Ele sempre tem o que deseja? Corada pelo forte sol de Milão, Caroline Rossi entra no imponente prédio empresarial de Giancarlo de Vito apenas para sentir-se inadequada e praticamente invisível! A ambição implacável de Giancarlo o fizera chegar ao topo, porém, jamais se esquecera dos obstáculos que tivera de superar... ou da vingança que somente Caroline poderá ajudar a executar. Acostumado com mulheres fazendo de tudo para satisfazê-lo, Giancarlo fica surpreso, pois Caroline se recusa a ceder. E, para conseguir o que deseja, ele precisará usar todo o seu poder de sedução...
– Você se sente atraída por mim e quanto mais depressa encarar o fato, melhor. – E como chegou a essa conclusão, Giancarlo? Como? – A sua cabeça está lhe dizendo o que deveria querer, mas aqui estou eu, um homem de verdade, e você não consegue evitar. Não se preocupe. Surpreendentemente, é mútuo. Caroline empalideceu diante do resumo brutal de tudo que não queria enfrentar. Seu comportamento não fazia sentido. Não aprovava Giancarlo e, ainda assim, sucumbira mais depressa do que teria imaginado possível. Era desejo, pura e simplesmente, e ele queria extrair aquela confissão dela porque tinha um ego imenso e não gostava do fato de que o rejeitara. Achava que a estava elogiando ao dizer que surpreendentemente a achava atraente? Achava que era bom ser a novidade de alguém por cinco minutos, antes que ele voltasse a se envolver com o tipo de mulher de que gostava? O alerta ecoava tão alto em sua mente que seria tola em não ouvi-lo. – Está certo – falou após algum tempo, atropelando as palavras e mantendo o olhar fixo na margem de onde se aproximavam depressa. – Eu acho você atraente. Você está certo. Satisfeito? Mas estou contente que você tenha arrancado isso de mim porque é apenas atração física e isso não significa nada. Não para mim ao menos. Pronto. Já não é segredo, e agora podemos esquecer a respeito.
Querida leitora, Para atender a um pedido de seu chefe enfermo, a doce Caroline Rossi viaja até Milão em busca do filho dele, Giancarlo de Vito. Ele é o homem mais sensual que Caroline já vira, mas sua personalidade não era nada encantadora. Desconfiado das verdadeiras intenções do pai, Giancarlo decide usar a oportunidade para se vingar. Contudo, a inocente Caroline está determinada a fazê-lo mudar de ideia. E usará a arma mais poderosa de todas: o amor. Boa leitura! Equipe Editorial Harlequin Books
Cathy Williams
O SEGREDO DO SEU TOQUE
Tradução Tina TJ Gouveia
2015
CAPÍTULO 1
CAROLINE ABANOU-SE cansadamente com o guia de ruas que estivera segurando com força, feito um talismã, desde que desembarcara do avião no aeroporto de Malpensa, em Milão, e aproveitou para olhar ao redor. Em algum lugar, aninhado entre aqueles prédios antigos, históricos e as piazzas amplas, elegantes, estava o seu destino. Sabia que deveria rumar diretamente até lá, desviando-se de todas as tentações como uma bebida gelada e algo doce, com chocolate e um creme delicioso, mas estava com muito calor, exausta e faminta. – Não vai demorar nada – dissera Alberto encorajador. – Um voo breve, Caroline. E um táxi... Talvez uma pequena caminhada para encontrar o escritório dele, mas que vistas poderá apreciar! O Duomo. Jamais terá visto nada tão espetacular. Palazzos. E as lojas. Bem, faz muitos, muitos anos que estive em Milão, mas ainda me lembro do esplendor da Vittorio Gallery. Caroline o olhara com ceticismo, e o velho homem tivera a humildade de corar envergonhado, porque aquela viagem a Milão não se destinava ao turismo. Na verdade, ela teria de estar de volta dentro de quarenta e oito horas e mal podia conter a ansiedade diante das expectativas que pesavam em seus ombros. Devia localizar Giancarlo De Vito e, após uma conversa convincente, retornar de algum modo ao Lago de Como com ele. – Eu mesmo teria ido, minha cara – dissera Alberto –, mas a minha saúde não permite. O médico falou que tenho que descansar o máximo possível, cuidar do meu coração... Não ando muito bem, você entende... Caroline se perguntou, não pela primeira vez, como se deixara convencer a realizar aquela missão, mas sabia que de nada adiantava remoer aquilo. Estava ali agora, cercada por um milhão de pessoas, transpirando sob a temperatura alta de julho, e era um tanto tarde para ter um súbito ataque de nervos. A verdade era que o sucesso ou o fracasso daquela viagem não era realmente preocupação sua. Era a mensageira. Alberto, sim, seria afetado, mas ela era apenas a assistente pessoal dele que, por acaso, estava realizando uma tarefa um tanto bizarra. Alguém lhe deu um empurrão por trás e ela consultou o guia de ruas rapidamente, começando a caminhar na direção da pequena rua que havia assinado com um marca-texto laranja.
Não se vestira de maneira adequada para a viagem, mas a temperatura estivera mais fresca junto ao lago. Ali, o calor era opressivo, e a calça creme grudava-lhe nas pernas feito adesivo. A blusa simples amarela de mangas três quartos parecera elegante quando iniciara a jornada, mas agora gostaria de ter vestido uma regata e prendido o cabelo de outra maneira. Sim, fizera uma espécie de trança comprida, mas ficava se desfazendo e grudando em torno de seu pescoço. Concentrada em seu desconforto físico e no constrangimento do que a aguardava pela frente, mal notou a beleza da antiga catedral, com suas torres impressionantes e estátuas, pela qual passou arrastando a mala de rodinhas. Alguém de temperamento menos alegre poderia ter se sentido tentado a amaldiçoar o empregador por aquela missão impossível, que, para ser franca, estava muito além das suas incumbências. Mas, apesar de estar cansada, com calor e com fome, o otimismo lhe dizia que conseguiria fazer o que era esperado dela. Tinha grande fé na natureza humana. Alberto, por outro lado, era o maior pessimista do mundo. Caroline quase passou direto pelo prédio. Sem saber exatamente o que esperar, imaginara algo semelhante a um escritório em Londres. Neutro, nada inspirador, talvez com vidro demais e pouca imaginação. Voltando, verificou o endereço que havia lembrado de imprimir cuidadosamente num papel e examinou o lugar. Com uma fachada antiga de pedra rosada, o prédio não tinha mais que três andares e era adornado por entalhes graciosos e duas colunas de granito que ladeavam a entrada. Era possível que Giancarlo fosse um homem tão difícil de lidar se trabalhava num lugar maravilhoso daqueles?, perguntou-se Caroline, sentindo o coração mais leve. – Não posso lhe dizer nada sobre Giancarlo – lamentara Alberto quando ela tentara lhe pedir detalhes sobre onde estaria se metendo. – Há muitos, muitos anos que não o vejo. Eu poderia lhe mostrar algumas fotos, mas são antigas. Ele deve ter mudado nestes anos todos... Se eu tivesse um computador... Mas um velho como eu... Como eu poderia aprender agora como essas coisas funcionam? – Eu poderia pegar o meu laptop no andar de cima – oferecera-se ela instantaneamente. – Não, não. Não gosto desses aparelhos. Televisores e telefones são o máximo com que estou preparado para lidar em se tratando de tecnologia. Secretamente, Caroline concordava com ele. Usava o computador apenas para envio e recebimento de e-mails. Era quase impossível tentar acessar a internet lá na casa de qualquer modo. Assim, tinha poucos detalhes em que se basear. Suspeitava, porém, que Giancarlo era rico, porque Alberto lhe dissera de passagem que “ele se fizera com o próprio esforço”. Sua suspeita se materializou quando entrou nos modernos escritórios com pórtico de mármore pertencentes a Giancarlo. Se a fachada do prédio parecia saída de uma revista de arquitetura sobre construções medievais, no interior o século vinte e um deixava sua marca. Apenas o mármore claro dos pisos e as obras-primas antigas nas paredes davam um indício da idade do prédio. Evidentemente, ela não estava sendo esperada. O elemento surpresa era da máxima importância, dissera Alberto. – Ou, do contrário, ele se recusará a ver você. Estou convencido disso!
Ela levou mais de meia hora para tentar persuadir a elegante recepcionista, posicionada como um cão de guarda detrás do balcão de madeira e mármore e que falava depressa demais para que a acompanhasse, a não lhe pedir que se retirasse. – Qual é o seu assunto aqui? – Hã... – Está sendo esperada? – Não exatamente... – Está ciente de que o signore De Vito é um homem extremamente importante? – Eu... – Caroline praticou seu precário italiano e explicou a ligação com Giancarlo. Apresentou, então, vários documentos que foram examinados em silêncio e, enfim, as rodas da engrenagem começaram a funcionar. Mas ela ainda teria de esperar. Três andares acima, Giancarlo, em meio a uma reunião com três financistas de uma grande organização, foi interrompido pela secretária. Ela lhe sussurrou algo ao ouvido que o deixou imóvel e o fez estreitar os olhos frios e escuros. – Tem certeza? – perguntou num tom severo. Elena Carli raramente cometia erros. Era por essa razão que trabalhava para ele com tanto êxito havia cinco anos e meio. Desempenhava seu trabalho com extrema eficiência, obedecia a ordens sem questionar e raramente cometia erros. Quando ela meneou a cabeça com firmeza, ele se levantou imediatamente e desculpou-se com os presentes, não profusamente, pois aqueles financistas precisavam muito mais dele do que o inverso. Com a reunião encerrada desse modo, ele se adiantou até a janela para olhar para o pátio particular calçado nos fundos de seus escritórios. Então, o passado que achara que havia deixado para trás estava de volta. O bom senso o aconselhava a ignorar aquela intromissão inesperada em sua vida, mas estava curioso, e que mal poderia haver em render-se à sua curiosidade? Em sua vida de riqueza inimaginável e vasto poder, a curiosidade era uma rara ocorrência, afinal. Giancarlo De Vito havia sido ferrenhamente determinado e impiedosamente ambicioso para chegar aonde estava agora. Não tivera escolha. Sua mãe precisara ser sustentada e, após uma série de amantes desinteressados, a única pessoa que restara para cuidar dela fora ele. Giancarlo terminara a universidade com louvores e se lançara no mundo das altas finanças com tamanha habilidade que não demorara para que as portas começassem a se abrir. Num prazo de três anos depois que terminara a universidade, já fora capaz de escolher seu empregador. Numa questão de cinco anos, não precisara mais de um empregador, porque se tornara a poderosa organização que gerava os empregos. Agora, com pouco mais de trinta anos, ele se tornara bilionário, diversificando as atividades com sucesso gratificante, abrindo filiais e vencendo concorrentes em cada fusão e aquisição, construindo, desse modo, uma reputação que o tornara virtualmente intocável. A mãe vira apenas uma mostra de seu enorme sucesso, pois morrera seis anos antes, no banco do passageiro do carro veloz do jovem amante, uma vítima, segundo ele vira, de uma vida que dera errado. Como único filho, Giancarlo sabia que deveria ter sofrido mais com sua perda, mas a mãe fora uma mulher difícil e temperamental que gostara de gastar dinheiro e vivera insatisfeita. Ele a vira passando de amante a amante de maneira desagradável, mas nunca a criticara.
Desacostumado a mergulhar em lembranças, saiu de sua introspecção com uma certa dose de impaciência. Provavelmente, a mulher que fora até ali para vê-lo e aguardava na ampla recepção de mármore era a responsável por seu deslize em seu autocontrole. Com os pensamentos de volta no lugar, ligou pelo interfone, dizendo que a mandassem subir. – Pode subir agora – disse a recepcionista a Caroline, que poderia ter ficado sentada na recepção com ar-condicionado alegremente durante horas. Os pés a estavam matando e finalmente começara a refrescar-se depois do calor sufocante da rua. – A signora Carli vai encontrá-la no alto do elevador e a conduzirá ao escritório do signore De Vito. Se quiser, pode deixar a sua... mala aqui. Ocorreu a Caroline que a última coisa que a recepcionista parecia querer era que sua mala gasta de rodinhas fosse deixada na bela recepção. E, de qualquer modo, precisava dela. Agora que estava finalmente ali, foi tomada por um certo nervosismo diante do que a aguardava. Não queria voltar à casa do lago de mãos vazias. Alberto sofrera um ataque cardíaco algumas semanas antes. Sua saúde não era boa, e o médico dissera a ela que quanto menos estresse melhor. Erguendo a cabeça com determinação, Caroline seguiu a assistente pessoal sem dizer nada, passando diante de escritórios que pareceram excessivamente silenciosos, ocupados por muitos executivos que mal notavam a passagem de ambas. Todos pareciam extremamente bem-vestidos e arrumados. As mulheres eram magras, atraentes e de ar severo, com o cabelo preso para trás e usando tailleurs caros. Em comparação, Caroline sentiu-se acima do peso, de estatura baixa e desarrumada. Nunca fora muito magra, nem mesmo quando criança. Quando prendia a respiração e se olhava de lado, podia quase convencer a si mesma de que era curvilínea e voluptuosa, mas a ilusão era sempre destruída no segundo em que se olhava melhor no espelho. E seu cabelo era rebelde. Cascateava livremente pelas costas e só era um pouco menos difícil de domar quando estava molhado. Agora, o calor o tinha deixado mais cacheado do que o costume, e ela sabia que os fios estavam se soltando da trança improvisada. Depois de seguir Elena, que se apresentara sem dizer mais nada, uma porta foi aberta. Caroline se viu diante de um escritório tão luxuoso que, por alguns segundos, não notou o homem junto à janela que se virou devagar para olhar na sua direção. Tudo o que pôde ver foi o esplêndido tapete persa cobrindo o piso de mármore, o papel de parede de seda ao redor, a pátina escura de uma estante que cobria meia parede, os quadros antigos de belas paisagens, principalmente árvores e rios. – Uau! – exclamou, impressionada, enquanto continuava olhando ao redor sem constrangimento por sua admiração. Finalmente, seus olhos pousaram no homem que a encarava e foi dominada por uma sensação de euforia diante da incrível beleza do rosto dele. Cabelo preto, penteado para trás e um pouco comprido, emoldurava um rosto de surpreendente perfeição. Os traços dele eram clássicos, irretocáveis e dotados de uma sensualidade nata que a deixou com as faces afogueadas. Os olhos eram escuros e indecifráveis. Uma calça cara cinza-chumbo sob medida realçava-lhe as pernas compridas e a impecável camisa branca com as mangas dobradas revelava antebraços fortes, bronzeados, salpicados de pelos negros. Num intervalo de poucos segundos, ela se deu conta de que olhava para o homem mais espetacular que já vira na vida. Também percebeu que
estava de queixo caído, com a boca aberta de uma maneira deselegante, e pigarreou numa tentativa de se recobrar. O silêncio se prolongou a um ponto insustentável e, enfim, o homem falou e se apresentou. Convidou-a a sentar-se, o que ela se sentiu contente em fazer porque as pernas estavam bambas. A voz dele combinava com a aparência. Era agradável, ao mesmo tempo possante e aveludada. Também soou fria, e a dúvida começou a se apossar de Caroline. Aquele não era um homem que parecesse poder ser persuadido a fazer algo que não quisesse. – E então… – Giancarlo sentou-se, afastando-se de sua mesa para poder cruzar as pernas compridas e a encarou. – O que a faz pensar que pode ir simplesmente adentrando nos meus escritórios, senhorita...? – Rossi. Caroline. – Eu estava no meio de uma reunião. – Lamento muito. – Ela se atropelou no pedido de desculpas. – Não tive intenção de interromper nada. Eu teria ficado contente em esperar até que houvesse terminado... – Sua personalidade expansiva veio à tona e abriu-lhe um sorriso. – Na verdade, a recepção estava agradavelmente fresca e fiquei aliviada em poder descansar as pernas. Caminhei bastante e está quente como uma fornalha lá fora... Como ele permanecesse num silêncio nem um pouco convidativo, Caroline deixou a voz morrer e umedeceu os lábios. Giancarlo estava contente em deixá-la às voltas com o próprio nervosismo. – Este é um prédio fantástico, a propósito. – Vamos encerrar as amenidades, srta. Rossi. O que está fazendo aqui? – O seu pai me enviou. – Foi o que entendi. É por essa razão que está sentada no meu escritório. Minha pergunta é por quê? Não tenho nenhum contato com o meu pai há mais de quinze anos. Estou curioso para saber por que de repente ele decidiu enviar uma cúmplice para entrar em contato comigo. Caroline sentiu uma raiva atípica percorrendo-a enquanto tentou encontrar uma relação entre aquele estranho hostil, frio, e o velho homem de quem gostava tanto. Mas ficar zangada não a levaria a lugar algum. – E quem é você, afinal? Meu pai não é mais nenhum rapaz. Não me diga que ele conseguiu arranjar uma jovem esposa para ficar a seu lado fielmente na velhice. – Ele se recostou na poltrona, cruzando as mãos sobre o estômago firme. – Nenhuma muito bonita, é claro – acrescentou, estudando-a com olhar insolente. – Uma esposa jovem e bonita nunca é uma boa ideia para um velho, mesmo que seja rico... – Como ousa? Giancarlo riu com frieza. – Você apareceu aqui sem avisar, com uma mensagem de um pai que saiu da minha vida há muito tempo. Francamente, tenho todo o direito de ousar. – Não sou casada com o seu pai! – Bem, a alternativa é ainda mais desagradável, sem mencionar totalmente estúpida. Por que se envolver com alguém que tem três vezes a sua idade se não estiver atrás de ganho financeiro? Não me diga que o sexo é sensacional. – Não acredito que está dizendo essas coisas! – Caroline se perguntou como podia ter ficado tão impressionada com a aparência dele quando o homem não passava de um tipo frio,
insensível, odioso. – Não estou envolvida com seu pai de maneira alguma, signore, apenas profissionalmente. – Não? Então, o que uma jovem como você faz numa velha casa ao lado de um lago com apenas um velho como companhia? Ela o fuzilou com o olhar. Ainda estava aborrecida com a maneira como ele a olhara e descartara como não sendo muito bonita. Sabia que não era bonita, mas ouvir aquilo de alguém que não a conhecia era pura grosseria. Especialmente de alguém tão atraente quanto o homem sentado à sua frente. Por que não fizera o que a maioria das pessoas teria feito em circunstâncias semelhantes e fora a um cyber café pesquisar sobre o homem com quem havia sido incumbida de conversar? Ao menos, teria estado melhor preparada. Teve de cerrar os dentes e lutar contra a vontade irresistível de apanhar a mala e dar o fora dali. – Bem? Sou todo ouvidos. – Não há necessidade de ser deselegante comigo, signore. Lamento se arruinei a sua reunião, mas não me ofereci de livre e espontânea vontade para vir aqui. Giancarlo quase não acreditou em seus ouvidos. Ninguém nunca o acusava de ser deselegante. Era evidente que haveria quem pensasse desse modo às vezes, mas era desconcertante ouvir alguém dizendo aquilo. Especialmente uma mulher. Estava acostumado a ver as mulheres se desdobrando para agradá-lo. Estreitou os olhos para observar sua visitante indesejável. Ela certamente não era o tipo de beldade magérrima que ilustrava as páginas das revistas. Empenhava-se para encobrir a expressão aborrecida, mas ficava claro que o último lugar em que queria estar era no escritório dele, sendo interrogada. – Pelo que entendo, meu pai manipulou você para fazer o que ele queria. Você é a governanta? Por que ele empregaria uma governanta inglesa? – Sou a assistente pessoal dele – admitiu Caroline com relutância. – Ele conheceu meu pai no passado. Seu pai foi palestrante durante um ano em uma universidade na Inglaterra e o meu foi um de seus alunos, e os dois mantiveram contato depois que o seu pai retornou para a Itália. Meu pai é italiano. Acho que eles gostaram de ter alguém com quem pudessem falar em italiano. De qualquer modo, não fui para a universidade, mas os meus pais acharam que seria bom se eu aprendesse italiano, uma vez que é o idioma nativo do meu pai, e ele perguntou a Alberto se poderia me ajudar a encontrar um emprego aqui por alguns meses. Assim, estou ajudando o seu pai com as memórias dele e também cuidando de assuntos administrativos e coisas assim. Não quer saber… hã… como ele está? Não o vê há tanto tempo. – Se eu tivesse desejado ver meu pai, não acha que eu teria entrado em contato com ele antes? – Sim, bem, o orgulho às vezes interfere naquilo que gostaríamos de fazer. – Se planeja bancar a psicóloga amadora, a porta está bem atrás de você. – Não se trata disso – persistiu Caroline teimosa. – Apenas acho, bem, eu sei que provavelmente não foi o ideal quando seus pais se divorciaram. Alberto não fala muito sobre isso, mas eu sei que quando sua mãe foi embora e levou você com ela, você tinha apenas doze anos... – Não acredito que estou ouvindo isto! – Extremamente reservado, Giancarlo estava boquiaberto com o fato de alguém estar desenterrando o seu passado. – De que outra maneira posso lidar com esta situação? – perguntou Caroline desconcertada. – Não tenho o hábito de falar sobre o meu passado!
– Bem, isso não é culpa minha. – Ela sentiu que suas emoções se abrandavam. – Não acha que é bom falarmos sobre as coisas que nos incomodam? Você nunca pensa no seu pai? O interfone tocou e ele falou em rápido italiano, dizendo à secretária para suspender todas as ligações até que a avisasse em contrário. Subitamente, tomado por uma inquietação que não podia conter, deixou a mesa e adiantou-se até a janela para olhar brevemente para fora antes de se virar e estudar a garota na cadeira. Ela também se virara. Parecia bastante jovem e inocente, com um rosto muito transparente. No momento, ele era um objeto de compaixão, o que o deixou ultrajado. – Ele teve um ataque cardíaco – contou Caroline abruptamente. Seus olhos ficaram marejados porque gostava muito de Alberto. Levá-lo às pressas para o hospital, lidar com o horror de tudo isso sozinha fora quase mais do que pudera suportar. – Bastante grave. – Abriu a bolsa à procura de lenços umedecidos e viu um impecável lenço branco sendo colocado em sua mão. – Desculpe – sussurrou trêmula. – Apenas não entendo como pode ficar parado aí como uma estátua e não sentir nada. Grandes olhos castanhos o olharam de modo acusador, e Giancarlo corou, aborrecido consigo mesmo porque não havia razão para que se sentisse culpado. Não tinha nenhum relacionamento com o pai. Suas lembranças da vida na grande casa junto ao lago eram um pesadelo em torno da guerra entre os pais. Alberto se casara com uma jovem linda e loira quando tivera 50 anos. Quase vinte e cinco anos mais velho que Adriana, já fora um solteirão convicto. Havia sido um casamento que fora contra todas as probabilidades de dar certo e bastante difícil para a exigente e jovem esposa. A mãe não deixara de lhe contar tudo que houvera de terrivelmente errado no relacionamento assim que Giancarlo tivera idade o bastante para entender os detalhes. Alberto havia sido egoísta, frio, mau, desdenhoso e, provavelmente, acrescentara a mãe furiosa, teria tido outras mulheres se não tivessem lhe faltado até as habilidades sociais básicas em se tratando do sexo oposto. Segundo Adriana dissera chorando em mais de uma ocasião, ele os deixara sem um tostão. Assim, argumentara, era de admirar que às vezes ela precisasse de um pouco de álcool e de um punhado de substâncias para a ajudarem a prosseguir? Havia tantas coisas pelas quais Giancarlo jamais perdoara o pai. Permanecendo nos bastidores, observara a mãe delicada, mimada, sem qualificações, sempre contando com sua beleza, diminuir a si mesma arrumando namorado após namorado, em busca daquele que pudesse querê-la o bastante para ficar a seu lado. Quando morrera, havia se tornado uma sombra patética do que havia sido. – Você não faz ideia de como foi a minha vida, ou a da minha mãe – declarou Giancarlo num tom gélido. – Talvez o meu pai tenha amolecido. A doença tende a fazer isso com todos. No entanto, não estou interessado em estreitar laços. É por isso que ele enviou você aqui? Porque agora é um velho e quer o meu perdão antes de partir desta para melhor? – Soltou um riso cínico, desdenhoso. – Acho que não. Ela continuara a brincar com o lenço, torcendo-o entre os dedos. Ocorreu a Giancarlo que, em se tratando de mensageiros, seu pai não poderia ter sido mais calculista em sua escolha. A mulher era o retrato da chorosa incompreensão. Qualquer um acharia que trabalhava para um santo, em vez de para o homem que tornara a vida da mãe dele um inferno. Estreitando os olhos aguçados, concentrou-se, prestando atenção aos detalhes da aparência dela. As roupas que usava eram um desastre em termos de moda. Uma calça e uma blusa num
tom estranho de amarelo que teriam sido mais adequadas a alguém com o dobro da idade dela. O cabelo parecia estar escapando de uma espécie de trança e era bastante comprido. Não lembrava nem um pouco os penteados curtos e modernos que estava acostumado a ver nas mulheres. E era cacheado. Ela não usava maquiagem alguma, e ele ficou subitamente ciente do fato de que sua pele era acetinada e perfeita e de que tinha uma boca incrível, lábios cheios e bem-definidos, entreabertos agora para revelar dentes alvos enquanto continuava a olhá-lo com desapontamento e incredulidade. – Lamento que ainda esteja tão amargo com relação ao passado. Mas ele gostaria muito de ver você. Por que é tarde demais para estreitar laços? Significaria tudo para ele. – E então, você conseguiu ver algo da nossa bela cidade? – O quê? Não. Não, eu vim diretamente até aqui. Ouça, há alguma coisa que eu possa fazer ou dizer para convencer você a viajar até lá comigo? – Você deve estar brincando, não é? Quero dizer, mesmo que, de repente, eu fosse imbuído de uma vontade irresistível de me tornar um filho pródigo, acha mesmo que eu poderia largar tudo, fazer uma mala e saltar no trem mais próximo para o Lago de Como? Surpresa, surpresa... Tenho um império a dirigir. – Sim, mas… – Sou um homem bastante ocupado, srta. Rossi, e já lhe concedi muito do meu valioso tempo. Agora, você até poderia continuar tentando me convencer de que sou um monstro por não saltar de alegria com o fato de o meu pai ter decidido repentinamente entrar em contato comigo devido a um problema de saúde, mas... – Você fala como se seu pai tivesse tido uma gripe. Ele teve um grave ataque do coração. – Pelo que lamento muito. – Giancarlo abriu os braços num gesto tal de falsa simpatia que Caroline teve de cerrar os punhos para conter a vontade de socá-lo. – Como lamentaria ao saber do encontro de qualquer estranho com a morte. Mas você vai ter que voltar de mãos vazias. Derrotada, Caroline levantou-se e estendeu a mão para a alça da mala. – Onde vai se hospedar? – perguntou Giancarlo educadamente ao vê-la de ombros caídos. Deus do céu, o velho realmente achara que não haveria consequências para a maneira destrutiva como tratara a esposa? Era muito rico e, ainda assim, de acordo com Adriana, contratara os melhores advogados para garantir que ela recebesse o mínimo possível com o divórcio e uma modesta pensão que mal dera para que sobrevivesse com dignidade. Ele se perguntara, ao longo dos anos, se a mãe teria estado tão desesperada para encontrar o amor se houvesse ficado com dinheiro suficiente para atender suas necessidades. Cansada, Caroline respondeu, embora tivesse certeza de que ele não se importava nem um pouco em saber onde se hospedaria. Só queria vê-la longe de seu escritório. Regressaria com um fracasso. Evidentemente, Alberto seria orgulhoso demais para algo além de dar de ombros e dizer que ao menos tentara, mas ela saberia a verdade. Ele sofreria. – Bem, não deixe de experimentar a variedade de comida na Rinascente. Vai gostar. Vista magnífica. E, é claro, é um excelente lugar para as compras. – Detesto fazer compras. Caroline parou diante da porta do escritório e, ao virar-se, viu que ele estava bem próximo e que era uns vinte centímetros mais alto que ela. Parecia mais intimidante desse modo do que sentado detrás da mesa. E seus traços eram, de fato, incrivelmente bonitos. Tinha cílios bastante espessos emoldurando os olhos escuros e penetrantes que a estudavam atentamente.
Ela sentiu um nó no estômago e, de repente, ficou pouco à vontade com seus seios, grandes demais para a sua estatura, além de sensíveis e pesados agora que ele a olhava. Quis ajeitar melhor as lapelas na frente da blusa. Corou embaraçada. Como podia ter se esquecido de que era o patinho feio? – E não quero ficar falando de amenidades com você – disse desafiadora. – Lamento que seus pais tenham se divorciado e que isso tenha lhe deixado essa marca, mas acho horrível que você não dê outra chance ao seu pai. Como sabe exatamente o que aconteceu entre eles? Você era apenas uma criança. O seu pai está doente e você prefere levar adiante uma desavença do que tentar aproveitar ao máximo o tempo que tem a seu lado. Ele pode morrer amanhã, pelo que sabemos! O breve discurso deixou-a exasperada. Não costumava ser tão desafiadora, mas aquele homem a tirava do sério. – Como pode fazer uma coisa dessas? Quer dizer que, mesmo que estivesse interessado em vêlo, você não poderia porque é importante demais? – Eu disse que tenho um império a dirigir. – É a mesma coisa! – Ela tremia por dentro, mas olhou-o com inabalável determinação. Os olhos castanhos que eram normalmente brandos faiscavam. – Está certo, não vou ver você outra vez... – Respirando fundo, afastou o cabelo desobediente do rosto com impaciência. – Assim, posso ser realmente franca. Giancarlo recostou-se na porta e, com uma expressão de curiosidade no rosto, cruzou os braços. As faces dela estavam afogueadas e os olhos brilhavam. Era uma mulher enfurecida e ele tinha a impressão de que ela não costumava se render à fúria. Deus do céu, aquele não estava se tornando um péssimo dia? – Acho que ninguém nunca é sincero com você, certo? – Caroline olhou ao redor do escritório com sua mobília e adornos caros, tapete antigo, estante abarrotada de livros, quadros. Quem era realmente sincero com alguém tão rico quanto ele parecia ser, tão atraente? Giancarlo tinha a arrogância de um homem que sempre conseguia o que queria. – É útil quando o meu corretor me diz o que pensa enquanto está cuidando das minhas ações. Se bem que, para ser franco, geralmente sei mais do que ele. Ele lhe lançou um sorriso tão naturalmente charmoso que Caroline quase recuou para trás com o impacto. Era como estar num recinto escuro onde adentrasse repentinamente um raio ofuscante de sol. O que não a distraiu do fato de que ele se recusava a ver o pai, um velho homem doente que talvez estivesse morrendo. Sorrisos charmosos não queriam dizer nada no grande esquema das coisas! – Fico contente que você ache que isto é uma grande piada – retrucou tensa. – Que bom que consegue rir disso, mas sabe de uma coisa? Tenho pena de você! Pode achar que a única coisa que importa é tudo isto aqui, mas nada disto conta quando se trata de relacionamentos e família. Acho que você é... arrogante, autoritário e que está cometendo um enorme erro! Encerrada a explosão, Caroline abriu bruscamente a porta do escritório. Deparou com uma surpresa: Elena, que a olhou com consternação antes de se virar na direção do chefe. Ele, por sua vez, olhava para a morena de estatura média que saía com a expressão incrédula de alguém que quase fora atingido por um raio quando menos esperara. – Pare de me encarar. – Giancarlo sacudiu a cabeça, confuso, e então dirigiu um sorriso irônico à secretária. – Todos perdemos a calma às vezes.
CAPÍTULO 2
MILÃO ERA
uma cidade bonita e diversificada. Havia museus, galerias, basílicas e igrejas suficientes para manter qualquer turista entretido. A Galleria Vittorio era uma arcada esplêndida e elegante, repleta de cafés e lojas. Caroline sabia de tudo isso porque o dia seguinte seria seu último ali antes de retornar para ver Alberto e admitir seu fracasso. Desse modo, tratara de ler tudo sobre uma cidade que talvez nunca mais visse. E sua visita fora arruinada pela péssima experiência de ter conhecido Giancarlo De Vito. Quanto mais pensava a seu respeito, mais arrogante e insuportável o homem parecia. Não conseguia pensar numa única coisa amável para associar com ele. Alberto a estaria aguardando, esperando vê-la chegar com seu filho e, como aquilo não aconteceria, desejaria detalhes. Poderia ser sincera e lhe admitir que achara seu bonito filho detestável e dominador? Algum pai, mesmo vivendo distante por tanto tempo, lidaria bem com uma informação daquelas? Caroline olhou para o copo de limonada gelada que começava a aquecer sob o calor forte. Passara duas horas caminhando em torno do Duomo, admirando os vitrais, as estátuas impressionantes de santos e os intrincados entalhes. Sua atenção, porém, não estivera lá e, agora, ela se encontrava num dos cafés que estavam lotados de turistas no dia quente de verão. Seus pensamentos estavam agitados. Com um suspiro impaciente, olhou para o relógio de pulso, perguntando-se como preencheria o restante do dia. Só se deu conta da sombra que se aproximou quando ouviu a voz aveludada e familiar de Giancarlo. – Você mentiu para mim. Ela ergueu os olhos, protegendo-os do sol com a mão e, ao mesmo tempo, uma papelada foi depositada na pequena mesa redonda à sua frente. Ficou tão aturdida em vê-lo surgir acima da mesa, bloqueando o sol feito um anjo vingador, que derramou parte da limonada. – O que está fazendo aqui? Como me encontrou? E o que são todos esses papéis? – Precisamos ter uma conversa e este não é o lugar adequado. Caroline sentiu um fio de esperança. Talvez Giancarlo estivesse reconsiderando a situação, procurando ser mais razoável. – É claro! – Sorriu amistosa e, então, pigarreou quando o sorriso não foi retribuído. – Eu... Você não disse como conseguiu me encontrar. Aonde vamos? Devo levar toda esta papelada comigo?
