manobras de Corda.pdf
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Índice Geral Sobre o Autor............................................................................................................... VII Agradecimentos........................................................................................................... VIII Prefácio (1)................................................................................................................... IX Prefácio (2)................................................................................................................... XI
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Capítulo 1 – Manobras de Corda na Animação Desportiva e Turística................ 1 1.1 Desportos e Atividades com Manobras de Corda................................................ 1 1.2 Percursos de Aventura em Altura e Arborismo.................................................... 2 1.2.1 Evolução da Atividade............................................................................. 2 1.2.2 Terminologia e Conceitos......................................................................... 4 1.2.3 Percursos em Altura.................................................................................. 5 1.2.4 Arborismo................................................................................................. 7 1.2.5 Parques de Aventura sem Recurso a Técnicas de Segurança Individualizada.......................................................................................... 8 1.2.6 Escalada em Árvores................................................................................ 9 1.3 Segurança e Gestão do Risco............................................................................... 11 1.3.1 Procedimentos Gerais de Segurança.......................................................... 11 1.3.2 Segurança Antiqueda................................................................................ 13 1.4 Legislação e Normas................................................................................................ 16 1.4.1 Enquadramento Legal das Atividades de Animação Turística................. 16 1.4.2 Equipamentos........................................................................................... 18 1.4.3 Instalações Temporárias e Permanentes..................................................... 18 1.4.4 Enquadramento das Atividades................................................................ 19 1.5 Formação e Certificação de Técnicos.................................................................. 19 1.6 Sustentabilidade e Prática Responsável das Atividades...................................... 22 Capítulo 2 – Forças Aplicadas e Resistência............................................................. 27 2.1 Conceitos e Noções Básicas................................................................................ 27 2.2 Segurança das Instalações................................................................................... 30 2.2.1 Soluções para Aumentar a Segurança e Fiabilidade dos Sistemas........... 30 2.2.2 Resistência Global da Instalação.............................................................. 33 2.3 Resistência dos Equipamentos............................................................................. 35 2.4 Forças Aplicadas.................................................................................................. 35 2.4.1 Distribuição de Forças nas Amarrações.......................................................... 35 2.4.2 Força de Tração.................................................................................................... 36 III
Turismo e Desporto de Aventura – Atividades com Manobras de Corda
2.4.3 2.4.4 2.4.5 2.4.6 2.4.7 2.4.8
Reenvio de Forças.................................................................................... 37 Desvio de Forças...................................................................................... 38 Força Sobre Cordas Tensionadas............................................................. 39 Força de Choque e Fator de Queda.......................................................... 40 Vantagem Mecânica................................................................................. 43 Alavancas e Redirecionamento de Forças................................................ 46
Capítulo 3 – Equipamento......................................................................................... 49 3.1 Considerações Gerais.......................................................................................... 49 3.2 Certificação do Equipamento de Proteção Individual......................................... 50 3.3 Equipamentos para Manobras de Corda.............................................................. 53 3.3.1 Corda........................................................................................................ 53 3.3.2 Fitas e Anéis............................................................................................. 58 3.3.4 Arnês........................................................................................................ 60 3.3.5 Mosquetões............................................................................................... 61 3.3.6 Descensores e Asseguradores................................................................... 63 3.3.7 Roldanas................................................................................................... 65 3.3.8 Bloqueadores............................................................................................ 67 3.3.9 Capacete................................................................................................... 68 3.3.10 Acessórios e Outros Equipamentos.......................................................... 69 3.4 Cabos de Aço e Equipamentos Associados......................................................... 70 3.4.1 Cabos de Aço............................................................................................ 70 3.4.2 Equipamentos de Tração.......................................................................... 74 3.4.3 Acessórios para Trabalhar com Guinchos e Cabos de Aço...................... 75 3.5 Gestão do Equipamento....................................................................................... 81 3.5.1 Controlo do Equipamento........................................................................ 81 3.5.2 Manutenção e Lavagem do Equipamento................................................ 82 3.5.3 Gestão e Manutenção dos Cabos de Aço................................................. 84 Capítulo 4 – Sistemas de Amarração........................................................................... 87 4.1 Introdução................................................................................................................ 87 4.2 Nós fundamentais........................................................................................................ 87 4.2.1 Principais Tipos de Nós............................................................................ 87 4.2.2 Nós de Amarração........................................................................................... 89 4.2.3 Nós de União............................................................................................ 92 4.2.4 Nós Autobloqueantes................................................................................ 93 4.2.5 Nós de Bloqueio ou de Fecho........................................................................... 96 4.2.6 Outros Nós................................................................................................ 98 4.3 Ancoragens.......................................................................................................... 99 IV
Índice Geral
4.3.1 Tipos de Ancoragens................................................................................ 99 4.3.2 Ancoragens Naturais................................................................................ 100 4.3.3 Fixações Industriais.................................................................................. 101 4.3.4 Estruturas Artificiais................................................................................. 107 4.4 Amarrações.......................................................................................................... 108 4.4.1 Considerações Gerais............................................................................... 108 4.4.2 Triangulação de Forças............................................................................ 109 4.4.3 Amarrações em Linha, Sem Distribuição de Forças................................ 111 4.4.4 Amarrações em Redor de Estruturas e Árvores....................................... 112 4.4.5 Outros Sistemas de Amarração................................................................ 114 4.4.6 Sistema de Amarração de Cabos de Aço.................................................. 117 Capítulo 5 – Sistemas para Tensionar Cordas......................................................... 121 5.1 Vantagem Mecânica e Sistemas de Desmultiplicação......................................... 121 5.2 Sistemas Expeditos.............................................................................................. 122 5.3 Sistemas Diretos com Mecanismos..................................................................... 123 5.3.1 Vantagem Mecânica de 3.......................................................................... 123 5.3.2 Vantagem Mecânica de 5.......................................................................... 124 5.3.3 Vantagem Mecânica de 9.......................................................................... 125 5.3.4 Vantagem Mecânica de 15........................................................................ 125 5.4 Sistemas Indiretos com Mecanismos................................................................... 126
