Menguele me condenou a viver

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Samanta Obadia

Mengele me condenou a viver A vivência e as sequelas de Aleksander Henryk Laks após o Holocausto 2ª Edição


Copyright© Samanta Obadia, 2012 Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem a autorização prévia por escrito da autora, poderá ser reproduzida ou transmitida, sejam quais forem os meios empregados. 2ª Edição - 2013

Editor João Baptista Pinto Revisão Maria Martha Maciel Alencastro de Souza Projeto Gráfico e capa Rian Narcizo Mariano Fotos Arquivo pessoal de Aleksander Laks e Samanta Obadia CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

O12m Obadia, Samanta, 1967Mengele me condenou a viver : a vivência e as sequelas de Aleksander Henryk Laks após o Holocausto / Samanta Obadia. - Rio de Janeiro : Letra Capital, 2012. 162p. : il. ; 21 cm Inclui bibliografia ISBN 978-85-7785-127-0 1. Laks, Aleksander Henryk, 1927-. 2. Holocausto judeu (1939-1945) Narrativas pessoais. 3. Holocausto - Sobreviventes - Polônia - Biografia. 4. Judeus - Polônia Biografia. I. Título. 12-0630. CDD: 920.99405318 CDU: 929:94(100)”1939/1945” 02.02.12 06.02.12 032962

Vendas Tel. (21) 9992-7169 – samantaobadia@gmail.com Letra Capital Editora Telefax: (21) 2224-7071 / 2215-3781 letracapital@letracapital.com.br


Sumário Dedicatória...........................................................................7 Epígrafe................................................................................8 Agradecimentos...................................................................11 Apresentação .......................................................................13 Prólogo.................................................................................17 Por que eu?...........................................................................20 O encontro...........................................................................22 O convite..............................................................................23 A conversa............................................................................28 Libertação.............................................................................29 Antissemitismo.....................................................................32 Campo dos refugiados.........................................................36 Política e Religião................................................................41 Russos...................................................................................43 Poloneses..............................................................................47 Alemães................................................................................54 Mengele................................................................................55 O Fim da Segunda Guerra Mundial..................................57 Brasil.....................................................................................61 Conversão.............................................................................62


Estados Unidos....................................................................74 Judeus X Judeus ..................................................................84 Israel ....................................................................................87 Lembranças .........................................................................93 Esperança ............................................................................95 Testemunho .........................................................................97 O banho ...............................................................................99 No Brasil..............................................................................103 Discriminação .....................................................................106 Sentimentos e sensações .....................................................117 Deus .....................................................................................119 A Reconciliação...................................................................124 Momentos em que Aleksander escapou da morte ...........126 Solidão e lembranças ..........................................................133 Epílogo.................................................................................145 Títulos de Aleksander Henryk Laks ..................................152 Perfil Samanta Obadia ........................................................157 Carta para o Amigo Aleksander Laks ...............................158 Sobreviver............................................................................162 Referências ..........................................................................163


Dedico este livro a meu pai, Ignacio Obadia, por me ensinar, desde criança, que todos os seres humanos são iguais e merecem dignidade e respeito. Samanta Obadia

Ignacio Obadia, Aleksander Laks e Abraham Fidel. Meus heróis! – nov, 2010.


“Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém, provavelmente a minha própria vida”. Clarice Lispector


“Dedico este livro aos meus pais, filhos e netos� Aleksander Henryk Laks



Agradecimentos

Agradeço sempre a Deus, em primeiro lugar, pelos encontros que promove em minha vida. A Aleksander Laks por sua parceria agradável, bem-humorada e paciente. À Rede de Educação Marcelinas – Rio de Janeiro, nas pessoas de Irmã Deuceli Kwiatkowski e Irmã Eunice Camilo Ageiar, que junto aos professores, Luiz Antônio da Costa Chaves e Maria Bernadete Gouvêa Bogossian, trouxeram o querido Aleksander a mim. Agradeço ao estimado Rabino Nilton Bonder por tudo que me ensina, em seus livros e cursos sobre o judaísmo, sobre a cabala e, principalmente, sobre a boa vida entre os seres humanos. E pela pronta disposição em escrever, magnificamente, a apresentação deste livro. Agradeço à querida Rosana Kohl Bines, por sua literatura profunda e doce. E à Sonia Kramer pela contribuição valiosa com seu texto “Ruína, tempo vivo e Holocausto: a potência da memória em Walter Benjamim”.

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Agradeço ao amigo ‘urso’, Samy Fidel, pelas conversas sobre a história dos judeus, e, principalmente, pelo estímulo que me deu, junto com minha irmã, Tatiana Obadia, para a realização deste livro. Agradeço ao tio Abraham Fidel, que, indiretamente, em sua linda família, sempre foi uma prova viva de tolerância e sabedoria de um grande cabalista. Agradeço a revisão incansável de Maria Martha Maciel Souza, que sensivelmente se coloca na posição do leitor, lapidando o texto de maneira cuidadosa. Agradeço sempre a minha filha, Giulia, e ao querido companheiro Joaquim, pela paciência na divisão de meu tempo familiar com meus livros. Agradeço também a missão que Aleksander recebeu de seu pai: contar a sua vida como sobrevivente. E ao dom que recebi de Deus: o de escrever para restabelecer a humanidade que existe em nós, ora denunciando as injustiças que devem ser evitadas, ora enaltecendo a transcendência existente no ser humano. As dores do outro dilaceram o coração dos que pensam. Fazem-nos em partes, pois nos impedem de seguirmos o nosso verdadeiro destino, o de sermos um único organismo.

