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Imagem 20. Mapa da Aldeia Majuri, 1728
Imagem 20. Mapa da Aldeia Majuri, 1728
Fonte: “Mapa da aldeia do Principal Majuri”. AHU, CARTm- 20, D. 0773.
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De acordo com o documento explicativo do mapa, a aldeia dos Mayapena constituía-se de um grande povoamento formado por várias aldeias vizinhas, grande parte aliadas do Principal Majuri. Um forte sistema defensivo de “dobrada fortificação”, formado por pedras, indicado na imagem pelo numeral 3 (três), conectadas por guaritas indicadas pelo numeral 1 (um), e resistentes cercas de madeiras “tão fortes que combatidos com balas de artilharia não pode abrir brecha”.717
A estratégia diferente da usada para combater os Manao que foram tomados por assalto (tática nativa de guerra), no caso da aldeia dos Mayapena, a estratégia foi o sítio ou cerco. Trata-se de uma tática de guerra usada na
717 “Escrito da explicação do mapa da tomada da aldeia do Principal Majuri”. 6 de julho de 1728.
AHU, Avulsos do Rio Negro, Cx. 1, D. 1.
Europa, conhecida desde antiguidade, sobretudo na época medieval. Os castelos amuralhados eram mantidos em sítio até se exaurir os recursos de água e alimentos, ocasião propícia ao ataque do oponente. Essa parece ter sido a estratégia contra os Mayapena. Consta que a tropa de João Pais do Amaral chegou à aldeia desses índios e logo os colocou em estado de sítio que durou doze dias, sendo obrigado “os defensores a sair dela por lhe faltar água, lá dentro na Aldeia”. Essa foi a ocasião do ataque que com “armas de fogo e zagaias” se matou um grande número de gentio desertando a maior parte”, principalmente pela atuação na guerra do Principal Cabacabary.718
O documento apresenta mais detalhes da estratégia do cerco. As letras que aparecem no mapa, indicadas pelos círculos, correspondem à seguinte descrição: • na letra A, “ocupava o ajudante Tomas Teixeira “com alguma infantaria guarnecendo a cortina que ficava no caminho que desce ao rio da água de beber”; • a letra B “mostra a parte do Rio Negro”; • na letra C, “guarnecia o soldado Narciso de Souza e seus companheiros”; • na letra D, guarnecia o alferes Manoel da Cunha o “caminho do porto”; • na letra E, guarnecia o soldado Baltasar Soares com seus companheiros; • na letra F, estava o alferes Angélico Ribeiro com sua campanha; • na letra G, se pôs o soldado Júlio de Seixas e alguns soldados; • e na letra H, estava o Principal Cabacabary.
O desenho dessa estratégia reafirma o argumento que tenho levantado ao longo desta obra, os indígenas aliados participaram ativamente das atividades militares. Aparecem como parte integrante desse processo. A ausência da tropa auxiliar tornava essa presença imprescindível. Ora, basta verificar que para essa guerra a força disponível foi a tropa regular e a força indígena, não havendo em nenhuma correspondência trocada entre militares, governadores e Coroa qualquer referência a uma força intermediária (companhia auxiliar).
718 Idem.
Isso é evidente nos dois reforços solicitados pelo capitão João Pais do Amaral, em que ele pede índios guerreiros. Aqui, na estratégia do cerco, o principal Cabacabary é posto ao lado dos militares, ocupando inclusive um papel fundamental na definição do conflito. Consta na descrição da tática de guerra que este pelejou “abrindo brecha na trincheira” do sistema defensivo dos Mayapena, o que possibilitou a entrada dos militares lusos, agindo “com o valor conhecido, causando inveja aos valorosos soldados”.719
Portanto, o avanço da fronteira colonial para Noroeste, a partir da conquista do Rio Negro, com uma força formada por 50 ou 60 militares pagos, 600 índios de guerra, com pedido de auxílio de mais 800, caracteriza uma guerra luso-indígena. Essa composição se justifica em grande parte pela força adversária. Uma força como a constituída pela frente Manao-Mayapena não seria possível vencer sem o auxílio da gente nativa porque era destes a arte militar capaz, combinada com a experiência do oficialato experimentado, e o recurso a diversas armas como armas de fogo, arco e flecha, azagaias, além de táticas indígenas e europeias, que bem representam essa heterogeneidade de se fazer a guerra.
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A presença indígena nas atividades militares, na primeira metade do século XVIII, pode ainda ser observada em outros momentos, como por exemplo, na expansão da fronteira do Rio Tocantins a partir de Tropa de descobrimento de minas de ouro do Tocantins (1727) e da Tropa de Guerra do Tocantins (1730). Pelos limites deste estudo, não será possível analisar mais essa frente de expansão.
Todavia, é importante destacar a atuação dos Tupinambá, Maracanã e da nação Aroaguini Nhengatê liderados pelo principal José Aranha, para o qual recomendava-se “ir com algum título ou posto de governador de sua gente, pois assim se animará de melhor vontade praticar e fazer pazes com os gentios”. Conforme explicava o militar, esse auxílio indígena era necessário “para a boa direção do descobrimento de ouro dos Tocantins, o que de outra sorte
719 Idem.