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Capítulo 6 – Sistemas para Tensionar Cabos de Aço............................................... 127 6.1 Tirfor®.................................................................................................................. 127 6.2 Outros Sistemas................................................................................................... 130 Capítulo 7 – Instalação e Operacionalização das Atividades.................................. 131 7.1 Gestão das Atividades com Cordas e Cabos........................................................ 131 7.2 Escalada em Animação Turística......................................................................... 132 7.2.1 Modalidades de Escalada......................................................................... 132 7.2.2 Técnica de Segurança na Escalada........................................................... 134 7.3 Rapel.................................................................................................................... 140 7.3.1 Rapel em Animação Desportiva............................................................... 140 7.3.2 Procedimentos para Operacionalização do Rapel.................................... 142 7.3.3 Técnicas para Dar Segurança no Rapel.................................................... 143 7.3.4 Rapel Australiano..................................................................................... 145 7.3.5 Rapel Guiado............................................................................................ 146 7.4 Canyoning............................................................................................................ 147 7.4.1 Apresentação da Modalidade................................................................... 147 7.4.2 Equipamento............................................................................................. 148 V
Turismo e Desporto de Aventura – Atividades com Manobras de Corda
7.5 7.6 7.7 7.8
7.9 7.10 7.11
7.4.3 Reuniões e Sistema de Amarração........................................................... 149 7.4.4 Técnicas Específicas para Progressão em Rapel...................................... 151 7.4.5 Técnicas Específicas para Enquadramento de Grupos em Animação Turística.................................................................................................... 153 7.4.6 Gestão do Risco em Canyoning............................................................... 154 Ferrata................................................................................................................. 156 Sistemas e Técnicas de Ascensão........................................................................ 157 Corrimão e Linha de Vida Horizontal nos Percursos em Altura......................... 160 Instalações com Cordas ou Cabos Tensionados.................................................. 162 7.8.1 Considerações Gerais............................................................................... 162 7.8.2 Ponte de Paralelas..................................................................................... 164 7.8.3 Himalaiana............................................................................................... 166 7.8.4 Tirolesa..................................................................................................... 167 7.8.5 Slide......................................................................................................... 168 Pêndulo Humano................................................................................................. 178 Atividades com Utilização de Rede..................................................................... 179 Outras Instalações com Manobras de Corda....................................................... 180
Bibliografia.................................................................................................................. 182 Legislação..................................................................................................................... 185 Normas......................................................................................................................... 186 Sites de referência....................................................................................................... 188 Glossário...................................................................................................................... 190
VI
Sobre o Autor
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Geógrafo (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), Mestre em Sistemas de Informação Geográfica (Instituto Superior de Estatística e Gestão de Informação da Universidade Nova de Lisboa), Doutor em Geografia e Planeamento Regional e Urbano (Universidade de Lisboa) e Especialista em Turismo e Lazer (Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril). Professor Adjunto da Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril, onde tem assumido vários cargos, designadamente os de Presidente do Conselho Pedagógico, membro da Comissão Científica Executiva do Mestrado em Turismo e Diretor do Curso de Gestão do Lazer e Animação Turística. Presidente da Associação Desportos de Aventura Desnível entre 1994 e 2008. É monitor de canyoning da École Française de Descente de Canyon da Fédération Française de Spéléologie e formador em vários desportos de aventura, tais como canyoning, montanhismo, escalada e manobras de cordas. Cocoordenador e coautor do livro Planeamento e Desenvolvimento Turístico.
VII
Agradecimentos Esta obra germinou a partir do interesse em atualizar um livro que coordenei em 2000. Esse livro teve o mérito de ser pioneiro na temática das manobras de cordas e de estar associado a um plano de formação à escala nacional, promovido pelo Centro de Estudos de Formação Desportiva do Instituto do Desporto, em colaboração com a atual Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal. Foi um projeto muito enriquecedor, e um reconhecimento é devido a estas duas instituições e aos meus colegas da equipa de formadores: Samuel Lopes,José Pedro Lopes, José Carlos Sousa e Pedro Cuiça. Embora tenha passado menos de uma década desde esse primeiro livro, a realidade atual é significativamente diferente, tanto no que se refere ao conhecimento técnico sobre os temas abordados, como em relação às dinâmicas do turismo e dos desportos de aventura. Desde então, o setor da animação turística ganhou dimensão e internacionalizou-se, sendo essencial para a oferta de experiências turísticas e para a constituição de um produto global que posiciona o nosso país entre um dos melhores destinos turísticos à escala mundial. Sendo este setor o principal destinatário desta obra, fiquei muito grato pelas duas principais associações da lusofonia que representam as empresas de animação turística, terem aceite o meu convite para prefaciar esta obra. Ao António Marques Vidal, presidente da APECATE e à Teriana G. Selbach, presidente da ABETA, os meus agradecimentos, extensíveis a toda a equipa destas duas associações. Um agradecimento especial aos amigos e colegas que me incentivar a escrever este trabalho e partilharam experiências e vivências essências para a minha aprendizagem. Por serem muitos não ouso aqui identificá-los, cometeria certamente o risco de alguns ficarem por referenciar. Destes, contudo, merecem destaque a Maria do Céu Almeida, o Mário Silva e o Paulo Alves por se terem disponibilizado a fazer a revisão desta obra, ao Rui Rosado por contributos relacionados com atualização de informação técnica e ao Sérgio Vieira, Rui Romão e Andreia Figueiredo pela colaboração na edição de várias imagens gráficas. A concretização desta obra só foi possível com o apoio de diversas entidades, particularmente da Associação Desportos de Aventura Desnível, da Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril e da Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal, para além da editora Lidel que abraçou este projeto logo que lhe foi apresentado. A todas estas entidades os meus agradecimentos e o reconhecimento de que, em conjunto, estamos a contribuir para valorizar o conhecimento em torno da animação turística e do desporto e turismo de aventura em geral.
VIII
Prefácio (1) A APECATE – Associação Portuguesa de Empresas de Congressos, Animação Turística e Eventos, tem pugnado a sua ação por um grande investimento na área da formação e qualificação. São disso exemplos, a criação da qualificação de Técnicos de Turismo de Ar Livre, que teve como objetivo criar um referencial de formação, que servisse o sector e os empresários, o apoio às mais diversas iniciativas de formação realizadas na área de intervenção das empresas de Animação Turística e os protocolos de parceria criados com as mais diversas instituições de ensino. É uma realidade que em Portugal ainda existe falta de acesso a informação, formação e suportes de conhecimento sobre as áreas do turismo de ar livre, sendo, por isso mesmo, de louvar a iniciativa do Francisco Silva que se dedicou a compilar e escrever um livro sobre Manobras de Cordas na Animação Turística, que vai certamente, contribuir para melhorar a formação dos nossos técnicos. É um livro que aborda de uma forma sistemática as várias matérias que fazem parte desta área de trabalho nomeadamente o enquadramento histórico, a segurança, a legislação, a sustentabilidade, as técnicas, a resistência dos materiais, o equipamento, os sistemas e a operacionalização. Estamos perante um livro completo que vai contribuir para a formação e qualificação dos operadores de animação turística. Sabendo que o conhecimento é dinâmico, este livro não se esgota em si mesmo, preconizando uma evolução de técnicas e conhecimento, sendo um excelente contributo para as nossas escolas de formação. Parabéns!
