CriAtive: o ativismo midiático em prol da economia das ideias

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL COM HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

HELENA SCHIAVONI SYLVESTRE HELENA SILVA OMETTO

CRIATIVE O ATIVISMO MIDIÁTICO EM PROL DA ECONOMIA DAS IDEIAS

BAURU 2012


HELENA SCHIAVONI SYLVESTRE HELENA SILVA OMETTO

CRIATIVE O ATIVISMO MIDIÁTICO EM PROL DA ECONOMIA DAS IDEIAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC), da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, como exigência parcial para a obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Orientador: Prof. Dr. Mauro de Souza Ventura.

BAURU 2012


UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL COM HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

Helena Schiavoni Sylvestre Helena Silva Ometto

CriAtive O ativismo midiático em prol da economia das ideias

Trabalho de conclusão de curso aprovado em ____/____/____ para obtenção do título de bacharel em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo.

Banca Examinadora:

_______________________________________ Mauro de Souza Ventura

_______________________________________ Lilian Juliana Martins

_______________________________________ Katarini Giroldo Miguel


DEDICATÓRIA

Aos nossos avós, pais, irmãos e amigos, pelos sonhos compartilhados, pela compreensão em todos os momentos e pela fé em nosso potencial.


AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Deus que nos guiou até aqui e somos imensamente gratas às nossas famílias. Eu, Helena Ometto, principalmente à minha mãe Regina Célia Gonçalves da Silva Ometto e meu pai, Wilson Roberto Ometto, pelo amor incondicional e por me ensinar a valorizar a educação como bem indispensável, e à minha irmã Heloisa Silva Ometto, pelo companheirismo, cumplicidade e amizade de sempre, e eu Helena Sylvestre, à minha mãe e melhor amiga Branca Maria Schiavoni Sylvestre, pelo amor e apoio dado durante toda minha trajetória de vida, especialmente esse período universitário de conquistas e frustrações diversas ao longo desses quatro anos. Ao meu pai Oswaldo Sylvestre, que sempre fez questão de mostrar a real importância da construção e cultivo do aprendizado, e que não poderá acompanhar em vida a conclusão de mais uma etapa importante da construção do meu eu, mas que certamente estará torcendo por mim, onde quer que ele esteja. Agradeço aos meus irmãos Bruno Luis Schiavoni Sylvestre e Franco Luis Schiavoni Sylvestre pelo apoio dado sempre que solicitados, e finalmente à minha avó materna Jandira Ribeiro Schiavoni, pelo amor e as palavras de calmaria e incentivo concedidos durante os meus vinte e três anos de vida. Obrigada aos nossos amigos de nossas cidades natais, sempre um porto seguro a cada volta para casa; aos que encontramos pela estrada; aos que compartilharam com a gente esses anos de vida „baurulina‟ e àqueles que percorreram ao nosso lado a trilha do jornalismo por esses quatro anos, cuja cumplicidade nos deu a força e a fé necessárias para chegar até aqui. Um agradecimento especial à amiga e sempre professora Vanessa Matos dos Santos, por todo o apoio e assessoria à nossa iniciativa, desde as reuniões e e-mails desesperados, aos programas de índio (literalmente) em tardes de sábado; à querida amiga Helen Sarzi, por acreditar, promover nossa ideia e nos guiar em terras botucatuenses durante uma das etapas dessa produção; e à Debora Pavan, nossa sempre amiga cheia de glamour e delicadeza, pela câmera filmadora que permitiu o registro das imagens veiculadas em CriAtive e nos salvou de mais um desespero. Finalmente, muito obrigada aos mestres pela atenção e dedicação que nos reservaram e por terem contribuído de forma brilhante com nossa formação.


"Cultura, conhecimento e criatividade são infinitos, elásticos. São recursos que não apenas não se esgotam como se renovam e se multiplicam com o uso. Assim, podem gerar cooperação e não disputa [...] Ainda falta aquilo que origina a maior riqueza cultural em nossos territórios: a vida comunitária”. Lala Deheinzelin


RESUMO O jornalismo, enquanto uma área de atuação que lida diretamente com pessoas e se transforma de acordo com suas histórias, passa por constantes atualizações e prescinde de profissionais capacitados para atuar nessas diferentes concepções de mercado e plataformas de atuação. Pensando nisso, elaboramos um projeto experimental voltado para a prática jornalística na web 2.0, mais precisamente na rede social Facebook, especializado em economia criativa aplicada em pequenas comunidades. A pauta é um assunto contemporâneo, que promete ser um dos motores econômicos mais importantes desse novo século, configurando uma abordagem essencial na prática do jornalismo contemporâneo. Aliada a essa iniciativa de novo fazer jornalístico está a proposta do ativismo midiático, idealizada recentemente diante das novas possibilidades oferecidas pela web 2.0. Esse será o principal objetivo da página CriAtive: promover a mobilização das pessoas engajadas na rede social em prol da aplicação dos princípios da economia criativa em comunidades locais. Esse relatório descreve o referencial teórico utilizado para pautar a produção jornalística de CriAtive, enquanto um trabalho de conclusão de curso de jornalismo e as etapas percorridas pela equipe de produção para alcançar tal mobilização.

Palavras-chave: jornalismo; ativismo midiático; economia criativa; Facebook; comunidades locais


LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Economia Criativa x Setores/Indústrias Critivas, UNCTAD, 2001........................22 Figura 2 – Os setores criativos.................................................................................................24 Figura 3 – Construção do e-cidadão........................................................................................39 Figura 4 - A formação da e-cidadania......................................................................................40 Figura 5 – O logotipo...............................................................................................................59 Figura 6 – A imagem de capa..................................................................................................60 Figura 7 – A identidade visual.................................................................................................61 Figura 8 – As abas personalizadas...........................................................................................62 Figura 9 - O aplicativo da página.............................................................................................62 Figura 10 – Gráfico de monitoramento (Visão Geral).............................................................67 Figura 11 – Gráfico de monitoramento (Publicações da página)............................................68 Figura 12 - Gráfico de monitoramento (Curtir).......................................................................68 Figura 13 - Gráfico de monitoramento (Origens do Curtir)....................................................68 Figura 14 – Área 1 de atualização............................................................................................70 Figura 15 – Área 2 de atualização............................................................................................71 Figura 16 – Frase de destaque..................................................................................................74 Figura 17 – Imagem ilustrativa................................................................................................74 Figura 18 – Infográfico............................................................................................................75 Figura 19 – Nuvem de palavras...............................................................................................75 Figura 20 – Vídeo institucional................................................................................................76 Figura 21 - Vídeo Complementar............................................................................................76 Figura 22 – Link externo..........................................................................................................77 Figura 23 – Nota explicativa em destaque...............................................................................77 Figura 24 – Notificação de texto em destaque.........................................................................77

LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Organizações em rede ou redes de organizações....................................................19 Tabela 2 – Cronograma de atividades......................................................................................33


SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 10

1.A PROPOSTA .................................................................................................................... 11 1.1 A justificativa....................................................................................................................13 1.2 Os objetivos........................................................................................................................14

2. O REFERENCIAL TEÓRICO......................................................................................... 17 2.1 O ativismo midiático.........................................................................................................17 2.2. A economia criativa.........................................................................................................21 2.3 O papel das redes sociais na diminuição da pobreza.....................................................28

3. A CONSTRUÇÃO DO PRODUTO................................................................................. 31 3.1 A metodologia....................................................................................................................31 3.2 O cronograma....................................................................................................................33 3.3 O suporte midiático...........................................................................................................34 3.4 A linha editorial.................................................................................................................40 3.5 A definição das pautas......................................................................................................41 3.6 O planejamento editorial..................................................................................................54 3.7 O planejamento em web design para o Facebook......................................................... 57 3.8 Os recursos técnicos, materiais e humanos.....................................................................63

4. A DESCRIÇÃO DO PRODUTO.......................................................................................66 4.1 Fases e rotina de produção...............................................................................................66 4.2 As áreas de atualização ................................................................................................... 69 4.3 A atualização.....................................................................................................................71 4.4 Os elementos da página....................................................................................................72

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................78 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................80 APÊNDICE..............................................................................................................................82


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INTRODUÇÃO A página CriAtive nasce com o intuito de promover o ativismo midiático em prol da economia criativa, oferecendo conteúdo diversificado, novidade de plataforma e ideias que despertem a curiosidade do internauta. O engajamento social é o norteador das ações de CriAtive, que se compromete a promover a aplicação dos conceitos da economia criativa em pequenas comunidades. Preocupada com o desenvolvimento independente local, ela está paradoxalmente inserida no universo das redes sociais. Elegendo o Facebook como sua morada, nada menos do que a maior mídia social do mundo em termos de usuários e publicidade, ela não pretende ser apenas mais uma em meio a centenas de fanpages, ela quer mais; quer levantar a bandeira do compromisso social e mobilizar os internautas para a causa da economia das ideias. CriAtive sabe do potencial da cultura local como geradora de renda, de vida e de felicidade e vai percorrer o caminho do jornalismo para evidenciar sua proposta. Enquanto um veículo jornalístico, ela vai apresentar para o mundo iniciativas que deram certo no interior do estado de São Paulo e disseminar dicas, informações e uma variada gama de opções para quem deseja saber mais. Sempre pautada pelos princípios editoriais e jornalísticos fundamentais como a ética, a objetividade e a responsabilidade social, CriAtive cumprirá seu papel informativo cada vez mais próximo de seu público. Escolher trabalhar com o ativismo midiático e a causa da economia criativa no trabalho de conclusão do curso de jornalismo não foi uma opção ocasional. Enquanto jornalistas somos conscientes de nossa missão de abraçar as causas sociais e lutar pela igualdade. Vimos nesse trabalho a oportunidade de colocar nosso conhecimento em prática e praticar um jornalismo no qual acreditamos: aquele capaz de mudar vidas. CriAtive será um guia para mobilizar a sociedade a colocar seu conhecimento, seu talento, suas ideias e sua cultura em prática para gerar capital, oportunidade de emprego e desenvolvimento cultural, econômico e social. Ela será a ponte entre as ideias que deram certo e as cabeças prontas para colocar novas iniciativas em prática.


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1. A PROPOSTA Unir em um único produto jornalístico as ideias do ativismo midiático e as propostas de uma nova economia direcionada pelos estudos da economia criativa foi o que nos motivou a conceber esse produto enquanto um trabalho de conclusão do curso de jornalismo. Estamos conscientes de que, enquanto jornalistas, nossa missão é levar ao público informações relevantes e atualizadas dos acontecimentos, constituindo uma população informada capaz de promover mudanças positivas na sociedade e em sua vida pessoal. Tendo em vista um jornalismo especializado, essa desalienação está focada em um aspecto prédeterminado, cuja relevância já foi identificada e mensurada, justificando a escolha do tema abordado. Sendo assim, o objetivo dessa proposta reside justamente em focar na veiculação de dados e informações a respeito de um único tema, nesse caso a economia criativa e sua aplicação em pequenas comunidades. A geração de renda a partir da cultura local é a pauta desse produto jornalístico. O primeiro passo para a formulação dessa proposta, foi a identificação de um problema a ser solucionado por nossa produção. A análise dos estudos veiculados nas redes nos levou ao seguinte enunciado: “A exposição de conteúdos jornalísticos de caráter humanitário em uma rede social on-line tem a capacidade de mobilizar os internautas para uma causa?”. Formulado o problema, poderíamos e deveríamos nos pautar por essas necessidades para traçar o nosso plano de solução e os princípios editoriais direcionadores dessa empreitada jornalística. O ponto de partida para essa definição foi o diagnóstico de que atualmente as redes sociais são usadas com o intuito isolado de compartilhamento de informações dos mais variados valores-notícia, sendo que poderiam funcionar como uma ferramenta independente de veiculação de conteúdo jornalístico na web. Devido ao potencial de alcance da rede, acreditamos que seja possível utilizá-la para a prática do ativismo midiático com o objetivo de mobilização dos usuários para uma causa antes desconhecida ou pouco divulgada. A economia criativa, causa mobilizada pelo projeto, ainda é de natureza pouco conhecida, e, portanto, é pertinente ao uso da internet como um dos meios principais para a conscientização dos internautas. Por ser um tema de relevância e engajamento social, as propostas do ativismo midiático estão conexos e se encaixam adequadamente ao contexto. A ideia de mobilizar as pessoas em prol da aplicação da economia criativa em suas comunidades (a causa) é o


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princípio norteador dessa proposta de trabalho, que depende da veiculação de materiais jornalísticos para alcançar tais objetivos. Um material jornalístico multimídia, adequadamente veiculado, realiza essa função de atingir o maior número possível de indivíduos, justamente por abranger estilos e formatos variados de veiculação de informações. A linguagem e o formato adequados são capazes de abranger indivíduos com diferentes níveis de formação e interesse nesse processo de mobilização. Com o material jornalístico em mãos, seria necessário um suporte midiático para hospedar e divulgar tais informações. A escolha pelo Facebook evidencia a ação do ativismo midiático pelo compartilhamento imediato das informações e seu iminente efeito viral, a partir do qual o conteúdo é visualizado, curtido e compartilhado, resultando no alcance de um grande número de internautas e podendo gerar um fenômeno offline de acordo com a repercussão resultante da ação. O fazer jornalístico dessa proposta reside justamente nessa aliança entre os registros da aplicação da economia criativa em cenários não convencionais e o ativismo midiático, pautada pelos materiais jornalísticos veiculados. As informações são levadas aos usuários da rede sem a declaração do objetivo de mobilização pela causa, afinal, os próprios materiais e produtos veiculados direcionam essa finalidade. No decorrer das postagens, os curtidores da página CriAtive e os usuários atingidos pelo efeito viral do conteúdo, poderão identificar um estilo jornalístico mais livre do que o observado nos suportes midiáticos convencionais. Os textos serão escritos de acordo com as oportunidades criativas oferecidas pelo jornalismo literário, assim como a descrição dos ensaios fotográficos; as reportagens audiovisuais não seguirão a padronização e a estrutura das matérias televisivas, mas sim um formato documental, que também possibilita momentos criativos e um direcionamento mais livre em relação à estrutura convencional dos offs e passagens; as fotografias também buscarão ângulos não convencionais, curiosos e que despertem a atenção e o interesse de quem visualiza a postagem. Escolhemos seguir por estruturas menos convencionais do jornalismo, utilizando uma linguagem diferente da aplicada nos meios de comunicação tradicionais e mesmo no meio online, justamente por estar inserido em um suporte que oferece os mais variados tipos de informações, em formatos diversos e a todo momento. Para clicar na página CriAtive e curtir nossa proposta, literalmente na linguagem do Facebook, o usuário da rede precisa se sentir incentivado, identificar uma iniciativa diferente, que não irá lhe acrescentar mais do mesmo. Acreditamos que esse seja o segredo do jornalismo nessa nova era de plataformas: descobrir


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novas maneiras de levá-lo ao público alvo, fazer um jornalismo criativo que preserve os valores-notícia e os critérios de noticiabilidade em primeiro pano, mas invente novos meios de registrá-los. “Uma comunidade criativa é o ponto de partida para a economia das ideias. Crie mais e seja mais ativo na sociedade. CriAtive você também!”

1.1.

A justificativa

A justificativa dessa proposta é apresentar uma possibilidade de atuação jornalística em convergência com o ativismo midiático na web 2.0. Além disso, visa-se também a veiculação da economia criativa através de uma plataforma multimidiática. Conceito econômico este em fase de construção e ainda pouco divulgado pelas mídias tradicionais. A determinação da proposta descrita como pauta para a execução de um trabalho de conclusão de curso para a obtenção do título de bacharel em Comunicação Social: habilitação em Jornalismo justifica-se pela opção em executar um projeto com caráter social de mobilização para uma causa (ativismo midiático) que visasse à melhoria das condições econômicas de pequenas comunidades. Isso seria possível considerando suas culturas para viabilizar uma economia sustentável. O fomentador teórico da pesquisa é o webjornalismo, diante do uso das redes sociais, especificamente o Facebook, para a veiculação dos materiais. Desejamos testar a hipótese de que a rede tem capacidades além do compartilhamento ou divulgação de conteúdos supérfluos, e que detém as possibilidades e as oportunidades de uma produção jornalística independente de outros meios. O Facebook, assim como as demais redes sociais, podem se constituir enquanto uma nova plataforma jornalística vinculada aos princípios e determinações da web 2.0. O que nos levou a seguir por esse caminho de possibilidades do webjornalismo foi justamente a análise das redes sociais, especificamente o Facebook, e a identificação de que suas ferramentas e seu potencial estão sendo usados superficialmente pelos usuários. Ao menos na maioria dos casos analisados. O potencial de comunicação dessa rede social culminou em um senso comum que apreende principalmente as relações interpessoais, sem conferir a devida importância à veiculação imediata e espontânea de informações que a web 2.0 proporciona. Os integrantes dessa rede podem e devem agir de duas maneiras. A primeira delas é enquanto sujeitos passivos, que somente recebem a informação; a segunda é enquanto sujeitos ativos, que formulam e veiculam a informação que julgam relevante para seus


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contatos, dando início ao efeito viral e disseminação na rede, ou ainda atuando apenas no compartilhamento das informações recebidas passivamente. Por efeito viral entenda a ação de compartilhar determinada postagem ou curtir, de forma que o conteúdo irá disseminado para sua rede amigos, ultrapassando a rede de contatos da própria página CriAtive. Dessa maneira, o alcance será muito maior e o poder de ativismo multiplicar-se-á. Diante dessas constatações, no momento em que comprovarmos essa capacidade além do senso comum, o Facebook poderá ser empregado e desdobrado para qualquer área do jornalismo envolvida com o ativismo midiático e a mobilização de pessoas. O nível de aplicação prática do trabalho e de suas perspectivas é mundial, tendo em vista a abrangência global da Internet e, principalmente, a diversidade de usuários da rede social, espalhados pelo mundo todo. Entretanto, a ideia é realizar a pesquisa e a produção prática dos conteúdos informativos em pequenas comunidades de Bauru e região, destacando as iniciativas de aplicação do conceito na própria área de criação da página e valorizando a região centro-oeste do estado de São Paulo. Aliás, disseminar essas iniciativas por todo o mundo através da rede social é uma maneira de retribuir a sociedade local pela hospitalidade e as possibilidades oferecidas nesses quatro anos de formação acadêmica, ainda mais por se tratar de uma universidade pública mantida pelos próprios cidadãos.

1.2.

Os objetivos

Para uma boa execução da proposta, é necessário estabelecer alguns objetivos a serem cumpridos, justamente para mensurar a eficiência das etapas previstas e do método utilizado. Pensando nisso, objetivos gerais e específicos foram estabelecidos para analisar a eficiência da página CriAtive em sua proposta de ativismo midiático e na veiculação de materiais jornalísticos mobilizadores. São eles:

Objetivo geral  Explorar as ferramentas do Facebook, enquanto rede social, em sua potencialidade de veiculação de conteúdos de caráter jornalístico e social, e pautados pelo conceito de economia criativa.

A criação da página CriAtive de acordo com os termos de uso pré-determinados pelo Facebook, enquanto empresa, assume o objetivo principal de comprovar a possibilidade e eficiência da utilização da rede como um suporte midiático para as produções jornalísticas.


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Aliado a essa proposta, está a aplicação do ativismo midiático, que se propõe a disseminar e denunciar a relevância de causas sociais.

Objetivos específicos  Utilizar a referência bibliográfica citada como embasamento da teoria para estruturação do projeto;  Veicular notícias e informações sobre sustentabilidade agregada à cultura para os assinantes da página;  Explorar as ferramentas disponibilizadas pelo Facebook para a veiculação de conteúdo jornalístico multimídia;  Verificar a eficiência do Facebook enquanto suporte midiático para as ações de ativismo.

Além dos objetivos gerais, um projeto deve atender a determinados objetivos específicos, a fim de verificar a eficiência de sua proposta. Para a página CriAtive, julgamos a necessidade de comprovação dos objetivos citados acima. Tratando-se de um trabalho acadêmico, pautado por linhas de pensamento de pesquisadores da área e respaldado pela universidade, é primordial que a linha editorial e os produtos jornalísticos veiculados atendam às teorias propostas pelas referências bibliográficas analisadas. O direcionamento das pautas deve estar de acordo com as referências apresentadas pelos estudiosos, comprovando o embasamento teórico dessa produção. No mais, o atendimento dos objetivos leva à comprovação do problema identificado e da eficiência da solução proposta pelo trabalho, indicando o sucesso de sua realização. A partir de agora, a página CriAtive, fundamentada em referenciais teóricos embasados por especialistas e pensadores da área, deverá cumprir sua função de veicular materiais jornalísticos multimídia e editorialmente adequados para promover a mobilização social em prol da economia criativa local. Pautada pela sustentabilidade, a página deverá cumprir seu papel de informar e conscientizar sobre o tema escolhido. Para cumprir o terceiro item dos objetivos específicos, foi necessário identificar e reconhecer as ferramentas da rede, desde as mais comuns, como as postagens de fotos, vídeos, notas, além das atualizações de status, até as mais complexas e especializadas, como a possibilidade de instalação de aplicativos específicos para a personalização da página, a


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alteração da programação e dos códigos em HTML para a inserção de links externos e internos na produção hipermidiática, ou a criação de novas abas Esses exemplos indicam as amplas possibilidades pouco exploradas oferecidas pela rede social, que serão melhor exploradas no item 3. A construção do projeto, e que configuram o cumprimento desse objetivo geral de reconhecer e explorar as ferramentas disponibilizadas pelo suporte midiático utilizado.


