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D. Estêvão Bettencourt, O.S.B.

Curso de Liturgia Mater Ecclesiae

Edição revista e ampliada por:

Pe. Fabio da Silveira Siqueira


Copyright © Arquidiocese do Rio de Janeiro, 2017 Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da Escola Mater Ecclesiae, poderá ser reproduzida ou transmitida, sejam quais forem os meios empregados.

Editor João Baptista Pinto

Capa e Editoração Luiz Guimarães

Revisão Fabio da Silveira Siqueira

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.

B463c

Bettencourt, Estêvão, 1919-2008 Curso de Liturgia / Estêvão Bettencourt. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Letra Capital, 2017. 260 p. : il. ; 15,5x23 cm. Inclui bibliografia e índice ISBN 978-85-7785-485-1

1. Igreja Católica - Liturgia. I. Título.

16-36200 CDD: 264.02 CDU: 272-282

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Letra Capital Editora

Telefax: (21) 3553-2236/2215-3781 vendas@letracapital.com.br


Introdução

Com grande alegria apresentamos esta nova edição do Curso de Liturgia de nosso estimado Dom Estêvão Bettencourt, OSB, cofundador das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida. Em 1989, Dom Estêvão Bettencourt, OSB, publicou a apostila de liturgia para ser utilizada em nossos cursos por correspondência e presenciais. A apostila continha 38 módulos, assim organizados: do primeiro ao décimo primeiro, se fazia uma introdução geral à liturgia e ao universo sacramental; do módulo doze ao módulo trinta e três eram estudados os sacramentos em particular e, por fim, do módulo trinta e quatro ao trinta e oito, estudava-se o ano litúrgico e a liturgia das horas. Treze anos depois, em 2002, Dom Estêvão publicou o Curso de Sacramentos, também com trinta e oito módulos, dividido em três partes: aspectos linguísticos (módulos 2 a 5); aspectos sistemáticos (módulos 6 a 8); os sacramentos em particular (módulos 9 a 38). Alguns módulos se repetiam inteiramente nas duas apostilas. À guisa de exemplo, citemos os módulos 18 da apostila de liturgia e o módulo 20 da apostila de sacramentos. Em outros módulos, alguns assuntos na apostila de liturgia eram aprofundados na de sacramentos e vice-versa. Alguns anos atrás, quando começamos a fazer a atualização das apostilas, transformando-as em livros e atualizando o que fosse necessário em cada uma delas, eu, juntamente com o professor Daniel Rios, então coordenador geral das Escolas de Fé, pensamos em reorganizar o material, de modo a eliminar os módulos ou partes de módulos que se repetiam. Pensamos, então, em dispor na apostila de liturgia somente o que fosse necessário a uma introdução geral à liturgia e ao universo sacramental, deixando na apostila de sacramentos o que dissesse respeito aos sacramentos em particular. Tal ideia foi gestada durante algum tempo e agora foi levada a cabo por mim. Por isso, faço uma breve apresentação das alterações que realizei no curso de liturgia. Curso de Liturgia Mater Ecclesiae 3