Presumiu-se que sim, enquanto ele girou nos calcanhares e estreitou os olhos para examinar a piazza. Será que notou os olhares interessados que atraiu dos turistas, especialmente das mulheres? Ou era imune àquele tipo de atenção? Caroline apanhou os papéis e apressou-se em segui-lo enquanto ele se afastava do café e entrava por uma série de ruelas, deixando o aglomerado de turistas para trás. Naquele dia, ela usava a única outra roupa que levara consigo, um vestido de verão com pequenos botões na frente. Para cobrir os ombros nus e disfarçar os seios generosos, usava um cardigã de malha rosa por cima. Não era nada prático, levando-se em conta a temperatura, mas sem ele sentia-se exposta demais e constrangida. Com a facilidade de alguém que morava na cidade, Giancarlo foi deixando para trás as áreas mais movimentadas até que, finalmente, chegaram a um pequeno café afastado dos pontos turísticos. Assim mesmo, a arquitetura antiga, a praça charmosa com seu poço do século dezesseis, os entalhes em algumas fachadas tornavam o local pitoresco. Ela aguardou atrás de Giancarlo, sentindo-se um tanto ignorada, enquanto ele falava em rápido italiano com a mulher robusta que devia ser a dona do café. Então, fez-lhe um gesto para que entrasse no local que, felizmente, estava fresco e relativamente vazio. – Pode sentar – disse Giancarlo irritado quando ela continuou parada junto à mesa. O que seu pai via na tal mulher? Ele mal se lembrava de Alberto, mas se havia algo de que se lembrava era que ele não havia sido a pessoa mais dócil do mundo. Se sua mãe havia sido uma mulher difícil, havia encontrado um par semelhante no marido bem mais velho. Que mudanças os anos tinham causado se Alberto estava contente em trabalhar com uma garota tão pacata e ingênua? E mais uma vez, ela usava uma roupa que teria sido mais adequada para alguém com o dobro de sua idade. Giancarlo se apanhou observando o corpo dela e, então, detendo o olhar surpreendentemente nos seios. Arredondados, comprimiam-se contra o algodão fino do vestido, estando em bastante evidência apesar do cardigã sobre os ombros. – Ainda não disse como conseguiu me encontrar – falou Caroline um tanto ofegante enquanto se sentava à mesa. Procurou afastar a sensação de euforia que tinha quando olhava muito para ele. Algo na aparência sexy do homem era desconcertante, difícil de ignorar. – Você me disse onde ia se hospedar. Fui até lá no início desta manhã e a recepcionista me falou que você tinha ido ao Duomo. Foi apenas uma questão de tempo até você ter seguido a leva de turistas até um dos cafés na calçada. – Quer dizer que você reconsiderou as coisas? – disse Caroline esperançosa. Perguntou-se como ele podia estar tão urbano e elegante com uma calça creme e camisa branca enquanto o restante da população parecia derreter sob o sol do verão. – Dê uma olhada nos papéis à sua frente. Ela os folheou. – Desculpe, não faço ideia do que são... E não sou muito boa com números. – Tivera a prudência de prender o cabelo, mas algumas mechas finas e encaracoladas ainda lhe roçavam o rosto e as colocava para detrás das orelhas enquanto franzia o cenho para as páginas e páginas de colunas e números. – Depois que falei com você, decidi verificar as contas da empresa de Alberto. Está olhando para o que encontrei.
– Não entendo por que está me mostrando isto. Não sei nada sobre os assuntos financeiros de Alberto. Ele nunca fala sobre isso. – É engraçado, mas nunca o achei tímido em se tratando de dinheiro. Sempre foi muito controlador nessa área, eu diria. – Como pode saber se não o vê há mais de uma década? Giancarlo pensou na maneira como Alberto fora mesquinho com sua mãe e curvou os lábios com cinismo. – Não vamos discutir, está bem? Vamos nos concentrar em uma ou duas coisas interessantes que descobri. Refrescos gelados foram colocados diante de ambos junto com um prato contendo delicados bolos e tortas. – A propósito, sirva-se... Ele arqueou as sobrancelhas quando ela pegou seu prato e o preencheu com alguns dos quitutes – uma quantidade educada, mas o preencheu assim mesmo. – Vai comer tudo isso? – ouviu-se perguntando fascinado. – Eu sei. Eu não deveria. Mas estou faminta. – Caroline suspirou pensando na dieta que planejava havia séculos, mas que não conseguia levar adiante. – Você não se importa, não é? Quero dizer, isto não está aqui só para olharmos, certo? – Não, di niente. Giancarlo recostou-se na cadeira e observou enquanto ela comia os pequenos bolos e tortas doces delicadamente, lambendo as migalhas dos dedos com apreciação. Era uma rara visão. As mulheres com quem saía brincavam com a comida no prato e teriam ficado horrorizadas diante da ideia de ingerir algo tão calórico. – Sempre tenho grandes planos de entrar numa dieta. – Caroline corou. – Uma vez ou duas até entrei, mas dietas são chatas. Já fez alguma? Não, aposto que não. Bem, saladas são boas, mas tente torná-las interessantes. Acho apenas que... adoro realmente comida. – Isso é… incomum. Numa mulher. A maioria das mulheres que conheço se empenha ao máximo para evitar comida além do indispensável para a sobrevivência, por assim dizer. Ele era obviamente do tipo que só conhecia modelos, pensou ela aborrecida. Mulheres magras, de pernas compridas, que não pesavam nada. Desejou ter resistido às guloseimas. Não que importasse porque, embora Giancarlo fosse extraordinariamente bonito, não era o tipo de homem que a interessaria. Assim, o que importava se a achasse acima do peso e deselegante? – Você estava dizendo algo sobre os assuntos financeiros de Alberto, não é? – Caroline olhou para o relógio. Por que, afinal, ele deveria ter o monopólio do tempo? – Acontece que vou partir amanhã de manhã e quero fazer o máximo de coisas que puder antes de ir. Pela primeira vez em muito tempo, Giancarlo se viu sem palavras. Ela o estava apressando? – Acho que seus planos vão ter que esperar um pouco mais até eu terminar. – Não me disse se decidiu deixar o passado para trás e me acompanhar até o Lago de Como. – Ela não soube por que fez o comentário uma vez que era óbvio que ele não tinha tal intenção. – Quer dizer que você veio até aqui me ver para o propósito único de promover um feliz encontro... – A ideia não foi minha. – Irrelevante. Voltando ao assunto em questão, o fato é que as contas da empresa de Alberto mostram um grande rombo.
Caroline franziu a testa porque não fazia a menor ideia do que ele estava dizendo. – Si – prosseguiu Giancarlo sem pesar algum enquanto continuou estudando-a tão atentamente que a fez sentir o rubor nas faces. – Ele vem perdendo dinheiro há dez anos, mas recentemente as perdas têm sido catastróficas... Caroline soltou uma exclamação aturdida e o olhou com súbita consternação. – Oh, Deus do céu… Acha que é por isso que ele teve o ataque do coração? – Como disse? – Acho que ele não tinha um interesse ativo pelo que acontecia na empresa. Quero dizer, tem sido bastante recluso desde que fui morar na casa dele. – Há quanto tempo? – Vários meses. Inicialmente, planejei ir para lá por algumas semanas apenas, mas nós nos entendemos tão bem e havia tantas coisas que ele queria que eu fizesse que acabei ficando. – Ela pousou os olhos castanhos em Giancarlo, que parecia espantosamente imune a um quê de compaixão diante das notícias que dera tão casualmente. – Tem certeza de que essas informações estão corretas? – Nunca estou errado – respondeu ele secamente. – É possível que Alberto tenha passado muito tempo sem se envolver ativamente na direção da empresa. É bem possível que tenha vivido tranquilamente dos dividendos, imaginando tolamente que os investimentos iam bem. – E se ele apenas descobriu recentemente? – revidou Caroline, determinada a não ficar emotiva demais na frente de um homem que, sabia ela, veria emoção numa mulher como algo digno de ser repelido. Além do mais, gritara com ele no dia anterior. – Acha que isso pode ter contribuído para o ataque cardíaco dele? Acha que ficou tão estressado que isso lhe afetou a saúde? – Abalada com o pensamento, serviu-se distraidamente do último bolinho de creme que deixara em seu prato. – Ninguém pode me acusar de ser um homem que se deixa enganar, signorina Rossi – declarou Giancarlo com convicção. – Uma lição que aprendi na vida é que, em se tratando de dinheiro, sempre haverá pessoas por perto tramando algo para pôr as mãos em parte dele. – Sim. Creio que sim. Seja como for. Pobre Alberto. Ele jamais mencionou uma palavra e, ainda assim, deve ter se preocupado tanto. Imagine ter de lidar com uma situação dessas sozinho. – Sim. Pobre Alberto. Ainda assim, enquanto verificava estas informações, me ocorreu que sua missão aqui pode ter tido um duplo... – O médico disse que o estresse pode causar todos os tipos de problemas de saúde. – Concentre-se, signorina! Ficando em silêncio, Caroline o observou. O sol que se filtrava pela vidraça do café fez o cabelo preto dele parecer mais lustroso. Um tanto longo, curvava-se em torno da gola da camisa. Fazia com que ele parecesse exótico e bastante europeu. – Está me acompanhando agora? – Não há necessidade desse tom de sermão! – É claro que há. Você tem a mente mais dispersiva que já vi. Caroline dirigiu-lhe um olhar ressentido e acrescentou “rude” à longa lista de coisas que não gostava nele. – E você é a pessoa mais rude que já conheci na minha vida inteira! Giancarlo não se lembrava da última vez que alguém se atrevera a insultá-lo.
– Me ocorreu que a saúde do meu pai, se sua história sobre o ataque cardíaco dele é verdadeira, pode não ser a principal razão da sua visita a Milão. – Se a minha história é verdadeira? – Ela sacudiu a cabeça com ar confuso. – Por que eu mentiria sobre uma coisa dessas? – Vou responder uma pergunta com outra pergunta. Por que, de repente, meu pai escolheu agora para me procurar? Teve muitas oportunidades para entrar em contato. Nunca se deu ao trabalho. Então, por que agora? Devo elaborar uma teoria? Ele ficou ciente do fato de que sua fortuna desapareceu pelo ralo e enviou você aqui para verificar a situação. Talvez tenha lhe dito que, se eu me mostrasse flexível diante da ideia de um reencontro, você poderia mencionar a possibilidade de um empréstimo, não? Chocada com as suposições levianas e os mal-entendidos cínicos de Giancarlo, Caroline nem sequer sabia por onde começar. Apenas o encarou enquanto a cor se esvaía do seu rosto. Não costumava ficar zangada, mas, no momento, teve de se conter para não atirar seu prato na cabeça arrogante dele. – Bem, talvez eu não tenha sido preciso quando a acusei de mentir para mim. Talvez seja mais certo dizer que você omitiu convenientemente toda a verdade... – Não acredito que estou ouvindo você dizer essas coisas! Como pode acusar seu próprio pai de tentar arrancar dinheiro de você? Giancarlo corou diante do olhar firme e incrédulo dela. – Como falei, o dinheiro tende a fazer com que o pior se manifeste nas pessoas. – Alberto não me enviou aqui numa missão para tirar dinheiro de você, nem para... para lhe pedir um empréstimo! – Está me dizendo que ele não faz ideia de que sou muito rico? – Não é essa a questão. – Ela se lembrou do comentário de Alberto de que Giancarlo se fizera com o próprio esforço. – Não? Está me dizendo que não há ligação entre um pai praticamente falido que não aparece há quase duas décadas e sua súbita e inexplicável vontade de reencontrar o filho rico que ficou contente em chutar de sua casa no passado? – Exatamente! – Bem, se realmente acredita nisso, se não está de maquinação com Alberto, deve ser incrivelmente ingênua. – Lamento muito por você, signor De Vito. – Me chame de Giancarlo. Eu me sinto como se quase nos conhecêssemos. Com certeza, ninguém pode concorrer com você quando se trata de fazer comentários ofensivos. Você tem estilo próprio. Caroline ruborizou porque não costumava ser ofensiva. Era de natureza afável, tranquila. Entretanto, não iria se desculpar por dizer o que pensava a Giancarlo. – Você também é bastante ofensivo – retrucou num tom manso. – Você me acusou de ser mentirosa. Talvez no seu mundo não possa confiar em ninguém... – Acho que se pode dizer que a confiança é uma virtude muito rara e valorizada. Tenho muito dinheiro. Aprendi a me proteger. É simples. – Ele deu de ombros com elegância, encerrando o assunto. Caroline, por sua vez, não queria que a conversa terminasse, que ele continuasse a acreditar que Alberto tramara algo para lhe tirar dinheiro. Não o deixaria pensar o pior de ambos.
– Não acho que a confiança seja uma virtude assim tão rara. Eu lhe disse que lamento por você, e é verdade. – Teve de se esforçar para lhe sustentar os olhos frios – Acho que é triste viver num mundo onde você nunca pode se permitir acreditar no melhor das outras pessoas. Como consegue ser feliz se está sempre pensando que as pessoas à sua volta querem tirar proveito de você? Como consegue ser feliz se não tem fé nas pessoas que o cercam? Giancarlo quase explodiu em risos. De que planeta era aquela mulher? Havia um mundo implacável lá fora que se tornava ainda pior quando dinheiro e finanças eram envolvidos. Era necessário manter os amigos próximos e os inimigos mais próximos ainda a fim de se evitar o risco de ser apunhalado pelas costas. – Não venha dar uma de evangelista comigo – disse secamente e notou o rubor no rosto dela. – Você está corando – surpreendeu-se dizendo. – Porque estou com raiva. – Mas ela cobriu o rosto com as mãos e o fuzilou com o olhar. – Você tem um ar tão... tão superior. Com que tipo de pessoas convive para suspeitar que tentariam usá-lo para obter algo de você? Eu não sabia nada a seu respeito quando concordei em vir até aqui. Nem que tinha tanto dinheiro assim. Só sabia que Alberto estava doente e que queria fazer as pazes com você. A coisa mais estranha parecia estar acontecendo. Giancarlo deu-se conta de que ia ficando distraído. Era por causa da maneira como aquelas mechas finas de cabelo cacheado roçavam o rosto dela? Ou era porque a raiva fazia com que seus olhos amendoados faiscassem como os de uma gata arisca? Ou talvez fosse porque, quando ela se inclinava para a frente daquele jeito, o volume de seus belos seios roçando a mesa agia como um ímã para os olhos dele. Era peculiar sentir aquela ligeira perda de autocontrole porque aquilo nunca acontecia quando lidava com as mulheres. Ele era um especialista quando se tratava do sexo oposto. Sem a menor vaidade, sabia que possuía uma combinação de aparência, poder e influência que a maioria das mulheres considerava um irresistível afrodisíaco. Recentemente, ele rompera um relacionamento com uma modelo cuja beleza estonteante figurara nas capas de inúmeras revistas. Ela começara a fazer menções quanto a “levarem as coisas adiante”, falara sobre amigos e parentes que pensavam em casar e passara a demonstrar um interesse nada salutar nas seções de anéis de noivados das joalherias caras. Giancarlo não tinha a menor vontade de se casar. Havia duas lições vitais que aprendera observando os pais. A primeira era que não existiam finais felizes. A segunda era que era muito fácil para que uma mulher se transformasse de anjo em bruxa. A mulher apaixonada que se sentia feliz em corresponder a todas as expectativas logo se tornava a megera exigente, briguenta que precisava de atenção vinte e quatro horas por dia. Observara a mãe se preparando para agir como a parceira perfeita em tantas ocasiões que perdera a conta. Vira-a exercer sua magia com qualquer que tivesse sido o namorado da vez e, então, mudando com o tempo, passando de alegre a desesperada, de difícil a insistente e dependente. Quanto mais velha ficara, mais deplorável se tornara a figura que fizera. Sem dúvida, ele era um homem com uma libido extremamente saudável, mas, no que lhe dizia respeito, o trabalho ainda era a melhor coisa em termos de confiabilidade. As mulheres, por mais que as apreciasse, se tornavam instantaneamente dispensáveis no momento em que começavam a pensar que podiam mudá-lo. Nunca deixara nenhuma mulher afetá-lo e estava surpreso agora em ver que seus pensamentos se desviavam ligeiramente do assunto em questão.
Confrontara Caroline, colhera algumas informações necessárias, apenas para que suas suspeitas fossem confirmadas. Quisera apenas provar-lhe, e a Alberto através dela, que não estava ali para ser enganado. Àquela altura, seu plano fora o de se afastar, tendo deixado bem claro que uma segunda tentativa da parte deles seria inútil. Desde o instante em que Caroline aparecera em seu escritório sem avisar, ele não permitira que nem sequer uma ponta de sentimento influenciasse seu julgamento. Lembranças amargas das histórias que a mãe lhe contara ainda pesavam. A verdade que vira com os próprios olhos, a maneira como a falta de apoio financeiro substancial por parte do homem que teria sido muito rico na época influenciara os padrões de comportamento dela, não podia ser ignorada. – Você deve ficar entediada lá – Giancarlo ouviu-se dizer quando, na verdade, deveria estar encerrando a conversa para poder voltar ao escritório. Sem tirar os olhos dela, levantou o dedo e mais refrescos gelados foram levados à mesa. Surpresa com a mudança no rumo da conversa, Caroline o olhou com ar cauteloso. Perguntou-se se o comentário era apenas uma manobra para levar a outro ataque. – Por que está interessado? – Por que não? Não é todo dia que uma completa estranha aparece no meu escritório com uma bomba. Mesmo que acabe sendo uma bomba fácil de desarmar. Além do mais, se me permite a total franqueza, você não me parece o tipo de pessoa capaz de lidar com um homem como me lembro de ser meu pai. Caroline foi atraída para a conversa contra sua vontade. – Do que você se lembra? – perguntou hesitante. Com outro refresco gelado à sua frente, o prato com os pequenos bolos e tortas restantes foi uma visão tentadora. Como se lesse sua mente, Giancarlo pediu outros, diferentes dessa vez, sorrindo quando foram colocados diante dela. – O que me lembro do meu pai? Deixe-me pensar. Dominador. Genioso. Controlador. Em suma, não como a pessoa mais fácil do mundo. – Como você, em outras palavras. Giancarlo apertou os lábios porque aquele era um ângulo que nunca lhe ocorrera e não iria pensar a respeito agora. – Desculpe. Eu não deveria ter dito isso. – Não, não mesmo, mas já estou me acostumando à ideia de que você fala antes de pensar. Algo mais que imagino que Alberto acharia inaceitável. – Não gosto nem um pouco de você – disse Caroline por entre dentes. – E eu retiro o que disse. Você não é em nada como Alberto. – Fico entusiasmado em saber disso. Então, me fale a respeito. – Giancarlo sentiu uma onda de intensa curiosidade em relação ao homem que havia sido tão criticado pela ex-esposa. – Bem. – Caroline sorriu devagar, e Giancarlo ficou surpreso com a maneira como aquele sorriso doce lhe alternou os contornos do rosto, transformando-a numa mulher peculiarmente bonita de um modo vibrante que era bastante erótico, levando-se em conta a inocência em tudo mais que a cercava. Aquele sorriso colocou todos os tipos de pensamentos insensatos na cabeça dele, embora durassem apenas um instante, desaparecendo depressa sob a disciplina mental que era parte inerente de sua personalidade.
– Ele pode ser ranzinza. Está bastante ranzinza agora porque detesta que lhe digam o que pode e não comer e que horas tem que ir se deitar. Detesta que eu o ajude fisicamente e, portanto, contratou uma mulher das imediações, uma enfermeira do hospital, para ajudá-lo. Vivo tendo que lhe dizer que tem que ser menos mandão e crítico com ela. Ele foi bastante educado quando cheguei. Acho que sabia que estava fazendo um favor ao meu pai, mas que não sabia o que fazer comigo, para começar. Não estava acostumado a ter companhia. Não se sentia à vontade para olhar no olho, mas nada disso durou muito. Descobrimos que temos muitos interesses em comum: livros, filmes antigos, o jardim. Na verdade, o jardim tem sido inestimável agora que Alberto está se recuperando. Todos os dias, descemos até a lagoa que fica logo além do roseiral murado. Nos sentamos lá, lemos, conversamos. Alberto gosta que eu leia para ele, embora viva me dizendo que devo colocar mais entonação na voz. Bem, e isso será tudo... Giancarlo, que não pensara no que deixara para trás em um longo tempo, tinha uma vívida lembrança da lagoa e de suas brincadeiras ao redor, especialmente nas férias de verão. Tratou de afastar logo as lembranças. – O que quer dizer com “e isso será tudo”? Caroline o olhou com ar preocupado, dando-se conta de que não poderia lhe explicar sem correr o risco de que ele voltasse a atacar os escrúpulos de Alberto. – Nada. – Vai ficar com a língua presa de repente comigo? A implicação era que havia falado demais, concluiu Caroline magoada. – O que quer dizer? E não tente bancar a tímida. Não combina com você. Ocorreu a ela que não conseguiria achar outro ser humano mais odioso, nem que tentasse. – Bem, se Alberto está com dificuldades financeiras, não vai conseguir manter a casa, certo? Quero dizer, ela é enorme. No momento, uma boa parte não é mais usada, mas ele ainda teria que vendê-la. E, por favor, não diga que isso é um complô dele para tentar tirar dinheiro de você. Não é. – Soltou um suspiro, resignada. – Não sei por que estou lhe dizendo essas coisas. Não acredita em mim de qualquer modo. – De repente, ficou ansiosa para partir, para voltar à casa no lago, embora não soubesse o que faria quando chegasse. Falaria com Alberto sobre todos os problemas? Poderia lhe colocar a frágil saúde em risco pondo mais estresse em sua cabeça? – Nem sequer tenho certeza de que seu pai sabe a verdade da situação – disse consternada. – Ele teria me dito alguma coisa. – Por quê? Você tinha acabado de aparecer. Acho que a primeira pessoa na lista de confidentes dele teria sido provavelmente o contador. – Bem, tenho que ir. Tudo isto... – Deve estar sendo bastante inquietante e provavelmente não foi o que esperou quando decidiu vir para a Itália, inicialmente. – Não me importo! – respondeu Caroline depressa. Conteve a tentação para lhe dizer que alguém tinha de apoiar Alberto. Giancarlo dava-se conta de que sua suposição inicial, que fizera perfeitamente sentido no momento, talvez tivesse sido precipitada. Ou a mulher era uma excelente atriz vencedora do Oscar, ou estivera dizendo a verdade o tempo todo. Sua visita não fora movida por propósitos financeiros. Agora, a mente dele enveredava por um caminho diferente. Recostando-se na cadeira, estudou-a enquanto corria o dedo pelo queixo com ar pensativo. – Aquela enfermeira que ele contratou é uma enfermeira particular?
Caroline não pensara a respeito, mas agora empalideceu. Quanto custaria para manter a enfermeira? E aquilo não provava que Alberto não fazia ideia do estado de suas finanças? Se fizesse, teria gasto deste modo? – E, naturalmente, deve estar pagando você – prosseguiu Giancarlo implacável. – Quanto? – Citou uma quantia tão absurdamente elevada que Caroline explodiu em risos. Ela riu até sentir lágrimas no canto dos olhos. Foi como se, de repente, tivesse encontrado uma válvula de escape para o estresse, embora ele a olhasse com a perplexidade de quem lidava com uma completa tola. – Desculpe – disse com um soluço, esforçando-se para se recobrar. – Deve estar brincando. Pegue essa quantia e divida por quatro. – Não diga tolices. Ninguém conseguiria sobreviver com isso. – Mas não vim para cá pelo dinheiro – explicou Caroline pacientemente. – Vim para aperfeiçoar o meu italiano. Alberto me fez um favor em me receber. Não tenho que pagar a comida, nem aluguel. Quando eu retornar para a Inglaterra, o fato de que terei condições de me comunicar em outro idioma será de grande ajuda para eu arranjar um emprego. Por que está me olhando desse jeito? – Não a incomoda o fato de não ter praticamente vida própria ganhando tão pouco? Mão de obra barata, pensou Giancarlo. Ora, por que não estou surpreso? Uma enfermeira especializada não doaria seus serviços de bom coração, mas uma jovem inexperiente? Por que não tirar proveito da situação? Oh, o velho sabia do estado de suas finanças, sem dúvida, não importando o que ela dissesse em contrário. – Não. Nunca dei muita importância ao dinheiro. – Sabe de uma coisa? – Ele fez um sinal ao garçom, pedindo a conta. Quando Caroline olhou para o relógio, descobriu que o tempo voara. Nem percebera, mas, considerando como antipatizava com ele, deveria ter contado cada agonizante minuto. – O quê? – Considere sua missão um sucesso. Acho que é tempo, afinal, de eu retornar para casa...
CAPÍTULO 3
A ÚLTIMA visão que Giancarlo tivera da casa do pai, enquanto se virara no banco de trás do carro e a mãe se mantivera em total silêncio ao volante, havia sido de jardins exuberantes e da ampla construção de pedra que formara os fundos da casa. A grandiosa parte da frente dava para a margem oeste do lago e era a posição perfeita para uma vista de profunda água azul, imóvel como uma lâmina de vidro, e de beleza espetacular. Era inquietante estar retornando agora, exatamente uma semana depois que Caroline partira, mal cabendo em si de entusiasmo por ter conseguido persuadi-lo a ir ver o pai. Se ela achava que aquilo significava uma reconciliação, ele não partilhava de seu otimismo. Não tinha ilusões no tocante à natureza humana. A gravidade do ataque cardíaco de Alberto estava aberta a discussão, e Giancarlo, por sua vez, preparava-se para ver um homem de saúde robusta que podia ter convencido uma jovem ingênua sobre uma suposta fraqueza movido por seus propósitos. Suas lembranças do pai eram de um homem alto, de disciplina rígida e sem um pingo de emoção dentro de si. Não podia imaginá-lo derrotado pela doença, embora o problema nas finanças deva tê-lo afetado. O carro esporte veloz vencera os quilômetros de rodovia e somente agora, enquanto ele desacelerava para dirigir pelas cidades e vilarejos pitorescos a caminho da casa do pai, as reminiscências vagas começavam a surgir. Havia se esquecido de como aquela região era encantadora. O Lago de Como, o terceiro maior e mais fundo lago italiano, era um cartão-postal perfeito, uma área exuberante com villas elegantes, jardins bem-cuidados, cidadezinhas e vilarejos com calçamento de pedra e piazzas adornadas com igrejas de estilo românico, além dos hotéis e restaurantes caros. Ele foi tomado por uma onda de satisfação. Aquela era uma volta para casa nos seus termos, da maneira como gostava. Um exame mais apurado das finanças de Alberto haviam revelado uma empresa falida devido aos efeitos devastadores de uma recessão econômica sem precedentes, má administração e estagnação. Giancarlo sorriu sombriamente consigo mesmo. Nunca se considerara uma pessoa vingativa, mas o fato de saber que poderia salvar a empresa do pai se quisesse nivelava a balança da justiça de maneira providencial. O que poderia ser pior para o pai do que se ver devendo para o filho ao qual dera as costas?
Não mencionara nada daquilo a Caroline quando se despediram. Por alguns minutos, se viu distraído por pensamentos em torno da morena de compleição pequena. Ela era irritadiça, incrivelmente emotiva, e tão franca que o deixara sem fala. Mas enquanto se aproximava mais e mais do lugar que outrora chamara de lar, ele se deu conta de que ela conseguira afetá-lo de uma maneira exasperante. Nunca passara tanto tempo pensando numa mulher, mas acontecia que aquela, argumentou consigo mesmo, entrara em sua vida de uma maneira peculiar. Nunca mais descartaria o inesperado. Quando se achava que estava tudo sob controle, acontecia algo para virar a situação de pernas para o ar. Naquele caso, a situação não era de todo ruim. Ele ligou o rádio, escolheu uma estação de que gostava e relaxou para desfrutar a vista. Não daria lugar ao nervosismo. A contrário. Sim, estava curioso para reencontrar Alberto, mas, ao longo dos anos, ouvira tantas coisas sobre ele que quase se sentia como se não houvesse nada mais a saber. As informações constantes desde tenra idade tinham se originado de sua inclinação natural para perguntar. Pelo que imaginava, era Alberto quem estaria com os nervos à flor da pele. Seus negócios fracassavam e cedo ou tarde, com ou sem saúde precária, Giancarlo tinha certeza de que o pai tocaria no assunto de dinheiro. Talvez tentasse lhe propor algum tipo de investimento. Talvez esquecesse o orgulho e lhe pedisse logo um empréstimo. Ele se regozijava com a perspectiva de poder confirmar que haveria dinheiro disponível, sim. Não era magnânimo, embora, levando-se tudo em conta, não tinha razão para ser? Mas um preço teria que ser pago. Faria com que a empresa do pai fosse sua. Iria comprá-la da maneira como estava. Sim, a segurança financeira de seu pai se deveria à generosidade do filho renegado. Pretendia ficar na villa apenas por tempo o bastante para transmitir aquela mensagem. Dois dias, no máximo. Depois, haveria tempo o bastante para as providências necessárias. Não imaginava que teria algo de interessante a dizer ao velho. Por que teria? Eram dois estranhos e ficariam aliviados em cada um seguir seu caminho depois que os negócios fossem resolvidos. Estava tão absorto em pensamentos que quase errou a entrada que levava à villa. Aquele lado do lago era famoso por suas villas magníficas. Na maioria, eram construções esplendorosas do século dezoito, e algumas tinham sido convertidas em hotéis ao longo dos anos. A villa do pai dele não era a maior, mas ainda era um lugar antigo impressionante, cujo acesso se dava por imponentes portões de ferro e uma alameda ladeada por belos jardins e gramados. Ele se lembrava mais da propriedade do que havia esperado. À direita, havia o arvoredo em que costumara brincar quando criança. À esquerda, o muro de pedra mal se via atrás dos rododendros e azaleias de cores vibrantes. Parando o carro no pátio circular, abriu o pequeno porta-malas e pegou a valise que levara com o essencial e a bolsa do laptop onde estavam todos os documentos que precisaria para começar o processo de aquisição que tinha para a empresa do pai. ELE ERA uma visão imponente. Na janela de seu quarto, que dava para o pátio, Caroline foi dominada por súbito nervosismo. No decorrer dos sete dias anteriores, havia se empenhado ao máximo para abrandar o impacto que o homem lhe causara. Não era assim tão alto, tão bonito ou tão arrogante, convencera a si mesma.
