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tipOlOgias e classificações clínicas
Joana Teixeira
▪ INTRODUÇÃO
Os critérios de diagnóstico para dependência de álcool estão bem definidos nos sistemas de classificação de doenças já desde há vários anos, podendo ser consultados os critérios atualmente em vigor na Classificação Internacional de Doenças, 11.ª edição (CID-11)1, e no Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, 5.ª edição (DSM-5)2 . Apesar das diferenças na nomenclatura do diagnóstico desta patologia entre os sistemas de classificação, de uso nocivo e dependência de álcool na CID-111, e de perturbação do uso de álcool com três níveis de gravidade possíveis – ligeiro, moderado e grave – no DSM-52 , os critérios utilizados para diagnóstico das entidades clínicas são muito semelhantes entre si na CID-111 e no DSM-52 . Não obstante a elevada estabilidade dos critérios de diagnóstico nas diferentes classificações diagnósticas ao longo das décadas, a heterogeneidade das apresentações clínicas encontradas nos doentes com dependência de álcool levou a que vários autores se dedicassem ao estudo das designadas tipologias de alcoolismo e que propusessem modelos de classificação com subtipos distintos.3
O surgimento deste movimento de classificação da heterogeneidade das apresentações clínicas da dependência de álcool em tipologias, ainda no final do século xix, justifica a utilização frequente do termo “alcoolismo”, designação à data muito utilizada e que, entretanto, caiu em desuso pelo seu carácter inespecífico e pouco científico. No entanto, por ser uma designação clássica para a temática abordada neste capítulo, e que ainda hoje é utilizada quando há referência a este tema, utilizar-se-á este termo e a designação de “tipologias de alcoolismo” ao longo do capítulo quando pertinente.
O interesse dos diversos autores que se dedicaram ao estudo das tipologias e classificação foi a crença de que ao identificarem os grupos de doentes com características comuns entre si passaria a ser possível adaptar a escolha do tratamento para os diferentes grupos de doentes, adequando o tratamento ao tipo de doente, e aumentando assim a eficácia do tratamento proposto 4–8 .
Adicionalmente, a classificação em diferentes tipologias seria também útil para perspetivar o prognóstico dos doentes.3
Existem diferentes tipos de classificação, desde as mais descritivas das apresentações clínicas, que fazem frequentemente a distinção fundamentalmente em alcoolizações agudas, episódicas ou crónicas, até às classificações em autênticas tipologias com uma descrição que pretende ser baseada num maior rigor científico.9,10
As tipologias de alcoolismo podem ser divididas, consoante os critérios utilizados pelos autores para definir os subtipos propostos, em três grandes grupos: tipologias comportamentais, tipologias multidimensionais e tipologias clínico-epidemiológicas.11
As tipologias comportamentais, também designadas de tipologias psicocomportamentais, são baseadas em critérios clínicos, comportamentais, psicopatológicos e evolutivos. As tipologias multidimensionais são baseadas na análise estatística dos dados epidemiológicos e clínicos, sugerindo a existência de clusters sindromáticos. As tipologias clínico-epidemiológicas são baseadas no estudo das comorbilidades entre perturbações mentais e alcoolismo e na sua evolução. Este tipo de classificação implica a coexistência do alcoolismo com pelo menos uma perturbação psiquiátrica, independentemente da sua natureza.
De seguida, vão ser abordadas algumas das principais tipologias de alcoolismo descritas pelos autores e os subtipos nelas propostos.
▪ TIPOLOGIAS COMPORTAMENTAIS
As tipologias comportamentais são baseadas em critérios clínicos, comportamentais, psicopatológicos e evolutivos.
O modelo clássico das tipologias comportamentais é a classificação apresentada por Jellineck em 196012 . Nesta classificação, surge, além da descrição clínica, a integração de outros fatores na classificação, representando este modelo uma transição das descrições anteriormente apresentadas, de ordem puramente clínica, para os modelos de classificação mais sofisticados resultantes de dados de investigação empírica.
Até à classificação de Jellineck, as descrições clínicas do alcoolismo faziam fundamentalmente a distinção em alcoolizações agudas, episódicas ou crónicas.9