António Marques Vidal
Presidente da Direção
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IX
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Prefácio (2) Do lado de cá do Atlântico, temos observado com muito interesse, o crescimento do turismo em Portugal, que se tornou nos últimos anos, seu principal produto de exportação. Neste sentido, essa obra cumpre importante papel ao promover e incentivar o desenvolvimento do segmento de turismo ativo em Portugal, ajudando o setor a inovar e diversificar sua oferta de serviços e experiências. Por isso, prefaciar o livro do professor Francisco Silva, é para nós da ABETA – Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura, uma grande honra e responsabilidade. Pela primeira vez na história, mais da metade da população global vive em áreas urbanas, em megalópoles, onde seus habitantes disputam o espaço com veículos movidos por combustíveis fósseis, num ambiente frenético, conectado, competitivo, barulhento, passando muito tempo em ambientes fechados e artificiais. A tecnologia da Internet, dos smartphones e das redes sociais oferecem tantas formas de se comunicar, agir, interagir, trabalhar e se divertir, que 24 horas já não são mais suficientes para atender todas as demandas diárias. Tudo isso gera estresse, transtornos de ansiedade, violência, trânsito, poluição e tantos outros males que afetam a saúde, a criatividade e o bem-estar. Neurocientistas e psicólogos têm procurado demonstrar o quanto esse ritmo acelerado não é saudável. E conseguiram comprovar que o turismo de natureza e a vida ao ar livre, seriam poderosos antídotos contra os transtornos desta vida urbana e caótica. Somente o contato com a natureza pode nos salvar. Portanto, o turismo junto à natureza para famílias e jovens de todas as idades, deverá experimentar uma grande procura nos anos vindouros. Todavia, para que estas atividades proporcionem boas experiências e que tudo aconteça da melhor maneira possível, e termine com um final feliz, uma premissa é básica: segurança. Em 2005, com essa premissa em mente, a ABETA, o Ministério do Turismo, o Serviço de Apoio aos Micros e Pequenos negócios – SEBRAE e Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, estabeleceram uma parceria inédita no Brasil, criando o Programa de Qualificação e Certificação em Turismo de Aventura, conhecido como Programa Aventura Segura – PAS. Nesse programa, trabalhamos na construção de um conjunto de ações integradas, buscando qualificação profissional e certificação empresarial, ancorados na criação e adoção de um conjunto de 34 Normas Técnicas pioneiras – todas voltadas para a segurança e boas práticas na operação de atividades de Ecoturismo e Turismo de Aventura. Destas, a mais importante e espinha dorsal das demais, foi a Norma ABNT NBR 15331 que trata sobre Sistemas de Gestão da Segurança. Ela foi tão bem avaliada, que a ISO (International Organization for Standardization), adotou-a como referência para a criação de Normas Técnicas Internacionais para o turismo de aventura. Com isso, desde outubro de 2014, o mundo conta com as Normas ISO 21101 (Turismo de Aventura – Sistemas de XI
Turismo e Desporto de Aventura – Atividades com Manobras de Corda
Gestão de Segurança) e ISO 21103 (Turismo de Aventura – Informações a Participantes). Importante destacar que a criação destas Normas internacionais só foi possível graças à cooperação entre Brasil, Portugal e Inglaterra, que atuaram juntos nas Comissões de estudos da ISO. Com essas conquistas, a ABETA e o Brasil se tornaram referências mundiais em certificação no turismo da vida ao ar livre. Temos muito orgulho desse trabalho! Esperamos que a leitura deste livro ajude o leitor a encontrar os melhores caminhos e as boas práticas para enfrentar os desafios da inovação e do crescimento sustentável do turismo ativo em Portugal. Acreditamos que a cultura da vida ao ar livre é estratégica para a conservação dos ambientes naturais e para o crescimento sustentável e criativo do turismo ativo e de natureza no Brasil, em Portugal e no mundo.
XII
Teriana G. Selbach
Presidente ABETA – Associação Brasileira das Empresas e Ecoturismo e Turismo de Aventura
Forças Aplicadas e Resistência
2.3 Resistência dos Equipamentos Os equipamentos certificados apresentam valores de resistência ou de carga de trabalho que são confirmados através de ensaios normalizados. A garantia de que os equipamentos resistem aos valores indicados implica sempre a sua correta utilização e a minimização de exposição a fatores agressivos. Corda semiestática de 10 mm
25 kN
Corda semiestática de 11 mm com nó oito
18 kN
Anel de fita
22 kN
Mosquetão em zicral com segurança
20 a 30 kN
Tirfor TU -8 ®
48 kN
TM
Cabo de aço de 11 mm
60 a 70 kN
Resistência de alguns equipamentos
A utilização inadequada dos equipamentos pode levar à sua rotura, mesmo quando são aplicadas cargas bastante inferiores à sua resistência. Por exemplo, uma fita com resis‑ tência de 22 kN sujeita apenas ao peso de um indivíduo pode entrar em rotura devido ao roçamento continuado com uma rocha abrasiva ou ao deslizamento de uma corda colocada diretamente na fita. Assim, a instalação dos equipamentos em posições desadequadas e/ou a aplicação de forças com direções inapropriadas devem ser evitadas. Os mosquetões são exemplos disto, pois apresentam uma resistência bastante superior ao longo do eixo maior do que do eixo menor ou com o gatilho aberto. Também a degradação do equipamento e a sua fadiga, devido à aplicação de forças de for‑ ma continuada, podem reduzir a resistência dos equipamentos.
2.4 Forças Aplicadas
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2.4.1 Distribuição de Forças nas Amarrações Nos sistemas de amarração clássicos com distribuição de forças, em que existem duas ou mais ancoragens unidas por uma fita, a força resultante em cada uma das ancoragens vai depender quer da carga aplicada diretamente no sistema quer do ângulo formado pelos ramos da fita. Caso sejam consideradas apenas duas ancoragens, a força repercutida em cada uma delas pode ser inferior ou superior à carga aplicada. Como se pode observar na figura em baixo, a força transmitida a cada uma das ancoragens pode ser, no mínimo, de 50% da carga apli‑ cada no sistema. No entanto, se o ângulo formado pelas fitas for maior do que 120º, a força 35
Turismo e Desporto de Aventura – Atividades com Manobras de Corda
transmitida é superior a 100% da carga aplicada, sendo que, a partir de 150º, se verifica o aumento exponencial da força transmitida a cada uma das ancoragens. Fa
Fa=51%Fp 70% Posicionamento incorreto da carga sobre o mosquetão
Fp
12 0°
120°
100%
60% 90 °
Fa
Fa=100%Fp
20°
50%
60%
70% 100%
60°
0° F p
Fp
Saiba que...
