PROPOSTA TENTADORA – Janice Maynard O poder da sedução… Outrora o bad boy da cidade, Rory Fentress retornou a Royal como um bem-sucedido empresário. Agora membro do prestigiado Clube dos Milionários, ele está em busca de uma residência permanente para concorrer ao senado… E o rancho de Shannon Morrison, sua ex-amante, poderia ser perfeito se não fosse a desconfiança dela… Shannon acreditava que Rory queria usurpar sua propriedade, porém, jamais desistiria do legado de sua família. Rory sabe exatamente o que quer, e Shannon está acima de tudo. E o único lugar em que ele poderá convencê-la disso é entre os lençóis… NADA A ESCONDER – Maureen Child Um novo começo? Sete anos atrás, o xerife Nathan Battle pediu Amanda Altman, sua namorada grávida, em casamento. Mas ela fugiu da cidade e perdeu o bebê, deixando o coração dele estilhaçado. Agora Amanda está de volta e Nathan precisa superar a rejeição de uma vez por todas. Contudo, seu plano de seduzi-la e depois abandoná-la para focar no trabalho não funciona. Amanda está determinada a mostrar para Nathan o quanto ainda o ama. E resistir ao charmoso homem da lei é impossível… Principalmente depois de descobrir que engravidou dele novamente…
Janice Maynard Maureen Child
CLUBE DOS MILIONÁRIOS: O SÓCIO DESAPARECIDO 1 DE 5
Tradução Leandro Santos
2015
SUMĂ RIO
Proposta tentadora Nada a esconder
Janice Maynard
PROPOSTA TENTADORA
Tradução Leandro Santos
Querida leitora, Shannon Morrison não pode acreditar no que seus olhos acabam de ver: Rory Fentress retornou à cidade! E, desta vez, para ficar. Por mais que Shannon tentasse, não conseguia evitar relembrar as noites incrivelmente sensuais que viveram juntos. Contudo, ela sabia que Rory não estava de volta por nostalgia, e sim por ambição. Ele queria muito mais do que um cargo político. Sua intenção, além de possuir Shannon, era tomar conta da propriedade da família Morrison. Proposta tentadora, de Janice Maynard, é apenas o começo. Na saga Clube dos Milionários: O Sócio Desaparecido, você vai descobrir todos os segredos e vivenciar as paixões e os desejos dos membros do clube mais exclusivo do Texas. Boa leitura! Equipe Editorial Harlequin Books
CAPÍTULO 1
SHANNON MORRISON encolheu-se no banco do motorista e baixou o boné para bem perto dos olhos, as mãos segurando fortemente o volante. Ela estava estacionada no meio-fio diante de uma loja onde comprara recentemente dois novos pares de luvas de trabalho, uma mangueira para a máquina de lavar e meia dúzia de vasos de begônias para enfeitar a varanda da frente da casa que era de sua família há seis gerações, o Rancho Sem Exceções. Do outro lado da rua, no final do quarteirão, diante do tribunal, estava um homem que ela queria evitar a todo o custo. Rory Fentress. O bad boy da cidade, que virara o mocinho. Um homem que, por acaso, morava a centenas de quilômetros dali, em Austin. Aos 18 anos, quando fora um jovem rebelde, ele limpara a poeira de Royal, Texas, de seus pés e partira para conquistar sua fortuna. Pouco mais de 12 anos depois, ele estava rico, poderoso e ainda mais bonito do que na época do colégio. Infelizmente para Shannon, ela conhecia perfeitamente a imagem do Rory adulto nu. A pele dela formigou. Era impossível deixar de lado aquela imagem mental. Especialmente porque ela não parava de revivê-la em seus sonhos todas as noites. Àquela altura, ela já o devia ter superado. Afinal, fora ela quem dera um fim à loucura deles algumas semanas antes. Não fora ele quem a dispensara. O caso deles fora incendiário, ardendo loucamente, deixando cinzas em seu caminho. E tudo porque ela fora apresentada a um homem que se revelara seu ponto fraco. Cerca de 180 dias antes… não que Shannon estivesse contando… Rory retornara a Royal determinado a compensar seu passado e provar que, agora, ele era um homem, não um adolescente raivoso. A cidade o recebera de braços abertos. Mesmo num estado tão grande como Texas, Rory conseguira se tornar famoso depois de ser eleito o solteiro mais cobiçado de Austin. Depois de se formar em Direito com louvor, ele fundara uma firma de consultoria financeira que decolara para o sucesso como um foguete. O homem tinha dinheiro, beleza e charme. Quem seria capaz de resistir a ele? Certamente não os antigos moradores de Royal, que viam nele uma oportunidade de colocar a cidade na berlinda do mapa político. E Rory não escondia de ninguém suas ambições. Como o senador eleito pelo estado em Austin estava profundamente entrincheirado, Rory decidira se candidatar pelo distrito onde nascera. Os boatos diziam que, depois de eleito, seu próximo objetivo seria a disputa pelo governo do estado antes dos 40 anos.
Não demorou muito para que as visitas de Rory a Royal se tornassem mensais e, em seguida, quinzenais. Sua popularidade vinha crescendo. Não fora nenhuma surpresa quando o selo final de aprovação fora oferecido a ele. O Clube dos Milionários incluíra o pecaminosamente lindo e sexy Rory Fentress em sua sagrada lista, como membro honorário. Shannon ainda estava um pouco irritada com isso. Fora necessário um verdadeiro terremoto de mudanças para orquestrar a inclusão de mulheres entre os membros do Clube. A própria Shannon fora uma das primeiras quatro integrantes do sexo feminino e recebera o convite apenas porque seu falecido pai fora um dos ricos e poderosos de Royal. E porque Shannon estava mantendo vivo o legado do rancho dele. Mas Rory, que passara a maior parte de sua juventude criando problemas, fora acolhido com o entusiasmo típico com o qual acolheriam um bom menino. Tudo que aquele homem precisara fazer fora se reinventar, e, de repente, todos os pecados de seu passado haviam sido esquecidos. Ao menos era isso que parecia a Shannon. Agora… mal conseguindo olhar por cima do painel, dada sua posição atual, ela o observava de uma distância segura. Como ela faria com um touro perigoso. Pois, na última ida dele a Royal, Rory passara três dias e três noites com ela, a maior parte do tempo na cama. Eles haviam se conhecido seis meses antes, durante a primeira semana dele de volta à sua cidade natal, apresentados por amigos em comum. Rory logo passara a persegui-la determinadamente. E Shannon adorara cada segundo disso. Até descobrir uma desalentadora verdade. Para se candidatar a senador estadual pelo distrito de Royal, Rory precisava manter residência na cidade. No passado, Shannon fora cortejada pelas terras de sua família. Ela não queria repetir aquela humilhante experiência. Mas isso não a impedira de se apaixonar perdidamente pelo fascinante e sensual Rory. Apesar de ela ter saído com ele diversas vezes nos seis meses anterior, fora apenas recentemente que ele a convencera a ir para a cama com ele. Ironicamente, essa experiência a fizera terminar tudo com ele. Pois o sexo fora tão incrível que ela quase desmoronara quando ele se propusera a comprar o rancho de sua família. Esse seria um pecado que ela não poderia cometer de jeito nenhum, mesmo que Rory a hipnotizasse como um encantador de serpentes. O Rancho Sem Exceções era a responsabilidade sagrada dela… uma parte do legado dos Morrison que lhe fora deixado por seus pais após a prematura morte deles. Nenhum texano charmoso iria influenciá-la a fazer algo do qual ela se arrependeria depois. Ainda que ele a fizesse se derreter de desejo quando a tocava. Naquele dia, ele estava melhor do que nunca, por mais que isso parecesse impossível. Alto, esbelto e musculoso. Seu cabelo cor de ébano, suas faces esculpidas e sua pele fortemente bronzeada emolduravam olhos que eram tão pretos quanto uma noite de lua nova. Conquanto ele seja capaz de encantar qualquer pessoa com seu generoso sorriso e seus bons modos, ele projetava um ar de pura masculinidade. Ninguém jamais diria que ele se tornara um homem “urbano”, apesar de, agora, ele vagar pelos salões do governo na capital do Texas. Rory Fentress era um homem de ponta a ponta. Sua inteligência e seu carisma o tinham posto num rápido caminho para o sucesso na política. Porém, por baixo de sua sofisticada imagem, havia um macho alfa que era viril, obstinado e bom com as mãos; fosse acariciando uma mulher ou domesticando um cavalo, manuseando uma arma de fogo ou dominando um touro. Rory era tudo que um homem precisava ser. Um verdadeiro lobo solitário do Texas. Um destruidor de regras. E um incrível amante.
Sentindo suas faces corarem, Shannon se remexeu, inquieta, sentindo um repentino calor por baixo de sua camisa de trabalho cáqui e seu jeans surrado. Tomando cuidado para não deixar seu corpo ficar ereto, ela virou a chave apenas o suficiente para poder baixar as duas janelas. A manhã de primavera que começara com uma leve brisa estava esquentando rapidamente. Assim como tudo dentro dela. Sem dúvida, Rory iria embora dali a alguns minutos. O dia estava passando, e ela precisava voltar ao rancho. Mas o único jeito de sair da rua de mão única era passar com o carro bem na frente do homem que ela não poderia encarar de jeito nenhum. Determinada a esperar, ela pegou o celular na bolsa e verificou seu e-mail. Havia diversas picapes em Royal. Por isso, ela não estava preocupada com a possibilidade de ele reconhecer o seu carro. Provavelmente, ele estava na cidade para buscar o apoio de alguns dos cidadãos mais ricos de Royal para sua vindoura campanha política ou para comprar fosse lá que terreno ele tivesse resolvido comprar depois que Shannon recusara sua proposta. O problema era que Royal não tinha uma população muito dinâmica. As imensas operações rancheiras permaneciam sob o comando da mesma família durante décadas. Terrenos disponíveis, ao menos do tipo que Rory queria, eram escassos. Ela já havia terminado de checar o e-mail e estava brincando com um jogo para passar o tempo quando uma sombra escureceu o seu ombro esquerdo. Surpresa, ela se sentou de súbito, largou o telefone e bateu com o cotovelo na maçaneta da porta. Uma voz grave e bastante conhecida falou em um tom mais adequado a um quarto do que a uma via pública. – Olá, Shannon. Como vai? RORY FENTRESS entendia um pouco sobre manobras políticas. A capacidade de encontrar meios-termos dava a um homem a possibilidade de fazer as coisas acontecerem. Coisas importantes. Lidar com uma mulher era algo semelhante, mas muito mais traiçoeiro. No momento, o frio olhar de Shannon Morrison teria conseguido congelar até lava. – O que está fazendo aqui? – perguntou ela, com palavras tensas e arfantes. Ele torceu para que tivesse sido sua inesperada volta a Royal o que a deixara abalada. – Negócios. – Ele deu de ombros, apoiando a mão direita na janela, perguntando a si mesmo se ela acreditaria nessa desculpa. Aquela mulher era muito sagaz. E, apesar de seu cabelo reluzente e sedoso e seus olhos azul-claros, a voluptuosa Shannon não era nenhuma loira burra. Pensando melhor, se ela fosse, ele jamais teria se interessado por ela para início de conversa. Embora ele não tivesse sido tão exigente em seus anos de faculdade, desde então, ele aprendera que o cérebro de uma mulher era tão fascinante quanto sua pele sedosa e suas curvas sedutoras. Naquele dia, o elegante corte de cabelo dela, que ia até a altura do queixo, estava parcialmente oculto debaixo de um boné. Nem mesmo aquele surrado chapéu conseguia amenizar a sexualidade inata dela. Suas práticas roupas de trabalho simplesmente chamavam a atenção para o radiante brilho de sua pele e para a força feminina de seus esbeltos braços e pernas. Ela ignorou a intensa observação dele. – Tenho de ir – disse ela. – Por favor, tire o braço. – Quero pagar uma bebida para você. – Não é nem meio-dia ainda. Não sei ao que você e seus capangas estão acostumados em Austin, mas, aqui em Royal, só começamos a beber a partir das cinco.
Ele não estava imaginando o queixo empinado dela. Nem o antagonismo fracamente velado. Estendendo deliberadamente o braço alguns centímetros para dentro da cabine da picape, ele passou o dedo pelo braço dela. – Eu estava falando de um refrigerante… ou um chá gelado. Mas você ainda está com raiva de mim. Entendo. Só não sei o motivo. – Não seja ridículo – sussurrou ela. As palavras saíram com força de seu maxilar contraído, a boca incrivelmente sexy. Os olhos dela se voltaram de um lado para o outro rapidamente, como se para ver se alguém observava a interação entre eles. – Não estou com raiva. Estou simplesmente ocupada. Muito ocupada. E, se não se importar, Rory, quero adiantar meu dia. – Adoro o jeito como você diz meu nome. – Era verdade. Toda vez que ele partia de Royal para voltar a Austin, Rory pensava constantemente nela. Naqueles fartos e arredondados seios. Na maneira como o pescoço dela ficava rosado quando ele a deixava com vergonha. No adocicado e lento tom de suas palavras que o fazia se sentir em casa, mesmo em uma cidade na qual ele dera início à sua vida adulta cortando relações. No início, ele resistira a essa atração, pois ela ameaçava desviar o foco dos planos políticos dele. Contudo, mais recentemente, ele admitira, ao menos para si mesmo, que queria encontrar uma maneira de encaixar Shannon em sua lista de objetivos de vida. – Quero levar você para almoçar no restaurante. Sei que você não costuma comer muito no café da manhã. Mas podíamos comer um hambúrguer. – De jeito nenhum. O maxilar dele se contraiu quando Rory viu a expressão de horror de Shannon. O restaurante local servia café quente e forte, e também era o centro das fofocas, um lugar no qual um segredo se espalharia com a velocidade de um incêndio na mata. Claramente, Shannon não queria ser vista com ele. Por mais que a reação dela não fosse inesperada, ela o atingiu com uma inesperada dor. Ele resolveu partir para o desafio. – Pensei em ir até o rancho mais tarde. Não tive oportunidade de vê-lo. – Em geral, porque ele e Shannon tinham estado mais interessados em conhecer um ao outro durante jantares íntimos e passeios de carros ao luar pelo campo. Mais recentemente, esse interesse se transformara na solidão de Rory em seu quarto de hotel. Um ardente tremor de lembrança desceu pela espinha dele, deixando seu sexo rígido. – Está me ameaçando? – As sobrancelhas dela se ergueram. – Você e eu temos negócios pendentes. Os lindos olhos azuis dela se semicerraram. – Se você acha que estou disponível para sexo casual sempre que você resolver voltar à cidade, pode esquecer. E não vou vender. – Você já deixou essas duas coisas bastante claras. Mas também tirou conclusões precipitadas. Eu só estava tentando resolver dois problemas de uma vez. Vejo como você se mata de tanto trabalhar. Você já me contou que adoraria poder viajar. Eu preciso comprar um terreno. Fiz minha proposta justamente para aliviar parte do seu fardo. – Meus problemas são unicamente da minha conta. Tire o dedo, ou vai perdê-lo. O olhar dela teria feito um homem inferior perder a determinação. Rory recuou, permitindo que ela achasse que vencera aquela batalha. – Tivemos uma coisa especial.
– Escreva isso num cartão de lembrança. – Ela engatou a ré, recuou com o carro e saiu para a rua com os pneus guinchando, disparando para longe dele, pouco abaixo do limite de velocidade. BURRA, BURRA, burra. Shannon censurava a si mesma enquanto dirigia de volta para casa. Como Rory acreditaria que ela era indiferente a ele se ela se derretia como uma adolescente sempre que ele aparecia? Tudo que ela precisara fazer naquele dia fora manter a calma e ser amistosa. Assim, ele teria entendido que ela não estava mais interessada nele. Mas não… Em vez disso, ela dera um ataque, como uma namorada ciumenta. O que ela não era. De jeito nenhum. Ao virar na longa e sinuosa estrada que levava ao Sem Exceções, ela murmurou um palavrão ao olhar pelo retrovisor e ver um carro esportivo preto se aproximando rapidamente. Certamente, ele não a seguira. Aparentemente, todavia, aquele era o dia de ela ser pega desprevenida. Pois logo ficou aparente que, ao volante do carro que a seguia, estava seu ex-amante. Perseguindo-a em alta velocidade. Se sentindo subitamente furiosa, ela parou no acostamento, desligou o motor e saltou da picape. Rory fez o mesmo e encontrou no meio do caminho sua forte presença a obrigando a recuar na direção de seu próprio veículo. Shannon pôs as mãos na cintura e o olhou com irritação, desejando não ter esquecido de pôr os óculos escuros. – O que pensa que está fazendo? Ele ficou parado ali como um rústico modelo de uma revista para homens ricos, as pernas afastadas, os braços cruzados diante do peito. Seu caro terno se ajustava perfeitamente ao corpo dele, chamando a atenção para as coxas musculosas e os ombros largos. – Precisamos conversar. – As palavras eram tranquilas, seu olhar estava sério, o rosto, totalmente inexpressivo. O coração de Shannon palpitou por diversas vezes e assumiu um ritmo inconstante. – Não me diga que você engravidou – zombou ela. Um ataque de pânico da parte dela parecia iminente. Ela fizera a coisa mais sensata. Terminara um relacionamento sexual que não tinha futuro. Ela não permitiria que tivesse. Ela tinha orgulho demais para ficar com um homem cujos motivos escusos eram práticos, não românticos. Por que ele estava dificultando tanto as coisas? – Não consigo parar de pensar em você – sussurrou ele. Segurando os ombros dela com suas grandes mãos, ele a puxou para perto e tocou sua boca na de Shannon numa delicada e inebriante carícia daqueles firmes e quentes lábios. Demorada, lenta e despudoradamente íntima. Ele assumiu o comando como se tivesse todo o direito de enlouquecê-la com um beijo. O corpo dele estava quente. O que não era nenhuma surpresa, debaixo daquele implacável sol. – Ponha os braços em torno de mim – pediu ele. – Não vou vender meu rancho para você. No entanto, no mesmo instante em que ela pronunciou aquelas palavras, sua resistência mental a Rory desmoronou com a força de um maremoto de desejo. Ela obedeceu, pois precisava daquilo. Precisava dele. Dolorosamente. Como precisara durante todos os dias que ele passara longe. Shannon enterrou o rosto no ombro dele, enquanto Rory acariciava o cabelo dela. Eles estavam tão próximos que a fivela do cinto dele estava pressionando a barriga dela. Entretanto, ela não teria
permitido nem mesmo um centímetro de distância entre eles, mesmo se ele tivesse concordado. Estar com ele novamente preenchia um imenso vazio em seu coração que Shannon sequer aceitava reconhecer que existia. – Deixei bem claro que estava tudo terminado entre nós – declarou ela, passando os dedos pelo sedoso cabelo na nuca de Rory. Ela sentiu a risada dele trovejar pelo peito. – Nunca gostei que me ordenassem o que fazer. Rory levantou o queixo dela para poder ver seu rosto. Shannon quis se esconder, certa de que suas emoções estavam estampadas ali para que ele as visse. Ele achava mesmo que podia usar o sexo para convencê-la a cooperar? – Não entendo você – argumentou ela, buscando alguma explicação viável para o repentino ressurgimento dele em sua vida. As pequeninas rugas nos cantos dos olhos dele indicaram seu sorriso. – Sou um cara bem simples. E sei o que quero. As entrelinhas estavam fazendo o cérebro de Shannon doer. Como uma mulher podia proteger seu coração se o homem falava em enigmas? Ela estava louca para acreditar que ele a queria, porém Shannon já fora ingênua assim antes e sofrera não apenas com um coração partido, mas também um forte golpe em seu orgulho. Ela recuou, alisando o próprio cabelo com as mãos trêmulas. – Tenho trabalho a fazer – disse ela. – Vou para o rancho com você. – O tom dele não dava brechas para discussão. Eles se entreolharam; os olhos de Shannon, ariscos e incertos, os dele, indecifráveis. Impotente, ela deu de ombros. – Como quiser. Mas você vai ficar entediado. Rory sorriu, um lampejo de dentes brancos que deixou os joelhos dela vergonhosamente fracos. – Já sou crescidinho, Shannon. Sei cuidar de mim mesmo. ELA O observava pelo retrovisor enquanto ele a seguia de perto até a sua casa. Quando Shannon estacionou na frente da casa do rancho, ela fez uma expressão de dor, subitamente enxergando tudo através dos olhos de alguém que estivesse de fora da situação. Manter aquele lugar no azul exigia toda a genialidade dela. Por causa dos erros que ela cometera devido à sua inexperiência, já não havia muito dinheiro disponível para melhorias estéticas. À implacável luz do meio-dia, a antiga casa não conseguia esconder a tinta, que descascava. Fora uma primavera seca, e tudo, inclusive os arbustos, estava revestido por uma fina camada de poeira. Para Shannon, o Sem Exceções era seu lar, e, por isso, ela nunca o analisava de verdade, nem observava seus defeitos. Agora, contudo, ela conseguia enxergar que, à primeira vista, a impressão que ele causava não era muito boa. Mas as finanças estavam melhorando, e ela logo teria as contas no nível em que haviam estado quando seu pai morrera. Rory podia até achar que estava fazendo um favor a ela se oferecendo para comprar o rancho, mas, embora ela tivesse se sentido tentada muitas vezes a ceder nos últimos anos, Shannon sabia que não poderia fazer isso. Ela quase perdera o rancho uma vez. Os credores a haviam perseguido. Fora por pura determinação e força de vontade que ela conseguira manter o lugar. Sem seus pais ali, ela aprendera uma valiosa lição. Terras e heranças eram coisas permanentes… e, no final das contas, as únicas que importavam.
Agora, todavia, aquele cowboy terrivelmente lindo parecia determinado a convencê-la a ter um comportamento egoísta e irresponsável que poderia desviá-la do caminho que ela definira para si mesma. Fosse se entregando ao sexo casual ou deixando de lado suas crenças em relação a seu dever no rancho, o resultado final seria o mesmo. Rory era perigoso. Os dois se encontraram na varanda da frente. Ele estava com uma pequena bolsa de viagem na mão. – Fique à vontade – retrucou ela, com palavras curtas e tensas. – O quarto no segundo andar, a primeira porta à direita, é de hóspedes, se você quiser trocar de roupa. Tem coisas para fazer sanduíches na geladeira. Ele segurou o punho dela quando Shannon se virou para se afastar. – Você não almoçou. – Tenho coisas a fazer. SHANNON SEGUIU sua rotina no piloto automático, desesperadamente ciente de que Rory estava em sua casa. Na… casa… dela. Deus do céu! Mesmo ao conversar com seu encarregado, ao se certificar de que os pedidos de ração fossem processados, e ao telefonar para um criador para perguntar sobre o aluguel de um de seus touros procriadores, sua mente não estava totalmente envolvida. Com integridade, ela tentava convencer a si mesma que não seria usada simplesmente porque Rory precisava estabelecer residência no distrito. Ele tinha dinheiro suficiente para convencer alguém a vender, mas ela realmente o rechaçaria se isso fosse tudo que ele quisesse dela? Verdade fosse dita, Shannon não sabia ao certo se teria força de vontade para dizer não a ele. Passar a noite nos braços de Rory… bem, noites, no plural… fora a coisa mais empolgante que ela já vivenciara. Rory Fentress era focado e obstinado, fosse em relação à sua carreira ou a provar a uma mulher que ela era a mais desejável que ele já conhecera. Aquelas arfantes horas e dias nos braços dele tinham mostrado a ela que filmes de comédia romântica e ardentes livros de romance não eram totalmente ficção. Na realidade, existiam mesmo homens que eram capazes de fazer uma mulher cometer loucuras… como se apaixonar pelo homem errado na hora errada. Ela fez um som de desprezo e, em seguida, uma expressão de dor, torcendo para que nenhum de seus funcionários tivesse ouvido. Ela não estava apaixonada por Rory Fentress… claro que não. Aquilo estava mais para um afeto intenso desenvolvido a partir de uma ardente atração sexual. Claro, isso não explicava por que ela sentia uma constante falta daquele homem. No entanto, se lhe desse o que ele queria, havia uma grande chance de que ele fosse embora, deixando-a sem nada. Sem casa e, definitivamente, sem ninguém para amar. Argh. Ela não estava pronta para aquilo. Nem um pouco. Ao se lavar na entrada e trocar as botas de trabalho por macios calçados, ela viu que suas mãos tremiam. O que ele estaria esperando dela? Eles subiriam para o quarto dela e fariam amor apaixonada e selvagemente em plena luz do dia? Shannon sentiu um frio na barriga. Que os céus lhe dessem forças! Na cozinha, ela parou à porta, absorvendo a imagem dele. Rory se trocara e estava de jeans desbotado e velho, botas de cowboy surradas e uma camisa branca de botão com as mangas arregaçadas. O político sofisticado já se fora. Em seu lugar havia um cowboy texano, ainda mais viril e
atraente, um homem que fora criado em Royal, apesar de ter estudado algumas séries à frente de Shannon na escola. Ela se obrigou a entrar no cômodo. – Estou morta de fome. Obrigada por ter preparado isso. – Ele encontrara pratos e copos no armário. Os sanduíches de presunto eram maiores do que os que ela teria feito, mas, provavelmente, ele os fizera de acordo com seu próprio apetite. Rory puxou a cadeira para ela, fazendo Shannon se sentir como uma dama, não como uma mulher que acabara de tirar as botas imundas. Ela sentiu um aperto na garganta quando viu o vaso de vidro no centro da antiga mesa. Em algum lugar do quintal, ele montara um buquê de margaridas selvagens. A água no recipiente as revivera um pouco, mas elas ainda pareciam estar lutando pela vida. O gesto a afetou profundamente. – Pode atacar – disse Rory, sentando-se. – Sugiro que concordemos em uma trégua por ora. O dia está bonito demais para discutirmos. Eles comeram em silêncio durante vários minutos. Ele servira para ela um grande copo de leite gelado. Vividamente, ela se recordou das diversas vezes em que ele zombara dela pela preferência pela bebida infantil. Ele lhe prometera ajudar a adquirir o gosto pelo champanhe e cumprira essa promessa pingando o borbulhante líquido sobre os seios nus de Shannon, fazendo com que ela se contorcesse e gemesse enquanto ele lambia cada gota da formigante pele dela. Isso acontecera no último final de semana que ele passara na cidade… Ela arfou, prestes a ter um maravilhoso orgasmo. – Não sei como isso vai ajudar – reclamou ela. – Você tomou a garrafa toda. – Toda? – Ele ergueu uma das sobrancelhas com um olhar provocante. – Não se preocupe. Tenho mais para você. – Sacando a rolha de uma segunda garrafa, ele serviu alguns dedos em uma taça e a entregou a ela. Talvez o que ela tivesse tomado no passado tivesse sido uma safra fraca, pois aquele líquido dourado era como o néctar dos deuses, seu toque seco e doce rolando sobre a língua dela como ambrósia. De olhos velados, Rory a observou enquanto ela bebia sem sequer pensar o que ele lhe oferecera. O pequeno soluço dela ao fim o fez sorrir. – Sinto como se estivesse me aproveitando de uma inocente – confessou ele, não parecendo nada arrependido. Curvando-se na direção dele, que estava deitado sobre os lençóis, seu magnífico corpo totalmente nu, Shannon inclinou a taça e deixou as últimas gotas escorrerem e caírem sobre o sexo semiereto dele. – Talvez eu nunca mais beba leite – declarou ela, seu peito subindo e descendo enquanto ela tentava controlar a respiração. – Feche os olhos e me deixe aproveitar esta última vez. RORY SERVIRA leite para Shannon simplesmente por saber que ela gostava bastante da bebida. Entretanto, a julgar pelos olhos vidrados e as faces coradas dela ao pegar o copo, ela estava se recordando da vez em que ele a convencera de que o champanhe também tinha suas qualidades. Ele mudou de posição na cadeira, ajustando-se disfarçadamente debaixo da mesa. – Achei que você estivesse com fome. Ela o olhou apaticamente, o copo a meio caminho da boca. – E estou. – Ela bebeu um gole e baixou o copo, pegando rapidamente o sanduíche e dando uma mordida. Quando ela se engasgou, Rory lhe ofereceu novamente o leite.
Descartando a oferta, ela corou como uma beterraba. – Estou bem. Coma. A comida podia ter sido feita de papelão, pois Rory não estava percebendo mais nada. Sua única intenção era fazer Shannon se lembrar… mesmo que a lembrança deixasse o próprio Rory louco. Inspirando fundo e balançando mentalmente a cabeça, ele concluiu que seria melhor para os dois, no momento, reduzir a tensão sexual a um nível mais viável. Ela precisava entender e aceitar que ele queria mais do que sexo dela. – Fale mais sobre o rancho – pediu ele. – Tudo que sei é que seus pais se foram e você administra este lugar sozinha. Shannon limpou a boca com um guardanapo e se recostou na cadeira, observando-o com suspeita. Isso não era nenhuma surpresa. Nas vezes em que eles haviam estado juntos, eles, em geral, haviam se concentrado apenas no instante em questão. Conhecer melhor um ao outro fora deixado de lado em favor de risadas, beijos e sexo ardente. Ele sabia que ela não gostava de chocolate e de que gostava de dormir de janelas abertas. Porém, além de trivialidades como aquelas, eles mal tinham se aprofundado no passado de cada um. Por isso, ele esperou, mantendo seu próprio olhar apático. Finalmente, Shannon relaxou. – Essa responsabilidade já está comigo há quatro anos. Desde que eu tinha 26 anos. Meus pais foram pegos por uma enchente terrível enquanto tentavam resgatar um bezerro no riacho. Eles foram levados pela correnteza e se afogaram. – Eu sinto muito. – O coração dele latejava por ela. – Foi horrível. Mas, quando comecei a me recuperar emocionalmente, concluí que o melhor que eu podia fazer para honrar a memória deles era manter o Sem Exceções vivo. Ele veio do lado da família da minha mãe. A escritura original é da década de 1800. Sou responsável por uma grande história. – Tenho inveja de você – afirmou ele de forma simples. – Tenho algumas propriedades lindas fora de Austin, mas não é o mesmo que você tem. Não existem raízes. – Talvez não ainda – falou ela com aquela encantadora inclinação de seus lábios, algo que chamara a atenção dele desde o começo. Quando ela sorria, seu rosto se transformava de bonito em deslumbrantemente lindo, iluminado de dentro por uma personalidade que era animada, amorosa e muito divertida. Rory desviou o olhar por um instante, contendo seu impulso de puxá-la para si por cima da mesa. Pigarreando, ele tomou um demorado gole de seu chá. – Qual é a sua especialidade aqui no Sem Exceções? – Se ela não parasse de olhá-lo daquele jeito, ele teria sérias dificuldades de se manter nos eixos. – Administro um rebanho considerável de Santa Gertrudis. Eles são bem robustos e me dão o sustento. Nos últimos dois anos, comecei a ter esperanças de que possamos ter um lucro decente num futuro próximo. – O rancho sempre esteve tão no limite? – Ah, não. Quando meu pai era vivo, as coisas prosperavam. Mas, no ano em que assumi o comando, cometi alguns erros idiotas. Perdi vários animais para uma doença. Não vendi nos momentos certos. Também perdi bezerros que deviam ter sobrevivido. Mas aprendi aos poucos. – Ela fez uma expressão de dor. – Já chega de falar de mim. Sei que a sua infância não foi das melhores. Fale dela.
Ele deu de ombros, levantando-se para andar de um lado para o outro na pequena cozinha dela, desconfortável ao relembrar os anos que quase haviam destruído sua vida. – Meu pai era um andarilho. Ele só ficou aqui por tempo suficiente para me registrar oficialmente. Depois, pôs novamente o pé na estrada. Minha mãe era uma daquelas mulheres que viviam com a esperança de que o homem delas fosse retornar um dia. Ela bebia muito. Na maior parte do tempo, fui eu mesmo que cuidei de mim. Durante a minha adolescência, ela passava basicamente o tempo inteiro irritada. – Mas você superou isso. – Eventualmente. Trabalhei para o velho Pritchard durante um tempo, como auxiliar de rancho… logo depois de me formar. Você se lembra dele? Ele acabou gostando de mim e, depois daquele primeiro ano, passou a me ajudar com os estudos… ajudou com pedidos de bolsas de estudos, na busca por empregos, tudo isso. Na faculdade, eu já não tinha mais minha reputação de ser um bad boy que eu tinha em Royal. De repente, tive uma folha em branco nas mãos e a oportunidade de ser quem eu devia ter sido muito antes. Percebi que eu queria usar meu cérebro e ser alguém. – Eu diria que deu certo. – Tive sorte. Eu podia ter facilmente seguido outro caminho. – É verdade que você quer se candidatar a governador um dia? A pergunta direta dela o pegou desprevenido. Aquele não era um assunto que ele quisesse discutir de verdade. Ao menos não ainda. Rory se recostou na bancada. – Vamos deixar isso para depois. No momento, quero que você me mostre seu quarto. Os olhos dela se arregalaram, seus lábios se entreabriram. – Eu… hã… – Sei que você lembra como são as coisas entre nós. Acredite, Shannon. Não vou magoar você. Consegue fazer isso?
CAPÍTULO 2
SHANNON SENTIU um frio na barriga. Não havia nenhum brilho de provocação nos olhos dele. Nenhum meio-sorriso para conquistá-la. Apenas uma pergunta franca. – É difícil esquecer você – admitiu ela, com a voz melancólica. Ele não mencionara mais nada a respeito de sua vontade de comprar o rancho, mas suas perguntas tinham sido focadas, minuciosas. – Isso não é exatamente uma resposta. – A expressão dele estava soturna. Ela estremeceu instintivamente. Rory era totalmente másculo. Completamente seguro de si mesmo. Claramente, a reticência dela o desagradava. Mas ela confiava nele? Devia confiar? Sem a menor vontade de pôr seu coração em jogo para vê-lo destruído, Shannon concluiu que, se ela aceitasse aquele relacionamento nada permanente de olhos bem abertos, ele não teria como magoá-la. Ela se entregaria ao ato de amor com ele uma última vez. Criaria mais uma lembrança. Contudo, não seria burra… nem ingênua. Ela aprendera sua lição. Pegando as mãos dele, ela ficou nas pontas dos pés e deu um beijo no queixo de Rory. – Meu quarto é pequeno. O passeio não vai demorar muito. Ele segurou fortemente os dedos dela, as pupilas se dilatando. – Tenho certeza de que vamos conseguir pensar em algo para fazer o tempo passar. O caminho escada acima pareceu levar uma eternidade. Ela estava trêmula, extremamente ciente da presença de Rory logo atrás dela. Mais cedo, ela o mandara para o lado direito ao final da escadaria, na direção dos aposentos de hóspedes. O quarto dela ficava na direção oposta, um espaço iluminado pelo sol e decorado de forma simples, que pouco mudara nos últimos cinco anos. Cortinas de algodão farfalhavam com a janela aberta. Uma colcha de chenile que fora de sua avó cobria a cama queen size. Havia coloridos tapetes no chão. Shannon redecorara o cômodo depois da morte de seus pais, necessitada de uma atividade para preencher as horas de luto. Rory era o primeiro homem a colocar os pés naquele quarto. Ela tivera alguns namorados sérios; um na faculdade e outro quando voltara para Royal e morara em seu próprio apartamento. Esse último relacionamento levara a um noivado. E quase a um casamento. Na época, Shannon era jovem e ingênua. Apaixonara-se fortemente por um lindo homem loiro de sorriso encantador. A descoberta da dupla natureza de seu amor a deixara arrasada. Aparentemente, o
noivo dela estava mais interessado em se tornar dono do Sem Exceções do que em amá-la. Descobrir a verdade fora uma lição dolorosa e salutar sobre sua incapacidade de julgar a motivação de um homem. Depois do coração partido e, posteriormente, da tragédia que levara seus pais embora, Shannon se recolhera a si mesma, indisposta a pôr novamente seu coração em jogo. A noite em que ela conhecera Rory no Clube dos Milionários fora a primeira vez em anos que ela se esforçara para se arrumar, deixando de lado seu estilo casual de costume. Ele estava de smoking. O vestido preto dela era simples, mas ousado. Ver a admiração no olhar dele despertara algo dentro de Shannon. Fizera-a acreditar que poderia encontrar novamente a felicidade. Rory, todavia, era o brilho, o glamour, e ela precisava de sensatez e confiabilidade. Devia procurar alguém que compartilhasse de seus valores e interesses. Alguém que ficaria a seu lado para manter vivo o sonho de sua família. Mesmo sabendo disso, ela fora incapaz de resistir a ele. Shannon parou ao chegar ao final da escadaria, arfante, embora subisse aquela escada diversas vezes por dia. Rory a tomou nos braços, sua boca encontrando a dela com uma majestosa confiança. A língua dele deslizou entre os dentes dela para provar os úmidos recônditos de sua boca. A ousada possessão acendeu uma chama no ventre dela. Quando Shannon gemeu inevitavelmente, ele a ergueu do chão, imprensando-a contra a parede. – Talvez eu não consiga chegar até o seu quarto – revelou ele, as palavras abafadas enquanto descia beijando da orelha até a sensível curva onde o pescoço encontrava o ombro dela. – Eu me esqueci de arrumar minha cama. – Ótimo – murmurou ele. – Isso vai poupar tempo. Erguendo-a nos braços, ele a carregou pelos poucos passos que restavam do corredor, entrando no quarto. Ao largá-la sobre o colchão, Rory se deitou ao lado de Shannon e começou a desabotoar apressadamente a blusa dela. Subitamente, ela se deparou com um desagradável pensamento. – Hã… Rory? – Hmm? – Ele abriu o último botão e abriu a prática blusa de Shannon. – Acho que estou com cheiro de vaca. Pode me dar um minuto para tomar banho? Ele ficou paralisado, seus lábios pairando acima dos seios dela, cobertos pela renda. Grunhindo, ele baixou a cabeça para o esbelto abdômen dela. – Você vai acreditar se eu garantir que isso não importa? – Para mim, importa. – Pela primeira vez em semanas, ela estava com o homem que ela desejava loucamente, e não queria mesmo fazer amor com ele sem ao menos alguns instantes para se preparar. Rory se sentou, as faces coradas, o maxilar rígido como ferro. – Dois minutos – rosnou ele. – Depois disso, vou entrar ali para adiantar as coisas. Ela saiu rapidamente da cama. – Eu convidaria você para vir comigo, mas é um banheiro bem velho e muito pequeno. Ele pôs a mão sobre os olhos, como se não aguentasse ver as curvas dela cobertas pela renda. – Vá – ordenou ele. – Enquanto ainda consigo permitir. Abrindo uma gaveta, ela pegou um conjunto de lingerie e correu para dentro do banheiro. Não confiando na paciência de Rory, Shannon trancou a porta, fazendo uma expressão de dor ao ouvir o barulhento clique. Felizmente, já lavara o cabelo naquela manhã. Por isso, abriu a água, pegou o sabonete e entrou na antiquada banheira, que não estava cheia nem pela metade. Ensaboando-se e
esfregando-se, ela se lavou por completo e desligou a água, olhando para o relógio na parede com trepidação. A camisola e o conjunto de roupa íntima que ela escolhera eram azul-marinho com pequeninos laços amarelos como adorno. Ela deu um salto quando Rory bateu à porta. – Faltam dez segundos. – Já estou quase terminando! – gritou ela, ficando numa perna só enquanto vestia as peças de náilon sobre a pele úmida. Ela olhou-se de relance no espelho e alisou o cabelo. Não havia tempo para se maquiar, nem mesmo um toque de rímel. Teria de ser daquele jeito mesmo. Abrindo a porta com um floreio, Shannon quase fez Rory cair com o traseiro no chão. Ele recuperou o equilíbrio e a olhou, as mãos na cintura. – Você está 45 segundos atrasada. Tudo no recinto pareceu ficar paralisado e se movimentar em câmera lenta em seguida. Ela conseguiu ouvir o grande relógio no saguão do primeiro andar anunciando o primeiro quarto da hora. De lá de fora, de um dos campos distantes, veio o leve mugido de vacas. Mudando o pé de apoio, ela olhou ousadamente nos ardentes olhos dele. – Sendo assim, talvez você precise me castigar, sr. Fentress. RORY SE sentiu tonto quando todo o sangue de sua cabeça desceu para sua ereção. Shannon estava bagunçada, molhada e incrivelmente linda. Nos últimos meses, houvera muitas noites em que ele se perguntara se teria exagerado ao pensar na atração que ela exercia. Talvez, em sua memória, ela fosse mais meiga, mais ardente, mais divertida do que qualquer mulher poderia ser. Mas não… Agora que ele a vira novamente, ele já sabia que suas imagens mentais dela eram totalmente precisas. Ela era genuína. E, por mais que essa palavra não o satisfizesse de fato, era o melhor que ele conseguia pensar neste instante. Ela tinha uma beleza natural, era uma mulher que se sentia confortável com seu próprio corpo. O fato de o Sem Exceções ainda existir e de o Clube dos Milionários tê-la recebido em seu quadro de membros plenos era uma prova do trabalho duro e da determinação dela. Ela merecia o reconhecimento e a aceitação deles, mesmo que tardios, e ainda que tivesse sido uma homenagem obrigatória ao falecido pai dela. Shannon o olhou com curiosidade. – Para um homem que estava com tanta pressa, você não parece nem um pouco apressado. Ele riu, seu peito se apertando com o turbilhão de emoções que ele não conseguia identificar. Acima de tudo, estava a sede. Por Shannon. A pele dela reluzida do banho recente. E ela cheirava a morangos. As mãos dele estremeceram. Por isso, ele as enfiou nos bolsos. Seu mundo inteiro estava mudando, todos os planos, organizados e bem-definidos, perigavam desmoronar como um castelo de cartas. – Não consegui esquecer você – disse ele francamente. – E acredite, eu tentei. Ele viu que suas palavras a machucaram. – Tínhamos uma química – admitiu ela. – Mas, eventualmente, essa atração primitiva acaba morrendo. – Então, você não me quer mais? Os olhos dela fulguraram.
