O Lisbon & Estoril Film Festival chega este ano à 10.ª edição. Ao longo destes 10 anos muitos foram os criadores (a partir do cinema, este festival reúne e confronta obras e autores – realizadores, artistas, actores, músicos, escritores, filósofos…) que «pusemos» a dialogar, entre si e com o público, criando assim um estimulante espaço de reflexão, mas também de festa, singular, em Portugal e no mundo.
The Lisbon & Estoril Film Festival arrives at its 10th edition. During these 10 years many were the creators (under the pretext of cinema, this festival reunites and confronts works and authors – directors, artists, actors, musicians, writers, philosophers…) whom we involved in a dialogue with both other creators and the audience, creating a stimulating environment of reflection, but also of celebration which is unique both in Portugal and the world.
E Jean-Luc Godard, que o festival llhe dá a ver em retrospectiva integral, e a quem dedicará o Simpósio Internacional “Godard vu par…”, é talvez o realizador que melhor espelha esse espírito, com uma obra multifacetada, que ao longo do último meio século nos acompanhou e se misturou com as nossas vidas, como uma espécie de caixa-de-ressonância que se repercutiu em todas as artes e há várias gerações, numa obra imensa e vital que sempre se interrogou a si e ao seu tempo, sem concessões.
Jean-Luc Godard, a full retrospective of whom this festival is screening, and to whom it will devote the International Symposium “Godard vu par…”, is perhaps the director who best embodies this spirit, with a multifaceted oeuvre which has accompanied us for half a century now and has become entangled in the fabric of our lives, like a sounding board that’s been affecting each and every artistic field for several generations, in an immense and vital body of work which always questioned itself and its day and age without a hint of compromise.
Teremos ainda connosco, nas Homenagens e Retrospectivas, outro dos grandes nomes das novas vagas da Europa, o polaco Jerzy Skolimowski. E também Emir Kusturica, Teresa Villaverde, Pascal Bonitzer, Agustín Díaz Yanes e Daniel Rosenfeld.
We will also be featuring, under the Tributes and Retrospectives section, another of the greatest names of the European new waves, Polish director Jerzy Skolimowski, and also Emir Kusturica, Teresa Villaverde, Pascal Bonitzer, Agustín Díaz Yanes and Daniel Rosenfeld.
Sublinhamos a presença dos escritores Adonis, Peter Handke, Enrique Vila-Matas, Ron Padgett, Luc Sante, Adam Thirlwell, Dorota Maslowska e Atiq Rahimi, dos artistas Philippe Parreno e Dominique Gonzalez-Foerster, dos pianistas Martha Argerich, Piotr Anderszewski, Itamar Golan e Natsuko Inoue, dos realizadores Jim Jarmusch, Alex Ross Perry ou Robert Schwentke, de grandes actores e actrizes, entre muitos outros, que acompanharão os mais de 150 filmes que o festival exibirá, e participarão em conferências, masterclasses, workshops, peças de teatro, leituras públicas e exposições.
Some of the other highlights are the presence of writers Adonis, Peter Handke, Enrique Vila-Matas, Ron Padgett, Luc Sante, Adam Thirlwell, Dorota Maslowska and Atiq Rahimi, artists Philippe Parreno and Dominique Gonzalez-Foerster, pianists Martha Argerich, Piotr Anderszewski, Itamar Golan and Natsuko Inoue, directors Jim Jarmusch, Alex Ross Perry and Robert Schwentke, and great actors and actresses, among many others, who will attend the screenings of the more than 150 features that will be screened and partake in conferences, masterclasses, workshops, theatre plays, public readings and exhibitions.
As páginas seguintes deste catálogo-programa põem-no/a a par de tudo o que aqui acontecerá. Mas ainda terá algumas surpresas.
The following pages of this catalogue-programme will keep you up to date with everything that will take place. But there will be a few surprises.
C’est beau ça, hein, petite fille! comme tout,/ Pierrot/ le fou
C’est beau ça, hein, petite fille!/ comme tout,/ Pierrot/ le fou
Um bom festival!
Have a wonderful festival!
2
WWW. L E FFE S T. C OM
PRÉMIOS
Prémio Melhor Filme LEFFEST “Jaeger-LeCoultre” Grand Prize
Distingue o filme do concurso da selecção oficial que o júri considere que “mais se destacou por acrescentar algo de inovador à linguagem cinematográfica”. O vencedor receberá um relógio Jaeger-LeCoultre com uma gravação feita para o LEFFEST. It distinguishes the film, within the official selection competition, that the jury considers “the most outstanding, for adding some innovation to the cinematographic language”. The winner will receive a Jaeger-LeCoultre watch with an engraving made specially for the LEFFEST.
Prémio para a Melhor Curta-Metragem Award for Best Short Film
Prémio que tem por finalidade distinguir e estimular os mais jovens cineastas provenientes de escolas de cinema, com filmes a concurso na secção Encontro Internacional de Escolas. An award that distinguishes and encourages young filmmakers from different film schools with films competing in the International School Meeting section.
Prémio Revelação TAP TAP Revelation Award
Premeia o filme, realizador ou actor que o júri da selecção oficial considere ter-se destacado enquanto revelação.
Prémio Especial do Júri “João Bénard da Costa” Special Jury Award
Rewards the film, director or actor that stands out as a revelation, in the eyes of the official selection jury.
Prémio que distingue as apostas artísticas mais arrojadas da Selecção Oficial – Em Competição. An award that distinguishes the boldest artistic approaches in the Official Selection – In Competition.
Prémio do Público NOS NOS Audience Award
Prémio atribuído pelo público aos filmes da Selecção Oficial – Em Competição. Award given by the audience to the films in the Official Selection – In Competition.
3
PR É MIOS
AWARDS
SESSÃO DE ABERTURA OPENING SESSION
• Dia 4 às 21h30 Medeia Monumental, Sala 4 • Dia 4 às 23h00 Casino Estoril • Dia 5 às 21h30 Cinemas NOS CascaiShopping
“Existem alguns [milagres] em Hacksaw Ridge, mas são feitos pelo homem, exemplos de seres humanos que agem com uma coragem e convicção extraordinárias.” “There are quite a few of them [miracles] in Hacksaw Ridge, but they’re the man-made kind, examples of human beings acting with extraordinary courage and conviction.” Stephanie Zacharek, Time “O forte regresso de Gibson é um drama violento sobre o pacifismo que combina, com sucesso, horror e encanto. (...) A âncora do filme, o seu bastião moral e o seu grande coração é Garfield, que ocupa uma posição de destaque como personagem e intérprete de extraordinária coragem e elegância.” “Gibson’s forceful comeback is a violent drama about pacifism that succeeds in combining horror with grace. (...) the film’s firm anchor, its moral compass and its considerable heart is Garfield, inhabiting his frontline position as both character and performer with extraordinary fortitude and grace.” David Rooney, The Hollywood Reporter
O Herói de Hacksaw Ridge é a extraordinária história verídica de Desmond Doss (Andrew Garfield) que, em Okinawa, na batalha mais sangrenta da 2ª Guerra Mundial, salvou 75 homens sem disparar ou transportar uma arma. Foi o único soldado norte-americano a lutar nas linhas da frente sem arma, pois acreditava na justiça da guerra mas condenava o homicídio. Como médico de combate, evacuou sozinho os feridos por detrás das linhas inimigas, enfrentou o fogo de armas enquanto cuidava dos soldados, foi ferido por uma granada e atingido por atiradores furtivos. Doss foi o primeiro objector de consciência agraciado com a Medalha de Honra do Congresso. Hacksaw Ridge is the extraordinary true story of Desmond Doss (Andrew Garfield) who, in Okinawa during the bloodiest battle of WWII, saved 75 men without firing or carrying a gun. He was the only American soldier in WWII to fight on the front lines without a weapon, as he believed that while the war was justified, killing was nevertheless wrong. As an army medic, he single-handedly evacuated the wounded from behind enemy lines, braved fire while tending to soldiers and was wounded by a grenade and hit by snipers. Doss was the first conscientious objector awarded the Congressional Medal of Honor. Realizador Director:
Mel Gibson
Elenco Cast: Andrew Garfield, Sam Worthington, Luke Bracey, Teresa Palmer, Hugo Weaving, Rachel Griffiths, Vince Vaughn Argumento Screenplay: Robert Schenkkan, Randall Wallace, Andrew Knight Fotografia DOP: Simon Duggan Produtora Production: Hacksaw Ridge Production, Argent Pictures, Cross Creek Pictures, Demarest Media, Icon Productions, Pandemonium, Permut Presentations, Vendian Entertainment US, AU, 2016, 131’
Festivais Festival de Veneza
5
SE SSÃ O D E A BE RT UR A
HACKSAW RIDGE O Herói de Hacksaw Ridge
FESTA DO CINEMA
NOVIDADES FILMES E DOCUMENTÁRIOS
Campanha válida na Fnac de 20 de outubro a 16 de novembro 2016, limitado ao stock existente.
TODAS AS NOVIDADES TAMBÉM EM FNAC.PT
SESSÃO DE ENCERRAMENTO CLOSING SESSION
Do argumentista e realizador Tom Ford, Nocturnal Animals é um assombroso thriller romântico, íntimo e tenso, que explora de forma inquietante e arrebatadora a fronteira ténue entre amor e crueldade, vingança e redenção. Protagonizado por Amy Adams e Jake Gyllenhaal, ambos nomeados para os Óscares, nos papéis de um casal divorciado em que cada um descobre verdades obscuras sobre o outro e sobre si próprio. • Dia 12 às 21h00 CCB, Grande Auditório • Dia 12 às 21h30 Cinemas NOS CascaiShopping
“[...] Um filme soberbo que parece destinado a ser premiado e confirmar a posição de Ford como uma figura tão importante no cinema como na moda. Escreveu, produziu e realizou o filme, que combina uma destreza meticulosa e uma elegância formal com um enredo comovente”. “[...] A superb movie, one which looks bound to pick up awards and to confirm Ford’s position as every bit as important a figure in cinema as in fashion. He scripted, produced and directed the film, which combines painstaking craftsmanship and formal elegance with a gut-wrenching storyline.” Geoffrey Macnab, The Independent “Ford gives his audience multiple realities that overlap and connect — the stark brutality of a west Texas landscape, the glossy loneliness of Los Angeles, a brief glimpse of the snowy romance of New York. Each is depicted with engrossing beauty and detail. Even ugliness and horror are shown with a mesmerizing sensuality.”
From writer/director Tom Ford comes a haunting romantic thriller of shocking intimacy and gripping tension that explores the thin lines between love and cruelty, revenge and redemption. Academy Award nominees Amy Adams and Jake Gyllenhaal star as a divorced couple discovering dark truths about each other and themselves in Nocturnal Animals. Realizador Director:
Tom Ford
Elenco Cast: Amy Adams, Jake Gyllenhaal, Aaron Taylor-Johnson, Michael Shannon, Isla Fisher, Armie Hammer, Ellie Bamber, Laura Linney Argumento Screenplay: Tom Ford (Based on the novel/ Baseado no romance Tony and Susan by/de Austin Wright) Fotografia DOP: Seamus McGarvey Produtora Production: Focus Features, Universal Pictures US, 2016, 115’
Prémios Prémio Especial do Júri, Festival de Veneza Festivais Festival de Toronto
“Ford oferece ao seu público múltiplas realidades que se sobrepõem e interligam — a brutalidade crua da paisagem do oeste do Texas, a solidão reluzente de Los Angeles, um breve vislumbre de uma Nova Iorque romântica e nevosa. Cada uma é retratada com uma beleza e detalhe envolventes. Até a fealdade e o horror são retratados com uma sensualidade hipnotizante.” Robin Givhan, The Washington Post
7
SE SSÃ O D E E N C E R R A ME N T O
NOCTURNAL ANIMALS Animais Nocturnos
JÚRI DA SELECÇÃO OFICIAL Official Selection Jury Jerzy Skolimowski foi um dos convidados da última edição do LEFFEST, onde apresentou o seu mais recente filme, 11 Minutos, que foi o grande vencedor do festival, recebendo o Prémio Melhor Filme Jaeger-LeCoultre. Este ano regressa ao festival e será homenageado com a exibição integral da sua obra.
JERZY SKOLIMOWSKI Realizador nascido na cidade de Lódz na Polónia, Jerzy Skolimowski corporizou os seus multifacetados talentos – como cineasta, argumentista, poeta, dramaturgo, pintor e ator – numa filmografia plena de inventividade visual e narrativa. Nos seus anos de formação estudou Etnologia, Literatura e História na Universidade de Varsóvia e em 1962 licenciou--se em realização na Lódz Film Academy. Ao mesmo tempo que dava início ao seu trabalho co mo realizador, participava também como ator em inúmeros filmes. Uma das mais singulares vozes da Nova Vaga do cinema polaco dos anos 1960, Skolimowski teve um muito particular trajecto artístico, dividido entre a Polónia (o icónico conjunto de filmes iniciais, após colaborações com Wajda e Polanski, e o trio de filmes recente – Quatro Noites com Anna, Essential Killing e 11 Minutos – depois de um hiato fílmico voluntário de 17 anos) e uma itinerância artística por vários países e produções. Pelo seu gesto artístico perpassa uma capacidade visionária invulgar de captar os seres humanos face ao seu tempo e às suas circunstâncias. Atualmente com mais de 20 filmes no seu currículo, o realizador polaco conta com vários prémios atribuídos nos mais importantes festivais de cinema europeus, como o Urso de Ouro no Festival de Berlim pelo filme Le Départ (1967) e o Grande Prémio do Júri do Festival de Cannes por O Uivo (1978). Com Moonlighting (1982), protagonizado por Jeremy Irons, venceu o Prémio de Melhor Argumento no Festival de Cannes. Em 2008, ano que marca o seu regresso à realização, Skolimowski apresentou Quatro Noites com Anna na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes. Em 2011, com Essential Killing, protagonizado por Vincent Gallo, venceu o Grande Prémio do Júri no Festival de Veneza. 8
Born in the city of Lódz in Poland, director Jerzy Skolimowski has embodied versatile talents - as a filmmaker, scriptwriter, poet, playwright, painter and actor - in a filmography which is full of visual and narrative inventiveness. Jerzy Skolimowski graduated in Ethnography from the Warsaw University and in Direction from the Lódz Film School, in 1962. At the same time as he began his work as a film director, he also participated in several films as an actor. As one of the most particular voices of the New Wave of Polish cinema in the 1960s, Skolimowski has pursued a very particular artistic path, divided between Poland (his four initial and iconic works, after collaborating with Wajda and Polanski, and his three most recent films - Four Nights with Anna, Essential Killing and 11 Minutes - following a 17-year voluntary hiatus in filmmaking) and an artistic roaming through several countries and productions. His artistic gesture is crossed by a visionary, unusual capacity of capturing human beings facing their own time and circumstances. With a body of work of more than 20 films, Jerzy Skolimowski has received several awards at the most important European film festivals, such as the Golden Bear at the Berlin Film Festival for the film The Departure (1967) and the Grand Prix du Jury at the Cannes Film Festival for The Shout (1978). With Moonlighting (1982), starring Jeremy Irons, he won the Best Screenplay Award at the Cannes Film Festival. In 2008, the year he returned to filmmaking, Skolimowski presented Four Nights with Anna at the Director’s Fortnight of the Cannes Film Festival. In 2011, his film Essential Killing, starring Vincent Gallo, won the Grand Jury Prize at the Venice Film Festival.Jerzy Skolimowski was at LEFFEST competition last year with his film 11 Minutes, which won the Jaeger-LeCoultre Award for Best Film. This year he returns for a special tribute and a retrospective of his work.
WWW. L E FFE S T. C OM
ATIQ RAHIMI Escritor e cineasta, Atiq Rahimi nasceu em 1962, em Cabul. Aquando da invasão soviética do Afeganistão, abandonou o país e procurou refúgio em França, onde se fixou em 1985. Concluiu um Doutoramento em Cinema pela Sorbonne, tendo mais tarde produzido sete documentários para a televisão francesa, assim como alguns anúncios de televisão. Atiq Rahimi apresenta o seu primeiro projecto literário em 2000, Terre et Cendres (Terra e Cinzas), um sucesso de vendas imediato na Europa e na América do Sul. Baseando-se nessa obra, realizou o filme com o mesmo título, arrecadando um total de 25 prémios em diversos festivais de cinema, destacando-se o Prix du Regard vers l’Avenir no Festival de Cannes, em 2004. Em 2002, após a queda do regime talibã, Rahimi regressou ao Afeganistão, depois de dezassete anos de exílio, e fotografou a cidade de Cabul. Seis dessas fotografias foram adquiridas pelo Victoria and Albert Museum de Londres. Nesse mesmo ano, publica Les Mille Maisons du rêve et de la terreur (As Mil Casas do Sonho e do Terror), e, três anos depois, Le Retour Imaginaire. O seu quarto romance, Syngué Sabour. Pierre de Patience, o primeiro escrito directamente em francês, valeu-lhe o prémio Goncourt, o prémio literário de maior prestígio em França. Segundo o autor, a escolha da língua francesa em detrimento da sua língua materna foi uma forma de escapar à “autocensura involuntária” que sente ao escrever em Persa. Syngué Sabour conta a história de uma mulher cujo marido foi ferido durante a guerra e ficou paralisado. A partir de um argumento co-escrito com Jean-Claude Carrière, Rahimi realizou a adaptação ao cinema do seu livro. Syngué Sabour. Pierre de Patience
Writer and filmmaker, Atiq Rahimi was born in 1962, in Kabul. When the soviets invaded Afghanistan he left the country and sought refuge in France, where he settled in 1985. He finished his PhD in Cinema at the Sorbonne, and later he produced seven documentaries for French television as well as a few TV commercials. Atiq Rahimi presented his first literary project in 2000, Terre et Cendres (Earth and Ashes), which was an immediate hit in Europe and South America. Based on that novel, he directed the film of the same title, winning a total of 25 awards in various cinema festivals, in particular the Prix du Regard vers l’Avenir at the Cannes Film Festival, in 2004. In 2002, following the fall of the Taliban regime, Rahimi returned to Afghanistan after eighteen years of exile and photographed the city of Kabul. Six of those pictures were purchased by the Victoria and Albert Museum in London. In that same year, he published Les Mille Maisons du rêve et de la terreur (A Thousand Rooms of Dream and Fear) and, three years later, Le Retour Imaginaire. His fourth novel, Syngué Sabour. Pierre de Patience, the first one to be written directly in French, which was awarded the Goncourt prize, the most prestigious literary award in France. According to the author, choosing French instead of his mother tongue was a way to escape the “involuntary self-censorship” he feels when writing in Persian. Syngué Sabour tells the story of a woman whose husband was wounded during the war and became paralysed. Rahimi directed the adaptation to cinema of his book, from a script he co-authored with Jean-Claude Carrière. The film Syngué Sabour, Pierre de Patience (The Patience Stone) in 2012, starring the Iranian actress Golshifteh Farahani, was selected by Afghanistan for the nominations for the Oscar for Best Foreign Language Film in the 85th edition of the Academy Awards. In 2011, he published Maudit soit Dostoïevski (A Curse on Dostoevsky) which was also edited in Portugal, just as his previous books.
9
JÚR I D A SE L E C Ç Ã O OF IC IA L
(2012) protagonizado pela actriz iraniana Golshifteh Farahani, foi o filme seleccionado pelo Afeganistão para as nomeações ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro na 85ª edição dos prémios da Academia. Em 2011, publicou Maldito Seja Dostoievski, também editado em Portugal, tal como os seus livros anteriores.
MARTHE KELLER Marthe Keller (Basileia, Suíça) é o exemplo de uma artista que não conhece fronteiras geográficas ou artísticas. A sua primeira paixão foi a dança. Estudou teatro durante três anos na escola Stanislavsky em Munique, integrou o teatro Schiller em Berlim e, posteriormente, estreou-se na televisão alemã. Em 1966, mudou-se para Paris, onde iniciou a sua carreira no cinema ao lado de Philippe de Broca, nos filmes O Diabo à Solta (1969) e Les Caprices de Marie (1970), e com Claude Lelouch no filme Toda Uma Vida (1974). Rapidamente ganhou reconhecimento a nível internacional, estreando-se em Hollywood com o filme O Homem da Maratona de John Schlesinger (1976), onde contracenou com Dustin Hoffman. Participou também em Fedora de Billy Wilder, apresentado no Festival de Cannes em 1978. A sua versatilidade permite-lhe passar da leve comédia para o drama, do romance para o thriller, colaborando com grandes realizadores como Sydney Pollack, Nikita Mikhalkov, John Frankenheimer, e, mais recentemente, Benoît Jacquot e Barbet Schroeder. O seu talento é evidente não só nos filmes em que participou como também no palco e até na ópera: a sua encenação de Diálogos das Carmelitas de Francis Poulenc foi premiada com o Grande Prémio da Crítica em 1999. Presença habitual no Festival de Cannes, Marthe Keller foi presidente do Júri da secção Caméra d’Or em 1994, e presidente do Júri da secção Un Certain Regard em 2016. Este ano é também membro do Júri da Selecção Oficial em Competição no Lisbon & Estoril Film Festival.
theatre at the Stanislavsky school in Munich for three years, was a part of the Schiller Theatre in Berlin and, later, made her first appearance on German television. In 1966, Keller moved to Paris, where she began her career in cinema alongside Philippe de Broca, in the films Le Diable pour le queue/The Devil By the Tail (1969) and Les Caprices de Marie (1970), and Claude Lelouch in the film Toute une Vie/And Now My Love (1974). She rapidly gains international renown making her debut in Hollywood in John Schlesinger’s The Marathon Man in 1976 alongside Dustin Hoffman. She also participated in Fedora by Billy Wilder, presented at the Cannes Festival in 1978. Her versatility makes her move easily from light comedy to drama, from romance to thriller, working with great directors such as Sydney Pollack, Nikita Mikhalkov, John Frankenheimer and, more recently, Benoît Jacquot and Barbet Schroeder. Mathe Keller’s talent is evident in everything she undertakes in film but also in her stage performances and even in opera: her stage direction of Francis Poulenc’s Dialogue des Carmélites won the Grand Prix de la Critique in 1999. Keller is a frequent presence at the Cannes Festival and, in 1994, was the president of the Jury in the section Caméra d’Or and president of the Jury in the section Un Certain Regard in 2016. This year, she is also a member of the Official Selection Competition Jury at the Lisbon & Estoril Film Festival.
Marthe Keller (Basel, Switzerland) is the example of an artist who knows no geographical or artistic borders. Her first passion was dance. She studied 10
WWW. L E FFE S T. C OM
VALENTINA LODOVINI Natural de Umbertide, na região italiana da Úmbria, Valentina Lodovini frequentou a Escola de Artes Dramáticas em Perugia, mudando-se, posteriormente, para Roma, onde continuou os seus estudos no Centro Sperimentale di Cinematografia. Os seus primeiros papéis como actriz de cinema foram em Ovunque sei (2004), de Michele Placido, apresentado no Festival de Cinema de Veneza, L’amico di famiglia (2006), de Paolo Sorrentino, e A casa nostra (2006), de Francesca Comencini. Foge às convenções e procura conjugar teatro e séries televisivas, algumas de grande sucesso, como Distretto di Polizia e 48 Ore. Com Pornorama, o filme “picante” de Marc Routhemund (vencedor do Urso de Prata em 2005 com Sophie Scholl - Os Últimos Dias), obteve grande sucesso na Alemanha. Foi protagonista no filme La giusta distanza (2007), de Carlo Mazzacurati e recebeu por esse papel a sua primeira nomeação para os prémios David di Donatello como melhor actriz. No mesmo ano, apareceu na mini-série televisiva Coco Chanel, realizada por Christian Duguay, no canal italiano Rai Uno. Foi considerada, juntamente com Carolina Crescentini, parte da “melhor juventude do cinema italiano”, no filme Generazione 1000 euro (2008) de Massimo Venier. No mesmo ano, brilhou em Il passato è una terra straniera, de Daniele Vicari. Em 2009 participou em Fortapàsc, de Marco Risi, numa interpretação que, juntamente com Generazione mille euro, lhe permitem vencer o prémio Ciak d’oro para a revelação do ano. Após vários papéis difíceis e dramáticos, Valentina participou também em comédias como Benvenuti al Sud (2010), de Luca Miniero, La donna della mia vita, de Luca Lucini e Una donna per amica, de Giovanni Veronese. Depois da comédia de Gianni Di
From Umbertide, in the Italian region of Umbria, Valentina Lodovini studied at the School of Dramatic Arts in Perugia and then moved to Rome, where she continued her studies at the Centro Sperimentale di Cinematografia. Her first roles as an film actress were in Ovunque sei (2004), by Michele Placido, presented at the Venice Film Festival, L’amico di famiglia (2006), by Paolo Sorrentino and A casa nostra (2006), by Francesca Comencini. She does not like conventions and tries to balance her work in theatre and television series, some of great success such as Distretto di Polizia e 48 Ore. With Pornorama, Marc Routhemund’s “spicy” film (winner of the Silver Bear in 2005 for Sophie Scholl - The Final Days), she had great success in Germany. She starred in Carlo Mazzacurati’s film La giusta distanza (2007) and received with this interpretation her first nomination for David di Donatello awards as best actress. In the same year, she appears in the television mini-series Coco Chanel, directed by Christian Duguay, in the Italian television channel Rai Uno. Valentina Lodovini was considered, along with Carolina Crescentini, to be part of “the best youth of Italian cinema”, in Massimo Venier’s film Generazione 1000 euro (2008). She shined in Daniele Vicari’s Il passato è una terra straniera. In 2009, with Fortapàsc, by Marco Risi, Valentina won the Ciak d’oro revelation of the year award. After several difficult and dramatic roles, Valentina was chosen for several comedies, such as a Luca Miniero’s Benvenuti al Sud (2010), Luca Lucini’s La donna della mia vita and, in 2011, Veronesi’s Una donna per amica. After Gianni Di Gregorio’s comedy, Buoni a nulla, she filmed Ma che bella sorpresa by Alessandro Genovesi and I milionari by Alessandro Piva. Her most recent film, the thriller La verità sta in cielo by Roberto Faenza, has just premiered in Italy.
11
JÚR I D A SE L E C Ç Ã O OF IC IA L
Gregorio, Buoni a nulla, filmou Ma che bella sorpresa de Alessandro Genovesi e I milionari, de Alessandro Piva. O seu mais recente fime, o thriller La verità sta in cielo de Roberto Faenza, acaba de estrear em Itália.
Anonymous Gallery (Cidade do México). Em Portugal, organizou uma enorme instalação no Museu do Design e da Moda em 2014, expondo cerca de 200 peças. Muito recentemente, inaugurou uma exposição no Jardim Botto Machado, perto do Panteão Nacional, de novo em parceria com o MUDE. Trata-se de um mural de 46000 azulejos pintados à mão, uma “reinterpretação” da cidade de Lisboa.
ANDRÉ SARAIVA André Saraiva é um artista visual de origem portuguesa que iniciou a sua carreira nos anos ‘80 a espalhar graffitis pelas ruas de Paris. Através do seu “alter-ego”, Mr. A., representado pelo desenho de uma cara redonda com um grande sorriso e um piscar de olho, e de um estilo assente num peculiar e monocromático tom de cor-de-rosa, tornou-se conhecido em todo o mundo. Entre os seus projectos mais populares contam-se os “Love Graffitis”, tags de nomes de pessoas cujas histórias de amor são partilhadas com André nas redes sociais, e que este imortaliza nas ruas. Para além do mundo da “street art” - apareceu no filme Exit Through the Gift Shop, realizado pelo artista britânico Banksy - André estendeu a sua influência não só ao mundo da música e da noite, transformando a vida nocturna de grandes metrópoles através da criação de ambientes românticos e utópicos nas suas discotecas Le Baron (Paris, Nova Iorque ou Tóquio), Le Bain (Nova Iorque) e Castel (Paris) mas também ao mundo da moda e aos produtos de luxo, tendo colaborado com marcas como Louis Vuitton, Moët & Chandon, Chanel, Fendi, ou Cartier - uma transgressão dos lugares-comuns que remetem o graffiti e a street art a uma posição marginal, no interior de uma subcultura. É ainda editor da revista L’Officiel Hommes, e concebeu dois hotéis boutique em Paris, o Hôtel Amour e o Grand Amour Hôtel, na icónica zona de Pigalle, e um restaurante em Nova Iorque, o Café Henrie. Mantendo o seu estilo próprio, André Saraiva tem ainda enveredado por outras áreas artísticas, como a instalação, a pintura, a serigrafia, a curta-metragem e o vídeo. As suas obras foram exibidas em museus de todo o mundo, como o Palais Tokyo (Paris), Maison Kitsuné (Tóquio), Museum of Contemporary Art (Los Angeles), Circle Culture Gallery (Hamburgo), 12
André Saraiva is a visual artist of Portuguese origin who began his career in the 80’s by spreading his graffiti art through the streets of Paris. He became known all over the world through his graffiti-artist alter ego, the tag Mr. A, a “funny, round face, with a huge smile and a wink that follows you everywhere” in a peculiar monochromatic shade of pink. His concept “Love Graffiti” consists of tags featuring the names of people whose love stories are shared with André in social media and which he immortalizes in the streets. Beyond the art world – he made an appearance in the film Exit Through the Gift Shop, directed by British artist Banksy – André has stretched his influence not only to the musical and nightclub scenes, transforming the nightlife in several large cities through the creation of romantic and utopic environments in his nightclubs Le Baron (Paris, New York, Tokyo), Le Bain (New York) and Castel (Paris), but also to the fashion world and luxury goods, having collaborated with brands such as Louis Vuitton, Moët & Chandon, Chanel, Fendi, or Cartier – a transgression of the clichés that relegate graffiti and street art to marginality, to an underground culture. He is also the editor of magazine L’Officiel Hommes and designed two boutique hotels in Paris, Hôtel Amour and Grand Amour Hôtel in the iconic area of le Pigalle and a restaurant in New York, Café Henrie. Staying true to his own particular style, André Silva has also dabbled in other artistic domains, such as installation art, painting, prints, short films and video. His works have been exhibited in museums all around the world, with Palais Tokyo (Paris), Maison Kitsuné (Tokyo), the Museum of Contemporary Art (Los Angeles), Circle Culture Gallery (Hamburg) and Anonymous Gallery (Mexico City). In Portugal he organized a large installation in the Museum of Design and Fashion (MUDE) in 2014, exhibiting around 200 pieces. Much more recently, he inaugurated an exhibition in Jardim Botto Machado, near the Panteão Nacional, in another partnership with MUDE. It is a mural made up of 46.000 hand painted “azulejos” or ceramic tiles, a reinterpretation of the city of Lisbon. WWW. L E FFE S T. C OM
SELECÇÃO OFICIAL - EM COMPETIÇÃO Offical Selection - In Competition
N, um jovem africano, atravessa o deserto com o objectivo de chegar ao norte de África e aí ser transportado até à Europa de forma clandestina. Vítima de um ataque à mão armada, acaba na Tunísia e decide fazer sozinho a travessia do Mediterrâneo. Rouba um pequeno barco, mas este quebra-se no meio do mar. Inicia-se nesse momento uma odisseia surrealista, através de lugares únicos, plena de encontros fugazes mas intensos, em que N se confrontará com uma imagem alterada de si mesmo. • Dia 9 às 19h00 Medeia Monumental, Sala 1 • Dia 10 às 15h30 Casino Estoril
“Contra a cegueira que domina estados e a favor da liberdade do homem e da mulher, existe apenas um território possível: a imaginação, onde as fronteiras já não existem. O cinema não pertence a nenhum território e encara a insanidade do nosso presente. As imagens e os sons tornam-se, portanto, o pãonosso de cada dia.” “Against the blindness that dominates states and for the freedom of man and woman, there is one possible territory: that of imagination, where borders do not exist anymore. Cinema does not belong to any territory and faces the insanity of our present. Images and sounds therefore become our daily bread.” (Declaração do Realizador) “The Last of Us é uma primeira obra que, não se assemelhando a nada do cinema contemporâneo, coloca-se no centro da actualidade e do mundo. Um trabalho visionário e realista que relança a primado do olhar enquanto se confronta com as emergências humanitárias mais graves dos nossos dias, oferecendo uma imagem potentíssima das possibilidades do futuro do cinema.”
N is a young sub-Saharan man who crosses the desert in order to reach North Africa and be smuggled into Europe. After being victim to a holdup, he finds himself alone in Tunisia. He therefore decides to cross the sea all by himself towards a European country. He steals a small boat and embarks on his crossing journey. However, the boat breaks down in the middle of the sea, and N then goes through a special and unique journey. He travels to different, infinite spaces, makes ephemeral yet intense encounters, and meets an altered image of himself. Realizador Director:
Ala Eddine Slim
Elenco Cast: Jawhar Soudani, Fathi Akkari, Jihed Fourti Argumento Screenplay: Ala Eddine Slim Fotografia DOP: Amine Messadi Produtora Production: Exit Productions, Inside Productions, Madbox Studios, SVP TN, 2016, 94’
Festivais Festival de Veneza
“The Last of Us is a debut film that, while not resembling anything seen in contemporary cinema, positions itself at the center of our present and of the world. A visionary and realistic work that re-launches the primacy of the gaze while facing the most serious of humanitarian emergencies of our present, offering a very powerful image of what the future of cinema can bring.” Giona A. Nazzaro, Semana da Crítica do Festival de Veneza
13
SE L E C Ç Ã O OF IC IA L - E M C OMPE T IÇ Ã O
AKHER WAHED FINA The Last of Us
AMERICAN HONEY Star (Sasha Lane), uma jovem adolescente proveniente de um seio familiar perturbado, foge de casa e junta-se a um grupo de vendedores ambulantes que viaja pelo Oeste Americano. Rapidamente mergulha no estilo de vida deste grupo, um universo aliciante repleto de noites de festa, dias de crime e, sobretudo, de amor.
• Dia 5 às 21h00 Casino Estoril
Star (Sasha Lane), a teenage girl from a troubled home, runs away with a traveling sales crew who drives across the American Midwest. She soon finds her feet in this gang of teenagers, one of whom is Jake (Shia LaBeouf), and gets into the group’s lifestyle of hard-partying nights, lawbending days, and young love.
• Dia 7 às 21h30 Cinemas NOS CascaiShopping
Realizador Director:
• Dia 5 às 18h45 Medeia Monumental, Sala 4
“Um road-movie que proporciona um retrato terno de uma juventude esquecida, uma equipa de vendedores ambulantes que viaja de cidade em cidade. Demonstra a incrível tenacidade e dignidade destes jovens, bem como proporciona como que um sismógrafo social dos vários segmentos da sociedade. É uma viagem em três sentidos: uma viagem feita pela equipa, uma viagem da riqueza à pobreza, e uma viagem interna para cada um dos protagonistas, Star e Jake ainda não perderam a sua capacidade de sonhar e de se transformarem.” “A road-movie that gives a loving glimpse of a forgotten youth, a ‘sales crew’ travelling from town to town. It shows their ability of inner strength and dignity, while at the same time providing a social seismograph of various segments of society. It is a threefold journey: the journey of the crew, a journey from wealth to poverty and an inner journey of each of the protagonists, Star and Jake haven’t lost their ability to dream and to transform themselves.” Cannes Film Festival Ecumenical Jury
Andrea Arnold
Elenco Cast: Shia Labeouf, Riley Keough, Sasha Lane Argumento Screenplay: Andrea Arnold Fotografia DOP: Robbie Ryan Produtora Production: Parts and Labor, British Film Institute (BFI), Film4 UK, US, 2016, 162’
Prémios Prémio do Júri, Festival de Cannes Festivais Festival de Toronto
“Arnold foca-se em paisagens naturais que tenham uma qualidade assombrosa de forma a exacerbar a percepção de que Star está a descobrir o universo pela primeira vez nos seus próprios termos.” “Arnold lingers on natural imagery with a haunting, otherworldly quality, bolstering the perception that Star is discovering the universe for the first time on her own terms.” Eric Kohn, Indiewire 14
WWW. L E FFE S T. C OM
• Dia 6 às 21h00 Casino Estoril (presença de Katsuya Tomita) • Dia 7 às 18h00 Medeia Monumental, Sala 1 (conversa com Katsuya Tomita e produtor Terutaro Osan)
“Bangkok Nites estende o tempo da narrativa, explorando mais o reflexo e a fluidez das personagens do que uma multiplicação de histórias. A força de Tomita, um realizador autodidata e inovador, jaz na frescura do seu olhar e na forma como oferece profundidade às suas personagens.” “Bangkok Nites extends the time of the narrative, playing more on the ebb and flow of the characters rather than a multiplication of stories. The strength of Tomita, a self-taught, mould-breaking filmmaker, lies in the freshness of his gaze and the way in which he gives depth to his characters.” Carlo Chatrian, Director Artístico do Festival de Locarno “(...) Tomita constrói com paciência, ao longo de três horas, um épico de câmara sobre o vazio emocional de uma sociedade toda ela virada para a troca comercial. Soderberghiano no modo como todas as relações deste filme são estritamente transacções funcionais de mera sobrevivência, indiferentes a escrúpulos ou moralidades.” “(...) During 3 hours, Tomita patiently builds a camera epic about the emotional emptiness of a society geared towards commercial trading. Soderberghian in the way every relationship in the film is a strictly functional transaction of mere survival, indifferent to scruples and moralities.” Jorge Mourinha, Público
Banguecoque é uma megalópole em expansão. No seu coração está Thaniya Road, uma zona de prostituição frequentada apenas por homens japoneses. Luck é uma das rainhas dessa zona. Um dia, Luck cruza-se com Ozawa, um cliente japonês por quem se apaixonara cinco anos antes. Quando Ozawa tem de partir para Laos, ela acompanha-o e apresenta-o à sua família e aos seus amigos de infância. Durante esta curta estadia, Ozawa começa a sonhar com uma vida sossegada naquela pequena aldeia, mas apercebe-se das marcas deixadas pelo colonialismo. Bangkok, an endlessly expanding megalopolis. In its heart is Thaniya Road, a red-light district, frequented only by Japanese men. Luck is one of the reigning queens there. One day Luck comes across Ozawa, a Japanese client with whom she had fallen in love five years earlier. When Ozawa has to go to Laos, she accompanies him to introduce him to her family and childhood friends. During this short stay, weary of his life in Bangkok, Ozawa starts dreaming of a quiet life in this little village, but becomes aware of the scars left by colonialism. Realizador Director:
Katsuya Tomita
Elenco Cast: Subenja Pongkorn, Sunun Phuwiset, Chutlpha Promplang, Tanyarat Kongphu, Sarinya Yongsawat, Hitoshi Ito, Yohta Kawase Argumento Screenplay: Toranosuke Aizawa, Katsuya Tomita Fotografia DOP: Masahiro Mukoyama, Takuma Furuya Produtora Production: Bangkok Planning, Flying Pillow Films, Kuzoku JP, FR, TH, LA, 2016, 183’
Festivais Festival de Locarno
15
SE L E C Ç Ã O OF IC IA L - E M C OMPE T IÇ Ã O
BANGKOK NITES
CÂINI Dogs
• Dia 8 às 17h00 Medeia Monumental, Sala 1 • Dia 11 às 15h30 Casino Estoril
“Havia um sentimento, uma atmosfera que trouxe sempre comigo - desde a infância em casa da minha avó na Roménia rural. Por vezes, durante as noites de Verão, testemunhava lutas selvagens entre os locais. E lembro-me que o que mais me intrigou não foi a violência mas sim a aleatoriedade da situação. Estas pessoas não precisavam de uma razão para entrar numa luta - só queriam saber quem iria ganhar. Apesar da sua selvajaria e imoralidade, havia uma espécie de pureza ancestral nos seus actos. Ainda me lembro dessa sensação. Caîni é sobre tudo isso.” (Declaração do Realizador) “There was a feeling, an atmosphere that I’ve always carried with me – ever since my childhood at my grandma’s in rural Romania. Sometimes, during the summer nights I’d witness these savage fights between the locals. And I remember that what puzzled me the most was not the violence but the randomness of it. These guys didn’t need a reason to enter a fight – they just wanted to see who would come out on top. For all their savagery and lack of morals, there was a sort of ancestral purity about their acts. I can still remember that feeling. That’s what Dogs is all about.”
Roman, um rapaz da cidade, viaja até uma aldeia remota da Roménia para vender a terra que herdou do seu avô. À chegada, depara-se com uma série de estranhos acontecimentos que lhe revelam que o avô era, afinal, um criminoso muito poderoso na região. Para vender a terra, Roman tem de enfrentar os representantes do seu avô, agora liderados por Samir, um tártaro afável e carismático. Entretanto, Hogas, um agente da polícia, investiga o misterioso aparecimento de um pé amputado, mas a sua verdadeira intenção é a de vingar-se a todo o custo de Samir, o seu eterno rival. Roman - a young man from the city - comes to a remote village in rural Romania to sell the land he inherited from his departed grandfather. Once there, Roman is exposed to a series of strange events, all culminating with him discovering that his grandfather used to be a local crime lord. In order to sell the land, Roman has to face his grandfather’s deputies, now led by Samir, an affable and charismatic Tartar. Meanwhile, Hogas, the local policeman, investigates the finding of a severed foot, but what he is really after is getting revenge at any cost on Samir, his lifetime nemesis. Realizador Director:
Bogdan Mirica
Elenco Cast: Gheorghe Visu, Vlad Ivanov, Dragos Bucur Argumento Screenplay: Bogdan Mirica Fotografia DOP: Andrei Butica Produtora Production: 42 Km Film, EZ Films (BFI), Film4 FR, BG, RO, QA, 2016, 104’
Prémios Prémio Un Certain Regard - FIPRESCI, Festival de Cannes
“Uma primeira longa-metragem promissora que mistura, eficazmente, o género criminal e o western, oferecendo-nos uma visão sobre os conflitos da Roménia contemporânea.” “A promising first feature that skillfully mixes the crime and western genres, giving us insight into the conflicts of contemporary Romania.” Júri da Crítica do Festival de« Cannes 16
WWW. L E FFE S T. C OM
Baseado em acontecimentos verídicos, a história de Christine Chubbuck, uma repórter ambiciosa na Flórida dos anos 70. Pressionada pelo facto de ser mulher nos meios de comunicação social, pelas divergências com o seu patrão, por uma vida pessoal conturbada e uma depressão clínica, Christine foi manchete em todo o país por ter cometido suicídio em directo, durante a emissão de um telejornal.
• Dia 11 às 21h45 Medeia Monumental, Sala 1 • Dia 12 às 15h30 Casino Estoril
“A sua história é uma metáfora extraordinária, de certa forma, porque ela é alguém que quer desesperadamente servir a sua comunidade, ser honesta, ter padrões de integridade, e não usar o medo para explorar o seu público. Cada vez mais tem sido essa a linguagem dominante. O medo é aquilo que é usado constantemente para explorar pessoas na América.” “Her story is an extraordinary metaphor, in a way, because there she is, someone who desperately wants to serve her community, to be truthful, to have all the standards of integrity, and not use fear to exploit her audience. Increasingly, that’s become the language. Fear is the thing that is used to exploit people in America consistently.” Rebecca Hall, protagonista de Christine
Based on true events. The story of Christine Chubbuck, an ambitious reporter working in Florida in the 1970s. After struggling with being a woman in the media, being at odds with her boss, a troubled personal life and clinical depression, Christine made national headlines after committing suicide during a live news broadcast. Realizador Director:
Antonio Campos
Elenco Cast: Rebecca Hall, Michael C. Hall, Maria Dizzia Argumento Screenplay: Craig Shilowich Fotografia DOP: Joe Anderson Produtora Production: BorderLine Films, Fresh Jade US, 2016, 115’
Festivais Festival de Sundance Festival de Toronto
“De vez em quando um actor apodera-se de um papel tão meticulosamente — tornando cada fala, cada olhar e gesto breve numa expressão de existência — que se torna naquilo que nos leva ao filme bem como a razão pela qual continuamos a assistir. É esse o caso de Rebecca Hall, a estrela de Christine.” “Every so often, an actor takes possession of a role so thoroughly — turning each line, flickering look and gesture into an expression of being — that she becomes your way into the movie as well as the reason you keep watching. That’s the case with Rebecca Hall, the star of Christine.” Manohla Dargis, The New York Times
17
SE L E C Ç Ã O OF IC IA L - E M C OMPE T IÇ Ã O
CHRISTINE
EL FUTURO PERFECTO The Future Perfect
• Dia 6 às 17h00 Medeia Monumental, Sala 1 (conversa com Nele Wohlatz) • Dia 7 às 15h30 Casino Estoril (presença de Nele Wohlatz)
“O filme é baseado na minha experiência de ir viver para outro país. Foi aí que percebi que aprender uma nova língua é como ensaiar uma peça de teatro: tens de recriar uma nova identidade, adaptar o que aprendes nos livros à tua nova vida, tal como trazer um guião para cena.” “The film is based on my experience from moving to another country. I then realized how learning another language is like rehearsing a theatre play: you need to recreate a new identity, to adapt what you are learning on textbooks for living a new life, just like putting a screenplay on scene.” (Declaração da Realizadora) “Há depois um outro modo, mais político, de compreender a situação, que faz referência ao percurso de desenraizamento e auto-reclusão a que o imigrante é submetido. El futuro perfecto, no entanto, não assume o tom de um filme social; tem a ligeireza dos contos de Rohmer: mas tal como no caso do mestre francês, essa simplicidade é apenas aparente.”
Xiaobin tem dezassete anos e não fala uma palavra de espanhol quando chega à Argentina. Alguns dias mais tarde, tem já um novo nome, Beatriz, e um emprego num supermercado chinês. A sua família vive numa lavandaria, muito afastada dos argentinos. Xiaobin poupa dinheiro às escondidas, inscreve-se numa escola de línguas e testa aquilo que aprende na rua. Depois de aprender a “marcar encontros”, combina encontrar-se com um cliente do supermercado, Vijay. Ele é indiano, e apesar de mal conseguirem comunicar um com o outro, dão início a uma relação secreta. Xiaobin is 17 years old and does not speak a single word of Spanish when she arrives in Argentina. But a few days later, she already has a new name, Beatriz, and a job in a Chinese supermarket. Her family lives in a launderette, far removed from the Argentinians. Xiaobin secretly saves money and enrols at a language school and tries what she learns in the street. After having learned how to “make appointments”, she arranges to meet a supermarket customer, Vijay. He comes from India, and although they can barely communicate with each other, they start a secret relationship. Realizador Director:
Nele Wohlatz
Elenco Cast: Xiaobin Zhang, Saroj Kumar Malik, Mian Jiang, Dong Xi Wang, Nahuel Pérez Biscayart Argumento Screenplay: Nele Wohlatz Fotografia DOP: Roman Kasseroller, Agustina San Martín Produtora Production: Murille Cine, Nele Wohlatz AR, 2016, 65’
Prémios Menção Especial do Júri para Melhor Primeira Obra, Festival de Locarno
“There is also another, more political way, to understand the situation, which makes reference to the processes of uprooting and reclusivity that immigrants are subjected to. El futuro perfecto, however, does not adopt a social tone; it has the lightness of Rohmer’s short stories: but just like the french master, that simplicity is merely apparent.” Carlo Chatrian, Director Artístico do Festival de Locarno
18
WWW. L E FFE S T. C OM
Michèle aparenta ser indestrutível. Directora de uma grande empresa de videojogos, adopta uma atitude implacável tanto nos negócios como na sua vida amorosa. Quando é atacada em casa por um assaltante desconhecido, a vida de Michèle muda para sempre. Persegue-o resolutamente e os dois acabam por ser arrastados para um jogo singular e emocionante – um jogo que pode, a qualquer momento, fugir do seu controlo. • Dia 5 às 15h30 Casino Estoril • Dia 5 às 22h00 Medeia Monumental, Sala 4 (presença de Isabelle Huppert)
“Isabelle Huppert tem uma performance de destaque como uma mulher que leva a melhor sobre o seu atacante, neste regresso electrificante e provocador do realizador controverso.” “Isabelle Huppert delivers a standout performance as a woman turning the tables on her attacker in the controversial director’s electrifying and provocative comeback.” Xan Brooks, The Guardian “Elle é um filme frontalmente feminista que mergulha na narrativa ambígua de uma mulher de negócios forte e terra-a-terra - as personagens masculinas são incrivelmente estúpidas (o seu filho), violentas (bem, o violador, mas também o seu pai, um assassinoem-série encarcerado) ou objectos sexuais (o seu amante, que é também o marido da sua parceira de negócios). (...) Elle foi recebido com aplausos e terminou a competição numa merecida nota alta.”
Michèle seems indestructible. Head of a leading video game company, she brings the same ruthless attitude to her love life that she does to business. Being attacked in her home by an unknown assailant changes Michèle’s life forever. When she resolutely tracks the man down, they are both drawn into a curious and thrilling game—a game that may, at any moment, spiral out of control. Realizador Director:
Paul Verhoeven
Elenco Cast: Isabelle Huppert, Laurent Lafitte, Anne Consigny, Charles Berling, Virginie Efira, Judith Magre, Christian Berkel, Jonas Bloquet, Alice Isaaz and Vimala Pons Argumento Screenplay: David Birke (Baseado no romance/ Based on the novel “Oh...” de/by Philippe Djian) Fotografia DOP: Stéphane Fontaine Produtora Production: SBS Productions FR, DE, 2016, 130’
Festivais Festival de Cannes
“Elle is a full-blown feminist film, fully immersing itself in the ambiguous action of a grounded, divorced, strong businesswoman - the male characters are incredibly stupid (her son), violent (well, the rapist, but also her father, a jailed serial killer), or sex objects (her lover, who is also the husband of her business partner). (...) Elle was met with much applause and ended the Competition on a well-deserved high note.” Mark Peranson, Cinema Scope
19
SE L E C Ç Ã O OF IC IA L - E M C OMPE T IÇ Ã O
ELLE
FUCHI NI TATSU Harmonium Toshio contrata Yasaka para trabalhar na sua oficina. Este velho conhecido, que acabou de ser libertado da prisão, começa a interferir na vida da família de Toshio. Ao revelar a tensão da vida conjugal e parental de uma família, Fukada também reflecte sobre o enigma das intenções humanas.
• Dia 8 às 15h30 Casino Estoril • Dia 8 às 19h15 Medeia Monumental, Sala 1
“Os meus filmes são influenciados pela vida quotidiana. Por exemplo, quando tento descrever uma família, não consigo deixar de pensar na minha própria infância e em imagens dos meus pais. Também tenho sido influenciado por muitos filmes e obras literárias, sendo difícil destacar apenas um. Contudo, quando faço um filme, nunca perco de vista dois realizadores - um francês e um japonês. E pergunto-me: ‘O que faria Éric Rohmer?’ ou ‘O que faria Mikio Naruse?’” “My films are influenced by daily life. For example, when I try to describe a family, I can’t help thinking back to my own childhood and images of my parents. I’ve also been influenced by so many films and literary works that it’s hard to single any one of them out. However, when I make a film, I never lose sight of two great directors – one French and one Japanese. And I ask myself: ‘What would Éric Rohmer do?’ or ‘What would Mikio Naruse do?” (Declaração do Realizador)
Toshio hires Yasaka in his workshop. This old acquaintance, who has just been released from prison, begins to meddle in Toshio’s family life. In the process of revealing the tension of marital life and parenting, Fukada also reflects on the enigma of human intentions. Realizador Director:
Kôji Fukada
Elenco Cast: Asano Tadanobu, Taiga, Mariko Tsutsui, Kanji Furutachi Argumento Screenplay: Kôji Fukada Fotografia DOP: Kenichi Negishi Produtora Production: Comme des Cinémas, Nagoya Broadcasting Network JP, FR, 2016, 118’
Prémios Prémio do Júri da secção Un Certain Regard, Festival de Cannes Festivais Festival de Toronto
“ [...] Uma poderosa história de crime e castigo que retrata paixões e angústias profundas com uma serena precisão cinemática.” “[...] A powerful tale of crime and punishment that renders deep sorrows and passions with quiet cinematic precision.” Giovanna Fulvi, TIFF International Programmer
20
WWW. L E FFE S T. C OM
• Dia 6 às 18h45 Medeia Monumental, Sala 1 (conversa com Reha Erdem) • Dia 7 às 18h00 Casino Estoril (presença de Reha Erdem)
“Saturado com cores ricas e repleto de imagens cativantes da Natureza como fonte de beleza e mistério, Big Big World evoca contos-de-fada clássicos através da história de um casal de irmãos órfãos que escapam às garras de um ogre predatório e fogem para a floresta.” David Rooney, The Hollywood Reporter “Saturated in rich color and laced with beguiling images of nature as a source of beauty, mystery and menace, Big Big World evokes classic fairy tales with its story of an orphaned brother and sister who escape the clutches of a predatory ogre and flee into the forest.”
Ali e Zuhal, dois adolescentes que cresceram num orfanato, têm uma ligação especial, tão forte como a de dois irmãos. Ao atingir a maioridade, Ali abandona o orfanato e Zuhal é posta ao cuidado de uma família de acolhimento, sem autorização para ver o amigo. Numa tentativa desesperada de salvar Zuhal de um casamento combinado, Ali comete um crime terrível, resultando na fuga de ambos para a floresta, longe da civilização. Num espaço isolado no meio dos bosques, tentam começar uma vida nova, num ambiente místico, repleto de maravilhas, habitantes estranhos e ameaças reais. Um dia, Ali encontra Zuhal banhada em sangue e não tem outra opção senão trazê-la de volta para a cidade. Ali and Zuhal are two teenagers who grew up in an orphanage with a bond as strong as the one between brother and sister. When Ali moves out on account of his age, Zuhal is put into the dubious care of a foster family and is no longer allowed to see him. In a desperate attempt to save Zuhal from a scheduled arranged marriage, Ali commits a terrible crime, and they find themselves on the run, away from civilization and into the woods. There, in a secluded space deep in the forest, they try to start a new life in a mystical natural environment full of wonders, strange residents and concrete threats. One day, however, Ali finds Zuhal drenched in blood and doesn’t have any choice but to take her back to the city again.
Reha Erdem
“Erdem tira o maior partido da história de Ali e Zuhal ao criar um contraste atraente entre a cidade e a sua população que atormenta os oprimidos, e a indiferença acolhedora da natureza. O realizador preenche o ecrã com lagos, árvores e animais selvagens, transformando os dois irmãos em personagens inspiradas em contos de fadas, e que estão à procura do seu lugar no mundo.”
Realizador Director:
“Erdem makes the most of Ali and Zuhal’s simple story by creating an attractive contrast between the city and its people, who prey on the powerless, and the welcoming indifference of nature. The director fills the screen with ponds, trees and beasts, transforming the two siblings into fairy tale-inspired characters searching for their place in the world.” Stefan Dobroiu, Cineuropa
Prémios Prémio Especial do Júri da Secção Orizzonti, Festival de Veneza
Elenco Cast: Berke Karaer, Ecem Uzun, Melisa Akman Argumento Screenplay: Reha Erdem Fotografia DOP: Florent Herry Produtora Production: Atlantik Film, Maya Film TR, 2016, 101’
21
SE L E C Ç Ã O OF IC IA L - E M C OMPE T IÇ Ã O
KOCA DÜNYA Big Big World
LITTLE MEN Homenzinhos Jake é um rapaz calado e sensível que sonha ser artista. No funeral do seu avô, conhece Tony, um miúdo afável e impetuoso, e rapidamente o par improvável acaba por se dar bem. A crescente amizade entre ambos é, no entanto, posta em risco quando um desentendimento acerca de um aluguer, entre o pai de Jake, Brian, e a mãe de Tony, Leonor, ameaça dar origem a um litígio entre as duas famílias.
• Dia 10 às 21h00 Casino Estoril • Dia 12 às 19h30 Medeia Monumental, Sala 1
“Sachs, nos seus três últimos filmes [...] apurou um estilo de realismo emocional que se afasta do acanhamento balbuciante e das avaliações sociológicas de muito do cinema independente americano. Little Men apenas aparenta ser um pequeno filme.” “Sachs, in his last three features [...] has refined a style of emotional realism that stands out against both the mumbly diffidence and the sociological scorekeeping of too much independent American cinema. Little Men only looks like a small movie.” A. O. Scott, The New York Times “Todas as linhas se cruzam delicadamente em Little Men, sem nunca serem duplicadas ou reforçadas; só nos apercebemos disso quando analisamos o filme a posteriori. É aqui que a influência de Ozu, para além do piscar de olho cinéfilo, opera. Ira Sachs demonstra uma paciência a toda a prova, filmando praticamente apenas cenas de interiores, não à altura do tatami, mas de uma mesa baixa (cada um com o seu truque), um quotidiano de feroz banalidade, sublinhado pelo enquadramento, pelo ritmo, pela luz, pelas ínfimas tonalidades do enredo.”
Jake is a quiet, sensitive middle schooler with dreams of being an artist. He meets the affably brash Tony at his grandfather’s funeral, and the unlikely pair soon hit it off. The budding friendship is put at risk, however, when a rent dispute between Jake’s father, Brian, and Tony’s mother, Leonor, threatens to become contentious. Realizador Director:
Ira Sachs
Elenco Cast: Greg Kinnear, Jennifer Ehle, Paulina Garcia, Michael Barbieri, Theo Taplitz Argumento Screenplay: Ira Sachs, Mauricio Zacharias Fotografia DOP: Oscar Durán Produtora Production: : Race Point Films, Faliro House, Charlie Guidance Productions US, GR, 2016, 85’
Festivais Festival de Sundance Festival de Berlim Festival de San Sebastián
“Each and every line intersects delicately in Little Men, without any hint of duplication; this is something one can only appreciate in hindsight. It is here that the influence of Ozu, beyond mere nods to cinephiles, operates. Ira Sachs showcases a bulletproof patience, filming practically only daily routine underlined by framing, rhythm, light and the infinite tonalities of the plot itself.” Jacky Goldberg, Les Inrockuptibles 22
WWW. L E FFE S T. C OM
Numa manhã, em Paris, um grupo de jovens de meios diferentes iniciam, cada um por si, uma estranha dança pelos labirintos do metro e pelas ruas da capital. Parecem seguir um plano. Os seus gestos são precisos, quase perigosos. Convergem para o mesmo ponto, um grande centro comercial, no momento em que este encerra as portas. A noite começa.
• Dia 7 às 22h00 Medeia Monumental, Sala 1 (conversa com Bertrand Bonello) • Dia 8 às 18h00 Casino Estoril (presença de Bertrand Bonello)
“Nocturama é o título de um álbum de Nick Cave. Adorei a ideia desse híbrido entre latim e grego que quer dizer visão nocturna, e pedi-lhe autorização. Ele aceitou e explicou-me que, na verdade, a palavra designava a zona do jardim zoológico criada especificamente para os animais nocturnos. Nocturama alude também à ideia de pesadelo.” “Nocturama is the name of a Nick Cave album. I loved the idea of this hybrid between Latin and Greek that meant nocturnal vision and I asked him to use it. He accepted, and explained to me that the word actually refers to the designated area for nocturnal animals in the zoo. Nocturama is also reminiscent of the idea of nightmare.”
Paris, one morning. A handful of youngsters from different backgrounds. Separately, they begin a strange dance through the underground maze and the city streets. They seem to be following a plan. Their gestures are precise, almost dangerous. They converge to the same place, a big department store which is about to close. The night begins. Realizador Director:
Bertrand Bonello
Elenco Cast: Finnegan Oldfield, Vincent Rottiers, Hamza Meziani, Manal Issa, Martin Guyot, Jamil Mc Craven, Rabah Nait Oufella, Laure Valentinelli, Ilias Le Doré, Robin Goldbronn, Luis Rego, Hermine Karagheu Argumento Screenplay: Bertrand Bonello Fotografia DOP: Léo Hinstin Produtora Production: Rectangle Productions, Wild Bunch, Pandora Film Produktion. Scope Pictures, Arte France Cinema, My New Picture FR, 2016, 130’
Festivais Festival de Toronto Festival de San Sebastián
“Um retrato de uma violência radical que não tem, praticamente, nenhuma semelhança com o terrorismo que conhecemos, e que, mesmo assim, parece mais credível por causa disso.” “A portrait of radical violence that has almost no resemblance to terrorism as we know it, and yet sometimes feels all the more accurate because of that.” David Ehrlich, IndieWire
23
SE L E C Ç Ã O OF IC IA L - E M C OMPE T IÇ Ã O
NOCTURAMA
OSTATNIA RODZINA The Last Family
• Dia 10 às 18h30 Medeia Monumental, Sala 4 • Dia 11 às 18h00 Casino Estoril
“O detalhe incrível com que a vida diária dos membros da família Beksinski é reproduzida é o produto da obsessão de Zdzislaw em retratar fielmente todos os aspectos da realidade do seu quotidiano. Através de fotografias, pinturas, cartas, gravações de áudio e filmes, o pintor, excepcionalmente interpretado por Andrzej Seweryn, revela-nos o seu universo mais íntimo; sem qualquer modéstia e com o olhar de um artista. (...) Tal como a ‘realidade’, o filme transforma-se gradualmente numa implacável marcha fúnebre que atrai todos os membros da família, e que se torna, aos olhos de Zdzislaw, uma distante dimensão artística para ser dissecada através da imagem.” “The incredible detail with which the daily lives of the members of the Beksinski family are reproduced is the product of Zdzislaw’s obsession with faithfully recording every aspect of their day-to-day reality. Through photographs, paintings, letters, audio recordings and films, the painter, impeccably portrayed by Andrzej Seweryn, unveils to us his most intimate world; without any sense of modesty and with the gaze of an artist. (...) Just like ‘reality’, the film gradually fades into a relentless funeral march that draws in every member of the family, and which becomes, in Zdzislaw’s eyes, a further artistic dimension to be dissected through image.” Giovanni Melogli, Cineuropa
24
Um filme baseado na história verídica de Zdzisław Beksinski, um pintor surrealista polaco, nascido em 1929, conhecido pelas suas obras distópicas e perturbadoras e pela influência da música clássica na sua rotina de trabalho. Apesar das tentativas da sua mulher, Zofia, em manter a família unida, as manifestações de violência e tentativas de suicídio do seu filho Tomasz revelam-se muito preocupantes. Empenhado em registar tudo com a sua câmara de vídeo, a saga de Beksiński desenrola-se através de pinturas, experiências de quasemorte, estilos de música de dança e funerais… Beksinski is a gentle man with arachnophobia, despite his hardcore sexual fantasies and his fondness for painting disturbing dystopian works. His daily painting to classical music eventually pays off and he makes a name for himself in contemporary art. Good Catholic woman Zofia tries to hold the family together, but troubled son Tomasz proves to be a handful with his violent outbursts and suicidal threats. As he tapes everything with his beloved camcorder, the 28year Beksinski saga unfolds through paintings, near-death experiences, dance music trends and funerals... Based on the bizarre true story of the cult Polish painter Zdzisław Beksiński. Realizador Director:
Jan P. Matuszynski
Elenco Cast: Andrzej Seweryn, Dawid Ogrodnik, Aleksandra Konieczna, Andrzej Chyra Argumento Screenplay: Robert Bolesto Fotografia DOP: Kacper Fertacz Produtora Production: : Aurum Film, HBO Europe, Lightcraft PL, 2016, 123’
Prémios Prémio para Melhor Actor, Festival de Locarno
WWW. L E FFE S T. C OM
• Dia 6 às 15h15 Casino Estoril (presença da actriz Lamis Ammar) • Dia 9 às 17h00 Medeia Monumental, Sala 1
“Sand Storm detalha o conflito entre duas inabaláveis personagens femininas, impulsionado pelas performances de Lamis Ammar, como a vigorosa Layla, e Ruba Bla-Asfour como a sarcástica Jalila. A tensão entre ambas realça os desafios de todas as mulheres que lutam por autonomia num contexto de restrições patriarcais profundamente enraizadas [...]” “Sand Storm details a struggle between two iron-willed female characters, propelled by the performances of Lamis Ammar as the spirited Layla and Ruba Blal-Asfour as the acid-tongued Jalila. The tension between them highlights the challenges of all women struggling for autonomy within deeply entrenched patriarchal constraints [...].” Jane Schoettle, TIFF programmer “Escrito e realizado por Elite Zexer, uma Israelita que se estreia com uma obra sólida e sensível, Sand Storm é uma história sobre os perigos da rebeldia no contexto de uma família de mulheres.” “Written and directed by Elite Zexer, an Israeli making a solid, sensitive feature directing debut, Sand Storm is a story about the perils of unruliness set against a family of women.” Manohla Dargis, The New York Times
Numa aldeia beduína do sul de Israel, Jalila é a anfitriã de uma estranha celebração – o casamento do seu marido com uma segunda mulher, muito mais jovem – tendo de reprimir a raiva que ferve dentro de si. A sua filha Layla preocupa-se com um assunto diferente. O seu segredo, uma relação amorosa com Anuar, proibida pela família, acaba de ser descoberto pela mãe. Para Jalila, o mundo é duro e cruel. De boca fechada e cabeça erguida, procura, sem dar nas vistas, forçar os limites do mundo tradicional. Mas, face à desagregação da família, mãe e filha terão de se entender para assegurar a sua sobrevivência. Desert noon in a Bedouin village in southern Israel. Jalila plays hosts to an awkward celebration – the marriage of her husband to a second, much younger wife – while having to conceal the rage that boils inside of her. Her daughter Layla is preoccupied with a different matter. Her secret, strictly forbidden love affair with Anuar was just discovered by her mother. Jalila believes that the world is harsh and cruel and that the only way to win is to keep your mouth shut and your head held high. The idea is not to draw too much attention to yourself and to struggle from inside against the limits of the traditional world. But, as their entire family falls apart, the two women have to start seeing the world through each other’s eyes, if they wish to survive.
Realizador Director:
Elite Zexer
Elenco Cast: Lamis Ammar, Ruba Blal, Hitham Omari Argumento Screenplay: Elite Zexer Fotografia DOP: Shai Peleg Produtora Production: 2-Team Productions IL, 2016, 90’
Prémios Prémio First Look Rotor Film, Festival de Locarno Prémio do Júri, Festival de Sundance Festivais Festival de Berlim Festival de Toronto
25
SE L E C Ç Ã O OF IC IA L - E M C OMPE T IÇ Ã O
SUFAT CHOL Sand Storm
DISCOVERY SPORT
A AVENTURA ESTÁ NO NOSSO ADN
DISCOVERY SPORT 4X2 CLASSE 1 COM VIA VERDE DESDE 39.660 €* Apresentamos o nosso SUV compacto mais versátil de sempre. O Discovery Sport conquistou 5 estrelas, a pontuação máxima, nos exigentes testes de segurança da Euro NCAP. Equipado com tecnologias inteligentes como o sistema Terrain Response®, perfeito para atividades ao ar livre e desportos de aventura, e também com um amplo espaço de carga de 981 litros com os bancos traseiros na posição vertical. Revor Vendas Lisboa. 213 192 380. Av. Luís Bivar, 38 B, 1050-145 Cascais. 214 823 312. Av. 25 de Abril, 1011 C, 2750-515 Revor Pós Venda Lisboa. 219 406 810. Alameda dos Oceanos, Lote 4.65.01 Parque das Nações, 1990-203
Consumo combinado 4,7 l/100 km. Emissões de CO2 123 g/km. *PVP. para Discovery Sport 2.0 l eD4 Diesel 150 CV 4x2 Pure: 39.660 € (IVA 23%, ISV, transporte e campanha promocional incluídos). O veículo apresentado pode não corresponder ao modelo oferecido. Conduza responsavelmente dentro e fora de estrada.
SELECÇÃO OFICIAL - FORA DE COMPETIÇÃO Offical Selection - In Competition
• Dia 12 às 18h30 Medeia Monumental, Sala 4 (conversa com Benoît Jacquot, Mathieu Amalric e Julia Roy)
“A presença por vezes etérea de [Julia] Roy transmite uma assertividade delicada, no papel de uma mulher que, confrontada com um mistério, acaba por ser também ela própria um mistério.” “[Julia] Roy’s sometimes ethereal presence strikes a forceful but delicate note as a woman who is at once facing a mystery and who is at the same time a mystery herself.” Jonathan Romney, Screen Daily “Até Nunca, de Benoît Jacquot, baseado no romance de Don DeLillo, The Body Artist, é um dos filmes mais brilhantemente concebidos e disciplinados deste ano. Elegante, meticuloso, e deliberado — é uma obra cuja lógica impele vigorosamente a narrativa logo desde os planos de abertura. Nesta comovente história de um amor e do seu estranho destino, Jacquot exerce pressão sobre o espectador através de uma série de emoções cuidadosamente suscitadas pelo seu desejo de captar a essência da história desconcertante de DeLillo.” “Benoit Jacquot’s À Jamais, based on Don DeLillo’s novella The Body Artist, is as brilliantly imagined and highly disciplined a film as you will see this year. Elegant, meticulous, deliberate — it’s a work whose logic forcefully propels the narrative from the opening shots. In this moving story of a love affair and its strange fate, Jacquot turns the screws while taking us through a series of emotions, all carefully elicited in his desire to get to the core of DeLillo’s unsettling story.” Piers Handling, Festival de Toronto
Rey é realizador. Num museu, durante uma retrospectiva dedicada ao seu trabalho, vê uma jovem a fazer uma performance. Segue-a até à saída. Chama-se Laura e é mais jovem do que ele. Apaixonam-se e casam. Vivem numa grande casa isolada junto ao mar. Os meses passam e Rey morre num acidente de mota. Laura encontra-se sozinha na enorme casa. Durante o calmo mas doloroso período de luto, descobre um ser estranho, um homem-criança com um distúrbio de fala, cujo rosto e corpo são os de Rey. Através deste homem, Laura revive as últimas palavras e gestos que ambos viveram como casal antes da morte de Rey, e descobre um fascínio que a liberta. Rey is a filmmaker. While attending a retrospective of his work at a museum, he watches a young performance artist. He follows her to the museum exit. Her name is Laura, she is younger than him. They fall in love and get married quickly. They live in a big house near the sea. Months go by and Rey dies in a motorbike accident. Laura finds herself alone in the house. While mourning the loss of her husband, a period both painful and sweet, she meets a strange man, a man-child with a speech disorder, whose face and body are the same as Rey’s. The couple’s words and gestures prior to Rey’s death will be relived through this man, and Laura will find in that a sort of fascination that will set her free. Realizador Director:
Benoît Jacquot
Elenco Cast: Mathieu Amalric, Julia Roy, Jeanne Balibar Argumento Screenplay: Julia Roy (baseado em/based on The Body Artist de Don DeLillo) Fotografia DOP: Julien Hirsch Produtora Production: Alfama Films Production, Leopardo Filmes FR, PT, 2016, 86’
Festivais
Festival de Veneza Festival de Toronto
27
SE L E C Ç Ã O OF IC IA L - F OR A D E C OMPE T IÇ Ã O
À JAMAIS Até Nunca
AMERICAN PASTORAL Uma História Americana Baseado no romance de Philip Roth, vencedor do Prémio Pulitzer, o filme de estreia de Ewan McGregor retrata uma época de grande agitação e o seu efeito dilacerante na dissolução da “família americana ideal” nos anos 60. Um homem vê a sua vida, aparentemente perfeita, desmoronar-se quando a filha revela uma radical afiliação política que ameaça destruir a sua família.
• Dia 12 às 21h30 Cinema NOS CascaiShopping • Dia 12 às 22h00 Medeia Monumental, Sala 1
“Uma História Americana vai directo ao tema de Roth: Pensamos que percebemos as pessoas, mas conseguimos sempre enganar-nos em relação a elas. É uma de muitas das coisas que McGregor fez bem.” “American Pastoral gets to Roth’s theme: We think we understand people, but we never fail to get them wrong. It’s one of the many things McGregor has gotten right.” Steve Pond, The Wrap “McGregor e o argumentista John Romano (The Lincoln Lawyer) recriam, de forma vívida, uma era de trauma e transformação, desde o tumulto de 1968 ao escândalo de Watergate. Como Seymour, McGregor vive na pele esse trauma, um homem para quem o colapso do sistema de valores se manifesta como uma doença fatal. Chegando no momento em que o mundo lida com um novo período de caos, Uma História Americana oferece a visão ambiciosa da história que se duplica como um espelho do presente.”
Based on Philip Roth’s Pulitzer Prize-winning novel, Ewan McGregor’s feature directorial debut portrays a time of great upheaval and its lacerating effect on a seemingly ideal American family during the 60s. A hard working man watches his seemingly perfect middle class life fall apart as his daughter’s new radical political affiliation threatens to destroy their family. Realizador Director:
Ewan McGregor
Elenco Cast: Ewan McGregor, Jennifer Connelly, Dakota Fanning, Uzo Aduba, David Strathairn, Valorie Curry, Peter Riegert, Rupert Evans Argumento Screenplay: John Romano (baseado no romance de/based on the novel by Philip Roth) Fotografia DOP: Martin Ruhe Produtora Production: Lakeshore Entertainment US, 2016,108’
Festivais
Festival de Toronto
“McGregor and screenwriter John Romano (The Lincoln Lawyer) vividly recreate an era of trauma and transformation, from the tumult of ‘68 through to the outrage over Watergate. As Seymour, McGregor becomes a living container for that trauma, a man for whom the collapse of a value system manifests as a fatal sickness. Arriving as the world grapples with a new period of chaos, American Pastoral offers a bold vision of history that doubles as a mirror to the present.” Cameron Bailey, Festival de Toronto
28
WWW. L E FFE S T. C OM
• Dia 10 às 19h30 Medeia Monumental, Sala 1
“O que nos molda como seres humanos? A inspiração desta história é Deus Vê a Verdade, Mas Espera, de Tolstói. [...] lembro-me de que aquilo que retive quando o li foi que nenhum de nós percebe verdadeiramente a vida. Não a compreendemos. Isto é uma das mais essenciais verdades sobre a existência. Pelo menos alguns de nós conseguem ao menos sentir um contínuo, que as coisas que conseguimos fazer podem ter consequências. Mas mais comummente, aceitamos e sucumbimos à aleatoriedade da vida.” “What shapes us as human beings? The inspiration of the story is Tolstoy’s God Sees the Truth but Waits. [...] I remember that what really struck me when I read it was that none of us really understands life. We don’t really know. This is one of the most essential truths of existence. Or else, some of us can at least feel a continuum, that things that we do can be consequential. And more often, we abide and succumb to life’s randomness.” Director’s Statement “O filme é parte de um projecto maior de Diaz: dramatizando a história das Filipinas como símbolo de uma espécie de fragilidade filosófica do mundo. Diaz continua também a desafiar-se ao procurar uma nova identidade do cinema, reescrevendo regras, a narração, e as noções de tempo e espaço.” “The film is part of Diaz’s greater project: dramatizing the history of the Philippines as the sign of a sort of philosophical fragility of the world. Diaz also continues to challenge himself by looking for a new identity of cinema, rewriting rules, narration, and the senses of time and space.” Lorenzo Esposito, Cinema Scope
Horacia passou os últimos trinta anos na prisão. Em tempos, fora professora primária e levava uma vida sossegada, ajudando os outros a praticar a leitura e a escrita. Quando outra presidiária confessa o crime pelo qual fora condenada, Horacia é libertada e parte ao encontro da família. Enquanto procura o filho desaparecido, Junior, redescobre a sua terra natal – as Filipinas dos anos noventa, e percebe que a população vive aterrorizada pela corrupção e por surtos de raptos violentos. A sua personalidade generosa é então contaminada por um sentimento de vingança... Horacia has spent the last 30 years in a women’s correctional facility. A former elementary school teacher, she leads a quiet existence helping others practice reading and writing. When another inmate confesses to the original crime, Horacia is released and seeks out her estranged family. While searching for her missing son Junior, she rediscovers her homeland - the Philippines of the late 90s, only to realize that its inhabitants are terrorized by corruption and rampant kidnappings. Her generous personality becomes tainted by feelings of revenge... Realizador Director:
Lav Diaz
Elenco Cast: Charo Santos-Concio, John Lloyd Cruz, Michael De Mesa Argumento Screenplay: Lav Diaz (inspirado no conto/ inspired by the short story God Sees the Truth, But Waits de/by Liev Tolstói) Fotografia DOP: Lav Diaz Produtora Production: Sine Olivia Pilipinas, Cinema One Originals PH, 2016, 226’
Prémios
Leão de Ouro - Melhor Filme, Festival de Veneza Festivais Festival de Toronto
29
SE L E C Ç Ã O OF IC IA L - F OR A D E C OMPE T IÇ Ã O
ANG BABAENG HUMAYO The Woman Who Left
BACALAUREAT O Exame
• Dia 5 às 21h45 Medeia Monumental, Sala 1 (conversa com Cristian Mungiu) • Dia 6 às 21h30 Cinemas NOS CascaiShopping • Dia 8 às 21h00 Casino Estoril
“Bacalaureat é um filme intrigante, profundamente inteligente, e uma imagem sombria do estado de depressão nacional na Roménia, onde a geração dos anos noventa esperava ter a hipótese para começar de novo.” “Graduation is an intricate, deeply intelligent film, and a bleak picture of a state of national depression in Romania, where the 90s generation hoped they would have a chance to start again.” Peter Bradshaw, The Guardian “Contido mas nunca reservado, Mungiu é o mestre do drama conciso e consistentemente penetrante. Até nos momentos de repouso aparente (...), sentimos a tensão a escalar, obstáculos a surgir, e os riscos a aumentar. Mungiu é um cineasta que compreende que todos nós, até mesmo os mais discretos, temos uma história.” “Restrained but never coy, Mungiu is a master of terse, steadily percolating drama. Even in moments of seeming repose (...), we feel tension escalating, obstacles burgeoning, and stakes rising. Mungiu is a filmmaker who understands that every one of us, even the most inconspicuous, has a story.” Dimitri Eipides, Festival de Toronto
30
O maior desejo de Romeo Aldea, um médico de 49 anos de uma pequena vila nas montanhas da Transilvânia, é que a filha Eliza vá estudar para o estrangeiro assim que complete dezoito anos. O seu projecto está prestes a realizarse – Eliza obteve uma bolsa de estudo para estudar Psicologia no Reino Unido. Tem apenas de passar nos exames finais – uma mera formalidade para uma boa aluna como ela. No dia anterior ao primeiro exame escrito, um incidente põe em risco a partida de Eliza. Agora, Romeo tem de tomar uma decisão. Há formas de resolver o problema, mas nenhuma delas respeita os princípios que ele, enquanto pai, ensinou à sua filha. Romeo Aldea, a 49-year-old physician living in a small mountain town in Transylvania, has raised his daughter Eliza with the idea that once she turns 18, she will leave to study and live abroad. His plan is close to succeeding – Eliza has received a scholarship to study psychology in the UK. She just has to pass her final exams – a mere formality for such a good student. On the day prior to her first written exam, an incident jeopardizes Eliza’s departure. Now Romeo has to make a decision. There are ways of solving the problem, but none of them are in accordance with the principles that he, as a father, taught his daughter. Realizador Director:
Cristian Mungiu
Elenco Cast: Adrian Titieni, Maria Drăguș, Lia Bugnar, Mălina Manovici, Vlad Ivanov, Rareș Andrici Argumento Screenplay: Cristian Mungiu Fotografia DOP: Tudor Vladimir Panduru Produtora Production: Mobra Films, Why Not Productions RO, FR, BE, 2016,128’
Prémios Prémio Melhor Realização, Festival de Cannes Festivais Festival de Toronto
WWW. L E FFE S T. C OM
Um olhar inspirador sobre três mulheres que lutam para traçarem o seu próprio caminho, por entre as vastas planícies do Noroeste americano. Uma advogada (Laura Dern) que dá por si a combater práticas sexistas no escritório e um caso de tomada de reféns; uma esposa e mãe (Michelle Williams) cuja determinação em construir a sua casa de sonho a faz entrar em conflito com os homens da sua vida; e uma jovem estudante de Direito (Kristen Stewart) que forma uma união ambígua com uma solitária ajudante de um rancho (Lily Gladstone). • Dia 6 às 21h30 Medeia Monumental, Sala 1
“As personagens são obras-primas minimalistas, esculpidas, polidas e intransigentemente femininas.” “The characters are really minimalist masterpieces, sculpted, polished and uncompromisingly female.” John Anderson, Wall Street Journal “O poder cumulativo do filme de Reichardt, deslumbrantemente actuado por Laura Dern, Michelle Williams, Kristen Stewart e Lily Gladstone, é inegável e subtilmente devastador.” “The cumulative power of Reichardt’s film, beautifully acted by Laura Dern, Michelle Williams, Kristen Stewart and Lily Gladstone, is undeniable and quietly devastating.” Peter Travers, Rolling Stone “Certain Women é sem dúvida o filme mais deliberado, compassado e subtil de Reichardt até à data, prova de que a voz distintiva desta realizadora incrivelmente talentosa se mantém essencial”. “Certain Women is arguably Reichardt’s most deliberate, slow-paced, subtle film to date, proof that this incredibly talented filmmaker’s distinct voice is still essential.” Brian Tallerico, RogerEbert
A ensemble cast led by Michelle Williams, Kristen Stewart, and Laura Dern in this stirring look at three women striving to forge their own paths amidst the wide-open plains of the American Northwest: a lawyer (Dern) who finds herself contending with both office sexism and a hostage situation; a wife and mother (Williams) whose determination to build her dream home puts her at odds with the men in her life; and a young law student (Stewart) who forms an ambiguous bond with a lonely ranch hand ( newcomer Lily Gladstone). Realizador Director:
Kelly Reichardt
Elenco Cast: Michelle Williams, Kristen Stewart, Laura Dern Argumento Screenplay: Kelly Reichardt, Maile Meloy Fotografia DOP: Christopher Blauvelty Produtora Production: Film Science US, 2016, 107’
Festivais
Festival de Sundance Festival de Toronto
31
SE L E C Ç Ã O OF IC IA L - F OR A D E C OMPE T IÇ Ã O
CERTAIN WOMEN
THE SALESMAN O Vendedor Forçados a abandonar a sua casa por causa de obras num prédio vizinho, Emad e Rana mudam-se para um novo apartamento no centro de Teerão. Um incidente relacionado com o antigo inquilino irá mudar drasticamente a vida do jovem casal – uma súbita erupção de violência resultará numa atmosfera de tensão latente entre marido e mulher.
