Miolo 9788577852611 amazonia babel nova

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Conselho Editorial Série Letra Capital Acadêmica Beatriz Anselmo Olinto (Unicentro-PR) Carlos Roberto dos Anjos Candeiro (UFTM) João Medeiros Filho (UCL) Luciana Marino do Nascimento (UFRJ) Maria Luiza Bustamante Pereira de Sá (UERJ) Michela Rosa di Candia (UFRJ) Olavo Luppi Silva (USP) Orlando Alvez dos Santos Junior (UFRJ) Pierre Alves Costa (Unicentro-PR) Robert Segal (UFRJ) Sandro Ornellas (UFBA) Sergio Azevedo (UENF) Sérgio Tadeu Gonçalves Muniz (UTFPR) William Batista (Bennet - RJ)


Simone de Souza Lima

Amazônia Babel línguas, ficção, margens, nomadismos e resíduos utópicos


Copyright © Simone de Souza Lima, 2014 Esta obra não pode ser reproduzida total ou parcialmente sem a autorização por escrito do editor.

Editor João Baptista Pinto

Capa Carlos André Alexandre Melo

Projeto Gráfico e Editoração Luiz Guimarães Revisão Amilton José Freire de Queiroz

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

L698a Lima, Simone de Souza, 1963Amazônia babel: línguas, ficção, margens, nomadismos e resíduos utópicos / Simone de Souza Lima. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Letra Capital, 2014. 292 p. : il. ; 15,5x23 cm. Inclui bibliografia ISBN 978-85-7785-261-1 1. Amazônia - Na literatura. 2. Amazônia - Condições sociais. I. Título.

14-10953 CDD: 981.1 CDU: 94(811) 02/04/2014

08/04/2014

Letra Capital Editora Telefax: (21) 3553-2236/2215-3781 letracapital@letracapital.com.br


In memorian, Com todo meu amor e carinho dedico este trabalho à memória de minha querida Adriana Delgado Santelli.



Agradecimentos especiais

Em primeiro lugar, agradeço imensamente à professora Drª

Marli de Oliveira Fantini Scarpelli, pela prestimosa acolhida a mim dispensada na UFMG, inserindo-me no meio de seus orientandos e de suas atividades acadêmicas. Foi assim que, nos meses de março de 2009 a fevereiro de 2010, tive o imenso prazer de mergulhar na vida acadêmica da UFMG, área de Letras – em sua sábia e serena companhia, participando de aulas na graduação e pós-graduação, de bancas de mestrado e doutorado, em aprendizagem significativa. Sempre rodeada de alunos da graduação, de colegas e orientandos do mestrado ou doutorado – dispensando a todos atenção e orientação precisa, na pessoa da professora Marli Fantini foi-me dado compreender por que a FALE/UFMG é, hoje, uma das Instituições Acadêmicas brasileiras de maior prestígio científico no Brasil e no exterior, conforme avaliação da CAPES, que outorgou à área de Letras da Instituição nota máxima. Além das atividades de orientação, desdobrando-se em viagens nacionais e internacionais, fazendo palestras, participando de bancas e ministrando aulas no exterior; organizando eventos nacionais e internacionais; coordenando a Câmara de Pesquisa da FALE/UFMG e produzindo pesquisa – divulgada em livros e periódicos, a dinâmica atuação da professora Marli Fantini (e a de seus colegas) foi, para mim, exemplar. Parafraseando o professor Jaime Guinsburg1 – só tenho a agradecê-la, professora Marli, por sua “extrema generosidade” para comigo e para com todos aqueles que a procuram a fim de sanar dúvidas, ou receber orientação segura, trocar idéias, enfim. Expressão externada pelo prof. Dr. Jaime Guinsburg em agradecimento à professora Marli Fantini, em 23 de outubro de 2009, por ocasião da participação do pesquisador da USP em uma mesa de trabalho coordenada pela homenageada (SEVFALE/UFMG).

