Lado A #64

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v. 2016

Edição 64 Out./No

.com.br

www.revistaladoa



Você conhece o projeto “A Hora é Agora”? É um projeto em que você pode solicitar o seu teste gratuito para o HIV pelo celular ou pelo site: www.ahoraeagora.org


EDITORIAL

O valor das coisas As pessoas valorizam questões de forma diferente. Para uns, andar de mãos dadas com o(a) namorado(a) na rua não significa nada, para outras é algo valioso. Para alguns, o carro do ano é importante, para outros, nem tanto. Fama, dinheiro, amor, traição, cada pessoa encara situações diferentes da sua forma. Não há certo ou errado. 4

Então qual o valor real de tudo? Essa é a descoberta e uma das morais do livro “O Pequeno Príncipe”. Assustado, o jovem viajante vê que a rosa que tanto amava e idolatrava era igual às outras que encontrou pelo caminho. Mas o que a fazia especial então? O tempo. O tempo que você dedicou para cuidar da rosa a tornou especial para você. E assim é na vida das pessoas. As que trabalharam, dão valor ao dinheiro suado; as que investem em uma relação, dão maior valor a ela; as que viram a morte de perto, darão mais valor à vida.


“O tempo é o Senhor da Razão e não há nada que ele não modifique. E não há nada que o tempo mostre um dia o seu real valor”

É por isso que as amizades valem tanto. São relações cultivadas com o tempo e que nos trazem lembranças. As nossas boas memórias são o pagamento que supera qualquer dinheiro, qualquer sensação nova que oferece riscos, é o nosso seguro na incerteza do momento ou do futuro. Mas, assim como o Pequeno Príncipe, devemos saber a hora de abandonar o nosso planeta seguro e explorar o mundo. Ele jamais teria descoberto a importância de sua rosa se lá ficasse a idolatrá-la. Partiu, voltou tarde, mas aprendeu uma lição. A relação abusiva que ele tinha com a rosa era uma ilusão. Ela era especial para ele, mas ao

mesmo tempo em que você se fecha, você deixa de viver coisas novas. E quem dirá se você acertou ou errou? O tempo é o Senhor da Razão e não há nada que ele não modifique. E não há nada que o tempo mostre um dia o seu real valor. Poucas coisas na vida sobrevivem ao tempo, por isso, faça escolhas corretas, pois o tempo não volta, não perdoa, e tende a transformar, com a maturidade que vem com ele, as certezas em estupidez.

Allan Johan Publisher

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REVISTA LADO A #64 Outubro / Novembro de 2016 EDITOR CHEFE Allan Johan COLABORADORES E COLUNISTAS Bruno de Abreu Rangel, Arthur Virmond de Lacerda Neto, Lucas Panek, Leandro Allegretti e Wladi. Tiragem 5 mil JORNALISTA RESPONSÁVEL Allan J. Santin DRT PR 8019 PROJETO GRÁFICO Lado A CONTATO REDAÇÃO contato@revistaladoa.com.br PARA ANUNCIAR contato@revistaladoa.com.br CORRESPONDÊNCIAS CP 10321 CEP 80730-970 Curitiba - PR As matérias assinadas não expressam a opinião editorial da Revista Lado A. Proibida a reprodução total ou parcial de conteúdo sem autorização prévia.

CAPA Gaby Rodin

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ÍNDICE 04 editorial 08

Entrevista ALLAN JOHAN

12 MODA VERÃO SUPER FASHION 18

COLUNA SOCIAL

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fESTA LADO A 10 ANOS @CATS CLUB

23 ESPORTES i REIS DA AREIA LADO A 25 GENTE A saga de Toni Reis e o ativismo LGBT no Brasil 29

Meninos de ferro meniinos de buatchy

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coluna aleatória Os 4 foras mais sofridos que levei