A primeira das alterações é a que já tem sido feita em todos os cursos. Os antigos “módulos” agora se chamam “capítulos” e o curso sai num formato de livro, mais moderno e prático, registrado junto à Biblioteca Nacional, para que não que faça um uso indevido e não citado da grande obra que nos foi legada por Dom Estêvão Bettencourt, OSB. A Apostila foi dividida em duas grandes partes: Capítulos 1 a 16: Introdução Geral à Liturgia Capítulos 17 a 24: Os Sacramentos em Geral Os primeiros cinco capítulos do novo livro, continuam iguais aos da antiga apostila, apenas com alguns acréscimos de notas de rodapé, visando esclarecer um outro ponto. Foi criado um capítulo novo (capítulo 6), que não existia no antigo curso, intitulado “Liturgia e Evangelização”. Ali se faz uma reflexão das relações existentes entre evangelização e liturgia, e entre liturgia e catequese; isto foi feito com base na Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi1, Sobre a Evangelização no Mundo Contemporâneo. Os capítulos sete e oito – Culto Sagrado e Memória, memorial – correspondem aos antigos módulos seis e oito. O módulo sete – os Santos Mistérios – foi deslocado para a segunda parte da apostila (capítulo 17). O capítulo nono também é novo, e foi intitulado “A Liturgia e o Mistério Pascal de Cristo”. Nele se reflete brevemente sobre a Páscoa vétero-testamentária, o sentido que a Páscoa adquiriu no Novo Testamento e como se compreende a relação entre Liturgia e Mistério Pascal. O capítulo décimo – Espiritualidade Litúrgica – corresponde ao antigo módulo nono, na sua integralidade. O antigo módulo 34, por sua vez, que tratava do tempo sagrado, foi ampliado e dividido nos capítulos onze e doze que tratam do Tempo Sagrado e do Ano Litúrgico, respectivamente. Os capítulos treze a dezesseis tratam, por sua vez, da liturgia das horas e do uso cristão dos salmos, o que era tratado nos antigos módulos trinta e cinco a trinta e oito. Assim encerra-se a primeira parte da apostila. 1

Papa Paulo VI, 1975.

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Na segunda parte da apostila, onde tratamos dos “Sacramentos em Geral” temos oito capítulos. O atual capítulo dezessete – Os Santos Mistérios – é fruto da síntese dos módulos sete da antiga apostila de liturgia e do módulo três da apostila de sacramentos. Os atuais capítulos dezoito e dezenove, correspondem aos módulos cinco e seis do curso de Sacramentos – A História da Sacramentologia e Cristo, Sacramento Primordial. O atual capítulo vinte – O Conceito de Sinal – corresponde ao módulo dois da apostila de sacramentos e os capítulos vinte e um e vinte e dois aos módulos dez e onze do antigo curso de liturgia. Por fim, os capítulos vinte e três e vinte e quatro, correspondem aos módulos sete e oito do curso de sacramentos. Com tal reorganização conseguimos manter no curso de liturgia somente o que diz respeito, como já dito acima, à introdução geral à liturgia e à sacramentologia genérica. Todos os módulos que se referem aos sacramentos em particular foram retirados, a saber os módulos doze a trinta e três. Os assuntos tratados nestes módulos não ficam perdidos, pois como também já foi dito acima, Dom Estêvão tratou dos mesmos assuntos, algumas vezes mais resumidamente, outras vezes de modo mais amplo, no atual curso de sacramentos em circulação nas Escolas de Fé. Quando da futura, e esperamos que breve, atualização e reimpressão do Curso de Sacramentos, que será também transformado em livro, será feita a comparação entre os módulos de uma e outra apostila. Os que forem idênticos não serão, obviamente, duplicados. Quando houver o mesmo assunto tratado de modo mais amplo num ou noutro curso, manteremos o módulo ou a parte do módulo que tratar o assunto de modo mais detido e profundo, preservando, como temos feito em todas as revisões dos cursos, o máximo possível, a palavra original de Dom Estêvão. Os módulos que no Curso de Sacramentos tratavam da sacramentologia genérica e que já entraram no atual Curso de Liturgia, agora reimpresso, serão, obviamente, eliminados, uma vez que já foram, aqui, inseridos. Mais uma vez expressamos nossa profunda veneração pela figura e pela obra de nosso estimado co-fundador, Dom Estêvão Bettencourt, OSB, idealizador dos Cursos por Correspondência, e autor de todas as suas apostilas. Nosso desejo, ao atualizar os cursos, não é de forma alguma, alterar ou macular o pensamento de Dom Estêvão. Pelo contrário, queremos preservar ao máximo os cursos, mas Curso de Liturgia Mater Ecclesiae 5


