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O “PARTIDO CAPOEIRO” NO MARANHÃO – novas evidências
DISCURSO DO ACADÊMICO ANTONIO NOBERTO EM RECEPÇÃO AO ESCRITOR VINÍCIUS BOGÉA, NOVO OCUPANTE DA CADEIRA Nº 18, PATRONEADA POR HENRIQUE MAXIMILIANO COELHO NETO
Excelentíssima senhora Jucey Santos de Santana, presidente da Academia Ludovicense de Letras; Meus confrades e minhas confreiras desta egrégia Academia de letras da capital maranhense Caro escritor, empossando e amigo Aurélio Vinicius Campelo Bogéa Familiares e amigos de Vinícius Bogéa, Senhoras e senhores convidados, amigos da imprensa, funcionários da casa Muito boa noite. Para tranquiliza-los informo que meus longos discursos diminuíram. Não são mais as 26 páginas de outrora, lá do início da minha vida acadêmica... Agora são só 25 laudas.
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Caro Aurélio Vinicius Campelo Bogéa, Você é um privilegiado... Por ter nascido, por estar vivo, porque tem uma família que te deu carinho, aconchego, norte e guarida... E por ter entrado em um seleto grupo daqueles que constroem castelos. É exatamente isto, “o escritor constrói castelos e quem lê vai morar dentro”. Dizem por aí que todo mundo deveria plantar uma árvore, fazer um filho e escrever um livro. Você já fez tudo isto! Não nasceu em berço de ouro, mas também não nasceu na simplicidade de uma manjedoura. E se o fosse não existiria demérito na qualidade do berço. Vale lembrar que um dos reis mais amados do mundo, Henrique IV de Navarra, le bon roi (o rei bom), pai de Luis XIII, que emprestou o seu nome à nossa capital maranhense, Henri teve como berço um casco de tartaruga gigante, levado de Martinica ou Guadalupe para a cidade de Pau, na antiga Navarra, hoje sul da França próximo aos Pirineus. A infância de Vinícius foi simples, nascido em Viana, na Baixada maranhense, no dia 24 de novembro de 1977, e com poucos meses de vida veio para São Luís. A sua primeira morada foi com a avó paterna, Dona Hilda Marques Bogéa, tendo a assistência do pai, Lourival Marques Bogéa. A primeira escola foi o Jardim de Infância Becassine, na lateral do colégio Franco Maranhense, escola fundada pela francesa, minha amiga, Annick du Coin (já falecida). Depois fez o primário, ginásio e segundo grau no Dom Bosco, no Centro. Formou-se em jornalismo pela Faculdade São Luís, atual Estácio de Sá. O seu primeiro emprego foi como revisor do Jornal Pequeno, enquanto, paralelamente, trabalhou na Agência de Desenvolvimento do Turismo - ADETUR, que se tornou Secretaria de Estado de Turismo. Atualmente Vinícius continua trabalhando no JP e na assessoria de imprensa do Sampaio Corrêa, a nossa Bolívia querida. Senhoras e senhores, nosso empossando já escreveu várias obras, sendo romances ou novelas. 1⁰ livro - Roubando sonhos, 2006;
2⁰ - Céu de ilusões - vencedor do Prêmio SECMA 2008 (Categoria novela); 3⁰ - Diário oculto, 2009. Romance. Prêmio Literário e Artístico Cidade de São Luís. Além de outras obras: Belo maldito, 2014 (romance); Vendeta, 2018 (continuação de Diário oculto); Solidão de Aço, 2020 (romance); Letras fantasmas (ainda não publicado. Continuação de Vendeta). Está com a biografia pronta do avô paterno, Ribamar Bogéa, “Guardião da liberdade”, a ser publicado em 2023. E falando em Ribamar Bogea, ele foi a inspiração de Vinícius, vez que a sua rica biblioteca particular foi o chama que o incentivou e o tornou escritor. Aos 13 anos já escrevia conto e levava livros para o colégio. Pena que tais escritos da adolescência se perderam. O primeiro livro que leu foi o clássico, O príncipe e o mendigo, de Mark Twain. Vinícius é casado com Rafaela Lindoso Bogéa, tem um casal de filhos: João Victor (17 anos) e Manuela (10 anos). Ele e a esposa nunca se distanciaram de Viana, até porque os pais dela são daquela cidade da Baixada. E quem foi esse avô, inspiração do nosso noviço? O nome é figura batida na capital maranhense e em todo o estado: Ribamar Bogéa, o Zé Pequeno, nascido em São Luís em 1922, ano mágico da Semana de Arte Moderna, quando se comemorava um século da Independência do Brasil em relação a Portugal, evento cultural que marcaria a saída do país do extremo atraso colonial. O avô teve infância na rua do Coqueiro, no Centro Histórico. Em 1951 fundou o JP. Trabalhou junto com José Sarney no jornal O Imparcial, dando muito apoio para este se tornar governador do Maranhão (1966 - 1970) derrotando a oligarquia vitorinista, há vinte anos comandando o estado. Sarney eleito, começaram as desavenças que separaram os dois amigos e criaram uma briga ferina. Faz parte do anedotário ludovicense que no Maranhão o Sarney se tornou dono de tudo, inclusive do mar, e só não conseguiu comprar o Jornal Pequeno e a fábrica de Cuscuz Ideal. Vocês estão gostando, né? Tretas à parte... Ribamar Bogéa teve seis filhos, cinco homens e uma mulher, Josilda Bogéa, que faleceu em 2011. Os homens: Lourival, Gutemberg, Luís Antonio, Luís Eduardo, Ribamar Bogéa Filho. Um dos filhos é exatamente Lourival