Relação entre o ângulo formado pelas fitas e as forças repercutidas nas ancoragens
Nos sistemas de amarração com distribuição de forças deve garantir‑se que o ângulo formado pelas fitas é inferior a 60º.
Num sistema de amarração com distribuição de forças, ligado a duas ancoragens, a seguin‑ te equação permite calcular a força teórica repercutida em cada uma dessas ancoragens (Almeida, 2002): Fa =
Fp
2cos (θ / 2 )
em que: Fa é a força repercutida a cada uma das duas ancoragens; Fp é a força aplicada ao sistema de amarração; θ é o ângulo formado entre as duas forças transmitidas às ancoragens.
2.4.2 Força de Tração A força de tração ou de tensão (Ft) é resultante da força provocada pela suspensão de um peso (P) ou pelo tensionamento de um sistema.
36
Forças Aplicadas e Resistência
Ft =P
P
Nas instalações com cordas ou cabos tensionados, o momento em que o sistema é sujeito a maior carga geralmente coincide com o tensionamento, pois posteriormente verifica‑se alguma perda de tensão devido a ajustamentos nas amarrações e ao alongamento da corda ou do cabo. Após este ajuste, e caso o sistema se mantenha estático, a resultante da força passa a ser relativamente constante e distribuída ao longo de todo o sistema. No entanto, é necessário considerar que durante a operacionalização da atividade são introduzidas cargas que alteram as forças aplicadas, resultantes não só do peso dos praticantes como do ângulo entre as diferentes direções da força.
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2.4.3 Reenvio de Forças É comum designar‑se reenvio de forças a situação em A FC B 15 kN que a força, ou peso, não é aplicada diretamente, pas‑ sando primeiro em pontos intermédios, possibilitando 2F inverter o sentido da reação a essa força (figuras A e B). A carga sobre o ponto de reenvio é o somatório das FC 9 kN forças aplicadas em cada extremidade da corda. No caso da figura B, a força de ação na roldana e na anco‑ ragem corresponde à força aplicada (F) mais a exer‑ FC 6 kN cida pelo peso do corpo (P). Assim, desprezando o 1 atrito, em situações de equilíbrio de forças, a carga no 1F P ponto de reação é o dobro da força aplicada. Contudo, na prática, a situação é um pouco diferente, devido ao atrito da corda, em particular, na roldana. Quando o ponto de reenvio é um mosquetão, o atrito aumenta significativamente, situação que é muito comum nas quedas em escalada (figura A). Neste caso, o atrito é um fator po‑ sitivo, pois reduz o impacto (força de choque) sobre o escalador e o assegurador.
37
Turismo e Desporto de Aventura – Atividades com Manobras de Corda
2.4.4 Desvio de Forças Em situações de amarrações destinadas ao desvio no alinhamento das forças, como pode ser o caso de uma amarração intermédia numa ponte de cordas, a carga nesse ponto de des‑ vio é a resultante das duas forças contrárias aplicadas na corda. Esta força irá variar com o ângulo realizado pela corda nessa amarração de passagem. Quanto maior for este ângulo, menor será a carga na amarração de desvio. Consequentemente, a carga nessa amarração pode variar entre 0 e 200% da força aplicada na corda ou cabo. Assim, o ideal será que esse ângulo seja o maior possível, mas, caso seja inferior a 120º, pode ser necessário considerar ‑se o reforço do sistema de amarração intermédio, de forma a garantir sempre um fator de segurança elevado. A necessidade de recorrer a uma amarração para desvio é também utilizada em situações em que se pretende evitar obstáculos e roçamentos, o que é comum no rapel. 200%
0º
100%
197%
185%
20º
173%
45º 100% 100%
60º 141%
100% 90º
122%
100% 120º 77%
100%
135º
170º
150º 17%
100% 100%
100% 100%
38
100%
52%
105º
100%
Forças Aplicadas e Resistência
2.4.5 Força Sobre Cordas Tensionadas Em instalações como o slide ou a tirolesa, as cordas ou os cabos são previamente tensio nados e amarrados nas suas extremidades. Nestes casos, as forças exercidas no sistema (corda, amarração e ancoragens) resultam da força de tensão previamente aplicada na mon‑ tagem, acrescida da força resultante da operacionalização da atividade. Esta última de‑ pende do peso dos praticantes, dos impactos que possam existir resultantes de quedas, da capacidade da corda ou cabo para absorver energia (sistemas mais ou menos estáticos) e do ângulo resultante com a aplicação dessa carga. Se o ângulo (θ3) for superior a 120º, a força resultante será maior do que o peso do praticante, o que se pode repercutir em toda a cadeia (Fr1 e Fr2), nomeadamente no sistema de amarração. θ1
Fr1
θ2 θ2
FP
Fr2 =
Fr2
Fp (sinθ2 − cosθ2 tanθ1)
Repercussão das cargas em sistemas previamente tensionados Fonte: Adaptado de Almeida (2002)
Daqui se depreende que nos sistemas em que o ângulo (θ3) é superior a 120º é necessário contar com uma força adicional, sendo que esta cresce exponencialmente com o aumento desse ângulo, conforme está indicado na tabela seguinte. θ3
Fr (%)
θ3
Fr (%)
θ3
45º
54
120º
100
140º
146
170º
574
90º
71
130º
118
160º
288
180º
8 x 1017
Fr (%)
θ3
Fr (%)
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Relação entre o ângulo (θ3) e a força teórica repercutida (Fr) nas amarrações
Quando se recorre a cordas, a ação do peso do praticante provoca o alongamento da corda e a sua flexão, levando a que o ângulo final nunca fique muito acima de 120º. Contudo, o mesmo não se passa quando se utilizam cordas estáticas (por exemplo, em dyneema) ou cabos de aço. Nestas situações, ou se reduz a tensão a aplicar, garantindo que o cabo fica com um arco significativo, ou se dimensiona o sistema para cargas superiores. Assim, quanto menor for o arco, maior terá de ser a preocupação em reforçar todo o sistema de se‑ gurança. A medição das forças repercutidas implica o recurso a um dinamómetro, devendo testar‑se com um peso, no mínimo, igual ao maior que se espera que venha a ser aplicado. Considerar ainda que os sistemas com cabos têm uma capacidade mínima de absorção de energia cinética e, caso seja necessário efetuar um resgate, pode ser necessário incorporar cargas extras no sistema. 39
Turismo e Desporto de Aventura – Atividades com Manobras de Corda
3.3.2 Fitas e Anéis As fitas são construídas em fibras sintéticas e são utilizadas principalmente nas amarrações. As fitas e anéis clássicos são fabricados em nylon ou poliéster, mas cada vez se recorre mais a anéis em dyneema, uma fibra mais resistente que possibilita reduzir o peso, volume e largura das fitas, o que permite um melhor posicionamento nos mosquetões, direcionando a força essencialmente na direção do eixo mais resistente. No entanto, como são mais estáticas, deve evitar‑se que sejam utilizadas como fita de autossegurança. As fitas podem ser agrupadas em: Anéis (fitas cosidas); Fitas a metro, unidas com nó; Fitas expresso; Fitas de autossegurança, com ou sem absorção de energia; Outras: reguláveis, com absorção de energia.
