N s psy changeling 7 blaze of memory

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TRADUÇÃO E REVISÃO


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Dev Santos a descobre inconsciente e machucada, sem memória de quem ela é. Tudo que ela sabe, é que é perigosa. Encarregado de proteger os segredos mais vulneráveis de seu povo, Dev tem o dever de eliminar todas as ameaças. É uma tarefa que ele nunca hesitou em completar… até que ele se sentiu atraído por uma mulher que ainda pode se provar ser a arma mais insidiosa do inimigo. Despojada de suas memórias por um sombrio opressor, e programada para executar um assassinato a sangue frio, Katya Haas está lutando desesperadamente por sua própria sanidade. Sua única esperança é Dev. Mas como ela pode esperar ganhar a confiança de um homem que muito bem poderia ser seu próximo alvo? Pois neste jogo, um deve morrer…


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Glossário Psy-Changeling

Changeling — são humanos com a capacidade de se transformar em animais (predadores ou não). Eles têm as duas naturezas — humana e animal — em equilíbrio e são mais fortes, têm os sentidos mais aguçados que humanos comuns. Os Changelins vivem em Clãs — e tem uma hierarquia bem definida e rígida. Os dois clãs principais na série são os DarkRiver (leopardos) e os SnowDancer (lobos). Temos:

DarkRiver Alfa: Lucas Hunter Sentinelas: São os segundo em comando e também a guarda pessoal do alfa: Mercy, Vaughn, Nate, Clay e Dorian.

SnowDancer Alfa: Hawke Tenentes: são os segundo em comando: Indigo, Riley.

Psy Psy — são humanos, mas com grandes poderes psíquicos. Esses poderes começaram a prejudicar a raça — loucura, psicoses, psicopatias — e então o Conselho Psy decidiu implantar um Protocolo conhecido por Silêncio. Esse Protocolo eliminou as emoções e sentimentos da raça. Eles ficaram praticamente robotizados.

Algumas designações Psy: Tc — Telecinese Alguns são capazes de tele transportes, outros não. Tc-Celular


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Um Tc-Celular tem a– habilidade de mover coisas a nível celular. Alguns são capazes de fazer isso com o próprio corpo. Tc-V Também conhecidos como —Viajantes— esses Psys são verdadeiros tele transportadores e podem ir de um lugar a outro num piscar de olhos. Viajantes são extremamente, extremamente raros. Tp — Telepatia Telepatas são divididos em várias subdesignações. Puros Tp Psy existem no final do espectro — eles podem literalmente enviar e receber mensagens ao redor do mundo, com uma clareza que faz parecer que eles estão na sala ao lado. Telepatas puros com esse nível de poder são raros e geralmente trabalham para o Conselho. M — Médico Têm várias especializações de M-Psy. A mais conhecida das habilidades que possuem é o poder de ver dentro do corpo e diagnosticar doenças. Alguns M-Psys no final da escala têm a capacidade de ver até mesmo no nível do DNA. Uma fração desconhecida de M-Psy pode realmente curar, mas essa cura parece estar limitada a ferimentos leves (ossos quebrados, cortes, etc). P — Previsão Uma variação de Previsão, que ainda cai na designação P, é a Antevisão — a habilidade de ver o passado. Ps — Psicometria Em termos básicos, aqueles nascidos com habilidade Ps podem obter informações tocando objetos. Ps-Psy serão discutidos mais tarde no decorrer da série.


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Morte seguiu os Esquecidos como um açoite. Implacável. Sem piedade. Eles buscaram encontrar a esperança quando decaíram da PsyNet, querendo apenas construir uma nova vida longe das frias escolhas de seus irmãos. Mas a Psy na Net, com seus corações congelados com o frio sem emoção do Silêncio, se recusaram a deixar os dissidentes irem em paz para o Esquecimento; com suas esperanças e sonhos de uma vida melhor, eles eram um obstáculo para a Psy no seu objetivo de poder absoluto. Entre seus números, os desertores contavam com um grande contingente de telepatas e médicos especialistas, homens e mulheres talentosas em psicometria, previsão, e muito mais. Estas pessoas poderosas, estes rebeldes, permaneceram como a única ameaça psíquica real para o Conselho Psy cada vez mais onipotente. Assim o Conselho os diminuiu. Um por um. Família por família. Pai. Mãe. Criança. Novamente e novamente. Até que os Esquecidos tinham que fugir, se esconder. Com o tempo, as memórias foram perdidas, verdades foram escondidas, e os Esquecidos quase deixaram de existir. Mas velhos segredos não podem ser mantidos para sempre. Agora, nos meses finais do ano 2080, a poeira estava subindo, a luz estava brilhando completamente, e os Esquecidos encontravam-se em uma encruzada. A luta é para enfrentar a morte mais uma vez, talvez a aniquilação total de sua espécie. Mas fugir... não é também uma espécie de aniquilação?


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Ela abriu seus olhos e por um segundo, sentiu como se o mundo tivesse mudado. Aqueles olhos, aqueles olhando de volta para ela, eles eram castanhos, mas era um castanho diferente de qualquer um que ela já tenha visto. Existia ouro ali. Manchas de âmbar. E bronze. Tantas cores. — Ela está acordada. Aquela voz, se lembrava daquela voz. — Shh. Eu peguei você. Ela tragou, tentado achar sua própria voz. Um cru silvo de ar. Sem som. Sem forma. O homem com os olhos marrons deslizou uma mão debaixo de sua cabeça e a inclinou para cima e pôs algo em seus lábios. Frio. Gelado. Ela separou seus lábios, trabalhando desesperadamente para derreter os cubos de gelo em sua boca. Sua garganta estava molhada, mas não era suficiente. Ela precisava de água. Novamente, ela tentou falar. Ela não podia nem ouvir a si mesma, mas ele fez. — Sente-se. Era como tentar nadar pela maioria de fluidos viscosos, seus ossos eram geléia, seus músculos inúteis. — Espere. — Ele somente a ergueu em uma posição sentada na cama. Seu coração batia em seu peito, um pássaro preso tremulando. Batida-batida. Batida-batida. Batida-batida. Mãos mornas em seu rosto, girando sua cabeça. Seu rosto vislumbrava em visão, depois girava impossivelmente de lado. — Eu não penso que as drogas estão completamente fora de seu sistema. — Sua voz era profunda, alcançando profundamente, para a direita em seu coração batendo, vibrando. — Você tem sorte. — Ele levantou alguma coisa. Um copo. Água.


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Ela agarrou seu pulso, seus dedos quase escorregando fora do calor masculino vívido de sua pele. Ele continuou a segurar a xícara fora de alcance. — Devagar. Compreendido? — Era mais uma ordem que uma pergunta, em uma voz que disse que ele estava acostumado a ser obedecido. Ela balançou a cabeça e deixou-o trazer algo para seus lábios. Um canudo. Sua mão apertada nele, ela estava tão sedenta. — Devagar, — ele repetiu. Ela tomou um gole. Rico. Laranja. Doce. Apesar da extremidade inumana na voz do seu salvador, ela poderia ter desobedecido e engolido em seco, mas sua boca não estava trabalhando direito. Ela mal conseguia estabelecer o fluxo mais fino. Mas era suficiente para acalmar a carne crua de sua garganta, encher o vazio em sua dor de estômago. Ela tinha passado fome por tanto tempo. Um flash de algo no canto de sua mente, muito rápido para ela pegar. E então ela estava olhando fixamente naqueles olhos estranhamente atraentes. Mas não eram apenas os olhos dele. Ele estava limpo, as linhas quase severas e a pele marrom dourada. Olhos exóticos. Pele exótica. Sua boca se moveu. Seus olhos permaneceram em seus lábios. O inferior era um pouco mais cheio do que parecia certo naquele rosto inflexivelmente masculino. Mas não eram suaves. Nunca suaves. Este homem era todo dureza e comando. Outro toque, os dedos em sua bochecha. Ela piscou, enfocada em seus lábios novamente. Tentou ouvir. — ... nome? Ela afastou o suco e engoliu, soltando suas mãos para os lençóis. Ele queria saber seu nome. Era uma pergunta razoável. Ela quis saber seu nome, também. As pessoas sempre trocavam os nomes quando se conheciam. Era normal. Seus dedos cerrados nos lençóis de algodão suave. Batida-batida. Batida-batida. Batida-batida. Aquele pássaro tremulando estava de volta, preso em seu peito. Que cruel. Não normal. — Qual é o seu nome? — Seus olhos eram penetrantes em sua objetividade, recusando a deixá-la desviar o olhar. E ela teve que responder. — Eu não sei. Dev examinou aquele olhar castanho nublado e viu só um tipo confuso de medo. — Glen?


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Dr. Glen Herriford franziu a testa do outro lado da cama. — Pode ser um efeito colateral das drogas. Ela estava muito dopada quando chegou. Dê-lhe mais algumas horas. Concordando, Dev colocou o suco na mesa e retornou sua atenção para a mulher. Suas pestanas estavam já caindo. Não dizendo nada, ele a ajudou a descer em uma posição deitada de costa. Ela estava dormindo momentos mais tarde. Gesticulando com a cabeça para a porta, ele saiu com Glen o seguindo. — O que você encontrou em seu sistema? — Essa é a coisa engraçada. — Glen bateu no prontuário eletrônico em sua mão. — Os produtos químicos se somam a velhas pílulas para dormir. — Não é isso que parece. — Ela estava muito desorientada, suas pupilas imensamente dilatadas. — A menos que... — Glen levantou uma sobrancelha. A boca de Dev se apertou. — A chance que ela fez isso a si mesma? — Sempre existe uma chance, mas alguém a deixou na frente de seu apartamento. — Eu entrei às dez da noite, e sai às dez e quinze. — Ele tinha deixado seu celular no carro, tinha sido irritante ter que parar o trabalho para retornar a garagem. — Ela estava inconsciente quando eu a encontrei. Glen sacudiu sua cabeça. — De modo nenhum ela teve a coordenação para passar através da segurança, então, ela teria perdido bem de antemão suas habilidades de coordenação motora. Combatendo a onda de raiva provocada pelo pensamento do quão impotente ela deve ter se sentido, o que poderia ter sido feito para ela naquele momento, Dev olhou para trás no quarto. A luz clara brilhante de cima brilhava sobre seus cabelos loiros emaranhados, destacando os arranhões no rosto, os ossos afiados fatiando sua pele. — Ela parece meio morta de fome. O rosto normalmente sorridente de Glen era uma máscara horrenda. — Nós não tivemos a oportunidade para fazer um check-up completo, mas existem contusões em seus braços, suas pernas. — Você está me dizendo que ela foi espancada? — Fúria crua pulsava através do corpo de Dev, quente e violenta. — Torturada seria a palavra que eu usaria. Há hematomas antigos sob os novos. Dev jurou debaixo de sua respiração. — Quanto tempo antes de ela estar funcional? — Ela provavelmente vai levar quarenta e oito horas para descarregar as drogas completamente. Penso que foi um golpe de uma só vez. Se ela tivesse estado com eles mais tempo, ela teria ficado ainda mais confusa.


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— Mantenha-me informado. — Você vai chamar o Executor? — Não. — Dev não tinha nenhuma intenção de deixá-la fora de sua vista. — Ela foi despejada na frente da minha porta por uma razão. Ela fica conosco até que compreendamos que diabos está acontecendo. — Dev... —Glen estourou uma respiração. — Sua reação para as drogas diz que ela tem que ser Psy. — Eu sei. — Seus próprios sentidos psíquicos apanharam um ―eco‖ da mulher. Silenciado, mas lá. — Ela não é uma ameaça nesta fase. Nós reavaliaremos a situação depois de que ela estiver melhor. Algo buzinou dentro do quarto, fazendo Glen olhar em seu prontuário. — Não é nada. Você não tem uma reunião com Talin esta manhã? Tomando a dica, Dev dirigiu para casa para tomar banho e se trocar. Era ao redor de seis e meia quando ele caminhou de volta para o prédio da Fundação Shine. Entretanto os quatro andares do topo foram seccionados em vários apartamentos de convidado, os dez do meio foram retomados com vários escritórios de administração, enquanto os pisos embaixo do porão abrigavam os testes e instalações médicas. E hoje, uma Psy. Uma mulher que poderia vir a ser o movimento mais recente do Conselho na tentativa de destruir os Esquecidos. Mas, ele lembrou a si mesmo, agora mesmo ela estava dormindo e ele tinha trabalho a fazer. — Ative. Código de voz, Devraj Santos. —A tela clara de seu computador deslizou para cima e para fora de sua mesa, mostrando uma lista de mensagens não lidas. Sua secretária, Maggie, era boa em eliminar o ―podeesperar‖ do ―deve-responder‖ e todos os dez na tela caíram na última categoria, e o dia nem começou. Inclinado para trás em sua cadeira, ele olhou para o seu relógio. Muito cedo para retornar as chamadas, mesmo em Nova Iorque, a maioria das pessoas não estava em suas mesas até as 06h45min. Então novamente, a maioria das pessoas não comandam a Fundação Shine, muito menos agem como o chefe de uma ―família‖ de milhares de pessoas dispersas em todo o país, e em muitos casos, no mundo. Era inevitável que ele pensasse sobre Marty naquele momento. — Este trabalho, —seu antecessor disse na noite que Dev aceitou a diretoria, — vai comer a sua vida, chupar o tutano de seus ossos para garantir, e vomitá-lo na outra extremidade, uma casca seca. — Você ficou preso a isto. — Marty tinha estado no comando da Shine por mais de quarenta anos. — Tive sorte, — o homem mais velho disse então bruscamente, de sua forma simplificada. —Eu era casado quando eu assumi o trabalho, e para minha eterna gratidão, minha esposa ficou comigo por toda a merda. Você entra só, vai acabar ficando assim. Dev podia ainda se lembrar como ele riu.


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— O que, você tem uma opinião muito baixa de meu charme? — O charme que você gosta, — Marty disse com um bufo, — mas mulheres têm uma maneira de querer tempo. O diretor da Fundação Shine não tem tempo. Tudo que ele tem é o peso de milhares de sonhos, esperanças e medos descansando em seus ombros. — Um olhar cheio de sombras. — Mudará você, Dev, vai torná-lo cruel se não tiver cuidado. — Nós somos uma unidade estável agora, — Dev argumentou. — O passado é passado. — Querido menino, o passado nunca será passado. Nós estamos em uma guerra, e como diretor, você é o General. Dev levou três anos no trabalho antes dele verdadeiramente entender a advertência de Marty. Quando seus Antepassados tidos desertado da PsyNet, eles esperaram fazer uma vida fora da rigidez fria do Silêncio. Eles escolheram caos acima de controle, os perigos da emoção acima de certa sanidade de uma vida. Viveram sem esperança, sem amor, sem alegria. Mas com aquelas escolhas vieram consequências. O Conselho da Psy nunca parou de caçar os Esquecidos. Para lutar de volta, manter suas pessoas seguras, Dev teve que fazer algumas escolhas brutais de sua autoria. Seus dedos enrolados em torno da caneta em seu aperto, ameaçando esmagá-la. — Suficiente, — ele murmurou, olhando em seu relógio novamente. Ainda era muito cedo para ligações. Empurrando sua cadeira para trás, levantou-se, pretendendo pegar um copo de café. Ao invés, ele achou-se tomando o elevador até o nível do subsolo. Os corredores estavam quietos, mas ele sabia que os laboratórios iriam já estar zumbindo com atividade, a carga de trabalho era simplesmente muito grande para permitir muito tempo de inatividade. Porque enquanto os Esquecidos uma vez tinham sido tão Psy quantos aqueles que olhavam para o Conselho para liderança, tempo e inter casamento com as outras raças mudaram coisas em suas estruturas genéticas. Novas habilidades estranhas começaram a aparecer... Mas então tiveram estranhas novas doenças. Mas isso não era a ameaça que ele tinha que avaliar hoje. Se eles estivessem certos, a mulher desconhecida na cama do hospital na frente dele era ligado à PsyNet em si. Que a fez além de perigosa – um cavalo de Tróia, Sua mente usada como um canal através do qual sugam os dados ou programam estratégias mortais. O último espião estúpido suficiente para tentar se infiltrar na Shine tinha descoberto a verdade letal tarde demais – que Devraj Santos nunca deixou sua formação militar para trás. Agora, quando ele olhou para a mulher contundida, arranhada, e o rosto emaciado, ele considerou se seria capaz de estalar seu pescoço com uma precisão de sangue frio se chegasse o tempo.


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Ele tinha medo da resposta ser um prático sim, friamente. Gelou, ele estava para deixar o quarto quando ele notou seus olhos movendo-se rapidamente em baixo de suas pálpebras. — Psy, — ele murmurou, — não deveriam sonhar.

— Diga a mim. Ela tragou o sangue em sua língua. — Eu disse a você tudo. Você tomou tudo. Os olhos tão pretos quanto à noite com umas poucas manchas brancas olhavam fixamente abaixo nela como dedos mentais estendendo em sua mente, empurrando, arranhando, destruindo. Ela engoliu um grito, refreando outros em sua língua. — Sim, — seu torturador disse. — Parece como se eu desnudasse você de todos os seus segredos. Ela não respondeu, não relaxou. Ele fez isto antes. Tantas vezes. Mas no próximo minuto, as perguntas começariam novamente. Ela não sabia o que ele queria, não sabia o que ele procurava. Tudo que sabia era que ela tinha quebrado. Não havia nada nela agora. Ela estava rachada, quebrada, tinha ido. — Agora, — ele disse, mesmo então, a voz sempre paciente. — Diga a mim sobre as experiências. Ela abriu sua boca e repetiu o que ela já confessara inúmeras vezes. — Nós adulteramos os resultados. — Ele sabia disto desde o começo; Isso não era nenhuma traição. — Nós nunca demos a você os dados reais. — Diga a mim a verdade. Diga a mim o que você achou. Aqueles dedos furavam impiedosamente em seu cérebro, atirando fogo vermelho que ameaçava obliterar seu próprio eu. Ela não podia segurar, não podia protegê-los, não podia nem se proteger - porque por tudo isso que ele se sentou, uma grande aranha preta dentro de sua mente, assistindo, aprendendo, sabendo. No fim, ele tomou seus segredos, sua honra, sua lealdade, e quando ele foi feito, a única coisa que ela lembrava era o odor do cobre rico de sangue.

Ela acordou com um grito irregular preso em sua garganta.


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— Ele sabe. Os olhos marrons olhando abaixo para ela novamente. — Quem sabe? O nome formado em sua língua e então foi perdido no miasma de sua mente saqueada. — Ele sabe, — ela repetiu, desesperada que alguém entendesse o que ela fez. — Ele sabe. — Seus dedos agarrados nos dele. — O que ele sabe? — A eletricidade arqueou como um inferno debaixo de sua pele. — Sobre as crianças. — ela sussurrou, quando sua cabeça ficou pesada novamente, quando seus olhos cresceram escuros de novo. — Sobre o menino. Ouro virou-se para bronze e ela queria observar, mas era muito tarde.

ARQUIVOS DA FAMÍLIA PETROKOV Carta datada em Janeiro 17, 1969 Querido Matthew, Na reunião de hoje, dos chefes do governo, o Conselho propôs uma nova abordagem radical para os problemas que temos enfrentado. Eu soube que estava vindo, mas ainda assim, eu não consigo imaginar como ele funcionará. O objetivo deste novo programa seria para condicionar toda emoção negativa fora da vinda geração de Psy. Se nós pudéssemos curar a ira, que benefício que seria — grande parte da violência poderia ser parada, tantas vidas salvas. Mas os teóricos foram até adicionais. Eles dizem que uma vez que nós tenhamos uma manivela sobre a ira, nós poderíamos ser capazes de controlar outros danos de eventos sentimentais — coisas que causam as fraturas que levam à doença mental. Eu estou cautelosamente otimista. Deus sabe, esta família pagou o preço para seus dons muitas vezes.

Com todo meu amor, Mamãe


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Ele sabe... Sobre as crianças. Sobre o menino. Tendo forçado ele mesmo a esperar até as nove, Dev codificou uma chamada para Talin com as mãos impacientes, seus ombros apertados com tensão. A mulher loira caiu para trás inconsciente depois que articulou aquelas palavras, mas Dev não precisava de mais nada—seu intestino disse a ele que só poderia existir uma resposta. — Dev? — O rosto amarrotado de sono de Talin apareceu na tela transparente de seu computador, seu bocejo não surpreendeu dado que era só batendo as seis em sua parte do país. — Eu pensei que nossa reunião fosse as dez e trinta oriental. — Mudança de planos. — Ele considerou suas próximas palavras com cuidado. Talin era pragmática, mas ela também era muito ligada aos seus protegidos. — Eu preciso pedir algo a Jon. Ela fez uma careta. — Ele não vai mudar de idéia sobre entrar em uma escola Shine. Mas eu tenho certeza que ele lê tudo que Glen manda para ele, e o Psy no pacote o está ajudando a treinar suas habilidades. — Ele está estabelecido em DarkRiver. — Dev tinha chegado a esta conclusão depois de uma visita particular para o leopardo, a casa base do bando em São Francisco. —Eu penso que este é o melhor lugar para ele. — Então... ? — Quantas pessoas sabiam sobre Jon nos laboratórios da Psy - depois que ele foi sequestrado? — O menino era - geneticamente falando - mais de quarenta e cinco por cento Psy e tinha nascido com uma natureza única de habilidade vocal. Jonquil Duchslaya poderia literalmente falar para as pessoas fazerem o que ele quisesse. Era um presente que muitos derramariam sangue para controlar. As pequenas linhas nos cantos dos olhos da Talin se espalharam como seu olhar aguçado. — Ashaya, é claro. Ela era a cientista chefe.


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Ashaya Aleine também estava agora acasalada com um leopardo da DarkRiver, e não faria nada para colocar tanto Jon ou outras crianças Esquecidas em perigo. — Quem mais? — Não há ninguém vivo. — a Voz de Talin vibrou com o eco da mais pura raiva. — Clay tinha cuidado de Larsen, o bastardo que estava experimentando nas crianças. E você sabe, o Conselho destruiu o laboratório da Ashaya depois que ela fugiu, matando todos seus assistentes de pesquisas. Gelo espetou em seu peito, frio, rígido, mortal. —Como você está certa disso? — DarkRiver tem contato na Net. Assim como os lobos, — ela adicionou, referindo-se ao mais próximo aliado do DarkRiver, os SnowDancers. — Não havia sequer uma dica de um sobrevivente. Mas a Psy, Dev sabia, era perita em manter segredos. Especialmente Psy como Ming LeBon, o Conselheiro que dizem ter estado atrás da destruição do laboratório. — Se eu enviar uma foto, você pode ver se Jon reconhece a pessoa a partir de seu sequestro? — Não. — Uma resposta absoluta, sua expressão tão feroz quanto aqueles dos leopardos em sua embalagem. — Ele está finalmente começando a agir como um garoto normal - eu não quero recordar-lhe o que ele passou naquele lugar. Dev tinha conhecido Talin tempo suficiente para entender que ela não se moveria. — Então eu preciso do número da Ashaya. — Ela estava muito quebrada sobre a perda de suas pessoas. — Uma pausa. — Basta ter cuidado com ela. Dev ouviu o que ela não estava dizendo. — Você está com medo de como eu vou tirar a resposta dela? — Você mudou, Dev. — A resposta calma. — Ficou mais duro. Foi uma acusação que ele enfrentou muitas vezes nos últimos meses. Seu bastardo insensível! Você o pôs no hospital! Como você pode viver com você mesmo? Arquivando as memórias afiadas, ele encolheu os ombros. — Parte do trabalho. — Isso era verdade até onde foi, mas ainda que ele parasse de ser o diretor da Shine amanhã, sua capacidade asseguraria o frio se espalhando em sua alma. Paradoxalmente, esse enorme gelo o fez a melhor pessoa para dirigir a Shine - ele sabia como um Psy pensava. — Aqui. Ele anotou o número que Talin relampejou na tela. — Nós podemos adiar nossa reunião? Um aceno com a cabeça. — Deixe-me saber o que você descobrir.


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Terminado a chamada, Dev codificou o número da Ashaya. Foi atendida em seu fim por uma criança de olhos cinza com cabelo liso preto e sedoso. — Oi. Eu posso ajudar você? Dev não tinha pensado que alguma coisa poderia fazê-lo sorrir hoje, mas ele sentiu a curva de seus lábios em uma solene saudação. — Sua mãe está por perto? — Sim. — Os olhos do menino cintilaram, de repente mais azul que cinza. — Ela está me fazendo biscoitos para o jardim de infância. Dev não conseguia conciliar a ideia da cientista Psy, Ashaya Aleine, como uma mãe que fazia biscoitos para seu pequeno garoto às seis e meia da manhã. — Você não deveria ainda estar dormindo? Antes de o menino poder responder, um carrancudo rosto feminino encheu a tela. — Com quem você está conversando... — seu olhar caiu sobre ele. —Sim? — Meu nome é Devraj Santos. Levantando seu filho, Ashaya o engatou acima de seu quadril. O menino imediatamente aconchegou sua cabeça em seu ombro, uma pequena mão estendida no pálido azul de sua camisa. Olhos inteligentes viam Dev com indisfarçável interesse. — A Fundação Shine, — Ashaya disse, ajustando o topo do colarinho de pijama do seu filho com os ausentes movimentos de uma mãe acostumada a fazer tais coisas. — Sim. — Talin falou sobre você. — Ela enfiou de volta uma mecha de cabelo preto ondulado que tinha escapado de sua trança. — O que eu posso fazer para você? O olhar de Dev sacudiu para seu filho. Tomando a dica, Ashaya beijou o menino na bochecha e sorriu. — Keenan, você quer cortar alguns biscoitos enquanto eu converso com Sr. Santos? Um aceno entusiástico. Mãe e filho desapareceram da tela por um minuto, e enquanto ele esperava, Dev encontrou-se perguntando se ele seguraria sua própria criança em seus braços. A probabilidade era muito baixa - mesmo se ele tivesse confiado a sua herança genética, ele tinha feito muito, visto muito. Não havia suavidade no lado esquerdo dele. O rosto de Ashaya retornou a tela, com seus olhos cheios de sobras de risos. — Nós teremos que ser rápidos - Keenan é muito bom, mas ele ainda tem quatro anos de idade e está só com a massa de biscoito.


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Sabendo que ele estava prestes a acabar com aquela alegria cintilante em seus olhos, ele não tentou suavizar o golpe, não tentou adoçar as implicações. — Eu preciso de você para ver se pode identificar alguém. Então ele disse a ela sobre a mulher que ele encontrou despejada fora da porta de seu apartamento. O rosto da Ashaya ficou lívido debaixo daquela pele escura. —Você acha que... — Pode não ser nada, — ele interrompeu. — Mas é uma possibilidade que eu tenho de verificar. — Claro. —Sua garganta moveu quando ela engoliu em seco. —Se o Conselho sabe sobre habilidades únicas sendo manifestadas nas crianças Esquecidas, existe uma chance de que eles comecem a tentar experimentar nessas crianças mais uma vez. — Uma pausa. — Eu penso que Ming os mataria se ele não os pudesse usar. A mandíbula de Dev se apertou. Isso era exatamente o que o preocupava - o Conselho nunca toleraria a ideia de outro grupo com acesso a poderes psíquicos - e muito menos eles crescendo cada vez mais forte e sendo manifestados em alguns de seus povos. — Esta linha é segura? — Sim. Ele enviou através de uma fotografia. — Ela pode não parecer como ela costumava ser. Concordando, Ashaya respirou fundo e abriu o anexo. Ele soube o momento que ela reconheceu a mulher na fotografia. Esmagando alívio, raiva, e dor - isso tudo varreu seu rosto em uma onda violenta. — Deus querido. — Seus dedos cobrindo sua boca. — Ekaterina. É Ekaterina.


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O Conselho da Psy se reuniu em seu local habitual - uma abóbada mental profunda dentro da PsyNet, a rede psíquica que ligava todos os Psy no planeta, mas para os renegados. Uma vista infinita de preto, cada Psy se representava por uma estrela branca única, a Net tinha uma espécie de beleza gritante. Mas claro, aqueles dentro da Net não entendiam mais a beleza. Como seu Conselho, eles entendiam somente lógica, praticidade, economia. Fechados dentro das sólidas paredes pretas da abóbada, Nikita olhou para Ming. — Você tinha algo para discutir? — Sim. — A mente dos outros Conselheiros era uma lâmina, precisa, gelada. — Eu posso recuperar alguns dos dados da Ashaya Aleine ofuscadas antes de sua deserção. — Excelente. — A voz mental de Shoshanna Scott era tão friamente elegante quanto ela era pessoalmente. Que era porque ela era uma das duas faces públicas do Conselho. Seu ―marido‖, Henry, sua relação frente para pacificar os meios humanos e changelings, foi à outra metade. Entretanto, pensou Nikita, os dois não tinham trabalhado como uma unidade coesa nos últimos meses. — Qualquer coisa que possamos usar? — Shoshanna novamente. — Possivelmente. — Ming pausou. — Eu estou carregando-o agora. Séries de dados rolados abaixo nas paredes pretas, uma cachoeira de prata compreensível apenas para as mentes Psy mais poderosas. Nikita absorvia as informações digitalizadas nos diferentes pontos. — Trata-se dos Esquecidos. — Parece — Ming disse, — que seus descendentes mais recentes estão nascendo com habilidades não vistas na Net. — Isso é surpreendente. — a voz suave de Kaleb. Nikita o considerava o membro mais letal, não só do Conselho, mas da própria Net. Em presente, ele se aliou a ela em certos assuntos, mas ela não tinha dúvidas que ele a mataria sem hesitação, caso se revelasse necessário. — O conselheiro Krychek está correto, — Tatiana disse, falando pela primeira vez. — Nós fizemos uma prática de eliminar mutações de um


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conjunto de gene exceto onde aquelas mutações eram essenciais para manter a funcionalidade da Net. Nikita sabia que a escavação era dirigida a ela, um lembrete da genética inaceitável de sua filha. — O E não é a designação de uma mutação, — ela disse com a calma que tinha sido condicionada a ela no berço. — Os Empáticos formam um componente crítico da Net. Ou você esqueceu suas lições de história? A última vez que o Conselho tentou suprimir a designação E destruindo todos os embriões que se testou positivo para a habilidade - a PsyNet tinha chegado extremamente perto de desmoronar. — Eu não esqueci nada. — A voz de Tatiana era totalmente sem inflexão. — Voltando para o assunto em questão - a eliminação de mutações fez nossas habilidades mais fortes, mais puras, mas com o inevitável efeito colateral de aturdir o desenvolvimento de novos talentos. — Isto é realmente um problema? — Anthony Kyriakus perguntou, verdadeiro como sempre. — Certamente se os Esquecidos desenvolvessem alguma perigosa nova habilidade, eles os teriam usado contra nós até agora. — Esta era minha conclusão, — Ming disse. — Porém, se ninguém discordar, eu gostaria de dedicar uma pequena fração dos recursos do Conselho para monitorar a população dos Esquecidos para evidências de mais sérias mutações - precisamos nos assegurar que eles nunca mais se tornem o que eles uma vez foram. Não existia nenhuma objeção. — Nikita, — Tatiana disse quando os dados de Ming desapareceram das paredes, — como está indo a reabilitação voluntária no seu setor? — O ritmo é constante. — Permitindo a população escolher ter seu condicionamento verificado - e, se necessário, reforçado - em lugar de coagilos nisto, tinha recolhido dividendos além de qualquer coisa Nikita esperava. — Eu sugiro continuarmos a permitir que as pessoas entrem voluntariamente – a Net já está ficando mais tranquila. — Sim, — Henry disse. — As erupções de violência cessaram. Nikita não tinha sido capaz de desmascarar o indivíduo que havia orquestrado a recente onda de assassina violência pública por Psy, mas ela sabia que tinha sido, provavelmente, alguém desta sala. Se este indivíduo tinha como meta conduzir as pessoas a se agarrar ao Silêncio, ele ou ela teve sucesso. Mas aqueles eventos sangrentos deixaram um eco psíquico - a Net era um sistema fechado. O que quer que entrou, ficou dentro. Os outros Conselheiros pareciam ter esquecido isto, mas ela não tinha. Ela já estava construindo suas proteções, esperando pelo momento quando eles pagaram o preço para aquela parte violenta da estratégia


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Seis horas depois de sua chamada pela manhã, Dev encontrou-se levando Ashaya Aleine até o piso médico. Seu companheiro, Dorian, caminhava ao seu lado, sua boca horrenda. — Se Ekaterina foi tirada do laboratório quando ele foi destruído, ela provavelmente tem estado nas mãos do Conselho por mais de cinco meses. Ashaya emitiu um som estrangulado de dor, fazendo Dorian xingar sob sua respiração. Arrastando sua companheira ao seu lado, ele esfregou os cachos de seu cabelo elétrico. — Desculpe Shaya. — Não. — Ela sugou uma respiração. — Você está certo. — E se isto é verdade, — Dev disse, — eles agora sabem tudo que ela fez. Ashaya movimentou a cabeça. — Ming LeBon teria rasgado sua mente aberta. Ele estava por trás da destruição do laboratório - teve que ser ele que a levou. A violação mental, Dev pensou com uma explosão de raiva fria, teria sido totalmente consumida. Um ataque psíquico deixava a vítima com nem mesmo uma rota mais fina de fuga, nenhum lugar onde poderia até fingir que estava tudo bem. — Por que a deixou em sua porta? — Ashaya disse, com voz agitada. — Uma advertência? — Um insulto, mais como isto. — Dev tinha feito seu negócio para estudar o inimigo. — Guerra psicológica. Dorian movimentou a cabeça. —Pode ser que Ming queria assustá-lo a fazer algo precipitado. — Todas as crianças de Shine estão seguras e responderam, — Dev disse, tendo passado as últimas horas verificando isso. — Infelizmente, nós ainda temos a área cinza onde já foram detectados, mas eles ainda concordaram em aceitar nossa ajuda. — O último informante do Conselho aproveitou-se daquela área cinza, dedilhando crianças para experimentação depois que eles entraram nos escritórios de campo, mas antes deles terem sido trazidos seguramente sob o guarda-chuva da Shine.


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Toda morte assombrava Dev. Porque Shine era sobre segurança, sobre localizar aqueles Esquecidos que foram perdidos, isolados do grupo quando o primeiro Conselho começou a caçar seus antepassados. Mas em vez de porto seguro, era só a morte que as crianças encontraram... enquanto o antigo conselho de Shine estava sentado, suas cabeças na areia. Dev tinha estado pronto para matá-los por sua cegueira, sua recusa para ver que o abate havia começado novamente e de acordo com alguns, ele quase teria sucesso. Um membro do conselho teve um ataque cardíaco depois que Dev lançou retratos de corpos quebrados das crianças na frente dele. Vários outros vieram perto de um colapso nervoso. Mas ninguém o parou quando ele assumiu o comando, quando seguiu os informantes com obstinado foco. — Por aqui, — ele disse, levando-os por um corredor mudo. — Tally disse que você encerrou o processo de recrutamento da última vez. — Dorian o olhou, seus olhos uns brilhantes azuis ainda mais vívidos contra seu cabelo branco-loiro distinto. — Você vai fazer isso desta vez? — Eles precisam de um informante para encontrar aquelas crianças, — Dev disse, seu tom monótono. — E o informante está morto. Ashaya piscou, olhando dele para Dorian, mas não disse uma palavra. Seu companheiro assentiu. — Bom. Dev usou sua impressão de palma para digitalizá-los no meio de uma porta de segurança. — Eu não posso justificar o desligamento do programa novamente tão cedo sem provas sólidas de problemas - nós gastamos tanto tempo e esforço em encontrar descendentes dos rebeldes originais por uma razão. Existem crianças lá fora ficando loucas porque pensam que são humanas. Depois de cem anos de Silêncio, do Psy permanecendo bloqueado dentro de sua própria cultura, ninguém se incomodou em testar suas habilidades psíquicas. Ninguém percebeu que algumas daquelas crianças loucas realmente ouviam vozes em suas cabeças. Alguns eram telepatas latentes cujos dons romperam durante a puberdade. Alguns eram sensitivos fracos, subjugados pelas emoções de outros. E alguns... Alguns eram tesouros secretos, dons rebelando-se fora de um século de deriva genética. Vendo Glen saindo do quarto, ele acenou ao doutor. O outro homem se apressou, círculos escuros debaixo de seus olhos. Dev viu as roupas amassadas de seu amigo, o modo de seus cabelos ruivos espetados em topetes desarrumados. — Eu pensei que você estivesse fora do turno. Glen empurrou uma mão por seu cabelo, eletrificando ainda mais as mechas. — Eu queria estar aqui no caso de nosso convidado despertar. Tirei um cochilo no quarto de descanso.


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As apresentações levaram só uns segundos, e então eles estavam caminhando para o quarto de Ekaterina. Para surpresa de Dev, ela estava acordada e sentada, bebericando algo de uma xícara pequena. Ele olhou para Glen. — Só dez minutos atrás. — O doutor murmurou. Ekaterina olhou diretamente para Dev, passou os olhos por Ashaya, como se sua antiga colega não existisse. — As teias de aranha estão começando a separar. — Sua voz era rouca, como se ela não tivesse sido usada por muito tempo... Ou como se tivesse sido quebrada do modo mais brutal. Caminhando para seu lado, Dev tomou a xícara que ela estendeu, preso pelas sombras que giravam no verde com profundidades de ouro de seus olhos. — Quanto você lembra? Ela engoliu em seco, mas não quebrou o contato visual. — Eu não sei quem eu sou. — Era um apelo, entretanto sua voz não tremeu, seus olhos não brilharam. Dev ainda ouviu o grito – um fino grito lancinante, que o apunhalou direto no coração. Parte dele, uma pequena, apenas aproveitável parte, quis oferecer conforto, mas esta mulher, simplesmente por existindo, era um perigo para seu povo. Ela era Psy. Uma psy conectada a Net não podia ser confiável. Não importava que ela agisse mais humana que seus irmãos, ele tinha que tratá-la como uma arma, que traz em si a semente da destruição de Shine. E se ela provasse ser isto, ele teria que fazer a mais letal das decisões... ainda que matasse a última parte humana que restou nele. — Ekaterina. — Voz da Ashaya, gentil, persuadindo. A mulher na cama piscou, agitou sua cabeça. — Não. — Este é seu nome, — Dev disse, recusando-se a deixá-la desviar o olhar. Aqueles olhos castanhos mutáveis chamejaram e se apagaram, uma chama morrendo. — Ekaterina está morta, — ela disse com absoluta calma. — Tudo está morto. Não existe nada mais. — Seus dentes estalaram juntos quando seu corpo convulsionou com força maligna. — Glen! — Pegando-a antes de ela cair fora da cama, Dev tentou impedi-la de se machucar, seus ossos surpreendentemente frágeis debaixo de suas mãos.


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— Diga isto. Ela manteve seus lábios fechados. — Diga isto. Não. Não. Não. — Diga isto. Ele não cansou, não parou, não empurrou em sua mente. O horror de esperar pela dor, o terror. Era de alguma maneira pior que a violação em si. — Diga isto. Ela manteve sua sanidade pelos primeiros dias, as primeiras semanas. Mas ele ainda não cederia. Sua língua parecia tão espessa, tão seca. Seu estômago doía. Mas ela esperou. — Diga isto. Levou três meses, mas ela fez. Ela disse isto. — Ekaterina está morta.

— Ela está inconsciente. — Glen brilhou uma luz nos olhos da Ekaterina quando ela caiu sobre os travesseiros. — Pode ser o resíduo das drogas em seu sistema, mas eu acho que o gatilho foi seu nome – algum tipo de granada psíquica. — O mais provável é uma combinação, — Ashaya disse, então falou rapidamente o composto químico do sono das pílulas que Glen havia notado no prontuário. — Alguns destes agentes causam perda de memória em Psy. Os olhos do doutor se iluminaram por ter achado um colega. — Sim. Existe uma possibilidade de algumas das drogas terem sido usadas com parcimônia, em conjunto com outros métodos para quebrá-la psicologicamente. Dev olhou fixamente para o rosto arranhado e machucado de Ekaterina. Droga, perguntando-se o que ela tinha dado para sair da tortura viva... O que ela deixou seus captores colocarem nela. Suas mãos em punho dentro dos bolsos de suas calças – qualquer barganha que tinha feito não a tinha salvado. — O que você disse quando você chegou pela primeira vez, — ele murmurou para Dorian enquanto o doutor e Ashaya estavam distraídos, - não pode acontecer. — Shaya a quer perto. — Dorian cruzou seus braços, os olhos em sua companheira. — A devastou quando ela pensou que Ekaterina morreu.


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— O que aconteceu com ela, — Dev disse, incapaz de tirar seus próprios olhos fora da figura magra na cama, — Tudo que foi feito para ela, ela não é a mulher que sua companheira conheceu. Nós somos muito mais capazes de monitorá-la. — E se ela provar ser uma ameaça? Dev encontrou o olhar do outro homem. — Você sabe a resposta para isso. — Dorian era um sentinela de DarkRiver. E o clã dos leopardos não alcançou sua condição atual como uma das mais dominantes changeling do país por ser fraco... ou que facilmente perdoa. Estourando uma respiração suave, Dorian retornou sua atenção para sua companheira. — Você toma essa decisão, você me coloca dentro. Você me deixa prepará-la. — Sua voz era uma ordem severa, baixa. Dev estava mais acostumado a dar ordens do que tomá-las, mas Ashaya tinha salvado a vida das crianças Esquecidas em risco à dela própria. Então ela abriu as perversões secretas do Conselho para todos. Ela tinha ganhado seu respeito. — Muito bem. — Porém, enquanto ele assistia o peito de Ekaterina subir e descer no que pareceu-lhe ser um perigoso ritmo superficial, ele perguntou-se uma vez mais se ele seria capaz de fazer a ação se resultasse nisto. Ele podia quebrar aquele corpo que já tinha sido quebrado severamente? A resposta veio de uma parte dele que tinha sido afiado em sangue e dor. Sim. Porque quando você luta com monstros, às vezes, você tem que se tornar um monstro.

ARQUIVOS DA FAMÍLIA PETROKOV

Carta datada de Maio 24, 1969 Meu querido Matthew, Seu pai diz que um dia você rirá destas cartas que eu escrevo para você, para o filho que está, no momento, tentando chupar ambos os dedos polegares de uma vez. — Zarina,— David disse esta tarde, — que tipo de mãe escreve tratados políticos para seu bebê?


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Você sabe o que eu disse a ele? — Uma mãe que está certa que sua criança crescerá e se tornará um gênio. Oh, como você me faz sorrir. Eu pergunto-me, até quando escrevo isto, se eu alguma vez vou deixar você ler estas cartas. Eu suponho que elas se tornaram uma espécie de diário para mim, mas desde que eu sou extremamente sensata para escrever: Querido Diário, — ao invés eu escrevo para o homem que você um dia se tornará. Aquele homem, eu espero, crescerá em um tempo de menos tumulto. As teorias dos psicólogos, todavia, as primeiras indicações são que provará quase impossível condicionar à ira fora de nossos jovens. Mas não é isso que me preocupa – eu ouvi rumores perturbadores que o Conselho está olhando mais e mais para Mercúrio, Catherine e o grupo secreto de Arif Adelaja. Se aqueles rumores provam-se verdade, nós podemos estar em maior dificuldade que eu acreditava. Não é que eu tenha qualquer coisa contra Catherine e Arif. Realmente, eu uma vez os considerei amigos e tenho só admiração por sua coragem em sobreviver à pior tragédia que pode acontecer a um pai. Eu não penso que é um exagero dizer que eles são duas das mentes mais extraordinárias da nossa geração. E, tendo gasto tempo considerável com eles dois, eu sei uma coisa com certeza — eles querem só o melhor para nossa raça. Mas às vezes, aquela profundidade de necessitar — salvar, proteger — pode se tornar um fervor ofuscante, um que destrói aquela coisa que pensamos estar protegendo. Eu posso só esperar que o Conselho veja isso, também.

Amor, Mãe


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Dois dias mais tarde, a mulher que todo mundo chamava de Ekaterina olhou fixamente para a estranha no espelho e tentou ver o que eles viam. — Não sou eu. — Ainda nenhuma memória? Ela girou para encontrar o homem que se apresentou como Devraj Santos de pé na entrada do banheiro. Cabelos escuros, olhos escuros. . . e uma forma de movimento que lembrava algum predador sem nome, elegante, alerta, perigoso além de comparação. Este predador vestia um perfeito, terno cor de carvão. Camuflagem, ela pensou, seus mais básicos instintos, mais animais sussurrando que ele era qualquer coisa, menos seguro. — Não. Esse nome... não é meu. — Ela não podia explicar o que quis dizer, as palavras bloqueadas atrás de uma parede que ela não podia atravessar. — Não agora. Ela esperava que ele rejeitasse sumariamente sua declaração, mas ao invés disso ele inclinou-se com o ombro contra o batente da porta, as mãos nos bolsos de suas calças do terno, e disse, — Você tem outra preferência? Uma escolha? Ninguém tinha dado a ela uma escolha... Em muito tempo. Ela soube disto. Mas quando ela tentou obter detalhes, eles sussurraram fora de seu alcance, tão insubstancial quanto à névoa que ela sentiu em seu rosto quando uma criança. Ela agarrou o fragmento de memória, desesperada para ter um vislumbre de quem ela tinha sido, quem ela era, seus psíquicos dedos enrolados quase em garras quando tentou rasgar longe o véu. Nada. Só vazio. — Não, — ela disse. — Só não esse nome. — O homem sombra o tinha usado. Sua voz a assombrava. Dizendo aquele nome muita e muitas vezes mais. E quando ele dizia, a dor seguia. Tanta dor. Enquanto os fantasmas das memórias a faziam empurrar acordada, certa de que ele a tinha encontrado, colocado-a de volta naquele buraco, naquele lugar de nada.


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— Que tal Trina? — A voz de Dev estalou-a de volta ao presente, para a consciência de que ela estava com um homem que realmente não conhecia, um homem que poderia ser outra sombra. — É perto o suficiente para refrescar sua memória. Os pêlos na parte de trás de seu pescoço se levantaram. — Muito perto. — Kate? Ela pausou, considerou isto. Hesitou. — Katya? De alguma forma ela sabia que nunca ninguém a tinha chamado antes daquilo. Sentiu-se nova. Fresca. Viva. Ekaterina estava morta. Katya vivia. — Sim. Quando Dev entrou no quarto, ela percebeu pela primeira vez o quão grande ele era. Ele se moveu com graça letal, foi fácil ignorar o fato de que ele tinha mais de dois metros, com os ombros sólidos que segurava seu paletó com confiança sem esforço. Existia músculos consideráveis nessa alta estrutura, o suficiente para rompê-la ao meio sem esforço. Ela devia ter ficado com medo, mas Devraj Santos tinha um calor nele, uma realidade que a compeliu a se aproximar. Ele não era nenhuma sombra, ela pensou. Se este homem decidisse matá-la, ele faria isso com um cego pragmatismo. Ele não torturaria, não atormentaria. Então ela o deixou aproximar-se, o deixou erguer uma mão para seus cabelos e esfregá-los entre as pontas de seu dedo, o odor de sua loção pós-barba embebendo em sua pele até que seu frescor era tudo que ela podia sentir. Seu corpo começou a balançar em direção ao seu um momento antes dele dizer, — Você precisa escovar isto. — Eu os lavei. — Ela pegou uma escova, lutando contra o desejo que ameaçava destruir o pouco controle que conseguiu remendar. — Mas está tão nodoso, eu não consegui alisá-los. Talvez seja mais fácil cortá-los. — Dê isto para mim. — Deslizando a escova de sua mão, ele empurrou-a de volta em direção à cama. O toque leve a sacudiu, a fez mover-se sem resistir. Mas ela foi para longe da cama, para a cadeira ao invés disso. — Não existe nenhum raio de sol aqui. — Raio de sol. A palavra ricochetou ao redor de sua cabeça, ecos após ecos. Raio de sol. Uma dor batendo em seu coração, uma sensação de que ela tinha esquecido algo importante. — Raio de sol, — ela sussurrou novamente, mas o eco já tinha desvanecido perdido na névoa de sua mente. — Está nevando lá em cima, — Dev disse. — Mas o sol está fora, nós estamos apenas muito abaixo. — Ele esperou até que ela estivesse acomodada antes de começar a escovar seu cabelo. Ela não sabia o que esperar, mas não a paciência com que ele desembaraçou os nós. Uma pequena parte dela sabia que ele era plenamente capaz de utilizar essas mesmas mãos suaves para acabar com sua vida. E ainda assim ela


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continuou sentada, seu corpo vulnerável, a pele macia de seu pescoço formigando onde os dedos roçaram. Mais, ela queria dizer, por favor. Em vez de trair a profundidade de sua necessidade, em vez de implorar, ela agarrou os braços da cadeira, o metal crescendo quente sob as palmas de suas mãos. Mas não importava o toque de calor, não era real, não era humano. — Eu sei coisas, — ela soltou. Ele não pausou. — Que coisas? Ela se encontrou inclinada para trás em direção a ele, com tanta fome de contato que a pele dela sentiu como se estivesse seca, morrendo de sede. — Eu sei sobre o mundo. Eu sei que sou Psy. Eu sei que não deveria ser capaz de sentir emoções. — Mas ela sentia. Medo, necessidade, confusão, tantas coisas torcendo e rasgando-a, exigindo atenção, querendo vir á tona. E abaixo de tudo estava o terror. Interminável. Mudo. Sempre. Os dedos de Dev tocaram sua nuca, calor vívido e exigindo em silêncio. — Quanto você conhece sobre o mundo? Política? — Suficiente. Pedaços. — Ela respirou fundo, achando que o cheiro dele, rico e escuro abaixo da nitidez da loção pós-barba, estava em seus pulmões. Fez seu coração disparar, suas palmas estavam úmidas. — Quando as pessoas falam, quando eu assisto ao canal de notícias, eu entendo. E eu sei outras coisas... Eu sei quem - você é. Eu sei o que a Shine é. Só eu que eu não conheço. Nada vem. — Isto não é verdade. — Golpes firmes, pequenos puxões em seu couro cabeludo. — Você sonha. Uma pulsação de medo, bílis em sua garganta. — Eu não quero. — É um modo que seu cérebro processa as coisas. Seus braços doíam, e ela percebeu que estava se segurando tão rigidamente, seus músculos estavam começando a queimar. Forçando-se a largar a cadeira, ela se concentrou nos golpes repetitivos em seu cabelo, a sensação das cerdas, o calor agressivo do homem atrás dela. — Eu sou uma ameaça. — Sim. Que ele não mentisse quase fez com que ela se sentisse melhor. — O que você fará comigo? — No momento? Mantê-la perto. — Não. — Isto saiu sem pensar. — Existe algo errado comigo. — Aquele erro era uma silhueta alienígena atrás de seu crânio, uma onda de sussurros que ela não conseguia ouvir. — Eu sei. — Ele não parecia muito preocupado, entretanto, ela pensou, ele era um homem que provavelmente nunca conheceria o medo. Ela sabia disto muito bem, até o ácido disso manchava suas várias células. Mas ela ainda tinha sua mente, entretanto, ainda que pudesse estar fraturada. — Você quer algo de mim. — Por que mais ele a manteria viva, a manteria perto?


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— Você lembra a pesquisa que você estava fazendo com Ashaya? Olhos de um pálido azul acinzentado, cabelos escuros em cachos de fogo, cor de café na pele. Ashaya. — Ela estava aqui? — Sua pele estirou com linhas formadas em sua testa. — Ela estava aqui. — Sim. — Longos golpes suaves por seus cabelos que não mais precisavam ser alisados. — Ela quer que você vá ficar com ela. Katya estava agitando sua cabeça antes dele terminar de falar. — Não. — O medo fechou ao redor de sua garganta, brutais mãos que a sufocavam até que ela não pudesse respirar. Alfinetadas de luz na frente de seus olhos, agonia em seu peito. Os puxões em seu couro cabeludo cessaram e um segundo depois, Dev estava abaixando na frente dela, suas mãos acima de sua. — Respire. — Uma ordem cruel, dada na voz de um homem que não toleraria desobediência. Olhando fixamente naqueles olhos não-castanhos, ela tentou achar um pouco da sensação de equilíbrio, de si mesmo. — Respire, — ela repetiu em um sussurro fino que mal tinha som. — Respire. — Ar assobiando em seus pulmões, arrojado com o gosto exótico de um homem que nunca a veria como qualquer coisa exceto um inimigo. Naquele momento, ela não se importava. Tudo que ela queria era afogar-se no odor dele, até que o medo dentro dela não fosse nada além de uma vaga memória, um sonho esquecido. Ela retraiu outra respiração profunda, deleitando-se na selvagem varredura de seus sentidos, na beleza irreconciliável de Devraj Santos. Ele cheirava a poder e um inesperado golpe de selvageria, rica canela e ventos Orientais, coisas que ela de alguma maneira conhecia, palavras que sua mente forneceu. Quase sem decidir fazer isto, ela levantou sua mão para a seda espessa de seu cabelo. Era suave, mais suave do que devia ser possível neste homem. — Você me prometerá algo?

Pela primeira vez em anos, Dev encontrou-se enfrentando um oponente tão opaco, que ele não poderia lidar com ela. Ele desceu aqui a fim de decidir sobre se ela era ou não nada mais que uma atriz verdadeiramente inteligente. Ao invés, ele achou o seu calcanhar de Aquiles em determinada forma humana, uma mulher que apareceu totalmente sem barreiras, sem proteções. Então ela o tocou, e ele não a empurrou longe. . . entretanto ele era um homem que nunca tinha sido fácil com toques, com as intimidades casuais que tantos tinham como certo. Dev preferia manter distância. Exceto que sua


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mão ainda estava seus cabelos, sua pele suave debaixo de seu aperto mais áspero. Mesmo agora, ele teve que lutar contra a necessidade primitiva de proteger, abrigar, salvar. Alguns chamavam seu coração de pedra fria, aparentemente remanesceu um pouco no calor disto. Mas aquele calor não era suficiente para cegá-lo para a verdade cínica, ela poderia ser o melhor movimento que o Conselho Psy já tinha feito, uma arma feita sob medida para provocar instintos tão básicos, que Dev tinha pouco ou nenhum controle sobre eles. — O que você quer que eu prometa? — Ele perguntou, endurecendo-se contra um apelo de clemência. Ao invés disso, ela passou sua mão por seus cabelos, como se fascinada pela textura, e disse, — Você me mataria? Ele congelou. — Se eu me revelar demasiada quebrada, — ela continuou, — muito usada para consertar, você me matará? Lá estava, ele pensou nada perdido sobre ela naquele momento. Sua intenção queimando-a, um fogo brilhante e decisivo. — Katya... — Ele fez algo dentro de mim, — ela sussurrou com uma violência contida que era ainda mais poderosa por ser contida. — Ele me mudou. Eu não quero viver se isto é quem eu sou. Sua. . . Criação. O horror em seu rosto, na feiúra inevitável do que ela estava dizendo, enrolado em torno do escudo de ferro que enjaulava sua alma, ameaçando corroer tudo que ele pensou que sabia sobre ele mesmo. — Se, — Ele disse incapaz de olhar naqueles olhos raiados de dourado e verde, — Você fosse desistir — você teria feito isto por agora. Sua mão caiu de seu cabelo, mas ela segurou seu olhar, inabalável em sua honestidade desnuda. — Como você sabe que eu não fiz?

EARTHTWO REGISTRO DE COMANDO: ESTAÇÃO SUNSHINE

21 de fevereiro de 2080: A rotatividade de pessoal novo chegado em 0900. Todo o pessoal está em boas condições físicas e mentais. Os trabalhos começaram no tempo de um dia, depois que os membros da equipe tiveram tempo de se aclimatar com as condições. O conselheiro Ming LeBon solicitou um relatório sobre a viabilidade deste local, para ser entregue no fim desta rotação. De acordo com os cálculos atuais, o local deverá render compostos valiosos para os previsíveis futuros, mas todos os dados serão confirmados antes da conclusão do relatório.


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Uma hora depois que Katya pediu a ele uma promessa de morte, Dev empurrou um prato sobre a mesa da sala de descanso. — Coma. Não tocando a comida, ela o alfinetou com olhos mais dourado que verdes naquele momento, raias de marrom rompendo das pupilas. — Você manterá sua promessa? Ele sabia quando estava sendo forçado. Mas a maioria das pessoas queria favores de um tipo muito menos decisivo. — Eu a matarei se você provar que isto é necessário. Ela pausou, como se considerando suas palavras, então levantou o garfo. — Obrigada. — Enquanto ela comia em pequenos, bocados de passarinho, ele se perguntou que diabo ele iria fazer com ela. Dev sabia muito bem o que estava se tornando, mas ele não era, não ainda, tanto o monstro que a jogaria de volta para os lobos. Mas também não podia permitir que ela ficasse íntima do Shine. Katya poderia parecer frágil, poderia apelar para instintos nascidos na escuridão de uma infância que haviam devastado sua alma, mas ela era Psy, e Psys cuidavam para ter uma aparência física apenas até que conseguissem o trabalho feito. Era com sua mente que ele teria que se importar, ela não poderia ter permissão para se aproximar, de quaisquer computadores, quaisquer fontes de dados, certamente nenhum de seu mais vulnerável. Afastando o prato ainda na maior parte cheio, a mulher no centro de seus pensamentos agitou sua cabeça. — Meu estômago não aguenta mais. — Outra refeição, em uma hora. Sua expressão permaneceu inalterada, mas ele viu as pontas de seus dedos apertarem com força contra a extremidade do tampo da mesa. — Você está acostumado a dar ordens. — E tendo-as obedecidas. — Ele não fez nenhum esforço para esconder sua natureza, sua vontade. Isso era o que ele tinha conseguido até aqui, e era o que protegia os Esquecidos, das tentativas assassinas do


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Conselho de eliminá-los para sempre. — Você pode lidar com algumas perguntas? — Você pararia se eu não pudesse? — Não. — Ele tinha que avaliar o nível de ameaça, aparentemente ela era tão frágil quanto vidro, mas, entretanto, a maioria dos venenos não apreciam grande coisa. Em contraste com a maioria das pessoas quando confrontados com ele neste humor sombrio, ela não quebrou o contato visual. — Pelo menos você é honesto. — Comparado a que? Uma sacudida da cabeça, uma resposta que ela não daria a ele. — Faça as suas perguntas. — Você está na Net? Ela piscou. — Claro. — Mas seu tom era inseguro, sua fronte franzida. Ele esperou quando seus cílios fecharam, quando os olhos dela moveram-se rapidamente atrás das pálpebras delicadas. Um instante depois, eles se abriram. — Eu estou presa. — Seus dedos enroscaram na mesa, as unhas cavando na madeira laminada. — Ele se enterrou em minha mente. — Não. Se ele tivesse, você estaria morta. As palavras severas atuaram como um bofetão. Katya ergueu sua cabeça, e viu a distância fria em seus olhos encarando-a, e soube que não existiria nenhuma gentileza dele. Ele não era mais o Dev que escovou seu cabelo e deixou-a tocar-lhe. Este homem não hesitaria em cumprir sua promessa. Mas ela não questionou este homem. Paradoxalmente, a desumanidade dele fez sua espinha endireitar, um novo tipo de resolução rebelando-se fora de sua alma maltratada. Onde ela teria suavizado para Dev, ela não queria se render e dar ao diretor da Fundação Shine a satisfação. — Sim, — ela disse, forçando-se aquietar o pânico. — O biofeedback tem que estar vindo completamente. A lógica disso era irrefutável, e ela não teria durado mais que alguns minutos sem aquela realimentação da rede neural que todo Psy era ligado instintivamente ao nascer. — Mas eu não penso que eu posso entrar na Net propriamente. —Não significa que alguém não possa achar um caminho dentro de você. — Seu estômago se revoltou. Deu tudo que tinha para manter o que ela tinha comido. — Você acha que ele já tem, — ela sussurrou, examinando aquele rosto impiedoso. — Você pensa que eu sou nada além de um fantoche.


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Voltando-se até seu escritório depois de Katya e sim, ele se viu pensando, aquele nome combinava com ela muito melhor que Ekaterina, começando a cair de exaustão, Dev considerou que poderia saber a resposta para o mistério que era Katya Haas. Ele tinha uma rede de espiões e informantes que eram tão bizantinos quanto a PsyNet. Porém, um canal direto para a Net era a única coisa que ele não tinha sido capaz de alcançar. Mas, ele pensou, DarkRiver contava com mais de um Psy entre seus números, as chances eram muito altas que uma linha aberta de comunicação existisse em algum lugar. Olhando para a energia frenética de Nova York, ele pesou seu próximo movimento. Se Katya tivesse sido abandonada em sua casa como uma advertência, então os poderes no PsyNet já sabiam que ela estava viva e estavam, como ela mesmo disse, a controlando. Porém, ele teve que considerar a possibilidade do inverso, que ela tinha sido resgatada e deixada em sua casa porque seu salvador sabia que os Esquecidos nunca cooperariam com o Conselho. Nesse caso, qualquer ondulação na lagoa poderia pôr sua vida em perigo. — Dev? Ele se virou para encontrar Maggie, na entrada. — O que é isto? — Jack está chegando. — Seus olhos eram simpáticos. As entranhas de Dev torceram sua mente se enchendo com imagens de William, Filho do Jack. A última vez que Dev o viu, Will ainda era um risonho garotinho cheio de energia. Agora. . . — Avise quando ele chegar.

O granizo começou a manchar a janela quando Maggie retirou-se, cada golpe mais frio e frágil que o anterior. Afastando-se da escuridão súbita, Dev retornou a sua escrivaninha. Para suas responsabilidades. Existia apenas uma decisão que ele podia tomar quando se tratava de buscar informações sobre Katya, ela não era tão importante quanto os milhares de Esquecidos que ele prometeu proteger. Uma linha cruel, mas uma que ele não poderia cruzar. Vários andares abaixo, com os olhos fechados de sono, Katya se achou de volta na teia de aranha. — Qual é o seu objetivo secundário? — Reunir informações sobre os Esquecidos, descobrir seus segredos.


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— E se você não conseguir encontrar quaisquer dados úteis neste período de tempo designado? O medo aumentou, mas era embotado, um sentimento que ela tinha suportado por tanto tempo, que se tornou uma ferida que nunca desaparecia. — Eu preciso trocar todo meu enfoque para a tarefa primária. — O que é essa tarefa? — Matar o diretor da Fundação Shine, Devraj Santos. — Como? — De um modo que deixe claro que ele foi assassinado. De um modo que não deixe margem para dúvidas sobre quem fez a tarefa. — Por quê? Isso a lançou. — Você não me disse por quê. — Bom. — Uma única, palavra gelada. — Seu trabalho é não entender, simplesmente fazer. Agora repita o que você está para fazer. — Matar Devraj Santos. — E então? — Matar-me. Uma pausa, um farfalhar de tecido quando ele cruzou suas pernas, seu rosto tão inexpressivo como quando ele a fechou no escuro novamente, entretanto ela implorou e suplicou ajoelhada. — Por favor, — ela disse, lutando para segurar suas pernas. — Por favor, não. Por favor, por favor! Mas ele a chutou para longe, trancando a porta. E agora ele se sentou, um Deus em seu trono enquanto ela se amontoava no chão, falando com ela naquela voz fria que nunca mudava, não importa quanto ela gritasse. — Essa tarefa é a única razão para que eu a deixe viva. — Por que eu? — Você já está morta. Facilmente dispensável. — E se eu falhar? — Ela estava tão fraca, seus ossos parecendo derreter de dentro para fora. Como ela poderia possivelmente matar qualquer homem, muito menos com uma reputação de ser tão letal quanto o diretor da Fundação Shine? Não houve nenhuma resposta imediata, nenhum movimento da aranha que se tornou o único ser vivo na dor infinita que era seu universo. Ele era um Psy verdadeiro. Ele não fazia gestos ou movimentos sem propósito. Uma vez, ela tinha sido assim. Antes de ele destruir sua mente e tirar os fios de seu condicionamento, eliminando todas as coisas que a fez ser quem ela era. Antes que ele a matasse. — Se você falhar, — ele finalmente disse, — Devraj Santos eliminará você da equação. O fim, para você, será o mesmo. Katya ofegou acordando, sua roupa aderindo em sua pele, sua cabeça batendo. Medo e horror arranhando em seu peito até que ela lançou os


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cobertores, certa de que algo estava sentando em suas costelas, esmagando seus ossos. Nada. Nada além de loucura. Empurrando um punho em sua boca, ela enrolou-se para o lado, lutando com os fragmentos irregulares de um sonho que encharcou seu corpo doente no suor frio do medo. Mas não importava o quão duro ela tentou, não podia conectar os pedaços, não podia compreender o que o homem sombra queria que fizesse. Ela só sabia que quando chegasse a hora. . . ela faria isto. Porque o homem sombra nunca deixaria qualquer coisa ao acaso. Mais especialmente suas armas.

ARQUIVOS DA FAMÍLIA PETROKOV Carta datada de 3 de dezembro de 1970 Meu querido Matthew, É como eu pensava, a tentativa para condicionar a raiva fora de nosso jovem está falhando. Mas isto não são as notícias mais perturbadoras. Hoje, eu li um relatório confidencial que diz que o Conselho começou a considerar a eliminação efetiva de todas as nossas emoções. Minha mão treme enquanto eu escrevo isto. Eles não podem ver o que eles estão pedindo? O que eles estão destruindo? Mamãe


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Três dias mais tarde, Dev teve a resposta para sua pergunta. — Nós verificamos com nossa fonte, — Dorian disse a ele acima do painel de comunicações. — Ela está oficialmente listada como morta. — Ming deve tê-la levado para fora antecipadamente. A menos que sua Intel diga o contrário? — Não. Com Ekaterina.... — Katya, — Dev automaticamente corrigiu. — Certo. — O guarda deu apenas um forte aceno com a cabeça. — Bem, com Katya, ele realmente limpou suas pegadas, aparentemente não existe nem um sussurro que ela sobreviveu à explosão. Ashaya está começando a pensar que a amnésia pode ser o efeito colateral de um bloqueio psíquico de algum tipo, algo que a impede de trair-se na Net. — Nós estamos trabalhando nisto. — Os Esquecidos mudaram ao longo dos anos, mas eles ainda tinham telepatas no meio deles, ainda tinham aqueles que podiam trabalhar com mentes envoltas em uma prisão mental. Dev sabia com certeza dolorosa disso muito bem. — Se você precisar de algum de nós, tudo que você tem que fazer é dizer uma palavra. Sascha, Faith e Shaya, — Dorian disse, nomeando três Psy poderosas em seu bando, — elas estão prontas para largar tudo para ajudar Katya. — Até que nós saibamos o quanto ela é perigosa, eu não posso arriscar isso, — Dev respondeu. — O Shine poderia ser o principal objetivo, mas se eu conheço o Conselho, eles usarão a oportunidade para ferir qualquer que eles possam. DarkRiver é um espinho real por outro lado. — Tudo isso é verdade. Mas existia outra verdade, pedindo-lhe para por fim em sua vida, Katya pôs sua vida em suas mãos, e ele não permitiria a ninguém mais interferir. — Eu informarei se nós acharmos qualquer coisa mais. Dev tinha acabado de desligar quando Glen o bipou para o andar médico. —Ela está pronta para receber alta, — o doutor disse a Dev assim que ele chegou. —Eu dei a ela várias garrafas de suplementos, combine isso com uma dieta constante e ela deve se recuperar bem depressa.


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Os ombros de Dev ficaram tensos quando lembrou exatamente o quão mal ela foi tratada, mas ele se focou no assunto em questão. — Alguma indicação de suas habilidades? — De acordo com os testes que nós temos executado, ela é de nível médio em termos de força. Não posso dizer ainda a você que tipo de habilidade ela tem, mas o que eu posso dizer a você é que ela não parece estar acessando isto no momento. Isso reduzia o nível de ameaça, mas — Precisamos mantê-la por perto até que nós compreendamos por que ela foi enviada para dentro. — Eu não posso justificar segurando-a aqui. — O rosto juvenil de Glen ficou definido com linhas teimosas que poderiam ter surpreendido muitos. — É uma clínica boa o suficiente, mas ela precisa de luz solar, ar fresco. — Eu não posso deixá-la livre, Glen, você sabe disto. — Sim, isso o fez sentir-se como um bastardo, mas sua habilidade de ser um bastardo era a causa de ele ter sido escolhido como diretor. Metal era seu dom, e talvez sua maldição, mas esta camada crescente de gelo metálico significava que ele não hesitaria em fazer o que precisasse ser feito. O doutor comprimiu seu nariz. — O juramento de Hipócrates não diferencia entre amigo e inimigo. — Eu sei. É para isso que você tem a mim. — Apertando o ombro do outro homem, — ele girou em direção ao quarto de Katya. — Dev. — A expressão de Glen era preocupada quando Dev olhou de volta para ele. — Você não pode continuar sendo responsável por todas as decisões difíceis. — Eu fiz essa escolha quando assumi o cargo. — Ou talvez ele tivesse feito isto décadas atrás, no dia em que os policiais o acharam deitado meio quebrado no canto do quarto dos seus pais. Esse foi o dia em que ele sentiu pela primeira vez o metal, a primeira vez que começou a sentir a inteligência fria das máquinas ao redor dele. Glen sacudiu sua cabeça. — Não tem que ser você. O Shine tem um conselho. Sim, tinha. E aquele conselho era agora composto de homens e mulheres que simplesmente não olharia para o outro lado quando a realidade se tornasse muito dura, muito desconfortável. Mas, — um bom líder nunca pede as suas tropas que faça qualquer coisa que ele não pode. — Deslocando em seus calcanhares, ele disse, — Vá para casa, Glen. Durma um pouco. — Não até que eu saiba o que você vai fazer com ela. Foi quando Dev percebeu que Glen não confiava que ele não machucasse a mulher que, por sua simples existência, sua sobrevivência, alcançou partes dele que preferiu deixar na escuridão. Foi um golpe... e isto mostrou o quanto ele havia mudado a partir do homem que Glen tinha chamado pela primeira vez de amigo. — Eu não vou tão longe ainda, — ele disse suavemente.


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— Não... não ainda, — o médico ecoou quando Dev cruzou a entrada para o quarto de Katya. Ele a encontrou sentada na cama, vestida com um novo par de calças jeans azul e uma camiseta branca, tendo jogado um suéter cinza pesado por cima. Seu cabelo na altura do ombro havia sido trançado em um trança francesa apertada, e lá estavam fora da caixa, tênis brancos em seus pés. Seus lábios erguidos em um sorriso hesitante quando o viu. — Oi. E aquilo rapidamente, o metal ameaçou recuar, para deixá-lo escancarado para o furioso protecionismo que bateu em sua pele com força brutal. — Onde está as suas botas, seu casaco? — Ele perguntou, e as palavras eram duras. — Aqui. — O sorriso desvanecendo, ela deu um tapinha numa mochila de cor cáqui com uma calmamente mão possessiva. — Obrigada pelas roupas. E as outras coisas. — Maggie as comprou. — Ele sacudiu sua cabeça em direção à porta enquanto estendia a mão para a bolsa. — Vamos, você está deixando este lugar. Ela puxou a bolsa longe dele. — Aonde você vai me levar? — A mais fina fibra de aço. Isso não surpreendeu, ele deixou cair sua mão. — No momento, para minha casa em Vermont. — E sobre o seu trabalho? Ele examinou aquele rosto pálido, perguntando-se se a questão era simples curiosidade ou algo mais sinistro. Porém, a resposta não era exatamente um segredo de estado. — Eu posso lidar com as coisas á distância. — Seu time era sólido, acostumado a trabalhar com ele não importando o local. — Se necessário, eu posso comutar. — O Shine tinha acesso a vários helicópteros a jato, mas Dev preferia dirigir a maior parte do tempo, a viagem levaria menos de três horas em um veículo de alta velocidade, e isto lhe daria tempo para pensar livre de distrações. — Por quê? — Os olhos da Katya eram cristalinos quando encontrou os seus, cada fragmento, marrom, verde, amarelo, perfeitamente definido. — Por que não só me despejar para outra pessoa? — Porque eu não sei o quanto você é uma ameaça, — ele respondeu, e era uma verdade. Ela não teve nenhuma necessidade de saber sobre o complexo, ela despertou emoções indesejadas, memórias enterradas que ela revelou. — Você vai ficar comigo até que eu possa descobrir o que fazer com você. — Você podia deixar-me ir. — Seus dedos enroscaram em cima da mochila. — Não é possível.


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— Então eu sou uma prisioneira novamente. A questão bateu duro, apunhalando no núcleo da honra que ele de alguma maneira conseguiu manter. Ele se perguntou se ainda estaria lá depois que isto tudo estivesse acabado. — Não, você é o inimigo. — Desta vez, ele pegou a mochila sem esperar por sua concordância. Katya assistiu o largo muro de Dev retrocedendo de volta e se forçou a sair da cama. Pela primeira vez desde que despertou neste lugar, ela não sentiu medo, nem terror, nem preocupação. Ao invés, alguma outra coisa queimando nela, uma coisa quente, afiada e violenta. — Mova-se. — Era um comando. Aquela crua nova emoção queimando tão alta, que ela teve que lutar para verbalizá-la. — Nós vamos de trem? — Não. Eu dirigirei. Ela caminhou para ele, então com ele pelo corredor abaixo, ciente que ele estava mantendo seu passo curto para acompanhar o seu, seu grande corpo movendo-se com uma graça que lhe disse que ela nunca seria capaz de mover-se rápido suficiente para escapar dele. Ainda assim, uma pulsação de excitação borbulhava por ela, iluminando sua mente, o carro, ela pensou, isto tinha a ver com o carro. Se ela tivesse um carro, ela poderia encontrar... Outra tela preta, sua memória cortando como um painel mal sintonizado. Suas unhas cavaram na carne suave de suas palmas tão duras que ela sentiu romper a pele. Relaxando seus dedos com esforço, ela ergueu sua mão para olhar uma palma. Era sua, ela sabia isto. Aquelas linhas de vida eram suas. Mas existiam outras linhas, linhas brancas finas atravessavam a pele ininterrupta com exceção das crescentes, cor de sangue que ela acabou de criar. Como ela conseguiu aquelas linhas? Sua cabeça começando a bater em uma batida enfadonha, pesada, ela olhou fixamente, determinada a adivinhar a verdade, não importando quão feio fosse. Dedos mornos, másculos apertaram sua mão. Assustada, ela ergueu a cabeça para encontrar a carranca de Dev. — Não force isto, — ele ordenou, apertando seus dedos. — Glen disse que suas memórias retornarão quando for à hora. Ela não puxou a mão da sua, apesar do caos violento de suas emoções. Quando ele a tocou, ela se sentiu real, um ser vivo em vez de um fantasma. — Eu não posso evitar isto. Eu odeio não saber quem eu sou. — Ódio, uma palavra forte. — Ele a levou por um par de portas de vidro automáticas. — As emoções vêm facilmente para você? — Sim. — Ela engoliu quando ele pausou em frente ao elevador. — Existem tantas coisas que a mente pode suportar. Depois disso, fragmentos. — Levando as linhas de condicionamento com ele.


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As portas do elevador se abriram e Dev a arrastou para dentro. Ela deu um passo além do limiar antes de congelar, sua respiração presa em sua garganta, sua espinha tão rígida que ela literalmente não podia se mover. A mão de Dev flexionou ao redor da sua e por um momento, ela estava apavorada que ele a puxasse para dentro. Ele era muito maior, muito mais forte, e ela nunca seria capaz de detê-lo. O medo era um punho em sua garganta, bloqueando sua via aérea. Então ele soltou sua mão para envolver um braço ao redor de sua cintura, carregando-a para fora e atrás no corredor. — Você não tem que entrar lá. — Uma mão em concha na parte de trás de sua cabeça quando ele falou com uma voz tão dura quanto uma lixa. E ainda assim seu agarre... Seu corpo inteiro começou a tremer, o terror transmutando em um tipo doloroso de alívio. Não parando para pensar, ela enterrou o rosto em seu peito, seus braços fechando ao redor dele. Uma palavra áspera. A pancada da mochila batendo o chão. Então seus próprios braços vieram em torno dela com contundente força. Ela queria mais, queria tirar-lhe a pele e tocar em seu batimento cardíaco, convencer-se de que ele existia, que ela existia. Bem no fundo, ela estava tão assustada que se isto fosse tudo apenas uma fantasia, outra loucura induzida de sua mente tentando chegar a algo para preencher o vazio sem fim. — Shh. — Falando suavemente contra sua orelha, a pincelada de sua quente respiração outra âncora tátil. Ousando mover sua mão, ela colocou seus dedos contra o lado de seu pescoço, sentindo sua pulsação forte e firme contra as pontas de seus dedos. Real. Tão real. — Eu não posso estar em uma caixa novamente. — O último foi um sussurro quando ela pegou um punhado de memória. — Não existia nenhuma luz, nenhum som, nenhum toque, nenhuma Net. — Como pode existir tanta dor no nada? — Mas existia excruciante, agonizante, implacável dor, dor que tinha transformado-a de um ser sensível para algo inferior a um animal. — Era como se eu não existisse. Dev ficou imóvel sob o toque hesitante de Katya. O que ela estava descrevendo era um das mais cruéis formas de tortura conhecida pelo homem, uma que não deixava nenhuma marca, mas destruía a vítima por dentro, da privação sensorial. Deixando um pensamento, um ser vivente sem retorno suficiente e a mente começando a romper, se voltando para dentro, indo tão fundo que muitos nunca voltavam. E para um Psy ser cortado da Net... Ele bloqueou a onda de piedade antes que isso pudesse subir. Porque a privação sensorial não era apenas sobre ferir a vítima até que aquela pessoa quebrasse. Ela poderia ser usada para um propósito muito mais ameaçador que quebrar um indivíduo e, então construí-lo ou ela novamente de acordo com os requisitos do torturador.