Infelizmente, enquanto observava Giancarlo deixar o carro esporte com duas malas e usando óculos escuros, teve de admitir que ele era tudo aquilo e muito mais. Seguindo depressa pelo corredor, desceu dois degraus das escadas de cada vez e entrou ofegante na sala de estar que havia nos fundos. – Ele chegou! Alberto estava sentado numa poltrona junto à grande janela panorâmica com vista dos jardins que se estendiam até o lago, salpicado agora de pequenos barcos. – Seria de se pensar que o Papa está nos fazendo uma visita. Acalme-se, menina! Está vermelha. – Você vai ser simpático, não vai, Alberto? – Eu sou sempre simpático. Você é que fica toda esbaforida à toa. Agora, deixe o rapaz entrar antes que ele volte para o carro e vá embora. E, no caminho, pode dizer àquela sua enfermeira que vou tomar um copo de whisky antes do jantar. Quer ela goste ou não! – Não vou fazer uma coisa dessas, Alberto De Vito. Se quer desobedecer ordens médicas, você mesmo pode dizer a Tessa. Eu adoraria ver a reação dela. Caroline sorriu afetuosamente para o velho homem banhado pelo sol de fim de tarde que se filtrava pela janela. Depois de ter conhecido Giancarlo, achava as semelhanças entre ambos impressionantes. Tinham os mesmos traços orgulhosos, aristocráticos e a mesma compleição física atlética. Evidentemente, Alberto era idoso agora, mas era fácil ver que devia ter sido tão extraordinariamente bonito quanto o filho na juventude. – Oh, pare de tagarelar tanto, mulher, e vá. Caroline fez uma pausa para respirar fundo e chegou à porta da frente no momento em que a campainha tocou. Correu as mãos com nervosismo pela saia comprida preta que usava com uma blusa folgada. Além do indispensável cardigã. Se bem que ali ao menos era mais adequado graças à brisa fresca que soprava do lago. Tão logo abriu a porta, sentiu a boca seca. Com uma camisa polo creme justa, calça cáqui e sapatos de aspecto bastante caro, Giancarlo era da cabeça aos pés o italiano impecavelmente vestido. Parecia ter saído direto de uma sessão de fotos. – Estava esperando na janela? – perguntou sardônico. Lembrando que estivera na janela de seu quarto quando o vira parar o carro no pátio, ela endireitou as costas e limpou a garganta. – É claro que não! Se bem que me senti tentada, para o caso de você não aparecer. – Colocouse de lado para lhe dar passagem. Giancarlo passou pela porta da frente e confrontou a casa na qual passara os primeiros doze anos de sua vida. As mudanças haviam sido bem poucas. O hall era uma ampla área de mármore, no centro haviam escadas duplas que subiam em espiral em direções opostas para se encontrarem no patamar acima. Uma ramificação de cômodos se estendia em cada lado do vestíbulo. Agora que estava de volta, ele se lembrava de cada ambiente de cor: as várias salas de recepções; o imponente escritório de onde sempre fora banido; a sala de jantar onde retratos de familiares falecidos tinham estado; a galeria onde quadros de grande valor haviam sido pendurados, outro lugar de onde sempre fora banido. – Por que eu não apareceria? – Giancarlo virou-se para olhá-la.
Caroline parecia mais à vontade ali, menos desconfortável, o que não devia surpreendê-lo. O cabelo que tentara prender em Milão estava solto. Castanho-escuro com algumas mechas claras deixadas pelo sol, caía-lhe pelos ombros e as costas numa cascata de cachos. – Você poderia ter mudado de ideia – admitiu Caroline numa voz não tão firme e novamente aqueles olhos negros que a observavam com intensidade a desconcertavam. – Quero dizer, você foi tão categórico quanto a não querer ver seu pai e, depois, anunciou repentinamente que tinha mudado de ideia. Não fez sentido. Assim, achei que você poderia ter mudado de ideia outra vez. – Onde estão os empregados? – Já lhe disse, a maior parte da casa está fechada. Temos Tessa, a enfermeira que cuida de Alberto e mora na casa. Há duas garotas que cuidam da limpeza, mas elas moram no vilarejo. Fico contente que tenha decidido vir, afinal. Vamos ver seu pai? Acho que vai querer ficar a sós com ele. – Para podermos colocar os assuntos em dia? Trocar lembranças felizes dos bons e velhos tempos? Caroline o olhou com desalento. Ele não tentou disfarçar a amargura na voz. Alberto raramente mencionava o passado. Suas memórias, nas quais dera uma pausa nas semanas anteriores, giravam principalmente em torno dos tempos da universidade e dos lugares para onde viajara quando jovem. Mas ela podia imaginar que ele não fora um pai muito fácil. Quando Giancarlo concordara em visitá-lo, ela presumira ingenuamente que estivera disposto, enfim, a superar quaisquer contratempos que os tenham separado tão drasticamente. Agora, olhando-o, ficou inquieta ao se dar conta de que devia ter tirado conclusões precipitadas. – Ou até apenas para concordarem em deixar o passado para trás e seguirem a diante – sugeriu Caroline. Giancarlo soltou um suspiro. Deveria lhe contar o que havia planejado?, perguntou-se. – Por que não me mostra um pouco a casa antes de me levar até o meu pai? – propôs. – Quero me inteirar de novo sobre este velho lugar. E há algumas coisas que quero conversar com você. – Coisas? Que coisas? – Se não quer me acompanhar para ver tudo, pode me levar até o meu quarto. O que tenho a dizer não vai levar muito tempo. – Levarei você até o seu quarto – disse ela tensa –, mas primeiro vou dizer a Alberto onde estamos, para que não se preocupe. – E por que se preocuparia? – Está esperando para ver você. – Acho que vou ficar no meu antigo quarto. Na ala esquerda? Com vista para os jardins laterais? – A ala esquerda não é usada agora. – Tomando sua decisão, Caroline observou-lhe mais uma vez a falta de bagagem e conduziu-o na direção da escadaria. – Vou levá-lo até onde vai ficar hospedado. Se formos rápidos, tenho certeza de que seu pai não vai ficar ansioso demais. E poderá me dizer o que quiser. Podia sentir o coração acelerado enquanto o precedia na ampla escadaria e virava a esquerda no corredor que era largo o bastante para acomodar uma chaise longue e várias mesas encimadas por vasos de flores. – Ah, o quarto verde.
Giancarlo olhou ao redor e viu os sinais da passagem do tempo. O quarto parecia gasto. O papel de parede era elegante, mas estava bastante desbotado. As cortinas pareciam pesadas e sem vida. Embora não se lembrasse de muita coisa porque aquele fora um dos muitos quartos de hóspedes aonde raramente se aventurara a ir, ficava claro que nada fora mudado em mais de duas décadas. Ele largou a mala na cama e adiantou-se até a janela para olhar brevemente para o belo jardim murado antes de se virar para Caroline. – Devo lhe dizer que a minha decisão de vir até aqui não foi inteiramente altruísta – falou à queima-roupa. – Não quero que tenha ideias equivocadas sobre reencontros emocionados porque, se as tiver, vai deparar com um grande desapontamento. – Não foi inteiramente altruísta? – A situação financeira complicada de Alberto... Como devo colocar? ... me deu a oportunidade perfeita para finalmente tentar reparar certas injustiças. – Que injustiças? – Nada com que precise se preocupar. Basta dizer que Alberto não vai ter que temer que os bancos tomem sua casa e todo o resto. – Esta casa ia ser tomada pelos bancos? – Cedo ou tarde. – Giancarlo deu de ombros. – Acontece. Dívidas se acumulam. Acionistas ficam nervosos. Providências têm de ser tomadas. É um breve caminho até que os credores comecem a surgir feito abutres e os bens tenham que ser leiloados para pagá-los. Caroline arregalava os olhos enquanto imaginava a situação. – O que deixaria Alberto arrasado – sussurrou. Aproximando-se da cama, sentou na beirada. – Tem certeza quanto a isso tudo? Não, esqueça que perguntei. Você nunca comete erros, não é mesmo? Giancarlo olhou para a figura abatida na cama e estalou a língua com impaciência. – Não é ótimo que ele seja poupado de tudo isso? Nada de credores à porta exigindo os quadros e objetos de arte. Nenhum banco levando a casa a leilão. – Sim. – Ela o olhou com ar duvidoso. – Então, pode tirar essa expressão cabisbaixa do seu rosto imediatamente! – Você disse que ia... fazer o que exatamente? Dar-lhe o dinheiro? Não é uma quantia muito grande? Você é assim tão rico? – Eu tenho o bastante – declarou Giancarlo secamente, divertido pela pergunta. – E quanto é o bastante? – Tenho o bastante para garantir que a casa e a empresa de Alberto não acabem nas mãos dos credores. É claro que há um preço. – O que quer dizer? – Quero dizer... Afastando-se da janela, Giancarlo andou pelo quarto, atento a todos os pequenos sinais de negligência que eram quase impossíveis de se notar ao primeiro olhar. A casa era certamente antiga. O madeiramento devia estar úmido, podre e cheio de cupins. Tendo crescido numa casa que datava de séculos, ele fez questão de que o apartamento onde morava fosse extremamente moderno. – O que quero dizer é que aquilo que pertence ao meu pai será inevitavelmente meu. Vou adquirir a empresa dele e devolvê-la ao que era e farei o mesmo com a villa. Está precisando de
uma boa reforma, de qualquer modo. Aposto que esses quartos que foram fechados estão caindo aos pedaços. – E você não vai fazer nada disso porque gosta de Alberto. Caroline colocou os pensamentos em voz alta, enquanto Giancarlo estreitava os olhos para observá-la, admirando-se com a maneira como cada pensamento se refletia nas mudanças na expressão dela. – Na verdade – falou Caroline devagar, ordenando as ideias para formar um panorama completo do que estava realmente acontecendo –, você não está interessado em se reconciliar com o seu pai, está? Giancarlo não estava disposto a encorajar nenhum tipo de conversa sobre o que ela considerava o certo e o errado quanto às razões dele para ter ido para o lago e, portanto, manteve um longo silêncio. A resignação e o desapontamento na voz dela, porém, conseguiram penetrar no rígido autocontrole dele de uma maneira exasperante. – É impossível reconciliar-se com uma pessoa de quem mal se lembra. Eu não conheço Alberto. – Você o conhece o bastante para querer magoá-lo pelo que acha que ele lhe fez. – É uma suposição absurda! – Acha mesmo? Você deu a entender que iria comprá-lo porque isso lhe daria a chance de tentar reparar injustiças. Giancarlo era bastante protetor em relação à sua vida particular. Nunca falava sobre seu passado com ninguém, e muitas mulheres haviam tentado. Tinham visto isso como um passo para o conhecerem melhor, haviam pensado equivocadamente que, com a dose certa de encorajamento, ele abriria o coração. Era sempre um erro fatal. – Alberto se divorciou da minha mãe e fez tudo que era legalmente possível para garantir que, embora o essencial fosse pago, ela ficasse com o mínimo, apenas o bastante para sobreviver. Saindo disto tudo... – Ele fez um gesto amplo para englobar a villa e seus esplêndidos arredores. – Ela passou a viver num pequeno apartamento nas imediações de Milão. Pode ver por que carrego certa amargura em relação ao meu pai. Entretanto, deve ser dito que, se eu fosse realmente uma pessoa vingativa, eu não teria retornado aqui e certamente não estaria considerando uma aquisição lucrativa. Quero dizer, lucrativa do ponto de vista de Alberto, não meu porque a empresa dele vai precisar de muito dinheiro para começar a se reerguer. Encare as coisas, eu poderia ter lido aqueles relatórios financeiros e os ignorado. Esperado até ter lido sobre a falência da empresa dele na seção financeira do jornal. Acredite, pensei seriamente nessa alternativa, mas, então... Digamos apenas que optei pelo toque pessoal. Muito mais satisfatório. Caroline estava achando impossível conciliar a versão que Giancarlo tinha do pai com suas próprias experiências em relação a Alberto. Sim, ele era, sem dúvida, difícil e provavelmente fora muito mais quando novo, mas não era ruim. Não conseguia imaginá-lo sendo vingativo em relação à ex-esposa, mas como poderia ter certeza? Algo que sabia agora era que Giancarlo podia justificar suas ações como sendo reparação de injustiças, mas era vingança, sem dúvida, e não podia compactuar com aquilo. Ele ajudaria o pai sabendo que a culpa seria companheira de Alberto para o resto da vida. Iria lhe atacar a parte mais vulnerável: o orgulho. Ela se levantou com as mãos nos quadris e o observou com olhos faiscantes. – Não sei como você chama isso, mas é uma atitude infame!
– Infame? Interceder e salvar o pescoço dele? Giancarlo sacudiu a cabeça com ar pesaroso e se aproximou dela. Tinha as mãos nos bolsos da calça e seus gestos eram calmos, sem pressa, mas havia um quê de ameaça em cada passo que dava, e Caroline se esforçou para se manter firme no lugar. Não conseguia desviar o olhar dele. O homem tinha o atrativo de um predador perigoso, mas espetacularmente bonito. Olhando-a, Giancarlo notou-lhe o rubor no rosto, a respiração acelerada. – Você é uma gata arisca, não é? – disse num tom preguiçoso que a desconcertou por completo. Ela não estava acostumada a lidar com homens como aquele. Sua experiência com o sexo oposto limitava-se estritamente aos dois homens que namorara no passado, duas almas gentis com quem ainda mantinha a amizade, e a colegas de trabalho depois que terminara os estudos. – Não, eu não sou! Eu nunca discuto. Não gosto de discutir. – Poderia ter me enganado. – Você faz isso comigo – disse Caroline ofegante, dando-se conta um pouco tarde de que não deveria ter dito exatamente aquilo. – Quero dizer... – Eu mexo com você? – Sim! Não… – Sim? Não? O que vai ser? – Pare de rir de mim. Nada disto é engraçado. – Ela ajeitou melhor o cardigã em torno de si num gesto defensivo que não passou despercebido por ele. – Para alguém tão jovem, a sua escolha de roupas é bastante antiquada. Cardigãs são para mulheres com mais de 40 anos. – Não entendo o que… as minhas roupas têm a ver com o assunto em questão. Mas ela atropelou as palavras. Ele tentava deixá-la pouco à vontade? Estava conseguindo. Agora, com a raiva havia o constrangimento. – Você se sente envergonhada com relação ao seu corpo? – Era o tipo de pergunta que Giancarlo jamais fizera a uma mulher. Nunca gostara muito de conversas profundas. Sempre preferira manter as coisas mais leves e, ainda assim, percebeu que estava bastante curioso em relação à gata arisca que alegava não sê-lo. A não ser quando estava em sua presença. Caroline desviou o olhar e adiantou-se até a porta, mas tremia da cabeça aos pés. Parou na soleira do quarto que, de repente, pareceu confiná-la como uma cela com a presença dominadora dele. – E quando pretende contar tudo a Alberto? – Imagino que provavelmente será ele a tocar no assunto – disse Giancarlo ainda olhando-a, quase lamentando que a conversa tenha voltado a ficar de igual para igual. – Você parece ter muita fé na natureza humana. Acredite em mim. É inútil. – Não quero que você o aborreça. O médico disse que ele tem de ficar o mais livre de estresse possível a fim de se recuperar por completo. – Está certo. Eis o que proponho. Não vou iniciar a conversa com uma pergunta casual sobre o estado da empresa fracassada dele. – Você não se importa com ninguém a não ser você mesmo, não é? – A voz de Caroline conteve autêntico espanto. – Você tem uma propensão especial para me dizer todas as coisas erradas.
– O que quer dizer é que falo coisas que você não deseja ouvir. – Ela saiu depressa para o corredor enquanto Giancarlo caminhava na sua direção. Começava a entender que ficar próxima demais dele fisicamente era como estar perto de um campo elétrico. – Devemos descer. Alberto vai ficar se perguntando aonde fomos. Ele se cansa facilmente agora e, assim, vamos jantar cedo. – Quem cozinha? As mesmas duas garotas que vêm cuidar da limpeza? Ele caminhava ao lado dela, mas embora a conversa tivesse passado a girar em torno de um assunto mais neutro, estava ciente de que Caroline ainda segurava o cardigã com força em torno de si. Sua primeira impressão fora de uma jovem bastante pacata. Agora, começava a revisar aquela impressão inicial. Sob a personalidade direta, parecia haver uma mulher de temperamento forte que não se deixava intimidar facilmente. Ela o enfrentava como quase ninguém o fazia. – Às vezes, sim. Agora que Alberto está numa dieta restrita, Tessa prepara suas refeições, e eu cozinho para mim e Tessa. É uma luta diária fazer com que Alberto ingira comida insossa. Gosta de dizer que não vale a pena viver sem sal. Giancarlo notou o sorriso na voz dela. Apesar de todos os pecados, o pai encontrara uma companhia bastante dedicada. Pela primeira vez, perguntou-se como teria sido ter Alberto como pai. Era evidente que o homem amolecera com o tempo. Ambos teriam tido aquela ligação? Quanto ele sofrera por causa da guerra constante com a esposa? Irritado consigo mesmo por ser arrastado de volta até um passado que não podia mudar, Giancarlo concentrou-se em manter a conversa com uma série de perguntas neutras enquanto voltavam pela escadaria e Caroline o conduzia até a menor das salas de estar nos fundos da casa. Mesmo com a maioria dos ambientes parecendo fechada, ainda havia muito espaço a percorrer. Ele se perguntou qual seria o atrativo para uma jovem. Uma casa maravilhosa numa propriedade esplêndida com vistas magníficas, mas tirando-se essas coisas da equação, com certeza o tédio se instalaria gradualmente, não era? Fora o que acontecera com sua mãe? Ficara entediada ao se ver cercada por toda aquela riqueza e ostentação, presa como um pássaro numa gaiola dourada? Alberto a conhecera em uma de suas muitas conferências. Ela havia sido uma garçonete bonita, radiante, no único restaurante sofisticado numa pequena cidade na costa Amalfi aonde ele fora descansar alguns dias antes do restante de sua viagem de negócios. Ela fora tirada da obscuridade e lançada na riqueza, mas nada, repetira ao filho ao longo dos anos que se seguiram ao divórcio, pudera compensar o horror de viver com um homem que não a tratara melhor do que a uma criada. Ela se empenhara ao máximo para que se entendessem, mas seus esforços tinham sido em vão. Alberto, dissera com amargura, se revelara um homem difícil, inflexível e sem compaixão que, muitos anos mais velho, coibira suas tentativas de se divertir. Giancarlo fora condicionado a odiar o homem que sua mãe considerara responsável por todas as suas tribulações. Agora, porém, era tomado por uma inquietante dúvida enquanto ouvia Caroline conversar sobre seu pai. Era possível que o homem fosse tão desagradável levando-se em conta que ela era tão apegada a ele? Era possível que alguém mudasse tanto assim? Antes de chegarem à sala, Caroline parou para lhe tocar o braço. – Promete que não vai aborrecê-lo? – Não sou muito bom em fazer promessas. – Por que você é tão arredio?
– Falei que não vou iniciar uma conversa com ele sobre suas finanças e não o farei. Para além disso, não posso prometer nada. – Apenas tente conhecê-lo – suplicou Caroline, ainda tocando-lhe o braço. – Não acredito que você conheça o verdadeiro Alberto. Giancarlo apertou os lábios e seus olhos ficaram tão frios e gélidos quanto o lago no inverno. – Não tenha a pretensão de me dizer o que eu sei ou não – disse áspero, e Caroline retirou a mão depressa, como se tivesse sido queimada de repente. – Vim até aqui com um propósito e, quer você goste ou não, vou garantir que as coisas sejam concluídas antes de eu ir embora. – E quanto tempo pretende ficar? Você quase não trouxe bagagem, não é? – Coloque as coisas deste modo. Não vai precisar comprar comida por minha causa. Não pretendo ficar mais de dois dias. Três no máximo. Caroline ficou ainda mais desapontada. Aquela era uma visita de negócios, não importando quanto desejasse que tivesse um cunho mais pessoal. Dois dias? Apenas o bastante para Giancarlo cobrar os erros do passado de Alberto, quaisquer que tenham sido, com juros. Acreditava que ele nem sequer estava preparado para conhecer o pai melhor. A única coisa que o interessava, sua única motivação para ter ido até a villa, era aplicar sua versão de vingança, quer quisesse chamá-la assim ou não. – Agora, tem mais alguma pergunta? Caroline sacudiu a cabeça tristemente, não confiando em si mesma para falar. Mais uma vez, Giancarlo sentiu uma ponta de indesejável dúvida. – Fico surpreso com o seu grau de apego a Alberto – comentou bruscamente, aborrecido consigo mesmo. – Por quê? Eu não tinha um amontoado de preconceitos quando vim para cá. Cheguei com a mente aberta. Encontrei um homem idoso solitário com um coração bondoso e uma natureza generosa. Sim, ele pode ser ranzinza às vezes, mas é o que há por dentro que conta. Ao menos, é como as coisas funcionam para mim. Ele não deveria ter se deixado distrair a ponto de encorajá-la a dar sua opinião. Deveria ter sabido que qualquer resposta jovial que ela desse mexeria com seus nervos. Sentiu-se bastante tentado a informá-la que era a pessoa menos preconceituosa do mundo, que se nessa única ocasião estava tendo uma inclinação natural para uma ou duas ideias preconcebidas sobre Alberto, não era o culpado. Tratou de ignorar a exasperante vontade de se justificar. – Bem, fico contente que ele tenha você por perto – falou num tom neutro. Caroline irritou-se porque percebeu que ele estava falando da boca para fora. – Não é verdade. Você está tão furioso com ele que provavelmente teria preferido que ainda estivesse sozinho nesta casa imensa sem ninguém com quem conversar. E se houvesse alguém que não fosse eu, porque você não gosta de mim! – O que a faz pensar isso? Caroline preferiu não responder para não se submeter a comentários que a desconcertariam ainda mais. – Bem, também não gosto de você – declarou com veemência. – E espero que os seus planos para arruinar a vida de Alberto não deem certo. – Virou-se abruptamente para não deixá-lo ver as lágrimas que marejavam seus olhos. – Ele está à sua espera. Por que não entra lá agora e acaba logo com isso?
CAPÍTULO 4
GIANCARLO ENTROU numa sala que lhe era familiar. A menor das salas de estar nos fundos da casa sempre fora a menos ornamentada e, portanto, a mais aconchegante. Do nada surgiu a lembrança de ter feito dever de casa ali, sempre resistindo à vontade de escapulir lá para fora, de ir até o lago. Portas-janelas conduziam ao amplo jardim que descia até o lago através de uma série de escadas largas, ladeadas com flores e plantas. Alberto estava sentado numa poltrona junto a uma das janelas panorâmicas com uma manta xadrez dobrada sobre o colo, embora fizesse calor. – Então, meu rapaz, você veio. Giancarlo olhou para o pai com uma expressão velada. Perguntou-se se a memória estava lhe pregando uma peça porque Alberto parecia menor. Deu-se conta, então, de que se ativera a uma lembrança de quase duas décadas antes. – Pai... – Caroline, você está boquiaberta. Por que não oferece um drinque ao nosso convidado? E eu vou aproveitar para tomar um whisky. – Não vai tomar nada disso. – De volta a um terreno familiar, Caroline foi colocar-se ao lado do patrão numa atitude protetora, ignorando-lhe as frágeis tentativas de afastá-la. Observando a interação de ambos, Giancarlo percebeu que era um jogo com o qual estavam à vontade e familiarizados. Por alguns segundos, sentiu-se um observador externo, mas a sensação peculiar se dissipou e a situação mudou. Caroline adiantou-se até um armário que fora reformado para abrigar uma pequena geladeira, vários petiscos e caixas de suco. – É claro que tudo aqui é supervisionado – prosseguiu ela em meio à tensão que pairava na sala. – Nada de whisky por aqui. Tessa e eu sabemos que esse é o calcanhar de Aquiles de Alberto e, portanto, temos vinho. Coloquei uma garrafa hoje cedo na geladeira. Ok? – Manteve os olhos longe da cena desconfortável de pai e filho. Se tivesse a chance, teria se refugiado em outra parte da casa, mas seu instinto de proteger Alberto mantinha-a firmemente no lugar. Quando finalmente se virou com taças de vinho e petiscos numa bandeja foi para descobrir que Giancarlo se sentara numa das poltronas. Se estava pouco à vontade, não demonstrava. – Bem, pai, me disseram que sofreu um ataque cardíaco... – Como foi o trajeto até aqui, Giancarlo? Ainda há carros demais nos vilarejos?
Os dois começaram a falar ao mesmo tempo. Caroline bebeu boa parte de seu vinho depressa demais para acalmar os nervos e mergulhou num silêncio desconfortável enquanto perguntas extremamente educadas eram feitas e respostas igualmente educadas eram dadas. Perguntou-se se os dois se davam conta de que muitos de seus maneirismos eram idênticos. Ambos se mexiam na poltrona e se inclinavam para a frente quando um comentário era feito. Seguravam as taças da mesma maneira, contornando a beirada de leve com a ponta dos dedos. Deviam ter estreitado laços sem sombra de dúvida. Em vez disso, a conversa fria, cortês de Giancarlo era o equivalente a uma porta se fechando. Ele estava ali. Estava falando; mas não conversando. Ao menos mantivera a palavra e não mencionara nada sobre o estado das finanças de Alberto. Caroline, por sua vez, imaginava que o patrão devia estar curioso para saber por que o filho aceitara fazer a viagem até o Lago de Como. O jantar foi uma sopa seguida de peixe assado. Além das duas garotas que cuidavam da casa, mais uma fora chamada para cozinhar e limpar. Desse modo, em vez de comerem na cozinha, se reuniram para fazer a refeição na sala de jantar formal, o que foi um erro. A mesa comprida e a decoração austera não foram propícias a uma conversa descontraída. Tessa se oferecera para jantar na sala íntima ao lado de seu quarto a fim de lhes dar espaço para conversar sem ficar cobrindo Alberto de cuidados com a dieta. Caroline desejou ter podido se reunir a ela, pois o clima estava carregado de tensão. Vários assuntos triviais haviam sido iniciados e rapidamente abandonados. Alberto também perguntou a Giancarlo sobre seu trabalho, mas recebeu respostas tão breves que foi mais um assunto rapidamente encerrado. Quando o prato principal foi servido, Caroline já tivera o bastante da conversa forçada. Se os dois não queriam conversar sobre nada significativo juntos, ela preencheria as lacunas. Falou sobre a infância em Devon, onde crescera. Os pais eram professores que cultivavam os próprios vegetais numa pequena horta. Ela riu das lembranças das galinhas que haviam mantido e que botavam tantos ovos às vezes que a mãe assara mais bolos que uma família de três pessoas poderia ter consumido. Costumara doá-los à igreja todos os domingos e, num ano, ganhara um prêmio especial por seus esforços. Alberto riu, mas não estava relaxado. Movia os olhos com nervosismo e tinha os lábios caídos. O filho que quisera ver desesperadamente não queria vê-lo e nem sequer estava se dando ao trabalho de esconder o fato. Ela sentia Giancarlo olhando-a o tempo todo e descobriu que não conseguia olhá-lo de volta. O que havia nele que a deixava com a pele arrepiada e pouco à vontade? O timbre aveludado e possante de sua voz reverberava no íntimo dela e, quando se virava para olhá-la, deixava-a ciente do próprio corpo em tantos detalhes que a fazia queimar. Quando se reuniram para tomar café na pequena sala de estar, Caroline sentia-se exausta e via que Alberto estava abatido. Giancarlo, por outro lado, era a mesma imagem de compostura do início da noite. – Quanto tempo planeja ficar, meu rapaz? Deveria ir até o lago. O tempo está ótimo. E você sempre gostou de velejar. É claro que não temos mais o barco. De que adiantaria? Depois, bem, depois… – Depois do que, pai? – Acho que já é hora de ir se deitar, Alberto – interveio Caroline aflita enquanto a conversa finalmente ameaçava explodir. – Está cansado e sabe que o médico disse que você precisa ir com calma. Vou chamar Tessa e...
– Depois que você e sua mãe foram embora. – Ah, então finalmente você decidiu admitir que já teve uma esposa. Seria de se pensar que você a apagou de sua memória completamente. – Nenhuma menção fora feita a Adriana. Nem uma simples palavra. Não haviam falado do passado, como se nunca tivesse existido. Alberto mantivera um ótimo comportamento. Agora, Giancarlo esperava ver seu verdadeiro pai, o homem frio, impiedoso, que nunca deixara de enveredar por discussões. – Eu não fiz isso, meu filho – disse Alberto num tom manso, surpreendendo-o. – É hora de ir para a cama, Alberto. – Caroline levantou-se e olhou significativamente para Giancarlo. – Não vou permitir que você canse mais o seu pai. Ele tem estado bastante doente, e esta conversa não vai ajudar em nada. – Oh, pare de se preocupar tanto, Caroline – protestou Alberto, mas àquela altura, enxugava a testa cansadamente com seu lenço. – Você... – Ela apontou o dedo para Giancarlo – vai esperar aqui mesmo por mim enquanto vou buscar Tessa porque pretendo ter uma conversinha com você. – O rapaz quer falar sobre o passado dele, Caroline. É por isso que veio. Ela soltou um leve grunhido desdenhoso sem tirar os olhos do rosto bonito de Giancarlo. Se ao menos Alberto soubesse da verdade! Virando-se, olhou para o patrão. – Vou buscar Tessa, e amanhã você manterá a sua rotina. Seu filho vai ficar aqui alguns dias. Haverá tempo o bastante para conversarem sobre o passado. – Alguns dias? – disseram os dois homens em uníssono. Giancarlo soou perplexo e zangado, ao passo que Alberto se mostrou esperançoso. Caroline confirmou com um gesto de cabeça na direção de Giancarlo. – Talvez até uma semana – acrescentou. – Acredito que foi o que me disse, certo? – Perguntou-se de onde estava vindo aquela determinação. Sempre evitava confrontos! – Assim, amanhã – continuou, dirigindo-se aos dois homens – não haverá necessidade de que você se preocupe entretendo o seu filho, Alberto. Ele vai velejar no lago. – Eu vou velejar no lago? – Correto. Comigo. Aquilo era para o caso de Giancarlo decidir argumentar contra as regras que ela estava estipulando com uma prece silenciosa para que ele não se lançasse numa discussão acalorada que arrasaria Alberto, especialmente depois da noite tensa que haviam acabado de passar. – Pensei que não soubesse velejar, Caroline – comentou Alberto enquanto ela se levantava e erguia a cabeça com altivez. – Não sei, mas tenho contado os dias para ter uma oportunidade de começar a aprender. – Você me falou que tem um medo mórbido de águas abertas. – É algo que me disseram que só posso superar enfrentando. É um fato bem conhecido que... hã... você tem que enfrentar os seus medos para superá-los. Caroline deixou a sala antes que Alberto pudesse questioná-la mais e rumou na direção do quarto de Tessa. Imaginando a conversa desconfortável entre os dois homens na sua ausência, não demorou a voltar. Foi para descobrir que Giancarlo havia desaparecido. – O rapaz tem trabalho a fazer – explicou Alberto. – A esta hora?