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PAstel e seus amigos 7


a

st i v e ntr

E

8

an

Joh n a l l A


Aos 36 anos, o jornalista e militante Allan Johan foi candidato a vereador nas últimas eleições em Curitiba. Ele obteve 834 votos e continua, após o pleito, como editor da Lado A, da qual é o fundador. Conversamos com ele sobre política, para saber como foi a experiência e o que o levou a tentar entrar para a política. Por que você quis concorrer ao cargo de vereador? Na verdade, esta foi a segunda vez que eu tentei. Antes, em 2004, ainda estudante universitário, tive 329 votos. Não é um sonho, mas eu acredito que poderia fazer muito mais pela nossa comunidade. Precisamos de um representante, isso é fato. Não me importo quem seja, mas precisamos eleger alguém para deixarmos de ser invisíveis politicamente. E por que o Partido Socialista Brasileiro? Pois foi o único partido que me filiei até hoje e onde encontro direito de pensar diferente. É um partido de centro esquerda, com seus defeitos e qualidades, mas entre as principais qualidades é estar sempre aberto ao diálogo e à diversidade de pensamento.

Qual a sua análise, ao não ter entrado? Foi uma campanha atípica, curta, e que favoreceu quem havia saído candidato na última eleição e também aqueles já eleitos. Infelizmente, nossa comunidade não vê a importância da militância política, não se une, ainda, muitos vendem voto ou acreditam que a ideologia esquerda /direita é mais importante do que a união em prol dos nossos objetivos comuns. Ainda, a maioria dos LGBTs da cidade não vota em Curitiba. E vale a pena tentar esta carreira? Acredito que ao ocupar um espaço que poderia ser de um corrupto ou de um conservador já vale a pena. No meu caso, diversas personalidades da política local apoiaram a candidatura e a nossa causa, se manifestaram pela primeira vez. Só isso já valeu a pena. Na campanha online você disse não ser nem Clodovil e nem Jean Wyllys, o que quis dizer com isso? Quis dizer que eu não era nem extrema esquerda e nem extrema direita, que eu tenho diálogo, que eu tenho uma personalidade própria. O Jean Wyllys é admirável, super inteligente, mas ele não tem o jogo de cintura que se espera de um político, por isso não aprova nada para nós. Já o falecido Clodovil não nos defendia, ele chegou a dizer que era contra o casamento 9


gay, era um enrustido. No final da vida chegou a declarar que o câncer que o consumiu foi resultado dos anos que passou sem expressar sobre ser gay. Como você se tornou militante? Eu sofri bullying e preconceito a minha vida inteira. Mas dois episódios me marcaram muito, ambos ocorreram quando eu tinha 18 anos. O primeiro deles foi um incidente em casa, em que meu pai afirmou que preferia um filho morto a um filho gay. Ele fez isso apontando uma arma para a minha cabeça. E eu disse que ele poderia atirar mas que eu não deixaria de ser quem eu era. Outro momento foi uma batida policial em que eu estava no carro com um amigo. Estávamos fazendo tempo para ir para uma balada hétero da moda no estacionamento de um parque, e fomos parar na delegacia porque eu respondi o policial, e por duas horas, ou mais, eu fui ameaçado. O delegado pastor fez um sermão enquanto um ou outro policial passava e chutava a cadeira em que eu estava. O delegado dizia que os caras queriam me espancar mas que ele não iria deixar. Foi tudo no mesmo ano, e em seguida teve o final do meu primeiro namoro... Não via mais sentido na minha vida senão lutar pelos nossos direitos, para que ninguém passasse por isso. Foi no final da década de 90, pense! 10