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Agradeço ainda ao Colegiado do POSLIT, na pessoa do professor Julio Jeha, bem como a todos os funcionários da Secretaria do POSLIT, e da Câmara de Pesquisa da FALE/UFMG, com quem tive o prazer de conviver na Universidade Federal de Minas Gerais. Sou ainda muito grata ao CNPq, que desde março de 2010 concede-me uma bolsa de pesquisa, possibilitando o término do trabalho em pauta já em minha Universidade de origem – a UFAC. Meus sinceros agradecimentos, também, à Universidade Federal do Acre que, através de portaria, me liberou em tempo integral a fim de que eu pudesse dedicar-me à pesquisa na modalidade Residência Pós-Doutoral na UFMG. Só assim, pude levar a termo as leituras necessárias à efetivação do trabalho ora apresentado. Agradeço, também, aos meus colegas – professores Henrique Silvestre Soares, Manoel Estébio Cavalcante da Cunha, Francisco Bento da Silva, Olinda Batista Assmar, Laélia Maria Rodrigues da Silva, João Carlos de Carvalho, Amilton José Freire de Queiroz, Myully dos Santos, Belchior Carrilho, Carlos André Alexandre e Ezilda Maciel da Silva. Com extrema generosidade, esses colegas e amigos possibilitaram-me o acesso às obras de Abguar Bastos, Carlos de Vasconcelos, à produção histórico/cultural dos povos indígenas do Acre, dentre outros importantes textos sobre as fronteiras pan-amazônicas. Por fim, minha eterna gratidão aos meus alunos de Iniciação Científica (PIBIC, PIVIC, PET/LETRAS) e demais discentes de graduação e pós-graduação (Mestrado em Letras: Linguagem e Identidade) – junto aos quais instalamos um grupo de estudo e trabalho sobre as fronteiras do literário, com destaque para a cultura pan-amazônica. Foi com eles que começamos a refletir sobre a narrativa de Gaspar de Carvajal ainda em 2003, especialmente sobre o Mito das Amazonas, à época com o então orientando de Iniciação Científica Amilton José Freire de Queiroz (hoje doutorando de Letras da UFRGS). Depois, ampliamos a pesquisa para novas temáticas, mormente sobre culturas em ambientes de fronteiras, junto às turmas de Literatura Brasileira VI, do Curso de Letras Espanhol. De lá, saíram dois projetos de mestrado: Poesia de fronteira: 8


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resistência e movimento na poética amazônica de Carmen Elsy Alpire, Francis Mary, Javier Dávila Durand e Thiago de Mello; e Gostos, sabores e dissabores – contatos culturais na fronteira de Brasiléia e Cobija, respectivamente de autoria de Rossemildo Santos e Francemilda Lopes do Nascimento, ex-alunos do Curso de Espanhol da UFAC, agora mestres em Letras pela UFAC. Portanto, foi junto aos alunos de graduação e pós-graduação, que praticamente todos os textos que compõem a pesquisa em tela foram inicialmente lidos e discutidos. Nas disciplinas de Literatura Brasileira VI e Literatura Amazônica, além da leitura do Relato de Viagem de Gaspar de Carvajal – texto fundador da Amazônia, tivemos a oportunidade de ler e discutir Gastão Cruls, Cristóbal de Acuña, Charles-Marie de La Condamine, Euclides da Cunha, Alberto Rangel, Peregrino Júnior, Inglês de Sousa, Cláudio de Araújo Lima, Márcio Souza, Milton Hatoum, Mário de Andrade – dentre tantos outros autores que disseram sobre as paisagens amazônicas, sua gente e seu entorno, desde o século 16, e assim procedendo, forjaram identidades e imaginários. Intencionamos compreendê-los segundo as diversas vertentes dos Estudos Comparados e/ou das teorias pós-coloniais e estudos culturais. Também devemos muito ao Mestrado em Letras: Linguagem e Identidade, da UFAC. Desde sua implantação, em 2006, através do diálogo acadêmico travado com discentes e corpo docente – temos tido a oportunidade de aprender, trocar ideias, ampliar horizontes – alçando vôos mais firmes e seguros no campo da pesquisa acadêmica. Não poderíamos deixar de fazer aqui alguns agradecimentos especiais: ao querido amigo Amilton José Freire de Queiroz que, desde 2003, acompanha-me em minhas atividades de pesquisa, ensino e extensão dentro e fora da UFAC. A ele e ao colega Chico Bento coube à revisão deste trabalho, acrescida de anotações e sugestões extremamente úteis na preparação da redação final do livro financiado pela Lei de Incentivo à Cultura do Governo do Estado do Acre, inicialmente intitulado Literatura & Meio Ambiente – ficção, corpos e nomadismos na Pan-Amazônia, agora, publicado com o título original com o qual foi desenvolvido na FALE/UFMG entre os 9


