morfologia, assentamento humanos.
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1. TEORIA E HISTÓRIA DA HABITAÇÃO COLETIVA | TEORÍA E HISTORIA DE LA VIVIENDA COLECTIVA
Graziela de Oliveira Becker*| Porto Alegre, Brasil VILA FLORES Da produção rentista a centro cutural colaborativo
O Conjunto Vila Flores, situado na cidade de Porto Alegre, é constituído por três edificações e um pátio, em um terreno de 1.415m2. As edificações estão listadas no Inventário de Bens Imóveis do Bairro Floresta por sua importância histórica. O conjunto é testemunho de uma tipologia representativa do inicio do século XX e projeto de Lutzenberger, arquiteto autor de obras importantes na cidade, como a Igreja São José, o Palácio do Comércio e o Orfanato pão dos pobres. O terreno, localizado na esquina da Rua Hoffmann com a Rua São Carlos, possui formato retangular, com algumas angulações geradas pela malha urbana e viária (fig.1). A ocupação do terreno é periférica, constituída por duas edificações semelhantes de mesmo porte que se dispõe perpendicularmente entre si, materializando as fachadas externas do conjunto no alinhamento do passeio público. Ambas edificações, denominadas pelos nomes das ruas nas quais possuem os acessos, foram planejadas para uso residencial, destinadas a casas de aluguel, tipologia recorrente no período, especialmente em bairros industriais, como é o caso. A implantação periférica das edificações configura, no miolo do terreno, um pátio aberto e contido. As edificações que possuem contato com a rua, funcionam como barreira entre o pátio e a via urbana, internalizando as relações sociais entre os moradores das “casas de aluguel”. As edificações possuem linguagem historicista, eclética, utilizada massivamente no período na cidade de Porto Alegre, desenvolvidas especialmente por imigrantes, com destaque aos arquitetos Alemães.
O AUTOR José Franz Seraph Lutzenberger (1882-1920) foi engenheiro-arquiteto, nascido na Alemanha em 1882, mudou-se para Porto Alegre em 1920, atuando junto à construtora Wies & Cia, bastante ativa na cidade nesse período. Foi Professor do Instituto de Belas Artes na Universidade Federal do Rio Grande do Sul a partir de 1938. O artista plástico produziu uma série de aquarelas e bicos de pena que o caracterizavam como cronista visual, com olhar minucioso nos tipos humanos em cenas cotidianas de Porto Alegre. A arquitetura era o palco dos eventos cotidianos e sociais das figuras caricatas da cidade, retratadas por Lutzenberger. Nas aquarelas que retratam as ruas fica evidente a predominância da arquitetura colonial de origem portuguesa, como linguagem recorrente que constituía a cidade (fig.2 e 3) Lutzemberger fez parte de um contingente de imigrantes que vieram ao Brasil no inicio do século XX e ocuparam as áreas rurais e urbanas do sul do Brasil, entendendo assim, a vinda dele não como um fato isolado, mas parte de um movimento migratório importante para a configuração urbana, da arquitetura e da paisagem das cidades do sul do país. Além dele, outros arquitetos de origem alemã adotaram o sul do Brasil como morada e projetaram, trazendo consigo seus repertórios e linguagens, vigentes no país de formação ou origem. Estes imigrantes, entre eles Lutzenberger, haviam sido convocados para guerra e depois não encontraram trabalho nos seus países de origem, o que
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*Centro Universitário Ritter dos Reis - UniRitter
1 LUZ, Maturino Salvador S (2004). Ide todos a José – A arquitetura de
gerou um movimento migratório para o Brasil, especialmente no sul do Brasil, onde já havia colônias Alemãs e Italianas, e um território em desenvolvimento.
José Franz Lutzenberger (1920-1951).
No início do século XIX, na Europa, ainda predominava a arqui-
Dissertação de mestrado.
tetura Historicista Classicista, entendendo o Historicismo como
Porto Alegre: PROPAR-
período que engloba especialmente três fases: Neoclássica
UFRGS- P.45
Romântica, Pitoresca Neogótica e Eclética, cujas peculiaridades variavam de acordo com a cultura de cada povo que a adotara.
2 Idem – P.117 3 WEIMER, Günter (1992). Aarquitetura.
1
A vinda desses arquitetos imigrantes gerou mudança na paisagem da cidade, agregando diferentes linguagens, principalmente na produção de arquitetura eclética.
Porto Alegre: Editora da
Dada a quantidade e qualidade das obras realizadas na década de 20, pode-se dizer que corresponde ao período áureo da arquitetura gaúcha, pois nunca houve período com produção arquitetônica tão exponencial no sul do Brasil.3 A HISTÓRIA Localizado na Rua São Carlos, esquina com Rua Hoffmann, construído entre 1925 e 1928, o conjunto Vila Flores foi encomendado pelo Dr. Oscar Bastian Pinto para construção de casas de aluguel. Na época, no Brasil, cerca de 80% das pessoas moravam de aluguel 4 e, portanto, esse tipo de encargo era recorrente no início do século XX.
Pela análise do pavimento térreo, nota-se que a relação com o pátio interno era uma relação de serviço, pois as cozinhas e os banheiros dos apartamentos estavam voltados para dentro, enquanto a sala e o dormitório ficavam voltados para rua. Outro elemento que indica o caráter de serviço do pátio é o galpão construído ao fundo, junto à divisa do terreno, com a função de estábulo.
Lutzenberger foi encarregado, pela Igreja, de projetar a Igreja São José, matriz de Caçapava, a Igreja dos Redentoristas, em Cachoeira do Sul, o colégio Nossa Senhora das Dores em Porto Alegre e o Orfanato-escola Pão dos Pobres.5 Este último projetado no mesmo ano em que Lutzenberger se encarregava das casas de aluguel, hoje denominada de Vila Flores, devido ao sobrenome da família herdeira.
No primeiro e segundo pavimento, cada núcleo de escada dava acesso a duas unidades de um dormitório com distribuição semelhante às unidades do térreo, entretanto ganharam um avanço nas esquinas, configurando Bay-Windows, solução muito comum na arquitetura alemã do final do século XIX e inicio do século XX. As lavanderias, voltadas para o pátio interno, receberam, nestes pavimentos, um pequeno balcão de serviço e provavelmente as roupas eram estendidas na fachada do pátio interno para que secassem.
“Assim teve inicio a terceira fase da arquitetura no Rio Grande
P.104
do Sul, compostas pelos imigrantes, principalmente de origem germânica ou italiana, que começaram a difundir o historicismo
4
na região, inicialmente o Neoclássico e quase paralelamente o
BONDUKI, Nabil (1998).
Eclético. É o início ainda tímido de um processo de desaportu-
Origens da habitação
guesamento da arquitetura Sul-Rio-Grandense.”2
Paulo: Ed. Estação Liberdade / FAPESP – P.282 5 WEIMER, Günter (1992). A arquitetura. Porto Alegre:Editora da universidade/UFRGS – P.99 6 WEIMER, Günter (2003). A vida cultura e a arquitetura na republica velha Rio-Grandense 1889-1945. Porto Alegre:Edipucrs – P.42
A TIPOLOGIA O pavimento do edifício da Rua São Carlos foi construído com um armazém no centro da planta, entre as escadas, com duas unidades habitacionais térreas de um dormitório. A planta baixa era simétrica. Os acessos e as circulações verticais que conduziam as unidades habitacionais dos pavimentos superiores ocorriam em dois pontos, e dividiam o edifício em dois blocos com acessos distintos que funcionavam independentemente. A fachada do edifício da Rua São Carlos (fig.4) revela uma diferença tipológica com relação à planta (fig.6). Os desenhos das fachadas datam de 1928 e revelam a intenção inicial do arquiteto em gerar um térreo integralmente comercial. Conclui-se isso pelo tipo das esquadrias representadas nas fachadas, grandes portas, idênticas as utilizadas no armazém. Provavelmente, houve uma demanda por unidades habitacionais térreas e então, nas plantas de 1929, já aparecem às unidades habitacionais de um dormitório no pavimento térreo e assim foi construído.(fig.5)
universidade/UFRGS –
social no Brasil. São
aluguel em resposta a proliferação dos cortiços. Em Porto Alegre, o bairro floresta caracterizava-se por conter as indústrias e moradias operárias, bairro onde se situa o Vila Flores, reforçando a sua vocação original.
Nessa período uma terça parte da produção industrial do Brasil estava concentrada no Rio de Janeiro enquanto outra terça parte era dividida paritariamente entre São Paulo e Rio Grande do Sul.6 A reboque da produção industrial estava produção de moradias operárias e a produção de casas de
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Sob o telhado foi projetado um depósito e um banheiro compartilhado. Em projeto, somente um dos núcleos de circulação vertical chega a este pavimento e então, a planta que havia sido bi-
partida nos demais pavimento, volta a integrar-se. Especula-se que este espaço previsto para depósito foi utilizado como habitação para famílias ou grupos de trabalhadores menos abastados, lembrando o modelo da Casa de Vecinos espanhola, em que à medida que se subia em altura, mais humildes eram os moradores e as tipologias. As dez unidades habitacionais do edifício da rua São Carlos eram semelhantes em tipo e área, todas de um dormitório, o que juntamente com um contexto fabril e com o objetivo inicial do projeto de prover casas de aluguel, leva ao entendimento de que o perfil dos locatários destes apartamentos eram potencialmente funcionários das fábricas próximas, solteiros ou famílias em inicio de formação. No outro edifício, na Rua Hoffmann, em 1928 foi projetado para ter o térreo integralmente comercial, assim como o edifício da Rua São Carlos. Os dois núcleos de escada que davam acesso as unidades habitacionais eram, em projeto, dispostos perpendicularmente entre si. Em 1929, como demonstra a planta (fig.6), houve mudanças significativas no projeto, o térreo passou a ser exclusivamente residencial, com dois apartamentos de três dormitórios, um apartamento com um dormitório provido de sala e outro, com dois dormitórios desprovido sala. Esse último sugere uma tipologia na qual os locatários não configurassem uma unidade familiar, provavelmente destinada a trabalhadores que dividissem a moradia por conveniência. Essa configuração se repetia em todos os pavimentos do edifício da Rua Hoffmann. Em contraste com o edifício da Rua São Carlos, os apartamentos do edifício da Hoffmann pareciam destinados a famílias maiores. Também existiu uma diferença construtiva entre as duas edificações, sendo o edifício da rua São Carlos construído com materiais menos nobres e perenes do que o utilizado no edifício da rua Hoffmann, além deste ultimo ter sido construído em uma cota mais alta, protegendo-o dos alagamentos comuns e característicos da região. A TRANSFORMAÇÃO O conjunto encontrava-se bastante deteriorado, mas pouco alterado em suas características arquitetônicas originais, graças a falta de verba da família para sua recuperação e reformas. O bairro, que outrora fora um bairro fabril, desde a enchente de 1941, que delatou a fragilidade do bairro perante situações de inundação, sofreu com a migração da fábricas para áreas mais altas da cidade, tornando-se
um bairro degradado, com baixa vitalidade e altos indicies de atividades ilícitas. Recentemente, por iniciativas individuais, articuladas com a família proprietária do conjunto, jovens empreendedores, com boas ideias, poucos recursos, e muita disposição se propuseram a transformar o conjunto em um local alternativo para coletivos que trabalhem com arte, arquitetura, gênero e socialização. Entre estas iniciativas está uma ONG que capacita mulheres para trabalhos da construção civil, Mulheres em Construção, há também uma oficina de bicicletas, um atelier de arte afro-brasileira, entre outros. A proposta é de caráter colaborativo e se propõe a gerar ações sociais e culturais que levem arte ao bairro e a vizinhança. A recuperação deste patrimônio faz parte de um processo que vem se iniciando na região do quarto distrito, também recentemente denominado como distrito cultural. O local abriga ambientes de trabalho para artistas e empreendedores criativos. A proposta compreende arte, cultura, empreendedorismo e regeneração urbana, sendo um exemplo de ação transformadora. BIBLIOGRAFIA BONDUKI, Nabil (1998).Origens da habitação social no Brasil. São Paulo: Ed. Estação Liberdade / FAPESP. LUZ, Maturino Salvador S (2004). Ide todos a José – A arquitetura de José Franz Lutzemberger (19201951). Dissertação de mestrado. Porto Alegre: PROPAR-UFRGS. WEIMER, Günter (1992). Aarquitetura. Porto Alegre:Editora da universidade/UFRGS. WEIMER, Günter (2003). A vidacultura e a arquiteturanarepublicavelha Rio-Grandense 1889-1945. Porto Alegre:Edipucrs. Sites: https://vilaflores.wordpress.com/ - site oficial do Vila Flores. http://www.lutzenberger.com.br/ - site oficial em memória de Lutzenberger.
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Fig.1: Localização do conjunto. Fonte: Google
Fig. 2: Vista da antiga Catedral. Aquarela, 16x20cm.Fonte:http:// www.lutzenberger.com. br/
Fig.3: Conversa de Comadres. Aquarela, 19x19cm.Fonte:http:// www.lutzenberger.com. br/
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Fig. 4: Fachadas do edifício da rua São Carlos, 1928. Fonte: Uniritter
Fig. 5: Imagem da fachada do conjunto Vila Flores pela rua São Carlos. Fonte: Google Street View Fig. 6: Plantas baixas do edifício da rua São Carlos, 1929. Fonte: Uniritter
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Fig. 7: Fotografia de um evento noturno no pátio interno. Fonte: https:// vilaflores.wordpress. com/2015/03/
GRAZIELA DE OLIVEIRA BECKER grazibecker@hotmail.com Arquiteta e Urbanista graduada pelo Centro Universitário Ritter dos Reis (UNIRITTER) no ano de 2004, com o trabalho de conclusão, obteve Menção Honrosa no Concurso PRÊMIO CAIXA - IAB 2004 e indicação para o concurso ÓPERA PRIMA 2005. Em meados de 2005, fundou o escritório IRMÃS DE CRIAÇÃO ARQUITETURA, no qual vêm desenvolvendo projetos de edificação e arquitetura de interiores, com ênfase em arquitetura comercial. Em junho de 2010 concluiu Máster realizado na Espanha, Laboratorio da la vivienda del siglo XXI, dirigido pelo Arquiteto Josep Maria Montaner e Zaida Muxi, através do convênio UPC-UNIRITTER. Em abril de 2015, concluiu Mestrado em Teoria, História e Crítica pelo Programa de Pós-Graduação em Arquitetura (PROPAR), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
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1. TEORIA E HISTÓRIA DA HABITAÇÃO COLETIVA | TEORÍA E HISTORIA DE LA VIVIENDA COLECTIVA
Kátia Fernanda Marchetto | Porto Alegre, Brasil INTERVENÇÕES EM EDIFÍCIOS HABITACIONAIS DO PATRIMÔNIO MODERNO: O caso do Parque Guinle
Reformas, reciclagens e restaurações de edifícios de uso público institucionalmente protegidos são controversas, porém a polêmica aumenta quando se trata de conjuntos habitacionais com estas características, pois o interesse na preservação raramente é compartilhado por todos os moradores, que passam a fazer alterações que podem descaracterizar a arquitetura que deveria ser preservada. Este trabalho propõe a abordagem de intervenções em conjuntos habitacionais considerados emblemáticos para o Movimento Moderno. Com esta finalidade, foi escolhido como exemplar de estudo o Parque Guinle, que passou por um projeto de urbanização na década de 1940, desenvolvido pelo arquiteto Lucio Costa, então diretor do SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) quem propôs um conjunto de seis edifícios residenciais para a área situada no bairro Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Somente três dos edifícios idealizados por Lúcio Costa foram construídos, e o conjunto, que teve seu tombamento definitivo em âmbito nacional em 1986, acabou sofrendo muitas alterações, não apenas decorrentes de manutenções cotidianas, mas mudanças significativas do plano urbanístico projetado por Lúcio Costa. Atualmente, os arquitetos lidam cada vez mais com os conceitos de requalificação, reciclagem e rearquitetura, independentemente de o edifício ser efetivamente protegido como patrimônio. Construir sobre terra arrasada, demolindo arquiteturas precedentes já não faz mais sentido, seja por questões culturais, econômicas ou de sustentabilidade ambiental. O impasse pode existir quando a obra
alvo de intervenção é um bem protegido. Neste caso, qualquer reforma que ela venha a sofrer não está mais a mercê apenas da rotina municipal que avalia questões essencialmente quantitativas, mas dos critérios impostos pelos órgãos de preservação que passam a considerar o mérito das intervenções propostas1. Neste contexto, a propriedade particular está, até certo ponto, subordinada aos interesses da propriedade coletiva no que tange à preservação de edifícios residenciais. Muitos dos exemplares reformados hoje são edifícios modernistas que representam um passado recente em que a arquitetura brasileira alcançou o seu apogeu. No entanto, o reconhecimento e a admiração destinada às obras emblemáticas do Movimento Moderno no Brasil nem sempre é consenso entre proprietários e os órgãos de preservação. Na tentativa de ilustrar este impasse, o exemplar eleito foi o Parque Eduardo Guinle no Rio de Janeiro. Projeto do arquiteto modernista Lucio Costa, o conjunto é tombado em âmbito nacional desde 1986. As alterações arquitetônicas irresponsáveis começaram cedo e continuaram ocorrendo mesmo após a proteção institucional. Quando,em 1991, por questões financeiras impulsionadas pela proteção patrimonial, começou um processo de reversão destas modificações. No ano de 1942 a família Guinle2 contatou Lucio Costa para tratar a respeito das moradias que gostaria de construir no terreno de sua propriedade no bairro Laranjeiras. Nesse momento a Arquitetura Moderna já dava o ar da graça e conquistava cada vez mais espaço no cenário nacional. O clã já
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1 COMAS, Carlos Eduardo. SANTOS, Cecília Rodrigues dos. Zein, Ruth Verde. (2008). Autoridades, emendas, paradoxos e peculiaridades da preservação do patrimônio arquitetônico moderno. Salvador: 2º Seminário DOCOMOMO N-NE 2 Abastada família carioca. Sua fortuna teve início com Eduardo Palassin Guinle que foi fundador da Companhia Docas de Santos e deixou aos sete filhos uma herança estimada em 2 bilhões de dólares quando de sua morte em 1912. Vários membros da família se destacaram como patronos das artes e ciências. 3 O Palácio Laranjeiras é uma residência suntuosa encomendada por
Eduardo Guinle que trouxe profissionais franceses para a realização do projeto. Entre eles figuram Joseph Gire, além do brasileiro Armando da Silva Teles. O projeto de paisagismo do parque foi responsabilidade do francês Cochet. Hoje o palácio é a residência oficial do governador do Rio de Janeiro. (COMAS, Carlos Eduardo (2002). Preciões Barsileiras sobre um estado passado da arquitetura e urbanismo modernos a partir dos projetos e obras de Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, MMM Roberto, Affonso Reidy, Jorge Moreira & Cia., 1936-45.Paris: Tese de doutoramento pela Universidade de Paris VIII – Vicenner-Saint Denis. 4 COSTA, Lucio (1995). Lucio Costa:Registro de Uma Vivência. São Paulo: Empresa das Artes. 5 Dos três edifícios apenas o Nova Cintra – implantado perpendicularmente ao Bristol, de frente para a Rua Gago Coutinho - possui salas comerciais no pavimento térreo. 6 O tombamento provisório do conjunto foi aprovado em 1984 e os moradores foram notificados. Enquanto os condôminos do edifício Nova Cintra louvavam a ação, o representante do edifício
possuía o projeto do parque adjacente ao Palácio Laranjeiras3 (mansão dos Guinle localizada na parte mais alta do mesmo terreno) que havia sido feito pelo francês Cochet e consistia em uma urbanização residencial de luxo, compreendendo edifícios de apartamentos e a divisão do restante do terreno em lotes menores destinados à habitação unifamiliar. Os prédios desta proposta eram de estilo afrancesado, o que, segundo Lúcio Costa, resultaria numa relação “casa grande e senzala”4, visto que o Palácio Laranjeiras contava com o mesmo estilo. Esta associação não seria conveniente e por isso o arquiteto sugeriu que os edifícios apresentassem uma linguagem mais contemporânea, que dialogasse mais com o parque do que com o palácio. A recomendação foi aceita e Lucio passou a desenvolver a proposta num escritório instalado no próprio parque, no edifício de uma antiga Usina, que havia sido construída pelos Guinle.
grades metálicas os edifícios Nova Cintra e Bristol. A medida pretendia o aumento da segurança nos edifícios, mas vai na contramão da permeabilidade espacial entre os prédios e o parque, um dos preceitos modernistas amplamente adotados na Escola Carioca. O próprio Lucio Costa critica a intervenção em uma carta ao SPHAN: “Os prédios do Parque Guinle surgiram como um conjunto arquitetônico integrado num parque; pretender separá-los com grades é um absurdo que não pode ser tolerado. É urgente avisar aos responsáveis pela ideia infeliz que o Rio é uma cidade ‘civilizada’” (LUCIO COSTA in COELHO (2006)).
O plano previa a construção de seis blocos, dispostos em forma de arco, adequando-se ao perfil acidentado do terreno (fig. 1). Apenas três dos edifícios foram construídos na área mais baixa da gleba, devido ao insucesso inicial das vendas. O projeto é eminentemente moderno: blocos isolados no terreno, térreo sobre pilotis5 (que minimizaram alterações na topografia original), estrutura independente, cobertura em laje impermeabilizada e volumes sinuosos na cobertura abrigando as casas de máquinas e reservatórios. A diminuição da área destinada à circulação dos condomínios, que nas Unitès de Le Corbusier, por exemplo, geravam ruas ao longo dos edifícios, foi habilmente tratada de maneira a conferir mais privacidade aos apartamentos, ao mesmo tempo em que tira partido formal das escadas externas ao corpo retangular dos blocos. Todas estas características, além da autoria renomada, contribuíram para o tombamento definitivo do conjunto em 1985.6
Modificações de iniciativa particular eram comuns e desregradas, alheias ao tombamento. No final dos anos 1980 os edifícios estavam desfigurados. As fachadas voltadas para o parque apresentavam perda de elementos de proteção solar — cuja composição era fator determinante externamente — modificação das cores originais, aparelhos de ar-condicionado dispostos de maneira desordenada. As esquadrias das fachadas leste dos edifícios Caledônia e Bristol estavam deterioradas e alguns proprietários trocaram as janelas, anteriormente confeccionadas em madeira, por peças de alumínio. Nas fachadas oeste, a maior parte dos vãos existentes nas varandas protegidas por brises verticais foram fechados por persianas externas de madeira — que também se deterioraram com o tempo e foram substituídas por peças de plástico (fig. 7). Esta alteração é observada desde a década de 1960 e deve ser considerada essencial visto que praticamente todos os apartamentos a realizaram. As coberturas, originalmente lajes impermeabilizadas, foram cobertas com telhas de fibrocimento devido a problemas de infiltração. Vários acréscimos foram feitos aos pavimentos áticos que passaram, em alguns casos, a alcançar o perímetro externo do edifício. Uma série de toldos verdes foi instalada, além das telhas translúcidas colocadas sobre a pérgula voltada para oeste.7 Tudo era feito à revelia de qualquer regra, visando apenas a benefícios particulares, como se a qualificação do conjunto não fosse do interesse de todos – não apenas no sentido de sociedade, visto que como patrimônio reconhecido o conjunto é propriedade cultural coletiva, mas principalmente dos proprietários das unidades, que tendo as modificações regradas valorizariam o seu bem.
O edifício Nova Cintra, implantado perpendicularmente aos outros dois, foi o primeiro a ser inaugurado, em 1947. O Bristol teve a obra concluída em 1950 e o Caledônia em 1953. Desde o início de sua trajetória o complexo sofre deformações. Já em 1958 é registrada a modificação em uma das lojas do edifício Nova Cintra – o único dos três que possui comércio no pavimento térreo. A reorganização visava a dividir a área da sala, transformando-a em três. A configuração original tinha sido idealizada para abrigar uma confeitaria que serviria também como área de lazer para o parque. Em 1984, mesmo com o processo de tombamento já em andamento, foi aprovado o projeto para cercar com
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Além de inadequada no sentido formal, a alteração continuaria deixando sequelas caso fosse removida, pois para a instalação das grades foram necessários recortes nos muros de pedra do Nova Cintra que marcaram permanentemente sua fachada (fig. 6).
Desde 1986, o Bristol tinha uma administração colegiada que realizava frequentemente obras de manutenção do edifício. Entre os reparos empreendidos, os que mais se destacam é a fixação das placas de arenito na fachada e a substituição das peças faltantes por pedra São Tomé, além da limpeza das pedras com ácido. Muitas peças do cobogó cerâmico estavam danificadas, o que fez com que os responsáveis pelo edifício encomendassem a fabricação de um novo molde de padrão idêntico ao original. Foram feitas 3000 peças para a substituição (pedido mínimo). O excedente do pedido foi cedido para os outros edifícios do conjunto.
foram feitas, pois, até a ingerência do SPHAN, todas as ações observadas refletiam somente interesses particulares e denegriam o conjunto sem a menor demonstração de conhecimento a respeito de sua importância arquitetônica. A ignorância relativa a uma parte tão importante de nossa cultura, da obra de um dos nossos maiores arquitetos que lutou pelo reconhecimento e preservação de uma arquitetura nacional. O tombamento, portanto, é uma importante ferramenta para a salvaguarda do patrimônio arquitetônico, mas, do mesmo modo que um edifício não necessita impreterivelmente de proteção legal para que mereça prestígio, o tombamento por si só também não garante a sua conservação.
Apesar das ações que estavam gradativamente alterando as fachadas dos edifícios, seus representantes solicitaram a isenção de IPTU. Tal medida é cabível no caso de bens tombados em âmbito nacional que preservam suas características. Após a inspeção do SPHAN, constatou-se que este não era o caso. A partir de então, foram tomadas medidas baseadas nas diretrizes estabelecidas pelo órgão patrimonial, para que o conjunto voltasse a exibir com plenitude os atributos que lhe conferiram reconhecimento. Entre as principais ações neste sentido, cabe citar: recomposição dos elementos de proteção solar que configuravam as fachadas, retorno dos espaços de varanda — que funcionavam como proteção solar e também como espaço de convívio remetendo às áreas cobertas/abertas da casa colonial idealizada por Lucio Costa. Este espaço foi reestabelecido através da retirada de divisórias, esquadrias e tratamento das paredes dos banheiros voltadas para este ambiente. Limpeza e tratamento das fachadas realizadas por empresas de engenharia, trocas das esquadrias de alumínio por madeira e recuperação das que ainda eram originais, remoção dos volumes acrescidos aos apartamentos de cobertura, retraindo novamente o seu perímetro em relação ao corpo do edifício.
Como agir então quando a valorização do patrimônio não coincide com as necessidades ou desejos dos usuários? É o que acontece no caso do fechamento dos vãos nos brises nas fachadas oeste dos edifícios Bristol e Caledônia. A presença das persianas desde a década de 1960 e a permanência delas até hoje denota a carência do elemento no uso cotidiano do espaço, ainda que seja infiel ao projeto original. Entretanto, como afirma Ana Carolina Pellegrini, “(...) no trato com o patrimônio não há verdades absolutas. A questão é mais de convencimento e persuasão. De política e (às vezes) de bom senso.” 8. Nestes casos, o mais indicado a fazer é estudar soluções que propiciem a resolução dos problemas dos moradores, mas que sejam adequadas à linguagem das fachadas a serem preservadas.
