Imagens literárias: existem direitos humanos na minha cidade?

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Izabel Diniz LetĂ­cia Santana (Orgs.)

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Š Izabel Diniz, Tarragona/ Catalunha, 2019.


Izabel Diniz LetĂ­cia Santana (Orgs.)

Imagens literĂĄrias:

existem direitos humanos na minha cidade?


copyright © 2019 by CEFET-MG Todos os direitos reservados

diretor geral Flávio Antônio dos Santos

organização Izabel Cristina Silva Diniz e Letícia Santana Gomes

vice-diretora Maria Celeste Monteiro de Souza Costa secretária de política estudantil Cláudia Lommez de Oliveira

conselho editorial Adriana do Carmo Figueiredo Caroline Cavalcante do Nascimento Izabel Cristina Silva Diniz Letícia Santana Gomes

coordenadoria de programas de acesso e temáticas das juventudes Mariana Coelho Silveira e Juliana de Alencar Viana

projeto gráfico e diagramação Letícia Santana Gomes

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Imagens literárias: existem direitos humanos na minha cidade? Izabel Cristina Silva Diniz e Letícia Santana Gomes (Orgs.). – Belo Horizonte: CEFET-MG, 2019. 58p. : il. – ISBN: 978-85-99872-51-2 1. Direitos humanos na literatura. 2. Poesia brasileira. 3. Imagens literárias. I. Diniz, Izabel Cristina Silva. II. Gomes, Letícia Santana. III.Título. CDD B869.1

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca CEFET-MG Campus I Bibliotecário: Wagner Oliveira Braga – CRB6 - 3261


ntação e s e r p A

Este livro de imagem e poema nasceu do desejo, das organizadoras, de “dar voz” aos alunos do CEFET-MG para se expressarem, por meio da arte, quanto aos direitos humanos, à diversidade e ao combate às opressões no ambiente escolar. Para tanto, foi realizado um concurso literário, de ilustrações e de fotografia com o apoio da Secretaria de Política Estudantil1 da referida instituição. Pensamos, para o projeto editorial deste livro considerando que dispunhamos de pouco recurso financeiro, uma estética visual em preto e branco que dialogasse com a pluralidade de estilos de escrita, de criatividade e de ativismo dos autores. Ficamos surpresas com as inovações poéticas e imagéticas que os estudantes de diferentes áreas e níveis de ensino empregaram em suas produções, que ficarão acessíveis a tantas mãos. Por tornar possível esta publicação, agradecemos à Secretaria de Política Estudantil do CEFET-MG. Também somos gratas ao servidor Mateus Cattabriga de Barros pelo auxílio na execução do projeto, às professoras Adriana do Carmo Figueiredo e Caroline Cavalcante do Nascimento pelo tempo dedicado à avaliação dos textos e das imagens inscritos no referido concurso e, sobretudo, aos 22 autores dos trabalhos artísticos e poéticos publicados nesta obra. Em nossa atuação profissional, somos movidas pela convicção de que a literatura, como afirma Antonio Candido2, é um “instrumento poderoso de instrução e 1 Edital N° 15/2019, de 18/03/2019, referente ao processo seletivo de projetos para o Programa de Acessos e Temáticas das Juventudes do CEFET-MG. 2 CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: CANDIDO, Antonio. Vários escritos. 5a edição, corrigida pelo autor. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2011, p. 177.

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educação [...] sendo proposta como equipamento intelectual e afetivo”. Além do mais, acreditamos que somente a educação “promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz”3.

Izabel Cristina Silva Diniz Letícia Santana Gomes Belo Horizonte, novembro de 2019.

