LEVANTES DA RESISTÊNCIA LEVANTES DA RESISTÊNCIA
“Nenhuma perseguição será suficientemente forte para conter a potência criativa que emerge daqueles que historicamente tiveram seus corpos apagados, silenciados da História oficial deste país, nem mesmo muros pintados de cinza e exposições censuradas serão capazes de fazer com que a diversidade de suas linguagens se curvem diante da alienação imposta. Este livro é uma intimação à não rendição, a materialização do verso revolucionário. Somo minhas palavras e força aos que aqui estão. E você, se renderá?
Levante-se!”
Meimei Bastos
Realização: Levante Popular da Juventude Organizadores: Nátaly Guilmo, Diego Ruas, Gabriel Remus
LEVANTES DA RESISTÊNCIA
Realização: Levante Popular da Juventude Coordenação Editorial: Caroline Anice, Leonardo Niero, Luiz Bugarelli, Diego Ruas, Guilherme Frodu Gandolfi, Matheus Alves, Emilly Firmino, Gabriel Remus, Tay Vasconcelos, La Cruz e Nátaly Santiago Organizadores: Nátaly Santiago Guilmo, Diego Ruas e Gabriel Remus. Projeto Gráfico, Diagramação e Capa: Gabriel Remus, Guilherme Frodu Gandolfi e Emily Firmino Arte da capa: La Cruz Arte da orelha: Wilker Revisão: Lia Urbini
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) L655L
Levante Popular da Juventude Levantes da resistência / Levante Popular da Juventude ; Organizadores: Nátaly Guilmo, Diego Ruas, Gabriel Remus. —1.ed.— São Paulo : Expressão Popular, 2019. 104 p. : il. Indexado em GeoDados ttp://www.geodados.uem.br. ISBN 978-85-7743-375-9 1. Movimentos sociais - Brasil. 2. Movimentos populares – Brasil. I. Guilmo, Nátaly. II. Ruas, Diego. III. Remus, Gabriel. IV. Levante Popular da Juventude. V. Título.
CDD 320.981 Catalogação na Publicação: Eliane M. S. Jovanovich CRB 9/1250
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desse livro pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização da editora 1º edição: outubro de 2019 Editora Expressão Popular Rua Abolição, 201, Bela Vista, São Paulo – SP. CEP: 01319-010
SUMÁRIO
Foto • 8 Apresentação • 9 Foto • 11 Os miseráveis • Poesia • 12 Um chamado • Poesia •14 Nas Trincheiras da Alegria • Ilustração • 15 Motivo • Poesia • 16 Greve Geral • Foto • 17 10 Acampa Nacional • Foto • 18 Escrachos aos Torturadores • Foto • 19 Feminismo Camponês Popular Floresce • Ilustração • 20 Terezas • Poesia • 21 Mulheres da Revolução • Ilustração • 22 Paraíso Camponês • Poesia • 23 O Amanhã pertence a nós Trabalhadores e Trabalhadoras • Foto • 24 Mais Fortes são os Poderes do Povo • Graffiti • 25 Estrada dos Predadores • Poesia • 26 Proibido Virar à Direita • Foto • 27 Menina Agitprop • Ilustração • 28 20 Acampa Nacional • Foto• 29 Palmarina • Poesia • 30 A Beleza e a Força da Mulher • Ilustração • 31 120 Acampa Estadual RS • Foto • 32 O Grito de Revolução • Poesia • 33 Comandante Menino • Poesia • 35 Comandante Menino • Ilustração • 35 Liberta-te • Poesia • 36 Educação no Campo, direito nosso e dever do Estado • Foto • 37 Vocês vão ver que Dinheiro não se Respira • Pixo • 38 A Catástrofe e a Vida Insiste • Poesia • 39 Marighella • Ilustração • 40
Fogo Invisível • Poesia • 41 Meritocracia • Poesia • 42 Nós por Nós no Bairro Jardim Campo Novo • Foto • 43 O Ecoar da Liberdade • Poesia • 44 Unidade dos Povos Contra o Império • Ilustração • 45 Mulheres no Poder • Ilustração • 46 As Bruxas que Habitam em Mim • Poesia • 47 O Trabalho • Poesia • 48 Cursinho Popular Podemos + • Foto • 49 Levante no 25º Grito dos Excluídos • Ilustração • 50 O Verbo Cortar • Poesia • 51 30 Acampa Nacional • Foto • 52 Armas da Resistência • Foto/Ilustração • 53 Não Foi Acidente, Foi Crime! • Foto • 54 Resisto e Vivo • Poesia • 55 Filhos do Quilombo • Foto • 56 Canção de Mim • Poesia • 57 Rosa Luxemburgo • Estêncil • 58 Ato 30 Acampa Nacional • Foto • 59 Lutar por Igualdade • Ilustração • 60 Nenhum Direito a Menos • Foto • 61 Utopia • Poesia • 62 Coluna das Ligas Camponesas • Foto • 63 Esquete Parecer da Democracia • Foto • 64 Parecer da Democracia • Poesia • 65 O Que Queremos Sempre • Poesia • 66 Batucada dos Palmares • Foto • 67 Juventude na Rua • Foto • 68 Não Há Noite que Dure para Sempre • Poesia • 69 Só a Luta Faz Valer • Ilustração • 70 A Nossa Rebeldia é o Povo no Poder • Graffiti • 71 Ágatha Félix • Poesia • 72 As Meninas e o Povo no Poder Eu Quero Ver • Foto • 73
Canto de Lavadeira • Poesia • 74 Elizabeth Teixeira • Foto • 75 Mulheres do Sertão • Poesia • 76 Lute como uma Sem Terra • Ilustração • 77 Levante em Marcha • Foto • 78 Ainda Cabe Esperança? • Poesia • 79 Acampamento Terra Livre • Foto • 80 Democracia • Poesia • 82 Resistir • Foto • 83 Sementes • Foto • 84 Eu e Tu • Poesia • 85 Rebelião • Poesia • 86 Resistir • Foto • 87 Companheiras em Ciranda • Foto • 88 Mari • Poesia •89 Marielle Vive • Ilustração • 90 Março • Poesia • 92 Lembrar para Não Repetir • Colagem • 93 2019 • Poesia • 94 O Nordeste é Fogo no Pavio • Ilustração • 95 Paleta de Cores - 80 tiros • Ilustração • 96 Espelho de Umbigo • Poesia • 97 Ataque Aéreo • Foto • 98 Abre Alas • Poesia • 99 Tempestade e Bonança • Poesia • 100 Geral • Ilustração • 101 Estudante é Resistência • Foto • 101 Sobre os Artistas • 104
Rafael Vilela MÃdia Ninja
