Resistir, (Re)existir e Reinventar II - Capítulo 3

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DOI: doi.org/10.29327/565971.1-3

O povo Xetá e as múltiplas influências da humanidade na natureza: reflexões a partir de uma mostra científica multidisciplinar Xetá people and the multiple influences of humanity on nature: reflections from a multidisciplinary scientific fair Victor Augusto Bianchetti Rodrigues1 Danielle Hiromi Nakagawa2 Lisandra Maria Kovaliczn Nadal3 1 Doutorando em Educação Científica e Tecnológica pela Universidade Federal de Santa Catarina. Licenciado em Química e Mestre em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais. Professor efetivo do Instituto Federal de Santa Catarina, Criciúma, Santa Catarina, Brasil, atuando nos cursos de Licenciatura em Química, Engenharia Mecatrônica, Técnico em Química e Técnico em Meio Ambiente. Foi organizador da Mostra Xetá e contribuiu na escrita deste texto. E-mail: victor.bianchetti@ifsc.edu.br / ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4144-206X. 2 Mestre em Engenharia Ambiental, Instituto Federal do Paraná, Jaguariaíva, Paraná, Brasil. Foi uma das organizadoras da Mostra Xetá e contribuiu na escrita deste texto. E-mail: danielle.nakagawa@ifpr.edu.br / ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9540-2007. 3 Graduada em Biblioteconomia (Claretiano) com especialização em Gerenciamento de Projetos (FGV). Auxiliar de biblioteca efetiva do Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Jaguariaíva, Paraná, Brasil. Foi uma das organizadoras da Mostra Xetá e contribuiu na escrita deste texto. E-mail: lisandra.nadal@ifpr.edu.br / ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1512-0745. Resumo: Este trabalho tem como objetivo relatar a experiência do desenvolvimento de uma Mostra Científica Multidisciplinar realizada no Instituto Federal do Paraná - campus Jaguariaíva. O evento, intitulado Xetá: refletindo sobre as múltiplas influências do ser humano no meio ambiente, fez referência ao povo indígena Xetá, que viveu nas terras onde hoje se delimita o estado do Paraná e que foi praticamente dizimado. Nesse sentido, a Mostra buscou evidenciar a história desses sujeitos, destacando a relação benéfica do grupo indígena com a natureza. Tradicionalmente, associamos a ação humana a problemas ambientais, como aquecimento global, chuva ácida, descarte de resíduos, entre outros. Entretanto, essa associação é fruto de uma visão antropocêntrica e silencia a ação de grupos sociais que realmente estão comprometidos com o estabelecimento de relações harmônicas com a natureza, como os povos indígenas. Durante o evento, buscamos refletir sobre essas múltiplas ações humanas no contexto do campus, com foco no estudo sobre a Floresta Nacional (FLONA) de Piraí do Sul


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- uma unidade de conservação sob responsabilidade do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, localizada em um município vizinho ao campus Jaguariaíva (Piraí do Sul/ PR). Foram abordados diversos temas, como: plantas nativas e invasoras; mata ciliar; qualidade da água; constelações indígenas; a história dos Xetá; Meio-Ambiente e Direitos Humanos; entre outros. Parte das produções dos estudantes constituem hoje uma sala temática na sede da FLONA, nomeada de Sala Xetá. Além disso, é possível consultar algumas das produções dos/das estudantes em sites criados por elas/eles. Acreditamos que, a partir das atividades desenvolvidas no evento, foi possível denunciar algumas formas destrutivas de ser e estar no mundo, bem como anunciar formas coerentes com o desejo de preservar a natureza. Palavras-chave: Educação ambiental. Xetá. Mostra Científica.

