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Imagens 17 e 18. Mapa da Barra do Pará, 1793

arruinado, foram destinadas “três canoas a pedra” para não serem levadas pelo rio, para ficarem ancoradas junto às suas ruínas para melhor guardar a entrada do rio. Esse improviso era até fazer uma fortificação melhor. O parecer foi dado pelo Coronel engenheiro José da Silva Paes, “dos melhores que há neste reino” que aprovara a obra.453

Em mapas posteriores da segunda metade do século XVIII, as ilhas na baía do Guajará seriam ainda mais utilizadas para defesa. Em um mapa de 1793, que retrata o mesmo local do mapa de 1724, aparece mais um ponto fortificado na Ilha de Periquitos próximo à Barra, como se vê a seguir.

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Imagens 17 e 18. Mapa da Barra do Pará, 1793454 – Identificação dos espaços fortificados455

453 Carta do governador João da Maia da Gama ao Rei. AHU, cx.8, D. 726. Sobre o Fortim da Ilha se tem notícias também em: Requerimento de Jose Sanches de Brito para o rei. 28 de setembro de 1706. AHU, Avulsos do Pará. Cx. 5, D. 422; Carta do ex-governador Manuel Rolim de

Moura ao rei. Lisboa 14 de dezembro de 1709. AHU, Avulsos do Pará, Cx. 5; D. 439. 454 “Mapa da Barra do Pará” 1793. Catálogo de Documentos Cartográficos de 1782-1944, Arquivo

Nacional. 455 Essa identificação foi feita pelo Grupo de Mineralogia e Geoquímica Aplicada do Museu de Geociência da Universidade Federal do Pará, encontra-se em: COSTA, Marcondes Lima da; SANTOS, Pabllo Henrique Costa dos. Relatório de Atividades do Museu de Geociências,

Universidade Federal do Pará – Instituto de Geociências/Museu de Geociências, 2016.

A partir das informações contidas no mapa de 1793 e dos dados identificados pelo Grupo de Mineralogia e Geoquímica Aplicada do Museu de Geociências da Universidade Federal do Pará, é possível afirmar que a defesa da cidade de Belém inclui uma análise de rios e as ilhas que estrategicamente foram incluídas nesse processo. Portanto, a lógica dos rios definiu a tessitura de fortificações no Grão-Pará. Como bem aponta Maia da Gama, em 1724, as plantas devem vir “com toda demonstração marcando até onde chegam as marés cheias e vazias para conforme isso se acomodar o terreno a obra de que necessitar, e isto deve ser feito por engenheiro e pessoa que entenda”. Razão pela qual afirmava estar o Pará sem engenheiro, assim também no Maranhão, devido ao fato de o tenente Custódio Pereira estar doente, e incapaz “de coisa alguma, nem para ver, nem para assistir, e nem para riscar”. 456

Portanto, o trabalho de engenharia de José Velho de Azevedo na capitania do Pará não se restringe ao período em que tinha com patente de engenheiro. Seu parecer técnico foi acionado enquanto atuava como capitão-mor do Pará e até pelo menos a vinda de Carlos Varjão Rolim para ocupar o posto de engenheiro na capitania. A longa experiência em serviços prestados foi herdada da

456 Idem.

família, assim como o talento para a engenharia. Velho de Azevedo era filho de Jerônimo Velho de Azevedo, que se dedicou à engenharia, foi ajudante das fortificações, capitão de infantaria e sargento-mor, atuou em desenhos das fortificações da Beira e de Trás-os-Montes.457

No Maranhão, Velho de Azevedo atuou em diversas frentes de defesa, realizando vistorias, plantas e propondo mudanças para melhor defesa do Estado. Todavia, a partir de 1716, quando recebeu a patente de capitão-mor do Pará, embora continuasse a desenvolver alguns trabalhos de fortificação, a capitania parece ter ficado em desamparo. A vinda de sucessor, com patente de engenheiro, demorou bastante para ser resolvida. Em carta de 13 de setembro de 1726, João da Maia da Gama queixava-se que todos os anos representava e pedia engenheiro, armas, munições e soldados, mas, até aquele momento, nenhuma resolução havia recebido, situação na sua interpretação o “desobrigava das consequências futuras”.458

No ano seguinte, em 1727, por carta patente, Carlos Varjão Rolim foi nomeado ao posto de sargento-mor de infantaria com exercício de engenheiro das fortificações do Estado do Maranhão. Varjão Rolim serviu de ajudante de infantaria auxiliar no terço da comarca de Santarém, professor de engenharia e doutrina militar de fortificação. A carreira contava com a aprovação do engenheiro-mor do reino, sobretudo nos conhecimentos matemáticos verificados na Academia militar da corte, exercitado em quase três anos em “tirar plantas e configuração destas cidades para a carta topográfica que delas se mandou fazer”.459 Seu nome foi consultado para o posto de capitão engenheiro das fortificações da Ilha da Madeira, não chegando exercer por ser destacado para esse ofício para Estado do Maranhão.460

Em 1728, já se tem notícia da atuação de Carlos Varjão Rolim, que viera para o Estado com o posto de sargento-mor de infantaria com o exercício de

457 SANTOS, Fabiano Vilaça dos. “Os capitães-mores do Pará (1707-1737): trajetórias, governo e dinâmica administrativa no Estado do Maranhão”, p. 670. 458 Carta do governador João da Maia da gama ao rei. Belém do Pará 13 de setembro de 1726. AHU,

Avulsos do Pará, Cx. 9; D.852. 459 Carta patente do rei D. João V, sobre a concessão de patente à Carlos Varjão Rolim, nomeado para o posto de sargento-mor de infantaria com exercício de engenheiro das fortificações do

