caderno de debates 1
CADERNO DE DEBATES RUMO AO 3ยบ ACAMPAMENTO NACIONAL DO LEVANTE POPULAR DA JUVENTUDE
NOSSA REBELDIA ร O POVO NO PODER! AGOSTO/ 2016
Síntese do Seminário Carolina Maria de Jesus.....................4 Frente de Movimento Estudantil...................................6 Frente Camponesa.................................................7 Secretaria operativa: primeira condição para profissionalização da organização......................................................8 Universalização do ensino superior...............................11 “É preciso não ter medo: é preciso ter a coragem de dizer”.......12 “Vou aprender a ler pra ensinar meus camaradas”..................15 O impacto da cultura na vida da juventude........................18
SÍNTESE SEMINÁRIO CAROLINA MARIA DE JESUS
Dentre os objetivos apontados para o Seminário Carolina Maria de Jesus estava o de coesionar o Levante em torno dos seus desafios. Ou seja, mais do que apontar respostas definitivas, este espaço deveria possibilitar identificarmos os nossos principais desafios. Compreendendo este Seminário dentro do processo de construção política do acampamento, o esforço realizado foi o de aprofundar o entendimento sobre quais os desafios prioritários vamos enfrentar no ciclo que se inaugurará com o III Acampamento. Nesse sentido, a proposta desta síntese não é o de reproduzir o conjunto do debate, extremamente rico que realizamos, mas identificar os elementos centrais em torno dos nossos eixos de debate. Desafios da Conjuntura Avaliamos essa conjuntura como extremamente complexa e contraditória. Estamos vivendo marcadamente um momento de ofensiva conservadora e neoliberal no plano internacional e nacional. No Brasil, está em curso um golpe que visa acabar com a soberania nacional, privatizar setores estratégicos, retirar direitos civis e trabalhistas. Além disso, essa ofensiva pretende aniquilar qualquer referencial de esquerda na sociedade, o aumento da criminalização e da repressão aos movimentos populares já é uma realidade. Apesar deste cenário bastante sombrio, contraditoriamente esta é um conjuntura de oportunidades para a nossa organização e para o nosso projeto. Estamos nos aproximando do fim de um ciclo político da esquerda hegemonizado pelo PT, o que acarretará um processo de reorganização da esquerda no país. Isso abre as possibilidades de recolocarmos o debate estratégico de projeto político no bojo das forças progressistas. Abrem-se as possibilidades de debate sobre os instrumentos que farão esse processo de reorganização. Portanto, para o Levante esse momento político é muito oportuno, em especial no dialogo com a juventude, que ao mesmo tempo sinaliza uma disposição de luta, mas está carente de referências políticas e organizativas. Assim, devemos nos desafiar a pensar como o Levante pode contribuir para o processo de reorganização da esquerda? Como contribuímos para apresentar, nesse momento de instabilidade, o projeto popular como uma alternativa real? Desafios da Juventude Este seminário também foi exitoso para avançarmos na nossa formulação sobre juventude. Aprofundamos a compreensão sobre a caracterização do nosso Sujeito, que para além de uma faixa etária que o coloca em uma situação de vulnerabilidade, é marcado por várias formas de opressão e exploração. Nesse sentido, a juventude negra, LGBT e as jovens mulheres são segmentos que adquirem um protagonismo fundamental na luta contra o racismo e patriarcado. Contudo, apesar dessa diversidade que caracteriza esse Sujeito, todos nós somos filhos do povo brasileiro, ou seja, somos pertencentes a uma classe social, dependemos do trabalho (nosso ou dos nossos pais) para assegurar nossa existência. 4
Identificamos um conjunto de contradições que afetam a vida da juventude e suas possibilidades de desenvolvimento pleno, tais como Educação, Trabalho, Saúde, a dinâmica segregadora dos centros urbanos, etc. Deste modo, não há apenas uma contradição que desperta a disposição de luta da juventude, mas um conjunto de demandas. Ao mesmo tempo estas demandas são complementares, ou melhor, só teremos força para superar essa contradições se atuarmos de forma conjunta e não fragmentada. É por estas razões que torna-se uma necessidade a construção de um Programa Popular para a Juventude, que vincule todas as formas de exploração e opressão da juventude a um projeto político. Assim, temos o desafio de pensar como o Levante pode apresentar um programa que contemple as demandas da juventude, mas que aponte para um projeto que coloque o povo no poder? Desafios do Levante Ao Levante cabe responder os desafios acima descrito. Ou seja, como vamos direcionar a nossa organização para responder os desafios da conjuntura e da juventude. Aprofundamos no debate que há dois pressupostos fundamentais para isso: a massificação e a profissionalização. Precisamos massificar o Levante nesse próximo período, ou seja, é necessário construirmos força própria e força social para darmos conta dos nossos desafios. Ao mesmo tempo, para criarmos as condições para isso, é necessário superarmos o método artesanal de construção, ou seja, precisamos profissionalizar a organização. Nossa Rebeldia é o Povo no Poder!
