EIXOS TEMÁTICOS
Por uma nova etapa para a FACOM Não é por mero acaso ou obra do destino que a FACOM|UFBA é hoje a Faculdade de Comunicação mais antiga e a mais importante no Estado da Bahia. Não é por mero acaso ou obra do destino que a FACOM|UFBA estabeleceu um dos primeiros cursos de pós-graduação stricto
sensu
fora
de
eixo
Rio-São
Paulo
e
o
primeiro
do
Norte/Nordeste, tornando-se um dos mais importantes polos de formação pós-graduada e de produção de conhecimento original na área de Comunicação do Brasil. Não é por mero acaso ou obra do destino que abrigamos alguns dos mais importantes grupos de pesquisa nacionais, inclusive em áreas pioneiras e de ponta como a Cibercultura. Não é por mero acaso ou obra do destino que contamos com uma Habilitação em Produção Cultural - a primeira desse gênero no país - enraizada na clara vocação cultural de nosso Estado e atendendo às demandas dela decorrentes. Não é por mero acaso ou obra do destino que oferecemos uma Habilitação em Jornalismo de estatura e qualidade amplamente reconhecidas; que contamos com 1
instalações físicas condignas, laboratórios, salas de docentes, espaços administrativos adequados; que caminhamos decididamente para o reconhecimento de nossas atividades além das fronteiras nacionais. Não é por mero acaso. Nem por obra do destino. Tudo isso foi construído coletivamente, com muita dedicação, esforço, criatividade e coragem para experimentar. Tudo isso teve origem a partir de um curso de Jornalismo – tradicional e importante historicamente, é verdade - mas que, até 1986, era apenas uma das atividades da Escola de Biblioteconomia e Comunicação da UFBA. A FACOM passou por momentos decisivos que devem ser recuperados e mantidos em nossa memória para que possamos estabelecer rumos futuros. Um primeiro momento, inaugural e heroico, aconteceu com a invasão e ocupação - por professores, funcionários e estudantes - de um prédio deixado vazio no Canela, dando início a uma nova etapa na luta para a criação de uma faculdade autônoma, que finalmente se materializou em 1986. Já em 1987 a FACOM dava os primeiros passos em direção à pós-graduação
e
à
pesquisa,
estabelecendo
o
Curso
de
Especialização, na área da Comunicação Comunitária, que serviria de laboratório para a posterior criação dos cursos stricto sensu. Em 1992, montamos o primeiro Grupo PET em Comunicação no Norte e Nordeste e um dos pioneiros na área no Brasil e lutamos, desde sempre, pela implantação de um sólido e continuamente ampliado Programa de Bolsas de Iniciação Científica, com a sempre presente meta de uma necessária e salutar integração entre Graduação e PósGraduação. Muitos outros momentos foram decisivos nesse processo de construção coletiva de nossa identidade e nossa presença no panorama acadêmico nacional e internacional. Mencionemos apenas alguns:
a
criação
do
Mestrado
em
Comunicação
e
Cultura
Contemporâneas (1989/90) e, posteriormente, do Doutorado (1995); a criação do NICOM como órgão original de apoio às atividades de 2
Pesquisa e Extensão; a reforma curricular de 1999/2000 que atualizou a habilitação de Jornalismo – unificando o curso em um só período (matutino), criando o conceito de Oficinas, Atividades Complementares Extra-Curriculares e a obrigatoriedade do Trabalho de Conclusão de Curso – e criou a habilitação em Produção Cultural, com a implantação quase simultânea da Produtora Junior (2001), uma
Empresa
Junior
extremamente
bem-sucedida,
que
vem
ganhando sucessivos prêmios e reconhecimentos nacionais. Nossos docentes e pesquisadores tiveram participação direta e decisiva na criação das mais importantes associações científicas na área de Comunicação e Cultura, desde o início da década dos 1990 COMPÓS, SBPJor, ABCiber, COMPOLITICA, CISECO e outras - e vários de nossos colegas exerceram cargos de coordenação e consultorias de alto nível nas agências de fomento nacionais e regionais (CAPES, CNPq, FAPESB). Em projetos de promoção da formação de recursos humanos de alto nível, como o PROCAD – Programa Nacional de Cooperação Acadêmica, oferecido pela CAPES, a FACOM já teve a participação, através de seus professores e alunos, na metade dos projetos que foram implementados na área de Comunicação. Chegávamos ao final da década dos 1990 e o prédio – a tão duras penas conquistado e adaptado, no Canela – tornara-se pequeno para abrigar tudo que fazíamos e o mais que queríamos fazer. O primeiro computador adquirido pela FACOM funcionava em um vão de escada no primeiro andar da Faculdade; não tínhamos sala de docentes, os funcionários apinhavam-se em espaços exíguos, os laboratórios eram pequenos, precários e mal-adaptados às novas necessidades, que nós mesmos criávamos por nossa proatividade. Necessitávamos de mais e melhores laboratórios, um auditório maior,