– Eu não falei isso. – E o que você está dizendo? Ela deu de ombros, os punhos cerrados dos lados do corpo. – Você é diferente de todos os outros homens que já conheci. E, quando você esteve aqui pela última vez… na cama… – A voz de Shannon desapareceu, suas faces ficaram rosadas. – O quê? – indagou ele, exigindo saber. – O que tem a cama? – Eu não sabia que podia ser daquele jeito – respondeu ela de forma simples. – Selvagem. Intenso. Divertido… – Mesmo assim, você me dispensou. – O estômago dele se acalmou levemente quando ele a ouviu admitir ter os mesmos sentimentos que o tinham deixado sem rumo. – Por que terminou tudo? – Talvez tenha sido um lapso. – Acho que estamos prestes a descobrir. – A resposta dela fora evasiva, mas ele não estava com paciência para pressioná-la e obter a verdade completa. Rory a ergueu pela segunda vez e a colocou deitada na cama. Ele tirou a própria camisa, chutou as botas para longe e tirou a calça jeans. Apenas de cueca boxer preta, ele esticou seu corpo ao lado dela e se apoiou num dos cotovelos. Naquela posição, ele tinha acesso para tomar o que quisesse para si. Ele afastou o cabelo dela da testa. – Eu devia ter voltado antes – falou ele. – Mas tinha planos para pôr em andamento. – Que planos? – O peito dela subia e descia com a respiração acelerada. Apesar de parecer relaxada, quando Rory a observou atentamente, ele viu que ela estava inconscientemente apertando o lençol com os dedos. Ele sabia que estava se saindo muito mal em sua tentativa de fazer as coisas do jeito certo. Era difícil falar racionalmente quando tudo em que ele conseguia pensar era fazer amor com ela. – Conversamos depois – prometeu ele rispidamente. Com mãos instáveis, ele baixou a calcinha pelas pernas de Shannon, levantando a pequena camisola por cima de sua cabeça. Vê-la daquele jeito, uma versão viva dos sonhos que o haviam atormentado noite após noite, fez a cabeça de Rory girar. Ele esperou para colocar o preservativo. Essa omissão talvez fosse a única coisa que o faria reduzir o ritmo àquela altura, e ele queria que aquele momento durasse. Apoiando-se sobre ela em uma das mãos, ele desceu com a outra pelo pescoço dela até as pernas… mapeando suas curvas como se estivesse aprendendo braille, percebendo os montes e vales. Shannon se contorceu com o toque dele, seus olhos bem abertos, a respiração entrecortada. – Não tenho conseguido dormir – admitiu ele, parando para brincar com o umbigo dela. – Toda vez que fecho os olhos, você aparece. Ela segurou o punho dele e levou a mão de Rory até a boca, beijando os dedos dele. – Nunca tinha considerado este rancho um lugar solitário antes de deixar você no hotel. – Por que você foi embora? – Foi demais. Eu estava assustada, sem saber o que fazer. Achei que estivesse tentando usar o sexo para me convencer a vender o rancho a você. – Eu não estava. – Aquela ideia dela o deixou irritado. – Eu já tinha sentido desejo sexual muitas vezes, mas o que senti por você foi diferente. – Quero sentir isso de novo – sussurrou ela, os olhos cintilantes com lágrimas ainda não vertidas. Rory viu as dúvidas dela a respeito de sua sinceridade, a determinação de Shannon a se proteger. Mas a chama que queimava os dois não podia ser negada.
Ele não podia mais esperar. Não naquela primeira vez. Ao colocar a proteção e se posicionar entre as pernas dela, ele parou, certo de que outra informação pertinente talvez pudesse acalmar os medos dela. – Não fico com nenhuma outra mulher desde a noite em que conheci você. – Ele não acrescentou nenhum floreio à afirmação. Não tentou explicar. Simplesmente expos o fato e olhou nos olhos dela, desejando que ela acreditasse. Talvez isso não fosse sábio. Aquela confissão dava uma vantagem a uma mulher. No entanto, Shannon merecia saber. Ela lambeu os próprios lábios, as sombras dentro de seus olhos se dissipando. – Está dizendo a verdade? – Não tenho motivo para mentir. Uma loira sensual e atrevida chamou minha atenção e sorriu para mim quando voltei a Royal, e ela vem me deixando louco desde então. Shannon tomou o rosto dele nas mãos, puxando a cabeça de Rory para um beijo. – Estou sorrindo agora – murmurou ela. – Faça amor comigo, Rory. Ele não precisou de um segundo convite. Posicionando a ponta de sua ereção nas úmidas dobras do sexo dela, ele a provocou por um momento com curtas investidas. Shannon gemeu alto, arqueando as costas e envolvendo a cintura dele com as pernas. – Mais – implorou ela, a voz arrastada. – Quero tudo. Com um poderoso movimento, ele uniu os corpos deles. Seu couro cabeludo formigou. Seus músculos se contraíram. Cada átomo de seu corpo ficou paralisado e estremeceu, dominado pela luxúria e pela gratidão. – Não vai durar muito – grunhiu ele. – Desculpe, querida. Selvagemente, ele a penetrou, cada vez mais fundo, mais demoradamente, com mais força. Shannon arfou o nome dele, suas unhas marcando as costas de Rory. Ele se deleitou com aquela pequena dor. Ela o fazia se sentir vivo… Ele conteve seu desejo desvairado, obrigando-se a respirar fundo e se movimentar mais lentamente. Debaixo dele, Shannon se contorcia inquietamente, urgindo-o. Ele soltou uma rouca risada. – Você está acostumada a mandar nas coisas, não está, querida? Os olhos azuis anuviados de excitação encontraram o olhar dele. – Isso é um problema? – De jeito nenhum. Mas esta vai ser por minha conta. – Ele pegou as mãos dela e levantou os dois braços acima da cabeça de Shannon. O peso da parte inferior do corpo dele a fixou na cama. Com uma das mãos, ele prendeu os punhos dela, deixando-a imobilizada. – Relaxe – sussurrou. Os seios de Shannon subiam e desciam no ritmo de sua acelerada respiração. – Solte. – Na melhor das hipóteses, aquele foi um comando sem vontade. No instante em que ela contou aquilo, contraiu-se em torno de Rory, como se estivesse com medo de que ele fosse mesmo recuar. Ele mexeu os quadris, penetrando a passagem apertada e úmida de Shannon. – Tem certeza de que é isso que você quer? Ela gemeu alto. – Por favor, Rory… Subitamente, o fim o atingiu. Rory grunhiu, todo o seu corpo sendo abalado por tremores enquanto ele investia fortemente até chegar à liberação. A tão doce liberação!
Ele mal se deu conta do instante em que ela atingiu o clímax, apenas reconheceu que isso estava acontecendo e se sentiu aliviado por não tê-la deixado para trás em sua ansiedade. Quando tudo terminou, ele apoiou o rosto no colchão, esgotado demais até mesmo para separar os corpos deles. Os dedos de Shannon se entrelaçaram aos dele acima da cabeça dela, os corpos escorregadios de suor. O cheiro de sexo perfumava os lençóis dela, pairando pesadamente no ar. – Preciso dizer uma coisa – murmurou ele, quase incapaz de formar as palavras. No momento em que Rory as revelou, ele sentiu o corpo de Shannon enrijecer. – Rory, eu… De forma barulhenta e aguda, o celular dele lhe alertou para uma desagradável realidade. Ele rolou para o lado, pegou o aparelho e bateu com ele na própria cabeça. Shannon tirou o telefone da mão dele. – Pare com isso – pediu ela. – O que houve? – Preciso estar no clube daqui a 45 minutos. Um trio de potenciais patrocinadores ricos está esperando para que eu diga os motivos pelos quais devo ser o próximo representante do distrito deles no senado estadual. Ela se sentou, segurando o lençol diante dos seios. – Sendo assim, você precisa ir – falou ela tranquilamente. – Eu entendo. Foi por isso que você voltou a Royal. – Não – contestou ele de dentes cerrados, sentando-se ao lado dela e pondo a mão na nuca de Shannon para puxá-la para um profundo e forte beijo. – Foi por isto que eu voltei. A reunião foi incidental. Sabendo que ao menos uma parte do futuro deles estava em jogo, Rory a soltou relutantemente e se levantou, vestindo-se rapidamente. – Fiz tudo errado – resmungou ele. – Quando vim até aqui hoje, minha intenção não era a de que nada disso acontecesse. NUM PISCAR de olhos, Shannon foi de sonolenta e saciada para magoada e envergonhada. – Bem, ninguém pediu para você me seguir – declarou ela, olhando irritadamente para as costas dele enquanto Rory se curvava para calçar as botas. Ele endireitou o corpo e passou a mão pelo cabelo, parecendo atormentado. – Vai haver um baile no clube hoje à noite. Vou mandar um carro vir buscar você às seis. Use aquele mesmo vestido. Temos algumas coisas a discutir. – Desde quando você pode me dar ordens? Ele pareceu irritado com a veemência dela. – Não dificulte as coisas, Shannon. – A expressão fechada dele foi a antítese da maneira como ele a olhara poucos instantes antes. – Sei que não lidei bem com as coisas, mas acho que podemos chegar a um acordo. – Não tenho tanta certeza assim. – O que ele estava planejando oferecer? Uma quantia ridícula muito acima do que as terras dela valiam? Ou talvez uma lista programada de momentos nos quais ela devia estar disponível para ele, entre as paradas de sua turnê de campanha, se ele permitisse que ela continuasse morando no Sem Exceções depois de se tornar o dono… Shannon se levantou, enrolando-se no lençol.
– É melhor você ir embora – ordenou ela inexpressivamente. Ela lhe entregou o celular, tomando cuidado para não permitir que os dedos deles se tocassem. – Estão esperando você. Durante um angustiante segundo, ele a olhou fixamente, seu olhar cheio de conflito. Então, sussurrando um palavrão, Rory saiu do quarto. Ela ouviu as botas dele no alto da escadaria enquanto ele pegava seus pertences e, em seguida, o inconfundível barulho de Rory descendo os degraus. Quando ela ouviu a porta da casa se bater, bobas lágrimas escorreram de seus olhos. Ela as enxugou, frustrada. Era o fim. De forma alguma ela se arrumaria, passaria a noite com ele e permitiria que ele partisse seu coração novamente. Eles não tinham nada em comum, nenhum ponto de contato. Ele era um político da cidade grande. Ela era uma mulher do rancho com esterco nas dobras de suas botas. Até mesmo um minuto a mais com ele seria perigoso para a saúde mental dela. Ainda que ele fizesse tudo parecer bom, qualquer proposta que ele fizesse para comprar o rancho tinha a ver apenas com ele e com as metas dele, não com o bem-estar dela. Assim como acontecera quando ela deixara de comer doces, seria melhor sofrer de abstinência total. Vê-lo novamente para relembrar tudo pela última vez no clube só pioraria as coisas. Mal-humorada e emotiva, ela tomou um banho… um banho demorado e quente com a intenção de lavar a sensação das grandes e quentes mãos dele em sua pele. Entretanto, por mais que Shannon esfregasse seu corpo, ele estava por toda a parte. Em sua mente, em seu coração, em sua própria carne. Triste e lentamente, ela arrancou os lençóis da cama e os largou no corredor para colocar na lavadora mais tarde. Sentindo a necessidade de se torturar ainda mais, ela entrou no quarto onde mandara Rory se trocar mais cedo naquele dia. Tolamente, ela pegou uma toalha no banheiro, segurando-a junto ao rosto e inspirando o perfume de Rory Fentress. O leve e agradável aroma da loção pós-barba dele estava entranhada no tecido, juntamente com o cheiro que era inerentemente dele, de um homem… apenas um homem. Percebendo com desgosto que desperdiçara várias horas de um valioso tempo, Shannon se obrigou a vestir roupas limpas. Embora ninguém fosse incomodá-la enquanto estivesse em casa, todos deviam estar se perguntando por que ela desaparecera quando havia tanto trabalho a ser feito. O surgimento de Rory fora uma agradável distração. Agora, estava na hora de voltar ao mundo real. O QUE restou da tarde foi demorado e quente. Às quatro e meia, Shannon obrigou a si mesma a voltar para a casa, dar alguns telefonemas e agendar uma visita de rotina do veterinário. O rebanho de novos bezerros estava bem, mas ela aprendera a não arriscar. Apesar de não ter feito isso intencionalmente, ela não levara seu celular consigo ao celeiro, onde passara a tarde trabalhando. Quando Shannon o pegou na mesa da cozinha, havia meia dúzia de mensagens de texto não respondidas. Confirmado: carro chegando às 6. Cadê você? Ainda estou na reunião. Não me faça ir até aí… Aquela última a fez sorrir, apesar do cansaço e de seu caos mental. Por que ele tinha de ser tão atraente, tão sexy, tão irresistível? Sabendo que, no fundo, ela não teria força de vontade para ficar longe dele, mais uma vez, Shannon tomou banho e se deitou na cama para um rápido cochilo de recuperação. Mas seu coração tinha planos diferentes. A pulsação dela disparou. Sua pele aqueceu. E ela sentiu um imenso frio na barriga, pois se lembrou de Rory. Nu. Nos braços dela. Sorrindo maliciosamente enquanto a possuía.
Ela estava presa na areia movediça e afundando bem rápido… Afinal, que assunto havia para eles conversarem? Eles estavam em meio a uma atração mútua. A realidade da vida de cada um deles logo apagaria aquela chama. Quando ela pronunciasse um inequívoco não, Rory procuraria outro lugar para comprar, e o caso deles terminaria abruptamente. Porém, mesmo sabendo disso, ela não conseguiu evitar acatar as exigências de seu amante. Procurando no fundo de seu armário o vestido que ele lhe mandara usar, Shannon o vestiu e encontrou as sandálias de saltos pretas que combinavam com ele. Pequenos brincos de brilhantes, um borrifo de perfume e uma pequenina bolsa preta complementaram o seu visual. Para tomar coragem, ela abriu uma garrafa de vinho e serviu uma taça para si. Depois de levar a taça de cristal para a varanda dos fundos, ela afundou no balanço acolchoado e balançou lentamente. Até onde sua vista alcançava, o Sem Exceções estava sonolento ao sol do fim de tarde. Quase todos os auxiliares do rancho que haviam trabalhado no turno da manhã já tinham ido para casa, embora ainda houvesse alguns mais velhos que moravam no alojamento, um costume mantido desde os dias em que o pai dela estava vivo. O vinho acalmou os nervos de Shannon, mas não a inquietante sensação de expectativa. Apesar de Rory ter feito amor com ela poucas horas antes, mal podia esperar para estar novamente nos braços dele, mesmo que isso significasse dançar num salão cheio de gente. Durante toda a sua vida, Shannon morara em Royal. E tentara ser discreta toda vez que ela e Rory estavam juntos, especialmente na última vez. Ninguém vira Rory e Shannon saindo do Clube, adentrando a noite, indo até a suíte de Rory no hotel. Ninguém ouvira a porta ser trancada, ninguém vira as cortinas serem fechadas. Ninguém sentira a trêmula sensação de urgência que impelira um homem e uma mulher para a cama e os mantivera lá durante três longos e eroticamente carregados dias. Naquela noite, alguém acabaria percebendo Rory… e, possivelmente, lembraria que ele vinha sendo visto com Shannon vez por outra. Talvez especulassem. Ela era solteira, livre para ficar com quem bem entendesse. Rory, contudo, logo sairia em sua turnê de campanha, e ela não queria ser alvo de fofocas ou pena. A lei do Texas exigia que ele fosse um residente estabelecido na cidade por um ano para poder se candidatar pelo distrito, e faltavam apenas 14 meses para as eleições. O tempo de Rory para tomar decisões estava terminando. Ela ainda estava sentada na varanda quando o carro chegou às seis em ponto. Ainda que Royal tivesse uma população mais abastada do que a média, a maioria das pessoas não exibia seu dinheiro. Em vez de uma limusine, Rory enviara um utilitário esportivo escuro com janelas com vidro fumê. Era preto e reluzente e parecia ter acabado de sair de um pátio de carros novos. Um homem mais velho e uniformizado, certamente já prestes a se aposentar pela aparência, saiu e a cumprimentou. – O sr. Fentress tinha planejado vir junto, mas a reunião dele se estendeu. Ele me pediu para trazer o pedido de desculpas dele e lhe dizer que ele estará pronto quando chegarmos ao clube. – Obrigada. Vou só pegar minha bolsa e meu xale e já venho. A viagem até a cidade foi rápida demais. Àquela altura, ela já devia ter um plano para lidar com Rory, mas, até então, nada lhe viera à mente. Ao menos nada que não envolvesse sexo. Quando o motorista a deixou, Shannon agradeceu e se viu diante da sede do clube. O Clube dos Milionários, uma grande e movimentada construção de apenas um andar, era uma instalação em estilo antigo que fora construída por volta de 1910. A fachada de pedras escuras e madeira, complementada
por um alto telhado, fora projetada para impressionar, um lugar para os bons e velhos meninos do Texas se encontrarem atrás de portas fechadas, desfrutando de benefícios exclusivos. Se os troféus de caça pendurados nas paredes de mogno pudessem falar, eles contariam histórias de acordos bilionários e alianças secretas. Shannon sentiu um verdadeiro orgulho por saber que, agora, ela fazia parte daquele grupo. Talvez tivesse vivido dias difíceis, quando ela quisera vender o Sem Exceções e partir da cidade. Todavia, ela não fizera isso. Perseverara. Aguentara firme e, como recompensa, salvara o legado de sua família. A atividade rancheira no Texas era uma tradição antiga. Ela estava fazendo sua parte para manter o Sem Exceções vivo e bem. Ao adentrar pela porta principal, Shannon inspirou os conhecidos aromas de mobília de couro antiga e tabaco para cachimbo. A decoração era despudoradamente masculina. Com pisos escuros e tetos altos, além de todos os tipos de artefatos adornando as paredes, o ambiente transmitia história, atemporalidade. Os olhos dela ainda estavam se ajustando à fraca iluminação depois da forte luz do sol lá fora quando uma mão tocou seu ombro. – Shannon! Estava torcendo para você vir. Ela virou-se para encontrar sua boa amiga Lila Hacket sorrindo para ela. Elas se abraçaram. – Lila… eu não sabia que você estava na cidade. – Uma visita rápida, só isso. Papai não anda se sentindo muito bem. – O cabelo castanho-escuro de Lila emoldurava um lindo rosto que talvez fosse um pouco magro demais. – Como vão as coisas com a campanha da creche? Shannon deu de ombros, sorrindo. Ela e Lila faziam parte de um pequeno grupo de mulheres lobistas que tinham por objetivo trazer o clube para o século XXI. Havia bastante espaço no local para acomodar uma creche para os filhos dos membros, mas a ideia despertara uma feroz oposição. – É como tirar lascas de uma montanha de granito, porém, acho que estamos progredindo. – E Rory? Shannon pôs a mão na boca de Lila, olhando à volta para ver se alguém ouvira. – Shhh. Ele vai me encontrar aqui. – Parece promissor. – Eu já informei a você que terminei tudo com ele – sussurrou ela, sentindo seu rosto corar. Lila a conhecia melhor do que ninguém. – Mesmo assim, você está aqui. – O malicioso sorriso de Lila denunciara que ela sabia exatamente o que estava se passando dentro da cabeça de Shannon. – É complicado. Lila ficou séria. – Você está apaixonada por ele, não está? Shannon sentiu um aperto na garganta. – Não posso estar. Não ficamos nada bem juntos. Preciso de alguém que me ponha em primeiro lugar. Rory quer comprar meu rancho. Não acho que ele goste de verdade de mim. – Rory pode comprar o lugar que ele quiser. O fato de seu ex-noivo ser um idiota não significa que Rory também seja. – Não posso falar disso aqui. Vá deslumbrar algum coitado inocente. Preciso ir ao banheiro. Lila apertou com afeto o ombro de Shannon. – Não deixe de me contar as coisas. Estou torcendo para ao menos uma de nós ter um final feliz.
Shannon entrou pela porta marcada com “Feminino” e analisou seu rosto no espelho. Suas faces estavam coradas, mas ela ainda estava com uma aparência de compostura. Inspirando fundo, ela alisou o cabelo e saiu novamente para o lobby. Do outro lado do recinto, Rory estava parado em silêncio, uma das mãos no bolso, um meio-sorriso no rosto. Ele estava com o mesmo smoking que estivera usando na noite em que eles haviam se conhecido. O fato de ele conseguir fazer tão facilmente a transição de cowboy para magnata corporativo dizia muito a respeito do dom que ele tinha de se adaptar às circunstâncias. Ele sorriu quando ela se aproximou. – Você veio. – Você não me deu muita escolha. – Shannon apertou sua pequena bolsa até seus dedos começarem a doer. Ele estava tão bonito que o frio na barriga dela era intenso. – Vamos jantar aqui? Ele assentiu. – No salão. O baile vai começar daqui a mais ou menos uma hora. Quando ele a levou para seu lugar, Shannon se sentiu muito ciente dos diversos pares de olhos que observavam a movimentação deles. Rory puxou a cadeira para ela e, em seguida, sentou-se de frente para Shannon. Ela pôs a bolsa sobre a mesa e uniu as mãos no colo. Não devia ter ido até ali. Olhar para o rosto dele fazia o peito dela doer. – Você resolveu seus negócios? – Aquele Rory sofisticado era o homem que ela conhecera e pelo qual se apaixonara. Pronto… ela admitira. Estava apaixonada por Rory Fentress. Ele estava alheio ao momento de autorrevelação dela. – Desculpe por ter saído tão rápido hoje à tarde. Ela deu de ombros. – Eu não estava sendo sarcástica. Foi uma pergunta sem malícia. – Ah. – Rory se recostou na cadeira, desabotoando seu paletó. – Resolvi o que precisava resolver, sim. Deu tudo certo. Acho que vou ter o apoio de que preciso para ter uma candidatura forte. – Fico feliz por você. – Olhe, Shannon, eu… O garçom apareceu ao lado de Rory, e o momento se perdeu. Depois daquilo, as porteiras se abriram. Ao menos metade das pessoas do salão parou para parabenizar Rory por seus planos para o futuro. A fofoca em Royal não se limitava ao restaurante. Ali, no Clube dos Milionários, ela se espalhava com a mesma facilidade. Quando a sobremesa chegou, Shannon já se dera conta de que cometera um erro. Apesar de Rory têla apresentado às poucas pessoas que ela ainda não conhecia, ela se sentia constrangida e destacada. Foi um alívio quando a interminável refeição se encerrou e a música começou. Rory se levantou e ofereceu a mão a ela. – Acho que é nossa música. Shannon não conseguiu evitar sorrir para ele, por mais que ele estivesse dificultando muito a vida dela. – Não temos uma música. Rory a puxou para perto, seus lábios roçando na parte externa da orelha dela enquanto ele cantarolava levemente com a música.
– Talvez tenhamos agora. – A canção era um antigo clássico romântico que falava de oportunidades não aproveitadas e amor perdido. Ela apoiou a cabeça no ombro dele, seus braços unidos em torno do pescoço dele. Rory era grande, e forte, e quente. Se ela pudesse fazer o tempo parar, seria capaz de viver para sempre naquela hora perfeita. Alguém reduzira as luzes. Agora, a única iluminação emanava dos conjuntos de velas em candelabros decorados com flores da primavera. Uma onda de melancolia a atingiu. Shannon se aninhou junto dele, sentindo as lentas batidas do coração de Rory contra seus seios. – Você alegou que tínhamos coisas a discutir. – Ela não queria estragar o clima, mas, se ele estivesse planejando pressioná-la para que vendesse o rancho, seria melhor que ela soubesse de uma vez. A decepção talvez a fizesse recuperar seu orgulho, impedindo-a de pular na cama dele. Rory desceu com uma das mãos pelas costas dela, seus dedos quentes na pele nua de Shannon. O corpo dele ficou tenso, mas ela não soube se isso se devia ao assunto ou à excitação. Pigarreando, ele esperou até o início da próxima canção. Shannon se preparou para ser forte. Ela tinha orgulho demais para ser a namorada itinerante dele e também para vender o legado dos Morrison por um instante de prazer. Independentemente do que ele sugerisse, ela precisava ser forte e dizer não. Apesar de ela não ter percebido, ele os vinha manobrando na direção da beira da pista de dança. As sombras estavam mais escuras ali. Rory recuou, suas mãos indo até os braços dela para colocar um pouco de distância entre eles. – Estraguei tudo. Sei disso. E você não confia em mim. Mas o que vou dizer agora é verdade. Eu me apaixonei por você, Shannon.
CAPÍTULO 3
ELE CONSEGUIU sentir o choque que repercutiu pelo esbelto corpo dela. Os lábios de Shannon se entreabriram, seus olhos se arregalaram. Ela estava mesmo tão surpresa assim? Certamente não devia achar que ele vagava pelo estado fazendo sexo selvagem com um bando de mulheres. Shannon era a única. O silêncio dela começou a incomodá-lo. – Agradeceria se você pudesse me dar algum tipo de resposta – declarou ele secamente. Ela umedeceu os lábios. – Nós não nos conhecemos há muito tempo. – Não é verdade. – Ele já esperava aquele argumento e estava preparado. – Sei que minhas visitas a Royal têm sido esporádicas, mas, quando estivemos juntos, especialmente da última vez, foi intenso. Tivemos meses para testar a verdade do que está acontecendo entre nós. Não tenho nenhuma dúvida com relação ao que sinto. – Você já se apaixonou antes? Aquela pergunta ele não esperara. – Não. Nunca. E é por isso que estou reconhecendo o sentimento agora. Ela envolveu a própria cintura com os braços, seu cabelo loiro reluzindo à luz das velas. – Podemos sair daqui, por favor? Rory estava com a terrível sensação de que seria rechaçado. Shannon não era boba. Ela sabia que a vida dele não estava em Royal. Se ele fosse eleito, ele passaria muito tempo em Austin, apesar de estabelecer uma residência em Royal. Aquele lugar jamais seria sua principal localidade, ao menos não enquanto ele estivesse ativo na política texana. No entanto, ele se apaixonara por uma mulher que estava tão enraizada naquela cidade a ponto de terem rompido com a tradição e a incluído no quadro de membros do Clube. – Não quer mais dançar? – Não. Subitamente, eles foram interrompidos por uma alta e trovejante voz. O enorme homem mais velho que vinha na direção deles era Jerome, um dos patrocinadores da campanha de Rory, um homem que ele conhecera apenas algumas horas antes.
Ele passou um de seus gorduchos braços em torno dos ombros de Rory. – Ora, garoto… esta é a mulher que vai pôr a chancela final na sua campanha? Nada dá mais credibilidade a um candidato do que uma amorosa esposa a seu lado. Rory viu a cor se esvair do rosto de Shannon. – Esposa? – Ela parecia nauseada. Jerome abriu um malicioso sorriso para ela. – Rory nos confessou que estava pensando em se casar. Agora que percebi que ele está de olho em você, Shannon, tudo faz sentido. A linhagem dos Morrison é impecável no mundo dos ranchos texanos. E acho que seu pai teve um tio-avô que foi representante estadual naquela época. Vocês formam o par perfeito. Rory sentiu um toque de desespero. – Agradeço pelo apoio, Jerome. Mas creio que você irá entender se Shannon e eu quisermos algum tempo a sós. – Claro, claro. – Jerome deu tapinhas no ombro de Shannon. – Você é uma boa menina. Estou feliz por termos deixado você entrar para o clube. – Ele apertou a mão de Rory e balançou as sobrancelhas. – Não faça nada que eu não faria. No silêncio que se seguiu à partida de Jerome, Rory teve dificuldade de engolir para vencer o embargo de pânico em sua garganta. Shannon se afastou dele, seu rosto branco como papel, mesmo à fraca iluminação. – Vou para casa – falou ela. Rory estendeu o braço na direção dela, mas baixou a mão quando ela recuou. – Ainda não. Não desse jeito. Ao menos me ouça. Por favor. – Aquelas últimas palavras saíram estranguladas da garganta dele. O silêncio se expandiu exponencialmente. Finalmente, ela falou, as palavras saindo como pouco mais do que um sussurro. – Meia hora. – Seu rosto estava inexpressivo. Nenhum deles falou nada ao saírem por uma porta lateral e rumarem pela rua. Shannon parecia distante como a lua. Agora que estava escuro, a brisa estava fria. Quando Shannon envolveu seus ombros com um fino xale, Rory parou, tirou o paletó de seu smoking e o pôs em torno dela. – Obrigada. – A palavra mal saiu dos lábios dela. Não tocá-la mais já não era uma opção pra ele. Rory estava enlouquecendo de tanto imaginar as ideias que estavam girando dentro daquela linda cabeça. Cedendo a seus instintos, ele a puxou com seu braço esquerdo, para junto de si. Novamente, ele vivenciou aquela sensação… uma inexplicável mistura de desejo sexual e profundo contentamento. Ele não sabia se Shannon estava chateada demais para empurrá-lo para longe ou se simplesmente estava desanimada demais. Ainda pior, talvez ela só estivesse tolerando o toque dele por ser mais fácil do que resistir. O saguão do hotel estava deserto. Naquela época do ano, os turistas ainda não haviam chegado, e, provavelmente, todos os empresários que estavam de passagem pela cidade haviam sido convidados para a noite no clube. Ele e Shannon entraram no elevador e subiram até o terceiro andar. Ela ficou parada em silêncio enquanto ele inseria seu cartão na porta e recuava para que ela entrasse primeiro. Rory reservara uma suíte, esperando que eles dois tivessem bastante tempo para passar ali. Ela olhou à volta, seu olhar casual.
– Bonito. – Fico feliz por ter gostado. – Ele afrouxou a gravata e serviu para si uma bebida com o decantador de cristal. Aquela noite fora a primeira vez em que ele revelara que estava apaixonado por uma mulher, e, até então, as coisas não estavam indo bem. Shannon pendurou cuidadosamente o paletó do smoking dele no encosto de uma cadeira. Ela passou as duas mãos por seu cabelo, afofando as curtas e loiras mechas. Parada no centro do cômodo, ela fez uma expressão de dor. – Eu seria capaz de matar por uma cerveja. – Por que você está tão nervosa? – Eu não disse que estava nervosa. – A resposta foi rápida, mas comprovou justamente o que ele afirmara. A voz dela estava trêmula; seu pescoço, corado. – Se você planeja dizer não, pode dizer de uma vez. – Não. – A resposta dela foi instantânea. Internamente, Rory ficou desorientado, chocado com a certeza na voz dela. – Então, é isso? Simplesmente não? Não é possível que Jerome tenha deixado você tão chateada. Ela franziu o cenho. – Jerome só confirmou o que eu suspeitava. Eu cheguei a contar que fui noiva uma vez? Algo de sombrio o atingiu no peito. – Não, não chegou. – Pensar em Shannon com outro homem era mais do que Rory era capaz de aguentar naquele momento. – O que aconteceu? – Descobri, felizmente, antes de ser tarde demais, que ele estava mais interessado em receber uma parte do rancho do meu pai como presente de casamento do que em se casar de fato comigo. – Você sabe que não estou atrás do seu dinheiro. O sorriso dela continha pouco humor. – No momento, a única coisa que tenho são terras. Mas sim, sei muito bem por que você está interessado em mim. Eu sou conveniente. A esposa amorosa do político e o rancho em Royal de uma vez só. Eu me encaixo nos seus requisitos. – Isso é injusto com nós dois. Eu amo você, Shannon. – Mesmo assim, o clubinho dos meninos soube dos seus planos de me pedir em casamento antes de mim. – Não foi assim que as coisas aconteceram. Estávamos discutindo a logística geral da campanha, e eu falei que talvez fosse ficar noivo. – Porque você sabia que eu não recusaria. Que eu me sentia atraída por você e que largaria tudo quando você chegasse à cidade. Deus do céu, como fui ingênua… Rory cerrou os punhos dos lados do corpo e contou até dez. – Você está pondo palavras na minha boca. Nunca achei que nada estivesse garantido. Eu estava torcendo para que você me quisesse tanto quanto eu quero você. – Pelo sexo. – Ela o olhou com irritação. – Entre outras coisas. Você não pode negar que somos como combustível entre quatro paredes. – Não vou negar. Mas um casamento é mais do que sexo. Quero um homem que me ponha acima de tudo. Um homem que ande sobre as águas por mim. Um homem que abra mão de tudo no mundo para me fazer feliz. – Como você sabe que não posso fazê-la feliz?
– O que faz você pensar que pode? Os olhos dela eram como escuros lagos de tristeza. Shannon não estava irritada, nem estava gritando. Na realidade, ela parecia resignada. Rory deu de ombros, apostando todo o seu futuro em um único instante. – Eu abro mão da campanha – assegurou ele. – Se isso for necessário para fazer você acreditar que amo você. – O estômago dele se contraiu de decepção e pesar, mas aquelas efêmeras emoções não eram nada em comparação com a ideia de perdê-la. Shannon afundou numa poltrona, seus olhos imensos. – Não seja ridículo. – Estou falando muito sério. Preciso de você, Shannon. Não como a esposa de um político, mas para ser a outra metade do meu coração. Nunca tive uma família propriamente dita. Porém, gostaria de criar uma com você. Podemos fazer isso no Sem Exceções. A política não me interessa nem um pouco se isso significar perder você. Ele segurou o punho dela e a puxou para si. – Sinto muito por Jerome ter estragado nosso momento. – Pondo a mão no bolso, ele retirou uma pequena caixa de veludo e abriu a tampa. – Eu amo você. Essa é a simples verdade. Nada mais importa. Pegando a mão de Shannon, ele deslizou o anel de platina com a imensa e perfeita pedra para o dedo anelar dela. Beijando os dedos de Shannon um por um, ele permitiu que ela sentisse seu desejo, implorando em silêncio para que ela entendesse todas as coisas que ele não era capaz de articular. Os segundos que se passaram enquanto ela passava o polegar em torno do anel, olhando-o em silêncio, foram como uma eternidade. Quando Shannon finalmente levantou a cabeça e sorriu, seus olhos anuviados, Rory ficou tonto de alívio. Ele não sabia se a batalha fora vencida, mas ao menos ela não jogara o anel de noivado do outro lado do recinto. Ela o olhou fixamente, seus olhos úmidos de lágrimas. – Pode me beijar, Rory. Lentamente, ele baixou a cabeça. Os cílios de Shannon estremeceram e se fecharam parcialmente, bloqueando suas emoções. Quando os lábios deles se tocaram, ambos grunhiram. A ereção dele se intumesceu instantaneamente, dolorosamente. Shannon ficou nas pontas dos pés, as mãos segurando fortemente os ombros dele enquanto eles se beijavam como todo o desespero de amantes a bordo do Titanic. – Quero uma resposta – implorou ele com a voz rouca. Ele conseguia sentir cada curva do corpo dela sob o fino tecido do vestido. Inconsequentemente, ele a ergueu nos braços e foi na direção da cama. Ao inferno com a conversa. Às vezes, ações falavam mais alto do que palavras. Shannon sorriu para ele, totalmente feminina, deliciosamente quente e atraente. – Eu não sabia que eu era capaz de sentir isso por uma pessoa. E também amo você, Rory. O alívio que ele sentiu foi avassalador. Quando Rory a pôs sentada com cuidado na beira da cama, Shannon se ajoelhou rapidamente, de frente para ele. Com elegância e um malicioso sorriso, ela levou as mãos à barra do vestido e o tirou por cima da cabeça. – Você está desperdiçando tempo.
Ele balançou a cabeça, maravilhado com a paixão que sentia por aquela mulher, aquela encantadora mulher. Por baixo do vestido, ela estava com uma minúscula calcinha preta. O sutiã de renda, que pertencia ao mesmo conjunto, mal conseguia conter os exuberantes e fartos seios dela. – Mil perdões, meu amor. Permita-me compensar o tempo perdido. – Ele tirou as roupas com uma coordenação menor do que a de costume. Quando ele chegou à última peça, a cueca boxer de cor escura, Shannon curvou o dedo. – Eu ajudo com isso. Ele se aproximou da cama, arfando. – Eu não sabia que precisava de ajuda. – Ah, precisa, sim – murmurou ela, tomando-o na mão e brincando com ele. O maxilar de Rory se contraiu, seus olhos se fecharam por vontade própria. Tremendo, os músculos de seu pescoço e seus braços rígidos, ele ficou parado em silêncio enquanto ela enganchava os dedos no elástico da cintura e baixava a cueca até as coxas dele. Impaciente, especialmente pelo fato de que ela não conseguia alcançar mais embaixo, Rory empurrou a cueca até os tornozelos e a chutou para o lado. Ele arfou e soltou um palavrão quando ela o tomou com as duas mãos desta vez, os dedos de uma delas envolvendo seu membro. – Shannon… – Ele não sabia ao certo o que estava tentando dizer. Mal conseguia formar um pensamento coerente. Ela o trouxe para mais perto simplesmente puxando levemente a ereção dele. Cambaleando à frente, ele acabou caindo em cima dela, os dois estendidos sobre a colcha dourada e verde. Numa estranha parte da mente dele, Rory soube que seria mais confortável se eles estivessem sobre lençóis macios, mas, com seu corpo pressionado ao dela, seu peito colado no dela, as coxas se tocando, ele não conseguiu se mexer. Shannon, entretanto, tinha uma ideia diferente. Ela se contorceu para se libertar. – Quero que você fique nu – pediu ela, as palavras saindo como um mero sussurro de som. – Também quero isso. Quero… – Ele tirou as duas peças de roupa que ela ainda usava e se curvou à frente para enterrar o rosto entre os seios de Shannon. O cheiro dela era inebriante. Lentamente, Rory abriu as pernas de Shannon com as dele. No último instante, ele se lembrou do preservativo. Felizmente, ele guardara alguns na mesa de cabeceira. Mas o esforço de pegar um deles e colocá-lo pareceu quase insuportável. Finalmente, com seu corpo apoiado acima do dela, ele tocou a ponta de sua ereção no acolhedor sexo dela e a penetrou. Se aquela tarde fora rápida e furiosa, a noite seria delicada, lenta, infinitamente erótica. Todos os sentidos dele estavam aguçados. Ele ouviu Shannon perdendo o fôlego, sentiu o úmido calor da pele dela, viu a maneira como as íris dela se expandiam quando ele a levava à beira do clímax. E provou a doçura do beijo dela. Shannon gritou o nome dele quando atingiu o orgasmo. – Rory… ah, Rory! – Estou aqui, meu amor. – A liberação dela desencadeou a dele. Ele a penetrou por diversas vezes, arrancando até a última gota de prazer. Finalmente, eles encontraram forças para entrar debaixo dos lençóis. O ar climatizado do quarto estava frio sobre a pele aquecida deles. Shannon se aninhou ao lado dele. – Foi bom.
Ele riu, sem conseguir evitar, cada dia mais cativado por ela. – Sei quanto o rancho significa para você, querida. Vamos fazer tudo dar certo. Você não precisa ter medo de que se casar comigo vá atrapalhar sua vida. Ela se sentou, os lábios se erguendo num sorriso de satisfação. – Casar com você? Nem cheguei a receber nenhum pedido. Rory bocejou e se espreguiçou, acariciando o seio mais próximo ao fazê-lo. – Desculpe. Achei que isso tivesse ficado implícito quando pus esse anel no seu dedo. Mas vou perguntar agora, Shannon Morrison. Quer se casar comigo? – Sim. Creio que sim. – Aquilo gerou outro beijo de comemoração. Desta vez, ela ficou por cima dele, estendida sobre o peito de Rory numa posição altamente gratificante. – Vou fazer tudo que eu puder para ver você feliz – afirmou ele, as palavras como um solene juramento. Shannon suspirou, acariciando-o com seu rosto. – Amei sua proposta, Rory. E saber que você me ama o suficiente para abrir mão do seu sonho faz meu coração transbordar. Mas acho que foi você quem entendeu errado dessa vez. Não continuei administrando o rancho por isso ser o meu maior desejo. Eu só estava preservando uma herança para os meus descendentes. Eu adoraria morar com você em Austin e em Royal. Assim que nos casarmos, o rancho vai pertencer a nós dois. Então, se você puder me ajudar a contratar um encarregado de confiança e se pudermos voltar para cá várias vezes por mês para eu poder ficar de olho nas coisas, pode ficar comigo. Além do mais, tenho um diploma perfeitamente válido em Comunicação que está sendo desperdiçado. Talvez ele seja útil para a mulher de um político. Ele envolveu a cintura dela com um dos braços, abraçando-a firmemente para o caso de ela estar planejando sair da cama. Apesar de ele nunca ter feito nada para merecer o amor de uma mulher como Shannon, Rory se sentia extremamente agradecido. E, se Deus quisesse, ele jamais daria nenhum motivo para que ela se arrependesse de ter depositado sua confiança nele. – Sim e sim. Acordo fechado. Foi um dia maravilhoso – pronunciou ele lentamente, sentindo a exaustão dominá-lo como uma macia nuvem. Shannon se acomodou no abraço dele, sua cabeça apoiada no ombro de Rory. – Foi, sim, meu amor. E mal posso esperar para ver o que o amanhã nos reserva…
Maureen Child
NADA A ESCONDER
Tradução Leandro Santos
Querida leitora, Sempre é muito excitante ser convidada a participar de uma saga de Desejo Dueto. Sem falar que eu sempre adorei o Clube dos Milionários! Em Nada a esconder, você conhecerá Nathan Battle, o xerife da cidade que carrega mágoas da mulher que roubou seu coração e o abandonou. Amanda Altman voltou para Royal para ajudar no restaurante da família, mas não está sendo nada fácil. Viver em sua cidade natal significa ter de encarar Nathan novamente. O amor ainda existe, mas é impossível esquecer a dor do passado. E quando a cidade é inundada por fofocas e boatos, será que Amanda e Nathan conseguirão voltar a confiar um no outro? Espero que goste da história. Sei que amei escrevê-la! Por favor, visite-me no meu site maureenchild.com e no Facebook. Boa leitura! Equipe Editorial Harlequin Books
Para Rosemary Rangel Estrada. Sentiremos sua falta, vizinha!