Fitas a metro Para a mesma largura, as fitas a metro apresentam menor resistência do que os anéis, pois o nó de união (nó de fita) vai induzir cerca de 35% de perda de resistência (PR). Estas fitas podem ser planas ou tubulares, sendo que as primeiras são mais resistentes e as segundas mais maleáveis. As fitas apresentam largura e resistência distintas. A sua resistência é assinalada através de fios coloridos no centro da fita, sendo que cada fio indica a resistência de 5 kN. As fitas mais comuns apresentam 20 e 25 mm de espessura e uma resistência, em anel com nó, entre 18 a 20 kN (como é em anel, terão 2 x 15 kN de resistência menos cerca de 35% da perda de resistência provocada pelo nó). Existem ainda fitas cosidas autorreguláveis com anéis metálicos nas pontas, que, embora mais caras, são soluções muito práticas e adaptáveis.
Anéis Os anéis são fitas cosidas com resistência de 22 kN. Existem anéis em diversos tamanhos, mas os mais utilizados são os de 60 cm e os de 1,2 m. A largura dos anéis (6 a cerca de 25 mm) varia consoante o material de fabrico, sendo os construídos em dyneema os mais leves e estreitos.
58
Equipamento
Fitas expresso As fitas expresso são anéis cosidos de pequena dimensão (normalmente de 10 a 20 cm) e apenas abertos nas extremidades onde são colocados os mosquetões. Estas fitas são espe cialmente utilizadas em escalada nas ancoragens intermédias e, tal como nos anéis, as normas definem que devem resistir a 22 kN. Para facilitar a mosquetonagem na escalada à frente, um dos mosquetões da fita expresso apresenta o gatilho curvo e é fixado através de um acessório específico de borracha para não rodar no anel.
Existem ainda fitas expresso que absorvem energia em caso de queda. São destinadas a situações particulares, como a escalada em gelo e a trabalhos verticais. A partir de uma determinada força de choque, verifica‑se a rotura parcial das costuras da fita, dissipando, assim, parte da energia (15 a 50%).
Fitas de autossegurança
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As fitas de autossegurança são essenciais nas atividades de animação turística com ativi dades em altura, em particular nos parques de aventura e em alguns desportos como o canyoning ou a espeleologia. As fitas simples (A – na figura da página seguinte) podem ser utilizadas na operacionalização do slide ou na autossegurança em linhas de vida contínuas. As fitas em duplo são mais comuns, por permitirem a passagem da segurança de um ponto da linha de vida para outro, estando os praticantes sempre autosseguros. Existem inúmeros modelos de fitas de autossegurança que são adaptados às necessidades de cada atividade, distinguindo‑se essencialmente por: Dimensão das duas fitas, que podem ser iguais (C, F e G) ou uma maior que a outra (D e E); Capacidade para absorver energia.
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Turismo e Desporto de Aventura – Atividades com Manobras de Corda A
B
C
D
E
F
G
As fitas com pontas de igual dimensão são muito usadas em parques de aventura e as assimétricas são mais utilizadas na espeleologia e canyoning. Se as fitas se destinarem apenas para autossegurança e a linha de vida estiver sempre acima do nível de cintura dos praticantes, estas podem ser estáticas. Pelo contrário, se tiverem de reter quedas, então, é necessário recorrer a fitas com alguma capacidade para absorção de energia. Na progressão em ferrata, onde podem ocorrer quedas com elevado fator de queda, é essencial utilizar fitas com grande capacidade de absorver energia (F e G). Na maioria das outras atividades recorre‑se a fitas mais simples, embora seja sempre melhor que tenham capacidade de dissipar energia, como é o caso da Spelegyca da Petzl® (D). Recentemente começaram a aparecer no mercado longes facilmente ajustáveis, como são os casos da Connect Adjust (B) e da Dual Connect Adjust (E). Para amarração destas fitas ao arnês, é aconselhável utilizar um anel roscado, difícil de abrir e nas outras pontas mosquetões com segurança. Em algumas atividades pode ser adequado que esses mosquetões sejam de abertura fácil, nomeadamente para ferrata, canyoning e espeleologia, e que estejam fixos no anel através de acessórios específicos. Algumas fitas foram concebidas para a ligação ao arnês ser realizada por um nó volta de Prusik (A), mas atenção que, caso se utilize este nó com fitas ou anéis normais, a perda de resistência é muito significativa.
3.3.4 Arnês Existem arneses de diversos tipos, cuja utilização deverá ter em conta as atividades, tipo de enquadramento e público a que se destinam. As normas europeias distinguem quatro tipos de arneses: A – Arnês integral para adulto; B – Arnês integral para criança; C – Arnês simples; D – Peitoral.
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Equipamento
Os arneses podem ainda ser distinguidos pelo tamanho, por serem ou não ajustáveis nas perneiras e pelo tipo de fecho na cintura, o conforto e especialização. Atualmente, existem arneses adaptados a diversas funções e desportos, nomeadamente a trabalhos verticais, escalada, canyoning, espeleologia, resgate, etc. Integral
Criança
Peitoral
Escalada
Canyoning
Espeleologia
Geral
O primeiro aspeto a considerar na seleção do arnês prende‑se com a opção entre um modelo polivalente ou especializado. Os primeiros são essencialmente utilizados na animação turística ou desportiva e em formação, enquanto os outros são geralmente usados por técnicos e praticantes autónomos. Acresce a especialização de alguns modelos apropriados para atividades ou utilizações mais específicas. Na seleção de um arnês pessoal ou para ser utilizado pelos técnicos privilegia‑se o conforto e o facto de ter bons porta‑materiais, enquanto um arnês coletivo deve ser prático de vestir, facilmente ajustável e ter um fecho “automático”. Os arneses integrais só são necessários para utilizações específicas, nomeadamente para determinados trabalhos profissionais, enquadramento de algumas atividades, para crianças ou populações especiais. Os modelos de crianças são adaptados às idades entre quatro a dez anos e existem em diversos tamanhos, nomeadamente para crianças até 30 ou 40 kg. Para as atividades de slide, especialmente com grandes dimensões, pode ser útil recorrer a arneses integrais tipo cadeiras com encosto ou mesmo que permitam suportar os praticantes deitados, garantindo grande conforto, como são os casos de vários modelos da marca Fusion®.
