Anne Frank

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SALVADOR SÁBADO 22/3/2014

RELATOS Sobreviventes e seus descendentes falam sobre judaísmo e vida pós-guerra

3 Fotos Edilson Lima / Ag. A TARDE

Exposição conta história de Anne Frank e relembra o holocausto

LARA PERL

Se Anne Frank estivesse viva, hoje seria uma senhora com quase 85 anos. “Quando li o diário, ainda criança, pensava que ela era da geração da minha mãe e que também poderia estar viva”, diz Roberto Ponczek, filho de judeus poloneses que sobreviveram ao holocausto e vieram para o Brasil. Quem visitar o Salvador Shopping até quarta-feira, pode conferir a exposição Brasil e Holanda: Paz e Justiça – Refletindo Sobre o Passado, Construindo Um Futuro Melhor. Na mostra, é possível ver de perto a história da menina judia de origem holandesa que registrou sentimentos e angústias em um diário no período em que ela e a família se esconderam da perseguição nazista em Amsterdã. Anne tinha 13 anos quando começou a escrever o diário e o manteve entre junho de 1942 e julho de 1944. Em agosto do mesmo ano, ela e as sete pessoas escondidas no local que chamou de “anexo” foram levadas para campos de concentração. Apenas Otto Frank, seu pai, sobreviveu e realizou um sonho da menina ao publicar o livro.

Exposição

A mostra é dividida em três partes. A primeira aborda a história de João Maurício de Nassau e sua influência no Brasil no século 17. Os painéis destacam os laços históricos entre Brasil e Holanda e trazem curiosidades sobre, por exemplo, a vinda de judeus holandeses para Pernambuco e a fundação da primeira sinagoga no Brasil. A segunda etapa é uma linha do tempo que traça um paralelo entre a história da família Frank e o holocausto na Europa, reunindo fotos, trechos do diário de Anne e dados históricos. “Usamos o relato pessoal de Anne como instrumento. O espectador entra na vida dela e depois se dá conta de que aquilo não aconteceu uma vez, mas aconteceu seis milhões de vezes. São números assustadores, mas, se você mostra a vida de uma pessoa, isso tem um impacto maior”, explica Joëlke Offringa, curadora da exposição. Ela destaca que a história de

Anne ganhou muita força também pelo fato de Otto Frank ter registrado fotograficamente a história da família. “O diário alcançou uma proporção muito maior com as lindas fotos tiradas por ele”, disse. Uma curiosidade interessante é que Otto Frank casou-se novamente após a guerra e deu sua câmera Leica para sua enteada Eva Schloss, garota que costumava brincar com Anne nas ruas de Amsterdã. Ela sobreviveu e acaba de lançar o livro Depois de Auschwitz, comoseurelatoefotografiasque tirou utilizando a mesma lente que registrou a infância de Anne e Margot Frank. Eva, assim como muitosoutros,sócomeçouafalar sobre as suas lembranças depois de muitos anos em silêncio. A terceira parte da exposição apresenta a cidade holandesa de Haia, conhecida internacionalmente pela constante luta por paz e justiça. O projeto é uma iniciativa da Embaixada dos Países Baixos em Brasília, da Casa Anne Frank e do Instituto Plataforma Brasil.

Após a guerra

Na exposição, Roberto Ponczek relembrou a história de própria família ao rever as palavras e imagens do diário que já tinha lido há muitos anos. “A família de Anne se escondeu durante a guerra, assim como a minha. Meus pais conseguiram sobreviver e vieram para o Rio de Janeiro, mas continuaram se escondendo, em pânico, sem assumir que eram judeus porque tinham medo. Eu vivi o criptojudaísmo na infância, a gente fazia os rituais judaicos trancados em casa, com cortinas fechadas”, relembra. Roberto está se preparando para conhecer a Polônia neste ano em uma Marcha da Vida, viagem que reúne judeus do mundo inteiro para visitar os campos de concentração. “Vou fazer o roteiro que levou meus avós até a morte, vai ser muito difícil ir até lá”, disse. Já Paulo Hunger, filho de sobreviventes que vieram da Hungria para Salvador, conta que seu pai afastou-se totalmente do judaísmo após a guerra. “Só tive contato com as tradições judaicas na casa dos meus avós, que também vieram para cá”,