instalações
condignas
para
os
docentes
e
técnicos
administrativos, espaços de livre acesso à Internet para nossos estudantes, uma ala exclusiva para a Pós-Graduação, uma boa cantina. Uma nova luta foi empreendida entre 1998 e 2000 para a 3
conquista do que é hoje a Nova FACOM, onde antes havia apenas um decrépito e abandonado Restaurante Universitário. Conseguido o prédio, feitas as primeiras adaptações, mudamos com as instalações ainda
em
obras
e,
desde
então,
temos
ampliado,
adaptado,
melhorado, construindo com esforço e criatividade um espaço funcional e cada vez mais agradável de trabalho e convivência. Ainda em 2005/2006, o auditório da FACOM era um dos poucos espaços equipados com aparelhos de refrigeração dedicados ao ensino. Nenhuma das salas de aula era beneficiada por tais aparelhos. Surgiam as naturais buscas e disputas pela ocupação do auditório para a realização de aulas. As paredes que dividiam as salas de aulas eram inapropriadas, impossibilitando o isolamento acústico entre as diferentes atividades em curso.
Houve um empenho da
direção da Faculdade e de toda a comunidade na melhoria dos diferentes espaços dedicados à pesquisa, à extensão, ao ensino e à gestão. Hoje, temos salas de aula revestidas com gesso acústico, todas
com
ar-condicionado
e
equipadas
com
datashow,
computadores, cortinas etc. O auditório foi reformado e a Faculdade está prestes a receber uma nova ala – também com três andares - e o início da reforma interna: cantina, novos laboratórios, os saguões de todos os andares etc, além da previsão de construção de um novo anexo, fruto da captação de recursos junto à FINEP (CT-Infra), Ministério da Ciência e Tecnologia, através de projetos da FACOM contemplados em editais dos anos 2008, 2009 e 2010. Nada disso deveu-se ao mero acaso ou ao destino. Tudo isso foi construído, coletivamente e com muito esforço e dedicação. Tudo isso demandou Diretores e colegas em diversas funções administrativas que abdicaram de parte de suas carreiras acadêmicas para liderarem esses processos de construção e melhorias, em constantes batalhas junto à Administração Superior, em continuados esforços para estabelecimento de prioridades no âmbito da captação de recursos para a nossa Unidade. 4
Nada disso deveu-se ao mero acaso ou ao destino: demandou a colaboração imprescindível de nosso pessoal técnico-administrativo que soube compreender a importância daquele momento e de que participavam de algo de que iriam se orgulhar no futuro; demandou um corpo discente que soube se mobilizar em momentos decisivos em que foi necessário pressionar para que se conseguisse o que demandávamos; exigiu, principalmente, unidade de pensamento e de propósitos de toda a comunidade da FACOM. Nos momentos em que tal unidade fraquejou – e sabemos que esses momentos infelizmente também existiram em nossa história institucional – todo o arcabouço em construção esteve seriamente ameaçado. Acreditamos que o que foi construído até aqui oferece bases sólidas para que iniciemos agora um novo ciclo de renovação, criatividade e experimentação. As condições são favoráveis e – mais que isto – são incontornáveis, pois colocam desafios que terão que ser enfrentados. Temos os novos horizontes alargados pelo REUNI – com seus efeitos positivos e suas distorções – temos um processo de internacionalização no Ensino Superior em andamento e do qual somos partícipes e até líderes, em muitos sentidos, no panorama nacional; temos as Novas Diretrizes Curriculares para o Curso de Jornalismo, que demandam mudanças para além das cosméticas curriculares; temos o desafio de aperfeiçoar a Habilitação em Produção Cultural, ajustando-a à cambiante realidade nacional e regional no plano da Cultura; temos a necessidade de oferecer novas possibilidades de profissionalização e aperfeiçoamento para nossos estudantes, com a
criação de novos cursos de Especialização,
Mestrado Profissional, além de formação complementar de alto nível para a Graduação; temos que buscar um maior entrosamento entre a Pesquisa e a Extensão, incrementando a difusão e a aplicação de conhecimentos