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FRENTE DE MOVIMENTO ESTUDANTIL Síntese grupo de discussão do 2º Seminário Nacional Carolina Maria de Jesus
Acúmulo: A frente de movimento estudantil cumpre papel importante para a massificação do levante. Por ser um trabalho de base com um sujeito com uma determinada posição em nossa sociedade, conseguimos criar uma dinâmica de organizar mais pessoas em menos tempo se comparada à frente territorial ou camponesa. Essa facilidade do ME deve ser explorada pelo levante inclusive para contribuir no processo de consolidação do movimento como um todo, nos dando maiores condições de avançar nas outras frentes. A leitura que o levante vem fazendo em relação a necessidade de massificação do nosso movimento deve ser absorvida pela frente de movimento estudantil e traduzida em uma tática para nossa atuação com os estudantes. Acreditamos que para isso é necessário crescer e continuar consolidando nosso trabalho nas universidades públicas, abrir novos trabalhos nas privadas e avanças nas nossas elaborações e experiências com os secundaristas. As executivas de curso, que durante algum tempo foram instrumentos importantes para o nosso campo, hoje cumprem papel secundário para a atuação no movimento estudantil e para o desafio de massificação do levante. A disputa da UNE assume papel central para nossa construção do movimento estudantil, tanto no que diz respeito a disputa por um projeto de educação e a disputa da entidade para reposicioná-la nas lutas populares quanto em relação ao nosso desafio de massificação, uma vez que esse é um espaço de massas, que representa 90% das universidades de nosso país, e através dela podemos ter acesso à essa massa de estudantes do Brasil inteiro. A disputa da UNE se dá sobretudo através da disputa de nossas entidades locais. É só enraizando o levante nas universidades e construindo por dentro de CAs, DAs e DCEs que teremos força para pautar nossa entidade nacional, e além disso, é só construindo essas entidades de base e entidades gerais que conseguimos pautar novas práticas no movimento estudantil, porém, não podemos nos deixar engolir pela lógica internista e burocrática das entidades, temos que ter clareza que elas são um meio, e não um fim, e nosso objetivo final não é a disputa do ME pura e simplesmente, mas sim a disputa da universidade e de um projeto de educação. O trabalho nas universidades privadas é essencial para o momento da conjuntura política do país e para o momento pelo qual passa o levante. Nas privadas encontramos um sujeito fundamental de ser organizado pelo levante, que são os jovens estudantes trabalhadores, oriundos das classes populares e que conseguiram ter acesso à universidade graças as políticas dos governos do PT. Fortalecer nosso trabalho nas privadas também nos reposiciona na disputa da UNE. Outro espaço fundamental para nos desafiarmos a construir trabalhos é a escola, que tem sujeitos das classes populares mas que também se desdobra nas demais frentes do levante: dialogando com a frente camponesa, no caso das escolas do campo, com a frente territorial, pela relação que as escolas estabelecem com os bairros e a comunidade que ali mora e a relação com a frente estudantil a partir do ingresso desses secundaristas na universidade. Esse é também um setor muito dinâmico, de demonstrou muita potencialidade de luta e mobilização no último período, podendo também contribuir de forma decisiva na nossa massificação. Instrumentos como os EIVs e Versus tem se mostrado ferramentas que também contribuem para acúmulo organizativo e político. Apontamentos/Propostas: 6
-Aprofundar na elaboração do Projeto Popular para a Educação -Sistematizar nosso acúmulo sobre nossa atuação nas entidades, principalmente no que diz respeito ao desafio de manter as gestões e ao mesmo tempo não desestabilizar a auto-construção do movimento. -Disputar as entidades locais das universidades sempre que for possível, respeitando as demandas de cada localidade. - Sistematizar nossos acúmulos sobre atuação nas universidades privadas e a partir de nossas experiências avançar no nosso método de trabalho de base nesse espaço, que tem demandas e realidades específicas. -Aprofundar nossas formulações sobre a UBES e entidades estaduais secundaristas. -Avançar na disputa de grêmios nas escolas -Avanças na atuação em cursinhos populares -Fortalecer nossa construção em SP, que concentra o maior número de universidades no Brasil. FRENTE CAMPONESA Síntese grupo de discussão do 2º Seminário Nacional Carolina Maria de Jesus
Destacamos que dentro do processo de construção histórica do levante, desde o seu surgimento, em 2006, as organizações da Via Campesina tiveram um papel fundamental. Essa ligação histórica se mantém e se reafirma pelas ações que se dão a nível nacional e nos estados. Considerando que o Levante busca ser um espaço orgânico de construção de militantes bem como de articulação entre os movimentos, verificamos que de certa forma em todos os estados os movimentos estabelecem relações com o levante, de forma muito positiva e estratégica, fazendo avançar o processo de organização e luta da juventude do campo e da cidade. 1. Afirmamos que o papel da Frente Camponesa no Levante é: 1. Fortalecer a articulação da juventude do campo e da cidade, contribuindo para que o Levante seja cada vez mais um movimento agregador da juventude do Projeto Popular; 2. Ser um espaço de articulação da juventude das organizações da Via Campesina e de outras organizações que atuam no campo, na perspectiva de fortalecer sua relação, impulsionar o trabalho e a construção de pautas unitárias; 3. Contribuir na construção estratégica do Levante, considerando as experiências de organização camponesas, no campo das lutas, formação e da organização. 4. Contribuir na massificação e na interiorização do Levante, em especial, em cidades de pequeno e médio porte, onde as organizações da Via Campesina estão inseridas – propagar a bandeira do Levante Popular da Juventude; 5. Contribuir para que as questões e pautas do campesinato sejam abraçadas pela cidade e o da cidade pelo campo, assegurando no processo a identidade de cada sujeito e a agitação e propaganda como elo da aliança campo e cidade 2. Composição da CN 1. A Frente Camponesa em cada estado deve ser composta por militantes que atuam com juventude, indicados pela coordenação de cada organização; 7
2. Cada organização pode indicar um representante para compor a Coordenação Estadual; 3.A Frente Camponesa de cada estado, sob a coordenação estadual do levante deve indicar um militante para participar da Coordenação Nacional do Levante Popular da Juventude; 4. As organizações\movimentos nacionais devem indicar um\a dirigente de juventude nacional para acompanhar os processos nacionais da Frente; 3. Quais nossos instrumentos e formar para massifica o Levante 1. Massificar o trabalho com a juventude a partir de cada movimento; 2.Participar das instancias do Levante: Ajudar na construção da estratégia, nas linhas políticas; 3. Avançar em espaços de dialogo com as organizações que compõem a Via Campesina em cada estado e nacionalmente; 4. Assegurar à participação de nossas bases nos espaços que existem do Levante, exemplo, acampamentos e cursos, na perspectiva de aprofundando a relação campo e cidade; 5. Contribuir na interiorização do levante: aproximar das cidades de pequeno e médio porte, possibilitar o fortalecimento nos estados onde necessita e construir onde não existe; 6. Fortalecer intercâmbios da juventude em diversos aspectos: formação política, metodologias de trabalho, questões do campesinato, cultura, educação, comunicação... 7. Construção de lutas conjuntas: políticos, econômicas, direitos e dialogo com pautas como: contra o fechamento de escolas, analfabetismo, agrotóxicos, transgênicos, basta de violência contra as mulheres, entre outras (sem perder de vista a autonomia do movimento); 17 de abril luta unitária da Frente camponesa. 8.Organizar brigadas de agitação e propaganda como elo orgânico e de enfrentamento aos dilemas campo e cidade; 9.Intercâmbios com outros países na perspectiva de fortalecer o internacionalismo e a Articulação Internacional da Juventude Popular; 10. As pautas da juventude camponesa têm que esta na agenda de luta do levante para assim contribuir na identificação. Obs: a discussão na roda de conversa sobre Frente camponesa gira em torno de afirmar o acumulo que frente vem debatedor. SECRETARIA OPERATIVA: PRIMEIRA CONDIÇÃO PARA PROFISSIONALIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO Síntese grupo de discussão do 2º Seminário Nacional Carolina Maria de Jesus