O que mais podemos esperar para a Lado A? Meu sonho é transformar a Lado A em uma fundação. Há tanto para ser feito e acredito que o formato atual das ONGs não ajuda muito, pois dependem de verba pública. Por outro lado, é difícil mobilizar pessoas a favor da causa, ainda mais para que mantenham uma organização. Sei que entraremos em breve com a produção de vídeos e reformularemos o site e a revista para 2017. E o que esperar do Allan Johan? Bem, espero me expor mais, criar um canal no YouTube. Até agora fui sempre “na minha” e as pessoas confundem isso com ser de “Direita”. Sempre fui muito centrado, objetivo, de poucos amigos mesmo. Por exemplo, quando fotografo para a Lado A, eu ouço as pessoas falarem da revista e eu nem falo que eu sou o dono ou que a fundei. Acho engraçado. Para a maioria das pessoas, eu sou o fotógrafo da Lado A e nunca isso foi motivo algum de vergonha para mim. Quero seguir em frente, tenho projetos de livros, estudar, fazer uma segunda faculdade. Voltar a viajar, que é algo que eu amo. Sempre quis ser entrevistado pela minha própria revista e nunca rolou... Acho que eu uma devia satisfação e precisava revelar alguns segredos. Por que não? Não quero me limitar jamais.


“Sempre quis ser entrevistado pela minha própria revista e nunca rolou... Acho que eu devia uma satisfação e precisava revelar alguns segredos.”

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MODA

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UM VERÃO SUPER FASHION

PRADA


DOLCE & GABBANA


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VERSACE 16



BLACK BOX

VERDANT

COLUNA SOCIAL

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LADO A 10 ANOS

No final de Setembro, realizamos na tradicional Cats Club, em Curitiba, a terceira e última festa de 10 anos da Lado A. O público estava encantador, além de contarmos com a presença da drag mais gostosa do Brasil Gaby Rodin, do programa “Tudo Pela Audiência”, do canal Multishow, capa desta edição. Ela foi a cereja do bolo em uma noite de glamour e ferveção.



Agradecimento especial a todas as pessoas que prestigiaram ou trabalharam em nossos eventos deste ano e ainda ao projeto A Hora ĂŠ Agora, Serendipity Gastronomia, Perverts Cenografia, Cats Club, Verdant e Black Box.

FOTOS PINK WILLIAMS


ESPORTES

I Taça Reis da Areia Lado A Em comemoração aos seus 10 anos, a revista Lado A realizou no dia 1° de outubro, no Parque Barigui, a primeira edição do evento esportivo Reis da Areia, de duplas de vôlei de praia. Ao total, 42 pessoas de todos os estilos, até uma dupla formada por pai e filho, com direito a uma torcida animada, participaram do evento. As inscrições para o torneio eram 5 kg de alimentos não perecíveis por dupla, totalizando mais de 100 kg de alimentos arrecadados e que serão doados para uma instituição beneficente. Os grandes vencedores do torneio foram Maecol Brand e Alan Perez (foto) que faturaram, além de troféu exclusivo do evento e

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medalhas, um prêmio em dinheiro de R$200. A dupla Maycon de Oliveira e Gabriel Rabistek ficou em segundo no pódio. Já os atletas Murilo Melo e Ricardo Venturi ficaram em terceiro e receberam também troféu e medalhas. A dupla de Lucas Panek e Matheus Mello ficou com a quarta colocação e eles receberam medalhas pela conquista. O evento contou com apoio da Secretaria Estadual de Esportes e Turismo e do Instituto Compartilhar. Em 2017, teremos uma nova edição do torneio. Monte sua dupla e vá treinando, pois vocês podem ser os nossos próximos Reis da Areia.


GENTE

A saga de Toni Reis e o ativismo LGBT no Brasil Por Lucas Panek O homem que é considerado um dos LGBTs mais influentes do Brasil vive e milita em Curitiba. Aqui, Toni Reis (foto, à dir.) construiu uma das organizações mais sólidas na luta contra a lgbtfobia e na promoção de direitos para gays, lésbicas, travestis, bissexuais e transexuais. O Grupo Dignidade está há mais de 20 anos oferecendo a base da escada que garante a subida da nossa população para um patamar de cidadania plena. Onde reside a

força que move este militante incansável? Certamente está na felicidade proporcionada por David (à esq.), seu marido, Alyson, Jéssica e Filipe, seus filhos. No Centro de Curitiba vivem todos com Honey, uma cadela adotada na Ilha do Mel, onde a família tem seu porto seguro, Black Street, que Alyson achou na rua, e o Vitor, adotado por eles porque os donos tinham alergia a cachor-