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anos de 2009 e 2010: AMAZÔNIA BABEL – LÍNGUAS, FICÇÃO, MARGENS, NOMADISMOS E RESÍDUOS UTÓPICOS. Por fim, com o amor fraterno que move as fibras de meu Ser, dedico este livro à memória do colega do antigo Departamento de Letras da Universidade Federal do Acre –, Pedro Cavalcante de Andrade, com quem tive o privilégio de usufruir de uma convivência plena de sabedoria humanitária. A todos vocês, dedico este modesto trabalho no que ele pode ter de relevante na discussão estabelecida sobre o universo cultural das Amazônias – lugar de onde transbordam paisagens imaginárias plurais, impuras e instigantes, em linguagens variadas. As falhas e os equívocos verificáveis no interior do trabalho são, todos, de minha inteira responsabilidade. Belo Horizonte – MG, Rio Branco – AC. Simone de Souza Lima

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Prefácio

Professora Doutora da Universidade Federal do Acre - UFAC

e pesquisadora do CNPq, Simone de Souza Lima é autora do livro Amazônia Babel – línguas, ficção, margens, nomadismos e resíduos utópicos. Trata-se de uma publicação competente e madura, patenteando-se, portanto, como fonte de capital importância para as pesquisas literárias e teórico/críticas voltadas para o complexo universo amazônico. Fruto de longa e consistente experiência de campo, práticas acadêmicas e pesquisas fomentadas por uma metodologia de base transdisciplinar, a temática do presente livro se ancora, em síntese, na diversidade cultural, étnica, lingüística e ambiental da/s Amazônia/s. Simone elegeu a Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, para, no período 2009-2010, desenvolver seu projeto de pesquisa de Pós-Doutorado em Literatura Comparada. Sob o título preciso e poético Amazônia babel – línguas, ficção, margens, nomadismos e resíduos utópicos, o projeto tinha como objetivo central “estudar algumas narrativas da Amazônia brasileira, inseridas na modernidade, buscando mapear os processos de invenção e re-invenção do complexo imaginário cultural amazônico”. A meta almejada era traçar uma cartografia imaginária de tal contexto. Os corpus ficcionais e teórico/críticos/metodológicos contemplados constituíram-se de romances, relatos orais, crônicas, registros de naturalistas e de narradores-viajantes que visitaram (e ainda visitam) a região, no afã de compreender a realidade histórica e geopolítica dos trópicos. Ao dotar sua própria mirada de perspectivas que, ao longo de séculos, vêm enriquecendo o imaginário sobre a região amazônica, Simone de Souza Lima encontra o distanciamento espacial e crítico necessário ao aguçamento do foco dirigido para a/s Amazônia/s por ela investigada/s. Em sua bagagem, a então pesquisadora de pós-doutorado car11


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regava, ademais de seu projeto, sonhos, livros, idéias e muitas pesquisas já antes desenvolvidas junto com seus alunos de graduação e pós-graduação, seus orientandos de Iniciação Científica e de Mestrado, e com o grupo transdisciplinar constituído de professores, pesquisadores e especialistas na/s Amazônia/s. Da interatividade entre diversificados saberes, criou-se, portanto, o grupo com vocação transdisciplinar, cujos trabalhos e resultados sobre cultura e imaginário amazônico vêm paulatinamente circulando em cursos de graduação e pós-graduação, orientações acadêmicas, em periódicos, livros, eventos de porte nacional e internacional. Em visita à UFAC, em Rio Branco (em 2010), tive a feliz oportunidade de constatar in situ a competência e seriedade com que as pesquisas de caráter transdisciplinar se desenvolvem. Tendo em vista tais articulações de natureza multíplice e complexa, importa ouvirmos o ambientalista Enrique Leff, que tem muito a contribuir nesse campo em que Simone de Souza Lima se mostra familiarizada. Defensor do diálogo das ciências visando à articulação de vários saberes, Leff acredita que, sob o viés transdisciplinar, é viável a realização de uma epistemologia ambiental desde que tais interações suscitem diferentes racionalidades culturais, o pluralismo ontológico e epistemológico” (LEFF, Enrique. Aventuras de la epistemologia ambiental: de la articulación de ciências al diálogo de saberes. México: Siglo XXI editores, s. a., 2006, p. 32-33). Ao conferir visibilidade ao diálogo entre literatura, lingüística, meio ambiente, geografia, antropologia, etno-história, dentre outras áreas de conhecimento, a multiplicidade de enfoques aflora, de forma patente, nos projetos, produções e especialmente neste livro de Simone de Souza Lima. Pesquisadora incansável e contumaz, Simone se mostra atenta a saberes consagrados, sem deixar, contudo, de convergi-los para tendências epistemológicas contemporâneas. Quando me procurou para a supervisão de suas pesquisas pós-doutorais, Simone de Souza Lima trazia consigo a firme convicção da meta por ela pretendida. Ou seja, dedicar-se tanto diacrônica quanto sincronicamente das complexas e heterogêneas 12