3.3.5 Mosquetões
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Existe uma grande variedade de mosquetões, nomeadamente em termos de forma, dimensão, materiais com que são construídos e sistema de fecho.
Sem segurança Direito Curvo
Com segurança manual Assimétrico Pera Simétrico
Com segurança automática
Grande abertura Ferrata, tipo K
Forma em meia-lua
Com esporão para travamento
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Turismo e Desporto de Aventura – Atividades com Manobras de Corda
4.2.3 Nós de União Nós utilizados para ligar cordas, fitas ou cordeletas.
Nó de pescador duplo (PR = 15 a 30%) É o nó mais comum para unir cordas e cordeletas. O nó de pescador pode ser realizado por uma, duas ou mais voltas (simples, duplo, triplo, etc.). Destacam‑se as seguintes vantagens, inconvenientes e cuidados: Vantagens – Muito seguro e permite unir cordas de diâmetros diferentes; Inconvenientes/Cuidados – Difícil de desfazer se sujeito a cargas elevadas. Facili dade em ficar preso em fendas na recuperação do rapel. Deve garantir‑se pontas supe riores a 5 cm e apertar bem o nó.
Nó de fita (PR = 20 a 30%) Representa o nó mais adequado para unir fitas. Destacam‑se as seguintes vantagens, incon venientes e cuidados: Vantagens – Consumir pouca fita e fácil de realizar; Inconvenientes/Cuidados – Deixar pontas com mais de 5 cm. Difícil de desfazer depois de sujeito a grandes cargas.
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Sistemas de Amarração
Nó de oito simples Para unir cordas para recuperação do rapel. Destacam‑se as seguintes vantagens, inconve nientes e cuidados: Vantagens – Muito fácil de realizar e de desfazer. Quando se recupera a corda, o nó tem menor probabilidade de ficar preso numa fenda do que o de pescador duplo; Inconvenientes/Cuidados – Pode desfazer‑se se não for bem “penteado” e apertado. Deixar pontas superiores a 15 cm.
Nó de oito inverso Para unir cordas. Destacam‑se as seguintes vantagens, inconvenientes e cuidados: Vantagens – Menor utilização de corda do que o de pescador e fácil de realizar; Inconvenientes/Cuidados – Difícil de desfazer.
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4.2.4 Nós Autobloqueantes Para realizar estes nós, utilizam‑se principalmente cordeletas, embora seja possível recorrer a fitas ou cordas, que são enroladas à corda principal. Ao serem submetidos a cargas, estes nós bloqueiam sobre a corda. Para voltarem a correr, é necessário aliviar a carga e fazê‑los deslizar com ajuda da mão. As cordeletas não devem ter mais de dois terços de diâmetro da corda utilizada, mas não se recomenda a utilização de cordeletas com diâmetro inferior a 6 mm, devido ao risco de rotura causado pelo aquecimento durante o deslizamento. O nú mero de voltas depende essencialmente da relação entre os diâmetros da corda e da corde leta e da função a que se destinam, sendo comum utilizar‑se três a cinco voltas. 93
Turismo e Desporto de Aventura – Atividades com Manobras de Corda
Machard Utilizado para autossegurança no rapel, autorresgate, tensionamento de cordas, ascensão pela corda, etc. É seguramente o nó de bloqueio mais usado. Destacam‑se as seguintes vantagens, inconvenientes e cuidados: Vantagens – Fácil de desbloquear e de executar; Inconvenientes/Cuidados – Não o fazer no sentido inverso, pois trava mal. Necessita de duas a cinco voltas, dependendo dos diâmetros e tipo de utilização. Testar antes de o usar.
Machard com mosquetão/Bachmann Para autossegurança no rapel, tensionar cordas, autorresgate, ascensão pela corda, etc. Destacam‑se as seguintes vantagens, inconvenientes e cuidados: Vantagens – Possibilidade de desbloqueio, puxando pelo mosquetão mesmo sob ten são, e facilidade de deslizar em ascensão; Inconvenientes/Cuidados – Risco de deslizar se utilizado por pessoas pouco experientes.
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Sistemas de Amarração
Prusik Destinado a autossegurança no rapel, tensionar cordas, autorresgate, ascensão pela corda, etc. Destacam‑se as seguintes vantagens, inconvenientes e cuidados: Vantagens – Trava bem nos dois sentidos; Inconvenientes/Cuidados – Tende a bloquear em demasia, pelo que é geralmente substituído pelo Machard.
Coração Para autorresgate e ascensão por corda. Destacam‑se as seguintes vantagens, inconvenien tes e cuidados:
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Vantagens – Bloqueia num dos sentidos e corre no outro, fazendo as funções de equi pamentos dispendiosos e nem sempre disponíveis; Inconvenientes/Cuidados – Difícil de desbloquear sob carga e possibilidade de se desfazer quando utilizado para ascensão por corda. Devem ser utilizados dois mos quetões iguais, preferencialmente sem fecho de segurança.
