Conselho Editorial Série Letra Capital Acadêmica
Beatriz Anselmo Olinto (Unicentro-PR) Carlos Roberto dos Anjos Candeiro (UFTM) Claudio Cezar Henriques (UERJ) João Medeiros Filho (UCL) Leonardo Santana da Silva (UFRJ) Luciana Marino do Nascimento (UFRJ) Maria Luiza Bustamante Pereira de Sá (UERJ) Michela Rosa di Candia (UFRJ) Olavo Luppi Silva (UFABC) Orlando Alves dos Santos Junior (UFRJ) Pierre Alves Costa (Unicentro-PR) Rafael Soares Gonçalves (PUC-RIO) Robert Segal (UFRJ) Roberto Acízelo Quelhas de Souza (UERJ) Sandro Ornellas (UFBA) Sergio Azevedo (UENF) Sérgio Tadeu Gonçalves Muniz (UTFPR)
Ana Lucia de Souza Henriques Maria Conceição Monteiro (organizadoras)
Literaturas de Língua Inglesa: leituras interdisciplinares
Vol. i
Copyright©, Das Autoras, 2016 Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida ou transmitida, sejam quais forem os meios empregados, sem a autorização prévia e por escrito do(s) autor(es).
Editor João Baptista Pinto Capa Rian Narciso Mariano Projeto/Diagramação: Luiz Guimarães
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ L755 Literaturas de Língua Inglesa: leituras interdisciplinares / organização Ana Lucia de Souza Henriques, Maria Conceição Monteiro. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Letra Capital, 2016. 144 p.; 14X21 cm. Inclui bibliografia ISBN 978-85-7785-499-8 1. Literatura em língua inglesa - História e crítica. 2. Literatura moderna - História e crítica. I. Henriques, Ana Lucia de Souza . II. Monteiro, Maria Conceição. 16-38135
CDD: 820.9 CDU: 821.111.09
Letra Capital Editora Tels: (21) 3553-2236 / 2215-3781 www.letracapital.com.br
Sumário
Apresentação Ana Lucia de Souza Henriques Maria Conceição Monteiro – 7 Literatura e viagem: o peregrino literário John Keats Ana Lucia de Souza Henriques – 9 Tradução como equivocação e a construção de saberes feministas pluriversais Claudia de Lima Costa – 21 Uma janela para a poesia romântica em Virginia Woolf Davi Pinho – 34 O Brasil no olhar de uma mulher francesa no século XIX Maria Elizabeth Chaves de Mello – 46 Shakespeare, cultura retórica e modernidade: Titus Andronicus e o perigo dos livros Fernanda Teixeira de Medeiros – 58 Algumas histórias: reflexões sobre feminismos atuais e atuantes Leila Assumpção Harris – 73 A Ficção Científica no contexto educacional para a discussão de questões sociocientíficas em espaços de ensino Lucia De La Rocque – 86
Vozes negras femininas na literatura contemporânea em tempos de globalização Maria Aparecida Andrade Salgueiro – 97 Os avessos do humano: vampiros Maria Conceição Monteiro – 107 Cidadãos do país da saudade: questões de desterritorialização nas obras de Jhumpa Lahiri e Suketu Mehta Peonia Viana Guedes – 120 Tarso do Amaral de Souza Cruz Quando as bruxas são outras: “As bruxas de Salem” e a histeria coletiva no Brasil Vanessa Cianconi – 131
Apresentação Ana Lucia de Souza Henriques Maria Conceição Monteiro
É
uma grande alegria apresentar o primeiro volume de Literaturas de Língua Inglesa: leituras interdisciplinares, que dá continuidade à série Feminismos, identidades, comparativismos: vertentes nas literaturas de língua inglesa, composta de treze números, publicados anualmente de 2003 a 2015. A presente obra reúne trabalhos das professoras dos Cursos de Mestrado e de Doutorado em Literaturas de Língua Inglesa ligadas ao Programa de Pós-Graduação do Instituto de Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Agradecemos a colaboração de Vanessa Cianconi e Davi Pinho, colegas que ingressaram no Instituto de Letras no ano passado. Nosso agradecimento também às ensaístas convidadas de outras instituições de ensino: Claudia Lima Costa, da Universidade Federal de Santa Catarina e Elizabeth Chaves de Mello, da Universidade do Federal Fluminense. Os ensaios que compõem os capítulos desta obra contemplam uma diversidade de temas e apontam para uma pluralidade de questões. Os diálogos aqui apresentados, por vezes, ultrapassam o campo dos estudos literários e dos estudos culturais, ilustrando parte do interesse acadêmico de cada uma das pesquisas desenvolvidas. Ao darmos início a esta nova série, renovamos os agradecimentos ao PPGL da UERJ pelo apoio dado e torcemos para que possamos dar continuidade às nossas publicações, sempre procurando contribuir para o aprofundamento de discussões em torno do nosso objeto comum de desejo que é a literatura.
