PLANTA
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23, 24 e 30 de novembro e 01 de dezembro de 2013 sĂĄbados Ă s 21h30 domingos Ă s 20h 2
PROJETO PLANTA é um evento teatral realizado por ocasião da X Bienal de Arquitetura de São Paulo, no apartamento da sede da Associação Parque Minhocão. a peça é apresentada dentro do apartamento, para ser assistida do lado de fora, no minhocão. ONDE dirigir-se até à Estação de Metrô Marechal Deodoro (Linha 3 - Vermelha). a peça tem início às 21h30 (sábado) e às 20h (domingo) na saída Albuquerque Lins da estação do metrô, que esta devidamente sinalizada, a partir de onde o público é conduzido até o local exato da apresentação. FICHA TÉCNICA concepção, direção e textos Gustavo Colombini e João Dias Turchi elenco Artur Abe, Florian Hauβ, Julia Monteiro e Vinicius Garcia Pires arquitetos Antonio Moncada Medina, Barbara Kanagusaka, Blanca Gomes Teran e Pablo Santacana Lopez direção de arte Artur Abe vídeo Thomaz Marcondes I
imagens projetadas Andre Pollux acompanhamento crítico, programa e proj. gráfico Leonardo Araujo projeto visual Gustavo Colombini trilha Guilherme Giufrida mixagem Gustavo Colombini produção Cinza II
MEDIÇÕES DO APTO com palavras - João Turchi Contagem de carros contagem dos próprios passos os passos mudam mas o tamanho não muda eu meço o tamanho da sala com minhas próprias palavras quantos “as” cabem enquanto ele conta os carros na rua - Aaaaaaaaaaaaaaaaa (sala) - Quantas palavras enquanto (2 palavras e meia no quarto) - Couberam 4 palavras (cidade muda silêncio carros) enquanto ela atravessava a sala e 8 se ela corria de uma ponta a outra casa (cidade muda silêncio carros assobio assombro máquina luzes) - E se eu ficar em silêncio, quanto silêncio vai caber no banheiro, na varanda, na cozinha e da cozinha até a varanda, quanto silêncio cabe no apartamento silêncio com “caber” - Gustavo Colombini eu caibo 9 vezes deitado da porta de entrada ao fim da varanda eu rolo 26 vezes da sala ao útimo quarto 14 passos de corrida da sala à varanda 22 passos de caminhada da sala à varanda eu caibo 4 vezes de pé na segunda janela 69 carros passam no minhocão enquanto eu conto 1 minuto sem exatidão com as contornações - Julia Monteiro Como traduzir o contorno desse espaço? Em palavras, em gestos ou em desenho? Ao contornar o apartamento, acompanhando as paredes que o delimitam e o estruturam, percebo que esse contorno é mutável. Mutável porque é traduzido por minha percepção conforme caminho. Eu me coloco em movimento, e coloco o próprio espaço em movimento. Se mudo de sentido, minha percepção se altera. Pois mudo a perspectiva, o espaço se 3
transforma. Novos pontos de vista. Quantos possíveis? Infinitos. Se alguém está no meu caminho, algo também se transforma, em mim e no espaço que eu atravesso. Interrupções. Distúrbios. Tenho que desviar, alterar meus passos. Em quantos passos eu contorno a borda? Em quantos segundos? Bordas em um fluxo constante de formação e deformação. Uma concretude fluída. Não uma matéria encerrada, rígida, mas aberta. O próprio apartamento como um espaço que se altera enquanto me coloco e me desloco ali dentro. Me estranho não apenas com o espaço, mas com os outros, identidades desconhecidas que ali habitam. Passam. Somos todos passantes neste espaço; estamos de passagem? Transição? Ocupação em trânsito.