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Turismo e Desporto de Aventura – Atividades com Manobras de Corda
7.3.2 Procedimentos para Operacionalização do Rapel De entre os procedimentos a considerar na gestão de uma atividade de rapel, destacam‑se os seguintes: Escolher um local adequado, de fácil acesso, isento de obstáculos e seguro em termos de exposição a queda de pedras; Optar por fazer a reunião a um nível acima da cintura, em relação ao ponto de partida do rapel, para facilitar a sua operacionalização; Garantir a segurança da reunião, que deve ter, no mínimo, dois pontos de ancoragem; Amarrar a corda à reunião com nó de oito ou de nove nos casos em que é necessário recuperar a corda de baixo salvo para a última pessoa a descer; Evitar roçamentos, escolhendo locais adequados e colocar proteções de corda (B); Definir uma zona de segurança na receção e no início do rapel, na qual o acesso é con‑ dicionado e os praticantes devem estar autosseguros (A e C);
A A
B
C
Certificar que a corda ou as suas duas pontas chegam ao solo; Assegurar que, caso os praticantes tenham o cabelo comprido, este seja apanhado, para evitar que fique preso no descensor; Ter uma corda extra pronta a ser utilizada para resgate ou auxílio dos praticantes; Realizar sempre um sistema complementar de segurança; 142
Instalação e Operacionalização das Atividades
Instalar um sistema alongável, que permita descer o praticante a partir de cima; Não deixar pontas de corda penduradas, pois alguém por distração pode iniciar a des‑ cida por elas; Nunca utilizar descensores autobloqueantes, como o stop® ou o grigri®, que, em caso de pânico, podem ser desbloqueados por ação direta dos praticantes; Controlar a descida dos praticantes, impedindo que esta seja demasiado rápida, para melhorar a segurança e evitar o sobreaquecimento da corda e do descensor; Exemplificar e informar os praticantes sobre a técnica de descida, a qual deve respei‑ tar os seguintes pontos: ––Jamais largar a corda que controla a descida, devendo a corda ser agarrada abaixo do descensor; ––Adotar uma posição de “sentado”, com os pés contra a parede e as pernas ligeira‑ mente fletidas e afastadas; ––Descer devagar e de forma contínua, evitando dar saltos; ––Descer ao longo da vertical do rapel para evitar pêndulos.
7.3.3 Técnicas para Dar Segurança no Rapel
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Conforme referido anteriormente, os praticantes autónomos e os monitores devem dominar as técnicas de autossegurança no rapel e o manuseamento de descensores com sistemas de bloqueio. Já para praticantes sem autonomia, deve ser garantida uma segurança adicional efetuada por um monitor, podendo esta ser realizada a partir de cima, com recurso a outra corda, ou em baixo, na própria corda de rapel.
Com autossegurança 143
Turismo e Desporto de Aventura – Atividades com Manobras de Corda
Com autossegurança O monitor e os praticantes autónomos devem dominar técnicas que lhes permitam descer com autossegurança no rapel. Uma dessas técnicas consiste na utilização de um descensor autobloqueante, como o grigri® ou o stop®. Outra das soluções passa por utilizar um des‑ censor clássico, como o oito, mas em conjunto com um bloqueador (por exemplo, o shunt®) ou uma cordeleta com nó autobloqueante. É recomendável colocar a segurança abaixo do oito, para ser mais fácil desbloquear, sendo necessário afastar o oito do arnês com uma fita. É conveniente ligar o bloqueador ao arnês com um mosquetão independente.
Segurança a partir de cima com outra corda Amarrar uma segunda corda ao arnês do praticante e dar segurança a partir da reunião através do nó dinâmico ou de um assegurador, como é o caso do grigri®. À medida que o praticante desce em rapel, o monitor vai folgando a corda, só a bloqueando em caso de necessidade. Este sistema apresenta como vantagens o facto de ser bastante seguro e de bastar um monitor para enquadrar a atividade, mas pode ser, por outro lado, algo demorado.
Com segurança de cima
Segurança a partir de baixo A segurança é realizada em baixo por um monitor, que segura na corda do rapel, mantendo‑a ligeiramente folgada, bastando tensionar a corda para travar a descida. O monitor necessita 144
Instalação e Operacionalização das Atividades
de estar sempre atento e acompanhar a descida do praticante. Neste caso, são necessários dois técnicos, um para colocar os utilizadores no rapel e outro para fazer a segurança. No entanto, este sistema é o que permite uma maior rapidez de execução.
Com segurança em baixo
7.3.4 Rapel Australiano
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Nesta técnica de rapel os praticantes descem virados para baixo, tornando‑se mais difícil de executar. O arnês é vestido ao contrário e o oito é ligado ao arnês através de uma fita com cerca de 20 a 50 cm. O praticante pendura‑se na corda virado para baixo e controla a descida com as mãos colocadas à frente do corpo.
A segurança pode ser realizada por um monitor, que segura a corda junto ao solo, ou fei‑ ta de cima, através de outra corda. É preferível escolher locais com grande verticalidade ou pontes, para evitar choques contra obstáculos durante a descida. Frequentemente, 145
Turismo e Desporto de Aventura – Atividades com Manobras de Corda
atingem‑sevelocidades relativamente grandes, pelo que se recomenda a utilização de luvas pelos praticantes e muita atenção por parte de quem faz segurança. É importante ter cui‑ dado com o sobreaquecimento dos descensores e a consequente degradação da corda, em especial se a utilização for intensiva.
7.3.5 Rapel Guiado Técnica muito utilizada em canyoning e com algum potencial como produto de animação desportiva. São necessárias duas cordas, sendo uma delas tensionada. O praticante vai ligado à corda tensionada, que lhe serve de guia no rapel, através de uma fita e um mosquetão aplicado diretamente na corda ou com uma roldana. Se na parte final do rapel for necessário chegar à corda guia, deve utilizar‑se uma fita relativamente curta. Na outra corda é instalado o descensor. A segurança pode ser realizada em baixo, com um monitor a segurar na corda de rapel, ou a partir de cima, recorrendo a uma corda auxiliar. Caso a corda guia esteja muito desviada, o rapel torna‑se mais lento, pelo que se pode utilizar o oito em rápido. Esta técnica é particularmente aconselhada no canyoning, quando se pretender evitar a descida pela água em cascatas e que a receção seja afastada de lagoas ou de movimentos de água perigosos. Para tensionar a corda, pode recorrer‑se às mesmas técnicas utilizadas na instalação de uma tirolesa ou slide. No entanto, na maior parte dos casos, não é necessário tensionar muito a corda, sendo suficiente usar um sistema expedito com uma vantagem mecânica de 1:3.
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Instalação e Operacionalização das Atividades
7.4 Canyoning 7.4.1 Apresentação da Modalidade
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O canyoning é uma atividade desportiva e de lazer que consiste na descida de cursos de água, geralmente encaixados e com fortes declives, recorrendo ao rapel, saltos, destrepes ou tobogãs para a transposição dos obstáculos. Esta atividade aquática e de montanha per‑ mite descobrir paisagens fascinantes e inclui uma componente lúdica muito atrativa, o que tem contribuído para o forte crescimento da modalidade, quer em termos desportivos quer no âmbito da animação turística. O canyoning insere‑se nas atividades desportivas de risco acrescido e é uma atividade na natureza e de aventura que tem vários perigos associados, pelo que os praticantes devem adotar as técnicas e equipamentos adequados à boa prática e às suas próprias competências. É ainda importante, antes da saída, confirmar se as condi‑ ções meteorológicas e de caudal são adequadas.
