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REVISTA LADO A #61 Fev. Mar. 2016
EDITOR CHEFE Allan Johan COLABORADORES E COLUNISTAS Bruno de Abreu Rangel, Paulo Cogo, Arthur Virmond de Lacerda Neto, Leandro Allegretti, Lucas Panek e Wladi. Tiragem 5 mil JORNALISTA RESPONSÁVEL Allan J. Santin DRT PR 8019 PROJETO GRÁFICO Lado A CONTATO REDAÇÃO contato@revistaladoa.com.br PARA ANUNCIAR contato@revistaladoa.com.br CORRESPONDÊNCIAS CP 10321 CEP 80730-970 Curitiba - PR As matérias assinadas não expressam a opinião editorial da Revista Lado A. Proibida a reprodução total ou parcial de conteúdo sem autorização prévia.
CAPA #SomosTodosHeróis 10 leitores e convidados Foto: Herickson Laurindo
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Editorial
Tempos difíceis A crise econômica e o fortalecimento do conservadorismo no país ameaçando as poucas conquistas que o movimento e as pessoas tiveram nos últimos anos colocam em xeque o modo que vivemos. Jair Messias Bolsonaro se aliou com o PSC – Partido Social Cristão – ao qual se filiou em Janeiro, para realizar o sonho da Direita e dos evangélicos do país: assumir a presidência do Brasil. Eles devem conseguir uma votação expressiva, mas não devem ter êxito, esperamos. Ainda assim, ameaçam tirar o país do caminho da Justiça, de ser uma nação multicultural, laica, que respeita as minorias, apesar de tudo, oficialmente. Mas não podemos dormir no ponto. Mais do que nunca é preciso falar de política, nos colocar à disposição de cargos eletivos e ocupar espaços. Unir-nos. Fazer força para sermos ouvidos e pela primeira vez mudarmos o país de verdade. Tempos difíceis, tempos de pensar e agir. A Lado A completará este ano uma década. Muita coisa mudou. Temos orgulho de fazer parte das conquistas, mas estamos sempre nos adaptando às novas realidades. Esperamos que nossos leitores embarquem nesses novos caminhos conosco.
Allan Johan
Editor Chefe
ÍNDICE 06 Entrevista DUeRCIO DE OLIVEIRA 09 ESPECIAL SOMOS TODOS HERÓIS 20
coluna social
25 TURISMO AS CAPITAIS MAIS GAYS DO BRASIL 28 COMPORTAMENTO POR QUE AMAMOS O VOLEIBOL? 33
Guia GLS Sul
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Nascido em São Joaquim da Barra, São Paulo, o arquiteto Duercio de Oliveira, 51, é mais conhecido no meio gay como o dono da Cats Club, fundada em 1999, em Curitiba. Casado há 18 anos, Duércio também foi dono da Queen, boate icônica e bafônica dos anos 90 da capital paranaense. A Queen introduziu o estilo club gls na cidade, com gogoboys e drags hostess, pista e muitos drinks.
mudar, em maio de 2000, para o endereço onde estamos ate hoje, na Dr. Muricy. E assim já se passaram 16 anos.
E o club Queen, precursora da Cats? A Queen marcou história trazendo para Curitiba a presença de drags glamourosas e gogo boys. A Cats veio com outra filosofia, que era a da diversão, com drags engraçadas e simpáticas e gogo boys performáticos, interagindo com o A Cats se prepara para uma público, dando aos clientes uma nova fase, e o Duércio veio diversão acima da expectativa. conversar com a gente sobre isso. A Cats já mudou muito nesses 16 anos, qual foi a maior muComo surgiu a Cats? dança? O clube foi inaugurado em 1999, A maior reforma foi quando tirapartindo da ideia de fazer um lo- mos o conceito de pista caixa e cal para encontro de amigos, por entramos no conceito de pista meisso o nome Cats Club. A concep- zanino, integrada com o restante ção de decoração foi inspirada no da boate. espetáculo CATS, da Broadway, e no desenho da turma do Manda E o que mudou nestes quase 20 Chuva, além de envolver os quatro anos na noite? elementos da natureza, trazendo Na verdade muita coisa mudou. forca e energia para o ambiente. As pessoas mudaram, hábitos com A princípio, o clube funcionava na a ascensão da internet e a liberaAv. Sete de Setembro, na esquina ção sexual gay. As discriminações com a Rua 24 de maio. O sucesso diminuíram e o que era estranho foi inesperado e tivemos que nos há algum tempo, hoje já é normal 7
para muitos. Os gays não precisam O que afasta? frequentar lugares exclusivamente Mau atendimento. As pessoas gosgays para se esconderem; hoje vão tam de ser bem atendidas. a todos os lugares. Com as baladas não abertaO que está complicado hoje mente gays, mas simpatizantes, o público se divide. Há para as casas noturnas GLS? Bem, primeiramente, o país está espaço para todos? em crise e o pessoal precisa cortar Sim. Tem espaço pra todo mundo. gastos. A diversão entra nesta lista Curitiba tem mais de 2 milhões de de cortes porque não é prioridade habitantes e tem público para topara muitos. Também, devido a dos, desde que as pessoas joguem grande quantidade de casas notur- limpo. nas, o público ficou bastante dividiE o que a Cats prepara para os do com tantas opções. próximos anos? Estamos preparando mais uma O que atrai público? Presença de celebridades de inter- grande reforma e muitas atrações que estão por vir: DJs convidados net. e muitas surpresas para o público.
