Games made in Brasil

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O FUTURO DA

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DIVERSÃO

Games made in Brasil O desenvolvimento de jogos eletrônicos no país está encontrando seu espaço Texto Helena Ometto / colaboradora

Um sexto dos brasileiros, cerca de 35 milhões de pessoas, está envolvido direta ou indiretamente com o mercado de games, seja como jogador ou programador, declarou Álvaro Gabriele, professor de desenvolvimento de jogos, durante a Campus Party Brasil 2012. Já era hora de o Brasil mostrar seu potencial nesse mercado de entretenimento digital.

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ogar é bem diferente de criar. Para ser um bom profissional da programação de games é necessário disciplina, atualização, persistência, paixão por arte e tecnologia e uma dose de autodidatismo. Edward Filho, diretor comercial e fundador da Camaleão Digital, empresa que oferece cursos para desenvolvimento de games, acredita que esse tipo de mão de obra pode ser encontrada no Brasil, mas está difícil. Já existe uma diversidade de cursos de graduação e pós-graduação em desenvolvimento de games espalhados em nossas universidades, principalmente particulares.

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David Lemes, professor de tecnologia em jogos digitais da PUC – SP, diz que os cursos aliam as disciplinas de exatas aos conteúdos de humanas em módulos que envolvem programação, modelagem 3D, animação, criatividade, roteiro, game design e história dos games. Os cursos brasileiros tiveram seus currículos espelhados no padrão dos cursos internacionais, mas a principal diferença é o corpo docente. No exterior, os professores são atuantes no mercado, mas a indústria brasileira, ainda em formação, não permite essa didática. Os cursos de jogos digitais duram entre 2 anos e meio e 3 anos, dependendo da univer-

a porta de entrada para o mercado”, reflete Lemes. Diferentemente dos cursos acadêmicos de graduação, existem os cursos de especialização, como os que são oferecidos pela Camaleão Digital. Eles não oferecem um diploma de ensino superior, mas são extremamente válidos para a boa formação de um desenvolvedor de games. Os profissionais contam com a liberdade de criar seus produtos de acordo com suas preferências, mas sem esquecer as tendências do mercado. A inspiração para criar os jogos é livre e faz sucesso com públicos específicos e estratégicos, mas deve considerar os desafios, a diversão e a recompensa. Edward lembra que os games “Call Of Duty” e “Battlefield” acontecem no contexto de uma guerra civil, entre militares e terroristas, com bastante realidade, enquanto “Gears Of War”, “Kill Zone”, “Lineage”, “BioShock”, “Final Fantasy” e “Halo” são adeptos da ficção, com cenários de guerra entre alienígenas e humanos, aventura e fantasia. Tulio Soria, do estúdio Mother Gaia, diz que a ficção é o que mais conquista o público hoje, pois mexe com o imaginário e transporta para uma realidade lúdica. “Na concepção do Mother Gaia, podemos pincelar esse ambiente lúdico com uma certa dose de realidade, como fizemos no nosso jogo educativo gratuito Cidade Verde”. Ainda no segmento dos games educativos, Soria defende que, antes de tudo, eles devem ser divertidos. “Acredito que um game divertido e bem produzido pode ser educativo, e o aluno realmente aprende brincando”. Uma outra tendência que começa a se desenvolver são os games voltados para mudança e perspectiva social. Eles são apresentados em festivais como o “Games For Change”, que já tem uma versão brasileira.

Profissões e softwares Desenvolvedor de games é uma profissão em alta no Brasil. Segundo Edward Filho,

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UNIVERSIDADE E MERCADO “Para ser um bom profissional do setor de games, não basta gostar de jogar. É preciso saber construir o jogo, sidade. Ao final do curso, o projetar, programar, desenhar e gostar muito desse mundo em intersecção: arte e tecnologia”, aluno deve apresentar um revela David Lemes, professor do Departamento de game inédito jogável, comComputação da PUC - SP nos cursos de Tecnologia e pleto ou com algumas fases. Mídias Digitais, Sistemas de Informação e Tecnologia em Jogos Digitais. Lemes ainda é editor “Muitas empresas procuram do Game Reporter, o primeiro a universidade em busca de blog brasileiro especializado novos talentos para que atuem em games, do site GameOZ e do como estagiários ou mesmo como portal Game funcionários efetivos. Essa pode ser Console.


DO RASCUNHO AO FINALIZADO O desenvolvimento do projeto do game “Canhão Gatuno” pelo estúdio Mother Gaia, de Tulio Soria: à esquerda, o primeiro rascunho do level 1, utilizado para a concepção e criação da fase e, na sequência, a imagem do level colorido já finalizado. O game foi desenvolvido em novembro de 2011.