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Apresentação UMA HISTÓRIA DE LEVANTES DE RESISTÊNCIA Aquelas e aqueles que sonham com um outro mundo possível, que carregam em cada passo e em cada ação o amor ao povo – erguendo os punhos com o coração na boca, fora do peito, e com a resistência de quem se indigna enquanto nossos inimigos tentam sabotar nossa esperança –, sabem bem o poder que a palavra e a arte tem. Enquanto aqueles que concentram a riqueza do mundo tentam nos dominar, explorar e silenciar, nós mantemos acesa a chama da nossa rebeldia construindo rap, rima, tinta e samba pra contar a nossa história nas favelas e nos campo, no centro e no interior. Denunciamos seus planos de morte e miséria para quem carrega na lombada a memória da escravidão, mas quer liberdade de amar e existir, de ser dona de si sem nenhuma prisão. É teimosia de quem quer destruir essa máquina de moer gente, desenhando a realidade, ilustrando outros mundos e captando através das lentes sensíveis de tantos olhares a alma de um povo que quer liberdade, paz, pão e ser feliz. Levantes da Resistência é uma coletânea de poemas, ilustrações e fotografias da juventude guerreira desse país, manifestando-se em torno do direito ao protesto e da expressão das nossas vivências, realidades e lutas cotidianas. Em menos de uma semana, recebemos mais de 200 diferentes manifestações, e partilhamos o processo de curadoria em três eixos – poemas, fotografias e ilustrações – com um grupo de 11 artistas e militantes do Levante Popular da Juventude: Caroline Anice, Leonardo Niero, Luiz Bugarelli, Diego Ruas, Guilherme Frodu Gandolfi, Matheus Alves, Emilly Firmino, Gabriel Remus, Tay Vasconcelos, La Cruz e Nátaly Santiago, que tiveram a tarefa de cuidar da arte recebida para este livro. Aproximadamente 55% do material selecionado foram de mulheres, 60% de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais; 50% de pretos, pardos e indígenas; e 41% de pessoas fora de capitais. Além de jovens militantes de todo o Brasil, o livro também conta com a presença de convidadas e convidados que fortaleceram nosso projeto por acreditarem nessa caminhada verdadeira. Nesse sentido, um agradecimento especial para Mel Duarte, Sérgio Vaz, Shiko, Rafael Vilela, Leonardo Milano, Meimei Bastos, Doralyce, Bia Ferreira4. Artistas que constroem com sua arte um processo de formação da juventude para caminhos da luta. Também gostaríamos de agradecer à Editora Expressão Popular e a todos os seus militantes que constroem cotidianamente essa arma na batalha das ideias. A editora, sempre ao lado dos lutadores do povo, foi fundamental para a existência e a beleza deste projeto. Queremos que essa produção se torne ferramenta para aqueles que lutam. Um Livro para Protestar. Um manifesto de defesa desse básico direito: que a juventude siga Livre para Protestar. Com dezenas de vozes diversas que chegaram nessa coletânea em múltiplas linguagens, encontramos uma história para contar. Uma história que se insere em uma longa caminhada de nosso povo. Contaremos uma parte de nossa vida de protestos, uma história da nossa geração. Nossa história começa com um dedo apontado contra a juventude, é um ataque e uma postura de resistência. Um contexto miserável, mas não abaixamos a cabeça. Esse livro é “um chamado”. Resistimos, e não começamos agora.
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A foto do acampamento com 1.500 jovens, em 2012, no Rio Grande do Sul vem para lembrar que faz tempo que nossa geração luta. O acampamento, junto com um processo de intenso de protestos pela Verdade, Memória e Justiça marca o início do Levante Popular da Juventude e mostra que “lutamos e seguiremos lutando, porque as ruas não são as mesmas” e o “silêncio é passado, inexistente, obscuro. Não recuaremos, seguiremos” ocupando as ruas e os muros com grafite, pixo e muralismo, pois “mais fortes são os poderes do povo”. Junho de 2013 mostrou novos caminhos para juventude, “é proibido virar à direita”? Aprendemos! “Os inimigos, observam na espreita” e então, passamos a nos colocar o desafio de construir nosso projeto de nação e outras formas para participação da juventude na política. Sabemos! “Palmares vive mesmo quando mandam nos prender”, por isso seguimos. Em um contexto de crescimento da perseguição aos movimentos sociais, reunimos 3 mil jovens em São Paulo no 2º Acampamento Nacional do Levante em 2014. Seguimos sobrevivendo “a catástrofe, o desastre nacional, o ápice do desenvolvimento, o lucro, a renda, o custo…”. Conspiramos um caminho, “Nós por Nós”, fortalecendo os laços de solidariedade nas quebradas, forjando a “unidade do povo”. Contra o “verbo cortar” que vem na carne da juventude. Sabemos que “Podemos Mais” e por isso, construímos experiências de cultura e educação popular para a juventude nas periferias de todo o Brasil. Em 2016, cinco dias depois de Michel Temer tomar posse, 7 mil jovens estavam reunidos no 3º Acampa Nacional do Levante. As “armas da resistência”: punhos erguidos, o grito forte e a arte em protesto “teatro procissão” para defender a democracia, o “futuro utopia e canção” que “fazem ecoar o som da batida”. Com Agitação e Propaganda, com a batucada que protesta, com a certeza que “o povo se organizou em dança, pra festa da democracia”. Afinal, “não há noite que dure para sempre”. Aprendemos a cada dia que “só a luta faz valer” e por isso desenhamos, “nossa rebeldia é o povo no poder”. Nossa rebeldia vem do povo menina, da “lavadeira”, do povo “Elizabeth Teixeira” e “do sertão” “sem terra”, do povo que sabe: “ainda cabe esperança” e ainda cabe afetos. A tarefa está colocada, “é preciso organizar a nossa vontade de lutar” seguindo o exemplo de heróis da resistência. Ocupamos e seguiremos ocupando Brasília e lutando contra a velha política com a força da mulher indígena que resiste à repressão, a garra do nordestino “fogo no pavio” e o peso da “mulher preta” com “punhos fechados” no planalto, “levantando a bandeira da utopia”. Sim, chegamos em 2019, o ano deste livro, o ano de “80 tiros”. Vivemos censura e a juventude se questiona: “será que ser poeta hoje vale mais do que ser nada?”. Confessamos dúvidas: “você viu a democracia?”. Confessamos angústias, não é fácil a luta. Mas qual a opção? Firmes, seguramos nossas armas: microfones, facões e mãos dadas. Marchamos abre alas, “nós vamos cobrar a conta aqui onde o chicote estala. Abre alas!” Caroline Anice e Nátaly Santiago Salvador e São Paulo – outubro de 2019