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Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948


o

Prefáci

A dinâmica trajetória dos Direitos Humanos, que emergiram no contexto pósSegunda Guerra Mundial, revela uma impressionante relação entre Linguagem, Literatura e Direito. Do entrecruzamento dessas áreas, nascem, então, as bases deste livro intitulado “Imagens literárias: existem direitos humanos na minha cidade?”. A pergunta proposta acima sugere, de imediato, uma importante reflexão sobre as relações entre as pessoas, sujeitos de direitos e deveres, e o espaço em que vivem. Sentir a cidade e captar ângulos diferentes, pelo olhar da poesia e das artes visuais, são desafios que nos conduzem a importantes reflexões sobre as dimensões fenomenológicas da experiência humana com o universo de direitos. Essa experiência é reveladora também dos sentidos que compartilhamos por meio da linguagem poética e das imagens literárias. Além do mais, os trabalhos que compõem este volume nutrem-se de reflexões sobre Direitos Humanos, diversidade e combate às opressões em suas mais variadas formas de expressão. A força dessa reflexão vem do poder imanente à linguagem como meio de acesso à justiça social e de denúncia a violações no sistema de direitos. Assim, em conformidade com a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, acreditamos que o reconhecimento da dignidade humana constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo. Acreditamos também no postulado de que, nós seres humanos, nascemos livres e iguais em dignidade e em direitos. Como pessoas dotadas de razão e consciência, devemos agir, em sociedade, com espírito de fraternidade, respeito e solidariedade. Esses são os principais valores que se extraem desta obra organizada e produzida por alunas e alunos do CEFET-MG.

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Nas páginas que compõem este livro encontram-se múltiplas visões voltadas à temática proposta. Olhares de alunas e alunos do ensino médio, graduandos, pósgraduandos e, ainda, o olhar de dois estudantes que vieram de outro continente, a fim de imergir em nossa língua e cultura. Para o poeta Otávio Paz, o encontro entre a poesia e o homem produz sensibilidades que podem ser transformadas em fazer poético. Desse modo, poema, música, escultura e imagem podem vir a ser poesia. Assim, entendemos ser este livro um conjunto de registros poéticos representados por meio de textos e imagens. Diversos âmbitos relacionados aos Direitos Humanos estão aqui concebidos: o direito à moradia, à liberdade de ir e vir, à educação, à justiça social, à igualdade de condições econômicas e políticas. Abordou-se também o direito de podermos conviver harmonicamente com a natureza e com os animais. Somado a esses aspectos, inclui-se a busca pelo direito de termos condições para evoluir moral/ espiritualmente, bem como pela valorização do que temos em comum enquanto humanidade: o direito à vida. Em tempos de fragilidade e de questionamento da legitimidade dos Direitos Humanos, urge que usemos do nosso direito de expressão (o qual também se encontra ameaçado) e nos apropriemos da poesia e de sua potência comunicativa para sensibilizar, tencionar e promover o debate inerente ao assunto aqui tratado. Não se pode falar de Direitos Humanos sem pensar em diálogo, comunhão e unidade. Acreditamos que a unidade poética desta coleção reside justamente na capacidade de diálogo com os princípios que regem nossa cidadania. Intencionamos, por fim, que a poesia e as artes visuais possam ser instrumentos de luta e resistência em busca do que é nosso por direito.

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Adriana do Carmo Figueiredo Caroline Cavalcante do Nascimento Belo Horizonte, novembro de 2019.

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a Silva

oro d d o e T a i Alíc

Refúgio sob as estrelas cobertor é vento que traz o frio dos corações orantes e aquecidos dentro da capela que assistem ao sono dos esquecidos

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ntei

iza Mo u L a n A

llas

os Orne t s a B o r

Se eu soubesse Eu sou o primeiro lugar, eu sou o Ăşltimo Ah! Se eu soubesse que todos temos dons e classificar sĂł causa tumulto Eu sou um, eu sou todos Ah! Se eu soubesse que estamos todos no mesmo barco e vamos chegar ao mesmo porto Talvez eu me preocuparia menos e faria mais pelos outros.

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osta

la da C u a P a An

vida de cão cuidado gente risco de vida cão mortal vida em risco gente mortal cuida do cão

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akpo

nes K n a h o J rcade

A

Sequer vi e por isso me convenci: acolhimento e aceitação, de onde sou, onde há pessoas há diversidade… Sequer vi e por isso me convenci: de que os corações também veem, mais misturas dá tolerância.