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2. O REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 O ativismo midiático Ativismo (Dicionário Michaelis): doutrina ou prática de dar ênfase à ação vigorosa para fins políticos. Essa é a definição do Michaelis para o conceito desenvolvido no projeto, que surge exatamente no momento em que a política se desloca para aplicações no cotidiano e na mídia e se faz valer dos avanços da tecnologia de comunicação e informação. O ativismo aplicado na concepção do produto refere-se à prática da mobilização em prol de uma causa. Mais precisamente, o conceito trabalhado envolve o ativismo apoiado na informação, transformando-se em infoativismo ou ainda ativismo midiático. Essa prática é recente e tem conquistado interessados em todo o mundo, tanto que o documentário “10 táticas para transformar informação em ação”1 busca explorar a forma como os defensores dos direitos e das causas em todo o mundo estão utilizando a internet e as tecnologias digitais para configurar mudanças positivas no cenário selecionado. O primeiro passo para empreender essas mudanças significativas e permanentes em relação à causa adotada, refere-se à disseminação da informação de forma prática, participativa e criativa, facilitando a tomada de decisões inteligentes pelos responsáveis em prol da mobilização da comunidade e fornecendo-lhes esperança, fator indispensável para a aceitação do ativismo. Nesse sentido, é necessário desenvolver o uso estratégico das redes sociais e das ferramentas de comunicação online. Por essas plataformas, os organizadores deverão apresentar seus materiais e produção gerando uma boa articulação das ideias, se trabalhado em conjunto com táticas de ativismo e mobilização desenvolvidas especialmente para esse novo cenário. O documentário apresenta, em seus 55 minutos de exibição, dez táticas que envolvem a história de 25 ativistas de sucesso sobre o ativismo midiático em 24 países. São elas: 1. Mobilize pessoas 2. Testemunhe e grave 3. Visualize sua mensagem 4. Amplifique histórias pessoais 5. Adicione humor 6. Investigue e exponha 1

O documentário “10 tatics for turning information in action” foi desenvolvido por Stephanie Hankey, cofundadora da ONG internacional Tactical Technology Collective, que ajuda os defensores dos direitos humanos a utilizar as informações e tecnologias digitais para aumentar o impacto de suas campanhas.


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7. Saiba trabalhar dados complexos 8. Use a inteligência coletiva 9. Permita que as pessoas façam perguntas 10. Administre seus contatos

Essas táticas pautaram o desenvolvimento da página CriAtive no Facebook, produto desse relatório. O site www.informationactivism.org/en apresenta esse e outros materiais relacionados a essa prática do ativismo, por exemplo as palavras de ordem e liderança para os grupos que aceitam o desafio de mobilizar e buscar uma ação concreta. Engajamento; criatividade; interação; mobilização; conexão de pessoas; participação; acessibilidade; inspiração; compartilhamento; cooperação; ação e mudança devem compor a base das ações desenvolvidas para a mobilização decorrente da prática do ativismo midiático. Aliás, podemos (e devemos) esclarecer o ativismo midiático pelo termo “ativismo midiático”, diante da apropriação de uma mídia para veiculação e divulgação de informações pensadas de acordo com os princípios da mobilização. Deve-se, ainda, levar em consideração, a característica dos consumidores da informação que fogem da suposta passividade e da massificação dos comportamentos a que deveriam estar entregues para agir em prol de uma ideia. A descentralização do poder de veiculação de informações faz da mobilização via internet e, principalmente, via redes sociais, uma expressão do aumento do espaço e da importância dessa prática no cenário das revoluções. É necessário considerar que qualquer pessoa poderá veicular dados e informações de acordo com o interesse que lhe convir, cabendo aos receptores o cuidado para assimilar somente informações verídicas e checadas. Mesmo com esse desafio, tornar-se ativo pelas redes sociais representa a supressão de uma das maiores dificuldades dos atores civis que lutam pela disseminação e mobilização por uma causa: a desigualdade de recursos em relação às mídias convencionais. Contando com plataformas gratuitas, como as reses sociais, os ativistas ampliam o alcance de suas ações e desenvolvem estratégias de luta mais eficazes. O maior trunfo do ativismo midiático é eliminar barreiras geográficas e econômicas e possibilitar a interação de todos os interessados em uma causa. Uma série de projetos de relevância mundial utiliza o espaço das redes para divulgar suas ações, desde as mais representativas, como os movimentos feministas, a exemplo do Femen, e a Oxfam Internacional, citada por Machado, 2004:


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Organizações em rede ou redes de organizações Organização

Causa

Histórico

Formas de atuação

Uma das redes de organizações que mais ganhou relevo nos últimos anos. Promove campanhas Reúne em uma confederação 12 Tem como informativas, divulga organizações que trabalham em objetivo documentos, articulaconjunto com cerca de 3.000 encontrar se através da rede organizações locais no mundo todo. Oxfam soluções para com as 12 Para alcançar seus propósitos, a Internacional a pobreza e as organizações que OXFAM desenvolve condições de atuam com outras intensos lobbiesjunto aos organismos injustiça. redes locais em mais internacionais, além de promover de cem países. campanhas informativas e participar de programas de desenvolvimento. Tabela 1

Os movimentos sociais passaram por uma reformulação após o surgimento e a explosão das redes sociais. “Essa transformação inclui o idealismo e o voluntarismo de seus membros, incentivados pela relação custo-benefício bastante favorável, surgem novas formas de sinergia e alcance global. Com isso, aumentaram enormemente as formas de mobilização, participação, interação e acesso à informação, a provisão de recursos, aas afiliações individuais e as ramificações entre os movimentos sociais” (MACHADO, 2004)

Para configurar-se como ativismo midiático, o produto precisa atender à determinadas condições como uma organização horizontal, sem hierarquização e uma ampla flexibilidade para acolher novos integrantes e impulsionar rapidamente novas iniciativas. Esses fatores estão amplamente presentes nas redes sociais, que geram alcance mundial em torno de interesses comuns. O Facebook, especificamente, proporciona a oportunidade de compartilhamento imediato das informações configurando uma rede de leitores que também imprimem sua opinião a uma postagem, gerando uma série de discussões em torno de um fato apresentado. Essas são ferramentas oferecidas pelas redes sociais para proporcionar o dinamismo necessário com o objetivo de impulsionar novas iniciativas, formar e alcançar certos objetivos e causar o impacto e a repercussão necessários para a mobilização. A partir do momento em que uma informação ou um dado é disseminado na rede, ele atinge os usuários conectados de forma espontânea e simultânea, e configura ao fenômeno de viral para uma massa de internautas, que recebem a informação mesmo sem ter tido buscá-la,


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somente pelo compartilhamento de sua rede de contatos. Esse fenômeno é possível graças ao caráter horizontal de circulação da web, possibilitando o fortalecimento das estratégias dos movimentos e fazendo com que se tornem independentes das mídias convencionais, tanto em estrutura como em produção de conteúdo. A internet facilita as lutas sociais contemporâneas „em termos de tempo e custo”, possibilita a mobilização de pessoas e entidades sem limitações geográficas e permite a quebra do monopólio da emissão de informações. Sendo assim, indivíduos, movimentos e organizações fundam, a partir do uso da internet, o chamado ciberativismo, ativismo digital ou ativismo online” (RIGITANO, 2008)

Define-se o principal objetivo do ciberativismo: abordar e mobilizar para causas pouco debatidas ou discutidas nas mídias convencionais. A meta do ativismo digital é constituir espécies de redações digitais integradas, em que os ativistas conquistem seu público e os engajem na produção e disseminação de notícias e informações referentes ao assunto debatido e defendido. Essa rede engajada diante da desterritorialização da produção de conteúdo proporcionará a força necessária para a sobrevivência e manutenção do processo de mobilização (RIGITANO, 2008). Por redações integradas entende-se a necessidade de um espaço de convergência dos materiais produzidos. Em um meio online de disseminação das informações, nada mais acertado do que as redes sociais. Compreender sua dinâmica de funcionamento é o primeiro passo para explorar ao máximo seus potenciais e a sua capacidade de mobilização. A partir do momento em que as redes sociais exercem a atração e prendem a atenção e a curiosidade do espectador, a causa torna-se mais visível, curiosa e propensa à disseminação e defesa. O uso de aplicativos e novas tecnologias empregados à estrutura convencional de uma rede social também auxiliam na ampliação seus horizontes de efeito positivo. Afinal, espectadores gostam do novo e procuram sempre por novidades e propostas diferentes de interação na rede. No ativismo midiático, as redes sociais funcionam como um ponto de encontro para as pessoas preocupadas com temas ou necessidades em comum e específicas de determinadas comunidades, sejam elas os promotores do ativismo ou os diretamente envolvidos com a dinâmica da comunidade. A disseminação e o compartilhamento imediato e massivo das informações criam um espaço para o diálogo, a interpretação e a organização das ações offline, as quais surtirão os efeitos de mudanças desejados e propostos. A promoção do ativismo midiático por grupos especialmente capacitados e treinados para esse propósito está se tronando evidente, mas é fundamental destacar que grande parte


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dessa mudança e exposição de uma realidade deve partir da própria comunidade envolvida, dos próprios agentes locais. Já existem projetos especializados no treinamento dos nativos para a produção de vídeos informativos sobre o local abordado em seus vários aspectos. A exibição de uma realidade do ponto de vista da “primeira pessoa” gera maior empatia no espectador, aumentando sua comoção e seu convencimento com a causa apresentada. O barateamento e a diminuição dos dispositivos de mídia facilitaram o registro dos flagrantes e a produção desses materiais de divulgação, sendo mais um ponto positivo para a democratização do ativismo midiático. Para os praticantes e envolvidos com as causas, é necessário frisar que informação é poder e, quando utilizada de forma eficiente em campanhas devidamente estruturadas e disseminadas, promove a igualdade e a justiça. O ativismo midiático pode assumir diversas facetas, sendo a principal delas a de denúncia. No entanto, não deve se restringir apenas a esse vértice. A mobilização em prol de ideias e conceitos para a melhoria das condições de vida de uma sociedade também são válidas e podem ser extremamente bem executadas a partir das mesmas dez táticas apresentadas. O essencial, nesse caso, é a exposição de exemplos anteriores que deram certo ou a exibição de uma realidade de quem já aderiu à proposta.

2.2 A economia criativa “A economia criativa precisa de pessoas malucas” John Howkins O ativismo precisa de uma causa a ser defendida. Nesse caso, tomamos como motivo da mobilização a economia criativa e sua aplicação em comunidades a partir da cultura local. Trabalhar a criatividade em prol da geração de renda tendo como base os conceitos e características locais de cada comunidade selecionada é a meta que pauta a ação da página CriAtive no Facebook. Para reconhecer a relevância desse tema enquanto pauta jornalística, guiando-se pelos critérios de noticiabilidade, e encontrar insumos suficientes para torná-lo (o tema) foco de uma ação mobilizadora e direcionada pelos princípios do ativismo, foi necessário tomar conhecimento de sua origem enquanto conceito e eficiência de produção e geração de renda. Para dar início à exploração do termo “economia criativa”, nada mais justo do que retomar a definição do conceito. Também chamada de economia cultural, a economia criativa é foi definida pelo autor inglês John Howkins no livro “The Creative Economy”, publicado


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em 2001 e ainda não lançado no Brasil. Para ele, atividades que envolvam indivíduos exercitando sua imaginação e explorando seu valor econômico para a geração de renda de uma comunidade fazem parte do processo e desenvolvimento da economia criativa. A criação, a produção e a distribuição desses produtos ou serviços são os principais recursos produtivos dessa nova forma de economia em ascensão. O início dessa cadeia produtiva, pautada essencialmente pela propriedade intelectual de seus participantes, está na “ecologia criativa”, o período de florescimento das ideias assim definido por Howkins (2001). Uma economia de ideias pode ter sido conceituada e revelada a nível acadêmico recentemente, porém, é uma cadeia produtiva antiga em relação à utilização da criatividade e da cultura regional para a produção e geração da renda. Howkins (2001) determinou 13 setores de atuação da economia criativa. São eles: Arquitetura; Publicidade; Design; Artes e antiguidades; Moda; Cinema e Vídeo; Televisão; Editoração e Publicações; Artes Cênicas; Rádio; Softwares de lazer e Música. Em 2011, a UNCTAD (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento) (2008, in LEITÃO, 2011), registrou que a economia criativa corresponde aos ciclos de criação, produção, circulação/distribuição, consumo e fruição de bens e serviços cujo insumo principal é a criatividade e o conhecimento. Dentro desse processo produtivo da economia criativa inserem-se as indústrias criativas, equivalentes aos segmentos ou setores produtores de bens e serviços criativos caracterizados pela propriedade intelectual.

Figura 1 Economia Criativa x Setores/Indústrias Criativas, UNCTAD, 2001


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No mesmo relatório, a UNCTAD determinou que dentro desses setores criativos existem as subdivisões, equivalentes aos diferentes bens produzidos. São elas: criações funcionais; patrimônio; artes e mídias. Em criações funcionais enquadram-se os produtos referentes ao design, aos serviços criativos e às novas mídias. O setor criativo de Patrimônio engendra os sítios culturais e as manifestações tradicionais; enquanto em Artes restringem-se as produções referentes às artes visuais e às artes performáticas. Finalmente, o setor de Mídias envolve as publicações e mídias impressas e os materiais audiovisuais. A produção de cada um desses elementos proporciona a geração de renda a partir das ideias e das características culturais regionais, com predominância do valor simbólico em relação ao valor monetário, constituindo um patrimônio cultural local fundamentado na inclusão e na sustentabilidade. I Nesse sentido, a nova economia do século XXI favorece os setores baseados na criatividade e no talento das pessoas. A geração de renda passa a ser fundamentada na propriedade intelectual e não mais material. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), os setores criativos tiveram uma participação de R$ 95, 157 bilhões no PIB (Produto Interno Bruto) de 2010, empregando cerca de 4.287.264 da PEA (População Economicamente Ativa) brasileira. Porém, um problema que precisa ser reconhecido e modificado é a situação de informalidade de grande parte dos profissionais e empreendimentos relacionados aos setores criativos. Pensando nisso, a Secretaria da Economia Criativa esteve reunida com o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada) e com o IBG para firmar parcerias e instaurar uma nova rotina produtiva para o setor. Além dos dados e números, a aplicação da economia criativa na rotina produtiva e econômica de uma comunidade deve ser debatida sobre os diversos contextos culturais, econômicos e sociais em que se insere. A pesquisadora brasileira Edna dos SantosDuisenberg, chefe do programa de Economia e Indústrias Criativas da UNCTAD, definiu a economia criativa como uma abordagem holística e multidisciplinar, que lida com a interface entre economia, cultura e tecnologia, centrada na predominância de produtos e serviços com conteúdo criativo, valor cultural e objetos de mercado, resultante de uma mudança gradual de paradigma. O principal diferencial da economia criativa são seus recursos renováveis e multiplicadores, afinal, quanto mais criatividade colocada em prática, mais ideias surgirão. Incentivar o aparecimento e a concretização dessas novas ideias é primordial e fundamental para a manutenção da economia criativa.


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A essência do conceito é discutida por Verhagen (Apud REIS, 2011, p. 108) com a agregação de valor econômico ao longo da história de um produto como sua essência, ele ainda discute a conclusão do autor Rolf Jensen na obra “A economia dos Sonhos” de que a economia é completa e unicamente baseada em histórias. Outra bandeira assumida pelo conceito é a da sustentabilidade, que está diretamente relacionada ao desenvolvimento econômico e material sem agressão ao meio ambiente, utilizando-se os recursos naturais de forma ponderada para que eles não se esgotem no futuro. De acordo com Lala Deheinzelin, especialista internacional em economia criativa com foco em desenvolvimento local, uma economia fundamentada em ideias e cultura deixa de causar os impactos absurdos que a economia industrial tradicional desencadeia. A união de sustentabilidade e cultura deixa de ser apenas uma solução econômica para atingir outras áreas, como a ambiental.

Figura 2

Durante o 1º Congresso Ibero-Americano sobre Desenvolvimento Sustentável, realizado em 2005, no Rio de Janeiro, Deheinzelin afirmou: “O futuro é do local, da diversidade cultural e dos recursos naturais que nunca se esgotam, ou seja, da criatividade e da cultura de cada um. A sustentabilidade deve deixar de ser vista à luz do tripé clássico, porém obsoleto, que tem foco apenas nas áreas ambiental, social e econômica. Esse tripé ganhou uma nova perna, que é a cultural, o simbólico. As pessoas precisam de projetos que utilizem saberes e fazeres tradicionais, porque o Brasil tem uma diversidade cultural enorme que, se somada a matérias-primas únicas dão nosso diferencial”.


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O panorama internacional da economia criativa também é uma das análises empreendidas por Cláudia Leitão, secretaria da Economia Criativa no Ministério da Cultura (MinC): “Na América do Sul, a economia criativa configura-se como a promoção da inovação e da criação de pequenos empreendimentos no campo criativo; facilitação do acesso a mercados e ao financiamento; melhoria da infra-estrutura disponível; garantia do acesso da produção nacional aos meios de difusão existentes (jornal, rádio, televisão e cinema); proteção dos direitos dos autores ao mesmo tempo em que se permite maior acesso aos conteúdos, bens e serviços criativos; educação; capacitação e assistência técnica às indústrias criativas.” (LEITÃO, 2011)

Nota-se que a América Latina ainda está aprendendo a lidar com as necessidades e requisitos exigidos por essa nova prática econômica, mas o simples fato de ter aceitado sua implantação já é um grande passo, especialmente para o Brasil, o país latino mais conhecido e internacionalmente reconhecido por sua forte capacidade de criatividade, imaginação e sustentabilidade.

2.2.1 Cidades criativas Um conceito amplamente utilizado na execução da base teórica de nossa causa de mobilização foi a determinação das cidades criativas, definida pela economista Ana Carla Fonseca Reis. Por cidades criativas entende-se o foco em discutir como as artes e a cultura podem ser integradas ao processo de planejamento para o desenvolvimento de uma cidade. (REIS, 2011) Desde a concepção desta ideia, a cultura passou a ser reconhecida como um recurso identitário e econômico para o desenvolvimento urbano. O início de fomentação desse conceito se deu em 1983: “Törnqvist cunhou o conceito “ambiente criativo”, formado por quatro traços: informação transmitida entre pessoas; conhecimento (baseado em parte no estoque de informação); competência em certas atividades relevantes; e criatividade (a criação de algo novo, como resultado de três outras atividades)” (LANDRY, 2011)

O surgimento desse conceito tornou-se iminente diante da incerteza do futuro das comunidades em relação ao fim da era industrial, ou ainda considerando-se a marginalização de cidades menores em relação aos grandes centros urbanos no que se refere à instalação de grandes empresas e geração de emprego. Era necessário definir os rumos e as estratégias de uma nova economia que dependesse cada vez mais de pessoas e de sua riqueza intelectual e menos de maquinários e matérias-primas. O debate agora gira em torno da questão: Qual é o papel da cultura na regeneração urbana?


