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SALVADOR 1/7/2014
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CINEMA FILME BAIANO DEPOIS DA CHUVA É SELECIONADO PARA FESTIVAL AMERICANO 3 Mila Cordeiro / Ag. A TARDE Divulgação
PARAÍSO PERDIDO CINEMA O Grande Hotel Budapeste, filme de Wes Anderson que estreia quinta-feira, recria o leste europeu dos anos 30
Ralph Fiennes vive o papel principal
LARA PERL
Um universo de arte e cores vibrantes, personagens caricatos e objetos milimetricamente dispostos em enquadramentos simétricos. Assim, como em um sonho, Wes Anderson apresenta ao espectador o leste europeu dos anos 30, cenário de O Grande Hotel Budapeste, seu novo filme que entra em cartaz nesta quinta-feira. A história acompanha as aventuras de Monsieur Gustave H., concierge interpretado por Ralph Fiennes, que administra o charmoso hotel localizado no estado fictício de Zubrowka, limite entre os impérios austro-húngaro e russo. O personagem possui um particular gosto pelas senhoras idosas que se hospedam no hotel e é surpreendido pelo assassinato de Madame D., uma de suas amadas, que ganha vida na atuação de Tilda Swinton. Acompanhado pelo jovem imigrante Zero Mustafa (Toni Revolori), lobby boy do hotel, e seu fiel amigo, ele vai para o velório de Madame D. sem suspeitar que teria de lidar com as acusações da família da falecida e a perseguição de seu filho Dmitri (Adrien Brody), ajudado pelo capanga Jopling (Willem Dafoe). A partir daí, aparecem as confusões, romances, disputas e assassinatos, característicos de uma fábula fantástica. Com um elenco de grandes nomes, o oitavo longa-metragem do cineasta norte-americano criador de Moonrise Kingdom (2012), O Fantástico Sr. Raposo (2009), Viagem a Darjeeling (2007) e Os Excêntricos Tenenbaums (2001), o filme foi exibido no Festival de Berlim e considerado por muitos críticos como seu melhor trabalho. Como de costume nas produções de Anderson, a preocupação com a estética é uma ca-
racterísticamarcantedaobra.Se muitos acusam o diretor de deixar o roteiro e o conteúdo em segundo plano, o Grande Hotel Budapeste surpreende com uma trama que prende o expectador do início ao fim, tornando-se um filme de arte que facilmente agrada ao grande público. O enredo apresenta personagens divertidos e, ao mesmo tempo, complexos, inseridos em um contexto que mostra o apogeu da Europa oriental e a sua decadência após a guerra, sempre em paralelo com a história do hotel.
uma nostalgia de um tempo que parece idealizado e distante.
Referências
Histórias dentro de histórias
O filme começa nos dias atuais, em um cemitério nas mais distantes fronteiras orientais da Europa. Uma jovem encontra um monumento que homenageia o escritor anônimo, autor do livro de capa dura que ela tem em mãos e dá nome ao filme. A cena é rapidamente interrompida para o ano de 1985, em que Tom Wilkinson dá vida ao escritor e fala sobre suas inspirações para escrever: segundo ele, nem sempre as histórias surgem prontas em sua mente. É o caso da história do Grande Hotel Budapeste, que ele escreveu exatamente como ouviu nas palavras de Zero Mustafa. O encontro entre os dois aconteceu nos anos 60, quando o então jovem escritor, interpretado por Jude Law, hospeda-se no hotel. A exuberante arquitetura que abriga mais funcionários que clientes em grandes espaços vazios instiga sua curiosidade e faz com que ele converse com a versão idosa e solitária de Zero. Em um longo jantar, Mr. Mustafa (F. Murray Abraham) conta como começou sua história no estabelecimento que acabou herdando. Suas perspectivas sobre o Monsieur Gustave e o hotel são narradas em capítulos e revelam
O filme reúne no elenco os vilões Adrien Brody e Willem Dafoe (sup esq.) e Saoirse Ronan (sup dir)
O filme mantém a tradição do diretor de se preocupar com a estética, sem deixar o roteiro em segundo plano
“Inventamos um leste europeu com referências do cinema e da literatura” WES ANDERSON, diretor
O enredo recria o apogeu da Europa oriental a partir da história fictícia da decadência de um grande hotel
Segundo o diretor Wes Anderson, em entrevista disponibilizada no site oficial do filme, a experiência de leste europeu que ele tenta criar na história vem da sua própria viagem por aquela parte do mundo, mas, principalmente, de livros e filmes de Hollywood dos anos 30, feitos por pessoas de lugares como Berlim e Viena. “Sinto que estamos nesse meio, de pessoas inventando esse lugar no cinema e da literatura, e outras fazendo novas histórias a partir dessas referências. Nosso filme coleta diversas inspirações”, contou ele, que abusa da imaginação para criar o mundo fictício sem grandes compromissos com a realidade, mas com claras referências. Uma das inspirações para a criação do personagem principal é Stefan Zweig, escritor austríaco de origem judaica que suicidou-se em seu exílio no Brasil, após a expansão nazista na Europa. O mesmo personagem também é inspirado em um grande amigo do diretor e a combinação resulta em um concierge eficiente, preciso, vaidoso e solitário que estabelece com Zero um vínculo emocional quase paternalista. Entre os diálogos irônicos e as situações cômicas, o filme sustenta temas fortes e emoções bastante sérias que reafirmam a ideia proposta por Anderson: o mundo de Gustave H. é uma mera ilusão, uma história inventada em um mundo que parece ter desaparecido bem antes de existir. Trilha sonora, fotografia, figurino e arquitetura dos ambientes são cuidadosamente organizados por Anderson para inserir o espectador nesse paraíso perdido da imaginação.