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Leonardo Milano
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Os Miseráveis Vítor nasceu no Jardim das Margaridas. Erva daninha, nunca teve primavera. Cresceu sem pai, sem mãe, sem norte, sem seta. Pés no chão, nunca teve bicicleta. Já Hugo, não nasceu, estreou. Pele branquinha, nunca teve inverno. Tinha pai, tinha mãe, caderno e fada madrinha. Vítor virou ladrão, Hugo salafrário. Um roubava pro pão, o outro, pra reforçar o salário. Um usava capuz, o outro, gravata. Um roubava na luz, o outro, em noite de serenata. Um vivia de cativeiro, o outro, de negócio. Um não tinha amigo: parceiro. O outro, tinha sócio. Retrato falado, Vítor tinha a cara na notícia, enquanto Hugo fazia pose pra revista. O da pólvora apodrece penitente, o da caneta enriquece impunemente. A um só resta virar crente, o outro, é candidato a presidente.
Sérgio Vaz
Do livro “Colecionador de Pedras” - Global Editora
Um Chamado Escrevo essas linhas sem medo de como você pode interpretar Um chamado tá tudo acordado o bonde está forte, nós veio cobrar Do ouro ao conhecimento não vai ter lamento e eu vou te mostrar Minha história é contada oralmente não adiantou você querer pagar De boca boca nós vamos contando um levante armando para dominar Seus livros seus filmes sua casa seus filhos e a televisão que você vê no seu lar Mexendo Com gentes plantando sementes germinando mentes logo vai brotar Vai virar floresta não vou deixar fresta pra minha história você contestar Entrei nas escolas e nas faculdades, igrejas não vão mais me silenciar Aqui não é teu culto nem congregação nessa mata fechada você não vai entrar Fazendo esse alarde pois não sou covarde, não vai nem dar tempo, o plano tá em ação É ação direta sai da minha reta é mais do que só gritar revolução Sou psicopreta, tomei sua caneta, sou bem mais que teta bunda e corpão Mente afiada a festa tá armada fogos de artifício segura o rojão. Pow!
Bia Ferreira
Nas Trincheiras da Alegria Shiko
Motivo Como ser neutro, se a realidade é uma lâmina que atravessa meu peito, e recorta meu país em classes? Fomos, somos, seremos permanentemente a resposta de cada tempo e a esperança de nossos mortos, por isso aguentamos. Aguentamos a escravidão pela cor de nossas peles. Aguentamos ser culpados quando fomos inocentes. Aguentamos envenenarem nossas mesas e nossas mentes. Aguentamos, mas não calamos. Cantamos porque calados não somos dignos do presente e porque o futuro nos encanta. Dançamos porque nem o pranto nem o canto bastam. É preciso gritar com o corpo e girar, branda, a ciranda do dia. Cantamos e dançamos para libertar os nossos sonhos e pelo sonho de nossa libertação. Lutamos e seguiremos lutando, porque as ruas não são as mesmas, nem as mulheres nem os homens, e porque o novo e porque o povo. Só não me peçam motivos, porque não os tenho. Antes, só tenho a certeza de grandes coisas por vir das quais valem a pena tanto viver, para ver, quanto morrer, para ser. Diego Ruas
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Greve Geral Sofia Sousa
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10 Acampa Nacional Alex Garcia
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Escrachos aos Torturadores
Alex Garcia
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Feminismo CamponĂŞs Popular Floresce
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Mayra Ferreira
Terezas Das ocupações diárias, resistência Deitadas sob o chão da utopia Estendo panos pra compartilhar Sorrisos, alimentos, cansaço-alegria Das andanças, insistência Em cada palavra coragem Em cada batida de tambor Em cada hora acordada Em cada toque de pandeiro Feminismo é luta diária, Sobrevivência Vem, vamos incendiar a vida! Seguir construindo a nossa utopia De um mundo inteiro feminista Solidariedade, companheirismo Cuidado, afeto será todo dia E no silêncio da noite Enquanto uns dormem Tramaremos planos de rebeldia Vem, vamos fazer barulho! Voz é arma, inquietação, é escudo Silêncio é passado, inexistente, obscuro Não recuaremos, seguiremos! Derrubando a opressão Mulheres esmagando o patriarcado Construindo o feminismo A tantas, muitas, inteiras mãos! Caroline Anice
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Mulheres da Revolução Vivi
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Paraíso Camponês Pra mim, o paraíso tem cheiro de manjerona É lar, aconchego e aquela brasa de fogão a lenha que fica na pele Pra mim, o paraíso é abraço, gota de chuva, dia de lua, voz e violão na varanda É banhar-se à luz de vela e sorrir com a água fria que corre no corpo É raio de sol pela fresta da porta, que nem é porta, e tanto faz Pra mim, o paraíso está semeado como a cerca de mandioca, que, rebelde, insiste em nascer sem que alguém a tenha plantado Pra mim paraíso é todo dia samear neste solo, eu e você No entrelace dos corpos, na paz do diálogo, no amor à bandeira.