Seu jogo em um celular

O estúdio Mother Gaia, de Tulio Soria, tem um projeto para ajudar os desenvolvedores de games novatos que desejam criar games mobile de sucesso para smartphones. A plataforma do projeto ainda está sendo concebida, mas quem já tem jogos prontos ou rascunhos de fases para iPhone, Android ou Windows Phone pode entrar em contato com o estúdio. Eles pretendem viabilizar a concepção desses projetos ao inscrevê-los no programa de publicação. contato@mgaia.com.br

já são mais de 16 segmentos nessa área de atuação entre programação e artístico. No setor de programação, estão os profissionais especializados em desenvolvimento de I.A. (inteligência artificial), linguagens como C++, C#, Java, JavaScript, Boo e Phyton. Na linha de desenvolvimento artístico, ficam as especializações em modelagem e animação com softwares 3D (Maya, 3D Max, Blender, ZBrush,

Softimage), motor gráfico/FrameWork (Unity 3D e Unreal Engine UDK), editores de imagem (PhotoShop e Gimp) e editores de áudio. Os segredos para desenvolver as práticas e habilidades da criação são dedicar-se a cursos de especialização, manter-se atualizado sobre as novidades do mercado e praticar no computador. Edward acredita que os melhores cursos universitários para quem deseja seguir

carreira são os de computação gráfica como designer digital, ou sistemas/programação. Os principais alunos desse tipo de curso de especialização são os profissionais da área de tecnologia da informação, como analistas de sistemas, programadores, animadores 3D e até mesmo arquitetos e engenheiros, e os cursos mais procurados são os de Unreal Engine 2.0. Apesar das especializações, o Brasil ainda

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Demos Os alunos da Camaleão Digital desenvolvem demos de versões completas dos games. Os cenários do banheiro e do mausoléu em sépia são criações do aluno Kleber Jones com a técnica 3D de um game profissional completo.

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Investimentos e lucros Está cada vez mais comum games famosos chegarem ao topo de vendas em apenas algumas semanas de lançamento. Mais fácil ainda é faturarem mais de um bilhão de dólares nas vendas e com produtos licenciados. O mercado mundial de games lucra cerca de US$ 74 bilhões por ano, segundo Álvaro Gabriele, superando as superproduções de Hollywood e os lucros de toda a lista da parada musical Billboard. Considerando esse alto faturamento, o mercado mundial está focado nos produtos para consoles. Um jogo como o “Halo”, por exemplo, pode render US$ 120 milhões se fizer o sucesso esperado. Detalhe: isso em um único final de semana. Os investimentos nacionais ainda não permitem a programação de games dessa proporção. Por enquanto, o Brasil está se ocupando dos 54

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games mobile, para rodar em iPhones, iPads e sistemas operacionais com Android, e games sociais, disponibilizados na web em redes sociais como o Facebook. Esse segmento tem baixo custo de produção e divulgação e a oportunidade de jogadores on-line é enorme. Um exemplo de game nacional desenvolvido nessa tendência é o Taikodom, criado pela Hoplon Infotainment, de Florianópolis (SC). Lemes lembra que hoje um game é pensado para ser multiplataforma. “Games para PC e consoles têm as mesmas características, pois apresentam excelente capacidade de processamento. Apenas jogos para smartphones precisam de uma concepção específica em função do controle e dos limites do hardware”. Os lucros são animadores, mas e os custos? O investimento para criar um game leva em conta escolhas como tipo de plataforma, tecnologias empregadas, mão de obra, tempo de retorno previsto e parceria comercial. Américo Amorim, diretor de comunicação e marketing da ABRAGAMES (Associação Brasileira de Desenvolvedores de Jogos Eletrônicos), diz que é difícil falar em custos, mas o investimento inicial fica em torno de R$ 20 mil. Para se ter uma ideia, aqui no Brasil, um game mobile

desenvolvido por cinco pessoas com softwares gratuitos para computadores (como Linux e Java), num prazo de três meses deve chegar ao custo de R$ 40 mil. O retorno do investimento deve levar um mês, se contar com uma operadora de celular como distribuidora e lucrar por porcentagem de downloads a pelo menos 30% do valor. Num game social com o uso de altas tecnologias, é necessária uma equipe de pelo menos 70 pessoas, softwares pagos de alto custo, um prazo de dois a três anos e um investimento mínimo de R$ 70 milhões. E o contrato com uma grande distribuidora é primordial. Os games da linha web e mobile são os mais acessíveis e competitivos, por isso são prioridade agora. “Com poucas barreiras, a web possibilita um espaço com mais facilidade para mostrar um trabalho, mas para ganhar dinheiro e ter lucro é outra história”, diz Amorim. Já games para PC são pouco citados no mercado nacional. A ABRAGAMES apurou que o principal problema é a pirataria. As pequenas empresas têm poucas perspectivas de crescimento e, às vezes, nem nascem. Com a pirataria, especialmente de games para PC, a produção de jogos brasileiros é de 0,5% do mercado mundial de PCs e consoles, segundo Amorim.