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O fato é que toda a pessoa é criativa, umas mais e outra menos, mas a potencialidade dessa imaginação da comunidade deve ser estimulada e valorizada por governos e lideranças também criativos que compreendam a importância dessas iniciativas. Por ser uma prática nova e em ascensão, apenas cidades mais desenvolvidas e com horizontes mais expansivos estão dominando e incorporando o conceito. Finalmente, para ser uma cidade criativa é necessário aproveitar ao máximo seus recursos intelectuais como a criatividade de seus habitantes. É necessário considerar seus recursos de modo mais amplo e basear-se na história dos lugares e na evolução de sua cultura para determinar a direção da nova economia, o setor a ser priorizado. Essas práticas ajudam a entender de onde um lugar vem, por que ele está como está e como pode criar seu futuro por meio desse potencial. Para utilizar essas características na concepção de uma cidade criativa é necessário, inicialmente, aplicá-las em comunidades menores. As comunidades criativas deverão utilizar sua cultura local para a geração de renda a partir das ideias e só então ampliar suas atividades para o âmbito do município. No Brasil, já existem cidades criativas embrionárias, que utilizam essa prática em sua economia sem se dar conta da inovação e da revolução que empreendem. Nas pequenas cidades, as transformações tendem a ser mais puras e transformadoras. A cidade de Guaramiranga (CE), por exemplo, com sua população de 5.000 pessoas e 100 km de distância de Fortaleza (CE) incorporou a prática da cidade criativa. A produtora Via de Comunicação visualizou nas características culturais peculiares do município a oportunidade de estabelecer no território o Festival de Jazz e Blues de Guaramiranga, atraindo centenas de turistas que desejam fugir da folia carnavalesca tradicional. Aliado ao festival, o turismo pela região também gera a renda criativa para o município. Cidades como Paulínia (SP) e Paraty (RJ) também se destacam entre as cidades criativas do país. O Festival de Cinema de Paulínia e a Feira Literária de Paraty, a FLIP, geram um fluxo intenso de turistas em busca de cultura e promovem geração de renda para os municípios. Mais é importante destacar que não são somente os festivais de cultura que caracterizam uma cidade criativa. A partir do momento em que uma prática cultural comum e usual entre os habitantes atrai turistas e geração de renda, ela já é considerada uma cidade criativa. Ou ainda, os produtos comumente produzidos pelos habitantes ao serem


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comercializados como objetos de desejo, como o tradicional comércio de roupas de lá e linha das cidades de Socorro (SP) e Serra Negra (SP).

2.2.2 Comunidades criativas “O conceito de cidade criativa não se atém a uma abordagem urbana, econômica, cultural, ambiental ou social; ela abrange todos esses fatores juntos, moldando um novo paradigma de desenvolvimento. Implementá-lo exige envolvimento da comunidade” (REIS, 2011, p. 28)

A utilização da imaginação e da criatividade nas comunidades é uma realidade mais próxima e usual, se considerar a proximidade e a relação mais direta entre seus praticantes. A comunidade criativa caracteriza-se por esse intercâmbio de ideias e informações entre pessoas fisicamente próximas e focadas em um mesmo objetivo. Delinear a prática econômica em uma comunidade limitada é o primeiro passo para implementá-la na organização econômica de um município e, posteriormente, no planejamento econômico de um país. A economia criativa caracteriza-se pelo uso e prática da criatividade para a geração da renda, mas também e, essencialmente, pela valorização e aplicação da cultura local nessa produção de ideias. Nesse sentido, uma das práticas mais comuns da economia criativa nas comunidades é o artesanato. Para executá-lo, os grupos de artesãos utilizam técnicas aprendidas em conjunto ou outras transmitidas por gerações; os materiais são obtidos na própria comunidade ou adquiridos de acordo com a tradição artesanal dos envolvidos. A produção em si envolve grande dose de criatividade sem deixar de lado as tradições culturais e características da região. Essa é apenas uma das vertentes da economia criativa aliada à cultura e geração de renda local. Outras linhas como o turismo e a própria sustentabilidade e preservação do ambiente fazem parte dessa lista. Para dar certo, a prática das ideias deve gerar orgulho nos cidadãos da comunidade. O sentimento de missão cumprida e satisfação com o trabalho realizado trará a confiança necessária para a divulgação e disseminação de suas práticas econômicas que chegarão mais rapidamente a outras comunidades. Enxergar as iniciativas pioneiras como exemplo é um grande passo para a implantação dessa prática em uma série de novas comunidades. Trabalhar a economia criativa no Brasil é uma oportunidade de revelar o celeiro de grandes ideias que temos aqui e apontar um novo rumo, uma nova perspectiva para uma


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economia que insiste em seguir o fluxo das grandes potências. A fama internacional de país da rica diversidade cultural, das grandes ideias e do alto nível de criatividade é ponto positivo para o engajamento do país na aplicação contínua da economia criativa em seu território. A diversidade cultural deve ser avaliada com relevância pelas lideranças competentes para encontrarem novos rumos econômicos para o país. As primeiras atitudes foram tomadas, como a criação da Secretaria da Economia Criativa incluída no Ministério da Cultura (MinC), em fevereiro de 2011, para organizar os investimentos e ações nesse setor em ascensão e expansão. Uma iniciativa advinda do setor político é um grande avanço para a concretização da implantação da economia das ideias em um país que passa por um período econômico positivo e já sente as mudanças e melhorias de uma economia emergente. A colocação do Brasil no “centro do mundo” é notável, atraindo grandes eventos internacionais, como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, a serem realizadas na cidade do Rio de Janeiro, além dos negócios de entretenimento, que encontraram no Brasil um público com potencial poder monetário e disponibilidade em gastar com lazer. Porém, o que ainda incomoda é a imensa desigualdade social que persiste em seu território. A economia criativa pode e deverá ser o início da solução desse problema. A partir do momento em que as comunidades tornarem-se economicamente independentes diante da geração de renda a partir de suas próprias ideias e cultura, o cenário econômico tende a se restabelecer e a tornar-se mais igualitário. Nesse momento, a mídia e, essencialmente, os jornalistas deverão cumprir seu papel de divulgadores de boas notícias e disseminar a ideia e os exemplos para todo o país. “Todos acreditamos que a indústria de comunicação deva ser parte das grandes mudanças que estão acontecendo na sociedade e no ambiente de todo o mundo” (DIAS, 2011, p. 22) Considerando todas essas explicações e considerações sobre a economia criativa e seu potencial de transformação das comunidades, criamos a página CriAtive no Facebook. A disseminação do conceito e dos exemplos que deram certo em diversas partes do Brasil exerce a função de revelar essa oportunidade promissora que está se abrindo para o país e para o mundo. Destacamos a relevância do Facebook como uma rede social de amplo alcance mundial, levando os exemplos brasileiros para todo o mundo.

2.3 O papel das redes sociais na diminuição da pobreza Obras literárias sociológicas e de estudos urbanos vêm alertando nos últimos anos para a importância das redes sociais enquanto suporte fundamental para a sociabilidade urbana e


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para a melhoria da qualidade de vida da população. O contato com uma variedade cada vez maior de indivíduos seria um facilitador para a superação dos níveis de pobreza, uma vez que promovem um maior fluxo de informação, recursos econômicos e repertórios culturais. Essa perspectiva foi lançada no livro “Opportunities and Deprivation in the Urban South”, do pesquisador brasileiro Eduardo Cesar Leão Marques, lançado no Reino Unido. No Brasil, o estudo foi publicado em setmbro de 2010 pela Editora Unesp com o título “Redes Sociais, Segregação e Pobreza). Além de outros recursos, a obra aborda a ocorrência de que uma parcela da literatura passou a sugerir a incorporação do espaço, resultando em políticas públicas de combate à pobreza focadas no território (Eduardo apud Wilson, 1987; Briggs, 2005). Um estudo realizado por Marques (2012) para a concepção do livro constatou entre 209 indivíduos em situação de pobreza que aqueles com sociabilidade baseada apenas na vizinhança, tendem a obter rendas que variam em torno de R$210,00. Por outro lado, quem tem um fluxo relacional mais amplo, e mantém contato com membros de outras instituições (trabalho, clube, entre outras) tendem a obter uma renda substancialmente maior, que varia em torno de R$390,00. Portanto, quanto mais diversa, menos primária e local for a sociabilidade do indivíduo, maiores as chances dele conseguir sair da situação de pobreza. Embora a pesquisa realizada por Marques esteja restrita a relações sociais em ambientes físicos, não se pode descartar a influência das novas mídias nos processos de ampliação dos laços de interação social dos indivíduos inseridos digitalmente, ou daqueles afetados direta ou indiretamente pelas comunidades estruturadas dentro dos ambientes virtuais. Uma vez que o acesso às redes sociais on-line está facilitada, a tendência é que as interações dos indivíduos situados na linha de pobreza cresçam, e consequentemente, o acesso a oportunidades de trabalho, informação, entre outros itens podem resultar em um aumento na geração de renda e da qualidade de vida do indivíduo em questão. Antes, o que era considerada uma compreensão “pontual” da pobreza relacionava a condição social do indivíduo estritamente à inexistência de rendimentos monetários ou ainda associava essa mesma condição à escassez educacional, más condições de saúde, entre outras situações pontuais. Segundo essa visão, esses elementos seriam importantes por permitir aos indivíduos acessar mais facilmente, ou com melhores credenciais, estruturas de oportunidades similares às consideradas quando se pensa apenas nos rendimentos. Embora essas dimensões sejam absolutamente essenciais para a compreensão da pobreza e para o seu enfrentamento pelas políticas de Estado, tanto trabalhos acadêmicos quanto as políticas já implementadas demonstram que outros elementos podem também ser fundamentais. (MARQUES, 2012)


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A convergência da sociabilidade com as redes auxiliam na superação da dicotomia existente entre estrutura e ação que alimenta a maior parte da literatura relacionada à temática. Isso significa que assim como os atributos individuais, as situações sociais e as redes se produzem e se influenciam mutuamente. A princípio, as redes podem auxiliar as iniciativas públicas a se tornarem mais capazes de alcançar os seus objetivos (Marques apud Trotter, 1999). Um exemplo a ser citado, foi o caso da incorporação de associações nãogovernamentais na política brasileira de combate à Aids, que hoje se tornou um ícone de reconhecimento internacional. Exemplos dessas ONGs de combate à AIDS são o Grupo Vhiver (www.vhiver.org.br/portal) e o Grupo Pela Vidda (www.aids.org.br), que aliam suas ações independentes às ações públicas. ... As redes são exploradas como elemento importante na promoção tanto de coesão social (bonding) quanto na construção de conexões e de integração social (bridging), no sentido dado aos termos por Briggs (2001). O primeiro efeito pode auxiliar na produção de identidades, na promoção de sensação de pertencimento e na construção de controle social nas comunidades. O segundo efeito tem consequências sobre a integração social, a redução do isolamento de grupos sociais específicos e a construção de padrões de sociabilidade com troca e integração mais intensa entre grupos. Tanto redes sociais quanto redes pessoais produziriam potencialmente coesão e integração. (MARQUES, 2012)

Levando-se em conta a importância das redes sociais para a superação da pobreza, preza-se pela análise e aplicação desse conceito ao projeto em questão, desenvolvido a partir da criação da fanpage CriAtive, na rede social Facebook. A princípio, embora as redes sociais demonstrem ter um caráter globalizado, e pareçam confrontar questões locais, a importância de se veicular conteúdos relacionados a comunidades locais de Bauru e região é justamente demonstrar que o relacionamento com pessoas localizadas em todo e qualquer canto do país e do globo facilita a superação das condições sociais ruins, porque promove a circulação da informação, de recursos econômicos e de repertórios culturais. Uma vez que este trabalho visa a elaboração de conteúdos em parte de caráter local, a serem veiculados em uma ferramenta de viés globalizado, como é o caso do Facebook, e, portanto, das redes sociais na internet, a proposta é difundir o conceito de Economia Criativa aplicado em localidades específicas para o conhecimento dos internautas pertencentes a essa rede social, a fim de que se amplifique o conhecimento de causa e, consequentemente, abra-se uma gama de oportunidades de crescimento e superação por parte desses projetos com aplicações locais.


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3. A CONSTRUÇÃO DO PRODUTO 3.1. A metodologia A construção de um produto exige, primordialmente, a determinação das metodologias de trabalho a serem utilizadas para organizar as etapas e o tipo de abordagem que será destinada ao tema selecionado. Para a concepção da página CriAtive no Facebook, nossa primeira preocupação foi justamente com o método de abordagem a ser utilizado, para o qual optamos pelo Método Indutivo, e, na sequência, a determinação dos métodos de procedimento utilizados, sendo selecionados os métodos estruturalista e observacional.

3.1.2. O método de abordagem A escolha pelo Método Indutivo foi determinada pela permissão em analisar um panorama geral sobre as possibilidades do ativismo midiático a partir da divulgação de aplicações práticas em localidades específicas no interior do estado de São Paulo, mais especificamente na região de Bauru. Levando-se em consideração que o Método Indutivo considera inicialmente o particular para depois promover a generalização, o que se pretende nesse produto é, por meio de casos isolados, estabelecer uma forma de veiculação de notícias de mesmo caráter na rede, ou seja, utilizar as iniciativas práticas locais veiculadas como exemplos aplicáveis em qualquer lugar, divulgar conteúdos referentes à mesma perspectiva de mobilização de causas. Diante da veiculação de produto jornalístico em rede social na Internet, é necessário considerar a jurisprudência na qual o processo de ativismo midiático deverá ser pautado. A legislação sobre a ética jornalística, aplicável a todo e qualquer projeto da área, vem em primeiro plano por meio do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros (FENAJ), disponível no site da FENAJ – Federação Nacional dos Jornalistas2, que deverá permear toda a concepção do projeto. Na sequência, deveremos seguir mais especificamente a regulamentação do direito na tecnologia da informação, que deverá ser considerada justamente por se tratar de veiculação de conteúdo jornalístico informacional na internet por meio de uma rede social. Finalmente, as regras de conduta e a política de uso de dados da rede social Facebook, disponibilizadas no próprio site3 deverão ser previamente estudadas antes da concepção final do projeto, a fim de que a proposta não infrinja a regulamentação do site. Tudo isso, para que seja possível analisar as iniciativas estudadas e configurar um monitoramento do feedback dos usuários do Facebook. 2 3

http://www.fenaj.org.br/federacao/cometica/codigo_de_etica_dos_jornalistas_brasileiros.pdf http://www.facebook.com/about/privacy/


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3.1.3. O método de procedimento Determinado o método de abordagem do assunto trabalhado, indicamos quais seriam os métodos de procedimento aplicados na concepção prática do projeto, tendo sido eleitos o Método Estruturalista e o Método Observacional. Em um primeiro momento, utilizou-se o Método Estruturalista, uma vez que se pretende investigar o fenômeno de cultura de comunidades locais e o desenvolvimento econômico decorrente e, a partir dessa análise, constituir um modelo abstrato que represente o objeto de estudo em questão. Então, será possível identificar o modelo teórico obtido em uma realidade concreta (comunidades distintas), a fim de que se consiga desenvolver pequenas economias provenientes das culturas locais. Portanto, o modelo permite uma tramitação do concreto (análise das comunidades) para o abstrato (modelo obtido), e a partir disso, percorre o caminho inverso, usando o abstrato para construir uma nova realidade (sugerir potenciais culturais geradores de economia local). Ao observar as diferentes comunidades e como relacionam a cultura com a sustentabilidade para configurar uma economia criativa local, podem-se notar semelhanças umas com as outras, normas que se preservam e se repetem nas diferentes localidades, como se fossem normas inconscientes necessárias à manutenção desse sistema. É com base nas semelhanças que será possível construir uma maneira de abordar e veicular materiais jornalísticos referentes a todo esse processo. A economia criativa local se desenvolve segundo dois sentidos estruturalistas: enquanto uma estrutura profunda e inconsciente das sociedades, no momento em que a comunidade apreende as diretrizes para a economia criativa, mesmo se praticada para a sobrevivência da comunidade, sem haver uma consciência plena sobre o conceito e si; e como elementos que só adquirem significado quando vistos dentro dessa estrutura, ou seja, a conjunção cultura e sustentabilidade, e divulgados dentro dos parâmetros desse conceito. É possível identificar que apesar das diferenças nas características das culturas e a maneira como desenvolvem a economia, a base estrutural de trabalho é a mesma para todas as comunidades destacadas. Finalmente, para compor os métodos de aplicabilidade e produção, será utilizado o Método Observacional por meio de um estudo de caso. Será observado um exemplo de modelo semelhante aos objetivos propostos, analisado segundo a metodologia do estudo de caso. Tendo em vista o Facebook como uma rede social intensamente utilizada mundo a fora, fizemos um recorte no Twitter, uma outra rede social de alcance semelhante, que já utiliza suas ferramentas para a veiculação “hardnews” e para mobilizações sociais. Nesse sentido, Mielniczuk (2003) afirma que “algumas dessas especificidades decorrem das características do webjornalismo, como o hipertexto e a possibilidade de se conectar blocos de informação


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que associam informações passadas e futuras, dados textuais e audiovisuais, textos de uma e outra fonte; e a interatividade, ou a possibilidade de que as pessoas possam interagir no mesmo suporte, trocando idéias e informações”, aproximando a realidade jornalística do Twitter e do Facebook. Tomando o caso da utilização do Twitter na Web 2.0 para a disseminação e longo alcance rápido e dinâmico do conteúdo, poderemos construir uma página do Facebook com os mesmos propósitos para os seguidores e assinantes.

3.2. O cronograma O planejamento de um produto prescinde da elaboração de um cronograma, com a determinação das prioridades e das ações pré-requisito para o desenvolvimento das demais. A configuração de um cronograma em que se determinem datas e prazos é fundamental para a organização da equipe. Elaboramos um cronograma de produção entre os meses de junho a novembro de 2012, desde a finalização do projeto até o protocolo do trabalho finalizado. Segue: Junho

Protocolo do projeto

Julho

Organização da base teórica

Agosto

Agendamento das reportagens in loco Atualização constante da página

Setembro

Outubro

Atualização constante da página

Novembro

Atualização constante da página

Levantamento e leitura bibliográfica Levantamento de locais para produção do conteúdo Concepção da página do Facebook Produção in loco no Projeto Bambu (Bauru - SP) e edição Produção in loco na Área Verde Itamarati (Botucatu– SP) e edição Protocolo do produto experimental e do relatório Tabela 2

Contato com especialistas da área Página CriAtive no ar Produção in loco na Aldeia Ekeruá (Avaí - SP) e edição Desenvolvimento do relatório

Defesa do projeto experimental para a banca examinadora

Divulgação de CriAtive


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3.3. O suporte midiático De acordo com a definição de Raquel Recuero (2009), as chamadas mídias sociais são redes de conexões complexas instituídas por interações sociais com base em tecnologias digitais de comunicação. A comunicação mediada por computador permitiu então uma amplificação na capacidade de conexão entre indivíduos e grupos, possibilitando o surgimento de redes nesse espaço. As redes sociais, como o Facebook, são estruturas que integram dois de seus principais componentes: os internautas (indivíduos, grupos, empresas, entre outros) e seus laços de interação. (WASSERMAN, F. 1994; DEGENNE e FORSÉ, 1999). Nestes ambientes virtuais é possível haver interação social entre pessoas e grupos, assim como o compartilhamento de informações, debates e discussões em torno de fatos e assuntos. Desta forma, além da interatividade, as mídias sociais são capazes de acarretar impactos sociais de grandes proporções. Dentre eles, é possível citar como exemplo as grandes proporções que as discussões sobre a construção da Usina de Belo Monte adquiriram no Facebook. Isso foi possível uma vez que alguns membros da rede social criaram grupos de discussão visivelmente contra a construção da hidrelétrica na região do Xingu. Pôde-se então, agrupar internautas com o mesmo intuito, para se posicionar com relação à construção de Belo Monte, e potencializar a divulgação do abaixo-assinado contra a Usina, criado por eles e repassado nas mídias sociais. Até o dia 18 de outubro de 2012, o abaixo-assinado contou com mais de 32 mil assinaturas em âmbito nacional4. A comunicação mediada pelo computador origina estruturas sociais, e, portanto, interações. Essas interações, por sua vez, geram fluxos de informações que de certa forma delineiam a estrutura social. As redes sociais tornam os laços sociais mais densos possibilitando que dados, emoções, acontecimentos e discussões sejam disseminados ampla e rapidamente pela web. As redes sociais têm sido utilizadas como ferramenta por instituições ambientalistas, para que seus ideais atinjam um número bastante significativo de internautas de maneira mais eficaz e mais imediata. A grande disponibilidade de informações na internet, integrada com a alta velocidade do fluxo neste meio, modificou o conceito de distância geográfica e possibilitou a redução da distância entre pontos distintos do planeta. Dessa forma, os internautas participam de modo ativo e se mobilizam frente a campanhas e debates em um espaço de tempo bastante pequeno. 4

Acessado em 18 de outubro de 2012. <http://www.causes.com/causes/442567-contra-hidrel-trica-de-belomonte>


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As causas sociais e culturais aliadas à tecnologia das redes sociais facilitam a contribuição dos indivíduos ao processo de desenvolvimento da Economia Criativa, que depende em maior parte da mobilização da sociedade civil para ser colocado em prática. Para isso, as redes sociais mais populares, como o Facebook, o Orkut e o Twitter desempenham um papel fundamental no ativismo midiático em prol de causas sociais, culturais e econômicas. O Facebook é considerado hoje a maior rede social on-line do mundo, com um contingente de aproximadamente um bilhão de usuários ao redor do mundo. O website de relacionamentos foi lançado em fevereiro de 2004, por alguns universitários da universidade de Harvard, nos EUA. Mark Zuckerberg como fundador, Eduardo Saverin como co-fundador, e Dustin Moskovitz e Chris Hughes como colaboradores. A princípio, a plataforma estava disponível apenas aos estudantes da universidade. Em nada menos do que duas horas desde sua criação, o Facebook, inicialmente chamado de “The Facebook”, teve 22 mil acessos. Visualizado o sucesso a que a rede social estava propensa, o Facebook foi aberto a toda a rede, e passou a receber volumosos investimentos, seu layout foi repaginado e novos aplicativos foram sendo incorporados à rede. Calcula-se hoje que os usuários do Facebook gastam em média 700 bilhões de minutos por mês na rede social. Posicionado entre os 10 sites mais acessados do mundo, de acordo com o ranking Alexa Internet Inc., a plataforma aparece também como o primeiro colocado entre os sites mais acessados do mundo pelo Google, na lista da Ad Plannet Top 1000 Site. O meio on-line possibilita que seja realizada uma horizontalização no processo de construção de conteúdo midiático, uma vez que o poder de produção e difusão da mensagem é possibilitado a todo e qualquer internauta que esteja totalmente incluído digitalmente. Dessa forma, a mensagem transmitida de indivíduo a indivíduo, ao invés de veículo para indivíduo, torna-se possível atingir grandes contingentes de consumidores de conteúdo de forma mais rápida e com uma maior eficiência através das redes sociais on-line. O Facebook entra como uma das ferramentas de destaque, uma vez que um sétimo da população mundial possui uma conta na rede social em questão Dessa forma, os conteúdos, as opiniões, e até mesmo novas formulações de jornalismo ganham um caráter maior de repercussão nas redes sociais. Segundo pesquisa produzida pela empresa de métricas Comscore, em 2010 o Facebook cresceu cerca de 270%, alcançando 12,11 milhões de visitas únicas. Segundo Raquel Recuero (2009), “as redes sociais geram a possibilidade de novas formas de organização social baseadas em interesses das coletividades. As redes são os meios e as mensagens da Era da Hiperconexão”.