Agatha Azevedo
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O Amanhã pertence a nós Trabalhadores e Trabalhadoras Patrícia Sousa
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Mais Fortes SĂŁo os Poderes do Povo
Mulleke
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Estrada dos Predadores Nesse caminho compulsório que nos leva a direita No meu peito a revolta se esfola Todo dia em miséria o povo se atola E os inimigos, observam na espreita Mas de sangue vim canhoto Em várias realidades fiz passagem Vi da periferia como miragem Um oásis nesse deserto escroto O tal direito, aquele que sempre sai ileso, Vem com boas intenções espúrias Enchem a causa de injúrias Arrasam com todo aquele indefeso Querem aprisionar sua vida Para que todo dia seja uma guerra E assim, vender o melhor de nossa terra Tendo a certeza de que a minoria será dissolvida Mas sempre haverá quem não se entregue A desafiar esta estrada horrível E encontrar todo caminho disponível E enfrentar esse predador que nos persegue
Thiago Nascimento
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Proibido Virar Ă Direita CĂntia Lazzaroto
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Menina Agitprop
Tay Vasconcelos
Menina Agitprop
Tay Vasconcelos
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20 Acampa Nacional Taline Freitas
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Palmarina eu tenho força de rainha eu tenho força de escrava escrava não, escravizada preta e latino-americana eu tenho sangue de rainha eu tenho sangue de escrava escrava não, escravizada sangue que flui forte, sangue que resiste sangue preto e latino-americano meu sangue preto e latino-americano corre por minhas veias pretas corre como Zumbi, corre como Dandara escravos não, es-cra-vi-za-dos o que eu sou não se define pelo outro não é porque me foi imposto que eu tenho que fazer teus gostos a minha subjetividade quem define sou eu esse corpo tem propriedade sim: é meu! porque sou livre e mandaram me prender palmares vive mesmo quando mandam nos prender
Sofia Sousa
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A Beleza e a Forรงa da Mulher Andressa Alvarenga
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O Grito de Revolução No quadradismo desta gente Eu quero nunca estar Vivendo naquele velho mantra Nenhuma regra há de me abusar Sempre desobedecer Nunca reverenciar! Pois se tomo este cale-se É porque estou em estúpida crise Queria mesmo que ecoasse O grito de toda revolução Vamos fazer do proletário O mais novo patrão! Luísa Ton
12° Acampamento Estadual RS Cíntia Lazzaroto
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Comandante Menino (Homenagem à Anton Fon Filho)
nos olha, suas meninas, com olhos de juventude da sua juventude cerceada por mais de dez anos de cárcere em meio a tortura e solidão preservou sua humanidade a paixão por cravos-revoluções e o ódio de classe
Júlia Louzada
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Liberta-te Vai, liberta-te! Grite o mais alto que puder, evidencie sua dor, seu terror. Torne palavras palpáveis lágrimas, sutis, macabras, carente de belas águas que escorrem do amor. Vem, respira! Infla teus pulmões e aos doces ares daqui retorna tuas emoções. O seu humilde lar, teu aconchego. Sua bolha-tampão ou pavio, explosão, sela eficaz(?), protegendo-o e deixando para trás a atmosfera densa que te prendia… Não mais… Liberta-te!
Raíssa Almeida
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Educação no Campo, direito nosso e dever do Estado Mateus Quevedo
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Vocês vão ver que Dinheiro não se Respira Sado
A Catástrofe e a Vida Insiste A catástrofe, o desastre nacional, o ápice do desenvolvimento, o lucro, a renda, o custo… O custo não cabe, não ao mesmo, não ao mesmo que cabe o lucro, o custo cabe ao que cabe o desastre, ao que cabe a tragédia nacional. Mas a vida não cabe, não cabe ao covarde, ao medroso. A vida insiste, por baixo, entrelaçada em meio à lama, ao minério, ao rejeito, dentro do peito: a vida insiste! Mariana, Carajás, Caetité… Marikhana, Ouro preto, Guirapá Brasil: a vida insiste! Na pobreza que existe no meio do ouro, no meio do ferro, no meio de todo minério, a vida insiste! Em meio à catástrofe, em meio à tragédia, em meio ao desastre em meio à contradição… Em meio à catástrofe nacional, A vida insiste!
Venício Montalvão
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Marighella
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La Cruz
Fogo Invisível E se eu era Pi perdido sem saber pra onde ia E se fui Atreiú procurando algo sem saber o que era E se já me comportei como Dom Quixote Mirando gigantes e acertando moinhos Hoje poderia ser Rafael Braga... Homem de carne e osso Que sem alarde ou alvoroço Foi preso por motivo nenhum. Olhei pro futuro, pro imaginário, pro passado Mas há tigres, Nadas, gigantes, reais Que na forma de Estado Pregam a paz Enquanto o poder vem e te esmaga, de cima pra baixo. Maldita poesia que não derruba tiranos Não tira a fome, não acaba com a sede Mas talvez faça pensamento, faça revolta, fação, Inspiração! Pra não esquecermos das cores que não vemos no dia a dia Do que seria nosso se não nos fosse negado Da justiça que tarda e rejeita Do humano no ser E nosso dever De correr atrás do que acreditamos.
Artur Colito
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Meritocracia Lembro, quando criança, Sua escola perfeita Lembro da minha caída O tempo todo de greve Você, no carro do seu pai Eu, no coletivo com minha mãe Foi garantido seu estágio arranjado Minha rotina, entrega de curriculum Melhor noticia, ele passou na prova Pior noticia, cortaram minhas horas extras Eles se julgam superior Para pobre sempre o inferior Você bem sucedido Eu um iludido E assim se perde a esperança Mais uma criança sem rumo, sem confiança, Foi vitima da desigualdade
Thiago Nascimento
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Nรณs por Nรณs no Bairro Jardim Campo Novo Danniel Prata
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O Ecoar da Liberdade Nasci sem nada, somente contigo, desde o ventre já a tinha, em minhas veias corria, em mim fez morada, mas de mim foi embora, não dependia de mim o seu ficar. Eu te desejava, eu te queria, mas eu a perdi. LIBERDADE! Tapas, socos, choques, chutes, formavam a sinfonia da dor. Os barulhos eram sincronizados com os poemas sombrios de humilhação. Não há verdades; não há mentiras; só o desejo de ti. LIBERDADE! Alexandre, Marighella, Queiroz, presos, torturados e executados, em seu nome. Penso que não há nada mais torpe do que morrer por liberdade. como pode algo que nasceu conosco se perder? Como podem atentar contra o direto, a liberdade de questionar; a liberdade de escolher; a liberdade de lutar por direitos; a liberdade de protestar; a liberdade de AMAR. Não me cabem leis que atentem contra a minha liberdade; contra a liberdade de minhas companheiras; contra a liberdade de meus companheiros. E por isso eu luto, luto do verbo LUTAR! Não há em mim espaço para a covardia, quando tudo que quero é ser LIVRE! Quando tudo que grito é: LIBERDADE!