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questões culturais e literárias amazônicas: as tensões e o possível diálogo do regionalismo local com outros regionalismos nacionais e continentais; formas e meios de compreender e atuar frente à diversidade de etnias e línguas; frente à diversidade de saberes indígenas; frente à indevida exploração das terras, das florestas, das águas e frente à conseqüente busca de alternativas para o uso ético e sustentável do meio ambiente. A despeito de sua heterogeneidade, a Amazônia, ou melhor, as várias Amazônias – a brasileira, a peruana, a boliviana, a venezuelana, a colombiana, a guianense, a guianense francesa e a surinamense – guardam em comum, como já se ressaltou, toda uma complexidade lingüística, étnica, histórica, religiosa, cultural e ambiental. Durante séculos, tal complexidade vem despertando a curiosidade e o interesse científico não somente de ficcionistas, antropólogos e indigenistas brasileiros, mas também de naturalistas, historiadores, cronistas e viajantes estrangeiros. Desde seu projeto de pesquisas pós-doutorais, Simone de Souza Lima já vinha mapeando, com minuciosa firmeza, parte significativa dessas visitações das quais, segundo ela, resulta o substrato do (seu) imaginário amazônico. Nos cenários historicamente retomados e atualizados no seu livro Amazônia Babel – línguas, ficção, margens, nomadismos e resíduos utópicos, Simone faz aflorar um tempo “povoado de agoras” (segundo expressão de Walter Benjamin), de forma a convergir e tensionar sua perspectiva com as de diversos narradores por ela pesquisados. Ao engendrar tais confluências, Simone de Souza Lima faz jorrar novas luzes sobre os povos amazônicos, sua riqueza cultural e lingüística, sua diversidade, seus bens simbólicos. Felizmente, para nós leitores, Simone de Souza Lima nos deixa, na “conclusão” de seu livro, uma “promessa” de continuidade, ao afirmar o caráter não conclusivo, mas provisório de suas pesquisas: “Sem chegar a uma conclusão sobre o percurso das ficções migrantes representativas da Amazônia Babel – fechamos provisoriamente o presente livro, cientes de que nosso pensamento se constituiu, ele próprio, num intricado labirinto de adições e contradições sobre as dinâmicas de tradução dos povos representados pelas narrati13


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vas de Gaspar de Carvajal, Acuña, Charles-Marie de La Condamine, Gastão Cruls, Euclides da Cunha, Mário de Andrade e Abguar Bastos”. São muitas as qualidades do livro em foco, seja sua escrita fluida e coerente, seja o conhecimento apurado e crítico da matéria tratada ou ainda as articulações com base no comparatismo e na transdisciplinaridade. São qualidades, enfim, que se salientam para todo o tipo de leitor, o que me deixa extremamente honrada pelo convite da autora para fazer esta apresentação. Marli Fantini – UFMG

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Apresentação

Amazônia: infinitos tempos, múltiplas representações Francisco de Moura Pinheiro*

Cinco séculos depois de “encontrado” (os livros escolares di-

zem “descoberto”) oficialmente o Brasil, apesar de todos os avanços tecnológicos e pesquisas que se desenvolveram desde então, creio que é possível dizer que ainda falta muita coisa por ser esclarecida. Um tanto pelo apagamento proposital empreendido pelos diversos poderes (constituídos ou destituídos, tanto faz), outro tanto pela estrutura piramidal sobre a qual se assentam as bases do saber acadêmico, que, não raras vezes, despreza o conhecimento popular. Se essa situação de coisas/fatos que aguardam esclarecimento for transposta para a Amazônia, então isso se multiplica. Grandiosidade e mistificação fervem em um mesmo caldeirão! Grandiosidade! A Amazônia se estende por nove países: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela, que perfazem um total de 5.5000.000 Km² (4.5000.000 dos quais em território brasileiro). Na Amazônia também se localiza a maior bacia hidrográfica mundial, composta de 1.100 cursos d’água de diversos tamanhos, somando uma rede fluvial de 20.000 km de extensão, que serpenteia pelo meio de uma floresta estimada neste momento (o número varia de ano para ano, sempre em sentido descendente) em 3.5000.000 Km². Com todos esses dados, naturalmente, não surpreende dizer que na Amazônia encontra-se a mais rica biodiversidade do nosso planetinha azul. *Doutor em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e membro da Academia Acreana de Letras. 15