Maranhão. Lisboa, 26 de abril de 1727. AHU, Avulsos do Maranhão, Cx.15, D. 1583. 460 Carta do governador João de Abreu de Castelo Branco ao rei. Belém do Pará, 3 de setembro de 1738. AHU, Avulsos do Pará, Cx.21, D. 1976.

engenheiro das fortificações, função vaga por vários anos. Nesse ano, após vistoria sobre o estado das fortificações do Estado, o engenheiro as descreve como arruinadas, a partir do que definiu ser necessário delinear desenhos para as que tivesse que fazer de novo, e aquelas que precisassem de reparos. O engenheiro solicitava assistência com as passagens para vistorias alegando que “seu soldo não podia com tanta despesa”. Além disso, pedia que se mandasse aos moradores que todas as vezes que o engenheiro precisasse passar a qualquer uma das capitanias para delinear fortificações ou para outra qualquer obra, dessem “ajuda de custo como também as canoas necessárias para as ditas passagens”.461

Em visita ao Cabo do Norte, em 1729, Carlos Varjão Rolim tinha por objetivo escolher um lugar “para nele se fazer um presídio com uma fortaleza para defesa daquela costa e impedir as repetidas entradas dos franceses de Caiena fazem naqueles sertões indo comerciar com os índios”. A rede de comércio no Cabo do Norte parece ter se mantido mesmo após o Tratado de Utrecht, de 1713. Conforme afirmava Rolim, esse comércio era praticado por muitas aldeias naqueles sertões pertencentes aos domínios de Portugal.462

O lugar mais conveniente assinalado pelo engenheiro “foi junto a um rio chamado Oriju seis léguas adiante de Macapá e sessenta léguas distante do rio de Vicente Pinzón onde terminam os domínios de V.M. com os da França”. O problema devia-se ao terreno daquela costa ser “alagadiça”, não havendo lugar para fortaleza mais próximo ao presídio de Vicente Pinzón.463

Com a constituição de uma fortaleza no local, se evitaria a “despesa que a real fazenda de V.M. faz todos os anos de dois mil cruzados em reparar uma canoa de guarda costa”. Diligência que, para o engenheiro, se podia fazer do mesmo “presídio com os mesmos soldados e índios que nele assistirem sem nenhuma despesa”. Dessa forma, se poderia impedir o contínuo comércio que os franceses tinham com aqueles índios. De acordo com Rolim, “a obra não é de grande custo e será este ainda muito menor se se fizer primeiro um descimento de índios para se aldearem naquelas terras” e, também para “servirem no trabalho da mesma fortaleza, sem que sejam necessários tirá-los das aldeias

461 Carta do governador Alexandre de Sousa Freire ao rei. Belém do Pará 16 de setembro de 1728.

AHU, Avulsos do Pará, Cx. 11, D.978. 462 Carta do governador Alexandre de Sousa Freire ao rei.

São Luís do Maranhão, 21 de junho de 1730. AHU, Avulsos do Pará, cx.12, D.1121. 463 Carta do sargento-mor engenheiro das fortificações Carlos Varjão Rolim para o Rei. Belém do

Pará, 29 de setembro de 1729. AHU, Avulsos do Pará, Cx. 11, D. 1034.

que estão destinados para as canoas do sertão e serviço de moradores desta cidade”.464

Além das observações no Cabo do Norte, Varjão Rolim descreveu as péssimas condições da fortaleza da Barra, do Gurupá, do Tapajós, dos Pauxis e do Rio Negro. Dentre os problemas, estavam a ausência de “quartéis ou casas em que se recolham o cabo e soldados que ali assistem de guarnição” e problemas com as chuvas frequentes que demoliam com facilidade o reboco das suas muralhas e as estruturas defensivas. Além disso, a significativa falta de soldados “para o serviço ordinário de escoltas, e outras operações precisas”, sobretudo para diligências nas fronteiras e de guerra.465

A precariedade da infraestrutura de defesa descrita pelo engenheiro foi o motivo para que, em 1731, passasse ao Pará onde mais se necessitava de sua assistência.466 Nesse exercício, atuou no Cabo do Norte, no presídio de Santa Ana em Macapá, onde passou um mês. No mesmo ano, visitou as fortificações do rio Amazonas, Rio Negro, para examinar as que precisavam de conserto. Foi em uma tropa de guerra a mando do governador José da Serra para “desinfestar os mares da Costa do Norte”, fazendo frente a um navio holandês que estava no rio Amazonas, entre Araguari e Macapá. Estes foram os serviços citados em documento de 1738, em que requeria provimento no posto de tenente-general da artilharia com exercício de engenheiro das fortificações da capitania do Pará.467 Ao que parece, o engenheiro permaneceu com a patente antiga, pois em carta de 1747 o governador refere-se a ele como sargento-mor engenheiro.

As obras dos engenheiros poderiam ser bem mais complexas. Carlos Varjão Rolim foi autor de um projeto ambicioso que previa a abertura de um canal no Maranhão para facilitar entrada em São Luís das canoas que vinham do rio Mearim, Iguará e Itapecuru. A logística das rotas de comércio seria facilitada com a abertura, pois livraria o trajeto pelo Boqueirão local, que de acordo com os relatos causava muitos naufrágios.

464 Idem. Sobre essa questão ver ainda: Carta do governador Alexandre de Sousa Freire para o rei.

Belém do Pará, 5 de outubro de 1729. AHU, Avulsos do Pará, Cx. 11, D. 1057. 465 Carta do governador Francisco Pedro de Mendonça Gurjão para o rei. Pará 29 de outubro de 1747. AHU, Avulsos Pará, caixa 29, doc. 2804. 466 Carta do governador Alexandre de Sousa Freire ao rei. Belém do Pará 11 de agosto de 1731.

AHU, Cx.13, D. 1185. 467 Idem.

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