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SHARLENE SERRA

"O ENCONTRO COM MUITOS TONS", resenha de Sharlene Serra. Livro: "50 Tons de Palavras"

"50 Tons de Palavras" é do poema João Batista do Lago. Por: Mhario LincolnFonte: Sharlene Serra

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Resenha:Sharlene Serra

O ENCONTRO COM MUITOS TONS *Sharlene Serra

Poesia é assim: feita de encontros. Seja ela vista, lida ou sentida, tem vozes, sorrisos, silêncios, sons, tem inúmeros tons. E nos encontros multicoloridos, deparo-me com as palavras colhidas pelo poeta João Batista do Lago, e elas nos convidam a um passeio filosófico, passeio não! Nos convidam para uma viagem com olhos atentos as paisagens que sobrevoam nossa existência, onde o tempo conversa com o hoje, e o poeta reflete a necessidade do grito Carpe Diem: Aproveita teu tempo/Dá asas a tua loucura plena/Deseja sempre o teu hoje/Esquece-te do ontem e do amanhã [...] E é no hoje que ele nos entrega não apenas “50 tons de palavras”, mas infinitos tons de sentimentos e inspirações, e as inspirações do poeta, atravessam nossos olhos, fazem morada na nossa alma, tomamos posse do sentido e absorvemos o poema como parte de nós: Tenho apenas um jeito de amar/Arrancar das minhas formas as visões de mundo/Ficado a partir duma colina de olhares irisados/Donde vejo todas as nascentes correrem em minha veia/Sob uma perspectiva dos instintos e dos instantes [...]

Eu, uma recém apresentada a dona poesia, adentro a uma sala, a existência poética exalava, a arte se misturava entre si, cinema, poesia, livros, histórias, elas conversavam com entusiasmo divino, e de repente, o poeta João Batista do Lago chega, as mãos seguravam os tons das palavras, que por hora já estava impregnada de poesia e generoso ele nos doa seus tons, para que também possamos sentir a sua palavra, e nos impregnarmos com o que ali está escrito. Já em posse dos tons, folheio página por página, sorvendo o escrito. Os olhos passeiam por uma poesia social, visceral, poesias extraídas também da alma. A palavra é a protagonista e ele a disseca, absorvendo toda sua energia: [...] nela tudo se decompõe/numa razão assimétrica / incoerente e disfuncional/de toda metafisica que ela se impõe/ não conheço qualquer ser/ que dela não dependa [...] Chega à noite, na companhia do silêncio, abro uma nova página e início uma leitura, que me inunda, inevitavelmente mesmo sem saber nadar, mergulho no poema. E o poeta revela um rio profundo, extraído da alma, uma metáfora viva que nos fez materializar em áudio o lido, com a sensibilidade própria contida naquele rio que era sua própria existência. E meus olhos sedentos navegando no poema de João Batista do Lago, relembro de outro rio de Manoel de Barros... O corpo do rio prateia/ quando a lua se abre [...] Cresci brincando no chão/ Entre formigas / Meu quintal é maior /Do que o mundo /Por dentro de nossa casa passava um rio inventado. / Tudo que não invento é falso /Era o menino e os bichinhos /Era o menino e o Sol /O menino e o rio /Era o menino e as árvores E ao mergulhar nestes rios de sensibilidades, eu pesquei a vontade de eternizar o lido, o sentido, sabendo que cada leitor vai extrair da profundeza, a essência que existe entre o seu eu e o poema. E essa relação é mágica, onde o poeta Joao Batista do Lago se doa e nos presenteia, acionando sensibilidades individuais, que remetem a uma lembrança enraizada, humanizada de tempos pretéritos existentes em cada um de nós. Assim como descrito pelo próprio poeta, onde ele nos revela no poema:

[...]Ah! O rio da minha casa não me deixava em solidão[...], finalizo dizendo, a tua poesia João Batista do Lago, também não nos deixa em solidão, ela nos faz companhia com os infinitos tons existentes na tua própria palavra.

* Sharlene Serra nasceu em São Luís do Maranhão. Graduada em Desenho Industrial pela Universidade Federal do Maranhão, Pedagogia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú, especialista em Educação Especial em uma perspectiva inclusiva pela Faculdade Santa Fé. Palestrante, formadora educacional. Escritora e Poeta. Crítica Literária.

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