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Katya poderia ser justamente o que ela temia, uma criação de Ming. As contusões, os arranhões, a fome, tinha toda a probabilidade de ter sido nada além do mais calculado tipo de fachada, destinada a fazê-la parecer fraca, despertar piedade... e protecionismo. Mesmo com a compreensão desta verdade triste, ele não podia deixá-la ir, não quando tremores ainda estremeciam através dessa moldura insuportavelmente delgada. Se ele lhe apertasse muito duro, ele pensou, ele poderia quebrá-la. Os ossos Psy já eram mais frágeis do que os humanos, e ela estava faminta ainda por cima, somente porque era mais disfarçada não significava que ela não sentiu cada golpe, cada chute, cada hora de fome. Ele fez um esforço consciente para soltar seu domínio, mas no momento que ele fez, ela começou a tremer tanto que ele pensou que ela quebraria de dentro para fora. Esmagando-a mais perto, ele moveu sua mão até estar debaixo de sua trança, na pele suave de sua nuca. Sentiu aquela pele contundente delicada sob seu toque mais áspero, mas ela acalmou no contato. Então ele a segurou dessa forma, murmurando garantias sem palavras quando seus dedos acariciaram acima de sua pulsação, enquanto seu corpo todo derretia no seu. Levou dez longos minutos para ela parar de tremer. A mão em seu pescoço deslizou para permanecer no nó de sua gravata. Ele segurou sua respiração quando seus cílios ergueram para revelar olhos cheios, sem o medo que ele esperava, mas com uma calma quase impossível. — Eu sobrevivi a isso. Eu devo ser mais forte do que eu penso. Ele soube que era um passo perigoso em território inimigo, mas ele não podia deixar de sentir-se orgulhoso dela, era uma crescente emoção, primitiva em sua ferocidade. — Sim. — Sim. — Deixando seu peito, ela saiu de seus braços. — Você sabe às vezes eu me lembro de ter sido perseguida por uma pantera. A mudança de tópico bloqueou-o por um segundo. Então ele compreendeu. — Você quer que eu descubra se isto poderia ter acontecido? — Ele ainda podia sentir a impressão de seu corpo contra o seu, uma marca quieta que o perturbou no nível mais profundo. — Se você puder. Eu preciso saber se eu posso confiar nas coisas em minha cabeça. — Ela esfregou as mãos na frente de sua calça jeans. — É uma coisa tão estranha lembrar. Talvez tudo que eu me lembro seja uma fantasia. Dev não pensou assim. Ele conhecia um shifter pantera, mas que diabos estaria Lucas Hunter, alfa dos DarkRiver, fazendo perseguindo Katya em sua forma animal agressiva? —Você pensa que pode lidar com as escadas? Uma pausa. — Eu acredito que sim. Existe sempre uma maneira de sair pelas escadas. Isso lhe disse mais sobre seu cativeiro que qualquer outra coisa. Músculos tensos com uma raiva que não tinha saída, ele curvou-se para levantar sua bolsa e, então, em um ato que ele nunca esperaria tão


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facilmente, estendeu a mão. Ela tomou isto de uma vez, não agindo nada como a Psy que ele sabia que ela era. A raça silenciosa nunca tocava, não se eles pudessem evitar isto. O contato tátil era um declive escorregadio, eles disseram que poderia levar a sensualidade em outras áreas de vida. Mas Katya abertamente almejou contato. Não existia nenhuma luz, nem som, nem toque, nem Net. Apertando seus dedos no calor já familiar do seu, ele segurou a porta aberta da escada até que ela movimentou a cabeça garantindo que ela estaria bem. E embora ela agarrasse sua mão com tanta força que ele podia ver cada tendão, ela não parou nem uma vez no caminho para cima, ele não estava certo se ela ainda respirava, até que eles saíram no átrio arejado. Seu suspiro quando ela viu os arcos crescentes do átrio fez com que ele apreciasse a beleza do edifício novamente. Em um projeto um tanto inteligente, a metragem quadrada do piso térreo era mais ampla do que a da torre de escritório com painéis solar que estavam acima dele. O arquiteto usou os bens imóveis extras para trazer luz para as arcadas de entrada, vidros curvos cobriam tanto a entrada quanto a ilha grande aberta para as recepcionistas. Como parte da classificação ecológica do edifício, vegetação rastejava acima daqueles vidros, saudável e luxuriante abaixo de uma segunda camada protetora de vidro. O resultado final era que em um dia sem nuvens, como o de hoje, caminhando pelo salão de entrada sentia-se como atravessar uma clareira salpicada pelo sol. Mas o arquiteto foi ainda mais longe, usando posicionamento inteligente de vidro e espelhos para fazer melhor uso da luz natural. Aquela engenhosidade não só minimizou o uso da luz artificial durante as horas de luz do dia, deixando mais energia solar para o Shine vender para a rede da cidade, banhando a área inteira em um brilho dourado. Esse brilho iluminou o rosto da Katya, acariciando a beleza translúcida de sua pele à medida que ela olhava fixamente, extasiada. — Existe tanta luz, — ela estendeu a mão como se quisesse tocá-la, — é tão brilhante. Enquanto ele a observava, suas vísceras ficaram tensas, com uma raiva que não teve nada a ver com ela ser um inimigo, e tudo a ver com o mau que a prendeu na escuridão. Ninguém tinha o direito de brutalizar outro ser vivo daquele modo. Ninguém. Ainda. . . que ele soubesse que toda vez que ―conectou-se‖ com o metal, e agora com as máquinas, ele deu outro passo em direção ao tipo de mentalidade emocional que poderia aceder o sinal verde do pior tipo de tortura. A última vez que sua bisavó Maya o viu, ela juntou suas mãos e pediu, implorou a ele, para proteger a si mesmo, para ―ficar humano.‖ Mas, da mesma maneira que um empata não podia não sentir emoções, Dev não poderia não sentir o metal ao redor dele. O metal era seu escudo.


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E se esse escudo estava devagar roubando sua humanidade... aquilo era um preço que estava disposto a pagar para proteger seu povo. Seu olhar caiu sobre Katya então, e algo nele se rebelou contra o que tinha sempre sido uma aceitação absoluta. Seu rosto estava ainda erguido para a luz, as mãos penduradas frouxamente por seus lados. Prazer simples inundando cada centímetro dela, até que ele estava tentado a alcançar e tocar, ver se ele poderia absorver aquela alegria para dentro dele. Perigosa, ele pensou, ela era perigosa de muitas formas.


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— Dev! Desviando o olhar do rosto encantado de Katya com relutância, que provocou uma luz vermelha de advertência ardente em seu cérebro, ele achouse enfrentando um de seus vice-diretores. — Aubry. — Oi. — Aubry sorriu para Katya, seus dentes brancos brilhantes piscando contra a pele cor de ―Chocolate escuro delicioso‖ de acordo com Maggie. Como a maior parte das mulheres em Shine, sua secretária havia perdido seu coração para o homem negro e alto a primeira vez que ele sorriu para ela. Dev esperou para ver reação da Katya, ciente de que ele estava puxando o metal edificado dentro dele. Ela o alcançou profundamente, o fez sentir demais, deslizando em suas defesas como se elas não existissem. Katya deu o mais leve aceno. — Oi. Aubry parecia um pouco surpreso com a saudação formal. Mas ele recuperou-se rápido, acariciando seu sorriso, pronunciou. — Você precisa comer mais, querida. — A música lenta do Texas teceu através de cada sílaba fácil. Dev estava ciente de Katya mudando para mais perto dele, mesmo quando ela movimentou a cabeça. — Dev continua pondo comida na minha frente e dizendo para eu comer. A calma balançou, ameaçado quebrar. Ele atraiu mais metal, deixando o frio trabalhar seu caminho até seus muitos ossos. Mas, então, os dedos de Katya pincelaram os seus, e o metal ferveu, um calor súbito e violento que ele nunca antes tinha experimentado. Ele devia ter se movido. Ao invés, ele a permitiu emaranhar seus dedos com os seu, fechando sua mão firmemente ao redor da sua. Aubry riu. — Soa como o chefe. — Seus olhos mudaram para Dev. Temperando o calor interno desconhecido com mais metal, Dev encontrou o olhar do outro homem, sabendo que ele não poderia dar a Aubry a resposta que ele queria, não podia prometer cuidar da mulher ao seu lado, não importa que ela tenha despertado seus instintos mais primitivos. — Você precisa de mim para algo?


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— Sim. — Aubry franziu o cenho. — Eu queria examinar cuidadosamente algo novo... Dev o cortou antes que ele pudesse revelar qualquer coisa sensível na frente de Katya. — Mais tarde. Nós vamos estabelecer uma comunicação. Eu estou indo para fora da cidade. Com todo o seu charme preguiçoso, Aubry não era nada se não inteligente. Pegando nas entrelinhas, ele fechou o pequeno organizador eletrônico que ele tinha aberto. — Eu mando um e-mail para você com os detalhes, e nós podemos conversar depois que você tiver uma chance de examinar as coisas. Vejo você mais tarde, linda. Quando Katya disse, — Adeus — Dev enviou uma mensagem para o computador de bordo de seu carro, dizendo ao veículo para encontrá-lo na frente do edifício. Katya não falou novamente até que eles estavam quase no meio-fio. — Aquele homem... — Aubry, — ele disse quando o carro rolou até parar na frente dele, o sistema computronic ronronando suavemente no fundo de sua mente. — Aubry era muito bonito. — Ela soou quase perplexa. Dev usou sua impressão digital para destrancar o carro, no qual ele podia ter facilmente usado seu vínculo com o computador. Só muito poucos indivíduos de confiança conheciam seu dom com o metal, menos ainda seu desenvolvimento de afinidade com as máquinas. — Entre. — Quando ela estabeleceu-se ao lado dele, ele respondeu seu comentário de antes. — As mulheres gostam de Aubry. — Idade, cultura, classe, nada disso importa. O outro homem entrava em uma sala e as mulheres sorriam. — Eu posso ver por que, — Katya murmurou, observando-o guiar o carro no tráfico. Depois de quase um minuto de silêncio, ela adicionou, — Um Psy verdadeiro não teria notado seus olhares. — Por que não? — Dev de repente percebeu que ele parou de elaborar o metal no momento que ele teve Katya com ele. — Psy verdadeiros são silenciosos. — Correção, — ele disse. — Psy na Net são silenciosos. Psy fora da Net não são. Ambos são Psy.— E nenhum deles o afetou tão visceralmente quanto esta mulher que foi despejada do lado de fora de sua casa como lixo. — A Esquecida, — ela sussurrou em uma voz tão suave que ele teve que se esforçar para ouvi-la através das arremetidas de raiva protetora. — Eu me lembro... O menino, ele era um dos seus. Um dos esquecidos. — Apertando seu rosto, ela parou por vários segundos antes de articular um som de frustração total e absoluta. — Eu sei alguma coisa, mas eu não posso alcançar isto ainda. Algo sobre o menino. Dev podia adivinhar exatamente o que ela estava tentando lembrar, a habilidade de Jonquil de literalmente, suavemente conversar com as pessoas para fazer o que quer que ele queira, era considerado a mais perfeita das


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armas de Ming LeBon e seus Conselheiros da mesma categoria. Os Psy no poder matavam a sangue-frio com precisão, quando necessário, mas eles preferiam trabalhar debaixo do radar se possível, o que fez isto muito mais fácil do que assumissem toda a responsabilidade para os atos brutais que eles punham em movimento. Espiando por cima, ele viu Katya pressionar seus dedos nas têmporas, como se tentasse ainda uma ânsia, ou forçando a abertura do cofre bloqueado de sua memória, não importa que isso pudesse incitar uma dor ainda pior. O instinto cresceu, acabando com o homem civilizado e o controle frio do metal também. — Você quer causar um aneurisma? Katya sentiu seu corpo inteiro tenso para a lâmina desembainhada de sua voz. — Eu só quero lembrar. — A resposta irritada veio de uma nova parte sua, uma parte que não existia antes dela despertar na cama do hospital; uma parte, ela pensou com admiração, que era fresca, ininterrupta. . . a parte da Phoenix. — As memórias não vão fazer você quem era antes. — Eu não estou certa de poder qualquer coisa. — Sua garganta secou completamente quando ela vislumbrou um lampejo, uma lasca nua do tempo perdido. — Eu estava tão fria. — Você estava silenciosa. — Sim. — Ela desviou a vista para o tráfego na pista ao lado, tudo se movendo em um ritmo nítido que garantiu que não existia nenhum registro de congestionamento dentro da cidade, como havia sido no final do século XX. Se um motorista manual desviasse muito da faixa de velocidade ideal, o sistema de auxílio do carro entraria em ação, colocando-o de volta em sincronia com o resto do tráfego. Era tudo sobre programação. Assim como sua mente. — Eu sou um instrumento contundente. Não houve nenhuma advertência. Num momento ela estava falando, no próximo ela sentiu seus olhos fechando com sua espinha curvada em uma dor penetrante. Então... nada. — Katya! — Alcançando a cabeça de Katya que caiu molemente para o lado, Dev pegou seu pulso. Sua pulsação era forte, mas irregular. Onde diabos era a saída? Lá! Virando, ele conseguiu entrar no estacionamento de um shopping Center enorme situado na extremidade da rampa. Desfazer do seu cinto de segurança e movendo-se em torno do carro para abrir a porta de Katya levou apenas outros poucos segundos. — Vamos lá,— ele disse, batendo em seu rosto, — Acorde. Quando ela não respondeu, ele enfocou sua habilidade telepática residual e falou com ela, esperando que a chamada a alcançaria em algum nível, trazendo-a de volta à consciência. Katya. Um soluço em sua pulsação. É isto, seu nome é Katya.


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— Volte para mim. Você é mais forte que isto. — Outro soluço. — Katya. — Isto saiu como uma carícia, um beijo falado. Pegando nos fios pegajosos da teia de aranha que parecia ser cada vez mais fortes, Katya acalmou, escutou, ouviu um nome. Dela? Sim, ela pensou, lutando com a névoa, lutando para acordar. Era dela. A primeira respiração foi uma tossida apressada, a segunda cheia do aroma exótico de um homem com olhos não- castanhos e pele de uma bela tonalidade que ela queria saborear. — Katya, — ela disse, sua garganta estranhamente ferida. — Esta sou eu. As mãos de Dev apertaram em seu rosto, suas maçãs do rosto entalhadas contra aquela pele marrom dourada. — Precisamos levar você de volta para a clínica. — Não. — Isto saiu sem pensar, uma resposta instintiva. Se ele a levasse de volta, ela seria presa novamente, e ela precisava conseguir moverse, para chegar lá. Onde? Agitando sua cabeça para limpar a névoa, ela estendeu a mão para tocar em seu ombro. Músculo flexionado sob a palma de sua mão, e seus pensamentos ameaçaram dispersar. Então ela viu a determinação em seus olhos e soube que ela tinha que falar. — Eu acho que isto foi uma resposta para um gatilho de algum tipo. As palavras que eu disse... havia algo nelas que meu cérebro não pode processar então ele desligou por alguns segundos para permitir-me reiniciar. A expressão de Dev mudou, tornando-se quase cética na pureza gritante de seu enfoque. — Isto está voltando para você, não é? — As coisas saem de minha boca, — ela disse a ele, seu olhar preso no seu, — e então eu as conheço. — Isto fazia sentido para ela, mas ela podia ver que ele não estava seguro. — Eu não estou enganando você de propósito. — E era tão importante que ele acreditasse nela, que ele a conhecesse, entretanto ele era tudo menos um estranho. Mas Devraj Santos não era um homem que lhe daria uma resposta fácil. Então, seus cílios fecharam encapuzando seus olhos por uns segundos antes dele dizer, — eu acho que nós vamos descobrir em breve. — Levantando, ele acenou para fora do carro. — Nós poderíamos também fazer uma pausa para você poder comer alguma coisa. Ela olhou fixamente para o shopping, na massa de pessoas, e sentiu-se recuando horrorizada. — Eu prefiro ficar aqui. O olhar de Dev repousou nela para um momento longo. Ela soube que ele não tinha perdido seu recuo quando ele disse, — Eu trarei algo para você. — Fechando sua porta, ele caminhou ao redor para o lado do motorista e colocou algo no painel. — Não quero que você leve o meu carro. — Um olhar penetrante.


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Foi difícil manter seu rosto inexpressivo, sua frustração contida. — Se eu quisesse, eu poderia simplesmente ir embora. — Você esta muito fraca para ir longe. — Uma resposta altamente pragmática. — E, eu não estou dando esta chance. As portas fecharam em torno dela quando ele recuou, ativando o sistema anti-roubo do carro com o que ela achou que fosse algum tipo de controle remoto. Katya só esperou até que ele virou de costas antes de tentar reiniciar o carro. Ela tinha que chegar lá, tinha que ver, tinha que testemunhar. Isto era como um toque de tambor em sua cabeça, aquela compulsão estranha, mas ela não sabia onde tinha que ir, não sabia quem ou o que ela tinha que achar. Tudo que ela sabia era que se conseguisse se libertar, ela tinha que continuar, continuar correndo até que acabasse lá. Mas primeiro, ela tinha que escapar. Olhando para cima, ela viu a forma alta de Dev desaparecer no shopping, exatamente quando ela localizou o painel que escondia as proteções do computronic do carro.

ARQUIVOS DA FAMÍLIA PETROKOV Carta datada de 24 de fevereiro de 1971 Meu doce Matthew, O debate está assolando através da Net. Eu não posso colocar o pé no fluxo deslizante sem me envolver nisto. Existe uma sensação de descrença nesta proposta, este silêncio, que o Conselho está chamando ―nosso melhor, talvez nossa única, esperança.‖ Talvez meus medos fossem em vão. Parece que não importa os demônios que nos atormenta, no fim, nós somos tão humanos para fazer tal dano irreparável para nossos jovens. Por essa clemência, eu agradeço a Deus com tudo em mim. Amor, Mãe


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Katya quebrou várias unhas, mas o painel não se alterou. Tomou dez preciosos segundos para perceber que ele tinha ficado preso no lugar por uma segunda camada de segurança. Frustrada, ela seguiu em frente, tentando coisas que nem sabia que conhecia até que seu cérebro colocou seus dedos em movimento. Tudo para nada. O sistema do carro estava tão inexpugnável quanto o de um tanque. Desistindo quando ficou óbvio que estava desperdiçando sua energia, ela deslizou de volta em seu assento e apertou dois dedos em sua fronte em uma tentativa de seguir a linha da compulsão, descobrir se a necessidade dela de ir lá... ir para o norte, sim, norte! — era nada além de outra armadilha. A princípio, existia só a pegajosa palidez da teia de aranha, uma prisão que prendeu suas mãos, silenciou sua boca. Entretanto, ela se achou de pé em uma parte quieta, escondida de sua psique, uma parte protegida pelas asas da fênix. Aquela parte sussurrou que esta necessidade, este desejo, veio de dentro de si. Ainda, como ela podia confiar naquilo que foi feito quando sua mente era uma fendida e fraturada coisa, cheia de buracos e mentiras, ilusões e pesadelos? E se a fênix que ela tinha vislumbrado era só uma loucainduzida fantasia, algo que ela agarrou quando tudo mais tinha sido tirado dela? Um som de clicar. Ela arrebatou sua cabeça para ver a porta lateral do motorista deslizando para trás. Dev entrou, seu corpo, alto e musculoso pegando o que parecia cada centímetro de espaço disponível. — Aqui. Aceitando o recipiente de bebida que ele estendeu, ela franziu a testa. — Isto é pesado para um suco. — Milk Shake, — ele disse, desenroscando a tampa de uma garrafa de água e pondo uma garrafa vazia no suporte entre eles. — Isto é para você, também.


51 — Obrigada. — O frio do milk shake atravessou o recipiente isolado,

uma coisa pequena, mas ela se luxuriou com isto, na lembrança que ela não estava mais na escuridão. — Eu dei um telefonema enquanto eu estava lá, — Dev disse, surpreendendo-a. — A pantera? É uma memória real. — Oh. — Uma lenta flor de esperança desfraldou. — Você tem certeza? Um rápido aceno com a cabeça que enviou seu cabelo deslizando por sua testa, desenhando seu olho. Empurrando isto atrás, ele olhou para o recipiente que ela segurava. — Beba. Ciente que ela provavelmente nunca saboreou tal coisa antes, ela tomou um gole cauteloso. Nada surgiu. — O canudinho está com defeito. Dev a atirou um sorriso rápido. Isso alterou o rosto dele, deixando-o notavelmente bonito. Mas isso não era a parte estranha. A parte estranha foi que ver seu sorriso fez seu coração mudar o ritmo dele. Ela ergueu sua mão uma fração, compelida a traçar a curva de seus lábios, a ruga em sua bochecha. Ele a deixaria, ela pensou, este homem que se movia com a graça líquida de um soldado... ou um animal de rapina? — Eu disse milk shake? — Ele disse, com o riso retido em sua voz. — Eu quis dizer sorvete batido, com suficiente fruta fresca misturado a ele para transformá-lo em sólido. — Relanceando o olhar sobre ela quando ela não se moveu, ele levantou uma sobrancelha. Ela sentiu uma onda de calor através de seu rosto, e a sensação era tão estranha, que a sentiu fascinante. Olhando para baixo, ela tirou a tampa depois de remover o canudinho e olhou fixamente para os redemoinhos de rosa e branco que dominavam a mistura deliciosamente cheirosa. Intrigada, ela os cutucou com a ponta de seu canudinho. — Eu posso ver os pedaços de morango, e o que é isto? Ela olhou mais perto para as sementes pretas revestidas por rosa. — Fruta da paixão? — Experimente e veja. — Dando a ela sua garrafa da água, ele ligou o carro e os colocou a caminho. — Como eu saberia? — Ela colocou a água dele no suporte próximo à garrafa fechada. — E eu preciso de uma colher para isso. Alcançando em um bolso, ele pegou talheres envoltos em um pedaço de plástico. — Aqui. — Você fez isto de propósito, — ela acusou. — Você queria ver o quanto eu tentaria sugar a mistura? Outro sorriso, este aqui uma sombra nua. — Eu faria isto? Surpreendeu-a perceber que ele estava gracejando dela. Devraj Santos, ela pensou, não deveria ter um senso de humor. Isso foi algo que ela acabou de descobrir. E, estava errado. Isso significava que o homem-sombra não sabia de tudo, que ele não era onipotente.


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Uma cascata de bolhas faiscou por suas veias, brilhantes e efervescentes. — Eu acho que você é capaz de quase qualquer coisa. — Imergindo a colher, ela trouxe a mistura decadente para seus lábios. Oh! A fresca picada do gelo, o creme rico e doce, a fruta uma explosão ácida de sensação. Era impossível não tomar uma segunda mordida. E uma terceira. Enquanto ele mantinha seus olhos na estrada, Dev estava intensamente consciente de Katya comendo o sorvete. Ela estava tão concentrada no prazer que parecia ter esquecido tudo sobre ele. O sentimento de proteção que tinha se agarrado a ele relaxou, ele encontrou algo que ela comeria. E se ele tivesse que a alimentar com aquelas coisas pelo próximo mês, ela engordaria. Ela era de sangue inimigo. Estaria em seus melhores interesses mantê-la fraca. Suas mãos apertaram no volante. Aquela voz inumana era tanta uma parte dele quanto o sentimento de proteção, não chegando perto daquilo, mas estes dias, dominava cada vez mais. Do outro lado, ele pensou, a árvore genealógica dos Santos também era sortuda o suficiente para conter um empático, uma talentosa mulher com a habilidade de curar ferimentos emocionais, talvez o sangue da sua bisavó o salvasse de se tornar um bastardo completo e absoluto. Isso foi o que ela predisse na última vez que ele a tinha visto. — Tanto ferro em seu coração, menino, — Maya disse. — Eu toco em você e saboreio metal. — É parte de quem eu sou. — Você pensa que faz você forte. Ele não discutiu. — Isto não é o porquê meus pais deixaram a Net, — ela disse, uma carranca arruinando suas feições delicadas. — Eles lutaram por nosso direito, seu direito, de sentir, viver como quisesse. Ao invés, você está se tornando tão frio que você poderia muito bem ser Psy. Sua bisavó tinha sido uma criança na hora da deserção, e, como com os outros de sua geração, esse tinha sido o momento definidor da vida dela. O que os mais velhos não entenderam era que a guerra nunca terminou, aquelas duras escolhas de ferro foram tudo que mantiveram os Esquecidos da extinção. E Dev não era ainda bastardo suficiente para quebrar o coração de um empático. Katya suspirou, e rapidamente, ele foi arrancado de volta ao presente. — Bom? — Ele perguntou. — Eu quero comer mais, mas meu estômago está protestando.


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Ele deixou o gelo do controle ir por um momento, o calor escuro de sua natureza preenchendo os espaços vazios dentro de si. — Eu pararei num acostamento, assim você pode jogar fora a embalagem. — Eu não quero jogar isto fora. — Ela lambeu a colher com uma inocente apreciação que o acertou como qualquer coisa, entretanto. Seu corpo inteiro ficou tenso, fixado na suavidade luxuriante de sua boca, a ponta rosa de sua língua. Jesus, Dev, ele disse a si mesmo, isto é dificilmente o tempo para se pensar sobre sexo. Seu corpo tinha outras ideias. Mulheres fracas, frágeis nunca o atraíram. E Katya, ela era tudo aquilo. Mas ele se vislumbrou com a armação de aço embaixo daquela pele translúcida, aqueles olhos perdidos, quando aquela mulher se encontrar novamente, ela seria uma força para se contar. — Eu farei para você outro em casa, — ele conseguiu dizer, sua voz crua. — Nós pararemos em um supermercado no caminho e pegaremos o suprimento. — Ele não podia parar de cuidar dela. Outra debilidade pequena, outra fenda em sua armadura. — Eu posso escolher a fruta? Sua excitação era tanto um bálsamo para sua fome e combustível para o mesmo. — Como você saberá o que escolher? — Eu levarei um de cada, então decidirei do que eu gosto. — Uma resposta eminentemente prática... e ainda o vislumbre de diversão em sua voz não era nada prático, nada remotamente Psy. Se ela fosse uma arma, ela seria um golpe de mestre. Um pouco mais de duas horas depois, Katya caminhou através de uma varanda larga e em uma casa graciosa isolada no fim de um passeio longo e cercada pelo o que pareceu ser acres de árvores. Uma camada boa de neve tinha transformado a área em uma maravilha, mas era a casa que capturou seu interesse. — Você considera esta sua casa? Dev deu um pequeno aceno com a cabeça. — Quando eu posso vir a ela. Dê-me uns segundos para pôr estes mantimentos na cozinha. Profundamente curiosa sobre o homem atrás do diretor, ela girou devagar, assistindo tudo. A casa de dois níveis era larga e cheia de luz, com mobília que era elegante mesmo com a aparência de usada. Fotografias antigas adornavam algumas paredes, ela se encontrou movendo para uma em um mudo fascínio. Era uma concha situada na praia, cada ângulo preciso dela iluminado pela lente. Mas existia calor na instantânea preto-e-branco, uma sensação que o fotógrafo tinha estado encantado pela beleza do simples objeto. — Arte, — ela sussurrou, ouvindo os passos de Dev, — não é algo que um Psy aprecia. — Talvez seja por isso que o Esquecido realizou algo tão difícil. — Ele apoiou um ombro na parede ao lado da fotografia, seus braços livremente


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dobrados. — Quase todas as crianças Esquecidas são educadas com uma forte apreciação pela arte e música. Katya considerou que se isso fosse um pedaço de conhecimento que poderia ser usado para prejudicar Dev e as suas pessoas já deveriam tê-la lançado de volta no buraco, na escuridão, e decidido não. — Você prefere arte. Um aceno leve com a cabeça. — Você é muito bom. — Psy verdadeiramente não entendiam de arte, mas existia uma loja de dados em sua cabeça que disse a ela que devia aprender a como estimar isto. Porque, para aqueles da sua raça, qualquer coisa que ganhasse valor soava como investimento, queira ou não o dono realmente tenha achado o pedaço esteticamente agradável. Os olhos de Dev cintilaram quando ela olhou para ele. — Como você sabe que eles são meus? — Eles ecoam como você. — Até quando ela falou, não estava certa do que quis dizer. Ela acabou de descobrir que tinha sentido a marca dele em todo e em cada pedaço. A claridade, o enfoque, tocava com a personalidade dele. Mas aquele calor... algo tinha mudado. — Quando você fez estes? — Alguns anos atrás. Ela se perguntou o que aconteceu no tempo seguinte. Porque enquanto ele ria com ela, ela sentiu um tipo frio de distância em Dev, um sentimento que ele guardou tudo atrás de múltiplas proteções. Mas então novamente, ela era o inimigo. Por que ele deveria compartilhar qualquer coisa dele com ela? Dev bateu na fotografia da concha. — Já esteve na praia? Areias nos sapatos dela, em seu cabelo, em suas roupas. — Sim. — Agarrando a memória com as mãos frenéticas, ela esperou. — Uma vez, quando eu era uma criança. Foi... um acidente. Nosso veículo teve um mau funcionamento e meu pai teve que parar próximo à praia. — Você cresceu com seu pai? — Sim. — Novamente, fragmentos de memória, afiada, quase maligna, como se eles estivessem sendo pisados para fora das células dela muito cerebrais. — Não. Ambos. — Ambos? — Sim. — Ela agitou sua cabeça, procurando através dos fragmentos pelo pedaço que completaria o quebra-cabeça. Dor ressoou abaixo por sua espinha, mas ela achou aquele último quebrado fragmento. — Eles tinham um acordo de junção-parental. — Às vezes, — Dev murmurou, — eu penso que o Psy tem direito a seus acordos. — A expressão em seu rosto era estranhamente distante. — Deixando nenhum espaço para erro humano. — Não há lugar para qualquer coisa. — A mente dela continuava a reter tanto, mas ela se lembrou da sensação de isolamento que sempre sentira, até quando criança. — Não existe nenhum laço emocional. Meu pai


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podia facilmente ter sido um estranho, para ele, eu era um investimento, seu legado genético. — Ainda você se sente fortemente sobre ele, você o mencionou primeiro. Isso a deteve. Ela piscou, examinou aqueles olhos que ela começou a ver em seus sonhos. — Sim. Eu suponho. . . mas isto não é um paradoxo? Eu não senti na Net. Eu estava Silenciosa. — Ou talvez, — ele murmurou, estendendo a mão para deslizar uma mecha do cabelo dela atrás de sua orelha, o toque incitando uma explosão chocante de sensação através de seus nervos, — você estava simplesmente silenciada.

EARTHTWO DIÁRIO DE BORDO: ESTAÇÃO SUNSHINE 18 de maio de 2080: A equipe médica está relatando um número maior do que a média de doenças menores, com as enxaquecas sendo a principal reclamação. Os testes até o momento revelaram que um pequeno número de funcionários está sofrendo com a periódica alfinetada hemorrágica no córtex cerebral. Aqueles afetados estão sendo regularmente monitorados, enquanto uma equipe biomédica foi instruída a esquadrinhar a área para quaisquer toxinas que pode estar causando o problema. Porém, ninguém foi incapacitado ou seriamente comprometido como resultado destas enfermidades, e a produtividade permanece alta. Não há necessidade de substituir o pessoal.


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As palavras do Dev, o choque de seu toque, circularam eternamente na cabeça de Katya enquanto ele mostrava a parte de cima e o quarto dela. Aquele quarto se provou adorável e arejado, os lençóis na cama de casal um creme rico granulado com rosa. — É perfeito, obrigada. — Infelizmente, elas não abrem. — Ele movimentou a cabeça para as duas largas janelas no lado oposto do quarto. — A madeira inchou no último inverno, e eu não estava ao redor para substituir isto. Mas você conseguirá bastante ar fresco se deixar sua porta aberta durante o dia. Katya olhou para aquele rosto bonito e viu um conquistador impiedoso, um rei guerreiro cujo senso de honra nunca permitiria que ela fosse maltratada. E ainda... — É uma prisão muito confortável. — Uma baixa ondulação de raiva desfraldou-se em seu estômago. Ele não vacilou, não fingiu surpresa. — O que eu disse sobre o porquê de as janelas não funcionarem? Verdade. Mas sim, é por isso que você está conseguindo este quarto e não um do outros. — O que você espera que eu faça? — Ela acenou para a propagação infinita de verde e branco além do vidro. — Nós estamos no meio de lugar nenhum, eu duvido que eu possa encontrar minha saída se você me desse um mapa e uma bússola. — Mas o carro tem um sistema de navegação, — ele disse com quieta implacabilidade. — E também tem características de segurança que me dizem quando alguém tentou ligá-lo sem autorização. Gelo gotejou abaixo de sua espinha, extinguindo a raiva. — Eu sou uma prisioneira. É meu dever escapar. — E ir aonde? — Uma pergunta severa do guerreiro, todos os rastros de civilização desnudaram-se para longe. — Você foi despejada em minha porta como lixo. Ela foi a única que vacilou. — Isso não significa que eu não sou querida por alguém. Meu pai, por exemplo.


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— Nunca perdeu um investimento? — A navalha de suas palavras fatiou acima de sua carne, deixando-a exposta. — Sim, — ela sussurrou, querendo acreditar que o homem frio que a criou, com uma mulher tão fria, se importava se ela vivia ou morria. — Ele me ajudará. — Contra o Conselho? Não, ela pensou. Seu pai não era nenhum rebelde. Ele a educou para ser um bom soldado do Conselho. Mas ela escolheu seu próprio caminho, e naquela verdade, ela achou sua força. — Eu ajudarei a mim mesma. Dev agitou sua cabeça, luz solar cintilou no negro de seu cabelo, destacando os fios escondidos de bronze. — Você não pode nem suportar dez minutos sem suas pernas ficarem trêmulas. Ele a irritou, seu desprezo absoluto pelas habilidades dela. Ela estava em branco. Ninguém. Ela era ninguém. Mas ela se tornaria alguém, ela jurou, examinando aquele rosto arrogante. Devraj Santos iria comer suas palavras. Andando sobre suas pernas ele zombou, ela o empurrou no tórax. Ele não se mexeu nem uma polegada, mas seus olhos se estreitaram. — Pelo o quê foi isso? Suas palmas formigaram onde ela o tocou, sua pele apertou com dolorosa ânsia. — Eu quero que você parta. — Lutando a necessidade de contato tátil, ela cruzou seus braços e balançou sua cabeça em direção à porta. — Agora mesmo. — E se eu não fizer? — Ele andou para mais perto, até que eles estavam dedão do pé a dedão do pé, aqueles olhos impossivelmente bonitos dele olhando fixamente para ela. Ele era bom em intimidação. Mas ela estava longe de ser intimidada. — Então seria melhor você comer cuidadosamente, — ela disse docemente. — Eu sou uma cientista, depois de tudo. — Veneno? — Seus lábios se curvaram. — Faça isto. — Eu acabei de lhe ameaçar e você sorriu. Eu tentei escapar e você ficou bravo? — Ela não o entendia. — A ameaça, — ele disse, tocando com seus dedos na bochecha dela em uma lenta carícia, — é permissível. Afinal, eu estou mantendo você prisioneira, e dificilmente é como se você pudesse me dominar. Mas a tentativa de fuga? Isto, eu não permitiria, você pertence aos Esquecidos, e até que eu compreenda o que você está destinada a fazer, você está ficando bem aonde eu possa ver você. Ela entendeu a distinção. Quando ela lidava com Dev, o homem, ela poderia cair fora com um grande negócio. Mas quando ia para Devraj Santos, diretor da Fundação Shine, rebelião poderia custar tudo a ela. O calor que


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tinha reacendido dentro dela durante a discussão, o súbito surto de fogo, gelou debaixo do gelo da compreensão. Ela não soube o que teria dito, não soube como ele teria respondido, porque seu telefone celular tocou naquele momento. Exceto... Ele não fez nenhum movimento para tirá-lo de seu bolso. O contato de olhos mantido roubou sua respiração, ameaçando puxá-la para baixo. — Você não vai atender? — Sua voz soou cansada para suas próprias orelhas. — Não. O ferro puro da resposta fez seu coração impactar contra suas costelas. — Alguma vez alguém conversou com você sobre qualquer coisa? — Se eu estiver no humor. Suas respostas continuaram a confundindo. Ele não se comportava de acordo como seu cérebro, como seu conhecimento de mundo disse que ele devia se comportar. — O que você quer? O telefone parou de tocar. Dev piscou, uma coisa lenta, preguiçosa em conflito com a energia selvagem que ela sentiu debaixo de suas palmas. — Isto é o problema, não é?

ARQUIVOS DA FAMÍLIA PETROKOV Carta datada em 30 de novembro de 1971 Meu mais querido Matthew, Hoje você caiu de um balanço e sangrou seu joelho espetacularmente. Mas você sabe o que? Você nunca chorou. Ao invés, você ficou lá, seu rosto todo torcido e lágrimas que reluziam em seus olhos enquanto eu limpava e colocava bandagem no ferimento. Não foi até que eu o beijei para melhorar que você lançou seus braços ao redor de mim e me disse que ―doeu‖. Oh, meu bebê, você faz da minha vida uma alegria. E logo, você terá outra pessoa para brincar, seu pai me encantou para dar a ele outro filho ou filha, seu irmãozinho ou irmãzinha. Eu o amo, seu pai, homem exasperante que ele é às vezes. Mas eu me pergunto em trazer uma criança para este mundo. A maré está mudando, Matty. Hoje, Sra. Ennis me disse que talvez o Conselho esteja certo, que talvez nós devêssemos abraçar o Silêncio. Eu queria discutir com ela, mas o que eu podia dizer em face da perda dela? Ela ainda está lamentando por seu marido. Assim que os Executores pegam um serial-killer, outro toma seu lugar. Sr. Ennis foi simplesmente uma vítima entre muitos, e isso me horrorizou.


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E ainda, eu não posso aceitar um protocolo que roubaria seus sorrisos, suas lágrimas, o seu coração. Você é mais precioso para mim do que toda a paz no mundo. Amor, Mamãe


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Mudando para calça de moletom e uma camiseta sem mangas, Dev continuou a ignorar seu telefone celular a favor de um treinamento duro no ginásio instalado atrás da casa. Batendo seus punhos no saco de pancadas, livrando-se de um pouco de sua frustração, mas o deixou sem novas respostas. Katya o atraía. Simples como isto. E estava na hora dele admitir isto. Ela era o inimigo, até o advertiu de que ela era uma granada esperando para explodir em seu rosto, mas ainda assim, ela o atraía. Uma parte dele quis protegê-la, cuidar dela, enquanto a outra parte, a muitointrometida pragmática, o advertiu que fazendo assim só voltaria para mordêlo no traseiro. Ele quase a beijara lá em cima, seu corpo inteiro zumbindo com a excitação crua que veio somente por discutir com uma mulher que despertou uma paixão muito mais íntima. Ela não devia ter sido capaz de passar através do metal de seus escudos, não devia ter podido afetá-lo em um nível tão visceral, não sem uma decisão consciente de sua parte. E ainda ela conseguiu. Ela fez. Todo maldito tempo. Batendo seu pé no saco de pancadas, ele girou e desceu apoiado sobre pés no tapete de exercício. — Você é bom. Ele não girou, enfocando-se em suas próximas rodadas de socos. — Estive fazendo isto desde que eu era um adolescente. — Desde o dia em que ele percebeu que carregava dentro de si as sementes de muita violência que quebrou sua vida enquanto uma criança. — Bom alívio de tensão. Katya ficou na entrada, e ele estava cegamente ciente do olhar dela enquanto ela o assistia. Levou todo sua concentração para manter seu foco. — Nós colocaremos você para fazer algumas fáceis extensões, fortalecer esses músculos. — Você tem certeza de que eu tenho algum? Era um chute no intestino, aquela sugestão de humor. Ele olhou para ela, empurrando o cabelo úmido para fora de seu rosto, consciente do fato que


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sua camiseta estava colada em seu corpo, seus braços que brilhavam com suor. — Eu estou certo que existem um ou dois escondidos ao longo desse seu corpo esquelético. Os olhos avelã se escureceram. — Você sempre insulta as mulheres que você sequestra? Um temperamento. Interessante. — Depende da mulher. — Quantas você trouxe aqui? Nenhuma. Dev não compartilhava bem seus espaços pessoais. — Isto é assunto meu. — Enxugando seu rosto com uma toalha que ele jogou no canto, ele andou a passos largos para a porta. — Eu farei para você aquele sorvete batido depois de eu tomar banho. Ela se deslocou à medida que ele passou. Era uma coisa muito Psy de fazer. Eles odiavam qualquer tipo de contato físico. Mas Katya parecia querer isto. Irritada com a mudança, ele tomou os passos com brava confiança. E quando o chuveiro veio em frio-gelado, ele deixou isto daquele modo. Katya se curvou, segurando suas mãos em seus joelhos enquanto toda a respiração simplesmente saía dela. Querido Deus, ela sabia que ele estava em forma, mas... Ela tragou, tentado aprender de novo a respirar. Ela viu uma vez um tigre em uma reserva de vida selvagem na Índia. O trabalho dela tinha sido com uma multinacional lobista para a permissão de minerar na região, mas era a imagem do tigre que sempre ficou com ela. A graça letal, a beleza dele— até a sua mente Psy entendeu que ele era algo extraordinário. Os músculos de Dev lisos com suor, seus bíceps definidos enquanto ele esmurrava o saco de pancadas, ele tinha estado tão selvagemente bonito quanto aquele tigre, tão longe do homem no terno escuro e camisa formal quanto ela estava de Ekaterina, quem uma vez tinha trabalhado para o Conselho. Tomou toda grama de controle que ela tinha para não alcançá-lo e golpeá-lo. Ele provavelmente teria estalado fora de sua mão se ela ousasse. Retraindo outra respiração trêmula, ela caminhou através do tapete de exercício para pôr sua palma no saco de pancadas. Era pesado. E ele fez isto ir para frente e para trás como se não pesasse nada. As memórias dela dos detalhes poderiam ser aleatórios, mas ela sabia que em toda sua vida, ela estimou a força psíquica acima da física. Mas depois de ver Dev se mover, ela estava revisando sua opinião. O plano físico era tanto poderoso quanto o psíquico. Especialmente entre macho e fêmea. E pela primeira vez, ela se sentiu muito fêmea. Ela tomou uma profunda respiração, tentando achar seu equilíbrio... e ao invés pegando um eco do distintivo perfume de Dev, severo, sensual, inesquecivelmente masculino.


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Alguma coisa abaixo em seu corpo se apertou, uma sensação que para ela não tinha nenhum nome, nenhuma comparação. Era quente e apertado e... necessitado. E almejava Devraj Santos.


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Vestido novamente depois do frio bem-vindo do chuveiro, Dev levantou seu telefone para ver três ligações perdidas. Uma de Maggie, duas de Glen. Maggie deixou uma mensagem dizendo que ela havia replanejado suas reuniões, mas Glen tinha desligado ambas às vezes. Correndo seus dedos por seu cabelo úmido em vez de um pente, ele discou um telefonema para o doutor enquanto ele descia as escadas. A segurança da casa estava imperturbada, o que significou que Katya estava em algum lugar do lado de dentro. Decidindo terminar o telefonema antes de ele a localizar abaixo, ele entrou na cozinha e puxou o liquidificador. — Dev? — A voz de Glen apareceu na linha. — Onde você estava? — Ocupado. — Ele pôs o leite no balcão. — O que é? — Um dos Guardiões Shine pegou uma criança em Des Moines. Parece com um verdadeiro telepata. Dev congelou. — Eles têm certeza? — Verdadeiros telepatas eram extremamente raros fora do PsyNet, depois de seu êxodo, Os Esquecidos formaram famílias humanas e changelings, tendo crianças de raças-misturadas. As habilidades deles mudaram de modos notáveis, mas eles perderam coisas, também. A primeira a ir tinha sido a pureza de certas habilidades Psy, alguns Psy na Net podia se telepatizar ao redor do mundo sem piscar um olho. Nenhum dos Esquecidos podia fazer aquilo desde a geração rebelde. — Muita, — Glen disse. — Você conhece o Guardião, Aryan, ele mesmo tem um pouco de telepatia de baixo nível, e ele fez uma consulta por telefone com Tag e Tiara. Todos eles concordaram que a criança está limpa de sinais de fortes habilidades telepáticas. Tag e Tiara eram os mais fortes telepatas na ShadowNet, a rede neural criada pelos primeiros rebeldes quando eles saíram da PsyNet, mas até seu alcance era limitado por uma distância comparável com o comprimento e largura dos Estados Unidos. Claro, isso era impressionante por si só.


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— Ele é selvagem? — Dev teve que fazer aquela pergunta, entretanto o peso era de uma pedra em seu tórax. Ele odiava perder alguma de suas pessoas, odiava isto com uma vingança que o tornou impiedoso. — A criança estava em uma casa do estado. — A voz de Glen era apertada. — Os pais morreram em uma colisão de carro, deixando-o órfão. Os avós aparentemente nunca tiveram a licença dele pelo fato de que o pai era descendente dos Esquecidos, então a pobre criança ficou dopada por medicamentos a maior parte de sua vida, devido sua aparente esquizofrenia. Raiva irritou no intestino de Dev. Aquele conhecimento nunca deveria ter sido perdido. Todo Esquecido que foi disperso depois que o Conselho começou a caçá-los, eram informados a manter precisos registros para as muitas razões que genes latentes poderiam acordar com devastadores resultados sobre suas crianças. — A mãe tinha que ser uma de nós, também, se a criança é um verdadeiro telepata. — Aryan rastreou os registros dela. Sua tataravó era parte do primeiro grupo rebelde. — Glen murmurou algo triste debaixo de sua respiração. — O menino é frágil, Dev. Ele vai precisar de você, você tem um modo de entrar nestas crianças. Se eu não soubesse melhor, eu diria que você tem algum tipo de habilidade empática. Dev sabia que era o oposto o que as crianças sentiam nele, que ele era um pitbull, um que deixaria ninguém e nada chegar a eles. — Eu estarei lá. — E Katya? Você quer um dos outros para vigiá-la? — Não. Ela vem comigo. — Era uma resposta instintiva, enrolada em uma quase brutal possessividade. Algo nele vacilou naquela descrição, na percepção que ele estava perdendo o frio rápido e mais rápido. Mas Glen não discutiu. — Com os medicamente atualmente em seu sistema, o menino não vai ser coerente por pelo menos dois dias, então nós não precisaremos de você até então. Desligando depois de mais alguns detalhes, Dev deixou seus sentidos procurá-la. Este aspecto em suas habilidades, enquanto muito secundário no esquema das coisas, era uma interessante derivação da telepatia. Ele podia literalmente esquadrinhar uma área descontínua, corretamente identificando os indivíduos em cada quarto, e se ele fosse emocionalmente ligado a alguém, com precisão adivinhava o humor dele ou dela. Katya estava sentada no solário na frente. Seu humor estava escuro para ele, seus segredos escondidos. Batendo um vidro no balcão, ele despejou o leite no liquidificador e pegou um pouco de um pacote de mistura de vitamina e proteína. — Katya! Ela apareceu na entrada da cozinha um minuto mais tarde. — Sim? — Que fruta? Por um momento, ele pensou que ela diria a ele que não estava com fome, nesse caso, isto teria sido feio, a necessidade dele de cuidar dela era um


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maldito punho em seu intestino, uma violenta protetividade que pedia liberação. Mas ela chegou mais perto e levantou uma manga. Ele deu uma faca. — Descasque e corte. Tomando uma segunda manga, ele depressa fez o mesmo. Ele tinha feito antes dela estar a meio caminho. . . porque ela continuava lambendo seus dedos. Seu corpo inteiro se tornou uma pulsação gigante enquanto ele a assistia fechar os lábios ao redor de um dedo e golpeá-lo. — Katya. Ela corou, interpretando mal aquela única palavra cansada. — Tem um gosto tão bom. Ele não podia ajudar nisto. Levantando um pedaço do suculento pedaço amarelo para seus lábios, ele disse, — Abra. Olhos travados nos seus, ela obedeceu. Os lábios dela, suaves, luxuriantes, molhados, escovaram as pontas de seus dedos enquanto ele a alimentava com a fruta e era a coisa mais erótica que ele já sentira. — Bom? — Ele perguntou, sua voz rouca. Um aceno com a cabeça, cabelo loiro pegando a luz. — Onde está o sorvete? — Uma pergunta comum, mas o modo que ela estava olhando para ele disse algo completamente diferente. Lembrando a ele mesmo disto, todo o resto de lado, ela tinha estado inconsciente não há muito tempo atrás, ele fechou a porta com um desejo que ameaçava enfraquecer cada juramento dele, cada promessa. — Eu pegarei isto. — Adicionando-o dentro da mistura, ele terminou de misturar tudo e despejou-a em um vidro. — Você está comendo um sanduíche, também. — Eu não estou realmente com fome. — Dificilmente. O vidro que ela tinha pegado encontrou o balcão com um estrondo. — O que você fará se eu não comer? — Amarro você em uma cadeira e espero até que você decida cooperar. Então eu lhe alimento a cada mordida. — Pondo o pão no balcão, ele começou a tirar o equipamento. — Comece a fazer por si mesma, ou eu farei a escolha. Dessa vez, o olhar que ela atirou para ele era de fúria pura. — Só porque você é maior não significa você tenha que ser um tirano. — Só porque você é uma mulher não quer dizer que eu vou deixar você cair fora com uma besteira. Ela bateu com a manteiga em seu pão, então agarrou não o presunto ou queijo, mas a geléia de framboesa. — Quieto, — ela disse quando ele abriu sua boca. Levantando uma sobrancelha, ele foi para a despensa e trouxe de volta um jarro de manteiga de amendoim crocante. — Fica bom junto. Ela o atirou um olhar suspeito, mas tomou o jarro. Não dizendo nada, ele depressa pôs junto em seu próprio sanduíche, então levou isto e seu sorvete para a mesa. Katya o seguiu um minuto mais tarde, depois de guardar


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no lugar a geléia e a manteiga de amendoim com lenta deliberação, como se esperasse que ele tivesse ido durante o tempo que ela levou. Quando ela se sentou, manteve seus olhos resolutamente em sua comida. Ele estava, ele percebeu, sendo ignorado. Sorrindo, ele se espreguiçou em sua cadeira, suas pernas invadindo o espaço dela. Katya gastou sua vida com a ciência. Ela não poderia se lembrar de muito disto, mas sabia que ela tinha estado fria, tranquila, senhora de si, até sob o Silêncio. Mas hoje, com Dev, ela estava de modo surpreendente perto de perder seu temperamento. E agora mesmo, ela queria chutar os pés dele para longe de sua cadeira, ciente que ele estava deliberadamente se intrometendo dentro de seu espaço pessoal. Grandes ombros, longas pernas, músculos poderosos, e contendo arrogância. Não admira que ele a deixava louca. Mas, ela derruba seu sanduíche, sua boca de repente completamente seca. — Por que meu estado emocional não está vazando na Net? — Traindo-a, advertindo aos outros que ela era uma traidora do Silêncio. — Você disse que estava presa. — Os cabelos nos braços dela se ruborizaram em resposta ao gelo em cada palavra. — Faz sentido que a proteção não somente significa que serve como uma prisão. Tem que esconder você, também, menos pessoas que sabem sobre um cavalo de Tróia, mais dano pode fazer. — Por que você soa tão tranquilo sobre isto? — Ela se debruçou para frente, procurando por respostas. — Por tudo que você sabe, minha tarefa poderia ser matar você. — Um frio serpenteou acima de sua coluna, e ela se achou sussurrando, — Existe uma boa chance de que seja isto. Um ombro se ergueu em um negligente encolher de ombros. — Eu não sou fácil de matar. — Não seja super confiante. Eu sou uma telepata, afinal. Um silêncio. Ela piscou. Agitou sua cabeça. — Sim, eu sou um telepata de nível médio... e M-Psy. Dupla habilidade, contanto minha telepatia e meus talentos médicos medindo em torno do mesmo nível. Abaixo de cinco no Gradiente. Dev sabia que o Gradiente era a escala que um Psy usava para medir poder, com 10 sendo o mais alto nível. Aparentemente, cardeais eram imensuráveis além daquele ponto. — Mande para mim. — Dev! Se eles me acharem... — O conselho já sabe que nós temos um pouco de habilidades remanescentes, e eu não pretendo deixar você ir. — Suaves palavras, letais como lâminas. — Eu só tenho um toque de telepatia. Eu quero saber se é suficiente para ‗ouvir‘ um Psy. Ela enviou a primeira coisa que veio na mente. Você não considera a si mesmo Psy?


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Dev inclinou ligeiramente a cabeça para o lado, uma ruga entre suas sobrancelhas. — Eu quase peguei isto. Como um murmúrio muito-suave. O que você disse? Ela repetiu sua pergunta em voz alta. — Não. — Sua boca inflexível. — Os Psys romperam com meus antepassados sem um pensamento, então eles tentaram aniquilá-los. Tanto quanto estou preocupado, isso remove qualquer conexão de família. — Ele foi para frente com uma velocidade que ela não tinha nenhuma esperança de evitar e agarrou o queixo dela, seu aperto gentil, mas firme. — Você considera? Considera você mesma Psy? — É o que eu sou. — Mas a pergunta dele levantou algumas em sua própria mente, apunhalou uma dor fantasma em seu coração. — Eles me jogaram fora. Dev esfregou seu polegar acima de seu queixo, um lento, decidido golpe. — Ou você podia ver isto de outro modo. — Os olhos marrons dourados assistiam-na com o mesmo absoluto enfoque que ela viu naquele olhar de tigre. — Que outro modo? — Ela sussurrou, percebendo que estava se debruçando em direção a ele. Mas ela não podia se puxar de volta, não podia ser o Psy que suas memórias fraturadas diziam que ela era. Cada átomo de seu ser estava enfocado na aspereza da pele de Dev contra a sua, os ângulos e planos da face dele na luz do sol, a forma de sua boca à medida que ele dizia, — Que eles deram você para mim.


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Nikita se fixou no sinal da Net que estava simplesmente ―morta‖. Há quanto tempo isso está aqui? Ela perguntou a mente ao seu lado. O conselheiro Kaleb Krychek mandou para ela uma imagem psíquica. As linhas já estão correndo na rede há algum tempo agora, mas nada como isto. O que causou isto? Kaleb pausou, como se considerasse o quanto revelaria. Como um dos principais tele cinéticos, talvez o Tc mais poderoso na Net, ele exercia um controle considerável sobre a NetMind, a entidade neo-sensível da qual a Net era formada. Isso servia a Kaleb como um condutor de dados que a nenhum outro Conselheiro era capaz de coletar. Mas tudo que ele disse foi Você tem suas próprias suspeitas. Ela decidiu que não havia o que perder em compartilhá-las. A onda de violência dos últimos meses — a compulsão de matanças — deixou uma marca. Eu creio que isto seja uma cicatriz psíquica. É possível. Mas você não concorda? Eu creio que o eco daquela violência ondulará pela Net por algum tempo, mas isto fala de um mal-estar mais fundo. Você acha que a própria Net está. . . doente, ela disse, por falta de uma palavra melhor. Se isto for verdade, está começando a afetar a população. Todo Psy era ligado à Net no nível mais básico — não haveria modo de evitar o efeito pérfido se essas áreas ―mortas‖ continuassem a crescer. Talvez ela já esteja — talvez causa e efeito estejam agora trancafiados num looping contínuo de realimentação. Kaleb tocou um link psíquico para as extremidades da escuridão. Nikita o deteve. — Você pode se infetar com qualquer que seja essa coisa que está causando isto. — Não, — ele murmurou quase ausente. — Eu estou protegido. Ela sabia que era mais do que isto. Podia ser que Kaleb tinha alguma ligação com o espalhar da mancha?


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— Onde mais está tão ruim assim? — Este remendo era pequeno e isolado, como se a doença estivesse escondida. Nikita teria considerado a fissão antropomorfismo absurda em qualquer outro contexto, mas na proliferação da NetMind, a Net havia claramente provado que esse era algum tipo de organismo. — Isto é o pior, — Kaleb respondeu, recuando o link psíquico que ele costumava usar para explorar a escuridão. — É como se todas as linhas mortas tivessem migrado aqui, colecionando-se em um charco. — Isso significa que vai continuar crescendo. — A menos que nós possamos achar um caminho para anular aquelas linhas de escuridão. Ela sentiu um chamejar de advertência. — Por que você está mostrando isso para mim ao invés de mostrar para todo o Conselho? — Eles eram aliados de alguma forma, mas havia algo mais naquela declaração. — Eu pensei que seria óbvio, — ele disse. — Sua filha é um importante E-Psy. — Entendo. — E ela o entendia de fato. A última vez que a Net ameaçou se autodestruir, tinha sido porque os E-Psys haviam sido sistematicamente eliminados. Mas a situação era completamente diferente agora. — Há milhões de E-Psys presentes na Net. — O Conselho suspendeu as ordens de anulação de todas as E - concepções designadas uma vez que ficou claro que sua simples presença — não importando se seus poderes empáticos eram cruelmente contidos — ajudava a manter a fragmentação mental à distância. — Isto é algo diferente. — O problema era que ela não tinha ideia do que era.


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Estava escuro. Tão escuro. Mais escuro do que a noite, que o sol da meia-noite. Não, isso não fazia sentido. Não existia isso de sol da meia-noite. Não... Alaska tinha o sol da meia-noite. Mas isso significava que houvera luz durante todo o dia. Aqui não havia luz do dia, ou luz do sol, ou esperança. Ela tentou flexionar seus dedos e dedões do pé, mas não podia sentilos. Era como se eles tivessem sido comidos pela escuridão. Era tentadora a ideia de gritar, ouvir o som, mesmo que não pudesse ver, não pudesse sentir, mas ela se conteve, fechada junto com as paredes de sua mente. O monstro havia pegado tudo o que ela tinha. Ela não daria a ele seus gritos. Mas minutos, horas, dias mais tarde, ela perdeu a batalha e sua angústia se despejou para fora dela numa onda de som. Exceto... ela só ouviu o silêncio. A escuridão absorvera até mesmo seu grito. E assim ela soube. Ela estava realmente morta. Calor. Toque. Vida, eletricidade em sua fúria... Um beijo que exigia sua participação. Estremecendo em rendição, ela se afogou no odor dele. Selvagem e exótico. Escuro e masculino. Um homem que a entrelaçara, que a enjaulara... a alimentara. — Dev. — Falou contra seus lábios, ela estava tão relutante em quebrar seu contato. Sua boca a tomou novamente antes que ela pudesse dizer qualquer outra coisa, seus dentes se afundando em seu lábio inferior. Ela estremeceu, afundou seus dedos na solidez masculina de seus ombros. Nunca, ela sabia, experimentara algo remotamente parecido com isso. Ele era tão quente, ela queria se infiltrar nele. Sua pele queimava a ponta dos dedos dela, e queria mais, queria estar nua, com ele esmagando-a contra os lençóis, seu peso com um imóvel e pesado cobertor.


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Ofegando quando ele a soltou, ela se fixou em seu olhar, se perguntando se ele podia ler o arranhar profundo de sua necessidade. — Você voltou? — Sua voz era severa, seus olhos reluzindo brilhantes febrilmente. Seus seios roçavam contra o tórax dele a cada respiração, seus picos tão tensos pela necessidade, que era quase doloroso. — Onde eu fui? — Você estava gritando a pleno pulmões. — Ele continuou a segurá-la em um abraço que ela sabia que nunca seria capaz de quebrar. — Não acordava não importasse o quanto a chacoalhasse. — Então você me beijou. — E tinha sido, ela era forçada a admitir, uma decisão altamente prática. Mesmo um Psy quebrado reagiria ante algo completamente contra sua condição. — Obrigada — Teria sido mais prudente ter se retirado, mas ela nunca se sentira tão viva, tão real. — Eu acho... que esse foi meu primeiro beijo. Uma palavra baixa e áspera. — Inferno, eu sinto muito. — Faça novamente. As pestanas dele baixaram. Uma. Duas vezes. Ela esperou a recusa. Ao contrário, ele puxou para trás sua cabeça e roçou seus lábios sobre os dela, uma única carícia quente. Quando ela tentou se aproximar, ele recusou deixála. — Dev. — Não se apresse. — E então ele tocou sua boca contra a dela novamente, mas desta vez, ele se demorou. Agindo pelo instinto, ela bebeu aos poucos na abundância de seu lábio inferior, sentiu o calor áspero de seu corpo tenso contra as palmas que ela pressionava abertas em seu tórax. Por um segundo, ela temera que ele parasse. Mas ele aprofundou o beijo com golpes lentos e doces que fizeram os dedos dela se afundarem no firme músculo sob suas mãos enquanto seu corpo se enchia de um calor líquido. Quadris se retorcendo numa fome que pouco compreendia, ela tentou puxá-lo para mais perto. — Suficiente. — Falado severamente contra seus lábios. — Um pouco mais. — Cada quente respiração, cada golpe, cada lambida a lançava no mais sensual, no mais ordinário dos comportamentos. — Toque-me. Ao invés, os dedos dele se apertaram em seus cabelos, sua mandíbula se retesou de um modo que já se tornava familiar a ela. — Por que você estava gritando? De alguma forma, a suavidade da pergunta, a força de seu abraço, fez ser mais fácil retornar ao pesadelo. — Eu sonhei que estava no buraco, o lugar do nada, novamente.


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Algo relampejou através de seu rosto, algo tão cortante em sua fúria, que deveria tê-la feito correr. Mas tudo que ela queria fazer era desnudá-lo, sentir seu corpo duro e macho desavergonhadamente sobre o dela. — Dev... — Você está assustada, — ele disse, com os dedos no queixo dela. — Eu não vou tomar vantagem. Seus olhos imersos na tensa protuberância de sua estimulação. — Você quer. — O que nós queremos — uma voz tão inflexível quanto uma pedra — não é sempre bom para nós. Ouvindo a determinação em sua voz, ela tragou a necessidade que a persuadia a continuar empurrando-o. — Obrigada por vir por mim. — Você vai ficar bem agora? A verdade saiu antes que ela pudesse se censurar. — Não. — Sem a proteção erótica do beijo de Dev, o medo já estava se arrastando sobre suas pernas e rastejando em seus pulmões. Ele não disse uma palavra, simplesmente levantou e a cutucou para se mover sobre a cama. Ela se mexeu com vivacidade, sentindo o colchão afundar ao seu lado, enquanto ele se sentava ao seu lado. Ele estava, ela notou, vestindo apenas um par de calças de moletom, seu peitoral musculoso, plano e macio chuviscado de cabelo negro. Os dedos se fecharam em suas mãos e ela pegou seu olhar se escoando, seguindo a trilha daqueles... — Venha aqui. — Ele levantou um braço. Levantando a cabeça, ela sentiu suas bochechas queimarem. — Eu não mordo. Ela não tinha tanta certeza. Esse homem a confundia. Era tão duro quanto lindo, e ainda capaz de ser gentil que a deixava atrapalhada. Agora, ele a olhava, enquanto ela se decidia. Havia apenas uma escolha, apenas um lugar onde ela desejava estar. O gosto erótico dele ainda carregado em sua boca, ela se apressou e deitou sua cabeça sob os braços dele. Eles se enrolaram ao redor dela, moldando-a ao seu corpo. E o contato — quente, real, — Dev afastou seu medo. Quando ele puxou um lençol sobre eles, ela não protestou, comprimindo sua cabeça contra o peito dele, seus dedos se curvando sobre os cabelos crespos de seu tórax. A última coisa que teve ciência foi o bater de seu coração. Dev tirou os cabelos de Katya de sua bochecha e estudou seu rosto dormente, seus olhos demoraram na luxuriante doçura de sua boca. Fome e inocência era um inferno de uma combinação potente. Seu corpo reagiu ante a memória, desafiando seus esforços de se manter sob controle. Friccionando seus dentes, ele procurou por todos os metais da casa.


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O beijo fresco do ferro e do aço escovou sua mente, invadindo seus membros. Não duraria muito tempo, não com a forma leve de Katya descansando tão confiante contra ele — mas ele usara a calma enquanto podia, ver se ele encontrava alguma resposta para suas perguntas na ShadowNet. Ele ouviu histórias da PsyNet, de que era um campo negro infinito aceso com milhões de estrelas, com cada estrela representando uma mente, mas era um conceito que ele tinha dificuldade em entender. Como podiam as mentes permanecer completamente separadas? Fechando seus olhos físicos, ele abriu um portão psíquico e entrou no caos organizado da ShadowNet. Dados seus números comparativamente pequenos, os ―céus‖ desta rede psíquica eram extremamente diminutos em comparação a largura infinita da PsyNet, mas era uma revelia de cores, de conexões. De onde estava, podia ver as linhas sólidas que o amarravam a ambos os conjuntos de seus avós, sua ligação com avó materna era a mais forte, mas ele estava ligado indelevelmente a todos os quatro, e os dois pares também estavam conectados entre si, embora essas ligações fossem mais fracas. Mais fios o ligavam aos seus tios, tias, primos, amigos, alguns finos, alguns fortes, alguns à beira de se romperem. E então, existia a estranha linha, quase invisível, escura, que o amarrava a seu pai. Todos esses laços e linhas entrecruzadas faziam da ShadowNet um lugar cheio para se navegar. A maioria das pessoas seguia as linhas da conexão para acharem a pessoas que estivessem procurando — as vezes, as linhas ficavam tão enroladas que levavam algumas tentativas até localizar o fio certo. Mas aquele que Dev queria distinguia-se como um brilhante farol prata e duro como o titânio. Sua avó materna não levava desaforo para casa. Sorrindo internamente ante o pensamento da mulher que ele amava desde o dia que abrira pela primeira vez seus olhos e a viu vigiando-o, ele seguiu na linha prata e ―bateu‖ na porta de sua mente. Ela respondeu um pouco depois. A conversação no ShadowNet propriamente dita era difícil por causa da quantidade de ―barulho‖ psíquico, então os dois engancharam na linha sentimental que os conectava, criando um canal direto para fala e dispondo de uma privacidade inquebrável. Devraj. A energia da sua avó era forte, bonita e levava dentro dela os ecos de incensos e especiarias, sílica e calor derretidos. Um pouco tarde para chamar, beta. Só sua avó o chamava de ―criança amada‖ no idioma de sua mãe. Eu pensei que estivesse trabalhando em seus projetos. O vidro está se tornando cada vez mais teimoso com a idade. Hoje, eu quis terminar uma janela de vidro apenas o vermelho se recusou cooperar. Tornou-se laranja, ao invés.


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Ele estava acostumado com o modo que ela falava de seus preciosos vidros como se fossem seres sensíveis. Você ainda não me mandou meu presente do aniversário. Menino bochechudo. Um roçar psíquico contra sua mente, um beijo afetuoso em sua fronte. Você terá o que está vindo para você. Ele riu, e essa era talvez a única vez que ele fazia isso verdadeiramente em tempos — com ela, a única mulher que o amou, até mesmo quando ele se odiava. Nani, ele disse, usando a palavra Hindi para avó materna, eu preciso de um conselho. Você tem andado por um caminho solitário estes últimos anos. Sim. Ele nunca mentiria para sua avó. Talvez ele guardasse seus segredos mais escuros, mas nunca mentiria. O metal — eu sei que o manteve são num momento onde qualquer outra criança teria quebrado, ela disse, o calor de seu amor, uma leve brisa em seus sentidos, mas você precisa ver o que está fazendo a você. Estava, Dev sabia, se fundido em suas células. Às vezes sua mente ficava tão fresca, tão impecavelmente quieto que ele se perguntava se era sangue o que corria em suas veias, ou algo muito menos humano. Eu não posso mais evitar procurar o metal, da mesma forma que você pode parar de modelar vidro. Ferro e aço, cobre e ouro, isso tudo o chamava, ressonando em uma frequência psíquica que só ele podia sentir. Isso me ajuda a fazer o que tenho que fazer. Entender os Psys? Sim. E tomar as decisões que precisam ser tomadas. Um suspiro. O metal também derrete, beta. Não é sempre duro, nem sempre frio. Este é o problema. Algo está penetrando em meus escudos de proteções. Sem seu controle consciente? Sim. Ele disse a ela sobre Katya. Eu sou o diretor, eu não posso permitir esse tipo de abertura em minhas proteções. Não. Eu devia remover a ameaça. Matá-la, você quer dizer. Sim. Não existia nenhum choque em sua avó. Em sua mocidade, ela tinha sido um dos soldados de apoio para os Esquecidos. Esta mulher, esta Katya, ela agora disse, ela toca em suas debilidades. Os gritos de Katya ecoavam dentro dele, tão cheios de terror que ele não sabia como ela havia sobrevivido. Eu não creio que seja de forma deliberada. Talvez. Uma pausa. Se ela for uma assassina dormente, pode ser que ela tenha sido escolhida... Não, que ela tenha sido feita para desarmá-lo. Sua história não é de conhecimento público, mas também não está escondida —


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você pode acreditar que está recusando sua entrada, mas seu subconsciente obviamente já abriu uma porta para ela. Algo mudou dentro dele, atirando farpas em seu coração. Se ela tiver sido projetada para conseguir entrar sob minha pele, eles fizeram um bom trabalho. Ela deslizou dentro dele com tal cautela, o estilete perfeito na escuridão. Ah, Devraj, não soe como se você tivesse sido feito de bobo. Uma pulsação de energia amorosa que era tão familiar como o derreter da sílica de seu vidro precioso. Estou feliz por você. Por quê? Mostra que você ainda tem coração, que você não se moveu imediatamente para atacar. E eu prefiro que você tenha isso a ser o general sangue frio que não pensa em mais nada além de poder. Sua mente, ele disse, você acha que consegue desvendar sua programação? Sua avó era apenas uma remetente de médio alcanço, mas ela era muito, muito boa em desenredar laços psíquicos — Uma habilidade estranha que os Psys na Net pareciam ter perdido. Talvez não fosse mais necessário agora que eles eram Silêncio. Era muito necessário para os Esquecidos. Nani foi a que desenredou as tiras de loucura que devastaram o pai de Dev. As tiras sempre voltavam — cada vez mais rápido — mas agora eles sabiam o que esperar. A primeira vez... Dev balançou a cabeça num repúdio violento. Por um segundo, sua atenção se dividiu entre o psíquico e os aspectos físicos de sua natureza, quando Katya se mexeu. Colocando sua mão atrás de sua cabeça, ele gentilmente a pôs para dormir novamente antes de retornar para sua avó. Eu teria que vê-la. Seu tom mental era sereno, ainda não menos afiado por isso. Mas você sabe qual é o problema — nós não somos o mesmo que os Psys na Net. Eu posso não ser capaz nem de sentir as ligações que a prendem, muito menos a programação mais profunda. Em todo caso eu ainda não a quero tentando. Um Psy telepático de médio alcance poderia fazer muito estrago em um dos Esquecidos que baixara seus escudos de proteção. Você me chama quando precisar. Outro roçar psíquico. Você quer conversar com seu nana? Não, deixe-o dormir. Você sabe que ele nunca dorme enquanto eu estou acordada. Homem teimoso. Ele mandou a ela um beijo de despedida antes de sair da ShadowNet. Voltar para sua própria mente era um vôo fácil, uma verdade familiar. Ele entendia exatamente como a mulher em seus braços se sentia em ser cortada


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do plano psíquico. Deveria ser similar a ter um membro amputado, um terror claustrofóbico. Se, claro, ela estivesse dizendo a verdade. Esta mulher, esta Katya, ela brincava em suas debilidades. Como ele podia não ter visto isto? Era como se alguém tivesse entrado em sua psique e cravado uma mulher que ele simplesmente não podia machucar, não importasse o que ele dissesse a si mesmo para fazê-lo ao contrário. Mesmo agora, com a verdade das palavras de sua avó soando em sua cabeça, ele não podia repudiar Katya... não podia mandá-la de volta para a escuridão. Sua mão se espalhou sobre seu tórax. Ele sugou o ar por entre dentes cerrados. Ele era um macho sadio em seus sentidos primitivos — ele gostava de mulheres, e na maior parte do tempo, as mulheres gostavam dele em retorno. Mas ele nunca se sentira tão perto da extremidade, tão perto de perder o controle. Muitas emoções se colidiam dentro dele — incluindo a manifestação da possessividade que ainda poderia vir a soletrar sua morte. — Dev — Era uma reclamação — Pare de transmitir. Ele congelou. — Você estava escutando meus pensamentos? — Isso deveria ser impossível. Ele nunca fora capaz de enviar com ninguém a não ser sua mãe. Quando ela morreu, aquela parte dele simplesmente se silenciou. Uma sacudida da cabeça dela, com dedos coçando seus olhos sonolentos. — É como uma batida de tambor contra meu crânio — bam, bam, bam. Intrigante, ele correu seus dedos no cabelo dela. — Como você sabe que sou eu. — Se sente como se fosse você. — um bocejo e seus cílios se abriram. — E você está me dando uma dor de cabeça. Ele devia ter se sentido arrependido. Ao contrário, ele se moveu para abraçá-la com seus braços, seu corpo esbelto, mas intrinsecamente feminino sob o seu. Foram os olhos dela que o fizeram, enormes piscinas que pediam algo dele que ele nunca fora capaz de dar para ela, para ninguém. Ele tinha deixado essa parte dele no passado num quarto banhado pelo sol no dia em que ele viu seu pai fechar as mãos sempre cuidadosas ao redor da garganta de sua mãe. Sombras se moveram como faíscas claras de consciência fora de seu sonho. — Dev. — Shh. Nenhuma palavra. — Ele se assegurou reivindicando sua boca, roubando sua respiração. Não havia gentileza dessa vez. Ele a esmagou na


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cama, usou seus dentes em seu pescoço, empunhou suas mãos em seu cabelo. Só um beijo, ele pensou, só um. Então ela embrulhou seus braços ao redor ele. E ele se deu a liberdade de tomar esse pouco dela. Seus lábios se uniram numa conexão escura e sensual, cada ofego preenchido com a verdade inevitável — este momento, este beijo, era roubado. Tudo muito breve, realidade os clamaria. E quando o fizesse, Dev ou teria que destruir seu sorriso inocente, barbarizar seu coração... ou trair todos os votos que ele já fizera.

ARQUIVOS DA FAMÍLIA PETROKOV Carta datada de 4 de março de 1972 Querido Matthew, Algo extraordinário aconteceu hoje. Eu ainda não tenho certeza se acredito. Catherine e Arif Adelaja apareceram em público pela primeira vez em uma década — com seus gêmeos, Tendaji e Naeem. Os meninos são adolescentes, fortes e bastante bonitos. E eles estão no Silêncio. Arif fez um discurso, dizendo que ele e a esposa tiveram — espere, eu tenho uma ideia. Eu farei uma cópia das partes relevantes desse discurso na carta. Quando você for mais velho, te dará um vislumbre do estranho mundo no qual você cresceu, no qual sua irmã nascerá. Como muitos de vocês, Catherine e eu perdemos muitos membros da família para as devastações de seus dons. Alguns simplesmente desmoronaram sob pressão, enquanto outros quebraram de um modo mais violento, tomando incontáveis homens, mulheres e crianças com eles. Nós perdemos nossa filha mais nova por um surto psíquico que destruiu uma família amiga, tornando-a uma criatura malévola irreconhecível. Tilly era uma doce e gentil mulher que amava crianças, e ainda assim naquele dia, ela usou sua telepatia para quebrar a mente de nossa Margaret enquanto nosso precioso bebê gritava e gritava. De fato, nós perdemos duas pessoas naquele dia. Margaret para a loucura de Tilly, e Tilly para seu próprio horror e culpa. Nós nos recusamos a perder mais pessoas que amamos. E é por isso que temos trabalhado para conter a emoção de nossos filhos desde o momento de seu nascimento. Talvez alguns de vocês nos chamem de monstros, mas hoje,


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nossas crianças estão vivas ao nosso lado, com total controle de seus dons. Nós os demos vida. Eu entendo o pesar de Arif — Eu tinha apenas vinte anos quando ele e Catherine perderam Margaret, mas eu nunca vou esquecer seu lamento e agonia na noite em que ele encontrou o pobre e doce bebê. Isso o devastou, devastou aos dois. O homem que eu vi hoje ainda carrega sua cicatriz emocional. Eles são tão sinceros e verdadeiros que ele não consegue ver o paradoxo em suas palavras. Para salvar aqueles que ele ama, ele está disposto a destruir a própria capacidade de amar? Como isto é, de qualquer forma, uma resposta? Mamãe


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Katya aceitou a oferta de Dev de fazer um passeio sem hesitação na manhã seguinte. Algo mudou entre eles na noite passada — ela podia sentir isto profundamente: Um puxão sutil, um laço começando a ser formado. Mas essa não era a mudança que a deixava aflita. Dev caminhou ao lado dela, mas o homem que a havia beijado com tal paixão que a chamuscara a alma não estava mais lá. Apenas o diretor, duro, focado e inalcançável permanecia. Enquanto ela observava os dentes dele se afundarem na tenra carne de uma maçã vermelha e brilhante, ela não pode evitar lembrar esses mesmos dentes arranhando seu pescoço, mordendo sua orelha. Ainda assim parecia impossível que esse frio estranho fosse o escuro e sensual homem que tomara sua boca até que ela se sentisse marcada até o mais íntimo de seu ser. — Talvez ele tenha me feito um favor, — ela disse quando o silêncio se tornara esmagador. — Ele? — O Homem-Sombra. — A teia de aranha em sua mente pulsou, um lembrete constante de que ela era, no final, nada apenas uma marionete. Suas mãos se fecharam em um punho. — Por ter quebrado meu Silêncio. — Há formas de fazer isso sem destruir o indivíduo. — Ele jogou o caroço da maçã sob a vegetação rasteira, sua jaqueta salpicada de neve que caiu de um galho pendido. — Vamos por aqui. Ela o seguiu pelos pinheiros cobertos de neve, mas sua mente se voltou para si mesma. Pela primeira vez desde que acordara, ela olhou para dentro de si, examinando seus limites de controle — de compulsão — aquilo que rondava em sua psique. Cada um era como arame farpado. Arrancá-los fora poderia destruir partes dela, talvez causar danos em seu cérebro. Teria sido mais fácil desistir, mas ela escolheu deixar que a brutalidade incitasse as chamas ferventes de sua raiva. E quando ela viu o caminho, ela não hesitou em tomá-lo. As videiras arrancadas de cada lado de seu controle, drenando sangue que parecia real, o odor acre de sua textura em suas narinas, mas ela o superou, determinada a achar respostas, determinada a se reencontrar.