gerados
academicamente
em
benefício
da
comunidade e posicionando a Faculdade como agente na busca de 5
um maior e melhor desenvolvimento tecnológico tendo como atores a FACOM e eventuais parceiros. A Faculdade já teve iniciativas pioneiras no âmbito da EAD – Educação à Distância – com o Projeto Sala de Aula e, agora, tais iniciativas estão na ordem do dia facilitadas com a presença, difusão e uso de novas e mais acessíveis tecnologias. Muitos poderão ser beneficiados com as ações e atividades da FACOM mesmo estando em localidades longínquas, em especial, no imenso interior do Estado da Bahia, tão sedento em educação. Temos um Mundo em que a Comunicação tornou-se central, em que as “novas tecnologias” já não são novas, em que profissionais de nossa área serão cada vez mais importantes na produção, seleção, hierarquização de informações e na criação de projetos e políticas que integrem Comunicação e Cultura. Temos imensos desafios, de todas as ordens, temos o desafio de construir coletivamente, com unidade de propósitos, uma nova etapa da FACOM. Isso se faz com transparência e participação. É o que propomos fazer. É para isso que convidamos vocês como parceiros.
Expansão, Ampliação do Acesso/Permanência e a Qualidade A defesa da Universidade Pública e Gratuita foi, desde sua criação, uma premissa consensual em todos os programas e ações empreendidos na Faculdade de Comunicação da UFBA. Igualmente, a Faculdade tem-se pautado consistentemente pela busca e contínua melhoria de seu padrão de ensino, pesquisa e extensão. É sempre um desafio dos mais complexos conciliar a expansão das atividades com a qualidade de nossa produção e a oferta de condições apropriadas de trabalho, de recepção e acolhimento para nossos estudantes.
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A ampliação do acesso não começa nem termina com o REUNI (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais). A preocupação da FACOM com a ampliação do acesso tem sido evidenciada desde cedo, com a organização de nossos
cursos
em
turno
único,
para
possibilitar
que
nossos
estudantes possam trabalhar, estagiar, pesquisar e se dedicar a outras atividades além da frequência a aulas; com a criação de espaços de acesso livre a computadores e recursos de Informática; com um posicionamento fortemente direcionado para as ações de apoio aos estudantes admitidos através dos mecanismos das Ações Afirmativas, por meio de bolsas e garantia de acesso a cursos e atividades complementares; com a decidida captação de recursos para ampliação e melhoria das instalações físicas da Faculdade. Com as políticas de expansão de vagas verificadas a partir da implantação do REUNI nossa posição tem sido de um apoio sempre crítico ao necessário processo de ampliação do setor público do ensino superior no Brasil, condicionado à criação de condições tanto físicas
quanto
de
pessoal
qualificado
–
docente
e
técnico-
administrativo - para que a ampliação do acesso não ocorra às expensas da qualidade do ensino e da pesquisa. A ampliação de vagas e a diversificação de atividades colocam pressão sobre as instalações e equipamentos existentes e cabe à Direção promover o máximo envolvimento da Comunidade na discussão das formas mais apropriadas de se enfrentar o desafio de avançar a oferta de ensino superior público e gratuito, sem abrir mão da busca pela excelência acadêmica, que vem caracterizando e destacando nossa Faculdade no plano nacional. Nossa Proposta de Trabalho aponta para a necessidade de crescimento e de diversificação de atividades, com criação de mais cursos e oportunidades de pesquisa e engajamento em atividades extensionistas,
ampliando
nossa
inserção
e
participação
no
desenvolvimento regional e local. Qualidade e busca de excelência 7
devem, no entanto, atuar como parâmetros fundamentais desse esforço de atendimento das demandas sociais, dos diferentes setores (governamental, terceiro setor e empresarial), que se impõem e devem ser atendidas através de nossa Faculdade. Assim, entendemos que o atual momento da universidade em geral e da FACOM em particular deve ser guiado por duas forças: a) por uma inserção vigorosa na realidade regional e local, como um agente do desenvolvimento, proporcionando parcerias e redes na construção de uma sociedade mais justa, igual e pacífica; b) por uma troca de saberes que se coloque, igualmente, no plano internacional, na articulação de outros atores e redes.