Este texto tem por objetivo despertar o debate no conjunto da militância do Levante sobre o papel e as atribuições das secretarias operativas. Nos debruçaremos nessa reflexão em especial sobre o papel das operativas estaduais e municipais. Costumamos afirmar que as células são o coração da organização. Embora esta sentença esteja correta, muitas vezes subestimamos a importância das operativas para garantir a dinamicidade da organização. Temos apontado que a profissionalização e a massificação do Levante são os nossos principais desafios organizativos. Tais objetivos só serão alcançados se compreendermos o papel crucial que as operativas de8
sempenham. Somente mediante o bom funcionamento de uma secretaria operativa construiremos as condições para profissionalizar a organização. Ou seja, para superamos o método artesanal e espontaneísta de organização é preciso que um grupo se responsabilize pelas tarefas de secretaria (finanças, comunicação interna, articulação política, etc). Sem essa responsabilização, não há processo de massificação que tenha sustentabilidade. Por mais que tenhamos células atuantes, os limites organizativos do conjunto da organização vão emperrar o nosso crescimento. Se pegarmos pelo aspecto das finanças parece bastante óbvio, o quanto a ausência de uma política de finanças pode limitar a nossa atuação. Mas não é só isso. De que vale, por exemplo, as deliberações de uma coordenação, se não houver um grupo que garanta a execução desses encaminhamentos e/ou consiga irradiar essas definições para o conjunto da organização? Portanto, a secretaria operativa é a roda menor que gira a roda maior. Seja em âmbito estadual ou municipal, ela se configura por ser um grupo enxuto e coeso de militantes que possibilitam dinamizar o conjunto da organização. Isso não significa que a operativa deve substituir as instâncias. Ao contrário, ela tem como principal atribuição zelar pela organicidade, garantir que as instâncias funcionem. Contudo, além desse caráter operacional, a secretaria tem que ter a capacidade de tomar algumas decisões desde que estejam dentro dos marcos políticos definidos pela Coordenação. Portanto, a operativa não pode esvaziar o papel político das coordenações, mas ao mesmo tempo ela não pode deixar a organização imobilizada frente a questões cotidianas que não dizem respeito ao centro da política. Em síntese, as coordenações definem as linhas políticas, e as operativas atuam com iniciativa dentro das margens dessas definições. Dinâmica das Operativas Dentro dessa perspectiva de profissionalização da organização, as operativas tem que ser o exemplo de organicidade para o conjunto da organização. Elas necessariamente devem se reunir semanalmente, por pelo menos um turno. Essa reunião deverá ter a capacidade de avaliar as atividades e os encaminhamentos tirados na semana anterior, e projetar a semana seguinte. Portanto, preferencialmente as reuniões devem ocorrer no início da semana para que se possa planejá-la. O ideal é que essa reunião aconteça sempre no mesmo horário e no mesmo local, para auxiliar na regularidade e na formalização das reuniões da secretaria. Neste sentido, é importante que a operativa busque como um dos seus primeiros objetivos a constituição de uma sede da organização (estadual ou municipal). É fundamental para a profissionalização do movimento que haja um local de referência, onde essas reuniões possam acontecer, onde a “organização possa ser encontrada”, onde esteja o patrimônio coletivo e os arquivos da organização. Essa sede pode ser um local alugado, cedido, ou mesmo na casa de alguém, contudo, é fundamental que haja essa referência de espaço da organização. Sobre a composição da operativa é importante que seja um grupo enxuto e de confiança, e que tenha condições de se reunir com regularidade. Portanto, é fundamental que os membros tenham certo acúmulo de experiência, tenham disciplina para executar tarefas e disponibilidade de tempo para militar. Se o militante tem tempo disponível, mas não tem bagagem suficiente na organização, poderá não compreender seu papel na operativa. Ao mesmo tempo, se o militante tem muito acúmulo, mas não tem disponibilidade de tempo, terá dificuldade de exercer seu papel da mesma forma. Nas operativas estaduais devido à demanda de reuniões semanais, o mais lógico é que ela seja composta por membros da CN, com militantes da capital. Nas municipais é importante que na medida do possível todas as células estejam representadas. Além disso, a secretaria operativa só terá capacidade de exercer seu papel se os seus membros forem fixos. A rotatividade nas reuniões fragiliza o processo de responsabilização e na própria consequência das tarefas. Se numa semana se divide as tarefas entre um grupo, é necessário que o mesmo grupo possa avaliar a realização dessas tarefas. Portanto, a rotatividade gera descontinuidade no acúmulo do grupo e fragiliza a organicidade da secretaria. É preferível que a operativa estabeleça períodos (6 meses, 1 ano) em que ela manterá a mesma composição. Nas operativas estaduais é importante que a organização priorize a construção da liberação de um secretário/secretária estadual. Ou seja, dentre as prioridades de finanças deverá constar a viabilização da ajuda
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de custo de pelo menos um militante, que tenha dedicação exclusiva para tocar as tarefas da secretaria, e auxiliar na organização da operativa. Esse militante deverá ser acompanhado pelo coletivo da operativa, assim deverá se construir um plano de trabalho individual que estabeleça suas prioridades, bem como os horários de trabalho. Atribuições Segue abaixo as principais responsabilidades que uma secretaria operativa deve levar em consideração na elaboração do seu plano de trabalho. 1ª Articulação política: é importante definir pessoas na operativa que tenham como responsabilidade representar o Levante nos espaços de articulação (Frente Brasil Popular, etc), bem como fazer a interlocução para fora, ou seja, com outras organizações. Para tanto, é fundamental que esta pessoa tenha muita compreensão sobre a linha politica da organização. A delimitação de quem fará essa tarefa é importante para que não haja dois tipos de comunicação com as outras organizações, o que gerará atravessamentos. 2ª Comunicação interna: é tarefa da operativa garantir toda a comunicação interna, fazendo com que as definições da coordenação se enraízem, seja através de circulares, e outros meios. Ao mesmo tempo, a operativa tem que captar e processar as demandas das células ou das cidades. As tarefas de coordenação da mobilização também são responsabilidades das operativas. 3ª Registro, arquivo e memória da organização: o secretário ou secretária deverá se responsabilizar por armazenar todos os registros (documentos, fotos, vídeos e materiais) produzidos pela organização, sem isso nossa história se perderá, bem como informações que possam ser úteis devem ter um local facilmente localizável. 4ª Finanças: esta é outra tarefa que exige pelo menos uma pessoa responsável. É preciso definir uma politica de finanças, que além da captação estabeleça hierarquia nos gastos da organização. É preciso estabelecer prioridades, dado que a demanda é sempre maior que a arrecadação. Nesse sentido o pagamento da ajuda de custo (quando houver liberação de militantes) e a viabilização das reuniões de coordenação devem preceder os demais gastos. 