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ESPECIAL
A edição 61 marca a abertura dos 10 anos de Lado A. As fotos do editorial de moda desta edição foram feitas pela nossa produção com cliques e edição do fotógrafo Erickson Laurindo. Convidamos 10 leitores e amigos para posar vestidos de super heróis. A explicação abaixo é do nosso redator Lucas Panek, novo integrante da Lado A. Por que “Somos Todos ‘Heróis’”?
nha superpoderes para ajudar. Mas e a comunidade LGBTQ? O nosso vilão não é palpável. Ele está enraizado no sistema político, educacional e social. Ele faz parte de todas as pessoas, inclusive de nós mesmos. Ele é o preconceito. Somos heróis que vivemos com culpas inteiras. Tentamos desconstruir o machismo todos os dias. Tentamos desconstruir a heteronormatividade todos os dias. Tentamos desconstruir o classicismo todos os dias. Tentamos desconstruir, enfim, a transfobia, a lesbofobia e todas as formas de fobias sociais de maneira ininterrupta. Não conseguimos sempre. Às vezes perdemos, mas quando isso acontece, somos pessoas melhores.
Às vezes, salvar o mundo todos os dias parece muito fácil. Pelo menos, é o que os super heróis fazem parecer. O Homem-Aranha só precisa saber do boato na redação do jornal e sair escalando os prédios para proteger a cidade de Nova York da máfia e de Você tem noção de quanta dor uma seus bandidos perigosos. Ele ainda ti- travesti sente, diariamente, por conta
da incompreensão dos outros? É o caso da Natasha, travesti moradora de rua, que terá para sempre as marcas físicas da intolerância de uma sociedade que escolheu atacar fogo em seu corpo ao invés de estudar e compreender a sua condição social. Natasha é uma heroína.
mundo e, se decidem passar pelo procedimento de readequação sexual e de mudança de nome, precisam enfrentar as condições duvidosas do Sistema Único de Saúde, que trata a transexualidade como um transtorno, e os entraves legais da justiça brasileira. As e os transexuais são heróis.
As lésbicas tem que lidar tanto com pessoas como Jair Bolsonaro, que vive dando declarações demonizando gays e lésbicas, quanto com o machismo da sociedade, que não consegue enxergar o amor entre duas mulheres como satisfatório. As lésbicas também são heroínas.
A lista de situações vai longe: não podemos andar de mãos dadas, não podemos expressar feminilidade, não temos nosso amor legitimado, não podemos doar sangue, temos dificuldades para adotar filhos, somos politicamente mal representados, sofremos violência homofóbica diariamente...
E as pessoas trans, então? Vivem no Sim, todos nós somos super heróis. país que mais mata transexuais no
#SomosTodosHeróis AGRADECIMENTOS: Verdant, Thiago Paes E Mansão das Fantasias. Fotos: Herickson Laurindo Modelos: Victor HUGO, Gabriel V., Sander, Felipe, Gabriel B., Dimi, Wesley, Pedro, Douglas e André =*
Bermuda e camiseta Reserva
Cats Club
Black Box
COLUNA SOCIAL
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FOTO CATS: DIVULGAÇÃO PROMISCUOS CATS
Verdant
Ejoy
COLUNA SOCIAL
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TURISMO
As 10 capitais mais gays do Brasil Seguindo exemplos internacionais de listar as cidades mais gayfriendly, a Lado A resolveu estabelecer critérios e nomear as capitais brasileiras com maior hospitalidade para os gays. Infelizmente, a violência contra LGBTs apaga o bom histórico de algumas cidades. Desta forma, tentamos ser o mais justos possível.
