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O DESAFIO DA PESQUISA QUALITATIVA


Conselho Editorial Série Letra Capital Acadêmica Beatriz Anselmo Olinto (Unicentro-PR) Carlos Roberto dos Anjos Candeiro (UFTM) Claudio Cezar Henriques (UERJ) Ezilda Maciel da Silva (FAAO) João Medeiros Filho (UCL) Leonardo Santana da Silva (UFRJ) Luciana Marino do Nascimento (UFRJ) Maria Luiza Bustamante Pereira de Sá (UERJ) Michela Rosa di Candia (UFRJ) Olavo Luppi Silva (UFABC) Orlando Alves dos Santos Junior (UFRJ) Pierre Alves Costa (Unicentro-PR) Rafael Soares Gonçalves (PUC-RIO) Robert Segal (UFRJ) Roberto Acízelo Quelhas de Souza (UERJ) Sandro Ornellas (UFBA) Sergio Azevedo (UENF) Sérgio Tadeu Gonçalves Muniz (UTFPR)


Leila Dupret Organizadora

O DESAFIO DA PESQUISA QUALITATIVA


Copyright © Leila Dupret (Org.), 2017 Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei nº 9.610, de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida, sejam quais forem os meios empregados, sem a autorização prévia e expressa do autor.

Editor: João Baptista Pinto Capa: Rian Narcizo Mariano Projeto Gráfico e Editoração: Luiz Guimarães Revisão: Dos Autores

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.

D484 O desafio da pesquisa qualitativa / organização Leila Dupret. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Letra Capital, 2017. 128 p. : il. ; 15,5x23 cm.

Inclui bibliografia ISBN 978-85-7785-552-0

1. Relações étnicas. 2. Minorias - Brasil. 3. Movimentos sociais - Brasil. I. Dupret, Leila.

17-45281 CDD: 307.76 CDU: 316.42

Letra Capital Editora Telefax: (21) 3553-2236/2215-3781 vendas@letracapital.com.br


Sumário Prefácio............................................................................................... 7 Primeiras Palavras............................................................................. 9 O Educador e as Práticas Ambientais: imagens e simbolismos.................................................................... 19 Imara Freire A Mulher e a Religião Afro-brasileira: frentes de engajamento sócio-cultural em Nova Iguaçu........................... 38 Eloisa de Oliveira Educar para a Diversidade Étnico-racial: perspectivas do imaginário infantil............................................... 59 Danielle Milioli Samba-enredo e Lei 10.639:possibilidades de mudanças intrapsicológicas do sujeito............................................................. 73 Nikolas Bigler Mulheres na Educação: desafios contemporâneos....................... 90 Isabel Santanna Jovem da Baixada Fluminense: interpretações de um olhar..... 100 Leila Dupret Penúltimas Palavras........................................................................114 Referências Bibliográficas............................................................. 124



Prefácio

Para se ler o livro é preciso pegá-lo.

Então pegue, mas não o pegue de qualquer jeito. Pegue com cuidado, pegue na “sua pegada”. Quando se pega um livro, não importa se trate de ciência ou arte, é sempre encontro entre duas almas, encontro entre dois corpos: o teu e o dele. Então, antes de lê-lo, toque-o como enamorado. Demorese nas preliminares; nas relações de prazer das palavras entre a capa e a contracapa; acerque-se das intimidades entre a tua pele – ponta do teu dedo – e o papel em que estão presas as palavras. E por meio delas – não há outro caminho para libertá-las – deslize pela introdução, pelo sumário, pelo prefácio e de mansinho, aos poucadinhos, devagarinho penetre surdamente no reino das palavras que te perguntam ao pé do ouvido: trouxestes a chave? Enfim, entregue-se à leitura: olhos fechados, dedos bailando, deslizando entre as páginas, entre os parágrafos e nas entrelinhas, úmidos, beliscam palavras assanhadas, corpo e alma deste livro, que são de: políticas públicas, educação ambiental, formação, escola municipal, rede pública, mulher, religião afro-brasileira, imaginário, população infantil, negro, cultura afro-brasileira, subjetividade, professores, ensino médio, mulheres universitárias, pedagogia, Baixada Fluminense, feminino, jovens, contexto, desabafo. Depois de todos os desfolhamentos e atritos entre os corpos, comece o que já havia começado: leia sem pressa, sem ansiedade, na “tua pegada”; leia como se bebesse, como se bailasse, como se dormisse, como se conversasse. Este é o jogo, o segredo: deixar-se penetrar pelas palavras para então penetrá-las e assim encontrar, não apenas conceitos abstratos, mas homens e mulheres – autores desses escritos sobre o mundo. Homens e mulheres que se ocupam, não apenas em conhecer o mundo, mas, sobretudo amá-lo. Carlos Roberto de Carvalho