CAPÍTULO 1
AMANDA ALTMAN voltara à cidade. Todos só falavam disso, e Nathan Battle já estava ficando farto. Ele detestava estar no centro de um tornado de fofocas. Anos antes, ele já passara por isso. Claro, ele se safara do pior por ter se mudado para Houston e se enfurnado na academia de polícia e, depois, em seu emprego. Desta vez, isso não funcionaria. Ele construíra seu lar ali. Não iria a lugar algum. Porque Nathan Battle não fugia. Ele precisaria aguentar até que a cidade encontrasse outra novidade. Mas a vida em Royal, Texas, era assim. Uma cidade pequena demais para cuidar da própria vida e grande demais para que as mesmas fofocas se repetissem sem parar. Mesmo ali, nos sagrados halls do Clube dos Milionários, Nathan não conseguia escapar. Nem mesmo de seu melhor amigo. – Então, Nathan – perguntou Chance, sorrindo –, já encontrou Amanda? Nathan olhou para o homem sentado diante dele. Chance McDaniel era proprietário do McDaniel’s Acres, um rancho e hotel ao sul da cidade. O homem construíra o lugar desde o zero num terreno herdado da família. O cabelo loiro de Chance era curto. Seus olhos verdes estavam entretidos. – Não. – Nathan, porém, soube que aquela única palavra não seria suficiente para rechaçar Chance. Eles eram amigos havia tempo demais. E melhores amigos se conheciam muito bem. – Você não pode ignorá-la para sempre. – Até agora, deu certo. – Claro – falou Chance, contendo uma risada. – É por isso que você tem estado tão calmo nas últimas semanas. – Engraçadinho. – Então, xerife, se você está evitando ir ao Royal Diner ultimamente, onde anda tomando café? – No posto de gasolina. Desta vez, Chance não se deu ao trabalho de conter a risada. – Você deve estar desesperado se anda bebendo aquela lama que Charlie faz lá. Talvez esteja na hora de aprender a fazer um café decente por conta própria.
– E talvez esteja na hora de você esquecer esse assunto. – Toda a rotina de Nathan fora destruída quando Amanda retornara a Royal. Ele costumava começar seu dia com uma grande caneca de café e talvez alguns ovos no restaurante. Pam, irmã de Amanda, sempre estava com o café já pronto quando Nathan chegava. Era uma rotina confiável. Porém, desde que Amanda voltara para o mundo dele, Nathan passara a ter de aguentar o nojento café de Charlie. Mesmo sem tentar, Amanda dava um jeito de prejudicá-lo. – É sério, Nate. Pelo que dizem, Amanda veio para ficar. Parece que ela está fazendo algumas mudanças no restaurante e, de acordo com Margie Santos, procurando uma casa. Nathan já ouvira tudo aquilo, claro. Margie era a principal corretora imobiliária de Royal e também uma das maiores fofoqueiras. O que significava que Amanda voltara mesmo para ficar. E ele não poderia ignorá-la durante muito mais tempo. Uma pena, pois ele finalmente conseguira não pensar em Amanda. O que não fora sempre o caso. Vários anos antes, Amanda era tudo em que Nathan pensava. A paixão entre eles ardera mais do que tudo. Eles haviam ficado noivos. Ele franziu o cenho. Os tempos mudam. – Mude de assunto, Chance – resmungou ele, permitindo que seu olhar deslizasse pelo salão principal do Clube. Enquanto seu amigo falava sobre o que estava acontecendo no rancho, a mente de Nathan vagou. Ao longo dos anos, parecia que, dentro do Clube, o tempo parara. Nem mesmo o fato de, agora, mulheres serem aceitas oficialmente como integrantes do clube afetara a decoração. Paredes com painéis, mobília de couro marrom-escuro, troféus de caça nas paredes e uma grande televisão para que ninguém perdesse nenhum evento esportivo do Texas. A risada de uma mulher surgiu, interrompendo o silêncio, e Nathan sorriu ao ver Beau Hacket fazer cara feia para o som. Com quase 60 anos, Beau era baixo e largo, e seu cabelo já estava muito mais grisalho do que ruivo. Ele tinha uma grande gargalhada e uma mente fechada; acreditava que o lugar das mulheres era a cozinha. Nathan percebeu a tensão no recinto. As mulheres já eram aceitas no clube, mas ainda não eram muito bem-vindas. Todos estavam ali para a reunião semanal do Clube, e ninguém da velha guarda estava feliz com a inclusão delas. – Parece que Abigail está se divertindo – sussurrou Chance. – Abby sempre se diverte – refletiu Nathan. Abigail Langley Price, casada com Brad Price, fora a primeira mulher aceita no clube. E, claro, estava se divertindo agora, já que havia mulheres com quem conversar ali. Mas não fora fácil para ela conquistar a aceitação no Clube. Mesmo com o apoio de Nathan, Chance e vários outros membros. – Não acha esquisito – perguntou Chance – ter mulheres no clube agora? – Não. Era mais esquisito quando não eram aceitas aqui. – É. Entendo o que você quer dizer. Mas homens como Beau não estão felizes com isso. Nathan deu de ombros. – Homens como Beau estão sempre reclamando de algo. Ele e os outros vão ter de se acostumar. Os tempos mudam. – Mudam mesmo. Como a votação que vamos fazer esta noite.
Aliviado por ter desviado o assunto de Amanda, Nathan voltou seus pensamentos para a votação que logo viria. A ocasião vinha sendo o assunto da cidade fazia dias. Quando Abigail e as outras mulheres haviam entrado para o Clube, haviam tido algumas ideias próprias e as apresentado. Naquela noite, ocorreria a votação de um dos principais itens. – A creche? – perguntou Nathan, e Chance assentiu. – É muito importante e só vai deixar os membros da velha guarda ainda mais irritados. – Verdade. Mas faz sentido se você parar para pensar. Um lugar seguro para as crianças enquanto os pais estão aqui. Já devíamos ter feito isso há anos. – Estou com você. Mas não sei se Beau vai concordar. – Beau não concorda com nada – disse Nathan, rindo. Sendo xerife da cidade, Nathan precisava lidar com Beau Hacket regularmente. O homem reclama de tudo e todos e não se importava de ocupar o tempo do xerife com isso. O relógio começou a badalar, e os dois se levantaram. – Acho que está na hora de começar a reunião. UMA HORA depois, os argumentos ainda estavam sendo berrados. Beau Hacket conseguira apoio para suas opiniões retrógradas. Sam e Josh Gordon, os gêmeos que eram proprietários da Gordon Construções, estavam se mostrando tão irredutíveis quanto Beau. – É impressão minha – sussurrou Nate para seu amigo Alex Santiago –, ou Sam Gordon está começando a ficar cada vez mais parecido com Beau Hacket? – Não é impressão – respondeu Alex em voz baixa. – Até o irmão dele parece surpreso. Alex não morava em Royal fazia muito tempo, mas já fizera muitos amigos na cidade e já parecia conhecer bem a cidade e os moradores. Sendo um empreendedor e investidor, Alex era rico e se tornara rapidamente influente em Royal. Às vezes, Nate se perguntava por que um homem rico como Alex escolheria se estabelecer em Royal. Ao mesmo tempo, porém, ele dizia a si mesmo que as pessoas também deviam se perguntar por que Nathan Battle optara por ser xerife da cidade. Por ser dono de metade do Rancho Battlelands, Nate era rico o suficiente para sequer precisar trabalhar. Mas o que ele faria? Ele olhou para os membros reunidos. Beau estava quase roxo, gritando com todos que argumentavam com ele. Chance estava sentado ao lado de Shannon Morrison, que parecia estar com vontade de dizer a Beau Hacket onde ele poderia enfiar suas antiquadas opiniões. Gil Addison, presidente do Clube, estava de pé à ponta da mesa. Seus olhos escuros faiscavam, e Nate soube que seu amigo já estava quase no limite da paciência. Gil bateu o martelo no pedestal até conseguir silêncio. – Chega de falar. Hora de votar. Todos a favor da creche do Clube, digam “sim”. Todas as mulheres se pronunciaram, juntamente com Nathan, Alex, Chance e vários outros homens. – Todos os que se opõem, digam “não”. Algumas barulhentas vozes foram ouvidas. O martelo foi batido novamente. Gil sorriu. – Proposta aprovada. Será acrescentada uma creche ao Clube dos Milionários. Beau e alguns outros membros, ainda irritados com o fato de haver mulheres no grupo deles agora, estavam praticamente apopléticos. Mas não podiam fazer nada a respeito.
Quando Beau saiu irritadamente da reunião, Nathan quase sentiu um lampejo de solidariedade. Ele conseguia entender o outro lado da situação, mas não se podia ficar preso ao passado. O mundo avançava. Tradição era uma coisa; ficar atolado na lama era outra. Mudanças aconteciam, independentemente da vontade das pessoas. Sendo assim, o melhor jeito de lidar com elas era embarcar no trem, não deitar nos trilhos para ser atropelado. E essa seria uma boa maneira de lidar com Amanda. – Isso é ótimo – disse Abigail Price com um largo sorriso. – E nossa Julia vai ser a primeira criança matriculada assim que estivermos funcionando. – Pode apostar, querida. – Brad Price apertou a mão de sua esposa. – Uma pena Beau e os outros estarem chateados, mas eles vão superar. – Você superou – lembrou Abigail, sorrindo. Era verdade, refletiu Nate. Pouco tempo atrás, Brad e Abby discordavam o tempo inteiro. Ele se esforçara ao máximo para mantê-la fora do Clube, e agora… os dois estavam apaixonados, casados e pais de uma ótima menininha. Enquanto todos falavam, Alex sugeriu: – Por que não vamos até o restaurante para comermos torta com café? – Boa ideia – concordou Chance, lançando um olhar para Nathan. Às vezes, amigos podiam ser um verdadeiro pé no saco, disse Nathan a si mesmo. Aqueles dois estavam tentando fazê-lo encontrar Amanda, mas não daria certo. Ele a encontraria. Em seu próprio tempo. À sua própria maneira. – Não, obrigado – disse ele, levantando-se. – Vou voltar ao escritório para terminar uma documentação. Depois, vou para casa. – Ainda está se escondendo? – murmurou Alex. – É difícil me esconder numa cidade do tamanho de Royal – respondeu Nathan, irritado. – Não se esqueça disso. AMANDA ESTAVA tão ocupada que quase não teve tempo de se preocupar com Nathan. Quase. Administrar o restaurante da família, procurar uma nova casa e levar seu carro para trocar o câmbio ainda deixara em sua mente espaço suficiente para atormentá-la com pensamentos em Nathan Battle. – Era inevitável – lembrou ela a si mesma pela quadragésima vez naquela manhã. Só o fato de estar em Royal já trazia de volta as lembranças. E havia muitas lembranças. Ela fora louca por Nathan desde os 13 anos. Ainda conseguia se recordar da empolgação de quando Nathan, um todo-poderoso aluno do último ano, levara uma inferior aluna do segundo ano ao baile de formatura dele. – E, se tivéssemos parado por ali, tudo teriam sido rosas – murmurou ela ao colocar água na cafeteira. Ela apertou o botão para começar o processo de passagem do café e se virou para olhar para o restaurante. Mesmo com as mudanças que ela fizera nas últimas duas semanas, estar naquele lugar era como estar de volta ao lar. Ela fora criada no restaurante de seus pais, trabalhando como assistente de garçom e, em seguida, como garçonete. O Royal Diner era uma instituição da cidade, e ela estava determinada a mantê-lo
assim. Fora por isso que ela voltara para casa após a morte de seu pai, para ajudar sua irmã mais velha, Pam, a administrar o lugar. Ela não voltara por causa de Nathan Battle. Mesmo que ela sentisse um calafrio toda vez que pensava no nome dele. Isso não significava nada. Sua vida estava diferente agora. Ela estava diferente. – Amanda, meu amor, quando você vai se casar comigo e fugir para a Jamaica? Surpresa, Amanda sorriu ao ouvir aquela conhecida voz e se virou para Hank Bristow. Aos 80 anos, Hank era alto e magro, e sua pele era enrugada de uma vida passada debaixo do sol. Agora que seus filhos administravam o rancho da família, Hank passava a maior parte de seu tempo no restaurante, conversando com seus amigos. – Hank, você só me ama por causa do meu café – disse ela, servindo a fumegante bebida para ele. – Uma mulher que sabe fazer um bom café vale seu peso em ouro. Ela sorriu, acariciou a mão dele e percorreu o balcão com o bule, conversando com seus clientes e enchendo as canecas deles. Era tudo tão familiar. Tão… tranquilo. Ela retornara à vida em Royal como se nunca tivesse partido. – Por que você encomendou cardápios novos? Certo, não totalmente tranquilo. Amanda se virou para Pam. Como de costume, sua irmã, mais baixa que ela, não parecia feliz com ela. Por outro lado, as duas nunca haviam sido próximas. Nem quando mais jovens e nem agora. – Porque os antigos precisavam ter trocados. O plástico estava rachado, e os próprios cardápios estavam desatualizados. – Ao ver a expressão de interesse no rosto de Hank, Amanda baixou a voz. – Nós nem servimos mais metade do que tinha neles, Pam. O cabelo castanho da irmã dela, que ia até a altura do queixo, estava preso atrás das orelhas. Ela estava com uma camiseta vermelha e jeans. – Mas nossos clientes de sempre sabem disso. Não precisam de menus novos e metidos a besta, Amanda. Amanda suspirou. – Não são metidos a besta, Pam. Só não são toscos. Pam inspirou fundo. – Certo, desculpe. – Amanda buscou paciência. – Estamos juntas nesta situação, certo? Você disse que precisava de ajuda, e voltei. As irmãs Altman administrando o restaurante. Juntas. Pam pensou naquilo durante um tempo antes de dar de ombros. – Contanto que você lembre que não pedi para você vir assumir o comando de tudo. – Não estou assumindo o comando, Pam. Estou tentando ajudar. – Mudando tudo? Aqui, existe uma coisa chamada tradição, sabia? Ou se esqueceu disso depois de ter vivido em Dallas durante tanto tempo? Uma pequena pontada de culpa atingiu Amanda. Ela não aparecera muito por ali nos últimos anos. E devia ter aparecido. Tinham restado apenas Amanda, Pam e o pai delas depois que a mãe morrera, anos antes, fazendo os três se afastarem. Amanda sabia que passaria o resto de sua vida arrependida por não ter passado mais tempo com seu pai quando tivera chance. Porém, assim como Pam, ela fora criada no restaurante. Mudar as coisas também não era fácil para ela. Mas os tempos mudavam.
– Papai mesmo nos disse que, quando herdou o restaurante do pai dele, fez muitas mudanças – argumentou ela. Pam franziu o cenho. – A questão não é essa. – Então, qual é, Pam? Você me pediu para voltar para ajudar, lembra? – Ajudar, não mandar em tudo. Certo, talvez ela tivesse sido um pouco afobada com as mudanças. Talvez não tivesse permitido que sua irmã fosse incluída nas decisões. Fora culpa dela, e Amanda estava disposta a aceitá-la. Porém, Pam não aparecera muito ali desde que Amanda voltara à cidade. Contudo, se ela dissesse isso, uma nova discussão teria início. – Tem razão – falou Amanda, e viu um lampejo de surpresa nos olhos de sua irmã. – Eu devia ter falado com você sobre os cardápios. Sobre as bancadas e mesas. E não falei. É que… Acho que não me dei conta da falta que sentia deste lugar. E, quando voltei, mergulhei de cabeça. – Não acredito que você tenha sentido falta do restaurante. Amanda riu. – Eu sei. Também não acredito. Passamos tanto tempo trabalhando aqui quando crianças. Quem diria que eu ficaria ansiosa por voltar a trabalhar aqui? Pam suspirou e se recostou no balcão. Ela fez cara feia para Hank, que ainda estava prestando atenção nelas. O velho revirou os olhos e desviou o olhar. – É bom você estar aqui – disse Pam finalmente. – E, com nós duas aqui, devemos conseguir administrar o restaurante e ter uma vida. – Vamos conseguir – disse Amanda, sorrindo ao sentir a pequenina ponte surgindo entre elas. – Mas somos nós duas, Amanda. Você não pode tomar todas as decisões. – Claro. Tem razão. Eu devia ter falado com você, e vou passar a falar de agora em diante. – Ótimo. Isso é bom. Agora, vou sair. Estou com a indicação de um novo fornecedor de legumes orgânicos e… Amanda sorriu e permitiu que sua mente vagasse enquanto sua irmã falava dos fazendeiros locais. O olhar dela deslizou pelos rostos conhecidos que enchiam o restaurante e, em seguida, voltou-se para a rua. A principal de Royal. Calçadas cheias de pessoas que haviam saído cedo para fazer compras. Carros estacionados no meio-fio. O xerife saindo para a calçada, rumando para o restaurante. Xerife. Rumando para o restaurante. O coração de Amanda saltou dentro do peito. Sua boca secou, e seu olhar se fixou no homem que ela não conseguia esquecer. NATHAN SABIA que já passara da hora de encarar Amanda. Ele saiu do escritório do xerife deixando seu assistente, Red Hawkins, encarregado. A manhã estava clara e prometia mais um dia quente. O início de verão no Texas já estava escaldante. Como ele adorava aquilo! Ao descer pela calçada, as botas ecoando num acelerado ritmo, Nathan cumprimentou com um movimento de cabeça as pessoas que passavam por ele e parou para segurar uma porta para Macy Harris, que estava com dificuldades de carregar um bebê e segurar a mão de seu outro filho.
Aquele era o lugar dele. E ele precisara ir embora e passar alguns anos em Houston como policial para se dar conta disso. Agora que ele voltara, porém, Nathan sabia que nunca mais partiria de Royal. Ele encontrara seu lugar e não permitiria que Amanda Altman o deixasse desconfortável ali. Ele atravessou a rua, indo diretamente para o Royal Diner. O lugar era um ponto turístico da cidade. Ele conseguia se recordar de quando ia até ali quando criança com seus pais e, depois, na adolescência, quando se reunia ali com os amigos depois de jogos de futebol americano. Era o coração não oficial da cidade, o que significava que, a qualquer hora do dia, haveria muitos clientes lá dentro. Clientes que assistiram com interesse ao primeiro encontro dele com Amanda. Ele abriu a porta, entrou e parou, permitindo que seu olhar percorresse o familiar ambiente. Familiar em geral, corrigiu ele. As paredes haviam sido pintadas de um leve verde e estavam pontilhadas com fotos emolduras de Royal ao longo dos anos. O balcão também fora trocado. O piso xadrez preto e branco fora polido, e as poltronas de vinil vermelho das cabines tinham sido reformadas. Havia novas cadeiras em torno das mesas. Mas nada disso importava para ele. Como podia importar? Ele estava concentrado demais na mulher que o olhava de trás daquele novo balcão. Amanda Altman. Droga. Ela estava bonita demais. Nathan inspirou fundo. Não esperara sentir aquela onda de calor. Convencera a si mesmo de que a superara. De que esquecera como era estar com ela. Um grande engano. – Oi, Nathan. – Amanda – disse ele, ignorando os sussurros que surgiram pelo recinto. Ela foi na direção do fim do balcão, posicionando-se atrás do caixa. Uma manobra defensiva? Estranhamente, aquilo o acalmou. Saber que, assim como ele, ela não estava feliz com aquele encontro público aliviava parte da pressão. Na realidade, aquilo devolvia o poder a ele. Ela era nova ali. Sim, Amanda fora criada em Royal, como ele. Nathan, entretanto, passara os últimos três anos ali, e ela voltara à cidade fazia duas semanas. Ele tornara aquele lugar seu lar, e ela ainda estava tentando se estabelecer. Ele foi na direção dela, percebendo que o queixo de Amanda se levantou petulantemente. Como ele sentira falta daqueles gestos de teimosia dela… – Bom dia, Nathan – falou Pam animadamente. – Estávamos sentindo sua falta aqui. – Ando ocupado – disse ele, ignorando o som de desprezo feito por Hank Bristow. – Quer o de sempre? – Seria ótimo, Pam, obrigado – disse ele, sem tirar os olhos de Amanda. Ela parecia igual, mas… diferente. Talvez fosse o fato de ela estar mais velha agora. Ou de seus olhos não estarem cintilando de veneração quando ela o olhava. Não importava, disse Nathan a si mesmo. Amanda estava no passado, apesar da reação de seu corpo a ela. – Então – disse ele, sabendo que todos no restaurante estavam prestando atenção –, você voltou de vez, ou veio só visitar?
Pam se aproximou e entregou um copo de café para a viagem. Ele sequer olhou para ela ao pegar a bebida e procurar o dinheiro no bolso. – Por conta da casa – disse Amanda. – Não é necessário – falou Nathan, colocando dois dólares no balcão. – Você não me respondeu, Amanda. Veio para ficar ou só está de passagem? – Vim para ficar, Nathan. Espero que não seja nenhum problema para você. Ele soltou uma curta risada e tomou um gole do café. Deliberadamente, disse com bastante clareza, para que todos ouvissem. – Por que seria problema para mim, Amanda? Já terminamos faz muito tempo. – Tem razão – falou Amanda, empinando ainda mais o queixo. – Não somos mais adolescentes. Não há motivo para não podermos ser amigos. Amigos? O corpo dele estava dominado pelo calor, e ela achava que eles podiam ser amigos? Sem chance. Mas ele não lhe daria a satisfação de saber disso. – Nenhum mesmo – concordou Nathan tensamente. – Ótimo. Fico feliz por isso estar resolvido. – Também fico. – Ah, sim – resmungou Hank. – Todos estamos vendo que tudo deu certo. – Não se meta, Hank – disse Nathan, virando-se para a porta em seguida. – Pode me acompanhar até meu carro, Nathan? – falou Pam, fazendo-o parar para olhar novamente para trás. Porém, em vez de ver a mulher que vinha em sua direção, o olhar de Nathan foi diretamente para Amanda, e ele sentiu um novo surto de calor. O passado podia estar morto, mas o que vibrava entre eles ainda tinha vida suficiente para incomodar. Quando Pam deu o braço a ele, Nathan a levou para fora e não olhou mais para trás.
CAPÍTULO 2
– DEU TUDO certo – disse Amanda a si mesma ao entrar no pequeno apartamento em cima do restaurante, o lugar que, agora, era sua casa. Ela passara o dia inteiro pensando naquele rápido e extremamente público encontro com Nathan. O que devia ser exatamente o que ele esperara. Nathan sempre fora do tipo de homem que assumia o comando das situações. Era típico dele garantir que o primeiro encontro deles fosse exatamente como ele queria. Fora por isso que ele fora ao restaurante durante o movimento da manhã; para que houvesse muitas testemunhas da conversa deles, para que eles não pudessem conversar de verdade. Honestamente, aquele homem não mudara nada. Ainda orgulhoso e cabeça-dura. Ela vira aquele conhecido brilho no olhar dele naquela manhã e soubera, assim que ele abrira a boca, que nada entre eles ficaria resolvido. Amanda se sentou num macio sofá floral, mais velho do que ela, e apoiou os pés na mesa de centro. O romance que ela vinha lendo estava ao lado de uma antiga jarra de cerâmica cheia de margaridas. Cruzando os braços, Amanda olhou fixamente para o ventilador de teto, que girava preguiçosamente. Aquele pequeno apartamento acima do restaurante era como uma manta de conforto. Os pais dela haviam morado ali depois de se casarem e abrirem o restaurante. Depois, eles o haviam alugado para várias pessoas ao longo dos anos. Pam morara ali durante um tempo. Depois, fora a vez de Amanda, quando estava na faculdade. Ter seu próprio lugar lhe dera a oportunidade de buscar a independência estando perto o suficiente de casa para se sentir segura. Além do mais, ela e Nathan haviam se encontrado muito ali naqueles dias. As lembranças estavam marcadas no pequenino apartamento, com sua mobília antiquada, mas aconchegante. Ela pensou no que ele dissera naquela manhã. Ou melhor, no que ele não dissera. – Ele não quis conversar sobre nada – disse ela para o cômodo vazio. – Só queria me mostrar que me ver novamente não significava nada. Estava tentando estabelecer as regras. Como antes. Ele diz como as coisas vão ser, dá as ordens e recua, dando espaço para você segui-las. Bem, ele ficaria chocado. Ela não aceitava mais ordens. Na realidade, pensar na garota que ela fora no passado a deixava desgostosa. Naquela época, ela fora jovem e apaixonada o suficiente a ponto de não discutir uma vez sequer com Nathan… até aquela última noite. Quando ele anunciava os filmes
escolhidos, ela nunca dizia que detestava filmes de ação. Nunca lhe dissera que não gostava de ir a exposições automobilísticas, nem que achava pescar uma das atividades mais chatas do mundo. Em vez disso, Amanda aguentara incontáveis filmes cuja trama revolvia em torno de demolição. Passara longos dias vendo Nathan pescar nos riachos e rios próximos e não queria nem pensar nas horas perdidas observando motores de carros. Amanda não conseguia acreditar como se entregara tão completamente a Nathan. Ela só se importara com ele. Só pensara nele. E, quando tudo desmoronara entre eles… ela não tivera ideia do que fazer consigo mesma. Ela demorara para encontrar seu chão. Para encontrar Amanda. Porém, conseguira, e não havia mais volta… mesmo que ela quisesse. E ela não queria. – Sou adulta agora, Nathan. Não vou obedecer às suas ordens. Não preciso mais de você. Quando suas palavras ecoaram pelo recinto, Amanda sorriu tensamente. Boas palavras. Se ela ao menos conseguisse acreditar nelas. Ah, ela não precisava de Nathan como antigamente. Como precisara do ar. Não, agora, ela precisava era se livrar das lembranças. Tirar Nathan de sua mente e de seu coração de uma vez por todas. Parar de lembrar que, quando as coisas eram boas entre eles, eram muito boas. Ela precisava se concentrar nas partes ruins. Nos momentos em que Nathan a deixara louca. No Nathan autoritário que tentara tomar todas as decisões por ela. O homem que insistira para que eles se casassem porque ela estava grávida e, no instante em que a gravidez terminara, fugira imediatamente dela. Era isso que ela precisava lembrar. A dor não apenas de perder o bebê para o qual ela criara tantos sonhos, mas também de perceber que o homem que ela amava não era quem ela imaginara. Amanda foi até a cozinha, colocou a comida para assar no forno e foi tomar um rápido banho, vestindo um short jeans e um top ao sair novamente para a sala. Ela serviu para si uma taça de vinho, o que tornou a espera pelo jantar um pouco mais fácil. Até mesmo tornou os pensamentos em Nathan menos… perturbadores. Mesmo furiosa com o homem, ela ainda sentia aquela vibração de algo maravilhoso. Que tristeza, Amanda… Nos anos depois do fim do relacionamento deles, ela não vivera exatamente como uma freira. Tivera encontros. Mas não muitos. Porém, como ela podia pensar num futuro se o passado não parava de ressurgir em sua mente? Tudo sempre levava a Nathan. Quando ela conhecia um homem, ela esperava, torcendo para sentir aquele lampejo especial encontrado apenas com Nathan. E ele nunca acontecia. Como ela podia aceitar se casar com outra pessoa se era Nathan quem fazia seu corpo arder? Ela devia se contentar com outro? Impossível. Amanda queria o que tivera no passado. Mas queria isso com outra pessoa. Droga, ela sentira a presença de Nathan no instante em que ele entrara no restaurante; nem precisara vê-lo. Aquele primeiro olhar a abalara tanto que ela precisara de todas as suas forças para firmar os joelhos e não se derreter vergonhosamente. Nenhum outro homem jamais fizera aquilo com ela. Só ele. – Isso não é um bom sinal. Fazia anos desde a última vez que ela o vira, que o tocara, mas era como se tivesse sido no dia anterior. Tudo dentro dela estava agitado, estendendo o tapete vermelho, colocando o chapéu de festa.
Entretanto, não haveria festa nenhuma. Ao menos não com Nathan. Ela jamais o superaria caso se entregasse novamente a ele. Tentando se distrair, ela foi até uma das janelas que dava para a rua principal. Apenas alguns carros lá fora, quase nenhum pedestre. O silêncio era assustador. No céu, havia milhares de estrelas. A vida numa cidade pequena era muito diferente do que ela vivenciara nos últimos anos em Dallas, um lugar tão diferente daquele no qual ela fora criada, uma distração tão grande para sua dor. Amanda gostara muito da vida na cidade grande. No início. Porém, ao longo do tempo, ela se tornara apenas mais uma pessoa sem nome passando pelas multidões, indo do trabalho para um apartamento, e retornando no dia seguinte. As noites eram cheias de barulho, pessoas e a gradual percepção de que ela não estava feliz. Sua vida passara a revolver em torno de um emprego e uma vida noturna dos quais ela não gostava. Ela tivera alguns amigos e alguns namoros que sempre pareciam terminar mal; provavelmente, culpa dela, já que ela nunca conseguira conhecer um homem sem compará-lo a Nathan. Vergonhoso, mas era a verdade. Então, seu pai falecera, e, alguns meses depois, Amanda recebera o telefonema de Pam, pedindo ajuda. Mesmo sabendo que acabaria tendo de lidar novamente com Nathan, Amanda voltara correndo a Royal. E retomara sua vida ali como se nunca tivesse partido. A verdade era que, no fundo, ela era uma garota do interior. Gostava de uma cidade na qual a noite trazia tranquilidade, famílias reunidas. Gostava de saber que estava em segurança; sem precisar ter duas ou três trancas na porta. E, naquele momento, gostava de saber que não teria com quem conversar até a manhã seguinte. Ela poderia ter ficado na casa da família, onde Pam morava. Amanda, porém, acostumara-se a ter seu próprio espaço. Além do mais, o fato de Pam precisar da ajuda dela não significava que ela queria Amanda por perto. Amanda nunca fora íntima de sua irmã e, até então, essa situação parecia que não mudaria. Ela tomou um gole do vinho e permitiu que esse pensamento, juntamente com todos os relacionados a Nathan, escapasse de sua mente. Ela não resolveria tudo em uma noite. Por que enlouquecer assim? Seu olhar se voltou para o escuro escritório do xerife. Não havia ninguém lá, claro. Numa cidade do tamanho de Royal, não era necessária presença policial 24 horas por dia. Além do mais, se alguém precisasse, bastava telefonar para Nathan ou para seu substituto. Ela se perguntou se Nathan ainda morava no rancho da família, o Battlelands. Então, lembrou firmemente a si mesma de que aquilo não era da sua conta. O cheiro de queijo derretido e batatas assadas estava começando a encher o ar, e o estômago dela roncou. Quando a batida soou à porta, Amanda se surpreendeu. Ela deu um passo à frente e parou. Uma sensação familiar percorreu sua pele, e ela bebeu mais um gole do vinho para aliviá-la. Não adiantou. Mas nada adiantaria. Pois ela sabia quem estava batendo à sua porta. Quando ela conseguiu se recompor suficientemente, foi até a porta e perguntou desnecessariamente: – Quem é? – Sou eu, Amanda. – Era a voz de Nathan, grave e autoritária. – Abra. Uau. Calafrios de expectativa a percorreram. Era incrível o fato de só a voz dele já ser capaz de fazer aquilo. Depois de tantos anos, ele ainda a despertava sem nenhum esforço.
Amanda inspirou fundo, tentando se acalmar. Sem sucesso. – O que você quer, Nathan? – O que quero é não ficar parado aqui fora falando com uma porta, onde qualquer pessoa de Royal pode me ver. Não que houvesse muita gente lá fora, mas seria necessário apenas que alguém olhasse para cima, e a fofoca percorreria toda a cidade. Nathan estava na porta de Amanda ontem à noite! Certo, pensou ela, um bom motivo para abrir a porta. Foi o que ela fez. Sob a luz que ficava acima da porta, o cabelo castanho dele parecia mais claro, os ombros pareciam mais largos, e os olhos… escuros demais para serem decifrados. Mas não era difícil imaginar o que ele estava pensando, sentindo. Sua postura estava rígida, o maxilar, tenso. Ele parecia preferir estar em qualquer outro lugar. Mas ela também não o convidara, convidara? – O que foi, Nathan? Ele franziu o cenho para ela e entrou. – Por favor – disse ela, o sarcasmo transbordando ao fechar a porta –, entre. – Precisamos conversar – falou ele, atravessando o recinto antes de se virar. – E não vou fazer isso no restaurante, com a cidade inteira ouvindo. Os dedos dela apertaram a taça. – Sendo assim, você não devia ter ido ao restaurante hoje de manhã. – Talvez. Mas eu precisava de um café decente. Ela não esperava aquilo. Mas ele parecia tão enojado, tão… frustrado que Amanda riu. O olhar dele a perfurou. – Desculpe – disse ela. – Mas sério? Foi o café que finalmente fez você ir até lá? – Ando tomando o meu no posto de gasolina. – Coitado. – Pode rir. Mas acho que Charlie não lava aquela máquina há vinte anos. – Ele fez uma expressão de dor, e Amanda sorriu. Balançando a cabeça, ele indicou o vinho na mão dela. – Tem mais? – Sim. Também tenho cerveja, se preferir. – Seria bom. – Parte da tensão abandonou os ombros dele, e um canto de sua boca se levantou no que poderia ter sido um meio-sorriso, se não tivesse desaparecido tão rapidamente. Ela foi até a cozinha, abriu a geladeira e pegou uma cerveja. Parou por um instante para se recompor. O momento que ela passara anos temendo finalmente chegara. Nathan e ela estavam juntos novamente. Sozinhos. E não havia como saber o que aconteceria em seguida. Mas, fosse o que fosse, ao menos seria melhor do que o vácuo no qual eles haviam ficado durante os últimos anos. Melhor do que o rígido silêncio que se estendera entre eles desde que ela retornara a Royal. Amanda foi para a sala e entregou a garrafa gelada a ele. Em seguida, sentou-se no sofá. Ela o observou abrindo a garrafa e tomando um gole. Ele era tão lindo que chegava a irritar! Sua pele era bronzeada. Seus olhos castanhos olharam o apartamento, absorvendo tudo de uma só vez. Amanda se perguntou se ele estaria se lembrando de todas as noites que eles haviam passado juntos ali naquele lugar.
Ela o observou. Ele estava de botas marrons surradas, jeans e uma camiseta verde-escura com os dizeres Rancho Battlelands no bolso. Ele estava rígido, como se estivesse esperando uma inspeção militar. Ele não estava em serviço, mas tudo naquele homem indicava polícia. Nathan era assim. Dedicado ao dever, ele preferia a ordem ao caos, regras à confusão. Se fizesse uma viagem, ele se manteria nas rodovias, enquanto Amanda preferiria as estradas secundárias, parando para ver tudo que lhe interessasse no caminho. Não era nenhuma surpresa que eles tivessem tido conflitos. Mesmo sabendo tudo isso, ela ainda sentiu a inegável onda de atração. E era exatamente por isso que ela precisava ficar ali. Porque, até ela se tornar imune a Nathan Battle, Amanda jamais conseguiria seguir com sua vida. – Sinto muito pelo seu pai. Ela piscou os olhos para conter as repentinas lágrimas. A única coisa que ela não esperara de Nathan era bondade. Aquilo a desarmou. – Obrigada. Sinto falta dele. – Ele era um bom homem. – Era, sim. – Um terreno seguro. Falar das famílias. – Por que você voltou? E ali estava o Nathan que ela conhecia. As amenidades já tinham ficado no passado. – Como? – Ora, Amanda, você passou anos fora. Por que voltou? – Está encarregado das fronteiras de Royal agora, Xerife? As pessoas precisam consultar você antes de se mudarem para cá? – Eu não disse isso. Ela se levantou. – Royal é tanto minha casa quanto sua, Nathan Battle. – Do jeito que você agiu, não parecia. – Lembro muito bem que você passou um bom tempo morando em Houston. Foi interrogado quando voltou? – Não estou interrogando você, Amanda. Só estou fazendo uma droga de pergunta. – E já sabe a resposta. Pam precisava de ajuda no restaurante. Voltei para casa. Fim da história. Nada disso é da sua conta, Nathan. Só da minha. – Sim, mas, agora que você voltou, também é da minha. – Por quê? – Sou o xerife daqui. É aqui que moro. Você volta agora e começar a perturbar as coisas… – O que estou perturbando, Nathan? – interrompeu ela, vendo com um lampejo de alegria que ele ainda detestava ser interrompido. – Estou trabalhando no restaurante da minha família. – E despertando muitas fofocas. – Por favor. O povo de Royal fofoca a respeito de tudo. Eu não precisava estar aqui para que eles falassem de mim. – Eles não estão falando de você. Estão falando de nós. – Não existe “nós” – disse ela inexpressivamente, ficando surpresa ao sentir uma pontada em seu coração. – Eu sei disso, e você sabe disso, mas as pessoas da cidade…
– Esqueça as outras pessoas – interrompeu ela novamente. Ele inspirou fundo. – É fácil para você dizer. Mas, sendo xerife, preciso ter o respeito das pessoas que estou protegendo. Não gosto de ser assunto de fofocas. – Então, diga isso a elas. Por que está dizendo a mim? – Porque, se você for embora, isso vai parar. Ela baixou sua taça de vinho antes que se sentisse tentada a jogá-la naquela cabeça dura dele. – Não vou embora. E isso nunca vai parar, Nathan. Aquela afirmação o atingiu com tudo. Amanda viu a prova disso nos olhos dele. – Quando tivermos 90 anos, as pessoas daqui ainda vão estar especulando e lembrando… – Droga, Amanda, quero você fora da cidade. – E quero que você pare de se importar com que os outros pensam – disparou ela. – Acho que nós dois estamos fadados à decepção. Ele colocou a garrafa de cerveja na mesa ao lado da taça dela e se aproximou. Ele era tão alto e estava tão acostumado a dar ordens às pessoas. Talvez aquilo tivesse funcionado com ela anos antes, disse Amanda a si mesma, mas não mais. Ela era independente agora. E tomava suas próprias decisões, aceitando as consequências. Não seria expulsa da cidade, nem se sentiria amedrontada por um grande e lindo xerife com olhos frios como o inverno. – Se acha que está me deixando preocupada, está enganado. – Não quero que você se preocupe. – Ótimo, porque… – Não quero nada de você. Um gélido punho atingiu o peito dela, apertando seu coração. Mas Amanda não permitiria que ele visse isso. – Também não quero nada de você, Nathan. Não sou mais uma adolescente, deslumbrada porque Nathan Battle me deu atenção. Não vou seguir você por aí com cara de apaixonada, torcendo por um sorriso seu. Eu… Ele a segurou, puxou-a para perto e a beijou com um feroz desespero alimentado pelo desejo e pela raiva. Amanda conseguiu sentir isso nele, e também em si mesma. Passado e presente se entrelaçaram. Mas as lembranças fora dominadas por todas as novas sensações que a percorriam. Amanda não tentou se desvencilhar. Não fingiu que não estava tão sedenta quanto ele. Em vez disso, ela envolveu o pescoço dele com os braços. Fora daquilo que ela sentira falta durante tanto tempo. Do toque daquele homem. De seu beijo. De sentir aquele corpo rígido e forte junto ao dela. Amanda entreabriu os lábios para ele. Quando Nathan grunhiu e a abraçou com ainda mais força, ela sentiu o calor percorrendo seu corpo como uma tempestade elétrica. As mãos dele subiram e desceram pelas costas dela, puxando-a para si. A boca dele dominou a dela por diversas vezes, e Amanda acompanhou cada movimento da língua dele avidamente. Deus, como ela sentira falta dele! Nada se comparava ao que acontecia quando eles estavam juntos. Homem nenhum se comparava a Nathan. O que significava que ela estava muito encrencada. Aquilo era um imenso erro. Atirar-se nos braços de Nathan não era a maneira de superá-lo. Naquele momento, entretanto, ela só estava interessada em sentir seu próprio corpo voltar à vida, como se estivesse despertando depois de um sono de sete anos.
CAPÍTULO 3
QUANDO NATHAN a soltou repentinamente e recuou, Amanda cambaleou, arfando. Sua boca ardia do beijo dele, e seu corpo tremia. – Viu? – disse Nathan, quase rosnando. – É por isso que você não devia ter voltado. – O quê?! – Ela piscou os olhos para ele e viu que, novamente, a expressão de Nathan parecia estar esculpida em pedra. Ele parecia rígido, intocável e passional como uma placa de granito. Como ele conseguia mudar da água para o vinho? Ele podia ensinar aquilo a ela? – Eu beijei você, e você logo se atirou em mim. Um súbito esguicho de água fria fluiu pelas veias dela, apagando todas as chamas que ainda restavam. – Como é? Eu me atirei em você? – Ela pôs o dedo no peito dele. – Quem foi que me agarrou? Quem veio à minha casa? Quem começou a me beijar? Os lábios dele se afinaram. – A questão não é essa. – É exatamente essa, Nathan. – Já furiosa, mais consigo mesma por ter retomado antigos hábitos tão facilmente do que com ele, Amanda falou: – Assim como antes, você veio atrás de mim. Você começou tudo. – E vou encerrar. A mágoa rugia dentro dela, mas foi logo engolida por uma onda de fúria. Ele decidia quando começar as coisas. Quando encerrá-las. E ela devia aceitar tudo em silêncio. Nathan Battle, o senhor do universo. – Que surpresa. Você gosta de encerrar as coisas, não é? Os olhos dele se semicerraram, e Amanda teve quase certeza de que os dentes dele estavam se trincando de raiva. Ótimo. Ela detestaria imaginar que era a única pessoa furiosa ali. – Não fui eu quem terminou tudo há sete anos – disse ele por fim. – Não me lembro disso – rebateu Amanda, a dor daquela noite passada havia muito ainda fresca como se tivesse sido no dia anterior. – Foi você quem foi embora. – Era o que você queria. – E como você sabe disso, Nathan? Você nunca perguntou o que eu queria.
