Expansão metropolitana e transformações das interfaces

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Expansão metropolitana e transformações das interfaces entre cidade, campo e região na América Latina



Expansão metropolitana e transformações das interfaces entre cidade, campo e região na América Latina Organizadores Rainer Randolph – Barbra Candice Southern


Copyright © 2011 - Editora Max Limonad (1ª edição) Copyright © 2015 - Editora Letra Capital (2ª edição) Copyright © 2015 Rainer Randolph Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem a autorização prévia por escrito do autor, poderá ser reproduzida ou transmitida, sejam quais forem os meios empregados. Editor: João Baptista Pinto Revisão: Rainer Randolph Capa: Barbra Candice Southern Editoração: Rian Narcizo Mariano Comitê Editorial Ana Cristina Fernandes, Carlos Antônio Brandão, Ester Limonad, Geraldo Costa, Heloísa Soares de Moura Costa, Hermes Magalhães Tavares, Ivo Marcos Theis, Lilian Fessler Vaz, Rainer Randolph, Roberto Luís de Melo Monte-Mór, Ruy Moreira, Sandra Lencioni

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ E96 Expansão metropolitana e transformação das interfaces entre cidade, campo e região na América Latina. 1. ed. / Rainer Randolph, Barbra Candice Southern (organizadores). – Rio de Janeiro: Letra Capital Editora, 2015. 336 p.:il.,mapas; 21 cm. Inclui bibliografia ISBN 9788577852864 1. Planejamento regional. 2. Expansão metropolitana. 3.Crescimento urbano. 4.Metrópole. 5. América Latina. I. Randolph, Rainer (org.) II. Southern, Barbra Candice (org.). III. Título CDD: 711.4

Letra Capital Editora Telefax: (21) 2224-7071 / 2215-3781 letracapital@letracapital.com.br


SUMÁRIO

SOBRE OS AUTORES

Apresentação 1. Expansão metropolitana – continuidade ou ruptura? Rainer Randolph e Barbra Candice Southern............. 11 Parte 1: A metrópole entre a expansão de suas fronteiras e a desaceleração de seu crescimento populacional 2. Expansão das Metrópoles, Deslocamento de suas Fronteiras e Reorganização Regional em seu Entorno: Perguntas e Caminhos Rainer Randolph....................................................21 3. A nova configuração urbana no Brasil: desaceleração metropolitana e redistribuição da população Rosana Baeninger.................................................41 Parte 2: Expansão metropolitana e transformações regionais em suas proximidades 4. La Expansión de la Región Metropolitana de Caracas ¿Continuidad o Ruptura? Miguel Lacabana e Cecilia Cariola............................ 69 5. Bogotá Metropolitana y Peri-Metropolitana Oscar A. Alfonso...................................................85 6. A Remodelação do Espaço Urbano-Regional de São José dos Campos na Fronteira das Regiões Metropolitanas do Estado de São Paulo Cilene Gomes.......................................................100 7. Urbanização e Desenvolvimento Regional no Litoral Norte do Rio Grande do Sul Tânia Marques Strohaecker....................................124


Parte 3: Urbano, periurbano e rural na expansão metropolitana 8. Áreas de Interface Periurbana: Desafios Conceituais e Metodológicos Maria de Fátima Ribeiro de Gusmão Furtado............. 145 9. Na Ruralidade Metropolitana o Encontro da Ruralidade com a Expansão da Metrópole Cristina Maria M. Alencar........................................165 10. Continuidade ou Ruptura na Expansão da Metrópole para Além de Seus Limites Formais: Urbanidades no Rural? João Rua..............................................................184 11. O Urbano e o Rural frente à Urbanização da Sociedade Roberto Luís de Melo Monte-Mór e Ester Limonad...... 200 Parte 4: O debate sobre a relação urbano-rural em diferentes países da América Latina 12. A Relação Urbano-Rural no Brasil Contemporâneo Roberto Luís de Melo Monte-Mór............................. 219 13. Lo Urbano-Rural en el Estudio de los Processos Territoriales en México Héctor Ávila Sánchez.............................................237 14. Topicos del Debate Contemporáneo sobre Ruralidad e intermediación Urbana. Aportes para Estudios en Argentina Silvia Gorenstein, Mariana Olea, Carolina Pasciaroni e Guillermina Urriza.................... 260 Parte 5: Expansão da metrópole do Rio de Janeiro e área peri-metropolitana: segunda residência, pendularidade e agricultura orgânica 15. Eixos de Urbanização, Expansão Metropolitana e Turismo de Segunda Residência do Rio de Janeiro Pedro Henrique Oliveira Gomes............................... 281


