exercíciocinza sobre a série:
MAS S AS leonardo MAthias
+ Vera Helena Rossi Anderson Lucarezi Leandro Rafael Perez Adriano Scandolara Rogério Fernandes Aline Rocha Guilherme Gontijo Flores André Ricardo Aguiar Ricardo Escudeiro
MASSAS
S
ĂŠ experimento estĂŠtico que intui contemplar a brutal homogeneidade
entre corpos:
em MASSAS tudo existe para ser ferramental.
De modo quase invisível,
é possível perceber que as coisas, ainda que contidas em aglomerações visuais, anseiam timidamente por revelarem suas oscilações, suas sensibilidades.
sendo assim, este recorte da sĂŠrie anseia percorrer o corpo do livro:
NO TEMPO de leitura NO ESPAÇO de projeção do leitor. AVISO IMPORTANTE (...) O que parece luminoso não parece cinza. Todo cinza parece ilumina do.; (...) O que se vê como luminoso não se vê como cinza. Mas decerto se pode vê-lo como branco. Ludwig Wittgenstein, em Anotações sobre as cores.
NOTA AMBIENTAL
ANDY WARHOL filma EMPIRE, em 25-26 de julho de 1964 (20h06 Ã s 2h42).
Linha contínua: Proibido ultrapassar. Um braço se agita, alerta aos outros, Quer a frente Primeiro lugar da fila extensa. A estrada lhe oferece: Uma única direção. Ao que os pés secretamente reclamam Querem o detrás Voltar pr’algum lugar a que nunca foram. Antes que uma mão lhe feche os olhos. Do asfalto se vê: uma nesga de céu. Onde se quer deitar o corpo.
o que me faz sentar à margem do caminho, eu, gris, o demais, branco sobre fundo branco, é a intenção de que vocês, sãos, me vejam com o acinte estampado no rosto oblíquo, com a sede de quem beijou a mulher de Lot, entornando um drink do meu próprio coquetel molotov.
olor vivo novo velho vermelho
pífio púrpura polígono canto desvia o olhar do decote em respeito à cabeça nublada, às mãos em posição de vexar-se do omitido como se já não coberto. Há espaço para imaginar um violão no lugar do sexo e até sobra para que se adense o silêncio dos iludidos.
Vulto contra lâmpada apagada que, se acesa, sumiria, caindo os panos das sombras, e elas planas se apressando para os cantos feito ratos. Vulto talvez do tempo carrancudo a devorar os próprios filhos, a morte, pérola oculta em profundezas do corpo como do sol, nisso que míopes vemos como sua viagem diária para morrer no horizonte, e o tempo talvez, não saibamos, devore a si mesmo.
/desnatureza\ desenvoltura, desapego, desfaçatez. uma casa sem reboco alguns esgotos ali, logo no losango da rua de cima um urubu fez ninho. pedras, miçangas, o desvio de um rio aquela fotografia. a televisão muda. \o tédio plantou uma árvore/
e como num fio, cicatriz umbigo de menino no vidro, desprazer da flor sou calmo, leve, tenho dor e como num susto represado sentimento oceânico tua palma livre incendeia toda a fauna de livros nada do que sei, me sou
és breve, séria, desolada caminhas muda, sem estrada teu sangue se apega ao meu coração nítida desnatureza, me vou.
Lugares: escrever um lugar. sonhar um lugar. adentrar lugares, corpos. No verão o sol deixa marcas em nossos pés, mas apenas nos pés aventureiros que saem com sandália de dedo e sem protetor solar: o sol também é um lugar.
Lu-ga-res: passo após passo corredor estreito caminho oblíquo: duas línguas
Lado C: Então abri a porta do quarto e perguntei pro Alcides: “que cê acha, amor?” E ele assim, meio de lado, meio tonto, levantou aquela cabecinha desgraçada e disse: “é mó barato”.
“somente por meio da sensibilidade o homem poderá penetrar no espaço” yves klein
Rue Gentil-Bernard, Fontenay-aux-Roses - 1960 e, mais ou menos, do mesmo jeito: a duvida insistente - não sabe se quer mesmo chegar a algo mas, às vezes, toma decisões - no fim permanece indiferente. há a chance de ser pobre o que é objetivo; há um esgar - reincidente durante os períodos do dia e o sol que, sem opção, nasce; há um pouco do silêncio intuído, ou da ânsia: algo aqui e ali do qual, sem fé, crê-se que com um mínimo de recursos se possa chegar ao máximo: “somente por meio da sensibilidade o homem poderá penetrar no espaço”
por uma história da alegria feito escada elevada além do chão tão alta até que alguém pensasse que todo o feito estava apenas em chegar ao pé dessa escada suspensa no ar como se fôssemos somente o sonho intranquilo daquela borboleta
seu desfunde é movimento em que insisto momento de procurar, toda vez que não ou que se mostra inalcançável, e parte convergência que prevê segregar e que aquieta, esquece expandir-se talvez a matéria antes de verter em nome, ou querer ser única seja como os pontos fixos da estrela, numa jogada de sorte efervescem e, sem querer escapam, para dentro da tela, que sem limites, opaca não seca.