5ª Acompanhamento (estadual/municipal): a operativa devera dedicar uma boa parte do tempo de reunião para debater o acompanhamento das células e das cidades. Problemas na organicidade das células ou nas cidades deverá se alvo de preocupação da operativa, que deverá pensar ações que revertam esse processo. 6ª Cuidado com as instâncias: a operativa deverá zelar pela realização, organização e mobilização das reuniões de coordenação, além disso, deverá zelar pelo acompanhamento da realização dos encaminhamentos tirados em reunião. 7ª Refletir sobre movimento: na medida em que acaba confluindo um conjunto de informações sobre a organização na secretaria, ela tem a capacidade de ter uma visão panorâmica em âmbito estadual ou municipal, de modo que lhe possibilita identificar os problemas da organização, bem como pensar em politicas para solucioná-los. ENCAMINHAMENTOS: Elaboração de um documento que: sintetize as tarefas da operativa; delimite as atribuições de militante liberado; trate da questão da representatividade das frentes, setores e coletivos na operativa; trate da questão capital e interior. Elaboração de uma cartilha de finanças, trazendo as experiências dos Estados e municípios na arrecadação de dinheiro com rifas, bingos, festas, venda de camisas, broches, etc. Realização de um seminário nacional de captação de recursos e finanças com responsáveis pelas finanças nos Estados. Estimular que a militância crie programas de milhas aéreas e também a transferência bancária automática para contribuição mensal. Estimular a construção de sedes e a liberação de militantes. Sistematizar as experiências Estaduais e Municipais e encaminhar para a Nacional. 10
UNIVERSALIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR Síntese grupo de discussão do 2º Seminário Nacional Carolina Maria de Jesus
Acúmulo: Vivemos hoje um período de acirramento das disputas políticas por todo o país, e esse cenário não é diferente nas universidades e no movimento estudantil. Nos últimos anos, com as políticas de acesso ao ensino superior dos governos PT, uma janela histórica é aberta para a esquerda. A classe trabalhadora, ingressando nas universidades, avança na conquista de direitos e ao mesmo tempo se depara com a dificuldade de se manter na universidade com poucas políticas de assistências, a precarização dessas universidades, que sofreram uma grande expansão desacompanhada de maiores investimentos em infra-estrutura, e também a dificuldade de se inserir no mercado de trabalho depois de formados. Todas essas contradições que se escancaram são na verdade possibilidades e oportunidades que a partir de então poderiam ser exploradas pela esquerda, canalizando a vontade de luta desses estudantes por um ensino gratuito e de qualidade. Com o cenário que vivemos hoje de ajuste fiscal, o golpe institucional e o projeto de educação que vem sendo implementado pelo governo interino de Michel Temer e o ministro Mendonça Filho, essas contradições se acirram ainda mais, e os debates sobre acesso, permanência, assistência estudantil, qualidade no ensino e financiamento ocupam papel central para a esquerda. É oportuno que em uma situação de retrocessos tão profundos, de desmonte da universidade púbica e priorização dos investimentos no ensino privado, a esquerda resgate o que foi o processo de Reforma Universitária, ocorrido em Córdoba em 1918. Naquele momento, as reivindicações que estavam sendo colocadas eram: 1) Conquista de um governo democrático; 2) Gratuidade no ensino; 3) Autonomia universitária e 4) Liberdade de expressão. O que nos evidencia a atualidade e necessidade urgente de uma reforma universitária no Brasil. No nosso país, no momento histórico em que a possibilidade de uma reforma universitária estava colocada para nós, durante o governo Jango, esse processo, juntamente com as discussões para construção de um Plano Nacional de Educação (PNE) são travadas pelo golpe militar em 64. Na década de 80, com a redemocratização, é retomado o debate sobre a educação, porém, durante os anos 90, com o assenso do neoliberalismo, se aprofundam as privatizações e a priorização do ensino privado em relação ao público. É só a partir dos anos 2000, com a eleição de Lula, que interrompemos esse período de retrocesso. As discussões sobre a reforma universitária não são retomadas, mas temos a criação e aprofundamento de programas como o Prouni, Reuni, Fies, Enem, entre outras iniciativas que contribuem para o ingresso dos setores populares nas universidades publicasse privadas. Em 2010, é aprovado um PNE com muitos pontos de avanço e inclusive metas como o investimento de 10% do PIB para a educação. Em 2015, Dilma lança o “Pátria Educadora” como mais um plano de investimentos na educação, porém, nesse mesmo ano apenas alguns meses depois, anuncia os cortes de mais de 7 bilhões na educação, o que já sinalizava o processo de cerco político pelo qual passava seu governo, cedendo à pressão dos setores neoliberais da nossa sociedade em um processo que culminou com o golpe de Eduardo Cunha e Michel Temer em 2016, e a implementação dos pontos colocados na Ponte para o Futuro do governo golpista, que nos colocou a série de retrocessos que vemos hoje e muitos outros: a desobrigatoriedade de investimentos dos estados e municípios na educação, a volta da DRU (desvinculação de receitas da união), as mudanças no enem e o fim do fundo social do pré sal. 11
Apontamentos/Propostas: Para o levante, é necessário que aprofundemos nossas leituras e elaborações em relação às seguintes questões: -Projeto popular para a educação -Função social da universidade e a sua disputa no contexto do capitalismo -Instâncias decisórias e democracia nas universidades -ENEN, acesso e permanência sem assistência -Federalização do ensino superior -democratização do ME, nova cultura política, desburocratização, internismo, dificuldade de diálogo com os estudantes. -Pronera: quais os avanços e limites? -A greve como uma forma de luta e a reflexão sobre novos métodos. -Cursinhos e educação popular -Evasão na educação básica Ações: -Campanha nacional coordenada por assistência estudantil e abertura da campanha com ações de caráter mais radicalizado. -Sarais Populares universitários (dialogando com a debanda por novos métodos de diálogo com os estudantes) – sistematizar experiências do Sarau Vá (MG) e Cultura de Quinta (SE). -Ocupações coordenadas em reitorias pelo Brasil -Retomar os CPCs “É PRECISO NÃO TER MEDO. É PRECISO TER A CORAGEM DE DIZER.” Sobre a Democracia Interna e os processos de Decisão Política no Levante
Por Sofia Alves (Uberlândia – MG)
1) É preciso notar que o mundo passa por um momento de intensa deslegitimação das instituições políticas tradicionais por parte da população e especialmente da juventude. Considerando o contexto do recente Ascenso de Massas observado à nível internacional, é possível observar que os maiores levantes dos últimos anos ocorreram, nos mais diversos países, de maneira espontânea e com uma sintomática rejeição de toda e qualquer estrutura que minimamente remetesse às organizações conhecidas pelo planeta até então. O que se viu foi o espontaneísmo rebelde, ou a rebeldia espontânea, de um sujeito majoritariamente jovem, convocado pelas redes sociais e ávido por participar dos rumos políticos de suas nações. 2) É preciso compreender que partindo da realidade concreta de um mundo capitalista, seria impossível enfrentar o Imperialismo (nosso inimigo central), extraordinariamente organizado e poderoso, sem instâncias que de alguma forma centralizem as decisões políticas. Isso porque a cultura da decisão coletiva, que envolva a todas e todos verdadeiramente, não existe de fato: ainda precisa ser inventada, construída. Ao mesmo tempo, a desvantagem em que nos encontramos sempre na correlação de forças, já que não 12