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Primeiras Palavras

Quando alguém muito envolvido com as ciências exatas me

perguntou: – Você tem uma hipótese para sua pesquisa? Eu respondi: – Não. Tenho princípios norteadores que sustentam a investigação. A pessoa retrucou: – Então, são apenas estudos teóricos? Eu disse: – Não. Faço pesquisa de campo com apenas uma questão deflagradora das falas dos entrevistados, que são interpretadas e, a partir de uma análise, revelam configurações as quais convergem para o sentido que faz para o grupo o que está sendo investigado, sendo respeitado o contexto em que se insere. Ela me olhou profundamente e falou: – Você não faz pesquisa linear, de relação direta de causa e efeito. Você leva em conta multifatores que estão envolvidos em uma situação; você trabalha com outro modelo de ciência que é difícil de as pessoas entenderem que é bem mais coerente com o modo como se processam os fenômenos, porque são sistemas integrados que interagem o tempo todo e não dá para estudar sem levar em conta a simultaneidade que ocorrem. Ela não pensava mais no meu estudo, mas no seu próprio e falava para si mesma em tom normal como demonstrativo do pensamento que ia se construindo; o que Vygotsky denominou de “fala interior”, para os mais íntimos com seus escritos. E, subitamente, comenta: – Quem mais estuda desta maneira? Respondi: – Alguns poucos pesquisadores como o Fenando Rey. Àquela época estava ministrando aulas na Universidade de Brasília. Ela interpelou: 9


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– Você tem que escrever um livro sobre este modo de pesquisa, o mais rápido possível. Depois de algum tempo, resolvi então escrever este livro em parceria com pesquisadores, que podem dar exemplos de como foram realizadas suas investigações, para instigar o debate sobre um modo de fazer pesquisa, sustentado por uma epistemologia que pretende atingir subjetividades: a epistemologia qualitativa. A primeira vez que tive contato com essa proposição era final dos anos 1990. No doutorado, que acabou em 1992, eu já havia ficado sem saber como continuar pesquisando, por conta do que havia acontecido: estudos sobre caos, flocos de neve, complexidade e estranhezas me levaram a buscar caminhos distintos dos que me haviam sido apresentados até então. A psicologia do controle e previsibilidade não cabia mais nas minhas reflexões, que se expandiam para além dos limites sugeridos pelos compêndios clássicos, os quais reuniam autores conceituados e considerados pelos propósitos de suas descobertas. Mas, apesar de todo o respeito por seus méritos, eles não me satisfaziam mais. Eu precisava de outro modo para conceber esta ciência, que tem por foco de estudos o ser humano, mais especificamente sua “produção mental”. Eu queria ter a chance de investigar com o rigor exigido pela academia, a plasticidade do psiquismo, a imprevisibilidade do comportamento, a dinâmica do movimento do processo de desenvolvimento, o sujeito em construção na sua história de vida interferido constantemente pelos diversos contextos nos quais se insere. Enfim, as transformações intrasubjetivas na dialogicidade com todo o aparato intersubjetivo tornaram-se o meu desafio no ilimitado campo psicológico. Eu já vinha lidando com as questões levantadas por Vygotsky sobre “A Crise na Psicologia” desde o começo do século XX; a necessidade de se estudar a “unidade complexa” que é o ser humano, na relação entre “Pensamento e Linguagem”; os princípios da “reactologia” advindos de sua experiência com a literatura, caracterizando a diversidade de expressões frente a uma única informação; o conceito de “zona de desenvolvimento proximal” que demostrava a participação efetiva de outras pessoas no processo de desenvolvimento de alguém, viabilizando a presença do social, 10