atualizando-os ou reorganizando-os, a fim de que continuem servindo à sua finalidade: “formar cidadãos do céu”, como dizia seu autor. Esperamos que o novo Curso de Liturgia continue sendo um precioso auxílio para nossos alunos do curso por correspondência; também para os professores e alunos de nossos cursos presenciais na Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro e para todos aqueles que quiserem se servir de tal obra para seu estudo pessoal. No início, oferecemos uma bibliografia básica e segura, para que nossos alunos/leitores possam aprofundar os conteúdos aqui expostos. Oferecemos, também, na forma de anexo, no final do livro, a Tabela dos Dias Litúrgicos e a Tabela para Missas Rituais, para Diversas Circunstâncias, Votivas e Missas pelos Falecidos. Agradecemos de modo muito particular a nosso estimado pastor, Dom Orani João Tempesta, O.Cist., que muito nos anima e acompanha em nossa tarefa de ajudar a manter acesa a chama da fé em nossa comunidade Arquidiocesana e em todos os lugares onde a preciosa obra de Dom Estêvão Bettencourt, OSB já chegou e ainda chegará. Nossa gratidão, também, a nosso Diretor, Dom Paulo Alves Romão, bispo auxiliar de São Sebastião do Rio de Janeiro, que com seu zelo de pastor nos acompanha em nossas tarefas. Conservamos nas páginas seguintes a apresentação original do livro escrita por nosso estimado Dom Estêvão Bettencourt, OSB. Assim, nossos alunos poderão captar um pouco de suas aspirações quando da elaboração original deste presente curso. Por fim, nossa gratidão a nossos coordenadores de núcleos presenciais, evangelizadores, a toda a equipe Mater Ecclesiae e Luz e Vida e aos nossos estimados alunos e leitores de nossos cursos. Que Deus recompense o esforço de cada um e que façamos nossas as palavras do salmista: “Eu te celebro, Senhor, de todo o coração, pois ouviste as palavras de minha boca. Na presença dos anjos eu canto a ti, e me prostro voltado para o teu Sagrado Templo” (Cf. Sl 138[137],1-2). Rio de Janeiro, 5 de novembro de 2017 Solenidade de Todos os Santos Pe. Fabio da Silveira Siqueira Vice-diretor

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Apresentação

Caro(a) Cursista, Você começa hoje um Curso de Liturgia... Estudar a S. Liturgia é mais do que aprender ritos e rubricas do culto sagrado. É aprofundar a sua espiritualidade e disporse a descobrir novos aspectos da figura de Cristo Sacerdote, do Sacramento da Igreja e das celebrações da vida cristã. É proporcionar firme fundamento à sua vida de oração e de união com Deus. A Liturgia, intimamente associada ao uso da S. Escritura, é a grande fonte de vitalidade da Igreja e do cristão, como nos diz o Concilio do Vaticano II: “A Liturgia é o cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte donde emana toda a sua força. Pois os trabalhos apostólicos convergem para uma finalidade, a saber: que todos, feitos pela fé e pelo Batismo filhos de Deus, juntos se reúnam, louvem a Deus na Igreja, participem do Sacrifício e da Ceia do Senhor” (Constituição Sacrosanctum Concilium1 nº 10). “Toda celebração litúrgica, como obra de Cristo Sacerdote e de seu Corpo que é a Igreja, é uma ação sagrada por excelência, cuja eficácia, no mesmo título e grau, não é igualada por nenhuma outra ação da Igreja” (SC nº 7). Queira, pois, estudar com o intelecto e meditar com o coração o que lhe será oferecido neste Curso. Folheie a sua Bíblia, procurando reconhecer as citações que as lições proporão. E aplique os novos conhecimentos à consolidação de sua vida espiritual. Somente assim você conseguirá colher os frutos que o aprofundamento da S. liturgia lhe pode propiciar. A Constituição Sacrosanctum Concilium algumas vezes é designada, no decorrer do texto, somente pela sigla SC. 1

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Não temos prazos para terminar o Curso. Mas não pare na caminhada. Caso sinta alguma dificuldade no estudo, diga-nos em que consiste, e procuraremos ser-lhe úteis.2 Para sua orientação, segue-se no verso o elenco dos temas que sucessivamente abordaremos em nosso percurso.3 Bons estudos e bom proveito, com a graça de Deus! Pe. Estêvão Bettencourt O.S.B.