Introdução

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ENTRE os diversos compromissos da educação básica brasileira, se encontra a obrigatoriedade de abordar conteúdos relacionados à história afro-brasileira e indígena. Essa obrigatoriedade tem origem na Lei Federal nº 11.645, sancionada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 10 de março de 2008. A Lei 11.645/2008 é uma importante conquista da luta de movimentos indígenas e indigenistas, mas ela, por si só, não garante o desenvolvimento das ações transversais de ensino que englobam a temática indígena (SILVA; COSTA, 2018). Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo principal relatar uma experiência desenvolvida no campus Jaguariaíva do Instituto Federal do Paraná (IFPR). Esperamos que o relato dessa experiência possa inspirar profissionais da educação no desenvolvimento de ações de valorização da cultura e história indígenas, de maneira a implementar o que está previsto em lei no território brasileiro, indo além de atividades estereotipadoras e pontuais, no dia 19 de abril. Sendo assim, relatamos alguns aspectos da II Mostra Científica Multidisciplinar do IFPR – campus Jaguariaíva, intitulada Xetá: refletindo sobre as múltiplas influências do ser humano no meio ambiente, ocorrida em junho de 2019. O título do evento faz referência ao povo indígena


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Xetá, com o objetivo de resgatar e valorizar a história desse povo que viveu no Paraná. Ademais, o título do evento propõe uma reflexão sobre as influências antrópicas no meio ambiente. Tradicionalmente, quando a interação da humanidade com a natureza é pautada, se reproduz o pensamento da racionalidade instrumental ocidental, em que a natureza é capitalizada e vista como fonte de recursos para atender às demandas da sociedade capitalista (LEFF, 2012, 2015). Entretanto, ao considerar somente essa perspectiva, silenciamos a ação de outros atores sociais, como os povos indígenas. No Brasil, há mais de 250 etnias indígenas com especificidades culturais, como línguas – são falados mais de 150 dialetos e línguas indígenas no Brasil – e costumes. Entretanto, os diferentes povos indígenas se assemelham em alguns pontos, como a relação com o território que ocupam e a luta pelo direito de manter essa relação (KRENAK, 2019). Uma relação respeitosa, que valoriza tudo o que compõe o território. Seja vivo ou não vivo, material ou espiritual, os elementos que constituem os territórios indígenas são valorizados e preservados (BAPTISTA; BENITES; SÁNCHEZ, 2018). Em contrapartida, a racionalidade instrumental ocidental busca estratégias para exploração e capitalização da natureza, causando diversos problemas socioambientais, como: desmatamento, aquecimento global, chuva ácida, eutrofização, comprometimento da qualidade da água de recursos hídricos, produção excessiva de lixo, entre outros (LEFF, 2015). Sobre a relação entre a perspectiva hegemônica ocidental e a indígena, Ailton Krenak – liderança do povo Krenak – alerta: O que está na base da história do nosso país, que continua a ser incapaz de acolher os seus habitantes originais – sempre recorrendo a práticas desumanas para promover mudanças em formas de vida que essas populações conseguiram manter por muito tempo, mesmo sob o ataque feroz das forças coloniais, que até hoje sobrevivem na mentalidade cotidiana de muitos brasileiros –, é a ideia

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de que os índios deveriam estar contribuindo para o sucesso de um projeto de exaustão da natureza. (KRENAK, 2019, p. 41).

O trecho anterior, retirado do livro Ideias para adiar o fim do mundo, explicita a relação conflituosa entre a mentalidade ocidental e a indígena. Enquanto a primeira opera pela exploração, a última luta pelo direito de cuidar de seus territórios. Considerando esse contexto de múltiplas possibilidades de interação com o meio-ambiente, foi idealizado e realizado o evento que descrevemos a seguir.