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Karina Bispo
Unidade dos Povos Contra o ImpĂŠrio Gabriel Reis
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Mulheres no Poder
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Wilcker Morais
As Bruxas que Habitam em Mim Sou bruxa em casa, Sou bruxa ao ler tua poesia, Sou bruxa do raiar do sol Ao fim de todos os dias... Sou bruxa presa pela inquisição, Queimem a bandida! Sou escrava açoitada pela escravidão, Amarrem a destemida! Sou puta marcada pela opressão, Batam nessa pervertida! Sou militante torturada pela ditadura, Estuprem essa corrompida! Sou tudo o que você vê e não quer enxergar, Sou tudo isso, e não tente me negar, Sou foice amolada na caatinga, Sou índia resistindo contra mina, Sou a cultura inflamada, Sou sua história, doce menina! Sou arma contra opressão, Somos a luta, somos revolução!
Mara Farias
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O Trabalho O trabalho dignifica? O que toda essa exploração significa? Será que toda essa dor um dia transita? O valor de uso Só faz sentido Na troca Quando trocamos o trabalho indigno Pelo trabalho que é só o início De um projeto com um grande objetivo: Acabar com a guerra de classes Destronar os mandatários dos massacres Nosso suor não pode ser mercadoria Nossas mãos vieram para construir a alegria De um mundo onde o Estado seja, De fato, O poder da maioria A confiança e o companheirismo Sejam valores que não Se negocia E o preço a ser pago É o tempo recuperado Para a possibilidade de acordar cedo Só pra ver luz do dia
Bruna Weyll
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Cursinho Popular Podemos + AbraĂŁo Moura
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Levante no 25Âş Grito dos ExcluĂdos Bicha Artista
O Verbo Cortar O verbo É uma coisa interessante Só é concebido Através da ação O verbo não para! Agora, experimenta colocar O verbo No feminino: A verba É substantivo Por isso, Ela é cortada Para educ(ação) Silvia Passos
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30 Acampa Nacional Matheus Alves
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Bandeirão 570 CONUNE Foto: Jhuan de Britto
Armas da Resistência
Arte: Coletivo Nacional de AGITPROP
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Não Foi Acidente, Foi Crime! Lorena Carneiro
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Resisto e Vivo Grito aos sonhos palavras de ordem Organizo as noites pra suportar os dias Estou a caminho da grande jornada Eu luto A exemplo de quem segue, na lida, a batalha E tudo volta a ter sentido Teu peito América Latina Tuas veias Tuas vias Avistam a vitória como o único ponto a se enxergar a fundo dentro do olhar do outro Eu sou o rosto só Mas o reflexo de muitas em mim se fazem vivas Respiro o suor e sangue Carrego nos braços e nas costas vossos filhos Me desenho em vossos nomes Futuro utopia e canção E sigo em marcha Escrevo Teu histórico caminho Compreendo o que corrompe e limita nosso avanço Eu danço ao som do que se toca A alegria de quem se canta O pranto não me convence da dor Vou contigo e o que sou é resultado do que somos.
Larissa Moura
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Filhos do Quilombo Taline Dias
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Canção de Mim As cordas vocais do meu coração Vibram quando eu canto Vibram quando eu choro E fazem ecoar o som da batida De tambores que meus ancestrais tocavam nas datas ocasiões Em que eram donos de si.
Daniel Bispo
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Rosa Luxembrugo Levante Manaus
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Teatro Procissรฃo Ato 3ยบ Acampa Nacional Luisa Medeiros
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Lutar por Igualdade
Levante Manaus
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Nenhum Direito a Menos
Thiago Almeida
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Utopia Sempre que ouvir falar em utopia Lembre-se Que nem toda indignação é rebeldia E nem todo mundo come no final do dia Lembre-se Que todo horizonte é uma linha imaginária E o que separa a carne da navalha Não é só uma ideia Mas uma luta diária Lembre-se Que as crianças existem E que por mais que não queiram As nossas necessidades insistem Em colocar a sociedade em movimento Lembre-se Que todo processo é lento Que toda fome mata Que a mentira enlata E a semente multiplica Que todo pão é comida E o diabo quando amassa Não faz só pirraça Expressa a desgraça De viver na contenção Lembre-se Que o mundo não é só repressão Que o sol nasce todo dia Que nas pequenas coisas há alegria Que no próximo há companhia E que a mudança não é só fantasia Então sobre utopia Lembre-se A janela da história está aberta E é nosso dever nos manter sempre Atentas, fortes e em alerta!
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Bruna Weyll
Coluna das Ligas Camponesas Emilly Firmino
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Esquete Parecer da Democracia Gabriel Remus
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Parecer da Democracia Diz que ainda sou menina, mas já vivi coisa demais E aqui a minha história, vou contar em linhas gerais Diz que foi homem da Europa Que me criou no Brasil Mas eu vim de muitos cantos De terras tupi e de navio Pra libertar a democracia, o povo sempre teve em luta Organizou e fez revolta, sempre foi uma labuta Quando a mídia maquiou, e a riqueza sequestrou Nós buscamos ela de novo, e tentamos curar a dor Em pé de prosa, em cada canto Do início ao tardar do dia O povo se organizou em dança Pra festa da democracia Mas meu povo tenha calma, que a democracia ainda é pesar Em 2016 sequestraram ela de novo, pra quem nem é povo imperar E o povo, revoltado, bateu em retirada A gente vive em labuta, mas não fica na calada Fez canto e fez folia, mas partiu em retirada O dia que alegre amanheceu Já nem de sorriso mais tarda Que a festa é de trabalho E agora, é explorada Mas a vida que é vida pulsa luta e retomada E agora o povo segue, em grito e batucada Em busca da menina, que de novo foi roubada
Jessica Marroques
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O Que Queremos Sempre Pode vir mais bala e desaparecimento Ao jovem que na rua está, Só acreditando em nosso movimento É que alguma coisa poderá mudar. Vamo pra cima dessa ideia estúpida De reduzir os nossos direitos, Queremos a escola aberta todos os dias, A praça segura pra poder brincar, Queremos o poder em nossas mãos e trabalho digno pra avançar, Queremos o respeito religioso e a possibilidade de amar, Queremos entrar na universidade e de lá só sair quando nos formar, Queremos comida saudável com Reforma Agrária Popular, Queremos o riso frouxo das crianças, com inocente compaixão, Queremos todas libertas de qualquer intolerância ou opressão, Queremos a juventude livre da miséria e da escravidão. Vem pra cima e não escorrega, A gente segura tua mão, Vamo gritar um tiro de alerta Pra acabar com o projeto da Redução!