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a Paula

ra Lim a Morei

Bárbar

Tratado de alvos Por aqui tem Dalvas, Marias, Wilsons e Josés. E logo cedo a violência ríspida lhes delimita. Vá cauteloso, ame baixinho, ande com medo no passo que é ora não é. Pois por aqui os destinos quase sempre se imitam, feito sina. Bala no peito ou bala perdida, meu dever é olhar atentamente a cada esquina. Sem tratado, sem direito, viver da sorte, escapar da morte com fé.

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veira e i l O e d e

nriqu

He Carlos

Silva

Sociedade O sangue ardente na parede branca É um retrato da sociedade Desinfeliz, de nossa gente arranca Nossos respiros de felicidade E os preconceitos dessa gente “francaâ€? Que enfraquecem a humanidade

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Ferro l a D a n li

Caro

Silva

Olho pela janela e vejo pessoas Deitadas, espalhadas pelo chão Seus olhos são como espelho, e a tristeza escoa Através de lágrimas, um pedido silencioso por ajuda Borrões apressados passam por essas pessoas E não conseguem ouvir essa súplica por amparo

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adaró

a Carolin

B schoal a P o t n cime

Nas

Casa do Saber Aqui a Casa é singela Mas o saber é plural Lá a Casa é Grande Mas só podemos ficar no quintal Aqui gente não é salame Lá não passamos de vexame!

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s Silva

s Santo o d o r i a Ribe

Celn

Sou quem sou branca, negra, mestiça. Carrego os meus direitos. Estudo, leio, trabalho. Parece que não me veem, mas isso não me atrapalha. E como num desejo, em frente a um espelho, se olhe, se valorize e batalhe.

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ques r a M s oncelo do Vasc

Eduar

Dom Cristiano Uma boa foto que nos abre a imaginação chega a dar dor no peito de tanta emoção Era um pastor de um valor humano incomum apostava sempre nas pessoas e esbanjava alegria pois sempre teve ao seu lado Jesus e Maria.

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a Gabriel

anda

s Mir e r a o S za

Lui

Lá no fundo da prateleira no final do beco dentro de um sobrado instaurava-se a revolução liam palavrinhas, palavrões e formavam opiniões.

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anda r i M y l l e

Greycy

Dutra

Águas de vida É o pau no preto, é o “fiu fiu” no caminho É o medo de andar na rua sozinho É o pedinte na praça implorando um trocado É o jovem estudante agora sendo afrontado São as águas da vida escorrendo pelo chão É um pedido de socorro sem remissão

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hatigre C s e u q an-Jac

Je

Eu quero um mundo, em que todos sejam iguais, onde o fraco não será oprimido pelo forte. Onde uma minoria não decidirá sobre o que há de advir. Onde não terá injustiça contra as mulheres ou contra a criança... Um mundo sem intolerância racial, religiosa, de sexo, física ou social... Enfim, um mundo onde cada um terá o seu lugar.

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ntos a S s n i t e Mar

uilherm G s a c u L

Balbúrdia da Educação São tempos sombrios Terra em que impera a estúrdia Onde ensino público (Pasmem!) é chamado de balbúrdia. Mesmo que tentem nos censurar NÃO! Não nos calarão Defenderemos para sempre a Educação!

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ecíl

Maria C

ro

a Isido z u o S e ia d

Abres a janela e olhas para o mundo Teus antolhos estão arrumados? Vês o mundo como paraíso? Pobre criatura. Não vês a fome na esquina? E a desigualdade? Ora, se não existissem, não haveria os Direitos Humanos. Quão grande é tua individualidade? E teu conformismo? Para agir pelo outro e sair da zona de conforto: tens humanidade?

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Marlon

hado

Mac s e r a o an S

Fabi

da secura da boca meu verso em trânsito para espera aguarda a bofetada na cara meu verso em trânsito parado em baculejo o dit[a]dor chegou e meu verso em trans ficou caído nas manchetes marcado nas folhas de sangue da secura da boca meu verso trans.