Mostra Científica Multidisciplinar como espaço de denúncias e anúncios A ideia para o desenvolvimento da Mostra Científica Multidisciplinar (MCM) surgiu de uma aproximação do IFPR – campus Jaguariaíva com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), no âmbito da unidade de conservação da Floresta Nacional (FLONA), em Piraí do Sul. No ano de 2019, foi realizada a 5ª Caminhada Internacional na Natureza na FLONA e foi solicitado ao IFPR que desenvolvesse alguma ação de educação ambiental durante o evento. Diante da solicitação, surgiu a ideia da comunidade escolar do IFPR – campus Jaguariaíva, idealizar e produzir alguns expositores didáticos sobre educação ambiental para compor uma sala na sede da FLONA. Partindo dessa ideia, foi iniciado um movimento de refletir sobre as ações antrópicas no ambiente, sobretudo no contexto da FLONA, para inspirar a produção de expositores semelhantes aos que encontramos em museus de divulgação científica. À medida em que os autores deste capítulo conduziram as atividades de produção dos expositores, foi identificado o envolvimento da comunidade escolar e a demanda de aprofundamento do debate sobre as relações entre a humanidade e o meio-ambiente. Nesse contexto, foi


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decidido que o projeto inicial de produção de expositores seria ampliado, para um evento voltado à comunidade interna e externa do campus Jaguariaíva, do IFPR. Sendo assim, as autoras e o autor deste capítulo tomaram frente na organização da segunda edição da MCM e propuseram a temática ambiental como foco do evento. Após um momento de orientação e debates sobre a dinâmica do evento, os estudantes, que já estavam envolvidos na produção dos expositores, se organizaram e intitularam a II MCM de Xetá: refletindo sobre as múltiplas influências do ser humano no meio ambiente. O processo de preparação para o evento levou cerca de 3 meses e envolveu as turmas de Ensino Médio Integrado aos cursos técnicos de Alimentos e Biotecnologia, assim como os acadêmicos do curso superior de Tecnologia em Gestão da Qualidade, totalizando a participação de cerca de 240 estudantes. Ademais, o desenvolvimento das atividades relacionadas ao evento contou com a participação de docentes de diferentes áreas do conhecimento e de servidores técnicos administrativos em educação. O resultado das atividades preparadas ao longo do primeiro semestre de 2019 foram apresentados na II MCM no dia 13 de junho daquele ano, em um evento aberto à comunidade externa. Além dos estudantes e servidores do IFPR – campus Jaguariaíva, o evento contou com a participação de representantes de outras instituições, como: a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG); o campus Campo Largo do IFPR; o ICMBio, a prefeitura de Jaguariaíva e o projeto Aves de Jaguariaíva. Durante o evento, foram realizadas diversas atividades, como: salas temáticas, sala de expositores de educação ambiental, palestras e apresentação cultural. A seguir, apresentamos breve descrição de cada uma dessas atividades.

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A construção de expositores para denunciar problemas ambientais da Flona Com o intuito de denunciar as consequências das influências de parte da humanidade no ambiente, os estudantes do 2º e do 3º anos, do ensino médio integrado ao curso técnico em Biotecnologia desenvolveram expositores com as seguintes temáticas: chuva ácida; preservação da fauna e flora; aquecimento global; camada de ozônio; descarte de resíduos; importância da mata ciliar; eutrofização; qualidade da água; plantas nativas e invasoras. Além dos expositores que atualmente compõem a Sala Xetá, na sede da FLONA, de Piraí do Sul/PR, os estudantes produziram sites de maneira a complementar as informações dos expositores. A Figura 1 representa uma escultura em madeira produzida pela estudante/artista Verônika Oliveira. Com o intuito de contextualizar os visitantes da sala Xetá quanto à história desse povo, há um texto explicativo ao lado da placa que está na entrada da sala Xetá, na sede FLONA, de Piraí do Sul/ PR. Figura 1. Escultura/ Placa de entrada da sala Xetá

Fonte: Repositório do Projeto de Memórias Institucionais do IFPR – campus Jaguariaíva


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Os visitantes da II MCM puderam interagir com os expositores produzidos pelos estudantes. A partir dessa interação, era possível perceber alguns dos impactos causados por ações de controle e exploração da natureza, desempenhado por parte da humanidade. Essas ações partem de uma perspectiva antropocêntrica, onde a humanidade se vê como o centro do mundo e enxerga a natureza como uma fonte de recursos, para atender as demandas do sistema produtivo vigente (SOLER; DIAS; VERÁS NETO, 2013). Como exemplo, apresentamos, na Figura 2, o expositor sobre o fenômeno de eutrofização. Os estudantes foram orientados a reaproveitar materiais para a construção dos expositores. Todos os expositores passaram por uma “auditoria de sustentabilidade”, realizada pelos acadêmicos do curso superior de Tecnologia em Gestão da Qualidade. Figura 2. Expositor sobre eutrofização