• Dia 7 às 21h45 Medeia Monumental, Sala 4
“O controlo subtil da colocação e ritmo da câmara de Farhadi e o seu dom especial para extrair performances pautadas por uma cuidada progressividade de tom dos seus actores, são elementos chave da assinatura da sua realização. Mas muito do seu talento singular pode ser encontrado na estrutura dos seus argumentos, que nos atrai, exerce pressão, e deixa-nos sem ar.” “Farhadi’s subtle control of camera placement and rhythm and his special gift for drawing incrementally shaded performances from his actors are key elements of his directorial signature. But so much of his singular talent can be found in the structuring of his scripts, which draw us in, turn the screws, and leave us breathless.” Dimitri Eipides, Toronto International Film Festival “Existe um prazer e um fascínio formal na forma como Farhadi justapõe as cenas sinistras e complexas da vida real do casal com as cenas da peça de Arthur Miller, com as suas demonstrações formais de emoção. Um realismo desordeiro e uma tragédia de proporções eminentemente clássicas são postos lado a lado.”
Forced out of their apartment due to dangerous works on a neighboring building, Emad and Rana move into a new flat in the center of Tehran. An incident linked to the previous tenant will dramatically change the young couple’s life - a sudden eruption of violence will create an atmosphere of simmering tension between husband and wife. Realizador Director:
Asghar Farhadi
Elenco Cast: Shahab Hosseini, Taraneh Alidousti, Babak Karimi, Farid Sajjadi Hosseini, Mina Sadati, Maral Bani Adam, Mehdi Kooshki, Emad Emami, Shirin Aghakashi, Mojtaba Pirzadeh, Sahra Asadollahe, Ehteram Borourmand, Sam Valipour Argumento Screenplay: Asghar Farhadi (inspirado na peça/inspired by the play Death of a Salesman de/by Arthur Miller) Fotografia DOP: Hossein Jafarian Produtora Arte France Cinéma, Farhadi Film Production, Memento Films Production IR, FR, 2016,125’
Prémios
Prémio Melhor Actor (Shahab Hosseini), Festival de Cannes Prémio Melhor Argumento, Festival de Cannes
Festivais
Festival de Toronto
“There is a formal pleasure and fascination in the way Farhadi juxtaposes the grim, complex scenes of the couple’s real life with the scenes from Arthur Miller’s play, with its formal demonstrations of emotion. Messy realism and classically proportioned tragedy are set down, side by side.” Peter Bradshaw, The Guardian
32
WWW. L E FFE S T. C OM
Jim Jarmusch relata a história dos The Stooges, uma das maiores bandas de rock-n-roll de todos os tempos. Gimme Danger apresenta o contexto da emergência musical, cultural, política e histórica da banda, narra as suas aventuras e desventuras, enquanto expõe as suas inspirações e razões subjacentes aos primeiros desafios comerciais, seguidos da criação de um legado imortal: uma fusão selvagem e infinita de rock, blues, R&B e free jazz. • Dia 11 às 22h00 Medeia Monumental, Sala 4 (apresentação por Jim Jarmusch e Carter Logan) • Dia 12 às 21h00 Casino Estoril
“Não só Iggy Pop contribui (verbal e fisicamente) com memórias lúcidas acerca da ascensão e queda da banda, mas existe também uma mistura magnífica de imagens de arquivo, entrevistas, fotografias e até animações para acompanhar a música. O entusiasmo e erudição do realizador alia-se à sua capacidade cinematográfica para criar um dos melhores documentários sobre rock dos últimos tempos.” “Not only does Iggy Pop contribute (verbally and facially) articulate reminiscences about the rise and fall of the band, but there’s a lovely mix of archive footage, interviews, photos and even animation to accompany the music. The director’s enthusiasm and erudition combine with his cinematic expertise to create one of the great rock documentaries of recent times.” Geoff Andrew, British Film Institute “O facto do documentário passar à frente da carreira a solo de sucesso do músico é a prova do respeito de Pop e Jarmusch pelo espírito da música-comoum-colectivo. Em vez disso, a tónica é colocada na ascensão e na queda prematura da banda, desde os finais dos anos sessenta até meados dos anos setenta.”
Jim Jarmusch recounts the story of The Stooges, one of the greatest rock-n-roll bands of all time. Gimme Danger presents the context of the Stooges’ emergence musically, culturally, politically, historically, and relates their adventures and misadventures while charting their inspirations and the reasons behind their initial commercial challenges, followed by the creation of an immortal legacy: a savage and endless fusion of rock, blues, R&B, and free jazz. Realizador Director:
Jim Jarmusch
Elenco Cast: Iggy Pop, Ron Asheton, Scott Asheton, James Williamson, Steve Mackay, Mike Watt, Kathy Asheton, Danny Fields Argumento Screenplay: Jim Jarmusch Fotografia DOP: Tom Krueger Produtora Production: Low Mind Films / New Element Media USA, 2016, 108’
Festivais
Festival de Cannes Festival de Toronto
“It’s a testament to the respect of both Pop and Jarmusch for the music-as-collective spirit that the doc passes right over the singer’s successful solo career. Instead the focus stays fixed on the rise and premature demise of the band, from the late 1960s through the mid-’70s.” David Rooney, The Hollywood Reporter
33
SE L E C Ç Ã O OF IC IA L - F OR A D E C OMPE T IÇ Ã O
GIMME DANGER
HELL OR HIGH WATER Custe O Que Custar! Dois irmãos, um ex-presidiário e um pai divorciado, encaram a possibilidade de perder a quinta da família, no Texas. Decidem unir-se e envolvem-se numa série de assaltos, com o objectivo de restabelecer a sua condição financeira e assim pagar as suas dívidas. No entanto, cruzam-se com um xerife e o seu assistente, que farão tudo para os capturar. A banda sonora é da autoria de Nick Cave e Warren Ellis e conta, nos principais papéis, com os actores Jeff Bridges e Chris Pine. • Dia 8 às 21h45 Medeia Monumental, Sala 1 (apresentação por Jim Jarmusch e Carter Logan) • Dia 9 às 21h30 Cinemas NOS CascaiShopping
“[...] Todo o filme é a prova de que este escocês muitas vezes subestimado conseguiu sub-repticiamente atingir uma discreta mas verdadeiramente genuína mestria da sua arte.” “[...] The whole movie offers ample evidence that this oft-undervalued Scot has stealthily achieved an unassuming but utterly genuine mastery of his craft.” Trevor Johnston,Sight & Sound “Hell or High Water é um excelente filme —um drama sobre crime, medo e amor fraterno passado num Oeste do Texas tórrido e enganadoramente adormecido que parece exótico de tão autêntico.” “Hell or High Water is a thrillingly good movie — a crackerjack drama of crime, fear, and brotherly love set in a sun-roasted, deceptively sleepy West Texas that feels completely exotic for being so authentic. Owen Gleiberman, Variety
34
Two brothers, an ex-con and a divorced father, face the likely foreclosure of their family’s farm in Texas. They decide to team up for a string of adrenaline filled heists, in order to restore their financial status, so they can pay for the debts that were left behind. However, they come across a lawman and his assistant, who will do everything to capture them. The film soundtrack was written by Nick Cave and Warren Ellis, starring the actors Jeff Bridges and Chris Pine. Realizador Director:
David Mackenzie
Elenco Cast: Jeff Bridges, Dale Dickey, Ben Foster, Chris Pine Argumento Screenplay: Taylor Sheridan Fotografia DOP: Giles Nuttgens Produtora Production: Film 44, OddLot Entertainment, Sidney Kimmel Entertainment US, 2016,102’
Festivais
Festival de Cannes
WWW. L E FFE S T. C OM
Jenny Davin (Adèle Haenel), uma jovem médica, gere uma clínica nos arredores de Liège. Uma noite, horas depois de terminar o seu serviço, Jenny ignora um toque na campainha da clínica. Na manhã seguinte, descobre, através da polícia, que quem tinha tocado fora uma jovem mulher em apuros, mais tarde encontrada morta nas redondezas. Angustiada pela culpa, Jenny usa o seu carácter metódico e analítico para tentar descobrir a identidade da mulher e o responsável pela sua morte. • Dia 9 às 21h45 Medeia Monumental, Sala 1 • Dia 11 às 21h30 Casino Estoril
“Trabalhando com o seu colaborador de longa data e director de fotografia Alain Marcoen, os irmãos Dardenne revelam a sua história com um ritmo formal e uma sensação de urgência que já esperávamos da sua parte, criando pausas subtis na narrativa principal para adicionar nuance e textura.” “Working with cinematographer and long-time collaborator Alain Marcoen, the Dardennes unfold their story with the procedural rhythm and sense of urgency that we’ve come to expect from them, using subtle breaks from the main narrative to add nuance and texture.” Kerri Craddock, Festival de Toronto “(...) aqui, o trabalho de Haenel encaixa perfeitamente num universo cinemático de micro-retrato definido pela sua contenção dramática e integridade, pela visão solidária e credibilidade psicológica.” “(...) Haenel’s work here is a seamless fit within a cinematic universe of micro-portraiture defined by its dramatic restraint and integrity, compassionate insight and psychological credibility.” David Rooney, The Hollywood Reporter
Jenny Davin (Adèle Haenel), a young doctor, runs a medical clinic on the outskirts of Liége. Late one night, hours past closing time, Jenny ignores a buzz at the clinic’s door. The next morning, she learns from the police that this buzz came from a young woman in need of help, and that this unidentified caller was found dead nearby. Weighed down by guilt and the thought of an unknown girl in an unmarked grave, Jenny applies her methodical and analytical mind to the case, making it her mission to find out who this woman was, and who was responsible for her death. Realizador Director:
Luc Dardenne
Jean-Pierre Dardenne,
Elenco Cast: Adèle Haenel, Olivier Bonnaud, Jérémie Renier, Louka Minnelli Argumento Screenplay: Jean-Pierre Dardenne, Luc Dardenne Fotografia DOP: Alain Marcoen Produtora Production: Les Films du Fleuve, Savage Film DE, FR, 2016, 113’
Festivais
Festival de Cannes Festival de Toronto
35
SE L E C Ç Ã O OF IC IA L - F OR A D E C OMPE T IÇ Ã O
LA FILLE INCONNUE The Unknown Girl
LE DIVAN DE STALINE O Divã de Estaline Numa residência secreta onde Estaline repousa por uns dias, um jovem pintor, Danilov, vem apresentar ao ditador o seu projecto artístico para um monumento póstumo à sua glória. Lidia, amante de Estaline, escolheu Danilov e o seu trabalho em detrimento de outros artistas e foi ela quem apresentou o pintor a Estaline. Ao fazer esta escolha, é também a sua vida que está em risco neste encontro, que se transforma num jogo de enganos, mentiras e terror. • Dia 13 às 15h30 Medeia Monumental, Sala 4 (apresentação por Fanny Ardant, Gérard Depardieu, Emmanuelle Seigner)
“Embora o filme coloque em cena a personagem de Estaline, O Divã de Estaline não é um filme biográfico, mas uma adaptação do romance de Jean-Daniel Baltassat. A história desenrola-se em 1950, três anos antes da morte do ditador. O argumento, freudiano e íntimo, articula-se em torno da personagem de um jovem pintor cuja chegada perturba a vida de Estaline e da sua amante, provocando no ditador um sentimento de ciúme e agitação.” “Stalin’s Couch is not a biopic, but rather an adaptation of Jean-Daniel Baltassat’s novel. Set in 1950, three years before the dictator’s death, the script explores – in a Freudian and intimate way – the arrival of a young painter in the lives of Stalin and his lover; this new arrival will spark restlessness and jealousy in the dictator..” Vitor Pinto, Cineuropa
36
In a secret residence where and older Stalin is resting for a few days, a young painter, Danilov comes to present the dictator his artistic project of a posthumous monument to his glory. Lidia, Stalin’s mistress, has selected Danilov and his work among other artists and was the one who introduced him to Stalin. By making this choice, it is also her life that is at stake in this encounter, which quickly becomes a game of deceit, lies and terror. Realizador Director:
Fanny Ardant
Elenco Cast: Gérard Depardieu, Emmanuelle Seigner, Joana de Verona, Paul Hamy Argumento Screenplay: Fanny Ardant, Jean-Daniel Baltassat (romance/novel) Fotografia DOP: Renaud Personnaz Produtora Production: Alfama Films, Leopardo Filmes
FR, PT, 2016, 92’
WWW. L E FFE S T. C OM
Um belo dia de Verão. Um jardim. Um terraço. Uma mulher e um homem debaixo das árvores, com uma suave brisa de Verão. Uma conversa tem início: perguntas e respostas entre a mulher e o homem. Fala-se de experiências sexuais, da infância, de memórias, da essência do Verão e da diferença entre homens e mulheres, fala-se da perspectiva feminina e da percepção masculina. Em fundo, dentro da casa que se abre para o terraço, para a mulher e o homem: o escritor, no processo de imaginar este diálogo e de o escrever. Ou será ao contrário? • Dia 6 às 19h15 Medeia Monumental, Sala 4 (conversa com os actores Reda Kateb, Sophie Semin)
“Wenders persegue há anos um lugar que, na profusão de imagens e de sons, seja a reserva moral do cinema. O lugar onde ele pode resistir, existindo a contar histórias. Em Les Beaux Jours d’Aranjuez, não fala, apesar de ser um filme falado. Experimenta o lugar, faznos entrar nele: espectáculo vibrantemente sensual” “Wenders has been searching for years for a place that, in the overflow of imagery and sound, could be the moral reserve of cinema. A place where he can resist, existing through his story-telling. In Les Beaux Jours d’Aranjuez he does not speak, although the dialogue abounds. Instead, he experiences this place, inviting us in: a vibrantly sensual show” Vasco Câmara, Público “Wim Wenders adapta a peça do seu colaborador de longa data Peter Handke para esta envolvente conversa dupla, na qual o diálogo entre um homem e uma mulher suscita um devaneio sobre o amor, a liberdade e a beleza. (...)” “Wim Wenders adapts long-time collaborator Peter Handke’s play for this engrossing two-handed conversation piece, in which a dialogue between a man and a woman elicits a reverie on love, freedom, and beauty. (...)” Piers Handling, Festival de Toronto
A beautiful summer day. A garden. A terrace. A woman and a man beneath the trees, with a soft summer wind. A conversation begins: questions and answers between the woman and the man. It deals with sexual experiences, childhood, memories, the essence of summer and the difference between men and women, it deals with feminine perspective and masculine perception. In the background, inside the house that opens onto the terrace, onto the woman and the man: the writer, in the process of imagining this dialogue and typing it down. Or is it the other way around? Realizador Director:
Wim Wenders
Elenco Cast: Reda Kateb, Sophie Semin, Nick Cave, Jens Harzer Argumento Screenplay: Wim Wenders (baseado na peça de/based on the play by Peter Handke, Les beaux jours d Aranjuez - un dialogue d’été) Fotografia DOP: Benoît Debie Produtora Alfama Films, Neue Road Movies, Centre National de la Cinématographie (CNC) FR, DE, PT, 2016, 97’
Festivais
Festival de Veneza Festival de Toronto
37
SE L E C Ç Ã O OF IC IA L - F OR A D E C OMPE T IÇ Ã O
LES BEAUX JOURS D’ARANJUEZ Os Belos Dias de Aranjuez
LION Lion – A Longa Estrada Para Casa
• Dia 9 às 22h00 Medeia Monumental, Sala 4 • Dia 10 às 21h30 Cinemas NOS CascaiShopping
“A descida do calor amoroso da sua família para a brutalidade das ruas tem uma qualidade de pesadelo, e somos levados com ele, nervosos pela sua segurança e ansiosos por uma leveza. Devido à urgência e ao suspense destas cenas de abertura, dá-se um mergulho inevitável no ritmo, à medida que avançamos para conhecer Saroo como um homem.” “The descent from the loving warmth of his family to the harshness of the streets has a nightmarish quality and we’re pulled along with him, nervous for his safety and eager for levity. Because of the urgency and suspense of these initial scenes, there’s an inevitable dip in pace as we skip forward to meet Saroo as a man.” Benjamin Lee, The Guardian “Nicole Kidman, David Wenham, Rooney Mara e Tannishtha Chatterjee completam o elenco internacional de estrelas de Lion, enquanto a fotografia cativante de Greig Fraser transmite o caos esmagador e a beleza dos dois mundos de Saroo. Esta viagem marcante mostra-nos um lar que transcende fronteiras e uma família que transcende o sangue.” “Nicole Kidman, David Wenham, Rooney Mara and Tannishtha Chatterjee round out Lion’s all-star international cast, while Greig Fraser’s arresting photography conveys the overwhelming chaos and beauty of Saroo’s two worlds. This remarkable journey shows us how home transcends borders and family transcends blood.” Jane Schoettle,Festival de Toronto
38
Saroo, um rapaz indiano de cinco anos, perdese nas ruas de Calcutá, a milhares de quilómetros de distância da sua cidade natal. Deambula pelas ruas até ser levado para um orfanato. Um casal australiano adopta-o e Saroo é levado para viver com esta nova família em Hobart, na Tasmânia. Anos mais tarde, Saroo, agora um jovem australiano, abandona a ilha e interrogase sobre o que terá acontecido ao seu primeiro lar e à família que tanto adorava. Recorrendo, engenhosamente, a imagens-satélite, descobre uma pista. Mas a investigação do seu passado vem atormentar o seu presente e Saroo sente-se cada vez mais à deriva. Saroo, a 5-year-old indian boy, gets lost in the streets of Calcutta, thousands of kilometers from his home town. He wanders through the streets until he is taken by a government orphanage. When an Australian couple adopts him, Saroo is taken to live with this new family in Hobart, Tasmania. Years later, when he leaves this island as an Australian young man, Saroo begins to wonder what became of his first home and the family he adored. Ingeniously using satellite images from Google Earth, he finds a lead to follow up on. But the search for his past threatens to overwhelm his present, and he finds himself further adrift than he ever imagined possible. Realizador Director:
Garth Davis
Elenco Cast: Nicole Kidman, Dev Patel, Rooney Mara, David Wenham, Divian Ladwa, Priyanka Bose, Pallavi Sharda Argumento Screenplay: JLuke Davies (baseado no/ based on the romance/novel de/by Saroo Brierly) Fotografia DOP: JGreig Fraser Produtora Production: See-Saw Films, Aquarius Films, Screen Australia AU, UK, US, 2016, 120’
Festivais
Festival de Toronto
WWW. L E FFE S T. C OM
• Dia 12 às 21h30 Medeia Monumental, Sala 3
“É isto que London Town — com uma realização vigorosa e atmosférica por parte de Derrick Borte (Uma Família Com Etiqueta) — retrata: um miúdo a escolher entre resignação e independência.” “That’s what London Town — with vigorous, atmospheric direction by Derrick Borte (The Joneses) — is about: a kid choosing between resignation or independence.” Tom Keogh, The Seattle Times “A carta de amor que é o drama de Derrick Borte claramente acredita nos poderes curativos do rock ‘n’ roll, e Jonathan Rhys Meyers é uma fusão digna de mérito entre um ícone punk e um herói da classeoperária como o vocalista dos The Clash.” ““Derrick Borte’s valentine of a drama clearly believes in the curative power of rock ’n’ roll, and Jonathan Rhys Meyers delivers a creditable cross between punk avatar and working-class hero as the Clash frontman.” Sheri Linden, The Hollywood Reporter
A Inglaterra de Margaret Thatcher, em 1979, é um país assolado pelas greves dos sindicatos e por uma crescente inflação. Shay, um rapaz de quinze anos, lida com as responsabilidades escolares e domésticas, após ter sido abandonado pela sua mãe. Algo se revela quando ouve, pela primeira vez, a música dos The Clash, abrindo-lhe as portas para um novo mundo de consciência social e de crítica ao sistema. Arrastado para o coração da cena punk de Londres, estabelece duas relações que mudarão a sua vida: apaixonase pela rebelde Vivian e, mais tarde, cruza-se com Joe Strummer, o electrizante vocalista dos The Clash. Impulsionado pela intensa banda sonora que inclui temas de The Clash, The Ramones e The Buzzcocks, London Town capta o som e o espírito do surgimento de um panorama musical que teve um grande impacto no mundo. Margaret Thatcher’s England, in 1979, is a land of striking unions and soaring inflation. Shay, a fifteenyear-old boy, struggles with school and housework after his mother abandons their family. A revelation occurs when Shay hears the music of The Clash for the first time, opening up a new world of social consciousness and anti-establishment. Drawn into the heart of the city’s burgeoning punk scene, he forges two relationships that will change his life, he falls in love with rebellious cool girl Vivian and, later, he comes across The Clash’s electrifying frontman, Joe Strummer. Propelled by a blistering soundtrack that bounces from The Clash to The Ramones to Buzzcocks, London Town captures the sound and spirit of a scene that shook the world. Realizador Director:
Derrick Borte
Elenco Cast: Rhys Meyers, Dougray Scott, Natascha McElhone, Daniel Huttlestone, Nell WIlliams, Tom Hughes Argumento Screenplay: Matt Brown (baseado no argumento de/based on the screenplay by Sonya Gildea e/and Kristen Sherida, Untitled Joe Strummer Project) Fotografia DOP: Hubert Taczanowski Produtora Production: Dutch Tilt Film, Killer Films, Culmination Productions UK, US, AE, 2016, 92’
Festivais
Festival de Los Angeles Festival de Londres
39
SE L E C Ç Ã O OF IC IA L - F OR A D E C OMPE T IÇ Ã O
LONDON TOWN London Town – The Clash
MA LOUTE Slack Bay
• Dia 13 às 21h00 Casino Estoril • Dia 13 às 21h30 Espaço Nimas
No Verão de 1910, vários turistas desapareceram nas praias do Canal da Mancha. Dois inspectores infames, Machin e Malfoy, irão perceber rapidamente que estes misteriosos desaparecimentos ocorreram em Slack Bay. Aí habita uma comunidade de pescadores, de que fazem parte os Brufort, uma família peculiar. O pai, “The Eternal”, faz o melhor que pode para educar os seus filhos estouvados, sobretudo o impetuoso Ma Loute. A mansão que se ergue sobre a baía é a casa de férias dos Van Peteghem, uma família burguesa degenerada que, nas horas livres, convive com a população local. O nascimento de uma curiosa história de amor entre Ma Loute e a jovem e maliciosa Billie Van Peteghem vem instalar a confusão entre as duas famílias.
“Combining savage archetypes with spot-on wit, Slack Bay is a fun, peculiar romp with deeper conceits lurking beneath the surface. Shot with a high contrast palette, the movie has a painterly quality that yields a hyperreal quality and makes it Dumont’s most polished work.” Eric Kohn, IndieWire
Summer 1910. Several tourists have vanished on the beaches of the Channel’s Coast. Infamous inspectors Machin and Malfoy soon gather that these mysterious disappearances take place in Slack Bay, home to a community of fishermen. Among them lives a curious family, the Bruforts, led by the father “The Eternal”, who deals as best as he can with his prankster bunch of sons, especially the impetuous Ma Loute. Towering high above the bay stands the Van Peteghems’ mansion. Every summer, this degenerate bourgeois family stagnates in the villa, not without mingling during their leisure hours with the local people. As a peculiar love story between Ma Loute and the young and mischievous Billie Van Peteghem begins, confusion and mystification will descend on both families, shaking their foundations.
“Ma Loute é um filme feito de forma fascinante, teatralmente extravagante e preciso (...)”
Realizador Director:
“Combinando arquétipos selvagens com uma inteligência certeira, Ma Loute é uma aventura divertida e peculiar cujas ideias mais profundas jazem junto à superfície. Filmado com uma palette de alto contraste, o filme possui uma característica artística que produz uma qualidade hiperrealista, tornando-se assim o trabalho mais polido de Dumont”
“Ma Loute is a fascinatingly made film, theatrically extravagant and precise (...)” Peter Bradshaw, The Guardian
Bruno Dumont
Elenco Cast: Fabrice Luchini, Juliette Binoche, Valeria Bruni Tedeschi Argumento Screenplay: Bruno Dumont Fotografia DOP: Guillaume Deffontaines Produtora Production: 3B Productions, Arte France Cinéma, Pictanovo, Twenty Twenty Vision FR, DE, 2015, 122’
Festivais
Festival de Cannes
40
WWW. L E FFE S T. C OM
Uma narrativa, dividida em três partes, seguindo selectivos períodos críticos na vida de um homem e do seu país. A dificuldade de viver em guerra, o período de bonança quando se apaixona por uma mulher que está disposta a sacrificar tudo para o salvar, e os seus últimos dias como monge em reclusão, relembrando o seu turbulento passado.
• Dia 12 às 21h45 Medeia Monumental, Sala 4 (conversa com Emir Kusturica)
“Nunca um trabalho de Kusturica tinha explorado a justaposição da violência indiscriminada da guerra, a simples pureza do amor entre dois adultos, e a inocência incorrupta da natureza.” “Never before has Kusturica’s work explored the juxtaposition of the indiscriminate violence of war, the simple purity of love between two mature adults and the unsullied innocence of nature.” Camillo De Marco, Cineuropa “A Natureza, juntamente com o mundo animal, é claramente importante para Kusturica – mesmo para lá da dicotomia tradicional que vê a pureza do mundo natural em contraste com os horrores da guerra.”
This three-part narrative follows selected critical periods in the life of a man and his country. The difficult period of being at war, the blooming days when he falls in love with a woman who is willing to sacrifice all to save him, and the final days as a reclusive monk looking back on his turbulent past. Realizador Director:
Emir Kusturica
Elenco Cast: Monica Bellucci, Emir Kusturica, Sergej Trifunovic Argumento Screenplay: Emir Kusturica Fotografia DOP: Martin Sec, Goran Volarevic Produtora Production: BN Films, Pinbal London SR, US, UK, 2016, 125’
Festivais
Festival de Veneza
“Nature, along with the animal world, is clearly important for Kusturica – even beyond the traditional dichotomy which sees the purity of the natural world contrasted with the horror of war.” Tommaso Tocci, The Film Stage
41
SE L E C Ç Ã O OF IC IA L - F OR A D E C OMPE T IÇ Ã O
NA MLIJECNOM PUTU On The Milky Road
ONE MORE TIME WITH FEELING Andrew Dominik explora o cenário trágico por trás da escrita e da gravação do mais recente álbum de Nick Cave & The Bad Seeds, Skeleton Tree. Uma filmagem da performance dos músicos é entrelaçada com entrevistas e pequenas cenas filmadas por Dominik, acompanhadas por narrações e meditações improvisadas de Nick Cave. Filmado a cores e a preto e branco, em 2D e 3D, o resultado é frágil, cru e um verdadeiro testamento de um artista que tenta encontrar o seu caminho na escuridão. • Dia 6 às 22h00 Medeia Monumental, Sala 4
“Mostrei-lhe [a Nick Cave] fotografias antigas, a preto e branco, com um projector de slides dos anos 50. Disselhe que queria fazer um filme onde este tipo de imagens ganhavam, lentamente, vida. Senti que a crueza do preto e branco e o drama assombrado destas imagens em 3D representavam perfeitamente os sons incorpóreos do álbum, e a sensação estranha de paralisia que o Nick parecia estar a sentir naquele momento.” “I showed him [to Nick Cave] old black and white photos viewed through a stereopticon from the 50s. I told him I wanted to make a film where these sorts of photos came slowly to life. I felt that the stark black-and-white and the haunted drama of these 3D images perfectly addressed the disembodied sound of the record and the weird sense of paralysis that Nick seemed to exist in at the time.” (Declaração do realizador) “Após algumas alusões crípticas, Cave começa a revelar-se, e a sua dor e confusão tornam-se rapidamente claras; o filme assume uma nova dimensão, uma colagem tremendamente emocional construída por Dominik.”
Andrew Dominik delves into the tragic backdrop of the writing and recording of Nick Cave & The Bad Seeds’ last album, Skeleton Tree. Interwoven throughout the Bad Seeds’ filmed performance of the new album are interviews and footage shot by Dominik, accompanied by Cave’s narration and improvised rumination. Filmed in black-andwhite and colour, in both 3D and 2D, the result is fragile, raw and a true testament to an artist trying to find his way through the darkness. Realizador Director:
Andrew Dominik
Elenco Cast: Nick Cave, Warren Ellis, Nick Cave & The Bad Seeds Fotografia DOP: Benoît Debie, Alwin H. Küchler Produtora Production: Iconoclast, JW Films, Pulse Films UK, FR, 2016, 112’ Filme em 3D
Festivais
Festival de Veneza Festival do Rio de Janeiro
“After a few cryptic allusions, Cave begins to open up, and the man’s pain and confusion rapidly becomes clear; the film itself takes on a whole new dimension, a tremendously moving collage that Dominik has assembled.” Andrew Pulver, The Guardian
42
WWW. L E FFE S T. C OM
Paterson (Adam Driver) é motorista de autocarro na cidade de Paterson, em New Jersey – um simples trabalhador numa cidade pequena e vulgar. A sua vida rege-se por um infalível método: acordar às seis da manhã, chegar a casa às seis da tarde, parar no bar habitual, beber uma cerveja, conversar com o barman. Ele e a sua mulher fazem um par perfeito. Laura (Golshifteh Farahani) é tão equilibrada como o seu marido. Mas há algo mais na vida íntima destas personagens. • Dia 10 às 22h00 Medeia Monumental, Sala 4 (conversa com Jim Jarmusch e Ron Padgett)
“Como muitos dos melhores filmes de Jarmusch, este surpreende-nos sucessivamente com as suas inflexões minimalistas e espirituosas, tanto em grande como em pequena escala, inspirado, neste caso, pelo poema épico Paterson, de William Carlos Williams.” “Like many of Jarmusch’s best films, this keeps surprising us with its minimal, witty inflections, at once epic and small-scale, inspired in this case by the booklength poem Paterson by William Carlos Williams.” Jonathan Rosenbaum, Chicago Reader “Jim Jarmusch faz filmes vibrantes A partir de distinções silenciosas Um toque para o perfeito e banal.” “Jim Jarmusch makes vibrant films Out of quiet distinctions A taste for perfect, ordinary things.” Nick James, Sight & Sound
Paterson (Adam Driver) works as a bus driver in Paterson, New Jersey — an ordinary working guy in a run-of-the-mill small city. His life is regulated clockwork: up around 6am, home by 6pm, walk the dog, drop by the local tavern, down a beer, chat with the bartender. His wife is a perfect match. Laura (Golshifteh Farahani) is as evenhanded and tempered as her husband. But there’s more to these characters’ internal lives Realizador Director:
Jim Jarmusch
Elenco Cast: Adam Driver, Golshifteh Farahani Argumento Screenplay: Jim Jarmusch Fotografia DOP: Frederick Elmes Produtora Production: Amazon Studios, Animal Kingdom, K5 Film USA, 2016,113’
Festivais
Festival de Cannes Festival de Toronto
43
SE L E C Ç Ã O OF IC IA L - F OR A D E C OMPE T IÇ Ã O
PATERSON
RESTER VERTICAL Staying Vertical Léo está à procura de um lobo num grande planalto dos Causses de Lozére, quando encontra uma pastora, Marie. Alguns meses mais tarde, têm um filho. Sofrendo de uma depressão pósparto, e tendo perdido a confiança em Léo, que vai e vem sem avisar, Marie abandona os dois. Léo fica sozinho com o bebé, uma situação que, apesar das dificuldades, ele adora. Mas, durante esse tempo, não trabalha e afundase lentamente na sua própria tristeza. É essa ruptura social que o leva aos planaltos de Lozère, em direcção ao lobo. • Dia 11 às 21h45 Espaço Nimas
“Combinando o controlo formal do seu filme inovador de 2013, O Desconhecido do Lago, com o fabulismo transformador dos seus trabalhos anteriores, o novo filme de Alain Guiraudie é um olhar desviante sobre o ciclo humano do nascimento, procriação e morte (...)” “Combining the formal control of his 2013 breakthrough Stranger by the Lake with the shapeshifting fabulism of his earlier work, Alain Guiraudie’s new film is a sidelong look at the human cycle of birth, procreation, and death (...)” Film Society, Lincoln Center “Para o lobo, o Homem é o animal vertical. É a este título que ele nos respeita. É quando caímos que os problemas começam.” “For the wolf, Man is the vertical animal. This is why he respects us. It is when we fall that our problems begin.” (Declaração do realizador)
Léo is searching for a wolf in the upland landscapes of the Causses of Lozére, when he meets a shepherdess, Marie. Some months later, she gives birth to their child. Suffering from post-natal depression, and with no faith in Léo, who comes and goes without warning, Marie abandons both of them. Léo finds himself alone, with a baby to care for. It’s not easy, but deep down, he loves it. During that period of time, he doesn’t work too much, and drowns, step by step, in his own misery. It is this social breakdown that takes Léo to the upland landscapes of the Causses of Lózere, towards the wolf. Realizador Director:
Alain Guiraudie
Elenco Cast: Damien Bonnard, India Hair, Raphaël Thiéry, Christian Bouillette, Basile Meilleurat, Laure Calamy Argumento Screenplay: Alain Guiraudie Fotografia DOP: Claire Mathon Produtora Production: Les Films du Worso, Arte France Cinéma, Canal+ FR, 2016, 100’
Festivais
Festival de Cannes Festival de Nova Iorque
44
WWW. L E FFE S T. C OM
Uncle Howard é uma narrativa em que o passado e o presente se entrelaçam. O realizador nova-iorquino Howard Brookner morreu de SIDA em 1989, enquanto preparava o seu filme de estreia em Hollywood. Toda a sua obra, que capta o espírito da revolução cultural do final dos anos 70 e início dos 80, ficou encerrada no apartamento de William Burroughs durante trinta anos. Agora, numa viagem pessoal, o seu sobrinho Aaron desenterra as memórias e o legado fílmico de Howard. • Dia 8 às 22h00 Medeia Monumental, Sala 4 (apresentação por Aaron Brookner e presença de Sara Driver e Jim Jarmusch)
“O excelente documentário de Aaron Brooker sobre o seu tio [é] uma ode indelével à Nova Iorque gay, a não perder.” “Aaron Brooker’s excellent documentary about his uncle [is] an indelible, must-see ode to gay New York.” Manohla Dargis, The New York Times “Refrescante...encantador...A sequência final do filme é deslumbrante e devastadora.” “Refreshing...lovely...The doc’s beautiful final sequence rips your heart out.” David Rooney, The Hollywood Reporter “Uma obra profundamente pessoal que é tanto uma introdução ao tio do realizador como uma meditação sombria sobre talento perdido.” “A deeply personal piece of work that offers both an introduction to the director’s uncle and a somber meditation on talent lost.” Rory O’Connor, The Film Stage
Uncle Howard is an intertwining tale of past and present. New York filmmaker Howard Brookner died of AIDS in 1989, while making his breakthrough Hollywood movie. His body of work, which captured the late 70s and early 80s cultural revolution, was buried in William S. Burroughs’ bunker for 30 years. Now in a personal journey, his nephew Aaron unearths Howard’s filmmaking legacy and the memory of everything he was. Realizador Director:
Aaron Brookner
Elenco Cast: John Giorno, William Burroughs, Howard Brookner, Jim Jarmusch, Madonna, Robert Wilson, Frank Zappa, Brad Gooch, Darryl Pinckney, Tom DiCillo, James Grauerholz, Stewart Meyer, Hisami Kuroiwa, Sara Driver, Frédéric Mitterrand Fotografia DOP: Gregg de Domenico, André Döbert Produtora Production: Pinball London, Itaca Films, Creative Europe, Jerome Foundation, The Filmaker Fund, Bertha Foundation UK, USA, 2016,100’
Festivais
Festival de Sundance Festival de Berlim
45
SE L E C Ç Ã O OF IC IA L - F OR A D E C OMPE T IÇ Ã O
UNCLE HOWARD
YA TAYR EL TA YER The Idol – A Força de Acreditar Mohammad, um jovem residente em Gaza, sonha em cantar na Ópera de Cairo e ser reconhecido internacionalmente pelo seu talento. O filme segue o percurso do jovem, desde a sua infância num campo de refugiados em Gaza, até à audição para o programa “Ídolos”, no Egipto, e à aclamação da sua vitória em Beirute.
• Dia 12 às 21h30 Medeia Monumental, Sala 2
“Maravilhosamente filmado e contando com a performance impactante de Barhom, é um filme biográfico no seu melhor.” “Beautifully shot, and with a powerful performance from Barhom, this is a biopic at its best.” Leah Pickett, Chicago Reader “Realizado por Hany Abu-Assad, já por duas vezes nomeado para os Óscares, (o cineasta responsável pelo drama sobre bombistas-suicidas Paradise Now) é impressionante pelo seu dançar hábil entre a política e o melodrama sem que se comprometa demasiado com qualquer um dos lados.” “Directed by the twice Oscar-nominated Hany AbuAssad (who made the suicide-bombing drama Paradise Now) it is remarkable for dancing deftly between politics and melodrama without coming down heavily on either side.” Kevin Maher, The Times
46
Mohammed, a young boy living in Gaza, dreams about singing at the Cairo Opera House and to be internationally renowned for his talent. The film follows the young man’s journey, from his childhood at a refugee camp in Gaza, to his audition for the show “Arab Idol”, in Egypt, and the acclaim of his victory in Beirut. Realizador Director:
Hany Abu-Assad
Elenco Cast: Tawfeek Barhom, Kais Attalah, Hiba Attalah Argumento Screenplay: Hany Abu-Assad, Sameh Zoabi Fotografia DOP: Ehab Assal Produtora Production: Cactus World Films,Fortress Film Clinic, Full Moon Productions UK, NL, PS, QA, AE, 2015, 100’
Prémios Prémio UNESCO, Asia Pacific Screen Awards Festivais
Festival de Toronto
WWW. L E FFE S T. C OM
JIM JARMUSCH
Após um período formativo extremamente rico – fez estudos de literatura, integrou o movimento de cultura alternativa da ‘downtown’ novaiorquina dos anos 1970 (sobretudo a sua seminal cena musical), desenvolveu uma abrangente cultura cinéfila (descobriu o cinema de forma apaixonada na Cinemateca Francesa de Henri Langlois, foi aluno do realizador de Hollywood Laslo Benedek na escola de cinema da Tisch School of the Arts, em Nova Iorque, e assistente de Nicholas Ray em Lightning Over Water de Wim Wenders) – Jim Jarmusch construiu um universo fílmico ímpar, absorvendo e cruzando referências, métodos e géneros (o road movie, o western ou o filme de vampiros convocados sobretudo como tonalidades), pautando o seu cinema por uma respiração poética e musical (e pela regra de ouro ‘menos é mais’). Do semi-autobiográfico filme de fim-de-curso Permanent Vacation/Sempre em Férias (1980) e de uma das mais marcantes e influentes primeiras obras de sempre, Stranger Than Paradise/Para Além do Paraíso (1984, vencedora da Caméra d’Or em Cannes), passando por esses inolvidáveis filmes-trip que são Dead Man/Homem Morto (1995) e Only Lovers Left Alive/Só os Amantes Sobrevivem (2013), até ao par de obras de 2016, Paterson e Gimme Danger (documentário sobre o rock’n’roll proto-punk de Iggy Pop e dos seus Stooges), o tempo e o ritmo do cinema de Jarmusch são os do blues e do jazz. Os seus filmes fazem-se de silêncios e pequenos detalhes, de estruturas narrativas esparsas, de ambientes melancólicos e, acima de tudo, de um amor e humor muito ternos por personagens apanhadas ‘em trânsito’ (físico, emocional ou mental) nas suas vidas.
JIM JA R MUSC H
Cineasta, argumentista, actor e músico nascido em Akron no Ohio, Jim Jarmusch é o representante supremo e derradeiro do “cinema independente americano”. A qualidade única dos seus filmes advém da alquimia elegante e perfeita entre aquilo que convoca de ‘clássico’ e de ‘moderno’, de um passado e de um presente (do cinema, da literatura, da música e da cultura em geral), da América (para a qual Jarmusch olha com um olhar de estrangeiro, “um estrangeiro benigno e fascinado”, nas palavras de Tom Waits) e do mundo.
A autenticidade e independência da postura artística de Jim Jarmusch marcam um percurso de 36 anos e mantêm-se incólumes. O realizador será um dos convidados do Lisbon & Estoril Film Festival, onde apresentará os seus mais recentes filmes, Gimme Danger e Paterson. Filmmaker, scriptwriter, actor and musician born in Akron, Ohio, Jim Jarmusch is the supreme and ultimate representative of “American independent films”. The unique quality of his films comes from the elegant and perfect alchemy between what he takes from the “classical” and “modern”, from a past and a present (from cinema, literature, music and culture in general), of America (seen by Jarmusch with the eyes of a foreigner, “a benign, fascinated foreigner” as said by Tom Waits) and of the world. Following an extremely rich period in terms of training - he studied literature, became part of the alternative culture movement of the 1970’s “downtown” New York (especially in its seminal musical scene) and developed a comprehensive cinematic culture (became passionate about cinema at the Henri Langlois’ Cinémathèque Française, was a student of the Hollywood director Laslo Benedek at the Tisch School of the Arts in New York, and was Nicholas Ray’s assistant in Lightning Over Water by Wim Wenders) – Jim Jarmusch built a unique film 47
universe, absorbing and crossing references, methods and genres (road movies, westerns or even vampire films used mainly as hues), imprinting a poetical and musical breeze on his films (and using the golden rule “less is more”).
are made of silences and small details, of scattered narratives, of melancholic atmospheres and, above all, of very tender love and humour of characters caught at transitional periods (physical, emotional or mental) in their lives.
From the semi-autobiographical Permanent Vacation (1980) and one of the most striking and influential works ever, Stranger Than Paradise (1984, Caméra d’Or winner at Cannes), going from those unforgettable tripfilms such as Dead Man (1995) and Only Lovers Left Alive (2013), to the two 2016 films, Paterson and Gimme Danger (documentary on rock’n’roll proto-punk by Iggy Pop and his Stooges), the time and the rhythm of Jarmusch’s cinema are those of blues and jazz. His films
The authenticity and independence of Jim Jarmusch’s artistic attitude mark a path of 36 years and remain unscathed. The director will be one of the guests at the Lisbon & Estoril Film Festival where he will present his most recent films, Gimme Danger and Paterson.
48
WWW. L E FFE S T. C OM
ENCONTRO INTERNACIONAL DE ESCOLAS DE CINEMA COMPETIÇÃO DE CURTAS-METRAGENS Short film competition O encontro internacional de escolas de cinema, que ao longo dos últimos anos contemplava apenas escolas europeias, abre-se este ano também aos Estados Unidos, com a presença de uma das mais prestigiadas escolas de cinema do mundo – a Tisch School of the Arts. Para além desta, participam ainda a Polish National Film,Television and Teatre School, de Lódz e a Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC), habitual representante portuguesa nesta competição que tem lugar, anualmente, no âmbito do Lisbon & Estoril Film Festival. Contando com a presença de alunos e professores, cada escola apresenta os seus trabalhos mais representativos, seguindo-se uma discussão e avaliação dos trabalhos por um júri internacional. The international meeting of film schools, which in previous years included only European schools, this year opens up to the United States, counting on the presence of one of the most prestigious film schools in the world - Tisch School of the Arts. There are other participants such as Polish National Film,Television and Teatre School of Lodz and the Lisbon Theatre and Film School (ESTC), the usual Portuguese representative in this competition which takes place annually as part of the Lisbon & Estoril Film Festival. This competition is attended by students and teachers with each school presenting their representative works followed by a discussion and evaluation of the works by an international jury.
Escola Superior de Teatro e Cinema – Lisboa, Portugal
A Escola Superior de Teatro e Cinema foi criada em Lisboa, através de um diploma que procedeu à reconversão do Conservatório Nacional, tornandose numa instituição que se dedica exclusiva e especificamente ao ensino do Teatro e do Cinema. Relativamente ao cinema, o respectivo curso só foi introduzido no Conservatório Nacional como experiência pedagógica. Mais tarde, foi criada a Escola Piloto para a Formação de Profissionais de Cinema, cujo curso se iniciou em 1973 e teve, desde o princípio, a preocupação de aliar à transmissão de
conhecimentos técnicos inerentes à prática das profissões do Cinema uma vertente mais artística. O curso que o Departamento de Cinema da ESTC hoje ministra é ainda o resultado de uma evolução radicada neste primeiro curso de cinema que, aliás, foi o pioneiro no ensino superior público português. Unidade orgânica do Instituto Politécnico de Lisboa, a escola é ainda participante em programas de desenvolvimento educativo a nível local, com actividades de enriquecimento curricular nas escolas básicas públicas do concelho da Amadora, produz e realiza anualmente dezenas de exercícios – espectáculos e filmes dos seus alunos, exibidos gratuitamente à comunidade. Conta entre os seus alumni vários cineastas portugueses de renome, entre os quais Pedro Costa, Miguel Gomes, João Pedro Rodrigues, Edgar Pêra, João Botelho e João Salaviza. The Lisbon Theatre and Film School was set up in Lisbon through a document which had the aim of reconverting the National Conservatory into an institution dedicated exclusively to Theatre and Cinema education. As regards cinema, the degree was only introduced in the National Conservatory as a pedagogic experiment. Later, the Pilot School for the Training of Cinema Professionals was set up and its first degree began in 1973. This school has had, from the beginning, the deep concern of complementing the technical knowledge necessary for professions in the area of Cinema with a more artistic component. The degree offered today by ESTC’s Cinema Department is still the result of an evolution based on the first cinema degree which was very much a pioneer in Portuguese public higher education. The Lisbon Theatre and Film School is an organic unit of the Polytechnic Institute of Lisbon (IPL), and is still participating in educational development programmes at the local level, holding curriculum improvement activities in public primary schools in the Amadora municipality. The school also produces and organises, every year, several performances and exhibitions made by the students and shown to the community for free. 49
E N C O N T R O IN T E R N A C ION A L D E E SC OL A S D E C IN E MA
International film school meeting
This school’s alumni include the following renowned Portuguese filmmakers: Pedro Costa, Miguel Gomes, João Pedro Rodrigues, Edgar Pêra, João Botelho and João Salaviza.
Tisch School of the Arts – Nova Iorque, Estados Unidos
A Tisch School of the Arts (mais comummente conhecida como Tisch ou TSOA), localizada em Manhattan, Nova Iorque, é um centro de estudos de artes performativas e de comunicação social. Fundada em 1965, é um espaço de formação e ensaio para artistas, teóricos de arte, cineastas e empreendedores criativos. Foi fundada com o intuito de fornecer uma formação ao nível do Conservatório, em Teatro e Cinema, no contexto de uma Universidade de investigação. A Escola criou, ao longo dos anos, novos departamentos, nomeadamente dança, produção de teatro e estudos cinematográficos. Formou alguns dos nomes mais célebres do cinema americano contemporâneo, como Woody Allen, Joel Coen, Martin Scorsese, Jim Jarmusch ou Spike Lee. The Tisch School of the Arts (commonly know as Tisch or TSOA), based in Manhattan, New York, is a study centre for performing arts and social communication. It was founded in 1965 to provide training for artists, art theorists, filmmakers and creative entrepreneurs. It was founded with the objective of offering training in Theatre and Cinema, at the Conservatory level, within the context of a research University. Along the years, the School has established new departments of dance, theatre production and cinema studies. Some of the most famous names in American contemporary cinema such as Woody Allen, Joel Coen, Martin Scorsese, Jim Jarmusch and Spike Lee graduated from the Tisch School of the Arts.
Polish National Film,Television and Teatre School – Lódz, Polónia
Desde a sua fundação em 1948, a Escola Nacional Polaca de Cinema, Televisão e Teatro tem sido considerada uma das instituições mais prestigiadas, a nível mundial, para a produção e estudos de cinema. A Escola está organizada como uma Universidade, com faculdades separadas para realização de cinema, cinematografia, direcção de produção, 50
representação, guionismo, animação, produção de cinema e televisão, fotografia, edição de filmes, realização de TV e media digital. A filosofia pedagógica da Escola Nacional de Cinema centra-se nos aspectos práticos da realização e produção de filmes. Todos os anos, a escola realiza cerca de 150 curtas-metragens, médias-metragens, documentários e filmes de animação, rodados em 35mm, 16mm, HD ou DV. A instituição tem sido o centro de aprendizagem da maioria dos realizadores e cinematógrafos polacos, há quase sessenta anos: Andrzej Wajda, Roman Polanski, Jerzy Skolimowski, Krzysztof Zanussi, Krzysztof Kieslowski, Wojciech Marczewski, Stawormir Fabicki, Jerzy Zielinski, Stawomir Idziak, Pawel Edelman são apenas alguns dos cineastas internacionalmente conceituados entre os licenciados pela Escola de Cinema de Lódz. Since its establishment in 1948, the Polish National Film, Television and Theatre School has been considered one of the most prestigious institutions in the world for the production and education of cinema. The School is organized as a University, with different schools for the teaching of filmmaking, cinematography, direction and production, acting, scriptwriting, animation, cinema and television production, photography, film editing, TV direction and digital media. The National Film School’s teaching philosophy is focused on the practical aspects of film direction and production. Every year, the school directs approximately 150 short-films, medium-length films, documentaries and animation films, shot in 35mm, 16mm, HD or DV. For almost sixty years, this institution has been the learning centre for most Polish film directors and filmmakers. Andrzej Wajda, Roman Polanski, Jerzy Skolimowski, Krzysztof Zanussi, Krzysztof Kieslowski, Wojciech Marczewski, Stawormir Fabicki, Jerzy Zielinski, Stawomir Idziak, Pawel Edelman are just a few names of the internationally renowned filmmakers who graduated from the Lodz Film School.
WWW. L E FFE S T. C OM
JÚRI DA COMPETIÇÃO DE ESCOLAS Jury of the Schools Competition
Daniel Rosenfeld
Lola Peploe
Stanislas Merhar
Daniel Rosenfeld (Buenos Aires) queria ser compositor de piano, mas acabou por ser cineasta. Licenciado em Comunicação Social, estudou montagem com Miguel Perez, encenação com Augusto Fernandes, interpretação com Julio Chavez. A sua primeira longa-metragem documental: Salluzi- Ensayo para Bandoneon y Tres Hermanos, estreou no Festival de Cinema de Berlim (FORUM). A sua segunda longa-metragem, La Quimera de los Héroes, recebeu dois prémios no Festival de Cinema de Veneza - Competição Oficial - o de Melhor Jovem Realizador e uma Menção Especial do Júri. Ganhou também o Prémio do Júri do Festival de Cinema de Belfort e uma menção do Júri no Festival de Buenos Aires (BAFICI). Cornelia Frente al Espejo (2012), uma longametragem de ficção, estreou em Roterdão e fez parte da Selecção Oficial do Festival de Cinema de Moscovo e da Competição do Festival de La Habana. Al Centro de la Tierra (2015), teve a sua estreia local no BAFICI 2015, onde foi galardoado com uma Menção Especial da Crítica, e a sua estreia internacional no Fidmarseille 2015 (Prémio Renaud Victor). Daniel Rosenfeld (Buenos Aires) wanted to be a pianist composer, but ended up making films. A Mass Media graduate, he studied editing with Miguel Perez, staging with Augusto Fernandes, acting with Julio Chavez. His first full-length documentary film: “Salluzi composition for bandoneon and three brothers” was world premiered at Berlin Film Festival (Forum). His second full-length film “The Chimera of Heroes” received two awards at Venice Film Festival – Official Competition-: Best New Director award, Special Mention from the Jury. Also the Audience Award at Belfort Film Festival, and Jury mention award at Bafici. Nominated for Best Film Critics Award from Argentina. “Cornelia at her mirror” (2012), a fiction arthouse feature film premiered at Rotterdam, Official Selection at Moscow film Festival, Competition at La Habana film festival. “To the center of the earth” (2015, 84 minutes, color, fiction hybrid), Local Premiere at BAFICI 2015: Critic Special Mention Award International Premiere Fidmarseille 2015 (prix Renaud Victor) 51
JÚR I D A C OM P E T IÇ Ã O D E E SC OL A S
DANIEL ROSENFELD
LOLA PEPLOE
STANISLAS MERHAR
Actriz e realizadora, Lola Peploe nasceu em Inglaterra e ingressou na Universidade de Oxford para estudar Literatura Inglesa e Francesa. Prosseguiu os seus estudos no Drama Centre London, a prestigiada instituição onde se formaram actores como Pierce Brosnan, Colin Firth ou Michael Fassbender. Como actriz, Lola Peploe trabalhou nas áreas de teatro, televisão e cinema. Em 2003, participou em Os Sonhadores (2003), de Bernardo Bertolucci, tendo sido também sua assistente de realização, Em 2006, fez parte do elenco do filme de Stephen Frears, A Rainha. Em 2010, participou no drama histórico Noi Credevamo, de Mario Martone (Festival de Veneza), inspirado em episódios da unificação italiana e vencedor de sete prémios David di Donatello, incluindo o de Melhor Filme. Mais recentemente, teve um papel de relevo numa produção brasileira, Obra (2014), de Gregorio Graziosi. O filme estreou no Festival Internacional de Toronto e venceu dois prémios no Festival do Rio de Janeiro. Actualmente, Lola Peploe vive e trabalha em Paris. A sua primeira curta-metragem enquanto realizadora, No. 27, foi seleccionada para o Festival de Curtas-Metragens de São Paulo em 2015 e será exibido este ano no LEFFEST, na secção Descobertas.
Stanislas Merhar é um actor francês, nascido em 1971. Depois de estudar piano durante cinco anos na École Normale de Musique de Paris, em 1997, sobressaiu num casting organizado por Anne Fontaine para Nettoyage à Sec e a cineasta ofereceu-lhe um papel no filme. A sua prestação, valeu-lhe um prémio César de melhor jovem promessa de 1998. Nesse ano, integra o elenco da série televisiva O Conde de MonteCristo, de Josée Dayan, com quem trabalhará de novo em 2001, no filme Zaïde, Un Petit Air de Vengeance. Participa, em filmes de Manoel de Oliveira (A Carta, 1999), Jean-Claude Brisseau (Les Savates du Bon Dieu, 2000) e de Chantal Akerman (A Captiva, 2000). Foi protagonista de Furia, de Alexandre Aja, filma também em Itália, para Pupi Avati (I Cavalieri Che Fecero lImpresa, 2001) e para Fabio Carpi (Nobel, 2001). De regresso a França, interpreta o papel de Adolphe (2002) de Benoît Jacquot, e participa em dois filmes de Michel Deville: Un Monde Presque Paisible e Un Fil à la Patte. Em 2011, volta a trabalhar com Chantal Akerman, como protagonista de A Loucura de Almayer. Recentemente, desempenhou um dos papéis principais no filme de Philippe Garrel, À Sombra das Mulheres (2015).
Actress and director, Lola Peploe was born in England and studied English and French Literature at Oxford University. She went on to study theatre at the Drama Centre London, a prestigious institution where actors such as Pierce Brosnan, Colin Firth and Michael Fassbender studied. As an actress, Lola Peploe worked in theatre, television and cinema. In 2003, she participated in Bernardo Bertolucci’s film The Dreamers, where she was also the assistant producer and, in 2006, she played a part in Stephen Frears’s award-winning film, The Queen. In 2010, she participated in Mario Martone’s historical drama Noi credevamo (Venice Festival), inspired by episodes of Italian unification and winner of seven David di Donatello awards, including Best Film. Recently, Peploe played an important role in a Brazilian production, Obra (2014) by Gregorio Graziosi. This film premiered at the Toronto Film Festival and won two awards at the Rio de Janeiro Film Festival.Today, Lola Peploe lives and works in Paris. Her first short-film as a director, No. 27, was selected for the São Paulo International Short-Film Festival in 2015 and will be screened in this year’s edition of the LEFFEST in the section Discoveries.
Stanislas Merhar is a French actor born in 1971. After studying piano for five years at l’École Normale de Musique de Paris, in 1997, he stood out in a casting organized by Anne Fontaine for Nettoyage à Sec and the filmmaker subsequently offered him a role in the film. His performance won him a César Award for Most Promising Actor in 1998. In that same year, he is part of a prestigious cast in the television series Count of Monte-Cristo, by Josée Dayan, a director with whom he would work again in 2001 in the film Zaïde, un Petit Air de Vengeance.Collaborates with Manoel de Oliveira (A Carta, 1999), Jean-Claude Brisseau (Les Savates du bon Dieu, 2000) and Chantal Akerman (Le Captive, 2000).The lead actor in Furia by Alexandre Aja, he also shoots in Italy, for Pupi Avati (I Cavalieri Che Fecero L’Impresa, 2001) and for Fabio Carpi (Nobel, 2001). Back in France, he plays the part of Adolphe (2002) by Benoît Jacquot, and plays in two films by Michel Deville: Un Monde Presque Paisible and Un Fil à La Patte. In 2011, as the protagonist of Almayer’s Folly. Recently he was one of the protagonists of Philippe Garrel’s film In The Shadow of Women (2015).
52
WWW. L E FFE S T. C OM
53
D E SC OBE RTA S
JEUNESSE (2016) Juventude Julien Samani é um realizador, director de fotografia e engenheiro de som francês, nascido em 1973. Depois de trabalhar em fotografia publicitária, ingressou na École Nationale Supérieure des Arts Décoratifs de Paris em 1995, onde estudou Imagem. Em 1998, parte para a Cooper Union School of Design em Nova Iorque e descobre a prática do cinema. De regresso a França, depois de criar ilustrações de moda para a Press e alguns cartazes para o Ministério da Cultura, realiza o seu primeiro filme, um documentário, La Peau Trouée. Juventude, é a sua primeira longa-metragem de ficção. Julien Samani, director, director of photography and sound engineer, was born in 1973 in France. After a career in advertising photography, he enrolls in l’Ecole Nationale Supérieure des Arts Décoratifs de Paris in 1995 where he studies Image. In 1998, he leaves for the Cooper Union School of Design in New York and discovers the practice of cinema. Back in France, after creating fashion illustrations for Press and designing a few posters for the Ministry of Culture, he shoots his first film La Peau trouée. The Young One is his first fiction feature film.
JEUNESSE Juventude Baseado no conto Juventude de Joseph Conrad, o filme tem como protagonista Zico, um rapaz de vinte anos que sonha com uma carreira de marinheiro. Esta é a história da sua primeira viagem no mar, a partir de Le Havre até Luanda, a bordo de um navio. Rapidamente, surgem tensões com a restante tripulação e o sonho dá lugar à desilusão.
• Dia 6 às 21h45 Medeia Monumental, Sala 2 (conversa com Julien Samani)
54
Based on Youth, the short-story by Joseph Conrad, the film stars Zico, a 20 year-old boy who dreams of being a sailor. This is the story of his first time at sea, from Le Havre to Luanda, on board a ship. Soon, tensions arise with the rest of the crew and his dream gives way to disappointment.
Realizador Director:
Julien Samani
Elenco Cast: Kévin Azaïs, Samir Guesmi, Jean-François Stévenin Argumento Screenplay: : Julien Samani, Camille Fontaine (baseado no conto de/based on the short story by Joseph Conrad) Fotografia DOP: Simon Beaufils Produtora Production: Leopardo Filmes, Alfama Films | PT, FR, 2016, 83’
WWW. L E FFE S T. C OM
Nascido em Paris, em 1987, Grégoire LeprinceRinguet foi descoberto por André Téchiné, e obteve o seu primeiro papel em Os Fugitivos, que lhe valeu uma nomeação para o prémio César para o Melhor Jovem Actor. Então considerado uma das jovens promessas do cinema francês, recebeu, por As Canções de Amor, de Christophe Honoré, nova nomeação para os César. A sua colaboração com aquele realizador manteve-se em 2008, com A Bela Junie, uma adaptação moderna d’A Princesa de Clèves. Em 2010, esteve duplamente presente no Festival de Cannes: em competição com o último filme de Bertrand Tavernier, A princesa de Monpensier, e fora de competição com Black Heaven – O Outro Mundo, de Gilles Marchand. No mesmo ano, foi protagonista de Djinns, um filme de aventura passado na guerra na Argélia, dos realizadores Hugues e Sandra Martin. Em 2015, realiza a sua primeira longa-metragem, O Bosque dos Quincôncios, onde é também protagonista, ao lado de Pauline Caupenne e Amandine Truffy. Spotted by André Téchiné, Grégoire LeprinceRinguet got his first role in Strayed, alongside Emmanuelle Béart and Gaspard Ulliel. His performance was noticed and rewarded with a nomination for the César for Best Young Actor. Then considered one of the rising stars of French cinema, he was directed in 2007 by Nicole Garcia in Charlie Says. His looks, both shy and polite, often hiding a profound sensitivity, were fully taken advantage of in Love Songs by Christophe Honoré,
D E SC OBE RTA S
LA FORÊT DE QUINCONCES (2016)
for which he received a new César nomination. His collaboration with the director was renewed in 2008 with The Beautiful Person, a modern transposition of The Princess of Clèves. In 2010, he was present twice at the Festival de Cannes: in competition with the latest film by Bertrand Tavernier The Princess of Montpensier and out of competition in The Other World by Gilles Marchand. That same year marked his first appearance as a headliner in Stranded, a fantastic adventure during the war in Algeria, from the duo Hugues and Sandra Martin. In 2015, he directs his first feature film, Fool Moon, in which he stars alongside Pauline Caupenne and Amandine Truffy.
LA FORÊT DE QUINCONCES O Bosque dos Quincôncios Ondine e Paul amavam-se. Quando ela o deixa, ele jura nunca mais se apaixonar. Para provar isso a si mesmo, persegue Camille, com o intuito de seduzi-la e, depois, abandoná-la. Mas Camille enfeitiça Paul. Este, cedendo aos seus encantos tem de lidar com a memória do seu antigo amor.
• Dia 8 às21h30 Cinemas NOS CascaiShopping • Dia 8 às22h00 Espaaço Nimas (conversa com Grégoire LeprinceRinguet)
Ondine and Paul loved each other. When she leaves him, he swears never to love again. To prove this to himself, he pursues the beautiful Camille, whom he intends to seduce and abandon. But Camille bewitches Paul, who demands exclusivity. While falling under Camille’s spell, Paul has to deal with the memory of his past love.
Realizador Director: Grégoire
Leprince-Ringuet
Elenco Cast: Grégoire Leprince-Ringuet, Pauline Caupenne, Amandine Truffy, Thierry Hancisse, Maryline Canto, Antoine Chappey Argumento Screenplay: Grégoire Leprince-Ringuet Fotografia DOP: David Chambille Produtora Production: Alfama Films Production, ARTE France Cinéma | FR, 2016, 109’
55
LA LARGA NOCHE DE FRANCISCO SANCTIS (2016) Nascido na Argentina em 1981, Francisco Márquez estudou na ENERC, Escola Nacional de Experimentação e Realização Cinematográfica. Realizou várias curtasmetragens, com especial destaque para Imágenes Para Antes de la Guerra de 2013, filme que participou em festivais internacionais de cinema e vencedor de vários prémios. A sua primeira longa-metragem, um documentário sobre o Colégio Sarmiento, Después de Sarmiento, mostra a situação da educação nos sectores mais marginalizados da Argentina. Born in Argentina in 1981, Francisco Márquez studied at the ENERC, the National School of Film Experimentation and Production. He directed several short films such as Imágenes Para Antes de la Guerra (2013), a film which was screened at several international film festivals and which won several awards. His first feature film, a documentary about the Sarmiento School, Después de Sarmiento, shows the state of education in the most marginalized sectors of Argentina.
de Sarmiento. Em 2015 realiza Pibe Chorro, um ensaio documental.
Andrea Testa nasceu em Buenos Aires em 1987. Estudou, juntamente com Francisco Márquez, na ENERC, a escola que deu início a uma grande parceria entre os dois. Realizou várias curtas-metragens e trabalhou como assistente de realização nos filmes de Márquez, Imágenes Para Antes de la Guerra e Después
Andrea Testa was born in Buenos Aires in 1987. He studied, along with Francisco Márquez, at ENERC, the school that effectively originated their partnership. He has directed several short films and has worked as assistant director in Márquez’ films Imágenes Para Antes de la Guerra and Después de Sarmiento. In 2015 he directs Pibe Chorro, a documentary essay.
LA LARGA NOCHE DE FRANCISCO SANCTIS The Long Night of Francisco Sanctis Buenos Aires, 1977. Durante a ditadura militar, Francisco Sanctis recebe informação acerca de duas pessoas que devem “desaparecer”. Um pacífico homem de família de meia idade, sem quaisquer laços políticos, Francisco é abalado pela urgência da situação. Naquela noite ele tem de tomar uma decisão crucial: se deve ou não arriscar a sua própria vida para salvar outros.
• Dia 7 às 21h30 Medeia Monumental, Sala 3
Buenos Aires, 1977. During the military dictatorship Francisco Sanctis receives information about two people sentenced to “disappear.” A peaceful middle-aged family man without any political ties, Francisco is stunned by the urgency of this situation. That night he must make a crucial decision: whether or not to risk his own life to save others.
Realizador Director:
Francisco Márquez, Andrea Testa
Elenco Cast: Diego Velázquez, Laura Paredes, Valeria Lois Fotografia DOP: Federico Lastra | AR, 2016, 78’
56
WWW. L E FFE S T. C OM
Alberto Morais nasceu em Valladolid em 1976. Completou os seus estudos em belas artes e cinema na cidade de Valência. Mudou-se para Madrid, onde escreveu e realizou várias curtas-metragens. Em 2007, apresenta a sua primeira longa, Un Lugar en El Cine, uma obra documental protagonizada por Victor Erice e Theo Angelopoulos, e que teve presença em inúmeros festivais internacionais de cinema como São Paulo, Roterdão, entre outros. Nos finais de 2008, fundou a produtora Olivo Films, com a qual produziu o seu segundo filme, Las Olas (2011), um filme que aborda a história desconhecida dos campos de concentração que existiam em França antes da Segunda Guerra Mundial, e vencedor de três prémios no Festival de Cinema de Moscovo. Los Chicos del Puerto, a sua terceira longa-metragem de 2013, foi filmada em Valência e conta com três crianças como protagonistas. O filme estreou no célebre Festival de Cinema de Toronto. Alberto Morais was born in Valladolid in 1976. He completed his studies in fine-arts and cinema at the University of Valencia. He moved to Madrid, where he wrote and directed several short-films. In 2007, he completes his first feature film, Un Lugar en El Cine, a documentary starring Victor Erice and Theo Angelopoulos, and which was screened at several international film festivals such as São Paulo and Rotterdam, among others. Towards the end
D E SC OBE RTA S
LA MADRE (2016)
of 2008, he founded production company Olivo Films, with which he produced his second film, Las Olas (2011), a film that tackles the unknown story of the French concentration camps that existed before World War II, winner of three awards at the Moscow Film Festival. Los Chicos del Puerto, his third feature film of 2013, was shot in Valencia and features three children as its protagonists. The film also had a North American premiere, at the famous Toronto Film Festival.
LA MADRE Miguel, um rapaz de catorze anos, está em risco de regressar para um centro de detenção para menores na região das Astúrias. Para escapar aos serviços sociais, é forçado pela mãe a procurar refúgio em casa de Bogdan, um antigo amante que vive numa aldeia vizinha. Mas tudo se precipita quando a mãe desaparece subitamente.
• Dia 10 às 21h30 Medeia Monumental, Sala 2 (presença de Alberto Morais)
Miguel, a fourteen year old boy, is at risk of returning to a detention center for minors in the Astúrias region. It is for this reason that Miguel lives in a constant personal crisis. To escape social services, Miguel is forced by his mother to seek refuge in the house of Bogdan, a former lover that lives in a neighbouring village. But everything takes a turn for the worse when his mother suddenly disappears.
Realizador Director: Alberto Morais
Elenco Cast: Laia Marull, Nieve de Medina, María Albiñana, Javier Mendo, Ovidiu Crisan Argumento Screenplay: Alberto Morais, Verónica García, Ignacio Gutiérrez-Solana Fotografia DOP: Diego Dussuel Produtora Production: Olivo Films, Fundatia Teatru Contemporan, Alfama Films | ES, FR, RO, 2016, 89’
57
Nº 27 (2015) Consultar a biografia da realizadora na secção Júri da Competição de Curtas-Metragens.
Nº 27 Uma jovem inglesa trabalha como empregada de mesa em Paris. Numa livraria, depara-se com um anúncio intrigante - de um certo Francis Jones, que declara comprar e vender sonhos. Sem nada a perder, decide ir ao seu encontro. Começa a vender-lhe os seus próprios sonhos mais profundos.
• Dia 8 Teatro da Trindade (conversa com Lola Peploe) Filme integrado na sessão do Encontro de Escolas
58
A young English girl is making ends meet as a waitress in Paris. She stumbles upon an intriguing business card- a certain Francis Jones who claims to buy and sell dreams. With nothing to lose, she decides to arrange a visit. So begins a new chapter where she starts selling him her very own dreams.
Realizador Director: Lola Peploe
Elenco Cast: Emily Warren, Francis Van Litsenborgh, Valérie Lalonde, Heloise Wagner, Louise Dequiricquo, Nina Chausse, Paul Shottner Argumento Screenplay: Michael Capon Fotografia DOP: Diego Dussuel Produtora Production: Lola Peploe, Wild Side, Oil Film | UK, USA, 2015, 21’
WWW. L E FFE S T. C OM
Rodrigo Areias licenciou-se em Som e Imagem na Universidade Católica do Porto, especializando-se mais tarde na Tisch School of Arts de Nova Iorque. Tem desenvolvido, ao longo da sua carreira, trabalhos criativos na área do cinema de autor, em ficção e documentário, alternando com outros trabalhos em domínios de vídeo-arte e vídeo clips para alguns dos mais conhecidos nomes da cena rock Portuguesa (The Legendary Tigerman, Wray Gunn, Mão Morta). Como produtor, fez mais de 70 curtas-metragens, longas, vídeos e documentários, com autores como Edgar Pêra, João Canijo e F. J. Ossang. Como realizador, entre vários filmes destaca-se a longa-metragem Tebas, e a curta-metragem Corrente, com os quais esteve representado em mais de cinquenta festivais internacionais e foi galardoado com uma dezena de prémios. A sua segunda longa-metragem de 2012, Estrada Palha, foi premiada com uma Menção Especial no Festival de Karlovy Vary. Foi um dos responsáveis pelo programa de cinema do Guimarães 2012 – Capital Europeia da Cultura. Rodrigo Areias graduated in Sound and Image from the Portuguese Catholic University. He also did a Film course at NYU’s Tisch School of Arts. Throughout his career, Rodrigo Areias has developed creative works in the area of author cinema. He has also worked in the realm of video-art and has directed videoclips for some of the most renowned names of the portuguese
D E SC OBE RTA S
ORNAMENTO & CRIME (2015)
rock scene (The Legendary Tigerman, Wraygunn, Mão Morta, etc.) As a producer he did over 70 short-films and feature films, videos and documentaries, with authors such as Edgar Pêra, João Canijo and F.J. Ossang. As a director, among many films, the feature film Thebes and the short film Corrente stand out, having been selected for over 50 festivals and prized in 10. His second feature film Hay Road won a Special Mention at the Karlovy Vary International Film. He was responsible for the film production programme of Guimarães 2012 – European Capital of Culture.
ORNAMENTO & CRIME Ornament & Crime (nova montagem) Ornamento & Crime é um filme policial sobre extorsão, arquitectura e corrupção. Baseado numa estética Noir, conta a história de um detective privado série B que, enquanto tenta encontrar uma forma de sair da cidade, vai continuando os seus esquemas de extorsão com ajuda da sua companheira. .
• Dia 11 às 19h30 Medeia Monumental, Sala 1 (conversa com Rodrigo Areias, Legendary Tigerman e Rita Red Shoes)
Ornament & Crime is a thriller about extortion, architecture and corruption. Based on Noir aesthetics, it tells the story of a second-hand private detective that, while trying to find a way out of the city, continues his extortion schemes with the help of his partner.
Realizador Director: Rodrigo Areias
Elenco Cast: Vítor Correia, Tânia Dinis, Djin Sganzerla, António Durães, Angelo Torres, Angela Marques, Valdemar Santos, Alheli Guerrero, Edgar Pêra Argumento Screenplay: Pedro Bastos, Rodrigo Areias Fotografia DOP: Jorge Quintela Produtora Production: Bando à Parte | PT, BR, 2015, 90’
59
PADRE (2016) Giada Colagrande (Pescara, Itália, 1975), iniciou o seu percurso artístico através da vídeoarte e da realização de documentários sobre arte contemporânea. Em 2001, escreveu, realizou e foi protagonista da sua primeira longa-metragem, Aprimi il Cuore, estreada no Festival de Veneza e em competição no Tribeca Film Festival. Realizou ainda Before It Had a Name, co-escrito e co-interpretado por Willem Dafoe, A Woman (2010), Bob Wilson’s Life & Death of Marina Abramovic (2012), e The Abramovic Method (2013), que retomou a colaboração com a artista Marina Abramovic. Padre, a sua mais recente longa-metragem, foi também escrita, realizada e interpretada por si. Giada Colagrande (Pescara, Italy, 1975), began her career creating video art and directing documentaries on contemporary art. In 2001 she wrote, directed and starred in her first feature film, Aprimi il Cuore, which premiered at the Venice Film Festival and was screened at the Tribeca Film Festival. She also directed Before it Had a Name, co-written and co-starred by Willem Dafoe, A Woman (2010), Bob Wilson’s Life & Death of Marina
Abramovic (2012), and The Abramovic Method (2013), which resumed her collaboration with the artist Marina Abramovic. Padre, her most recent feature film, was also written, directed and interpreted by her.
PADRE Father Padre conta a história de um grande compositor que, depois de morrer, comunica com a filha por intermédio da música. Dafoe encarna um grande amigo da família, que ajuda a herdeira, interpretada pela própria Giada, a iniciar-se nos mistérios da comunicação com o mundo dos mortos. O papel principal é interpretado por Franco Battiato, considerado pela realizadora como “o maior compositor italiano contemporâneo”. • Dia 5 às 19h00 Medeia Monumental, Sala 1 (conversa com Giada Colagrande)
Padre tells the story of a great composer who, after his death, communicates with his daughter through his music. Dafoe plays an old family friend who initiates the heiress, interpreted by Giada herself, in the mysteries of communicating with the bereaved. The main role is played by Franco Battiato, whom the director considers “the greatest contemporary italian composer.”