2 A Escola Mater Ecclesiae tem, hoje, novas orientações a respeito do prazo para finalização do curso. Isso vem descrito na carta que o cursista recebe quando inicia o mesmo curso. Não alteramos este texto porque era nosso objetivo deixar, no início da apostila, as palavras originais do autor. 3 Nesta nova edição o índice se encontra no início da apostila. Não alteramos também aqui o texto pelo que já foi exposto acima na nota 2.

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Índice Geral Bibliografia......................................................................................... 11 Parte I: Introdução Geral à Liturgia Capítulo 1: O Que é Liturgia? (I)...........................................17 Capítulo 2: O Que é Liturgia? (II).........................................25 Capítulo 3: A Renovação Litúrgica (Histórico).....................35 Capítulo 4: Jesus Cristo...........................................................45 Capítulo 5: A Igreja.................................................................53 Capítulo 6: Evangelização, Catequese e Liturgia..................61 Capítulo 7: O Culto Sagrado..................................................71 Capítulo 8: Memória, Memorial.............................................81 Capítulo 9: A Liturgia e o Mistério Pascal de Cristo............89 Capítulo 10: Espiritualidade Litúrgica ...................................97 Capítulo 11: O Tempo Sagrado.............................................107 Capítulo 12: O Ano Litúrgico................................................115 Capítulo 13: A Liturgia das Horas (I)....................................129 Capítulo 14: A Liturgia das Horas (II)..................................139 Capítulo 15: Os Salmos (I)......................................................149 Capítulo 16: Os Salmos (II)....................................................159 Parte II: Os Sacramentos em Geral Capítulo 17: Os “Santos Mistérios”........................................171 Capítulo 18: A História da Sacramentologia.........................185 Capítulo 19: A Humanidade de Cristo – Sacramento Primordial..........................................................197 Capítulo 20: Sinal....................................................................207 Capítulo 21: Os Sacramentos – Sinais Eficazes.....................217 Capítulo 22: Os Sacramentos – Caráter Sacramental...........229 Capítulo 23: A Instituição dos Sacramentos.........................239 Capítulo 24: Matéria e Forma dos Sacramentos...................249 ANEXOS..........................................................................................255 Curso de Liturgia Mater Ecclesiae 9



Bibliografia ABAD, J. A. et GARRIDO, M. Iniciación a la Liturgia de la Iglesia. Madrid: Pelicano, 20074. ALDAZÁBAL, J. A Eucaristia. Petrópolis: Vozes, 19992. ASSEMBLEia PLENÁRIA DOS BISPOS. Via Pulchritudinis, o caminho da beleza [trad. Claudio Pastro]. São Paulo: Loyola, 2007. AUGÉ, M. Advento, Natal, Epifania. São Paulo: Ave-Maria. 2005. AUGÉ, M. Liturgia: história, celebração, teologia e espiritualidade. São Paulo: Ave Maria, 20042. BERGAMINI, A. Ano Litúrgico. In: SARTORE, D. et TRIACCA, A. M. Dicionário de Liturgia. São Paulo: Paulus, 19922, pp. 58-63. BERGAMINI, A. Cristo, festa da Igreja. O Ano Litúrgico. São Paulo: Paulinas, 1994. BOROBIO, D. (org.). A celebração na Igreja. 3 volumes. São Paulo: Loyola, 1990. BOROBIO, D. Celebrar para viver. São Paulo: Loyola, 2009. CASEL, O. O mistério do culto no cristianismo. São Paulo: Loyola, 2009. Cerimonial dos Bispos, Cerimonial da Igreja. São Paulo: Paulus, 20043. CORBON, J. A fonte da liturgia. São Paulo: Paulinas, 1999. DANIÉLOU, J. Bíblia e Liturgia. São Paulo: Paulinas, 2013. DI SANTE, C. Liturgia Judaica. São Paulo: Paulus, 2004. DULLES, A. A Igreja e seus modelos. São Paulo: Ed. Paulinas, 1978. EUSÉBIO DE CESARÉIA. História Eclesiástica. [Coleção Patrística Vol. 15]. São Paulo: Paulus, 2000. FLORES, J. J. Introdução à Teologia Litúrgica. São Paulo: Paulinas, 2006. KLOPPENBURG, B. Fé do Cristão Católico Hoje. Petrópolis: Vozes, 2001. LEAL, J. Actas Latinas de Mártires Africanos. Madrid: Editorial Ciudad Nueva, 2009. Curso de Liturgia Mater Ecclesiae 11