– Lembro que, quando era jovem, eu costumava trabalhar em vários horários. O rapaz é persistente como eu nisso, o que talvez não seja algo bom. O trabalho árduo é ótimo, mas o importante é saber quando parar. Ele é um garoto bem apanhado, você não acha? – Presumo que deva haver quem goste desse tipo de aparência – falou Caroline, dando de ombros. Com alívio, ouviu Tessa se aproximar. Alberto não traçava limites em se tratando de fazer quaisquer perguntas difíceis que tivesse em mente. A última coisa que ela queria era responder a um questionário sobre o que achava do filho dele. – É muito inteligente também. Ela se perguntou como Alberto podia ser generoso em seus elogios em relação a alguém que não fizera esforços para ser recíproco. – Ele falou que vai esperar você junto ao carro amanhã às 9h – disse-lhe Alberto, ao mesmo tempo em que tentava convencer Tessa, que entrara na sala rapidamente, de que não precisava ser tratado como criança. – Acho que ele vai gostar de velejar. Vai ficar mais relaxado. Parece tenso. É claro que entendo isso perfeitamente, levando-se em conta as circunstâncias. Então, não se preocupe comigo, minha querida. Lembre que vou me levantar bem-disposto e que a minha guardiã aqui poderá me levar para a minha costumeira caminhada. Tessa piscou para Caroline e sorriu amplamente atrás de Alberto, enquanto o ajudava a levantar. Tendo ordenado a Giancarlo que a esperasse para uma conversa, Caroline se deu conta de que era a última coisa que queria no momento. A falsa coragem se dissipara. A perspectiva de uma manhã na companhia dele também não pareceu nada animadora. Giancarlo a ouviria? Não revelara a Alberto a verdadeira razão para a visita do filho, mas o faria no dia seguinte; ela sabia disso. Assim como declararia que sua visita não duraria mais que quarenta e oito horas, apesar do anúncio otimista dela a Alberto. Não haveria meio de persuadir Giancarlo a fazer algo que não quisesse e as horas anteriores haviam mostrado que, de fato, não estava disposto a reatar laços. CAROLINE TEVE uma noite agitada. A villa era bonita, mas nenhuma modernização acontecera em um longo tempo. Como ar-condicionado. O ar estava parado e abafado. Ela mal se sentia descansada quando despertou na manhã seguinte. Levou alguns segundos para lembrar que sua rotina estava fora de sincronia. Não tomaria um café da manhã tranquilo com Alberto antes de levá-lo para uma caminhada, nem separaria seus livros de primeira edição depois do almoço. Além de ajudá-lo nas memórias, outro de seus serviços era organizar-lhe os livros para que ele pudesse decidir quais seriam doados ao museu local e quais seriam mantidos. Alberto tinha todos os tipos de informações históricas sobre o distrito, sendo que boa parte estava contida nos vários diários e cartas de seus ancestrais. Era uma tarefa laboriosa, mas agradável que ela deixaria de fazer para velejar com Giancarlo. Vestiu-se depressa: uma calça, uma camiseta listrada e, evidentemente, seu cardigã; um azul daquela vez. Depois de calçar sapatos baixos, prendeu rapidamente o cabelo numa trança prática. Não houve tempo para o café da manhã, e ela desceu diretamente até o pátio, saindo para um dia ensolarado. Giancarlo estava parado ao lado de seu carro, usando óculos escuros e falando ao celular. Por alguns instantes, ela o encarou com o coração disparado. Ele podia ter
cortado todos os laços com seu passado aristocrático, mas não podia apagar a nobreza dos contornos de seu rosto. Notando-lhe a presença, ele desligou o celular e recostou-se no carro enquanto ela se aproximava. – Bem – falou, observando-a. – Ao que parece, estou aqui em férias de uma semana. – Retirou os óculos escuros para segurá-los distraidamente entre os dedos. Continuou a olhá-la até que ela se sentiu corando até a raiz do cabelo. – Sim, bem... – Talvez possa me dizer como a minha semana foi planejada. Isto é, levando em conta que foi você que a planejou. – Você poderia conversar um pouco de maneira educada antes de começar a me atacar. – Eu estava fazendo isso? – Giancarlo virou-se e abriu-lhe a porta do carro, fechando-a com força quando ela se sentou no banco do passageiro. – Me lembro muito bem de ter lhe dito que o máximo que eu ficaria seriam dois dias. Diga como achou conveniente prolongar isso para uma semana. Ele se inclinara, apoiando-se no carro com ambas as mãos para poder se dirigir a ela através da janela. Estava tão próximo que Caroline teve de respirar fundo algumas vezes para tentar se aquietar. – Sim, eu sei disso – respondeu desafiadora quando ele não deu sinais de recuar. – Mas você me deixou furiosa. – Eu deixei você furiosa? Caroline meneou a cabeça em silêncio e olhou para a frente, ciente dos olhos perscrutadores dele em seu perfil. Engoliu em seco quando Giancarlo contornou a frente do carro para ir se sentar ao volante. – E como acha que me senti quando você me encurralou? – Bem, você mereceu! – Sabe, não consigo acreditar em você. – Ele deixou o pátio zangadamente, com os pneus atirando cascalho para todos os lados, e ela cerrou os punhos com força. – Não vim aqui para relaxar! – Eu sei! Não acha que deixou isso bastante óbvio ontem à noite? – Dei minha palavra que não tocaria no assunto delicado de dinheiro no primeiro dia. E a cumpri. – Mas você não fez nenhum esforço para se entender com Alberto. Ficou apenas sentado lá, irônico. E, está certo, talvez eu tenha errado em dar a entender que você ficaria um pouquinho mais do que pretendia. – Um pouquinho?! – Mas quando você mencionou a sua mãe, bem, eu apenas quis impedir uma discussão. Sendo assim, é possível que eu tenha dito a primeira coisa que me ocorreu. Ouça, eu lamento. Acho que pode dizer a Alberto que eu me enganei, que errei nas datas. Sei que tem uma porção de coisas importantes a fazer e que provavelmente não pode se ausentar por uma semana do trabalho, qualquer que seja a razão, mas achei que eu não tinha escolha. Eu precisava afastar um pouco a tensão da noite, dar algum alento a Alberto. – Que pena que não pôde usar seu cérebro e refletir sobre as coisas antes de agir! Acho que a “conversinha” que você tinha em mente ontem à noite já pode ser encerrada, certo?
– Foi uma noite constrangedora. Alberto se esforçou para tentar manter a conversa em andamento. Sabe que, depois que você desapareceu para trabalhar, ele pareceu entender? Foi quase como se ele não estivesse preparado para ver nada errado na vinda de seu filho para vê-lo pela primeira vez em anos, em sua falta de empenho para realmente conversar e em ter se retirado para trabalhar. Giancarlo franziu o cenho. A noite não transcorrera como imaginara e, agora, não tinha mais certeza do que imaginara. Apenas sabia que o homem pouco razoável, aquele que fora controlador em sua cabeça graças à contínua amargura de Adriana, aquele que teria conseguido tratar facilmente com o menosprezo, pois achara que ele merecia, não correspondera às suas expectativas. Para começar, estava claro que Alberto tinha a saúde tão debilitada quanto Caroline dissera. E, em vez de uma conversa contendo a maledicência e a amargura sobre as quais a mãe comentara ao longo dos anos, não houvera menção a um passado pesaroso e a um casamento deplorável. Alberto se mostrara tão diferente da imagem em sua cabeça que Giancarlo passara o tempo em que deveria ter trabalhado tentando entender as discrepâncias. Naturalmente, a questão do dinheiro, a raison d’être para sua presença na villa viria à tona a seu devido tempo. Podia ter ficado perplexo com o homem que encontrara, mas, cedo ou tarde, os inevitáveis pedidos surgiriam. Entretanto, nem mesmo essa certeza poderia aquietar a dúvida que começara a dominá-lo depois que deixara a sala de estar. – Talvez – disse, olhando ao redor do cenário que parecia mais familiar a cada segundo – alguns dias longe de Milão não sejam uma ideia tão ruim. – No momento em que falou aquilo, soube que tomara a decisão certa. – Como disse? – Eu não chamaria isto de férias, mas, com certeza, dá para se descansar mais aqui do que em Milão. – Ele lançou um olhar a Caroline. Através da janela aberta, o vento soltava-lhe os fios de cabelo da trança. – Acho que você não gosta de férias. Mesmo que a intenção dele ainda fosse a de adquirir a casa e a empresa do pai, alguns dias na companhia de Alberto poderiam torná-lo menos rigoroso em seu julgamento e prover-lhe tato o bastante para que Alberto não fosse humilhado. – Tempo é dinheiro. – Há mais na vida do que dinheiro. – Concordo. Infelizmente, em geral, é preciso dinheiro para se desfrutar essas coisas. – Por que você decidiu ficar? Agora a pouco estava furioso por eu tê-lo colocado numa posição difícil. – Mas foi o que você fez, e eu sou um homem ponderado que se adapta às situações. Então, vou ficar aqui um pouco mais. Só poderá ser a meu favor elaborar o tipo de proposta de negócios que meu pai entenda. Confesso que Alberto não é o homem que eu esperava. Inicialmente, achei que aquela conversa sobre a doença dele fosse exagerada. Giancarlo a olhou no banco do passageiro. Previsivelmente, a expressão dela era zangada. – Agora, vejo por mim mesmo que ele não está bem de saúde, o que, sem dúvida, explicaria seu jeito dócil atual. Não sou um monstro. Eu havia planejado confrontá-lo em relação ao
problema financeiro sem me dar ao trabalho do tedioso processo de ficar pisando em ovos. Agora, aceito o fato de que tenho de ir com calma para chegar à conclusão que quero. O cenário passando por Giancarlo, a sensação de espaço aberto e luz translúcida eram de tirar o fôlego. Ele estava ao volante de um carro, dirigindo por espaços amplos com uma vista de água azul cintilante à frente. Pela primeira vez em anos, sentia a cabeça leve enquanto era tomado por uma absoluta sensação de liberdade. – Além do mais – observou tranquilo –, há um longo tempo que não venho a esta parte do mundo. Estava seguindo as placas até um dos muitos ancoradouros em torno do lago e deixou a estrada principal, rumando na direção da água reluzente. Caroline esqueceu todas as preocupações em relação à missão de Giancarlo. – Acho que não posso levar isto adiante – resmungou quando o carro parou. Giancarlo desligou o motor e virou-se para olhá-la. – Este passeio para velejar não foi ideia sua? – Era para você velejar. Havia turistas ao redor, e os veleiros deslizavam tranquilamente pela água calma. A qualquer momento, um poderia afundar, e como ficariam aqueles turistas a bordo? Caroline empalideceu e umedeceu os lábios com nervosismo. – Você está pálida feito cera. – Sim, eu... – Tem mesmo medo de água? – De água aberta. Qualquer coisa pode acontecer. Especialmente em algo tão frágil quanto um veleiro. – Qualquer coisa pode acontecer com qualquer um em qualquer lugar. O percurso de carro até aqui provavelmente foi mais arriscado do que velejar pelo lago. – Giancarlo desceu do carro e o contornou pela frente para ir abrir a porta do passageiro para ela. – Você estava certa quando disse que só se pode vencer um medo irracional confrontando-o. Ele lhe estendeu a mão e, com o coração acelerado, Caroline aceitou-a. Os dedos quentes em torno dos seus deram-lhe uma sensação reconfortante. – Como sabe? – perguntou trêmula enquanto deixava o carro e olhava apenas de relance para o lago. – Aposto que nunca teve medo de nada na sua vida. – Vou aceitar isso como um elogio. – Ele manteve as mãos de ambos entrelaçadas enquanto a conduzia ao ancoradouro. Ora, nunca imaginara que viveria para ver o dia em que não haveria pensamentos sobre trabalho, acordos a serem fechados e reuniões com advogados povoando sua mente. As finanças incertas da sua mãe, de cujos detalhes nunca fora poupado, mesmo quando fora novo demais para entendê-los completamente, tinham formado um homem para quem a aquisição de dinheiro era primordial. Agora, mal reconhecia a sensação juvenil em seu íntimo enquanto Caroline segurava sua mão com mais e mais força na medida em que se aproximavam do ancoradouro. – Ei, confie em mim – disse-lhe. – Vai valer a pena. Não há nada como a liberdade em se estar no lago e não é como estar no mar. A beirada do lago é sempre visível. Você sempre poderá se orientar pelo horizonte. – Qual é a profundidade do lago?
– Não pense nisso. Diga-me por que tem tanto medo. Caroline hesitou. Reprovava tudo em relação àquele homem e, ainda assim, a oferta para que lhe confidenciasse o que sentia no tocante ao seu medo foi irresistível. E as mãos dos dois ainda estavam entrelaçadas. Subitamente consciente disso, tentou libertar a sua, o que só o encorajou a segurá-la com mais força. – E então? – Eu caí num rio quando era criança. – Suspirando, ela o olhou com ar constrangido. – Eu devia ter uns 7 anos. Ainda estava aprendendo a nadar. Éramos quatro crianças e estávamos nas férias de verão. Nossos pais haviam organizado um piquenique no bosque. O rio em que caí tinha apenas um metro de profundidade, mas foi aterrador. Os adultos se aproximaram em questão de segundos e nada de mal aconteceu, mas desde então eu odeio água aberta. – E, quando eu tinha 14 anos, tentei aprender a andar a cavalo e caí na primeira aula. Desde então, tenho um medo irracional de cavalos. – Não, não tem. – Mas Caroline sorriu para ele. – Tem razão. Não tenho. Mas é uma possibilidade. Na verdade, nunca estive perto de um cavalo na minha vida. Sei esquiar muito bem, por exemplo, mas acho que um cavalo me faria gritar de terror. Caroline riu. Começava a relaxar, mal notando que o veleiro estava sendo alugado porque Giancarlo continuou a lhe falar na voz tranquilizadora de alguém que quisesse acalmar um animalzinho assustado, descrevendo situações tolas que a fizeram rir. Giancarlo não se empenhava tanto para entreter uma mulher havia um bom tempo. Ainda assim, ali estava, ajudando uma mulher, cujo cabelo castanho mal parecia querer parar na trança, a subir num veleiro. E apreciando o fato de que conseguira distraí-la do medo de água fazendo-a rir. Obedecendo a uma necessidade instintiva de racionalizar suas atitudes, ele justificou facilmente seu comportamento atípico presumindo que aquela era simplesmente sua maneira criativa de lidar com uma situação. Ainda faria o que fora até ali para fazer e, de qualquer modo, seria uma mudança relaxante interagir com uma mulher em que não tinha nenhum interesse sexual. Gostava de loiras altas e magras, que usavam roupas sofisticadas de grife. Caroline já havia subido no veleiro antes de se dar conta do que havia acontecido. Num minuto estava rindo, divertindo-se com os comentários tolos dele e, no minuto seguinte, a terra firme não estava mais sob seus pés e a oscilação do veleiro a fez lembrar de tudo que temia em relação à água. Ele sequer sabia manobrar aquela coisa? Giancarlo viu o rosto pálido dela, a maneira como olhou em pânico por sobre o ombro para a segurança da margem de onde iam se afastando. Agiu movido por puro impulso. Ele a beijou. Gentilmente, segurou-lhe a nuca abaixo da trança grossa e, com a outra mão, puxou-a para si. O gosto dos lábios grossos dela foi como néctar. Sentiu-lhe o corpo curvilíneo moldando-se ao seu, os seios macios comprimindo-se contra seu peito. Apanhara-a completamente de surpresa e não houve resistência enquanto o beijo se tornou mais intenso. Explorou-lhe intimamente a maciez e a doçura da boca, acariciando-a por inteiro com a língua. Puxa, queria muito mais! Sua excitação foi rápida, intensa, e seu notável autocontrole desapareceu tão depressa que ficou à mercê de seus sentidos pela primeira vez na vida. Queria despir-lhe a camiseta, tirar-lhe o sutiã, queria acariciar-lhe os seios fartos com seus lábios e mãos até parar de pensar por completo.
Caroline se viu em meio a algo tão intensamente poderoso que mal podia respirar. Nunca se sentira assim em sua vida. Sentia seu corpo derretendo, os mamilos endurecendo contra a roupa, o calor úmido se espalhando entre suas coxas... Seu corpo se comportava como nunca acontecera antes, o que a empolgava e assustava ao mesmo tempo. Quando, enfim, ele a soltou, se sentiu perdida. – Você me beijou – disse ofegante, ainda segurando-o pela camisa e estudando-o com grandes olhos perscrutadores. Queria saber por quê. Sabia por que ela havia correspondido! Apesar de sua reprovação de tudo que ele fizera e dissera, havia uma corrente eletrizante e irresistível de pura atração física. Ela fora apanhada por isso e nada do que já experimentara em sua vida a havia preparado para sua intensidade. O desejo era algo sobre o qual apenas lera. Agora sabia, em primeira mão, como podia ser poderoso. Ele estava sentindo a mesma coisa? Queria continuar beijando-a tanto quanto ela queria que o fizesse? Gradativamente, deu-se conta do que acontecia ao redor. Com uma mão, Giancarlo conduzia o pequeno veleiro habilmente pelo lago. Haviam se tornado um dos pequenos brinquedos que ela avistara do carro. – Você me beijou. Foi para me distrair do fato de que estávamos nos afastando da margem? Ora, como ele iria saber? Apenas sabia que se sentia como se tivesse sido nocauteado. Perdera por completo o autocontrole. Não era algo de que se orgulhasse, nem algo que compreendesse. Ordenando os pensamentos, ele recobrou o equilíbrio e deu dois passos atrás. Teve de desviar o olhar porque as faces coradas e os lábios entreabertos de Caroline continuavam a instigar a sua libido. – Deu certo, não foi? – Meneou a cabeça na direção da margem ainda sem confiar em si mesmo para olhá-la diretamente. – Você está na água agora e, encare os fatos, não está mais com medo.
CAPÍTULO 5
CAROLINE MANTEVE-SE
posicionada no centro do pequeno veleiro durante a hora seguinte. Certificou-se de não olhar para a água, que a fazia pensar imediatamente em cenas de afogamentos. Em vez disso, olhava para Giancarlo. Era fácil e agradável dedicar toda a atenção a ele. Podia não ter velejado por muito tempo, mas o que quer que tenha aprendido quando garoto não fora esquecido. – É como andar de bicicleta – explicou ele, conduzindo o veleiro numa manobra. – Uma vez que se aprende, jamais se esquece. Ela admirou-lhe as pernas bronzeadas e musculosas, salpicadas de pelos negros. Tendo levado pouca roupa na viagem, ele admitira que providenciara para que uma loja local abrisse cedo para atendê-lo. Às 8h, fora de carro até a cidadezinha mais próxima e comprara roupas esportivas, incluindo o shorts cáqui e a camisa folgada que usava. A camisa estava toda desabotoada, permitindo a visão do corpo bem-torneado dele. A cada vez que se movia, os músculos das pernas e do peito ondulavam, fazendo-a prender a respiração. Agora, explicava-lhe como conseguira adquirir experiência num barco. Sempre adorara água. Tivera sua primeira aula para aprender a velejar aos 5 anos e, quando tivera dez, já fora habilidoso o bastante para velejar sozinho, embora nunca houvesse tido permissão. Caroline meneou a cabeça e pensou naquele beijo. Havia sido beijada antes, mas nunca daquela maneira. Nenhum dos dois namorados que já tivera a fizera sentir-se como se o mundo estivesse rodopiando à sua volta, como se as normas do espaço e do tempo tivessem se alterado, lançando-os em outra dimensão. Perguntou-se como um rosto tão bonito podia lhe despertar tamanho anseio se nunca se sentira atraída por homens por causa de sua aparência. Perguntouse como se entregara com tanto abandono ao beijo, não querendo que terminasse nunca, quando mal gostava do homem que estivera beijando. – Alô? Chamando o Planeta Terra... – Hã? – Caroline piscou, dando-se conta de que o veleiro estava praticamente parado agora. O som da água batendo gentilmente nas laterais era hipnótico. – Se ficar nessa posição por muito mais tempo, suas juntas vão doer – informou-a Giancarlo secamente. – Levante-se. Ande um pouco pelo barco. – E se eu tropeçar aqui e cair na água?
– Eu salvarei você. Mas será mais fácil de resgatar se estiver usando um maiô. Está usando um maiô por baixo das roupas, não está? – É claro que sim! – Então, fique mais à vontade. – Para dar o exemplo, ele tirou a camisa, que estava molhada depois das manobras que realizara, e estendeu-a no chão do veleiro para secar. Caroline ficou ofegante e deu-se conta de seus sentidos em alerta. Os lábios pareceram inchados e os seios ficaram sensíveis. Quis lhe dizer para desviar o olhar, mas soube que teria sido infantilidade. Passou um sermão em si mesma. Quantas vezes usara aquele maiô? Centenas! No verão, ia com frequência à praia com as amigas. Nunca entrava na água, mas relaxara, se bronzeara e nunca se sentira embaraçada. Respirando fundo, despiu a roupa depressa e dobrou-a meticulosamente. Aceitou a toalha que Giancarlo colocara numa bolsa à prova de água e, então, levantou-se e deu passos hesitantes até a lateral do veleiro. Na verdade, sentia-se mais calma do que quando subira a bordo. Havia coisas demais na sua mente para se concentrar em seus medos. Observando-a, Giancarlo sentiu uma inesperada onda de puro desejo sexual. Caroline estava olhando para o mar, de perfil para ele, permitindo-lhe a visão do corpo mais voluptuoso em que já pousara os olhos, embora o maiô preto fosse antiquado e o mais recatado possível. Ela tinha o corpo perfeito de violão que deixaria os homens loucos. Com a brisa desmanchando-lhe a trança, ela, enfim, a soltara e o cabelo cacheado chegava-lhe quase até a cintura. Ele descobriu que a respiração estava acelerada e que sua ereção se evidenciava tanto contra o tecido do shorts que começou a se ocupar com a outra bolsa que levara. Tendo crescido à beira do lago, aprendera a se preparar para certas necessidades: toalhas, algo para beber e para comer e, evidentemente, filtro solar. Ele adquirira uma posição mais segura, sentado numa toalha, quando ela se virou para olhá-lo com a festa franzida. Sentiu-se tentado a lhe dizer que se cobrisse enquanto lhe admirava os seios exuberantes com olhos semicerrados, seios que nem mesmo o maiô comportado podia disfarçar. – Não cheguei a lhe perguntar – disse Caroline abruptamente. – Você é casado? Orgulhosa de si mesma por ter se adiantado até a beirada do veleiro, foi até onde Giancarlo estava sentado e estendeu a toalha ao lado da dele. – Eu pareço um homem casado? Caroline pensou no seu pai. – Não – admitiu enquanto se sentava. – E sei que você não usa aliança, mas muitos homens não usam joias de tipo algum. Meu pai, por exemplo. – Não sou casado. Não tenho a menor intenção de me casar. Ei, está me olhando como se eu tivesse anunciado o cancelamento do Natal. Choquei você? – Apenas não entendo como você pode ter tanta certeza de uma coisa assim. Giancarlo ficou em silêncio por tanto tempo que ela se perguntou se iria responder. Estava deitado na toalha com as mãos sob a cabeça, um Adônis sério em repouso. – Não falo sobre a minha vida particular. – Não estou lhe pedindo que desnude a sua alma. Estou apenas curiosa. Ela dobrou as pernas e abraçou-as. – Você é tão... retraído. – Eu, retraído? – Giancarlo olhou-a com incredulidade.
– É como se você tivesse medo de se soltar. – Medo? Retraído? – Não pretendo ser ofensiva. – Não sabia que eu tinha tanta capacidade para a paciência. Você costuma pensar antes de falar? – Eu não teria dito essas coisas se você tivesse respondido minha pergunta, mas não importa agora. Giancarlo deu um profundo suspiro e correu a mão pelo cabelo com frustração, enquanto Caroline se deitava com ar de teimosia, fechava os olhos e aproveitava o sol. – Vi, em primeira mão, como a instituição do casamento é pouco confiável – admitiu. – E não estou falando apenas do exemplo maravilhoso dado pelos meus pais. As estatísticas comprovam que apenas um idiota se deixaria levar por essas bobagens dos contos de fadas. Abrindo os olhos, Caroline apoiou-se no cotovelo e olhou-o com incredulidade. – Então, sou uma dessas idiotas. – Ora, por que não estou surpreso? – Que direito você tem de dizer isso? Giancarlo ergueu ambas as mãos num gesto de rendição. – Não quero entrar numa discussão com você. O dia está magnífico, e eu não velejo há um bom tempo. Na verdade, estes são os primeiros dias de folga não programados que tiro em anos. Não quero estragar tudo. – Aguardando alguns segundos, ele acabou erguendo as sobrancelhas com ar divertido. – Quer dizer que não vai discutir comigo? – Detesto discutir. – Poderia ter me enganado. Mas ele lhe sorriu preguiçosamente. Caroline se sentiu toda afogueada só em olhá-lo, embora não conseguisse desviar o olhar. Era impossível ali, com apenas o som da água suave e o riso distante das pessoas no veleiro mais próximo. De repente, sentiu-se como se estivessem a um milhão de quilômetros da civilização, envoltos em seu intenso momento particular. Agora, o que mais queria era ser beijada por ele outra vez e seu anseio era tamanho que se viu ofegante e com os lábios entreabertos. – Está certo, mas você tem de admitir que me dá muitos motivos para discutir. – Eu tenho de admitir isso? O divertimento e o tom de provocação na voz dele a fizeram corar ainda mais. De repente, pareceu muito importante que ela lembrasse a si mesma das várias razões que tinha para não gostar de Giancarlo. Detestava discutir e nunca fora muito boa nisso, mas, no momento, discutir parecia a solução mais segura para as sensações ardorosas que a dominavam. – E quanto a namoradas? – perguntou descuidada. – Quanto a namoradas? – Giancarlo não pôde acreditar que ela dava continuidade a uma conversa que ele já considerara encerrada. Ela se apoiara no cotovelo e estava deitada de lado, como uma espécie de obra-prima erótica de um dos mestres. O que possuía de mais tentador era o fato de não ter noção de quanto era atraente e sedutora. – Bem, quero dizer, há alguém especial na sua vida no momento? – Por que pergunta? – Eu... Eu apenas não quero falar sobre Alberto – disse Caroline, atendo-se àquela justificativa.
– E se meter onde não é chamada é a segunda melhor opção? – Ele deveria estar enfurecido com a maneira como ela ultrapassava os limites, mas não parecia estar. Deu de ombros. – Não. Não há ninguém especial na minha vida, como você diz, no momento. A última mulher que esteve em minha vida foi há dois meses. – E como ela era? – Cooperativa e nada exigente no começo. Isso logo foi mudando com o passar do tempo, até que encerrei o relacionamento. Acontece. – Acho que a maioria das mulheres quer mais do que um caso passageiro. A maioria gosta de imaginar que as coisas seguem algum rumo depois de algum tempo. – Eu sei. É um erro crítico. – Giancarlo nunca criara o hábito de perguntar sobre o passado das mulheres. O presente era tudo que o interessava. O passado ficara para trás. Quanto menos interesse demonstrado no futuro, melhor. Rompendo as restrições que impusera a si mesmo, perguntou com curiosidade. – E quanto a você? Agora que decidimos deixar nossas discussões por causa de Alberto de lado por algum tempo, você ainda não me contou como foi que alguém da sua idade se sentiu tentada a passar um período indefinido de tempo no meio do nada com apenas um velho como companhia. E esqueça toda essa tolice sobre gostar de caminhadas no jardim e de se enterrar em livros velhos. Você veio para a Itália porque estava fugindo de alguma coisa? – Fugindo do quê? – Caroline estava genuinamente perplexa. – Quem sabe? Talvez tenha cansado da vida no campo, talvez tenha se envolvido com alguém que não correspondeu às suas expectativas. Ou que a magoou. Foi isso? É por essa razão que escapou para a Itália? Que está contente em se esconder numa velha villa? Faz sentido. Filha única... muitas expectativas… pais dedicados. Você decidiu se rebelar? Encontrar o tipo errado de homem? – Isso é loucura. – Corando, ela desviou o olhar daqueles olhos penetrantes que a estudavam atentamente. – É mesmo? Por que estou tendo outra impressão aqui? – Eu não me envolvi com o tipo errado de homem – retrucou ela com nervosismo. – Não me sinto atraída por... Esta é uma conversa tola. – Está certo, talvez você tenha escapado de um caso tórrido e impensado com um homem casado, mas o que houve? Cansou-se das galinhas e ovelhas e dos bailes de sexta-feira no vilarejo? Caroline o olhou com ar ressentido e desviou os olhos depressa. Como ele conseguira inverter o rumo da conversa? – E então? – perguntou Giancarlo, intrigado. – Você não pode criar regras de acordo com a sua conveniência. Nesse caso, eu também poderia. – Oh, pelo amor de Deus! Talvez eu tenha ficado um pouco entediada, mas e daí? – Ela o fuzilou com o olhar porque se sentiu traindo os pais com aquela admissão e a culpa era dele. – A Itália pareceu uma ideia excelente – admitiu, olhando-o de soslaio, percebendo que ele não sorria com desdém como teria esperado. – Ir para Londres era caro demais. É necessário um emprego bem pago para se ir para lá e alugar alguma coisa. Quando meu pai deu a sugestão de que entraria em contato com Alberto, dizendo que aperfeiçoar meu italiano seria bom para o meu currículo, agarrei a chance. E, assim que cheguei, Alberto e eu nos entendemos perfeitamente.
– Por que, então, ficou com uma expressão culpada quando perguntei? – Acho que os meus pais sempre esperaram que eu ficasse no campo, que casasse com um dos rapazes de lá e morasse perto deles. – Disseram isso? – Não, mas... – Eles teriam desejado que você voasse do ninho. – Não, nós somos muito próximos. – Se tivessem desejado manter você amarrada a eles, jamais teriam sugerido uma mudança drástica como essa, para a Itália. Acredite, eles não são tolos. Essa teria sido a maneira gentil deles ajudarem você a encontrar seu próprio espaço. O que é uma pena, pois eu estava começando a gostar da ideia do namorado inadequado. Caroline ficou com a respiração em suspenso porque se deu conta de como estavam próximos. Deitada de lado, se sentiu ainda mais vulnerável ao olhar perscrutador dele. Ciente de cada gesto, sentou-se e cobriu as pernas com a toalha. – Eu... Eu não me sinto atraída por homens inadequados – balbuciou porque ele parecia estar à espera de uma resposta. – Defina inadequado... – Giancarlo pegou a bolsa térmica que levara com as demais coisas e tirou dali duas latas de suco gelado. Refém de uma conversa que fugia de controle, Caroline só pôde olhá-lo com ar confuso. Pressionou a lata gelada contra as faces afogueadas. – E então? – Quando Giancarlo inclinou a cabeça para trás para beber, ela descobriu que não podia tirar os olhos dele, dos movimentos da garganta, dos músculos do braço erguido. – Gosto de homens bondosos, sensíveis, com consideração – disse ofegante. – Parece entediante. – Não é entediante gostar de bons sujeitos, do tipo que não desaponta. – Nesse caso, onde estão esses sujeitos que não desapontam você? – Não estou num relacionamento no momento, se é o que você está perguntando – declarou Caroline com ar afetado, esperando não deixá-lo notar o tremor em sua voz. – Não. Bons sujeitos podem realmente desapontar, imagino eu. – Tenho certeza de que algumas das suas ex-namoradas não concordariam com isso! – O rubor cobria as faces dela e ambos se entreolhavam de uma maneira invasiva e excitante ao mesmo tempo. Pareciam mais perto um do outro. Haviam se aproximado sem perceber durante a discussão? – Nunca tive reclamações quanto a isso. Claro, algumas enfiaram equivocadamente na cabeça que podiam me persuadir a ficar ao lado delas a longo prazo. É evidente que ficaram desapontadas quando tive que esclarecer as coisas, mas reclamações? Na área do sexo? Não. Na verdade… – Não estou interessada – interrompeu-o Caroline com frieza. Giancarlo dirigiu-lhe um sorriso amplo permeado por um ar de incredulidade. – Acho que ainda não conheceu muitos desses bonitões italianos que andam por aí – disse ele, provocando-a e divertindo-se com isso como há muito tempo não acontecia. Percorreu-a com o olhar, detendo-o em seus seios fartos que se comprimiam contra o maiô. Cobrira as pernas com a toalha, mas não podia esconder o restante do que estava à mostra. E ele não conseguia parar de olhar com admiração.