Realizador Director: Giada Colagrande
Elenco Cast: Marina Abramovic, Franco Battiato, Giada Colagrande, Willem Dafoe Argumento Screenplay: Giada Colagrande, Claudio Colombo Fotografia DOP: Tommaso Borgstrom Produtora Production: Bidou Pictures US, IT, 2016, 90’
60
WWW. L E FFE S T. C OM
PORTO (2016)
Gabe Klinger (1982) is a Brazilian critic, teacher, archivist, curator, and filmmaker. His articles have appeared in several publications. He has taught film studies at the University of Illinois and Columbia College in Chicago and has worked at the George Eastman House, the MoMA in New York, and the Mary and Leigh Block Museum of Art at Northwestern University. His feature documentary, Double Play: James Benning and Richard Linklater (2013), won the
D E SC OBE RTA S
Gabe Klinger (1982) é um crítico, professor, activista, curador e realizador brasileiro. Colaborou em diversas publicações, foi professor na Universidade de Illinois e no Columbia College de Chicago, e trabalhou na George Eastman House, no MoMA em Nova Iorque, e no Museu de Arte Mary e Leigh Block na Northwest University. O seu primeiro documentário Double Play: James Benning and Richard Linklater (2013), recebeu o Prémio de Melhor Documentário sobre Cinema no Festival de Veneza. O seu último filme, Porto, estreou recentemente no Festival de San Sebastián.
Lion for Best Documentary on Cinema at the Venice Festival. His most recent film Porto, has premiered at the San Sebastián Film Festival.
PORTO Jake, um americano solitário afastado da família, e Mati, uma estudante francesa de viagem com o seu professor e amante, conhecem-se uma noite na cidade do Porto e criam uma ligação breve mas marcante. Os momentos compartilhados entre si estão envolvidos por uma aura de mistério. Através das suas memórias, Jake e Mati revivem as profundezas de uma noite que o tempo não alterou.
• Dia 12 às 14h30 Espaço Nimas (apresentação por Gabe Klinger e Lucie Lucas)
Jake, an American loner exiled from his family, and Mati, a French student abroad with her professor and lover, meet in the northern Portuguese city of Porto and experience a brief but profound connection. A mystery remains about the moments they shared, and in searching through their memories, they relive the depths of a night uninhibited by the consequences of time.
Realizador Director: Gabe Klinger
Elenco Cast: Lucie Lucas, Anton Yelchin, Paulo Calatré, Françoise Lebrun Argumento Screenplay: Gabe Klinger, Larry Gross Fotografia DOP: Wyatt Garfield Produtora Production: Double Play Films (II), Bando à Parte, Gladys Glover, Madants | US, FR, PT, PL, 2016, 75’
61
JEAN-LUC GODARD Homenagem Tribute Jean-Luc Godard é indiscutivelmente o cineasta vivo cujo pensamento e obra fílmica mais influências exerceram (e mais análise teórica e crítica suscitaram, sendo que o seu efeito incalculável se prolonga) sobre o cinema moderno e outros domínios artísticos. Com um percurso feito em vários andamentos – dos princípios defendidos nos tempos de crítico nos Cahiers du Cinéma, passados ao acto na estética da Nouvelle Vague, de que foi figura de proa (com o seminal À Bout de Souffle a abrir um conjunto de títulos igualmente marcantes, como Viver a sua Vida, O Desprezo, Pedro, o Louco, Made in U.S.A. ou o cáustico WeekEnd, onde se declara o fim do próprio cinema), aos experimentais filmes-ensaio recentes (Filme Socialismo e Adeus à Linguagem), passando pelo período mais radical (o do Grupo Dziga Vertov), estética e politicamente – Godard ergueu um corpo de trabalho imenso e desafiador. A sua obra, profundamente reflexiva, plena de citações, referências ou alusões de várias origens (cinematográficas, literárias, musicais, filosóficas, científicas, de teoria política), capaz de fundir ‘alta’ e ‘baixa’ cultura, trabalhando de forma inovadora as imagens de arquivo, o vídeo (toda a produção da SonImage, a companhia que fundou com Anne-Marie Miéville em 1972 é um pequeno mundo a descobrir) e o 3D, interpela a História (e a história do cinema, com um clímax no monumental História(s) do Cinema), os traumas do nosso tempo e a linguagem (e os seus limites) com que (não) comunicamos, sempre com uma assinatura absolutamente inconfundível. É a este autor incontornável que o Lisbon & Estoril Film Festival presta homenagem na décima edição, com a retrospectiva integral da sua obra e um Simpósio Internacional, Godard vu par...
Jean-Luc Godard is undeniably the contemporary filmmaker whose thought and film work were the most influential on modern cinema and other artistic domains, still today arousing extensive and valuable theoretical and critical analysis. His work spans several movements – from the principles defended during his times as a critic for Cahiers du Cinéma and put into action in the New Wave aesthetics, of which he was 62
a leading figure (with his seminal Breathless preceding a series of equally remarkable titles such as My Life to Live, Contempt, Pierrot le Fou, Made in U.S.A. or the caustic Week End, where the end of cinema itself is declared), to the more recent, experimental film-essays (Film Socialisme and Goodbye to Language), not to mention his most radical period (of the Dziga Vertov Group). Both aesthetically and politically, Godard created an immense and challenging body of work. His work is profoundly reflexive, full of citations, references and allusions of several origins (cinematographic, literary, musical, philosophical, scientific, political theory), capable of merging “high” and “low” culture, working in an innovative way with archive footage, video (the whole Sonimage production, a company he established with Anne-Marie Miéville in 1972, is a small world to be discovered) and 3D. Always with an absolutely unmistakable signature, Godard’s work challenges History (and the history of cinema, with a small climax in the monumental Histoire(s) du Cinéma), the traumas of our time and the language (and its limits) with which we (do not) communicate. It is to this indispensable author that Lisbon & Estoril Film Festival pays homage to in its 10th edition, presenting a complete retrospective of his films and an International Symposium, Godard vu par...
WWW. L E FFE S T. C OM
Apesar de carecer singularmente de espírito proselitista ou da menor vocação de leader, creio que Jean-Luc Godard - e nada faz supor que, enquanto esteja mais ou menos no activo, a situação venha a mudar - há já 57 anos, dos 86 que em breve fará, que se tornou - inclusivamente para os seus muito numerosos inimigos e desdenhadores, que não conseguem ser tão indiferentes como pretendem - numa referência permanente para o cinema; e, para cúmulo, não como um paradigma ou modelo de classicismo, mas como um desafio de modernidade, de inovação, de constante ousadia. Godard ensinou tanto a cineastas como a espectadores, críticos e historiadores que do cinema não existe (nem pode nem deve haver) uma definição fechada e definitiva, antes pode ele ser aquilo que os cineastas sintam que necessitam de fazer e se atrevam, se não a consegui-lo, pelo menos a tentá-lo. Nesse sentido, Godard foi um libertador do cinema e um cineasta exemplar, sem que isso converta os seus seguidores – tão frequentemente pretensiosos copistas, calculistas exploradores dos seus achados, caricaturescos imitadores dos seus traços distintivos – em realizadores apreciáveis, pois ninguém é responsável pelos seus eventuais discípulos ou emuladores. De facto, Godard não só ampliou o conceito do que é ou pode ser o cinema, não se limitando a abrir caminhos novos para o futuro, como fomentou uma revisão da História do Cinema – e ainda mais através de toda a sua vastíssima filmografia que por meio das magníficas Histoires du Cinéma e seus apêndices – em função do que ele mesmo denominou a continuidade na ruptura, segundo a qual algumas “anomalias” deixavam de o ser - desde Mauritz Stiller, Dziga Vertov, Josef von Sternberg, Boris Barnet ou Aleksandr Dovzhenko a Sacha Guitry, Jean Cocteau, Robert Bresson, Nicholas Ray, Samuel Fuller, Jean Rouch, Jerry Lewis ou Sergei Parajanov - e ele próprio audaciosamente se pautava pela mudança permanente mas coerente de cineastas como Jean Renoir, Carl Th. Dreyer e Roberto Rossellini. Importa por isso menos, em última instância, que uns e outros gostem mais ou menos de todos, alguns, só um (haverá ainda alguém que não
fique encantado ou fascinado por O Acossado?) ou nenhum dos seus filmes, que admiremos ou detestemos (não eu, outros) Godard. Eilo, depois de tantos anos, farol inevitável e inelutável, movendo-se à sua maneira, sempre com liberdade, imprevisível e inesperado, insólito, cómico e trágico, desesperado e esperançoso, muitas vezes emocionante como poucos (até quando se propôs distanciar-nos), criando imagens e sons nunca vistos nem ouvidos, e frequentemente desenvolvidos a partir da involuntárias lições dos cineastas do passado, os seus precursores inconscientes, desde D. W. Griffith, Louis Feuillade, F. W. Murnau e Fritz Lang até Mizoguchi, Alfred Hitchcock, Ingmar Bergman, Howard Hawks e John Ford. Despite singularly lacking any kind of proselytizing spirit or leadership aspirations, I believe that 57 years ago Jean-Luc Godard – and while he remains more or less active a change seems unlikely – who will soon be celebrating his 86th birthday, became – even for his numerous enemies and detractors, who are incapable of being as indifferent to him as they would like – a permanent cinematic reference and, moreover, not as a paradigm or model of classicism, but as a breath of modernity imbued with innovation and constant boldness. Godard taught from moviemakers to spectators, critics and historians that there is no such thing (nor could there or should there be) as a closed and definitive definition of cinema, it is instead what moviemakers feel they need to create and what they dare, if not to accomplish, at least attempt. In this sense, Godard was a liberator of cinema and an exemplary moviemaker, which does not necessarily make his followers – so often pretentious copyists, scheming exploiters of his accomplishments, caricatural apers of his distinctive style – enjoyable directors, for no one is responsible for the disciples or emulators that may eventually follow. Godard has, in fact, not only expanded the concept of what cinema can or cannot be, but, while opening new pathways for the future of the art, also fomented a revision of Cinematic History – even more through his extensive filmography than through his magnificent Histoires du Cinéma and their appendages – according to what he called “the continuity of rupture”, which posited that some “anomalies” have simply ceased to be as 63
H OM E N A GE M - JE A N - L UC GOD A R D
Um guia involuntário
such – from Mauritz Stiller, Dziga Vertov, Josef von Sternberg, Boris Barnet or Aleksandr Dovzhenko to Sacha Guitry, Jean Cocteau, Robert Bresson, Nicholas Ray, Samuel Fuller, Jean Rouch, Jerry Lewis or Sergei Parajanov – while boldly guiding himself by the permanent but coherent change brought along by directors such as Jean Renoir, Carl Th. Dreyer and Roberto Rossellini. It is then of little relevance, in the scheme of things, that some enjoy more or less all of his films and others only one or none (is it possible not to be enchanted or fascinated by Breathless?); that we should admire or detest (not me – others) Godard. Here he is, after so many years, an inevitable and undeniable light, moving in its own way, always freely, unpredictable and unexpectedly: odd, comic and tragic, desperate and hopeful, often exciting as few are (even when attempting to shun us), creating images and sounds never before heard or listened to, frequently developed from the involuntary lessons of past directors, his unconscious precursors, from D. W Griffith, Louis Feuillade, F.W. Murnau and Fritz Lang to Mizoguchi, Alfred Hitchcock, Ingmar Bergman, Howard Hawks and John Ford. Miguel Marías Madrid, Outubro 2016
[Citações (falsas ou não)] Pensando bem, creio que a minha inclusão de citações (falsas ou não) no meio dos meus textos deve muito ao fascínio que provocaram na minha juventude os filmes de Jean-Luc Godard, com toda essa parafernália de citações inseridas no meio das suas histórias, essas citações que detinham a acção como se fosses aqueles cartazes que inseriam os diálogos nos filmes mudos… Formeime literariamente vendo cinema de vanguarda dos anos ‘60. E aquilo que vi naqueles filmes pareceu-me tão assombrosamente natural que, para mim, o cinema sempre foi aquilo que vi nessa época de inovações estilísticas sem fim. Formei-me na era de Godard. Isso é algo para que se deveria advertir na cinta dos meus livros a quem os comprasse. Assim como Godard dizia que queria fazer filmes de ficção que fossem como documentários e documentários que fossem como filmes de ficção, eu escrevi – ou pretendi escrever – narrações autobiográficas que são como ensaios 64
e ensaios que são como narrações. E tanto numas como noutras inseri as minhas citações. Dizia Susan Sontag no prefácio do admirável – hoje praticamente perdido – Vudú Urbano, de Edgardo Cozarinsky, um pioneiro e grande especialista em incluir citações nas suas histórias: “A sua prodigalidade de citações sob forma de epígrafes faz-me pensar nos filmes de Godard, que estavam semeados de citações. No sentido em que Godard, realizador cinéfilo, fazia os seus filmes a partir de e sobre o seu amor pelo cinema, Cozarinsky fez um livro a partir de e sobre o seu amor por certos livros.” Formei-me na era de Godard. Aquilo que vi este e outros cineastas dos anos ‘60 fazer assimilei-o com tanta naturalidade que mais tarde, quando alguém me criticava, por exemplo, a incorporação de citações nos meus romances, ficava assustado com a ignorância daquele que criticava aquilo que, no fundo, era tão normal para mim. Afinal de contas, fazer uma citação -como bem sabia Sterne e eu sabia já então- é como lançar um sinal de aviso e exigir cúmplices. Surpreendia-me sempre encontrar pessoas rudes que viam com maus olhos aquilo que sempre tive na melhor conta: essas linhas alheias que alguém inclui com um, ou outro, ou nenhum propósito, no texto próprio. In hindsight, I believe that the inclusion of quotations (apocryphal or otherwise) in the body of my works owes much to the fascination I had as a youth with the films of Jean Luc Godard, with that array of quotations inserted in the middle of his stories, the quotations that arrested the action like the intertitles of silent films…I came of age, literarily speaking, watching 1960’s avant-garde cinema. What I saw in those films seemed so hauntingly natural that to me cinema has always been what I saw in that age of endless innovation. I came of age in the age of Godard. This is something that should be advertised on the spine of each of my books to any prospective buyers. Just like Godard said that he wanted to make fiction films as if they were documentaries and documentaries as if they were fiction films, I wrote – or intended to write – autobiographical stories that resemble essays and essays that resemble stories. And I included, in each of those genres, my quotations. Susan Sontag said, in the foreword of the admirable – and today practically lost – book Urban WWW. L E FFE S T. C OM
I came of age in the age of Godard. What I saw him and other filmmakers do in the 1960’s I assimilated so naturally that afterwards, when anyone reproached me for the use of quotations in my novels, I would be taken aback by the ignorance of the one who criticized what I felt was so natural to me. After all, including a quotation – as Sterne knew and I already knew then – is like firing off a flare and asking for accomplices. I was surprised to find louts who saw what I had always held in the highest regard with contempt: the alien lines that I included with some purpose or another, or perhaps even none, in the text itself. Enrique Vila-Matas
Pelo contrário É estimulante ver como [Godard] submete a sua obra a uma constante revisão crítica e a numerosos princípios de incerteza e como contesta qualquer ideia estabelecida. Uma vez, espiei-o num café de Paris e vi que, enquanto os seus amigos tomavam algo como certo, ele intervinha para pôr tudo outra vez de pernas para o ar. Pelo contrário. Esta era a sua forma preferida de interrompê-los, de combater qualquer ideia de terra firme. Sei que Godard, levado precisamente por essa tendência de refutar a última coisa que ouviu (embora acabe ele próprio por dizê-lo), acaba sempre por questionar os seus próprios filmes, também o seu último êxito ou erro… Um homem realmente infatigável, sempre em combate. Graças ao seu afã de diálogo, a sua produção tão discutida - antes de mais, discutida a fundo por ele mesmo- converteuse, com a ajuda da sua peculiar adenda, numa síntese em miniatura da grande confluência de dúvidas que é a história geral da criação artística.
Ele encarna essa agonizante síntese, e eu desde logo prefiro as suas descidas ao abismo do que a tendência de algumas glórias pátrias de subir, quais doñas Perfectas, ao primeiro pedestal sólido que encontram. “Pensar, criar, é um acto de resistência” (Godard). [...] “É o fim, quase não se pode criar.” (Godard). – Você parece muito desapegado do mundo – disseram-lhe no outro dia. – Pelo contrário! Pelo contrário! Sinto-me muito apegado à vida. Em relação a isto, no outro dia Anne-Marie disse-me que se eu morresse primeiro iria escrever no meu túmulo: “Pelo contrário…”. It is stimulating to see how [Godard] submits his oeuvre to constant critical revision and numerous principles of uncertainty and how he challenges established notions. Once I spotted him at a café in Paris and saw that whenever his friends took something for granted, he would intervene in order to shatter their convictions On the contrary. This was his favourite way of interrupting them, of fighting anything close to being established. I know that Godard, carried away by this tendency to refute that which he has just heard (although he ends up admitting this himself) always ends up questioning his own films, his latest success or failure… A man who is truly indefatigable, always in mid-combat. Thanks to his hunger for dialogue, his much discussed production – which he has discussed in depth more than anyone else – has become, with the help of his peculiar addenda, a miniature synthesis of the large confluence of doubts which is the general history of artistic creation. He embodies this agonizing synthesis, and I prefer his descents to the abysm to the tendency of some glory hounds to climb like prima donnas onto the first solid pedestal they can find. “To think, to create, is an act of resistance” (Godard) 65
H OM E N A GE M - JE A N - L UC GOD A R D
Voodoo by Edgardo Cozarinksy, a pioneer in the inclusion of quotations in his stories: “The prodigality of quotations in the shape of epigraphs reminds me of Godard’s films, which were littered with quotations. In the sense that Godard, a cinephile director, made his films on and about his love of cinema, Cozarinsky wrote his book on and about his love of certain books”.
“It is only the end that one cannot create.” (Godard) – You seem very detached from the world – he was told the other day. – On the contrary! On the contrary! I am very attached to life. On this subject, the other day Anne-Marie told me that if I died first she would arrange for my epitaph to be “On the contrary…”. Enrique Vila-Matas [Cortesia do autor]
Um filme falado O Maoísta é um filme falado; as acções – que são quase só contadas – são mero objecto de diálogo; o filme em si é um filme de não-acção, ou então, um filme de acção da palavra. Alguns jovens de ambos os sexos, reunidos em cómodos apartamentos, falam perante a câmara, já não apenas de si próprios, como em Masculino Feminino, mas sim das condições sociais e transformações que gostariam que ocorressem. Em plano de fundo, vê-se quase sempre uma prateleira onde se encontram, no início, alguns Livros Vermelhos de Mao, e cujo número aumenta ao longo do filme até que, no final, toda a prateleira se encontra repleta de Livros Vermelhos de Mao, perfeitamente condizentes com as cores do mobiliário circundante. As conversas dos jovens, embora nascidas de jogos de perguntas e respostas, de entrevistas, da atitude “sabe-tudo”, do diálogo entre professor e aluno, são, de certo modo, algo de sério, solene e oficial: os jovens falam publicamente e existem enquanto porta-vozes de Mao Tsé-Tung. Até quase ao fim do filme, a sua vida privada não é revelada, e manifesta-se apenas nos gestos que acompanham as conversas, em breves sequências nas quais também a inflexão da voz se altera. Um dos rapazes, expulso da pequena célula ou Comuna por ter sido acusado pelos outros de ser um revisionista e um mistificador do verdadeiro marxismo-leninismo, fala, enquanto revisionista, com súbita hesitação e já não com um tom declarativo, mas sim de maneira “ponderada”, balbuciando, enquanto o acto de despedaçar o pão – duro como pedra, pelo aspecto – que ele come enquanto toma café, se torna de repente na representação cómica da sua ligeira perda de consciência. Os jovens falam 66
através de citações, decerto não por acaso ou por excesso de ironia, mas com consciência e seriedade. Assim, através da dialética das cores e dos movimentos, sobretudo no plano de fundo, o filme torna-se na citação das citações, ou melhor, na citação jocosa das citações sérias: o realizador do filme, contrariamente às suas personagens, ignora – de forma individualista e revisionista – tudo aquilo que é sério, que é abordado ou que não o é de todo. Perto do final deste filme falado, eis outra sequência grandiosa, uma das mais belas cenas de Godard, em que assistimos ao bater desenfreado a diversas portas, por diversas pessoas, com uma montagem veloz, um belo ritmo e uma interpretação intensa. The Maoist is a spoken film; the action – which almost exclusively consists of secondhand accounts – is merely the object of dialogue; the film itself is a non-action film, or rather, a film where the action lies in the words. Some youngsters of both genders, gathering in comfortable apartments, talk not only of themselves, but like in Masculin Féminin, of the social conditions and transformations they hoped would occur. In the background one can always see a shelf where, in the beginning, there are some copies of Mao’s Little Red Book, the number of which increases throughout the film, to the point where the whole shelf is covered in Mao’s Little Red Books, perfectly matching the surrounding furniture’s colour scheme. The conversations between them, though conveyed through rounds of questions and answers, interviews and the “know-it-all” attitude of the dialogue between professor and student, are, in a way, something solemn and serious: the youngsters speak publicly and exist as Mao Tse Tung’s spokesmen. Until near the film’s end, their private life is not revealed, and manifests itself merely in the gestures that accompany their conversations in brief sequences where even their voices’ inflection changes. One of the boys, kicked out of the small cell or commune for being accused by the others of being a revisionist and a betrayer of true Marxist-Leninism, speaks, as a revisionist, with sudden hesitation and without a declarative tone, but in a “thoughtful” way, mumbling, while the act of breaking the bread – rock-hard, by the look of it – which he eats while having some coffee, suddenly becomes the comic representation of his loss of consciousness. The youngsters speak through quotes, certainly not arbitrarily or due to excess irony, but with WWW. L E FFE S T. C OM
Peter Handke, Ein Sprechfilm, in Film 1967, 1968 Translated from the Italian version
Ficção científica à medida de Charles de Gaulle Alphaville [tem] uma profunda base autobiográfica. Lemmy é Prometeu, que traz a luz à humanidade, mas é também Orfeu, que salva Eurídice do reino das trevas. Orfeu é o próprio Godard, que tenta recuperar Karina. É preciso recordar que Capitale de la douleur é sobre os tormentos do ciúme e do amor perdido. O amor de Godard por Karina, evidente em todos os filmes do cineasta em que aparece a actriz, em nenhum é mais palpável do que em Alphaville, pelo modo como a câmara a olha. O Godard dos anos sessenta é um anarquista romântico, inimigo da nova ordem económica e do seu evangelho tecnocrático. Em resposta a uma pergunta sobre a possível proximidade entre Alphaville e o género de ficção científica, o realizador afirma: “Nós já estamos a viver no futuro.” Vivíamos no futuro já em 1965, e Godard detestava-o. Lemmy Caution, disfarçado de jornalista, trabalha para o jornal “Figaro-Pravda”. Para Godard, em 1965, as duas faces da Guerra Fria eram indistinguíveis. Leonard van Braun, visivelmente inspirado no cientista da Guerra Fria Werner von Braun, despreza Lemmy. “Homens como tu, cedo deixarão de existir”, declara. “Em breve te tornarás algo pior do que a morte, tornarte-ás uma lenda.” Como é verdade! Alphaville [has] a profound autobiographical origin. Lemmy is Prometheus, who gave mankind the gift of fire, but he is also Orpheus, who saves
Eurydice from the underworld. Orpheus is Godard himself, who attempts to win back Karina. Let us not forget that Capitale de la douleur is about the torments of jealousy and lost love. Godard’s love for Karina, manifest in each of his films that feature her, is nowhere as palpable as it is in Alphaville just by the way the camera watches her. 1960’s Godard is a romantic anarchist, an enemy of the new economic order and its technocratic gospel. In answer to a question about the possible proximity between Alphaville and the science fiction genre, the director comments: “We are already living in the future.” We were already living in the future in 1965, and Godard hated it. Lemmy Caution, disguised as a journalist, works for the “FigaroPravda” newspaper. For Godard, in 1965, the two faces of the Cold War were indistinguishable. Leonard van Braun, visibly inspired by the Cold War scientist Werner von Braun, despises Lemmy. “Men like you will soon cease to exist”, he declares. “Soon you will become something worse than death, you will become a legend.” How true! J. M. Coetzee Translated from the Italian version
As Imagens Romanceadas (excerto) Há no Petit soldat uma cena à volta da qual Godard não parou de variar: a inevitável cena em que Michel Subor tira retratos a Anna Karina. Que é a fotografia? “Um objecto que fala da perda, da destruição, do desaparecimento dos objectos. Que não fala de si. Fala dos outros. Será que o os inclui?” pergunta Jasper Johns. Mas no Vivre sa vie já se diz mais ou menos: “O cinema? É como a fotografia?” Não. É cinema.” Ou seja, há o movimento. Há quem identifique movimento a ficção. O cinema será fotografias com histórias? Eu diria que o ontológico realismo que Godard persegue tem a ver com isto: é possível filmar o movimento desligando-se da narrativa? Criar uma narrativa tão provisória que a irrefutável presença do movimento (não das coisas, como em Ponge: mas do seu movimento) prescinda da ficção? Ou melhor, que a ficção presente seja incapaz de dar conta da imprevisível errância das coisas e das pessoas? Da imprescindível liberdade do ser? 67
H OM E N A GE M - JE A N - L UC GOD A R D
conscience and seriousness. This way, through the dialectic of colour and movement, especially in the background shots, the film becomes a quotation of quotations, or rather, the jocular quotation of serious quotations: the film’s director, contrarily to his characters, ignores – in an individualistic and revisionist way – all that which is serious, whether or not it is approached in the film. Towards the end of this spoken film: another grandiose sequence, one of Godard’s finest, in which we watch the frantic knocking on doors of several people, with fast-paced editing, wonderful rhythm and an intense performance.
Nesse sentido, Godard opõe-se à ideia de ser ele próprio um criador. Não se substitui ao oculto sentido do mundo, não tem como antagonista Deus. Na sua modéstia ou na sua ambição ele apenas invoca o sentido do Mundo, e se na Paixão Isabelle entoa o Agnus Dei é porque o seu movimento (ou o movimento da sua personagem) se cumpre finalmente: e só pode existir não na revelação de um sentido mas na evocação do mistério – e aqui o do próprio cordeiro de Deus. Nesse mesmo sentido, o que Godard filma é a pele. E que é Bardot no Mépris? Pele ou mistério? Por isso ele não quer que os actores sejam máquinas produtoras de sentidos, nada mais oposto à arte de representar em Godard do que esse stakhanovismo da significação que é o Actor’s Studio. O actor é fotografado. Filmado, ou seja, fotografado no seu movimento. In Le Petit Soldat there is a scene around which Godard produced a myriad of variations: the inevitable scene where Michel Subor takes pictures of Anna Karina. What is a photograph? “An object that speaks of loss, of destruction, of the disappearance of objects. That does not speak of itself. It speaks of others. Does it include them?” asks Jasper Johns. But in Vivre sa vie one is more or less told: “Cinema? Is it like photography? No. It is cinema.” Or rather, there is movement. Some identify movement with fiction. I would say that the ontological realism which Godard strives for has to do with this: is it possible to film movement while disconnecting it from a narrative? To create a narrative so provisional that the irrefutable presence of movement (not of things, such as in Ponge: but their movement) completely dispenses with a narrative? Or rather, that the fiction which is present is unable to account for the unpredictable meandering of things and people? The indispensable freedom of the self? In this sense, Godard is opposed to the idea of being a creator. He is not a substitute for any hidden purpose the world may have, he is not God’s antagonist. In his humbleness or ambition he merely invokes the sense of the World, and if in Passion Isabelle chants Agnus Dei, it is because her movement (or the movement of her character) is finally completed: and it can only exist not in 68
the revelation of a purpose but in the evocation of mystery – of the lamb of God itself. In this sense, what Godard films is the skin. And what is Bardot in Le Mépris? Skin or mystery? It is for this reason that he does not want actors to be machines that produce meaning, there is nothing more opposed to the art of acting in Godard than that Stakhanovism of signification that is the Actor’s Studio. The actor is photographed. Filmed, or rather, his movement is photographed. Jorge Silva Melo, “As Imagens Romanceadas” (excerto), in Século Passado, Cotovia, 2007
Aimez-vous Godard? Godard tem uma dimensão profética. Ele quase que poderia fazer crer que o cinema é uma oferenda de instinto. Há um pressentimento não apenas da velocidade cinematográfica por si só, mas da velocidade do espectador a apreender o cinema de amanhã. Em Sauve qui peut (la vie) temos por vezes a sensação dessa rapidez futura, consequentemente da nossa rapidez futura a conseguirmos apanhá-la. Não temos o tempo de ver chegar a imagem que ela já está sobre nós, desnorteante, penetrante e convincente. Digo rapidez e poderia dizer inteligência. […] Num filme de Godard estão todos os outros, estão todos os filmes de Godard também. Godard has a prophetic dimension to him. He could almost make us believe that cinema is an offering of instinct. There is a feeling not only of the cinematographic speed itself, but of the speed at which the spectator apprehends the cinema of tomorrow. In Sauve qui peut (la vie) we are sometimes aware of future speed, and consequently our future speed catching up to it. We do not have the time to see the image that is already before us arrive, unsettling, penetrating and convincing. I say speed and I could say intelligence. […] In a film by Godard one can find every film, every of Godard’s films too. Marguerite Duras, Cinématographe, nº 95, 1983
WWW. L E FFE S T. C OM
Estive completamente apaixonado pela Nouvelle Vague. Tinha passado o verão de 1959 em Paris, depois dos meus exames, e tinha visto o À bout de souffle. Quando dois ou três anos mais tarde fiz o meu primeiro filme, sentia-me como se pertencesse muito mais ao cinema francês, que adorava, do que ao cinema italiano, que já não era o dos tempos heróicos de Rossellini, Visconti, De Sica. […] Aqueles que não conheceram o cinema dos anos 60 não sabem o que é a doçura da vida. Tudo tinha começado pelo cinema de pré-Guerra, e seguiu-se com o sucesso muito popular dos primeiros filmes de Truffaut, do Jean-Luc, etc. Nós éramos um pouco mais novos, mas em Cannes ou em Pesaro ou noutros festivais menos importantes, encontrávamo-nos e sentíamos que pertencíamos não só à geração, mas a uma espécie de grupo virtual ou ideal, onde havia canadianos, italianos, franceses claro, americanos muito jovens, brasileiros como o Glauber Rocha, o Gustavo Dahl ou o Paulo César Saraceni... Era um lugar de paixão, de graça, e o que nos reunia era mesmo a sensação que o cinema era o centro do mundo. O que quer dizer que se eu fazia um filme, este iria ser mais influenciado pelo cinema do que pela vida; ou melhor, ia ser influenciado pela vida, mas através do cinema. Eu dizia na altura que me podia deixar assassinar, ou que podia assassinar, por um plano de Godard. E Godard, que fazia dois ou três filmes por ano, era aquele que melhor nos representava com a sua severidade um bocado calvinista e com essa capacidade que tinha para fazer caber o mundo e o que se passava naquele instante na palma da sua mão. […] Os filmes feitos pelo Jean-Luc nessa altura são capítulos de um só filme. Encaixam-se todos uns nos outros. Vivre Sa Vie, Masculin Féminin, Bande à Part... Recordo-me que durante a rodagem de Prima Della Rivoluzione, Le Mépris tinha estreado em Milão e não em Parma, onde eu estava a filmar. Uma noite, pus-me num carro para ir a Milão vê-lo e ficar esmagado pela beleza de Le Mépris. O que ele nos fez nessa época, a mim e aos amigos da minha geração como o Glauber, Gianni Emico e o Jim McBride e muitos outros, marcou-nos verdadeiramente. Ao ponto de nos tornar quase sectários.
I was completely in love with the Nouvelle Vague. The summer of 1959 had gone by, in Paris, after my exams, and I had just seen Breathless. When two or three years later I directed my first film, I felt as if I belonged to French cinema, which I loved, more than Italian cinema, the glorious times of which, with Rossellini, Visconti, De Sica, had long since faded. […] Those who do not know the cinema of the 1960’s ignore the sweetness of life. Everything had begun with pre-War film, and followed with the popular success of the first films by Truffaut, Jean-Luc, etc. We were a few years younger, but in Cannes or Pesor or other less important festivals, we would meet and feel that we not only belonged to a generation, but also to a virtual or ideal group, where there were Canadians, Italians, Frenchmen of course, young Americans, Brazilians such as Glauber Rocha, Gustavo Dahl or Paulo César Saraceni… Those were places of passion, of grace, and what brought us together was the feeling that cinema was at the center of the world. Which meant that if I made a film, it would be more influenced by cinema itself than by life; or rather, it would be influenced by life, but through cinema. I used to say in those days that I could murder or allow myself to be murdered for one of Godard’s shots. And Godard, who made two or three films per year, was the one who best represented us, with his slightly Calvinistic severity and that capacity of his to make the world in general and whatever was going on in that instant fit in the palm of his hand. […] The films made by Jean-Luc in those days are the chapters of one larger film. They fit into each other. Vivre Sa Vie, Masculin Féminin, Bande à Part…I remember that during the shooting of Prima Della Rivoluzione, Le Mépris had premiered in Milan and not in Parma, where I was shooting. One night, I got in my car to go to Milan see it and be crushed by the beauty of Le Mépris. What he did in those days, for me and our friends from that generation such as Glauber, Gianni Emico and Jim McBride and many others, truly left a mark. To the point of making us almost sectarian. Bernardo Bertolucci in an interview for the Cahiers du Cinéma, April 2001
69
H OM E N A GE M - JE A N - L UC GOD A R D
Era capaz de me matar por um plano de Godard
Solidão de ser Godard O facto é que perante Godard estamos como perante Picasso. Ele atravessou a sua época, encarregando-se dela por inteiro, está marcado pelas suas contradições e pelos seus fulgores, experimentou tudo, absorveu tudo, foi vários cineastas, teve várias vidas, algumas em simultâneo. Esteve no cinema, esteve fora, incessantemente preocupado em torcê-lo em todos os seus sentidos, com arrancar-lhe uma verdade, um absoluto, e num rasgar constante cujos ecos, por vezes ininteligíveis, nunca deixaram de chegar até nós: será altura de fazer o balanço? […] Como todos os grandes artistas, ele é também um Feiticeiro de Oz, só e nu por trás das suas máquinas infernais. E eternamente a pergunta é feita novamente de saber se é a máquina infernal que diz a verdade ou se serve apenas para a esconder, ou ainda se a arte não se situa nesse intermédio, ou melhor nessa circulação, entre o ser e a máscara. E desse ponto de vista, a vastidão e o desdobramento do dispositivo Godardiano, formal, teórico, político, não serão assombrados pela necessidade de estar à medida do sofrimento infinito do qual é a emanação? Sofrimento íntimo, aquele que está na origem de qualquer arte, e do qual se tem de ser digno quando ao mesmo tempo o pudor e os mecanismos da criação, nos impõem tapá-lo. […] É absolutamente necessário que um filme seja mais que um filme. Efectivamente, no final dos anos 50, como querer reinventar o cinema e ignorar que a pintura, a música e a literatura tenham conhecido, pelas vanguardas do início do século, uma revolução, uma ultrapassagem, da qual a própria identidade da obra não sai ilesa? Dos cineastas da sua geração, Godard é o mais consciente daquilo que está em jogo. O cinema que se está a reinventar saberá, ou não, apropriar-se da liberdade, da anarquia se preferirmos, conquistada pelas outras artes, ou terá a abstracção rebentado com todas as referências? Ou ainda, será uma tábua rasa onde reconstituir uma figuração tão livre como essa, um novo romanesco sobre as ruínas do antigo? Apetece-me dizer que, moldado pelas contradições insolúveis de uma problemática que 70
é a grande questão moderna, Godard é mesmo o único a tê-las enfrentado. […] Distante, inclusive devido à geografia, vigilante e solto, exprimindo-se como a Sibila por metáforas crípticas, sempre noutro sítio e de outra forma, no seu campo de jogo, segundo os seus termos, nunca, contudo, é Godard soberano. Ele apalpa, hesita, e o que quer que queiramos ler no seu discurso, nunca a satisfação e o apaziguamento lá encontram o seu lugar, nunca uma obra é um fim por si só. É apenas um marco, um fragmento, e no que lhe toca, está inteiramente numa luta que não pode cessar, a que opõe aos limites da sua arte, os da sua época; está onde sempre esteve, no corpo a corpo. The fact is that before Godard we are as if before Picasso. He has spanned his time, carrying it on his shoulders, is marked by its contradictions and its successes, has tried everything, absorbed everything, was several different directors and lived several lives, some simultaneously. He was within cinema, he was without, incessantly preoccupied with twisting it in every direction, with getting some kind of truth out of it, some entirety, in a constant tearing, the echoes of which, sometimes unintelligible, never ceased to reach us: is it time to make a balance? […] Like all great artists, he is also a Wizard of Oz, alone and naked behind his infernal machines. And eternally the question arises of knowing if the infernal machine tells the truth or only exists to hide it, or if the art itself exists between those two options, or rather, in that flow between being and the mask. And from that point of view, are the vastness and the unfolding of the Godardian apparatus (formal, theoretical, political) not haunted by the need to measure up to the infinite suffering from which it springs? Intimate suffering, that which is at the inception of all art, and of which one must be worthy, when at the same time decency and the mechanisms of creation impel us to hide it. […] It is absolutely necessary for a film to be more than a film. How could one, in the 1950’s, wish to reinvent cinema and ignore that painting, music and literature have known, through the avant-garde movements of the beginning of the century, a revolution, an WWW. L E FFE S T. C OM
Olivier Assayas, 2006, Présences. Écrits sur le cinéma, Gallimard, Paris, 2009.
PRAVDA O filme de noticiário abstracto de Godard Agora algumas heresias. Pravda é o melhor filme de Godard até à data. Com Pravda Godard abandona finalmente o cinema comercial e converge com o radical. Como já declarei em várias ocasiões anteriormente, temos exigências muito mais altas e estritas no movimento radical. Um filme comercial nunca pode ser discutido nos termos da perfeição que temos nos filmes radicais. Mas Pravda é cinema. Vai além do cinema comercial. Pravda é o filme mais transparente de Godard. Mas é também o seu filme mais misterioso. […] Penso que Godard é um romântico, e pode ser que Pravda seja o seu filme mais romântico. Lida com o romantismo contemporâneo. Para ser um romântico hoje em dia não é preciso ir para a floresta e para as ruínas de velhos moinhos. Pravda é um filme de nostalgia da revolução, da verdade. O filme não mostra verdade nenhuma (Dziga Vertov mostrou realmente a verdade?). No seu lugar cria um padrão de sons e de imagens
e de vozes que nos coloca na disposição para a procura revolucionária e para a luta de classes. A luta de classes do meio do século. E é aí que reside a arte e o sucesso do filme. É inquestionavelmente o primeiro (e talvez o último) filme de noticiário abstracto e universal, para acabar com todos os noticiários. Pravda é o Breathless dos noticiários de Godard. Não é o início, mas o fim do velho. Pergunto-me qual será o novo noticiário de Godard. Now a few heresies. Pravda is Godard’s best film to date. With Pravda Godard finally abandons commercial cinema and joins the underground. A commercial film can never be discussed in terms of the perfection we have in the underground film. But Pravda is cinema. It’s beyond the commercial cinema. Pravda is Godard’s clearest film. But it is also his most mysterious film. [...] I think Godard is a romantic, and Pravda may be his most romantic film. He deals with contemporary romanticism. To be a romantic today you don’t have to go into the woods and ruins of old mills. Pravda is a film of nostalgia for revolution, for truth. The film doesn’t show truth at all (did Dziga Vertov really show the truth?). It rather creates patterns of sounds and images and voices which sets you into the mood of revolutionary search for truth and class struggle. The class struggle of the mid-century. And it’s there that the film’s art and success is. It’s unquestionably the first (and maybe last) abstract and universal newsreel film, to end all newsreels. Pravda is Godard’s Breathless of the newsreel film. It’s not the beginning but the end of the old. I wonder what Godard’s new newsreel will be. Jonas Mekas, Movie Journal. The Rise of a New American Cinema, 1959-1971, Collier Books, New York 1972
O Cinema em Liberdade Warhol / Godard Henri Langlois: Há dois homens, hoje em dia, que representam bem o que eu chamo de liberdade do cinema. Da Nouvelle Vague, bem, sobram os autores. Todos os movimentos acabam nos autores, nos indivíduos. Há qualquer coisa de absolutamente novo, compreende. A Nouvelle Vague foi, portanto, como lhe digo, o regresso da infância, está bem. 71
H OM E N A GE M - JE A N - L UC GOD A R D
overtaking, out of which the identity of the work itself cannot escape unscathed? Of the directors of his generation, Godard is most aware of what is at stake. Is cinema, which is reinventing itself, capable of appropriating the freedom, the anarchy, if you like, conquered by other arts, or has the abstraction destroyed all other references? Or is it a clean slate where one can build something as free as a new Romanesque on the ruins of the old? I feel like saying that, shaped by the insoluble contradictions of an issue which is the great modern question, Godard is truly the only one who faced them. […] Distant, inclusively for geographic reasons, vigilant and loose, expressing himself like Sybil through cryptic metaphors, always in another place and shape, in his playing field, in his own terms, Godard, however, is never a sovereign. He probes, hesitates, and whatever we wish to read into his speech, we will never find either satisfaction or appeasement, nor is a any of his works a film in and of itself. It is only a milestone, a fragment, and it is immersed in a struggle which can never end, the one between the limits of art and the limits of its age; it is where it has always been, in the “hand-to-hand”.
Mas não há só a França, há o mundo inteiro. Na América, teve um movimento paralelo, diferente, que se refugiou no 16mm, no super 8. Mas tem, se quiser, dois homens, na minha opinião, que dominam, não o futuro, porque o futuro... Eles pensam já no presente, portanto qualquer pessoa que pense no presente vive também no futuro. Não são pessoas que vão vir, não vos estou a dizer: «Ah! Num canto, numa cave, há um senhor tal, e dentro de um ano ou dois vocês vão ver...» Não, falemos de coisas que toda a gente sabe. […] Harry Fischbach: Porque ouvimos muitas vezes: «O Godard parou de fazer cinema, retirou-se sozinho.» Henri Langlois: Ele nunca parou de fazer cinema. Só que se arranjou maneira de fazer com que os seus filmes sejam invisíveis. É completamente diferente. Arranjaram maneira... de o separar — se quiser — das possibilidades. Ele nunca parou de fazer cinema. Trabalhou sem parar. Ele vive numa espécie de laboratório comparável — com uma outra forma, com outras concepções — com o laboratório que tinha Andy Warhol, compreende? É igual, são pessoas que vivem em perpetuidade, o Andy Warhol não só no cinema, e Andy euh... Godard completamente e permanentemente na imagem animada. São realmente dois laboratórios experimentais fabulosos, só que o de Godard está inteiramente focado no cinema. E com essa diferença que, como Godard é uma personagem que rejeitou o sistema por completo, mas não o sistema, se quiser... Há duas maneiras de rejeitar o sistema: você chega, diz «rejeito o sistema», e chega introduzido pelo sistema, convidado pelo sistema, com os seus hotéis, quartos de hotel pagos pelo sistema, e diz: «Nós somos contra o sistema», bem... E Godard é realmente contra o sistema. É por isso que ele está reduzido a um estado de... o que você diz, que não está acessível. Ele não está fora do sistema. Ele está no sistema verdadeiro, é essa a diferença, assim como Warhol está no sistema verdadeiro. O sistema, é a vida. 72
É preciso estar vivo. Fechar-se num sistema, é deixar de estar vivo. Conheço pessoas que pretendem estar fora do sistema. De que maneira é que se colocaram fora do sistema? Como os mágicos, sabe? Fizeram... Puseramse no centro, traçaram um círculo à volta deles e disseram... Invocaram o demónio. E não conseguem sair do círculo, são prisioneiros desse círculo, e estão rodeados pelo demónio, e dizem: «Somos nós!». Nós o quê? Porque a vida está fora desse círculo. A vida, são as árvores, as plantas, são os seres humanos, é isto. Ora se você vir bem o Godard, e se vir bem o Warhol, eles estão plenamente na vida, os dois. É o que chamo de cinema em liberdade. É um cinema que não tem medo de falhar qualquer coisa e de o mostrar mesmo assim. Excerto de uma entrevista da TV Ontario, conduzida por Harry Fischbach da série de conversas intitulada “Falemos de cinema, ou as anti-aulas de Henri Langlois” Henri Langlois: There are two men, these days, that truly represent what I call free cinema. Of the Nouvelle Vague, well, the authors are the only thing left. Every movement ends with its authors, the individuals. There is something which is absolutely new, you see. The Nouvelle Vague was the return to childhood. But there’s not just France, there’s a whole world out there. In America, there was a parallel movement, a different one, that took refuge in 16mm, in Super 8. But, if you’d like, there are two men, in my opinion, that rule over, not the future, because the future…They’re thinking about the present, so anyone who’s thinking about the present also lives in the future. They’re not people who are coming, I’m not saying: “Ah! In a corner, a basement somewhere, there’s this guy, and in a few years you’ll see…”No, let’s talk about things that everyone knows about. […] Harry Fischbach: Because we often hear: “Godard has stopped making films, he has isolated himself.”
WWW. L E FFE S T. C OM
H OM E N A GE M - JE A N - L UC GOD A R D
Henri Langlois: He never stopped making films. He just found a way to make his films invisible. It’s completely different. They found a way of… severing him – if you’d like – from the possibilities. He never stopped making films. He worked nonstop. He lives in a sort of laboratory comparable – with a different shape, other conceptions – to the one Andy Warhol had, you know? It’s the same, these are people that live perpetually, Andy Warhol not just in cinema, and Andy, uh…Godard completely and permanently in the moving picture. They are really two fabulous experimental laboratories, but Godard is entirely focused on cinema. And with this difference which, because Godard is someone who completely rejected the system, but not the system, if you’d like…There are two ways of rejecting the system: you get there and say: “I reject the system” and you are then introduced by the system, invited by the system, with its hotels, its paid hotel rooms, and you say “We are against the system”, well… And Godard truly is against the system. This is why he is reduced to a state of…well, it’s what you say, that it’s not accessible. He’s not outside of the system. He’s part of the real system, that’s the difference, just like Warhol is part of the real system. The system is life. One needs to be alive. Closing yourself up in a system is ceasing to be alive. I know people who think they are outside the system. How did they get there? Like magicians, you know? They made…They stood somewhere, they drew a circle around themselves and said…They summoned the Devil. And they can’t get out of the circle, they’re prisoners of the circle, and they are surrounded by the Devil and say: “It’s us!” Us what? Because life is outside of that circle. Life is trees and plants, it’s human beings, it’s this. Now, if you watch Godard closely, if you think of Warhol, they are truly within life, both of them. That’s what I call free cinema. It’s a cinema that isn’t afraid to fail somewhat and still show it. Excerpt from a TV Ontario interview, conducted by Harry Fischbach from a series of conversations titled “Let’s talk about cinema, or Henri Langlois’ anti-lectures.” 73
À BOUT DE SOUFFLE O Acossado Michel Poiccard mata um agente da polícia. Reencontra em Paris uma amiga americana, Patricia, que vende na rua o “New York Herald Tribune”. Mas a polícia descobre a identidade do homicida. Patricia irá denunciá-lo. Michel Poiccard kills a police officer. In Paris he is reunited with his american friend Patricia, who sells the “New York Herald Tribune” on the street. But the police identify the killer. Patricia will denounce Michel. • Dia 4 às 19h30 Espaço Nimas (apresentação por Roberto Turigliatto e Jean Douchet) • Dia 10 às 16h00 Casa das Histórias Paula Rego • Dia 12 às 14h00 Medeia Monumental, Sala 3
Realizador Director:
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Jean-Paul Belmondo, Jean Seberg, Daniel Boulanger, JeanPierre Melville, Liliane David, Henry-Jacques Huet, Van Doude, Claude Mansard, Michel Fabre, Jean-Luc Godard, Gérard Brach, Jean Domarchi... Argumento Screenplay: François Truffaut, Jean-Luc Godard Fotografia DOP: Paul Raoul Coutard Produtora Production: Societé Nouvelle de Cinéma | FR, 1959, 89’
LE PETIT SOLDAT O soldado das sombras Em Genebra, durante a guerra da Argélia, o repórter fotográfico Bruno Forestier, pertencente a uma organização clandestina de extremadireita, recebe a missão de assassinar um jornalista pró-argelino para provar que não é um agente duplo. No entanto, é capturado e torturado por um grupo revolucionário argelino.
• Dia 7 às 16h00 Medeia Monumental, Sala 4 (apresentação por Jean Douchet)
Geneva, during the Algerian War, the press photographer Bruno Forestier, member of a far-right underground organization, receives an order to kill a pro-Algerian radio journalist. However, he is captured and tortured by an extreme-left revolutionary group.
Realizador Director:
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Michel Subor, Anna Karina, Henry-Jacques Huet, Paul Beauvais, Laszlo Szabo, Georges de Beauregard, Jean-Luc Godard, Gilbert Edard Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard Fotografia DOP: Raoul Coutard Produtora Production: Société Nouvelle de Cinéma | FR, 1960, 88’
UNE FEMME EST UNE FEMME Uma Mulher é uma Mulher Angela, stripteaser num pequeno bar próximo da Porte Saint-Denis, quer ter um bebé imediatamente. A recusa do marido, Émile, leva-a a pedir ajuda a um amigo de ambos, Alfred Lubitsch. Angela, who is stripper in a small bar near Porte Saint-Denis, wants to have a baby straightaway. When her husband Émile refuses, she asks their friend Alfred Lubitsch for help. • Dia 6 às 12h00 Medeia Monumental, Sala 4 • Dia 10 às 14h00 Casa das Histórias Paula Rego • Dia 13 às 14h00 Medeia Monumental, Sala 3
74
Realizador Director:
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Anna Karina, Jean-Claude Brialy, Jean-Paul Belmondo, Marie Dubois, Nicole Paquin, Marion Sarrault, Ernest Menzer, Jeanne Moreau, Catherine Demongeot Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard, a partir de uma ideia de Geneviève Cluny Fotografia DOP: Raoul Coutard Produtora Production: Rome-Paris Films | FR, IT, 1961, 84’
WWW. L E FFE S T. C OM
Em doze quadros ou “estações”: a vida de Nana, uma prostituta parisiense. Com uma citação de Montaigne em epígrafe: “É preciso emprestar-se aos outros e dar-se a si mesmo.” In twelve tableaux or “stations”: the life of Nana, a parisian prostitute. With a quote by Montaigne serving as an epigraph: “Lend yourself to others, but give yourself to yourself”. • Dia 8 às 14h00 Medeia Monumental, Sala 4 • Dia 13 às 18h00 Casino Estoril
Realizador Director:
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Anna Karina, Sady Rebbot, André S. Labarthe, Guylaine Schlumberger, Brice Parain, Peter Kassovitz, Dimitri Dineff, Monique Messine, Gérard Hoffmann, Gilles Quéant, Paul Pavel, Eric Schumberger... Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard, inspirado pela investigação jornalística Où en est la prostitution? de Marcel Sacotte Fotografia DOP: Raoul Coutard Produtora Production: Les Films de la Pléiade | FR, 1962, 85’
LES CARABINIERS Os carabineiros Ulisses e Michelangelo recebem uma carta do Rei, que os convoca para a guerra. Partem entusiasmados, atraídos pelas vantagens que se lhes apresentam. Quando pedem a “recompensa real”, são fuzilados. Ulysses and Michelangelo receive a letter from the King asking them to go to war. They leave with great enthusiasm, attracted by the advantages presented to them. When they finally ask for the “royal reward” they are executed. • Dia 9 às 21h30 Medeia Monumental, Sala 3
Realizador Director:
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Marino Masè, Albert Juross, Geneviève Galéa, Catherine Ribeiro, Gérard Poirot, Jean Brassat, Alvaro Gheri, Barbet Schroeder, Odile Geoffroy, Roger Coggio, Pascale Audret, Catherine Durante, Jean Gruault, Jean-Louis Comolli, Gilbert Servien Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard, Jean Gruault, Roberto Rossellini a partir da comédia de Beniamino Joppolo adaptada por Jacques Audiberti Fotografia DOP: Raoul Coutard Produtora Production: Rome-Paris Films, Laetitia Film | FR, IT, 1963, 80’
LE MÉPRIS O Desprezo No cenário de um filme, a mulher de um escritor contratado para refazer o argumento do filme, afasta-se do marido, julgando-o com desprezo pela sua covardia. On the set of a film, the wife of a writer hired to rewrite the script, keeps away from her husband, judging him with contempt for his cowardice.
Realizador Director: • Dia 7 às 22h00, Espaço Nimas (apresentação por Adam Thirlwell e Philippe Parreno) • Dia 12 às 16h30 Medeia Monumental, Sala 3 (apresentação por Krystian Lupa)
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Brigitte Bardot, Michel Piccoli, Jack Palance, Fritz Lang, Georgia Moll, Jean-Luc Godard, Linda Veras Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard, a partir do romance “O desprezo” de Alberto Moravia Fotografia DOP: Raoul Coutard Produtora Production: Rome-Paris Films, Films Concordia, Compagnia Cinematografica Champion | FR, IT, 1963, 103’
75
H OM E N A GE M - JE A N - L UC GOD A R D
VIVRE SA VIE Viver a sua Vida
BANDE À PART Bando à parte Entre série noir, comédia sentimental e burlesco, Odile, Arthur e Franz organizam desajeitadamente um assalto a uma casa nos subúrbios de Paris. Between série noir, a sentimental comedy and the burlesque, Odile, Arthur and Franz plan a house robbery in the suburbs of Paris.
Realizador Director: • Dia 8 às 21h30 Medeia Monumental, Sala 2 • Dia 13 às 18h15 Medeia Monumental, Sala 3
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Anna Karina, Claude Brasseur, Sami Frey, Luisa Colpeyn, Danièle Girard, Ernest Menzer, Chantal Darget, Michèle Seghers, Claude Makovski, Georges Staquet, Michel Dalahaye, Peter Kassowitz Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard, a partir do romance Fool’s Gold de Dolores e Bert Hitchens Fotografia DOP: Raoul Coutard Produtora Production: Anouchka Films, Orsay Films | FR, 1964, 95’
UNE FEMME MARIÉE A mulher casada Vinte e quatro horas na vida de uma mulher burguesa, dividida entre o amante e o marido. Foi inicialmente proibido pela censura, que exigiu a modificação do título (antes La Femme Mariée) bem como alguns cortes. Twenty-four hours in the life of a bourgeois woman, divided between her lover and her husband. At first the film was censored: the title had to be modified (initially it was The Married Woman) and some cuts had to be made. • Dia 10 às 21h45 Medeia Monumental, Sala 3
Realizador Director:
Jean-Luc Godardt
Elenco Cast: Macha Méril, Bernard Noël, Philippe Leroy, Roger Leenhardt, Rita Maiden, Margaret Le Van, Véronique Duval, Christophe Bourseiller Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard (textos de/texts by Racine, Céline) Fotografia DOP: Raoul Coutard Produtora Production: Anouchka Films, Orsay Films | FR, 1964, 95’
ALPHAVILLE, UNE ÉTRANGE AVENTURE DE LEMMY CAUTION Um agente secreto, Lemmy Caution, tem a missão de destruir Alphaville, um mundo governado por um cérebro electrónico, Alpha 2000. Trará consigo Natacha von Braun, com quem redescobriu o amor. A secret agent, Lemmy Caution, is on a mission to destroy Alphaville, a metropolis ruled by an electronic brain, Alpha 2000. Upon completing his quest, he will also rescue Natacha von Braun, with whom he has found love. • Dia 6 às 21h45 Medeia Monumental, Sala 3
76
Realizador Director:
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Constantine, Anna Karina, Akim Tamiroff, Howard Vernon, Laszlo Szabo, Michel Delahaye, Jean-André Fieschi, Jean-Louis Comolli, Jean-Pierre Léaud, Christa Lang Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard Fotografia DOP: Raoul Coutard Produtora Production: Chaumiane Productions, Filmstudio | FR, IT, 1965, 98’
WWW. L E FFE S T. C OM
Marianne e Ferdinand fogem de Paris em direcção ao Mediterrâneo, levados numa corrida fatal para a morte. Marianne and Ferdinand run away from Paris to the Mediterranean, carried away in a fatal race towards death.
Realizador Director: • Dia 6 às 16h00 Medeia Monumental, Sala 4 • Dia 7 às 21h00 Casino Estoril
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Jean-Paul Belmondo, Anna Karina, Dirk Sanders, Raymond Devos, Graziella Galvani, Roger Dutoit, Hans Meyer, Jimmy Karoubi, Christa Nell, Pascal Aubier, Pierre Hanin, princesa Aicha Abidi, Samuel Fuller, Alexis Poliakoff, Laszlo Szabo, Jean-Pierre Léaud Argumento Screenplay: JJean-Luc Godard, inspirado no romance Obsession de Lionel White Fotografia DOP: Raoul Coutard Produtora Production: Rome-Paris Films, Dino de Laurentiis Cinematografica | FR, IT, 1965, 112’
MASCULIN FÉMININ Masculino Feminino O retrato de uma geração, o da juventude parisiense de meados dos anos ’60: “os filhos de Marx e da Coca-Cola”. The portrait of a generation, the parisian youth of the mid-sixties: “the children of Marx and Coca-Cola”.
Realizador Director:
• Dia 6 às 19h00 Espaço Nimas (conversa com Jean-Pierre Léaud)
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Jean-Pierre Léaud, Chantal Goya, Catherine-Isabelle Duport, Marlène Jobert, Michel Debord, Biger Malmstern, Eva Britt Strandberg, Brigitte Bardot, Antoine Bourseiller, Chantal Darget, Elsa Leroy, Françoise Hardy Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard a partir dos contos La femme de Paul e O Sinal de Guy de Maupassant Fotografia DOP: Willy Kurant Produtora Production: Anouchka Films, Argos Films, Svensk Filmindustri, Sandrews | FR, SE, 1966, 110’
MADE IN U.S.A. Made in USA Na cidade imaginária de Atlantic Cité, um jornalista, é morto em circunstâncias misteriosas. A namorada, decide conduzir a sua própria investigação e, para vingá-lo, irá matar diversas pessoas. In the imaginary city of Atlantic Cité, a journalist, is killed in mysterious circumstances. His girlfriend, decides to conduct her own investigation and to kill several people in order to avenge him. • Dia 6 às 14h00 Medeia Monumental, Sala 4 • Dia 11 às 13h30 Casa das Histórias Paula Rego • Dia 12 às 19h00 Medeia Monumental, Sala 3
Realizador Director:
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Anna Karina, Laszlo Szabo, Jean-Pierre Léaud, Yves Afonso, Ernest Menzer, Jean-Claude Bouillon, Kyoko Kosaka, Marianne Faithfull... Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard a partir do romance The Jugger (O Abutre) de Richard Stark Fotografia DOP: Raoul Coutard Produtora Production: Rome-Paris Films, Anouchka Films, Sepic | FR, 1966, 90’
77
H OM E N A GE M - JE A N - L UC GOD A R D
PIERROT LE FOU Pedro, o Louco
DEUX OU TROIS CHOSES QUE JE SAIS D’ELLE Duas ou três coisas sobre ela Uma mãe de família prostitui-se ocasionalmente. Um ensaio de sociologia filmado nos grandes complexos urbanos da região de Paris. A wife and mother resorts to occasional prostitution. A sociological essay filmed in the large urban complexes of the Parisian region.
Realizador Director: • Dia 9 às 19h30 Medeia Monumental, Sala 4
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Marina Vlady, Roger Montsoret, Annie Duperey, Jean Narboni, Christophe Bourseiller, Marie Bourseiller, Raoul Lévy, Joseph Gehrard, Helena Bielicic, Robert Chevassu, Yves Beneyton, Jean-Pierre Laverne, Blandine Jeanson, Claude Miller, Jean-Patrick Lebel, Juliet Berto, Anna Manga, Benjamin Rosette, Helen Scott Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard a partir da investigação jornalística de Catherine Vimenet La prostitution dans les grands ensembles publicada pela Le Nouvel Observateur Fotografia DOP: Raoul Coutard Produtora Production: Anouchka Films, Argos Films, Les Films du Carrosse | FR, 1966, 95’
LA CHINOISE O Maoísta Verão de 1967. Cinco jovens militantes maoístas num grande apartamento burguês ouvem a Rádio Pequim e preparam a revolução. Summer of 1967. Five young maoist militants in a big bourgeois apartment listen to Radio Peking and prepare the revolution.
Realizador Director: • Dia 5 às 19h15 Medeia Monumental, Sala 3
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Anne Wiazemsky, Jean-Pierre Léaud, Michel Seméniako, Lex de Bruijn, Juliet Berto, Omar Diop, Francis Jeanson, Anna Karina, Blandine Jeanson, Eliane Giovagnoli, Raoul Coutard Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard Fotografia DOP: Raoul Coutard Produtora Production: Productions de la Guéville, Parc Films, Athos Films, Simar Films, Anouchka Films | FR, 1967, 90’
WEEK-END Fim-de-Semana Um casal francês da classe média parte de fim-de-semana e não regressará mais. Engarrafamentos, acidentes, Saint-Just e a Frente de Libertação de Seine-et-Oise irão derrotar a sua união. A bourgeois french couple leave for the weekend to never again return. Traffic jams, car accidents, Saint-Just and the Seine-et-Oise Liberation Front will defeat their domestic partnership. • Dia 7 às 21h30 Teatro da Trindade Inatel • Dia 11 às 21h30 Medeia Monumental, Sala 4 (apresentado por Robert Schewentke)
78
Realizador Director:
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Jean Yanne, Mireille Darc, Jean-Pierre Léaud, JeanPierre Kalfon, Valérie Lagrange, Yves Beneyton, Paul Gégauff, Daniel Pommereulle, Yves Afonso, Blandine Jeanson, Ernest Menzer... Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard Fotografia DOP: Raoul Coutard Produtora Production: Films Copernic, Ascot Cineraid | FR, IT, 1967, 95’
WWW. L E FFE S T. C OM
Num estúdio londrino, os testes de gravação da canção dos Rolling Stones Sympathy for the Devil são divididos em cinco episódios diferentes, que se alternam durante todo o filme. The rehearsals in a London recording studio of the Rolling Stones song Sympathy for the Devil are split into five different episodes that alternate during the entire film. • Dia 4 às 23h00, Espaço Nimas • Dia 12 às 14h00 Casa das Histórias Paula Rego • Dia 13 às 16h15 Medeia Monumental, Sala 3
Realizador Director:
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Rolling Stones (Mick Jagger, Keith Richards, Brian Jones, Charlie Watts, Bill Wyman), Anne Wiazemsky, Iain Quarrier, Clifton Jones, Sean Lynch, Frankie Dymon, Bernard Boston, Danny Daniels, Ilario Pedro, Roy Stewart Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard Fotografia DOP: Anthony Richmond Produtora Production: Cupid Productions | GB, 1969, 99’
UN FILM COMME LES AUTRES Um grupo de operários da Flins e de estudantes de Vincennes – filmados em longos planos sequência e sem que nunca se vejam os seus rostos – procuram tirar uma lição daquilo que sucedeu no Maio de ’68. A group of Flins workers and students from Vincennes - filmed in long sequence shots which do not reveal their faces - seek to draw lessons from what happened in May ‘68. • Dia 9 às 19h00 Medeia Monumental, Sala 3
Realizador Director:
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Três militantes estudantes de Nanterre e três militantes operários da Renault-Flins/Three militant students from Nanterre and three militant workers from Renault-Flins Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard Fotografia DOP: Jean-Luc Godard, William Lubtschanski; imagens de arquivo a preto e branco filmadas durante o Maio de ’68 pelo grupo ARC/ black and white footage shot during May ’68 by the ARC group Produtora Production: Anouchka Films | FR, 1968, 100’
LE GAI SAVOIR “Juliet Berto no papel de Patricia, filha de Lumumba e da Revolução Cultural, e Jean-Pierre Léaud como Émile Rousseau decidem começar do zero, como o cineasta no estúdio caixa negra, para perceber melhor duas ou três coisas sobre mundo.” (Alain Bergala)
• Dia 5 às 17h30 Espaço Nimas (com presença de Jean-Pierre Léaud)
“Juliet Berto as Patricia, daughter of Lumumba and the Cultural Revolution, and Jean-Pierre Léaud as Émile Rousseau decide to start from scratch, like the filmmaker in the black box studio, to better understand two or three things about the world.” (Alain Bergala)
Realizador Director:
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Juliet Berto, Jean-Pierre Léaud Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard, livremente inspirado em Emílio de Jean-Jacques Rousseau Fotografia DOP: Jean Leclerc Produtora Production: ORTF, Anouchka Films, Bavaria Atelier | FR, DE, 1968, 94’ 79
H OM E N A GE M - JE A N - L UC GOD A R D
ONE PLUS ONE
VENT D’EST Segunda “viagem a Itália” de Godard, ou como fazer em Roma um western com Daniel Cohn-Bendit. Godard’s second “voyage to Italy”, or how to make a western in Rome with Daniel Cohn-Bendit.
Realizador Director: • Dia 10 às 14h00 Medeia Monumental, Sala 1
Jean-Luc Godard, Jean-Pierre Gorin
Elenco Cast: Gian Maria Volonté, Anne Wiazemsky, Cristiana Tullio Altan, Allen Midgette, José Varela, Paolo Pozzezi, George Gotz, Glauber Rocha, Vanessa Redgrave, Fabio Garriba, Daniel Cohn-Bendit, Jean-Luc Godard, Jean-Henri Roger Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard, Daniel CohnBendit, Jean-Pierre Gorin, Jean-Henri Roger Fotografia DOP: Mario Vulpiani Produtora Production: Polifilm, Anouchka Films, CCC Filmkunst IT, FR, RFA, 1969, 100’
TOUT VA BIEN Tudo vai bem Uma jornalista americana e o seu companheiro, realizador de anúncios publicitários, encontram-se numa fábrica ocupada, cujo director foi sequestrado pelos próprios operários. O casal é, por sua vez, sequestrado durante um dia e meio.
• Dia 7 às 19h30 Espaço Nimas (conversa com Adam Thirlwell e Philippe Parreno)
An american journalist and her boyfriend, a commercial director, find themselves in an occupied factory, the director of which has been kidnapped by his workers. The couple winds up being kidnapped for a day and a half as well.
Realizador Director:
Jean-Luc Godard, Jean-Pierre Gorin
Elenco Cast: Yves Montand, Jane Fonda, Vittorio Caprioli, Jean Pignol, Pierre Oudry, Elizabeth Chauvin, Eric Chartier, Yves Gabrielli, Castel Casti... Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard, Jean-Pierre Gorin Fotografia DOP: Armand Marco Produtora Production: Anouchka Films, Vicco Films, Empire Film | FR, IT, 1972, 95’
NUMÉRO DEUX Um novo início, dezoito anos depois de O Acossado. Na obscuridade do seu estúdio Sonimage, em Grenoble, sozinho em frente ao monitor de vídeo, Godard faz surgir o seu “segundo primeiro filme”. A new beginning, eighteen years after Breathless. In the darkness of his Sonimage studio in Grenoble, alone in front of his video monitor, Godard brings his “second first film” to light. • Dia 7 às 16h00 Medeia Monumental, Sala 1 • Dia 13 às 14h00 Casa de Histórias Paula Rego
80
Realizador Director:
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Sandrine Battistella, Pierre Oudry, Alexandre Rignault, Rachel Stefanopoli, Jean-Luc Godard, Nicolas e Vanessa Argumento Screenplay: Anne Marie-Miéville Fotografia DOP: William Lubtchansky Produtora Production: Sonimage, Bela, SNC | FR, 1975, 90’
WWW. L E FFE S T. C OM
Seis programas de 100 minutos divididos em dois segmentos de 50 minutos. Lições e entrevistas a quem nunca foi dada a palavra: teoria e prática da comunicação, na televisão reinventada por Godard. Six 100-minute-long programmes split into two 50-minute-long segments. Lessons and interviews with people whose voices were previously unheard: communication theory and practice in the television as reinvented by Godard. • Dia 7 às 14h15 (eps. 1 e 2), Sala 3 • Dia 8 às 14h15 (eps. 3 e 4), Sala 3 • Dia 9 às 14h15 (eps. 5 e 6), Sala 2
Realizador Director:
Jean-Luc Godard, Anne-Marie Miéville
Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard, Anne-Marie Miéville Fotografia DOP: Paul Esteve Birba Produtora Production: Ina, Sonimage, FR3 | FR, 1976, 100’ (cada programa)
Medeia Monumental
SAUVE QUI PEUT (LA VIE) Salve-se Quem Puder “Por vezes os meus amigos dizem-me: O cinema não é a vida… Mas em certos momentos pode substituí-la, como uma fotografia, como uma memória. Além disso, não faço essa distinção entre os filmes e a vida, diria até que os filmes me ajudam a viver. [...]” (Godard) “Sometimes my friends tell me: cinema is not life… But sometimes it can replace it, like a photograph, or a memory. Besides, I don’t distinguish between films and life, I would rather say that films help me live. [...]” (Godard) • Dia 12 às 22h00 Espaço Nimas (Masterclass com Alex Ross Perry)
Realizador Director:
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Isabelle Huppert, Jacques Dutronc, Nathalie Baye, Roland Amstutz, Anna Baldaccini, Fred Personne, Cécile Tanner, Michel Cassagne... Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard, Anne-Marie Miéville, Jean-Claude Carrière Fotografia DOP: William Lubtschansky Produtora Production: Sara Films, MK2, Saga Production, Sonimage, CNC, ZDF, SSR, ORTF | FR, CH, 1980, 87’
PASSION Paixão Numa aldeia suíça, um cineasta polaco procura a luz certa para filmar os tableaux vivants das obras-primas da história da pintura ocidental, enquanto uma operária da fábrica vizinha luta contra o patrão. In a swiss village, a polish filmmaker tries to find the right lighting to film the tableaux vivants of the masterpieces of Western painting while a worker in a nearby factory fights against the factory owner. • Dia 5 às 16h15 Medeia Monumental, Sala 4 (presença de Isabelle Huppert – a confirmar)
Realizador Director:
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Isabelle Huppert, Hanna Schygulla, Jerzy Radziwilowicz, Michel Piccoli, Laszlo Szabo, Jean François Stévenin, Sophie Lucatschewsky... Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard Fotografia DOP: Raoul Coutard Produtora Production: Sara Films, Sonimage, Films A2, Filme et Vidéo Productions, SSR | FR, CH, 1982, 87’
81
H OM E N A GE M - JE A N - L UC GOD A R D
SIX FOIS DEUX/SUR ET SOUS LA COMMUNICATION
PRÉNOM CARMEN Nome: Carmen À história trágica de Carmen e Joseph sobrepõe-se à de um quarteto de cordas que toca os últimos quartetos de Beethoven. O próprio Godard intervém no filme como personagem cómica. The tragic story of Carmen and Joseph overlaps that of a string quartet playing Beethoven’s late string quartets. Godard himself appears in the film as a comic character. • Dia 11 às 16h30 Medeia Monumental, Sala 4
Realizador Director:
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Marushka Detmers, Jacques Bonnaffé, Myriem Roussel, Christophe Odent, Jean-Luc Godard, Hyppolite Girardot, Bertrand Liebert, Alain Bastien-Thiry, Jean-Pierre Mocky, Jacques Villeret, Jacques Prat, Roland Dangkarek, Bruno Pasquier, Michel Strauss Argumento Screenplay: Anne-Marie Miéville Fotografia DOP: Raoul Coutard Produtora Production: Sara Films, JLG Films, Antenne 2 | FR, 1983, 85’
JE VOUS SALUE, MARIE Eu vos saúdo, Maria A Anunciação segundo Godard. O filme estreou associado à curtametragem de Anne-Marie Miéville, “Le Livre de Marie”, com a qual constitui um único programa. The Annunciation according to Godard. The film premiered alongside AnneMarie Miéville’s short film Le Livre de Marie, as a single programme.
Realizador Director: • Dia 12 às 17h00 Espaço Nimas
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Myriem Roussel, Thierry Rode, Philippe Lacoste, Juliette Binoche, Joan Meyssen, Anne Gauthier, Manon Andersen, Malachi Jara Kohan, Dick Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard Fotografia DOP: Jean-Bernard Menoud, Jacques Firmann Produtora Production: Pégase Film, SSSR, JLG Films, Sara Films, Gaumont, Channel4 | FR, CH, GB, 1984, 72’
DÉTECTIVE Mafia em Paris Os percursos de quatro grupos entrecruzam-se num grande hotel de Paris. Há um casal em crise; há os pugilistas: o empresário, o seu boxeur, a noiva deste. Há os detectives. E há, enfim, a verdadeira família, os mafiosos. The paths of four groups cross in a big parisian hotel. There are a couple in crisis; there are the boxers: businessman and his boxer with his fiancée. There are the detectives. And lastly, there is the real family: the mobsters. • Dia 10 às 19h00 Espaço Nimas
82
Realizador Director:
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Nathalie Baye, Claude Brasseur, Johnny Hallyday, Stéphane Ferrara, Emmanuelle Seigner, Eugène Bertier, Cyril Austin, Julie Delpy... Argumento Screenplay: Alain Sarde, Philippe Setbon Fotografia DOP: Bruno Nuytten Produtora Production: Sara Films, JLG Films | FR, 1985, 95’
WWW. L E FFE S T. C OM
Filme encomendado para uma série televisiva dedicada à adaptação de romances da Série Noire. Um produtor à antiga, Jean Almereyda, assiste à falência da sua pequena sociedade. A commissioned film for a television series dedicated to adapting the Série Noire novels. An oldschool producer, Jean Almereyda, witnesses his small company’s bankruptcy. • Dia 6 às 14h00 Medeia Monumental, Sala 3
Realizador Director:
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Jean-Pierre Mocky, Jean-Pierre Léaud, Marie Valéra, Jean-Luc Godad, Anne Carrel, Françoise Desportes, Jean-Pierre Delamour, Jacques Péna, Jean Grécault, Jean Brisa Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard, livremente inspirado no romance “”The Soft Center” de James Hadley Chase Fotografia DOP: Caroline Champetier, Serge Lefrançois Produtora Production: TFI, Hamster Productions, Télévision Suisse Romande, JLG Films, RTL | FR, CH, 1986, 91’
KING LEAR Depois de várias peripécias, incluindo a assinatura do contrato de produção do filme, no guardanapo de um hotel, a desejada adaptação da peça homónima de Shakespeare foi atraiçoada, e o filme acabou por ser rodado em Nyon e Rolle, na Suíça, em apenas doze dias.
• Dia 9 às 21h45 Espaço Nimas
After a series of unexpected events, including the signing of a film production contract on the back of a napkin, the anticipated adaptation of Shakespeare’s King Lear was “shot in the back” and ended up being filmed in Nyon and Rolle, in Switzerland, in only twelve days.
Realizador Director:
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Peter Sellars, Burgess Meredith, Molly Ringwald, Jean-Luc Godard, Woody Allen, Léos Carax, Julie Delpy, Norman Mailer, Kate Mailer, Freddy Buache, Michèle Halberstadt Argumento Screenplay: JeanLuc Godard Fotografia DOP: Sophie Maintigneux Produtora Production: Cannon Films | US, 1987, 90’
SOIGNE TA DROITE Atenção à direita Um cineasta chamado príncipe Mychkine, também denominado “o Idiota” (interpretado pelo próprio Godard), é encarregue de escrever, montar e entregar um filme num só dia. A filmmaker called prince Mychkine, also known as the Idiot (played by Godard himself), is in charge of writing, editing and delivering a film in a single day. • Dia 6 às 16h45 Medeia Monumental, Sala 3
Realizador Director:
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Jean-Luc Godard, François Périer, Jacques Villeret, Fred Chichin, Catherine Ringer, Jane Birkin, Michel Galabru... Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard Fotografia DOP: Caroline Champetier, Jacques Loiseleux Produtora Production: JLG Films, Xanadu Films, Rtsr, Gaumont | FR, CH, 1987, 81’
83
H OM E N A GE M - JE A N - L UC GOD A R D
GRANDEUR ET DÉCADENCE D’UN PETIT COMMERCE DE CINÉMA
NOUVELLE VAGUE Nova vaga “Nouvelle Vague é uma das obras-primas absolutas de Jean-Luc Godard, magistral teia de corpos e formas, cores e sons, textos e vozes, onde Alain Delon, numa inesperada entrada no universo do cineasta, é filmado como nunca ninguém o filmou.” (Cinemateca Portuguesa)
• Dia 13 às 14h15 Espaço Nimas (apresentado por Benoît Jacquot)
“Nouvelle Vague is one of Godard’s absolute masterpieces, a brilliant combination of bodies and shapes, colours and sounds, texts and voices, where Alain Delon, unexpectedly entering the filmmaker’s universe, is filmed as nobody had ever filmed him before.” (Portuguese Cinematheque)
Realizador Director:
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Alain Delon, Domiziana Giordano, Roland Amstutz, Violaine Barret, Laurence Côte, Jacques Dacqmine, Christophe Odent, Laurence Guerre... Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard Fotografia DOP: William Lubtschansky Produtora Production: Sara Films, Canal +, Périphéria, Film A2, CNC, Sofica, Veja Film, Télévision Suisse Romande | FR, CH, 1990, 101’
HÉLAS POUR MOI Valha-me Deus Variações sobre o tema de Anfitrião, na esteira de Plauto, Molière, Kleist e Giraudoux. Um deus quer conhecer o amor humano e toma a forma do marido ausente para passar uma noite com Rachel. Variations on the theme of Amphitryon in the wake of Plautus, Molière, Kleist and Giraudoux. A god wants to know human love and takes the form of the absent husband in order to spend one night with Rachel. • Dia 13 às 18h00 Medeia Monumental, Sala 4
Realizador Director:
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Gérard Depardieu, Laurence Masliah, Bernard Verley, Jean-Louis Loca, François Germond, Jean Pierre Miquel, Anny Romand, Roland Blanche, Marc Betton, Michel Barras, Pascale Vachoux, Christina Hernandez, Thierry Wegmuller, Gilbert Isnard, Harry Cleven Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard, a partir de “Amphitryon 38” de Jean Giraudoux Fotografia DOP: Caroline Champetier Produtora Production: Vega Film, Les Films Alain Sarde, Périphéria | FR, CH, 1993, 85’
JLG/JLG. AUTOPORTRAIT DE DÉCEMBRE J.L.G. por J.L.G. Godard ensaia um auto-retrato cinematográfico, que pretende mais próximo do auto-retrato da pintura do que das autobiografias e memórias da literatura. Godard attempts a cinematic self-portrait, closer to the self-portraits found in painting than the autobiographies and memoirs of literature.