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Dois passos depois, o terror trespassou por sua mente, até chegar a seu coração. — Dev. — Um apelo rouco ao homem que parecia ter congelado seu próprio coração com o amanhecer. Ele pegou sua mão, o calor dele encharcando sua pele, através de seu sangue, até suas células. O terror permaneceu, mas agora ela o entendia. Era um medo implantado, desenhado para impedi-la de alcançar o final da estrada. Sua mente parecia estar banhada de sangue quando terminou a tarefa, mas ela não parou. E lá estava, enterrado tão profundamente que era tão parte dela como o bater de seu coração — sua ligação com a PsyNet, com a realimentação biológica que impedia seu cérebro Psy de morrer. Ela olhou para a coluna sólida de luz, brilhante e entendeu que não havia meios de escapatória. O link a içou diretamente para dentro da fibra da própria Net, mas não era um túnel. Não, esse era o mais sólido dos condutores, seu único propósito era mantê-la viva. Para sair, para efetivamente sair da Net, ela teria que achar a saída. Ela já tentara uma vez, mas então ela estava fisicamente fraca, sua mente em caos. Era possível que tivesse deixado passar alguma coisa. Hoje, ela dava cada passo com lentidão deliberada... e ela a achou. A porta psíquica estava escondida atrás de várias camadas de arame farpado. Engolindo, ela empurrou suas mãos através dos rolos maldosos e fendeu uma abertura de poucos milímetros. Escuridão. Não a escuridão da Net, mas a escuridão de uma proteção. Ela sabia que a proteção tinha sido criada pelo torturador dela, que se ligava a ele em algum nível. Mas... — Não é um controle mental, — ela disse — Não é um link aberto. Isso tomaria muita energia. — Então ele a prendera na mente dela, dando-a instruções e deixandoa livre. — Ele não sabe o que eu sei, não vê o que eu vejo. O aperto em seu coração se desfez. — Você provavelmente está programada para contatá-lo se descobrir algo importante. — O tom de Dev era calmo ao momento em que ele parava numa pequena clareira iluminada por um raio de sol — Poderia ser tão simples quanto uma chamada telefônica. Fechando a porta psíquica, ela retornou ao caminho e voltou completamente ao mundo. Era um esforço tão grande manter seus pés no radiante branco da neve e se dizer que não estava sangrando. — Eu não acho que eu estivesse destinada a sair viva. Os tendões da mandíbula de Dev se repuxaram brancas sobre o osso. — O que você viu?


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— As raízes do meu controle, elas estão enterradas bem fundo. Eu não achei nenhum jeito de tirá-las de lá mesmo se eu descobrisse como sem me matar no processo. — Ele deve ter a chave mental para destrancá-la de modo seguro. — Não que ele vá me dá-la. — Ela deslizou suas mãos dentro dos bolsos de seu casaco, com calafrios até a alma. — Então, já que estou morta de um jeito ou de outro, você quer saber o que quero fazer agora? Dev apenas a observou com aqueles olhos incrivelmente salpicados de âmbar. — Eu quero seguir a única coisa que me resta, meu instinto. — E o que ele está te dizendo para fazer? Ela encontrou seu olhar, esperando por entendimento, por liberdade. — Para ir para o norte. Mas foi o frio que a encontrou. Gelado, branco... metálico. Dev tinha intenção de continuar a conversa, mas deveria retornar a casa para descobrir como andava a situação. — Nós conversaremos sobre isso depois, — ele disse para Katya. — Não há muito que dizer. Você me deixará ir? — Você sabe a resposta. — Diga-a. — Seu corpo tremia, suas mãos em punhos ao seu lado. Bravo com ela por exigir algo dele que nunca poderia lhe dar, ele respondeu abruptamente. — Não.

Ainda sentindo o impacto de seu recuo muitos minutos depois, ele mudou a tela limpa de seu computador para o modo de comunicação, discando para Aubry. — Maggie disse que temos um levante acontecendo. O outro homem acenou, com o rosto severo. — É um dos mais novos, vinte anos que pensa que sabe tudo que precisa saber. — Eles estão com Jack? — Seu primo que ficava do outro lado da cerca de Dev, no ponto mais crítico para enfrentar seu pessoal, mas ele nunca atacara Dev pelas costas antes. Aubry balançou a cabeça. — Parece algum tipo de grupo universitário ―radical‖. Punks catarrentos não são tão radicais quanto pensam que são.


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— Dê-me o resumo. — Eles acham, e eu cito, que ―não há motivos para que a família deles esteja atada ao Shine‖. De acordo com Beck, o bonitão que está liderando a investida, nós somos um ―anacronismo‖ que não tem propósito de existência na sociedade de hoje em dia. — Uma bufada. — Eu acho que é hora de nós mostrarmos a eles a porra da realidade — essas crianças torturadas que sobreviveram... — Não. — Ira infundiu no sangue de Dev ao lembrar-se das crianças Shine que haviam sido perdidas pela lógica fria e desgraçada do Conselho, crianças que haviam sido assassinadas apenas pelo fato de serem o que eram. A carranca de Audbry era de puro assombro. — Por que infernos não? — Eu não usarei essas crianças novamente. — Era uma linha que ele desenhara na areia. Ele tivera que usá-las uma vez, para salvar aqueles que ainda estavam vivos. Isso o assustara. Mais uma vez e ele estaria tão do lado errado da linha que não haveria redenção para ele. — Yeah, ok. — Aubry esfregou uma mão no rosto, tendo o pesadelo marcado em sua memória, também. — O que faremos com o grupo de Beck então? — Daremos o que ele quer. Tire os do registro Shine, deixe os saber que não mais esperamos pela ajuda deles se o chamarmos. — Aqueles com dinheiro contribuíam com os cofres, mas as exigências básicas eram para os serviços. — Dev. — Aubry olhou preocupado. — Eles são apenas crianças estúpidas, eles não sabem o quanto fazemos, o quanto eles podem precisar de nós no futuro. E as crianças deles? Alguns dos genes recessivos podem se expressar saindo do nada. — Eu sei. Mas não podemos nos dar ao luxo de mimá-los. — Era uma decisão difícil, mas tinha que se focar naqueles que ele podia ajudar, podia salvar. — Eles são velhos o suficiente, se querem sair, deixe-os ir. Aubrey encontrou seu olhar. — Amor rude? — Você não concorda? — De fato, nesse caso, eu concordo. — Um sorriso cortante. — Vamos ver quanto tempo eles aguentam sem a linha de informação do Shine. — Sim, sim, exulte-se a vontade. — Aubrey foi o que viera com a ideia de criar uma linha de informação mantida pelos membros mais velhos dos Esquecidos, pessoas que entre eles, e com os recursos de Dev e da diretoria, poderia responder quase qualquer questão que seus descendentes pudessem ter. — Eu irei, obrigado. — Os olhos de Aubry cintilaram. — Eu fiz um turno nos telefones na outra noite e tinha uma criança anônima que ligou. Ele queria saber se era normal ver tudo triplicado.


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— O que você disse a ele? — Para ir checar os olhos e depois me ligar de volta. Dev riu, mas era um som vazio. Nada podia aliviar o aperto ao redor de seu coração, porque não importava quão se esforçasse para manter distância de Katya, o metal continuava a derreter por ela, ainda queimava por ela... pela única mulher que ele jamais poderia ter. — Algo mais que eu precise saber? — Jack está quieto, não sei quanto tempo durará. O aperto se retorceu, impulsionado por outra camada de emoção. — Eu entendo o que o guia. — Dev disse, observando a paisagem coberta de neve que se espalhava além das janelas. — Faz disso um inferno de difícil para se jogar pesado. — O fato de ele ser seu primo não ajuda. — Não. — Dev passou a mão no cabelo. — Se ele está quieto, deixe isso para lá por agora. Não é exatamente um problema para o qual nós tenhamos uma resposta. — Nós teremos que pensar em algo, logo. Ou há a chance dos Esquecidos se fragmentarem novamente. — Eu sei. — Se recostando na cadeira, ele percebeu um brilho de ouro pálido em sua mesa... um fio do cabelo de Katya. Poderia ter sido trazido para o estúdio pelo seu corpo, mas havia uma chance de que ela tivesse estado ali. Ela pode não ter pegado nada, mas Dev sabia bem que ela não devia estar tão livre para se mover, para sabotar. Desviando o olhar para longe do fio dourado, ele se forçou a voltar sua atenção ao problema que tinha em mãos. — Tudo bem se você continuar de olho nessas crianças da academia? — Yeah. Eu vou etiquetá-los nos arquivos, se eles se decidirem saírem como lobos solitários, nós precisamos ser capazes de interferir se eles tiverem crianças com genes Psy ativos. — É para isso que a Shine sempre existiu. — Proteger as crianças. E se isso significasse a morte de um cientista Psy... A mão de Dev envolveu um peso de papel com força suficiente para quebrá-lo.

ARQUIVOS DA FAMÍLIA PETROKOV Carta datada de 7 de junho de 1972 Queridíssimo Matthew, Eu não sei direito o que escrever, então talvez eu deva escrever o que aconteceu exatamente como foi e deixar que você pense o que achar que é.


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Essa manhã, por todas as chances de coincidência, eu conheci Tendaji e Naeem Adelaja. A família estava agendada para vir ao bloco do governo para uma reunião com o Conselho, e a segurança, como você pode imaginar, estava cerrada. O irmão mais velho deles, Zaid, tem tanta dor nele, e ainda assim, também tanta convicção. Assim que olhei em seus olhos, eu soube que ele faria qualquer coisa por Mercury. Mas estou me adiantando. Meu trabalho como ajudante do Conselho Moran me permite certa liberdade com a segurança, embora não o suficiente para encontrar Adelajas, agora que eles se tornaram tão importantes para nossa raça. Hoje eu cheguei mais cedo, porque eu tinha um relatório para completar, e no momento em que estava passando pelo lobby, eu vi três homens entrarem no elevador que vai para o nível de segurança. Eu não tinha pensado sobre isso até que alguém chamou meu nome. Quando virei, Zaid segurava o elevador. Ele se lembrara de mim de quando os Adelajas viviam na mesma rua que seu pai e eu, na época do primeiro casamento. Bem, eu fui até eles e os três garotos voltaram para o lobby, e nós pudemos conversar um pouco por alguns minutos antes da reunião deles. Zaid... Eu sempre gostei de Zaid. Ele era uma criança tão solene, eu sabia em meu coração que ele carregava o fardo de um poder terrível. Agora ele me lembra um soldado, forte, determinado, orgulhoso. Além dele, seus irmãos gêmeos mais novos eram magros e tão gelados que eu quase conseguia sentir o gelo em sua respiração. Tendaji falava pelos dois — eles eram educados, de forma tão precisa, e a inteligência deles não poderia ser negada. E ainda assim eu me sentia conversando com duas sombras — era como se algo importante estivesse faltando. Não, eu não estou sendo clara. Não faltando, morta. Assassinada. Como se parte deles tivesse cessado sua existência. Eu não disse nada a respeito, é claro, passei a maior parte daquele breve encontro falando com Zaid. Eu esperava que um dia ele achasse paz. E eu não poderia falar naquele dia, havia um senso de propósito dele que falava de paz. Se aquilo fosse verdade, então talvez esse Silêncio tivesse uma chance? Mas Zaid, com sua coragem, sua força e sua vontade, não era o futuro. Seus gêmeos o eram. E eles estavam tão longe da humanidade que eu temia pelo curso que a beleza selvagem de nossa raça tomaria. Irá um dia a PsyNet se tornar negra e nossas mentes em geladas e isoladas estrelas? Eu não sei. E isso me terroriza. Com todo meu amor, Mamãe.


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Katya saltou quando Dev entrou na sala ensolarada, onde estava vendo arquivos de notícias na esperança de ativar novas memórias. Os olhos dele foram ao pacote de guloseimas em suas mãos. Calor queimou através de suas bochechas. Ela tinha tudo, mas devolveu a ele quando ele estendeu-lhe a mão depois do ―não‖ seco sobre ir para o norte. Agora frustração, raiva, necessidade, tudo se misturava dentro dela, roubando sua voz. A única coisa que podia fazer era observar a força contida dele enquanto ele dava a volta para se sentar ao seu lado no sofá. — NewsNet, — ele disse, pegando o controle remoto. — Essa é a máquina de propaganda do Conselho. Sua paralisia se quebrou ante a face arrogante dele. — Não é. — Ela tentou pegar o controle de volta, mas ele segurou a uma distância segura dela. — O que você está fazendo? — Aqui. — Seu corpo como uma linha de calor contra o dela, ele mudou para um canal desconhecido para ela. — CTX é o que você quer assistir, eles são os que desvendaram a história de Ashaya, e estão agora investigando uma série de levantes de violência pública dos Psys. Desgostosa e incapaz de se desviar dele a despeito de estar fervilhando de raiva, ela assistiu. — É muito energético. — Nenhum repórter da NewsNet gesticularia de forma tão selvagem, muito menos tal linguagem emotiva. — Humm. — alcançando o pacote, Dev roubou um pouco das guloseimas, jogando-as em sua boca com um gesto suave que lhe roubou o interesse de uma reportagem que parecia ser de algum tipo de algum distúrbio político no Sri Lanka. Puxando ar numa respiração funda, ela tentou se focar. Mas o cheiro de Dev, rico e selvagem, com uma extremidade de aço, se acomodou em todos seus sentidos, mantendo-a escrava. Ele lhe lançou um olhar no mesmo instante e no espaço de um único segundo, tudo parou. Dev quebrou o contato eletrizante colocando um braço ao redor dela. Ela resistiu. Foi naquele instante passageiro, ela vislumbrou milhares de sombras em seus olhos. — O que acontecerá quando voltarmos à Nova York? — Depois, Katya.


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Balançando a cabeça, ela se virou para empurrar seu peito. — O pretexto acabou noite passada. Com a dolorosa verdade daquele beijo. Ele fechou as mãos ao redor das dela, segurando suas palmas contra aquele peitoral que ela se doía pelo direito de golpear. — Algumas horas mais, — ele disse, sua expressão dura com coisas não ditas. — Você quer que isso acabe tão cedo? Não, ela pensou, não. Mesmo se sua relação fosse fragilmente construída sobre esperanças que jamais sobreviveriam na dureza da luz do dia, ela queria se agarrar a isso com toda sua força. Cedendo, ela voltou a se acomodar ao seu lado, curvando seus dedos gentilmente em seu peito, seus joelhos se apertando contra a coxa dele, com as pernas dobradas e os pés apontando para longe dele. O queixo dele roçou em seu cabelo quando ele disse. — Veja isto. Levou alguns segundos para sua emoção cessar e perceber a importância do que a repórter dizia sobre os problemas na capital legislativa de Sri Lanka. — Ela está falando sobre os Psys. — Sua boca caiu aberta. — A repórter disse que os Psys atacaram um prédio do governo! A mão livre de Dev descansou sobre o joelho dela. — Apenas quatro pessoas, — ele murmurou, — mas essas quatro mais do que deveriam viver sob o Silêncio. — Aquela é Shoshanna Scott! — Arruinada pela memória, pelo logro da conexão do reconhecimento, ela teria dado um solavanco se Dev não a estivesse sustentando. Na tela, a esbelta morena esperou até que os repórteres se calassem para que ela fizesse seu pronunciamento, seus olhos azuis pálidos contrastavam com seus negros cabelos e sua cremosa pele branca. Shoshanna Scott era a face pública do Conselho por uma razão, ela tinha uma aparência de tal beleza delicada que as pessoas esqueciam que os Psys comandavam com suas mentes e não com seus corpos. — Esse foi, — ela começou com uma voz clara, — um incidente provocado por Jax. Katya não conseguia acreditar, suas memórias, débeis como eram, lhe dizia que o Conselho preferia reservar esse problema de droga Psy aos cantos obscuros. — A fraqueza psicológica, — a Conselheira Scott continuou, — herdada por aqueles que sucumbiram à droga Jax não é, infelizmente, uma condição genética na qual possamos nos proteger.


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— Conselheira! — Um homem baixo com um cabelo denso se levantou, seus olhos iguais aos de um rottweiler1. — Há rumores de que esse incidente foi provocado por um Psy que cedeu aos seus sentimentos. Qual sua resposta para isso? — É uma afirmativa absurda. Psys normais não sentem. — Esperta, — Dev murmurou, traçando sua mão até sua panturrilha numa carícia que despedaçou a concentração dela. — Ela está marginalizando-os, mais efetivamente tornando-os não-Psys. Outro repórter se levantou, quando Katya percebeu que ele puxava seus pés debaixo dela e os punha sobre seu colo. — Dev... — Shh. — Os olhos dele na tela, mas os dedos continuavam a viajar suavemente pela sua panturrilha. — Ouça. Ela forçou sua atenção de volta na tela, ouvindo apenas o final da nova questão. —... Jax é um problema para os Psys? — Para os mais fracos entre nós, sim, — Shoshanna disse. — Alguns indivíduos têm defeitos intrínsecos. A reportagem foi cortada por um momento, com o âncora fazendo uma curta análise. — Ela tomou o golpe mais leve, — Katya disse, sua pele se retesando com cada toque lânguido de Dev, — fazendo público que Jax é o problema, no lugar de admitir que os Psys estão começando a quebrar o Silêncio. — É, é o que penso também. — As mãos dele se fecharam em seu tornozelo num aperto que gritava como posse. — Não está de fato admitindo nada, não é? Todos sabem que alguns Psys usam Jax. Os viciados são difíceis de não se perceber. A carícia preguiçosa de seu dedão sobre seu tornozelo. As coxas dela se pressionaram numa resposta instintiva que ela pouco conhecia. Arrastando sua respiração, ela tentou encontrar sua linha de pensamento. — Mas é a questão mais a fundo que é interessante, a natureza pública dos colapsos. — Esses quatro não são os primeiros, — ele disse, sua respiração se misturando com a dela à medida que seus rostos se aproximavam cada vez mais. — Houve uma erupção de incidentes parecidos não muitos meses atrás. Eles estarão nos arquivos da CTX. Deveria ter sido um pedaço de informação alarmante, mas... — Eu trabalhei com Ashaya por anos. Eu sempre soube que havia algo imperfeito sobre seu Silêncio. E se havia um, por que não mais? — Pare com isso. 1

Raça de cachorro.


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Só então ela percebeu que o estivera acariciando por sobre o fino algodão de sua camisa. — Eu... As mãos dele se fecharam em seu cabelo, puxando sua cabeça para trás e cortando suas palavras. Ela se encontrou olhando para um rosto que facilmente poderia ter pertencido a algum senhor das eras escuras de guerra e conquista. Devraj Santos, ela pensou, faz um bom show de como ser civilizado, mas despido disso esse era ele em sua essência. Duro. Implacável. Quase possivelmente sem misericórdia. — Olhos tão grandes, — ele murmurou. — Você não sabe que não pode brincar com o que não é capaz de lidar? — Eu imaginei, — ela disse por uma garganta que ficara tão seca quanto à poeira, — que meu status como uma possível espiã inimiga me salvaria. Exceto que de alguma forma, ela estava jogada sobre seu colo, seu coração batendo ao ritmo do dele. — Ninguém disse, — ele murmurou com aquela voz atrativa e baixa dele, — que eu não poderia tê-la em nenhum dos modos. Os lábios dele tocaram os dela. A intensidade do ato fez com que seus dedos dos pés se curvassem. — Você não pode. Mas as mãos dela estavam no pescoço dele, embora como ela ousava tocar um homem tão perigoso como ele, ela não sabia, não importava quão manso ele parecesse, ele não o era, e jamais o seria. — Não? — Com outro toque rápido, a mão que estivera na perna dela se fechou gentilmente em sua garganta. — Não, — ela sussurrou. — Eu ou sou uma inimiga ou... — Ou? — Ele sorveu seu lábio inferior, um pequeno e latente beijo. — Exato. — Saiu dissonante, seu batimento cardíaco pulsando em cada polegada de seu corpo. Ele lhe deu outro desses pequenos beijos enlouquecedores, fazendo com que os dedos dela se afundassem em seu pescoço, seu corpo se contorcendo impossivelmente para mais perto. Algo luziu nos olhos dele, um brilho do que parecia ser ouro. Então a cabeça dele baixou e ela esqueceu tudo, exceto o prazer que arqueava pelo seu corpo. Agarrando os lábios dela devagar, num beijo tão lento, ele a enlouqueceu dando-lhe apenas o que ela queria. O calor dele era uma onda contra o corpo dela, fazendo com que seus mamilos doessem, o suave algodão de seu sutiã de repente parecendo intolerável. Isso teria feito um Psy ―normal‖ se retirar, lutar para se reiniciar o condicionamento. Mas Katya almejava pelas sensações, o sentimento de estar viva, de existir.


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Aqui, com Dev, não havia espaço para a loucura que a perseguia na escura e disforme câmara, onde a temperatura nunca mudava, e ninguém falara com ela por tanto tempo, que teria se humilhado por uma simples expressão de bondade humana. Dentes se afundando de forma muito deliberada em seu lábio inferior. Ela abriu seus olhos e encontrou-o observando-a com o olhar brilhante de um tigre que avistara sua presa. Quando ele soltou seu lábio molhado pelo beijo, ela ficou no lugar, sentindo a pulsação dele pela sua palma, uma pele quente e de alguma forma intrigantemente mais áspera do que a dela, seu corpo tão grande, tão forte que bloqueava o mundo. Como seria se ele a cobrisse com esse calor rústico de macho, se ele simplesmente a pegasse? Ela estremeceu. Roçando seu dedão sobre a concavidade sensível na base do pescoço dela, ele disse: — Em cima ou em baixo? — O que? — Ele lera a sua mente? — Em cima ou em baixo? — ele repetiu gentilmente. Ela estava de repente incerta se ela não estava numa situação na qual teria dificuldade de lidar. Devraj Santos não era do tipo de homem que uma mulher se inclinava. Ele não apenas tomava, ele demandava, e se essas demandas não fossem atendidas... Ele não seria um amante fácil. Como suas próximas palavras o comprovaram. — Você gostaria que eu te beijasse aqui... — o roçar de seus nós dos dedos perpassaram pelos seus seios —... Ou mais embaixo? — Uma grande mão se fechou sobre suas coxas. Dev sabia que tinha que parar, que ela o odiaria no dia seguinte se isso fosse mais longe. Mas ele usou seu autocontrole na noite anterior. Nenhuma quantidade de metal conseguiria que ele parasse agora. Tudo o que ele queria era deixá-la nua e prová-la. — Eu sou um bastardo egoísta. Os olhos dela estavam quase como verde puro quando ela o olhou. — Não se você for aquele que está sendo beijado. Ele congelou. Antes que ele pudesse se retirar dessa situação, ela já puxava sua camisa, com claras intenções. Ele não argumentaria. Soltando-a apenas por alguns segundos que levaram para tirar o suave algodão de sua cabeça, ele mudou a posição deles até que ela estivesse sentada sobre ele com as pernas abertas, com os cabelos brilhando na luz torrencial do sol que entrava pelas janelas a sua direita. — Eu sou seu, — ele sussurrou, sua voz rouca com a ferocidade de sua fome. — Faça o que quiser, o que te agradar. Ela espalhou seus dedos no peitoral dele, o impacto disso indo direto ao seu pênis.


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— Eu quero... — A voz dela sussurrou enquanto seus dedos o acariciavam, leve, tão levemente que o corpo dele arqueou para cima, implorando por mais. Ela estremeceu e se curvou para ele... então chacoalhou a cabeça. — Não. Tomou quase um minuto até que ele achasse sua voz. E mesmo assim, ela saiu grave e rouca. — Tem certeza? — O que acontece se eu insisto em seguir para o norte? — As mãos dela se removeram, acidentalmente derrubando o pacote de guloseimas no chão. E ele soube que o momento para ilusões acabara. — Eu não posso deixá-la ir. Olhos castanhos se prenderam nos dele, com um intento inconfundível. — Você pode tentar me segurar. Você vai falhar. — Eu não estou acostumado a falhar. — Dev, eu não tenho nada a perder. — Palavras comedidas, mas a vontade dela era como chamas azuis de aço. — Eu sei que estou procurando embaixo de um barril de pólvora que vai explodir no meu rosto. Então, se for necessário, eu cortarei minhas mãos para retirá-las de algemas, quebrarei meu tornozelo, farei o que for preciso para escapar. As imagens sanguinárias atingiram-no duras, brutais e inclementes. Ele ouvira palavras como essas antes. Do homem em seu antigo batalhão até que ele fora enclausurado, sem escapatória. Todos os sete sobreviveram, porque eles não se importaram se morreriam ou não. Melhor sair lutando do que viver como um prisioneiro do inimigo. Katya faria exatamente o que estava dizendo se ele tentasse segurá-la. E ele faria tudo em seu poder para detê-la. — Você ainda é uma ameaça, — ele disse, sabendo que estava rompendo as novas e frágeis ligações entre eles, arruinando-as sem possibilidade de reparo. — Eu farei de tudo para detê-la. Katya sentiu um indesejável sentimento de surpresa. Dev, ela percebeu, fora muito cuidadoso com ela. Ela pensou que o conhecia, mas ele não mostrara o lado inteiramente implacável de sua natureza, até o momento. Embora sua voz fosse macia, tudo nele dizia que o que ele falava, que essa era a verdade crua. Ele a trancaria e jogaria a chave fora se isso fosse necessário. E ela não tinha como lutar contra ele. Irritada com sua própria impotência, por sua esperança boba de que ele mudaria de ideia, ela se afastou dele. As mãos dele se apertaram nos quadris dela pelo mero fato de ser o instante anterior ao que ele a deixaria ir. Movendo-se para o braço de uma cadeira, ela se cobriu com seus braços.


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— Eu quero ver Ashaya. Era uma pequena rebelião, um lembrete de que ela não estava tão só quanto ele pensava. Ele não colocou a camisa, um Deus bronzeado sob a luz do Sol. — Você não parecia desejosa de conversar com ela quando veio visitar. — Eu estava envergonhada. — Incapaz de parar seus olhos de beber da viciante beleza dele, ela se levantou e andou até as janelas para contemplar o nada. — Eu não tinha entendido então, mas agora eu sei. — Ela vai adivinhar... — Não importa! — Passando uma mão pelos cabelos que começaram a brilhar mesmo sob o sol de inverno, ela encostou a testa no vidro. — Eu preciso encará-la, dizer o que eu fiz. A voz de Dev soou logo atrás dela. — Você se lembrou de mais. — Eu sonhei. — Sonhos horríveis. — Mas noite passada foi diferente, por um momento foi como se eu tivesse limpado a sujeira de uma lente, fazendo com que tudo ficasse claro como cristal. Ele se inclinou para frente, com uma mão em cada lado de sua cabeça. — Quanto? Ela se encontrou lutando desesperadamente contra a vontade de se inclinar para trás, de se render a ilusão mais uma vez. — Pedaços, mas o pouco que eu sei, eu preciso contar para Ashaya, alertá-la. Um longo silêncio, quebrado apenas pelas respirações, o vidro ficando embaçado e fechando-os numa intimidade calma e quieta. — Você poderia ser uma ameaça para a família dela, as crianças. Você foi muito inflexível consigo mesma sobre não ir a ela quando mencionei isso na clínica. O estômago dela se contraiu. — Sim... Sim, você está certo. — Com as pernas fraquejando, ela se abraçou se inclinando sobre o vidro ao invés dele, sem estar certa de que conseguiria se refrear uma segunda vez. Emoções eram como um loop de realimentação sem regras, sem limites. Assustava-a essa suscetibilidade dela em relação a esse homem que quase parecia um Psy quando se tratava de trancar emoções quando lhe era conveniente. Forçando-se a pensar após o alerta turbulento dele era quase impossível, mas algo em suas palavras a guiaram para prosseguir. — Dev, — ela sussurrou, — você disse crianças. Ashaya só tem um filho. O sólido calor do corpo de Dev colidiu nela à medida que ele falava. — As duas crianças que estavam cativas no laboratório enquanto você estava... — O garoto e uma menininha. — Tão jovem, tão vulnerável.


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— Ashaya não os matou, ela os ajudou a escapar. Pânico a aturdiu. — Espere... — O Conselho sabe, — Dev a disse. — As crianças foram adotadas por um casal DarkRiver e depois da deserção da Ashaya, não havia motivos para escondê-los. Emoções — alívio, preocupação, alegria — a golpearam de todos os lados. — Eu imaginei que Ashaya os tivesse tirado, mas eu não tinha certeza. — E ela não perguntou, consciente que quão menos pessoas soubessem da verdade, melhor seria. — Eu supus, — ela conseguiu dizer através do caos em seu corpo e sua mente, — eu comecei a pensar que já que eu não estava compelida em direção a ela, então Shine deveria ser meu alvo, mas a verdade é que eu poderia estar programada para atingir ela ou a criança. Eu nunca vou saber até que aquele componente em particular de compulsão fosse ativado. Suas mãos se fecharam num punho tão apertado, que ela sentiu toda sua mão pulsar. — Eu odeio isso, não saber o que há em minha própria cabeça. — Quão longe você iria para concertar isso? — Dev perguntou, e havia uma escuridão em sua voz que deveria tê-la assustado. Mas há tempos ela tinha deixado passar esse tipo de medo. — O quão longe fosse preciso. — Você deixaria a PsyNet? Aquilo a fez vacilar. Era uma questão que ela jamais considerara. — Eu não posso. Eu preciso da realimentação biológica provida pela minha conexão com a Net. — Psys que perderam sua realimentação morreram em questão de minutos. — Eu sei, lembro, que a ShadowNet não pode ter mais Psys de puro sangue. Os músculos dos braços dele viraram pedra. — Eu não sabia que os Psys tinham conhecimento disso. — Não os Psys... bem, eu creio que o Conselho saiba. — Ela se embrulhou com os braços ao seu redor, envergonhada de quão integralmente ela quebrara, quanto ela tinha traído. — Ashaya e eu, nós fizemos essa regra. Era um chute num cenário incerto. Nós tínhamos que saber, entende? — Sim. — Um silêncio. Então, uma onda de calor, como se ele tivesse se aproximado um pouco mais. — Se a ShadowNet pudesse aguentar sangue puros, os rebeldes teriam o meio perfeito para escapar. Katya mordeu seu lábio, desejando que ele se aproximasse até tocar nela, um vazio minúsculo entre eles e odiando-o ao mesmo tempo por incitar tal necessidade dentro dela. Porque, diferente de Dev, ela não mais sabia como ficar fria. Essa vontade, essa fome, ela jamais seria capaz de colocar de


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volta na caixa. Mas ela não se virou, não bateu nele com seu punho como ela queria. — Não era mercenário, — ela disse. — Há tantas coisas que não podemos fazer porque estamos encurralados por nossa própria necessidade de realimentação. Se nós pudéssemos de alguma forma neutralizar isso... — Mais e mais memórias começavam a voltar, como se a mente dela tivesse juntado energia o bastante que poderia apartar as cortinas, mesmo que fosse uma por uma. — A questão é, Katya, — Dev disse, seus lábios roçando em sua orelha numa carícia quente que quase a quebrou, — a ShadowNet provavelmente levaria a loucura a maioria dos Psys. Seria o caos em forma. — E quanto aqueles que já estão loucos? — Ela perguntou, vendo outra verdade dolorosa. — E quanto aqueles como eu?


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Jack olhou para cima quando William entrou na garagem. — Hey, garoto. O que foi? — Eu tenho uma pergunta. — Aqueles grandes olhos verde musgo de Will atrelaram-se em seu lugar de sempre no topo da caixa de ferramentas fechada. — Sim? Lição de casa? — Observou como ele usava o velho jeito de encurtar o comprimento da madeira, para a preparação da construção de uma casa na árvore, Jack agachou na frente de seu filho, agradecido por Will estar agindo mais como ele mesmo. Após o último incidente... — Pergunte-me. Mas Will não respondeu com seu ímpeto usual. Em vez disso, seu lábio inferior tremeu. — Como você sabe se é mau? Jack tocou no joelho de seu filho, o medo um nó na garganta. — Você fez alguma coisa, Will? Fazia dois meses desde as aves mortas no gramado. Não uma ou duas, dezenas delas. Pareciam como se todas tivessem simplesmente caído do céu. Will tinha acordado gritando de terror naquela manhã, e enquanto Melissa tinha afagado seus tremores, Jack tinha saído no início da escura madrugada para provar que tinha sido apenas um sonho. Ele tinha encontrado um pesadelo em seu lugar. Mas Jack tinha enterrado os pássaros antes da luz do dia, e Will nunca soube. —Vamos lá, filho, — Jack disse, levantando um pouco a mão à boca para um beijo carinhoso. — Você quebrou uma janela ou algo assim? Will balançou a cabeça. — Não. Eu não fiz nada ainda. Algo naquelas palavras fez um frio no coração de Jack. — Você pensa que vai fazer algo? — Eu sou ruim, — Will sussurrou. — Eu sou ruim por dentro. — Não, Will, você não é. — Ele não permitiria que seu filho, seu querido filho, se tornasse uma vítima de seus próprios dons. — Você é um bom menino. Mas as lágrimas encheram os olhos de Will. — Ajude-me, papai.


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E quanto aqueles que já estão loucos? E sobre aqueles como eu? A pergunta de Katya assombrava Dev enquanto ele terminava de trabalhar naquela noite, tentando esgotar-se em um esforço para esquecer o calor delicado de suas mãos, o calor de seu corpo exuberante. Mas o exercício fez pouco para aliviar sua frustração. Ele estava irritado com o próprio destino, por que trazer Katya para sua vida se ele foi feito apenas para destruí-la? — Dev. Ele olhou para cima, tendo percebido a sua chegada. — O que você está fazendo aqui? Tinha levado todo o controle de si para deixá-la naquela tarde em vez de pressioná-la contra o vidro e tomá-la em todos os sentidos que seu corpo exigia. . . E em seguida fazê-lo novamente. — Volte para a cama. — Porque ele não podia confiar em si mesmo. Não depois de se afastar por duas vezes, e agora com a noite como uma coberta secreta que os escondia do mundo. — Eu preciso te perguntar uma coisa. — Entrando no ginásio, ela andou com os pés descalços, até que estavam separados por apenas um único passo. Seus dedos se enroscaram em suas palmas quando ela olhou para cima, olhos luminosos. — Eu estive pensando sobre o que aconteceu esta tarde. — Katya... — Não, é minha vez de falar. Ele deu um aceno curto, incapaz de falar além da necessidade em sua garganta. — Eu decidi — ela disse, — que eu estava cega. Eu quero... — Não. — Rangendo sua mandíbula, ele passou por ela. Ela o deteve com a mão em seu braço. — Você não sabe o que eu ia pedir. Empurrando suas costas contra a parede, ele descobriu que tinha o punho de sua mão em seu cabelo sedoso e macio. — Eu sei o que uma mulher tem em mente quando ela olha para mim desse jeito. — E o seu corpo estava muito feliz em retribuir. Só que ele não poderia fazer isso com ela. Ela não tinha ideia do que ela estava pedindo, o que estava arriscando.


96 Esta tarde, ele estava bêbado de seus hormônios, mas se ele fizesse isso hoje à noite, seria uma escolha consciente, aquela que o assombraria para sempre. — A resposta é não. E vai continuar a ser não. Um rubor coloriu as maçãs do seu rosto, tão fodidamente inocente, ele chamou a si mesmo por todos os nomes por deixar as coisas chegarem até aqui. Mas então ela abriu seus lábios e ele não conseguiu lembrar o que queria dizer. — Por que não? — Ela insistiu. — Há uma conexão entre nós. Era tudo o que podia fazer para não tomar o que ela estava oferecendo. Seu pau bateu com cada batida do seu coração, duro e dolorosamente pronto para tomála, marcá-la. — Você já esteve com um homem, Katya? — Você sabe que não. Sim, ele sabia. Psy não acreditava em tais prazeres íntimos. — Então me deixe dizer-lhe algo, se nós fizermos isso, não serão apenas sensações físicas que você experimentará. Um olhar firme, mas sentiu os tremores finos que serpenteava sobre seu corpo, eles estavam pressionados tão perto. — Eu vou me sentir mais unida a você. — Essa é uma maneira de colocá-lo. — Ele não podia deixar ir, não podia voltar atrás. — Esta tarde, você aprendeu a odiar-me um pouco. Ela não respondeu. — Diga-me. — Sim, — ela disse, a definição da mandíbula. — Sim. Isso parecia como um fodido arpão através de seu coração, por tudo o que ele já conhecia. — Se fizermos isso, pense sobre o quanto vai doer quando eu tiver que jogá-la em uma sela. Ela se encolheu fisicamente. — Eu sei que as coisas vão mudar. Eu estou pronta. Seria tão fácil, tão fácil deixá-la falar com ele, por ele. — Você está? — Ele falou com os seus lábios contra os dela. — Ou você está apenas esperando que eu vá poupar sua vida se fodermos? Seu corpo inteiro ficou duro com a declaração deliberadamente crua. — Deixe-me ir. Ele segurou seu quadril desta vez. — me odeia o suficiente, ou... — Você fez seu ponto! — Ela empurrou o peito com as mãos com raiva. — Agora me deixe ir! Ele ouviu a suspensão da sua voz, e quebrou-lhe, também. — Deus me ajude, mas não posso. — Esmagando-a contra ele, ele segurou-a firmemente. Ela não parou de lutar até que ele sussurrou, — Shh, eu estou com você. Uma pausa. — Você me disse isso antes. — Seus braços deslizaram em torno dele, sua voz tremendo um sussurro. — Você salvou a minha vida naquela noite. Foram as palavras não ditas de uma vida que ele já não podia proteger. Quando escorregou para o chão, ele se se encostou à parede e segurou-a tão perto como humanamente possível. Sentaram-se assim por horas, até o amanhecer listrar seu caminho para fora do horizonte.


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— A situação no Sri Lanka, — Shoshanna disse para Henry, — você foi o responsável? Eles foram uma equipe durante anos, trabalhando para aumentar a sua potência combinada no Conselho, mas após o incidente com implantes do protótipo de Ashaya Aleine, isso tinha mudado. Ela estava certa de que ele tinha sofrido danos cerebrais pelo defeito nos implantes, mas ao invés de atenuá-lo, o que tinha acontecido tinha desencadeado outra parte de sua personalidade, que poderia levar à sua queda. — E se fosse eu? — Ele se sentou em frente a ela, olhos escuros, sem expressão. Ela checou o escudo para garantir que eles estavam bem trancados. Henry era um telepata, 9,5 na Gradiente. Ele poderia varrer através de uma mente com velocidade relâmpago. Satisfeita, ela ainda estava segura, ela sentou-se na sua própria cadeira. — Não foi você, — disse ela lentamente. — Você é inteligente. Você aprende com seus erros. Ele nunca confirmou, mas ela sabia que ele tinha estado por trás da onda de violência pública Psy cerca de dois meses atrás, a violência que levou ao renovado apoio ao Silêncio. — Dada a maneira como a PsyNet funciona, a violência só vai gerar mais violência. E você quer o Silêncio para controlar. — Não apenas o controle, minha querida, — ele disse, o carinho insignificante. Eles aprenderam a usar ambos os tais pequenos — humanismos— para se tornarem mais palatáveis para os meios de comunicação humana e changeling. — Não? — Não. Eu quero isso para consumir a Net, até que não haja sequer um sussurro de dissidência. Silêncio puro era o que Shoshanna queria tanto, mas... — E o Conselho? — Silêncio Perfeito irá eliminar a necessidade de um Conselho. — Encontrouse com seu olhar. — Vamos todos pensar com uma mente. — Impossível. — Pela primeira vez, ela se perguntou se Henry iria tão longe a ponto de matá-la para alcançar seus objetivos. — Sem um implante que impele uma fusão, somos demasiado individualistas para formar uma mente universal.


98 — Um de nós será provado, não. Vamos esperar e veremos? Ela deu um aceno lento, mudou-se para a verdadeira razão que ela pediu para se encontrar. — Nós somos mais fortes juntos do que quando separados. — Sim. — Então nós continuamos uma equipe? — Não. Continuamos dois Conselheiros com os objetivos alinhados. Que não era bem o que estava acostumada a ouvir a partir de Henry. No entanto, foi muito melhor do que a situação atual. — Concordo. — Eu acredito que Nikita pode ter algo do mesmo acordo com o Conselheiro Krychek. — Nikita chegaria a um acordo com Satanás, se ele existisse, desde que seus interesses comerciais fossem alcançados. — E você não iria? — Claro que eu faria. — Ela se levantou da cadeira. — É assim que eu me tornei um Conselheiro. — Você foi capaz de falar com Ming? — Ele sabe que os protótipos dos implantes foram utilizados sem autorização. Ele não vai ser seduzido para o nosso lado sem um esforço considerável. — Fez uma pausa, analisou a possibilidade de compartilhar as informações, e decidiu ir em frente. — Eu não acredito que todos os cientistas morreram quando o laboratório Implant explodiu. — Altamente provável. Ming não perderia tanto potencial, até mesmo para fazer um ponto. — É possível que ele possa estar desenvolvendo um implante de sua autoria. — Nós vamos encontrá-lo antes que ele termine, — Henry disse com confiança sublime. — Esse tipo de segredo é quase impossível de manter. Mesmo que você não possa fazer isso. Henry esperou ela responder. Ela o deixou. Finalmente, ele se levantou e caminhou até ficar na frente dela, um homem alto com a pele de mogno que a mídia humana tinha apelidado de aristocrata. Ela não se importava nada com isso, apenas por sua força mental e política. Agora, ele provou sua perspicácia política, dizendo: — O Sri Lanka rompeu naturalmente, o Anchor daquela região está flutuando. Anchors, como Shoshanna bem sabia, eram essenciais para o funcionamento do PsyNet. Desde que Anchors nasciam, e não eram criados, eles eram identificados jovens e treinados para usar suas habilidades para se fundir com a Net para garantir que se mantivessem estáveis. Mas aqueles Psy únicos também tinham o hábito de falhar espetacularmente, um número desproporcional de seriais killers tinha saído da piscina de Anchors nos últimos tempos. — Precisamos levá-la na próxima reunião do Conselho? — Com algumas coisas, não havia melhor milhagem política em tomar a iniciativa. — Eu vou cuidar disso. — Henry, precisamos de Anchors. — Eles não poderiam simplesmente ser reabilitados como os outros que quebravam. Reabilitação deixava muito pouco de uma mente em funcionamento, e os Anchors necessitavam daquelas mentes para fazerem seus trabalhos.


99 A expressão de Henry não mudou. — Ele pode ser trazido sob controle telepático com um pouco de uma sensata reformulação telepática. — Isso poderia quebrar sua mente. — Eu sei o que estou fazendo, eu tenho um pouco de prática. — Ele olhou para ela. — Se conseguirmos, teremos um Anchor que estará ligado a nós. Essa parte da Net seria nosso controle. E se eles não conseguissem, ninguém saberia. — Você precisa da minha ajuda? — Continue aparecendo na mídia. Eu vou fazer o resto. Quando Henry deixou seu escritório, Shoshanna fez uma reavaliação mental. Sua relação anterior tinha sido a sua vantagem, enquanto Henry tinha obedecido se não todos os seus comandos. No entanto, e se Henry continuasse a permanecer racional, esta nova parceria poderia render frutos ainda maiores. Henry pode não querer regras, mas ela sim. Ela também sabia como cuidar de problemas alheios, depois de ter sobrevivido a eles.


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— Dev ainda podia sentir a curva suave do corpo de Katya dobrado contra o seu enquanto ele a levava para seu apartamento no décimo segundo andar do edifício Shine. O caminho até Manhattan tinha sido em grande parte tranquilo, mas ele não cometeu o erro de pensar que ela tinha desistido de seus planos de fuga para o norte. Os olhos dela foram até a porta quando ele pousou a bolsa. — Você vai me trancar, sem você. — Não era uma pergunta, porém, foi colocado como uma. Ele esmurrou com força, porque não importava a sua consciência do mal calculado que a trouxera à sua vida, Katya continuava a cortar suas defesas como um bisturi, deixando-o exposto. — Eu não posso ter você livre na Shine. — Ela poderia estar programada para buscar e destruir arquivos, informações, indivíduos específicos. — Fora de seu controle você quer dizer. — Sua mandíbula firme, sua estrutura óssea delicada definida contra a pele que tinha começado a ganhar o resplendor de ouro da saúde. — Sim. — Mentir não serviria de nada. — Meu povo vem em primeiro lugar, é algo que você não pode esquecer nunca. Ela deu-lhe as costas quando voltou a andar em direção as janelas. — Quanto tempo você planeja me manter aqui? Lutando contra o instinto de superar a distância, para capturá-la entre os braços como ele tinha feito em Vermont, ele enfiou as duas mãos nos bolsos de suas calças. — Por enquanto, pelo menos uma semana. — Isso não é uma resposta, Dev. — Você sabe a resposta. — Olhou fixamente para a linha esbelta de suas costas, disposto a enfrentá-lo, fazê-lo sentir-se menos como um monstro. — Você sempre soube a resposta. Ela apertou sua suave mão contra o vidro. — Você vai me manter aqui o tempo que for preciso. Mesmo que demore anos. Foi um pontapé no intestino, o vazio total de sua voz. Pela primeira vez, ela soou como um dos Psy. Como se tivesse destruído alguma coisa nela. — Não vou, — ele disse. — Nós vamos ter respostas mais cedo ou mais tarde. — Ele colocaria cada um de seus contatos em jogo. — Então o quê? — Finalmente, ela se virou para olhar para ele, seus olhos tão vazios quanto sua voz. A mulher que esteve com ele na noite passada tinha


101 apenas... ido. — Enquanto eu estiver conectado à PsyNet sou uma ameaça, e não há maneira de me tirar da rede. Impasse. Dev empurrou-se través da porta para outro apartamento bem mais de uma hora depois. Ele quis dizer para ir para lá logo depois que ele tinha mostrado Katya o quarto dela, mas ele estava sem vontade de falar com uma criança traumatizada. Não quando se sentia como um abusador ele mesmo. Seus lábios definiram uma linha apertada. Que não era coincidência. Nani estava certa, alguém tinha colocado um monte de pensamento em Katya, dando-lhe vulnerabilidades projetadas para reproduzir em seus mais profundos instintos. Ele poderia lidar com o choramingar de traidores mercenários sem perder o sono, mesmo com aqueles que eram levados por outros ódios. Mas ele tinha uma grande e fodida mancha cega quando se tratava de mulheres que haviam sido espancadas e abusadas. Sabendo que deveria ter neutralizado a sua resposta à mulher que tinha trancado na suíte do décimo segundo andar, mas tudo o que fez foi torná-lo consciente da profundidade de sua fraqueza. — Dev. Sacudindo a cabeça ao som da voz de Glen, ele olhou para a porta aberta para a esquerda. — O garoto está ai? Glen deu um pequeno aceno de cabeça. — Nós nos mudamos com ele para aqui em cima depois que ele começou a recuperar a consciência. É mais aconchegante do que a clínica. — Isso é bom, mas você tem guardas em cima dele? — Dev não estava preocupado com a força física do garoto, era o plano psíquico que lhe dizia respeito. Algumas das habilidades da Nova Geração podiam ser fatais. — Tag está aqui, — Glen disse. — Percebi que precisaria outra telepata para controlar um dotado. Dev já pegou o eco da energia mental distintiva de Tag. Um dos muito poucos verdadeiros telepatas ShadowNet, o outro homem havia tido uma infância verdadeiramente horrível. Havia alguns que diziam que era um milagre ele não ter enlouquecido. Dev não achou que tivesse algo a ver com milagres, Tag era apenas um filho da puta durão. — O menino disse-lhe alguma coisa? Glen esfregou em seu rosto, olhando Dev de forma abatida como nunca o tinha visto olhar, como se o peso da experiência ameaçasse esmagá-lo. — Glen? — O menino, Cruz, — o médico começou, — é pior do que confuso. As drogas mantiveram seus bloqueios psíquicos, mas também impediram o seu desenvolvimento. Merda. — Assim como o Psy e, dependendo da profundidade da sua herança genética, muitos dos Esquecidos não reagiam bem aos medicamentos humanos. — Dano cerebral? — Hoje médicos poderiam fixar um inferno de um lote, mas mesmo eles não podiam curar as células do cérebro depois de terem sido fatalmente comprometido. Para seu alívio, Glen sacudiu a cabeça. — Não. Seu intelecto está muito bem, é o seu desenvolvimento psíquico que tem sido seriamente prejudicado. — Ele não é tão forte como ele poderia ter sido? Mais uma vez, surpreendeu por Glen balançando a cabeça. — Kid está fora das cartas. Tag diz que é nível de cardeal.


102 Dev respirou. — Isso não deve ser possível. — Cardeais eram raros, tão raros, embora a população pudesse ter sido perdoada por pensar de outra forma com a recente alta visibilidade de deserções de dois cardeais da Net. Mas Sascha Duncan e Faith NightStar faziam parte de um clube muito, muito exclusivo. Em todo o mundo, havia milhões e milhões de Psy. Se houvesse mesmo cinco mil cardeais entre esse número, seria mais do que Dev esperava. — Ele não pode ter olhos de cardeal. Estrelas brancas sobre fundo preto, os olhos dos Psys mais poderosamente talentosos eram ambos estranho e surpreendentemente únicos. — Não, humano, — Glen confirmou. — Sua estrutura genética é mista, como o resto de nós. Mas quando caem os escudos que Tag está segurando de Cruz, o poder do garoto vai bater em você como um furacão. Dev ignorou a declaração óbvia. — Você está me dizendo que esse menino não tem escudos próprios? Os sacos sob os olhos Glen pareceram crescer cada vez mais profundos. — Sim. E enquanto ele pode ser de sangue misturado, ele tem um número fenomenal de genes Psys ativo, tantos pares recessivos... — Glen sacudiu a cabeça. — Seus canais psíquicos são bloqueados enquanto ele está sob a droga, mas é só tirá-lo e eles golpeiam livres. — Droga. — Dev meteu as mãos pelos cabelos, considerando rapidamente as opções de descarte. — Ele vai ficar louco se não descobrir uma maneira de lhe dar proteção permanente. — Eu estou considerando uma mais suave dosagem das drogas, — disse Glen, — mesmo que eu odeio colocar nossas crianças em qualquer coisa. — Mas? — Mas essas drogas, basicamente, transformá-lo-iam em um zumbi. — Ele olhou para a porta, a compaixão em cada linha cansada de seu rosto. — Será que ele entende o que acontece? — Tag não foi capaz de tirá-lo, Cruz provavelmente o vê como seu carcereiro, de modo que não será muita surpresa. Dev recuou para dentro, lembrando-se de Katya voltou atrás, sua voz vazia. — Eu vou falar com ele. Existe alguma coisa que eu preciso saber? — Empurrando tudo, de Cruz para o fundo da sua mente, ele tirou o paletó, então desfez e removeu sua gravata antes de desfazer os botões de cima de sua camisa e arregaçando as mangas. Não adianta ir para o quarto de uma criança parecendo como o diretor da escola. — Ele não tem família, tanto quanto podemos descobrir uma solução, a equipe de Aryan o localizou na ShadowNet. — Por que não procurá-lo se ele está no link? — Nem sempre para chegar precisava do biofeedback fornecido pelo ShadowNet, como tantas coisas, que dependia de sua complicada estrutura genética. — É por isso que estamos constantemente a executar os seminários, assim os adultos sabem procurar lá fora pelos menores de idade que podem precisar de ajuda. — Porque ninguém pôde ―ver‖ ele, — Glen respondeu. — Menino está completamente isolado. Que, Dev soubesse, deveria ser impossível. Todo mundo tinha alguém a quem eles se sentiam conectados, mesmo que uma conexão não fosse saudável, nenhuma das partes teria escolha. — Ah, o inferno. — Não admira que o garoto


103 esteja assustado. Tomou uma decisão, ele esfregou em sua mandíbula. — Tag pode manter Cruz seguro fora da sala? — Sim. Você quer ficar sozinho com ele? Ao aceno de Dev, Glen foi para a porta do quarto e acenou para Tag ir para fora. O grande homem entrou na sala de estar em pé em silêncio, seus olhos brilhando de fúria. — Eu poderia estrangular seus avós. Dev balançou a cabeça. — Não se eu tiver que matá-los primeiro. — Se Cruz fora trazido como por protocolo, ele teria sido ensinado a desenvolver e proteger seus poderes desde a infância. Agora, eles podem ter a sorte de recuperar sua sanidade. — Eu poderia ter um tempo. Você está bem para manter o escudo? — Eu posso fazê-lo 24 horas por dia, se necessário, — Tag disse. — Garoto não está lutando contra mim, não sabe como. Mas eu tenho que permanecer dentro de um determinado raio. — Tiara pode revezar com você? Tag virou a cabeça, mas não antes de Dev vislumbrar o resplendor vermelho escuro ao longo do topo das maçãs do rosto. — Ela está em um AirJet de Paris. Os olhos de Glen brilharam de alegria profana. — Você deve estar ansioso para recuperar o atraso com ela. — Eu vou te bater tanto se você não se calar. Feliz com a explosão minúscula de diversão, mesmo que não chegasse nem perto de aliviar o gelo ao redor de sua alma, Dev entrou na sala de Cruz, fechando a porta atrás de si. O menino estava enrolado em seu lado, seu corpo de dez anos de idade muito menor do que deveria ter sido. Seu cabelo era escuro e sedoso e cortado em forma de tigela que teria enviado a maioria das crianças uivando para suas mães. Mas Cruz não teve uma mãe para queixar-se. E, até as últimas horas, ele provavelmente nem sequer percebeu o que parecia. Agora, o menino era enorme, os olhos escuros seguindo Dev quando ele pegou uma cadeira e puxou-a para frente sentando à cabeceira de Cruz. Foi quando ele pegou o primeiro choque. Glen disse que os olhos de Cruz eram humanos. Eles não eram. Tão perto, Dev viu a faísca ímpar de ouro escuro nas profundezas da íris quase preta. Extraordinário. Por que ninguém tinha reparado? Olhando para trás, ele encontrou a resposta, era possível que as drogas tinham sujado Cruz tão completamente que seu olhar tinha ficado maçante também. — Sou Dev, — ele disse, e esperou. Cruz era um fantasma para os seus sentidos psíquicos, tão tênues, quase inexistentes. O rapaz não disse uma palavra. Sorrindo, Dev tomou um rumo diferente. — Você não vai acreditar, mas eu tive uma vez a sua idade. Se eu tivesse esse corte de cabelo em mim, eu teria feito graves danos ao cabeleireiro. Um piscar. Nada mais. — Você quer que eu arranje alguém para consertá-lo? Outra piscada, mas mais lenta neste momento. Dev sorriu. — Ou você pode mantê-lo. As mulheres parecem achar bonito em um garoto. Você provavelmente vai ficar meio mimado até a morte. Cruz levantou a mão para seus cabelos, puxando-o para frente como se quisesse ver a cor. — Minha mãe costumava cortar o meu cabelo.


104 Sua voz era calma... e cheio de um maldoso poder psíquico que ele não tinha capacidade de controlar.

ARQUIVOS DA FAMÍLIA PETROKOV Carta datada de 25 de maio de 1975 Caro Mateus, Sua irmã Emily dorme ao meu lado, mas mesmo o sorriso doce não pode parar a dor que assolou o meu coração. Seu pai. . . Eu sempre soube que como um vidente, ele era um risco muito maior de doenças mentais do que a maioria da população. E ainda tentei não saber. Porque ele é o meu coração eu não sei o que eu faria sem ele. Ele admitiu-se em uma ala psiquiátrica hoje. Pedi-lhe para não ir. Estou com medo das correntes na Net, a onda de apoio para o Silêncio. Desde o Adelajas, desde a prova de seus filhos, mais e mais pessoas estão sendo seduzidos à forma do Conselho de pensar. O que prova, eu pergunto-lhe. Onde estão Tendaji e Naeem? Por que a gente nunca os vê mais? Ninguém vai responder às minhas perguntas, e agora eu estou com medo pela minha posição no ministério. Eu estou falando muito alto. Não é da minha natureza fechar minha boca, mas precisamos do dinheiro. Então, eu vou tentar ouvir em seu lugar. E eu vou rezar para que seu pai chegue em casa em breve. Com todo meu amor, Mamãe.


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Katya percorreu todos os cômodos do apartamento. Era um apartamento generoso — quarto, banheiro, e uma pequena cozinha integrada com a sala de estar principal. Mas não havia saída exceto pela porta da frente, sem modos de escape, também. Mesmo as facas na cozinha eram pequenas, mal afiadas o suficiente para cortar frutas. Devraj Santos não era um homem estúpido. Pelo menos, ela pensou, tentando achar um lado bom, ele respeitava as habilidades dela o suficiente para colocá-la em um lugar onde somente um tele transportador poderia ser capaz de escapar. Pena que não era parte de seu conjunto de habilidades. Outra peça de memória se encaixou no quebra cabeças que era sua mente. Seus olhos se arregalaram. — É claro. — Ela esteve ignorando a coisa que a fazia diferente, que a tornava única. Sim, ela era uma telepata, nível 4.5 no Gradiente. Aquilo significava que ela era, somente, uma Tp-Psy de nível médio. Ela também era uma M-Psy de Gradiente 4.9. Duas habilidades médias. O que ela acabava de perceber era que uma pessoa com duas habilidades de nível médio podiam às vezes criar um efeito de ampliação, geralmente em uma das habilidades. Porém, aquele efeito era tão imprevisível que poderia ser escondido pelo usuário, e ela tinha escondido o dela; de outra forma, ela teria sido pressionada para um tipo muito diferente de serviço. É por isso, ela pensou, vendo um enorme pedaço de seu passado em um golpe limpo, que ela e Ashaya trabalhavam tão bem juntas em suas atividades rebeldes, Katya era capaz de enviar mensagens para quase todos em seu lado da resistência. Porque quando ela exercia sua habilidade de ampliar, suas habilidades Tp iam de 4.5 para 9 no Gradiente. E um telepata de nível 9 poderia falar com quase qualquer um que ele quisesse. Mas, ela franziu a testa, ela não falou, não pelos últimos meses. Por quê? Suas mãos se ergueram para sua cabeça, a parte inferior de suas palmas pressionando contra as têmporas. Um dardejar de dor, mas ele trouxe a memória consigo.


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— Tudo que pode ser feito sob o radar — A voz familiar de Ashaya — nós faremos assim. Ele suspeita de você, Ekaterina. E eu preciso de você demais para perdê-la para ele. —Minha telepatia tornaria as coisas quantificavelmente mais fáceis. — Não se você estiver morta. Requer energia para você fundir suas habilidades, será notado se você aumentar sua admissão de nutrientes, se você dormir mais. Katya cambaleou quando sua mente ricocheteou de volta ao presente. Ashaya estava certa, o homem-sombra... Ming, outro flash de memória, a identidade de seu torturador delineada com uma claridade impecável, suspeitou dela. Mas agora não havia ninguém para vigiá-la, para ver se ela subitamente mudasse sua alimentação ou seus hábitos do sono. Ming bloqueou seu acesso à Net, mas ele não fez nada para sufocar sua habilidade de usar seus talentos natos. Um calafrio se espalhou pelo seu coração, ele poderia até tê-la programado para usar aqueles talentos exatamente da forma como ela estava pensando em usar. Um momento de paralisia. — Não. — Ela inclinou o queixo, se forçou a respirar. Se ela deixasse o medo parar, ele teria realmente ganhado. Ela tinha que prosseguir confiando que suas ações eram suas próprias, confiando que ela de alguma forma tinha se erguido das cinzas, começado a reformar sua personalidade, se tornando na fênix que vivia em sua alma. Certamente, certamente Ming não tinha considerado sua reação ardente à Dev, ou como aquela reação a faria querer se tornar mais forte, para que ela pudesse se segurar contra a implacável força dele. — O único modo para saber é tentar. Respirando fundo, ela relaxou em uma poltrona e fechou os olhos. Geralmente quando ela usava Tp, ela estava direcionando-a em um destino específico, uma mente em particular. Mas, como uma telepata, ela podia também ―ouvir‖ outros se abrisse seus sentidos. Porém, como a maioria da sua designação, ela mantinha aquele aspecto de sua mente presa firme na maior parte do tempo, mesmo na PsyNet, havia indivíduos cujos escudos vazavam um constante fluxo de pensamentos. Multiplique aquela irritação por milhares e você tinha uma receita para loucura. E aqui, fora da Net? Era provável de ser um milhão de vezes pior. A maioria dos humanos não tinha nada além dos escudos mais básicos. Dado ao seu histórico, os Esquecidos provavelmente seriam uma fração mais sofisticados, mas ainda haveria um número de vazamentos, de vozes. Acalmando as borboletas em seu estômago com o conhecimento de que ela poderia fechar os caminhos abertos a qualquer momento, ela agarrou os braços da cadeira e derrubou seus escudos internos. Um instante de puro silêncio. WHTIOSKTNIHIGHNSTIONTIJO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!


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A cabeça dela bateu contra o encosto quando seus escudos se fecharam com força brutal. Levou vários minutos para sua cabeça parar de badalar. Suas costas estavam úmidas com suor no momento em que ela reabriu seus olhos, seu cabelo emplastrado em sua testa. — Okay, — ela disse, — okay. — Acalmando seu coração acelerado o bastante para forçar sua mente a cooperar levou cinco longos minutos. Finalmente capaz de pensar novamente, ela agarrou os braços da cadeira ainda mais firme e abaixou seus escudos internos mais uma vez, dessa vez, uma fração menor.

Dev estava conversando com Cruz sobre modelos de carros, um hobby que o garoto se lembrava de gostar antes de ser colocado sob os cuidados do estado, quando uma batida soou na porta. Dev se levantou. — Eu tenho que ver o que é. Eles não interromperiam a menos que fosse importante. Pequenas linhas apareceram na testa de Cruz. — Eu quase posso ouvir algo. — Ele balançou a cabeça. — Se foi agora. Ele a assustou. Fazendo uma careta, Cruz amaciou seu travesseiro e olhou para a porta. Sobrancelhas arqueadas, Dev abriu a porta e saiu, para se encontrar cara a cara com Tag. O grande telepata tinha uma expressão ameaçadora em seu rosto. Desde que o outro homem geralmente fazia um esforço extremo para parecer não ameaçador, os instintos de Dev foram para alerta máximo. — O quê? — Feche a porta. — A voz dele tremeu com fúria. — Eu fico com Cruz. — Entrando, Glen fechou a porta atrás de si. Dev encontrou os olhos de Tag. — Parece que você quer matar alguém. — Esse alguém seria você, — Tag murmurou sucintamente. — Eu deveria bater a porra dessa sua cabeça teimosa contra o chão. — Você poderia tentar. — Menino bonito, eu poderia te esmagar com um punho. — Soltando uma respiração profunda, Tag apontou para cima. — Você trouxe uma telepata poderosa pra caralho aqui e nem sequer pensou em me avisar? Dev congelou. — Do que você está falando? Ela é mediana, mais fraca que... — Merda nenhuma, — Tag interrompeu. — Seu segredinho está perto da ponta mais alta do espectro. — Tag balançou a cabeça, esfregando os lados de suas têmporas. — Eu percebi a mente dela quando ela roçou na minha. Não sei o que ela está procurando, mas eu espero que eu tenha a assustado o bastante para ela parar.


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Dev já estava se movendo, raiva crescendo nele numa onda escaldante. Uma telepata forte assim poderia causar uma massiva quantidade de dano. Katya poderia rasgar os escudos dos membros mais fracos da Shine, deixar seu povo nada mais que vegetais. E ele a trouxe aqui. Ele a manteve segura. Expandindo seus sentidos, ele tocou cada gota de metal no prédio. Como resultado, sua fúria tinha se tornado um frio tipo de raiva quando ele alcançou a suíte de Katya. Usando suas habilidades para destrancar a porta antes de chegar nela, ele entrou com toda intenção de esfolá-la com sua língua. Aquilo foi antes de ele vê-la colapsada em uma poltrona, sangue escorrendo de seu nariz. O que Tag fez? Colocando seus dedos no pulso do pescoço dela, ele soltou um suspiro de alívio. Por que, ele não sabia. A morte dela faria sua vida consideravelmente mais simples. Empurrando de lado sua rejeição ao pensamento, ele puxou seu celular e ligou para Tag. — Ela está inconsciente. — Ela deveria estar, — Tag disse. — Eu enviei um grito através da linha telepática. A mão de Dev cerrou no celular. Tag fez a coisa certa, mas maldito fosse se ele não queria socar o outro homem na cara por isso. Deus, ele era patético pra caralho. A mulher tinha brincado com ele desde o primeiro dia, e ele ainda queria protegê-la. — Ela vai acordar logo? — Não vai demorar. Isso vai ensiná-la uma lição. — A voz de Tag mudou. — Nenhum telepata deveria se deixar tão aberto assim, Dev. Ela deveria saber disso. Se eu quisesse, eu poderia ter mandado mais que um grito. Mesmo com um inferno gelado de raiva dentro dele, Dev sabia por que Katya tinha corrido o risco. — Eu a coloquei em uma prisão. O que você teria feito? — Provavelmente o mesmo. — Tag respirou fundo. — Não significa que nós podemos sentir por ela. Seus escudos são de titânio, mas ela é forte o suficiente para quebrar os escudos de metade das pessoas na Shine. — Eu vou assegurar que não haja uma próxima vez. — Fechando o aparelho, ele o deslizou de volta para seu bolso antes de entrar no banheiro e voltar com uma toalha úmida. Não havia muito sangue, mas ele deixou a toalha manchada na pequena mesa enquanto a esperava acordar, um explícito lembrete visual do que ela arriscou. Enquanto ele esperava, ele deslizou um olhar crítico sobre o rosto dela. Impossível como era, parecia que ela tinha perdido vários quilos no pequeno espaço de tempo desde que ele a tinha visto pela última vez. Mas aquilo, ele pensou, rejeitando seus instintos naturais, não era problema dele. Dessa vez,


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ele não iria deixá-la usar sua fraqueza onde mulheres vulneráveis estavam envolvidas contra ele. Se ela quisesse se matar de fome, ele deixaria.

A cabeça de Katya era uma contusão latejante, escura e desbotada, quando ela finalmente conseguiu abrir os olhos. Seu estômago se revoltou quase no mesmo instante, e ela se arremessou para frente, sentindo sua garganta subir. — Respire! O comando latido cortou através de tudo, acalmando-a com seu absoluto controle. Quando um copo foi empurrado sob seu nariz, ela o aceitou e se ergueu lentamente de volta a uma posição sentada. — Beba, — Dev ordenou, seu rosto implacável de um jeito que ela nunca tinha visto antes. — Fará seu sistema funcionar mais rápido. Desde que ela sentia como se tivesse sido atingida por um caminhão, ela não iria discutir com nada que a fizesse se sentir melhor. Trazendo o copo para seus lábios, ela bebeu. Tinha um gosto levemente adocicado, com um gosto de remédio forte depois. Achando que ele tinha misturado a água com vitaminas, ela bebeu tudo antes de colocar o copo na mesa ao lado da poltrona. — De quem é esse sangue? — ela perguntou, vendo a toalha úmida. — De quem você acha? Ela engoliu e olhou para o muito perigoso homem sentado na poltrona em frente a ela, um pé apoiado facilmente sobre o joelho oposto. Isso não o tornava menos intimidante. De fato, a pura calma dele fez seu coração acelerar. Ele estava zangado, tão zangado que todas as células do corpo dela pinicaram com medo. — Dev, — ela começou. — Quando precisamente, — ele interrompeu, — você estava planejando me contar que você era uma telepata com poder o bastante para concebivelmente explodir uma mente? — Tom frio, enunciação perfeita, olhos que a rastreavam com um foco inabalável. — Eu não sabia. — Ela envolveu seus braços em torno de seu torso, se sentindo inexplicavelmente exposta. — Eu te juro que eu não sabia até um pouco antes de eu decidir explorar. — Explorar? — Ele arqueou uma sobrancelha. — Vamos deixar isso de lado por um minuto, exatamente quão idiota você acha que eu sou? —Eu não...


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— Pare. — Uma simples palavra concisa que cortou todo seu fôlego. — A coisa da amnésia não vai mais colar. Emoção cresceu em uma onda. — É a verdade. Eu estou me lembrando de mais, mas não é... — Eu não me importo. — Dito na mesma voz assustadoramente calma. — Tudo em que eu estou interessado é nas suas ordens. — Eu. Não. Sei. — O inchar de emoção estava enchendo seus membros, deixando sua voz rouca. — E não importa quantas vezes você me pergunte, eu ainda não vou lembrar até o momento em que as memórias voltarem. Eu posso não me lembrar mesmo então, dependendo da programação. — Nós já passamos por isso, até onde a Shine sabe, você é uma agente secreta completamente funcional. Shine. Não Dev. — E você? — ela perguntou. — O que você acha? Um olhar frio, com uma borda obscura que ela nunca viu antes. — Eu acho que fui feito de idiota. — Ele ficou de pé. — Mas ninguém pode dizer que eu não aprendo com os meus erros. — Dev... Ele se inclinou para colocar as mãos nos braços da poltrona dela, bloqueando-a. — Nunca mais tente escanear ninguém na Shine novamente. Eu autorizei o uso de força letal contra você. Todo o ar deixou o corpo dela. Seu coração parecia que tinha virado pedra. Mas ela se recusou a deixá-lo ver, se recusou a dar a ele a satisfação de saber que ele atacou algo que mal tinha crescido dentro dela. — Entendido, Sr. Santos. O rosto dele, sua expressão, nada mudou. — Bom. Se assegure que continue assim.


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Katya se encontrou encarando a porta muito depois de ser fechada nas costas de Dev. Não muito tempo atrás, ela o pediu para matá-la se tornasse necessário. Agora, o pensamento de viver era um pulso rebelde dentro dela. Ela conseguiria, mesmo que só para mostrar a Devraj Santos que ela não era uma inconveniência que ele podia trancar longe de sua vista. Ela era Katya Haas, e ela era uma pessoa. Ela sangrou por seu direito de ser uma pessoa. Ela sobreviveu! Pegando o copo na mesa com precisão a sangue frio, ela o jogou na porta. Fez um barulho de colisão muito satisfatório. Ela esperava que Dev não estivesse usando sapatos na próxima vez que ele entrasse no apartamento. De fato, ela pensou, pegando um vaso da mesa de café, ela esperava que ele retalhasse seus pés. Outra colisão, os cacos de porcelana se misturando com cristal. Enquanto ela procurava por outro objeto quebrável, uma gota de água caiu na mão dela. Ela olhou para baixo, confusa. De onde isso tinha vindo? O teto estava seco, e a água, quando ela a trouxe para sua boca, tinha gosto de sal. Lágrimas. Ela estava chorando. Erguendo dedos trêmulos para suas bochechas, ela roçou pensativamente a umidade. Ela chorou antes; sabia disso. Naquele quarto escuro onde Ming a enterrou, chorou tantas lágrimas. Mas nenhuma foi como essa. Limpa. Raivosa. Determinada. Dessa vez, ela não se sentia como uma vítima. Ela se sentia muito como uma mulher que foi injustiçada e que teria sua vingança. Devraj Santos não sabia com quem ele estava mexendo.


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Dev ainda estava sentindo a borda vermelha de fúria uma hora depois quando ele fez uma ligação para Ashaya. A M-Psy respondeu quase no primeiro toque. — Katya está bem? — foram as primeiras palavras dela. — Você sabia quão poderosa telepata ela é? Os olhos de Ashaya se arregalaram. — Sim, mas ela nunca usaria isso para causar danos. — A mulher que você conhecia poderia não usar, — Dev latiu. — Você não tem ideia do que ela pode fazer agora, porra. O rosto de Dorian substituiu o de Ashaya. — Basta. — Era um rosnado. — Você fodeu tudo por não fazer a pergunta. Não culpe minha companheira. A raiva de Dev chicoteou de volta para ele. Ele sabia que Dorian estava certo, sabia mesmo antes de ligar. Respirando fundo, ele disse, — Eu peço desculpas. Dorian dispensou com um aceno. — Ela machucou alguém? — Não dessa vez. — Pura sorte cega que Tag estivesse nas redondezas. — Eu preciso falar com Sascha. — Ela não pode fazer muito sobre uma telepata. — Nós temos uma criança com problemas em seus escudos. — E de acordo com a informação que DarkRiver permitiu a Talin compartilhar, Sascha era uma das melhores construtoras de escudos dentro e fora da Net. — Ligue para Lucas, — Dorian disse. — Não vale a minha vida te dar o número do celular de Sascha. — Por quê? — Só ligue para o Luc. Aqui está o número. — Uma pausa. — E da próxima vez que você gritar com a minha companheira, eu vou arrancar sua garganta. Estamos claros? — Olhos de leopardo olhando de um rosto humano. Dev encarou aqueles olhos, conhecendo um show de dominância quando ele via um. — Como cristal, mas não me considere uma presa fácil. — Quando falando com changelings predadores, parecer fraco poderia ser fatal. Os olhos de Dorian brilharam. — Desde que você não faça essa merda novamente, nós não teremos que descobrir qual de nós é mais mortal. Temperamento sobre controle agora, Dev digitou o número de Lucas no painel de comunicação principal. O rosto do alfa de DarkRiver apareceu na tela um instante depois. — Santos, — Lucas disse, olhos felinos verdes, curiosos. — Isso é sobre Noor e Jon? — Não. — Dev balançou a cabeça na menção das duas crianças Esquecidas que Talin adotou. — Eu preciso de um favor.


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— Você percebe que nós cobramos? — Sim. — DarkRiver não se tornou um dos mais fortes clãs do país sendo suaves. — Nós deveremos a vocês. — Então? — Eu preciso da ajuda de Sascha. O olhar de Lucas ficou quieto, atento. Mas tudo o que ele disse foi — Explique. Dev deu a ele um resumo explicito. — Eu estou esperando que Sascha possa ensiná-lo a construir alguns escudos próprios. Eu não sei se é possível, mas se ela é tão boa quanto Talin diz... — Ela é a melhor, — Lucas interrompeu, orgulho em cada palavra. — Mas você está me dizendo que essa criança está danificada, se o dano é no cérebro, Sascha não será capaz de fazer nada. —Todos nossos escaneamentos mostraram que o cérebro dele está funcionando cem por cento. Ele levou um golpe no plano psíquico. — Lesões cerebrais podem ser tão brutais quanto às físicas. — Mas, — Dev disse, — há uma chance ligeiramente melhor de recuperação. Lucas assentiu. — Eu vou perguntar para Sascha. — Obrigado. — Não me agradeça ainda. — Os olhos de Lucas permaneciam humanos, mas Dev sabia que era a pantera que estava falando. — Mesmo se ela disser que sim, e conhecendo o coração da minha companheira, ela dirá, ela não irá colocar um pé fora do território DarkRiver. As palavras anteriores de Dorian subitamente fizeram sentido. — Sascha está grávida, não está? Um pequeno aceno. — Mantenha isso para si mesmo. Nós não queremos o Conselho virando os olhos na direção dela. — Você está dizendo que eu terei que viajar se eu quiser a ajuda de Sascha. — Eu sinto pela criança, — Lucas disse, — mas Sascha vem primeiro. Assim, eu provavelmente terei que amarrá-la para assegurar que ela não entre em um avião e vá até você. — Mas você irá dizer a ela? — Dev perguntou. — Quando você acasalar tente mentir para sua companheira e veja onde isso te leva. Eu retorno depois de falar com Sascha. Sabendo que ele fez tudo o que pode naquele assunto, Dev saiu para falar com Maggie. — Diga-me o que eu preciso resolver agora e o que pode esperar. Sua secretária, uma elegante mulher de quarenta e oito anos com cabelos prateados naturais que ela usava como um acessório fashion, arqueou uma sobrancelha. — Bem, por onde eu começo? Jack e os outros querem outra reunião.


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Dev mal se impediu de ranger os dentes. — Quando? —Evitar não iria levá-los a lugar algum, e dessa vez, pelo menos ele poderia manter um olho sobre o problema. — Eles estão na cidade. — Encaixe-os essa tarde. — Cabeça doendo, ele assentiu para ela prosseguir. — Próximo? — Glen diz que ele irá assegurar que o Paciente X terá alimentação de altas calorias entregues a ela. — Não havia curiosidade em seu tom. Maggie provavelmente sabia todos os detalhes sobre Paciente X, havia um motivo pelo qual ele a contratou ao invés das brilhantes recém-graduadas que se inscreveram para a posição. — Próximo. — Ele ainda estava com tanta raiva que ele mal podia se fazer pensar na mulher que deslizou sob suas defesas... e então o esfaqueou no coração.


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Mesmo enquanto Dev encerrava a ligação com Lucas e virava sua mente para outros assuntos, algo inexplicável estava acontecendo no território do alfa DarkRiver. Judd Lauren, rebelde Psy, ex-assassino, e um filho da puta perigoso pra caralho de acordo com todos que o conheciam, olhava confuso para a garotinha que o estava encarando, toda olhos enormes e rosto em forma de coração. — Sim? — Agachando-se no chão da floresta, ele tentou parecer não ameaçador. — Você queria alguma coisa? Ela balançou a cabeça, cachos negros brilhantes balançando em seus ombros. Judd se tornou melhor com as crianças desde que deixou a PsyNet, mas nesse exato segundo, ele se sentia totalmente perdido. Normalmente quando ele vinha treinar com Dorian, era somente Keenan que ele encontrava. E o filho de Dorian estava mais interessado em copiar os movimentos deles que conversar. — Noor, — ele tentou novamente. — Você está procurando por Keenan? — Ele sabia que os dois eram muito amigos. Outro balançar da cabeça dela. Ele olhou atrás dela, esperando que Dorian viesse resgatá-lo. Não teve tanta sorte. — Você quer brincar? — Era o que geralmente Ben, um dos filhotes SnowDancer, queria quando vinha atrás de Judd. Mas Noor balançou a cabeça novamente. Desespero tomou conta. — Ah... — Ele não tinha nada. Então ela sorriu, pura confiança no brilho de seus olhos. — Eu tenho um presente para você. — Ela ergueu um pequeno punho. — Oh? — Espantado, ele estendeu a mão, palma para cima. — Por quê? — Porque nós somos iguais.


