Revista Atitude Sustentável

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Editorial

Precisamos de heróis Gustavo Ribeiro, editor da revista Atitude Sustentável 10 dicas para comunicar sustentabilidade 6 Otimismo 7 Seja exemplo 8 Mudança é para todos 9 Precisamos de mais heróis 10 Círculo pessoal

1 Visão do todo 2 Tecnicamente correto 3 Seja legal 4 Faça parte 5 Apenas histórias funcionam Fonte: Futerra

Falar sobre sustentabilidade não é uma tarefa fácil. Pelo contrário, é muito mais difícil que se possa imaginar. É um mundo inexplorado - apesar de aparecerem por todos os lados magos que se dizem donos da verdade – que clama urgentemente por informação e esclarecimentos. Porque sustentabilidade não tem apenas um significado ou somente um caminho, mas infinitos e que assumem diferentes valores de acordo com cada pessoa. Todos nós somos diferentes e é preciso respeitar isso. Por esta razão que nasceu a revista Atitude Sustentável, para falar com pessoas, independentemente se estão trajadas de empresários, professores, engenheiros, advogados, administradores, médicos, veterinários, ou qualquer outra profissão. Porque por trás dessas vestimentas, existe alguém que precisa de informação e exemplos para seguir em frente e ver que é capaz de tomar atitudes que ajudem o planeta, e mais que isso, ajudem as pessoas com quem convive. Durante o processo de nascimento da revista, acabamos nos deparando com uma lista da agência inglesa Futerra, que funciona quase como mandamentos, mas que nesse caso são dez dicas para comunicar sustentabilidade. E foi surpreendente ver que estávamos, quase sem querer, totalmente alinhados com os itens da lista, na qual destaco alguns pontos que penso serem fundamentais e que estão intrínsecos no conteúdo desta publicação. O primeiro - e o principal – é contar histórias. Pode parecer simples, mas quando falamos em sustentabilidade não há nada mais profundo e poderoso que mostrar exemplos de pessoas que fazem e fizeram a diferença. E isto me leva ao segundo ponto: escancarar os bons exemplos e colocá-los na

posição de heróis, sem qualquer medo e receio de parecer piegas. Em uma sociedade na qual os heróis são temporários, é preciso resgatar a importância de seguir bons exemplos para propagar seus feitos e repeti-los em grande escala. Mas de nada adianta contar histórias e exaltar feitos se não mostrarmos e dermos caminhos ao leitor para que ele também possa fazer diferença e influenciar outras pessoas de que é possível. Além disso, já está claro que o planeta passa por grandes problemas, mas não cabe buscarmos culpados e sim soluções, pois sabemos que é uma tarefa difícil, porém alcançável. Dito isso, fica claro o objetivo da revista Atitude Sustentável, que é de contar histórias de pessoas com algo interessante para compartilhar e fazer isso de forma que você tenha condições de tomar novos caminhos sem se preocupar com o que está errado, mas sim como você é capaz de mudar cenários. Nesta primeira edição você vai caminhar por diversas áreas do seu cotidiano, como alimentação, vestuário, casa, transporte, consumo, saúde, energia, viagem, educação e trabalho. E com isso vai entrar em um mundo para muitos ainda pouco explorado, com muitas novidades e surpresas, já que a sustentabilidade não se resume à economia de água ou energia. É muito mais que isso. É o jeito que nos vestimos, compramos, viajamos, moramos, etc.. Em resumo, nossa vida só será mais sustentável se tomarmos atitudes em todos os setores da nossa vida. Convido então você, leitor, para conhecer histórias que possam, quem sabe, acender alguma faísca capaz de provocar uma mudança de atitude que torne sua vida mais sustentável e, consequentemente, mais feliz. 3


Índice

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Atitudes

Confira o que está sendo feito para ajudar o planeta

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Matéria Liderança

Hábitos sustentáveis também podem ser seguidos no ambiente corporativo

Consumo Sustentável

Guia de produtos para uma vida sustentável

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16 20

Matéria Carona Solidária

Tomar caronas ajuda o meio ambiente e o trânsito, e ainda pode criar novas amizades

Espaço

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Matéria de Capa

36

Matéria Moda

Será que sua vida é sustentável? Faça o teste e descubra! Conheça histórias de pessoas que mudaram de atitudes no dia-a-dia

Tecidos produzidos a partir de processos ecológicos também estão na moda

Rio de Janeiro lá do alto

Expediente Ilustrações | Angélica Batista Apoio Designers | Liliana Carvalho, Bettina Pospissil, Clarice Fensterseifer

Revista Atitude Sustentável Publicação trimestral - Ano 1 - Nº 1

Publisher | Emerson Zanon Granemann | emerson@mundogeo.com Editor e Jornalista Responsável | Gustavo Ribeiro DRT/PR 6787 | gustavo@mundogeo.com Gerente Comercial | Adriana Wendler | adriana@mundogeo.com Gerente Administrativo | Eloísa Stoffel Eisfeld Rosa | financeiro@mundogeo.com Marketing | Pedro Lago | marketing@mundogeo.com Colaboradores | Carolina Belo, Carolina Gomes e Jessica Krieger (reportagens), Eduardo Manoel Araujo, Paulo Henrique Rathunde, Richard Jakob-Hoff, Silvana Lucolli e Simone Ramounoulou (artigos).

Parceria Instituto Arayara de Educação para a Sustentabilidade | Eduardo Manoel Araujo, Luciana Grandizoli, Paulo Henrique Rathunde e Renata Cherubini CTP, impressão e acabamento | Gráfica Posigraf Distribuída com exclusividade no Brasil pela | DINAP S/A Distribuidora Nacional de Publicações Atitude Sustentável | ISSN 2175-8611 É uma publicação trimestral da Editora Mundo Geo Ltda. Rua Doutor Nelson Lins d’Albuquerque, 110 Sala 3 – Bom Retiro – Curitiba – Paraná – Brasil – 80520-430 – Fone: (41) 3338-7789 – Fax: (41) 3338-7789 (Ramal 30) www.atitudesustentavelonline.com.br

Projeto Gráfico e Edição de Arte | O2 Design e Comunicação Editoração | Laís Pancote

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Matéria Shopping Centers

Reinos do consumo também se preocupam com os resíduos que produzem

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Matéria Alimentação

Além de saborosos e saudáveis, os ovos orgânicos garantem processo mais natural

52

Matéria Telhados Verdes

Ter um jardim ou uma horta no telhado da sua casa não é coisa de outro mundo

58

62

Artigo Simone Ramounoulou

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Artigo Eduardo Manoel Araujo

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Artigo Richard Jakob-Hoff

Educação para a vida

Artigo Silvana Lucolli

Turismo ético e sustentável

Vida e sustentabilidade

60

Artigo Emerson Granemann

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Artigo Paulo Henrique Rathunde

Educar para mudar

Medicina conservativa: um caminho à frente

Os desafios do século 21 e o Keko

Expediente Editora Mundo Geo

Filiada à:

Diretor | Emerson Zanon Granemann | emerson@mundogeo.com Editores | Ágatha Branco | agatha@mundogeo.com | Eduardo Freitas Oliveira | eduardo@mundogeo.com Estagiárias | Fabíola Cottet | imprensa@mundogeo.com | Kawana Gasparin | assinatura@mundogeo.com | Tássia Rodrigues | redacao@mundogeo.com Administração | Eloísa Stoffel Eisfeld Rosa | financeiro@mundogeo.com Gerente de TI | Guilherme Vinícius Vieira | guilherme@mundogeo.com Guia de Empresas | Jarbas Raichert Neto | atendimento@mundogeo.com Atendimento | Ingryd Goulart | assinatura@mundogeo.com

Associação Nacional das Editoras de Publicações Técnicas, Dirigidas e Especializadas

O material publicado nesta revista só poderá ser reproduzido com autorização expressa dos autores e da Editora Mundo Geo Ltda. Todas as marcas citadas nesta publicação pertencem aos respectivos fabricantes. O conteúdo dos anúncios veiculados é de responsabilidade dos anunciantes. A editora não se responsabiliza pelo conteúdo dos artigos assinados.

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Atitudes Notas

cabelo gerando energia elétrica?

Sorvete sustentável

Div

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açã

o

Sem que ninguém pudesse imaginar, um jovem inventor de 18 anos do Nepal pode ter encontrado a solução para a geração limpa e barata de energia elétrica. Milan Karki, que vive em um dos lugares mais pobres do mundo e de difícil acesso à eletricidade, desenvolveu um painel solar que utiliza cabelo humano no lugar de silício – um componente caro normalmente inserido na construção de painéis solares. Milan acredita que a melanina do cabelo, sensível à luz, funciona como um condutor e que pode revolucionar a energia renovável. O protótipo produz 18 watts de energia e custa por volta de 38 dólares, mas segundo o inventor, pode ser vendido pela metade se produzido em massa. O painel pode carregar um telefone celular ou diversas baterias capazes de fornecer luz durante uma noite inteira. Em relação ao preço atual de painéis solares, poderia chegar a um quarto do que há no mercado hoje.

Já imaginou um sorvete que não derrete? Pois é mais ou menos isso que a Univeler – maior fabricante de sorvetes do mundo – está tentando fazer. A ideia é produzir sorvetes que sejam vendidos sob temperatura ambiente, sem precisar refrigerá-los até chegar à casa do consumidor. O estudo está sendo realizado nos laboratórios da Unilever com a ajuda de acadêmicos da Universidade de Cambridge. O desafio dos pesquisadores é garantir que o gosto do sorvete permaneça o mesmo depois de refrigerado. Com isso, a Unilever espera reduzir bruscamente a emissão de dióxido de carbono, já que o sorvete é um dos produtos da empresa que mais consome energia durante a fabricação e o transporte, por conta da necessidade de mantê-lo refrigerado todo o tempo. A empresa já vem tentando reduzir as emissões de gás carbônico na produção de sorvetes através da melhora da eficiência energética em fábricas na Alemanha, França e Itália. Além disso, já substituiu 400 mil refrigeradores por modelos movidos a propano, que consomem 15% a menos de energia elétrica.

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Divulgação

Etiqueta inteligente Um dos grandes vilões do meio ambiente são as emissões de dióxido de carbono na atmosfera. E no caso de transporte de produtos, isso é ainda mais extremo. Até chegar ao seu destino, um produto passa por diversos outros lugares, deixando sua pegada de carbono. Para chamar a atenção a isso, o designer inglês James Reynolds criou uma forma de mostrar aos consumidores quantas milhas os produtos de um supermercado viajaram e também quanto CO2 foi emitido. O designer então mudou as etiquetas comuns para outras que se assemelham àquelas que são colocadas em malas nos aeroportos, com todo o trajeto feito. O projeto, batizado de Far Foods, tem o objetivo de conscientizar o consumidor na hora de comprar e fazer com que escolha os produtos com menor pegada de carbono. Por enquanto, o projeto só é visto na Inglaterra, mas já conta com o apoio de grandes empresas, como a Tesco, PepsiCo, Coca-Cola, KimberlyClark e Danone Waters.

Bicicletas na rua

Buscas sustentáveis na internet Divulgação

Os amantes do ciclismo agora têm um motivo a mais para andar de bicicleta pela cidade de São Paulo. A prefeitura da cidade criou uma forma de integrar parques da cidade com faixas exclusivas para trafegar com bicicleta. A Ciclofaixa do Lazer, como foi apelidada, interliga os parques das Bicicletas e do Povo, passando pelo Parque do Ibirapuera. O trajeto é de cinco quilômetros e tem sinalização no chão e também de 330 placas. As pedaladas são realizadas nos domingos, entre às 7h e 14h, e todo o caminho tem o auxílio da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e de 220 pessoas. O percurso começa na Alameda Iraé, segue pelas avenidas Indianópolis, República do Líbano e chega ao Parque Ibirapuera (Portão 8). De lá, acesso à avenida Hélio Pellegrino (cruza a avenida Santo Amaro, Juscelino Kubitschek à esquerda até o Parque do Povo, esquina com a avenida Nações Unidas). Divulgação

Fazer buscas na internet todo mundo faz. Mas fazer busca na internet e ainda economizar energia e plantar árvores é coisa do eco4planet.com. Utilizando os mecanismos de pesquisa do Google, o site efetua o plantio de árvores de acordo com o número de pesquisas realizadas. Além disso, o eco4planet é apresentado com fundo preto, que consome até 20% menos energia em relação à tela branca. O site inclusive faz um cálculo interessante. Se todas as buscas no Google fossem feitas com tela preta, em um tempo médio de dez segundos, a economia total seria de mais de sete milhões de Kilowattshora, valor equivalente a 77 milhões de geladeiras ligadas por uma hora. Adicione o site na barra de favoritos de seu navegador: www.eco4planet.com

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Atitudes Notas

Frutas durante o expediente O ambiente de trabalho é muitas vezes ignorado quando se trata de sustentabilidade. Mas sempre existem ações que mudam esse cenário. Exemplo é a Knowtec, que lançou o Minuto da Fruta, no qual convida todos os funcionários para duas pequenas pausas diárias no expediente para tornar os hábitos alimentares mais saudáveis. A iniciativa estimula as pessoas a relaxar, conversar e, principalmente, saborear frutas da estação. A escolha do cardápio é feita por uma equipe especializada, que leva em conta a sazonalidade das frutas e todos os seus nutrientes. E a empresa faz ainda o reaproveitamento desses alimentos. De acordo com Angela Souza, diretora de Recursos Humanos da Knowtec, o programa tem o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos funcionários dentro e fora do ambiente corporativo. “Nossa expectativa é que os colaboradores sigam esse novo conceito e o repasse para amigos e familiares”, comenta.

Troféu reciclado

Roberto Vazquez

Os pilotos de Fórmula 1 estão acostumados a receber troféus produzidos com ouro ou prata. Mas o Grande Prêmio do Brasil deste ano, realizado no circuito de Interlagos em São Paulo, inovou com troféus feitos com um plástico reciclado. Todo o material recolhido durante os três dias de prova foi levado para uma usina de reciclagem montada dentro de Interlagos e, em três horas, os troféus ecológicos foram entregues aos vencedores da corrida: Mark Webber, Robert Kubica e Lewis Hamilton. A iniciativa, promovida pela Braskem, com o apoio da Plastivida e usinagem da Romi, teve o objetivo de chamar a atenção para a importância da coleta seletiva e do descarte de materiais recicláveis. O desenho ficou por conta do arquiteto Oscar Niemeyer. Os envolvidos na iniciativa ainda prometem que o plástico coletado e não utilizado na fabricação dos troféus será destinado a usinas de reciclagem, para dar origem a novos produtos reciclados.

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Consumo Sustentável lançamentos

Rotas econômicas e

Divulgação

ecológicas no gps

Os carros são um dos maiores inimigos do meio ambiente e os navegadores GPS são os equipamentos da moda. Por que não juntar os dois e tornar o uso dos carros mais econômicos e ecologicamente corretos? Pois foi isso que uma das líderes mundias em navegadores veiculares fez. A Garmin oferece o ecoRoute, que monitora os

gastos de combustível e os hábitos de direção do motorista. O objetivo é dar dicas de caminhos que sejam

Onde encontrar www.garmin.com/ecoroute

mais eficientes ecologicamente e fazer com que o motorista possa tomar atitudes mais conscientes no trânsito. Com um perfil do carro inserido pelo proprietário, é possível fazer um registro de todo o combustível gasto nos trechos realizados e saber qual o total de CO2 que o veículo emitiu nesse tempo. E para incentivar o motorista, o aplicativo tem um Desafio de Condução, que garante boas pontuações caso as rotas realizadas e os hábitos de direção sejam satisfatórios.

iphone solar

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O iPhone é o smartphone da moda e o iPod é tocador de MP3 da moda. Ambos são extremamente utilizados ao redor do mundo, mas como todo equipamento eletrônico, consomem energia para carregá-los. Por isso apareceu o Solar Surge, um equipamento

que utiliza energia solar para carregar iPhones e iPods. Desenvolvido pela Novothink, o

produto funciona como uma capa de celular e transforma a energia do sol - captada pelo pequeno painel solar acoplado - em eletricidade diretamente para o aparelho. Na lateral do Solar Surge, existem quatro luzes que indicam a situação da bateria e se a incidência de sol é suficiente. Quando a carga está completa, o produto armazena energia em uma bateria interna para utilizá-la quando necessário. O Solar Surge já foi aprovado pela Apple e é compatível com os modelos mais recentes do iPhone e iPod. O produto custa 69,99 dólares e está disponível em diversas cores.