Realizador Director: • Dia 11 às 14h00 Espaço Nimas
84
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Jean-Luc Godard, Geneviève Pasquier, Denise Jadot, Brigitte Bastien, Elizabeth Kaza, André S. Labarthe, Bernard Eisenschitz, Louis Seguin, Nathalie Aguilar Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard Fotografia DOP: Yves Pouliguen, Christian Jacquenod Produtora Production: Gaumont, Périphéria, JLG Films | FR, CH, 1994, 62’
WWW. L E FFE S T. C OM
Um cineasta regressa ao activo filmando uma produção intitulada Le Boléro Fatal, enquanto a filha tenta levar à cena em Sarajevo a peça On ne Badine pas avec l’Amour. A filmmaker goes back to work by shooting a big production called Le Boléro Fatal. His daughter tries to stage the play On ne Badine pas avec l’Amour in Sarajevo. • Dia 11 às 15h30 Espaço Nimas
Realizador Director:
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Vicky Messica, Madeleine Assas, Frédéric Pierrot, Ghalya Lacroix, Michel Francini, Sabine Bail, Max André, Harry Cleven, Sarah Bensoussan... Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard Fotografia DOP: Christophe Pollock, Kastell Djian, Jean-Pierre Pedrizzi Produtora Production: Vega Film, Avventura Films, Périphéria, em colaboração com Canal +, Centre Européen Cinématographique Rhône Alpes, France 2 Cinéma, Eurimages | FR, CH, 1996, 84’
HISTOIRE(S) DU CINÉMA Trabalho de montagem de arquivos visuais e sonoros (excertos de filmes, reproduções de fotos e de quadros, citações literárias e musicais), que evoca a história do cinema e do século XX. A work based on the editing of visual and sound archives (film clips, reproductions of photographs and paintings, musical and literary quotes) that evokes the history of film and the history of the twentieth century. • Dia 5 às 14h00 Medeia Monumental, Sala 3 (com um intervalo)
Realizador Director:
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Serge Daney, Julie Delpy (2A), Sabine Azéma (2B), Alain Cuny (3A e 4A), Juliette Binoche (3A) Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard Produtora Production: Canal+, La Sept, France 3, Gaumont, RTSR, JLG Films | FR, 1985-1998’ Dividido em quatro partes, cada uma composta por dois episódios: 1A - Todas as Histórias e 1B - Uma História Só (51’+42’); 2A - Só o Cinema e 2B - Fatal Beleza (26’+28’); 3A - A Moeda do Absoluto e 3B - Uma Vaga Nova (26’+27’); 4A - O Controlo do Universo e 4B - Os Signos Entre Nós (27’+38’)
ÉLOGE DE L’AMOUR Elogio do amor Na primeira parte, filmada a preto e branco em Paris, Edgar tenta montar um projecto sobre o amor. Na segunda, a cores e em formato digital, Edgar conhece dois idosos na Bretanha, que evocam o passado apagado pela Ocupação.
• Dia 10 às 16h30 Medeia Monumental, Sala 4
In the first part, shot in Paris on black and white film, Edgar is trying to assemble a project on the theme of love. In the second part, shot in color with video technology, he meets two elders who evoke a past which had been erased during the Occupation.
Realizador Director:
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Bruno Putzulu, Cécile Camp, Jean Davy, François Verny... Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard Fotografia DOP: Christophe Pollock, Julien Hirsch Produtora Production: Avventura Films, Périphéria, Canal+, Romande | FR, CH, 2001, 97’ 85
H OM E N A GE M - JE A N - L UC GOD A R D
FOR EVER MOZART Para Sempre Mozart
NOTRE MUSIQUE A Nossa Música Tríptico sob o signo de Dante. O Inferno evoca a guerra. O Purgatório tem lugar em Sarajevo, durante os Encontros Europeus do Livro, lugar onde se cruzam os destinos de Olga, judia francesa, e de Judith, jornalista israelita. No final, o Paraíso, imerso na natureza, é vigiado por marines americanos.
• Dia 10 às 14h20 Medeia Monumental, Sala 4
A triptych inspired by Dante. Hell evokes the war. Purgatory takes place in Sarajevo, during the European Literary Encounters, a place where the destinies of Olga, a Jewish French woman, and Judith, an Israeli journalist, meet. In the end, Heaven, immersed in nature, is guarded by American marines.
Realizador Director:
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Sarah Adler, Nade Dieu, Rony Kramer, Georges Aguilar, Leticia Gutierrez, Ferlyn Brass, Jean-Luc Godard, Simon Eine, Jean-Christophe Bouvet... Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard Fotografia DOP: Julien Hirsch, Jean-Christophe Beauvallet Produtora Production: Avventura Films, Périphéria, France 3 Cinéma, Vega Film, Canal+ | FR, CH, 2004, 80’
FILM SOCIALISME Filme socialismo Um cruzeiro no Mediterrâneo. Várias conversas, em diversas línguas, entre passageiros, quase todos de férias… A Europa. Dois irmãos convocam os pais para o tribunal da sua infância. Exigem explicações sérias sobre os temas da liberdade, da igualdade, da fraternidade.
• Dia 10 às 14h30 Medeia Monumental, Sala 2
A Mediterranean cruise. Numerous conversations, in numerous languages, between the passengers, almost all of whom are on holiday... Europe. Two brothers have summoned their parents to appear before the court of their childhood. The children demand serious explanations of the themes of Liberty, Equality and Fraternity.
Realizador Director:
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Jean-Marc Stehlé, Agatha Couture, Mathias Domahidy, Quentin Grosset, Olga Riazanova, Maurice Sarfati, Patti Smith, Lenny Kaye... Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard Fotografia DOP: Fabrice Aragno, Paul Grivas Produtora Production: Vega Film | CH, FR, 2010, 102’
ADIEU AU LANGAGE Adeus à Linguagem “A ideia é simples: uma mulher casada e um homem solteiro encontram-se. Amam-se, discutem, agridem-se. Um cão erra entre a cidade e o campo. As estações passam...” “The idea is simple: A married woman and a single man meet. They love each other, they argue: fists fly. A dog strays between the city and the countryside. The seasons pass...” • Dia 8 às 16h30 Medeia Monumental, Sala 4 (conversa com Adam Thirlwell)
86
Realizador Director:
Jean-Luc Godard
Elenco Cast: Héloïse Godet, Kamel Abdeli, Richard Chevallier, Zoé Bruneau, Christian Gregori, Jessica Erickson, Marie Ruchat, Jeremy Zampatti... Argumento Screenplay: Jean-Luc Godard Fotografia DOP: Fabrice Aragno Produtora Production: Wild Bunch, Canal+, Centre National de la Cinématographie (CNC) | CH, FR, 2014, 70’ | Filme em 3D
WWW. L E FFE S T. C OM
Pravda
Prière pour refusniks 1 | Prière pour refusniks 2 FR, 2004, 6’30’’ (I) e 3’30’’ (II) • Dia 7 às 14h00 Teatro da Trindade Inatel (inserido no Encontro de Escolas de Cinema Europeias)
FR, US, CSHH, 1969, 58’ • Dia 9 às 14h00 Medeia Monumental, Sala 3
Je vous salue, Saravejo CH, 1993, 2’ • Dia 6 às 16h00 Casa das Histórias Paula Rego • Dia 7 às 14h00 Teatro da Trindade Inatel (inserido no Encontro de Escolas de Cinema Europeias)
Ecce homo FR, 2006, 2’ • Dia 7 às 14h00 Teatro da Trindade Inatel (inserido no Encontro de Escolas de Cinema Europeias)
FIGURAS Une femme coquette CH, 1955, 10’ • Dia 11 às 15h00 Medeia Monumental, Sala 2
Tous les garçons s’appellent Patrick / Charlotte et Véronique FR, 1957, 21’ • Dia 11 às 15h00 Medeia Monumental, Sala 2
Journal des Réalisateurs de Jean-Luc Godard CH, 2008, 4’ • Dia 11 às 15h00 Medeia Monumental, Sala 2
Une histoire d’eau FR, 1958, 18’ • Dia 11 às 15h00 Medeia Monumental, Sala 2
Lettre à Freddy Buache (à propos d’un courtmetrage sur la ville de Lausanne) CH, 1982, 11’ • Dia 11 às 15h00 Medeia Monumental, Sala 2
C’était quand (hommage à Éric Rohmer) CH, FR, 2010, 3’ • Dia 11 às 15h00 Medeia Monumental, Sala 2
Khan Khanne FR, CH, 2014, 9’ • Dia 11 às 15h00 Medeia Monumental, Sala 2
87
H OM E N A GE M - JE A N - L UC GOD A R D
CONFLITOS I
OUTROS Charlotte et son Jules
British Sounds
FR, 1958, 20’ • Dia 4 às 19h30 Espaço Nimas (apresentação por R. Turigliatto e Jean Douchet)
Ciné-tracts FR, 1968, 2’-4’ • Dia 9 às 16h30 Medeia Monumental, Sala 3
Luttes en Italie IT, FR, 1970, 60’ • Dia 9 às 16h30 Medeia Monumental, Sala 3
GB, 1969, 52’ • Dia 9 às 14h00 Medeia Monumental, Sala 3
Vladimir et Rosa
One P.M. US, 1968-1971, 90’ • Dia 6 às 19h30 Medeia Monumental, Sala 3 • Dia 12 às 16h00 Casa das Histórias Paula Rego
FR, US, RFA, 1970, 96’ • Dia 8 às 19h00 Medeia Monumental, Sala 2
Letter to Jane - An Investigation About a Still
Ici et ailleurs FR, 1974, 55’
FR, 1972, 52’
• Dia 11 às 14h00, Medeia Monumental, Sala 1 (conversa com Cyril Neyrat) • Dia 13 às 16h00, Casa das Histórias Paula Rego
France tour détour deux enfants
• Dia 11 às 14h00, Medeia Monumental, Sala 1 (conversa com Cyril Neyrat) • Dia 13 às 16h00, Casa das Histórias Paula Rego
Comment ça va
FR, 1977-1978, 12 episódios de 26’ • Dia 10 às 14h10 Medeia Monumental, Sala 3 (com dois intervalos)
Scenario du film Sauve qui peut (la vie)
FR, 1976, 78’ • Dia 9 às 14h30 Medeia Monumental, Sala 1
Petites Notes à Propos du film ‘Je vous salue, Marie’
FR, CH, 1979, 21’ • Dia 12 às 22h00 Espaço Nimas (Masterclass com Alex Ross Perry)
Soft and Hard - Conversation Between Two Friends on Hard Subject GB, CH, 1986, 52’ • Dia 6 às 14h30 Casa das Histórias Paula Rego • Dia 10 às 16h30 Medeia Monumental, Sala 1
88
CH, 1984, 25’ • Dia 12 às 17h00 Espaço Nimas
Meetin’ WA FR, CH, 1986, 26’ • Dia 9 às 21h45 Espaço Nimas
WWW. L E FFE S T. C OM
Allemagne 90 neuf zéro /Solitudes, un état et ses variations FR, 1991, 62’ • Dia 7 às 14h00 Medeia Monumental, Sala 1 (apresentação por Roberto Turigliatto)
FR, CH, 1989, 50’ • Dia 9 às 19h15 Medeia Monumental, Sala 2
Les Enfants jouent à la Russie
Deux fois cinquante ans de cinéma français GB, FR, 1995, 51’ • Dia 11 às 16h30 Medeia Monumental, Sala 3
US, CH, 1993, 60’ • Dia 11 às 14h00 Medeia Monumental, Sala 3
Vrai faux passeport
Reportage amateur (maquette expo)
FR, 2006, 55’ • Dia 5 às 16h00 Casa das Histórias Paula Rego • Dia 11 às 19h15 Medeia Monumental, Sala 3
FR, 2006, 47’ • Dia 5 às 14h30 Casa das Histórias Paula Rego • Dia 11 às 19h15 Medeia Monumental, Sala 3
Les trois désastres (3x3D) FR, PT, 2013, 17’ • Dia 8 às 16h30 Medeia Monumental, Sala 4 (Conversa com Adam Thirlwell)
FIGURAS Opération béton
Espoir, Microcosmos Le Monde comme il ne va pas CH, 1955, 20’ • Dia 11 às 15h00 Medeia Monumental, Sala 2
Adieu au TNS
FR, 1996, 3’ / 1’ • Dia 11 às 15h00 Medeia Monumental, Sala 2
The Old Place CH, 1996, 7’20’’ • Dia 11 às 15h00 Medeia Monumental, Sala 2
De l’origine du XXIe siècle FR, CH, 2000, 16’ • Dia 11 às 15h00 Medeia Monumental, Sala 2
US, CH, 1999, 47’ • Dia 11 às 15h00 Medeia Monumental, Sala 2
Liberté et patrie CH, 2002, 22’ • Dia 11 às 15h00 Medeia Monumental, Sala 2
89
H OM E N A GE M - JE A N - L UC GOD A R D
Le Rapport Darty
POLÍTICA E ARTE Opération béton
Espoir, Microcosmos - Le Monde comme il ne va pas CH, 1955, 20’ • Dia 10 às 19h00 Medeia Monumental, Sala 2
Adieu au TNS
FR, 1996, 3’ / 1’ • Dia 10 às 19h00 Medeia Monumental, Sala 2
The Old Place US, CH, 1999, 47’ • Dia 6 às 16h00 Casa das Histórias Paula Rego • Dia 10 às 19h00 Medeia Monumental, Sala 2
CH, 1996, 7’20’’ • Dia 10 às 19h00 Medeia Monumental, Sala 2
De l’origine du XXIe siècle FR, CH, 2000, 16’ • Dia 6 às 16h00 Casa das Histórias Paula Rego • Dia 10 às 19h00 Medeia Monumental, Sala 2
Une bonne à tout faire
Liberté et patrie CH, 2002, 22’ • Dia 6 às 16h00 Casa das Histórias Paula Rego • Dia 9 às 19h15 Medeia Monumental, Sala 2 • Dia 10 às 19h00 Medeia Monumental, Sala 2
FR, 2006, 8’20’’ • Dia 10 às 19h00 Medeia Monumental, Sala 2
SEGMENTOS I La Paresse (Episódio de “Os 7 pecados mortais”) FR, IT, 1961, 15’ • Dia 6 às 14h20 Medeia Monumental, Sala 2
Le Grand escroc (Episódio de “As mais belas vigarices do mundo”) FR, IT, JP, NL, 1963, 25’ • Dia 6 às 14h20 Medeia Monumental, Sala 2
90
Le Nouveau monde (Segmento de “Rogopag”) IT, FR, 1962, 20’ FR, IT, 1961, 15’ • Dia 6 às 14h20 Medeia Monumental, Sala 2
Montparnasse-Levallois (Episódio de “Paris visto por…”) FR, 1964, 18’ • Dia 6 às 14h20 Medeia Monumental, Sala 2
WWW. L E FFE S T. C OM
Caméra-Oeil (Episódio de “Longe do Vietname”)
FR, DE, IT, 1967, 20’ • Dia 6 às 14h20 Medeia Monumental, Sala 2
H OM E N A GE M - JE A N - L UC GOD A R D
Anticipation ou l’amour en l’an 2000 (Episódio de “A mais antiga profissão do mundo”)
FR, 1967 • Dia 6 às 14h20 Medeia Monumental, Sala 2
SEGMENTOS II L’aller et Retour des Enfants Prodigues
Changer d’image - Lettre à la bien aimée
IT, FR, 1967, 27’ • Dia 8 às 14h30 Medeia Monumental, Sala 2
Armide. Enfin, il est en ma puissance (Episódio de Aria) GB, 1987, 12’ • Dia 8 às 14h30 Medeia Monumental, Sala 2
Dans le noir du temps (Episódio de “Ten Minutes Older. The Cello.”) FR, CH, 2000, 16’ • Dia 8 às 14h30 Medeia Monumental, Sala 2
FR, CH, 1982, 10’ • Dia 8 às 14h30 Medeia Monumental, Sala 2
Le Dernier mot
FR, 1988, 13’ • Dia 8 às 14h30 Medeia Monumental, Sala 2
Le pont des soupirs (Episódio de Pontes de Sarajevo) FR, 2014, 9’ • Dia 8 às 14h30 Medeia Monumental, Sala 2
91
SEGMENTOS III Schick
Quand la gauche sera au pouvoir FR, 1971, 30’ • Dia 10 às 16h30 Medeia Monumental, Sala 2
On s’est tous defilé
FR, 1977, 3’34’ • Dia 10 às 16h30 Medeia Monumental, Sala 2
Closed e Closed Jeans
FR, 1988, 13’ • Dia 10 às 16h30 Medeia Monumental, Sala 2
Puissance de la parole
FR, 1987-1988, 20’’ • Dia 10 às 16h30 Medeia Monumental, Sala 2
Metamorphojean
FR, 1988, 25’ • Dia 10 às 16h30 Medeia Monumental, Sala 2
Parisienne People Cigarettes
FR, 1990, 20’’ a 30’’ • Dia 10 às 16h30 Medeia Monumental, Sala 2
L’Enfance de l’art
CH, 1992, 45’’ • Dia 10 às 16h30 Medeia Monumental, Sala 2
Plus Oh!
Une catastrophe FR, 1996, 4’15’’ • Dia 10 às 16h30 Medeia Monumental, Sala 2
92
BE, CH, 1990, 8’ • Dia 10 às 16h30 Medeia Monumental, Sala 2
AT, CH, 2008, 1’ • Dia 10 às 16h30 Medeia Monumental, Sala 2
WWW. L E FFE S T. C OM
JERZY SKOLIMOWSKI Homenagem Tribute Consultar a biografia do realizador na secção Júri da Selecção Oficial - Em Competição.
O eterno retorno do cineasta moderno Figura tutelar da modernidade cinematográfica, Jerzy Skolimowski, cineasta, argumentista, actor e pintor, tem, desde há cinquenta anos, destilado a sua arte pelos quatro cantos do mundo. Moveu-se muito na sua vida: depois de se ter exilado da Polónia natal, filmou na Bélgica, Checoslováquia, Itália, Alemanha, Inglaterra e nos Estados Unidos. Depois regressou à Polónia para os seus três últimos filmes. Antes de se inscrever, em 1960, aos 22 anos, na célebre escola de cinema de Lódz, tinha conhecido os horrores da guerra na primeira infância, mais tarde publicou colectâneas de poesia, uma peça de teatro, podendo acrescentar-se que era um fanático de jazz e que participou em combates de boxe. Nos bancos da escola de Lódz, torna-se amigo de Roman Polanski, para quem escreve o argumento de A Faca na Água. É aí que nasce a Nova Vaga Polaca, da qual é a figura artística de proa – com os seus 4 filmes polacos, Rysopis (1962), Walkover (1964), Bariera (1966) e Haut les mains! (1967-1981) – ao mesmo tempo que se reconhece – à imagem do seu herói central – como um outsider insolente e refractário, encurralado numa sociedade que não lhe dá qualquer oportunidade. Esse herói, Andrzej Leszczyc, é o insurgente, o anticonformista, o irreconciliado, aquele que vagueia a toda a velocidade no vazio, enquanto à sua volta reinam a mediocridade, a depravação e o cinismo. É o alter-ego do realizador, o seu duplo, já que três vezes em quatro ele é o seu intérprete. Desde os seus primeiros filmes, Skolimowski impõe-se através de uma mise en scène que exibe um virtuosismo fora do comum (e que ganha a admiração de Jean-Luc Godard), modelado por uma rítmica jazzista, ou como um combate de boxe em que o jovem herói, apanhado numa espécie de movimento perpétuo, confrontado com a pressão inexorável do tempo e com o espaço que o comprime, expõe o seu corpo a uma 94
fuga em frente, como se imobilizar-se fosse, para ele, sinónimo de dissipação na ordem estabelecida. Após Haut les mains!, violenta sátira antistalinista interdita pela censura polaca, Skolimowski escolhe exilar-se, goza de um grande prestígio na Europa, é premiado nos festivais (o seu soberbo Le Départ, o filme que roda na Bélgica com Jean-Pierre Léaud, obtém o Urso de Ouro em Berlim 1967), é um dos cineastas maiores dos “novos cinemas” dos anos 60. Começa para ele nessa altura um périplo cinematográfico caótico por diversas capitais europeias antes de aterrar na Califórnia nos anos 90 (para se consagrar principalmente à sua paixão de juventude, a pintura). Mas não esquece a Polónia apesar disso. Tanto em Secret is the best revenge (1984) como em Moonlighting (1982) – obraprima que marca uma época – reencontra-se o eco dos acontecimentos políticos de 1981 (golpe de estado de Jaruzelski) assim como a veia autobiográfica de Skolimowski já presente nos filmes polacos. É ele quem se esconde por detrás do realizador exilado Rodak (Michael York), na sua tentativa desesperada de sacudir a indiferença do público londrino ao drama que se passa em Varsóvia, ao mesmo tempo que se confronta com o desrespeito insolente do filho. É igualmente ele quem lança um olhar meio burlesco, meio distanciado sobre Novak (Jeremy Irons), esse pequeno patrão cínico e inquieto, “emigrado” em terra estrangeira, que manipula o seu mundo de trabalhadores mas não consegue salvar a sua alma. Em Deep End (1970), depois em The Shout (1978), ambos também rodados em Inglaterra, o autor cria duas histórias muito diferentes (mas miraculosamente ancoradas no contexto britânico), tratando-se, a primeira, da tentativa falhada e trágica da maturação de um adolescente londrino no cenário fechado de uma piscina pública, a segunda, uma elaboração místico-fantástica magistral, simultaneamente delirante e ambígua, onírica e poética, sobre a domesticação de um grito xamânico capaz de matar. Se juntarmos o seu WWW. L E FFE S T. C OM
H OM E N A GE M - JE R ZY SKOL IMOWSKI único filme americano, o muito conseguido The Lightship (1986), reencontramos em todos esses filmes a mesma instabilidade, a mesma incerteza que caracteriza o cinema de Skolimowski – e que o torna tão imprevisível – assim como as suas personagens sempre no fio da navalha, desequilibradas, vacilantes e no fundo estrangeiras no mundo que as rodeia. Mesmo quando se lança ao “Ferdydurke” (Thirty Door Key, 1991) de Gombrowicz, com quem partilha, para além do exílio e da ironia cáustica, a lucidez inquieta, a desilusão profunda e o olhar oblíquo sobre as coisas, Skolimowski está na corda bamba, presta-se ao malentendido da língua inglesa da versão original (de que amargamente se arrependeu de seguida) mas acaba por triunfar em grande já que faz a aposta da temeridade e realiza (quase) uma obra-prima da estranheza, misturando sarcasmo e grotesco. Regressado à Polónia nos anos 2000, Skolimowski assina de seguida três filmes prodigiosos, Quatro noites com Anna (2008), Essential Killing (2010) e 11 minutos (2015), três obras que renovam de forma exemplar a obsessão com o tempo que passa, o tempo
que foge: um tempo de graça, suspenso na obsessão de um amor impossível (as noites de Léon junto de Anna), a ameaça permanente e a angústia do espaço-tempo na fuga do talibã, os onze minutos (entre as 17:00 e as 17:11) do thriller filosófico em forma de mosaico até a um caos programado. O cinema de Skolimowski permanece decididamente moderno, sempre em pé num equilíbrio frágil e consegue incessantemente renovar-se sem a mais pequena concessão, sempre tão imprevisível e sempre com a mesma ironia e mordacidade do seu início. Michel Demopoulos The eternal return of the modern filmmaker Jerzy Skolimowski, filmmaker, scriptwriter, actor and painter, is a key player in modern cinema, who has spread his art throughout the world for fifty years. He moved quite a lot. After having been exiled from Poland, his homeland, he filmed in Belgium, Czechoslovakia, Italy, Germany, England and the United States. After that, he returned to Poland to film his last three films. 95
Before enrolling the Lódz Film School, in 1960, at the age of 22, Skolimowski had already seen the horrors of war during his childhood. Later he published poetry collections, a theatre play and he was also a jazz fanatic and participated in boxing matches. At the Lódz Film School, he becomes friends with Roman Polanski, for whom he writes the script for Knife in the Water. This is when the Polish New Wave is born, which has Jerzy Skolimowski as its central artistic figure with his 4 Polish films, Rysopis (1962), Walkover (1964), Bariera (1966) and Haut les mains! (1967-1981) – at the same time as he recognizes himself – in the image of the main hero – as an insolent and refractory outsider, trapped in a society which does not give him any opportunities. That hero, Andrzej Leszczyc, is the insurgent, the nonconformist, the not reconciled, the one who wanders the emptiness at full speed, while around him there is mediocrity, depravation and cynicism. He is the director’s alter ego, his double, as three out of four times he is his interpreter. Since his first films, Skolimowski asserts himself through a mise en scène which displays an unusual virtuosity (and which gets Jean-Luc Godard’s Admiration), modelled by a jazzy rhythm, or as if it were a boxing match in which the young hero, caught in a kind of perpetual movement, confronted with the inexorable pressure of time and space which represses him, exposes his body to an escape, as if stopping were, to him, a synonym of dissolution in the established order. Following Haut les mains!, a violent anti-Stalinist satire forbidden by Polish censorship, Skolimowski chooses to exile, is very acclaimed in Europe and rewarded at festivals (his superb film Le Départ, filmed in Belgium starring Jean-Pierre Léaud, wins the Golden Bear in Berlin in 1967), and he is one of the greatest filmmakers of the 1960’s “new cinema”. He begins a chaotic long journey in cinema, passing by various European capitals before landing in California in the 1990s (where he devotes himself mainly to his youth passion, painting). Despite this, he does not forget Poland. Both in Secret is the best revenge (1984) as in Moonlighting (1982) – masterpiece which marked a period – there is an echo of the political events of 1981 (Jaruzelski’s coup d’état) as well as Skolimowski’s autobiographical vein which could already be seen in his Polish films. He hides behind the exiled director Rodak (Michael York), in a desperate attempt to shake the London public’s indifference to the drama that was going on in Warsaw, at the same time as he is confronted with his son’s insolent disrespect. It is also him who casts a half burlesque, half distanced eye over Novak 96
(Jeremy Irons), the small cynical and restless boss, an “emigrant” in a foreign land, who manipulates his world of workers but who cannot save his soul. In Deep End (1970), followed by The Shout (1978), both filmed in England, the author creates two very different stories (although both are miraculously anchored in the British context). The first one deals with the tragic and failed attempt of a London teenager’s maturation, in the closed setting of a public swimming pool. The second one is a magisterial mystical and fantastic production, simultaneously delusional and ambiguous, oneiric and poetic, about the domestication of a shamanic cry capable of killing. If we add his only American film, the very successful The Lightship (1986), we can find in all those films the same instability, the same uncertainty which is a characteristic of Skolimowski’s cinema and what also makes him so unpredictable - as well as his characters who are always on a knife-edge, unbalanced, unstable, and deep down foreigners in the world surrounding them. Even when he begins Gombrowicz’s “Ferdydurke” (Thirty Door Key, 1991), with whom he shares, besides the exile and the caustic irony, the unsettling lucidity, the profound disappointment and the oblique view on things, Skolimowski walks on the very thin ice, he renders to the misunderstanding of the English language from the original version (something he quickly regrets deeply) but ends up being triumphant for betting on boldness and directs a (almost) masterpiece of strangeness, mixing sarcasm and grotesque. Skolimowski returns to Poland in the early 2000’s and quickly signs three prodigious films, Four Nights with Anna (2008), Essential Killing (2010) and 11 Minutes (2015). These three films renew, in an exemplary way, the obsession with fleeting time: a time of grace, suspended in the obsession of an impossible love (the nights Léon spends with Anna), the permanent threat and the anguish of space-time in a Taliban member’s escape, the eleven minutes (between 17.00 and 17.11) of a philosophical thriller in the shape of a mosaic of characters and plots towards a programmed and much-anticipated chaos. Skolimowski’s cinema remains decisively modern, always standing in a fragile balance and it is able to incessantly renew itself without having to make the smallest of concessions, always so unpredictable and always with the same irony and mordacity as in the beginning. Michel Demopoulos WWW. L E FFE S T. C OM
I know no other talent such as his – whatever he sets out to do, the results keep us in awe: his touching poems, his daring dialogues to my film Innocent Sorcerers. His acting debut in that film, which led to many great roles in Poland and abroad. Also when as a director he created his first feature film Identification Marks: None – astonishing with the scope of truth emanating from the screen. But also, when after the success of his films, he forwent cinema for painting, which I – almost a painter by education – truly envy him. When he came back to film again, 11 Minutes delights and amazes with a new approach to the art of cinema. Andrej Wajda Em 1975 estava à procura de um realizador para uma adaptação do conto The Shout de Robert Graves feita pelo Michael Austin, e
pensei no Jerzy para fazer um filme muito inglês passado durante um jogo de cricket, algo de pouco normal. Tinha visto Le Départ de Jerzy e o magnífico Deep End, que se passava em Londres mas foi filmado em Munique de forma muito convincente. Quando o contactei em Varsóvia ele por acaso estava em Londres, e fui visitá-lo a um quarto escuro no Hilton, porque a vista dos prédios circundantes o ofendia. Ele tinha lido o guião, e depois rasgou-o em pedaços e espalhou-o pela cama, e estava a beber vodka. Disse-me, “Adoraria filmar um jogo de cricket em Devon,” mal sabia eu o quão nos iríamos divertir a rodar o filme no ano seguinte. In 1975 I was looking for director for an adaption of Robert Graves’ book The Shout by Michael Austin, and I thought of Jerzy to make a very English film told at a cricket match, an unusual thing. I had seen Jerzy’s film The Departure and the magnificent Deep End, which was set in London but actually shot in Munich and very convincing. When I contacted him in Warsaw he happened to be in London, and I went to see him in a darkened room at the Hilton hotel, as the view of the buildings outside offended him. He had read the script, then cut it into pieces and put it on the bed, and was drinking some vodka. He said to me, “I’d love to shoot a cricket match in Devon,” and little did I know how much fun we would have shooting the film the following year. Jeremy Thomas 97
H OM E N A GE M - JE R ZY SKOL IMOWSKI
Não conheço talento como o dele – qualquer coisa que se decide a fazer resulta em algo espantoso: os seus poemas tocantes, os seus diálogos audazes para o meu filme Niewinni Czarodzieje. A sua estreia nesse filme, que levou a muitos papéis de relevo na Polónia e no estrangeiro. Também quando, como realizador, criou o seu primeiro filme Rysopis – impressionante, com toda a extensão da verdade a emanar do ecrã. Mas também, quando depois do sucesso dos seus filmes, abandonou o cinema pela pintura, algo que eu – quase um pintor por educação – lhe invejo. Quando ele voltou ao cinema, 11 Minutos é um filme que delicia e espanta pela nova abordagem à arte do cinema.
WALKOWER Walkover O segundo filme de Jerzy Skolimowski cimentou o seu estatuto de realizador da Nova Vaga polaca. É o próprio Skolimowski quem interpreta o papel de um pugilista que é distraído dos seus combates por Teresa, uma antiga amiga que volta a entrar na sua vida.
• Dia 5 às 14h30 Medeia Monumental, Sala 1 (apresentação por Jerzy Skolimowski)
Jerzy Skolimowski’s second feature cemented his status as a Polish New Wave director, influenced by jazz and poetry rythms as well as by more conventional storytelling. Skolimowski himself plays a boxer who is distracted from his bouts when Teresa, an old friend, re-enters his life.
Realizador Director:
Jerzy Skolimowski
Elenco Cast: Jerzy Skolimowski, Aleksandra Zawieruszanka, Krzysztof Chamiec Argumento Screenplay: Jerzy Skolimowski Fotografia DOP: Antoni Nurzynski Produtora Production: Zespol Filmowy “Syrena” | PL, 1965, 77’
RYSOPIS Identification Marks: None O tédio da geração polaca do pós-guerra é retratado na perfeição por esta crónica vibrante sobre o último dia de liberdade de um estudante que foi chamado para cumprir o serviço militar obrigatório. The boring life of the Polish postwar generation is accurately portrayed in this jazzy chronicle about a student’s last day of freedom before being drafted into military service. • Dia 5 às 22h15 Medeia Monumental, Sala 2 (apresentação de Michel Demopoulos) • Dia 9 às 13h50 Casa das Histórias Paula Rego
Realizador Director:
Jerzy Skolimowski
Elenco Cast: Jerzy Skolimowski, Elzbieta Czyzewska, Tadeusz Minc Argumento Screenplay: Jerzy Skolimowski Fotografia DOP: Witold Mickiewicz Produtora Production: Film Polski Film Agency, Szkola Filmowa | PL, 1965, 73’
BARIERA Barrier Um jovem estudante de Medicina pretende derrubar todos os obstáculos da vida. O seu sonho é casar com uma mulher rica, ter uma moradia nos subúrbios e um Jaguar na garagem. Mas conhece uma rapariga com ideais completamente diferentes. Inspirando-se nas experiências da Nova Vaga francesa, faz um retrato da Polónia comunista.
• Dia 9 às 14h15 Medeia Monumental, Sala 4
A medical student tries to overcome all of the world’s barriers. His dream is to marry a rich woman, to have a villa in the suburbs and a Jaguar in the garage. He meets a girl with completely different ideals. Barrier relates to the French New Wave experiments while making a portrait of communist Poland.
Realizador Director:
Jerzy Skolimowski
Elenco Cast: Joanna Szczerbic, Jan Nowicki, Tadeusz Lomnicki Argumento Screenplay: Jerzy Skolimowski Fotografia DOP: Jan Laskowski Produtora Production: Zespol Filmowy “Kamera” | PL, 1996, 77’
98
WWW. L E FFE S T. C OM
Uma comédia em ritmo acelerado sobre um jovem casal, Marc (JeanPierre Léaud), um fanático por automóveis e Michèle (Catherine Duport), uma aprendiz de cabeleireira, e as suas tentativas (legais e ilegais) de arranjar um Porsche para a estreia de Marc numa corrida. A fast-paced comedy about a young Belgian car nut and a hairdresser’s apprentice, his girlfriend, and their legal and illegal attempts to get a Porsche for his nearing debut race. • Dia 5 às 19h30 Espaço Nimas (conversa com Jean-Pierre Léaud e Jerzy Skolimowski) • Dia 13 às 15h15 Casino Estoril
Realizador Director:
Jerzy Skolimowski
Elenco Cast: Jean-Pierre Léaud, Catherine-Isabelle Duport, Jacqueline Bir Argumento Screenplay: Andrzej Kostenko, Jerzy Skolimowski Fotografia DOP: Willy Kurant Produtora Production: Elisabeth Films | BE, 1967, 93’
DWUDZIESTOLATKI (Diálog 20-40-60 –The Twenty-Year-Olds) Um diálogo, três realizadores, três histórias. Skolimowski, Peter Solan e Zbynek Brynych criam as suas variações da mesma conversa. No segmento de Skolimowski, um cantor, ao regressar a casa, depara-se com um estranho no seu apartamento.
• Dia 7 às 22h00 Medeia Monumental, Sala 2 • Dia 12 às 19h15 Medeia Monumental, Sala 2
One dialogue, three filmmakers, three stories. Skolimowski, Peter Solan, and Zbynek Brynych created their variations on the same conversation. In the segment directed by Skolimowski, a singer, arrives home to find a stranger in his apartment.
Realizador Director: Jerzy Skolimowski
Elenco Cast: Joanna Szczerbic, Jéan-Pierre Léaud, Jirí Vrstála, Jana Glazerová, Olga Salagová, Nora Kuzelová, Stefan Tkác, Jan Gec, Jozef Kuchár, Beno Michalský, Karol Cálik Argumento Screenplay: Jerzy Skolimowski Fotografia DOP: Andrzej Kostenko Produtora Production: : Studio Hraných Filmov Bratislava | PL, 1968, 20’
THE ADVENTURES OF GERARD Aventuras de Gerard Baseado nos contos satíricos de Sir Artur Conan Doyle sobre o vaidoso e egoísta Etienne Gerard, um militar francês ao serviço do seu país nas guerras Napoleónicas. Ele acredita ser o melhor soldado e o melhor amante que alguma vez existiu, e está decidido a prová-lo.
• Dia 8 às 17h00 Medeia Monumental, Sala 2
Based on the satirical short stories by Sir Arthur Conan Doyle about a vain, egotistical Etienne Gerard, a French brigadier serving during the Napoleonic Wars. He thinks he is the best soldier and lover that ever lived and he intends to prove it.
Realizador Director:
Jerzy Skolimowski
Elenco Cast: Peter McEnery, Claudia Cardinale, Eli Wallach Argumento Screenplay: H.A.L. Craig, Henry E. Lester, Gene Gutowski, Jerzy Skolimowski Fotografia DOP: Witold Sobocinski Produtora Production: Sir Nigel Films | UK, CH, 1970, 92’
99
H OM E N A GE M - JE R ZY SKOL IMOWSKI
LE DÉPART The Departure
DEEP END Adolescente Perversa Um filme obsessivo que fala de um adolescente de quinze anos, e da paixão pela sua colega de trabalho. Os dois concebem uma estratégia para obter melhores gorjetas, mas tudo se complica quando a rapariga troca o rapaz pelo instrutor de natação. A obsessive film that tells the story of a 15-year-old boy and a passion for his co-worker. They both draw a strategy to earn better tips, but everything gets worse when the girl ditches the boy for the swimming instructor. • Dia 7 às 22h00 Medeia Monumental, Sala 2 • Dia 12 às 19h15 Medeia Monumental, Sala 2
Realizador Director:
Jerzy Skolimowski
Elenco Cast: Jane Asher, John Moudler-Brown, Kari Michael Vogler Argumento Screenplay: Jerzy Skolimowski, Jerzy Gruza, Boleslaw Sulik Fotografia DOP: Charly Steinberger Produtora Production: Maran Film, Kettledrum Productions | UK, DE, 1970, 92’
THE SHOUT O Uivo O Uivo é a história de um doente mental que viveu numa tribo aborígene e aprendeu um uivo secreto capaz de matar aqueles que o ouvem. A sua história é contada em analepse, durante um jogo de críquete no asilo onde ele está internado, e relata a sua relação com o compositor Anthony Fielding e a sua mulher.
• Dia 13 às 16h30 Medeia Monumental, Sala 1
The Shout is the story of a mental patient who lived with an aboriginal tribe that taught him a secret howl that kills those who hear it. Crossley’s story is told in a flashback during a cricket game and it describes his relationship with the composer Anthony Fielding and his wife.
Realizador Director: Jerzy Skolimowski
Elenco Cast: Alan Bates, Susannah York, John Hurt Argumento Screenplay: Robert Graves, Michael Austin, Jerzy Skolimowski Fotografia DOP: Mike Molloy Produtora Production: Recorded Picture Company, Rank Organisation, The Jeremy Thomas Productions | UK, 1978, 86’
RECE DO GÓRY Hands Up! O filme começa com um tema de ficção científica: imagens abstractas e música electrónica levam o espectador das ruínas do Líbano para o cenário de A Falsificação, de Volker Schlöndorff, onde Skolimowski interpreta o papel principal. The film begins with a sci-fi motif: abstract images and electronic music take the viewer from the ruins of Lebanon to the set of Volker Schlöndorff ‘s “The Forgery”, where Skolimowski plays a lead role. • Dia 6 às 19h30 Medeia Monumental, Sala 2
100
Realizador Director: Jerzy Skolimowski
Elenco Cast: Jerzy Skolimowski, Joanna Szczerbic, Tadeusz Lomnicki Argumento Screenplay: Andrzej Kostenko, Jerzy Skolimowski Fotografia DOP: Andrzej Kostenko, Witold Sobocinski Produtora Production: Arte France Cinéma, PRF “Zespol Filmowy”, Syrena | PL, 1981, 76’
WWW. L E FFE S T. C OM
Um empreiteiro polaco, Nowak leva um grupo de trabalhadores para Londres como mão-de-obra barata. Aí tem de gerir o projeto e os homens à medida que estes lidam com as tentações do Ocidente e a solidão.
• Dia 13 às 14h00 Medeia Monumental, Sala 2
A Polish contractor, Nowak, leads a group of workmen to London so they can provide cheap labor for a government officer based there. Nowak has to manage both the project and his men as they encounter the temptations of the West and deal with loneliness and homesickness.
Realizador Director:
Jerzy Skolimowski
Elenco Cast: Jeremy Irons, Eugene Lipinski, Jirí Stanislav Argumento Screenplay: Jerzy Skolimowski Fotografia DOP: Tony PierceRoberts Produtora Production: Michael White Productions | UK, 1982, 97’
SUCCESS IS THE BEST REVENGE Alex Rodak é um encenador polaco exilado em Londres com a mulher e os dois filhos. Prepara uma peça sobre a situação polaca, uma crítica ao autoritarismo do governo. Um filme de pendor autobiográfico, interpretado pela mulher e filhos do realizador, Joanna Szczerbic e Michal e Jósef Skolimowski.
• Dia 8 às 19h30 Medeia Monumental, Sala 3
Alex Rodak is a Polish theatre director exiled in London with his wife and children. He’s preparing a play about the situation in Poland, criticizing the authoritarian government. An autobiographical film intepreted by Skolimowski’s wife and children, Joanna Szczerbic e Michal e Jósef Skolimowski.
Realizador Director:
Jerzy Skolimowski
Elenco Cast: Michael York, Joanna Szczerbic, Michal Skolimowski Argumento Screenplay: Jerzy Skolimowski, Michal Skolimowski, Józef Skolimowski Fotografia DOP: Mike Fash Produtora Production: Gaumont, De Vere Studio, Emerald | UK, FR, 1984, 91’
THE LIGHTSHIP O Navio Farol O capitão Miller é da guarda costeira norte-americana que resgata um barco à deriva, ocupado por três homens, que irão tomar posse do comando do navio-farol. Captain Miller is anchored US Coast Guard lightship. They rescue a boat with three men adrift, that will soon overtake the command of the lightship.
Realizador Director: Jerzy • Dia 6 às 16h30 Medeia Monumental, Sala 2 • Dia 13 às 17h45 Medeia Monumental, Sala 2
Skolimowski
Elenco Cast: Robert Duvall, Klaus Maria Brandauer, Tim Phillips Argumento Screenplay: Siegfried Lenz, William Mai, David Taylor Fotografia DOP: Charly Steinberger Produtora Production: CBS Productions US, 1985, 89’
101
H OM E N A GE M - JE R ZY SKOL IMOWSKI
MOONLIGHTING
TORRENTS OF SPRING Dimitri Sanin, um jovem nobre russo apaixona-se por uma rapariga italiana e decidem casar-se. Regressa à Rússia para vender a propriedade da família e torna-se vítima de uma sedutora condessa, acabando por ficar só. Dimitri Sanin, a young Russian noble falls head over heals in love with a young Italian girl. They decide to get married, and Dimitri goes back to Russia to sell his family estate. He falls prey to a seductive countess. He eventually finds himself alone. • Dia 7 às 19h00 Medeia Monumental, Sala 3
Realizador Director:
Jerzy Skolimowski
Elenco Cast: Timothy Hutton, Nastassja Kinski, Valeria Golino Argumento Screenplay: Jerzy Skolimowski, Arcangelo Bonaccorso Fotografia DOP: Witold Sobocinski, Dante Spinotti Produtora Production: Erre Produzioni, Reteitalia, Les Films Ariane | UK, FR, IT,1989, 101’
CZTERY NOCE Z ANNA Four Nights with Anna Tendo testemunhado a brutal violação de Anna, Léon passa o tempo a espiá-la e, uma noite, acaba por invadir a sua casa. Observa-a enquanto dorme, deixa-se envolver pelo seu universo e, aos poucos, começa a alterar a sua existência. After having witnessed a brutal rape against Anna, Léon spends his time spying her. One night he ends up breaking into her house. He watches her while she sleeps and gradually drowns in her universe. • Dia 10 às 16h30 Espaço Nimas
Realizador Director:
Jerzy Skolimowski
Elenco Cast: Artur Steranko, Kinga Preis, Jerzy Fedorowicz Argumento Screenplay: Ewa Piaskowksa, Jerzy Skolimowski Fotografia DOP: Adam Sikora Produtora Production: Alfama Films, Skopia Films, Wild Bunch | PL, FR, 2008, 87’
ESSENTIAL KILLING Matar para Viver Um membro Talibã é capturado pelo exército norte-americano no Afeganistão e enviado para um centro de detenção secreto, algures na Europa de Leste. A viatura que o transporta sofre um acidente e ele acaba por conseguir escapar. A Taliban member is captured by the US military in Afghanistan and sent to a secret detention center located somewhere in Eastern Europe. A car accident during the transfter gives him the opportunity to escape. • Dia 4 às 22h15 Medeia Monumental, Sala 2
102
Realizador Director:
Jerzy Skolimowski
Elenco Cast: Vincent Gallo, Emmanuelle Seigner, Zach Cohen Argumento Screenplay: Jerzy Skolimowski, Ewa Piaskowska Fotografia DOP: Adam Sikora Produtora Production: Skopia Film, Cylinder Production, Element Pictures | PL, NO, IE, HU, 2010, 83’
WWW. L E FFE S T. C OM
As experiências urbanas de várias personagens entrecruzam-se num mundo incerto, onde uma cadeia de acontecimentos completamente inesperados acaba por traçar o seu destino em apenas 11 minutos. The urban experiences of several characters intertwine in an uncertain world, where a chain of completely unexpected events ultimately depicts their destination in just 11 minutes. • Dia 11 às 21h45 Medeia Monumental, Sala 2 (conversa com Dorota Maslowska e Jerzy Skolimowski)
Realizador Director:
Jerzy Skolimowski
Elenco Cast: Richard Dormer, Paulina Chapko, Wojciech Mecwaldowski Argumento Screenplay: Jerzy Skolimowski Fotografia DOP: Mikolaj Lebkowski Produtora Production: Skopia Film | PL, IE, 2015, 81’
Hamles O Pequeno Hamlet
Oko wykol O Olho Sinistro
PO, 1960, 8’ • Dia 5 às 22h15 Medeia Monumental, Sala 2 (apresentação de Michel Demopoulos)
PO, 1960, 3’ • Dia 5 às 22h15 Medeia Monumental, Sala 2 (apresentação de Michel Demopoulos)
Rzeźba
Erotyk Erótico PWSTiF | PO, 1960, 4’ • Dia 5 às 22h15 Medeia Monumental, Sala 2 (apresentação de Michel Demopoulos)
PL, 1961 • Dia 5 às 22h15 Medeia Monumental, Sala 2 (apresentação de Michel Demopoulos)
Pieniadze Albo Zycie A Bolsa ou a Vida PO, 1960, 8’ • Dia 5 às 22h15 Medeia Monumental, Sala 2 (apresentação de Michel Demopoulos)
103
H OM E N A GE M - JE R ZY SKOL IMOWSKI
11 MINUT 11 Minutes
104
WWW. L E FFE S T. C OM
EMIR KUSTURICA Homenagem Tribute
H OM E N A GE M - E M IR KUST UR IC A
Cineasta, argumentista, actor e músico, nascido em Sarajevo, Emir Kusturica é autor de uma filmografia singular, marcada por um intenso realismo mágico, celebrativa da vida e do cinema, assombrada, desde os anos 1990, pela dissolução da ex-Jugoslávia e pela Guerra dos Balcãs. Depois de estudar em Praga na famosa FAMU, a escola de cinema estatal checa, Kusturica realiza duas longas-metragens que lhe dão imediata notoriedade e reconhecimento: Lembras-te de Dolly Bell? (evocação da Jugoslávia dos anos 1960, Leão de Prata para uma primeira obra no Festival de Veneza, em 1981) e O Pai foi em viagem de negócios (Palma de Ouro em Cannes em 1985). O Tempo dos Ciganos (1988, o seu primeiro grande sucesso de público) e Arizona Dream (1993, realizado nos Estados Unidos, uma desconstrução tragicómica do sonho americano, com Johnny Depp, Faye Dunaway e Jerry Lewis) abrem-se definitivamente à apaixonada exuberância da sua visão obsessiva do cinema e do mundo, herdeiras das de um Fellini. O universo de Kusturica, povoado por uma galeria culturalmente complexa de personagens desfavorecidas, bizarras ou à margem (de diversas etnias, religiões e nacionalidades) e por uma miríade de animais invadindo a acção, desenha-se na dualidade de realidade e fantasia (frequentemente, as histórias contadas são verdadeiras e acendem o rastilho da imaginação dos filmes), a que o onirismo da levitação, a sensualidade dos desejos, a intensidade operática e a euforia da música conferem uma audácia e energia sem par. Underground (o seu filme mais célebre, com o sugestivo subtítulo “Era uma Vez um País”), parábola da história jugoslava, arrecada uma segunda Palma de Ouro em Cannes, em 1995. Gato Preto, Gato Branco (1998, com música composta, pela primeira vez, pela No Smoking Orchestra, a banda de garage rock com influências punk e folk, fundada em 1981, a que Kusturica se juntou em 1986 e que assinaria desde aí a banda sonora dos seus filmes), recebe o Leão de Prata para a Melhor Realização no Festival de Veneza.
Em 2001, realiza Super 8 Stories, um documentário sobre a No Smoking Orchestra e em 2004, A Vida É um Milagre, que ganha o César 2005 para melhor filme da União Europeia. Depois de um outro filme de ficção, Promise Me This (2007), lança em 2008 Maradona, um documentário em torno da história do famoso jogador de futebol argentino. On The Milky Road (2016), o seu mais recente filme, estreado no último Festival de Veneza, primeira longa metragem em nove anos, junta o próprio Kusturica, no principal papel masculino, a Monica Bellucci, numa peculiar (e real) história de amor, com a memória da Guerra dos Balcãs ainda em fundo. A décima edição do Lisbon & Estoril Film Festival irá dedicar uma retrospectiva integral à sua obra. Born in Sarajevo, Emir Kusturica is a filmmaker, actor and musician and the author of a singular filmography, marked by an intense magical realism, a celebration of life and cinema, haunted since the1990s by the dissolution of the former Yugoslavia and by the Balkan War. After studying in Prague at the famous FAMU, the Czech film state school, Kusturica directs two feature films which gave him instant notoriety and recognition: Do You Remember Dolly Bell? (evoking 1960s’ Yugoslavia, his first film was awarded a Golden Lion at the Venice Festival in 105
1981) and When Father Was Away on Business (which won him a Cannes Film Festival Palme d’Or in 1985).
Emir Kusturica por ele próprio
Time of the Gypsies (1988, his first great success with the public) and Arizona Dream (1993, directed in the United States, a tragicomic deconstruction of the American dream, starring Johnny Depp, Faye Dunaway and Jerry Lewis) open up to the passionate exuberance of his obsessive view on cinema and the world, heir to Fellini.
Durante o fim-de-semana trabalhava para ganhar algum dinheiro. O trabalho consistia em levar carvão para o aquecimento da Cinemateca, onde se programavam filmes antigos. Muitas vezes, quando acabava a entrega, o director deixavanos entrar gratuitamente. Um dos primeiros filmes que vi, neste contexto, foi Senso, de Visconti. Não percebia nada, mas apercebia-me de que no ecrã estava a acontecer algo de importante, de diferente do normal. Pouco tempo depois, fui abalado por um outro filme, A Estrada, de Fellini. Foi aí que entrei no mundo mágico do cinema. Tive a sorte de poder aproveitar um período fértil do cinema italiano. [...] Aquele cinema estava muito próximo das emoções que sentia no meu íntimo. Uma vibração forte, mediterrânica. [...] Aquela espécie de novo realismo tinha tudo aquilo de que um filme precisa: emoções, a possibilidade de viajar dentro de uma história… E depois, naturalmente, comecei a fazer os primeiros filmes amadores. Cheguei ao cinema graças ao carvão, é magnífico, não?
The Kusturica universe, populated by a culturally complex gallery of characters who are underprivileged, bizarre or marginalised (coming from various ethnic groups, religions and nationalities) by a myriad of animals invading the action, is drawn between the duality of reality and fantasy (the stories told are often true and light the fuse of film imagination), to which onirism of levitation, the sensuality of desires, the intensity of operas and the euphoria of music provide an unparalleled audacity and energy. Underground (his most famous film, which has the suggestive subheading “Once Upon a Time There Was A Country”), a parable of Yugoslavian history, wins a second Palme d’Or in Cannes, in 1995. Black Cat, White Cat (1998, with songs by No Smoking Orchestra for the first time, the garage rock band with punk and folk influences, founded in 1981, which Kusturica became a part of in 1986 and which would, from then on, write the soundtracks of his films), wins the Venice Film Festival’s Silver Lion for Best Direction. In 2001, Emir Kusturica directs Super 8 Stories, a documentary about the No Smoking Orchestra, and in 2004, he directs Life Is a Miracle, winner of the Best European Union Film at the César Awards in 2005. Following another fiction film, Promise Me This (2007), in 2008 he launches Maradona, a documentary about the story of the famous Argentinian soccer star. On The Milky Road (2016), his most recent film, which premièred at the last Venice Festival, his first feature in nine years, brings together Kusturica himself in the leading male role, and Monica Bellucci, in a peculiar (and real) love story, with the memory of the Balkan War still in the background. The tenth edition of the Lisbon & Estoril Film Festival will dedicate a full retrospective of his work. 106
A descoberta do cinema
[...] [Em O Pai foi em Viagem de Negócios] Sidran e eu queríamos fazer um filme sobre a nossa infância e, ao mesmo tempo, sobre as pessoas do nosso país. E eis que demos por nós a falar sobre os anos cinquenta e sessenta na cidade de Sarajevo, a nossa. A forma melhor, pensámos, de exprimir os sentimentos que queríamos representar era o de passar através da infância e adolescência de um personagem durante um período que foi muito importante para a Jugoslávia. Em suma, a infância de um personagem corresponde à infância de um país. [...] A única forma de criar uma história dramática, no sentido mais geral do termo, é a de encontrar uma relação com as pressões políticas, constantes na Jugoslávia. [...] Discovering film During the week-end I used to work to make some money. My job consisted in delivering coal to fuel the heating system of the local Cinematheque, WWW. L E FFE S T. C OM
[With When Father Was Away On Business] Sidran and I wanted to make a film about our childhood and, at the same time, about our people. This is how we ended up talking about the fities and the sixties in Sarajevo, our city. The best way, we thought, to express the feelings we wanted to represent, was to do it through the childhood and adolescence of a character during a period that was very important for Yugoslavia. In a way, the childhood of a character corresponds to the childhood of a country. […] The only way to create a dramatic story, in the broader sense of the word, is to find a connection with the constant political pressures in Yugolasvia. […]
Filmar as cores dos ciganos A primeira vez que cheguei à estrada principal de Sutka, um bairro cigano, impressionou-me o número de casamentos que ali se festejavam. Algo do género é inimaginável em Paris ou em Sarajevo. Os ciganos vivem para estas cerimónias, os casamentos, a festa de São Jorge, etc. [...] Na verdade, os ciganos sobreviveram porque celebram todas as festas religiosas, católicas, protestantes, ortodoxas e muçulmanas. São os nossos representantes no Paraíso, a sua personalidade está em harmonia com a comunidade. Não é possível tirar-lhe fotografias individuais, é sempre uma foto de grupo. [...] O filme [O Tempo dos Ciganos] é semelhante ao seu traje típico. [...] É um filme onde tudo se mistura, simplesmente porque a vida é assim.
Shooting the colours of gypsies The first time I was at the main road of Sutka, a gypsy neighbourhood, I was impressed by the number of marriages they celebrated there. Something of that sort would be normal in Paris or Sarajevo. Gypsies live for these ceremonies: weddings, the St. George festivities, etc. […] In truth, gypsies have survived because they celebrate all religious festivities: Catholic, Protestant, Orthodox and Muslim. They are our representatives in Paradise, their personality is in harmony with the community. It is not possible to take individual pictures of them, they always have to be group pictures. […] The film [Time of the Gypsies) resembles their traditional garbs […] It is a film where everything is mixed, simply because that is what life is like.
A América e o peixe flecha Quando estudava em Praga – uma cidade barroca, fabulosa – e passeava ao Domingo, sonhando de voltar para Sarajevo, ficava um pouco intimidado, assustado por aquela grande tradição cultural que não existia no meu país natal. Sentia-me como um peixe voador nas estradas desertas… E aquela impressão de ser um peixe, senti-a nos Estados Unidos, onde os Domingos são ainda mais duros do que na Europa de Leste. Falava disso com Jim Jarmusch: “Porque é que os Domingos são tão difíceis de passar, na cultura cristã?”. E chegou-se à conclusão de que é, sem dúvida, a chegada da segunda-feira que nos assusta. America and the flying fish When I was studying in Prague – a fabulous baroque city – and strolled through the city streets on Sundays, dreaming of returning to Sarajevo, I was a little intimidated, frightened by that great cultural tradition that did not exist in my country. I felt like a flying fish on a deserted road… And that feeling of being a fish I also felt in the US, where Sundays are even harsher than in Eastern Europe. I spoke to Jim Jarmusch about that: “Why are Sundays so hard to get through in Christian culture?” And we concluded that it is without a doubt the arrival of Monday that frightens us. 107
H OM E N A GE M - E M IR KUST UR IC A
which screened a lot of older films. Often, when I had finished my delivery, the director would let us in free of charge. One of the first films I saw there was Senso, by Visconti. I could not understand a thing, but I could tell that something important was happening in that screen, something different. A little while later, I was shaken by yet another film, La Strada, by Fellini. It was then that I entered the magical world of film. I was lucky enough to enjoy a fertile period in Italian cinema. […] These films felt very close to the emotions I felt. A strong, Mediterranean vibration […] That strain of new realism had everything a film needs: emotions, the possibility of getting lost within a story… And then, naturally, I began to make my first amateur films. I discovered cinema through coal, it’s terrific, isn’t it?
As influências e a visão
Film and nationality?
Para a minha formação foram importantes, além de Ivo Andric [escritor bósnio vencedor do prémio Nobel da Literatura em 1961], Mesa Selimovic, também falecido há vários anos, e o Camus d’O Estrangeiro. [...] Sinto-me também muito próximo dos escritores latino-americanos. Existem na Bósnia formas de expressão muito semelhantes às da América latina. E os meus escritores preferidos são Carlos Fuentes, Gabriel García Márquez e outros romancistas do mesmo género. Reconheço-me nos seus problemas, na suas representações do amor, na sua força, nos símbolos que povoam os seus contos, no seu interesse pelo sonho. E tudo isto no meio da pobreza. [...]
Underground is my most important film, not just for its qualities but for the losses it stands for: above all the loss of my political ingenuity. […] The fact that I lived in a country and then subsequently realized that it no longer exists is an irreparable loss for me. Underground is not a nostalgic film, it is an obituary. I am the one who is nostalgic! […] I have no national feelings anymore. Before I was Yugoslavian and I felt at ease about our religious and cultural differences. Now I am like the gypsies in my films. All I have left is cinema.
The influences and the vision
Vivemos num período em que se procuram novos modos de fazer cinema. Eu tento fazê-lo combinando elementos de slapstick e burlesco com temáticas absolutamente sérias. Continuo obcecado por Bruce Lee e Ingmar Bergman, que procuro conciliar não de maneira directa, mas de uma forma que respeite a ideia da mistura de géneros. [...] Esta é uma estratégia necessária se queremos infundir energia e novidade ao cinema enquanto arte: é preciso quebrar as regras.
For my education, reading authors such as Ivo Andric [Bosnian writer, winner of the Nobel Prize in Literature in 1961], but also Mesa Selimovic, who also passed away few years ago, and Camus in The Stranger were very important. […] I also feel very close to Latin American writers. In Bosnia there are several expressions which are similar to those in Latin America. Some of my favourite writers are Carlos Fuentes, Gabriel Garcia Márquez and other novelists in the same vein. I see myself in their problems, their depictions of love, their strength, the symbols they use in their stories, their interest in dreams. And all of this set against a background of poverty. […]
Cinema e nacionalidade? Underground [Era Uma Vez Um País] é o meu filme mais importante, não apenas pelas suas qualidades mas pelas perdas que comportou: acima de tudo a perda da minha ingenuidade política. [...] O facto de ter vivido num país e de me ter apercebido que ele já não existe representa para mim uma perda irreparável. Underground não é um filme nostálgico, é um obituário. Eu é que sou nostálgico! [...] Já não tenho sentimentos nacionais. Antes era jugoslavo e sentia-me à vontade em relação às nossas diferenças religiosas e culturais. Agora sou como os ciganos do meu filme. Só me resta o cinema. 108
Os géneros e o cinema
Genres and film We live in a period where people are searching for new ways of making films. I try to combine elements from slapstick and burlesque with absolutely serious subjects. I am still obsessed with Bruce Lee and Ingmar Bergman, whom I try to combine not directly, but in a way that respects the mixing of genres. […] This is a necessary strategy if we want to imbue cinema with energy and novelty as an art: rules must be broken. Fragments from the book Emir Kusturica, Giorgio Bertellini, Ed. II Castoro, 2001
WWW. L E FFE S T. C OM
On the Milky Road
Este filme foi concebido e inspirado pela história verídica de um soldado russo no Afeganistão, que foi salvo por uma cobra. A segunda história – de Monica – é sobre algo que aconteceu a uma rapariga sérvia, que era tão bela que um general na Ucrânia se apaixonou por ela e acabou por matar a própria mulher. A terceira história é o modo como eu uni todas as partes e desencadeei o conflito. [...] O problema foi manter uma visão poética mesmo quando o tempo não estava bom, mas tive a sorte de ter comigo a Monica [Bellucci] e a Sloboda [Micalovic] que se dedicaram muito ao filme. [...] O objectivo era que a história de amor se sobrepusesse a tudo o resto.
This drama is designed and inspired by a true story that happened to a Russian soldier in Afghanistan, who was saved by a snake. The second story - Monica’s - is something that happened to a serbian girl who was so beautiful that a general in Ukraine fell in love with her and couldn’t resist to kill his own wife. The third story is the way how I put it together and how I triggered the conflict. [...] The problem was how to keep a poetic vision in the time when the weather wasn’t good, but luckily I had Monica [Bellucci] and Sloboda [Micalovic] who were really devoted to the film. [...] The aim was that the love story stays on top of all.
Entrevista à RepTV durante o Festival de Veneza 2016
Interview to RepTV during Venice Film Festival 2016
GUERNICA Um pequeno rapaz judeu visita com o seu pai a Exposição Universal de Paris em 1937, onde descobre a pintura de Picasso. Alguns anos mais tarde, os nazis iniciam a sua perseguição aos judeus. A young jewish boy is taken by his father to the 1937 Exposition Universelle in Paris, where he discovers Picasso’s painting. Some years later, the Nazis begin their persecution of the Jews. • Dia 8 às 14h30 Medeia Monumental, Sala 2
Realizador Director:
Emir Kusturica
Elenco Cast: Karel Augusta, Peter Krsak, Borík Procházka, Jana Smrcková, Miroslav Vydlák Argumento Screenplay: Antonije Isakovi, Emir Kusturica, Pavel Sykora Fotografia DOP: Pavol Bernáth Produtora Production: FAMU CS, 1978, 25’
OUR LIFE Em Our Life, Emir Kusturica retrata um dia na vida de um padre cristão ortodoxo, na paisagem remota e montanhosa da Sérvia, que se submete ao sacrifício durante uma curiosa e invulgar viagem espiritual. In Our Life, Emir Kusturica depicts a day in the life of a Christian Orthodox priest in the remote and mountainous Serbian landscape. He puts himself through sacrifice during an unconventional spiritual journey. • Dia 8 às 14h30 Medeia Monumental, Sala 2
Realizador Director:
Emir Kusturica
Elenco Cast: Emir Kusturica Argumento Screenplay: Dunja Kusturica Fotografia DOP: Martin Sec Produtora Production: BN Films, Mijfilm Production | MX, 2014, 12’
109
H OM E N A GE M - E M IR KUST UR IC A
On the Milky Road
SJECAS LI SE DOLLY BELL? Lembras-te de Dolly Bell? Uma crónica juvenil que retrata a Jugoslávia dos anos 60, vista pelos olhos de um adolescente de Sarajevo. Dino vive entre dois mundos aparentemente inconciliáveis: o fascínio pela cultura ocidental e a rigidez imutável da vida na Jugoslávia.
• Dia 5 às 21h30 Medeia Monumental, Sala 3
A juvenile chronicle that portraits Yugoslavia in the Sixties, through the eyes of an adolescent boy in Sarajevo. Dino lives between two worlds that apparently are irreconcilable: the fascination for the western culture and the unchanging severity of life in Yugoslavia.
Realizador Director:
Emir Kusturica
Elenco Cast: Slavko Stimac, Slobodan Aligrudic, Ljiljana Blagojevic Argumento Screenplay: Emir Kusturica, Abdulah Sidran Fotografia DOP: Vilko Filac Produtora Production: Kinema Sarajevo, RO Forum, Sarajevo, SIZ za Kinematografiju SR BiH | YG, 1981, 110’
OTAC NA SLUZBENOM PUTU O Pai Foi em Viagem de Negócios Numa mistura dramática entre sentimentalismo, humor, onirismo e História, este filme revela como era a vida familiar em Sarajevo no início da década de cinquenta, sob o ponto de vista inocente de um narrador de seis anos, Malik. In a dramatic mixture of sentimentalism, humor, oneiric elements and History, this film is a reveals how was family life in Sarajevo in the early Fifities, from the innocent point of view of a 6-year-old narrator, Malik. • Dia 6 às 14h30 Medeia Monumental, Sala 1 • Dia 13 às 16h00 Medeia Monumental, Sala 2
Realizador Director:
Emir Kusturica
Elenco Cast: Moreno D’E Bartolli, Predrag ‘Miki’ Manojlovic, Mirjana Karanovic Argumento Screenplay: Abdulah Sidran Fotografia DOP: Vilko Filac Produtora Production: Centar Film, Forum Sarajevo | YG, 1985, 136’
DOM ZA VESANJE O Tempo dos Ciganos Um olhar lírico sobre a cultura exótica da comunidade cigana e a natural destruição dos sonhos infantis, onde comédia e tragédia se fundem com realismo e fantasia. A lyrical look over the exotic culture of the gypsy community and the natural destruction of childhood dreams, where tragedy and comedy merge with realism and fantasy • Dia 13 às 16h30 Espaço Nimas (conversa com Emir Kusturica)
110
Realizador Director:
Emir Kusturica
Elenco Cast: Davor Dujmovic, Bora Todorovic, Ljubica Adzovic Argumento Screenplay: Emir Kusturica, Gordan Mihic Fotografia DOP: Vilko Filac Produtora Production: Forum Sarajevo, Ljubavny Film, Lowndes Productions Limited | YUGS, IT, UK, 1988, 142’
WWW. L E FFE S T. C OM
No típico imaginário fantástico e surrealista de Kusturica, desta vez transportado para uma paisagem clássica do western, Axel (Johnny Depp) é um jovem obcecado por peixes. In Kusturica’s typically fantastical and surreal universe, this time moved to a classic western landscape, Axel (Johnny Depp) is a young man obsessed with fish. • Dia 4 às 21h45 Medeia Monumental, Sala 1 • Dia 11 às 15h30 Casa das Histórias Paula Rego • Dia 13 às 19h00 Medeia Monumental, Sala 1
Realizador Director:
Emir Kusturica
Elenco Cast: Johnny Depp, Jerry Lewis, Faye Dunaway, Vincent Gallo Argumento Screenplay: Emir Kusturica, David Atkins Fotografia DOP: Vilko Filac Produtora Production:Canal+, Constellation, Hachette Première | US, FR, 1992, 142’
UNDERGROUND Era Uma Vez Um País Três períodos negros na história da Jugoslávia: a Primeira Guerra Mundial, a Guerra Fria, e a Guerra Civil Jugoslava. A desintegração de um país e o desmoronamento de uma ilusão que durou décadas, simbolizado por um homem que emerge do seu refúgio subterrâneo.
• Dia 11 às 17h15 Espaço Nimas (seguido de conversa com Emir Kusturica)
Three dark periods of the history of Yugoslavia: World War I, Cold War and the Yugoslav Wars. The desintegration of a country, Kusturica’s homeland, along with the collapse of a decade long illusion, symbolised by a man that emerges from his underground shelter.
Realizador Director:
Emir Kusturica
Elenco Cast: Predrag ‘Miki’ Manojlovic, Lazar Ristovski, Mirjana Jokovic Argumento Screenplay: Emir Kusturica, Dusan Kovacevic Fotografia DOP: Vilko Filac Produtora Production: CiBy 2000, Pandora Filmproduktion, Novofilm | YUGS, FR, DE, BG, CZ, HU, 1995, 167’
BILA JEDNOM JEDNA ZEMLJA Era Uma Vez Um País Versão televisiva, em seis episódios, de Era Uma Vez Um País (1995). Tv series, in six episodes, of Underground (1995)
Realizador Director:
• Dia 7 às 14h00, 16h00, 19h15 Medeia Monumental, Sala 2
Emir Kusturica
Elenco Cast: García Predrag ‘Miki’ Manojlovic, Mirjana Jokovic, Slavko Stimac Argumento Screenplay: Dusan Kovacevic, Emir Kusturica Fotografia DOP: Vilko Filac Produtora Production: CiBy 2000, Komuna, Pandora | YG, FR, 1995, 50’ (6 episódios/episodes)
111
H OM E N A GE M - E M IR KUST UR IC A
ARIZONA DREAM Arizona
CRNA MACKA, BELI MACOR Gato Preto, Gato Branco Esta é a história de um grupo de ciganos que vive junto ao rio Danúbio. Matko, o Cigano, vive de pequenos negócios obscuros que faz com os russos. O seu primeiro trabalho é desviar um comboio que transporta gasolina de Belgrado para a Turquia. This is the story of a group of gypsies who live near the Danube river. Matko, the Gypsy, makes a living by doing dirty business with the Russians. His first task is to sabotage a train with gasoline from Belgrade to Turkey. • Dia 5 às 18h00 Casino Estoril • Dia 7 às 18h30 Medeia Monumental, Sala 4 • Dia 9 às 15h30 Casa das Histórias Paula Rego
Realizador Director:
Emir Kusturica
Elenco Cast: Bajram Severdzan, Srdjan ‘Zika’ Todorovic, Branka Katic Argumento Screenplay: Gordan Mihic Fotografia DOP: Thierry Arbogast Produtora Production: CiBy 2000, Pandora Filmproduktion, Komuna | YUGS, FR, DE, AT, GR, 1998, 127’
SUPER 8 STORIES Em 1999, Kusturica e a sua banda, The No Smoking Orchestra, partiram em digressão. O realizador aproveitou a oportunidade e pegou numa câmara de 8mm e numa digital para fazer um documentário frenético. In 1999, Kusturica and The No Smoking Orchestra band went on a tour throughout Europe. The director took the opportunity to embark on a journey with a 8mm camera and a digital camera and created a high-speed documentary. • Dia 11 às 14h30 Medeia Monumental, Sala 4 • Dia 13 às 19h30 Espaço Nimas
Realizador Director:
Emir Kusturica
Elenco Cast: Aleksandar Balaban, Nenad Gajin Coce, Goran Markovski Glava Fotografia DOP: Michel Amathieu Produtora Production: Cooperativa Edison, Fandango, Pandora Filmproduktion | DE, IT, YUGS, 2001, 90’
ZIVOT JE CUDO A Vida é um Milagre Bósnia, 1992. Sérvio, de Belgrado, Luka instala-se numa aldeia remota com a mulher e o filho. Imerso no trabalho, ignora a constante ameaça de guerra. Quando o conflito explode, a sua vida transforma-se. Bosnia, 1992. Serbian from Belgrade, Luka, sets himself in a village in the middle of nowhere, along with his wife and son. Immersed in his work, he seems unaware of the constant threat of war. When the conflict explodes, his life suffers a big turn. • Dia 6 às 17h30 Casino Estoril • Dia 8 às 19h00 Espaço Nimas
112
Realizador Director:
Emir Kusturica
Elenco Cast: Slavko Stimac, Natasa Tapuskovic, Vesna Trivalic Argumento Screenplay: Emir Kusturica, Ranko Bozic Fotografia DOP: Michel Amathieu Produtora Production: Les Films Alain Sarde, Rasta Films | RS, FR, IT, 2004, 155’
WWW. L E FFE S T. C OM
Sérvia-Montenegro, 2005. Uroš (o cigano de olhos azuis) prepara-se para sair do centro de detenção juvenil onde passou os últimos anos. O anseio pela liberdade reveste-se, no entanto, de uma certa preocupação.
• Dia 8 às 14h30 Medeia Monumental, Sala 2
Serbia-Montenegro, 2005. Uroš (the blue-eyed gypsy) is preparing himself to leave the juvenile detention center where he spent the previous years of his life. However, the anxiety for a new freedom leaves him with a certain concern.
Realizador Director:
Emir Kusturica
Elenco Cast: Uroš Milovanovi, Dragan Zurovac, Vladan Milojevi, Advokat Goran R. Vracar, Mihona Vasi, Mita Beli, Dalibor Milenkovi, Miroslav Cvetkovi, Petar Simi Argumento Screenplay: Stribor Kusturica Fotografia DOP: Milorad Glušica, Michel Amathieu Produtora Production: MK Film Productions S.r.l., Rai Cinemafiction | FR, IT, 2005, 17’
ZAVET Promessas Tsane vive com o avô e uma vaca. O avô diz-lhe que está prestes a morrer. Obriga o neto a prometer vender a vaca. Com o dinheiro, deve comprar um ícone religioso, algo que deseje e encontrar uma mulher. Tsane lives with his grandfather and a cow. Tsane’s grandpfather tells him that he is about to die. He forces his grandchild to sell the cow. With that money, he must first buy a religious icon, then buy something that he wants and has to find a wife. • Dia 9 às 21h00 Medeia Monumental, Sala 2
Realizador Director:
Emir Kusturica
Elenco Cast: Uros Milovanovic, Marija Petronijevic, Aleksandar Bercek Argumento Screenplay: Emir Kusturica Fotografia DOP: Milorad Glusica Produtora Production: Fidélité Productions, France 2 Cinéma, Rasta International | RS, FR, 2007, 137’
MARADONA BY KUSTURICA De Buenos Aires a Nápoles – passando por Cuba – Kusturica traça a vida de Diego Maradona, desde as suas humildes origens até à sua fama mundial, da espectacular ascensão até à trágica queda. From Buenos Aires to Naples – as well as Cuba – Emir Kusturica depicts the life of Diego Maradona, from his humble beginnings to his worldwide fame, from the most spectacular rise to the tragic fall. • Dia 5 às 19h00 Medeia Monumental, Sala 2 (apresentação por António-Pedro Vasconcelos)
Realizador Director:
Emir Kusturica
Elenco Cast: Ernesto Cantu, Fidel Castro, Manu Chao Fotografia DOP: Rodrigo Pulpeiro Vega Produtora Production: Pentagrama Films, Telecinco Cinema, Wild Bunch | ES, FR, 2008, 90’ On the Milky Road (2016) > ver Selecção Oficial - Fora de Competição
113
H OM E N A GE M - E M IR KUST UR IC A
BLUE GYPSY
TERESA VILLAVERDE Homenagem Tribute Realizadora, argumentista e produtora, Teresa Villaverde é um dos nomes mais importantes da geração de realizadores portugueses surgidos na década de 90. É autora de uma filmografia muito pessoal, marcada por uma certa portugalidade e uma particular atenção a temas como a infância e a adolescência, a inadaptação e a dificuldade de comunicação interpessoal. Participou como actriz, cenógrafa, argumentista, assistente de realização e de montagem em diversas produções, antes de realizar um trio de longas-metragens marcante, presente nos maiores festivais de cinema: A Idade Maior (1991), uma reconstituição do Portugal do início da década de 70, marcado pela Guerra Colonial, Três Irmãos (1994), que recebeu o Prémio de Melhor Actriz no Festival de Veneza, atribuído a Maria de Medeiros e Os Mutantes (1998), seleccionado para o Festival de Cannes, secção Un Certain Regard, abordando o desenraizamento de jovens adolescentes oriundos de ambientes familiares disfuncionais. Em 2006, Teresa Villaverde realiza Transe, retratando a imigração ilegal e o tráfico de mulheres, também escolhido para os festivais de Cannes (Quinzena dos Realizadores) e Toronto, contribuindo definitivamente para a sua projecção internacional. Cisne (2011) reúne muitos dos temas dos seus filmes anteriores, ecos das suas primeiras obras, recorrências e prolongamentos de Água e Sal, a sua longa-metragem de 2001. Teresa Villaverde colaborou em algumas obras colectivas, contribuindo com os seus segmentos em Visions of Europe (2004), Venice 70 – Future Reloaded (2013) e Pontes de Sarajevo (2014). Em 2004 realizou igualmente um documentário, A Favor da Claridade, um retrato do artista Pedro Cabrita Reis. Teresa Villaverde prepara-se para estrear um novo filme, Colo, que conta com Beatriz Batarda como protagonista. Director, screenwriter and producer, Teresa Villaverde is one of the most important names of a generation of Portuguese film directors that emerged in the 1990s. She is the author of a very personal filmography, influenced by certain para114
digmatic Portuguese characteristics, and which pays particular attention to themes such as childhood and adolescence, inadequacy and difficulty of interpersonal communication. She participated in several productions as an actress, set designer, screenwriter, assistant director and assistant editor, before directing a striking trio of feature films, screened at the greatest film festivals: Alex (1991), a reconstitution of Portugal in the beginning of the 1970s, marked by the Colonial War; Two Brothers, My Sister (1994) which won the Best Actress Award at the Venice Festival given to Maria de Medeiros and The Mutants (1998) selected for the Cannes Film Festival, section Un Certain Regard, which approaches the rootlessness of young teenagers coming from dysfunctional family environments. In 2006, Teresa Villaverde directed Trance, a film portraying illegal immigration and human trafficking, which was also chosen for the Cannes Film Festival (Quinzaine des Réalisateurs) and the Toronto Festival, irrevocably consolidating her international profile. Swan (2011) assembles many subjects from her previous films, echoes of her first works, recurrences and extensions of Water and Salt, a film she directed in 2001. Teresa Villaverde collaborated on some collective works, contributing with her segments in Visions of Europe (2004), Venice 70 – Future Reloaded WWW. L E FFE S T. C OM
Teresa Villaverde is preparing to premiere her new film, Colo, starring Beatriz Batarda in the lead role.