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Literatura e viagem: o peregrino literário John Keats Ana Lucia de Souza Henriques
Este ensaio dá continuidade à série em que tratamos de como
escritores e obras literárias acabam por exercer também o papel de agentes de turismo. Literatura e viagem sempre estiveram intimamente ligadas, estabelecendo entre si uma relação de circularidade, um processo de retroalimentação, pois uma obra literária tanto pode levar o leitor a partir em rumo a novos lugares como uma viagem pode levar o viajante à escrita de uma obra. Muitas vezes, uma obra literária desperta no leitor o ávido desejo de conhecer locais relacionados ao seu conteúdo. Isto é, a experiência vivida através da leitura suscita no leitor a vontade buscar, não exatamente novos descobrimentos, mas o reconhecimento, a verificação in loco de imagens ou paisagens delineadas em sua imaginação a partir da ótica apresentada na obra literária, elemento responsável pelo despertar daquele desejo. Além disso, cabe ressaltar que esse tipo de turista literário, não raro, anseia por refazer o percurso de personagens cuja história representa a razão de ser de sua viagem. Lembremos ainda que a admiração por um escritor e o conjunto de sua obra também servem como força motivadora para a escolha do destino de roteiros, que se tornam verdadeiras peregrinações aos “santuários” ligados a nomes deste ou daquele encantador de leitores. (cf. Henriques: 2014) Dentre renomados peregrinos literários, aqui destacaremos John Keats, que, no verão de 1818, viajou para a Escócia de Robert Burns, fazendo uma parada, em sua caminhada rumo ao norte, na Região dos Lagos de William Wordsworth. Essa excursão, como veremos mais adiante, é tomada por Keats como um prólogo para seus futuros Grand Tours. Desde os seiscentos e setecentos, Grand Tours já seduzem a elite a partir principalmente para a Itália e a França em viagens que combinam turismo e cultura, proporcionando ao viajante, segundo 9
Ana Lucia de Souza Henriques
Jennifer Craik, conhecer através do olhar, da observação, os legados da antiguidade clássica e da Renascença. A esse respeito Craik ainda ressalta: [Viajar] funcionava como um meio de facilitar relações nacionais e internacionais por meio de contatos, do aprendizado de línguas estrangeiras, e do estabelecimento de debates com pessoas de outros lugares. Durante este período, a aristocracia viajava mais do que grupos com pessoas que faziam romarias e que eram de diferentes classes sociais... Gradualmente... o olho se tornou tão importante quanto o ouvido como fonte de conhecimento e como objeto de treinamentos sociais. O conhecimento passou a ser adquirido através da visão, da verificação e da ordenação do mundo. Observação, testemunho e boato eram técnicas do olhar e se tornaram a nova forma de viajar – sightseeing. (2000, p. 119)
O perfil desse turista cultural dos Grand Tours é formado especialmente por rapazes de alto poder aquisitivo desejosos de complementar sua formação educacional e/ou sua preparação para o exercício de suas carreiras. Um exemplo a ser citado é o do irmão de Jane Austen, Edward Austen Knight, adotado por Thomas e Catherine Knight, um rico casal sem filhos. Mesmo depois de adotado, Edward continua a viver com sua família natural em Steventon. Contudo, os Knights, reconhecendo a necessidade de ampliar a visão de mundo de seu filho adotivo e, desejosos de fazerem dele um rapaz polido e refinado, decidem patrocinar para Edward dois Grand Tours pelo continente europeu. Como era de praxe nesse tipo de viagem, observações do jovem Edward foram por ele devidamente anotadas e transformadas em diários de viagem, nos quais relata detalhes da paisagem e da história dos lugares por ele visitados, além de suas impressões acerca dos habitantes e das cidades que visitou. Seguindo a tradição à risca, o irmão de Jane Austen, como outros jovens antes dele, após quatro anos no exterior, tem seu retrato pintado provavelmente em Roma. A imagem de um jovem elegantemente vestido registrada nesse quadro pode ser tomada como a do produto final de um processo de transformação por que ele passou com aquele aprendizado, ou seja, Edward agora trazia consigo o refi10