16. O Movimento Pendular entre a Metrópole do Rio de Janeiro e Municípios de sua Área Peri-Metropolitana em 2000 Rainer Randolph, Aramis Cortes de Araújo Junior e Francisco Costa Benedicto Ottoni.......................... 299 17. População Neo-Rural e Agricultura Orgânica: Mudanças no Meio Rural da Região Peri-Metropolitana do Rio de Janeiro Rafael Arosa de Mattos..........................................319


SOBRE OS AUTORES ARAMIS CORTES DE ARAÚJO JUNIOR - Mestre em Geografia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Prof. do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (IFES) BARBRA CANDICE SOUTHERN - Mestre em Planejamento Urbano e Regional e Pesquisadora no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro CAROLINA PASCIARONI - Bolsista da CONICET – Universidad Nacional del Sur CECÍLIA CARIOLA – Mestre em Planificación del Desarrollo Urbano y Regional, Professora do Programa de Pós-Graduação do Centro de Estúdios del Desarrollo (CENDES) da Universidad Central de Venezuela CILENE GOMES - Doutora em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo. Pós-Doutorado no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro CRISTINA MARIA M. ALENCAR – Doutora em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/CPDA, Professora da Universidade Católica do Salvador e do Programa de Pós-graduação em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Social ESTER LIMONAD – Doutora em Estruturas Ambientais Urbanas pela Universidade de São Paulo, Professora Associada do Instituto de Geociências e da Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal Fluminense, Pesquisadora e Consultora do Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Tecnológica. FRANCISCO COSTA BENEDICTO OTONI – Bacharel em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Pesquisador Assistente no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro GUILLERMINA URRIZA - Mestre em Desenvolvimento Urbano pela Pontificia Universidad Catolica del Chile HÉCTOR ÁVILA SANCHEZ - Doutor em Geografia, com Especialização em Ordenamento do Territorio , Professor da Universidad Nacional Autônoma de México (Campus Morelos), Pesquisador e Consultor do Consejo Nacional de Ciencia y Tecnología (CONACYT)


JOÃO RUA - Doutor em Geografia (Geografia Humana) pela Universidade de São Paulo, Professor Assistente da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e Professor Adjunto Aposentado do Departamento de Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro MARIA DA FÁTIMA R. DE GUSMÃO FURTADO - Doutora em Desenvolvimento Urbano e Regional , University Colege London (UCL), London University, Professora Associada do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano na Universidade Federal de Pernambuco MARIANA OLEA – Aluna e Bolsista do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (Conicet) no Mestrado em Desarrollo y Gestión Territorial, Docente auxiliar do Departamento de Economía de la Universidad Nacional del Sur MIGUEL LACABANA - Economista e cientista social com qualificação pós-doutoral. Professor do Programa de Pós-Graduação do Centro de Estúdios del Desarrollo (CENDES) da Universidad Central de Venezuela OSCAR A. ALFONSO R. - Doutor em Planejamento Urbano e Regional pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Professor Investigador da Universidad Externado de Colômbia (Bogotá). PEDRO HENRIQUE OLIVEIRA GOMES – Bachelor em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Mestrando em Geografia na Universidade Federal do Rio de Janeiro. RAFAEL AROSA DE MATTOS - Graduando em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pesquisador Assistente no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. RAINER RANDOLPH – Doutor em Ciências Econômicas e Sociais pela Universidade Erlangen-Nuremberg (Alemanha), Professor Titular do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional e do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Pesquisador e Consultor do Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Tecnológica, Coordenador da Área de Planejamento Urbano e Regional/ Demografia da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior ROBERTO LUIS DE MELO MONTE-MÓR - Doutor em Planejamento Urbano pela Universidade da California, Los Angeles – UCLA, Professor Associado no Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas e no Núcleo de Pós-Graduação em 9