Onde comprar www.solararcadia.com

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US$ 69,99


prefeito sustentável

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Que tal se colocar no lugar de um prefeito e ter que tomar decisões rápidas para tornar uma cidade em um ambiente sustentável? De fato não é uma tarefa das mais fáceis, mas agora é possível brincar com isso no computador. O City Rain é um jogo criado por três amigos brasileiros que mistura os tradicionais Tetris e Sim City. No game, os problemas ou soluções caem literalmente do céu, e o jogador tem que ser rápido para colocar as peças da melhor forma possível. A pontuação do jogo

é sempre baseada em decisões que ajudem o meio ambiente.

Onde baixar www.cityrainbs.com

O jogador pode escolher entre três modalidades diferentes e 20 missões com 43 objetivos. A pontuação total pode ser colocada no site do jogo para comparar com outros jogadores. Apesar de ter sido criado no Brasil, o jogo foi lançado inicialmente em inglês, mas agora já conta com uma versão em português. O preço do City Rain é de 9,90 dólares, mas antes é possível baixar uma versão de demonstração.

US$ 9,90

CASA de boneca sustentável

Brincar de casa de bonecas é algo que as meninas adoram, mas brincar e ter consciência ambiental ao mesmo tempo não é para qualquer casinha e qualquer criança. A Green Dollhouse é uma casa de bonecas com tudo

que uma verdadeira residência sustentável precisa. Para começar, é feita de madeira reflorestada, tem

Onde comprar www.ecologystores.com

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painéis solares, coletor de água de chuva, telhado verde e controle de quantidade de luz que entra na casa, com o objetivo de economizar energia. O brinquedo tem até uma miniturbina eólica para gerar energia a partir dos ventos. A invenção da empresa tailandesa PlanToys ainda conta com sofás feitos com madeira reciclada, jardim para plantar legumes e verduras, e até espaço para criar animais. O produto pesa 7 quilos e pode ser comprado pela internet por 239,99 dólares.

US$

239,99

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Consumo Sustentável lançamentos

Mochila que alimenta

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A FEED Foundation, organização não-governamental fundada em 2008, trabalha na prospecção de fundos para ajudar o programa de alimentação das Nações Unidas. E a FEED tem uma loja especializada em mochilas e bichos de pelúcia que cumprem um papel bastante interessante. O modelo 100 Bag, por exemplo, é vendido por 30 dólares e cada

mochila comprada fornece cem refeições escolares para crianças em Ruanda. Já o modelo 2 Bag é produzido

com algodão orgânico e a venda é revertida para alimentar duas crianças na escola por um ano. O preço é de 100 dólares. A loja também conta com ursos de pelúcia. O FEED 3 Bear, apelidado de Nut, custa 35 dólares e cada unidade vendida ajuda a alimentar três crianças do leste africano. Há também o Plumpy, que alimenta cinco crianças da mesma região, e custa 65 dólares. Ambos os ursos de pelúcia são produzidos com algodão orgânico.

Onde encontrar www.feedprojects.org

US$

65,00 e 35,00

base de

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papel Ainda na linha para iPhone e iPod, o designer francês Julien Madérou criou uma forma criativa de deixar seus equipamentos da Apple prontos para fazer a sincronização com o computador. O dock é feito de papel e você mesmo pode montá-lo, com custo quase zero. Para fazer é preciso apenas uma folha A4 com gramatura acima de 220 g/m2 e fim de papo. Uma vantagem em relação à base original da Apple é que o equipamento pode ficar tanto na vertical como na horizontal, para quem sabe assistir a filmes, sem contar que não é preciso pagar 30 dólares por um desses. No site de Julien tem um esquema para fazer o dock, assim como um vídeo explicativo.

como fazer www.dessinemoiunobjet.com

Dentes

mais verdes?

Escovar os dentes nunca foi um ato tão sustentável como agora. Isso porque a Johnson & Johnson criou uma escova de dentes mais ecológica que as demais. O cabo da Reach Eco Essencial é 40% feito de material pré-reciclado, que são materiais plásticos que sobram da produção de outros produtos da empresa e que seriam desperdiçados. Além disso, a escova é bem mais barata que as demais. O preço sugerido é de apenas 1,49 real. A escova tem cerdas em dois níveis, limpador de língua, cabo angular e apoiador de polegar. O produto pode ser encontrado em supermercados e farmácias de todo o Brasil. 12

saiba mais www.jjreach.com.br

R$

1,49


Composteira de jardim A prática da compostagem é bem pouco difundida por aqui, mas é algo extremamente simples e útil para transformar o lixo vegetal em adubo para plantas e hortas. E nada melhor do que poder fazer isso em casa, sem precisar contar com terceiros. O Wooden Beehive é uma composteira para ser utilizada no quintal de casa. E para não parecer simplesmente uma lata de lixo, esse modelo é feito de madeira e conta com saídas de ar para evitar o mau cheiro, comum na decomposição de resíduos vegetais. A madeira é reciclada e tratada especialmente para ser à prova d’água. A composteira tem 76 centímetros de altura, suporta até 150 litros, vem compactada para ser montada posteriormente e pode ser adquirida por 80 dólares.

US$

Onde comprar www.ecotopia.co.uk

80,00

bancos

de plástico Sabe aqueles caixotes de plástico bem comuns em distribuidoras de bebidas? A princípio a única função é a de transportar refrigerantes, cervejas e outras bebidas. Mas alguém teve a ideia de dar uma utilidade extra a esses caixotes, assim como já fazem com garrafas pet. Ao invés de ficarem jogadas por aí, a ideia é reutilizar

o material para transformar em bancos, com assentos de tampa, para guardar coisas. Foi o que fizeram,

e ainda com várias opções de estofado. O preço não é dos mais baixos: 90 dólares. Mas com a ideia já mostrada, o negócio é ir em busca de caixotes de plástico e fazer seu próprio banco, do jeito que você quiser. E de quebra ainda dá um visual diferente para a decoração da sua casa.

Onde comprar www.esty.com

US$ 90,00

Mochila recarregável

onde comprar www.bagsdirect.com

US$ 49,99

Se você é daqueles que anda bastante com sua mochila nas costas e ao mesmo tempo gosta de escutar música em um MP3 player ou no celular, esse produto é uma boa pedida. A Black Hills Outdoor Solar Backpack é uma mochila com painel solar integrado para carregar seus equipamentos eletrônicos. O produto funciona com uma bateria interna que demora aproximadamente de 10 a 14 horas para carregar-se completamente. Com carga total, é capaz de fornecer duas horas de energia para telefones celulares e tocadores de música. Para que o máximo possível de dispositivos possam ser carregados, a mochila oferece 17 tipos de adaptadores. Os modelos são oferecidos nas cores preta e marrom e custam 49,99 dólares. 13


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os direitos reservados. 60cm QuickBird Sattelite Image Copyright DigitalGlobe Inc. 2009. Todos

Olimpíadas sustentáveis O Rio de Janeiro foi eleito como sede dos Jogos Olímpicos de 2016. O programa de sustentabilidade e meio ambiente do evento está focado em quatro áreas: conservação de água, energia renovável, jogos neutros em carbono e gestão do lixo, e responsabilidade social. Se assim for, o Rio 2016 tem tudo para ser exemplo para outros grandes eventos. A imagem é uma cortesia da empresa DigitalGlobe.

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Liderança

Cada um por

si?

Empresas mostram que, com uma consciência mais sustentável, é possível melhorar o ambiente de trabalho Por Carolina Gomes Roberto acorda às 6h da manhã. Toma um banho de Ele se dá conta que já tinha imprimido o mesmo material cinco minutos. Cumprimenta a empregada que trabalha na semana anterior, então rasga a nova impressão e joga na casa há dez anos e é tratada como parte da família. no lixo. Fica irritado e acaba descontando no estagiário Roberto coloca na torradeira duas fatias de pão da noite que trabalha com ele há quase um ano, mas que ele ainda anterior. Come um iogurte e joga a não sabe o nome. embalagem na lixeira separada para o Parece irracional uma mudança de lixo reciclável. atitude tão gritante? Mas é o que a O conceito de Às 8h Roberto entra no trabalho. maioria das pessoas faz, sem se dar responsabilidade Logo que chega pega um cafezinho conta, quando passa do ambiente social nunca esteve num copo descartável. Durante o dia pessoal para o profissional. Reciclar tão interligado consome vários, cada um num novo embalagens, economizar água, não com a rotina interna copo de plástico. Quando chega em desperdiçar comida, passar roupas e das empresas sua mesa, imprime 20 páginas de um brinquedos do filho mais velho para o relatório para estudar para uma reunião. mais novo. São atitudes que tomamos

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A maioria das pessoas muda de atitude quando passa do ambiente pessoal para o profissional naturalmente em casa para ajudar na economia doméstica. Mas e quando chegamos ao trabalho? Por que ainda é tão raro esse mesmo pensamento no ambiente profissional? A boa notícia é que algumas empresas já estão incentivando uma mudança de comportamento dentro do dia-a-dia dos colaboradores. No Laboratório Sérgio Franco, que trabalha com análises clínicas no Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná, a ideia é estimular que os projetos de sustentabilidade dentro da empresa sejam criados pelos próprios funcionários. A empresa premia duas vezes por ano as cinco melhores propostas que contribuam para a melhoria dos processos de trabalho. “Acreditamos que uma empresa se constrói com pessoas e ideias”, defende Antonio Vazquez, diretor regional do laboratório em Curitiba. E as propostas internas têm surpreendido. No início de 2009, todas as unidades do laboratório em Curitiba foram reformadas para obedecer um padrão da matriz, que fica no Rio de Janeiro. Com essas reformas, muitos móveis teriam que ser descartados. Uma primeira parte do mobiliário foi doada para uma instituição de apoio infantil. Foi aí que a supervisora de atendimento, Karine Toniello, teve uma ideia. Ela sugeriu que os móveis fossem vendidos para os próprios funcionários do laboratório a um preço mais acessível e o valor arrecadado fosse revertido em prêmios para a festa de final de ano e outras ações de solidariedade. “Segundo a filosofia da empresa esse material seria doado, mas nos pareceu mais interessante envolver os colaboradores internos para que esse seja o início de um processo de reeducação que abordará várias frentes”, explica o diretor. A proposta foi implantada e deu muito certo. Uma das funcionárias, inclusive, aproveitou para investir em seu próprio negócio com a compra de vários móveis usados. O projeto mostra que o conceito de responsabilidade social nunca esteve tão interligado com a rotina interna das empresas. “Começamos a prestar atenção na forma como as empresas se relacionam com a comunidade à sua volta, incluindo seus funcionários. Não simplesmente respeitando essa comunidade, mas atuando de forma ativa para ajudála. É uma nova consciência do contexto social e cultural no

A troca

grande

qual se inserem as empresas”, comenta Antonio. E o Laboratório Sérgio Franco não segue sozinho por esse caminho. Aos poucos se multiplicam as empresas com essa visão. Na Kraft Foods Brasil, 2.575 funcionários de todo país participaram de uma semana global de voluntariado, entre os dias 5 e 10 de outubro. Isso significa que quase 40% da mão-de-obra da empresa parou para ajudar mais de 20 mil pessoas pela prática da solidariedade. Como a produção não poderia parar, mesmo os funcionários que não puderam participar como voluntários estavam

Trabalho de formiguinha Apesar dos exemplos, não há como negar que há sim uma dificuldade para começar projetos de mudanças, principalmente em grandes empresas. E foi sabendo disso que Tamara Rezende de Azevedo, Thomas Ufer e Maria Paes Barretto criaram a CoCriar. O objetivo é levar às mais diversas empresas maneiras diferentes de fazer as coisas. Thomas defende que a verdadeira sustentabilidade é algo mais profundo, estaria ligada a um questionamento do que está por trás da tomada de decisões dentro dessas estruturas de trabalho mais rígidas. “Defendemos um sistema mais orgânico e menos mecânico. Formas de liderança não baseadas no mandar, mas na participação. O líder sai da posição da pessoa que tem todas as respostas e passa a ser um facilitador”, explica. Para isso é preciso criar dentro das empresas espaços de sensibilização, que incentivem a interatividade. “Isso é um calo no sapato das grandes empresas. É incrível a ausência de habilidade das pessoas de conversarem, de construírem algo em conjunto”, conta Tamara. Mas a boa notícia, mais uma vez, é que é possível. “Quando conseguimos ligar a consciência individual de cada um, aí se dá a virada. A partir daí a organização se torna naturalmente sustentável porque traz essa forma de trabalhar diferente”, comemora.

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Fotos: Carolina Gomes

Liderança

“O resultado não é alcançado somente com ações individuais, mas sim com a conscientização de todos que formam parte de um determinado ambiente” Antonio Vazquez

envolvidos na ação porque precisaram se organizar para dar conta de todo o trabalho. Foi assim no departamento de planejamento financeiro. Em plena quarta-feira, todos os funcionários do setor deixaram de lado os chocolates e bolachas para ajudar a empacotar feijão e ervilha para doar a instituições de caridade. Sobrou para o chefe, que tinha participado de uma atividade numa escola no dia anterior e teve que segurar as pontas sozinho no escritório naquela quarta-feira de sol. Bom para Anelise Skrzek, funcionária do setor e grávida de seis meses e meio. “Esse tipo de trabalho, mesmo sendo muito diferente da nossa rotina, faz você pensar em maneiras melhores de fazer as coisas lá no nosso dia-a-dia. A gente percebe que é tudo uma questão de criatividade e organização”, conta Anelise. E, segundo Fabio Acerbi, diretor de Assuntos Corporativos da empresa, é exatamente esse o objetivo. “É uma grande troca. Nós liberamos os funcionários, que dão alegria a outras pessoas e voltam funcionários ainda melhores para a empresa”, defende. A Kraft já tem tradição em ações voluntárias. Dentro da empresa existe até um setor responsável pela coordenação dessas atividades. São cerca de 800 voluntários permanentes que recebem apoio efetivo da empresa, seja liberando do trabalho ou doando produtos. “A semana global serve principalmente para divulgação interna. Para que mais funcionários conheçam e se encantem com a experiência do voluntariado”, explica Fabio. Seja qual for o projeto desenvolvido, é com ações simples de sustentabilidade que a cultura do “cada um por si” cai por terra. “O grupo percebe que o resultado não será alcançado somente com ações individuais, mas sim com a conscientização de todos que formam parte daquele ambiente. Criando essa consciência mais sustentável, os funcionários passam a analisar e discutir outras questões de maneira mais consciente também”, finaliza Antonio.