– Não adianta. Um longo instante de tenso silêncio se estendeu entre eles. O timer do forno apitando foi como um gongo numa luta de boxe, indicando o fim do assalto. Um segundo depois, Nathan já estava indo na direção da porta. Ao chegar lá, ele parou e se virou para ela. – Esta cidade se alimenta de fofocas todos os dias, mas não vou ser devorado. – Ótimo! – Se ele achava que ela estava ansiosa por ser o assunto de conversas sussurradas, estava louco. – A família Battle tem uma reputação nesta cidade… – E os Altman não são do seu nível, é isso? – interrompeu ela novamente, sentindo um pequeno toque de prazer, sabendo que isso o irritava. – Eu não disse isso. – Nem precisou. – Indo na direção dele, Amanda olhou irritadamente nos olhos castanho-escuros dele. – Estou surpresa por você ter se dignado a me pedir em casamento. – Você estava esperando um filho meu – disse ele inexpressivamente. Aquela afirmação, dita com um controle tão frígido, cortou-a como uma lâmina. Eles não falavam do bebê perdido desde a noite em que ele a abandonara. – Isso foi golpe baixo. Ele parou e apenas a observou. – Sim, foi. – Nathan passou a mão pelo rosto. – Droga, Amanda, precisamos encontrar um jeito de vivermos juntos nesta cidade. Ela esfregou os próprios braços com as mãos. Mesmo com o quente e úmido ar de verão, ela sentia frio. Talvez fosse a proximidade dele. Talvez tivesse sido a perda do calor quando beijo terminara. Ou talvez pelas lembranças que ele trouxera à tona. A lembrança do filho que ela carregara e perdera. O bebê que ela tanto quisera. Fosse o que fosse, Amanda quis ficar sozinha até aquela gélida sensação desaparecer. Ela precisava de tempo para si. Para pensar. Para se recompor. – Imagino que você tenha um plano – disse ela, suspirando. – Pode apostar. Cada um vai cuidar da própria vida. Se nos encontrarmos, podemos ser amistosos, mas distantes. Chega de conversas particulares. Chega de… – Beijos? – Isso. – Ótimo. Fechado. – Ela levantou as mãos. – As regras de comportamento de Nathan. Pode imprimir uma cópia para mim? Eu assino. Quer que minha firma seja autenticada também? – Engraçadinha. – Droga, Nathan, você não mudou nada. Continua dando ordens, esperando que sejam seguidas. Você vem à minha casa e me beija. Depois, estabelece regras para a minha vida. E espera que bata continência e diga “sim, senhor”? – Seria ótimo. Ela riu. Apesar de tudo. – Mas não vai acontecer. – Você me deixa louco – admitiu ele. – Sempre deixou.
A voz dele estava mais suave, profunda, e seus olhos continham um calor que ela recordava muito bem. Por isso, Amanda endireitou o corpo, recusando-se a ser afetada pelas vontades sentidas em seu âmago. – Bom saber. Já é um consolo. Ele suspirou e resmungou algo que ela não ouviu direito antes de dizer: – Certo. Sem regras. Vivemos nossas vidas. Ficamos fora do caminho do outro. – Certo. – As pessoas vão acabar parando de falar ou esperar que algo aconteça entre nós… – Você continua fazendo isso. – O quê? – Criando regras. Dizendo como as coisas vão ser. Você não pode regular a vida, Nathan. Ela simplesmente… acontece. Como perder um bebê que fora amado desde a concepção. Aquela conhecida pontada de dor, levemente amenizada pelo tempo e pelas tentativas de enterrá-la, atingiu Amanda por um instante. – Inaceitável. – A decisão não é sua, Nathan. – Está enganada. – A suavidade que estivera nos olhos dele antes já se dissipara completamente. – Minha vida acontece do jeito que quero. Sem exceções. – Ele parou. – Não mais. Pronto, ele dissera, pensou ela. No passado, ela fora a exceção à vida cautelosamente organizada de Nathan. Fizera-o buscar loucamente uma nova estratégia e, em seguida, tudo desmoronara novamente. Agora, porém, ela estava mais velha e sábia e não seria sugada para o mundo perfeitamente organizado de Nathan. Ela gostava da aventura de não saber o que esperar. Claro, cenas como as daquela noite voltariam a torturá-la, mas esse era um risco que ela estava disposta a correr. Melhor do que ter sua vida predeterminada, sem surpresas, sem lampejos de prazer ou dor. – Royal é uma cidade pequena. Mas não a ponto de podermos ignorar confortavelmente um ao outro. – É assim que você quer que as coisas sejam? – perguntou ela. – Que finjamos que o outro não existe? – É melhor assim. – Para quem? Ele não respondeu. Apenas abriu a porta e falou: – Tchau, Amanda. Amanda fechou a porta para o mundo, foi até cozinha e pegou as batatas recheadas que estavam apenas um pouco bem-passadas demais. Ela olhou para a noite além da janela. Seu jantar estava queimado, seu estômago se revirava, e seu humor estava em guerra com seus hormônios. E o pior de tudo? – Ele foi embora. De novo. Ela serviu para si uma nova taça de vinho, obrigou-se a comer as batatas exageradamente assadas e prometeu a si mesma que, da próxima vez que ela e Nathan estivessem no mesmo recinto, seria ela quem iria embora.
O RANCHO Battlelands reluzia na escuridão, esperando para acolher seus pródigos filhos. Como sempre, Nathan sentiu a tensão se esvair ao percorrer a pista delineada por carvalhos, guiando seu carro na direção da casa que ele construíra para si mesmo ao retornar a Royal. Ele podia não ser rancheiro ultimamente, mas a terra estava em seu sangue tanto quanto no de seu irmão mais novo, Jacob. Os Battle estavam naquelas terras havia mais de 150 anos. Eles haviam conquistado cada acre. Sangrado por eles. Chorado por eles. E haviam conseguido manter tudo durante todos os momentos ruins. O coração da casa principal era a estrutura original vitoriana que o primeiro Battle do Texas construíra mais de 150 anos antes para agradar à noiva. Ao longo dos anos, aquela estrutura adornada fora expandida, com alas se estendendo de cada lado e também para trás. A maioria das casas de ranchos da região era mais moderna, claro. Algumas eram mansões, outras, casas simples; mas eram todas intercambiáveis aos olhos de Nathan. Aquele lugar era singular porque os Battle não derrubavam algo só por ser velho. Eles consertavam, aprimoravam e mantinham, sempre para os lembrar de sua própria origem. Quando Nathan estacionou seu carro e saiu, ele ouviu o farfalhar das folhas dos carvalhos. Da casa principal, veio som de risadas de crianças, e Nathan sorriu. Muitas mudanças ali no Battlelands; em geral, graças a Jacob e sua esposa, Terri. Eles e seus três filhos estavam dando vida àquele lugar, algo que não acontecia desde que Nathan e Jake eram crianças. Ele olhou rapidamente para a rasa piscina, o balanço de madeira e o trepa-trepa que ele ajudara Jacob a montar para as crianças. Aquela risada veio novamente da direção da casa, e Nathan conteve instintivamente a pequena pontada de inveja que ele sentia pelo que seu irmão tinha. Ele sabia que Jake era feliz. Jake tinha uma família e o rancho que ele amava, e Nathan não se ressentia de nada disso. Mesmo assim, era chocante seu irmão mais novo ter uma esposa e filhos, mas Jake se tornara um pai de família com a mesma facilidade com que assumira o comando do rancho anos antes. Nathan adorava aquele lugar, que sempre seria seu lar, mas o rancho nunca fora tão central para ele quanto para Jake. Nathan sempre quisera ser policial, enquanto Jake só queria cavalgar pelas pastagens, cuidar do gado e das terras. O Battlelands estava em boas mãos, mesmo que não fossem as de Nathan. E, como Terri estava grávida novamente, Nathan sabia que o rancho da família permaneceria nas mãos dos Battle durante muitos anos. Ele não conseguiu deixar de imaginar se Jake se dava conta de que seus filhos trabalhariam nas mesmas terras que tinham sido passadas a ele. Aquela pontada de inveja o atingiu novamente, e Nathan imaginou como sua vida estaria naquele momento se a gravidez de Amanda tivesse dado certo. Eles ainda estariam juntos? Haveria mais filhos? Naquele exato instante, a porta da casa se abriu. Agradecido pela distração, Nathan viu seu irmão sair da casa. Conversar com Jake o ajudaria a desviar sua mente de Amanda. Ao menos era o que ele esperava. Seus pensamentos estavam transbordando com ela… O sabor dela. O perfume. A sensação de seu corpo se alinhando ao dele, sua respiração na pele dele… droga. – Trabalhou até tarde? – Precisei resolver algumas coisas – respondeu Nathan vagamente, indo na direção da casa. Jake desceu os degraus, uma cerveja em cada mão. Ele era alto como Nathan, mas, enquanto Nathan era largo e musculoso, Jake era mais magro. Seu cabelo castanho-escuro estava um pouco comprido demais, sua calça jeans estava surrada e desbotada, suas botas, tão usadas quanto as de Nathan.
Com um largo sorriso, Jake entregou uma das garrafas geladas a ele. Agradecido, Nathan aceitou e tomou um longo gole. Quando Jake se afastou, Nathan seguiu seu irmão pelo quintal até o balanço. Aparentemente, Jake queria conversar… longe da casa. Mas nada faria Jake falar antes de estar pronto. Por isso, Nathan simplesmente desfrutou da noite e do retorno de sua sanidade agora que estava a uma distância segura de Amanda. Ele pensara que a superara. Anos antes, Nathan a expulsara deliberadamente de sua mente. Perderase no trabalho e nos braços de mulheres que tinham entrado e saído da vida dele sem deixar nenhum rastro. Contudo, o forte latejar em seu corpo lhe dizia que, embora sua mente a tivesse deixado de lado, o resto dele não fizera isso. E lá estava ela de volta em seus pensamentos. Ele fechou sua mente para as lembranças e se concentrou no presente. Feito de madeira polida, o trepa-trepa se estendia sobre o impecável gramado. Os filhos gêmeos de 5 anos de Jake e a irmã de 2 anos deles adoravam subir nele, gostando especialmente do castelo que ficava no topo. Nathan se sentia bem quando via a próxima geração dos Battle escalando a estrutura, gritando uns com os outros, como ele e Jake haviam feito na infância. E isso também fazia com que ele se recordasse de que, se as coisas tivessem sido diferentes, seu próprio filho podia estar brincando ali também. Nathan deixou de lado aquele inquietante pensamento. Jake bateu num dos balanços e perguntou: – Como está Amanda? Nathan quase se engasgou com a cerveja. Quando ele terminou de tossir, olhou para seu irmão mais novo. – Como você soube que fui vê-la? Jake deu de ombros. – Mona Greer estava passeando com o cachorro e viu você entrando no apartamento em cima do restaurante. Ela ligou para Sarah Danvers, Sarah falou com a filha, e Amelia ligou para Terri já faz algum tempo. A linha direta de Royal já estava em funcionamento. – Droga – resmungou ele. E lá se ia sua ideia de manter sua vida reservada. Jake riu. – Sério? Você achou mesmo que ia conseguir entrar e sair do apartamento de Amanda sem que ninguém visse você? – Um homem pode sonhar. Jake gargalhou, e Nathan disse a si mesmo que, às vezes, não havia nada mais irritante que um irmão mais novo. – Você veio aqui só para me contar a fofoca e rir de mim? – Claro. Não é todo dia que posso zombar de você. – Fico feliz por você estar se divertindo. – É? Bem, eu estou feliz por Amanda ter voltado. Feliz porque isso incomoda você. – Obrigado pelo apoio. A irritação cresceu dentro dele. Ele já era xerife fazia três anos. Tinha o respeito e a admiração da população. Agora, ele se tornara apenas assunto de fofocas.
– Quer apoio? Volte ao Clube e converse com Chance. Ou Alex. – Jake fez um brinde a ele com sua cerveja. – Da família, você ouve a verdade, querendo ou não. – Não quero. – Nathan se recostou numa das barras quando imagens de Amanda invadiram sua mente com tudo. Ele não devia ter ido até lá. Mas como teria sido capaz de evitar? Eles precisavam conversar. Por outro lado, eles não haviam apenas conversado… – Sei que você não quer ouvir isso, mas vai ouvir mesmo assim. Você perdeu sua chance com Amanda naquela época. Nathan fez um som de desprezo. – Não perdi nada. Acredite. – Você entendeu o que eu quis dizer. Você a deixou escapar. – Eu não deixei que ela fizesse nada, Jake – falou Nathan tensamente ao se afastar da pesada barra de madeira. – A decisão foi dela. – Certo. E você não tentou convencê-la a não fazer isso. – Por que deveria? – Afastando-se irritadamente alguns passos, as botas de Nathan deslizaram na areia que ele e seu irmão haviam colocado debaixo do balanço. Aquele era seu lugar. O lar no qual ele fora criado. A cidade na qual ele criara um lugar para si. Ele não permitiria que o passado surgisse para arruinar o que ele construíra. Nathan se virou para seu irmão. Jake parecia relaxado… entretido. Maldito. Mas por que não estaria? Jake tinha tudo que sempre quisera. Ele administrava o rancho. Estava casado com sua namorada da época do colégio, e eles tinham três lindos filhos, mais outro a caminho. Tudo estava perfeito no mundo de Jake… não que Nathan se ressentisse da felicidade de seu irmão. Jake, porém, podia ter ao menos um pouco de solidariedade. – Não vou implorar para que uma mulher fique comigo. – Quem falou em implorar? Você podia ter pedido. – Não – falou Nathan, balançando a cabeça e desviando seus olhos do olhar sagaz demais de seu irmão. – Eu não podia. Havia… motivos. Motivos que ele nunca revelara. Sequer os mencionara a Jake, e Nathan era mais íntimo de seu irmão do que de qualquer outra pessoa. E ele lidara com esses motivos muitos anos antes. Não os relembraria agora! – Você deu ouvidos às fofocas. Acreditou nos boatos, em vez de conversar com Amanda. A cabeça dele se levantou imediatamente, seu olhar se fixando em seu irmão como lasers castanhos. – O que você sabe sobre os boatos? – Chance me disse o que estava acontecendo… E não o culpe por isso. Você nem se deu ao trabalho de me contar. Você é meu irmão, Nate. Podia ter dito algo. Ele balançou a cabeça e conteve o surto de raiva que lutava para se libertar dentro dele. – Eu não queria falar disso naquela época. E ainda não quero. Ele não gostava de recordar aqueles dias. De recordar como se sentira quando Chance lhe contara o que as pessoas estavam dizendo. Nathan estivera na academia de polícia em Housont, impossibilitado de procurar Amanda. Droga, ele sequer tinha tempo para um telefonema. E, quando ele finalmente conseguira procurá-la… Nathan fechou mentalmente a porta para o passado. Estava feito, e ele não o revisitaria. – Você sempre foi o cabeça-dura da família – disse Jake, suspirando. Nathan conseguiu rir daquilo.
– Acho que Terri discordaria. – Provavelmente – admitiu Jake. – Nate, não sei o que aconteceu entre vocês há sete anos… e não estou perguntando. Só estou dizendo que ela voltou de vez agora, e você vai ter de dar um jeito de superar o que aconteceu no passado. Vai ter de lidar com ela. Talvez vocês dois devessem tentar conversar de fato sobre o que aconteceu para terminar o relacionamento de vocês. Nathan fez uma expressão de dor e bebeu um gole da cerveja. – De onde veio essa história de “compartilhar os sentimentos”? Terri está fazendo você assistir àqueles programas de assistência psicológica na televisão de novo? – Não. – Jake pareceu envergonhado. – Mas sou tão burro quanto você e sei que você sabe que precisa dar um jeito de conviver em paz com Amanda. Outro gole da gelada cerveja desceu pela garganta de Nathan enquanto ele pensava no que seu irmão dissera. Então, uma recente lembrança de Amanda, moldando seu corpo junto ao dele. O calor de seu beijo. O cheiro dela enchendo a mente dele. A sensação de tocá-la novamente. O corpo dele despertou. – Jake – falou Nathan calmamente –, você não entende. Já faz muito tempo que aprendi que, quando Amanda está envolvida, é impossível haver paz.
CAPÍTULO 4
AMANDA SEMPRE adorara o grande mercado dos fazendeiros em Royal, montado todo final de semana no parque. Rancheiros e fazendeiros de toda a comarca apareciam para vender legumes frescos, frutas e conservas. Havia sempre barracas de artesanato que vendiam desde joias até cerâmica e brinquedos feitos à mão. Às nove da manhã, o som já era uma ardente bola sobre a cidade, e o parque estava vibrando de atividade. Amanda estava com o dia livre e determinada a aproveitar. Porém, ao vagar pelo mercado, ficou claro que as fofocas estavam a todo o vapor em Royal. Ela sentiu os olhares especulativos lançados em sua direção e empinou o queixo petulantemente em resposta. Não fazia sentido se esconder, disse a si mesma. Ela simplesmente ignoraria tudo. Claramente, alguém vira Nathan na casa dela na outra noite, e não demorara muito para que as línguas começassem a trabalhar. Amanda parou numa barraca que exibia trabalhos em cerâmica e pegou um jarro azul-anil. A artista, uma jovem com cabelo loiro que ia até a cintura e reluzentes olhos verdes, sorriu para ela. – Estamos com um preço especial hoje para as cerâmicas azuis. Bem, ela estava procurando uma casa na cidade e precisaria mobiliá-la, certo? – É lindo. Quanto custa? – Só 35. – Vendido – falou Amanda, baixando o jarro para pegar a carteira. Provavelmente, ela poderia ter pechinchado, mas o jarro era lindo, e ela o queria de verdade. Com a compra feita, Amanda deixou uma artista satisfeita para trás, guardou seu novo jarro na bolsa de pano pendurada em seu ombro e foi para a próxima barraca. – Oi, Amanda! – Piper Kindred acenou para ela, sorrindo. O cabelo encaracolado e ruivo de Piper estava preso num rabo de cavalo, seus olhos verdes brilhavam. – Ainda não tive oportunidade de falar com você desde que você voltou. – Eu sei. As coisas têm andado tão caóticas, mas precisamos nos encontrar logo. – Amanda conhecia Piper desde pequena, e ver sua amiga agora a fez perceber como ela sentira falta de fazer parte de
Royal. – Fiquei sabendo que você e Nathan estão se aproximando de novo… – Claro que ficou – disse Amanda. Alguns dias antes, Nathan aparecera no apartamento dela e a beijara loucamente. Desde então, ela já recebera vários clientes que passavam a maior parte do tempo no restaurante a observá-la. Inclusive Nathan. Ele arrumava tempo para ir até lá ao menos uma vez por dia. Pedia café, sentava-se diante do balcão e a observava enquanto ela andava pelo recinto. Totalmente desconcertante. – Não quer me contar nada? – brincou Piper. – Nadinha – garantiu Amanda. Em seguida, mudou de assunto abruptamente. – Então – disse ela, recuando para ler a placa pendurada na frente da barraca de Piper –, o que você está vendendo? – Rifas. Estamos juntando dinheiro para ajudar a pagar pela nova creche do Clube. Sorrindo, Amanda falou: – Fiquei sabendo que a proposta foi aprovada. Beau Hacket deve ter ficado roxo de raiva. – É o que todos dizem. Quem me dera ter visto. Você se lembra de Shannon Morrison? Ela me disse que ficou morrendo de vontade de laçar o velho como um porco, só por diversão. Beau devia ser o último verdadeiro chauvinista do mundo. Ele gostava de mulheres… contanto que se mantivessem no “lugar” delas. Amanda nunca entendera por que uma mulher gentil como Barbara, a esposa dele, casara-se com aquele homem. – Infelizmente, não pude ver isso. – Cada vez mais mulheres estão entrando para o Clube agora que Abby Price abriu o caminho. – Piper parou. – Não sou membro nem nada, mas quis ajudar com a rifa. Quantas você vai comprar? Balançando a cabeça, Amanda pegou a carteira e riu. – Cinco. – Boa menina. – Piper destacou os tíquetes e esperou enquanto Amanda escrevia o nome e o telefone nos canhotos. Quando ela terminou, Piper depositou os canhotos numa caixa de aço e falou: – O sorteio é daqui a uma semana. Quem sabe? Você pode ganhar o grande prêmio. – Qual é? – Um final de semana em Dallas. – Piper deu de ombros. – Particularmente, eu preferiria ganhar o jantar no Claire’s. – Ei – rebateu Amanda com um tom falsamente ofendido –, o que acha de ir comer no meu restaurante, em vez disso? Vamos ter torta de merengue de limão amanhã. – Agora, você está falando a minha língua. Vou aparecer lá por volta do almoço. Talvez possamos conversar enquanto comemos a torta. Você pode me contar a história verdadeira por trás das fofocas. – Vai se decepcionar. Não tem história nenhuma. – A não ser aquele beijo, pensou Amanda. Ela se despediu e prosseguiu. Ainda estava sorrindo quando sentiu o cheiro de café fresco, juntamente com um delicioso aroma de canela. Provavelmente, Marge Fontenot trouxera seus rolinhos de canela para vender na barraca de café de seu marido. O estômago de Amanda roncou de expectativa quando ela foi na direção da comprida fila. – Fazendo compras? Ela parou e olhou para Alex Santiago, que se aproximava. – Sim. Quando morei na cidade grande, senti falta do mercado dos fazendeiros. – Admito que também gosto. Na semana passada, comprei botas novas… Ela baixou o olhar e assentiu, aprovando as botas de couro artesanais que ele usava.
– Muito bonitas. – Obrigado. E acabei de comprar o que me disseram ser a melhor geleia de cassis do mundo. – Ele abriu um sorriso capaz de derreter gelo a cem metros de distância. Amanda gargalhou. – Se você comprou essa geleia de Kaye Cannarozzi, garanto que é mesmo a melhor. Ela ganha prêmios por essa geleia todos os anos na exposição. – Bom saber. Descobri que dá para encontrar de tudo aqui. Amanda o viu olhar pelo parque. Ele era moreno e lindo, e seu sotaque latino fazia todas as palavras soarem como uma sedução. Alex também era gentil, engraçado e, a não ser por seu gosto duvidoso para amigos, como Nathan, praticamente perfeito. Uma pena que ela só gostasse dele como amigo. – Hmm… – refletiu Alex. – Estou curioso para saber por que você fez essa cara feia agora. Pensamentos ruins? Ela forçou um sorriso. – De jeito nenhum. Hã… vou para a barraca de café ali. – Ela apontou. – Quer vir comigo? – Eu gostaria de um café. Então, sim. – Ele a acompanhou. – Estou ansioso pela comemoração do quatro de julho. Fiquei sabendo que é um evento e tanto. – Ah, é ótima. A cidade se reúne aqui para uma festa que dura o dia inteiro. Nós temos competições e brincadeiras, e o show de fogos é sempre incrível. Era estranhamente bom dizer “nós”. – Parece que você sentiu falta disso. – Senti mesmo – admitiu ela, olhando para as pessoas que vagavam de barraca em barraca. Crianças corriam dos pais, rindo enquanto iam na direção do playground. Cachorros de coleira faziam força para arrastar seus donos, e um quente vento de verão soprava. Royal era sua casa. Não havia outro lugar como aquele, e Amanda nunca fora feliz de verdade fora dali. – Quando fui embora, ficava dizendo a mim mesma que estava tudo bem. Que a vida na cidade grande era melhor. Mas, agora que voltei, parece que nunca saí daqui. – Voltar para casa nem sempre é possível. Fico feliz por você estar achando mais fácil do que imaginava. Amanda o olhou e viu que o olhar dele estava fixo no horizonte, a testa levemente franzida. Ela não conhecia Alex muito bem, mas sentiu que algo o incomodava. Porém, antes que ela pudesse se oferecer para ajudá-lo, ele falou novamente. – Que bom que as fofocas não abalaram você. Ela suspirou. Aquele era o lado ruim da vida numa cidade pequena. Várias pessoas já a haviam abordado no parque naquela manhã, fazendo perguntas, dando maliciosas piscadelas. Nathan e ela eram o assunto da cidade, e isso não mudaria até que algo mais interessante acontecesse. – Você também ficou sabendo? Ele abriu um melancólico sorriso. – Só estando na lua para não saber. – Sabe de alguém que possa me dar uma carona para lá? – Infelizmente, não. Mas uma mulher bonita não devia deixar que conversa fiada de mentes inferiores a deixasse preocupada. Amanda inclinou a cabeça.
– Você é perfeito mesmo, não é? Ele sorriu. – Gosto de pensar que sim, mas tenho certeza de que as outras pessoas discordariam. – Não de acordo com o que estou vendo. – Agradeço isso. Além do mais, fofocas não são algo estático, Amanda. As pessoas logo vão encontrar outro assunto. – Acho que sim – disse ela, olhando para a multidão no parque. A maioria dos que estavam ali ela conhecia desde pequena. E devia ser por isso que todos se sentiam à vontade para falar dela. Ela sabia que eles estavam a observá-la naquele momento. Imaginando por que ela estava andando com Alex se estava claro que ela e Nathan estavam retomando o relacionamento. Uma pequena pontada de dor tocou seu coração. – Por mais que eu ame Royal, nem sempre é fácil morar aqui. – Lugar nenhum é fácil – disse Alex, ficando pensativo novamente. Pelo que Amanda sabia, Alex Santiago chegara à cidade fazia pouco tempo, e ela se perguntou se alguém o conhecia bem. Ela deu o braço amistosamente a ele. – Está tudo bem, Alex? Imediatamente, o lindo rosto dele se iluminou, e ele sorriu. – Você tem um coração bondoso, Amanda, mas não precisa se preocupar. Estou bem. – Estou interrompendo? Amanda ergueu o olhar quando a profunda voz de Nathan exigiu sua atenção. Ele estava a poucos metros deles, indo na direção dela. O sol se refletiu no distintivo de xerife preso no largo peito dele. Ele estava com suas botas preferidas, a camisa do uniforme para dentro do jeans preto. A arma na cintura o deixava ainda mais formidável do que de costume. Seu olhar estava fixo nela. Um lampejo de calor percorreu Amanda quando ela sentiu a proximidade de Nathan. Ela teve vontade de se abanar, mas soube que não adiantaria. Por isso, contentou-se com uma sarcástica indiferença. – Se eu dissesse que está, você iria embora? Os olhos dele faiscaram. – Só depois de saber sobre o que vocês estão conversando. Alex sorriu para seu amigo. – Sobre cidades pequenas e mentes ainda menores. Nathan franziu o cenho. – Estão falando das fofocas. – Entre outras coisas – disse Amanda, fazendo os olhos de Nathan se voltarem novamente para ela. Ela o conhecia tão bem que conseguia enxergar a tensão em seu rosto. As fofocas a incomodavam. Como Nathan, deviam deixá-lo enfurecido. – O que você quer, Nathan? – Café, um dos rolinhos de Margie e falar com você. Não necessariamente nessa ordem. Então, não haveria nem mesmo uma fachada de amizade entre eles. Ele estava agindo como se o beijo não tivesse acontecido. – Estou ocupada. Alex e eu estamos fazendo compras. Ela devia ter imaginado que um homem defenderia o outro. Imediatamente, Alex falou:
– Na verdade, preciso resolver algumas coisas. Foi divertido, Amanda. – Voltando o olhar para seu amigo, ele assentiu e falou: – Vejo você depois, Nathan. – Você não precisa ir – disse Amanda rapidamente. Sem Alex ali, ela e Nathan não teriam nenhum obstáculo entre eles. E, subitamente, Amanda quis muito um obstáculo. – Precisa, sim – falou Nathan. Alex apenas riu. – Vocês dois são muito divertidos. Já vou. Amanda sabia que ela e Nathan haviam se tornado o centro das atenções naquele momento, mas já não se importava mais. Alex tinha razão com relação a uma coisa. Cedo ou tarde, todos encontrariam um novo assunto. Até lá, a melhor opção seria simplesmente ignorá-los. Amanda voltou a caminhar na direção da barraca de café de Margie e não ficou surpresa ao ver que Nathan a acompanhava. – Mona Greer me viu na sua casa naquela noite. – Bem, isso explica algumas coisas – falou Amanda ironicamente. – Aquela mulher devia ser espiã. – Talvez tenha sido. Agora, já se aposentou – refletiu Amanda – e está procurando coisas novas com que se ocupar. – Seria engraçado. Mona na CIA. Amanda também riu. Então, Nathan a olhou, e ela viu a confusão nos olhos dele. – Você não fica incomodada por estarem falando de nós? – perguntou Nathan. – Um pouco. Certo, bastante. Mas não tenho como impedir. Então, por que enlouquecer com isso? – Atitude saudável. – Eu tento – disse ela, entrando na fila. Nathan ficou ao lado dela e, mantendo a voz baixa, falou: – Ainda acho que precisamos estabelecer algumas regras básicas, Amanda. – Tipo você ir ao restaurante para ficar de olho em mim? Ele franziu o cenho. – Ou está falando de quando me beijou? Amanda teve a satisfação de ver um lampejo e irritação nos olhos dele. Então, Nathan falou como se ela não tivesse dito nada. – Concordamos que não existe mais nada entre nós e… Amanda não precisou falar. Apenas o olhou, sem sequer tentar conter o sorriso. Nada entre eles? Aquela noite não provara que ainda havia bastante calor entre os dois? Ele fez cara feia, claramente entendendo o que ela não estava dizendo. – Aquilo não conta. – Achei que contasse. – Na verdade, aquele único beijo a fizera passar a maior parte da noite acordada, tensa. As lembranças tinham retornado, impedindo que ela pensasse em qualquer outra coisa que não fosse Nathan e o passado deles. O beijo despertara tudo nela. Agora, Nathan queria fingir que não acontecera? NATHAN A olhou, vendo aqueles olhos verdes se semicerrarem. Ela estava irritada. Ele gostou disso. Melhor do que achando graça. Ou aceitando. Raiva era um sentimento mais seguro. Para os dois. A não ser pelo fato de ela ficar tão linda quando se irritava com ele.
O cabelo castanho-claro dela estava preso num rabo de cavalo. Ela usava argolas douradas nas orelhas e uma camiseta azul-marinho sem mangas. Seu short branco exibia seu bronzeado, fazendo as pernas parecerem ter um quilômetro de comprimento, e as sandálias permitiam que ele visse que, no dedo do pé esquerdo, ela ainda usava o anel de ouro que ele lhe dera. Uma brisa levantou o rabo de cavalo dela, e Nathan precisou de todas as forças para não entrelaçar os dedos no cabelo de Amanda. Droga, ela o invadira novamente. De forma tão feroz quanto acontecera anos antes. Já fazia dias que ele vinha sendo atormentado pensando nela. Lembranças tão fortes que quase o sufocavam. Ele mal dormia, pois sonhava com ela e acordava latejando de desejo. Ele dissera a Jake que, com Amanda, não era possível haver paz. Contudo, antigamente, ele não buscara paz. Só conseguira pensar nela. Na risada. Nos olhos. No cheiro. No sabor. Na sensação das mãos dela em seu corpo, no beijo dela. Aquilo não era nada pacífico. Era… avassalador. E estava acontecendo novamente. Desta vez, porém, ele tinha um plano para combater isso. Tudo que ele precisava fazer era levar Amanda novamente para sua cama. Ao longo dos anos, Nathan se convencera de que idealizara o que havia entre ele e Amanda. Que fora por isso que ele não conseguira encontrar outra mulher que se comparasse a ela. O que ele precisava era de um pouco de realidade. E o sexo era a resposta, o caminho para a sanidade. Depois de possuí-la novamente, ele conseguiria esquecê-la. A tensão entre eles finalmente terminaria. Com o plano assentado em sua mente, ele sorriu para si mesmo. – O que foi? – perguntou Amanda. – Como assim? – Você está sorrindo. – Isso é ruim? – Não – respondeu Amanda, ainda a observá-lo cautelosamente. – Só… suspeito. Atrás deles na fila, alguém riu. Nathan franziu o cenho. Era difícil seduzir uma mulher com metade da cidade assistindo a tudo. – Quer dizer que, quando fico com raiva, você se irrita, e, quando não fico, você se preocupa? – Basicamente, sim. Ela sempre conseguia enlouquecê-lo, pensou Nathan, permitindo que seu olhar a percorresse, apreciando-a. Ele sempre gostara de mulheres altas. Amanda, porém, era diferente de todas as outras. Ou ao menos era assim que ele se recordava. Mesmo no colégio, quando ela estava no segundo ano e ele, no último, ele se sentira atraído por ela. Seus amigos tinham zombado dele por isso, claro, mas ele não conseguira se afastar. Então, anos depois, aqueles mesmos amigos tinham lhe contado sobre os boatos que haviam acabado por separá-lo de Amanda. – Diga, Nathan – falou ela, interrompendo os pensamentos dele e o trazendo de volta ao momento. – Está interessado na minha irmã? – O quê?! – Ele a olhou de olhos arregalados. – De onde você tirou essa ideia? Ela deu de ombros, olhou feio para o homem atrás deles, que ouvia descaradamente a conversa, e se aproximou de Nathan para dizer:
– Reparei no jeito como ela olha para você. Nathan pensou naquilo por um instante. Ele não percebera Pam o olhando de jeito nenhum. Certo, sim, ele saíra com ela alguns anos antes, mas aquilo não dera em nada, e eles haviam ficado amigos. Ao menos fora o que ele pensara. Até então. – Saímos juntos algumas vezes faz um tempo, mas… Ela arregalou os olhos. – Não acredito que você saiu com a minha irmã. O homem atrás deles na fila assoviou, mas, quando Nathan o olhou seriamente, ele se calou. – Foram só algumas vezes. Jantar. Um filme. – Era minha irmã. – Ela pôs as mãos na cintura. – Você gostaria se eu saísse com Jake? – Acho que a esposa dele se importaria mais do que eu. – Você entendeu. – Não, não gostaria. Mas tínhamos terminado tudo, lembra? – sussurrou Nathan. – Além do mais, Pam estava aqui e… – Ah, ela estava aqui – disse Amanda, interrompendo-o novamente e fazendo Nathan cerrar os dentes de frustração. – Sendo assim, claro que entendo. A questão da proximidade. O homem atrás deles riu e simplesmente deu de ombros quando Nathan o olhou com seriedade novamente. Até a hora do jantar, a cidade inteira já teria ficado sabendo daquela conversa. – Pelo menos Pam nunca mentiu para mim. Ela inspirou fundo, seus olhos brilharam de fúria. – Eu nunca menti para você. Foi você quem… – Chega – resmungou ele, segurando o braço dela. Ele não discutiria aquilo com algumas dúzias de pessoas a observá-los avidamente. Tirando-a da fila, ele foi na direção do ponto deserto mais próximo. Uma árvore perto do campo de beisebol. Naturalmente, nada era fácil com Amanda. Ela se debateu e tentou se desvencilhar, mas ele não a soltaria até que eles resolvessem tudo. – Solte! – Ela tentou chutá-lo, mas errou. – Já, já. – Quero meu café. E não quero ir a lugar nenhum com você. – Que pena – disse Nathan, não ralentando o passo. Quando eles finalmente chegaram à sombra do carvalho, ele a soltou, e Amanda o olhou com fúria. – Não sei quem você pensa que é, mas… – Você sabe exatamente quem eu sou. Assim como sabe que odeio fazer um show como aquele para a cidade inteira. – Certo. – Ela empinou o queixo. – Quer conversa? Vamos conversar. Nunca menti para você, Nathan. – E quer que acredite nisso? – Claro que quero! – gritou ela, claramente não se importando com quem pudesse ouvir. – Quando foi que dei algum motivo para você não confiar em mim, Nathan? Ela tinha razão, mas ele não quis admitir isso. Tudo de que Nathan se recordava eram os boatos que ela não fora capaz de refutar. Os olhares solidários de seus amigos. As fofocas que insistiam numa história completamente diferente daquela que ela lhe contara. E as dúvidas dele o tinham dilacerado
até que, destruído pela irritação e pela tensão, ele a confrontara e, em uma única noite, eles haviam perdido tudo. – O que você queria que pensasse? – exigiu saber Nathan. – Meus melhores amigos me contaram aquela história. Por que eu não acreditaria neles? Balançando a cabeça, ela o olhou com mais mágoa do que fúria, e aquilo o abalou. – Porque você devia me amar. Devia ter acreditado na minha palavra. A vergonha o perfurou, desaparecendo um instante depois. Ele fizera o que considerara certo. Quando ficara sabendo que ela perdera o bebê, ele já estivera matriculado na academia de polícia em Dallas e não pudera procurá-la. Sequer conseguira telefonar. Para saber o que era verdade e o que era mentira. – Foi há muito tempo, Amanda. – Foi? Já não parece tanto. Não parecia mesmo. O passado estava ali no parque com eles. Sombras das lembranças obscurecendo o sol, fazendo todas as pessoas do parque desaparecerem, deixando apenas Amanda e ele. Nathan olhou nos olhos dela e falou: – Certo. Conte a verdade agora, então. Ela suspirou. – Eu não devia precisar contar de novo, Nathan. Você me conhece. Já me conhecia naquela época. Devia ter acreditado. Eu perdi nosso bebê. A dor o atingiu, mas ele a repeliu. Agora que o passado estava ali, era hora de finalmente resolvê-lo. Se ele queria tirá-la de sua cabeça, precisaria começar imediatamente. – Então, quem diabos fez questão de me fazer pensar que você tinha acabado com a gravidez de propósito?
CAPÍTULO 5
– NÃO SEI – disse Amanda. Ela ainda não conseguia acreditar que alguém espalhara aquele boato. Não conseguia acreditar que Nathan acreditara por um minuto que ela seria capaz de algo assim. Num lampejo, ela retornou à noite quando tudo desmoronara a seu redor. Eles estavam noivos fazia duas semanas… porque Nathan insistira num casamento assim que descobrira a gravidez. Naquela noite, porém, fora ela quem insistira. – O casamento está cancelado, Nathan. – Simples assim? – O único motivo para você se casar comigo era o bebê, certo? – Ela queria tanto que ele dissesse que não era verdade. Que ele a amava. Que sempre amara. Que eles ficariam bem, que superariam tudo. Mas ele não disse isso. E ela não podia se casar com um homem que não a amava… por mais que ela o amasse. – Então, é isso? – exigiu saber ele. – Agora que você não está mais grávida, não precisa mais de mim? Vai encontrar alguém mais rico? Perplexa, ela apenas o olhou. Nunca dera a mínima para o dinheiro dele. Amara-o desde sempre. E convencera a si mesma de que ele também gostava dela. Mesmo sem ele jamais ter dito essas palavras. Agora, ela já conseguia ver que vinha vivendo um sonho. – Como pode dizer isso? – Ah, ainda não terminei. Você disse que perdeu o bebê, mas a história não para por aí, para? Amanda o olhou fixamente. Esperara que ele lhe desse apoio. Que compartilhasse a dor que ainda a dilacerava. Ela precisara tanto de Nathan. E, agora que ele estava ali, ela só queria que ele fosse embora. – Não sei do que está falando – disse ela por fim. – Acho que sabe. Você detestou tanto a ideia de se casar comigo que se livrou do meu bebê? – O quê?! – O choque a manteve paralisada. A fúria a fez querer gritar. A dor a apertou com tamanha força que ela mal conseguiu respirar. – Você acha que… – Achou que eu não fosse descobrir, não é? – Não havia nada para descobrir, Nathan. – Através da dor, a raiva começava a aflorar. – Eu perdi o bebê. Houve um problema com a gravidez. Eu já disse.
– Sim, foi o que você me disse. Os outros me disseram algo diferente. – E você acreditou? Acreditou que eu fosse capaz de fazer algo assim com nosso filho? Os olhos dele estavam sérios, sua expressão, distante. – Por que alguém diria isso se não fosse verdade? Boa pergunta, mas isso ficaria para depois. No momento, o mais importante na mente dela era saber como ele podia pensar que era verdade. – Como posso saber? – Exatamente. Como eu posso saber no que acreditar? – Acho que você precisa confiar em mim – disse ela, sabendo que ele não confiava. Sabendo que não confiaria. – Claro. – Subitamente, ele pareceu um estranho para Amanda, e ela soube que não conseguiria tocálo, pois ele não queria ser tocado. Tantas coisas perdidas em tão pouco tempo… Ele se virou e foi até a porta. Parou e se virou para ela. – Mas você tem razão com relação a uma coisa. O casamento está cancelado. Eu só ia me casar com você por causa do bebê. Sem esse motivo, não faz sentido, faz? O fato de as palavras dele ecoarem o que ela pensara momentos antes apenas piorou a dor de Amanda. Quando Nathan foi embora, o som da porta se fechando foi como uma espingarda sendo disparada. Balançando a cabeça como se pudesse afastar as dolorosas lembranças, Amanda o olhou com olhos que não estavam mais estrelados de amor por um homem que se recusava a retribuir o afeto dela. Ela não era mais jovem e tola. Se ela ainda amava Nathan, isso era problema dela e ela daria um jeito de superá-lo. Mas ele jamais saberia que tinha tanto poder sobre o coração dela. – Você foi embora, Nathan. – Sim, fui. Mas você quem terminou tudo entre nós. Droga, quando entrei pela porta, você me entregou o anel. – Você concordou quando eu disse que devíamos cancelar o casamento. – Claro. Você não estava grávida. Já tinha me devolvido o anel… – Você não queria falar comigo. – Você não me deu chance de dizer nada, e, mesmo se tivesse dado, o que eu poderia dizer? – rebateu ele. – Estava tudo terminado. Não tínhamos mais o bebê, e seu anel estava na minha mão. O que acha que eu deveria ter dito?! – Que acreditava em mim. – Aquela era a única coisa que sempre doera. Ele a conhecera melhor do que ninguém… ao menos fora o que ela pensara. E dera mais credibilidade às fofocas do que à palavra dela. Como ela poderia esquecer isso? NATHAN ESFREGOU o rosto quando as lembranças o sufocaram. Os boatos o tinham enlouquecido quando ele não conseguira superá-la. Quando ela saíra do hospital, ele estivera confinado na academia. Não pudera sequer falar com ela. Não podia olhar em seus olhos e discernir a verdade das mentiras. Porém, quando ele finalmente chegara até a ela, a loucura o dominara. As dúvidas. A decepção e a fúria o tinham deixado tão tenso que ele mal conseguira se conter.
