Matéria sobre o filme Praia do Futuro

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SALVADOR SEGUNDA-FEIRA 26/5/2014

POLÊMICA Desde a estreia, obra de Karim Aïnouz tem sido alvo de discussões nas redes sociais por levantar questões como cenas de sexo gay e classificação indicativa do filme

Praia do Futuro se propõe a tirar o público da zona de conforto

HUMOR

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FALAM POR AÍ Por F&N Produções

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Divulgação

LARA PERL

Em Praia do Futuro, os personagens estão em busca de transformação. Donato, salva-vidas cearense interpretado por Wagner Moura, se apaixona por um alemão e decide ir para Berlim. Lá, ele encontra uma nova casa, ou talvez uma casa que nunca havia encontrado em Fortaleza, sua cidade de origem. Se ele e os demais personagens, assim como afirma o diretor Karim Aïnouz, existem em função dessa busca, o público também é convidado a sair de sua zona de conforto, seja no contato com as cenas de sexo gay, com conflitos existenciais dos personagens ou com a estética autoral do cineasta que traz uma bela fotografia, um ritmo lento e metáforas sutis. Desde a estreia do filme, as reações e polêmicas têm sido diversas. Pessoas saem no meio da sessão, risadas ao longo do filme, burburinhos nas filas. Em João Pessoa, uma funcionária da rede Cinépolis advertiu o professor Iarlley Araújo, 34, que o filme continha cenas de sexo gay, carimbando o seu ingresso com a palavra “avisado” para evitar possíveis problemas. Ele compartilhou o ocorrido pelas redes sociais e foi apoiado em diversas instâncias, inclusive pela produção do filme, que lançou a campanha #HomofobiaNãoÉaNossaPraia. Aqui em Salvador, algo parecido aconteceu com o espectador Antônio Pacheco, no Cinépolis Bela Vista. "Todo mundo que entra neste filme está saindo logo depois, não dá 10 minutos. Têm outros filmes, este aí as pessoas não estão gostando", foi o que ouviu da atendente que estava no balcão vendendo ingressos. “O mais estranho é que não tinha bilheteiro na porta da sala recebendo ingressos, entrava quem quisesse. Foi tudo de um nonsense absoluto”, contou. Para a psicóloga clínica Silzen Furtado, as reações são respostas a uma imagem que deveria ser natural, mas ainda não é habitual para muitos. “Ver de perto o sexo entre dois homens

O dia em que o pastor deu uma palmada na Xuxa

Em Praia do Futuro, Wagner Moura vive Donato, um cara sexualmente atraído por outro

Em João Pessoa, funcionária de rede de cinema carimbou ingresso com a palavra “avisado”

Para a psicóloga clínica Silzen Furtado, as reações são respostas a uma imagem que deveria ser natural

causa impacto porque essa imagem é confrontada com tabus morais do psiquismo, tabus religiosos. É como se o espectador não tivesse referências para absorver aquilo, o filme empurra o imaginário de cada um para um lugar desconhecido”, afirma. Ela acredita que o grande papel da arte é trazer reflexões, colocar o sujeito em contato com novas imagens. “Cenas de violência e de tortura são agressivas ao psiquismo, mas não provocam essa reação coletiva porque já são representações mais próximas da consciência, enquanto a sexualidade ainda é um terreno de fantasias que as pessoas não conhecem muito bem”, considera.

Classificação indicativa

Outra questão que também foi levantada é a classificação in-

dicativa do filme, que é de 14 anos. Para o auxiliar administrativo Thiago Mendonça, 30, o filme deveria ter classificação mínima de 18 anos. “Não pelo fato de ser um casal gay, mas sim por ter cenas de sexo e nudez”, disse ele, ao sair do filme. De acordo com a lei da Secretaria Nacional de Justiça, nudez e cenas de sexo não deveriam ser apresentadas para menores de 16 anos. Ao lançar o filme no Festival de Berlim, em fevereiro, Wagner Moura evitou as perguntas sobre as cenas de sexo, afirmando que a relação entre os personagens deveria ser tratada com naturalidade, uma história de amor como qualquer outra. Mas seu personagem Donato avisou no início do filme: a Praia do Futuro é muito perigosa. O caminho ainda é longo.