Funcionários da Kraft Foods do Brasil interrompem trabalho e participam de ações voluntárias

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Carona Solidรกria

Quer uma

?

carona

Por Carolina Gabardo Belo

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be até a s m e que a i m o pode n o e c u e q , nforto ensou o p c na? Se á , j o z r ê e a c c d i o a Rap os e mor. V m um g a e i o s m v a a o n s um n so ape m seu s i o c o e d iente. n u i b t b r i m m a u o g po, c conse o meio m e a t r a a p c zinha ão per o n ã , o m ã a n dê um m é b tam

A engenheira Andrea Bucci, 23, não tem dúvida. Se tiver que ir à cidade de São Paulo de ônibus, prefere não ir. Ela, que durante a semana mora e trabalha em Campinas (SP), mantém até hoje um hábito que começou na época da faculdade e que deixa suas viagens muito mais agradáveis: as caronas. Tudo começou há quatro anos, quando decidiu trocar as longas viagens de ônibus pela companhia dos amigos. Antes, o trajeto de aproximadamente cem quilômetros até sua casa na capital paulista durava três horas. Com as caronas, passou a fazer o mesmo caminho na metade do tempo e com metade do dinheiro gasto em passagens. A opção surgiu após um desabafo na sala de aula. “Comentei que tinha preguiça de ir pra São Paulo todo fim de semana, pois levava aproximadamente três horas até minha casa. Um colega respondeu que algumas pessoas da turma tinham carro e viajavam todo final de semana para lá”, lembra. Para garantir sua vaga em um dos carros que seguiam à capital, Andrea deixou a vergonha de lado. “Foi na cara de pau mesmo. Liguei e falei ‘fulano disse que você volta de carro pra Campinas. Onde você encontra o pessoal, como funciona?’. Comecei com a carona por preguiça de viajar de ônibus mesmo”, confessa. A partir de então a engenheira começou com uma rotina que até hoje segue religiosamente, mesmo depois de formada. Às quartas-feiras já entra em contato com os caronistas para combinar a ida. Os viajantes seguem para São Paulo às sextas, quando combinam a viagem de volta, sempre aos domingos. Geralmente os caronistas pegam seus passageiros na porta de casa e deixam em pontos próximos a ônibus e metrôs. A experiência de cinco anos de caronas fez com que Andrea prestasse atenção a detalhes muito importantes em uma viagem. “Eu não gosto de pegar caronas com desconhecidos, por não saber se são cuidadosos na direção, se ultrapassam os limites de velocidade. Uma vez peguei carona com um rapaz que olhava mais para as pessoas com quem conversava do que para frente. A rodovia estava tranquila naquele dia, mas mesmo assim não era a atitude mais segura da parte dele”, conta. 21


Carona Solidária Contando “por cima”, Andrea estima que já pegou 300 caronas, com aproximadamente 800 pessoas. Algumas se tornaram grandes amigos da engenheira. “A viagem fica muito mais divertida conversando no carro do que ouvindo

música no ônibus. Além disso, saber que há apenas um carro circulando ao invés de cinco é muito bom, principalmente para quem mora em São Paulo e tem pavor daquele trânsito”. Entre os amigos que Andrea fez nas caronas está o desenvolvedor de sistemas Fernando Iodice, 24. Ele começou a oferecer caronas em 2004, com o objetivo de reduzir os custos do combustível consumido pelo carro que transportava apenas uma pessoa. Na época, o carro de Fernando gastava 60 reais em gasolina para a ida e a volta. Este valor foi facilmente suprimido com a cobrança de 8 reais de cada passageiro por trajeto. Economia, novos amigos, contato com estudantes de outros cursos e pessoas que não teria a oportunidade de conhecer. Estes foram alguns dos ganhos de Fernando com a oferta de caronas. Mas ele conta com alegria sua principal conquista: “Minha namorada!” Estudantes do mesmo colégio no ensino fundamental em São Paulo, Fernando e Mariana só tiveram a primeira conversa quando estavam na faculdade, em uma das caronas oferecidas pelo rapaz. Interessado na moça, Fernando criou uma tática especial para conquistá-la. Mariana, que é estudante de Medicina, passou a ser a primeira passageira a ser apanhada. Assim ficava garantido que ela iria sentada no banco da frente e que teriam alguns minutos de conversas a dois. “Após mais ou menos um mês da primeira carona, chegando a Campinas no domingo à noite deixei para ir à casa dela por último. Então perguntei se ela não queria jantar, porque estava morrendo de fome. Foi então que saímos e começamos a namorar”, lembra. Para Fernando, todos ganham com as caronas. “Pra quem pega carona é economia de tempo, de dinheiro e de trabalho também porque até pegar o ônibus na rodoviária é muito trabalhoso. Tem gente que entra no meu carro e logo dorme, parece que não quer conversa, mas em outras vezes a carona é mega animada com a gente rindo até São Paulo. E na minha opinião, é a conversa que faz a viagem ficar mais legal”.

Dicas para ser um bom caronista e um bom caroneiro Caronista - Dirija tranquilamente e, mesmo com as conversas animadas dentro do carro, fique sempre atento ao trânsito. - Não há problemas em dividir com os passageiros o custo pela viagem, portanto, combine um valor e responsabilize-se apenas pela manutenção do carro.

Caroneiro - Evite se atrasar e nunca deixe de aparecer no local combinado. - Procure ter referências sobre o caronista, isso garante que a viagem será feita em segurança. É possível combinar um encontro com a pessoa antes, para garantir que não terá problemas na viagem.

Fotos: Arquivo pessoal

- Aproveite a oportunidade para fazer novas amizades.

Fernando dá carona para a namorada Mariana e para os amigos Andrea e Hugo

Fernando e a namorada Mariana

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Alunos

e caroneiros:

já são

mais de

5 mil...

Arquivo pessoal

Em 2007, as caronas de Andrea, Fernando e outros tantos estudantes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) ganharam um novo aliado. Em abril daquele ano entrou no ar o site Caronas Unicamp, que reuniu todas as procuras e ofertas de caronas que partiam da cidade a várias regiões do Brasil. O projeto surgiu como uma sistematização das caronas, combinadas boca a boca entre os universitários, por grupo de e-mails ou em sites de relacionamento. Os então acadêmicos de Engenharia da Computação, Guilherme Valente de Souza, 23, e Matheus Paiva Marosti, 24, aproveitaram os conteúdos sobre sistemas web que estavam aprendendo e desenvolveram um que melhorasse a maneira com que as caronas eram agendadas. Em pouco tempo a ideia conquistou os universitários. O projeto cresceu e hoje tem cadastrados mais de mil usuários, que partem para quase 60 diferentes destinos a cada final de semana. São viagens para municípios de São Paulo, Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais, Paraná e Rio de Janeiro. O trajeto mais concorrido e movimentado é o CampinasSão Paulo, por onde seguem cerca de cem caronas semanais. O site conta com um sistema completo, que garante segurança a todos os usuários, caronistas ou caroneiros. A ferramenta permite que sejam selecionadas as caronas oferecidas e as procuradas, e a inscrição de recomendações sobre as pessoas cadastradas no site. Oferece ainda caronas para percursos dentro de uma mesma cidade e também a previsão do tempo nos destinos. Os agora engenheiros não moram mais em Campinas e

Estimativas de trajeto entre São Paulo e Campinas (100 km) Um carro de médio porte movido à gasolina gera emissão de 0,19 tonelada de CO2 ao mês O mesmo carro precisaria de 30 reais para pagar o combustível Passagem de ônibus mais tarifas de transporte coletivo custam 23 reais Cinco pessoas fazendo o trajeto em carros separados gera emissão de 0,95 tonelada de CO 2 Cinco pessoas fazendo o trajeto em carros separados gastam 150 reais com gasolina Cinco pessoas dividindo o mesmo carro, gastam individualmente 30 reais e emitem 0,19 tonelada de CO2 no total

Guilherme e Matheus criaram o site Caronas Unicamp

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Carona Solidária universidades ou empresas, são considerados os mais eficazes. mesmo assim continuam com a administração do site, mas Isto porque garantem a efetivação das caronas, dão segurança lamentam a falta de apoio financeiro para ajudar a cobrir aos usuários e permitem ainda que as corporações reduzam os custos mensais, de 300 reais. “O projeto, até o momento, seus gastos a partir da implantação de uma não tem nos dado retorno financeiro, política de deslocamento sustentável em pois não conseguimos patrocinadores Geralmente os toda a empresa. para auxiliar nos custos do site, que é caronistas pegam No entanto, em diversas situações totalmente sustentado por nós dois. seus passageiros na as iniciativas corporativas esbarram em Acreditamos que as empresas criariam porta de casa e deixam problemas de integração dos funcionários, uma boa imagem apoiando projetos em pontos próximos a falta de estrutura para o projeto ou, então, que fazem bem para o meio ambiente”, ônibus e metrôs ausência de monitoramento. “As empresas analisam. “Porém, em termos de não participam de projetos como esse se sustentabilidade, meio ambiente não percebem os benefícios que irão ter. Além disso, o Brasil e qualidade de vida, só temos o que comemorar. Para as tem aquela cultura de amor pelo carro, as políticas públicas pessoas que iriam viajar sozinhas de carro, a carona acaba são centradas nesta área. Não somos contra os carros e o sendo mais barata, pois os gastos são divididos entre todos desenvolvimento das cidades, mas o problema é como os no veículo. Para as pessoas que iriam de ônibus, também carros são utilizados. Por que preciso dele o dia todo, o tempo acaba sendo bom, por questões de tempo e financeiras. Para todo?”, questiona o idealizador do Projeto MelhorAr de o meio ambiente, é uma ajuda considerável, pois ao invés Mobilidade Sustentável, Lincoln Paiva. de cinco carros irem pra estrada, irá apenas um, reduzindo Superados esses impasses, os bons resultados não trânsito e poluição”. demoram a aparecer. As caronas entre os colaboradores, a criação de estacionamentos para bicicletas e o controle da utilização de automóveis para visitas a clientes, entregas de documentos ou deslocamentos, por exemplo, evitam gastos desnecessários, o consumo excessivo de combustível e também beneficiam a comunidade como um todo. Mesmo com iniciativas de sucesso espalhadas por Estudos mostram que a maioria das pessoas que todo o Brasil, o desenvolvimento de projetos de mobilidade utilizam o carro para trabalhar mora a até dez quilômetros do sustentável ainda pode melhorar. A participação do poder trabalho. Isto significa que colegas partem de pontos próximos público nessa área ainda é tímida. “As empresas já incentivam e se deslocam a um mesmo destino em trajetos considerados seus funcionários, mas o poder público ainda tem muito o curtos. Está aí uma boa oportunidade de fazer novas amizades, que colaborar. Os países da Europa estão dez anos à nossa conhecer melhor seu colega e ainda economizar os frente, mas os resultados aqui no Brasil são muito satisfatórios”, gastos com transporte. analisa o sócio-fundador do Carona Brasil , Edgard Azzam. Os projetos de carona “Quando o governo trabalha com as empresas, fica muito corporativa, direcionados a mais eficaz e toda a cidade começa a ganhar. Isso serve tanto aos transportes públicos quanto para os meios alternativos”, complementa Edgard. Em Minas Gerais, o poder público já começou a investir na mobilidade sustentável. A partir de dezembro deste ano entra em vigor o projeto

Alguém sempre vai para o mesmo lado...

Participe você também! Caronas Unicamp www.caronasunicamp.com Carona Brasil www.caronabrasil.com.br MelhorAr www.projetomelhorar.com.br Calculadora de CO2 www.iniciativaverde.org.br/pt/calculadora 24


de carona corporativa entre os servidores estaduais que Nos trajetos entre Campinas e São Paulo, por trabalham em Belo Horizonte. O projeto ganhou força com exemplo, a opção pelas caronas é garantia de economia. a mudança da sede das secretarias de Estado para uma área 23 reais é o valor gasto com a passagem para São Paulo, afastada do centro da capital mineira. A incluindo as tarifas de transporte nova sede vai reunir 18 mil servidores, que coletivo utilizadas para chegar à “A viagem fica muito mais poderão participar do projeto. rodoviária e em casa. divertida conversando Até dezembro, funcionários do O trajeto é de cem quilômetros, no carro do que ouvindo Sistema Estadual do Meio Ambiente e que em um carro de médio porte música no ônibus” da Secretaria Estadual de Planejamento movido à gasolina gera a emissão de Andrea Bucci e Gestão participam do projeto piloto. A 0,19 tonelada de CO2. Para percorrer proposta é dar benefícios aos servidores a ida e a volta, o motorista gasta em que aderirem ao programa. Até a média 60 reais em combustível. mudança para a nova sede, serão disponibilizadas vagas Em uma carona, cada passageiro gasta em média 8 reais de estacionamento aos motoristas que oferecerem caronas para percorrer os cem quilômetros entre as duas cidades. Com aos colegas. No centro de Belo Horizonte, os custos com o carro cheio (cinco pessoas), é mantida a emissão de 0,19 estacionamento podem chegar a 200 reais por mês. tonelada de CO2, provocada por apenas um veículo. “Observamos o projeto em dois aspectos: pela Se as cinco pessoas deixassem as caronas de lado e sustentabilidade ambiental, a diminuição dos carros nas ruas e utilizassem veículos diferentes para realizarem apenas o da emissão de poluentes e também pelo aspecto interno, com trajeto de ida, a emissão de CO2 passaria para 0,95 tonelada. a internalização do conceito, a oportunidade do servidor fazer Em um mês, este índice chegaria a 3,85 novas amizades, de uma convivência mais sadia no trabalho. toneladas de CO2. A gente esquece que no dia-a-dia podemos contribuir para melhorar a qualidade ambiental”, explica o subsecretário de inovação e logística do Sistema Estadual do Meio Ambiente de Minas Gerais, Thiago Grego. Se em sua escola ou empresa ainda não foi implementado um projeto de caronas, não se preocupe. Você pode sugerir a criação de um programa na área ou ainda realizar suas caronas de forma independente. Se nenhum conhecido seu realiza o mesmo trajeto que você, a opção pode ser o cadastro em sites de caronas individuais. É o caso do site Carona Brasil, que além de soluções corporativas oferece um sistema para busca de caronas individuais. No ar desde janeiro deste ano, são mais de dois mil cadastros, com 40% de usuários do sexo feminino e a maioria dos participantes com idades entre 18 e 35 anos. A procura e a oferta de caronas do site abrangem os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e região Nordeste.

Na ponta do

lápis

Com mais pessoas ocupando um mesmo veículo, menos carros circulam pelas ruas, o que diminui os congestionamentos e deixa os trajetos mais rápidos, evitando assim maior desgaste dos veículos e o stress dos motoristas e passageiros. Além disso, menos poluentes são emitidos na atmosfera.

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Matéria de Capa

O planeta está nas

nossas mãos A responsabilidade pelo futuro do planeta passa pelos hábitos de cada um de seus habitantes. Será que estamos fazendo nossa parte? Por Gustavo Ribeiro

Até os 16 anos, o jornalista Ricardo Ampudio nem imaginava que seu estilo de vida mudaria radicalmente. Carne vermelha, sacolas de plástico, carro, nada de separação de lixo e alto consumo de energia faziam parte de sua rotina. Hoje, com 25 anos, tem hábitos totalmente diferentes e muito mais saudáveis e alinhados com o que se pode fazer para melhorar o planeta. Por opção, as rotinas sustentáveis de alimentação, transporte, reciclagem e consumo de água e energia já fazem parte de Ricardo, que começou a pensar nessas questões na adolescência. “Passei a ter uma postura mais ambientalista, pensar em diversas questões e realmente tomar atitudes”, diz. O primeiro sinal foi sentido na alimentação, quando se tornou vegetariano por questões éticas e ambientais. E foi justamente esta última o primeiro passo para um efeito dominó que veio a seguir. “Quando você faz uma coisa, você começa a fazer outra. E na época que fui morar sozinho resolvi implementar na minha casa questões de consumo de água, energia e reciclagem. No supermercado também, já que deixei de adquirir coisas que não precisava e passei a comprar produtos na quitanda, que sei que é do produtor. E claro, agora só sacola retornável, as ecobags”, conta. Ricardo comenta que é um pouco “lixeiro” porque sempre busca alguma coisa de resto de lixo para tentar construir algo útil, mas nem sempre essa tarefa é das mais tranquilas. Mas o que ele consegue fazer facilmente é passar longe de carro. Decidiu não ter carro e nem tirar habilitação e só se

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Voltando ao Ricardo. O impacto que ele tem no meio ambiente é bem menor do que o da maioria das pessoas. E para estimar essa discrepância, foi no ano de 1996 que surgiu o conceito de Pegada Ecológica, criada por William Rees e Mathis Wackernagel. A ideia é ajudar as pessoas a perceberem o quanto de recursos naturais utilizam para sustentar seu estilo de vida nas mais diversas áreas, como moradia, vestuário, transporte, alimentação, lazer e consumo. Tudo isso através de um teste. “O papel da Pegada é de despertar um olhar crítico e diferenciado locomover de bicicleta ou através do seu principal meio em relação à natureza. É importante registrar que a de transporte: um tênis que comprou numa promoção do Pegada é um dado estimativo e pedagógico, com base último ano e que já dá sinais de cansaço. “Está fazendo no cálculo de nosso impacto na natureza”, explica Irineu água. Carro velho, sabe como é”, brinca. Tamaio, coordenador do Programa Um outro hábito seguido à risca Educação para Sociedades por ele é o de fazer xixi no banho. Sustentáveis da WWF-Brasil. “Pequenas ações já têm Apesar de parecer algo nada A questão é tentar sensibilizar as grandes influências higiênico, essa pequena ação tem pessoas de que elas também são e consequências que consequências interessantes. Segundo responsáveis pelo que acontece nem podemos imaginar” a incentivadora dessa prática, a SOS no planeta. “Às vezes atribuímos Ricardo Ampudio Mata Atlântica, urinar no banho pode ao outro a degradação ambiental, economizar 12 litros de água que ao governo, prefeituras, Estados seriam gastos na descarga. No ano, o e indústrias. Mas e a nossa vida, valor chega a 4.380 litros de água consumidos a menos. A nossas atitudes e comportamentos? Todos nós somos campanha deixa claro que a urina é formada por 95% de consumidores”, defende Irineu. Para ele, o consumo água e que não é capaz de transmitir doenças. é o principal paradoxo da relação das pessoas com a