Painéis instalados no Salvador Shopping

Nanette Konig conta sobre o encontro com Anne Frank em Bergen-Belsen

A mostra também apresenta os laços históricos entre Holanda e Brasil e a importância de Haia na Justiça “Após a guerra, meus pais continuaram se escondendo sem assumir que eram judeus por medo” ROBERTO PONCZEK, professor

Na exposição, Roberto Ponczek relembra a história de sua família EFE

relembra. Ele não conseguiu ver a exposição até o final, assim como o diário. “Histórias como a de Anne foram contadas para mim em primeira pessoa. Infelizmente, minha família é uma estatística improvável, porque meus pais e avós sobreviveram”, explica. O rabino da Sociedade Israelita da Bahia (SIB), Uri Lam, acredita que a forma como as famílias lidaram com a religião foram as mais diversas. “Muitos abandonaram ou deixaram de acreditar em Deus. Hoje, aparecem casos de descendentes que querem retomar suas relações com o judaísmo e com as suas origens”, afirma. BRASIL E HOLANDA: PAZ E JUSTIÇA / PRAÇA CENTRAL DO SALVADOR SHOPPING / SEG A SÁB, 9 ÀS 22H, E DOM, 12H ÀS 22H / ATÉ O DIA 26 / ENTRADA GRATUITA

O diário original que Anne Frank começou a escrever aos 13 anos

O cão, o cajueiro Hélio Pólvora Escritor, membro da Academia de Letras da Bahia

A ideia de fugir do Rio de Janeiro me azucrinava nos finais de semana, nos feriadões. Sentia falta do verde, da solidão, dos ventos fagueiros. Precisava repor energias, aliviar a tensão. Um dia, em Arraial do Cabo, após mestrados e doutorados em alguns bares, dormi como visitante e acordei dono de um apartamento. Ignoro os lances da compra. Mas havia escritura, dados pessoais e assinatura conferiam. Fiquei alegre. Sítios e casas de campo oferecem duas alegrias: quando se compra, quando se vende. Passados meses, me descobri escravo do imóvel. Era obrigado a ir todas as semanas: pendências trabalhistas, vazamentos, pirraças de condôminos e um congestionamento de horas, da Ponte Rio-Niterói a Itaboraí. De

bom mesmo, só a praia e o bacalhau da Garrafa de Nansen, até hoje no disco rígido das papilas gustativas. Livrei-me do aborrecimento semanal, instigado por festivais de cinema que incluíam Bergman, Visconti e outros mestres. A tempestade neurótica dos outros atenua as nossas. Além de nos transformarem, nos debates subsequentes, em argutos discípulos de Freud. Mas há reincidências. Erros se sucedem; induzidos por impulsos desgovernados, sufocam correções, muita gente passa a vida em revisões inúteis. A ementa de erros tende a suplantar a dimensão do texto. É fatal, é humano. A origem rural gritava dentro de mim, por mais que autores de livros e cineastas, todos debruçados sobre a fragmentação e diversidade do ser, me tentassem acalmar. Voltei a perambular por montanhas e vales, à procura de refrigério. Numa dessas buscas quase sempre decepcionantes, porque nos prometiam um sótão ou porão, pelo menos uma vaga no porão no céu, e nos im-