Droga, ele se orgulhava de seu autocontrole. De conseguir assumir o comando de tudo à sua volta. Tinha suas próprias regras de conduta pessoal. E mandara todas às favas naquela noite, tanto tempo atrás. Dever. Honra. Tudo tinha sido jogado no lixo quando a raiva o deixara cego ao bom senso. Suspirando, ele olhou para o céu durante um longo tempo. Então, baixou o olhar para o de Amanda. Dúvidas ainda corroíam seu coração, mas estar com ela, olhar naqueles olhos cheios de mágoa o fez enxergar a verdade que lhe escapara durante tanto tempo. – Acredito em você. Ele fora jovem e burro. Quisera que ela corresse para seus braços, buscando conforto. Quisera que ela chorasse de luto pelo filho perdido, para que ele soubesse que ela não encerrara a gravidez propositalmente. Em vez disso, ela lhe entregara o anel que ele lhe dera e praticamente lhe dissera para seguir com sua vida. Por isso, a autoconfiança dele fora abalada e devolvera o golpe. Magoado, ele se certificara de que ela também sentisse a dor. Um véu de lágrimas cobriu o brilhante verde dos olhos dela, mas Amanda piscou para contê-las. Inspirou fundo e falou: – Agradeço por isso, pelo menos. Antes tarde do que nunca, certo? – Acho que sim. Ela ajustou a bolsa no ombro. – Agora, preciso ir. – Droga, Amanda… não vá embora. – O que mais há para ser dito, Nathan? Já terminamos tudo, e ficarmos aqui no parque juntos só vai alimentar as fofocas que você tanto odeia. Verdade. Contudo, não havia nada que ele pudesse fazer. Ele já passara dias vivendo sob os olhares de toda a cidade, recebendo visitas de pessoas que buscavam novidades sobre ele e Amanda para poderem repassar a todos. Droga, ele já estava até se acostumando. Ele fora até ali naquele dia sabendo que os fofoqueiros se deleitariam, sabendo que encontrá-la daquele jeito só pioraria tudo. Mas aquele era seu plano. Conversar com ela, levá-la para a cama e seguir com sua vida. E ele se ateria a seu plano, embora ele tivesse se envolvido mais do que pretendera originalmente. Não fora a intenção de Nathan desenterrar o passado. Não queria irritá-la… apesar de Amanda ficar linda com aquelas chamas nos olhos. Não queria deixá-la triste. Nem resignada. Queria Amanda ardente e pronta, tão ávida para estar com ele quanto ele estava ávido para pôr suas mãos nela. Entretanto, ele não poderia fazer isso até encerrar aquela guerra. – Você está de folga hoje à noite, certo? – O quê? – Ela pareceu tão surpresa quanto ele com aquela pergunta. Segurando novamente o braço dela, ele a levou para o outro lado do carvalho, usando a árvore para bloquear a visão das pessoas. – Solte, Nathan. Ele obedeceu, embora seus dedos ainda sentissem o calor da pele dela mesmo depois de ele recolher a mão. Ao longo dos anos, da antiga dor, das lembranças compartilhadas, o calor entre eles permanecera. Ele estava mais convencido do que nunca de que estava fazendo a coisa certa. Levá-la
novamente para a cama, sentir aquele ardor outra vez para poder finalmente se desvencilhar dele… e dela. – Precisamos de tempo, Amanda. Tempo para conversar. Para encontrarmos um jeito de vivermos juntos nesta cidade. Saia comigo hoje à noite. Vamos jantar… e ter tempo. – Não sei… – Não está com medo de ficar sozinha comigo, está? A tática dele funcionou. Ela levantou imediatamente a cabeça e fez um som de desprezo. – Medo? Por favor… Ele sorriu. – Então, está decidido. – Certo. Onde você quer me encontrar? – Vou buscar você na sua casa às sete. Ela riu, um tanto desconfortável. – Hoje é sábado. A cidade está lotada. Não está preocupado com a quantidade de pessoas que vão nos ver juntos? De que adiantava se esconder agora? Eles já eram o assunto de todas as conversas da cidade. – Já estão todos falando disso, lembra? Além do mais, não vou andar escondido por aí. NO RESTAURANTE, Pam se debruçou no balcão. – As pessoas passaram o dia inteiro falando deles. – Você não devia ficar ouvindo. – Como posso não ouvir? – Ela olhou à volta, para as pessoas sentadas nas cabines e mesas. Peggy, a outra garçonete em serviço, estava rindo com seus clientes, e, na cozinha atrás dela, Pam ouvia os cozinheiros conversando enquanto trabalhavam. O restaurante estava cheio, e isso era bom. Mas o fato de aquilo se dever a Amanda tornava difícil apreciar. – Ela voltou faz duas semanas e já está tomando conta de tudo. Ela olhou para o homem sentado diante dela. JT McKenna era seu amigo desde a escola. Ele administrava o próprio rancho, onde criava um pequeno rebanho de gado e seus adorados cavalos. O cabelo castanho-escuro dele se encaracolava sobre a gola da camisa, e seu rosto bronzeado exibia uma linha branca na testa, marcada pelo chapéu. Ele era alto e esbelto e, de acordo com as amigas de Pam, lindo. Ela nunca se dera conta disso, pois JT sempre fora apenas seu amigo. – Pam, foi você quem pediu para que ela voltasse. Ela suspirou. Ele tinha razão. Pam tentara administrar o restaurante sozinha, mas não dera certo. Fora demais para ela. Mesmo assim, ela detestava reconhecer que Amanda fizera a diferença. Sua irmã mais nova sempre fora a menina de ouro. A preferida dos pais. Mais alta, mais inteligente, mais bonita… Não que ela não gostasse de sua irmã. Mas Amanda precisava ser tão perfeita? – Você está se preocupando à toa, Pam – falou JT. Os olhos dele estavam fixos nela, e Pam suspirou. – Você deve ter razão, mas…
– Nada de mas. – Ele sorriu. – Você está tão concentrada em Amanda e Nathan que não vê nada ao seu redor. – Tipo o quê? JT suspirou e falou: – Tipo o fato de eu precisar de mais café. – Ah, claro. – Ela se virou para pegar o pote de café e disse a si mesma que precisava se acalmar. Porém, os últimos dias tinham tornado isso quase impossível. Todos estavam falando de Nathan e Amanda novamente. Como acontecera tantos anos antes. Nathan. O coração dela latejava quando ela pensava nele. Sem sequer se esforçar, sua irmã mais nova conquistara o homem que Pam sempre quisera. Durante todos aqueles anos que Amanda passara fora de Royal, Pam fizera de tudo para capturar a atenção de Nathan. Mas era como se ele estivesse completamente alheio a ela. Nem mesmo as vezes em que ela conseguira levá-lo para jantar e para assistir a um filme haviam rendido algo. – Mesmo assim – disse ela, pensativa –, segundo Dora Plant, Nathan e Amanda estavam discutindo no parque hoje. – Você está fazendo isso de novo. Estou vendo nos seus olhos. Está pensando num jeito de contornar sua irmã para chegar até Nathan, e isso não vai levar você a lugar nenhum. É melhor tomar cuidado, Pam. – Com o quê? – Com você e Amanda – disse ele levemente. – Vocês são uma família. Sempre serão. – Sei disso… – Talvez saiba, mas você tende a esquecer as coisas nas quais não quer pensar. É melhor você abrir os olhos, Pam. Nathan não está interessado em você desse jeito. Provavelmente, nunca vai estar. Ela corou. Pam desejava Nathan fazia tanto tempo que isso se tornara um modo de vida para ela. Sempre que ela estivera com sua irmã, saber disso a corroera como ácido. Então, os dois haviam se separado, e Pam começara a ter esperanças novamente. Sim, nada acontecera nas poucas vezes em que eles haviam saído juntos, mas isso não significava que ela devesse desistir. – Você não sabe como é, JT. Ele riu, balançou a cabeça e colocou o dinheiro no balcão. – Você ficaria surpresa com o que eu sei, Pam. Ela o viu ir embora e ficou se perguntando o que JT quisera dizer com aquilo. ALGUMAS HORAS depois, Amanda estava diante do espelho, tentando entender como Nathan a convencera a fazer aquilo. Ela nem sequer sabia por que estava aceitando aquele… o quê? Encontro? O estômago dela se revirou. – Não é um encontro – disse ela, apenas para ouvir aquilo em voz alta. – Parece um encontro. Não devia parecer, mas parece. Deus, não vou a um encontro há… – Ela parou, pois, mesmo não havendo ninguém para ouvi-la, admitir em voz alta que fazia três anos desde seu último encontro era humilhante demais. Não era de se admirar que ela estivesse nervosa.
Ela não fazia ideia de aonde Nathan a levaria. Por isso, trocara de roupa três vezes, finalmente se decidindo por uma saia azul-clara que ficava logo acima dos joelhos, uma blusa branca de mangas curtas que se abotoava na frente e sandálias com saltos que a deixariam quase da altura de Nathan. O estômago dela se revirou novamente. Nãoéumencontro, nãoéumencontro, nãoéumencontro… O mantra passou por sua mente, mas não conseguiu se assentar. Pois ela estava oficialmente abalada desde que retornara a Royal. Aquelas duas semanas, esperando para vê-lo novamente. Então, aquele primeiro encontro no restaurante, quando ele ficara tão frio, tão distante. E, depois, Nathan aparecendo ali, após exigir que ela fosse embora da cidade, beijando-a até fazer sua cabeça girar. Ela se sentia dentro de um tornado. Estava perdida. Apenas a instintiva necessidade de manter seu coração intacto a orientava. De se tornar tão imune a Nathan a ponto de poder finalmente seguir com sua vida. Encontrar um bom homem… um que não a fizesse passar por tantos altos e baixos… e construir uma vida. Uma vida com os filhos que ela tanto queria. Uma vida cheia do amor que ela perdera tanto tempo antes. Sendo assim, por que ela estava aceitando aquilo… que não era um encontro? Porque ela ainda não estava imune a Nathan, e talvez passar uma noite a sós com ele desse início a esse processo de imunização. Quando Amanda ouviu a batida à porta, ela levou a mão ao abdômen, tentando futilmente conter o frio em sua barriga e dizendo a si mesma para se recompor. Para superar Nathan, ela precisaria conter sua tendência natural a entrar em chamas perto dele. Amanda abriu a porta, e seu nervosismo foi substituído por algo mais elementar. Mais… perigoso para seu já combalido autocontrole. Ele estava de jeans preto, uma camisa vermelha de botão aberta na gola e as botas que pareciam fazer parte de sua pessoa. Ele a analisou por completo lentamente. Então, um sorriso de apreciação surgiu em seus lábios. – Você está ótima. As chamas lamberam dentro dela, mas Amanda as abafou. Aquilo não era algo romântico! Era apenas… o quê? – Obrigada. – Ela pegou a bolsa. Deus, como ele tinha um cheiro bom! – Estou pronta. Aquele sorriso dele se aprofundou quando ele a levou na direção da escadaria. – Sempre gostei disso em você, Amanda. Nada daquelas coisas de fazer o homem esperar. – Pegando a mão dela, ele a levou até seu carro, um grande utilitário preto. A noite de sábado era a noite dos encontros em Royal, tanto para os jovens quanto para os mais velhos. Vários rancheiros iam à cidade jantar. Pessoas faziam compras nas lojas da rua principal e várias outras simplesmente observavam o movimento. E Amanda teve certeza de que a maioria delas estava observando avidamente Nathan e ela. Nada teria sido uma prova melhor de que ele não se importava com as fofocas do que levá-la para sair numa noite de sábado. À esquerda de Amanda, o restaurante de sua família estava iluminado, e ela soube que todos lá dentro teriam uma vista perfeita dela saindo com Nathan. Como se ele soubesse exatamente o que ela estava pensando, Nathan apertou por um instante a mão dela, dando uma piscadela para Amanda. O coração dela se apertou; era quase como se eles dois fossem novamente uma equipe. A mão dele em torno da dela estava quente, forte e parecia algo certo. Ela quase tropeçou quando esse pensamento lhe ocorreu.
Felizmente, ela se recuperou rapidamente, pois uma mulher mais velha com uma coroa de tranças em seu cabelo grisalho os abordou na calçada. – Ora, o que vocês fazem por aí numa noite tão bonita de verão? – Hanna Poole devia ter uns 75 anos. Seus olhos, brilhando de alegria, eram astutos. Se existisse um trem de fofocas em Royal, a sra. Hannah seria a maquinista. Nada acontecia na cidade sem que ela ficasse sabendo. – Olá, sra. Hannah – falou Amanda. – Que bom ver a senhora. – Com certeza, querida – disse ela enquanto seu olhar se fixava por um instante nas mãos entrelaçadas dos dois. – Vão a algum lugar? – Sim, senhora – respondeu Nathan. Então, surpreendeu Amanda soltando sua mão para envolver a cintura dela com um dos braços, levando-a na direção do carro. – E, se não nos apressarmos, vamos nos atrasar. – Ora, não quero atrapalhar vocês – disse a mulher, pensativa, seus olhos reluzindo. – Também tenho de voltar logo para casa. Divirtam-se, jovenzinhos. É bom ver vocês juntos novamente. – Ah, não estamos… – começou Amanda. – Obrigado, sra. Hannah – disse Nathan, interrompendo-a. – Tenha uma boa noite. Ele acomodou Amanda, contornou até o lado do motorista e entrou. – Claro que ela precisava voltar para casa – disse Amanda, vendo Hannah Poole percorrer apressadamente a calçada. – O que ela quis dizer foi que precisava pegar o telefone e contar que nos viu juntos a todos que não estão na cidade hoje. – Sim. – Isso não incomoda você? – Sim. – Ele saiu com o carro. – Só isso? Só “sim”? – O olhar de Amanda se fixou nele. Antigamente, Nathan teria ficado rigidamente furioso por ser o centro das atenções. Aquele Nathan era um desconhecido. Misterioso. Intrigante. – Quem é você e o que fez com Nathan? Ele sorriu por um instante. – Queria que eu desse um tiro na sra. Hannah? Que a jogasse numa cela para impedi-la de pegar o telefone? Não temos como impedir ninguém de falar. – Você fez um transplante de comportamento? Inesperadamente, ele a olhou e sorriu. – Não, mas não seria uma má ideia. Ela estava encantada. Como poderia não estar? Aquele homem não era apenas Nathan, o homem pelo qual ela era apaixonada desde os 14 anos, mas também estava… diferente naquele início de noite. Mais relaxado. Mais… alcançável. O que podia ser arriscado. Infelizmente, o corpo de Amanda estava ocupado demais comemorando a proximidade de Nathan para se preocupar com possíveis problemas futuros. E esse era outro problema. Ela devia estar superando a atração que sentia por Nathan, mas ele estava dificultando isso ainda mais. Amanda se recostou no banco, mantendo seu olhar fixo na rua à frente deles e tentando abafar as sensações que já cresciam dentro dela. Não foi fácil. – Então, aonde vamos? – Ainda gosta de surpresas? – perguntou ele. – Sim…
– Então, relaxe. Vamos levar só um minuto para chegarmos lá. Eles haviam percorrido apenas pouco mais de um quilômetro quando Nathan entrou com o carro num conhecido estacionamento. – O Clube? – perguntou ela. – Algum problema? – Não. – Amanda olhou para a construção que já fazia parte da vida da cidade muito antes de ela nascer. Construído na década de 1900, o lugar era imenso e tinha apenas um andar, feito de pedras escuras e madeira. Ela já entrara ali algumas vezes; não como convidada, mas como contratada, quando seu pai fora responsável pelo bufê das reuniões. Amanda sabia que os tetos eram altos, que a mobília e o piso eram escuros e em estilo antigo e que o ambiente era carregado de testosterona. Claro, estavam permitindo que mulheres se associassem agora, mas não muitas e não sem uma árdua batalha. – É que eu nunca… Só estou… surpresa, acho. – Por quê? – Nathan desligou o motor e a olhou. – O salão de jantar está aberto às mulheres há anos. – Verdade, mas você nunca me levou lá. – Não fiz muitas coisas que devia ter feito. Ele tinha os mesmos arrependimentos dela com relação à maneira como tudo terminara entre eles? Nathan era mestre em ocultar seus sentimentos. Então, a menos que ele fosse franco e dissesse isso diretamente, ela jamais saberia com certeza. – Talvez isso valha para nós dois. – Ela ofereceu uma trégua e ficou satisfeita ao ver o sorriso dele. – Acho que você tem razão. Mas, por ora, podemos dizer que sou um homem mudado. – Ele saiu do carro e, enquanto ele ia até o lado dela, Amanda se flagrou torcendo para que ele não tivesse mudado demais. DURANTE O jantar, ela percebeu que esquecera como Nathan podia ser encantador. Com seu olhar fixo no dela, ele direcionou a conversa para momentos mais felizes, antes de terem se separado num turbilhão emocional tão grande. Fora como se tudo tivesse desaparecido à volta deles; as pessoas, os garçons… Com a atenção total de Nathan fixa nela, era impossível perceber qualquer outra coisa. As paredes escuras com painéis de madeira, a fraca iluminação e as tremeluzentes velas nas mesas compunham uma atmosfera romântica que Amanda não sabia ao certo como interpretar. Ela não esperara romance. Entretanto, parecia que Nathan estava determinado a lhe dar isso. Por quê? E por que ela não podia simplesmente aproveitar enquanto durasse? Eles conversaram sobre os velhos tempos, sem tocar nas partes dolorosas. Conversaram sobre o que cada um fizera nos últimos sete anos, e, lentamente, começaram a desenvolver uma… o quê? Amizade? Não. Era uma palavra fraca demais para a conexão que vibrava entre eles. Claro, como estavam numa cidade pequena e cujos habitantes conheciam, o jantar não fora totalmente reservado. Várias pessoas paravam na mesa deles para dizer oi, e Amanda vira Nathan se tornar o que ele era: o xerife. Um homem respeitado e digno da confiança de todos na cidade. Ele respondia às perguntas pacientemente e prometia analisar os problemas das pessoas. Ele detinha o poder com facilidade, e Amanda percebeu que os últimos anos haviam feito uma diferença. Ele não era
o jovem arrogante que ela conhecera. Ah, sim, ainda era convencido, mas havia uma paciência subjacente que faltara ao antigo Nathan. Não fora apenas ele que mudara. Os anos haviam deixado sua marca neles dois. Eles não eram mais as mesmas pessoas de sete anos antes. E talvez, se enfrentassem a mesma situação agora, reagissem de forma diferente. Não que isso fosse mudar alguma coisa, mas Amanda não conseguiu deixar de se perguntar como as coisas teriam sido se tivessem confiado mais um no outro. Conversado mais, em vez de reagir à dor do momento. Quando terminaram de comer, Amanda olhou pelo elegante salão de jantar, cheio de membros do Clube e seus convidados. Sem dúvida, todos espalhariam a notícia daquele jantar, mas, no momento, ela não estava se importando. – Obrigada. Por… ter me trazido aqui. Foi muito bom. – Ótimo. – Ele pagou a conta e levantou sua xícara de café num brinde. – Também achei, mas a noite ainda não terminou. – Sério? O que poderia ser melhor do que esse jantar fabuloso? – A sobremesa. Ela não conseguiu conter a risada. – Nathan, nós não quisemos sobremesa, esqueceu? – Você não vai deixar de querer a que tenho em mente. Amanda olhou nos olhos dele e, à luz das velas, ela viu o desejo dentro deles. Um formigamento maravilhoso surgiu em sua barriga, e mais abaixo. Um profundo latejar acompanhou o ritmo do coração dela, acelerando a cada segundo que ela passava olhando nos olhos dele. Ali estava o perigo. Se ela tivesse um pingo de bom senso, pediria para que ele a levasse para casa. Imediatamente. Amanda, porém, soube que não faria isso. Fazia sete longos anos desde a última vez que ela estivera a sós com Nathan. Sete anos desde a última vez que ela sentira aquele ardor de uma profunda atração. Sete anos desde a última vez em que ela olhara naqueles olhos da cor do chocolate e vira o desejo que estava vendo agora. Não. Independentemente do que acontecesse em seguida, ela não o deixaria ir. Ainda não. – Agora, fiquei intrigada. – Então, vamos. – Ele se levantou e estendeu a mão para ela. Amanda hesitou apenas por um instante antes de colocar sua mão na dele, permitindo que ele a ajudasse a se levantar. Os olhares deles se encontraram, e foi como se explosões fossem detonadas à volta deles, mas apenas eles podiam senti-las. Nathan a levou para o quente e úmido ar da noite de verão texana. Fosse lá para onde fossem, ela sabia que seria exatamente onde ela iria querer estar.
CAPÍTULO 6
ENQUANTO RUMAVAM para o Battlelands, Amanda olhava para o perfil de Nathan. Havia um leve sorriso no rosto dele. – Vamos para a casa do rancho? Ele a olhou de relance e sorriu de verdade. – Você vai ver. Por que ele estava sendo tão misterioso? O que estava tramando? Ela também podia entrar naquele jogo. Por isso, falou: – Seria bom rever Jake e Terri. Faz tempo desde a última vez que vi os filhos deles. – A-hã. Depois. Certo. Ela podia ser paciente. Até certo ponto. – Como você e Pam estão se dando ultimamente? A pergunta a pegou desprevenida e a deixou um tanto desconfortável. – Como sempre. Ela está feliz por eu estar no restaurante, mas acho que preferiria se eu pudesse fazer o trabalho por telefone, de outro lugar. Ele franziu o cenho. – Ela tem alguns problemas com você. – Que novidade – murmurou Nathan. Amanda também tinha alguns problemas com Pam agora que sabia que sua irmã saíra com Nathan. Isso não devia importar, já que tudo entre ela e Nathan estava terminado. Mas importava, droga! Um dia desses, ela e Pam teriam uma conversinha sobre aquilo. Por ora, porém, ela mudou de assunto. – Falando em famílias, como vão Jake e Terri? – Estão ótimos. Sei que você se manteve informada do que estava acontecendo aqui em Royal. Então, imagino que você saiba que têm gêmeos, um menino e uma menina. – Sim – disse ela, sorrindo melancolicamente. – Na última vez que vim visitar meu pai antes de ele… Bem, eu me certifiquei de que você não estivesse por perto e encontrei Terri e as crianças na cidade. – Os gêmeos estão no jardim de infância agora, e Emily não para de falar. Uma pequena dor se assentou no peito dela quando ela pensou nos sobrinhos de Nathan. Crianças sempre faziam Amanda pensar como sua vida podia ter sido diferente se ela não tivesse perdido o filho
de Nathan. Eles teriam se casado. Mas teriam sido felizes? Ou ele sempre se sentiria preso pelas circunstâncias? Ela sempre se perguntaria se ele a amava de verdade ou se quisera se casar com ela apenas por se achar no dever? – Emily já tem quase 2 anos, não tem? – Sim, e está linda. E Jake vive babando por ela. – Ele riu. – Às vezes, é difícil acreditar que Jake é pai, mas ele é muito bom nisso. Você também teria sido, pensou ela. E talvez os pensamentos dele estivessem espelhando os dela, pois as feições de Nathan ficaram mais sérias. Alguns quilômetros de silêncio preencheram o carro antes de Nathan pegar um desvio que ela reconheceu. – Não estamos mesmo indo para a casa. – Não. – Estamos indo para o rio. – O plano é esse. O nervosismo cresceu, e Amanda disse a si mesma para não criar expectativas. Afinal, Nathan fora criado naquelas terras. Ele e Jake haviam passado a maior parte da infância no rio, pescando, nadando, fugindo das tarefas. Para ele, aquele lugar era simplesmente uma parte de sua vida. Não havia motivo para acreditar que Nathan sentia o mesmo… afeto que ela por aquele lugar. Para Amanda, aquele rio era mágico. Aquele pedaço do rancho da família dele sempre seria especial para ela. O rio atravessava o centro do Battlelands e tinha suas margens delimitadas por antigos carvalhos. Um lugar fresco, verde e exuberante. Quando se aproximaram, ela não conseguiu evitar se recordar que ela e Nathan tinham feito amor pela primeira vez naquele lugar. O coração dela acelerou. Ela conseguia visualizá-los facilmente. Jovens, ávidos… E, ao menos no caso dela, muito apaixonada. O nervosismo fora intenso, mas o desejo o sobrepujara. Naquele lugar, ela se tornara parte do único homem que ela sempre desejara. Ele estaria se lembrando? Também pensava naquela noite e em todas as que haviam se seguido? Tinha os mesmos arrependimentos que ela? Ou seguira de fato com sua vida? Mas, se isso acontecera, por que estavam juntos ali agora? O sol já estava tão baixo que restava apenas um leve toque de cor no céu. Amanda desviou o olhar de Nathan. O que ela devia pensar? O que ele estava esperando? Estaria tentando propositalmente recriar aquela noite? Ele achava mesmo que, depois de tantos anos, seria necessário apenas um local romântico para fazer o tempo voltar? Deus, e se ele tivesse razão? Amanda inspirou fundo. Anos sem Nathan e, agora, num único dia, ele estava acabando com o vazio, despertando novamente emoções que ela pensara ter enterrado muito tempo atrás. Como ele conseguia transformar a fúria dela em desejo tão facilmente? E como ela poderia defender seu coração se tudo que ela queria era ter novamente o que haviam tido no passado? – Reconhece este lugar? – perguntou ele. – Sim – disse ela, tomando coragem antes de se virar para olhá-lo. Ela não conseguiu decifrar o que ele estava pensando. Como sempre, Nathan ocultara suas emoções. – Por que estamos aqui, Nathan? Ele a olhou de relance. Em seguida, voltou novamente seu olhar para a estrada. – Precisamos conversar, e não consegui pensar em nenhum lugar que fosse mais reservado.
Ah, era muito reservado mesmo, pensou Amanda quando outra lenta espiral de expectativa a envolveu. Aquilo podia ser perigoso, mas, ao mesmo tempo, ela não era mais aquela menina jovem e loucamente apaixonada. Ela crescera, mudara, sofrera com um coração partido. Estava mais forte agora para aguentar as emoções, para se manter firme contra o homem que era uma avassaladora presença em sua vida. Ao menos ela esperava estar. Nathan estacionou o carro ao lado das árvores e olhou de forma misteriosa. – Deve estar tudo pronto. Vamos. Ela não fazia ideia do que ele estava falando, mas só havia uma maneira de descobrir. Além do mais, Amanda não permitiria que ele soubesse que estar ali a abalava. Ela saiu para o cálido abraço do ar de verão. As primeiras estrelas já brilhavam no céu. O vento estava fraco, como uma terna carícia, e ela foi até a frente do carro encontrar Nathan. – O que está tramando? Ele sorriu. – Venha comigo. Ele ofereceu a mão a ela, e Amanda hesitou apenas por um instante antes de colocar a palma na dele. Não fazia sentido tentar recuar agora. Além do mais, ela estava curiosa. Por que ele a levara até ali? O que estava pronto? E quem era aquele homem, afinal? Menos de uma semana atrás, ele lhe dissera que queria que ela fosse embora da cidade. Agora, ele se tornara um príncipe encantado. Alto, moreno, lindo, e usando aquele sorriso como uma arma afiada. Nathan apertou levemente a mão dela e a levou por entre as árvores na direção do rio, na direção do passado, as lembranças retornando com tudo. Eles emergiram das árvores, e Amanda parou, recolhendo a mão para olhar fixamente para o que havia diante dela. Uma manta azul e branca estava estendida na grama. Um lampião estava acesso, a chama tremeluzindo na leve brisa. Havia um cooler num canto da manta, e dois lugares postos, com pratos e taças. No passado, fora diferente. Nathan retornara da faculdade e a levara até ali, ao “lugar deles”. Ele falara das aulas, do que estava fazendo, das pessoas que estava conhecendo, e tudo que Amanda conseguira fazer fora olhá-lo, guardando diversas imagens em sua mente para que, quando ele partisse novamente, ela não se sentisse tão solitária. Eles haviam feito um piquenique bem ali. Nathan posicionara o carro para que os faróis os iluminassem, e o rádio do carro proporcionara a música. Eles haviam conversado, rido e feito planos para um enevoado futuro que nenhum deles conseguia imaginar plenamente. Então, haviam feito amor sob as estrelas, pela primeira vez. Tudo mudara para eles naquela noite. Amanda ainda se recordava do rosto dele, de Nathan apoiado sobre ele, quando ela o tomou dentro de si. Um surto de amor, de desejo a preencheu naquele momento, como a preenchera no passado, e a fez se virar para o homem a seu lado. – O que você está fazendo, Nathan? – Lembrando – disse ele, seu olhar fixo na cena diante deles. Então, voltou aqueles olhos para ela. – Desde que você voltou, venho fazendo muito isso. – Eu também. – E você se lembra do que aconteceu aqui? – Difícil esquecer.
– Ótimo – disse ele, e pegou novamente a mão dela, puxando-a na direção da cena tão meticulosamente preparada. Aquilo não importava, mas ela se ouviu perguntando: – Quem fez tudo isso? – Louisa – disse ele antes de se sentar na manta e puxá-la para seu lado. – Provavelmente, ela pediu para Henry trazê-la de carro aqui e ajudar, mas foi ela quem preparou o cooler e arrumou tudo. Louisa Diaz, a governanta do Battlelands. Ela administrava aquela casa fazia vinte anos. Claro que Nathan pediria ajuda a ela. – Ela não ficou curiosa para saber por que você quis isso? – Se ficou, não vai admitir – disse ele, abrindo o cooler para retirar uma garrafa de vinho branco gelado. Serviu duas taças e entregou uma a Amanda. – Tem morangos e chantilly, além dos famosos biscoitos de nozes de Louisa. Ela olhou fixamente para o líquido dourado em sua taça. Ainda estava abalada. Ele se esforçara tanto para arrumar aquilo que Amanda começou a pensar o que havia por trás de tudo. Apenas lembranças? Ou algo mais? – Parece que você pensou em tudo. – Acho que sim. – A pergunta permanece. Por quê? Ele suspirou impacientemente e, subitamente, ficou mais parecido com o Nathan com o qual ela vinha lidando desde sua volta a Royal, em vez do jovem ao qual ela entregara seu coração. – Precisa haver um motivo? Não podemos simplesmente aproveitar? Aproveitar. Reviver a lembrança que era tão querida a ponto de ainda atormentar os sonhos dela? Lembrar uma época na qual ela tivera o mundo nas mãos… e o perdera um ano depois? A dor borbulhou logo abaixo da superfície, e Amanda precisou contê-la. O silêncio surgiu entre eles, parecendo crescer durante uma eternidade antes de Nathan falar. – Não tenho nenhum grande plano, Amanda. Só queria trazer você a um lugar onde pudéssemos conversar. – E escolheu aqui. Um lampejo de um sorriso tocou a boca dele, desaparecendo quase instantaneamente. – Você não é a única que se lembra. No passado, este foi um lugar bom para nós. – Sim – concordou ela, sua voz soando tensa, rouca. – Foi. Mas, Nathan… – Nada de mas. Estamos aqui. Vamos conversar. Comer a sobremesa. Relaxe, Amanda. Relaxar? O homem mais tenso que ela já conhecera estava pedindo para que ela relaxasse? Ela olhou nos olhos dele e tentou enxergar além do que o que ele estava revelando. Porém, ao longo dos anos, ele aprimorara sua capacidade de ocultar seus pensamentos, seus sentimentos, e Amanda precisou acreditar na palavra dele. Perigoso? Talvez. Contudo, ela não podia pedir para que ele a levasse para casa agora. Isso daria a impressão de que ela estava com medo de ficar sozinha com ele, e ela não lhe daria todo esse poder. Além do mais, ela poderia considerar aquilo um teste para sua própria determinação. Se ela e Nathan viveriam ali em Royal juntos, ela precisaria superar o desejo que a dominava toda vez que ele se aproximava. – Certo – disse ela por fim, bebendo outro gole do vinho. – Vamos conversar.
Ele abriu um rápido sorriso que fez o coração de Amanda disparar, e ela soube que não conseguiria relaxar nem um pouco naquela noite. – Vim mais bem-preparado desta vez – disse ele, pegando um pequeno rádio atrás do cooler. Ele o ligou, e a voz de uma mulher surgiu nas sombras, cantando sobre o amor. – Lembra que a bateria da minha picape velha acabou naquela noite? Que deixei o rádio tocando por tempo demais e precisamos usar o walkie-talkie do rancho para pedir que Henry viesse nos ajudar? Ela lembrava. Também se lembrava do olhar que Henry direcionara a eles, como quem sabia de que tudo que acontecera. Contudo, o encarregado do rancho não dissera nada. Apenas fizera a picape de Nathan funcionar novamente e fora embora. – Foi vergonhoso – disse ela com um triste sorriso. – Foi. Mas valeu a pena. A mão dela apertou a fina base da taça de cristal. Nathan estava vencendo todas as defesas dela. Ela se virou de costas para ele e olhou para o rio. Enquanto ela observava, uma truta saltou da água. O vento sussurrava em meio às árvores, fazendo as folhas farfalharem. Era perfeito. Uma noite de verão com céu estrelado. Uma leve música acompanhando o rugido do rio, e o homem que fora o amor de sua vida ao seu lado. Quantas vezes ela desejara aquilo ao longo dos anos? Ela olhou para Nathan quando ele pegou dois biscoitos. Entregando um a ela, ele sorriu e falou: – Você sempre gostou dos biscoitos de Louisa. O coração de Amanda se apertou. Ele parecia tão… inofensivo. E não era nem um pouco. – Você é maldoso – disse ela, pegando o biscoito e dando uma mordida. – Você costumava gostar disso. – Eu costumava gostar de muitas coisas. – Mas não mais. – Eu não disse isso. – Nem precisou. Mas sinto a mesma coisa. – Bom saber – murmurou ela enquanto seu tolo e esperançoso coração murchava um pouco. – As coisas mudaram. – Se você me trouxe aqui para dizer isso, perdeu seu tempo. Já sei disso. – Mas a questão é que algumas coisas não mudam. Ele acariciou o dorso da mão dela, subindo pelo braço. Amanda estremeceu. – Não é justo. – Ela recolheu a mão e largou o biscoito na manta antes de se levantar e ir até a margem do rio. Ela o ouviu se levantar e se aproximar por trás dela. Quando as mãos de Nathan tocaram os ombros de Amanda, ela já havia se preparado para o calor que passou do corpo dele para o dela. – Por que eu devia jogar justo? – exigiu saber ele, virando-a para si. – E por que você está jogando? – rebateu ela. – Porque não consigo parar de pensar em você. Se ele era capaz de admitir ao menos aquilo, ela também seria: – Sinto a mesma coisa. Ele subiu com as mãos pelos braços dela, como se estivesse afastando um frio que ela não sentia. Na realidade, Amanda estava com tanto calor que achava que nunca mais sentiria frio. Ela inspirou fundo, inclinou a cabeça para olhá-lo e falou:
– Vinho. Biscoitos. Música. Este lugar. O que você quer, Nathan? Diga a verdade. Ele assentiu. – A verdade, Amanda, é que há muita história entre nós, e a vida em Royal vai ser mais difícil do que devia ser para nós dois até que resolvamos tudo. A decepção a atingiu. Ele fizera tudo aquilo apenas para deixá-la flexível o suficiente para aceitar a maneira como ele queria lidar com as coisas. – Já tivemos nossa “conversa”, Nathan. – Sim. Mas não foi suficiente. Ela recuou, aproximando-se ainda mais do rio. Virou o rosto para o céu, fixando seu olhar numa estrela em particular. Um ponto de foco, para centrar seus pensamentos, para recuperar seus nervos em frangalhos. Ela não queria mais falar do passado. Ele só lhe trazia dor. Ainda observando a estrela, ela perguntou: – O que mais há para ser dito, Nathan? Ela o ouviu se aproximar novamente atrás dela. Sentiu o calor do corpo dele buscando o dela. Sentiu o frisson de algo incrível que ela sempre sentia quando estava perto de Nathan. Novamente, as mãos dele tocaram os ombros dela, e um açoite de eletricidade a atingiu imediatamente. Amanda fechou os olhos e inspirou fundo para se acalmar, uma ideia que foi destruída quando ele começou a falar. – Podemos deixar o passado onde ele está, Amanda? Vivermos aqui na cidade sem voltarmos para ele? – Quero fazer isso – respondeu ela, e era verdade. O passado representava dor, e ela já sentira dor demais por uma vida inteira. – Então, vamos fazer um pacto. Vamos lidar com o presente. Começar do zero. – Simples assim? – Não vai ser fácil, mas vai ser mais fácil do que levarmos o passado sempre conosco. Parecia uma boa ideia, mas ela não sabia ao certo se seria possível. Porém, conversar com ele, estar com ele sem as dolorosas lembranças valia o risco. – Um pacto – aceitou ela, estendendo a mão. Ele a olhou, sorriu e a pegou, acariciando os dedos dela. A voz dele estava suave, baixa e hipnotizante. – Você ainda está no meu sangue, Amanda. O coração dela disparou, e Amanda quase perdeu o equilíbrio. Mas as mãos dele apenas se firmaram nos ombros dela. Ele baixou a cabeça até sua boca ficar ao lado da orelha dela. Sua voz surgiu novamente, a cálida respiração tocando a pele dela. – Eu penso em você. Sonho com você. Quero você. – Nathan… – O sangue dela parecia borbulhar nas veias. Ele a virou para si, puxou-a para perto e pegou a mão direita dela com a esquerda dele. Confusa, Amanda apenas o olhou até ele dizer: – Dance comigo. Nathan não deu oportunidade de ela responder. Começou a balançar no ritmo da música, e ela se permitiu acompanhá-lo. Ele a segurava firmemente, o corpo de Amanda pressionado junto ao dele, e ela sentiu… tudo, exatamente como ele quisera que ela sentisse.
O corpo dela se iluminou por dentro quando o desejo pulsou. Nathan devia ter percebido a rendição do corpo dela, pois baixou a cabeça para roubar um forte e rápido beijo que a deixou tonta. – Diga que você não sente o mesmo – exigiu ele. Amanda sabia que, se olhasse novamente nos olhos dele, o que restava de seu autocontrole desmoronaria. Entretanto, ela não conseguiu se resistir. Não conseguiu se privar da chance de ver aqueles olhos faiscando de desejo novamente. No instante em que ela o olhou, sentiu-se dentro de um furacão de emoções. Sentimentos enterrados havia muito ressurgiram com tudo, entrelaçando-se a algo novo. Algo ainda frágil, mas muito mais profundo do que tudo que ela sentira antes. A dança deles terminou abruptamente. Ele levou as mãos ao rosto dela. Seus polegares contornaram as faces de Amanda, seu olhar percorrendo as feições dela sedentamente. Ela sentiu todo o seu corpo entrar em estado de atenção. Cada centímetro dela o desejava tão loucamente que ela tremia de desejo. Seria tão fácil ceder, pensou ela ao se perder naqueles olhos. Render-se às exigências de seu corpo. Deixar o passado de lado e pensar apenas no agora. Porém, o que isso faria com eles? Que rumo tomariam a partir dali? – Nathan, isso é loucura… – Não há nada de errado com uma loucura – murmurou ele, curvando-se para dar um levíssimo beijo na testa dela. Amanda engoliu em seco. – Mas, se fizermos isso… isso só vai deixar ainda mais dura nossa convivência nesta cidade. – As coisas podem ficar bem mais duras. – Oh, Deus. – Ela perdeu o fôlego quando ele a puxou para si. Para perto o suficiente para que ela descobrisse que ele tinha razão. Se as coisas ficassem mais duras que aquilo, ele se transformaria numa pedra. Um latejamento surgiu dentro dela, espalhando-se rapidamente. E apenas Nathan podia aliviá-lo. Balançando a cabeça tanto para seus próprios pensamentos quanto para ele, Amanda se desvencilhou e deu um cambaleante passo para trás. – Droga, Amanda – disse ele roucamente. – Você também quer. Eu sinto isso. – Sim. Quero. Mas não vou fazer. – Por que não? – Porque isso não resolveria nada, Nathan. Ele levantou as duas mãos, permitindo que pendessem novamente dos lados de seu corpo. – Por que isso precisa resolver alguma coisa? Não somos mais adolescentes. As coisas não podem ser simplesmente o que são? – Entre nós, não – disse ela, já um pouco mais recomposta, agora que ele não a estava tocando. – As coisas nunca são simples entre nós, Nathan, e você sabe. Ele pôs as mãos nos bolsos da calça e ergueu a cabeça por um instante. Quando a baixou novamente, falou: – Você não consegue deixar o passado de lado, não é? Um pouco irritada, ela rebateu: – Você consegue? – Totalmente, não. – Então, como a ideia de dormirmos juntos pode ajudar?
