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PAULO RODRIGUES

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MHARIO LINCOLN

MHARIO LINCOLN

PAULO RODRIGUES9

“navios passam pelo horizonte como passageiros por um terminal”.

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Janeiro e as primeiras leituras do ano de 2022 trazem na maresia o livro O MAR QUE RESTOU NOS OLHOS do Eduardo Júlio. Lançado pela Editora 7 Letras em 2020. São quarenta e três poemas que navegam o mar do humano com uma capacidade discursiva impressionante. Eduardo é maranhense de São Luís. Passou a infância no Iraque. Jornalista com larga experiência, foi finalista do Prêmio Jabuti 2021 (com o livro citado). Os poemas versam sobre amores, histórias, solidão, miragens e os mistérios do mar. A poeta Ariana Gama comenta no texto de orelha: “esse extravasamento nos imerge, no corpo criado por Eduardo Júlio, de olhos abertos e nele prendemos e soltamos a respiração à medida que chegamos ao abismo iluminado, ao centro de cada poema, o mar onde nos encontramos”. É verdade, há um centro irradiador que aponta para o oceano da criação linguística e imagética na obra. No poema MEMÓRIA, o poeta usa a imagem da travessia como maneira de buscar a água escorrendo nas mãos do pretérito: naquele tempo felicidade era receber uma carta naqueles dias plenitude era atravessar a baía (JÚLIO, 2020, p.30)

O poema aborda a temática da memória, de maneira que evidencia a alegria entre dois acontecimentos: carta e baía. É o receber palavras num ato solitário e individual marcando o afloramento do poético. Na outra ponta, o alargamento do espaço e da metáfora. LONGITUDE traz a lembrança de uma cidade destruída pela modernidade. A angústia de presenciar a metamorfose da urbe e do eu lírico:

quando a cidade experimentava os primeiros traços ainda não havia ponto de partida nem de chegada apenas a espera o mar com sua implacável dispersão e um lúcido pressentimento

9 Paulo Rodrigues (Caxias, 1978), é graduado em Letras e Filosofia. Especialista em Língua Portuguesa, professor de literatura, poeta, jornalista. É autor de vários livros, dentre eles, O Abrigo de Orfeu (Editora Penalux, 2017); Escombros de Ninguém (Editora Penalux, 2018). Ganhou o prêmio Álvares de Azevedo da UBE/RJ em 2019, com o livro Uma Interpretação para São Gregório. Venceu o prêmio Literatura e Fechadura de São Paulo em 2020, com o livro Cinelândia. É membro da Academia Poética Brasileira.

insistindo em avistar aquele limite claro e contínuo como um fragmento de uma existência em permanente estado de isolamento e distração (JÚLIO, 2020, p.17)

O ponto de equilíbrio do texto é o mar com sua lucidez bem construída, na quarta estrofe. Dando limite para as reflexões, do texto. As águas inundam os versos de Eduardo Júlio. Ele é bom timoneiro. Consegue passar pelas tormentas da linguagem. Produz versos sintéticos, num trabalho de valorização dos corais mais profundos. O livro tem muitas qualidades. Há uma musicalidade atravessando tal qual um fio de algodão entre os poemas que atraem o leitor como bem notou o poeta Fernando Abreu no prefácio: “de voz serena e musical, destinado a tornar mais rica a travessia de todos os que tiverem a felicidade de navegar por suas páginas”. Encerro, olhando a embarcação, o horizonte, o resgate. Os dedos tocam o final do poema CLIMA: “chegou a hora de adernar o barco/ sonhar que seremos salvos”.