Arquitetura e Urbanismo da Escola de Arquitetura, ambos da Universidade Federal de Minas Gerais ROSANA APARECIDA BAENINGER - Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas, Professor Assistente Doutor no Departamento de Demografia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas e no Programa de Pós-Graduação em Demografia. Pesquisadora e Consultora do Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Tecnológica. Coordenadora Adjunta na área de Planejamento Urbano e Regional/Demografia da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior SILVIA GORENSTEIN – Mestre em Economia na Universidad Nacional Del Sur, Profesora Titular do Departamento de Economía da Universidad Nacional del Sur, Coordenadora do Mestrado (em rede) em Desarrollo y Gestión Territorial das Universidades Nacionales de Río Cuarto, Rosario y del Sur, Pesquisadora do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (Conicet) TÂNIA MARQUES STROHAECKER - Doutora em Geociências na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Professora Associada do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Pesquisadora do Centro de Estudos de Geologia Costeira e Oceânica (CECO/UFRGS) e do Laboratório do Espaço Social (LABES/UFRGS)

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Expansão metropolitana continuidade ou ruptura? Rainer Randolph Barbra Candice Southern Sem se tratar de uma problemática propriamente nova, observa-se hoje um significativo aumento das preocupações com as transformações que surgem nas grandes cidades e regiões metropolitanas tanto na América Latina como no mundo inteiro. Multiplicaram-se os estudos que se dedicam não só aos mais diversos aspectos da dinâmica metropolitana, mas que procuram novas abordagens teóricas e metodológicas capazes de permitir uma reflexão dessas realidades. De uma forma simplificada, pode-se identificar investigações voltadas às metrópoles latino-americanas com as seguintes características. Aquelas que dão ênfase – à influência da globalização ao processo de metropolização da região; – às modificações que ocorrem no interior de suas regiões metropolitanas; – aos diferentes determinantes que caracterizam essas mudanças como a re-estruturação produtiva, a descentrali-zação econômica, os novos produtos oferecidos pelo mercado imobiliário, a mudança de padrões de crescimento populacional, etc.; – às novas formas da expansão da metrópole que amplia, permanentemente, a sua influência para além das suas tradicionais fronteiras regionais criando novas e mais extensas formas de segregação sócio-espaciais, e – ao surgimento de formas de ocupação espacial em áreas rurais dentro e fora das regiões metropolitanas a partir de uma articulação nova entre o urbano e o rural. A presente coletânea reúne textos que não querem dar conta da abrangência dessas (possíveis) características das transformações de regiões metropolitanas. A questão comum 11


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que norteia seu debate diz respeito mais especificamente à dúvida se, em que medida e até onde as transformações mais recentes nas regiões metropolitanas na América Latina realmente significam uma mera “extrapolação” – com mudanças talvez mais secundárias – da dinâmica metropolitana para áreas cada vez mais extensas no seu entorno. Isto é, se essa expansão continua sob a hegemonia da metrópole e tende a reproduzir e ampliar sua lógica para além de suas tradicionais fronteiras. Ou, hipótese levantada por alguns autores e eis é também nossa suspeita, se surgem indícios para formas de urbanização a partir de uma “aparente expansão” metropolitana que geram novas oportunidades de articulação regional de municípios que ultrapasse sua tradicional mediação no âmbito da rede urbana e dá origem a um lugares relativamente independentes da metrópole que se encontram em áreas próximas (perimetropolitanas). Mais especificamente, os questionamentos podem ser assim colocados: – em que medida ou até que ponto a expansão metropolitana extrapola as fronteiras de regiões metropolitanas impondo sua força hegemônica? Ou, em outros termos: em que medida e até que ponto pode-se supor a existência de dinâmicas urbano-regionais relativamente independentes ou autônomas dos processos hegemônicos da atual globalização intermediados pelas dinâmicas metropolitanas? – por que e em que medida essa suposta emergência de novas dinâmicas urbano-regionais relativamente independentes da expansão metropolitana teriam nas regiões perimetropolitanas o seu campo de ocorrência mais provável? – a esse respeito, considerando que as distâncias físicas já não significam a mesma coisa hoje em dia, o mesmo obstáculo, como reinterpretar a variável “proximidade geográfica” nesse embate entre os vetores de metropolização e a reorganização sócio-espacial dessas áreas peri-metropolitanas ou do espaço urbano-regional não imediatamente contíguo? Essas áreas peri-metropolitanas apresentariam alguma especificidade em razão de sua localização próxima às regiões metropolitanas? Com essa perguntas – e outras dos mencionados autores – coloca-se em questão o modelo de organização sócio-espacial centro e periferia, que norteou a análise sobre a organização 12