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Judd fechou a mão sobre a pedra moldada pelo rio que ela colocou em sua mão, sabendo que ele não era nada como essa brilhante inocente. Sua habilidade o tornou um assassino, então um curandeiro, mas ainda seria tão fácil para ele matar, somente seu amor por Brenna, por sua família e amigos, seu clã, o impedia de cruzar aquela linha brutal. — É? Como você descobriu isso? Um sorriso beatífico. — Eu só sei. — Então ela se inclinou para envolver seus braços em torno do pescoço dele. Abraçando-a de volta com toda a gentileza que ele tinha em si, ele se ergueu para seus pés, levando-a consigo. E enquanto ele caminhava para a casa de Dorian, ele se perguntava quais similaridades uma garotinha cujo nome significava ―Luz‖ via entre eles. Antes, ele teria dispensado isso, se distanciado. Agora, ele beijou a bochecha dela e aceitou o presente de sua confiança.


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Katya comeu tudo que foi enviado a ela pelos próximos três dias. Ela não tentou escapar, embora ela tenha escondido o remédio para dor e gripe que ela encontrou sobre o balcão do banheiro, não que isso a faria muito bem, e ela não tentou usar telepatia. Ao invés, se concentrou em se fortalecer usando rotinas de exercícios que ela baixou do console do computador na parede. Aquele computador somente a permitia acessar os sites mais básicos, mas tudo bem. Ela tinha o que precisava. Empurrando todos os móveis da sala de estar contra as paredes, ela construiu um espaço onde poderia se aquecer e começar a colocar seu corpo de volta em forma. Ela até mesmo limpou os cacos de vidro e porcelana, relutante em deixar Dev ver quão profundamente ele a machucou. Ela estava focando em ficar forte o bastante para aproveitar a oportunidade de escapar quando a chance viesse. E então... ela tinha um pesadelo para encarar. No quarto dia após ela ter sido golpeada à inconsciente, Dev finalmente voltou. Ela o ignorou enquanto começava a passar sua rotina de aquecimento. Ele parou na borda do espaço improvisado. — Arrume suas coisas. Nós vamos mudar de localização. Excitação desenrolou em suas entranhas, mas ela manteve seu rosto inexpressivo. — Onde? — Você vai ficar perto de Ashaya. Ela já estava balançando a cabeça. — Nós discutimos isso. Eu não posso ser confiada para ficar ao redor dela. — É por isso que você irá tomar um sedativo leve voluntariamente. O estômago dela despencou. — Não. — Isso iria desorientá-la, deixá-la vulnerável. E ela estava cheia de ser vulnerável. Dev cruzou os braços naquele peito em que ela dormiu tão pacificamente meros dias atrás.


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— Certo. Esteja pronta as dez. Ela podia sentir suas unhas afundando em suas palmas. — Quem irá me nocautear para me colocar para dormir? — ela perguntou, furiosa o bastante para tirar sangue. — Você? Ele saiu sem responder, despedaçando a calma recém-encontrada nela. Tag estava esperando fora do quarto de Katya quando Dev saiu. — Não foi bem? — Ela não irá tomar o sedativo. — Você realmente pensou que ela iria? — Não. — Ele também não tomaria. — Mas desde que você e Tiara estão indo, ela precisa vir conosco quando formos ver Sascha. E de jeito nenhum eu posso levá-la quando ela pode ser uma ameaça. Lucas vai cortar minha garganta. — Há outra opção, — Tag apontou. —Glen poderia colocá-la em um coma clínico induzido enquanto nós estamos longe. Dev sentiu seu corpo inteiro zumbir com violência. — Nós fazemos isso, e seria tortura. — Isso a quebraria, a colocaria de volta naquele quarto onde ela não era capaz de ver, ouvir, tocar. — É. — Tag soltou um suspiro. — Você tem um pouco de telepatia, você pode dizer quando ela está usando suas habilidades? — Agora que eu sei o que observar, se eu estiver por perto, sim. Tag endireitou seu corpo para longe da parede. — Então fique por perto. Perto o suficiente para incapacitá-la fisicamente se necessário. O estômago de Dev torceu. — Eu farei isso. — Era uma oferta silenciosa de um homem que conhecia Dev melhor que a maioria. — Não. — Ele encarou a porta que ele mal se impediu de bater minutos atrás. — Ela é minha. — Sua responsabilidade, você quer dizer. — Era um lembrete muito deliberado. — Não se preocupe, eu não estou sendo guiado por nada além do cérebro em meu crânio. Não mais. — Bem, ela é uma coisa linda agora que começou a encher. — Tag deu de ombros. — E todos nós sabemos como você é com os indefesos. — Mas ela não está exatamente indefesa, está? — Ele quase sentiu um sentido de orgulho nela. Deus, que fodido. Ainda... se ela esteve dizendo a verdade, se ela sobreviveu não somente a tortura, mas a destruição de sua mente, sua personalidade em si, isso não deveria ser um motivo de orgulho? — Não. — A concordância de Tag jogou água fria sobre seus pensamentos.


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— O que você irá dizer para Lucas? — A verdade. — Ele se forçou a olhar para longe da porta, da fúria de uma mulher que não era mais a criatura quebrada que ele encontrou, mas alguém muito mais perigosa... muito mais atraente. — Se necessário, eu injetarei os sedativos nela eu mesmo. Novamente, Tag deu de ombros. — Dev, não se torture assim. Passe a responsabilidade para mim. — Não. — Nítido. Nenhum espaço para discussão. — Você precisa controlar Cruz, isso é muito mais intenso, Tiara não pode fazer isso sozinha. — É. A criança ainda está aberta quando nós não o bloqueamos. Se somente, Dev pensou, eles pudessem neutralizar Katya tão facilmente. Isso a faria uma ameaça muito menor, mas Katya não era simplesmente Psy, ela era uma adulta. Mesmo se Tag ou Tiara pudessem bloqueá-la, ela lutaria contra eles, e fazendo isso, drenaria energia que eles precisavam para assegurar a segurança de Cruz. — Se Katya deixar você entrar na mente dela, — ele disse para Tag, — se ela fosse capaz de abaixar seus escudos telepáticos, você poderia bloqueála? — Eu teria que estar monitorando-a o tempo todo, — Tag disse. — Ela odiaria isso. É diferente com Cruz, ele age daquele jeito mal-humorado, mas há aceitação ali. Ele sabe que precisa dos escudos que nós colocamos em volta dele. Eles o fazem se sentir seguro. — Mas eles fariam Katya se sentir violada. — Isso e presa. — Então nós não consideraremos isso. — Era uma decisão instantânea, feita no coração primitivo de sua alma. — Ela já foi cortada da PsyNet. Nós fazemos isso, nós efetivamente a mutilamos. — Então você acredita na história dela? — Eu não sei em que acreditar. — Olhando para cima, ele pegou a expressão de Tag. — Diga. — Você sabe o que eu vou dizer. — Tag deu de ombros. — Você precisa entregá-la para alguém, os sentimentos dela não deveriam contar aqui. Nós precisamos contê-la do modo mais efetivo possível. Dev sabia disso. Ele também sabia que isso não aconteceria. Ela era dele, independente do que aconteceu, ele não permitiria a ninguém interferir. — Talvez dessa vez, o Conselho fez isso certo. — Ele começou a se afastar da suíte de Katya. — Talvez. — Tag o acompanhou. — E talvez eles não o conheçam tão bem quanto eles acham. — Você quer dizer que eu não sou um idiota por mulheres machucadas? — Ele foi religado desse jeito no dia após seu nono aniversário. Ninguém nunca seria capaz de desfazer aquela religação.


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— Você pode ter uma fraqueza, — Tag respondeu quando eles entraram no elevador, — mas isso não irá impedi-lo de fazer seu trabalho como diretor. — Então o fato que eu sou um bastardo com coração de pedra é minha salvação? O sorriso de Tag era fino. — O último conselho da Shine era cheio de homens e mulheres legais. O Conselho quase nos comeu vivos. Eu prefiro confiar em um tubarão na direção.

ARQUIVO DA FAMILIA PETROKOV Carta datada 1 de Setembro de 1976 Querido Matthew, Você brincou com seu pai e Emily hoje, todos os três rindo tanto que você fez minha alma arder de felicidade. Seu pai está conseguindo ficar lúcido por horas seguidas, embora eu me pergunte quanto isso custa a ele. Hoje ele recebeu outro golpe quando seu tio Greg optou pelo Silêncio. Eu não acho que seu pai esperava que seu irmão tomasse esse passo, mas as habilidades de previsão de Greg são mais fortes que as de David. Os pesadelos nos olhos dele... eu queria poder ajudá-lo. Mas eu sou uma M-Psy, uma escaneadora. Algumas pessoas dizem que é por isso que eu não entendo a importância do Silêncio, mas querido Deus, como eles podem pensar isso? Eu sou casada com um P-Psy, mãe de dois pequenos telepatas. Eu sei o preço exato, até a última lágrima, o último pedaço de medo, a última gota de luz nos olhos de seu pai. Eu até disse a ele que talvez Greg estivesse certo, que talvez o Silêncio pudesse ajudar aqueles com seu dom. Ele não ficou com raiva. Ele sabe muito bem que eu o amo até o núcleo do meu ser, a ideia de assistir a mente dele fragmentar, quebrar sob o peso da escuridão de suas visões... isso me despedaça. Você sabe o que ele disse Matthew? Ele disse que ele preferiria morrer como um homem louco que viver e ter tudo o que o torna quem ele é tirado dele. Ele preferiria viver um dia com seu amor por mim, você e Emily em seu coração que uma vida inteira sem sentir aquela ―selvagem, inacabável fúria‖. Seu pai é um poeta às vezes. Eu aposto que você não sabia disso. Eu estou sorrindo enquanto escrevo isso, sabendo que nós decidimos. Nós ficaremos contra o Silêncio. Mas Matty, eu temo que talvez sejamos a minoria.


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Com todo o amor em meu coração, Mamãe


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Katya estava cruamente consciente da energia mal contida de Dev enquanto ele se sentava ao lado dela no jatinho. Escoltada para os fundos do avião, ela foi avisada contra tentar ver quem mais estava a bordo, embora fosse difícil não perceber as duas pessoas se movendo na parte da frente. Um era um homem grande que Dev apresentou como Tag, o outro uma Vênus de uma mulher com uma lustrosa cachoeira de cabelos preto-azulados, olhos castanho-amarelados e um sorriso deslumbrante posicionados num rosto com bochechas de uma supermodelo. Havia, ela sabia, alguém mais no avião, mas ele ou ela se manteve fora da vista de Katya. Ela não fez nenhum esforço para fazer uma varredura telepática, para descobrir a identidade escondida do indivíduo. Dev mostrou a ela o injetor de pressão em seu bolso depois deles embarcarem. Ela esperava uma ameaça, mas ele cortou as pernas dela ao invés. — Você me força a usar isso, — ele disse, algo escuro e dolorosamente antigo em seus olhos, — e eu nunca te perdoarei. Naquele momento, ela teve o espantoso entendimento que ela estava vendo o verdadeiro Devraj Santos pela primeira vez. Ele se retraiu atrás de suas paredes um instante depois, e agora, com dez minutos de viagem, ele estava ocupado trabalhando em seu datapad eletrônico. Nenhuma palavra foi trocada entre eles no tempo. Mais a frente, ela viu Tag mudar seu olhar para seguir o progresso de sua linda acompanhante enquanto ela caminhava pelo corredor para pegar água. Ele endireitou sua cabeça no instante em que a mulher começou a voltar. Os lábios de Katya torceram-se. — Algo engraçado? Ela estava tão surpresa pela questão que ela voltou a encarar Dev. Ele ainda estava olhando para seu datapad. — Como você sabia? — Eu sei. No apartamento, ela fez um voto de ser civilizada com ele, mas nada mais. Ele não era amigo dela, como ele poderia ser quando não acreditava numa palavra que ela dizia? Mas nesse momento, sentada perto dele, ela percebeu que distância não era o modo de afetá-lo. O homem obviamente


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sabia muito sobre isso, ele poderia congelá-la em qualquer dia da semana. Mas risadas... Dev não parecia saber muito sobre risadas. E enquanto ela podia ser Psy, ela encontrou uma veia de humor em seu novo coração de fênix. — Tag, — ela disse, abaixando a voz. — Ele continua olhando para aquela mulher quando ele acha que ninguém está prestando atenção. — O nome dela é Tiara. — Dev registrou algo mais em seu datapad. — Há um livro de apostas aberta na Shine sobre esses dois. Curiosa, ela esperou por ele continuar. — Sobre o quê? — ela prontificou quando ele não disse nada. — Quando Tag vai arrumar coragem para chamá-la para sair. Piscando, ela encarou o grande, sólido homem como um rosto como pedra. — Seu amigo não parece assustado com nada. Eu posso vê-lo encarando o Conselho Psy sem piscar. — É por isso que é tão engraçado. — Oh. — Agora ela entendia. Por algum motivo, essa Tiara abalava Tag no nível mais profundo. —Quando eu estava na PsyNet, — ela disse, capturando outro pedaço de memória, — eu nunca entendi como fêmeas humanas e changelings conseguiam confiar em seus homens sem as cordas do Silêncio. Dev finalmente olhou para ela, aqueles olhos exóticos atentos. — Especialmente, — ela continuou, — quando os homens são maiores e mais fortes. Como quando Sascha Duncan desertou para acasalar com o alfa DarkRiver. Eu simplesmente não conseguia entender como ela poderia se sentir segura perto dele. — Não há violência de homem contra mulher na Net? — Não, não no sentido da sua pergunta. Violência doméstica não é algo sobre o que você escute, eu suponho que não há chances para isso, — ela disse, encarando o rosto de um homem que era, para todos os efeitos, o alfa de seu próprio povo, tão letal e perigoso quanto. — Homens sob o Silêncio são frios, controlados. Mas os homens fora? Você fica tão nervoso, não há nada que possa te impedir de machucar uma pessoa mais fraca. De uma vez, a temperatura caiu, até que ela quase podia ver sua respiração congelar o ar. — Sua pesquisa deve ter sido muito completa. — Do que você está falando? Dev a encarou, seu rosto sem emoções. Depois de um longo, congelado momento, ele voltou sua atenção para o datapad. — Há um módulo de entretenimento no datapad na parte traseira do assento na sua frente. Ela não sabia de onde tirou a coragem. Estendendo a mão, ela pegou o datapad dele e apertou o botão de desligar. Ele simplesmente estendeu uma mão. — Você deu a sorte desse modelo ter memória automática.


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Ao invés de entregar o aparelho a ele, ela o colocou ao lado de seu assento. — Eu vou abaixar meus escudos. Um silêncio absoluto, não interrompido sequer pelos murmúrios dos outros no avião. —V ocê não pode, — ele disse finalmente. — A menos que toda a coisa do pânico de ter sido trancada fora da Net seja outra mentira? Foi um golpe cirúrgico, preciso e fatal, mas ela se recusou a deixá-lo abalá-la. — Eu estou bloqueada da Net, mas ele não fez nada para me impedir de usar minhas habilidades... — Por quê? — Dev interrompeu. — Provavelmente porque esse tipo de blackout requer constante policiamento. — Poeira em sua garganta, cascalho em sua boca. — Ou talvez seja porque ele quer que eu use minhas habilidades, mas qual for à razão dele, significa que eu tenho controle sobre meus escudos pessoais. Eu posso abaixá-los. — Isso é uma oferta ou uma ameaça? — Palavras frias, um rosto sem expressão. — Uma oferta. — Ela estava enjoada e cansada de toda aquela desconfiança. — Você disse que tinha um pouco de telepatia. É o suficiente para escanear uma mente aberta? Ele não respondeu. Então ela foi por instinto, assumiu que ele poderia fazer o que ela estava pedindo. — Entre, veja o que eu sei, veja o que eu sou. — Confie em mim, ela queria dizer. Porque raiva somente iria levar até certo ponto. Ela se sentia tão sozinha. Nos dias em que ele a trancou naquele quarto, ela não dormiu mais que algumas horas por noite, muito ciente do vazio sem fim de sua existência. A pele se apertou sobre as bochechas de Dev. — Você confia em mim tanto assim? — Você foi bem claro, se eu me provar uma ameaça, eu morro. De outra forma, eu não acho que você irá me brutalizar. Ele recuou, como se ela fosse golpeá-lo. — Esse tipo de invasão, não é nada que um telepata escolheria. — Eu escolho. Eu preciso que você pare de me tratar como uma fraude. Eu não sou. — Não. — A mandíbula dele se apertou. — Por quê? — Ela girou para encará-lo. — Por que você se sente culpado por invadir minha mente? Eu estou te dando permissão, Dev. — Isso não torna a coisa menos invasiva. — E isso? — Ela ondulou a mão. —Isso, onde eu sou tratada como uma mentirosa consumada é melhor?


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Ele olhou para cima. Seguindo, ela viu Tiara olhando para eles dois com interesse não disfarçado. O tom de Dev estava apertado quando ele se voltou para ela. — Nós não vamos discutir isso aqui. Calor rolou pelo corpo dela, ameaçando corar seu rosto. — Certo. Mas nós discutiremos isso.

O desembarque do avião foi preciso. Cruz e seus mentores estavam num veículo pelo momento em que Dev desceu com Katya. DarkRiver enviou uma equipe de boas vindas com quatro integrantes, com dois veículos para todos os tipos de terreno. Um macho alto com distintivo cabelo loiro preso em uma trança avançou um passo. — Vaughn, — ele disse estendendo uma mão. —Dev. — Enquanto eles balançavam as mãos, Dev viu os olhos de Vaughn irem para Katya, então de volta. Consciente de que o homem era um sentinela, um dos homens de posição mais alta no clã de Lucas, Dev deduziu que Vaughn sabia exatamente quem ela era, mas ele fez a apresentação de qualquer forma. — Essa é Katya. Vaughn não ofereceu a mão a ela, uma cortesia, desde que a maioria dos Psy na Net preferia não ser tocados. — Ashaya quer conversar com você. — Eu não tenho certeza de quão seguro isso seria, — Katya disse, rosto contido. Vaughn não pareceu preocupado. — Nós temos reforços. Vamos lá, vocês dois podem ir comigo e Cory. Vocês conheceram Mercy? Dev balançou a cabeça. — Eu ouvi que você acasalou com um lobo, — ele disse à bela ruiva que ergueu a mão num pequeno aceno. — O trauma está começando a desaparecer. — Uma voz sem expressão, mas os olhos dela brilharam. — Eu vou levar os outros. Esse é Jamie. — Ela apontou com o dedão para o macho atrás dela, seu cabelo tingido num amarelo brilhante listrado com cobalto. — Ele é o atirador. Vaughn esperou até que o primeiro veículo tivesse saído antes de seguir. Ele ofereceu a Dev o assento da frente, mas Dev escolheu sentar atrás com Katya. A viagem passou em um silêncio fácil, para os passageiros nos assentos da frente, de qualquer forma. Dev estava supremamente consciente da rígida linha da espinha de Katya, a questão com bordas afiadas que ainda pairava entre eles.


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Ele queria segurar a nuca dela, fazê-la se virar para encará-lo ao invés de olhar para fora da janela. Batalhar o instinto deu a ele um inferno de uma dor de cabeça. Como resultado, ele estava em um humor de merda quando eles chegaram à locação que DarkRiver tinha escolhido para o encontro com Sascha. — Lugar legal, — Dev disse. Localizado em um pedaço de terra que provia privacidade, a casa de nível único era grande o suficiente para todos eles. Os outros já tinham se instalado de acordo com a mensagem de texto que ele recebeu de Tiara. — Quão longe nós estamos da cidade? — Quinze minutos, — Vaughn respondeu. — Nós deixaremos um dos veículos com vocês, e nós podemos providenciar outro se acharem necessário. Dev tomou um momento para pensar sobre isso, muito ciente de Katya silenciosamente de pé do outro lado do veículo. — Mais um seria bom no caso de nós termos de nos separar por alguma razão. Eu quero os dois programados para reconhecer a mim, Tag, e Tiara. A mão de Katya se curvou em um punho no capô. — Só leva meia hora ou algo assim, — Vaughn disse. — Cory irá programar você neste, então você pode programar os outros. Enquanto o jovem leopardo trabalhava no sistema computrônico do carro, Dev viu Katya andar para ficar perto de Vaughn. — Ashaya está bem? — Sim. — O sentinela arqueou uma sobrancelha. — Pensei que ela tinha ido te ver. — Eu não estava no meu melhor estado mental então. Nós não nos falamos muito. — Ela está feliz, — Vaughn disse simplesmente. — Dorian, ela, e o filhote, eles fazem uma boa família. Cory pediu para Dev cadastrar sua impressão digital, então ele perdeu os próximos comentários. Quando ele voltou, Vaughn estava mostrando à Katya algo em seu celular, os dois tão perto, que estava quase se tocando. Se fosse Tag... mas não era. Dev não conhecia Vaughn, não confiava nele. Seu corpo inteiro ficou tenso, pronto para atacar. A porta da frente da casa se abriu no meio de sua briga contra uma explosão de ciúme como nada que ele experimentou antes. Mercy e Jamie saíram para a varanda, chamando a atenção de Vaughn. O sentinela afastou seu telefone. — Tudo certo? Mercy assentiu antes de se voltar para Dev. — Sascha vem essa tarde. — Obrigado. — Saiu soando civilizado, embora ele não se sentisse assim. — Espero que ela possa ajudar o... — A ruiva fechou a boca rapidamente quando Dev balançou a cabeça repentinamente. Mesmo enquanto Mercy seguia a deixa de Dev, Katya enrijeceu. Um instante depois, aquela rigidez se foi, esvaziada para fora dela como ar, seus


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ombros caindo. Ele não conseguia suportar vê-la daquele jeito. Deixando Cory para completar o processo de verificação, ele caminhou para o lado dela, então pensou para o inferno com isso e colocou seus braços em torno da cintura dela, puxando-a para o calor de seu corpo. Ela não suavizou para ele... mas também não se afastou. — Cory, — Vaughn chamou, não fazendo nenhum comentário sobre as ações de Dev, — você acabou? Mercy, porém, deu a Dev um olhar duro. A verdade o atingiu como um raio — se Katya se recusasse a voltar para Nova Iorque com ele, os leopardos encontrariam alguma forma dela ficar. No fim das contas, não somente Ashaya era uma fenomenalmente talentosa M-Psy, os leopardos também tinham duas cardeais em seu clã. Ele encontrou o olhar de Mercy, o segurou. Depois de um tempo, ela deu o menor dos sorrisos. — Acho que nós vamos embora. Vejo-te depois, Dev. Katya, esse é meu número. — Ela entregou um cartão. — Ligue se você precisar de mim. Dev esperou até que os felinos saíssem antes de dizer, — Você vai ligar para ela? — Não. — Esfregando uma borda com as pontas dos dedos, ela deslizou o cartão em um bolso. — Ashaya é uma boa pessoa, mas ela não entende o quanto ele me mudou. Eu o vejo agora, você sabe, Ming, aquela marca de nascimento em seu rosto é óbvia. A expressão dele nunca mudou, — ela murmurou, —não importa o que ele fazia ou o quanto eu implorava. Fúria, súbita e incontrolável, envolveu-se em torno da garganta dele enquanto ele mudava de posição de modo que ele poderia olhar para o rosto dela. Mas ela não deu a ele a chance de falar, colocando suas mãos no peito dele e empurrando. — Por que você está me abraçando? — Porque parecia que você precisava disso. A resposta honesta pareceu tirá-la do equilíbrio. Mas só por um instante. — Você não pode fazer isso, Dev. — Fazer o quê? — Ele brincou com uma mecha do cabelo dela que estava voando na brisa. Ela ergueu a mão para empurrar a mão dele. — Dizer-me que você deu ordens para permitir o uso de força letal contra mim em um minuto e me acariciar no próximo! — Eu estava supremamente puto quando eu disse aquilo, — ele disse, quebrando todas as suas regras sobre se misturar com o inimigo. — Porque você pensou que eu te enganei. — Uma mistura furiosa de mágoa e raiva. — E você ainda acha isso. — O que mais eu poderia pensar? — Ele perdeu seu próprio temperamento. — Você é a porra de uma telepata poderosa e ainda você esquece? É como não lembrar que você tem um membro! — Não é o mesmo! — ela gritou de volta, então agarrou a cabeça.


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Ele imediatamente segurou o rosto dela em suas mãos. — O que é isso? — Shh. — Linhas se formaram entre os olhos dela. Ele esperou por quase dois minutos enquanto ela ficava lá, sua cabeça inclinada de uma forma que implicava que ela estava escutando, como se ela estivesse começando a ver os segredos de seu passado. Mas quando ela olhou para cima, havia somente um tipo de dor assombrada em seus olhos. — Eu estou começando a ver até as partes que estavam escondidas profundamente. Naquele instante, ele não poderia não acreditar nela. —Bom. — Eu não tenho certeza. — A garganta dela moveu quando ela engoliu. — Eu fiz coisas naqueles laboratórios, Dev, coisas que eu não quero lembrar. O medo na voz dela o abalou. Ele se acostumou a vê-la como a sobrevivente que acordou naquela cama de hospital, a mulher com uma vontade de aço que o pediu por uma promessa de morte. Mas aquela mulher uma vez foi uma Psy cientista, poderia muito bem ter feito coisas imperdoáveis. — Quem quer que aquela mulher seja, — ele disse, voz áspera, — ela morreu naqueles meses que você passou com aquele monstro. — Isso é muito fácil. — Uma decisão implacável. — Não, eu tenho que ver, eu tenho que saber. — Então você saberá. — Ele fechou a mão sobre a nuca dela, suavizando sua fome por tocá-la, reivindicá-la. — Se há algo que eu saiba, é que sua vontade é inquebrável. — Então você sabe que eu não vou desistir, — ela disse, olhando para ele com aqueles olhos mutáveis. Nesse instante, na luz do sol, eles estavam tão claros como se fossem translúcidos. Mas aquilo não os tornava menos determinados. — Eu quero que você escaneie minha mente.


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Tendo lido o registro que sua assessora preparou para ele sobre a situação em Sri Lanka, Kaleb foi para fora, para a borda do pátio que se estendia sobre um desfiladeiro irregular, e abriu os caminhos psíquicos de sua mente. Mas ao invés de entrar na Net como Kaleb Krychek, Conselheiro e cardeal Tc, ele se envolveu em um firewall móvel que mudava interminavelmente, escondendo sua identidade. Nikita Duncan teria se surpreendido ao ouvir de quem ele aprendeu esse pequeno truque. Ele monitorou Sascha Duncan por algum tempo antes de ela desertar, a NetMind mostrou uma preferência pela filha da Conselheira e ele quis saber o por quê. Mas ele não foi capaz de penetrar os escudos dela, Sascha Duncan, ele pensou imparcialmente, talvez fosse a melhor técnica de escudos que ele já viu. O que ele aprendeu dos vislumbres que conseguiu pegar dela antes que se perdesse nos caminhos da Net foram mais úteis que todas as coisas que ele tinha aprendido até aquele ponto. Agora, usando aqueles escudos que o tornavam efetivamente invisível, ele disparou através dos céus da meia-noite da Net e em direção à mancha que ele mostrou à Nikita. Ao invés de tomar a rota habitual, ele encontrou uma das correntes que desembocavam na piscina e a deixou guiá-lo até o ponto exato, muito como seguir um rio até o mar. Ele não temia contaminação, ele reconhecia a área morta pelo que era. Ela abrigava os ecos da DarkMind, a muda, escondida gêmea da NetMind, criada por toda a raiva e dor que os Psy se recusavam a sentir. Parte daquele eco existia dentro de Kaleb, também. Não era por ele ser um Tc cardeal, era por ele ser um cardeal Tc muito especial, um que foi moldado no perfeito condutor pelo tempo e circunstâncias. Então ele cavalgou as corredeiras escuras com impunidade, mesmo enquanto ele ―falava‖ com a NetMind. A senciência não tinha nada para contar a ele sobre a rebelião em Colombo, mas o enviou uma cascata de imagens das quais Kaleb filtrou um único fio obscuro que serpenteava quase diretamente a âncora daquela região. Ele não mentiu para Nikita, ele não achava que o recente surto de violência Psy fosse o responsável por esse pedaço sem vida da Net, mas era um fator...


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E estava começando a enfraquecer as principais bases da Net. Aquela desintegração ainda não era uma avalanche, e o aumento nas reabilitações voluntárias poderia desacelerá-lo, mais cedo ou tarde algo teria que acontecer. E quando acontecesse, essa mancha iria se espalhar. E onde quer que fosse, a morte seguiria.


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Katya permaneceu atrás da porta fechada de seu quarto quando ouviu os outros chegando. Dev não a ordenou a fazer isso, nem sequer colocou guarda em sua porta, mas ela não ia colocar as pessoas em perigo porque se sentia magoada por ser excluída. Talvez ela estivesse certa e Ming não estivesse monitorando todos os seus pensamentos, todos os sinais apontavam para uma falta de controle mental, mas como ela poderia justificar brincar com vidas baseada na força de uma crença construída em um chão tão instável? Mas se ela estivesse certa e Ming tivesse efetivamente criado uma cerca em torno de sua mente na PsyNet, como é que aquela cerca estava se mantendo no lugar? Até onde ela podia ver, não tinha nenhum link psíquico a ninguém, nem a nada, além de sua conexão provedora da resposta biológica com a PsyNet. Sem link... — Oh, — ela disse em voz alta, percebendo a profundidade das habilidades de Ming em combate mental. A cerca, o escudo, a prisão, ela estava a alimentando. Ele a trancou dentro de si mesma, e então, como um insulto final, programou sua própria mente para reforçar as paredes que ele ergueu. Sua mão cerrou-se nos lençóis, no colchão. Ela não estava somente dentro de uma prisão, ela era parte da prisão em si.

Dev observou Sascha Duncan sentar no outro lado da cama de Cruz, a mão de seu companheiro em seu ombro. Os olhos de Cruz foram de Dev para Lucas e de volta novamente. Sascha suspirou.


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— Vocês dois poderiam parar de olhar um para o outro como se estivessem prestes a entrar num tiroteio? — Nenhuma arma, — Dev disse sem tirar os olhos do alfa DarkRiver. Sascha fez uma careta. — Lucas. — Um comando para se comportar. Os olhos do leopardo se iluminaram com diversão. — Eu me comporto se ele se comportar. Na cama, os lábios de Cruz se curvaram ligeiramente enquanto esperava pela resposta de Dev. — Desde que eu sou a visita, — Dev disse, se encostando contra a parede ao lado da porta, — eu suponho que eu tenha que deixá-lo vencer essa rodada. — Generoso da sua parte. — Lucas se moveu para ecoar a posição de Dev mais perto de sua companheira. — Viu, Sascha, nós somos amigos agora. Ao invés de responder, Sascha se focou em Cruz. — Quantos anos você acha que eles têm? As bochechas de Cruz mostraram covinhas quando ele sorriu. — Dez? A risada de Sascha encheu o quarto, e pela primeira vez, Dev verdadeiramente entendeu o que ela era. Inúmeros empatas desertaram com os Esquecidos, mas muitos ficaram para trás, esperando com todas as forças que sua mera presença ajudasse seu povo. Sua bisavó Maya era uma criança quando seus pais escolheram desertar, suas habilidades empáticas no nível moderado. Por causa dela, ele achava que conhecia empatas... mas ele nunca esteve na presença de um E-Psy cardeal. Era, ele percebeu, simplesmente impossível sentir ódio ou raiva em direção à Sascha e você sentisse qualquer tipo de emoção. E isso, ele subitamente entendeu, era o porquê os E-Psy eram sistematicamente sufocados na Net, seus poderes confinados, eles eram uma ameaça real ao poder do Silêncio. Se o Silêncio caísse, eram os empatas que provavelmente tomariam o controle. Mas extraordinária como ela era, ele não sentia nada além de admiração por Sascha. Ela não acordava nenhum dos complexos, turbulentos sentimentos trazidos à vida dentro dele pela mulher sentada silenciosamente no quarto na parte de trás da casa. O fato de que ele não podia libertá-la destruiu algo nele. Sascha encontrou o olhar dele naquele momento, seus olhos com nada além de calor. — Eu acho que você pode confiar em mim com Cruz. — Ela olhou sobre seu ombro para Lucas. — Xô. Ninguém vai pular pela janela com metade do clã observando do lado de fora. Lucas se afastou da parede enquanto Dev olhava para ver se Cruz se sentia bem em ficar sozinho com Sascha. O garoto já tinha uma mão envolvida em torno da dela. — Você quer que Tag e Tiara continuem mantendo os escudos?


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— Sim. — Sascha sorriu quando Lucas se abaixou para beijar a parte de trás de seu pescoço. — Nós vamos começar com os blocos de construção básicos hoje. Embora eu sinta que Cruz vai pegar tudo muito rápido. Saindo com o alfa DarkRiver, Dev fechou a porta para que Sascha e Cruz tivessem privacidade. — Sascha está muito esbelta para uma grávida. Lucas se eriçou. — Você está dizendo que eu não cuido bem da minha companheira? — Pare de antagonizá-lo, Dev, — Tiara disse de sua posição de pernas cruzadas em frente à tela de entretenimento na sala de estar. — Você sabe perfeitamente bem quão selvagem os homens changeling ficam com suas companheiras grávidas. Tag, vá bater em um deles. Tag suspirou e olhou para cima. — Isso é realmente necessário, cavalheiros? Lucas, seus olhos humanos novamente, olhou de Tag para Tiara e pareceram ver algo que ele não deveria. Mas ele não disse nada. — Eu gostaria de conhecer Katya. Não gostando da familiaridade com a qual o macho changeling disse o nome dela, Dev começou a caminhar para o corredor. — Ela fica comigo. — Bem, agora... — Lucas deu de ombros. — Ashaya está ligada a ela. — Sem compromissos. Lucas deu a ele um olhar perspicaz. — Você fala com ela assim, também? — Não é da sua conta. — É o que eu pensava. — Um sorriso felino. —Aqui vai uma dica, não rosne com as mulheres. Isso as deixa loucas. —Vá se ferrar, — Dev disse sem calor. Lucas riu. — Eu não preciso. Eu tenho uma companheira linda. Katya abriu a porta naquele momento. — Eu achei que tinha ouvido... — Seus olhos se fecharam sobre Lucas. O alfa DarkRiver era todo olhos verdes e aquele quente charme felino quando ele sorriu. — Você deve ser Katya. Eu sou Lucas. — Olá. — Katya deu um pequeno sorriso. Fogo ondulou através da coluna de Dev. — Vamos conversar lá fora. — De jeito nenhum no inferno ele queria o outro homem no quarto de Katya. — Não enquanto Sascha estiver na casa, — Lucas disse, tomando uma posição contra a parede oposta à porta. — Nós podemos conversar aqui. — O que há para ser conversado? — Katya perguntou, agarrando o batente da porta. Os olhos de Lucas foram para seu aperto firme na porta. — Ashaya quer que você saiba que tem uma saída.


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A mandíbula de Dev se apertou. — Não banque o alfa aqui, Luc. Eu não tenho nenhuma lealdade a você. — Eu tenho que cuidar do meu povo, Dev, assim como você. E Ashaya considera Katya uma amiga verdadeira. Dev pensou na determinação de Katya para ir para o norte, esperou para ver o que ela faria. — Obrigada, — ela disse, descurvando seus dedos somente para envolver os braços em torno de si mesma. Seu corpo tomou as rédeas, querendo ir a ela, apertá-la perto. Então ela falou, e seu orgulho por ela se tornou uma chama dentro dele. — Eu penso nela como uma amiga, também. E porque eu sou amiga dela, eu não colocarei a família dela em perigo. — Aí está sua resposta, — Dev disse, se assegurando que Lucas ouvisse a absoluta falta de flexibilidade em sua voz. — Algo mais? — Se mudar de ideia, Katya, tudo que você tem que fazer é dizer. — A cabeça de Lucas angulou ligeiramente para a direita. — Eu tenho que ir falar com a minha companheira. Sabendo que Tag e Tiara manteriam um olho nas coisas, Dev ficou para trás enquanto Lucas se afastou. — Você deveria ter aproveitado a chance que ele te deu. Os olhos de Katya se arregalaram com o tom dele. Algo primitivo nele o pressionou para terminar isso, reivindicá-la do jeito mais definitivo. — Eu não vou deixar você partir. Katya sabia que deveria estar zangada, mas não foi ameaça o que ela viu nos olhos de Dev. Não, o que queimava nas profundezas daqueles olhos salpicados de ouro era uma exigência possessiva que ela sabia que acabaria com sua solidão para sempre... mas somente se ela aceitasse as regras dele. — Eu posso ter estado quebrada quando eu cheguei, — ela disse, uma parte profundamente feminina dela sentindo que se cedesse agora, tudo se acabaria, — mas isso não é mais verdade. As peças estão começando a se encaixar. — Bom. — Ele tomou o queixo dela em um aperto que era flagrantemente proprietário. O estômago dela se encheu com borboletas, o cheiro de aço e calor dele em cada respiração, mas ela manteve sua voz. —Mesmo se isso significar que eu não farei o que você quer? Ele roçou seu dedão sobre o lábio inferior dela, os olhos dele em sua boca. — Eu nunca disse que queria um fantoche. — Nesse caso, — ela disse, seus lábios roçando o dedão dele, — se considere avisado. Nada que você faça irá me impedir de fazer o que eu tenho que fazer. A expressão de Dev mudou então, se enchendo não com raiva, mas com desafio. — Manda ver.


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O beijo foi fácil, rápido, abertamente possessivo, um aviso e uma promessa em um só. Caminhando corredor abaixo para encontrar Sascha saindo do quarto de Cruz, para ir diretamente para os braços de seu companheiro, Dev assentiu para o casal para segui-lo para fora. — Tag, — ele disse, o gosto de Katya uma doçura prolongada em sua língua, — um de vocês dois deveriam participar disso, também. — Eles poderiam transmitir facilmente o que ouviam um para o outro. Tiara se ergueu em um movimento gracioso. —Eu vou. Deixe sua mente aberta para mim, okay, grandão? Tag deu um curto aceno, mas Dev viu o flash de fome nos olhos do homem. Isso o fez se perguntar como era para os dois telepatas se comunicarem, Tag sentia algo diferente quando era Tiara? Parte dele não conseguia evitar pensar em como seria ter Katya deixando sua mente aberta para ele. Então você sabe que eu não vou desistir. Eu quero que você escaneie minha mente. Todos seus instintos masculinos rosnaram em rejeição. Tal contato não teria nada a ver com intimidade, seria o pior tipo de violação, uma zombaria do que deveria ser. — Dev, você está bem? — Era Tiara, sua voz baixa. Percebendo que ele deixou suas emoções aparecerem em seu rosto, ele assentiu. — Sascha, — ele disse, se virando para a empata quando ela veio ficar ao lado dele, Lucas do outro lado dela. — Qual é a sua opinião sobre Cruz? — Ele está danificado, mas não irrevogavelmente. — Um sorriso encorajador. — O garoto pode aprender a construir escudos. Tiara soltou um suspiro. — Droga, eu estou feliz por ouvir isso. Mas por que ele não estava aprendendo as coisas que nós tentamos mostrar a ele? — Suas vias, — Sascha disse, — estão tão comprometidas que eu tive que inventar uma forma completamente nova de se construir escudos só para ele. — Você consegue fazer isso? — Tiara perguntou. — Tag quer o projeto. — É um trabalho em progresso no momento, eu estou construindo isso de dentro para fora. Ou melhor, — ela emendou, — Cruz está, de acordo com as minhas instruções. Eu ficarei feliz em te dar o que eu tenho até agora. — Luc, — Dev disse quando as duas mulheres se afastaram, — eu tenho mais uma coisa que preciso falar com você. — É? — Você tem algum contato com o novo clã de leopardos em Smokies? — É o clã de Remi, — Lucas disse facilmente. — RainFire.


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— Remi? — Dev balançou a cabeça. — Parece que ele deveria estar caçando jacarés em algum lugar. — Apelido para Remington. Ele fica puto quando alguém usa esse nome. — Valeu pela dica. Lucas sorriu. — Há quanto tempo RainFire existe? — Em torno de um ano. Remi reuniu alguns solitários que ele conheceu ao longo de suas viagens, encontrou território, e enviou o aviso de que o clã estava aberto. Eu ouvi que ele tem um grupo razoável agora. — Como isso funciona, a coisa do território? — Você está pedindo um motivo? — Eu tenho pessoas nervosas na área, pessoas ganharam suas terras honestamente. — Muitos Esquecidos se estabeleceram naquela região, encontrando conforto à sombra da montanha. Lucas balançou a cabeça. — Não será um problema. Remi comprou um grande trato de terra para seu povo, e sob as alterações da Constituição depois das Guerras Territoriais, ele tem direitos changeling sobre as áreas de domínio público. Dev leu aquelas leis. — Desde que ele mantenha a paisagem natural e a mantenha contra outros changelings, é dele? Isso não vai contra o Acordo de Paz? — Aquela área não foi reivindicada, — Lucas disse. — Se tivesse sido reivindicada, se o clã fosse fraco, ele poderia ter tomado-a, também. O fato de que estava vazia tornou as coisas muito mais fáceis. — E o acesso do meu povo às terras públicas? — Ainda é deles, mas se Remi conseguir segurá-la, eles terão que seguir as regras dele. — Não é exatamente justo. Lucas deu de ombros. — Se ele a mantiver, ele também garante ajudar o povo em seu território, para que os humanos e os changelings não predadores tenham proteção. Não é um acordo ruim. — A menos que Remi seja um pedaço de merda. Um sorriso se espalhou no rosto do alfa leopardo. — Eu vou dizer a ele que você disse isso. — Eu prefiro que você me dê à linha direta dele. Eu não consigo segurá-lo por tempo o suficiente para conversar. — Ele está ocupado estabelecendo território. — Mas Lucas tirou seu celular e enviou os dados para o telefone de Dev. — Remi é okay. Será interessante ver se RainFire permanece junto, como eu disse, o clã é baseado em um grupo de leopardos que escolheram caminhar sozinhos até que Remi jogou sua conversa doce neles e os fez se juntar com ele.


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— Você parece saber um pouco sobre ele. Eu pensei que os clãs fossem independentes. — Os tempos mudam, — Lucas disse, nenhuma diversão em seu tom agora. — Inteligência é uma ferramenta útil, mesmo para os clãs mais isolados. Dev encontrou os olhos do outro homem. — Há Esquecidos espalhados por todo o país. — Talvez nós devêssemos conversar. LOG DE COMANDO EARTHTWO: ESTAÇÃO SUNSHINE 10 de Julho de 2080: Registro de incidente oficial: Quatro membros de apoio parecem ter experiência um episódio alucinatório de força significante. Durante o período de atividade cerebral irregular, eles causaram danos extensivos aos alojamentos principais. Reparos estão agora em progresso. Todos os indivíduos afetados foram checados pelos médicos e pronunciados estáveis após doze horas de observação. O time médico atualmente não tem dados conclusivos, mas tem a teoria de que os quatro devem ter sido envenenados por um contaminante na cadeia de comida. Nossos abastecimentos estão no processo de serem escaneados por toxinas.


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Katya passou a maior parte restante da tarde assistindo noticiários arquivados na pequena unidade de comunicação em seu quarto. Mais e mais da memória dela estava voltando, e várias vezes se encontrou incitando o âncora. Quando aquilo aconteceu muitas vezes, ela desligou o painel e decidiu esticar as pernas. Ninguém a incomodou quando foi para a cozinha. Depois de pegar uma maçã da tigela no balcão, ela abriu a porta dos fundos e saiu. — Vai ser uma noite agradável, — Tiara disse de onde ela estava passando uma graciosa rotina de exercícios no gramado dos fundos, seu cabelo preso em um lustroso rabo de cavalo, seu corpo coberto por um fluido top brando e uma legging preta. Mordendo a maçã, Katya olhou para o céu de fim de tarde. — Como você sabe? — Eu tenho sensitividade com o clima, como minha oma diria. — Oma? — Minha avó. — Tiara esticou seus longos membros de um jeito quase felino. — Ela nasceu na Indonésia, mas seus ancestrais eram povo do mar pra lá dos Países Baixos. Ninguém consegue ler o tempo como um marinheiro. A maçã deixou um gosto doce, ligeiramente azedo na língua de Katya. Saboreando-a, ela deu mais uma mordida. — Sua família se misturou com a população da Indonésia? — Você não vê? Eu sou um mutante. — Uma piscada de um olho que era curvado para cima só o suficiente para sussurrar de ancestrais da Europa. Katya não conseguiu não sorrir. — Você está fazendo algum tipo de ioga. — É uma das versões mais atléticas. — Girando em uma curva lenta, a perna dela erguida como a de uma dançarina, ela sorriu. — Quer se juntar a mim? Ser forte, Katya pensou, só iria ajudá-la em sua escapada. — Eu posso fazer isso com essas roupas? Tiara correu um olhar crítico sobre seus jeans e suéter. — Não, você precisa de equipamento mais leve. Você pode pegar algo meu emprestado.


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— Você é quase trinta centímetros mais alta que eu, — Katya apontou. — E mais do que alguns quilos mais pesada. — Tiara sorriu, uma mão num quadril curvilíneo. Ela era, Katya pensou, a personificação do ideal feminino que tantos humanos artistas gostavam de desenhar. Toda curvas maduras e altura e um tipo quase elétrico de beleza. — Certo, — Tiara disse com um assentir. — eu sei o que nós faremos. Tire o suéter e se livre dos jeans. O Sol ainda está alto, então a camiseta vai servir com uma legging que eu comprei semana passada. Katya voltou para dentro como ordenado. Tiara jogou um par de legging um minuto depois. Embora elas fossem tão folgadas em sua forma magra que ela tinha que usar um broche para segurá-las, elas eram boas, alcançando o meio de sua panturrilha, o que significava que elas eram provavelmente na altura do joelho de Tiara. Prendendo seu próprio cabelo em um rabo de cavalo, ela voltou para o gramado descalça. Quando Tiara começou a mostrá-la os aquecimentos básicos, Katya sentiu seu corpo fluir no ritmo quase que sem pensamento. Poucos minutos depois, a outra mulher deu a ela um olhar considerável e disse, — Vamos tentar outra coisa. Katya observou enquanto Tiara demonstrava, então copiou o movimento enganosamente devagar. Tiara assentiu. — Você fez isso antes. — Sim. — Katya fluiu em outro movimento. — Meu corpo se lembra, mesmo que minha mente não lembre. — Seu cérebro a forneceu com a informação de que ioga era considerada uma forma válida de exercício na Net, pois significava treinar a mente tanto quanto o corpo. — Ótimo. Isso significa que nós podemos pular as coisas de bebê. — Eu acho que não. — Esfregando seus trementes músculos da panturrilha, Katya balançou a cabeça. — Meu corpo pode estar disposto, mas não é tão capaz quanto deveria. Tiara sorriu aquele sorriso de megawatt. — Se você é durona o suficiente para brigar com Dev, você é durona o suficiente para a Aula de Ioga da Tiara. — Como você sabe que eu brigo com Dev? — Ficando na posição, ela correu seu corpo por uma lenta, básica rotina. Ao lado dela, Tiara fez um jogo de movimentos muito mais complexos. — Chame de intuição feminina. — Sabe, — Katya disse, sentindo suor escorrer por suas costas, — tem essa teoria de que os primeiros Psy eram simples humanos com um senso de intuição altamente desenvolvido. — Bem, eles dizem que nós nos originamos do mesmo lugar. Katya buscou nos bancos enevoados de sua memória, conseguiu mais dados. — Se o Conselho tiver sucesso em manter o Silêncio, — ela disse,


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alinhando seu corpo até que cada músculo de seu corpo estivesse em perfeita sintonia, — e a maioria dos Psy se unir somente com outros Psy, há uma possibilidade que eles irão evoluir para uma direção completamente diferente. — Esse tipo de evolução tomaria um inferno de um longo tempo. Pessoalmente, eu não acho que vai acontecer. — Um dar de ombro fácil enquanto ela observava Katya completar seu jogo de movimentos. — Eu acho que a humanidade nos Psy irá se erguer à superfície. Quando o pé de Katya atingiu a grama, enraizando-a a terra, ela balançou a cabeça. — Isso assume que há humanidade ainda presente neles. — E depois de suas infinitas horas com Ming, ela sabia que não havia.

Dev estava em seu caminho para falar com Katya mais tarde naquela noite quando ele recebeu uma ligação de Maggie. Como resultado, ele acabou gastando mais de duas horas em uma chamada de conferência com um número de pessoas de alta posição na Shine, todas elas estavam começando a entrar em pânico sobre o crescente índice de incidentes. Por uma vez, entretanto, o encontro não evoluiu a uma discussão, apesar do fato de que o primo de Dev, Jack, estava pressionando por uma solução que Dev se recusava a aceitar. Quando ele finalmente desligou, foi para um sentimento de exaustão pesando em seus ombros. Ele queria ir até Katya, ficar com ela, mesmo que não pudesse dividir os medos que ameaçavam despedaçar os Esquecidos, mas era muito depois das onze, e de acordo com Tiara, ambos Tag e Katya tinham ido pra cama por volta das dez, depois das duas mulheres conversarem durante um jantar tardio. Dev não estava exatamente certo sobre o que fazer sobre isso. Tiara se dava bem com quase todo mundo, mas ela também era ferozmente leal à Shine. Estendendo as mãos para tirar sua camiseta em preparação para algumas horas de sono, ele congelou ao som de um curto, afiado grito, interrompido quase antes de começar. No momento em que ele entrou no quarto de Katya, ela estava sentada na cama, encarando os lençóis. — O que aconteceu? — ele perguntou, sentindo Tiara voltar à sua vigília na frente. — O garoto, — ela sussurrou, — ele era um garoto tão bonito. — Sua mão balançou quando ela a ergueu para seu rosto. Ela a derrubou no meio do caminho, como se tivesse esquecido o que ia fazer. — Eu não podia ajudá-lo.


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Ele não a interrompeu, percebendo que ele estava ouvindo um pensamento interno. — Eu tentei protegê-lo, mas então Larsen perguntou por ele e eu não pude dizer nada, não pude pará-lo. — Sua garganta trabalhou quando ela engoliu. — Eu queria empalar Larsen no coração com seu próprio bisturi, mas se eu tivesse, então Ming LeBon saberia que nós éramos traidoras e todas as crianças teriam morrido. — O garoto sobreviveu, — ele a lembrou. — Eu te disse isso. Eu não sei por que Ashaya nun... Ela balançou a cabeça. —Foi para me proteger. Para proteger as crianças. Quanto menos eu soubesse, menos eles poderiam tirar de mim se eu fosse quebrada. —Você não tem mais que se preocupar sobre isso, você não será levada de novo. — Dev não desistia do que era dele. — E Jon, esse é o nome dele— está seguro. O Conselho sabe que se eles tocarem o garoto, será uma declaração de guerra. — Jon... Jonquil Duchslaya, — ela murmurou lentamente. — Eu fico feliz por ele estar protegido... Deus, ele gritava tanto. — Ela deixou a cabeça cair em suas mãos, seu corpo todo tremendo. — E eu tinha que fingir que isso não importava, que eu não me importava. Seu próprio corpo foi em direção a ela, mas como ele poderia alcançála quando ele mesmo a colocou em uma jaula? — Você não deveria. Você era Silenciosa, sem emoção. Ela ergueu a cabeça, olhos brilhando na luz vinda do corredor. — Existe ser frio, e então existe tal coisa como ser um ser sem consciência. Eu sempre tive uma consciência, e isso me mantém acordada todas as noites. — Katya, — ele começou, não sabendo o que iria dizer. — Você acha que ele aceita me ver? Jon? — Ela envolveu os braços em torno de si mesma. — Eu preciso dizer que eu sinto muito. Eu preciso fazer pelo menos isso. Dev sabia sobre demônios, viu muitos nos olhos dela. Perdendo a guerra para manter distância, ele fechou a porta e atravessou o tapete. — Eu vou perguntar. — Obrigada. — Ela se afastou quando ele sentou na cama. — Você deveria ir agora. — Eu não vou te deixar assim. — Os olhos dela estavam resolutos em um rosto pálido, seu corpo tremendo apesar dos lençóis. — Eu quero ficar sozinha. — O inferno que você quer. — Amaldiçoando sob a respiração, ele subiu na cama e, ignorando os protestos de Katya, a colocou em seu colo. — Quieta, — ele latiu quando ela o empurrou. Ela ficou parada. — Mesmo eu sei que essa não é a coisa apropriada a se dizer nessa situação.


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A resposta muito formal teria o feito rir. Mas ele continuava sentindo o terror relembrado no corpo dela, seu coração acelerado tão rápido que ele pensou que iria machucar a si mesmo contra as costelas dela. Mantendo um braço em torno dela, o outro em seu cabelo, a apertou contra ele, sabendo que ela precisava da sensação, mas também sabendo que ela nunca iria pedir por isso. Não agora. Lentamente, a rigidez foi drenada fora dela, uma de suas mãos se arrastando debaixo da cama dele para se espalhar sobre sua pulsação. A mão dela estava fria, ou talvez fosse o corpo dele que estava muito quente. Como sempre, ele não conseguiu controlar suas reações em torno dela. Não importava. Ao invés de reforçar seus escudos, tudo o que ele queria fazer era oferecer conforto, dar a ela uma saída do quarto escuro onde ela foi presa sem visão, sem som, sem toque. — Tiara me disse que ela esteve em Paris há pouco tempo. Espantado com a escolha de assunto, ele deslizou a mão para a nuca dela, apertando gentilmente. — Hmm. — Ela disse que foi visitar os pais dela. — Os dedos dela acariciavam a pele dele em um toque que alcançava muito mais profundamente que qualquer um já alcançou. — Ela disse que a mãe dela fez bolo e café pra ela todas as tardes, e escovava os cabelos dela toda noite, enquanto o pai dela pagou um dia de spa para ela e sua mãe, as levou para fazer compras, e comprou chocolate para ela comer na viagem de avião para casa. Dev olhou para baixo, mas Katya escondeu o rosto contra ele, seus cílios faziam delicadas sombras contra suas bochechas. — Parece que ela foi mimada. — Isso foi o que ela disse, também. — Aqueles dedos acariciaram mais abaixo, curvando-se sobre as costelas dele. Ele sabia que deveria pará-la antes que ela inadvertidamente fosse muito longe, mas ele não parou. Porque mesmo agora, a pele dela estava um pouco fria, seu coração acelerado. — O que mais Ti dividiu? — Mudando seu aperto, ele fechou uma mão sobre a coxa dela. Ela continuou firme, embora ele sentisse os tremores sob a pele dela. —Que ela espera que qualquer homem que a queira a mime tanto quanto seus pais. — Tag estava na sala quando ela disse isso? — É claro. Ele vislumbrou a mais fraca sombra de um sorriso. — Você acha que ela estava provocando-o. — Eu sei que ela estava provocando-o. É incrível o quanto os olhos podem dizer. — Você deve ter aprendido a ler expressões bem cedo na Net, — ele disse, tentando ignorar o fato de que os dedos dela estavam traçando a borda


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de seus jeans em uma carícia enlouquecedora. — Ninguém pode controlar todos os seus movimentos. — É muito mais difícil com os Silenciosos, — ela murmurou, afundando seus dedos no quadril dele, um único doloroso centímetro sob o cós. — Tudo é em muito menor quantidade. — É? — Alcançando-a, ele puxou a mão dela, nenhum homem era tão bom assim. Ela resistiu. — Você é interessante aqui. — O roçar de seu dedão sobre o osso do quadril dele. Santo Deus do céu. — Katya, — ele grunhiu, — a menos que você queira ser despida em dois segundos, você não pode manter sua mão aí. — Ele já estava duro sob ela. Mais um toque e ele perderia o controle. Ele a viu engolir, mas ela não tirou a mão. — As sensações seriam incríveis, — ela murmurou. — Se nós estivéssemos nus. — Jesus. — Tirando a mão dela antes que ele cedesse à tentação, ele fechou a sua própria em torno dela. — Você está com raiva de mim, lembra? — Sim. Mas de acordo com Tiara, contato sexual não necessariamente envolve um laço emocional. Dev se perguntou exatamente quanto tempo Ti e Katya tinham passado juntas. — Ela provavelmente estava tentando provocar Tag. Um franzir. — Mesmo assim, é verdade, não é? Pessoas podem ter sexo sem se gostar. — Sim. — Foi uma resposta arrancada através de dentes trincados. Os olhos dela se focaram nele. — Você já fez com alguém de quem você não gostava? — Não. — Ele não tinha que pensar sobre isso. — Eu tendo a levar o sexo seriamente. Uma pausa. — Ainda assim, você está excitado por mim. — Aqueles olhos se trancaram com ele novamente, e suas entranhas retorceram com a força de um soco. Porque Katya não estava mais assustada. Ela estava puta. — E eu, — ela continuou, — sou alguém de quem você não gosta. Se inclinando para frente, ele puxou a cabeça dela para trás. — Eu não percebi que você era tão boa em sedução. Um pequeno corar nas bochechas dela. — Há muito que você não sabe sobre mim. — Então isso não foi planejado, — ele murmurou, sentindo seu corpo ronronar. — Isso quer dizer que você não consegue resistir ao inimigo também. — Eu vou superar. — Uma declaração latida. — Agora vá.


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Ele a deixou descer de seu colo... somente porque ele sabia que um segundo a mais e ele teria seguido em frente com a ameaça de arrancar as roupas dela, e se banquetear na requintada nudeza da pele dela. Mas ele não pôde resistir a tomar os lábios dela. Foi um curto, selvagem contato cheio de raiva de ambos os lados. Mas havia algo debaixo da raiva, um tipo selvagem de necessidade que chocou o inferno fora dele e a deixou encarando em confusão.

ARQUIVOS DA FAMÍLIA PETROKOV Carta datada 1 de Outubro de 1977 Querido Matthew, Emily estava doente hoje. Ela pegou uma infecção de ouvido, a pobrezinha. Quebra meu coração ver lágrimas nos olhos dela, embora, é claro, elas não tenham durado muito, não uma vez que eu a levei a um M-Psy, mas foi muito tempo para uma mãe aguentar. Você não gostou também. Você tentou dar seus brinquedos a ela, para que ela se sentisse melhor. E você sabe o que? Para você, ela soluçou e brincou um pouco. Enquanto eu assistia vocês dois sentados lá, você cuidando dela, eu percebi algo. Eu estive tão focada em como o Silêncio iria nos afetar que eu não pensei no futuro, nos ainda não nascidos. Se o Silêncio tiver sucesso, então virá um tempo quando as crianças nascerão e nunca serão beijadas por suas mães, mães que nunca irão segurar seus preciosos bebês e respirar o doce, doce cheiro enquanto uma pequena mão descansa sobre o coração dela. Parece uma escolha fácil, mas... Seu tio Greg ligou essa noite. Ele raramente liga agora, então seu pai tentou manter a conversa longe da política. Eles sempre brigam quando vai nessa direção. Mas enquanto seu pai estava longe pegando algo para Greg, eu falei com seu tio sobre isso, sobre a falta de amor entre mãe e filho. Sabe o que ele disse? Que tantas mulheres são vítimas da violência, que nós já estamos tendo uma geração que não sabe o que é dormir nos braços de uma mãe. O pior de tudo é, ele está certo.

Mamãe


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Para surpresa de Katya, os DarkRiver concordaram que ela visse Jon. Um homem de pele negra com olhos intensamente verdes escoltou o garoto. Enquanto Katya falava com ele próximos a uma árvore no quintal, a mulher com cabelo marrom-amarelado que acompanhou Jon alcançou o banco de trás e saiu com uma pequena garota sorridente. Noor Hassan. Seu coração se apertou pela alegria aberta na face da criança. Querendo tocar a criança, para ter certeza de que ela estava realmente bem, Katya apesar de tudo fez sua própria luta covarde e olhou para Jon. — Você cresceu. — ela disse, perguntando-se porque estava surpresa. Garotos adolescentes raramente permaneciam o mesmo de mês a mês. — Seu cabelo, você cortou. Ele encolheu os ombros, balançando seus cabelos de louro esbranquiçado que mudava com a luz do sol. — Obrigada por me ver. — Tally pediu. — havia algo em seu tom que disse a Katya que ele faria qualquer coisa pela mulher que havia pedido isso. — E, você nunca me machucou. — Sério? — ela sentou-se ao lado dele quando ele sentou no chão, longas pernas esticadas na sua frente. — Mas também não impedi, não é mesmo? Ele deu a ela um olhar estreito com aqueles brilhantes olhos azuis que o faziam tão fácil de identificar. Não eram muitas as pessoas que se pareciam com Jonquil Alexi Duchslaya. — Do que você esta falando? — ele perguntou agora. — Quero me desculpar. — era hora de enfrentar seus crimes. — Quando Larsen te machucou, eu não o impedi. — ela falou sem rodeios, pois não tinha algum. — Ouvi que sua memória foi bagunçada. Tudo voltou? — A maioria. — havia ainda pedaços faltando, coisas, se ela estava sendo honesta, sua mente provavelmente não queria lembrar. Ela era parte disso. Por causa da Ekaterina, a mulher que tinha sido a cientista Psy e depois a vítima, tinha ido. Katya havia se erguido das cinzas, e ela farias suas próprias memórias, seu próprio futuro.


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Jon deu a ela um olhar engraçado. — E você não se lembra disso? Suas costas das mãos eram malditamente duras. — ele recuou. — Não diga a Tally que eu falei mal, ok? Seu corpo inteiro ficou tenso. — Quem me bateu? — O Homem-lagartixa, Larsen, tanto faz. — apesar das palavras indiscretas, ele puxou suas pernas, pondo seus braços em volta de seus joelhos. Mas seus olhos carregavam preocupação, não medo. — Ele estava fazendo coisas comigo, e você disse que ele foi tão longe, que ele estava quebrando o acordo dos protocolos. Sua mente ficou em branco no incidente. — Você tem certeza? Ele tinha drogas em seu sistema. — Sim, tenho certeza. Não é algo que eu iria esquecer, com ou sem drogas. – ele balançou a cabeça. — Você tentou mover sua mão de minha testa e me bater, foi quando ele te bateu tão forte que você acabou no chão inconsciente. Ainda sem memória, mas com uma bolha de esperança. — Como ele justificou o golpe? — violência deveria ter sido cortada pelo Silêncio, e Larsen havia fingido ser um Psy perfeito. — Não sei. Você estava desmaiada, então não é como se você pudesse perguntar a ele sobre isso. — ele encarou crítico em seu rosto. — Eu tenho certeza que ouvi algo quebrar. Eu pensei que ele tinha quebrado seu nariz ou mandíbula. Um pulso de dor em seu nariz, uma memória fantasma. Confusa. Indistinta. Mas vindo ao foco. — Sim. — ela sussurrou, levantando seus dedos a ponta de seu nariz. — Ele disse que teve que fazer isso para me impedir de comprometer o experimento... ele fez o trabalho médico ele mesmo. — Então não se espanque por isso. — Jon disse. — Você estava presa, assim como eu. Você fez o que pode. — Isso foi bem sábio para alguém da sua idade. Ele sorriu e foi devastador, todo charme e juventude e leve ousadia. — Shh. Todo mundo acha que eu sou o inferno sobre rodas. Nesse instante Noor escapou da mulher que estava brincando com ela e correu em direção a eles. — Jonny! Levantando em um movimento fluido, Jon agarrou-a e balançou-a em giros que acompanhou sua risada prazerosa. Katya olhou para a criança com curiosidade. Larsen, ela lembrou quando se levantou, nunca havia tocado em Noor, Jon tinha tomado seu lugar, mas a pequena garota conhecia o terror. Hoje, ela enrolou seus braços em volta do pescoço de Jon e olhou para Katya. Linhas se formaram em sua testa. — Quem é você? — Noor. — Jon disse. — Isso não foi gentil. Noor enrugou seu nariz. — Ela é sua namorada?


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— Por que você se importa? — Jon provocou. — Você vai se casar com Keenan. Noor se inclinou, suas próximas palavras um sussurro audível. — Mas você gosta da Rina. Jon ficou vermelho vivo embaixo de sua pele dourada. — Esta é Katya. Ela é nossa amiga. – seus olhos se encontraram com os de Katya enquanto ele dizia essas últimas palavras, e havia apenas aceitação neles. — Ela nos ajudou uma vez. Depois de um momento, Noor deu um leve aceno e esticou a mão. — Prazer em conhecer. Katya pegou com um gentil cuidado, bem ciente da delicadeza da pele da garota, seus ossos. — Prazer em conhecê-la também. Então, conte-me sobre Rina. O sorriso de Noor era tão branco quanto seu nome. Cinco horas depois, enquanto a casa se silenciava após o jantar, Katya se esmagou com a parte que lembrava apenas da ternura de Dev enquanto ele a pegava em seus braços, e ao invés pegou o protetor de mãos que ele havia jogado na última noite. Ela devia ter feito isso na noite anterior, mas Dev esteve tão ocupado, as linhas de tensão em volta de sua boca eram tão profundas, ela hesitou em interrompê-lo. Teria sido tão fácil continuar a fazer isso, encontrar desculpas para fazer isso, mas ela nunca seria permitida a qualquer liberdade até que Dev visse a verdade do que ela era. E ela precisava dessa liberdade para escapar. A estrada para o norte era um arranhar de necessidade em sua garganta abaixo, uma fome para manter sua luta fisicamente de tomar riscos irracionais. Aproximando seus sentidos telepáticos para um bom, um bom ponto, ela enviou para Dev. Ele não podia ouvir as palavras, mas ele sentiria o esforço. Nós precisamos conversar. Ela rasgou de volta para sua mente antes que Tag pudesse conseguir algo. Uma curta batida soou em sua porta um instante depois. — Entre. — O que foi isso? — entrando, Dev fechou a porta atrás dele e se inclinou contra ela, braços cruzados. Ao invés do terno em que ela estava acostumada em ver em Nova Iorque, ele estava uma vez mais vestido com aqueles jeans que o faziam ainda mais perigosamente atrativo e uma simples blusa branca. Desejando tocá-lo, apesar de tudo, ela permaneceu do outro lado da sala. — Um jeito de conseguir sua atenção. — Você a tem. — Está na hora. — ela andou para ficar ao pé da cama. – Você precisa entrar em minha mente.


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Uma única palavra brutal. — Eu disse a você, isso não vai acontecer. — Por quê? — ela caminhou mais perto. — Por que eu o farei se sentir como um monstro? Ele se sacudiu como se tivesse tomado um tiro. — Sim. — Difícil. — ela disse, se recusando a desistir sob a urgência de apenas ceder, de deixá-lo ter seu caminho. Se ela fizesse, eles nunca avançariam além deste ponto. E toda vez em que ela olhava para seus olhos, não importava o quanto ele a quisesse, ela veria desconfiança. Mais do que ela poderia imaginar. — Se eu posso sustentar isso, você pode. Ele fechou a distância entre eles e olhou para baixo, para ela. — Mas aqui está a coisa, Katya. Você não pode me forçar a invadir sua mente. Ela juntou suas mãos, apertando tão forte que seus ossos trituravam juntos em dor. — Se eu baixar meus escudos e você não entrar, me permitindo fechálos em volta do seu ponto de entrada, minha mente estará aberta para qualquer um com habilidade psíquica. — Você acha que isso me importa? — tão duro, tão furioso. — Sim, isso importa. — ela forçou através de sua garganta, emoção crua. — Porque tomou a responsabilidade por mim. Você terá que me matar, mas até lá, você me protegerá. — Belo e explorador da sua parte. Levou tudo o que ela tinha para manter seu tom no nível. — Uma mulher tem que fazer o que tem que fazer. — Mesmo que isso destrua a outra parte? — uma pergunta suave que cortou através de suas defesas com uma lâmina afiada. Sangrando, olhou para cima. — Será realmente tão ruim pra você? Uma risada latida áspera. — Você não foi capaz de acessar os arquivos que você fez de mim? — Eu não tenho essas memórias. — ela segurou seu olhar, de repente mortalmente certa de que se ela o forçasse a isso, iria matar os últimos fragmentos do indefinível ―algo‖ que tinha entre eles. Disso não haveria volta. Não teria importado para um Psy verdadeiro, para uma pessoa que viu tudo como parte da relação custo-benefício. Mas para ela importou, importou além do tolerável. — Tudo bem. — ela disse, abaixando a cabeça mesmo que o lado pragmático dela gritasse em rebelião. – Tudo bem. Dev sentiu o consentimento de Katya como uma bofetada. — Por quê? — Porque às vezes o preço é muito alto. Ele pegou sua mão quando ela começou a se virar, puxando-a para seu peito e tomando sua boca com o mais furioso tipo de possessão antes que ela pudesse fazer mais do que arfar. Ela se moveu para trás porque iria machucá-lo.


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Isso o rompeu, ele tinha sido sempre o protetor, aquele que olhava pelos outros. Nunca esperou que o inimigo tentasse proteger seu coração. Ecos de sensação, sussurros tão suaves em sua cabeça. Ele mordeu seu lábio inferior. — Shh. Tag vai ouvir. Seus lábios se curvaram em terror. — Oh. Tomando vantagem, ele varreu seus lábios, acariciando sua língua contra a dela, se afogando no intoxicante sabor dela em seus pulmões. Os sussurros cessaram, e ele estava inexplicavelmente irritado. — Eu vou ter que aprender. — ele disse, beijando seu caminho por sua mandíbula. — Como defender suas proteções de outros telepatas. — porque essa era uma intimidade que ele não permitiria qualquer um de invadir. A mão de Katya se apertou em seu cabelo enquanto ele mordia a linha de sua garganta, apenas reprimindo a necessidade selvagem de marcar duro o suficiente. — Suponho que isso. — sua voz quase sem ar. – Você terá muitas chances para praticar. — E seu ponto é? Seu olhar era negro com estimulação quando ela abriu os olhos. — Dev. Ele esperou que ela dissesse que eles não deviam estar fazendo isso, malditamente certo de que ele não seria capaz de deixá-la. Ao invés, ela ficou na ponta do pé, colocou suas mãos em seus ombros, e roubou um beijo que era delicado como era entusiasmado, feminino como poderoso. Estava a ponto de quebrá-lo, levando-o a beira da rendição. Tudo o que ele queria fazer era derrubá-la na cama e tirar suas roupas em câmera lenta. Mas ela tinha as rédeas... e ela pegou em seu doce tempo. Quando ela finalmente recuou, seu corpo inteiro estava vibrando com pura, não, diluída fome. — Eu não entendo. — ele murmurou, levantando as pontas dos dedos para tocar seus lábios recém-beijados. — Como minha raça nunca se rendeu a essa picante sensação. Seu pênis pressionou contra o zíper de suas calças, o metal ameaçando-o a torná-lo um eunuco. — Katya. Como ameaça, isso não surtiu efeito. Deixando cair a mão de seus lábios, ela os ajustou em seu umbigo, como se suavizasse alguma dor interna. — Eu me sinto tão... faminta, tão quente, como se minha pele fosse queimar. Ele estremeceu, sua voz perdida. — É sempre assim? – ela perguntou, acariciando seu abdômen e continuando a descer. Mais e mais. Até que ele caminhou e substituiu sua mão com a dele. Ela arfou. — Dev... você esta fazendo piorar. — mas ela se pressionou contra ele, deslizando sua mão para a gola de sua camisa, procurando por pele.


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— As coisas que quero fazer com você. — ele disse, quase resistindo a urgência de puxar sua camisa e deslizar sua mão debaixo... profundamente. Ele já sabia que ela estaria suave e molhada para ele, uma seda que ele quase pode sentir. Os lábios dela traçaram para cima de seu pescoço. — Você não respondeu minha pergunta. Levou vários segundos para ele se lembrar do que ela estava falando. — Não, não é sempre assim. — Então se eu beijar outro homem... — Eu vou matá-lo. — veio para fora com precisão gelada, embora seu corpo estivesse queimando de dentro pra fora. Enrolando sua mão e seu cabelo mais uma vez, ele puxou sua cabeça pra baixo. — Estamos claro nisso? Com uma piscada lenta. — Se meu conhecimento antropológico estiver correto, apenas changelings são capazes de ser tão possessivos. — palavras científicas, voz áspera, um doce corpo feminino fazendo dolorosa a saliência de sua estimulação. — Então venha. — ele disse, mudando sua mão para cobrir seu traseiro. – Pressione-me e veja o que acontece. — mudando de posição levemente, inclinou-a... e acomodou o calor entre suas coxas bem onde ele queria. Ela arfou e agarrou seus ombros. Ele sorriu. — D-Dev. Seu gaguejar era adorável, ele decidiu. Sexy como o inferno, também. Aquela boca, aqueles lábios, ele poderia olhá-los por horas, imaginando o que ele queria fazer. — Dê-me um segundo. – ele disse, e quebrou o delicioso contato tempo suficiente para ela retroceder, distraindo-a com pequenos beijos mordiscados que a teve cavando contra seus ombros. Ela fez um barulho assustado quando suas costas se encontraram com a parede. Acariciando suas mãos para baixo de seu quadril, ele correu seus dedos pelo topo de suas jeans. Seus olhos ficaram enormes, mas ela não o parou. Agradecendo aos deuses, ele desfez o fecho e abaixou o zíper. Katya sabia que devia empurrá-lo, mas ela não tinha força de vontade onde Devraj Santos e suas mãos perigosas estavam relacionadas. Quando ele puxou os lados de sua jeans, ela moveu-se para trás para ele puxar a roupa para baixo. Ele a fez levantar suas pernas uma de cada vez enquanto tirava completamente de seu corpo. Então, ainda agachado em frente a ela, ele correu suas mãos por trás de suas pernas. A sensação enviou ondas de escuridão rolando através de sua mente, mas esse negro fogo era tão quente como selvagem, e tão masculino quanto o homem que a olhava com tamanha possessão sensual em seus olhos. — Se entregue. — ele sussurrou. — Deixe-me fazê-la se sentir bem.


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Foi um incrĂ­vel salto para ela fazer, para uma mulher que nunca tinha conhecido a intimidade, mas ela tinha que fazer isso... porque nĂŁo haveria outra chance.


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Rapidamente sufocando este pensamento para ele não escapar, ela viu quando ele se levantou e tirou sua camiseta. Sua garganta secou. — Eu acho que todo esse kickboxing tem seus benefícios. — Ela não sabia de onde as palavras vieram enquanto seu cérebro estava atordoado com a beleza crua masculina dele. Ele riu. — Estou feliz que você aprova. Havia uma confiança quase arrogante nele, mas ela gostou. Melhor isso nos olhos de Dev do que a terrível dor que ela tinha vislumbrado por um instante, quando ela tinha falado de forçá-lo a invadir sua mente. Mãos em seus quadris. Quente. Um pouco rústico. Perfeito. Ela respirou fundo, e quando ele a levantou, foi instinto de envolver as pernas ao redor de sua cintura. Ele se moveu até que ela... — Dev, — ela gritou em sua boca enquanto seu pênis ainda coberto empurrando para sua suavidade, abrindo-a com calor possessivo, o algodão fino da calcinha sendo nenhuma barreira. Seu polegar alisou o vinco de sua coxa, incitando-a a se mover, impaciente, mas isso apenas esfregou seu clitóris contra ele ainda mais, apertando o punho que era o seu corpo. Quebrando o beijo, ela empurrou seus ombros. — É demais. — Você pode aguentar, — ele persuadiu, beijando seu pescoço, chupando a batida de seu pulso. Ao mesmo tempo, seus dedos deslizaram suavemente dentro de sua calcinha, separando-a com intimidade ainda mais. Ofegando em uma respiração, ela enterrou o rosto em seu pescoço. Ele cheirava a calor e desejo e um perfume que era do sexo masculino, pura excitação. Não, não apenas qualquer homem. Dev. Ela perguntou-lhe se seria assim com qualquer outro homem, mas ela já tinha conhecido a resposta, não. Nunca seria como isto novamente. Desde o início, ele era o único homem que ela realmente enxergou. Seus dedos compridos beliscaram o seu clitóris, aquele pequeno tecido muscular que ela sempre conheceu cientificamente, mas nunca entendeu até


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este momento. Prazer arqueou através dela em uma onda quase violenta, e ela podia sentir o punho dentro dela apertando, apertando. — Você gosta disso? — Ele sussurrou em seu ouvido, liberando a pressão para circundar a carne que tinha torturado tão sensualmente instantes antes. — Sim. — Ela empurrou para ele, querendo esfregar, mas mantida no lugar pelo calor delicioso de seu corpo. O peso, a pressão, que intensificaram a sua fome até que ela mal podia respirar. — Toque-me. Seus lábios se curvaram. — Exigente, não é? Aquele sorriso fez seus seios doer, era tão cheio de promessas, de desejo. — Você está me provocando. — É parte da diversão. — Um dedo brincou sobre o feixe de terminações nervosas que ela tanto queria que ele tocasse com mais firmeza. — Isso, — ela disse, sua mão acariciando para baixo para tocar no peito liso do macho. — Não é divertido. — Nisso nós vamos ter que concordar em discordar. — Sua voz era rouca, sua pele quente sob seu toque. Ele estava reagindo a ela, ela percebeu maravilhada. Continuando a acariciá-lo, encontrou-se ouvindo cada engate de sua respiração, querendo dar mais prazer a ele. Quando seu duro abdômen tremulou quando raspou as unhas sobre seus mamilos, ela repetiu a carícia. Retirando a mão que ele tinha entre suas pernas, pegou seus dois pulsos e prendeu-os acima de sua cabeça. — Agora, — ele murmurou, seus olhos presos com os dela, — Onde estávamos? — Sua mão livre deslizou de volta para baixo, sobre a dor de torção em seu umbigo, sob a borda de sua calcinha, e... — Isso não é justo, — de alguma forma ela conseguiu dizer. Ele balançou a cabeça. — Não, você deve ser punida por me provocar. — Mas o corpo dela já estava sedoso com boas-vindas para ele, sua carne deliciosamente úmida. — Por favor? — Outro beijo, outro toque íntimo. E ela se encontrou arqueando para delicada carícia dos dedos dele dentro dela. A sensação era o mais requintado prazer e dor, como se suas terminações nervosas estivessem em sobrecarga. Mas, em vez de querer menos, ela queria mais. Mais e mais. Aqui, em seus braços, o quarto escuro do torturador parecia anos-luz de distância. Como pesadelos poderiam invadir quando havia tanto calor, tanto sentimento? — É isso, — ele murmurou contra sua garganta quando ele beijou seu caminho de volta até a boca. — Mova-se sobre mim. Ela não podia parar os movimentos estranhamente fluidos de seu corpo, parte dela sabia o que fazer, como fazê-lo. — Mais, — ela ordenou, mordiscando sua orelha. — Você é muito apertada.