No aniversário de 13 anos de Anne Frank, Nanette Konig viu o diário em cima da mesa, entre os presentes. A economista holandesa, de 84 anos, hoje mora em São Paulo e fala dos fatos como se os tivesse vivenciado ontem. As duas foram colegas no Liceu Judaico, em Amsterdã, até a família Frank se esconder, em 1942. Quase três anos depois, Nanette encontrou Anne em Bergen-Belsen, campo de concentração na Alemanha. “Jamais vou esquecer o meu encontro com Anne. Ela parecia um esqueleto e tremia de frio. Estava completamente debilitada, embrulhada em um cobertor porque não aguentava mais os piolhos da sua roupa”, relembra, emocionada. Na mesma ocasião, Anne contou sobre as câmaras de gás de Auschwitz. Também falou sobre o esconderijo e o diário que se tornaria um livro depois da guerra. “Era um sonho, pois mal poderia saber que o diário seria entregue ao seu pai, o único sobrevivente do grupo”, disse. Anne morreu de tifo em março de 1945, dias antes de o campo ser libertado. Nanette voltou para a Holanda e passou três anos hospitalizada para se recuperar. Ela foi a única sobrevivente da família direta e mudou-se para São Paulo quando casou com o inglês John Konig. “Eu não fiquei em silêncio porque represento todos que morreram no holocausto. Eles não podem ser esquecidos”, disse.

CURTAS pingiam penalidades no regime semiaberto do purgatório, encontrei Sérgio Augusto, articulista da Folha de S. Paulo. Também ele buscava o aprazível, o inefável.

A tempestade neurótica dos outros atenua as nossas. Além de nos transformarem discípulos de Freud

Às vezes sonho com árvores, as da fazenda paterna, em volta da casa. Bem sei que já secaram

Ignoro se obteve, porque a partir daquele encontro nos matos do entorno de Petrópolis não mais nos vimos – e fiquei privado de suas piadas em inglês. Ele imitava Jerry Lewis. Quanto a mim, comprei um sítio na subida de uma serra. Dessa vez, tinha obrado bem. Tudo simples, rústico, calmo. Varandas e redes, mangueiras carregadas a partir de outubro, mamoeiros, touceiras de cana, coqueiros, até uma romãzeira. E um cão, que o vendedor me passara. Afeiçoou-se, o cão. Geralmente os cães que me farejam costumam balançar a cauda. Aquele cão pressentia as minhas chegadas para repouso, às sextas-feiras, perto da meia noite. Mal as rodas da velha locomotiva rangiam, na estação a meio quilômetro, ele saltava com ímpeto no portão, batia as patas, arranhava, latia, uivava, gania. Destrancado a custo o portão, e depois de colidir contra o meu peito magro, desandava a correr em círculos. Eu era o centro, ele o satélite. Era um cão, um amigo – e não se chamava Veludo. Era o Bob.

E deitava o focinho no meu joelho. E entristecia nas minhas partidas domingo à tarde. Morreu com a serenidade com que morrem os cães, e teve enterro lacrimoso. Mas até hoje, de longe, prolongo a vida de um cajueiro anão. Este eu mesmo plantei, e vi que isso era bom e que ele dava frutos. Dois anos atrás, atacado por um fungo, secou os ramos, parou de florir, cobriu o tronco de crostas carunchosas. Estava condenado. Aconselhei tratamento de jardineiro inglês, indiquei tisanas, produtos químicos. E não é que o cajueiro convalesceu e adquiriu brotos saudáveis, de um verde intenso? Ano passado ofereceu quatro ou cinco cajus, perfeitos do talo à castanha. Soube que estavam saborosos. Promete mais para este ano. Ao contrário dos cães, o ciclo de vida dos cajueiros, se os acodem nas moléstias, é mais longo. Às vezes sonho com árvores, as da fazenda paterna, em volta da casa. Bem sei que já secaram. Nos sonhos, aparecem jovens e frutíferas. A vantagem do sonho é ser a verdadeira realidade.

Dorival Ferreira da Silva lança 3º livro Dorival Ferreira da Silva lança seu terceiro livro, Ainda Emoções – Poesia e Prosa, quinta-feira, às 18 horas, na Fundação João Fernandes da Cunha (Campo Grande). Na publicação, o autor dedica poemas à terra natal, Senhor do Bonfim, enfatiza a beleza da festa de São João da cidade, canta a caatinga após as trovoadas e homenageia o eterno Dominguinhos. O autor publicou anteriormente Simplesmente Emoções e Estados D'alma, volumes também de poesia e prosa.

Em Ainda Emoções – Poesia e Prosa, o autor dedica poemas à sua terra natal, Senhor do Bonfim


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