Embora, a princípio, os moradores tenham liberdade para realizar alterações no interior dos apartamentos, a configuração das fachadas através das transparências dos elementos de proteção solar e das varandas restringe as modificações nestes ambientes, pois eles configuram uma espécie de fachada dupla – ambas as camadas estão expostas e compõem a fachada através de relações entre cheios e vazios, apesar de a varanda possuir a superfície já no interior do apartamento (fig. 7 e 8). Independentemente do tipo de intervenções que foram realizadas, cabe ressaltar a forma com que
Restabelecer o estado passado tal e qual a construção original nem sempre é recomendável ou possível — ainda que o imóvel seja um museu de si mesmo, o que é raro. Visto que a matéria prima usada na construção original, em muitos casos, pode não ser mais fabricada, materiais e técnicas contemporâneas podem ser um recurso para resolver problemas que no passado não tinham o tratamento adequado e, por conseguinte, podem qualificar a obra. Alterações que melhorem o uso dos edifícios, adequando-os a hábitos, instalações e equipamentos contemporâneos se encaixam na mesma categoria de modificações positivas, desde que não destituam a obra das características que lhe conferiram prestígio. Medidas para reforçar a segurança podem ser necessárias atualmente, mas o cercamento dos dois primeiros blocos com grades é descabido. Outros condomínios modernistas, como o Louveira, em São Paulo, permanecem sem estes artifícios, usando outras estratégias para a sua segurança, e não têm
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Bristol enviou uma carta ao SPHAN objetivando a impugnação do processo sob a justificativa de que isso restringiria o direito à propriedade dos moradores. Somente após o veredicto de improcedência das alegações que o Conselho Consultivo do Patrimônio Histórico aprovou o tombamento definitivo do conjunto em 1985 e em 16 de abril de 1986 ele foi inscrito no Livro do Tombo de Belas Artes. 7 COELHO, Carla Maria Teixeira (2006). Conjunto Residencial Parque Guinle e a preservação de edifícios residenciais Modernos. Rio de Janeiro:Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Rio de Janeiro. 8 PELLEGRINI, Ana Carolina (2011). Quando o Projeto é Patrimônio: A Modernidade Póstuma em Questão. Porto Alegre: Tese de doutoramento, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Fig. 1: Perspectiva do conjunto com os seis edifícios propostos. FONTE: WISNIK, Guilherme (2001). São Paulo: Cosac & Naify. p. 87. Fig. 2: Vista dos edifícios Caledônia, Bristol e Nova Cintra. FONTE: WISNIK, Guilherme (2001). São Paulo: Cosac & Naify. p. 86.
Figura 3. Fachada sul do edifício Nova Cintra, na déacada de 1950. FONTE: COELHO (2006).p.163.
havido registro de problemas neste sentido. Mais uma vez, faz-se necessário o uso da persuasão, da política e do bom senso. Boa parte das interferências diagnosticadas no conjunto ocorreu antes ou durante o processo de tombamento e, apesar disso, o SPHAN solicitou a reversão das ações para que os condôminos usufruíssem da isenção do IPTU, sob o argumento de que os blocos não preservavam suas características. A proteção institucional se refere então, pelo menos neste caso, ao estado inicial do edifício definido em projeto, e não ao estado do edifício na data do tombamento. O projeto, portanto, consiste em importante ferramenta de salvaguarda de edifícios, como constata Ana Carolina Pellegrini: “Após sua construção, a edificação, ao longo do tempo, está inexoravelmente submetida a um processo de transformação. Seja em função do desgaste acarretado pelas intempéries, ou em virtude das modificações promovidas pelos usuários, é natural que o aspecto do edifício paulatinamente se altere. Daí em diante, portanto, o projeto passa a ser importante recurso para que se consulte sobre o estado inicial da edificação, tornando-se guia para a intervenção do patrimônio edificado, indicando no futuro um estado de “perfeição” pretérito.” (PELLEGRINI, 2011, p.45) A conservação de edifícios residenciais institucionalmente protegidos não passa somente pela avaliação do corpo técnico, mas também dos moradores. O reconhecimento da importância do edifício pelos seus usuários e a informação sobre o motivo pelo qual o conjunto é tombado é de suma importância para a correta intervenção nos imóveis. Da mesma forma, os arquitetos também devem estar atentos aos anseios contemporâneos do habitar, ponderando adaptações e não considerando estritamente a conservação. É consenso entre a maioria dos arquitetos que não é possível determinar um único método científico, formulas ou leis que estabeleçam a maneira correta de intervir no patrimônio. Mas é preciso reconhecer, que reformas, requalificações, reciclagens e restaurações também são projeto e devem ser reconhecidos como tal. Portanto, assim como em qualquer projeto arquitetônico, não cabe estabelecer critérios categóricos de qual a forma certa de projetar, mas, deve-se sim, ter uma conduta menos moralista, mais atenta à sua qualidade do que a regras que não são unânimes em sua aplicação.
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Fig. 4: Grade instalada no edifício Nova Cintra. FONTE: COELHO (2006).p.163.
Fig. 5: Recortes nos muros para instalação da grade no edifício Nova Cintra. FONTE: COELHO (2006).p.164. Fig. 6: Fachadas oeste dos edifícios Bristol e Caledônia com os fechamentos dos vãos dos brises com persianas externas. FONTA: WISNIK (2001). p. 89.
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Fig. 7: Imagens do vão dos cobogós fechados por grades. Fonte: COELHO (2006). p. 172.
Fig. 8: Modificações nas esquadrias e divisórias das varandas no edifício Nova Cintra. Fonte: COELHO (2006). p. 172.
KÁTIA FERNANDA MARCHETTO katia.marchetto@gmail.com Arquiteta e Urbanista pela UFRGS em 2013, mestranda em Teoria, História e Crítica da Arquitetura pelo Programa de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura - PROPAR - da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
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1. TEORIA E HISTÓRIA DA HABITAÇÃO COLETIVA | TEORÍA E HISTORIA DE LA VIVIENDA COLECTIVA
Juan Carlos Bamba Vicente | Guayaquil, Equador NI ESPACIO PÚBLICO, NI ESPACIO PRIVADO: ESPACIO COLECTIVO Del soportal de la manzana cerrada colonial al espacio libre del bloque lineal moderno en la ciudad de Guayaquil
“La forma moderna del habitar es la vivienda colectiva. En ella se sintetiza el valor de la comunidad, el sentido de lo común, el carácter aglutinador y solidario que está en la aspiración última de la gran construcción del hombre que es la ciudad”. Javier García Solera, “Para vivir”, Vivienda colectiva: investigación, crítica y obra, 2012
PROCESOS URBANOS ACELERADOS: GUAYAQUIL UNA CIUDAD LABORATORIO La crisis habitacional contemporánea se produce con mayor intensidad en los países en vías de desarrollo como los situados en la región más urbanizada del planeta: América Latina. Las grandes ciudades latinoamericanas resultan, como dice Alan Gilbert (1997), muy similares en muchos aspectos como los problemas socioeconómicos que se traducen en grandes desigualdades y marcados índices de pobreza y riqueza, y los crecimientos exponenciales de su población urbana que dan como resultado suburbios prácticamente idénticos. Pero también existen diferencias entre las ciudades a lo largo de la región como sucede con Guayaquil, antigua ciudad colonial y portuaria con la mayor población del Ecuador, que presenta características muy específicas en cuanto a la cultura, costumbres, clima y economía. Pero quizás el rasgo que caracterice y diferencie a Guayaquil de forma más clara es el de haber estado sometida desde sus orígenes a procesos urbanos acelerados. La fundación de la ciudad por parte de la colonia española se produce en 1547 en el Cerro Santa Ana, lo que se conoce como la “ciudad vieja”, hasta 1693 cuando, debido a los incendios y constantes ataques piratas, se construye, desde cero, 1 km al sur, lo que se conoce como la “ciudad
nueva”, en una zona de planicie donde se establece la plaza de armas como el centro urbano y a partir de ahí se traza una retícula en damero de manzanas que caracteriza toda las ciudad colonial. En 1897 se produce el “Gran incendio” de Guayaquil que arrasa con casi la totalidad de la ciudad lo que provoca la reconstrucción de la ciudad sobre los restos de la anterior (Compte, 1989). A partir de entonces, a lo largo del siglo XX se producen procesos acelerados de crecimiento urbano vinculados a los diferentes “booms” -el “boom cacaotero” primero, el “boom bananero” después, y por último el “boom petrolero”que desarrollan una ciudad sin planificación –en su mayoría desordenada- que culmina en la actualidad con un proceso acelerado de incremento de la inseguridad y, por tanto, de pérdida de la colectividad (Rojas, 1980). Estos procesos acelerados le dan a Guayaquil un carácter mutable y una capacidad de transformación mayor que otras ciudades, incluso latinoamericanas, como sucede con la transformación del espacio colectivo de los proyectos de vivienda en los que se aprecia una tendencia a la segregación del espacio urbano y al endurecimiento de los límites entre lo público y lo privado. Este endurecimiento supone la progresiva desaparición del papel de lo colectivo como articulador e integrador de situaciones intermedias. En Guayaquil, estas tendencias y fenómenos, se presentan en condiciones extremas, aceleradas, por lo que podría entenderse como un “laboratorio” ideal. Posiblemente la tendencia a la fragmentación social, la segregación espacial y la pérdida colectividad es común en la ciudad contemporánea, también en Europa, pero, para entender el
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1 Este periodo no coincide con el planteado en el libro “Ciudad y vivienda en América Latina 1930-1960” en el que Carlos Sambricio, en la introducción a los diferentes artículos, explica a través de las opiniones vertidas por el cubano Fernando Salinas que se cierra un ciclo en relación a la vivienda en 1960. También en este aspecto se antoja diferente la situación de Guayaquil que en 1970 vivía su mayor auge en la construcción de viviendas sociales. 2 La definición legal del espacio colectivo al que se refiere esta tesis es: conjunto de bienes –en este caso espacios- de dominio común o copropiedad que están bajo el régimen de propiedad horizontal, distinguiéndolo así del espacio privado – dominio privado- o del espacio público –dominio público-.
fenómeno, hay que acudir donde se presenta de un modo más exacerbado. En Guayaquil, como en otras ciudades latinoamericanas, se produce una creciente dicotomía o polarización entre la vivienda privada de las clases altas y la vivienda de interés social de las clases medias-bajas, simbolizada por la proliferación de ciudadelas privadas cerradas compuestas por viviendas unifamiliares aisladas que fragmentan y segregan el espacio urbano. El crecimiento de las ciudadelas desconectadas de la ciudad es paralelo al deterioro de los espacios urbanos dominados por la vivienda social. Estas características la convierten en un objeto de estudio pertinente para analizar proyectos de vivienda colectiva que se construyeron en un periodo concreto (1950-19901) en el que se desarrollaron numerosos programas habitacionales de producción estatal que planteaban un modelo de ciudad diferente al modelo de desarrollo urbano anterior y actual. Estos proyectos, aunque separados en el tiempo y localizados en diferentes zonas de la ciudad, comparten estrategias de ocupación de manzana –unidad básica de la ciudad- que se basan en tipos edificatorios de bloque abierto con generosos espacios libres y formas de agrupación de vivienda –unidad básica de habitabilidad- basados en espacios colectivos de diferentes escalas. El descubrimiento de la calidad arquitectónica de los espacios colectivos integrados en las tipologías edificatorias de bloque abierto y el valor a escala urbana y territorial de los espacios libres de los conjuntos de vivienda colectiva citados, es directamente proporcional a la preocupación por el estado de deterioro y transformación que provoca el fenómeno acelerado de pérdida de colectividad asociado a una alarmante violencia material y simbólica. NI ESPACIO PÚBLICO, NI ESPACIO PRIVADO: ESPACIO COLECTIVO Esto es una reflexión sobre el espacio colectivo que genera el proyecto de vivienda. No nos referimos al espacio público de la ciudad accesible -o así debiera ser- a todos los individuos; tampoco al espacio privado de la domesticidad donde se desarrolla la vida de cada individuo. Nos referimos a un espacio producido desde el proyecto de vivienda colectiva que se encuentra en una situación intermedia entre estos ámbitos anteriores, generando confusión sobre la propiedad del espacio, y estableciendo de esta forma escenarios ambiguos que posibilitan las categorías intermedias, y en otras interfiriendo de manera deliverada en el espacio doméstico siempre desde una posición altruista que pretende la ampliación de éste, en ocasiones, reducido espacio de la intimidad.
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El potencial de este espacio es, al igual que hizo en su momento el vidrio de la ortodoxia moderna con la relación entre el interior y el exterior de la arquitectura, poner en crisis sistemáticamente el límite entre lo público y lo privado, eliminar la simplista e ingenua visión de la estructura de la ciudad dividida en espacio público y privado que tiende a producir términos –por parte de instituciones y tecnócratas- de intencionada ambigüedad como “espacio semi-público” o “espacio semi-privado”. Es un espacio que tiene sus límites legales bien definidos2, mientras que sus límites físicos tienden a confundirse tanto por los usuarios de las viviendas como por los propios arquitectos proyectistas. El espacio público y privado tienden a pensarse y construirse de forma separada en las grandes ciudades; por un lado los proyectos de espacios públicos “regeneradores” de lugares convulsos e inhabitados que están rodeados de viviendas abandonadas o simplemente carentes de éstas, y por otro, los “singulares” y ensimismados proyectos de vivienda productores de espacio privado desconectado del espacio urbano. El carácter articulador y aglutinador del espacio colectivo puede poner en contacto estos dos ámbitos frecuentemente separados por rígidos límites que segregan el espacio urbano construyendo un sistema espacial continuo generador de civismo y comunidad. Cerasi en su libro “El espacio colectivo de la ciudad”, a diferencia de este ensayo que se refiere al espacio que genera la vivienda desde la concepción del propio proyecto, define el espacio colectivo desde una perspectiva más ambigua que se refiere a la ciudad en general y deja libertad a interpretaciones, o más bien, mal interpretaciones: “El espacio colectivo de la ciudad puede ser definido como el sistema unitario de espacios y de edificios englobados en el territorio urbanizado que tienen una incidencia sobre la vida colectiva, que definen un uso común para amplios estratos de la población y que constituyen la sede y los lugares de su experiencia colectiva”. (Cerasi, 1990, p. 87)
La reivindicación de la ciudad futura deseable pasa por la incorporación de estos espacios colectivos, de naturaleza y titularidad en ocasiones ambiguas, en el espacio urbano para que fomenten la vida social que la mayoría de las veces no puede acoger ni el espacio público ni el ámbito privado. Manuel de Solá Morales, en un artículo publicado en La Vanguardia en 1992 titulado “Espacios públicos, espacios colectivos”, distingue, entre espacio público y espacio colectivo –todo espacio público debe ser colectivo pero no todo espacio colectivo tiene por qué ser público-, y engloba cualquier hecho de la ciudad que presente colectividad y transitoriedad entre lo público y lo privado:
“(…) Creo que luchar por la calidad de esos espacios colectivos a la vez privados y públicos, públicos y privados, es la mejor tarea del arquitecto en la ciudad (…) Los espacios colectivos son la riqueza de las ciudades históricas y son también, seguramente, la estructura principal de la ciudad futura. Quizá si que, en nuestras ciudades, sean los espacios ambiguos en su titularidad, cada día más significativos de la vida social cotidiana”.
La necesidad de estos espacios intermedios entre lo público y lo privado en los tejidos residenciales –tejido más abundante en la ciudad contemporánea que llega a ocupar en ocasiones el 80% del total de superficie3- implica el cumplimiento de una serie de cualidades de forma, dimensión, calidad paisajística y complejidad funcional que produzcan barrios –que no urbanizaciones- con carácter y seguridad. La oportunidad de mejorar la calidad de nuestras ciudades mediante estos espacios viene precisamente, como dice Solá Morales, del divorcio y anomia de los ámbitos opuestos –público y privado-: “Quizá si que las formas de ciudad “distópica” de las que habla el sociólogo Frederic Jameson caractericen a nuestro alrededor la pérdida simultánea del espacio público y de la autoridad privada”. ESCALAS DE COLECTIVIDAD VS GRADOS DE PRIVACIDAD La idea de “escalas de colectividad” alude a la noción de que el espacio que describimos anteriormente se produce en una secuencia de escalas de menor a mayor índice de colectividad según parámetros que tienen que ver con el tamaño, función y posición relativa de estos espacios dentro del proyecto de vivienda. Así, es más colectivo, porque lo comparten más personas al día, un patio abierto en planta baja que una galería de acceso a las viviendas en un tercer piso y ésta a su vez más que una pasarela que comparten únicamente dos viviendas. Esta idea es complementaria –aunque pudiera parecer contraria- a la idea que Gehl define como “grados de privacidad”4 en su libro “La humanización del espacio urbano”, que, tangencialmente y en otros términos, reflexiona sobre ese vacío que existe entre las edificaciones, que en algunas ocasiones se ubica entre lo público y lo privado: “La escala entre lo público y lo privado también puede ser considerablemente más diferenciada que lo que se ha dicho aquí. O puede estar considerablemente menos definida, como en el caso de las viviendas en altura o las casas unifamiliares de la estructura urbana indefinida. En muchos de estos casos, casi no existe un ámbito intermedio o de transición entre el territorio privado y el realmente público”. (Gehl, 2006, p. 69)
El espacio colectivo que aquí defendemos es definido por Gehl como “zonas de transición o transiciones suaves”. Aunque el concepto de espacio de tran-
sición entre ámbitos es compartido, la distinción entre espacio colectivo, público y privado se distancia de la idea de “categorías de espacio público” de Gehl. En relación a la idea de escala también reflexiona Gehl cuando habla de lo que considera “proyectos de ciudad y de conjuntos” que construye con conceptos dialécticos como “agrupar o dispersar” e “integrar o segregar”; establece para definir estos conceptos tres escalas: escala grande, mediana y pequeña. En este sentido, para que se produzca la colectividad deseada, es imprescindible que el espacio tenga la escala y morfología adecuada para cada usuario, actividad y posición dentro de la estructura urbana, esto es, optimizar las características de los espacios y los límites entre ellos para que el complejo sistema escalar entre espacio público y privado genere comunidad y socialización. En relación a los límites entre estos espacios colectivos y el ámbito público o privado podemos apoyarnos en la idea de “bordes suaves” a la que Gehl se refiere incluso como una “zona limítrofe” de atracción entre ambos:
3 Dato extraído de Montaner, J. M.; Muxí, Z. (2011). Habitar el presente. Vivienda en España: sociedad, ciudad, tecnología y recursos. (p. 32) 4 En la descripción de lo que considera Jacobs un barrio confortable y seguro como es el caso de Chatham Village, introduce un concepto que tiene mucho que ver con el de “escalas de colectividad” desde una mirada opuesta en cuanto a los términos empleados: “tipos de vida privada ampliada”.
“Los límites flexibles –en forma de zonas de transición que no sean ni totalmente privadas ni totalmente públicas- podrán actuar a menudo como elementos de conexión, haciendo así más fácil, tanto física como psicológicamente, que los residentes y las actividades vayan y vengan entre los espacios públicos y los privados, entre el interior y el exterior”. (Gehl, 2006, p. 125)
Cuando, desde la concepción del proyecto de vivienda colectiva, no se ha resuelto adecuadamente el espacio colectivo –o peor aun no existe- los usuarios transforman el espacio hasta lograr las escalas de colectividad apropiadas o más bien, deseadas. El usuario que habita las viviendas pone en crisis el proyecto original y demanda el espacio que necesita –que no suele resolverlo el reducido espacio privado de la unidad habitacional- transformando las características y límites del proyecto. Cuando el espacio comun es excesivamente grande y lo comparten demasiadas personas el usuario lo reduce con rudimentarias barreras arquitectónicas que producen espacios colectivos gestionables y controlables para una determinada comunidad, para una comunidad de determinada escala; cuando un espacio libre de planta baja –colectivo, no público- está excesivamente abierto a la calle y por él transita un excesivo número de personas que lo hace incontrolable para la comunidad el usuario acota ese espacio estableciendo límites físicos que generen la escala de colectividad adecuada. A estos procesos de adecuación del espacio por parte de los usuarios de las viviendas podríamos llamarles “escalas de colectividad elegidas”, contrario al concepto de escalas de colectividad impuestas.
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5 Ver el capítulo I+D+VS: Un método de investigación en la publicación “I+D+VS: Futuros de la Vivienda Social en 7 ciudades” del Grupo de investigación NuTAC.
ESCALAS DEL ESPACIO COLECTIVO: ESCALAS IMPUESTAS, ÓPTIMAS Y ELEGIDAS El método de análisis de los proyectos de vivienda colectiva de interés social, bajo las premisas planteadas anteriormente, debe abordarse, por tanto, desde diferentes “escalas de aproximación disciplinar”5 –diferenciadas pero interconectadas- que no pretenden perder de vista la centralidad del proyecto sino simplificar la metodología en análisis parciales que posteriormente se unifiquen en una caracterización multiescalar e integral de los casos de estudio seleccionados. El método pretende cuantificar la calidad del espacio arquitectónico para dotar a la investigación de un carácter objetivo que pueda traducirse en mejoras de las normativas de vivienda social. El proyecto de vivienda debe pensarse como ciudad y el proyecto de ciudad como una casa; ésta es la premisa que hace necesario que la vivienda colectiva analizada cumpla cualitativamente en cada una de las escalas planteadas y en sus posibles y deseables “escalas intermedias”. El estudio de las características que definen las diferentes escalas debe abordarse desde la dialéctica entre los límites del espacio colectivo que planteaba el proyecto original -escalas impuestas- y los límites generados por las transformaciones de los usuarios -escalas elegidas-. El proyecto de vivienda debería apuntar desde su concepción a plantear las escalas óptimas del espacio colectivo que comprendan la participación del usuario y el paso del tiempo. Algunas de las situaciones más características detectadas en el análisis multiescalar de los espacios colectivos de los casos de estudio de vivienda colectiva en Guayaquil serían las siguientes: Espacios colectivos a escala de barrio (espacios que abarcan varias manzanas o “supermanzanas”). El problema de la ausencia de espacio público en la ciudad de Guayaquil se podría ver solucionada con la red de espacios libres de los grandes conjuntos habitacionales de bloque abierto que ocupan supermanzanas de influencia a escala territorial. (fig. 1) Espacios colectivos a escala de manzana. El fracaso, en Guayaquil, del patio interior de la manzana cerrada de la ciudad colonial se enfrenta al rotundo éxito del soportal como el espacio histórico colectivo que, de forma altruista, se abre a la calle como elemento de transición entre lo público y lo privado y ejerce de regulador climático. (fig. 2) Espacios colectivos a escala de edificio. Las plantas bajas libres de los bloques abiertos son transformadas mediante la introducción de comercios informales que generan la actividad que el soportal
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produce. (fig. 3) Las cubiertas improvisadas y autoconstruidas de la mayoría de viviendas son el espacio colectivo en altura por excelencia de la ciudad, mientras que las cubiertas diseñadas de forma repetitiva de los bloques de vivienda se encuentran en total abandono. (fig. 4) Espacios colectivos a escala vivienda. La aparición de la galería abierta de superficie generosa de acceso a las viviendas es bienvenida por los usuarios como si fueran “soportales en altura” que producen una necesaria extensión y ampliación del espacio doméstico además de establecer vínculos con los vecinos inmediatos. (fig. 5) SISTEMAS DE CONTROL DEL ESPACIO COLECTIVO: PROYECTAR LA FRONTERA, PREVER EL LÍMITE Esta investigación propone la aproximación a los casos de estudio desde técnicas proyectuales de actualización y reestructuración que re-activen y re-habiten los proyectos de vivienda en relación a la realidad actual y no como simples instrumentos de restauración o rehabilitación que entienden el patrimonio como algo estático y terminado que hay que proteger. Se plantean estrategias de intervención comprometidas con la complejidad y el futuro impredecible de la ciudad como el aumento de la permeabilidad en planta baja articulándolo con la sustitución de viviendas en este nivel por tipologías mixtas de comercio pequeño orientado hacia el espacio público y vivienda unifamiliar hacia el patio interior colectivo; recuperación de espacios comunes abandonados como la cubierta y las galerías de acceso a las viviendas mediante la eliminación de barreras arquitectónicas innecesarias; diversificación del espacio libre abandonado entre edificios con el diseño de espacios con actividades específicas y la peatonalización parcial de la superficie de aparcamientos; incorporación de piezas arquitectónicas que reduzcan los grandes espacios colectivos carentes de gestión densificando y diversificando el conjunto habitacional con usos complementarios al residencial; redistribución de las unidades de vivienda diversificando los tipos para que abarquen mayor número de usuarios y modos de habitar. En la observación de los procesos de habitar de los distintos casos de vivienda colectiva en Guayaquil, se detectan una serie de peculiaridades específicas en cada proyecto, y también un importante territorio común de situaciones y acciones transformadoras del objeto arquitectónico por parte de los usuarios. Unas evidencian la suplantación de las soluciones formales y funcionales proporcionadas por el proyecto
original; otras buscan, sin más, resolver omisiones o carencias; y otras, finalmente, intentan superar las limitaciones del espacio interno de la célula habitacional o hacer frente a los nuevos modos de habitar. Se interpretan estos mecanismos transformadores que reutilizan los espacios entregados ajustándolos a las necesidades reales. Esto debe hacernos reflexionar para dejar de ver los espacios colectivos como lugares residuales, y empezar a pensar en ellos como el instrumento proyectual capaz de cuestionar la tradicional dicotomía entre el espacio público y privado. En definitiva, esta investigación plantea la posibilidad de construir un modelo de ciudad sostenible mediante espacios colectivos integrados en la vivienda que articulen los límites entre la casa y la ciudad, y ofrezcan condiciones de habitabilidad y seguridad basado en la confianza en el vecindario, el sentimiento de comunidad y la autogestión.
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Figura 1. Espacios libres de uso comĂşn entre los bloques lineales de las supermanzanas del conjunto habitacional. Las Acacias de la Junta Nacional de Vivienda,1975. Autor, 2015.
Figura 2. Patio colectivo cerrado desconectado del espacio pĂşblico transformado en un tendedero comunitario. Casas Colectivas del Instituto Ecuatoriano de Seguridad Social, 1950. Autor, 2015.
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Figura 3. Planta baja libre transformada por la inclusi贸n de comercio en un pseudo soportal. Bloques Multifamiliares del Instituto Ecuatoriano de Seguridad Social, 1967. Autor, 2015.
Figura 4. Panorama de la cubierta en desuso de los bloques de vivienda y el conglomerado de cubiertas improvisados. Centro de Vivienda del Banco Ecuatoriano de la Vivienda, 1958. Autor, 2015.
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Figura 5. Galería de acceso a las viviendas transformada con barreras que delimitan los espacios comunes. Bloques Multifamiliares del Instituto Ecuatoriano de Seguridad Social, 1967. Autor, 2015.
JUAN CARLOS BAMBA VICENTE jcarlosbamba@gmail.com Arquitecto por la Escuela Técnica Superior de Arquitectura de la Universidad de Sevilla y Máster en Proyectos Arquitectónicos Avanzados por la Universidad Politécnica de Madrid en la que actualmente es candidato al Doctorado Internacional en Proyectos Arquitectónicos Avanzados. En la actualidad es profesor e investigador de la Facultad de Arquitectura y Diseño de la Universidad Católica de Santiago de Guayaquil donde es el Coordinador del Departamento de Proyecto Final de Carrera. Además compagina la labor académica e investigadora con la profesional desarrollando proyectos habitacionales de pequeña escala en el país de residencia actual que es Ecuador.