Bogéa, nascido em 1957, na rua da Cerâmica, no João Paulo. É o atual timoneiro do Jornal. Tem oito filhos: o nosso empossando e mais sete. Feitas as devidas apresentações, passo para um segundo momento do discurso, quando abordaremos a necessidade de manutenção da essência, do rito e das liturgias no seio acadêmico. A academia não deve ser, evidentemente, uma casa de alienados, não deve ser uma passarela para desfiles e nem uma casa moderninha, que abraça com avidez o que de mais novo é apresentado pelas redes sociais ou mostrado nas novelas. E muito menos deve ser uma casa onde a política crava suas unhas feito uma ave de rapina que estrangula sua presa. Antes, a academia deve ser uma reserva de ética e de conhecimento crítico à disposição da sociedade, um local de paz, que valoriza o termo frater, que valoriza o companheirismo, posto que companheiro é aquele que compartilha do mesmo pão. A academia é uma balizadora para as novas gerações. E neste período pós pandêmico, quando o elo entre as gerações: o idoso e a sua experiência foram as grandes vítimas, a responsabilidade do acadêmico ficou cada vez maior. A ética, caríssimos, é um conjunto de regras de conduta, é se perguntar se fazer algo é bom ou ruim para mim, para outrem ou para a sociedade. Importante não confundir ética com moral, tendo esta a ver com as leis, se é legal ou ilegal. A ética é superior, divina, pois nela não existe o dever de faze-lo, mas se é bom, ainda que se tenha uma perda, devemos faze-lo. O tema ética é algo cada vez mais raro nos dias atuais. Quase todo mundo puxa brasa apenas para a sua sardinha e o interesse coletivo e a “res pública” ou a coisa pública e coletiva são colocadas de lado. O mundo está se perdendo e caminhando a passos largos para os tempos difíceis. Seria o “Princípio das dores” falado nos evangelhos pelo Mestre dos mestres? Aqui peço vênia aos que vivem a ciência do direito, peço o beneplácito aos companheiros acadêmicos e peço a permissão e o consentimento para os demais presentes para mostrar, talvez brevemente, uma time line, uma linha do tempo da trajetória da humanidade afim de mostrar a importância do ritual para o início da civilização. Mostrarei também a ascensão do império da ganância e da opressão. Há cerca de cem mil anos—um pouco mais, um pouco menos— quando vivíamos como animais, migrando de um lado para o outro fugindo das glaciações, do frio e do gelo extremos, nasceu o que chamamos hoje de civilização. E tudo começou com um gesto simples de amor, compaixão, zelo, carinho e misericórdia, que foi o sepultamento. Em lugar de abandonar o cadáver pelo caminho para ser devorado pelos animais, passou-se a
enterra-lo. Foi este simples ato, com as exéquias e a valorização da memória que nos fez diferenciar dos demais animais e nos tornou humanos. A morte e a memória, senhoras e senhores, nos permitiu conquistar o mundo. Muitos milênios depois começávamos a dominar o fogo, a polir a pedra, a trabalhar os metais, formar cidades como Ur e Uruk, na Mesopotâmia e na Caldéia, hoje Kwait e Iraque, terra de onde migrou Abraão, que seria o nosso Pai, segundo o Velho Testamento e a crença cristã. Nos anos 1.100 d. C, a igreja teve uma grande sacada com a criação do purgatório. Foi ali o pontapé para o debacle ou declínio da Idade Média, vez que o acúmulo de riqueza na Itália em razão do estabelecimento da instituição do purgatório permitiu o Renascimento das artes na Europa. Desde então, os mecenas passaram a custear os artistas, que por sua vez transformaram a Europa em um celeiro artístico e de prosperidade. São nomes daquele período: Leonardo da Vinci (1452—1519), Caravaggio (1571—1610), Michelângelo Buonarroti (1475—1574), Rafael Sanzio (1483—1520), Donato di Niccoló di Betto Bardi, conhecido como Donatello (1386—1466), Sandro Boticelli (1445—1510), Jan Van Eyck (1390—1441) e centenas de outros grandes nomes daquele momento mágico de plena riqueza da história mundial. E aqui faço um adendo um pouco bairrista, pois não foi apenas o acúmulo de riqueza oriundo do purgatório que permitiu toda aquela maravilha tão presente e marcante principalmente nas grandes catedrais do Velho Mundo, o ouro dos incas, dos maias e dos astecas foi de suma importância para todo aquela glória chamada Renascimento. Não percamos o fio da meada... Poucos séculos se passaram até atingirmos outro momento mágico, no século XVIII, o Iluminismo, das ideias, da valorização da razão em detrimento da fé ou da influência da igreja. Este império da razão foi coroado no último quartel do século seguinte, quando vivemos quarenta anos da Belle Époque, a Bela Época (1875 a 1915), da ciência que propiciou as grandes invenções, a exemplo do telefone, telégrafo sem fio, cinema, a bicicleta, o automóvel, o avião e uma variedade de engenhos que facilitaram e facilitam até hoje a vida das pessoas. E este período da ciência foi possível por conta da racionalização advinda do Renascimento e, principalmente, do Iluminismo. Momentos que impulsionaram