– Como ela pode atrapalhar? – Nathan, sexo não resolve um problema. Apenas cria novos problemas. – Talvez seja o suficiente por enquanto – disse ele tensamente. – Não para mim. – Então, o que você quer? Mil pensamentos desconjuntados passaram pela mente dela num confuso instante. O que ela queria? Acima de tudo, ele. Ela tentara convencer a si mesma de que só queria seguir com sua vida. Encontrar um novo homem e construir uma vida com ele. Contudo, não havia outros homens para Amanda. Havia apenas Nathan, agora e sempre. Ela queria o que não haviam tido antes. Confiança. Amor. Um futuro. E sabia que Nathan não estava interessado em nada disso. Ele acabou com a distância entre eles e a puxou para si novamente. Ele era o perigo, pensou Amanda. – Não dificulte as coisas – sussurrou ela. – Por que eu deveria facilitar? Ela o olhou e, quando Nathan a beijou, Amanda se perdeu nele. A boca dele cobriu a dela com uma feroz ternura que se tornou rapidamente uma dança de desespero. As línguas se encontraram por diversas vezes, acariciando, provando. A sede cresceu e se espalhou, envolvendo-os num inescapável calor. As mãos dele subiram e desceram pelas costas dela, finalmente parando no traseiro de Amanda. Ele a segurou firmemente junto a si, roçando seus quadris nos dela. Ela arfou e ergueu instintivamente uma das pernas, envolvendo a coxa dele, tentando, mas não conseguindo, trazê-lo para ainda mais perto. A boca de Nathan continuava a dominá-la, e todas as boas intenções de Amanda foram levadas embora num maremoto de paixão. Fazia tanto tempo… Tanto tempo desde a última vez que ela sentira as mãos dele em seu corpo, a respiração em seu rosto. Como ela poderia recusá-lo? De que importava o que fosse acontecer no dia seguinte se, naquela noite, ela poderia ter aquilo? Uma das fortes mãos dele segurou a coxa dela junto ao quadril dele. Com a mão livre, ele levantou a saia de Amanda, entrando com a mão pela calcinha, tocando o trêmulo e quente centro dela. Ao primeiro toque dos dedos dele, Amanda arfou, inclinando a cabeça para trás e olhando nos olhos dele enquanto ele acariciava seu ardente e úmido ponto. Os olhos dele estavam faiscando de desejo. Sua respiração estava tão acelerada quanto a dela. Os dedos de Amanda seguraram os ombros dele enquanto ela lutava pelo equilíbrio e pelo orgasmo que chegava com tudo. Nathan mergulhou um, dois dedos nela, acariciando-a tanto por dentro quanto por fora, num acelerado ritmo que era torturante e prazeroso. A mente de Amanda estava se desligando. Quem precisava pensar se ele lhe oferecia tanto a sentir? Ela gemeu, contorcendo-se com o toque dele. O polegar dele passou por cima do ponto mais sensível dela, e Amanda gemeu o nome dele. – Agora, Amanda – sussurrou ele, beijando a boca, os olhos, o nariz dela. – Quero ver você explodir agora. As estrelas reluziam acima deles. Um vento texano acariciava a pele nua dela. Os olhos de seu amante estavam fixos nos dela. E Amanda se rendeu ao inevitável com um gemido, suspirando o nome dele.
CAPÍTULO 7
ELA ESTAVA prostrada nos braços dele, e Nathan nunca se sentira tão vivo. Seu corpo estava rígido, latejante, sua pulsação estava em disparada, e ele continuou a acariciá-la intimamente. Amanda perdeu o fôlego e se contorceu nos braços dele quando seu corpo, ainda sensível, reagiu ao toque. Nenhuma mulher o afetava como aquela. Com apenas um suspiro, ela o inflamava, deixava-o de joelhos. E era por isso que ele estava ali. Para fazer sexo com ela novamente e poder tirá-la de sua cabeça. Ele olhou para o rosto dela e viu um leve sorriso de satisfação. Viu os olhos verdes dela ficarem vidrados de paixão e não conseguiu pensar em deixá-la. Pensou apenas em se enterrar dentro dela. Em sentir o corpo de Amanda envolver o dele novamente. – Nathan, isso foi… – Apenas o início – grunhiu ele. Tocou-a novamente, e ela estremeceu. Nos braços dele, ela parecia vulnerável, frágil, e todos os instintos protetores de Nathan foram despertados. Naquele momento, ele quis se colocar entre ela e o resto do mundo. Quis vê-la sempre daquele jeito, olhando-o com estrelas nos olhos, uma arfante súplica nos lábios. Segundos se passaram enquanto ela olhava nos olhos dele. Ele ficou perfeitamente imóvel. Não a tocaria novamente até que ela dissesse sim. Até que ela admitisse que o sexo era a única coisa em que concordavam. A única coisa de que precisavam. Amanda acariciou o rosto dele. – Estou cansada de ser sensata. Não quero pensar no amanhã. Só nesta noite. Com você. Ele esperou um instante para que as palavras dela surtissem efeito nele. Então, por sua própria sanidade, perguntou: – Tem certeza? Ela sorriu e envolveu o pescoço dele com os braços. – Com relação a isso, sim. – Graças a Deus – murmurou ele, girando-a num rápido círculo antes de baixá-la sobre a manta. Rapidamente, tiraram tudo de cima da manta. O rádio continuava tocando uma leve música. Eles se viraram um para o outro, arrancando roupas, precisando tocar apenas a pele. Precisando sentir o calor da carne. O vento de verão os tocou enquanto mãos e bocas redescobriam a magia que pulsava entre eles.
Nathan não conseguia se satisfazer. A sensação de pele suave e lisa dela em seus dedos alimentou as chamas que já o engoliam. Sua mente se anuviou, e ele enxergou apenas ela. A mulher que o atormentara durante anos. A mulher que ele perdera e jamais esquecera. Ele recuou, reservando um instante para apenas olhá-la, desfrutar daquele momento no qual ela se tornara sua novamente. O cabelo de Amanda se espalhou sobre a manta. Seus longos e bronzeados membros eram esbeltos e lisos, e seus seios eram empinados e fartos. As mãos dele estavam loucas para envolvê-los, para provocar aqueles mamilos rijos até que ela gemesse. Balançando a cabeça, ele murmurou: – Venho pensando nisso desde aquele primeiro dia em que vi você no restaurante. Ela riu, e o som pairou acima do rugido do rio, tornando-se parte da música da noite. – Quando você chegou com fogo nos olhos querendo que eu fosse embora da cidade? – Sim. Só que eu não queria que você fosse embora da cidade. Simplesmente queria você – disse Nathan, baixando a cabeça para provar um dos mamilos, e o outro em seguida. Amanda arfou. Em seguida, suspirou; uma lenta expiração que pareceu adentrar o coração dele. Quando Nathan levantou novamente a cabeça, ela olhou em seus olhos e falou: – Você escondeu isso muito bem sendo todo mal-humorado. Ele abriu um rápido sorriso. – Não podia deixar os fofoqueiros saberem o que eu estava pensando. Droga, não queria que você soubesse o que estava pensando. – Ah, nem eu – admitiu ela, segurando a cabeça dele junto a seu seio. Nathan estava em chamas. Seu corpo inteiro parecia ter sido engolido pelo fogo. – Eu devia ter feito isso dias atrás. – Ah, sim – sussurrou ela, curvando-se na direção de Nathan enquanto ele descia por seu corpo com beijos… pelo peito, acompanhando o abdômen. Ele estava envolvido pelo sabor, pelo perfume, pelo toque dela. E ainda não era suficiente. Ele precisava dela e não queria precisar. Ser sugado para um turbilhão de emoções não era o plano. Seu plano fora simplesmente levá-la para a cama para poder extirpá-la de sua mente de uma vez por todas. O plano. Ele se esforçou para se ater a ele. Para lembrar por que era importante. Nathan Battle não fazia nada sem um plano. E mesmo assim… ele não queria pensar. Só queria se deleitar com aquele momento, finalmente tendo Amanda em suas mãos. O corpo dela tinha a quantidade de curvas certa para tentar um homem. Sob a luz das estrelas, a pele dela parecia feita de mel. Ele passou as pontas dos dedos pela barriga reta dela. Em seguida, pela fina linha de pele mais clara que atravessava o triângulo de pelos castanho-claros na junção das coxas. – Seu biquíni é minúsculo – murmurou ele, desejando tê-la visto com ele. Ela sorriu. – Não adianta nada usar um grande, adianta? – Acho que não – concordou ele, envolvendo o calor dela com uma das mãos. – De que cor ele é? Amanda arfou, inclinando os quadris na direção da mão dele. – O quê? Cor? – Seu biquíni, Amanda. De que cor é? Ele a penetrou com um dedo, e ela suspirou. – Isso é tão importante agora?
– Diga para me agradar – falou ele, girando a ponta do dedo em torno de um ponto já sensível. – Certo, certo, mas não pare. – Ela engoliu em seco. – É branco. Com bolinhas… – Ela perdeu a voz e estremeceu enquanto ele continuava a acariciá-la lentamente. – Bolinhas…? – Hã? Bolinhas? Ah, certo. – Ela se contorceu. – Bolinhas… hã… vermelhas. – Parece bonito. – A-hã. Vou mostrar a você um dia. Mas, agora, podemos… – Quer mais? – perguntou ele, sabendo que ela queria, estendendo o suspense, a espera, o desejo, para eles dois. – Quero tudo. É sério, Nathan, se você não estiver dentro de mim no próximo minuto… – Você vai fazer o quê? – Ele sorriu, adorando a frustração nos olhos dela. – Vai embora? Amanda suspirou. – Engraçadinho. Não, não vou embora. Mas, Nathan… Ele se apoiou sobre ela, olhando nos olhos de Amanda, e sussurrou: – Você continua tão linda. – Fico feliz por você achar isso. – Ela suspirou e levou a mão até ele, mas Nathan recuou, pegou a calça que ele jogara para longe alguns minutos antes e retirou do bolso uma embalagem laminada quadrada. – Você é bem confiante, não? – Confiante em nós dois – disse ele enquanto abria a embalagem e colocava o preservativo. Ela estava cautelosamente inexpressiva quando ele a olhou. Amanda perguntou: – Esse “nós” existe, Nathan? Boa pergunta, pensou ele. E ele não tinha uma resposta. No dia anterior, ele teria dito que não sem pensar duas vezes. No dia seguinte, talvez dissesse o mesmo. Agora, porém… – Esta noite, existe. Um lampejo de tristeza dançou nos olhos dela e desapareceu tão rapidamente que Nathan quase conseguiu convencer a si mesmo de que fora apenas sua imaginação. Ele não queria magoá-la, mas também não fingiria. Além do mais, ele não queria pensar além daquele momento. Nós? Não, nada de “nós”. Mas havia o agora. – Chega de pensar – murmurou ele, encerrando a conversa ao tomar a boca de Amanda num beijo que deixou ambos arfando. A mente dele se esvaziou, seu corpo assumiu o comando. As mãos dela deslizaram pelas costas dele, as unhas arranhando a pele, avisando que a sede que existia dentro dele também morava dentro dela. O passado desapareceu quando se encontraram novamente do jeito mais fundamental de todos. Cada toque foi uma reafirmação do que haviam sido. Cada beijo, cada arfada, uma celebração do que estavam descobrindo agora. Ao quente ar do verão, deram e tomara um do outro até a paixão se tornar uma entidade viva. Eles rolaram sobre a manta, braços e pernas entrelaçados enquanto o rio corria e a música continuava a tocar no ar noturno. O vento sussurrava através das árvores, e as respirações aceleradas deles se acrescentavam à sinfonia. As mãos dele percorreram o corpo dela. Cada toque era dolorosamente familiar e, ao mesmo tempo, parecia algo novo, eletrizante. Como se aquela fosse a primeira vez deles. Nathan a deitou de costas e se apoiou num dos cotovelos para olhá-la. Ela parecia uma deusa do verão, estendida sobre aquela manta azul e branca, a luz das estrelas dançando em sua pele. Ele perdeu
o fôlego quando ela umedeceu os lábios e sorriu para ele. Seus olhos estavam vidrados de desejo. Era uma sensação boa a de ser envolvido pelas chamas depois de tantos anos frios, pensou ele. Nathan se ajoelhou entre as pernas dela e, quando Amanda afastou as coxas e levantou os braços para acolhê-lo, ele grunhiu de satisfação. Nathan a penetrou num longo e lento movimento, suspirando ao sentir o quente e apertado corpo dela o envolvendo. Amanda arfou, levantou as pernas e envolveu os quadris dele com elas, puxando-o para dentro de si. Ela arqueou os quadris na direção dele, puxando Nathan para o mais perto possível. Então, estremeceu quando o prazer a açoitou. Nathan sentiu o prazer dela em cada suspiro. Sentiu a tensão que crescia no corpo dela. Como se estivessem conectados num nível mais profundo do que o físico, ele sentia o que ela sentia e, quando olhou nos olhos dela, soube que ela estava perto do clímax. Ele a conhecia como não conhecera nenhuma outra mulher. O corpo de Amanda lhe era tão familiar quanto o dele próprio. Sua paixão, tão importante quanto a dele. As mãos dela apertaram as costas dele, os ombros, os braços. Cada arfada, cada suspiro alimentava as chamas dentro dele. Os quadris dele se movimentaram sem parar. Os suspiros dela o preenchiam, impeliam-no, e Nathan acelerou o ritmo, sendo acompanhado por Amanda. Ele possuiu sua boca num exigente e sedento beijo. Ela também tinha suas exigências. Exigências silenciosas e desesperadas que Nathan satisfez avidamente. – Nathan… Nathan… – O nome dele se tornou um mantra, que foi levado pelo vento. Ela sussurrava e suplicava, movendo seu corpo na direção do dele, lutando pela liberação que a esperava. E, quando o primeiro tremor a atingiu, ela se agarrou nele, sendo atingida por infindáveis ondas de prazer. Nathan sentiu o corpo de Amanda se contrair em torno do dele quando o orgasmo a dominou. Apenas então ele cedeu à tensão acumulada dentro dele, libertando-se finalmente de seu ferrenho autocontrole, rendendo-se ao que apenas Amanda era capaz de fazer com ele. Seu corpo explodiu, sua mente se estilhaçou. E, quando ele desabou sobre ela, os braços de Amanda o envolveram. O CORAÇÃO de Amanda estava em disparada. Com o peso de Nathan a cobri-la, ela se sentia, pela primeira vez em anos, completa. Era ridículo admitir, até para si mesma, mas, sem ele em sua vida, ela sempre tivera a sensação de que algo faltava. Algo vital. Agora, ela o encontrara. Mas não sabia quanto tempo aquilo duraria. Ele já lhe dissera que, no que dependesse dele, não estavam juntos. Era apenas sexo. Um sexo estupendo, mas apenas sexo. Se ela interpretasse como algo além, acabaria se magoando e se decepcionando. Nathan rolou de lado, puxando-a consigo até deixá-la aninhada em seu peito. Amanda ouviu o acelerado coração dele e soube que ele estava tão abalado quanto ela. Ao menos era um consolo… O silêncio se estendeu pelo que pareceu uma eternidade até que Amanda não conseguisse mais aguentar. – Nathan, isso foi… – Sim, foi. – Então – disse ela, levantando a cabeça para olhá-lo –, você costuma vir muito aqui?
Ele sorriu, e ela perdeu o fôlego. – Não venho há anos. Desde… Ele parou, mas Amanda já sabia que ele não levara nenhuma outra mulher ao que, sem dúvida, era o lugar “deles”. Era engraçado o conforto que isso lhe trazia. Ah, ele não era nenhum monge, e, durante os meses que haviam passado separados devia ter havido dezenas de mulheres na vida dele, sem dúvida. Ela fez uma expressão de dor ao pensar naquilo. Mas ao menos ele não as levara ali. – É lindo aqui – disse ela, olhando para o luar na água. – É, sim. Olhe, Amanda… Ah, aquilo parecia o início de uma conversa séria. E ela não queria algo assim no momento. Ela preferia o Nathan das brincadeiras, das tentações. Não queria conversar com o honrado e responsável Nathan. Não no momento. Por isso, bastaria não lhe dar a oportunidade de transformar aquele momento num discurso cheio de arrependimento. Abruptamente, ela se sentou e vestiu a camiseta. – Que tal um pouco daquele vinho? Ele a observou durante um longo instante. Então, sentou-se também e pegou suas próprias roupas. – Claro, seria ótimo. – E biscoitos – lembrou ela, determinada a manter uma atitude animada e casual. Levantando-se, ela vestiu a calcinha e a saia antes de sentar novamente. – Acho que precisamos de mais biscoitos. Depois que Nathan se vestiu, ele se sentou diante dela na manta e a observou cautelosamente. – Biscoitos. – Por que não? – perguntou ela. – Não lembra? Sexo sempre me deixa com fome. Inesperadamente, ele sorriu ao servir uma nova taça de vinho para cada um. – Eu me lembro de todos os piqueniques que fizemos na cama. Amanda ficou paralisada quando as lembranças a atingiram com tudo. Tantas noites passadas na cama, rindo, amando e comendo. – Nós nos divertimos muito, Nathan. Ele lhe entregou a taça, tocando a sua na de Amanda. – Sim. Mas, Amanda… Ela o interrompeu, vendo o maxilar dele se contrair pela interrupção. – Vamos deixar o passado no passado, está bem? Nós nos divertimos naquela época e nos divertimos hoje. Não foi isso que você disse? Para viver no presente? – Sim. – Então, vamos aproveitar. – Você é a mulher mais confusa que já conheci. Amanda riu. – Acho que estou lisonjeada. – Devia estar. Você sempre soube como me confundir. Ele soava quase melancólico, e o coração de Amanda deu um salto dentro do peito. As lembranças pairavam entre eles. Ela bebeu um gole do vinho para aliviar o nó em sua garganta antes de conseguir falar. – Você costumava gostar dessa característica minha. – Sim – admitiu ele. – Eu gostava. O olhar dela se fixou no dele.
– Senti sua falta, Nathan. – Também senti a sua. E talvez, pensou Amanda, aquilo fosse o suficiente para aquela noite. – VOCÊ FEZ sexo. – Piper! – Amanda olhou pelo restaurante, sentindo-se culpada, certificando-se de que ninguém estivesse por perto para ouvir. Felizmente, a maior parte dos clientes do almoço já se fora, e ela e sua amiga estavam com os fundos do restaurante praticamente apenas para elas. Amanda tomou um gole de seu café. – Não dava para dizer isso mais alto? – Provavelmente – respondeu Piper. – Quer que eu tente? – Não! – A verdade estava estampada em sua testa? Fiz sexo com Nathan ontem à noite. Quem mais teria percebido? Oh, Deus… – Não sei do que você está falando. – Claro. Vou acreditar nisso. Amanda franziu o cenho e se recostou para sentir o fluxo de ar frio em seu rosto, vindo do duto de ar-condicionado no teto. Era irritante ser tão óbvia… ainda mais para alguém que ela não via fazia anos. Claramente, não fazia sentido fingir com Piper. – Certo. Sim. Tem razão, sra. Vidente. Piper riu e comeu um pedaço da torta de merengue de limão que Amanda lhe prometera no dia anterior. – Querida, não sou vidente. Isso está claro nos seus olhos… sem falar no arranhão de barba no seu pescoço. Amanda levou imediatamente a mão ao pescoço. Um rápido formigamento a atingiu quando ela se recordou da sensação do rosto com a barba por fazer de Nathan enterrado na curva de seu pescoço. Ela tivera tanta certeza de que conseguira cobrir as marcas com a maquiagem… – Honestamente, não sei como podem dizer que aquela base tem “cobertura total” – resmungou ela. – Vou mandar um e-mail reclamando. – Faça isso – disse Piper, rindo. – Então, como está Nathan? – Ele está… bem. – Na realidade, fabuloso. Um sorriso curvou a boca de Amanda. Quando ela chegara de volta à sua casa, estava mais cansada e revigorada do que nunca. Seu corpo parecia ter despertado depois de anos de sono. Ela se sentia como a Bela Adormecida, mas Nathan não era exatamente um príncipe encantado, e ela não era nenhuma dama em apuros, esperando para ser resgatada. Não, a noite anterior não fora o início de nada. Ela não se enganaria com esperanças de que Nathan tivesse considerado o que acontecera à margem do rio algo além de um momento de diversão. Para ela, porém, fora mais do que isso. Apesar do que ela dissera a Nathan, Amanda não era do tipo que fazia sexo apenas por fazer. Se o sexo não significava nada, que sentido havia nele? Nenhum. Ela só dormira com Nathan porque ainda tinha sentimentos por ele. – Isso significa que vocês estão juntos de novo? – Não. Não vou me enganar com relação a isso. A noite passada foi só… a noite passada. – Ela não daria asas a sonhos para que, depois, eles caíssem por terra. Ela já passara por aquela dor antes e não tinha a menor vontade de repetir a experiência. – Nós não demos certo antes, lembra? – Mas vocês estão diferentes agora.
– Estamos? – Amanda vinha pensando muito naquilo desde a noite anterior. Claro, estavam mais velhos e, com sorte, mais sábios, mas isso seria suficiente para possibilitar um novo relacionamento? Nathan queria um novo relacionamento com ela? Ela estava ficando com dor de cabeça. – Não sei – disse Amanda por fim. – Nathan sempre vai ser importante para mim. Mas… – Nada de “mas” – insistiu Piper. – Não precisa existir nenhum “mas”. Amanda riu. – Num mundo perfeito… Um forte barulho vindo do outro lado do recinto chamou a atenção dela, e Amanda olhou para sua irmã, que pusera o pote de café com força exagerada sobre o aquecedor. Amanda franziu o cenho quando Pam virou a cabeça por tempo suficiente para olhá-la com irritação. – Uau, Pam está de bom humor hoje. – É – disse Amanda. – Ela passou a manhã inteira assim. – Não é nenhuma surpresa. Ela passou anos atrás de Nathan e, a esta altura, já percebeu que não vai conquistá-lo. – O quê?! – Provavelmente, você sabe que ela e Nathan saíram algumas vezes depois que você foi embora. – Quando Amanda assentiu, Piper continuou. – Não deu em nada. Nathan não estava interessado. E digamos que, se eu percebi a marca no seu pescoço, Pam também percebeu. – Perfeito. – A vida dela estava um caos não apenas em relação a Nathan, mas, agora, ela também precisava se preocupar com a raiva de sua irmã? Piper lançou um rápido olhar para Pam por cima do ombro antes de se virar novamente para Amanda. Ela se aproximou para dizer: – Todo o mundo sabe que Pam é louca por Nathan desde a escola. E que ela tem inveja de você. – Todo o mundo menos eu. – Sim, ela sabia que Pam tivera uma quedinha por Nathan na escola. Que menina não tivera? Mas inveja? – Por que ela teria inveja de mim? – Vejamos… – Piper fingiu pensar. – Você é mais nova, mais bonita, tem um diploma universitário que ela nunca tentou conseguir e, acima de tudo, você tem Nathan. – Tinha. As sobrancelhas de Piper se ergueram. – Tem certeza desse tempo passado aí? O antigo aparelho de música tocava no canto uma antiga canção de rock. Havia duas pessoas sentadas ao balcão almoçando tardiamente, e duas senhoras de idade ocupavam uma das cabines, tomando chá com bolo. A maioria das pessoas de Royal ficava em casa no domingo para almoçarem juntas. Por isso, era um dia fraco no restaurante, o que era tanto um problema quanto uma bênção. Como Amanda não dormira muito na noite anterior, ela estava agradecida por não estar tão atarefada. Porém, não estar atarefada significava que Pam tinha tempo para dificultar a vida de Amanda. E a irmã de Amanda estava ficando muito boa nisso. Mas o pior de um dia fraco no restaurante era o tempo que Amanda tinha para pensar. Tempo demais para se perguntar o que acontecera na noite anterior entre ela e Nathan. E, por mais que ela pensasse, não conseguia entender. Ela sabia que eles dois eram mágicos. Mas também sabia que isso não era garantia de um final feliz.
– Seja lá o que você estiver pensando – disse Piper em voz baixa –, é melhor parar. Não parece que está deixando você feliz. – Não está. Não sei se a noite passada significou algo, Piper. – Se você quiser que signifique algo, vai significar. Ela riu. – Não é simples assim. E se eu quiser e Nathan não quiser? – Faça com que ele queira. – Ah, sim, isso vai ser fácil… – Não vai. Nada que vale a pena é fácil. A dúvida é: você o quer? – Quem me dera essa fosse a única dúvida.
CAPÍTULO 8
ALGUNS DIAS depois, Amanda se deu conta de que esquecera como adorava a comemoração do 4 de julho numa cidade pequena. Royal inteira parecia estar reunida no parque. O sol brilhava e ninguém parecia se importar com o calor. Texanos eram durões e não deixavam que isso os impedisse de se divertir. Havia um jogo de beisebol em andamento. Toalhas de piquenique pontilhavam a grama, e as famílias se assentavam para um longo dia, que só terminaria depois da queima de fogos. Crianças corriam pelo parque, rindo e gritando. Dezenas de barracas de jogos estavam espalhadas pelo parque, todas oferecendo prêmios que iam desde peixinhos dourados até ursos de pelúcia. E, na ponta mais afastada do estacionamento, um pequeno parque de diversões fora montado. Amanda sorriu para o menininho diante da barraca dela. Ele tinha cerca de 6 anos e lhe faltava um dente da frente. No momento, ele estava mordendo o lábio e observando a última bola em sua mão. Ele já usara quase toda sua mesada, comprando chances de derrubar pinos de boliche com a bola para conquistar um prêmio. – É mais difícil do que parece – disse ele. – É mesmo, não é? – Amanda estava tentando pensar num jeito de “ajudar” o menino a vencer quando Nathan apareceu. Um já conhecido lampejo de excitação a atingiu só por vê-lo. Ele estava com a camisa bege do uniforme, com a estrela de xerife no peito. Seu jeans era desbotado, suas botas, surradas, e seu chapéu estava baixo o suficiente na testa para lançar sombras sobre seus olhos. Já fazia alguns dias desde a noite deles no rio, e, desde então, as coisas tinham sido… diferentes entre eles. Bem, claro, tinham feito sexo. Mas havia menos tensão entre os dois. E mais confusão, pensou ela melancolicamente. – Boa tarde, Amanda – disse ele, voltando seu olhar para o garoto em seguida. – Carter, como está se saindo? – Não muito bem, Xerife – respondeu o menino. – Queria ganhar um daqueles ursinhos de pelúcia para minha irmã mais nova. – Ele deu de ombros. – Meninas gostam dessas coisas, mas, como eu disse à srta. Amanda, é mais difícil do que parece.
– O que você está fazendo sozinho? Onde estão seus pais? Carter apontou para uma jovem família sentada sobre uma manta debaixo de uma árvore. – Estão todos ali. – Que bom. – Nathan pôs a mão no ombro do menino e bagunçou o cabelo dele. – Talvez possamos tentar juntos. O que acha? O menino o olhou como se Nathan estivesse usando uma capa e tivesse acabado de aparecer para salvar o dia. Amanda observou Nathan com o menino e conteve um suspiro. Se ela não tivesse perdido o bebê deles, ele estaria com a idade daquele menino. Teria sido menino ou menina? Fora cedo demais para saber, mas isso não a impedira de imaginar como a criança teria sido. E, naquele menino de cabelo castanho-claro e olhos castanhos, ela viu… o que podia ter sido. E a minúscula dor que se assentou em seu coração foi como uma velha amiga retornando. – O que acha de eu ajudar? – perguntou Nathan, abrindo um sorriso para Amanda. – Quero dizer, se a srta. Amanda não se importar. – Seria ótimo, Xerife! – respondeu Carter. Então, virou-se para Amanda e perguntou: – Tem problema? – Você sabia que, quando o xerife estava no colégio, era o melhor arremessador de todos no beisebol? Nathan sorriu para ela, como se estivesse satisfeito por ela se recordar. Como Amanda poderia esquecer? Ela passara horas nas arquibancadas vendo Nathan jogar. E, toda vez que ele ia rebater, ele a olhava primeiro, como se quisesse ter certeza de que ela ainda estava ali, assistindo. – Sério? – Carter ficou ainda mais animado. – Sem pressão – resmungou Nathan, balançando a cabeça. – Vamos, Xerife – disse ela, recuando quando Nathan pegou a bola com Carter e a jogou para o ar algumas vezes para medir seu peso. – Mostre do que é capaz. Ele assentiu para o menino e deu uma piscadela para Amanda. – Bem, vamos ver o que consigo fazer. Ele lançou a bola, derrubando três pinos de boliche. Carter vibrou de alegria, e até Amanda precisou aplaudir. – Você conseguiu, Xerife! – Carter também bateu palmas. Amanda pegou um dos ursos de pelúcia que estavam na prateleira de prêmios e o entregou a Nathan, que o deu a Carter. – Minha irmãzinha vai adorar. Obrigado, Xerife! – Segurando o urso, o menino foi embora. Amanda olhou para Nathan e sorriu. – Foi muita bondade sua. – Carter é um bom menino. – Nathan apoiou um dos quadris na barraca. Seu olhar percorreu Amanda de cima a baixo até ela sentir um calor que não tinha nada a ver com aquele quente dia. – Como você veio parar nesta barraca? – Patti Delfino precisou cuidar do bebê. Por isso, eu me ofereci para ajudar. – Voltando a se encaixar perfeitamente em Royal? – Não foi tão difícil. – Mas ficar perto dele era. Amanda não sabia o que havia entre eles. Não sabia o que aconteceria em seguida. Eles haviam tido aquela incrível noite juntos e, desde então… nada. Bem, a nada ser pelas vezes em que ele passava no restaurante durante o dia. Contudo, não haviam ficado
sozinhos novamente, e ela estava sedenta por ele. Nathan sentia o mesmo? Ou considerara aquela a única noite? Um tipo de despedida do passado? As dúvidas a enlouqueciam. Uma menininha chegou correndo e bateu na coxa de Nathan para chamar sua atenção. Quando ele baixou o olhar, os grandes olhos azuis da garotinha se fixaram nele. – Também quero um ursinho. – Quer, é? – Ele sorriu e olhou para Amanda. – Aparentemente, Carter está mostrando para todo o mundo. – E o que você vai fazer a respeito, Xerife? – provocou Amanda. Ele tirou a carteira do bolso e colocou uma nota de vinte dólares sobre o balcão. – Acho que vou jogar bolas. A menininha bateu palmas, empolgada. Amanda entregou três bolas a ele e recuou, vendo Nathan acabar com a prateleira de prêmios, logo atraindo uma multidão de crianças, todas esperando para receber um dos bichos de pelúcia. Amanda o observou, viu os olhos dele reluzindo de prazer, ouviu as risadas dele com as crianças, e uma parte dele chorou pelo que poderiam ter tido juntos. Ele era tão bom com crianças. Teria sido um pai maravilhoso… Quando tudo terminou, os bichos de pelúcia já haviam desaparecido, e a última das crianças já se fora com um prêmio nas mãos. Quando restaram apenas Nathan e Amanda, ele falou: – Parece que levei você à falência. O que acha de levarmos o dinheiro para Patti e, depois, encontrarmos Jake e Terri para almoçar? – Você não está em serviço? – Posso ficar de olho nas coisas… e em você. O prazer a atingiu quando ela pegou a caixa com o dinheiro e saltou para fora da barraca. – Acho que vou deixar você fazer isso. Ele pegou a mão dela, e, enquanto atravessavam a multidão, Amanda teve a sensação de que tudo aquilo estava perfeitamente certo. Ele também sentia isso? O resto do dia se passou num borrão. Fazia tanto tempo desde que Amanda desfrutara de um 4 de julho! Ela sempre desejara estar em sua casa, em Royal. E a cidade não a estava decepcionando. Depois do almoço com Jake, Terri e as crianças, Nathan e Amanda passaram o resto do dia com eles. Nathan foi chamado algumas vezes para resolver problemas que variaram desde uma discussão com relação à decisão de um árbitro no jogo de beisebol até um para-brisa quebrado no estacionamento. Mas ele voltou todas as vezes, e Amanda viu que, com sua família, Nathan ficava sempre mais relaxado. Mais pronto a se divertir do que nunca. Antigamente, ele fora obstinado demais, determinado demais a criar a vida que ele queria para poder reservar um tempo e relaxar com a família. Talvez eles dois tivessem mudado o suficiente para conseguirem ficar juntos novamente, pensou ela. Com a queima de fogos prestes a começar, Jake e Nathan levaram as crianças para comprar raspadinhas de gelo, enquanto Amanda e Terri se acomodavam na toalha de piquenique e esperavam o espetáculo. – Estou tão feliz por você ter voltado – disse Terri abruptamente.
– Ah, também estou. Acredite. – Amanda olhou pelo parque, vendo tantos rostos conhecidos, e sorriu. Fosse lá o que acontecesse entre ela e Nathan, Amanda voltara para ficar. – Senti muita falta daqui. – Hmm… – refletiu Terri. – Sentiu falta de Royal ou de Nathan? – Infelizmente, dos dois. – Terri a conhecia bem demais para acreditar numa mentira. Por isso, por que não contar a verdade? – Mas isso não significa nada, Terri. – Claro que significa. Significa que o lugar de vocês é um ao lado do outro. Todos sabem disso. – Todos menos Nathan – resmungou Amanda. – Nathan está tenso desde que você voltou. – Ótimo. Tenso. Terri apenas a observou por um instante. Em seguida, balançou a cabeça. – Sério? Você não sabe nada sobre os homens? O melhor é que fiquem tensos mesmo. Assim, nunca sabem o que fazer. – E isso é bom? – perguntou Amanda, rindo. – Com certeza. Por que você iria querer Nathan todo relaxado e complacente em relação a você? Ela não pensara daquele jeito. Talvez Terri tivesse razão. Tirando as sandálias, Amanda cruzou as pernas. Apoiando os cotovelos nos joelhos, ela apoiou o queixo nas mãos e olhou para sua amiga. – Quer dizer que você nunca dá certeza de nada a Jake? – Jamais, querida – garantiu Terri com uma risada. – Por que você acha que ele me venera tanto? – Porque é inteligente o suficiente para saber que tem uma esposa maravilhosa? – Sim, também por isso. – Terri gargalhou. – Mas, no geral, é porque o deixo tenso. Ele nunca sabe o que vou fazer. Quando Terri pegou mais um biscoito, Amanda balançou a cabeça. – Como você consegue ser tão magra comendo desse jeito? – Não vou ficar por muito tempo – falou Terri, sorrindo e tocando a própria barriga. – Estou grávida de novo. Instantaneamente, Amanda sentiu uma pontada de inveja. Terri tinha três filhos maravilhosos e um marido que realmente a venerava. Apesar de Amanda estar feliz por sua amiga, era difícil não desejar que sua própria vida fosse tão completa. – Eu vi sua reação – falou Terri, pegando a mão de Amanda. – Querida, desculpe. Não foi minha intenção fazer você se sentir mal. – Não seja boba. – Amanda apertou a mão dela e balançou a cabeça. – Estou feliz por você. É sério. É que… Ela olhou para o parque novamente, para onde Jake e Nathan tomavam conta dos gêmeos e da irmã mais nova deles. Amanda viu Nathan erguer a pequena Emily, aninhando-a em seu braço. A menina apoiou a cabeça no peito de Nathan e se aconchegou. Sorrindo com tristeza ela olhou para Terri e admitiu: – Às vezes, eu queria que as coisas fossem diferentes. Terri suspirou. – Queria, talvez esteja na hora de parar de querer e começar a fazer as coisas serem diferentes. Amanda olhou novamente para Nathan a tempo de vê-lo rir de algo que os gêmeos tinham dito. Um choque de desejo a atingiu com tudo. Aquele sorriso dele sempre a faria se derreter.
Talvez Terri tivesse razão. Talvez fosse hora de lutar pelo que ela queria. E o que ela queria era Nathan. Quando a queima de fogos começou, Nathan se acomodou ao lado dela, e Amanda apoiou a cabeça no largo peito dele. Eles olharam para o céu, que explodia com sons e cores. Ele a envolveu com o braço e a puxou para perto. E, apesar de estarem cercados de gente, Amanda se sentiu como se fossem as únicas pessoas no mundo. NA MANHÃ seguinte, Amanda acordou com um beijo de Nathan em sua nuca. Ela sorriu preguiçosamente, lembrando-se da longa noite anterior. Depois dos fogos, tinham ido ao apartamento dela e feito seu próprio espetáculo. – Bom dia. – Hmm… – murmurou ele, passando a mão pela lateral do corpo dela. – Está parecendo muito bom no momento. Ela sorriu, suspirando quando a mão dele deslizou para seu traseiro. Por algum motivo, haviam adentrado um novo nível no dia anterior. Talvez tivessem sido as horas passadas com a família dele. Ou apenas o fato de ter se passado tempo suficiente para que ambos se dessem conta de que queriam estar juntos. Fosse qual fosse o motivo, Nathan ficara ali com ela, sem se importar com as fofocas. Quando ele envolveu um dos seios dela com a mão, Amanda suspirou novamente e rolou de costas para poder olhá-lo. Ela jamais se cansaria daquilo. Os olhos dele podiam faiscar de irritação, reluzir de bondade ou, como naquele momento, cintilar de desejo. Ela tocou o rosto dele. Sorrindo, sussurrou: – Estou feliz por você ter ficado aqui. – Também estou – disse ele, dando um longo, lento e profundo beijo nela, atiçando as brasas dentro de Amanda. – E queria muito ficar agora, mas preciso ir trabalhar. Ela olhou para a janela, por onde a leve luz da manhã entrava através das cortinas. – Eu também. Ele a beijou novamente, e a ternura cresceu entre eles, fazendo os olhos de Amanda arderem, dilacerando seu coração. Era aquilo que ela queria; Nathan, por completo. Não apenas as chamas que ferviam seu sangue, mas o calor que tocava sua alma. Quando ele levantou a cabeça e olhou nos olhos dela, sussurrou: – Talvez eu não precise sair imediatamente. Ela assentiu e tomou o rosto dele nas mãos. – Acho que também posso ficar um pouco mais. Desta vez, quando ele a beijou, Amanda esqueceu todo o resto e se permitiu ser envolvida por uma sensual bruma que apenas ele era capaz de criar. – VOCÊ FICOU sabendo? – Pam parou diante de JT e encheu automaticamente a caneca de café dele. – Do quê? – Hannah Poole estava contando a Bebe Stryker que o carro de Nathan passou a noite inteira estacionado na frente do restaurante. JT suspirou. – E por que você dá importância a isso?
Ela o olhou com surpresa. – A cidade inteira está falando de Nathan e Amanda. Se as coisas ficarem muito ruins, ele pode ir embora de novo. – Sem chance – resmungou JT, mas Pam não o ouviu. – Não acredito que Amanda está voltando com ele. – Bufando, ela acrescentou: – Não acredito que Nathan a quer de volta. Depois do que ela fez… Os olhos de JT se semicerraram. – Achei que você não gostasse de fofocas. Ela corou. – Não gosto. – Então, talvez você deva partir do princípio de que a sua irmã é inocente com relação a essas coisas do passado. Eu nunca acreditei no que disseram. – Você também? – perguntou ela rispidamente. – Vai ficar do lado de Amanda? – Não estou do lado de ninguém. Só estou dizendo que você é irmã dela. Devia conhecê-la melhor do que todo o mundo, e acho que você também não acreditou naquelas bobagens que as pessoas disseram anos atrás. Ela corou novamente e não ficou feliz por JT deixá-la se sentindo culpada. – Tudo é sempre com Amanda – disse ela amarguradamente. – Nathan nunca olhou para mim como olha para ela. Como alguém pode ser tão cego? – Eu estava me perguntando a mesma coisa – respondeu JT, levantando-se. Ele deixou o dinheiro sobre o balcão e falou: – Vejo você amanhã, Pam. Ela o viu sair e sentiu uma pontada de arrependimento por ter brigado com seu melhor amigo. Mas, honestamente… como ele era o melhor amigo dela, não devia entender como ela se sentia por causa de tudo aquilo? Não devia estar do lado dela? Quanto mais Pam pensava naquilo, mais irritada ficava, e ver Hannah Poole indo para mais outra mesa para espalhar a fofoca sobre Nathan e Amanda foi todo o incentivo de que ele precisava para ir confrontar sua irmã. – O QUE há com você? A irmã de Amanda entrou com tudo no escritório nos fundos do restaurante algumas horas depois. Amanda suspirou e largou a caneta na mesa quando os efeitos da noite e da manhã de amor desapareceram com um único olhar para a mulher diante dela. Os olhos de Pam estavam semicerrados, suas faces estavam coradas, sua boca estava contraída. Amanda deixou de lado a documentação que ela estava elaborando e achou que até mesmo a lista de suprimentos seria motivo de briga com Pam. Ela detestava mexer com papéis, e Pam sabia disso. Então, naturalmente, sua irmã deixara completamente aquela tarefa de lado quando Amanda voltara à cidade. Ela torcera para que o telefonema de Pam pedindo ajuda significasse que sua irmã mais velha a receberia bem. Mas o antagonismo de Pam parecia mais feroz do que nunca. A conversa com Piper passou pela mente de Amanda. Inveja? Seria possível? Se fosse, Amanda não sabia como resolveria o problema entre ela e sua irmã. Pois ela não abriria mão de Nathan para fazer Pam se sentir melhor. – Do que está falando?