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Apresentação Rabino Nilton Bonder

Rabino Nilton Bonder e Aleksander Laks.

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ste livro é um registro fundamental. Não apenas pela informação que contém para as gerações futuras, mas pela pessoa que Aleksander Laks é. Ele se tornou o principal personagem em dimensão nacional na divulgação do Holocausto e do horror nazista. Seu depoimento é uma incansável doação de tempo e energia Mengele me condenou a viver  13


em visitas a escolas e toda a sorte de instituições, emocionando platéias numa experiência de reencontro com a solidariedade e o humanismo. O que distingue este depoimento de tantos outros de sobreviventes tem a ver não só com o conteúdo do que nos conta, mas com sua forma simples e quase ingênua de apresentá-lo. Ele não fala por uma perspectiva política, religiosa ou intelectual. Ele fala como uma pessoa e nos convoca a sermos “gente”. Em seu discurso não há explicações ou mesmo tentativas de promover ideias, mas o singelo e arrebatador relato que nos faz perceber como se sentiria alguém nas condições que ele conheceu. Quando somos guiados a esse lugar humano, descobrimos um amor e um valor em nós que nos dignifica. Para mim, esse é o ato inconsciente de resistência desse menino feito adolescente em meio a toda a barbárie e sandice da Segunda Grande Guerra. Cada pontuação de sua fala traz a milenar perplexidade diante do mal – Como pode? – Como pode gente fazer isso com gente? E a resposta que está em cada uma de suas afirmações é que temos que abandonar a condição de “gente” para que tudo isso possa acontecer. E Aleksander, se expondo como gente, vira avô de cada um que o escuta, vira contador de histórias, ancião que fala ingenuamente da vida como a percebia um adolescente, e nos vai enredando num convite para sermos quem somos. Até porque, mais do qualquer coisa que galgamos na vida, ser gente sempre será a excelência humana. Assim vejo Aleksander, um pouco como vejo um salva-vidas. Sempre admirei esses profissionais não pela estética do herói, mas por saírem pelo mundo afora divulgando o plural – vidas – desafiando o que a rotina e o individualismo confinam no singular. Quando temos a dimensão desse plural, somos humanos; no singular somos apenas outra espécie animal. Mas que não se equivoque o leitor porque a mensagem 14  Samanta Obadia


mais linda não está no relato de um herói, mas apenas de um ser humano. Consciente de suas limitações e fraquezas, Aleksander nos conta sobre como foi estar lá e todos nós nos transportamos nesse relato destituído de fachadas, onde há total descompromisso com o autoenaltecimento ou mitificações. E assim ele nos empresta seus olhos de gente para ver o que se passava naquele período tão surreal. Mengele não sabia que todo aquele que se agarra a sua humanidade e que experimenta sua própria vulnerabilidade acaba condenado a viver. Não foi Deus quem salvou Aleksander, nem foi o acaso que nos trouxe conhecê-lo e estar lendo este livro hoje. Um ser humano está exposto à vida e a tudo que lhe diz respeito porque estamos todos condenados a viver! Soubesse Mengele ao cruzar com Aleksander que ali estava um inimigo visceral da sua patológica atração e terror pela vulnerabilidade humana, teria desesperadamente tentado erradicá-lo da vida. Ele não o teria condenado a viver, mas teria demonstrado o que genericamente percebia como a maior ameaça judaica: sua humanidade. Leia esse relato de fácil leitura, ágil, inteligente e profundo e o incorpore a sua memória e ciência. Para além das emocionantes e cativantes colocações deste ser humano que aprendi a admirar, instigado pela inteligência e sensibilidade de sua entrevistadora, você encontrará o convite para participar de um bate-papo entre gente. E gente não esconde nada de gente. Portanto uma oportunidade única de saber tudo sobre o que aconteceu nesse período pela perspectiva do olhar de “gente”. O ponto máximo, para mim, aparece numa passagem onde a intimidade de Aleksander com a humanidade se apresenta de forma magistral. Momento em que se coloca a ele a pergunta – O que fazer primeiro: sexo ou se alimentar? A humanidade se acolhe por meio de tudo que diz respeito ao humano. O que você está por ler tem essa grandeza de nos fazer Mengele me condenou a viver  15


perambular por campos de extermínio, pela Europa da guerra, pela experiência do sobrevivente imigrante, sem ter que abandonar as fronteiras do que é humano. Viajando com este personagem que é Aleksander, fica suportável aos jovens e às novas gerações ouvir sobre horrores sem promover morbidez ou perda de esperança. Agradeço a ele por mais este legado, agradeço a Samanta pela iniciativa afetuosa de nos oferecer este presente. Mal sabia Mengele que o desafiaria um Mendele. Um Mendel mocher sforim1, um pequeno Mendel vendedor de livros, contador de histórias. Ele contraporia a barbárie, o ódio e a violência com uma arma derradeira que determinaria de que lado estaria a vitória – refiro-me ao singelo poder de sermos “gente”. Ironicamente agradecemos que a condenação tenha sido pela pena máxima, ou seja, de viver muitos anos e vivê-los intensamente. Saiba, Aleksander, que este livro, mesmo com toda a sua qualidade e beleza, não lhe oferece indulto.

1. É o pseudônimo de Sholem Yankev Abramovich, (1836 -1917) judeu autor e um dos fundadores da moderna iídiche e hebraico literatura. Ele é considerado por muitos como o “avô da literatura iídiche“. Seu estilo em hebraico e iídiche influenciou fortemente várias gerações de escritores que o sucederam. 16  Samanta Obadia


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