“A produção de games brasileiros representa apenas 0,5% do mercado mundial de PCs e consoles”, afirma Américo Amorim.

robô Personagem de exercício de zbrush nos cursos da Camaleão Digital

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está engatinhando no desenvolvimento de games e conquista o mercado aos poucos. Grande parte dos desenvolvedores inicia a carreira de forma independente, vendendo suas criações em portais para atingir as maiores redes on-line de venda de games do mundo, como a Steam Powered, a Android Market, o Windows MarketPlace e a Apple Store. Os criadores independentes são chamados de indie gamers e formam um celeiro de criadores em potencial no Brasil. Lemes acredita que as tecnologias permitem que um único programador crie um game sozinho. “Com as novas tecnologias de informação e comunicação, ficou fácil criar, desenvolver, publicar e vender seus jogos”, revela. Além do Brasil, outros países estão em alta de indie gamers, como a Finlândia, cuja produtora Rovio criou o Angry Birds. Para Edward, está acontecendo um crescimento sólido, constante e de qualidade na produção nacional: “Estamos indo bem, mas não temos o mesmo número de produtoras e profissionais como há nos EUA, Canadá e Japão. O segredo pode estar em desenvolver os jogos aqui e vendê-los na Europa, onde existem distribuidoras receptivas e de longo alcance”, sugere. O mercado interno para os recém-formados ainda é bastante competitivo e somente os melhores preparados conquistam um espaço. Bom mesmo é sair da faculdade ou dos cursos com um rico portfólio e as bases para atuar no mercado.


Vencedores internacionais

Em 2008, a equipe do estúdio Mother Gaia, formada por quatro alunos da Unesp de Bauru - SP, venceu a edição da Imagine Cup com o game “City Rain”, desenvolvido para as plataformas Xbox 360 e Windows, com um único jogador. Em 2009, foi a vez da Levv It (Pernambuco) ganhar a competição da Microsoft com o game “Choice”, que mistura raciocínio e desafios de fliperama.

Advergames Além dos segmentos de consoles, PC, mobile e web, os games publicitários, chamados advergames, estão crescendo no mercado. No Brasil, são os principais produtos e rendem a maior porcentagem do faturamento das empresas. Games publicitários são encomendados por empresas interessadas em publicidade, e, por isso, têm lucro e público garantidos. Esse mercado está crescendo rapidamente com a mídia assumindo um papel mais ativo. Alguns tipos específicos de consumidores passam mais tempo no computador ou jogando do que propriamente assistindo TV, então os advergames

são uma extensão da publicidade e uma nova forma de mídia. A principal frente de desenvolvimento do estúdio Mother Gaia, de Tulio Soria, são os advergames, com jogos criados para o mercado nacional de propaganda. “Nesse mercado criamos games de suporte para campanhas de marketing. Já temos clientes como Pepsi, Bradesco e Eletropaulo”.

Rumos O que ainda falta para o Brasil se destacar no cenário internacional é uma dose de empreendedorismo e marketing, com um

incentivo fiscal. A maioria dos indie gamers brasileiros até pretende montar a própria produtora por aqui, mas não recebe estímulos. A saída é migrar para o exterior. O governo está abrindo possibilidades de desenvolvimento para o mercado nacional, mas ainda está no começo. Em fevereiro de 2011, a FECOMERCIO (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo) fez uma proposta ao Ministério da Ciência e Tecnologia para incentivar o mercado de games e aplicativos no Brasil. As três principais reivindicações foram um maior investimento na capacitação, combate à pirataria e redução de impostos. A ABRAGAMES conta hoje com 30 empresas associadas. De acordo com Amorim, a associação auxilia os desenvolvedores com programas de inserção no mercado, participação em feiras internacionais, divulgação de produtos na mídia e intercâmbio de conhecimento. Agora é a hora de o Brasil dar um power-up e zerar o desafio de entrar de cabeça no mercado mundial de games. Afinal, talentos e bons personagens a gente já tem.

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Sucesso brasileiro O “Drums Challenge”, game mobile desenvolvido pela Daccord (Recife), é o jogo musical para iPad mais vendido em países como os Estados Unidos.

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