– Não vim para cá para conhecer ninguém! Não era esse o objetivo. – Não, mas poderia ter sido uma experiência agradável. A menos, é claro, que você tenha deixado alguém para trás. Foi isso? Há alguém à sua espera na sua terra? Alguém que seus pais aprovam? Talvez um fazendeiro? Caroline se perguntou por que ele mencionou um “fazendeiro”. Era porque a considerava uma caipira, uma garota com bochechas rosadas e um apetite saudável? O tipo de garota que jamais teria beijado se não tivesse se sentido obrigado a fim de distraí-la e de não deixar que o embaraçasse com um ataque de pânico por causa da água? Ela se levantou e foi para a lateral do veleiro, onde segurou o gradil e olhou a vastidão do lago. A margem estava distante, mas não se sentiu assustada. De um momento para o outro, seu medo irracional de água parecia ter desaparecido. Não havia espaço o suficiente para aquela fobia tola quando Giancarlo mexia tanto com os seus sentidos. E, se por um lado a desconcertava, por outro sua presença a deixava tranquila. Dando-se conta de que ele se movera e se colocara atrás dela, Caroline se virou e apoiou as costas no gradil. – Aqui é tão bonito e tranquilo. – Olhou-o com firmeza e tentou se concentrar apenas no rosto dele em vez de lhe admirar o peito bronzeado e tão másculo. – Sentiu falta deste lugar? Sei que Milão é bastante movimentada e comercial, mas você cresceu aqui. Às vezes, não anseia pela tranquilidade de lugares abertos? – Acho que está me confundindo com um daqueles tipos sensíveis de que disse gostar. – Giancarlo segurou o gradil em ambos os lados dela, envolvendo-a numa espécie de abraço, mantendo-se muito próximo. – Não costumo enveredar pela nostalgia. Aliás, devo acrescentar, nem tenho muito com o que ser nostálgico. O sorriso que lhe dirigiu fez com que uma onda de calor a envolvesse. Ela estava descalça, e os dedos de seus pés se curvaram. Puxa, mal conseguia respirar. Ambos se entreolharam, e ela ficou eufórica diante da intensidade dos olhos negros dele. Mal podia se lembrar do que haviam conversado. Não se deu conta de que os olhos estavam quase se fechando e de que os lábios estavam entreabertos. Giancarlo ficou ciente de ambas as coisas. Com as narinas fremindo, percebeu que aquilo era exatamente o que queria. O corpo sexy e exuberante dela combinado com sua inocência havia provocado uma reação em cadeia nele que não fora capaz de controlar. – E quanto a um lugar afastado – A brisa soprou uma parte do cabelo de Caroline no rosto dele, e Giancarlo respirou fundo, apreciando a fragrância. –, tenho uma casa no litoral. – Do nada surgiu uma ideia tão estranha que mal a assimilou. Gostaria de levá-la lá. Nunca tivera tal inclinação em relação a nenhuma mulher antes. A casa era seu domínio, seu refúgio particular da rotina cansativa, sempre pronta para as raras ocasiões em que sentira necessidade de usá-la. – Você tem um cabelo incrível. – Afundou os dedos nas mechas cacheadas e sedosas. – Nunca deve cortá-lo. Caroline soube que ele iria beijá-la e diminuiu ainda mais a distância entre ambos com um suspiro de abandono. Nunca soubera que poderia querer tanto algo em sua vida. Erguendo a mão, tremeu quando seus dedos afundaram no cabelo macio dele. Dando um gemido abafado, Giancarlo inclinou a cabeça e tomou os lábios dela com um beijo faminto. Com a língua ávida, explorou-lhe a maciez e a doçura da boca numa voluptuosa exploração. Conforme o beijo se intensificou, abraçou-a pela cintura, puxando-a para si. Estavam
no meio do lago, mas ninguém podia vê-los. Os outros barcos estavam longe demais para que alguém testemunhasse a falta de controle dele. O contato dos seios de Caroline contra seu peito foi explosivo para sua libido e ele passou os polegares por dentro das alças do maiô dela. Baixou-as, libertando-lhe os seios generosos e perfeitos e, ao vê-los, teve de se esforçar para controlar o fogo que o percorreu. – Puxa, você é linda – disse rouco. Caroline jamais se considerara “linda”. Amistosa, sim. Razoavelmente atraente, talvez. Mas linda? No momento, porém, enquanto o fitava com um olhar febril, acreditou nele e foi tomada por uma onda de total despreocupação. Quis se entregar à aberta contemplação dele. Era excitante. Enquanto Giancarlo a admirava, os mamilos dela ficaram rijos e latejaram em resposta. A habilidade de pensar dela se dissipou e arqueou as costas e soltou um gemido quando ele lhe cobriu os seios com ambas as mãos, massageando-os, erguendo-os para inspecionar melhor os mamilos túmidos. Ela fechou os olhos sob o sol com ambas as mãos esticadas no gradil e, com o cabelo longo esvoaçando, era a visão mais erótica que ele tivera. Fechou os lábios sobre um dos mamilos provocantes como ansiara por fazer. Caroline segurou o cabelo dele, puxando-o mais para si. Esforçou-se para não escorregar até o chão do veleiro enquanto Giancarlo ministrava carícias em seus seios com os lábios e as mãos, sugando avidamente um mamilo e, depois, o outro. Sentia-se poderosa e submissa ao mesmo tempo enquanto ele a enlouquecia de prazer com sua boca: lambendo, sugando, mordiscando... Quando ele pousou a mão em sua coxa, Caroline quase desmaiou. O maiô foi baixado, e ele depositou beijos em cada centímetro de pele que foi gradualmente exposto. A brancura do estômago era um contraste com a cor dourada que adquirira ao longo dos meses de verão. Giancarlo se deu conta de que gostava daquilo. Era um corpo de verdade, um corpo de uma mulher cheia de vida, exuberante, diferente das estátuas bronzeadas a que estava acostumado. Erguendo-se, ele colocou a perna entre as coxas dela, movendo-a devagar e com insistência. Caroline sentia-se em outro mundo, experimentando sensações novas e maravilhosas. Só despertou de seu idílio quando ouviu o motor de um barco rompendo o silêncio balsâmico ao redor. Soltou uma exclamação chocada por causa da maneira como estava quase despida e sentiu-se mortificada com seu corpo rebelde que havia ignorado por completo o bom senso. Esforçando-se para se libertar, sentiu que o veleiro oscilava sob seus pés e procurou manter o equilíbrio. – Que diabo está fazendo? Vai acabar virando esta coisa. Fique quieta! Giancarlo tentou segurar-lhe os braços enquanto ela se movia freneticamente para erguer o maiô e cobrir a sua nudez. – Como pôde? Caroline tremia incontrolavelmente enquanto se adiantou com cautela até o centro do barco. Os olhos castanhos estavam arregalados com uma expressão de acusação, e Giancarlo, que nunca sofrera rejeição de mulher alguma, correu a mão com impaciência pelo cabelo. – Como pude o quê? – Você sabe o quê? Ele deu dois passos adiante e ficou indignado quando ela se encolheu. Será que o achava ameaçador?
– O que sei... – Falou com ar sério e firme, não a deixando nutrir ideias descabidas de que fora seduzida contra a vontade. – É que você quis isso. Não adianta ficar encolhida aí como uma donzela virtuosa cuja virgindade tenha sido maculada. Encare os fatos. Você praticamente se atirou para cima de mim. – Não fiz nada disso – sussurrou Caroline aborrecida, porque sabia que ele falava a verdade e não entendia a razão para sua própria atitude. Giancarlo sacudiu a cabeça com incredulidade, e ela desviou o olhar. Quando se arriscou a olhá-lo de novo, ele já preparava o veleiro para voltarem à margem. Estava bastante zangado. – Desculpe – disse, enfim, reunindo coragem. – Sei que fui parcialmente culpada... De cenho franzido, Giancarlo lançou-lhe um olhar. – Que bom da sua parte reconsiderar a acusação de que eu pretendia tirar proveito de você. – Sei que não foi o caso. Não quis dizer isso. Ouça... Eu não sei o que aconteceu. Nem sequer gosto de você. Eu reprovo tudo em você. – Tudo, Caroline? Não vamos analisar muito isso. Talvez você descubra que tem de se retratar. – Não apenas Giancarlo estava furioso com o inexplicável retraimento dela, quando ficara claro que ela estivera igualmente excitada, mas estava com mais raiva de si mesmo por não conseguir olhá-la com receio de que a libido o levasse outra vez a perder o controle. – Você me apanhou de surpresa. – Oh, estamos de volta à velha ladainha? Eu sou o sedutor impiedoso e você é a jovenzinha inocente. – É o calor – retrucou Caroline com crescente desespero. – E a situação. Nunca estive na água deste jeito. Tudo deve ter sido demais. É impossível que eu me sinta atraída por você. Nós não nos damos bem e eu não aprovo a razão para você ter decidido ver Alberto. Não me importo com dinheiro e nunca fiquei impressionada por pessoas que acham que ganhar dinheiro é a coisa mais importante do mundo. Além do mais, não me envolvo com homens que têm medo de compromisso. Não os respeito. Assim, eu... eu… – Apesar de tudo isso, você ainda não pôde resistir a mim. O que acha que esse fato quer dizer? – É o que estou tentando explicar. Não quer dizer nada! Giancarlo notou o horror na voz dela e não soube exatamente como lidar com a situação. Teria feito amor com Caroline ali mesmo no barco e não conseguia pensar em nenhuma outra mulher que não teria adorado a experiência. O fato de que Caroline tratava aquilo como algo que tinha de se desvencilhar o mais depressa possível era, sem dúvida, um insulto. – Acho que vai concordar que esse infeliz episódio é algo que devemos deixar para trás – declarou ela, já se sentindo sob controle outra vez. – Fazer de conta que nunca aconteceu. – Você se sente atraída por mim. – Não é verdade. Não ouviu uma palavra do que eu disse? Me deixei levar porque estou aqui, num barco. Não me sinto atraída por homens como você. Sei que deve achar isso é um insulto, mas estou falando sério. – Você se sente atraída por mim e quanto mais depressa encarar o fato, melhor. – E como chegou a essa conclusão, Giancarlo? Como? – Você passou a vida achando que o rapaz local que gosta do baile no celeiro aos sábados e cuja ambição é ter três filhos e comprar uma casa na rua vizinha a de seus pais é o seu homem ideal. Assim como tentou se enganar dizendo a si mesma que o que queria da vida era nunca
sair do campo. Estava errada em ambos os casos. A sua cabeça está lhe dizendo o que deveria querer, mas aqui estou eu, um homem de verdade, e você não consegue evitar. Não se preocupe. Surpreendentemente, é mútuo. Caroline empalideceu diante do resumo brutal de tudo que não queria enfrentar. Seu comportamento não fazia sentido. Não aprovava Giancarlo e, ainda assim, sucumbira mais depressa do que teria imaginado possível. Era desejo, pura e simplesmente, e ele queria extrair aquela confissão dela porque tinha um ego imenso e não gostava do fato de que o rejeitara. Achava que a estava elogiando ao dizer que surpreendentemente a achava atraente? Achava que era bom ser a novidade de alguém por cinco minutos, antes que ele voltasse a se envolver com o tipo de mulher de que gostava? O alerta ecoava tão alto em sua mente que seria tola em não ouvi-lo. – Está certo – falou após algum tempo, atropelando as palavras e mantendo o olhar fixo na margem de onde se aproximavam depressa. – Eu acho você atraente. Você está certo. Satisfeito? Mas estou contente que você tenha arrancado isso de mim porque é apenas atração física e isso não significa nada. Não para mim ao menos. Pronto. Já não é segredo, e agora podemos esquecer a respeito.
CAPÍTULO 6
PASSAVA DAS 17h quando finalmente voltaram à villa. O passeio no lago levara bem mais tempo do que ela pensara e, depois, apesar de sua conclusão dramática, Giancarlo insistira em parar numa trattoria para um almoço bastante tardio. Giancarlo passara a falar com ela naturalmente, como se nada tivesse acontecido entre ambos, o que a aborreceu. Apontara para vários locais interessantes, contara-lhe a respeito do Castelo Vezio, perguntando se já estivera lá, e parecera conhecer a história de muitas das grandiosas mansões e dos monumentos aos ricos e famosos. Caroline só queria ir para casa. Estava aturdida, confusa e tomada por um turbilhão interior. Enquanto ele falara, gesticulando de um jeito peculiarmente italiano, observara aquelas mãos e se sentira zonza ao pensar em onde haviam estado, em seu corpo seminu, tocando e acariciandoa de uma maneira que a fazia corar só em recordar. Olhando para os lábios sensuais dele, lembrou das sensações que haviam provocado em seus seios, sugando seus mamilos até fazê-la querer gritar de prazer. Como conseguiria rir e conversar como se nada daquilo tivesse acontecido? Ainda assim, não era exatamente o que ela queria, o que lhe dissera que fizesse? Fazer de conta que nada acontecera. Detestou a maneira como ele conseguiu penetrar seu silêncio tenso para fazê-la sorrir de algo que dissera. Obviamente, ela era a única que havia sido afetada pelo que acontecera no lago. – Obrigada por hoje – disse educadamente, abrindo a porta do carro logo que Giancarlo desligou o motor. – Por qual parte está me agradecendo? – Ele estudou-a com olhos brilhantes e ergueu as sobrancelhas de um jeito significativo que a fez corar até a raiz do cabelo. Caroline era o retrato da mulher que mal podia esperar para deixar sua companhia. Ele, por sua vez, não entendia de onde vinham suas reações a ela. Caroline se desdobrara para lhe dizer por que não podia se sentir atraída por um homem como ele, mentiras, naturalmente, como acabara ficando comprovado. Mas houvera um ponto válido. O que havia de comum entre ambos? Ela não era em nada parecida com o tipo de mulher que ele costumara sair. Faltava-lhe sofisticação, malícia, experiência. Mas, puxa, como o excitava! E o que estava acontecendo? Seu ego era tão inflado que não suportava a ideia de querer uma mulher e não obter gratificação instantânea? Não era de sua natureza ficar
refletindo tanto sobre algo, ser tão introspectivo e, portanto, afastou depressa esses pensamentos para um canto da mente. Procurou se concentrar na realidade da situação. Ali estava, arrastado de volta para o seu passado por circunstâncias que jamais teria previsto. Embora tivesse uma missão a completar, teria de conduzi-la com sutileza. Naquele meio tempo, embora fosse um prisioneiro relutante, via-se na companhia de uma mulher que parecia possuir o dom de fazê-lo perder momentaneamente o autocontrole. O que podia fazer a respeito? Como uma vontade que não podia ser ignorada, ele se viu na posição embaraçosa e inédita de querê-la além da razão e de estar disposto a quase qualquer coisa para tê-la. Era frustrante saber que ela também o queria, mas que estava relutante em seguir seus instintos. Ora, eram adultos, não eram? Vendo-se diante de uma pergunta direta, Caroline o encarou num silêncio constrangedor. – Não vi tanto aqui da região quanto eu gostaria – respondeu educadamente, desviando os olhos. – Tenho licença para dirigir aqui. É claro que Alberto disse que eu podia usar o carro, mas não tive coragem o bastante para fazer mais do que ir até a cidadezinha mais próxima. Antes de Alberto adoecer, fomos almoçar fora de carro algumas vezes, mas ainda há muito mais a conhecer. Giancarlo sorriu-lhe por entre dentes cerrados. Quis virar-lhe o rosto na sua direção e fazê-la olhar nos seus olhos. Exasperou-o a maneira como Caroline ficou ali com ar hesitante, como se estivesse esperando para ser dispensada. Também ficou zangado em perceber que estava novamente excitado, que só em olhar para ela, para suas suaves curvas femininas e lábios provocantes, já tinha de se esforçar para tentar controlar a ereção. Queria puxá-la para si e beijá-la até que se rendesse, até fazê-la implorar por mais. – Quando quiser – respondeu, enfim. Ela o olhou com relutância. – Oh, muito obrigada, mas duvido que haja outra oportunidade. Afinal, você não vai ficar aqui muito tempo, e eu vou voltar para a minha rotina normal com Alberto amanhã. Precisa de alguma ajuda para pegar as coisas? – Não, obrigado. Posso dar conta. É apenas uma bolsa térmica e uma sacola. – Até mais, então. Sem esperar uma resposta, Caroline deixou o carro rapidamente. Pretendera se refugiar na privacidade de seu quarto, o que lhe daria tempo para se recompor. Para sua consternação, porém, quando abriu a porta da frente deparou com Alberto e Tessa vindo da cozinha. Ele fez uma pausa nas suas rabugices e a olhou atentamente. – Ficou fora bastante tempo, garota. O que andou fazendo? Parece despenteada. – Deixe a pobre mulher em paz, Alberto. O que ela andou fazendo não é da sua conta! – Não andei fazendo nada! – respondeu Caroline a ambos. – Quero dizer, foi um excelente dia fora... – Velejando? Acho que o meu filho conseguiu curar você do seu medo de água, certo? – Eu... Eu... Aconteceu que eu não tinha tanto medo de água quanto pensava. Você sabe como é... trauma de infância... uma longa história. De qualquer modo, estou com muito calor e transpirando. Você vai ficar na sala de estar, Alberto? Posso me reunir a você lá assim que eu tiver tomado um banho? – Onde está Giancarlo?
– Oh, ficou no carro pegando algumas coisas. – Então, vocês se entenderam bem, não foi? Não tive certeza de que isso aconteceria, uma vez que vocês são pessoas tão diferentes. Mas sabe o que dizem sobre os opostos que se atraem... – Olhos inquiridores brilharam enquanto a estudavam, e ela sentiu o rubor nas faces. Ao lado dele, Tessa revirava os olhos e fazia-lhe um gesto para que o ignorasse. – Não estou nem um pouco atraída pelo seu filho! – exclamou Caroline, impelida a esclarecer o fato. – Está cem por cento certo. Somos totalmente diferentes, completos opostos. Na verdade, estou surpresa em ter conseguido tolerá-lo por tanto tempo. Acho que devo ter ficado tão concentrada nessa história toda de velejar que mal o notei. – Quando terminava de falar, a voz soou indignada e um tanto estridente. Não se deu conta de que Giancarlo estava atrás dela e, quando o ouviu falar, sua pele se arrepiou. – Ora, ora – disse ele num tom manso –, não foi assim tão ruim, não é, Caroline? A maneira como Giancarlo disse o nome dela foi como uma carícia. Alberto os observava com evidente interesse. Ela tinha de dar um fim àquela tolice de imediato. – Eu não disse que foi ruim. Tive um dia encantador. Agora, se me derem licença... – Virando-se para Tessa, ainda acrescentou: – Vai se reunir a nós para o jantar esta noite, não é? Naquela noite, porém, Tessa visitaria a irmã e só voltaria mais tarde, a tempo de se certificar que Alberto tomasse seus medicamentos, o que ao menos desviou a conversa dela. Deixou-os no hall, onde Alberto ia informando Tessa que se sentia melhor a cada dia. Caroline demorou-se tomando um banho longo e relaxante e, então, escolhendo cuidadosamente o que usar. Tudo, até as peças mais entediantes e simples, pareceu revelador. As camisetas ficaram justas na região dos seios, o jeans colou-se às pernas, as blusas eram decotadas demais e as saias a faziam pensar em como seria fácil para a mão dele se insinuar sob elas e lhe alcançar a pele nua das coxas. No final, acabou optando por uma legging com uma comportada túnica preta. Encontrou-os na sala de estar onde um silêncio tenso saudou a sua chegada. Alberto estava no lugar de sempre, na poltrona junto à janela. Giancarlo ocupava outra poltrona e segurava o que parecia um copo de whisky. Apanhada de surpresa por um clima desconfortável, Caroline permaneceu junto à porta até que Alberto lhe fez um sinal com impaciência para que entrasse. – Não posso enfrentar a sala de jantar esta noite – declarou ele, indicando uma bandeja com lanches no balcão ao lado da geladeira embutida. – Pedi à garota que trouxesse algo leve para comermos aqui. Deus do céu, mulher, não fique aí parada feito um fantasma e sirva-se de algo para beber. Você sabe onde tudo está. Caroline olhou para Giancarlo, que tinha as pernas compridas esticadas, cruzadas na altura dos tornozelos. Parecia um homem que se sentia completamente relaxado, mas havia uma ameaçadora quietude nele que a deixou nervosa. Ficou ainda mais nervosa quando Alberto disse num tom muito sério: – Meu filho e eu estávamos conversando sobre o estado do mundo. E, mais especificamente, o estado do meu mundo. Sobre os meus interesses e negócios. Giancarlo observou a reação dela. Então, o tabu fora quebrado. Por que não? Por que esperar? Era bem mais fácil estar no controle, que era uma arma que sempre manejara com impiedosa eficiência.
– Você está vermelho, Alberto – comentou Caroline preocupada. Lançou um olhar zangado a Giancarlo, que a olhou com ar imperturbável. – Talvez este não seja o momento certo para... – Não há momento certo ou errado para se falar de dinheiro, garota. Mas talvez devamos ter a nossa conversa mais tarde, não é, meu rapaz? – Ele fez um gesto impaciente para que Caroline lhe levasse a bandeja com os lanches, mas os olhos estavam fixos em Giancarlo. Então, ele fizera aquilo, pensou Caroline atordoada; fora lá e fizera! Podia sentir. Giancarlo se cansara de andar em círculos em torno do propósito de sua visita à villa. Talvez sua rejeição tivesse apressado ideias de partida e ele decidira que era um bom momento de alcançar o que almejara desde o início. Talvez as declarações de Alberto quanto a estar se sentindo melhor de saúde tenham convencido Giancarlo de que não havia necessidade de se deter mais. De qualquer modo, o rosto vermelho do pai e o silêncio resguardado, sereno, do filho diziam tudo. Caroline sentiu-se tomada por um amargo desapontamento. Deu-se conta de que houvera uma parte dela que realmente esperara que Giancarlo esquecesse seu tolo desejo de vingança e seguisse em diante. Tivera um vislumbre do homem complexo que havia por trás da fachada implacável e ousara esperar mais. Deus do céu, havia sido ingênua. Ela afundou na poltrona próxima a ampla lareira de pedra. Dali, pôde testemunhar, em crescente desalento, o clima tenso entre pai e filho. O assunto em torno de dinheiro foi evitado, mas permaneceu tácito no ar entre ambos. Conversaram sobre o passeio de veleiro. Alberto perguntou educadamente qual era a sensação de velejar no lago outra vez. Giancarlo respondeu que, evidentemente, era um prazer ao qual não estivera mais acostumado, levando em conta que a vida em Milão quando garoto não incluíra luxos como passeios de barco porque o dinheiro fora minuciosamente contado. Numa voz escrupulosamente educada, perguntou a Alberto sobre a villa e, então, passou um pequeno sermão sobre a necessidade de manutenção de uma propriedade antiga, para que não caísse aos pedaços com o tempo. Mas era claro, acrescentou num tom brando, lugares antigos precisavam de dinheiro... Após uma hora e meia, durante a qual Ella recolheu o restante dos lanches e lhes levou um bule de café fumegante, Caroline não podia mais conter o opressivo desconforto em ser apanhada no meio de uma guerra fria. Levantando-se, disse algo educado sobre a volta de Tessa e bocejou. Iria se deitar. Não pôde olhar para Giancarlo. O silêncio grave dele a assustou. – Talvez você queira aproveitar para subir comigo, Alberto, e Tessa irá falar com você depois – sugeriu ela, tentando impedir o inevitável, mas o patrão sacudiu a cabeça bruscamente. – Meu filho e eu temos assuntos a discutir. Não posso fingir que não há uma ou duas coisas precisando ser resolvidas e podemos fazer isso agora. Nunca fui do tipo que foge da verdade! – Ele se dirigia a Caroline, mas olhava para Giancarlo. – É muito melhor trazer a verdade à tona do que deixar que as coisas supurem. Caroline imaginou a cena. Ao menos aos olhos de Giancarlo seria uma cena para a qual estivera se preparando durante boa parte de sua vida e estava ali para ganhar. Ela ainda hesitou, tentando pensar em algo para evitar aquela conversa, mas, vendo que era impossível, recolheu-se ao quarto. Mergulhou num sono agitado e acordou com um sobressalto, vendo que o luar ainda adentrava pela janela. Estivera lendo e o livro caiu na lateral da cama. Levou alguns segundos para lembrar o que a estivera preocupando antes de adormecer: Alberto e Giancarlo. A tensão
insuportável, como uma tempestade se formando na distância, à espera de eclodir com consequências devastadoras. Com um grunhido abafado, desceu da cama antiga, vestiu um robe por cima da camisola e saiu para o corredor, embora não soubesse o que esperar. Os aposentos de Alberto ficavam ao final do longo corredor. Hesitando no alto da escadaria em espiral, ela se sentiu tentada a ir vê-lo, mas, primeiro, desceria para ter certeza de que os dois ainda não travavam uma batalha. A verdade, como Alberto dissera, era algo que se podia levar horas para se esmiuçar, e nesse caso, o resultado seria a derrota dele. Teria, finalmente, que se curvar a Giancarlo e colocar o destino em suas mãos. Com a ruína em suas finanças, que outra alternativa teria? Ela chegou à sala de estar e viu uma faixa de luz sob a porta fechada. Embora não ouvisse vozes, o que mais aquela luz podia indicar além do fato de que os dois homens ainda estavam lá dentro? Temendo o que encontraria, abriu a porta devagar. Esparramado numa poltrona com a cabeça para trás, os olhos fechados e um drinque numa das mãos, Giancarlo estava extremamente bonito e, ao menos uma vez, não pareceu um homem que ostentava sua superioridade. Tinha o cabelo em desalinho como se tivesse corrido a mão por ele muitas vezes e parecia pálido e exausto. Ela mal fizera um ruído, mas Giancarlo abriu os olhos imediatamente. Quando viu quem era, permaneceu na mesma posição na poltrona. – Onde está Alberto? Ele girou o líquido em seu copo sem responder e, então, esvaziou-o de um só gole sem tirar os olhos do rosto dela. – Quanto você bebeu? – indagou Caroline, aproximando-se depressa pela sala. – Você parece péssimo. – Adoro uma mulher que diz as coisas como elas são. – E você não me falou onde está Alberto. – Eu lhe garanto que ele não está escondido em nenhum lugar desta sala. Tem apenas a mim para o prazer da sua companhia. Caroline conseguiu tirar o copo da mão dele. – Você precisa ficar sóbrio. – Por quê? Há algum tipo de regra arcaica aqui que proíbe o consumo de álcool após certo horário? – Espere aqui. Vou fazer um bule de café. – Tem minha palavra. Não tenho intenção de ir a lugar algum tão cedo. Pela primeira vez, Caroline não ficou impressionada com o tamanho e a grandiosidade da villa. Pela primeira vez, desejou que, para chegar à cozinha, não precisasse levar cinco minutos passando por corredores sinuosos e imponentes salas de recepção. Mal pôde conter a ansiedade enquanto esperou que a água fervesse e, quando voltou à sala de estar carregando uma bandeja com torradas, manteiga e um bule de café forte, pensou que Giancarlo já teria desaparecido. Ele estava no mesmo lugar. Ela colocou a bandeja numa mesa oval ao lado da poltrona dele. – O que está fazendo aqui, afinal? Veio se certificar de que o duelo de madrugada não acontecesse? – Deve comer alguma. – Ela lhe entregou uma torrada com manteiga.
– É uma pessoa bastante atenciosa, Caroline Rossi. Nunca bebi demais e, com certeza, lhe fico grato. – Provando a torrada com ar satisfeito, Giancarlo lançou-lhe um olhar na banqueta que ela puxara para perto. – E, então, o que aconteceu? Não quero me intrometer... – É claro que quer se intrometer. – Indicando que queria mais uma torrada, ele sorveu um gole de café forte. – Você está pensando no bem-estar do meu pai. – Podemos conversar de manhã, quando estiver se sentindo mais bem disposto. – Estou bem disposto. Seria necessário mais do que meia garrafa de whisky para que eu não me sentisse bem disposto. Tenho a constituição de um touro. Cometi um erro. – Eu sei. Bem, isso é o que as pessoas sempre dizem depois de terem bebido muito. Também dizem que nunca mais vão fazer isso. – Você não está entendendo. Cometi um erro. Arruinei tudo. – Não sei do que está falando. – É claro que não. Como poderia? Para resumir, você estava certa e eu, errado. – Giancarlo esfregou os olhos e pensou em se levantar, mas descobriu que não podia. – Eu vim aqui para resolver as coisas. Havia dívidas a serem pagas. Vim para ajudar a quitá-las do meu jeito. Adivinhe só! O invencível Giancarlo não estava a par dos fatos. –O que quer dizer? – Sempre fui levado a acreditar que Alberto era um ex-marido amargo que garantiu que a minha mãe recebesse o mínimo possível no acordo de divórcio. Fui levado a acreditar que ele era um monstro que se certificara que a minha mãe sofresse pela temeridade de ter opinião própria. Ela me disse uma série de meias verdades! E você me disse que talvez houvesse outro lado na história. – Sempre há. – Caroline sentiu o coração apertado numa onda de solidariedade. Queria dissipar a expressão de amargura e recriminação do rosto bonito dele. – Minha mãe estava tendo casos extraconjugais. Quando o casamento se dissolveu, ela estava envolvida com um homem que acabou se revelando um vigarista. Houve uma imensa soma no acordo de divórcio. Minha mãe não conseguiu fazer nada com ela. Acabou entregando o dinheiro a um tal Bertoldo Monti que a convenceu de que poderia triplicar a quantia. Ele pegou o dinheiro e desapareceu. Alberto me mostrou todos os documentos, incluindo as cartas que a minha mãe escreveu implorando mais dinheiro. Bem, ele continuou sustentando-a e, em troca, ela se recusava a deixar que ele me visse. Informou-o que eu estava determinado, que não queria contato. As cartas que ele me enviou foram devolvidas sem serem abertas. Guardou todas. A voz de Giancarlo soou carregada de emoção. Caroline sentiu a ameaça de lágrimas, mas tratou de reprimi-las, pois a última coisa que um homem tão orgulhoso quanto ele iria querer era alguma demonstração de simpatia. Em especial agora quando haviam lhe sido desvendadas verdades que jamais esperara. – Acho que a única razão para eu ter recebido a educação de primeira qualidade que tive foi porque o dinheiro era pago diretamente à escola. Foi uma daquelas despesas básicas que Alberto se certificou de que fossem cobertas porque, sem dúvida, minha mãe teria gasto o dinheiro ou o dado a um de seus muitos amantes se houvesse tido acesso a ele. – Tenho certeza de que, à sua própria maneira, ela nunca achou que o que estava fazendo era ruim.
– Sempre otimista, não é? – Giancarlo soltou um riso irônico. – Ao que parece, meu pai também é. Fiquei me perguntando o que vocês dois tinham em comum e vejo que é bastante. Alberto me disse a mesma coisa. A minha mãe era infeliz. Ele trabalhava demais. Ela ficava entediada. Ele se culpava por não estar por perto o suficiente para desenvolver um relacionamento comigo, e ela se aproveitou disso. Ela tirou proveito do orgulho dele, ameaçou lavar a roupa suja de ambos em público se Alberto tentasse pedir a minha custódia, convencendo-o de que havia fracassado como pai e que suas visitas seriam inúteis e prejudiciais. Eu era o coringa do baralho, e ela me usava para atingi-lo. Sabe que, quando ela morreu, Alberto pediu para me ver através de um advogado e eu recusei? Minha mãe se comportou mal, influenciou minhas atitudes, mas a verdade é que ela era uma simples garçonete que foi tirada da obscuridade e colocada num estilo de vida com o qual não estava familiarizada. A coisa toda foi uma confusão. Ainda é uma confusão. Alberto não sabia a dimensão de suas perdas financeiras. Confia em seu contador há dez anos e ele não tem lhe contado a verdade com relação às contas da empresa. É claro que, sem a menor sutileza, essa foi a primeira das minhas observações. – Pare de se culpar. Você era uma criança quando partiu daqui. Não tinha como saber que as coisas não eram como pareciam. Como Alberto ficou quando soube? Acho que, de certa forma, foi bom você ter vindo para lhe contar porque, do contrário, nenhum desses segredos teriam sido revelados. Ele não é mais jovem. É bom para vocês que essas verdades tenham vindo à tona, que tenham chegado a um ponto em que recomeços podem acontecer, embora o preço que pagaram tenha sido tão alto. Giancarlo sorriu com certo alívio. – Acho que essa é uma maneira positiva de se ver as coisas. – E eu sei que a situação entre vocês não tem sido ideal, mas no que diz respeito a Alberto e o dinheiro, teria sido pior para ele ser chamado num escritório impessoal e informado de que tudo pelo que trabalhara na vida se perdera. – De fato. – Giancarlo fechou os olhos por alguns instantes, e ela aproveitou para lhe admirar os contornos perfeitos do rosto. Vê-lo daquele modo, vulnerável, mas ferrenhamente sincero consigo mesmo fez com que ela sentisse uma peculiar ligação com ele. Era possível que estivesse se interessando por ele? Seria maluca em fazer uma coisa daquelas. Mas ele a fazia sentir-se viva, levava-a a um nível diferente onde todas as suas emoções e sentidos eram amplificados de uma maneira que era nova e perigosa, mas também maravilhosa. – O tempo de reparação já passou. Não culpo a minha mãe pelas coisas que ela fez. Ela era quem era, e eu tenho que aceitar a minha parcela de responsabilidade por ter deixado de questionar as coisas quando tive idade para isso. – Entendo – disse Caroline devagar, meneando a cabeça com ar pensativo. Notou que, embora ele tivesse consumido bastante whisky da garrafa, ainda estava no controle de suas faculdades. Podia ser exigente com aqueles que não alcançavam seus padrões, mas também era exigente consigo mesmo, o que era indicação de sua tremenda honestidade e justiça. Somandose a isso a aparência incrível era de se admirar que sua cabeça tola, inexperiente, estivesse virada? Com certeza, aquela reação natural não podia ser confundida com amor. – O mínimo que posso fazer... e já falei isso a Alberto... é contratar pessoas para resolver os problemas da empresa. Velhos amigos são bons, mas parece que deixaram as coisas chegar ao pior ponto possível. Não importando o que seja necessário, a empresa vai voltar ao seu auge, e
uma injeção de capital garantirá que ela permaneça assim. E não haverá transferência de proprietário. Meu pai vai continuar a ser o dono de sua empresa, junto com a villa, que também pretendo reformar de maneira semelhante. Caroline sorriu amplamente. – Fico tão feliz em ouvir isso! Estou contente por ter descido do quarto. Acabei adormecendo preocupada, e quando acordei, quis saber se tudo estava bem, mas não tive certeza do que fazer. – Acreditaria em mim se eu lhe dissesse que também estou contente que você tenha descido? Caroline deu-se conta de que prendia a respiração. Giancarlo a olhava com intensidade, e ela não conseguia tirar os olhos fascinados do rosto dele. Sem perceber, estava se inclinando para a frente na banqueta, ansiando por ficar mais próxima dele. – É mesmo? – Sim. Não sou o tipo de homem que gosta de desvendar a alma, mas você parece ter o dom de ouvir. – E a bebida diminui as inibições. E então? O que acontece em seguida? – perguntou Caroline ofegante. Imaginou-o partindo para delegar tarefas relativas às pendências ali e um vazio pareceu se abrir em seu peito. – Quero dizer, você vai partir logo? – ouviu-se perguntando. – Pela primeira vez, o trabalho vai ter que ficar em suspenso. Tenho uma casa no litoral. – Você falou. – Uma mudança de ares fará maravilhas com Alberto e nos dará tempo para realmente deixarmos um passado desconfortável para trás. – E eu ficarei aqui para tomar conta da villa? – É o que você quer? – Não! Eu… Eu preciso estar com Alberto. É parte do meu trabalho, sabe, me certificar de que ele estará bem. O silêncio pairou entre ambos. Lembranças dos momentos de paixão que haviam compartilhado no barco surgiram até que a mente de Caroline ficou repleta de imagens dos dois juntos. Suas pupilas se dilatando, ela não pôde dizer uma palavra. Deu-se conta de que o encarava para além do que teria sido educado, mas pareceu natural estender a mão e traçar os contornos do rosto de Giancarlo. – Não me toque, Caroline. – Ele a olhava com desconcertante intensidade. – A não ser que esteja preparada para as consequências. Você está?