Saiba

mais: www.xixinobanho.org.br 27


Matéria de Capa natureza. “O consumo passou a ser algo cultural. Se defende que o papel do teste da Pegada Ecológica consumo carro, casa ou roupa, tenho outro padrão e me também serve para chocar as pessoas, e mostrar diferencio de outros indivíduos. Necessitamos consumir que ainda dá tempo de mudar. “Diante de crises de numa sociedade individualista, sensibilização, não podemos ser em que o ‘ter’ é mais importante catastróficos e precisamos mostrar “Vou procurar seguir que o ‘ser’. Assim o consumo soluções para os problemas”, à risca o que deve ser passou a ser uma forma de completa. feito para melhorar o mascarar as coisas”, conta. Se o papel do teste é chocar, meu comportamento em Mas o que fazer para mudar conseguiu. Pelo menos foi o que relação ao meio ambiente” essa situação? O que fazer para aconteceu com Julia Abdul-Hak, Julia Abdul-Hak que cada indivíduo passe a tomar 25, que imaginava ter preocupação atitudes mais sustentáveis? Essas com meio ambiente e que fazia são perguntas que exigem uma sua parte, mas o teste mostrou que boa reflexão e passam primeiro por uma auto-análise, precisaria de três Terras para poder manter seus hábitos por perguntas para si mesmo e quebra de paradigmas. atuais. Depois que respondeu às perguntas, até brincou “É tudo questão de sensibilização sobre o estilo de vida. com o resultado: “Ele foi muito mal-educado comigo Precisamos perceber que não consumimos apenas, ao dizer que no meu ritmo o planeta não vai aguentar, mas também produzimos lixo. E o consumo deve ser mesmo que em outras palavras. Mas pelo jeito não vai diferenciado, consciente e sustentável”, diz Irineu, que aguentar mesmo”. Apesar do resultado, ela já segue algumas rotinas que mostram preocupação com o meio ambiente: utiliza o transporte coletivo para ir ao trabalho e recusa sacolas plásticas nos supermercados, já que sempre leva alguma de lona ou pano. “Essa recusa acontece inclusive em lojas. Peço para colocar na mesma e utilizar o menor número possível de sacolas”. Além disso, Julia sempre separa o lixo doméstico, recolhe a sujeira do cachorro na rua e tenta economizar água. Mas ela sabe que pode fazer muito mais. “Vou procurar seguir à risca o que deve ser feito para melhorar o meu comportamento em relação ao meio ambiente. Vou continuar fazendo o que já faço e espero cumprir com outras coisas também, mudando lâmpadas, deixando o computador ligado por menos tempo e outras atitudes diárias”, promete. Entretanto já indica que um item será mais difícil de mudar: carne. “Vou fazer o possível, mas ficar sem carne? Acho que esse ainda vou levar um bom tempo. Aliás, acredito mesmo que não vou conseguir cumprir este item”, admite. Mas tomar atitude não é uma tarefa somente individual, mas coletiva e com efeito cascata, propagada através de exemplos. Se você faz algo pelo planeta, já é um caminho para que outra pessoa se espelhe em você e faça o mesmo. É o que conta Ricardo, que chegou a montar um projeto para fazer palestras sobre vegetarianismo e aquecimento global. A ideia era aproximar as pessoas das consequências do que elas geram já que não entendem que são responsáveis. “A culpa é sempre dos outros. Mas depois disso muita gente começou a pensar no que é possível fazer, como jogar o rolinho do papel higiênico no lixo reciclável e não na lixeira do banheiro”, conta. No 28


ambiente de trabalho, Ricardo também tenta disseminar um pouco dos seus hábitos, como levar uma caneca e usá-la sempre para beber água, ao invés de usar copo plástico. Julia quer que as pessoas do seu convívio também passem a se preocupar mais. “O primeiro passo foi encaminhar o teste para todos da minha família, para que eles também tenham consciência do que estão fazendo com o planeta. Em casa temos hábitos parecidos, mas vamos precisar pensar em uma maneira de fazer muito mais”.

Mesmo em passos diferentes, Ricardo não se contentou e quer poder fazer ainda mais pelo planeta. Como ele mora em apartamento, muitas coisas não são possíveis já que é preciso dividir a responsabilidade com outros moradores. É o caso da água e do gás. Mas mesmo assim faz o que pode: “Como o chuveiro é a gás, demora um pouco para a água esquentar. O que faço é colocar um balde enquanto esquenta e depois utilizo essa água para colocar na máquina de lavar”.

A Pegada Ecológica pode ser calculada tanto individualmente como de uma cidade ou de um país todo. Mas para isso, é preciso estudar os vários tipos de territórios produtivos (agrícola, pastagens, oceanos, florestas, áreas construídas) e as diversas formas de consumo (alimentação, habitação, energia, bens e serviços, transporte e outros). As tecnologias usadas, os tamanhos das populações e outros dados também entram na conta. No fim, cada tipo de consumo é convertido em uma área medida em hectares. De modo geral, locais altamente industrializados usam mais espaços do que sociedades menos industrializadas. Assim, as Pegadas são maiores porque utilizam recursos de todas as partes do mundo e afetam locais distantes, causando impactos por conta da geração de resíduos. Confira os números relacionados ao ano de 2005, sendo que a área média por habitante é de 1,8 hectare.

Pegada Ecológica Total

Pegada Ecológica Total

Pegada Ecológica Total

Pegada Ecológica Total

Pegada Ecológica Total

Mundo

Países ricos

Países em desenvolvimento

Países pobres

2,7

6,4

2,2

1

Ásia + Oceania

Japão

China

Índia

Austrália

2,3

4,9

2,1

0,9

7,8

Europa

Alemanha

Suécia

Bulgária

4,7

4,2

5,1

2,7

África

África do Sul

Malaui

1,4

2,1

0,5

América do Norte

EUA

Canadá

9,2

9,4

7,1

Fonte: Relatório Living Planet 2008 - WWF

Tomar atitude não é uma tarefa somente individual, mas coletiva e com efeito cascata, propagada através de exemplos

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MatĂŠria de Capa

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Matéria de Capa Para essa responsabilidade coletiva a sério. Sério até demais. “Uma O objetivo da Irineu chama a atenção, dizendo que vez tive uma ideia de fazer alguns Pegada Ecológica é um gesto individual contribui, mas projetos, montar um blog e ficar um sensibilizar as pessoas não é o suficiente. “Não adiantar só mês sem comprar nada, somente de que elas também são fechar a torneira. O problema é mais viver de lixo e tentar reciclar comida. responsáveis pelo o que macro e de estruturas, mas através Mas essa história não deu muito acontece no planeta da mídia e da utilização das redes certo, afinal entupi minha casa de sociais é possível tentar mobilizar as lixo e não dava para comer direito. pessoas”, acredita. Percebi que não dá para ser tão radical”, reconhece. Mas E lembra que o Ricardo busca coisas no lixo para tentar ele dá a dica: pequenas ações já têm grandes influências e reutilizar? Em uma oportunidade ele levou isso muito consequências que nem podemos imaginar.

Atitude

Nada de carro ou metrô, somente caminhada e um triciclo especialmente projetado;

virou livro e filme

Imagine só uma família que passou um ano gerando o menor impacto possível sobre o meio ambiente, e ainda por cima morando em Nova York. Pois foi o que fizeram Colin Beavan, sua esposa Michelle Conlin, a filha Isabella e o cachorro. Entre 2006 e 2007, a família reduziu bruscamente a pegada de carbono no mundo. A lista de hábitos mudados é grande, como reciclar o lixo ou deixar de comer carne vermelha, mas vale o destaque para alguns:

Só compraram comida produzida por fazendas que estavam a até 400 quilômetros da casa; Ficaram sem televisão, ar condicionado e máquina de lavar; O xampu foi substituído por bicarbonato de sódio; Nada de creme dental e papel higiênico. Sim, papel higiênico; Limparam praias poluídas e plantaram árvores de forma voluntária.

Fotos: Divulgação

E tudo isso foi registrado em um blog na internet acabou virando livro e documentário, chamados No Impact Man. Mas depois desse ano tão puxado, a família Beavan não conseguiu manter a mesma dedicação. Entretanto, aprenderam a viver de maneira mais sustentável, e assim fazem hoje. Inclusive deixam registrado tudo em um blog na internet. Para conhecer mais sobre a família e seguir seus passos, acesse http://noimpactman. typepad.com.

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Observatório

Global Forum debate a atuação dos executivos diante das

mudanças climáticas

Participantes do encontro em Curitiba vão identificar os principais atributos e conhecimentos para enfrentar o cenário atual de aquecimento global

Participantes do encontro em Curitiba vão identificar os O Global Forum América Latina (GFAL) é um movimento principais atributos e conhecimentos para enfrentar o cenário mundial de conversação sobre inovação da educação para a atual de aquecimento global sustentabilidade. A primeira edição do evento foi realizada em Qual o impacto das mudanças climáticas nos negócios? E Curitiba (PR), em junho de 2008. Na ocasião, 1.300 lideranças, dos negócios nas mudanças climáticas? Quais as competências entre empresários, acadêmicos, representantes dos governos, relevantes para atuação profissional de entidades empresariais, num contexto de aquecimento de classe e da comunidade “O Brasil não está fora deste global? O que o empresariado debateram, durante três dias, o processo, até porque, sendo pode fazer para aproveitar as avanço da educação e a formação uma nação grande, somos um oportunidades? Essas questões de novos gestores. O encontro, dos maiores emissores de CO2 nortearão os debates da 2ª edição internacional, reuniu participantes do planeta. O argumento de do Global Forum América Latina, de 14 estados brasileiros e de que acontece de 04 a 06 de outros cinco países: Argentina, que a crise não é nossa não novembro, em Curitiba. Venezuela, Paraguai, Uruguai e se sustenta nem nos livra de Segundo o presidente do Sistema Estados Unidos. responsabilidades. Somos parte Fiep (Federação das Indústrias do Nesta segunda edição, os do problema, mas somos, acima Estado do Paraná), Rodrigo da Rocha participantes identificarão de tudo, parte da solução” Loures, responsável por trazer o quais os principais atributos e Rodrigo da Rocha Loures Global Forum ao Brasil, a mudança conhecimentos requeridos para climática e a sustentabilidade enfrentar o cenário de mudanças ambiental são problemas de todos. “O Brasil não está fora climáticas. “Esta composição de participantes torna o Global deste processo, até porque, sendo uma nação grande, somos Forum o evento mais importante do país para discussão e um dos maiores emissores de CO2 do planeta. O argumento criação de soluções para um tema que preocupa a todos”, de que a crise não é nossa não se sustenta nem nos livra de comenta o diretor da Unindus, Henrique Ricardo dos Santos. responsabilidades. Somos parte do problema, mas somos, A questão das mudanças climáticas é o pano de fundo e acima de tudo, parte da solução”, destaca. norteará os debates. “Essa é uma resposta do empresariado Contribuições do encontro serão levadas pelo presidente e da academia na busca de um profissional competente para do Sistema Fiep à 15ª Conferência das Partes sobre o Clima – conduzir os negócios. Nosso objetivo é sugerir uma proposta COP 15 – da ONU, que acontece de 7 a 18 de dezembro, em para um novo formato de aprendizagem, que leve em conta Copenhague, na Dinamarca. o desenvolvimento de competências, a cooperação entre os 34


setores e a transformação cultural”, explica Rocha Loures. O GFAL é uma iniciativa do Sistema Fiep, Case Western Reserve University (EUA) e BAWB (Business as an Agent of World Benefit), realizado pela Unindus e Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP), patrocinada pelo Sesi. Ações pelo Brasil – O encontro realizado em Curitiba, em 2008, inspirou outros estados a organizarem encontros semelhantes. Em novembro de 2008, foi a vez de São Paulo reunir executivos e representantes da academia para propor ações em prol de uma sociedade sustentável. Como resultado, dezoito iniciativas de ação concreta, que aliam educação, negócios e sustentabilidade. Em abril de 2009, representantes dos Estados do Nordeste se reuniram em João Pessoa (PB) e sugeriram 21 propostas. A maioria das proposições sugeria o desenvolvimento de indicadores de sustentabilidade para avaliar os governos municipais e estaduais; mudança nos currículos das escolas de negócios, que devem ser voltados à sustentabilidade de forma geral; criação de uma rede para empregabilidade de pessoas que se preocupam com a sustentabilidade e multiplicam esse ideal; incentivo à pesquisa em recursos renováveis e fontes limpas; e implantação de sistema de gestão ambiental em todas as instituições públicas e privadas. “Entendemos que é preciso repensar a formação para os negócios e percebemos que o caminho para isso é a formação de redes sociais e de aprendizagem, que influem de forma positiva nas mudanças e na educação”, afirma Rocha Loures Todos esses resultados foram apresentados pelo presidente do Sistema Fiep no BAWB-Global Forum 2009, realizado em maio, em Cleveland, Ohio (EUA). Um dos resultados da Conferência Mundial foi um acordo de cooperação entre a Case University (EUA) e a Universidade Federal do Paraná (UFPR), com apoio da Fiep, para a formação de novos executivos voltados para a gestão na sustentabilidade. Em setembro, foi a vez dos Estados do Norte realizarem o Global Forum. Este ano, o encontro ainda será realizado em Cuiabá (MT), entre os dias 9 e 11 de novembro.

Em 2004, 500 líderes empresariais se reuniram por dois dias em Nova York para a construção do plano de desenvolvimento do Pacto Global. Concluíram que a educação é uma prioridade entre as ações estratégicas e que é preciso um alinhamento da educação dos executivos aos princípios do Pacto Global. No ano de 2006, correspondendo à diretriz de promover uma revisão no sistema de educação superior para gestão de negócios, a Case Western, a Academy of Management e o Pacto Global organizaram o primeiro BAWB-Global Forum, realizado em Cleveland (EUA). Foi o início de uma cooperação entre o mundo empresarial e o acadêmico com o objetivo de criar ações efetivas para o desenvolvimento sustentável global.

Movimento teve início em 2000 No ano 2000, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan, propôs à comunidade empresarial internacional a adesão a nove princípios nas áreas de direitos humanos, trabalho e meio ambiente. Batizado de Pacto Global, esse conjunto de princípios foi o embrião de um movimento que desde então vem ganhando corpo em vários países e que tem como premissa o fato de que atualmente as empresas são protagonistas fundamentais no desenvolvimento social das nações e devem agir com responsabilidade na sociedade da qual participam. Sob o impacto dos atentados de 11 de setembro de 2001, um grupo de empresários e acadêmicos decidiu criar um movimento para orientar os negócios como agentes de benefícios para o mundo. Surgiu assim o movimento BAWB – Business as an Agent of World Benefit, criado pela Escola de Negócios da Case Western University. 35


Moda

Ecologicamente

fashion Muito além de tendências da estação, roupas com conceito ecológico ganharam a atenção da mídia, das grifes e também do consumidor Por Jessica Krieger

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O mundo da moda sempre foi alvo fácil para os ativistas de plantão, seja por conta das peles de animais utilizadas na confecção de artigos de luxo, seja pela “vista grossa” quando assunto é o trabalho infantil e escravo realizado pelos fornecedores em países em desenvolvimento. Na tentativa de reverter essa visão pessimista, mudar a opinião pública e, é claro, faturar em cima da onda save the planet, marcas de todo o mundo passaram a investir em roupas ecologicamente corretas, feitas com tecidos que seguem padrões internacionais de sustentabilidade e preservação ambiental. As iniciativas foram muitas. Vivienne Westwood, por exemplo, declarou recentemente que as pessoas devem comprar menos roupas e evitar lavá-las. “Se estiver suja, a roupa vai parecer melhor”, disse, no tom de deboche que a consagrou. Longe das brincadeiras, grifes internacionais como Alexander McQueen e Yves Saint Laurent levantaram a bandeira ambientalista apoiando o documentário Home, que mostra a situação das áreas naturais do planeta em

degradação. A Gucci não só apoiou o lançamento do filme, que aconteceu no Dia Internacional do Meio Ambiente (5 de junho), como criou uma edição limitada de camisetas, comercializadas a 140 euros (cerca de 400 reais). É de algodão orgânico e vem em embalagem reciclável - tudo como manda o figurino das novas tendências da moda mundial, que sinalizam o uso de fibras obtidas em culturas orgânicas como a bola da vez para os fashionistas. Para Sylvio Nápole, gerente de tecnologia da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções (Abit), o mercado mundial está

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Moda ávido por produtos que agregam conceitos de sustentabilidade e apelo social. “Essas ações vão muito além das questões de marketing e promoção da marca. As empresas estão realmente preocupadas com toda a cadeia produtiva porque sabem que o consumidor final está atencioso com esse tipo de ação”, afirma. As empresas de moda, assim como companhias de outros segmentos, sabem que investir em produtos engajados com o meio ambiente faz toda a diferença no processo de comunicação com o consumidor consciente. Estes, por sua vez, atentam cada vez mais a questões relacionadas aos recursos ambientais: chegam a pagar mais caro por produtos ecologicamente corretos e a prestar mais atenção nas grifes que agregam conceitos ecológicos intrínsecos nas suas ações. Este é o caso de Ana Carolina Whitaker Medeiros, gestora ambiental e professora de yoga, que levou os princípios que aplica no ambiente de trabalho para a vida cotidiana. “Comecei a me preocupar em consumir produtos e serviços que tivessem uma cadeia mais sustentável em 2004, quando estava no último ano da faculdade. Mas a minha preocupação com o meio ambiente surgiu ainda jovem. Fui criada em fazenda e sempre estive em contato com a natureza”, conta. Há dois meses, quando esteve num evento que vendia produtos orgânicos, comprou uma bolsa que, além de bonita, considerou ecologicamente correta.