São Paulo - SP
Critérios (CULT) Vida Cultural e Vida Noturna: até 5 pontos (MOV) Militância LGBT atuante: até 5 pontos (GOV) Campanhas e apoio governamental: até 5 pontos (LEI) Leis antidiscriminatórias e atuação da segurança pública em casos de homofobia: até 5 pontos (RIP) Casos de homofobia com morte em 2014: (desconta-se índice de mortes por 1 milhão de habitantes – Fonte: Relatório GGB)
19 pontos (CULT 5, MOV 5, GOV 5, LEI 5, RIP -1,03) Sampa não é a cidade mais gay do país à toa. Cosmopolita, oferece segurança, vida agitada, comunidade pujante e muitas opções.
Brasília - DF
18 pontos (CULT 3, MOV5, GOV5, LEI5, RIP0) Brasília pode pecar em opções de lazer mas a cidade tem uma militância atuante, nenhum caso de homofobia com morte e todo o glamour de ser a capital federal.
Salvador - BA
18 pontos (CULT 4, MOV5, GOV 5, LEI5, RIP -1,03) A primeira capital do Brasil é protegida por todos os Santos e tem também a ong gay mais antiga do Brasil, o Grupo Gay da Bahia. A noite gay de é incrível, as pessoas maravilhosas, não tem como não amar Salvador.
Porto Alegre – RS
17.30 pontos (CULT 3, MOV 5, GOV 5, LEI 5, RIP -0,68) A capital gáucha deixa a desejar em opções para todos os gostos mas tem uma militância das mais fortes do país e um governo atuante e preocupado com o bem estar da população, baixos índices de homicídios, o que faz toda a diferença.
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Rio de Janeiro – RJ
16.6 pontos (CULT 5, MOV 5, GOV 4, LEI 4, RIP -1,39) Os cariocas poderiam estar em primeiro, se não fosse a falta de segurança. A cidade é realmente maravilhosa, assim como os moradores, mas é preciso barrar a homofobia no Rio, principalmente por parte dos policiais e alguns políticos.
Curitiba - PR
16.5 pontos (CULT 5, MOV 5, GOV3, LEI3, RIP -0,54) A cidade modelo não tem lei contra a homofobia, o prefeito nunca foi na Parada Gay, embora seja uma cidade segura, com qualidade de vida, ambiente cultural e noite de programação fortes. Não há apoio ao turismo LGBT e nem campanhas locais destinadas a nossa comunidade.
Florianópolis – SC
16 pontos (CULT 4, MOV4, GOV 4, LEI4, RIP -0) A capital de Santa Catarina é um oásis. Se fosse Verão o ano inteiro talvez ela ficasse em primeiro na nossa lista. E também se os governos locais se importassem mais com a população LGBT e com o movimento gay. 26
Maceió - AL
15 pontos (CULT 3, MOV5, GOV 5, LEI4, RIP -1,99) Linda e animadíssima, a capital de Alagoas tem tradição na militância gay, e apesar dos índices altos de assassinatos de homossexuais na região, ainda entrou na lista das 10 capitais mais gays do país.
Recife - PE
15 pontos (CULT 5, MOV5, GOV 5, LEI5, RIP -4,97) Pernambuco poderia estar bem melhor na lista se não fosse a violência. Apesar de uma noite incrível, população maravilhosa e todos os apoios à comunidade LGBT, inclusive como destino turístico gay friendly, possui um dos maiores índices de mortes de homossexuais no país, entre as capitais.
Belém - PA
13 pontos (CULT4, MOV3, GOV4, LEI4, RIP -2,09) A capital do Pará é animação o ano inteiro mas a violência contra LGBTs ofusca a cidade. Com muita tradição e tolerância por um lado, a cidade ainda não aprendeu a respeitar seus cidadãos LGBT, apesar do esforço da militância local.