CAPÍTULO 7
CAROLINE SE apoiou num cotovelo e olhou para Giancarlo. Ele estava cochilando. Devido ao arrebatamento do quanto tinham feito amor, os lençóis tinham sido amarrotados, formando um amontoado de seda cuja metade estava na cama e a outra no chão. Sob o luar prateado, o corpo musculoso dele em repouso era como uma silhueta de uma estátua perfeitamente entalhada. Ela quis tocá-lo. De fato, podia sentir o latejo entre as pernas e a umidade crescente, lembrando-a do anseio pelo toque dos lábios e das mãos dele, de seus dedos hábeis. Ele lhe perguntara quase quinze dias antes se estava preparada para as consequências. Sim! Caroline não pensara duas vezes. Era evidente que naquela primeira vez, e, puxa, parecia que fora um milhão de anos antes, ambos não tinham feito amor. Não adequadamente. Ele era escrupuloso quando se tratava do uso de preservativo. Não, haviam se tocado, e ela não soubera que tocar podia ser tão incrível. Giancarlo lambera cada pedacinho do seu corpo, provocara-a com a língua, estimulara cada ponto sensível até que ela achara que fosse desmaiar de prazer. Para Caroline, não houvera volta. Os poucos dias originalmente planejados por Giancarlo para sua visita se prolongaram para duas semanas ou até mais, pois decidira supervisionar pessoalmente as principais mudanças que precisavam ser feitas na empresa de Alberto. Com autoridade, ele estalara os dedos e um exército de seus funcionários leais tinha ido para a empresa começar o processo de recuperação. Ficaram num hotel de primeira categoria numa cidadezinha próxima, enquanto Giancarlo permaneceu na villa tentando reconstruir pacientemente um relacionamento que fora quase apagado pelo tempo. Ele se ausentava durante boa parte do dia, retornando no início da noite à casa, onde uma espécie de rotina havia se estabelecido. Alberto era sempre encontrado em sua poltrona favorita na sala de estar, onde Giancarlo se reunia a ele para um drinque. No andar de cima, Caroline se preparava com o coração aos saltos para a primeira vez ao longo do dia em que veria Giancarlo. Alberto não desconfiava de nada. Era da natureza de Caroline ser sincera e, para sua culpa, estava ciente de que não desfrutava um relacionamento franco e aberto. O fato de que ela e Giancarlo tinham se conhecido em circunstâncias peculiares e de que, se não tivesse si por isso, seus caminhos nunca teriam se cruzado, era uma verdade inquietante que sempre pairava num
canto de sua mente. Preferia não pensar naquilo, no entanto. De que adiantaria? Desde o momento em que fechara os olhos e oferecera seus lábios a ele, não houvera volta. Desse modo, tarde da noite, com Alberto dormindo tranquilamente em seus aposentos, ela ia até o quarto de Giancarlo, ou ele ia até o seu, e ambos conversavam suavemente e faziam amor mais de uma vez como adolescentes que não conseguiam tirar as mãos um do outro. – Você está me encarando. – Giancarlo sempre achara irritante quando as mulheres o olhavam fixamente, mas descobrira que se sentia bem quando Caroline o olhava com ar de apreciação. Sentir os olhos dela percorrendo-o discretamente foi uma maneira positiva de excitá-lo. – Eu estava? – Eu gosto. Quer algo mais para olhar? – Ele afastou o lençol para o lado, expondo por completo a sua nudez, e Caroline suspirou. Com um grunhido de apreciação, Giancarlo puxou-a para os seus braços. Deitou-a acima de seu corpo, estreitando-a junto a si para que pudesse sentir a urgência de sua ereção. Enquanto se apoiava em seu peito, o cabelo longo dela cascateou-lhe em torno do rosto. Ele observou-lhe os lábios grossos, a paixão nos olhos castanhos, a ligeira oscilação nos seios fartos, os mamilos grandes quase lhe tocando o peito. O que havia no corpo daquela mulher que o enlouquecia por completo? Tinham feito amor apenas uma hora antes e ele estava pronto para possuí-la outra vez. Puxou-a mais para si a fim de poder beijá-la, e agora ela não precisava mais de nenhum encorajamento para mover o corpo da maneira certa. – Você é uma feiticeira. – Com um gesto rápido, virou-se, deitando-a abaixo de si, e Caroline sorriu com satisfação. Giancarlo puxou-lhe o cabelo para trás com gentileza para depositar-lhe beijos úmidos no pescoço e no colo. Caroline se contorceu sob ele. A expectativa a percorria como se fosse adrenalina. Queria mais e mais beijos e, quando ele fechou os lábios em torno de um de seus mamilos, soltou um gemido e arqueou as costas de maneira convidativa. Giancarlo sugou o mamilo avidamente e, depois, o outro, estimulando-os com a ponta da língua, mordiscando-os até que o calor úmido que se espalhou entre as pernas dela se intensificou como uma doce tortura. Ela o cingiu pela cintura com as pernas, soltando um pequeno grito deliciado. Haviam chegado na casa dele no litoral apenas dois dias antes. Embora não fosse tão grande quanto a villa, ainda era espaçosa o bastante para impedir a propagação de barulho. Alberto e Tessa estavam em uma ala da casa, ela e Giancarlo, na outra. – Não tão depressa, minha feiticeira sexy. – Ele parou de sugar-lhe os mamilos por um momento para lhe observar os seios de formato perfeito que nunca deixavam de excitá-lo. As auréolas eram grandes e escuras em contraste com a alvura da pele ao redor onde o sol não alcançara. Eram seios incrivelmente sexy. Inclinando-se para a frente, Giancarlo os lambeu por baixo, gostando do peso deles contra seu rosto. Foi descendo, então, deixando uma trilha de fogo com a língua pela pele acetinada até o umbigo dela. Caroline prendeu a respiração, expectante pelo que estava por vir e, então, soltou um longo gemido quando Giancarlo passou a língua por seu clitóris. Ele repetiu a carícia de maneira ritmada até fazê-la querer gritar.
Inebriada de prazer, Caroline olhou para a cabeça morena entre suas coxas, e o erotismo da imagem foi tão poderoso que estremeceu. Mal pôde suportar a agonia de esperar enquanto que, finalmente, Giancarlo cuidou da proteção de ambos e a penetrou com uma arremetida que a envolveu com puro deleite. Ele a segurou pelas nádegas, acentuando o contato entre ambos enquanto a preenchia de prazer com arremetida após arremetida. As ondas de sensações tomaram conta de Caroline até que, finalmente, seu corpo explodiu em deliciosos espasmos. A contração de seus músculos em torno dele desencadeou o próprio clímax de Giancarlo, e ambos se moveram como se fossem um só até desabarem, saciados, um nos braços do outro. Enfim, ele rolou para o lado e a abraçou pelos ombros. Não pela primeira vez, Caroline sentiuse tentada a lhe perguntar que rumo tomariam as coisas entre ambos. Algo tão bom quanto o que tinham não estava destinado a terminar, certo? Rapidamente, resistiu à tentação. Havia tempo que deixara de se enganar, que parara de dizer a si mesma que o que sentia por Giancarlo não era nada além de mera atração física. Sim, havia a atração física, mas era acompanhada de amor. E, em se tratando de Giancarlo, amor era uma emoção perigosa. Era melhor que não fosse mencionado. Tudo o que podia fazer era esperar que dia após dia estivesse se tornando uma parte indispensável da vida dele. Com certeza, ambos desfrutavam a companhia um do outro. Ele a fazia rir e lhe dissera inúmeras vezes que era única. Única e bonita. Com certeza, aquilo devia significar algo. Desviando-se de pensamentos perigosos, disse com ar sonolento: – Tenho que voltar para o meu quarto. Está tarde e eu estou bastante cansada... – Cansada para um banho? Caroline soltou um risinho, aninhando-se mais nos braços dele. – Seus banhos não são bons para uma garota que precisa dormir. – Ora, o que a faz dizer isso? – Mas Giancarlo abriu-lhe um sorriso ao vê-la conter um bocejo. – As mulheres não costumam adormecer na minha companhia – acrescentou severo, o que a fez sorrir. – É porque você lhes diz que não têm permissão para adormecer? – É porque nunca tiveram a chance. Nunca gostei de dividir a cama com ninguém depois do sexo. – E por quê? – Caroline viu o gelo fino se estender à sua frente porque sabia que estava enveredando por uma conversa com ele que poderia ser proibida. – É porque conversa demais equivale a envolvimento demais? – O que nos trouxe a este assunto? Ela deu de ombros e se recostou nos travesseiros. – Apenas quero saber se sou mais uma numa longa lista de mulheres com quem você dormiu, mas não se envolveu. – Não vou ser atraído para uma conversa sobre isto. Naturalmente, conversei com mulheres com quem saí. Durante o jantar. Depois do jantar. Em ocasiões sociais. Mas o meu tempo depois que fizemos amor foi para mim. Nunca encorajei ninguém a ficar jogando conversa fora entre os lençóis. – Por que não? E não me diga que eu faço perguntas demais. Estou apenas curiosa, nada mais. – Lembre-se do que dizem sobre curiosidade e gatos...
– Oh, esqueça! – explodiu Caroline subitamente. – Foi uma pergunta simples. Você fica tão na defensiva se alguém lhe pergunta algo que não quer ouvir. – Talvez eu nunca tenha encontrado a mulher com quem queria ter conversas na cama – disse ele com suavidade, puxando-a de volta para os seus braços. – Não vamos discutir – acrescentou persuasivo. – Este paraíso está à espera de ser explorado. – Tem certeza de que pode se ausentar tanto do trabalho? – Para a minha surpresa, estou começando a me dar conta dos consideráveis benefícios da internet. Meu pai pode ser um dinossauro em se tratando de tecnologia, mas ela está fazendo maravilhas por mim. É quase tão bom quanto estar num escritório, mas com a vantagem de ter uma mulher sexy ao meu lado sempre que quero. – Ele afagou-lhe a cintura com as grandes mãos e, em seguida, subiu-as para lhe acariciar os seios. – E você ensinando a ele. – Caroline estava contente em deixar aquele momento constrangedor para trás. Perguntas podiam estar povoando sua mente, mas não queria discutir. Não queria explorar o resultado de nenhuma discussão. – Alberto está gostando muito dessas aulas – confiou ela, adorando sentir-lhe o contato dos músculos quando lhe afagou o braço e o ombro. – Tenho certeza de que ele está achando essa experiência toda de ter um filho maravilhosa. Na verdade, sei que você se sente um pouco culpado por ter vivido com um passado que não era o que você achou que fosse, mas Alberto também se sente culpado. – Ele lhe disse isso? – Alberto se referiu a si mesmo como um velho tolo e orgulhoso quando estávamos no jardim. É sua maneira de se arrepender por nunca ter entrado em contato com você ao longo dos anos. – Ela olhou para o relógio na mesinha de cabeceira trabalhada e viu que eram quase duas horas da manhã. Sentiu as pálpebras pesadas. O calor do corpo de Giancarlo a seu lado era convidativo, mas começou se afastar em direção à beirada da cama. – Fique – pediu ele, puxando-a de volta para si. – Não seja tolo. – Alberto só se levanta às 8h e, então, aparece às 9h30 para tomar o café. Você pode se levantar às 7h e voltar tranquilamente ao seu quarto. – Giancarlo lhe abriu um sorriso predatório. – E a ideia de sexo matinal não é tentadora? – A sugestão surgira do nada. Se ele não encorajava conversas depois do sexo, jamais encorajara nenhuma mulher a passar a noite a seu lado. Na realidade, nenhuma nunca passara. Estava vivendo fora de sua vida real. Ao menos, era a sensação que tinha, e por que não deveria desfrutar o tempo de folga, ao menos por um certo período? Tendo concentrado todas as suas energias de sua vida adulta nos negócios e finanças, em ganhar dinheiro, que fora uma ambição incutida silenciosamente pela sua mãe, por que agora não deveria tirar tempo de folga naquelas circunstâncias extraordinárias? Nem ele, nem o pai tinham se sentido inclinados a enveredar por uma conversa longa, analítica sobre o passado. Com o tempo e sem estresse, poderiam começar a preencher as lacunas, e Giancarlo ansiava por aquilo. Por ora, Alberto explicara o que fora necessário e suas reminiscências fragmentadas tinham formado uma espécie de panorama para Giancarlo, uma imagem mais equilibrada do que a que lhe fora dada quando garoto. Mas não tinham falado sobre culpa. Após uma onda de raiva inicial pela mãe e por si mesmo, ele aceitava melhor a realidade de que o passado não podia ser mudado. Assim, por que se desgastar pelo que não tinha mais volta?
De qualquer modo, tinha condições de se ausentar do trabalho por algumas semanas e queria fazer isso. Se Alberto perdera seu único filho por todos aqueles anos, Giancarlo também fora privado do pai, e aquele era um vazio que ansiava por preencher. Lenta e gradualmente, com ambos seguindo o mesmo caminho da descoberta e rumando na mesma direção. Seus pensamentos se voltaram para Caroline, que também era parte da complexa situação. Percebeu que, sonolenta, ela ponderava sobre sua proposta atípica de passar a noite inteira ali. Para ajudá-la em sua decisão, ele curvou a mão em torno do seio farto dela e o massageou com vagar. Apesar de estar cansada por ser tarde e por terem feito amor de maneira faminta, o mamilo ficou intumescido quando ele o acariciou com o polegar. – Não é justo... Você não pode sempre obter o que quer. – Por que não? Não quer acordar de manhã e sentir que estou tocando você deste jeito? Ou deste? – Giancarlo escorregou a mão até o vão úmido entre as coxas dela e acariciou-a lentamente. Observou-a enquanto continuou a estimulá-la, adorando vê-la corada, com a respiração acelerada. Gostou ainda mais de ver Caroline se mover contra seus dedos, ondular o corpo, até que soltou um gemido abafado, e o clímax a envolveu. Parecia não haver fim para a maneira como desfrutava o corpo dela, e ele parara de questionar a dimensão da atração que Caroline lhe exercia. Apenas sabia que a queria ali em sua cama porque desejava acordar ao lado dela. – Está certo. Você ganhou – suspirou Caroline. Sabia que não deveria ficar ali. Estava apenas aumentando o castelo de cartas que construíra em torno de si mesma. Amava Giancarlo e era fácil demais ignorar o fato de que a palavra amor nunca passara pelos lábios dele. Ficava embaraçada em pensar em como se sentia contente em tê-lo, qualquer que fosse o preço que tivesse de pagar mais tarde. Ele beijou-lhe as pálpebras. Ela estava tão cansada... Na vez seguinte em que Caroline abriu os olhos, a luz do sol penetrava pelas frestas das venezianas. Giancarlo passava o braço possessivamente sobre seus seios, e os corpos de ambos estavam entrelaçados. Ela se desvencilhou de imediato e preparou-se para saltar da cama enquanto um sonolento Giancarlo tentava mantê-la junto a si. – Giancarlo! – exclamou preocupada. – Já passa das 7h! Tenho que ir! Totalmente desperto, Giancarlo sentou na beirada da cama e tentou conter a vontade de puxá-la de volta para si. Ela recolhia as roupas do chão e procurava algumas peças ansiosamente. – Perdeu isto, por acaso? – Ele ergueu um sutiã, uma peça de algodão que não era nada sensual e o levou a pensar que gostaria de lhe comprar uma coleção completa de lingerie, com coisas provocantes que escolheria pessoalmente e ficariam incríveis no corpo exuberante dela. Caroline tentou pegar o sutiã, mas ele o tirou do seu alcance. – Vai ter que pagar uma pequena taxa se o quiser. – Sentado na beirada da cama, ele a puxou para si e afundou o rosto nos seios dela. – Não temos tempo! – Caroline tentou se soltar e pegar o sutiã, mas ele a deitou sobre seu corpo e rolou de volta para a cama. – Vai ficar surpresa em descobrir como posso ser rápido. Rápido e extremamente habilidoso para proporcionar prazer. Passava das 7h30 quando ela abriu silenciosamente a porta do quarto de Giancarlo e saiu para o corredor. Ocorria-lhe que era
cedo e ainda teria tempo para voltar ao próprio quarto quando uma voz atrás dela sobressaltoua. – Ora, o que temos aqui, minha querida? Caroline gelou e, sentindo-se culpada, virou-se com as faces queimando. Segurando a bengala que usava para fazer caminhadas, Alberto a olhava com grande curiosidade. – Me corrija se seu estiver enganado, mas esse não é o quarto do meu filho? – perguntou ele, frisando a palavra “quarto” de maneira significativa. – Achei que você ainda estivesse dormindo. – Não ocorreu mais nada para ela dizer em seu nervosismo. Ele arqueou as sobrancelhas de maneira inquiridora. – Quer dizer que esperou que eu ainda estivesse dormindo? – Alberto, eu posso explicar... Enquanto ela vasculhava a mente em busca do que dizer, não percebeu que Giancarlo abriu a porta do quarto. – Não adiantará de nada. Meu pai não nasceu ontem. Tenho certeza de que ele pode tirar as conclusões certas. Caroline virou-se e viu que Giancarlo nem se dera ao trabalho de se vestir. Usava seu robe de seda preto amarrado na cintura. Alberto alternava o olhar entre ambos. – Não sei como lidar com este choque. Não é o que esperei de nenhum de vocês! – Lamento muito. – A voz de Caroline soou em tom de súplica. De repente, sentiu-se bastante envergonhada de si mesma. Estava na casa dos vinte e, ainda assim, teve a sensação de que era uma adolescente sendo repreendida. – Filho, vou ser franco com você. Estou muito desapontado. Alberto sacudiu a cabeça tristemente, dando um profundo suspiro. Giancarlo e Caroline permaneceram onde estavam, atônitos. Ele, porém, foi o primeiro a se recobrar. Deu duas longas passadas pelo corredor, onde uma brisa matinal soprava nas janelas e fazia a leve cortina que as cobria esvoaçar. – Papa... Alberto, que se virara e começara a seguir lentamente pelo corredor, parou e inclinou a cabeça para o lado. Giancarlo também fez uma pausa momentânea. Era a primeira vez que usava aquela palavra, que o chamava de “papa”. – Ouça, eu sei o que você deve estar pensando. – Giancarlo correu os dedos pelo cabelo em desalinho e sacudiu a cabeça com frustração. – Duvido muito que saiba, filho – disse Alberto em tom de lamento. – Sei que sou um pouco antiquado quando se trata dessas coisas. Também sei que esta é a sua casa e que você é um homem adulto, capaz de criar suas próprias regras debaixo do seu teto, mas me diga apenas isto. Há quanto tempo isso está acontecendo? Vocês dois já estavam se comportando mal na villa? – Não estávamos nos “comportando mal”. Não são as palavras adequadas para descrever a situação – argumentou Giancarlo num tom sério, mas Alberto olhava na direção de Caroline, que, com as pernas bambas, se recostara junto a uma das janelas. – Quando seus pais enviaram você à Itália, acho que este não era o tipo de coisa que esperavam – falou ele pesaroso, fazendo-a sentir uma nova onda de culpa. – Eles me confiaram o
seu bem-estar e, com isso, tenho certeza de que não estavam se referindo apenas à sua nutrição. – Papa, é o bastante. O bem-estar de Caroline está perfeitamente a salvo comigo. Somos ambos adultos e... – Tolice! – Alberto sacudiu a mão no ar com impaciência. – Não somos idiotas que não pararam para levar em conta as consequências – declarou Giancarlo com firmeza. – Prossiga. – Alberto estreitou os olhos. Caroline estava sem ação, mas aproximara-se um pouco. – Posso ter sido culpado no passado de relacionamentos rápidos e sem importância... – Apenas uma confidência de Giancarlo compartilhada com o pai depois de vários drinques. – Mas Caroline e eu... hã... temos algo diferente. – Ele olhou por sobre o ombro na direção dela. – Não temos? – Hum? – Na verdade, ainda ontem estávamos conversando sobre o rumo do que temos aqui. – Ah. Quer dizer que está levando isso a sério? Bem, é uma coisa completamente diferente. Caroline, conheço você o bastante para saber que é a garota perfeita para um homem se casar. Pelo que entendo, é de casamento que estamos falando aqui, certo? – Alberto sorriu feliz para ambos, ao passo que, adiante no corredor, Caroline estava boquiaberta. – O casamento muda tudo. Posso estar velho, mas tenho ciência do fato de que os jovens costumam ser, como direi, mais experimentais antes do casamento do que éramos nos meus tempos. Não acredito que não tenham me dito uma palavra sobre isso. Ele não lhes deu chance de interrupção. – Mas eu percebi alguma coisa, meu garoto! Notei pela maneira como você relaxou aqui, agindo como um homem mudado. E Caroline tem se portado com tanto nervosismo quando está perto de você. Todos os sinais estavam aí. Nem sei lhes dizer o quanto isso significa para mim depois do meu esbarrão com a morte! – Hã, Alberto... – Quando chega à minha idade, uma pessoa precisa ter algo a que se ater, especialmente depois de um ataque cardíaco como eu tive. Na verdade, acho que preciso descansar agora depois de toda esta empolgação. Gostaria que tivessem me contado, em vez de deixarem que eu descobrisse sozinho. Não que o resultado não tenha sido o mesmo! – Não dissemos nada porque não queríamos que você passasse por uma emoção excessiva. – Giancarlo foi até onde Caroline estava e a abraçou pelos ombros. – Entendo – disse Aberto com ar satisfeito. – Estou empolgado. Já deve saber a esta altura, Giancarlo, que tenho a sua noiva em alta estima e consideração. Posso me referir a você assim agora, minha querida? Noiva? Estavam noivos? Iam se casar? Ela havia sido transportada para algum tipo de universo paralelo? – Nós íamos lhe contar hoje à noite, durante o jantar – anunciou Giancarlo com tanta confiança que Caroline só pode se admirar com a capacidade de atuação dele. A que ponto levaria aquela farsa? – É claro que vocês vão querer tirar algum tempo para fazer tudo à maneira tradicional, como comprar um anel de noivado. Eu poderia ir com vocês – disse Alberto esperançoso. – Sei que é
algo pessoal, mas não posso pensar em nada que me encheria mais de esperança e otimismo, de uma razão para prosseguir. A propósito, já escolheram uma data? Enfim, Caroline encontrou a fala. Soltando-se do abraço de Giancarlo, cruzou os braços. – Não, ainda não. E acho que devemos parar de falar sobre isto. Ainda está... hã... na fase de planejamento. – Tem razão. Conversaremos mais tarde, talvez durante o jantar. Teremos algo especial e o melhor champanhe para brindar. Oh, aí vem Tessa. Vou conversar com ela sobre a celebração. Depois que Alberto e Tessa desceram a escadaria, Giancarlo virou-se para Caroline. – O que mais eu poderia ter feito? Eu me sinto como se estivesse conhecendo o meu pai pela primeira vez. Como eu poderia prejudicar sua saúde, arruinar seu entusiasmo? Você o ouviu, isso lhe dá uma razão para prosseguir. Caroline sentiu-se como se estivesse de estômago revirado depois de ter andado numa montanha-russa. – O que mais poderia ter feito? – repetiu incrédula. Noivado? Casamento? Todas as coisas que eram tão importantes para ela e que levava tão a sério não passavam para Giancarlo de um meio de se livrar de uma situação embaraçosa. – Minha mãe tinha amantes – declarou ele abruptamente. – Eu sabia que ela não era a pessoa mais virtuosa da face da Terra. Nunca teve receio de me apresentar seus namorados, mas era divorciada, estava destruída depois de um casamento ruim, desesperada para ter amor. O que eu não sabia na época é que ela tivera amantes desde bem antes do divórcio. Era muito bonita e leviana. Meu pai conteve-se para não usar a palavra “imoral”, mas acho que é o que ele pensava. Aqui estou agora. O filho distante que volta à cena. Estou tentando criar algo que não existe porque quero um relacionamento com o meu pai. Ao descobrir que estávamos dormindo juntos e pensar que era apenas um romance passageiro, como acha que eu ficaria no conceito dele? Quanto tempo demoraria para que começasse a traçar um paralelo entre mim e a minha mãe? – Isso é tolice – falou Caroline com gentileza. – Alberto não é assim. Mas que distância Giancarlo percorrera? Não fazia muito tempo que ele concordara em ver Alberto movido puramente por vingança. Estava pisando em ovos agora. Verdades tinham sido expostas e o passado fora reescrito. Entendia por que ele estava disposto a qualquer coisa para não prejudicar o progresso que fizera até então. Mas a que preço? Ela fora tola em se lançar em algo que não tinha futuro e, quando devia estar fazendo todo o possível para reverter a situação, ali estava, mais envolvida ainda, embora a culpa não fosse sua. – Se arrastei você para algo que não queria, peço desculpas, mas agi no calor do momento. – É uma situação maluca. Alberto acredita que estamos noivos! O que, afinal, ele vai fazer quando descobrir que tudo não passa de uma farsa? Você ouviu quando ele disse que isto lhe dava uma razão para prosseguir, não foi? – Sim. A situação não é ideal. Sei que é um grande favor, mas eu lhe peço para levar a história adiante por algum tempo. – Sim, mas por quanto tempo? – Um noivado de mentira era um lembrete cruel do que ela realmente queria, ou seja, um futuro real. – Não sei ao certo. Não estou lhe pedindo que deixe sua vida em suspenso, mas apenas para seguir a maré neste período. Afinal, muitos noivados não dão em nada.
Giancarlo recostou-se na parede e olhou para o cenário espetacular através das vidraças no corredor da casa de praia. – Nesse meio tempo, qualquer coisa pode acontecer. – Por que, perguntou a si mesmo, estava se sentindo tão à vontade com aquela situação? – Quer dizer que Alberto acabará aceitando que você não é como a sua mãe, embora seja de sua natureza ter romances passageiros com as mulheres e, então, descartá-las quando fica entediado? – Mais uma vez o seu talento especial para ir direto ao ponto – comentou Giancarlo por entre dentes. – Mas é verdade, não é? Oh, quando chegar a ocasião, acho que você poderia prepará-lo, dizer que nos separamos, que descobrimos que não fomos feitos um para o outro. – Pessoas terminam relacionamentos por esse motivo. – Mas você é diferente. – Caroline persistiu em manter seu ponto de vista. – Você não dá uma chance às pessoas. Relacionamentos com você nunca chegam ao ponto em que se descobre a incompatibilidade, porque são fadados ao fracasso muito antes disso. – Essa é a sua maneira de me dizer que não vai levar isto adiante? Que, embora tenhamos dormido juntos, você não me aprova? – Não é o que estou dizendo! – Então, explique. Porque se quer que eu diga a verdade a Alberto, que estamos apenas nos divertindo um pouco, farei isso agora mesmo e ambos teremos de conviver com as consequências. E as consequências seriam para ambas as partes. O frágil relacionamento que Giancarlo ainda estava construindo com o pai seria prejudicado, e Alberto também ficaria desapontado com ela, sem dúvida. – Não gosto de mentir. Mas acho que será por pouco tempo. – Se ela se sentia vulnerável porque seu coração estava em jogo, não havia ninguém a culpar a não ser a si mesma. Chegara a achar que o que tinha com Giancarlo levaria a um final feliz? – Eu me sinto péssima em enganar o seu pai. – Todos merecem a verdade, mas, às vezes, uma pequena mentira inocente não faz mal. – Mas não é assim tão pequena, certo? – Não é realmente uma mentira – apontou Giancarlo com suavidade. – O que temos não é apenas diversão. De todo o coração, Caroline quis acreditar nele, mas a cautela e a preservação a impediram de acolher aquele tentador comentário. O que tinham exatamente além de diversão?, quis perguntar. O que ele sentia realmente por ela? Era o bastante para um dia amá-la? Sentia-se vulnerável só em pensar naquilo. Perguntou-se, então, se Giancarlo não fizera o comentário apenas para tentar convencê-la. Não teria sido necessário. Ela jamais prejudicaria o relacionamento entre pai e filho. – Está certo – concordou com relutância. – Mas não por muito tempo. Com os cílios espessos ocultando-lhe os olhos e a expressão, Giancarlo disse: – Não. Vamos levando um dia de cada vez.
CAPÍTULO 8
CAROLINE DESEJOU desesperadamente que aquela nova e artificial dimensão do relacionamento de ambos a fizesse de algum modo despertar para o fato de que não eram um casal. Uma semana antes, quando haviam se lançado naquela farsa, tentara fazer com que a mente vencesse o coração rebelde e o impedisse de se envolver ainda mais com Giancarlo, mas, com todas as expectativas equivocadas de Alberto, era difícil. Para todos os efeitos, eram supostamente um casal apaixonado que trocaria as alianças no altar num futuro não muito distante. Assim, gestos afetuosos já eram esperados. Giancarlo encarnou o papel de noivo apaixonado com um entusiasmo que a impressionou. – Como vamos encontrar o momento certo para dizer ao seu pai que estamos nos separando, com você me tocando a cada vez que estamos juntos? Não estamos dando a impressão de que somos duas pessoas que cometeram um erro terrível! – exclamara ela três dias antes, quando haviam passado o dia junto à imensa piscina. A maneira carinhosa como ele a tratara sob o olhar atento de Alberto rompera todas as defesas dela. – Um dia de cada vez – lembrara-a ele com gentileza. Giancarlo era incrível, irresistível, e, embora ela soubesse que tudo não passava de uma encenação, sentia-se mergulhando a cada hora que passava numa traiçoeira felicidade. Alberto não fez nenhuma menção aos quartos onde dormiriam. Caroline sabia que não deveria mais dormir com Giancarlo. Para o seu próprio bem, devia colocá-lo a distância. Mas a cada vez que a voz da razão surgia, outra voz mais forte assumia o comando e lhe dizia que não tinha mais nada a perder. O tempo que tinha com ele era emprestado e, portanto, por que não aproveitá-lo ao máximo? Além do mais, quer ele se desse conta ou não, estava enterrando todas as nobres intenções dela com humor, inteligência, charme. Em vez de se sentir zangada com ele por colocá-la numa situação delicada com Alberto, sentia-se cada vez mais vulnerável. Com Alberto e Tessa, eles passearam pelo litoral, parando para almoçar em alguma das cidadezinhas que encimavam as colinas e de onde avistavam o límpido mar azul. Giancarlo estava tranquilo, relaxado e atencioso como nunca. E, agora, iriam a Milão por três dias. Giancarlo tinha um trabalho a fazer que requeria sua presença física. – Acho que devo ficar aqui – sugerira ela numa voz fraca, observando-o desabotoar sua blusa.
– Você é a minha adorada noiva. – Giancarlo lhe abrira um sorriso carismático que não dera margem a argumentos. – Deve querer ver onde trabalho e onde moro. – A sua noiva de faz-de-conta. – Já conversamos sobre isso. Ele terminou de desabotoar a blusa dela, deixando-a completamente indefesa ao observar-lhe os seios nus e generosos com ar faminto. Fechando os olhos, afagou-lhe os ombros delicados e tomou um dos mamilos provocantes com os lábios. A essa altura, Caroline já se esquecera do que tinham conversado. Enquanto seguiam para Milão, ela já teve oportunidade de sobra de ver Giancarlo trabalhando. Foram de trem porque ele achava mais relaxante e também porque quis aproveitar o tempo e a tranquilidade para se concentrar e se preparar para a série de reuniões que o aguardavam em Milão. Uma ampla cabine fora reservada para ambos na primeira classe e foram servidos com todas as regalias. Aquele não era mais o Giancarlo que usava shorts e tênis sem meias e ria quando ela tentava alcançá-lo na piscina. Era um Giancarlo completamente diferente, conforme se evidenciava em seu terno escuro sob medida e na maneira como ficou ao laptop. Ele verificou páginas e páginas de relatórios e participou de várias reuniões pelo sistema de viva-voz, conduzindo-as numa mistura de francês, inglês e italiano, alternando-se com fluência entre os idiomas, dependendo da pessoa com que conversava. Caroline tentou apreciar o belo cenário enquanto o trem avançava, mas seu olhar era atraído invariavelmente para ele, em seu fascínio por aquele aspecto do homem que amava. – Eu vou atrapalhar – disse em determinado ponto, e ele ergueu a cabeça e a olhou com um sorriso vagaroso. – Vou acabar distraindo você. – Espero que sim. Especialmente à noite. Na minha cama. Era de tarde quando chegaram a Milão. As reuniões começariam na manhã seguinte. Enquanto Giancarlo trabalhasse, ela exploraria a cidade, pois havia muito que queria ver e não tivera chance na visita anterior. No momento, enquanto entravam num carro com chofer na estação de trem, estava ansiosa para ver onde ele morava. Após a tranquilidade da casa no litoral e a esplêndida vista do mar, a agitação de Milão com turistas e trabalhadores povoando as ruas foi uma mudança drástica de cenário. Mas a quietude voltou, pois o apartamento dele ficava numa das travessas sinuosas com pitoresco calçamento de pedra do século dezoito e vista para magníficos jardins. O prédio diante do qual o luxuoso carro parou era a própria elegância. Um palácio histórico, fora visivelmente convertido num prédio residencial de apartamentos para os muito ricos e o acesso era através de portões de ferro trabalhados que conduziam a um bonito pátio. Ela observou tudo boquiaberta enquanto Giancarlo a conduziu pelo pátio até o prédio antigo e a cobertura que ocupava os dois últimos andares. Ele mal pareceu notar o luxo que o cercava. Numa cidade vibrante, o centro financeiro da Itália, aquilo era um oásis. O apartamento dele não era o que ela havia esperado. Enquanto a casa no litoral era fresca e arejada, com janelas e cortinas que deixavam a brisa entrar, mas dosavam a intensidade do sol, o apartamento era escuro com piso de tábuas corridas, cortinas pesadas, mobília trabalhada e tapetes persas coloridos. – Este lugar é incrível – comentou, olhando ao redor do imenso hall.