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As salas temáticas como espaços de anúncios Os visitantes da II MCM interagiram com espaços temáticos que tinham como objetivo apresentar para a comunidade do campus Jaguariaíva outras formas de ser e estar no mundo, valorizando relações mais harmônicas com a natureza. Nesse sentido, foram idealizados e construídos dois espaços sobre o povo Xetá, uma sala sobre Direitos Humanos e Meio Ambiente; uma sala sobre o aproveitamento de resíduos alimentícios; uma sala sobre constelações indígenas; e uma sala sobre fósseis. Nas salas sobre o povo Xetá, foram abordadas questões históricas e culturais. O grupo indígena Xetá habitou o noroeste paranaense, e suas aldeias se localizavam às margens do rio Ivaí, na região da Serra dos Dourados. Após a década de 1940, com a expansão da cafeicultura, o povo Xetá foi praticamente dizimado e teve suas terras invadidas pela indústria agrícola. Após o etnocídio, poucos sobreviveram e a etnia Xetá alcançou a lamentável marca de apenas vinte remanescentes nos anos 2000 (ANDERSON, 2017; COFFACI; LIMA; PACHECO, 2017; HELM, 1993; LIMA, 2018). Considerando o histórico do povo Xetá, os estudantes do campus Jaguariaíva, sob orientação do professor de História, denunciaram o genocídio sofrido e anunciaram características da vida nas aldeias que promoviam relações com a natureza muito mais harmônicas do que as monoculturas de café que tomaram a região. Essas relações se opõem ao antropocentrismo da modernidade, ao passo que a humanidade deixa de ser dominadora da natureza e passa a integrá-la como mais um elemento diante de tantos outros. Esse pensamento vai ao encontro do conceito de Bem Viver, que se apresenta como uma possibilidade de luta contra as estruturas colonizadoras que, historicamente, dizimaram e continuam dizimando povos de diversas etnias indígenas, no território sul-americano (NUNES; GIRALDI; CASSIANI, 2021; QUIJANO, 2014).


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Além de apresentações orais, os estudantes também realizaram a exibição do documentário Xetá, produzido por Andrea Tomeleri e Nelson Settanni. Ademais, no sentido de valorizar conhecimentos de outras etnias indígenas, foram elaboradas uma sala ambiente sobre constelações indígenas e outra sobre fósseis, destacando as contribuições dos povos nativos para o desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia. Já a sala de aproveitamento de resíduos alimentícios foi elaborada pelos estudantes do ensino médio integrado ao curso técnico em Alimentos. Nesse espaço, os discentes compartilharam maneiras de aproveitar partes dos alimentos que normalmente são descartadas. Nesse sentido, foi possível estabelecer reflexões sobre ações que caminham no sentido de combater o desperdício de alimentos, a fome e a desigualdade social e de promover a nutrição e a segurança alimentar. A última sala temática, intitulada “Direitos Humanos e Meio Ambiente”, apresentou trabalhos sobre as condições civis, políticas, econômicas, sociais e culturais para o exercício da humanidade e a relação dessas condições com o meio-ambiente. Como foco de estudo, os discentes destacaram o crime ambiental cometido por mineradoras em Minas Gerais, como no caso do rompimento das barragens da Samarco em Mariana e da Vale em Brumadinho. Nesse sentido, foram discutidos os impactos da visão antropocêntrica de controle da natureza na sociedade contemporânea, sobretudo no cerceamento dos direitos humanos de uma parcela da sociedade brasileira.