Literatura e viagem: o peregrino literário John Keats
namento, a experiência e o saber adquiridos ao longo de seu segundo Grand Tour (cf. Spence: 2005). Nas primeiras décadas do XIX, podemos observar novas rotas sendo traçadas em solo britânico para essas viagens de conhecimento, o que resultou no crescimento do turismo em determinadas regiões até então pouco exploradas. A esse respeito, em Jane Austen: The World of her Novels, Deirdre Le Faye comenta: Alguns viajantes começaram a explorar as áreas menos populosas da Grã-Bretanha, que antes eram consideradas terras estéreis, inóspitas e perigosas. Relatos dessas viagens passaram a ser cada vez mais publicados, muitos deles com ilustrações topográficas. O que surgiu dessa nova apreciação das regiões mais selvagens da Grã-Bretanha foi o Movimento Romântico que se desenvolveu nas artes, com poetas como Wordsworth na Região dos Lagos, que partiu em excursões, inspirando-se na natureza, e artistas como Constable e Turner, pintando cenas e paisagens. (2002, p. 227)
Cabe lembrar outros fatores que serviram para impulsionar viagens para essas novas rotas na própria ilha. O primeiro diz respeito a custos mais baixos se comparados aos de um tour pelo continente, o que veio a permitir que membros da classe média também pudessem se aventurar por novos percursos. O segundo está relacionado à melhoria nas estradas, que contribuiu para facilitar a movimentação por locais antes considerados remotos e de difícil acesso, inclusive com a redução do tempo gasto para se chegar ao destino. Assim, um trajeto como o de Perth a Inverness, que nos primeiros anos do século XIX levaria três dias, passou a ser feito em dezesseis horas. Ademais, muitos turistas já podiam optar por viajar em barcos a vapor cujas rotas possibilitaram a chegada a locais como a gruta de Staffa nas Terras Altas (cf. Simpson: 1997, p. 26-27). Chegar a certos destinos, como às Terras Altas, por exemplo, passou então a ser possível tanto para o turista comum, em busca de entretenimento em primeiro lugar, quanto para os que viajam movidos pelo desejo de conhecer as Lowlands e Highlands de escritores e de personagens prediletos. Em Scotland for the Holidays: Tourism in Scotland c178011
Ana Lucia de Souza Henriques
1939, Alastair D. Durie enfoca, dentre outros aspectos, a presença marcante de turistas literários na Escócia ao longo dos oitocentos, chamando a atenção para a o fato de que locais ligados a Burns e a Scott e a suas obras passaram a atrair um grande número de visitantes. Vejamos o que diz Durie a esse respeito: Restaram os turistas literários [...] ainda atraídos pela terra de Scott e de Burns, alguns chegando sozinhos ou em grupos de familiares, outros em grupos organizados e em excursões estudantis. Estes poderiam ser encontrados na região de fronteira, visitando prédios históricos como Abbotsford, ou castelos nas imediações de Edimburgo, ou conhecendo a Casa de Burns em Alloway. (2003, p. 44)