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— Mais. Gemendo, ele deslizou um segundo dedo dentro dela e bombeou uma vez. Duas vezes. Prazer e dor, um êxtase de alongamento. Sua excitação atingiu o pico, pairou lá, esperando, esperando... Seu polegar roçou seu clitóris. Tudo explodiu. Ela sentiu a parte posterior da cabeça conectar com a parede quando ela jogou a cabeça para trás, ouvindo a maldição de Dev, sentiu seus músculos apertando convulsivamente ao redor dele quando o orgasmo rasgou para além dela. Nada disso importava. Pela primeira vez em sua vida, havia tanto prazer percorrendo seu corpo que ela estava delirando com ele. Dev observou o rosto de Katya encher de prazer e só queria desfazer o zíper de sua calça jeans e tomá-la. Mas de jeito nenhum ele faria isso com Tag e Tiara no corredor, para não mencionar Cruz. Ele tinha sido duro o suficiente para manter as coisas calmas tanto tempo. Um pouco mais e seu controle seria fuzilado em pedacinhos. Mas não importa que eles não houvessem consumado a atração, eles cruzaram a linha, hoje à noite e não haveria como voltar atrás com isso. Sua mandíbula definida. Ele iria lutar por ela, pela mulher que tinha acordado naquela cama de hospital e começado a batalha pelo seu direito de viver. Ninguém tiraria esse direito dela. Acalmando-a para baixo do alto pico sexual, ele a levou para a cama. Com as pálpebras pesadas, mas os olhos abertos para dar-lhe um inerente olhar sensual quando ele se deitou. — E você? Dedos arrastando sobre o peito. Ele pegou sua mão. — Mais tarde. Pressionando um beijo em seus lábios, ele pensou ter vislumbrado uma sombra passageira, mas quando ele olhou para cima, seus olhos estavam fechados enquanto ela o beijava — Eu tenho que ir. — Ele teria dado qualquer coisa para passar a noite ao seu lado, mas ele precisava sentar e falar sobre as implicações da chamada de conferência do dia anterior. Os agitadores estavam se tornando mais e mais ferozes. Algo tinha que ser feito, mas como ele poderia adotar uma "solução" que iria rasgar o seu povo a partir de dentro? Os dedos de Katya em sua bochecha. — Você tem tanto peso em seus olhos, em seus ombros. Eu gostaria de compartilhar com você. A oferta honesta fez algo apertar em seu peito. Apoiando-se no cotovelo, para que ele pudesse olhar para baixo em seu rosto, ele repetiu sua honestidade. — Que você fez a oferta é suficiente. Ele se perguntou como seria ter alguém, alguém para confiar absolutamente. A ironia era, a única mulher que ele podia ver nesse papel era a única mulher que ele não poderia confiar.


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— Descanse um pouco, — ele disse, escovando os cabelos de sua testa. Nós vamos conversar amanhã. Ela abriu a boca, depois fechou. — Amanhã. Boa noite, Dev. Ele se perguntou se ela estava prestes a pedir-lhe para ficar, antes de pensar melhor. O sentimento de perda pesava sobre seus ombros quando ele saiu da cama e pegou sua camiseta. Então, incapaz de simplesmente ir embora, ele voltou para a cama para pressionar um beijo na curva exposta do pescoço. — Tenha bons sonhos. Meia hora mais tarde, quando Katya terminou de se vestir, ela manteve a última observação de Dev junto ao coração... Tinha havido esse cuidado com essas palavras, tanta ternura. Isso a fez hesitar, mas esta era a sua única opção agora que ela tinha desistido de tê-lo para entrar em sua mente. Ele ficaria furioso, mas ele também estaria seguro, ela não poderia machucá-lo de tão longe. Dúvida atingiu novamente. E se suas ações não forem a sua própria? E se ela foi feita para correr, para ir onde quer que fosse seu coração e alma insiste em ir? E se a compulsão era apenas outra armadilha inteligente? — Não. — Ela sabia que esses pensamentos eram dela. Ela sabia. Mas como? Franzindo a testa em concentração enquanto amarrava suas sapatilhas, sentiu uma dor de cabeça chegando. Mas desta vez ela não recuou... e a resposta apareceu das brumas. — Você é um instrumento contundente, nada mais. — Um único dedo tocando sua testa. — Não há espaço para sutileza. — Por quê? — Ela perguntou, dormente demais para ter medo. Ela não esperava uma resposta, ficou surpresa quando ele falou de novo. — Sutileza requer controle da mente. Você não vale muito a pena do meu tempo. — O que é que eu vou fazer até que os gatilhos ativem? — Você vai existir. Embora, é claro, não muito de você é deixado mais. — A escuridão se espalhando em sua mente, tentáculos cavando fundo, agarrado maldosamente. Engolindo um grito de agonia, Katya inclinou, punho pressionado para seu estômago. Oh, Deus, ele havia machucado quando tinha feito isso. Ele tinha machucado muito mal. Ela tinha sido pouco mais do que a mais primitiva das criaturas até então, mas ela lembrou-se da tortura final, da destruição final de sua psique. — Mas eu não vou morrer, seu desgraçado, — ela sussurrou, subindo para a posição de pé apesar das náuseas continuando a se produzir em seu estômago, um fio de sangue serpenteando para fora de seu nariz. Esfregandoo com um lenço de papel ela olhou para a porta. — E quando você me trancou


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nessa prisão, você também me libertou. — Porque ninguém pode atacar a ela através da PsyNet. Ninguém poderia espioná-la. Ninguém poderia impedi-la. Tudo o que tinha a fazer era sair desta casa. Poderia revelar-se muito difícil ter três outros adultos na casa. Todos os três eram perigosos. E Dev... Bem, ela não ia pensar em levá-lo em uma luta física. Mas havia uma quinta pessoa aqui. Um telepata. Ele tinha contatado ela ontem, enquanto Sascha estava visitando, Katya não sabia como tinha contornado Tag. Quando a mente curiosa tinha escovado dela, ela estava tão assustada, ela não tinha puxado para trás. E ele tinha falado com ela. Desculpe que eles te assustaram da última vez Surpresa com a clareza daquela voz, ela respondeu sem falar, esperando que ele pegasse isso. Eles estavam tentando proteger alguém. Este telepata, ela percebeu de uma vez, sabendo que não havia nenhuma maneira para limpar a informação agora que ela tinha. Então, ela tinha que ter certeza que ninguém nunca mais rasgaria sua mente. Você não deveria estar falando comigo. Volte antes de entrar em apuros. Uma pausa tranquila. Você é como eu. Você está com medo, também. Estou tentando não ficar, ela respondeu honestamente. E você? Eu gosto de Dev, ele me faz sentir segura. Eu também. Outra pausa. Por que é que você quer sair? Ela respirou com a facilidade com que ele escolheu esse pensamento, mesmo se tivesse estado à frente de sua mente. Isso não é boas maneiras, ler os pensamentos de alguém. Ele tinha estado em silêncio tanto tempo, ela tinha pensado que ele tinha ido embora. Desculpe. Quieto. Então, calma. Eu não sei todas as regras. Está tudo bem. Todos nós tivemos que começar em algum lugar. Querendo ajudar, ela tinha tomado uma chance e continuou a conversa. Basta lembrar-se que não é algo que você gostaria que outra pessoa fizesse com você, você não deve fazê-lo para eles. Eu entendo. Eu não vou tomar seus pensamentos novamente. Obrigada. Mas desde que eu já tenho, por que é que você quer sair? Eu tenho algo que eu preciso fazer. Algo que a atraía até que sentiu como se seus tendões rasgariam de seus ossos, uma necessidade, batendo secretamente. Mas como ela poderia ter algum segredo? Ming tinha levado tudo. Um fio de maldade tinha escovado sua mente e tinha sido uma sensação nova para ele, como se o menino nunca tivesse jogado. Eu posso te ajudar. Não. Eu não quero você em apuros.


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Minha mãe costumava dizer que os meninos são destinados para o problema. A tristeza absoluta nessa sentença havia quebrado seu coração. Ela tinha ouvido coisas maravilhosas sobre Sascha Duncan, ela esperava que tudo fosse verdade. Talvez o Psy cardeal pudesse consertar esse garoto telepata com o coração despedaçado. Isso soa certo. Eu tenho um plano. Um sussurro hesitante. Encantada apesar de si mesma, ela perguntou: Ok, eu concordo. O que é? E quando ele disse a ela, ela tinha percebido a simplicidade estúpida de que poderia funcionar melhor do que qualquer outra coisa que ela tenha planejado. No entanto, tudo dependeria se a criança pudesse manter-se acordada até o momento certo. Então ela esperou, pronto. Mas, quando o grito veio, ela saltou muito alto. Movendo-se para a porta quando ouviu passos correndo para frente da casa, ela torceu a maçaneta e saiu para o corredor, indo em direção a essa grande área. Sua respiração presa na garganta quando ela passou pela porta aberta de um quarto de onde ela podia ouvir um número de vozes. A porta da frente estava trancada e com alarme, apesar da interrupção inesperada. Ela moveu-se para as janelas. Com alarme e bloqueado, todas elas. O seu tempo consciente estava prestes a esgotar-se, disse a si mesma para pensar. Ela poderia quebrar uma janela, mas sabia que ela não iria ficar cinco pés antes de Dev, Tag, ou Tiara correr para baixo. Você é uma cientista. Coração batendo, ela se arrastou de volta para o corredor, fez uma rápida parada em seu quarto, em seguida, foi para a cozinha, na esperança de que seu jovem co-conspirador fosse capaz de mantê-los ocupados por mais alguns minutos. Como ela esperava, um bule de café fresco estava no balcão. Um dos três provavelmente não iria beber, estaria em turno, mas isso não mudaria drasticamente as chances. Deslizando para fora os medicamentos que ela tinha tirado do apartamento em Nova York, ela dissolveu uma combinação altamente específica para o líquido. Uma rápida agitação e estava feito. As drogas não iriam prejudicar os outros, apenas torná-los letárgico e, se tivesse sorte, sonolentos. Ela poderia ter usado mais, mas ela hesitou. Esqueceu que tinha genes Psy. . Recusando-se a causar danos sérios, ela recuou, o resto das drogas ainda em sua posse. Ela estava de volta em seu quarto fingindo ler quando a porta abriu uma fração. — O que foi esse barulho? — Ela perguntou a Tiara.


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— Um pesadelo. — A outra mulher não explicou de quem. — Queria dizer-lhe para não se preocupar. — Obrigada. E então Katya esperou. Houve algum movimento durante à hora seguinte, as pessoas murmurando, passos na cozinha, de volta para a sala de estar. Algum tempo depois das nove e meia, uma porta fechada com um tranquila snif, um dos três foi para a cama. Esperou mais 20 minutos para dar tempo para pessoa cair no sono, ela empurrou os cobertores e se levantou.


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Coração na garganta, ela abriu a porta, sabendo que seu casaco e botas dariam a intenção de que ela foi capturada. E ela não tinha nenhuma intenção de ser presa novamente. Rastejando pelo corredor, ela olhou para a porta aberta de um quarto. Dev. Ele estava deitado com a cabeça sobre uma escrivaninha pequena, seu cabelo despenteado. Sabendo que ela deveria apenas andar, ela ainda assim foi até ele. Seu pulso batendo forte sob seus dedos. Alívio era uma chuva fria contra suas bochechas. Pressionando um beijo em sua mandíbula, a aspereza da barba seduzindo-a a ficar, ela foi sair da sala. Foi quando ela viu que ele colocou uma pequena arma as suas costas. Ela hesitou. Ela não tinha nenhum desejo de ferir ninguém, mas se Tag ou Tiara acordassem, ela precisaria de algo com que apagá-los. — Não me odeiam, — ela sussurrou, e pegou a arma antes de fazer seu caminho para a entrada da casa. Tag sentado na frente da tela de TV, um show de ficção científica tocando no fundo. Seus olhos estavam fechados, com a cabeça inclinada para trás contra o sofá. Uma caneca quase vazia de café na frente dele. Medo em sua quietude, ela foi colocar os dedos em sua garganta. Ele gemeu, moveu-se. Congelando, ela esperou que ele acordasse e desse o alarme. Mas depois de alguns momentos tensos ele escorregou de volta ao sono. Aliviada, ela estendeu seus sentidos, procurando ter certeza de que a criança estava bem. Os escudos de Tag estavam segurando-o, o homem era um telepata muito forte. Não tendo certeza se eles continuavam a se manter quando ele caía ainda mais na inconsciência, ela envolveu seus próprios escudos sobre a dele. Então, com mil desculpas silenciosas, ela saqueou a carteira de Tag, levando todo o dinheiro que ele tinha. O alarme era o próximo obstáculo. — Ajude-me, — ela sussurrou, sem saber que ela estava implorando.


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Uma porta se abriu no corredor. — Tag? — A voz de Tiara chegou mais perto, rouca de sono. — Eu pensei que eu senti... — A outra mulher congelou quando viu a arma apontada para ela. Belos olhos castanhos com uma centena de tons de ouro e âmbar olharam para o grande homem no sofá, a preocupação rastejando em suas profundezas. — Ele está bem, — Kátya disse. — Eu não quero machucar ninguém, eu só quero sair. — Eu não posso deixar você fazer isso, — Tiara murmurou, as mãos soltas ao lado do corpo. Katya não relaxou sua guarda. A mulher tinha uma arma em seu lugar. E ela era uma telepata. Katya conteve o poderoso ataque psíquico com suas próprias habilidades, criando um impasse eficaz. — Você sabe uma coisa, Tiara? — O que? — Eu sei que se eu mudar a direção desta arma, — Katya sussurrou, — que se eu pressionar na cabeça Tag, você vai fazer tudo e qualquer coisa que eu quero. Tiara respirou. — Mas eu não quero fazer isso. — Foi uma súplica. — Eu não quero ser um monstro. — Você não vai escapar, você sabe. — O tom de Tiara mudou. — Dev te caçará. Katya deu a outra mulher um sorriso trêmulo. — Por isso, não importa que você me deixe ir agora. — Katya, eu sei que você não vai atirar em mim, — Tiara disse a queima-roupa. — Então, esse impasse é inútil. — A arma está definida para atordoar levemente, — Katya disse. — Você realmente quer deixar a criança vulnerável, fazendo-me ficar inconsciente? Tiara jurou sob sua respiração. — Você não é tão indefesa quanto parece. — Obrigada. Agora caminhe para o painel de alarme. — Ela moveu para manter Tiara em uma boa distância quando a mulher se moveu. — Coloque o código. Tiara cumpriu sem mais perguntas. Katya sentiu seus lábios esticarem. — Será que você vai enviar um sinal de socorro em silêncio? Não importa contanto que o alarme não apite quando você abrir a porta. — Por que você se importa? — Tiara arqueou uma sobrancelha perfeita. — Eu já estou acordada. — Eu não quero assustar o garoto.


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Um grande suspiro. — Eu estava no caminho para gostar de você, Katya. Agora você vai e aponta uma arma para mim. — Abra a porta, — Katya disse, sabendo que a outra mulher estava protelando. Tiara fez sem argumento. Nenhum alarme soou. Quando a fêmea Esquecida saiu para a varanda e foi até o gramado, Katya seguiu. Sabendo que Tiara iria para sua arma agora que Tag não estava mais sob ameaça, ela disse, — Desculpe, — e disparou o tranquilizante. — Foda-se! — Tiara desabou sobre os joelhos, seus movimentos bruscos e descoordenados. — Nada desportivo. — Isso saiu lento e desigual. Enfiando a arma em seu bolso, Katya colocou um braço sob os ombros Tiara. — Eu sei. Você pode amaldiçoar-me mais tarde. — Agora, ela tinha que levar a telepata a um dos veículos. A outra mulher resistiu, mas a arma tinha dado um curto-circuito em seu sistema nervoso. No entanto, nada poderia ser feito sobre o fato de que a linda mulher era mais alta e mais pesada do que Katya. Como resultado, Katya estava suando com uma mistura de pânico e estresse pelo tempo que ela arrastou Tiara para algo mais próximo com quatro rodas motrizes. Tomando a mão da mulher, ela apertou o polegar para o bloqueio. A porta se abriu e para trás. Puxando a parte superior do corpo de Tiara para o banco do motorista, Katya conseguiu colocar o polegar da mulher na chave de ignição. O carro começou com um ronronar tranquilo. — Não vai reiniciar, — Tiara murmurou, os olhos começando a afiar. — Eu vou ter que mantê-lo funcionando. — Descendo-a para o chão, ela pegou telefone de Tiara do bolso. — Eu usei a menor carga possível, você estará se movendo em menos de cinco minutos. Vou me certificar que os escudos do menino fiquem sólidos até então. Tiara sorriu. — Dev vai chutar o seu traseiro. Surpresa por aquele sorriso, Katya hesitou. — Os tranquilizantes não têm quaisquer efeitos estranhos sobre a fisiologia dos Esquecidos, né? — Claro que não. — O discurso de Tiara estava começando a clarear. — Eu só decidi achar isso divertido. Sacudindo a cabeça ao estranho sentido de humor do telepata, Katya entrou no veículo e apoiou-a cuidadosamente para fora e em sentido da casa. Ela estava uma centena de metros longes, em seguida, puxou-a mais puxado para a noite, sob a sombra de uma grande árvore. Ninguém seria capaz de vêla se eles viessem pela estrada. E se ela estava certa sobre o alarme silencioso, eles já estavam a caminho. Ela continuou a segurar o escudo do menino até que sentiu a energia de Tiara substituir a dela, voltou em sua mente antes que a outra mulher pudesse atacá-la nesse nível. Na mesma hora. Dois veículos correram pela estrada particular, indo para a casa. Katya esperou até que eles virassem a


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esquina, então ela jogou o telefone celular e seu chip GPS pela janela e dirigiu como um morcego para fora do inferno. O sistema de navegação do carro a tirou da área isolada e para uma estrada principal ainda pesada com o tráfego. Ela dirigiu por vinte minutos antes de parar em um estacionamento de um restaurante lotado. Os caminhões tinham suas próprias pistas especiais de navegação automática nas estradas, muitas vezes, viajando a velocidades 3-4 vezes maior do que carros. Estacionando ao lado de uma das plataformas, ela respirou fundo e desligou o motor. Ela estava agora efetivamente presa. Mas se ela conhecia Dev, este carro tinha algum tipo de dispositivo de rastreamento incorporado. Ela deixou a arma sob o assento, não tendo nenhum desejo de causar mais danos. A conversa parou no instante em que ela entrou na lanchonete, mas ela não podia voltar atrás. Tiara tinha, provavelmente, já se colocado em movimento. Franzindo a testa, ela olhou ao redor. A maioria das pessoas no balcão eram homens. Suor eclodiu ao longo de sua coluna vertebral. Entrar em um veículo com um estranho não era o mais inteligente dos movimentos, mas era a única opção que tinha. E ela era uma telepata. Ninguém jamais vai fazer dela uma vítima novamente. Dando um pequeno sorriso, ela moveu-se para o balcão. — Quer que eu compre um café? — A oferta veio de um homem de vinte e poucos anos à sua direita. — Eu prefiro um suco de laranja, — ela disse, julgando-o "seguro." Se tudo o que ela tinha sobrado eram seus instintos, então ela tinha que confiar neles. Ele sorriu, seus olhos enrugaram nos cantos. — Suco então. Espero que você não se importe de eu dizer, mas você poderia colocar um pouco de carne em seus ossos. Sua mente em cascata com imagens de Dev fazendo seu smoothies, deslizando barras de granola em seus bolsos. — Eu estou trabalhando nisso. Obrigada. — Ela tomou o suco de laranja e começou a beber. — Eu acho que você não está indo para o norte? O caminhoneiro deu-lhe um olhar decepcionado. — Ah, maldição. Sul. Jessie! Uma mulher com um rabo de cavalo loiro comprido olhou para cima a partir do final sombrio do balcão. Seu rosto era todas sardas e pele brilhante. — O que? — Você vai para o norte? — Talvez. — A mulher olhou para Katya. — Você precisa de uma carona? — Se você não se importar.


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Jessie deu de ombros e se levantou. — Estou saindo agora. Você pode me fazer companhia. Agradecendo o homem pelo suco, Katya seguiu Jessie para fora do bar. O caminhoneiro feminino não disse nada até que elas estavam na elegante cabine de um caminhão prata que mais parecia algo que você poderia encontrar na cabine de um avião de pequeno porte. — Não é inteligente o que você está fazendo, — Jessie disse assim que bateu a rodovia. — A maioria dos meninos, eles são ok. Mas há alguns que pensam que dar uma carona significa obter algo em troca. — Eu sei, — Katya disse, decidindo pela honestidade. Algo sobre Jessie disse que, por todos os seus olhares desconfiados, ela detectava uma mentira há milhas. — Mas eu não queria ser pega nos depósitos de bagagem. Jessie mudou para a navegação automática depois de alisar o caminhão em sua faixa especificada. O volante deslizou longe quando software computronic do caminhão assumiu, acelerando o equipamento a uma velocidade que nenhum ser humano seria capaz de controlar. — Você está fugindo de alguém? — Um olhar preocupado. — Alguém maltratou você, querida? Braços abraçando-a. Um beijo para lhe desejar bons sonhos. — Não. Mas eu tenho algo que eu preciso fazer. — Um demônio que ela precisava enfrentar. — É justo. — Jessie chutou para trás, colocando os pés no painel. — Então, você gosta de jazz?

— Eu estou indo para... — Dev mordeu as palavras, olhando para uma Tiara sorridente. — Você apenas deixou-a sair? — Ei, ela me surpreendeu, — disse a mulher, afrontada. — E não era eu quem rastreou o carro até a lanchonete embora ela tivesse uma sorte do diabo e pegou carona com alguém com o rastreador com mau funcionamento? Facas lançaram no estômago de Dev com o pensamento de que Katya poderia ter ido com aqueles que lhe fizeram mal. — Lucas ligou de volta? — O alfa leopardo tinha ido falar com as pessoas que pertencem à lanchonete após as tentativas de Dev resultarem em um silêncio sepulcral. Seu celular tocou naquele momento. Abrindo-o, ele olhou para o identificador de chamadas. — Lucas, você encontrou? — Ela está em uma plataforma em direção ao norte, — o alfa DarkRiver disse. — Com uma motorista chamada Jessie Amsel. — Uma mulher? — Sim. Mas isso, Dev pensou, não significa que ela não era perigosa. — Eu tenho um contato no sindicato dos caminhoneiros, — Dev disse. — Eu vou pegar seu caminho.


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— Eles saíram há cerca de quatro horas atrás. — Então é melhor eu começar a me mover. — Desligando, chamou seu contato e, cinco minutos depois teve uma impressão da rota de Jessie Amsel. Estreitando os olhos, ele fez outra chamada. — Michel? Eu preciso de um favor. — Você vai me dever primo. — Um sorriso que ele quase podia ouvir. — O que foi? Dev esboçou o que ele precisava. — É viável? — Contra as regras, mas eu acho que você vai puxar minha bunda fora da cadeia se eu não fizer. — Obrigado. — Não me agradeça ainda. Mesmo se ela não mudar a trajetória de antemão, Traffic Comp2 me diz que as estradas são claras todo o caminho até a fronteira. Se ela alcançar o Canadá antes de eu chegar a ela, não terá algo que eu possa fazer sobre isso.

REGISTRO DE COMANDO ESTAÇÃO SUNSHINE

EARTHTWO:

COMUNICADO

PARA

A

18 de agosto de 2080: relatório oficial de incidente: dez membros da equipe científica estão atualmente se recuperando da exposição na área médica. Parece que eles perderam o senso de direção no escuro, em seu caminho de volta de uma missão de pesquisa. Nenhum dos 10 contatou a base do acampamento por ajuda, e eles parecem não se lembrar das horas que passaram fora do abrigo. Todos os dez foram confinados à área medica até que possam ser completamente avaliados.

2

Tipo um aplicativo que informa a situação das estradas.


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— Você tem os papéis para atravessar? — Jessie perguntou quando ela parou o caminhão há três horas ao sul da fronteira com o Canadá, o mundo ainda era uma noite escura, em torno deles era de manhã cedo. Katya balançou a cabeça. — Não. Eu vou ter que encontrar uma maneira de esgueirar-se através. — Isso não é exatamente fácil. Eles têm guardas Psys agora, também, aparentemente, houve um problema com as pessoas que usam a telepatia para ofuscar as mentes dos guardas humanos. Isso eliminou o plano que Katya estava contando. — Eu não suponho que você conhece alguém que faz identidades falsas. — Eu pareço com o tipo de criminoso? — Não, você parece um tipo com recursos. Jessie sorriu. — Que inferno. Vamos. Vinte minutos depois, Katya tinha um cartão de identificação que era ‗bom para um único uso‘ de acordo com o homem enrugado que fez para ela. — Eles vão receber um alerta dez minutos depois de examiná-lo, por isso certifique-se de sair de lá bem rápido. Katya assentiu e entregou a maior parte do dinheiro que ela tinha tirado da carteira. — Obrigada. — E se você for pega, você nunca me viu. Olhos negros a prenderem em seu lugar. — Entendido? — Entendido. — Você vai ao longo da fronteira? — ela perguntou para Jessie, uma vez que estavam em seu caminho novamente. A outra mulher sacudiu a cabeça. — Minha entrega é para uma instalação há cerca de 40 minutos daqui. Você pode pegar uma carona com outro caminhoneiro de lá, eu vou ter certeza que é um dos bons. — Por que você está me ajudando, Jessie? — Katya perguntou, correndo os dedos e ao redor das bordas duras do cartão de identificação. — Sou obviamente alguém em apuros, alguém que poderia colocá-la em apuros. — Ouvistes alguma coisa sobre: pagar depois? — Não.


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— Onde você mora, em uma caverna? — Sem esperar por uma resposta, Jessie explicou rapidamente. — É assim: se alguém faz algo de bom para você, você tem que fazer algo de bom para outra pessoa no caminho. É para colocar o bom de volta para o mundo. — Eu entendo, — Katya disse lentamente. — O mundo seria certamente um lugar melhor se todos fizessem isso. Posso perguntar pelo que você está pagando? — Quando eu era uma magrela de 16 anos de idade, um filho da puta de um assustador de um caminhoneiro me pegou em uma rua escura e deserta. — O sorriso de Jessie ficou impressionante. —Depois que ele terminou de dar um sermão sobre os perigos da carona, ele alimentou-me, deu-me banho em seu caminhão, e me perguntou onde eu estava indo. Quando eu disse que não sabia, ele deu este grande suspiro. — E? — Katya solicitou quando Jessie se calou. — E acabei indo com ele pelos próximos cinco anos. Isaac é o único que me ensinou a dirigir os equipamentos grandes, que me deu o meu primeiro show. — Ele deve estar muito orgulhoso de você. Será que ele está aposentado agora? — Ah! Ele é apenas seis anos mais velho do que eu! — Oh. — Katya mordeu o lábio, mas não conseguiu conter a sua curiosidade. — Você não o vê como um irmão, não é? — Deus, eu sou patética. E óbvio. — A outra mulher revirou os olhos. — Ele ainda me vê como aquela garota magra que ele pegou. Não se afunda em sua pequena mente masculina que eu não só tenho peitos, mas eu gostaria de usá-los, muito obrigada! Katya começou a rir, assim como a aurora começou a sussurrar no horizonte. — Você está esperando por ele? — Eu estou dando a ele mais um mês. Eu juro, depois disso, eu estou tomando a primeira oferta que vier. — É maravilhoso, você sabe, — Katya disse, a mente se enchendo de memórias de puro calor fundido. — Estar com alguém que toca o seu coração. — Você não parece muito feliz. — Eu acho que ele vai me odiar agora. Uma sirene perfurou o ar, cortando a respiração. — Droga. — Uma Jessie carrancuda puxou para o lado da estrada. — Eu juro — a loira murmurou — os policiais caipiras não tem nada melhor para fazer do que atrapalhar os cidadãos cumpridores da lei. — Jessie, estamos na verdade... — Shh. Pense em pensamentos de cumpridores da lei. — Correndo para trás da sua porta, Jessie pegou o casaco e pulou. Katya não podia vê-la enquanto ela se movia em direção ao policial, mas ela ouviu suas palavras. — Michel Benoit, você não tem que ir comer um donut ou algo assim?


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— É Oficial Benoit para você, — foi a resposta arrastada. — Eu tenho um relatório que você está carregando contrabando, querida. — O inferno que você tem! — Agora Jessie parecia chateada. - Eu estou limpa e você sabe disso. — Contrabando é sobre uma alta, cabelo loiro escuro, magra. Isso te lembra algo? — Eu tenho certeza que eu não sei o que você quer dizer. Katya tinha toda a fé na capacidade de Jessie, mas ela não tinha nenhum desejo de obter a mulher que a ajudou muito em um problema real com a lei - não era como se o policial não fosse verificar o veículo. Deslizando de sua própria porta, saiu para o ar gélido do inverno e andou em torno da frente do caminhão para ficar ao lado de Jessie, a aurora suave e silenciada em torno deles. Mesmo a neve que revestia a estrada parecia quente nos raios vermelhos e dourados. — O que exatamente, — Katya disse, encontrando os olhos gelo azul do policial, — Eu deveria ter feito? Ele sorriu, acenando seu cabelo castanho escuro na brisa suave. — Poderia ter algo a ver com disparar uma arma tranquilizante. — Eles apresentaram um relatório? — Havia algo perturbadoramente familiar sobre este Michel Benoit. Ele levantou uma sobrancelha. —Você quer um registro? — Isso significa que não há nenhum relatório, — Jessie disse a ela, com as mãos nos quadris. — Ele não tem o direito de te pegar... Os olhos de Michel brilharam. — Isso não é seu problema, Jessie. — Leve os seus ‗Não‘ e engula, — Jessie murmurou. — Todo mundo sabe que você tem uma propensão de pular a lei. O homem não parecia ofendido, seu sorriso chegando a aquecer aqueles olhos. —Aqui é o negócio, — ele disse a Katya. —Você pode vir comigo agradável e fácil, ou eu encontrarei algo para acusar as duas. — Duas? Jessie não fez nada. — Jessie, — Michel murmurou, — provavelmente já fez um monte de coisas. Katya colocou a mão no braço de Jessie quando a outra mulher deslocou para frente, como se tentado encarar o policial. — São os olhos, — ela murmurou. — A cor me distraiu, mas vocês têm os mesmos olhos. O sorriso de Michel se alargou. — Eu não tenho ideia de quem você está falando. — O nome Devraj te diz algo? — Eu poderia ter um primo chamado Dev, mas você sabe, não é um nome incomum. Certo agora que não havia maneira de Michel deixá-la partir, Katya voltou-se para Jessie. — Obrigada.


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Jessie ainda estava de cara amarrada, mas ela abraçou Katya apertado. — Se você precisar de ajuda novamente, você me chama. Você tem meu número, certo? Katya assentiu, tendo memorizado o número celular. — Então, — ela disse para Michel — Onde a partir daqui? ARQUIVOS DA FAMÍLIA PETROKOV Carta datada de 24 de dezembro de 1978 Querido Matthew, É véspera de Natal, mas o mundo está estranhamente silencioso. Normalmente, os changelings estariam pregando seus truques anuais, eu sempre meio que espero encontrar um tigre sentado na minha varanda no meio da noite, como eu fiz uma vez quando eu era criança. Ele me trouxe um ramo de azevinho fresco, você pode imaginar? Mas este ano, até mesmo os humanos ficaram em casa. Todos nós estamos esperando o machado cair, o Conselho está se aproximando de uma decisão. Se ele vai do jeito que eu previ, qualquer um não na Rede vai se tornar para sempre cortada de quem amamos. O Conselho reconheceu que os adultos não podem ser totalmente condicionados, mas aqueles que ficam na Net terão que seguir as rigorosas diretrizes. Se não o fizerem, seus filhos serão tomados a partir deles, de modo que eles podem ser condicionados de forma adequada. Minha mão está tremendo enquanto escrevo isso. Ninguém nunca vai levá-lo ou Emily de mim. Mamãe


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Dev fez o seu caminho a partir do jato para a casa de seu primo, ao sul da fronteira com a British Columbia, usando um carro especial para neve que Maggie tinha alugado. Dada a velocidade do jato, ele não estava muito atrás quando Michel tomou Katya em "custódia". Chegando ao lugar de seu primo, ele saiu do carro e caminhou direto para a porta da frente. Michel abriu enquanto estava levantando o punho para bater. — Ela é toda sua, Santos. — Empurrando seu chapéu de volta, Michel disse: — Se eu fosse você, eu iria vestir armadura. — Obrigado pelo aviso. Seu primo inclinou a cabeça e saiu para o seu próprio veículo. Tentando obter controle sobre um temperamento, se recusava a responder a escova fria de metal, Dev entrou pela porta e seguiu o eco da presença de Katya para a cozinha, onde ele a encontrou calmamente comendo um enorme muffin de blueberry, um copo do que parecia chocolate quente em seu cotovelo. Jesus, havia até marshmallows no maldito chocolate. — Parece que Michel cuidou muito bem de você. Um olhar que lhe dizia nada. — Ele sabe como tratar uma mulher. Ok, isso machuca. — Ao contrário de? Um encolher de ombros. Ele viu como ela escolheu um mirtilo e colocou na boca. — Você realmente acha que ia fugir? — Ceder não é o que eu faço. Foi uma bofetada. E despejou a água mais fria sobre o temperamento que ele irracionalmente temia que fosse transformá-lo em seu pai. O que diabos ele esperava que Katya fizesse? Sentar-se humildemente, enquanto ele a mantivesse cativa? A mulher que sobreviveu a tortura de Ming LeBon não era o tipo que sentava ao redor. Soprando um suspiro, ele cruzou os braços sobre sua jaqueta. — Quão perto você está de onde você está indo? Ela congelou, então pareceu agitar-se. — Estou ficando mais perto. — Ainda não sabe a localização certa?


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— É a noroeste. . . Eu acho que possivelmente o Alasca, embora pudesse ser facilmente em Yukon. Dev se aproximou o suficiente para brincar com uma mecha de seu cabelo. Ela não se afastou, também não parou de destruir seu muffin. Ele estava sendo ignorado novamente. Ele percebeu que isso deveria ter irritadoo, mas isso fez seus lábios se curvarem. Liberando o cabelo, mudou-se em torno para ficar em suas costas, colocando as palmas das suas mãos no balcão de cada lado dela. Ela deu outra mordida no muffin. Sorrindo, ele acariciou a queda de cabelo e deu um beijo na pele delicada de sua nuca. Um arrepio. — Devraj Santos, — ela disse com contundência, — você não está indo jogar charme para me fazer voltar. Ele a beijou de novo, ao longo da curva esguia do pescoço. — Quem falou de charme? — Ele murmurou, mordiscando sua orelha. — Estou planejando seduzi-la. Ela abaixou o maldito muffin. — Dev, porque você não está gritando comigo? Outro beijo, quando se levantou em toda sua estatura e passou os braços em torno dela, deixando cair o queixo no topo de sua cabeça. — Você é teimosa demais para responder a gritos. — Ela sobreviveu a algo que ele não tinha certeza do que, mesmo que pudesse sobreviver, um homem seria estúpido em não respeitar esse tipo de vontade de sua mulher. — Mas você ainda vai me arrastar de volta. — Sua mão se fechou em um punho no balcão. — Por quê? Eu não sou essa ameaça longe de você. — Eu tenho que considerar o que você poderia ter aprendido no tempo que esteve com a gente, se você voltar e atacar. Essa mão flexionou, depois fechou de novo. — Nada do que eu diga vai lhe mudar de ideia, será que vai? Ele sabia o que deveria fazer. Até que ele entrou nessa cozinha, isso não havia sido uma questão em sua mente. Mas... — eu posso lhe dar três dias. Ela chupou em uma respiração. — Dev? — Nós vamos tomar o jato para o norte até que se sinta confortável, então alugar um carro. — Estou feliz por você estar comigo, — ela disse, para sua surpresa, inclinando-se em seu abraço. - Parte de mim está com medo do que vou encontrar... e se não haver nada lá? — Katya? — Isso significaria que meu cérebro realmente está danificado, — ela sussurrou. —Se eu tenho essa compulsão e não há nada para apoiá-la. De repente, ele compreendeu a sua fome de seguir a compulsão muito melhor do que tinha antes. — Você não é o cérebro danificado, — ele disse a


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ela, apertando-a com mais força. — Se você fosse, com certeza não teria conseguido fugir debaixo do meu nariz. Katya ouviu o toque de desaprovação em seu comentário e isso fez o seu coração mais leve. — Eu fiz bem, não foi? — Seu sorriso vacilou. — Como está Tiara? — Ela abriu apostas sobre o quão longe você iria antes que eu a pegasse. — Oh? — Sim, e ela colocou a aposta para a maior distância. — E Tag? — Vamos apenas dizer que ele não é o seu novo melhor amigo. Ela estremeceu e foi perguntar sobre o garoto antes de perceber que poderia colocá-lo em apuros. Dev riu. — O garoto é bom e nós aprendemos a ter cuidado extra com seus escudos. — Ele é forte, — ela disse, apreensiva sobre o que isso poderia significar. — Se o Conselho verificar que o Esquecido tem esse nível de habilidade psíquica. . . — Deixe-me preocupar com isso. — Ele deu um beijo em sua têmpora, permitindo-lhe virar para que eles se encarassem. — Diga-me tudo o que puder sobre essa atração que você sente para ir ao norte. Você tem alguma outra informação? — Não. Mas eu sei que ouvi alguma coisa. Lá... na sala preta. Raiva reacendeu sombria com a necessidade de tirar sangue. Ele teve que conscientemente se concentrar para formar um discurso e passar sob o poder maldoso dele. — Por que eles falariam algo que você pudesse ouvir? — Eles cometeram um erro, — ela disse, com a voz hesitante, como se estivesse reconstruindo um fragmento de memória. — Ming me quebrou, mas mesmo quebrada, eu tinha orelhas, eu tinha olhos. Ele me tratou como se eu fosse um inseto que havia esmagado sob sua bota, que não valia à pena se preocupar. A raiva nele era uma coisa selvagem, animalesco em sua fúria... sua angústia. — O que, — ele forçou-se a perguntar: — você ouviu? Katya olhou para o som da voz de Dev, uma lâmina crua. Sua raiva era um chicote no ar, um chicote de fogo. Mas de alguma forma, em vez de incitar o medo, isso a fez se sentir mais forte. — Muitas coisas. Dev olhou com aqueles olhos incríveis, e ela sabia, sabia que ele iria matá-la. Isso a balançou, o conhecimento de quão profundamente eles estavam ligados entre si. E se... — Não, — Dev disse. —Não pense em nada, exceto nessa tarefa. Nós vamos descobrir o resto mais tarde. Ela assentiu com a cabeça, seus movimentos bruscos.


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— Eu não tenho todas as peças, mas eu sei que tenho que ir. Eu tenho que ver. Sua mão contra sua bochecha. Aquecendo. Protetora. — Você não tem ideia do que você está procurando? — Alguma coisa ruim. — Ela se moveu em seu toque. — Quando eu penso nisso, fico com esta doença oleosa em meu estômago. — O mal, ela pensou. Era algo mal esperando por ela, uma coisa que sua mente se recusava a mostrar a ela, mas cuja sombra malévola que sobrepõe qualquer outro pensamento.

REGISTRO DE COMANDO ESTAÇÃO SUNSHINE

EARTHTWO:

COMUNICADO

PARA

A

17 setembro de 2080: Produtividade caiu 57 por cento nos últimos três dias com funcionários queixando-se de dores de cabeça cada vez mais fortes. Pode ser aconselhável considerar um recall de todos os funcionários até que a área fosse exaustivamente testada para os contaminantes biológicos e / ou químicos. Por favor, informe.


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Dev deu um beijo em sua testa, o gesto afetuoso e inesperado fazendo seus olhos arderem. — É melhor começar o mais cedo possível. Ela sabia que os três dias que ele tinha dado a ela custariam a ele, mas ele iria aproveitar o golpe por ela. — Dev. . . Eu poderia estar levando você para uma armadilha. — Apesar de quão longe ela chegou, sua mente permanecia um labirinto selvagem, cheio de buracos e enganos. Dev esfregou o polegar sobre sua bochecha. — Ainda não entendeu, não é, Katya? Eu cuido do que é meu. — Eu não quero que você se machuque, — ela começou, mas o conjunto de sua mandíbula lhe disse que ela estava perdendo o fôlego. — Você nasceu teimoso? — Minha mãe costumava dizer que eu era metade mula. Isso a fez sorrir. — Isso faria um de seus pais uma mula. Sua mãe? — Ela nunca admitiu. — Seus olhos encheram com uma tristeza tão profunda, que ela sentiu a garganta travar. — Nunca teve a chance. Ela hesitou, insegura de seus instintos, de sua mente, sua alma. . . Mas não do seu coração. — O que aconteceu com ela? — Meu pai a matou. — Uma resposta dura que roubou seu fôlego. Ela ainda estava tentando encontrar as palavras para responder quando ele continuou. — Foi quando eu entendi por que alguns de nossos antepassados escolheram o Silêncio. Meu pai nunca foi abusivo. Foi seu dom que o transformou em um assassino. Estendendo a mão, ela fechou-a sobre a sua. — O Shadownet, — Dev disse, olhando para suas mãos unidas — É um animal completamente diferente da PsyNet, mas temos algumas semelhanças. — Dev, — ela disse, interromper lhe era a última coisa que ela queria fazer. — Você não tem que me dizer mais nada. — Se ela o traísse, mesmo se não fosse por opção, isso a quebraria, e ela sabia que não iria sobreviver novamente. Não disso.


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Seu rosto era de repente do conquistador que ela uma vez viu nele. — Nós vamos libertá-la, Katya. Mesmo se eu tiver que matar o próprio Ming LeBon. — Não. — Ela segurou as duas mãos. — Ele é meu monstro para matar. Eu não quero você perto dele. — Você não acha que eu posso com ele? Ela olhou para ele, para seus olhos frios, o corpo musculoso, paciência de um soldado, e disse: — Eu sei que você poderia. E é isso que me assusta. Um silêncio. — Eu não quero que você se torne o que ele é, — ela sussurrou, sabendo que Dev tinha uma desumanidade nele que poderia transformá-lo em cruel, um assassino com um objetivo único e brutal. Ela não tinha dúvida de que iria alcançar esse objetivo, mas ele poderia perder-se no processo. — Eu tenho medo de que, se você caçá-lo, ele vai mudar você, te fazer uma reflexão do Ming. Ele não respondeu, e ela sabia que se a oportunidade aparecesse, Dev iria atrás de Ming. E se isso acontecesse, haveria apenas uma escolha. Uma que ela faria sem pestanejar. Ela estava se tornando a fraqueza de Dev. Cortando sua existência, a fraqueza já não existiria. Dev recebeu um telefonema de Aubry dez minutos depois da decolagem, o jato em um curso constante para o norte. Katya não estava oficialmente na lista de passageiros, o que significava que estavam tecnicamente a contrabando para outro lado da fronteira se necessário para pousar no Canadá, mas Dev tinha maneiras de contornar o problema, se chegasse a isso. — O que é isso? — Ele perguntou, consciente de Katya colocando em seus fones de ouvido e ligando a música. — Jack acha que você está brincando com ele, e está puto. Dev apertou a ponte do seu nariz com os dedos. — Você pode mantê-lo calmo por três dias? — Ele vai durar, talvez um dia a mais ou dois no máximo. — O tom de Aubry mudou. — Dev, o que ele está dizendo, não é bobagem. Ele está fazendo sentido. — Eu sei que Jack está fazendo sentido. — Dev tinha visto Jack, filho de William após o primeiro episódio, Jack tinha visto como o outro homem quebrou. Ele tinha um entendimento profundo da angústia que levou a cada ação de seu primo. — Isso é um inferno. Olha, eu vou ligar para ele. — E você vai estar de volta à Nova York em três dias? Sabendo que Tag e Tiara seriam capaz de lidar com Cruz agora que Sascha tinha se envolvido, ele disse, — Yeah. Marque uma reunião com Jack. — Eu acho que você não pode escapar de algumas coisas, — Aubry disse quando ele desligou, e Dev sabia que ele não estava falando sobre a reunião.


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Discando o número de celular de Jack, ele esperou. O outro homem respondeu depois de alguns segundos. — Já era tempo, Diretor. — Dê uma folga, — Dev murmurou. — Você acha que não estamos relacionados, a forma como você está me estrangulando. — Não puxe o cartão de primo para cima de mim. — Mas seu tom tornou-se menos severo. — Você tem me evitado Dev? — Não. Tivemos algumas outras merdas batendo no ventilador. — Empurrando a mão pelo cabelo, ele se inclinou para trás na cadeira. — O que você está dizendo... estou escutando. — Bom. — Uma pausa. — Porra, Dev, não queria ser uma dor na sua bunda, e eu com certeza não quero remexer em memórias antigas, mas temos que lidar com isso. — Não há nenhuma maneira que eu posso apoiar o que você quer, você sabe disso. Nossos antepassados deram tudo por nossa liberdade. Como diabos você pode virar as costas para isso? — Porque meu filho está tão aterrorizado com suas próprias habilidades que ele está com medo de fazer amigos. — O tormento de Jack encheu a linha. — Ele é um bebê, mas ele tem tanto medo que vai machucar alguém que ele permaneça em seu quarto o dia todo. Você lida com isso todos os dias e depois me diga se a escolha não é minha para fazer. Pegando a quebra na voz de Jack, Dev endireitou. — O que não está me dizendo? Eu pensei que Will estava estável no momento. — Ele acreditava que tinha tempo para encontrar outra resposta, uma que não iria destruir o coração que era a identidade dos Esquecidos. — Alguma coisa aconteceu. Eu não... — A respiração irregular. — Eu preciso confirmá-lo. Mas eu sei que Will está piorando. Dev pensou no menino de sete anos de idade, que o chamava de tio Dev, pensou, também, nos outros que estavam na borda. — Está voltando. — As novas habilidades estranhas que surgem nos Esquecidos estavam trazendo com eles as mesmas loucuras que tinham levado os Psys para o Silêncio — Mas você viu como o Silêncio não é a resposta para tudo, eles não são o exemplo que queremos seguir. — Você fica frio, Dev, — Jack disse. — Eu já vi você fazer isso. Você concentra nas máquinas e você fica frio. E se você não conseguisse? Dev sabia muito bem como era sair de controle. Especialmente agora, com uma mulher que caiu sob sua camada metálica, como se ela não existisse. — Eu posso ficar frio, mas eu permaneço humano, Jack. Eu sinto. — Demais. Muito forte. — É uma má escolha, eu sei, — Jack admitiu. — Mas se apenas houver más escolhas... — Nós vamos encontrar outra maneira. — Dev não perderia sua família, seu povo. — Eu tenho Glen e sua equipe sobre ele dia e noite. E eu estou trabalhando cada contato que eu tenho. . . Não tomequalquer decisão


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precipitada. Você pode me dar mais alguns dias? Pode? — Porque se o menino tinha ficado crítico, então Dev iria virar o avião. Ele tinha toda a fé que a mulher ao seu lado iria entender. — O que é tão importante que você não pode falar comigo hoje? Dev olhou para a cabeça de Katya, virou-se em direção à janela do avião. — Estou lutando para salvar outra vida, outra mente. Jack respirou. — Porra, você sabe como manipular um homem. Eu vou te dar mais alguns dias. — Ligue-me no instante que ocorrer alguma mudança. — Por que... E os instintos protetores de Dev gritaram em repúdio violento com o pensamento... o pequeno, de olhos grandes, William era o seu barômetro, o mais próximo a agarrar os fios de sua sanidade. Engolindo o nó na garganta, ele nem sequer fez um esforço para esconder sua própria preocupação por Will. - Você me liga e eu vou. Você entendeu? Uma pausa cheia de coisas não ditas, e Dev sabia que Jack compreendeu a verdade brutal, uma verdade que nenhum pai deveria ter que enfrentar. — Sim, — o seu primo finalmente respondeu. — Eu tenho que ir para, a casa de Melissa. Isso está uma maldita bagunça. A última frase estava em um tom cansado. Quando Dev desligou, ele sentia o mesmo. Virando-se, ele encontrou Katya olhando para ele. Ela tirou os fones de ouvido apenas quando ele deslizou o telefone no bolso. — Eu quero muito perguntar o que colocou esse olhar no seu rosto, — ela disse, chegando a colocar uma mão sobre a dele. — Katya, há uma chance de nós voltarmos para trás. — Ele apertou os dedos nos dela. — Mas se o fizermos, eu vou te trazer de volta. Eu prometo-lhe isso. E, embora ele soubesse o quanto ela queria chegar a seu destino, ela deu um aceno imediato. — Sua promessa é mais do que suficiente para mim. Seu coração se expandiu, até que ele não conseguia sequer lembrar como o metal se sentia. — Quão segura é a sua mente? — É um cofre. Nada pode entrar ou sair para a rede. Mas como você disse, Ming deve ter a chave psíquica para abrir o cofre, ele poderia usá-lo a qualquer momento. Ele entendeu o que ela estava dizendo, mas os possíveis benefícios superaram os riscos neste caso. Sobre a perguntar-lhe o que ele precisava saber, ele franziu a testa. — Você tem uma hemorragia nasal. Fazendo um pequeno som, ela levantou a mão ao nariz, pegando um lenço do pacote fornecido nos bolsos dos bancos. — É a altitude, — ela disse. Ele não tinha tanta certeza. — Como está sua cabeça? — Tudo bem. — Escorregando o tecido para o saco de lixo, ela fez uma careta. — Eu nunca fui uma boa voadora. Qual era a sua pergunta? Ainda não convencido, ele fez uma nota mental para ter Glen a verificando em seu retorno. — O que você sabe sobre a gênese do Silêncio?


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— Além do que é de domínio público, eu sei que não é tão eficaz como o Conselho gosta de divulgar, a âncora, o forte Psy que a Net precisa para se manter, eles são extremamente vulneráveis a sociopatas. Dev tinha adivinhado isso. — Mas é eficaz num certo nível? — Sim. — Ela assentiu com a cabeça. — Você sabe que há habilidades que predispõem o indivíduo a doenças mentais ou que os levam para tais doenças por causa do que eles exigem. — Vá em frente. — Por exemplo, alguns telepatas de alto Gradiente têm problemas em construir escudos, é como se suas habilidades fossem muito fortes para conter os vazamentos de energia para fora. Com o Silêncio, pelo menos eles têm uma eficaz barreira, mesmo se as coisas complicarem, essas coisas não os afetam tão profundamente. Dev considerou isso. — Justiça Psy, eles têm um representante. — Sim. Porque os J-Psy trabalham tão de perto com os humanos, eles são mais propensos a quebrar o silêncio. E quando a Justiça Psy é quebrada, algumas pessoas muito desagradáveis tinham um jeito de acabar mortos. Dev não necessariamente achava que era uma coisa ruim, mas se o altamente treinado J-Psy não for capaz de controlar suas habilidades, como ele poderia esperar isso de um assustado garoto de sete anos de idade? — É por isso que o J sempre faz pausas entre os casos? Katya assentiu. — Pelo que eu sei, eles geralmente trabalham cerca de um mês, e então voltam para um intensivo recondicionamento antes de ser dado o seu próximo caso. — Seus olhos pousaram nos dele. — Viemos todos do mesmo estoque, — ela murmurou. — É inevitável que, mesmo em uma população mestiça, mutações e recombinações de gene produzam um indivíduo mais próximo de um Psy do que de um humano. Ele sabia que ela iria entender, ela era inteligente demais para não. — Tenho certeza que o Conselho percebe isso, também. — É uma possibilidade. Mas há certa arrogância entre os níveis mais elevados da superestrutura do Conselho, os Psys tornaram-se tão acostumados a pensar que são as pessoas mais poderosas do planeta que eles não conseguem ver algo tão simples e tão poderosa, como a natureza em conta. — Desta vez, seus olhos estavam preocupados. — Dev, se seu povo está considerando o que eu acredito, não. — Você me disse que para alguns dons, é a única opção. Sua mão apertou em torno da dele. — Mas ele mata algo no indivíduo e no grupo. O PsyNet. . . é bonito, mas ele está morrendo, pouco a pouco, lentamente. Como não poderia? Nós damos-lhe nada, exceto o vazio. Dev entendia seu jeito de falar da Net como uma presença viva. A Shadownet, também, tinha uma entidade do tipo que era a sua alma, a sua


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marca viva, apesar de ter sido muito, muito mais jovem do que sua contraparte no PsyNet. — Eu ouvi sussurros da Netmind. — Há uma DarkMind, também. — Sua voz era oca. - Ming disse-me Eu acho que ele pensou que eu não iria se lembrar, ou ele não se importava. O Netmind foi dividido em dois. Ela não tinha o que dizer mais, se o tecido da própria net estava sendo dilacerado, então como poderia, eventualmente, o Silêncio ser a resposta? E ainda... — Ainda há assassinos na Net, mas não são menos. — Sim. — Ela engoliu em seco. — Eu acho que, por um tempo, isso fez coisas realmente melhor. Fomos capazes de respirar sem medo do que poderíamos fazer, o que poderia ser feito para nós. Mas isso logo se tornou substituído por outro tipo de medo. — O Conselho. — Dev pensou sobre as implicações. — Esse tipo de estrutura de poder é inevitável, uma vez que você abraça o Silêncio, isso premia os naturalmente sem emoção, as pessoas que têm pouca ou nenhuma empatia. — Os sociopatas. — É uma falha no sistema que nós nos tornamos cegos. — Katya inclinou a cabeça em seu ombro. - O que você vai fazer? — Lutar pelo meu povo.

ARQUIVOS DA FAMÍLIA PETROKOV Carta datada de 01 de janeiro de 1979 Querido Mattew, A decisão já foi tomada. O silêncio será implantado. Seu pai e eu sabíamos que isso iria acontecer. Nós estamos fazendo planos. Eu te amo tanto, meus bebês. Este plano, há uma chance de que vamos todos morrer. Eu não vou mentir para você, não vou tentar esconder a verdade. Às vezes, eu acho que estou sendo uma hipócrita, condenando os outros por deixar o Conselho tirar as emoções de suas crianças quando eu estou colocando você e Emily em perigo mortal, mas sei com o coração de mãe. Eu sei que o meu Matty é um artista, que está completo quando seu rosto está sujo de tinta e os dedos espirrando mil cores diferentes. Eu sei que a minha doce Emily gosta de cantar, que ela te segue ao redor da casa, porque ela te adora tanto. Eu sei que seu pai prefere ficar louco mil vezes a extinguir suas luzes brilhantes. Então, nós vamos fazer isso. E nós esperamos que exista um Deus. Com todo o amor em meu coração, Mamãe


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— A situação no Sri Lanka foi contida. — A voz mental de Henry ressoou enchendo o cofre psíquico das câmaras do Conselho. — A âncora em

questão está agora sob supervisão constante. — Ele já era. — destacou Tatiana. — Sim, — Shoshanna disse, — mas antes, ele tinha um grau de autonomia, como todos sabemos, as âncoras são tantas vezes cardeais que é quase impossível monitorá-los sem um enorme desperdício de mão de obra. — Mas, neste caso, — Henry continuou, — essa mão de obra se justifica. Eu tenho a minha guarda pessoal sobre ele, mas se o Conselho estiver de acordo, eu gostaria que um membro do Esquadrão Arrow se juntasse a equipe. Kaleb sentiu uma batida telepática em sua mente. Abrindo um canal, ele encontrou a voz de Nikita entrando em sua cabeça. Eles estavam trabalhando juntos novamente. Ele tinha notado a mesma coisa. Henry, no entanto, não é mais o membro Beta do par. Se eles encontraram uma maneira de equilibrar seus egos, Nikita comentou, eles tendem a se tornar a força mais poderosa do Conselho. O fato de que os pensamentos de Nikita haviam seguido o seu não foi inesperado, havia uma razão para que ele se aliasse à Conselheira de San Francisco. Sua mente era a sua ferramenta mais poderosa, e, ao contrário dos outros, ela não pensava em assumir a Net. Nikita só estava interessada em seus próprios interesses comerciais. Isso a fazia uma excelente parceira para um homem que estava interessado em ganhar o controle sobre a PsyNet. — Concordo, — Kaleb disse enquanto que a questão Arrow era colocada em uma votação rápida. Anthony Kyriakus foi o único membro que não concordou imediatamente. — Ming, a minha pergunta é para você. Eu ouvi um boato de que seus Arrows não estão mais sob seu completo controle. Kaleb também tinha ouvido esse boato particular, tinha de fato pretendido explorar mais o tópico. Agora, ele esperou para ver o que Ming diria.


180 — Os rumores são incorretos, — Ming disse. — O único problema de

controle refere-se à reação de vários Arrows que servem um bom tempo tendo um regime de Jax. — Você ainda está usando Jax? — Tatiana perguntou. — Nada mais tem se mostrado tão eficaz quando se trata de manter o silêncio absoluto. Era mais do que isso, Kaleb sabia. Jax, reconhecido pela maioria apenas como o flagelo dos Psys, tinha sido criado para um propósito muito específico. Quando administrado na dose adequada, calibrado com precisão para um indivíduo, Jax tinha uma forma de apagar a personalidade sem apagar a mente. Um equilíbrio muito precário. — Os que tiveram a reação, — ele perguntou, — eles têm sido atendido? — Eu os coloquei em um local projetado especificamente para manter Arrows que já começaram a se degenerar. Shoshanna falou sobre as declarações de Ming. — Por que não estão mortos? Certamente eles não são mais úteis. — Arrows, — Ming disse, a ênfase sutil lembrando-lhes que ele mesmo tinha sido um, uma vez, — têm apenas uma regra inquebrável, nunca deixar outro Arrow para trás. É parte da estrutura psicológica que lhes permite funcionar. Se eu eliminar os indivíduos defeituosos, acabará por levar à desintegração da lealdade quase cega que liga os Arrows um para os outros e para mim. — Isso, — disse Tatiana, — soa quase como uma ligação emocional. — Não é mais emocional do que a impressão de uma garota com sua mãe, — Ming disse. — Eu sou o líder deles e eles concordaram em seguir-me, contanto que eu não quebre uma regra subjacente, eles vão fazer exatamente isso. — Como é que tal regra nunca entrou em jogo? — Shoshanna perguntou, expondo sua ignorância desse aspecto da natureza humana. Kaleb tinha feito a sua investigação. Ele sabia sobre Zaid Adelaja, o primeiro Arrow. Sabia, também, que o homem havia sido um soldado e se tornado um assassino. E os soldados, não importando sua raça, viviam e morriam para a equipe. Ignorando a resposta de Ming à pergunta de Shoshanna, ele vasculhou seus arquivos, em busca da localização do local onde Ming enviava seus Arrows para morrer. Ele não conseguiu isso. Mas ele teria até o tempo que este dia terminasse. — Nós também temos outra questão a discutir. — Ele começou a dizer-lhes sobre as manchas escuras na rede, fazendo o seu trabalho ostensivo como o conselheiro mais sintonizado com a Netmind. Mas, na verdade, ele estava vendo e ouvindo. Cada conselheiro teria uma resposta diferente a esse conhecimento, e, quando chegasse a hora, cada Conselheiro teria quer viver ou morrer por essa resposta.


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Estava escuro quando o jatinho pousou, tendo voado em baixa velocidade para dar uma chance da bússola interna de Katya se concentrar. Ela finalmente os parou em algum lugar no sul do Alasca, o ar gelado. Graças a Michel, Dev estava equipado com roupas de frio pesado, enquanto Katya usava uma echarpe grossa e uma jaqueta grande demais para seu pequeno corpo. Mantê-la-ia aquecida, por enquanto, Dev pensou criticamente, mas de maneira nenhuma ele a levaria mais adiante no Alasca assim. — Nós vamos conseguir algumas roupas para você amanhã de manhã, — ele disse, pegando as chaves do veículo adaptado para todos os terrenos que Maggie organizara depois de sua ligação do jatinho. — A cabine que Maggie reservou para nós está ligada a uma pousada turística. Eles devem ter uma loja de algum tipo. A expressão de Katya era triste. — Eu não considerei o frio aqui quando decidi fugir. Seus instintos mais possessivos o perfuraram no lembrete de em quanto perigo ela se colocou, ele pegou a mão dela. — Você vai ficar bem no carro durante a viagem. Essa viagem levou menos de vinte minutos. — Sua secretária é muito eficiente, — Katya disse enquanto Dev abria a porta para a unidade deles, revelando uma mochila novinha na cômoda à esquerda. A mochila provou ter tudo, incluindo roupas, que ela poderia precisar ao longo dos próximos dias. — Por que você acha que eu a pago tão bem? — Abaixando sua própria mochila, ele deu um sorriso luminoso que estivera ausente durante todo o dia. Ela não percebera o quanto sentira falta até então. — Este lugar é lindo, — ela disse, seus olhos vagando para a enorme cama felpuda no quarto à esquerda. — Mas eu ainda sinto que deveríamos continuar. — Você está prestes a cair de exaustão, e eu não estou na melhor forma, apesar do cochilo que você me deu na noite passada. Ela endireitou os ombros. — Eu me recuso a me sentir culpada.


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— Foi minha maldita culpa por não garantir que eu a verificasse por contrabando. — Um franzir. — Nós vamos tirar algumas horas de sono, então pegar a estrada com cabeças descansadas. Provavelmente chegaremos muito mais longe. Apesar da urgência que percorria suas veias, ela não podia discutir com a lógica dele. — Tudo bem. — Os olhos dela foram direto para a segunda cama. Ela mordeu o lábio. — Dev? — Hum? — Ele tirou a jaqueta com um encolher de ombros e a deixou cair no sofá antes de se curvar para tirar as botas. Ela já tirara suas roupas mais pesadas, deixa-a vestindo jeans e um suéter. — Que cama você quer? — Não era à pergunta que ela queria fazer, mas sua coragem a abandonou no último minuto. — Esquerda ou direita, não importa para mim. — Ele deu de ombros, terminando com suas botas, e pôs-se de pé, um homem grande com uma mandíbula sombreada... e os olhos cheios de calor derretido. — Contanto que você entenda que vamos compartilhar a mesma cama. O mundo ameaçou a ruir sob seus pés. — Eu não sei, — ela sussurrou. — Você está planejando me provocar um pouco mais? — Talvez. — Uma palavra brincalhona, mas seu rosto era todo ângulos duros. — E desta vez, você pode gritar tão alto quanto queira, os outros visitantes estão todos fora em alguma viagem noturno, e a senhora que fez nosso registro era humana. Ele estava falando com calma absoluta... mas sem fazer qualquer esforço para esconder a saliência de sua excitação. — Eu preciso tomar banho. — Era verdade, mas saiu em uma rápida pronuncia abrupta. — Não demore muito. — Levantando os dedos para a camisa, ele começou a abrir os botões. — Você realmente precisa dormir um pouco esta noite. Sobrecarregada, ela pegou suas coisas e escapou para o banheiro. O banho de chuveiro limpou a areia, mas não fez qualquer coisa para esfriar seu corpo. Depois que ela saiu, rapidamente secou o cabelo e estava prestes a vestir calças largas de lã e uma camiseta quando hesitou, sua mente se enchendo com memórias da maneira como Dev a prendera contra a parede, todo calor e poder masculino quase fora de controle. Seu corpo inteiro se transformou em um único pulso grande. Engolindo em seco, ela vestiu uma camisa de manga comprida de lã sobre nada além da pele nua. Se Dev a queria, ela não iria colocar qualquer obstáculo em seu caminho. Ela ansiava por seu toque. A princípio, depois que ela acordou, achava que qualquer toque humano serviria. Mas percebeu de forma diferente nos dias que se seguiram, doía quando ela não era tocada, mas a ideia de ser tocada por qualquer um fazia sua pele arrepiar. Seu corpo queria Dev e apenas Dev.


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Respirando fundo, ela deixou a mochila no banheiro e abriu a porta... para encontrar-se diante de uma paisagem de musculosa carne nua, o peito logo ali para ela acariciar, tocar, beijar, as mãos dele segurando o batente da porta acima da cabeça. Tendo decidido depois da noite anterior que ela o receberia de qualquer maneira e a qualquer momento que pudesse tê-lo, ela apertou os lábios no calor áspero dele, a suavidade de sua pele contrastando deliciosamente com os cabelos ondulados polvilhados sobre a mesma pele. Uma mão se enfiou em seu cabelo, segurando-a contra ele. Contra suas coxas nuas, o denim da calça jeans dele era um doce abrasão enquanto ele invadia o espaço dela, a ereção empurrando a suavidade de seu abdômen. Suave e rígido. Masculino e feminino. A pele dela se apertava com pura necessidade. — Sabe de uma coisa, Katya? — Uma rouca voz masculina, a mão dele a mantendo no lugar. Aproveitando a deixa, ela começou a beijar seu caminho através do peito dele. Era a mais deliciosa das tarefas, ele era tão diretamente masculino que era impossível sentir qualquer coisa além de deliciosa e sensualmente feminina. — Você está me ouvindo? — Um sussurro contra sua orelha, uma pequena mordida que a fez respirar de uma vez, levantando-se na ponta dos pés. Ele hesitou. — Você gostou disso? Incapaz de responder com palavras, ela simplesmente inclinou a cabeça para lhe dar um acesso mais fácil. Entendendo-o, ele mordiscou um caminho até sua garganta antes de desembaraçar a mão de seu cabelo e fechá-la sobre a mesma garganta com gentil possessividade. O toque a fez estremecer, segurar a cintura dele mais forte. E quando ele levantou a cabeça para pressionar seus lábios contra os dela exigentemente, ela se abriu para ele de uma vez. A mordida no lábio inferior, a aguda ferroada de dor, enviou uma onda líquida para a união de suas coxas. Os olhos de Dev estavam brilhando quando ele levantou a cabeça. — É a dor ou o controle? Seus dedos se enroscaram contra a pele dele enquanto vergonha inundava suas bochechas. — Sou uma aberração. Ele beliscou seu lábio novamente, desta vez mais forte. Era tudo o que podia fazer para se manter de pé. — Não, — ele disse, acariciando o polegar sobre o pulso batendo em seu pescoço, — o que você é, é sexy como o inferno. — Outro beijo, um que ameaçou derrubá-la direto para o chão, que era tão cheio de fome e exigência. — Cama, — ela sussurrou contra a boca dele. — Por favor. Soltando o batente da porta, ele a arrebatou em seus braços em um único movimento suave. Nenhum dos dois disse uma palavra até que ele a deitou no macio edredom branco, seu corpo bloqueando a luz enquanto se aproximava dela.


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— Agora, — ele disse, colocando uma mão sobre sua coxa, abaixo da lã de sua camisa, — responda a pergunta. — Eu não sei, — ela disse honestamente, incapaz de parar de passar as mãos sobre os ombros dele, seus braços. — Mas eu gosto quando você me sufoca. A mão de Dev subiu, a acariciando. Uma exalação dura. — Você não está usando calcinha. — Esfregando o polegar ao longo do vinco sensível de sua coxa, ele abaixou seu corpo até que tudo o que ela podia ver era Dev, sua pele, seus olhos, ele. — É disso que você gosta? Estar coberta por mim? — Sim. — Ela arqueou contra ele, querendo sentir o seu peso, sentirse esmagada pela completa vida dele. — Mais perto. — É a sensação, — ele murmurou, envolvendo-a por um único elétrico segundo antes de retornar a sua carícia enlouquecedora anterior. — Depois de esclarecer. Que ele entendesse, a despedaçou. — Não havia nada lá, — ela sussurrou, aninhando-se em seu pescoço, puxando-o em seus pulmões. — Quando eles cortaram os meus sentidos, quando me colocaram naquela câmara onde eu não podia sequer sentir a minha pele... era como se eu estivesse flutuando no nada. Eu ficava um pouco mais louca a cada hora que passava. Dev desceu seu corpo outra fração, permitindo-lhe sentir o peso dele. Quando ela estremeceu e roçou os dentes em sua garganta, ele silvou uma exalação. — Quanto mais contato, melhor você se sente. — Sim. — Ela esfregou seu corpo contra o dele, ou tentou. Ele era muito pesado, segurando-a embaixo. Sua própria pele brilhava com ondas de prazer. — Mas isto... só com você, Dev. Eu confio em você. Ele empurrou uma coxa entre as dela, abrindo-a, reivindicando-a. — Esta é uma confissão perigosa para se fazer a um homem como eu. — Movendo-se ligeiramente, ele se apoiou nos cotovelos acima dela, uma parede sólida de músculo e força. — Vou pegar tudo que você oferecer. — Você vai dar algo em troca? — ela, de alguma forma, encontrou forças para perguntar. Um brilho de divertimento sensual. — Espere e verá. E ela soube que esta noite seria uma noite de que se lembraria para o resto de sua vida. De alguma forma, neste lugar, tudo desaparecera. Aqui, havia apenas Dev, apenas Katya, e um calor sexual que ameaçava consumir a ambos. Quando Dev ficou de joelhos, ela não pode evitar seu grito agudo de decepção. Ele levou uma mão ao seu peito. — Espere. — E então ele estava saindo da cama e seguindo para a sala de estar. Por mais tentador que fosse ir atrás dele, ela obedeceu à ordem. Era outro muro, outra linha de controle. Os psicólogos teriam um dia de campo com ela, pensou, mas se isso a ajudasse a lidar com a normalidade, então


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quem eles eram para julgar? Nenhum deles passara intermináveis horas enlouquecedoras flutuando no escuro, incapaz até mesmo de sentir a sua própria pele, os seus próprios dedos, o seu próprio rosto. Fora como se ela estivesse morta, sozinha em um universo frio e indiferente. — Tantos pensamentos, — Dev murmurou, caminhando de volta para o quarto com sua echarpe esticada nas mãos, as pontas enroladas nos punhos deles. — Eu posso ouvi-la pensando. É como uma batidinha na parte de trás da minha cabeça. Seus olhos o seguiram enquanto ele atravessava a sala com uma confiança preguiçosa, seus dedos dos pés se enrolando no edredom. — Você se importa? — Não. — A cama cedia enquanto ele subia na cama, subindo sobre seu corpo. — No que você estava pensando? — Que esta necessidade que sinto, esta necessidade de limites, — ela sussurrou, — isso não me mutila. Eu escapei de você, afinal de contas. Um pequeno sorriso que sugeria todos os tipos de perversidades. — Eu já puni você por aquilo? — Dev. — Ele estava a provocando de novo, e este homem... Deus, ele era vício puro. Tomando os pulsos dela em suas mãos, ele os levantou acima da cabeça. — Não, você não está mutilada. Você apenas encontrou uma maneira de lidar com isso. Ela encontrou seus olhos. — Isso incomoda você? Ele enrolou a echarpe em torno de seus pulsos, puxando-os apertado o suficiente para que ela pudesse sentir a deliciosa pressão contra sua pele, em seguida, amarrou as extremidades em torno das barras na cabeceira da cama. — Caso você não tenha notado, — ele murmurou, mesmo enquanto seus dedos abriam os botões na camisa dela um por um, — Eu gosto de estar no controle. — Uma grande mão se fechou possessivamente sobre a redondeza nua de seu seio. — Dev! Ele acariciou e a apertou com foco despreocupado, beijando-a cada vez que ela tentava apressá-lo. Suor começou a fazer seu corpo brilhar e ele ainda não fora além de seus seios. — Você vai me levar à loucura, — ela acusou. — Eu prometo fazer ficar bom. — Um sorriso lento enquanto ele começava a beijar o seu caminho até a linha central do peito dela, fazendo uma pausa para atormentar seus seios com pequenas mordidas que a fizeram arquear seu corpo em súplica silenciosa. Quando ele se recusou a ceder, ela o bombardeou com pedidos telepáticos envolvido com a febre da sua fome. Os olhos dele brilhavam. — Jogando sujo, bebê?


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Foi, ela percebeu, a primeira vez que ele usara um termo afetuoso. Alguma coisa mudou dentro dela, mas não sabia o que, não entendia por que seu coração batia com uma súbita pontada dolorosa. — Eu digo qualquer coisa que é justo na cama. — Lembre-se, você disse isso. — Ele continuou sua viagem para baixo, pressionando beijos sobre a inclinação de sua barriga, a curva de seu umbigo. Seus olhos se arregalaram quando percebeu o que ele pretendia fazer. — Por quê? — ela perguntou, sua voz saindo rouca. — Por que o quê? — Um movimento de sua língua ao longo da pele sensível logo abaixo de seu umbigo. Ela teve que respirar fundo várias vezes antes que pudesse responder. — Por que você faria uma coisa dessas? Que prazer isso lhe dá? Olhos escuros encontraram os dela. — Você não quer me lamber, Katya? A imagem fez suas terminações nervosas explodirem. Tudo de uma vez, era a única coisa em que podia pensar. — Deixe-me tentar e ver. Ele riu. — Boa tentativa, mas eu tenho direito de ir primeiro. — Mãos fortes no topo de suas coxas, separando suas pernas. A intimidade não adulterada do ato a embalou. Ela estava tão preparada que podia sentir cada centímetro quadrado de sua pele, cada roçar de seu fôlego contra ela. Nunca havia se sentido mais real, mais viva. — Dev. — Foi um sussurro, um apelo, uma exigência. A carícia do polegar dele contra a pele ultra-sensível de sua coxa. Ela ainda estava tentando absorver tudo quando ele baixou a cabeça e lhe deu a carícia mais íntima de todas. O grito se rasgou dela em uma nota irregular, e ela se viu segurando a echarpe para evitar-se de se jogar para fora da cama. Não que ele iria deixá-la se soltar. Mãos fortes a mantinham no lugar enquanto seu corpo tentou fugir da sobrecarga de sensações, e chegar mais perto ao mesmo tempo. Luzes piscaram atrás de seus olhos, e ela pensou que certamente, certamente, alguma parte disso vazaria para a Rede. Mas ela não podia pensar nisso, podia apenas se afogar sob as ondas de prazer. O roçar de dentes. Todo o seu corpo congelou em um arco quase doloroso. E então ela se fraturou... em um milhão de fagulhas brilhantes. Os tremores se espalharam para fora de dentro de seu centro, ondulando através dela como fogo vivo. Ela estava soluçando com a primorosa dor no momento em que desceu. — Shh. — Dev fez o seu caminho de volta para cima de seu corpo, acariciando-a com um beijo que era tão possessivo quanto à mão em seu seio. — Você é tão linda, Katya. De alguma forma, ela encontrou uma mancha de sentido. — Não sou muito ossuda?


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Ele apertou seu seio. — Não onde conta. E nós podemos trabalhar com o resto. — Eu vou bater em você por isso, — ela ameaçou. — Assim que eu recuperar meu fôlego. O sorriso dele era masculino, satisfeito e incrivelmente lindo. — Então eu devo garantir que você nunca o recupere. — Dessa vez, o beijo foi vagaroso, mas tão faminto que ela ofegou em sua boca, querendo apenas dar a ele tudo e qualquer coisa que ele quisesse. A mão dele deslizou para baixo, sobre suas costelas, a curva de sua cintura. — Como estão seus escudos? — Impenetráveis, — Ela riu e veio da alma. — O desgraçado me trancou, mas eu aposto que ele nunca percebeu que estava me dando carta branca para fazer o eu quisesse. Devraj ouviu a risada, mas ele também sentiu a dor por trás do riso. Dor que rasgou seu coração masculino ao saber que ele nunca seria capaz de limpar as memórias da devastação de sua mente. Mas havia também uma feroz sensação de orgulho. — Você o venceu uma vez. Vai fazer isso de novo. Aqueles olhos castanhos enormes se arregalaram. — Isso soa como uma ordem. — Não se esqueça disso. — Ele subiu a acariciando, roçando o polegar sobre seu mamilo. Quando ela respirou suavemente, o raivoso senso de proteção nele se acalmou. Ele não fora capaz de ajudá-la então, mas iria muito bem protegê-la agora. Não importasse o que. — Então, onde estávamos? — Minhas mãos, — ela disse, levantando a boca para a dele. — Eu quero tocar você. Ele mordiscou seus lábios. — Hmm. — Dev. Sorrindo à ácida demanda feminina, ele alcançou e desfez as amarras macias. As mãos dela foram imediatamente para seus ombros, acariciando e contornando. Era óbvio que ela gostava de seu corpo, e ele era macho o suficiente para se envaidecer sob a atenção. Mergulhando a cabeça, ele a beijou com pequenos beliscões e mordidas lúdicas enquanto ela tomava seu tempo em aprendê-lo. Claro, seu pênis tinha outras ideias. Ele estava tão fodidamente excitado que era uma surpresa que pudesse formar uma frase. Quando as mãos errantes de Katya moveram-se sobre seu peito, ameaçando roçar para baixo, ele parou. — Não desta vez. — Pressionando-a, ele alcançou entre seus corpos, para separar seus cachos. Ela fez um som intrinsecamente feminino de prazer, e isto, juntamente com o calor úmido dela, foi sua perdição. Ele sabia que devia se levantar para se livrar de suas calças e cuecas, mas ele não tinha qualquer memória disto.