Palestras como instrumento de fundamentação para a Educação Ambiental Além dos trabalhos desenvolvidos pelos estudantes, foram convidados alguns atores sociais envolvidos com a temática do evento, com o intuito de aprofundar o debate sobre as possíveis influências da humanidade na natureza. As palestras possibilitaram a percepção de que,

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em oposição ao movimento de exploração, a humanidade pode estabelecer relações mais harmônicas com a natureza. A primeira palestra foi proferida pelo professor, pesquisador e palestrante Harisson Luiz Pires Pereira, idealizador do projeto Aves de Jaguariaíva31. Harisson apresentou a palestra intitulada “A importância dos remanescentes naturais e as interações antrópicas”, e destacou a importância do projeto Aves de Jaguariaíva, que tem como objetivo a preservação da biodiversidade do município de Jaguariaíva e região, por meio de ações de educação ambiental, dentre outras estratégias. A segunda palestra foi proferida pelo professor Fábio Lucas da Cruz e pela discente Mylena Beatriz de Paula, ambos do IFPR – campus Campo Largo. Intitulada “Cultura e história Xetá: tradições e resistências”, a apresentação abordou um resgate histórico de questões indígenas no estado do Paraná, com foco na trajetória e nos saberes do povo Xetá. A terceira palestra abordou o Programa Feira Verde da prefeitura municipal de Jaguariaíva. A palestrante Marcela Bertoni de Carvalho, representante da Secretaria de Desenvolvimento Social, da Prefeitura Municipal de Jaguariaíva, explicou a dinâmica do programa, que realiza a troca de material reciclável por frutas, verduras e legumes oriundos de produtores locais. Foram apresentados dados referentes à quantidade de material arrecadado, bem como de alimentos entregues para a população. Além de estimular a reciclagem de materiais, o programa contribui para a diminuição da fome no município e estimula cooperativas de produtores locais. Por fim, recebemos a professora Jézili Dias, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), que proferiu a palestra “Conservação e restauração na FLONA de Piraí do Sul”. Jézili destacou a importância das ações do ICMBio no contexto da FLONA de Piraí do Sul, ressaltando os êxitos e as dificuldades encontradas no processo de preservação ambiental. Mais informações podem ser consultadas na página do projeto Aves de Jaguariaíva na internet: https://www.avesdejaguariaiva.com.br/ 31


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Conforme apresentamos na Figura 3, a comunidade escolar do IFPR – campus Jaguariaíva participou em grande número das palestras do evento. Ao final de cada fala, houve espaço para debates e perguntas dos estudantes, que tiveram a oportunidade de aprofundar o conhecimento sobre educação ambiental, a partir da interlocução com especialistas. Figura 3. Audiência durante as palestras da II MCM

Fonte: Repositório do Projeto de Memórias Institucionais do IFPR – campus Jaguariaíva

Apresentação Cultural: XETÁ: Existência, Resistência, [Reticências] A performance cultural da II MCM apresentou o corpo que questiona o mundo que nos cerca. Utilizando serragem, areia, lona e bacias, e ao som de tambores, as artistas se expressaram por meio de movimentos com o objetivo de revelar o sentimento de respeito e de reconhecimento da identidade cultural presente no povo indígena Xetá, que sofreu com os impactos das ações colonizadoras sobre terras paranaenses. A idealizadora da apresentação artística, a professora Cely Kaori Hirata, escreveu como sinopse sobre a apresentação: E se fosse com você? E se fosse comigo? Se somos todos seres humanos, o problema é conosco. Com que direito alguém se apropria de minha casa, de minha cultura, de minha identidade… de mim?

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Com que direito alguém me arranca, ainda criança, dos braços de minha mãe levandome para longe de nossa ancestralidade? Com que direito, Humano?