Contudo, devemos ressaltar que foram os poemas narrativos e os romances scottianos com temática escocesa os maiores motivadores do significativo crescimento no número de turistas que visitaram a Escócia com o objetivo de, como afirmamos anteriormente, verificar in loco aquilo que delinearam em sua imaginação ao ler uma obra literária. A título de ilustração, podemos mencionar o sucesso de “The Lady of the Lake”, de maio de 1810. O poema alcançou a marca de vinte mil cópias vendidas em um ano, número bastante expressivo para o mercado daquele momento. No “Argumento” que escreve para a obra, o poeta esclarece que a ação se desenrola principalmente nas imediações do Lago Katrine (cf. Scott, s/d, p. 243), o que despertou em muitos leitores o desejo de ir até lá conhecer o cenário, chegando a haver constantes congestionamentos de carruagens em função do grande número de visitantes (cf. Simpson: 1997, p. 24). Ainda a respeito da atração exercida pela literatura, Durie comenta que uma dessas turistas, a Sra. Anne Grant of Laggan programara uma viagem com amigos ingleses para setembro, quatro meses após a publicação do poema. Era o período de alta temporada devido ao clima ameno, e seu intuito era emular Walter Scott, reconhecendo o quanto os leitores deviam a Burns e a Scott (2003, p. 46). Dessa maneira, ao longo do século XIX, britânicos puderam traçar seus planos de viagem rumo ao norte da ilha de acordo com suas preferências. Além dos santuários literários, poderiam desfrutar do contato com a natureza, contemplar paisagens que seriam tomadas ao mesmo tempo como cenários e testemunhas, guardiãs 12
Literatura e viagem: o peregrino literário John Keats
silenciosas da História, como os feitos de grandes heróis do passado, suas vitórias e derrotas. Além da rica paisagem natural, monumentos e coleções de antiquários, repletas de objetos ricos em historicidade, estavam à espera de admiradores de antiguidades. Este é o panorama em que se insere a viagem do turista, ou peregrino literário, que ora iremos acompanhar. Aos vinte e três anos, John Keats decide partir numa excursão a pé até a Escócia, passando pela Região dos Lagos no norte da Inglaterra. Nessa viagem, tem como companheiro Charles Brown, que, segundo o crítico William Michael Rossetii, em Life of John Keats, pode ser considerado como o mais íntimo dos amigos do poeta. Vejamos como o irmão de Dante Gabriel e Christina Rossetti descreve Brown: O Sr. Brown, filho de um escocês corretor da bolsa londrina, era um homem muitos anos mais velho do que Keats, tendo nascido em 1786. Brown era um mercador aposentado que trabalhara na Rússia, possuidor de vasta cultura, [...] que gostava de auxiliar os esforços de jovens promissores. Produziu o libreto da ópera “Narensky”, e depois publicou um livro de sonetos de Shakespeare. [...] Brown pode ser considerado como o mais íntimo de todos os amigos de Keats [...]. (Rossetti: 1887, p. 32)
Em uma carta dirigida ao amigo Bejamin Robert Haydon, podemos observar o que Keats esperava dessa empreitada. Suas afirmações deixam evidente que compartilha com seus contemporâneos a ideia de que viagens levam à aquisição de conhecimento. Por isso, o poeta toma essa excursão como um prólogo para seus futuros Grand Tours. Em 8 de abril de 1818, ele escreve: Tenho o propósito de dentro de um mês colocar minha mochila nas costas e fazer uma viagem a pé pelo Norte da Inglaterra e parte da Escócia – como uma espécie de Prólogo para a Vida que eu pretendo levar – isto é escrever e ver toda a Europa ao menor custo possível. Vou escalar as nuvens e viver. Irei acumular tantas lembranças estupendas que, ao caminhar pelos subúrbios de Londres, eu não os verei – Subirei ao topo do Mont Blanc e lá recordarei este Verão vindouro em que contemplarei Ben Lomond – com minha alma! (Keats: 1899, 295-296) 13
Ana Lucia de Souza Henriques