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da história, da cultura, dentre outros elementos constitutivos de um único sujeito. E ainda, em se tratando da pesquisa em si, os princípios teórico-metodológicos fundamentais para a realização de uma investigação de cunho qualitativo: “analisar processo e não objeto, diferenciar explicação de descrição, e desprender-se do comportamento fossilizado”. Ou seja, reconhecer a presença da interação dos constituintes da história do que está sendo investigado, abandonando apenas o acúmulo de informações; desvelar sua dinâmica-causal, não se detendo apenas nas aparências mais comuns e superficiais; e se libertar de concepções, condutas e atitudes automatizadas, que por origens remotas e suas inúmeras repetições, tornaram-se mecanizadas, e desafortunadamente tomadas como padrões, isto é, um modo cristalizado de olhar o mundo. Em uma palavra, ele me ofereceu a chance de sair dos limites das previsibilidades e adentrar no ilimitado espaço das possibilidades. Mas, como morreu muito novo, não podemos afirmar o que seria o desenrolar de suas ideias. O que temos de fato, são continuidades trazidas por seguidores, cada um deles, interpretando segundo seu próprio ponto de vista o que conseguem entender como prosseguimento de tal perspectiva. Neste caminho, a sugestão de Rey foi a que mais combinou comigo. A partir dos anos de 1997, pude ter acesso às suas propostas sobre produção de conhecimento, valorização do diálogo e importância da singularidade. Isto é, a participação efetiva do sujeito conhecedor, a partir da ótica “construtivo-interpretativa”, atravessada por sua própria história de vida, como viés para o conhecer; a expressão significativa dos participantes do estudo, pesquisador e pesquisado, a partir do que advém da conversa estabelecida no momento da pesquisa; particularidades e especificidades, que tradicionalmente não têm lugar de atenção, passam a ser estudadas cientificamente, pois são constituintes do campo do possível, consequentemente do que é factual, e, portanto, transformadas em fenômenos a serem investigados. A oportunidade diferenciada de pesquisar em Psicologia, viabilizada por essa dupla de autores, me encorajou a seguir outra direção para investigar sobre manifestações do psiquismo com 11


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mais tranquilidade acerca das imprevisibilidades, do fortuito, do inesperado. Além disso, o conceito de zona de desenvolvimento proximal definido por Vygotsky, o qual estabelece a interferência do outro (sinonimizado como alguém ou mesmo a cultura na qual se está inserido) no processo de desenvolvimento de um sujeito; e a compreensão sobre subjetividade estendida para além do universo pessoal, tal como apresenta Rey, proporcionavam o elo final para enveredar em como proceder às investigações. Em outras palavras, o consenso encontrado na literatura para várias linhas de pensamento psicológico, de que a Subjetividade é algo estritamente pessoal, refere-se ao que é singular, único, próprio, específico a um sujeito, distinguindo-o dos demais; é a dimensão exclusiva dos diferentes processos pessoais; traduz-se em uma rede complexa nos variados contextos em que ela se organiza através da história de vida de cada sujeito; diz respeito ao conjunto de sentidos de diversas procedências sociais que se integram em uma configuração individual e diferenciada, se manteve para a dimensão de apenas um alguém. E Rey contribui para a discussão psicológica apresentando a Subjetividade Social como o que se refere ao singular, único, próprio, específico de um grupo distinguindo-o dos demais; é a dimensão exclusiva dos diferentes processos coletivos e instituições sociais; traduz-se em uma rede complexa nos variados contextos em que ela se organiza através da história e da cultura; diz respeito ao conjunto de sentidos de diversas procedências sociais que se integram em configuração coletiva única e diferenciada. O “plus” da definição supramencionada é que ela permite transcender à divisão dicotômica entre individual e o social, favorecendo à percepção da interferência mútua e a referenciação recíproca de ambos. Nesta direção, indivíduo e sociedade não podem mais ser separados, pois que estão implicados um no outro em todos os processos pessoais e sociais dos quais participam e, por conseguinte, lhes são constituintes. Nesta perspectiva, ainda acompanhando o pensamento de ambos, considero que os inúmeros e diversificados interferentes, que participam das experiências vivenciadas por um único sujeito e por grupos de sujeitos, são construtores da subjetividade pessoal 12