COMPORTAMENTO
Por que amamos o voleibol? Por Lucas Panek
A relação entre a homossexualidade e o esporte é bastante delicada, por ser um universo onde geralmente há sexismo, machismo e valoração entre qualidades masculinas e femininas. Quem assistiu ao seriado norte-americano Glee, que foi transmitido de 2009 a 2015, acompanhou o drama dos personagens Kurt Hummel, gay afeminado que buscou espaço no futebol americano para esconder a homossexualidade do pai, e Karofsky, jogador de futebol que tentou se matar depois que o time descobriu que ele era gay. A vida nas escolas dos Estados Unidos é bem retratada na trama. Lá, o Futebol Americano ganha um status de esporte masculino, de força e viril, 28
enquanto, para as mulheres e gays, o cheerleading é a melhor opção. Ou seja, a eles cabe o espaço de submissão, de ficar torcendo para que os homens do time ganhem o jogo e tragam honra e felicidade para a escola. No Brasil, essa dicotomia é bem representada pelo vôlei e o futebol. É aqui que entra a pergunta: “Por que os gays preferem jogar vôlei a futebol?”. Essa não é uma regra, mas é muito mais fácil você encontrar um homossexual assumido jogando vôlei, seja profissionalmente ou de forma amadora, do que em uma partida de futebol. Segundo Danny Piu, árbitro de futebol e Delegado da Federação Paranaense de Futebol, essa distinção
Superliga Gay de Vôlei, em Manaus
começa nas aulas de educação física. “O preconceito vem lá da escola, nas aulas de Educação Física. O que acontece é que os professores constroem uma ideia de que o futebol é para meninos e o vôlei é para meninas”, comenta. O esporte, nesse sentido, também é um espaço de vivência social e consequentemente reflete as construções heteronormativas da hierarquia de gênero brasileira. Isso já é o suficiente para criar um ambiente de sexismo e machismo. Qualquer menino que tenha trejeito feminino, tenha um corpo diferente ou não seja bom no esporte é tachado de “menininha” e sofre bullying.
de Mary del Priore, aborda justamente a construção da masculinidade no país. A coletânea traz o artigo de Vitor Andrade de Melo, que afirma a ligação da idealização sobre a atividade física com as práticas do Exército e a formação do homem como um ser de honra, moral e coragem: “Os tipos físicos e musculosos começaram a ser progressivamente valorizados”. Outro dado levantado é que o futebol foi um dos primeiros esportes a ser implantado na grade das disciplinas de atividade física em escolas, ainda no século XIX, tempo em que a educação era majoritariamente destinada aos homens.
O preconceito em quadra O livro História dos Homens no Brasil, A intolerância dentro de quadra é gran-
de, um dos principais motivos de atletas gays permanecerem no armário. Casos como o do central Michael, do antigo Vôlei Futuro, e do jogador de futebol Richarlison despontaram na mídia por conta da homofobia sofrida pelos atletas.
cessado e, tendo um bom advogado, responde em liberdade”. Hamilton Gaspar, jogador amador de vôlei, conta que já sofreu preconceito por conta da sua orientação sexual em treinos. Entretanto, o atleta traz um panorama otimista sobre o trabalho contra a homofobia dentro do vôlei. “É um tema que está sendo bastante trabalhado em alguns clubes e times, vemos equipes grandes, nível de Superliga, com campanhas bem bacanas quanto ao racismo e preconceito”, conta.
Piu aponta que essa é uma questão bastante complicada, mas que há uma legislação interna que pune práticas preconceituosas e racistas nos campos de futebol: “se tratando de Europa, os casos de preconceito são levados muito a sério, com punição em dinheiro para os clubes. No Brasil segue os mesmos processos normais No vôlei, a hostilização maior vem da de Justiça, o ‘agressor’ é apenas pro- torcida, por isso diversos times levan30
taram bandeiras contra o preconceito nas últimas transmissões de jogos da Superliga, inclusive com atletas se posicionando na mídia.
Cinema O filme Cult tailandês Damas de Ferro (Iron Ladies - 2000) explora o amor dos gays pelo voleibol. Com direito a sequência em 2004, o filme aborda Futebol das Drags com muito humor a história de um Para desconstruir o estigma em cima time de voleibol formado no país por dos homossexuais, mulheres e afemi- gays, lésbicas, transexuais e travestis. nados no esporte, as drag queens de Curitiba se reúnem uma ou duas vezes Combatendo o preconceito e estepor ano para o Futebol de Drags. O reótipos, o longa rodou o mundo. O evento busca ocupar o espaço público mais curioso é que se trata de uma para uma partida de futebol entre ho- história real, inspirada um time LGBT mens e mulheres montadas, com pe- que realmente ganhou o campeonato ruca, maquiagem e salto. Além de ser nacional da Tailândia em 1996. uma festa para a comunidade LGBT, a brincadeira ajuda a trazer inclusão ao esporte e destituir o futebol dos aspectos heteronormativos e machistas.
“O preconceito vem lá da escola, nas aulas de Educação Física. O que acontece é que os professores constroem uma ideia de que o futebol é para meninos e o vôlei é para meninas”,
PARANÁ CURITIBA
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