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ro. Além dos três cachorros, há dois gatos, a Lilith Mel, que foi dado por um grupo de crianças na Ilha do Mel, e o Thor Eros que uma amiga de Toni do Facebook lhes doou. O ápice da sua rotina é, justamente, a combinação da família com os três cachorros num piquenique em algum parque curitibano. É quando a festa é total.

do Somos não chegaram à cidade de Toni, que viveu a descoberta da sua sexualidade nas sombras da intolerância comum de cidades pequenas. Foi só aos 17 ou 18 anos que descobriu o Grupo Gay da Bahia por meio de uma entrevista. O que o impressionou foi o fato de a instituição contar com CNPJ, ou CGC como era chamado na época. Aquela descoberta abriu um mundo de luta em favor das questões LGBTs. Isso, mais o incentivo de um médico, que o havia explicado sobre sexualidade e falado sobre a alternativa de morar em uma cidade grande, ascenderam em Toni a chama para buscar a aprovação em Letras, na UFPR, e se mudar para Curitiba aos 19 anos.

Mas toda essa realização festiva só é possível graças aos anos de militância onde Toni foi uma pessoa dedicada - e ainda o é. Sua história de envolvimento com o universo LGBT começou em Quedas do Iguaçu, no interior do Paraná, ainda adolescente. Quando tinha 14 anos, nascia o primeiro movimento gay organizado do país, o Grupo Somos. Entretanto, apesar da sua importância na estruturação de uma Na capital paranaense participou do comunidade política no país, os braços Movimento Estudantil, onde militou 26


ao lado de um grupo de pessoas LGBTs, mas ainda sem levantar a bandeira, literalmente. Aquela experiência foi um divisor de águas na vida do ativista, que passou a estudar a história e as organizações de luta por aqui. Na sua mente, o principal foca era mudar o paradigma do sofrimento sentido ao longo da sua adolescência por conta da sua homossexualidade.

gradas. O machismo, a homofobia, a lesbofobia, a transfobia, o racismo são culturalmente institucionalizados nos meios sociais brasileiros.

Então, assim que se formou, saiu do Brasil. Morou na Espanha, na Itália e na Inglaterra, onde, por fim, conheceu o amor da sua vida, David. Ele viajou para a Europa com um objetivo cravado na mente: conhecer outra cultura onde o movimento LGBT estava mais avançado do que no Brasil. Ele sabia que as dificuldades pelas quais passou quando ainda eram jovem estavam atreladas a noções culturais retró-

Por trás das câmeras Se você visitar o Grupo Dignidade, vai entrar em uma sala aconchegante, com alguns pufes e sofás, duas mesas compridas, uma cheia de computadores e voluntários, e outra com um cafezinho, e algumas estantes com uma das maiores bibliotecas sobre a temática LGBT do Paraná. É bem provável que David esteja lá, na frente de um dos computadores, escrevendo.

Toni voltou com a missão de transformar essa realidade. Pisou em terras verdes e amarelas no final de 1991, mas logo em março de 92 já fundava o Grupo Dignidade, ao lado de David.

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Ajudando com as formalidades. “David me ajuda bastante no ativismo LGBT. Ele fala pouco e não é uma pessoa ‘pública’ no sentido de gostar de participar de espaços de debate ou militância, mas ele escreve bem e é organizado e me apoia na luta desta forma. Nós nos complementamos”, descreve Toni. A história dos dois foi cenário de muitas lutas que trouxeram visibilidade para o Grupo Dignidade e para a causa. A luta pela permanência do David no Brasil e o reconhecimento da união estável entre ambos ganharam um status emblemático e coletivo. Essa representação ajuda a desmistificar os estereótipos sobre o que é ser gay, além de incentivar outras pessoas a se assumirem. Depois, ainda veio uma briga judicial de quase 10 anos para oficializar a adoção dos três filhos e uma viagem para visitar todos os Ministros do Supremo Tribunal Federal em busca da aprovação do casamento gay no país. O longo caminho para a adoção Já com permanência estabelecida no Brasil, Toni e David amadureceram a ideia de ter filhos, mas não sonhavam com a dificuldade que encontrariam. Se qualquer um dos dois tivesse feito o processo como pai solteiro, ele teria sido muito mais fácil e rápido, entretanto, os filhos não teriam seus direitos assegurados.