algo não menos importante para o mundo católico: a expulsão do defunto da igreja para o cemitério extramuros, fora da cidade. Éééé. Este tema você não vê nos bancos de escola. Avancemos... No século XIX, quando as igrejas estavam abarrotadas de cadáveres e a salubridade não estava na pauta do dia, nem do mês e nem do século. Quando o incenso balançado pelos padres já não escondiam o odor fétido dos cadáveres e dos miasmas mefíticos dentro das igrejas, eis que os médicos e sanitaristas trazem o tema morte de volta a cena e uma grande revolução cemiterial aconteceu. A partir dos desdobramentos da Revolução francesa, no início daquele citado século, Napoleão Bonaparte autorizou em 1804 a criação de cemitérios extramuros, ou seja, afastados das cidades. A Inglaterra seguiu o mesmo rumo e em 1830, criou o High Gate, onde está sepultado Carl Marx. No Brasil, a expulsão do defunto da igreja para o cemitério começou em 1851, na necrópole de Santo Amaro, no Recife. A partir de então o mundo passou a cuidar mais da vida secular: da salubridade; das vacinas; vigilância sanitária; ruas e logradouros mais sadios; casas mais separadas uma das outras; sistemas de abastecimento de água nas principais cidades. A exagerada preocupação com a morte e com o bem morrer saíram da cabeça e da alma das pessoas. Grandes cientistas surgiram a partir de então produzindo conhecimento, vacinais e outras maravilhas que chegaram aos nossos dias. Citamos apenas dois nomes: o francês Louis Pasteur, que produziu a vacina antirrabica e a pasteurização, e o brasileiro Osvaldo Cruz, infectologista e sorologista que enfrentou as pestes que assolavam a capital federal e algumas regiões do país, a exemplo da febre amarela, peste bubônica e varíola. No Maranhão são destaques Almir Parga Nina, Aquiles Lisboa e vários outros nomes do sanitarismo. Um caso interessante deste período de reformas sanitárias no nosso estado foi a mudança da cadeia pública de São Luís, situada desde a criação, em 1619 por Simão Estácio da Silveira, no prédio onde se encontra a Prefeitura Municipal, ao lado do Palácio dos Leões, no locus fundacional da capital, quando a reboque da onda reformista, a cadeia foi transferida para local afastado no ano de 1856. Afastados da vida cotidiana, a morte e o cemitério se tornaram distantes de nós, longínquos. A preocupação com o bem morrer e com a garantia da salvação da alma cedia lugar a um ambiente físico mais saudável, salubre vale dizer. O mundo se tornava um lugar com mais qualidade e o ar viciado das igrejas deu lugar ao arejamento das ideias. Mas dizem que a distância que devemos ter da morte deve ser igual a distância que precisamos manter da sogra: nem tão perto que ela venha de havaianas e nem tão longe que ela precise vim trazendo as malas. O grande distanciamento com a morte e com a dor tem levado a humanidade a falta de resiliência ou resistência à frustração.
Ex nihilo nihil fit é uma expressão latina atribuída ao filósofo grego Parménides (530 a.C — 460 a.C), que significa “nada surge do nada”. Apresento esta frase, caro Vinícius, porque uma boa, real e clara avaliação sobre este mundo não pode prescindir da perpectiva da ganância, manifesta por grande parte daqueles que o gerenciam. Qualquer avaliação sobre política e economia que despreze este motor propulsor afeto a grande parcela humana, não deve ser levado em conta. É a ganância e a cobiça que vem século após século degenerando a raça humana. Isto já era devidamente denunciado pelo nosso conterrâneo José Nascimento de Moraes, na obra Vencidos e degenerados, vencidos os negros e degenerada a sociedade que o escravizou. No século das luzes, destaca-se Jean-Jacques Rousseau que no seu afamado Contrato Social denuncia a exploração do homem pelo homem, onde o forte subjuga o fraco. Ainda sobre este tema, assisti uma palestra promovida para fundação Konrad Adenauer, ministrada por um consultor equatoriano, que disse: “Para que o hemisfério austral tenha a mesma qualidade de vida do hemisfério boreal é preciso mais dois planetas terra”. Chupa essa manga! Ops, a gíria não casa com o rito! Senhoras e senhores, se vocês entenderem isto, compreenderão o mundo em que vivem. É a ganância, quase sempre travestida de ovelha, que corrompe o ser humano, é ela que cada vez mais nos distancia do verdadeiro conhecimento legado pelos nosso antepassados, dos tupis-guaranis e dos nativos africanos, que viviam uma real sustentabilidade, pois só retiravam da natureza aquilo que realmente precisavam. Ouçam este caso... Quando os holandeses invadiram o leste brasileiro em 1633 fizeram um recenseamento no Rio Grande do Norte e se espantaram quando descobriram vinte e uma mil cabeças de gado vacum pastando nos matos, campos e florestas do estado potiguar... Eram os bois e vacas que os índios potiguaras receberam dos franceses em trocas com os produtos da terra em fins dos anos mil e quinhentos. Era o gado levado pelo capitão francês Jacques Riffault, desembarcado no porto do Riffoles, onde