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1. TEORIA E HISTÓRIA DA HABITAÇÃO COLETIVA | TEORÍA E HISTORIA DE LA VIVIENDA COLECTIVA
Fernanda Fontana De Gasperin | Leicester, United Kingdom FLEXIBILITY AND MASS HOUSING The modernist legacy to the present day
ABSTRACT The current scenario of housing production are influenced beyond of architectural and social needs, mostly by the economics, what makes the focus usually being the production low cost. Consequently sometimes architectural needs be not the focus of developments, since the cost of the buildings shall be more important than the architectural production quality. Project standardization is adopted to take less time in producing and to get lower cost in mass housing. As a consequence it affects the architectural housing quality, since the standardization do not meet the needs of future dwellers, resulting in housing complexes that generates social problems such as violence, due to the bad social conditions proportionated by this environment. With the aim of finding solutions for housing problems, architectural studies were done through the time and the flexibility of housing is quoted as a coherent solution for dwelling success when producing it industrially, balancing the economy and speed of mass production and the project individuality. To get a coherent analysis of mass production is necessary to understand the story behind it and how it has started and what motivated it, including production methods. Is possible to consider that the beginning of the industrialization of housing production started on modernism. Industrialization ideals has influenced the architectural production, and over time, the flaws in architectural planning caused the modernist projects fail. Despite some flaws found, criticized and studied, some enterprises nowadays are still producing in the same way and consequently similar problems are repeating.
This dissertation is going to cover the changes that have motivated the need of flexible spaces through the time and personal needs that motivate different changes in spaces. Although this need of change always has existed, architecturally it was forgot in some architectural eras, when other aspects were more important than the real architectural production. Instead, its fails were recognizing, is possible to find similar examples in the actual architecture scenario, in the same time is possible to find good solutions for this problem. Firstly this article is going to focus in introducing and defining flexible housing, than will discuss about the society changes that resulted in needs of housing adaptations, fourthly is going to explain the importance of flexibility in mass housing, fifthly the context of modernist movement and the mass housing applied in this era and finally how it happens nowadays. INTRODUCING AND DEFINING FLEXIBLE HOUSING It is not possible to imagine how the idea of flexible housing has begun, is difficult to write a history about it considering that the improvement of homes happened because of changes on user needs. In summary, it is a logical of cause and effect. This kind of need made housing planners think in different solutions for spaces that could be modify, resulting in flexible houses. Paul Oliver discuss in his book Dwellings about the theme: “(…) with the growth of families, whether nuclear or extended, the care of young children and the infirm, and the death of the aged, the demands on the dwelling to meet a changing family size and structure are considerable.” (Oliver, 2003)
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Through the time these changing need could be a result of external factors as changes on demographics, economics, technologies or environmental fields. The importance of recognizing this society changes primarily by architects and designers is on understand how design has answered it through the time. Although Schneider and Till (2007) define flexible housing in two different ways, this dissertation will consider flexible housing as a unique term that unifies the leads made from adaptations, flexibility, change and reforms, since the purpose of this study is to demonstrate the need for space to be able to change, whatever they are, and what are the causes of these changes. Steven Goák (1992) sums up the difference between flexible housing and adaptable housing as the adaptability of being “capable of different social uses”, instead that the flexibility as “capable of different arrangements”. Is possible to consider that adaptability consists on the change of uses while the flexibilization means physical changes. The adaptability of a space then emerges from the drawing of environments, which may be used in various ways, rendering them versatile. While flexibility has generating, physical changes increasing or decreasing areas, changing layouts and shapes. In summary, the both terms defines the possibility of changing spaces. In general, these changes occurs in order to adapt the users with the dwelling space. With the aim of disserts about any change that adapt the user with the dwelling, the term flexible will designate a general term for flexibilization, adaptation, alteration and reform. 2. MODIFICATIONS TROUGH THE TIME By the years the dwelling needs has changes because of many different reasons. External changes or society changes has affected the reality of the population. Society changes made space adaptations become a common practice on turning spaces ideals to dwell, independently of the individual needs of the dwellers. With the growth of number of people that chose living alone, society has faced a new family composition. People that makes the choice of being single person household looks for spaces different from the usual family with many people. This changes that governing the need for modification spaces has different origins, and so motivating different kind of changes. They can be motivate by
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two different factors, in this dissertation they will consider as internal and external changes. The external changes can be influence by master factors, as society changes, economics, new technologies or also climate changes. In summary things that need different physical space, it can correspond to space area or even the layout composition. In the other hand, internal changes correspond simple modifications that transform one space in an odd space. Correspond to the identification of the space as a property of the dweller, not any else place but the one which belongs to the dweller. It has a direct connection with the identity of who is living or using the space. These changes can be wall colour changes, furniture disposition or even frames distribution through the walls. 2.3 Mass housing changing factors In the case of mass housing, especially in social housing, the personalization of space comes as an answer for the lack between the planner and the user. Is common is this case the reallocation of people from irregular areas to new huge building complex. The planners usually do not know the needs of the user and propose buildings all with the same layout. The space changing is a natural reaction and very important in this case. The reallocation process and this situation of new spaces can cause different kind of tensions, and it can result in social problems as violence. “To identify with such an environment they will have to change [the environment]; there is no other possible way. It is therefore said sometimes that the inhabitants ‘are not ready for what is offered them’, and that they ‘have to grow into it’” (Habraken, 1972) The mass housing process is a legacy from modern movement, instead that many projects from that era has failed this production way still are present in actual building system. Trough the time some modernist utopias was trough over, because in fact it did not work. However in that times is seemed be ideas that could work, it was due to the fact of the historic moment faced in that times. To understand it is important explain the historical background. 3. THE LEGACY FROM MODERN MOVEMENT The scenario where the modern movement has begun was a post war destruction. This scene added to the housing problems faced, like extreme poverty, slums and housing sites with no health showed to the
modernist an opportunity to reorganize cities and produce better quality housing to the population, as their ideals. The industrial age has influenced this period in production mode. In attempt to solve the housing problem, mostly housing for poor people, and inspired by Henry Ford syndrome has generated the industrialization of housing. Since the urban and housing needs were urgent was necessary to find a quick way to rebuild them since the required amount of housing was big. Thus, the great masters Le Corbusier and Frank Lloyd Wright Groupius found it necessary to deal the imperatives and social technological ideology of mass housing (Herbert, 1984). Therefore, the economic and fast way to build houses was limited in mass production. In theory the utopic ideal of modernist architects should worked, if they had not conceived the problem and the solution rather than envisage the actual situation, but not always produced good results. Some examples of this fail is the Heygate Estate in London, as Ghentâ&#x20AC;&#x2122;s Rabot towers in Beligum, building complex that are in the process of demolishment. The failures says about the architectonic and the urban problems. The urban errors was the monumentality that runs out the ideal accessible scale and the massive repetition of buildings. Furthermore, the standardization of plans and layouts, without flexibility has complete the failure of modern movement in housing production. Although the fail of modern movement being prove by the demolishment and the post-modernist critics, it has left a legacy in architecture production still nowadays. Mass production still is common practice nowadays, mostly in social housing production. The most of social housing estates nowadays still keep with similar characteristics. The estates developed usually is located far from the city and usually are huge developments. Furthermore, they are not flexible the same as in the modernism. The identity cannot be express so the dwelling feeling is prejudiced. The lack of services usually promote the idea of creating little commerce. All these things could be facilitate if the house has ways to adapt it. 4. CONCLUSION The low cost topic was solve, and consequently the standardization of dwellings became a common practice on housing production, especially in social
housing. In theory the utopic ideal of modernist architects should worked, if they had not conceived the problem and the solution rather than envisage the actual situation, but not always produced good results. The ideal society envisioned by modernist architects could not be adapted by the society of the moment. Huge housing complexes had a lack of common areas, and so failed. Many modernist buildings were demolish, because of the unsuccessful of them. Huge housing complex with standardized layouts and building at all has composed the modernist developments, what resulted in the failure of the modernist era. The utopic society imagined by the masters of that time, as a society that would desire industrialized housing never really worked, Possibly, it happened because of the reason that the society was not really, what they planned to be. They used to build for an imaginary society that did not desire or even needing what they planned as living spaces for them. People used to live in mixed areas, where was possible to get somewhere nearly and when went to the housing complex it was far from the urban infrastructures or even from one block to another. The monumentality of spaces and buildings make not possible to create life in this spaces. The failures says about the architectonic problem as the urban problem. The urban errors was usually the size of the developments, the monumentality runs out the ideal accessible scale and the massive repetition of buildings has caused this discomfort for the users. Furthermore, the standardization of plans and layouts, without this flexibility has complete the failure of modern movement in housing production. Besides modernism being consider a rhetoric on flexible housing, is also important to highlight that the movement, and the industrialization as well, brought important innovations to building system, mostly at the materials used in the building process, that when industrialized become cheaper and accurate. Furthermore, the mass housing at all can be a good way of housing production, if it consider the different people needs and allows the flexibilization in these spaces. Instead of all critics that the modern movement has received about the massive production, is possible to find similar examples until the present time. Besides this kind of architecture still is produced nowadays, the researches in this field has contributed a lot for better solutions in mass developments or even individual solutions when it says about the use of small spaces.
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FERNANDA FONTANA DE GASPERIN fergasperin@hotmail.com Student of architecture and urbanism at Universidade Comunitária da Região de Chapecó - Chapecó/ Brazil, current student of De Montfort University Leicester/United Kingdom, as a sandwich graduation through the program Science Without Borders. At the brazilian university, has supported the ninth semester and at british university has studied at the third year or graduation year. Participates of a research at De Montfort University, which focus on the history and the reality of social housing, at United Kingdom and Brazil and has focus in specific estates of London/ United Kingdom.
1. TEORIA E HISTÓRIA DA HABITAÇÃO COLETIVA | TEORÍA E HISTORIA DE LA VIVIENDA COLECTIVA
Luiz Augusto Maia Costa | Caio Barbato Maroso | Campinas, Brasil REFLEXÕES ACERCA DOS EMPREENDIMENTOS DO PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA A PARTIR DAS RELAÇÕES SOCIOESPACIAIS GERADAS IN LOCO. Estudo de Caso de Jaguariúna/SP
INTRODUÇÃO O objetivo do presente artigo é analisar as relações socioespaciais criadas no pós-ocupação de dois conjuntos habitacionais (Jaguariúna I e Jaguariúna II) empreendidos com recursos do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), localizados no município de Jaguariúna – São Paulo. A maior parte dos dados aqui discutidos foram fornecidos pelo Departamento de Habitação da Prefeitura Municipal de Jaguariúna (PMJ), através de entrevista concedida aos autores. Desde 2009 o PMCMV tem sido a principal política pública federal voltada para a questão habitacional do País. Até sua segunda etapa, encerrada no início de 2015, o programa era dividido em três faixas de renda: de 0 a 3 salários mínimos (faixa 1); de 3 a 6 salários mínimos (faixa 2); e de 6 a 10 salários mínimos (faixa 3). As três faixas do programa se diferenciavam pela porcentagem do valor do subsídio, facilidade de acesso ao financiamento, percentual de comprometimento da renda familiar, valor mínimo da mensalidade, entre outros. A execução dos projetos do programa ficava a cargo de empresas privadas. (Hackradt, 2012). Os empreendimentos em tela fazem parte da primeira etapa do programa e se destinam à faixa 1 do mesmo. OS CONJUNTOS – JAGUARIÚNA I E JAGUARIÚNA II Os Conjuntos Residenciais Jaguariúna I e Jaguariúna II foram construídos com recursos do PMCMV, através de parceria entre a Prefeitura Municipal e a empresa privada CPF Engenharia. O terreno foi doado pela prefeitura e a empreita foi realizada
pela construtora com verba federal administrada pela Caixa Econômica Federal (CEF), conforme regras do programa. Segundo a PMJ, em entrevista concedida aos autores1, a Secretaria de Assistência Social realizou a seleção das famílias contempladas, analisando quatro critérios pré-definidos pelo PMCMV (renda familiar de até três salários mínimos; área de risco; portadores de necessidades especiais; e mulher chefe de família) e dois definidos pelo município (filhos menores de 16 anos; e idosos). Cada critério atendido era revertido em pontos. A lista enviada à CEF continha 1200 famílias2 hierarquizadas. Os dois conjuntos estão localizados no bairro Cruzeiro do Sul, Jaguariúna, Região Metropolitana de Campinas, São Paulo – Brasil, conforme figura 1. As unidades foram inseridas entre áreas já urbanizadas, o que deveria refletir boa inserção urbana. Mas ressalta-se que o bairro em questão (Cruzeiro do Sul), assim como seu circunvizinho (Roseira), são “considerados carentes”, de acordo com PMJ3. Para agravar a situação, após a ocupação dos Conjuntos pelas famílias (a unidade II foi entregue em dezembro de 2013 e conta com 404 habitações, enquanto a I foi entregue em março de 2014 e conta com 396 habitações), o local não era servido de transporte público, o que acentuou a precariedade dos serviços públicos de locomoção. Atualmente há uma linha que atende os moradores.
1 PMJ, Departamento de Habitação. Entrevista. [ago. 2015]. Entrevistador: Caio Barbato Maroso. Jaguariúna, 2015. 1 arquivo .mp3 (64 min.). A entrevista foi transcrita na íntegra e alguns trechos foram citados no texto. 2 A CEF pede aos municípios que seja feita a hierarquização de uma vez e meia o número de unidades construídas, garantindo destino para todas as unidades, mesmo na desistência ou inadequação de famílias selecionadas, antes e depois da entrega do empreendimento. 3 PMJ, Departamento de Habitação. Entrevista. [ago. 2015]. Entrevistador: Caio Barbato Maroso. Jaguariúna, 2015. 1 arquivo .mp3 (64 min.). A entrevista foi transcrita na íntegra e alguns trechos foram citados no texto.
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4 PMJ, Departamento de Habitação. Entrevista. [ago. 2015]. Entrevistador: Caio Barbato Maroso. Jaguariúna, 2015. 1 arquivo .mp3 (64 min.). A entrevista foi transcrita na íntegra e alguns trechos foram citados no texto. 5 Valores apurados com uso do Google Maps e do Google Earth, respectivamente. 6 PMJ, Departamento de Habitação. Entrevista. [ago. 2015]. Entrevistador: Caio Barbato Maroso. Jaguariúna, 2015. 1 arquivo .mp3 (64 min.). A entrevista foi transcrita na íntegra e alguns trechos foram citados no texto.
7 Sobre análise de inserção urbana em conjuntos promovidos pelo PMCMV, observar publicações do LabCidade. Disponível em <http://www.labcidade. fau.usp.br/?page_ id=18>. Acesso em 09 set. 2015.
8 FJP, Déficit Habitacional no Brasil. Relatório 2011-2013. Disponível em < http://www.fjp. mg.gov.br/index.php/ docman/cei/559-deficithabitacional-2011-2012/ file>. Acesso em 25 set.
É necessário que se reflita sobre o que foi ressaltado pela PMJ4 como o ponto positivo do projeto: “a localização dos dois condomínios é muito boa (...) não foi um local que foi feito lá longe, escondido (...) é o grande positivo do programa, não tem dúvida que esse é o maior”. De fato, fisicamente os Conjuntos não estão distantes da cidade (2,4 km a pé e 1,7 km em linha reta, dos Conjuntos até o centro)5, porém se apresentam excluídos da dinâmica urbana em questão de oferta de serviços, infraestrutura e nas condições dos bairros adjacentes, conforme fig. 2. Analisando o ordenamento espacial metropolitano contemporâneo a partir dos conceitos de “nós” e “redes”, Salgueiro (1998) defendeu que os diferentes territórios buscam a proximidade geográfica com as centralidades estabelecidas, mas não só. Existe também a necessidade de pertencimento a uma determinada rede, ou seja, estar inserido na dinâmica urbana contemporânea. Este fator não depende exclusivamente da proximidade física, mas da conexão entre os locais. Tal reflexão revela a fragilidade, no que tange a inserção urbana de conjuntos habitacionais, de se pensar apenas a proximidade geográfica, que é agravada pelas dificuldades e custos de locomoção enfrentada pela população residente nos mesmos. Assim, para a população de menor renda, a necessidade de deslocamento é mais um fator de segregação socioespacial. Na fig. 2 traçou-se um círculo de raio 1 km (em linha reta) para comparação entre a proximidade dos serviços municipais e os conjuntos. Dos dez serviços encontrados, apenas um está mais próximo ao centro do círculo. Porém, a distância percorrida aumenta significativamente quando considerada a geomorfologia do lugar (aproximadamente o dobro da distância em linha reta), uma vez que é preciso cruzar a linha férrea. Isto demonstra como é importante e necessário considerar as barreiras físicas (rodovias, avenidas, rios, grandes glebas vazias) na implantação de qualquer empreendimento, em particular os conjuntos habitacionais em tela. Outros serviços oferecidos pelo município estão mais distantes, porém os valores de distância se aproximam, variando entre 2 e 3 km. Com efeito, há concentração desses serviços no perímetro próximo ao centro da cidade, onde ainda existem áreas livres, conforme observado na fig. 1, e que ainda são servidas de outros equipamentos (parques e avenidas que estruturam o transporte público). Reflete-se que uma possível produção habitacional
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nestas áreas certamente teria uma melhor inserção urbana. Ainda, por serem áreas menores, talvez pudessem contribui para a diminuição da intensidade e da gravidade das relações sociais indesejadas, criadas nos Condomínios em tela, e que serão abordadas a seguir. RELAÇÕES SOCIAIS NO PÓS-OCUPAÇÃO De forma bastante frisada, a PMJ6 demonstrou seu entendimento de que o modelo de condomínio fechado interfere nas relações sociais criadas ali, principalmente pelo fato de que a população residente, antes, não morava em condomínio. “É a questão do morar em condomínio, porque essas pessoas não moravam em condomínio”, e afirma, ainda, que “hoje, eu acho que [a tipologia condomínio] tem mais contras do que prós. Porque você fazer toda uma educação é complicado. Então, hoje o problema que a gente enfrenta é, justamente, o relacionamento das famílias, entre as famílias”. Além do impacto causado pela mudança na mentalidade, na sociabilidade e no comportamento provenientes da necessidade de se adequar à vida em condomínio e o que ela representa, o fator econômico também deve ser considerado para uma compreensão mais ampla das dinâmicas sócio-espaciais aí criadas. Ainda que as famílias passem a gastar menos com o valor total da moradia (incluindo, além da prestação, contas de luz, água e imposto, que muitas vezes não eram pagas), a despesa com a taxa condominial representa porcentagem significativa na renda das famílias contempladas. Estudos de caso publicados por Vannuchi, Iacovini, Pereira e Moreira (2015), disponíveis no site do LabCidade, demonstram esse impacto7. Os referidos autores defenderam que as famílias com renda de até R$1.600,00 possuem média aproximada do comprometimento da renda com a prestação da unidade habitacional de 10,23%. Porém, com a taxa condominial, esse comprometimento sobe para 23,03%. Se forem consideradas, ainda, as contas (água, luz, imposto), então o comprometimento é de 44,27%. Dessa forma, se considerado todo o gasto, algumas famílias desse perfil ainda seriam enquadradas como déficit habitacional, considerando o critério da Fundação João Pinheiro8 (FJP), já que comprometem mais de 30% da renda familiar com a moradia. Se fossem considerados outros modelos de produção de moradia, que não o condominial, então o comprometimento médio seria de 31,47% (prestação+contas), ficando muito próximo ao estipulado pela FJP.
Ainda sobre as despesas com a taxa condominial, a PMJ9 afirmou que existem dificuldades com a arrecadação nos dois conjuntos analisados. Muitos moradores não entendem a necessidade do pagamento da taxa e oferecem, como solução, a abertura dos portões do condomínio e transformação das ruas internas em vias públicas. Outro complicador é que, como a inadimplência é alta (aproximadamente 25% nos dois conjuntos), os moradores adimplentes questionam o fato de outros não pagarem, indicando que deixarão de pagar, o que agrava a situação. Uma preocupação latente nos conjuntos habitacionais, de forma geral, é o índice de criminalidade. Tem se tornado comum a aparição de notícias da ação do tráfico de drogas em conjuntos habitacionais, e de forma mais frisada naqueles promovidos pelo PMCMV, na mídia jornalística. Um exemplo é a notícia veiculada no Jornal Nacional10 (Rede Globo) sobre a invasão de conjuntos, executados com verba do programa federal, pelo crime organizado nos estados do Rio de Janeiro e de Santa Catarina. Nos dois conjuntos analisados, segundo a PMJ11, há a preocupação com a ação do tráfico, existente nos bairros do entorno, ocupar os condomínios: “se a gente não tiver em cima, a gente tem uma ocupação muito fácil pelo tráfico. Então isso é difícil de lidar. Têm municípios que o tráfico tomou conta. Então hoje é a situação mais gritante que a gente vê dentro do condomínio”. Em Jaguariúna, a Prefeitura Municipal mantém o Trabalho Técnico Social ativo nos conjuntos para que eles não sejam invadidos. Entretanto, o consumo de drogas ilícitas é causa de conflitos internos, de acordo com a PMJ12. A maior parcela dos usuários de drogas, nos Conjuntos, é formada por jovens, e houve registro de conflito físico entre eles e o síndico de um dos condomínios. De acordo com a Prefeitura, ainda que existam outros problemas de convivência, até mesmo causados pelo projeto (incômodos com ruídos de vizinhos e comércio informal), eles são administráveis e de fácil resolução. Já os problemas com o tráfico atingem outro grau de complexidade, já tendo sido alvo de grande ação da polícia militar, em proporções nunca antes presenciadas no município. Para a Prefeitura, isso também é reflexo das características do projeto. Neste tocante, é necessária a análise do projeto arquitetônico dos conjuntos. Para tanto, buscou-se referência na história da arquitetura, propondo um paralelo entre os projetos de Jaguariúna e o Pruitt-Igoe.
Segundo Otero (2009), o projeto foi premiado por considerar os preceitos racionalistas-funcionais defendidos nos CIAMs. Porém – depois de serem apurados consideráveis índices de criminalidade, que foram atribuídos às condições espaciais criadas pelo projeto – o conjunto foi demolido em julho de 1972, cerca de 20 anos após a inauguração. Os conjuntos habitacionais que seguem o modelo modernista são definidos por Carvalho Santos e Araujo (2005) como centenas, ou milhares, de unidades habitacionais organizadas em lâminas de edifícios, normalmente localizados na periferia das cidades. As autoras explicam que este fato decorre do período histórico e da localização em que surgiu essa tipologia. Esta é atribuída a Le Corbusier, que a utilizou no Plan Voisin para Paris (que ficou à mostra na Exposição de Paris em 1937). A solução modernista para a habitação popular se pulverizou pela Europa, por outros continentes e também influenciou conjuntos brasileiros. Segundo as mesmas autoras, essas lâminas abrigaram – em meados do século passado – parte considerável da população dos países arrasados pelas duas grandes guerras. Duas determinantes do modelo modernista, exigidas pela necessidade de construção rápida e volumosa, eram funcionalidade e racionalidade. Dessa forma, o modelo era reproduzido facilmente, reforçando sua influência sobre os conjuntos habitacionais do mundo ocidental. Porém, ao simplificar fatores como a particularidade dos usuários e as condições de pós-ocupação, os conjuntos que seguiram esse modelo se tornaram obsoletos rapidamente, levando alguns, como o Pruitt-Igoe, à implosão. (Carvalho Santos e Araujo, 2005) Em geral, o elevado número de unidades habitacionais em um mesmo conjunto não é entendido como uma característica positiva. Por isso, a CEF limitou o número máximo de unidades habitacionais em 500 por conjunto. Porém, o estudo de Rolnik (2015) revela que, na prática, essa limitação não é cumprida. Este fato é explicado pelo que a autora chama de Empreendimentos Contíguos, ou seja, casos em que há dois ou mais conjuntos vizinhos, separados apenas pela barreira física dos condomínios. Rolnik entende que estes casos devem ser estudados como um único conjunto. Em sua publicação, quando estudados separadamente, apenas 9% dos conjuntos habitacionais produzidos pelo PMCMV na RMC possuíam mais do que 500 unidades. Porém, ao simular a condição de Empreendimentos Contíguos, essa porcentagem subiu para 32%. Se estudados nesta mesma condição, os
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9 PMJ, Departamento de Habitação. Entrevista. [ago. 2015]. Entrevistador: Caio Barbato Maroso. Jaguariúna, 2015. 1 arquivo .mp3 (64 min.). A entrevista foi transcrita na íntegra e alguns trechos foram citados no texto.
10 Edição do dia 18/08/2015. Disponível em: < http://g1.globo. com/jornal-nacional/ noticia/2015/08/ sc-criminosos-invademimoveis-do-programaminha-casa-minha-vida. html>. Acesso em 23 ago. 2015. Outras notícias de teor parecido podem ser encontradas com pesquisa em buscadores da internet.
11 PMJ, Departamento de Habitação. Entrevista. [ago. 2015]. Entrevistador: Caio Barbato Maroso. Jaguariúna, 2015. 1 arquivo .mp3 (64 min.). A entrevista foi transcrita na íntegra e alguns trechos foram citados no texto.
12 PMJ, Departamento de Habitação. Entrevista. [ago. 2015]. Entrevistador: Caio Barbato Maroso. Jaguariúna, 2015. 1 arquivo .mp3 (64 min.). A entrevista foi transcrita na íntegra e alguns trechos foram citados no texto.
dois conjuntos de Jaguariúna deveriam ser entendidos como um único conjunto de 800 unidades. Para Arcipreste (2012), Pruitt-Igoe representa o fracasso do modelo habitacional modernista, visto que tal modelo possui problemas de gestão e ocupação. Para ela, o cerne destes problemas está nas “posturas universalistas e impessoais que marcaram, sobretudo, a produção de habitação em massa que gerou grandes conjuntos habitacionais despersonalizados e alheios aos modos de vida dos usuários” (p. 114). Sales (2006) analisou o conjunto estadunidense a partir da visão da participação do usuário na concepção projetual, e defende que “quando excluímos os usuários no processo de planejamento e design, assumindo que todas as pessoas são iguais e que o produto final é totalmente uniforme, no qual todo mundo tem desejos idênticos” (p.49). Dessa maneira, ela defendeu que a sociedade está diretamente ligada à longevidade das construções. Por fim, a hipótese que se pretende aventar, com as considerações acerca de Pruitt-Igoe e a análise dos conjuntos jaguariunenses, é que a maneira como o PMCMV vem conduzindo os projetos habitacionais é conhecidamente insustentável. A falta de participação dos usuários na fase de projeto e o fato de suas particularidades não serem consideradas são traduzidos em interações sociais indesejadas nos conjuntos. Fatos estes que podem levar a crer em resultados parecidos com o que ocorreu em Saint Louis. CONSIDERAÇÕES FINAIS Conforme o exposto, considera-se que a produção habitacional do PMCMV parece carecer de mais atenção às necessidades dos usuários, ao projeto arquitetônico e à inserção urbana.O projeto arquitetônico não prevê as necessidades particulares dos indivíduos, que precisam se adaptar à realidade encontrada, e cria relações socioespaciais indesejadas. A questão da inserção urbana ainda necessita de maior atenção, principalmente por parte das instituições públicas que promovem os projetos habitacionais de interesse social. É latente a necessidade do entendimento de que inserção urbana não é apenas a proximidade física, mas a conexão com “nós” e “redes”. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Arcipreste, C. M. Entre o Discurso e o Fazer Arquitetônico: reflexões sobre o ensino de arquitetura e
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fig. 1 – mapa de localização dos conjuntos. Fonte: adaptado do Google Earth. Na imagem, aparentemente os conjuntos estão inseridos na malha urbana, porém, uma análise mais detalhada, de infraestrutura e serviços, além das condicionantes físicas, mostram condições desfavoráveis. Ao mesmo tempo, existem outros vazios urbanos aparentemente com melhores condições urbanas.