MARSILI, S. et alii [org.]. Anamnesis. São Paulo: Paulus (vários volumes). [A obra em italiano tem sete volumes publicados e pertence a Marietti Editrice de Turim]. MARSILI, S. Sinais do Mistério de Cristo. São Paulo: Paulinas, 2009. MARTÍN, J. L. A Liturgia da Igreja. São Paulo: Paulinas, 2006. MARTIN, J. L. No Espírito e na Verdade. 2 volumes. Petrópolis: Vozes, 1996. NEUNHEUSER, B. Espiritualidade Litúrgica. In: SARTORE, D. et TRIACCA, A. M. [org.]. Dicionário de Liturgia. São Paulo: Paulus, 19922, pp. 370-388. NEUNHEUSER, B. Mistério. In: SARTORE, D. et TRIACCA, A. M. Dicionário de Liturgia. São Paulo: Paulus, 19922, pp. 756-771. NEUNHEUSER, B. Movimento Litúrgico. In: SARTORE, D. et TRIACCA, A. M. Dicionário de Liturgia. São Paulo: Paulus, 19922, pp. 787-799. RATZINGER, J. Introdução ao Espírito da Liturgia. São Paulo: Paulinas, 20125. RATZINGER, J. O novo Povo de Deus. São Paulo: Edições Paulinas, 1969. SARTORE, D. Catequese e Liturgia. In: SARTORE, D. et TRIACCA, A. M. Dicionário de Liturgia. São Paulo: Paulus, 19922, pp. 175-183. SCHOTTROFF, W. ‫( רכז‬zkr). In: JENNI, E. et WESTERMANN, C. (ed.). Diccionario Teologico Manual del Antiguo Testamento. Madrid: Ediciones Cristiandad. 1978. V. I. pp. 203-207. SILVA, J.A. O Movimento Litúrgico no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1983. SORCI, P. Mistério pascal. In: SARTORE, D. et TRIACCA, A. M. Dicionário de Liturgia. São Paulo: Paulus, 19922, pp. 771-787. TERTULIANO. De Oratione. Juiz de Fora: Edições Subiaco, 2011. VAGAGGINI, C. O sentido teológico da liturgia. São Paulo: Loyola, 1999. VAN DEN BORN, A. Dicionário Enciclopédico da Bíblia. Petrópolis: Vozes, 2004.

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Documentos do Concílio Vaticano II: Constituição Dogmática Dei verbum, sobre a Revelação Divina Constituição Pastoral Gaudium et Spes, sobre a Igreja no mundo atual Constituição Dogmática Lumen gentium, sobre a Igreja Constituição Sacrosanctum Concilium, sobre a Sagrada Liturgia Outros Documentos da Igreja: As Introduções Gerais dos Livros Litúrgicos. São Paulo: Paulus, 20043. [esta obra contem a Introdução Geral sobre o Missal Romano, na sua terceira edição, bem como as introduções aos demais rituais dos sacramentos e à Liturgia das Horas] Conferência do Episcopado Latino Americano (CELAM), Documento de Puebla, 1979. DENZINGER, H. Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral. [traduzido com base na 40ª edição alemã ‘2005’ aos cuidados de Peter Hünerman, por José Marino Luz e Johan Konings]. São Paulo: Paulinas e Loyola, 2007. Papa João Paulo II, Carta Apostólica Dies Domini, sobre a santificação do Domingo, 1998. Papa Paulo VI, Constituição Apostólica Laudis Cantium, sobre o Ofício Divino, 1970. Papa Paulo VI, Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, sobre a Evangelização no mundo contemporâneo, 1975. Papa Paulo VI. Normas Universais do Ano Litúrgico e Calendário. Carta Apostólica dada Motu Próprio aprovando as normas universais do Ano Litúrgico e o novo calendário romano geral. Missal Romano. São Paulo: Paulinas, Vozes, 1992. Papa Pio X, Motu Próprio Tra le Sollicitude, sobre a Música Sacra, 1903. Papa Pio XII, Carta Encíclica Mediator Dei, sobre a Sagrada Liturgia, 1947. Papa Pio XII, Carta Encíclica Mystici Corporis, sobre o Corpo Místico de Jesus Cristo, 1943.