Assim, a escolha do título Xetá: Existência, Resistência, [Reticências], com a palavra “reticências” em destaque, desafia-nos a uma reflexão sobre o futuro dos povos, que até hoje lutam por direitos que são seus. A Figura 4 é um registro da apresentação cultural que contou com os olhares atentos da comunidade escolar. Figura 4. Apresentação Cultural

Fonte: Repositório do Projeto de Memórias Institucionais do IFPR – campus Jaguariaíva


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Considerações Finais A segunda edição da Mostra Científica Multidisciplinar possibilitou a percepção de que podemos estabelecer relações mais harmônicas com o Meio Ambiente. Acreditamos que eventos como este podem produzir conhecimentos que têm potencial para transformar a trajetória de cada uma e cada um dos estudantes, e, consequentemente, transformar também a sociedade. O modelo econômico vigente impõe uma lógica de exploração da natureza, gerando relações destrutivas da humanidade em relação ao ambiente. Essa perspectiva antropocêntrica silencia, não por acaso, outras formas de ser e estar no mundo. O resgate e a valorização da história e dos saberes de etnias indígenas, como o povo Xetá, pode contribuir com um movimento de subversão das estruturas opressoras vigentes, anunciando formas alternativas e harmônicas de estabelecer relações entre a humanidade e a natureza. Nesse sentido, a realização da MCM está de acordo com uma perspectiva emancipatória da educação escolar, já que foram articulados práticas e conhecimentos com potencial de gerar diagnósticos e intervenções na realidade da comunidade do IFPR - campus Jaguariaíva. Sendo assim, a participação dos estudantes nas atividades da MCM pode ter contribuído na elaboração de repertórios necessários à transformação da sociedade, de modo a possibilitar uma formação escolar que prioriza a justiça social e ambiental.

Referências ANDERSON, G. Os Xetá. Círculo de Estudos Bandeirantes, v. 29, n. 0, 2017. p. 73–75. BAPTISTA, C. DOS S.; BENITES, S.; SÁNCHEZ, C. Diálogos interculturais com a Comunidade Guarani Mbyá: A relação com a terra e territorialidade como temas geradores de educação ambiental e ensino de ciências. In: KASSIADOU, A. et al. (Eds.). Educação Ambiental desde El Sur. Macaé: Editora NUPEM, 2018.

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COFFACI, E.; LIMA, D.; PACHECO, R. Povos Indígenas e Justiça de Transição : reflexões a partir do caso Xetá. ARACÊ - Direitos Humanos em Revista, v. 4, n. 5, 2017. p. 219–241. HELM, C. M. V. Os Xetá: a trajetória de um grupo tupi-guarani em extinção no Paraná. Anuário Antropológico, v. 17, n. 1, 1993. p. 105–102. KRENAK, A. Ideias para adiar o fim do mundo. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. LEFF, E. Aventuras da epistemologia ambiental: da articulação das ciências ao diálogo de saberes. 1. ed. São Paulo: Cortez, 2012. LEFF, E. Saber Ambiental. Sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. 11. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015. LIMA, E. C. DE. De documentos etnográficos a documentos históricos: a segunda vida dos registros sobre os Xetá (Paraná, Brasil). Sociologia e Antropologia, v. 8, n. 2, 2018. p. 571–597. NUNES, P.; GIRALDI, P.; CASSIANI, S. Decolonialidade na educação em ciências: o conceito de bem viver como uma pedagogia decolonial. Rev. Interdisc. Sulear, n. 9, 2021. p. 199–219. QUIJANO, A. Bienvivir: entre el desarrollo y la des/colonialidad del poder. In: QUIJANO, A. (Ed.). Des/colonialidad y bien vivir: Un nuevo debate en América Latina. [s.l.]: Universidad Ricardo Palma, 2014. SILVA, G. J. da; COSTA, A. M. R. F. M. da. Histórias e culturas indígenas na educação básica. Belo Horizonte: Autêntica, 2018. SOLER, A. C. P.; DIAS, E. A.; VERÁS NETO, F. Q. Breves comentários sobre marxismo e antropocentrismo em ecologia política. In: VERÁS NETO, F. Q.; SARAIVA, B. C. (Eds.). Temas Atuais de Direito Ambiental, Ecologia Política e Direitos Humanos. Rio Grande: Editora da Furg, 2013.


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