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e social, sem privilégio de uma sobre a outra, pois que se efetivam a um só tempo. Neste momento é importante destacar que em qualquer campo da ciência, toda pesquisa está submetida à interpretação do pesquisador sobre os dados que coleta em seu campo de estudo. Nas Ciências Humanas, tal situação além de presente é muito delicada, principalmente quando o material advém da escuta do pesquisador. Isto porque, as manifestações subjetivas tanto do pesquisador, quanto do pesquisado afloram, e não há como ambos se desvencilharem delas. Aliás, é no campo da subjetividade que quero me deter para refletir a respeito de pesquisa em Psicologia, ainda mais quando o método utilizado é a investigação direta no campo delimitado e contextualizado para o estudo. De fato, este é o foco principal de minha inquietação como pesquisadora: desvendar, revelar, trazer à tona o que subjaz ao que se manifesta, aquilo que apesar de oculto, emerge inadvertidamente. A partir daí o grande desafio traduz-se na escolha do procedimento; isto porque, penso que se pretendo atingir o universo subjetivo, não posso induzir direções de pensamento, nem enquadrar manifestações, tampouco conduzir expectativas de resultados de qualquer natureza. A proposta de Rey para realizar a pesquisa de cunho qualitativo que diz respeito à técnica da “Dinâmica Conversacional” permite, a partir de entrevistas abertas, a livre expressão significativa para os sujeitos entrevistados, as quais ao serem interpretadas e reunidas na análise do material coletado, integraram um conjunto diverso de configurações advindas da própria investigação, estas em suas convergências revelam o sentido construído pelo grupo estudado, culminando no que ele definiu como “Unidades de Sentido”. O aprofundamento sobre o que propõe esta técnica, me fez entender que a entrevista, mesmo sendo aberta, ou seja, sem indagações direcionadas a respostas ou restrita a perguntas de um questionário, poderia conduzir o participante da pesquisa às expectativas do pesquisador sobre os objetivos de sua pesquisa. O que, em última instância não deixaria o sujeito “à vontade” para expressar “livremente” o sentido que faz para ele o que lhe está 13


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sendo perguntado, em torno do assunto específico do qual trata a pesquisa. Por outro lado, a dinâmica conversacional não se restringe à mera conversa do entrevistador com o entrevistado, mas ao diálogo que se estabelece neste encontro em que ambos são interferidos um pelo outro, fomentando reflexões advindas do que foi dito e ouvido a um só tempo. Para o pesquisador inclui-se também o despertar de questões nem pensadas por ele e que passam a fazer parte de seu estudo, porque advieram da dinâmica do processo de pesquisa, seja no que tange às manifestações do entrevistado, seja no que concerne ao universo teórico abraçado. Diante disso, as entrevistas abertas deveriam ser compostas de tal maneira que não remetessem a respostas imediatas ou objetivas; mas, ao contrário, elas seriam constituídas com o intuito de deflagrar a fala “espontânea” do sujeito sobre a questão em tela. Deste modo, compreendi que poderia alcançar, minimamente, expressões da subjetividade desprovidas de minha condução, mesmo que contaminadas pela minha presença como entrevistadora. Então, para operacionalizar a pesquisa de campo passei a usar o que denominei “Questão Deflagradora”, ou seja, uma única indagação que possuísse as seguintes características: não induzisse a uma resposta, possibilitasse a livre expressão da fala, admitisse a imprevisibilidade na resposta, propiciasse a reflexão, favorecesse a manifestação de subjetividade. E quando os sujeitos da pesquisa são crianças pequenas, como instigar a expressão da subjetividade? Um recurso usado é o desenho como “deflagrador”, só que ele deve ter características semelhantes às da “questão”. Neste contexto, a solicitação do pesquisador para a atividade não pode resultar em sua confecção direta, mas deve suscitar que a criança reflita sobre o que está sendo pedido. Apenas para ilustrar o que está sendo dito, pode-se pedir para criança fazer no papel algo de que ela goste muito, com lápis de cores se ela preferir; o que é diferente de pedir para que desenhe uma casa, por exemplo. A utilização do desenho nos remete às discussões de Vygotsky encontradas em Psicologia da Arte, sua tese de doutorado editada em livro. Como seu berço de formação foi a literatura e ele estava 14