Entrevista a Teresa Villaverde Numa altura em que é possível olhar para o conjunto da sua obra, consegue identificar o princípio de tudo, ou seja, quando e como nasceu em si o desejo de fazer cinema, de ser cineasta? Eu penso que fui atraída pelo cinema logo à saída da infância, sem saber, claro, que iria ser cineasta por nem sequer saber ainda o que seria isso. Penso que quando vemos uma obra de arte que nos atrai verdadeiramente, esquecemos que foi feita, parece que nasceu assim, completa. Era assim que eu via o cinema. O cinema nunca perdeu, para mim, esse poder de atracção, e sem dar por isso, sem um evento preciso, um filme preciso, fui percebendo que era cineasta, que a linguagem do cinema era a que se colava mais a mim. Quando me imagino nesse início de atracção pelo cinema, imagino-me atraída pelo lado da obscuridade, do mistério. Nunca imagino a claridade, sei que um dos filmes que mais me atraiu foi o Último dos Homens do Murnau, o seu lado obscuro, o seu lado misterioso, mas hoje atrai-me igualmente a claridade do Sacrifício do Tarkovski. Para mim o cinema foi-se abrindo, ganhando amplitude. Embora não tenha frequentado uma escola de cinema, participou como actriz, cenógrafa, argumentista, assistente de realização e de montagem em várias produções, antes de realizar o seu primeiro filme. Que recordações guarda desse período de aprendizagem e posteriormente da experiência de dirigir A Idade Maior? Quando cheguei ao primeiro dia de rodagem da Idade Maior vinha ainda numa grande ignorância do que seriam as dificuldades de fazer um filme, penso que o filme ganhou muitíssimo com essa minha ignorância porque
eu só via o écran, as imagens que queria ver mais tarde no écran. Eu não via os obstáculos, via só o fim. Tinha 23 anos, e as pequenas experiências que tinha tido antes não incluíam o trabalho da rodagem, excepto uma pequena passagem como actriz num filme do João César Monteiro quando eu tinha 19 anos. Penso que me ajudou muitíssimo ter sido também a autora do argumento. Sabia o que queria ver. Tive também o grande privilégio de ter como directora de fotografia a Elfie Mikesch (colaboradora constante de Werner Schroeter, entre outros), o nosso entendimento foi mais que perfeito, e isso deu-me muita segurança e calma. Muita da força e poesia do seu cinema passa pela dinâmica entre actores profissionais e «nãoactores» (frequentemente crianças e adolescentes). De que forma trabalha com uns e outros? Quando trabalho com crianças e adolescentes a hipótese de trabalhar com profissionais não se põe porque nessa idade eles não podem ser profissionais ainda. Exceptuando em pequenos papéis, os adultos com quem trabalhei foram sempre profissionais, mas talvez eu procure nos profissionais uma generosidade, talvez a mesma, que sei que posso encontrar nessas crianças e adolescentes. Não é fácil, mas é o que eu procuro. Procuro actores que sejam capazes de se despir de certezas, e que se entreguem às personagens com a pureza de quem vai à descoberta de uma pessoa nova com abertura e confiança, e sem medo de se entregarem a essas personagens, e ao filme. Quando conseguimos isso, penso que é gratificante para todos. Muitas vezes sinto que a pureza desses adolescentes e crianças contagia os actores profissionais, e me contagia a mim também. Tento dar todo o meu apoio a uns e a outros, e cada pessoa precisa de um apoio diferente. A separação que faço é a mesma que faço entre pessoas, não estou a pensar se um é profissional, e o outro não. Só no meu primeiro filme é que houve uma grande separação porque o actor principal tinha apenas dez anos, e nesse caso seria até contraproducente contar-lhe, por exemplo, o filme todo, trabalhávamos bocadinho a bocadinho.Para que ele estivesse concentrado e entendesse a intensidade necessária, tinha mesmo que ser assim. 115
H OM E N A GE M - T E R E SA VIL L AVE R D E
(2013) and Bridges of Sarajevo (2014). In 2004 she also directed a documentary, In Favor of Light, a portrait of the artist Pedro Cabrita Reis.
O seu cinema sempre teve uma forte consciência social, sempre olhou para o Outro, para os excluídos, os deserdados, os inadaptados. Em Transe (2006) traçou um retrato da Europa que é ainda (mais) válido hoje, porque “acontecem as guerras entre as pessoas”, como se dizia nesse filme. O seu cinema faz-se nesse “entre” e nesse sentido é também um gesto político, defendendo personagens que querem criar laços, elos, pontes entre si, viver melhor. Sente o seu cinema assim? Eu tenho dificuldade em classificar o cinema que faço, sei-o político, mas não é programático. Falo de coisas que me atingem, que me ferem. Atinge-me, obviamente, também o que pode não me acontecer directamente a mim. Não me sinto a viver numa bolha. Mas há um momento em que tudo se mistura. No Transe, por exemplo, aquela mulher a partir de certa altura era também eu, como tenho a certeza de que a partir de certa altura ela era também a Ana Moreira, a actriz principal do filme. Éramos nós. Talvez às vezes se dê uma fusão, e não sei se se pode programar uma fusão, ela pode acontecer, pode dar-se. Isso faz-me pensar que talvez inconscientemente eu vá à procura de feridas que entendo, que podem fazer eco dentro de mim, ou que já fazem antes de eu saber que fazem. Na vida, como em tudo, muitos dos nossos gestos só vamos entendê-los mais tarde, ou nunca. Em 2003, realiza A Favor da Claridade, um filme sobre e “para Pedro Cabrita Reis”. Vê-o verdadeiramente como um documentário ou como uma ficção? Como foi olhar para a obra e para a pessoa de um outro artista? O que fez ressoar em si? Gostei muito de fazer o A favor da Claridade, mas sei que não me sinto muito à vontade no documentário. Filmei muito o Pedro a trabalhar, segui-o em algumas montagens dos seus trabalhos, mas praticamente não utilizei nada desse material por sentir que vê-lo trabalhar não dizia muito sobre o seu trabalho, e curiosamente, ou não, senti que dizia também pouco sobre o seu processo de trabalho. Do que pude ver, o trabalho do Pedro Cabrita Reis é sobretudo produto do seu pensamento, construído na 116
sua cabeça, embora sejam obras com corpo. Assisti a obras que iam sendo construídas às vezes por grandes equipas sobre a sua orientação, depois vinha o silêncio, e o Pedro podia aparecer com um martelo e destruir parte do que tinha já sido construído, e isso era um trabalho extremamente cuidadoso, mas se eu o mostrasse podia parecer redutor, quase anedótico. Tentei com a ajuda da sua voz, e de imagens fixas de muitas das suas obras, encontrar um fio condutor que me aproximasse do pensamento dele, e o filme foi crescendo com imagens minhas que eu senti que podiam cruzar os nossos dois pensamentos. Muitas das imagens, dos planos, surgiram de pequenos acidentes, acasos. Achei isso justo porque o próprio trabalho do Cabrita Reis, na minha opinião, inclui a aceitação dos acidentes. Não sei se o filme é um documentário ou uma ficção, provavelmente não é nem uma coisa nem outra. Looking at all your works, can you pin point the beginning of everything, that is, when and how your wish to make films, to be a filmmaker, was born? I believe I was drawn to cinema right after childhood, not knowing, of course, that I would become a filmmaker. At that time I did not even know what being a filmmaker meant. I think that when we see a piece of art to which we are truly drawn, we forget that it was built, it feels as if it was born that way, finished. That was how I saw cinema. To me, cinema never lost that power of attraction and without knowing it, with no specific event, no specific film, I started realizing that I was a filmmaker, that the language of cinema was that which most connected with me. When I picture myself, at the moment when I first began feeling drawn to cinema, I picture myself drawn to obscurity and mystery. I never pictured clarity. I know that one of the films that I felt most drawn to was The Last Laugh, with an obscure side and mysterious side, but today I also feel drawn to the clarity in Tarkovski’s The Sacrifice. Cinema gradually opened up to me, getting more and more amplitude. Although you did not study at a film school, before producing your first film you participated in various productions as an actress, scenographer, scriptwriter and as an assistant producer and editor. What memories do you keep of that learning period and, later, of the experience of directing Alex? WWW. L E FFE S T. C OM
A lot of your film’s power and poetry includes the dynamics between professional actors and “nonactors” (frequently children and teenagers). How do you work with professional actors and “non-actors”? When I work with children and teenagers, the scenario of working with professionals does not exist because at that age they cannot yet be professionals. Except in small roles, the adults I have worked with were always professionals, but maybe I try to find in adults a generosity, perhaps the same I know I can find in children and teenagers. It is not easy, but it is what I look for. I look for actors who were capable of getting rid of certainties and can commit to the characters with a purity of someone who seeks a new person, someone open and trustful, who is not afraid of committing to those characters and to the film. When we achieve that, I believe it is rewarding to everyone. I often feel that the purity of these children and teenagers is transmitted to the professional actors, and to me too. I try to give my full support to all, and every person needs a different kind of support. The distinction I make is the same I make between people, I do not think whether one is professional and the other is not. Only in my first film was there a great distinction, which was due to the fact that the lead actor was only ten years old. In that case it would be counterproductive to tell him, for example, the whole film, so we worked little by little. In order for him to be focused and so that he would understand the necessary intensity, that was how it had to be done. Your films have always had a strong social awareness, you always look at the Other Person, at the excluded, the disinherited and the misfits. In Transe (2006) you painted a picture of Europe that
is still (more) valid today, because “wars between people happen” as was said in the film. Your films are made in that “between” and they are also a political gesture, defending characters who want to create bonds, ties, bridges among themselves, to live better. Is this how you see your films? I have no difficulty in classifying my films, I know they are political but they are not programmatic. I speak of things that affect me, that hurt me. I am also affected, obviously, by things that do not happen directly to me. I do not feel like I live in a bubble. There is a moment in which everything gets mixed together. In Trance, for example, at some point I also became that woman, the same way I am sure that, at some point, she was also Ana Moreira, the lead actress. She was us. Sometimes there might be a fusion and I am not sure whether you can program a fusion, it can simply happen. That makes me think that I might sometimes search for wounds that I understand, which can echo inside me, or which already echoed even before I knew they did. In life, as in everything, we will only understand many of our gestures later on, or never. In 2003 you directed the film A Favor da Claridade (In Favour of Light), a film about and “for Pedro Cabrita Reis”. Do you see it as a documentary or as fiction? What was it like to see the work and person of another artist? What did it resound in you? I enjoyed making In Favour of Light, but I know that I do not feel very much at ease in the documentary. I filmed Pedro a lot when he was working, I followed him around in some of his works, but I used practically none of that footage because I felt that watching him work did not say much about his work and curiously, or not, I felt that it said little about his work process. From what I could observe, Pedro Cabrita Reis’ work is mainly a product of his thoughts, built in his head, but which he gives body to. I watched his works being built, sometimes by big teams under his guidance. And then there would be silence and Pedro would come along with a hammer and destroy part of what had already been built. This was extremely careful work, but if I showed it, it could be seen as narrow, almost ridiculous. With the help of his voice and still images of many of his works I tried finding a thread that would get me close to his thought and the film grew with my images which I felt could cross both our thoughts. Many of those images came from small accidents, chances. I thought that was fair since Cabrita Reis’ work includes, in my opinion, 117
H OM E N A GE M - T E R E SA VIL L AVE R D E
When I arrived to the first filming day of Alex, I was still very ignorant regarding what the difficulties of making a film would be. I believe that the film gained a lot with that ignorance of mine, since all I saw was the screen, the images that I wanted to see on the screen afterwards. I did not see the obstacles, all I saw was the end. I was 23 years old and the small experiences that I had been through before had not included any filming work, except a small job as an actress in one of João César Monteiro’s films when I was 19. I believe that being also the author of the script was extremely helpful. I knew what I wanted to see. I also had the privilege of having Elfie Mikesch (constant collaborator of Werner Schroeter, among others) as a cinematographer and we got along perfectly, which made me feel very secure and calm.
the acceptance of accidents. I do not know whether the film is a documentary or fiction, it is probably neither one nor the other.
temas fundamentais da sua obra já estavam presentes aí, a juventude e a margem, a exploração e a vulnerabilidade, a coragem precária de combates silenciosos. Mas falávamos ainda na primeira pessoa da entrada nessa idade maior que iria forçosamente abalar nosso ninho de afectos, nossa irmandade de filhos do 25 de abril. Hoje vemos nossas filhas dar por sua vez esses primeiros passos. E guardo com todo o carinho e um imenso orgulho ter caminhado os passos de Maria, a irmã de “Três irmãos”, junto com Teresa Villaverde, minha amiga-irmã. I remember Teresa’s scripts. One scene per page, often only a few concise, dry sentences, with the power to awaken an overwhelming emotion. Like haikai impregnated with a dense Lisbon melancholy. Teresa translates and enlarges in pictures that very same poetical strength. I have always seen Teresa completely at ease in cinema. It is her element, her language. Her cinema speaks for her, it says what she does not say due to severe shyness.
[Amiga-Irmã] Lembro-me dos guiões da Teresa. Uma cena por página, por vezes só algumas frases, concisas, enxutas, com o poder de despertar uma emoção avassaladora. Como haicais impregnados de uma densa melancolia lisboeta. Essa mesma força poética, a Teresa traduz e amplia em imagens. Sempre conheci a Teresa perfeitamente à vontade no cinema. É seu elemento, sua linguagem. Seu cinema diz o que ela por agreste timidez cala. Caminhámos juntas no início de nossos itinerários. Os primeiros filmes de Teresa falavam de coisas que nos eram comuns, “A idade maior”, “Três irmãos”. Muitos dos 118
We walked together at the beginning of our itineraries. Teresa’s first films portrayed things that were common between us, Alex and Two Brothers, My Sister. Many of her work’s fundamental themes were already there, youth and margin, exploration and vulnerability, the precarious courage of silent battles. But we still spoke in the first person in entering that adult age which would inevitably upset our nest of affections, our brotherhood of children of the 25 April revolution. Today we watch our daughters take those first steps. And I affectionately remember with pride walking Maria’s steps, the sister of Two Brothers, My Sister, alongside Teresa Villaverde, my sister-friend. Maria de Medeiros
[...] Em 1991, eu estava em França, descobri algo tardiamente o filme [A Idade Maior], e, como por vezes acontece, “adoptei-o” de imediato, embora reconhecendo nele tudo o que ainda tinha de imaturo. Mas a força de determinadas sequências era tão grande que fiquei certo de que se tinha encontrado um nome bem significativo no cinema português. WWW. L E FFE S T. C OM
H OM E N A GE M - T E R E SA VIL L AVE R D E
[...] Quando, em 94, ela fez Três Irmãos, respirei de alívio. A prova estava feita de que eu tinha tido razão contra grande parte da crítica portuguesa. O filme era extremamente incomodativo, sufocante mesmo, aqui ou ali algo desajeitado. Mas era de uma verdade impressionante. Contudo, o grande sucesso da Teresa, aquilo que constituiu o processo do seu reconhecimento unânime, foi com Os Mutantes. Era ela, e Ana Moreira, um rosto desesperadamente aflito, convulsivo, belíssimo nessa espécie de sofrimento constante que parece transportar. A Ana serve às mil maravilhas o cinema da Teresa, as duas formam uma dualidade una, e o filme tem a violência de quem assiste à mutação do mundo sem saber muito bem como são os novos seres que aparecem. Trata-se de uma obra extraordinária. A seguir veio Água e Sal, e aí foi o massacre. Injusto, diga-se de passagem. O filme tem fragilidades, mas tem coisas belíssimas e estabelece com a cineasta uma relação íntima que nos toca profundamente. Mas fico de novo um pouco isolado nesta posição. Vi agora Transe, que esteve em Cannes. E aqui é uma verdadeira obra-prima. Uma travessia por países e línguas, com um realismo cruel, permanentemente reescrito numa espécie de túnel metafísico onde tudo se precipita. Uma obra visualmente sumptuosa, de uma estranheza permanente. E uma Ana Moreira dilacerante. A gente olha a Teresa e é como quando olha uma criança: tão frágil, onde é que ela foi buscar tudo isto? Mas trata-se de uma experiência inesquecível. Quem perder perde tudo. […] In 1991, in France and somewhat late, I discovered the film [Alex] and, as it sometimes happens, “adopted” it immediately, though recognizing in it that which still rang as immature. But the strength of certain sequences was so great that I was certain we had found a significant name in Portuguese cinema. […] When, in 94, she made Two Brothers, My Sister, I heaved a sigh of relief. I was proven right against most of the Portuguese critics. The film was extremely unsettling, stifling even, perhaps even clumsy here and there. But it was of an impressive truth.
However, Teresa’s great success, that which set her unanimous acclaim in motion, was The Mutantes. It was her and Ana Moreira, a desperately distressed, convulsive and beautiful face whose suffering seemed to somehow overflow. Ana fits into Teresa’s work wonderfully, the two make for a single duality, and the film bears the violence of those who witness the world changing without knowing what the new beings who will arrive are like. It is an extraordinary work. Then came Water and Salt, and it was a massacre. An unfair massacre, it must be said. The film has weaknesses, but it also has extremely beautiful things and establishes a deep connection with the director that touches us deeply. But I am again fairly alone in thinking this. I have just seen Trance, which was screened at Cannes. And this is a true masterpiece. A voyage through countries and languages with a cruel realism permanently rewritten into a kind of metaphysical tunnel where everything seems to rush to. A truly sumptuous affair, of a permanent strangeness. And an eviscerating Ana Moreira. We look at Teresa and it is just like when we look at a child: 119
so fragile, where is she getting all of this? But it is an unforgettable experience. Those who miss it are truly missing everything. Eduardo Prado Coelho, Crónicas no Fio do Horizonte, Edições Asa, Lisboa 2004 Que é o transe? Quando estamos em transe? Quando temos uma crise, um pôr em causa de todas as coisas, algo que estabelece um trânsito para aquilo que antes não sabíamos. Dizia Ana Moreira, a actriz, que depois de ter feito este filme uma pessoa sente-se diferente. Mas não é apenas quem o fez. É também quem o viu. Todos ficamos numa passagem maior. Transe, o filme de Teresa Villaverde, neste momento em exibição, vem confirmar tudo aquilo que desde a Idade Maior (embora nessa altura o meu entusiasmo tenha sido bastante isolado) eu já sabia. Mas com Transe vamos muito mais longe. A Teresa acaba de nos propor um dos grandes filmes da história do cinema português.
When we are facing a crisis, something that calls everything into question, something which establishes a pathway to that which we did not know before. Ana Moreira, the actress, said that after being a part of this film one felt different. But this does not only apply to those who have played a part in making it. It also applies to those who have seen it. It carries us all to a larger pathway. Trance, Teresa Villaverde’s film, in cinemas as we speak, confirms everything that I have known since Alex (though my enthusiasm was much more contained then). But with Trance we are on another level. Teresa has just gifted us one of the greatest films in the history of Portuguese cinema. Thank you, Teresa. Eduardo Prado Coelho, Crónicas no Fio do Horizonte, Edições Asa, Lisboa 2004
What is a trance? When are we in a trance?
120
WWW. L E FFE S T. C OM
Revelando um olhar muito próximo do sofrimento dos portugueses durante a Guerra Colonial, A Idade Maior narra a história de uma família destroçada por essa realidade. A very close look at the Portuguese people’s suffering during the colonial war.
Realizador Director: • Dia 8 às 14h15 Espaço Nimas
Teresa Villaverde
Elenco Cast: Teresa Roby, Ricardo Colares, Joaquim de Almeida Argumento Screenplay:Teresa Villaverde Fotografia DOP: Elfi Mikesch Produtora Production: G.E.R. (Grupo de Estudos e Realizações), Invicta Filmes, Radiotelevisão Portuguesa (RTP) | PT, 1990, 114’
TRÊS IRMÃOS Two Brothers, My Sister Lisboa, anos noventa. Maria, João e Mário vivem juntos, despreocupados em relação ao futuro e até mesmo em relação ao presente. Amam-se uns aos outros mas, um dia, seguem caminhos diferentes. Quando Maria precisa de ajuda, os três irmãos reúnem-se, mas é demasiado tarde.
• Dia 8 às 16h45 Espaço Nimas
Lisbon, mid-1990s. Maria, João and Mário live together, careless of the future, or even the present. They love each other but one day they go their separate ways. When Maria needs their help, the three brothers will reunite once again - but a trifle too late.
Realizador Director:
Teresa Villaverde
Elenco Cast: Luís Miguel Cintra, Maria de Medeiros, Marcello Urgeghe, Yevgeni Sidikhin Argumento Screenplay: Teresa Villaverde Fotografia DOP: Ulrich Jänchen, Joaquim Pinto, Antoine Roch, Volker Tittel Produtora Production: Arion Productions, Centre National de la Cinématographie (CNC), G.E.R. (Grupo de Estudos e Realizações) | PT, 1994, 150’
OS MUTANTES The Mutants Os Mutantes é um filme sobre um grupo de jovens que sobrevivem nas ruas de Lisboa, e a sua passagem para a idade adulta. The Mutants is a film about a group of youngsters that survive in the streets of Lisbon and their passage into adulthood.
Realizador Director: • Dia 9 às 16h15 Espaço Nimas
Teresa Villaverde
Elenco Cast: Alexandra Lencastre, Alexandre Pinto, Ana Moreira, Nelson Varela Argumento Screenplay: JTeresa Villaverde Fotografia DOP: Acácio de Almeida Produtora Production: Arte, FMB Films, Instituto Português da Arte Cinematográfica e Audiovisual (IPACA) | PT, 1998, 115’
121
H OM E N A GE M - T E R E SA VIL L AVE R D E
A IDADE MAIOR Alex
ÁGUA E SALT Water and salt Ana vive numa pequena aldeia junto ao mar, com o marido e a filha. O marido parte por uns dias e Ana tenta concentrar-se para terminar um projecto. Porém, as suas deambulações diárias pela aldeia e pela praia ameaçam a sua concentração.
• Dia 9 às 14h00 Espaço Nimas
Ana lives in a small village near the sea, with her husband and daughter. The husband leaves for a couple of days and Ana tries to focus on finishing a project. However, her daily ramblings through the village and the beach threaten her ability to concentrate.
Realizador Director:
Teresa Villaverde
Elenco Cast: Galatea Ranzi, Joaquim de Almeida, Maria de Medeiros Argumento Screenplay: Teresa Villaverde Fotografia DOP: Emmanuel Machuel Produtora Production: Madragoa Filmes, Instituto do Cinema, Audiovisual e Multimédia (ICAM), Radiotelevisão Portuguesa (RTP) | PT, IT, 2001, 117’, Legendas PT
A FAVOR DA CLARIDADE In Favor of Light Um filme sobre e para Pedro Cabrita Reis, onde o artista e a sua obra se tornam objecto de uma outra obra. Compõe-se a partir da ideia “o artista, a arte e a criação”, reunindo materiais como fotografias, imagens de guerra, obras clássicas, textos, músicas.
• Dia 6 às 22h00 Espaço Nimas (conversa com Teresa Villaverde e Pedro cabrita Reis)
A film about and dedicated to Pedro Cabrita Reis, where the artist and his work become the objects of another work of art. It is based on the idea of “the artist, the art and the creation”, and is a collection of different materials such as photographs, war pictures, classical pieces, texts and songs.
Realizador Director:
Teresa Villaverde
Elenco Cast: Pedro Cabrita Reis Argumento Screenplay: Teresa Villaverde Produtora Production: Filmes do Tejo | ES SP, 2014,102’, Legendas PT
COLD WA(TE)R Para que serve uma fronteira? Uma montagem de imagens relativas aos desembarques de imigrantes em Itália, a curta-metragem de Teresa Villaverde é o contributo português para o filme colectivo Visions of Europe que celebra a criação da União Europeia.
• Dia 9 às 14h00 Espaço Nimas
What is the purpose of a border? A sequence of images regarding the immigrants’ landing in Italy, this short film by Teresa Villaverde is the portuguese contribution for the collective film Visions of Europe, a film that celebrates the creation of the European Union.
Realizador Director:
Teresa Villaverde
Argumento Screenplay: Teresa Villaverde Produtora Production: Maria João Mayer | PT, 2004, 5’
122
WWW. L E FFE S T. C OM
Sónia (Ana Moreira), uma jovem de São Petersburgo, aspira a uma vida melhor. Atravessa a Europa até chegar a Portugal, mas a viagem revela-se infernal. Rapto, sofrimento, solidão, loucura, violência, abjecção, humilhação - são as provas que Sónia tem de enfrentar.
• Dia 6 às 17h15 Espaço Nimas (conversa com Teresa Villaverde e Ana Moreira)
Sónia (Ana Moreira), a young girl from St. Petersburg, aims for a better life. After obtaining a passport, she travels through Europe until she arrives in Portugal. This journey is quickly transformed into a descent into hell. Kidnapping, pain, solitude, madness, violence, abjection, humiliation these are the challenges that Sonia must overcome.
Realizador Director:
Teresa Villaverde
Elenco Cast: Ana Moreira, Viktor Rakov, Robinson Stévenin Argumento Screenplay: Teresa Villaverde Fotografia DOP: João Ribeiro Produtora Production: Production: Gémini Films, Madragoa Filmes, Revolver Film | IT, RU, FR, PT, 2006, 126’
CISNE Swan Vera é uma cantora em digressão por Lisboa. Escolheu Pablo para motorista, um rapaz solitário e enigmático que é a sua companhia em intermináveis noites de insónia. Um dia, Alce, um miúdo desfavorecido e protegido por Pablo, mata acidentalmente uma pessoa.
• Dia 7 às 17h30 Espaço Nimas (conversa com Teresa Villaverde)
Vera is a singer on tour through Lisbon. She has chosen Pablo, a lonesome and mysterious boy, to drive her and keep her company during her endless sleepless nights. One day, Alce, a disadvantaged child protected by Pablo, accidentally kills someone.
Realizador Director:
Teresa Villaverde
Elenco Cast: Beatriz Batarda, Miguel Nunes, Israel Pimenta Argumento Screenplay: Teresa Villaverde Fotografia DOP: Acácio de Almeida Produtora Production: Alce Filmes | PT, 2011, 102’
AMAPOLA Amapola é a resposta da realizadora ao desafio lançado pela 70ª edição do Festival Internacional de Cinema de Veneza: criar uma curtametragem com cerca de um minuto e meio que reflicta sobre o futuro do cinema, para ser integrada no projecto Venice 70 - Future Reloaded.
• Dia 8 às 16h45 Espaço Nimas
Amapola is the director’s answer to the challenge proposed by the Venice International Film Festival’s 70th edition: to create a short film with a length of around one minute and half that reflects on the future of cinema, to be included in the project Venice 70 - Future Reloaded.
Realizador Director:
Teresa Villaverde
Elenco Cast: Pablo Neruda (voz/voice), Alexandre Pinto Argumento Screenplay: Teresa Villaverde | PT, 2013, 3’
123
H OM E N A GE M - T E R E SA VIL L AVE R D E
TRANSE Trance
SARA E A SUA MÃE Sara and Her Mother O filme é um dos treze segmentos que compõem a longa-metragem “Pontes de Sarajevo”, incluída na selecção oficial do 67º Festival de Cannes 2014. The film is one of the 13 segments that make up the feature “Bridges of Sarajevo”, included in the official selection of the 67th Cannes Film Festival in 2014. • Dia 8 às 14h15 Espaço Nimas
Realizador Director:
Teresa Villaverde
Elenco Cast: Sabina Sabic Zlatar, Sara Sabic Zlatar, Mak Hubjer Argumento Screenplay: Teresa Villaverde Fotografia DOP: Rui Poças Produtora Production: Ukbar Filmes, Pandora Cunha Telles | PT, 2014, 9’
PARIS 15/16 A 1 de Dezembro de 2015, os funcionários da câmara municipal de Paris recolhem da frente do restaurante Le Petit Cambodje as flores que homenageiam as vítimas dos atentados de 13 de Novembro. On December 1, 2015, in front of the restaurant Le Petit Cambodje, officials from the Paris City Council collect the flowers paying tribute to the victims of the November 13 attack. • Dia 9 às 16h15 Espaço Nimas
124
Realizador Director: PT, 2016, 6’
Teresa Villaverde
WWW. L E FFE S T. C OM
PASCAL BONITZER Argumentista, realizador, escritor e ensaísta, Pascal Bonitzer (Paris, 1946) começa a sua carreira como crítico de cinema nos Cahiers du Cinéma. Dedica-se ainda à escrita de argumentos a partir dos anos 70, e destacamse as suas colaborações com Jacques Rivette, André Téchiné e Raoul Ruiz. Em 1986, tornase director do departamento de Argumento da famosa escola de cinema francesa, La Fémis. Foi também professor de cinema na Université Paris III (Censier). Em 1996, Bonitzer estreia-se como realizador, com Encore, galardoado com o prémio Jean Vigo. Em 1998, recebe o prémio Henri-Jeanson da Sociedade francesa de Autores e Compositores Dramáticos (SACD).Seguem-se Rien sur Robert (1999), Pequenos Golpes (2003), nomeado para o Urso de Ouro no Festival de Berlim, e Je Pense à Vous (2006), três comédias dramáticas construídas em torno de uma série de acontecimentos inesperados e que abordam as relações problemáticas dos seus protagonistas masculinos com as mulheres. Assina depois Le grand alibi (2008), uma adaptação de um romance de Agatha Christie e Cherchez Hortense (2012). Já em 2016, Bonitzer realiza e co-escreve, com Agnès de Sacy, Tout de Suite Maintenant e publica La Vision Partielle: Écrits sur le Cinéma, uma recolha dos seus textos publicados nos quinze anos em que colaborou com os Cahiers du Cinéma.
H OM E N A GE M - PA SC A L BON IT ZE R
Homenagem Tribute
relationships between the male protagonists and their wives. He then pens the 2008 Le grand alibi, an adaptation of an Agatha Christie’s novel, and Cherchez Hortense (2012). In 2016, Bonitzer directs and co-writes (with Agnés de Sacy) Tout de Suite Maintenant, and publishes La Vision Partielle: Écrits sur le Cinéma, a compilation of texts written for the Cahiers du Cinéma during his fifteen-year-tenure there.
Screenwriter, director, writer and essayist Pascal Bonitzer (Paris, 1946) began his career as a cinema critic for the Cahiers du Cinéma. In the 1970’s his attention turned to screenwriting, a trade which led to collaborations with Jacques Rivette, André Téchiné and Raoul Ruiz. In 1986 he becomes head of the department of Screenwriting at La Fémis, the famous French cinema school. He was also a professor of cinema at Université Paris III (Censier). In 1996, Bonitzer makes his debut as a director with Encore, which receives the Jean Vigo award. In 1998 he receives the Henri-Jeanson award from the French Society of Dramatic Authors and Composers (SACD). This is followed by Rien sur Robert (1999) and Petites Coupures (2003), which was nominated for the Golden Bear at the Berlin Festival, and Je Pense à Vous (2006), three dramatic comedies constructed around a series of unexpected events which concern the problematic 125
Entrevista Interview Publicou no início do ano o livro La Vision Partielle: Écrits sur le Cinéma, uma recolha dos seus textos [teóricos e críticos, escritos entre o início dos anos 70 e meio dos 80] para os Cahiers du cinéma. Como olha, em retrospectiva, para esse percurso? Como é que (como outros cineastas com um trajecto similar) o seu olhar de teórico e crítico enformou o olhar do (futuro) cineasta? – A crítica foi para mim um exercício de clarificação daquilo que me interessava, me fascinava, no cinema. Em particular a questão do fora de campo, do espaço off como agente dinâmico da ficção, especialmente nos filmes noir, o suspense, etc. Acontece que como cineasta comecei antes pelo registo da comédia intelectual, mas nunca perdi de vista esse outro aspecto e o fora de campo desempenha um papel importante nos meus filmes. Vindo dos Cahiers du cinéma, onde a política dos autores, ‘o autor’, era fundamental, como foi a sua relação com ‘o argumento’, com a escrita de argumentos e diálogos para cineastas como Téchiné, Rivette ou Ruiz? – Coloquei-me ao serviço deles, o que me parecia normal e formativo, tratando-se de tão grandes cineastas. Tentei compartilhar, ao meu nível, o universo deles, e foi, de cada vez, uma exploração apaixonante. Eles são tão diferentes uns dos outros quanto é possível ser-se, tanto no método de trabalho como no mundo que descrevem, e eu adaptei-me... Trabalhou com Rivette até ao seu desaparecimento e refere o trabalho com ele como decisivo para encontrar a sua voz pessoal. Pode desenvolver este aspecto? – Rivette tinha um método especial: elaborávamos o enredo nas suas grandes linhas antes da rodagem, e as cenas deviam ser escritas durante a rodagem. Para mim, era um desafio excitante ter de me confrontar com os actores que recebiam os diálogos às vezes algumas horas antes de os representar, e isso evitava também o incómodo de ter de retomar, reescrever, “melhorar”, frequentemente em vão, 126
uma escrita, como se faz com tanta frequência quando se escreve antecipadamente. Era um trabalho sem rede e adorei isso, deu-me o gosto pelo diálogo, pelo jogo com o espectador. Parte (quase) sempre de histórias originais nos seus filmes. Como se desenvolve o seu processo de escrita, o que ou quem o inspira e como chega à precisão e ao ritmo dos seus diálogos? – Escrevi os meus primeiros argumentos sozinho e o que me divertia era que literalmente não sabia para onde ia. Lançava as minhas personagens à aventura, sem saber se me iria sair bem. Eram portanto personagens que se assemelhavam a isso, elas próprias não sabiam para onde iam nas suas vidas, e era isso que eu contava. Posteriormente, quis enredos mais sólidos e esse desejo levou-me a trabalhar com co-argumentistas, primeiro com Marina De Van em Je Pense à Vous, Jérôme Beaujour em Le Grand Alibi, depois com Agnès de Sacy nos dois últimos filmes, Cherchez Hortense e Tout de suite Maintenant. Os diálogos, sou sobretudo eu quem os escreve, e para mim os melhores são aqueles que não preciso de reescrever, que surgem espontaneamente. O enredo, esse, preciso frequentemente de vários meses para conseguir encontrá-lo, com muitas tentativas e erros, falsas pistas, etc: não sei nunca à partida o que quero contar. Nos seus filmes dirigiu alguns dos mais reputados nomes do cinema internacional e francês. Como se processa o seu trabalho com os actores, do casting à rodagem? – Tive efectivamente essa sorte, talvez porque o diálogo assuma um grande papel nos meus filmes e que os grandes actores têm fome de bons diálogos, o que não é coisa frequente no cinema, onde se tenta, a maior parte das vezes, reduzi-lo em proveito da acção. Gostaria às vezes de ensaiar antes com os actores, mas como são justamente grandes actores, têm muitos compromissos e nunca arranjo tempo de os garantir antecipadamente. Portanto, tudo se passa no plateau e, claro, confio neles. Não sou muito directivo, mas sei o que quero obter. E como são bons actores, eles “sentem” o que o diálogo implica e tudo segue, em geral, na boa direcção sem que me inquiete ou desespere... WWW. L E FFE S T. C OM
– Mais um aprofundamento do que uma ruptura. Tive de me documentar sobre um mundo que não conhecia e isso interessoume, evidentemente. À excepção do lado profissional do enredo, que queria que fosse tão importante como o lado do enredo sentimental, não considero todavia que as minhas personagens sejam assim tão diferentes daquelas que descrevi nos meus filmes precedentes. A grande diferença aparente é que dou o papel principal a uma jovem mulher de 2730 anos, Nora (interpretada pela minha filha Agathe), enquanto que nos outros filmes a personagem principal era um homem de idade madura. Mas na realidade identificome tão facilmente com esta personagem jovem e feminina como com os meus “heróis” anteriores e, parafraseando uma frase célebre, posso dizer que “Nora, sou eu”. In the beginning of the year you published the book La Vision partielle: écrits sur le Cinéma, a collection of all your writings for the Cahiers du cinema. How do you see your tenure there, in hindsight? How did your (like other filmmakers with a similar career) critical and theoretical outlook influence the vision of the future director? – For me, critical writing has been a practice of enlightenment regarding what interested me and fascinated me in cinema. In particular the question of the off-screen as a dynamic agent of fiction, especially in films noirs, suspense, etc. As a filmmaker I started in an intellectual comedy register, but I never lost sight of that other aspect and the off-screen plays an important part in my films. Coming from the Cahiers du cinema, where the politics of authors, where “the auteur” was fundamental, what is your relationship with “the screenplay”, with writing of screenplays and
dialogue for filmmakers such as Téchiné, Rivette or Ruiz? – I put myself at their service, which seemed normal and educational when it came to such great directors. I tried to, at my own level, be a part of their universe, and that was a wonderful experience every time. They are as different from one another as can be, both in their work method and in the world that they describe, and I simply adapted myself… You have worked with Rivette just before his death and you speak of your work with him as decisive in finding your personal voice. Could you talk about that a bit more? – Rivette had a special method: we would sketch out the plot very vaguely before shooting, and the scenes themselves were written during the shooting. For me it was a very exciting challenge to confront myself with actors who received their lines just a few hours before delivering them, and it was also a way of avoiding the hassle of going back to the lines, rewriting, “improving” the writing, frequently in vain, much like you do when you’ve written something in advance. It was working without a net and I loved it, it gave me an appreciation of dialogue, of interacting with the audience. You (almost) always work with original stories in your films. How does your writing process develop itself, or what or who inspires you and how do you achieve the precision and the rhythm of your dialogue? – I wrote my first screenplays alone and what amused me was that I literally did not know where I was going. I would set my characters adrift, without knowing if I was going to land on my feet. The characters would end up transpiring that, they never knew where they were going in their lives, and that is what I was trying to transmit. After a while I started to want plots which were a bit more solid, and that desire led me to work with other screenwriters, first Marina De Van in Je Pense à Vous, then Jerôme Beaujour in Le Grand Alibi, and then Agnés de Sacy in my last two films, Cherchez Hortense and Tout de suite Maintenant. The dialogue is mostly written by me, and the best lines are the ones that I don’t have the need to rewrite, that come to me spontaneously. When it comes to the plot itself it usually takes me several months to figure it out, with much trial 127
H OM E N A GE M - PA SC A L BON IT ZE R
Em Tout de suite Maintenant aventura-se por um terreno, digamos, “desconhecido”, ao realizar um conto moderno muito emblemático do mundo de hoje, mas aparentemente afastado do seu território anterior, que era ancorado nos estados de alma de intelectuais mais ou menos próximos de si. O que motivou esta escolha? Vê-a como uma ruptura?
and error, false clues, etc: I never know when I start out what I want to say. In your films you have directed some of the most renowned names of national and international cinema. How do you work with these actors from the casting to the shooting? – I have certainly had that chance, perhaps because dialogue is a major part of my films and good actors are hungry for good dialogue, which doesn’t often happen in cinema, where generally one tries to reduce it for the benefit of the plot. I would sometimes like to rehearse with the actors, but since they are great comic actors, they are often busy and I never have the time to get through them in advance. So everything ends up happening during the shooting, and that’s fine, because I trust them. I am not a very tiresome director, but I know the effect I want to achieve. And since they are good actors, they “feel” what the dialogue entails and everything generally goes according to plan, without me having to pull my own head off in desperation…
128
In Tout de suite Maintenant you are chartering “unknown” ground, per se, by directing a modern story which is symptomatic of our reality, but which is apparently different from your previous work, which was anchored in the mood swings of intellectuals who more or less resembled you. What motivated this choice? Do you see it as a rupture? – I think it’s more of a development than a rupture. I had to learn about a whole world that I knew nothing about, and that evidently piqued my interest. With the exception of the professional side of the plot, which I wanted to be as important as the sentimental side, I don’t think that my characters are that different from the ones in my previous films. The great difference is that I gave the leading role to a 27-30 year old woman, Nora (played by my daughter Agathe) while in my previous films the main characters were middle-aged men. But in reality I identify just as easily with this young and female character as with my previous “heroes”, and paraphrasing a famous quote, I might just say “Nora, c’est moi.”
WWW. L E FFE S T. C OM
Depois de uma discussão com um amigo, a vida de Didier irá sofrer uma reviravolta. Juliette troca-o por outro homem. Encontra uma estranha rapariga, Aurélie, e também um certo Jérôme.. No final, irá descobrir que de cada acto, palavra, e pensamento resultam consequências para si e para os outros.
• Dia 10 às 18h00 Casino Estoril
After a argument with a friend, Didier’s life is laced with setbacks. Juliette spurns him for another man. He meets a strange girl, Aurélie, and also a socalled Jerôme. In the end he will discover that each of his acts, words, and thoughts have consequences for him and others.
Realizador Director:
Pascal Bonitzer
Elenco Cast: Cervi, Sandrine Kiberlain, Fabrice Luchini, Michel Piccoli Argumento Screenplay: Pascal Bonitzer Fotografia DOP: Christophe Pollock Produtora Production: Rezo Films, Assise Production, France 2 | FR, 1999, 105’
PETITES COUPURES Small Cuts Bruno, um jornalista comunista que põe em causa as suas convicções políticas, encontra-se dividido entre a mulher e a amante. Quando duas outras mulheres entram na sua vida, a sua indecisão irá agravar-se. Bruno, a communist journalist whose political convictions are shattering, has a hard time deciding between his wife and his lover. His indecision grows even worse when he meets other more women.
Realizador Director: • Dia 10 às 14h00 Espaço Nimas
Pascal Bonitzer
Elenco Cast: Auteuil, Kristin Scott Thomas, Pascale Bussières, Emmanuelle Devos, Ludivine Sagnier, Catherine Mouchet, Jean Yanne, Dinara Droukarova Argumento Screenplay: Pascal Bonitzer Fotografia DOP: William Lubtchansky Produtora Production: : Rezo Productions, Axiom Films, France 2 Cinéma, Rhône-Alpes Cinéma | FR, UK, 2003, 95’
JE PENSE À VOUS Made In Paris Uma manhã, Diane descobre que o homem que ela ama, Hermann, um editor reconhecido, irá publicar um livro de Worms, escritor e seu antigo amante, que revela o passado de ambos. Noutra manhã, Hermann encontra Anne, a mulher que deixou por causa de Diane e que ainda o ama.
• Dia 12 às 18h00 Casino Estoril
One fine morning, Diane discovers that Hermann, the man she loves, is about to publish a book in which her ex-lover reveals their entire past. On another such morning, Hermann, who also loves Diane, bumps into his ex-lover, Anne, who is still very much in love with him.
Realizador Director:
Pascal Bonitzer
Elenco Cast: Edouard Baer, Géraldine Pailhas, Marina de Van, Charles Berling, Hippolyte Girardot Argumento Screenplay: Pascal Bonitzer, Marina de Van Fotografia DOP: Marie Spencer Produtora Production: Rezo Productions, Jean-Michel Rey, Philippe Liégeois | FR, 2006, 82’
129
H OM E N A GE M - PA SC A L BON IT ZE R
RIEN SUR ROBERT Nothing about Robert
CHERCHEZ HORTENSE Looking for Hortense Damien vive com a sua mulher, Iva. Para evitar que Zorica seja deportada, Iva obriga Damien a prometer que irá pedir ajuda ao pai. Mas Damien mantém com o pai uma má relação, e esta missão irá alterar a sua vida. Damien lives with his wife, Iva. To help keep Zorica from getting deported, Iva gets Damien to promise he will ask his father for help. But Damien and his father have a distant relationship. And this mission is a risky business. • Dia 10 às 21h30 Espaço Nimas (conversa com Pascale Bonitzer e Agathe Bonitzer)
Realizador Director:
Pascal Bonitzer
Elenco Cast: Jean-Pierre Bacri, Isabelle Carré, Kristin Scott Thomas Argumento Screenplay: Agnès de Sacy, Pascal Bonitzer Fotografia DOP: Romain Winding Produtora Production: SBS Productions | FR, 2012, 100’
TOUT DE SUITE MAINTENANT Right Here Right Now Nora é uma mulher dinâmica que inicia a sua carreira na alta finança. Conquista a confiança dos seus superiores, descobrindo que conhecem o seu pai desde os tempos de juventude e que uma misteriosa rivalidade ainda os opõe. Nora, a dynamic woman, has just joined a high finance company. She learns that her boss and his wife were once acquainted with her father in their youth, and that there is still a mysterious conflict between them. • Dia 12 às 17h00 Medeia Monumental, Sala 1 (apresentação por Pascal Bonitzer, Agathe Bonitzer e Lambert Wilson)
130
Realizador Director:
Pascal Bonitzer
Elenco Cast: Agathe Bonitzer, Vincent Lacoste, Lambert Wilson, Isabelle Huppert, Jean-Pierre Bacri, Julia Faure, Pascal Greggory, Virgil Vernier, Iliana Lolic,Yannick Renier, François Baldassare, Laure Roldan Argumento Screenplay: Pascal Bonitzer, Agnès de Sacy Fotografia DOP: Julien Hirsch Produtora Production: SBS FILMS, FRANCE 2 CINÉMA, SAMSA FILM, ENTRE CHIEN ET LOUP - PROXIMUS | FR, 2015, 98’
WWW. L E FFE S T. C OM
AGUSTÍN DÍAZ YANES Cineasta, argumentista e escritor espanhol, com formação em História, Agustín Díaz Yanes inicia o seu percurso no cinema escrevendo guiões, posteriormente adaptados por outros realizadores (destaque para os de Baton Rouge e A solas contigo, filmes com a actriz Victoria Abril). Assistente de Almodóvar em Atame! (1990), Díaz Yanes escreve e realiza o seu primeiro filme em 1995, Nadie hablará de nosotras cuando hayamos muerto/Ninguém falará de nós quando morrermos, que se revela um grande sucesso crítico e de público, galardoado com oito Prémios Goya, entre os quais o de melhor filme, melhor realizador, melhor argumento (e melhor actriz para Victoria Abril), obra que terá uma continuação com Solo quiero caminar (2008). Após Sin noticias de Dios/Sem Notícias de Deus (2001, uma comédia fantástica que junta Penélope Cruz e novamente Victoria Abril), assina Alatriste/Capitão Alatriste (2006), com Viggo Mortensen no papel-título, um retrato de Espanha no século XVII, adaptando os 5 romances da saga Las aventuras del capitán Alatriste de Arturo Pérez-Reverte. O seu mais recente filme, Oro, renova a parceria com PérezReverte, adaptando um conto inédito deste, que aborda a busca do El Dorado na selva amazónica por um grupo de aventureiros espanhóis no final do século XVI, inspirado na expedição dos conquistadores Lope de Aguirre e Núñez de Balboa. Díaz Yanes é também autor de um romance, Simpatía por el diablo (2012, título em homenagem à célebre canção dos Rolling Stones), que contém referências ao escritor e amigo Javier Marías, em especial ao livro deste Los enamoramientos (2011). Agustín Díaz Yanes será um dos convidados do Lisbon & Estoril Film Festival e acompanhará a retrospectiva dedicada à sua obra. A Spanish filmmaker, screenwriter and writer, with a background in History, Agustín Díaz Yanes begins his path in cinema by writing screenplays for other directors (mainly those of Baton Rouge and A solas contigo, films starring the actress Victoria Abril). Almodóvar’s assistant in Atame! (1990), Diaz Yanes writes and directs his first film in 1995, Nadie hablará de nosotras cuando hayamos muerto/Nobody Will Speak of Us When We’re Dead, which turns out to be a big success
H OM E N A GE M - A GUST ÍN D ÍA Z YA N E S
Homenagem Tribute
among critics and the public, and wins eight Goya Awards, including the award for best film, best director, best screenplay, (and best actress for Victoria Abril), a story which will be resumed in Solo quiero caminar (2008). After Sin noticias de Dios/Don’t Tempt Me (2001), a fantastical comedy which reunites Penélope Cruz and Victoria Abril, he pens Alatriste (2006), starring Viggo Mortensen in the lead role, a portrait of 17th century Spain and an adaptation of the series Las aventuras del capitán Alatriste by Arturo PérezReverte. His most recent film, Oro, renews his partnership with Pérez-Reverte, in and adaptation of one of the latter’s unpublished short stories, which addresses the search by a group of Spanish explorers for the El Dorado in the Amazon rainforest of the 16th century, inspired by the expedition of conquistadores Lope de Aguirre and Núñez de Balboa. Díaz Yanes is also the author of a novel, Simpatía por el diablo (2012, the title is a tribute to the famous Rolling Stones song), which contains references to his friend and writer Javier Marías, especially to Marías’ book, Los enamoramientos (2011). Agustín Díaz Yanes will be one of the guests at the Lisbon & Estoril Film Festival and will attend the retrospective dedicated to his works.
131
Agustín Díaz Yanes e Arturo PérezReverte
fascinado desde o início e aderiu ao projecto com entusiasmo.
[..]
Porque diz que nunca antes se fez nada assim?
Como correu a repetição da vossa parceria criativa? Arturo Pérez-Reverte: Eu vou muito pouco às rodagens. Um autor incomoda mais do que ajuda nas rodagens. Quando há alguma coisa, [Agustín] liga-me e pergunta-me. Respeitamo-nos muito, Alatriste fez que com nos aproximássemos muito, e entendemo-nos bem. Ele é o historiador e eu não tenho de lhe explicar as coisas, ele sabeas. Além disso, ele tem as suas próprias fontes. Eu criei a história, ele o argumento, e depois, sobre o argumento, ampliámos coisas, discutimos cenas, mas sempre com um óptimo ambiente. Agustín, porque é que se passaram sete anos até que fizesse outro filme? Arturo Pérez-Reverte: Porque não tinha encontrado nenhum projecto tão bom como este. Agustín Díaz Yanes: Podia responder-lhe isso, ou que tinha tirado férias, mas não. A verdade é que o meu último filme não foi um êxito junto do público, embora o dinheiro que fez na altura teria sido hoje considerado um sucesso, e por isso parei durante um ano para descansar e reflectir. Nesse ano ninguém me telefonou e então comecei a fazê-lo eu, mas como ninguém me respondia, decidi tirar mais uns anos de descanso obrigatório. Quando me chamaram para este filme eu já tinha sido dado como perdido, porque as pessoas também não vieram para a rua com cartazes a dizer “Queremos que Díaz Yanes faça um filme.” Arturo Pérez-Reverte: Chegou a dizer-me que estava acabado. Agustín Díaz Yanes: Mas chamaram-me para isto e eu gostava muito do projecto, porque acreditava que conseguia fazê-lo. [...] Sempre gostei de fazer coisas peculiares. Foram eles que me devolveram ao cinema. Arturo Pérez-Reverte: Eu posso dizê-lo porque fui testemunha. Ele tinha renunciado. Quando íamos jantar ele dizia-me que já tinha passado, que se ia dedicar a ler e a escrever. O que acontece é que ninguém tinha feito um filme assim. Ficou 132
Arturo Pérez-Reverte: A verdade é que o franquismo contaminou tudo. Ao vestir a camisa azul ao Cid Campeador, ao afirmar que fomos para a América evangelizar porque éramos uns anjinhos… Deixou o assunto tão sujo, tão gasto, que já ninguém se atreveu a abordá-lo porque tudo soava ao mesmo. Quando Alatriste saiu foi muito difícil que as pessoas entendessem que não era um herói imperial, mas um soldado desconhecido e maltratado pelo seu país. O franquismo inutilizou o tema, mas é mais complexo do que parece. O grande erro que Espanha cometeu foi que em vez de lhe tirar o bolor franquista e limpá-lo de modo a que pudesse ser usado, atirou-o pela janela. Tanto no cinema como na literatura temos tido uns temas assustadores, mas que não se pense que estou a glorificar este ou aquele. Renunciámos aos complexos e não quisemos saber de Franco nem da visão do conquistador. Vamos fazer a visão da verdade. Agustín Díaz Yanes: Eu estou de acordo com o Arturo. Embora se pense que quarenta anos desde a morte de Franco é muito tempo, na verdade é muito pouco. Continuamos contaminados por alguns temas. Comparando com o western, a verdade é que eles fizeram uma limpeza da sua história, primeiro com westerns mais infantilóides, e depois mais complexos, e seria bom que tanto em Espanha como na América Latina se fizessem filmes sobre a conquista de diferentes pontos de vista. Percebo que não vai ser um filme cómodo para o espectador... Arturo Pérez-Reverte: O que nós fazemos é facilitá-lo. Queremos aproximar-nos do público com uma abordagem muito potente, narrativamente fascinante e ideologicamente objectiva de algo que é fascinante. São romances de aventuras reais, que nos envolvem de uma forma tão intensa que não é possível largá-las. Queremos que o público que se sente a ver o filme fique assim também. WWW. L E FFE S T. C OM
[...] Arturo, como é a tua relação com as tuas adaptações de romances ao cinema? Arturo Pérez-Reverte: Eu tento sempre ficar de fora. Lembro-me de quando Roman Polanski me disse, enquanto rodava A Nona Porta que queria… E eu disse-lhe que não queiras nada, é o teu filme, é a tua responsabilidade. Irei apoiá-lo se gostar dele e conta comigo para o que quiseres, mas não me sinto pessoalmente vinculado a ele. Neste caso é diferente, porque criei eu a história e trabalhámos juntos no argumento. Aqui tenho uma implicação pessoal muito maior, mas no meu caso isso é raríssimo, creio que até agora nunca tinha acontecido. [...] Agustín Díaz Yanes: De todo o modo, creio que temos de isentar o Arturo de responsabilidade, já que os filmes, para o bem ou para o mal, acabam sempre por ser do realizador. Ele ajudou-me, mas se for um desastre não deveríamos partilhá-lo. É verdade aquilo que dizem sempre que de um mau argumento não pode sair um bom filme, mas de um bom argumento pode sempre sair um mau filme. www.blogdecine.com/entrevistas/oro-encuentrocon-arturo-perez-reverte-y-agustin-diaz-yanes-es-laprimera-vez-que-se-hace-algo-asi
[…] How has rekindling your creative partnership been for the two of you? Arturo Pérez-Reverte: I hardly ever attend the shootings. An author is more trouble than he is help during shootings. When something comes up, he can just phone me and ask me. We respect each other a lot, Alatriste brought us close together and we get along very well. He is a historian and I don’t have to explain anything to him, he knows. Besides, he searches for his own sources. I wrote the story and then the script, so we had the chance to discuss a few scenes and change some things, though always good-naturedly. Agustín, why has it been seven years since you last made a film? Arturo Pérez-Reverte: Because he couldn’t find a project as good as this one. Agustín Diaz Yanes: I could say that: that I had decided to take some time off, but no. The truth is that I finished my last film, which was not a hit with the public, though with the money it made then it would be considered one these days, and I decided to take a year to rest and think. During that year no one called and so I began to make calls myself, but almost no one picked up the phone, so I decided to take a few more years of mandatory rest. When I was summoned for this picture I had almost given up, because people were hardly clambering up the streets with signs that read: “We want Díaz Yanes to make a film”. Arturo Pérez-Reverte: He even told me he was done. Agustín Díaz Yanes: But I was summoned for this and I really enjoyed the project, because I believed I could direct it. […] I have always enjoyed working on peculiar projects. They gave me a chance to do it again. Arturo Pérez-Reverte: I should say so, because I was there. He had given up. Whenever we went out for dinner he would tell me that he was done, that he was just going to read and write for the rest of his life. What happens is that
133
H OM E N A GE M - A GUST ÍN D ÍA Z YA N E S
Agustín Díaz Yanes: Eu tenho a teoria de que as pessoas decidem ir ver os filmes antes de eles serem concebidos. Veja-se o filme The Revenant: O Renascido, a história é provavelmente anti-comercial, e teve um êxito extraordinário. Depende muito do filme e do clima do público nesse momento.
no one’s made a film like this. It delighted him from the beginning and he accepted with great enthusiasm. Why do you think no one has made a film like this before? Arturo Pérez-Reverte: You know what it is? Franquismo has contaminated everything. The Franquismo behind making El Cid Campeador wear a blue shirt and saying that we decided to go and convert the natives in America because we are little angels…It made everything so dirty, so worn-out, that no one dared to touch the subject. When Alatriste premiered it was very hard for people to understand he wasn’t an imperial hero, but an obscure soldier who was ill-treated by his own country. Franquismo has made the subject useless, but it is much more complex than that. The great error Spain has made is that instead of removing the Franquist mold from the subject and leaving it clean and ready to approach, they threw it out the window. Both in cinema and literature we’ve had subjects which were scary, because people could think they were somehow being glorified. In Spain it seems we have renounced the complex themes and those which challenge Franco and the outlook of the conquistador. It’s time to approach them properly. Agustín Díaz Yanes: I agree with Arturo. While one might think that 40 years is a long time since Franco’s death, in reality it is very little. Certain subjects still feel contaminated. When it comes to the Western genre, it is true that they cleaned up their history first with a few childish Westerns and then upped the ante complexity-wise, and it would be good if more films about La Conquista were made from different points of view both in Spain and Latin America.
Agustín Díaz Yanes: I have a theory. I think the public decides to go and see the films before you even conceptualize them. Look at The Revenant, the story is probably anti-commercial and it had tremendous success. It really depends on the film and the mood of the audience in that specific time. […] Arturo, the relationship you have with adapting your novels to the screen – what is it like? Arturo Pérez-Reverte: I always try to stay out of it. I remember when Roman Polanski told me, while shooting The Ninth Gate that “he wanted to…” and I told him you don’t want anything, it’s your film, it’s your responsibility. I’ll get behind it if I like it and you can count on me for anything, as long as I’m not personally attached to it. In this case it’s different, because I wrote the story and we worked on the script together. In this case there’s a much stronger personal implication, but for me it’s very rare, I believe it hadn’t happened until now. […] Agustín Díaz Yanes: In any case, I think that we have to release Arturo from any responsibility, since films, for better or for worse, are always what the director makes of them. He has helped me, but if it’s a disaster we shouldn’t share the blame. It is true what they say, that you can’t make a good film from a bad script, but you can certainly make a bad film from a good script. www.blogdecine.com/entrevistas/oro-encuentrocon-arturo-perez-reverte-y-agustin-diaz-yanes-es-laprimera-vez-que-se-hace-algo-asi
I can see that it is not going to be a very comfortable experience for the spectator… Arturo Pérez-Reverte: What we do is make people uncomfortable. We want to approach the audience in a powerful way which is narratively fascinating and ideologically objective, something fascinating. These novels portray real adventures that entrap you in such an intense way that you can’t put them aside. We want the audience to feel like that while watching it. 134
WWW. L E FFE S T. C OM
Comprometido a honrar o último desejo de um companheiro de guerra, o nobre guerreiro Alatriste faz o seu caminho de regresso a Espanha para cuidar e proteger o filho órfão do seu amigo, Iñigo, enquanto vê o seu país em ruínas aos pés de um rei fraco, incapaz de controlar os mecanismos internos da sua corte corrupta.
• Dia 5 às 16h15 Medeia Monumental, Sala 1 (apresentação por Agustín Díaz Yanes e Elena Anaya)
Committed to honor his war comrade’s dying wish, noble warrior Alatriste makes his way back to Spain to care for and protect his friend’s orphan son, Iñigo, while he watches his own country crumbling at the feet of a feeble monarch who fails to grasp the inner workings of his own corrupt court.
Realizador Director:
Agustín Díaz Yanes
Elenco Cast: Viggo Mortensen, Elena Anaya, Unax Ugalde Argumento Screenplay: Arturo Pérez-Reverte, Agustín Díaz Yanes Fotografia DOP: Paco Femenia Produtora Production: Estudios Picasso, Origen Producciones Cinematograficas S.A., NBC Global Networks | ES, 2006, 147’
NADIE HABLARÁ DE NOSOTRAS CUANDO HAYAMOS MUERTO Partindo para para o México à procura de trabalho, Gloria acaba por tornar-se prostituta e alcoólatra, e envolve-se com a máfia, acabando presa. É deportada e vê-se obrigada a regressar a Espanha, onde os seus problemas continuam.
• Dia 7 às 14h00 Medeia Monumental, Sala 4
Gloria went to Mexico in search for a new job and subsequently became a prostitute, an alcoholic, got involved with the mafia, and ended up going to jail. She was deported and forced to return to her country, Spain, where her troubles continue.
Realizador Director:
Agustín Díaz Yanes
Elenco Cast: Victoria Abril, Pilar Bardem, Frederico Luppi Argumento Screenplay: Agustín Díaz Yanes Fotografia DOP: Paco Femenia Produtora Production: Canal+ España, Creativos Asociados de Radio y Televisión (CARTEL), Flamenco Filmes S.A | ES, 1995, 99’
SIN NOTICIAS DE DIOS Sem Notícias de Deus Um pugilista luta contra uma potencial lesão cerebral e vê a sua alma tornar-se objecto de uma batalha metafísica. Duas agentes sobrenaturais são enviadas para conquistar a sua alma. A boxer battling a potentially life-threatening brain injury finds his soul to be the object of a metaphysical fight. Two different supernatural agents are sent to win over his soul to their side. • Dia 6 às 14h30 Espaço Nimas (presença de Agustín Díaz Yanes)
Realizador Director:
Agustín Díaz Yanes
Elenco Cast: Victoria Abril, Penélope Cruz, Demián Bichir Argumento Screenplay: Agustín Díaz Yanes Fotografia DOP: Paco Femenia Produtora Production: Flamenco Films S.A., Tornasol Films, Cartel Films ES, FR, IT, MEX, 2001, 112’
135
H OM E N A GE M - A GUST ÍN D ÍA Z YA N E S
ALATRISTE Capitão Alatriste
SOLO QUIERO CAMINAR Walking Vengeance Uma tentativa de assalto levada a cabo por um grupo de mulheres, Aurora, a sua irmã Ana, Gloria e Paloma, fracassa e resulta na prisão de Aurora. Ana é contratada por Felix, um traficante mexicano com quem acabará por viver. Os negócios obscuros do marido propiciamlhe uma vida luxuosa mas, quando reencontra a amiga Glória, esta percebe que Ana é infeliz, oprimida pela violência de Felix. Juntas, planeiam roubar a fortuna dele e, para executar este ambicioso golpe, contam com a ajuda das suas cúmplices, Paloma e Aurora. • Dia 5 às 22h00 Espaço Nimas (conversa Agustín Díaz Yanes e Victoria Abril)
Aurora, her sister Ana, Gloria and Paloma fail to rob a bank and Aurora is arrested. Ana is hired by Felix, a Mexican drug dealer, and they end up living together in Mexico. Her husband’s shady dealings make for a lavish life. When reunited with her friend, Gloria realizes that despite their luxurious life, Ana is unhappy with Felix’s violence. Together, they plan to steal his fortune and to execute this ambitious scam, they will rely on the help of their partners in crime Paloma and Aurora.
Realizador Director:
Agustín Díaz Yanes
Elenco Cast: Diego Luna, Victoria Abril, Ariadna Gil Argumento Screenplay: Agustín Díaz Yanes Fotografia DOP: Paco Femenia Produtora Production: Canana Films, Boomerang Cine ES, MEX, 2008, 129’
136
WWW. L E FFE S T. C OM
DANIEL ROSENFELD Homenagem Tribute
H OM E N A GE M - D A N IE L R OSE N F E L D
Consultar a biografia do realizador na secção Júri da Competição de Curtas-Metragens. Daniel Rosenfeld: “[Nós], os seres humanos, somos irreais como as imagens”. Entrevista Prestes a estrear o seu primeiro filme de ficção, o realizador de Cornelia Frente al Espejo revela como trabalhou na adaptação do conto homónimo de SIlvina Ocampo, respeitando escrupulosamente cada linha de diálogo do texto original, sem deixar de conferir profundidade cinematográfica à sua obra. Por Carlos Algeri Daniel Rosenfeld demonstra um respeito reverencial pela palavra. Pensa durante o tempo que julga necessário antes de responder a cada pergunta. Não é de estranhar, então, que o seu novo filme, Cornelia Frente al Espejo (baseada no conto homónimo de Silvina Ocampo), tenha como premissa fundamental a reprodução textual de cada um dos diálogos escritos pela grande autora argentina. “Cada ponto, cada vírgula, é rigorosamente respeitado no filme”, assegura o realizador à El Gran Otro, tendo assumido, juntamente com Eugenia Capizzano, a escrita do argumento do filme. No que o cineasta denomina “uma aventura, uma exploração”, acompanha-o um elenco composto pela própria Capizzano, Rafael Spregelburd, Eugenia Alonso e Leonardo Sbaraglia. Com antecedentes no género documental (Saluzzi, ensayo para bandoneón y tres hermanos, 2000; La quimera de los héroes, 2003) o seu novo filme é muito mais do que uma mudança de registo. Por que razão decidiu estrear-se no cinema de ficção adaptando o conto de Silvina Ocampo, Cornelia frente al espejo? Do ponto de vista da narrativa, o meu filme anterior, La quimera de los héroes, tinha um certo parentesco com os filmes que se baseiam num argumento. Cornelia frente al espejo
nasceu do desejo de trabalhar com os diálogos literais de Silvina Ocampo. O filme possui a singularidade de respeitar com extrema exactidão, com pontos e vírgulas, os diálogos escritos por Silvina Ocampo. Foi um trabalho árduo aquele que empreendemos, com a co-argumentista Eugenia Capizzano, mas nunca dos afastámos dessa premissa. Qual é o espírito do seu novo filme? Tem algo do espírito d’As Mil e Uma Noites, e também pode ser tido como uma versão obscura de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, romance de que Silvina Ocampo gostava muito. O importante é que no filme está sempre presente a figura de Silvina Ocampo: às vezes intangível, outras vezes com digressões e, por isso, nem sempre aparece o que se espera. Era a aventura de nos envolvermos no universo literário de Silvina (Ocampo) com uma estrutura cinematográfica. Qual foi o resultado estético de uma obra em que se respeitam escrupulosamente os diálogos, mas na qual também, pela própria natureza do cinema, se exige a criação de acção visual? A própria linguagem escolhida pela autora produz uma beleza que, se alguém tentasse 137
adaptá-la ao cinema, poderia cair na tentação de criar acção visual e desfazer algo tão rico, que está relacionado com as palavras. O filme está vinculado à beleza própria das palavras e não à mera criação de acção visual. Como interpreta o facto de Cornelia, a protagonista do conto e do filme, não poder cumprir facilmente o seu desejo de suicídio? Colocá-la -metaforicamente - em frente ao espelho de outras pessoas, impele-a a permanecer mais ligada à vida do que à morte? Sim, é algo desse género. Por isso disse que me faz recordar As Mil e Uma Noites, pois há uma personagem que deseja a morte mas não de uma forma totalmente coloquial. Ao encontrar-se com outras personagens, a quem ela pede que a matem, há sempre algum elemento que faz com que isso se disperse, como acontecia com Sherazade. Além disso, há algo na pulsão de morte que está especularmente ligada à pulsão de vida. Isto torna-se evidente nos diálogos geniais de Silvina Ocampo. Um deles diz: “[Nós] os seres humanos somos irreais como as imagens”. Os temas que o conto aborda são universais: a frustração, a tentativa de suicídio, apresentados com o surrealismo de Silvina. O facto de trabalhar só com quatro personagens facilita uma encenação mais intimista e - ao mesmo tempo mais alucinante ou alucinatória? Originalmente, são apenas diálogos. O desafio foi ler nas entrelinhas aquilo que esses diálogos enunciavam secretamente. Essas quatro personagens existem e é através de Cornelia que as podemos conhecer. Há algo de surrealista em várias delas. O exemplo mais impactante é o do ladrão com uma máscara tipo Fantômas, que é interpretado por Rafael Spregelburd. Os diálogos são sempre engenhosos e perturbadores ao mesmo tempo, pelo que era necessário acompanhá-los de forma surrealista, sem saber de que lado irão estar. Para os actores era uma aventura. O filme começou como uma aventura, como uma exploração. Tivemos sorte porque os actores deram vida a estes textos, que são não coloquiais. O género fantástico não é habitual no 138
cinema argentino. Está consciente do risco que assume? Gosto bastante de Henry James. Mas em James não é tão importante a palavra como em Cornelia…, onde há algo de fantástico, mas muito argentino: esse sentido de humor oculto. A encenação e o risco têm a ver não só com o fantástico, são também um convite ao espectador para fazer uma viagem por Silvina Ocampo em estado puro. Com todas as letras, com todas as vírgulas. Passa de temas surrealistas ao melodrama, é a intriga ou o mistério que esse mundo do fantástico poderia ter. Na estreia mundial realizada em Roterdão, o filme foi definido como um “drama literário elegante, opressivo e misterioso”. Concorda com essa opinião? Sim, parece-me ser uma definição acertada. In El Gran Otro Daniel Rosenfeld: “[We], human beings, are as unreal as images”. Interview The film Cornelia Frente al Espejo is about to premiere and its director, Daniel Rosenfeld, describes his work on the adaptation of the short story with the same title by Silvina Ocampo by scrupulously respecting every line of dialogue in the original text, while giving his work cinematographic depth. By Carlos Algeri Daniel Rosenfeld shows reverential respect for speech. He thinks for as much time as he deems necessary before answering every question. It is not surprising that, in his new film, Cornelia Frente al Espejo (based on Silvina Ocampo’s short story with the same title), Rosenfeld has had as a basic premise the textual reproduction of each one of the dialogues written by the great Argentinian author. “Every full stop, every comma is rigorously respected in the film”, assures the film director to El Gran Otro, having taken on the writing of the film script, together with Eugenia Capizzano. In what the he calls “an adventure, an exploration”, the filmmaker is accompanied by a cast made up by Eugenia Capizzano, Rafael Spregelburd, Eugenia Alonso and Leonardo Sbaraglia. With ancestors WWW. L E FFE S T. C OM
Why did you decide to make your debut in fiction cinema by adapting Silvina Ocampo’s short story, Cornelia frente al espejo? From the narrative point of view, my previous film, La quimera de los héroes, was somewhat related to the films that are based on a script. Cornelia frente al espejo was born from my wish to work with Silvina Ocampo’s dialogues. The film has the singularity of respecting, with extreme accuracy, with full stops and commas, the dialogues written by Silvina Ocampo. What we set out to do, writing the script, alongside the co-writer Eugenia Capizzano, was hard work but we never drifted from our premise. What is your new film’s spirit? It has a little bit of the spirit portrayed in Arabian Nights, and it can also be seen as an obscure version of Alice’s Adventures in Wonderland by Lewis Carroll, a novel which Silvina Ocampo really liked. What is important is that Silvina Ocampo image is always present in the film: sometimes intangible, other times with digressions, and that is why what is expected is not always what is seen. It was the adventure of diving into Silvina’s literary world in a film structure. What is the aesthetic result of a piece of work in which dialogues are scrupulously respected but also which requires creating the visual action due to the nature of cinema itself? The language chosen by the author carries a kind of beauty which, if someone were to adapt it to cinema, they could fall in the temptation to create visual action and therefore destroy something is so rich which is related to words. The film is bound to the beauty of words and not to the simple creation of visual action. How do you interpret fact that Cornelia, the main character in both the short story and the film, cannot easily with the wish to commit suicide? Does placing her - metaphorically - in front of other people’s mirrors, push her to remain more closely connected to life than to death? Yes, it is something like that. That is why I said it reminds me of Arabian Nights, because there is
a character who wishes death but not in a away that is totally colloquial. When meeting other characters and asking them to kill her, there is always an element that makes this get dispersed, as was the case with Sherazade. Moreover, there is something in death instincts that is spectacularly connected with life instincts. This becomes obvious in Silvina Ocampo’s genius dialogues. One of them says: “[We], human beings, are as unreal as images”. The themes addressed in the short story are universal: frustration, suicide attempt, presented with Silvina’s surrealism. Doe the fact that you work with only four characters make the stage direction more intimate and - at the same time - more hallucinating or hallucinatory? Originally, there are only dialogues. The challenge was to read between the lines, trying to decipher what these dialogues were secretly saying. These four characters exist and it is through Cornelia that we get to meet them. There is something surrealist in many of them. The example with most impact is that of the thief wearing a mask like Fantômas, played by Rafael Spregelburd. Dialogues are always ingenious and disturbing at the same time, so it would be necessary to look at them in a surrealist way, without knowing which side they will be on. For the actors it was an adventure. The film began as an adventure, exploring. We were lucky because the actors gave life to these texts, which are not colloquial. The fantasy genre is not usual in Argentinian Cinema. Are you aware of the risk you are taking? I like Henry James a lot. But speech is not as important in James as it is in Cornelia..., where there is something fantastic, but very Argentinian: that hidden sense of humour. The stage direction and the risk have to do, not only with the fantastic, but they are also inviting the viewer to go on a trip through Silvina Ocampo’s work in its purest state. With every letter, with every comma. It goes from surrealist themes to melodrama, it is the intrigue or the mystery that could be found in the world of fantasy. In the world premiere in Rotterdam, the film was defined a “meticulous, stylish and oppressive literary film”. Do you agree with this opinion? Yes, I believe it is the correct definition. 139
H OM E N A GE M - D A N IE L R OSE N F E L D
in the documentary genre, (Saluzzi, ensayo para bandoneón y tres hermanos, 2000; La quimera de los héroes, 2003), his new film is much more than a change of register.
SALUZZI, ENSAYO PARA BANDONEÓN Y TRES HERMANOS O filme tem início durante uma digressão europeia de Dino Saluzzi, e segue o músico na sua deambulação, as suas composições musicais, captando a sua visão sobre o mundo, as suas reflexões inspiradas na arte, e o laço vital que mantém com a sua terra natal.
• Dia 9 às 20h45 Casino Estoril (apresentação por Daniel Rosenfeld)
The film begins during a European tour of Dino Saluzzi and follows him in his wanderings through roads and cities and the process of his musical composition: recording his take on the world around him, his inspired reflections on art, and the always vital bond he shares with his homeland.
Realizador Director:
Daniel Rosenfeld
Elenco Cast: Dino Saluzzi, José Saluzzi, Mark Johonson Argumento Screenplay: JDaniel Rosenfeld, Jorge Goldemberg Fotografia DOP: Ramiro Civita Produtora Production: Daniel Rosenfeld Films, INCAA | AR, 2000, 70’
LA QUIMERA DE LOS HÉROES The Chimera of Heroes Na floresta de Formosa, na Argentina, um homem branco é o líder de um grupo de membros de uma tribo aborígene socialmente excluída. Criador do Clube de Râguebi Aborígenei, ensinou os homens a jogar e a defender os seus direitos e a sua dignidade.
• Dia 9 às 20h45 Casino Estoril (apresentação por Daniel Rosenfeld)
In the jungle of Formosa, Argentina, a white man is the leader of a group of tribesmen from the socially excluded Toba tribe. He has taught them to play rugby, creating the Aboriginal Rugby Club, and to defend their dignity and their rights.
Realizador Director:
Daniel Rosenfeld
Elenco Cast: Eduardo Rossi Argumento Screenplay: Eugenia Capizzano, Edgardo Cozarinsky, Daniel Rosenfeld Fotografia DOP: Ramiro Civita Produtora Production: Daniel Rosenfeld Films, Les Films D’ici, INCAA, Argentinacine, Zentropa | AR, 2003, 70’
CORNELIA FRENTE AL ESPEJO Cornelia at Her Mirror Cornelia regressa a casa dos seus pais com apenas uma intenção: cometer suicídio. Trouxe consigo um frasco de veneno. A casa deveria estar vazia, mas Cornelia continua a receber visitantes. Cornelia has come to her parental home with only one intention: to commit suicide. She has brought a phial of poison with her. The house should be empty, but Cornelia keeps getting visitors. • Dia 4 às 22h00 Medeia Monumental, Sala 3 (presença de Daniel Rosenfeld)
140
Realizador Director:
Daniel Rosenfeld
Elenco Cast: Eugenia Capizzano, Leonardo Sbaraglia, Rafael Spregelburd, Eugenia Alonso Argumento Screenplay: Eugenia Capizzano, Daniel Rosenfeld Fotografia DOP: Matías Mesa Produtora Production: Daniel Rosenfeld Films | AR, 2012, 103’
WWW. L E FFE S T. C OM
Antonio é um homem de 70 anos que vive na pequena aldeia de Salta. Tem um plano; está a tentar deixar um legado ao seu filho José, de dez anos, para quando morrer. Será que alguém, para além de Antonio, viu coisas no céu? Antonio is a 70-year old man living in the small village of Salta. He has got a plan; he is trying to bequeath a legacy to his son José, aged 10, for when he passes away. Has anyone else other than Antonio seen things in the sky? • Dia 5 às 14h15 Medeia Monumental, Sala 2 (conversa com Daniel Rosenfeld)
Realizador Director:
Daniel Rosenfeld
Elenco Cast: Tony Zuleta Argumento Screenplay: Daniel Rosenfeld Fotografia DOP: Ramiro Civita Produtora Production: Les Films D’Ici 2, Majade, National Film Institute from Argentina, De Productie, Sudacine, Argentinacine | AR, FR, DE, NL, 2015, 84’
MADEMOISELLE CLARA Um médico russo viaja para o Sul da Argentina com o objectivo de encontrar pistas para os eventos sobrenaturais inexplicáveis que afectaram Clara, uma rapariga de 17 anos filha de uma sua amiga. A russian Doctor travels to the south of Argentina in order to find a clue for unexplained supernatural events on Clara, a 17 years old girl, friend of his.