Entre o capitão Nascimento e o salva-vidas Donato Raul Moreira Jornalista e cineasta raullbm@hotmail.com

Se o capitão Nascimento, melhor, o ator Wagner Moura, já havia ameaçado deixar o Brasil por conta do seu conservadorismo e do PT, agora, depois dos diversos episódios de intolerância sexual relacionados à Praia do Futuro, filme no qual encarna um “macho/gay”, é de se pensar que já consultou a validade do seu passaporte. Não se sabe qual país ele enxerga como ideal para viver o seu exílio,pelomenosporenquanto. No entanto, fica, sem surpresas, a constatação de que o Brasil da Copa do Mundo e das Olimpíadas contínua extremamente conservador. E assim o é em toda a sua constituição, independentemente da classe social. Sim, porque, se o típico macho heterossexual de butique, capaz de pagar R$ 25 por um ingresso em um cinema de shopping, irou-se ao se enxergar gay em um filme nacional que pensou ser de “super-herói”, fica a curiosidade de saber o que os representantes do dito povão vão fazer ao assistir Praia do Futuro em DVD pirata. Será que em um ataque de fúria Malaquias vai destruir seu televisor de 50 polegadas? Quem sabe se não vai retirar a mídia pirata do aparelho e beber um gole para refletir se jogá-la no lixo ou deixá-la guardada, ali, em local secreto, esperando sabe-se lá o quê? De toda sorte, fica a consta-

tação de que estamos mais para capitão Nascimento do que propriamente para Donato, como se chama o salva-vidas “macho/gay” vivido por Wagner Moura em Praia do Futuro. Diante do quadro, vem à memória o êxtase de milhões de brasileiros que se deram a Tropa de Elite 1 e 2 nos cinemas e nos DVDs piratas. E, ao contrário do escárnio dispensado ao pobre Donato, ao capitão Nascimento tudo: ali estava encarnado o herói do país mais violento do mundo, um cara macho, de verdade, que personificava o ideal de ordem.

Indicação de temática

Inclinações fascistas à parte, ao se examinar a natureza da indignação, nota-se que certos espectadores se sentiram ludibriados pelo fato de que não foram informados da proposta gay do filme em questão. E, folheando as sinopses dos cadernos de cultura de A TARDE e da Folha de S.Paulo, por exemplo, não há, realmente, menção de que Praia do Futuro seja uma produção “homo”. Assim, para a comodidade

Talvez se faça imperioso destacar nas sinopses, nos cartazes e ingressos a suposta temática dos filmes

dos espectadores mais desavisados, talvez se faça imperioso destacar nas sinopses dos jornalões, nos sites de divulgação, nos cartazes e ingressos a suposta temática dos filmes: “homossexual”, “católica”, “evangélica”, “fundamentalista islâmico”, “espírita”, “imperialista”, “bolivariana”, “pornô light”, “burguesa emergente nacional”, enfim. Antes, porém, vendo a reação de certo público e o reverberar midiático, só resta aplaudir o cineasta cearense Karim Aïnouz. Porque, ao se dispor a realizar, como ele mesmo disse um filme de “super-heróis de carne e osso”, desnudou o véu das hipocrisias: ainda estamos longe de sermos uma sociedade que aceite a diversidade sexual. Mas quem é Karim Aïnouz? Quem é esse cineasta que dessacralizou o capitão Nascimento e nos ofereceu de bandeja um macho/gay de nome Donato como o moderno super-herói brasileiro? Trata-se de um tipo cosmopolita e refinado, um lorde da sétima arte que flerta com a universalidade. É autor, entre outros, de filmes aclamados como Madame Satã (2001), Volto Porque Te Amo (2010) e O Abismo Prateado (2013). A respeito de Praia do Futuro, aliás, Aïnouz nem precisaria usar uma temática gay como pano de fundo para afugentar certos frequentadores dos cinemas de shopping. Isso porque a narrativa lenta, contracorrente, por si só já faria com que muitos deixassem a projeção antes do término. Vale ressaltar, também, que

esse traço por demais autoral de Praia do Futuro dividiu certo público cinéfilo e, até, parte da crítica especializada. Sim, porque houve quem dissesse que o filme afogou-se em águas turvas, como se percebeu na recepção fria no Festival de Berlim, em fevereiro, quando disputou o Urso de Prata e saiu de mãos abanando. Apesar do estranhamento que causou, não é exagero afirmar que Aïnouz, com todos os riscos, alcançou o que queria: ofereceu ao mundo uma obra que se destaca justamente por não pretender ir a lugar algum, ainda que se trate de um filme no qual os personagens são pautados pelos deslocamentos.

Filme complexo

Em outras palavras: para Aïnouz, o passado é desconfiável, o presente não é palpável e o futuro não existe. A verdade é que Praia do Futuro é um filme complexo, de difícil absorção, niilista. Mas a propósito de Wagner Moura, que a esta altura talvez já tenha preparado a valise e chamado o táxi rumo ao aeroporto, vale ressaltar que o seu personagem Donato, ironia da sorte, carrega muito do capitão Nascimento. Aliás, o capitão Nascimento e o salva-vidas Donato, independentemente da ordem, serão benção e maldição de Wagner Moura no exílio até o dia em que alguém o avise de que pode voltar. Que os deuses do cinema, do teatro e da TV lhe regalem uma vida longa, pois haverá muito que esperar.