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Ela estava molhada, escorregadia e selvagem sob seus dedos quando ele piscou mais uma vez, e seu controle estava além de irregular. Deslizando a mão sob uma de suas coxas, ele incitou que ela fechasse as pernas atrás de seu corpo. Ela seguiu sua deixa com um entusiasmo que fez suor se acumular ao longo de sua coluna, seu pênis pulsando de acordo com cada batida de seu coração. Apoiando-se sobre um cotovelo, guiou-se dentro dela... e teve de cerrar os dentes para evitar gritar descontroladamente enquanto ela se apertava em torno da brusca ponta de sua ereção, uma luva quente e úmido que era um ajuste tão absoluto que ele pensou que poderia desmaiar de prazer. — Dev! — Unhas cravaram em suas costas enquanto ele empurrava, tentando ir devagar, mas sabendo que ele não ia durar. — Oh, Deus, mais, por favor. Era todo o convite de que seu corpo precisava. Com o controle despedaçando, ele empurrou nela profundamente, tão profundamente, capturando seu grito com a boca. Por um instante, ele pensou que poderia ter ido longe demais, lembrando-se tarde demais que ela nunca fizera isso antes, mas então ela fechou seu aperto sobre ele e revirou os quadris em doce aceitação feminina. — Katya, — ele disse em seu ouvido, tentando respirar, para não perder-se completamente. Os dedos dela se enfiaram em seu cabelo. — Você é tão bom. A simples declaração, feita com aquela voz eroticamente rouca, roubou os pequenos fragmentos de controle que lhe restavam. Colocando uma mão no quadril dela, ele a prendeu no lugar enquanto começou a entrar e sair em um ritmo constante e duro que a fez arranhá-lo. Ele não durou muito tempo. Mas estava tudo bem, seu cérebro enevoado lhe disse. Porque ela se quebrou com ele mesmo enquanto prazer varria sua pele em uma onda escaldante. Por um instante, ele sentiu um puxão estranho, como se algo estivesse esticado dentro dele, mas depois a sensação simplesmente terminou, como se tivesse sido sumariamente cortada. Ele não tinha tempo para considerar o sentimento estranho, porque todo o seu corpo explodiu no mesmo instante, cada nervo e tendão ficando tenso de êxtase.

REGISTRO DE COMANDO EARTHTWO: COMUNICADO PARA A ESTAÇÃO SUNSHINE 18 de setembro de 2080: Seu estado foi observado. Uma equipe de fiscalização partirá no dia 28 para tomar a decisão quanto a qualquer possível


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evacuação. Continuar as operações conforme as instruções originais até então.


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— Dev? — Katya mordeu levemente o ouvido do homem que estava a esmagando na cama, seu corpo sólido macho um cobertor perfeito e maravilhoso. Quem precisava respirar? — Dev? Desta vez, ela conseguiu um grunhido. Sorrindo, ela pressionou os lábios no queixo dele, amando a aspereza sob seus lábios. — Eu gosto de sexo. Ela viu a ponta de um sorriso, e isso a fez curvar os próprios lábios. — Eu realmente gosto dele. — Esfregou o calcanhar sobre o dorso da perna dele, ela passou a mão por seu braço musculoso, querendo apenas tocá-lo. — Quando podemos fazer isso de novo? Ele parecia que estava sufocando quando disse, — Você não está agindo como uma Psy. — Talvez se elas tentassem fazer sexo com você, as outras mudariam suas opiniões também. — Ela franziu. — Dev? — Eu sei, você gosta de sexo. Dê-me alguns minutos. — Foi uma reclamação sorridente. — Não. — Ela puxou o cheiro do suor e homem dele para seus pulmões, deleitava-se nas sensações. — Você está planejando ter relações sexuais com outra pessoa? Ele beliscou seu mamilo com força suficiente para fazê-la saltar. — Isso é o que você ganha por me fazer perguntas tolas. Um lento sorriso pelo rosto dela. — Isso dói. — Você está apenas pedindo para ter problemas. — Vou consegui-los? — Ela mordeu sua orelha novamente. A mão dele se curvou em torno de seu peito. — Continue com isso e você não vai conseguir dormir esta noite. — Parece bom para mim. Gemendo, ele se levantou em seus braços. — Sem mais sexo para você. Vamos tirar o suor no chuveiro, e depois dormiremos um pouco. Nós precisamos estar prontos para sair ao amanhecer.


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Ela alcançou para pressionar beijos ao longo de seu peito, acariciando sua excitação crescente contra o próprio abdômen inferior. Xingando, ele a deixou brincar, mas apenas por um minuto. — Chuveiro. — E desta vez, ele não iria recuar. Ela se encontrou sendo empurrada para um banho rápido e quente, e depois caiu na cama. — Durma. — Era uma ordem em seu ouvido enquanto o corpo dele se aproximava do seu, de forma protetora, e sim, muito definitivamente de forma possessiva, a coxa que ele empurrou entre as dela garantia que ela não iria a lugar algum sem ele. Pela primeira vez, sua compulsão para seguir para o norte não era o pensamento dominante em sua mente. E, embora o calor entre eles fosse incandescente, ele não estava em primeiro plano também. Não, era a ternura do beijo que Dev pressionou na curva de seu pescoço, a intensidade de seu abraço. Ele estava, ela percebeu, cuidando dela. Era uma sensação estranha, um calor que varria através de seus membros, tornando-os pesados. Mas ela encontrou a vontade de desembaraçar suas pernas e virar, para que ela pudesse enfiar a cabeça sob o queixo dele e colocar a mão sobre seu coração. Ele enfiou a coxa de volta entre as dela no instante seguinte. Sorrindo, ela se aconchegou mais perto. Seu sono foi suave, sem sonhos e pacífico.

Seis horas depois, o precioso interlúdio era algo de uma memória distante. O carro estava quente, mas Katya se encolheu em sua jaqueta enquanto Dev dirigia para fora do alojamento com firme determinação. O pavor que ele silenciara com o calor do seu abraço protetor tinha um aperto de garra em seu coração mais uma vez. Ela não sabia se era por causa do que ela sentiu, do lugar para qual estava os levando... ou por causa de seu terror de que a compulsão nascera do nada, que sua mente fosse um lugar de pesadelos e mentiras. — Não pense nisso. — Uma ordem fria do diretor da Shine. Sua força alimentava a dela. — É difícil não pensar, — ela disse. Eu posso sentir alguma coisa me chamando, mas eu sei que nunca estive nessa área antes. — É possível que tenha sido mantida presa por aqui? — Eu suponho que sim. Mas... Eu não sinto nenhuma sensação de familiaridade com qualquer coisa. — Os campos nevados passando de ambos os lados enquanto dirigiam cada vez mais no território largamente desabitado


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lançava um arrepio por sua espinha, mas não por causa de qualquer memória de tortura. O mundo do outro lado da janela era, na verdade, muito bonito, a neve brilhando como cacos de diamantes sob o sol da manhã, o céu de um azul plácido que deveria tornar o mal impossível. Mas... — Na minha mente, — ela sussurrou, — tudo está envolto em sombras. O soldado frio e de olhos seguros em Dev lhe disse para voltar, que Katya estava provavelmente levando-o para uma armadilha, mas ele continuou dirigindo. Hoje, seguiria o instinto que salvara sua vida mais vezes do que ele poderia contar. Esta mulher— sua mulher — precisava disso, e ele daria a ela. — Conte-me uma coisa, — ele disse quando ela ficou em silêncio, com os olhos fixos na vista exterior. Ela se assustou, como se ele tivesse invadido seu transe. — O que? — Você mencionou seus pais, alguma memória que você deseje compartilhar? — Ele apenas queria levá-la a pensar em outra coisa que não a escuridão ficando inexoravelmente mais próxima. Não levaria muito tempo, pensou. Eles alcançariam seu objetivo hoje à noite ou na manhã seguinte. — Bem, — ela disse depois de uma longa pausa, — uma vez que os meus pais tinham um acordo completo de coparentalidade, todos viviam juntos em uma unidade familiar. Eles sempre consultavam um ao outro antes de tomar qualquer decisão sobre o meu bem-estar. — Não soa muito ruim. — Era, de fato, muito melhor do que ele esperava. — Não. Era uma boa existência. — Cruzando os braços, ela inclinou a cabeça para encará-lo. — Mas era simplesmente uma existência. Quando fiz dezoito anos e me mudei, não havia diferença na minha vida além do fato de que eu poderia tomar decisões por conta própria a partir de então. — Eu pensei que Psy eram muito fortes na parte de lealdade familiar. — Sim, mas é um tipo frio de lealdade. Um mês depois de eu ter atingido a maioridade, os meus pais, que deixaram de viver juntos no dia em que completei dezoito anos, dissolveram o acordo de coparentalidade, e minhas lembranças me dizem que eu nunca soube deles se falando novamente. Ela encolheu os ombros. — Eles atingiram os seus objetivos, cumpriram seus contratos. Eu tenho conexões com ambas as famílias, é claro, mas quando fiz vinte e um, eu tive que escolher. — Por quê? — Porque os Psy confiam apenas na lealdade que é absoluta, — ela disse. — Eu tive que me identificar formalmente com o lado materno ou paterno da minha família. — Que lado você escolheu? — Dev perguntou, fascinado por este vislumbre das forças que moldaram a mulher ao seu lado.


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— O paternal, — ela respondeu. — A família do meu pai está envolvida em esforços científicos, enquanto a da minha mãe é mais focada em economia. Fez sentido para mim me alinhar com o grupo que melhor me permitiria utilizar minhas habilidades. — E sua mãe não se sentiu como se tivesse recebido a pior parte da barganha? — Claro que não, geneticamente, eu ainda sou meio dela. Mas desde que ela me criou conjuntamente, meu pai teve que comprar a outra parte do contrato, desde que sua família receberia o benefício do meu treinamento, habilidades e conexões. Dev piscou, tentando entender. — Ele comprou você? — É uma transação perfeitamente normal na Rede. — Ela soltou um suspiro. — Tudo é calmo, prático e negociável. Sem brigas, sem desentendimentos. Todas as contingências estão cobertas nos contratos de parentalidade e fertilização. Dev não podia imaginar uma vida tão fria, uma relação tão fria. — Então, desde que você é considerada parte da família de seu pai, você tinha que contribuir financeiramente? — Sim. Nossa família tinha um fundo de investimento central. Eu me dei muito bem com isso, tínhamos uma boa estratégia de investimento. Esticando as pernas, ela batia os dedos sobre os joelhos. — Eu me pergunto como minha morte afetou as coisas. Provavelmente muito pouco, meu trabalho para o Conselho levantou a classificação da minha família em termos de sua influência na Rede, mas foi uma contribuição pequena. Perder-me não teria causado uma oscilação tão grande. Ouvi-la falar de si mesma de tal forma clínica o enfureceu. — Mas a sua vida vai causar o inferno de uma grande oscilação. Ela lhe deu um olhar assustado. — Eu acho que é uma maneira de olhar para isto. Posso lhe perguntar...? — Uma pergunta hesitante. — O que? — Sobre sua infância? Suas mãos apertaram o volante. — O que você quer saber? — Saiu soando como cascalho. Ela ficou em silêncio por quase um minuto. — Você não quer falar sobre isso. — Hoje não. — Nem nunca, se ele estava sendo honesto. — Existe alguém que você... não. — Ela balançou a cabeça. — Eu estou perguntando por suas fraquezas. — A pergunta foi sua? Seus olhos estavam vazios quando ela olhou para ele. — Essa é exatamente a questão. Eu não sei.


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Mesmo enquanto Dev e Katya dirigiam cada vez mais para dentro da imensidão estéril do Alasca, Sascha estava sentada ao lado de Lucas enquanto ele dirigia até o Cruz. — Eu sei como dirigir, — ela ressaltou, apenas para ver a reação dele. Ele lhe lançou um olhar estreito. — Por que você está me provocando propositadamente? — Porque eu posso. — Ela sorriu. — Sério, Senhor Gato Alfa, a gravidez não me torna uma inválida. — Eu estou te tratando como uma inválida? Ela tinha que conceder o ponto. — Não. — De fato, com Lucas ocupado supervisionando um grande acordo de construção, ela, na verdade, estava tratando de mais negócios do Clã. — Mas você está se esgotando, eu poderia ter dirigido até o Cruz, levado um sentinela como escolta. Então você teria a manhã livre para ler os contratos revisados. — Eu posso ler os contratos enquanto você estiver trabalhando com o menino. — Alcançando-a, ele fechou a mão sobre a dela. — Você sabe que não vai mudar a minha opinião. Ela trouxe a mão dele a sua, beijou os nós dos dedos. — Eu sei. Mas eu tenho que tentar. — Por quê? Por que isto me deixa louco? — Porque eu sei que tenho que treiná-lo antes do nosso bebê chegar. — Ele sempre foi superprotetor daqueles que estão sob seus cuidados. — Um bebê leopardo não vai aguentar muito bem uma supervisão constante. Ele soltou um suspiro. — Eu sou alfa. Você acha que não sei disso? Ela o envolveu em seu amor no plano psíquico, um beijo invisível. O rosto dele enrugou com um sorriso de que ela não iria se cansar mesmo que vivesse até mil anos. — Eu sei que eu estou sendo um pé no saco, Sascha querida, mas me agrade. Eu estou trabalhando em deixar passar, prometo que nosso filho vai ser um selvagem rebelde exatamente como Roman e Julian. Rindo do pensamento de algumas das façanhas que os dois filhotes aprontavam, ela lhe soprou um beijo neste momento. — Eles não queriam falar comigo quando fui visitar ontem. — Rome e Jules? — Pura surpresa. — Eu não acredito, se eles fossem maiores, eles lutariam comigo para reivindicá-la. — Tammy, a mãe dos gêmeos, disse que eles estavam de mau humor porque tinha percebido que eu vou ter um bebê. — Ah. Os fedelhos estão com ciúmes.


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Lábios se curvando com o pensamento dos dois meninos que trouxeram alegria para sua vida desde o instante em que os conheceu, ela concordou. — Eu os aconcheguei e lhes disse que eu ainda seria a Tia Sascha deles. Mas eu não acho que se convenceram até que eu lhes disse que eles seriam maiores do que o bebê, assim poderiam cuidar dele. — Trapaceira. — Um sorriso perspicaz. — Jules, eu acho, vai se tornar um dominante quando crescer. Cuidar de pessoas é uma atração irresistível. — E quanto a Roman? Ele estava igualmente, ou até mais, animado com a ideia. — É difícil dizer com certeza, mas eu acho que Rome vai seguir os passos de Tammy. E curandeiros amam cuidar de pessoas. Os olhos de Sascha se arregalaram na percepção de que Lucas estava certo. Roman tinha a mesma energia calma que sua mãe, embora a dele estivesse superposta com uma vibrante alegria infantil. — Isso acontece com frequência? Curandeiros vindos da mesma família? Lucas deu um pequeno aceno de cabeça. — A árvore genealógica de Tammy tem fornecido pelo menos um curandeiro a cada segunda geração. O lado da minha mãe da família é mais esporádico, mas temos uma taxa relativamente alta. Há ainda alguns que aparecem do nada. — Sabe, — Sascha disse lentamente — pode ser que os curandeiros venham da mesma árvore genética dos M-Psy. Eu não sei sobre a da Tammy, mas sua família definitivamente tinha membros Psy. — Pode ser. — Passando para a pista de saída, ele olhou para ela. — O que há sobre esse garoto, Cruz? Ele está bem? — Melhor do que bem. — Sascha não podia esconder seu orgulho. — Ele é tão inteligente, Lucas. Eu lhe ensino alguma coisa uma vez, e é simples assim. — Ela estalou os dedos. — Ele é um natural. — Bom, quanto mais rápido ele aprender a se proteger, melhor. — Você está preocupado com o Conselho? Lucas deu um pequeno aceno de cabeça. — Dev acha que a Shine conseguiu esconder a verdadeira força de alguns de seus membros sob o radar, mas ele quer que sejamos mais cuidadosos. — Eu não o culpo, — Sascha disse, uma onda de raiva se construindo sob a superfície de sua pele. — Depois do que fizeram com Jon e Noor. — Estamos quase lá, gatinha. — Um roçar das juntas dele sobre sua bochecha. — Você disse que Cruz precisa de estabilidade absoluta. Balançando a cabeça, ela respirou fundo e começou a reorganizar suas emoções passinho por passinho. Mas uma coisa continuava a preocupá-la. — Eu senti Katya na primeira vez em que fui ver Cruz. — Ela tentou não se intrometer, mas sua capacidade era tanto uma parte dela, que invariavelmente captava ressonâncias emocionais, especialmente quando essas emoções eram tão violentamente fortes. — Ela está mantendo tanto dentro de si, deve machucar fisicamente.


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Lucas levou quase um minuto para responder. — Ela é forte, — ele finalmente respondeu. — Há uma vontade de granito ali. — Dev é forte, também. Um rápido olhar dos verdes olhos de pantera. — Você captou isso também? — É difícil perder a intensidade entre eles. Mas... — Mas? Ela baixou a cabeça contra o assento. — Eu estou tão assustada por eles, Lucas. Porque não importa o quanto eu tente, não consigo ver como eles algum dia poderiam encontrar um final feliz.


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Ming continuou a trabalhar enquanto algo silvava contra seus escudos mentais. Não era nada, simplesmente um lembrete de que Ekaterina Haas ainda estava viva. Ele não esperava que ela durasse tanto tempo, mas, novamente, humanos eram fracos, facilmente manipulados. E os Esquecidos se tornavam mais e mais humanos com o decorrer do tempo. Talvez a pequena adormecida completasse sua tarefa afinal de contas. Colocando o projeto sem importância para fora de sua mente, ele se concentrou no problema em mãos. Aden, ele disse, se comunicando por telepatia diretamente com o médico encarregado de monitorar a resposta do Esquadrão Arrow ao Jax, Quantos Arrows reagiram negativamente ao regime Jax nos últimos seis meses? A resposta veio quase no mesmo instante, já que o talento principal de Aden era a telepatia. Sete. Não podemos nos dar ao luxo de perder tantos. Ming concordou. Arrows eram altamente treinados, muitos desde a infância. Nunca havia mais de duzentos no geral, e, atualmente, o número de Arrows ativos caiu para cento e sessenta. Você está próximo de resolver a questão? Algo semelhante aconteceu com Judd Lauren. Ming reconheceu o nome imediatamente como o do único Tk-Cell que sobrevivera até a idade adulta na geração passada. A capacidade de Judd Lauren de, literalmente, parar as células do corpo lhe tornaram um assassino de valor inestimável. Ele não fora retirado da Jax? Sim. Juntamente com a maior parte dos outros Tks. Todos eles funcionaram igualmente bem sem ela, telecinéticos parecem que precisa apenas de uma estadia muito curta no regime. Aden não entrou em detalhes, mas Ming não precisava que ele o fizesse, ele sabia que depois de certo período, os caminhos do cérebro se fixavam permanentemente, tornando o uso da droga redundante. Essa solução funcionará neste caso? Ele perguntou. De acordo com os dados disponíveis, sim. Parece que alguns Arrows estão de fato recebendo doses excedentes de Jax, uma vez que não precisa mais dela.


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Ming levou alguns minutos para considerar a decisão. Se ele perdesse o controle dos Arrows, eles poderiam possivelmente tomar o controle da Rede. Um Arrow valia por milhares de soldados normais. Experimente naqueles que já estão entrando em colapso. Veja se há qualquer efeito. Eu sugiro um pequeno número de outros que possam estar próximos desse ponto, Aden disse. Eu posso lhe enviar uma lista. Faça-o. Vasic? Ele está tomando Jax? O teletransportador não era apenas uma parte inestimável do Esquadrão, Ming o utilizava quase que semanalmente. Não. Ele não tem tomado há anos. Seu cérebro se reiniciou. Reconhecendo a recepção dos novos nomes que Aden lhe enviara, Ming terminou a conversa telepática. Enquanto Vasic estivesse na coleira, não havia problema algum.


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Dev parou o carro em frente ao restaurante/bar/hotel/correio na cidade pisque-e-perca no meio do nada. Ele abastecera o motor com gasolina o suficiente para seguir por dias, e eles tinham suprimentos, mas precisavam esticar as pernas, pelo menos. — Devíamos passar a noite, — ele disse, sabendo qual seria a resposta de Katya antes que ela abrisse a boca. — Eu posso senti-lo me rasgando. — Ela olhou para o negrume do outro lado do pára-brisa, era apenas seis horas, mas a noite caíra com a rapidez das asas de um corvo. — Nós estamos tão perto. Ele estava mais do que pronto para continuar dirigindo, mas agora, olhando para a escuridão, as rajadas de neve, ele balançou a cabeça. — Temos que esperar por luz. Ou podemos não enxergar o que estamos procurando. ‗Nós conseguiremos. ’ Ela fechou o punho, engoliu em seco. — Mas você está certo, podemos não ver tudo. Eu não consigo dormir, mas talvez possamos esperar até que a neve passe, pelo menos. E foi isso que eles fizeram. Dev os registrou em um dos dois quartos do hotel e pegou alguns filmes da vasta seleção do proprietário idoso. Os filmes estavam em pequenos discos de cinco centímetros em vez dos cristais muito mais caros, mas pareciam em condições razoavelmente boas. Deslizando um no leitor de que Katya lhe disse para escolher, ele se esticou na cama, de costas contra a cabeceira, com as pernas para fora. Katya estava na janela, o corpo delineado em uma silhueta solitária. Mas ela não estava sozinha, nunca mais seria isolada daquele jeito. — Venha aqui, — ele disse, levantando um braço. Girando de sua vigília na janela, Katya atravessou a sala em passos silenciosos e colocou-se contra ele. — O que estamos assistindo? — ela perguntou, mas seus olhos continuavam deslizando para o quadrado claro encarando a escuridão da noite. Se era por causa dela ou por causa das próprias habilidades dele, não sabia, mas ele também podia sentir a atração do mal que aguardava. Ele a abraçou mais perto. — Os sacrifícios que eu faço por você, apenas assista. Ela estava intrigada o suficiente para prestar atenção na tela. — Orgulho e Preconceito, — ela leu em voz alta. — É um livro escrito por uma humana. Século XIX?


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— Uh-huh. — O herói é... Mr. Darcy? — Sim. Segundo a Ti, ele é a personificação da perfeição masculina. — Dev abriu um saco de batatas fritas que apanhara e o colocou nas mãos de Katya. — Eu não sei, o cara usa calças apertadas. — Shh. — Ela comeu uma batata frita. — Eu tenho que prestar atenção. A linguagem é diferente. Sua inquietação acalmou quando ela se acalmou. Ele estava ciente da atenção dela ir para a janela, para a escuridão, de vez em quando, mas ela também sorriu, e uma vez, até gargalhou. Por volta de três horas, ela disse, — O Mr. Darcy é quase Psy em sua caracterização, você não acha? — Eu tento não pensar muito sobre o Mr. Darcy. Rindo, ela colocou a mão em seu peito. — Não, realmente. Eu pensei que a escritora o baseou em um modelo Psy, mas não estávamos no Silêncio no tempo dela. Psy eram exatamente como humanos e changelings naquela época. Ele considerou isso. — Tenho dificuldade em imaginar isso. — Então você não está assistindo, vários dos personagens desta história são Psy, — ela ressaltou. — Oh, olha, é o vilão. Ele se divertia com o jeito que ela desconstruía toda a história, cena por cena, exatamente como a cientista que era. Mas ela tinha coração, também. Ele a pegou suspirando no final. Ele teve que beijá-la então, teve que provar sua felicidade. Porque não iria durar. O inevitável estava se aproximando rapidamente, ele podia sentir em seus ossos. Trinta minutos depois, eles estavam de volta no carro, viajando em direção a algo que nenhum deles realmente queria ver... e ainda não podiam deixar de ver. — Eu acho que temos que virar à direita no cruzamento. Sem questioná-la, ele tomou a direção. O céu finalmente começou a clarear quase três horas após o início da viagem, riscos de cor de rosa e laranja emergiam no leste. Mas, apesar da explosão de cores, o mundo continuava desolado. O posto em que eles se hospedaram foi o último vestígio de civilização. — Você já viu a aurora boreal? — ele perguntou, observando as próprias luzes do carro escurecer automaticamente enquanto os sensores captavam a fluência furtiva do sol através do céu. — Não. — Ela soltou um suspiro. —Eu gostaria, no entanto. — Você pode ter sorte, o momento parece certo e estamos longe o suficiente para o norte. — Você já viu? — Sim. Eu costumava vir aqui para visitar Michel quando éramos crianças. Quando minha mãe estava viva. — A memória doía, mas era uma das boas. — A mãe dele, Cindee, e meu pai são irmão e irmã. — Cindee quis


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criá-lo após o encarceramento de seu pai, mas ele não fora capaz de suportar a culpa nos belos olhos dela. Mesmo como uma criança de nove anos de idade, ele sabia que se entrasse naquela casa, ela passaria o resto de sua vida tentando compensar por um crime que nunca fora culpa dela. Sequer fora culpa de seu pai, embora esse fosse um perdão que Dev simplesmente não conseguia encontrar em si mesmo. Em vez disso, ele correra para o abraço de aroma de tempero e vidro de sua nani, deixando seu calor derreter o gelo que crescera em torno de seu coração. — Mas Michel não vive no Alasca agora? — Não, ele mora. Ele está apenas em uma transferência para o Estado de Washington pelo ano. Algum tipo de curso de formação. — Ele continua a ser um bom amigo, — Katya disse, obviamente tentando manter seu tom leve, embora seus olhos estivessem presos na estrada em frente a eles. — Ele deve ser, por procurar a caminhonete de Jessie porque você estava procurando para mim. Dev franziu. — Eu ainda não acredito que você conseguiu sair da casa com três de nós treinado em combate lá. — As pessoas tendem a me subestimar. — Foi a primeira vez que ele ouviu um sinal de arrogância nela. Ele decidiu que gostou. — Eu não vou cometer esse erro novamente. E sim, eu e Mischa, somos tão próximos quanto irmãos. — Cindee garantiu que os primos se conhecessem, descendo para a Virginia Ocidental, onde Nani tinha sua casa e estúdio, quando Dev se recusara a ir até o Alasca. Ele não fora capaz de suportar a viagem sem a mãe. — Mischa? — É como a mãe dele sempre o chamou. — Dev sorriu. — Ele desistiu de tentar fazer alguém na família usar seu nome real na maior parte do tempo. — Alguém chama você de Devraj? — Minha nani, minha avó materna. — Sem perguntar, ele virou à esquerda. Katya se inclinou para frente, seu movimento quase ausente. — Sim. — Colocando as mãos no painel, ela examinou a estrada à frente deles, mas não havia nada para ver, virava desta e daquela forma, deixando a visibilidade limitada. — Como ela é, a aurora? — Como ver um pedaço do paraíso. — Ele fez uma careta ante suas palavras poéticas, mas elas eram as únicas que ele possuía. — Torna você humilde, ela é tão linda. Se você não consegue vê-la desta vez, vamos vir aqui de novo. — Eu gostaria disso. — Ela lhe lançou um sorriso tenso. — Você visita bastante o Michel?


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— De vez em quando. — Dev finalmente voltou ao Alasca quando Cindee foi internada no hospital depois de um grave acidente no gelo. A culpa em sua tia ainda persistia, mas fora abrandada pelo tempo, ao vê-lo crescer em um jovem estável. Nos dias atuais, eles podiam ter uma conversa quase não contaminada pelo passado. — Ele desce às vezes, também. Katya lançou a Dev um olhar penetrante, sua atenção momentaneamente capturada pela diversão na voz dele. — O que vocês dois aprontaram? — Nós costumávamos fazer um inferno quando éramos mais jovens. Um sorriso perverso. — Nós somos mais civilizados atualmente. — De alguma forma, eu não acredito em você. — Ela pensou em Dev e Michel juntos, sombriamente sensuais e perversamente encantadores. Hmm... — Eu acho que eu preciso ouvir mais sobre esses tempos civilizados. — Código de honra masculino. Não posso contar. Um arrepio subiu sua espinha, mesmo quando ela foi provocá-lo em retorno. Jogando a cabeça ao redor, ela espiou a estreita estrada de uma pista à direita. — Lá. Dev já estava virando, todo o humor desapareceu de seu rosto. Agora, ele o lembrava de nada além de um caçador, esbelto, faminto e determinado. Ela estava de repente muito feliz por ele estar ao seu lado, ela não sabia se teria chegado tão longe assim sozinha. O medo em seu estômago era um fardo pesado, incitando náuseas e um pânico que lhe dizia para fugir, querido Deus, fuja! — Não, — ela sussurrou. — Sem mais fugir. Dev lhe lançou um olhar rápido antes de voltar sua atenção para a estrada. — Nós vamos acabar com isso. — Foi um voto. Dois minutos depois, eles chegaram a uma última subida coberta de neve e a uma cidade fantasma. Os raios de sol cortavam sobre as casas enterradas pela metade na neve, invadindo as janelas quebradas, as placas arrancadas e penduradas. — Quantos? — ela sussurrou quase para si mesma. — Quinhentos. — Dev apontou para a placa severamente castigada pelo clima, mas ainda pendurada, à direita deles. — Sunshine, Alasca, população: quinhentos. Sunshine. Cada minúsculo cabelo em seu corpo se levantou. — Este lugar é muito pequeno para quinhentos. — É, a placa é bem velha. Soltando o cinto de segurança, ele olhou para ela. — Pronta? — Não. — Mas ela soltou o próprio cinto, sentindo-se como se estivesse soltando sua última esperança de fuga. Tremendo, ela sacudiu o frio para longe, e quando Dev deu a volta no carro, ela estava esperando para lhe dar as mãos e andar até Sunshine, Alasca. A sensação de medo que estivera a perseguindo por dias se estabeleceu em um tipo de miasma viscoso, ao


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mesmo tempo assustador... e triste. Isso, ela não esperava, o sentimento de tristeza, tão pesado que a oprimia até seus próprios ossos. — Onde estão todos? Dev não respondeu, franzindo a testa enquanto olhava ao redor. — Nós estamos no centro da cidade, mas eu não vejo um bar. — Por isto é importante? — Natureza humana, — ele murmurou. — Bares são alguns dos primeiros lugares a abrir e os últimos a fechar em qualquer cidade pequena. Tão isolada assim, provavelmente seria o único lugar em que as pessoas podiam socializar. A menos que haja uma igreja? Poderia ser um assentamento religioso. Ela balançou a cabeça. — Os prédios são todos muito uniformes. Mesmo as igrejas da Segunda Reforma têm um formato simbólico que as faz se sobressair. Eles continuaram andando, a neve era espessa, mas administrável em torno de suas botas. Ela ficou feliz por ter enfiado um gorro de lã na cabeça antes de sair do carro, mas o cabelo de Dev brilhava sombriamente sob o frio sol de inverno. — Você não está com frio? — Alçando dentro do casaco dele antes que ele pudesse responder, ela pegou seu próprio boné de malha e o puxou sobre sua cabeça. — Obrigado. — Foi um comentário distraído enquanto pegava a mão dela novamente. — Os edifícios não estão completamente submersos, — ela disse, olhando em volta. — Este lugar não foi abandonado há tanto tempo. — Não, — Dev murmurou. — Olhe para a forma como está acumulado à esquerda, houve um forte vento em algum momento. Ele empurrou tudo daquela forma. Ela se virou, assentiu. — Nós não podemos explorar daquele lado, não facilmente. — Não havia dúvida de que precisavam entrar. — É tão quieto aqui. — A ausência de som a machucava. — Ouça a minha voz, ouça nossos pés esmagando a neve e o gelo. Há som. — Um aperto tranquilizador em sua mão. Assentindo, ela fez como indicado. Eles chegaram aos primeiros prédios acessíveis segundos depois. — Vamos torcer para que isso abra para dentro, — Dev disse, andando até a porta. — Ou nós vamos ter que encontrar algo para cavar... bingo. O ranger da porta que ele abriu foi alto, o baque surdo e ecoando de suas botas no chão simples de concreto plástico. A neve formava túneis do lado de dentro enquanto ela estava olhando ao redor. — Parece ser um depósito de suprimentos. — Itens infoeletrônicos repousavam congelados na caixa à esquerda, enquanto as ferramentas e máquinas estavam enfileiradas à direita. Em frente a ela, havia uma pilha de caixas de plástico estampadas


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com um nome que era vagamente familiar. — Earthtwo, — ela murmurou baixinho, movendo-se com Dev enquanto ele ia olhar para o equipamento. — É equipamento de mineração, — ele disse, pegando a extensão de uma corda de aparência poderosa com uma mão. — É isso. — Ela apontou para as caixas. — Earthtwo é uma pequena empresa de mineração especializada em minerais raros. Eles enviaram coisas para os laboratórios em que trabalhei. — Animada no momento, ela encontrou a coragem para largar a mão de Dev e abrir uma dos caixas. — Vazia. — Mesmo esta decepção não esvaziou sua excitação. — Eu não imaginava isso, há algo aqui. Andando até ela, Dev pressionou um beijo ardentemente real em seus lábios. — Eu disse que sua mente estava bem. Você deve aprender a me ouvir. Seu coração disparou na explosão elétrica do contato. — Para que você possa me dar ordens? — Eu faria isso? — Ele pegou a mão dela novamente, seu aperto firme. — Vamos ver o que mais podemos encontrar. Este lugar parece que não foi perturbado desde que a cidade foi abandonada. — Ou antes, também. — Ela apontou para as janelas, todas intactas. O próximo lugar em que entraram não poderia ser mais diferente. — É como se um furacão tivesse passado por aqui, — ela sussurrou, olhando para os papéis que cobriam o carpete, o vidro quebrado da janela, e, ainda pior, os fios irregulares que surgiram de um sofá em um dos lados da sala. Tufos de recheio, branco, desconcertantemente limpo, estavam espalhados sobre os papéis em torno do sofá... quase como se alguém tivesse tentado rasgar o sofá em uma fúria insana. Um toque na parte inferior de suas costas. — Fique aqui, — Dev disse enquanto fazia seu caminho para a mesa. Ouvindo com um canto de sua mente enquanto percorria as gavetas, ela se abaixou para pegar algumas das inúmeras peças de papel flutuando pela sala. A de cima era uma lista de contas. — Folha de pagamento, — ela disse em voz alta. — Eu acho que este deve ter sido o escritório de administração da Earthtwo. — A cidade inteira foi uma operação de mineração, — Dev disse, levantando um fino arquivo de papel. — Algum tipo de prospecto. A Sunshine é propriedade integral da Earthtwo. — Nome estranho para uma cidade Psy. — Hmm. — Dev folheou o arquivo. — Aqui está o porquê, a cidade foi fundada cento e cinquenta anos atrás. Antes do Silêncio. — Deve haver algo muito valioso no solo por aqui, então, — ela disse. — Ou apenas algo que se regenera ou de que as pessoas precisam de apenas um pouco. Eu não vi nenhuma evidência de perfuração pesada.


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— Poderia ser qualquer coisa embaixo de toda aquela neve, lembre-se do equipamento. — Colocando o prospecto no bolso, ele cruzou de volta para ela. — Vai ficar escuro rápido. Podemos ter de passar a noite. Ela engoliu em seco. — Por que não descobrimos o que aconteceu aqui primeiro? — Seus olhos brilharam em algo que ela vira, mas não tinha visto até então. — Dev, as manchas de marrom nesses papéis... não é sujeira ou manchas de idade, não é? Ele olhou para as folhas na mão dela. — Não. — Sua mandíbula se tornou rocha. — Isso é sangue.


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Os papéis flutuaram para o chão em um silêncio sereno enquanto ela abriu seus dedos. — Eu posso ver agora. — Havia um fino spray na parede de trás, quase escondido pela maneira amassada que tinha sido martelado no plástico. E o sofá... Algumas dessas molas de metal de má aparência foram oxidadas. Só que não era ferrugem. Dev pegou sua mão. — Precisamos ver o resto. — Espere. — Inclinando-se, ela pegou uma das folhas que deixou caiu. — É parte do log de comando. Eles devem ter imprimido uma cópia de backup por causa do risco de falta de energia. — Por que não mantê-lo no PsyNet? — É preciso uma grande quantidade de energia psíquica para manter um na PsyNet. Algumas empresas preferem... — Calafrios serpenteavam por sua espinha quando ela percebeu o que ela segurava. — Dev. . . Dev pegou o papel. — Incidente importante, — ele leu. — Pedir ajuda de emergência imediatamente. Repito, pedir ajuda de emergência o mais breve – isso só termina. — Uma transcrição vocal-impressa, — ela disse, batendo uma linha do código no topo da página. — Provavelmente definida para imprimir automaticamente. — O pensamento das impressoras trabalhando com tanta eficiência enquanto sangue era irrompido em torno deles criou a mais macabra imagem. — É datado de vinte e cinco de setembro. — Enquanto ela estava com Ming, uma criatura que ele tinha pensado que estava quebrado. — O orador morreu no meio da transmissão. — Ele morreu tentando salvar vidas - isso merece ser lembrado. — Dobrando o pedaço de papel, Dev o colocou no bolso junto com o prospecto. — Vamos. Ela nunca quis fazer nada menos. Mas essas pessoas, ela pensou, precisavam dela para continuar. Porque eles tinham sido trancados no escuro, também, os momentos finais de suas vidas apagadas da existência. — Sim. O próximo prédio ao lado parecia ser um refeitório. Estava bastante limpo, com apenas uma pequena evidência de problemas - na área de


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preparação de alimentos. — O que aconteceu, — Dev disse, — aconteceu ou muito cedo pela manhã ou tarde da noite. — Quando teria tido apenas os trabalhadores da cozinha aqui. — Por que uma cozinha afinal? Pensei que os Psy vivessem de barras de nutrição. — Essa é a norma, mas nossos psicólogos recomendam às vezes uma dieta mais variada dentro de outra forma isolada de população - fizeram para o laboratório. — Os cientistas que trabalhavam com o Protocolo de Implante, um protocolo projetado para transformar a Net em uma verdadeira colméia de mentes, que tinha sido enterrado sob centenas de toneladas de terra, em uma construção que Ming tinha manipulado explorar. — Cada cérebro necessita uma determinada quantidade de estimulação. — Seus olhos foram para uma sólida porta de aço na parte de trás da sala. — O freezer. — Um frio passou em seus ossos. — Eu irei fazer isso. — Não. — Arrancando uma luva, ela emaranhou seus dedos com os dele. — Juntos. Uma pausa, onde ela podia ver literalmente ele lutando contra seus instintos, seu rosto com todos os ângulos brutais. — Estes são os meus pesadelos, — ela disse — Eu preciso ver se eles são reais. Finalmente, ele concordou e eles caminharam para o refrigerador, a porta crescendo monstruosamente a cada passo. — Não há nada na superfície, — ela disse aliviada. Sem sangue, sem arranhões, sem amassados. Avançando com a sua mão livre, Dev torceu e puxou. Névoa gelada saiu, fazendo Katya dar um passo para trás assustada. Dizendo a si mesma para deixar de ser uma covarde, ela voltou para o lado de Dev. — A luz não deveria acender automaticamente? Mesmo enquanto falava, algo cintilou e provocou um instante depois, um brilho azul fresco encheu o espaço, iluminando o horror dentro. — Oh, Deus. — Ela não podia tirar seus olhos da palma sangrenta impressa da parte de trás, uma palma impressa que deixava listras ao longo da parede e no chão, até que terminava em uma pilha de sangue. — Ela estava tentando fugir... — porque era uma impressão muito pequena para ser de um homem, e sua mente não podia aceitar uma criança nessa loucura — e ele a arrastou para trás e a matou. — Mais do que um. — O tom de Dev era uma lâmina. — Alguém jogou corpos aqui. — Ele apontou para outra concentração de sangue congelado. — Ninguém mais se debateu. Eles deveriam estar mortos então. — Todo o pessoal da cozinha. — Ela se virou capaz de ver isso agora. — Quem quer que fosse entrou e conseguiu matá-los um por um. Uma mulher sozinha percebeu e tentou fugir. — Sim. — Recuando, ele fechou a porta.


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— Onde estão os corpos? — Sua mente puxou de uma parede para outra tentando dar sentido a um mal que desafiava a compreensão. — Você não acha que eles estão lá fora, abaixo da neve? Dev sacudiu a cabeça. — Eu estou supondo que EarthTwo enviou uma equipe de limpeza. Nenhum dos dois disse mais nada até que eles atravessaram os edifícios restantes que poderiam acessar. Um deles era um ginásio, e estava intocado. Os próximos cinco prédios tinham sido claramente instalações de dormitório. Objetos quebrados, janelas quebradas, sangue e caos reinavam aqui, a maior parte concentrada em torno das camas. — Noite, — ela sussurrou. — Eles estavam dormindo. Essa é a única maneira que qualquer um poderia ter pegado tantos deles, tinha de haver telepatas no grupo. Eles alertariam os outros se tivessem sido acordados. — A menos. . . Ela olhou para cima, contemplando um beliche que parecia ter sido destruído pela metade. — A menos? — A menos que nós estejamos falando de mais de um assassino. Uma onda de escuridão, um estalo de memória, e as comportas abertas. — Houve um incidente grave, senhor. — Detalhes? — Essa voz, a voz de Ming. Uma pausa. — A fêmea? — Ela não tem mente suficiente para entender. Conte-me os detalhes. — EarthTwo recebeu um pedido de socorro telepático e eletrônico de sua operação em Sunshine, Alaska, cerca de duas horas atrás. A gerência pediu ajuda do Conselho, sendo essa assistência uma parte negociada de seu contrato com a gente. Nós fomos capazes de mobilizar uma pequena unidade Tk e os teleportamos para o local. — Quantos mortos? — Cento e vinte. — O orador poderia estar falando sobre ações e títulos, tão calmo era o seu tom de voz. — A população numerada era de cento e cinquenta. Três ficaram gravemente feridos, enquanto seis conseguiram encontrar esconderijos. — Isso deixa vinte e um. — Sim, senhor. Apareceram vários membros da equipe quebrando o Silêncio aproximadamente ao mesmo tempo, embora não em um local central. Eles atacaram um ao outro e os membros não fragmentados da expedição. Dos vinte e um que sobreviveram ao incidente inicial, dez morreram tentando atacar a equipe Tk, enquanto onze foram neutralizados e colocados em coma involuntários. — Sunshine? — Um posto avançado isolado. Nós podemos enviar uma equipe para limpar a bagunça de imediato, mas nós teríamos que ter um número


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significativo de Tks com tarefas de alta prioridade, a fim de apagar completamente o estabelecimento. — A viabilidade da obra sem telecinéticos? — Há sempre um risco de detecção com o vôo, a operação pode atrair atenção indesejada. Um longo silêncio. — Somos todos os membros da equipe do Psy Sunshine? — Sim. — A existência do log do EarthTwo de que o acampamento foi abandonado após o surto de um vírus letal no ar. Isso deve manter qualquer outra pessoa de querer ir lá ao momento. — Katya, — Dev sacudiu a mulher em seus braços, a tendo carregado ao exterior gelado quando ela se recusou a lhe responder no dormitório. Seus olhos tremeram. — Dev? — Sou eu, bebê. Vamos lá, vamos voltar. — Eu me lembro, — ela sussurrou, sua voz rouca. — Diga-me no carro. — Só quando ele a colocou no banco de trás e se arrastou para levá-la em seus braços ele respirou novamente. — Seus olhos... — Foi como se ela tivesse deixado de existir, ou foi tão profundo que ele não podia mais vê-la. Ele pensou que nenhum terror poderia chegar perto do que ele tinha experimentado quando criança. Ele tinha estado errado. Ela o abraçou, pressionando beijos em sua mandíbula. — Eu sinto muito, eu acho que eu devo ter escorregado em algum tipo de estado de transe. Ele a deixou acalmá-lo, necessitando das carícias, a necessidade de saber que ela estava bem. — Diga-me. — Acariciando a sua mão em sua coluna, ele fechou sua mão sobre sua nuca. Horror espalhou de seus dedos por seu peito quando ela começou a falar, a invasão dura e impiedosa. — Mais de vinte pessoas ficaram insanas de uma vez? — Mais do que isso, algumas teriam sido mortos quando ligados pela primeira vez, um ao outro. — Como isso é possível? — Ele a puxou para o seu colo, precisando sentir o calor vivo de seu peso. — Ouvi dizer que os Psy estão quebrando em maior número, mas estamos falando de um caso de insanidade em massa. — Eu não acreditei nos rumores, — ela disse. — Não até que eu ouvi isso. Ele esperou. — Um número de nossos contatos, minha e de Ashaya, relataram que havia histórias de certas partes da Net se transformando em 'escuridão', como se algo estivesse coletando lá, algo que comesse ou enterrasse parte no tecido da Net. — A influência do DarkMind?


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— Sim, é uma possibilidade. Eu não sei. — Ela balançou a cabeça. — Ninguém jamais poderia, na verdade, apontar para um exemplo, então nós não prestamos muita atenção. Nós não pudemos, tivemos que nos concentrar sobre o que realmente podíamos ver e mudar. — Vá em frente. — Você sabe o que significa estar em uma rede neural - é como nadar no mar. Não há nenhuma maneira de evitar entrar em contato com quaisquer poluentes. Dev tirou o gorro com uma mão impaciente. — Você acha que esta 'podridão', — ele disse, por falta de uma palavra melhor, — infiltrou em todas as mentes? — A Net não é bloqueada a qualquer local, — ela disse, — mas a sua localização na Net é determinada em parte por onde você está no mundo. Este grupo já esteve em Sunshine, e isso significa que eles teriam ocupado uma seção isolada da Net. Se todos eles chegaram juntos, a podridão teria começado a trabalhar com eles ao mesmo tempo. — Alguns dos que foram mortos, — Dev disse, mal capaz de envolver sua mente em torno da magnitude do massacre, — as chances são de que eles teriam quebrado, também, se tivessem vivido um pouco mais. — Sim. — Katya colocou os braços em volta de seu pescoço. — Se isso aconteceu uma vez, Dev. . . — Precisamos gravar isso. Precisamos de provas. — O Conselho vai negar. Ninguém está pronto para acreditar. —Um tipo apertado de raiva encheu cada sílaba. — Eu sei - nós tentamos tanto dizer às pessoas a verdade, mas é como se elas só pudessem assimilar um tanto ao mesmo tempo. Eles vão dizer que você está simplesmente tentando criar política... — Eu sei. — Ele parou o fluxo de palavras frustradas com um beijo. — Eu preciso dos registros para o meu povo. Entendimento acendeu dentro desses olhos bonitos. — Ah. Eu entendo. Você trouxe um dispositivo de gravação? — Meu celular tem uma resolução alta o suficiente e muita memória. Nenhum dos dois disse nada durante vários minutos - embora ambos sabiam que tinham que sair do carro para documentar o que eles acharam. Katya ouviu a batida do coração de Dev e com isso, de alguma forma encontrou coragem. — Nós podemos fazer isso. Ele deu um beijo no topo de sua cabeça. — Você sabe o que eu vejo quando eu olho para o sangue? — Diga-me. — O possível futuro dos Esquecidos. — Ele enfiou a mão no cabelo. — Por que não poderíamos ter deixado a loucura por trás quando deixamos a Net? Por que nossas habilidades sempre têm que vir junto com as trevas?


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Katya tinha passado muitas horas, considerando o mesmo. — Se elas não viessem, o mundo real Psy iria governar o mundo, essa falha, é a construção de seu calcanhar de Aquiles, é a única coisa que nos torna frágil, a única coisa que vem com a nossa arrogância. Seus dedos se enfiaram através de seu cabelo, empurrando seu boné. — Com o poder vem à tentação. — Sim. — Ela pensou nas pessoas que tinham trabalhado nos laboratórios com ela, muitos deles dotados, muitos deles incapazes de ver que o que eles estavam fazendo era monstruoso. — Tanto poder, sem qualquer controle, muda uma pessoa de dentro para fora. — E o que surgiu não foi sempre algo humano no sentido mais amplo. — A emoção é um controle. — Soltando a mão de seu cabelo, ele pegou seu boné. — Mas não é a resposta completa. — Se fosse, — ela murmurou, deixando-o colocar o boné de volta em sua cabeça, chamando a ternura a sua volta como um escudo, — o Silêncio nunca teria entrado em vigor. — Vamos. — Ele estendeu a mão para abrir a porta. — Pronta? — Sim. — Mas era uma mentira. Ela nunca estaria pronta para enfrentar a morte que tinha manchado Sunshine de um vermelho escuro, quase preto. Não importava. Isso tinha que ser feito. Alguém tinha que dar testemunho da perda de tantas mentes, tantos sonhos e esperanças. — Sim. Vamos.

ARQUIVOS DA FAMÍLIA PETROKOV Carta datada de 05 de janeiro de 1979 Caro Matthew, Eu quase não posso acreditar que fizemos isso. A Shadownet, como todos chamam esta nova rede, é um lugar vibrante e caótico. Dado os nossos números, não é tão denso quanto a PsyNet, mas é vivo. E isso é tudo que importa. O ostracismo já começou. Ligamos para o seu tio Greg para lhe dizer que estávamos seguros. Eu podia ver o alívio em seus olhos, mas tudo o que ele disse em voz alta era para não ligar para ele de novo. Ele tem medo de que, se ele mostrar sentimentos em relação a nós, o Conselho levará seus primos embora. Eu chorei depois de tudo. Você me viu, limpou minhas lágrimas. E eu sabia em cada batida do meu coração, que eu tinha feito à escolha certa. Eu te amo tanto.


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Mam達e


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A noite caiu com uma rapidez previsível, mas eles já tinham acabado. Nenhum deles trouxe a ideia de permanecer no local. Dev simplesmente assumiu o volante e saiu. Eles estavam dirigindo por uma hora quando Katya quebrou o silêncio. — Estou começando a me lembrar de coisas que eu não estava pronta antes. — Qualquer coisa como isto? — Não. — Uma longa pausa. — Minhas memórias de Noor e especialmente o tempo de Jon nos laboratórios estão quase completos. Ele não tentou desfazer de sua culpa, que, ele percebeu, levaria tempo. A mulher que Katya havia se tornado nunca seria capaz de se afastar dessas memórias mais escuras. Assim, ele manteve o tom de acordo com os fatos, suas palavras às mesmas. — Ela parece não estar afetada, e ele é um garoto forte. — E um talentoso. — A voz de Katya foi baixa. — Sua capacidade - é algo tão aberto para se abusar. — Não se lhe é mostrado o caminho certo. — Quando eu era uma criança, — ela disse, — eu costumava tentar usar minha telepatia para fazer os outros do meu grupo da creche fazer o que eu queria. — Essa é uma fase bastante normal de desenvolvimento para crianças telepáticas. — Dev, também, tinha feito coisas enquanto garoto que não foi rigorosamente certa, ele foi aprendendo sobre suas forças, esticando seus membros. Ele queria dizer a Katya, compartilhar a verdade de seu dom com metal, com as máquinas. — Irrita-me que eu não possa falar com você como eu quero. — Suas palmas protestaram contra a força com a qual ele estava segurando o volante. Relaxou com esforço, ele soltou um suspiro entre seus dentes cerrados. — Eu continuo dizendo que as coisas vão mudar, que eu vou encontrar uma escapatória. Ele se lembrou do que ela disse uma vez sobre os tentáculos do controle de Ming. — Você não foi capaz de elaborar uma maneira de se soltar da programação?


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— Não, — ela disse, envolvendo os braços em torno de si mesma de forma tão apertada, que ele ouviu algo partir em sua jaqueta. — Não sem danificar meu cérebro. As garras dessa coisa que ele colocou na minha cabeça estão demasiadamente enterradas. — Talvez a programação seja forte demais para se quebrar, — ele disse, dor se abatendo em seu queixo, que ele apertou tão duramente, — mas não deve ter um efeito físico permanente. É uma construção psíquica. — Dev. . . não é a programação. A prisão está ancorada em minha mente. Seu estômago se transformou em gelo. — O quão certa você está? — Uma longa pausa. — Diga-me. — Eu olhei para isso de todos os ângulos possíveis. Eu estava esperando ter cometido um erro. — O tom de sua voz lhe disse que ela descobriu diferente. Dev era apenas um telepata, mas ele sabia tudo o que havia para saber sobre a habilidade – tanto as velhas quanto as novas - que poderia se manifestar entre os Esquecidos. Então ele entendia muito bem que algo que estava ancorado na mente de um indivíduo, ao contrário do tecido de uma rede neural, destruiria a mente em pedaços se fosse removido sem o procedimento adequado. E agora mesmo, a única pessoa que tinha a chave para a prisão de Katya era o Conselheiro Ming LeBon. A decisão era simples. — Precisamos encontrar Ming. A cabeça de Katya virou em sua direção. — Não, Dev. Não.

Depois de ter passado o dia inteiro com Cruz, Sascha esperava cair em um sono fácil naquela noite, cansada pela energia psíquica que ela gastou. Mas se encontrou deitada acordada muito tempo após a floresta ter ficado quieta ao seu redor. Afagando-se no calor changeling de Lucas, ela abriu os dedos sobre o seu coração e tentou combinar o ritmo de sua respiração ao dele. Seu corpo começou a relaxar, mas sua mente continuava a girar. Desistindo, ela decidiu ler um pouco... mas o braço de Lucas a apertou no instante em que ela tentou se afastar. Ela deveria tê-lo deixado dormir - em vez disso ela passou a mão em seu pescoço. — Acorde.


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Seus olhos piscavam aberto com a preguiça felina. — Hum? — Aconchegando-se nela em um interesse sonolento, ele apertou sua mão sobre seu quadril. — Eu não consigo dormir. Ele estendeu sua mão sobre seu abdômen. — Sente-se bem? — Uma pergunta carinhosa, um toque de proteção. — Sim. — Ela passou a mão sobre seus bíceps. — Só bem acordada. — Quer que eu lhe faça ficar cansada? — Um ruído contra sua orelha, dedos brincando sobre o buraco de seu umbigo. A excitação em seu estômago era intimamente, requintadamente familiar. — É uma oferta muito tentadora. — Mas você quer conversar. Seu coração se apertou com a força do que ela sentia por este homem que a conhecia tão completamente, ela beijou o lado de sua mandíbula, entrelaçando-lhe a mão na seda pesada de seu cabelo. — Trabalhar com Cruz.. . ele é tão vulnerável, Lucas, tão aberto para qualquer direção. — Então é uma coisa boa que você nunca poderia machucá-lo. Isso era o que a preocupava. — Esse livro que minha mãe me mandou, diz que os E-Psy podem se tornar ruins. — Não, — Lucas disse, subindo para olhar para ela. — Diz que os EPsy muitas vezes se importam tanto que começam a pensar que eles sabem o que é melhor para todos. — E então eles fazem coisas ruins, — ela insistiu. — E sobre aquele empata que o escritor retratou, aquele que tentou manipular emocionalmente a todos para ser ‗bom‘. Ele levou as pessoas à loucura por forçá-los a ir contra a sua própria vontade. — Ele era um solitário, sem família, sem Clã. Você realmente acha que eu a deixaria se transformar em uma megalomaníaca? — Um brilho divertido nos olhos do leopardo. Ela fez uma careta. — Isso é sério. — Mas ele conseguiu afrouxar o nó de medo em seu peito. — Eu nunca soube que eu poderia alimentar a emoção em alguém, literalmente forçá-los a sentir o que eu quero. Lucas brincou com os fios de seu cabelo enquanto ela divagava em pensamento. — Eu me pergunto por que minha mãe me enviou esse livro, — ela murmurou. — Foi para desestabilizar-me, ou ela queria me avisar do perigo? — Com a maioria das mães, não teria sido uma pergunta, mas a maioria das mães não era a Conselheira Nikita Duncan. — Ou talvez ela finalmente percebeu a aliada poderosa que você faria. Ela ergueu o rosto em uma questão sem palavras. — Você sabe o que o alfa em mim acha mais interessante no livro? — Ele perguntou, apoiando os cotovelos em ambos os lados de sua cabeça. — O fato de que uma empata cardeal que tem o controle total de seu dom pode


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efetivamente impedir uma revolta de milhares em seus caminhos. Imagine como seria útil essa habilidade para um conselheiro que enfrenta rebeliões de dentro das fileiras. Sascha colocou os braços em volta do pescoço de Lucas. — Segundo o livro de Eldridge, essa habilidade empática salvou inúmeras vidas ao longo das gerações. — Sim. — Mas você não acha que é por isso que Nikita a quer? Lucas a beijou com ternura extrema. — Eu não vou adivinhar os motivos de sua mãe, Sascha. Mas eu não suporto ver você se machucar, tenha cuidado, gatinha. Seu amor lhe envolveu, apertado, protetor e maravilhoso. — Não se preocupe, — ela disse, esfregando-se nele. — Eu já não sou tão vulnerável a ela. Eu só gostaria de entender por que ela fez isso agora entre todos os momentos. — Pergunte a ela, — disse Lucas, para sua surpresa. — Ela não pode dizer a verdade, provavelmente não irá, mas você é bom em ler entre as linhas, a leitura da linguagem corporal. — Sim, eu acho que irei. — Apertando um beijo em seu ombro, ela deixou sua mente desviar de volta para um assunto que a vinha remoendo mais cedo naquele dia. — Acho que algo está acontecendo entre os Esquecidos. — Eu tenho esse sentimento, também. — Ele mudou de posição, para que mais de seu corpo se enroscasse ao dela. — Esses guardas em Cruz, eu não tenho certeza que Dev só está preocupado com os Psys. A palavra é que alguém de seu próprio povo está se movendo contra ele. — Você acha que os Esquecidos estão começando a ter os mesmos problemas que levaram os Psys ao Silêncio? — Se eles estão... Dev tem um inferno de um problema em suas mãos.

Katya sentiu como se tivesse discutindo até que seu rosto estivesse azul. Dev não argumentou de volta, ele simplesmente se recusou a mudar de ideia. — Você está louco? — ela finalmente foi levada a gritar, enquanto se preparavam para pegar algumas horas de sono na mesma pequena pousada que tinham parado antes. Eles dirigiram metade da noite, os obrigando a fugir da violência maligna que marcou Sunshine. Mas a partir do instante que Dev


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mencionou que ia atrás de Ming, ela teve apenas um pensamento em mente pará-lo. — Isso é o que ele quer! Vai tornar muito mais fácil para ele lhe matar. Dev puxou os cobertores, tendo tirado a calça jeans, enquanto ela mudou para um moletom. — Entre aqui antes que você congele sua linda bunda. — Dev, você não pode simplesmente me ignorar. — Eu disse para entrar aqui. Ou eu a arrasto. A raiva subiu em uma inundação selvagem. — Não me trate como uma criança! — Pegando a coisa mais próxima a ela, um sapato, ela o jogou em cima dele. Ele saiu do caminho com a graça de um fluido. — Isso não foi uma jogada inteligente, querida. — Palavras calmas, mas o calor em seus olhos era um fusível que queimava lentamente. Furiosa demais para ser capaz de ler se o calor denotava raiva ou desejo, ela disse: — Ah, é? Que tal isso? — Ela jogou o outro sapato. Ele moveu a cabeça de lado, sem realmente parecer ter mexido. Então ele a alcançou. Ela tentou girar para sair... apenas para perceber que ele a encurralou em um canto. — Eu juro por Deus, Dev, estou tão brava com você... Um dedo contra seus lábios. Assustada, ela parou de falar. — Você é minha, — ele disse em uma voz calma e implacável. — Agora e para sempre. Seu corpo inteiro tremeu com a força desse voto. — Eu não vou deixar nada, nem ninguém, tirar você de mim. — Olhos salpicados de dourado perfuraram seu coração. — Você entendeu? — Eu não vou deixar você se matar, — ela sussurrou contra seus dedos. Empurrando-o para longe, ela colocou a mão sobre seu coração. — Se você entrar em uma armadilha por causa de mim, se você morrer... — Eu não vou. Eu não sou estúpido e não tenho a intenção de entrar nessa, cego. Nós reunimos informações e nos movemos quando ele estiver vulnerável. — Ele estendeu a mão para tirar seu cabelo do rosto. — Ele é poderoso, mas ele não pode se defender contra todas as eventualidades. — Ele é mal, — Katya sussurrou, os olhos negros com a memória. — Eu nunca senti alguém tão desprovido de humanidade. — Se os bons corressem quando o mal se levanta, — ele disse, com as palmas das mãos apoiadas nas paredes de cada lado de sua cabeça, — então o mundo não teria chance alguma. — Ele não vai lhe dar a chave. — Então ele vai morrer. — Matar Ming... — seus lábios se movendo contra o seu — não vai me salvar. Mesmo que de alguma forma encontremos uma maneira de desfazer


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ou bloquear a programação, a prisão mental é autônoma, ligada e alimentada por minha própria mente. — Mas isso vai lhe dar liberdade. Ming apenas sabe que você está viva, você pode viver sua vida inteira sem ninguém saber sobre você na Net. — Sim, — ela disse, mas ele viu um lampejo de desconforto em seus olhos. Quando estava quase perguntando a ela o que estava pensando, ele encontrou seus lábios tomados de forma muito feminina, macia, viçosa e absoluta. Katya atraiu o gosto de Dev - calor e demanda, a paixão com uma borda de aço - profundo, empurrando de lado uma verdade que tem sido sangrenta em seu dia a dia lentamente. Hoje, aqui, com o espesso cobertor de neve isolando-os contra o mundo exterior, ela queria ser simplesmente uma mulher que teve a sorte de estar nos braços deste homem incrível e complexo. Quando ele a pressionou no canto, assumindo o seu mundo, ela estremeceu e empurrou suas mãos em seu cabelo. O fogo negro dele penetrou em seus ossos, aquecendo-a de dentro para fora. Deslizando seus dedos através da seda rústica, ela acariciou dos seus ombros até a tentação de seu peito. — Eu adoro tocar em você, — ela disse em sua boca, moldando seus músculos planos com as palmas, porém não era o suficiente. Os cabelos escuros salpicados estavam deliciosamente abrasivos - ela desejava estar nua, ter a sensação em seus seios. — Eu quero tirar minhas roupas. Ele fechou os dentes sobre seu lábio inferior. — Isso é o que eu gosto de ouvir. — Palavras claras, mas seu rosto era de uma intensidade gritante. Ela sabia que ele poderia ser afetuoso, já tinha sentido seu cuidado, mas abaixo da superfície, Devraj Santos era um guerreiro, com uma vontade que era inquebrável. Tremendo com o poder de suas próprias emoções, ela começou uma linha de beijos do seu queixo, ao longo de seu pescoço. — Eu gostaria de agradá-lo desta vez. Suas mãos em seus cabelos. — Você me agrada por simplesmente existir. Ela lambeu o gosto dele em sua boca, sentindo seu corpo se apertar. Apesar dos seus músculos estarem tensos, ele ficou no lugar e a deixou explorar sua dura beleza masculina. — Eu não entendo — ela sussurrou, — como a minha raça poderia desistir disso. — Quando o Silêncio começou, deveriam ter amantes, casais que se queimaram um para o outro. — Alguns não fizeram. — Respiração quente contra seu ouvido quando ele se inclinou para deixá-la com um melhor alcance de seu pescoço. — Para alguns, o preço era alto demais. Seu pulso a fascinava, tão forte, tão vivo, e agora, irregulares com o desejo. Por ela. Um pequeno cacho de poder feminino serpenteou por seu corpo, inebriante e com fome. Ele era um homem tão forte que sabia que ela


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tinha a capacidade de lhe afetar como se isto fosse sua própria droga. Roçando seus dentes ao longo da coluna de seu pescoço, ela correu com as unhas de uma mão suavemente em seu peito, certificando-se de passar raspando sobre um liso mamilo masculino. Ele silvou para fora uma respiração. — Faça isso de novo.


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— Gostou? — Uma leve carícia. — Provocador. Sorrindo, ela deu-lhe o que ele queria - para o seu gemido rouco antes de empurrá-lo para mover de volta. Ele resistiu. Ela insistiu. Um único centímetro. Apenas o suficiente para ela mover sua cabeça para baixo para que pudesse fechar os dentes delicadamente ao redor do mamilo que ela tinha atormentado. Ele praguejou no momento que seus dentes desceram, passando por seu peito. Quando ela mudou a sua atenção para o lado que tinha negligenciado, ele se acomodou, lhe dando outro centímetro. Quente, a pele marrom dourada sob suas mãos, seus lábios, selvagem, o cheiro nervoso dele em sua cabeça, um pouco do céu. Tê-lo só para si, para desfrutar sem culpa ou preocupação, mesmo que apenas por este instante quebrado no tempo, não era nada que ela poderia se arrepender. Não importa o que. Empurrando o último pensamento para as cavidades mais sombrias de seu cérebro, ela tentou beijar o caminho para baixo de seu peito. — Dê-me espaço. — Não. — Ele puxou a sua cabeça para cima com a mão cerrada em seu cabelo. Ela lambeu sua pele, e soprou uma respiração para resfriar o molhado. Ele estremeceu. Acariciando-o, ela o empurrou. — É a minha vez. — Eu vou me envergonhar se você colocar essa sua boca bonita em qualquer lugar perto do meu pau. — Palavras duras, tão duras como a ereção empurrando contra o inferior de seu abdômen. A pele se apertou com o impacto dessa imagem erótica, ela o empurrou novamente. — Eu quero provar você. Você já teve a sua vez. O ar se transformou não só em azul, foi mais para índigo. — Você está tentando me torturar? —Uma mordida, um beijo mordiscado que atingiu uma linha reta até a umidade entre suas pernas. — E se eu não quiser jogar limpo, — ele murmurou, dançando uma mão dentro de sua calça de moletom para tocar sua parte baixa com uma familiaridade arrojada. — E se eu quero outra rodada? Tendo suas mãos sobre ela fazia com que suas células cerebrais lutassem, mas ela não estava prestes a desistir. Não quando essa fantasia especial estava deixando-a louca desde o instante em que começou a considera-la. — Então é melhor você me deixar fazer o que eu quero, — ela ordenou, beliscando sua mandíbula. — Ou você não estará conseguindo nada. — Eu sou maior do que você.


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Ela deslizou a mão por baixo do cós da calça jeans dele para segurar firmemente ao seu redor. Seu corpo resistiu. — Você estava dizendo? — Bruxa. — Ele se moveu apenas o suficiente, ampliando sua posição para dar espaço. Era tudo o que ela queria. Ser cercada por Dev adicionou uma camada requintada de sensações para sua exploração sensual. Não só ela amava estar cercada pelo seu ardor sexual como ela se sentia protegida - mais do que segura, o suficiente para aprofundar-se nas mais loucas fantasias. Removendo a mão, ela deixou um beijo no centro de seu peito e correu os dedos para baixo em seus lados, acariciando sua pele com uma brincadeira que ela nunca pensou encontrar em si mesma. — Estou mantendo a contagem, — alertou. — De troco, gritos serão envolvidos de sua parte. Ela tinha vindo associar gritos com dor... mas, também, com Dev, ela teve a sensação de que iria assumir um significado totalmente novo. — Eu não posso esperar. Beijo por beijo, ela avançou por seu corpo, até que estava de joelhos, com os dedos no botão de cima da calça jeans. Olhando para cima através de seus cílios, ela encontrou seu olhar enquanto ele olhava para baixo, suas mãos apoiadas na parede acima dela. O dourado em seus olhos pareciam ter se espalhado, criando algo semelhante a um brilho. — Eu estou imaginando? — ela sussurrou, abrindo subitamente o botão. — Não. Fascinada por aquele olhar elétrico, ela queria fazer mais perguntas, mas então ele estremeceu, quebrando seus pensamentos. Ela estava jogando os dedos sobre sua ereção - agora ela percebeu o que o tinha levado ao limite. Molhando os lábios, ela pegou a guia do zíper. — Merda, — ele murmurou entre dentes quando ela a puxou com pressão para baixo sob sua ereção. Os instantes seguintes passaram em uma espécie de névoa sexual. Tudo que ela sabia era que de alguma forma conseguiu libertá-lo de sua roupa, e agora o comprimento despertado dele estava em sua palma. Era uma compulsão se inclinar para frente, apertar a sua língua em toda a cabeça. Ele estremeceu, mas não se afastou. — Então? — Era uma pergunta rouca. Ela olhou para cima, fechando os dedos em torno do calor de seda com uma possessividade que surpreendeu até a ela. — Então? — Você... — ele limpou a garganta, tomou um par de respirações profundas. — Você perguntou o qual era o prazer em fazer isso. Mergulhando a cabeça novamente para baixo, ela se inclinou para frente e o levou em sua boca. Desta vez, seu grito não foi contido. Uma mão se enredou em seu cabelo, suas coxas se endureceram, com tensão erótica em cada músculo. Extraindo o gosto mais profundo dele, ela moveu suas mãos para suas coxas, lhe dando mais espaço para brincar. Ela o ouviu praguejar e o sentiu puxar suavemente o seu cabelo, mas de jeito nenhum ela terminaria isso visto que mal tinha começado. Em vez de se retirar, ela cavou seus dedos em esses músculos rígidos como rocha em uma reprovação silenciosa.


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Quando ele sacudiu e largou seu cabelo, ela sabia que tinha ganhado. Pelo menos por enquanto. Então ela aproveitou, chupando, lambendo e aprendendo. Havia prazer no que fazia, tal prazer extremo que se sentia como se seus ossos estivessem derretendo de dentro para fora. O gosto dele lhe intoxicava, porém mais, sentindo a sua resposta, sabendo que era por causa dela... empurrava a sua excitação a um passo febril. — Basta. — Ele se afastou antes que ela pudesse segurá-lo junto a ela. Frustrada, ela o olhou. — Eu não tinha terminado. — Estou prestes, — ele murmurou, e a puxou para seus pés, lhe tirando seu moletom. Ela saiu deles e de sua calcinha, ao mesmo tempo, alegre com o limite bruto dele, o dourado brilhando em seus olhos. — Dev, o qu... Ele levantou-a com uma exibição de força que lhe roubou o fôlego. — Pernas ao redor da minha cintura. — Foi uma ordem cortada. Ela obedeceu imediatamente. Ele a recompensou deslizando para dentro dela com um único golpe duro. Seu grito ecoou pelas paredes à medida que o prazer deu um curto-circuito em seu corpo. Suas mãos agarraram seu traseiro, segurando-a firmemente no lugar enquanto ele entrava e saía. Ela arranhou os seus ombros, sentindo-se pendurada no precipício. — Maldição! — O corpo de Dev ficou tenso contra ela e ela sabia que ele tinha perdido todos os seus pedaços de controle férreo. Isso foi tudo o que precisou. Eletricidade balançou através dela, tão selvagem e tão quente como o homem que a segurava presa à parede em uma rendição indefesa. Katya ficou amolecida enquanto Dev a deixou cair sobre a cama. — Eu ainda tenho o meu top, — ela murmurou, nem um pouco interessada em se mexer. Seus ossos estavam como geleia, seus músculos internos continuavam a ter espasmos com as explosões de prazer. Dev finalmente tendo se livrado de seus jeans, esparramou-se sobre ela, enterrando o seu rosto em seu pescoço. Ela conseguiu encontrar energia suficiente para enfiar seus dedos pelo cabelo e prendê-lo a ela enquanto seu peito se levantava para longas respirações profundas. — Você me matou, — ele murmurou. — Eu pretendo fazer isso de novo assim que me recuperar. — Que poderia ser daqui a uma semana. — Insaciável. — Só por você. Um silêncio ininterrupto além de suas respirações irregulares. — Tão honesta. — Ele apertou um beijo em sua pele úmida. — Não mude isso sobre você mesma. Sua mão livre se enrolou no lençol. Uma mentira por omissão ainda era uma mentira? Sim, ela pensou, honesta consigo mesma, mesmo que não pudesse estar com ele. — Eu estou com fome. — Dê-me um minuto para encontrar a força para caçar e colher. Seus lábios se curvaram. — Devraj Santos, derrubado por uma mulher com metade do seu tamanho. — Com uma boca como o céu. — Outro beijo. — Você pode fazer isso de novo quando quiser. Eu insisto.


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Uma gargalhada explodiu dela. — Ai, meus músculos do estômago doem. — Mas ela teria este tipo de dor em qualquer dia. — Conte-me sobre os olhos. — Certamente que o conhecimento era nada que iria ferir os Esquecidos mesmo que Ming a encontrasse antes que ela pudesse acabar com isso? — Hmm. — Seus cílios moveram em sua direção como uma carícia absurdamente delicada. "Nós tínhamos cardeais em nossos genes. Os olhos desapareceram dentro de uma geração. — Por causa da diluição em suas habilidades, — ela murmurou. — Sem cardeais, sem olhos de céu noturno. — Olhos Cardeais eram estranhamente bonitos. Mesmo os Psy na Net raramente encontravam-nos no extremo final do poder Psy – estrelas brancas no preto, seus olhos pareciam refletir a própria net. — Mas alguns de nós estão começando a nascer com estes olhos. — Marrom e dourado? — A cor não importa. — Ele se levantou sobre o cotovelo, com fios úmidos de cabelo na testa. Ela gostava dele desta maneira - sexy e despenteado. — Eu não acho que você está me ouvindo. — Ele zombou franzindo o cenho quando ela alcançou-o para deixar beijos sobre a curva musculosa de um ombro. Ela sorriu. — Sinto muito. — Como eu estava dizendo antes de ser tão rudemente interrompido — ela riu de seu tom grave. — Há algum tipo de retorno psíquico em tempos de grande estresse ou excitação emocional. — Um brilho nesses olhos bonitos. — Eu acho que você me deu ambos hoje. — Isso é o que eu gosto de ouvir, — ela disse, em um eco deliberado. — Jonquil, — ela sussurrou. — Eu pensei que seus olhos eram simplesmente um azul extraordinário, mas acho que ele exibe o fenômeno. Dev pegou o rosto dela entre as mãos. — Não está ligado ao nível de poder, — ele disse a ela. — Parece ser uma mutação aleatória que ocorreu em uma determinada percentagem da população. — Talvez você esteja no processo de desenvolver a sua própria versão de olhos cardeais, — ela murmurou. — Mesmo que não esteja conectado aos poderes agora, poderia um dia acabar sendo assim. — Espero o inferno que não, — Dev disse, mandíbula se firmando. — Isso ia fazer os fortes fáceis de se identificar e alvejar. — Eu pensei que esta era uma pergunta segura. — Com o peito apertado, ela fechou a mão sobre seu ombro. — Não se preocupe, Dev. Eu não vou deixar ninguém tirar o conhecimento da minha mente. — Não desta vez. Nunca mais. — Por que você acha que eu te disse? — Um tom que não deixava espaço para dúvidas. E então ele disse as palavras que ela tinha esperado e que parecia ter sido uma vida inteira para ouvir. — Você não vai nos trair, Katya, não importa a que custo. — Dev. — Você o venceu. Você sobreviveu, — ele disse calmamente. — Ming não tem direito sobre você.


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ARQUIVOS DA FAMÍLIA PETROKOV Carta datada de 17 julho de 1982 Querido Matthew, Você está crescendo tão grande e forte, meu menino. Seu talento cintila cada vez mais brilhante. Eu gostaria que não tivéssemos nos separado em um momento tão crítico, mas eu preferi prevenir que remediar. Vários dos desertores recentemente desapareceram sem deixar vestígios. Há especulações de que o Conselho está nos erradicando. Seu pai... ele teve uma visão ontem. Ele está tão raramente conosco estes dias que eu queria apenas falar com ele, mas ele usou os minutos que estava acordado e lúcido para me avisar. Eles irão ir atrás de você, Matthew. Você é um muito poderoso telepata. Então temos que correr. E nós temos que continuar fugindo até que eles já não possam encontrar nenhum vestígio dos Petrokovs. Seu pai não vai vir com a gente. Ele se chama de deficiente. E ele não me ouve quando digo diferente. Antes do Silêncio, eu costumava brincar com ele, citando o Manual de Designações Psy. Ele diz que os F-Psy são considerados alguns dos indivíduos mais fortes entre a nossa raça por causa das demandas de sua capacidade. Mas hoje, ele provou a verdadeira definição para a última palavra, o meu forte e corajoso David. Ele me fez prometer ir amanhã. Eu não sei se eu posso. Eu não sei se eu posso deixar o único homem que eu amei. Mamãe


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Você não vai nos trair, Katya, não importa a que custo. Ele estava tão certo sobre o que sabia, Katya pensou duas horas mais tarde, dor batendo em suas têmporas. Estendendo a mão, ela insinuou seus dedos sobre as maçãs do rosto de Dev, consciente que ele iria acordar com qualquer coisa, exceto com o mais sensível dos toques. Mesmo assim, ele se mexeu. — Sou só eu, — ela sussurrou, enquanto a dor requintada em seu coração ameaçava rasgá-la. Isso, ela pensou, era o amor. Ela nunca tinha sentido antes, mas sabia. Este sentimento, profundo na alma que devastava assim como curava. Devraj Santos tornou-se parte integrante dela. Ela não podia deixá-lo ir atrás de Ming - ela tinha toda a fé em suas habilidades, mas se recusava a perdê-lo para uma missão tola. Não havia nenhuma maneira de salvá-la. Ela percebeu no instante depois que Dev tinha dito que ela poderia viver sua vida inteira sem que ninguém soubesse. Verdade. Só que toda a sua vida só poderia se igualar a mais um mês... se tivesse sorte. A coisa de estar em uma prisão é que depois de um tempo, sua pele fica pastosa, seu corpo fica fraco, e sua mente começa a bater-se contra as paredes em uma vã tentativa de escapar. Ela era Psy. Ela não poderia sobreviver sendo permanentemente cortada da Net. O biofeedback por si só não era suficiente. Ela tinha que ser parte do tecido de uma rede neural. Isolamento psíquico... Isso a levaria a loucura, aumentando de forma lenta. Seus dedos levantaram para o seu nariz. Dev não tinha visto. Ela tinha escondido. Mas ali, em Sunshine, seu nariz tinha sangrado novamente. Só um pouco. Mas mais do que no avião. Tinha sido fácil de ignorar o incidente como sendo uma consequência do frio intenso, mas mesmo assim, parte dela tinha começado a se perguntar. E agora, esta noite, com o seu crânio ameaçando implodir de agonia com uma súbita e forte dor de cabeça, ela aceitou a verdade, seu cérebro já estava começando a perder a batalha. Sua mente havia começado a desacelerar, constantemente batendo contra as paredes de sua prisão.