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Jornais, revistas e outras mídias tradicionais inseridas no meio on-line utilizam muito as redes sociais, especialmente o Facebook e o Twitter como ferramentas de divulgação de conteúdo, a fim de que o internauta se desloque da rede social para o site com o conteúdo em questão. E é a partir dessa constatação que se cogitou a possibilidade de utilizar as redes sociais (mais especificamente o Facebook) não apenas como uma ferramenta de divulgação de material de outras mídias on-line, mas como um gerador de conteúdo próprio. As mídias sociais, enquanto possíveis ferramentas jornalísticas, possibilitam uma aproximação do jornalista com o seu público, uma vez que a relação horizontal e direta do produtor com o consumidor de matérias torna o fluxo de informação mais humanizado, e o contato humano acaba sendo o fio condutor do compartilhamento da notícia, entre jornalista e internauta. Para Ana Brambilla (2011), antes de adentrar o universo jornalístico das redes sociais, o profissional da área deve antes de tudo ser um explorador da ferramenta, um usuário participativo. “Essas e outras possibilidades de se fazer jornalismo nas redes sociais, criadas e experimentadas diariamente por players sem medo de gente têm mais chance de darem certo se os profissionais que estiverem por trás das ações forem, antes de qualquer coisa, nativos das redes. Conhecer a dinâmica dos grupos, os códigos implícitos de comportamento e, obviamente, saber tirar o melhor de cada ferramenta ajuda desde a fase do planejamento do uso das mídias sociais no jornalismo até a execução e análise dos resultados. Antes de ser jornalista de mídias sociais, portanto, seja um forte usuário dessas redes”. (BRAMBILLA, Ana. 2011)

A popularização das novas mídias possibilitou ao profissional de jornalismo um contato com novas fontes de informação, em locais distintos do globo. A partir do fácil acesso a esses dados, cabe ao jornalista a função de apurar e complementar o conteúdo adquirido através das mídias sociais. Por outro lado, cabe a este profissional da comunicação não apenas filtrar os conteúdos de relevância social e apurá-los nas redes sociais, mas também construir o conteúdo jornalístico a partir dessa ferramenta. Assim, torna-se possível a rápida difusão de um conteúdo já pré-selecionado. Com a facilidade de veiculação de material nas redes, o diferencial passa a ser a credibilidade daquilo que é exposto ao internauta, e não mais a notícia dada em primeira mão. “Talvez esse seja o novo papel que caiba ao jornalismo na era das mídias sociais: atuar como uma espécie de atestado de credibilidade ao primar não pelo furo da notícia, mas por sua validação. Propagar é importante, mas responder, criar uma relação de confiança é ainda mais”. (CARVALHO, 2011)


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O jornalismo tradicional aderiu ao meio digital como meio de propagação de conteúdo. Porém, o uso se restringe à veiculação de conteúdo nas mídias sociais nos mesmos moldes do meio impresso: sem diálogo com o leitor. É preciso realizar uma adaptação, visando a participação do internauta, enquanto se ganha a fidelidade deste em um processo de horizontalização da produção jornalística na web. “Era mais conveniente deter total controle sobre as direções em que as informações as jornalísticas trafegam. Era uma gestão onde se possuía o controle da produção, da publicidade e, principalmente, dos pensamentos críticos acerca do conteúdo oferecido e da própria empresa de comunicação. Com as redes sociais tudo isso é profundamente alterado, sofrendo um impacto que “prejudica” o modelo tradicional de gestão que até então era tido como único”. Entre as redes sociais on-line, enquanto ferramenta jornalística, o Facebook possui o diferencial de atuar combinando práticas sociais em um mesmo ambiente. As comunidades virtuais criadas nessa rede social em específico são estruturadas de modo que aglutinem interesses comuns, como um objetivo, um hobby, um estilo de vida, uma localização geográfica, uma profissão, e até mesmo uma causa. Os integrantes dessas comunidades se unem em prol de um interesse em comum, a partir do qual sentem a necessidade e a vontade de contribuir e de receber benefícios referentes à informação. O Facebook funciona através de perfis e comunidades. Em cada perfil, é possível acrescentar módulos de aplicativos (jogos, ferramentas, etc.). O sistema é muitas vezes percebido como mais privado que outros sites de redes sociais, pois apenas usuários que fazem parte da mesma rede podem ver o perfil uns dos outros. Outra inovação significativa do Facebook foi o fato de permitir que os usuários pudessem criar aplicativos para o sistema. O uso de aplicativos é hoje uma das formas de personalizar um pouco mais os perfis (BOYD & ELISSON, 2007).

Uma vez que o ambiente virtual não impõe barreiras geográficas e culturais, por ser um espaço acessível a todo e qualquer cidadão, existe a possibilidade de os internautas se agruparem por interesses e ideologias, originando grupos classificados como nichos. A partir da concepção da teoria da Cauda Longa, Chris Anderson5 expõe a tendência de pequenos e variados nichos surgirem de maneira progressiva, enquanto a grande massa de informação tende a perder espaço. Embora as mudanças nos padrões jornalísticos estejam sendo alterados vagarosamente no meio on-line, ainda assim é possível perceber as intenções dos veículos de comunicação de

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Chris Anderson é editor-chefe da revista Wired, Chris Anderson, e escreveu o livro “A Cauda Longa”. O livro aborda a transformação do mercado de massa, para um mercado de pequenos nichos e micro-hits.


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interagir, de se relacionar com o público, a fim de receber um feedback para aprimoramento e otimização da entrega de informações. A partir dessa constatação, mesmo que de forma discreta e pouco exemplificada, podem-se observar quebras de paradigmas jornalísticos, e o surgimento de novas culturas, estimulados pelas redes sociais. Ações do tipo “call to action”, com as quais o jornalista solicita a colaboração do público com conteúdos específicos, crescem exponencialmente nas redes. O desenvolvimento da democracia digital e a possibilidade de se criar narrativas segmentadas por interesses provenientes da expressão do público, é gerada através de meios e canais que fazem aflorar espontaneamente uma nova espécie de democracia social, que está conseguindo transformar as narrativas sociais em um novo território virtual de disputa na sociedade da informação. Para Jeff Jarvis6, o jornalismo deve deixar de ser concebido como produto e passar a ser entendido como processo. Ao contrário do que diz o senso comum, as novas mídias não substituirão as mídias tradicionais, e sim, convergir-se-ão umas com as outras. As interfaces social e televisiva, por exemplo, quando colocadas simultaneamente em um mesmo ambiente virtual de socialização, não se prejudicam. A mídia social valida ainda mais a simbologia da televisão. E essa convergência que possibilita ao internauta a busca pela construção de um sentido mais amplo e mais completo (JENKINS, 2008). Para Jenkins, a convergência entre as tradicionais e as novas mídias. “... será utilizada como sendo uma transformação cultural, à medida que as pessoas são incentivadas a procurar informações, produzir conteúdos diversos ou fazer conexões em diferentes meios de comunicação”. (JENKINS, 2008)

Dessa forma, é possível concluir que a convergência midiática possibilita acima de tudo, o aumento no número de laços sociais na web de maneira geral, mas em especial nas redes sociais. A consequência desse processo acaba resultando no crescimento do fluxo de informação nas mesmas proporções. “O poder dos fluxos é mais importante que os fluxos do poder” (CASTELLS, 2002). O autor realça a potência das conexões interativas da inteligência articulada de maneira coletiva. As mídias sociais facilitam a coordenação das ações, e estudos mostram que as redes sociais na internet estão expondo de maneira crescente os internautas a questões humanitárias e sociais, a partir de informações disponibilizadas democraticamente e de maneira plural.

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Jeff Jarvis é jornalista estadunidense. Criou a teoria da Midiosfera.


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A aldeia global esquematizada por McLuhan, embora seja um conceito considerado utópico e irreal, caracteriza de certa forma a realidade virtual nos dias de hoje e a tendência para os próximos anos. A aceleração de hoje não é uma lenta explosão centrífuga do centro para as margens, mas uma implosão imediata e uma interfusão do espaço e das funções. Nossa civilização especializada e fragmentada, baseada na estrutura centro-margem, subitamente está experimentando uma reunificação instantânea de todas as suas partes mecanizadas num todo orgânico. Este é o mundo novo da aldeia global.(MCLUHAN, 1971)

A construção coletiva e cognitiva do conhecimento está formando a Inteligência Coletiva. O Brasil, sendo o quinto país7 com o maior número de usuários de internet, caminha para estruturação dessa Inteligência, enquanto o e-cidadão é construído aos poucos.

Figura 3

Conhecimento tecnológico – Conhecimento técnico mínimo necessário para permitir o usuário utilizar um dispositivo computacional. Conexão, acesso – Esta segunda etapa está dentro dos objetivos de infraestrutura e acesso. Interação, participação – É o momento em que o usuário começa a interagir em mídias sociais, é o momento das descobertas que em geral são feitas com pares próximos ‐ laços fortes. Estima, reconhecimento – O usuário já transita com facilidade no novo espaço e tornou‐se de fato um interagente, um prosumer que produz e compartilha em busca de estima e reconhecimento. Autorrealização – O usuário conseguiu produzir relevância junto aos seus pares, e dentro do seu nicho de atuação é uma ciber celebridade, conquistou respeito e admiração. (BRAMBILLA, Ana. 2011)

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Levantamento feito pela assessoria do PT no Senado, com base em dados de institutos governamentais e não governamentais


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Um dos objetivos da construção do e-cidadão é levá-los para a fase da mudança cultural, na qual serão construídas novas e-celebridades. (Kelly Mooney, The Open Bran 2007) Hoje não se pode mais restringir a sociedade em três poderes do Estado e às corporações como um quarto poder. Um quinto poder está em construção, que é a sociedade organizada e conectada (e-cidadania).

Figura 4

3.4 A linha editorial Enquanto um veículo jornalístico seria necessário determinar uma linha editorial para CriAtive. Por linha editorial entende-se a política pré-determinada pela direção do veículo de comunicação ou pela diretoria da empresa que determina as condições pelas quais a empresa jornalística enxergará o mundo. Ela indica valores, aponta paradigmas e influencia decisivamente na construção da mensagem, orientando o modo como cada texto será redigido, definindo quais termos devem ser usados e qual a hierarquia que cada tema terá na edição final. “A linha editorial pode residir num posicionamento político no sentido amplo, na escolha do tipo de informação e do tratamento do fato que a publicação privilegiará. Ela se traduz em cada edição na escolha dos acontecimentos a serem valorizados, ao ângulo sob o qual os cobrir” (NEVEU, in MALULY e VENANCIO, 2009)

Refletindo sobre a proposta e os objetivos da veiculação jornalística em CriAtive, enquanto um veículo de comunicação, determinamos a linha editorial que traduz na prática os princípios que norteiam e constituem, no seu conjunto, o fazer jornalístico de CriAtive.


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“A página CriAtive estabelece como premissa de sua linha editorial a busca por um jornalismo social e engajado, pautado pela relevância das iniciativas identificadas e produzindo uma cobertura plural. A veiculação de toda e qualquer notícia relacionada à temática do engajamento deverá sustentar a atualização do conteúdo e embasar a proposta da mobilização.” Nesse sentido, a missão editorial de CriAtive será conscientizar e mobilizar pessoas para a prática da economia criativa em pequenas comunidades, como forma de tornarem-se independentes dos meios convencionais da economia, que acabam por excluí-los do motor econômico e social. A ética estará evidente na missão considerando que comunidades humildes estarão sendo representadas em uma rede social de alcance mundial. É primordial preservar a imagem de seus integrantes e manter a iniciativa bem cuidada, sem possibilidades de distorção ou calúnias sobre as ações. Diante da divulgação de sua linha editorial e de sua missão, a CriAtive assume esse comprometimento de engajamento e preocupação social, cujas ações serão voltadas para a disseminação de boas iniciativas e o incentivo a novas ideias. O objetivo maior é apontar como a economia criativa pode transformar vidas, mesmo com poucos recursos, e oferecer apoio para divulgação de ideias e arrecadação de recursos. A CriAtive se compromete com a liberdade de expressão dos menos favorecidos e excluídos das mídias convencionais, a promoção da livre iniciativa e da justiça, os valores proclamados pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, a defesa dos valores culturais, éticos e históricos que norteiam o Brasil, além da preservação de seu patrimônio cultural, agindo com sensibilidade social e de acordo com a sustentabilidade.

3.5 A definição das pautas

O Projeto Bambu Esse foi o primeiro projeto visitado pela equipe, iniciando a produção do material multimídia

que

seria

disponibilizado

na

página

CriAtive

do

Facebook.

Desde 1990, o Projeto Bambu é desenvolvido no campus da Unesp de Bauru, cidade localizada no interior do estado de São Paulo, há aproximadamente 300km da capital, por Marco Antonio dos Reis Pereira, professor do departamento de Engenharia Mecânica da universidade. O objetivo dessa proposta é utilizar a cultura bambueira como uma alternativa sustentável para o desenvolvimento de produtos variados, tais como componentes da


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construção civil, indústria moveleira, cabos para ferramentas agrícolas, painéis, chapas, entre outros. Em 2006, o Projeto Bambu ganhou mais um propósito: possibilitar a geração de renda a uma comunidade local a partir da venda dos produtos fabricados com bambu, essencialmente itens decorativos e utensílios domésticos. A comunidade escolhida pelo professor Marco Antonio foi o Assentamento Horto Aimorés, da cidade de Bauru, por ser uma comunidade rural que pretende fixar o jovem no campo.

Os atores Atualmente, a equipe do projeto consiste no professor Marco Pereira, sete famílias do Assentamento Horto Aimorés e alunos dos cursos de Design Industrial e das engenharias disponibilizadas pela universidade, sendo a principal a Engenharia Mecânica, todos lecionados no campus da Unesp. Além do Projeto Bambu, esses alunos também desenvolvem o “Projeto Taquara”, um trabalho paralelo que tem o intuito de desenvolver produtos em bambu para exposição em congressos e feiras. Diante das oportunidades e possibilidades oferecidas pelo Projeto Bambu, alguns moradores do Assentamento Horto Aimorés criaram o Grupo Agroecológico Viverde, direcionado ao desenvolvimento de produtos e projetos arquitetônicos em bambu, a partir de encomendas realizadas por pessoas físicas e empresas. A verba arrecadada com as encomendas e as vendas nas feiras de artesanato das cidades de Bauru e região possibilitou ao Grupo Viverde o início da construção de um galpão no terreno do assentamento, cuja função será abrigar o maquinário da oficina de bambu e toda a gama de equipamentos relacionados, que atualmente se encontram no Laboratório de Mecânica da Unesp de Bauru, onde são realizados o tratamento da madeira, e a arte no bambu, propriamente dita. Com a construção desse galpão no interior do assentamento, as famílias estarão mais próximas dos instrumentos de trabalho, aumentando o interesse e a independência de fatores externos, como a questão do transporte devido à grande distância entre a residência dos envolvidos e os equipamentos do projeto. Essa maior proximidade também poderá aumentar o número de interessados em integrar o projeto, justamente pela facilidade da produção.

O mecanismo Após seis anos da implantação do Projeto Bambu na cidade de Bauru, o professor responsável, Marco Pereira, começou a ministrar cursos gratuitos aos moradores do


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Assentamento Horto Aimorés que tivessem interesse na proposta: ensinar o uso do bambu para a produção de objetos artesanais e arquiteturas sustentáveis. Nesses cursos, Marco leciona o passo a passo do manuseio da madeira, desde as técnicas de plantio e colheita, o tratamento adequado da madeira, até a arte do entalhamento, que permite a produção de produtos mais detalhados, desde as pequenas produções, como enfeites para a casa até construções maiores. Após tomarem conhecimento de todas as etapas de produção, os artesãos já estão aptos a utilizarem o maquinário instalado na oficina de engenharia mecânica, localizada em frente aos departamentos de engenharia da Unesp de Bauru. Assim que o bambu é colhido do bambuzal, que fica a aproximadamente dois quilômetros dali, o material bruto passa por um tratamento na oficina. Ali mesmo os artesãos fazem os tratamentos adequados para transformá-los em produtos comerciais. Após esta última etapa, os produtos encomendados são entregues aos clientes, e os avulsos são expostos em feiras da região com o objetivo de venda, mas principalmente como meio de divulgação do trabalho desenvolvido pelo Projeto Bambu.

A economia criativa aplicada Em um primeiro momento, é possível caracterizar o Projeto Bambu como uma iniciativa de aplicação da economia criativa, uma vez que a criatividade da realização de arte em bambu atua em conjunto com o caráter sustentável da proposta, com o intuito de possibilitar a geração de renda àqueles que atuam direta e indiretamente com o projeto. A cultura do bambu foi inserida em uma comunidade de caráter rural de Bauru, e a partir dessa implantação foi possível capacitar os moradores interessados na proposta a realizar um trabalho artesanal e gerar renda. Embora as dificuldades de deslocamento até o local de trabalho (Unesp) sejam bastante grandes, e parte dos integrantes do projeto tenham desistido da iniciativa, a proposta de possibilitar o desenvolvimento da arte em bambu dentro do próprio assentamento vem despertando novamente a curiosidade dos antigos integrantes do projeto. Para os membros do Projeto Bambu, a renda gerada pela venda dos produtos artesanais e da arquitetura em bambu está auxiliando na melhora da qualidade de vida das famílias desses integrantes, tornando possível a fixação dos moradores do assentamento ao campo, sem necessitar de um deslocamento até a cidade. Além da arte em bambu, o Grupo Agroecológico Viverde ainda desenvolve a criação de pequenas hortas comunitárias no próprio assentamento, que promovem o sustento das mais


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de 400 famílias moradoras do local. Essa ideia também pode ser inserida no conceito de economia solidária, que visa o bem comunitário concomitante ao desenvolvimento econômico local. Os conceitos de economia criativa e solidária também podem ser reconhecidos no objetivo que o Grupo Viverde tem de criar uma moeda de troca local, a partir da qual será possível realizar a venda de produtos aos moradores do assentamento, possibilitando a realização justa do pagamento com base naquilo que eles podem de fato produzir no local de moradia.

A escolha Optamos por divulgar primeiro esse projeto por dois motivos principais: o caráter de autonomia que o Projeto Bambu visa trazer aos moradores de uma comunidade rural sem grandes recursos financeiros e mostrar para os usuários da rede que o meio acadêmico pode e deve auxiliar no desenvolvimento de culturas locais, a fim de proporcionar a geração de renda em comunidades que necessitam de alternativas para melhorar a qualidade de vida dos moradores. A alternativa em questão foi desenvolver a economia criativa no Assentamento Horto Aimorés, um local aparentemente sem estrutura física adequada ao plantio e ao desenvolvimento de outras atividades, mas que passa por adequações com a renda gerada pelo Projeto Bambu, desenvolvido por enquanto, dentro do campus da Unesp de Bauru. Embora o conceito de economia criativa seja recente e nem todos tenham conhecimento de seu significado, alguns projetos da região de Bauru mostram que é possível aplicá-la de forma eficiente em locais variados. A ideia da CriAtive é abordar propostas que deram certo, ou que estão propensas a obter sucesso em comunidades locais de baixa renda, que oferecem a possibilidade da geração de renda a partir de culturas locais nativas ou implantadas.