Neste capítulo apresentam‑se as técnicas essenciais de progressão com manobras de corda, bem como orientações para uma gestão adequada desta modalidade direcionada para a animação turística. Não são afloradas aqui outras componentes essenciais nesta atividade, nomeadamente as águas bravas, o conhecimento do meio e o resgate, nem a progressão em percursos ou condições muito exigentes. 147
Turismo e Desporto de Aventura – Atividades com Manobras de Corda
7.4.2 Equipamento Como estamos perante uma atividade aquática com progressão vertical, é indispensável dotar os participantes com vestuário específico e EPI, nomeadamente: EPI – Capacete, arnês, descensor (oito), fita dupla de autossegurança e mosquetões; Vestuário – Fato em neopreno integral (ou duas peças); Calçado – Meias em neopreno e botas de canyoning ou de caminhada.
Capacete
Corda
Descensor Mosquetões Fita autossegurança Arnês
Fato de Neopreno
Meias de Neopreno Botas
Os monitores, para além deste equipamento, devem ainda levar ou distribuir pelo grupo: Corda – Três cordas, em que cada uma deve ter, pelo menos, o comprimento do maior rapel, ou duas cordas, tendo uma delas o dobro do comprimento do maior rapel; Material de transporte – Mochila, bidão estanque, saco de corda; Equipamento de progressão e segurança – Corda, valdostano, diversos mosquetões e fitas, bloqueadores, roldanas, oito suplente e máscara de mergulho; Equipamento de socorro – Farmácia, coberturas de sobrevivência, apito, canivete, telemóvel; Material para instalação de ancoragens – Pernos, burilador, martelo, etc.
Corda Como as cordas são para ser utilizadas essencialmente para progressão em rapel e em corrimãos, é preferível optar por cordas semiestáticas. Tanto se pode descer em corda du‑ pla (tipo B, de 9 a 9,5 mm) como em simples (recorrendo preferencialmente a uma corda 148
Glossário Alguma da terminologia apresentada foi publicada pelo Centro de Estudos e Formação Desportiva (CEFD), no seu boletim “Desporto em Português”, n.º 3, ano I, 1.ª série (julho/ /agosto/setembro), tendo como base um trabalho desenvolvido por Francisco Silva para o CEFD e para a Sociedade da Língua Portuguesa (SLP) e aprovado por diversas instituições (Silva, 2001). Amarração – Todo o sistema que liga as ancoragens à corda. Ancoragem ou fixações – Todos os elementos fixos que servem para ligar as amarrações. Anel – Fita costurada mecanicamente em fibra com resistência de, pelo menos, 12 kN, quando utilizada em simples. Arborismo (ou arvorismo) – Progressão em percursos em altura com recurso a diversas instalações, como pontes de cordas ou cabos, redes ou escadas, que ligam plataformas instaladas em árvores ou em outras estruturas. Arnês – Cinto colocado em redor das pernas e da cintura que tem como função ligar com segurança o indivíduo à corda ou a pontos seguros. Assegurador – Equipamento cuja principal função é dar segurança em escalada, sendo o mais conhecido o grigri®. Autorresgate – Conjunto de técnicas e procedimentos para realização de resgate e desbloqueio do próprio ou de companheiros sem ajuda externa. Autossegurança – Autoamarração do praticante às ancoragens ou à linha de vida. Bloqueador – Equipamento ou nó cuja principal função é bloquear a corda. De entre os mais conhecidos, destacam-se o nó Machard e os equipamentos que funcionam por esmagamento e com sulcos (shunt®, rescucender®, etc.) ou com mordentes (basic®, punho, etc.). Bloquear a corda – Ação de fixar a corda (colocando-a sob tensão) e não a deixar folgar, quando se dá segurança. Cadernal – Conjunto de roldanas com uma alça comum. Canyoning – Modalidade desportiva que consiste na descida de linhas de água encaixadas a caminhar e a nado, recorrendo ao rapel, destrepes, escalada, saltos e tobogãs para transposição de obstáculos. Carga de rotura – Valor a partir do qual se pode verificar a rotura do equipamento ou sistema e que coincide com a resistência dos materiais ou do sistema. 190
Glossário
Carga de trabalho – Limite recomendado da carga a aplicar no equipamento ou sistema. Cavilha – Peça metálica ou de madeira com secção geralmente circular, que se introduz num furo aberto numa estrutura com o objetivo de servir de ancoragem. Entre os principais tipos contam-se as autoperfurantes, as de expansão e as que são fixas com recurso a selamentos químicos. Corda dinâmica – Corda em aramide ou kevlar com alongamento médio de 7 a 9%, sob um peso de 80 kg, o que permite absorver parte da energia e amortecer a força de choque, em caso de queda. Corda usada em escalada e montanhismo. Corda estática – Corda em kevlar ou dyneema, com alongamento bastante reduzido, geralmente designada por cabo. Não é recomendável para atividades de progressão em altura, sendo comum a sua utilização na vela. Corda semiestática – Corda que apresenta um alongamento diminuto, quando comparada com a corda dinâmica. Esse alongamento deve ser inferior a 5%, sob um peso estático entre 50 e 150 kg. Cordada – Grupo de dois ou mais escaladores que progridem numa escalada unidos pela mesma corda. Em escalada as cordadas são geralmente constituídas por dois ou três escaladores. Cordeleta (ou cordino) – Pedaço de corda de 3 a 8 mm de diâmetro, com alongamento muito reduzido. Corrimão – Instalação constituída por uma corda fixa nas extremidades e em pontos intermédios, com a finalidade de permitir a progressão lateral em altura com segurança. Descensor – Equipamento que tem como principal função auxiliar a descida em rapel, sendo o mais conhecido o oito. Encordoar – Ato de o escalador se unir à corda por meio de um nó adequado.
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Entalador – Dispositivo de ancoragem para instalação em fendas sem recorrer a martelo. Normalmente, é feito de liga de alumínio e equipado com cordeleta ou cabo de aço. Podem diferenciar-se os entaladores simples (cunhas, excêntricos, etc.) e os mecânicos, que atuam com o efeito de expansão (friends). Equipamento de proteção individual (EPI) – Inclui o arnês, capacete e fita de autossegurança, entre outros. Escalada – Progressão num plano tendencialmente vertical, geralmente sem utilização de meios mecânicos auxiliares, exceto para segurança. Escalada à frente – Escalada com a segurança abaixo do nível do escalador. O escalador vai colocando pontos de segurança à medida que sobe. 191
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