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fig. 2 – mapa de equipamentos a 1 km dos conjuntos. Fonte: adaptado do Google Earth. Ressalta-se que a maior parte dos equipamentos disponíveis no entorno imediato dos conjuntos se localizam fora do raio de 1 km, ou próximos ao limite, e que o único equipamento próximo é separado do conjunto pela barreira criada pela linha férrea.
CAIO BARBATO MAROSO
LUIZ AUGUSTO MAIA COSTA luiz.augusto@puc-campinas.edu.br
Arquiteto pela Universidade São Francisco; mestrando do Programa de Pós-Graduação em Urbanismo (POSURB) PUC-Campinas. Professor de graduação da Faculdade Jaguariúna - FAJ
Doutor em Arquitetura e Urbanismo pela FAUUSP. Professor Titular do Programa de Pós-Graduação em Urbanismo (POSURB) PUC-Campinas e da Pontifícia Universidade Católica de Campnas. Possui vários artigos publicados e é autor dos livros O Ideário Urbano Paulista na virada do século. O engenheiro Theodoro Sampaio e as questões territoriais e urbanas modernas (1886-1903) e Nem Tudo Era Europeu. A presença norte no debate de formação do urbanismo paulista (1886 - 1919)
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1. TEORIA E HISTÓRIA DA HABITAÇÃO COLETIVA | TEORÍA E HISTORIA DE LA VIVIENDA COLECTIVA
Marcela Marques Abla | Rio de Janeiro, Brasil PERSPECTIVA DE UMA POLITICA HABITACIONAL POR QUATRO URBANISTAS DO SÉCULO XX Elizabeth Denby, Carmem Portinho, Margarete Schütte-Lihotzky e Catherine Bauer.
1. INTRODUÇÃO O presente artigo nasce da investigação sobre o tema da habitação popular e a perspectiva de gênero é o fio condutor ao articular a contribuição oferecida por quatro urbanistas do século XX – Elizabeth Denby, Carmem Portinho, Margarete Schütte -Lihotzky e Catherine Bauer – para a arquitetura moderna e o reconhecimento das necessidades da vida cotidiana. O trabalho permeia várias dimensões sobre o tema da habitação e varia desde a experiência e a participação ativa nos debates dos CIAMs, construção de tipologias de habitações comunitárias e criação de diretrizes para políticas habitacionais, além de levarem a seus países de origem as referencias para traçar as bases das políticas habitacionais locais. As transformações produzidas pela teoria e prática daquelas mulheres abordam temas que continuam vigentes no século XXI, implicando implicando na revisão de leis e regulamentos, assim como de sistemas de acesso e de propriedade do solo1. 2.HABITAÇÃO E PERSPECTIVA DE GÊNERO A teoria feminista dos estudos de gênero apresenta uma crítica no que se refere ao ambiente pensado e construído pelo urbanismo racionalista do século XX. Este se centrava em um homem tipo universal, sem procurar entender a sociedade na diversidade das pessoas que a habitam. Para entender a diversidade das pessoas na sociedade, tomamos o conceito de gênero em
urbanismo defino pelo Col-letiu Punt 62 (2014): construído socialmente, faz referência aos diferentes papéis, responsabilidades e atribuições sociais que se atribuem a mulheres e homens. O gênero impõe limites sociais sobre o que podemos fazer, criando expectativas e estereótipos que configuram nosso entorno, o espaço público, as cidades e os territórios onde vivemos. O urbanismo é um conceito definido como a disciplina que planifica e constrói bairros e cidades. Abrange uma ampla variedade de espaços que incluem a habitação, o espaço público, os equipamentos, o transporte e o seu entorno. Esses elementos influenciam a vida cotidiana (Col-letiu Punt 6,2014). A vida cotidiana consiste no conjunto de atividades que as pessoas realizam no dia a dia, em um espaço e em um tempo determinado. Essas atividades estão associadas às tarefas produtivas e reprodutivas. As primeiras são aquelas que recebem remuneração e se considera que sejam realizadas muitas vezes fora de casa. Já as tarefas reprodutivas não são remuneradas, consideradas tarefas menores, relacionadas a questões individuais e coletivas de nutrição, higiene, descanso e trabalho. O espaço urbano historicamente prioriza as tarefas produtivas e a perspectiva de gênero procura inverter essa prioridade com relação ao espaço construído ao valorizar as tarefas reprodutivas e de cuidados da sociedade. Também prioriza a experiência cotidiana e a diversidade das pessoas.
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1 Este tema é desenvolvido no livro Arquitectura y Politica, (MONTANER,MUXÍ,2011a). 2 Formado por mulheres de diferentes áreas profissionais, o coletivo trabalha desde a perspectiva de gênero, fundamentalmente desde a experiência cotidiana das mulheres. 3 Este tema é aprofundado no livro Arquitectura y Politica (MONTANER,MUXÍ,2011a). 4 Este tema é aprofundado no livro Os Primeiros Arquitetos Modernos (BRUNA,2010). 5
3.MULHERES PROTAGONISTAS Se faz necessário uma breve apresentação de cada uma das urbanistas citadas para situar origens e trajetórias:
Os problemas relacionados à habitação foram objeto de reflexão por parte de arquitetos e urbanistas daqueles anos e foco de discussão dos CIAMs, temas até hoje não resolvidos.
Denby (1894-1965), consultora habitacional inglesa, estuda política e projeto habitacional na Europa desde o final da Primeira Guerra. Focaliza sua pesquisa em políticas de realojamento de famílias que viviam em slums.
Dolores Hayden5, observa que o grande tema do movimento feminista, na mesma época foi a superação da divisão entre vida doméstica e vida pública. A partir deste enfoque os espaços urbanos devem ser domesticados.
Schütte-Lihotzky (1897-2000), arquiteta austríaca, com participação nos CIAMs. Projetou habitações e equipamentos domésticos para a Secretaria de Habitação de Viena. Incorporou suas ideias e experiências ao programa de habitação popular em Frankfurt.
Hayden destaca o trabalho de Melusina Fay Peirce e de suas seguidoras, as material feminists, que se preocupavam com o desenvolvimento de uma perspectiva feminina sobre a relação entre habitação e trabalho doméstico. Definiam que a mulher deveria criar novos tipos de casas, socializando o trabalho doméstico e o cuidado com as crianças – condição indispensável para integrá-las a uma sociedade de iguais entre mulheres e homens.
Portinho (1903-2001), urbanista brasileira, como diretora do Departamento de Habitação Popular (DHP), promoveu a ideia de moradia digna às camadas populares. Estudou a política e a criação das “New Towns” na Inglaterra durante a Segunda Guerra e os CIAMs.
nessas áreas.
Bauer (1905-1964), urbanista norte-americana, levou as experiências do entre-guerras da Europa aos Estados Unidos, fundando a sua política habitacional. Lutou pela construção de moradias baratas para os trabalhadores americanos.
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Para relacionar as dimensões trabalhadas por elas analisaremos suas contribuições em dois níveis com foco nas necessidades cotidianas da domesticidade.
Conhecida pelo trabalho realizado sobre os subúrbios nos Estados Unidos e sobre as contradições de gênero
O nível arquitetônico-urbanístico, aborda três escalas: a escala da unidade da habitação e sua relação com o conjunto habitacional, (tipologia) a escala do bairro (habitação mínima) e a escala da cidade (funções da cidade). O nível político-administrativo e social, aborda as normas urbanísticas e questões relacionadas a função social da propriedade no uso do solo dentro das políticas de programas habitacionais. 3.1.HABITAÇÃO MÍNIMA Os conflitos ocorridos no final do século XIX e inicio do século XX envolveram quase todas as potencias mundiais e deram origem a produção habitacional em massa3. A realização desta nova forma de produção surge em diferentes países europeus entre os anos 1920 e 19304.
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Elas experimentaram novas formas de organizações de bairro: cooperativas de donas de casa, novos tipos de edifícios, casa sem cozinha, cozinha pública, creche e clube de jantar comunitário. Redefiniram as tarefas domésticas e as necessidades habitacionais das mulheres e de suas famílias (HAYDEN, 1984). Tema do II CIAM, a habitação mínima definia que os conjuntos habitacionais deveriam oferecer o complemento à casa através de equipamentos coletivos. Estes visavam à socialização dos trabalhos domésticos, habitualmente reservados às mulheres, no intuito de que elas pudessem assumir lugar na produção, através de trabalho remunerado e escapar da condição feminina restrita ao trabalho reprodutivo. A partir da perspectiva de gênero entende-se o bairro como uma extensão da casa onde as necessidades cotidianas devem se realizar em todas as escalas, com isto a coletivização de algumas tarefas reprodutivas através de equipamentos como a cozinha coletiva, a lavanderia e a creche podem contribuir para que a domesticidade se estenda desde o interior da casa ao bairro e à cidade. Schütte-Lihotzky argumentava que ao construir habitações mínimas deveria se levar em conta a necessidade de superfície por família, sendo imprescindíveis os serviços domésticos centralizados. Ela acreditava na liberação da mulher por meio da racionalização e economia do tempo utilizado nas tarefas domésticas. Apesar que desde a atualidade
poderíamos criticar que não planteou a ruptura do papel da mulher como única responsável das tarefas domesticas, suas ideias geraram progressos significativos para a melhoria da qualidade de vida das mulheres6(MUXÍ, 2015). A partir das décadas de 1940 e 1950 os pressupostos do movimento moderno da vanguarda europeia são incorporados às propostas dos primeiros conjuntos habitacionais construídos no Brasil, onde são implementados equipamentos comunitários e espaços de convívio. Portinho adota o conhecimento adquirido na Europa em seu trabalho e define a expressão-chave “unidade de habitação” da seguinte maneira: localizada nas proximidades do trabalho, deveria contar com serviços sociais, médicos e educativos7. Acrescenta que os equipamentos coletivos e o serviço social eram essenciais para satisfazer as necessidades básicas da vida cotidiana, na prática de atividades que incluíam: ir ao mercado, atendimento de saúde e educação, áreas de recreação e de esportes, além de lavar as roupas fora da unidade. Estas atividades deveriam ser atendidas sem necessitar de longas caminhadas ou meios de transporte. Bauer definia o contexto de um bairro completo, onde este deveria proporcionar luz solar, ambiente agradável, privacidade adequada, instalações sanitárias e espaço de recreação infantil. Todos esses itens, disponíveis a um preço acessível para os americanos de baixa e média renda. O sucesso de projetos habitacionais dependia deste complemento de equipamentos comunitários, tais como: parques, playgrounds, centros sociais, clínicas e escolas. Chefes de família precisavam de fácil acesso ao seu local de trabalho. Defensora pioneira do conceito de desenvolvimentos de alta densidade com regimes mistos destinados a todas as classes sociais, Denby também enfatizava a incorporação de equipamentos sociais ao lado de apartamentos e casas bem desenhados, situados em áreas urbanas dotadas de equipamentos complementares a vida cotidiana. Para ela as novas propriedades além de satisfazer a necessidade mínima de abrigo, também deveriam incentivar a vida familiar e a vida comunitária, incorporando, centros de maternidade, creches, jardins de infância, escolas, parques infantis, salas de reuniões, jardins e hortas.
3.2.TIPOLOGIA O desenvolvimento político e cultural daquela época, visava a construção do “homem novo”. A arquiteta Schütte-Lihotzky – assim como as demais urbanistas em destaque – se esforça para realizar algumas das condições físicas que também permitissem o desenvolvimento de uma “nova mulher”. O objetivo de criar melhores condições de vida para a população feminina em Viena, Frankfurt, Moscou e em outros países, é sempre visto em relação à possibilidade das mulheres obterem um lucro de tempo para se dedicar à vida pessoal, saúde, recreação, esporte e descanso. E não restringí-las às crianças e à vida familiar. As primeiras reflexões sobre a racionalização da cozinha surgiram anos antes da guerra, durante os quais a emancipação feminina se desenvolveu. Nos Estados Unidos, esses problemas foram objeto do livro de Christine Frederick8, onde são expostos diagramas de circulação no interior da cozinha que mostravam organização racional dos equipamentos para a economia de gestos. Pesquisas semelhantes se desenvolvem na Alemanha e é com a Frankfurter Küche que os equipamentos de cozinha são transformados em produtos industriais e entram na nova arquitetura a partir da habitação mínima. A nova cozinha proposta por Schütte-Lihotzky, é essencial para a simplificação das tarefas domésticas. Se por um lado, permitiu a autonomia da célula habitacional, por outro, levou à dupla jornada de trabalho a mulheres e homens que exercem trabalho produtivo fora de casa. Portinho defendia que as mulheres deveriam se libertar das atividades domésticas para poder se integrar plenamente ao mercado de trabalho, ganhando autonomia e liberdade. Com o objetivo de “reeducar” as famílias operárias, aplicou a lavanderia coletiva e mecanizada com tecnologia industrial em seus projetos9. Com relação a tipologia Schütte-Lihotzky propõe a criação de programas específicos para diferentes grupos de diferentes experiências de vida: mulheres solteiras, casais jovens sem filhos, casais com filhos etc., sem que isto significasse a segregação em grupos homogêneos em uma mesma edificação. Nos conjuntos propostos por Portinho como no Pedregulho, são oferecidas duas tipologias voltadas a diferentes tamanhos de famílias.
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https:// undiaunaarquitecta. wordpress. com/2015/04/16/ margarete-schuttelihotzky-1897-2000/. 7 Para exemplificar o modelo de habitação ao que se referia, Portinho resume os itens do livro Modern Housing, de Catherine Bauer, publicado em 1934, onde estão organizados os padrões mínimos para habitações em conjuntos.
8 Americana, economista do lar, expoente do taylorismo aplicado à esfera doméstica no inicio do século XX.
9 Esse caráter era reforçado a partir das tipologias dos apartamentos que não contavam com área destinada a lavanderia individual.
10 Publicada em 1943.
11 Arquiteto, companheiro de Portinho. Os dois trabalharam juntos no Departamento de Habitação Popular e nos projetos de conjuntos habitacionais como o Pedregulho.
3.3.FUNÇÕES DA CIDADE O quarto CIAM destacava que a habitação deveria ser considerada elemento primordial da urbanização e que a cidade deveria ser organizada de acordo com quatro funções. A Carta de Atenas10, de Le Corbusier propõe o zoneamento de bairros a partir dessas quatro funções: habitação, recreio, trabalho e transporte. As nossas cidades foram construídas a partir desta teoria que propõe o fracionamento do espaço a partir da funcionalização dos usos: determinação de zonas especificas onde se constroem habitações, ou postos de trabalho ou centros comerciais. Esta forma de desenvolvimento da cidade priorizada pela sociedade capitalista, vem sendo questionada desde muitos lugares pelo impacto gerado na sociedade sem valorizar as necessidades cotidianas de tarefas reprodutivas. A crítica que pode ser feita a essas cidades é que a divisão em zonas com muito espaço destinado a circulação não valoriza a escala doméstica e sim o deslocamento através do automóvel. A visão defendida pelas urbanistas estudadas priorizam a perspectiva de gênero, onde todas as pessoas independente do sexo, idade ou etnia devem disfrutar igualmente a cidade e ter facilidade de acesso aos equipamentos assim como aos locais de trabalho. Na visão de Portinho habitação, transporte, trabalho e recreio são funções interdependentes e indissociáveis. Para tal, o problema da habitação deveria ser considerado levando-se em conta todos os seus aspectos do modo mais amplo possível. Sua proposta não era construir “apenas” unidades habitacionais, mas núcleos residenciais autônomos, autossuficientes, onde todas as atividades fora do trabalho seriam realizadas, incluindo a reeducação dos trabalhadores para a vida moderna. Segundo Reidy11, o problema da habitação estava intimamente ligado ao transporte e o ideal seria morar próximo aos locais de emprego, para evitar perda de tempo e despesas com o transporte. Denby enfatiza a necessidade de planejamento urbano, pois o alojamento pode ser aumentado indefinidamente, de acordo com as necessidades da população, a terra, por outro lado, é uma constante e uma certa proporção deve ser preservada para a agricultura.
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3.4.POLÍTICO-ADMINISTRATIVO Todas concordavam que a habitação deveria ser oferecida como um serviço social e que a propriedade deveria permanecer pública assim o governo poderia garantir o aluguel baixo através de subsídios. Para Portinho a habitação deveria ser um serviço social de utilidade pública, incluída entre os serviços obrigatórios que o governo deve oferecer, como água, luz, gás e esgoto. Oferecidas no sistema de aluguel, equivalente a 10% do salário do morador, destinado à manutenção do local. Deveriam ainda contar com serviço social permanente no conjunto residencial e os recursos, não retornáveis para a construção viriam do orçamento do Distrito Federal. Bauer também acreditava que a habitação para famílias de baixa renda deveria permanecer como propriedade pública e que o valor do aluguel deveria ser mantido baixo através de subsídios. Denby relaciona as origens do problema habitacional ao início da Revolução Industrial. Compara práticas e políticas habitacionais entre países europeus apontando e examinando os fatores nacionais que influenciaram aquele problema: clima, economia pós-guerra e natureza da propriedade da terra. Discute também o aspecto financeiro: os organismos responsáveis pela construção de casas e a natureza dos subsídios disponíveis para a construção. Aponta a taxa de crescimento populacional, assim como o tamanho das famílias que demandam casas novas, como fatores determinantes para o enfrentamento do problema habitacional e uma antecipação inteligente das necessidades habitacionais (DENBY,1938). 3.5.SOCIAL Com relação a grande responsabilidade social dos arquitetos, Schütte-Lihotzky, argumenta que a habitação deve ser um espelho dos hábitos da vida das pessoas e que, em relação a esta vida: devemos projetar a partir do interior ao exterior e não a partir da forma exterior ao interior. A arquiteta valorizava a importância da educação infantil. Portinho enfatizava a importância da educação das classes populares por meio da arquitetura. As assistentes sociais ensinariam aos mais pobres novos hábitos de higiene, saúde e, principalmente, como ‘usar’ as construções modernas, como a principal função de reeducação completa do operário brasileiro.
Denby destacava que além de prover habitações também era necessário elevar os padrões de planejamento urbano, de equipamentos, de todas as comodidades da vida acima de tudo o que havia sido conhecido no passado. A partir de seus estudos apontava que a habitação vienense poderia ser reivindicada como a maior conquista de habitação do século. Ainda sobre a questão social Bauer defendia a participação comunitária no planejamento do bairro e utilizava o conceito de comunidade equilibrada como sendo aquela que fornecia abrigo, local para recreação, além de trabalho para todas as famílias, independentemente da renda, dentro do contexto de um sistema de planejamento e de transporte metropolitano. A qualidade de vida urbana, seria alcançada através de melhores habitações, funcionais, de baixo custo e com igualdade de acesso por parte dos futuros moradores. 4.CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho procurou a partir da perspectiva de gênero demonstrar o papel fundamental na teoria e pratica das mulheres na construção do enfrentamento ao problema da habitação. As urbanistas e arquiteta conscientemente ou não contribuíram para a emancipação da mulher e pela valorização das necessidades cotidianas de todos os grupos sociais de mulheres e homens de todas as idades. Apontaram a necessidade da habitação ser vista como um serviço social a ser mantido pelo governo atendendo a diferentes grupos sociais e oferecendo diferentes tipologias habitacionais para diversas experiências de vida sem por isso segregar as pessoas. A arquitetura aparece sempre associada ao planejamento urbano da cidade. Essas propostas oferecem critérios pertinentes e atuais e resgatar o discurso de quatro figuras-chave para a questão habitacional pode contribuir na construção de ferramentas para enfrentar o problema habitacional e para a produção de habitação coletiva e social de qualidade nas cidades brasileiras.
5. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, Geraldo Edson de.(1999).Carmen Portinho: Por toda a mina vida, Rio de Janeiro:Ed UERJ. BAUER, Catherine.(1934).Modern housing. Boston/ NovaYork: The Riverside Press/Houghton Mifflin Co. BRUNA, Paulo.(2010).Os primeiros arquitetos modernos: Habitação Social no Brasil 1930-1950. São Paulo: Ed. Edusp. BONDUKI, Nabil.(2015). Os pioneiros da habitação social.Volume1.Ed.Sesc., São Paulo: Ed.Unesp. Col-letiu Punt 6. (2014).Mujeres trabajando. Guía de reconocimiento urbano con perspectiva de género. DENBY, Elizabeth.(1938).Europe Rehoused. Introdução: Elizabeth Darling. London e New York: Ed. Routledge, 2015. HAYDEN, Dolores.(1984).Redesigin the american dream. The future of housing, work, and family life. W.W.Norton & Company, New York, London. USA MONTANER, Josep Maria, MUXÍ, Zaida.(2011a). Arquitectura y Política: ensayos para mundo alternativos. Barcelona: Gustavo Gili. ___________.(2011b).Habitar el presente. Ministerio de Vivienda y Ministerio de Asuntos Exteriores, AECID, Madrid. MUNFORD, Eric.(2002).The CIAM Discourse on Urbanism, 1928-1960. Massaschusetts: MIT Press. MUXÍ, Zaida.(2015). Un dia una arquitecta. https:// undiaunaarquitecta.wordpress.com/2015/04/16/ margarete-schutte-lihotzky-1897-2000/. NOBRE, Ana Luiza.(1999).Carmen Portinho: O moderno em construção. Rio de Janeiro: Relume Dumará/PCRJ. RISÉRIO, Antonio.(2015).Mulher, casa e cidade. São Paulo: Editora 34. SCHUTTE-LIHOTZKY, Margarete.(1996).Dalla cucina alla città. Milão, Itália: Franco Angeli. OBERLANDER, H. Peter, NEWBRUN, Eva.(1999). BAUER, Catherine. Houser: the life and work of Catherine Bauer. Vancouver, UBC Press.
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MARCELA MARQUES ABLA marcelamabla@gmail.com Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (desde 2012). Doutorado Sanduiche, ETSAB/UPC.Graduação em Arquitetura e Urbanismo pela PUC-Rio (2006). Título de mestre: Máster Laboratório de la Vivienda del Siglo XXI, ETSAB/UPC (2011). Título revalidado pelo PROURB/FAU/UFRJ (2014). Pós-graduação em Master Arquitectura y Sostenibilidad: Herramientas de Diseño y Técnicas de Control Medio Ambiental, ETSAB/UPC (2009). Integrante do grupo de pesquisa Laboratório de Urbanismo e Ambiente (LAURBAM).Participante da equipe vencedora do Concurso Morar Carioca – Conceituação e Prática em Urbanização de Favelas, 2010. Bolsista CNPQ (desde 2012), Bolsista PDSE (ETSAB-UPC).
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1. TEORIA E HISTÓRIA DA HABITAÇÃO COLETIVA | TEORÍA E HISTORIA DE LA VIVIENDA COLECTIVA
Ibrahim Massaru de Borba1 | Luiz Antonio Recamán de Barros2 | São Paulo, Brasil CASAS DE ARTIGAS Produção residencial e sua inserção no meio urbano
INTRODUÇÃO Este artigo descreve e analisa parte da produção residencial do arquiteto Vilanova Artigas, e a pesquisa espacial e urbana ali realizada. Trata das primeiras residências realizadas entre 1942 e 1958, e tem como foco a definição metodológica sobre quais registros priorizar na representação gráfica tanto das residências quanto de seu entorno urbano. O objetivo final do projeto, do qual esta pesquisa faz parte, é compreender as relações espaciais e urbanas constituintes dos paradigmas espaciais inovadores nessas casas ensaiadas. METODOLOGIA O uso de meios gráficos (desenhos, maquetes digitais e vídeo), como metodologia para o registro das residências, permite abordar questões sobre a obra a partir de uma análise essencialmente sensível-espacial. A apreensão espacial, que essa análise pretende viabilizar, permite simular tanto as dinâmicas internas das residências – da ordem dos espaços privados e próximos – quanto a inserção no tecido urbano – da ordem das representações sociais sobre a cidade. Aspectos da obra que dificilmente seriam descritos através de textos, mas que são experimentados por aqueles que ocupam seu espaço. Dentre esses meios de representação, nessa pesquisa, se destacam: o desenho (plantas e cortes da obra) e seu potencial de descrever e evidenciar aquilo que é pensado; a maquete digital, capaz de simular relações espaciais e a experiência gerada por elas, tanto do espaço interno quanto externo; o percurso pela maquete, que simula as sensações visuais e espaciais da escala humana, quando percorre a obra (fig.1).
Ambas as análises demandam uma metodologia que oriente as escolhas sobre o que será representado e como será representado. Cada casa e contexto urbano exigem critérios analíticos específicos, por estarem em contextos diferentes e por terem passado por alterações específicas; desde a época da construção da residência até sua situação atual. A decisão sobre o modelo final tem por base o espírito que orienta a PLATAFORMA SÃO PAULO: CIDADE, ESPAÇO, MEMÓRIA (NAP-SP USP), a saber, a possibilidade de essa base digital ser utilizada por pesquisas futuras. Essas decisões, sobre as versões do projeto a serem consolidadas na maquete, tem por base a tentativa de se aproximar o mais precisamente possível das decisões de projeto realizadas pelo arquiteto, quer seja nos estudos preliminares, no projeto executivo, ou mesmo por decisões tomadas durante a construção. METODOLOGIA DE REPRESENTAÇÃO DAS CASAS Primeiramente, é feita pesquisa bibliográfica que, sistematizada na forma de um relatório de documentos, descreve os registros encontrados sobre a casa e onde foram encontrados. Esse levantamento de informações facilitará o entendimento da obra e do seu entorno, além de sustentar a produção de desenhos e maquetes das residências. Também é feito levantamento in loco, para melhor compreensão da casa e solução de questões que ficaram em aberto. A produção de desenhos é feita no software AutoCAD (plantas, cortes, elevações etc.) e representará cada casa nos seguintes contextos: inserida no lote; inserida no seu entorno de época; inserida no seu
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1 Autor do artigo, vinculado ao projeto FAPESP 2014/23687-4. 2 Co-autor/orientador do artigo e orientador do projeto FAPESP 2014/23687-4.
entorno atual. A matriz da maquete digital também é feita em AutoCAD, enquanto a renderização e o refinamento no software 3DsMax. O levantamento preciso das casas está sujeito a variáveis que interferem na compreensão do projeto e, consequentemente, nos desenhos e maquetes que serão feitos posteriormente. Essas variáveis incluem: a quantidade e qualidade das informações existentes sobre cada casa; reformas e alterações que a casa possa ter sofrido ao longo dos anos; a disponibilidade dos proprietários em fornecer informações e autorizar as visitas. METODOLOGIA DE REPRESENTAÇÃO DO ENTORNO Com o objetivo de criar duas bases comparativas da cidade de São Paulo, uma no contexto da década de cinquenta e outra em um contexto atual, são redesenhados dois mapas já existentes. O mapa da cidade atual é feito a partir do MDC (Mapa Digital da Cidade), de 2004, que faz parte do acervo do CESAD da FAUUSP (Centro de Coleta, Sistematização, Armazenamento e Fornecimento de Dados da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo). E o entorno de época é simulado a partir de cartas VASP Cruzeiro, mapas feitos na década de cinquenta (1954) pela VASP Aerofotogrametria S.A., que fazem parte do Acervo de Projetos da Biblioteca da FAUUSP.
contexto de seu entorno à época da construção era o de um bairro suburbano. Ruas provavelmente sem calçamento, como se pode notar: nas cartas VASP Cruzeiro da região, sem indicação de meio fio; fotos de época que mostram ruas de terra batida; quadras constituídas de grandes lotes, ou quadras vazias com alguns pequenos lotes isolados. A linha de bonde Santo Amaro já atravessava a região e, futuramente, seria substituída pela Avenida Vereador José Diniz. Atualmente o mercado imobiliário e suas tipologias construtivas se consolidaram na região; redividindo as quadras, agora ocupadas em sua maioria por edifícios de apartamento de 20 a 30 pavimentos. Entre esses edifícios estão os vizinhos ao lote da Casinha, tornando-a um ponto fora de escala e isolado no meio da massa de edifícios. Porém, apesar do contraste espacial, as relações internas da casa parecem sofrer pouco com a alteração do entorno; mantendo-se muito similar à época em que foi construída.