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Parte I:

Introdução Geral à Liturgia



O

Capítulo 1: Que é Liturgia?

(I)

CAPÍTUlo 1: O Que é Liturgia? (I) 17


Lição 1 Significado extra-bíblico A palavra Liturgia vem dos vocábulos gregos leiton (“do” ou “para o povo”, láos1) e érgon (obra), o que deu leitourgia. Significava obra “do povo” ou “para o povo”; donde “obra pública”. Nas cidades gregas antigas, os cidadãos dotados de certo patrimônio eram obrigados a custear serviços públicos (abertura de estradas, construção de pontes, iluminação da cidade...) ou os jogos públicos do atletismo e das olimpíadas ou ainda o equipamento de um pelotão militar, o armamento de um navio de guerra... Havia também pessoas que espontaneamente assumiam as despesas de tais serviços (leitourgíai), movidas por patriotismo ou por vaidade. Outros, ainda, eram forçados a prestar “liturgias” (serviços públicos) em punição de eventuais revoltas contra a autoridade governamental. O filósofo grego Aristóteles († 322 a.C.) notava que certas liturgias cíclicas (= jogos e festas) eram causa do desperdício do patrimônio de uma família (Política 5,8). Quem as prestava, podia endividar-se e prejudicar-se gravemente. Aos poucos a palavra leitourgia foi perdendo seu significado de serviço público para designar qualquer serviço, como o do escravo ao patrão ou o do amigo ao amigo, o do (a) enfermeiro (a) ao doente... A partir do século III a.C., leitourgía assume o sentido religioso de culto aos deuses prestado por pessoas para isto designadas (isto se compreende bem, pois a religião era um valor oficial do mundo grego e helenístico de outrora, ou seja, era um assunto de interesse público). É este significado religioso que nos importa, pois leitourgía, no uso cristão, havia de designar prevalentemente o culto sagrado.

1 Este termo grego que designa “povo”, pertence ao mesmo campo semântico do termo laikos, donde a palavra “leigo” em português, utilizado pelo Concílio Vaticano II para designar os membros do povo de Deus que não são nem clérigos, nem religiosos.

18 Parte I: Introdução Geral à Liturgia


Lição 2 “Leitourgia” na S. Escritura A tradução grega do Antigo Testamento dita “dos LXX” ou Alexandrina2 utiliza leitourgía geralmente ao referir-se aos ritos da Lei de Moisés. No Novo Testamento, leitourgía e seus derivados ocorrem quinze vezes, tomando três acepções diferentes:

1) significado profano: Fl 2,30: “Epafrodito arriscou sua vida para suprir ao que vós não podíeis fazer para meu serviço (para minha leitourgía)”. – Leitourgía, no caso, é o sustento do Apóstolo, ao qual Epafrodito atendeu, levando a esmola dos filipenses. 2Cor 9,12: “O serviço desta leitourgía (= coleta) não deve apenas satisfazer às necessidades dos santos”. Rm 13,6: “Os que governam, são servidores de Deus, que se desincumbem com zelo do seu ofício (leitourgía)”. 2) significado cúltico, ritual: At 13,2: “Celebravam eles (os primeiros discípulos) a liturgia em honra do Senhor”. Lc 1,23: “Completados os dias do seu ministério (leitourgía), Zacarias voltou para casa”. Hb 9,21: “Moisés aspergiu com o sangue a Tenda e todos os utensílios do culto (leitourgía)”. 3) significado vivencial: toda a vida do cristão vem a ser um culto a Deus, de modo que nada há aí de profano ou arreligioso: Fl 2,17: “Se o meu sangue, foi derramado em libação, em sacrifício e serviço (leitourgía) da vossa fé, alegro-me e regozijo-me com todos vós”. 2 Entre 250 e 100 a.C. os judeus domiciliados no Egito (Alexandria), tendo adotado a língua grega, sentiram a necessidade de traduzir para o grego os livros hebraicos e aramaicos do Antigo Testamento. Isto foi feito aos poucos, resultando daí a tradução dita “dos LXX” ou Alexandrina; esta tem grande importância porque exprime a mentalidade dos judeus dispersos nos últimos séculos antes de Cristo. A designação “Septuaginta”, “Setenta” ou simplesmente LXX, se originou a partir do que vem narrado na Carta de Aristéias, considerada por alguns estudiosos como um texto lendário. Segundo tal carta, setenta e dois sábios, seis de cada tribo (12), teriam sido enviados para Alexandria, pelo Sumo Sacerdote de Jerusalém, a pedido do rei do Egito, Ptolomeu II, para traduzir o Pentateuco para a grande biblioteca de Alexandria.

CAPÍTUlo 1: O Que é Liturgia? (I) 19


Rm 15,16: “A graça me foi concedida por Deus de ser o ministro (leitourgón) de Cristo Jesus para os gentios, a serviço do Evangelho de Deus....” A ideia de que toda a vida do cristão é um culto ou uma liturgia sagrada, encontra-se repetidamente nos escritos de São Paulo, embora nem sempre o Apóstolo use o vocábulo leitourgía. Assim, por exemplo: Rm 1,9: “Deus, a quem sirvo (latreuo = presto culto) em meu espírito, anunciando o Evangellho do seu Filho, é testemunha de...” Fl 3,3: “Os circuncidados somos nós, que prestamos culto (latreuontes) a Deus em espírito”. Fl 4,18: “Agora tenho tudo em abundância; tenho de sobra, depois de haver recebido o que veio de vós, perfume de suave odor, sacrifício aceito e agradável a Deus”. São Paulo tinha em vista as esmolas levadas por Epafrodito ao Apóstolo prisioneiro. (Ver 2Tm 1,3; 4,6) Rm 12,1: “Exorto-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais vossos corpos como hóstia viva, santa e agradável a Deus: este é o vosso culto (latreian) espiritual”. 1 Pd 2,5: “Vós, como pedras vivas, constituí-vos em um edifício espiritual; dedicai-vos a um sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo”. Em Hb 13,15 o louvor a Deus procedente de lábios puros é considerado sacrifício ou culto a Deus: “Por meio de Cristo ofereçamos continuamente um sacrifício de louvor a Deus, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome”. Sacrifício (ou culto) espiritual é o sacrifício ou a oferenda de toda a nossa vida material ou corpórea, penetrada e vivificada pelo Espírito Santo como o sacrifício de Cristo foi movido pelo Espírito Santo: “Cristo, pelo Espírito Santo, se ofereceu a Deus como vítima sem mancha” (Hb 9,14). Aliás, ao fazer de toda a sua vida uma oblação de culto a Deus, o cristão não faz senão reproduzir o gesto de Cristo, que, desde a sua concepção no seio materno, se ofereceu ao Pai como Hóstia viva e consciente, em lugar das vítimas irracionais da Antiga Aliança: é o que diz o autor de Hb10,5-7.10: 5 “Ao entrar no mundo, Ele afirmou: “Tu não quiseste sacrifício e oferenda. Tu, porém, me formaste um corpo, 6holocaustos e sacrifícios pelo pecado não foram do teu agrado. 7Por isto digo: Eis-me aqui... eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade...’ 10Graças a esta vontade é que somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por todas”. 20 Parte I: Introdução Geral à Liturgia


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