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espacial, em décadas anteriores, em distintas escalas geográficas em que o fenômeno urbano pode ser observado. O atual questionamento deste modelo reside na hipótese de que novas centralidades tendem a se constituir nas chamadas áreas periféricas ou simplesmente nas periferias, para além do que se considerava como centro, seja considerando as relações centro e periferia no contexto interno às regiões metropolitanas, seja agora considerando a perspectiva do espaço peri-metropolitano que então subentenderia tomarmos a região metropolitana no seu todo, ou seu núcleo, como uma área central por excelência. Daí, na perspectiva de uma remodelação de aportes teóricos para a interpretação dessa nova forma de organização sócioespacial que se engendra pelo contraponto entre expansão metropolitana e processos locais ou regionais mais ou menos autônomos ou interdependentes, uma indagação acerca desse questionamento amplo do modelo centro e periferia seria a seguinte: poderíamos conceber uma organização sócio-espacial onde não existiriam periferias, mas apenas centros da vida social? Centros cujas forças de agregação e desenvolvimento poderiam ser representadas por novas variáveis de análise para ressaltar tanto o seu caráter unificado quanto seu caráter diferencial ou singular. Dessa forma, não existiriam relações entre centros e periferias, mas apenas relações inter-cêntricas, ainda que entre centros de dimensões e ordens distintas. Estas ordens ou níveis, todavia, não se assemelhariam às rígidas hierarquias através das quais relações de dominação e exploração prevaleceram em nossa formação social. Assemelhar-se-iam a ordens que se diferenciariam por outras espécies de relações intercêntricas, mais fundadas nas vocações às cooperações e complementaridades, pela causa de um projeto de organização sócio-espacial mais centrado nos processos de uma socialização mais justa e humana. De qualquer forma, se há ou não validade nessas suposições, o que se busca são novos caminhos metodológicos para melhor esclarecer como se dão as relações entre metropolização e os processos de reestruturação sócio-territorial em áreas perimetropolitanas, supondo então novas indagações acerca de um outro possível projeto “hegemônico” e de outro modelo de organização do espaço urbano. 13


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O que de fato está em jogo é a questão de como reverter as desigualdades, a segregação social e a fragmentação espacial constituídas e tão acirradas historicamente. Pois, tais processos tornaram-se estruturas de nossa formação sócio-espacial, apresentando ainda hoje um forte caráter inercial às mudanças. Outro aspecto também bastante apontado pela literatura é a heterogeneidade das paisagens ou dos novos arranjos sócio-espaciais resultantes da expansão metropolitana ou da emergência de novas realidades locais, onde supostamente teríamos um campo propício ou resistente à inserção de vetores que conduzissem a essa expansão. Além do caráter heterogêneo destas novas áreas de expansão aponta-se igualmente para uma justaposição de distintos modos de vida e, por conseguinte, um nível de tensão em razão da coexistência lado a lado dessas implantações heterogêneas. A presente coletânea reúne trabalhos que apresentam, cada um com sua contribuição específica, aspectos articulados em torno da questão de continuidade da expansão do domínio metropolitano no sentido da mera extensão da mesma dinâmica que originou as metrópoles. Inicialmente, na PARTE 1 – são apresentados dois capítulos que marcam as dificuldades não apenas de abordar as qualificações da “expansão” como continuidade ou ruptura – onde, neste último caso, nem se poderia falar com expansão propriamente dito – como também de dar conta de uma perspectiva integrada das áreas “fora” e “dentro” de regiões metropolitanas. Essa dificuldade vai atravessar, aliás, a grande maioria dos capítulos dos livros. O primeiro trabalho procura indicar a figura da “fronteira” da metrópole como um caminho para trabalhar a qualidade da (não) expansão. Ou seja, adota uma perspectiva que toma a dinâmica da metropolização – e sua capacidade de estabelecer e redefinir suas fronteiras - como ponto partido de uma discussão de caráter mais metodológico. Para tanto, argumenta ser necessário e urgente que sejam problematizados os diferentes processos, abordagens e perspectivas (inclusive metodológicas) referentes às fronteiras das metrópoles e com eles as escalas e focos de análises aos quais são associados. Já o capítulo seguinte inverte a perspectiva quando situa essa “expansão” num contexto de fluxos migratórios e de suas mudanças entre diferentes períodos históricos na escala do 14