Depois de três anos do pedido, o juiz autorizou a adoção conjunta, mas decidiu que somente poderiam adotar meninas acima de dez anos de idade. Ao recorrer da decisão, ganharam unanimemente no Tribunal de Justiça do Paraná o direito de adotar em conjunto, sem restrições de qualquer natureza. Mas um promotor do Ministério Público do Paraná resolveu recorrer contra a decisão do TJ e, no final, o caso foi para o Superior Tribunal de Justiça e para o Supremo Tribunal Federal, onde tramitou até 2015, quando ganharam definitivamente. Enquanto o processo não voltava das instâncias superiores, o casal estava impedido de adotar em Curitiba. Por sorte, em 2011 conheceram uma juíza do Rio de Janeiro que se interessou pelo caso e entendeu que estava valendo a decisão do STJ do Paraná porque o recurso do promotor do Ministério Público não tinha efeito suspensivo. Foi aí que conheceram e adotaram primeiro o Alyson, em 2011, e depois Jéssica e Filipe, em 2014. Quando finalmente tudo deu certo, o sentimento era de justiça, alívio e um sonho realizado. Agora, como doutor em Educação, Toni prossegue na luta. Mas encontra mais tempo para seus hobbies de assistir documentários sobre a II Guerra Mundial e filmes sobre prisões, além, é claro de tudo que envolve ABBA. Ele assiste shows de covers e já viu Mamma Mia no mínimo 20 vezes.


MENINOS DE FERRO

Meninos de buatchy Da bala de coco à bala que dá onda

Não sei o segredo do sucesso, mas sei o do fracasso – que é tentar agradar a todos. No território das palavras a gente usa as armas que pode para fazer as pessoas pensarem, refletirem sobre algo que está escancarado e que a gente finge não ver. Isso aqui é só o pano de fundo e é bom lembrar que eu me incluo nele. O que atrasa a humanidade é gente sem senso de humor, gente que não entende sarcasmo.

Sou dos tempos do “Parabéns para você”, em que aniversário não era algo tão elaborado: bolo de glacê, bala de coco com gosto de sabonete, brigadeiro enrolado a mão, salgadinho de quinta (engraçado como fritura naquela época não matava), um repertório de músicas horrendo e meia dúzia de esfomeados se cotovelando para pegar as balas e os pirulitos que caíam quando o balão surpresa era estourado. Depois um saquinho com lembrancinha... E fim de festa. Na adolescência veio o hi-fi. A garotada fechava o play do prédio, contratava


“As festas de hoje são uma aventura total, você não sabe se vai morrer, se vai ser traído, ou se vai conhecer a sua alma gêmea e se casar por dois meses que seja... “

um serviço de iluminação, caixas de som, e os mais abastados “tiravam onda” com a fumacinha do gelo seco. Cada convidado levava a sua bebida ou salgadinho. As músicas eram um pouco mais agradáveis e, apesar do balão surpresa ter desaparecido, os pirulitos continuavam ali disponíveis – mas só as meninas podiam apalpar. Depois que todo mundo tinha ficado com todo mundo, o último a sair apagava a luz. Tempos modernos. As festas de hoje são uma aventura total, você não sabe se vai morrer, se vai ser traído, ou se vai conhecer a sua alma gêmea e se casar por dois meses que seja... Para começar, logo na entrada, é preciso ter um saco gigante para suportar o tédio das filas quilométricas que dão voltas e ninguém respeita: estirpe praticamente inglesa. Quando você finalmente se aproxima da porta... ‘Ufa, agora vou me divertir’! Isso é o que você pensa. Vai ter que passar por uma revista digna de FBI, feita por um bando de seguranças altamente treinados, que vai te colocar de cabeça para baixo, tocando em lugares que nem você enxerga para tentarem te impedir de entrar com coisas que lá dentro vende a torto e a direito. Como isso acontece? Sou péssimo com esses jogos de adivinhação.