Mais acentuadamente do que antes, ficou ciente do imenso abismo que havia entre ambos. Sim, eram amantes e Giancarlo a queria e desejava, mas ambos pertenciam a mundos completamente diferentes. – Fico contente que aprove. – Ele a abraçou por trás, afundando o rosto no cabelo dela, inalando a deliciosa fragrância do xampu. Caroline usava um vestido de algodão com alças finas, e ele as baixou lentamente. Ela não estava usando sutiã, e ele afagou-lhe os seios demoradamente. Já havia descartado a ideia de vêla em lingerie refinada. Se dependesse da sua vontade, ela nunca usaria nada. – Me mostre o restante do apartamento – sussurrou Caroline, tentando ajeitar a frente do vestido, mas não conseguia resistir à maneira como ele a acariciava. – Estou louco por você. Fiz uma viagem longa de trem com pessoas demais ao fundo e foi impossível tocar você. Caroline riu com o prazer familiar em ouvi-lo dizer coisas daquele tipo, coisas que a faziam sentir-se feminina, desejável. – Porque o sexo é tão importante para você – disse ofegante, enquanto Giancarlo brincava com seus seios. Recostou-se em seu corpo musculoso com as pernas fraquejando, enquanto ele girava seus mamilos entre os dedos. – Por que você sempre inicia conversas significativas quando sabe que conversar é a última coisa na minha mente? – Mas ele soltou um riso manso. – Eu deveria estar verificando os meus relatórios, mas não consigo parar de querer você por muito tempo. – Não sei se isso é uma boa coisa. – Caroline arqueara as costas e estava com a respiração acelerada enquanto ele continuava acariciando os bicos de seus seios com dedos hábeis. – Acho que é uma ótima coisa. Gostaria de ver o meu quarto? – Eu gostaria de ver o apartamento inteiro. Giancarlo deu um suspiro exagerado e soltou-a com relutância. Havia tempo desistira de tentar entender o que o atraía tanto em Caroline. Apenas sabia que não conseguia tirar as mãos dela. E, quando não estava por perto, não conseguia tirá-la dos pensamentos. Era uma das razões para não ter hesitado em lhe pedir que o acompanhasse a Milão. Não pudera se imaginar sem a companhia dela. E não pudera acreditar em quanto tempo ficara afastado do trabalho. Depois de tantos anos acorrentado ao local de trabalho, perguntou-se se, dali em diante, saberia conciliar melhor as coisas como agora. – Está certo. – Dando um passo atrás, pôs as mãos nos bolsos enquanto ela ajeitava a frente do vestido e colocava as alças no lugar. – Vou lhe mostrar o apartamento. Embora ele estivesse inclinado a se apressar nas explicações sobre os detalhes, Caroline contemplou tudo com vagar. Ficou impressionada com a imponente lareira na sala de estar principal, correu as mãos pelas cortinas de veludo vinho, admirou-se com a maneira como os aparelhos modernos da cozinha harmonizavam com os antigos azulejos italianos pintados à mão. O escritório dele no apartamento era extremamente moderno, montado para um homem que estava conectado com o resto do mundo corporativo vinte e quatro horas por dia. Ainda assim, a mesa que dominava a sala parecia ter séculos e nas prateleiras embutidas de mogno livros de primeira edição de história da Itália enfileiravam-se ao lado de manuais de direito e livros contábeis. Quatro enormes quartos ocupavam o andar de cima da cobertura junto com uma sala de estar onde havia o único televisor do apartamento.
– Venha até o meu quarto. Giancarlo aguardava inquieto enquanto ela verificava todos os quartos e exclamava admirada diante de detalhes que ele mal notava no dia a dia. Sim, a tapeçaria na parede detrás de uma das camas era certamente esplêndida; evidentemente o abajur trabalhado era belo e os trechos de vitrais em ambos os lados das janelas acrescentavam um toque especial. Ele mal podia esperar para levá-la para seu quarto, para lhe sentir o corpo curvilíneo junto ao seu. Sua falta de autocontrole ainda o surpreendia. – Sua mãe deve ter tido muito orgulho de você ao vê-lo chegar ao topo desse jeito. – Agora descobri que, na verdade, ela era mercenária, certo? – Ele lhe dirigiu um sorriso cínico, e Caroline franziu o cenho. – Há quanto tempo esteve guardando esse assunto? – Você é tão contido que não quis tocar num assunto constrangedor. Não com as coisas indo tão bem entre você e Alberto. Assim mesmo, não posso deixar de pensar que você deve estar aborrecido em descobrir que as coisas não eram como achou. – Mais do que imagina. – Ele segurou-lhe a mão, entrelaçando os dedos de ambos. – Fiquei chocado em descobrir que a minha mãe reescreveu o passado e determinou o meu futuro para se adequar às regras do próprio jogo dela, mas... Mas o choque fora passando porque Caroline o ajudara a amortecê-lo. Era como uma presença alentadora que lhe tornava a aceitação mais fácil. Era uma voz suave que impedia que a amargura viesse à tona. A mente dele rodopiava quando pensava a respeito. – Tenho idade o bastante para conseguir colocar as coisas em perspectiva. Quando eu era mais novo, não conseguia. Minha juventude ajudou a determinar minha atitude dura com o meu pai, mas agora que sou mais velho vejo que a minha mãe nunca cresceu. De uma maneira peculiar, acho que ela teria sido mais feliz se Alberto tivesse sido mesmo o homem que ela retratou. Teria achado a rigidez mais fácil de lidar do que a compreensão. Na verdade, ele continuou sustentando-a mesmo quando ela lhe mostrou que era irresponsável com dinheiro. Teria acabado com tudo se Alberto não tivesse tido o bom senso de contê-la. Ele tem extratos bancários de bem mais de uma década. Giancarlo hesitou. – Três anos depois que fomos embora, ela fez uma tentativa de voltar com o meu pai. Ele recusou. Acho que foi quando ela decidiu que podia puni-lo certificando-se de que ele nunca me visse. – É terrível. – Os olhos de Caroline arderam com simpatia, mas Giancarlo deu de ombros com ar filosófico. – Ficou tudo no passado. Adriana pode ter tido motivações duvidosas para o seu comportamento... Ela certamente se empenhou ao máximo para arruinar qualquer relacionamento que eu pudesse ter tido com o meu pai. Mas também sabia ser divertida e era uma espécie de aventureira. Nem tudo foi ruim. Ela também falava sem pensar, agia sem prever as consequências e era um pouco ingênua quando se tratava do sexo oposto. No fim, foi tanto uma vítima da própria amargura quanto eu. Haviam chegado a seu quarto e ele abriu a porta. Com uma satisfação juvenil, observou a expressão de prazer de Caroline enquanto olhava em torno do amplo espaço. Uma parede era inteiramente dominada por uma imensa janela em arco que oferecia uma vista privilegiada de Milão. Ela adiantou-se até lá, olhando para fora. – Sei que me acha uma caipira – disse corando.
– Tolice. Eu gosto do seu jeito. – Tudo é tão grandioso neste apartamento. – Eu sei. Nunca achei que este fosse o meu estilo. Talvez eu o ache relaxante levando em conta que o restante da minha vida é tão agitado. – Giancarlo se aproximou, e ela sentiu uma onda de expectativa percorrendo-a. – É fácil esquecer que o resto do mundo existe fora deste apartamento. – Abraçou-a pela cintura. Com a outra mão, soltou o cordão que prendia uma das cortinas pesadas, deixando o quarto mais escuro e íntimo. Carregou-a em seus braços até a cama e fizeram amor demoradamente, dando-lhe o máximo possível de prazer, e Caroline correspondeu às carícias com ardor por entre os lençóis de seda cor de chocolate. Havia escurecido por completo quando, enfim, deixaram a cama. Pediram comida pelo telefone e jantaram na cozinha, onde, usando uma camiseta dele, Caroline gracejou quando encontrou a geladeira quase vazia. Apesar da opulência da decoração, era certamente um apartamento de solteiro, disse-lhe. Permitiu-se desfrutar a sedutora domesticidade de estar no espaço dele. Após um delicioso jantar, aninharam-se no grande sofá da sala de estar, onde ela leu e ele ficou folheando os jornais. Tudo parecia tão certo que ela poderia ter dito a si mesma que não estava sendo insensata em deixar que seu amor dominasse suas ações. – Me acorde antes de sair de manhã – pediu ela, virando-se para Giancarlo na cama e abraçando-o. Sempre se cobrira dos pés a cabeça quando se deitara, mas ele mudara tudo isso. Agora, dormia nua e adorava o contato do corpo musculoso dele junto ao seu. Quando lhe cobriu a coxa com a sua o prazer foi quase insuportável. Giancarlo sorriu e beijou-lhe o canto dos lábios enquanto ela tentou ocultar um discreto bocejo. – Deixei você cansada? – Você é insaciável. – Apenas por você, mi amore, apenas por você. Caroline adormeceu atendo-se àquelas palavras, guardando-as para poder examiná-las depois. Quando tornou a abrir os olhos, o sol tentava adentrar pelas grossas cortinas. O lugar a seu lado na cama estava vazio. Sonolenta, verificou o apartamento, mas Giancarlo já se fora. Perguntou-se a que horas ele teria saído, tentando vencer o medo de que ele estivesse começando a ignorá-la. Estava? Ou ela estaria vendo coisas demais no fato de que ele saíra sem se despedir? Ainda não eram 9h. Na bancada de granito da cozinha, ela encontrou ovos, leite, pão e um bilhete informando-a que ele podia ser como qualquer homem do século vinte e um quando se tratava de estocar sua morada com comida. Caroline sorriu. Não era uma mensagem romântica, mas continha algo positivo. Indicava mudança, quer ele tivesse se dado conta ou não. Ela saboreou ovos mexidos e saiu um pouco depois das 10h, munida dos guias de turismo que comprara na estação de trem. Agradavelmente cansada depois de várias horas visitando os locais que não vira na sua primeira visita, retornou ao apartamento com a alegre expectativa de ver Giancarlo logo mais. Na noite anterior, ele a avisara que talvez chegasse tarde, mas não depois das 20h30. Caroline teve tempo para um longo banho e para se observar no espelho com a roupa nova que comprara de manhã numa butique. Era uma saia curta de seda e um colete combinando. O
colete tinha três pequenos botões na frente. Quando os deixava abertos, como agora, o vão entre os seios ficava em destaque. Sabia que, sem sutiã, Giancarlo poderia ver seus seios oscilando e os mamilos se comprimindo contra a seda. Não sairia de maneira tão ousada em público, mas imaginou o brilho ardente nos olhos dele quando a visse, e uma onda de doce expectativa a dominou. Duas horas antes do previsto, ficou eufórica quando ouviu a campainha. Sorria quando abriu a porta. Rapidamente, porém, o sorriso desapareceu, dando lugar à confusão. – Quem é você? A loira alta, de pernas compridas, com cabelo liso até a cintura falou antes que Caroline tivesse a chance de ordenar os pensamentos. – O que está fazendo aqui? Giancarlo sabe que você está aqui? Você é a empregada? Porque, se for, a sua roupa está inadequada. Deixe-me entrar. Imediatamente. A mulher empurrou a porta, e Caroline se colocou de lado em completo aturdimento. Ela não tivera chance de dizer nada e, agora, a linda loira com um elegante vestido curto de seda, bolsa de grife e sapatos de salto estava no interior do apartamento, olhando ao redor com ar desconfiado. Enfim, pousou os olhos no rosto vermelho dela e cruzou os braços. – E então? – disse com ar imperioso. – Explique-se. – Quem é você? Giancarlo não me disse que estava esperando ninguém. – Giancarlo? Desde quando a empregada chama o patrão pelo primeiro nome? Espere até que ele saiba disso. – Não sou a empregada. Sou... Sou… – Não haveria meio de que ele quisesse que ela se designasse como “noiva”, pois, afinal, aquele relacionamento era uma encenação destinada a Alberto, não significava nada. – Nós estamos... envolvidos. A loira abriu um sorriso que foi se alargando e, de repente, estava rindo com genuína incredulidade. Caroline gelou no lugar. Ao lado de uma beldade estonteante daquelas, sentia-se uma tola. – Você só pode estar brincando! – Não estou. Estamos juntos há algumas semanas. – Ele jamais sairia com alguém como você – falou a loira numa voz exageradamente paciente, a voz de quem tentasse explicar o óbvio a uma pessoa lunática. – Como disse? – Eu sou Lúcia. Giancarlo e eu fomos namorados antes de eu ter rompido o relacionamento poucos meses atrás. A pressão do trabalho... Sou modelo, a propósito. Sinto muito lhe dizer isto, mas eu sou o tipo de mulher com quem Giancarlo sai. Giancarlo saía com modelos, ponderou Caroline. Gostava de loiras altas, de pernas compridas e sofisticadas. Morenas de estatura média e simples não eram de seu agrado. Ela desejou estar usando um anel imenso de noivado incrustado de diamantes, para poder esfregar no rosto desdenhoso da loira, mas a ida a joalheria não acontecera, apesar da gentil insistência de Alberto. – Ouça, diga a ele que passei por aqui. Caroline observou enquanto Lúcia, um nome elegante para uma loira elegante, se adiantou até a porta. – Diga-lhe... – Lúcia fez uma pausa para percorrê-la com um olhar de menosprezo. – Que ele tinha razão. Inúmeras horas viajando ao redor do mundo... Diga-lhe que decidi descansar um
pouco e que, portanto, ele pode entrar em contato comigo quando quiser. – Entrar em contato com você para fazer o quê? – obrigou-se Caroline a perguntar, embora sua boca estivesse muito seca. – O que você acha? – Lúcia arqueou as sobrancelhas significativamente. – Ouça, pode ficar com raiva de mim por eu lhe dizer isto, mas direi assim mesmo porque é para o seu próprio bem. Giancarlo pode estar se divertindo um pouco com você porque está arrasado por minha causa, mas é tudo o que você vai ter e não vai durar. É melhor você se retirar enquanto pode. Ciao, querida! Caroline permaneceu onde estava por alguns minutos depois que Lúcia se foi. Sua mente fazia ligações dolorosas. Aquela era a vida real de Giancarlo, lindas mulheres que se adequavam à sua vida glamourosa. Ele tirara algum tempo de folga e, de algum modo, acabara parando na cama com ela e, agora, era evidente o motivo. Em circunstâncias extraordinárias, ele se comportara de maneira atípica, fora para a cama com o tipo de mulher que teria ignorado em circunstâncias normais, porque era o tipo de mulher que talvez tivesse contratado como sua empregada. Mais assustadora era a suspeita de que ela estivera lá, um elo conveniente entre ele e o pai. Ajudara-o a atravessar um abismo que poderia ter sido extremamente difícil de transpor e acabara indo parar na cama dele como um bônus. Giancarlo se vira numa situação em que só tivera a ganhar e a aproveitara. O bilhete que ela encontrara, que vira como promissor, agora parecia corriqueiro e sem significado, uma mensagem qualquer a alguém que facilitara sua vida; uma companheira de cama que lhe dera os privilégios de um relacionamento enquanto, convenientemente, não esperara nenhum. Caroline sentia uma forte opressão no peito. Achou-se ridícula em sua roupa e ficou zangada e envergonhada por ter se vestido para ele. Estava mortificada com a facilidade com que se deixou envolver de corpo e alma até não conseguir tirá-lo dos pensamentos. Ousara pensar o impossível, que ele corresponderia ao seu amor. Ela se trocou rapidamente, substituindo a saia e o colete de seda por um jeans e uma camiseta. Queria correr dali, mas obrigou-se a ligar a tevê. Era onde estava quando, uma hora e meia depois, ouviu Giancarlo colocar a chave na fechadura. Quando se aproximou, com aquele sorriso irresistível, ele começou a soltar a gravata e desabotoar a camisa. Apesar de amargurada e desiludida, Caroline não pôde conter a reação instintiva de seu corpo e teve que se esforçar para controlar o pulso acelerado. Concentrou-se na imagem da loira para não esmorecer. – Você não faz ideia de como eu estava ansioso para voltar... – Giancarlo atirou a gravata num dos sofás e adiantou-se até ela, pousando as mãos nos braços da poltrona onde estava sentada. Caroline sentiu um nó na garganta. – É mesmo? – Sim. Deixei o meu homem de confiança na reunião. Com a opção de ver você aqui, não foi uma decisão difícil. De me ver aqui, como uma marionete obediente..., pensou ela angustiada. – Comida primeiro? Posso pedir no Capello e entregarão aqui dentro de uma hora. Claro, por que você me levaria para jantar fora e abreviaria o tempo que pode passar na cama comigo? Antes de ficar entediado porque não sou em nada como as garotas com quem quer sair. Garotas loiras, sexy, sofisticadas como... Lúcia.
– Você não está dizendo nada. – Giancarlo endireitou as costas e foi sentar-se na poltrona mais próxima. Inclinou-se para a frente, apoiando os cotovelos nas coxas. – Lamento se não pude passear com você pela cidade hoje. Acredite, eu teria adorado lhe mostrar a minha cidade. Ficou entediada? Caroline engoliu em seco e encontrou a fala. – Eu me diverti bastante. Visitei o Duomo, o museu, tive um almoço bastante agradável numa das piazzas. – Tenho a impressão de que há um “mas” na descrição do seu dia. Algo estava acontecendo ali, percebeu Giancarlo, embora não soubesse explicar o que era. Acordara bem cedo e ficara observando-a dormir a seu lado, o rosto sereno. Parecera tão jovem e tão tentadora. Tivera de resistir à vontade de acordá-la às 5h30 para fazer amor. Em vez disso, tomara um banho frio e passara a maior parte do dia ansioso pela volta ao apartamento. Nunca quisera tanto voltar para ali, nunca tivera a sensação de que ali fosse seu lar. Franziu o cenho enquanto algo lhe ocorreu. – Alguma coisa aconteceu hoje? Teve algum aborrecimento enquanto estava fazendo turismo? – Algo aconteceu – disse Caroline, desviando os olhos. – Mas foi aqui mesmo. Tive uma visita. – Uma visita aqui? Dessa vez, ela lhe sustentou o olhar. Meneou a cabeça. – Alta. Pernas compridas. Loira. Deve saber a quem me refiro. O nome dela é Lúcia.
CAPÍTULO 9
GIANCARLO GELOU. – Lúcia esteve aqui? – perguntou tenso. A maneira como apertou os lábios refletiu seu desprazer. Lúcia Fontana ficara no passado. Era uma das ex-namoradas dele que aceitara o rompimento de ambos com bem menos elegância do que a maioria. Era uma supermodelo no auge da carreira, acostumada a ter os homens a seus pés. Era também exasperante, superficial, fútil, egoísta e deixava muito a desejar em termos de inteligência. Lúcia o conhecera num evento de negócios, uma exposição de arte prestigiada por empresários e celebridades, e ela pedira a alguém que os apresentasse. Seu erro fora o de convidá-la para sair. – Que diabo ela veio fazer aqui? – Não esperava me encontrar – falou Caroline exasperada. – Desculpe por isso. Não se preocupe. Não voltará a acontecer. – Imagino que haja uma porção delas, prontas a aparecer a qualquer momento – disse ela sarcástica. – Do que, afinal, está falando? – Mulheres. Ex-namoradas. Supermodelos glamourosas que você largou, ou, neste caso, uma supermodelo glamourosa que largou você. – Lúcia? Ela lhe disse que me deixou? – Giancarlo foi tomado por uma onda de fúria. Sabia que ferira o ego de Lúcia quando a deixara, mas ficava enfurecido em saber que ela fora até seu apartamento e mentira. – Bem, acho que deve ter sido difícil para ela conduzir um relacionamento com alguém enquanto viajava tanto, mas disse que está de volta agora e que você pode contatá-la quando quiser. Para vocês retomarem de onde pararam. Não. Ele não começaria a se explicar. Era algo que nunca tivera que fazer e não começaria agora. Não era de sua natureza justificar seu comportamento, não que tivesse algo a justificar. – E é o que você espera que eu faça? – perguntou num tom frio. Caroline sentiu seu coração se partindo. Não se dera conta de como ansiara para ouvi-lo negar tudo que a loira dissera. O silêncio dele no assunto dizia tudo. Certo, talvez Giancarlo não saísse correndo à procura de Lúcia para se atirar a seus pés, mas se a mulher tivesse mentido, ele não teria negado sua história?
– Ficou aborrecida porque, apesar de tudo, você não confia em mim. – Não estou aborrecida! – Não é o que os seus olhos estão me dizendo. Lúcia e eu terminamos há meses. – Mas foi você ou ela que terminou? – Que diferença faz? Ou você confia em mim ou não. – Por que devo confiar em você? – Ela estava determinada a não perder a compostura, mas olhando para o rosto orgulhoso, aristocrático de Giancarlo, teve vontade de esbofeteá-lo. Ao refletir em seu amor por ele, em sua estupidez por pensar que o que tinham significava algo, sentiu a bile subir até a garganta. – Você não teria olhado duas vezes para alguém como eu se tivéssemos nos conhecido em circunstâncias normais, não é? – Eu me recuso a entrar numa discussão hipotética sobre o que poderia ou não ter acontecido. Nós nos conhecemos e você tem tido provas de sobra de como me sinto atraído por você. – Mas eu não sou o seu tipo. Acho que, bem no fundo, eu sempre soube disso. Mas a sua namorada deixou bem claro que... – Lúcia não é minha namorada. Está certo, se significa tanto para você saber o que aconteceu entre nós, vou lhe dizer! Eu saí com a mulher e descobri que foi um erro. Há espaço para apenas uma pessoa na vida de Lúcia, e essa é ela mesma. Ela é do tipo fútil e consegue falar apenas sobre si. Não há espelho que escape quando está por perto e, além do mais, tem uma língua ferina. – Mas é bonita. – Caroline descobriu que não se importava mais em saber quem rompera o namoro. Que diferença fazia? A questão era que Lúcia fazia mais o tipo dele. Giancarlo gostava de mulheres transitórias que o entretivessem sem tomar muito de seu precioso tempo e sem fazer exigências. – Eu a deixei, e ela não gostou. – Ele não quisera se explicar, mas, no fim, fora impossível não fazê-lo. – Bem, não importa. – É claro que importa, ou, do contrário, você não estaria fazendo uma tempestade em copo d’água por causa disso. Caroline ponderou que tinha suas razões. Mas precisava tomar cuidado. Cada sinal de mágoa seria apenas mais uma indicação do grau de envolvimento dela naquele suposto relacionamento. O que ele faria se descobrisse que ela o amava? Riria alto? Correria um quilômetro? Ambas as coisas? Estava determinada a não deixá-lo descobrir. Ao menos desse modo teria condições de se retirar com o mínimo de dignidade em vez de provar que Lúcia estivera certa, que cometera o erro fatal de pensar que significava algo para ele. Incapaz de conter a agitação, ela se levantou e se adiantou até a janela, espiando para fora pela vidraça fechada. Sentou-se na beirada. – Fiquei embaraçada. – Engoliu em seco, esforçando-se para reprimir as lágrimas. – Eu não esperava abrir a porta e dar de cara com uma de suas ex-namoradas, embora não seja culpa sua que ela tenha aparecido aqui. Ela disse algumas coisas ofensivas, mas a culpa também não é sua. Levando em conta que estava sendo exonerado de toda a culpa, Giancarlo ficou desconcertado em se dar conta de que não se sentia melhor. E não gostou da expressão distante no rosto de Caroline. Preferira quando estivera zangada. – Isso me fez pensar, porém, que o que estamos fazendo é... Bem, temos que parar.
– Me explique isso. Uma mulher tola aparece na minha porta sem ser convidada e, de repente, você concluiu que o que temos é errado? Nós somos adultos. Estamos atraídos um pelo outro. – Estamos enganando um idoso, levando-o a crer que o que temos é algo que não é. Eu deveria ter ouvido a minha consciência desde o início. Não temos que pensar apenas em nos divertirmos, não importando as consequências. Giancarlo ficou vermelho, pois se viu sem palavras de repente. Se Lúcia estivesse ali, porém, teria ouvido umas boas verdades. Era inacreditável a maneira como as coisas haviam dado errado naquela noite. O pior de tudo era que sentia Caroline se afastando dele e não havia nada que pudesse fazer a respeito. – O fato é que a mulher estava certa. Não sou o seu tipo. – Ela não pôde evitar. Fez uma pausa, um instante de silêncio, algo que ele pudesse preencher com a negação. – Você não é o meu tipo. Temos nos divertido e, nesse meio tempo, levamos Alberto a acreditar que há mais entre nós do que existe na realidade. – É loucura voltarmos a falar no subjetivo assunto de tipo. – Giancarlo percebeu que não soou convincente, mas caso falasse do valor de se “divertirem”, que parecia ter se tornado uma palavra obscena, a situação poderia piorar. Correu os dedos pelo cabelo com frustração. – Se Alberto não estivesse envolvido, talvez as coisas tivessem sido um pouco diferentes. – Não é um pouco tarde para começarmos a falar de moralismo? – Nunca é tarde demais para se fazer a coisa certa. – E uma mulher que não significa nada para mim, que se tornou um peso morto uma semana depois que a conheci, fez você chegar a essa conclusão? – Eu acordei. – Caroline sentiu os nervos em frangalhos enquanto Giancarlo se levantava e se adiantava em sua direção. Tudo nele era familiar, desde a fragrância de sua colônia até a elegante economia de seus gestos. Desviou os olhos, mas estava com a respiração acelerada. Acima de tudo, não queria que ele a tocasse. – Sei que é tarde, mas quero voltar para a casa na praia. – Isso é loucura! – Eu preciso estar... – Longe de mim? Porque, se ficar perto demais, você tem medo de que seu corpo possa assumir o controle? – Apenas prefiro voltar esta noite. – Esqueça. Você pode sair de manhã, e eu não a incomodarei esta noite. Meu motorista virá buscá-la, e o meu helicóptero levará você de volta à minha casa na praia. – Ele se virou e começou a andar na direção do quarto. Após um instante de hesitação, Caroline seguiu-o. Agora, estava aterrorizada com o imenso vazio que se abria a seus pés. – Sei que está preocupado com a possibilidade de que Alberto fique com a impressão errada de você. Ela se manteve junto à porta, desesperada para manter contato, embora soubesse que o havia perdido. Ele estava se virando, tirando a camisa para atirá-la numa cadeira antiga perto da janela. – Vou lhe dizer que as suas reuniões estavam tão intensas que achamos melhor que eu voltasse para o litoral, para sair do calor abafado de Milão.
Giancarlo não respondeu. Caroline sentiu os pés se movendo até que se viu diante dele. – Giancarlo, por favor. Não faça assim. Ele fez uma pausa e a olhou com uma expressão fechada. – O que quer que eu diga? Ela deu de ombros e olhou para a ponta dos pés em silêncio. – Para onde você vai? Quero dizer, esta noite? Você disse que não iria me incomodar. – Pousou a pequena mão no braço dele. – Se quer me tocar, terá que estar preparada para as consequências. Caroline afastou a mão depressa, dando alguns passos atrás. Ele dissera aquilo uma vez. E ela o tocara porque quisera ir para a cama com ele. Agora, as circunstâncias a levavam a querer manter o máximo de distância possível. Se bem que era como se seu corpo tivesse vontade própria, sentindo-se irremediavelmente atraído por ele. – Este é o seu apartamento. É tolice que você vá para algum lugar para passar a noite – balbuciou. – O que sugere? Que eu me deite na cama a seu lado para dormirmos como crianças castas? – Eu poderia usar um dos outros quartos. – Eu não confiaria em mim se fosse você. – Observando-a, Giancarlo viu que ela corou. – Você pode acordar e me encontrar um pouco perto demais. Agora, vou tomar um banho. Quer continuar esta conversa no banheiro? O coração de Caroline ainda estava acelerado vinte minutos depois quando Giancarlo voltou à sua sala de estar depois de ter tomado banho e preparado uma mala para passar a noite. Parecia calmo e controlado. Ela, por sua vez, estava sentada na beirada do sofá, com as costas retas e as mãos dobradas sobre os joelhos, tensa como nunca. Olhou-o com ar cauteloso. Giancarlo largou a mala num dos sofás e se serviu de um drinque no bar a um canto. – Você sabe que vou voltar para o litoral assim que esta série de reuniões tiver terminado? Assim, preciso saber exatamente o que vou encontrar. – O que vai encontrar? – Ela estava fascinada em vê-lo num jeans com uma camisa polo azul, tão diferente do homem de negócios que chegara ao apartamento. Mais uma vez, perguntou-se angustiada se tomara a decisão certa. Estressada e desconcertada com a aparição de Lúcia, agira impulsivamente? Amava Giancarlo! Teria arruinado a pequena chance de fazê-lo sentir o mesmo que ela própria sentia? Se tivessem continuado a se ver, o amor teria se reunido ao desejo? Tão logo tais pensamentos surgiram, outra possibilidade lhe ocorreu. E se ele tivesse ficado entediado e desinteressado, passando a achá-la carente e persistente. Se tivesse resolvido encontrar um clone de Lúcia para substituí-la. Podia achar a sua franqueza uma novidade agora, mas não era uma característica a que estivesse acostumada. Mas ele tinha uma aparência tão irresistível... Ela engoliu em seco, dizendo a si mesma para se concentrar. – Planeja estar lá no fim da semana? – É claro que sim! Eu lhe disse que estou preparada para levar isto adiante por um pouco mais de tempo, mas teremos que mostrar ao seu pai que estamos nos separando gradualmente para que não fique aborrecido quando anunciarmos que está tudo terminado entre nós. – Tem alguma pista de como devemos fazer isso? Talvez possamos encenar algumas discussões, certo? Ou você poderia brincar com a verdade e lhe dizer que conheceu uma das minhas ex-namoradas e não gostou do que viu.