Pam fechou a porta. Em seguida, recostou-se nela. – Você sabe exatamente do que estou falando, Amanda. A cidade inteira está falando de você. E Nathan. O estômago dela estremeceu, mas Amanda soubera que seria o principal assunto das conversas em Royal. Desde o jantar deles no Clube, as pessoas vinham cochichando. E o fato de Nathan ter deixado seu carro estacionado na frente do apartamento dela a noite inteira basicamente definira toda a situação. – Eu sei – disse ela, dando de ombros –, mas não posso fazer nada. – Você podia parar de correr atrás dele. Já seria um começo – disparou Pam, indo até a janela que dava para o estacionamento atrás do restaurante. Certo, ela estava disposta a conversar. A resolver as coisas com Pam. Contudo, ela não ficaria parada sendo atacada daquele jeito. – Correndo atrás dele? – Amanda se levantou. – Não estou correndo atrás de Nathan. Nunca corri. Pam se virou e a olhou com fúria. – Ah, você adora poder dizer isso, não é? – O quê? A verdade? Pam gargalhou rispidamente, foi na direção da mesa e se apoiou no encosto da cadeira de visitas, posicionada diretamente de frente para Amanda. – Isso só melhora tudo para você, não é? É a verdade. Nathan correu atrás de você no passado. Agora, está fazendo isso de novo. Por um segundo, Amanda pensou ter visto o brilho de lágrimas nos olhos de sua irmã e se sentiu péssima. Então, Pam falou novamente, e toda a solidariedade se esvaiu. – Hannah Poole está lá contando a todo o mundo que viu o carro de Nathan parado na frente da sua casa a noite inteira. Amanda fez uma expressão de dor. Bem, sabiam que aquilo aconteceria. – E a culpa é minha? – exigiu saber Amanda. – Ah, por favor… – Pam empurrou a cadeira. – Como se você não fizesse tudo que pode para chamar a atenção dele. Olhos arregalados. Voz sensual. Amanda riu. Aquilo estava ficando esquisito. E por que ela nunca percebera a inveja que Pam tinha dela? – Do que você está falando? – Quando vocês terminaram antes, isso quase o destruiu – falou Pam inexpressivamente. Ela inspirou fundo e expirou novamente. – Ele passou três anos longe de Royal. Só via o irmão dele quando Jake ia a Dallas visitá-lo. Os dois tinham perdido muito, pensou Amanda. Eles eram tão jovens, e nenhum deles reagira como devia ter reagido à tragédia que os separara. Eles haviam se afastado não apenas um do outro, mas também de seus amigos e parentes. Eles jamais recuperariam aquele tempo, mas, com sorte, haviam aprendido algo com tudo aquilo. Porém, ao pensar nisso, Amanda se perguntou se conseguiria confiar novamente em Nathan. Ele não acreditara nela. Não a amara quando ela mais precisara. Aqueles dias sombrios retornaram com tudo, inundando a mente dela com dolorosas sombras, e Amanda só conseguiu sussurrar: – Eu também fui embora, lembra? Pam descartou aquela ideia como se a dor de Amanda não significasse nada.
– Esta cidade era a casa de Nathan, e ele não voltou porque não queria ter de aguentar as fofocas. Por sua causa. A dor foi substituída por uma raiva revigorada. Pam era irmã dela e estava ficando do lado de Nathan naquela história? – E? – E, agora, isso está acontecendo de novo. – Pam cruzou os braços. – E, assim como antes, a culpa é toda sua. Num piscar de olhos, a irritação de Amanda se igualou à de sua irmã. Era engraçado… Quando eram mais novas, Amanda sempre se espelhara em Pam. E, numa discussão, Amanda sempre recuara, intimidada por sua irmã e também não querendo aliená-la por completo. Mas aqueles dias haviam ficado no passado. Agora, eram adultas, e Pam a estava perseguindo já fazia semanas. Sim, tinham problemas e poderiam resolvê-los ou não. Mas Pam não iria se colocar entre Amanda e Nathan. – Isso não é da sua conta, Pam. Pare de se meter. Pam recuou, surpresa. – Não vou parar. Fui eu quem ficou aqui, Amanda. Fui eu quem viu o que você fez com Nathan antes. E sou eu quem está dizendo para você parar de estragar a vida dele. – Estragar a vida dele? Meio dramático, não? – Se as fofocas durarem muito, ele vai embora de novo. – Chegou a lhe ocorrer que as fofocas também são sobre mim? – A culpa é sua. Pelo amor de Deus, você o atraiu para a sua cama e foi burra demais para pedir para ele estacionar o carro em outro lugar. Você quis que a cidade inteira visse. – Eu não enganei ninguém, Pam. – Nem precisou. – Pam piscou freneticamente para conter as novas lágrimas em seus olhos. – Você só precisa aparecer para que Nathan não consiga mais enxergar nada. Amanda se manteve firme para não sentir pena de sua irmã. Claro que ela estava triste por ver Pam sofrendo, mas não arrependida o suficiente para deixar Nathan de lado para que sua irmã pudesse tentar conquistá-lo. De novo. – Ainda não entendo por que isso é culpa minha ou da sua conta. – Claro que não entende. É da minha conta porque me importo com Nathan. Quando ele voltou, fui eu quem o ajudou a se encaixar novamente aqui. Ele passou um longo tempo infeliz. E, Amanda… – ela suspirou – … não quero vê-lo daquele jeito de novo. Aquilo Amanda conseguia entender. Ela também não queria. Pois isso significaria que o que havia entre eles se despedaçara novamente. Só de pensar nisso ela já ficava gelada. Deus, ela nunca superaria Nathan. Como poderia? Ela continuava apaixonada por ele. Perplexa ao reconhecer subitamente o que estava sentindo na realidade e preocupada com o que isso significava para seu presente… e especialmente seu futuro… Amanda desabou na cadeira. Amor? Ela não contara com isso. Ela estava encrencada. A náusea a atingiu, fazendo-a engolir em seco espasmodicamente. – Ei… – O tom de Pam mudou de raivoso para preocupado. – Você está bem? – Não – disse Amanda, levando as mãos ao rosto. Deus, ela ainda amava Nathan. Um homem no qual ela não sabia se podia confiar. Ela sequer sabia o que ele sentia por ela! Sete anos antes, Nathan não lhe dissera que a amava. Abandonara-a no instante em que motivo do casamento desaparecera.
Sim, fora ela quem cancelara o casamento. Mas ele não resistira. Simplesmente fora embora. Como se perder o bebê e ela não significasse nada. Mesmo agora, ele sequer falara em amor, e isso não a impedira de se apaixonar novamente pelo único homem que ela amaria em toda a sua vida. – Acho que não estou nada bem. – Isso não é só uma farsa barata para encerrar a discussão, é? Rindo ironicamente, Amanda olhou nos olhos de sua irmã. – Quem me dera…
CAPÍTULO 9
O VERÃO estava passando rapidamente. E Nathan passava a maior parte de seu tempo intervindo em discussões. Nada de incomum nisso, a não ser o fato de sua mente não estar totalmente focada em seu trabalho. O que vinha acontecendo desde aquela noite com Amanda na margem do rio. Nathan estava sozinho em seu escritório, pensando naquela manhã com Amanda. Acordar na cama dela, com seu corpo enroscado no dele, aliviara uma dor dentro dele que ele sequer se dera conta de que existia. Fazer amor lentamente com ela aumentara ainda mais essa sensação, deixando-o tão absorto em Amanda que Nathan precisara se arrastar para fora daquela cama para ir trabalhar. – E lá se vai o plano… – resmungou ele. Ele não apenas não conseguira tirá-la de sua mente, mas, agora, só conseguia pensar nela. Tudo parecera tão simples. Levar Amanda de volta à sua cama e finalmente superá-la. Deixar o passado de lado e seguir com sua vida. Em vez disso, ela se entranhara mais do que antes nos pensamentos dele. Sem saber exatamente como isso acontecera, Nathan também não fazia a menor ideia de como reverter o estrago já feito. Especialmente porque tudo que ele queria era fazer amor com ela novamente. Droga, ele estava andando pela cidade tão tenso e rígido! Ele não queria precisar de Amanda. Queria ficar livre dela. Não queria? Nathan esfregou o rosto com a mão, tentando expulsar todos os pensamentos conflitantes de sua mente. Para se distrair, ele olhou por seu escritório, pelos familiares símbolos da vida que ele construíra para si em Royal. Contudo, nada disso lhe dava o prazer que ele sentia por simplesmente estar ali. Até Amanda retornar à cidade, ele estivera contente. Agora, o contentamento não era suficiente. Ele queria mais. Queria Amanda. O problema era… como consegui-la para si. Ah, o sexo era ótimo, mas isso era fácil. O que ele queria seria mais difícil. Ao menos para si mesmo, ele conseguia admitir que queria tudo. Não apenas Amanda, mas a vida que poderiam criar juntos. Uma casa. Uma família. Um lar. Mas ele sabia que o passado ainda estava entre eles, uma grande e horrenda muralha que os dois haviam ignorado, em vez de resolver o problema.
Ele se recostou na cadeira e cruzou os pés sobre a mesa. Olhando para o teto, ele disse a si mesmo que talvez o passado devesse ficar no passado. Talvez não precisassem dissecá-lo. Talvez tudo que precisassem fazer fosse aprender com ele e deixá-lo para trás. A confiança seria um problema entre eles durante um tempo, claro, mas ele poderia mostrar a Amanda que, agora, ele a defenderia. Com tempo, ela acabaria acreditando. Assentindo para si mesmo, ele conseguiu enxergar o futuro se desenrolando em sua mente. Ele e Amanda morando na casa dele no rancho. Tendo filhos que brincariam com os de Jake e Terri. Longas noites e preguiçosas manhãs na cama dele, um nos braços do outro. Era o que deviam ter tido anos antes. E o que teriam agora. Quando a porta se abriu, Nathan olhou em sua direção de cara feia. – Bela recepção – falou Chance. – Desculpe. Eu estava pensando. – Nathan baixou os pés e se levantou, estendendo a mão para seu amigo. – O que houve? O cabelo loiro de Chance parecia ter sido revirado por nervosos dedos durante horas. Seus olhos verdes estavam atormentados, e ele não olhou diretamente nos de Nathan. Aquilo não era um bom sinal. – Tudo bem, Chance? – Na verdade, não – murmurou o amigo dele, massageando a própria nuca. Ele se virou para fechar e trancar a porta. – Certo, o que foi? – Nathan, eu não teria vindo aqui se não achasse que você devia saber o que as pessoas andam dizendo. Instantaneamente, Nathan balançou a cabeça. Sete anos antes, fora Chance quem lhe contara a respeito dos boatos que estavam se espalhando. Os boatos de que Amanda encerrara propositalmente a gravidez. Naquela época, Nathan fora jovem o suficiente para dar ouvido, burro o suficiente para não questionar. Agora, as coisas estavam diferentes. – Não quero saber – disse ele, dando as costas a Chance para ir até um arquivo na parede mais afastada. – Acha que não sei disso? – A voz de Chance estava relutante, mas firme. Claramente, ele não iria embora até dizer o que tinha a dizer. Nathan se virou e falou: – Não dou a mínima para o que estão dizendo, Chance. No instante em que as palavras saíram de sua boca, Nathan se deu conta de que eram totalmente verdadeiras. Por algum motivo, ele simplesmente não se importava de ser o centro das fofocas. E ele não daria ouvidos a nada que as pessoas tivessem a dizer contra Amanda. Ele poderia cometer erros, mas não cometeria os mesmos de antes. – Acho melhor você ouvir. – Chance o olhou com irritação. – Estão dizendo que não é só com você que ela está dormindo. As pessoas estão falando que ela está saindo da cidade para encontrar outro cara. Então, se ela aparecer grávida desta vez, quem pode garantir que você é o pai? Nathan se sentiu como se tivesse levado um soco no peito. Por um deplorável momento, ele permitiu que aquelas palavras adentrassem sua mente, seu coração. Contudo, não permaneceram lá, pois não
eram verdadeiras, e ele sabia disso. Amanda não era uma traidora, não era uma mentirosa. Ele cerrou os punhos e deu um passo na direção de um de seus melhores amigos. Chance levantou as duas mãos e recuou. – Ei, eu não disse que acreditava nessas coisas. – Então, por que está me contando? Ele passou a mão pelo cabelo. – Eu não queria contar, mas, se você quer ter uma vida com Amanda, é melhor descobrir quem está espalhando todo esse veneno e acabar com isso. Chance tinha razão. Anos antes, alguém espalhara mentiras sobre Amanda abortando a gravidez. Agora, ele já conseguia enxergar aquela imensa mentira. Amanda jamais faria algo assim. – Com relação a isso, concordamos plenamente – resmungou Nathan soturnamente. – Vou descobrir quem é. E, quando isso acontecer… DOIS DIAS depois, o restaurante estava lotado, e Amanda ainda estava perplexa por ter percebido que estava apaixonada. Além disso, seu nível de tensão estava nas alturas por estar escondendo seus sentimentos de Nathan. E também havia a situação com Pam. Ela lançou um olhar sorrateiro para sua irmã, que recebia o pagamento de um cliente no caixa. As coisas ainda estavam tensas, mas não haviam discutido novamente. – Tudo bem? Amanda se virou e forçou um sorriso para Alex Santiago. Ela encheu a caneca de café dele. – Tudo ótimo – mentiu ela. Ele a observou por um instante. – Estou vendo. – E você, Alex? – Agora que ela o estava olhando, Amanda percebeu que ele não estava com um de seus sorrisos de um milhão de dólares. Seus olhos pareciam fundos, como se ele não estivesse dormindo muito. – Tudo bem com você? – Sim. Só… Você sabe. Às vezes, temos muito no que pensar. – Entendo completamente. – Acho que sim – disse ele, tomando um gole do café. – Não se preocupe comigo, Amanda. Tudo vai ficar bem. Ela teria dito algo, tentado fazê-lo se abrir um pouco, ao menos para apagar a preocupação em seus olhos, mas alguém gritou: – Amanda, querida, quanto tempo vai levar para o meu hambúrguer ficar pronto? – John Davis bateu com a mão em seu largo peito e grunhiu. – Estou morrendo de fome, querida. Alex riu. – Vá. Alimente o homem antes que ele morra. Amanda revirou os olhos e tocou a mão de Alex. – Vou fazer isso. Mas, se precisar de alguma coisa, é só falar. Ele cobriu a mão dela com a dele por um instante. – Você tem um coração bondoso. Amanda foi pegar o almoço de John e o entregou, sem parar de pensar em Alex. Porém, quando ela retornou ao balcão, ele já se fora. Seu café ainda fumegava, e havia uma nota de cinco dólares ao lado
dele. Ela franziu o cenho e olhou pela janela da frente a tempo de ver Alex descendo a rua às pressas. ALGUNS DIAS depois, Nathan atendeu o telefone no escritório do xerife e sorriu. – Alex. O que foi? – Nada de mais – disse o amigo dele. – Você vai à reunião do Clube hoje à noite? – Vou – falou Nathan, suspirando cansadamente. – Com Beau Hacket ainda criando confusão por causa da creche, achei melhor ir para mantê-lo sob controle. – Isso é bom. Depois da reunião, quero falar com você. Em particular. Nathan franziu o cenho. Havia algo estranho no tom de seu amigo. – Está tudo bem? – Sim – respondeu Alex rapidamente. – Perfeitamente. Só quero conversar com você. – Certo, claro. Podemos jantar depois. – Seria ótimo – disse Alex, já com alívio em suas palavras. – Vejo você depois, então. – Certo. – Nathan desligou, mas sua mente estava cheia de dúvidas. NAQUELA NOITE, na reunião, Nathan só queria ir embora. Sua atenção não estava ali. Ele preferia estar com Amanda. O que acontecera com ele? Ele riu de si mesmo. Algumas semanas antes, quem teria imaginado que ele se sentiria totalmente… domesticado? Ele não sabia ao certo o que havia entre eles, mas tinha certeza de que não queria que terminasse. Seria amor? Ele se imaginara apaixonado por ela sete anos antes, mas o que ele sentia agora era diferente. Maior. Nathan olhou pela sala de reunião, mas não fez contato visual com ninguém. Estavam todos ocupados, conversando, mas Nathan não estava com humor para isso. Droga, ultimamente, ele não vinha ficando com humor para muitas coisas. Não até que conseguisse descobrir quem estava por trás dos boatos criados para prejudicar Amanda. Agora, também havia a questão de quem estava importunando Alex. Ele olhou para a cadeira vazia a seu lado e se perguntou novamente onde estaria seu amigo. Alex não aparecera para a reunião, que já estava quase terminando. Por ora, porém, Nathan permitiu que seus pensamentos em Alex ficassem em segundo plano para a situação com Amanda. Pelo canto do olho, ele observou os rostos conhecidos à sua volta e se perguntou se poderia ter sido algum deles. Se um de seus “amigos” sabotara o relacionamento dele com Amanda tantos anos atrás e, agora, estaria tentando fazer o mesmo. Mas o que alguém teria a ganhar disseminando mentiras? Ninguém deixaria de comer no restaurante. Nem de falar com Amanda. Então, de que adiantava? Ele saberia assim que encontrasse o desgraçado. Vozes exaltadas chamaram a atenção dele, e Nathan voltou seus pensamentos para o presente. Assim como em todas as outras reuniões semanais, as mesmas pessoas estavam reunidas, tendo as mesmas discussões. Beau e seu grupo ainda estavam reclamando da nova creche, e Abby Price parecia bastante satisfeita por poder mandar todos para o inferno. Ninguém podia culpá-la, pensou Nathan. Ela lutara muito para fazer parte do clube. Devia ser gratificante poder garantir que não apenas mais mulheres fossem bem-recebidas ali, mas também seus filhos. Por que Beau não conseguia aceitar? Já estava tudo decidido.
Ele encontrou o olhar de Chance do outro lado da mesa, e os dois sorriram um para o outro. – Estou dizendo, é uma desgraça – gaguejava Beau. – Colocar um clube de babás dentro da sala de sinuca? Nossos fundadores devem estar se revirando no túmulo. Algumas vozes exaltadas gritaram em uníssono com Beau, e o homenzinho parecia ficar maior toda vez que alguém passava a apoiá-lo. Então, antes que ele perdesse completamente a compostura, Nathan se pronunciou. – Ninguém nem joga mais sinuca, Beau. – O velho estava quase roxo de fúria frustrada, mas Nathan não se impressionou. Ele sabia que tudo que Beau fazia era falar. – Quando foi a última vez que você jogou? – A questão não é essa, Nathan Battle. Seu próprio pai ficaria decepcionado se visse você do lado dessas mulheres. Chance conteve uma risada, e Nathan sentiu todos os olhos voltados para si ao dizer: – A questão é exatamente essa, Beau. Meu pai teria sido o primeiro a demolir aquela mesa de sinuca velha e mofada. E teria feito você passar vergonha, obrigando a nos ajudar a remodelar a sala para as crianças. A cor de Beau ficou ainda pior. Contudo, ele conseguiu conter suas palavras, e Nathan achou que devia ser melhor assim. – Agora, por que não encerramos esta reunião para podermos ir para casa? – Nathan olhou para Gil Addison, que lhe deu uma piscadela, assentindo antes de bater o martelo. – Reunião encerrada – anunciou Gil. – Vejo todos vocês na semana que vem. Beau foi o primeiro a sair do recinto. Depois de sua partida, a conversa aumentou enquanto as pessoas rumavam para a saída. – Belo discurso – gritou Abby, acenando para Nathan. Ele sorriu, assentiu e se virou para Chance, que se aproximava. – Você rechaçou Beau muito bem – falou Chance. – Não foi difícil. Aquele homem é da idade da pedra. Não sei como a esposa dele, Barbara, aguenta. – Ele deve ter seu lado bom. – Acho que sim – refletiu Nathan, seu olhar percorrendo os membros do Clube, ainda procurando Alex, esperando que ele chegasse atrasado. Mas ele não apareceu. Um pequeno desconforto atingiu Nathan. Ele estava com um mau pressentimento. Não era do feitio de Alex faltar a um compromisso. Desde que ele chegara a Royal, pouco tempo atrás, o homem se mostrara impecável com relação à sua agenda. Sendo assim, se ele queria se encontrar com Nathan, onde ele estava? – Você viu Alex? – perguntou Nathan subitamente. – Já faz um ou dois dias. Eu o vi no restaurante, falando com Amanda. As pessoas ficavam ocupadas, disse Nate a si mesmo. Talvez um imprevisto tivesse surgido. Contudo, ele fizera questão de marcar um encontro em particular com Nathan. Sendo assim, se ele não iria aparecer, por que não telefonara para cancelar? Aquele mau pressentimento estava piorando. Nathan sabia que um policial precisava confiar em seus instintos acima de tudo. – Ele não costuma deixar de vir à reunião. – Sabe – falou Chance, olhando pela sala –, agora que você falou, eu também estava me perguntando onde ele podia estar. – É o que estou dizendo.
Chance deu de ombros. – Talvez esteja com alguma mulher. Ou talvez simplesmente não esteja com humor para lidar com Beau. Eu não estava. – Sim, mas você veio mesmo assim. Alex também viria. – Especialmente pelo fato de que ele queria conversar a sós com Nathan. – Então, onde ele está? – Essa é a dúvida. Vou até a casa dele para ver o que consigo descobrir. – Tenho outra dúvida para você. – Chance enfiou as mãos nos bolsos de sua calça social e foi na direção da porta com Nathan a acompanhá-lo. – Descobriu algo sobre o nosso fofoqueiro? – Não. Ainda não. – Ele vinha fazendo perguntas discretas por toda a cidade. Tentando desenterrar informações sem que as pessoas soubessem o que ele estava fazendo. A maioria ficava com vergonha de falar com ele sobre os boatos, mas todos negavam saber quem dera início a eles. Era sempre: “Fiquei sabendo de fulano de tal, que ouviu de não-me-lembro-quem.” Parecia não haver um ponto de partida. Mas havia. E Nathan o descobriria. – MUITAS COISAS estranhas acontecendo de uma vez – resmungou Nathan na manhã seguinte. – Alex desapareceu, e, agora, essa situação no restaurante. Não parece que existe alguma ligação entre as duas coisas, mas é bem esquisito. – Nem me fale. – O estômago de Amanda se contorceu de nervosismo. – Quando voltei da sua casa, subi para o meu apartamento pela escada dos fundos e tomei um banho. Desci para abrir o restaurante e encontrei isso. Então, fui ao seu escritório chamar você. – Você fez o certo – disse Nathan ao passar por ela na porta. – Fique aqui fora. Vou entrar e dar uma olhada nas coisas. – De jeito nenhum – disse ela, entrando no restaurante logo atrás dele. – Este é meu lugar, Nathan. Não vou esperar lá fora. Soturnamente, ele a olhou, resmungou algo que Amanda não chegou a ouvir e falou: – Certo. Ao menos fique atrás de mim e não toque em nada. Eles entraram pela porta dos fundos diretamente na cozinha do restaurante. Amanda olhou à volta e continuou sem acreditar no que estava vendo. A grelha estava destruída, como se tivesse sido golpeada com um martelo. Havia farinha por toda a parte. Jarros de temperos estavam estilhaçados no chão. Pratos estavam quebrados, gavetas, puxadas para fora e viradas. A cozinha estava um desastre. – Alguém fez a festa aqui – murmurou Nathan, mais para si mesmo do que para ela. – Se eu tivesse estado no meu apartamento ontem, teria ouvido. Droga. – A raiva a atingiu. – Sim – disse ele, pensativo. – Não é engraçado que a pessoa que fez isso tenha esperado você passar a noite comigo no rancho para causar todo esse estrago? Ela absorveu aquele pensamento imediatamente. Por que não pensara nisso? – Então, quem sabia que eu tinha ido ao rancho ontem? – Assim que Amanda fez a pergunta, ela suspirou de desgosto. – Provavelmente, metade da cidade. Todos me viram saindo com você ontem à noite.
– Sim – disse ele, levantando o queixo dela para olhar em seus olhos. – Mas poucos sabiam que você dormiria lá. Amanda pensou naquilo por um instante, percebeu que ele tinha razão e tentou fazer uma listagem mental de que soubera que ela passaria a noite no rancho. – Pam, claro. E Piper. Eu contei a ela. E Terri. – Ela balançou a cabeça. – Elas podem ter contado a outras pessoas, acho, mas simplesmente não consigo pensar em ninguém que pudesse fazer isso. – Vamos descobrir. – Ele olhou para a destruição. – Vou pedir para coletarem impressões digitais na cozinha, mas entram e saem tantas pessoas deste restaurante todos os dias que não sei se vamos descobrir algo. – Não. Provavelmente, não. Quando entrei e vi isso, fiquei assustada. Mas agora só estou irritada. Isso vai deixar o restaurante fechado durante dias. – Talvez não seja tão ruim assim – disse ele. – Mas você vai precisar de uma grelha nova. Amanda suspirou. Então, tentou enxergar o lado bom. – Bem, essa grelha é mais velha que eu. Então, talvez precisássemos de uma nova mesmo. Depois que você coletar as impressões, vou chamar Pam para limparmos essa bagunça. Nathan sorriu, balançou a cabeça e a puxou para um abraço. – Você é mesmo uma figura, Amanda Altman. – Obrigada, Xerife – disse ela, sorrindo. Então, ficou séria. – Isto aqui está bem feio, mas sei que você está preocupado com Alex. Encontrá-lo também é importante. – Nem sei por que estou preocupado – admitiu ele. – O homem pode estar resolvendo assuntos dos quais nós nem sabemos. – Verdade. Mas você mesmo disse que ele queria conversar com você sobre alguma coisa. Ele não teria ligado para avisar que não poderia ir? – Sim – disse ele, franzindo o cenho. – Teria. Você não conseguiu pensar em mais nada do que ele falou com você quando veio ao restaurante no outro dia? – Não. Desde que você me perguntou ontem à noite, venho pensando nisso, mas não tem nada. – Dando de ombros, ela acrescentou: – Ele parecia distraído. Preocupado com algo, talvez. Mas não disse nada de específico. Nathan suspirou e balançou a cabeça. – Muito estranho. Tudo isso. – Eu sei. – Amanda o abraçou com força, soltando-o em seguida. – Tenho muito trabalho a fazer aqui, Xerife. Então, vou começar a trabalhar. Vá encontrar Alex e prender um bandido por mim.
CAPÍTULO 10
NATHAN PASSOU alguns frustrantes dias tentando encontrar respostas para suas perguntas. Ele não conseguia encontrar Alex Santiago e não fazia ideia de quem vandalizara a cozinha do restaurante. A frustração o corroía. Aquele mau pressentimento com relação a Alex estava se intensificando. E, quanto a Amanda… Aquilo era pessoal. Alguém estava tentando prejudicá-la, e ele não permitiria isso. Amanda era dele, e ninguém se meteria com ela. Claro, ele ainda não contara a Amanda como seriam as coisas entre eles. Agora que ele decidira que ficariam juntos, Nathan não queria apressar as coisas. Queria continuar a seduzi-la com sexo, acostumála à ideia de tê-lo de volta em sua vida antes de dizer a ela que estava na hora de se casarem. A última vez em que ele pedira a mão dela em casamento fora por causa do bebê, e nada terminara bem. Ele sentia vergonha ao se recordar disso e estava disposto a admitir que lidara muito mal com aquela situação anos antes. Desta vez, tudo seria diferente. Amanda era uma mulher e tanto, mas ela era durona e, provavelmente, resistiria àquela ideia de casamento se ele não cuidasse de tudo do jeito certo. Não que Nathan fosse se importar se ela resistisse. No final das contas, ele a teria para si. Tudo seria mais fácil se ele não se esquecesse de ser paciente. Contudo, ele não seria paciente em sua busca por quem estava por trás daquela confusão no restaurante. Pois ele sabia que essa mesma pessoa também seria a responsável pelos boatos. Era altamente improvável que duas pessoas diferentes estivessem assediando Amanda ao mesmo tempo. Quando o telefone tocou, ele atendeu. – Escritório do xerife. – Oi. – Chance. – Nathan endireitou o corpo, pegou uma caneta e deslizou um bloco de notas para diante de si, caso precisasse fazer anotações. – Ficou sabendo de algo? – Nada. – Chance parecia desgostoso. – Falei com todo o mundo em quem consegui pensar. Ninguém viu Alex.
– Droga. – Ele se recostou na cadeira e jogou a caneta em cima da mesa. – Falei com Mia Hughes ontem, a governanta de Alex. Ela não o vê há dias. Disse que ele nunca está em casa. – Onde ele está, então? – Não sei, Chance. É como se ele tivesse desaparecido do mundo. – Admito que estou ficando preocupado, Nate. Alex não costuma fazer isso. Nathan também estava preocupado. Simplesmente não parecia normal que ninguém em Royal tivesse visto ou tido notícias de Alex. E por que ele sairia da cidade sem nem ao menos dizer a Mia? Sem dúvida, havia algo de errado ali. Geralmente, numa cidade como Royal, os “crimes” que ele resolvia costumam ser adolescentes se envolvendo em encrencas, ou a ocasional batalha entre vizinhos. Agora, ele tinha em suas mãos um desaparecimento e uma invasão. – Alguma novidade sobre o que aconteceu no restaurante? – perguntou Chance. – Não. – Nathan nunca se sentira tão impotente e não estava gostando disso. Ele não conseguia encontrar seu amigo e ainda não descobrira quem estava por trás do vandalismo no restaurante de Amanda. Contudo, ele tinha ao menos uma suspeita com relação ao último caso. Não fazia muito sentido para ele, mas ele investigaria mesmo assim. E, se ele tivesse razão… isso ajudaria a provar a Amanda que ela podia confiar nele, apesar dos erros do passado. – O que há com Royal neste verão, cara? – Quem me dera saber – respondeu Nathan. A VANTAGEM de terem destruído o restaurante, pensou Amanda, era o fato de que ela teria mais tempo com Nathan. Ele não quisera deixá-la sozinha no apartamento acima do restaurante antes de descobrir quem causara aquele estrago. Por isso, ela estava na casa que ele construíra para si no Battlelands. Normalmente, ela teria resistido à atitude mandona dele, mas Amanda também não quisera ficar lá. Por mais que ela gostasse do pequeno apartamento, ela jamais se sentiria segura lá novamente. A casa de Nathan, por melhor que fosse, era algo temporário, e ela sabia disso. A única saída seria encontrar um lugar só dela. – Acho que está na hora de procurar aquela casa – disse ela. – Você já tem uma casa – falou Terri firmemente. – Bem aqui. – Esta é de Nathan – falou Amanda, balançando a cabeça e tomando um gole de chá. – Estar aqui com ele é maravilhoso, mas não é permanente. – Não sei qual de vocês tem a cabeça mais dura. – Terri suspirou e mudou de assunto. – Afinal, como vai o restaurante? – Vamos poder abrir de novo na segunda. Compramos uma grelha nova, e Pam está me ajudando a limpar tudo e repor o estoque da cozinha. – Que milagre. Pam não me parece ser tão prestativa assim. Amanda não conseguiu evitar rir. Ela também ficara surpresa com a ajuda de sua irmã. – Foi algo bom que veio disso tudo. Pam mudou tanto nesta última semana, tem estado tão boazinha que quase me dá medo. – E só foi necessária a destruição do restaurante.
– Seja lá o que tenha causado a mudança, estou feliz por ela. – Amanda nunca quisera estar em guerra com sua irmã. Ao longo da semana, haviam trabalhado juntas na cozinha, arrumando tudo. Não que ela e Pam tivessem se tornado melhores amigas da noite para o dia… mas já era um começo. Terri colocou uma sacola de papel sobre a mesa da cozinha e a empurrou na direção de Amanda. – Comprei o que você pediu. O estômago de Amanda se revirou quando ela pegou a sacola. Ela inspirou fundo e expirou novamente. – Obrigada, Terri. Se eu mesma tivesse ido comprar em uma loja aqui perto, todos da cidade teriam ficado sabendo até o fim do dia. – Amanda… – Lembre-se, você prometeu. Nem uma palavra. Nem para Jake. Terri levantou a mão. – Eu juro. Mas você é louca, sabia? Devia contar a Nathan. – Vou contar. Se tiver algo para contar. – Teimosa. Certo, faça do seu jeito. – Uau, obrigada por isso também – disse Amanda com um sorriso. – Certo. Já vou. Mas, se precisar de mim, é só ligar. Vou levar exatos dez segundos para vir andando da casa principal até aqui. – Estou bem, Terri. Mas obrigada. – Não há de quê. E espero mesmo que vocês resolvam tudo. Seria bom ter você permanentemente aqui no rancho. Quando a porta da cozinha se fechou após a partida da amiga dela, Amanda pegou seu chá e a pequena sacola de papel e saiu do recinto. Seu olhar percorreu a casa de Nathan e, em sua mente, ela acrescentou instintivamente almofadas, cores, vasos cheios de flores de verão… Terri tinha razão a respeito de uma coisa: Amanda não queria comprar outra casa. Queria morar ali. Com Nathan. Entretanto, sem amor, ela não poderia fazer isso. O nervosismo a atingiu, e Amanda engoliu em seco para se acalmar. Ela estava ali naquela casa com Nathan havia quase uma semana, e isso estava ficando confortável demais. Estar ali com ele, tomar café e jantar com ele, acordar em seus braços… tudo parecia certo. Como devia ter sido sete anos antes. Porém, nenhuma promessa fora feita. Não houvera conversas sobre um futuro. Ele não falara em amor. O coração de Amanda se contorceu quando ela se lembrou disso. Ela não podia se permitir entrar num relacionamento fadado ao fracasso com Nathan. E quanto mais tempo ela ficasse ali com ele, mais difícil seria ir embora. Especialmente agora. Ela parou diante de uma janela com vista para o quintal da casa principal. Os filhos de Jake e Terri estavam no trepa-trepa que Nathan e Jake haviam construído. Os gritos e risadas atravessavam o ar da manhã, e Amanda sorriu melancolicamente. Se as coisas tivessem sido diferentes, o filho dela estaria lá fora com eles. O filho dela. Inspirando fundo, ela se virou e foi para a escadaria. Ela levou sua xícara de chá para o quarto principal. Nathan estava na cidade, no escritório do xerife. Ele ainda ficaria lá durante horas. Por isso, não havia momento melhor para descobrir a resposta de uma pergunta que a vinha importunando fazia uma semana.
PAM ESTAVA com uma aparência horrível. Foi a primeira coisa que Nathan percebeu quando ela abriu a porta da casa para ele. E isso deu a Nathan a resposta que ele vinha buscando. Em meio a seus deveres de sempre e a busca não oficial por Alex, Nathan vinha investigando o ato de vandalismo no restaurante. Ele passara horas pensando naquilo, procurando testemunhas, qualquer coisa que o ajudasse a entender quem estava por trás dos problemas de Amanda. E o nome que não parava de lhe ocorrer era o de Pam. Ninguém mais na cidade tinha problemas com Amanda. Contudo, a irmã dela não escondia o fato de que se ressentia da presença de Amanda, embora o retorno dela a Royal tivesse sido a pedido de Pam. Por isso, ele estava seguindo seus instintos. Ele fora até a casa de Pam para conversar com ela sobre aquilo, talvez conseguir uma confissão dela. Agora, ao olhar nos olhos dela, Nathan soube que tinha razão. – Nathan. – Precisamos conversar. – Nathan passou por ela e entrou na casa escura. As cortinas estavam fechadas, como se ela estivesse se escondendo. Ele parou na sala de estar. Em seguida, tirou o chapéu e se virou para a mulher que o seguia. Abruptamente, lágrimas encheram os olhos dela, escorrendo por suas faces. – Nathan… – Você está aqui no escuro – ressaltou ele –, com uma aparência terrível, e acho que tem um motivo para isso. Sabe, vim aqui seguindo um palpite meu – disse ele, a voz rígida. – A única pessoa na cidade que tem algum problema com Amanda é você, Pam. Ninguém mais teria acesso ao restaurante sem quebrar uma janela ou algo assim para entrar. – Esse fato o incomodara desde o início. A tranca da porta não fora arrombada. Sendo assim, ou ele estava procurando por um vândalo muito habilidoso ou… – Mas você tem a chave. Você foi até lá em plena madrugada, abriu a porta e destruiu a cozinha, não foi? – Juro que não fui até lá com a intenção de destruir tudo – murmurou ela, envolvendo o próprio corpo com os braços, como se buscasse conforto. – Fui pegar uma garrafa de vinho na geladeira. Então, eu me vi lá, sozinha, e comecei a pensar em você. E Amanda. E quanto mais eu pensava, mais irritada ficava. Quando dei por mim… A postura dele não se abrandou. – Por quê? Por que você faria isso com a sua irmã? Com o seu próprio restaurante? Ela descruzou os braços e enxugou as lágrimas antes de inspirar fundo e dizer: – Passei tanto tempo com raiva… – Com raiva de quê? – exigiu saber ele, seu olhar fixo nela, como se a estivesse enxergando com clareza pela primeira vez. Ela estava deplorável, seus olhos brilhavam com as lágrimas, seus dentes mordiam o lábio inferior, seus ombros estavam encolhidos. – De você – admitiu ela por fim, olhando-o fixamente. – Do que você está falando? Ela riu rispidamente. – Deus, como sou idiota! Olhe só. Você não faz ideia. – Pam – rosnou Nathan –, minha paciência já está no limite. Tive uma semana ruim e não estou com humor para brincadeiras. Então, diga o que tem a dizer.
– Certo. Por que não concluir logo essa humilhação? – Ela levantou as mãos e bateu com elas nos lados de seu corpo. Balançando a cabeça, ela falou de uma vez: – Sempre fui louca por você, Nathan, mas você nunca olhou para mim. Nunca me enxergou. – Pam… – Nathan a viu fazer uma expressão de dor. Ela balançou a cabeça e levantou a mão para mantê-lo em silêncio. – Por favor, não diga nada. Já é ruim o suficiente ter de dizer isso, ter desperdiçado anos louca por você sem ter nenhuma chance. – Ela bufou. – Para você, Amanda sempre foi a única, não é? – Sim. – Ele não estava com pena dela. Pam causara muitos problemas. Nathan só se sentia mal por nunca ter percebido que os sentimentos dela por ele haviam se tornado uma obsessão. Isso fora culpa dele. Se ele tivesse prestado atenção, teria poupado todos de muita tristeza. Ele continuou seguindo seus instintos. – E os boatos falando mal de Amanda? Os de sete anos atrás e os de agora? Foi você também? Ela inspirou fundo e fez uma expressão de dor. – Sim. Fui eu. – Pam se virou de costas para ele, como se não aguentasse encará-lo. – Deus, isso é um pesadelo. Nem mesmo acredito no que fiz. – Pam… – Ele balançou a cabeça. Era difícil acreditar que aquela mulher, sozinha, causara tanto estrago. Tudo por causa de inveja e ciúme. – Você espalhou aquelas mentiras sobre Amanda, dizendo que ela tinha abortado nosso bebê… e achou que isso me faria gostar de você? A voz dela se transformou num sussurro. Porém, no silêncio, Nathan ouviu cada palavra. – Eu não achei que você fosse descobrir. – E a cozinha do restaurante? Por que aquilo? – Deus… Eu estava no restaurante, sozinha. Amanda ia passar a noite no rancho. Com você. Juro que não foi minha intenção fazer tudo aquilo. Mas peguei uma frigideira de ferro e comecei a bater com ela na grelha. Eu estava com tanta raiva, tão… Não importa. Foi como se tivesse enlouquecido durante alguns minutos. Fiquei tão furiosa com ela por ter voltado para casa. – Ela o olhou novamente. – Por ter tirado você de mim. Simplesmente perdi a cabeça. Ele não estava nem um pouco abalado pela confissão dela. Tudo que Nathan conseguia pensar era que, por causa de Pam, ele e Amanda haviam perdido sete anos que poderiam ter passado juntos. – Ela não tinha como ter me tirado de você, porque nunca estive com você. Ela desabou numa cadeira, envolveu o próprio corpo com os braços e o balançou. – Eu sei. E sinto muito. Sinto de verdade. Por tudo. Desperdicei tanto tempo. Mas, Nathan… – Não, não existe desculpa para nada disso, Pam. E, se Amanda quiser dar queixa de você, vou jogar você numa cela imediatamente. O estômago de Pam se revirou. – Vai contar a ela? – Não – disse ele. – Mas você vai. – Oh, Deus… – Amanda vai se casar comigo assim que conseguir dizer a ela como quero que as coisas sejam. E não quero ser eu a dar a ela a notícia de que ela foi traída pela própria família. Pam fez uma expressão de dor ao ouvir aquilo, mas Nathan não se importou. – Certo – disse ela. – Eu conto a ela. – Faça isso logo. – Ele saiu irritadamente da casa, batendo a porta.
Sete anos desperdiçados. Mas não fora tudo por culpa de Pam, e Nathan sabia disso. Por mais que ele quisesse esquecer, Nathan precisava admitir que, se tivesse confiado mais em Amanda e sido mais corajoso, jamais teria acreditado naqueles boatos. Mas ele fora jovem e burro o suficiente para permitir que mentiras tirassem sua vida do caminho certo. Isso não aconteceria mais. NATHAN AINDA estava tentando conter a raiva que Pam despertara nele quando estacionou diante de sua casa. Sem humor para falar com Jake, ele ficou feliz por ter chegado tarde o suficiente para que seu irmão e a família já estivessem jantando. Ele saiu do carro, bateu a porta e parou um instante para se acalmar antes de entrar para ver Amanda. Como ele dissera a Pam, não queria ser a pessoa a contar a ela que sua própria irmã estava por trás de todo o assédio. E, se ele entrasse em casa furioso, ela arrancaria essa informação dele. Era difícil acreditar que Pam fora responsável pelo vandalismo. E também quem dera início a todos aqueles horríveis boatos. Mas ao menos ele solucionara um mistério. O sumiço de Alex ainda o corroía. Ele estava dando telefonemas, falando com pessoas e, até então, não conseguira nada. Como amigo de Alex, Nathan estava preocupado. Como policial, estava frustrado. Ele olhou para sua casa e, apesar de tudo, sentiu a tensão se aliviar. As luzes estavam acesas, e, subitamente, Nathan se deu conta de que gostava de voltar e encontrar a casa daquele jeito. Antes, ele sempre saíra do trabalho para encontrar uma casa vazia. Contudo, na última semana, Amanda estivera ali, entranhando-se em cada canto daquela casa… e também do coração de Nathan. Se ela o abandonasse agora… uma possibilidade que ele não podia permitir… Nathan continuaria a vê-la em toda a sua casa. Ouviria a risada dela, sentiria seu cheiro em cada brisa, esticaria o braço para tentar encontrá-la na cama. Mesmo depois do dia duro que ele tivera, Nathan sorriu ao ver os vasos com flores coloridas que Amanda pusera na varanda no dia anterior. Ele sentiu um aperto no peito ao se recordar dela caminhando pela varanda, que contornava toda a casa, falando consigo mesma a respeito de balanços, conjuntos de cadeiras e mesas e como seria bom se sentar ali numa noite de verão para ver a lua atravessar o céu. Ele queria isso. Com ela. Queria voltar e encontrar uma casa iluminada e, lá dentro, a mulher que ele amava. Sim, ele a amava. Não contara isso a ela, claro, pois o passado deles ainda estava entre os dois, e ele sabia que, embora ela não admitisse isso, Amanda ainda não confiava plenamente nele novamente. Ele não podia culpá-la. Droga, só de pensar no que acontecera entre eles anos antes, em como o relacionamento terminara, Nathan sentia vontade de dar uma surra em si mesmo. Porém, ele daria todo o resto a ela. Seu sobrenome. Sua casa. Seus filhos. E, um dia, ele confessaria seu amor, e ela acreditaria nele, acreditaria que ele não a magoaria novamente. Ele precisava tê-la consigo. Droga, ele já não conseguia mais respirar dentro daquela casa sem absorver a essência dela para sua alma. As coisas sempre haviam sido assim entre eles. Sete anos antes, ele simplesmente fora jovem demais para dar valor ao que tinha. Agora, ele consertaria tudo. Segurando o chapéu na mão, ele foi na direção da varanda. Hora de resolver aquilo. Ele entraria ali e diria a Amanda que iriam se casar. Amanda era uma mulher que usava a lógica. Imediatamente, ela perceberia que esse era o melhor plano. Eles fariam um casamento pequeno, ali mesmo, no rancho. Nathan subiu os degraus de dois em dois, sorrindo.