'SPINA', SOBRE A "BULA DOS SETE PECADOS"

O livro, ainda inédito, é de Mhario Lincoln

Nota de Mhario Lincoln: "Sem dúvida, um belo e incomensurável presente. Esse, abaixo, é um "Colar de Spinas", elaborado com muito carinho e inteligência pela escritora, poeta e professora Maura Luza Frazão. Algo realmente inédito, até hoje, desde a criação da lírica Spina, no Brasil. E o que é a poesia em forma Spina? O SPINA é um poema de duas estrofes, sendo a primeira estrofe composta por três versos com três palavras em cada verso e iniciada obrigatoriamente com uma palavra trissílaba: pa/la/vra/. Ob/ser/vo/. A segunda estrofe tem cinco versos com cinco palavras em cada, e não há nela a exigência da trissílaba. Até aí, tudo bem. Mas, o mais difícil é o 'colar de Spina". Muito mais quando é temático. E Maura Luza Frazão fez esse colar com base no que leu no livro "A Bula dos Sete Pecados". Com certeza, ainda mais difícil. Quer ver as regras do "Colar de Spina"? Anote: "O Colar de Spina é constituído por um único título, o primeiro, e ele terá que fazer referência ao assunto (conteúdo) abordado nos oito Spinas que formarão o Colar. Os Spinas precisam ser numerados e com espaço entre um e outro. A primeira palavra do segundo Spina deverá ser uma trissílaba retirada da segunda estrofe do texto anterior, eassim se sucederá até o último. O último Spina, além de seriniciado por uma acepção trissílaba retirada de um dos versosda segunda estrofe do Spina anterior, sua última rima deveráser a palavra trissílaba que começou o primeiro Spina do Colar. No exemplo abaixo perceberemos que Atraque iniciou o primeiro Spina e finalizou o último". Como se vê e lê, Maura Luza Frazão merece todos os elogios. De minha parte, meu agradecimento sincero por este trabalho inédito que marca uma nova e importante fase na literatura brasileira. O 'Spina' veio pra ficar e sua representante maior, sem dúvida, é Maura Luza. Parabéns!

COLAR DE SPINAS: UM OLHAR POÉTICO SOBRE A INSPIRADORA OBRA "A BULA DOS SETE PECADOS" DE MHÁRIO LINCOLN.

MAURA LUZA FRAZÃO

Pecados versus antídoto, Ou seriam absolvições? Uma indelével incumbência.

Meus olhos ávidos mergulharam nas páginas enriquecidas de sublime ensaio regado a memórias. Quanta sapiência! Linhas tecidas com capciosas mensagens, Ou seriam nas entrelinhas? Excelência! II

Páginas de “Releituras” em amargas colheitas versus “Estranhas frutas”.

Envolvida me vi pelas conjecturas de uma alma enobrecida, reações advindas das amargas correntes, lutas. Decantada em versos, prosas, sabores sangrentos, marcados por árduas labutas. III Sabores poéticos reverberando em liberdade desmistificada... "Sem pensamentos levianos”.

Impressionante seu olhar de erudita despido de prepotência, orgulho ou preconceitos. Uma dádiva dos anos vividos em meditações. Daí, senti-me agraciada. Um convite sem enganos. VI Convite poético inspirador perceptível nas entrelinhas, amores, anseios, tentações.

Fascinante passeio em cenário lírico bucólico, empreendi ao me aventurar pela história escrita, narrada. Emoções retiradas das páginas literárias, outrora decantadas em fábulas, odes, canções. V Cenário poético imaginário repaginado em fascinante celebração, lirismo latente.

A poeticidade de Mhário Lincoln não cabe definição, uma iguaria de fino trato, elucubracão pungente. Quanto mais me aprofundava, presença sutil sentia, uma inspiração ardente. VI Presença maranhense na literatura brasileira, Mhário Lincoln, ícone jornalístico.

Ilustre erudita poético singular, destaca-se por seus dons, promovendo verdadeira ebulição no universo literário publicístico. Visionário por natureza! Nasceu agraciado de incrível percepção, intrinsecamente holístico.

VII Singular ornamento literário pincelado em conjecturas poético filosóficas. Rendi-me.

"Instinto ou loucura" envolvem meus sentidos em "Metamorfose" ao pousar meus olhos naquela "Lagarta". Prendi-me em "Suspiros de Agonia" orvalhando "Ode a Pandora”, “Amantes". Transcendi-me. VIII Lagarta, borboleta, casulo, remetem a transformação. Mudanças, amplos significados.

Lembranças de amores, amantes, segredos, pulsantes sentires, "Saudades, que nada”. Arquétipo cigano revelando desejos marcados, elevando a temperatura desse apetitoso cenário místico de incandescentes pecados.

Maura Luza Frazão. São Luís. MA/Brasil.

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