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território nacional; devido a essa abordagem das migrações e mudanças demográficas apresenta um resultado que aponta que em termos desse critério pode-se falar de um certo “enfraquecimento” das regiões metropolitanas no Brasil na medida em que o crescimento populacional é mais acentuado em áreas não-metropolitanas. Num segundo grupo de trabalhos – PARTE 2 – essa questão da continuidade – ou não – está abordada mais implicitamente do que explicitamente através de uma certa justa- ou contraposição entre quatro contribuições com referência a quatro regiões metropolitanas latino-americanas diferentes (Caracas, Bogotá, São Paulo e Porto Alegre). Por um lado, dois ensaios se dedicam a análise da expansão de duas metrópoles em áreas distantes do núcleo, mas que não parecem já ultrapassar as limitações da região das respectivas metrópoles (Caracas e Bogotá). Apresentam diferentes abordagens sobre o tema como a questão do modelo territorial hegemônico nos diferentes contextos metropolitanos onde, em Caracas, a fragmentação sócio-territorial tende a se acentuar historicamente: Junto ao “encierro sócio-territorial” do Vale del Tuy, se tem a realidade de uma periferia em transição, marcada por outros processos que parecem apontar para novas tendências de organização local como a constituição de redes sociais, a revalorização da esfera pública, a emergência do popular. No caso de Bogotá, a intenção é reconhecer protagonismos locais o que realiza na medida em que aponta para o modelo hegemônico de reprodução do capital através do espaço que ainda revela a sua força militante no projeto segregacionista e individualista de sociedade, onde, então de forma aparentemente paradoxal, acontece de não existir nenhuma política social onde há maior demanda social, e de não haver nenhuma política de mobilidade onde maior é a mobilidade dos habitantes. Por outro lado, teremos dois trabalhos que alteram a perspectiva de sua análise na medida em que observam duas metrópoles brasileiras de lado de “fora” e investigam os processos de transformação regional que estão relacionados à sua localização geográfica e as relações com as regiões metropolitanas. Apontam a necessidade de enxergar mais adentro da realidade da área peri-metropolitana, para conseguir distinguir suas características diferenciais e avaliar o seu grau 15


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de interdependência ou autonomia relativamente aos processos de expansão metropolitana. Investigar formas de diferenciação de centralidades pode ser também útil no sentido de destacar a força de processos endógenos dos centros regionais nas imediações de regiões metropolitanas cujo efeito pode ser apropriado para projetos de requalificação de periferias. Na PARTE 3 será tematizado um aspecto dessa relação entre o “metropolitano” e “não-metropolitano” ou mesmo, se quisermos, entre o “urbano” e o “não-urbano” que parece ser uma das características mais interessantes de um “transbordo” do urbano/metropolitano que está relacionado, quase diretamente, com a problemática da “qualidade” da expansão metropolitana. São as relações entre o urbano e o rural que ganham nova relevância em contextos diferentes de discussões anteriores. O primeiro capítulo dessa parte do livro conceitua o termo do “peri-urbano” e propõe, a partir de uma definição operacional, formas de investigação dessa realidade que se encontra em áreas mais distantes mesmo dentro de regiões metropolitanas. Já os dois capítulos seguintes aprofundam uma – algo controversa? - discussão sobre as relações entre campo e cidade e rural e urbano em diferentes contextos. Interessante é que as conclusões dos dois autores parecem estar, de alguma forma, em oposição de uma para a outra. Um fala de “Urbanidades no Rural” – ou seja de uma forma de penetração de relações urbanas no campo – cujo estudo precisa resgatar essa multi-dimensionalidade do espaço e destacar contradições que a espacialidade contemporânea explicita (para a cidade e para o campo; para o urbano e para o rural). A outra autora aponta para uma “Ruralidade Metropolitana” como atributo de uma realidade na própria metrópole que insere o homem em relação a algum elemento ou dinâmica da natureza mas que é condicionada culturalmente. Finalmente, no quarto capítulo que pertença a essa parte, os autores elaboram um raciocínio acerca das relações entre cidade e campo e urbano e rural num contexto de uma avançada e, tendencialmente, generalizada urbanização da sociedade. A pergunta pertinente também para o debate da expansão metropolitanas é essa que procura compreender um novo rural – se é que se pode dizer isto em relação aos quatro capítulos dessa parte -, no sentido de um lugar se define por suas 16