• Dia 5 às 14h15 Medeia Monumental, Sala 2 (conversa com Daniel Rosenfeld)
Realizador Director:
Daniel Rosenfeld
Elenco Cast: Sergey Rahmanin, Edgardo Cozarinsky, Eugenia Capizzano Argumento Screenplay: Daniel Rosenfeld AR, 2016, 8’
LA CALLE DE LOS PIANISTAS Pianists Street Numa pequena rua em Bruxelas, existe uma invulgar concentração de pianistas. Com apenas 14 anos, Natasha Binder é a herdeira de uma dinastia. Nos diários da sua mãe, Natasha procura respostas para a questão-chave: o que é, em suma, ser-se um pianista?
• Dia 5 às 16h45 Medeia Monumental, Sala 2 (apresentação por Daniel Rosenfeld)
In a small street in Brussels there is an unusual concentration of pianists. At only fourteen years of age, Natasha Binder is the heir to a dynasty, its last great promise. In the diaries of her mother, Natasha searches for answers to a key question: what is it, in short, to be a pianist?
Realizador Director:
Mariano Nante
Elenco Cast: Martha Argerich, Natasha Binder, Alan Kwiek, Karin Lechner, Lyl Tiempo, Sergio Tiempo Argumento Screenplay: Sandra de la Fuente, Mariano Nante, Daniel Rosenfeld Fotografia DOP: Juan Aguirre Produtora Production: Daniel Rosenfeld Films, Instituto Nacional de Cine y Artes Audiovisuales (INCAA), Universidad de Cine | AR, 2015, 85’
141
H OM E N A GE M - D A N IE L R OSE N F E L D
AL CENTRO DE LA TIERRA To The Center of the Earth
BLOODY DAUGHTER | STÉPHANIE ARGERICH Sessões Especiais Special Screenings Bloody Daughter, de Stéphanie Argerich Brilhante pianista argentina, dotada de grande mestria técnica e de uma personalidade interpretativa carismática, Martha Argerich é unanimemente considerada pelos músicos da sua geração como a melhor pianista do mundo. O seu reconhecimento mundial contrasta, todavia, com o recato da sua vida íntima e familiar. Três vezes casada e mãe de três filhas, Annie Dutoit, Lyda Chen e Stéphanie Argerich, Martha Argerich – de reconhecida resistência ao mediatismo e à exposição pública – deixa-se retratar de forma sincera e espontânea no seu quotidiano, pela sua filha mais nova, Stéphanie, fotógrafa e realizadora. Bloody Daughter é, assim, simultaneamente, o fruto de um olhar familiar e intimista sobre os seus pais, Martha Argerich e Stephen Kovacevich, também ele um nome fundamental no universo da música clássica, e um gesto autobiográfico, que reflecte com emoção sobre o seu próprio lugar no clã Argerich e sobre os temas delicados que o perpassam: o estrelato, a maternidade, a loucura e a alegria de uma família excepcional imersa na arte e na música. “Bloody daughter O que corre nas tuas veias? Onde fica a tua dor? Não sei, mas às vezes dói. Não sei, mas às vezes dou conta De que estou a envelhecer… E continuo a ser uma rapariga tonta…” Bloody Daughter, by Stéphanie Argerich A brilliant Argentinian pianist endowed with great technical mastery and a charismatic interpretative personality, Martha Argerich is unanimously considered by her peers to be the best pianist in the world. Her worldwide renown contrasts, however, with the privacy of her intimate and family life. Married three times and mother to three daughters, Annie Dutoit, Lyda Chen and Stéphanie Argerich, Martha Argerich – with a known resistance to media and public exposure 142
– agrees to be filmed by her youngest daughter, Stéphanie (photographer and director) in her everyday life in a sincere and spontaneous way. Bloody Daughter is thus, simultaneously, the fruit of a familiar and intimate look upon Stéphanie Argerich’s parents, Martha Argerich and Stephen Kovacevich (who is also a key name in the classical music universe) and an autobiographical gesture, which reflects upon her own place within the Argerich clan and upon the delicate issues that cut across the family: the spotlight, maternity, madness and the joy of an exceptional family plunged in art and music. “Bloody daughter What is it that flows in your veins? Where is your pain? I don’t know, but it hurts sometimes. I don’t know, but I realise, That I am getting old… And I’m still a silly girl…”
Stéphanie Argerich Stéphanie Argerich é filha de Martha Argerich e Stephan Kovacevich. Nascida em Berna em 1975, tem nacionalidade suíça, argentina e belga. Primeiramente, estudou Russo em Moscovo e depois Fotografia na Parson School of Design em Nova Iorque. Em Paris, estudou técnicas de vídeo e realizou as suas primeiras médias-metragens. Bloody WWW. L E FFE S T. C OM
Stéphanie Argerich is the daughter of Martha Argerich and Stephan Kovacevich. Born in Bern in 1975, she holds Swiss, Argentinian and Belgian citizenship. First she studied Russian in Moscow and then Photography at the Parson School of Design in New York. In Paris she made some additional training in video technique and directed her first medium length films. Bloody Daughter is her first feature length documentary. In 2003 the film was awarded the golden FIPA (International Festival of Audiovisuals Programme) in the category Musique et spectacles.
Martha Argerich Nascida em Buenos Aires (1941), de ascendência catalã paterna e judia-russa materna, começa os estudos de piano aos 3 anos, aos 4 realiza o seu primeiro recital público, aos 5 é aluna do professor e pianista Vincenzo Scaramuzza e aos 8 dá o primeiro concerto formal, interpretando Mozart, Beethoven e Bach. Aos 14 anos parte com os pais para Viena, onde estuda com Friedrich Gulda (confessadamente o seu mais influente mentor), tendo também tido como professores outros prestigiados pianistas da época, como Nikita Magaloff e Stefan Askenase. Aos 16 anos, ganha notoriedade ao vencer, no espaço de três semanas, os dois mais importantes concursos de piano europeus (o de Genebra e o de Bolzano), o que a lança num intenso programa de concertos, culminando com a gravação, em 1960, do primeiro disco (para a Deutsche Grammophon). A vitória, aos 24 anos, no Concurso Chopin de Varsóvia é o passo decisivo para a sua carreira e reconhecimento internacionais.
orquestras, Martha Argerich interessa-se, a partir dos anos 1980, pela música de câmara (encontrando nela um vasto campo de exploração e interacção com outros músicos, o que lhe permite contrariar a solidão que o palco sempre lhe provocou), multiplicando as colaborações com nomes como Gidon Kremer, Mischa Maisky, Itzhak Perlman, Nelson Freire ou Daniel Barenboim (compatriota e amigo de infância). Envolvida no apoio a jovens músicos, funda três festivais/concursos: o Festival de Beppu (no Japão), o Concurso Internacional de Piano de Buenos Aires e o Progetto Martha Argerich, em Lugano, na Suíça. Em 2002 é a protagonista do documentário Martha Argerich, conversation nocturne, realizado por Georges Gachot, onde revela memórias, faz confidências sobre as suas dúvidas e fala da paixão pelo piano e pela música que, ao tocar, encarna, tornando-a um nome incontornável na história da interpretação musical. Em 2012, a filha mais nova, Stéphanie Argerich, realiza Bloody Daughter, um olhar íntimo sobre a mãe e um retrato de família, reunindo material filmado durante duas décadas por todo o mundo. O 10º Lisbon & Estoril Film Festival exibirá Bloody Daughter, contando com as presenças de Stéphanie e Martha Argerich, convidadas do Festival.
Famosa pelas interpretações do grande repertório pianístico (Bach, Beethoven, Chopin, Schumann, Liszt, Debussy, Ravel, Bartók, Prokofiev), tendo trabalhado como solista com os mais famosos maestros e 143
SE SSÕE S E SP E C IA IS - M A RT H A A R GE R IC H
Daughter é a sua primeira longa-metragem documental. Em 2003, o filme foi premiado com o Golden FIPA (Festival Internacional de Programas Audiovisuais) na categoria Musique et spectacles.
Martha Argerich Born in Buenos Aires (1941) of Catalan and Russian-Jewish origin on her father and mother’s sides respectively, she begins her piano studies at 3 yearsold, performs her first public recital at 4, becomes professor and pianist Vincenzo Scaramuzza’s pupil at 5 and gives her first formal concert, interpreting Mozart, Beethoven and Bach at 8. At 14 she leaves with her parents to Vienna, where she studies under Friedrich Gulda (by her admission her most influential mentor), having also studied under other prestigious pianists of the day, such as Nikita Magaloff and Stefan Askenase. At 16 she gains notoriety by winning, within a period of three weeks, both of the most important European piano competitions (Genebra and Bolzano), which catapults her into an intense concert schedule that culminates, in 1960, with the recording of her first record (for Deutsche Grammophon). Winning the Warsaw Chopin Competition at 24 years-old is a decisive step towards her career and international acclaim. Famous for interpreting pieces from the great piano repertoire (Bach, Beethoven, Chopin, Schumann, Liszt, Debussy, Ravel, Bartók, Prokofiev), having worked as a soloist with the most famous maestros and orchestras, Martha Argerich gains
an interest, beginning in the 1980’s, in chamber music (discovering a vast field of exploration and interaction with other musicians, which allows her to counter the loneliness which the stage had always afforded her), multiplying collaborations with names such as Gidon Kremer, Mischa Maisky, Itzhak Perlman, Nelson Freire or Daniel Barenboim (her countryman and childhood friend). Involved in supporting young musicians, she creates three festivals/competitions: the Beppu Festival (in Japan), the Martha Argerich International Piano Competition of Buenos Aires, and the Martha Argerich Project, in Lugano, Switzerland. In 2002 she stars in the documentary Martha Argerich, conversation nocturne, directed by Georges Gachot, where she shares her memories, discusses her doubts, and speaks of her passion for the piano and for the music which she embodies through her playing, making her an incontrovertible name in the history of musical interpretation. In 2012, her youngest daughter, Stéphanie Argerich, directs Bloody Daughter, an intimate look at her mother and a family portrait, collecting footage spanning two decades and shot all over the world. The 10th edition of the Lisbon & Estoril Film Festival will exhibit Bloody Daughter with Stéphanie and Martha Argerich attending as guests.
BLOODY DAUGHTER A mãe vista pelos olhos da filha - um retrato de família que mistura conversas íntimas, discussões e laços fragmentados de sons e de sangue. Este retrato íntimo de dois gigantes da música realizado pela filha de Martha Argerich, Stéphanie, contém imagens que foram filmadas ao longo de duas décadas e em vários lugares do mundo. Feito de sequências documentais que se focam nas personagens de Martha e Stephen (pianista e pai de Stéphanie). • Dia 12 às 21h00 Teatro da Trindade (conversa com Martha Argerich e Stéphanie Argerich + ao piano com Martha Argerich e Itamar Golan)
The mother through the daughter’s eyes - a family portrait blending intimate conversations, agreements and disagreements, and shred ties of sounds and blood. This intimate portrait of two musical giants by Martha Argerich’s daughter Stéphanie has been filmed over two decades and around the world. Made up of documentary sequences focusing on the two characters of Martha and Stephen (pianist and Stépanie’s father).
Realizador Director:
Stéphanie Argerich
Elenco Cast: Martha Argerich, Stephen Kovacevitch, Lyda Chen Fotografia DOP: Stéphanie Argerich, Luc Peter Produtora Production: Idéale Audience, Intermezzo Films S.A., Arte France | FR, CH, 2012,100’
144
WWW. L E FFE S T. C OM
STRAUB & HUILLET: A MÚSICA EM ELOGIO PERMANENTE
O 10º Lisbon & Estoril Film Festival apresenta uma selecção de quatro filmes de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet cuja matéria primordial é a Música, em particular a música de Bach e a de Schoenberg.
Crónica de Anna Magdalena Bach: O filme que Straub sempre quis fazer
Na filmografia de Straub–Huillet, tão conscientemente reflexiva sobre a essência do cinema, sobre aquilo que faz a sua matéria – um plano, o espaço, o som, o corpo de um actor – a música “é uma voz ou uma camada de matéria que queremos realizar” (Straub dixit). É da convocação e confronto entre estes vários materiais que as suas obras se fazem, deixando a música e os textos (verdadeiros actos de resistência, como o são os seus filmes) expressarem-se como se ainda não tivessem sido ouvidos ou lidos.
STRAUB-HUILLET AND MUSIC The 10th Lisbon & Estoril Film Festival presents a selection of four films by Jean-Marie Straub and Danièle Huillet whose raw material is Music, in particular the music of Bach and Schoenberg. In Straub-Huillet’s filmography, which so consciously reflects on the essence of cinema, on what its matter is made up of – a shot, the space, a sound, the body of an actor – music “is a voice or a layer of matter that we want to direct.” (Straub dixit) It is the summoning and the confrontation between these multiple materials that his works are made of, leaving music and text (true acts of resistance, much like his films) to express themselves as if they had never been read or listened to.
Poucos cineastas fizeram, como o par StraubHuillet, da música uma matéria-prima de tão central importância. A sua terceira longametragem, Crónica de Anna Magdalena Bach (Chronik der Anna Magdalena Bach, 1968), seria a materialização de um dos mais antigos projectos de Jean-Marie Straub. O rigor do trabalho preparatório levaria a Straub dez anos de idealização detalhada: esta (des)construção propunha-se a utilizar os meios do cinema para encarar o projecto único de “usar a música não como acompanhamento, nem como comentário, mas como matéria estética”, sendo o centro modelador da narrativa e da mise-en-scène. Uma relação dialéctica dos vários ritmos alicerça a densidade única de um filme que, entre sinfonias e cantatas, ainda assim persegue uma constante depuração estética. ‘‘O meu maior temor no Bachfilm’’, assume Straub ‘‘era justamente que a música criasse picos no filme: ela deve permanecer no mesmo plano do que o resto.’’ Este Bachfilm inaugura um processo de eliminação de intenções, assumindo um projecto de nãonarração. “Eu sei que a música é incapaz de exprimir o que quer que seja”, disse Stravinski, que Straub recorrentemente cita para evocar uma crença convergente, a de que o cinema também não é capaz de exprimir nada (diria em entrevista aos Cahiers du Cinéma em 1966). Retrocede-se para avançar e esta abordagem analítica envolvenos num exercício de permanente esvaziamento de signos, clichés e significados, no estímulo intelectual de uma experiência cinematográfica mais próxima da origem e que, simultaneamente, homenageia o próprio cinema, colide necessariamente com certos caminhos tomados pelo cinema ou que se fazem passar por cinema. Através de Chronik, a pesquisa de Straub e Huillet compôs um outro retrato do contexto de Bach: vários manuscritos atribuídos ao compositor alemão tinham sido, de facto, recopiados pela segunda mulher, Anna Magdalena, e restam ainda dúvidas acerca da autoria das peças. Estes documentos de época surgem facsimilados e são protagonistas de um filme que endereça, sobretudo, a memória, construindo um mundo de Bach próximo das formas de Bach. Se nos é dito que o compositor perdeu a visão e que, por isso, 145
SE SSÕE S E SP E C IA IS - ST R A UB & H UIL L E T
PROGRAMA STRAUB–HUILLET E A MÚSICA
ditou os seus últimos trabalhos, esta descrição biográfica encontra um peso paralelo na presença da música sobre a imagem. Neste sempre balançar dos elementos, Danièle Huillet definiria esta ‘‘parença a Bach, como um total equilíbrio encarnado [...] sem divórcio entre a arte, a vida e o intelecto, entre a música profana e a sagrada.’’ Este drama descreve ideias velhas combatidas com ideias novas, protagonizado pela persistência de um homem que luta com as armas do seu tempo, contra as estruturas estabelecidas da arte e dos contextos em que a arte era produzida. ‘‘A paciência e a violência escondem-se na arte do próprio Bach’’, afirmou Jean-Marie Straub, aludindo à potência interventiva da música como veículo revolucionário, didáctico mas não tautológico. E é, precisamente, nesta análise da acção de um criador que estrutura uma meditação maior sobre o acto de criação e de significação que é construir um filme. Em Chronik, a imagem é construída para participar precisamente das virtudes da música. Sente-se a sua depuração estética: a força de cada imagem, composta com um rigor e uma beleza estudados, encontra o seu encadeamento, o seu tempo, o seu ritmo sem se sobrepor jamais ao som. Em entrevista, Huillet afirmava um dia não suportar ‘‘quando a música é utilizada para que a imagem diga algo que não disse”. O edificar deste filme rima com a intenção de mostrar a construção musical como um processo dialéctico de fundação material, definidor de um compromisso de participação no mundo. A narrativa do filme progride temporalmente no interior de um corpo de trabalho de dois autores sintonizados, Bach e Magdalena, alinhados em permanente ponto de construção: se começámos por ver pautas anotadas à mão, em seguida vemos as pautas impressas que assinalam a passagem do trabalho individual à apresentação pública desta música. Chronik funda-se no movimento do particular tornado universal. No equilíbrio dialéctico entre a vida privada e pública do indivíduo em sociedade, a arte é encarada como a expressão posta em comum, com o compromisso de uma intervenção no espaço público. De tal forma que, no esforço do espectador diante de um filme longe dos eixos espelha-se no esforço protagonizado por Bach, que contantemente se debate com o esforço de criar. Chronik é um filme de mãos, de braços, de olhos, de pés: 146
respeitando os tempos da execução e da criação, o plano conduz-nos, por várias vezes, até junto da concentração absoluta de Bach, curvado sobre um teclado de cravo ou a tocar um cravo ou orgão embutido, e observamos de perto aquele processo de técnica e de minúcia que Straub designa com a expressão grega akribeia. O par almejaria esta mesma precisão na hora de seleccionar quem devia interpretar Bach (o cravista holandês Gustav Leonhardt) e Anna Magdalena (Christiane Lang, no seu único papel em cinema) e a edificação deste projecto usufrui das brechas da História. À distância das figuras misteriosas de um compositor do qual não ficou um único objecto pessoal e de uma mulher da qual não sobrou um retrato apenas, as possibilidades de escolha foram matéria-prima da liberdade de construir um filme alicerçado numa narrativa histórica, que assim prossegue segundo princípios de realismo, mas sobre uma sucessão romanceada de acontecimentos. Com uma história de amor por base, navegamos no interior de um legado artístico onde é, ainda hoje, indiscernível o que foi da autoria de Bach ou de Magdalena. Uma correspondência que, adiantada por este filme, espelharia aquilo que viria a ser a cumplicidade do casal Straub-Huillet, cujo fluxo de pensamento e de criação se conjugou, com um radicalismo uníssono, sobre as estruturas basilares do cinema. Deixaram, em forma de filmes, os frutos públicos de uma rara e produtiva cumplicidade intelectual (que viria a ser belíssimamente retratada no documentário de Pedro Costa, Onde jaz o teu sorriso (de 2001) – título que evoca um graffiti que surgiria no início de Von Heute auf Morgen, de 1996).
VON HEUTE AUF MORGEN: Sobre as mulheres Tal como haviam feito no Bachfilm, ao filmar De hoje para Amanhã (Von Heute auf Morgen, 1996), Straub e Huillet defendem incondicionalmente o som directo, buscando “captar ao mesmo tempo o canto e o corpo que canta”. Cria-se assim um bloco de trabalho encaminhado para a missão de limar todo o artifício, unindo o som à imagem (e impedindo o exercício manipulador de, posteriormente, cortar e colar arbitrariamente na montagem — truque da pós-produção em camadas a que Straub chamava de fazer ‘‘sopa sonora’’). WWW. L E FFE S T. C OM
Sobre uma estrutura musical complexa, assenta uma contemporânea comédia de costumes onde a aparente banalidade temática levanta questões funcionais de primeira ordem. Perante uma sociedade que se replica com o modelo de casal como unidade com funções sociais basilares, em causa permanece o indivíduo, o mínimo denominador filosófico, e as estruturas da autodeterminação, do princípio do direito à felicidade, etc. A problematização levanta sucessivos conflitos morais que as cenas prolongam de um dia para o outro. Mas, de um dia para o outro, tudo muda para um novo regresso do casal à homeostasis. O impasse calculista desta mulher que são duas – dividida entre a sedução de parecer feminina perante o marido e a responsabilidade de ser mãe – é interrompida pela inocente pergunta da criança: “Mamã, o que são os homens modernos?”. Com esta frase dita e
não entoada, interrompe-se a cantata e o ritmo altera-se subitamente. Concentrados na música de Schoenberg, situamo-nos num além-tempo, na fenda entre o passado e o futuro. Por onde começamos a libertar-nos do peso da tradição?
Einleitung zu Arnold SchoenbergsBegleitmusik zu einer Lichtspielscene: Na sua curta-metragem Einleitung zu Arnold Schoenbergs Begleitmusik zu einer Lichtspielscene (Introdução a ‘‘Música de acompanhamento para uma cena de um filme’’ de Arnold Schoenberg, 1972), Jean-Marie Straub fita-nos enquanto explica o grau de detalhe com que Schoenberg deixa estritamente expressas indicações para as suas óperas. O seu objectivo, diz-nos, era “conter o caos” que diagnosticava ao seu tempo, mas em Música de acompañamiento por una escena del filme (escrita na Alemanha entre 1929 e 1930), o judeu Schoenberg deixa apenas quatro palavras: “Perigo ameaçador, Medo, Catástrofe”. O seu pessimismo, resultado das perseguições anti-semíticas de que foi alvo até ao exílio para os EUA que se seguiria, convocam a perplexidade que exprime aos seus pares: “Porque é que um ariano é julgado por Goethe, Schopenhauer e por aí em diante? Porque é que as pessoas não dizem que os judeus são como Mahler, Altenberg, Schoenberg e tantos outros?” A luta de Schoenberg é solitária e tem a clareza de um homem que precisaria de ser provado pela justiça do futuro. É sua a voz da razão com que combate os seus mais proeminentes contemporâneos, toldados pelo espírito nefasto do lugar e do tempo. Como é que pode a diferença racial separar homens unidos pelo intelecto? O génio austríaco, criador do dodecafonismo, um dos mais influentes estilos de composição erudita do século XX, trabalharia até ao fim, organizando pela arte um mundo em catástrofe. Esta concretização encontra-se com o materialismo convergente de Straub-Huillet, brotado de uma fenda radical que é desferida na evolução do cinema, e que propõe uma incansável reflexão sobre os mais definidores alicerces da estrutura e da técnica. De filme para filme, os cineastas repensam o osso da linguagem cinematográfica, destilando até à pureza os elementos que se adicionam para compôr um filme. “E o que é um filme?” perguntou um dia Straub. Interpelados pelo dever de permanentemente 147
SE SSÕE S E SP E C IA IS - ST R A UB & H UIL L E T
O projecto de desconstrução da ilusão é endereçado no início do próprio filme, que começa por nos mostrar a presença de uma orquestra num estúdio onde está montado um cenário, e o movimento panorâmico da câmara revela ainda as cadeiras vazias de uma plateia de teatro. Efectivamente, eram 70 os músicos permanentemente presentes atrás das câmaras e, tal como recordou António Rodrigues na sua análise a este filme gravado inteiramente em estúdio, tal “como num palco de teatro, o espaço é uma caixa fechada por todos os lados menos um”. Esta ópera num só acto, da autoria de Arnold Schoenberg (e seria a terceira “incursão” dos cineastas na obra do autor vienense), dá-nos acesso a um quadro progressivo da crise que se instala entre um marido e uma mulher que regressam de uma festa e meditam sobre a conjugalidade. O resultado é “nem totalmente naturalista nem totalmente abstracto, nem totalmente quotidiano nem totalmente teatral, algo «entre les deux»”. No genérico de Von Heute auf Morgen, é a primeira vez em que o nome de Danièle Huillet aparece antes do de Jean-Marie Straub, o que nos recorda de que o libretto alemão desta ópera é assinado por Max Blonda, o pseudónimo de Gertrud Schoenberg, a mulher de Arnold Schoenberg. E se o seu Crónica de Anna Magdalena Bach era “a história de uma mulher que amou o marido até à morte” este Von Heute auf Morgen, conduzido pela rédea puritana de Danièle, foi “uma ocasião de trabalhar sobre uma obra feita sob o ponto de vista da mulher”.
participar nesta pergunta em suspenso, a cada novo filme acedemos ao brechtiano convite de construir, individualmente, o nosso lugar enquanto espectadores. Um lugar analítico que, a requerer um postura crítica, deve desconfiar do cinema – e de permanentemente perguntar-lhe (poderia dizer João César Monteiro, o primeiro crítico de cinema a defender Straub em páginas portuguesas e cineasta tão melómano quanto o casal Straub-Huillet) acerca dos porquês de ser assim e não assado. Sabrina D. Marques The Chronicle of Anna Magdalena Bach: The film Straub always wanted to make Few filmmakers have, like Straub-Huillet, made music such a prominent centerpiece of their work. Their third feature film, The Chronicle of Anna Magdalena Bach (Chronik der Anna Magdalena Bach, 1968) was the realization of one of Jean-Marie Straub’s oldest projects. The rigorous preliminary work would demand ten years of detailed idealization: this (de) construction proposed to use the cinematic medium to face the unique project of “using music neither as an accompaniment nor commentary, but as aesthetic matter”, as the shaping of the narrative and the mise-en-scéne. A dialectical relation between several rhythms substantiates the unique density of a film which, between symphonies and cantatas, still manages to pursue a constant aesthetic purification. “My biggest fear in Bachfilm”, Straub admits “was that the music would create peaks in the film: it should instead stay on the same level as the rest.”
several manuscripts attributed to the German composer had, in fact, been recopied by his second wife, Anna Magdalena, and there remain doubts about the authorship of the plays. These documents are facsimiled and are the protagonists of a film that addresses, above all, memory, constructing a world of Bach away from the shapes of Bach. If we are told that the composer lost his sight, and, for this reason, dictated his last works, this biographic description finds a parallel weight in the presence of music along with the image. In this constant balancing of elements, Danièle Huillet would define this “resemblance to Bach as a total incarnate equilibrium […] without distinctions between art, life and intellect, between profane and sacred music.” This drama describes old ideas as challenged by new ideas in the shape of a man who fights with the tools of his time, against the structures established by art and the contexts in which art was produced. “Patience and violence are hidden in Bach’s art itself”, said Jean-Marie Straub, alluding to the interventional power of music as a revolutionary vehicle, didactical but not tautological. And it is precisely in this analysis of the activities of a creator that he edifies the broader meditation on the act of creation and signification that is creating a film. In Chronik, the image is constructed in order to share the virtues of the music. One can feel its aesthetic purification: the power of each image, composed with great rigour and beauty, finds its pacing, its tempo, its rhythm without ever overshadowing the sound.
This Bachfilm inaugurates a process of elimination of intentions, thus assuming a non-narrative project. “I know music is incapable of expressing anything at all”, said Stravinsky, whom Straub frequently quotes to evoke a converging belief, that of cinema being unable to express anything (something which he said in an interview to Cahiers du Cinéma in 1996). One moves backwards to move forward, and this analytical approach provides for an exercise of eliminating symbols, clichés and ulterior meanings, in the intellectual stimulus of a cinematographic experience closer to the origin and which, simultaneously, pays homage to film itself and inevitably collides with certain paths taken by cinema or with what passes for cinema.
In an interview, Huillet claimed not to stand it when “music is used for the image to say something which it did not say”. The edifying of this film rhymes with the intention of showing musical construction as a dialectical process of material foundation which defines the compromise of participating in the world. The film’s narrative progresses temporally within the oeuvre of two synchronized authors: Bach and Magdalena, aligned in a permanent axis of creation: if musical scores are initially handwritten, now we can see printed scores that signal the passage from individual work to the public presentation of said score. Chronik is rooted in the movement of the private becoming universal. In the dialectical balance between the private and public lives of the individual within the context of society, art is perceived as expression made common, as the compromise of an intervention in the public domain.
Through Chronik, Straub and Huillet’s research provided for another portrait of Bach’s surroundings:
So great is the effort carried out by Bach, constantly struggling with the task of creating, that the spectator’s
148
WWW. L E FFE S T. C OM
A correspondence which, advanced by the film, would mirror all of the complicity between the Straub-Huillet couple, the thinking and creative flows of whom, with a harmonious radicalism, came down on the basic structure of cinema. They left, in the shape of films, public goods of such rare and productive intellectual complicity (which would subsequently be wonderfully documented in Pedro Costa’s documentary Onde jaz o teu sorriso (2001) – a title which evokes some graffiti that had originated during the beginning of Von Heute auf Morgen, 1996). VON HEUTE AUF MORGEN: About women Just like they had done in Bachfilm, while shooting From Today to Tomorrow (Von Heute auf Morgen, 1996) Straub and Huillet defend direct sound unconditionally, seeking to “capture the singing and the singing body simultaneously.” It is thus that they created a body of work directed towards performing the feat of softening the edges of the medium, uniting sound and image (and presenting the manipulative practice of cutting and gluing arbitrarily during editing – a post-production trick that Straub called making “sound soup”). The project of deconstructing the illusion is addressed at the beginning of the film through the presence of an orchestra in a studio where a set is being built,
and the panoramic camera movement showing the empty chairs of a theatre audience. There were in fact 70 musicians permanently behind the cameras and, much like António Rodrigues reminded us in his analysis of this film recorded entirely in studio, just like in “a theatre stage, space is a box which is closed on all sides except one”. This one-act opera by Arnold Schoenberg (the directors’ third “incursion” into the Viennese authors’ work), gives us access to the progressive crisis which settles itself between a husband and a wife returning from a party and meditating on conjugality. The result is “neither completely naturalistic nor completely abstract, nor completely mundane or completely theatrical, something «entre les deux«”. In Von Heute auf Morgen’s pre-credits we can observe that Danièle Huillet’s name appears, for the first time, before Jean-Marie Straub’s, which reminds us that the libretto of the German opera was penned by Max Blonda, Gertrud Schoenberg’s (Arnold Schoenberg’s wife) pseudonym. And if his The Chronicle of Anna Magdalena Bach was “the story of a woman who loved her husband to his death” this Von Heute auf Morgen, restrained by Daniéle’s puritanical streak, was “an occasion to approach a work from the point of view of a woman.” The complex musical structure provides the foundations for a contemporary comedy of customs where the apparently banal theme raises functional questions of the first order. Faced with a society which replicates itself through the model of the couple as a unit with basic social functions; the individual, the lowest philosophical denominator, and the structures of self-determination, the principle of the right to happiness, etc. remain at stake. This problematizing raises several moral conflicts which the scenes stretch from one day to the other. But, from one day to the other, everything shifts to the couple’s’ return to homeostasis. The scheming stalemate of this woman who is two – divided between the seduction of being feminine for her husband and the responsibility of being a mother – is interrupted by an innocent question from the child: “Mummy, what are modern men?” With this phrase which is said and not chanted, the cantata is interrupted and the rhythm suddenly changes. Concentrated on the music of Schoenberg, we are situated beyond time, in the gap between the past and the future. Where do we begin to free ourselves from the shackles of tradition? 149
SE SSÕE S E SP E C IA IS - ST R A UB & H UIL L E T
experience is mirrored by his own efforts as a spectator, before him a film with new axes. Chronik is a film made up of hands, arms, eyes, feet: respecting the tempos of execution and creation, the shots guide us, several times, to the unbreakable concentration of Bach, bent over a harpsichord or an organ, and we are treated to this technical and rigorous process which Straub expresses through the Greek word akribeia. The pair would aspire to be as rigorous when it came to select the one to play Bach (Dutch harpsichordist Gustav Leonhardt) and Anna Magdalena (Christiane Lang, in her only film role) and the edification of this project is marked by the inevitable breaches in History. At a distance from the mysterious figures of a composer of which not one personal object remains and a woman of which not one portrait exists, the possibilities of choice were the raw material of the freedom to construct a film substantiated by a historical narrative that follows the tenets of realism, but which is paced by a romantic succession of events. With a love story at its center, we travel through an artistic legacy where, even today, it is impossible to tell what was Bach’s and what was Magdalena’s.
Einleitung zu Arnold Schoenbergs Begleitmusik zu einer Lichtspielszene: In their short film Einleitung zu Arnold Schoenbergs Begleitmusik zu einer Lichtspielszene (Introduction to Arnold Schoenberg’s “Accompaniment to a Cinematic Scene”), Jean-Marie Straub stares at us while he explains the great deal of detail with which Schoenberg wrote the instructions for his operas. His objective, he tells us, was to “contain chaos”, a chaos which he saw around him, but in Música de acompañamiento por una escena del film (written in Germany between 1929 and 1930), Schoenberg, a Jew, leaves only four words “Menacing danger, Fear, Catastrophe”. His pessimism, a result of the anti-Semitism of which he was a victim until his exile to the United States, summon the perplexity which he expressed to his peers: “Why is an Aryan judged by the standards of Goethe, Schopenhauer and so on? Why don’t people say that Jews are like Mahler, Altenberg, Schoenberg and so many others?” Schoenberg’s struggle is a lonely one and is imbued with the clarity of a man who would have to be proven right by the justice of the future. It is with his voice of reason that he fights his most prominent contemporaries, who were blinded by the nefarious spirit of the times and the place. How could racial difference separate men united
by intellect? The Austrian genius, inventor of dodecaphonism, one of the most influential styles for the composition of erudite music in the 20th century, would work until the end, organizing through his art a world which was in chaos. This concretization meets with the converging materialism of Straub-Huillet, born from a radical blow to the evolution of cinema, which proposes a tireless reflection on the most defining foundations of structure and technique. From film to film, the directors rethink the skeleton of cinematographic language, distilling the elements needed to create a film to their purest level. “And what is a film?” asked Straub one day. Impelled by the permanent duty of participating in this rhetorical question, with each new film we comply with the Brechtian invitation to edify, individually, our own place as a spectator. An analytical place which, if it requires a critical attitude, should mistrust cinema – and permanently ask it (João César Monteiro, the first film critic to defend Straub in Portugal and as much of a music lover as the couple, might say) why it is “assim ou assado” – this or that way. Sabrina D. Marques
CHRONIK DER ANNA MAGDALENA BACH Crónica de Ana Magdalena Bach “O ponto de partida da nossa Chronik der Anna Magdalena Bach foi a ideia de um filme em que a música de Bach não seria um acompanhamento nem um comentário, mas a matéria-prima. [...]” Jean-Marie Straub “The starting point of our Chronik der Anna Magdalena Bach was the idea of a film where Bach’s music would be neither soundtrack nor commentary, but its raw material. [...]” Jean-Marie Straub • Dia 12 às 16h00 Medeia Monumental, Sala 4 (conversa com Pascal Bonitzer)
150
Realizador Director: Danièle Huillet, Jean-Marie Straub
Elenco Cast: Gustav Leonhardt, Christiane Lang, Paolo CarliniArgumento Screenplay: Danièle Huillet, Jean-Marie Straub Fotografia DOP: Ugo Piccone Produtora Production: Franz Seitz Filmproduktion, IDI Cinematografica, Hessischer Rundfunk | DE, IT, 1967, 93’
WWW. L E FFE S T. C OM
“Este filme estabelece apenas as nossas relações com o homem Schoenberg, com o seu trabalho de músico, a sua mentalidade.” Jean-Marie Straub.
“This film establishes only our relationship with Schoenberg the man, with his work as a musician, his mentality.” Jean-Marie Straub Realizador Director: Jean-Marie Straub • Dia 11 às 16h00 Medeia Monumental, Sala 1 (apresentação por Cyril Neyrat)
Elenco Cast: Günter Peter Straschek, Danièle Huillet, Peter Nestler Argumento Screenplay: Arnold Schönberg (texto), Bertolt Brecht Fotografia DOP: Renato Berta, Horst Bever Production: Straub-Huillet, Südwestfunk | DE, 1972, 15’
MOSES UND ARON Moisés e Aarão Filmado no anfiteatro romano de Alba Fucens, com cantores e usando som directo, Straub–Huillet fazem a sua apropriação da ópera bíblica inacabada de Schoenberg. Shot in the roman amphitheatre of Alba Fucens, with singers and using direct sound, Straub Huillet appropriate Schoenberg’s unfinished biblical opera. • Dia 11 às 16h00 Medeia Monumental, Sala 1 (apresentação por Cyril Neyrat)
Realizador Director: Danièle Huillet, Jean-Marie Straub
Elenco Cast: Günter Reich, Louis Devos, Eva Csapo Argumento Screenplay: Arnold Schoenberg (ópera) Fotografia DOP: Ugo Piccone, Saverio Diamanti, Gianni Canfarelli, Renato Berta Production: Austrian Radio and Tele-vision, ARD, Janus-Film & Fernsehen | AT, DE, FR, IT, 1974, 105’
VON HEUTE AUF MORGEN From Today Until Tomorrow A partir da ópera homónima (1929), de Schoenberg, Straub– Huillet fazem uma comédia musical única, de enorme rigor no trabalho sobre o espaço e o fora de campo. From Schoenberg’s one-act homonymous opera (1929), Straub–Huillet make a unique musical comedy, with a great rigorous work on space and the out of frame. • Dia 13 às 14h00 Medeia Monumental, Sala 4
Realizador Director: Danièle Huillet, Jean-Marie Straub
Elenco Cast: Richard Salter, Christine Whittlesey, Annabelle Hahn, Claudia Barainsky, Ryszard Karczykowski Argumento Screenplay: Max Blonda (libretto) Fotografia DOP: William Lubtchansky, Irina Lubtchansky, Marion Befve Produtora Production: Straub-Huillet, Pierre Grise (Martine Marignac), Radio de Hesse, Dietmar Schings, Leo Karl Gerhartz, Hans-Peter Baden | DE, 1996, 95’
151
SE SSÕE S E SP E C IA IS - ST R A UB & H UIL L E T
EINLEITUNG ZU ARNOLD SCHOENBERGS BEGLEITMUSIK ZU EINER LICHTSPIELSCENE
JE M’APPELLE VARSOVIE | PIOTR ANDERSZEWSKI Sessões Especiais Special Screenings Estreia mundial do filme Je M’Appelle Varsovie, realizado por Piotr Anderszewski. Conversa entre Dorota Maslowska, Piotr Anderszewski e Jerzy Skolimowski. Recital de piano Impressions de Varsovie com peças de Chopin e Szymanowski por Piotr Anderszewski.
• Dia 13 às 21h15 Teatro da Trindade INATEL Piotr Anderszewski é tido como um dos mais extraordinários pianistas da sua geração. Reconhecido pela originalidade e intensidade das suas interpretações, recebeu inúmeros prémios e galardões, como o Gilmore que distingue, de quatro em quatro anos, um pianista de talento excepcional. Da sua extensa discografia, contamse interpretações de Beethoven, Bach, Chopin, Szymanowski (de quem interpretou uma peça rara num concerto no LEFFEST de 2014). Foi ainda objecto de dois documentários galardoados realizador por Bruno Monsaingeon para o canal francês ARTE: Piotr Anderszewski plays the Diabelli Variations (2001), onde explora a sua relação particular com o opus 120 de Beethoven, Piotr Anderszewski, Unquiet Traveller (2008), um retrato pouco usual do artista, captando as suas reflexões sobre música, performance, e sobre as suas raízes polaco-húngaras, e Anderszewski Plays Schumann, exibido em 2010. Recentemente, Piotz Anderszewski deu recitais em no London’s Barbican Centre, Royal Festival Hall, Wiener Konzerthaus, Carnegie Hall New York e no Teatro Mariinsky em S. Petersburgo.
relationship with Beethoven’s opus 120, whilst the second, Piotr Anderszewski, Unquiet Traveller (2008) is an unusual artist portrait, capturing Anderszewski’s reflections on music, performance and his Polish-Hungarian roots. A third film by Monsaingeon, Anderszewski Plays Schumann was made for Polish Television and first broadcast in 2010. In recent seasons he has given recitals at London’s Barbican Centre and Royal Festival Hall, the Wiener Konzerthaus, Carnegie Hall New York and the Mariinsky Concert Hall in St Petersburg
www.anderszewski.net
Piotr Anderszewski is regarded as one of the outstanding musicians of his generation. Recognised for the intensity and originality of his interpretations, Piotr Anderszewski has been singled out for several high profile awards throughout his career, including the prestigious Gilmore award, given every four years to a pianist of exceptional talent. In his extensive discography one can find performances of Beethoven, Bach, Chopin, Szymanowski (a piece by whom he has performed at a rare concert at the 2014 edition of LEFFEST). He has also been the subject of two award-winning documentaries by the film maker Bruno Monsaingeon for ARTE. The first of these, Piotr Anderszewski plays the Diabelli Variations (2001) explores Anderszewski’s particular 152
WWW. L E FFE S T. C OM
DOROTA MASLOWSKA Dorota Maslowska (Polónia, 1983) saltou para a ribalta das letras polacas com apenas 19 anos, graças ao seu romance de estreia Wojna polsko-ruska, com um estilo irreverente e inovador e uma linguagem jovem. Em 2009, este livro foi adaptado ao cinema por Xawery Zulawski, com participação de Maslowska, fazendo de si própria. Considerada um enfant-terrible para os leitores mais conservadores, o seu terceiro romance foi escrito sob a forma de um longo poema rap. Em 2006 escreveu a peça de teatro A Couple of Poor, Polish-Speaking Romanians, que teve melhor recepção nos palcos de Londres e de Nova Iorque do que na Polónia. Com um estilo caracterizado por uma visão pessimista e irónica sobre o mundo contemporâneo e os jovens, abordando temas como as drogas, a sexualidade, a publicidade, a televisão, é a força da sua inventividade linguística que define indelevelmente a sua ascensão numa nova geração de escritores polacos, rompendo com a tradição de grandes nomes como Wislawa Szymborska e Czeslaw Milosz. Em 2014, sob o alter-ego de Mister D., Maslowska entrou no mundo da música com o álbum Society is Evil. Nesse ano, Dorota integrou o júri da Selecção Oficial – Em Competição do LEFFEST. Dorota Maslowska (Poland, 1983) was catapulted to the limelight of the Polish literary scene at the ripe age of 19, not without some controversy, thanks to her debut novel Wojna polsko-ruska, which showcased an irreverent, innovative style and a youthful language. In 2009, this novel was adapted to the screen by Xawery Zulawski, with the participation of Maslowska, playing herself. An enfant-terrible for those who are more conservative, the third novel of Maslowska was written in the shape of a long rap poem. In 2006 she wrote the play A Couple of Poor, Polish Speaking Romanians, which was better received in London and New York than in Poland.
With a style characterized by a pessimistic and ironical view of the contemporary world and its youth, approaching themes such as drugs, sexuality, publicity and television, it is the power of her linguistic inventiveness that indelibly defines her ascension within a new generation of polish writers who are breaking with the tradition of great names such as Wislawa Szymborska and Czeslaw Milosz. In 2014, adopting the alter-ego of Mister D, Maslowska entered the world of music, with a record called Society is Evil. In the 2014 edition of LEFFEST, Dorota was part of the Jury of the Official Selection – In Competition section, and returns this year to accompany Piotr Anderszweski at the piano.
153
SE SSÕE S E SP E C IA IS - P IOT R A N D E R SZE WSKI
Sessões Especiais Special Screenings
ADONIS Sessões Especiais Special Events Adonis conversa com Houria Abdelouahed e Nuno Júdice. Leitura de poemas por Jorge Silva Melo. Lançamento da antologia poética “O Arco-Íris do Instante”. Adonis talks with Houria Abdelouahed and Nuno Júdice. Reading of selected poems by Jorge Silva Melo. Book launch of the poetry anthology “O ArcoÍris do Instante”.
• 11 de Novembro às 21h30 CCB, Pequeno Auditório
Poeta, pensador e ensaísta sírio, é um dos poetas árabes mais importantes do nosso tempo. Renovou a poesia árabe contemporânea, influenciando uma geração de escritores e poetas árabes. O seu trabalho faz-se na fronteira entre duas culturas, a oriental e a ocidental, realizando uma síntese entre a forte tradição da poesia árabe e a poesia moderna do Ocidente. Tem mais de vinte livros publicados. Venceu o Prémio Goethe em 2011 e é, há vários anos, um dos fortes candidatos ao Prémio Nobel da Literatura. A Syrian-born poet, critic and essayist, Adonis is one of the most important Arab poets of our time. He renewed contemporary Arab poetry, influencing a generation of Arab writers and poets. He works in the border between two cultures, eastern and western, creating a synthesis between the strong tradition of Arab poetry and Western modern poetry. He has published more than twenty books. Adonis won the Goethe Prize in 2011 and has been, for several years, one of the strongest candidates for the Nobel Prize for Literature.
154
Selecção de títulos:
-- Chants de Mihyar le Damascène (1961, poesia) -- Le Diwan de la poésie arabe (1964, 3 volumes, ensaio) -- Le Fixe et le Mouvant (1975, 3 volumes, ensaio) -- Mémoire du vent (Poèmes 1957-1990) (1991, poesia) -- La Forêt de l’amour en nous (2009, poesia) -- Prends-moi, chaos, dans tes bras (2015, poesia) -- Violence et Islam : Entretiens avec Houria Abdelouahed (2015) / Edição Portuguesa: Violência e Islão : Entrevistas com Houria Abdelouahed, Porto Editora (2016) -- Jérusalem (2016, poesia)
Selection of titles:
-- Chants de Mihyar le Damascène (1961, poetry) -- Le Diwan de la poésie arabe (1964, 3 volumes, essay) -- Le Fixe et le Mouvant (1975, 3 volumes, essay) -- Mémoire du vent (Poèmes 1957-1990) (1991, poetry) -- La Forêt de l’amour en nous (2009, poetry) -- Prends-moi, chaos, dans tes bras (2015, poetry) -- Violence et Islam : Entretiens avec Houria Abdelouahed (2015) -- Jerusalem (2016, poetry)
WWW. L E FFE S T. C OM
Adonis (pseudónimo de Ali Ahmad Said Esber) é considerado justamente como um dos grandes poetas contemporâneos. Nascido em 1930 na Síria, é no Líbano, a partir dos anos 50, que irá afirmar a sua diferença em relação à tradição da poesia árabe, que ele considerava demasiado conservadora, nos aspectos formal e temático. Esta sua afirmação poética decorre do interesse pela poesia europeia e clássica: além de ter traduzido Saint‐John Perse e Yves Bonnefoy, fez a primeira tradução integral das Metamorfoses de Ovídio para árabe, sendo o seu pseudónimo uma homenagem a essa cultura greco‐latina cujo fôlego narrativo o inspirou. Desde cedo exerceu uma influência constante na poesia árabe moderna, apontando a necessidade de renovar uma linguagem demasiado presa às convenções e apontando como via para romper essa visão conservadora o empenhamento na condição humana como algo de mutável e de submetido aos condicionalismos do tempo. Distingue‐o também uma visão cosmopolita do mundo que irá sendo trabalhada a partir das suas viagens, das suas leituras e de uma busca por uma alternativa laica nos países ainda
Não se limita portanto à poesia a importância de Adonis na cultura actual. O seu empenhamento na defesa de uma atitude progressista do Islão é obviamente polémico no contexto actual, mas faz com que se imponha ao respeito mesmo por parte dos adversários, embora tenha sofrido ameaças nos últimos tempos devido à sua independência e à atitude liberta de fanatismo em relação aos mais recentes desenvolvimentos no Médio Oriente, apelando a um diálogo entre os beligerantes e ao fim da intervenção externa. Também no plano literário Adonis seguiu o rumo de uma ruptura com a tradição, nomeadamente quando publica um ensaio em que estabelece uma estreita ligação entre a corrente mística e contemplativa do sufismo e o surrealismo. Foi este inconformismo que o conduziu a sair da Síria para Beirute, onde se integrou nos movimentos estéticos modernistas, tendo tido um papel importante na direcção da revista Shi’r, nos anos 60, introduzindo na poesia árabe não só o verso livre como o poema em prosa, mas também procurando aproximar a linguagem poética da língua comum. Saiu do Líbano para França em 1980 e é reconhecido como uma das figuras cimeiras da poesia árabe e universal. [...] Se Adonis procurou libertar a poesia de um empenhamento directo, falando para além da circunstância em que o poema foi escrito, isso não significa que não tenha uma visão da História que acompanha, numa dimensão reveladora das grandes questões do Homem, uma poética sensível ao tempo, à memória, ao amor e à interrogação sobre um destino nunca fechado, conseguindo conciliar o épico e o lírico num equilíbrio que constitui a sua marca original. Nuno Júdice Introdução à antologia O Arco-Íris do Instante, Publicações D. Quixote. (Cortesia do autor e da editora.)
155
SE SSÕE S E SP E C IA IS - A D ON IS
submetidos ao peso de uma religião que impõe valores incompatíveis com o mundo actual, o que o leva a defender, num plano mais filosófico do que político, a separação da religião e do poder, e a igualdade da mulher na sociedade árabe.
Adonis (the pseudonym of Ali Ahmad Said Esber) is justly considered one of the greatest contemporary poets. Born in 1930 in Syria, it is in Lebanon that, from the 1950’s, he will break with the traditions of Arabic poetry, which he found far too conservative both formally and thematically speaking. This poetic innovation was a result of his interest in European and Classical poetry: besides translating Saint-John Perse and Yves Bonnefoy, he also penned the first complete translation of Ovid’s Metamorphosis to Arabic, his pseudonym being an homage to the Greco-Latin culture whose narrative impetus had inspired him. From early on he made an impact on modern Arabic poetry, highlighting the need to renovate a language which was too attached to convention and pointing the path towards breaking with this conservative vision by depicting the human condition as something malleable which adapts to the constraints of its time. His is also a cosmopolitan view of the world, influenced by extensive travelling, reading and a search for a secular alternative for countries still weighed down by a religion that imposes values which are incompatible with contemporary reality. This has led him to defend, on a philosophical level more than an a political one, the separation of church and state, and the equality of women in Arab society. Adonis’ relevance is therefore not limited to poetry. His commitment to defending a progressive attitude towards Islam is obviously controversial in the current context, but it is also the reason why his adversaries owe him respect, although he has received several threats lately due to his independent spirit and fanatical-free attitude towards the recent goings-on in the Middle East, deciding to fight for dialogue between both parties and the end of external intervention. Adonis’ rupture with tradition extends to the literary field which manifested itself, for example, through the publishing of an essay in he which claims there is a deep connection between the mystical and contemplative current of Sufism and Surrealism. It was this inconformity that led him to exchange Syria for Beirut, where he was part of the modernist aesthetic movements, having played an important role in the Shi’r magazine in the 1960’s, introducing not only free verse but prose poems to the Arabic language, and also seeking to bridge the gap between the language of poetry and the language of common daily intercourse. He left Lebanon for France in 1980 and has been recognised as one of the chief figures of Arabic and universal poetry. […] 156
If Adonis sought to free poetry from any direct committal, writing beyond the circumstances in which the poem itself may have been written, this does not mean that he lacks a vision of the History which precedes it, in a revealing dimension of the great questions that plague Man; a poetry which is sensible to its own time, to memory, to love and to the interrogation about a destiny which is never fully defined, managing to draw from the epic and the lyrical in a balance which is truly his own particular brand. Nuno Júdice Introduction to the anthology O Arco-Íris do Instante, Publicações D. Quixote. (Courtesy of the author and the publishing company.) Escrevo em árabe. Nesta língua, a presença identifica-se com o invisível. O mundo está aí ausente, embora visível. O homem, segundo esta visão, é um estado continuado de ausência. A verdade reside no seio da língua enquanto desvendar da essência do mundo através das palavras de que Deus fez uso. Neste sentido, o próprio ser é aí uma língua. Os vivos estão adormecidos, hão-de despertar depois da morte. Escrever poesia nessa língua, e segundo o seu génio, é desvelar o invisível e o abismo da ausência que nos separa dele. Escrever poesia é prender-se a dizer uma «coisa», e essa «coisa» em árabe é o próprio abismo e o invisível. Se a poesia tem algum poder de fundar, funda aqui a presença do invisível. A escrita, em árabe, ensina apenas que a pátria não é um lugar, que não se situa em parte nenhuma. Ensina que é ela própria a pátria. Ensinou-me como poderia dizer: o meu corpo é o meu país. “Seis notas do lado do vento”, in Adonis, O Arco-Íris do Instante, antologia poética, Introdução, selecção e tradução de Nuno Júdice, Publicações D. Quixote, Lisboa, 2016. (Cortesia da editora e do tradutor.)
WWW. L E FFE S T. C OM
PETER HANDKE Sessões Especiais Special Screenings
Se foi na narrativa e no drama onde primeiro se revelou o carácter rebelde da sua escrita, desafiador dos modelos estabelecidos, Peter Handke alargou depois a sua actividade literária ao ensaio, à prosa de reflexão e à poesia. Em todas estas vertentes do seu trabalho procura incessantemente renovar os métodos ou encontrar novos métodos para a representação do mundo e da sua vivência pessoal. A repetição e a renovação são essenciais em Handke, uma vez que, para ele, tudo o que se repete tem de ser renovado. Sobre este aspecto escreveu, no ensaio Ich bin ein Bewohner des Elfenbeinturms (Sou um Habitante da Torre de Marfim): “O que me interessa não é criar sem método a partir da vida, mas sim encontrar métodos. Como se sabe, é a vida quem melhor escreve histórias, só que ela não sabe escrever. [...] Não tenho temas sobre que deseje escrever; tenho apenas um tema: compreender-me a mim próprio, cada vez melhor, conhecer-me ou não me conhecer, aprender o que faço mal, o que penso mal, o que penso irreflectidamente, o que digo automaticamente, o que outros também fazem, pensam, dizem irreflectidamente [...]”. Realizou quatro filmes e colaborou com Wim Wenders nos guiões de algumas das suas obras, como As Asas do Desejo. Tem vários livros publicados em Portugal.
SE SSÕE S E SP E C IA IS - P E T E R H A N D KE
Romancista, dramaturgo, poeta, ensaísta e argumentista, desde há uns anos recorrentemente referenciado como candidato ao Prémio Nobel de Literatura, Peter Handke nasceu em 1942 em Griffen, na Áustria. Ainda enquanto estudante, começou a estabelecer-se como escritor, integrando o chamado Grazer Gruppe, de que fazia parte também Elfriede Jelinek e Barbara Frischmuth. Abandonou os estudos em 1965 quando a editora Suhrkamp Verlag aceitou o seu primeiro romance para publicação, Die Hornisse. No ano seguinte, começou a ser alvo de atenção com a sua participação, em Princeton, Nova Jérsia, no Gruppe 47, um encontro de artistas avant-garde, onde apresentou a sua peça Publikumsbeschimpfung (Ofendendo o Público).
O Programa dedicado a Peter Handke no 10º Lisbon & Estoril Film Festival inclui o raramente visto Chronik der Laufenden Ereignisse, a sua secreta obra-prima, A Mulher Canhota, a exibir em versão restaurada e Peter Handke: In The Woods, Might Be Late (2016) de Corinna Belz, um retrato íntimo de Handke, desde que irrompeu no meio literário até à vida actual nos subúrbios de Paris. Presença frequente no Festival (foi convidado em 2009, 2011 e 2014), Peter Handke regressa ao Lisbon & Estoril Film Festival para acompanhar este Programa e para uma conversa com Philippe Lançon, escritor, crítico literário e jornalista no Libération e Charlie Hebdo. A realizadora Corinna Belz (também autora, entre outros, do premiado Gerhard Richter Painting, 2011) será igualmente convidada do Festival. A novelist, playwright, poet, essayist and screenwriter referenced recurrently as a candidate for the Nobel Literature Prize in recent years, Peter Handke was born in 1942 in Griffen, Austria. While studying, he began to establish himself as a writer as a part of the Grazer Gruppe, which Elfriede Jelinek 157
and Barbara Frischmuth also belonged to. He abandoned his studies in 1965 when the Suhrkamp Verlag publishing company accepted to publish his first novel, Die Hornisse. In the following year he began to attract attention for his participation, in Princeton, New Jersey, in the Gruppe 47, a meeting of avantgarde artists, where he presented his play Publikumsbeschimpfung (Offending the Public). If he first revealed the rebellious side of his writing in fiction and drama, Peter Handke has subsequently stretched his literary activity to the essay, short prose and poetry. In all these genres his work reveals an incessant search for renovating methods or finding new methods for the representation of the world and his personal experience of it. Repetition and renovation are essential in Handke, for, for Handke, everything which repeats itself must be renovated. On this aspect he wrote the essay Ich bin ein Bewohner des Elfenbeinturms (I am an Inhabitant of the Ivory Tower) “What interests me is not creating with no method from life, but finding methods. As is well known, life is the source of the best stories, but it does not know how to write. […] I have no subjects which I wish to write about more than others; I only have one subject: to understand myself better and better, to know myself or not know myself, to learn what I do wrong, what I think wrong, what I think hastily, what I say automatically and what others also do, think or say without thinking [...]”.
The Programme dedicated to Peter Handke in the tenth edition of the Lisbon & Estoril Film Festival includes the Chronik der Laufenden Ereignisse, his secret masterpiece, The LeftHanded Woman, to be screened in a restored version and Peter Handke: In The Woods, Might Be Late (2016) by Corinna Belz, an intimate portrait of Handke, from when he came into the literary scene until today, living in suburbs of Paris. A frequent guest of the Festival (attended the 2009, 2011 and 2014 editions), Peter Handke returns to the Lisbon & Estoril Film Festival to accompany this Programme followed by a discussion with Philippe Lançon, writer, literary critic and journalist at the Libération and Charlie Hebdo. The film director, Corinna Belz (the author of the award-winning Gerhard Richter Painting, 2011) will also be a guest of the Festival.
He directed four films (the first two, Chronik der Laufenden Ereignisse (1971) and Die Linkshändige Frau (1978), the latter in a restored version, will be screened at the current edition of the Lisbon & Estoril Film Festival) and collaborated with Wim Wenders on the scripts of some of his works, such as Wings of Desire. Several of his books have been published in Portugal.
158
WWW. L E FFE S T. C OM
Chronik der laufenden Ereignisse é um telefilme adaptado do livro homónimo de Peter Handke. Uma obra de género híbrido que conta a história de dois homens, Spade e Beaumont, na República Federal Alemã após o Maio de 1968. “Handke descreve o triunfo da imagem televisiva sobre qualquer história, e sobre a História.” (A. Camion)
• Dia 7 às 14h30 Espaço Nimas (leituras de Sophie Semin)
Chronik der laufenden Ereignisse is a television film adapted from Peter’s Handke book of the same name. A hybrid work that tells the story of two men, Spade and Beaumont, in Post-May ‘68 German Federal Republic. “Handke describes the triumph of the television image over any story, over History.”
Realizador Director:
Peter Handke
Elenco Cast: Rüdiger Vogler, Ulrich Gressieker, Didi Petrikat Argumento Screenplay: Peter Handke Fotografia DOP: Bernd Fiedler Produtora Production: Westdeutscher Rundfunk (WDR) | DE, 1970, 95’
DIE LINKSHANDIGE FRAU A Mulher Canhota / The Left-Handed Woman Produzido por Wim Wenders, este filme retrata a viagem solitária de uma mulher após decidir separar-se do marido, ficando sozinha em casa com o seu pequeno filho. O filme descreve a sua redescoberta do mundo, entre o silêncio da sua solidão e a liberdade de uma nova independência.
• Dia 5 às 14h30 Espaço Nimas (conversa entre Peter Handke e Philippe Lançon)
Produced by Wim Wenders, this film depicts a woman’s lonely journey after deciding to split up with her husband, which leaves her home alone with her young son. The film portrays her rediscovery of the world, between the silence of her solitude and the freedom of a new independence.
Realizador Director:
Peter Handke
Elenco Cast: Edith Clever, Markus Mühleisen, Bruno Ganz Argumento Screenplay: Peter Handke Fotografia DOP: Robby Müller Produtora Production: Filmverlag der Autoren, Road Movies Filmproduktion, Westdeutscher Rundfunk (WDR) | DE, 1978,119’ (cópia restaurada)
PETER HANDKE: BIN IM WALD. KANN SEIN, DASS ICH MICH VERSPÄTE… Corinna Belz explora o enigma que é Peter Handke. Retratando a vida e o trabalho do escritor, dramaturgo e activista político austríaco, o filme mostra o passado e o presente de Peter Handke que até hoje nunca parou de questionar: “Onde estamos agora?”, “Como devemos viver?”.
• Dia 11 às 19h00 Medeia Monumental, Sala 2 (conversa com Corinna Belz)
Corinna Belz explores the enigma that is Peter Handke. Portraying the life and work of the Austrian writer, playwright and political activist, the film shows the past and the present of Peter Handke who, to this day, has never stopped questioning: “Where are we now?”, “How should we live?”.
Realizador Director:
Corinna Belz
Elenco Cast: Peter Handke Argumento Screenplay: Corinna Belz Fotografia DOP: Nina Wesemann, Axel Schneppat, Piotr Rosolowski Produtora Production: Zero One Film | DE, 2016, 89’
159
SE SSÕE S E SP E C IA IS - P E T E R H A N D KE
CHRONIK DER LAUFENDEN EREIGNISSE
ENRIQUE VILA-MATAS Sessões Especiais Special Screenings Enrique Vila-Matas, consagrado escritor espanhol – que diz ter chegado à literatura por “um equívoco”, já que queria fazer cinema, mas uma colocação num posto militar no Norte de África durante um ano levou-o a aí escrever um romance (Mujer en el Espejo Contemplando el Paisaje, 1973), “para não ter demasiado a sensação de tempo perdido” – é autor de uma vasta e singular obra, repartida entre o romance, o conto e o ensaio, com vários títulos premiados, de entre os quais se destacam Bartleby e companhia (2000), O mal de Montano (2002), Doutor Pasavento (2006) ou Dublinesca (2010). Convidado do Festival em 2012, Vila-Matas regressa ao Lisbon & Estoril Film Festival para o lançamento da edição portuguesa de Marienbad électrique (2015) [Marienbad eléctrico, Editora Teodolito, 2016, trad. de Maria Manuel Viana]. Livro nascido das várias conversas e colaborações que o escritor espanhol manteve ao longo dos últimos 8 anos com a artista francesa Dominique GonzalezFoerster, este é “um romance insólito”, nas suas próprias palavras, que caminha na fronteira entre a arte contemporânea e a literatura, sendo “também uma instalação e um texto de catálogo (para uma exposição de GonzalezFoerster), um ensaio ou pode mesmo ser lido como um poema”. Marienbad eléctrico é ainda uma crónica da amizade entre os dois artistas, do seu intercâmbio de ideias e mútua estimulação estética, desde os encontros entre ambos no café Bonaparte de Paris, até à grande retrospectiva de Dominique Gonzalez-Foerster na capital francesa, no Centre Pompidou, 1887-2058, passando pelas exposições de Gonzalez-Foerster na Tate de Londres (TH.2058) e no Palácio de Cristal em Madrid (Splendide Hotel). Com constantes referências a Rimbaud, Sebald, Bolaño ou Beckett e com a sombra tutelar de Duchamp, que ambos admiram, Marienbad eléctrico toma o seu título do filme de Alain Resnais, O Ano passado em Marienbad, com argumento de Alain Robbe-Grillet, a partir de A Invenção de Morel de Adolfo Bioy Casares. Vila-Matas sintetiza Marienbad eléctrico assim: “a tese central do livro é que a arte é uma fé. Acredito na paixão pela arte como centro da existência”.
160
Enrique Vila-Matas, renowned Spanish writer – who claims to have gotten to literature by “mistake”, since what he really wanted was to be in filmmaking, but being assigned a millitary post in the North of Africa for a year led him to write a novel (Mujer en el Espejo Contemplando el Paisaje, 1973), “so as to not have the feeling of wasted time” – is the author of a wide and singular body of work, divided between novels, short stories and essays. Vila-Matas has received several awards, including those for Bartleby and Company (2000), Montano’s Malady (2002), Doctor Pasavento (2006) and Dublinesque (2010). A guest of the Festival in 2012, Vila-Matas returns to Lisbon & Estoril Film Festival for the launch of the portuguese edition of Marienbad électrique (2015). The book evolved from the conversations and collaborations the Spanish writer maintained throughout the last 8 years with French artist Dominique Gonzalez-Foerster. This is “an unusual novel”, in Vila-Matas’ words, in the border between contemporary art and literature, and it “is also an installation, a text from a catalogue (for an exhibit by Gonzalez-Foerster), an essay and it can even be read as a poem”. Electric Marienbad is also a chronicle of the friendship between the two artists, of their exchange of ideas and mutual aesthetic stimulation, from their very first meetings at the Bonaparte Café, in Paris, to Dominique Gonzalez-Foerster’s exhibitions at the Palacio de Cristal, in Madrid (Splendide Hotel), at the Tate, in London (TH.2058), and her major retrospective, at the Centre Pompidou, 1887-2058. WWW. L E FFE S T. C OM
O mistério do gabinete […] Mas aquele gesto do guarda-chuva foi, sobretudo, uma piscadela de olho cúmplice para com a filmografia de DGF, porque tinha a absoluta consciência de que ela realizava o tipo de filmes que eu próprio ainda faria – um cinema herdeiro do dos anos sessenta – caso não tivesse abandonado bruscamente a realização de curtasmetragens. Será que, de facto, eu ainda faria esse cinema hoje? Sim, seguramente. Teria permanecido fiel ao ideário daquele cinema underground que tanto me seduziu na época. “Na minha altura, filmar era uma coisa muito moderna”, disse Eric Rohmer numa entrevista, já no final da carreira. Quando vemos os filmes de DGF, damo-nos conta de que essa época ainda não se extinguiu. Ela está presente naqueles que conseguem fazer com que o cinema continue a ter encanto. Acontece-me o mesmo com as realizações do meu amigo Adolfo Arrieta. Para não falar de Godard, que continua a fazer filmes eléctricos ou, melhor dizendo, radioactivos, contrários a todos os outros. Nos últimos que rodou, utiliza, como sempre, personagens
Venho de um tempo – na verdade, de um bairro da Paris dos anos setenta – em que Godard era quase tudo, e viver e filmar podiam ser uma e a mesma coisa. Para Adolfo Arrieta, o cineasta underground com quem trabalhei como actor em Paris, o ideal foi sempre filmar permanentemente. Como para ele filmar e viver eram uma e a mesma actividade – são-no, vai para todo o lado com uma câmara e quer filmar tudo –, as pessoas que habitualmente estavam com ele eram os protagonistas e os colaboradores das suas realizações: Javier Grandes, Jean Marais, Michèle Moretti, Florence Delay, Dionys Mascolo, Marguerite Duras, Marie-France, Severo Sarduy, Caroline Loeb, Anne Wiazemsky… Nas palavras de Edgardo Cozarinsky, outro sobrevivente daquela época, todos esses filmes de Arrieta “se faziam sem dinheiro, graças à boa vontade das pessoas que colaboravam”. Não dispondo de nada (nem orçamento, nem meios técnicos, etc) podia-se aspirar a tudo. Como não se dependia de ninguém, todos os caminhos eram possíveis. Em Tam-Tam, o mais festivo dos filmes de Arrieta, desempenhei o papel de um pianista chamado Gombrowicz, e assim fiquei com o mesmo apelido do escritor polaco que, um dia, disse: “Eu não era nada, portanto tudo me era permitido”. Exactamente. Era disso que se tratava. Disso que se trata. De permitirmo-nos tudo. Enrique Vila-Matas, Marienbad Eléctrico, Teodolito, Lisboa, 2016 [Trad. Maria Manuel Viana] Cortesia do editor
161
SE SSÕ E S E S P EC I AI S - H E N R I Q U E VI L A - M ATA S E D OM IN IQUE GON ZA L E Z-F OE R ST E R
With constant references to Rimbaud, Sebald, Bolaño or Beckett, and in Duchamp’s shadow, an artist they both admire, Electric Marienbad gets its title from Alain Resnais’ film, Last Year at Marienbad, written by Alain Robbe-Grillet, adapted from Adolfo Bioy Casares’ The Invention of Morel. Vila-Matas summarises Electric Marienbad saying that “the central thesis of the book is that art is a faith. I believe in the passion for art as the centre of existence.”
errantes, muitas citações literárias e cenas invulgares para nos dar longas-metragens muito modernas em que, cada vez com maior audácia, tenta forçar os limites da arte cinematográfica. No fundo, permanece fiel ao método de trabalho com que começou: avança, questionando sempre cada uma das decisões tomadas numa rodagem, seguindo um lema já antigo mas que continua actual: “Se isto não se faz, façamo-lo. Se não se fala para a câmara, façamo-lo; se não se mostram os silêncios explícitos, façamo-lo; se não se corta de repente a banda sonora, façamo-lo; se não se desconcerta o espectador, façamo-lo; se não se brinca com a arte ou com a morte, façamo-lo ”.
The mystery of the office […] But that umbrella gesture was above all a nod to DGF’s filmography, for I was sure that she directed the kind of films that I myself would – a cinema heir to the one of the 60’s – had I not suddenly abandoned directing short films. Would I still make those kinds of films today? Yes, surely. I would have remained faithful to the ideals of that underground cinema that so seduced me in those days. “In my day, filming was a very modern thing”, said Eric Rohmer in an interview, towards the end of his career. When we see DGF’s films, we realize those days are not yet gone. She is there in the ones that can still make cinema enchanting. The same happened with my friend Adolfo Arrieta’s directing. Not to speak of Godard, who continues to make electric, or rather, radioactive films, contrary to everyone. In the last ones that he shot, he used, as always, wandering characters, many literary quotations and, ever more daring, he tries to expand the boundaries of the cinematographic art. In short, he remains faithful to the work with which he began: he goes forth, always questioning each of the decisions made during shooting, following an old motto that remains current: “If it isn’t done, let’s do it. If no one talks directly into the camera, let’s do it; if explicit silences aren’t shown, let’s show them; if the soundtrack doesn’t end abruptly, let’s do it; if the spectator isn’t jarred, let’s do it; if no one fools around with art or death, let’s do it”. I come from an age – in reality I come from a Parisian neighbourhood of the seventies – when Godard was almost everything and living and shooting could be one and the same. For Adolfo Arrieta, the underground director whom I worked with as an actor in Paris, the ideal was to shoot around the clock. Permanently. Since for him shooting and living was one and the same thing – they are, he goes everywhere with a camera and wants to film everything – the people who were habitually close to him were the protagonists and the collaborators of his films: Javier Grandes, Jean Marais, Michèle Moretti, Florence Delay, Dionys Mascolo, Marguerite Duras, Marie-France, Severo Sarduy, Caroline Loeb, Anne Wiazemsky… 162
In the words of Edgardo Cozarinsky, another survivor from that age, all those Arrieta films “were made with no money, thanks to the goodwill of the people who collaborated with him”. Having nothing (no budget or technical means, etc.) one could aspire to do anything. Since you did not depend on anyone, all paths were possible. In Tam-Tam, the most festive of Arrieta’s films, I played a character named Gombrowicz, and so I used the same last name of the polish writer who, one day, said: “I was nothing, so everything was allowed to me.” Exactly. That is what it was about. What it is about. Allowing ourselves to do anything. Enrique Vila-Matas, Marienbad Eléctico, Teodolito, Lisboa, 2016 [Courtesy of the publisher]
Dominique Gonzalez-Foerster Artista contemporânea e influente figura francesa, Dominique Gonzalez-Foerster nasceu em 1967, em Estrasburgo. Viveu em Paris e no Rio de Janeiro. Frequentou a Escola de Belas-Artes em Grenoble de 1982 a 1987. Em 1986, é-lhe atribuída uma bolsa de estudos na Kunstakademie de Düsseldorf. De seguida, frequenta a Escola Le Magasin, no Centro nacional de arte contemporânea em Grenoble, e o Instituto de Altos Estudos em Artes Plásticas em Paris. Participa em duas residências artísticas no Japão, no Arcus Project, em Ibaraki, (1994) e na Villa Kujoyama, em Kyoto (1996-1997). É vencedora do Prémio Mies van der Rohe e do Prémio Marcel Duchamp (2002). Destaca-se desde os anos ‘90 por questionar e transgredir as fronteiras das artes plásticas, criando relações entre as disciplinas adjacentes, nomeadamente a arquitectura, o cinema, a música, a moda e a literatura, resultando em experiências diversas como intervenções em jardins ou em edifícios emblemáticos do modernismo, concertos, ateliers de criação radiofónica e instalações sonoras em parceria com músicos ou a remodelação das lojas Balenciaga em Nova Iorque, Paris e Hong Kong. Nas suas exposições mais recentes incluem-se 1887-2058, no Centro Pompidou, considerada WWW. L E FFE S T. C OM
Dominique Gonzalez-Foerster, an influential French contemporary artist and figure, was born in 1967 in Strasbourg. She has lived in Paris and in Rio de Janeiro. From 1982 to 1987 she frequented the National School of Fine Arts in Grenoble. In 1986 she receives a scholarship at the Kunstakademie of Dusseldorf. She then frequents Le Magasin – Centre National d’Art Contemporain, in Grenoble, and the Institut des Hautes Études en Arts Plastiques in Paris. She participates in two artistic residencies in Japan within the context of the Arcus Project, in Ibaraki, (1994) and at the Villa Kujoyama, in Kyoto (1996-1997). She is awarded the Mies van der Rohe Prize and the Marcel Duchamp prize in 2002. In the 90’s she stands out for challenging the frontiers of plastic arts, effectively bridging the gap between neighbouring fields, such as architecture, cinema, music, fashion and literature, which culminated in such diverse experiences as interventions at gardens or emblematic buildings of the modernist period, concerts, radio workshops, sound installations in partnership with musicians and the refurbishing of the Balenciaga stores in New York, Paris and Hong Kong. Her more recent exhibitions include 1887-2058 at the Centre Pompidou, considered one of the most important exhibitions of the year in France; K.20 in Dusseldorf (2015/2016), Temporama at the MAM, Rio de Janeiro (2015) and Splendide Hotel, at the Palacio de Cristal/Museo Reina Sofía in Madrid (2014). She also staged QM. 16 in Paris, 2016. Her latest films are Otello
1885, Vera and Mr Hyde and Lola Montez in Berlin. Very recently, she created a site-specific work – Pynchon Park – for the inauguration of the new Museum of Art, Architecture and Technology in Lisbon (MAAT). LEFFEST has dedicated a cycle/retrospective to her in 2013 with the artist in attendance, who was also a member of the Official Selection – In Competition Jury. In the present edition, LEFFEST will host the book launch of Marienbad Eléctrico, an account of their creative relationship by Enrique Vila-Matas, but will also screen her most recent films. Selecção de obras de Dominique Gonzalez-Foerster: — — — — — —
Mickey Rourke, 6’10’’ Antonioni Zone 1, 6’ Antonioni Zone 2, 5’ Soleil vert, 6’ Ralph Fiennes, 7’ After hours, 6’
Selected works by Dominique Gonzalez-Foerster: — — — — — —
Mickey Rourke, 6’10’’ Antonioni Zone 1, 6’ Antonioni Zone 2, 5’ Soleil vert, 6’ Ralph Fiennes, 7’ After hours, 6’
Excertos do catálogo Dominique Gonzalez-Foerster. 1887-2058 (Centro Pompidou, 2 015) Lola É a partir do filme de Max Ophüls, Lola Montès (1955), o manifesto do “cinema barroco” definido por Jean Rousset, em que a aventureira é expressamente descrita pelo rei Luís I da Baviera, seu amante, como uma pérola imperfeita, verdadeira mise en abîme da noção de barroco e codificação da egenerescência do classicismo, que Dominique Gonzalez-Foerster encena a sua aparição no circo Cabuwazi de Berlim em 2014. Não é Dominique Gonzalez-Foerster quem encarna Lola Montès, 163
SE SSÕ E S E S P EC I AI S - H E N R I Q U E VI L A - M ATA S E D OM IN IQUE GON ZA L E Z-F OE R ST E R
uma das mais importantes exposições do ano em França, e K.20, em Dusseldorf (2015/2016), Temporama no MAM, Rio de Janeiro (2015) e Splendide Hotel, no Palacio de Cristal/Museo Reina Sofia em Madrid (2014). Encenou ainda QM.16 em Paris, em 2016. Os seus últimos filmes são Otello 1885, Vera and Mr Hyde e Lola Montez in Berlin. Muito recentemente, criou uma obra site-specific – Pynchon Park – para a inauguração do novo Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia em Lisboa. O LEFFEST dedicou-lhe um ciclo/ retrospectiva em 2013, com a presença da realizadora, também membro do júri da Selecção Oficial em Competição. Na presente edição, para além do lançamento do livro Marienbad Eléctrico, onde Enrique Vila-Matas dá conta do intercâmbio criativo entre os dois, o LEFFEST mostra os seus filmes mais recentes.
a “mulher primitiva1” e polígama que destrona os príncipes, mas Lola Montès que é relida como uma artista fatal, num total de exibições incalculável e cujas fronteiras genéticas são reinterpretadas sem cessar num playground que, da ópera, se alargou agora ao circo. It is based on the Max Ophüls film Lola Montès (1955) defined by Jean Rousset as the manifest of “baroque cinema”, in which the adventurer is described in detail by King Louis I of Bavaria, her lover, as an unpolished gem, a true mise en abyme of the notion of the baroque and the codification of the degeneration of classicism, that Dominique Gonzalez-Foerster staged her apparition at the Cabuwazi circus of Berlin in 2014. It is not Dominique Gonzalez-Foerster who is playing Lola Montès, the “primitive1” and polygamous woman that dethrones princes, but Lola Montès who is reinterpreted as a fatal artist in an incalculable amount of exhibitions, the genetic frontiers of which are reinterpreted non-stop on a playground that, from the opera, now stretched itself to the circus. O paradoxo Scarlett Nas dezasseis aparições de M.2062, a personagem ficcional de Scarlett O’Hara, a Southern Belle, a heroína demasiado evidente de E Tudo o Vento Levou de Margaret Mitchell e George Cukor, suscita uma dificuldade: pretensiosa, mostrando sem ambiguidade a sua feminilidade, vulgar na exibição e tráfico do seu corpo e, para cúmulo, confederada esclavagista, sem consciência política, ela é dependente dos homens, da terra, do capital e do luxo. Uma experiência interior, introspectiva, defeminizada, empática, nada tem, aparentemente, a retirar da personagem. Aperfeiçoada nos bastidores improvisados de um edifício de Kyoto da era Meiji, graças à arte consumada da maquilhagem em que os Japoneses se esmeram na Takarazuka Revue2 e no cosplay3, e face a Yasumasa Morimura do vestido da cena do piquenique, a parecença física com a personagem é perfeita. Onde Morimura se encena em transgénero ocidental numa dupla reapropriação transgressiva (Autoportrait / d’après Vivien Leigh, 1996), o charme de Dominique Gonzalez-Foerster como Scarlett difunde um profundo arrebatamento cisgénero ao cumprir todas as normas do 164
homeovestismo... até ao momento em que a dissemelhança com o modelo irrompe e a persona é metodicamente desconstruída por meio de um discurso sobre a arte. (Scarlett) é antes de mais Vivien Leigh, o mais belo rosto do Old Vic Theatre e uma vida dedicada, sacrificada mesmo, ao palco; depois é Tara, decerto a casa de família em ruínas, o regresso salvador às raízes, mas sobretudo o anagrama aproximado de “art”, que designa, a um nível metadiegético, a necessidade de regressar às origens da modernidade (o século XIX), à autonomia da exposição enquanto meio (libertado da sua subordinação filosófica, política, financeira) e ao material biográfico original (a si mesmo). In the sixteen performances of M.2062, Scarlett O’Hara’s Southern Belle, the far too obvious hero of Gone With the Wind by Margaret Mitchell and George Cukor, poses some difficulties: pretentious, unambiguously feminine, vulgar in the exhibition and traffic or her body, and, to add insult to injury, a confederate slaver. With no political consciousness, she depends on men, the land, the capital and luxury. An interior, introspective, defeminized, empathetic experience would seemingly retrieve nothing from the character. Perfected in the improvised backstage of a Kyoto building from the Meiji era, thanks to the consummated art of make-up that the Japanese have developed so thoroughly in the Takarazuka Revue2 and cosplay3 and in a comparison with Yasumasa Morimura as dressed in the picnic scene, the physical resemblance to the character is perfect. Whereas Morimura plays with western transgender culture in a transgressive double reappropriation (Autoportrait /d’aprés Vivien Leigh, 1996), the charm of Dominique GonzalezFoerster as Scarlett delivers a profound cisgender allure by following all the rules of homeovestism… until the moment when the discrepancies with the model break through and the persona is methodically deconstructed through a speech on art. (Scarlett) is Vivien Leigh above all, the fairest face of the Old Vic Theatre and a life dedicated to, even sacrificed for, the stage; then she is Tara, certainly the home of a family on the verge of ruin, the redeeming return to roots, but especially the passionate anagram of “art”, which designates, on a metadiegetic level, the necessity to return to the origin of modernity (in the 19th century), to the autonomy of exhibition as a means (liberated from its philosophical, political and financial WWW. L E FFE S T. C OM
Tapis “No Splendide Hotel – 1887 há somente um único quarto, mas este é transparente, albergando todo o tipo de aparições literárias, musicais, científicas e abstractas.”4 O quarto é recoberto por uma “carpete inglesa com motivos haussmanianos”5, inspirada pelos tapetes coleccionados por Sigmund Freud no seu gabinete de Viena, os quais, com uma gama de cores e desenhos complexos, propícios ao sonho, permitem ao olhar e espírito do paciente circular na sua biografia de modo livre e hipnótico. O relato de vida estimulado pelo tapete em Splendide Hotel, ou pelas cordas em euqinimod & costumes, duplica-se numa análise crítica da exposição como meio. No quarto fechado do Splendide Hotel, segundo um ritmo mágico e desconhecido, um signo aparece e depois desaparece, cada dia, sobre o tapete: sapatos, uma cartola, um gramofone, etc. A exposição torna-se ao mesmo tempo um palimpsesto biográfico, de onde o autor desapareceu, e um quarto, transparente e inacessível, pronto a ser investido pela leitura e montagem, livres e íntimas, do observador. Não se trata nem de regressar às supostas origens da modernidade (1887 é o ano de nascimento de Le Corbusier, Georgia O’Keefe e Marcel Duchamp), nem de fazer coexistir no mesmo plano, de maneira pósmoderna, tendências heteróclitas, mas de expor uma continuidade celular entre ontem, hoje e amanhã, de revelar uma metabolização dos saberes, dos seres e das formas.
according to an unknown magic and rhythm, a sign appears and disappears, each day, on the rug: shoes, a top hat, a gramophone, etc. The exhibition becomes simultaneously a biographical palimpsest, from which the author has disappeared, and a room, transparent and inaccessible, ready to be filled by the free and intimate reading and assembling of the observer. It is not a return to the supposed origins of modernity (1887 marks the birth of Le Corbusier, Georgia O’Keefe and Marcel Duchamp) nor a way of making heteroclitic tendencies coexist in the same place in a postmodern way, but a way of exposing a cellular continuity between yesterday, today and tomorrow, revealing the metabolization of knowledge, beings and shapes. Tristan Bera
1.