Pergunta-se: quais santuários literários almeja visitar esse jovem inglês? Esse viajante que faz questão de usar trajes humildes para não ser tomado por um turista comum, aquele que está sempre em grupos e tem a superficialidade como sua marca mais distintiva. Dois poetas que lhe são inspiradores determinam o traçado do roteiro a ser seguido. São eles: William Wordsworth e Robert Burns. O primeiro, Poeta dos Lagos, faz com que Keats, escolha pegar a rota da Região dos Lagos em sua viagem para o norte da ilha; o segundo, Poeta Nacional da Escócia, define as regiões da Land o` Cakes a serem visitadas (cf. figuras 1 e 2, ao final). Em carta ao amigo John Hamilton Reynolds, de 3 maio de 1818, Keats discorre, entre outros assuntos, sobre Wordsworth, a quem toma como um Gênio, que muito o supera como poeta por suas descobertas e pela luz que lança sobre elas (cf. Idem, p. 299). A visita aos Lagos foi marcada por momentos impactantes causados pela beleza de paisagens que despertaram fortes emoções no jovem poeta e em seu companheiro de viagem, com destaque especial para a beleza ímpar da natureza ao redor do Lago de Windermere (cf. Colvin: 1917, p. 273). Em uma carta dirigida a seu irmão Thomas, no dia 27 de junho, Keats descreve a estonteante paisagem que havia contemplado como um aula de poesia e uma fonte de inspiração para futuros poemas. Primeiro ficamos a meia distância da primeira cascata, cercada por muitas árvores, e a vimos descendo pela rocha [...]. Ao mesmo tempo vimos que a água se dividia por uma espécie de ilha e do outro lado jorrava um riacho glorioso – depois o trovão e o frescor. Ao mesmo tempo, as diferentes quedas apresentavam personalidades distintas; a primeira descia a rocha de ardósia como uma flecha; a segunda se abria como um leque – a terceira se lançava como vapor – e a do outro lado da rocha, uma mistura de todas as outras. Depois nos distanciamos um pouco, e tivemos uma visão quase completa de todo aquele ameno cenário prateado correndo por entre as árvores. O que me impressiona mais do que qualquer coisa é o tom, o colorido, a ardósia, a pedra, o musgo, as ervas daninhas nas rochas; ou, se preferir, o intelecto, o semblante daqueles lugares. O espaço, a magnitude das montanhas e quedas d´água podem ser imaginados antes de os vermos, mas este semblante ou esse tom intelectual supera toda 14
Literatura e viagem: o peregrino literário John Keats
imaginação e desafia qualquer lembrança. Aprenderei poesia aqui e de agora em diante escreverei mais do que nunca [...]. Não concordo com Hazlitt que estas cenas fazem o homem parecer pequeno. Jamais me esqueço de minha importância tão completamente – vivo no olhar e minha imaginação, superada, se tranquiliza. (Disponível em: http://englishhistory.net/ keats/letters/letters-to-thomas-keats-25-27-june-1818/)
A julgar pelo conteúdo de suas cartas, a visita aos Lagos em muito agradou Keats. O único desapontamento e motivo de tristeza ficou por conta de não ter se encontrado com Wordsworth, cuja casa em Rydal estava vazia. Não havendo ninguém, restou ao admirador do Poeta do Lagos deixar-lhe uma nota escrita. Keats e Brown partem então para a Escócia levados pela poesia de Robert Burns. Dois lugares em especial fazem parte do roteiro nessa segunda etapa da viagem. São eles: o túmulo de Burns em Dumfries e a casa em Alloway, onde nascera o poeta. De acordo com Nigel Leask, esses dois locais rapidamente passaram a atrair um elevado número de turistas literários, dentre os quais ele destaca William e Dorothy Wordsworth (Leask, 2006). Em 1803, quinze anos antes da visita de Keats, os irmãos Wordsworth também haviam ido prestar suas homenagens ao Poeta Nacional da Escócia. Dentre os poemas inspirados naquela viagem, Wordsworth escreveu “At the Grave of Burns”, adotando a forma conhecida como habbie stanza, empregada por Burns em muitos de seus poemas. Nas estrofes destacadas abaixo, podemos observar a admiração de Wordsworth e o reconhecimento da influência nele exercida pelo poeta escocês. At the Grave of Burns I shiver, Spirit fierce and bold, At thought of what I now behold: As vapours breathed from dungeons cold Strike pleasures dead, So sadness comes from out the mould Where Burns is laid. And have I then thy bones so near, And thou forbidden to appear? As if it were thyself that´s here 15