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PLANTA
disparador dramatúrgico
1 Abandonamos a cidade. Os prédios ocupam o espaço que sobrou. As pessoas se cansaram de morar em cima. As pessoas se cansaram de morar em cima de outras pessoas. Os prédios não se levantam mais, os prédios não escutam mais nada, nem os carros, nem os pedestres, nem as nuvens, apenas outros prédios enfileirados, uns de frente pros outros, como se pudessem se encontrar no meio da avenida e dançarem juntos, numa dança sem dança, e as duas fileiras e todo o caos das construções separados por uma única dança na avenida larga. 2 Esse texto começa quando a história já terminou. A casa está em reforma e a cidade está em reforma. O texto acaba quando a multidão cerca a casa. Nós temos mais ou menos 35 minutos. 3 Essas são as medidas de todas as coisas 4 A casa está mudando, os cômodos não são mais os cômodos, os meus cômodos e eu não sei se devo lavar a roupa, lavar o rosto, esperar os convidados, preparar o natal, desmontar a casa, correr até aí, desligar os aparelhos ou se devo ligar pra você. Porque tem pó e tem som e tem pó em todos os lugares, um reservatório infinito de som e poeira que invade a casa e ocupa o vazio da sala de estar e da varanda envidraçada em silêncio. Mas lá fora, não existe silêncio. 5 Lá fora nunca é só lá fora. Ele não cabe mais embaixo da cama, eu não caibo mais ao lado da janela, eu mal posso abrir as janelas, 5
eu mal posso abrir as janelas ou as portas e acho que eu prefiro deixar as luzes apagadas, como se eu não estivesse aqui. Porque às vezes eu realmente não estou. A casa está em ruínas, olha aqui pra dentro agora. A casa nunca esteve pronta e ela nunca vai estar, porque enquanto a cidade não estiver pronta, aqui também nunca estará. 6 A multidão está se apaixonando por si mesma. 7 A multidão olhava em silêncio. 8 A multidão parece você, a planta da casa ficou desenhada no chão, ele planejou a casa com as suas próprias medidas, mas ele acabou de descobrir que não cabe mais aqui e agora eles vão ter que sair, como sempre saíram, levando tudo o que podem carregar, tudo o que não cabe mais junto com eles. 9 A multidão vai diminuir até caber dentro de mim. (intervenções nas janelas) 10 Eles saíram em silêncio enquanto eu dormia. (invasões) Frases para intervenção (janelas): a) Eu não caibo mais aqui b) Pra que tanto espaço livre pra tão pouca gente? c) Quem ocupa todas as salas vazias do centro? d) Estou sempre indo pra mais longe e) O silêncio nunca é só meu f) Espaço não é mercadoria Gustavo Colombini e João Dias Turchi 6
VARANDA 1: a trilha sonora dos carros invadiu o apartamento durante todo o período de ensaios. a cidade pulsando em buzinas, freadas, escapamentos se sobrepôs a nossa voz e a gente quase não se escutava mais e já nem estranhava os carros ali, tão perto, gritando por atenção, ocupando todos os cômodos com sua presença. projetamos o texto na janela e alguém disse “é uma ópera”. era como se fosse. uma sinfonia de gente calada e carros gritando, uma música de automóveis, sem maestros, sem controles, com a única certeza de que tudo só acabaria às 21:30 da noite, com o minhocão fechado. mas não acabava, porque embaixo continuava existindo os carros e as buzinas e as freadas, principalmente as freadas. tanto ônibus que não ia levar a gente dali, não ainda. só quando tudo estivesse arrumado, para mais um dia de exposições, para mais um dia de gente calada e assustada com o barulho que vinha de fora, aquela sinfonia de carros apressados e um apartamento sempre vazio sempre em silêncio. o minhocão seria nossa trilha sonora, decidimos. não adiantava colocar voz nos personagens, oferecer músicas para o público, o único som que faria sentido na peça, naquela peça e naquele lugar, era o som de fora, a trilha sonora dos carros, a sinfonia de uma metrópole que nunca acaba, ainda que fechada, ela continua existindo.