Dos campos aos

ateliês

Alberto dy (Aphoto)

O uso do algodão tradicional perdeu espaço dentro dessa ótica ambiental, uma vez que sua forma de cultivo traz prejuízos ao meio ambiente devido ao uso de agrotóxicos e pesticidas que causam problemas também à saúde dos trabalhadores. Como alternativa, cresceu a procura pelo algodão orgânico, tanto pelas tecelagens quanto pelos estilistas que querem associar sua imagem a produtos ambientalmente responsáveis. Hoje, esta matéria-prima está entre as mais utilizadas pela indústria na fabricação de peças com conceito ecológico. Este tipo de algodão é cultivado dentro de um sistema que fomenta a atividade biológica, sem o uso dos agrotóxicos e produtos químicos envolvidos no processo tradicional. E precisa de certificação em todas as etapas de produção. Vestido de algodão orgânico com tingimento vegetal à base de anileira

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Divulgação

Uma das experiências mais bem sucedida foi o bambu. Muito bem aceito pelos ambientalistas, cresce rápido, melhora a qualidade do solo, não requer uso de pesticidas e possui funções antibacterianas

Roupas produzidas a partir de fibras de bambu Alberto dy (Aphoto)

Sylvio Nápole, da Abit, explica que o algodão orgânico precisa de um tratamento diferenciado também na fiação e tecelagem. “Este tipo de matéria-prima não pode trabalhar junto com a convencional. Há uma separação, um tratamento diferenciado que vai além do cultivo e envolve a produção do tecido como um todo”, explica. Mas o problema, segundo ele, está na oferta, muito abaixo da demanda exigida pelo mercado atual. “A produção de algodão tradicional no país é de 800 mil a um milhão de toneladas por ano, enquanto a oferta do orgânico não chega a 50 toneladas por ano”, acrescenta. Estatisticamente, a cadeia de produção de algodão orgânico no país ainda é pequena, sem escala industrial como na Turquia, Índia ou Estados Unidos. Existem certificados cerca de 600 hectares, que são trabalhados especialmente por produtores familiares. O crescimento de cerca de 30% na produção pode parecer promissor, mas a área plantada de algodão no país ainda é pequena se comparada a esses países. De acordo com dados da Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão), a safra 2008/2009 terá 1,2 milhão de toneladas – com uma área plantada superior a 800 mil hectares. Mesmo com a demanda restrita, diversas empresas já usam este algodão na fabricação de roupas com conceito de moda e apelo ambiental. Lançada no ano passado, a marca Éden, do grupo YD Confecções, é prova disso: as peças comercializadas pela grife são confeccionadas a partir de produtos orgânicos, inclusive com corantes naturais. Muito antes, em 2006, a Levi´s já havia lançado uma coleção ecologicamente correta, com produtos fabricados com algodão orgânico, botões e zíperes reciclados e, para finalizar, embalagens com papel reciclado.

Vestido de Tencel com tingimento à base de açafrão

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Moda

Divulgação

A baixa oferta desta matéria-prima obrigou a indústria A tecelagem Marles, por exemplo, foi uma das primeiras a têxtil a pesquisar outros tipos de fibras ecologicamente trazer para o país uma linha de malhas Bamboo, que leva corretas. Uma das experiências mais bem sucedidas, neste a certificação OKO-Tex Standart 100, um rigoroso selo de caso, foi o bambu. Muito bem aceito pelos ambientalistas, o qualidade europeu para produtos têxteis que não carregam bambu cresce rápido, melhora substâncias nocivas à saúde. a qualidade do solo, não requer O toque macio, com leveza e “A maioria das clientes não uso de pesticidas e possui fluidez dessa linha da Marles, atraiu procura roupas sustentáveis funções antibacterianas. Ou seja, atenção de grifes como a U/W num primeiro momento. Depois é realmente uma matéria-prima Casa das Cuecas, que criou, entre que passam a conhecer todo renovável e biodegradável. Prato outras peças, roupas sleepwear o processo, adotam todo o cheio para fábricas de tecidos feitas com a fibra do bambu. Os conceito implícito nas roupas” e marcas que apostaram em pijamas são confeccionados em Adilson Filipak peças underwear e lingeries. bases caneladas feitas a partir desta matéria-prima. “O tecido tem características únicas, como proteção contra raios UV, capacidade termodinâmica, excelente absorção de umidade e transpirabilidade, leveza, maciez, além de propriedade bacteriostática, que permanece na peça mesmo após dezenas de lavagens”, afirma Izo Levin, diretor de marketing da marca. Entre as opções sustentáveis está, também, o Tencel, da empresa austríaca Lenzing. A fibra é celulósica, feita a partir da polpa de madeira retirada de florestas gerenciadas, com manejo sustentável. Este material precisa de 20 vezes menos água no cultivo em relação à cotonicultura. Com processo de produção 100% limpo, o Tencel é muito utilizado em peças mais casuais e roupas esportivas, graças às suas propriedades como absorção da umidade do corpo, maciez externa e controle bacteriano, oferecendo conforto térmico e aquela sensação de bemestar indispensável para artigos deste segmento.

No varejo

O varejo aproveitou o aumento da demanda pelos consumidores ávidos por produtos que não agridem o meio ambiente e apostou pesado em modelos de loja totalmente sustentáveis. É o caso da curitibana Joyful, que investiu na definição “estilo de vida sustentável”, com um conceito ecológico em todo o processo produtivo das peças da marca – da matéria-prima utilizada até o ponto de venda. A loja é um caso á parte: “O piso é de madeira com certificado FSC, e o cimento utilizado na reforma, menos poluente. Aproveitamos a iluminação natural para o ambiente interno, além de luminárias que captam a luz solar. Os móveis e a fachada foram construídos com madeira de demolição”, explica Adilson Filipak, proprietário da loja ao lado da irmã, Edilaine. Na coleção exposta nas araras, peças confeccionadas em Tencel e algodão orgânico. Para o tingimento das peças, a Joyful aposta em corante vegetal, extraído

Pijama da linha Sleepwear da U/W – Casa das Cuecas

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Algodão convencional Sementes

Água e solo Controle de ervas daninhas Controle de pragas

Colheitas

Algodão orgânico

Tratamento com fungicidas ou inseticidas.

Não recebe tratamento químico.

Uso de sementes transgênicas.

Não utiliza sementes transgênicas.

Perda de solo por predominância de monocultura.

Fortalece o solo com rotação de culturas. Retém água com matéria orgânica para adubo.

Requer irrigação intensiva.

Uso do adubo orgânico e composto, que pode ser produzido no próprio local.

Aplica fertilizantes químicos. Aplica herbicida no solo para inibir as germinações de pragas.

Capina manual de pragas, ao invés de uso químico.

Aplica herbicidas nas pragas que insistem em germinar.

Armadilhas para controle de pragas.

Uso instensivo de inseticida, responsável por 25% do consumo mundial. Os nove pesticidas mais utilizados são altamente tóxicos. Cinco deles podem causar câncer. O iseticida é aplicado através de spray que alcança a casa dos agricultores, comunidade e vida selvagem nos arredores. Desfolha feita com produtos químicos e tóxicos.

Mantém um equilíbrio entre as pestes e seus predadores naturais através do solo saudável. Utiliza controle biológico com insetos benéficos. Cultiva plantas que atraem insetos e os mantém longe do algodão. Desfolha feita com métodos naturais.

“O mercado mundial está ávido por produtos que agregam conceitos de sustentabilidade e apelo social” Sylvio Nápole

Divulgação

de frutos, raízes e árvores como pau-brasil, urucum, entre outras. Como resultado, roupas que atraem o desejo de mulheres contemporâneas, de 35 a 45 anos, com consciência ecológica, é claro. “Elas sabem da importância de adquirir peças com apelo ambiental. Mas a maioria das clientes não procura roupas sustentáveis num primeiro momento. Depois que passam a conhecer todo o processo, adotam todo o conceito implícito nas roupas”, conta Filipak, que pretende ampliar a distribuição dos looks com estilo ambiental para dezenas de multimarcas em cidades pontuais do sul e sudeste do país. A consumidora Ana Carolina Medeiros concorda: “O que entendo é que, cada vez mais, as pessoas estão procurando saber de onde vêm os produtos que elas consomem, a história desses produtos, e muitas empresas estão tentando traçar suas cadeias produtivas e divulgar para os consumidores. Um situação leva a outra. Consumidores mais conscientes exigem empresas mais conscientes. Empresas mais conscientes conversam com consumidores mais conscientes”.

Roupas produzidas a partir de fibras de bambu

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Shopping Centers

Para onde vai

o lixo dos shopping centers

?

Os centros comerciais produzem uma quantidade gigantesca de resíduos, que precisam seguir para um destino que não impacte o meio ambiente. Mas será que estes empreendimentos estão preocupados com isso? Por Gustavo Ribeiro

Fazer compras, ir ao cinema ou simplesmente passear por De acordo com dados da Associação Brasileira de shopping centers já é parte do cotidiano de grande parte dos Shopping Centers (Abrasce), existem 385 centros brasileiros que moram em cidades. Buscando comodidade, comerciais no Brasil, por onde circulam mais de 325 segurança e lazer, as pessoas consomem milhões de pessoas por mês, que e movimentam um setor que não para de geram um faturamento estimado de No Brasil existem 385 crescer e que garante a geração de mais de 64,6 bilhões de reais ao ano. Tudo isso centros comerciais, 720 mil empregos. graças a 65,5 mil lojas e 2,2 mil salas

por onde circulam mais de 325 milhões de pessoas por mês

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Shopping Centers

385 centros comerciais

+ 325 milhões pessoas faturamento de 64,6 bilhões por ano circulando por mês

65,5 mil lojas e 2,2 mil salas de cinema

9 milhões de m² 1.046 campos de futebol

Fonte: Abrasce

de cinemas, que ocupam uma área de quase 9 milhões de metros quadrados, equivalente a aproximadamente 1.046 campos de futebol. São números assustadores que mostram a dimensão da participação dos centros comerciais na economia brasileira. Mas com tantas lojas, pessoas circulando, empregos gerados, cinemas, é de se esperar que os shopping centers produzam uma quantidade inimaginável de lixo, seja reciclado ou orgânico, este principalmente vindo das praças de alimentação. E com tanto lixo, fica a pergunta: para onde tudo isso vai? Existem diversos destinos para os rejeitos de centros

comerciais, mas os mais comuns ainda são os aterros sanitários. Sem dúvida é o mais simples e barato a se fazer, mas nem é preciso dizer que é péssimo para o meio ambiente e, consequentemente, para todas as pessoas que vivem em áreas de lixão. Entretanto, a cada dia que passa os administradores de shopping centers estão mais antenados e preocupados com a cadeia negativa que geram, e por isso trataram de buscar processos mais limpos e responsáveis, com benefícios para todos os envolvidos. Os principais exemplos de preocupação com os resíduos gerados estão relacionados com estações de reciclagem. O Shopping Iguatemi de Fortaleza (CE), por

Lixo orgânico também

pode ser reciclado

A reciclagem de lixo orgânico não é um processo comum, muito menos em shopping centers, mas existe. Confira aqui todo o processo de transformação de resíduos orgânicos em alimento para suínos, realizado pelo Shopping Palladium, de Curitiba (PR).

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exemplo, direciona por mês mais Existem diversos de 35 toneladas de resíduos destinos para os sólidos para uma estação de prérejeitos de centros reciclagem, onde são separados comerciais, mas os mais papelão, papel branco, plástico comuns ainda são os e latas. Depois desse processo, todo o material é encaminhado aterros sanitários para empresas especializadas que o tratam e o transformam em matéria-prima. Na capital federal, quem também conta com processos de reciclagem é o Brasília Shopping. A coleta seletiva é realizada por três empresas diferentes, que recolhem lixo seco, infectante, papel, papelão, plástico e vidros. E há cinco anos o centro comercial tem contrato com a Recicoop (Associação dos Manipuladores de Resíduos Recicláveis de Planaltina-GO), que separa aproximadamente 12,6 toneladas de lixo por mês. O papelão é o material com maior volume de arrecadação, seguido pelo papel. O superintendente do shopping, Geraldo Mello, afirma que além de garantir um bom destino para o lixo, essa separação garante um retorno financeiro com a venda ou reaproveitamento de materiais recicláveis, e ainda proporciona uma boa imagem para a empresa. “A reciclagem preserva o meio ambiente e traz benefícios para

Os resíduos orgânicos são despejados num tanque com água, onde são misturados e triturados. Este processo possui uma rotina de acionamento que acontece de hora em hora, por cinco minutos, evitando a decantação, fermentação ou mau cheiro. O tanque é esvaziado diariamente.

Os resíduos são separados conforme sua oportunidade de reaproveitamento reciclável e orgânico.

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Shopping Centers o que dizer do lixo orgânico, produzido principalmente nas praças de alimentação? Esse é um desafios não só de centros comerciais, mas de qualquer empreendimento que acaba gerando restos de comida. Entretanto já é um desafio que vem sendo vencido, pelo menos por um shopping center de Curitiba (PR). O Palladium desde sua abertura em 2008 já conta com separação de resíduos sólidos, mas foi um ano mais tarde que o lixo orgânico também passou a ser reciclado, através de uma iniciativa do próprio centro comercial, em parceria com o Instituto Ambiental do Paraná e as empresas Roadimex e Abdalla Ambiental. O processo parece até simples, mas é mais complexo do que podemos imaginar. Os resíduos orgânicos produzidos no interior do estabelecimento são despejados em um tanque metálico com capacidade de 7,5 mil litros. A cada hora o misturador é acionado por cinco minutos para triturar e misturar os resíduos, para evitar a decantação no interior do tanque, assim como a fermentação do lixo, que gera mau cheiro. Na sequência o conteúdo é transferido para um caminhão tanque, que segue diretamente para uma granja de engorda de suínos na cidade de Araucária (PR), na Região Metropolitana de Curitiba. Chegando na granja, os resíduos são misturados e transportados até tanques aquecidos a 90ºC por 20 minutos para eliminar bactérias e outros micro-organismos que possam prejudicar os suínos. Por fim o resíduo passa por tubulações até chegar aos cochos de alimentação dos animais.

toda a comunidade”, diz. E de fato a comunidade agradece, como explica o coordenador da Recicoop, Luiz Roberto Vieira Costa. “Com essa triagem, é garantido o sustento de cinco famílias, que chegam a arrecadar um total de 3.535 reais por mês”, conta. Mas se os resíduos reciclados já estão encaminhados,

O conteúdo gerado segue para uma caldeira acionada por sobras de madeiras, onde sofre aquecimento destruindo assim todas as bactérias.

O conteúdo do caminhão é despejado em um tanque onde será adicionado soro de leite, recolhido das sobras dos processos produtivos de indústrias alimentícias.