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mergulhado no campo das artes, todo o tempo de seus estudos sobre as artimanhas do psiquismo humano, entender a participação desta vertente não apenas como expressão última, mas também como construtora de subjetividade, tornou-se óbvio. Por este viés, outro recurso disponível em nossa cultura, possível de ser utilizado em pesquisa é a fotografia. Só que, em vez de significar “o instante congelado no tempo”, caracterizando um mero objeto de uso comum a todos nós, a foto assume a condição de interferente nos processos psicológicos superiores do sujeito que a vê, no momento em que olha para ela, remetendo-o a lembranças, reflexões, fantasias, enfim uma gama de vislumbres subjetivos que fazem sentido apenas para ele, porque procedeu a transformação da função do simples objeto em instrumento psicológico, tal como sugere Vygotsky. É claro que este formato de estudo exige uma atenção maior do pesquisador a seu foco de estudo conjugado a seu propósito de investigação, o que torna a pesquisa mais trabalhosa, porém gratificante em seu processo construtivo. Outro desafio é o de se desvencilhar da preocupação com o produto porque não se sabe o que vai efetivamente acontecer nos encontros dos sujeitos: pesquisador e pesquisado. Em outras palavras, é lidar com a dimensão da surpresa. Mas, voltando à entrevista, construir a “questão deflagradora” é um momento extremamente importante no desenvolvimento da pesquisa, pois que, além do exercício, muitas vezes exaustivo, de serem pensadas perguntas até que seja atingido o patamar de não se encontrar respostas objetivas para a indagação, o cuidado em não desviar do foco de estudo é imprescindível. Isto porque, ela será a ferramenta fundamental para a realização da pesquisa em campo. Por exemplo, quando fiz a pesquisa com jovens da Baixada Fluminense, estudantes do segundo segmento do primeiro grau de uma escola do Município de Nova Iguaçu, cujo intuito do estudo era revelar algo sobre eles que viesse deles mesmos, já que a “imagem” trazida, pincipalmente pela mídia, era a de que não passavam de “delinquentes juvenis”, a questão deflagradora construída foi: “Como jovem da Baixada Fluminense, o que você pensa desta 15


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situação? ”; eu não tinha a menor ideia do que eles diriam, mas o material que ofereceram a partir de seus questionamentos, a um só tempo, mostrou suas inquietações e demonstrou o que subjetivamente os acompanhava. E, surpreendentemente, de forma objetiva os jovens estavam preocupados com a educação, o saneamento básico da região e a divulgação de suas conquistas, destacadamente nos esportes, para citar alguns exemplos. De modo subjetivo, revelaram-se como pessoas totalmente diferentes das veiculadas pela mídia e mesmo da imagem admitida por um grupo de professores a quem foram apresentados os resultados da pesquisa, pois que afirmavam com veemência que aqueles resultados não correspondiam ao referido alunado. Outro ponto que considero essencial em pesquisa é a figura do pesquisador. Ele é pouquíssimo visto em sua participação, porque durante muito tempo ficou estabelecido que devia estar “totalmente” afastado daquilo que investigava. Entretanto, meu pensamento sempre esteve preso a seguinte inquietação: – Se o foco de estudo em Psicologia é a subjetividade, como não levar em conta a do pesquisador, tão presente neste processo? É ele quem escolhe o que estudar, como estudar, coleta o material, interpreta os dados; enfim, é o protagonista da cena que, necessariamente, apresenta o cenário quando contextualiza o campo de sua investigação. Por isso mesmo, neste livro fiz questão de que os pesquisadores aqui apresentados falassem sobre o que cada um investigou, onde e com quem; as características do seu campo de pesquisa; as estratégias usadas para entrar no campo; como foi seu trabalho de pesquisa, porém colocando em relevo o que sentiu, o que foi bom, o que não foi bom; como pensava antes do trabalho; o que pensou depois; em que seu trabalho contribuiu para humanidade. Os capítulos que compõem a obra trazem experiências de pesquisadores em distintos campos de estudos, desenvolvidas em diferentes momentos, no período que vai do ano 2003 a 2017, que estão organizadas da seguinte maneira: o capítulo 1 refere-se às Políticas Públicas sobre Educação Ambiental na Formação de Professores e o local da pesquisa foi a escola Municipal Chiquinha Rolla, uma escola da rede pública do município de Teresópolis no 16