Expressão introduzida na psicologia analítica pela psicoterapeuta Toni Wolff (1888–1953), paciente, estudante e companheira de Carl Gustav Jung. An expression introduced to analytic psychology by therapist Toni Wolff (1888-1953), a patient, student and partner of Carl Gustav Jung
2.
Companhia de teatro musical japonesa formada exclusivamente por mulheres. Japanese musical theatre company exclusively made up of women.
3.
Abreviatura de costume play; actividade lúdica, praticada maioritariamente por jovens, que consiste em fantasiar-se de uma personagem real ou ficcional (sobretudo de manga, anime ou videojogos). Short for costume play: a recreational activity mostly carried out by young people which consists in dressing up as a real or fictional characters (mostly manga, anime or gaming characters).
4.
D. Gonzalez-Foerster, 1887: Splendide Hotel, Paris, Onestar Press, 2014.
5.
Ibid, p. 31
“In Splendide Hotel – 1887 there is only one room, but it is transparent, housing every kind of literary, musical, scientific and abstract apparitions.”4 The room is covered by “an English carpet with haussmanian motifs”5 , inspired by the rugs collected by Sigmund Freud in his Vienna office, which, with a range of different colours and complex dreamlike drawings, allow for both the patient’s sight and spirit to amble freely and hypnotically through their own biography. The life account stimulated by the rug in Splendide Hotel, or by the ropes in euqinimod & costumes, doubles into a critical analysis of the exhibition as a medium. In Splendide Hotel’s closed room, 165
SE SSÕ E S E S P EC I AI S - H E N R I Q U E VI L A - M ATA S E D OM IN IQUE GON ZA L E Z-F OE R ST E R
subordination) and to the original biographical material (to itself).
LOLA MONTEZ IN BERLIM Inspirado pelo filme de Max Ophüls, Lola Montès (1955), explora a narração da individualidade como uma fábrica de produção de espectáculo, através da encenação da biografia fragmentada, oscilando entre realidade e ficção, das escandalosas aventuras da dançarina do século XIX.
• Dia 9 às 18h45 Espaço Nimas
Inspired by Max Ophüls’ film (Lola Montès, 1955) explores the narration of the self as a show-producing factory, through the staging of the fragmented biography, oscillating between reality and fiction, of the scandalous 19th century dancer and adventuress.
Realizador Director:
Dominique Gonzalez-Foerster
Produtora Production: Esther Schipper, Berlin/Dominique Gonzalez-Foerster 2015, 3’58”
OTELLO 1887 Um filme baseado em Otello, uma ópera de Giuseppe Verdi, criada no Teatro La Scala de Milão, em 1887. Foi filmado no Palácio de Cristal de Madrid, durante a exibição de Splendide-Hotel. Otello 1887, é uma ópera cinematográfica co-produzida pelo Museu Reina Sofía.
• Dia 9 às 18h45 Espaço Nimas
A film based on Otello by Giuseppe Verdi, an opera created at La Scala, Milan, in 1887. This film was shot at the Palacio de Cristal de Madrid in the exhibition Splendide-Hotel. Otello 1887 is a cinematic opera co-produced by the Museo Reina Sofía.
Realizador Director:
Dominique Gonzalez-Foerster
Produtora Production: Dominique Gonzalez-Foerster/Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madrid/Parasophia: Kyoto International Festival of Contempo- rary Culture 2015, 25’31’’
VERA AND MR. HYDE • Dia 9 às 18h45 Espaço Nimas
Uma performance da artista como Bob Dylan e como Vera Nabokov, a ler uma lição escrita pelo seu marido sobre o romance de Stevenson, O Estranho Caso de Dr Jekyll e Mr Hyde, que explora as relações entre o estado selvagem e o civilizado, o proletariado e a burguesia. An appearance of the artist as Bob Dylan and as Vera Nabokov reading a literary lecture by her husband on Stevenson’s novel The Strange Case of Dr Jekyll and Mr Hyde, which explores the relationships between the savage and civilised, the proletariat and the bourgeois.
Realizador Director:
Dominique Gonzalez-Foerster
Produtora Production: Esther Schipper, Berlin/Dominique Gonzalez-Foerster. 2015, 17’
166
WWW. L E FFE S T. C OM
ATIQ RAHIMI Sessões Especiais Special Screenings
SE SSÕE S E SP E C IA IS - AT IQ R A H IMI
Consultar a biografia do realizador na secção Júri da Selecção Oficial - Em Competição.
Questões de identidade São meios distintos. Um deles surge de um labor essencialmente solitário, exigindo nada senão palavras para comunicar personagens, histórias e ideias. O outro nasce como fruto de um esforço colectivo e implica a presença de corpos e lugares e, com eles, toda uma rede de trabalhos técnicos e criativos, a construção de imagens e de sons. É pouco frequente vermos a mesma figura por detrás da condução de ambos os processos. Mas já aconteceu vermos escritores a arregaçar mangas e, depois do trabalho com a caneta ou o teclado, assumirem também nas suas mãos a realização dos filmes que surgem como adaptação directa da sua escrita ao cinema. Assim foi, por exemplo com nomes como os de Emmanuel Carrère, Michel Houellebecq ou Paul Auster. O afegão Atiq Rahimi é mais um exemplo a contar nesta rara família de escritores que são também realizadores de cinema. A sua obra escrita é já conhecida entre nós desde a alvorada do milénio. A Teorema publicou Terras e Cinzas (2001), As Mil Casas do Sonho e do Terror (2004) e Pedra de Paciência (2008). E, mais recentemente, coube à Teodolito a edição nacional de Maldito Seja Dostoiévski (2011). Todos os livros surgiram entre nós com tradução de Carlos Correia Monteiro de Oliveira e ajudam a desenhar o perfil de um autor consciente de uma identidade que, agora pelo cinema de ficção, podemos conferir numa nova dimensão. Depois dos documentários Nous Avons Partagé le Pain et le Sel (2001) e Afghanistan, un État Impossible?” (2002), que asseguraram a estreia na realização de Atiq Rahimi, a sua filmografia experimentou pela primeira vez a ficção com uma adaptação ao grande ecrã de Terre et Cendres (2004). O episódio mais significativo desta obra em construção chegou em 2012 com uma nova adaptação de um romance seu, tomando desta vez como ponto de partida o romance Pedra de Paciência, livro que lhe valeu a conquista do Prémio Goncourt
quatro anos antes. O filme, tal como o romance está, apesar de uma certa dimensão poética, alicerçado na realidade de um tempo recente em que o Afeganistão vivia mergulhado sob conflitos armados. Aqui acompanhamos a história de uma mulher que, aos 17 anos, casara com um herói jiadista (ausente na cerimónia, ali representado na forma de uma fotografia). Acamado, inerte, vítima de uma bala que se alojara na sua nuca, ele torna-se agora a “pedra de paciência” que a “escuta”, sem resposta possível, enquanto ela o trata e lhe relata a sua vida de mulher jovem, entretanto feita mãe de duas filhas. Ele está ferido mas é ela quem sofre. E agora que pela primeira vez ele a pode “ouvir”, é ela quem mergulha num progressivo rol de confissões que verbalizam naquela casa, sob bombardeamento e assaltos, verdades de uma vida íntima que, de outra forma, não venceriam nunca o silêncio. Através deste filme Atiq Rahimi junta uma peça a uma reconstrução não só do cinema mas da própria identidade afegã, projectando num plano de ficção ecos de um tempo que o obrigou a viver longe do país. Nascido em Cabul em 1962, ali deu primeiros passos na sua formação até que a invasão soviética o fez sair do país, acabando por se exilar em França, onde iniciou uma relação profissional com a televisão e o cinema e encetou também um percurso como escritor (que começa ao escrever, em persa, o 167
romance que entre nós seria publicado como Terra e Cinzas). Pedra de Paciência, alguns anos depois, abre uma etapa de relacionamento da sua escrita com a língua francesa, sendo um romance que chega numa altura em que tem a sua vida profissional já estabelecida entre França e o Afeganistão, aonde regressara em 2002 após a queda do regime talibã. O ciclo fechava-se na geografia. Mas todo um corpo de histórias levantou ecos e ressonâncias, de que a sua obra escrita e visual está a ser importante veículo para que, partidos dali, realidades e ficções possam chegar a todos nós. Nuno Galopim
Questions of identity They are different mediums. One arises from an essentially solitary labour, demanding nothing but words to communicate characters, stories and ideas. The other is born from a collective effort and entails the presence of bodies and places, and with them, a whole network of technical and creative work, the construction of images and sounds. We do not frequently see the same person at the helm of both processes. But we have seen writers roll up their sleeves and, after working with pen and paper, devoting themselves to directing films which are a direct adaptation of their writing to the screen. This is the case of writers such as Emmanuel Carrère, Michel Houellebecq or Paul Auster. Afghan Atiq Rahimi is another example to add to this short list of writers who are also directors. His written work has been known to us since the dawn of the millennium. Teorema has published Terra e Cinzas (2001), As Mil Casas do Sonho e do Terror (2004) and Pedra de Paciência (2008), and most recently, it was Teodolito that published Maldito Seja Dostoiévski (2011) in Portugal. All these books came to us translated by Carlos Correia Monteiro de Oliveira, and help us outline the profile of an author who is aware of an identity which, now through cinematic fiction, we can attribute a new dimension to.
Patience Stone, which had earned him a Goncourt Award four years before. The film, much like the novel, despite having a certain poetic dimension to it, is rooted in the recent reality of an Afghanistan riddled with armed conflict. We follow the story of a woman who at the age of 17 had married a jihadi hero (absent in the ceremony, he is represented in the shape of a photograph). Calm, inert, the victim of a bullet that lodged itself in the back of his head, he now becomes the “patience stone” that “listens” to her without being able to answer, while she tends to him and tells him about her life as a young woman, recently become mother of two children. He is wounded but she is the one who suffers. Now that, for the first time, he can “listen to her”, she delves deep into a series of confessions which she verbalizes in that house, amid bombings and robberies: the truths of an intimate life which, otherwise, would never go beyond silence. With this film, Atiq Rahimi takes a step towards the reconstruction not only of cinema, but Afghan reality itself, projecting in fiction echoes of a time which forced him to leave his country. Born in Kabul in 1962, it was there that he took his first steps towards maturity until the Soviet invasion caused him to leave the country, ending up exiled in France, where he began a professional relationship with television and cinema and career as a writer (which he began by writing, in Farsi, the novel that would be published as Terra e Cinzas in Portugal). The Patience Stone, some years later, marks the beginning of his writing’s relationship with the French language, since the novel arrived at a time when his professional life was already established between France and Afghanistan, where he returned to in 2002 after the fall of the Taliban regime. The geographical cycle was coming to an end. But a whole body of stories came with echoes and resonances that his written and visual work is becoming an important vehicle for realities and fictions to reach us all. Nuno Galopim
After the documentaries Nous Avons Partagé le Pain et le Sel (2001) and Afghanistan, un État Impossible? (2002), which initiated Atiq Rahimi in the world of directing, he first dabbled in fiction with an adaptation of Terre et Cendres (2004). The most significant of this work-in-progress arrived in 2012 with a new adaptation of his novel, The
168
WWW. L E FFE S T. C OM
Numa viagem com o seu neto através de uma desolada paisagem do Afeganistão, numa estrada poeirenta que leva a uma distante mina de carvãomonde o seu filho trabalha, Dastaguir leva a cabo a difícil missão de lhe contar sobre a morte da sua família num violento bombardeamento.
• Dia 9 às 16h00 Medeia Monumental, Sala 4 (conversa com Atiq Rahimi)
In a journey alongside his grandchild through the desolate landscape of Afghanistan, on a dusty road that leads to the distant coalmine where his son works, Dastaguir carries out the difficult task of telling him about the death of their entire family in a violent bombing.
Realizador Director:
Atiq Rahimi
Elenco Cast: Abdul Ghani, Jawan Mard Homayoun, Sher Agah Argumento Screenplay: Kambuzia Partovi, Atiq Rahimi Fotografia DOP: Eric Guichard Produtora Production: Afghanfilm, Les Films du Lendemain, France 3 Cinéma | FR, AF, 2004, 102’
SYNGUÉ SABOUR – PIERRE DE PATIENCE The Patience Stone Na mitologia persa, Syngué Sabour é uma pedra negra que acolhe os lamentos dos peregrinos. Esta pedra toma a forma de um homem envelhecido e paralisado, acompanhado pela sua jovem mulher. Com o passar do tempo, ela ganha coragem para lhe contar todas as coisas que manteve em silêncio durante os seus dez anos de casamento.
• Dia 8 às 19h00 Medeia Monumental, Sala 4 (conversa com Atiq Rahimi e Golshifteh Farahani)
Syngué Sabour, in Persian mythology, is a black stone that receives the pains and sorrows of pilgrims. This stone takes the shape of a paralyzed elderly man - his young wife watches over him. As time goes by, she gains the courage to tell him all of the things she has been silent about during their past ten years of marriage.
Realizador Director:
Atiq Rahimi
Elenco Cast: Golshifteh Farahani, Hamid Djavadan, Hassina Burgan Argumento Screenplay: Jean-Claude Carrière, Atiq Rahimi Fotografia DOP: Thierry Arbogast Produtora Production: Film The, Razor Film Produktion GmbH, Corniche Pictures | FR, AF, DE, 2012,102’
169
SE SSÕE S E SP E C IA IS - AT IQ R A H IMI
KHAKESTAR-O-KHAK Terre et Cendres / Earth and Ashes
ENCONTROS E SEPARAÇÕES | ITAMAR GOLAN E NATSUKO INOUE Sessões Especiais Special Screenings Um encontro de música e poesia com os pianistas Itamar Golan e Natsuko Inoue. Encounters and Partings [Encontros e Separações] são os diferentes pontos onde as palavras escritas encontram os sons, e os lugares onde se separam. Com música de Debussy, Mendelssohn e Mozart, e poesia de Baudelaire, Sylvina Ocampo, Joseph Brodsky e Itamar Golan. A music and poetry gathering featuring pianists Itamar Golan and Natsuko Inoue. Encounters and Partings are the different cross-sections where the written word meets sound and where each place is disentangled. Featuring music by Debussy, Mendelssohn, e Mozart and the poetry of Baudelaire, Sylvina Ocampo, Joseph Brodsky and Itamar Golan.
• 10 de Novembro às 21h00 CCB, Pequeno Auditório
Itamar Golan Nascido em 1970 em Vilnius, na Lituânia, Itamar Golan é um prestigiado pianista israelita. Filho de pais israelitas, a família regressou à terra natal quando Golan tinha um ano e, com apenas sete anos, deu os seus primeiros concertos em Tel Aviv. Aos quinze foi para os Estados Unidos da América, estudando no New England Conservatory, em Boston. Foi-lhe consecutivas vezes atribuída a bolsa de honra da American-Israel Foundation, que lhe permitiu aprofundar a sua formação. A sua grande paixão foi, desde o início, a música de câmara, tendo actuado com músicos reputados como Barbara Hendricks, Maxim Vengerov, Tabea Zimmermann e Ida Haendel. Grava e dá concertos com músicos como Shlomo Mintz, Kyung Wha Chung, Julian Rachlin e Sharon Kam. Com Mintz e Matt Haimovich faz inúmeras digressões por todo o mundo. A sua presença é constante em grandes festivais internacionais como a Primavera de Praga e os festivais de Ravinia, Chicago, Tanglewood, Edimburgo, Besanson, Ludwigsburg ou Verbier. Apesar desta dedicação à música de câmara, Itamar Golan actuou também como solista com algumas das mais importantes orquestras do mundo, como as Filarmónicas de Israel e 170
Berlim, sob a batuta de Zubin Mehta, a Royal Philarmonic, orientada por Daniele Gatti, a Orchestra Filarmonica della Scala e a Wiener Philharmoniker, conduzidas por Riccardo Muti, ou a Philharmonia Orchestra, com Lorin Maazel. Tem gravações nas mais prestigiadas editoras do género, como a Deutsche Grammophone, a Teldec, a EMI e a Sony Classical. Em 1991, com apenas 21 anos, foi nomeado professor na Manhattan School of Music, tornando-se um dos mais jovens professores de sempre da instituição, onde leccionou durante três anos. Actualmente, pertence aos quadros do Conservatório de Paris e divide o seu tempo entre ensinar música de câmara, dar concertos e perseguir outros interesses artísticos, como a poesia. Born in 1970 in Vilnius, Lithuania, Itamar Golan is a prestigious Israeli pianist. The son of Israeli parents, the family moved back to their home country when Golan was one years old. At the ripe age of seven, he gave his first concerts in Tel Aviv. At fifteen he travelled to the US and studied at the New England Conservatory, in Boston. He has consecutively received the AmericanIsraeli Foundation’s honour grant, which allowed him to further his studies. His great passion from the beginning has been chamber music, and he has performed with acclaimed musicians WWW. L E FFE S T. C OM
Natsuko Inoue Natsuko Inoue nasceu em Osaka, Japão, onde iniciou os seus estudos musicais. Partiu para França com 10 anos, continuando os estudos na Conservatório Nacional de Paris, sob a supervisão de Georges Pludermacher, onde se formou com o primeiro prémio. Natsuko Inoue tem sido participante regular em festivais de música conceituados. Recebeu numerosos prémios, tais como o Primeiro Prémio da Radio France, o Prémio Maurice Ravel, o Primeiro Prémio da competição Steinway e prémio especiais de música de câmara. Actualmente, colabora e actua com vários artistas e orquestras nos Estados Unidos, Europa e Japão, entre os quais o marido, o pianista Itamar Golan, com quem actua frequentemente. Natsuko Inoue was born in Osaka, Japan, where she began her musical studies. She continued her learning at the Conservatoire de Paris under Georges Pludermacher. She has received numerous awards, such as Radio France’s First Prize, the Maurice Ravel Award and the First Prize of the Steinway Competition. She has worked with several orchestras in the United States, Europe, Japan and other artists, among which her husband, pianist Itamar Golan, with whom she performs frequently.
171
SE SSÕE S E SP E C IA IS - ITA M A R GOL A N E N AT SUKO IN OUE
such as Barbara Hendricks, Maxim Vengerov, Tabea Zimmermann and Ida Haendel. He has recorded and given concerts with musicians such as Shlomo Mintz, Kyung Wha Chung, Julia Rachlin and Sharon Kam. With Mintz and Matt Haimovich he takes part in several world tours. His presence is constant in major international festivals such as The Prague Spring and the Ravinia, Chicago, Tanglewood, Edinburgh, Besanson, Ludwigsburg and Verbier festivals. Despite this dedication to chamber music, Itamar Golan has also performed as a soloist with some of the most important orchestras in the world, such as the Israel and Berlin philharmonics, conducted by Zubin Mehta, the Royal Philharmonic, conducted by Daniele Gatti, the Filarmonica della Scala and the Wiener Philharmoniker, conducted by Riccardo Muti, and the Philharmonia Orchestra, with Lorin Maazel. He has recorded for the most prestigious labels of the genre, such as Deutsche Grammophon, Teldec, EMI and Sony Classical. In 1991, at only 21 years of age, he was appointed professor at the Manhattan School of Music, where he taught for three years, becoming one of the institution’s youngest professors ever.
ALONE AND NOT ALONE | RON PADGETT Sessões Especiais Special Screenings Encontro com o poeta Ron Padgett. Leitura de poemas, em inglês e português, por Ron Padgett e Marta Chaves. Com a presença de Jim Jarmusch. Poetry Gathering/Reading with poet Ron Padgett. Readings of poems in both English and Portuguese by Ron Padgett and Marta Chaves. With the attendance of Jim Jarmusch.
• Dia 9 de Novembro às 21h00 CCB, Pequeno Auditório
The Run I go through trillions of molecules that move aside to make way for me while on both sides trillions more stay where they are. The windshield wiper blade starts to squeak. The rain has stopped. I stop. On the corner a boy in a yellow raincoat holding his mother’s hand. A corrida Atravesso triliões de moléculas que se afastam para abrir caminho para mim enquanto de ambos os lados outros triliões delas permanecem onde estão. A lâmina do limpa-brisas começa a chiar. A chuva parou. Eu paro. Na esquina um menino numa gabardine amarela segura a mão de sua mãe.
Poet as Immortal Bird A second ago my heart thump went and I thought, “This would be a bad time to have a heart attack and die, in the middle of a poem,” then took comfort in the idea that no one I have ever heard of has ever died in the middle of writing a poem, just as birds never die in midflight. I think. Poeta como uma ave imortal Um segundo atrás, palpitou o meu coração e eu pensei: “Esta seria uma péssima altura para ter um ataque cardíaco e morrer, a meio de um poema” depois confortei-me com a ideia de que ninguém que eu tenha sabido alguma vez morreu a meio da escrita de um poema, tal como as aves nunca morrem em pleno voo. Acho eu. Ron Padgett, Tradução de João Luís Barreto Guimarães
Ron Padgett, Trad. de João Luís Barreto Guimarães 172
WWW. L E FFE S T. C OM
Ron Padgett grew up in Tulsa, Oklahoma, and has lived mostly in New York since 1960. He has been the recipient of several awards, such as a grant from the Guggenheim Foundation, the American Academy of Arts and Letters’ Poetry Award, the Shelley Memorial Prize, and grants from the National Endowment for the Arts. His work How Long was a finalist for the Pulitzer Poetry Prize and his Collected Poems won the Poetry Society of America’s William Carlos Williams Award and the Los Angeles Times’ Literary award for the best poetry book of 2013. In addition to being a poet, he is a translator of Guillaume Apollinaire, Pierre Reverdy and Blaise Cendrars. His work has been translated into eighteen languages.
Walker Evans, Joseph Mitchell, Bob Dylan. Nos anos oitenta, pertenceu à cena alternativa nova-iorquina, juntamente com artistas como Jim Jarmusch ou Jean-Michel Basquiat. Foi consultor do filme de Martin Scorsese, Gangs de Nova Iorque (2002). É professor convidado de Escrita e de História da Fotografia no Bard College e vive em Ulster County, Nova Iorque. O seu último livro, The Other Paris, tem gozado de um enorme sucesso, com recensões nos mais importantes suplementos culturais na Europa e nos Estados Unidos. Recentemente, foi capa da Paris Review, tendo também sido curador da secção Portfolio. Luc Sante was born in Verviers, Belgium. He is the author of several works, such as Low Life, Evidence, The Factory of Facts, and Kill All Your Darlings. He received a Whiting Writer’s Award in 1989 from the Whiting Foundation, an Award in Literature from the Academy of Arts and Letters in 1997, a Grammy (for the liner notes for the album Anthology of American Folk Music, compiled by Harry Smith), an Infinity Literary Award from the International Center of Photography (ICP), as well as grants from the Guggenheim Foundation and the Cullman Institute. He has contributed, since 1981, to the New York Review of Books and to several other publications, including cinema-related
Luc Sante Luc Sante nasceu em Verviers, Bélgica. É autor de diversas obras, como Low Life, Evidence, The Factory of Facts, e Kill All Your Darlings. Recebeu um Prémio Literário Whiting em 1989, um Prémio Literário da Academia Americana de Artes e Letras em 1997, um Grammy (pelas notas do álbum Anthology of American Folk Music), um Prémio de Literatura Infinity do Centro Internacional de Fotografia (ICP), assim como bolsas da Fundação Guggenheim e do Instituto Cullman. Contribui, desde 1981, para a New York Review of Books e contribui para muitas outras publicações, inclusivamente de cinema, como a Interview, a Wigwag ou as reedições de filmes da Criterion Collection. Escreveu introduções e prefácios para livros de, entre outros, Georges Simenon, Émile Zola, 173
WWW. L E FFE ST. C173 OM
SE SSÕE S E SP E C IA IS - R ON PA D GE T T
Ron Padgett cresceu em Tulsa, Oklahoma, e vive maioritariamente em Nova Iorque desde 1960. Entre as várias distinções que recebeu incluem-se uma bolsa da Fundação Guggenheim, o Prémio de Poesia da Academia Americana de Artes e Letras, o Prémio Shelley Memorial, e bolsas do National Endowment for the Arts. Das suas obras, How Long foi finalista do Prémio Pulitzer de Poesia e Collected Poems venceu o Prémio William Carlos Williams da Poetry Society of America e o Prémio Literário Los Angeles Times para o melhor livro de poesia de 2013. Além de poeta, é tradutor de Guillaume Apollinaire, Pierre Reverdy e de Blaise Cendrars. A sua obra está traduzida em dezoito línguas.
publications, such as Interview, Wigwag or the reissues of films from the Criterion Collection. He has written introductions and prefaced books by authors such as Georges Simenon, Émile Zola, Walker Evans, Joseph Mitchell and Bob Dylan. In the nineteen-eighties he was part of the New York alternative scene, along with artists such as Jim Jarmusch or Jean-Michel Basquiat. He was an advisor for Martin Scorsese’s film Gangs of New York (2002). He is a Writing and History of Photography visiting scholar at Bard College and lives in Ulster County, New York. His latest book, The Other Paris, has enjoyed enormous success, with reviews in the most important cultural supplements of Europe and the US. Recently he was the cover of The Paris Review and the curator of its Carluccio & Co. Portfolio. Luc Sante por ele próprio “Robert Christgau escreveu um ensaio chamado “Letras de Rock e Poesia (Talvez)…Termina com a sugestão de que se quiseres conhecer a poesia do presente devias olhar para a poesia de Ted Berrigan e para os Bean Spasms do Ron Padgett.” “…Robert Christgau wrote an essay called Rock Lyrics and Poetry (Maybe)...It ends with the suggestion that if you want to know what the poetry of the present day is, you should take a look at Ted Berrigan and Ron Padgett’s Bean Spasms…” “…Por volta de 1969, reparei no uso da expressão “wide poem”, que significava algo frequentemente indistinguível da prosa (…) acho que isto ainda se me aplica hoje – escrevo prosa com a mentalidade de um poeta.” “…Around 1969, I noticed a use of the term wide poem, which meant something often indistinguishable from prose. (…) I think this is still true of me today – I write prose with a poet’s head.” “…Em 1976, fiz a Rongwrong com o Jim Jarmusch e o George Wilson, meus colegas de casa na altura.” “…In 1976, I put Rongwrong together with Jim Jarmusch and George Wilson, my roommates at the time.” 174
“Todos os meus amigos se tornaram cineastas, fotógrafos, músicos, por aí fora. E os anos oitenta foram bastante difíceis para mim porque três dos meus amigos, amigos bastante próximos, tornaram-se figuras mundiais quase simultaneamente. Jim Jarmusch, Jean-Michel Basquiat e Nan Goldin. E pensei, estou fodido, eles conseguiram e eu não, até mais logo então.” “…My friends all became filmmakers, photographers, musicians, stuff like that. And the eighties were really hard for me because three of my friends, three pretty close friends, almost simultaneously became world figures. Jim Jarmusch, Jean-Michel Basquiat, and Nan Goldin. And I thought, I’m fucked, they did it, I didn’t, bye, see you later.” “…O meu maior problema é que não tenho grande “sentido de história”. Isto afecta-me como escritor, leitor, como espectador de cinema. Nunca me lembro dos enredos. Saio de um filme e passado meia hora não sei dizer-te como acabou.” “…The major problem is that I have very little sense of story. This affects me as a writer, as a reader, as a moviegoer. I never remember how plots go. I walk out of a movie and half an hour later I can’t tell you how it ended.” “…Estou sempre primacialmente interessado na forma como as fotografias revelam qualidades alienígenas do passado. (…) aprendi muito com o cinema, a fotografia e a pintura. Ainda hoje influenciam o meu trabalho. E a música, obviamente – a música mais do que tudo.” “…I’m always primarily interested in the way photographs reveal the alien qualities – the pastness – of the past. (…) I’ve learned a lot from film, photography, and painting. They inform my work to this day. And music, obviously – music more than any others.” “É um princípio em que tropecei quando era crítico de cinema, no final dos anos oitenta. Estava a trabalhar principalmente para a Interview, que era mensal, e via provavelmente uns trinta filmes por mês, e desses tinha de escolher dois. Percebi rapidamente que um filme de que gostasse mesmo não seria um assunto muito bom. Nem um filme que odiasse. A ideia era encontrar um filme que fosse um WWW. L E FFE S T. C OM
SE SSÕE S E SP E C IA IS - R ON PA D GE T T puzzle, algo que tivesse de resolver na página. Isto é verdade não só para a crítica. Toda a escrita é uma actividade que decorre na página. Não pode ser uma mera transcrição ou algo que foi pensado de antemão. Porque está mesmo morto nesse ponto. Se já foi pensado, está morto. As ideias têm de ser debatidas no próprio acto.” “It’s a principle that I stumbled upon when I was a movie critic, back in the late eighties. I was working for Interview primarily, which was a monthly, and I’d see maybe thirty movies in a month, and out of those I’d have to pick one or two. I quickly realised that a movie I really liked was not going to make for a very good subject. Neither would a movie I really hated. The idea was to find a movie that was a puzzle, something I had to work out on the page. This is true not just for criticism. All writing is an activity that occurs on the page. It cannot be merely a transcription of something thought about in advance. Because it’s really dead at that point. If it’s been thought through, it’s a corpse. Ideas have to be wrestled with then and there.” “…Sem querer soar incrivelmente pretensioso, penso em quase tudo o que escrevo como um poema – certamente os meus três livros mais longos. Os capítulos são estrofes. Não é
um testemunho, não é uma história. Não sou historiador – nunca fingi sê-lo – e não faço relatos definitivos de nada. É uma aproximação muito, muito subjectiva ao passado, a um certo tempo e lugar. É gravado de uma forma muito particular. Favorece certas narrativas sobre outras. É suposto, acima de tudo, ser uma experiência. “… Without sounding utterly pretentious, I do think of almost everything I write as a poem – certainly all three of my big books. The chapters are strophes. It’s not an account. It’s not a history. I’m not a historian – I’ve never pretended to be one – and I’m not giving a definitive account of anything. It’s a very, very subjective approach to the past., to a certain time and place. It’s carved in a particular way. It favours certain narratives over certain others. It’s intended, above all else, to be an experience.” The Art of Nonfiction No. 9, In The Paris Review
175
PESSOA/LISBOA | ANTESTREIA MUNDIAL Sessões Especiais Special Screenings World premiere of the film Pessoa/Lisboa. Contínua Mudança Quando Pessoa pensa nas coisas, estas tornamse quiméricas. Na verdade, o poeta ruminava a sua morada, o mundo inteiro, como se fossem entes de ficção. Há algo de apocalíptico nestas meditações sobre a vaidade do que foi construído pela mão do homem, inclusivamente do próprio homem. Uma sensação extrema de provisoriedade, pois tudo no final se desvanecerá ou cairá. A inanidade da morada ou da casa também corresponde, talvez, à necessidade de afastamento. Pessoa é por isso um caminhante urbano e perpétuo, encontra no anonimato e na leve e distante agitação das ruas o seu domínio natural. [...] O olho inquisitivo do poeta, frio e impassível – regista [...] uma realidade à qual o mesmo não pertence de todo; na qual nunca aparece como proprietário. Um universo que corresponde, como a obra literária ou poética e o próprio sujeito, à ordem dos seres que não são, e só são fingidos. [...] Talvez por razões semelhantes Pessoa se convertesse numa espécie de actor de si mesmo; desdobrado, como sabemos, em múltiplos carácteres infraleves: os heterónimos. [...] Pessoa, pois, como actor ou cenário vivo, diversificado e desmultiplicado por ele de si mesmo, ou como ele mesmo. Arrastando, mesmo apesar de si, a ambígua (im) personalidade do actor. Sentindo-se diferente como actor e como homem, sem nunca sentir-se de todo. A condição fisiológica e psíquica do actor é, efectivamente, a de um tubo vazio e transparente, no qual vai entrando e circulando a personalidade dos distintos personagens. Destruindo e atenuando esta condição, destrói-se e atenua-se o actor. Deste ponto de vista, não corresponderá a predisposição de Pessoa para a troca de domicílio, a mudança incessante de situação e identidades, à necessidade de custodiar, por assim dizer, continuamente o vazio e, no vazio, esta personalidade de actor que ele pressente quiçá como íntima, ou melhor, extimamente sua? [...] 176
Pessoa como drama em gente. Com demasiada frequência esquecemos que o actor é um ser de cena, um instrumento de cena, e que fora de cena se converte num ser à margem de qualquer associação e vizinhança. Não é lógico pensar, então, se alguém tem a convicção – invencível – de ser um cenário vivo, na necessidade de o dissimular sob a aparência cinzenta e absolutamente neutra de um gentleman estóico e silencioso, de todo inaparente, distante de tudo? Nem sequer um milímetro quadrado de pele deveria ficar a descoberto sobre a superfície natural do actor. O fingimento, pois, como primeira pele. A mudança contínua como única morada. Alberto Ruiz de Samaniego Fragmentos do texto do catálogo-DVDPessoa/ Lisboa (Círculo de Bellas Artes, Madrid, 2016) Continuous Change When Pessoa thinks about things, they become chimerical. In fact, the poet ruminated his address, the whole world, as if they were fiction. There is something apocalyptic in these meditations on the vanity of what was built by Human hands, including Humans themselves. An extreme sense of temporariness, since everything will fade or fall in the end. The inanity of the address or of the house might also represent the need for withdrawal. Pessoa is therefore an urban WWW. L E FFE S T. C OM
Perhaps it was due to similar reasons that Pessoa became a kind of actor playing himself; unfolded, as we know, in multiple characters: the heteronyms. [...] Pessoa as an actor or live scenario, diversified and reduced by himself from himself, or as himself. Dragging on, even despite himself, the actor’s ambiguous (im)personality. Feeling different as an actor and as a man, without ever feeling at all. The physiological and psychological condition of the actor is actually that of an empty and transparent tube, in which the personality of the different characters enters and circulates. Destroying and mitigating this condition, destroys and attenuates the actor. From this point of view,
Pessoa’s predisposition to change address, to incessantly change status and identity will not correspond to the need to continually guard, so to speak, the emptiness and, in the emptiness, this actor personality which he perhaps senses as intimately or rather extimately his? [...] Pessoa as drama impersonated. All too often we forget that actors are stage beings, stage instruments, and out of stage they become beings who are on the margin of any association or neighborhood. Is it not logical to think, if someone has the invincible conviction of being a live scenario, about the need to dissimulate it under the gray and absolutely neutral mask of a stoic, silent gentleman, completely unapparent, distant from everything? Not even a square millimeter of skin should come through the natural surface of the actor. Pretense is, therefore, like the first skin. Continuous change as the only address. DVD-catalog text fragments Pessoa/Lisboa (Círculo de Bellas Artes, Madrid, 2016
Pessoa / Lisboa Este documentário explora os principais locais de Fernando Pessoa na cidade de Lisboa. A deriva confronta várias citações extraídas da sua obra com 22 locais da capital portuguesa. Na sua maioria, trata-se de habitações em que o poeta viveu em épocas distintas, mas também se faz referência a lugares indubitavelmente ligados à sua escrita, como a Rua dos Douradores, o restaurante Martinho da Arcada, a popular Baixa Lisboeta… • Dia 12 às 19h30 Espaço Nimas (conversa com Alberto Ruiz de Samaniego, José Manuel Mouriño)
This documentary explores the location of the primary dwellings of Fernando Pessoa in the city of Lisbon. The wanderings confront several quotes extracted from his work with 22 different locations in the Portuguese capital. In their majority they consist of several of the poet’s different quarters, but also of places which are incontrovertibly connected to his writing, such as Rua dos Douradores, the Martinho da Arcada restaurant, the popular Baixa Lisboeta...
Estreia Mundial
Realizador Director:
Manuel Mouriño
Alberto Ruiz de Samaniego, José
Argumento Screenplay: Juan Barja, Alberto Ruiz de Samaniego y José Manuel Mouriño Fotografia DOP: José Manuel Mouriño Produtora Production: Círculo de Bellas Artes de Madrid | ES, 2016, 90’
177
SE SSÕE S E SP E C IA IS - P E SSOA / L ISBOA
and perpetual walker, he finds his natural domain in anonymity and in the distant soft bustle of the streets. [...] The inquisitive eye of the poet, cold and impassive - sees [...] a reality to which he does not belong at all; in which he never appears as the owner. A universe corresponding, just like the literary or poetic work and the subject itself, to the order of beings who are not, and only are pretenders. [...]
GIORNI FELICI | DIAS FELIZES Sessões Especiais Special Screenings DE/BY SAMUEL BECKETT Encenação Directed by Andrea Renzi Prod. Teatri Uniti (Itália) Tradução Para Italiano Italian Translation Carlo Fruttero (Glulio Einaudi Editore) Com With Nicoletta Braschi, Andrea Renzi Cenografia e Figurinos Scenography and Costumes Lino Florito Luz Lighting Pasquale Mari Som Sound Daghi Rondanini Assistência de Encenação Assistant Director: Constanza Boccardi Espectáculo em Italiano, com legendas em português Italian version, with portuguese subtitles
• 10 e 11 de Novembro às 21h Teatro Nacional D. Maria II Mais uma vez, o Lisbon & Estoril Film Festival apresenta uma célebre peça de teatro, o eterno clássico de Samuel Beckett, Dias Felizes, numa encenação de Andrea Renzi, e interpretado pela grande actriz Nicoletta Braschi, que por cá conhecemos sobretudo do cinema, pelos seus papéis em filmes como Vencidos pela Lei (Jim Jarmusch, 1986) e A Vida é Bela (Roberto Benigni, 1997), e que será homenageada nesta edição do LEFFEST. Once again, Lisbon & Estoril Film Festival presents a famous play, the eternal classic by Samuel Beckett, Happy Days, directed by Andrea Renzi and performed by the acclaimed Italian actress Nicoletta Braschi, whose roles in feature films such as Down By Law (Jim Jarmusch, 1986) and Life is Beautiful (Roberto Benigni, 1997) made her famous, and to whom LEFFEST is paying homage this year.
Andrea Renzi Encenador e actor, Andrea Renzi (Roma, 1963), inicia a sua actividade teatral com catorze anos, ao lado de Mario Martone. É um dos fundadores das companhias de teatro “Falso Movimento” e “Teatri Uniti”, e participou como actor nos principais espectáculos destas companhias. Em 1984 venceu o prémio Narni “Opera Prima” com o monólogo Sangue e Arena. Para além do seu trabalho como actor, Renzi foi também encenador de vários espectáculos. Este ano, LEFFEST apresenta a peça Giorni Felici, 178
onde Andrea Renzi acumula as funções de actor e encenador. Renzi possui ainda um invejável currículo cinematográfico, tendo trabalhado com realizadores de renome como Paolo Sorrentino, Roberto Benigni, Gabriele Salvatores, Carlo Virzì, Mario Martone, Roberto Andò. Director and actor Andrea Renzi (Rome, 1963) began his theatrical activities at fourteen alongside Mario Martone. He is one of the founders of the theatre companies “Falso Movimento” and “Teatri Uniti”, and acted in most of their shows. In 1984 he won the Narni “Opera Prima” award with the monologue Sangue e Arena. Renzi has also directed several shows. This year, LEFFEST presents the play Giorni Felici, starring Renzi, who is also the play’s director. Renzi is also the owner of a remarkable cinematographic curriculum, having worked with famed directors such as Paolo Sorrentino, Roberto Benigni, Gabriele Salvatores, Carlo Virzì, Mario Martone and Roberto Andò. “É com emoção e temor que se aborda Dias Felizes, um dos maiores textos contemporâneos que pertence de direito ao cânone do teatro no século XX. Nesta peça, visão e escrita são um só e, na correspondência entre Beckett e Alan Schneider, WWW. L E FFE S T. C OM
Dedicámos uma primeira fase ao estudo da pauta, sem hipóteses interpretativas. Movimentarmo-nos dentro do ditado do autor e, nas bermas definidas por esta estrada estreita, sintonizar os nossos instrumentos de trabalho no comprimento de uma onda completamente contida na obra pareceu-nos uma abordagem natural. Interrogámo-nos acerca dos preciosos documentos constituídos pelos cadernos de trabalho do Beckett encenador e acerca dos testemunhos dos seus actores de referência, Jack MacGowran, David Warrilow e, em particular, Billie Whitelaw que foi dirigida por ele precisamente em Dias Felizes, em 1979 (uma versão com variações pequenas mas significativas). Dias Felizes representou para Beckett, depois de anos de um voluntário exílio linguístico, um regresso à língua-mãe, e foi-nos útil confrontar o texto inglês com a versão francesa para melhor aderir à versão italiana de Carlo Fruttero. Não se trata de uma atitude filológica ou de fidelidade ao autor, mas da simples
necessidade de uma compreensão profunda. Só numa segunda fase de trabalho é que procurámos personalizar a margem de liberdade que a partitura nos permitia. O que não contradiz o que foi escrito acima: um sorriso que cai, só para dar um exemplo, tem declinações infinitas. Quando Beckett, em resposta a Schneider, que lhe pedia sugestões em relação ao tom de uma fala do primeiro acto, diz que o tom é a questão, convida-nos à medição da subtileza e à aventura da nuance, e indica-nos um caminho de auto-disciplina que é feito de muitas possibilidades. Procurámos nunca esquecer que se trata de um texto a dois, que requer a tecelagem de uma relação contínua entre Winnie e Willie. O contracampo da parte de Willie seria verdadeiramente uma reescrita, um outro dia feliz com uma autonomia que Beckett permite apenas entrever, mas os seus reflexos sobre a protagonista são determinantes de tal forma que a iniciativa, no memorável final, passa toda para Willie. São numerosas, no interior do texto, as referências ao mundo do teatro: “estranha sensação de que alguém me esteja a observar”, diz a protagonista, interrogando-se também acerca do guarda-sol que volta sempre à mesma posição, a campaínha interpretável
179
SE SSÕE S E SP E C IA IS - D IA S F E L IZE S
o seu encenador norte-americano de referência, descobrimos como o homem do livro, o romancista, poeta, ensaísta é, no fundo, também homem de cena, atento aos pormenores dos materiais cenográficos, às luzes, e intensamente envolvido na misteriosa arte do actor, num teatro que se revela uma partitura de extrema precisão para os intérpretes e foge às reescritas das encenações “criativas”.
também como sinal de quem é de cena, a opereta como memória partilhada do par Winnie e Willie, os lapsos de memória, e os efeitos especiais. Pusemos este aspecto em evidência. Os símbolos de cena que escolhemos, uma pequena colina e um pára-vento, são declaradamente artificiais, e os figurinos e as luzes, em filigrana, remetem ao mundo do espectáculo: alças com lantejoulas, cartola e sapatos bicolores, uma ribalta, um followspot. O resto é o tenaz corpo-a-corpo entre Nicoletta Braschi e Winnie. Um duelo sobre o eixo da fragilidade e da resistência, (sobre o) da plenitude e da vacuidade, da loquacidade e do silêncio, do candor e da dolorosa consciencialização, da regra e da liberdade, da dependência e da solidão, do riso e do choro, do grito e do canto, da graça e do acaso. Nós, presos ao chão como ela, recorremos a tudo, a todas as bênçãos disfarçadas, para nos entretermos ainda, e por muito tempo, com a relação vital que mais amamos: o teatro.” Andrea Renzi “It is with great emotion and fear that one approaches Happy Days, one of the major contemporary texts which truly belongs to the 20th century’s theatrical canon. In this play, vision and writing are one, and in the correspondence between Beckett and Alan Schneider, his chief North American directorial reference, we discover that the writer, the novelist, poet and essayist is, in truth, also an actor, keenly aware of the details of scenography and lighting, and intensely involved with the mysterious art of thespianism, in a theatre that escapes the rewritings of “creative” staging, where the actors are guided by a “score” of extreme precision. We have dedicated a first stage to the study of this “score”, without any interpretative possibilities. Moving within the author’s mandate and limited by the curbs of a particularly narrow road, tuning our instruments to this restrained wavelength seemed a completely natural approach. We questioned ourselves about the 180
precious documents which are the notebooks of “director Beckett”, and about the statements of his preferred actors, such as Jack MacGowran, David Warrilow and, in particular, Billie Whitelaw, who was directed by him precisely in Happy Days, in 1979 (a version with slight but significant changes). Happy Days was, for Beckett, after years of a voluntary linguistic exile, a return to his mother-tongue, and it was useful to confront the English text with the French version to better adhere to the Italian version by Carlo Fruttero. This is not a philological attitude or some sort of faithfulness to the author, but simply a deep need to understand the text. It was only in a second stage that we sought to personify the freedom that the “score” gave us. This is not the gainsaying of what was written above: a fading smile has infinite declensions. When Beckett, while asking Schneider for suggestions about the tone of a particular line from the first act, says that the tone was the question, he invites us to the measuring of subtlety and the adventure of nuance, and shows us a path of self-discipline which is made up of myriad possibilities. We sought never to forget that this is a text around two characters, which requires the weaving of a continuous relationship between Winnie and Willie. A reverse angle focusing on Willie would truly be a rewriting, another happy day with a freedom that Beckett only allows us to glimpse, but the reflection of his actions on the protagonist are decisive to an extent that the initiative, in the memorable ending, is Willie’s. Within the text, references to the world of theatre are numerous: “a strange feeling that someone is watching me”, says the protagonist, questioning herself about the parasol that keeps returning to the same position, the doorbell which one can interpret as a sign of who belongs onstage, the operetta as a memory shared by the couple (Winnie and Willie), the lapses of memory, the special effects. We have highlighted this aspect. The stage symbols we have chosen, a small hill and a windscreen, are glaringly artificial, and the filigree figurines and lights are reminiscent of the world of show business: sequin straps, top hats, bi-coloured shoes, a limelight, a spotlight. The rest consists of the daring mano-a-mano WWW. L E FFE S T. C OM
We, buried to the waist just like her, resort to everything, every blessing in disguise to entertain ourselves, and for a long time, with the vital relationship that we love the most: theatre.” Andrea Renzi
Entrevista de Nicoletta Braschi ao jornal La Repubblica Senhora Braschi, quem é Winnie? Uma mulher plantada na terra, literalmente. Avança na tragédia do fim, encara o vazio, enfrenta-o e encontra a beleza da vida. Dispara palavras para defendê-la, a esta vida”. Na opinião de muitos, Giorni Felici é, acima de tudo, um monólogo. Não estou de acordo. Apesar de desproporcionado, é um diálogo. Na relação com Willie existe uma forma de amor, uma busca desesperada por contacto humano. Depois de Pinter, Beckett. Agradamlhe os autores complicados? Pareceu-me uma transição coerente de aprofundamento o facto de ir contra a corrente para chegar à origem. De quê? Do teatro, que é um modo de apresentar a vida na sua complexidade.
Interview with Nicoletta Braschi for the newspaper La Repubblica Ms Braschi, who is Winnie? A woman planted in earth, literally. She moves forward in the end tragedy, she faces the emptiness, confronts it and finds the beauty of life. In order to defend this life, she shoots words. In the opinion of many people, Giorni Felici is, above all, a monologue. I do not agree. Although it is out of proportion, it is a dialogue. In her relationship with Willie there is a kind of love, a desperate search for human contact. Following Pinter, Beckett. Do you like complicated authors? Going against the current to reach the origin felt like a coherent transition of deepening. The origin of what? Of theatre, which is a away of presenting life in its complexity. [...] With this show you reinforce your partnership with Andrea Renzi, who had already directed you in Pinter’s Tradimenti. Andrea has a sharp, extremely fine sensitivity. He stands firm on his path. I trust him because he takes me where I want to go even before I know what the right direction is.
Com este espectáculo reforça a sua parceria com Andrea Renzi, que já a havia dirigido em Tradimenti, de Pinter. Andrea tem uma sensibilidade aguda, finíssima. Mantém-se firme na sua rota. Confio nele porque me leva onde quero ir ainda antes de eu saber qual é a direcção certa.
181
SE SSÕE S E SP E C IA IS - D IA S F E L IZE S
between Nicoletta Braschi and Winnie. A duel about the axis of fragility and resistance, plenitude and vacuity, loquacity and silence, dependence and loneliness, laughter and crying, shouting and singing, grace and chance.
SOIRÉE BECKETT Sessões Especiais Special Screenings Exibição de Film de Samuel Beckett e Notfilm, de Ross Lipman. Conversa com Nicoletta Braschi. Lançamento do livro O Olho Divino - Beckett e o Cinema, de Tomás Maia. Film by Samuel Beckett and Notfilm by Ross Lipman. Conversation with Nicoletta Braschi. Book launch of O Olho Divino - Beckett e o Cinema, by Tomás Maia.
• Dia 8 de Novembro às 19h30 Teatro da Trindade INATEL
Mas Filme, de Beckett, […] É a história do cinema numa vertiginosa e (quase) muda curta-metragem: a história do Ocidente vista do ângulo que ele mesmo denega. Beckett vai mostrar-nos assim não só a verdade da auto-perseguição, como também a possibilidade de um cinema — e, mesmo, a possibilidade do cinema — que não cede à ilusão mortífera dos caçadores. Um cinema que simplesmente dá a ver aquilo mesmo que faz o cinema: esse olho que, desprovido de qualquer vontade subjectiva, de qualquer tempo próprio ou desejo mortífero, perseguirá não um Sujeito, mas aquilo que o precede: o nascimento do visível. E se esse olho exercerá sempre um poder fascinante sobre o espectador, um poder que retoma e renova o fascínio causado pelo olhar dos primeiros ídolos (isto é, das primeiras representações de mortos), então vou dar-lhe o nome de olho divino. A passagem do ídolo à imagem também pode ser vista em Filme. O que me levará a dizer que Beckett, procurando discernir a essência da câmara e a duplicação desta no projector, onduziu o cinema ao seu limite inicial. Aliás, não vejo outro modo de a arte recomeçar, insistir sobre o seu começo depois de Hegel (depois do suposto «fim da arte» — e depois de todos os fins…). Se a arte não abdicar da sua necessidade — se ela não se deixar ultrapassar por si mesma (e tal é 182
o verdadeiro sentido da história hegeliana das artes) —, ou ainda: se a arte persistir antes da arte, então não lhe restará senão ser, continuar a ser uma mística material. Mas agora nuamente, pobremente, sem qualquer amparo metafísico. Mística material: nenhuma nova religião, e nenhum resto de antiga religião; simplesmente, a mudez dos homens feita matéria. Tomás Maia, O Olho Divino – Beckett e o Cinema, Documenta, Lisboa, 2016 [cortesia do autor e da editora]
But Beckett’s Film, […] is the history of cinema in one vertiginous and (almost) silent short film: the story of the West from exactly the point of view that it denies. Beckett will show us the truth of self-persecution, but also the possibility of a cinema – and the possibility of cinema – that does not give way to the deadly illusion of hunters. A cinema that simply shows us what cinema does: that eye that, devoid of subjective will, any time of its own or any deadly wish, will chase not a Subject, but that which comes before it: the birth of the visible. And that eye will always exert a fascinating power over the spectator, a power WWW. L E FFE S T. C OM
The passage from idol to image can also be seen in Film. Which leads me to say that Beckett, seeking to discern the essence of the camera and its duplication on the projector, drove cinema to its initial limit. In fact, I cannot see any other way for art to begin anew, to insist on its own beginning after Hegel (after the supposed “end of art” – and after all the subsequent ends…). If art does not relinquish its need – if it does not allow itself to be surpassed by itself (and that is the true sense of the Hegelian history of the arts) – or even: if art persists before the art, then it cannot but remain being, but continue being a material mysticism. But now, bare, poor, with no metaphysical support. Material mysticism: not a new religion or the remains of an old religion; simply, the silence of men made matter.
Tomás Maia Licenciado em Artes Plásticas – Pintura, e Doutorado em Filosofia de Arte, Tomás Maia é autor de Assombra: Ensaio Sobre a Origem da Imagem e publicou, com André Maranha, Fiolme Scens (para duas vozes), Éden – O filme desta terra e Scena (para duas vozes). Graduating in Plastic Arts – Painting, with a Doctorate in Philosophy of Art, Tomás Maia is the author of Assombra: Ensaio Sobre A Origem da Imagem and published, with André Maranha, Fiolme Scens (para duas vozes), Éden – O filme desta terra e Scena (para duas vozes).
Tomás Maia, O Olho Divino – Beckett e o Cinema, Documenta, Lisboa, 2016 [Courtesy of the author and the publisher]
183
SE SSÕE S E SP E C IA IS - SOIR É E BE C KE T T
that resumes and renews the fascination caused by the gaze of the first idols (that is, the first representations of the dead), so I will call it the divine eye.
FILM Film foi a única obra que Beckett escreveu especificamente para o cinema. Protagonizada por Buster Keaton, e sem qualquer diálogo ou música (apenas um ‘shhh’), Beckett explora o princípio ditado, no século XVII, pelo filósofo irlandês George Berkeley: “Ser é ser percebido”. Keaton tenta escapar ao olho da câmara para, no final, descobrir que se trata do seu próprio olhar. Film foi realizado por Alan Schneider sob a supervisão pessoal de Beckett, que viajou até Nova Iorque para estar presente nas rodagens. • Dia 8 às 19h30 Teatro da Trindade Inatel (apresentação por Tomás Maia e conversa com Nicoletta Braschi) Lançamento do Livro “O Olho Divino Beckett e o Cinema”, de Tomás Maia“
Film was the only work that Beckett wrote specifically for the screen. Starring Buster Keaton, and featuring no dialogue or music (just one ’shhh’), Beckett explores the eighteenth century Irish philosopher Berkeley’s dictum that ’to be is to be perceived’. Keaton attempts to elude the camera’s gaze, only to ultimately discover that it is his own. Film was directed by Alan Schneider under the personal supervision of Beckett, who travelled to New York to be present through the shooting.
Realizador Director:
Alan Schneider
Elenco Cast: Buster Keaton, Nell Harrison, James Karen Argumento Screenplay: Samuel Beckett Fotografia DOP: Boris Kaufman Produtora Production: Evergreen | US, 1965, 24’,
NOTFILM
• Dia 8 às 19h30 Teatro da Trindade Inatel (apresentação por Tomás Maia e conversa com Nicoletta Braschi) Lançamento do Livro “O Olho Divino Beckett e o Cinema”, de Tomás Maia“
O restauro de Film de Samuel Beckett foi a concretização de um sonho de longa data. A indagação dos seus mistérios e da verdade por detrás desses mistérios conduziu a uma pesquisa de sete anos que produziu resultados surpreendentes. Notfilm é um ensaio acerca da produção de Film e das suas implicações filosóficas, utilizando material descartado, gravações de áudio “perdidas” e outro material de arquivo raro. A contextualização graciosa e poética desses elementos e a compreensão do seu significado requerem o trabalho de um grande artista. Restoring Film by Samuel Beckett was the accomplishment of a longtime dream, but delving into its mysteries, into the truth behind the myths, sent Lipman on a seven-year-long global search with astonishing results. Discovering both of Film’s outtakes, including the long-lost prologue and the only prolonged recording ever of Beckett discussing the creation of his work are the kind of findings that archivists and scholars wish for at least once in their lifetime. Notfilm is an essay on Film’s production and its philosophical implications, utilizing outtakes, “lost” audio recordings, and other rare archival elements. To understand their significance and to place them in context with the grace of a poet is the work of a great artist.
Realizador Director:
Ross Lipman
Elenco Cast: Samuel Beckett (voz), Kevin Brownlow, Judith Douw, S. E. Gontarski, James Karen, Boris Kaufman (voz), Buster Keaton, James Knowlson, Leonard Maltin, Mark Nixon, Barney Rosset, Steve Schapiro, Alan Schneider (voz), Jean Schneider, Jeanette Seaver, Haskell Wexler, Billie Whitelaw Argumento Screenplay: Ross Lipman Produtora Production: Milestone Film & Video | FR, 2015, 128’,
184
WWW. L E FFE S T. C OM
185
SE SSÕE S E SP E C IA IS - SOIR É E BE C KE T T
BUONGIORNO PRINCIPESSA Sessões Especiais Special Screenings Objecto de uma das mais inesquecíveis frases do cinema, Nicoletta Braschi é a eterna amada de Roberto Benigni, dentro e fora do ecrã. O Lisbon & Estoril Film Festival homenageia a actriz italiana, exibindo três das obras de Benigni em que participa: o paradigmático A Vida É Bela, e dois filmes que o antecederam, O Pequeno Diabo e O Monstro. “Nicoletta Braschi: a mulher-anjo, femme fatale e doce demónio, Madonna e sobretudo principessa, que entra na vida para a abalar e para lhe dar novas cores.” (Cristina Borsatti, in Roberto Benigni, 2001, Ed. Il Castoro). The object of one of cinema’s most unforgettable lines, Nicoletta Braschi is Roberto Benigni’s eternal lover, onscreen and offscreen. The Lisbon & Estoril Film Festival pays homage to the Italian actress, screening three of the Benigni pictures in which she stars: the paradigmatic Life is Beautiful, and two films that preceded it: The Little Devil and The Monster. “Nicoletta Braschi, the angelical woman, the femme fatale, the charming devil, Madonna and above all, principessa, that came to Earth to shake it and give it new colours.” (Cristina Borsatti, in Roberto Benigni, 2001, Ed. II Castoro).
Nicoletta Braschi Nicoletta Braschi é uma actriz italiana, nascida em Cesena, em 1960. Estudou na Academia de Artes Dramáticas de Roma, onde conheceu, em 1980, Roberto Benigni, com quem viria a casar anos mais tarde. O seu primeiro papel foi na comédia de Benigni, de 1983, Tu Mi Turbi. Logo de seguida, em 1986, teria um papel em Vencidos Pela Vida, de Jim Jarmusch, com quem voltaria a trabalhar três anos depois no filme O Comboio Mistério. Embora tenha participado em longas de realizadores como Marco Ferreri, Bernardo Bertolucci ou Blake Edwards, a sua carreira está inegavelmente ligada à do seu marido e a alguns dos seus mais icónicos filmes, como Johnny Palito (1991), A Vida é Bela (1997) ou O Tigre e a Neve (2005), do qual foi também produtora. A par da sua actividade no cinema, Nicoletta Braschi tem trabalhado 186
também no teatro, tendo representado em peças a partir de obras de Boris Vian ou Miguel de Cervantes, por exemplo, com encenadores como Andrea Renzi ou Claudio Abbado. Nicoletta Braschi is an Italian actress, born in Cesena, in 1960. She studied in the Rome Academy of Dramatic Arts, where she met, in 1980, Roberto Benigni, who she would marry years later. Her first role was in Benigni’s 1983 comedy Tu Mi Turbi. Shortly after, in 1986, she had a role in Down By Law, by Jim Jarmusch, who she would work with again, three years later, in Mystery Train. Despite working in feature films with such directors as Marco Ferreri, Bernardo Bertolucci or Blake Edwards, her career is undeniably linked to her husband’s and to some of his most iconic films, such as Johnny Stecchino (1991), Life is Beautiful (1997) and The Tiger and the Snow (2005), which she also produced. Along with her film activites, Nicoletta Braschi has worked in theater as well, acting in plays adapted from works by Boris Vian or Miguel de Cervantes, for instance, and with stage directors like Andrea Renzi and Claudio Abbado.
WWW. L E FFE S T. C OM
Roberto Benigni é o diabo em pessoa. Cansado da sua vida monótona no inferno, viaja até à terra e apodera-se do corpo de uma mulher. Um padre provinciano é chamado para praticar um exorcismo. O diabo revela-se e, relutante em regressar a casa, resolve esconder-se na igreja, infernizando a vida do padre.
• Dia 8 às 21h30 Medeia Monumental, Sala 3 (apresentação por Nicoletta Braschi)
Roberto Benigni is the Devil. Tired of his monotonous life in Hell, he travels to Earth and inhabits the body of a woman. A provincial priest is summoned to perform an exorcism. The Devil reveals himself and, reluctant to return home, decides to hide in the church, making priest’s life a living Hell.
Realizador Director: Roberto Benigni
Elenco Cast: Roberto Benigni, Walter Matthau, Nicoletta Braschi, Stefania Sandrelli, John Lurie Argumento Screenplay: Vincenzo Cerami, Roberto Benigni Fotografia DOP: Robbie Müller Produtora Production: Yarno Cinematografica, Cecchi Gori Group Tiger Cinematografica, Reteitalia | IT, 1988, 110’
IL MOSTRO O Monstro Um terrível serial-killer (sexualmente pervertido) encontra-se em fuga. Loris, é o principal suspeito, graças ao seu infeliz hábito de ser consecutivamente apanhado em situações comprometedoras, para as quais existe sempre uma inocente explicação que escapa à polícia. Uma mulherpolícia destacada para desmascarar Loris, entra em acção.
• Dia 12 às 14h30 Medeia Monumental, Sala 2
A terrible, sexually twisted serial-killer is on the loose. Loris is the main suspect, thanks to his unfortunate habit of being consecutively caught in compromising situations for which there is always an innocent explanation that the police ignores. A policewoman assigned to unmask Loris, goes into action.
Realizador Director: Roberto Benigni
Elenco Cast: Roberto Benigni, Michel Blanc, Nicoletta Braschi, Dominique Lavanant, Jean-Claude Brialy, Franco Mescolini Argumento Screenplay: Vincenzo Cerami, Roberto Benigni Fotografia DOP: Carlo Di Palma Produtora Production: UGC Images, IRIS Film, La Sept Cinéma | IT, FR, 1994, 118’
LA VITA È BELLA Life is Beautiful No final da década de 30, Guido, um judeu, apaixona-se por Dora e acabam por casar. A família (eles e o filho) é enviada para um campo de concentração. A partir desse momento, Guido desenvolve esforços para manter o seu filho vivo e afastado daquela realidade.
• Dia 13 às 14h15 Medeia Monumental, Sala 1 (presença de Nicoletta Braschi)
Towards the end of the 30’s Guido, a Jewish man, falls in love with Dora and, get married. The family is sent to a concentration camp. From this moment on, Guido struggles to perform forced labour to keep his son alive and away from that terrible reality.
Realizador Director: Roberto Benigni
Elenco Cast: : Roberto Benigni, Nicoletta Braschi, Giorgio Cantarini, Giustino Durano, Marisa Paredes Argumento Screenplay: Vincenzo Cerami, Roberto Benigni Fotografia DOP: Tonino Delli Colli Produtora Production: Melampo Cinematografica | IT, FR, 1997, 120’ 187
SE SSÕE S E SP E C IA IS - BUON GIOR N O P R IN C IPE SSA
IL PICCOLO DIAVOLO O Pequeno Diabo
MASTERCLASS Alex Ross Perry Alex Ross Perry (1984) é um realizador, argumentista e actor norte-americano. Estudou Cinema na New York University. A sua primeira longa-metragem, Impolex, estreou em 2009. Seguiu-se The Color Wheel, que estreou em 2011 e marcou presença em vários festivais, como o Festival de Locarno, estando também nomeado para os Independent Spirit Awards. The Color Wheel foi considerado por várias publicações um dos melhores filmes de 2011 sem distribuição nos Estados Unidos, integrando as listas da prestigiada revista Film Comment e também do site de referência Indiewire. Em 2014, Alex Ross Perry viu a sua terceira longa-metragem, Listen Up Philip, estrear-se no Festival de Sundance e ganhar o Prémio do Júri no Festival de Locarno. O filme, protagonizado por Jason Schwartzman e Elisabeth Moss, é uma comédia dramática sobre um escritor em conflito. O seu quarto filme, Queen of Earth, estreou este ano no Festival de Berlim e, tal como as suas obras anteriores, conta com argumento escrito pelo próprio realizador. Actualmente, Alex Ross Perry é considerado uma das vozes mais inovadoras do novo cinema americano e um dos mais bem cotados jovens realizadores independentes. Nesta edição do LEFFEST, será organizada uma masterclass com Alex Ross Perry após a exibição do filme de Jean-Luc Godard Sauve Qui Peut. Alex Ross Perry (1984) is a director, screenwriter and actor. He studied Cinema at New York University. His first feature film, Impolex, premiered in 2009. The Color Wheel followed, which premiered in 2011 and was screened at several festivals, such as Locarno Film Festival, having also been nominated for the Independent Spirit Awards. The Color Wheel was considered by several publications to be one of the best films of 2011 with no distribution in the United States, becoming a part of the lists of the prestigious magazine Film Comment and the famous website Indiewire. In 2014, Alex Ross Perry saw his third feature film, Listen Up Phillip, premiere at the Sundance Festival and win the First Prize of the Jury at the Locarno Festival. The film, starring Jason Schwartzman and Elisabeth Moss, is a comedy – drama about a struggling writer. His fourth film, Queen of Earth, premiered this year at the Berlin 188
Festival and, like many of his films, features a screenplay by the director himself. Currently, Alex Ross Perry is considered one of the most innovative voices in new american cinema, and he is also one of the best rated young indie directors. This year at LEFFEST there will be a masterclass with Alex Ross Perry after the screening of Jean-Luc Godard’s Sauve Qui Peut. Consultar a ficha do filme Sauve Qui Peut [Salve-se Quem Puder] na secção Homenagens e Retrospectivas de Jean-Luc Godard.
WWW. L E FFE S T. C OM
MASTERCLASS
M A ST E R C L A SSE S
Robert Schwentke Nascido na Alemanha, Robert Schwentke estudou Literatura Comparada e Filosofia e, posteriormente, ingressou no curso de Realização no American Film Institute. Antes da sua estreia nos Estados Unidos como cineasta, Schwentke ganhara já diversos prémios pelas suas primeiras longas-metragens produzidas na Alemanha, incluindo uma Menção Especial na Secção Oficial Cinema Fantástico da 23ª edição do Fantasporto, em 2003, atribuída a Tattoo. Em 2005, realiza o filme de suspense Pânico a Bordo, protagonizado por Jodie Foster. Dirige Eric Bana e Rachel McAdams em A Mulher do Viajante no Tempo e, já em 2010, assina Red: Perigosos, um êxito comercial nomeado para os Globos de Ouro, com um elenco de luxo composto por Bruce Willis, Morgan Freeman, John Malkovich, e Helen Mirren. Em 2013, filma R.I.P.D.: Agentes do Outro Mundo, com Jeff Bridges and Ryan Reynolds nos papéis principais. Recentemente, Schwentke realizou Insurgente (2015) e Convergente (2016), episódios da Série Divergente, uma trilogia baseada na série de livros de Veronica Roth.
Flightplan, starring Jodie Foster. From there he went on to direct Eric Bana and Rachel McAdams in The Time Traveler’s Wife, after which he helmed the hit feature film RED starring Bruce Willis, Morgan Freeman, John Malkovich, and Helen Mirren in 2010. He most recently directed the Jeff Bridges-starring R.I.P.D.
Este ano, o LEFFEST irá organizar uma masterclass com Robert Schwentke, juntamente com a exibição do seu filme Pânico a Bordo.
Recently, Schwentke directed Insurgent (2015) and Allegiant (2016), episodes of the Divergent Series, a trilogy based on the Veronica Roth book series.
Born and raised in Germany, Schwentke studied comparative literature and philosophy before attending the directing program at the American Film Institute.Robert Schwentke was already an awardwinning director in his native Germany when he made his American film debut with the 2005 thriller
Robert Schwentke will give a masterclass at LEFFEST along with the screening of his film Flightplan.
FILMES ROBERT SCHWENTKN Flightplan Flightplan - Pânico a Bordo US, 2005, 98’ • Dia 12 às 14h00 Medeia Monumental, Sala 1 (Masterclass com Robert Schwentkn)
The Divergent Series: Allegiant Da Série Divergente: Convergente US, 2016, 121’ • Dia 11 às 13h00 Cinemas NOS CascaiShopping (conversa com Robert Schwentkn)
189
ENCONTRO COM MONICA BELLUCCI Actriz e manequim italiana reconhecida internacionalmente. Nomeada para Melhor Actriz Revelação nos Prémios César de 1997 em L’Appartement de Gilles Mimouni. Recebeu, em 2000, grandes elogios pela interpretação no filme italiano Malèna, nomeado para o Óscar de Melhor Cinematografia e para o Urso de Ouro no Festival de Berlim. No controverso Irreversível de Gaspar Noé, interpreta Alex, uma mulher brutalmente agredida e violada numa passagem subterrânea de Paris, num célebre plano sequência de 20 minutos. Em 2016, é a Noiva no mais recente filme de Emir Kusturica, On The Milky Road. Monica Bellucci is an extremely well known Italian actress and model. She received strong critical acclaim for her supporting role in L’Appartement by Gilles Mimouni, a film which consolidated her promising talent and for which she was nominated for Most Promising Actress at the César Awards of 1997. Bellucci was greatly praised, in 2000, for her dramatic performance in the Italian film Malèna, nominated for the Academy Award for Best Cinematography at the Oscars and for the Golden Bear at the Berlin Festival. In Irreversible by Gaspar Noé, Monica plays Alex, a woman who is brutally beaten and raped in a Paris underpass, in a famous 20 minute long sequence. In 2016, Monica Bellucci starred alongside Emir Kusturica in his most recent film, On The Milky Road, where she is the Bride.
MALÈNA Numa aldeia siciliana, Malèna (Monica Bellucci) é o objecto de desejo dos homens e olhada com desdém pelas mulheres, enquanto o seu marido está na guerra. Um bando de adolescentes seguem-na para onde quer que vá e, entre eles, o jovem Renato leva o seu desejo a limites inesperados de fantasia obsessiva.
• Dia 5 às 14h Medeia Monumental, Sala 4 (conversa com Monica Bellucci)
In a Sicilian village during WWII, Malèna (Monica Bellucci), whose husband is away at war, is desired by men and despised by women. A group of teenagers follow her wherever she goes and the young Renato lets his obsessive fantasies run wild.
Realizador Director: Giuseppe Tornatore Elenco Cast: Monica Belucci, Giuseppe Sulfar Argumento Screenplay: Giuseppe Tornatore IT, 2000, 109’
190
WWW. L E FFE S T. C OM
EXCLUSIVO DOMINGO 23H00 ADIRA JÁ NO SEU OPERADOR tvseries.pt
© Wildside/Sky Italia/Haut et Court TV/HBO/MediaPro 2016. All rights reserved.
PRESERVAR A MEMÓRIA DO CINEMA
Fruto de uma encomenda do Governo mexicano, feita em 1935, para a produção de um filme documental que retratasse a realidade social dos pescadores de Alvarado, perto da cidade de Veracruz, no Golfo do México, Redes é hoje reconhecido como uma das mais relevantes obras da história do cinema mexicano, nomeadamente pela abordagem pioneira de temas e ideais sociais surgidos durante a Revolução Mexicana (1910-1920) e aqui, em particular, pela descrição da exploração dos pescadores pelos comerciantes locais. Embora certas alterações ao projecto inicial tenham vindo transformar o documentário em obra de ficção, co-realizada por Emilio Gómez Muriel e Fred Zinnemann (ambos, à época, em início de carreira), o argumento baseou-se em factos reais e o filme contou com a interpretação dos próprios pescadores daquela comunidade, antecipando o movimento neo-realista italiano e inspirando o nascimento do cinema clássico mexicano. Para além disso, a banda-sonora de Redes, da autoria de Silvestre Revueltas, é considerada uma das suas melhores composições, aliando-se de forma expressiva ao trabalho visual do director de fotografia, Paul Strand. A cópia que será apresentada nesta edição do Lisbon & Estoril Film Festival resulta de um restauro efectuado recentemente pelo The Film Foundation’s World Cinema Project no laboratório da Cinemateca de Bolonha/L’Immagine Ritrovata, em associação com a Filmoteca da UNAM, e financiado pela Armani, Cartier, Qatar Airways e Qatar Museum Authority.
The result of a 1935 commission from the Mexican government for the production of a documentary film that portrayed the social reality of the fishermen of Alvarado, near the city of Veracruz, Gulf of Mexico, Redes is today recognized as one of the most relevant works in the history of Mexican cinema, namely for its pioneering approach to themes and social ideas that had arisen during the Mexican Revolution (1910-1920) and, here in particular, for the description of the way the local businessmen exploited the fishermen. Although certain changes to the initial project transformed the documentary into a work of fiction, co-directed by Emilio Gómez Muriel and Fred Zinnemann (both, at the time, at the beginning of their careers), the script was based in real facts and the film featured acting by the actual fishermen of the community, anticipating the Italian neorealist movement and inspiring the birth of classic Mexican cinema. Redes’ soundtrack, by Silvestre Revueltas, is considered one of his finest compositions and makes for an expressive addition to the visual work of director of photography Paul Strand. The copy which will be screened at this edition of the Lisbon & Estoril Film Festival is a result of a restoration performed by the Film Foundation’s World Cinema Project at the Cinemateca de Bolonha/L’Immagine Ritrovata’s lab, in association with the UNAM Filmotheque and financed by Armani, Cartier, Qatar Airways and Qatar Museum Authority.
REDES Redes é a história de um jovem pescador, Miro, que lidera os seus companheiros de trabalho contra o monopolista que compra os seus produtos a preços muito baixos. Redes is the story of a young fisherman, Miro, who organises his fellow workers against the monopolist who buys their catch at a very low prices.