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interações e pelas relações entre o externo e o interno que não tem sido capturado por dados estatísticos. Ou, pensando mais diretamente em direção às hipóteses do atual livro em relação à expansão (ou não) da metrópole, seriam destes “novos” lugares de onde as formas de ruptura poderiam emergir das contradições da vida social engendradas historicamente sob a hegemonia do capital? Onde talvez elas já estejam brotando, mas sem a força ou visibilidade inclusive para que poderem ser analisadas? A PARTE 4 está dedicada ainda a essa discussão do relacionamento entre cidade e campo e urbano e rural, mas agora numa outra perspectiva. As três contribuições mostram as transformações que ocorreram a respeito dessa relação urbano-rural em três países da America Latina: no Brasil, no México e na Argentina. Abrem, com isto, uma perspectiva mais abrangente para a reflexão da problemática desse livro na medida em que destacam a noção de território. Nesta ordem de transformações contemporâneas, a contemplação do território tem adquirido relevância sobre a clássica contraposição entre campo e cidade e, sobretudo, à questão das interações entre os dois universos da vida social que subentende o mundo urbano e o rural. Nesse sentido, novas análises deveriam se voltar para identificar estas interações considerando antes de tudo a situação em que se revelam. Ou seja, como identificá-las, caracterizá-las e explicálas no contexto dos padrões de relações entre os espaços rurais localizados em meio a uma rede de regiões metropolitanas, como se vê no caso do México, ou no âmbito das relações com cidades intermediárias como tratadas no caso da Argentina. Por último, a PARTE 5, traz três capítulos de natureza bem distinta em relação ao resto do atual livro. São exemplos de trabalhos empíricos voltados para a problemática da expansão metropolitana do caso do Rio de Janeiro. Sua inclusão no presente livro deve se à intenção de ilustrar caminhos possíveis para formas de desenhar investigações que devem contribuir de uma forma particular – porque articulado com os intuitos mais abrangentes de uma linha de pesquisa – ao avanço da discussão sobre as formas de expansão metropolitana e das suas conseqüências em áreas próximos (perimetropolitanas). Assim, o primeiro capítulo dessa parte traz um estudo sobre eixos de expansão da Região Metropolitana do Rio de Janeiro e uma forma de turismo de fim de semana – a segunda residência – à qual se pode atribuir um potencial elevado 17


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de transformação de padrões de urbanização em áreas perimetropolitanas. Já o segundo capítulo está voltado aos movimentos de pendularidade (movimentação entre lugar de moradia e lugar de trabalho/estudo) entre o núcleo metropolitano e quarto municípios selecionados no entorno da Região Metropolitana. Esta escolhe levou em consideração exatamente os eixos de expansão apontados no capítulo anterior. E o terceiro capítulo insere-se naquela discussão sobre a relação entre o urbano e o rural (ou cidade e campo) que foi abordada nas duas partes anteriores do livro. O trabalho apresenta um estudo de uma forma de ocupação rural que surge a partir do deslocamento de determinados grupos sociais da população metropolitana para áreas mais afastadas, motivados pelo descontentamento em relação à vida na metrópole e à procura de novas relações com a natureza. Assumem atividades agrícolas não por rações econômicas, em primeiro lugar, mas por razões ideológicas (de valor). Finalmente cabe mencionar, que uma boa parte das contribuições deste livro tinha sido apresentada ao lado de comunicações de outros colegas de outros países da América Latina que não as transformaram em texto, no Seminário Internacional “A expansão da metrópole para alem das fronteiras da sua região – continuidade ou ruptura?”, organizado por Rainer Randolph, Cilene Gomes e Barbra C. Southern, nos dias 10 e 11 de setembro de 2009 no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro – IPPUR / UFRJ. Foram incluídos no livro ainda trabalhos que não constaram da programação do referido seminário, mas que complementam e completam a articulação e o raciocínio do livro no sentido de sua problemática e questionamento: quais as forças e fraquezas da metrópole para interferir na organização e articulação entre cidade, campo e região em áreas de seu entorno? Como a relativa proximidade da metrópole pode ser apropriada como potencialidade a favor de uma transformação neste entorno que a fortaleça em diferentes dimensões: econômica, social, política e cultural sem submetê-la à mesma dinâmica metropolitana? Se não se encontram respostas prontas nesta coletânea, os textos aqui reunidos pretendem contribuir para aprofundar a reflexão e mostrar caminhos onde as propostas podem ser buscadas. 18


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