A aldeia Ekeruá O segundo ponto de parada da produção da CriAtive foi a aldeia indígena Ekeruá. Fundada em 1913 e localizada no município de Avaí, interior de SP, a 15 km de distância da área urbana, a aldeia é uma das quatro comunidades do território Araribá da região noroeste do interior do estado de São Paulo. Pertencente à etnia Terena, a aldeia foi batizada com o nome Ekeruá em homenagem a uma fruta típica de seu território que entrou em extinção. A comunidade indígena é aberta a visitação e se propõe a divulgar a cultura terena por meio de danças culturais, artesanato, culinária, trilha ecológica, brincadeiras indígenas e teatro


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de histórias. Por conta dessa proposta, a aldeia é um dos atrativos do Circuito Turístico Caminhos do Centro Oeste Paulista, projeto organizado pelo SEBRAE que passa pelas cidades de Agudos, Arealva, Avaí, Bauru, Duartina, Iacanga, Lençóis Paulista, Macatuba, Pederneiras e Piratininga.

Os atores Atualmente, 47 famílias constituem a aldeia sob a liderança do cacique Jazone. Cada família reside em sua própria casa, construída pelos índios com arquitetura padrão. É tradição que cada aldeia indígena tenha seu próprio cacique, que age como um “prefeito” da aldeia, com suas funções políticas e sociais. Uma vez escolhido, o poder do cacique é vitalício, mas não hereditário. Quando o líder da aldeia falece, os habitantes organizam uma eleição para determinar a nova liderança. Os candidatos se apresentam espontaneamente e quem recebe a maioria dos votos da comunidade é nomeado cacique com poder vitalício. Os caciques são a liderança máxima de uma tribo ou aldeia, mas devem recorrer à FUNAI (Fundação Nacional do Índio) em casos judiciais. No Brasil, apesar da presença da cultura indígena na formação do povo, as lideranças e os representantes das aldeias precisam travar constantes dilemas com a FUNAI. Apesar de o órgão ser responsável pela prestação de auxílio à população indígena brasileira e defesa de seus direitos, isso não está sendo cumprido e as comunidades se vêem obrigadas a buscar seu próprio amparo legal, sem força e representatividade suficiente para vencer batalhas políticas.

O mecanismo Para preservar a cultura terena e seu povo, o cacique Jazone implantou algumas normas na comunidade. A primeira foi a regra do casamento: se um índio terena da aldeia casar-se com uma pessoa não pertencente à tribo, ele deve abandonar a aldeia e morar em outro lugar. Fica proibida a construção de casas para famílias mistas, como são designados os casais formados por índios e não-índios Uma segunda determinação refere-se ao trabalho e aos estudos dos índios fora da aldeia. É permitido trabalhar e estudar em locais externos, que, aliás, são atividades bastante praticadas, mas é preferível que a renda e os estudos se convertam em benefício para a própria comunidade. Cacique Jazone acredita que, após a formação, os jovens retornarão à comunidade para manter a cultura e a etnia, fixando o homem à aldeia. Além das regras para preservação da cultura, os terenas também necessitam de dinheiro para a subsistência. Nesse sentido, grande parte de suas atividades envolvem a


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prática da economia criativa, como o artesanato, o turismo cultural e a venda de mandioca descascada.

A economia criativa aplicada O conceito da economia criativa fica evidente, em primeira instância, na produção do artesanato cultural pelos índios (embora estes não tenham consciência sobre a existência desse novo conceito econômico). Toda a produção fica destinada à venda nos períodos de visitas, tanto de escolas, quanto de grupos adultos organizados, ou ainda nas feiras de artesanato de cidades da região, como Bauru, Marília, Agudos e São Manoel. A criação e a produção das peças são realizadas pelas mulheres da aldeia Ekeruá. Atualmente, 12 artesãs trabalham diretamente com o artesanato, desde o desenho e a criação, até a produção e fixação do valor de cada peça. As etapas de criação e manufatura do artesanato são atividades exclusivas das mulheres, cuja técnica de produção foi uma herança transmitida de geração em geração de índias, desde o surgimento do território Araribá. Para os homens, fica designada a etapa de força braçal, referente ao plantio e colheita do coquinho, utilizado como matéria-prima para a produção. As peças mais tradicionais são brincos, colares, pulseiras, enfeites para cabelo e zarabatanas, além de chocalhos e flautas. Cada família produz suas peças em casa, até o momento em que o espaço doméstico não suporta mais a produção e os produtos são encaminhados para a central do artesanato, um espaço da aldeia especialmente designado para armazenar as peças e efetuar o comércio em dias de visitação. Durante as visitas para captação de material, nós a apelidamos de “Casa das Penas”, por causa da diversidade de cores, formas e texturas das penas presentes de formas variadas nas peças produzidas. Essa é o primeiro exemplo da economia criativa aplicada ao ciclo econômico da aldeia, afinal, o artesanato da etnia terena também gera renda nos dias em que a aldeia recebe visitas. Essas excursões organizadas por escolas da região têm o objetivo de mostrar mais sobre a cultura indígena e apresentar seus costumes e hábitos aos alunos. Ao final do período na aldeia, eles passam pela central de artesanato e compram uma série de produtos, movimentando o setor econômico dos ekeruás. O mesmo acontece com a visitação dos grupos adultos. Por falar em visitas, essa é a segunda vertente criativa dessa economia.

O

agendamento das visitas é acompanhado por uma tributação de acordo com o número de pessoas e os interessados se disponibilizam a pagar determinada quantia para conhecer a


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cultura terena. Apreciar os costumes da etnia, assistir às apresentações de dança e entender a tradição são ações encaradas como novos fatores de geração de renda para o turismo cultural. Durante o período de passeio, há demonstrações dos hábitos terenas, desde as danças típicas, teatros, palestras, culinária, apresentação e venda do artesanato, além de um passeio pelos recursos naturais da região, como a caminhada pela trilha ecológica e o reconhecimento da fauna e da flora, discutindo a importância da natureza para a cultura e, principalmente, para a sobrevivência indígena. Os índios transmitem aos visitantes seus conhecimentos sobre as características e particularidades daquele tipo de cenário ambiental, conscientizando acerca da dependência indígena histórica desses recursos e despertando para sua preservação em qualquer cultura. O turismo cultural alia-se ao eco-turismo como mais uma vertente da economia criativa na aldeia Ekeruá. Finalmente, além do artesanato e do turismo, recentemente a aldeia começou a investir em outra vertente criativa: a venda de mandioca descascada. Os índios que trabalham fora da aldeia notaram as reclamações dos homens das cidades em relação ao trabalho e ao tempo gasto para descascar a mandioca. Isso fazia com que, muitas vezes, desistissem de comprá-la, prejudicando a economia das aldeias da região. Aliando essa constatação ao plantio de mandioca, tradicional na cultura terena, eles tiveram essa ideia. Os homens aumentaram a quantidade de mandioca cultivada e, depois de colhida, é tarefa das mulheres descascá-las e embalá-las para serem comercializadas. O principal objetivo dessa iniciativa, além da geração de renda, é trazer os índios para trabalharem na própria aldeia, sem precisarem de atividades externas para a subsistência. O projeto ainda é novo e as primeiras embalagens ainda não foram comercializadas, mas é possível identificar o nível de criatividade presente nessa iniciativa.

A escolha Nossa decisão por elaborar uma pauta sobre esse projeto e essas características, justifica-se pela diversidade de iniciativas e fontes de renda advindas de uma comunidade indígena do interior do estado de São Paulo. Essa escolha teve por objetivo mostrar como a economia criativa pode ser implantada em lugares incomuns, ou melhor, pouco explorados pelos estudos econômicos convencionais e obter sucesso em suas atividades. A descrição do projeto revela que a economia criativa sempre fez parte desse motor econômico, mas somente agora está ganhando a relevância e a notoriedade merecidas e


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necessárias. As economias mais simples há muito estão pautadas na geração de renda a partir das ideias, vide o artesanato tradicional transmitido por gerações. Esse é o objetivo da página CriAtive: divulgar iniciativas de aplicação da economia criativa que deram certo, independente das características da comunidade e de seu tipo de infra-estrutura. Acreditamos que a escolha e a veiculação de materiais jornalísticos pautados por uma aldeia indígena possam causar o impacto necessário para uma ação de mobilização e ativismo, nosso propósito, e evidenciar as amplas possibilidades de implantação da economia das ideias em pequenas comunidades.

Área Verde Itamarati Este foi o terceiro e último local visitado para a produção de material jornalístico relacionado à economia criativa aplicada em comunidades locais. Realizado em Botucatu, a proposta a ser exposta não se trata especificamente de um projeto arquitetado por membros participantes, mas de uma iniciativa encabeçada por dois irmãos moradores da cidade. Desde que se propuseram a tomar conta de uma área verde, localizada no Jardim Itamarati, um bairro da cidade de Botucatu, os pedreiros Paulo Eduardo Gomes e Paulo César Gomes passaram a enfrentar um problema que acabou se tornando uma fonte de renda para os irmãos. A vizinhança dessa área possui o costume de utilizá-la como uma espécie de lixeira, e ali é descartado todo tipo de lixo, orgânico e não orgânico. A partir desse material descartado, os irmãos começaram a produzir peças artesanais para venda. Os atores A proposta foi iniciada pelos irmãos Paulo Eduardo Gomes, de 30 anos, e Paulo César Gomes, de 38 anos, há cerca de dez anos. Desde então, eles são os únicos que ainda encabeçam a ideia inicial, mas hoje eles contam esporadicamente com a colaboração de alguns membros da comunidade. Ambos os irmãos são pedreiros, mas também se dedicam ao artesanato na área verde do Jardim Itamarati, arte que aprenderam desde cedo com a mãe, e com o avô artesão. Durante a semana, Eduardo e César não têm tempo hábil para cuidarem da área verde, que é propriedade da Prefeitura da cidade, mas da qual a manutenção foi concedida aos artesãos. Entretanto, os dois entre dez irmãos, dedicam seus fins de semana ao local, onde passam a maior parte do tempo.


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O mecanismo Em 2002, os irmãos Gomes, moradores da cidade de Botucatu, decidiram intervir em uma área verde próxima a casa da mãe deles, que é considerada propriedade da Prefeitura Municipal. Paulo Eduardo e Paulo César pediram então autorização para manter a integridade e a proteção ambiental do local. Desde então, eles vêm enfrentando um problema de descaso da população, uma vez que esta tem o costume de jogar lixo de todo e qualquer tipo na mata local. Além de se responsabilizarem pela preservação da área, os irmãos cultivam hortaliças, que são distribuídas gratuitamente aos moradores do bairro Itamarati. E, a partir do descaso da população local, que não preza pela preservação da área e onde descarta lixo constantemente, Paulo Eduardo e Paulo César optaram por desenvolver mais uma atividade no perímetro da área verde: o artesanato a partir do lixo. Dessa forma, então, eles passam a recolher aos fins de semana, todo o material que é descartado por ali, e a partir desse lixo, desenvolver peças artesanais, com madeira, metal, plástico, penas, vidro, e até ossadas de animais mortos. Os únicos instrumentos utilizados são as próprias mãos, e ferramentas simples, como o alicate e uma morsa, criada pelos próprios irmãos. Não são estabelecidas periodicidades para a produção das peças artesanais, mas assim que um determinado número de itens fica pronto para serem comercializados, os dois rapazes saem às ruas para vendê-los. Além desse método de venda, também são aceitas encomendas, que são avaliadas para saber se será possível executá-las dentro do prazo estipulado.

A economia criativa aplicada Considera-se a iniciativa em questão como uma aplicação da economia criativa, uma vez que os irmãos Gomes utilizam a criatividade e o conceito de sustentabilidade embutido na proposta, que é reaproveitar o lixo para transformá-lo em produtos artesanais vendáveis, a fim de que se gere uma renda suficiente para auxiliar na melhoria da qualidade de vida de Paulo Eduardo, Paulo César e dos moradores do bairro Itamarati, na cidade de Botucatu. Todo o lixo descartado pela população botucatuense na área verde de Itamarati é convertido em móveis, enfeites, acessórios (colares, brincos, pulseiras), ou o que convier à imaginação desses rapazes de Botucatu. Embora alguns conhecidos os auxiliem esporadicamente, são apenas os dois irmãos que transformam o lixo em peças artesanais. Enquanto o conceito de Economia Criativa visa à convergência de criatividade, sustentabilidade ambiental e desenvolvimento econômico, a verba gerada a partir do lixo transformado criativamente em produto consumível pode ser caracterizada como uma


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exemplificação da Economia Criativa em nível local, aplicada a uma comunidade local na região de Bauru.

A escolha Optou-se pela escolha deste como o terceiro e último projeto escolhido a ser abordado, com o intuito de mostrar que o desenvolvimento da economia não demanda muita verba, quando se opta pela criatividade para o desenvolvimento de ideias que resultam na geração de renda. A iniciativa na área verde do Jardim Itamarati, em Botucatu, exemplifica com clareza a conciliação que é possível realizar entre a sustentabilidade, e a geração de renda, embora o artesanato não seja hoje a única fonte de renda dos irmãos Gomes. Outro ponto de destaque da iniciativa é o fato de que, apesar da falta de consciência por parte da população ao jogar lixo na área verde em questão, outros tantos moradores do bairro Itamarati, especialmente crianças, vêm se interessando pelo trabalho desenvolvido e mostrando interesse em desenvolver iniciativas similares. Dentro do perímetro da área verde, Paulo Eduardo e Paulo César ainda cultivam uma pequena horta, para fins de distribuição de alimentos orgânicos livre de agrotóxicos aos moradores do bairro. Embora eles não obtenham lucro com o ato, isso auxilia na divulgação do projeto e na obtenção de reconhecimento por parte da comunidade.

Os Curadores da Terra O projeto Curadores da Terra é a vertente arquitetônica da ONG Verdever, que existe desde 1992, sob a liderança dos artistas, ambientalistas e arquitetos (assim auto denominados) Márcia Macul e Sérgio Prado. Eles desenvolvem ações em prol da preservação de biomas e da criação de cidades verdes, ecologicamente corretas e sustentáveis, mediante a união da arte, da tradição cultural e do ambiente. No ano 2000, a ONG Verdever apresentou no Centro de Tecnologias Alternativas do Oriente (da UNESCO), em Auroville, na Índia, uma proposta voltada à prática da arquitetura sustentável em comunidades locais que recebeu apoio imediato e despertou o interesse dos especialistas. Diante da aprovação, a ONG colocou a ideia em prática e entre 2001 e 2002 construiu uma série de casas populares na cidade de São Paulo, integralmente feitas com resíduos plásticos. Esse é o primeiro indício do uso da sustentabilidade e da criatividade em prol da comunidade lançado pelo projeto, utilizando exclusivamente as matérias primas disponibilizadas pelo meio, sejam elas naturais ou resultantes das ações humanas. Essa


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arquitetura sustentável proposta pelos Curadores da Terra também é uma das vertentes da economia criativa, afinal gera emprego e renda com os itens disponíveis na própria localidade. Com o sucesso da iniciativa, eles firmaram um acordo com a Caixa Econômica Federal para que pudessem aplicar essa proposta em âmbito nacional. A aceitação foi tanta que o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, juntamente com o Instituto Nacional da Propriedade Industrial batizaram o projeto com o nome “Curadores da Terra”, e a partir daquele momento deveria criar métodos e sistemas educacionais capazes de reverter quadros de comunidades dependentes onde e quando esta situação fosse encontrada, além de promover e incentivar pesquisas nas áreas ecológicas e culturais visando à novas práticas econômicas nas comunidades. Com a evolução do projeto, os idealizadores tomaram conhecimento de novas práticas voltadas para esse setor, como o desenvolvimento da chamada “bioeconomia pragmática”. Nesse conceito, o uso da terra crua para a construção de paredes estruturais de taipa e pilão se une à reutilização de garrafas pet para vedação e o reaproveitamento de todos os resíduos para a confecção de elementos construtivos limpos. Nesse sentido, os Curadores da Terra está desenvolvendo o conceito de sustentabilidade na arquitetura, reaproveitando todos os tipos de resíduos descartados no próprio local onde foram consumidos, economizando com transporte, evitando a poluição e dispensando o uso de aterros sanitários. A aplicação dessas tecnologias limpas possibilita a criação de um selo verde, garantindo a origem comprovada, a produção limpa e o destino correto dos materiais utilizados. A conquista desse selo implica em uma maior seriedade e credibilidade dos projetos, despertando interesse de investidores. Porém, com a aplicação da proposta nas comunidades, os órgãos apoiadores e investidores deixaram de dar o devido respaldo ao projeto, fazendo com que seus objetivos fossem sumindo, até quase sumirem. Mas Márcia e Sérgio sempre tiveram esperanças de mantê-lo. Essa prática caracteriza-se como uma bioeconomia, que promove a reutilização de matérias-primas para uma prática social. A essa nova prática ficam destinadas a construção de creches, escolas, calçadas e toda a gama de construções de cunho social, até mesmo itens para comercialização. Para divulgar suas iniciativas e os projetos desenvolvidos em variadas regiões do Brasil,

a

ONG

Verdever

hospeda

seus

materiais

e

conteúdos

no

site


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www.curadoresdaterra.com.br. Qualquer duvida ou curiosidade pode ser sanada por meio desse canal, que também oferece meios de contato8.

Os atores Como descrito anteriormente, os principais atores dessa iniciativa são os arquitetos Márcia Macul e Sérgio Prado, que idealizam as propostas e verificam sua aplicabilidade nas comunidades diagnosticadas com determinados problemas. Porém, eles não podem agir sozinhos. O auxílio e a colaboração dos moradores do local são imprescindíveis para a boa prática do projeto. Nesse sentido, tomemos como exemplo os quilombolas da Fazenda Picinguaba, localizada em Ubatuba, litoral norte do estado de São Paulo. Eles estavam perdidos em relação à manutenção e preservação de sua cultura e de seu território, quando conheceram o Curadores da Terra, por meio da visita dos próprios Márcia e Sérgio, que identificaram nessa comunidade um bom local para a aplicação da arquitetura sustentável e de novas práticas da economia criativa. Apresentadas as ideias e as perspectivas, os idealizadores necessitavam da colaboração, disponibilidade e boa vontade dos quilombolas em aprender as técnicas e valorizar a riqueza cultural e espacial que tinham em mãos. Eles deveriam estar conscientes do bom uso que poderia e deveria ser feito daquele território, afinal, eles são os mais interessados em fazer a iniciativa dar certo. Os atores da iniciativa Curadores da Terra sempre serão Márcia Macul, Sérgio Prado e toda a comunidade da localidade envolvida no projeto. Somente assim a proposta terá mão de obra suficiente para dar certo.

O mecanismo O funcionamento do projeto Curadores da Terra ocorre concomitantemente às ações da ONG Verdever, sendo ele a vertente arquitetônica do projeto. A identificação dos locais para a aplicação das atividades dos curadores ocorre de maneira instintiva. Márcia e Sérgio desenvolvem suas atividades normais do dia a dia, enquanto arquitetos, e quando identificam uma comunidade que necessite de uma ajuda ou de novas perspectivas colocam os curadores em prática. Assim acontece desde 2002, com a criação dos Curadores da Terra Em cada comunidade, a dinâmica do projeto se dá de forma diferente, justamente por causa das especificidades de cada cultura e das necessidades de cada projeto. No caso dos 8

E-mails: Márcia Macul (marsmacul@gmail.com) e Curadores da Terra (curadoresdaterra@gmail.com); Telefones: 011 - 5561.1498


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quilombolas, Márcia e Sérgio identificaram a necessidade de um incentivo à comunidade local em termos de “auto-estima” e desenvolvimento. Após um estudo sobre as possibilidades, apresentaram a proposta de construção de uma pousada para gerar emprego na área de construção e posterior ocupação do espaço com atividades voltadas ao ecoturismo.

