Negrismo percursos e configurações em romances brasileiros do século XX (1928-1984)
Luiz Henrique Silva de Oliveira
Negrismo percursos e configurações em romances brasileiros do século XX (1928-1984)
Copyright © 2014 by Luiz Henrique Silva de Oliveira Todos os direitos reservados COLEÇÃO SETEFALAS LITERATURA Coordenação Editorial Maria Mazarello Rodrigues Direção da série Edimilson de Almeida Pereira (Universidade Federal de Juiz de Fora) Prisca Agustoni (Universidade Federal de Juiz de Fora) Conselho Editorial Fernando Fábio Fiorese Furtado (Universidade Federal de Juiz de Fora) Maria da Glória Bordini (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Maria José Somerlate Barbosa (Universidade de Iowa) Maria Nazareth Soares Fonseca (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais) Martin Lienhard (Universidade de Zurique) Capa Túlio Oliveira Projeto gráfico e diagramação Letícia Santana Gomes O48n
Oliveira, Luiz Henrique Silva de. Negrismo: percursos e configurações em romances brasileiros do século XX (1928-1984) / Luiz Henrique Silva de Oliveira.Belo Horizonte : Mazza Edições, 2014. - (Coleção Setefalas) 320 p.; 16x23 cm. ISBN: 978-85-7160-646-3 Apresentada originalmente como Tese ao Programa de PósGraduação em Letras-Estudos Literários, da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais.
1. Ensaios literários - Séc.XX(1928-1984). 2. Ensaios brasileiros. I. Título CDD: B869.4 CDU: 821.134.3(81)-4 Mazza Edições Ltda. Rua Bragança, 101 - Bairro Pompeia - Telefaz (31) 3481-0591 30280-410 - Belo Horizonte - MG e-mail: edmazza@uai.com.br - www.mazzaedicoes.com.br
Agradecimentos
Aos meus pais, Adenir e Izaura (in memoriam). À Joanna Guimarães. À Professora Dra. Haydée Ribeiro Coelho e ao Professor Dr. e amigo Eduardo de Assis Duarte. Aos amigos de uma vida inteira, Simone Teodoro e Samuel Medina. Ao NEIA-UFMG; à Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte; ao Departamento de Planejamento e Coordenação da FMC; e ao CEFET-MG. Ao professor Dr. Edimilson de Almeida Pereira, pela leitura dos originais. À Editora Mazza, que acreditou neste estudo. Em especial Pablo Guimarães, Letícia Santana e Maria Mazarello. Aos demais companheiros que me apoiaram mesmo de longe. Eles sabem quem são.
Uma coisa, porém, existe e existirá com absoluta nitidez: a deliberação marcada pelo consenso unânime dos brasileiros lúcidos: o Brasil quer ser um país branco e não um país negro. Não vem aqui agora o estudo ou a pesquisa destinada a saber se o negro é intelectual ou moralmente inferior ao branco, ou ao índio, se o branco ou o índio são menos primitivos ou ainda mais adiantados do que o negro. O que prevalece é a decisão brasileira de ser um país branco e mais nada. E este propósito, sólido, inabalável, existe, é a realidade. Ora, assim sendo, há duas maneiras, para os países brancos, que receberam um contingente grande de negros, de conservarem-se brancos. Ou têm que adotar um método cruel e desumano, sociologicamente mais perigoso, da segregação completa dos negros, meio escolhido pelos Estados Unidos; ou o método, embora mais lento, preferido pelos latinos, em geral, mais humano, mais inteligente, embora moralmente mais perigoso durante o período de transição, isto é, a fase mais ou menos prolongada, da eliminação do elemento negro pela miscigenação.
(DUARTE, Paulo. O negro no Brasil. Estado de São Paulo, 1947. In: GUIMARÃES, Antônio Sérgio Alfredo. Intelectuais negros e modernidade no Brasil, p. 47)
CANDOMBORO Nei Lopes (a propósito de “afro-sambas”) Os poetas negristas Cabelouros bastos Vestiam onomatopéias E saíam nos livros Em candombes alucinados. Tumba calumba Retumba mondongo! Formavam comparsas Atlânticas, pacíficas -Congas, lubolas, quimbundas Arrebanhando multidões A cada tiragem. Bumba sandunga Mayombe macumba! Os poetas negristas Costumbristas Deslumbrados Ouviam o galo cantar Mas não sabiam ao certo Onde e por quê Candomboro Ekondombolo, o galo, Cantava. (Disponível em: <http://www.letras.ufmg.br/literafro>. Acesso em: 1º maio 2013).
Sumário
Apresentação..........................................................................................................................................................................................................13 Introdução .................................................................................................................................................................................................................................15 Percursos do negrismo ...................................................................................................................................................................................................27 O negrismo no romance sério-cômico.................................................................................................................................................................89 O negrismo no romance histórico ........................................................................................................................................................................143 O negrismo na metaficção historiográfica ...................................................................................................................................................193 A encruzilhada negrista..................................................................................................................................................................................................233 Mediação e cordialidade..................................................................................................................................................................................................271 Considerações finais ...................................................................................................................................................................................................... 295 Referências ............................................................................................................................................................................................................................ 303
Apresentação
O negro na encruzilhada da representação Quem percorre as páginas do livro de Luiz Henrique Silva de Oliveira já de início se admira da amplitude da pesquisa, que cobre praticamente todo o século XX, a fim de abordar textos exponenciais de nossa produção romanesca voltada para o protagonismo afrodescendente. A surpresa diante da abrangência do recorte – que vai de Macunaíma (1928) a Viva o povo brasileiro (1984) – amplia-se ainda mais ao constatar que, ao lado dos seis romances objeto do estudo, o crítico percorreu dezenas de outros, de praticamente todas as décadas do século. E ainda se debruçou sobre o Cubismo europeu e suas inspirações africanas, além de se dedicar a Nicolás Guillén e demais expoentes da “Cubanía” negrista dos anos 30 e 40 e a poetas brasileiros da “fase heroica” do nosso Modernismo. O propósito ou eixo central dessa busca é o negro e sua construção enquanto personagem. Negro inscrito em texto a partir de olhares alheios, objeto do discurso do branco, na condição de não ser ainda sujeito da própria escrita. Integrante de uma geração de jovens pesquisadores que encara de frente a complexa diversidade cultural que nos constitui, o crítico mergulha fundo na questão e, como não poderia deixar de ser, começa pelos começos. Volta-se para a herança africana presente na ante cena de obras cubistas de mestres como Picasso e Braque, para nelas detectar a apropriação de opções estéticas e procedimentos formais, logo batizados de “primitivos” pelo olhar vanguardista do começo do século. Percorre então os primeiros passos da descoberta moderna do Outro como forma de ruptura estética e, num plano mais amplo, de questionamento do contexto repressivo traduzido pelo que Freud chamou à época de “mal estar da civilização”. 15