• Dia 12 às 14h00 Medeia Monumental, Sala 4 (apresentação por Gianluca Farinelli e Chema Prado)
Realizador Director: Emilio Gómez Muriel, Fred Zinnemann
Elenco Cast: ilvio Hernández, David Valle González, Rafael Hinojosa Argumento Screenplay: Emilio Gómez Muriel, Fred Zinnemann, Henwar Rodakiewicz Fotografia DOP: Paul Strand Produtora Production: Azteca Films, Secretaría de Educación Pública | ES, 1936, 65’
193
P R E SE R VA R A M E M ÓR IA D O C IN E MA
Redes de Emilio Gómez Muriel e Fred Zinnemann
PRESERVAR A MEMÓRIA DO CINEMA 30 ANOS DE BLUE VELVET Blue Velvet de David Lynch [...] Vejo Blue Velvet e lembro-me do cheiro e da cor de alguns velhos livros de pintura. O arrepio que me causaram talvez fosse da mesma natureza do arrepio que a voz e a boca de Isabella Rossellini levavam aos sonhos ou aos pesadelos de Kyle MacLachlan. Também o corpo dele, também a pele dele, também a alma dele, ficaram para sempre marcados e nenhuma Laura Dern o salvaria.Era magia de Isabella? Era magia desses actores que, como ela, vinham do escuro, Dean Stockwell ou Harry Dean Stanton, arrancados às páginas dos forties? Era o toque letal do veludo azul? Se soubesse, sabia melhor do mais de mim. E não sei. Espero pelo novo Lynch – Wild at Heart, que ainda não vi – para saber ou para não saber melhor. Mas é por causa disso que, muito no escuro, convoco Isabella Rossellini para terminar esta série de retratos. Antes de acabar – para a semana – esta série de crónicas. Entretanto, enterro os dedos no veludo azul, para ficar, no espaço de um plano, com o cheiro dele. Mas passa tão depressa. Tão depressa que passa. João Bénard da Costa in Isabella Rossellini: A Matter of Time, um dos textos reunidos no livro Muito Lá de Casa, Assírio e Alvim (1993)
[...] I watch Blue Velvet and I remember the colours and scents of a few old books on painting. Perhaps the chill it gave me was akin to the one that Isabella Rossellini’s mouth and lips brought to Kyle MacLachlan’s dreams, or nightmares. His body, his skin, his soul, were also forever branded, and no Laura Dern would ever save him. Was it Isabella’s magic? Was it magic that these actors performed? They who, like her, came from the dark; Dean Stockwell or Harry Dean Stanton ripped from the pages of the forties? Was it the lethal touch of blue velvet? If I knew, I would know more about myself. And I don’t. Instead I wait for the new Lynch – Wild at Heart, which I have yet to have seen – to try to know more, or know nothing at all. But it is for that reason that, in the dark, I summon Isabella Rosellini to end this series of portraits, before finishing – next week – this series of chronicles. In the meantime, I will bury my fingers in blue velvet to keep, if for the length of a single shot, its scent. But it goes by so fast. So fast. João Bénard da Costa in Isabella Rossellini: A Matter of Time, one of the texts collected in the book Muito Lá de Casa, Assírio e Alvim (1993)
BLUE VELVET Veludo Azul Jeffrey encontra uma orelha humana num jardim e, para encontrar o corpo correspondente, pede ajuda a Sandy, filha de um polícia. Encontram Dorothy Vallens, uma cantora de um clube nocturno cujo marido e filho foram raptados por Frank. Jeffrey finds a human ear in a garden, and to find the correspondent body he asks Sandy, a police man’s daughter, for help. They come across Dorothy Vallens, a singer in a nightclub whose husband and son were kidnapped by Frank. • 12 de Novembro às 21h00 CCB, Grande Auditório
194
Realizador Director: David Lynch
Elenco Cast: : Isabella Rossellini, Kyle MacLachlan, Dennis Hopper, Laura Dern, Hope Lange, Dean Stockwell Argumento Screenplay: David Lynch Fotografia DOP: Frederick Elmes Produtora Production: De Laurentiis Entertainment Group | US, 1987, 120’
WWW. L E FFE S T. C OM
60 dias em Wilmington, Carolina do Norte, Estados Unidos da América, em 1985, 60 cartuchos de Super-8, 2 minutos filmados por dia, mudos, sem banda de som síncrona. Uma vez que se intitula Blue Velvet Revisited, é uma visita a uma determinada circunstância histórica, um ensaio, uma nova descoberta. Uma narrativa a partir do ponto de vista subjectivo de um realizador alemão que por acaso, há muito tempo atrás, se viu no meio da produção de um clássico do cinema de fama mundial. Ou não terá sido coincidência? Será que este meu filme teve de ser posto de lado durante tantos anos, quase dado como perdido, antes de poder finalmente ver-se concluído? Há tantas perguntas a responder, tantos pensamentos a revelar, quando exploro estas quatro horas de filme original em Super-8, as duas horas adicionais em 16mm de Munique em 1987, as várias horas de material vídeo da promoção de Blue Velvet, todas estas 1000 fotografias, os objectos, desenhos e relíquias, tanto para descobrir, escolher, seleccionar e combinar, tanto a dizer, escutar, ver e desenterrar, que sei tratar-se de algo novo. Como não se entra duas vezes no mesmo rio, Blue Velvet Revisited é a minha escavação de um tesouro escondido, que apenas necessita de um contacto para desabrochar e brilhar, ou apenas para ser olhado – como uma meditação sobre um filme.
60 days in Wilmington, NC, USA in 1985, 60 reels of Super-8, 2 minutes per day, silent, mos. As it is Blue Velvet Revisited, a visit in a certain historic situation, an essay, a new discovery. A tale from the subjective view-point of a german filmmaker who found himself by chance a long time ago in the middle of the production of a world famous film-classic. Or was it no coincidence? Had this, my actual movie, to lay for so many years, nearly long lost, before it finally finds it’s completion? There are so many questions to answer, so many thoughts to reveal, when I dig into these four hours of original Super-8 film, the two additional hours of 16mm from Munich 1987, the several hours of video-material from the promotion for Blue Velvet, all these 1000 photographies, the objects, drawings and relics, there is so much to discover, to choose, to select and combine, so much to say, to hear, to see and to dig up, that I know it is new. As you never step into the same river twice, Blue Velvet Revisited is my excavation of a hidden treasure, which just needs to be touched to blossom and sparkle, or just to be looked at - like a meditation on a movie. Short Director’s Note
Curta nota do realizador
BLUE VELVET REVISITED Blue Velvet Revisited apresenta uma colecção de imagens documentais, filmadas e fotografadas em 1985, nos cenários do filme Veludo Azul de David Lynch. Peter Braatz obteve de David Lynch permissão para documentar a produção inteira do clássico filme de culto, e grande parte desse material nunca tinha sido apresentada ao público.
• Dia 11 às 21h30 Medeia Monumental, Sala 3 (conversa com Peter Braatz)
Blue Velvet Revisited is a documentary film based on hours of documentary footage that was filmed and photographed in 1985 in the USA, on the set of Blue Velvet of David Lynch. Peter Braatz obtained the exclusive rights to document the entire production of the cult classic film Blue Velvet from David Lynch himself, with most of this footage never previously released to the public.
Realizador Director: Peter Braatz
Elenco Cast: David Lynch, David Lynch, Isabella Rossellini, Kyle MacLachlan, Dennis Hopper, Laura Dern Argumento Screenplay: Peter Braatz Fotografia DOP: Peter Braatz Produtora Production: Bela Film, Taris Film
195
P R E SE R VA R A M E M ÓR IA D O C IN E MA
Blue Velvet Revisited de Peter Braatz
196
WWW. L E FFE S T. C OM
Chema Prado é um nome reconhecido do panorama cinematográfico internacional, tendo estado quase trinta anos à frente da Cinemateca Espanhola. Encarregue de recuperar, restaurar, conservar e difundir o património cinematográfico espanhol, Prado acabou por conhecer e tornar-se extremamente influente junto de várias personalidades do meio, como Chantal Akerman, Isabelle Huppert, Alain Robbe-Grillet, Marguerite Duras, Jim Jarmusch, Wes Anderson, Bernardo Bertolucci, Manoel de Oliveira e muitos outros. Trabalhou ainda directamente com o Festival de Cinema de San Sebastián e foi júri nos festivais de Cannes, Sundance, Valladolid, Locarno, Guadalajara (México), Miami, Roterdão e Veneza. A partir de 1992 começou a expor as suas fotografias um pouco por todo o mundo, em galerias e instituições, destacando-se, nos anos mais recentes, a exposição CHEMA PRADO/ SERIES que contempla as séries Infraganti e Blanco y Negro, que apresentamos este ano na 10ª edição do Lisbon & Estoril Film Festival, no Casino do Estoril, com inauguração no dia 4 de Novembro, a preceder a gala de abertura, e na livraria Sistema Solar, no Chiado, respectivamente. Chema Prado is well-known in the international film scene, he was the director of the Spanish Cinemathèque for almost thirty years. Responsible for recovering, restoring, preserving and promoting Spain’s film heritage, Prado end up meeting and becoming extremely influential with several personalities in that field, such as Chantal Akerman, Isabelle Huppert, Alain Robbe-Grillet, Marguerite Duras, Jim Jarmusch, Wes Anderson, Bernardo Bertolucci, Manoel de Oliveira and many others. He worked directly with the San Sebastián Film Festival and he was a jury member at the Cannes, Sundance, Valladolid, Locarno, Guadalajara (Mexico), Miami, Rotterdam and Venice film festivals. From 1992 he started exhibiting his photographs a little all over the world in galleries and institutions, with particular emphasis on the CHEMA PRADO/SERIES exhibition, that includes the Infraganti and Blanco y negro series, that we will exhibit this year at the Lisbon & Estoril Film
Chema Prado fotografado por Abbas Kiarostami
Festival’s 10th edition, in Casino do Estoril, on the 4th of November, before the opening gala, and in the Sistema Solar bookshop, in Chiado.
Cinema e Sombra O retrato é o estado utópico da sociedade. Ao pôr-se diante de um pintor ou de um fotógrafo que os retrata, o homem e a mulher sonham consigo próprios, sem concessões ao ruído do tempo, e o final da pose tem sempre um efeito exterminador: isolado no retrato, o indivíduo despe, como uma pele usada, a companhia dos demais. Só alguém, uma única pessoa, esteve ali a observar enquanto o modelo se deixava plasmar. Alguém que sabe algo sobre ele depois desse olhar, e o escuta, mesmo sem dizer nada: o artista que assina o retrato. Outro autista. Retratar é tentar fixar-se no Outro. Renunciar à novela social do mundo inteiro. [...] É conhecida a explicação lendária da origem das artes plásticas que deu o historiador latino Plínio. Depois de reflectir sobre a polémica – se a primazia recai sobre os egípicios ou sobre os gregos, Plínio sentencia: “todos reconhecem que consistia em circunscrever com linhas o contorno da sombra do homem”. Noutra 197
E X P O SI Ç ÕE S - C H E M A P R A D O IN F R A GA N T I E BL A N C O Y N E GR O
EXPOSIÇÕES CHEMA PRADO/SERIES
impressionados num suporte rígido de alumínio, o rasto de um amor. Não só o amor ao cinema, mas também o amor a certos homens e mulheres que fazem um determinado tipo de cinema (a lista de Prado é tão salvadora como a de Schindler). Mas o fotógrafo não renuncia aos primeiros planos da alma. O quanto nos diz o rosto de Almodóvar no mudo diálogo maternal cruzado através do espelho. O quanto nos diz de si mesmo a expressão de Javier Bardem, com a gravata torta e o bigode provisório. Os dois externos olhares interiores de John Malkovich; um, o do menino e Cristo, fora de campo; o outro dirigido a um ponto indefinido mas sem dúvida definitivo do além. A sombra continua lá. Todas estas fotografias, mesmo as mais ensimesmadas, a têm. Quiçá porque Chema Prado – que vem do cinema e a ele volta – sabe como é adequado situar os seus personagens no contorno ou entorno de uma materialidade rampante.
John Malkovich
passagem da sua História Natural, referindose mais à plástica em geral do que à pintura, escreve: “A primeira obra deste tipo foi feita em argila pelo oleiro Butades de Sícion, em Corinto, a partir de uma ideia da sua filha, apaixonada por um jovem que ia deixar a cidade; a rapariga traçou os contornos do perfil do seu amante sobre a parede, à luz de uma vela. O seu pai aplicou depois argila sobre o desenho, dotando-o de relevo, e colocou a argila no fogo para a endurecer, juntamente com outras peças de olaria. Diz-se que este primeiro relevo foi conservado em Corinto, no templo das Ninfas”. Chema Prado não inventa a fotografia de pessoas nesta série, mas sim, penso eu, traz ao altivo género do retrato uma dimensão expressionista muito singular (digamos assim, já que estamos entre cineastas). Como a rapariga coríntia, provavelmente também ele quer recordar, com estes grandes papéis 198
Vejo estes retratos tão cheios de indícios mundanos. O pintor Julian Schnabel, por exemplo, apoia-se, mais do que no poltrona, na confiança dos seus quadros. A beleza rasgada de Gong Li sofre a estilização do vidro que, longe de a estragar, transforma a sua cara num camafeu. As cores da toalha, da água, do pórtico do chalet, revelam, como no melhor folhetim, a ocultação do melodrama tentada por Almodóvar, na borda da piscina. O facto sintomático de que Paulo Branco, esse movediço agent provocateur do melhor cinema independente, apareça num escorço só e incompleto. São formas que tem um retratista autista de dizer-nos, com a sua própria e eloquente voz, um segredo conhecido: que o cinema é o despovoado mais populoso que existe. Um lugar onde cabe tanto o luminoso egoísmo da arte como a fraternidade de muitos fantasmas igualmente necessários. Vicente Molina Foix Cinema and Shadows A portrait is the utopian state of solitude. When posing for a painter or photographer, a person dreams of him or herself without making WWW. L E FFE S T. C OM
[...] The Latin historian, Pliny, offered a well-known explanation of the legendary origin of the plastic arts. After mentioning the polemic as to whether the Egyptians or the Greeks were first, Pliny states: “everyone recognises that it began when someone traced the contour of a man’s shadow”. In another passage from his Natural History, Pliny refers not so much to painting as to the plastic arts in general when he states that “the first work of this kind was made out of clay by the potter Butades of Sición in Corinth, at the behest of his daughter, who was in love with a young man who was going to leave the city. By the light of a candle, the young woman traced the contours of her lover’s profile on the wall. Her father then applied clay to the drawing, giving it relief and hardening it with fire along with other pieces of pottery. It is said that this first relief was kept in Corinth at the temple of the Nymphs.” In this series, Chema Prado does not invent the process of photographing people, but in my opinion he does bring a very singular expressionistic (let us put it this way, inasmuch as we are among film-makers) dimension to the lofty genre of portraiture. Like the young woman from Corinth, he too may very likely wish to use these large papers pressed onto a stiff aluminium base as a reminder of the traces of a love. Not only the love of cinema, but also of certain men and women who make a particular kind of cinema (Prado’s list is as much a salvation as Schindler’s was). But the photographer doesn’t reject close-ups of the soul either: the enormous eloquence of Almodóvar’s face in the mute maternal dialogue that crosses space; just how much Javier Bardem’s gesture seeks to tell us about himself, with his twisted tie and provisional moustache; John Malkovich’s two out-looking inner glances, the
one with a child and a Christ, looking out of the photos’ field; the other looking off towards some unspecified-but-no-doubt-definitive point in the great beyond. And the shadows remain. All of these photos, even the most self-engrossed, have one. Perhaps that is because Chema Prado - who comes from cinema and is on his way back - knows how appropriate it is to set his subjects in a context or surroundings of rampant materiality. These portraits seem so filled with mundane clues. The painter Julian Schnabel, for example, seems to rest on his confidence in his paintings than on his armchair. The Asian beauty of Gong Li undergoes the stylisation of glass which, far from running her face, transforms it into a cameo. Like in the best serial fiction, the colours of a towel, the water, the doorway of a house, reveal Almodóvar’s melodramatic effort to hide himself at the poolside. Then there is the symptomatic fact that Paulo Branco, that slippery agent provocateur of the finest independent cinema, appears only incompletely, and in foreshortened perspective. Thus, with his own and eloquent voice, the autistic portrait artist reveals a public secret: cinema is the most densely populated ghost town of all. A place with room for both the luminous egoism of art and the brotherhood of many equally-necessary fantasies. Vicente Molina Foix
Jim Jarmusch e Sara Driver
199
E X P O SI Ç ÕE S - C H E M A P R A D O IN F R A GA N T I E BL A N C O Y N E GR O
concessions to the noise of time, and the end of the pose always has an exterminating effect: isolated within the portrait, the individual sheds the company of others like a worn-out skin. Only someone, just one person, has been there watching while the model let him or herself be depicted. Someone who knows something about the model after having looked on. And that person listens, even without speaking. It is the artist who signs the portrait: another autistic presence. Making a portrait means trying to focus on the Other, renouncing the social novel of the whole world.
A ENTREVISTA ANABELA SOARES E EMIR KUSTURICA PAVILHÃO 31 • Dia 12 de Novembro às 12h Pavilhão 31 do CHPL Hospital Júlio de Matos A ENTREVISTA é um projecto expositivo da P28, que consiste numa troca de papéis entre artista convidado e artistas do atelier de artes plásticas do serviço de reabilitação do CHPL. Neste processo criativo, O Artista convidado assume-se como a matriz – o modelo a ser reproduzido. A entrevista assume-se, também, como suporte estético, ocupando uma parte de intervenção. A matriz identidade assume-se como elemento neutro na “multiplicação”, i.e., na sua disseminação. Nesta equação, a sua reflectividade — a da matriz, entenda-se — assimila todos os elementos como iguais e de valor zero, constituindo-se como uma componente de equivalência. O conceito de identidade desenvolve-se para compreender como o indivíduo funciona do ponto de vista relacional face ao exterior. Este padrão desenvolve-se por etapas: o eu como o tu, do sujeito face aos objectos circunvizinhos, à vivência do seu meio ambiente e ao acontecimento e vivência da identidade. O reconhecimento do eu, na singularidade como pessoa, corresponde ao método psicodramático do espelho. Todos conhecemos a persistência e admiração das crianças quando se vêem ao espelho (de início a criança não tem consciência do que vê no espelho, uma imagem de si própria). Quando finalmente percebe que a imagem reflectida é sua é porque atingiu, no seu crescimento, um ponto crítico, um progresso importante na compreensão de si mesma, superando uma primeira etapa no processo de autoconhecimento. A etapa seguinte é a do reconhecimento do “tu” — os outros. Este progresso (/processo) de reconhecimento deriva da capacidade empática na “troca de papéis”. Através desta troca, e sobre uma matriz identidade, A ENTREVISTA age como síntese unificadora — a recolha de informação como “conceito social” que se conecta com a espontaneidade do conteúdo individual. Ora 200
e espontaneidade caminharam juntos neste processo criativo e estético. A matriz define uma função prescrita e assumida pelo indivíduo como a “forma real e tangível como o eu se assume”, passando do plano dramático para o social. Para este, o papel ora se refere a uma pessoa imaginária, ora a um modelo para a existência ou a uma personagem da realidade social, uma imitação da vida ou uma forma tangível do eu. Nestas diferentes definições e concepções pode-se notar que os papéis possuem algo em comum: são fenómenos observáveis, que surgem nas acções, apresentando e representando aspectos acessíveis do eu. Anabela Soares (artista do atelier de artes plásticas) trabalha sobre a obra filmatográfica do realizador Emir Kusturica, nomeadamente o filme Gato Preto, Gato Branco. Neste processo de troca de papéis, Anabela reinterpreta acções e movimento criando esculturas sobre infâncias e sonhos. Sandro Resende THE INTERVIEW Exhibition THE INTERVIEW is an exhibition Project by P28, which consists in the switching of roles between guest artists and plastic arts artists from the atelier at the CHPL rehabilitation centre. WWW. L E FFE S T. C OM
The “identity” mould is the neutral element of the “multiplication”, i.e, of its dissemination. In this equation, the mould’s reflexivity assimilates all the elements as equal and valueless, becoming a component of equivalence. The concept of identity is developed in order to understand how the individual interacts from a relational point of view with the exterior. This pattern is developed in stages: the “I” as “you”, the subject in relation with the neighbouring objects, the experience of the environment and the ongoing occurrence and experiencing of identity.
they are observable phenomena that surface in the field of action, presenting and representing accessible aspects of the “I”. Anabela Soares (an artist from the plastic arts atelier) works around the filmography of director Emir Kusturica, namely the film Black Cat, White Cat. In this process of role playing, Anabela interprets actions and movement, creating sculptures about childhoods and dreams. Sandro Resende
The recognition of the “I”, of the singularity of the individual, corresponds to the psychodramatic element of the mirror. We all recognise the persistence and admiration of children when they see themselves reflected in the mirror (in the beginning the child does not understand what it sees, an image of itself). When it finally understands that the reflected image is his own it is because he has reached, in his maturing, a critical point, an important progress in its self-knowledge, overcoming the first stage of the process of knowing oneself. The next stage is the recognition of the “you” – the others. This progress (/process) of recognition derives from the empathetic capacity of “switching roles”. Through this exchange, and from the perspective of identity, A ENTREVISTA acts as a unifying synthesis – the collecting of information such as “social concept” which is connected to the spontaneity of individual content. The “now” and spontaneity become part of the same creative and aesthetic process. The mould defines a prescribed function assumed by the individual as the “real and tangible shape in which the “I” manifests itself”, going from the dramatic to the social. For the latter, the role either refers to an imaginary person, a model for existence, or a character from social reality, an imitation of life or a tangible form of the “I”. In these different definitions and conceptions one can tell that the roles have something in common: 201
E XP OSIÇ ÕE S - A E N T R E VISTA
In this creative process, The Guest Artist performs the role of the mould, the model to be reproduced. The interview is also an aesthetic addendum, which is part of the intervention.
Anabela das Neves Soares Anabela das Neves Soares nasceu em 1969. Em 2015 começa a conceber figuras de animais em pano e esponja. Participa na Exposição “Deslocados” com a concepção da peça Urso. Em 2016, inicia trabalhos de escultura em barro. Anabela das Neves Soares was born in 1969. In 2015 she started making animal figures using cloth and sponge. She participated in the exhibit “Deslocados” by making the object Urso. In 2016, she started sculpting with clay.
P31 Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa O Pavilhão 31 é um espaço no qual se promove o desenvolvimento artístico no máximo das suas vertentes, reabilitando mentalidade e apostando numa ação de responsabilidade social direcionada para a doença mental.
Pavilhão 31 is a space in which artistic development is promoted to its full extent, rehabilitating mentalities and encouraging social responsibility activities geared towards mental illness.
Liderado por Sandro Resende, que há mais de uma década dá aulas de artes plásticas aos utentes do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, o Pavilhão 31 tem desde então aliado artistas consagrados, nacional e internacionalmente – como Pedro Cabrita Reis, Jorge Molder, Souto Moura e Jeff Koons – com o trabalho desenvolvido no ateliê de artes plásticas do CHPL, através de exposições conjuntas.
Led by Sandro Resende, who has for more than a decade taught plastic arts to the patients at Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, Pavilhão 31 has since then brought together works by national and internationally renowned artists such as Pedro Cabrita Reis, Jorge Molder, Souto Moura and Jeff Koons, with work developed at the atelier of plastic arts at the CHPL, in joint exhibitions.
Inaugurado em Março de 2012, o Pavilhão 31 tem tido um enorme reconhecimento em Portugal e no estrangeiro, tendo já merecido coberturas jornalísticas em órgãos de media internacionais tão conceituados quanto os espanhóis El País, El Mundo e TVE, a norteamericana Forbes, e o britânico The Guardian.
202
Inaugurated in March 2012, Pavilhão 31 has enjoyed enormous success in Portugal and abroad, having been included in journalistic features from international media from El País, El Mundo and TVE to Forbes and The Guardian.
WWW. L E FFE S T. C OM
E XP OSIÇ ÕE S - A E N T R E VISTA
RAW ART, VÍDEO-ARTE E CINEMA
No âmbito deste projecto, em colaboração com o P28, o LEFFEST irá exibir uma sessão videoarte com filmes do Luís Filipe Ribeiro e Artur Moreira. RAW ART, VIDEO ART AND CINEMA Within the context of this project, and in a collaboration with P28, LEFFEST will be screening the film Por Nenhuma Razão, directed by Luís Filipe and Artur Moreira. The session will take place on November.
• 12 de Novembro às 17h15 Medeia Monumental, Sala 2. (conversa com Sandro Resende e Fernando Dias)
Luís Filipe Ribeiro
Autobiografia Autobioography Nascimento: 5 de Novembro de 1980
Date of Birth: November 5th, 1980
Realizadores favoritos: Roman Polanski, Luis Buñuel, George A. Romero, Pedro Almodóvar, João César Monteiro, Dario Argento
Favourite Directors: Roman Polanski, Luis Buñuel, George A. Romero, Pedro Almodóvar, João César Monteiro, Dario Argento
12º ano concluído em 2002
Graduated high school in 2002.
Inscrição na faculdade no curso de cinema (2003/2004). Não fiz lá nada.
Enrolled in Film School (2003/2004). Didn’t do a thing there.
Conclusão do 1ºano de pós-produção na ETIC (2000/2001)
Finished the first year of post-production at ETIC (2000/2001)
Frequência do 2º ano de pós-produção na ETIC (2001/2002
Attended the second year of post-production at ETIC /2001/2002)
Trabalhos
Work
Entre 1993 e 1995 várias curtas-metragens experimentais de terror inspiradas em filmes de Romero e em filmes de Carpenter.
Between 1993 and 1995, several experimental horror short films inspired in films by Romero and films by Carpenter.
1996 - 1º trabalho apresentável (“Esquizó”). Adaptação livre de “Repulsa” de Roman Polanski
1996 -- first presentable work (“Esquizó”). A loose adaptation of “Repulsa” by Roman Polanski.
2010 (Início das filmagens) 2011 (Conclusão) “Libertação” (Inspirado em “Esquizó”).
2010 (Beginning of the shooting) 2011 (Conclusion) “Libertação” (Inspired by “Esquizó”) 203
ENCONTRO COM KRYSTIAN LUPA Extinção, de Thomas Bernhard. Encenação de Krystian Lupa (peça filmada). Conversa com Krystian Lupa e com o actor Piotr Skiba Extinction, by Thomas Bernhard. Directed by Krystian Lupa (filmed play). Conversation with Krystian Lupa and the actor Piotr Skiba. • Dia 13 às 15h00 Teatro da Trindade Inatel
Nascido na Polónia em 1943, Krystian Lupa é um dos mais proeminentes encenadores europeus. Com estudos de Física, graduação em artes gráficas, realização (na Escola Nacional Polaca de Cinema, Televisão e Teatro de Lódz) e encenação (na Escola Nacional de Teatro de Cracóvia), Lupa, influenciado por Tadeusz Kantor (o seu “mestre”, juntamente com o cineasta Andrei Tarkovsky) e pelo pensamento de Jung, desenvolve a sua concepção do teatro como instrumento de exploração e transgressão das fronteiras da individualidade, um “teatro da revelação”. Começando por encenar os grandes dramaturgos polacos do século XX (Witkiewicz, Wyspianski, Gombrowicz) e textos dramáticos de Tchekhov, Genet ou Reza, Krystian Lupa dedica-se também à concepção de criações inteiramente suas (Factory 2, Persona. Marilyn e Le Corps de Simone, em torno das figuras de Marilyn Monroe e Simone Weil) e a encenações de textos literários de autores como Musil, Bernhard, Dostoïevski, Nietschze ou Rilke. Em 2010, encena Fim de Partida/Endgame de Beckett para o Teatro de La Abadía de Madrid. Criador completo (responsável também pela cenografia e luzes dos seus espectáculos), conhecido pelo longo trabalho preparatório com os actores, Lupa tem sido agraciado com os mais prestigiados prémios de teatro.
204
Krystian Lupa was born in Poland in 1943 and is one of the prominent European stage directors. Lupa was a Physics student but graduated in graphic design, film directing (from the Polish National Film, Television and Theatre School in Lódz) and theatre directing (from the State Higher School of Theatre in Krakow). He was greatly influenced by Tadeusz Kantor (his “master” alongside the filmmaker Andrei Tarkovsky) and by Jung, which makes him develop his conception of theatre as an instrument for exploring and transgressing boundaries of individuality, a “theatre of revelation”. Krystian Lupa began by stage directing the great 20th century Polish playwrights (Witkiewicz, Wyspianski, Gombrowicz) and dramatic texts by Tchekhov, Genet and Reza. He is also devoted to carrying out his own creations (Factory 2, Persona. Marilyn and Le Corps de Simone, which are focused on Marilyn Monroe and Simone Weil) and the stage directions of literary texts by authors such as Musil, Bernhard, Dostoïevski, Nietschze and Rilke. In 2010, he directs Beckett’s play Endgame for the La Abadía Theatre in Madrid. A complete creator (also responsible for his show’s scenography and lights), Lupa is well known for his work preparing actors and has been bestowed with various prestigious theatre awards.
WWW. L E FFE S T. C OM
WYMAZYWANIE Just before the premiere, the director emphasized that Extinction is his literary Tower of Babel, a novel to which he constantly returns. “I could make ten more performances based on this text, and each of them would be different.”
Encenação, tradução, adaptação, argumento e cenografia por | Staging, translation, adaptation, script and scenography by Krystian Lupa
Considerada uma das mais importantes e poderosas performances da carreira de Krystian Lupa, Extinção, baseado no célebre romance de Thomas Bernhard, estreou em Março de 2001 no Teatr Dramatyczny de Varsóvia. Depois da sua performance no Teatro de Odéon em Paris, o Le Monde considerou Krystian Lupa um feiticeiro que foi incrivelmente bem sucedido na sua interpretação desta obra extremamente difícil. Antes da estreia, o realizador sublinhou que Extinção é a sua Torre de Babel literária, um romance ao qual regressa constantemente. “Podia fazer mais dez performances baseadas neste texto, e todas elas seriam diferentes.” Extinção de Thomas Bernhard, um romance publicado em 1986, três anos antes da morte do autor, é considerado uma espécie de testamento artístico e uma tentativa de ajustar contas com a Áustria (e a Europa) em relação aos pecados do nazismo. No romance, a casa em Wolfsegg, a propriedade da família do protagonista Franz Josef Murau (interpretado por Piotr Skiba), à qual regressa anos mais tarde para o trágico funeral dos seus pais, é o símbolo das feridas abertas do passado. Considered one of the most important and powerful performances of Lupa’s career, Extinction, based on the outstanding novel by Thomas Bernhard, premiered in March 2001 at the Dramatic Theatre in Warsaw. After its staging at the Odeon in Paris, Le Monde called Krystian Lupa a wizard who was hugely successful in his interpretation of this extremely difficult, non-scenic work.
Thomas Bernhard’s Extinction, a novel published in 1986, three years before the author’s death, is regarded as a kind of artistic testament and an attempt to settle Austrian (and European) accounts with the sins of Nazism. In the novel, the house in Wolfsegg, the family estate of the protagonist Franz Josef Murau (played by Piotr Skiba), to which he returns after years for the funeral of tragically deceased parents, is the symbol of the unhealed wounds of the past.
Na crítica para o Gazeta Wyborcza, Joanna Derkaczew escreveu: “Extinção é um dos pontos mais fortes do ciclo de performances de Krystian Lupa relacionado com a dramática necessidade humana de manter uma existência concreta, de ser relembrado, de encontrar uma justificação para os seus complexos e experiências e complexos banais. Onde é que o sentido nobre de responsabilidade acaba e o egocentrismo monstruoso começa? Quando é que a prudente e modesta abstenção de julgamentos radicais se transforma em mera covardia? Os protagonistas de Lupa são muitas vezes fracos e cómicos. Vivem num universo de ilusão e engano. Os seus conflitos constantes com a sua própria desordem podem ser libertadores ou esmagadores para o público. A extinção é um processo. Sem fim e sem garantia de sucesso.” In her review for Gazeta Wyborcza, Joanna Derkaczew wrote :“Extinction is the strongest point of Krystian Lupa’s cycle of performances which refer to the dramatic human need to maintain proper existence, to be remembered, to find justification for their banal, commonplace complexes and experiences. Where does the noble sense of responsibility end and monstrous egocentrism begin? When does the prudent and modest abstention from radical judgements turn into mere cowardice? Lupa’s protagonists are often weak and comical. They live in a world of illusion and self-deception. Their constant struggle with their own mess can be either liberating or overwhelming for the audience. Extinction is a process. With no end and with no guarantee of success.” 205
E N C ON T R O C OM KRYST IA N L UPA
Extinção Extinction
GODARD VU PAR...
SIM P ÓSIO - GOD A R D VU PA R
• Dia 11 (15h00-17h00), 12 (11h00-17h00) e 13 (11h00-13h00) de Novembro CCB, Sala Luís Freitas Branco Où commences-tu? Et où commence l’image que je fais de toi?
Jean-Luc Godard, paradigma do cinema moderno? Um (o?) dos mais importantes e influentes cineastas do último meio século, deixou e deixa ainda atrás de si um enorme rasto de influências. Mesmo para os seus detractores, que também os há. Amado desmedidamente por muitos, às vezes afrontado por alguns outros, Godard marcou decisivamente o seu e o nosso tempo, em revolução permanente. Ele próprio se foi transformando, ele próprio foi experimentando, a ficção e o documentário, o filme-ensaio, o diário, a reportagem televisiva, os clips, a publicidade ou mesmo os filmes de encomenda. Mas, como escreveu Jacques Mandelbaum, “sempre com a mesma felicidade de invenção estilística”. O raio de acção desta obra é incomensurável e vai do cinema a todas as outras artes, da literatura e da música, às artes plásticas e visuais. E também no design e na publicidade o efeito Godard se fez sentir. Por isso, a acompanhar a retrospectiva integral dedicada a Jean-Luc Godard, o LEFFEST organiza um simpósio internacional para o qual convidou realizadores, escritores, críticos, ensaístas, actores e artistas que nos falarão sobre a importância que Godard teve e tem no seu trabalho. Où commences-tu? Et où commence l’image que je fais de toi?
Jean-Luc Godard, a paradigm of modern cinema? One (the?) of the most important and influential filmmakers of the past century, he also leaves behind him an enormous trail of influences. Even for his detractors, who do exist. Loved and cherished by many, and sometimes challenged by others, Godard has made a decisive impact on his and our ages, in a permanent state of revolt. He transformed himself, experimented with fiction and documentary, with film essays, diaries, television news stories, clips, publicity or even commissioned films. But, as Jacques Mandelbaum wrote, “always with the same joy of stylistic invention”. The r adius of his oeuvre’s action is immeasurable and spans absolutely every artistic field, from cinema to literature, music and plastic and
visual arts. The Godard effect has even influenced design and publicity. This is why, along with the full retrospective of Jean-Luc Godard’s work, LEFFEST is also organizing an international symposium to which it has invited directors, writers, critics, essayists, actors and artists who will speak to us of the importance that Godard’s work has had and still has, to this day. Participarão nesse simpósio, entre outros, ainda a confirmar | The symposium will feature, among others to be confirmed: • • • • • • • • • • • •
Alex Ross Perry, realizador director Jean-Michel Frodon, ensaísta e crítico critic and essayist Jerzy Skolimowski, realizador director Jonathan Rosenbaum, ensaísta e crítico critic and essayist Luc Sante, escritor writer Miguel Marías, ensaísta e crítico critic and essayist Pascal Bonitzer, realizador director Robert Schwentke, realizador director Alberto Ruiz de Samaniego, filósofo philosopher Julião Sarmento, artista artist Alvaro Arroba, crítico critic João Mário Grilo, realizador e ensaísta director and essayist
207
AARON BROOKNER
ANA MOREIRA
Aaron Brookner é natural de Nova Iorque, e iniciou-se no cinema como assistente de Rebecca Miller e Jim Jarmusch. Entre 2005 e 2009, realizou um documentário sobre os últimos dias do escritor Budd Schulberg. Escreveu e realizou a longa-metragem The Silver Goat, em 2011. Foi autor de vários argumentos e um romance. O seu último filme, Uncle Howard, estreou no Festival de Sundance em 2016.
Ana Moreira é uma actriz portuguesa, nascida em 1980, em Lisboa. Estreou-se em 1997 na curta-metragem Primavera de João Tuna. No ano seguinte, participou em Os Mutantes de Teresa Villaverde, filme que marcou o ínicio de uma colaboração com a realizadora. Recebeu prémios para Melhor Actriz nos Festivais de Bastia e Taormina. Trabalhou ainda nos filmes Tarde Demais (2000) de José Nascimento, Rasganço (2002) de Raquel Freire e O Fascínio (2003) de Fonseca e Costa. Para a televisão, participou na série da RTP Pedro e Inês. Em 2005, foi protagonista do filme Adriana, de Margarida Gil, onde contracenou com Isabel Ruth. Voltou a trabalhar com Teresa Villaverde em 2006 no filme Transe, apresentado no Festival de Cannes. No ano seguinte participou no filme O Capacete Dourado, de Jorge Cramez. Mais recentemente, foi protagonista no filme Tabu, de Miguel Gomes.
Aaron Brookner was born in New York and began his career in the film industry as an assistant to Rebecca Miller and Jim Jarmusch. Between 2005 and 2009 he directed a documentary about the final days of writer Budd Schulberg. He wrote and directed the feature film The Silver Goat in 2011. He is the author of several screenplays and a novel. His latest film, Uncle Howard, premiered in the Sundance Festival of 2016.
208
Ana Moreira is a Portuguese actress born in 1980 in Lisbon. She made her debut in 1997 in João Tuna’s short film Primavera. In the next year, the actress participated in Os Mutantes by Teresa Villaverde, a film that marked the beginning of a long collaboration with the Portuguese filmmaker. She received awards for Best Actress at the International Festivals of Bastia and Taormina. She also worked on the films Tarde Demais (2000) by José Nascimento, Rasganço (2002) by Raquel Freire and O Fascínio (2003) by Fonseca e Costa. For TV, she participated in the RTP series Pedro e Inês. In 2005 she starred in Margarida Gil’s film Adriana, where she acted opposite Isabel Ruth. She resumes her collaboration with Teresa Villaverde in 2006 in Transe, screened at the Director’s Fortnight at the Cannes Festival. In the next year she acts in Jorge Cramez’ film O Capacete Dourado. More recently, she starred in Miguel Gomes’ Tabu. WWW. L E FFE S T. C OM
C ON VID A D OS
BENOÎT JACQUOT
BERTRAND BONELLO
Benoît Jacquot é desde há mais de 30 anos, autor de uma obra inclassificável, por vezes experimental e depurada, por vezes clássica e sempre apaixonante. É um cineasta apaixonado pelo sentimento amoroso e pela psicanálise, mas também pela literatura, cuja obra conta já com uma dezena de adaptações de romances, peças de teatro e óperas. Em 1975, assinou a sua primeira longa-metragem, L’Assassin Musicien, partindo de um romance de Dostoiévski. La Désenchantée, uma obra-prima que marca o início do seu reconhecimento internacional. 3 Corações é a sua quarta longa-metragem na Seleção Oficial de Veneza. Em 2015, o Diário de Uma Criada de Quarto é seleccionado para a Competição em Berlim. O filme foi também apresentado pelo próprio Benoît Jacquot na edição de 2015 do LEFFEST.
Bertrand Bonello, natural de Nice, vive entre Paris e Montréal. Chegou ao cinema através da música. O seu primeiro filme, Quelque Chose d’Organic (1998), foi apresentado na Berlinale. Le Pornographe (2001), a sua segunda longa-metragem protagonizada por Jean-Pierre Léaud, foi selecionada para a Semana da Crítica no Festival de Cannes, e recebeu o prémio FIPRESCI. Bertrand Bonello revelou o seu singular universo em Tiresia (2003), presença na selecção oficial em competição no Festival de Cannes. Em 2005, regressa a Cannes com uma curta-metragem, Cindy: The Doll is Mine. De La Guerre (2008), filme cuja banda-sonora é também da sua autoria, foi selecionado para a Quinzena dos Realizadores e para o Festival de Locarno. Bertrand Bonello foi convidado da edição de 2012 do LEFFEST, onde estreou também Saint Laurent, filme de abertura na edição de 2014 do festival.
For over thirty years, Benoit Jacquot has been the author of an unclassifiable work, sometimes experimental and minimalist, sometimes classical or academic, but always exciting. The filmmaker has been obsessed with the feeling of love and psychoanalysis, but also with literature, since he already has a dozen adaptations (novels, plays and operas) to his credit. In 1975, he signed his first feature film, L’assassin musicien, based on a novel by Dostoyevsky. La Désenchantée (1990), a masterpiece with radiant Judith Godrèch, was the beginning of his international recognition. 3 Hearts, bringing together Charlotte Gainsbourg, Benoit Poolevorde, Chiara Mastroianni and Catherine Deneuve, is his fourth feature film to be selected in the official selection at Venice. More recently, Diary of a Chambermaid was selected in competition at the Berlin Film Festival. The film was also presented by Benôit Jacquot himself at LEFFEST’15.
Bertrand Bonello, born in 1968, lives between Paris and Montréal. He came to cinema via music. His first feature film, Something Organic (1998), was presented at the Berlin Festival (Panorama). The Pornographer (2001), his second feature along with Jean-Pierre Léaud, was selected for International Critics’ Week at Cannes and won the FIPRESCI prize. Bertrand Bonello imposes his singular voice and world with Tiresia (2003), in competition at the Festival de Cannes. In 2005 he returns to Cannes with a short, Cindy, the Doll is Mine. On War (2008), film for which he also composed the soundtrack, was selected for the Directors’ Fortnight at the Locarno Festival. Bertrand Bonello was also a guest at LEFFEST’12, where he also premiered Saint Laurent, the opening film at the 2014’s edition.
209
CARTER LOGAN
CORINNA BELZ
Carter Logan é um músico e produtor de cinema norte-americano. Juntamente com Jim Jarmusch, fundou a banda Sqürl em 2009, e compôs a banda sonora de Os Limites do Controlo e Só os Amantes Sobrevivem (2013). Logan está envolvido em três dos filmes seleccionados para a Selecção Oficial (Fora de Competição) da presente edição do LEFFEST: co-produziu Paterson e Gimme Danger, ambos realizados por Jim Jarmusch, e é produtor associado de Porto, de Gabe Klinger.
Corinna Belz é uma realizadora e escritora alemã, conhecida pelos filmes Gerhard Richter – Painting (2011), um documentário sobre o artista alemão, filmado no seu estúdio nunca antes visto pelo público, o filme Leben nach Microsoft (2001), e por contribuir com um segmento para a série documental 24h Berlin – Ein Tag Leben (2009), filmada no ano anterior à celebração do 20º aniversário da queda do muro de Berlim, onde seguimos durante 24 horas e em tempo real a vida dos habitantes de Berlim. O seu mais recente filme, Peter Handke – In The Woods, Might Be Late, teve estreia este ano no Festival de Locarno.
Carter Logan is an American musician and film producer. Along with Jim Jarmusch, he founded the music band Sqürl in 2009 and composed the soundtrack for Jim Jarmusch films’ The Limits of Control and later also for Only Lovers Left Alive (2013). Logan is also involved in three films featuring this year in LEFFEST Official Selection (Out of Competition): he co-produced Paterson and Gimme Danger (both directed by Jim Jarmusch) and he is the associate producer of Gabe Klinger’s Porto.
210
Corinna Belz is a German writer and director, known for her films Gerhard Richter – Painting (2011) a documentary about the German artist shot in his never-before-seen studio, the film Leben nach Microsoft (2001) and for contributing with a segment for the documentary series 24 Berlin – Ein Tag Leben (2009), shot in the year before the celebration of the 20th anniversary of the fall of the Berlin Wall, where we are taken through a tour for 24 hours, in real time, in the life of the citizens of Berlin. Her latest film, Peter Handke – In The Woods, Might Be Late, premiered this year at the Locarno Festival.
WWW. L E FFE S T. C OM
C ON VID A D OS
CYRIL NEYRAT
GOLSHIFTEH FARAHANI
Cyril Neyrat é crítico, programador e professor de Cinema. Estudou Ciências Políticas e Cinema e ensinou Estética e História do Cinema nas Universidade Paris VII e Paris III e na Escola de Arte e Design de Genebra. Foi editor-chefe da revista Vertigo e redactor dos Cahiers du Cinéma, e é director da editora Independencia. Como programador, trabalha com festivais de cinema como o FID Marseille e a Viennale, e tem colaborado com a Cinemateca Portuguesa nos últimos anos, no contexto do Festival Temps d’Images, que tem acompanhado como programador e autor de textos.
Natural de Teerão, Golshifteh Farahani foi descoberta por Dariush Mehrjui, que lhe ofereceu o papel principal em Derakhte Golabi (The Pear Tree), onde interpretou a jovem misteriosa M. A colaboração com Mehrjui revelou-se bastante enriquecedora para a sua carreira. Seguiram-se ainda muitos outros projectos, como a produção iraniana de 2004, Tear of the Cold; o drama de aventura Bab’Aziz: The Prince Who Contemplated His Soul (2006); e a sua primeira grande produção americana, onde foi o par romântico de Leonardo DiCaprio, Body of Lies, por Ridley Scott. A sua última participação num filme iraniano foi em 2009, em About Elly, realizado por Asghar Farhadi, vencedor do prémio de Melhor Filme no Tribeca Film Festival e do Urso de Prata em Berlim. Em 2012, trabalhou com o realizador Atiq Rahimi em Syngué Sabour, Pierre de Patience.
Cyril Neyrat is a critic, a cultural programmer and a professor of Cinema. He studied Political Science and Cinema and taught Aesthetics and History of Cinema at Universities Paris VII and Paris III and in the Geneva University of Art and Design. He was editor-in-chief of Vertigo magazine and a writer for Cahiers du Cinéma, and is the director of the Independencia publishing company. As a cultural programmer, he works with film festivals such as FID Marseille and the Viennale, and has collaborated with the Cinemateca Portuguesa in the last few years, in the context of the Festival Temps d’Images, which he has accompanied as a programmer and an author of texts.
Golshifteh Farahani, born in Tehran, was discovered by Dariush Mehrjui, who offered her the leading role in Derakhte Golabi (The Pear Tree), where she played the young and mysterious M. The collaboration with Mehrjui proved quite valuable for her career. Several other projects followed, such as Iranian production Tear of the Cold (2004); the adventure drama Bab’Aziz: The Prince Who Contemplated His Soul (2006) and her first great American production where she starred as Leonardo DiCaprio’s love interest, Body of Lies, directed by Ridley Scott. Her last participation in an Iranian film was in 2009 in About Elly, directed by Asghar Farhadi and winner of the Best Film award at the Tribeca Film Festival and the Silver Lion at the Berlin Festival. In 2012 she works with director Atiq Rahimi in Syngué Sabour, Pierre de Patience. 211
HAITHAM OMARI
ISABELLE HUPPERT
Haitham Omari é um operador de câmara e actor. Trabalhou para o canal de televisão Al Arabiya. Estreou-se como actor em Belém (2013), o filme escolhido para representar Israel na nomeação ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro e foi um dos actores principais de Ha’har (2015), estreado no Festival de Veneza. O seu projecto mais recente, Sand Storm (2016), foi também seleccionado por Israel para os Óscares da Academia, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.
Actriz francesa, Isabelle Huppert, estreou-se no filme Faustine et le bel Été (1972) de Nina Companeez. Em 1977 recebeu reconhecimento internacional com o filme La Dentellière de Claude Goretta. No ano seguinte, recebeu o prémio de Melhor Actriz em Cannes, pela sua performance em Violette Nozière (1978) de Claude Chabrol. Em 1995, foi premiada com um César pela sua interpretação em La Cérémonie, também de Chabrol. Em 2001 recebeu pela segunda vez, o prémio de Melhor Actriz em Cannes com A Pianista, de Michael Haneke. Em 2008, participou no filme Un Barrage contre le Pacifique e, em 2012, no filme In Another Country realizado por Sangsoo Hong. No mesmo ano, participou também em Amour de Michael Haneke. Recentemente, participou nos filmes Dead Man Down (2013), The Disappearance of Eleanor Rigby (2014), Louder than Bombs (2015) e L’Avenir (2016).
Haitham Omari has been a cameraman for much of his professional life. He has worked for the Al Arabiya television network. His premiered as an actor in Bethlehem (2012), the film chosen to represent Israel in the Best Foreign Language Film category of the 2013 Academy Awards. He starred in the film Ha’har (2015), that premiered at the Venice Film Festival. Omari has also starred in Sand Storm, his latest project, again the Israeli entry for the Best Foreign Language Film at the 89th Academy Awards.
212
Isabelle Huppert is a French actress, made her debut in Nina Companeez’ film Faustine et le bel Été (1972). In 1977 that she was first celebrated internationally in the film La Dentellière by Claude Goretta. In the following year, she received the Best Actress award at the Cannes Festival for her performance in Violette Nozière (1978) by Claude Chabrol. In 1995 she won a César Award for her performance in La Cérémonie, also by Chabrol. In 2001 she earned a second award at the Cannes Festival by her performance in the film The Pianist, by Michael Haneke. In 2008 she acts in the film Un Barrage contre le Pacifique, and in the 2012 film Another Country, directed by Sang-soo Hong. In the same year, she is also acts in Amour by Michael Haneke. Recently, Huppert was a part of productions Dead Man Down (2013), The Disappearance of Eleanor Rigby (2014), Louder than Bombs (2015) and L’Avenir. WWW. L E FFE S T. C OM
C ON VID A D OS
JEAN-PIERRE LÉAUD No final dos anos cinquenta, Jean-Pierre Léaud foi descoberto por François Truffaut, que fez dele um jovem herói no filme Os 400 Golpes, ao encarnar Antoine Doinel. Truffaut ofereceulhe ainda papéis em Antoine et Colette (1962), Baisers Volés (1968), Domicile Conjugal (1970) e L’Amour en Fuite (1979), filmes que traçaram o amadurecimento da personagem Antoine Doinel. A partir de 1965, Léaud deu início à sua longa parceria com Jean-Luc Godard com os filmes Masculino Feminino (1966) e O Maoísta (1967) Podemos ainda encontrar Léaud em filmes de Bernardo Bertolucci (O Último Tango em Paris) ou em filmes de Jacques Rivette (Out 1). Em A Mãe e a Puta, de 1973, a sua prestação e interpretação excêntricas, foram consideradas inigualáveis, consagrando para sempre o seu talento. O filme, de Jean Eustache, foi emblemático para a geração da época, e recebeu o Grande Prémio do Júri no Festival de Cannes, antes de, posteriormente, se tornar um grande filme de culto. Desde então, as suas personagens tornaram-se parte do universo de realizadores como Aki Kaurismäki, Lucas Belvaux, Philippe Garrel, Bertrand Bonello e até mesmo Tsai Ming-Liang. Contribuindo em diversas produções fora da França, Léaud foi actor em Pocilga de Pier Paolo Pasolini, no filme Le Départ de Jerzy Skolimowski, e em obras de autores brasileiros, como Os Herdeiros, de Carlos Diegues, e O Leão das Sete Cabeças de Glauber Rocha. Jean-Pierre Léaud é, eternamente, surpreendente, mesmo quando encarna o Rei Sol, no mais recente filme de Albert Serra, A Morte de Luís XIV. Este ano, na edição do festival de Cannes, Jean-Pierre Léaud foi agraciado com a Palma de Ouro Honorária, uma homenagem a toda a sua carreira, reconhecida e admirada internacionalmente.
Towards the end of the 1950’s, Jean-Pierre Léaud was discovered by François Truffaut, who had him play the young hero Antoine Doinel in the film 400 Blows. Truffaut would subsequently work with him in Antoine et Colette (1962), Baisers Volés (1968), Domicile Conjugal (1970), and L’Amour en Fuite (1979), films which narrate the life of Antoine Doinel. From 1965 onwards, Léaud began his lengthy partnership with Jean-Luc Godard; Masculin Féminin (1966) and La Chinoise (1967). We can also see Léaud in films by Bernardo Bertolucci (Last Tango in Paris) or in films by Jacques Rivette (Out 1). In 1973’s The Mother and the Whore his eccentric performance, between poetry and petulance, was considered unmatchable, crystalising his talent forever. The film, by Jean Eustache, was emblematic for the generation of its day and received the Grand Prix of the Cannes Festival before becoming a major cult film. Since then, his passionate, clumsy, idealistic, disenchanted or enigmatic characters became a part of the universe of directors such as Aki Kaurismäki, Lucas Belvaux, Philippe Garrel, Bertrand Bonello and even Tsai Ming-Liang. Leáud has also made several contributions to non French productions such as Pier Paolo Pasolini’s Pigsty, Jerzy Skolimowski’s Le Départ, and works by Brazilian directors such as Os Herdeiros by Carlos Diegues and O Leão das Sete Cabeças, by Glauber Rocha. Jean-Pierre Léaud is eternally surprising and daring, even when playing the Sun King in the latest Albert Serra film, The Death of Louis XIV. This year, at the Cannes Festival, Jean-Pierre was graced with the Honorary Palme d’Or, an homage to his career, which is internationally recognised and admired.
213
JOSÉ MANUEL MOURIÑO
JULIEN SAMANI
José Manuel Mouriño (Puebla, México, 1978) é investigador, ensaísta e cineasta. Doutorado em Belas Artes pela Universidade de Vigo. Escreveu ensaios sobre cineastas como Andrei Tarkovski, Antonioni ou Pasolini. É representante do Instituto Internacional Andrei Tarkovski na Península Ibérica e Hispano-América. É autor dos documentários: 36 Vistas de la Torre de Hércules (2009); Luís Seoane. Visualidad, Recuerdo y Síntesis (2010) ou Los Días Blancos, Apuntes Sobre el Rodaje de Nostalghia, de Andrei Tarkovski (2011), este último exibido no LEFFEST em 2015. O seu filme mais recente, Pessoa/Lisboa, co-realizado com Alberto Ruiz de Samaniego, exibido na presente edição do Festival, será a base de uma exposição com o mesmo nome, patente este mês no Círculo de Bellas Artes de Madrid.
Julien Samani é um realizador, director de fotografia e engenheiro de som francês, nascido em 1973. Depois de trabalhar em fotografia publicitária, ingressou na École Nationale Supérieure des Arts Décoratifs de Paris em 1995, onde estudou Imagem. Em 1998, partiu para a Cooper Union School of Design em Nova Iorque e descobriu a prática do cinema. De regresso a França, depois de criar ilustrações de moda para a Press e alguns cartazes para o Ministério da Cultura, realizou o seu primeiro filme, um documentário, La Peau Trouée. Juventude, é a sua primeira longa-metragem de ficção.
José Manuel Mouriño (Puebla, México, 1978) is an investigator, essayist and filmmaker. He received his Doctorate in Fine Arts from the University of Vigo. He also devoted literary essays to directors such as Andrei Tarkovski, Antonioni and Pasolini. He is the representative of the International Andrei Tarkovski Institute in the Iberian Peninsula and Hispanic America. He is the author of documentaries: 36 Vistas de la Torre de Hércules (2009); Luís Seoane. Visualidad, Recuerdo y Síntesis (2010) and Los Días Blancos, Apuntes Sobre el Rodaje de Nostalghia, de Andrei Tarkovski (2011), the former screened at LEFFEST in 2015. His latest film, Pessoa/Lisboa, co-directed with Alberto Ruiz de Samaniego, to be screened at the current edition of the Festival, will be the basis of the exhibition of the same name in Círculo de Bellas Artes de Madrid.
214
Julien Samani, director, director of photography and sound engineer, was born in 1973 in France. After a career in advertising photography, he enrolls in l’Ecole Nationale Supérieure des Arts Décoratifs de Paris in 1995 where he studies Image. In 1998, he leaves for the Cooper Union School of Design in New York and discovers the practice of cinema. Back in France, after creating fashion illustrations for Press and designing a few posters for the Ministry of Culture, he shoots his first film La Peau trouée. The Young One is his first fiction feature film.
WWW. L E FFE S T. C OM
C ON VID A D OS
NELE WOHLATZ
REDA KATEB
Realizou várias curtas-metragens e vídeos para peças de teatro e é também professora de cinema. Em 2013, a sua primeira longametragem Ricardo Bär estreou no BAFICI e recebeu um prémio no FID Marseille. Em 2016, o seu mais recente filme, El Futuro Perfecto, foi premiado na secção Cineastas do Presente do Festival de Locarno.
Reda Kateb é um actor francês nascido em Paris. A sua carreira na representação iniciou-se no palco. O ano de 2009 significou o ponto de viragem na sua carreira, ao ser escolhido por Jacques Audiard para participar em Um Profeta, filme que recebeu o Grande Prémio no Festival de Cinema de Cannes e a nomeação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. A carreira internacional de Reda Kateb começou ao ser escolhido por Kathryn Bigelow para um papel em 00:30 A Hora Negra. Participou também em O Rio Perdido, de Ryan Gosling, e em Longe dos Homens, dirigido por David Oelhoffen. O regresso ao cinema francês deu-se com Hippocrates: Diary of a French Doctor, que lhe valeu um César para o Melhor Actor Secundário. A curta-metragem Pitchoune, a sua estreia como realizador, foi seleccionada para a Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes em 2015. É protagonista de Os Belos Dias de Aranjuez, de Wim Wenders.
She has directed several short-films and videos for plays and is also a professor of cinema. In 2013, her first feature film Ricardo Bär premiered at the BAFICI and received an award at the FID Marseille. In 2016, her most recent film, El Futuro Perfecto received an award in the Filmmakers of the Present section of the Locarno Festival.
PIOTR SKIBA Nasceu em 4 de Maio de 1954 na Polónia. É actor, conhecido por Kornblumenblau (1989), Echo (2008) e Córki dancingu (2015). O seu papel de maior destaque foi de Franz-Josef Murau numa adaptação do romance Extinção, de Thomas Bernhard. Born on May 4, 1954 in Poland. He is an actor, known for Kornblumenblau (1989), Echo (2008) and Córki dancingu (2015). His most acclaimed role has been that of Franz-Josef Murau in an adaptation of Extinction, by Thomas Bernhard.
Reda Kateb is a French actor born in Paris. He began his acting career on stage. 2009 is the turning point of his career when he is chosen by Jacques Audiard to play in A Prophet which was awarded the Grand Prix at Cannes and was nomineed for the Best Foreign Language Film at the 82nd Academy Awards. Reda Kateb’s international career begins when he is chosen by Kathryn Bigelow for a role in Zero Dark Thirty. He also appeared in Ryan Gosling’s Lost River and in Far from Men, directed by David Oelhoffen. Back in French cinemas with Hippocrates: Diary of a French Doctor, Reda Kateb received the Cesar Award for Best Supporting Actor. The short film Pitchoune, his first film as a director, was selected at the 2015 Cannes film festival at the Directors’ Fortnight. He stars in The Beautiful Days of Aranjuez, directed by Wim Wenders. 215
SANDRO RESENDE
SARA DRIVER
Sandro Resende é formado pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Há cerca de 17 anos tem vindo a desenvolver trabalhos, tanto como professor como director artístico, junto dos utentes do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa (CHPL). No intuito de sair dos muros do Hospital Psiquiátrico, fundou a P28, associação que trabalha na intenção de expor obras de arte em espaços pouco convencionais, tal como acontece no seu Projecto Contentores, no qual três artistas foram convidados a usar um contentor, de forma livre, como local de apresentação das suas obras. É ainda responsável pelo Pavilhão 31 do Hospital Júlio de Matos onde lecciona pintura no Atelier de Artes Plásticas. Em 2015, no âmbito da celebração dos 30 anos do Centro Português de Fotografia, participou na exposição 1/81, no Museu do Côa, para o qual realizou uma serigrafia no Atelier CPS.
Nascida em 1955, em Westfield, New Jersey, Sara Driver é uma realizadora, licenciada em Teatro e mestre em Belas Artes pela Universidade de Nova Iorque, onde leccionou realização, Driver ascendeu no meio cinematográfico quando produziu dois filmes de Jim Jarmusch, Permanent Vacation (1980) e Stranger Than Paradise (1984), nos quais também participou como actriz. Em 1981 realizou o seu primeiro filme, You Are Not I, baseado num conto de Paul Bowles. Realizou mais duas longas, Sleepwalk (1986) e When Pigs Fly (1993), com presenças e prémios em vários festivais de cinema. Em 2015, foi convidada do LEFFEST e teve a sua obra exibida numa secção chamada Descobrir: Sara Driver. Driver apresentou também, em primeira-mão no Festival como work in progress, um excerto do filme Teenage Basquiat, em torno dos anos de formação do pintor Jean-Michel Basquiat.
Sandro Resende graduated from Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. He has been working both as a professor and an artistic director with the patients of Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa (CHPL) for around 17 years. In an effort to go beyond the walls of the Psychiatric Hospital, he founded P28, an association that works towards exhibiting works of art in unconventional spaces, such as his Projecto Contentores, where three artists were invited to use a container freely as an exhibition space. He is also responsible for the Júlio de Matos Hospital’s Pavilhão 31, where he teaches painting at the Atelier de Artes Plásticas. In 2015, within the context of the celebration of the 30th anniversary of the Centro Português de Fotografia, he participated in the exhibition 1/81 at Museu do Côa, contributing with a print made at Atelier CPS.
216
Born in 1955, in Westfield, New Jersey, Sara Driver is an director with a bachelor degree in Theater Languages and a Master’s Degree in Fine Arts from New York University, where she taught directing, Driver rose in the cinema world when she produced two of Jim Jarmusch’s films, Permanent Vacation (1980) and Stranger Than Paradise (1984), in which she also starred as well. In 1981, she directed her first film, You Are Not I, based on a short story by Paul Bowles. She directed two other feature films, Sleepwalk (1986) and When Pigs Fly (1993), with were present and received awards in several film festivals. In 2015, she was a guest at LEFFEST and her entire work was screened in the called section Discovering Sara Driver. She also presented, as a work in progress shown first-hand at the festival, an excerpt of the film Teenage Basquiat, a documentary about the formative years of the painter Jean-Michel Basquiat. WWW. L E FFE S T. C OM
C ON VID A D OS
SOPHIE SEMIN Após estudar Direito na Université de Paris II e no Institut Français de la Mode, Sophie Semin trabalhou durante três anos com o Designer Yohji Yamamoto. Entre 1993 e 1995, participou no atelier de teatro de Blanche Salant e Paul Weaver. Em 1995, colaborou na peça Qu’une Tranche de Pain de Rainer Werner Fassbinder, no Teatro de Bastille. No cinema, participou no filme Além das Nuvens, realizado por Michelangelo Antonioni e Wim Wenders, e no filme Le Sacre du Printemps, realizado por Oliver Herrmann. Ao lado de Jean-Quentin Châtelain, Sophia Semin participou na peça Jusqu’à ce que le Jour Vous Sépare, assinada por Peter Handke, e interpretou o monólogo de Krapp’s Last Tape, uma peça com apenas um acto da autoria de Samuel Beckett. Regressou ao cinema em 2016, participando numa colaboração entre Handke e Wim Wenders, no filme Os Belos Dias de Aranjuez, também a ser exibido este ano na edição do LEFFEST. After studying Law at Université de Paris II and at Institut Français de la Mode, Sophie Semin worked for three years with Designer Yohji Yamamoto. Between 1993 and 1995 she participated in a theatre workshop by Blanche Salant and Paul Weaver. In 1995 she acted in the play Qu’une Tranche de Pain by Rainer Werner Fassbinder at the Bastille Theatre. Onscreen, she acted in the film Beyond the Clouds, directed by Michelangelo Antonioni and Wim Wenders, and in the film Le Sacre du Printemps, directed by Oliver Herrmann. Alongside Jean-Quentin Châtelain, Sophia Semin acted in the play Jusqu’à ce que le Jour Vous Sépare, also by Peter Handke, and delivered the monologue Krapp’s Last Tape, a one-act play by Samuel Beckett. She then returned to the screen in 2016 in a Handke and Wim Wenders collaboration, the film Les beaux jours d’Aranjuez, which will be screened at this edition of LEFFEST.
RITA REDSHOES Cantora e compositora portuguesa, com o seu disco de estreia a solo, Golden Era, foi nomeada para os MTV Europe Music Awards, na categoria de Artista Português do Ano. Com The Legendary Tigerman, realizou uma digressão de “cine-concertos” para a apresentação da banda sonora do filme Estrada de Palha, de Rodrigo Areias. Portuguese singer and songwriter. With her first solo album, Golden Era, she was nominated for Best Portuguese Artist of the Year at the MTV Europe Music Awards and for the Best Revelation. With The Legendary Tigerman, she gives a series of “filmconcerts”, playing the soundtrack for the film Estrada de Palha, directed by Rodrigo Areias.
THE LEGENDARY TIGERMAN The Legendary Tigerman é o nome artístico de Paulo Furtado, artista, vocalista e músico blues português. Paulo Furtado é também o vocalista e principal compositor da banda Wraygunn e foi membro fundador dos extintos Tédio Boys. Paulo Furtado, known by his stage name The Legendary Tigerman (born September 1970), is a Portuguese musician. Furtado is also the lead vocalist and primary songwriter of the rock band WrayGunn and formerly played in the rockabilly group Tédio Boys.
217
SOLUÇÕES
LOGÍSTICAS GLOBAIS
ATIVIDADE ADUANEIRA TRANSPORTE MARÍTIMO TRANSPORTE AÉREO EXPRESSO INTERNACIONAL TRANSPORTE RODOVIÁRIO EXPRESSO NACIONAL LOGÍSTICA CONTRATUAL CUSTOM CRITICAL
808 300 500 | info@rangel.com | www.rangel.com
PORTUGAL | ANGOLA | CABO VERDE | MOÇAMBIQUE | BRASIL
218
WWW. L E FFE S T. C OM
BILHETES Tickets €4 • Homenagens e Retrospectivas Tributes and Retrospectives • Leituras Readings €5 • Selecção Oficial – Em Competição Official Selection – In Competition • Descobertas Discoveries • Masterclasses e Debates • Literatura/Cinema/Música/Artes Literature/Cinema/Music/Arts €7 • Selecção Oficial – Fora de Competição Official Selection – Out of Competition • Antestreias Premieres Simpósio €5 (4 sessões/4 sessions) €2 (por sessão/per session) PREÇOS ESPECIAIS SPECIAL PRICES PARCEIROS INSTITUCIONAIS, PARCERIAS COM ESCOLAS E ADERENTES FNAC INSTITUTIONAL PARTNERS, SCHOOL PARTNERS AND FNAC MEMBERS €3 • Homenagens e Retrospectivas Tributes and Retrospectives • Leituras Readings €4 • Selecção Oficial – Em Competição Official Selection – In Competition • Descobertas Discoveries • Masterclasses e Debates • Literatura/Cinema/Música/Artes Literature/Cinema/Music/Arts
LOCAIS DE VENDA TICKET OFFICES Online https://leffest.bol.pt/ Cinema Monumental Bilhetes para sessões nesse espaço, Espaço Nimas e Casino Estoril Tickets for the sessions in this venue, Espaço Nimas and Casino Estoril Espaço Nimas Bilhetes para sessões nesse espaço, Cinema Medeia Monumental e Casino Estoril Tickets for the sessions in this Venue, Cinema Medeia Monumental and Casino Estoril CCB Centro Cultural de Belém Bilhetes para sessões nesse espaço Tickets for the sessions in this venue Teatro Nacional D. Maria II Bilhetes para sessões nesse espaço Tickets for the sessions in this venue Teatro Trindade Bilhetes para sessões nesse espaço Tickets for the sessions in this venue Casa de Histórias Paula Rego Bilhetes para sessões nesse espaço Tickets for the sessions in this venue Cinemas NOS CascaiShopping Bilhetes para sessões nesse espaço Tickets for the sessions in this venue Lojas FNAC, Worten, El Corte Inglés, CTT e outros pontos de venda BOL FNAC Stores, Worten, El Corte Inglés, CTT and other BOL’s points of sale
€5 • Selecção Oficial – Fora de Competição Official Selection – Out of Competition • Antestreias Premieres
A PARTIR DE 4 DE NOVEMBRO
Este programa poderá estar sujeito a alterações, consulte as actualizações em
Programme subject to change. More information at
WWW.LEFFEST.COM
WWW.LEFFEST.COM
Casino Estoril Bilhetes para sessões nesse espaço, Cinema Medeia Monumental e Espaço Nimas Tickets for the sessions in this venue, Cinema Medeia Monumental and Espaço Nimas
219
4
ESPAÇOS DO FESTIVAL Festival Venues
ESTORIL
1
3 2
1 . Casino Estoril
2 . Centro Cultural de Cascais
Av. Dr. Stanley Ho 2765-190 Estoril
Avenida Rei Humberto II de Itália n.º 16 2750-800 Cascais Portugal
Tel: (+351) 938 802 577 info.cestoril@estoril-sol.com www.casino-estoril.pt
220
Tel: (+351) 214 815 660 geral@fundacaodomluis.pt www.fundacaodomluis.pt
3 . Casa das Histórias Paula Rego Av. da República, 300 2750-475 Cascais Tel: (+351) 214 826 970 info@casadashistorias.com www.casadashistoriaspaularego.com
4 . CascaiShopping C.C. CascaiShopping Estrada Nacional nº 7, Alcabideche 2765-543, Estoril Tel: (+351) 210 121 628 cinema.cascais@nos.pt
WWW. L E FFE S T. C OM
6 5
LISBOA 9
7 10
8
5 . Cinema Medeia Monumental
6 . Espaço Nimas
7 . Teatro Nacional D. Maria II
Avenida Praia da Vitória, 71 - 1050120 Lisboa
Avenida 5 de Outubro, 42B 1050-057 Lisboa
Teatro Nacional D.Maria II Praça D. Pedro IV 1100-201 Lisboa
Tel: (+351) 210 148 296 Tel: (+351) 210 148 319 Tel: (+351) 210 148 315 info@leffest.com www.medeiafilmes.com
Tel: (+351) 210 148 320 geral@fundacaodomluis.pt www.medeiafilmes.com
Tel: (+351) 213 250 800 geral@teatro-dmaria.pt www.teatro-dmaria.pt
8 . CCB Centro Cultural de Belém
9 . Cinemateca Portuguesa
10 . Teatro da Trindade INATEL
Praça do Império, 1449-003 Lisboa
Rua Barata Salgueiro, 39 1269-059 Lisboa
Rua Nova da Trindade, 9 1200-301 LISBOA
Tel: (+351) 213 596 262 cinemateca@cinemateca.pt www.cinemateca.pt
Tel: (+351) 213 420 000 bilheteira.trindade@inatel.pt www.teatrotrindade.inatel.pt
Tel: (+351) 213 612 400 ccb@ccb.pt www.ccb.pt
221
FICHA TÉCNICA Credits Director Director Paulo Branco Director Adjunto Deputy Director António Costa Directora de Produção Production Director Luísa Perestrello Comité de Selecção Selection Committee Michel Demopoulos, Roberto Turigliatto, António Costa Secretária do Director Director’s Secretary Madalena Fragoso Secretária de Produção Production Secretary Alexandra Almeida Assistentes de Produção Production Assistants Ângela Machado, João Barriga Coordenação Cinemas Medeia Medeia Cinemas Coordinator Pedro Esteves Coordenação Bilheteiras Box Office Coordinators André Silva, Bruno Sousa Pereira Coordenação de Voluntários Volunteers Coordinator Projecto Marginal / Miguel Lopes Coordenação de Programação e Gestão de Cópias Programming and Print Traffic Coordinator Diana Cipriano Assistente de Programação Programming and Print Traffic Assistant Carolina Castro Almeida Legendagem Electrónica Electronic Subtitling Olho de Boi
222
Coordenação Drivers Drivers Coordinator Daniel Rocha
Coordenação Design Gráfico Graphic Design Coordinator Catarina Sampaio
Directora de Comunicação Communication Director Maria João Moura
Design Gráfico Graphic Design André Carvalho
Imprensa Press Renata Curado Coordenação Website e Redes Sociais Website and Social Media Coordinator Leonor Pinhão Coordenação Redes Sociais e Assistente de Comunicação Social Media Coordinator and Communication Assistant Madalena Fidalgo Coordenação Editorial do Catálogo Catalog Editorial Coordinator António Costa, João Fragoso Mendes Produção de Conteúdos Content Production Fátima Castro Silva, Filipa Pinto, Inês Viana Tradutores Translators Hugo Simões, José Maria Branco, Marta Veríssimo dos Reis Coordenadora de Encontro Internacional de Escolas International School Meeting Coordinator Filipa Vasconcelos Coordenação Pós-Produção Post Production Coordinator Tiago Augusto
Webdesign e Gestão de Projecto Webdesign and Project Manager Catarina Sampaio Website Programação Website Programming André Pimpão Gestão de Conteúdos Website Website Content Manager Pedro Vasconcelos Ribeiro Conteúdos Website Website Content Carolina Meireles Apoio Informático Software and Hardware Support Linha Integral Produção Gráfica Graphic Production Finepaper, Lda Impressão Printing Novembro 2016 ISBN 9789899560055 Todos os direitos para a publicação reservados por: Leopardo Filmes, Lda Travessa das Pedras Negras, nº1, 5º andar 1100-404 Lisboa
Edição de Vídeo Video Editors Ana Hipólito, Margarida Meneses, Mariana Vilhena
WWW. L E FFE S T. C OM
AGRADECIMENTO ESPECIAL Special Thanks To Fernando Medina, Carlos Carreiras, Catarina Vaz Pinto, Miguel Luz, Elísio Summavielle, António Vieira Coelho, Rosa Cullell, Nuno Artur Silva, Helena Forjaz, Rui Pego, Marina Ramos, José Manuel Costa, Mário Moura, Miguel Monteiro, Miguel Almeida, Ana Paula Marques, Marco Espinheira, António Monteiro, Luisa Violo, Tiago Rodrigues, Rui Catarino, Francisco Caneira Madelino, Inês de Medeiros, Sandro Resende, José Azevedo, Anna Piekosz, Bogdan Jedrzejowski, Cláudia Almeida e Silva, Ana Cristina Rapoula, Manuel José Damásio, Manuel Nobre, Isabel Fernandes, Susana Barbato, Isabel Lima, Lisbon Film Comission e NOS. A toda a equipa e a todos os que ajudaram a concretizar este evento!!!!
NOS - Lusomundo Audiovisuais, Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema, Big Picture Films, Jorge Dias, Midas Filmes, Pedro Borges, Marta Fernandes, Sara Abrantes, Alambique Filmes, Luís Apolinário, Hugo Lopes, Instituto de la Cinematografía y de las Artes Audiovisuales, Outsider Films, New Europe Film Sales, Gustavo Beck, Nele Wohlatz, Roberto Turigliatto, José Manuel Mouriño, Alberto Ruiz de Samaniego, Jean-Paul Battaggia, Peter Braatz, Ida Weiss, Bando à Parte, Rodrigo Areias, Filmes do Tejo, Maria João Mayer, Teresa Villaverde, Barbara Ulrich, Goethe-Institut Portugal, Daniel Rosenfeld, Vincent Decis, Lola Peploe, Cinémathèque Royale de Bélgique, Cineteca di Bologna, Olho de Boi, Pixel Bunker, Pris Audiovisuais, Sérgio Saruga.
Agradecimentos do Catálogo Catalogue special thanks Miguel Marías, Jorge Silva Melo, Michel Demopoulos, Maria de Medeiros, Teresa Villaverde, Pascal Bonitzer, Daniel Rosenfeld, Sabrina D. Marques, Nuno Júdice, Enrique Vila-Matas, Andres Mengs, Maria Manuel Viana, Tristan Bera, Nuno Galopim, Ron Padgett, João Luís Barreto Guimarães, Alberto Ruiz de Samaniego, Andrea Renzi, Nicoletta Braschi, Tomás Maia, Manuel Rosa, Peter Braatz, Luís Filipe Ribeiro, Sandro Resende, Chema Prado, Vicente Molina Foix, Cecília Andrade, Carlos Veiga Ferreira, Walid Bekhti, Virgile Alexandre
223
ÍNDICE Index 1 3 5 7 8 13 27 47 49 51 54 62 94 105 114 125 131 137 142 145 152 154 157 160 167 170
172 173 176 178 182 186 188 189 190 193 194 197
224
Lisbon & Estoril Film Festival 2016 Prémios Awards Sessão de abertura Opening Session Sessão de encerramento Closing Session Júri da Selecção Oficial Official Selection Jury Selecção Oficial – Em Competição Official Selection – In Competition Selecção Oficial – Fora de Competição Official Selection – Out of Competition Jim Jarmusch Encontro Internacional de Escolas de Cinema International Film Schools Meeting Júri da Competição de Curtas-Metragens Short Film Competition Jury Descobertas Discoveries Homenagem Tribute Jean-Luc Godard Homenagem Tribute Jerzy Skolimowski Retrospectiva Retrospective Emir Kusturica Retrospectiva Retrospective Teresa Villaverde Retrospectiva Retrospective Pascal Bonitzer Retrospectiva Retrospective Agustín Díaz Yanes Retrospectiva Retrospective Daniel Rosenfeld Sessões Especiais Special Screenings – Bloody Daughter (Martha Argerich) Sessões Especiais – Straub-Huillet e a Música Special Screenings Straub-Huillet and Music Sessões Especiais Special Events – Je m’appelle Varsovie (Piotr Anderszewski) Sessões Especiais Special Events – ADONIS Sessões Especiais – Peter Handke – As Imagens e as Palavras Special Screenings - Peter Handke – Images and Words Sessões Especiais Special Screenings – Enrique Vila-Matas e Dominique Gonzalez-Foerster Sessões Especiais – Atiq Rahimi - Escritor e Cineasta Special Screenings – Atiq Rahimi Writer and Filmmaker Sessões Especiais Encontros e Separações (Itamar Golan e Natsuko Inoue) Special Events – Encounters and Partings Sessões Especiais Special Events Alone and Not Alone – Ron Padgett Luc Sante Sessões Especiais Special Screenings – Pessoa / Lisboa Teatro Theatre Giorni Felici de Samuel Beckett Sessões Especiais Special Events Soirée Beckett: Film e Notfilm Sessões Especiais Special Screenings Buongiorno Principessa (Nicoletta Braschi) Masterclass Alex Ross Perry Masterclass Robert Schwentke Encontro com Meeting with Monica Bellucci Preservar a Memória do Cinema: Redes Preservar a Memória do Cinema: 30 Anos de Blue Velvet Exposições Exhibitions Chema Prado/Series
200 204 207 208 219 220 222 223
Exposições Exhibitions A Entrevista (Anabela Soares e Emir Kusturica) Encontro com Meeting with Krystian Lupa Simpósio Internacional “Godard vu par…” Convidados Guests Bilhetes Tickets Locais Venues Ficha Técnica Credits Agradecimentos Special Thanks
WWW. L E FFE S T. C OM