somos a classe dominante, e a rapidez com que o capitalismo cria formas de nos oprimir exige uma estrutura que nos permita dar respostas rápidas à conjuntura. Por isso é necessário, ainda que pareça contraditório, que a esquerda revolucionária se organize por meio de estruturas internas de poder mais semelhantes às criadas pelo capitalismo, por serem as que de fato possuem condições de dar respostas aos desafios colocados na realidade concreta do atual sistema, de forma que seja possível intencionalizar o processo de lutas, com vistas nos objetivos táticos e estratégicos, para conduzir à vitória das organizações populares. 3) Há que se firmar, no entanto, a idéia de que as estruturas organizativas verticalizadas que possuímos não devem permanecer no mundo que queremos construir, uma vez que não nos interessa a existência de qualquer elite de poder no horizonte almejado, seja qual for a sua fundamentação. Sendo o ser humano enquanto indivíduo muito propenso a corromper-se, é no homem e na mulher coletivos/as que reside a esperança de um mundo novo. A idéia de um mundo verdadeiramente justo só é possível se acreditarmos radicalmente na concepção de que nenhuma pessoa vale mais que outra. 4) A exemplo dos próprios processos de governo observados no mundo, percebemos que qualquer tipo de centralização excessiva só se sustenta com base na alienação. Porque a verdadeira consciência da dominação é o motor do movimento revolucionário e só pode levar, por fim, à quebra das estruturas de poder. Se para fora de nosso movimento, nosso maior desafio é contribuir no avanço da consciência de classe entre trabalhadoras e trabalhadores, para dentro também precisamos garantir o mais frutífero processo de consciência de nossa militância, e isso ocorre através da relação dialética entre o estudo, o acesso à informação, a possibilidade de decidir diante das encruzilhadas da luta, e pelo crivo da prática, o exercício de balizar a teoria. Ou seja, o verdadeiro processo de avanço de consciência para dentro dos movimentos de esquerda demanda a existência de um nível mínimo de democracia interna. 5) Portanto, se não podemos cair num assembleísmo utópico, de procurar construir um tipo de organização que é objetivamente inviável, isto é, uma em que absolutamente todas as decisões passem por todas as pessoas, tampouco podemos esperar para construir a democracia interna só no fim, sob pena de sermos corrompidos pelo poder. A cultura da democracia deve ser construída no mesmo processo que forjará a Revolução. É preciso que o processo de direção política seja construído sem associação com uma hierarquização do valor dos militantes e da maneira mais coletiva possível. 6) Somando-se todos esses pontos, a hipótese é a de que a conjuntura exige uma estrutura organizativa mais democrática, que se vincule menos à maneira das organizações tradicionais no imaginário da juventude, que saiba se utilizar das novas tecnologias, especialmente das redes sociais, que possa dar respostas à ânsia de participação política real desses jovens e que dialogue com as necessidades concretas de seu cotidiano. Acredito veementemente que este instrumento, no Brasil, seja o Levante Popular da Juventude. Talvez o ponto, no entanto, que nos exija maior reflexão seja a participação política, a partir de duas questões centrais: ·0 Como organizar mais e mais jovens no Levante? ·1 E como, uma vez que estejam eles e elas dentro da estrutura organizativa de nosso movimento, construímos processos de decisão coletiva e garantimos a democracia interna e a formação política? 7) Acredito que as duas perguntas possuam uma mesma resposta. A questão do enraizamento do Levante na sociedade brasileira só pode ser resolvida pelos sujeitos que estão na base do movimento, e que, portanto, se encontram mais próximos e são mais capazes de compreender a vida daqueles que ainda não são militantes. Para isso precisamos avançar no que diz respeito à resposta da segunda pergunta. Com a crescente polarização da política e a aceleração da conjuntura, é natural que os processos de deci13
são fiquem cada vez mais centralizados em poucas pessoas. O fato de ser compreensível, no entanto, não torna a questão menos problemática. Todos os pontos desenvolvidos até aqui têm a única finalidade de demonstrar que essa não é uma questão menor. É justamente no momento de maior tensionamento da conjuntura, no momento em que nosso movimento começa a crescer exponencialmente, que se torna mais essencial que demonstremos a nossa vocação revolucionária enquanto organização, a partir do exercício constante de repensar a nossa Democracia Interna, nossos processos de decisão política e nossos princípios e valores militantes. 8) Nos últimos meses, diversas ações protagonizadas pelo Levante chegaram até a militância de base na forma de repasse ou comando, e a abertura à participação política na maioria das vezes se deu através da execução de tarefas ou da ratificação de decisões que já haviam sido tomadas. É evidente que este tipo de participação também é importante e que, em diversos momentos, esta será de fato a maneira mais democrática de tornar as ações possíveis. No entanto, há que se mediar a necessidade de realizar ações ágeis com a necessidade de formar a nossa militância, que, como dizemos sempre, deve possuir como um pilar fundamental de sua formação política a prática. Não só a prática de executar tarefas, mas também a prática de pensar e organizar o movimento. 9) Para finalizar, declarando desde já a insuficiência de reflexões individuais para resolver questões tão complexas, e deixando um pouco de lado as questões mais logísticas da viabilidade das propostas; mas ainda assim, me desafiando a ser propositiva no que diz respeito ao fortalecimento da democracia interna e dos processos de decisão coletivos no Levante, algumas ideias e sugestões: ·1 Organizar, anualmente, um caderno de textos do Levante, e incentivar que as células formulem sobre as experiências que tiveram e sobre os pontos em que avançaram em formulação, buscando trocar acúmulos, fortalecer a comunicação interna nacional, sistematizar e consolidar as boas experiências e de maneira que a Coordenação Nacional possa melhor conhecer as vivências nacionais e se utilizar delas como ponto de partida para a construção dos debates centrais para a organização. ·2 Realizar anualmente um Seminário Nacional, de encontro entre as Coordenações Estaduais de todo Brasil para debate das linhas políticas defendidas pelo movimento. O Caderno de Textos anual pode vir como preparação para este processo. ·3 Consolidar uma Cartilha sobre o Processo de Escolha das Direções Políticas do Levante, especificando qual método deve ser adotado, quais são os critérios que precisam ser preenchidos pelos nomes indicados, quais são as tarefas da Coordenação, quais são os princípios e valores fundamentais para garantir a idoneidade da instância. Que esta cartilha possa circular para toda a militância do Levante. ·4 Que as Coordenações Estaduais e Nacionais realizem anualmente um balanço do Levante e da tarefa de coordenação, a ser socializado para todo o movimento. ·5 Que se crie, no site do Levante ou em outra plataforma online, uma biblioteca virtual de fácil acesso que contenha os textos que nos servem de base teórica, bem como os documentos produzidos pelo movimento durante sua existência, sem esquecer de zelar pela segurança interna. ·6 Que logo após a celebração da Coordenação Nacional e das Coordenações Estaduais nos Acampamentos, que as cidades ou estados em conjunto com a nova Coordenação construam um documento sintético que contenha os nomes da nova instância e os critérios que justificaram a sua indicação. Que este documento possa ser acessado por qualquer militante se necessário. ·7 Estabelecer como tarefa das Secretarias Operativas Municipais realizar, ao menos uma vez por semestre, um Encontro Municipal de Avaliação do Levante, cuja relatoria deve ser repassada à Coordenação Estadual para sistematização. ·8 Dar organicidade às Coordenações Estaduais Ampliadas, atribuindo a elas tarefas concretas e específicas, tais como o funcionamento dos Setores e Equipes, a organização do Caderno de Textos Anual e a Sistematização das Avaliações Semestrais das Cidades aqui propostas, entre outras. ·9 Iniciar estudos e reflexões acerca de como poderíamos utilizar as novas tecnologias, as redes sociais, os novos aplicativos, para fortalecer a comunicação interna e ampliar a participação política dos mais diferentes sujeitos.