se encontra atualmente a base naval do Natal. Os nativos não tinham noção de propriedade e deixavam os animais soltos para serem caçados e comidos nas festas coletivas e momentos apropriados. É o desejo desmedido de ter que vem estragando este mundo maravilhoso. Outros dois pilares da civilização e da humanidade que vem sendo destruídos pela ganância nos dizem muito respeito: a ética e o conhecimento. A ética nos conduz e nos mantem no melhor caminho. Com ela os códigos, as leis e as constituições se tornam pouco necessárias, vez que a lei natural a tudo sobrepõe. E o conhecimento tem sido vítima preferencial da cobiça desde meados do século passado, quando os belos tempos da Atenas Brasileira se passaram e todo aquele mundo cultural, das letras e do conhecimento passou a ser atacado ferozmente, especialmente, pasme, pelo mundo acadêmico universitário. Tudo o que nos remete àquele grande momento das luzes viraram vítima de quem pouco produz e muito destrói. A nossa bela foto de nascimento, a França Equinocial e a fundação de São Luís transformaram-nas em mito. E não somente isto, mas toda a presença estrangeira foi desmerecida e retirada de cena. O que seria do Maranhão sem o pioneirismo e presença francesa? O que seria do recife sem os holandeses de Maurício de Nassau. O que seria do Brasil sem o decreto português que abriu os portos às nações amigas; sem a Missão Artística Francesa de 1816, que criou a Escola Nacional de Belas Artes, trouxe o neoclássico, o Jardim Botânico, a nossa primeira constituição... O que seria do nosso país sem a contribuição inglesa, que nos permitiu o conforto através das maquinas e nos legou as cidades planejadas; o que seria do nosso país sem os braços e técnicas italianos... O que seria do nosso país sem os braços e pernas africanos; sem a expertise sírio-libanesa; sem as técnicas dos japoneses... Tudo isto vem perdendo valor nas últimas décadas, de fato, os ditames dos donos do mundo, catapultados pelos aplicativos, sistemas, redes sociais e demais engenhos tecnológicos então apregoados como bênçãos, se tornaram ferramentas perigosas para manipular e conduzir a humanidade para caminhos que nem sempre são bons. Ninguém se engane, a velocidade da informação enche os nossos olhos e nos seduz, mas o outro lado da moeda é que ela tem sido o cavalo alado montado pela ganância para se apropriar e conquistar o mundo. É ela que destruirá até a última coluna da sustentabilidade legada pelos antepassados tupis-guaranis e afros. Estamos entrando na geração 5G e o oriente já prepara a tecnologia 6G. Em pouco tempo o controle social será extremo e o homem será mais do que nunca uma máquina de produzir riquezas para os que detém a informação e limitam a nossa liberdade. No Brasil estamos vendo os dois lados da política emparedando um ao outro. E este estado de coisas só foi possível após a retirada gradual dos temas citados: a morte, a civilização, a ética e o conhecimento crítico. E por termos mordido a isca, por termos trocado a ética e o conhecimento verdadeiro pelo prazer, pela militância e pelo ativismo, tornamo-nos presas fáceis neste mundo em fim de feira, conforme podemos verificar nos profetas, no Apocalipse e na carta de Paulo aos Colossenses, quando ele fala que “O homem da iniquidade se sentará no trono de Deus e se julgará igual a Deus”. Neste momento de autoritarismo, alguém duvida que estamos vivendo tais tempos? A nossa disputa política tupiniquim também nos exorta que as liturgias e o rito nunca saem de moda e devem ser seguidos religiosamente, valorizando sempre a essência que é o conhecimento.
É por isso, confrades e confreiras, que a academia deve sempre um lugar de reserva de conhecimento, de princípios, de ética, onde não podemos abraçar o factual sem a devida crítica. E se todo o mundo exterior se degenerar, ainda assim devemos manter o rito, o conhecimento e o perseverar. Ainda que o navio sinalize que pode ir a pique, sejamos perseverantes como os músicos do Titanic, que, apesar da tragédia iminente, não paravam de tocar: “Mais perto quero estar, meu Deus de Ti (...) Ainda que seja a dor que me una a Ti (...) então me alegrarei, perto de Ti meu Rei. Perto de ti meu Rei, meu Deus de Ti”. Confrades e confreiras, senhoras e senhores, muito mais teria a vos falar, mas poupá-los-ei de mais nhém nhém nhém... Agradeço a atenção de todos. Vinícius Bogéa, seja bem-vindo á Academia Ludovicense de Letras. Muito obrigado!
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CADEIRA19 PATRONO - JOÃO DUNSHEE DE ABRANCHES MOURA FUNDADOR - JOÃO FRANCISCO BATALHA
Eleição na AMML
Em eleição realizada nesta noite de 24 de outubro, na GLEMA, foi eleita a diretoria que regerá os destinos da Academia Maçônica Maranhense de Letras no biênio 2023/2024.
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O pesquisador arariense João Francisco Batalha fez doação ao Arquivo Público do Estado, nesta quinta feira, 22 de dezembro, de uma coleção completa do jornal VANGUARDA (1964/1978).