A economia criativa aplicada Os Curadores da Terra estão promovendo suas iniciativas em algumas comunidades de todo o Brasil, entre elas a construção da pousada para os quilombolas na Praia da Fazenda, em Ubatuba. Márcia e Sérgio diagnosticaram que os remanescentes do Quilombo Fazenda Picinguaba, que totalizam 50 famílias, necessitavam de um trabalho rentável e digno para manterem a comunidade sem precisar se retirar do território de 670 hectares do qual foram empossados. Nessas condições, os Curadores da Terra propuseram a eles a geração de renda com o incentivo ao ecoturismo na região: a reabertura das trilhas nas matas fechadas reconstruindo o caminho que conduzia à Paraty; como rota de fuga dos escravos; o cultivo de oleaginosas como a mamona ou a plantação de bambu para a produção de cosméticos e artesanato para comercialização; e ainda a arquitetura sustentável. Diante dessas ideias apresentadas pela equipe dos Curadores da Terra, os quilombolas aderiram à proposta e se mobilizaram para a construção de uma pousada e de uma cozinha comunitárias, edificadas por eles mesmos seguindo os princípios da arquitetura sustentável, para que pudessem viver em comunidade, preservando sua cultura e desenvolvendo uma geração de renda local. Atualmente a pousada ainda está em construção, pois carece de apoio e doação de recursos para a finalização da obra. É importante destacar que a ONG Verdever não dispõe de recursos para bancar suas ideias e depende de doações.

A escolha Esse foi o único projeto veiculado na página CriAtive que não foi escolhido pela equipe da produção. Foi ele quem nos escolheu. Durante a divulgação do projeto ainda nos primeiros dias de sua existência online, enviamos o link da página e a proposta de trabalho para uma série de iniciativas Brasil a fora que se encaixavam em nossa proposta. A divulgação esperava como resposta o contato dessas iniciativas para a veiculação de seus materiais e propostas na página, com o mesmo intuito de disseminar o projeto, arrecadar incentivo e investimento e ampliar o conhecimento popular sobre esse tipo de possibilidade criativa.


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Já nos primeiros dias de divulgação recebemos o contato de Márcia, que se interessou pelo projeto e pela forma de veiculação de informações à qual nos propúnhamos. Trocamos emails e após algumas conversas ela enviou um material bem completo sobre a ação dos Curadores da Terra na comunidade quilombola. Ela nos apresentou a ideia da construção da pousada e as imagens do inicio dessa construção, mas nos explicou que a continuidade das obras estava impedida diante da falta de incentivos e investimentos. Márcia acredita que aqui no Brasil, os possíveis investidores não vêem vantagem no investimento em prol da autonomia de comunidades locais. Para ela, a conscientização do brasileiro em relação às novas práticas econômicas sustentáveis, como a economia criativa, ainda é muito restrita e necessita de iniciativas como a CriAtive para uma divulgação mais adequada e eficiente. Essas foram as palavras de Márcia para justificar o interesse e o encaminhamento de seu material para o nosso produto. Tudo isso era absolutamente pertinente à nossa proposta e decidimos por sua veiculação.

3.6. O planejamento editorial “O Facebook é uma caixinha de surpresas. Você nunca sabe qual grupo ou pessoa irá encontrar”. (CRUCIANELLI, p. 86, 2010) A ideia de utilizar o Facebook como suporte midiático para a produção jornalística e divulgação de materiais relacionados ao tema economia criativa surgiu diante da constatação de que uma ação de mobilização prescinde de um suporte que possibilite um mecanismo de compartilhamento e divulgação imediatos. O ativismo midiático precisa ser dinâmico e contar com a colaboração dos espectadores. Sendo assim, o mecanismo dessa rede social é ideal para a proposta justamente por empreender uma produção colaborativa de conteúdo, gerando repercussão e disseminação de uma causa. O Facebook enquanto rede social possibilita a execução dessas necessidades dinâmicas e fornece o suporte necessário para o material hipermídia produzido.

3.6.1. Distribuição Multimídia O planejamento editorial iniciou-se com a determinação de que os materiais jornalísticos produzidos em prol da causa selecionada para a mobilização seriam repercutidos em três mídias: produção fotográfica, produção textual e produção audiovisual, além da


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atualização da página com a divulgação de materiais voltados ao assunto e informações menores lançadas ao longo do dia, constituindo-se como uma aglutinadora de informações. A definição das três frentes midiáticas aconteceu diante da constatação de que a diferenciação e a diversidade de mídias produzem maior interesse no espectador, nesse caso o internauta usuário do Facebook. Ao se deparar com diferentes tipos estilos de produção, a atenção se dedica a identificar a complementaridade dos materiais propostos, tornando a análise mais interessante, dinâmica e aprofundada.

O jornalismo digital também é denominado de jornalismo multimídia, pois implica na possibilidade da manipulação conjunta de dados digitalizados de diferentes naturezas: texto, som e imagem. (MIELNICZUK, 2003) O ensaio fotográfico, os textos jornalísticos, escritos de acordo com uma linguagem de caráter literário, e as videorreportagens pautadas pela normatização dos vídeos-documentários apresentaram a realidade dos projetos selecionados de forma complementar, constituindo um material multimídia. A produção das três frentes evidencia ainda a ampla possibilidade de utilização das redes sociais para a veiculação de material jornalístico em variadas vertentes, estabelecendo uma nova mídia jornalística incorporada pela web 2.0 e inovadora em relação às mídias tradicionais. A terceira fase, que segundo o autor está começando a emergir, caracteriza-se pela produção de conteúdos noticiosos originais desenvolvidos especificamente para a web, bem como o reconhecimento desta como um novo meio de comunicação. A web passa a ser vista como uma possibilidade para a distribuição de informações jornalísticas (Pavlik, 2001, p.43). O aspecto mais importante desta fase, segundo o autor, são as experimentações de novas formas de storytelling. Ele cita a possibilidade de narrativas imersivas que permitem ao leitor navegar através da informação em multimídia. (MIELNICZUK, 2003)

A partir do momento em que o Facebook é utilizado como meio de disseminação dessas informações, torna-se necessário utilizar todas as possibilidades oferecidas por ele. O planejamento editorial da produção da página CriAtive também foi pautado por esses recursos oferecidos. Seria necessário planejar e a pauta e a execução de produtos jornalísticos que explorassem essas vertentes oferecidas pelo suporte midiático, justificando e aproveitando sua escolha. Os recursos ficam disponibilizados na página e precisam ser utilizados, afinal, convencer pessoas para a mobilização exige insistência e tentativas variadas de levar esse material a seu conhecimento. Para isso, neste trabalho em específico, pedimos para que figuras influentes na área de economia criativa divulgassem a página, assim como pedimos


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para que amigos a compartilhassem em suas timelines. No entanto, a primeira etapa desse processo é a exploração da página e a identificação desses recursos, muitas vezes “escondidos” ou ainda pouco divulgados diante da especificidade de suas funções. “Essas plataformas servem para armazenar documentos em formatos diferentes, mas também permitem a comunicação entre os usuários, a publicação de comentários, a formação de grupos e todas as aplicações que permitem a criação de redes sociais, conectando pessoas comuns com interesses comuns. O conteúdo da Web “se socializou” e deixou de ser monopólio dos meios de comunicação. Os cidadãos se integraram a essas plataformas por meio de uma simples inscrição por email. (CRUCIANELLI, 2010, p. 85)

Cada usuário poderá se identificar mais com uma narrativa do que com outra, e assim sucessivamente, prevendo que o compartilhamento dos materiais deverá acontecer por essas três frentes. 3.6.2. O poder de impacto Editorialmente, a produção multimídia alcança seu objetivo de apresentar a realidade dos projetos e do tema pautado em vários ângulos e detalhes, proporcionando ainda maior possibilidade de reflexão aos usuários. Mas, também é interessante notar que a escolha pelo Facebook propiciou a interação de um maior número de pessoas, tendo em vista a amplitude de seu alcance e a facilidade de se tornar membro da rede. O impacto das redes sociais não ocorre apenas no âmbito das organizações internacionais ou nas principais cidades do mundo. Mesmo em pequenos povoados ou cidades de médio porte, os usuários da rede social manifestam a mesma tendência. Em novembro de 2009, uma seca inédita no sudoeste da província de Buenos Aires atingiu várias cidades, incluindo Bahia Blanca, que ficou à beira da escassez de água potável. Um mês antes, em outubro, vários grupos haviam se organizado no Facebook para exigir soluções para o problema e um deles tem, até hoje, mais de 20.000 membros, ainda que a cidade tenha 300.000 habitantes... Eles conseguiram mobilizar os cidadãos e também cobrar as autoridades locais, a ponto de apresentar um recurso de amparo à Justiça local, para assegurar o direito de acesso à água potável aos vizinhos. (CRUCIANELLI, 2010, p. 87)

A rede social mais popular do mundo é a escolha acertada para a divulgação de materiais que necessitem de amplo alcance, caso das ações de mobilização pelo ativismo midiático. O planejamento editorial é complementar a esse amplo alcance e o respectivo poder de impacto sobre os usuários, afinal, de que adiantaria centenas de pessoas conectadas sem a presença de um material jornalístico reflexivo e de boa qualidade para apontar a realidade trabalhada? Os usuários poderiam se interessar inicialmente pela proposta, mas com o tempo iriam se distanciar da causa por falta de informações agravada pela grande


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quantidade de dados recebidos a todo o momento pela rede. Seria simples e rápido se engajar em uma nova causa e abandonar o interesse pela nossa proposta. “É hora de prestar muita atenção ao que as pessoas dizem. A maioria das fontes convencionais do jornalismo continua sendo institucional. A mídia tradicional precisa se adaptar rapidamente a essas mudanças ou será deixada de fora da história que está sendo escrita”. (CRUCIANELLI, 2010, p. 88)

3.7. O planejamento em web design pra o Facebook A decisão por uma página no Facebook como suporte midiático para as produções jornalísticas havia sido tomada. Agora, era necessário partir para as questões práticas para colocá-la no ar e criar um canal de comunicação eficiente. A primeira ação foi criar uma página no Facebook. Para tanto, foi necessário acessar a rede social por uma conta pessoal e clicar sobre a categoria “Páginas”, localizada na lateral esquerda da tela. A opção “+ Criar uma Página” nos deu acesso ao formulário de preenchimento para a criação da página. Selecionamos a categoria “Causa ou Comunidade” para abrigar nosso conteúdo. Para confirmar a abertura do espaço, foi necessário fornecer o nome escolhido para a comunidade e concordar com os “Termos de página do Facebook” 9. Uma vez aceita as regras, a página estava criada. A partir de agora precisávamos seguir as etapas técnicas, como a escolha da “Foto do perfil” e o preenchimento do “Sobre”, destinado à identificação do conteúdo, em que o proprietário do espaço pode fornecer algumas informações básicas sobre a proposta e incluir sites relacionados. Os elementos que compõe a identidade visual da página são de extrema importância, justamente por serem responsáveis pela divulgação da proposta e dos conteúdos postados. A partir do momento em que o usuário identifica o nome, o logotipo ou até mesmo a imagem de capa da página, a divulgação e o compartilhamento das produções torna-se mais eficiente. Ao visualizar esses elementos, ele faz a associação ao tipo de produção veiculada e ao tema a que se refere, facilitando os rumos do ativismo midiático.

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O “Termo de página do Facebook” fica disponibilizado para qualquer usuário da rede social pelo link http://www.facebook.com/page_guidelines.php e pode ser acessado diretamente no momento de criação da página por um hyperlink no termo associado. Concordar com os termos de uso significa estar ciente das regras impostas pela empresa para a utilização de um espaço em seu interior e assinar a responsabilidade pelos conteúdos postados. Caso o Facebook julgue o conteúdo incoerente com as normas da empresa, a página poderá ser retirada do ar.


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3.7.1 A marca Por se tratar de uma marca voltada para o ativismo midiático e a veiculação de materiais jornalísticos, a identidade visual foi desenvolvida de acordo com esses princípios. A configuração das páginas hospedadas no Facebook possibilita, a priori, a personalização da “Foto de perfil” e da “Imagem de capa”, além do nome de divulgação da marca. Existem outras possibilidades de personalização mais complexas, mas exigem alterações nos códigos de programação técnica da página ou a instalação de aplicativos externos. Para dar início ao trabalho de divulgação dos materiais relacionados à aplicação da economia criativa em comunidades, demos prioridade à definição de um nome que traduzisse essa proposta em uma única palavra, além da produção da “Foto de perfil”‟ e da “Imagem de capa”, itens essenciais para dar início aos trabalhos na rede social. Esses elementos unidos configurariam a marca de nosso trabalho, através dos quais poderíamos iniciar a divulgação aos nossos contatos pessoais na rede social, além de publicar a iniciativa na página de outros trabalhos semelhantes no que se refere ao ativismo midiático na rede.

3.7.2. O nome de exibição O nome escolhido para batizar e divulgar a página foi “CriAtive”. A ideia surgiu da união das palavras “crie” e “ative”, relacionadas com as duas vertentes do referencial teórico que pautou a pesquisa e a produção da página. “Crie” – modo imperativo do verbo criar; relaciona-se com a economia criativa. Funciona como se a página ordenasse que o indivíduo colocasse a criatividade em prática, mas ainda não deixa evidente a ambição econômica dessas ideias. “Ative” – modo imperativo do verbo ativar; relaciona-se com o ativismo midiático. Utilizada aqui no sentido de se tornar mais ativo, tomar iniciativas, ativar suas possibilidades criativas. O nome “Criative” surgiu com esse objetivo de unir os referenciais teóricos e fazer uma brincadeira com as “ordens” subentendidas pela proposta da página. Use sua criatividade e se torne mais ativo em prol dessa causa é a mensagem que queremos transmitir. Acreditamos que esse nome possa atrair as pessoas para essa iniciativa.


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3.7.3. O logotipo

Figura 5

Definido o nome (CriAtive), o próximo passo foi a elaboração do logotipo a ser estabelecido como “Foto de perfil” da página. Esse seria o símbolo da página em todas as ações referentes ao trabalho. Tendo em vista o briefing do produto, identificamos como principais instrumentos de composição do logotipo, duas cores principais e dois elementos característicos da ideia a ser transmitida. As cores escolhidas foram azul e verde, e os dois elementos selecionados foram o símbolo da reciclagem e uma lâmpada, associada à ideia. Essas imagens foram escolhidas para compor o logo a fim de que transmitissem a intenção da proposta: a reciclagem de ideias pela economia criativa. Em relação às cores, o azul retrata uma cor mais “fluida”, que transmite tranquilidade e maleabilidade de ideias. Além disso, é responsável pelo estímulo à criatividade, apesar de proporcionar a sensação de formalidade, por se tratar de uma cor fria. Optamos por incorporar essa cor ao símbolo de reciclagem, uma vez que o objetivo é justamente aplicar essa sensação de fluidez ao conceito de economia criativa e transparecer a seriedade da abordagem feita ao tema. O verde foi utilizado na lâmpada do logotipo por estar associado à natureza, à preservação ambiental, ao crescimento, e à renovação. Essa é a ideia a ser transmitida pelo conceito de economia criativa: a renovação dos ideais econômicos, a promoção da sustentabilidade ambiental e a perspectiva de ascensão social das camadas sociais mais restritas a partir desse tipo independente de geração de renda. Finalmente, decidimos escrever o nome da página abaixo da imagem para a rápida associação dos elementos. Quando o usuário busca por uma página na rede social, ele deve fazer a busca a partir do nome de exibição, sendo assim, julgamos que ao inscrever o nome no


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próprio logo essa busca estaria mais bem associada, afinal, algumas pessoas tem uma memória fotográfica mais aguçada e podem lembrar mais facilmente do desenho do logo. Diante dessa decisão, o nome foi escrito com a letra A em caixa alta no meio da palavra, ficando CriAtive, por ser um elemento comum aos verbos, justificando a proposta associativa entre a criação (economia criativa) e a ação (ativismo midiático).

3.7.4. A imagem de capa

Figura 6

Mais um dos recursos de identidade visual disponibilizados pelo Facebook é a imagem de capa. Quando o usuário posiciona o cursor sobre a imagem de exibição ou o nome da página, a imagem de capa é mais uma maneira de identificar a proposta e as características de uma página, ou perfil pessoal. Para a CriAtive, desenvolvemos uma imagem de capa que abrangesse, por meio de palavras pontuais, as ideias trabalhadas nas postagens. Elegemos as palavras “Mobilize”, “Socialize”, “Compartilhe”, “Crie” e “Ative”. Para compor a capa, escolhemos ainda uma imagem que transmitisse a ideia da importância de se tomar uma atitude diferente do senso comum, a fim de que resultados positivos possam ser alcançados. Optamos por uma imagem composta pela representação de cinco pessoas, estando uma delas diferente das demais pela cor e pelo posicionamento do braço. É acima dessa pessoa alaranjada e com o braço levantado, como em posição de iniciativa, que estão localizadas as palavras eleitas para trabalhar o conceito da página. As demais estão em uma posição convencional, com os braços para baixo e apresentam-se em verde. Todos esses elementos estão inseridos em um mapa-múndi, ocupando a totalidade do espaço, indicando que essa proposta de inovação pode chegar a


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todos os lugares, mesmo os que já estão ocupados por uma economia convencional. Outro ponto de reflexão refere-se ao ativismo, que também pode ser praticado por pessoas comuns, basta tomar a iniciativa. Daí em diante, esse cidadão passa a agir fora do senso comum, proporcionando novas linhas de atuação e ação na comunidade, justificando o posicionamento das palavras-chave próximo ao cidadão diferente. Tanto o conceito do logotipo quanto da imagem de capa foi desenvolvido pela dupla que executou este trabalho. Embora não tenhamos formação qualquer em design enquanto jornalistas, desejamos mostrar que é possível ao comunicador atuar como um profissional multitasking, e desenvolver ele mesmo toda a conceituação de projetos que visem a construção de novas vertentes do jornalismo.

Figura 7

3.7.5. Os aplicativos incorporados Além das ferramentas já disponibilizadas pelo Facebook, a rede social ainda possibilita a instalação de aplicativos nas fan pages. O criador da página pode personalizar o material publicado ou acrescentar tipos de conteúdo normalmente indisponíveis nas ferramentas padrão. Diante dessa possibilidade, optamos por instalar um único aplicativo que nos desse a possibilidade de criar abas personalizadas na página CriAtive para a inserção de textos, fotos e vídeos em um único espaço visual, e que todo esse conteúdo pudesse ser visualizado


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simultaneamente. Para isso, optamos pela instalação do aplicativo “Iwipa Website: HTML + iframe”, instalado pelo site www.iwipa.com. A possibilidade de edição da linguagem de programação HTML oferecida pelo aplicativo permite a criação de diferentes abas, feitas para abranger o conteúdo multimídia dos diferentes projetos desenvolvidos. Instalado o aplicativo, as postagens estavam inseridas em um mesmo espaço visual. Bastava o usuário clicar sobre a aba “Projeto Bambu”, por exemplo, para ter acesso às três modalidades jornalísticas produzidas. Essa aba está posicionada na mesma área das abas convencionais da fan page, como “Fotos”, “Vídeos” e “Notas”, por exemplo.

Figura 8

Figura 9


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3.7.6. O anúncio patrocinado Como estratégia de divulgação da fan page, optamos por levar a CriAtive ao conhecimento dos internautas pelo tradicional método “boca a boca”, divulgando a página em grupos do Facebook voltados à mesma causa ou causas similares à proposta. Por ser uma rede social, esse deve ser o primeiro meio de divulgação que deverá ser difundido para seus contatos na rede, gerando um fenômeno de compartilhamento. Porém, essa tentativa pode não ser suficiente diante da especificidade do assunto abordado e seu direcionamento apenas a um público específico com interesses comuns. Pensando nisso, buscamos novas formas de divulgação oferecidas pela rede social e identificamos o Facebook Adds, um sistema de publicidade do próprio Facebook por meio de anúncios da página com texto e imagem. Os anúncios são exibidos na lateral direita da tela do usuário, e, quando clicados, levam-no até a página anunciada. Através deste meio de divulgação, conseguimos levar a ideia da página para um público mais abrangente. Apesar de não atingir somente um grupo específico e engajado com a causa, possibilitou ao público leigo um conhecimento a respeito deste conceito econômico em ascensão: a economia criativa.