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lho

arva C e d e ian

Reg

Existem direitos humanos na minha cidade? A cidade está crescendo, a população aumentando... E sobre pedras, construímos e enterramos outros planos. No espaço urbano, cidadãos conscientes são feitos como seus ancestrais. Se o direito é para todos, todos nós seres humanos! Mas há alguém em disputa: o desengano! E com regras e conceitos, um empate ocorrerá a favor de quem tem medo de perder ou de ganhar.

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aetano C n o s b Ro

Nunes

O Tiro A arma diz “o problema não é meu” A bala diz “o problema não é meu” Quem atira diz “o problema não é meu” Então encerra-se o caso por falta de solução O problema é de quem entrou na reta e cale a boca! Na empresa Brasil, a bala tem sempre razão

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nize

a Silvia D

rbosa

ira Ba te Pere

Direitos Humanos deveria ser sinĂ´nimo de liberdade Mas como poderei ser livre vivendo Ă margem da cidade? Vou ser bem tratado preso ou solto na misĂŠria e na criminalidade?

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reira

es Mo v l A m riero Victor A

A ĂĄrvore urbana Crescida ao esterco e ao relento Criou grande beleza Como as estrelas no cĂŠu Como os corais no mar.

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antos

amos S R a i r ó t Vi

Future-se e Aniquile-se Separados, mas unidos Querem tirar o que os movimenta, o que os motiva, o que eles têm incomoda! Lutando por algo que devia ser um direito, aquele que foi eleito Faz teu feito, e nós? Querem nos tirar a Educação Mas esqueceram que somos o futuro da nação

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rreira liam Fe

Wil

Matos

Caminho da luz É necessårio Direitos humanos Lado a lado São importantes atos

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autores s o e s ra As auto

Alícia Teodoro da Silva Letras (Tecnologias de Edição) Belo Horizonte

Carolina Nascimento Paschoal Badaró Doutorado em Estudos de Linguagens Belo Horizonte

Ana Luiza Monteiro Bastos Ornellas Mestrado em Administração Belo Horizonte

Celna Ribeiro dos Santos Silva Letras (Tecnologias de Edição) Belo Horizonte

Ana Paula da Costa Mestrado em Estudos de Linguagens Belo Horizonte

Eduardo Vasconcelos Marques Engenharia Mecatrônica Divinópolis

Arcade Johannes Kakpo Doutorado em Estudos de Linguagens Belo Horizonte

Gabriela Luiza Soares Miranda Letras (Tecnologias de Edição) Belo Horizonte

Bárbara Moreira Lima Paula Letras (Tecnologias de Edição) Belo Horizonte

Greycyelly Miranda Dutra Técnico em Informática Varginha

Carlos Henrique de Oliveira e Silva Técnico em Eletrônica Belo Horizonte

Jean-Jacques Chatigre Pré-PEC-G (projeto de extensão) Belo Horizonte

Carolina Dal Ferro Silva Técnico em Hospedagem Belo Horizonte

Lucas Guilherme Martins Santos Técnico em Meio Ambiente Curvelo 57


Maria Cecília de Souza Isidoro Técnico em Edificações Varginha Marlon Fabian Soares Machado Mestrado em Estudos de Linguagens Belo Horizonte Regiane de Carvalho Engenharia Civil Varginha Robson Caetano Nunes Letras (Tecnologias de Edição) Belo Horizonte Silvia Danizete Pereira Barbosa Disciplina isolada em Estudos de Linguagens Belo Horizonte Victor Arierom Alves Moreira Técnico em Química Belo Horizonte Vitória Ramos Santos Técnico em Mecatrônica Belo Horizonte William Ferreira Matos Mestrado em Estudos de Linguagens Belo Horizonte

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oras

nizad As orga

Izabel Cristina Silva Diniz Doutorado em Estudos de Linguagens Belo Horizonte LetĂ­cia Santana Gomes Doutorado em Estudos de Linguagens Belo Horizonte

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Livro composto na tipologia Bree Serif e impresso na primavera de 2019.



© Letícia Santana, Campo de concentração de Sachsenhausen / Alemanha, 2017.


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