Fonte: Shopping Palladium

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Marco Antonio Zanini, sócio-proprietário da granja importante para os centros comerciais é a redução da Abdalla Ambiental, para onde vão os rejeitos do no consumo de água e energia, que garante melhor Shopping Palladium, explica que o processo deve ser o qualidade de serviço para o consumidor e economia, mais limpo possível. “O porco sempre sem contar que ajuda o meio comeu resto de comida, mas de uma ambiente. É o que comenta Maria “Se fizermos as coisas maneira primitiva e sem higiene. Se Luisa Pucci, diretora de marketing direito, vemos que caso não nos preocuparmos, cria-se do Shopping Cidade Jardim, conseguimos eliminar um foco de bactérias, moscas e mau localizado na capital paulista: “Os resíduo sem prejudicar cheiro, e não tem o que fazer. Então shopping centers contam com o meio ambiente” esse processo tem que ser o mais um grande fluxo de pessoas e Marco Antonio Zanini limpo possível, mas isso só funciona também abrigam muitas lojas, se o local de origem dos resíduos não gerando lixo e muitos gastos deixar contaminar o lixo”, comenta. com energia e água. Por isso a Ele explica que os rejeitos garantem de 550 a 600 gramas questão de sustentabilidade se torna obrigatória em de peso que os porcos ganham por dia. Se comparado empreendimentos desse tipo”. com ração, ainda não consegue competir, mas ele já Muito do que é feito nos centros comerciais para tem planos para mudar essa situação. “Hoje a comida buscar espaços mais sustentáveis nem passa pela cabeça tem energia e gordura, mas pouca proteína. Por isso não dos consumidores. O fato de alguns empreendimentos dá o mesmo resultado. Mas quando eu tirar a água e terem o teto transparente, por exemplo, não é apenas colocar soro e um pouco de farelo de soja, as coisas serão para deixar o ambiente mais bonito, mas também para diferentes”. Só que Marco Antonio não se contenta com economizar energia. Ou aqueles que deixam espaços isso. Ele quer fazer muito mais e acredita que é possível. ao ar livre, que além de garantirem um ambiente “Para tudo tem um jeito. Se fizermos as coisas direito, mais natural, também economizam bastante com ar vemos que conseguimos eliminar resíduo sem prejudicar condicionado. Podemos não perceber, mas muito já o meio ambiente”, finaliza. está sendo feito para que a experiência de consumo do Mas sustentabilidade em shopping centers não se visitante seja melhor e que isso impacte o menos possível resume a cuidados com o lixo. Outro fator bastante o meio ambiente.

Transforma-se em alimento rico em nutrientes para os animais. No final, o excedente da ração e secreção dos animais seguem para lagoas onde, através de processo de decantação, e fermentação, produz adubo orgânico retornando de forma saudável ao ciclo produtivo da terra, e distribuído gratuitamente aos produtores rurais da região.

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Alimentação

A ovos

galinha dos de

ouro...

orgânicos

Por Carolina Gomes Conhece aquela fábula do fazendeiro que acordou com sua galinha botando ovos de ouro? Pois é mais ou menos assim que se sentiu a agricultora paranaense Célia Ripka quando conseguiu a certificação para produção de ovos orgânicos. A manhã do dia 4 de junho de 2009 foi de festa na pequena localidade de Areia Branca dos Assis, em Mandirituba,

cidade da Região Metropolitana de Curitiba, a pouco mais de 40 quilômetros da capital. Prefeito, vice-prefeita, representantes da Secretaria Estadual da Agricultura, da Emater, do Banco do Brasil. Todos querendo aparecer na foto da inauguração da primeira unidade de classificação e beneficiamento de ovos produzidos de forma orgânica da região. Hoje dúzias de ovos são a representação da esperança para a família de Célia. “Estamos surpresos com a aceitação. São poucos meses no mercado e já não estamos dando conta dos pedidos”, conta a agricultora. No começo eram 500 galinhas. Em setembro outras mil chegaram para aumentar a produção. A agricultora de 46 anos, o marido Antonio Osvaldo, de 52, o genro, o filho e um funcionário trabalham todos os dias na criação das aves e no plantio de verduras e morangos orgânicos. A produção tirada da propriedade de dois alqueires é a única fonte de renda de todos os envolvidos. A família vende seus produtos em três feiras e também entrega em casa para alguns clientes. “Fico orgulhosa de poder tirar o sustento da minha família de um pequeno pedaço de terra”, emociona-se Célia. Mas, diferente da fábula, para a agricultora paranaense nada aconteceu da noite para o dia. Célia começou a trabalhar com produtos orgânicos com a antiga patroa, há quase 15 anos. A patroa desistiu do negócio e Célia arrendou a área. Sete anos depois, ela e o marido conseguiram comprar o terreno. Naquela época criavam apenas galinhas caipiras. Mas como a venda de ovos caipiras não é

“Quem quer entrar em qualquer setor de orgânicos precisa ter paciência” Célia Ripka

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permitida nas feiras de orgânicos que Célia frequentava, ela comprovam que a estratégia de Célia é certeira. Em 2006, decidiu se desfazer das aves. Um ano depois, incentivada Jacqueline Araujo, Rogério Sakai e Samuel Telhado fundaram por funcionários da prefeitura que em Piracicaba (SP) a empresa sabiam da procura por ovos orgânicos, Sabor e Cor. Desde então, eles vêm “é viável e protege não só Célia iniciou o projeto para instalar a aumentando continuamente sua a natureza mas também a estrutura necessária. “Não foi nada fácil. produção. Hoje oferecem ovos saúde do produtor” Quem quer entrar em qualquer setor orgânicos em caixas com seis, dez Samuel Telhado de orgânicos precisa ter paciência. As e 30 unidades que são distribuídos exigências são muitas”, conta. para restaurantes, hotéis e pequenos Para colocar o projeto em prática, Célia emprestou 20 mercados do território paulista. Samuel Telhado conta que o mil reais do Banco do Brasil e pegou outros 20 mil que tinha início é realmente muito difícil. Tanto é que, passados três anos, de economia. Depois da certificação, cada caixa de ovo é ainda estão recuperando o investimento que fizeram ao longo vendida a 6 reais, com uma margem de lucro de cerca de do tempo. “Mesmo com todas as dificuldades, já podemos dizer 30%. “Enquanto a certificação não saía tive que vender várias que é uma boa alternativa econômica. É viável e protege não só dúzias a 2 reais, porque pelo menos assim o prejuízo não era a natureza mas também a saúde do produtor”, explica. tão grande. Além de tudo, mesmo depois da certificação, eu A viabilidade econômica do sistema orgânico de criação levei um tempo até recuperar minha clientela”, diz Célia. Mas de galinhas foi comprovada pela pesquisadora Isis Mariana não dá para reclamar. Passado o período mais difícil, Célia Pasian, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia já chegou a vender 150 dúzias em um único dia. E a ideia é da Universidade de São Paulo. “Como a demanda é muito investir cada vez mais na criação das galinhas. grande, ainda não é possível abandonar o sistema tradicional de produção de ovos. Mas os sistemas alternativos vêm atendendo nichos crescentes de mercado”, explica Isis. Outra diferença entre a fábula e a vida real. Ao contrário do fazendeiro do conto – que matou a galinha querendo pegar de uma vez todo o ouro que a ave botaria – a agricultora paranaense e os produtores paulistas sabem A cerca de 600 quilômetros dali, três jovens engenheiros muito bem que o sucesso deles depende da felicidade de agrônomos, formados pela Universidade de São Paulo (USP), suas galinhas. Carolina Gomes

Natureza e homens como aliados

Produtora Célia Ripka em feira de orgânicos em Curitiba (PR)

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Alimentação

mais

Galinhas felizes

ovos mais

botam

saudáveis

A questão do preço é uma das mais lembradas quando se fala em orgânicos. Isis diz que não há como negar que os produtos orgânicos são mesmo mais “salgados”. No caso dos ovos, de acordo com Isis, pode-se dizer que se o convencional custa X, o caipira custará 2X e o orgânico 3X. “O problema é que a grande maioria dos consumidores não sabe as diferenças entre os sistemas de produção e por isso não compreende porque o ovo orgânico é três vezes mais caro que o convencional. Enquanto ele não conhecer as diferenças e valorizá-las, ele não pagará mais por esse produto”, reconhece. O produtor Samuel Telhado concorda. “Afirma-se que o preço é caro e que por isso o consumo é menor. Mas será que poderemos continuar poluindo as águas e o ar sem custo? Será que a limpeza desses recursos não nos custará nada? São estes custos que não são incluídos no produto convencional, que o fazem aparentemente barato”, defende Samuel. Isis acredita que a maior barreira enfrentada pelos produtores de orgânicos é a falta de informação do

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consumidor. “As pessoas estão muito distantes do processo produtivo dos alimentos de origem animal. Ovos, leite e carne vêm de animais e muitas vezes o consumidor parece esquecer disso. Um dos grandes diferenciais da criação orgânica é a extrema importância que é dada ao bem-estar dos animais”, garante Isis. De acordo com a pesquisadora, no sistema tradicional as aves ficam confinadas em gaiolas suspensas, podem apresentar problemas nas patas por pisarem apenas nas grades das gaiolas, dificilmente tomam sol e têm um espaço de movimentação equivalente a uma folha de papel sulfite. Os animais podem receber antibióticos e pigmentantes sintéticos na ração. Segundo Isis, o consumidor também desconhece que no sistema tradicional existe um procedimento chamado de

“Um dos grandes diferenciais da criação orgânica é a extrema importância que é dada ao bem-estar dos animais” Isis Mariana Pasian

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debicagem, em que uma porção do bico da ave é cortada. “Isso gera estresse, dor e dificulta comportamentos naturais do animal como a autolimpeza e a seletividade do alimento”, explica. No sistema orgânico, as aves são criadas no piso, a ração deve ser comprovadamente orgânica, no máximo seis animais por metro quadrado na área coberta e seis metros quadrados para cada ave na área de pastagem. É assim na chácara da agricultora Célia Pipka. “As aves só entram no galpão para comer e dormir”, conta ela. Além disso, a debicagem, o uso de antibióticos, de promotores de crescimento e de pigmentantes sintéticos são proibidos. As galinhas são tratadas apenas com homeopatia e a presença do galo é permitida.


Telhados Verdes

A vida nasce do alto Por Carolina Gabardo Belo

aço não é p s e o c u o p m o c s s ou terreno to n e m a não há rt a e p S a . m e e d r r e v a e Mora r á de ter uma r a ix e d ra a p , você, e a p it l d e r c a E . o mais descu ã ç u do é a sol a h l te o , l ta in u q com isso! r o a h n a g a espaço n o it u m mbiente têm a io e m o e s o h in seus viz 52


Mesmo no alto do quinto andar do causa situações de trinca, por exemplo. “Tem um ganho prédio onde mora, em Porto Alegre (RS), Desde o final do ano passado que a gente não Marilene Pitres Sales, 53, considera-se com a nova cobertura, Marilene já mede, não tem como moradora de uma casa. Isto porque o percebeu melhorias na climatização contabilizar e não terraço de seu apartamento deixou de ser de sua casa. Mesmo com o alto custo tomado pelo concreto e ganhou uma nova volta só pra mim” de aplicação da estrutura, ela ressalta cobertura: a grama. outros benefícios que ganhou com a Marilene Pitres Sales Agrônoma e envolvida em projetos de iniciativa. “Tem um ganho que a gente sustentabilidade, Marilene não pensou não mede, não tem como contabilizar duas vezes antes de fazer o investimento. Ela aproveitou e não volta só pra mim. Aquela era uma área muito grande as obras para consertar problemas de infiltração em seu sem vegetação e mesmo se eu colocasse vasos, não teria apartamento e transformou o terraço em uma cobertura o mesmo benefício que tenho com a grama”, afirma a “verde”. Em um mês, todo o projeto já estava pronto. A agrônoma que recomenda a colocação de telhados verdes área de 70 metros quadrados com piscina tornou-se uma em residências. “Temos que começar a nos preocupar com espécie de jardim e chamou a atenção dos vizinhos. Alguns a sustentabilidade. Não precisa ser bastante área verde, mas chegaram a fazer pesquisas na internet para saber o que era mesmo assim será mais do que apenas alguns vasos. Vai ser a novidade e, quem sabe, copiar a ideia. grama e o telhado não será mais uma área que não se usa”. O novo espaço cativou também os convidados de Marilene para festas realizadas no local e principalmente seu cachorro, que é quem mais aproveita a área para brincar. “Juntei as duas coisas e foi bem interessante. Ganhei uma área verde a mais”, conta a dona da casa que se distrai com a manutenção da área, o que, de acordo com ela, faz com muito gosto. “Eu gosto destas atividades, por isso não me Muito tempo antes de entrar em incomodo em fazer a manutenção”, conta. discussão como uma alternativa Em discussão na arquitetura desde a década de 50, o telhado verde é considerado um dos principais elementos da chamada sustentável na arquitetura, os telhados arquitetura passiva. A construção de áreas verdes ganhou mais verdes já faziam sucesso. Eles já estavam evidência com a fase modernista, focada na sustentabilidade presentes nos Jardins Suspensos da e em soluções ambientais. Este viés da arquitetura chamase passivo por usar seus próprios recursos a favor do meio Babilônia - uma das sete maravilhas ambiente, como por exemplo a posição de janelas e criação de do Mundo Antigo -, construídos pelo aberturas para ventilação, que reduzem o consumo de energia. Rei Nabucodonossor II para a Rainha Além de gramados, os telhados verdes podem ser compostos por arbustos e até mesmo hortas produtivas, Amitis, ou então nos terraços jardins em espaços muitas vezes considerados inúteis. Do ponto de da arquitetura modernista dos anos vista da construção, o principal benefício dos telhados verdes 20. O resgate do também chamado é o conforto térmico que promove na casa. Este conforto térmico ocorre em todas as estações do ano, pois protege “enverdecimento” urbano foi feito pelos a construção da incidência direta do sol, deixando assim a alemães, com o objetivo de adequar temperatura interna adequada. Nos espaços sem a cobertura as cidades em relação aos problemas verde, o calor fica armazenado na estrutura de concreto ou nas telhas e é transmitido para toda a residência. ambientais como poluição atmosférica, Com a adequação da temperatura nos ambientes internos, ilhas de calor ou enchentes. a estrutura das construções também é beneficiada. Os elementos que compõem a casa “trabalham” menos e reduzem a necessidade de manutenções. Este “trabalho” dos elementos

Não é de hoje!

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Telhados Verdes

Jardim suspenso: alface, rúcula jiló

necessidade de mão-de-obra especializada. A iniciativa foi do biólogo Paulo Luciano da Silva, que há seis anos trabalha no escritório central do Emater. Ele é o responsável pelo espaço, organizado com recursos materiais oriundos do próprio Instituto. A partir da mistura de terra preta, adubo e sementes, surgem do alto do prédio pés de alface, cebolinha, salsinha, rúcula, jiló e outros vegetais. A produção é inteiramente orgânica, conta com defensores naturais, e é alternada a cada quinze dias, para Nas atividades práticas das aulas de Ciências e Biologia, garantir a produtividade do solo. Por mês são produzidas estudantes de Curitiba (PR) colocam a mão na massa. aproximadamente 250 unidades. Durante as visitas ao Emater (Instituto Paranaense de Na época de colheita, cada criança que participa da Assistência Técnica e Extensão Rural), alunos do ensino atividade leva para casa alguma hortaliça. Assim como fundamental conhecem a dinâmica os estudantes, os servidores do do solo, observam de perto pequenos instituto também não ficam com as animais, recebem informações sobre Além de gramados, mãos abanando, já que metade da a fotossíntese e também ajudam na os telhados produção é vendida a preço de custo manutenção de uma horta. verdes podem ser aos funcionários, estoque que acaba Nada incomum se os canteiros compostos por em poucos minutos. A cobrança de 30 onde são cultivadas as verduras e as arbustos e até mesmo centavos pelas verduras e hortaliças hortaliças não ficassem no telhado do é um valor simbólico, revertido para hortas produtivas Instituto, transformado em um jardim a manutenção da própria horta. A suspenso. Há um ano e meio, as plantas outra metade é doada a instituições de ornamentais que estavam no local foram caridade. “Temos muita demanda. As pessoas gostariam de substituídas pelas áreas de plantio. Entre as razões comprar mais e querem saber como podem fazer para ter para a troca, os altos custos para a manutenção e a

e

Fonte: Ecotelhado

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hortas no telhado de casa”, conta o biólogo. Os benefícios da horta cuidada por Paulo Luciano e pelos estudantes vão além do cardápio. A horta fica ao lado do refeitório e é um estímulo à boa alimentação dos funcionários. Além disso, todo o prédio passa a contar com o conforto térmico. “O espaço fica bonito. É agradável e aconchegante. As linhas de plantio ficam ao lado do restaurante e estimulam a alimentação saudável”, afirma.