O MDC é sobreposto à carta VASP e redesenhado, mantendo-se os elementos que continuaram iguais e ajustando os elementos que foram modificados. Assim, o mapa digital de época é feito a partir de alterações no MDC, para que corresponda ao conteúdo da carta VASP, mas também possua parte da precisão de um levantamento mais recente.
O percurso pela maquete da Casinha começa na rua, olhando sobre o muro para a casa. Conforme percorre a rua e vira a esquina (para se chegar à entrada da casa), fica evidente que sua rotação de 45º em relação ao terreno elimina a existência de fachadas (fig.3), criando a sensação de uma casa isolada no lote (Medrano & Recamán, 2014). O percurso continua para o interior da casa, atravessa a sala de estar e a cozinha. Esses ambientes se mesclam, por não existir uma divisão clara entre ambos e se organizarem em torno da lareira e do bloco hidráulico. Em seguida, desce para o estúdio, olha para o quarto em meio nível, sobe para em sua direção e conclui, retornando para o ambiente “sala-cozinha”.
O uso de desenhos digitais permite a sobreposição direta de uma base sobre a outra. De tal forma que são evidenciadas as mudanças ocorridas nesse intervalo de tempo e facilita a visualização de adaptações e reformulações mais sutis, seja no sistema viário ou no loteamento. Esses desenhos também são complementados por uma maquete digital 3D que permite visualizar alterações de gabarito e topografia. Aspectos que demandariam maior esforço para se mentalizar e comparar somente através de plantas.
SEGUNDA CASA DO ARQUITETO A Segunda Casa do Arquiteto se encontra no mesmo lote da Casinha (fig.2), porém adota um novo partido. Seu programa é organizado de maneira mais funcional, se comparado à casa anterior, com os ambientes dispostos ao longo de um eixo longitudinal em relação ao lote (fig.4), seguindo à ordem: quartos; cozinha; banheiro; sala de estar; estúdio (elevado em relação aos outros ambientes). Não existe mais o eixo rotacional dos ambientes que caracterizava a casa anterior.
CASINHA A Casinha foi projetada para o próprio arquiteto no bairro do Campo Belo, em 1942 (fig.2). Localizada em um lote de esquina de 1000m², o
Por se encontrar no mesmo terreno da Casinha, passou por alguns problemas e soluções similares aos adotados para essa e, assim como a antecessora, também foi pouco alterada desde sua
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construção. A Casa foi construída em duas etapas: primeiramente, foi construído o volume principal da casa e, dois anos depois, a garagem com sua abóboda catalã de tijolo revestido. O percurso da maquete eletrônica começa olhando para a rua e segue para o interior do lote, percorrendo a lateral da garagem e entrando na sala. Ao se olhar do interior na sala, percebe-se que só se estabelece uma relação visual: do interior da casa para o estúdio e vice-versa. Apesar de exteriormente a Casa transmitir a sensação de transparência, através de seus panos de vidro. Ao se entrar na casa se percebe que a posição dos vãos, no alto da parede, direciona o olhar somente para os espaços internos da residência e para o céu (Medrano & Recamán, 2014). A câmera segue para o estúdio e gira novamente, dessa vez apontando para a sala e o interior da casa, reproduzindo o mesmo efeito, agora do ponto de vista de quem está no escritório. CZAPSKI Projetada para um médico e uma fotógrafa, a casa fica localizada no bairro do Sumaré (fig.5). O terreno da região é mais irregular e o lote da casa possui declive de aproximadamente 25%. Similar ao que aconteceu com a Casinha e a Casa, à época da construção (década de 50) o entorno onde se encontra a casa estava vazio, sem ruas pavimentadas e com vista para o vale onde futuramente passaria a Avenida Sumaré. Atualmente a região também está amplamente ocupada, em grande parte por residências e seus lotes. Vale ressaltar que, apesar de ter sofrido uma alteração no seu entorno similar ao entorno da Casinha e da Casa, a Czapski parece ter sofrido mais com essas mudanças. As reformas pelas quais passou são mais acentuadas; não só na relação de seus espaços internos, mas também da apropriação do lote proposta pelo arquiteto. Nesta pesquisa, foi a residência com menor quantidade de informações encontradas e mesmo os documentos encontrados só transmitiam uma visão geral sobre a residência. Teve como princípio para sua representação gráfica o método de projeto de Artigas, buscando uma conciliação entre desenhos de prefeitura, desenhos de livros, medições feitas em visita in loco e fotos de época. Entre as principais questões levantadas sobre a casa, está a solução estrutural usada por Artigas. A princípio, a posição das colunas não altera a disposição dos espaços internos da casa, já que ela, em suma, se constituiria de uma caixa sobre pilotis. Porém, ao desenhar essa disposição, percebeu-se
que uma das colunas ficaria dentro da parede próxima à entrada principal. Como essa parede ainda existe, apesar das paredes adjacentes terem sido demolidas, concluiu-se então que se trata de uma parede estrutural. Não existe então uma coluna naquele ponto específico, de forma que o sistema estrutural se confunde com a função da vedação, demonstrando uma relativização feita pelo arquiteto da clareza estrutural sugerida pela concepção geral. A ausência de clareza no sistema estrutural da casa também ocorre na laje borboleta. As laterais da cobertura funcionam como vigas, sustentando-a para vencer o vão do pano de vidro na fachada principal e suprindo a ausência de pilares e outras vigas internas à cobertura. Pode se afirmar, pelos desenhos de prefeitura e por uma foto tirada antes da construção do forro, que o restante da cobertura é constituído de telha de fibrocimento sobre uma grelha de tábuas de madeira. Apesar de nesse período, década de 50, já se esperar um partido de projeto mais alinhado com as ideias de Corbusier e do racionalismo moderno. Artigas ainda apresenta elementos da arquitetura wrightiana, como os meios níveis e o sistema estrutural pouco evidente (fig.6). O percurso começa na rua, olhando em direção à residência e o vale ao fundo. Em seguida, desce pela rampa até a plataforma da garagem, de onde olha para o vale. Depois retorna pela rampa, entra na casa e segue até o fundo da sala, de onde pode olhar o exterior através da janela. O percurso retorna e olha pelos panos de vidro em direção à rua. Sobe as escadas até o mezanino, olha pela janela, novamente para o vale. Em seguida retorna, e finaliza olhando do mezanino, através panos de vidro, para a rua. D’ESTEFANI Projetada no bairro da Vila Clementino em 1950 (fig.7), seu lote é muito menor se comparado às casas anteriores, o que leva Artigas a projetar uma casa compacta que ocupa todo o lote. Seu entorno mais imediato também já está mais consolidado do que o das outras casas, especialmente a quadra em que está inserida e as quadras à sua frente. Assim como nas outras casas a região sofrerá grandes alterações. Nesse caso em especial: a reconfiguração de pequenos lotes para grandes áreas ocupadas por grandes edifícios; a canalização dos córregos; alterações no terreno para a implantação de um sistema viário de grande porte (Rua Sena Madureira, Avenida 23 de Maio e o Cebolinha).
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Dado seu contexto, lote pequeno e entorno consolidado, a casa já apresenta um partido que começa a olhar mais para seu interior e deixar mais evidente seu fechamento para o exterior; a substituição dos panos de vidro pelo cobogó (Medrano & Recamán, 2014). A casa com o decorrer do tempo passou por mais alterações, pelo que se percebe ao comparar a obra atual com as fotos de época e o projeto original. De uma maneira geral, ela se enclausurou mais ao eliminar o cobogó e fechar os jardins com grades. Apesar das relações visuais e diferenças de nível, possui uma relação entre os ambientes mais simples e intuitiva, assim como a Segunda Casa do Arquiteto. O programa da casa se distribui nas extremidades do lote, ligados por rampas nas laterais do lote, deixando o centro da residência livre para um jardim descoberto (fig.8). O percurso na sua maquete começa olhando da rua para o bloco do escritório. Nota-se que o cobogó permite alguma transparência para o interior do escritório, porém não chega a ser a transparência total de um pano de vidro. Passando por baixo do escritório se chega ao pátio interno, onde a visão gira e olha para as paredes dos quartos, da rampa-corredor e do escritório. Vazio do jardim descoberto no centro da residência para onde o olhar é direcionado, em vez do vazio da área externa à residência. A câmera entra na sala e olha através do pano de vidro para o jardim, depois sobe a rampa enclausurada, sem estabelecer relação com o lote vizinho. Chega ao escritório e do interior desse, olha para a rua através do cobogó. CONCLUSÃO Nessa pesquisa procurou-se compreender as virtualidades espaciais contidas nos projetos estudados, paradigmáticos quer seja em relação à obra do arquiteto quer seja em relação ao desenvolvimento da arquitetura paulista e brasileira. Em todos se percebe a intensificação das relações espaciais internas, seja pela complexidade das relações entre os ambientes internos seja pelo direcionamento do olhar para o interior da casa. Consequente inibição das relações espaciais externas e intensificação da lógica do lote. E sugestão do tecido urbano como replicação dessa unidade habitacional sem interação entre as unidades. Para essa compreensão, o uso da representação gráfica permitiu não só evidenciar as intenções de projeto de Artigas no seu processo de introspecção da unidade habitacional em relação à cidade. Mas
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também as mudanças que aconteceram na cidade, desde a época da construção da casa até sua condição atual. Permitindo entender como as alterações da cidade influenciaram, ou não, nas casas. De um modo geral, a independência dos espaços internos da casa, em relação à cidade, permitiu que as alterações no tecido urbano e ocupação das quadras pouco influenciassem no projeto da casa. As reformas e alterações que as casas sofreram foram mais em função de uma nova formação e reorganização do modo de vida de seus novos proprietários. Mesmo com essas alterações, a característica introspecção das casas, seja para o lote seja para si mesma, mantém relações espaciais únicas e exclusivas de cada obra. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARTIGAS, J. B. V. (2004). Caminhos da Arquitetura. São Paulo: Cosac Naify. MEDRANO, L.; RECAMÁN, L. (2014). Vilanova Artigas: habitação e cidade na modernização brasileira. Campinas: Unicamp. FERRAZ, M. C.; PUNTONI, A.; PIRONDI, C.; LATORRACA, G.; ARTIGAS, R. (1997). Vilanova Artigas. São Paulo: Fundação Vilanova Artigas; Instituto Lina Bo; P. M. Bardi. KAMITA, J. M. (2000). Vilanova Artigas. São Paulo: Cosac & Naify Edições. KATINSKY, J. R.; OHTAKE, R.; ARTIGAS, R. (2003). Vilanova Artigas. São Paulo: Instituto Tomie Ohtake. (2001). A cidade é uma casa. A casa é uma cidade: Vilanova Artigas Arquitecto. Almada, Portugal: Casa da Cerca. (Exposição realizada pela Casa da Cerca – Centro de Arte Contemporânea em colaboração com a Fundação Vilanova Artigas. São Paulo; Almada: 25 de Novembro de 2000 – 04 de Março de 2001). ACAYABA, M. M. (2011). Residências em São Paulo: 1947 – 1975. São Paulo: Romano Guerra. FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Mapas Digitais: municípios da região metropolitana de São Paulo, São Paulo. Disponível em: <http://www.cesadweb. fau.usp.br/index.php?option=com_content&view= article&id=192872&ItItem=1222#current>. Acesso em: junho/2014.
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LUIZ ANTONIO RECAMÁN BARROS luizrecaman@gmail.com
IBRAHIM MASSARU DE BORBA ibrahim.borba@usp.br
Luiz Recaman possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (1983), graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (1987), mestrado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1995) e doutorado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (2002). Atualmente é prof. dr. da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e do seu programa de Pósgraduação em Arquitetura e Urbanismo. Suas principais pesquisas tratam da Estética da Arquitetura, Crítica de Arquietura, Arquitetura Moderna Brasileira e da relação entre Habitação Social e desenvolvimento urbano. É co-autor do livro "Brazil's Modern Architecture" (Phaidon, 2004) e "Vilanova Artigas: Habitação e cidade na modernização Brasileira" (Unicamp, 2013)
Graduando do 7º semestre da FAUUSP. Dominío avançado de AutoCAD. Domínio básico de QGis e Revit. Estagiário do NAP-USP, do departamento de História da FAUUSP, no período de nov. 2013 à nov. 2014. Participação em Produção Gáfica e Pesquisa para: MEDRANO, L. S. ; RECAMÁN, Luiz. Vilanova Artigas: habitação e cidade na modernização brasileira. 2014. Comissão de secretaria e ouvinte no Congresso Manfredo Tafuri: seus leitores e suas leituras.
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1. TEORIA E HISTÓRIA DA HABITAÇÃO COLETIVA | TEORÍA E HISTORIA DE LA VIVIENDA COLECTIVA
Jaume Asensi Carles | Barcelona, Espanha REVISIÓN HISTÓRICA DE LOS ESPACIOS COMUNES EN EDIFICIOS DE VIVIENDA COLECTIVA Bases para su comprensión y desarrollo
Desde la primera mitad del s.XX la vivienda ha ocupado un espacio central en la disciplina arquitectónica. Se ha producido una importante evolución en la concepción de los tipos de vivienda, sobre todo desde el período entre las dos guerras mundiales. Pero esta evolución no ha ido acompañada con el mismo ímpetu y rigor del desarrollo de los espacios comunes en los edificios colectivos de vivienda. Se propone una revisión histórica de la evolución de la vivienda colectiva centrada en los espacios comunes con la finalidad de entender y valorar su capacidad para mejorar las condiciones de vida de sus habitantes. Esta especie de manifiesto retroactivo permitirá interpretar la potencialidad de estos espacios y, por tanto, su desarrollo futuro. Las primeras propuestas conscientes de alojamiento colectivo vinculado a unos espacios comunes compartidos por sus habitantes las encontramos en la reacción de los intelectuales filantrópicos del siglo XIX contra las condiciones de vida de la clase trabajadora en las ciudades industriales. La respuesta para solucionar el problema consiste en negar la ciudad y proponer nuevos contextos de convivencia. Es el caso de las comunidades que propone Robert Owen a principios del siglo, dónde los edificios que albergan las viviendas se distribuyen alrededor de un patio común que alberga usos comunitarios. (fig.1) Más allá de las comunidades de convivencia, Charles Fourier vaticina una organización social que ocuparía el territorio con los Falansterios: unos palacios para 1620 habitantes donde desparece el núcleo familiar planteando una vida totalmente colec-
tivizada. Formalmente los Falansterios se organizan como palacios versallescos: un cuerpo central alrededor del patio principal y dos alas laterales, igualmente alrededor de patios. Los volúmenes laterales se adelantan respecto al central generando el primer espacio común: un espacio exterior de acogida en el acceso principal al edificio. Las estancias residenciales se desarrollan alrededor de grandes patios interiores abiertos que las agrupan entorno a ellos, convirtiéndolos en espacios comunitarios a una escala más pequeña. (fig.2) El sistema de espacios comunes se completa con los recorridos perimetrales alrededor de los patios planteados en la primera planta. Se trata de unos espacios de circulación concebidos como lugares de relación: la anchura prevista era de 11m ocupando las tres alturas de la zona residencial. Toda la fachada que se vuelca a los patios es acristalada, relacionándose directamente con ellos. Esta gran galería es continua y recorre todo el edifico permitiendo acceder directamente a las estancias de la planta primera o, mediante escaleras, a las de las plantas segunda y tercera. Fourier no consiguió construir ninguno de estos Falansterios. Seguramente la radical reorganización social que proponía fue una de las causas por las cuales no encontró financiación para sus proyectos. Sin embargo otros industriales como Jean-Baptiste André Godin sí que recogieron y reinterpretaron sus ideas para construir edificios residenciales. Godin edificó un conjunto residencial en Guise que bautizó con el nombre de Familisterio. La referencia los
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Falansterios es clara, pero también la intención de preservar la estructura social basada en la unidad familiar. La configuración formal del edificio es similar a la de los Falansterios, pero con algunos matices. El espacio principal de acceso, en este caso, es tangente al eje de circulación que conduce a la zona de producción industrial donde trabajaran sus habitantes. Además, a la otra parte de este eje de circulación se genera un espacio exterior similar definido por los volúmenes de edificios destinados a usos comunitarios. De esta manera, este primer espacio común de acogida se relaciona directamente con el contexto construido donde se ubica el edificio. Otra diferencia respecto a los palacios de Fourier es que en este caso los patios y las galerías de circulación se unifican en grandes espacios con cubierta de vidrio. Así los volúmenes destinados a alojamiento se distribuyen alrededor de unas grandes salas comunes donde se vuelcan los corredores de acceso de las plantas superiores. (fig.3) Volviendo a los núcleos urbanos, el crecimiento de las ciudades en el siglo XIX provocó el desarrollo de planeamientos para regular la ocupación del territorio. Y con ellos diferentes interpretaciones de los edificios residenciales y de los espacios comunes. En Berlín, el plan de crecimiento de la ciudad presentado por el jefe de policía Hobrecht (1862) ocupa enormes extensiones de zonas verdes con casernas de alquiler organizadas en grandes manzanas urbanas. Los bloques residenciales se hacen profundos para que puedan alojar a muchos habitantes y, de esta manera, poder controlar a la población en caso de revueltas. La ocupación de estas grandes manzanas obliga a construir volúmenes residenciales en el interior, sin contacto con las calles urbanas. Esta situación genera la inevitable utilización de los patios interiores como espacios de circulación comunes: los habitantes del interior de la manzana necesitan circular por el los patios para acceder a sus viviendas. Así, estos espacios se convierten en una especie de antesala protegida del entorno urbano desde donde se accede a los vestíbulos de planta baja. El edificio Meyers Hof, construido en 1874, representa con claridad la estructura castrense implantada en las manzanas de Berlín. Se trata de una serie de bloques longitudinales atravesados por una circulación en planta baja perpendicular a ellos en el eje del conjunto. Se plantean agrupados de dos en dos generando una serie de espacios exteriores comunes que alternan patios y jardines. (fig.4)
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A principios del siglo XX la vivienda obrera había pasado a ser el problema central de la disciplina arquitectónica. Especialmente después de la I Guerra Mundial, en la década de 1920, tal como describe Josep Maria Muntaner (ref.1): ‘Por primera vez en la historia, la vivienda social pasó a estar en el centro de la evolución de la cultura arquitectónica y constituyó una parte muy importante de la teoría y la obra de muchos arquitectos. (...)
En definitiva, el lugar central que ocupó la vivienda colectiva a principios del siglo XX permitió a los arquitectos - los especialistas que le habían dado forma - se situasen por primera vez en un lugar predominante en el proyecto de la gran ciudad (…). Este predominio de los arquitectos - que habían entendido que la vivienda era la pieza clave que conforma la ciudad moderna - empezó a declinar a partir de los años 1980 y ha resultado, lamentablemente, efímero.’ En este momento, después de la I Guerra, Viena se convierte en escaparate de una política socialdemócrata que apuesta decididamente por la construcción masiva de vivienda social. La ciudad plantea la implantación de grandes bloques residenciales en entramados urbanos consolidados con la finalidad de aprovechar al máximo las infraestructuras existentes. Igual que pasaba en Berlín, las formas construidas definen unos patios comunes vinculados a los edificios. Pero en este caso se plantean abiertos a la ciudad y no se ciñen a la estructura de calles existentes, sino que se convierten en propuestas de espacios que se incorporan al entorno urbano redefiniéndolo. Los patios quedan configurados por conjuntos edificados orgánicos permeables en sus plantas bajas e incluso atravesados por calles urbanas. Un ejemplo que refleja esta interpretación del espacio comunitario como un lugar de relación entre los habitantes del edificio y también con el entorno donde se ubica es el Winarskyhof de P. Beherens & alt. de 1924. Se trata de un conjunto que se apoya en edificación existente y que ocupa dos parcelas de la retícula urbana. La intervención agrupa todo el conjunto en un único organismo perforado en la planta baja donde la calle central existente se convierte en la circulación vertebradora de los cuatro patios generados por los edificios. (fig.5)
Otro país donde la vivienda colectiva ha sido el elemento fundamental en el crecimiento urbano, incluso des de antes de la I Guerra Mundial, es Holanda. El planeamiento urbanístico de Amsterdam Sur de H.P.Berlage de 1915 plantea grandes manzanas residenciales que configuran los espacios urbanos. La tradición de promoción cooperativa y la implicación de las administraciones públicas permitieron construir edificios que ocupaban la totalidad de las manzanas que, además, incluían equipamientos y servicios comunes. La morfología de los edificios responde a dos realidades y a dos escalas diferentes. Por una parte las fachadas exteriores, las que definen el espacio urbano, se interpretan a gran escala, con grandes aberturas, juegos formales con balcones corridos, remarcando las esquinas en los cruces de calles... Por otra parte, se desarrolla todo un mundo interior en los patios comunes de manzana. En ellos las fachadas son mucho más domésticas, mostrando pequeños huecos, galerías, balcones individuales. Un ejemplo de utilización comunitaria de estos interiores de manzana es el proyecto para el barrio de Spangen de Michel Brinkman de 1919-20. En este caso el interior se ordena con una urbanización propia y se ocupa con edificaciones que albergan tanto viviendas como servicios comunes. El proyecto plantea unos accesos al interior de manzana de grandes dimensiones y de doble altura en la fachada urbana. Una vez dentro del conjunto la percepción espacial es más doméstica. La planta baja está ocupada por zonas ajardinadas y recorridos peatonales. Desde esta planta baja se puede acceder directamente a las viviendas que ocupan los dos primeros niveles del edificio y también a los núcleos de comunicación que conducen a la calle-corredor de la planta segunda dónde se desarrollan las viviendas de los niveles superiores. Este corredor común se plantea no sólo como un espacio de circulación, sino también como un espacio de relación. Su dimensión es generosa permitiendo la ocupación por parte de los vecinos con elementos de decoración, jardinería y mobiliario exterior. Además, en los cruces, el espacio se ensancha dinamizándolo e interpretándolo como lugar de relación vecinal. (fig.6) Probablemente dónde más se desarrolla una idea de espacios comunes vinculados a los edificios residenciales es en la Unión Soviética, en el período entre las dos guerras mundiales. Buscando una economía de medios y una socialización de los servicios, se plantean las casas-comunes. Se trata de estructuras
complejas donde un número concreto de habitantes se asocia a un conjunto de servicios. Se llegan a plantear ciudades-comunes organizadas como organismos formales complejos que aglutinan casas-comunes y equipamientos a gran escala unidos por un sistema de circulación que unifica todo el conjunto. Mosei Ginzburg dirige un grupo de investigación que desarrolla propuestas de casas-comunes buscando una solución de alojamiento colectivo para la nueva sociedad soviética. El edificio Narkomfin de 1929 cristalizaba la investigación sobre la vivienda llevada hasta entonces y pretendía ser una prueba para estudiar el resultado y seguir la evolución de los nuevos modelos de residencia. Se trata de un bloque lineal que incorpora un cuerpo de espacios para uso comunitario situado en perpendicular configurando un conjunto en forma de L. Esta forma arropa parte del terreno donde se implanta generando un espacio exterior vinculado al acceso principal, en el vértice de la L. El bloque residencial se plantea sobre pilares exentos liberando gran parte de la planta baja. El corredor común de la planta primera es un espacio de circulación que conecta el volumen residencial con el de servicios. Se plantea dividido en dos partes de anchura generosa, una exterior y otra interior. La parte exterior se relaciona directamente con la planta baja, tanto visualmente como espacialmente. Los espacios comunes planteados se completan con las grandes salas de doble altura en el volumen comunitario y con el corredor común del volumen residencial en la planta cuarta. (fig.7) Lamentablemente, lo que se propuso como un eslabón en la búsqueda de una nueva forma de plantear la residencia colectiva, acabó convirtiéndose en el final de un proceso de experimentación debido a una radical posición política que quiso recurrir a la imagen clásica de la arquitectura para representar la grandeza de la nueva sociedad comunista. Pero muchas de las ideas desarrolladas por los arquitectos soviéticos en los primeros años de la revolución comunista fueron recogidas posteriormente, primero por algunas propuestas como las de las Unités d’habitation de Le Corbusier, y luego por los jóvenes arquitectos que cuestionaron los principios funcionalistas y la voluntad de internacionalizar la arquitectura de los maestros del movimiento moderno.
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Arquitectos como Alison & Peter Smithson quisieron recuperar para los ciudadanos valores de la ciudad tradicional que en el proceso de evolución urbana se habían ido perdiendo. En su propuesta para el concurso de viviendas Golden Lane en Londres en 1952, desarrollan una serie de bloques ligados entre sí mediante circulaciones comunes formalizadas por calles-corredor elevadas que unifican toda la intervención en un continuo construido. Esta propuesta recuerda a las ciudades-comunes planteadas en la Unión Soviética, pero en este caso se plantea un crecimiento orgánico, una especie de estructura ramificada sin jerarquías que va ocupando el territorio. Estas calles-corredor pretenden convertirse en espacios de relación vecinal. Se trata de circulaciones exteriores, bien ventiladas e iluminadas, con dimensión suficiente para permitir la circulación, el juego de niños, el reposo... Des de estas calles que ocupan toda la anchura de los bloques se puede acceder a las viviendas situadas por encima o por debajo. (fig.8) Después de la II Guerra mundial, la necesidad urgente de alojar a una gran cantidad de población, desplaza el interés hacia sistemas de prefabricación que permiten abaratar y acelerar la producción. En este contexto el desarrollo de los espacios comunes pasa a un segundo plano y generalmente se plantean con la idea de ocupar la mínima superficie para poder sacar el máximo aprovechamiento construyendo más viviendas. Como decía la cita de J.M.Muntaner, a partir de los años 80, el crecimiento de las ciudades se produce sin el protagonismo de la disciplina arquitectónica. La vivienda se desarrolla en manos de la propiedad privada y guiada por las reglas del mercado inmobiliario. En este contexto se hace difícil el desarrollo de los espacios comunes como espacios que puedan permitir la relación vecinal y social. En el contexto global actual se ha puesto de manifiesto la incapacidad de los mercados para garantizar una vivienda digna a toda la población. Por este motivo se hace necesaria la actuación directa o indirecta de las administraciones públicas en la construcción de vivienda colectiva. Reforzar precisamente el carácter colectivo de la vivienda, favoreciendo la creación de espacios de relación, mejorará la integración entre sus habitantes y con el entorno social donde se ubiquen. La revisión histórica expuesta remarca la importancia de los espacios comunes en los edificios de vivienda colectiva y establece unas bases para seguir evolucionando en la concepción de estos espacios comunes.