– Todas as suas namoradas eram como Lúcia? Giancarlo franziu o cenho, perplexo com a objetividade da pergunta e o ligeiro tom de crítica que continha. – Sei que Lúcia pode ter entediado você. – Mas eram todas como ela? Já saiu com alguém que não era uma modelo? Ou uma atriz? Quero dizer, você saiu com as mulheres por causa da aparência delas? – Não vejo a relevância da pergunta. – Ele não fora programado para distrações e nunca quisera envolvimentos com mulheres que pudessem desafiá-lo intelectualmente e que quisessem um relacionamento mais longo. – Não, não é relevante. – Caroline desviou os olhos, e ele teve de resistir à tentação de não se colocar no raio de visão dela e obrigá-la, assim, a olhar na sua direção. Em vez disso, pegou a mala e começou a se adiantar até a porta. Caroline forçou-se a permanecer no lugar, embora ansiasse por fazer-lhe mais perguntas para impedi-lo de ir. Quis lhe perguntar o que ele vira nela. Não era bonita e, portanto, o que mais o atraía? Queria extrair qualquer coisa favorável, mas conteve as palavras antes de poder dizer algo. Pensou naquele distanciamento que teria de acontecer e, imediatamente, sentiu falta do contato físico e da doce camaradagem entre ambos. E de tudo que haviam partilhado. Ela ouviu a porta da frente se fechando e, de repente, o apartamento pareceu imenso e vazio. Com a mente num completo turbilhão, não soube como conseguiria conciliar o sono. Na verdade, adormeceu depressa e acordou com a claridade se filtrando pelos vãos nas pesadas cortinas. Levou alguns segundos para se lembrar de tudo. Giancarlo não se achava ali. A cama estava vazia. Repassou os acontecimentos da noite anterior como se fosse a espectadora de um filme, condenada a assisti-lo, mesmo sabendo o fim e o odiando. O motorista chegou para buscá-la pontualmente, e ela estava com a mala pronta. Até o último minuto, tivera esperança de que Giancarlo aparecesse. Culpadamente, permitira-se a fantasia de que ele aparecesse com um grande buquê de rosas vermelhas, pedidos de desculpas e talvez até um anel de noivado. Na ausência de tudo isso, passou tanto o trajeto de carro quanto o breve voo de helicóptero temendo a possibilidade de que ele tivesse deixado o apartamento para buscar consolo nos braços de outra mulher. Ele teria sido capaz disso? Ela não sabia. Mas, afinal, não o conhecia bem. Havia jurado que vira o homem completo, mas estivera vivendo numa redoma. O Giancarlo que conhecera não era o mesmo que namorava supermodelos apenas porque não faziam exigências e pareciam bem a seu lado. Sentiu um agonizante vazio no peito quando, no táxi que a buscou no heliponto, enfim, avistou a casa de Giancarlo no alto da colina, acima do mar. O que haviam partilhado terminara. Passara tanto tempo refletindo sobre isso que não pensara no que diria a Alberto quando o visse. Tinham partido como um casal feliz. Seria fácil convencer Alberto de que, num espaço de horas, tudo começara a desmoronar? Enquanto ela lidava com a perspectiva de mais meias verdades e, antes que pudesse colocar a chave extra que tinha da casa na fechadura, a porta da frente se abriu e deparou com um
perplexo Alberto. Caroline forçou um sorriso. – O que está acontecendo? Você não deveria estar em Milão, nos terraços do Duomo com o restante dos turistas? – Ele franziu o cenho. – Há algo que queira me dizer? Eu estava de saída para caminhar um pouco nos jardins sozinho quando a vi chegar de táxi, mas, ao que parece, precisamos conversar. GIANCARLO OLHOU para o seu relógio pela terceira vez. De todas as reuniões do dia, aquela parecia estar se arrastando interminavelmente. Eram quase 16h e havia chegado ao escritório às 6h30. Infelizmente, sua mente estava quase o tempo todo ocupada com a mulher que deixara no seu apartamento na noite anterior. Mais uma vez, franziu o cenho diante da lembrança. Distraidamente, começou a bater com a caneta na mesa de reuniões. Todos os olhos se voltaram em sua direção na expectativa de algo importante a ser dito. Era o tipo de respeito a que estava acostumado, mas que agora achava um pouquinho irritante. Nenhuma daquelas pessoas tinha opinião própria? Não havia ninguém que se arriscasse a contradizê-lo em algo? Ele afastou seus papéis para o lado e se levantou. Várias pessoas se colocaram de pé e retomaram seus assentos. Tendo passado o dia indeciso, com a mente absorta pela última conversa que tivera com Caroline, Giancarlo chegara a uma decisão e começava a recobrar a sua habitual confiança. O primeiro passo foi anunciar que precisava se retirar, deixando instruções para que o contatassem pelo celular. O segundo envolveu uma ligação para sua secretária. Numa questão de minutos, estava pronto para a viagem de volta ao litoral. O helicóptero estava disponível, mas preferiu voltar de trem. Precisava pensar. Uma vez no trem, olhou para o cenário pitoresco que ia passando pela janela, sentindo-se cada vez melhor com a decisão de deixar Milão. Decidiu que, dali em diante, seria mais ativo no treinamento de pessoas a quem pudesse delegar tarefas. Sim, tinha funcionários capazes e confiáveis, mas ainda era a figura para a qual todos se voltavam em busca de orientação. Céus, não tivera alguns dias de folga em anos! Escurecera quando chegou à casa de praia e se dirigiu diretamente ao pátio arejado da frente. Conhecia a rotina. Seu pai estaria ali fora com Tessa ou Caroline, aproveitando a brisa marítima, que dizia ser mais revigorante que o ar do lago. Passou-se um minuto ou dois até que Alberto se desse conta do vulto de Giancarlo se aproximando e mais alguns segundos para que Caroline percebesse que não estavam sozinhos no pátio. Não haviam acendido as luzes externas, preferindo a serenidade do límpido céu noturno de verão. – Giancarlo! – Levantando-se, Caroline foi a primeira a romper o silêncio. Ficou perplexa ao vê-lo ali. Como estava escuro, só lhe via a silhueta e não conseguiu enxergar seu rosto com clareza. – Não estávamos esperando você. – Alberto alternou um olhar velado entre os dois. – O que você está fazendo aqui? – indagou Caroline. – Desde quando preciso de um motivo para vir a minha própria casa?
– Apenas achei que, levando em conta o que aconteceu, você ficaria em Milão. – Levando em conta o que aconteceu? – Eu contei tudo ao seu pai, Giancarlo. Não precisa fingir mais. Seguiu-se um silêncio tenso que se prolongou tanto que Caroline começou a transpirar com nervosismo. Lançou um olhar a Alberto, que se manifestou prontamente em seu auxílio. – É claro que fiquei profundamente aborrecido com o que aconteceu. Sou um velho com problemas de saúde e talvez eu tenha pressionado vocês dois a fingirem algo só para me deixarem feliz. Se esse foi o caso, filho, foi algo imperdoável. – Não está sendo um pouco dramático, Alberto? – Giancarlo colocou as mãos nos bolsos. – Não há nada de dramático em admitir que sou um velho tolo, filho. Só posso esperar que a minha idade e fragilidade sirvam de desculpa. – Alberto se levantou, apoiando-se nos braços da cadeira. – Agora, acho que vocês dois devem querer conversar. Sobre providências. Parece que mencionou que está pensando em voltar ao seu país, não é, Caroline? Caroline tentou se lembrar freneticamente se dissera tal coisa. Dissera? Talvez tivesse pensado em voz alta. Na verdade, ainda não pensara no seu passo seguinte. Mas agora que a sugestão fora mencionada, não é que fazia sentido? Por que iria querer ficar ali quando o homem que partira seu coração estaria sempre por perto, aparecendo para ver o pai? Além do mais, tinha uma vida para levar adiante. – Bem, eu... – Na verdade, talvez seja melhor deixarmos o litoral. Voltarmos para os lagos. Não iríamos querer tirar proveito da sua hospitalidade levando em conta as circunstâncias. – Papa, por favor. Sente-se. – E eu poderia ter jurado que vocês dois têm química. Isso só serve para mostrar o quão tolo eu fui. – Nós nos entendemos bem – interveio Caroline antes que Alberto pudesse mesmo meter os pés pelas mãos. Confessara tudo ao patrão, incluindo como se sentia com relação a seu filho. Quanto àquela última parte, pedira-lhe segredo. – Nós… Nós somos apenas... Tenho certeza de que permaneceremos amigos. Giancarlo lhe dirigiu um olhar zangado, e ela ficou constrita. Então, nem sequer amizade. Fora uma sugestão impraticável, de qualquer modo. Não havia meio de haver uma amizade. Seria doloroso demais. – É melhor eu entrar agora. Tessa deve estar preocupada. Aquela tola acha que vou bater as botas se não for me deitar às 22h. Caroline acompanhou Alberto com o olhar até que ele entrasse na casa e, então, observou a figura séria de Giancarlo. – E então? – disse ele num tom grave. – Sei que falei que não diria nada a Alberto, mas quando cheguei aqui, tudo acabou vindo à tona. Desculpe. Ele não ficou mal com isso. Nós o subestimamos. Não entendo por que você voltou. – Está desapontada? – Giancarlo se adiantou até a cerca de madeira onde se apoiou para olhar o oceano prateado abaixo. Virou-se para observá-la. – Só estou surpresa. Achei que você tinha tanto a fazer em Milão.
– E se eu não tivesse aparecido aqui esta noite, você teria voltado à Inglaterra sem dizer uma palavra? – Eu não sei – confessou Caroline com franqueza. – Bem, ao menos está sendo sincera. Mais do que quando me falou que não diria nada ao meu pai. Não posso conversar com você aqui. Fico esperando que Alberto apareça a qualquer minuto e tome parte na conversa. – O que há para conversarmos? – Caminhe comigo na praia. Por favor. – Prefiro não fazer isso. Agora que seu pai não tem expectativas de que nos casemos, nem nada parecido, temos de deixar o que tivemos para trás e seguir a diante. – É o que você quer? – perguntou Giancarlo um tanto ríspido. – Se me lembro, você disse que, se não fosse por Alberto, você nos consideraria... Bem, Alberto está fora de cena. – Há mais do que isso – murmurou ela. A brisa soprava em seu cabelo, refrescava-lhe o rosto. Abaixo, o som das ondas contra as rochas teria sido relaxante se não estivesse tão nervosa. – Preciso de mais do que apenas um relacionamento físico e suponho que foi o que finalmente enfrentei quando sua ex-namorada apareceu no apartamento. Ela é a realidade. A vida que você leva. Eu fui apenas uma pausa. Quando você decidiu, por qualquer que tenha sido a razão, voltar para o Lago de Como para ver o seu pai, estava fazendo algo totalmente fora do comum. Fui apenas uma parte do seu tempo de folga. Foi divertido, mas quero mais do que ser apenas a diversão temporária de alguém. – Não me diga que somos incompatíveis. Não posso aceitar isso. – Porque não consegue imaginar alguém terminando com você? Acredito quando disse que terminou com Lúcia. Ainda assim, lá estava ela, uma mulher que poderia estalar os dedos e ter quem ela quisesse, pronta para fazer qualquer coisa para ter você de volta. – E agora a situação se inverte – disse Giancarlo numa voz rouca. – Descobri como é ser a pessoa disposta a qualquer coisa para ter alguém de volta.
CAPÍTULO 10
– ESTÁ DIZENDO isso por dizer – sussurrou Caroline, tensa. – Você não suporta a ideia de que alguém deixe você. – Não me importo com quem me deixe. Só não suporto a ideia de que essa pessoa seja você. Caroline não quis dar lugar a nenhuma esperança. Um movimento em falso e aquilo começaria a assumir o controle, como uma erva daninha, sufocando todo seu bom senso e intenções nobres. E o que seria dela? – Ouça, vamos descer até a praia. Teremos privacidade lá. Caroline ponderou que era exatamente do que tinha medo. Privacidade demais com Giancarlo sempre fora um desastre. Por outro lado, o que ele quisera dizer quando declarara que estava disposto a qualquer coisa para tê-la de volta? Ouvira bem? – Está certo – falou com relutância. – Mas quero me deitar cedo. De manhã, acho que será melhor se partirmos, voltarmos aos lagos, e, então, posso começar a pensar em voltar para a Inglaterra. – Ela teve uma vaga sensação de pânico. – Já estou na Itália há tempo demais – balbuciou. – Minha mãe começou a me perguntar quando pretendo retornar. Foi uma ótima experiência aqui. Posso não ser totalmente fluente, mas agora falo bem o italiano. Acho que será bem mais fácil conseguir um bom emprego. – Não estou interessado em saber como ficou o seu currículo. – Só estou dizendo que tenho muitas coisas planejadas para quando voltar à casa e, agora que Alberto está se arranjando bem e que esta tolice entre nós acabou, não há razão para que eu fique. – Acha mesmo que o que tivemos pode ser designado como tolice? Caroline ficou em silêncio. Com um suspiro frustrado, Giancarlo começou a seguir na direção dos gramados até o portão lateral que se abria para uma série de degraus esculpidos na encosta. Dali se tinha acesso à pequena praia particular abaixo. Caroline seguiu-o. Era noite, mas o caminho abaixo estava iluminado e os degraus, largos e ladeados por corrimões de ferro, foram fáceis de descer. Ela não sabia como era aquele lado da praia. A descida teria sido um pouco cansativa para Alberto e ela hesitara em ir sozinha. Na presença de Giancarlo, seu medo de água aberta desaparecia milagrosamente. – A água é bem rasa aqui – disse Giancarlo, lendo-lhe os pensamentos. – E bastante calma. – Eu não estava com medo.
Ele fez uma pausa e se virou para olhá-la. – Não. Por que estaria? Eu estou aqui. Sentindo o coração dar um salto, ela umedeceu os lábios com nervosismo. Embora passasse das 21h, ainda estava quente. Na distância, o mar para além da praia reluzia prateado e as ondas quebravam de encontro às rochas. Era uma atmosfera íntima e romântica, mas tudo o que Caroline sentia era uma profunda tristeza e temor de que suas últimas lembranças de Giancarlo fossem ali. Quanto ao que ele dissera sobre estar disposto a qualquer coisa para tê-la de volta, a questão era que não queria perder. A praia era pequena e particular. Giancarlo tirou os sapatos e sentiu a areia sob seus pés com satisfação. Caminhou, então, até a beirada da água e olhou na direção do horizonte escuro. Atrás dele, Caroline estava tão imóvel quanto a noite. O que estaria dizendo quanto a deixar o país e voltar para a Inglaterra? A incerteza deixou-o atipicamente hesitante. Ela havia confessado tudo a Alberto. Para ele, aquilo dizia tudo. Virando-se, viu-a sentada numa rocha plana com os joelhos dobrados e os braços em torno de si. Observava o mar, mas quando ele se aproximou, olhou-o com ar cauteloso. – Não quero que você vá embora – disse determinado. – Vim até aqui porque tinha que te ver. Não pude me concentrar. Droga, isso nunca me aconteceu antes. – Lamento muito. Ele sentou-se por perto na areia. – É tudo o que você tem a dizer? Que lamenta? E quanto à parte em que eu lhe disse que não quero que vá embora? – E por que não quer que eu vá embora? – Não é óbvio? – Não, não é. – Caroline desviou os olhos para o mar escuro. – Isso tem a ver com o fato de você estar atraído por mim. Acho que não esperou que isso acontecesse quando foi ver seu pai. Na verdade, acho que não esperou que muitas coisas acontecessem. – Se com isso quer dizer que não esperei me reconciliar com Alberto, tem razão. – Sou apenas parte de uma cadeia inesperada de acontecimentos. – Não tenho ideia do que está falando. – Esse é o problema – suspirou Caroline. – Você não sabe do que estou falando. – Por que não esclarece? Caroline se perguntou como colocaria em palavras o seu maior medo de não ter passado de uma novidade. Quantas vezes, enquanto tinham rido e feito amor, ele não se admirara com a sensação de estar fazendo algo fora de sua rotina normal? Como alguém que estivesse saindo de férias pela primeira vez, ele desfrutara também um romance de férias, mas nunca mencionara nada permanente. Ele já fizera planos para o futuro? Agora que ela conseguira reunir forças para ir embora, ele voltara para talvez tentar impedi-la, mas, naqueles termos, não conseguiria. – Eu me sinto como se minha vida estivesse em suspenso, e agora, é tempo de seguir adiante. Nunca pretendi ficar tanto tempo na Itália, mas eu e Alberto nos entendemos muito bem e, depois, quando ele ficou doente, não quis deixá-lo sozinho. – O que isso tem a ver com a gente? – Giancarlo sentiu um frio na boca do estômago. Aquilo tinha todos os sinais de uma carta de despedida, o que não o agradou nem um pouco. Recusavase a aceitar isso.
– Não quero ficar simplesmente aqui, morando com Alberto, esperando o final de semana ocasional em que você decida aparecer para uma visita até que se canse de mim e volte para o tipo de vida que sempre levou. – E se eu não quiser voltar para o tipo de vida que sempre levei? – O que está dizendo? – Talvez eu tenha me dado conta de que a vida que sempre levei não é a ideal para mim. Caroline sorriu com genuíno humor. – Então, você decidiu que vai para os lagos e vai se tornar instrutor de navegação a vela? – Você é tão perfeita para mim. Nunca me leva a sério. Ao contrário, ponderou ela. Levava-o a sério demais. – Você jurou que não diria nada ao meu pai. – Não planejei – confessou Caroline com sinceridade. – Mas Alberto estava na porta da frente quando voltei. Acho que se eu tivesse tido tempo para colocar os pensamentos em ordem... Eu não sei... Mas quando ele abriu a porta, bastou que eu olhasse para saber que não poderia continuar com a encenação. Ele merecia a verdade. Não importa mais agora, de qualquer modo. – Importa para mim. Vim até aqui para tentar convencer você de que não queria que rompêssemos. Somos bons um para o outro. Ela acrescentou mentalmente “bons na cama” ao comentário dele. Olhou-o com ar cético. – Você não acredita em mim? – Acredito que se divertiu comigo e que talvez quisesse que as coisas continuassem um pouco mais, mas é loucura confundir isso com algo mais. – Algo mais como o quê? Caroline sentiu as faces afogueadas. – Como uma razão para não rompermos. Como uma razão para tentar me persuadir a ficar na Itália quando já passei da hora de voltar. Como uma razão para me persuadir a pensar que não há problema em deixar minha vida em suspenso porque somos bons na cama. – E se eu disser que quero você na minha vida por mais do que algumas semanas? Ou alguns meses? Ou alguns anos? E se eu disser que quero você na minha vida para sempre? Caroline ficou tão chocada que conteve a respiração e arregalou os olhos para estudá-lo. – Você não é do tipo que quer casar. Giancarlo correu os dedos pelo cabelo e abriu um sorriso. – Sabe que tem o péssimo hábito de me deixar nervoso? – Eu deixo você nervoso? – Mas a mente dela ainda estava num turbilhão com tudo o que ele lhe dissera quanto a querê-la em sua vida para sempre. O que quisera dizer? Era sua maneira de pedi-la em casamento? – Estou nervoso agora. – Por quê? – Porque há coisas que quero lhe dizer. Não, coisas que preciso lhe dizer. Já lhe falei que é outro péssimo hábito que tem? Você me faz dizer coisas que nunca pensei que diria. – É bom estar aberto às coisas. – Amo a sua sabedoria. – Giancarlo ergueu a mão como se quisesse impedi-la de interromper. Na verdade, Caroline não teria interrompido por nada, não quando a pequenina palavra “amo” fora dita por ele, embora não no contexto que teria preferido.
– Eu nunca soube como tinha sido afetado pelo meu passado. Até você ter aparecido. Claro, me lembro da minha infância, mas as coisas foram distorcidas pela minha mãe e, após algum tempo, a amargura dela se tornou a minha realidade. Aceitei isso. A insegurança financeira foi responsabilidade do meu pai e a minha função foi saber exatamente a quem culpar e me certificar de que eu começasse a reparar a situação o mais rápido que tive condições de fazê-lo. Nunca questionei o certo e o errado da subida até o topo. Era como se fosse meu destino e, de qualquer modo, era do que gostava. Era bom nisso. Ganhar dinheiro era algo natural para mim e, se percebi a incapacidade da minha mãe de controlar seus gastos, a ignorei. O fato é que, nesse processo todo, me esqueci do que era viver um dia de cada vez e de aprender a desfrutar as pequenas coisas que não têm nada a ver com ganhar dinheiro. – Ele abriu um sorriso incerto, e ela sentiu um aperto no coração. – Estou entediando você? – Você jamais conseguiria me entediar – disse rouca sem querer romper a peculiar atmosfera de cumplicidade entre ambos. Giancarlo assentiu, olhando-a, tendo de lutar para resistir ao anseio de tocá-la. – Mas você nunca se envolveu com ninguém. Nunca teve vontade de se estabilizar? – Era uma pergunta para a qual ela precisava desesperadamente de uma resposta. Ele podia ter se especializado em ganhar dinheiro, mas isso não significava que não poderia ter mantido um relacionamento duradouro ao longo do caminho. – Minha mãe – comentou Giancarlo irônico. – Volúvel, amargurada, seduzida por homens que fizeram promessas vazias e, então, desapareceram sem olhar para trás. Ela não foi o melhor exemplo. Não me entenda mal. Eu a aceitava e amava, mas nunca me ocorreu que eu iria querer alguém assim na minha vida como companheira. Trabalhei arduamente e, num ambiente de tanto estresse, a última coisa que precisei foi de uma mulher fazendo altas exigências, e tinha certeza de que todas as mulheres eram assim. Até que conheci você. – Não sei se devo encarar isso como um elogio. Mas Caroline estava radiante. Um elogio? Sentiu-se como se tivesse recebido o maior de sua vida. Sentira-se tão inadequada ao pensar nas mulheres glamourosas com quem Giancarlo saíra. Como pudera se comparar? Ainda assim, ele descobria a verdadeira essência dela e a imbuía de uma surpreendente confiança. – Você está boquiaberta. – Tem razão. Mas pode me culpar. Passei semanas tentando não lhe dizer que sou louca por você. Giancarlo sorriu e, levantando-se, deu-lhe a mão, entrelaçando os dedos de ambos. – Você é louca por mim – murmurou satisfeito, e Caroline corou profusamente. Não tendo mais de esconder seus sentimentos, estava nas nuvens. – Sim – admitiu com um suspiro. Quando ele a puxou para si, relaxou com uma sensação de pura felicidade. – Achei que você fosse a pessoa mais arrogante da face da Terra, mas, então, não sei o que aconteceu. Você me fez rir e comecei a ver um lado seu que era maravilhosamente complexo e fascinante. – Complexo e fascinante. Gostei disso. Estreitando-a mais junto a si, Giancarlo beijou-a. Primeiro, traçou-lhe os contornos dos lábios com a ponta da língua e, então, tomou-os com um beijo faminto. A respiração dela se acelerou quando ele lhe retirou a blusa e, em seguida, o sutiã. Arqueou as costas, deliciada no momento em que ele começou a sugar seus mamilos, fechando os lábios em torno de um e depois do
outro, ansioso por sentir seu gosto. Enfim, olhou-a com ar sério e, com uma ternura que a deixou com o coração transbordando, disse: – Eu amo você. Não sei quando começou. Só soube quando estava em Milão e não suportei ficar longe. Senti falta de tudo relacionado a você. Não consegui me concentrar nas reuniões e no trabalho. Eu estava aborrecido por causa da maneira como nos despedimos no apartamento e tinha que chegar aqui o mais rápido possível porque fiquei com medo de perdê-la. Era tocante saber que aquele homem tão confiante e controlado ficara incerto. – Amo tanto você – sussurrou ela. – O bastante para se casar comigo? Não aceito menos do que isso.
EPÍLOGO
CAROLINE OLHOU
para os convidados com um sorriso. Não fora um casamento grandioso. Nenhum dos dois quisera isso, embora tenham precisado conter os esforços de Alberto para que tivessem o casamento do século. Haviam escolhido se casar na pequena igreja perto de onde Alberto vivia e onde Giancarlo crescera. Caroline sentia-se num lar ali, especialmente ao longo dos dois meses anteriores quando a felicidade de receber os pais e de planejar o casamento a havia dominado. Ela estava radiante. Giancarlo se mostrara um especialista na arte de trabalhar em casa e, junto com a maravilhosa reforma da villa, instalara um escritório num dos quartos, onde podia trabalhar de acordo com seu ritmo. Aquilo incluíra bastante tempo livre ao lado da noiva. Caroline olhou para o homem que agora era seu marido. Entre a centena de convidados, amigos, familiares e vizinhos contentes em estreitar laços de amizade com Alberto, que se tornara um recluso ao longo dos anos, Giancarlo se destacava. Agora, sorria, conversando com os pais dela. Inconscientemente, Caroline pousou a mão no abdome e, naquele momento, ambos se entreolharam. Dessa vez, o sorriso dele foi todo para ela, envolvendo-a naquele mundo de amor que pertencia apenas a ambos. Enquanto todos se dirigiam à sala de jantar formal, Giancarlo se aproximou e a levou por alguns minutos até a pequena sala de estar ao lado. – Já lhe disse quanto eu amo você? – Sim. Mas você precisa me lembrar quanto disto devemos a Alberto. – A velha raposa – sorriu Giancarlo. – E pensar que ele sabia exatamente o que estava fazendo quando decidiu que nós íamos nos casar, que, de certo modo, arquitetou a coisa toda. Caroline riu, pensando afetuosamente em Alberto. – Como é possível não sorrir quando se vê como ele está entusiasmado com o fato de tudo ter saído de acordo com seus planos? Há alguns dias, eu o ouvi dizendo a Tessa que, de maneira alguma, ele permitiria que seguíssemos por caminhos separados porque éramos teimosos. – Agora, ele tem um filho e uma nora e pode apostar que vou brindar a ele durante o meu discurso depois do jantar. Alberto merece. Você está espetacular esta noite. Já mencionei isso? – Sim, mas adoro quando você repete certas coisas. Caroline sorriu porque ele jamais se cansava de lembrá-la de seu amor.
– Também já lhe disse que estou louco de desejo por você agora mesmo? – Como se alguma prova fosse necessária, ele guiou-lhe a mão até onde a ereção se comprimia contra o zíper da calça. – Tenho de pensar em qualquer coisa para me distrair do fato de que passei as últimas quatro horas querendo arrancar esse vestido de você. Caroline soltou um sorriso e olhou para seu vestido branco que era simples, mas elegante e custara uma pequena fortuna. – Mas acho que vou ter de esperar mais algumas horas até ter você só para mim. – Giancarlo segurou-lhe o seio e massageou-o por tempo o bastante para que ela sentisse um calor úmido se espalhando entre suas pernas e a respiração se acelerando. Ele beijou-lhe os lábios e explorou-lhe a boca com a língua até deixá-la ofegante, sentindo-se tentada a puxá-lo para si, embora sabendo que não poderiam abandonar a própria recepção de casamento. Mas o queria para si mesma ao menos por mais alguns momentos. Apenas o bastante para lhe contar a novidade. – Mal posso esperar para que fiquemos a sós – disse ele fervoroso antes que ela falasse. – Conversando, rindo e fazendo amor e bebês, porque, caso não tenha ouvido, meu pai já anda falando que quer ter netos enquanto tem energia para brincar com eles. – Agora que você mencionou isso... – Caroline não podia conter mais a felicidade. Sorriu radiante para Giancarlo e afagou-lhe o rosto. – Vai descobrir que não precisamos de tentativas nessa questão de fazermos bebês. – O que está me dizendo? – Que o meu período está atrasado uma semana, e como não pude esperar mais, fiz um teste de gravidez esta manhã. Vamos ter um bebê. Está feliz? Pergunta tola. Ela sabia que ele ficaria feliz. Do homem que evitara envolvimentos, ele passara a ser um parceiro dedicado. Seria um marido e um pai dedicado. A resposta nos olhos de Giancarlo confirmou tudo o que Caroline já sabia. – Minha querida – disse ele com a voz um tanto embargada –, eu sou o homem mais feliz da face da Terra. – Pegando as mãos dela, beijou-as com ternura. – E a minha missão é me certificar de que você nunca se esqueça disso.
O ÚLTIMO PRÍNCIPE DE DAHAAR Tara Pammi
– Daqui a dez dias eu vou para o deserto, para participar do Conselho Anual das Tribos – falou ele quase sem engasgar, o que já era uma vitória. – Você pode partir para Mônaco no mesmo dia, no jato particular. Um amigo da família irá recebê-la e levá-la até o nosso resort. Já avisei aos meus pais. Você será acompanhada por um grupo de seguranças. Terá uma semana só para você, princesa, sem deveres e obrigações. A única condição... – É que eu não envergonhe Dahaar – sussurrou ela. Ele percebeu algo no seu tom. Ela não parecia estar feliz nem surpresa. Parecia estar desanimada. – Eu sei que não é exatamente a vida livre que você deseja, mas... Zohra se aproximou e colocou o dedo sobre seus lábios. Aquele simples toque fez com que toda a pele de Ayaan se tornasse sensível. – Esse foi o presente mais atencioso que alguém já me deu. Os olhos dela estavam cheios de lágrimas. Ele enxugou o rosto dela. – Então, por que você está chorando, princesa? Ela segurou os pulsos de Ayaan e sorriu por entre as lágrimas. Seus olhos estavam tão cheios de tristeza, que Ayaan sentiu o coração se apertar e esperou por uma resposta que ela não deu. Ele conseguia lidar com a Zohra cheia de energia e de atitude, mas não sabia o que fazer com a Zohra vulnerável. Não aguentaria ficar perto dela sem poder tocá-la, confortá-la. E o conforto que ele queria lhe oferecer adquirira apenas uma forma, que o abalava por dentro e que derivava da necessidade de abraçá-la e de beijá-la. Ayaan se encostou na parede enquanto Zohra olhava para ele, levando a sua capacidade de controle ao limite. Ela se aproximou e parou tão perto que ele podia ver a própria imagem em seus olhos e as suas olheiras azuladas. Pior, podia ver seu sofrimento. Zohra segurou nas mãos dele e se inclinou na sua direção. Ayaan engoliu em seco e sentiu uma avalanche de sensações e de desejos. Sentia o perfume de Zohra, o calor do seu corpo o incendiava. Ele fechou os olhos e rezou para se controlar.
Ela se ergueu na ponta dos pés, apoiou as mãos em seu peito e beijou-lhe o rosto. O toque macio de seus lábios, o murmúrio de agradecimento, o roçar do seu corpo contra o dele, tudo isso foi suficiente para que Ayaan se descontrolasse. Aquele foi um instante que ele jamais iria esquecer. O desejo que ele estivera negando despertou como que por vingança. Ele segurou Zohra pela nuca, ergueu-a contra o corpo e roçou os lábios em sua boca, abafando a sua exclamação de surpresa. Sentiu o fogo se acender dentro dele e se concentrar na virilha. Sentiu a pulsação ecoar nos ouvidos. Lambeu o lábio de Zohra, forçou-a a abrir a boca, e ela abriu e correspondeu ao beijo com a mesma ânsia. Ela tinha o gosto que ele imaginara, de raio de sol, de frescor. Ayaan pressionou os lábios contra os dela, querendo mais, mas a sensação causada pelo roçar dos seios dela contra o peito rompeu o último fio que lhe restava de controle. Ayaan segurou-a pela cintura e apertou-a contra o corpo até que não restasse nem um sopro de ar entre os dois, até sentir o corpo tremer de vontade de possuí-la, de consumi-la, de... Ele absorveu cada som que ela fazia, absorveu seus estremecimentos de prazer, absorveu o gosto que sentiu ao lhe tocar a língua. O gosto dela e aquelas sensações deveriam ser suficientes para manter a sua sanidade durante dez dias no deserto.
465 – O ÚLTIMO PRÍNCIPE DE DAHAAR – TARA PAMMI A única maneira de o príncipe Ayaan Al-Sharif conseguir restaurar a ordem e calar os rumores do povo é casando-se com Zohra Naasar. Porém, ela não quer perder sua liberdade e impõe uma condição: Seria sua esposa, mas não se deitaria com ele. Será que Zohra conseguirá manter a própria promessa? 466 – ACORDO ULTRAJANTE – SHARON KENDRICK A vida de Ellie Brooks mudou completamente depois da noite que teve com Alek Sarantos. Além de perder o emprego, ela descobriu estar grávida do poderoso magnata. Agora, quer que Alek faça da criança seu herdeiro legítimo… 467 – O REI LEGÍTIMO DE DAHAAR – TARA PAMMI Após uma decepção, o príncipe Azeez cai em desgraça. E, para ser o futuro rei de Dahaar, vai em busca da única mulher que pode ajudá-lo, a doutora Nikhat Zakhari. 468 – ALIANÇA DE TENTAÇÃO – CHANTELLE SHAW Isobel Blake está decidida a confrontar Constantin de Severino para virar de uma vez essa página de sua vida. Porém, esse reencontro despertará sentimentos há muito enterrados.
Últimos lançamentos: 461 – SALVA PELA PAIXÃO – JANE PORTER 462 – SEGREDOS DE AMANTE – LYNNE GRAHAM 463 – SALVA PELA SEDUÇÃO – JANE PORTER
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
C689s Williams, Cathy O segredo do seu toque [recurso eletrônico] / Cathy Williams; tradução Tina TJ Gouveia. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Harlequin, 2015. recurso digital Tradução de: The truth behind his touch Formato: ePub Requisitos do sistema: Adobe Digital Editions Modo de acesso: World Wide Web ISBN 978-85-398-2018-4 (recurso eletrônico) 1. Romance indiano (Inglês). I. Gouveia, Tina TJ. II. Título. 15-26659
CDD: 828.99353 CDU: 821.111(540)-3
PUBLICADO MEDIANTE ACORDO COM HARLEQUIN BOOKS S.A. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: THE TRUTH BEHIND HIS TOUCH Copyright © 2012 by Cathy Williams Originalmente publicado em 2012 por Mills & Boon Modern Romance Arte-final de capa: Isabelle Paiva Produção do arquivo ePub: Ranna Studio Editora HR Ltda. Rua Nova Jerusalém, 345 Bonsucesso, Rio de Janeiro, RJ – 21042-235 Contato: virginia.rivera@harlequinbooks.com.br
O SEGREDO DO SEU TOQUE Texto de capa Teaser Querida leitora Rosto Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Epílogo Próximos lançamentos Créditos