Mara Farias
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Batucada dos Palmares Micaella Maria
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Juventude na Rua
Matheus Teixeira
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Não Há Noite que Dure para Sempre
Não há noite que dure para sempre. Não importa o tormento, nem o mais duro desencanto. Não importa a amargura, nem teu sono que vem aos prantos. Não há noite que dure para sempre. Não adianta esperar sentado, o dia raia pela força da luta. Pelo trabalho do povo, já cansado, a manhã chega segura. Não há noite que dure para sempre. Não importa os 21 anos, tampouco o golpe dos poderosos. O povo até tarda, mas não falha. Da camada popular são os vitoriosos. Não há noite que dure para sempre. Não abaixamos a cabeça, nem seremos dominados. O povo põe comida na mesa, carrega a sociedade nos braços. Não há noite que dure para sempre. A luta constante deve seguir firme, andaremos até o raiar do dia. Que o amanhecer é construído com as mãos da sociedade excluída. Não há noite que dure para sempre.
Dahra Vasconcelos
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Sรณ a Luta Faz Valer
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Lucas Gertz
Nossa Rebeldia é o Povo no Poder Mulleke
Ilustração “Mais Fortes São os Poderes do Povo” Mulleke
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Ágatha Félix
HOJE, A BIXARTE CONTA UMA HISTÓRIA REAL QUE INFELIZMENTE NÃO TEVE UM BOM FINAL SOU DA PERIFERIA MAS PARECE UM PRESÍDIO CAPITÃO DO MATO SOBE E COMETE GENOCÍDIO Ágatha Félix, 8 anos, presente! assassinada pelos mesmos que no passado nos chicoteavam de corrente e a gente? sente! na verdade nosso povo sempre sentiu a dor das 32 crianças assassinadas por dia no Brasil governador fascista, jamais doentio, ele num arrega um instante, Witzel é a continuação dos crimes tenebrosos da casa-grande meu caminho, minha verdade, redentor, ando por aí, já num vejo a mesma cor, assim dizia Projota mas a cor era do sangue das 1249 pessoas mortas desde o começo do ano pela PM no RJ Witzel, Bolsonaro, culpados pela morte de Marcos Vinicius e Kauã Rozário, donos da verdade? jamais! criadores da hipocrisia: se as crianças são o futuro do Brasil, por que vocês matam criança todo dia?
Bixarte
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As Meninas e o Povo no Poder Eu Quero Ver
Isa Gabriela
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Canto de Lavadeira A história é de mulheres De riacho ao sertão Que vem de época que nunca se esquece A escravidão Para manter a casa em ordem O trabalho era obrigação Os tecidos eram privilégio De quem tinha Terra Quem tinha pão Para as lavadeiras Seus cantos eram Como ouro, de aluvião Ainda nos requintes Não de liberdade, mas de abolição Essas mulheres o oficio mantiveram Em troca do mínimo, dito tostão Assim como outros trabalhadores De pedra, babaçu ao pilão Ou de ganho, canoeiro, cana, mutirão O trabalho era conjunto para fazer da dor Forma de expressão Mas a arte também era de revolta De memória virar oração Porque de festa de labuta Canta em coro o coração.
Jessica Marroques
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Elizabeth Teixeira Junior Lima
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Mulheres do Sertão Mulheres do sertão. Lutam contra a seca e a escravidão. O machismo enraizado nelas não quer largá não... Querendo deixar elas nessa condição. Mulheres do sertão. São fortes, guerreiras, lutadoras e, da sua liberdade, não abrem mão... Mulheres do sertão. Estão unidas, companheiras umas das outras. Juntas pra colocarem o machismo no chão. E não só... Elas irão tirar esse bicho desse mundão. E as mulheres do sertão. Lindamente cantaram para mundo o que é a libertação. Viva as mulheres do sertão. Viva as mulheres desse mundão.
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Péricles M. Moreira
Lute como uma Sem Terra Bicha Artista
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Levante em Marcha Juliana Adriano
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Ainda Cabe Esperança?