3.8. Os recursos técnicos, materiais e humanos Para a execução dos materiais jornalísticos veiculados na página, foi necessária a utilização de recursos técnicos, materiais e humanos. Primeiramente, em relação aos recursos técnicos, referentes aos instrumentos não físicos utilizados, a concepção de CriAtive necessitou da conexão à Internet e do acesso ao site Facebook (www.facebook.com) por meio de contas pessoas já existentes. Sem o acesso à rede social toda a produção seria em vão. Na sequência, a concepção dos materiais a serem veiculados para o abastecimento da página exigiu os recursos oferecidos pelos softwares de edição, como o Adobe Premiere CS3, para a edição e produção dos vídeos de divulgação e conscientização em relação à página e à causa, assim como a produção das reportagens audiovisuais; o Adobe Photoshop CS3 para a edição das imagens postadas nos ensaios fotográficos e a configuração de imagens de apoio para abastecer o conteúdo, no sentido de manipulação de imagens; e o Microsoft Office Word 2007 para a redação dos textos jornalísticos e toda a gama de produção textual encontrada ao longo do trabalho. Além dos softwares empregados na produção das reportagens multimídias, outros sites tiveram funções importantes para a criação dos materiais postados. Um exemplo é o site


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Wordle (www.wordle.com), que ofereceu a possibilidade da construção das nuvens de palavras utilizadas para a atualização da página como forma de chamar a atenção do público. Outro site externo utilizado relaciona-se com os armazenadores dos aplicativos, instalados na página para complementar a veiculação dos materiais, conforme apresentado no item 3.7.5. Os aplicativos incorporados. Em relação aos recursos materiais utilizados, foram necessárias três câmeras fotográficas, com modo vídeo. Uma delas ficou destinada apenas às gravações, enquanto as outras duas, uma para cada membro da equipe, ficaram responsáveis pela produção das imagens fotográficas, ilustrativas dos textos e constituintes dos ensaios fotográficos. Além das câmeras, também foram necessários dois notebooks para desenvolver a produção de todo o material. Dessa forma, as etapas poderiam ser divididas entre duas pessoas, dando maior agilidade ao processo. Para a gravação das entrevistas, um gravador de voz foi utilizado, captando o áudio dos entrevistados a serem disponibilizados em formato de podcast na página ou mesmo para auxiliar na produção textual e audiovisual. Finalmente, em relação aos recursos humanos, a equipe CriAtive constitui-se por duas pessoas dividas entre as funções necessárias ao bom desenvolvimento do projeto. Além da equipe de produção, os recursos humanos também se referem aos personagens, sejam eles protagonistas das histórias a serem descritas, ou pessoas secundárias, mas não menos importantes, que auxiliam na produção do material por meio de sua contribuição com informações. Em cada projeto visitado, nos deparamos com pessoas dispostas a contarem boas histórias, que posteriormente seriam jornalisticamente tratadas para assumirem o formato de matérias jornalísticas, ou seja, informativas. Outras pessoas dispostas a contar partes de seu cotidiano relacionadas ao projeto em questão também foram imprescindíveis para construir a narrativa da economia criativa em cada situação abordada. Os personagens entrevistados e ouvidos forneceram a parcela de realidade que uma produção jornalística precisa para se desenvolver de maneira correta, verdadeira e dentro dos princípios deontológicos, afinal, não existe jornalismo sem histórias reais. Porém, também foi primordial contar com o auxílio e o respaldo de especialistas das áreas abordadas. O jargão já diz que jornalista é aquele que sabe um pouco de tudo, mas não sabe tudo de nada, ou seja, a partir do momento em que nos propusemos a levantar uma causa para mobilização, foi imprescindível desenvolver um conhecimento mais aprofundado sobre o que nos propúnhamos a fazer. O conhecimento prévio já existia, tanto que nos influenciou na


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determinação desse tema e dessa pauta, porém era necessário mais do que somente isso, era necessário ampliar o conhecimento para constituir um poder de argumentação. Nesse sentido, a construção do produto CriAtive exigiu consulta a especialistas nas áreas de economia criativa e de ativismo midiático para fomentar nossas pautas e produção. Em relação à economia criativa, a equipe conseguiu entrar em contato, via Facebook, com a economista Ana Carla Fonseca Reis, especialista na área de economia criativa. Por meio do perfil de Ana Carla no Facebook, conseguimos um contato por meio de nossa página pessoal, estabelecendo um diálogo online. Nessas conversas, Ana se mostrou bastante prestativa, tirando algumas de nossas dúvidas, respondendo questões e fazendo boas indicações de materiais e projetos que poderíamos abordar. Em relação ao ativismo midiático, conseguimos contato, também pelo Facebook, com os organizadores da “Escola de Ativismo”, um site voltado ao treinamento de cidadãos comuns propostos a se engajar na defesa de uma causa, exatamente o nosso caso. Os especialistas do projeto nos auxiliaram no fomento e na definição da proposta de acordo com as etapas para uma boa divulgação de ativismo e se mantiveram nossos parceiros para a análise estrutural da página. Além dos especialistas, também não deixam de fazer parte da gama de recursos humanos pessoas que se identificaram com a página e nos encaminharam materiais diversos de outros projetos semelhantes espalhados Brasil a fora. Nesse momento, começamos a ver cumprida parte da proposta da página CriAtive. Ainda tratando-se dos recursos humanos, não podemos deixar de citar os curtidores da página, que, além de oferecerem o respaldo para novos “curtir”, fundamentados na tese de que outras pessoas já aprovaram a ideia, foram a peça chave na proposta de veicular esses materiais em uma rede social como o Facebook. Os curtidores da página foram os responsáveis pela disseminação do conteúdo, por meio dos comentários e compartilhamentos que ampliaram o alcance da produção na rede.


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4. A DESCRIÇÃO DO PRODUTO 4.1. Fases e rotina de produção A partir do momento em que a página CriAtive estava no ar, no dia 23 de agosto, tornou-se necessária uma atualização imediata de suas postagens e conteúdos, afinal tratavase de uma rede social amplamente utilizada mundo a fora, cujo objetivo era a mobilização. Para organizar essa rotina de produção, foram determinadas as datas e os tipos de matérias que seriam veiculadas. Determinamos como prioridade a produção dos materiais multimídia, tendo em vista sua maior complexidade e diversidade de estilos jornalísticos a serem trabalhados: o fotojornalismo, o jornalismo impresso enquanto texto e o jornalismo audiovisual, além do fator distância e deslocamento, considerando que precisaríamos viajar para pelo menos duas cidades: Avaí e Botucatu, ambas no interior do estado de São Paulo, na região de Bauru. O primeiro passo para a produção desses materiais foi uma pesquisa aprofundada sobre cada um dos projetos a serem desenvolvidos com o objetivo de traçar uma pauta e apurar informações. A pesquisa deveria nortear os rumos do trabalho, esclarecendo os itens a serem abordados, as questões que deveriam ser feitas aos personagens entrevistados, quais os tipos de cenas a serem capturadas pelas câmeras fotográficas ou em formato de vídeo. Com a apuração do conhecimento prévio e estabelecimento do que deveríamos buscar nas visitas de campo, já era possível programar com maior resolução as próximas etapas. Com a pauta em mãos e os recursos materiais à nossa disposição era chegada a hora de seguir até os projetos para realizar a apuração jornalística necessária e a captação dos materiais brutos para a edição. O primeiro projeto visitado foi o Projeto Bambu, já que a proximidade espacial com nossa residência facilitou o processo. Na sequência, fomos para a cidade de Avaí, fazer a captação do material na aldeia Ekeruá e, finalmente, o último projeto visitado foi a iniciativa dos irmãos de Botucatu. Ao mesmo tempo em que viajávamos para colher o material bruto sobre cada projeto, continuávamos atualizando a página com conteúdos diversos relacionados ao tema. As postagens na linha do tempo consistiam na divulgação de links externos relacionados com a iniciativa, infográficos produzidos por nossa equipe, frases de destaque para chamar a atenção do usuário e outros elementos a serem especificados no item


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4.4. Os elementos da página. Por ser uma página em uma rede social, ela prescinde de uma atualização constante concomitante com a veiculação de materiais mais completos e informativos, de produção própria para caracterizar-se como uma mídia jornalística, de fato. A atualização acontecia simultaneamente à apuração e edição dos materiais brutos de cada projeto. Conforme finalizávamos essas produções, colocávamos o conteúdo multimídia no ar, divulgando a nova produção na própria linha do tempo da página e em nossas páginas pessoais, justamente para gerar o efeito viral necessário à proposta da mobilização pelo ativismo midiático. Uma vez postado e divulgado, começava a fase de monitoramento das visualizações. O Facebook dispõe de um gráfico que permite aos administradores da página acompanhar o número de visualizações de cada postagem e o efeito viral gerado por cada um deles, ou seja, é possível mensurar quantas pessoas tiveram acesso ao conteúdo acessando a própria página CriAtive e quantas chegaram ao conteúdo por meio de outras páginas e perfis de outros usuários. Para analisar esses dados, o Facebook permite ao administrador escolher entre opções de visualização: Visão Geral; Curtir; Alcance e Falando sobre isso. Esses mecanismos são apresentados aos administradores da página conforme esses exemplos:

Figura 10


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Figura 11

Figura 12

Figura 13


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Acompanhando essa mensuração é possível estabelecer novas táticas de alcance de usuários para as postagens e aperfeiçoar os tipos de conteúdos veiculados, analisando o que gera mais e menos comentários e efeito viral. O acesso a esses dados é mais uma das ferramentas do Facebook que permite a utilização da rede social como um suporte midiático eficiente. Identificar a origem de seu público alvo e traça seu perfil é um detalhe importante para direcionar a confecção do conteúdo jornalístico a ser veiculado. Outro ponto que precisa de acompanhamento é o crescimento do número de curtidores da página e de que forma essa quantidade está influenciando no efeito viral e no alcance real da página. O crescimento do número de curtidores da página é essencial para que ocorra o efeito desejado de mobilização, mas é importante analisar se o aumento desse número está aliado a uma maior interação do público com a página. O Facebook dispõe de um mecanismo que permite ao administrador da página acompanhar quantas pessoas visualizaram cada publicação, ajudando nesse acompanhamento.

4.2 As áreas de atualização A fim de organizar a localização dos tipos de produção jornalística na página CriAtive, optamos por dividir as áreas de atualização de conteúdo, determinando as áreas 1 e 2 para a postagem dos materiais. A área 1 refere-se às abas Fotos, Vídeo, Notas, que estão localizadas na lateral direita da página, logo abaixo da imagem de capa. Além das abas já oferecidas pela própria página do Facebook, as configurações da rede social também permitem a criação de novas abas personalizadas, para a organização do conteúdo a ser postado. Diante dessa possibilidade oferecida, dedicamos as abas, ou seja, a área 1, para a organização de material multimídia produzido com a cobertura dos projetos selecionados. Para isso, criamos abas personalizadas para cada projeto e o clique sobre ela abria a página criada com o aplicativo citado no item 3.7. Planejamento em web design. Dessa maneira, caso o visitante da página desejasse saber especificamente sobre determinado projeto, bastava acessar diretamente a aba para ter acesso ao vídeo, fotos e textos referentes àquela pauta. Para a área 1 foram criadas quatro novas abas, referentes ao Projeto Bambu, à Aldeia Ekeruá, à Iniciativa Botucatu e aos Curadores da Terra, além da preservação das já existentes, como a aba de Fotos, Vídeos, Opções Curtir e Notas. É importante notar que as abas destinadas aos projetos apenas reuniam em um único espaço os materiais que haviam sido postados nas abas correspondentes no Facebook. Sendo assim, se o usuário desejasse ver


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somente as fotos de todos os projetos, bastava acessar a aba Fotos para ter acesso a todas, inclusive às imagens postadas no mural, imagens de perfil e imagens de capa. Da mesma maneira acontece com os textos, ao acessar a aba Notas e com os vídeos, em sua respectiva aba. Sendo assim, a veiculação dos conteúdos relacionados às pautas selecionadas ficou concentrada na área 1. No entanto, quando eram postados, os conteúdos eram automaticamente reproduzidos na área 2, justamente para possibilitar a divulgação e a disseminação. Quando o usuário retornava à página CriAtive para visualizar postagens antigas sobre os projetos, bastava selecionar a aba correspondente, organizando o fluxo das informações.

Figura 14

Em relação à área 2, ficou destinada à veiculação de materiais externos, como links relacionados ao tema, ou ainda materiais complementares produzidos pela própria equipe da CriAtive, como os infográficos, as frases de destaque, a interação com o usuário, as enquetes do próprio Facebook, entrevistas e perfis produzidos. A área 2 é referente a atualização constante, com materiais diversos, em uma espécie de clippagem da economia criativa.


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Figura 15

4.3 A atualização Uma vez disponível para acesso do internauta, uma fan Page deve manter um padrão de periodicidade nas atualizações, como qualquer veículo jornalístico. Ao contrário da maioria das outras mídias, as redes sociais permitem que todo e qualquer conteúdo novo postado chegue até o usuário, ao invés de ele próprio buscá-lo. Ou seja, podemos dizer que nas redes sociais, o usuário torna-se um sujeito paciente, que recebe as informações. Isso não quer dizer que ele vá assimilá-las automaticamente, porém, a partir do momento em que se interessa pelo conteúdo ele terá a possibilidade de acompanhar as publicações relacionadas e tornar-se um sujeito ativo compartilhando e repercutindo determinada informação. Ou seja, uma vez que o internauta interativo “curte” a página, tudo o que é postado ali aparecerá automaticamente na “linha do tempo” dele e quanto mais atualizações geradas, mais conteúdo chegará até ele e maior será seu interesse pelo assunto veiculado. Isso é tudo o que se espera para praticar o ativismo e a mobilização na rede. Considerando essas condições, optamos por atualizar a página CriAtive em uma periodicidade de duas ou três vezes por semana, pelo fato de não se trabalhar com a veiculação de material jornalístico factual (hardnews), mas sim um conteúdo que visa a reflexão, e a conscientização sobre possibilidades inexploradas dos potenciais culturais e econômicos do país. O foco foi trabalhar com uma vertente jornalística especializada, e a publicação de conteúdo semanal caracterizaria a página do Facebook como uma espécie de revista virtual, em que são permitidas interações diversas com o internauta, a partir de um material jornalístico construído em moldes literários e multimídias.


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Estabelecendo essa periodicidade, o usuário irá identificar essa característica e se tornará automática a aceitação de que novos conteúdos chegarão nesse tempo. É necessário acostumar o usuário a esse tempo para manter a fidelidade aos conteúdos postados e configurar credibilidade para o veículo. Essa periodicidade relaciona-se aos conteúdos postados na área 2, enquanto os conteúdos multimídias pertencentes à área 1 terão um intervalo de tempo maior, considerando a complexidade de sua produção, além da maior repercussão e reflexão que deverão causar no usuário. Ao postarmos o conteúdo de um projeto, pretendemos conceder ao usuário um tempo de reflexão e a possibilidade do efeito viral a partir do compartilhamento. Nesse sentido, quanto mais tempo de intervalo entre a postagem de novos projetos, melhor será o entendimento em relação ao postado e mais pessoas poderão ter acesso, considerando que a cada nova postagem, a anterior ficará menos evidente e “substituída” pela posterior. Os projetos foram veiculados com periodicidade mensal. Para programar e executar essa periodicidade nas atualizações, contamos com o auxílio do Postcron, um site voltado exclusivamente à programação de postagens nas diferentes redes sociais, especialmente o Facebook e o Twitter. O site tem utilização gratuita e para acessar é necessário primeiro acessar a conta no Facebook e, no site Postcron, pedir o acesso por meio dessa conta. Automaticamente, ele apresenta as páginas em que você está descrito como administrador, permitindo a postagem de materiais, e torna possível a programação dos posts para o dia e o horário desejados. Dessa forma, é possível organizar uma série de postagens e organização a periodicidade de novos conteúdos veiculados de forma mais eficiente.

4.4 Os elementos da página A página é composta principalmente por três elementos: textos, imagens e vídeos. Em relação aos textos, nos referimos às produções jornalísticas de caráter literário, que auxiliam na composição do material multimídia, localizado na área 1 de atualização da página CriAtive, juntamente com o material audiovisual e os ensaios fotográficos postados sobre cada projeto selecionado. Além desses três elementos, a página ainda conta com textos mais simples de caráter informativo localizados na área 2 de atualização, abordando conteúdos relacionados à economia criativa de maneira general, como exemplo constam informações sobre o conceito, divulgação de eventos relacionados ao tema e exemplos diversos de aplicações no Brasil que obtiveram resultado positivo, apesar das dificuldades enfrentadas, também expostas nos


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textos. Outros materiais textuais veiculados na CriAtive são entrevistas com pesquisadores e especialistas na área de economia criativa, assim como desenvolvedores de projetos e iniciativas que apliquem o conceito em comunidades locais em território nacional. Além dessas entrevistas, também foram publicados perfis dessas personagens, com o intuito de conceder um aspecto mais pessoal e próximo à página, além de apresentar a personalidade de figuras supostamente formais, ligadas a um conceito social e econômico bastante recente e, consequentemente, ainda pouco explorado. Outro destaque entre os elementos empregados na construção da página CriAtive é a importância dada à linguagem utilizada na área 2 da página: mais informal, descontraída e menos rígida. Uma vez que a economia criativa ainda se caracteriza como um conceito novo, pouco explorado e consequentemente pouco conhecido, informar por meio de palavras formais poderia acarretar no desinteresse dos internautas em se inteirar sobre a temática, considerando que estão acostumados a receber informações mais dinâmicas e diretas. O objetivo em utilizar uma linguagem mais próxima ao público pretende justamente conquistar o usuário pela leveza com que trata um assunto aparentemente complexo, como a economia. Partimos do pressuposto de que o usuário tem o interesse de descobrir informações sobre a economia criativa e aplicá-la à sua realidade, mas a complexidade com que as informações são transmitidas dificulta esse fluxo das informações entre o emissor e o receptor. Em relação ao segundo elemento, as imagens veiculadas no produto consistem nas fotografias pertencentes aos ensaios fotográficos, que configuram uma das vertentes do material multimídia, além das imagens ilustrativas que auxiliam na constante atualização da área 2 da página. Entre esses elementos ilustrativos, podemos designar alguns subitens: 

Frases de efeito: a página é constantemente atualizada por frases de efeito pertinentes ao assunto explorado, no caso a economia criativa, que auxiliam no reforço do ideal transmitido pela página e na sua função de mobilização social. Em cada frase, postada em formato de imagem, justamente para chamar a atenção em meio a uma série de informações na linha do tempo da página do curtidor,

destacamos

a

criatividade

como

elemento

essencial

ao

desenvolvimento de um novo modelo econômico, baseado em aspectos culturais e sustentáveis. Essas frases foram garimpadas em meio às declarações de pesquisadores e especialistas em economia criativa, pautando nossas escolhas;


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Figura 16

 Imagens ilustrativas dos textos inseridos na área 2: os textos postados na área 2, com menos carga informativa do que os lançados na área 1, estavam sempre acompanhados por imagens de apoio, também considerando sua inserção em meio às outras diversas atualizações da linha do tempo do curtidor.

Figura 17

 Infográficos: fizemos uso desse recurso para promover a exposição de dados numéricos e estatísticos de uma maneira visualmente mais atraente. A veiculação de números já possui uma formalidade e uma densidade inerentes, portanto a ideia de transformar esses dados em uma imagem mais dinâmica,


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divertida e atraente é auxiliar na captação do interesse e na melhor compreensão por parte do usuário.

Figura 18

 Nuvem de palavras: recurso utilizado como imagem para atualizar a área 2 da página com novos conteúdos dinâmicos. As nuvens de palavras eram organizadas considerando os termos relevantes para os tipos de postagens que estavam sendo veiculadas naquele momento e postadas para chamar a atenção do usuário.

Figura 19

Destacamos a atualização com os vídeos da página. Para esse tipo de produção audiovisual também será válida sua divisão em subitens:  Vídeo explicativo: veiculado logo que a página foi ao ar com o intuito de divulgar a proposta da economia criativa aplicada a comunidades locais explicar ao usuário qual seria o tema abordado na página CriAtive e qual o tipo de mobilização que pretendíamos alcançar com aquele determinado tipo de


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informação. O vídeo “CriAtive = um mundo de possibilidades”, de 3‟15‟‟, foi postado logo de início para atrair o público de maneia dinâmica.

Figura 20

 Vídeos complementares: compartilhados de fontes terceiras, eles auxiliaram na compreensão do conceito mais geral da economia criativa. As falas e as explicações de especialistas da área renomados, como a economista Ana Carla Fonseca cumpriram essa função de trazer novas explicações para o usuário, a fim de que compreendessem a dimensão e a importância desse novo conceito para a economia. Dessa maneira, eles teriam uma noção maior do porque iniciativas nesse setor seriam tão importantes.

Figura 21


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 Produção audiovisual nos projetos: os vídeos editados e postados juntamente com os materiais multimídia que configuraram a produção jornalística em cada projeto, conferem o fazer jornalístico em si às produções audiovisuais da página. Finalmente, há a atualização da página com links externos, referentes ao assunto abordado, sempre com o apoio de uma imagem ilustrativa.

Figura 22

Um dos recursos oferecidos pelo Facebook é deixar uma postagem como destaque na página, de forma que ocupe uma área maior do que a convencional e atraia a atenção do usuário ao visitar a página. Para utilizar esse recurso, destacamos alguns elementos que julgamos serem essenciais à mobilização social pretendida, como os textos e as imagens de apoio às explicações sobre o conceito.

