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SALVADOR SÁBADO 7/12/2013
O Mel de Ocara: sabores, cheiros e histórias das viagens de Ignácio de Loyola Brandão André Brandão / Divulgação
Lara Perl lara.perl@grupoatarde.com.br
Aquela velha imagem do escritor como um intelectual isolado e inacessível, que escreve sentado olhando a vida e o tempo passar pela janela, vai ficando cada vez mais no passado, distante da realidade. Seja para participar de bienais, feiras de livros, encontros literários ou lançamentos, os grandes autores da literatura brasileira colocam o pé na estrada para interagir com seus leitores, conquistar novos públicos e incentivar a leitura por onde passam. Mas fora dos eventos que a literatura proporciona, cidades grandes e pequenas encantam e inspiram estes viajantes-escritores. É o que conta Ignácio de Loyola Brandão, nas crônicas do seu novo livro, O Mel de Ocara – Ler, Viajar, Comer. Aos 77 anos, o jornalista e autor de romances como Não Verás País Nenhum, Zero e O Menino que Vendia Palavras (infantil, vencedor do Jabuti em 2008), reúne pequenos textos que escreveu ao longo dos últimos anos. Em 2013, ele visitou 46 cidades brasileiras. Sabores, cheiros, sotaques, detalhes, impressões e histórias curiosas são contadas em primeira pessoa, formando um diário não cronológico, com textos leves, que podem ser lidos e saboreados aos poucos, avulsos ou de uma só vez. Em suas palavras, o autor mostra que a literatura parte cada vez mais das experiências que vive por aí, conversando e convivendo com pessoas e situações diversas.
Grande jornada
Embora sejam crônicas escritas em diferentes momentos, na volta de cada viagem, a edição
tas letrinhas no papel para formar um livro. De barriga forrada, Loyola sai do Copan em direção ao coração do Brasil, contando suas impressões sobre os sotaques, as comidas, o cenário literário de cada cidade ou situações inusitadas. Em Mossoró, por exemplo, seu telefone tocou em uma palestra e o público aplaudiu de pé, pois seu neto tinha acabado de nascer. A jornada de Loyola, que começou em Berlim, na casa da agente literária Ray Gude-Mertin, figura ilustre que reuniu escritores como João Ubaldo Ribeiro, Lygia Fagundes Telles e José Saramago, atravessa novamente o oceano atlântico e acaba em Paris. É temporada de primavera e de aspargos deliciosos e bem temperados servidos no jantar. Nada mais justo. Afinal, o escritor só pode voltar para casa satisfeito e a viagem deve continuar.
O MEL DE OCARA / IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO
Global Editora / 232 páginas / R$ 35/ globaleditora.com.br
A diversidade do Brasil é retratada em crônicas que o autor escreve sempre que volta de suas viagens
do livro sugere uma grande jornada. A primeira refeição de Loyola é no Bar da Dona Onça, do Edifício Copan, no centro de São Paulo, sua cidade natal. Janaína, a cozinheira do restaurante, o faz relembrar dos dias felizes de sua infância saboreando comida de vó: arroz, feijão, couve, ovo frito e linguiça de porco caseira.
Em todo o livro, a comida é apresentada como um prazer que não tem preço, capaz de resgatar o passado e apresentar novas culturas. “A literatura pode não ter me dado dinheiro, mas me tem feito conhecer o Brasil”, comenta em diversas passagens do livro, sempre após experimentar alguma delícia regional, como um
sorvete de açaí coberto com tapioca, em Belém do Pará, ou após ganhar um litro de mel, em uma cidade chamada Ocara, no interior do Ceará. Daí vem o título do livro: O Mel de Ocara. O melhor cachê que o autor diz ter recebido em toda a sua vida, quando uma mulher que não sabia ler perguntou como ele colocava tan-