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SALA: olhando pela janela, a única vista que costuma existir aqui é a de prédios, e gente nos prédios e gente nas calçadas e pontos de ônibus vazios. concreto e gente. uma paisagem humana. e o que nos resta é encarar esse horizonte de pessoas e intervenções de pessoas, porque o horizonte aqui é assim, perto, mas repleto de encontros. todos humanos. nenhuma transcendência. numa janela na frente do minhocão você nunca estará sozinho, nem num sábado de chuva, nem às 3 da manhã, não existe solidão. no minhocão ou em qualquer outro lugar por aqui. somos todos voyeur uns dos outros. a nossa vida é sempre compartilhada, à distância, os cotidianos dialogam através de janelas silenciosas e se tornam interessantes, quer dizer, aparecem interessantes, ou melhor, são interessantes se você souber olhar bem, você perceberá que existe poesia suficiente em lavar a roupa, ou arrumar os enfeites de natal na janela, jantar com os filhos, assistir a novela. quando compartilhamos tudo o que aparentemente nos interessa em redes e fotos, o dia-a-dia torna-se raridade. o resto da nossa existência, aquele tanto que não merece ser dividido em público é, assim, o que de mais nosso fica, o que de mais sensível carregamos e guardá-lo apenas para outros estranhos é um tanto de sadismo e incompreensão que só numa cidade como essa pode existir.
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existe uma relação de via expressa entre observar e criar, são coisas mutuam da experiência. o desenho de observação pode ser um exemplo mais próxi desses dois verbos em simutaneidade na mesma frase. é de simples assimila uma imagem, assim como desenhar pode referir-se ao modo em que cada in em desenho de observação, poderíamos imaginar (criar) que é possível ler de dois modos diferentes de agir frente a uma experiência única, a image observar, depois PIXAÇÃO refletir, produzir margeador crítico escrever, se c como u duplicado ação, que dois sent um únic de agir f que se pr meio no e fim no como nesse c processo planta é merece sua di se deu d uma pla ou métod especia pelo de envolvido na con de re moradia encontro assumira processo meio de atuação a autonômia dos indivíduos: estabelecendo a dramaturg interlocutores, atores, mas como conteúdo iniciador para atuação individua cena junto as intervenções do diretor, e assim por diante a cada agente de distintos, pois muda o cenário conforme a vontade climática da urbe e a en cênicas limitadas pelas janelas e para além do desdenho da planta baixa do a vida privada no movimento especulativo da megalópole. entre a ocupação t
mentes similares, mas distintas em suas bases quando percebidas pelo prisma imo da dualidade na expressão de linguagem em que temos o uso comum ação que observar pode dizer respeito ao modo particular em que cada um lê ndivíduo cria sua própria imagem. porém, ao reconhecer a união dos termos e criar ao mesmo tempo, construíndo uma relação mútua e indiscriminada em. dentro dessa perspectiva é que considera-se que o trabalho crítico em , ler, pensar, e assim o texto, criar, configura um ato o de e conflui tidos em co modo frente ao ropõe ser processo produto, planta. caso, o de algo que atenção, isposição dentro de ataforma, do, criado almente grupo agentes os, que nsciência esidência, e , am o como gia não como o suporte em que o diretor “mete a mão” e direciona seus al, assim como também cada ator concebeu sua narrativa e estabeleceu sua esse trabalho. já o fim, o “produto”, esta apresentação em quatro capítulos nergia da cidade, veio afinar a ideia de autônomia para além das descricões apartamento em conforto com a rua suspensa em que presenciamos a crise da temporal dos cômodos até a agressividade fugidia de todos os atores para o
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JANELA MINHOCÃO: os carros passam na janela na rua os carros ficam enfileirados um atrás do outro como ficaram na concessionária os carros estão acostumados a isso as pessoas também a ficarem em fila esperando buzinando as pessoas e os carros impacientes sendo as vezes mais gente que automóvel um problema elétrico e hidráulico e mecânico e cardíaco e as varizes e os pés inchados as rodas furadas o motor fundido a cabeça estourada a fumaça subindo e a respiração pesada e quente de carros e gente e carros e gente todos enfileirados uns dentro dos outros o automóvel enfeitado com nomes a pessoa desconhecida uma na frente da outra gritando palavras genéricas para marcas de carros alemães e japoneses e italianos os carros e as pessoas