“Aprovação mais rápida de projetos sustentáveis é um grande incentivo à colocação dos telhados verdes”

Como funciona o telhado verde Camada 1: Membrana de proteção antirraízes Protege a estrutura do telhado contra a ação de raízes mais extensas. A estrutura é flexível e tem a cor preta.

Camada 2: Membrana alveolar Camada responsável pela drenagem e retenção do excesso de água que incide sobre o telhado verde. É destinada às raízes das plantas e composta por pequenos reservatórios de água.

Paulo Lisboa

Camada 3: Membrana de retenção dos nutrientes Vegetação

Substrato Leve Ecotelhado (1 cm ou mais)

Módulo Ecotelhado (8 cm) evita erosão, a compactação e aeração

Membrana Filtrante Ecotelhado

Membrana Alveolar Ecotelhado (2 cm) drenagem e retenção de água Membrana Ecotelhado antirraízes (preta 200 micras)

Com nutrientes para as raízes das plantas, esta membrana é composta por uma espécie de tecido reciclado. Ela também retém parte da água absorvida pelo telhado verde.

Camada 4: Substrato rígido Formada por EVA reciclado, a camada de substrato contém os nutrientes para a vegetação acomodada logo acima. Promove a oxigenação e evita o amassamento das raízes.

Camada 5: Substrato leve e nutritivo Camada logo abaixo da vegetação, o substrato leve e nutritivo é composto por materiais orgânicos e sintéticos reciclados.

Camada 6: Vegetação Plantas do telhado verde. Em geral é utilizada vegetação de pequeno porte, com fácil manutenção e alta resistência. É o tipo de vegetação que define a quantidade e os modelos de substratos que serão utilizados na estrutura do telhado verde. * É importante estar atento à impermeabilização da área em que será colocado o telhado verde e o processo de drenagem da água. A escolha das plantas também é fundamental para a eficácia do telhado. Plantas com raízes longas, como arbustos, exigem a colocação de mais substratos ou materiais que impeçam a chegada das raízes à área de concreto, o que pode causar infiltrações e danos à estrutura. 55


Telhados Verdes

Você

também

aos telhados verdes”, avalia João Feijó, engenheiro agrônomo e proprietário da empresa Ecotelhado, uma das pioneiras na criação de telhados verdes, no mercado há seis anos. A colocação do telhado deve ser feita por profissionais especializados, pois necessita de uma complexa estrutura. Já a manutenção é igual a de um jardim comum e pode ser feita por qualquer morador da casa. Nos Estados Unidos e países da Europa, são comuns as Não são apenas as novas construções que podem residências que aproveitam o telhado para garantir mais contar com um telhado verde. Adaptações em casas área verde. No Brasil, a prática ainda é com telhados convencionais também tímida em relação aos outros países e é permitem a colocação de plantas. O investimento muito procurada por empreendimentos As telhas são substituídas pela nova para a instalação que buscam selos de certificação vegetação, após um reforço na de telhados sustentável. “Ainda é o problema de impermeabilização da área e da estrutura verdes varia entre custo. Se o arquiteto oferece a solução, que vai suportar todos os elementos. R$ 90,00 e R$ 120,00 quem tem compromisso e recursos vai O investimento para a instalação de por m2 adotar a ideia. Mas está começando a telhados verdes varia entre 90 reais e 120 se popularizar”, afirma o arquiteto Paulo reais o metro quadrado, dependendo do Lisboa. Entre as alternativas sustentáveis, tipo de jardim escolhido. “É praticamente os telhados verdes ainda estão atrás dos sistemas que o mesmo preço (que um telhado comum), mas o utilizam energia solar, amplamente utilizados nas novas benefício é muito maior. Não existe nada que se equipare

Fotos: Divulgação

pode ter o seu

Depois

Antes Antes e depois da instalação de telhado verde em Niterói (RJ)

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construções. “Falta divulgar mais”. Além de melhorias para as construções e cuidados com o meio ambiente, a arquiteta Sylvia Rola aponta ainda benefícios no mercado de trabalho. “A aplicação de telhados verdes em grande escala pode resultar na geração de emprego e renda, seja na produção de espécies vegetais quanto na manutenção destes novos espaços ajardinados”. Especialistas acreditam que a popularização dos telhados verdes e demais práticas sustentáveis dependem diretamente de investimentos e incentivos por parte do poder público. João Feijó, da Ecotelhado, defende a colocação dos telhados verdes no plano diretor dos municípios. “Estamos discutindo em Porto Alegre uma lei que praticamente induz que todas as construções tenham telhados verdes. É preciso que isso seja feito e de forma planejada”, conta. Na opinião de Paulo Lisboa, a aprovação mais rápida de projetos sustentáveis é um grande incentivo à colocação dos telhados verdes. “Com certeza as pessoas passariam a utilizar mais isso. São as políticas públicas adequadas ao incentivo destas tecnologias”, afirma.

Todossaem ganhando

Não são apenas os moradores das casas com telhados verdes os que se beneficiam com a iniciativa: O conforto térmico gerado nas construções com telhados verdes reduz entre 20% e 30% o consumo de energia com aparelhos de climatização nas grandes cidades. Esta redução fica mais evidente em edifícios corporativos, onde o consumo de energia é elevado. Consequentemente, menos CO2 é emitido para a atmosfera e novas áreas verdes são criadas nos centros urbanos, cada vez mais ocupados por concreto e que sofrem com o calor.

Fotos: Marilene Pitres Sales

Ao mesmo tempo, as plantas produzem mais oxigênio e a região onde estão fica com o “ar mais fresco”. Os espaços verdes servem também como novas áreas de impermeabilização. “É como se criasse uma ‘piscina verde’, que retém a água da chuva. Parte da água evapora, parte é drenada e chega mais tarde na rede pública, o que pode evitar acúmulo em momentos de grande incidência”, explica o arquiteto Paulo Lisboa. É possível ainda reutilizar a água drenada pelos telhados verdes como água para lavagem de calçadas, por exemplo. Áreas verdes em espaços ocupados prioritariamente por concreto trazem ainda um conforto visual para quem observa o local. Melhor para os vizinhos das construções dos telhados verdes. Os telhados verdes podem ser utilizados como áreas de lazer em edifícios e residências. É possível aliar o espaço como local de trabalho, mas de forma lúdica com as crianças. Uma opção é a criação de pequenas hortas, que garantem ainda alimentação saudável a toda a família.

Onde encontrar telhados verdes Ecotelhado www.ecotelhado.com.br Instituto Cidade Jardim www.institutocidadejardim.com.br Converse também com um arquiteto! Terraço do apartamento de Marilene em Porto Alegre (RS).

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Turismo Artigo

Turismo

ético e sustentável

Por Silvana Lucolli

Arquivo pessoal

Butão, situado no pé da Cordilheira do Himalaia, a riqueza Viajar sempre foi uma das minhas grandes paixões, não se mede em dinheiro, mas em felicidade. Em 1972, o e com o passar dos anos e a soma de experiências país adotou o IFIB (Índice de Felicidade Interior Bruta) que gratificantes, aprendi a conhecer outros países com substituiu o PIB (Produto Interno Bruto). Foi ideia do Rei uma mentalidade aberta, desfrutando em plenitude Wangchuk, que através de entrevistas com aproximadamente da grande diversidade cultural do planeta, de suas dois milhões de butaneses inúmeras paisagens e maravilhosos estabeleceu os seguintes parâmetros recursos naturais. As viagens e o turismo são para medir o IFIB: bem-estar Nas últimas duas décadas, por as primeiras indústrias psicológico, saúde, educação, bom motivo de trabalho e lazer, tive do mundo, que movem governo, vitalidade da comunidade oportunidades únicas para mover750 milhões de pessoas e diversidade biológica. Sem me por uma boa parte da geografia que gastam entre 1,5 e 2,5 dúvida, um grande exemplo a ser do globo terrestre, passando da bilhões de euros ao ano: seguido pelos governos que estão Sibéria à Cordilheira dos Andes um grande negócio com preocupados apenas com o PIB. chilena, das Ilhas Maldivas ao graves consequências Hoje, mais do que nunca, somos Saara marroquino, dos fiordes para o planeta totalmente conscientes de que noruegueses aos templos budistas nossa felicidade, e também a dos japoneses. Após tantas viagens e nossos descendentes, depende do estado de saúde geral do contatos com pessoas tão diferentes, a maior lição de vida planeta. Sem ela, estaremos destinados a viver num mundo e sabedoria que assimilei foi entender em profundidade contaminado, sem qualidade de vida e ameaçado por graves que todos os habitantes do planeta estão buscando um catástrofes ambientais. mesmo tesouro: a felicidade, no sentido mais amplo e As viagens e o turismo são as primeiras indústrias do universal de seu significado. mundo, movendo 750 milhões de pessoas que gastam entre Parece mentira, mas em um pequeno país chamado 1,5 e 2,5 bilhões de euros ao ano: um grande negócio com graves consequências para o planeta. Para muitas pessoas, viajar significa deixar de lado as preocupações e mimar-se à base de cômodos hotéis, comidas copiosas e diversões relaxantes. As viagens de trabalho também devem começar a ser analisadas através de uma “mente verde”. Necessitamos adotar medidas e atitudes corretas para que esta atividade tão prazerosa não se transforme em danos sérios e irreversíveis para a Terra. Justificando numericamente a importância de programar um turismo cada vez mais sustentável, apresento algumas cifras alarmantes: • As viagens aéreas produzem uma assombrosa quantidade de contaminação atmosférica; • O consumo de energia por quilômetro e passageiro é comparável ao de todos os automóveis que circulam na Terra, com a diferença que as emissões dos gases contaminadores a grande altitude têm um impacto médio 2,7 vezes superior aos que se produzem no nível do solo; • Um navio transatlântico pode gerar 95 mil litros de Silvana Lucolli, bióloga e mestre em Gestão do Meio Ambiente e Auditorias na Espanha

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Nossa felicidade depende do estado de saúde geral do planeta águas residuais procedentes dos banheiros, 540 mil litros de águas residuais procedentes das duchas, das pias e da cozinha, sete toneladas de lixo e resíduos sólidos, 55 litros de produtos químicos tóxicos e 26,5 mil litros de águas contaminadas com óleos do fundo do barco. O Centro de Destinos Sustentáveis da National Geographic introduziu o termo “geoturismo” para redefinir o conceito de viagem ecológica e responsável. Necessitamos mais do que nunca dar passo a um tipo de turismo que respeita, sustenta e reforça não só o caráter natural senão também o cultural do lugar em questão, sua história, sua cultura e seu legado, procurando contribuir ativamente ao bem-estar de seus habitantes.

Saara: um deserto com destino sustentável Uma das minhas últimas viagens turísticas com caráter sustentável foi ao Saara de Marrocos. Pisei pela primeira vez neste deserto há 13 anos. Merzouga era então um pequeno povoado do Vale de Tafilalet, habitado por berberes nômades e semi-nômades. Era 1996, eu e meu marido caminhamos por 12 dias ao lado de uma caravana de dromedários ao mando de Hassam (um jovem e entusiasta berbere de Merzouga) e de Brahim (um ágil e vital nômade do Saara com 62 anos). Com eles tivemos a felicidade de conhecer o “som” do silêncio, as mágicas noites estreladas, a beleza do sol nascendo num mar de dunas alaranjadas, o canto de crianças junto ao fogo e repartindo um pão artesanal feito sobre pedras quentes e coberto de areia. Durante a semana santa de 2009, decidimos que era hora de compartilhar aquela maravilhosa experiência com nossos filhos. Desta vez, nossa viagem foi muito mais confortável. O asfalto já chegava até Merzouga e, infelizmente, havia arrastado com ele uma grande quantidade de veículos 4x4 que circulavam pelas dunas deixando restos de lixo por onde passavam. O ruído dos motores havia quebrado o encanto do silêncio e os resíduos entre as dunas destruíram a sensação de estar explorando uma paisagem selvagem. Hoje, não existe uma só família em Merzouga em que pelo menos um de seus membros não se dedique ao turismo. Evidentemente, ainda não se trata de um turismo ético e sustentável.

10 mandamentos

do viajante sustentáve

l

1) Fomentar o entendim

ento cultural; 2) Viajar com a mentalid ade aberta, aprender a escutar e obser var, desco brir o enriquecimento pessoal através do conta to com outras culturas e formas de vid a, refletindo sobre as experiências vividas; 3) Informar-se sobre a ge ografia, a cultura, a história e as crenças do lugar que se visita, e aprender um mínimo da língua local e como comportar-se como um convidado que entra na cultura do país anfitr ião; 4) Ser consciente dos im pactos sociais; 5) Apoiar a economia loc al indo a hotéis e restaurantes de propried ade de pessoas nativas do lugar, comp rando produtos locais autênticos elaborados a partir de recursos renováveis; 6) Interagir com habitan tes locais é uma forma adequada do ponto de vista cultural; 7) Não fazer promessas que não se possam cumprir, não ostentar riq ueza, não distribuir esmola entre as crianças ; 8) Pedir licença para tira r fotos de pessoas, casas ou outros lugares de importância para os habitantes locais; 9) Minimizar os impacto

s ambientais; 10) Conhecer e contribu ir, dentro do possível, com projetos que favore cem o entorno e as comunidades locais.

Dicas de sites Sustainable Travel International www.sustainabletravelinternational.org Slow Travel www.slowtrav.com Voluntariado nas férias www.travelersphilantrop.com 59


Atitude Sustentável artigo

Educar

para

mudar

Emerson Zanon Granemann Diretor e publisher da Editora MundoGEO

A chave desta mudança está centrada na educação e na percepção clara de que algo tem que ser feito

Muito tem se falado e publicado sobre a necessidade elaborar o projeto editorial da revista Atitude Sustentável. de construção de uma sociedade sustentável neste século Dessa aproximação e muitas reuniões conseguintes, foi 21. Muitos governantes já estão incorporando estas ideias construída uma parceria na qual surgiu de forma natural o em seus projetos políticos. As empresas privadas estão foco no ser humano, nos aspectos culturais e na educação tentando lançar mão de tudo que está ao seu alcance como fatores transformadores, tanto na forma de entender para melhorar a situação, quer o mundo como nas alternativas por conscientização, quer por de melhorá-lo. Percebemos que as força de novas legislações ou puro atitudes podem mudar na medida Será a partir da marketing. em que os atores percebam e construção de uma nova Entretanto, mais que políticas reflitam sobre suas vidas, seu mentalidade individual públicas ou soluções corporativas, entorno e o planeta a partir de uma que poderemos construir a sociedade sustentável nasce visão sistêmica, percebendo sua um mundo diferente, mais de escolhas individuais. Será realidade e todas as inter-relações equilibrado e melhor a partir da construção de uma existentes. para nós e principalmente nova mentalidade individual que Um outro balizador do projeto para as futuras gerações. poderemos construir um mundo da revista é a abordagem diferente, mais equilibrado e apreciativa que nos remete a melhor para nós e principalmente afastar a visão catastrofista e de para as futuras gerações. caça aos culpados. É importante A chave desta mudança está centrada na educação e na identificar o que provocou os problemas de hoje, para percepção clara de que algo tem que ser feito. No que diz não repeti-los mais. Mas temos que investir nosso tempo respeito aos cuidados com a saúde do corpo já existem em criar soluções para amenizar e prevenir situações avanços. Mas para que possamos internalizar e perenizar através de possibilidades práticas e de ações cotidianas. as mudanças, temos que dar mais atenção à mente e ao A vida que levamos hoje tem que ser revista. Temos espírito. Este é o verdadeiro responsável pelas mudanças. que ocupar o planeta com responsabilidade. Os avanços Como diretor da MundoGEO, ao decidir investir tecnológicos vêm para facilitar nossa vida mas não na produção de conteúdo ligado à sustentabilidade, podem causar desequilíbrios na natureza. A partir desta percebemos que tínhamos que fazê-lo de forma mais preocupação global, muito presente na mídia, temos profunda e de fato provocar transformações nas pessoas. que provocar mudanças nas nossas casas, no convívio Para isso nos aproximamos do Instituto Arayara de com a vizinhança, na vivência nas cidades e no maior Educação para a Sustentabilidade, fundado e dirigido por envolvimento nas questões nacionais. Eduardo Manoel Araujo. Como tarefa introdutória, lemos A proposta da Atitude Sustentável é divulgar conceitos, seu livro intitulado “Um sonho possível - Do materialismo mostrar exemplos e inspirar mudanças nos leitores, sejam não-sustentável a uma vida holística sustentável” e jovens, adultos, empresários, gestores públicos ou como o conceito da Rede de Sustentabilidade. Com essas a maioria de nós, simples brasileiros, cidadãos do mundo, informações pudemos ampliar o olhar sobre o tema nas para que nos tornemos mais responsáveis para garantir dimensões ambiental, social e econômica, e com isso um futuro melhor.

