J贸ia verde
Erguida com madeira e painéis de fibra de madeira (OSB), esta casa no pé da serra resulta de uma experiência que prega a sustentabilidade na construção e no estilo de vida
Há quem diga que o entorno define o projeto. No caso da Vila Barulho d’Água, isso é o mínimo que se pode afirmar. A construção de 62 m2, a 6 km do centro histórico de Paraty, RJ, num cenário com rochas, riachos e macaquinhos, não apenas se abre para a floresta como existe em função dela. Tudo começou em 2003, quando um casal de São Paulo resolveu criar uma espécie de retiro particular, onde a atividade humana seguisse o ritmo da natureza. A dupla de arquitetos Ana Vidal e Silvio Sant’Anna, também da capital paulista, estudou por meses um jeito de erguer o refúgio com esse espírito - e R$
35 mil hoje. “O projeto precisou driblar a distância, o acesso difícil e preservar a mata”, diz Silvio. Um dos recursos foi a armação de madeira, implantada no lote de 2 mil m2 sem danificar a vegetação. Montada por um carpinteiro e um ajudante, com pisos e paredes de OSB (veja quadro ao lado), a casa ficou pronta em dois meses. Pouco mudou nos arredores, conforme desejado. Só para melhor. “Providenciamos a ampliação da rede elétrica e a numeração da rua. Animados, os vizinhos restauraram suas casinhas caiçaras, antes combalidas”, conta Ana. “Formamos uma comunidade.”
O que é OSB? As placas desse material são vendidas no Brasil desde 2001, quando vieram dos Estados Unidos. Lá são usadas como paredes internas de casas prémoldadas. Aqui, porém, o Oriented Strand Board (painel de tiras de madeira orientadas) acabou utilizado em tapumes de obra. E foi exatamente nessa “vitrine” que Ana e Silvio conheceram o material. Em busca de um produto que se prestasse à formação de paredes e pisos e oferecesse rapidez, leveza e durabilidade, a dupla testou várias possibilidades. O OSB venceu o compensado naval pela resistência a fungos e cupins, pela
capacidade de suportar peso e por não empenar. “No início, o fabricante, a Masisa, temia os danos da umidade”, diz Silvio, que tomou precauções. A solução veio do projeto. “Protegemos as paredes externas com beirais largos, afastamos a casa do solo e cobrimos o OSB com primer e tinta esmalte”, completa. Os arquitetos ainda definiram as dimensões do projeto (ilustração abaixo) conforme a medida das chapas (2,44 x
1,22 m), evitando sujeira e desperdício. As paredes são duplas, uma espécie de sanduíche feito por duas placas pregadas na armação de madeira. A rede elétrica e a hidráulica passam pelo miolo.
Ideal de sustentabilidade
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Alguns dos princípios do Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica (IDHEA) foram observados nesta construção. Veja quais são e como foram aplicados:
Gestão da obra - não houve desperdício de material nem sujeira e danos ao entorno; a casa é fácil de reformar e 90% reaproveitável (se desmontada). Aproveitamento dos recursos naturais - vidros e aberturas permitem que a luz do sol clareie os ambientes, a ventilação cruzada mantém os interiores frescos.
Eficiência energética - uma miniusina hidrelétrica será implantada para fornecer energia a toda a redondeza.
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Conforto termoacústico - paredes duplas de OSB, material com propriedade isolante, ajudam a barrar o som. A casa fica distante do solo, dispensando a climatização artificial (ar-condicionado).
Uso de ecoprodutos e tecnologias sustentáveis naturais e recicladas - há um mínimo possível de madeira; a maçaranduba do tipo certificada (extraída de manejo florestal) não foi usada devido ao preço alto. O OSB não é reciclável, mas leva fibras de pínus reflorestado.