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ref.1 Muntaner, Josep Maria (2015). La arquitectura de la vivienda colectiva. Barcelona: Reverté
BIBLIOGRAFIA: Fourier, Charles. Le nouveau monde industriel et sociétaire. Ed. Flammarion. Paris 1973 Brauman, Annick. Le Familistère de Guise. Monographie d’un habitat sociétaire. Ed. Centre Georges Pompidou. Paris 1976 Hegemann, Werner. 1930. Das steinerne Berlin. Geschichte der größten Mietkasernenstadt der Welt. Ed. Ullstein. Frankfurt 1968 Tafuri, Manfredo. Vienna Rossa: La politica residenziale nella Vienna socialista, 1919 – 1933. Ed. Electa. Milano 1980 Fanelli, Giovanni. Archittetura moderna in Olanda 1900 – 1940. Ed. Marchi and Bertoli. Firenze 1968 Pasini, E. La casa comune e il Narkonfin de Ginzburg 1928-1929. Ed. Officina. Roma 1980 Alison & Peter Smithson. Urban structuring. Studies of Alison & Peter Smithson. Ed. Studio Vista. London / Ed. Reinhold Art Paperback. New York 1967
fig.1 Comunidad de New Harmony, Indiana. Robert Owen, 1825. [Fuente: Blat, Juan. Vivienda Obrera y Crecimiento Urbano (Valencia 1856 - 1936).Ed. COACV. València 2000]
fig.2 Vista general de un Falansterio. Charles Fourier, 1841. [Fuente: Paricio, Ignacio. "Las razones de la forma en la vivienda masiva" en ‘Cuadernos de Arquitectura y Urbanismo’n. 96. Ed. COAC. Barcelona, MaigJuny 1976] fig.3 Vista del Familisterio con la zona industrial al otro lado del rio. Jean-Baptiste Godin, 1870. [Fuente: Wikimedia commons https://commons. wikimedia.org/wiki/ File:Familist%C3%A8re_1. jpg]
fig.4 Vista aérea de la Meyershof, Akerstrasse 132/133, Berlin. 1874. [Fuente: Betonbabe. http:// betonbabe.tumblr.com/ post/18346421681/ adolf-erich-wittig-meyershof-meyers-courtyard] fig.5 Eje de acceso a la Winarskyhof. J.Hoffmann, P. Behrens, O. Strand, J. Frank, O. Wlacht, 1924. [Fuente: Wikimedia commons https:// commons.wikimedia.org/ wiki/File:Winarskyhof1. jpg]
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fig.6 Espacio interior comunitario del bloque de viviendas en el barrio Spangen. M. Brinkman, 1919-20. [Fuente: Fanelli, Giovanni. Archittetura moderna in Olanda 1900 – 1940. Ed. Marchi and Bertoli. Firenze 1968] fig.7 Casa-común Narkomfin. M. Ja. Ginzburg y I. Milinis, 1928-29. [Fuente: The Socialist City https:// thesocialistcity.wordpress. com/2014/09/29/ nikolai-ladovsky-la-casacomuna-y-el-metodopsicoanalitico-deensenar-arquitectura/#jpcarousel-530] fig.8 Una de las callescorredor del concurso de viviendas Gonden Lane. Alison & Peter Smithson, 1952. [Fuente: Vidotto, Marco. Alison + Peter Smithson. Obras y proyectos / Works and Projects. Ed. Gustavo Gili. Barcelona 1997]
JAUME ASENSI CARLES jaume_ac@hotmail.com - Tesis doctoral: 'Espacios comunes en los edificios colectivos de vivienda social' dirigida por Alfred Linares, en el Departamento de Proyectos de la ETSAB de la Universitat Politècnica de Catalunya. Pendiente de aprobación y presentación. - 30-11-2006. Obtención del Diploma d’Estudios Avanzados (DEA) con la calificación de Notable. - Curso 1999-2000. Finalizada la especialidad de Urbanismo en la Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto. - 14-07-1999. Título de arquitecto por la ETSA de Valencia en la Universitat Politècnica de València. Presentación del Proyecto Final de Carrera con la calificación de Sobresaliente 9.
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1. TEORIA E HISTÓRIA DA HABITAÇÃO COLETIVA | TEORÍA E HISTORIA DE LA VIVIENDA COLECTIVA
Alejandro J. Peimbert | Juan Carlos García | Mexicali, México IMAGINARIOS DE LA VIVIENDA COLECTIVA EN MÉXICO: Un caso en la frontera noroeste
INTRODUCCIÓN La vivienda colectiva amalgama diversos estilos de vida que se traducen en formas distintas de uso y apropiación de espacios comunes, por ello es objeto de estudio de disciplinas aparentemente ajenas a la arquitectura como la antropología y la sociología. Aquí se recupera el concepto de imaginario social para comprender los vínculos que se generan entre el sujeto y el espacio, e indagar en torno a las relaciones entre sujetos. Partimos de una breve reseña sobre la vivienda colectiva en México, considerando a la modernidad arquitectónica como una coyuntura. Posteriormente se presentan algunas referencias que sirven de pauta para pensar en un trabajo de etnografía que dé cuenta de los imaginarios que se conforman en los espacios compartidos; también, se muestran algunas nociones en torno al espacio colectivo de la vivienda, ello para cuestionarnos si éste es asimilable al espacio público. Finalmente, se ofrecen algunas evidencias empíricas dentro de las cuales destacan ciertas tensiones en áreas de uso común de un caso de vivienda colectiva en la ciudad de Mexicali. ESBOZANDO LOS ORÍGENES Durante la segunda mitad del siglo XIX, el urbanismo dio pie a la generación de los primeros planteamientos teóricos relacionados con la vivienda colectiva. La condición insalubre en la que vivía la clase trabajadora, provocó que el tema de la vivienda quedara al centro del debate. Durante la primera mitad del siglo XX la vivienda colectiva comienza a prosperar y se ve representada en grandes proyectos de tipo multifamiliar los cuales materializan la nueva visión de la ciudad y el habitar.
El ejemplo más representativo de esto es la Unité d’Habitation de Marsella (1947-1952). En México surgieron grandes conjuntos habitacionales: bajo los parámetros del Movimiento Moderno, Mario Pani importó a este país el nuevo paradigma del habitar que se replicó en diferentes ciudades. Tal es el caso del Centro Urbano Presidente Alemán (CUPA) inaugurado en 1949 en la Ciudad de México (fig. 1). Por otra parte, con el Centro Urbano Mexicali (CUM), el fenómeno llega al noroeste de México, ocho años después de inaugurado el CUPA y cinco años después de finalizado el proyecto de Le Corbusier; esto representó un caso excepcional para una ciudad que llevaba 53 años de haber sido fundada en la frontera entre México y Estados Unidos (fig. 2). En este caso, la condición fronteriza resulta ser un factor importante, pues implica estudiar la aceptación y apropiación que los habitantes manifiestan ante un conjunto que fue proyectado desde un contexto ajeno y distante. La diferencia entre contextos urbanos, socioculturales e históricos, pone en evidencia que la vivienda no puede ser resuelta unívocamente, sin considerar las implicaciones de su localización geográfica. Es decir, proyectar desde la capital del país para un entorno situado en una región lejana. Seguramente, la llegada de este modelo a ciudades fronterizas como Mexicali, Nogales o Ciudad Juárez propició los primeros imaginarios sociales –por parte de los habitantes de aquellas ciudades– que resultaban como una suerte de resistencia ante lo impuesto, las prácticas de los usuarios no se
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1 Aguirre, Edwin. (2014). Habitar lo público. La producción social del espacio público residencial en las ciudades de Mexicali y Tijuana, Baja California. Tesis de doctorado, El Colegio de la Frontera Norte. Tijuana, México. p. 69. 2 Castoriadis, Cornelius. (1997). “El Imaginario Social Instituyente”. Zona Erógena. Nº 35. p. 9
ajustaban a los estándares de la vivienda moderna. Para Aguirre “...las ciudades fronterizas mexicanas poseen singularidades propias, que devienen de su relación con el contexto inmediato en el que se ubican, como también, a las condiciones socio-históricas que las han originado”.1 IMAGINARIOS SOCIALES Y ETNOGRAFÍA URBANA Desde inicios del siglo XXI se han extendido las investigaciones en torno a los imaginarios, particularmente en Latinoamérica. El concepto proviene –en buena parte– de una referencia clásica o elemental: el imaginario social. Castoriadis, aunque lo da a conocer en La institución imaginaria de la sociedad, es en texto posterior donde aclara que el cambio social no puede ser explicado solamente como una consecuencia de causas materiales, subraya:
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Las significaciones imaginarias sociales crean un mundo propio
Duneier, Mitchel, et.
para la sociedad considerada, son en realidad ese mundo:
al. (2014). The Urban
conforman la psique de los individuos. Crean así una represen-
Ethnography Reader.
tación del mundo, incluida en la sociedad misma y su lugar en
Nueva York: Oxford
ese mundo: pero esto no es un constructum intelectual; va parejo
University Press. p.149
con la creación del impulso de la sociedad considerada y un humor o Stimmung específico –un afecto o una nebulosa de
4 Borja, Jordi y Muxi, Zaida. (2003). El espacio público: ciudad y ciudadanía. Barcelona: Electa. p.27 5 Ibíd.
afectos que embeben la totalidad de la vida social.2
Podríamos pensar que los estudios sobre el imaginario social pudieran aproximarnos a comprender el por qué los conjuntos habitacionales tienden a ser espacios de tensión; por qué los espacios compartidos de ciertos complejos habitacionales son espacios en desuso; o por qué en determinados contextos geográfico-culturales no se ha desarrollado con éxito el proyecto de vivienda colectiva. Sin duda, explorar los imaginarios exige el análisis de las prácticas sociales que los motivan y que a su vez los fundan. En la etnografía urbana más reciente se han examinado las consecuencias de grandes cambios políticos como la desindustrialización, la política sobre las llamadas “ventanas rotas”, la hipersegregación y la gentrificación, así como la inmigración masiva. De tal modo que “a pesar de que la etnografía urbana fue originada a partir de reconocer la importancia del contexto comunitario en el cual la vida social se despliega, se ha preocupado igualmente por la interacción social en los espacios públicos de y entre estas comunidades”.3 Muchos de los autores que se refieren a la etnografía urbana, abordan puntual o tangencialmente al espacio público, procurando así un manejo común –más no ortodoxo– de determinadas técnicas del método etnográfico. En
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este trabajo nos interesa considerar a la etnografía urbana como el medio justo para el abordaje de las tensiones y conflictos en los espacios de uso común en la vivienda colectiva. ESPACIOS DE USO COMÚN: ¿ESPACIO PÚBLICO? Para hablar de los espacios de uso común en la vivienda colectiva consideramos pertinente revisar algunas definiciones en torno al concepto de espacio público. Borja y Muxi reconocen que el espacio público es algo multidimensional en su definición, destacan que como concepto jurídico el espacio público “es un espacio sometido a una regulación específica por parte de la administración pública, propietaria o que posee la facultad del dominio sobre el suelo que garantiza la accesibilidad a todos y fija las condiciones de utilización y de instalación de actividades”.4 Puede considerarse que en el imaginario de un vecindario un espacio compartido en la vivienda está sujeto a ciertos acuerdos entre vecinos respecto al uso, los horarios o, incluso, la definición de algunos límites visibles. Cuando llega a señalarse –en tono de estatuto– que estos espacios “son de todos” la expresión traza una delgada línea entre concesiones brindadas y compromisos asumidos. Los autores a su vez subrayan que desde una dimensión sociocultural el espacio público “es un lugar de relación y de identificación, de contacto entre las personas, de animación urbana, y a veces de expresión comunitaria”.5 Si esto lo extrapolamos al espacio común con que cuentan los habitantes de un colectivo de vivienda, podemos pensarlo como aquellos lugares de ingreso o de tránsito en los cuales los vecinos dialogan, se saludan o, al menos, cruzan sutilmente sus miradas. También, puede tratarse de lugares de lo cotidiano para los condóminos: lavar ropa, jugar con los miembros más pequeños de la familia o celebrar algún encuentro festivo entre vecinos. Hiernaux señala que para entender algún espacio en particular es necesario ver más allá de lo que se manifiesta a simple vista, siendo los “conflictos abiertos” otro modo de expresar la apropiación del mismo. Aclara: …limitarse a los conflictos abiertos hace correr el riesgo de situarse en lo evidente depreciando lo latente, por ello se introduce la idea de “tensión”, como un estado anterior al conflicto abierto, en el cual las posiciones antagónicas, sean expresadas abiertamente o no, se encuentran en estado latente pero no se expresan llanamente en la concreción, por ejemplo,
de la apropiación del espacio. En este sentido, conflicto y tensión son dos situaciones susceptibles de fusionarse en cualquier momento, la tensión pudiendo desembocar en un enfrentamiento abierto si no se desactiva a tiempo.6
Debido a estas situaciones, asegurar el bienestar de los espacios de uso común es cada vez más complejo ante el desconocimiento de los derechos y obligaciones que implican vivir en comunidad, donde los imaginarios de vida independiente y colectiva entran en un debate constante que desdibuja poco a poco el límite entre lo público y lo privado. Similar a la situación ocurrida en diversos conjuntos habitacionales del país, las áreas y bienes de uso común en el CUM fueron y siguen siendo espacios marcados por las diferencias entre vecinos. UNA APROXIMACIÓN ETNOGRÁFICA El Centro Urbano Mexicali, o “El Multi”, como lo llaman sus habitantes, se ubica en una de las colonias con mayor historia de la ciudad: Segunda Sección, en un predio localizado a siete calles de la línea fronteriza entre México y Estados Unidos. Próximos se encuentran dos hospitales regionales y el edificio de Rectoría de la Universidad Autónoma de Baja California, otrora Palacio de Gobierno del Estado. El conjunto se compone de tres bloques habitacionales de cuatro niveles con 28 departamentos cada una, separadas mediante jardines, además cuenta con otros edificios destinados a locales comerciales en uno y dos niveles. Al ingresar al conjunto lo primero que se observa es el deterioro físico. Si bien no se han hecho modificaciones a la composición del proyecto, se advierte que los habitantes han realizado modificaciones con el paso del tiempo. En el año 2010 la ciudad sufrió un sismo de 7.2 grados en la escala de Richter, esto incrementó el daño a la imagen de los edificios y por cuestiones de seguridad, los mismos vecinos derribaron algunos muros de mampostería que estaban por caer. A raíz de este evento, comenzó una movilización de varios de sus habitantes hacia otras zonas de la ciudad; situación que ha provocado el abandono de sus espacios comunes. Actualmente, el conjunto es habitado en un 20 % de su capacidad total. A pesar de la soledad que se vive en los espacios exteriores –gran parte del día– en “El Multi” habitan una diversidad de sujetos. La mayor parte de los departamentos están arrendados pero continúan viviendo ahí algunos de los primeros habitantes y en algunos casos las segundas generaciones. Se pueden ver personas de la tercera edad, adultos, jóvenes y niños; debido a la cercanía con la Facultad de Enfermería, es común ver algunos jóvenes vestidos de blanco caminar por sus pasillos.
El principal problema al que se enfrentan los propietarios es la desorganización, que genera enfrentamientos constantes con los inquilinos que no muestran interés en conservar en buen estado el conjunto. Ramiro, propietario del departamento 19-B, comenta que solamente cinco personas se hacen responsables del mantenimiento de las instalaciones, ya sea pagando o haciéndolo ellos mismos. Es así que a ciertas horas del día se puede observar a Doña Paty –como la conocen sus vecinos– barriendo las hojas caídas de los árboles, a María del Rosario peleando con algún condómino por tender la ropa en los andadores, o a Chuy sentado en las escaleras fumando su cigarrillo sin preocupación alguna. Al conversar con informantes que actualmente ocupan o que alguna vez habitaron ahí, son recurrentes las historias sobre lo bien que se vivía en el lugar durante los primeros 30 años después de inaugurado. Los partidos de fútbol del barrio, las fiestas de cumpleaños en los jardines donde todos eran bienvenidos, o las reuniones casuales en sus andadores, son sin duda el recuerdo de lo que alguna vez fue, envuelto por una incertidumbre de lo que podrá ser. CONCLUSIONES Estas evidencias forman parte de un primer acercamiento que ha permitido identificar las partes del conjunto en relación a su estado original. A su vez, la simpatía inicial con los vecinos ha coadyuvado a producir lo que en antropología se conoce como rapport, confirmando algunas de las tensiones sugeridas no solamente en el deterioro físico del inmueble, sino en los pasos por los corredores, en avisos colocados en los muros que todos ven o en el silencio infinito que gobierna los patios y jardines. El CUM, es un caso singular que sugiere preguntas en relación a la centralidad institucional con que se siguen concibiendo la vivienda en México e invita a considerarlo como un desafiante trabajo de recuperación, no fundado en rescatar los ideales del modelo funcionalista para que su arquitectura se perpetúe, sino en las prácticas actuales que apelan por un uso consciente de lo compartido.
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6 Hiernaux, Daniel. (2013). Tensiones socavadas y conflictos abiertos en los centros históricos: imaginarios en conflicto sobre la Plaza de Santo Domingo, Ciudad de México. En: Ramírez, P. (coord.), Las disputas por la ciudad. Espacio social y espacio público en contextos urbanos de Latinoamérica y Europa. México: Biblioteca Mexicana del Conocimiento. p.178
Fig.1 Centro Urbano Presidente Alemán, Ciudad de México. (García, 2015). Fig.2 Vista aérea del Centro Urbano Mexicali. (circa 1960). Fig.3 Estado original de uno de los bloques del Centro Urbano Mexicali. (circa 1960).
Fig.4 Área común del Centro Urbano Mexicali. (Peimbert, 2015).
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Fig.5 Buzones del Centro Urbano Mexicali. (Peimbert, 2015).
Fig.6 Corredor de acceso al Centro Urbano Mexicali. (Peimbert, 2015).
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Fig.7 Uno de los bloques del Centro Urbano Mexicali. (Peimbert, 2015).
ALEJANDRO J. PEIMBERT alejandro.peimbert@uabc.edu.mx
JUAN CARLOS GARCIA garciaj90@uabc.edu.mx
Profesor-investigador en la Facultad de Arquitectura y Diseño de la Universidad Autónoma de Baja California (UABC). Ha colaborado en diversos proyectos de arquitectura y diseño urbano, aunque su práctica profesional también se ha centrado en la planeación urbana. Ha impartido cursos de teoría y crítica de la arquitectura, historia del arte y apreciación cinematográfica. Es Maestro en Arquitectura por la UNAM, su tesis abordó una problemática urbana en relación con otras disciplinas. Actualmente estudia el Doctorado en Estudios Socioculturales en el Instituto de Investigaciones Culturales de la UABC, en Mexicali, México.
Arquitecto por el Instituto Tecnológico de La Paz y estudiante de la Maestría en Arquitectura de la Universidad Autónoma de Baja California, Mexicali, México.
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1. TEORIA E HISTÓRIA DA HABITAÇÃO COLETIVA | TEORÍA E HISTORIA DE LA VIVIENDA COLECTIVA
Ángela Cardiel Casado | Mexicali, Espanha SOBRE NOMBRES DE ESPACIOS O de la utilidad del “llamar” en la vivienda
A la realidad sobrevive su nombre que aun siendo sólo palabra, es, al fin y al cabo, nada menos que palabra y conserva siempre algo de su poder mágico. 1 1. DEL TODO A LAS PARTES. La vivienda se identifica en nuestros días como una entidad completa, una composición indivisible y terminada que se define y configura a partir de una serie de partes, una agregación de cuartos independientes (no integrados), que delimitan casi de forma invariable el modo em que esta ha de usarse. Cada una de las partes que completan una vivienda va asociada por Norma con una función concreta y a su vez es designada con un nombre específico. Cuarto, nombre y función son, en general, unívocos e inmutables. Los nombres con los que designamos a los cuartos que conforman el ideograma de “casa”, se entienden a priori como una abstracción de funciones. Estos términos asumidos por las convenciones sociales, y de los que nos servimos hoy día para nombrar los espacios que configuran una vivienda “normal”, no han sufrido modificaciones sustanciales en cuanto a su forma preservando, en su mayoría, su raíz etimológica y con ella, aparentemente, sus Orígenes y significado. Sin embargo, contrariamente a lo que se pueda suponer, la interpretación que se les ha dado o que han ido adquiriendo a través de la historia, ha variado considerablemente cristalizándose en nuestros días en un formato estricto e inmutable heredero fiel del legado del Movimiento Moderno.
“La correspondencia convencional, es decir socialmente esta-
1
blecida, entre voces y conceptos es la base del código o sistema
Ortega y Gasset, José.
del hablar.”2
1930. La Rebelión de las
Si valoramos la relación de voces (o nombres) que utilizamos para designar las piezas, que estructuran el imaginario de espacios, pertenecientes al ámbito de lo doméstico, no nos equivocamos en exceso si concluimos que, a día de hoy, el repertorio se limita a no muchos más de seis. Vestíbulo, salón, comedor, cocina y baño, además de los dormitorios completan el elenco que, de forma generalizada, ordena nuestras viviendas. Si volvemos la vista atrás, vemos que la especialización de los cuartos según sus funciones permitió a principios de siglo, una estructuración del espacio doméstico así como, una garantia a través del estudio pormenorizado de los tipos. Esto, que en un contexto inestable podía tener sentido, pues las vivienda debía adaptarse a unas condiciones mínimas de habitabilidad y confort, a día de hoy, supone una limitación cualitativa a las infinitas posibilidades de la vivienda. Las habitaciones en apariencia carentes de carácter, que como “una especie de cubos, paralelepípedos rectangulares, con una puerta, una ventana y, generalmente, calefacción y enchufes”, “debían ser espacios maleables, mutables y mudos, a la espera de ser habitados”3, son desde su origen nominadas, y destinadas por tanto, a una misión concreta. Esto limita las variables a un número muy reducido, aquellas que, teniendo en cuenta una definición obsoleta de familia “estándar”, recogen las supuestas exigencias de una la normativa desactualizada y fuera de contexto.
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Masas. Pág. 181. 2 Dorberti., Roberto. 2010. Lineamientos para una teoría del habitar. Pág. 2. 3 Evans, Robin. 1978. Figuras, puertas y pasillos.
4 Monteys, Xavier. 2009. Rehabitar en nueve episodios. Pág. 229. 5 Fernández-Galiano, Luis. 1990. El Espacio Privado,. Cinco siglos en veinte palabras. Pág. 16.. Ed. Ministerio de Cultura. 6 Dorberti., Roberto. 2010. Lineamientos para una teoría del habitar. Pág. 2 7 Ortega y Gasset, José. 1930. La Rebelión de las Masas. 8 Evans, Robin. 1978. Figuras, puertas y pasillos.
El escaso vocabulario que utilizamos para referirnos a la vivienda se corresponde de forma casi literal con el limitado repertorio de variables combinatorias del que, tanto arquitectos como usuarios nos servimos para pensar en ella y contrasta a su vez, con la gran variedad de términos que se han utilizado a lo largo de la historia. “El uso acaba banalizando el espacio doméstico. El uso acaba por ceder a la terminología (el pasillo es sólo para pasar, el recibidor para recibir…) De hecho, al adoptar estas palabras, admitimos la idea de que algunos espacios de la casa puedan tener menos prestaciones”. 4 Tanto la configuración de las habitaciones que dan servicio a una vivienda convencional, en lo que a su forma y organización se refiere, como los términos utilizados para nombrarlas, se nos descubren homogéneos y limitados en todo el panorama arquitectónico. Si vamos un poco mas allá nos daremos cuenta incluso de que, del mismo modo que la terminología y la composición de estancias es estrictamente acotada, los objetos que “facilitan” su uso, no han sufrido a penas modificaciones durante el último siglo. Esta sistematización y estandarización concretada en la vivienda mínima del Movimiento Moderno, es asumida por el colectivo instalándose en el subconsciente, convirtiéndose hasta nuestros días en aparentemente, la única variable posible. “Los objetos habitan el espacio como personajes en un escenario. Protagonistas de la vida doméstica, en la casa los objetos devienen sujetos. Sujetos inmóviles pese a su condición de mueble, su posición determina la coreografía habitual de la familia. La mesa, el sillón la cama y el armario gobiernan el ritmo cotidiano en sus dimensiones y en su forma están incorporados al cuerpo y
“El carácter convencional de la correspondencia entre conformaciones y comportamientos, y la necesaria y simultánea convalidación entre ambas entidades son mucho menos reconocidos que en el caso del hablar. La convencionalidad de dicha vinculación es habitualmente desplazada por una naturalización o causalidad mecánica”.6
2. SOBRE EL NOMBRAR “El nombrar es un producto del tiempo humano y, como él, interminablemente cambia. Cambia la forma de decir las cosas, evolucionan las palabras y hasta la verdad misma se transforma.”7 Sin embargo en el caso de la vivienda dicha transformación en el nombrar no ha sido coherente con la evolución de los roles sociales, ni si quiera con las necesidades más inmediatas individuo. No hace mucho tiempo, la cantidad de términos que daban forma a la vivienda era enormemente extenso. Es interesante observar cómo han evolucionado, o cómo han modificado su significado, cómo han desaparecido o se han incorporado otros nuevos. Cada habitación que a día de hoy se conserva iba asociada en la época, a múltiples estancias auxiliares, cuartos ambiguos y abiertos que, instalados entre los intersticios de las estancias principales, implementaban con sutiles matices los roles en el uso en la casa. Salas, salones, alcobas y cámaras darían forma al espacio para la vida cotidiana. A su vez mediante um complejo sistema de límites, antesalas, recámaras, camarines y gabinetes se integrarían en la trama doméstica enriqueciendo los protocolos de uso y graduando con su indefinición los mapas de los territorios culturales.
Se asumirán como válidas por tanto, no sólo las tipomorfologías y términos que las designan sino incluso, la configuración y distribuciones de las propias estancias, acotando así su función y condicionando, a priori, los hábitos de los futuros usuarios, imponiéndose, ya desde el subconsciente, la forma en que estas han de usarse.
Con la vivienda-matriz o matriz de habitaciones comunicantes Evans, defiende la conectividade entre las diferentes estancias frente al aislamiento de la vivienda-pasillo. La estructura matricial en la vivienda exigiría en este caso, la incorporación de espacios de tránsito, lugares de encuentro y conflicto en los que confluirían en un mismo lugar, itinerarios de intensidades diversas. “Una arquitectura para mirar a su través y para esconder al mismo tiempo”8
“El mueble da nombre a la estancia paradoja de que el mueble sea móvil y la estancia sea estable, fija, esto que debería implicar movilidad supone inmovilidad.” El mueble no sólo influye en la utilización del espacio por su morfología y su ocupación, sino por que al designar las estancias a partir de los objetos que las ocupan, se produce una asociación inconsciente entre mueble, nombre y concepto en la que cada nombre, por tanto, llevará asociada una imagen y esta a su vez un protocolo de uso.