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BANHEIRO: espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria espaço não é mercadoria
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horizonte labiríntico dos prédios, encontramos esta autômia representada n banheiro cleen e na normalidade distorcida da varanda 2. nestes casos, cenas performances, cada personagem não fala, não precisa falar, o som da voz é a individualidade dos outros quando não sabemos a realidade verdadeira do que o de desconforto, do processo criativo de todos os agente de planta e seus interloc sua própria narrativa nas bordas da narrativa não estabelecida do que se assiste a perspe represent imagem na vida de si m estabel assim imagem da indiv de d indiví o em (se) observan crítico, p r i m espec externo, justaposi meio com sem per diferença os temp aconteci quando já o faz c perpectiv da ob que se pois sua é reflex simutan do mo do processo criativo do grupo, do fim que se teve deste processo e, agora, dizer que o crítico, além de também exercer um papel que ocupa as marge crítica: assumindo a carga da invisibilidade da criação particular do receptor oferece, ao mesmo tempo que ocupa a borda da imagem que ele mesmo cria tradução. contudo, o crítico seria aqui um voyeur antiético, pois no princípio de si mesmo, ele pixa o entorno da janela, não se contentando com sua “in
na distopia da varada 1, na festa solitária da sala, na obsessão e excesso do s simultâneas, tela de cinema com planos diferentes no mesmo take, ciclo de a leitura labial sem boca do receptor, escuta-se o que quer escutar - criamos a observamos. é assim que o plano da autonômia pula do seu lugar de conforto ao cutores até os receptores do fim. nesse entendimento raso, o espectador trabalha e. o receptor aciona, na compreensão inaudita do todo, sua autonômia criando ectiva da tação da do outro privada mesmo, e ecendo uma coletiva viduação diferentes íduos. receptor, planta, desenha ndo. o como e i r o tador recebe a icão do m o fim, rceber a a entre pos dos imentos. desenha, com uma va suja bservação e teve, a criação xiva da Leonardo Araujo neidade ovimento , da criação autônoma dos receptores secundários. seria de comum acordo ens, teria a carga paramétrica de ser objetivo. porém, este não é caso desta r secundário, o crítico ocupa espacialmente a margem da imagem que planta a, sujando duas vezes o que está pra fora dos limites e tornando público sua o de exercer sua autonômia na criação da imagem do outro na vida privada nexistência” e vandalizando o entorno da vida privada, tornando-a coletiva.
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QUARTO:
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VARANDA 2: para enxergar camadas artísticas na vivência urbana basta estar atento, na cidade que educa, a atenção privilegiada de quem tem tempo pra ter atenção, trazer uma encenação pra passagem dos olhos é direcionar os olhares, por trinta minutos ou trinta segundos, a quebra revolucionária da invisibilidade de cotidianos alheios, ausentes, desatentos, distraídos, cotidianos que não são nossos, maquinações que espelhamos, a quebra dos hábitos, dos ruídos permanentes, disputar os olhos com o minhocão é perder com violência, violência automotiva, violência espacial, violência imobiliária, violência policial, depois se redimir com sutileza, retomar a vista gentilmente ao seu lado, vender a vista dos próprios olhos pela vista dos olhos dos outros, e enxergar a cidade com os olhos dos olhos e ver os olhos dos outros pelos olhos da cidade, a cidade para
Gustavo Colombini e João Dias Turchi X
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agradecimentos Athos Comolatti, Bรกrbara Ariola, Bruno Moreno, Chloe De Sordi, Felipe Stocco, Francisco, Frederico Vergueiro Costa, Guilherme Wisnik, Guilherme Giufrida, Luiz, Maria, Nana Yasbek, Tiago Luz e Thiago Amoral XI
evento livre e gratuĂto X bienal de arquitetura
apoio
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