Cadeira 20 PATRONO - JOSÉ PEREIRA DA GRAÇA ARANHA FUNDADOR: ARQUIMEDES VIEGAS VALE
CADEIRA 21 PATRONO - MANUEL FRAN PAXCO FUNDADOR : LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
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DO “PAU” PARA “CACETE”
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Academia Poética Brasileira Professor de Educação Física (aposentado IF-MA; Mestre em Ciência da Informação
E Jorge Bento me manda um interessante artigo sobre o “Jogo do Pau”, de Mara Antonia Farias da Silva (Jogo do Pau, a mais antiga arte marcial portuguesa - Viver Bem Portugal). O jogo do pau é uma arte marcial portuguesa de origem popular tradicional. Em outras palavras, este jogo é como a esgrima, porém, com características diferentes. A principal delas é utilizar uma vara de madeira. Este jogo respeita a tradição e procura ser fiel à sua autenticidade e à forma ritual, apresentando algumas diferenças de estilo: no norte do País, o jogo é mais rude, denotando combate, enquanto no Sul se evidencia mais a forma de exibição esportiva. No Brasil, o Jogo do Pau foi eternizado na literatura através da obra “O Cortiço”, de Aloísio de Azevedo. Assim, neste livro é relatada a luta entre um personagem que sabe jogar o pau contra um capoeirista brasileiro. Vieira (2004) ensina-nos que, de acordo com os melhores cronistas, que o primeiro capoeira foi um tenente chamado João Moreira, homem rixento, motivo porque o povo lhe apelidou de ‘amotinado’, na época do Vice-Rei, Marques do Lavradio. Em texto de Hermeto Lima, que se alinha se alinha com o de Macedo – cerca de 1770 - que nos afirma que “o Tenente ‘Amotinado’ era de prodigiosa força, de ânimo inflamável, e talvez o mais antigo capoeira do Rio de Janeiro, jogando perfeitamente, a espada, a faca, o paue ainda de preferência, a cabeçada e os golpes com os pés.” (Grifo meu). A capoeira como luta aparece nas fontes de forma massiva a partir da segunda década do século XIX, justamente depois da transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro. A palavra “capoeira” era usada tanto para designar uma prática, quanto para um grupo de pessoas. Capoeira se referia então a um conjunto de técnicas de combate que envolvia tanto o uso de uma grande variedade de armas (facas, sovelões, navalhas, cacetes, estoques até pedras e fundos de garrafa) quanto o uso de golpes com as pernas ou a cabeça. (Vieira e Assunção, 1998). Cunha (2013) chama atenção para o uso de pau, de navalha, e o uso de facas e navalhas, e de cacetes, pelos capoeiras; mais, que as autoridades deram pouca importância à prática da capoeira, em si, mas sim à desordem e agressão física, que ocorrera: se fosse na Corte, seria diferente, pois a capoeira era duramente reprimida. O uso de arma branca, o gestual, o uso de pau, faz lembrar, ao autor da tese, uma modalidade de luta que ocorria
na África Central denominada ‘cafuinha’, caracterizada como um ritual, de demonstração de valentia, com o uso de armas brancas, que exigia habilidade corporal, com uso de saltos, acompanhado por pancadas (percussão), berrarias (canto) e assobios, muito próximo à capoeira que se descrevia, como praticada em São Paulo, àquela época. Eduardo, nascido no Brasil, também dominava o gestual de demonstração de valentia, naquilo que se denominava capoeira. Assunção e Mattos (2009) nos trazem, em um DVD, o jogo do pau tal como era praticado no interior fluminense demonstra que nas fazendas e povoados do vale do Paraíba os escravizados e seus descendentes desenvolveram jogos de combate originais formados a partir de suas lutas ancestrais, das experiencias de cativeiro e das redes de sociabilidade no pós-abolição. Informam que além do jogo do pau, havia outros jogos de combate com cacetes, como o mineiro-pau e a caninha verde. Propõe a reconstrução do jogo do pau, com comparações com a capoeira e a pernada carioca. Mineiro-Pau éumadança guerreiraporquenelase usaum bastãocomo arma deataqueedefesa em simulações de combate. Recebe ainda a denominação de Bateo-Pau-Mineiro. No grupo, formado por cerca de 25 componentes, os homens tocam e as mulheres cantam. Os homens vestem calça comprida e camisa e as mulheres, saia rodada e blusa, seguindo os enfeites o gosto do mestre. O acompanhamento musical se reduz geralmente a um acordeão no centro da roda, ao qual se juntam, por vezes, viola, violão ou violino, triângulo, pandeiro e tamborim. O solista (violeiro ou violinista) canta acompanhando a música com seu instrumento a fim de animar a dança, que começa com moças e rapazes formando um círculo de mãos dadas. A direção cabe ao mestre ou chefe, que comanda, com um apito, as evoluções, as batidas de bastão, o ritmo, a cantoria. A formação é em fileiras, círculos, pares, com ou sem dançador no centro. Os bastões, com cerca de metro e meio, de madeira roliça e resistente, permitem ao dançador um manejo firme e seguro. Os dançarinos voltamseoraparaadireita, oraparaa esquerda, enquanto sapateiam acompanhando o ritmo eocompassoda melodia. É uma das mais populares danças de pares soltos conhecidas no Brasil. Está associada ao ato de corte da canade-açúcar, por causa das viradas de um lado para o outro, ou ao Cateretê, por causa das batidas de palmas, ou ainda ao Batuque paulista, no qual se insinua a umbigada.