Estos cuartos, cuyos nombres ambiguos e imprecisos se referían más a cualidades arquitectónicas, topológicas o incluso protocolarias que a designaciones meramente funcionales, actuarían como espacios de transición. Umbrales entre esferas sociales que, matizarían mediante su indeterminación, las funciones de las estancias definidas. La calidad en la estructura de la vivienda residía, en estos casos, en la cualidad integradora de dichos espacios. Cuartos que acogían relaciones en lugar de funciones, nombres
sus funciones, la tradición cultural y la voluntad representativa”.5
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que aludían a grados de intimidad en lugar de al uso, estancias que tenían más que ver con lo que pasaba a su alrededor que lo que en ellas mismas sucedía.
ático, (último piso de un edificio, generalmente retranqueado y del que forma parte, a veces, una azotea).
9
3. NOMENCLATURA DE LA VIVIENDA La nomenclatura, entendida como sistema estructurador del repertorio de términos que definen una disciplina se considera, aplicado a la crítica arquitectónica, un método a través del cual es posible ahondar en las cualidades del espacio arquitectónico. Desde esta perspectiva se entiende el lenguaje de vital relevancia en el proceso de pensamiento arquitectónico y, se propone un recorrido por aquellos términos que nombran espacios que, a su vez, contienen objetos, y que se sitúan, en nuestro caso, en el ámbito de lo doméstico. Se entiende que, una mayor precisión en el lenguaje implica, un enriquecimiento en la especificidad de los términos. Al mismo tiempo, un aumento de la variedad de nombres supone, una mayor diversidad y heterogeneidad de objetos, en este caso espacios, o viceversa.
atrio, (zaguán, propiamente era en lo antiguo un género de edificio, que estaba antes de la casa).
10
Se han ordenado alfabéticamente y descrito según la RAE y otros escritos, aquellos términos algunos aun vigentes y otros ya obsoletos, de los que la arquitectura de la vivienda se ha servido a lo largo de su historia para referirse a los espacios que la definen. Este elenco, que abarca parte del conjunto de lo doméstico, se considera inacabado y abierto pues esta es su naturaleza. Se propone un glosario inicial, básico y desestructurado cuyo lugar común es la vivienda y se propone una aproximación preliminar que pueda servir de base para posteriores indagaciones.
biblioteca, (cuarto donde se tiene considerable número de libros ordenados para la lectura).
14
bodega, (despensa, lugar donde se guarda el vino).
15
azotea, (terrado, solana, sitio alto en lo último de las casas, descubierto, y sin tejado, cuyo suelo está enladrillado, o hecho con argamasa fuerte, para que las aguas corran). balcón, (hueco abierto al exterior desde el suelo de la habitación, con barandilla por lo común saliente, miranda, cierto género de corredor pequeño, que sale volado de la pared de las casas, rodeado de balaustres hechos ordinariamente de hierro, y tal vez de piedra o madera, y sirve para asomarse y ver lo que pasa). baño, (cuarto de baño, retrete)
buhardilla, (desván, parte de un edificio situada inmediatamente debajo del tejado, con techo en pendiente y destinada a vivienda). cámara, (habitación de uso privado o restringido).
acceso, (entrada o paso).
camarín, (tocador, aposento para el peinado y aseo).
alcoba, (dormitorio, aposento, pieza o aposento destinado para dormir).
camarote, (cualquier división pequeña de las que hay en los barcos para poner la cama).
antecámara, (pieza que está delante de la cámara o habitación donde se recibe, Lat. Anterius conclave).
cancela, (verja pequeña que se pone en el umbral de algunas casas para reservar el portal o zaguán del libre acceso del público).
antesala, (pieza delante de la sala o salas principales de una casa). apartamento, (lugar destinado a vivienda). aposento, (cuarto o pieza de una casa). armario, (mueble con puertas y anaqueles o perchas para guardar ropa y otros objetos). aseo, (cuarto de aseo) “Cuando sólo hay una ducha se llama aseo” 9.
cápsula, (en las naves tripuladas da acomodo a los astronautas). celda, (aposento individual en colegios y otros establecimientos análogos). célula,(pequeña celda, cavidad o seno) “El señor endrá su “célula”, la señora también tendrá la suya y la señorita también.”10 cochera, (lugar donde se guardan, fabrican o encierran los coches).
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Georges Perec. Especies de Espacios. Pág 53.
Le Corbusier. 1978. Precisiones respecto a un estado actual de la arquitectura y del urbanismo, Poseidón, Barcelona. Pág. 145-61 11 Georges Perec. Especies de Espacios. Pág. 53. 12 Ibídem. 13 Ibídem.
Ibídem.
Ibídem. 16 Ibídem. 17 Ibídem.
cocina, (pieza o sitio de la casa en el cual se guisa la comida). “Una cocina es una pieza en la que hay un fogón y una toma de agua11; comedor, (pieza destinada en las casas para comer) “Un comedor es una pieza en la que hay una mesa y sillas y, a menudo, un aparador”12; corredor (pasillo, pieza de paso de un edificio), corredor cubierto. cuarto, (habitación, dormitorio, cada una de las cuatro partes iguales en las que se divide um todo, espacio entre tabiques de una vivienda). cuarto de aseo (cuarto de reducido tamaño de un edificio, con lavabo, inodoro y a veces algún otro sanitario), “Cuando sólo hay un lavabo se llama cuarto de aseo”;13 cuarto de baño (cuarto de un edificio, con lavabo, ducha, bañera, inodoro y otros sanitarios) “Un cuarto de baño es una pieza en la que hay una toma de agua encima de una bañera”; despensa, (lugar donde se guardan los comestibles). desván, (parte más alta de la casa, inmediatamente debajo del tejado, que suele destinarse a guardar objetos inútiles o en desuso). dormitorio (pieza destinada a dormir), dormitorio de huéspedes. entrada, (pieza o estancia próxima a la entrada) “Una entrada es una pieza en la que al menos una de las puertas da al exterior del apartamento; accesoriamente se puede encontrar un perchero”14 escalera, (parte de la casa por donde se sube a los cuartos altos de ella, que está fija). escobero, (cuarto para guardar las escobas) “Un escobero es una pieza en la que se meten las escobas y la aspiradora”.15 estancia, (aposento, sala o cuarto donde se habita ordinariamente) estar, (habitación principal de una casa). gabinete (habitación más reducida que la sala, donde se recibe a las personas de confianza, aposento que servía de tocador a las mujeres).
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galería (corredor descubierto o con vidrieras, que da luz a las piezas interiores de las casas), garita,(cuarto pequeño que suelen tener los porteros en el portal para poder ver quién entra y sale). guardarropa, (oficina o almacén destinado a custodiar la ropa y otros enseres). habitación (acción y efecto de habitar, lugar destinado a vivienda, dormitorio). “Una habitación es una pieza en la que hay una cama”16 habitación de niños; “Una habitación de niños es una pieza en la que esta un niño”17 habitación de servicio “una habitación de servicio es una pieza que se alquila a un estudiante”, habitáculo, (habitación, recinto de pequeñas dimensiones destinado a ser ocupado por personas o animales). hall (vestíbulo, recibidor), hogar, (casa o domicilio, el lugar donde se enciende la lumbre o fuego para el servicio ordinario de una casa). ingreso, (espacio donde se entra). lavadero, (lugar utilizado para lavar), lavandería. mirador, (balcón cerrado de cristales o persianas y cubierto con un tejadillo). office, (pieza que está aneja a la cocina y en la que se prepara el servicio de mesa). pasillo (pieza de paso, larga y angosta, de cualquier edificio), patio, (espacio cerrado por paredes y galerías que se suele dejar descubierto) pieza, (habitación, cualquier sala o aposento de una casa). portal, (zaguán, o primera pieza de la casa) recámara (cuarto después de la cámara, destinado para guardar los vestidos o alhajas), recibidor (pieza de entrada a una vivienda, rellano)
retrete, (aposento, cuarto pequeño en la casa o habitación, destinado para retirarse. Lat. cubiculum secretum).
Fig. 1. Descomposición de una vivienda en sus habitaciones. Casa Moriyama. SANAA.
sala, (la pieza principal de la casa, o cuarto donde se vive, y donde se reciben las visitas de cumplimiento, o se tratan los negocios. Dícese Sala, porque se sale a ella de otros cuartos secretos). Sala audio visual, sala de estar, sala de la servidumbre, sala familiar, sala para el desayuno, sala principal, salón de fumar, salón de tertulia, salón, (Habitación principal de una vivienda, En una casa, aposento de grandes dimensiones para visitas y fiestas.) “Un salón es una pieza en la que hay unos sillones y un diván”; salón social.
Fig. 2. Comparación
terraza, (sitio abierto de una casa desde el cual se puede explayar la vista).
entre plantas de viviendas. Dos tradicionales y “mal” distribuidas. Dos modernas
tocador, (aposento destinado para este fin, mueble para el aseo y peinado de la persona).
“bien” distribuidas. Esquemas de optimización del movimiento en la
tugurio, (habitación, vivienda o establecimiento pequeño y mezquino)
vivienda.Ponencia 1928 Alexander Klein.
vestíbulo (espacio cubierto dentro de la casa, que comunica la entrada con los aposentos o con un patio, pieza que da entrada a cada uno de los cuartos habitados por una familia, recibidor), vestíbulo de acceso, vestíbulo de ingreso.
Fig. 3. Imagen de dos dormitorios publicada por G.A.T.E.P.A.C. en 1933.
vestidor (habitación de una casa utilizada para vestirse y para guardar la ropa. zaguán (el sitio cubierto dentro de la casa inmediato al umbral de la puerta principal, que sirve de entrada en ella. Zagenum Lat.Vestibulum). Repensar la vivienda a partir de sus nombres supone, de algún modo, volver la vista a los orígenes de la misma. Entender la casa no sólo como un soporte para las necesidades inmediatas de los individuos, sino como un espacio maleable y abierto capaz de generar y regenerar diferentes roles en las estructuras familiares, sociales y culturales. Se propone por lo tanto, “una recuperación del lenguaje a partir de piezas dañadas preexistentes. Apuntando nuevos conceptos con los que reubicar exigencias, problemas o interrogantes conocidos desde hace tiempo”. Regenerando nombres y usos que activen el espacio doméstico e incentiven desde la producción arquitectónica la imaginación de los propios usuarios.
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Fig. 4. Planta del palacio de la Duquesa Vda. de Arcos. 1780. Biblioteca Nacional de España. Madrid.
ÁNGELA CARDIEL CASADO angela@angelacardiel.com Arquitecto (ETSAV, 2008): Matrícula de Honor. Doctorado (primer ciclo) Proyectos Arquitectónicos (ETSAV, 2010). DEA (ETSAV, 2010) La casa Japonesa. Miradas desde Occidente. El proceso arquitectónico en el ámbito doméstico: Sobresaliente. MASTER (UPM, 2011) en Proyectos Arquitectónicos Avanzados Teoría y Crítica: Notable. TESIS (en proceso) (Madrid, 2013-actualidad) La habitación sin nombre. El espacio sin función. La indefinición de uso como parámetro de adaptación en la vivienda mínima. Profesora Colaboradora en Proyectos Arquitectónicos Taller Hilberseimer (ETSAV, 2008-2013) y Ud Maroto (ETSAM, 2011-2015). Miembro Proyecto de Innovación Educativa Ambientes Dinámicos. Coordinador: Javier Maroto (UPM,2014-2015). Socia fundadora Estudio de Arquitectura equipopropio,c.b. (Valencia, 2008-2010). Socia Estudio de Arquitectura OOKO industriarquitectura S.L. (Madrid, 2014-actualidad). Primer Premio Concurso Centro Intergeneracional Palma de Mallorca (Palma de Mallorca, 2009)
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1. TEORIA E HISTÓRIA DA HABITAÇÃO COLETIVA | TEORÍA E HISTORIA DE LA VIVIENDA COLECTIVA
Mateus dos Santos Batista | Matheus Moura Martins | Marielle Rodrigues Pereira | Palmas, Brasil TAQUARUÇU: Desafios para a arquitetura vernacular em sua paisagem
RESUMO Com os métodos construtivos repassados por gerações, a construção de terra resiste até hoje, conferindo-lhe um caráter histórico e cultural em termos arquitetônicos em determinadas localidades. No distrito de Taquaruçu, em Palmas-TO, essa técnica faz parte da historicidade do lugar. Percebe-se que o distrito tem uma identidade que se relaciona com as casas de adobe, pois os moradores constroem suas residências com esse material por ser mais acessível e barato. Mesmo sem ter intenção ou consciência ambiental e cultural, a população contribui para o (re)equilíbrio da paisagem. Em contrapartida as construções de alvenaria convencional, edificadas com tijolos industrializados, ficam desconexas com o entorno do local. Assim, este trabalho tem o objetivo de compreender e mostrar como a técnica construtiva com adobe influenciou a paisagem de Taquaruçu. Palavra-chave: Taquaruçu, arquitetura vernacular, paisagem INTRODUÇÃO De acordo com autores como Santiago (2001)1 e Oliveira (2002)2, as primeiras construções de terra são datadas do Egito, na Civilização Mesopotâmica, onde a terra era utilizada para a construção de monumentos como as Mastabas, casas, abóbodas e beirais. Porém, com o tempo, passou a ser relacionada como uma construção miserável, transmissora de doenças, criando-se, assim, um preconceito atrelado à visão de residência pobre. Santos (2002)3 comenta que devido à falta de ajuda do governo, os desfavorecidos utilizam o solo de forma precária, o que prejudica a imagem do material.
Segundo Ponce (2008)4, a construção de adobe é uma arquitetura que se enquadra às necessidade econômicas de países empobrecidos que não dispõem de muitos recursos, pois exige menores gastos, especialmente em obras públicas. Santiago (2001)1 e Oliveira (2002)2 também defendem a utilização da terra nas edificações por oferecer várias vantagens, como baixo custo, durabilidade e resistência. A confecção artesanal torna a prática do adobe uma atividade cultural regional e de caráter histórico, pois as técnicas primárias empregadas são herança de gerações passadas, de forma que cada um tem seus métodos para construir e fazer o tijolo de adobe, sendo geralmente fabricado por meio do processo de mutirão, ao envolver amigos e familiares. No estado do Tocantins, o distrito de Taquaruçu, um dos pontos turísticos mais conhecidos nas proximidades de Palmas e na região, é um exemplo desse processo de envolvimento da comunidade local com tal arquitetura. É um lugar onde as casas de adobe fazem parte da história e da formação do distrito. Nesse sentido, estudamos Taquaruçu por possuir essa particularidade, arquitetura associada à natureza, que caracterizam lugar. MATERIAIS E MÉTODOS Foram realizadas leituras bibliográficas sobre as técnicas de construção com terra no Brasil, a fim de observar as principais potencialidades na execução dessas edificações e seu valor histórico e cultural. Posteriormente, foi realizada pesquisa em acervos do município de Palmas – TO, com o intuito de coletar informações sobre a história de Taquaruçu e sua relação com as casas de adobe a fim de
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1 SANTIAGO, Cybele C. O Solo como Material de Construção. Salvador: EDUFBA, 2001.
2 OLIVEIRA, Mário M. Tecnologia da Conservação e da Restauração. Salvador: EDUFBA: ABRACOR, 2002. 3 SANTOS, M. dos. Construção com terra crua: viabilidade tecnológica e energética em habitações sociais. Dissertação de Mestrado em Tecnologia. Universidade Federal do Paraná, Curitiba,2002, 106 f. 4 PONCE, Alfonso Ramirez. Arquitetura regional e sustentável. Dados: Arquitextos, São Paulo, Vitruvius, abr. 2008. Disponível em: <http://www.vitruvius. com.br/revistas/read/ arquitextos/08.095/150>. Acesso em: 20 maio 2015. 5 PREFEITURA DE PALMAS. Histórico do distrito de Taquaruçu. Fundação Cultural do Município de Palmas, 2012. 6 IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: <http://www. ibge.gov.br>. Acesso em: 10 de agosto 2015 7 PREFEITURA DE PALMAS. Histórico do distrito de Taquaruçu. Fundação Cultural do Município de Palmas, 2012. 8 SANTANA, M. Arquitetura
identificar as residências que ali existiram e se ainda permanecem no local. Após essa pesquisa, os participantes foram a campo identificar as construções de terra, conhecer seus moradores e entrevistá-los por meio de um questionário semiaberto. Durante as conversas, os moradores opinaram sobre a integração da arquitetura de terra no distrito e suas raízes históricas. RESULTADOS E DISCUSSÃO - A PAISAGEM DE TAQUARUÇU Caracterização da área de estudo Taquaruçu (fig. 1) é um dos distritos do município de Palmas-TO. De acordo com o acervo do município5, está localizado a sudeste da capital, a cerca de 32 km de distância na região serrana. As principais atividades econômicas são a pecuária, agricultura de subsistência, comércio, artesanato e prestação de serviços. É conhecido por suas cachoeiras, as principais são do Roncador, Vai Quem Quer e Sumidouro. Sua população atingia 3719 habitantes, segundo IBGE6 de 2010. O clima apresentado no distrito é tropical e sua vegetação nativa é a típica do cerrado, dando maior destaque para o babaçu, uma das fontes de renda da região. Histórico de Taquaruçu Nas visitas técnicas e conforme as pesquisas realizadas em acervos históricos do município foi possível observar que o povoamento da região começou com as primeiras casas construídas de adobe. Parte da população ainda utiliza os métodos construtivos com terra, em especial o adobe, herdados de seus ancestrais para a construção de casas. Algumas das residências visitadas já tinham sido construídas por pais ou avós que as deixaram para a habitação de seus filhos e netos. (...) quando ali chegou encontrou em Santa Fé (primeira denominação de Taquaruçu), cinco casas. Nestas residências, algumas foram feitas de adobes e cobertas de palhas da piaçava. Empregava-se o lenho como ripas nas construções de suas paredes; noutras, usava-se palhas sobrepostas para a construção das paredes e palhas trançadas para a confecção das portas e janelas. Em todas elas, as coberturas eram feitas da palha do babaçu por serem resistentes à chuva. Nas residências mais afastadas, dentro do Distrito, ainda é comum esse tipo de construção (Dona Zelinda in Acervos históricos da Fundação Cultural do Município de Palmas, 2012)7.
Popular: Espaços e Saberes. UFBA, 2013.
Autores, como Santana (2013)8, defendem que a arquitetura vernacular é um patrimônio cultural que
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deve ser tratado com toda importância, pois além de contar a evolução de uma sociedade, suas técnicas são úteis para a construção de uma edificação sustentável. Observar-se em Taquaruçu uma constante modificação em sua paisagem ao longo dos anos. Por ser um lugar turístico bastante conhecido e visitado gera-se uma grande especulação imobiliária nesse local e dessa forma é constante a aparição de casas construídas com tijolos convencionais, principalmente em zonas rurais, mais próximas dos atrativos naturais do distrito, como as cachoeiras. Isso gerar uma discordância na paisagem com uma invasão urbanística em uma região conhecida por sua rusticidade e natureza. Alguns moradores visitados entende que a arquitetura de adobe é parte integrante da história do distrito, principalmente porque suas gerações passadas viveram no distrito desde seu início e sempre conviveram em casas de terra. Por isso sabem das vantagens de viver nesse tipo de construção e de sua importância cultural e emocional. É uma arquitetura que não agride o meio ambiente de forma tão brutal como as edificações convencionais. A terra é um material totalmente reciclável, então ele pode ser utilizado novamente ou ser deixado na natureza, pois não será causado nenhum dano ela. Além de ser uma construção que harmoniza com a natureza do próprio local, pois seus materiais partem dela e voltam para ela não tendo agressão ambiental. Como uma forma de retardar ou reverter essa descaracterização do distrito e buscar o reconhecimento da arquitetura de terra como parte histórica arquitetônica do lugar alguns moradores ainda utilizam os métodos de construir com terra. O senhor Gustavo Bonatto, proprietário de uma das casas visitadas (fig. 2), afirmou que optou pela arquitetura de adobe como atitude de resgate cultural para o distrito, que é conhecido por sua flora, fauna, diversas atividades culturais, como o Festival Gastronômico, eventos relacionados a atividades com a natureza e com os ciclistas. Conforme as afirmações dele, a escolha desta arquitetura foi uma opção que está sendo reconstruída, quase voluntariamente, por fazer parte da história local. O proprietário admite ainda que escolheu a arquitetura de terra pelo conforto térmico e pela rusticidade que ela proporciona.
Ao adentrar na casa do senhor Adelson dos Reis Terêncio, ele mostrou as fôrmas com que modelou a terra para formar o bloco de adobe (fig. 3). Conforme Santos(2002)9 a fabricação dos tijolos é feita artesanalmente de modo que a “a terra é misturada com água e fibras vegetais para formar uma massa que é trabalhada com os pés e mãos”. Por ser uma região serrana Taquaruçu possui vários pontos de difícil acesso. A construção de terra torna-se mais viável, pois não requer gastos elevados com transporte e suas dificuldades em chegar em determinado local. As casas do senhor Judson Terrêncio de Souza e do Adelson, pai e filho, são exemplos disso, pois estão localizadas no vale “Vai Quem Quer” de difícil acesso. A técnica de adobe, dessa forma, é presente na história da família residente em Taquaruçu. Evidencia-se um aspecto cultural bastante forte no distrito, pois tal técnica foi repassada por Judson para Adelson, ou seja, de pai para filho. Nas palavras do senhor Adelson o distrito precisa ser conhecido também por sua arquitetura, não somente pelas cachoeiras. Tal afirmação é compartilhada com o senhor João Luiz (fig. 4), que também construiu sua pousada e sua residência de adobe, procurando um estilo mais rústico, simples, natural e interiorano, e se adequando às características de Taquaruçu. Admitem também o conforto que as residência proporciona, em especial o conforto térmico para um região quente como Palmas-TO. Santana (2013)10 admite que as construções populares, no qual a arquitetura de terra também está inserida, influenciam para o desenvolvimento socioeconômico e, além disso, são obras de grande importância para o patrimônio cultural da região onde está localizada.
nossa tradição vernacular brasileira – contribui para que essa tecnologia possa resultar em uma arquitetura bioclimática, bem adaptada e inserida. É evidente a harmonia da residência de Elzires da Pereira Lisboa com a serra ao fundo (fig. 5). Uma construção simples com blocos de adobe aparente que ainda resistem com a ação do tempo. Situado na rota de acesso a uma das cachoeiras, no terreno da residência é possível encontrar várias árvores frutíferas e muitas hortaliças para subsistência da família. Essa casa dialoga com a paisagem serrana do distrito, ao passo que as outras casas de alvenaria convencional parecem terem sido dispostas ali de forma abrupta. A casa do senhor Elzires aparenta criar-se do próprio solo onde está inserido, sendo uma edificação regional, construída pelos seus próprios moradores. Ponce (2008)12 defende essa arquitetura local, pois ela é própria de seu lugar e tempo, uma redefinição dos conceitos de arquitetura indígena. Em seu artigo Ponce (2008)12 cita Luis Barragán na defesa de sua tese, afirmando que a construção traz um diferencial para a região, poupando a população, com diz Barragán (1935) “de uma angústia das cidades modernas”, aqui representada pelas construções de tijolos convencionais. É interessante observar a vista da casa do senhor Adelson dos Reis Terêncio no “Vale Vai Quem Quer” (figs. 6 e 7). Podemos ver que a residência e a natureza não vivem isoladamente. Uma se torna dependente da outra em uma grande composição. A casa (fig. 7) ainda está em processo de construção, porém já é possível observar sua integração em contato com a natureza.
Já o senhor Elzires Pereira da Rocha Lisboa, que possui uma casa mais antiga (fig. 5), ao ser perguntado qual foi o motivo por optar pela casa de adobe, afirmou que foi pela necessidade. Dessa forma, o proprietário usou recursos que possuía no local para a construção de sua residência, sem nenhum acompanhamento técnico.
A habitação de Judson Terrêncio de Souza (fig. 8), também localizada na rota da cachoeira “Vai Quem Quer”, possui um relação interessante, em virtude de estar inserida dentro da mata serrana, ao fazer a natureza como parte integrante da casa ou vice/ versa, dando uma impressão de camuflagem para a residência.
Oliveira (2008)11, sobre o conforto térmico dessa arquitetura, argumenta que a terra como material construtivo tanto do ponto de vista físico, por sua capacidade de regulação térmica e acústica, permeabilidade, absorção de odores, dissolução de gorduras e variedade cromática, quanto do ponto de vista cultural e tecnológico, por estar presente na
De modo geral, pode-se observar que a arquitetura de terra se encaixa na paisagem de Taquaruçu. Sua característica rústica dá um tom receptivo ao distrito interiorano. A paisagem do distrito, que é rodeado por serras, se complementa com a naturalidade das edificações, de forma que parecem brotar do próprio local onde estão inseridas. Até o momento,
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9 SANTOS, M. dos. Construção com terra crua: viabilidade tecnológica e energética em habitações sociais. Dissertação de Mestrado em Tecnologia. Universidade Federal do Paraná, Curitiba,2002, 106 f. 10 SANTANA, M. Arquitetura Popular: Espaços e Saberes. UFBA, 2013. 11 OLIVEIRA, Mário M. Tecnologia da Conservação e da Restauração. Salvador: EDUFBA: ABRACOR, 2002. 12 PONCE, Alfonso Ramirez. Arquitetura regional e sustentável. Dados: Arquitextos, São Paulo, Vitruvius, abr. 2008. Disponível em: <http://www.vitruvius. com.br/revistas/read/ arquitextos/08.095/150>. Acesso em: 20 maio 2015.
percebe-se que o distrito tem uma identidade que se relaciona com as casas antigas e contemporâneas de adobe, pois os moradores constroem suas residências com esse material por ser mais acessível e barato. Mesmo sem ter intenção ou consciência ambiental e cultural, a população contribui para o (re)equilíbrio da paisagem. Entretanto, parte da população local ainda prefere as construções convencionais. Atualmente alguns moradores que viveram anos em casa de adobe querem ter casas de alvenaria convencional pois estas proporcionam status. Em virtude desses processos, a paisagem arquitetônica de Taquaruçu vem se transformando devido aos problemas relacionados à especulação imobiliária, ameaçando a configuração arquitetônica, urbanística e paisagística do distrito.
Fig. 1-Vista de Taquaruçu. Fonte-Fundação Cultural do Município de Palmas, 2009.
Fig. 2-Casa do senhor Gustavo. Fonte-Próprios Autores, 2015.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS A arquitetura de terra possui grande significado para a história do Brasil, identificada como uma das arquiteturas populares do nosso país. Atualmente há diversos estudos que defendem a sua utilização e procuram melhorias nos métodos de aplicação. Dessa forma, de acordo com os estudos bibliográficos históricos e análise da realidade cultural local, foi possível detectar que não há entendimento da paisagem de Taquaruçu sem a presença de construções de adobe. Pelos valores históricos e culturais, essa é uma arquitetura que faz parte da tradição e essência local, além de seu caráter sustentável que dialoga harmonicamente com a natureza em seu entorno.