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Mistificação, deslumbramentos, exotismos e maravilhas irreais! A literatura, principalmente aquela produzida pelos primeiros exploradores, é pródiga em relatos de cidades perdidas cujos prédios eram cobertos de ouro; fontes de água mágica capazes de tornar para sempre jovens todos os que matassem a sede com o precioso líquido; mulheres guerreiras, montando cavalos selvagens, que se automutilavam, extirpando um dos seios para poder melhor manejar os seus conjuntos de arco e flechas; plantas carnívoras capazes de devorar um ser humano com uma única mordida; animais monstruosos e selvagens canibais, escondidos pela densa vegetação, à espreita dos incautos que ousavam aventurar-se selva à dentro. A Amazônia, sob esse prisma, transformou-se no signo delirante de uma fantasia sediada na natureza. E como tal, uma significativa parte dos discursos sobre a região expressam a utopia de outro mundo. No início dos relatos, era preciso convencer os governantes distantes de que se tratava de um lugar que merecia e precisava ser explorado. Mas era necessário também encher os ouvidos e os corações de temores para que nem todos tivessem a coragem de deslocar-se para o “inferno verde”. E no momento histórico seguinte aos primeiro relatos se fez fundamental, igualmente por intermédio do discurso, criar vertentes correlatas à visão de “paraíso perdido”. O fogo eterno e o éden! O pulmão do mundo! A esperança verde! Pois é nessa “zona de contato” que se aventurou a professora Simone de Souza Lima, querida amiga das salas de aula e dos corredores da Universidade Federal do Acre, doutora em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo (USP), para produzir o livro Amazônia Babel – Línguas, Ficção, Margens, Nomadismos e Resíduos Utópicos, vigoroso e ousado ensaio sobre parte do que romancistas, contadores de história, cronistas e narradores disseram/produziram a respeito da região amazônica. No afã de compreender as realidades dos trópicos (tristes para uns, esvoaçantes para outros), discursos de todos os estilos se entrecruzam em variadas direções no texto de Simone Lima. No final das contas, percorridas as densas páginas desse mais 16


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novo fruto do incansável esforço intelectual da professora Simone, resta-nos, a partir da falta de uma conclusão cabal sobre o percurso das “ficções migrantes representativas da Amazônia Babel”, como deve ser mesmo uma obra plural, enveredar pelo nosso próprio caminho. Gaspar de Carvajal, Acuña, Charles-Marie de La Condamine, Gastão Cruls, Euclides da Cunha, Abguar Bastos que tratem de nos acompanhar desde o seu mundo “fantasmático”. Novos discursos haverão de nascer, seguindo, contrapondo, justapondo ou erigindo, naquelas narrativas anteriores, pontos de verdades absolutas ou mentiras outras. Siga-se, enfim, a Babel rumo ao infinito céu!

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Sumário 1. O contexto da pesquisa nas fronteiras pan-amazônicas.................................................................... 21 2. A Amazônia e a metáfora de Babel.................................... 32 3. Modulações do corpo na nascente modernidade amazônica............................................................................. 45 4. Amazônia – literatura & meio ambiente............................ 65 5. O inventário eco-gastronômico em Carvajal...................... 90 6. As margens e os nomadismos no relato de Carvajal....... 106 7. O triângulo da comida: sexo, fome e antropofagia ........ 117 8. A afirmação política da escrita literária indígena no século 21........................................................................ 129 9. Pode a letra fundar uma região? ...................................... 143 10. O trânsito dos imaginários – Carvajal & Calvino............ 156 11. La Condamine – o caçador das Amazonas...................... 171 12. A mazônia misteriosa – cidade & monstruosidades......... 183 13. Macunaíma – a contestação e o desenraizamento do mito das Amazonas ..................................................... 200 14. Nomadismos nas fronteiras da Amazônia Acreana ........ 217 15. Terra de icamiaba – resíduos utópicos do mito das Amazonas .................................................................... 245 16. Judas asvero: uma narrativa anti-semita? ......................... 264 Conclusão ................................................................................. 272 Bibliografia................................................................................ 278

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