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Em artigo de A PACOTILHA, de 20 de agosto de 1883, consta que “(...) No sábbado a noite um marinheiro da “Lamego” fez proezas no largo do Carmo (...) Armando de cacete, fazia trejeitos de capoeira e dizia a uns soldados de policia – que chegasse, que elle queria esbodegar um, dar muita pancada (...)” Jeronimo de Viveiros publica no ano de 1958 uma série de 15 artigos em O Imparcial para responder à pergunta: “por que brigam tanto os maranhenses?”: Surrando os portugueses com rabos de arraia e deles apanhando de varapaus. Afirma que “nossa gente começaria a dar maior largueza ao regime do cacete nos preitos eleitorais” a partir da Lei 387, de 19 de agosto de 1846, que regulamentava as eleições para os cargos do Senado e Deputado-Geral, marcadas para o ano seguinte, 1847: A agremiação partida, que fazia a Mesa Eleitoral e perdia o pleito, apelava na certa para a ata falsa. Para evitar esta espécie de fraude, o adversário só tinha um recurso: o cacete, com o qual obrigava uma apuração verdadeira. Criou-se assim, a necessidade de ter cada partido o seu
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MELLO, 2016
O que nos leva ao uso de Capoeiras – cacetistas – por partidos políticos no Maranhão é a existência de um “PARTIDO ‘CAPOEIRO”, que aparece em São Vicente de Ferrer, relato em sessão do Senado no ano de 1869, em que o Sr. Gomes de Castro esclarece os acontecimentos ocorridos no ano anterior, durante as eleições de Setembro, em resposta a pronunciamento – sessão de junho -, proferidas no Senado por representantes do Ceará e Piauí, referentes a acontecimentos nas províncias do Piauí e do Maranhão: Três são os partidos que alí existem e pleitearam as eleições de Setembro, o partido conservador , o liberal e um terceiro, conhecido pela denominação de capoeiro, completamente local, grupo volante, sem bandeira definida, que ora se aproxima de um ora de outro, segundo lhe aconselha o interesse do momento. Devo confessar que o chefe deste grupo é um cidadão pacifico; homem rude, mas de boa índole e estimado no lugar. Sempre o tive no melhor conceito. Entretanto, está averiguado, está fora de duvida, que na véspera da eleição, a 6 de Setembro, este homem entrou na vila de S. Vicente acompanhado de seus sectários, armados de cacetes, terçados e armas de fogo, e assinalaram-se por atos de inaudita violência. Achava-se urna pequena força de guardas nacionais ao lado da igreja para impedir que ela fosse tomada de véspera, como se propalava que era o plano. Esta força era de guardas nacionais, e não de policia, como se tem dito na imprensa, mas comandada por um oficial de policia, o alferes Gonçalves Ribeiro, segundo creio, parente próximo do Sr. senador Nunes Gonçalves. Apenas entrado na vila, o grupo capoeiro investe contra a força, e toma de assalto a igreja, resultando da luta alguns ferimentos. Era o prologo da tragédia que mais tarde se devia representar. A agressão, como se vê, não partiu da autoridade, não partiu dos conservadores, pelo contrario, foram eles as vitimas... Não aventuro este juizo sem prova: tenho-a nas indagaçôes a que procedeu o Dr chefe de policia interino; e para não fastigar a atenção da casa lereí apenas um trecho do interrogatorio feito a Marcolino Antonio da Silva, pertencente ao grupo capoeiro, e outro do Dr. Manoel Alves da Costa Ferreira, chefe do grupo liberal, e que como tal não pode ser suspeito ao nobre senador pelo Ceará.
“lnterrogado pelo Dr. chefe de policia, responde Marcolino Antonio da Silva: Que, chegando o partido capoeiro, capitaneado pelo tenente-coronel Lourenço Justiniano da Fonseca, no dia 6 ás 6 horas da tarde pouco mais ou menos, dirigiu-se a frente da igreja, onde se achava postado o grupo vermelho ; fez um barulho e os vermelhos correram depois do emprego de cacete, etc. ... A confissão não podia ser mais completamente mais franca. A agressão não partiu dos conservadores; eles correram, cederam o campo aos seus adversários. Isto quanto à primeira parte da trama. Quanto à segunda, quando houve mortes e ferimentos graves, a câmara vai ouvir, o depoimento do chefe liberal, o Dr. Manoel Alves da Costa Ferreira, parente, creio que sobrinho, do finado Barão de Pindaré, nome grato ao partido liberal. Diz ele, que saindo da casa do vigário, ouviu um movimento de confusão, e dali a pouco estrondos de tiros, partindo da casa de D. Izabel Pinto, onde costuma se alojar o partido capoeiro, e das janelas da igreja; e foi contado a ele respondente por Agostinho José da Costa que da sacristia era de onde o fogo era mais vivo ... Vê a câmara que a policia de S. Vicente de Ferrer portou-se bem[...] é injusta a acusação[...] de quatro mortes e onze ferimentos... E não pode sofrer a menor censura o presidente do Maranhão que então era o Sr. Leitão da Cunha (...) (grifos nossos).
1 VIEIRA, 2004, obra citada. Disponível em http://www.capoeira-fica.org/ 1 “Os Capoeiras”, Revista da Semana 26 nº 42, 10 de outubro de 1925, citado por Vieira, 2004)
1 ASSUNÇÃO, Mathias R”orig; MATTOS, Hebe. Versos e cacetes: o jogo do pau na culturaa afro-fluminense. DVD, 37 minutos, 2009 Versos e Cacetes: O jogo do pau na cultura afro-fluminense (2009, legendas em português) - YouTube 1 Mineiro Pau | Mineiropau 1 Festas e espaços em transformação: a Caninha Verde em Vassouras-RJ (openedition.org)
SOUZA, Maria de Lourdes Macena de. Sem mar, sem lugar, sem mestre: Meu corpo como o território em que a Cana Verde do
Ceará habita. Anais do 6º Congresso Científico Nacional de Pesquisadores em Dança – 2ª Edição Virtual. Salvador: Associação Nacional de Pesquisadores em Dança – Editora ANDA, 2021. p. 3382- 3397. 1 In O IMPARCIAL, 07 de setembro de 1958, citado por MELLO, 2016, obra citada, p. 136-149, tratando do sistema eleitoral de 1847
1 MELLO, Luiz de. DOIS ESTUDOS HISTÓRICOS, DE JERONIMO DE VIVEIROS – NO TEMPO DAS ELEIÇÕES A CACETE. São
Luís: Ponto a Ponto Gráfica e Editora, 2016, p. 103-205. 1 O Imparcial, 13 de julho de 1958, p. 4, citado por Mello, 2016, p. 107. 1 AS ATAS FALSAS E O RECURSO DOS CACETES, AS REUNIÕES DOS PARTIDOS NOS DIAS DE FESTAS NACIONAIS,
DESCRIÇÃO DE TIMON, A INSTALAÇÃO DO PARTIDO BEM-TE-VI PURO, EM 28 DE JULHO DE 1847, NO LAGO DE SÃO
JOÃO. O Imparcial, 21 de setembro de 1958, p. 4, citado por MELLO, 2016, obra citada, p. 141-150. 1 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER – 1868. Rev. do IHGM, No. 34, Setembro de 2010 – Edição Eletrônica, p. 65-70.