Já na pista, ainda que as pessoas não estejam caracterizadas, se você analisar com um olhar bem crítico vai conseguir enxergar o Superman, o Batman, o Robbin, a Cinderela, a Gata borralheira, a Pocahontas e até o Quarteto Fantástico (aqueles amiguinhos incríveis e inseparáveis). Já podemos vomitar? Ainda não, a parte do vômito é mais para o final. Agora é hora de curtir a festa. A primeira etapa é procurar algo para beber. Não caia na cilada de pedir drinks exóticos, Vodka Absolut Citron, champagne Dom Perignon, ninguém bebe isso. E, além de você se queimar, corre o risco de ser expulso pelos seus amigos “miguxos”. O esquema agora é a degustação de água, ritual pra lá de curioso. Todos com abdômen rasgado e trabalhados no H20, inclusive, gostaria de mandar um beijo para a Nossa Senhora do Stanazolol e fazer um lembrete, juro que é rápido: alguém se recorda da mamãe aconselhando? ‘Não vá aceitar bebida de estranhos’, pois então – isso também vale para a água mineral de garrafinha. Uma golada a mais e é aquele vexame... E não é para fazerem pirraça. A notícia ruim é que a bala de coco sumiu, evaporou, escafedeu-se. Se você é daqueles apegado à infância pueril vai sofrer um bocado, mas em compen-

sação encontrará uma outra gama de balas artificiais que vão adoçar a sua vida (sabor “nunca te vi, mas te amo”; sabor “DJ tuc tuc na cabeça” e o sabor “me beija que amanhã vou fingir que nem te conheço”). Saquinho de surpresa já vou antecipando: não tem, porém, se usarem a imaginação... quem já deu uma volta pelos banheiros deve saber, faz-se de tudo, menos xixi. A grande surpresa da festa é ver gente ficando com o namorado do amigo, amigo ficando com inimigo, e geral ficando com uma baita de uma deprê no Domingo a tarde. Pronto, já podem vomitar. Os meninos da juventude eterna estão presos à ilha da fantasia. Hoje fazem 18 anos, 28, 38 e aos 48 anos estão pagando de adolescentes seguindo o raciocínio de que “se a Madonna continua quicando com quase 60, eu também posso”. Um dia alguém tem que crescer, um dia a gente vai precisar abrir mão de todo esse paraíso de mentirinha para poder enxergar o mundo com cores que hoje - só conseguimos através da bala.

Bruno de Abreu Rangel brunorangelbrazil@hotmail.com http://wwwbarbrazil.blogspot.com.br/

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COLUNA ALEATÓRIA

Os 4 foras mais sofridos que levei Por Leandro Allegretti Ilustração RafaBR Em 35 anos de vida, já levei muitos foras. Os mais sofridos são impossíveis não lembrar porque me marcaram demais, mas, com o tempo, viraram motivo de riso... Se não meu, o seu: 32


Levei outro fora assim de novo, após uma semana saindo com um crush. Mais tarde, desabafei com as paredes do meu quarto: “mas que C#@$%! Isso só pode ser perseguição. Todo mundo namora menos eu”... Até que aconteceu novamente. Bastou uma semana e meia saindo com outro boy e lá estava essa frase saindo da boca dele também. Depois disso, cá com meus botões, pensei: “manda mais pé que minha bunda é grande, Deus!”.