A porta da casa se abriu no instante em que ele chegou a ela, e Amanda estava parada ali, olhando-o com olhos arregalados e maravilhados. – Amanda? – Ele parou imediatamente. – Você está bem? – Estou grávida.
CAPÍTULO 11
CERTO, PENSOU Amanda, ela planejara tudo aquilo muito melhor em sua mente. Não fora sua intenção simplesmente disparar a informação daquele jeito. Por outro lado, mesmo se ela tivesse esperado dez minutos para contar a ele, o resultado teria sido o mesmo. Ela o olhou, esperando a reação dele durante o que pareceu uma eternidade. Ele ficaria tão feliz quanto ela estava? Ficaria chateado? Diga algo! Ele passou a mão pelo rosto. – Você está o quê? – Grávida. – A sensação de dizer aquilo era tão boa! Parecia que havia borbulhas de champanhe percorrendo todo o corpo dela, deixando-a alegre. – Tem certeza? – Absoluta. – Ela soltou uma pequena risada, como passara a tarde inteira fazendo desde que fizera aquele maravilhoso teste que Terri comprara para ela. – Ao menos foi o que o teste disse. Ele balançou a cabeça. – Como? – Sério?! Ele riu. – Não foi isso que eu quis dizer. Nós usamos preservativos. – Nem sempre funcionam, sabia? – Ela parou, acrescentando em seguida: – Sete anos atrás, também não funcionaram. – Eu me lembro. – Ele passou o dedo pelo rosto dela. Lembranças os envolviam, deixando o ar pesado com os fantasmas de sonhos estilhaçados e promessas não cumpridas. Eles haviam feito um pacto para deixar o passado para trás, mas ele podia mesmo ser esquecido? As pessoas não deviam aprender com o passado, não descartá-lo? Bem, Amanda fizera isso. Ela suportara a dor, construíra uma vida, crescera e mudara. Entretanto, os sonhos de seu coração continuavam vivos. Nathan. Uma família. Ela pegou a mão dele, segurando-a com força. Ela tivera algumas horas para se acostumar à novidade e achava que Nathan também levaria ao menos alguns minutos para fazer o mesmo. Ela queria que ele ficasse feliz com aquilo, mas a verdade era que, mesmo se ele não quisesse o bebê, ela queria.
Sete anos atrás, ela fora jovem, ficara assustada e incerta demais com seu próprio futuro para se sentir capaz de criar um filho sozinha. Agora, porém, ela era uma pessoa diferente. Tinha uma casa. Um emprego. Um lugar naquela cidade. E, se fosse necessário, Amanda criaria perfeitamente aquele bebê sendo uma mãe solteira. Era como se ela tivesse recebido uma segunda chance de realizar todos os sonhos que lhe tinham sido negados anos antes. – Isso é… – Ele a levou para dentro da casa e fechou a porta. Jogando o chapéu sobre a cadeira mais próxima, ele riu novamente. – É ótimo! Alívio e alegria dominaram Amanda numa maré tão forte que ela mal conseguiu respirar. – Você está feliz pelo bebê? – Feliz? – Nathan gargalhou, puxou-a para si e a girou num círculo antes de finalmente colocá-la de pé, abraçando-a. – Amanda, é como se tivéssemos recebido uma segunda chance. – Era exatamente o que eu estava pensando – concordou ela, envolvendo a cintura dele com os braços. Ela apoiou a cabeça no peito de Nathan e ouviu o coração dele, em disparada. – Podemos nos casar aqui no rancho – disse ele. – Na verdade, já estava planejando que nos casássemos mesmo. Ela ficou paralisada. Então, afastou a cabeça para olhá-lo. – Espere. Você estava planejando que nos casássemos? – Sim. Eu ia dizer isso a você hoje à noite. – Ele sorriu. – Mas sua notícia estragou meu plano. – Seu plano. – Uma sensação de frio começou a resfriar a ardente felicidade que ela vinha sentindo. Ele a abraçou com força. – Achei que podíamos nos casar aqui no rancho. – Achou? – O frio aumentou, mas Amanda se manteve firme. Subitamente, o passado pareceu se aproximar demais. Ela estava revivendo tudo. O anúncio dele de que se casariam. O bebê que ela estava esperando. Ela também reviveria os sonhos despedaçados? Nathan franziu o cenho. – Não precisamos fazer a cerimônia aqui no rancho, mas achei que seria mais fácil. Terri vai ajudar você a organizar tudo. Eu ajudo quando puder, mas ainda estou procurando Alex e… Na cabeça dele, estava tudo resolvido. E, a cada palavra que Nathan dizia, o coração de Amanda murchava um pouco mais. A vibração da empolgação e da alegria que ela sentira antes estava sendo rapidamente abafada pela decepção e, sim, pela irritação. Ela não conseguia acreditar. Mas aquilo era tão típico de Nathan que ela devia ter esperado. Sete anos antes, ele fizera a mesma coisa, e ela permitira, pois o quisera tanto que tivera esperanças de que, um dia, ele lhe dissesse que a amava. Agora, porém, ela não se contentaria com menos do que isso. Saindo dos braços dele, ela recuou um passo, cruzou os braços e olhou fixamente para o homem que era dono de seu coração desde que ela era adolescente. Como ela podia estar tão desanimada e tão apaixonada por ele ao mesmo tempo? Devia ser algum tipo de pegadinha do destino que o único homem capaz de deixá-la irritada daquele jeito fosse justamente o único que ela desejara em toda a sua vida. – Quer dizer que você já tinha decidido tudo? – perguntou Amanda, a voz leve e fria. – Não tudo – admitiu ele. – Mas, com nós dois pensando juntos, não vamos demorar muito. – Você tem razão com relação a isso – disse Amanda, balançando a cabeça ao olhá-lo. – Não vamos demorar nada, já que não vou me casar com você. – É claro que vamos nos casar.
– Nada mudou, não é? – perguntou ela, não esperando de fato uma resposta. – Sete anos atrás, você decidiu que íamos nos casar, e aceitei. – Ele abriu a boca para falar, mas Amanda continuou rapidamente. – Mas não sou mais uma adolescente, Nathan. Faço minhas próprias escolhas. Tomo minhas próprias decisões. Não vou deixar você me forçar a aceitar um casamento que você não quer de verdade. – Do que você está falando? – Ele parecia perplexo. – O que estou dizendo é que está acontecendo exatamente como antes. Você está propondo um casamento porque estou grávida. Porque é a coisa certa a se fazer. – Ela se virou abruptamente e se afastou dele, entrando na sala. Ele a seguiu. O imenso cômodo tinha vistas do rancho em cada janela. Do outro lado da estrada particular, a casa principal do rancho estava iluminada, e Amanda sabia que, lá dentro, Terri e sua família estavam aconchegadas e felizes. A inveja cresceu dentro dela, apertando seu coração. Ela também queria aquilo para si. Para seu filho. Mas não cometeria os mesmos erros de sete anos atrás. Não seria um dever. Não seria um problema que Nathan se sentia obrigado a resolver. – É a coisa certa a se fazer porque nosso lugar é um ao lado do outro – falou Nathan. – É mesmo? – Ela já não sabia mais. Sempre acreditara naquilo, mas fora rechaçada antes. Agora, se ela aceitasse o plano de Nathan, ela poderia estar simplesmente fazendo a história se repetir. – Acho que devíamos conversar sobre isso – falou ele. Ela balançou a cabeça sem desviar o olhar do cenário que se estendia além da janela. Sentiria falta daquele lugar, mas, sem dúvida, era hora de partir. Olhando por cima do ombro para ele, Amanda falou: – Acho que não, Nathan. Ele a olhava com total espanto. Amanda quase teve vontade de sorrir ao ver aquilo. Nathan estava tão acostumado que obedecessem a ele que não sabia o que fazer quando alguém simplesmente dizia “não”. Ela inspirou fundo e tentou explicar. – Nathan, sei que isso é só seu instinto. Fazer a coisa certa. A coisa honrada. – E isso é ruim? – Claro que não é – rebateu ela, abrindo um triste sorriso para ele. – Mas não é motivo para nos casarmos. Eu aceitei suas exigências da última vez porque, francamente, eu estava assustada demais para ter um bebê sozinha. Mas mudei, Nathan. E não vou ser só mais um dever para um homem que tem honra demais. Quero ser amada, Nathan. Senão, não vou me casar de jeito nenhum. Ele levantou as mãos. – Mas eu amo você. A dor a dilacerou. Se ele tivesse começado a conversa com aquilo, talvez as coisas estivessem diferentes naquele momento. Porém, ele não falara em amor até sentir uma necessidade absoluta de fazer isso. Sendo assim, como ela podia confiar naquilo? Como podia não acreditar que Nathan usaria todas as armas para vencer? – Queria poder acreditar nisso – disse ela depois de um longo momento. – Queria mesmo. – E por que não pode? É tão impossível assim acreditar? – Sim, é – disse ela, afastando-se ainda mais. Deus, ela não podia ficar ali. Não podia ficar tão perto dele sabendo que não poderia tê-lo. Ela precisava voltar para casa. Voltar ao minúsculo apartamento em cima do restaurante. Ela precisava pensar.
– Amanda – disse ele, aproximando-se, mantendo seu olhar fixo no dela. – Pode acreditar em mim. Eu amo você de verdade. – Não ama, não – falou ela, balançando a cabeça ao recuar na direção da cadeira em que ela deixara sua bolsa. – Você só quer que eu aceite e sabe que é assim que vai conseguir. Não. É um tanto conveniente demais, não acha? Eu digo que não vou me casar sem amor e pronto. De repente, você me ama? Acho que não. – Não é de repente – argumentou ele. – Passei a maior parte da minha vida amando você. Aquilo a fez parar por um instante enquanto as palavras dele ricocheteavam dentro dela, dilacerando seu coração. Ela queria acreditar, queria mesmo, tanto por ela quanto pelo bebê. Mas como poderia? E, se ela arriscasse, confiasse seu coração a ele, e se enganasse… não seria apenas ela quem pagaria o preço. Agora, ela precisava pensar em seu filho. – Se é assim, por que você nunca falou isso antes, Nathan? – perguntou ela com uma voz baixa e triste. – Não sei – murmurou ele, passando a mão pelo próprio cabelo. Amanda pegou sua bolsa e procurou a chave de seu carro. Quando ela a encontrou, segurou-a com força e falou: – Não há mais nada para discutirmos até que você tenha uma resposta para essa pergunta. Agora, vou para casa. – Você está em casa, Amanda. Aquela flecha atingiu diretamente o coração dela. Amanda tivera esperanças de que aquele se tornasse seu lar. Imaginara isso. Mas não podia ter o que queria sem antes ter aquilo de que precisava. Ela precisava ser amada justamente pelo homem que estava diante dela dizendo todas as palavras certas sem o significado certo. – Na realidade, não estou. – Ela balançou a cabeça e passou por ele. Nathan a fez parar colocando a mão no braço dela. – Não vá. Ela olhou para a mão dele e, em seguida, nos olhos de Nathan. – Eu preciso ir. Ele a soltou, e Amanda sentiu a falta do toque dele até em sua alma. Ela precisou de todas as suas forças para sair pela porta e descer os degraus. Antes de chegar ao carro, ela olhou para trás, e Nathan estava ali, à porta aberta, observando-a. – Isso ainda não terminou – disse ele, sua profunda voz sendo trazida pelo quente ar do verão. Amanda sabia perfeitamente bem daquilo. O que ela sentia por Nathan jamais terminaria. – ENFIM… – DISSE Pam no entardecer daquele mesmo dia. – O que estou tentando dizer é que sinto muito. Que dia!, pensou Amanda, olhando para sua irmã, perplexa. Uma gravidez surpresa, um pedido de casamento surpresa e, agora… uma irmã que a odiava o suficiente para tentar destruir sua vida. O coração de Amanda doeu quando ela se deu conta de que Pam fora a responsável pelos boatos que a haviam separado de Nathan tantos anos antes. Porém, dentro de sua mente, uma voz sussurrou que Nathan não devia ter acreditado naqueles boatos. Devia tê-la amado o suficiente para saber que não eram verdadeiros.
– Você sente muito. – Amanda sussurrou as palavras e viu Pam fazer uma expressão de dor. – Por todos os boatos ou pelo restaurante? – As duas coisas. – Pam desabou numa cadeira ao lado do sofá em que Amanda estava encolhida. O apartamento em cima do restaurante estava quente demais, o ar-condicionado não estava funcionando novamente. Amanda tomou um longo gole de seu chá gelado enquanto observava sua irmã. Pam estava com uma aparência péssima. Seus olhos estavam vermelhos e inchados de tanto chorar. Seu cabelo estava bagunçando, e a tristeza emanava dela em ondas. Amanda devia estar furiosa. Devia estar irada com sua irmã por todo o estrago que Pam causara ao longo dos anos. No entanto, a verdade era que o coração de Amanda já estava partido demais para se partir novamente. E a fúria parecia exigir mais energia do que ela tinha no momento. – Deus – disse Pam em voz baixa –, sempre tive tanta inveja de você. – Por quê? – Amanda balançou a cabeça e a olhou fixamente. – Você é minha irmã mais velha, Pam. Sempre tive você como exemplo. Pam fez uma expressão de dor. – E me ressentia de você. Você sempre foi a preferida. De mamãe e papai, dos nossos professores na escola. De Nathan. – Nem sei o que posso dizer – falou Amanda em voz baixa. – Mamãe e papai nos amavam, e você sabe disso. – Claro que amavam, e sou uma idiota por ter me apegado a todas essas besteiras de quando éramos mais novas, por ter deixado que isso me corroesse até eu perder a cabeça. – Pam… – Não precisa dizer nada. A culpa foi toda minha, Mandy – sussurrou Pam, usando inconscientemente o apelido que Amanda não ouvia desde menina. – Fiquei tão deturpada por dentro que não consegui enxergar nada além da minha inveja de você. E, mesmo que você não acredite, sinto muito de verdade. – Acredito em você, sim. – Era engraçado. Ela conseguia aceitar o pedido de desculpas de Pam, mas não conseguia acreditar na declaração de amor de Nathan. Um dia muito estranho mesmo! Pam a olhou. – Acredita?! – Sim. – Cansada, Amanda balançou a cabeça. – Não que eu ache que não há problema no que você fez. E vamos precisar conversar mais sobre isso, pensarmos em como vamos conviver daqui para a frente, mas você continua sendo minha irmã… – Droga, Amanda entendia melhor do que ninguém o que era ser louca por Nathan a ponto de se afogar no mar de emoções. E também o fato de que Amanda precisaria de sua irmã nos próximos meses. Ela era capaz de criar um filho sozinha, mas queria que seu bebê tivesse uma família. Uma tia que o amasse. Pam inspirou fundo e suspirou, aliviada. Seus lábios se curvaram num cansado sorriso que pareceu trêmulo. – Eu não esperava que você me perdoasse tão facilmente. Amanda tentou encontrar um sorriso para retribuir o de Pam, mas não conseguiu. – Eu não disse que seria fácil. Você vai pagar pelos estragos no restaurante. – Fechado – falou Pam. – E – continuou Amanda, já que sua irmã estava em desvantagem no momento – vai assumir novamente o controle da documentação.
Pam assentiu. – Só deixei tudo para você porque você detesta. Eu até que gosto. Sempre fui boa com números. – Eu sei. Eu tinha inveja disso – refletiu Amanda, percebendo que, pela primeira vez em anos, ela e sua irmã estavam tendo uma conversa de verdade. – Talvez você devesse pensar em voltar a estudar. Em se formar em Contabilidade. Pam pensou naquilo por um instante e sorriu. – Talvez eu faça isso. – Ela prendeu o cabelo atrás das orelhas. – Amanda, preciso admitir que você está sendo muito mais bondosa comigo do que mereço. – Sabe – falou Amanda, pensativa –, você tem sorte de ter escolhido o dia de hoje para me contar tudo isso. – Por quê? Amanda franziu o cenho e tamborilou com as unhas no copo em sua mão. – Porque, no momento, estou cansada demais por ter lidado com Nathan para ficar irritada de verdade com você. – Eu sinto muito mesmo, Amanda – falou Pam novamente. – Sei que você e Nathan estavam com dificuldades, e não facilitei. Mas, hoje, ele deixou claro que vocês dois iriam se casar e… Amanda ficou petrificada. – Ele fez o quê? Pam deu de ombros. – Ele disse que você se casaria com ele assim que ele contasse o que estava planejando e… – Ele disse a você que ia se casar comigo antes mesmo de se dar ao trabalho de me contar? – Sim, aparentemente. Uma parte de Amanda estava empolgada por ter ouvido aquilo. Afinal, ele encontrara Pam antes de saber do bebê. Sendo assim, ele planejara pedir a mão dela em casamento de qualquer jeito… isso já era alguma coisa. Mas não mudava o fato de que ele não falara em amor até a situação tê-lo obrigado a fazer isso. – Bem – murmurou ela –, isso não muda nada. Eu já disse a ele que não vou me casar só porque ele resolveu decretar que isso ia acontecer. – Você recusou? – Incrédula, a voz de Pam ficou aguda. – Claro que recusei. Não vou aceitar me casar com ele só porque estou grávida de novo. – Você está grávida?! Amanda envolveu o próprio corpo com os braços, como se estivesse dando um reconfortante abraço em seu bebê. – Estou. E sou capaz de criar meu bebê sozinha. O bebê vai ter uma mãe e uma tia, certo? Sorrindo, Pam respondeu: – Com certeza. Tia Pam. Amanda assentiu. – Consigo fazer isso, e sem Nathan Battle se for necessário. – Se ele deixar – murmurou Pam. – Deixar? – repetiu Amanda, olhando fixamente para sua irmã. – Você disse se ele deixar? Pam levantou as mãos. – Você conhece Nathan. Ele não costuma ouvir a palavra “não”.
– Desta vez, vai ter de ouvir. Vou viver minha vida do meu jeito. Ninguém vai me dizer o que fazer, aonde ir e quem amar. – Ela foi até a janela e olhou para Royal. Estava escuro lá fora, e os postes de luz criavam poças douradas pela rua. No céu, a lua parecia uma gangorra envergada, e as estrelas piscavam para o mundo. E, no Battlelands, o homem que ela amava estava sozinho com seus planos. Amanda esperava que ele estivesse se sentindo tão solitário quanto ela. – QUE BOM que o restaurante está aberto de novo. Já haviam se passado dois dias quando Hank Bristow levantou uma xícara de café e tomou um longo e prazeroso gole. Ele suspirou antes de pegar seu café e rumar na direção de um grupo de amigos seus numa mesa mais afastada. – Fiquei sem saber o que fazer quando vocês fecharam. – Também estamos felizes por termos abertos novamente, Hank – falou Amanda enquanto ele se afastava. Ela olhou de relance para sua irmã. Pam parecia uma pessoa diferente. A antiga amargura se fora, e ela e Amanda tinham passado os últimos dois dias desenvolvendo um tênue relacionamento entre elas. Amanda esperava que, um dia, as duas se tornassem próximas. Isso não aconteceria da noite para o dia, claro, mas ao menos agora existia a chance de que as Altman finalmente tivessem um relacionamento. – Terra para Amanda… Ela se assustou levemente e, rindo, virou-se para olhar para Piper, que estava sentada num banco diante do balcão. – Desculpe. Devaneios da minha mente. – Sem problema. Mas, já que estou morrendo de fome, o que acha de uma rosquinha para combinar com esse excelente café? – Pode deixar. – Era bom ter amigos, pensou Amanda ao abrir a porta do armário de vidro e colocar uma rosquinha num prato. Fora Piper que Amanda procurara depois do abrupto pedido de casamento de Nathan. E fora Piper quem insistira na ideia de que Nathan amava Amanda de fato, que ele simplesmente estava se comportando como um homem e que, às vezes, isso precisava ser relevado. Amanda já não tinha tanta certeza. Ela sentira uma louca falta de Nathan nos últimos dias. Ele não telefonara. Não a procurara. Estaria esperando que ela fosse até ele? Como ela poderia fazer isso? Amanda colocou a rosquinha diante de Piper e sussurrou: – Obrigada de novo por tudo. – Sem problema – falou Piper, tomando um gole do café. – Imagino que você ainda não tenha tido notícias dele. – Não. – Amanda plantou as duas mãos no balcão. – E acho que não vou ter. Nathan é um homem orgulho… talvez orgulhoso demais. E o rejeitei e fui embora. – Sendo assim, talvez você devesse procurá-lo – falou Piper casualmente. – Como posso fazer isso? – Amanda balançou a cabeça. – Dê uma chance a ele, Amanda. Todos na cidade sabem que Nathan é louco por você. Por que você não consegue acreditar? Ela queria acreditar. Mais do que tudo.
PERCORRENDO O balcão, Pam reabasteceu as xícaras de café, conversou com clientes e parou quando chegou a JT no lugar de costume dele. – Mais café? – Obrigado. – Ele a observou em silêncio por um momento. Em seguida, falou: – Parece que você e Amanda resolveram suas diferenças. Ela baixou o vidro de café e olhou para sua irmã. – Estamos chegando lá. Acho que podemos dizer que finalmente crescemos. À volta deles, o restaurante zumbia com as conversas matinais. Por isso, as palavras de JT quase se perderam em meio ao barulho quando ele falou: – Já estava na hora. Pam sorriu. – Verdade. JT, por que você é sempre tão bom comigo? Para responder, ele se levantou e contornou o balcão até o lado dela. Quando se aproximou o suficiente, ele segurou Pam, puxou-a firmemente para si, tomando-a nos braços e a beijando de forma lenta e demorada. Finalmente, ele a colocou novamente de pé e a soltou. – Por isso – disse ele, sorrindo para ela. – Mais alguma pergunta? O restaurante inteiro ficou em silêncio, todos no local concentrados no drama que se desenrolava diante deles. Um segundo se passou, e mais outro. Pam ergueu uma das mãos e passou as pontas dos dedos nos lábios. Em seguida, abriu um largo sorriso. – Só uma pergunta, JT McKenna. Por que você demorou tanto? Os aplausos explodiram no recinto quando Pam se atirou nos braços de JT e o beijou. O RESTO do dia passou rapidamente, com pessoas indo e vindo, a vida em Royal seguindo seu rumo. Amanda fez seu trabalho, sorriu e conversou com seus clientes enquanto tentava vencer o embargo em sua garganta. Ela não parava de pensar em Nathan, e o vazio que ela sentia sem ele criara uma dor no centro de seu peito. JT assumira permanentemente seu lugar na ponta do balcão, e Pam aproveitava todas as oportunidades de passar por ele para lhe dar um beijo. Sendo um homem paciente, JT esperara anos até que Pam finalmente percebesse que ele era o homem certo para ela. Nathan não era paciente, disse Amanda a si mesma. Ele não esperava. Ele forçava. Pressionava. Ordenava e, quando isso não funcionava, simplesmente seguia em frente e fazia o que considerava o certo. Quando esses pensamentos passaram por sua mente, Amanda se deu conta de que ela sempre soubera que Nathan era assim. E ela o amava assim mesmo, apesar de ficar irritada. Sendo assim, como ela poderia culpá-lo por ter feito de tudo para convencê-la a se casar com ele? Suspirando, ela olhou pela janela para a rua principal e perdeu o fôlego ao ver Nathan vindo na direção do restaurante. Bastou olhá-lo uma vez para que seu coração disparasse. Ele estava com o chapéu baixo para se proteger do forte sol, e suas passadas eram longas e determinadas. Amanda quase conseguiu sentir a intensidade que o acompanhava enquanto ele se aproximava, as pessoas saindo instintivamente do caminho dele. Ela lutou para se acalmar e não conseguiu. Seu coração continuou acelerado, um frio atingindo sua barriga pela expectativa.
Ele entrou no restaurante, e seu olhar percorreu o lugar em poucos segundos, finalmente repousando sobre ela, como se tivesse sido atraído por alguma força imutável. Ela sentiu o poder do olhar dele do outro lado do recinto e não conseguiu desviar os olhos daquele olhar castanho-escuro cheio de calor e carregado de emoção. Os diversos clientes do restaurante inspirando fundo de uma só vez. A empolgação pairava no local, as pessoas mudavam de posição para ter uma boa visão do que aconteceria. Amanda não se importou. Não estava pensando em nada além de Nathan e do motivo da ida dele até ali. Se ele tivesse ido ao restaurante apenas para repetir o que já fizera, ela precisaria lhe dizer não e mandá-lo embora, apesar de essa ideia dilacerá-la por dentro. Sim, ele era arrogante, e mandão, e orgulhoso, e ela o amava loucamente. – Amanda – anunciou ele alto o suficiente para que todos ouvissem –, tenho algumas coisas a dizer a você. – Aqui? – perguntou ela. – Na frente de meia cidade? – Aqui e agora – disse ele, e seu olhar penetrou o de Amanda. – Tenho tentado fugir ou me esconder das fofocas e dos boatos há tanto tempo… Acho que está na hora de sermos firmes. – Ele se aproximou um pouco mais dela, e sua voz baixou de volume. – Não me importa o que pensem. O que digam. Deixe que olhem, Amanda. Já chega de nos escondermos. Uma onda de calor a dominou, mas Amanda se flagrou assentindo. Ele tinha razão. Eles tinham se preocupado com boatos. Tinham permitido que horrendas mentiras os separassem sete anos antes. Talvez estivesse na hora de simplesmente serem eles mesmos, sem se preocupar com o que o resto da cidade tinha a dizer a respeito. – Tem razão – concordou ela. – Chega de nos escondermos. Um canto da boca dele se ergueu num breve meio-sorriso, e Amanda viu o orgulho reluzindo nos olhos de Nathan. Por alguns instantes, a terrível tensão dentro do peito dela se abrandou, e Amanda se sentiu como se ela e Nathan fossem uma equipe. Eles dois contra as fofocas. Já perto o suficiente para tocá-la, ele começou a falar. – Pensei muito sobre o que conversamos naquela noite. A voz dele estava baixa e grave e parecia reverberar pela espinha dela. Seus olhos estavam fixos nos de Amanda, e ela não teria conseguido desviar seu olhar nem mesmo se tivesse tentado. Estendendo a mão, ele passou as pontas dos dedos no rosto dela, e Amanda estremeceu, fechando os olhos por um instante para se deleitar com a sensação do toque dele. Quando ela abriu novamente os olhos, ele continuava a observá-la. – Você tinha razão, Amanda – falou ele. – Na noite em que você me contou do bebê, eu disse as palavras que você precisava ouvir para ajudar a convencer você a se casar comigo. Todo o ar pareceu escapar dos pulmões dela de uma só vez. A pressão em seu peito foi dolorosa, e lágrimas se acumularam nos fundos de seus olhos. – Mas… – Ele segurou o rosto dela, obrigando-a a olhar em seus olhos. – Isso não significa que não tenham sido verdadeiras. – Nathan… – Ela balançou a cabeça e tentou desviar o olhar. Ele não permitiu. – Amo você de verdade. Sempre amei. – Ele se curvou e a beijou delicadamente nos lábios, e o sabor de Nathan permaneceu na boca de Amanda. – Talvez aquele momento tenha sido o errado para eu dizer aquilo. – Talvez?
Ele assentiu e sorriu melancolicamente. – Você me pegou desprevenido naquela noite, Amanda, mas eu amo você de verdade, com todas as minhas forças. Se eu não tivesse sido tão jovem e tão arrogante para dizer essas palavras sete anos atrás… talvez as coisas tivessem sido diferentes para nós. Amanda sabia que o restaurante inteiro estava prestando atenção, mas descobriu que não se importava. A única pessoa na qual ela estava interessada no momento era Nathan. – Quero acreditar em você – disse ela. – Quero muito. – Você pode acreditar – falou ele, aproximando-se dela até que cada respiração de Amanda absorvesse o perfume dele. – Fomos feitos para ficarmos juntos, e acho que você sabe disso. Ele pôs a mão no bolso e retirou uma pequena caixa vermelha de joia. O olhar de Amanda se fixou nela no mesmo instante em que seu coração saltou dentro do peito. Quando ela o olhou novamente, Nathan estava sorrindo. – Isto é para você, Amanda. Ela balançou a cabeça quando ele abriu a tampa para mostrar um brilhante topázio cercado de diamantes em um largo anel de ouro. – Esta pedra é quase da cor dos seus olhos – sussurrou ele. – Ao menos eu acho que é. Toda vez que olho nos seus olhos, eu me apaixono novamente. Você é a mulher da minha vida, Amanda. A única mulher. Então, vou perguntar agora. Do jeito certo. Amanda Altman, quer se casar comigo? Ela balançou a cabeça e piscou os olhos para afastar as lágrimas que borravam sua visão. Ele estava lhe oferecendo tudo que ela sempre quisera. Amor. A promessa de um futuro juntos. Tudo que ela precisava fazer era confiar em seu coração e arriscar. Ele desviou o olhar do anel, voltando-o para os olhos de Nathan, e quase chorou novamente ao enxergar nos olhos dele a verdade que ela tanto precisara ver. Ternura, paixão, amor. Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, Nathan continuou. – Quando você foi embora naquela noite, levou meu coração junto – disse ele, seu olhar percorrendo o rosto de Amanda como uma carícia. – Eu não consegui respirar. Não consegui dormir. Não consegui fazer nada a não ser pensar num jeito de levar você de volta para casa, onde é o seu lugar. – Ah, Nathan… – O restaurante, o público deles, o mundo inteiro desapareceu, e tudo que restou foram eles dois. Ela e Nathan, juntos como ela sempre sonhara. – Deixei você ir embora uma vez – disse ele tensamente. – Não sei como consegui viver esses anos sem você, mas sei que não consigo viver o resto da minha vida sem você. As lágrimas dela transbordaram, escorrendo por suas faces. Delicadamente, ele usou o polegar para enxugar as lágrimas, abrindo um triste sorriso para ela. – Sete anos atrás, eu era jovem e burro – falou Nathan –, mas mudei tanto quanto você. Sei que você seria capaz de criar nosso filho sozinha… mas espero que não faça isso. – Ele retirou o anel da caixa e, lenta e cuidadosamente, deslizou-o para o dedo anelar de Amanda, beijando-o como se para fixar a joia ali. Quando olhou novamente nos olhos dela, ele falou: – Quero estar com você, Amanda. Sempre. Preciso de você. E do nosso bebê. E da família que vamos construir juntos. A família que devia ter começado tantos anos atrás. Ela não conseguia desviar o olhar dos olhos dele e, na verdade, nem queria fazer isso. O anel lhe dava uma sensação de calor na mão, e uma ainda maior em seu coração. Amanda inspirou fundo e expirou lentamente, desfrutando daquele momento, querendo guardar para sempre consigo a lembrança daquele instante.
Aquilo era tudo que ela sempre quisera. Ele estava dizendo as palavras que eram tão importantes para ela. Oferecendo-lhe a vida que ela tanto desejava. E ela acreditava nele. Os olhos de Nathan estavam cheios de amor quando ele a olhou, e Amanda soube que jamais duvidaria dele novamente. À volta dela, ela sentiu a atenção das pessoas, soube que estavam todos prestando atenção e simplesmente se deu conta de que não se importava. – Também amo você, Nathan – disse ela, e sorriu quando ele fez o mesmo. – Eu só precisava acreditar. – E acredita agora? – perguntou ele, envolvendo a cintura dela com o braço. – Agora, acredito – respondeu Amanda, percebendo que ela nunca tivera tanta certeza de algo como tinha do que havia entre ela e Nathan. Por um tempo, ela permitira que dúvidas e medos do passado lançassem escuras sombras sobre o presente e o futuro. Porém, o tempo de olhar para trás já passara. – Juro que você nunca vai se arrepender. – Ele a puxou firmemente para si e a beijou profundamente para que Amanda nunca mais tivesse dúvidas com relação a seus sentimentos. E, enquanto as pessoas do restaurante explodiam em aplausos, Amanda soube que ela finalmente tinha tudo que sempre quisera. O homem que ela amava retribuía esse amor, e não havia nada mais lindo do que isso no mundo.
EPÍLOGO
O CASAMENTO não foi tão pequeno quanto Nathan quisera e nem tão grande quanto Amanda temera. A família estava presente; Jake, Terri e as crianças. Pam e JT, praticamente grudados um no outro. Amanda tinha a distinta sensação de que não demoraria muito até que acontecesse outro casamento em Royal. E os amigos também estavam lá. Piper, Chance, Abby e tantos outros reunidos para lhes desejar felicidades. Nathan a surpreendera adornando a varanda da casa dele com todos os balanços e cadeiras dos quais ela falara no passado. Amanda conseguia enxergá-los nos anos que viriam, sentados naquela varanda, cercados pela família, e isso inflou seu coração. Para evitar o escaldante calor do verão texano, no último dia de julho, o casamento foi realizado ao entardecer. Havia lanternas espalhadas pelo quintal, emanando um leve fulgor que acompanhava as primeiras estrelas a surgirem no céu. Vasos de flores, guirlandas e vinhas adornavam todas as superfícies, adoçando o ar com seu perfume. As mesas estavam repletas de comida, e a música vinha de um aparelho de som na varanda da casa de Jake. Crianças brincavam no balanço que Jake e Nathan haviam construído, enquanto seus pais conversavam com amigos. Havia risadas e amor. Era incrível como o amor, quando finalmente chegava, tornava o mundo mais brilhante, mais reluzente, mais cheio de promessas. – Uma noiva linda como você não devia ficar aqui sozinha – disse Nathan ao se aproximar por trás dela e envolver sua cintura com os braços. Amanda se inclinou na direção dele e sorriu, adorando a proximidade de Nathan, sabendo, acreditando que ele sempre ficaria daquele jeito com ela. – Eu estava pensando em como o dia hoje está perfeito. – Concordo – disse ele, baixando a cabeça para beijar o rosto dela. – Só poderia ter sido melhor se Alex também estivesse aqui. Amanda virou nos braços dele e o olhou. Ela sabia que o sumiço do amigo de Nathan o estava atormentando. Já fazia quase um mês, e não havia nenhuma pista a ser seguida. – Você vai encontrá-lo, Nathan. E tudo vai ficar bem.
Ele assentiu, olhou para a multidão reunida no Battlelands e voltou seu olhar novamente para ela. – Vou precisar declará-lo oficialmente desaparecido. Uma pontada de preocupação a atingiu, mas Amanda se desvencilhou dela com a força de sua confiança em Nathan. Ele daria um jeito de resolver tudo. – Você vai encontrá-lo. – Vou – disse ele. E sorriu. – Mas isso é para amanhã. Hoje é dia de dançar ao luar com a mulher que amo. – Nunca vou me cansar de ouvir isso, sabia? Ele a levou para a pista de dança improvisada instalada no quintal especificamente para o casamento. E, enquanto balançavam no ritmo da música e os amigos e parentes aplaudiam, Nathan prometeu: – E nunca vou parar de dizer. Amanda se entregou ao momento, à magia, ao homem que seria eternamente o responsável pelas batidas de seu coração.
INTENÇÕES NOBRES SARA ORWIG
Quando Sam Gordon olhou para a multidão no churrasco anual dos Hacket, o cabelo castanhoavermelhado e liso chamou sua atenção. Só podia ser de uma pessoa. O sedoso cabelo de Lila Hacket tinha uma cor singular, marcada por mechas vermelhas naturais como tudo em nela. Laila voltara à cidade, e a pulsação dele estava acelerada por isso. Lembranças dela aqueceram tudo dentro de Sam quando a conversa sobre cavalos foi substituída em sua mente por lembranças do corpo nu junto ao dele. Os rancheiros em torno de Sam riram de algo que Beau Hacket dissera. Por isso, Sam sorriu, tentando retornar à conversa. De costas para ele, Lila conversava com outro grupo de convidados. Ela era mais alta do que várias das mulheres à sua volta. Estava com um vestido azul-turquesa, seus pés estavam cobertos por sandálias de saltos, estava exuberante. Certo de que falaria com ela antes do fim da noite, Sam tentou se concentrar novamente nas pessoas ao seu redor. Dave Firestone, um rancheiro local, e Paul Windsor, um magnata da energia, faziam perguntas sobre cavalos a Josh, irmão de Sam. Josh adorava cavalos, mais outra característica que Sam não compartilhava com seu irmão gêmeo. Sam não se envolvia com cavalos, mas a maioria dos homens de seu círculo social lidava com eles de alguma forma. Todo pertenciam ao Clube dos Milionários, a elite da cidade de Royal. – Com licença – falou Sam. – Já volto. – Ele se afastou tranquilamente, ocultando a expectativa que borbulhava dentro dele. Quando Lila não retornara seu telefonema na manhã após a única noite de sexo deles, Sam deixara o assunto de lado. Havia outras mulheres em sua vida. Aquilo acontecera três meses antes; três meses durante os quais ele não parara de pensar nela. Por que ela voltara? Rindo, ela se afastou das pessoas ao seu redor. Determinado a não perdê-la de vista, Sam atravessou a multidão um pouco mais aceleradamente. – Lila, bem-vinda de volta. Quando ela se virou, houve um lampejo quase imperceptível nas profundezas daqueles olhos verdecristal.
– Sam – disse ela. Apesar do sorriso, não havia calor em sua voz. – Espero que esteja gostando da festa – falou ela, como se eles fossem desconhecidos e nunca tivessem tido uma noite juntos. Não era a reação que ele costuma receber das mulheres. – Uma ótima festa, como sempre. Melhor agora que você está aqui. Voltou para o churrasco? – Não. Vim à cidade para me preparar para um filme que vai ser gravado nuns ranchos daqui, no fim do mês. É bom ver você novamente. Aproveite a festa. – Ela se virou para cumprimentar sua velha amiga, Shannon Fentress, ainda pensando nela como Shannon Morrison, e não como a sra. Rory Fentress, o que Shannon se tornara depois de seu casamento. – Oi, Shannon. Estou dando boas-vindas a Lila – disse ele. – Hoje é o dia da grande festa anual da família dela. Quem deixaria de vir? Acho que Royal inteira está aqui – falou Shannon. – Lila, este churrasco está com um cheiro tentador. – Temos uma nova chef. Vou levar você para conhecê-la. Com licença, Sam – disse ela meigamente, gesticulando para que Shannon a acompanhasse. Sam observou enquanto elas se afastavam, seu olhar percorrendo as costas de Lila. A fria recepção dela fora algo inédito para ele. Ele franziu o cenho ao ver o sensual balanço dos quadris dela.
E leia também em Clube dos Milionários: O Sócio Desaparecido, edição 64 de Desejo Dueto, Desejo Obscuro, de Yvonne Lindsay.
62 – A DINASTIA DOS LASSITERS 3/3 Herança de dominação – Robyn Grady Jack Reed intimida até os mais poderosos, mas não consegue atingir Becca Stevens! Ela quer provar o impacto de suas ações, e Jack deseja seduzi-la! Herança de redenção – Barbara Dunlop Angelica conseguiu dar a volta por cima e tirar Ewan McCain do cargo de CEO da empresa da família. Mesmo com a relação abalada, eles teriam de fingir ser o casal perfeito… e resistir ao desejo que ainda sentem.
64 – O CLUBE DOS MILIONÁRIOS: O SÓCIO DESAPARECIDO 2/5 Intenções nobres – Sara Orwig Sam Gordon é um homem extremamente tradicional. Por isso, quando descobre que a mulher com quem passou uma noite estava grávida, soube que teria de levá-la para o altar. Contudo, a independente Lila Hackett tinha outros planos… Desejo obscuro – Yvonne Lindsay Desde que o chefe de Sophie Beldon sumiu, ela tem trabalhado para Zach Lassiter. Porém, ela desconfia que Zach pode estar envolvido no desaparecimento. E quando decide seduzi-lo para descobrir a verdade, acaba desvendando muito mais do que esperava…
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ M191c Maynard, Janice Clube dos milionários: o sócio desaparecido 1 de 5 [recurso eletrônico] / Janice Maynard, Maureen Child; tradução Leandro Santos. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Harlequin, 2015. recurso digital Tradução de: A very tempting texan; rumor has it Formato: ePub Requisitos do sistema: Adobe Digital Editions Modo de acesso: World Wide Web ISBN 978-85-398-1926-3 (recurso eletrônico) 1. Romance americano. I. Child, Maureen. II. Santos, Leandro. III. Título. 15-23392
CDD: 813 CDU: 821.111(73)-3
PUBLICADO MEDIANTE ACORDO COM HARLEQUIN BOOKS S.A. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: A VERY TEMPTING TEXAN Copyright © 2013 by Harlequin Books S.A. Originalmente publicado em 2013 por Harlequin Desire Título original: RUMOR HAS IT Copyright © 2013 by Harlequin Books S.A. Originalmente publicado em 2013 por Harlequin Desire Projeto gráfico e arte-final de capa: Ô de Casa Produção do arquivo ePub: Ranna Studio Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171, 4º andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380
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