(Lições de Paulo Freire)
Nestes dias mataram mais uma criança com uma bala encontrada por seu pobre e preto corpo. Nestes dias o cálice vem, só se acredita na mentira E sufocadas, não encontramos a justiça Nestes dias o sol foi apagado no meio do dia chegou a cinza São dias sombrios E o sonho se acaba na sombra Me diga, o que esperar destes dias? Nada! Através da espera parada Os dias, estes irão aumentar Então me diga, o que fazer com estes dias? É necessário esperançar Uma esperança que só existe com partilha Esperança que mira o futuro E sabendo olhar o passado Grita! Nada nunca nos foi dado Esperança que não é espera Não existe parada Uma esperança viva na resistência Que faz a hora e que se faz presença Contra esses dias de tirania Esperançamos o caminho de rebeldia Nátaly Santiago
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Acampamento Terra Livre
Matheus Alves
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A democracia Uma sociedade construída pela religião Ensina ao seu povo o que é pecado ou não O verde e amarelo aparecem quando é jogo do Brasil Enquanto na favela, neguim acorda com o fuzil na cara E a gente come carne todo dia O índio mora numa palafita E eu te pergunto: Que sentido faz não ter reforma agrária no Brasil? Isso é herança dos senhores de engenho, barões do café e da cana de açúcar Das grandes construtoras do Brasil Fomentam e alimentam, impondo a condição servil Você viu a Democracia? A democracia é uma ditadura disfarçada
Doralyce
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Resistir
Tainara Santos
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Sementes
Guilherme Gandolfi
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Eu e Tu
eu e tu no meio da rua a vida sorrindo nua o povo se empoderando nós dois juntin dançando dizendo um não à covardia levantando a bandeira da utopia dizendo um não ao descaso ao fascismo, ao atraso debaixo de um sol fervente numa rua colorida de gente a felicidade tomando de conta porque quem luta, quem afronta tem sempre uma mão pra segurar um batuque pra tocar porque quem luta, há de vencer cedo ou tarde tu vai ver: povo no poder povo no poder povo no poder
Ianna Alexandre
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Rebelião A carne mais barata do mercado é a carne negra? Não, eu cansei! Cansei de ter meu corpo usado, abusado, explorado, hipersexualizada Cansei de ser assediada, agredida, humilhada, estuprada Eu cansei de ser carne, barata. Eu quero ser amada, valorizada Eu tenho voz, então eu vou gritar, eu cansei de ser silenciada. Chega pra lá, não encosta na minha pele preta não Passando a mão pelo meu corpo, cheio de má intenção. Me usando pra uma noite de sexo e depois me deixando na solidão E o pior, me tirando o direito de dizer não Se eu digo não, é não, meu irmão, não vem achar que é chilique Entenda de uma vez só que eu não nasci pra ser fetiche MULHER PRETA NÃO É FANTASIA SEXUAL Então não me vem com: “eu sempre quis pegar uma mulher negra” Achando que é a coisa mais natural a se dizer A nossa pele, da cor do dendê, não foi pintada pra satisfazer o seu prazer. ACABOU! Não quero mais ouvir essa história de que nossas vidas e os nossos sentimentos Não têm valor Que comece a transformação, as pretas vão se unir pra fazer rebelião Vamos fazer pagar os mais de 300 anos de escravidão, sem perdão Vamos vingar Todas as mulheres pretas que foram estupradas pelo senhorzinho, Sem o direito de reclamar Não vai ter compaixão. Estamos de punhos fechados, amadas pra fazer revolução Chega de agressão, porque eu não vou mais admitir “Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim”
Joyce Marques
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Resistir
Tainara Santos
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Companheiras em Ciranda Gabrielle SodrĂŠ
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Mari Mari, hoje lembrei de você mesmo sem nunca ter te conhecido lembrei do teu sorriso naquela foto. Lembrei de teu discurso inflamado, de teu dedo apontado contra os seus futuros assassinos... era como se você soubesse o tempo todo. Nós também sabíamos? Como não saber? Estava nas capas dos jornais, estampado nas redes sociais e, mesmo assim, deixamos acontecer, mesmo assim fomos surpreendidos Hoje acordei com o peso da história em minhas costas. Meu amor me disse bom dia, e eu? Tive vontade de chorar, Mas ai eu lembrei de você, se você não teve tempo pro medo. Se você perguntou até quando. Eu me pergunto de que me serviria hesitar? Tive vontade de sair na rua gritando, de pichar um muro, de correr até Curitiba, de te dar um abraço apertado e tomar uma com você naquele buteco, e com toda essa vida transbordando de mim... fui em uma reunião. Fui porque é o que você teria feito, porque de nada vale a minha indignação solitária. É preciso organizar a nossa vontade de lutar. Eles não vão me prender em meu próprio desespero. Hoje eu lembrei de você sem nunca ter te conhecido, vi o brilho do teus olhos através da memória de nossos camaradas. Lembrei da tua morte, da foto do seu corpo metralhado e tive certeza de que se precisar, eu rego a tua semente com meu sangue, mas antes eu vou dar muito trabalho. Porque eu sei que é dos meus sonhos que eles tem ódio são meus amigos que eles querem de volta no armário é minha família que eles querem desempregada são meus companheiros que eles querem suicidas. Farei de meu coração a faca, dos votos, farei anéis de compromisso e, de nossas vidas, faremos marchas. Do povo a nossa Sierra Maestra, faremos fogueiras nas noites sem lua. Será de meu sorriso que eles vão ter medo toda manhã quando revoltados descobrirem que o sol nasceu de novo e fomos nós que o acendemos. Mari, hoje eu tive saudade de você mesmo sem nunca ter te conhecido. Hoje eu lembrei de você Guilherme Gandolfi Mari ele. E de você Mari ghella.
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Marielle Vive
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Wilcker Morais
Março Chuvas torrenciais de mentiras, especuladas na previsão do tempo. Frases flutuam pelas ruas. Carros também. Enchentes inundam os noticiários e os noticiários inundam a consciência diária. Uma lei antiabraços proíbe entusiastas de abraçarem suas causas. Cláusulas nefastas impedem manifestações amorosas de abraçar as multidões. E os poetas, esses otimistas, preveem manhãs ensolaradas.
Diego Ruas
Lembrar para Não Repetir Arthur Carvalho
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93
2019 é 2019, e nossa voz é arma poética, letal e nostálgica a palavra sai sem pedir licença, violenta e arbitrária e já não sei se o que me consome é a dor dessa voz ou se é o medo de não poder falar mais nada: mesmo ontem teve livro sendo censurado porque tinha dois homens se beijando na capa! e enquanto busco na entranha métrica adequada para traduzir o canhão em metáfora me perco na linha-fronteira que me divide de um lado eu, do outro lado: nada? olho pro lado, e vejo: nada?? olho pra cima e cadê, nada??? olhei pra dentro e já não vejo nada é que parece que já tô sem fôlego, irmão pra tentar captar das coisas algo que valha, ou mesmo congelar nisso tudo algo que valha, valha-me-Deus, será que ser poeta hoje vale mais do que ser nada? atiro essa voz sem saber se acerto almas, enfrento gatilhos sem pensar nos traumas mas lembro de aprumar o ombro, porque cê tá ligado que lançar rima sem firmar o punho esquerdo é mandar a bala pro lado errado?