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Mesmo que de alguma forma ela conseguisse agarrar a sua sanidade, Ming tinha assegurado o seu fim. Ela disse a Dev que estava se lembrando mais e mais. Ela não tinha dito a ele que ela se lembrou da última sessão.

As garras afundadas em sua mente, profundas, tão profundas que ela sabia que nunca as tirariam. — Isso dói, — ela disse sem emoção. Não foi uma reclamação. Ele ordenou que ela dissesse a ele suas reações. Ela não entendia por que, quando ele poderia simplesmente ler sua mente, mas ela não ia se rebelar sem razão. Isso trazia uma dor tão excruciante, mais um episódio poderia tirar os fios frágeis finais de seu próprio eu. — Ótimo. — Uma "incisão" que ela ouviu com sua orelha psíquica. — Está feito. Ela esperou. — Abra o olho psíquico. Demorou quase um minuto, ela tinha sido forçada a manter-se contida por tanto tempo. Tudo o que ela viu foi escuridão. Então, enquanto seu olho se ajustava, ela começou a decifrar a teia de aranha ligada a todas as partes de sua mente. Esses fios finos alimentados de volta para mais grossas, escuras raízes obscenamente irregulares. Gelada, ela se moveu em torno dessas garras... e bateu em um muro preto impenetrável. Pânico agarrou sua garganta, mas ela não fez nenhum som. Em vez disso, se acolchoou ao redor das paredes, até que ela estava de volta ao seu ponto de partida. — Eu estou presa dentro da minha mente. — Foi o pior tipo de pesadelo. Mesmo os reabilitados, os Psy que tinham tido suas mentes destruídas por uma limpeza cerebral psíquica, tinham acesso à Net. Ming poderia muito bem tê-la enterrada viva. — Nós não queremos que o seu aberrante estado mental, afete a Net. — Uma pequena pausa quando ele tomou um assento. — Seus escudos pessoais estão sob seu controle - seria inútil ao contrário. Telepatia parece ser apenas a sua capacidade ofensiva. Então, ela pensou, ignorando deliberadamente suas palavras menosprezadas, ela ainda poderia fazer isso pelo menos. Mas não era o mesmo - ela nunca esteve tão sozinha, sua mente retirada cirurgicamente do rebanho. — Por que dói? — Um incentivo para completar sua missão dentro de um determinado período de tempo. Quanto mais tempo levar, menos chances você terá de


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realmente obter qualquer tipo de informação útil antes dos Esquecidos perceberem o que você é. — Incentivo? — Se você completar a sua tarefa principal e voltar a mim pela data impressa em sua mente, eu vou pensar em remover os controles que são efetivamente partes famintas de seu cérebro em morte celular. — Essas peças não se regeneram, não importa o que. Isso não é incentivo. — Pelo contrário - todas as peças que falharem antes do prazo não são essenciais. Após esse ponto, suas habilidades motoras e capacidade de raciocinar se vão, seguidos rapidamente pelos controles involuntários. — Como a respiração? — O que mais? Ela chupou o ar, saboreando algo que ia estar perdido para ela em breve. — Se eu voltar, se eu completar a tarefa principal, você me permite acessar a Net de novo? — Eu poderia até mesmo decidir manter você como um dos meus agentes. — Olhos negros de carvão com as partículas mais raras de branco olharam para ela. — Você seria um assassino tão eficaz - afinal, você não existe.

Katya espalhou seus dedos sobre o pulso firme dos batimentos cardíacos de Dev enquanto a sua dor de cabeça se dissipava, deixando apenas um hematoma maçante. Mais dor viria em breve, mas isso não importava. Ela nunca poderia completar a tarefa primária. Não conscientemente. Mas ela sabia muito bem que Ming não teria deixado isso ao acaso. Como ela poderia se proteger contra uma ameaça que não podia ver, que não podia sequer imaginar? Se ela fosse verdadeiramente altruísta, ela cortaria sua própria garganta. Os olhos de Dev se abriram, assustando-a com um pequeno suspiro. — Dev? — O que você estava pensando? — Um dourado brilhava nas profundezas de um rico marrom, que agora significava tudo para ela. — Um pesadelo, — ela disse, e não era uma mentira. — Isso é tudo. Ele a puxou até que ela estava quase sob ele. — Eu tenho você. Durma. Seu coração bateu em reação, ela colocou a mão em seu ombro, deixando-o que ele a guardasse perto, e tentou encontrar o sono. Os


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pensamentos que de alguma forma o despertou, ela os empurrou para o fundo da sua mente. Suicídio, ela percebeu, tardiamente, destruiria Dev. Ele culparia a si mesmo. Isso era simplesmente o homem que ele era – protetor até seu núcleo. Ela teria que encontrar outra maneira de salvá-lo dessa arma carregada que era sua mente. Porque matar Devraj Santos simplesmente não estava nos planos.


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Judd Lauren entrou na igreja que o padre Xavier Perez chamava de casa e sentou-se no último banco, ao lado do guerrilheiro que virou homem de Deus. Após um momento de silêncio, o outro homem enviou-lhe um olhar lento. — Sem perguntas hoje, meu amigo? — Eu pensei que eu poderia lhe dar uma pausa. — E ainda vejo uma pergunta em seus olhos. — O Psy ganhou, — Judd disse calmamente. — Em seu canto do mundo, o Psy ganhou. Eles se conheceram em um bar em uma cidade sem nome no Paraguai. Judd estava lá para assegurar a ligação com um contato que nunca apareceu. Xavier estava sentado no banco do bar ao lado dele e, com a língua solta por tequila, tinha começado a falar. Voltou antes que ele se tornasse um bêbado nada bom, o padre havia dito, ele tinha sido um homem com necessidades simples, mas um que acreditava na justiça. E achava nada justo a forma como os Psys efetivamente excluíndo os seres humanos em sua região a partir de qualquer tipo de comércio com os setores vizinhos. Primeiro, isso tinha sido um protesto político. Mas as coisas tinham rapidamente escalado... Até que os Psys haviam esmagado a rebelião humana tão profundamente que nem mesmo um eco permaneceu. Xavier deu um aceno lento, sua pele ébano reluzente sob as luzes suaves da igreja. — Sim. — E você ainda acredita em Deus. Xavier levou vários minutos para responder. — Havia uma menina na minha aldeia, — ele disse, seu tom uma carícia. — Seu nome era Nina. Ela era... uma luz brilhante. Antes, Judd não teria entendido. Agora ele tinha Brenna, agora ele sabia o que poderia fazer com ele se a perdesse. — Será que ela morreu na luta contra os Psys? — Os assassinos tinham sussurrado para a aldeia nas profundezas da noite, a morte era a única coisa em sua agenda. — Nós pensamos que eles poderiam vir, — Xavier disse a ele. — Nunca imaginamos que seria tão brutal como foram, mas nós tiramos os nossos vulneráveis para fora. Judd esperou, sabendo que a história não acabou.


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— Nina não iria. Ela era uma enfermeira, ela sabia que seria necessária. Ela, como todos nós, pensou que eles seriam um pouco duros conosco, deixar-nos lamber as nossas feridas. — Isso deve ter colocado-o em um inferno de um estado de espírito. Os lábios de Xavier se curvaram. — Eu ameacei amarrá-la e jogá-la na parte de trás de um burro se era isso que fosse necessário. — Ela ficou. — É claro. Nina era puro aço debaixo daquela doce superfície, eu percebi isso quando éramos seis. — O sorriso sumiu. — Então, os Psys vieram, e eu vi homem após homem caindo, o sangue escorrendo de suas orelhas, nariz, olhos. Uma enorme explosão de poder psíquico, Judd sabia, poderia fazer isso. — Se tivesse uma equipe completa, poderia ter feito toda a aldeia de uma só vez. — Sim. Mas acho que a nossa pequena rebelião só mereceu dois ou três homens. Os que vieram eram poderosos, 10 homens morreram nos primeiros três minutos. — Palavras suaves, as mãos de Xavier descansavam planas sobre os joelhos. — Eu consegui encontrar Nina através da selva... e então eu disse-lhe para saltar no rio. Judd tinha visto aquele rio, visto os restos em ruínas do que havia sido uma aldeia próspera. — Era a única maneira de sair. — Foi uma queda de quatro andares - e Nina nunca foi a mais forte dos nadadores. — As mãos de Xavier se fecharam, esmagando o tecido de sua calça branca, parte da roupa simples de um sacerdote da Segunda Reforma3. — Mas eu prometi-lhe que Deus iria cuidar dela, e então eu a beijei e dei adeus. Quando ela pulou, eu orei a Deus para mantê-la segura, para olhar por ela. Judd sabia sem perguntar que Nina nunca tinha sido encontrada. — Por que você não saltou com ela? — Você é um soldado, você não teria deixado qualquer um. — Xavier respirou fundo. — Acontece que a minha cabeça é mais forte do que qualquer pessoa sabia. A explosão Psy bateu-me, mas eu recuperei a consciência horas mais tarde. — Um escudo natural, — Judd disse. — Puro acaso que você o tinha, e fosse forte o suficiente para desviar o golpe. — Era como, ele pensou, se a equipe Psy estivesse usando o mínimo de energia possível, porque nem mesmo um escudo natural pode proteger contra um completo golpe telepático. — Você deveria estar morto. — Os assassinos, obviamente, não se preocuparam em verificar para ter certeza de que eu estava... mas eu acho que eu estava morto pelos seis

3

Segundo Reforma catolicista.


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meses que passei bêbado. — Ele abriu as mãos novamente. — Você está calmo, meu amigo. Por trás deles, o Espírito finalmente falou. — Estou esperando para ouvir a resposta à pergunta de Judd. Judd tinha ouvido o outro homem entrar, ouviu-o trancar a porta, mas não se virou. Era parte de seu código não falado, um que mantinha fé no rebelde Psy que era tanto implacável e em seu próprio jeito totalmente leal. — A resposta, — disse Judd, — é que, enquanto Xavier acredita em Deus, ele pode acreditar que Nina vive, que ela sobreviveu. — Essa lógica é inerentemente defeituoso, — o Fantasma apontou, mas havia algo em sua voz que Judd não conseguia pegar. Xavier balançou a cabeça. — Não há lógica nisso, meu amigo. Tem tudo a ver com o coração e nada a ver com a cabeça. O Fantasmao não disse nada. Judd não esperava que ele fizesse. Um homem não sobrevivia ao jogo de alto risco que o outro rebelde estava jogando por ser nada menos do que puro gelo. — Então, — disse Judd, — por que você quis um encontro? O Fantasma passou um cristal de dados sobre o ombro de Judd. — Houve algumas mudanças no elenco Arrow. Pegando o cristal, Judd deslizou em um bolso. — Mortes? — Sete homens estão sendo mantido em uma instalação no fundo das Dinarides, uma cadeia de montanhas remotas ao longo do Adriático4. Há uma possibilidade de que todos eles foram retirados do Jax. Judd levou vários minutos para pensar nas implicações de tal mudança radical. — Ou seja, como resultado de uma reação médica... — ...Ou os Arrows decidiram que Ming não é mais o líder que eles querem seguir, — o Espírito concluiu. — Seria tão fácil? — Xavier perguntou. — O M-Psy não está monitorando suas reações? — O médico encarregado de monitorar as reações do Jax é sempre outro Arrow, — Judd disse calmamente. — Se esse Arrow não é mais leal a Ming... — O que eles vão fazer se isso é o segundo caso? — O Fantasma perguntou. — Se a intenção é tomar a liderança de Ming? — Eu não vou trair meus companheiros Arrows. — Cada Arrow tinha sido moldado por sua habilidade, todos eles letais, todos eles destruindo suas chances de uma vida normal. O fato de que Judd estava agora do outro lado da guerra não fez nada para romper esse vínculo. — A PsyNet não pode lidar com Arrows desonestos, — o Fantasma argumentou. — Eles poderiam desestabilizar toda a Nat.

4

O Mar Adriático, é um corpo de água que separa a península dos Apeninos da Itália a partir da península balcânica e os montes Apeninos, desde os Alpes Dináricos e faixas adjacentes.


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— Não, — Judd disse. — A primeira tarefa de um Arrow é manter o silêncio. Eles não fariam nada para minar a estabilidade da rede. O Fantasma não disse mais nada. O deles era uma aliança de iguais, e os rebeldes sabiam que Judd não se curvava sobre isso, como o Fantasma não iria quando se tratava de proteger a rede. Foi Xavier, que falou em seguida. — E você, meu amigo, qual é a sua primeira lealdade? Essa era uma pergunta que o Fantasma nunca tinha respondido. Mas não era preciso, Judd pensou, a simples necessidade de colocar a net em melhores mãos. Algo muito mais pessoal dirigia o rebelde. Agora, o Fantasma levantou-se. — Eu vou responder a essa pergunta quando eu tiver concluído a tarefa exigida por essa lealdade. Até então, Judd pensou, eles continuariam a lutar esta guerra, sem saber se, quando o impulso vier empurrando, seria a lógica do fantasma ou sua crueldade que iria prevalecer.


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Dev teve o jato levando-os para uma pista de pouso particular perto de sua casa, em Vermont. Tendo tido feito a longa viagem da isolada cama e cafés da manhã para a pista onde o jato estava esperando, eles chegaram ao final da tarde. Jack tinha chamado mais cedo para adiar a reunião até o dia seguinte, assim Dev tinha algumas horas, e ele precisava desse tempo para pensar, planejar. Não só sobre o que ele diria a seu primo, mas também sobre como acabar com o terrorismo de Ming com Katya. Suas mãos fecharam tão apertadas, seus ossos doíam. — Pare com isso. — Katya colocou a mão sobre a dele. — Não deixe ele te destruir. — Sua voz era rouca, ela estava tentando convencê-lo de sua decisão desde antes do amanhecer. — É para eu deixar ele te destruir em vez disso? — Ele fechou os dedos em torno dela. — Dev. Ele não disse nada, e ela finalmente ficou quieta. O resto da viagem passou em um silêncio nervoso, mas ele não cometeu o erro de pensar que ela tinha desistido. — Eu pensei que você precisava voltar à Nova York, — ela disse, enquanto caminhavam para sua casa. Ela franziu o cenho. — Dev, a porta estava desrtancada? — Não. Sua preocupação evaporou enquanto ela percebeu que ele provavelmente tinha algum tipo de controle remoto no carro. — Nova York? Avançando para dentro, para jogar suas mochilas em seu quarto, ele chamou por cima do ombro, — Eu preciso de algum tempo. Enquanto ela o observava descer as escadas, ela encontrou um fio de riso dentro dela. — Então, nós estaremos dormindo em quartos separados esta noite? Encostado à parede, ele curvou um dedo. — Venha aqui e eu vou te dizer. — Você acha que eu nasci ontem? — Cruzando os braços, ela balançou a cabeça. — Eu vou ficar aqui, Sr. Santos.


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Ele se endireitou, a simples sugestão de um sorriso curvando seus lábios. — Então eu acho que eu vou ter que ir até você. Uma necessidade quase desesperada a pegou enquanto ele andou. Seu tempo estava se esgotando. Ela não tinha um sangramento no nariz hoje, mas uma dor de cabeça bateu na parte de trás de seu crânio com força implacável. Bang. Bang. Bang. Bang. Isso a fez querer se enrolar em uma pequena bola e gemer. Mas ela não ia perder tempo fazendo isso, não quando ela tinha tão pouco tempo. O sorriso de Dev se tornou impiedoso enquanto ele ficou na frente dela. — Quão ruim é? — Seus dedos pousaram suavemente sobre as têmporas. Ela se derreteu em seu toque. — Eu pensei que você não era um telepata forte. — Eu estava esperando que você me dissesse, — ele disse. — Ou você vai fingir que estava bem? Ela reconheceu que estava sendo repreendida, mesmo que estava sendo feito com aquela voz calma e razoável. — Não há muito que possamos fazer. Eu tenho que lidar com isso usando os habituais exercícios mentais. — Isso não têm funcionado nos últimos dez minutos, eles têm? Percebendo que sua mente era muito aguda para perder algo, ela desistiu, — Você tem uma alternativa? — Possivelmente, — ele disse, para sua surpresa. — Meus antepassados eram muito rebeldes, no caso de você não ter adivinhado. — Sério? Aquilo tirou um pequeno sorriso dela. — Falar a respeito agrada você. — Um beijo tão terno, lágrimas queimavam atas de seus olhos. — Algum tempo depois eles desistiram da Net, um dos M-Psy começou a questionar o conhecimento aceito de que os Psys reagia mal a todos os narcóticos e analgésicos. — Seus dedos pousaram no fundo de sua cabeça, pressionando levemente. Foi tão bom, ela não conseguia parar de murmurar de alívio. — Será que o M-Psy encontrou uma solução? — ela disse, depois de quase um minuto. — Não um medicamento. — Ele balançou a cabeça. — Vocês, Puro sangues são assustadoramente fracos. — Vocês meio sangue não podem se equipara a um telepata. Um beliscar em seu lábio inferior. — Mas, ele descobriu uma maneira de aliviar a dor através do uso de pontos de pressão durante a massagem. — Será que os seus antepassados passaram o conhecimento para os da PsyNet? — O que você acha?


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Suspirando, ela colocou a cabeça contra o peito dele, percebendo que a dor já estava começando a desaparecer. — O Conselho não queria qualquer cura que se aproximava ao contato, quando o silêncio era tão jovem, tão facilmente quebrável. Seus dedos desceram do pescoço, os ombros, em seguida, de volta. — Sim. E, mais tarde, o toque teria ido contra o condicionamento. — Parece certo. — Seus braços estavam em volta de sua cintura, o calor dele um carinho familiar. Vou sentir sua falta assim. Dev confiou o suficiente para deixá-la percorrer a casa e as terras agora. Ele nunca esperaria que ela fugisse. Mas ela tinha que fazer. Porque se ela não fizesse, ela estaria apavorada de se perder no controle de Ming, e tentar derramar sangue de Dev. E uma vez que ela se fosse, Dev teria que abandonar sua ideia de ir atrás de Ming - nenhum plano funcionaria sem sua participação ativa. Isso era certo. — Venha para a cama, — ele murmurou contra seu ouvido. — Estou em um bom humor eu vou lhe dar uma massagem de corpo inteiro. — Tão generoso, — ela brincou, dor de cabeça menos que um pulsar aborrecido agora. — Isso não tem nada a ver com obter suas mãos no meu corpo nu? Beijos roçaram ao longo da orelha. — É claro que sim, eu não faço massagem de graça. Ela o deixou puxá-la para o quarto, ele fechou a porta, retirou suas jaquetas. Só mais uma vez, ela disse a si mesma. Depois... depois que ele estivesse dormindo, ela fugiria. Ele não tinha ligado o alarme da casa, o que teria sido o maior obstáculo. Levaria uma hora para chegar à estrada principal a pé, talvez mais, mas tinha tempo. Todo o tempo do mundo. Porque ela não tinha um destino... Além de ficar longe de Dev. Mas neste exato momento, ela queria simplesmente respirar o cheiro dele, até que ficasse impresso em suas próprias células. Quando ele a apertou contra a porta, com as mãos de cada lado dela, ela colocou os braços em volta do pescoço e sorriu agradecida. — Eu recebo um beijo antes da minha massagem? — Já que você pediu tão agradável. — Seus lábios estavam sorrindo quando eles tocaram os dela, e ela nunca tinha imaginado até o momento o que era beijar um homem que poderia rir. Eles sorriram através do beijo inteiro, antes de escorregar a língua sobre os lábios. Ela moveu sua própria língua brincando sobre a sua, flertando, mas nunca entregando. Ele beliscou-a em uma punição sensual antes de tomar sua boca com um domínio que era tão natural para ele quanto respirar. E por tudo isso, ele a manteve presa à porta, seu corpo pesado, uma fonte deliciosa de pressão.


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Alisando as mãos sobre seus ombros, ela deslizou seus dedos sob as mangas de sua camiseta, glória na força essencialmente masculina dele. — Tire a sua camiseta. — Eu estou começando a pensar que a dor de cabeça era um truque para que você pudesse ter seu caminho perverso comigo. Um Dev provocador, Katya pensou, era um Dev devastadoramente sexy. — Você está quente, eu pensei que isso iria refrescá-la. Ela ganou outro beijo cheio de risadas. Ele se afastou apenas o suficiente para retirar sua camiseta e jogá-la no chão. Ela não podia evitar, exceto abrir os dedos sobre a superfície áspera de seda de seu peito quando ele voltou para reivindicar sua boca, sua própria mão fechando possessivamente sobre seu quadril. Um aperto único e ela tremeu. Sentindo-o sorrir em sua resposta, ela arranhou levemente as unhas nas costas. — Mais uma vez, — ordenou, com a voz rouca. Quando ela o fez, ela teve o prazer de sentir seu grande corpo arrepiando antes que ele levantasse uma mão para a parte de trás do seu pescoço, massageando os músculos tensos em uma firme sequência suave que a fez gemer enquanto o último vestígio de dor foi substituído por prazer, seu corpo amolecendo ainda mais para ele. — Bom? — Um murmúrio íntimo quando ela se aninhou contra ele. — Mmm. Ele continuou a usar os dedos fortes nela, mergulhando sua cabeça para beijar a pele sensível de seu pescoço. Acariciando as mãos para baixo em seus lados, ela desabotoou o primeiro botão da calça jeans. Ele acalmou-a, mas não impediu. E quando ela abaixou o zíper, ele respirou fundo. Sentindose corajosa e livre e sem pudor feminino, ela deslizou sua mão abaixo da cintura de sua cueca. — Katya. Mordendo suavemente ao longo do tendão esticado no pescoço, ela acariciou-o, lento e fácil, sabendo que iria deixá-lo louco da melhor maneira. — Como é que eu posso ser o que dá a massagem? Uma risada tensa contra sua orelha, uma maldição. — Forte. Ela fez o oposto. — Você vai ficar em apuros se você continuar fazendo isso. Pressionando um beijo de boca aberta ao pescoço, ela voltou a acariciar preguiçosamente. — Eu não tenho medo de um pouco de dificuldade. Ele tirou a mão dela com tal velocidade prendendo seus pulsos em ambos os lados de sua cabeça, que ela mal teve tempo para respirar antes de beijá-la... antes de tomá-la. Ela o deixou. Porque, muito simplesmente, não era algo a ser dito para um homem que sabia o que queria e não escondia sobre exigir isso.


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A sensação de suas mãos fortes em seus pulsos simplesmente reforçou seu prazer. Ela tentou se afastar, mas só porque ampliou as sensações. Dev sabia. Ele usou seu corpo para segurá-la no lugar, mesmo quando seus lábios insistiram que voltasse para cada beijo, cada pequena mordida, cada respiração. Ela deu-lhe tudo o que tinha. E ainda pediu mais. Derretida, ela correu um pé sobre sua panturrilha, puxando-o para mais perto. Sua recompensa foi a liberação de suas mãos, enquanto sua própria deslizou por suas costas, puxando-a para cima. Instinto a teve colocando suas pernas em volta dele em um abraço chocantemente íntimo, a parte mais quente sua pressionada na parte mais dura dele. Mas, mesmo assim, ele não estava satisfeito. Ele mudou de posição até que ela estava exatamente onde ele queria. A pressão sobre o clitóris dela a fez suspirar, pegar em seus ombros. — Eu não posso... — Sim, você pode. — Outro beijo profundo, sua língua dançando, enredando-se, amando. — Só um pouco mais. — Ele moveu seu corpo contra o dela, não suavemente, não hesitante, não, desta vez, Dev estava determinado a empurrá-la mais. E empurrá-la foi o que ele fez. Em uma banheira de hidromassagem erótica a partir do qual não havia escapatória. Quando finalmente levantou os cílios, ela encontrou-se levemente caindo sobre a cama. Olhando para cima, ela viu quando Dev tirou seus sapatos, tirando os seus próprios enquanto ele rodava na cama do outro lado. — Você, — ele disse, seus olhos tomando um caminho lento para baixo em seu corpo, — está seriamente agasalhada para a ocasião. — Estou muito satisfeita de me trocar. — Estou muito feliz em ajudar. Sentindo outro sorriso em seu rosto, ela o deixou desabotoar sua camisa. Seus dedos dançaram sobre seus seios quando ele empurrou o tecido para cada lado de seu corpo, mal a descobrindo. . . mas fazendo-a sentir muito mais nua do que se ela tivesse sido despojada. O paradoxo intrigou, mas nem de longe tanto quanto o calor dourado nos olhos de Dev. Seu corpo começou a serpentear de novo, ela mordeu o lábio inferior, enquanto ele passou a desfazer seu jeans. Puxando tanto o jeans e o algodão macio de sua calcinha para baixo em dois puxões rápidos, ele jogou a roupa para o lado e voltou para colocá-la sentada entre suas coxas. Suas bochechas se ruborizaram quando ele passou as mãos para baixo de cada coxa, com os olhos fechados, ela engoliu. — Eu não estou completamente nua, e ainda assim, eu me sinto tão exposta. — Você está linda, — ele murmurou, seu olhar sobre a ascensão e queda instável de seus seios. Alcançando-a, ele puxou o sutiã até que deslizou para lado para revelar um mamilo tenso e implorando por seu toque. — Lindo,


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— ele disse, novamente, mergulhando a cabeça para colocar o cerne duro em sua boca. Ela gritou, a sucção atingindo diretamente o calor líquido entre as coxas. As juntas de Dev roçaram sobre seus cachos úmidos naquele momento. — Oh. — Tão suave. Arranhou seu mamilo com os dentes, Dev levantou para olhar para ela. Ela sentiu uma criatura absoluta dos sentidos naquele momento, corada e sem inibições. Alcançando-o, ela foi para acariciá-lo, mas ele parou suas mãos. — É a minha vez, lembra? — E o brilho perverso em seus olhos era o único aviso que ela teve nates dele começar a beijar o seu caminho para baixo. Ela tentou pegar em seus ombros, mas ele simplesmente riu e continuou. Seu beijo era quente, maldoso, perverso. Era tudo o que podia fazer para não chorar com o prazer disso. Agarrando os lençóis com as mãos desesperadas, ela não fez nenhum protesto quando ele abriu suas coxas ainda mais e se estabeleceu para saboreá-la como se fosse um banquete exótico, e ele um conhecedor. — Shh. — Mãos fortes acariciando-a enquanto ele dava-lhe beijos sobre a pele delicada de suas coxas. Mas, quando ela quase recuperou o fôlego, ele a beijou com a mesma intimidade devastadora pela segunda vez, a ternura de seu toque fazendo nada para esconder a possessividade. Parte dela estava convencida de que ele sabia que ela decidiu deixá-lo, mas o pensamento era menos do que um lampejo no fundo de sua mente. Agora, as endorfinas inundaram o corpo dela não deixando espaço para qualquer coisa, apenas o prazer. Lento, sedutor, escaldante. Um único lamber e foi demais. Ela torceu para longe, desesperada para escapar. . . ainda querendo mais ao mesmo tempo. — Dev. Segurando seus quadris no lugar, ele apertou os lábios para seu umbigo. — Confie em mim. Ela confiava nele mais do que ela já tinha confiado em qualquer outro ser. — Eu preciso de você. — Foi uma confissão perigosa, mas ela não tinha barreiras sobrando. Suas mãos apertaram sobre ela, e então ele estava se movendo sobre o corpo dela em uma onda de fundição de beijos, toque e calor puro. Ela encontrou seus lábios tomando-os novamente, mesmo quando ele alcançou entre eles para libertar-se, empurrando a sua roupa para baixo apenas o suficiente. Ainda era muito lento, ela estava esfregando-se contra ele até então, com fome, tão desesperadamente com fome. — Katya, bebê, pare. — Foi um gemido. — Eu não posso esperar, se você fizer isso.


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Ela levantou seus lábios nos dele novamente, infundindo seu beijo com toda a paixão por ela. Estremecendo, Dev agarrou-a com força em um quadril. — Espero que você esteja pronta, querida. — Sim, sim! — Chorando enquanto seu corpo esticou em torno do impulso duro de sua entrada, ela colocou as duas pernas ao redor de sua cintura. E então ela o deixou levar. Ele a levou em um passeio que eclipsou tudo o que já tinha feito antes. Selvagem e indomável, e vividamente físico, eles dançaram. A última coisa que Katya se lembrava era ver os olhos de Dev brilhar dourado.


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— Chuveiro, — Dev disse levando-a para o banheiro. — Mais tarde. Ele deu um beijo em seu ombro. — Nós dois estamos suado e eu preciso fazer algum trabalho. Segurando-se a ele, ela o deixou ligar o chuveiro. O spray quente lavou o suor de seu amor, e isso era tudo o que eles eram capazes. Arrastando-a para fora do banheiro, Dev esfregou-a antes de fazer o mesmo para si mesmo, enquanto ela tentava se manter de pé. Apenas quando as pernas ameaçaram sair de debaixo dela, ele deixou cair à toalha e agarrou-a. — Nós fazemos isso de novo, — Dev murmurou, — e eu não poderia viver para contar a historia. Acariciando seu rosto sorrindo pelo calor úmido de seu pescoço, ela o deixou levá-la para a cama, deitou-a sobre os lençóis. — Estou com muito sono. — Sim, pode ser uma boa ideia tirar uma hora e fechar os olhos, — ele disse com um bocejo. — Nós não tivemos muito mais do que três horas na noite passada. Quando ele puxou o cobertor sobre eles, suas pestanas agitaram-se. Corpo saciado, ela tentou se lembrar o que tinha que fazer. Sair. Sim, ela tinha que fazer isso. Mas então Dev colocou um braço em volta da cintura e puxou-a, e ela rendeu-se a parte egoísta dela que queria outro momento, mais um minuto, mais uma hora com ele. Vou uma vez que ele adormecer, ela prometeu a si mesma, sem nunca perceber que estava deslizando para o mesmo vazio sem sonhos.


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Dev sentiu Katya sair da cama, seus sentidos vindo semi-acordados, enquanto esperava que ela voltasse do banheiro. Levou muito tempo para perceber que ele não podia ouvir a torneira aberta, nenhum som. — Katya? Ele abriu os olhos a tempo de vê-la correr para o quarto, a luz do sol lançando-se em uma lâmina mortal em sua mão. Tendo sua atenção integral quando ela levantou a lâmina assassina acima de sua cabeça, ele foi se mover, mas algo o deteve. O ângulo da faca, isso estava errado. — Katya! O sangue jorrou quando ela enfiou a faca em sua própria coxa, caindo no chão com um grito de dor despedaçado. Ele estava ajoelhado ao lado dela quase antes de se lembrar de se mover, seu coração martelando contra suas costelas, seu corpo inteiro tenso de adrenalina que não tinha para onde ir. — Droga, bebê. — Suas palavras saíram duras, com raiva, quando ele mesmo acendeu a luz e focou na ferida, tentando não deixar o som de sua respiração aflita distraí-lo de fazer o que tinha que fazer para ajudá-la. Mas ele não podia parar o fluxo de palavras iradas. — O que diabos você acha que estava fazendo? Você poderia ter atingido sua artéria femoral. — Ele estava fodidamente contente de ver que ela não tinha. A faca, no entanto, tinha ido profundo. — Se você queria morrer, você deveria ter me contado. Eu teria feito isso para você. Ele agarrou fortemente sua perna, segurando-a no lugar quando ele estendeu a mão para um bureau perto, arrancando uma velha camisa limpa. — Deixe-o, — ele estalou quando ela foi retirar a lâmina. Suas lágrimas silenciosas ralado cada instinto de proteção. Mas ele estava rasgando a camisa e usando o material para colocar pressão sobre a ferida, trabalhando em volta da faca embutida nela, mesmo enquanto ela chorava. — Ele vai curar rapidamente com um bom atendimento, embora eu tenha em mente costurálo eu mesmo. Uma estupidez.... — Dev. — Dedos no queixo mal barbeado. Olhos com lágrimas encontraram os seus. — Eu estava tentando matá-lo. — Então, por que a faca acabou em sua coxa? — Sob seu toque, sua pele era delicada, tão facilmente ferida. — Fale. Um piscar lento. — Eu não poderia largar a faca. — Ela levantou a mão para a boca, como se tivesse vergonha. Ele segurou seu queixo. — Você me chame da próxima vez. Você grita. Você não se esfaqueia. — Eu não podia... — Você pode, — ele disse, seu tom duro. — Se você pode lutar contra a compulsão suficiente para esfaquear-se, você pode lutar o suficiente para me deixar saber que alguma coisa está errada. — Continuando a manter a pressão sobre sua coxa com uma mão, ele usou a outra para rasgar a mão que ela tinha usando para encobrir uma hemorragia nasal. — Quão ruim?


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— Não é tão ruim. — Ela foi virar a cabeça longe, mas ele forçou-a a encará-lo como ele usou uma tira de tecido para enxugar o sangue. Suas bochechas coloriram. — Eu posso fazer isso. Foi à normalidade absoluta da reação que o convenceu de que ela não estava mentindo sobre as consequências da luta que tinha sido claramente uma sugestão implantada. — Está tudo bem. — Sua voz era ainda uma lixa, e quando ela se encolheu, ele sabia que não era de dor. Colocando para baixo a tira de pano quando se tornou óbvio que o nariz tinha parado de sangrar, ele baixou a cabeça para pressionar um beijo no topo de seu joelho. Uma respiração profunda... então suaves dedos femininos em seu cabelo, acariciando, acalmando. Ele estremeceu, sentiu as mãos apertarem em sua coxa, obrigou-se a afrouxar seu aperto. — Precisamos chegar a um médico. — Você pode fazer isso. — Outra acariciada através de seu cabelo. Ele levantou a cabeça. — Não. A ferida é muito profunda. Eu quero alguém qualificado para olhar para ele. — Eu não posso ter o DNA digitalizado. — Medo brilhava em seus olhos. Inclinando-se para frente, ele agarrou sua nuca e segurou-a no lugar para um beijo que não tinha carinho nele, ele estava tão assustado por ela. — Eu vou cuidar disso. — Mas primeiro ele queria que ela estivesse vestida e quente. — Mantenha a pressão. — Segurando sua mão em sua coxa, ele encontrou sua camiseta, puxou-a sobre a cabeça, em seguida, envolveu-a em um cobertor. Ela tomou uma respiração ofegante e viu quando ele pegou o celular da mesa de cabeceira sem se levantar. Lançando-o aberto, ele codificou um número familiar. — Connor, — ele disse quando o telefone foi atendido na outra extremidade. — Você pode fazer uma corrida para o meu lugar? — Você se machucou? — Alerta instantâneo. Ele podia ouvir o movimento, como se Connor já estivesse agarrando sua maleta. — Não. Mas traga o seu kit completo. Ferida de faca, profundo. — Sangrando? Ele olhou para baixo, abrindo o cobertor. O algodão da camisa não estava encharcado. — Contido, mas houve alguma perda de sangue antes que eu conseguisse parar. — Segurando o telefone entre o ouvido e o ombro, ele usou um par de tiras de tecido para embrulhar os curativos improvisadas no lugar. — Paciente Consciente? Ele olhou nos olhos castanhos que foram para um verde lamacento de dor. — Sim. — Mantenha-o dessa forma. Eu estarei em seu lugar em 10. Desligando sem corrigir a suposição de Connor sobre o gênero de seu paciente, Dev voltou a colocar o celular sobre a mesa e se levantou. — Connor


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vive perto. Ele estará aqui em breve. — quando ele se curvou para pegá-la, ela protestou. Ele a ignorou. — Katya, vou fazer exatamente o que eu quero, e você vai me deixar. Ela se agarrou a seus ombros enquanto ele a levava para a cama e sentou-se com ela em seu colo. — Eu vou? — Sim. — Seus lábios estavam nos dela antes mesmo que ele soubesse que ia beijá-la, com a mão mais uma vez em sua nuca, seus dedos roçaram pela queda suave de seu cabelo. Ele lambeu sua língua através da costura de seus lábios, ganhou entrada, e então ele virou o animal feroz nele solto. Porque, como ela se atreve a se machucar?

Katya apenas percebeu como Dev tomou posse total. Não muito tempo antes, ela pensou que escalou as maiores alturas de emoção com este homem. Ela tinha estado errada. Nunca antes havia sentido tão completamente sobrecarregada. Dev não estava mais segurando nem um pingo do que o fazia o homem poderoso que era. Tremendo da fúria selvagem do beijo, ela agarrou os músculos sólidos de seus ombros e fez exatamente o que ele disse a ela que iria, ela deixou-o fazer exatamente o que queria. Porque este homem era tão selvagem quanto qualquer changeling, tão perigoso, e agora, tão no limite, ela teve um sentimento de que qualquer resistência seria lida como o tipo errado de desafio. Não que ela quisesse resistir. Seu beijo, estava derretendo-a de dentro para fora, o gelo da compulsão sendo nenhum tipo de barreira. Ela moveu-se ainda mais, querendo retirar a camiseta e pressionar seu corpo ao dele, mergulhar na sua essência. Nada e ninguém iria parar Dev de tomar o que ele queria. E agora, ele a queria. Mas ele quebrou o beijo muito cedo. — Quão ruim dói? Ela levou alguns segundos para perceber o que ele estava pedindo a ela. — Muito. — Choque. — Lábios comprimidos, ele levantou uma mão para empurrar o cabelo do rosto. — Você está com frio? — Não quando você me beija. Seus olhos brilharam com um fogo profundamente sexual. — Oh, eu pretendo te beijar. Depois que Connor se for.


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Dev observou Connor limpar ferida de Katya. Quando o homem de dedos compridos tocou sua pele, Dev teve de cerrar os dentes para eveitar-se de rasgar fora o maldito braço de Connor de seu soquete. A reação não fez nenhum sentido racional, não só o homem era um silencioso amigo, ele era também um médico altamente qualificado. Embora escolheu viver em Vermont, ele era uma parte crítica da equipe de diagnóstico da Shine. Foi Connor que havia trabalhado uma forma de identificar as pessoas em risco do Processo de degeneração de Talin. Levando o nome do primeiro caso identificado, TPD surgiu por causa de uma falta de biofeedback, as vítimas não estavam cientes de que precisavam, porque sua necessidade era muito pequena. Dev sabia de tudo isso. Ele também sabia que não era racional. — Quão ruim é? — Ele estalou quando Connor terminou e virou-se para pegar algo de seu kit. O outro homem arqueou uma sobrancelha com o tom de Dev, mas a sua própria resposta era civil. — Nada sério. O selante irá reparar a maior parte do dano, mas eu vou ter que colocar pontos primeiro. — Ele pegou o grampeador de pontos. — Essas coisas doem como um filho da puta, — Dev disse, caminhando até colocar a mão no cabelo de Katya. — Coloque-se inconsciente, — ele disse a ela, que já explicou sua composição genética para Connor. Ela balançou a cabeça, e o ângulo teimoso de sua mandíbula deixou claro que ela não estaria mudando de ideia. Em vez de forçar a questão, ele acenou para Connor. — Você tem alguma coisa que vai anestesiar a área? — Claro, — o outro homem disse, — Mas psys puro sangue reagem mal aos anestésicos. Mesmo um pouco pode mexer com ela. — Basta fazer os pontos, — Katya disse. — Vai ser rápido, uma dor rápida, e então vai acabar. Connor deu-lhe um longo olhar. — A ferida irá incomodar durante a noite, enquanto o vedante funcionar. Depois disso, ele não deve ser pior do que uma ferida profunda. Katya deu um pequeno aceno de cabeça e concordou. Em vez de deixála tomar sua mão, Dev sentou-se na cama para que pudesse olhar em seus olhos, e puxou seu rosto para a curva de seu ombro. — Faça isso, — Connor ordenou. Enquanto o outro homem foi para o trabalho, Katya estremeceu e abraçou Dev em um abraço apertado de ferro. Mas ela não fez um som, e


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alguns segundos depois, Connor tinha concluído. Dev sentiu seu corpo ficar mole quando o médico colocou uma bandagem fina na pele em torno de sua coxa. — Os grampos vão dissolver como as bandagens da pele, — Connor disse. — A bandagem é à prova d'água para que possa tomar banho com ele. Não há necessidade de mudá-lo por três dias, a menos que se queixe de calor ou dor na área, me chame, se isso acontecer. — Eu tenho algumas dessas faixas, — Dev disse quando Connor ergueu um bloco. Balançando a cabeça, o outro homem colocou-os de volta em seu kit. — Uma boa noite de sono e ela vai ficar bem. — Ele se levantou. Acariciando uma mão nas costas da cabeça de Katya, Dev a colocou sobre o travesseiro e se levantou. — Eu vou estar de volta em um minuto. Ela não disse nada, mas seus olhos o seguiram quando ele saiu do quarto. Levou tudo que tinha para deixá-la ali, mas Connor, obviamente, precisava falar com ele. O outro homem não disse nada até que chegou ao seu carro. — Você vai me dizer que você está fazendo com um puro sangue? — Não. — Poucas pessoas conheciam a verdade, o que era melhor. — Você não a vê. — Vejo quem? — Jogando seu kit médico no banco do passageiro, Connor deslizou sua forma magra dentro do veículo. — Deixe-a descansar. Dev parou no processo de se virar. — Isso não é da sua conta. Connor encontrou seus olhos, as linhas de seu rosto ainda mais austero à luz no início da noite. — Nunca pensei que eu teria que dizer-lhe como cuidar de sua mulher. Dev sentiu os dedos curvados em um punho apertado. — Um monte de pressupostos nessa declaração, Connor. — Só dizendo as coisas como eu vejo. — Ele fechou a porta. Dev estava dentro da casa antes que o outro homem saísse para a estrada. Fechando e trancando a porta, ele caminhou até o quarto. Katya não estava na cama.


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Olhos de Dev pularam para a barra de luz exibida sob a porta do banheiro. Ele empurrou sem bater. — Dev! — Ela puxou uma toalha na frente de seu corpo. Luxuria chutou com força, como se não teve tudo, exceto se matar com ela poucas horas atrás. Cada pedaço da ira, a raiva que sentiu ao vê-la ferida parecia ter transmutado em pura necessidade. Ignorando a fome selvagem para ensinarlhe exatamente o quanto ele achava dela se machucar, ele se aproximou e colocou a toalha mais firmemente em torno de seu corpo úmido. — O que diabos você pensa que está fazendo? — Eu queria lavar o sangue que escorria do meu pé, — ela disse. — Levou apenas um minuto. — Então por que você está tremendo? — Ele virou-a em seus braços, sem esperar por uma resposta. — Se você já tirou os pontos, eu vou refazêlas, e eu não sou tão gentil como Connor. Em vez de encaixar de volta para ele, Katya esfregou o rosto em seu pescoço e disse: — Eu sinto muito. Ele sabia que ela não estava falando sobre o chuveiro. — Não foi culpa sua. — Colocando-a na cama com toda a ternura que tinha nele, ele se deitou ao lado dela. — Eles mexeram com sua cabeça. Cintilantes olhos verdes e dourados se encontraram quando ela balançou a cabeça. — Eu sou uma arma andante. Eu sabia que isso ia acontecer e eu fiquei. Eu deveria ter te deixado ontem! Ele sabia que ela estava certa. Mas ele também sabia que era tarde demais. — Eu disse, você é minha. Eu não deixo ir o que é meu. — Um beijo em sua têmpora, ele levantou-se em seus braços. Ela agarrou seus bíceps. — Não deixe. — Eu preciso limpar o chão. Eu estarei de volta em poucos minutos. Mas a limpeza demorou um pouco mais do que ele esperava, e ela estava dormindo no momento em que voltou para a cama, enrolado em seu lado não lesionado. Deslizando ao seu lado, ele puxou longe a toalha com cuidadosas mãos, ele precisava envolver seu corpo em torno do seu, senti-la segura e aquecida, protegida em seus braços.


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Só então ele permitiu-se aceitar o medo que tomou conta dele quando a tinha visto sangrando no chão. Tremendo, ele deu um beijo em seu ombro, enchendo seus pulmões com o limpo e quente aroma dela. Pela segunda vez em sua vida, ele estava assistindo a uma mulher que era tudo para ele, escapar de seus dedos, e não podia fazer nada para impedir. A agonia que rasgou através dele, até que meio que esperava ver seu próprio sangue manchando os lençóis. — Não, — ele disse, e foi uma promessa. Ele gostaria de encontrar uma maneira de obrigar Ming a desfazer ou bloquear permanentemente as compulsões, porque de nenhuma maneira ele iria assistir de novo o grito de Katya porque sua mente tinha sido violada, seus membros se transformando em uma de marionete. E se Ming se recusasse a cooperar... — Eu vou matar o desgraçado. — Ele tinha que acreditar que uma vez que o Conselheiro estivesse morto, Katya seria capaz de viver uma vida livre do medo. Ela se moveu em seus braços, e ele percebeu que ela tinha acordado. — Isso não vai ajudar, Dev, o escudo se manterá. E, ser presa dentro disso... isso está me matando célula por célula. Ele se recusou a aceitar isso, desistir. — Ele pode parar isso, soltar a pressão? — Ele sentiu o corpo tenso. — Não se atreva a mentir para mim. Outra pausa e ele sabia que ela não iria dar-lhe a verdade. — Não faça isso comigo, bebê. — Ele a abraçou apertado. — Não me faça impotente. — Nunca mais, ele pensou, nunca mais ele seria impotente, enquanto uma mulher que ele amava morria na frente dele. Seu corpo estremeceu. — Como você pode me pedir para levá-lo a morte? — Por mim, Katya. Por favor. — Ele não era um homem acostumado a pedir, mas ele faria qualquer coisa para protegê-la. — Ele pode ser capaz, — ela disse, finalmente, — Ele disse que eu ia fazer o assassino perfeito. Eu teria que estar viva para isso, mas eu não sei o tipo de vida que seria. A angústia de Dev deslocou para uma firme determinação. — Seria vida. Podemos trabalhar o resto mais tarde. — Ele é um cardeal, Dev. Seu poder... Eu não posso descrevê-lo, é interminavelmente vasto. Ele pode transformar a sua mente em pudim com um único pensamento. Dev tinha algumas habilidades, nem todos psíquicas. O diretor da Shine não precisava ser um poderoso psíquico, ele precisava ser cruel o suficiente para cortar a garganta do inimigo, se necessário. — Você me preocupa com isso. — Acariciando a mão sobre seu cabelo, ele prometeu a si mesmo que Ming pagaria por cada segundo de dor, cada ferimento, cada gota de sangue.


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Enquanto Dev fazia seu voto de silêncio, o homem em questão estava andando pelas portas do estabelecimento do Dinarides. — Todos os Arrows confinados aqui, — ele disse, — eles estão sendo monitorados, impedido de usar suas habilidades? O M-Psy ao lado dele assentiu com a cabeça. — Sim. Todos os Arrows estão cooperando no momento. No momento. Ming sabia que ele teria que implementar uma estratégia muito mais definitiva, se e quando essa cooperação parasse. Arrows, mesmo Arrows danificados, não poderiam ser contido indefinidamente. — Onde está Aden? — Com um dos homens, monitorando os efeitos da retirada do Jax. Isso pode algumas vezes causar súbita insuficiência cardíaca. Ming olhou para o M-Psy. Ao contrário de Aden, e como a maioria da equipe médica, Keisha Bale não era um Arrow. — Aden, — ele disse, agora, — ele está mostrando quaisquer sinais de comportamento incomum? — Como você sabe, — Keisha começou, — ele nunca foi colocado em Jax, isso teria o feito incapaz do julgamento necessário para monitorar os efeitos da droga sobre os outros. — O M-Psy pausou enquanto caminhavam através de uma verificação de segurança. — No entanto, — ele disse depois que o computador liberou-os, — Que não deve ser um motivo de preocupação. O perfil psicológico de Aden faz dele altamente improvável de se desviar das regras. Isso foi o que Ming estava contando. Quando um menino, Aden tinha sido treinado não só pelos outros Arrows, mas também por seus pais e os dois membros do Esquadrão da época. Ele foi o solitário Arrow que tinha sido ensinado a se tornar um deles desde o berço. Aqueles que não eram fáceis de quebrar laços. Mesmo se ele tivesse querido, faltava a Aden o conhecimento médico para realmente interferir, ele tinha formação especializada quando teve os efeitos colaterais de Jax, mas fora isso, ele era apenas um médico de campo. Abrindo os canais telepáticos, Ming contactava outro do Esquadrão. Vasic, a situação na Argentina está sob controle? A resposta veio rápida, embora não fosse tão clara como a voz de Ming, as habilidades Tp de Vasic batiam logo abaixo de 6 no Gradiente. Vai demorar um pouco mais do que o previsto. Quanto tempo mais? Pelo menos quatro dias mais. Nós podemos fazê-lo mais rápido, mas você especificou nenhum óbito.


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Siga o plano. Ming não queria matar os seres humanos, não porque os seres humanos não eram descartáveis, mas porque muitas coisas já haviam sido jogadas no palco público. Mesmo que ele tinha cometido esse erro com a destruição do laboratório de Implante, mas ele tinha aprendido desde então. Era hora de o Conselho voltar à velha maneira de fazer as coisas por trás das cenas, onde ninguém poderia detê-los.

O coração de Dev foi ainda preenchido com uma potente mistura de raiva, preocupação, e uma espécie furiosa de posse, quando entrou no encontro com Jack, Connor, Aubry, Tiara, e Eva, a administradora de educação e desenvolvimento, na manhã seguinte. Jack e Tiara sentaram lado a lado, enquanto Aubry e Eva sentaram-se diante deles. Connor, como representante da equipe médica, se posicionou sozinho na outra extremidade. Analisando tudo com um único olhar, Dev olhou para Tiara. — Acampamentos mudaram? — Ele sabia que ela tinha voado de volta da Califórnia especificamente para este encontro, deixando Tag para vigiar Cruz. — Sempre estive nesta um, — ela disse com uma onda lânguida. — Eu estou sã, mas a graça de Deus. . . — Então você acha que devemos encerrar nossas emoções em gelo? — Aubry perguntou, obviamente perplexa. — Porra, Ti, você realmente quer parar de deixar Tag louco? Tiara lançou-lhe um sorriso frio. — O que há entre eu e Tag é entre eu e Tag. — Aubry está certa, — Eva interrompeu, seu sotaque emprestando uma música exótica em suas palavras. Nascida em Porto Rico, ela só esteve em Nova York por dois anos, desde que se mudou para o um escritório de Dev na ilha. — Não haverá nada entre vocês dois se fizermos o que Jack quer e implementar o Silêncio. — Espere. — Jack se inclinou para frente, os braços cruzados sobre a mesa, rosto enrugado com firme determinação. — Você acha que eu quero perder a luz nos olhos do meu filho? Você acha que eu quero ensinar a ele que o amor não é algo tão precioso? Você acha que eu quero quebrar o coração de sua mãe? — Ele balançou a cabeça em negativa violenta. — Mas meu filho já está perdendo essa luz. Ele matou Spot. Um silêncio chocado.


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Dev foi o primeiro a falar. — Aquele velho cão dele? — Ele não podia acreditar. William adorava o vira-lata que seu pai tinha resgatado. — Sim. — Jack baixou a cabeça em suas mãos. — Will chorou tanto quando nós enterrado o cachorro. Eu sabia que ia precisar do corpo, mas eu não poderia fazê-lo, não poderia colocar Spot em um resfriador na frente dele. — Claro que não, — Dev disse, e foi uma reação instintiva. — Mas você voltou, não é? — Ele conhecia seu primo. Jack não tinha se formado no topo da sua classe na escola de medicina sem ter uma coluna cheia de pura areia. — Eu fiz uma autópsia na noite do dia em que eu falei com você, depois que Will estava na cama. — Um olhar sobre Dev. — Achei que poderia ser de alguma utilidade para o meu filho dar prova de que ele não matou seu animal de estimação. Eu pensei que eu iria encontrar que o velho cão tinha tido um ataque cardíaco ou algo assim. Eva moveu a mão por cima da mesa, como se querendo alcançar a Jack. — Ele não fez? Jack balançou a cabeça novamente. — Seu coração foi só... pulverizado. Como se uma pequena bomba explodisse dentro. A coisa louca é, não havia uma marca nele do lado de fora. — Inferno. — Connor falou pela primeira vez. — William estava inflexível de que foi ele? Jack acenou com a cabeça. — Seus olhos nesse dia, eu nunca vi tanto terror. Antes. . . antes nós pensamos que ele pudesse ser um telecinético. Ele é tão propenso a acidentes e as notas que os rebeldes deixaram para trás diziam que os jovens telecinéticos são notoriamente desajeitados porque eles movem as coisas sem perceber. Telecinéticos, Dev pensou, também eram obsoletos na população dos Esquecidos. A capacidade de mover coisas com a mente tinha sido um dos primeiros presentes, o que não era surpreendente como os telecinéticos tinham formado o menor grupo entre o contingente rebelde. A tataravó de Dev do lado de seu pai, Zarina, tinha deixado um diário que Dev tinha lido quando criança. Ele nunca esqueceu as suas palavras sobre os Tks. Eu sou um M-Psy. Minhas chances de insanidade são baixas, mas se eu ficar louco, eu poderia, eventualmente, matar alguém. No entanto, se um Tk forte enlouquece, ele certamente irá matar. E porque Tks são desproporcionalmente masculinos, como os E-Psy são desproporcionalmente femininas, ele vai matar a sua irmã, sua esposa, sua filha. Isso é um fardo que esmaga os Tks. Eu não culpo todos os telecinéticos que escolheram o Silêncio. Como posso? Quando eu rezava todas as noites que o meu filho não nascesse um Tk. Apenas a designação X é mais maldita e, felizmente, esse gene recessivo é tão raro para fazer uma aparição.


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— Você tem um gráfico genético feito em William? — Dev pediu ao seu primo. As coisas estavam em fluxo, havia uma chance do gene Tk subir à tona mais uma vez. — Estávamos a ponto quando isso aconteceu com Spot. Eu não queria assustá-lo, pedindo-lhe para vir para testes. — Você tem uma amostra genética? Glen pode executar os testes de DNA com isso, — Dev disse, olhando para Connor para confirmação. Ele continuou com o aceno do médico. — Nós vamos ter um ponto de partida, pelo menos. — Aqui. — Jack colocou num saco de plástico sobre a mesa. — Eu planejava pedir um gráfico de DNA de qualquer maneira. Tem alguns de seus cabelos lá, sua escova de dentes, até mesmo um cotonete de sangue de quando ele se cortou esbarrando em uma parede. — Seu corpo estremeceu, os ombros sólidos agitados. — Isso está matando Melissa, vê-lo literalmente vai ir até a morte. Ontem, eu tive que ameaçá-la com um sedativo para ela dormir um pouco, estamos com tanto medo de deixá-lo sozinho por um segundo sequer. Dev caminhou para ficar ao lado de seu primo, colocando a mão em seu ombro. — Não desista, Jack. Eu prometo a vocês, nós vamos encontrar uma resposta. — O Silêncio é uma resposta, — sussurrou seu primo, mas não havia um cansaço para ele. — Eu gostaria que não fosse, mas é. Encontrando aquele olhar familiar, Dev sabia o que tinha a dizer, o que tinha que decidir. — E se é a única resposta, então nós vamos encontrar uma maneira de ensinar William a entrar no Silencio. Ninguém discordou dele.


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Dev considerava tudo que Jack lhe tinha dito, durante e após a reunião, enquanto descia para Katya. Ela se ofereceu para ser confinada a uma ala de isolamento na clínica enquanto ele não era capaz de estar com ela. Isso rasgou o seu instinto protetor, que ela efetivamente prendeu a si mesma, mas não havia nenhum conhecimento de que as granadas de Ming tinham sido colocadas na cabeça dela. Logo, ele prometeu a si mesmo. Logo, ela estaria livre. Hoje, no entanto, ele precisava de sua ajuda. Mas, primeiro, — Como está sua perna? — Ele perguntou, depois de beijá-la suavemente na testa. — Curando normalmente de acordo com o Dr. Herriford. — Um sorriso suave. — Você quer me perguntar alguma coisa. Não foi surpresa para ele que ela sabia. Ele sabia os segredos não ditos dela, também. — Quais são as habilidades que podem causar a morte? — Praticamente todos os fortes e ofensivos dons, — ela disse, os olhos perturbados. — Telepatas e telecinéticos estão perto, definitivamente. M-Psy, isso depende se temos um dom ofensivo que podemos juntar com o nosso potencial M. Ps-Psy ocasionalmente... — Como? — Tanto quanto ele sabia, psicometria usava o toque para adivinhar o passado de um objeto. Muitos trabalhavam para museus ou colecionadores particulares, avaliar quais itens eram genuínas, e quais eram que falsos. — Se um objeto tem um passado violento, — Katya explicou, — isso ocasionalmente causa um ‗curto-circuitos‘ do Ps-Psy, causando algum tipo de lesão temporária psíquica. Mas eu ouvi rumores de que alguns Ps-Psy também pode absorver o violento poder propositadamente. — Ela virou as duas palmas das mãos. — Eu nunca tive muita razão para pesquisá-los, por isso o meu conhecimento não é tão bom. Sinto muito. — Você está indo bem. Quaisquer outras designações? — Alguns dos textos antigos mencionam uma capacidade mais destrutiva do que a telecinese, mas para ser honesta, eu não posso pensar o que seria. Tks podem derrubar prédios em cima das pessoas, um verdadeiramente poderoso pode até mesmo ser capaz de causar pequenos terremotos.


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Nenhum desses explicou assassinato do cão por William. Havia, Dev sabia, uma boa chance do menino ter nascido com uma Nova capacidade de geração violenta. E se assim for, o silêncio não pode ser a cura que Jack estava esperando. — A pessoa que você realmente precisa conversar, — Katya murmurou, — é um Arrow. — Bicho-papão do Conselho? — Você sabe sobre eles? — Eles são mencionados em nossos registros. — Os próprios ancestrais de Dev foram caçados pelos Arrows, famílias dilaceradas, entes queridos para sempre perdidos. — Bem, eles lidam com a morte. Eles sabem tudo sobre as capacidades destrutivas. — Ela colocou a mão em seu braço. — Infelizmente, eu não conheço nenhum na resistência. Pergunte a Ashaya, ela tem mais contatos. Relutante em deixar Katya em um ambiente estéril que tinha de despertar um terror cheio de memórias, ele deu um beijo em seus lábios. — Um dia, você estará livre dele. Então você poderá andar por qualquer lugar que você quiser, qualquer lugar que você quiser. — Um dia. Mas, quando ele subiu novamente, sabia que seu tempo estava se esgotando em um ritmo inexorável. Segundo o texto que Glen tinha enviado para o seu telefone há meia hora, Katya tinha sofrido uma hemorragia nasal grave naquela manhã. E quando ele olhou em seus olhos antes que ele a deixasse, vislumbrou um começo de hemorragia. Raiva rasgou através dele, deixando um rastro de devastação. Forçando-se para o painel de comunicação em seu escritório, ele fez uma chamada para Ashaya. Seus olhos se arregalaram, a seu pedido. Mas tudo o que ela disse foi — Eu preciso de mais informações. Dev enviou através notas de Jack sobre seu filho e sobre o que William tinha feito. — Ashaya, para quem você compartilhar isso, certifique-se de confiar nele absolutamente. — Entendido. Eu vou retornar para você assim que eu puder. Desligando a tela, ele foi até a janela. Era um dia de inverno nublado, com a neve uma ameaça sinistra no céu, mas Nova York se movia com precisão de um relógio abaixo dele, havia tantos Psy no centro financeiro do país que a eficiência era menos procurada do que o esperada. Mas mesmo a partir deste momento, ele poderia ver os seres humanos, os Esquecidos, os changelings. Eles usavam cor. Salpicos de vermelho, azul-celeste, mesmo ouro reluzente. Os Psys evitavam cor, e se não havia outra esperança para William, o menino que Dev tinha segurado quando um recém-nascido aprendeu a evitálo, também. Por que cor? Talvez, pensou Dev, era porque a vibração dela falava com algo dentro da alma Psy, a mesma música. Os Psys já não


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cantavam, mas já participaram de uma sinfonia. Ele tinha ouvido dizer que suas vozes eram uniformemente planas, mas ele não acreditava. Não, o que era mais provável era que suas vozes tinham sido achatadas pelo silêncio, pelo controle frio que tomou para manter um domínio sobre as emoções tão poderosas, que nunca deveria ser contidas. A porta se abriu atrás dele. — O que é, Maggie? — Existe qualquer tipo de saudação para a sua nani, Devraj? Girando nos calcanhares, ele atravessou o escritório com passos largos para puxar a forma esguia de sua avó em seus braços. — O que você está fazendo aqui? — Os aromas de especiarias e pintura encheram o ar, coberta com uma vantagem que ele sempre pensou como o vidro. Como se o amor de Kiran Santos por seu trabalho se infiltrassem em sua própria essência. — Onde está Nana? — Eu deixei-o em casa. — Sua avó piscou quando ele recuou do abraço. — Eu queria passar mais tempo com o meu outro homem favorito. — Mãos fortes, marcadas por mil golpes e cortes, fechado em seus braços. — Você parece cansado, beta. — Você não deveria estar aqui, — ele disse. — Você sabe disso. — Você não acha que os espiões Psy sabem sobre mim? — Um aperto de seus braços. — É claro que eles fazem. Eles me vêem como uma fraqueza, mas eu sou uma força. Ele nunca ganhou ainda uma discussão com sua avó. Cedendo, ele tomou a mão que ela lhe estendia. — Por que você está aqui? — Ela sempre deixou-o comandar a Shine como ele bem entendesse, não importa se não concordasse com todas as suas decisões, tais como a que tinha precipitado um ataque cardíaco em um membro do velha conselho no início do ano. Dev não havia pedido desculpas por isso. Ele não podia. Porque o conselho antigo havia escondido a verdade, enterrando a cabeça na areia. Enquanto isso, seus filhos tinham morrido, sistematicamente abatidos pelo Conselho. — Você precisava de mim, — a avó disse, a mudança de Inglês para Hindi, sem pausar. — Por que você não ligou ou veio a mim na Shadownet? — Porque não há respostas aqui. — A mulher, — ela disse. — Você se importa muito por ela. — Sim. — A resposta dura. — Sim. — Conte-me. E ele fez. Porque ela era uma das poucas pessoas em quem confiava implicitamente. — Eu quero matar Ming, destruí-lo com minhas mãos nuas, mas o que eu realmente preciso dele é a chave que vai liberar Katya de sua prisão psíquica, acabar com as compulsões. Para isso, eu preciso dele para conversar.


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— Devraj, você deve perceber... segurar uma arma para a cabeça de Ming vai conseguir nada. Não, a menos que você possa de alguma forma cortar todas as suas vias de escape. É por isso que ele gostava de sua avó. Ela era prática. — Tem que ser uma abordagem rápida, dura. — Um golpe brutal. — Mesmo que ele consiga um grito telepático por ajuda, eu tenho que convencêlo de que ele vai morrer antes que a ajuda chege até ele. — Isso pressupõe que ele não tem teletransportadores sob seu comando, e eu não diria isso. — Houve apenas um relatório de um teletransportador verdadeiro, e nossa intel diz que está atualmente em algum lugar na América do Sul nãoligado a Ming, — Dev argumentou. — Os outros são Tks. Capaz de se teletransportar, sim, mas não tão rápido. — Rápido o suficiente. — Sua avó se inclinou para frente, marcando linhas de expressão na testa. — Precisamos discutir isso com a mulher. Com sua Katya. — Não. Eu não posso arriscar. — Shiu, Devraj. — Um sorriso carinhoso. — Você realmente acha que vai ganhar este argumento? Ele tentou uma careta para ela, mas era simplesmente muito amor em seu coração para essa mulher. — Eu não estou colocando você em perigo. Katya tentou me matar, — ele disse sem rodeios. — Pode ser que ela está programada para atacar outras pessoas próximas a mim se ela tiver a chance. — É por isso que eu tenho um neto, grande e forte para me proteger. E foi assim que Dev encontrou-se no nível do subsolo, de pé em uma das extremidades da mesa, enquanto as duas mulheres que tiveram mais significado para ele no mundo olhavam uma para a outra. Fisicamente, não poderia ter sido mais diferente. Sua nani era uma mulher alta com pele castanha e brilhantes olhos escuros. Katya era apenas quase de estatura média, sua pele quase transparente, apesar de ter ganhado um pouco de cor, mais recentemente, com os olhos de um avelã suave e cauteloso. Sua avó era forte, parecia forte, ela cruzou os braços musculosos. Katya em contraste, parecia suave... delicada. Uma ilusão. A mulher que entrou pela luz do sol, no Alasca, sem gritar não era fraca. — Então, — sua avó disse, — Você é a pessoa que tem feito meu Devraj ficar acordado nas noites. Katya não se virou para ele, segurando o olhar de sua avó. — Na verdade, — ela disse, — eu o culpo pelas noites sem dormir. Nani riu. — Eu gosto dela, beta. — Alcançando a frente, ela fechou sua mão ao redor de Katya. — Você deve conhecer o bisavô paterno de Dev,


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Mateus, ele é o único de quem Dev puxou a teimosia. Bode velho é bem mais apropriado, mas eu ainda não o vi sair derrotado de uma luta. Os olhos de Katya se arregalaram. — Ele era.. Um aceno de cabeça. — Sim, ele estava vivo quando o primeiro silêncio entrou em vigor. Seus pais, Zarina e David, eram parte da rebelião original. Katya não falou por quase um minuto. — Ele teria sido um contemporâneo dos primeiros filhos que foram silenciados na Net. — Ele se lembra de um primo, disse que o viu na rua, nos anos mais tarde, e foi como se a alma do homem tivesse sido apagado. — A mulher mais velha balançou a cabeça. — Dois caminhos diferentes... embora, talvez, os caminhos estão se fundindo mais uma vez. — Havia uma nota conturbada em sua voz. — Mas não é por isso que estamos aqui, nós estaremos discutindo como desabilitar Ming tempo suficiente para que você possa levá-la para a liberdade. Para seu crédito, Katya apenas piscou uma vez. — Podemos torná-lo inconsciente, mas iria contra o objetivo. Se houver uma chave para abrir a blindagem, que tem que ser uma telepática. — Há também uma grande chance de que ele poderia usar a oportunidade para matá-la. — O tom de Nani foi pragmático. Dev já tinha pensado nisso. — Não se ele souber que se ela morrer, ele morre. — O que nos traz de volta ao ponto de como desativar Ming. — Katya franziu a testa. E nesse instante, Dev percebeu exatamente o que tinha que fazer. Andando por uma extremidade da sala para a outra, ele balançou uma mão. — Deixe isso por agora. — Todos seus instintos se rebelaram contra o plano que seu cérebro lhe disse que era a única resposta possível. — Vamos precisar de uma estratégia de saída, também. — Faça-o encontrá-lo em seu território, — sua avó sugeriu. — Faça-o virar o intruso, isso tornará muito mais fácil para você ir embora. — Conseguir que ele venha para nós será quase impossível, — Katya disse. — Ele é extremamente consciente de segurança. — Quando Dev não respondeu, Katya olhou para cima. E disse: — Oh. Você já pensou na resposta, não é? Ele não se incomodou em mentir. — Sim. — Quando você vai me dizer? — Nunca, eu planejo uma outra maneira. — Empurrando a mão pelo cabelo, ele caminhou para puxá-la da cadeira. — Eu não gosto da ideia de usar você como isca. — É a melhor oportunidade que temos. — Pegando o rosto de Dev, ela o fez encontrar o seu olhar. — Nós estamos fazendo isso. — Então, você está bem em obedecer a todas as ordens que eu lhe dar. Entendido? — Sua voz era puro gelo, raiva mal contida de proteção.


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— Sim. A avó de Dev suspirou. — Esse não é o caminho, beti. Com homens como o meu neto, você tem que ser desagradável no princípio. Rindo do conselho divertido, Katya estendeu a mão para pegar a mão da outra mulher, sentindo-se tão à vontade, era como se ela sempre conhecessem Kiran. Ela nunca chegou tão longe. Sua coluna torceu em uma forma pouco natural quando a agonia cravava por seu corpo. A última coisa que ouviu foi o seu próprio grito estridente.

— O que aconteceu? — Ela perguntou Dev horas depois da cama do hospital. Suas maçãs do rosto estavam ásperas contra sua pele quando ele segurou a mão dela. — Glen acha que o seus controles de alguma forma entraram em curto-circuito, ao mesmo tempo que você teve um problema com o seu sistema nervoso. — Sua voz era áspera, crua com raiva. — A contagem regressiva acelerou. — Mesmo se Ming lhe desse a chave, mesmo que a chave abrisse o escudo, mesmo que milagrosamente a liberasse das garras afundadas em seu cérebro, o que já foi danificado nunca poderia ser corrigido. — Há mais, não é? Ele xingou. Mas ele não soltou sua mão, e ela segurou firme. Ou tentou. — Por favor, eu preciso saber. Seus olhos estavam atormentados quando ele olhou para ela. — Fizemos uma varredura de seu cérebro. Peças foram permanentemente comprometidas. Você sempre terá problemas com seus controles motores, suas memórias. Isso explicava por que os dedos não se fecharam em um punho, isso não parecia bem. Raiva ferveu dentro dela, mas ela não deixou sair, com medo de que se o fizesse, seria tudo que ela foi, tudo o que ela se tornou. Ela amava esse homem demais para perder tempo com raiva inútil. — Você não vai reconsiderar tentar pegar Ming? — Se Dev morresse. . . não, ela teria certeza que ele não iria. — Não. — Então vamos colocar o jogo em ação.


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Judd escorregou para o quarto da criança. O menino olhou para ele com os olhos arregalados enquanto ele saía das sombras 20 minutos depois que os pais do menino haviam finalmente ido para a cama. Se a Intel de Judd estava correta, no entanto, ambos estariam de volta para verificar o seu filho dentro de uma hora. — Você veio para me levar? — A criança parecia ao mesmo tempo aterrorizada e estranhamente feliz. Judd entendeu, de uma maneira que os pais amorosos de William nunca o faria. — Não. Eu vim para ver se eu posso te ajudar. — Você não pode. Eu sou um monstro. —Uma lágrima escorreu de seus olhos, uma lágrima que ele rebateu com um punho de raiva. —Eu machuquei Spot. Cruzando o espaço para sentar na cama do menino, Judd levantou a mão. — Eu preciso te tocar. — Isso tem que ser uma investigação muito delicada, telepática. Se ele ativasse o gatilho errado, o menino tentaria atacar, e enquanto Judd estava bem protegido, não havia necessidade de fazer a criança se sentir pior de si mesmo do que ele já fazia. — Será que você pode baixar seus escudos? — Ok. — Uma concordância aborrecida. Como se ele estivesse tão machucado que ele tinha desistido. Judd tocou seus dedos na têmpora de William, seus sentidos psíquicos indicando para uma ponta fina. Então ele foi procurar. De acordo com as notas que Ashaya tinham compartilhado, o médico da Shine tinha encontrado uma versão incomum do gene Tk, mas o que Judd viu foi incrivelmente familiar. Parecia que a mutação TK-Cell não discriminava os meio-sangue. Este menino, este brilhante e lindo jovem, era um assassino à espera de acontecer. A mandíbula de Judd cerrou. De jeito nenhum esse futuro iria acontecer. — Eu quero dizer uma coisa e eu quero que você ouça. William acenou com a cabeça, mas seus olhos estavam sem brilho. Judd tomou o queixo do rapaz em suas mãos, fez-lhe focar. — Eu posso fazer o que você pode fazer. — Ninguém...


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Tomando uma faca do bolso de sua jaqueta, Judd agitou aberta e passou a lâmina em toda a palma da mão, lançando uma linha grossa de sangue. — Cuidado. — Pedaço por pedaço, célula por célula, ele fechou a ferida, até nada restar, apenas o sangue. Usando um tecido da mesa de cabeceira para limpá-lo e garantindo que o tecido acabasse no bolso para ele deixar para trás qualquer vestígio de si mesmo, ele mostrou ao menino a palma da mão. — Eu posso fazer o que você pode fazer. Desta vez, os olhos de William foram tudo menos monótonos. — Você pode me consertar? — Ele sussurrou. Uma vez, Judd teria respondido com um sim ou um não. Isso foi antes de ele se apaixonar por uma mulher que não via mal nele. — Não há nada para consertar. O que eu posso fazer é ensiná-lo a controlar. Assim, você pode usá-lo para coisas boas. — Como o quê? — Como consertar corpos quebrados juntos novamente. Ele viu o menino considerar, seu ursinho de pelúcia agarrado apertado perto de seu coração. — Isso não seria tão ruim. — Na verdade, — disse Judd. — É melhor do que isso, é muito bom. Um sorriso trêmulo. — É? — É. Então, você está pronto para sua primeira aula?


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Dev acordou com o sinal sonoro insistente de seu telefone em duas horas no dia em que pretendia encurralar Ming, muito ciente de Katya aconchegada contra ele. Só quando sentiu sua respiração seu coração se estabelecer em um ritmo constante. Virando-se para encarar a pequena unidade de comunicação em sua mesa de cabeceira, ele encontrou o rosto abalado de Jack olhando para ele. — Dev, William está sentado aqui comendo cereal de chocolate. Dev colocou seu cérebro em marcha. — Momento estranho para ele, mas que ainda é uma boa notícia, então por que parece que você viu um fantasma? Empurrando a mão trêmula pelo cabelo, Jack disse: — Porque meu filho diz-me um Arrow veio vê-lo hoje à noite e começou a ensiná-lo a ser bom. — Maldição, — Dev assobiou por entre os dentes. Jack não estava ouvindo, sua atenção fixa em algo à sua direita. — Eu estarei lá em um segundo, amor. — Voltando sua atenção para Dev, Jack balançou a cabeça. — Melissa está apenas sentado ali, brincando com seu cabelo como se ela tivesse medo que ele vai desaparecer. Mas ele continua sorrindo. — Um Arrow não é uma ameaça para William, — Dev disse, sabendo Ashaya Aleine nunca iria prejudicar o filho de outra mãe. — Tenho a sensação de que ele tem preocupação com o seu próprio nome sendo reveladoa, o que é provavelmente porque a visita noturna. — Eu não me importo se ele quer visitar às três da manhã, porra, se ele pode fazer isso para o meu filho. — Uma risada trêmula. —Eu vou fazer o que o homem quer. Tudo que você tem a fazer é me dizer. Três horas mais tarde, Dev ligou de volta Jack. — Ele quer que você se mude para São Francisco. — A informação havia sido transmitida através de Dorian. — O Homem tem família para proteger, — Dorian disse. — Quanto menos pessoas souberem o que ele pode fazer melhor. Eu nem sabia antes dele decidir me dizer hoje. Dev levantou uma sobrancelha. — Esse cara parece reservado.


261 — Eu tenho ele em minhas costas a qualquer hora. — Um olhar firme. — Ele está determinado a ajudar o garoto, determinado o suficiente para

compartilhar um segredo que ele manteve por um inferno de um longo tempo, então se eu fosse você, eu faria exatamente o que ele diz. Agora Jack não hesitou nem por um segundo. — Eu vou fazer as malas. Desligando, Dev encontrou os olhos da mulher que tinha acabado de sair do banheiro. — Vamos para a cama. Ela não discutiu, mas quando ela atravessou a sala, ele viu algo que fez seu nó espinha. "Seu equilibrio está ruim." — Sim. — Deslizando para a cama, ela correu os dedos pela aspereza de sua mandíbula. — Mas eu não quero falar sobre isso agora. Ame-me, Dev. E porque ele poderia negar-lhe nada, ele fez o que ela pediu. Se Dev se permitisse reconhecer a impotência enfurecida que virou sua mente em mil bobinas, ele poderia ter feito algo estúpido. Como era, ele compartimentou. Era uma habilidade que ele tinha ficado muito bom quando uma criança. As máquinas, o metal, normalmente ajudavam, mas nunca quando se tratava de Katya. Ela chegou muito profundo, o fez sentir muito. — Eu não acho que o não Silencio poderia fazer isso, — Katya disse-lhe à noite quando eles discutiram os preparativos finais. Duas horas restavam. Dev teria preferido mais tempo, mas não somente Ming estaria na cidade hoje, mas quanto mais eles esperavam, mais Katya perdia a si mesma. — Fazer o quê? — Ele perguntou, olhando-se de seu esboço do local onde eles planejavam atrair o bastardo. — Colocar para longe as respostas emocionais. — Levantando-se de seu assento no sofá na frente dele, ela caminhou até sentar-se no braço da cadeira. — Você está frio. Deslizando seu braço ao redor da cintura em um gesto instintivamente protetora. — É necessário. — Peito suavemente, ele a trouxe em seu abraço. — Um soldado não pode funcionar a não ser que ele está completamente focado no alvo. — Quanto tempo você ficou um soldado? — Poucos anos após o ensino médio. — Ele franziu a testa e uma lacuna anotada na rede de franco-atiradores que pretendia cobrir o local da reunião. — Eu decidi que seria a maneira mais fácil de obter o tipo de treinamento que eu precisava. — Necessário para que? — Uma mão quente ao longo de sua nuca, um beijo pressionado em sua bochecha. — Katya. — Era para ser uma advertência, mas ele se perdeu no instante em que conheceu aqueles olhos cor de avelã. Gemendo, ele a puxou para baixo com uma mão na parte de trás de sua cabeça e mordeu o lábio inferior em punição sensual. — Eu sei o que você está tentando fazer. Seu olhar escureceu a um tom de jade com grande brilho. — Deixe-me.


262 — Eu não posso.