3. “Você é muito legal, mas não estou num momento bom para namorar, prefiro ter você 4. “Preciso terminar com você como amigo”. porque meu ex-namorado me pediu para voltar e eu aceitei”. Levei tantos foras desse tipo que preenQuem nunca? Ouvi essa justificativa de, pelo menos, três boys diferentes, em um período não muito longo entre um fora e outro. Cheguei até a pensar que tinham colocado meu nome na boca do sapo!

cheria um arquivo de Excel com várias abas se fizesse planilhas para contabilizar...

O que mais me doeu aconteceu depois de ter ficado UM ANO seguido com o boy. Minha resposta foi dramática: “MAS EU QUERO TE NAMOLembro que a primeira vez foi depois RAARRRRRRR! BUAÁÁÁÁ” -- fiz muito de três semanas de namoro com um drama mesmo, tinha 18 anos e estava ser. Minha resposta foi: “Ah, sim, claro. apaixonado! Pode ficar com a Colomba Pascal que acabei de te dar, sem problemas” -- Como essa justificativa para terminar comigo -- ou nem começar algo mais Sim, era domingo de Páscoa!

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ficar em São Paulo e esperar que eu entrasse em contato quando quisesse falar contiAcrescentei ao não algumas palavras go”. sério, em alguns casos --, se tornou tão frequente, passei responder a ela simplesmente com um sonoro “não”.

a mais em um caso específico: estava namorando há um mês com o ser e minha resposta desta vez foi simples e direta: “eu NÃO preciso de mais amigos”. Na real, fui sincero e também aproveitei o ensejo para cortar contato de vez com esse boy porque ele não prestava e me fez um favor ao terminar comigo.

Esse doeu muito porque ouvi depois de 2 anos e 7 meses de namoro. O cara que eu mais amei, até aquele momento, e, antes de passar por os demais foras aí de cima, ficou em “depressão”, resolveu passar uma temporada no litoral paulista e solicitou que eu não o procurasse - apesar de a fonte do problema da “depressão” não ser eu -, para ver se melhorava.

2. “Você não respeita meu Minha resposta: lágrimas. O que penespaço. Eu falei para você sei depois de ouvir, mas não falei:


“ficar dois meses sem te ver e ser com- Este está em primeiro porque se revolpreensivo ao você se isolar do mundo ta pela tosquice alheia for considerada por conta da sua “depressão” não é res- um tipo de sofrimento, então, sofri e é peitar o seu espaço, viaaaaado?”. para terminar o texto em grande estilo! Obs: “Depressão” está entre aspas, neste caso, porque, até onde sei alguém com depressão profunda de verdade não tem vontade de ir para churrasco com amigos na praia e/ou ficar em barraca LGBT na ferveção. Ao me dar conta disso, fui atrás do ser e levei o fora por não respeitar o espaço alheio. Eike “intrusiva” sou!

Ouvi isso, ou melhor, li isso na mensagem de um paquerinha virtual, antes até de nos vermos pessoalmente. Detalhe: ele tinha olhos claros. Minha resposta: “você está falando sério?”. O que pensei: “Ah, sim, claro. Vou ali arrancar meus olhos só para ficar com você, ôh coisa linda!”. ----

1. “Não gosto de pessoas de Conclusão: olhos verdes, então, vou ter que deixar de falar contigo”. Sei que nem todos os foras aí em cima são terríveis se analisados friamente, mas, para mim, foram difíceis de engolir. Como detesto ser feito de idiota, um simples “não quero ficar mais com você” doeria bem menos. Com exceção da doida que não quis nem me ver ao vivo porque fuçou no meu Facebook, notou que tenho olhos verdes e “terminou” antes de começar qualquer coisa comigo, claro... Essa me faz rir até hoje! No fundo, eram relações que não iam dar certo se continuassem -- ou começassem, no caso da linda que não gosta de olhos verdes. Mas fica a lição: alguns foras levados devem ser encarados como livramento e não como rejeição e/ou motivo de sofrimento.


HQ PASTEL

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