– Eu estava lá. Fui testemunha ocular, auricular, olfatar. – Olfatar? – É que rolavam uns puns no fundo da sala. Sabe como é, né? Era quarta-feira, dia de feijoada... – Mas não existe a palavra olfatar. – Você quer bancar a professorinha de português ou quer ouvir a história? – Conta. – Sessão na Câmara. Presença ilustre da Xuxa. Um monte de parlamentar lá só olhando para a louraça. Você sabe que gente com mais de 40 não a vê apenas como a rainha dos baixinhos. – Isso já foi há tanto tempo. Deixa a moça. Ela tem direito ao esquecimento, que é a expressão da moda. – Pois é. Essa foi a origem do bafafá. Um pastor não concorda que ela tenha direito a esse esquecimento e soltou o verbo. Falou que a apresentadora ataca violência contra as crianças quando, na verdade, cometeu a maior violência contra os baixinhos ao fazer filme pornô. – O que ela estava fazendo lá? – Dando apoio para a aprovação da lei da palmada, que penaliza pais que batem nos filhos. – O pastor é contra a lei? – É. No fundo da sala, umas pastoretes cantavam: “Um tapinha não dói, um tapinha

não dói.” – Pastoretes? – Sim, à caráter. Cabelão à Marina Silva, abaixo da cintura, que jogavam para um lado e para o outro, e saias abaixo do joelho, que não escondiam o rebolado ao som da música. – E a Xuxa disse o quê? – Ela deu um pulo e foi pra frente, e de peixinho foi pra trás. Mas quando a plateia já engatava um ilarilarilariê, ela engasgou e não disse nada. – Ia falar o quê? – Ia dizer: pastor, se quiser brincar com a gente, pode vir, nunca é demais. Só que quando se recuperou do engasgo, a avisaram que convidados não podem falar nessas sessões, só deputados. Ela, então, juntos os dedinhos e fez um sinal de coração para o pastor. – Para mim, esse sinal de coração com os dedinhos deveria ser considerado pornográfico. – Que bobagem. Agora o melhor. Sabe quem estava presente e defendeu a Xuxa? O deputado Anthony Garotinho, ex-governador do Rio que também é evangélico. – Se isso fosse um filme, qual seria o título: Amor Estranho Amor; Xuxa só para Garotinhos; Super Xuxa contra o Pastor Baixo Astral ou A Princesa Xuxa e os Trapalhões. – Eu mudaria um pouco um outro título já existente e faria Xuxa e os Doentes.

RECÔNCAVO

Cachoeira sedia encontro sobre a arte da gravura brasileira DA REDAÇÃO

A cidade de Cachoeira, no Recôncavo baiano, sedia, de hoje a sexta-feira, uma programação que discute a importância da gravura nas artes brasileiras e promove o intercâmbio entre artistas, professores e alunos. O seminário A Arte da Gravura no Brasil, que vai até quarta, conta com palestrantes de diversos estados brasileiros, como o artista visual Rubem Grilo (MG), a pesquisadora e professora de história da arte pela UFRJ, Maria Luísa Tavora (RJ), e o coordenador do acervo e do ateliê de gravura da Fundação Iberê Camargo, Eduardo Haesbaert (RS). A programação também inclui conversas com os artistas Eneida Sanches, Juraci Dórea e Michael Walker, que ministrará um minicurso, sexta-feira. “A gravura é uma linguagem artística que nos últimos anos assumiu uma representatividade maior na construção da história da arte no Brasil”, afirma Antonio Carlos Portela, professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e

coordenador do evento. Para Dilson Midlej, também professor da UFRB e coordenador do seminário, a gravura ganha novos usos e significados na contemporaneidade. “É um elemento que possibilita uma série de recursos, desde técnicas tradicionais ao uso da imagem em movimento, manipulada em computador, vinculanda a outras áreas de conhecimento. O significado da gravura vai se ampliando, se hibridizando com os novos recursos tecnológicos”. A programação apresenta ainda as exposições Hansen: o Sol Expressionista, reunindo um ciclo de obras de Hansen Bahia (1915-1978), e Conexões Gráficas, com trabalhos dos estudantes do Centro de Artes, Humanidades e Letras da UFRB e de artistas locais. O evento também marcará o lançamento do Selo Comemorativo do Centenário de Hansen, que será celebrado em 2015.. A iniciativa é fruto de uma parceria entre a Fundação Hansen Bahia e o CAHL/UFRB, por meio do Edital Setorial de Artes Visuais da Fundação Cultural do Estado da Bahia.


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