Demorou longos minutos para liberar um suspiro. — Eu não quero perder você. Ele olhou para ela, esperando que ela entendesse. — Não, — ela disse depois de quase trinta segundos de silêncio. — Você não iria escolher a segurança se fosse você. Ele beijou-a por isso, por aceitar sua necessidade de protegê-la, mantê-la segura. Depois disso, ela se aninhou em sua garganta. — Apenas alguns minutos. — Só um pouco. — Ele precisava de cada peça em seu devido lugar ou tudo seria transformado em merda. Se eles trabalhassem exatamente certo, o vereador iria encontrar um encontro físico mais conveniente do que um psíquico. Porque uma reunião sobre o plano psíquico deixaria Katya finalmente vulneráveis, Dev tinha certeza de que Ming tinha uma porta traseira escondida em sua mente, que lhe permitiria facilmente contornar os escudos que ele colocou no lugar e levar tudo o que quisesse. — É tudo de ser um soldado? Sua capacidade de compartimentalizar? Sombras sussurraram no fundo de sua mente, voraz e gananciosos. Ele lutou contra suas tentativas de levá-lo de volta para o passado encoberto de dor. — Por quê? — Há uma sensação sobre você... como se a necessidade de controle estivese enraizado em sua alma. — Uma maneira de colocá-lo. — Liberando uma respiração lenta, ele passou a mão em seus cabelos. — Eu disse que meu pai matou minha mãe. O que eu não lhe disse é que eu testemunhei o assassinato. — Ele manteve a voz constante, suas palavras claras. Esse estrangulamento emocional era a única arma que tinha para lutar contra as provocações sombras. — Oh, Dev. — Um suave sussurro, sua dor ecoavam em sua voz. — Quantos anos você tinha?" — Idade suficiente para entender que o meu pai não deve ter as mãos em volta do pescoço da minha mãe assim, mas não velho o suficiente para retirá-lo. — A memória assombrava todos os dias de sua vida. Se tivesse sido mais forte. Mas ele tinha sido um menino de apenas nove, o seu pai um grande homem, que era maior que ele quatro vezes mais. — Ele provavelmente teria me matado, também, só que minha mãe conseguiu transmitir um grito telepático por ajuda. Ele ainda podia ouvir o choque irregular da porta sendo arrombado, o selo de botas, gritando, em seguida, as pessoas batendo os punhos no peito de sua mãe e respirando em sua boca. Seu peito começou a subir e descer, alimentando sua esperança... até que ele percebeu que ela não estava fazendo isso por conta própria, que ela não estava realmente respirando.


263 — Levou a equipe de resgate dez minutos para perceber que eu estava na sala. — Ele tinha sido jogado em um canto por seu pai, tinha ficado lá atordoado e sangrando quando seu mundo despedaçou em frente a ele. — Eu

os vi arrastar o meu pai gritando, chorando da sala. Então eu os vi pronunciar minha mãe morta. O beijo de Katya foi uma bênção em sua testa. — Afinados em fogo, — ela murmurou. — O seu pai estava sofrendo um surto psicótico? — Sim. E ele nunca mais voltou. Ele gasta quase todo o seu tempo em uma sala em uma instalação na Pensilvânia. É um lugar agradável, repleto de jardins, árvores, realmente pacíficp, mas ele só deixa o seu quarto quando ele é forçado, ou se eu o visito. — Você o visita com frequência? — Não. — Ele fechou a mão em torno de seu quadril, seu aperto forte. — O adulto em mim, o ser fundamentado, entende que ele não fez o que fez por escolha. Então eu vou. Mas, então, eu o vejo, e eu sou uma criança de novo, vendo-o extinguir a vida da minha mãe. E eu não posso dar esse último passo, não posso perdoá-lo. — Pelo menos... — Katya começou, quando o relógio de Dev tocou. — Isso pode esperar, — ele disse, vergonhosamente aliviado. — Está na hora.

Quarenta e cinco minutos mais tarde, encontrou-os sentados em um carro do lado de fora de uma fileira de armários localizados no extremo leste do Queens, Katya ao volante. Dev tinha escolhido o local por duas razões muito importantes, a primeira que estava fora do caminho, diminuindo as chances de interrupção, e segundo deu aos atiradores uma excelente linha de visão. — Tudo bem, — ele disse, ao checar o telefone. — O jantar da associação empresarial está prestes a acabar. Ele vai estar na estrada nos próximos 10 minutos. Vigilância confirma que o teletransporte não está com ele, este é a nossa melhor chance. Esfregando as mãos em suas coxas, Katya olhou para ele. — Eu não sei se eu posso fazer isso. — Você tem, bebê. Se ele decidir utilizar uma porta de trás em sua mente, ele precisa ver o que o esperava. — Atingindo mais, ele a puxou para fora de sua sede e em seu colo. — Esperamos que a sua arrogância o faça aceitar tudo ao pé da letra.


264 — Eu não quero compartilhar isso com ele. — Ela colocou as mãos no rosto. — Eu não quero que ele saiba o quanto você é importante. — Ele não vai, — Dev sussurrou, o ouro em seus olhos elétrico no escuro abafado dentro do carro. — Ele não tem a compreensão do que é sentir este tento por alguém. — Ele escovou o cabelo do rosto.

Ela não tinha defesas contra ele. Então ela se inclinou para frente e tomou sua boca em um beijo suave e doce. Ternura e dor devastado-a em medidas iguais, quando ele colocou os braços em volta dela. Tomando o gosto dele dentro de sua boca, ela lhe permitiu tomar a liderança, beijá-la como se nunca tivesse o suficiente. Fogo lambeu sua espinha, paixão subindo mesmo no meio do caos. Quando suas mãos deslizaram sob seu moletom para mover-se em suas costas, ela tremeu. Incidindo apenas sobre as sensações, sobre o calor que poderia atingi-la tão facilmente, ela gemeu na parte de trás de sua garganta e moveu a mão em seu pescoço, tocando os dedos sobre seu pulso. Ele beliscou em sua boca, suas próprias mãos varrendo em torno de seus seios. Fome sacudiu por ela, mas foi então que, enquanto ele estava distraído, deixou cair o injetor escondido na manga de sua camiseta em sua palma. — Sinto muito, Dev. — Pressionando o injetor no pulso em seu pescoço, ela empurrou o gatilho. Seu corpo estremeceu. Quebrando o beijo, ele olhou para ela. — Katya? — Traição apagou o dourado e um instante depois, sua cabeça caiu para trás no assento.


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Engolindo lágrimas, Katya pegou seu telefone celular e discou o número que tinha encontrado embutido em sua memória. A voz de Ming era uma lâmina gelada na outra extremidade. — Conselheiro LeBon. — Eu o tenho, — ela sussurrou, deixando seu desespero, seu medo, sua angústia inundar sua mente. Uma pausa. — Isso é inesperado. — Um rastreamento de dedos invisíveis escorregando por sua mente. — Uma traidora, Ekaterina? Eu não teria pensado isso de você. Náuseas a atacaram quando os dedos sondaram e violentaram. — Eu quero viver. — Ela manteve seus pensamentos atolados no tormento que sentiu no instante que Dev entendesse o que ela tinha feito. — Você prometeu me soltar quando eu entregar Devraj Santos. — Eu pedi para você matá-lo. — Eu pensei que você o preferiria vivo se você pudesse tê-lo dessa maneira. — Os dedos se retiraram de sua mente, mas ela não deu um suspiro de alívio. — Verdade. Outra pausa. — Onde você está? Ela lhe deu as coordenadas. — Há atiradores esperando por você. — Eu vejo isso. Desde que eu estou sem um teletransportador no momento, e eu dirigirei até você. Aguarde novas instruções. Desligando, Katya deixou a testa cair na de Dev, querendo chorar, mas sabendo que não poderia se render à necessidade. Em vez disso, ela moveu-se de volta para o banco do motorista e respirou fundo, sentindo os músculos de seu peito estirpar contra a pressão. Seus dedos tremiam no volante, mas não era de medo. Ela estava perdendo mais e mais peças de seu corpo, seu próprio eu. O celular tocou sete minutos mais tarde. — Dirija fora de seu local atual, — Ming disse. — Há um lote vazio há 10 quarteirões para a esquerda. — Eu estou no meu caminho. — Fechando o telefone, ela começou a ligar o motor e sair para a escuridão à noite. O celular de Dev tocou quase imediatamente. Ela sabia que era a sua equipe, tentando descobrir o que diabos estava acontecendo.


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Ela agarrou o telefone aberto. — Mudança de planos, — ela disse para Aubry. — Fomos direcionados para outro ponto de encontro. — Onde? Preciso ter meus homens... Ela deu as coordenadas para um local 10 minutos do correto. — Depressa. — Dê o telefone para Dev. Sabendo que o outro homem nunca iria acreditar em qualquer outra coisa que ela dissesse, Katya desligou. E dirigiu como um morcego fora do inferno, certeza que Aubry e seu povo não seria capaz de chegar aos seus veículos rápido o suficiente para segui-la. Ela entrou em um terreno baldio atrás de um enorme armazém menos de cinco minutos depois. O sedan escuro de Ming estava esperando por ela, as janelas opacas. Parando seu carro ao lado dele, ela saiu, sua perna esquerda instável, mas ainda capaz de mantê-la em pé. E os dedos ... eles estavam fortes o suficiente para completar isto. A janela traseira baixou para revelar o rosto de Ming. — Eu tenho que admitir, — o conselheiro disse, — dado o que vislumbrei em suas memórias, eu teria esperado que você viraria um traidor. — Eu quero viver. — Repetindo suas palavras anteriores, ela cruzou os braços quando o motorista/guarda-costas de Ming saiu, prendendo-a com um olhar frio do outro lado do carro. — Suas memórias não voltaram cedo o suficiente, — Ming ponderou, olhando para ela como se fosse um experimento. — Lamentável que foi prejudicada por um período tão longo. A amnésia foi apenas para dar-lhe um disfarce longo o suficiente para que eles confiassem em você. Ela ignorou suas palavras. — Você disse que você seria capaz de corrigir-me. Ming recostou-se na cadeira. — Você deixou isso ir muito longe. Não há nenhuma maneira de reparar o dano. — Pare com o avanço então. Ming falou com o motorista. — Pegue o diretor da Shine. Quando o Arrow e motorista, que sem dúvida era a parte do mais letal exército privado do Conselheiro, deu a volta na frente do sedan de Ming, Katya disse: — Pare. É claro que ele não o fez. Ela se virou para Ming, sentindo os cabelos na parte de trás do pescoço subindo quando o Arrow alcançou para o lado do veículo de Dev. — Você mentiu, não foi? — Ela perguntou, deixando-o ouvir a sua raiva. — Você nunca ia ser capaz de desfazer o que você fez para mim. O escudo é inquebrável. — Sim, e como as linhas de programação estão ligadas diretamente a isso, ah, você não sabia disso. — Eu estava morta no momento que você me pegou.


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— Você fez bem, Ekaterina. — Pinças fecharam ao redor do seu cérebro. — Se eu soubesse que ia provar tão útil, eu não teria ancorado o escudo em seu cérebro, mas o que está feito, está feito. E agora, ela pensou, ao ouvir o Arrow empurrar a porta de Dev, era hora dela morrer. — Você sabe, Ming, — ela disse, quando uma linha molhado escorreu para fora de sua orelha, quando sua perna esquerda começou a sofrer espasmos. — Eu realmente não sou tão estúpida quanto você pensa. — Pegando uma arma um pouco elegante escondida na parte inferior das costas, ela atirou na cabeça dele. Um baque sólido soou atrás dela... o impacto de um corpo atingindo o solo. Sangue a cobria, tendo jorrado através da janela aberta de Ming, mas sua atenção estava em outro lugar. — Dev? — Ele está apagado. Atordoado. — Saindo do banco do passageiro, Dev correu para ela. — Porra, que inferno Katya, ele podia... Ela balançou a cabeça, deixando cair a mão da arma para o lado dela. — Não. Parte de mim sempre soube que tinha que ser uma mentira. Você não pode desfazer uma armadilha tão grave. Algo cintilou no outro lado do veículo de Ming. — Entra no carro! — Empurrando-a para dentro, Dev caiu em suas costas. Como ele girou para fora do estacionamento para longe, o carro reagiu incrivelmente rápido, ela virou-se para olhar. O carro de Ming, de alguma forma desmoronou, como se alguém tivesse de alguma forma amassado a moldura como se faz com uma folha de papel. — Dev, — ela sussurrou. — Acontece que a estrutura tinha algum metal nela, — foi à resposta enigmática. — Quantos homens teletransportaram para dentro? — Quatro. — Ela podia ver as silhuetas contra o horizonte de Nova York. Todos estavam vestindo o preto do Esquadrão Arrow. O fato de que eles ainda estavam no veículo de Ming quando o carro de Dev desapareceu na esquina fez sua mandíbula apertar. — Ming não está morto.

Dev desligou o telefone, encontrando os olhos de Katya quando ela se sentou em sua cama, com os braços fechados em torno dos joelhos levantados. — Você está certa, o bastardo sobreviveu. — O contato Psy dos DarkRiver tinha informado. Ele fez Dev imaginar quão alto na superestrutura o contato era, mas não era idiota o suficiente para prejudicar o disfarce do homem por fazer muitas perguntas.


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— Eu lhe dei um tiro na cabeça. — Ele tem a sorte do diabo. — Subindo para a cama, ele se sentou com suas pernas envolvendo a dela, suas mãos em seu rosto. — A bala explodiu através do cérebro para fora, do outro lado, ao longo do topo de seu crânio. Ele está inconsciente, mas as previsões são de que ele vai fazer uma recuperação completa. — Será que isso tudo vai voltar para você? Para a Shine? — Não, querida. — Ele moveu o seu corpo mais perto em torno do dela, odiando vê-la assim, tão calma, tão abalada. — Isto é simplesmente mais um capítulo de uma guerra que estamos lutando desde que os meus antepassados foram retirado da Net. É apenas aberto agora. — Você está com raiva de mim? — Sim. — Ele ainda podia lembrar o puro pânico que sentiu ao ser preso no carro enquanto ela estava tão perto de Ming. — Você não deveria realmente me nocautear. — A dose foi pequena, ele começou a sair disso quando ela saiu do local da primeira reunião. — Porque eu sei quão meticuloso Ming é, — ela disse, seus dedos curvando em sua camiseta logo acima do coração. — Ele nunca teria perdido isso. Eu tinha que fazê-lo pensar que eu era uma agente dupla final, fazer você acreditar que eu me importo com você. . . então entreguá-lo para salvar a minha própria vida. — E ele é tão seguro de seu poder, ele não se preocupou em olhar para além da superfície. — Não. — Um sorriso apertado. — Eu não sou nada para ele, ele não pode compreender que eu poderia ter uma mente própria. Ele trancou seus braços por trás dela, seus dedos cerrados. — Onde você conseguiu a arma? Ela se perguntou quando ele lhe perguntaria isso. — Adivinha. — Minha avó. — Sim. — Katya esperava um imediato "não" ao seu pedido. Em vez, Kiran Santos tinha olhado nos seus olhos por um longo momento antes de alcançar em sua bolsa e pegar a arma. — No começo, eu não podia acreditar que ela confiava em mim, então eu percebi é que ela confia. — Ela abriu os dedos sobre seu batimento cardíaco. — Você vai me dizer sobre como as fechaduras abrem para você? — Descubra isso. — Um comentário alegre, e ainda a sua alma esfriou. Porque se ela estava pedindo-lhe segredos. . . — Não. — Por favor, eu estou tão curiosa. E porque ele poderia negar-lhe nada, ele disse a ela sobre sua afinidade com o metal. — No início, era apenas metal. Eu podia senti-lo, saboreá-lo. O frio que me mantém a calma, quando todo mundo está explodindo. — Exceto com ela. Nunca funcionou com ela. — Quando fiquei


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mais velho, eu descobri que podia manipular objetos com componentes metálicos, como trancas. — Será que isso se desenvolveu ainda mais? — Este ano, — ele disse, — Eu comecei a "conectar" com máquinas que têm muito pouco componentes metálicos, estou falando de um único circuito. Agora posso comandar computadores em um nível básico, como os de carros. Com o tempo, eu poderia ser literalmente capaz de "falar" com sistemas muito mais sofisticados, Glen e Connor acha que é possível que eu possa crescer além da necessidade de completamente metais. — Extraordinário, — ela sussurrou. — Você está desenvolvendo a capacidade de interagir com máquinas em um nível mental. — Por um instante, a dor diminuiu de sua voz quando o cientista assumiu. — É uma habilidade específica para a era tecnológica. — Isso é o que os médicos dizem. — Liberar o aperto de morte que ele tinha em suas próprias mãos, ele segurou a parte de trás de sua cabeça, acariciou sua nuca. — Quer ver um truque legal? Um pequeno aceno, fraco, muito fraco. Dor disparou ao longo de sua mandíbula, sua espinha, mas ele não deixou as emoções saírem, não quebrou quando ela precisava dele forte. — Cuidado. — Foco, ele chamou o metal para ele. — Oh! — Katya abaixou quando uma pequena escultura de metal se enrolou em seu braço. — Você é magnético? — Não. — Ele puxou a escultura para fora, colocando-o em uma mesa próxima. — Ainda o efeito é o mesmo. Você deveria me ver com colheres. Um sorriso que tentou tão dificilmente segurar. Mas ele sabia. — Katya? — Eu sinto muito, Dev. — Ela piscou em uma explosão rápida. — Eu não consigo sentir minhas pernas mais. Seu corpo inteiro sacudiu. — Não. Ainda não. — Ainda não, — ela concordou. Ela não podia deixá-lo ir. — Nós não temos que nos preocupar com qualquer outra compulsão, eu não sou forte o suficiente para ser perigosa. — Ming? — Uma única palavra dura. — Enquanto Ming estiver inconsciente, seus Arrows não serão capazes de me encontrar. Ele fez um trabalho muito bom em me esconder. — Ela tinha sido o seu projeto de estimação, sua pequena perversão. — Mas, quando ele acordar... Dev a beijou, interrompendo suas palavras. Ela se rendeu, mais do que estava disposta a adiar o inevitável. Só mais alguns dias, pensou, mais algumas horas com este homem que ela adorava do núcleo mais profundo de sua alma. Dev queria apenas segurar Katya cada segundo de cada minuto, mas o diretor da Fundação Shine não tinha esse luxo. — Eu vou estar de volta logo


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que eu puder, — ele disse na manhã seguinte quando ela estava enrolada em cima do sofá na marquise da sua casa de Vermont. — Não se preocupe. Eu vou ficar bem. — Ela olhou para o corredor. — Seu amigo Connor vai estar aqui. — Eu não posso deixar você sozinha quando você está ficando tão fraca, — ele disse. — Não me peça isso. — De acordo com a sua avó, eu devo discordar com você no princípio, mas você já tem bolsas sob os olhos. — Levantando uma mão, ela colocou os dedos em seu pulso dessa forma que ela fazia. — Eu estarei esperando por você.

Ele guardou essa promessa perto de seu coração e saiu pela porta. Reduzindo o tempo de viagem usando um helicóptero, em vez de dirigir, ele chegou à Nova York 20 minutos mais tarde. Sua primeira tarefa foi verificar com Cruz. Ele conversou com o menino em seu celular um par de dias atrás, mas foi bom ver o sorriso de covinhas na tela. — Ele está até começando a gostar de mim, — Tag disse quando Dev o transferiu como atual guardião de Cruz. — Você está bem? — Cruz está se comportando. E Ti estará de volta após a reunião de hoje. — Uma pausa. — Boa sorte, cara. Dev sabia que ele ia precisar dessa sorte quando ele entrou na reunião. Com Jack retirando o seu apelo para o Silêncio, a situação fragmentada dentro dos Esquecidos tinha acalmado, mas estava longe de terminar. — Eu não posso parar qualquer um de vocês que querem praticar algum tipo de condicionamento, — ele agora disse aos homens e mulheres ao redor da mesa de reunião. — Mas aqui está o que eu penso, nós encontramos um caminho para ajudar William, encontraremos uma maneira de ajudar os outros, também. — Um monte de poderíamos e talvez, Dev. Ele encontrou os olhos distintos de Tiara. — Uma situação por vez. — Ele tinha pensado sobre isso, iria para o chão para salvar seu povo. — E Aubry tinha um ponto, você pode me dizer honestamente que você seria feliz vivendo uma vida onde não gasta metade dela provocando Tag? Jesus Cristo, suas bolas deve estar fodidamente roxa por agora. — Isso faz algum tempo, — Aubry murmurou. — Eu tenho certeza que coisas estão lamentáveis por agora, e as coisas estão prestes a cair.


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As bochechas de Tiara ficaram vermelhas quando várias pessoas ao redor da mesa riram. Mas ela não era de recuar. — Desde quando você está interessado nas bolas de outros homens, Aubry? Algo que devemos saber, hein? Outra rodada de risadinhas quando cabeças viraram para Aubry. — Olhe para nós, — Dev disse, resgatando o seu segundo em comando, — estamos em lados opostos e ainda somos capazes de rir disso. Isso não acontece com os Psys. Alguns acenos, olhares incomodados. — Mas Dev, — outra mulher, um membro sólido do conselho, disse — Esta é a ponta do ice-berg. E se não podermos encontrar um caminho a seguir? — Os Esquecidos sempre foram conhecidos por sua coragem sob fogo. Nós vamos encontrar um caminho. — Ele tinha que acreditar nisso, não só para o seu povo, mas para sua Katya. — Eu gostaria de ler a todos vocês alguma coisa, — ele disse. — Esta é uma carta que a minha tataravó-escreveu para o filho. Ela era uma M-Psy, seu marido um Vidente. É datado de oito de Novembro de 1984. Ele esperou para garantir que todos estavam ouvindo. — Querido Mateus, — ele disse — Nós enterrado seu pai hoje. Você sabe

o que suas últimas palavras foram para mim? Mulher teimosa. Uma onda de riso contido. Ele continuou a ler. — É melhor acreditar. Eu não ia deixar meu marido para trás quando os assassinos do Conselho vierem atrás de nós, de maneira nenhuma. Nós só tínhamos mais dois anos juntos, mas esses dois vão durar por uma vida. — Então, agora você sabe, você vem das ações teimosas deste lado do equador. Ninguém vai parar sua estrela de brilhar. — Colocando a página sobre a mesa, ele encontrou cada olhar em volta. — Zarina enterrado seu marido, e ela ainda lutou pelo direito de seus filhos de serem livres. Como podemos fazer menos? A reunião se desfez uma hora depois, com o acordo unânime de que eles não fariam nenhum movimento em direção a qualquer tipo de Silêncio. Os Esquecidos tinham lutado muito, e muito duro, para ceder tão facilmente. Dev chamou Katya no painel de comunicação, logo que ele foi capaz. — Como você está? — Bem. — Seus lábios se curvaram. — Connor me trouxe um smoothie, ele disse que você ameaçou cortar as pernas na altura dos joelhos, se ele esquecesse.


272 — Malditamente certo. — Coração sempre doendo em seu peito, ele simplesmente olhou para ela por um longo momento. — Eu devo estar em

casa por volta das oito esta noite. — Como foi à reunião? Ele parou de esconder coisas dela no instante que ele compreendeu a verdade, entendeu quão pouco tempo ele tinha para compartilhar o seu mundo com esta mulher, extraordinariamente bela. — Não vai haver respostas fáceis para os Esquecidos. Nós vamos ter que surfar nas marés e ver onde eles nos levam. — Isso é liberdade Dev, — Katya sussurrou. — Nunca desista.


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Katya tinha pensado toda a noite sobre o que estava prestes a fazer, sabendo que neste momento, ela poderia pedir qualquer coisa para Dev e ele daria a ela. Ela não queria tirar vantagem disso, e ainda, ao mesmo tempo, ela sabia que nunca mais teria a chance de fazer isso. Andando até ele, suas pernas envoltas em carapaças negras computadorizadas que lhe davam a força para se mover, ela colocou a mão em seu ombro. Ele olhou para cima, sua atenção estava na floresta salpicada de neve. — Sente-se sobre os degraus comigo. — Eu quero te perguntar uma coisa. — Qualquer coisa. — Eu gostaria de conhecer seu pai. Seu ombro voltou a balançar sob sua mão. — Por quê? — Há tantas coisas que eu quero fazer com você, — ela sussurrou, — coisas que eu sei que eu nunca vou ter a chance de fazer, mas, talvez, há uma coisa que posso fazer. — Eu não vou perdoá-lo agora, se eu não fiz todos esses anos. — Ele olhava para a frente. — Eu sei. — Ela escorregou para se sentar ao lado dele. — Mas talvez você possa vê-lo com novos olhos. — Vai ser um desperdício de tempo. — Por favor, Dev, faça isso por mim. — Injusto, bebê, — ele sussurrou, envolvendo um braço forte ao redor de seus ombros. — Malditamente injusto. Seus olhos queimaram na dor que ela sentia no grande corpo ao seu lado. — Uma mulher tem que usar o que ela tem com você. Uma leve sugestão de um sorriso. Mas foi mergulhado em uma onda pesada de escuridão, de perda. — Tudo bem. Vou levá-la a ele.


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Quatro horas a partir do momento que ela pediu a ele, entrou na grande sala ensolarada que o pai de Dev chamava de casa. Foi, como Dev tinha dito, um lugar encantador. Cadeiras de bambu com suaves almofadas brancas estavam em distribuídas em grupos de conversação, enquanto as plantas de interior absorviam ao máximo a luz do sol entrando pela janela que dava para os jardins alastrando. As plantas lá fora estavam em um sono do inverno, mas mesmo assim era uma vista pacífica. Mas os jardins, aparentemente, não tinham nenhum apelo para o homem solitário que estava sentado ao lado da janela. Sua atenção estava ttavada na porta. O coração de Katya parou quando encontrou aqueles olhos. — Dev, você parece tão igual a ele. — Exceto pela cor de sua pele, Massey Petrokov era o molde de que Dev tinha sido forjado. — Sim. — A mão de Dev apertou ao redor de sua cintura. Ela esperou por algo mais, mas ele ficou em silêncio. Massey os assistia aproximar-se com o mesmo silêncio. Mas quando ela o alcançou, o que ela viu em seus olhos fez seus próprios queimarem em um pedido de desculpas quando ele olhou para seu filho, a completa falta de esperança... isso quebrou seu coração. — Olá, Sr. Petrokov, — ela disse, sentando-se em frente a ele. O homem mais velho, seu rosto envelhecido muito além de seus anos, finalmente olhou para longe de Dev. — Você pertence ao meu filho. — Sim. — Ele vai cuidar de você, — Massey disse, seu olhar seguindo Dev quando seu filho andou até ficar de frente para as janelas do lado esquerdo de Katya. — Ele não vai te machucar. — Eu sei. — Ela esperou até que o homem olhar para ela. — Você vai me dizer sobre ela? — Ela? — A mãe de Dev. O corpo inteiro de Dev congelou, mas ele não disse uma palavra. Massey engoliu. — Eu não tenho o direito de dizer o nome dela. — Por favor. Depois de um longo, longo momento, Massey começou a falar, com os olhos fechados em volta de seu filho. — Nós éramos jovens quando nos conhecemos. Ela era uma garota brilhante e engraçada. Eu era o atleta. Mas tínhamos sempre algo para dizer um ao outro. Ela me fez sentir inteligente. — Um sorriso quando ele caiu na memória. — Ela costumava dizer que eu a fazia se sentir forte. Naquele momento, não havia nada de insano ou quebrado sobre Massey Petrokov. Ele era um jovem homem, sua vida inteira pela frente.


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— Eu pedi para ela se casar comigo depois que eu terminei a faculdade, e consegui uma bolsa de futebol. Eu sabia mesmo naquela época que ela estava indo a lugares, mas estava tudo bem comigo. — Uma pequena risada. — Eu costumava dizer que eu seria o dono de casa enquanto ela tomasse conta do mundo. — Você disse? — Sim. — Outro sorriso. — Eu joguei por quatro anos, então fiquei ferido. Mas eu fiz um bom dinheiro aqueles poucos anos, e meu Sarita já estava na via rápida em sua empresa de investimento, portanto, foram bem financeiramente. Decidimos tentar uma criança. Ela ficou grávida quase imediatamente. Katya não ousava olhar para Dev, mas ela quase podia sentir a sua concentração. — Ela gostava de estar grávida? Massey piscou com as palavras, como se tivesse esquecido a sua presença. — Surpreendeu-a o quanto ela gostou. Ela pensou que teria problemas de ligação com seu bebê, ela nunca se viu como maternal. Mas desde a palavra grávida, ela adorava tudo sobre a criança em seu ventre. — Massey voltou para o seu filho novamente, falando com uma linha rígida em suas costas. — Suco de uva e banana, era tudo que ela queria comer metade do tempo. Uma pausa tranquila, preenchida apenas com o barulho macio de passos de uma enfermeira no corredor do outro lado. — Era para ela voltar a trabalhar doze meses após Dev nascer, mas ela tomou mais um ano fora. Nós conseguimos isso. — Seus olhos vidrados de novo. — Mas, depois disso, foi principalmente eu e Dev. Éramos carne e unha. Eu costumava fazer-lhe o seu almoço, levá-lo ao jardim de infância, depois da escola, ajudá-lo com o seu dever de casa. Sarita costumava chamar nos de seus dois Mosqueteiros. A profundidade dos sentidos de traição de Dev fez muito mais sentido agora. Ele adorava os pais, mas ele tinha que ter sido mais próximo de seu pai simplesmente por causa da quantidade de tempo que passarams juntos. — Parece uma boa vida. — Foi. — Seus ombros começaram a tremer. — Mas então... — Um soluço irregular. — Eu nunca quis magoá-la. Ela era a única mulher que eu amei. Incapaz de suportar a dor, Katya inclinou-se para pegar suas mãos. — Não foi uma escolha consciente, — ela sussurrou. — Sua mente não era a sua. — Ela sabia tudo sobre isso, sobre ser feito de fantoche. Massey apenas balançou a cabeça enquanto chorava. — Mas eu a matei. E eu vou levar essa culpa para o resto da minha vida. — movendo seus olhos, como se algo estivesse tentando sair. — Eu não estou muito lúcido estes dias, — ele disse claramente, mesmo enquanto as lágrimas escorriam


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pelo seu rosto. — Eu desejo que eu nunca estivesse lúcido. — Outro pulso de escuridão, fragmentos de uma mente quebrada tentando retomar o controle. Katya sentiu o movimento, em seguida, viu a mão de Dev fechar sobre o ombro de seu pai. — Você não era você, — ele disse, sua voz rouca de emoção. — Não naquele dia. — Ele não pareceu ser capaz de dizer mais palavras, mas elas não eram necessárias. O rosto de Massey se encheu de tanta alegria que dói em Katya olhar para ele. — Meu menino, — ele disse. — Meu Sarita Devraj precioso. — Uma de suas mãos saiu dela para fechar sobre Dev. Sentaram-se assim por um tempo... até Massey Petrokov não conseguir mais segurar a sua sanidade.

— Como é que você sabia que tinha que perguntar sobre a minha mãe? — Dev perguntou enquanto caminhavam de volta para sua casa. Foi a primeira vez que ele tinha falado desde que deixaram seu pai. Ela ousou ir até com ele, deslizou os braços ao redor de sua cintura. — Eu pensei que era algo que você provavelmente nunca perguntou a ele. — Eu costumava copiar tudo o que ele fazia. — Braços apertando ao redor de seu corpo. — Eu costumava querer ser exatamente como ele quando eu crescer. — Ele era o seu herói. — Sim. — Uma pausa. — Depois disso, eu não poderia sequer manter o seu nome. Eu escolhi o de minha mãe em seu lugar. — Talvez um dia, você estará pronto para recuperá-lo. — Talvez. Nenhum dos dois disse nada, mas Katya sabia que Dev voltaria para visitar seu pai. Isso não a fez querer parar os trilhos em destino, mas deu-lhe um pouco de paz. — Prometa-me uma coisa, Dev. — Não. — Ele foi implacável. Ela sorriu. — Teimoso. — Está no sangue. — Eu sou egoísta, — ela admitiu. — Eu quero que você prometa amar de novo, mas, ao mesmo tempo, eu quero riscar os olhos de qualquer mulher que olhar para você. Seu peito retumbou, e então, pela primeira vez, no que pareceu uma eternidade, ele riu. Encantada, ela sorriu. E quando sua espinha se torceu em uma nova onda de dor, ela tentou não deixar que ele soubesse. Mas ele fez. É claro que ele fez.


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— Aguente firme, bebê, — ele sussurrou contra sua têmpora. — Espere. Ela tentou... mas Ming tinha roubado isso dela, também. Os músculos de seu braço entraram em espasmos e tudo ficou em silêncio. Dentro de seu peito, ela podia sentir seu coração bater trabalhando para outra batida. O bastardo tinha vencido. Ela estava morrendo. Mas ela faria em seus próprios termos. Alcançando-o com um esforço que teve Dev segurando seu pescoço, ela escovou os lábios contra sua mandíbula. — Deixe-me ir, Dev. — Não. Ambos sabiam que não podia impedi-la. O link para a Net, sua linha da vida, estava dentro de sua mente, uma coisa profundamente pessoal. E, no entanto, ambos também sabiam que ela não iria dar esse passo até que ele desse a sua permissão. Porque ela o entendia. Se ela fizesse isso, se o deixasse sem um último adeus, a raiva de Dev iria destruí-lo por dentro. — Eu preciso saber que você está ok com isso. Ele apertou-lhe a nuca como em uma repreensão suave. — Eu nunca vou estar ok com isso. — Dev. — Esqueça, Katya. — Uma linha teimosa em sua mandíbula que ela conhecia muito bem. — Isso nunca vai acontecer. Soltando a cabeça em seu peito, ela engoliu as lágrimas em sua garganta. Ele era forte. E o seu coração, estava quebrando. Ela podia ouvir. — Eu não posso viver dessa maneira, — ela sussurrou, sabendo que ela estava pedindo o impossível, sabendo, também, que ele era forte o suficiente para suportar a dor. Se tivesse pedido isso... — Ming está fora agora, mas quando ele acordar, ele vai me encontrar. — Nós vamos protegê-la. — Não há saída. — Envolvendo seus braços em volta dele, tão bem quanto ela conseguia, ela embebeu em seu calor, sua força ... sua devoção. Era o último que surpreendeu a ela. Este homem, este bonito, forte e poderoso homem, que adorava além da razão, além da sanidade, além de qualquer coisa que já tinha esperado. E ela tinha que deixá-lo. — Não importa se eu sobreviver à desintegração física, esta prisão em que vivo, essa escuridão que bloqueia-me longe da PsyNet, vai finalmente roubar a minha personalidade, roubar tudo o que eu sou. — Ela já sentiu a ponta da loucura pairando vorazmente. — Eu conversei com Ashaya, — ele disse, ainda lutando por ela, seu amante com o coração de um príncipe guerreiro. — Sua irmã, Amara, não é uma parte integral da rede neural que mantém Ashaya viva. Se... — Elas são gêmeas, Dev. — Ela tinha visto a interação das duas nos laboratórios, entendeu algo sobre elas que nunca tinha sido capaz de colocar em palavras. — E Amara é... Único. Ela provavelmente não se importa


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contanto que esteja ligada a Ashaya. Minha mente é diferente. — E ela estava começando a desabar sob a pressão. — O quão perto? — Ele perguntou, sua voz áspera lixa. — Muito perto. — Ligue-se comigo quando você cair, — ele ordenou. — É possível que possamos encontrar uma maneira de dar-lhe o biofeedback que você precisa através da Shadownet. — Não. Não vai funcionar. — Nós podemos fazer isso, — ele disse, entendendo mal. — Você é um telepata forte e eu tenho o suficiente telepatia... — Não, — ela interrompeu, lembrando-o dos fatos inalteráveis. — As garras que ele tem em minha mente, a teia de aranha, não há nenhuma maneira que eu possa me retirar com segurança. — E se você estiver errado, e se você puder? Prometa-me que vai conectar depois. Ela balançou a cabeça. — Há uma chance da teia de aranha estar designada a se espalhar. E se isso é o que eu sou? Um verdadeiro cavalo de Tróia. — Significava infectar a Shadownet com uma praga que iria sufocar toda a vida, extinguir toda luz brilhante. Seus braços apertaram com força suficientes para deixar hematomas ao redor dela. — Os vírus não podem viajar através do tecido de qualquer net. Isso foi confirmado várias e várias vezes. — Ele fez alguma coisa, — ela respondeu, mesmo quando lutou contra a vontade desesperada de agarrar a chance da vida e segurar com toda a força, — e não há nenhuma maneira de saber onde seu mal parará. Não podemos brincar com a vida de seu povo, e se eu entrar e descobrimos que Ming encontrou uma maneira de projetar um vírus que vai sobreviver no Shadownet? O que, então? — Ming não é conhecida como sendo um transmissor viral. — Não, — ela reconheceu. — Todo mundo diz que apenas Nikita Duncan pode fazer isso. Mas os Conselheiros manter segredos. — O risco é baixo, — argumentou. — Nós podemos colocar escudos de quarentena em você, se necessário. Sua visão borrou em um canto. Ela manteve o rosto enterrado contra ele, de alguma forma, sabendo que era o sangue se espalhando por todo seu olho. — Por favor, Dev. Deixe-me ir. Dev poderia ter resistido a qualquer coisa, exceto esse suave e doce apelo. Ela estava sofrendo. Sua Katya estava doendo, e embora ela tentasse esconder isso dele, ele sabia muito bem que ela estava começando a perder mais e mais controle sobre seu corpo. Isto, agora, era a sua chance de sair em seus próprios termos, com a dignidade e graça que Ming tentou roubar dela. Pegando a parte de trás de sua cabeça, ele enterrou o rosto em seu pescoço e sentiu seu corpo quebrar de dentro para fora.


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Ela segurou-o enquanto ele quebrava, com os braços muito gentil. Um beijo pressionado em sua bochecha. — Eu te amo, Dev. — Eu nunca vou te perdoar. — Isso foi arrancado de sua alma. — Eu sei. Ele foi levantar a cabeça, mas ela o segurou para ela. — Não. Eu não quero que você me veja assim. — Você é linda para mim, não importa o que. — Isso é o que todos dizem. Mas deixe-me um pouco de vaidade. Como ela poderia fazê-lo sorrir, mesmo agora? Acariciando sua mão sobre seu cabelo, ele apertou os lábios em sua têmpora. — Vá então, mere jaan." Minha vida. Porque era o que ela era. A melhor parte dele. — Basta lembrar, nas próximas dez ou mais vidas, você está gastando comigo. — Sim, senhor. — Um toque final, doce de seus lábios. Tomando o gosto de Dev em seus pulmões, em seu coração, Katya recuou para o plano psíquico e começou a fazer o seu caminho através do irregular campo minado de sua mente, contornando os dormentes, os pontos mortos, as vias distorcidas, os epicentros de dor, o núcleo, para o lugar onde ela estava ligada à PsyNet em si. A última vez que ela o tinha visto, tinha sido uma coluna forte e vibrante atado com uma energia azul brilhante que parecia surgir com a pureza ousada da própria vida. Hoje, essa coluna estava esburacada e sem brilho, a energia um lodo preguiçoso. Se ela não fizer isso agora, a morte só seria ser adiada, não parada. E quando ela morrer, não será paralisada e quebrada, trancada dentro do inferno de sua própria mente. Pelo menos hoje, ela ainda podia sentir o corpo de Dev em torno dela, ainda ouvir seus murmúrios de amor e devoção, ainda entender que ela tocou algo extraordinário quando tinha se apaixonado por esse homem. Em pé, diante da coluna morrendo, ela tomou uma respiração profunda. — Oh, como eu te amo, Dev. — Foi incrivelmente fácil de cortar a ligação enfraquecida. Um corte psíquico e ele se foi, seu vínculo com a Net, sua âncora final. Ela esperou que a agonia e não demorou muito a chegar. Agulhas de ferro rasgaram suas entranhas, rasgando sua carne, seus ossos se estilhaçando. Mas ela quase não notou. Porque Dev tinha razão. Nenhum tipo de vírus ou matéria criada poderia viajar fora da rede. Enquanto ela caia, a gaiola Ming não caia com ela. Em vez disso, a prisão, a teia de aranha, as garras, todos foram arrancados de sua mente com força brutalizando, rasgando seu próprio cérebro. A dor foi tão aguda que ela não podia sequer ouvido seus próprios gritos. E então muitos desses picos sádicos ficaram livre, e sua mente parou.


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Dev nunca tinha ouvido um som de tal pura agonia. Segurando Katya enquanto ela convulsionou, quando os gritos dela se transformaram em esfarrapadas respirações ofegantes, ele orou pela primeira vez desde o dia em que viu os olhos de sua mãe ficarem para sempre sem vida. — Por favor, — ele sussurrou. — Por favor. — Pedindo misericórdia, pela libertação. Líquido espalhou ao longo da frente de sua camisa, onde ela apertou o rosto, e ele sabia que era sangue. Mas, ainda assim seu coração batia, ainda os dedos o agarravam. Quanto mais ela iria sofrer? — Deixe-me levá-la, — ele pediu aos céus. Agonia lançou por ele no caminho desse desejo. Ele se manteve abraçado a Katya mesmo quando seus joelhos baterram no chão com força suficiente para enviar uma dor por seu corpo. Rangendo os dentes, ele engoliu a dor, se abrindo para mais. Contra ele, Katya tinha ficado calma, e por essa misericórdia, ele pagaria qualquer preço. Era como se sua pele estivesse sendo cortada de dentro para fora, mil facas cortando-o abrindo. Então, tão abruptamente como tinha começado, acabou. Ele encontrou-se de joelhos no chão, o corpo imóvel de Katya no seu, sua respiração vindo recortada. Havia sangue por toda parte. Alguns eram dele, ele pensou, percebendo que o que tinha acontecido tinha literalmente forçado sangue através de seus poros, mas isso não era importante. Porque Katya estava respirando. — Katya. — Ele segurou seu rosto. Estava quente. Mas seus olhos estavam fechados. E quando ele a agarrou com sua mente, ele encontrou... quase nada. Exceto o simples eco da mulher vibrante que ela tinha sido. Não com morte cerebral, mas próximo a isso. Ombros tremendo de dor, ele trouxe seu corpo flácido ao peito e caiu contra a parede. Dev ignorou o insistente sinal sonoro de seu telefone. Quando não iria parar, ele o jogou na parede em frente a ele, o jogando com raiva o suficiente para partir o aparelho ao meio.


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Dois segundos depois, alguém começou a bater em sua mente, o bater tão forte que eles roubaram sua concentração, seu tempo com Katya. Arreganhando os dentes, ele abriu o olho psíquico e "golpeou" Tag. Isso deveria tê-lo feito recuar. Em vez disso, o telepata sacudiu o golpe e começou a falar com o seu link da Shadownet. "Há um novo segmento, Dev. — A mistura de frustração e admiração no tom do outro homem finalmente conseguiu passar através do sofrimento de Dev. — Você está ouvindo? Há um novo... Mas Dev já estava olhando com angústia o fio prata torcido de sua mente que se ligava a uma estrela desaparecendo. Ela era tão pequena, a estrela, a luz dentro dela mal oscilando. E o fio de prata, era tão frágil, um único impulso descuidado poderia rompê-lo. Quando o amor de sua nani o rodeava, ele não protestava, não fez nada além de quebrar sua alma. Mas parte dele, a parte diretor Shine, foi capaz de pensar, de processar. — Eu pensei que o Shadownet não poderia tomar puro-sangue Psy. — Nós não podemos fazer isso por opção, não como a PsyNet, — disse Nani. — Nós tentamos isso com um suposto desertor nos meus tempos. — Mas ela está aqui. — Nós cometemos um erro crítico, nós esquecemos de levar em consideração a coisa que define esta rede além da PsyNet. Emoção, Devraj. — Sua voz sustentava admiração entrelaçada com tristeza. — Os Esquecidos se ligam no Shadownet eles mesmo se necessário, mas os laços entre os que estão dentro da nossa rede são laços de emoção. Dev ouviu, mas esse tedioso segmento prata, essa conexão que mal estava lá, não poderia ser o seu amor por Katya. — Eu a amo mais do que isso. — Ela tinha se tornado a sua razão de ser. — Ela está morrendo, beta, é por isso que o segmento está tão desbotado. Você sabe disso. Ele sabia, mas ele não queria acreditar. — Ela queria morrer em seus termos, mas não posso deixá-la ir. Agora não. — Não quando ela tinha caído em seus braços. — Eu não acho que sua Katya iria dar-lhe dê má vontade à hora de dizer adeus. Levantando-se de sua posição desmoronada no plano físico, Dev carregou Katya ao banheiro e lhe deu um banho. Ele tomou o máximo de cuidado com ela, lavando o cabelo até brilhar, secando o corpo dela com a mais macia de toalhas. Então, vestiu-a em sua camiseta favorita e as boxers que ela tinha roubado dele dois dias antes, ele se deitou em sua cama. Ela parecia tão calma, como se estivesse dormindo.


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Connor veio de Manhattan mais tarde naquele dia e conectou um tubo de alimentação. — Tire isso, quando estiver pronto, — disse o médico antes de sair. — Ela irá embora sem dor. Connor foi deixado para fazer o seu próprio caminho, enquanto Dev se metia na cama ao lado dela. Ela era tão quente, sua pulsação tão forte, parecia possível que ela iria acordar a qualquer momento. Mas ele sabia que era uma mentira cruel. Ainda assim, ele não podia deixar de ter esperança. E, embora quisesse mantê-la só para si mesmo, quando Ashaya ligou duas horas mais tarde, depois de ouvir o que tinha acontecido através de Tag, ele sabia que não podia. — Tudo bem, — ele disse ao seu pedido de permissão para vir dizer adeus. Ele passou a noite segurando Katya, tentando encontrar a coragem de deixá-la ir. Seus avós dirigiam até ele antes do amanhecer. — Meu Devraj. — Andando ao lado de Katya da cama, sua nani tirou o anel que ela tinha usado no dedo de casamento desde o dia de seu avô a propôs. Suas lágrimas retidas brilharam como um diamante brilhante quando ela entregou a ele. — Aqui. Aceitando o presente, ele deslizou o anel suavemente para o dedo de Katya. — Ela me disse o que queria ser quando crescesse, — ele descobriu que tinha voz para dizer, obrigando-se a levantar-se da cama. — Existem mensagens para mim? — Foi uma pergunta vazia. — Aubry e Maggie tem tudo na mão. Seu nana e Marty vão cuidar do que você não pode. — Uma mão passou sobre seu cabelo. — Este tempo é seu. Ashaya e Dorian não chegaram muito tempo depois, trazendo tanto Keenan e sua "namorada" Noor. — Eles são inseparáveis, — Ashaya disse a ele, como se tivesse medo que ele se importasse. — É bom tê-los aqui, — ele disse, contente com o som do riso, de vida em torno de Katya. Sascha Duncan tinha voado, também, Lucas ao seu lado. Dev sabia que a empata havia vindo para ele, para ajudá-lo, mas ele não quis nenhuma ajuda, não iria machucar menos. — Cruz, — ele questionou Sascha. — Ele está começando a fazer os seus escudos, — a empata disse a ele. — Eu acho que ele vai ficar bem. — Bom. — Deixando Sascha, ele voltou a Katya, querendo contar a ela sobre o rapaz que tinha ajudado a escapar. Ashaya o encontrou ali 40 minutos mais tarde. — Há apenas uma escolha. — Os olhos do M-Psy estavam brilhando molhado, ela colocou uma mão hesitante em seu ombro.


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— Eu sei. — E seu coração se partiu impossivelmente mais a cada hora que passava. — Eu só preciso de um pouco mais de tempo para dizer adeus. Keenan e Noor correram para o quarto, naquele momento, derrapando até parar no final da cama. — Ela está doente? — Keenan perguntou, seu rosto solene. Ashaya colocou a mão sobre a cabeça de seu filho. — Sim, querido. Ela está muito doente. Noor deu a volta de Ashaya para acariciar o cabelo de Katya sobre o travesseiro. — Ela é amiga de Jon. — Sim. — Dev tentou sorrir para a menina, mas não conseguiu fazer seus lábios funcionarem. Ashaya pegou Noor e a colocou na curva de um braço, tomando a mão de Keenan com uma sua livre. — Vamos, bebês. Vamos deixar Katya e Dev sozinhos por um tempo. Apenas consciente do fechamento da porta, Dev deitou na cama ao lado da mulher que detinha sua alma, seu coração, seu tudo. Seu coração ainda batia, sua respiração ainda continuava, mas sua mente, essa linda mente afiada e corajosa foi danificado além do reparo. Ela nunca acordaria agora, mas ele poderia mantê-la viva por muitos anos nas máquinas. Um soluço sacudiu seu corpo. Como ele poderia fazer isso com ela? Com seu riso, com o espírito de Katya? A verdade era que ele não podia. Ele teria que deixá-la ir, pressionando um último beijo em seus lábios, e esperando que o céu seja real, que um dia, ele poderia olhar para cima, e lá ela estaria.


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Ming LeBon estava deitado extremamente ferido em uma camara selada acessivel apenas para os telecineticos com a habilidade de se teletransportar – e o M-Psy que eles trouxeram com eles. De todos os lugares, era o mais seguro desde que os Tks do Esquedrão Arrow cuidaria rapidamente de quaisquer intrusos. — Nós poderiamos mata-lo agora, — Vasic disse sem mudar o tom. Adden assentiu. — Não iria nem tomar muito esforço. Mesmo assim ninguem se moveu. — Ele morre, — Vasic finalmente disse, assistindo dois M-Psy se moverem cuidadosamente em volta do Conselheiro, — isso cria um vácuo. — Isso desestabilizara a rede. Sem saber quem ou o que iria preencher esse vácuo. — Você poderia. — Aden estava bem mais estável que Vasic, do que qualquer dos outros Arrows. ―Ficaríamos do seu lado. — E ninguém – ninguém- nunca foi capaz de resistir à força combinada do Esquedrão Arrow. — Não é hora. — os olhos amendoados de Aden varreram o corpo de Ming, e Vasic sabia que seu companheiro Arrow estava observando cada pequeno machucado, cada fraqueza. — Não podemos mostrar nossa mão. Já perdemos homens o suficiente para que alguns Conselheiros fossem capazes de reunir recursos suficientes para entrarem no nosso caminho. — Kaleb Krychek, — Vasic disse, — teria sido um excelente Arrow. — Eu chequei os arquivos dele. — Aden foi direto. — Os públicos e os privados eu fui capaz de hackear. Ele estava sendo considerado para o treinamento Arrow, até que Santano Enrique decidiu fazer dele seu protegido. Santano Enrique, como Vasic sabia, acabara sendo um assassino sociopata. Era para ser um segredo bem guardado, mas Arrows são sombras, impossíveis de rastrear ou ver. Era trabalho de eles saber as verdades mais sombrias da Rede. — Ele mostra algum sintoma de sociopatia? — Nada que eu pude reparar, mas ele está longe do Silencio. — Nós Também. — Ele encarou Ming. — Nós poderíamos ser capazes de trabalhar com Kaleb.


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— O que faz ele ter qualquer diferença do Ming? — Aden Perguntou. — Ele era um Arrow, e mesmo assim ele nos traiu. — Kaleb tem sangue nas mãos, — Vasig replicou, ele mesmo sabendo tanto sobre a morte, — mas eu não sou capaz de encontrar uma parte dele eliminando um indivíduo que permaneça leal a ele. Aden ficou quieto por um bom tempo. — Quantos Arrows você acha que o Ming matou? — Muitos. — Fazendo o que ele fez, Ming quebrou a regra cardial dos Arrows, era a integridade da rede, do Silencio, era de primeira importância. Tudo o mais, qualquer outra preocupação, era secundaria. Se livrar de outros Arrows tinha aprofundado esse objetivo, os Arrows teriam seguido Ming direto para seus túmulos. Mas Ming tinha feito aquilo por poder. E perdeu seu controle da Esquadra inteira.


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Lucas sabia que Dev havia tomado uma decisão quando o outro homem saiu do quarto de Katya aquela noite. O rosto do Diretor da Shine estava abatido, seus olhos vazios com a perda. — Mais uma noite, — ele disse, quase pra si mesmo. — Amanha de manhã... Sabendo que nada do que ele dissesse nunca seria suficiente, Lucas assistiu em silencio enquanto Sacha atravessava o quarto para tocar uma mão no coração de Dev. O homem ficou parado lá como pedra, e eventualmente, Sascha foi embora, lágrimas escorrendo pelo seu rosto, — Ele não me deixa ajuda-lo, — ela disse, se jogando nos braços de Lucas. — Alguma dor o homem precisa sentir, — ele deu um beijo no topo de sua cabeça, entendendo Dev de uma maneira que poucos homens poderiam. Ele quase perdeu Sascha uma vez, carregaria o terror daqueles momentos para sempre em seu coração. Dev ainda estava parado no mesmo lugar quando Keenan e Noor passaram correndo, rindo. Lucas os viu entrando no quarto de Katya e iria chamá-los de volta quando Dev balançou a cabeça. ―Os deixe. Katya adoraria ver Noor assim. — Parecendo sair do seu estado de choque, o outro homem olhou em volta do quarto. — Connor esta aqui? — La fora com Dorian. Ashaya e sua Avó estão fazendo sanduiches na cozinha. Seu Avô esta no escritório. Assentindo, Dev virou para a esquerda, sem duvida indo conversar com o mádico que iria amanhã anotar o horário oficial da morte de Katya. — Assim esta melhor, gatinha? — ele perguntou à mulher em seus braços. — que Dev tem a chance de se despedir? Sascha balançou a cabeça. — Seu coração esta despedaçado, Lucas – eu sinto que Dev nunca irá realmente se recuperar. — A voz dela quebrou. — Shh. — Mas Lucas, também, teve de engolir um nó na garganta. Dev voltou da conversa com Connor, querendo apenas deitar na cama ao lado de Katya e sentir seu coração bater uma última noite. Mas quando ele entrou no quarto, o que ele viu o fez estacar no beiral da porta. Noor deitou


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enrrolada ao lado de Katya, com sua patinha no peito de Katya. Keenan deitou do outro lado com a patinha em cima da patinha de Noor. — Dev, você viu... — Ashaya parou do lado dele. — Oh, me desculpe. Eu vou chamar Dorian pra me ajudar a carregá-los pra fora. — Não, — Dev se viu dizendo. — Eles só estão fazendo o que os gatos fazem, tentando curá-la com o toque porque ela esta machucada. Ashaya colocou os dedos no braço dele. — Eles são muito pequenos pra entender que ela não pode ser curada. — Eu acho, — ele disse, — que ela teria gostado de saber que ela passou sua última noite cercada de esperança. — Eu sei que você quer se deitar com ela. — Ashaya começou. — Não irei dormir, — Ele precisava olhá-la o máximo que pudesse. E ele olhou. Sentado no fim da cama, um pé nos lençóis, o outro plano no chão, ele a olhou enquanto o crepúsculo virava meia-noite, e depois devagar atá a hora mais escura da noite, quando tudo parecia fazer silencio. Qualquer hora depois das 3 da manhã, ele foi distraído por um tipo de dor em sua cabeça... não, isso não está certo, não doía – era mais como uma mudança dentro de seu crânio, não era desonfortavel, só diferente. Franzindo a testa, ele checou seus escudos psíquicos. Funcionando. Mantendo seus olhos em Katya no plano físico, ele entrou na shadowNet para procurar por interferência externa – ele não permitiria que nada nem ninguém causasse a ela mais dor. Ele não viu de primeira. Mas o quanto mais ele encarava a cintilação da mente de Katya, mais convicto ele ficava de que não estava imaginando isso. A chama dela estava ficando mais forte. Com o coração na garganta, ele voltou para o plano físico e tentou encontrar alguma indicação de que não estava simplesmente criando imagens fantasmas, que ele não estava enlouquecendo com o pesar. Mas ela ainda dormia imóvel e pacificamente como sempre, duas pequenas mãos no seu corpo. Na sua pele. Porque ele não percebeu isso antes? Os dois, Keenan e Noor moveram suas mãos... para os dois lados da cabeça de katya. Quase certo de que estava perdendo a sanidade, Dev se forçou a continuar no plano físico por duas horas inteiras. Só depois ele se permitiu abrir seu olho psíquico. — Meu Deus. —Era um suspiro maravilhado. Com medo de que qualquer perturbação destruiria o milagre, ele ficou no lugar pelas próximas quatro horas, garantindo que ninguém entrasse no quarto. Quando Noor e Keenan finalmente acordaram, segundos de diferença um do outro, ele olhou em seus rostinhos grogues e quase não se segurou de esmagá-los em um abraço. — Bom dia. — Bom dia, — Noor murmurou, esfregando os olhos. — Quero Tally.


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Keenan estendeu a mão para acariciar-lhe o braço, se movendo com se seus membros estivessem muito pesados para levantar. — Tally está em casa, mas eu estou aqui. Um pequeno sorriso. Bocejando, Noor levantou e engatinhou em volta da cama para o lado de Dev, exaustão em cada linha do seu corpo. — Panquecas? — ela disse com esperança enquanto ela acariciava tanto quanto ousava. — Panquecas, — ele sussurrou com a voz que ameaçava tremer, levantando a mão para bagunçar o cabelo de Keenan quando o menino veio se apoiar contra o seu joelho. Enquanto seus avós e Sascha distraiam as crianças com panquecas, Connor e Ashaya começaram a verificar Katya usando o equipamento que Connor tinha em seu kit móvel. Dev poderia dizer que o médico e o M-Psy estavam desconfiados de sua esperança, que eles estavam fazendo isso só para agradá-lo, mas ele não deu à mínima. E quando a boca Ashaya caiu aberta e Connor começou a chingar sob sua respiração, ele não se permitiu cair em alivio. Isso teria de esperar até que ela acordasse. — O cérebro dela, — Connor finalmente disse, — esta curado, de acordo com o scanner. — Ele encarava o equipamento, batendo com a palma da mão como se fosse recalibrá-lo. — Eu preciso de um equipamento melhor. — Entenda, — Ashaya murmurou, olhando para a Katya. — Não tenho a capacidade de ver o dano, mas todas as suas respostas estão normais. Connor pegou seu celular. — Glen, — disse um pouco depois, — Eu preciso que voce voe com um de seus... Dev se desligou do resto da conversa, sabendo o que ele sabia. — Pode vê-la na ShadowNet, — Ashaya disse. — A sua chama é brilhante o suficiente para queimar. — Sua mente, estava diferente; seu eu psíquico cortava com a clareza do cristal. Ela já estava ocasionando olhares curiosos dos Esqeucidos na ShadowNet, nenhum dos quais nunca tinha vislumbrado a presença psíquica afiada de um Psy nascido no Silêncio. — Você não precisa dos scanners, — Ashaya disse com um aceno de cabeça. — Mas o resto de nós precisa. Porque se ela esta curada... Ele espalhou seus sentidos, encontrando duas mentes inocentes e profundamente vulneráveis na cozinha. — Sim. Três horas mais tarde, não havia nenhuma dúvida sobre isso — Não só Katya estava curada, mas ela era suscetível de despertar de seu estado inconsciente a qualquer momento. Forçando-se a sair para a varanda com os outros, assim eles poderiam discutir o que tinha acontecido, ele se viu assistindo protetoramente enquanto Noor e Keenan — agasalhados como pequenos pinguins em casacos, botas, luvas, cachecóis e chapéus — tentavam escalar uma árvore pelo menos dez vezes maior que o seu tamanho


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combinado. Ambos tinham acabado de acordar de uma soneca de duas horas e não estavam se movendo nem perto de seu nível normal de energia. — Qual deles fez isso? — Dev perguntou, ainda em estado de choque. Cada pessoa na varanda sacudiu a cabeça. Ashaya foi a primeira a falar. — Quando eu perguntei a Keenan se havia ajudado Katya, ele me disse 'eles' curaram ela. — Eles? — Sascha inclinou-se para frente, observando as crianças enquanto eles perseguiam um ao outro em círculos. — Sim. Noor correu para o alpendre, naquele momento, lutando nos braços de Dorian. — Ha-ha! — Ela o provocou de seu poleiro alto. — Você não pode me alcançar. Keenan sorriu e levantou-se para agarrar seu pé com botas. — Posso. — Tio Dorian! — Foi um grito rindo. Lucas pegou Keenan e virou-o de cabeça para baixo, para deleite do menino. — Então, — o alfa facilmente, disse — você dois ajudaram Katya. — Sim, — Keenan disse, caminhando nas mãos com luvas através do pórtico enquanto Lucas levantou-lhe. — Noor não podia entrar sozinha. Dev prendeu sua respiração, esperando para ver se as crianças iriam acrescentar mais alguma coisa. — Sim, eu tive que tecer um monte, — Noor disse. — Kee é meu caminhão. Os dois acharam aquilo engraçadissimo. Keenan ainda estava rindo quando Lucas o colocou do lado certo novamente. — Cansa você? — Lucas perguntou. — Sim. — Noor assentiu com a cabeça. — Minha cabeça está cheia agora. — Keenan, e você? Mas era Noor, que respondeu. — A cabeça de Kee está tranquila. Vendo algo se mover através da neve, Keenan saltou através do pórtico em emoção. — Vamos lá, Noor! — OK, OK. — Beijou Dorian na bochecha, a menina pediu para ser colocada no chão e, em seguida, ela foi atrás Keenan conforme ele correu de volta para sua árvore de escalada. — Havia rumores, — Nani murmurou, — que no passado alguns Psy nasceram com dons que só funcionavam em conjunto. — Noor não mostra quaisquer habilidades ativas quando a testamos na Shine, — Dev disse, sabendo que tinha uma dívida para esses dois bebês que nunca poderia pagar. — Mas ela carrega uma elevada porcentagem de genes Psy. — Meu filho, — Ashaya murmurou, — é um telepata. Ele é de médio gradiente, mas nesta variação, ele é cristalino. Um caminhão... um canal.


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Sascha assentiu com a cabeça. — Para o que for que Noor faça, ela estava ‗tecendo‘. Dorian piscou. — Hein. Ela disse ao Arrow que ajudou William que eles eram iguais. Mas eu tenho certeza que mesmo ele não pode fazer isso. Ela é, eles são ambos únicos. — Sim, — Ashaya concordou. — Eu nunca ouvi falar de um M-Psy, alguém que pode curar esse tipo de lesão. — Não importa se podemos ou não definir seu dom, temos de protegêla, protegê-los ambos, — Dev disse, encontrando os olhos de Lucas. — Diga a Talin e Clay que têm todos os recursos de Shine à sua disposição. Se outros descobrirem o que ela e Keenan podem fazer... — Nós vamos todos protegê-los, — disse que Lucas, e foi um juramento. — Ninguém vai se aproveitar dos dois. — Sim. — Havia temor na voz de Sascha. — Keenan está claramente esgotada, e o que disse Noor, sobre sua cabeça estar cheia, acho que ela está ardendo, seu dom foi entorpecido pelo uso excessivo. Ashaya, o que você pode dizer sobre Keenan? Ashaya assentiu com a cabeça após pausar por um momento. — Ele está sem chamas também. — Preocupação no seu tom. — Pode levar dias para se recuperarem. — Mas vão se recuperar, — Sascha tranquilizou-a. — Eles apenas sobrecarregaram seus músculos psíquicos. — Nós precisaremos ter cuidado à quem e à que vamos expô-los, — Lucas disse. — Keenan a adora tanto, ele vai seguir sua liderança, e ela não será capaz de não evitar de tentar curar os feridos, mesmo que isso signifique que ela se machuque no processo. Um olhar sobre o sua companheira. Enquanto Sascha olhava para o alpha DarkRiver, Ashaya sussurrou, — Um dom em conjunto... É extraordinário. — Não realmente, — Dorian murmurou, surpreendendo a todos eles. — Keenan tem uma mãe gêmea, depois de tudo. Um silêncio congelador. — Oh. — Ashaya piscou. — Sim, claro. Amara e eu sempre fomos capazes de nos fundir. — Então, talvez, — Sascha teorizou, — Keenan nasceu com uma habilidade inata para mesclar com outra mente. Talvez fosse questão dele apenas achar a mente certa. — Uma pausa. — E o ambiente certo, as habilidades em conjunto são susceptíveis de florescer em uma rede que pune qualquer tipo de uma conexão emocional. — Sim. — Ashaya assentiu com a cabeça. — É uma ligação muito íntima.


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Sascha virou-se para seu companheiro de matilha. — E provavelmente não é um que você poderia forjar com a simples prática. É por isso que eles deixaram de existir. Mas o potencial estava sempre lá. — Temos de monitorá-los, — Ashaya disse, com olhos preocupados. — Eu não quero qualquer um deles indevidamente influenciando o outro. Keenan é meu bebê, mas telepatas jovens nem sempre distinguem o certo do errado quando se trata de suas habilidades psíquicas. Dev sacudiu a cabeça, assistindo Keenan ajudar Noor subir no primeiro ramo. — Eu não acho que temos que nos preocupar com isso. Apreciam um o outro demais para tentar mudar a outra pessoa. — Seria considerado uma forma ruim controlar a mente de seu futuro companheiro, — Dorian disse secamente. Ashaya riu do olhar surpreso de Dev. — Esses dois são muito determinados que pertencem um ao outro. Tenho a sensação que teremos dificuldade em impedi-los de pularem um no outro quando bater os hormônios adolescentes. O pensamento fez todos sorrirem. As crianças continuaram brincando, inconscientes de quão extraordinário eles tinham se provado.


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Dev queria tanto falar com Katya, mas ela permaneceu inconsciente. Ele continuou indo para a Shadownet, verificando se o fino fio de prata que os ligavam ainda estava lá. Ele teve uma surpresa na quinta vez que ele verificou. O prata tinha virado dourado. No dia seguinte, o ouro se tornou platina, uma corda sólida e inquebrável. Sua nani o encontrou na Shadownet. — Olhe para isso, beta. Lindo. — É mais forte do que qualquer outro segmento. — Ele continuou correndo os dedos psíquicos ao longo do comprimento do mesmo, surpreso e encantado em medidas iguais. Nani riu. — É claro que é. — Uma onda de carinho o rodeava. — É o amor. — Sim. — Ele sentiu seu coração se expandir. — É também porque ela não pode acessar o biofeedback por si mesma. Ela tem acesso ao Shadownet porque sua mente está perto o suficiente para permitir a nossa, mas ela está ligada a mim, não na própria rede. Eu tenho que conseguir o biofeedback para nós dois. — Isso te incomoda? — Não, há mais do que suficiente para dar de volta. — Seu coração inchou. — Eu gostaria de ter sabido que iria funcionar antes. — O amor é imprevisível, Devraj. Essas ligações, não podemos controlar. — Nunca gostei de surpresas, — Dev disse. — Mas eu acho que eu mudei de ideia. Enquanto sua nani ria, sentiu Katya despertar, a sua ligação um com o outro, tão profunda e verdadeira, o conhecimento era instinto. Desconectando da rede, ele entrou no quarto, assim quando seus olhos se abriram. — Ei, dorminhoca. — Levou um controle incrível para manter seu tom leve, o rosto calmo. Dev? Um olhar confuso. Mas...


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— Shh. — Beijando-a suavemente na têmpora, ele ajudou-a a sentarse, seu coração batendo em dobro. Ela tinha falado telepaticamente e ele tinha ouvido. Era um outra peça se encaixando no lugar, outra alegria. — Eu vou explicar tudo. E ele fez. Ninguém os interrompeu, sabendo que sua avó tinha colocado um sentinela barrando a porta. — Esses dois são um milagre, — Katya sussurrou. — Querido Deus, Dev, se o Conselho alguma... — Eles nunca vão descobrir, — Prometeu a ela. — Todos nós, da Shine, os gatos, todos nós vamos todos protegê-los. Seu rosto se torceu. — E pensar que, — ela disse, — que Larsen teria destruído Noor se tivesse a chance. Ele nunca entendeu o presente que ela é. — Você fez. — Ele passou a mão em seus cabelos. — Lucas planeja pedir-lhe desculpas por perseguir você em forma de pantera. Isso a fez sorrir. — Eu achei que iria morrer naquela noite. — Não, — ele disse, fechando os braços em torno dela. — Você tinha que viver para me conhecer. Sua mão se espalhou sobre o peito. — Como eu estou ligada em sua Shadownet? — Através de mim, — ele disse. — Minha avó concorda, que sua conexão é somente através de mim. É o nosso "vínculo de acasalamento", como os changelings colocaram, que está te mantendo na Shadownet. — Um vinculo de acasalamento. — Ela sorriu. — Eu gosto disso. — Katya, significa que se eu morrer, — ele disse a ela, — você também irá. Um brilhante olhar para ele. — Isso é o que acontece com os changelings, você sabe. Um morre, o outro não dura muito tempo. — Como você sabe? — Eu fiz alguma pesquisa uma vez. Eu estava curiosa. — pontas dos dedos acariciando seu rosto. Dev compreendeu. — Não apenas changelings. Os seres humanos definham, também. — Mas, — ela disse com um sorriso: — Eu gostaria de ter uma vida longa com você, portanto, fique seguro. — Você também. — Ele a alcançou até cobrir-lhe a mão com a sua, segurando-a contra o seu rosto. — Porque se você morrer, assim eu também irei. Um sorriso que mantinha uma faísca de malícia, uma coisa brilhante e nova. — Você vai definhar? — Não é nenhum motivo de riso. — Mas ele estava sorrindo, também. — Dev, meu Dev. — Ela levantou-se para ficar acima dele, o rosto brilhando de felicidade.


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Colocando uma mão em seu quadril, o outro em sua parte inferior das costas, ele abaixou a cabeça e deixou beijos impressos por todo o rosto, toques fugazes de amor, de afeto, de promessa. — Você me salvou, você sabe, — ele disse entre beijos. Um olhar curioso. — Todo mundo estava se preocupando se o metal iria me levar. — Ele cheirou a curva de seu pescoço. — Mas como pode isso quando você tem uma linha reta até meu coração? — Dev. — Mais beijos e toques suaves. Em seguida, um sussurro em seu ouvido. — Eu tenho medo de olhar para a sua Shadownet. Ele encontrou-se sussurrando, brincando com ela. — Você? Medo? — Ele deslizou sua mão sob os lençóis para fechar sobre sua coxa. — Não é a minha Katya. — Você vai segurar minha mão? — Sempre. Dev estava esperando por Katya no plano psíquico, quando ela abriu a porta mental de sua mente e deu o primeiro passo em direção ao caos cintilante de uma rede de milhares de mentes, milhões de conexões emocionais. Ele sentiu o choque, mas ela manteve a sua ligação e ficou no lugar, olhando, aprendendo. — É... — Ele sentiu sua admiração, seu terror. — Você se acostuma com isso. — Sim? — Uma questão de rir. — Querido Deus, Dev. Como navegar nisso? — Siga os fios. — Mas eu só tenho um para você. — Você pode saltar fora, para os fios dos outros, — explicou. — Enquanto você realmente não tentar ligar uma linha emocional sem permissão, ninguém se importará se você usar os fios como pontos de navegação. — E isso, — ela disse com um profundo suspiro, — é definitivamente um lugar que exige navegação. — Você está errada, você sabe, — Dev disse, cutucando-lhe a atenção para o lado. — Você tem outros fios. — Mas eu não conheço ninguém aqui. — Ela tocou o fio. — É a sua avó! Ele a sentiu seguir o fio, sabia quando ela tinha chegado ao fim. — Eu a vejo, mas vejo também... seu avô? — Sim, você tem um link para ele por ela. Como você tem um link para milhares através de mim. Ele podia vê-la pensar que acabou. — Quando eu formar mais conexões, você vai ser capaz de acessá-los, também? — Em um certo nível, — ele disse. — Depende do meu vínculo emocional com o próprio indivíduo. Olhe.


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Ela seguiu o dedo até um cintilante fio de prata-azul que brilhava como diamante brilhante. — Quem é esse e por que estou ligado a ela? — Curiosa como uma criança, ela tocou a mão psíquica para o fio azul-prateado. — Tiara. — Ele viu o sorriso no plano físico. — Ela gosta de mim o suficiente para que este link se forme. — Ela sempre é uma lunática. — Eu acho que ela tem bom gosto. — Ela jogou os dedos sobre o fio. — Isso está bem. — Você acabou de começar uma amizade. Se vocês se separarem, em vez de se juntarem, o fio vai desaparecer também. — Eu acho, — ela murmurou, — amantes na Shadownet sempre sabem onde estão. — Se os dois estiverem ligados psíquicamente, — ressaltou. — Caso Os Esquecidos formem uma ligação íntima com um ser humano, o ser humano é puxado nominalmente para rede. Podemos ver a mente, mas ele está automaticamente protegido, nos pensamos que a Shadownet faz isso porque de outra forma os seres humanos seriam muito vulneráveis. Mas tem o efeito colateral de bloquear o acesso à rede. — Um som de frustração. — Nós nunca sequer consideramos que seria de outra forma com os Psy, que a Shadownet iria reconhecê-la diferente disso. — Você não tinha nenhuma razão para pensar isso, — ela disse, acalmando-o. — A aceitação da Shadownet é um presente, mas é apenas uma resposta para aqueles que amam. — Aqueles que se atrevem a amar. — Sim. — Outra pausa enquanto examinava a multidão de fios entrelaçados e emaranhados ao redor deles. — Esta rede é muito, muito complexa. Ele sorriu. — Essa é a minha Psy. Um tapa mental brincalhão desceu a linha quando ela começou a descobrir como as coisas funcionavam. — Está aberto, isso é o que a difere. Sua Shadownet está aberto a conexões externas e influências, mesmo protegida, essas mentes humanas trazem algo para a rede. Ele tomou um tempo para pensar nisso. — Sim, eu acho que você está certa. — Mas isso significa também, — ela apontou, — esta rede não pode reter informações com a mesma eficiência que a PsyNet. Ou você pode ainda encontrar dados neste caos? — Não sem procurar um pedaço inteiro de um lote. Mais fácil usar computadores. — Ele riu de sua expressão no plano físico. — Isso pode ser útil nesse sentido, às vezes, mas, principalmente, a Shadownet é sobre a alimentação de nossa necessidade psíquica por conexão, por família.


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— E sobre o biofeedback, — ela perguntou, se preocupando com um fio irregular em sua assinatura emocional. — Estou tomando muito. Se sua rede desprende energia... Isso não importa. Olhe ao redor. Estamos sobrecarregado com isso. — Você não está, né? — Ela murmurou. — É porque você alimenta as coisas de volta para o outro, de alguma forma, aumentando a produção. O amor vai para fora, o amor vem de volta, e a energia cresce a cada troca... — Outra pausa. — Dev, os caminhos psíquicos são diferentes. É como se minha mente está um pouco fora de sincronia. Ele sabia disso, e esperava que ela fosse capaz de navegá-los. — Você pode se mover ao longo deles? — Não é fácil ou instintivamente, mas sim. — Quase um minuto de silêncio. — Na verdade, eu acho que vou gostar do desafio intelectual. Há muito para explorar. Apesar de seus comentários intrigados, ele podia senti-la começar a sobrecargar com a intensidade das emoções na Shadownet. Tomando uma decisão de comando, ele intimou-a para volta para o plano físico. — Eu não tinha terminado, — ela quase rosnou para ele. Ele abraçou-a. — Você está exausta. — Foi apenas uma entrada cheia. — Ela se aconchegou contra ele, puxando a camisa para tocar a pele, que se apertou no primeiro contato de seus dedos. — A PsyNet está cheia de puros dados, há peças incontáveis fluindo a cada fração de segundo. O diretor da Shine em Dev podia ver o recurso. — Você seria capaz de saber o que estava acontecendo a cada minuto de cada dia. — Isso, ele teve que admitir, seria muito útil. — Sim. Mas é fria. Dados são sempre frios, ele simplesmente existe. Mas a Shadownet, cada fio conta uma história e cada um carrega um sabor emocional diferente. Eu quero tocar cada um, conhecer cada um! — Isso, minha linda rebelde Psy, — ele disse, falando contra a plenitude exuberante de seus lábios, — vai demorar pelo menos um milhão de anos. Uma risada feminina rouca, dedos lúdicos dançando ao longo do cós da calça jeans. — Eu acho que eu vou ter que dar um beijo de cada vez.

ARQUIVOS DA FAMÍLIA PETROKOV Carta datada de 05 de maio de 1995. Querida Mateus, Hoje, enquanto eu observava você prometer honrar e estimar a mulher que ama, eu vi o começo de uma madrugada tão brilhante, nada ousará ficar


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em seu caminho. A nossa esperança, a nossa coragem, o nossa coração continua em sua vontade de amar, de ser vulnerável, de se machucar. Aqueles na Net chamam-nos de fracos, mas eles estão errados. É fácil ignorar a emoção, barrar os caminhos da alma. Se eu não tivesse amado seu pai, sua morte não teria quebrado para sempre uma parte de mim. Mas se eu não tivesse amado do seu pai, eu nunca saberia o que é ser humano. À medida que os anos passam, eu espero que você lembre-se disso, que os filhos de seus filhos se lembrem disso. E quando as sombras retornarem, como elas eventualmente fazem, lembre-se, também, sobrevivemos a uma. E vamos continuar sobrevivendo. Nada é mais forte do que a vontade do coração humano. Com todo meu amor, Mamãe

Fim...


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Bonds of Justice (Psy-Changeling #8)

Max Shannon é um bom policial, um dos melhores em Nova York. Nascido com um escudo natural que o protege contra as invasões mentais dos Psys, ele sabe que tem poucas chances de penetrar dentro da dominante estrutura de poder Psy. O último caso que espera ser atribuído é sobre um alvo de um assassino, que acaba por ser o assessor mais intimo de um Conselheiro Psy. E a última mulher que ele espera seduzi-lo na forma mais sensual é uma Psy na iminência de uma catastrófica fratura mental.


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Tradutores PRT Mirian, Josy, Jessica, Vanessa, Carol, Jana,

TAD Kinha, Lud, Bianca, Anna Thais, Catty, Hellen

Revisores Lud, Juju


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Ordem da SĂŠrie 1. Slave to Sensation 1.5 - The Cannibal Princess 2. Visions of Heat 3. Caressed By Ice 3.5 - Beat of Temptation 4. Mine to Possess 5. Hostage to Pleasure 5.1 - Stroke of Enticement 5.5 - A Gift for Kit 6. Branded By Fire 7. Blaze of Memory 7.5 - A Conversation 8. Bonds of Justice 8.5- Whisper of Sin 9. Play of Passion 9.2 - The Party 9.5 - Wolf School 10. Kiss of Snow 11 - Tangle of Need


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