Internacionalização A questão da internacionalização da Educação Superior está colocada há vários anos e tem sido objeto de contínuas análises e recomendações por parte de organismos internacionais pelo menos desde os finais da década dos 1990. Vivemos uma situação delicada e de transição, com o Processo de Bolonha estabelecendo padrões acadêmicos e uma visão da formação universitária que se aproximam fortemente dos vigentes em instituições norte-americanas e que se querem produtores de uma hegemonia em termos globais. Isso ocorre em um cenário de criação de diversas agencias transnacionais de acreditação do ensino superior e de proliferação de diversos rankings internacionais de instituições universitárias, que coloca as Universidades brasileiras em uma posição que exige atitudes simultaneamente abertas e críticas. É preciso responder positivamente ao desafio da internacionalização, porém é necessário respaldar-se qualquer conjunto de ações nesta área com ampla discussão e um posicionamento que leve em conta nossas especificidades e nosso enraizamento nacional, regional e local. 8
A mobilidade de docentes e discentes vem sendo crescente e consistentemente apoiada pelas agências de fomento brasileiras (CAPES, CNPq e agencias regionais de apoio à pesquisa) em anos recentes; igualmente tem crescido o escopo de programas de colaboração internacional de pesquisa e ensino. A FACOM, através de seu
Programa
de
Pós-Graduação
em
Comunicação
e
Cultura
Contemporâneas (PósCOM), tem sido partícipe desse processo de estabelecimento incentivado
a
de
parcerias
mobilidade
internacionais
de
nossos
e
tem
estudantes,
fortemente através
dos
programas de estágio doutoral e visitas acadêmicas a instituições universitárias no exterior e participação em projetos internacionais de pesquisa. Vários convênios de colaboração acadêmica foram mantidos ao longo desta última década, a maioria deles envolvendo a mobilidade não só de docentes, mas também de estudantes da pós-graduação. E caminhamos agora para experiências-piloto mais complexas, inclusive com
introdução
estabelecimento universidades
de da
sistema
de
possibilidade
estrangeiras.
co-tutoria de
internacional
dupla
Faz-se
titulação
necessário
avançar
e
com e
experimentar, mas com uma postura de criatividade e contínua avaliação das ações em curso. Paralelamente ao processo de internacionalização da pósgraduação faz-se necessário promover uma crescente mobilidade também no espaço da graduação, aproveitando-se ao máximo os programas federais e internacionais existentes. Por outro lado, esse incentivo à mobilidade deve ser acoplado com a garantia de criação de condições para que a mobilidade não seja apenas privilégio daqueles que podem contar com recursos próprios para bancar ou complementar as despesas envolvidas. As ações afirmativas devem decididamente incluir a garantia de mobilidade internacional para todos
os
que
estejam
independentemente
de
motivados sua
situação
e
capacitados
social
e
para
tal,
financeira.
Tal 9
mobilidade deve ser entendida como um processo em dois sentidos – o envio de membros de nossa comunidade e o acolhimento de professores e alunos estrangeiros na FACOM. A internacionalização deve ser cada vez mais uma atividade pensada e exercida no interior de
relações
simétricas,
fortalecendo
também
o
intercâmbio
universitário. Mas, acima de tudo, acreditamos que esse processo de internacionalização deve ser aprofundado sempre sem que se perca de vistas as especificidades nacionais e locais, sem que se abdique daquilo que, inclusive em contraste positivo com padrões externos, foi construído no Brasil, ao longo das últimas pelo menos três décadas de esforços de pesquisadores e do pessoal técnico envolvido na gestão e no aperfeiçoamento da pesquisa e da pós-graduação. A internacionalização deve ser incentivada e alargada, mas sempre de forma
crítica
e
soberana,
com
valorização
de
nosso
próprio
patrimônio de conhecimento produzido e acumulado, em bases de reciprocidade e valorização dos parceiros envolvidos. Um processo de discussão contínua deve ser mantido na FACOM para que nossa Faculdade crie e implemente suas alternativas de inserção no panorama internacional da produção e da circulação do conhecimento e se faça representar com posicionamentos claros em todas as instâncias em que tenha assento. Queremos avançar com uma internacionalização em bases sólidas e construtivas, sem uniformização,
sem
subalternidade
e
alerta
aos
perigos
de
mercantilização e instrumentalização que os atuais processos de globalização do ensino superior trazem em seu bojo.
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