Figura 23

Figura 24


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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Utilizar o termo considerações finais para um projeto experimental que lida com ativismo midiático na web 2.0 nos parece bastante limitado, tendo em vista a necessidade de atualização constante e a busca incessante por novos exemplos e informações que convençam os usuários a se engajarem em uma causa. Nesse sentido, elaborar e desenvolver uma página no Facebook voltada a essa proposta e pautada por histórias reais aliada aos conceitos teóricos das atividades criativas foi nosso maior desafio. Com o projeto em mãos, era chegada a hora de se aprofundar nas pesquisas para empreender uma fundamentação teórica compatível com a proposta de mobilizar pessoas com uma produção jornalística. Precisávamos estabelecer nossas pautas e ter a certeza de que estariam de acordo com os princípios teóricos e metodológicos necessários. Pesquisamos, lemos, estudamos e descobrimos que na teoria a prática da economia criativa poderia levar a lugares e situações incríveis, diminuindo a desigualdade social e conferindo oportunidades diversas a toda e qualquer pessoa dependentes apenas de um fator: ideias. Nessa trajetória percebemos que a cultura de um local vai além de sua prática de vida e de seus costumes. Ela constitui um arsenal de possibilidade de vida e de oportunidades de desenvolvimento social e econômico independentes dos motores convencionais da sociedade. Nesse momento passamos a enxergar a cultura com novos horizontes e a perceber que sua abordagem no jornalismo atual em suas diversas vertentes permanece rasa em sua prática, sendo pautado apenas por eventos e realizações culturais enquanto espetáculos. Consideramos que é necessário ir além, praticar um jornalismo de caráter social que compreenda a cultura dos povos e as manifestações culturais dela resultantes. Além dos fenômenos culturais, lidamos também com a prática econômica e os conceitos de economia dos quais a sociedade capitalista contemporânea prescinde. E aí fomos surpreendidas. Nada de gráficos complexos, números e porcentagens. Essa economia com a qual trabalhamos (e nos identificamos) estava pautada pelas ideias, pela criatividade. Conhecemos então os estudos e as propostas inovadoras da economista Ana Carla Fonseca Reis, que se permitiu trabalhar no aprimoramento do conceito da economia criativa e de suas aplicações práticas mundo a fora. As cidades criativas nasceram de suas ideias e estão sendo aplicadas em cidades como Lisboa e Madri e as brasileiras Paraty (RJ) e Guaramiranga (CE). Aproveitando essa prática, dedicamo-nos a procurar, conhecer e desvendar comunidades criativas localizadas no interior do estado de São Paulo, mais precisamente na região Noroeste. Descobrimos iniciativas encantadoras e colocamos nosso feeling jornalístico


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em prática para a concepção de materiais multimídias guiados pela essência da prática do bom jornalismo, respeitando a ética e a responsabilidade social que nos são pertinentes. Trabalhar com o conceito da economia criativa nos apresentou novas perspectivas sociais e até mesmo novos caminhos para a prática de nossa profissão, afinal, descobrimos que o jornalismo enquanto produto midiático produzido por profissionais criativos enquadrase nas vertentes da economia criativa. Ao empreender um produto jornalístico em sua essência, estaremos lidando com algo mais do que a informação. Estaremos lidando com a gestão de processos, de pessoas e de recursos. A concepção de novas mídias, que buscamos realizar nesse projeto experimental, é absolutamente pertinente às características da economia criativa, que se dirigem para além da cadeia fonográfica convencional, para além das redações usuais, priorizando o patrimônio histórico e cultural como norteador de suas pautas. Descobrir histórias e saber contá-las é o que transforma a prática jornalística em uma atividade atemporal, dedicada além do hardnews e dos motes factuais; percebemos que é nossa função, enquanto jornalistas, saber apresentar personagens e divulgar suas histórias promovendo a reflexão de valores no público. Pensando nisso, optamos por desenvolver nossos textos utilizando uma linguagem de caráter literário e menos engessado, conforme pode-se perceber no jornal impresso, por exemplo. Havíamos encontrado boas histórias e queríamos contá-las em uma narrativa cativante e repleta de informações. Essa foi a solução que encontramos. Além das fotografias, que desde sempre prendem olhares e a atenção em cenas do cotidiano pouco percebidas e as produções audiovisuais. Esse foi nosso desafio na produção de CriAtive e realmente pensamos ter acertado. O trabalho de mobilização social pautado pelo ativismo midiático não tem um fim e necessita de manutenção constante para que a proposta não caia no esquecimento. Sendo assim, esse relatório descreve as etapas da construção dessa página, desde sua concepção teórica até as modalidades de atualização, mas contém somente os conteúdos veiculados até determinado momento, mais precisamente a data do protocolo. De agora em diante a atualização será mantida nos moldes apresentados nesse relatório, com a busca de novos projetos a serem apresentados. Foi um desafio complexo e motivador que nos ofereceu a consciência de que somos jornalistas e estamos prontas para praticar os desafios e as delícias dessa profissão. Queremos lidar com pessoas, ouvir histórias e contá-las ao mundo. Nosso desejo agora é que o jornalismo simplesmente nos diga: Sejam bem vindas! E boa sorte.


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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDERSON, Chris. A Cauda Longa: do mercado de massa para o mercado de nicho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. BRAMBILLA, Ana. Para entender as mídias sociais. Licença Creative Commons, 2011. BRAMBILLA, Ana. Para entender as mídias sociais. Volume 2. Salvador: Edições VNI, 2012. CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, 2002. CRUCIANELLI, Sandra. Ferramentas Digitais para Jornalistas. Tradução: Marcelo Soares. Universidade do Texas, Austin: Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, 2010. JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. São Paulo: Aleph, 2008. MARQUES, E. As redes sociais importam para a pobreza urbana?. Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, Vol. 52, n. 2, 2009, pp. 471 a 505 MARQUES, Eduardo C. L.. Opportunities and Deprivation in the Urban South: Poverty, Segregation and Social Networks in Sao Paulo. Burlington: Ashgate, 2012. MCLUHAN, Marshall. Guerra e Paz na Aldeia Global. São Paulo: Ed. Record. 1971. RECUERO, Raquel. Redes Sociais na Internet. Porto Alegre: Sulina, 2009. REIS, Ana Carla Fonseca; KAGEYAMA, Peter. Cidades Criativas: Perspectivas. São Paulo: Garimpo de Soluções, 2011. Sites: ACESSO, Blog. Cultura e Sustentabilidade. <http://www.blogacesso.com.br/?p=284> Acesso em: 23 ago. 2012.

Disponível

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DEHEINZELIN, Lala. O Estado e a Economia Criativa, numa perspectiva de sustentabilidade e futuro. Disponível em: < http://www.cultura.gov.br/site/wpcontent/uploads/2011/09/Plano-da-Secretaria-da-Economia-Criativa.pdf#page=123 Acesso em: 20 set. 2012. DEHEINZELIN, Lala. Economia criativa e o desenvolvimento territorial: políticas de apoio e experiências. Disponível em: <http://laladeheinzelin.com.br/wpcontent/uploads/2010/07/2008-Economia-Criativa-e-Desenvolvimento-Territorial-desafios-eoportunidades-Lala-Deheinzelin1.pdf> Acesso em: 04 out. 2012. FRANZ, Tiago. Ativismo midiático, ativismo contemporâneo ou ciberativismo. Disponível em: < http://neoiluminismo.wordpress.com/o-ativismo-contemporaneo/> Acesso em: 12 out. 2012.


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MACHADO, Jorge Alberto S. Movimentos Sociais, tecnologias de informação e o ativismo em rede. Disponível em: <http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/geografia/0022.html> Acesso em: 11 out. 2012. MAZETTI, Henrique M. Ativismo midiático, redes sociais e novas tecnologias de informação e comunicação. Disponível em: < http://www.intercom.org.br/papers/regionais/sudeste2007/resumos/R0688-2.pdf> Acesso em: 11 out. 2012. MIELNICZUK, Luciana. Sistematizando alguns conhecimentos sobre jornalismo na web. Disponível em: <http://www.grancursos.com.br/novo/upload/quarto_2003_mielniczuk_geracoes_moneclatura s_20110905144617.pdf> Acesso em: 30 out.2012. Vídeo: 10 tatics for turnning information in activism. Disponível em <http://www.informationactivism.org/en> Acesso em: 10 ago. 2012 Entrevista: Entrevista com Cláudia Leitão – A Economia Criativa no Brasil. Realizada por Fundação Verde – Herbert Daniel, em 02 de fevereiro de 2012. Disponível em <http://www.cultura.gov.br/site/2012/02/08/entrevista-com-claudia-leitao-%E2%80%93-aeconomia-criativa-no-brasil/> Acesso em: 15 out. 2012.


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APÊNDICE PAUTA: PROJETO BAMBU DATA: 20/09 LOCAL: Assentamento Horto Aimorés Próximo ao Núcleo Habitacional Mary Dota – Bauru HORÁRIO: 10h LOCAL: Sede Administrativa do Projeto Bambu Av. Engenheiro Luiz Edmundo Carrijo Coube – Bauru Departamento de Engenharia Mecânica - Campus da Unesp. HORÁRIO: 15h

1. Equipe de reportagem: Helena Schiavoni e Helena Ometto 2. Assunto: Aplicação da economia criativa em uma comunidade local de Bauru, por meio da cultura do bambu. 4. Enfoque: Cobertura multimídia do projeto focando nas etapas de produção desde o cultivo do bambu, a colheita da planta para o processamento, até o produto feito de bambu pronto para ser comercializado. Fontes: o professor Marco Antonio Pereira dos Reis, responsável pelo Projeto Bambu, e com os funcionários mais envolvidos com o processo. 5. Informações preliminares: O Projeto Bambu teve início em 1990 na Unesp/Campus de Bauru por uma iniciativa do professor Marco Pereira. Desde 1998 o projeto conta com uma plantação própria que produz os colmos com as dimensões exatas e adequadas para o processamento e a utilização em pesquisas. O projeto é parte das pesquisas realizadas pelo departamento de engenharia mecânica da Unesp, e preocupa-se com as características físicas e de resistência mecânica desses materiais. Esses dados são importantes para avaliar a qualidade do material e seu potencial tecnológico, visando usos posteriores com aplicações diversas. A economia criativa embasada na cultura do local é aplicada nesse projeto diante dos produtos artesanais concebidos a partir do bambu, com acompanhamento técnico e qualitativo dos alunos de engenharia mecânica e de design da Unesp de Bauru. Além dos produtos artesanais confeccionados, eles também aplicam as características do bambu na construção civil, como a construção de um galpão totalmente construído por bambu. 6. Relevância O Projeto Bambu é uma das maiores realizações da economia criativa fundamentada na cultura local destacadas em Bauru. O grande destaque da iniciativa é a oportunidade de geração de renda dada aos assentados do Horto Aimorés. Por contar com o apoio e o financiamento da universidade ela ganha maior repercussão.


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7. Fontes: Marco Antonio dos Reis Pereira - professor da Faculdade de Engenharia de Bauru (FEB) Departamento de Engenharia Mecânica Contato: (14) 9791-4347 Coimbra – responsável pelo Projeto Bambu no Assentamento Horto Aimorés Contato: (14) 9663-5763 (14) 3103-6000 (ramal 6488) Zé Maria - responsável pelo Projeto Bambu no Assentamento Horto Aimorés Contato: (14) 9663-5763 (14) 3103-6000 (ramal 6488) 8. Recursos Multimídia Vídeo 1 Vídeo 2 Vídeo 3

Fotografia Texto 1

Texto 2 Texto 3

Depoimento de Marcos sobre a iniciativa, a repercussão e os objetivos da implantação desse projeto na cidade de Bauru Depoimento de Coimbra contando sua visão da ação do projeto na comunidade e como está ajudando na vida das pessoas envolvidas. Depoimento de Zé Maria sobre a participação das pessoas do assentamento no projeto, as dificuldades enfrentadas e como está produzindo melhorias Fotografar as etapas do processo, desde a chegada do bambu da colheita até os produtos finais e sua comercialização História do professor: contar sua função na Unesp, o surgimento da ideia de trazer o projeto para Bauru, a realização do projeto, as perspectivas futuras. Contar sobre os personagens diretamente envolvidos, como o Zé Maria e o Coimbra e suas histórias curiosas. Relatar a história da cultura bambueira pelo mundo e sua chegada em terras brasileiras.

09. Sites relacionados: Página do Projeto Bambu: http://wwwp.feb.unesp.br/pereira/pesquisa.htm Grupo Agroecológico Viverde: www.flickr.com/photos/grupoviverde Rede Social do Bambu: http://bamboo.ning.com/ 10. Deadline: 27/09


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PAUTA: ALDEIA EKERUÁ DATA: 06/10 LOCAL: Aldeia Ekeruá (Município de Avaí) HORÁRIO: 15h

1. Equipe de reportagem: Helena Schiavoni e Helena Ometto 2. Assunto: Aplicação da economia criativa em uma comunidade indígena da região de Bauru. Verificar como a cultura indígena pode ser originária de uma produção criativa rentável. 4. Enfoque: Cobertura multimídia das ações econômicas desenvolvidas na aldeia, em especial o turismo ecológico e cultural e a produção artesanal. Fontes: responsáveis pela preservação da aldeia e os indígenas que lidam diretamente com essas atividades. 5. Informações preliminares: A aldeia Ekeruá situa-se no território indígena de Araribá, localizado a 15km do município de Avaí, interior do estado de São Paulo, e próximo à cidade de Bauru. A aldeia permite às pessoas conhecerem um pouco mais da cultura terena, através de atrativos como a dança típica, as histórias e representações culturais, o artesanato, a culinária, a trilha ecológica, as brincadeiras indígenas, os teatros e outras atrações culturais. A aldeia está incluída no Circuito Turístico Caminhos do Centro Oeste Paulista, um projeto organizado pelo SEBRAE, que conta com dez municípios: Agudos, Arealva, Avaí, Bauru, Duartina, Iacanga, Lençois Paulista, Macatuba, Pederneiras e Piratininga. Os terenas que habitam a aldeia Ekeruá são originários do estado de Mato Grosso do Sul, quando em 1932 aconteceu a primeira imigração de quatro terenas na reserva indígena de Araribá. Desde então, essa imigração permanece. Os índios da aldeia Ekeruá, lutam pela preservação de sua cultura e de seus costumes mostrando suas atividades para o público e encontrando meios de fixar os índios ao campo. 6. Relevância A aldeia Ekeruá é uma manifestação de que a economia criativa sempre existiu em diversos setores da sociedade, porém os praticantes não tinham consciência desse conceito. Agora que a modalidade está ganhando espaço, atividades como essa merecem ganhar o devido destaque e serem tomadas como exemplo a ser aplicado em outras localidades da região e do país. 7. Contatos: David Silva Pereira – representante da aldeia Ekeruá Contato: (14) 9702-4315 8. Fontes no local Cacique Jazone – responsável pela aldeia


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Julio Cesar Pio – ex-vice-cacique da aldeia Ekeruá Zelia Luiz – professora da escola da aldeia Ekeruá 9. Recursos Multimídia Vídeo 1 Vídeo 2 Vídeo 3 Fotografia Texto 1 Texto 2

Gravar imagens do cotidiano da aldeia Depoimento do cacique Jazone Depoimento dos índios Julio Cesar Pio e Zélia Luiz Fotografar o artesanato produzido pelos indígenas e cenas curiosas que retratem a realidade Ekeruá Contar a história da aldeia Ekeruá e narrar relatos de sua realidade e seu cotidiano Contar sobre a aplicação da economia criativa na comunidade em todas as suas vertentes, desde o artesanato, ao turismo ecológico e cultural, até as novas ideias, como a plantação prática de mandioca.

10. Sites relacionados: Blog da Aldeia Ekeruá: http://aldeia-ekerua.blogspot.com.br/2011/09/aldeia-ekerua.html 11. Deadline: 13/10


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PAUTA: ÁREA VERDE ITAMARATI DATA: 27/10 LOCAL: Área Verde Itamarati Referência (casa dos Paulos): Rua Silvestre Bartori, 1995, Jd Itamarati Botucatu - SP HORÁRIO: 12h

1. Equipe de reportagem: Helena Schiavoni e Helena Ometto 2. Assunto: Aplicação da economia criativa em uma área verde da prefeitura cuidada por uma dupla de irmãos. No lixo descartado por ali eles encontram soluções práticas para problemas de infra-estrutura e aplicam o conceito da economia criativa gerando renda para a família. 4. Enfoque: Cobertura multimídia das iniciativas tomadas pelos irmãos Paulo Eduardo Gomes e Paulo César Gomes para preservar a área verde Itamarati, desde a coleta do lixo descartado na região, às ações preventivas a esse descarte ilegal, às ações para preservar a natureza do local e o artesanato produzido a partir de todo esse material coletado. 5. Informações preliminares: A área verde Itamarati fica localizada próxima á construção de novos condomínios de alto padrão que estão chegando à cidade de Botucatu. Por isso, é comum encontrar materiais de construção pelo caminho e espalhados pela área. Além disso, por causa da grande quantidade pessoas que passam por ali diariamente e dos bairros mais antigos próximos, criou-se uma espécie de “tradição” de descartar lixo por ali. Mas a iniciativa dos irmãos Paulo começou muito antes. Há 10 anos eles adotaram a área para cuidar. Desde então desenvolvendo ações preventivas e fazem o reaproveitamento de todo o material que encontram na região. A ligação de ambos com a natureza é bastante forte e eles se orgulham de promover essa iniciativa. Atualmente, eles já tem o reconhecimento da prefeitura sobre os cuidados que desenvolvem na área. 6. Relevância A área verde Itamarati é uma das muitas áreas desse tipo espalhadas pelo Brasil. A principal diferença é o cuidado que os irmãos dispensam a ela. Quem se aproxima da área não consegue enxergar e nem ter acesso às construções variadas que eles desenvolveram no local, mas basta solicitar a entrada para conhecer a iniciativa. A relevância está no fato de ser uma situação aplicável a qualquer área verde do Brasil que enfrente os mesmos problemas. Apontar que a economia criativa não precisa de muitos recursos para ser aplicada e é possível transformar vidas.


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7. Contatos: Paulo Cesar Gomes – cuidador da área (14) 3814-2083 Cleonice Pavani – amiga dos irmãos (14) 3813-5190 8. Recursos Multimídia Vídeo 1 Vídeo 2 Vídeo 3 Vídeo 4 Fotografia Texto 1 Texto 2 Texto 3

Gravar imagens do cotidiano da área, tudo o que já foi desenvolvido Gravar imagens dos artesanatos e das obras de infra-estrutura realizadas Depoimento de Paulo Eduardo Gomes Depoimento de Paulo Cesar Gomes Fotografar o artesanato produzido por eles e as obras de infra-estrutura; o trabalho de ambos; cenas curiosas descobertas no dia da visita Contar a história da área verde, desde quando começaram a cuidar, por que tiveram essa iniciativa; narrar histórias de vida dos irmãos Contar sobre a aplicação da economia criativa no local, de que forma eles desenvolvem as artes que proporcionam a geração da renda Sobre a consciência ambiental e a responsabilidade social dos irmãos. Destacar as ações de preservação da natureza que eles realizam e as iniciativas independentes para eliminar o descarte ilegal de lixo na área.

09. Sites relacionados: Não há 10. Deadline: 03/11


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Gastos com a produção Ao fim da execução do projeto experimental CriAtive tivemos a exata noção dos gastos realizados no decorrer das etapas do processo, principalmente no referente às viagens e gasto com o anúncio patrocinado no Facebook. Para tanto, desenvolvemos a tabela a seguir:

Gastos com a execução do projeto Viagens: Horto Aimorés Ekeruá Itamarati Gasto total R$ 50,00 R$ 40,00 R$ 96,00 R$ 186,00 Anúncios: Por dia Dias de anúncio R$ 1,50 34

Gasto total R$ 51,00

Os gastos com viagens referem-se ao valor pago pelo deslocamento de Bauru até os locais em que as matérias foram realizadas. São eles: Assentamento Horto Aimorés, localizado próximo ao Núcleo Mary Dota, na cidade de Bauru/SP; a Aldeia Ekeruá, localizada a 15 km da cidade de Avaí/SP; e a Área Verde do bairro Itamarati, localizada na cidade de Botucatu/SP. Já os anúncios foram executados com o intuito de realizar uma divulgação mais ampla da fanpage dentro do Facebook. O recurso Facebook Adds permite que o administrador da página estipule um valor diário para que a rede social divulgue a fanpage. No caso da CriAtive, estipulou-se um total de R$ 1,50 por dia, durante 34 dias.


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