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER – 1868. In
XIII CONGRESS OF THE INTERNATIONAL SOCIETY FOR THE HISTORY OF PHYSICAL EDUCATION AND SPORT; XII
BRAZILIAN CONGRESS FOR THE HISTORY OD PHYSICAL EDUCATION AND SPORT - ISHPES CONGRESS 2012, Rio de
Janeiro, 9 a 12 de julho de 2012… Coletâneas 1 ANNAES DO PARLAMENTO BRASILEIRO da Câmara dos Deputados, primeiro anno da décima quarta legislatura, sessão de 1869, Tomo 3, Rio de Janeiro, Typografia Imperial e Constitucional de J. Villeneuve & Co., 1869, p. 293-295,
O “PARTIDO CAPOEIRO” NO MARANHÃO – novas evidencias
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
A relação entre Capoeiras e Eleições no Maranhão, com a formação de ‘maltas’ que ora defendiam um ou outro partido, no período imperial – é evidenciada com o uso de Capoeiras – cacetistas – por partidos políticos no Maranhão é a existência de um “PARTIDO ‘CAPOEIRO”, que aparece em São Vicente de Ferrer, relato em sessão do Senado no ano de 1869, em que o Sr. Gomes de Castro esclarece os acontecimentos ocorridos no ano anterior, durante as eleições de Setembro, em resposta a pronunciamento –sessão de junho -, proferidas no Senado por representantes do Ceará e Piauí, referentes a acontecimentos nas províncias do Piauí e do Maranhão Jeronimo de Viveiros publica no ano de 1958 uma série de 15 artigos em O Imparcial para responder à pergunta: “por que brigam tanto os maranhenses?” 14: Surrando os portugueses com rabos de arraia e deles apanhando de varapaus15 . Mario Meireles (2012)16 ao tratar da chegada do Bispo D. Timóteo do Sacramento (1697-1702) e às suas brigas com a população, excomunhões, e enfrentamentos, inclusive físico – brigas nas ruas de seus correligionários e opositores, alguns de outras ordens religiosas resolviam suas questões com brigas nas ruas: enquanto os escravos de ambos – do Bispo e do Prior – cruzando-se nas ruas tentavam decidir o desentendimento de seus senhores a golpes de capoeira17 . (p. 98). Quando da Confederação do Equador, que reuniria os estados do Ceará e Maranhão, em sua lei magna constava em seu artigo 2º a divisão dos poderes políticos em Executivo e Legislativo, havendo um terceiro, Poder Capoeiral, no caso, Judiciário. No capítulo 4º , que tratava das eleições, para ser candidato a deputado, antes de revolucionário, deveria comprovar ser capoeira:
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14 MELLO, Luiz de. DOIS ESTUDOS HISTÓRICOS, DE JERONIMO DE VIVEIROS – NO TEMPO DAS ELEIÇÕES A CACETE. São Luís: Ponto a Ponto Gráfica e Editora, 2016, p. 103-205. 15 O Imparcial, 13 de julho de 1958, p. 4, citado por Mello, 2016, p. 107. 16 MEIRELES, Mário. A cidade cresce e é posta sob interdito pelo Bispo (1697-1702). In Historia de São LUIS (org. de Carlos Gaspar e Caroline Castro). São Luis: Licar, 2012, edição da Faculdade Santa Fé, póstuma, p. 93-99 17 Pela data, 1702, cremos não ser ainda a Capoeiragem...
Edição 00015 (1)
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Jeronimo de Viveiros18 afirma que “nossa gente começaria a dar maior largueza ao regime do cacete nos preitos eleitorais” a partir da Lei 387, de 19 de agosto de 1846, que regulamentava as eleições para os cargos do Senado e Deputado-Geral, marcadas para o ano seguinte, 1847: A agremiação partida, que fazia a Mesa Eleitoral e perdia o pleito, apelava na certa para a ata falsa. Para evitar esta espécie de fraude, o adversário só tinha um recurso: o cacete, com o qual obrigava uma apuração verdadeira. Criou-se assim, a necessidade de ter cada partido o seu
CORPO DE CACETISTAS, escolhidos cuidadosamente no eleitorado entre os mais musculosos
e decididos... Os cacetistas armava-se na casa do chefe...19.(Grifos meus).
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Pois bem, nas eleições de 1856, conforme notícia publicada na Bahia, o Partido Capoeiro já se fazia presente:
Ano 1856\Edição 00025 (1) – 19 de setembro, em O Constitucional : Folha Politica, Litteraria e Commercial (BA) - 1851 a1864
18 In O IMPARCIAL, 07 de setembro de 1958, citado por MELLO, 2016, obra citada, p. 136-149, tratando do sistema eleitoral de 1847 19 AS ATAS FALSAS E O RECURSO DOS CACETES, AS REUNIÕES DOS PARTIDOS NOS DIAS DE FESTAS NACIONAIS,
DESCRIÇÃO DE TIMON, A INSTALAÇÃO DO PARTIDO BEM-TE-VI PURO, EM 28 DE JULHO DE 1847, NO LAGO DE
SÃO JOÃO. O Imparcial, 21 de setembro de 1958, p. 4, citado por MELLO, 2016, obra citada, p. 141-150.