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Educação Artigo

Educação paraavida

Simone Ramounoulou Presidente executiva do Instituto Antakarana Willis Harman

Quando fui convidada para colaborar e apoiar esta desafio, já aguardamos e sabemos que algo deverá nova publicação que abre, a partir deste primeiro número, acontecer. Atitude sempre qualifica uma ação. diálogos sobre desenvolvimento sustentável, aceitei No entanto, para que algo com alegria. Diálogo é tudo aconteça com qualidade, permitindo que precisamos e precisaremos flexibilidade nas abordagens e O que falta ao jovem para qualificar as mudanças que nos temas, precisamos de um fio brasileiro é a consciência estão acontecendo. E quando condutor (um antakarana) que de que suas ações têm fui informada de que o principal consolide e direcione o propósito impacto não apenas sobre mote da revista é a educação e o sucesso a ser atingido. Este fio sua vida, mas também de para a sustentabilidade, com condutor sempre é a expansão toda a sua comunidade uma abordagem que agrega da consciência (informação + boas informações, educação entendimento + valores éticos), para ampliação da consciência um trinômio sem o qual nenhuma e atitude sustentável, juntei esperança à nossa alegria. transformação é possível. Estudos indicam que só Afinal, quando falamos de atitude, diante de qualquer mudamos nossa mentalidade e postura diante da realidade, se compreendermos o que devemos fazer e nos propormos a fazer bem feito. Simples assim, mas desafiador: por isto a chamada crise que nada mais é do quer falta de informação adequada, de entendimento e de valores éticos. Uma informação que poderá nos ajudar desde o inicio é saber quem são os interlocutores. Sugiro, inicialmente, uma busca sobre o ‘jovem brasileiro’ que representa nosso presente e nosso futuro, e o Instituto Antakarana Willis Harman apoiou a pesquisa. Esta foi feita e redigida por Fernanda Maschietto, estagiária de Relações Internacionais do Instituto e aluna de Graduação nesta área. Vou transcrever as considerações assim como recebidas para que os leitores percebam a qualidade do que está apresentado e a seriedade com que foi elaborada.

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Pesquisas de comparação entre jovens brasileiros e de outros países A partir das pesquisas, constata-se que a maioria otimistas da América do Sul. E tem mais esperança dos jovens de todo o mundo acredita que suas ações de felicidade para os próximos cinco anos do que não têm grande impacto positivo na sua cidade e no qualquer outro jovem no mundo. mundo. A conclusão a que se chega é que o jovem O brasileiro jovem, ciente da realidade de seu país, brasileiro se destaca entre os jovens dos outros é exigente consigo mesmo e acha que não tem direito países pela sua preocupação com a educação e a de ser apenas estudante, tem de trabalhar também; carreira e percebe que suas ações são importantes acha que seu futuro depende mais de seu esforço do para seu desenvolvimento profissional e pessoal. que de políticas públicas eficazes; O empreendedorismo é uma e acha que os próprios jovens habilidade do jovem brasileiro, que precisam ser mais empenhados na sabe fazer uso das oportunidades Estudos indicam sua formação. para crescer. que só mudamos O maior interesse dos brasileiros O que falta ao jovem brasileiro nossa mentalidade é com educação e carreira (mais é a consciência de que suas ações e nossa postura do que a média mundial) e sua têm impacto não apenas sobre sua diante da realidade preocupação é com a “crescente vida, mas também de toda a sua sensação de que a escola tem comunidade, cidade e mundo. Na perdido o sentido ou que, pelo pesquisa feita pela MTV é visível menos, esse sentido não parece tão claro ou seguro”. o desinteresse e falta de conhecimento dos jovens Desse modo, há uma aposta maior nas ações para com o meio ambiente, mas se comparado com pessoais como meio para construírem uma vida os outros países, como na pesquisa do Instituto melhor para si, e também no apoio familiar. Akatu, o brasileiro demonstra maior conhecimento O resultado dessa exigência e consciência da sobre a responsabilidade e consequência de seus importância das suas ações, pelo menos a nível atos. O jovem brasileiro precisa de uma educação individual, levou o jovem brasileiro a ser considerado escolar que incentive e desenvolva seu potencial, o terceiro jovem mais empreendedor do mundo. 68% precisa de educação sobre o meio ambiente, precisa desses jovens empreendem por oportunidade e 32% de educação que aumente seu interesse por política por necessidade. e sociedade, e precisa encontrar meios para poder Apesar de estar convicto de que precisa batalhar desenvolver seu espírito empreendedor para para crescer, o jovem brasileiro é um dos mais contribuir para uma sociedade melhor. Isto dito, vamos dialogar e trabalhar. De minha parte está aberto o diálogo, lembrando que investigar amigavelmente aparentes contradições só nos enriquece e que trocas de opiniões nunca gerarão discussões, debates ou disputas que nos levariam a medir forças. Uma das organizações que represento tem como fundamento de trabalho duas afirmações valiosas:

– “É com uma atitude amigável – e um diálogo atento e respeitoso – que se alcançam os melhores resultados” – “Uma transformação silenciosa e corajosa deve ser boa para as pessoas, para a sociedade, para o meio ambiente e para os negócios”. Parece-me um bom começo.

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Energia Artigo

Os desafios do século

21 e o Keko

O século 21 inicia com grandes perspectivas para a humanidade, mas com desafios da mesma proporção. Os avanços da tecnologia, da ciência e do conhecimento têm proporcionado melhorias na expectativa e na qualidade de vida, conforto, segurança e bem-estar. Por outro lado, as consequências do crescimento populacional e econômico vêm deixando sinais de rompimento do equilíbrio ambiental e social. Por trás de todos os benefícios da criação humana e também de suas restrições está um elemento fundamental: a energia. Ao longo da história o uso da energia evoluiu da força do próprio corpo. Mas o conceito de energia não se restringe às suas fontes, como petróleo, carvão ou eletricidade, pois tudo o que se utiliza no dia-a-dia, alimentos, construções, roupas, automóveis, representa consumo de energia, seja no processo de fabricação ou no seu uso. Para disponibilizar tais produtos à sociedade, o desenvolvimento da infraestrutura energética do Brasil e do mundo caminhou par e passo ao crescimento econômico, dando-lhe o necessário suporte. Criou-se uma infraestrutura de geração, transmissão e distribuição de energia centralizada e sob o controle de poucas grandes empresas. Esta infraestrutura, entretanto, representa impacto ambiental, perdas nos sistemas de transmissão a longas distâncias e concentração de renda. Mas apesar de todo investimento, muita gente ainda não tem acesso à energia, sendo a universalização um dos objetivos do milênio da ONU. Tal desafio vai muito além de entregar energia de graça para quem não tem condições econômicas. Exige repensar a forma como se gera e utiliza energia no cotidiano. As soluções para a sustentabilidade sugeridas pelos mais importantes pensadores da atualidade apontam para a descentralização da atividade produtiva. Ao invés de grandes negócios centralizados e isolados, pequenas cadeias produtivas que agregam valor umas às outras e que estejam vinculadas à realidade local onde se instalam. Nesta configuração de negócios colaborativos, os desperdícios energéticos são minimizados, pois os resíduos de um negócio são insumos para outros. Faz parte deste contexto a energia gerada próxima do consumo, como por exemplo, a solar ou de dejetos animais, onde resíduos que causam impactos ambientais transformam-se em energia. Chamada de geração distribuída de energia, complementar ao sistema principal, esta forma de produção contribui para

Paulo Henrique Rathunde Mestrando em Organizações e Desenvolvimento, eletricitário e autor do livro Artesão do Meu Futuro

a eficiência de todo o sistema energético do país e do mundo, pois diminui a demanda dos sistemas centralizados e, consequentemente, a pressão por grandes obras de engenharia. A esta altura o leitor deve estar se perguntando “E o Keko?”. Enquanto empresário, Keko considera a possibilidade de gerar a própria energia que sustenta o seu negócio. É o caso, por exemplo, de uma cervejaria na Austrália que transforma os resíduos do processo de produção em energia e água aquecida, reutilizadas no processo, ou da atividade agropecuária que pode gerar energia do bagaço de cana-de-açúcar. Enquanto cidadão comum, Keko, entre outras coisas, usa álcool combustível ao invés de gasolina e reduz o consumo de energia em sua casa. Ele opta pela compra de lâmpadas e aparelhos elétricos mais eficientes que recebem o selo do Procel, pela instalação de aquecimento solar ou de células fotovoltaicas, pelo uso de sensores de presença que apagam as lâmpadas automaticamente quando não há pessoas no recinto. São exemplos viáveis, técnica e economicamente, com resultados significativos no conjunto e que dependem somente da decisão responsável de cada cidadão.

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Vida Artigo

Vida e

Eduardo Manoel Araujo

sustentabilidade Sustentabilidade é um conceito associado à vida e à capacidade de sobrevivência de um conjunto de espécies no longo prazo. Este é o processo natural da vida. A espécie humana, que tem consciência de sua existência, tem o livre arbítrio para fazer suas escolhas. Somos um conjunto especial de atores que pode escolher a sua forma de interação na vida. Os indígenas, com o intuito de tornar esse processo mais consciente e respeitoso, desenvolveram uma forma de analisar suas decisões mais importantes, reunindo a tribo, procurando entender seus efeitos nas próximas sete gerações, para então escolher o melhor caminho a seguir. Além da consciência de nossa escolha e da maturidade deste processo, Leonardo Boff nos convida a aplicarmos a Ética do Cuidado, que na sua forma mais simples ele nos apresenta assim: “ninguém cuida daquilo que não ama, e ninguém ama aquilo que não conhece”. Com esta pequena frase de grande profundidade filosófica, ele nos faz ver que não estamos cuidando da vida porque não amamos a vida e não a amamos porque não a conhecemos profundamente. Não há quem não se maravilhe e não se renda diante da beleza, da harmonia, da organização e da complexidade da vida. Einstein, o grande e reconhecido cientista, no auge do seu saber, declarou: “existem dois modos de se viver a vida – um como se nada fosse um milagre e outro como se tudo fosse um milagre”. Nesta frase de Einstein vemos que o conhecimento nos faz compreender e amar o milagre que é a vida. Por essas duas grandes personalidades, entre muitas outras que poderíamos citar, estamos sendo convidados a melhor conhecer a vida para recuperarmos este olhar amoroso que reverencia e respeita profundamente a existência deste milagre chamado vida. Iniciando essa viagem comecemos por situar a vida no espaço e no tempo. No espaço, cabe lembrar que somos parte de um universo de dimensões cósmicas infinitas que tem toda uma harmonia de movimentos e transformações. Passando pelas galáxias, pelas estrelas e corpos celestes, chegando ao nosso sistema solar e a existência do nosso planeta azul: a Terra. Entrando na intimidade da Terra, passamos por suas múltiplas espécies e formas, pelas células, pelas cadeias de moléculas e chegamos ao átomo e à energia. Afetamos e somos afetados por tudo e por todos. Neste universo quântico tudo se resume a um

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Presidente do Instituto Arayara de Educação para a Sustentabilidade

grande mar de energia em movimento e transformação do qual somos uma singela parte. Na dimensão do tempo, somos convidados a explorar a história da formação do cosmos até onde a conseguimos compreender e o seu futuro até onde o conseguimos vislumbrar. Somos também convidados a explorar a história das espécies e até onde conseguimos compreender a sua origem e o seu futuro. Ainda na dimensão do tempo, somos convidados a explorar a nossa ancestralidade pessoal e humana. Com a filosofia que a Ética do Cuidado nos traz, podemos cultivar um sentido mais amplo para a sustentabilidade, qual seja este amor e respeito à vida em seu movimento natural que se faz humilde por se curvar diante da sua beleza, da sua harmonia, da sua complexidade e da sua sabedoria. Sustentabilidade é este legado amoroso, este presente que se cultiva, que deixaremos para as futuras gerações. É este carinho, este cuidado e este respeito que temos por aqueles que aqui estarão. É uma solidariedade entre gerações que, mesmo quando aqui não mais estivermos, os filhos da Terra que aqui estiverem sentirão que tiveram de seus avós, bisavós e de seus antepassados. É o amor à vida que transcende as gerações. É aprender com a vida, para que a vida siga em frente.


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Medicina Conservativa Artigo

Umà caminho

e reemergentes, além do impacto na conservação da biodiversidade de patogênicos capazes de atravessar as barreiras de espécies. Na Nova Zelândia há o exemplo da Salmonella typhimurium DT160, um novo desafio para o país, que causou mortes em massa em meados de 2000 e 2001 e também morbilidade e mortalidade em uma grande variedade de espécies, incluindo Por Richard Jakob-Hoff humanos, mamíferos domésticos, animais selvagens e pássaros. Outros exemplos incluem o sarampo e o pólio em gorilas das montanhas em contato com ecoturistas, e cinomose canina causando mortes em leões. É estimado que Não há dúvidas de que as pressões exercidas pela entre 60% e 75% dessas doenças infecciosas emergentes expansão da população humana têm efeitos crescentes tenham uma reserva selvagem. e catastróficos no nosso meio ambiente. São práticas de No país, há pouco conhecimento sobre a situação agricultura que aumentam a desertificação de solos férteis, de doenças entre espécies nativas e ferais, e isso tem pesca predatória e o jogo que deixa as reservas naturais implicações significativas para a biossegurança nacional acima do ponto de recuperação, poluição química do ar e (não é possível dizer quais novos das águas, desmatamento e a seca de terras patogênicos estão entrando no país se não antes úmidas. Os sistemas básicos de vida do sabemos os que já estão aqui), conservação planeta estão sendo destruídos. As saúdes da biodiversidade, assim como a saúde Seria de se esperar que, em um ambiente Humana, Animal de humanos e animais domésticos. cada vez mais doente, tenha sido criado e Ambiental estão Consequentemente, os principais esforços o termo “poluição patogênica”, para interligadas de pesquisa foram direcionados para a descrever a crescente distribuição de vigilância de doenças selvagens e para o doenças através de barreiras geográficas e estabelecimento de dados que permitam a monitoração da ecológicas com a ajuda de atividades humanas. Ao mesmo vida selvagem. Esse trabalho envolve muitos programas de tempo, a especialização crescente das ciências resultou recuperação de diversas espécies nativas. em profissionais de saúde trabalhando isoladamente, Do jeito que as coisas estão, é visível a falha na tentativa mal preparados para tratar de doenças que surgem como de reverter a degradação do planeta. Como Einstein disse, consequência de uma combinação complexa de fatores “os problemas existentes não podem ser solucionados pelo que se interagem. Uma nova forma de pensar o assunto é mesmo modelo mental que os criou”. Com isso em mente, necessária e acredito que vai incluir a medicina conservativa. é encorajador visualizar alguns passos no caminho para Os tão falados Princípios de Manhattan, que surgiram a colaboração entre agências governamentais, institutos na primeira reunião “Um Mundo, Uma Saúde” em Nova de pesquisa e outros com interesse comum em zoonoses Iorque, em 2004, são um excelente resumo do pensamento e doenças de vida selvagem. A medicina que norteia essa nova disciplina (veja mais em www. conservativa é uma visão realmente oneworldonehealtg.org). Os conceitos-chave são o transdisciplinar e um caminho a reconhecimento de que as saúdes humana, animal e ambiental estão interligadas e que a compreensão e a ser seguido. discussão sobre essas complexas interações requerem uma abordagem colaborativa feita por equipes transdisciplinares. Cientistas veterinários da América do Norte estão à frente no desenvolvimento desse paradigma, estimulados por um número crescente de doenças zoonóticas emergentes

Richard Jakob-Hoff,

Veterinário sênior do zoológico de Auckland, Nova Zelândia O autor coletando sangue de um ganso como parte de um projeto

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Zoológico de Auckland

frente


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