Uma dose é suficiente Desconfio que a iluminação guarda o mesmo teor que a bebida, bocejo de uma estrela no teto baixo. Claridade que não vejo e me sustenta, pino de boliche ante o susto do strike estudo de uma cordilheira por um geógrafo cego. Tudo que se ilumina de um trago me basta.
o olhar mais se detém mesmo é quando falha noutras vistas as minhas descansadas param com isso de ultrapassa pelo acostamento vai tatear os mundos pelas suas córneas e pelas suas cordas e pois dói na garganta o tanto seu nome nos pulmões e nos descansos e nos cenários e numas pedras com umas sílabas à tiracolo
ficar perguntando pra janela quando a gente nem tá mais no carro já chegou não não falta ainda alguns aniversários ver mais mesmo é quando longe leio claro tipo um miopismo inexato na fumaça do cigarro toda a esquiva tragada o cotovelo na mesa a cabeça entre os tabacos como num balãozinho de hq daqueles de pensamento sabe uma interrogativa ou uma inlabial desleitura faz quanto tempo desde a última vez que sua boca nunca
você fuma você vai até a esquina e carrega cigarros entre os dedos:
você tem sono mas queima:
você vai aos poucos perdendo as qualidades
e em gesto resulta o peso e o fogo adensa o vago
do que se ocupa em corroer o que te escapa:
e você reclina
– não se sabe mais onde encaixam-se essas massas de coisas que você vê –
e você perde se cerca de um ecossistema construído aos poucos e você parte e ele permanece sem você:
ele para em você ele te arranca
tempo. 2013 | 2017
texto 1
A continuidade prevê o declínio por Vera Helena Rossi texto 2
quando não mais se pode pesar por Anderson Lucarezi performance (imagens seq.)
COMO O POETA COME por leonardo MAthias texto 3
O Esgotado por leonardo MAthias texto 4
da personalidade inevitável por Leandro Rafael Perez
texto 5
verdade é o que se esconde por Adriano Scandolara texto 6
Sem sequer viajar. por Rogério Fernandes texto 7
pela beira da perda ou A caminho do corpo levitante por Aline Rocha objeto - maquete
Antesala à Criatividade por leonardo MAthias texto 8
Salto no Vazio por leonardo MAthias
texto 9
do silêncio intuido por Guilherme Gontijo Flores texto 10
para MORANDI. por leonardo MAthias texto 11
Re-Red por André Ricardo Aguiar texto 12
contra-conjunto ou neon sobre fumaça por Ricardo Escudeiro performance (imagens seq.)
COMO O ARTISTA FUMA por leonardo MAthias
refs
Empire, Andy Warhol Yves Klein in The Void Leap into the Void, Yves Klein Still life with vases on a table, Giorgio Morandi Fire paintings, Yves Klein Cy Twombly work
Copyright © Editora Patuá, 2017. exercício cinza © Leonardo Mathias & autores convidados, 2017. Editor Eduardo Lacerda | Ricardo Escudeiro Projeto Gráfico e Ilustrações leonardo MAathias
M379e MAthias, leonardo. exercício cinza/ leonardo MAthias. São Paulo: Patuá, 2017.
1. Poesia brasileira I. Título. 2. Livro de artista
CDD – B869.91 CDD – 700
Índice para catálogo sistemático: 1.Poesia Brasileira : Literatura brasileira 2. Livro de artista : Artes
Todos os direitos desta edição reservados à:
Editora Patuá Rua Lobato, 86 CEP 03288-010 São Paulo - SP • Brasil Tel.: 11 2911-8156 www.editorapatua.com.br
B869.91 700
este livro foi composto em Zurich em janeiro de 2017, para a Editora Patuá.
unidade prevê segregação
tiragem 100 exemplares
obras originais no site
leonardomathia0.wixsite.com/massas
MAS SAS Vera Helena Rossi| Anderson Lucarezi | Leandro Rafael Perez | Adriano Scandolara Rogério Fernandes | Aline Rocha | Guilherme Gontijo Flores | André Ricardo Aguiar Ricardo Escudeiro | leonardo MAthias. 2013 - 2017
obras no acervo: Arte&Fato Galeria | RS
MASSAS