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Registra-se também a existência de um “PARTIDO ‘CAPOEIRO” 20, em São Vicente de Ferrer, relatado em sessão do Senado21 no ano de 1869, em que o Sr. Gomes de Castro esclarece os acontecimentos ocorridos no ano anterior, durante as eleições de Setembro, em resposta a pronunciamento – sessão de junho -, proferidas
20 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER – 1868.
Rev. do IHGM, No. 34, Setembro de 2010 – Edição Eletrônica, p. 65-70.
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. PARTIDO ‘CAPOEIRO’ EM SÃO VICENTE DE FERRER – 1868. In
XIII CONGRESS OF THE INTERNATIONAL SOCIETY FOR THE HISTORY OF PHYSICAL EDUCATION AND
SPORT; XII BRAZILIAN CONGRESS FOR THE HISTORY OD PHYSICAL EDUCATION AND SPORT - ISHPES
CONGRESS 2012 , Rio de Janeiro, 9 a 12 de julho de 2012… Coletâneas 21 ANNAES DO PARLAMENTO BRASILEIRO da Câmara dos Deputados, primeiro anno da décima quarta legislatura, sessão de 1869, Tomo 3, Rio de Janeiro, Typografia Imperial e Constitucional de J. Villeneuve & Co., 1869, p. 293-295,
no Senado por representantes do Ceará e Piauí, referentes a acontecimentos nas províncias do Piauí e do Maranhão 22: Três são os partidos que alí existem e pleitearam as eleições de Setembro, o partido conservador , o liberal e um terceiro, conhecido pela denominação de capoeiro, completamente local, grupo volante, sem bandeira definida, que ora se aproxima de um ora de outro, segundo lhe aconselha o interesse do momento. Devo confessar que o chefe deste grupo é um cidadão pacifico; homem rude, mas de boa índole e estimado no lugar. Sempre o tive no melhor conceito. Entretanto, está averiguado, está fora de duvida, que na véspera da eleição, a 6 de Setembro, este homem entrou na vila de S. Vicente acompanhado de seus sectários, armados de cacetes, terçados e armas de fogo, e assinalaram-se por atos de inaudita violência. Achava-se urna pequena força de guardas nacionais ao lado da igreja para impedir que ela fosse tomada de véspera, como se propalava que era o plano. Esta força era de guardas nacionais, e não de policia, como se tem dito na imprensa, mas comandada por um oficial de policia, o alferes Gonçalves Ribeiro, segundo creio, parente próximo do Sr. senador Nunes Gonçalves. Apenas entrado na vila, o grupo capoeiro investe contra a força, e toma de assalto a igreja, resultando da luta alguns ferimentos. Era o prologo da tragédia que mais tarde se devia representar. A agressão, como se vê, não partiu da autoridade, não partiu dos conservadores, pelo contrario, foram eles as vitimas... Não aventuro este juizo sem prova: tenho-a nas indagaçôes a que procedeu o Dr chefe de policia interino; e para não fastigar a atenção da casa lereí apenas um trecho do interrogatorio feito a Marcolino Antonio da Silva, pertencente ao grupo capoeiro, e outro do Dr. Manoel Alves da Costa Ferreira, chefe do grupo liberal, e que como tal não pode ser suspeito ao nobre senador pelo Ceará. “lnterrogado pelo Dr. chefe de policia, responde Marcolino Antonio da Silva: Que, chegando o partido capoeiro, capitaneado pelo tenente-coronel Lourenço Justiniano da Fonseca, no dia 6 ás 6 horas da tarde pouco mais ou menos, dirigiu-se a frente da igreja, onde se achava postado o grupo vermelho ; fez um barulho e os vermelhos correram depois do emprego de cacete, etc. ... A confissão não podia ser mais completamente mais franca. A agressão não partiu dos conservadores; eles correram, cederam o campo aos seus adversários. Isto quanto à primeira parte da trama. Quanto à segunda, quando houve mortes e ferimentos graves, a câmara vai ouvir, o depoimento do chefe liberal, o Dr. Manoel Alves da Costa Ferreira, parente, creio que sobrinho, do finado Barão de Pindaré, nome grato ao partido liberal. Diz ele, que saindo da casa do vigário, ouviu um movimento de confusão, e dali a pouco estrondos de tiros, partindo da casa de D. Izabel Pinto, onde costuma se alojar o partido capoeiro, e das janelas da igreja; e foi contado a ele respondente por Agostinho José da Costa que da sacristia era de onde o fogo era mais vivo ... Vê a câmara que a policia de S. Vicente de Ferrer portou-se bem[...] é injusta a acusação[...] de quatro mortes e onze ferimentos... E não pode sofrer a menor censura o presidente do Maranhão que então era o Sr. Leitão da Cunha (...) (grifos nossos).
Percebe-se, do episódio que a formação de um ‘partido capoeiro’ – “grupo volante, sem bandeira definida, que ora se aproxima de um ora de outro, segundo lhe aconselha o interesse do momento” – lembra a formação de uma “malta”, grupo de capoeiras do Rio de Janeiro que tiveram seu auge na segunda metade do século XIX.