Fig. 3-Fôrmas para construção do bloco de adobe na casa do Senhor Adelson. Fonte-Próprios Autores, 2015. Fig. 4-Casa do senhor João Luiz. Fonte-Próprios Autores, 2015.
Fig. 5-Casa do senhor Elzires. Fonte-Próprios Autores, 2015. Fig. 6-Vista do Vale Vai Quem Que, ao centro pode ser vista a casa do Senhor Adelson. Próprios Autores, 2015.
Fig. 7-Casa do Senhor Adelson. Fonte-Próprios Autores, 2015.
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Fig. 8-Casa do senhor Judson. Fonte-Próprios Autores, 2015.
MATHEUS MOURA MARTINS matheusmoura3m@gmail.com
MARIELLE RODRIGUES PEREIRA mariellerodriguez@yahoo.com.br
Estudante do curso de Engenharia Civil – Universidade Federal do Tocantins
Mestre em Preservação do Patrimônio Cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional -IPHAN, Coordenadora e Orientadora do Projeto de Pesquisa, Professora do curso de Engenharia Civil na Universidade Federal do Tocantins- UFT e professora do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Luterano de Palmas CEULP-ULLBRA.
MATEUS DOS SANTOS BATISTA mateus15dno@hotmail.com Estudante do curso de Arquitetura e Urbanismo – Centro Universitário Luterano de Palmas
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1. TEORIA E HISTÓRIA DA HABITAÇÃO COLETIVA | TEORÍA E HISTORIA DE LA VIVIENDA COLECTIVA
Ruslan Muñoz Hernández | Habana, Cuba EL QUEHACER CONSTRUCTIVO DESARROLLADO POR EL INSTITUTO NACIONAL DE AHORRO Y VIVIENDA (INAV) EN LA HABANA (1959-1962)
INTRODUCCIÓN Las obras del INAV no han sido superadas en calidad de ejecución y diseño por ningún otro plan de construcción de viviendas sociales desarrolladas en Cuba a lo largo de más de cincuenta años. El INAV se creó en febrero de 1959, y asumió una gran parte de la edificación de viviendas por el Estado cubano en el periodo de 1959 y 1962, con el fomento de nuevos repartos y el relleno de terrenos vacíos dentro de las ciudades de todo el país. Las “casas de Pastorita” llamadas así en honor de la presidenta de dicho organismo Pastora Núñez González, asimilaron el lenguaje del urbanismo y la arquitectura del Movimiento Moderno en la versión de la vivienda individual aislada en conjuntos pequeños y medianos y en unidades habitacionales conformadas por edificios multifamiliares.1 La obra del INAV ha sido reconocida por sus valores y trascendencia en el tiempo. En el año 2001 le fue conferido a Pastorita, el Premio Cuadro de Honor otorgado por la Building and Social Housing Foundation del Programa de las Naciones Unidas para los Asentamientos Humanos (UN-Hábitat), por sus resultados, pero el mayor reconocimiento que ha alcanzado tanto el INAV como su directora, ha sido la identificación de los residentes de esos conjuntos y de la población en general a lo largo de medio siglo. En diferentes textos2 que analizan el quehacer constructivo de los primeros años de la Revolución cubana, se aborda la labor de INAV. En general, se ha estudiado con bastante profundidad la Unidad Vecinal Camilo Cienfuegos, la obra más docu-
mentada de todas las realizaciones del instituto. Sin embargo, se desconoce en gran medida el resto del universo creado, tanto en La Habana como en toda Cuba. Con vistas a lograr un conocimiento más amplio del INAV en cuanto a su dimensión y alcance, sus realizaciones y sus protagonistas, se generó la necesidad de emprender esta investigación, que se planteó como objetivos: realizar un levantamiento, clasificación y una primera caracterización de la obra desarrollada por el INAV en La Habana en el período de 1959-1962, 3 La presente investigación de carácter histórico, partió de hipótesis de reconstrucción histórica que fueron validadas y/o reajustadas tras el procesamiento de la información recopilada en la documentación de archivo con la consulta e interpretación de valiosas fuentes primarias de información (las memorias económicas del INAV “Presencia del INAV en la Revolución Cubana”,4y los planos del fondo del propio instituto en el Archivo Nacional de Cuba, además de la prensa de la época y revistas especializadas). Este trabajo pretende llenar un vacío en la historia de la arquitectura y el urbanismo cubano de los años 60, pues constituye el primer estudio específico de la experiencia del INAV, lo que permite comprender mejor la arquitectura cubana de esos años. LA INFLUENCIA CONTINENTAL El contexto internacional y particularmente el latinoamericano constituyeron un referente directo para Cuba en materia de vivienda social pues su influencia se reflejó a través de las publicaciones especializadas y la celebración de los cónclaves regionales de arquitectura. En naciones como Chile,
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1 Zardoya, 2012, p. 336. 2 Los textos más representativos son: Diez años de arquitectura en Cuba revolucionaria, 1969; La vivienda en Cuba: República y Revolución., 1979 y Arquitectura y Urbanismo de la Revolución Cubana., 1989. Todos escritos por el Arq. Roberto Segre. 3 La presente ponencia es parte de un proyecto de investigación en desarrollo por la Línea de Estudios de la Vivienda Social de la Facultad de Arquitectura del ISPJAE, de La Habana. El proyecto se comenzó a desarrollar en el año 2010, se denomina: “Más de cien años de la vivienda social en Cuba”, cuenta con el financiamiento de la propia universidad y
se encuentra registrado con el Nº: PR-0470. Investigador responsable: Dra. Arq. María V. Zardoya Loureda. En este trabajo se exponen parte de los resultados de la tesis de Maestría en Estudios de la Vivienda Social del autor, defendida recientemente. 4 El texto de 848 páginas recoge todo lo realizado por el INAV en el país. Abarca desde el 20 de marzo de 1959 hasta junio de 1961. 5 Raposo, 1999, p. 41.
6 Anda, 2012, p 386.
7 Meza, 2009. 8 Bonduky,2012,p.144 9 Algunos trabajos publicados por diferentes autores de la región, se compilaron en la publicación: Ciudad y vivienda en América Latina. 1930-1960. Madrid, 2012, 485P. 10 Coyula, 2002.,p.184 11 Bell Lara, 2006, p.115. 12
Argentina, Brasil, México, Venezuela y Colombia, la presión social y el contexto político obligaron a definir nuevos sistemas legislativos y mecanismos financieros que posibilitaran acceder a la vivienda, modificar las políticas de suelo, y propiedad inmobiliaria, en aras de crear oficinas estatales de proyectos capaces de desarrollar planes nacionales de vivienda. El papel de grandes instituciones como la Corporación de la Vivienda (CORVI), en Chile, (1952)5, el Instituto Nacional de la Vivienda en México en (1954) 6, el Taller de Arquitectura del Banco Obrero en Venezuela, (TABO entre 1954 y 1958)7, los Institutos de Jubilaciones y Pensiones IAPs, en Brasil8, entre otros, así como un gran número de entidades bancarias y financieras que apoyaron la construcción de grandes planes habitacionales han sido abordadas en diferentes estudios9 que coinciden en valorar y considerar la obra de estos organismos como parte del patrimonio arquitectónico habitacional latinoamericano del siglo XX. El concepto de unidad vecinal, ligado a una fórmula de equipamiento racionalizado como función del Estado, tuvo una amplia difusión en la región, desde la década de los 40. Las influencias del urbanismo y la arquitectura racionalista se asumieron con mucha fuerza y aunque varias realizaciones asumieron los postulados del CIAM, la experiencia continental trató de superar el esquema del bloque a aislado con tipologías cerradas y carácter anodino que marcó la imagen de muchas de las prácticas europeas en un primer momento. EL INAV, SU BREVE Y FRUCTÍFERA EXISTENCIA A diferencia de sus vecinas naciones en que las empresas estatales instrumentaron planes y estrategias de desarrollo de viviendas de forma masiva, en el caso cubano no había sido posible hasta ese momento, por lo tanto fue necesaria una revolución radical que cambiara la realidad de entonces. La falta de solución a los problemas de la vivienda popular al terminar el período republicano cubano (1902-1958) no fue por inexperiencia y desconocimiento, ya que se habían hecho estudios y propuestas que fueron divulgadas en la prensa, sino, por el desinterés de los gobiernos. (fig.1) Para implementar políticas encaminadas a la solución de la vivienda social y masiva, fue necesario transformar la estructura legal que favorecía hasta ese momento a la burguesía propietaria de inmuebles y terrenos.
Presencia del INAV en la Revolución Cubana, 1962
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La intención de crear el INAV, surgió en la Sierra Maestra por Fidel Castro en 1958. La idea era transformar la corrupta Renta de la Lotería Nacional en un instrumento para financiar la construcción de viviendas asequibles, convertir el juego en la virtud del ahorro, transformar los billetes en bonos y con lo ahorrado construir casas para el pueblo, 10 consciente de que un mal hábito como el juego no podía ser eliminado por decreto, sino mediante el combate a las causas que lo fomentaban y una sistemática labor de educación. El 17 de febrero de 1959 fue creado el Instituto Nacional de Ahorro y Vivienda (INAV) por la Ley No. 86,11 ocupando el puesto de la Renta de la Lotería Nacional. Estableció una estructura administrativa coordinada nacionalmente y con asesores técnicos en las antiguas seis provincias del país, Pinar del Río, La Habana, Matanzas, Las Villas, Camagüey y Oriente. (fig.2) La producción de viviendas del INAV cesó en 1962 y las quedaron en proceso fueron traspasadas al nuevo organismo centralizador de todas las construcciones, el Ministerio de Obras Públicas. Sólo el INAV en los veintisiete meses de actuación hasta junio de 1962, terminó 8,533 viviendas y entregó a dicha entidad otras 1,594 en proceso, en todo el país.12 La Habana concentró el 61% de la obra construida por el instituto en todo el país, distribuida en diez repartos de viviendas unifamiliares aisladas, seis conjunto de edificios multifamiliares y cinco edificios aislados. En tanto, el INAV siguió funcionando solamente como instrumento de ahorros bancarios hasta que en 1968, tal como se había previsto en su ley creadora, fue disuelto el 31 de marzo de ese año.13 POLÍTICA DE ACTUACIÓN La política del INAV ideó la fórmula de que los billetes adquiridos para los sorteos de la Lotería no perdieran su valor, ni siquiera aquellos que no eran premiados, sino que se constituyeran en bonos de ahorro y capitalización de valor reintegrable. Ello hizo posible que el sistema de juego se cambiará en un sistema de ahorro.14 El INAV se nutrió única y exclusivamente de las venta de bonos semanales, sin embargo aun así no podía satisfacer la demanda de viviendas por este concepto, por lo que sacó a la circulación una emisión de Certificados de Ahorro Popular, los que ofrecían un interés de un 7,5% muy superior a los de cualquier otra cuenta de ahorro en ese momento, esto estimuló a los ciudadanos, a suscribirse de manera fija a este sistema, permitiendo obtener el doble de lo invertido en diez años y cuatro veces en veinte años.15
El proceso de la solicitud de las viviendas, se facilitó con el apoyo de trabajadores sociales quienes hicieron los estudios necesarios para que los beneficiados fueran familias verdaderamente necesitadas. La adjudicación de las viviendas por esta vía se daba a conocer a través de la prensa escrita y radial. En total fueron adjudicadas viviendas a 26 sectores sindicales además de jubilados, víctimas de guerras, repatriados y personal militar. LA VIVIENDA INDIVIDUAL DEL INAV EN LOS REPARTOS SUBURBANOS DE LA HABANA El INAV, a diferencia de sus homólogos latinoamericanos en que optaron generalmente por la tipología del bloque aislado en grandes conjuntos y unidades vecinales, le dio continuidad al patrón de la vivienda aislada como paradigma a seguir en un discurso de clase media de los años precedentes, en el que las nuevas masas de trabajadores antes excluidas y sin la posibilidad de acceder a una vivienda digna, vieron materializar sus esperanzas con las facilidades que le ofreció esta entidad. En La Habana las unidades de apartamentos representan el grueso de la obra del instituto con el 66% de lo realizado y las viviendas aisladas el 34%, mientras que a nivel nacional, sucede lo contrario. (fig.3) A nivel nacional, el INAV diseñó y construyó más de cien modelos de viviendas individuales aisladas que variaron entre los 55 m ² y 153 m², desde dos hasta cinco habitaciones, uno o dos baños y demás comodidades de una vivienda según el modelo, rodeadas de jardín y siempre con un portal. Esta amplia variedad fue pensada también para una pluralidad de ingresos económicos que le permitiera a cada usuario seleccionar el modelo según su precio. La sabia combinación de varios modelos en un mismo frente de calle impidió que la monotonía se adueñase de la imagen urbana. (fig.4) En los repartos de La Habana se ejecutaron 46 modelos, que variaron no solo por su superficie y estándar, sino también por diferenciarse en su expresión volumétrica, dada por la ubicación de los locales, inclinación de sus cubiertas, la disposición de los vanos, la incorporación de carpoch16 en el frente o en los laterales. Emplearon revestimientos de ladrillos, piezas cerámicas y bloques a vista, algunas incorporaron lucetas de colores y celosías para filtrar o tamizar la luz solar. Interiormente se manejó muy bien la privacidad de las áreas íntimas, habitaciones y baños y se caracterizan por ser ventiladas y espaciosas. Desde los modelos más sencillos hasta los llamativos existe un cuidadoso gusto por la limpieza
de las soluciones estructurales y formales que resume lo mejor del Movimiento Moderno cubano representado de una manera digna y creativa. EL EDIFICIO DE APARTAMENTO Los conjuntos de edificios multifamiliares se ubicaron en grandes espacios yermos que existían en la ciudad, muchos de los cuales eran de geometría bastante irregular. Los edificios no sobrepasan la altura de los cuatro niveles lo que permite una coherencia con el contexto circundante. Las cajas de escaleras se convierten en volúmenes articuladores las cuales en la mayoría de los modelos se expresan de forma diferente, semi exentas, adosadas, o ligeramente sobresalientes del resto del bloque de apartamentos, de manera que se convierten en prismas referenciales de fuerte impacto visual al coronarse con los depósitos de agua, contrastando con la regularidad de los volúmenes. (fig.5) También es de destacar la conocida Unidad Vecinal No. 1 de La Habana del Este, actual “Ciudad Camilo Cienfuegos”, la obra urbanística más importante llevada a cabo por el INAV. El conjunto fue el primer experimento urbanístico coherente que concretó los preceptos expuestos teóricamente durante años por los arquitectos, a través de las revistas cubanas de arquitectura. También resumió los conocimientos teóricos de los arquitectos cubanos sobre las estructuras urbanas, a partir de las principales tendencias vigentes en la década de los años 50 y de principios esenciales del urbanismo contemporáneo aplicados en experiencias internacionales.17 (fig.6) El diseño se basó en la supermanzana que incluía todos los servicios necesarios. Se logró un equilibrio en la alternancia entre edificios altos y bajos, zonas verdes que separan las viviendas de las vías de circulación; jerarquización y diferenciación del sistema vías-peatones y vehículos—estructuración de los diversos niveles de servicios, desde la unidad residencial básica hasta el centro comunitario. En seiscientos sesenta y siete días de trabajo (abril de 1959 a noviembre de 1961) se terminó la obra, construyendo a un ritmo de dos casas por día. Fue un modelo integral de vivienda concebido como hábitat integrador, nunca como ciudad dormitorio. Por ser una de las primeras obras que realizó la Revolución, capaz de reunir los valores estéticos y de mayor complejidad de la arquitectura y el urbanismo contemporáneos, la Unidad se declaró Monumento Nacional en 1996.18
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13 Pérez, 1995, p.82. 14 Ley No. 86 de 17 de febrero de 1959. Artículo 15. Fuente: Leyes del Gobierno Provisional de la Revolución (III), Editorial Lex, La Habana, 1959, pp. 121-137. 15 Núñez, 1959, p. 15. 16 Carpoch: A diferencia del garaje techado y cerrado con llave para guardar el auto, el carpoch es un espacio para el estacionamiento de autos que pertenece a la vivienda, puede ser techado o descubierto y se puede encontrar en el frente o en un lateral de la vivienda. 17 Segre, 1979, p.55 18 Resolución No.134. Unidad Vecinal Nº. 1. Ciudad Camilo Cienfuegos. Comisión Nacional de Monumentos. 1996.
Una alta coherencia adquiere excepcionalmente algunos edificios aislados y atípicos adaptados según el lugar de emplazamiento, los cuales también poseen valores estético-formales que los hacen destacados en la trama urbana. Se concibieron con una planta baja para estacionamientos y actividades sociales. La expresión volumétrica de estos edificios mantuvo y coexistió armónicamente con la parquedad formal y ortodoxa de las edificaciones que los rodeaban integrándose coherentemente. (fig.7) Por lo general los modelos de apartamentos del INAV no varían mucho, sin embargo, desde el punto de vista espacial son amplios y ventilados, el espacio de sala comedor siempre se vincula con la terraza o el balcón. La estructura de los edificios se expresa con claridad, definiendo una retícula en que la edificación no se cierra nunca en el plano de fachada, sino que se retranquea generando terrazas y una amplia gama de cierres con celosías que forman diferentes composiciones, a la vez que garantizan la necesaria ventilación cruzada de los apartamentos. (fig.8) CONSIDERACIONES FINALES La obra del INAV materializó muchas de las aspiraciones de los arquitectos cubanos sobre la vivienda social que se habían teorizado y divulgado en publicaciones, concursos y eventos nacionales y regionales. Socialmente tendió a la estabilidad de la familia, al pretender que cada ciudadano llegara a ser propietario de su casa. Bajo el lema: “una casa propia para cada familia cubana” llevó a desplegar acciones de un extremo a otro de toda la nación, en beneficio de miles de ciudadanos. Uno de los principales aportes urbanísticos del INAV radicó en la concepción integral de los asentamientos habitacionales que concibió por todo el país, incorporando los servicios comunales para el pleno desarrollo humano (mercados, escuelas, centros recreativos, de salud, y parques, todos de una excelente calidad en sus diseños. Dentro de sus aportes arquitectónicos se destaca la amplia variedad de modelos y estándares de las viviendas y apartamentos, lo que repercutió en la diversidad de variantes espaciales, volumétricas y formales que caracterizó su quehacer. En este aspecto también se produjo una continuidad con las realizaciones de la etapa republicana. Uno de los puntos para garantizar la sostenibilidad es la capacidad de durar y continuar. Precisamente la producción del INAV ha permanecido imperecedera por más de cincuenta años. El 100% de los
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conjunto de edificios multifamiliares y de los edificios aislados hechos en La Habana se mantienen íntegramente y en buen estado de conservación. La obra de Pastorita fue una experiencia única en la historia de la arquitectura y el urbanismo cubano como expresión de la voluntad del Estado para garantizar una vivienda digna a sus ciudadanos. La trascendencia en el tiempo del quehacer de este instituto fue el resultado de la alta creatividad proyectual de sus autores, de la estructura institucional articulada nacionalmente, de la coherencia de la gestión y acción de los agentes involucrados, así como la estructuración de un cuerpo técnico unificado, capaz de desarrollar mediante técnicas constructivas tradicionales una producción masiva y de alta calidad. A sus valores estéticos y arquitectónicos se suman sus valores sociales y culturales arraigados en la memoria histórica de sus habitantes. Las casas de Pastorita contribuyeron a conformar una parte de la geografía social de la ciudad y de su paisaje residencial. Sirva entonces este primer acercamiento sobre el tema para reconocer este patrimonio moderno habitacional cubano del siglo XX.
BIBLIOGRAFÍA Archivo fotográfico del Ministerio de Obras Públicas (MOP) procesado por el Lic. Juan de las Cuevas Toraya. Carlos Sambricio, ed. (2012). Ciudad y vivienda en América Latina. 1930-1960, Madrid, Bell Lara, José, “et al”.(2006). Documentos de la Revolución cubana 1959. La Habana, Editorial de Ciencias Sociales. Coyula Cowley, Mario (2002). La Habana que va conmigo. La Habana, Editorial Letras Cubanas, “La arquitectura en los países en vías de desarrollo, Cuba”. (1963).Séptimo Congreso de la Unión Internacional de Arquitectos, La Habana. Ley No. 86 de 17 de febrero de 1959. Artículo 15. Fuente: Leyes del Gobierno Provisional de la Revolución (III), Editorial Lex, La Habana, 1959, pp. 121-137. Meza, Beatriz. (2009). “Cerro Piloto: El Plan Extraordinario de Vivienda para Caracas, 1954.” Tecnología y Construcción, vol.25 Nº.2,
Caracas, agosto. 2009. versión impresa ISSN 0798-9601 [Fecha de consulta: julio de 2014]. Disponible en: tyc@idec.arq.ucv.ve
fig.1. Vista del Barrio Obrero de Luyanó, en 1953. Fuente Archivo del Ministerio de Obras
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fig.2.Pastora Nuñez y Fidel Castro.
Presencia del INAV en la Revolución Cubana, 1962
Fuente Documental Pastorita,2011
Raposo, Alfonso. (1999). “La vivienda social de la CORVI. Un otro patrimonio”. Boletín INVI, no.37, agosto 1999, Vol.14, p. 41. Resolución No.134. (1996). Unidad Vecinal Nº. 1. Ciudad Camilo Cienfuegos. Comisión Nacional de Monumentos.
fig.3. Vista del reparto
Segre, Roberto. (1979). La vivienda en Cuba: República y Revolución. La Habana, Ediciones Unión.
Eduardo Chibas, 1959. Fuente.Cómo obtener sus casa a través del
Segre, Roberto: (1970). Diez años de arquitectura en Cuba revolucionaria. La Habana, Ediciones Unión.
INAV(folleto)
Zardoya, María V.(2012).” Por unas casas dignas. La vivienda social en La Habana, 1930-1962”.En: Ciudad y vivienda en América Latina 1930-1960. Carlos Sambricio, ed. Madrid, 2012
fig.4. Arriba Viviendas construidas en el reparto Capri
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fig.5. Diversidad tipológica de algunos edificios de apartamentos diseñados por el INAV
fig.8. Edificio en calle Panorama entre Conill y Tulipán. Fuente Arquitectura, Enero, Nº318,1960.
RUSLAN MUÑOZ HERNÁNDEZ. Arquitecto (2011). Profesor de la Disciplina de Teoría, Crítica e Historia de la Arquitectura y el Urbanismo. Máster en Vivienda (2015) y estudiante de Doctorado en Arquitectura con el tema: “Valores históricos, arquitectónicos y urbanos de la vivienda social en La Habana en la primera década de la Revolución cubana”, todos en el Instituto Superior Politécnico “José Antonio Echeverría de La Habana”. Miembro de los grupos de Investigación: “Gestión y Manejo del Patrimonio Cultural edificado cubano”, “100 Años de Vivienda Social” y “Diccionario de arquitectos cubanos”. Ha publicado varios trabajos y participado en eventos sobre historia de la arqui-
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tectura cubana y la vivienda social. Ha recibido estudios de posgrado en: Ordenamiento Territorial y Urbano. (Instituto Nacional de Planificación Física, Diplomado 2014); Diplomado en Conservación y valoración sostenible del Patrimonio Hidráulico, Industrial, Arquitectónico y Urbano.( 2014) impartido por docentes de la Universidad de Padua y del ISPJAE. Cursos de: “Introducción al Arte II” y “Contexto de la Conservación”. (Centro Nacional de Conservación, restauración y Museología, CENCREM. Cátedra UNESCO sobre Ciencias de la conservación integral de los Bienes Culturales, 2012).
ORGANIZAÇÃO Coordenação Geral Prof. Paulo Bruna (FAUUSP / FAAP), Prof. Leandro Medrano (FAUUSP), Prof. Josep Maria Montaner (MLVSSXXI / Ayuntamiento de Barcelona), Profa. Zaida Muxí Martínes (MLVSSXXI / ETSAB-UPC) , Profa. Renata Coradin (MLVSSXXI/ FIAM-FAAM) Supervisão Científica Prof. Renato Anelli (IAU-USP), Profa. Doris Kowaltowski (FEC-Unicamp), Profa. Gilda C. Bruna (FAU-Mack), Profa. Maria Lucia Gitahy (FAUUSP), Profa. Ruth Verde Zein (FAU-Mack), Prof. Nabil Bonduki (FAUUSP) Comissão Organizadora Daniela Arias (MLVSSXXI), Roser Casanovas (MLVSSXXI), David H. Falagán (MLVSSXXI), Cássia Bartsch Nagle (doutoranda FAUUSP), Alessandra Bedolini (FIAM-FAAM / doutoranda FAUUSP). COMITÊ CIENTÍFICO Prof. Dr. Alberto Peñín (ETSAB-UPC) Profa. Dra. Ana Falú (FADU-UNC) Profa. Dra. Angela Maria Gordilho Souza (UFBA) Profa. Dra. Ana Gabriela Godinho Lima (FAU-Mack) Profa. Dra. Carmen Espegel (ETSAM-UPM) Profa. Dra. Clara Irazábal (GSAPP-Columbia University) Profa. Dra. Cláudia Cabral (UFRGS) Profa. Dra. Cristiane Rose S. Duarte (UFRJ) Prof. Daniel Escotto (FA-UNAM) Prof. Dr. Fernando Agrasar (ETSA-Coruña) Profa. Dra. Flávia Brito do Nascimento (FAUUSP) Profa. Dra. Joana Mello (FAUUSP) Prof. Dr. Jordi Honey-Rosés (SCRP-UBC) Profa. Dra. Lizete Rubano (FAU-Mack) Prof. Dr. Luiz Recamán (FAUUSP) Profa. Dra. María de Lourdes García V. (FA-UNAM) Profa. Margarita Jover Biboum (SA-UV) Profa. Dra. Maria Cristina Schicchi (PUCCAMP) Prof. Dr. Manel Bailo Esteve (SA-UV) Profa. Dra. Nilce Botas (FAUUSP) Profa. Dra. Patrizia Montini (IUAV) Profa. Dra. Paula Santoro (FAUUSP) Profa. Dra. Pilar García Almirall (ETSAB-UPC) Prof. Dr. Renato Cymbalista (FAUUSP) Prof. Dr. Ricardo Devesa (ETSAB-UPC) Researcher Sara Ortiz Escalante (SCRP-UBC) Prof. Dr. Sharif Kahatt (FAU-PUCP) Profa. Dra. Vanessa Gomes (FEC-Unicamp) Prof. Dr. Wilson Ribeiro dos Santos (PUCCAMP) Design gráfico - livro Leandro Leão
Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo __________________________________________ II Congresso Internacional de Habitação Coletiva Sustentável (2016, São Paulo.) Atas / coordenação Paulo J. V. Bruna; Leandro Medrano; Josep Maria Montaner; Zaida Muxí Martínez ; Renata Coradin . Catalunya: Master Laboratório de la Vivienda Sostenible del Siglo XXI - Universidade Politécnica da Catalunya; São Paulo: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2016. 828p. (versão digital) ISBN 1.Habitação (Aspectos sociais). 2.Sustentabilidade. 3.Habitação (Políticas públicas). 4.Habitação (História). I.Bruna, Paulo J.V. II.Medrano, Leandro. III.Montaner, Josep Maria. IV.Muxí Martinez, Zaida. V.Coradin, Renata. CDD 711.13 _____________________________________________
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Fundação Armando Alvares Penteado - FAAP 18 a 20 de abril 2016
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Apoio:
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