Caio Jardim
94
O Nordeste é Fogo no Pavio
Júnior Lima
95
Paleta de Cores - 80 tiros
DeMerda
96
Espelho de Umbigo às vezes eu me pergunto se existe algum assunto que te faz refletir sobre teu jeito, teu agir se tem alguma coisa que te faça chorar sei lá algo que te faça repensar sobre o que você é sobre o que você será uma criança chorando um mendigo na rua um idoso no hospital uma mulher assediada um negro mutilado por roubar chocolate qualquer coisa que te parta ao meio que tire seu foco do umbigo que faça você se olhar no espelho se não tiver nada absolutamente nada que te faça refletir sobre o presente sugiro procure um médico você tá doente.
Amon Alves
97
Ataque Aéreo
Guilherme Gandolfi
98
Abre Alas Abre alas A juventude desceu das quebradas Tem bicha preta e pobre Mulher que dá os corres nas ruas e nas casas Fortalecendo o legado de Dandara Os filhos de Zumbi farão trovejar Em cima da sua casa Empurrando porta, burguês, Que cê num abre por nada Abre alas A juventude desceu das quebradas Ocupando as escolas e universidades Que nos negam a entrada Educação é direito de todos Se estivesse nas mãos do povo Nossa história já teria sido recontada Nossa luta é cercada de suor, Sangue e mãos calejadas Vidas severinas, histórias marcadas Se já passou a Ditadura? Que nada! A repressão continua, a criminalização é crua Como quem queima a sede da UNE E faz de conta que não aconteceu nada Nós vamos cobrar a conta aqui onde o chicote estala Abre alas, abre alas
Caroline Anice
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Tempestade e Bonança Tempestade e bonança A esperança que nos persegue Anda cansada, vive sem fôlego Não está fácil ler as notícias Criar forças para uma palavra amiga, Mesmo também precisando Ver o descaso, a desumanidade... Ontem mesmo mataram uma mulher Antes de ontem uma travesti E anos atrás do índio Galdino era incendiado nas ruas de Brasília Hoje, a pobre Rosana Saiu para colher batatas, colheu 450kg e ganhou 80 reais Ainda amanhã, vão dizer Que os direitos humanos, são só para humanos direitos É por isso que a esperança anda cansada Por esses e por muitos outros motivos Sorte a nossa, que a danada da esperança É mais antiga do que nós e trás consigo a história do mundo Nos força a andar no caminho de nossos sonhos Afinal, viver é sonhar. Ao contrário disso Vira rotina, onde a esperança não faz morada Ainda ontem, vi um abraço de mãe cheio de amor Antes de ontem vi uma professora Que falava aos seus alunos sobre o quanto eram importantes E há 50 anos atrás vi a continuidade do que sou hoje Tempo bom, tempo ruim Amanhã vejo a desesperança se despedaçar Dando lugar ao sonho e a teimosa da esperança Tendo até tempo pra descansar Até os próximos tempos, que exigirão de nós E dela mesma...Muita esperança
100
Leonardo Niero
Geral Shiko
101
Estudante ĂŠ ResistĂŞncia
102
Gabriel Remus
Diego Ruas • Sofia Sousa • Alex Garcia • Mayra Ferreira • Mulleke • Sado Carolina Anice • Victória Guilherme • Agatha Azevedo • Patrícia Sousa • Bichartista Thiago Nascimento • Cínia Lazzaroto • Tay Vasconcelos • Taline Freitas • Andressa Alvarenga Luísa Ton • Júlia Louzada • Raíssa Almeida • Mateus Quevedo • Venício Montalvão La Cruz • Artur Colito • Thiago Nascimento • Danniel Prata • Karina Bispo • Gabriel Reis Wilcker Morais • Mara Farias • Bruna Weyll • Abraão Moura • Silvia Passos Matheus Alves • Jhuan de Britto • Coletivo Nacional de Agitprop • Lorena Carneiro Larissa Moura • Taline Dias • Daniel Bispo • Levante Manaus • Luisa Medeiros Thiago Almeida • Emilly Firmino • Gabriel Remus • Júnior Lima • Jessica Marroques Micaella Maria • Matheus Teixeira • Dahra Vaconcelos • Lucas Gertz • Caio Jardim Bixarte • Isa Gabriela • Péricles M. Moreira • Juliana Adriano • Amon Alves Nátaly Santiago • Tainara Santos • Ianna Alexandre • Joyce Marques • Guilherme Gandolfi Gabrielle Sodré • Arthur Carvalho • DeMerda • Leonardo Niero Convidados • Rafael Vilela • Leonardo Milano • Bia Ferreira • Shiko • Sergio Vaz Mel Duarte • Doralyce • MeiMei Bastos • Mídia Ninja
• Livre para Protestar • Livro para Protestar
FAZER POLÍTICA COM ARTE E CULTURA A sociedade brasileira está vivendo uma das piores crises estruturais de toda sua história. Uma crise que é fruto de suas raízes perversas, como os 400 anos de escravidão, e a total dependência de nossa economia ao capitalismo internacional, agora dominado pelo capital financeiro e pelas empresas transnacionais. Os movimentos populares e a esquerda em geral devem lutar todos os dias denunciando as mazelas do capitalismo e suas graves consequências, que só aumentam a desigualdade, e ao mesmo tempo propor alternativas para construção de uma sociedade igualitária. A questão fundamental no entanto é que para haver mudanças no país, e superarmos a atual crise, não basta termos propostas e programa. É necessário convencer as maiorias, as massas, o povão, aqueles que vivem unicamente do seu trabalho, os milhões que nem sequer podem trabalhar e os milhões de jovens brasileiros sem futuro! Então, nosso desafio é desenvolver novos métodos de pedagogia de massas que nossas propostas cheguem ao povão. A esquerda institucional e eleitoral ainda está presa a velhos métodos. O surgimento do LEVANTE POPULAR DA JUVENTUDE há poucos anos, e sua prática política com a juventude, com adoção de métodos inovadores, é uma grata surpresa para todos. Algumas dessas práticas agora estão condensadas neste livro. Espero que ele enseje a todos leitores e movimentos populares, dos vários setores sociais, uma reflexão sobre como construirmos novos métodos de pedagogia de massas, naquilo que podemos resumir como fazer política, educar o povo, com arte e cultura. Boa leitura e debate. João Pedro Stedile
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