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10) De maneira alguma este texto pretende esgotar o debate ou mesmo defender que tais propostas sejam as melhores para resolver os problemas elencados. Mesmo porque, tudo que aqui se defende é que as formulações coletivas tem infinitamente mais potencial de serem as mais ajustadas ao que demanda a realidade concreta. Para isso, no entanto, é preciso que a militância do Levante que não compõe as instâncias dê a sua contrapartida. E essa contrapartida é o exercício de se desafiar a pensar o movimento e a escrever e sistematizar as próprias ideias. Muito do que produzimos se perde. O Sistema nos ensina que só quem tem o direito de falar são aqueles que ocupam altos cargos, os que fazem as vezes do cérebro das instituições, enquanto à maior parte da classe trabalhadora resta o lugar de ser braço executor, sem consciência. Talvez o grande recado que este texto gostaria de deixar é esse: já temos a mídia, o academicismo, o patriarcado, o racismo, a exploração, pra deslegitimar a nossa voz. Dentro do nosso movimento é preciso que lutemos, de forma ainda mais incisiva, para que possam caber as diferentes opiniões, o debate construtivo. Afinal, não foi Marx que nos ensinou que a história caminha através de um processo dialético? É no exercício de questionar a si mesmo, e de defender o que se acredita, que saberemos identificar nossos erros e acertos, e dessa maneira amadureceremos nossa prática política. O Levante só vai ser o melhor que puder se toda a militância se colocar a registrar, escrever, sistematizar, e a partir da experiência já vivida, pensar além do que existe, criar o novo. Foi nosso comandante Marighella que disse: “É preciso não ter medo. É preciso ter a coragem de dizer.”. “VOU APRENDER A LER PRA ENSINAR MEUS CAMARADAS”: EDUCAR E ORGANIZAR A JUVENTUDE COM CURSINHO POPULAR
Frente Territorial de Minas Gerais
A educação como direito social e universal tem sido tema central das lutas da juventude ao longo séculos XX e XXI para os povos da América Latina. Movidos pelas bandeiras do acesso, permanência e qualidade da educação pública, diversos estudantes e professores, nos mais variados cantos do continente, lutam diariamente por mais emancipação e soberania do povo no que se refere à pauta da Educação que deve ser mantida e zelada pelo Estado, atender aos interesses do desenvolvimento da nação, e não aos interesses do mercado. Temos como exemplo disso a movimentação pela reforma universitária de Córdoba em 1918, reivindicação pelo acesso universal na educação, na revolução mexicana de 1910, a defesa de uma reforma universitária no Brasil, protagonizada pela UNE¹ em 1968, a revolta dos pinguins no Chile em 2006. Ademais, observa-se a retomada das greves dos trabalhadores da educação brasileira – tanto nos segmentos da educação básica quanto nos da educação superior – nos últimos cinco anos. E, por último, entre outras ações aqui não citadas, mas com destaque, vivemos as ocupações feitas por estudantes secundaristas nas escolas púbicas de diversos estados, sobretudo aqueles cuja educação vem sendo sucateada, sistematicamente, por meio de políticas antipopulares e neoliberais, como São Paulo e Goiás. Lutar pelo direito de estudar é lutar pelo direito de viver em sociedade e com dignidade. No Brasil, o nível de escolaridade está ligado diretamente à renda dos jovens. E, devido a uma série de fatores que difi¹ UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES 15
cultam o acesso à plena educação, há uma grande maioria deles que, por não concluir o Ensino Básico, são submetidos aos subempregos. Ou seja, trabalhos com alto grau de informalidade, e por vezes, insalubres e perigosos. Isso dificulta a volta à escola, perpetuando um estigma de pobreza e falta de oportunidades. Muitos destes jovens estão inseridos no mercado informal de trabalho ou no comércio. Segundo o IPEA² no seu estudo: Trabalho Decente e Juventude (2015), em 2013, a taxa que relaciona o nível de escolaridade com o trabalho informal era de 64,34% entre jovens entre 15 a 29 anos com 0 a 8 anos de estudo (ensino fundamental incompleto), 48,91% entre jovens com 8 a 10 anos de estudo (ensino fundamental completo/ médio incompleto) e 26,56% entre jovens com mais de 11 anos de estudo (médio completo). Dessa forma, pode-se entender que quanto maior a escolaridade, mais possível é a melhora das condições de vida, tanto do/da jovem quanto de sua família. Por isso, a necessidade de atentarmos para o acesso ao ensino superior, que ainda é restrito e gera a exclusão de 85,4% de jovens no país. Ainda que nos últimos anos tenham sido criadas políticas de auxílio, a exemplo do ENEM³ como vestibular unificado, a expansão das universidades e mecanismos importantes de acesso mais igualitário à universidade, como a política de cotas, o ingresso em um curso superior não se apresenta como uma possibilidade tão concreta para o/a estudante de escola pública. Sobretudo em contexto de sucateamento das escolas e desvalorização dos profissionais da Educação em muitos estados da União que são os responsáveis pela formação básica de seus jovens. Portanto, em um país com desigualdades profundas, a desigualdade educacional é uma ferida latente, que se traduz, também, em números. Em 2015, o ENEM ofereceu 577.974 vagas em instituições federais públicas, enquanto subsidiou 4.490.168 vagas em instituições privadas de ensino. Essa discrepância de investimento deve-se ao alto lobby das corporações educacionais no nosso país. Muitas destas universidades recebem dinheiro público para baratear ou zerar o custo a ser pago pelo/a estudante, no entanto, há inúmeros exemplos que colocam em dúvida a qualidade e a finalidade do ensino destas instituições. Em contrapartida, observa-se que as vagas nas universidades públicas, do Estado, são menores, ao passo em que observamos alta competitividade justamente por serem mais completas no que se refere à formação do/a estudante e futuro profissional. Ainda assim, há o agravante que a grande maioria da juventude não chega a participar do ENEM. No último ENEM, houve cerca de 8 milhões de inscritos entre jovens, adultos e idosos. Esse número é bem inferior comparado aos 51 milhões de jovens registrados no censo