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estado do Rio de Janeiro; o capítulo 2 diz respeito ao engajamento da Mulher de Religião Afro-brasileira em frentes sócio-culturais de trabalho no município de Nova Iguaçu; o capítulo 3 aborda o estudo sobre o Imaginário da População Infantil, Percepções e Sentimentos em relação ao negro, e foi realizado no CIEP Claudio Manoel da Costa, em Cosmos, Zona Oeste do Rio de Janeiro; o capítulo 4 versa sobre as interferências da Cultura Afro-brasileira na Subjetividade Pessoal e Social de Professores do Ensino Médio e seu campo de estudos foi a Escola Estadual Vicentina Goulart, alocada no município de Nova Iguaçu no estado do Rio de Janeiro, cuja característica é o curso de formação de professores para o primeiro segmento do primeiro grau; o capítulo 5 traz uma investigação sobre mulheres universitárias que pertencem ao programa PARFOR (Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica) junto ao Curso de Pedagogia do Instituto Multidisciplinar, Campus Nova Iguaçu da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, localizado na Baixada Fluminense no estado do Rio de Janeiro; o capítulo 6 diz respeito ao estudo feito com Jovens da Baixada Fluminense, no município de Nova Iguaçu, estudantes do segundo segmento do primeiro grau do ensino básico, acerca de suas construções subjetivas em relação ao contexto no qual estão inseridos. O último capítulo, verdadeiro desabafo afetivo sobre meu contato com os autores do livro: uma geração de pesquisadores que se contaminou com a complexidade do mundo e a singeleza de amar o que faz. Leila Dupret

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O Educador e as Práticas Ambientais: imagens e simbolismos Imara Freire

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ste capítulo é dedicado aos educadores preocupados com o futuro do planeta e com a necessidade de que seus educandos estejam atentos, sejam cuidadosos com a natureza e os seres humanos. Dentre todas as preocupações da sociedade moderna, nenhuma é mais global e urgente do que a conservação da vida no planeta. Ninguém ousaria hoje falar contra defesa do meio ambiente ou a favor do crescimento industrial sem adotar políticas de proteção ambiental. Indignada com atual cenário ambiental, dedico-me a este trabalho com muita vontade, vontade de alertar, gritar, estranhar, dialogar, chamar atenção, sinalizar para aspectos fundamentais que cercam toda a discussão sobre a problemática ambiental. A descoberta desta problemática envolve a preservação ambiental como um dos maiores conflitos vividos pelo homem nesse início do novo milênio. Sendo assim, reconheço a necessidade de se refletir acerca de mudanças na maneira de entender o meio ambiente e sua relação com o homem. Essa relação propõe um novo saber ambiental, o qual rompe com ideias impositivas, admitindo a diversidade e a diferença como ponto de partida para sua construção. Neste sentido, percebo nos diferentes setores sociais, uma forte tendência em reconhecer o processo educativo como uma possibilidade de provocar mudanças, uma vez que sua dinâmica cria condições para a produção e construção do conhecimento. Desta forma, é entendido como um processo de construção social que interfere e é interferido por um conjunto de valores culturais e éticos. O processo educativo como forma de compreensão e de altera19


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