IBGE4 de 2010. Ou seja, além de uma grande maioria dos jovens não acessarem o mecanismo menos desigual de acesso ao ensino superior, muitos deles são fadados ao ensino privado, que atende, estritamente, os interesses mercantis. Sendo assim, a discussão sobre a organização dos cursinhos populares está imersa na perspectiva tática da construção de um Programa Popular para a Juventude Brasileira, no que se refere à educação. Estamos falando de uma ferramenta que possibilita a disputa dos rumos do ensino superior brasileiro. Pois ao vivenciarem o espaço dos cursinhos populares, os/as estudantes terão a capacidade de levar consigo valores de popularização das universidades públicas e a crítica ao modelo mercantil e sucateado de educação, no caso de muitas universidades privadas. Essa experiência possibilita a construção de espaços orientados pelo método da educação popular, por meio de práticas político-pedagógicas emancipadoras, assim como do acompanhamento dos conflitos e desafios da juventude, como o mundo do trabalho, sociabilidade e o preparo para ingresso e permanência nas universidades – políticas de cotas e assistência estudantil. Por isso, desejamos compartilhar experiências acumuladas na organização de cursinhos populares em Minas Gerais, com o objetivo de aprofundar o debate sobre Educação Popular e organização da juventude nas comunidades, periferias e escolas públicas. Nos últimos três anos, temos identificado os cursinhos populares como ferramentas centrais para o trabalho de base e de massas. Hoje, formamos, em Minas Gerais, uma rede com cerca de 230 educandos e educandas acompanhados por aproximadamente 60 educadores e educadoras presentes nas cidades de São João Del-Rei, Teófilo Otoni, Lavras, Juiz de Fora, Belo Horizonte e Araçuaí. Além disso, os cursinhos possibilitam articulação em diversos territórios, como escolas públicas, centros comunitários e sindicatos. O cursinho popular tem o potencial de ser um elo dinâmico entre as frentes territorial e estudantil. Pois, por um lado estimula a participação de jovens das áreas de licenciatura e afins (educadoras e os ² INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA ³ EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO 4 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA 16
educadores) que não se identificam com uma atuação política para dentro das universidades. E por outro, contribui para a formação política dos educandos e educandas. De forma que, ao ingressarem no ensino superior, possam engajar-se na atuação do movimento estudantil com referência no projeto e método da organização. Contudo, este instrumento apresenta um conjunto de desafios político-pedagógicos que precisamos enfrentar de maneira sistêmica no próximo período para a sua consolidação, pois, localmente não vamos superá-los. Isso implica o esforço de coesão com as experiências dos outros estados. Os desafios vão desde aqueles que carregam maiores determinações no campo pedagógico, como: a construção das ementas para os conteúdos (natureza, linguagens, humanas e matemática) alinhadas ao projeto político da organização; a formação das equipes de educadoras e educadores; a viabilização da infraestrutura necessária (espaço para realização das aulas, materiais de secretaria e didáticos, alimentação, custeio das passagens dos educadores, etc.); a elaboração de um material didático do movimento e a preparação adequada para o ingresso dos educandos no ensino superior brasileiro. No campo político, outros desafios se apresentam: consolidar os cursinhos como um espaço de educação popular; ampliar a interlocução com a juventude; construir uma ferramenta de diálogo contínuo com jovens dos territórios onde são construídos os cursinhos – bairros, comunidades ou escolas; viabilizar a construção de células da frente territorial (frente de massas); garantir que a inclusão de jovens nos cursinhos leve em consideração os critérios de gênero articulado com o entendimento da negritude e diversidade sexual; e acompanhar sob uma perspectiva político-pedagógica os educadores e educandos. É por meio dos cursinhos populares que construímos com as e os jovens a possibilidade de uma nova perspectiva para a vida, o que fortalece a interlocução do movimento com as outras organizações sociais, culturais e comunitárias já legitimadas nos territórios – associação comunitária, cultura hip-hop, grupos de jovens religiosos, ONG’s5 , entre outras. A legitimidade de nossa atuação enquanto movimento social se forjará a partir do trabalho comunitário e político. Pois quando atrelamos a agitação e propaganda de nossas pautas e projeto político à viabilização de um horizonte concreto de mudanças, e interferimos nas condições objetivas da vida daqueles sujeitos – individuais e coletivas – também estamos propagandeando a sociedade que queremos construir. Dessa forma, os cursinhos comunicam a capacidade da juventude de ser construtora de novas práticas. No último período, nos deparamos com alguns dilemas, tais como: • Como equilibrar as demandas pedagógicas e garantir, ao mesmo tempo, a formação e atuação política? • Como viabilizar a construção de células de educandos e educadores por meio da experiência dos cursinhos? • Como construir a relação entre o cursinho e os jovens não cursistas que vivem nos territórios onde estamos inseridos? • Como podemos formular conteúdos e materiais político-pedagógicos de forma a nos projetarmos enquanto rede de cursinhos? Portanto, acreditamos que as companheiras e companheiros que organizam cursinhos populares em outros estados lidem, em alguma medida, com alguns destes questionamentos. Tendo, inclusive, contribuições importantes para o aprofundamento do debate sobre educação popular, resguardadas suas especificidades locais. Nesse sentido, avaliamos como fundamental a construção de um encontro nacional para que possamos debater com mais afinco tais experiências e apontarmos para a construção de uma rede nacional de cursinhos populares do Levante Popular da Juventude. Pois é necessário unificar as experiências, hoje dispersas, e garantir a discussão de nossa tática político-pedagógica para a consolidação dessa ferramenta que se revela, dia a dia, central para o avanço do nosso trabalho territorial.
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ORGANIZAÇÃO NÃO GOVERNAMENTAL 17
QUAL O IMPACTO DA CULTURA NA VIDA DA JUVENTUDE? QUAL A ANÁLISE DO LEVANTE? Síntese grupo de discussão do 2º Seminário Nacional Carolina Maria de Jesus
Para analisarmos, de forma sucinta, como a cultura está inserida atualmente na vida da juventude é preciso primeiramente compreender Cultura como produção da nossa existência. Partindo desse pressuposto a cultura é tudo aquilo que nós somos, nossas tradições, nossos hábitos, nossa capacidade de criar e reinventar a vida. Costuma-se identificar erroneamente a cultura apenas como as expressões artísticas produzidas: a música, o teatro, a dança, as artes plásticas. No entanto, podemos dizer que cultura diz respeito a todos os aspectos de nossa vida, sejam eles políticos, econômicos ou sociais e a arte é uma das expressões da cultura. Em nossa sociedade esses aspectos da cultura aparecem como coisas distintas. Sua separação não é nada inocente, é proposital. Identificamos como marco dessa separação a Ditadura Militar, iniciada com o golpe de 64. Neste período histórico importantes experiências da classe trabalhadora foram reprimidas. Como exemplo o Movimento de Cultura Popular do Nordeste (MCP) que através da cultura popular e da educação popular tinham o objetivo de formar a consciência política e social dos trabalhadores, forjando pessoas ativas na luta política do país. Outra experiência foi o Centro Popular de Cultura (CPC) associado à União Nacional dos Estudantes (UNE) que reuniu artistas de todas as linguagens, estudantes e intelectuais em torno da criação de instrumentos que atrelassem a luta política revolucionária à arte e sua popularização. A destruição dessas experiências da classe somada à emergência da Rede Globo e do padrão Globo de qualidade e à força da indústria cultural, promovem a ideia de que a produção artística e cultural é obra de iluminados, cabendo à grande parcela da população apenas o consumo do que é produzido na lógica do espetáculo e do mercado capitalista, no qual não existe espaço para a criação. Mesmo a esquerda incorpora essa visão, seja através do marketing político, seja na visão utilitarista das artes somente como animação de palcos ou na concentração de plenárias. No entanto, não podemos dizer que o povo não produz arte e cultura. Mesmo que as expressões da cultura popular não sejam em sua grande parte veiculadas para o povo brasileiro, ela está sendo constantemente produzida, se ligando, muitas vezes, a processos de resistência. No que diz respeito às políticas públicas no último período é possível dizer que durante os governos do PT foram criados programas que visam ampliar o acesso da população aos meios de produção, circulação e fruição cultural através dos Pontos de Cultura como a criação da Política Nacional de Cultura Viva em 2014. Porém esses programas não resolvem as questões estruturais relacionadas à cultura e o governo esbarra nos seus próprios limites da conciliação de classes. Como exemplo, a Lei Rouanet, que beneficia a grande indústria cultural. Assim, o governo cria então um discurso de inclusão das diversidades culturais. Temos políticas públicas que incentivam o fazer artístico local, mas, quando olhamos para a Lei Rouanet, o que os Pontos de Cultura recebem de investimento não chega nem próximo ao que a indústria cultural fatura. A juventude se encontra neste processo de bombardeamento da indústria cultural, mas ao mesmo tempo construindo experiências importantes de resistência. Seja nas periferias, escolas ou universidades, a arte e a cultura são formas fundamentais de expressão da juventude e tem surgido, principalmente nos grandes centros urbanos, associadas à ocupação dos espaços públicos. Isso porque as e os jovens trabalhadores não se enxergam nos instrumentos de “acesso” à cultura que o governo cria. Exemplos dessa falta de acesso são os dados que encontramos. Diagnosticamos que a maioria da juventude, apesar de fazer as atividades de lazer fora de casa, nunca foi à biblioteca, cinema ou teatro. O sentimento de não pertencer a 18
esses espaços, que historicamente são restritos às elites brasileiras, fazem com que os jovens, negros e negras das periferias ocupem as ruas e as transformem em um lugar de encontro, criação e resistência. Além disso, a limitação das políticas públicas e a falta de reconhecimento nos equipamentos e espaços públicos, limitam as possibilidades de profissionalização desses jovens como produtores culturais que buscam se aperfeiçoar nas técnicas e formação. Entendemos, portanto, que a cultura deve ser encarada no sentido de colocar nossas e nossos jovens como criadores. Não acreditamos que a arte deva ser obra de uma pequena parcela da população, mas que deve estar no cotidiano da classe trabalhadora contribuindo para forjarmos formas de produção alicerçadas nos valores que queremos construir na sociedade. Assim, se tornam importantes tanto a disputa por equipamentos e orçamento público, principalmente direcionados para a periferia e para o campo, quanto pela criação de espaços próprios de criação. Nossa cultura é de luta e de resistência. Precisamos colocar a cultura como um espaço de disputa da grande máquina do capital que se apropria da nossa arte, do nosso jeito de construir o mundo e aprisiona a nossa liberdade. A luta pela cultura precisa estar atrelada à nossa estratégia, que é a construção do projeto popular. Em tempos de golpe que abre a possibilidade de colocarmos o projeto popular na disputa concreta pelo poder, as formas de produção da existência do povo precisam ser centrais para a construção da nova sociedade que vê a cultura, o trabalho, a política em um único movimento de libertação do povo. Quais as propostas do levante? Democratizar o acesso a cultura Construir um instrumento amplo que tem como inspiração a experiência do CPC. A proposta é regatar o que foi esse instrumento visando sua capacidade de articular a luta pela cultura com a luta política e econômica da sociedade e da juventude brasileira. Um instrumento que se construa a partir da práxis. Ser um instrumento que popularize os espaços de produção de Cultura, dando visibilidade para as formas de expressão da juventude da periferia e do campo, levando em conta a diversidade dessas manifestações artísticas e culturais. A proposta é que possa ser um espaço amplo tanto de produção quanto de circulação dessas produções visando o enfrentamento a indústria cultural difundida pelo sistema capitalista. Podemos, a partir desse programa, colocar a cultura em um lugar concreto e estratégico para a construção do projeto popular. Essa proposta surge de uma experiência que já estar sendo posta em prática pelo Levante de Montes Claros. Há uma formulação sobre esse projeto: “A experiência de Montes Claros com o CPC”. Estimular nos artistas o sentimento de pertença enquanto classe trabalhadora. O que o levante vai fazer? Aprofundar o debate e discussão sobre a proposta de retomada da experiência do CPC. Que CPC queremos? Qual a cara que daremos para esse programa? Como concretizamos isso na prática? Como relacionar com a organicidade do nosso movimento? Criar mais Festivais para juventude, tomando como inspiração os festivais de arte e cultura que o MST vem produzindo. Esses festivais vêm se construindo como importantes instrumentos que permitem a propagação das diversas expressões culturais da juventude. Produzir coletâneas da juventude, como mais um mecanismo de acesso a produção e circulação das artes que a juventude vem produzindo. Tornar os espaços públicos de fato populares, isso é possível pela ocupação das ruas onde se aglutinam a juventude da periferia. Isso passa por transformar o espaço público em encontros de resistência cultural. Disputar o orçamento público para a cultura, mas não se limitar a essas políticas de editais e projetos de governos.
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